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FERTILIDADE DO SOLO Prof. Dr. Fabio Olivieri de Nobile Elaborado por: Prof. Dr. Manoel Evaristo Ferreira Prof a . Dr a Mara Cristina Prof. Dr. Bernardo Van Raij

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FERTILIDADE DO SOLO

Prof. Dr. Fabio Olivieri de Nobile Elaborado por: Prof. Dr. Manoel Evaristo Ferreira

Profa. Dra Mara Cristina

Prof. Dr. Bernardo Van Raij

SUMÁRIO

1. Fertilidade do Solo: O que é, e Conceitos Básicos ........................................... 1 1.1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1 1.2. CONCEITOS BÁSICOS........................................................................................................... 4

2. AMOSTRAGEM PARA AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO .................. 10 2.1. AMOSTRAGEM DE SOLO ................................................................................................... 10

2.1.1. Conceitos .......................................................................................................................... 10 2.1.2. Obtenção de áreas uniformes ....................................................................................... 10 2.1.3. Planejamento da amostragem ....................................................................................... 13 2.1.4. Procedimento de coleta de solo em uma área uniforme ........................................... 14

2.1.4.1. Procedimento de coleta propriamente dito .......................................................... 14 2.1.4.2. Discussão sobre etapas e aspectos da coleta .................................................... 16

2.1.4.2.1. Utensílios para amostragem ........................................................................... 16 2.1.4.2.2. Retirada de uma amostra simples .................................................................. 17 2.1.4.2.3. Profundidade ..................................................................................................... 19 2.1.4.2.4. Local para retirada da amostra simples ........................................................ 19 2.1.4.2.5. Volume ou tamanho das amostras ................................................................ 20

2.2. IDENTIFICAÇÃO CORRETA DA AMOSTRA .................................................................... 20 2.3. ÉPOCA E FREQÜÊNCIA DE AMOSTRAGEM .................................................................. 21 2.4. CUIDADOS NA AMOSTRAGEM ......................................................................................... 21 2.5. QUESTIONÁRIO OU FOLHA DE INFORMAÇÕES .......................................................... 22 2.6. ERROS MAIS FREQÜENTES NA AMOSTRAGEM ......................................................... 22

3. MATÉRIA ORGÂNICA ......................................................................................... 24 3.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 24 3.2. CONCEITOS ........................................................................................................................... 25 3.3. CONTEÚDO ............................................................................................................................ 26 3.4. DISTRIBUIÇÃO ....................................................................................................................... 27 3.5. SUBSTÂNCIAS ENCONTRADAS EM TECIDOS ORGÂNICOS E NA MATÉRIA ORGÂNICA ...................................................................................................................................... 30

3.5.1. Classificação .................................................................................................................... 30 3.5.2. Composição aproximada de tecidos vegetais secos e da matéria orgânica do solo ....................................................................................................................................................... 31

3.6. RELAÇÃO CARBONO/NITROGÊNIO (C/N) ...................................................................... 33 3.7. EFEITOS DA MATÉRIA ORGÂNICA EM PROPRIEDADES DO SOLO ....................... 37

3.7.1. Efeito nas propriedades químicas ................................................................................. 37 3.7.1.1. Capacidade de troca de cátions (CTC) ................................................................ 37 3.7.1.2. Disponibilidade de nutrientes ................................................................................. 38 3.7.1.3. Poder tampão (em relação ao pH) ........................................................................ 38 3.7.1.4. Acidez do solo........................................................................................................... 40

3.7.2. Efeito nas propriedades físicas ..................................................................................... 40 3.7.2.1. Estrutura .................................................................................................................... 40 3.7.2.2. Aeração ...................................................................................................................... 41 3.7.2.3. Retenção de água .................................................................................................... 41 3.7.2.4. Cor .............................................................................................................................. 42

3.7.3. Efeitos nas propriedades biológicas ............................................................................. 43 3.8. MANUTENÇÃO E ACÚMULO DA MATÉRIA ORGÂNICA NOS SOLOS.................. 43

4. NITROGÊNIO NO SOLO ..................................................................................... 44 4.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 44 4.2. AQUISIÇÃO DE NITROGÊNIO PELO SOLO .................................................................... 46

ii

4.2.1. Fixação biológica ............................................................................................................. 47 4.2.1.1. Fixação simbiótica ........................................................................................................ 47

4.2.1.2 Fixação assimbiótica ou livre ................................................................................... 50 4.2.2 Fixação industrial .............................................................................................................. 51 4.2.3 Precipitação atmosférica ................................................................................................. 52 4.2.4. Resíduos orgânicos ......................................................................................................... 52

4.3. CONTEÚDO E DISTRIBUIÇÃO ........................................................................................... 53 4.4. ALGUMAS TRANSFORMAÇÕES DO NITROGÊNIO NO SOLO ................................... 53 4.5. NITROGÊNIO DISPONÍVEL NO SOLO .............................................................................. 56 4.6. PERDAS DE NITROGÊNIO DO SOLO .............................................................................. 58 4.6.1. Remoção pelas colheitas ................................................................................................... 58

4.6.2 Erosão ................................................................................................................................ 59 4.6.3 Lixiviação ........................................................................................................................... 59 4.6.4. Volatilização ..................................................................................................................... 61

4.7. USO DO NITROGÊNIO ......................................................................................................... 63

5. CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA ............................................................. 64 5.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 64 5.2. GENERALIDADES E CONCEITOS ..................................................................................... 66 5.3. CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS DO SOLO ....................................................... 67

5.3.1. Conceitos e características ............................................................................................ 67 5.3.2 Origem das cargas negativas ......................................................................................... 68 5.3.3 Aspectos gerais da adsorção e troca catiônica ........................................................... 70 5.3.4 Fatores que afetam a CTC .............................................................................................. 72 5.3.5 Relações entre CTC e características do solo ............................................................. 75

5.3.5.1 CTC e C orgânico e CTC e nitrogênio ................................................................... 75 5.3.5.2. CTC e argila .............................................................................................................. 75 5.3.5.3. CTC e SB................................................................................................................... 76 5.3.5.4. CTC e densidade global .......................................................................................... 76 5.3.5.5. Entre CTC, V% e pH ................................................................................................ 76

5.3.6 Importância da CTC do ponto de vista da fertilidade do solo .................................... 78 5.3.7 CTC x disponibilidade de nutrientes .............................................................................. 79

6. REAÇÃO DO SOLO ............................................................................................ 81 6.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 81 6.2. EXPRESSÃO DA REAÇÃO DO SOLO ............................................................................... 81 6.3. ACIDIFICAÇÃO DO SOLO ................................................................................................... 83

6.3.1 Aspectos gerais................................................................................................................. 83 6.3.2. Remoção de bases da solução ..................................................................................... 84 6.3.3. Aumento de H+ na solução ............................................................................................ 85 6.3.4 Intensidade da acidez desenvolvida .............................................................................. 86

6.4. TIPOS DE ACIDEZ ................................................................................................................. 89 6.5. EFEITO DA REAÇÃO DO SOLO SOBRE AS PLANTAS ................................................ 90

6.5.1 Efeito direto ........................................................................................................................ 92 6.5.2 Efeitos indiretos................................................................................................................. 93

6.5.2.1 Disponibilidade de nutrientes .................................................................................. 93 6.5.2.2 Toxicidade .................................................................................................................. 98 6.5.2.3. Atividade de microrganismos ............................................................................... 100 6.5.2.4. CTC .......................................................................................................................... 101 6.5.2.5. Condições físicas do solo ..................................................................................... 101

6.6. CORREÇÃO DA ACIDEZ .................................................................................................... 101 6.6.1 Comentários gerais ........................................................................................................ 101 6.6.2 Materiais usados ............................................................................................................. 101 6.6.3 Reações de neutralização da acidez do solo ............................................................. 102

iii

6.7. BENEFÍCIOS DE UMA CALAGEM .................................................................................... 103

7. CALCIO, MAGNÉSIO E ENXOFRE NO SOLO ................................................. 104 7.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 104 7.2. FORMAS NO SOLO ............................................................................................................. 104 7.3. DISPONIBILIDADE E ANÁLISE DE SOLO PARA MAGNÉSIO E CÁLCIO ................ 106 7.4. DISPONIBILIDADE E ANÁLISE DE SOLO PARA ENXOFRE ...................................... 108

8. POTÁSSIO NO SOLO........................................................................................ 110 8.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 110 8.2. FORMAS NO SOLO ............................................................................................................. 110 8.3. DISPONIBILIDADE............................................................................................................... 111 8.4. FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE POTÁSSIO EM SOLOS .......... 112 8.5. POTÁSSIO NA PLANTA ..................................................................................................... 114

9. FÓSFORO NO SOLO ........................................................................................ 116 9.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 116 9.2. FORMAS NO SOLO ............................................................................................................. 116 9.3. SOLUBILIDADE E ADSORÇÃO ........................................................................................ 120 9.4. DISPONIBILIDADE............................................................................................................... 123

10. MICRONUTRIENTES NO SOLO ..................................................................... 127 10.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 127 10.2. FORMAS NO SOLO ........................................................................................................... 127 10.3. FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE MICRONUTRIENTES ........... 130 10.4. INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DE SOLO.................................................................. 130

11. LITERATURA CONSULTADA E CITADA ....................................................... 132

1

1. Fertilidade do Solo: O que é, e Conceitos Básicos

1.1. INTRODUÇÃO

Em termos médios uma planta é constituída por 15% de matéria seca e 85%

de água. Deste total de matéria seca, 90% são representados por carbono (C),

hidrogênio (H) e oxigênio (O), o que dá uma média de 1,5% da planta para outros

elementos. Na Tabela 1 tem-se uma idéia dos elementos químicos que são

encontrados nas plantas. Dentre esses elementos tem-se, principalmente: nitrogênio

(N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cloro

(l), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e zinco (Zn). Esses

últimos elementos são nutrientes de plantas.

Mas, o que é nutriente de planta? É todo elemento químico que as plantas

absorvem e que é essencial ou indispensável para o seu crescimento,

desenvolvimento, produção e reprodução, portanto, para que elas completem o seu

ciclo vital. Na Tabela 2 estão apresentados os nutrientes de planta sob a ótica da

Fertilidade do Solo, segundo uma divisão que os classifica em macro e

micronutrientes. Na Tabela 3 encontram-se alguns íons nutrientes de planta e

respectivos raios iônicos, com o objetivo de demonstrar que o critério para definir os

macro e os micronutrientes não é o do tamanho do elemento químico, mas sim o da

quantidade absorvida pela planta, o que se verifica por meio da análise da Tabela 4.

Tabela 1. Elementos químicos encontrados nos tecidos das plantas.

Elementos

Oxigênio Fósforo Rubídio Estrôncio Chumbo Carbono Enxofre Zinco Zircônio Cádmio Hidrogênio Alumínio Molibdênio Níquel Césio Cálcio Sódio Cobre Arsênio Selênio Potássio Ferro Titânio Cobalto Mercúrio Nitrogênio Cloro Vanádio Flúor Rádio Silício Manganês Boro Lítio (+70 da tabela

periódica) Magnésio Crômio Bário Iodo

2

Tabela 2. Macronutrientes e micronutrientes de plantas e respectivos símbolos.

Macronutrientes Micronutrientes

Primários Secundários

Nitrogênio N Cálcio Ca Boro B Manganês Mn Fósforo P Magnésio Mg Cloro Cl Molibdênio Mo Potássio K Enxofre S Cobre Cu Zinco Zn

Ferro Fe

Tabela 3. Raio iônico de alguns nutrientes de plantas.

Elemento Íon Raio Elemento Íon Raio

nm nm Potássio K 0,133 Cloro Cl 0,181 Cálcio Ca 0,099 Cobre Cu 0,072 Magnésio Mg 0,066 Manganês Mn 0,080

Tabela 4. Quantidade total de nutrientes extraída pela parte aérea da cultura do arroz irrigado (produção de 3216 kg/ha de grãos sem casca).

Elemento Quantidade extraída

Elemento Quantidade extraída

kg ha-1 g ha-1 Nitrogênio 83,3 Boro 77,7 Fósforo 14,0 Cloro 11,6 Potássio 94,8 Cobre 38,5 Cálcio 20,8 Ferro 1133 Magnésio 7,5 Manganês 431 Enxofre 10,8 Molibdênio 1,1 Zinco 316 Fonte: Furlani et al., citado por Barbosa Filho (1987)

Enquanto o carbono, o hidrogênio e o oxigênio vêm da água ou do ar, os

outros elementos são praticamente fornecidos pelo solo. Esses outros elementos no

solo (N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn), em conjunto, caracterizam o

que se denomina fertilidade do solo. O conceito mais simples que se pode dar para

fertilidade do solo é o seguinte: fertilidade do solo é a habilidade de um solo em

fornecer nutriente ás plantas. Outro conceito que pode ser usado é: fertilidade do

solo é a capacidade intrínseca de um solo para fornecer nutrientes aos vegetais em

quantidades adequadas e em proporções convenientes.

Diz-se que um solo que apresenta uma boa fertilidade é um solo fértil. Seria

um solo fértil um solo produtivo? O que é um solo produtivo? Um solo produtivo é

aquele no qual se obtêm boas produções, isto é, uma boa produtividade. A

produtividade de uma área, por sua vez, é suportada ou determinada por vários

fatores, entre os quais se pode citar: ar, calor, luz, água, suporte mecânico e

3

nutriente. Percebe-se assim, que um solo produtivo é um solo fértil, mas não

necessariamente um solo fértil será produtivo, pois, a falta de água ou limitações em

qualquer outro dos fatores citados levarão a uma baixa produtividade, isto é, o solo

naquelas circunstanciais não será produtivo.

Dos fatores que afetam a produtividade, anteriormente citados, apenas a luz

não está ligada ao solo, o que caracteriza uma relação solo-planta muito importante.

Cada um daqueles fatores afeta diretamente a produção e, ao mesmo tempo,

indiretamente, por meio da estreita relação que mantém com os outros. Assim é que,

desde que no solo a água e o ar ocupam os espaços porosos, fatores que afetem a

relação solo-água, afetarão também a relação solo-ar. Por outro lado, mudança na

umidade do solo (na quantidade de água no solo) afetará a sua temperatura. E como

último exemplo, a disponibilidade de nutrientes é influenciada pelo balanço solo-

água, bem como pela temperatura do solo. A compreensão desse exemplo será

facilitada com o desenvolvimento dos estudos específicos dentro da fertilidade do

solo, sendo este um dos objetivos dessa disciplina.

No estudo da fertilidade do solo, desde o início algumas perguntas afluem

naturalmente. Entre elas tem-se: um solo de fertilidade baixa pode ser transformado

em um solo de fertilidade alta? Um solo de fertilidade alta pode ser transformado em

um solo de fertilidade baixa? O solo tem algum mecanismo que ofereça resistência a

mudanças em sua fertilidade?

Inicialmente deve-se comentar que um solo pobre ou com fertilidade baixa

poderá, por meio de adições feitas principalmente pelo homem, ser transformado em

solo fértil ou de fertilidade boa ou alta. Entre os processos de adição pode-se citar a

calagem (em última análise, adição de cálcio ou de cálcio e magnésio), a adubação

orgânica (adição de nutrientes por meio de resíduos orgânicos de origem vegetal ou

animal) e a adubação mineral (adição de nutrientes por meio de produtos ou

substâncias minerais). Por outro lado, um solo de boa fertilidade pode ser

transformado em solo de baixa fertilidade. Essa última transformação é devida a

processos de perda que ocorrem normalmente na natureza, devendo-se destacar os

seguintes: lixiviação (os nutrientes são perdidos dissolvidos na água que percola

através do perfil do solo); remoção pelas colheitas (os grãos, os tubérculos, os

frutos, etc., que o homem colhe e usa para a sua alimentação e de seus

semelhantes contêm quantidades variáveis de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cl, Cu, Fe, Mn,

Mo e Zn); erosão (as enxurradas arrastam, em certas circunstâncias, quantidades

4

variáveis de solo de um local para outro. O nutriente, como será visto depois, está

dentro dou junto às partículas sólidas do solo e daí, com a "terra" que é perdida tem-

se perda de nutrientes). Na Figura 1 é apresentado, esquematicamente, o ciclo

envolvendo solo fértil, solo pobre e fatores representativos de como o solo pode

ganhar ou perder nutrientes.

Figura 1. Representação esquemática dos processos que levam ao enriquecimento e ao empobrecimento do solo.

Finalmente, deve-se citar que embora o solo esteja sujeito a processos de

perda e de ganho, a sua fertilidade nem sempre é alterada bruscamente,

principalmente no tocante ás perdas. Essa resistência a perdas e ganhos (até certo

ponto) se deve à presença de partículas no solo que apresentam propriedades

coloidais e que são responsáveis pelo que se chama de sistema ou poder tampão.

1.2. CONCEITOS BÁSICOS

ABSORÇÃO: refere-se á penetração de superfície, por exemplo, a

penetração ou entrada de nutrientes (ou de um outro íon) e de água através das

raízes dos vegetais. Pequena quantidade de nutriente pode ser absorvido através

das folhas.

ADSORÇÃO: refere-se á adesão ou retenção de substancia (íons) á

superfície de um sólido. Obs. Nos solos ela se refere á atração dos íons e das

moléculas de água pelas partículas coloidais.

ADUBAÇÃO (de solo): é a aplicação de fertilizante ou adubo no solo

procurando corrigir a deficiência de um ou mais nutriente para as plantas e/ou

manter a fertilidade do solo.

5

ADUBO: adubo ou fertilizante é qualquer material, natural ou manufaturado,

que contém um ou mais nutrientes de planta, que se adiciona ao solo ou diretamente

sobre a planta com a finalidade de suprir um ou mais nutriente de planta.

AGREGADO: aglomerado de partículas unitárias (de areia, silte e argila) que

se forma devido ás atrações entre partículas ou por meio de agentes cimentantes

como óxidos de ferro e matéria orgânica.

ASSIMILÁVEL OU DISPONÍVEL: refere-se ao nutriente de planta que,

presente no solo em forma química adequada, pode ser facilmente absorvido ou

aproveitado pelos vegetais.

ÁTOMO: parte constituinte de uma substância simples e que representa a

menor quantidade dessa substância suscetível de combinação química. Ou, é a

menor quantidade de uma substância elementar que tem as propriedades químicas

de um elemento. Portanto, toda substância é formada de átomo. O átomo é formado

por um núcleo positivo que contém nêutrons e prótons, cercado de elétrons.

CALAGEM: é a denominação que se dá á operação de adicionar e

incorporar pó calcário ao solo visando corrigir a sua acidez.

CALCÁRIO: rochas carbonatadas, ricas em cálcio ou em cálcio e magnésio,

que moidas originam o pó calcário, o qual é empregado para corrigir a acidez do

solo.

CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA: CTC (ou valor "T" de Hissink) é

definida como a soma de todos os cátions trocáveis ou permutáveis (inclusive o

hidrogênio) que a fase sólida do solo pode reter e trocar. Obs. A CTC determinada a

pH 7,0 é denominada CTC potencial, e a obtida ao pH natural ou de campo, de CTC

efetiva.

CROSTA TERRESTRE: é o mesmo que litosfera é a camada externa

consolidada da Terra. A sua espessura é da ordem de 35 km.

CUBO: poliedro regular com seis faces quadradas; hexaedro regular.

CULTIVO MÍNIMO: sistema de preparo (cultivo) que reduz o número das

operações mecanizadas a um mínimo necessário para criar a condição adequada

para a semeadura e germinação das sementes.

DESSORÇÃO: liberação de um íon ou molécula de uma superfície. O

oposto de adsorção.

ELEMENTO: qualquer substância que não pode ser separada, exceto por

desintegração nuclear.

6

ELETRÓLITO: substância que em solução se dissocia totalmente em íons.

EROSÃO: é todo o arrastamento, no sentido horizontal, de partículas de

solo, seja por meio da água ou do vento. Como conseqüência tem-se perda de íons

que fazem parte da estrutura de partículas sólidas do solo ou que estão adsorvidos a

elas.

ESTRUTURADO SOLO: conjunto de agregados que ocorrem em um solo.

FERTILIDADE DO SOLO: é a capacidade intrínseca de um solo para

fornecer nutrientes aos vegetais em quantidades adequadas e em proporções

convenientes.

FOTOSSÍNTESE: processo pelo quais as plantas verdes capturam a energia

luminosa, combinando água e dióxido de carbono para formar os carboidratos. O

pigmento clorofila é requerido para a conversão da energia luminosa em energia

química.

FRAÇÃO ARGILA: é termo usado para definir as partículas da fase sólida

do solo menores do que 0,002 mm de diâmetro. É constituída por minerais

secundários, principalmente minerais de argila silicatados e óxidos de ferro e de

alumínio.

ÍNDICE DE SATURAÇÃO POR BASES: é a proporção de bases trocáveis

presentes no solo, em um dado momento, em relação a sua CTC (CTC potencial),

expressa em porcentagem. É, portanto, a relação entre os valores SB e CTC

multiplicada por 100. O mesmo que Porcentagem de Saturação por Bases.

ÍON: átomo ou grupo de átomos que está eletricamente carregado em

conseqüência da perda ou do ganho de elétrons. No solo o íon se refere a um

elemento ou a uma combinação de elementos eletricamente carregados, que resulta

da dissociação de um eletrólito na solução do solo O íon positivo é chamado de

cátion e o negativo, de ânion.

LEI OU TEORIA DA RESTITUIÇÃO: é indispensável restituir ao solo, para

evitar seu empobrecimento, todos os nutrientes removidos pelas colheitas.

LEI OU TEORIA DO MÍNIMO: a produção das culturas é regulada pela

quantidade do elemento nutriente disponível que se encontra no mínimo em relação

às necessidades das plantas (Figura 2).

7

LEI OU TEORIA DOS FATORES LIMITATIVOS: o nível da produção

agrícola não pode ser maior do que o possibilitado pelo mais limitativo dos fatores

essenciais ao crescimento vegetal (Figura 2).

Figura 2. Representação esquemática da lei do mínimo (a) e da lei dos fatores limitativos (b).

LIGAÇÃO COV ALENTE: é a união entre átomos, estabelecida por meio de

pares de elétrons, de modo que cada par seja formado por um elétron de cada

átomo. Há compartilhamento de elétrons e isso determina uma ligação forte.

LIGAÇÃO ELETROV ALENTE: é a força que mantém os íons unidos,

depois que um átomo entrega definitivamente 1, 2 ou mais elétrons a outro átomo.

Nesta doação e aceitação de elétrons acabam sendo produzidos cátion e ânion que

se atraem. Há atração por forças eletrostáticas e isso determina uma ligação fraca.

LIXIVIAÇÃO: é O arrastamento, pela água que percola, de íons em solução

nas camadas superiores do solo para camadas mais profundas, podendo ganhar o

lençol freático, constituindo num dos processos de empobrecimento da fertilidade do

solo.

MACRONUTRIENTES: são elementos essenciais Ou nutrientes que as

plantas precisam e absorvem em quantidades relativamente grandes. Obs.: São

divididos em primários ou nobres: nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) e

secundários: cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S).

MATERIAL COLOIDAL OU COLÓIDE: refere-se a materiais orgânico ou

inorgânico com partículas muito pequenas, área de superfície correspondentemente

8

grande por unidade de massa e carga de superfície. O colóide apresenta diâmetro

menor do que 0,001 mm.

MICRONUTRIENTES: são elementos essenciais ou nutrientes que as

plantas necessitam e absorvem em quantidades relativamente pequenas. Obs.: São

os seguintes: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio

(Mo) e zinco (Zn).

MILÍMETRO (mm): submúltiplo do metro é a milésima parte do metro (10-3

m). O colóide tem diâmetro menor do que 0,001 mm.

MINERAL DE ARGILA: é um silicato de alumínio hidratado que apresenta

estrutura laminar. As estruturas básicas dos minerais de argila são lâminas de

tetraedros de sílica (um átomo de silício envolto por quatro átomos de oxigênio) e

lâminas de octaedros de alumina (um átomo de alumínio envolto por seis átomos de

oxigênio). Os minerais de argila que apresentam unidade cristalográfica constituída

por duas lâminas de sílica para uma de alumina são as argilas silicatadas do tipo 2:1

e as que apresentam uma de sílica para uma de alumina, são as do tipo 1:1.

NANÔMETRO (nm): submúltiplo do metro é a bilionésima parte do metro

(10-9 m). Antigamente era usado Ångstróm que é igual a 10-10 m. Os íons têm

diâmetro menor do que 1 nm.

NUTRIENTE: é todo elemento químico que as plantas absorvem e que é

essencial ou indispensável para o seu crescimento, desenvolvimento, produção e

reprodução.

PERFIL DO SOLO: é o conjunto de horizontes, num corte vertical, que vai

da superfície até o material semelhante ao que deu origem ao solo.

"pH DO SOLO": é a medida da concentração hidrogeniônica ativa na

solução do solo. Obs.: valores de pH menores do que 7 indicam solos ácidos; pH =

7, solos neutros; e, valores maiores do que 7, alcalinos.

PORCENTAGEM DE SATURAÇÃO POR BASES: ver Índice de Saturação

por Bases

PRODUTIVIDADE: está relacionada com a capacidade de um solo em

proporcionar rendimento ás culturas. Obs.: Produtividade é o termo mais amplo uma

vez que fertilidade é apenas um entre vários fatores que determinam a magnitude

dos rendimentos das culturas.

9

SEPARADOS OU FRAÇÕES DO SOLO: partículas minerais, com diâmetro

menor do que 2,0 mm. Obs: Classificadas segundo a International Society of Soil

Science, de acordo com o tamanho, nas seguintes categorias: a) areia grossa: 2,0 a

0,2 mm; b) areia fina: 0,2 a 0,02 mm; c) silte: 0,02 a 0,002 mm; d) argila: menor do

que 0,002 mm.

SÓLIDO: substância caracterizada por um arranjo regular de suas partículas

constitutivas, que formam uma rede espacial definida e característica.

SOLO: sob o ponto de vista da fertilidade do solo pode ser conceituado

como sendo a camada arável da crosta terrestre, onde se desenvolve a maioria das

raízes das plantas.

SOMA DE BASES OU VALOR SB: referem-se ao total de cátions, exceto Al

e H, adsorvidos no solo na forma trocável, mais a quantidade de amônia trocável.

TAMPÃO OU EFEITO TAMPÃO: nos solos, é devido á presença de

substâncias que agem quimicamente oferecendo, por exemplo, resistência a

mudança de pH Obs.: o efeito ou ação tampão no solo é devido principalmente à

fração argila e matéria orgânica e se manifesta também em relação ao nitrogênio,

fósforo, potássio, etc.

TEXTURA DO SOLO: proporção relativa dos vários separados de um solo.

TROCÁVEL OU ELEMENTO TROCÁVEL: dá-se esta denominação ao

elemento que, adsorvido ou retido pelos componentes da fase sólida do solo, pode

facilmente trocar ou permutar de posição com um elemento presente na solução do

solo.

10

2. AMOSTRAGEM PARA AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO

SOLO

2.1. AMOSTRAGEM DE SOLO

2.1.1. Conceitos

Amostra é uma porção de um todo, que contém suas características e serve

para representá-lo. Amostragem é o processo de escolher os elementos de uma

amostra, conforme o acaso ou segundo um método racional, isto é, é o meio pelo

qual se obtém a amostra a ser analisada.

Do ponto de vista da fertilidade do solo pode-se conceituar amostra simples e

amostra composta:

Amostra simples ou subamostra é urna pequena quantidade de solo retirada ao

acaso em uma área uniforme;

Amostra composta ou amostra é o resultado da reunião e mistura de várias

amostras simples colhidas ao acaso em uma área uniforme, com o fim de

representá-la.

Evidentemente que a amostra simples, representando o que ocorre em um

ponto da área, não possui as suas características e por isso não a representa. A

amostra composta é a que deve possuir as características da área amostrada e que,

portanto, será enviada ao laboratório para análise. Finalmente, o tipo de

amostragem recomendado é o ao acaso, em caminhamento em ziguezague.

2.1.2. Obtenção de áreas uniformes

Os solos são normalmente heterogêneos e a variabilidade é freqüentemente

observada por técnicos e agricultores, ocorrendo mesmo dentro das áreas

uniformes. Por esta razão, ao se dividir uma propriedade em áreas uniformes o

trabalho não estará completo se não se considerar o seu tamanho. Assim, depois de

separadas as áreas uniformes é feita uma subdivisão de cada uma, se necessário,

de forma a que o seu tamanho máximo não ultrapasse os 20 ha (± 8 alqueires).

Para obter áreas uniformes são considerados critérios que qualquer pessoa,

por mais simples que seja, consegue facilmente visualizar e empregar. Os critérios

visuais são: topografia ou declividade, cobertura vegetal ou cultura, cor do solo, tipo

do solo ou textura e drenagem. Além desses critérios visuais têm-se os informativos

como o histórico de calagem e de adubação, produção em anos anteriores e

11

sintomas em plantas na última cultura Em culturas perenes são, em certos casos,

considerados a idade, a produção e a variedade. Outro aspecto fundamental é o

sistema de cultivo adotado. As operações de aração e de gradagem, que precedem

o plantio convencional, de certa forma promovem uma homogeneização na camada

arável (0 a 20 cm), tanto no sentido horizontal quanto no vertical. A ausência dessas

operações no plantio direto irá contribuir para aumentar a variabilidade dos atributos

químicos do solo e a desuniformidade da área.

De forma resumida, os critérios gerais para separação de áreas uniformes

afetam a uniformidade da seguinte maneira:

a) Topografia. A topografia (não confundir com relevo) ou a situação do terreno, tendo

em vista o efeito que exerce principalmente nos processos de perda e de acúmulo

de solo (erosão) e na drenagem, é um elemento de uniformidade ou

desuniformidade do solo. A parte mais alta de um terreno, normalmente chamada de

topo ou espigão, e mesmo de plano, em função do tipo de cobertura vegetal fica

sujeita a perdas por erosão; a encosta ou rampa é ainda mais suscetível a essas

perdas; e a baixada é onde, pelo menos parte do material carregado das posições

anteriores, é acumulado. Principalmente na encosta a erosão pode levar à

exposição de horizontes ou camadas inferiores, mais ácidos e pobres em nutrientes.

Quanto à umidade, pelas forças que atuam e pela proximidade do lençol freático, as

baixadas são mais úmidas e isso favorece a produção vegetal, com maior retomo de

material orgânico, o que contribuirá para aumento ou manutenção do teor de matéria

orgânica em valores maiores do que os da encosta ou do espigão. Em vista destas

diferenças deve-se procurar dividir a propriedade agrícola em áreas que tenham

mais ou menos a mesma posição topográfica.

b) Cobertura vegetal ou cultura. As diferentes espécies vegetais apresentam

exigências de pH do solo e nutricionais diferentes umas das outras. No caso de

culturas perenes e semi-perenes (café, citros, forrageiras, etc.) a idade ou produção

obtida na safra anterior também tem o seu papel na desuniformidade entre as áreas.

Assim, se parte da área está ocupada com cafeeiro e parte com uma gramínea

(capim-colonião, cana-de-açúcar, etc.), logicamente se está frente a culturas que

apresentam exigências nutricionais e/ou de pH de solo diferentes e, ainda, em

função da rentabilidade elas podem receber uma série de tratos culturais

diferenciados. O mesmo irá ocorrer em relação à cultura perene com idades

diferentes, por exemplo, citros com três anos (em formação) e citros com dez anos

12

(em produção) e, dentre estes últimos ainda ocorrerão diferenças se a produção for

de 1,5 caixa/planta ou 5 caixas/planta. Portanto, apresentam situações ou condições

de fertilidade do solo diferentes e as áreas devem ser amostradas separadamente.

c) Cor do solo. A cor do solo varia desde clara ou "branca" á "preta", passando por

amarela, cinza e diversos tons de vermelho. A cor do solo é determinada

basicamente pelo material de origem combinado com os teores de matéria orgânica

e de água. Assim, um solo arenoso, pobre em matéria orgânica, na encosta ou

espigão, com boa drenagem, é normalmente claro. Esse mesmo solo na baixada,

pelo enriquecimento em matéria orgânica e umidade alta, pode ser mais escuro,

tendente a cinza. Um solo na baixada, muito rico em matéria orgânica (solo

orgânico), será preto. Na encosta ou espigão, o solo rico em óxidos de ferro

apresentará tons avermelhados, tão mais vivos quanto maiores os teores desses

óxidos e menores os de matéria orgânica. Na baixada, este mesmo solo poderá se

apresentar de amarelado a cinza se as condições de umidade levarem a

anaerobiose. No primeiro caso predominam condições de oxidação e, no segundo,

de redução. Assim, em posições topográficas diferentes, em função do material de

origem, do teor de matéria orgânica e da água, poderão ser notadas cores

diferentes. Sem dúvida, óxido de ferro, matéria orgânica e água afetam a

homogeneidade do terreno, tendo reflexos na fertilidade atual do solo e na interação

com os nutrientes adicionados. Por esta razão, as áreas devem ser separadas

segundo a cor que apresentam.

d) Textura. A textura do solo, aqui talvez melhor denominada de tipo de solo, é um

critério visual de uniformidade que pode ser facilmente utilizado. Afinal, qualquer

pessoa consegue ver com clareza se um solo é arenoso, argiloso ou misto. Os solos

arenosos, também chamados solos "leves" ou de textura grosseira, normalmente

apresentam menores teores de matéria orgânica do que os argilosos, os quais, por

sua vez, são chamados de solos "pesados" ou de textura fina. Essa condição, maior

ou menor teor de matéria orgânica, normalmente afeta os teores de nutrientes do

solo, a capacidade de retenção de água e, conseqüentemente, a produtividade dos

solos. Usando a denominação tipo de solo, claramente se podem separar solos de

várzea dos de sequeiro, os orgânicos dos minerais, os argilosos dos arenosos, etc.

e) Drenagem. A drenagem afeta o estado de oxi-redução do solo. Em solos

encharcados ou muito úmidos têm-se condições de redução, podendo haver

acúmulo de matéria orgânica. Ao contrário, solos secos oferecem condições para

13

oxidação, o que leva a diminuição do teor de matéria orgânica. O estado de oxi-

redução afeta também a disponibilidade de nutrientes. Portanto, não se deve em

uma amostragem misturar solos úmidos (mal drenados) com solos secos (bem

drenados).

f) Histórico de calagem e de adubação. Certas culturas são mais exigentes em

adubação do que outras. Nem sempre isso significa uma maior extração do

nutriente; ás vezes indica que a planta tem pouca habilidade para retirá-lo do solo.

De qualquer forma, é comum em uma propriedade agrícola (em função da

diversidade de culturas, da sua idade, de suas exigências, de seus espaçamentos,

etc.) existirem áreas que receberam quantidades de calcário e de adubo bastante

diferentes de outras. Daí a importância em se conhecer os antecedentes de uma

propriedade, devendo-se sempre anotar o ano de aplicação de calcário e a

quantidade usada em t ha-1 ou t/alqueire. O mesmo deve ser feito com os adubos,

neste caso anotando-se a fórmula ou o adubo simples usado e a quantidade em

kg/ha, kg/planta, etc. Lógico, também a cultura anterior e a produção obtida.

2.1.3. Planejamento da amostragem

A análise química de solo deve ser considerada uma técnica para ajustar os

programas de calagem e de adubação em longo prazo (Raij, 1981). Desta forma, é

preciso ter um planejamento adequado da amostragem, o que possibilitará que se

tomem decisões do tipo: amostrar toda a propriedade em um ano? Fazer parte em

um ano e o restante nos anos seguintes? Qual rodízio usar? etc.

Independentemente do esquema a adotar, o primeiro passo é delimitar as

áreas uniformes, com no máximo 20 hectares. Essa divisão pode, inicialmente, ser

tentada junto ao proprietário ou a quem coordena as atividades da propriedade. Uma

planta ou croqui deve ser feito ou usado, colocando-se no papel cada área

presumivelmente homogênea. Já nesta etapa é importante que se localize a

propriedade e as áreas da melhor maneira possível, e para isso a alocação ou

referência a estradas, sede, linha de telefone ou de energia elétrica, cultura perene,

etc., é muito importante.

Uma vez feito o croqui ou planta, uma visita ao campo permitirá confirmar ou

reformar a divisão preliminar e, números definitivos, com legendas, devem ser

usados para identificação futura de cada área. Logicamente que um método mais

simplificado poderá ser adotado, com um trabalho direto no campo. Nesse caso, á

14

medida que se vai dividindo a propriedade em áreas uniformes, elas vão sendo

colocadas no croqui e numeradas de forma a se ter a sua identificação correta.

Um planejamento mais cuidadoso permite que se programem as áreas a

serem amostradas, caso não seja possível amostrar todas. Isso pode ocorrer, por

exemplo, se a propriedade for muito grande ou se o tempo disponível entre essa

operação, a análise e o uso dos dados obtidos se mostrarem insuficiente. Nestes

casos há uma tendência equivocada de usar áreas maiores do que 20 ha ou de

aplicar com menor rigor os critérios de uniformidade, quando o mais adequado é

dividir a propriedade em áreas uniformes, subdividi-las em áreas de até 20 ha e

depois amostrar algumas delas que representam condições diferentes. No ano, ou

enquanto não se dispõe da análise específica, usam-se dados de uma área para

outras assemelhadas e, à medida que for possível, faz-se a amostragem e a análise

das outras. Quando se faz amostragem de apenas parte da propriedade programa-

se as etapas seguintes, inclusive quando se voltará à primeira (rodízio ou freqüência

de amostragem).

Com uma planta ou croqui em que se tenham as áreas demarcadas,

arquivando-se os respectivos boletins de análise, e anotando-se calagens e

adubações realizadas e produções obtidas em cada uma, é possível acompanhar

não só a evolução da fertilidade da área como também da sua produtividade.

2.1.4. Procedimento de coleta de solo em uma área uniforme

2.1.4.1. Procedimento de coleta propriamente dito

Uma vez dividida ou concomitantemente com a divisão da propriedade em

áreas uniformes (Figura 9), e após a correta identificação de cada área, será feita a

retirada ou coleta da amostra.

Adentrando á área, e em caminhamento em ziguezague (Figura 10) de forma

a percorrê-la em sua totalidade, ao acaso serão coletadas porções de solo de no

mínimo 20 locais diferentes (Tabela 9), independentemente do seu tamanho ser 20

ha ou 0,5 ha. O solo de cada um destes locais ou pontos do terreno, portanto

amostra simples será colocada em uma vasilha limpa. Depois, quando estiverem na

mesma vasilha as 20 amostras simples, o solo de dentro dela será bem misturado,

obtendo-se a amostra composta, e uma caixinha ou saquinho de plástico

convenientemente identificada(o) será enchida(o). O número para identificação é

aquele que a área recebeu no croqui ou planta. A amostra na caixinha ou saquinho

15

mais o respectivo questionário ou folha de informações, quando existente, será

reunida a outra(s) e respectivo(s) questionário(s) e, em uma caixa ou saco limpo e

seco para evitar qualquer tipo de contaminação, serão entregues em um laboratório

para análise.

Figura 9. Divisão da propriedade em áreas uniformes.

Figura 10. Caminhamento em ziguezague, na área uniforme, para coleta de amostras simples.

16

Tabela 9. Número médio ótimo de amostras simples para formação de amostra composto a diferentes profundidades de amostragem.

Profundidade Solos desmatados Solos cultivados

Sem adubação Com adubação

cm ---------------------------------- Floresta ---------------------------------- 0 – 10 41 46 50 0 – 15 34 43 46 0 – 20 32 35 43 0 – 25 32 37 43 0 – 30 31 33 41 ---------------------------------- Savana ---------------------------------- 0 – 10 35 40 40 0 – 15 35 35 40 0 – 20 25 28 35 0 – 25 27 31 31 0 – 30 29 31 31

A seguir serão discutidos detalhes de cada um dos passos desse

procedimento, bem como alguns aspectos relevantes.

2.1.4.2. Discussão sobre etapas e aspectos da coleta

2.1.4.2.1. Utensílios para amostragem

Na coleta de solo podem ser usadas várias ferramentas e recipientes: trado

de rosca, trado holandês, trado sonda, enxadão, pá reta (Figura 11), cavadeira,

colher de pedreiro, lata, balde de plástico, sacos de pano ou de plástico ou de papel,

caixinha de papelão, etc. Desses materiais, os mais usados, normalmente, são:

enxadão ou trado para a retirada da amostra; balde de plástico com capacidade para

10 a 20 litros; caixinhas de papelão ou saquinhos de plástico especiais para envio da

amostra composta ao laboratório. A ferramenta mais indicada para a retirada das

subam ostras é o trado, pois permite que elas sejam coletadas sempre a mesma

profundidade e que sejam tomados mesmos volumes de solo por amostra simples.

É preciso usar recipientes realmente limpos, de forma a evitar contaminações.

Para evitar qualquer problema não se devem lavar sacos de adubo, por exemplo,

para depois empregá-los na amostragem ou envio de amostras. Devem-se

considerar também como contaminantes: calcário, cal, cimento, defensivos

agrícolas, leite e outros produtos.

17

Figura 11. Utensílios empregados na amostragem de solo para diagnóstico da fertilidade: (a) trado de rosca; (b) trado holandês; (c) enxadão; (d) pá.

2.1.4.2.2. Retirada de uma amostra simples

Como visto, amostra simples é uma pequena porção ou fatia de solo coletada

ao acaso dentro de uma área uniforme.

Na coleta de subamostras com enxadão, a primeira providência a tomar, ao

chegar ao ponto escolhido, é uma limpeza superficial do terreno, que consiste na

remoção de folhas, gravetos ou outro detrito orgânico sobre o local, ou a capina

superficial da vegetação. Em seguida faz-se um buraco na profundidade de 0 a 20

cm (normalmente), ou seja, na profundidade da lâmina do enxadão, deixando-se

uma das paredes o mais vertical possível. Isso é feito porque a planta explora

volume de solo e é preciso saber O que ocorre em profundidade. O que acontece na

horizontal fica representado pela reunião e mistura de solo dos 20 ou mais locais

diferentes (Tabela 10).

Na parede vertical do buraco corta-se uma fatia de cima até em baixo, que

deverá ser derrubada, destorroada e misturada cuidadosamente dentro do próprio

buraco. Dificilmente se consegue boa mistura se ela não for feita com as mãos. Em

locais em que o homem corre o risco de algum tipo de contaminação pode ser usado

uma luva ou um saco de plástico, como se fosse uma luva, para a mistura. Em

18

seguida, faz-se a coleta de um punhado deste solo e a sua transferência para uma

vasilha limpa (Figura 12).

Tabela 10. Variabilidade horizontal em características de solos sob plantio direto e número médio de subamostras/amostra

Característica C.V. Número de subamostras (n)1

Amplitude média

Matéria orgânica 9,8 2 – 7 4,1 pH em água 7,0 1 – 4 2,1 Índice SMP 4,1 1 – 2 1,1 K (Mehlich-1) 29,9 13 – 95 42 P (Mehlich-1) 33,3 10 - 94 51

1(n) = [tα.CV/e]2, α = 0,05 e e (erro em torno da média) = 10%

Fonte: Anghinoni (1999)

Figura 12. Seqüência de procedimentos para coleta de amostra de solo com enxadão.

19

Cada amostra simples deve contribuir com aproximadamente o mesmo

volume para a formação da amostra composta, de forma a evitar predominância de

uma sobre a outra, com diluição ou enriquecimento da amostra. Isso, como visto, é

conseguido mais facilmente quando se usa trado.

2.1.4.2.3. Profundidade

A profundidade para retirada da amostra é, geralmente, de 0 a 20 cm porque

é nessa camada que se adiciona, normalmente, calcário e adubo, nela cresce um

volume razoável de raízes e ai se incorpora os restos vegetais. Contudo, alguns

casos especiais são registrados, destacando-se: cana planta, com indicação de

profundidade de 0 a 25 cm; culturas perenes e pastagens estabelecidas, para as

quais alguns sugerem 0 a 20 cm, e outros 0 a 10 cm. No caso das culturas perenes

há aqueles que recomendam que se faça duas amostragens em separado, na

mesma área, uma de 0 a 20 cm e outra de 20 a 40 cm. Essas são as profundidades

usualmente empregadas em cultivo convencional. No sistema plantio direto a

recomendação é para fazer coleta na profundidade de 0 a 20 cm na fase de

implantação (primeiros 5 anos) e de 0 a 10 cm, na fase consolidada ou estabelecida.

2.1.4.2.4. Local para retirada da amostra simples

Em áreas em pousio ou de pastagens, coletar em locais ao acaso, de forma a

cobrir toda a área selecionada.

Em áreas de culturas anuais, em plantio convencional, podem-se ter duas

situações: em pleno andamento da cultura e após a colheita No primeiro caso fazer

retirada da amostra no meio das entrelinhas, evitando a linha de plantio ou suas

proximidades, onde pode ter sido colocado adubo. No segundo caso, observar o

cuidado já citado para cultura em andamento, ou coletar ao acaso após a aração e a

gradagem da área, as quais servirão para misturar ou homogeneizar o solo. Em

áreas no sistema plantio direto com adubação em linha faz-se a distinção entre a

fase de implantação (primeiros cinco anos) e a fase estabelecida ou consolidada Na

primeira faz-se amostragem com pá de corte (pá reta) ou enxadão à profundidade

de 0 a 20 cm, transversalmente à linha de adubação, retirando uma fatia de solo de

5 cm de espessura e largura igual a das entrelinhas da cultura anterior, mantendo a

linha de adubação centralizada na faixa de coleta. Após os cinco primeiros anos no

20

sistema, o procedimento de coleta é o mesmo, alterando a profundidade de coleta

para 0 a 10 cm. Em ambos os casos devem ser coletadas, no mínimo, 20

subamostras para formar a amostra composta (Oliveira et aI., 2002).

No caso de culturas perenes como café e citros, coletar amostras simples na

região onde se faz a adubação e no meio das entrelinhas. No primeiro caso obtém-

se amostra para indicação de adubação e, no segundo, para calagem.

2.1.4.2.5. Volume ou tamanho das amostras

As amostras simples devem ter de 30 a 40 cm3 A amostra composta ou

amostra, a que é enviada ao laboratório, cerca de 250 a 300 cm3. Quando se usa

caixinha é importante que ela seja totalmente preenchida, pois isso propiciará um

trabalho mais padronizado no laboratório. Fica clara a importância de uma

amostragem bem feita, urna vez que essa amostra composta pode estar

representando uma área uniforme de até 20 ha (40 milhões de dm3 de solo).

2.2. IDENTIFICAÇÃO CORRETA DA AMOSTRA

Foi citada a necessidade de dividir a propriedade em áreas e de fazer um

croqui no qual, com o melhor sentido de orientação, elas são localizadas e

identificadas.

Obtida a amostra composta de uma dada área é preciso que ela seja

identificada corretamente. Para tal, ao se usar caixinha, dever-se-á preencher

claramente os itens relativos à identificação que se encontram impressos em urna

de suas faces. Caso se esteja usando outro recipiente o uso de etiquetas resolverá o

problema. Os itens de identificação são:

a) Nome (do proprietário).

b) Propriedade (nome da), muito impactante principalmente no caso do

interessado ter outra(s) propriedade(s).

d) Município onde está a propriedade.

e) Cultura a ser feita.

f) Número da amostra. Deve-se identificá-la com aquele mesmo número

que foi colocado no croqui para caracterizar a área.

21

Quando se usa saquinho de plástico a identificação é feita com caneta

esferográfica na parte externa do próprio saquinho e, ao mesmo tempo, em etiqueta

que é grampeada na sua parte superior e externa.

Identificação correta terá que ser feita também na folha de informações ou

questionário que acompanhará a amostra Deve-se lembrar que, enquanto a caixinha

vai para o laboratório propriamente dito, a folha de informações ou questionário fica

no escritório para uso posterior, quer para esclarecimento quer para auxiliar na

indicação de calcário e de adubo.

2.3. ÉPOCA E FREQÜÊNCIA DE AMOSTRAGEM

A amostragem pode ser feita em qualquer época do ano. Contudo, deve-se

evitar a retirada de amostras quando nos dias anteriores foi feita cal agem ou

adubação (Trani, 1986). No caso de culturas perenes, onde este tipo de problema se

apresenta normalmente, fazer amostragem no mínimo 30 dias após a última

adubação. No tocante a pastagens estabelecidas a coleta de solo deve ser feita

cerca de três meses antes do crescimento vegetativo máximo (Lopes, 1989). Por

outro lado, em alguns meses do ano há maior atividade nos laboratórios (julho e

agosto), acarretando uma maior demora na entrega dos resultados. Assim, se

houver possibilidade, no sudeste brasileiro é preferível coletar as amostras a partir

de março, quando as chuvas escasseiam e pouco limita essa atividade.

Quanto à freqüência, tem-se que ela é dependente da intensidade de uso da

área. Naquelas onde se pratica apenas uma cultura por ano pode-se amostrar a

cada 3, 4 ou 5 anos. Em áreas onde se faz 2 a 3 culturas anuais consecutivas, com

uso intensivo de adubação, é interessante fazer amostragem anualmente ou de 2

em 2 anos. Em média, deve-se repetir a amostragem a cada 2 a 3 anos.

2.4. CUIDADOS NA AMOSTRAGEM

A amostragem de solo pode ser feita em qualquer época do ano, mas, como

visto anteriormente, é preciso evitar épocas de acúmulo no laboratório e logo após a

aplicação de calcário (em qualquer cultura) ou de adubo nas culturas perenes ou

naquelas em que se aplica adubo a lanço.

Outro cuidado é quanto à ocorrência de locais estranhos dentro da área

uniforme. Podem ser encontrados formigueiros, cupinzeiros, locais onde se fez

monte de calcário ou de adubo, etc. Nesses locais, mesmo considerando-os

pertencentes à área, não coletar solo.

22

No período chuvoso aguardar dois a quatro dias para coletar amostras. Uma

observação prática importante é a seguinte: somente colete amostra se conseguir

destorroar e misturar o solo da fatia cortada e derrubada dentro do buraco. Se isso

não for possível, aguarde um ou dois dias, pois, nesse caso, não será obtida

amostra que efetivamente representa a área. O que se envia para o laboratório é a

amostra composta. Uma vez que ela tenha sido coletada, deve ser enviado o mais

rapidamente possível para o laboratório. Quando, por qualquer razão, for ocorrer

alguma demora, é conveniente que se faça a sua secagem ao ar e à sombra, em

local onde não se corra riscos de contaminação, espalhando o solo sobre jornal ou

pedaço de plástico. Esse procedimento é muito importante principalmente quando se

pretende determinar enxofre, pois umidade e temperatura elevadas estimulam a

mineralização da matéria orgânica e com isso o teor de sulfato poderá ser

significativamente alterado.

De uma maneira geral os laboratórios dispõem de caixinhas e questionários

e, impressa-nos mesmos, indicação de como retirar amostras de solo. O agricultor

deverá ser instruído para fazer corretamente a parte dele e, assim, a análise de solo

cumprir realmente a sua função.

2.5. QUESTIONÁRIO OU FOLHA DE INFORMAÇÕES

Junto com a amostra de solo deve ser enviado o respectivo questionário ou

folha de informações respondido ou preenchido, da forma mais clara e precisa

possível. Esse formulário serve para orientar tanto o laboratório acerca da

interpretação e aceite ou rejeição dos dados analíticos, quanto à recomendação de

calagem e de adubação.

2.6. ERROS MAIS FREQÜENTES NA AMOSTRAGEM

Procurou-se nos itens anteriores oferecer o máximo de informações e

detalhes para uma amostragem bem feita. Contudo, dentro do citado, pelo fato de

grande número de pessoas estarem envolvidas no processo, muitos erros são

cometidos e, o que é pior, muitos deles com o conhecimento de técnicos a quem

caberia a tarefa de orientar essa prática.

A seguir será chamada a atenção para erros corriqueiros, devendo-se tomar o

máximo de cuidado para que não ocorram:

a) coleta de subamostra em local não apropriado, em manchas ou em

trilhas, que não representam a área uniforme;

23

b) a divisão da propriedade em áreas uniformes, a título de uso do bom

senso, muitas vezes deixa a desejar. Realmente, é bom senso considerar uma

mancha de solo com cerca de 50 laranjeiras em uma área com 3000 plantas como

fazendo parte desta área. No entanto, não se deve coletar solo dentro desta

mancha. Por outro lado, quando se passa a ter 200 ou mais laranjeiras é preciso ter

discernimento suficiente para não ignorar os critérios de uniformidade;

c) o número de subamostras usadas para formar a amostra composta é

muitas vezes insuficiente, 3 ou 4 apenas, quando deveria ser de no mínimo 20.

Neste aspecto é importante que se lembre que a amostra composta deverá

apresentar o valor médio daquilo que se analisou. Lógico que, o risco que se corre

de uma amostra obtida com 3 ou 4 subam ostras não representar a área uniforme é

muito maior do que quando se usa 20 pontos. Suponha análise de solo de pontos

isolados, isto é, de cada subamostra, e depois a soma e obtenção da média. Por

exemplo, para fósforo determinado em resina, poder-se-ia ter os seguintes valores

em mg dm-3: 50, 1, 2, 1, 3, 1, 1, 2, 3, 1, 2, 1, 1, 1, 2, 3, 3, 2, 1 e 1. Caso se tivesse

tomado três pontos, e um deles fosse o que apresenta 50 mg dm-3 e os outros, 2 e 2

respectivamente, a média seria 18 mg dm-3 (um solo com teor médio). No entanto,

se considerados os 20 pontos ou subamostras, a média seria 4 mg dm-3 (um teor

muito baixo), e um valor mais próximo daquilo que cada ponto mostrou

separadamente.

d) ao usar saquinho de plástico, muitos colocam a identificação da

amostra, em papel, por dentro. Corre-se o risco do papel decompor e de se perder a

marcação.

e) às vezes são enviadas ao laboratório amostras muito úmidas. Neste

caso já fica a dúvida se foi feita uma boa mistura. Outros problemas são: quando se

emprega caixinha, ela pode desmontar (ela é colada) e, se colocada em saquinho,

em função do tempo que demorar em chegar ao laboratório, o solo pode se

transformar num "tijolo".

24

3. MATÉRIA ORGÂNICA

3.1. INTRODUÇÃO

A princípio a crosta terrestre era constituída apenas por rochas, as quais,

sob a ação do intemperismo físico e químico, foram se fragmentando e acabaram

formando o rególito.

O rególito formado continha todos os nutrientes de plantas com exceção do

nitrogênio e, por isso, não apresentava condições para o desenvolvimento da

maioria dos vegetais. Nessas condições, em determinado momento, devem ter

surgido algas e outros microrganismos que conseguiam captar o nitrogênio do ar

atmosférico. Esses seres, completando o seu ciclo vital, deixaram resíduos

orgânicos (contendo nitrogênio combinado) no rególito, à custa dos quais outros

microrganismos, incapazes de aproveitar N na forma de N2, puderam se

desenvolver. A seguir foram estabelecidas condições para o desenvolvimento de

plantas superiores, vivendo ou não com auxilio de microrganismos.

O fato é que o estabelecimento de seres vivos no rególito foi permitindo um

aumento contínuo de produção de resíduos orgânicos que, sob a ação de agentes

físicos, químicos e biológicos, transformaram-se em matéria orgânica. Com a

produção de matéria orgânica o rególito passou a ter vida e a se constituir

efetivamente no solo.

No inicio desse processo cíclico - produção vegetal, deposição de resíduos

orgânicos, produção de matéria orgânica, produção vegetal, etc. - teve-se uma fase

em que a ação formadora de matéria orgânica foi maior do que a de destruição,

levando a um acúmulo.

Após o solo atingir certo nível de matéria orgânica passou-se a ter um

equilíbrio entre a ação formadora e a destruidora de matéria orgânica. Essa última é

uma situação típica de solos sob floresta ou de campina nativa há muito

estabelecida ou de solo sob cultivo, numa mesma região, sob um mesmo manejo.

Depois, em algumas áreas, devido à mudança do manejo ou a algum tipo de

agressão à natureza (geralmente, ação do homem) passou-se a ter,

temporariamente, um predomínio da ação destruidora sobre a formadora Esse

predomínio da ação destruidora sobre a formadora persistiu ou persiste até que

novo equilíbrio seja atingido nas novas condições. E assim por diante (Figura 14).

25

Figura 14. Fases de acúmulo, de equilíbrio e de destruição da matéria orgânica do solo (Kiehl, 1979).

Solos cultivados, por mais produtivos que sejam geralmente apresentam teor

de matéria orgânica menor do que solos virgens das proximidades. É o que mostra a

Figura 14. Um solo virgem que passa a ser cultivado perde, em média, 50% da sua

M.O. em 20 a 30 anos de cultivo.

A importância da matéria orgânica e seu papel no solo não se restringem à

sua capacidade de fornecer nitrogênio às plantas, pois, dentro de certos limites, ela

é fornecedora de todos os nutrientes. Além disso, ela tem papel importante tanto nas

propriedades físicas, quanto nas químicas e biológicas do solo.

3.2. CONCEITOS

Material orgânico ou resíduo orgânico é qualquer tecido orgânico encontrado

no solo, ou que a ele se adiciona cuja origem pode ser reconhecida.

O material orgânico praticamente não tem atividade de superfície, portanto

não adsorve água ou íons, e, às vezes, apresenta cheiro.

A matéria orgânica compreende resíduos vegetais e animais em estado

diverso de decomposição e síntese, ocorrendo em íntima relação com os

constituintes minerais do solo.

Pelo conceito apresentado, percebe-se que matéria orgânica se refere ao

tecido orgânico presente no solo cuja origem não pode ser reconhecida. É comum

se subdividir a matéria orgânica em dois grupos de substâncias: não húmicas ou não

humificadas e húmicas ou humificadas.

As substâncias húmicas, o húmus, possui propriedades coloídais, portanto,

apresentam atividade de superfície e por isso adsorvem ou retêm água e íons. O

26

húmus é a parte ativa da matéria orgânica e daí se pode afirmar que todo húmus é

matéria orgânica, mas, nem toda matéria orgânica é húmus.

Outros dois aspectos que merecem ser enfatizado são os seguintes:

a) a matéria orgânica se encontra intimamente misturada com os

constituintes minerais do solo;

b) enquanto a decomposição é feita por agentes físicos, químicos e

biológicos, a síntese é realizada apenas pelos biológicos.

Segundo Kiehl (1979), a matéria orgânica do solo pode formar-se em

condições aeróbias ou anaeróbias. No primeiro caso, resulta o húmus que

normalmente ocorre na maioria dos solos. No segundo caso, em condições

anaeróbicas, tem-se a formação de turfa, formando os solos turfosos.

3.3. CONTEÚDO

O teor de matéria orgânica dos solos varia desde traços a ± 950 g/kg. Em

função do conteúdo de matéria orgânica os solos podem ser classificados em

minerais, aqueles que apresentam desde traços a 200 g/kg de matéria orgânica, e

orgânicos, com mais de 200 g/kg, podendo chegar a 900-950 g/kg.

No Estado de São Paulo os teores de matéria orgânica em solos minerais

variam desde 3,6 a 133 g/kg, enquanto que, nos orgânicos, tem-se cerca de 350

g/kg. Na Tabela 13, utilizando-se dados apresentados por Lemos et al. (1960), são

apresentados os teores de matéria orgânica na camada superficial dos solos.

Analisando-se a referida Tabela nota-se que os solos do Estado apresentam uma

grande variabilidade em sua fração orgânica, o que se explica pelo fato de que a sua

quantidade atual de matéria orgânica depende de: textura, topografia, drenagem,

fatores climáticos, vegetação, manejo, etc. Posteriormente discutir-se-á o efeito

desses fatores na quantidade de matéria orgânica do solo.

Se aceita que 1 kg de matéria orgânica estável do solo apresenta, em

média, 580 g de carbono orgânico. Isso significa a existência de uma relação entre

matéria orgânica e carbono orgânico da seguinte ordem: MO = 1,724 x C.

Logicamente que, conhecendo-se um dos elementos da equação anterior, pode-se

calcular a quantidade do outro. Em função dessa relação entre matéria orgânica e

carbono orgânico, têm-se as seguintes classes de fertilidade para carbono orgânico

(em g/kg) e respectivos limites: teor baixo ou pobre, para valores menores do que 8;

teor médio, entre 8 e 14; teor alto ou rico, para valores maiores do que 14.

27

Tabela 13. Teor de matéria orgânica em solos do Estado de São Paulo

Solo Matéria orgânica

g/kg Solos com horizonte B textural (±30%)1

Argisolo Vermelho-Amarelo orto (PV) 10 - 23 Argisolo Vermelho-Amarelo orto Piracicaba (PVp) 17 – 37 Argisolo Vermelho-Amarelo varo Laras (PVIs) 6 – 36 Argisolo Vermelho-Amarelo "intergrade"para Latossolo Vermelho- Amarelo (PVL)

24 - 28

Solos Podzolizados com Cascalho (Pc) 5 – 49 Solos Podzolizados de Lins e Marília varo Lins (Pln) 5 – 24 Solos Podzolizados de Lins e Marília Var. Marília (Pml) 6 – 26 Mediterrânico Vermelho-Amarelo (M) 25 – 69 Terra Roxa Estruturada (TE) 9 – 50

Solos com horizonte B latossólico (54%)1

Latossolo Roxo (LR) 17 – 30 Latossolo Vermelho-Escuro Orto (LE) 16 - 53 Latossolo Vermelho-Escuro fase arenosa (LEa) 4 – 5 Latossolo Vermelho-Amarelo OIto (LV) 22 – 47 Latossolo Vermelho-Amarelo fase rasa (L Vr) 25 – 69 Latossolo Vermelho-Amarelo fase arenosa (L Va) 8 – 15 Latossolo Vermelho-Amarelo fase terraço (L Vt) 21 – 56 Latossolo Vermelho-Amarelo "intergrade" para Podzólico Vermelho Amarelo (pVP)

32 – 49

Latossolo Vermelho-Amarelo húmico (LH) 32 – 66 Solos de Campos do Jordão (LJ) 23 – 133

Solos Hidromórficos (±2,5%)1

Solos Hidromórficos (HI) 9 Podzol Hidromórficos (PH) 14 – 56

Solos Orgânicos (O) (22 km2) 359 Solos pouco desenvolvidos (15,8%)'

Solos aluviais (A) 38 Litossolo (Li) 19 – 53

Regossolo (R) 5 - 16

Fonte: Adaptado de Lemos et al. (1960).

3.4. DISTRIBUIÇÃO

No conceito apresentado para matéria orgânica foi citado que ela está

intimamente misturada com os constituintes minerais do solo. Em outras palavras,

ela não se encontra estratificada no solo, isto é, não há uma camada de

28

constituintes minerais, outra de matéria orgânica, etc., mas sim, esses constituintes

(mineral e orgânico) misturados entre si.

A mistura de constituintes minerais e orgânicos é homogênea em toda a

profundidade do perfil do solo? Ao se analisar o perfil de um solo, centímetro por

centímetro, no sentido vertical, encontrar-se-á de cima em baixo, o mesmo teor de

matéria orgânica? A resposta a estas perguntas é não. Como regra geral, em solos

minerais, de qualquer tipo e independentemente da cobertura vegetal que

apresentem, ocorre maior concentração de matéria orgânica na camada superficial e

diminuição do seu teor com a profundidade.

A diminuição do teor de matéria orgânica com a profundidade, portanto, a

distribuição da matéria orgânica no perfil do solo, varia em função do tipo de

cobertura vegetal, da textura do solo e de práticas de manejo adotadas nos solos

cultivados.

Na Figura 15 são apresentados os modelos clássicos de distribuição de

matéria orgânica em solos sob vegetação de florestas e sob gramíneas.

Figura 15. Distribuição da matéria orgânica no solo em função da profundidade.

O desenho do modelo de distribuição da matéria orgânica em solos sob

floresta (apenas o modelo e, portanto não as quantidades) corresponde também a

solos argilosos sob cultivo, enquanto que o de solos sob gramíneas representa bem

o que se passa em solos arenosos sob cultivo.

29

De qualquer forma, percebe-se que, geralmente, ocorre uma maior

concentração de matéria orgânica na camada mais superficial dos solos, diminuindo

o teor com a profundidade. No caso dos solos sob florestas tal diminuição é rápida

ou brusca enquanto que nos sob gramíneas é lenta ou gradual.

A diminuição brusca no teor de matéria orgânica em solos sob florestas é

decorrente de uma maior contribuição da parte aérea do que do sistema radicular. A

grande parte das raízes que se renovam periodicamente em florestas se concentra

na camada mais superficial. Por outro lado, em solos sob gramínea nativa ou

formada há muito tempo, a diminuição é lenta porque o sistema radicular que se

renova periodicamente é mais profundo, as raízes têm uma vida média menor do

que as de plantas de florestas e, ao mesmo tempo, elas contribuem mais do que a

parte aérea.

Percebe-se pelo exposto que a distribuição da matéria orgânica nos solos

sob florestas e sob gramíneas é bastante afetada peja forma de deposição de

resíduos orgânicos sobre ou dentro do solo. É evidente que no caso de solos sob

florestas a maior contribuição é da parte aérea, portanto sobre o solo, enquanto que

no de gramíneas, é do sistema radicular, dentro do solo. Mas não só a forma de

deposição de resíduos orgânicos ou materiais orgânicos é importante. A textura

também dá a sua contribuição e daí os modelos citados para distribuição de matéria

orgânica em solos cultivados.

Os efeitos da vegetação de floresta e de savana e os efeitos do cultivo em

solos antes ocupados com esses tipos de vegetação, na distribuição de matéria

orgânica em solos da África, podem ser visto na Figura 16. Nota-se, na referida

Figura, que os aspectos gerais abordados quanto à distribuição de matéria orgânica

se confirmam.

30

Figura 16. Distribuição típica de matéria orgânica em perfis de solos de floresta e de savana

do oeste da África (Brams, citado por Sánchez, 1976).

3.5. SUBSTÂNCIAS ENCONTRADAS EM TECIDOS ORGÂNICOS E NA MATÉRIA

ORGÂNICA

3.5.1. Classificação

Dentre os componentes orgânicos dos restos animais e vegetais se podem

diferenciar os grupos que se apresenta a seguir:

a) carboidratos, compreendendo monossacarídeos e derivados (glucose,

galactose, ribose, arabinose, xilose, arninoaçúcares); oligossacarídeos

(dissacarídeos como sacarose, maltose e lactose e trissacarideos como a rafinose);

polissacarideos (amido, celulose, hemicelulose, pectina, insulina, glucogênio e

quitina);

b) ligninas;

c) proteínas, polipeptídeos e ácidos nucléicos;

d) graxas, ceras e resinas;

e) outros compostos, tais como ácidos orgânicos, pigmentos, alcalóides,

hormônios externos, antibióticos, quelatos, etc.

31

Dos cinco grupos de compostos apresentados, os quatros primeiros têm

grande importância quantitativa na mineralização ou decomposição dos restos

vegetais e animais bem como no processo de humificação. O último grupo tem

pouca importância

De acordo com Millar & Turk, citados por Mello et al (1983), uma outra

maneira simplificada de se classificar as substâncias que constituem as plantas e os

animais é a seguinte:

a) substâncias sem nitrogênio, constituídas principalmente por C, H e O.

Neste grupo de substâncias têm-se carboidratos, lignina, graxas, ceras, ácidos

orgânicos, etc;

b) substâncias com nitrogênio, representadas principalmente pelas

proteínas. Essas substâncias, além do nitrogênio, contêm carbono, hidrogênio e

oxigênio e podem apresentar enxofre, fósforo, ferro e outros elementos. Outras

substâncias nitrogenadas são: aminoácidos, aminas, alcalóides, purinas, etc.;

c) constituintes inorgânicos ou minerais: neste grupo tem-se, principalmente,

compostos de P, Ca, Mg, Si, S, etc.

3.5.2. Composição aproximada de tecidos vegetais secos e da matéria

orgânica do solo

O tecido verde dos vegetais superiores é constituído em cerca de 85% por

água, ou seja, em 1000 g de tecido tem-se 850 g de água. A matéria seca é

composta de C, H, O, N e elementos minerais, sendo que cerca de 90% é

representada pelos três primeiros elementos. Os tecidos vegetais, como visto, são

constituídos por diferentes substâncias, as quais têm participação variável na sua

formação. As quantidades das diferentes substâncias em uma plantam variam

principalmente em função da sua espécie e da sua idade.

Como as principais fontes de tecido orgânico para a produção de matéria

orgânica são os vegetais e, considerando que a matéria orgânica é o produto de

decomposição e síntese de resíduos orgânicos, é de se esperar que muitas das

substâncias encontradas em tecidos vegetais o sejam também na matéria orgânica.

Na Figura 17 e na Tabela 14 é apresentada a composição aproximada de tecidos

vegetais maduros e da matéria orgânica, enquanto na matéria orgânica certas

substâncias têm comparativamente aos tecidos orgânicos, o seu conteúdo reduzido

drasticamente, outras, aparentemente, não sofrem quaisquer variações e,

finalmente, outras têm um aumento relativo ou real no seu conteúdo. Isso ocorre

32

porque, quando resíduos orgânicos são levados ou chegam ao solo eles não são

decompostos em conjunto, sendo os seus componentes decompostos

independentemente uns dos outros. Inicialmente se tem urna redução rápida dos

constituintes solúveis em água (açúcares e amidos) e da celulose e da hemicelulose,

com um relativo aumento na porcentagem de lignina e um aumento no teor de

proteína.

Figura 17. Composição dos materiais representativos de vegetais verdes adicionados aos solos. Todos os elementos químicos, inclusive nitrogênio, estão representados nas cinzas. As faixas comuns de porcentagem dos compostos presentes estão entre parênteses (Waksman, citado por Brady, 1989).

Tabela 14. Composição aproximada de tecidos vegetais maduros e da matéria orgânica do solo

Componente Tecido de planta Matéria orgânica

----------------------------- g/kg ----------------------------- Celulose 200 - 500 20 – 100 HemiceluIose 100 – 300 0 – 20 Lignina 100 – 300 350 – 500 Proteina 10 – 150 280 – 350 Gorduras, ceras, etc 10 - 80 10 - 80

O aumento no teor de lignina é relativo porque, na verdade, ele cresceu em

função de uma maior facilidade de decomposição de outros componentes e, ao

mesmo tempo, por apresentar maior resistência à decomposição e pela base de

33

cálculo usada (1 kg de tecido de planta origina, no máximo, 0,2 kg de M.O.). Apesar

de ser extremamente resistente à decomposição, na matéria orgânica, a lignina está

presente com algumas importantes alterações químicas.

Quanto ao aumento do teor de proteína a situação é diferente. Parte da

proteína inicial foi degradada pelos microrganismos, os quais, na fase de máxima

atividade, sintetizaram outras proteínas que foram deixadas no solo após a sua

morte. Ainda, acredita-se que parte da proteína pode ficar adsorvida sobre a

superfície de minerais de argila e com isso resistir à decomposição.

3.6. RELAÇÃO CARBONO/NITROGÊNIO (C/N)

A relação C/N exprime à proporção que existe entre carbono e nitrogênio em

um tecido orgânico ou na matéria orgânica. Ela é muito variável, podendo atingir, em

resíduos de planta, valores tão baixos quanto 20/1 ou menos (leguminosas jovens),

ou até superiores a 200/1 (em palha de cereais). Na Tabela 18, usando-se dados

apresentados por Kiehl (1980), apresenta-se a relação C/N em alguns tecidos

orgânicos.

Tabela 18. Relação C/N de alguns tecidos orgânicos

Tecido Relação C/N

Tecido Relação C/N

Bagaço de cana 22/1 Folha de mandioca 12/1

Capim-colonião 27/1 Rama de mandioca 40/1

Casca de arroz 39/1 Palha de milho 112/1 Crotalaria juncea 26/1 Serragem de madeira 865/1

Esterco de bovinos 18/1 Torta de mamona 10/1

Esterco de galinha 10/1 Turfa 57/1

Esterco de porco 10/1 Bactérias 5/1 Grama batatais 36/1 Actinomicetos 6/1

Palha de café 33/1 Fungos 10/1

Na matéria orgânica relativamente estável do solo tem-se uma relação C/N

que varia desde 8/1 a 12/1 ou mesmo 15/1, com uma média em torno de 10/1 na

camada arável e 8/1 em camadas inferiores.

Enquanto que em tecidos vegetais a relação C/N é bastante dependente da

espécie e da idade do material, na matéria orgânica ela varia basicamente com as

condições climáticas da região, com o material de origem e com a profundidade do

solo. De maneira geral, tem-se em regiões mais quentes e secas uma relação C/N

34

mais baixa do que naquelas mais frias e úmidas. Em regiões áridas ela se aproxima

da relação C/N de tecidos de microrganismos (6/1), possivelmente indicando um

baixo aporte de outras fontes de resíduos orgânicos além do representado pelas

células microbianas. O efeito do material de origem é determinado pela sua

composição (Tabela 14) que, como visto, varia com a espécie vegetal e a sua idade,

podendo permitir ou não urna decomposição mais rápida e sumária do resíduo

incorporado, o que acabará afetando a relação C/N da matéria orgânica. Em termos

de profundidade tem-se notado que nas camadas mais superficiais a relação C/N é

maior do que nas camadas mais profundas. Possivelmente, este último fato esteja

ligado à frequência e à manei ra como se incorporam os resíduos orgânicos, à

lixiviação do nitrogênio mineral para camadas inferiores e a iluviação de húmus.

Pelo exposto percebe-se grande variabilidade na relação C/N, tanto no

material orgânico quanto na matéria orgânica teria essa relação alguma implicação

prática na decomposição orgânica e produção de matéria orgânica? Antes de tudo é

necessário que se chame à atenção para os seguintes fatos:

a) qualquer material orgânico colocado no solo, independentemente de sua

relação C/N, será decomposto e, no final, desde que haja condições, será produzida

matéria orgânica com relação C/N em torno de 10/1;

b) os microrganismos que promovem essa decomposição orgânica ou

oxidação biológica usam esses resíduos como fonte de energia (oxidação do

carbono orgânico) e o carbono orgânico como fonte de carbono. Do carbono

orgânico presente, desde que exista nitrogênio em proporção adequada, cerca de

35% é assimilado a 65 % é perdido no meio.

Uma relação C/N média na matéria orgânica de 10/1 e um aproveitamento

do C orgânico de 35%, significam que, hipoteticamente, há necessidade de cerca de

30 carbonos para 1 nitrogênio para se ter o aproveitamento máximo possível da

energia e do carbono orgânico adicionado, com formação de húmus. Quando a

relação C/N for maior do que 30/1 haverá maior perda de carbono para o meio, na

forma de CO2 e total aproveitamento do nitrogênio presente, de forma a que se

tenha redução na relação C/N. Pode-se citar, haverá, por falta de nitrogênio, menor

quantidade de matéria orgânica formada. Cabe aqui lembrar que, como citado por

Mello (1988), apenas 10 a 20% do material orgânico (restos, adubos orgânicos)

adicionado ao solo se transforma em massa mais ou menos estáveis, portanto

35

matéria orgânica, havendo, em consequência, um aproveitamento ainda muito

menor do C orgânico.

Enquanto houver excesso de carbono é possível que aconteçam dois fatos

importantes: aquecimento do meio em função da energia liberada na forma de calor

e falta de nitrogênio mineral para as plantas. Aliás, o problema é mais grave do que

se possa imaginar, pois, o que se tem é, na verdade, retirada de nitrogênio mineral

já existente no solo pelos microrganismos para atender suas necessidades, os quais

competem e ganham das plantas superiores pela simples razão de terem atividade

metabólica mais intensa e explorarem exatamente a região que poderia fornecer

esse nitrogênio para elas.

Essa conversão do nitrogênio mineral do solo em nitrogênio orgânico é

denominada imobilização. Por outro lado, quando a relação C/N é baixa, por

exemplo, menor do que 17/1, e como o microrganismo mantém o uso de cerca de 30

carbonos para 1 nitrogênio, ter-se-á sobra de nitrogênio na forma mineral o qual será

utilizado por planta superior ou poderá ser perdido devido à lixiviação. Neste caso,

relação C/N estreita, ter-se-á também menor formação de matéria orgânica, só que

agora, por falta de carbono orgânico.

Na Figura 19, retirada de Kiehl (1979), apresentam-se as fases da

decomposição orgânica e dias necessários para sua estabilização em função da

relação C/N.

Figura 19. Fases da decomposição orgânica e dias necessários para sua estabilização, em função da relação carbono/nitrogênio (adaptada de Kiehl, 1979).

36

Entre os vários aspectos importantes que se pode retirar da Figura 19 está o

fato de que se for feita adição de material orgânico ao solo com relação C/N maior

do que 33/1 (conhecida como limite inferior para relação C/N larga) tem-se uma fase

inicial de decomposição em que, no começo, a atividade microbiana é baixa. À

medida que carbono orgânico e energia vão sendo colocados à disposição dos

microrganismos e que a quantidade de outros nutrientes, em especial do nitrogênio,

não limite a sua multiplicação, a atividade vai aumentando. Ainda, nesta fase, nota-

se a imobilização (transformação de N mineral em N orgânico) de formas minerais

de nitrogênio (NO3- e NH4

+), com os microrganismos usando esse nitrogênio para

formar suas células.

À medida que os microrganismos vão atuando, graças ao baixo

aproveitamento do carbono e total aproveitamento do nitrogênio, a relação C/N vai

diminuindo e, ao chegar a 33/1, pode-se observar o início de outra fase ou etapa, a

da bioestabilização. Nesta nova fase, de bioestabilização, com relação C/N entre

33/1 e 17/1, ao mesmo tempo em que nitrogênio está sendo mineralizado (passando

da forma orgânica para a mineral, devido à oxidação microbiana), está também

sendo imobilizado, não havendo, portanto competição pelo N mineral que já estava

presente no solo.

Quando a relação C/N chega a 17/1 (limite superior para relação C/N

estreita) tem-se a matéria orgânica bioestabilizada, isto é, numa situação em que

não ocorrem danos a sementes e plantas por excesso de energia liberada na forma

de calor ou esgotamento de nitrogênio mineral do solo. Com a relação C/N menor

que 17/1 inicia-se a humificação, a síntese do húmus e, ao mesmo tempo, começa a

sobrar nitrogênio mineral. Entre as relações C/N 12/1 e 8/1 começam a oxidação do

húmus (mineralização), e como se pode avaliar pela Figura 6, é um processo

bastante lento, sendo que alguns autores acreditam que a decomposição da matéria

orgânica estável em solos tropicais ocorra a taxas de até 8 a 10% ao ano. Está

neste último fato à importância da devolução de todo e qualquer resíduo orgânico ao

próprio solo e, sempre que possível a adição de adubos verdes ou orgânicos, pois

se tem uma degradação constante da matéria orgânica.

Ainda, com base na Figura 19, verifica-se que após a adição de resíduos

orgânicos é preciso aguardar alguns dias (com condições favoráveis para

decomposição orgânica) para se semear ou transplantar mudas. Quando a relação

37

C/N do material orgânico está entre 60/1 e 33/1 deve-se aguardar de 30 a 60 dias e

quando entre 33/1 e 17/1, de 15 a 30 dias. Possivelmente, quando a relação C/N já

for igual ou menor do que 17/1 (algumas leguminosas novas), uma semana seja

suficiente. Mas, apesar disso, é preciso que se tome cuidado, pois se for colocada

grande quantidade de material orgânico no solo, com relação C/N já igual ou menor

que 17/1, durante algum período também ocorrerá intensa liberação de energia na

forma de calor com as consequências já citadas.

Por último, um fato é importante. Quando se determina a relação C/N de um

solo e ela se mostra acima da faixa de 8/1 a 15/1, o significado disso tanto pode ser

a incorporação relativamente recente de material orgânico, como ocorrência de

condições desfavoráveis para a decomposição orgânica (por exemplo, pH baixo).

Para se ter uma resposta ao fato, além de outras análises químicas e físicas do solo

que se pode fazer, outra maneira é reavaliar a relação C/N alguns dias depois (cerca

de 30 dias).

3.7. EFEITOS DA MATÉRIA ORGÂNICA EM PROPRIEDADES DO SOLO

A matéria orgânica exerce efeitos sobre propriedades físicas, químicas e

biológicas dos solos e em conseqüência, afetas direta e indiretamente a sua

fertilidade. A seguir serão comentados, resumidamente, alguns desses efeitos.

3.7.1. Efeito nas propriedades químicas

3.7.1.1. Capacidade de troca de cátions (CTC)

A fração ativa da matéria orgânica é o húmus e sua atividade está ligada à

dimensão muito pequena da partícula (que acaba apresentando grande área de

superfície por unidade de massa) e à presença de cargas de superfície. A origem

das cargas negativas na superfície do húmus é devida, principalmente, à presença

de radicais carboxílicos e fenólicos. Em ambos os casos, têm-se hidrogênio ligado a

oxigênio à semelhança de ácidos fracos. Esse H de grupo hidroxila ligado à

superfície da partícula coloidal é fracamente dissociável, estando à dissociação na

dependência do pH do meio, sendo que, quanto maior o pH, maior será a

quantidade de carga negativa disponível, portanto, maior a CTC. Isso significa que a

contribuição da matéria orgânica para a CTC efetiva varia, pelo menos, em função

da sua própria quantidade e do pH do meio.

38

Vários autores têm demonstrado que a CTC potencial do húmus é 2 a 30

vezes maior do que a dos minerais de argila (dependendo do tipo de mineral de

argila) e, em média, de 4 a 7 vezes. Para o Estado de São Paulo, Verdade (1955)

verificou que nos solos arenosos, 50 a 60% da CTC em devida à matéria orgânica

enquanto que, nos argilosos, a contribuição estava entre 30 e 40%. Posteriormente,

Raij (1969) verificou que a contribuição da matéria orgânica podia variar de 30 a

90%, considerando-se diferentes solos do Estado, com uma média de 74% (sempre

considerando a camada arável).

3.7.1.2. Disponibilidade de nutrientes

A disponibilidade de nutrientes no solo é afetada de várias maneiras pela

matéria orgânica. Uma delas resulta do fato de que ela também sofre decomposição

e, em decorrência disso, deixa no solo nutrientes como N, P, S, Ca, Mg, Zn, B, etc. É

sabido que, em muitos solos, para determinadas culturas, a única fonte de nitrogênio

é a oriunda da decomposição orgânica e ela é também fonte importante dos

diversos micronutrientes. Apesar disso, não se pode ver nesse aspecto a razão de

ser da matéria orgânica no solo ou a determinante para se fazer adubações

orgânicas. Algumas práticas como a calagem possa, ao possibilitarem uma taxa de

decomposição mais alta da matéria orgânica do que a de sua formação, propiciar

um uso maior das reservas de nutrientes e, em conseqüência, um depauperamento

mais intenso do solo em pouco tempo.

Possivelmente, a maneira mais importante da matéria orgânica contribuir

para aumentar ou manter nutrientes disponíveis para as plantas seja através do seu

efeito sobre a CTC. Como visto, o húmus aumenta a CTC e isto significa que

aumenta a capacidade do solo armazenar Ca2+, Mg2+, K+, etc. em uma forma que

pode facilmente se tomar disponível para as plantas, a trocável. Por outro lado,

ajudando a manter os cátions na forma trocável, a matéria orgânica os está

protegendo, pelo menos temporariamente, de perdas por lixiviação.

3.7.1.3. Poder tampão (em relação ao pH)

A capacidade que o solo apresenta de resistir a mudanças de pH é o seu

poder tampão. O solo tanto oferece resistência ou dificuldade para diminuição,

quanto para aumento do seu valor de pH. Nos solos, essa resistência a mudanças

39

no valor de pH é devida a substâncias que apresentam propriedades coloidais, com

cargas negativas em suas superfícies e que por isso podem adsorver ou reter e

trocar cátions H+, Ca2+, Mg2+, K+, etc. Enfim, é devida a substâncias que apresentam

propriedade de troca catiônica. No caso do hidrogênio, a maior parte, principalmente

na matéria orgânica, está fortemente retida e só se dissocia com a elevação do pH.

O que acontece é que estas substâncias coloidais (minerais de argila e

húmus), que fazem parte da fase sólida do solo, retêm cátions que estão em

equilíbrio com os mesmos tipos de cátions dissolvidos na solução do solo. O detalhe

importante é que a quantidade de cátions adsorvida na fase sólida é infinitamente

maior do que a que se acha dissolvida na solução. Qualquer alteração que ocorra na

solução tem, na fase sólida, resposta quase imediata, numa tentativa de manter o

equilíbrio iônico dentro de cada fase (sólida e liquida ou solução) e entre as fases e,

como é fácil de perceber, a fase sólida funciona como um reservatório de cátions.

Desta forma, lembrando que pH se refere a concentração hidrogeniônica

ativa na solução do solo, ao se adicionar em um solo uma quantidade de base

calculada a partir da sua concentração hidrogeniônica ativa (valor de pH), vai se

observar que, atingido o equilíbrio, o valor de pH praticamente não se altera. Essa

situação poderá se repetir por várias vezes e, se for fixada uma alteração de pH de

4,0 (por exemplo) para 7,0, o número de aplicações necessárias de pequenas

quantidades de bases a este solo irá variar bastante em função do tamanho da sua

reserva de H, que, logicamente, é dependente da sua capacidade de troca catiônica

Os comentários feitos associam definitivamente poder tampão com CTC e,

como já visto a matéria orgânica afeta muito a CTC dos solos, podendo atingir

contribuição da ordem de 90%. Daí, quanto maior o teor de matéria orgânica de um

solo, maior a sua CTC e, em conseqüência, o seu poder tampão.

No caso em discussão a importância do poder tampão do solo está,

principalmente, na resistência a mudanças bruscas no valor de pH, o que é bastante

importante para a vida das plantas.

É de todo conveniente lembrar que redução no teor de matéria orgânica do

solo levará a uma diminuição na CTC e, logicamente, no poder tampão do solo. O

inverso é verdadeiro.

40

3.7.1.4. Acidez do solo

O aumento do teor de matéria orgânica tanto poderá levar a um aumento da

acidez do solo, ou seja, uma diminuição do valor de pH, quanto a uma diminuição da

acidez ou aumento do pH. O efeito dependerá, no mínimo, da fonte ou forma de

adição de resíduo orgânico e do tipo de substrato que se tenha em camadas

subsuperficiais do solo.

Entre muitos autores, Vitti et al. (1979), ao estudarem o efeito da

incorporação de adubos verdes, constataram que com o aumento do teor de matéria

orgânica do solo houve elevação da acidez. Esse aumento de acidez não é devido

apenas à produção de ácidos orgânicos e inorgânicos durante o processo de

decomposição. É devido, também, ao fato de que com o aumento do teor de matéria

orgânica tem-se incremento na CTC, e o material que proporciona esse aumento da

matéria orgânica, normalmente, não contém quantidade de bases suficiente para

manter a mesma proporção de bases (Ca, Mg, K, etc.) e de ácidos (H).

Por outro lado, a incorporação de certos adubos orgânicos como esterco de

galinha, composto e vermicomposto oriundos de resíduos urbanos, etc., têm

promovido diminuição da acidez do solo ou aumento do seu valor de pH.

3.7.2. Efeito nas propriedades físicas

3.7.2.1. Estrutura

De maneira simples pode-se citar que a estrutura do solo é o resultado da

agregação das suas partículas primárias (areia, silte e argila) e outros componentes

(matéria orgânica, óxidos de ferro, etc.). A matéria orgânica é um dos principais

agentes cimentantes e a sua contribuição na agregação se faz sentir mais facilmente

quanto menor for o teor de minerais de argila O efeito da matéria orgânica na

formação de agregados também pode ser devido à liberação de substâncias

gomosas por fungos e actinomicetos.

A estrutura do solo tem papel bastante relevante na produção vegetal pelo

fato de à mesma estarem ligadas à aeração, a retenção de água, a penetração e

distribuição de raízes, etc., que, de uma ou outra forma, afetam, por exemplo, a

própria absorção de nutrientes do solo. Pode-se mesmo chegar ao extremo de se ter

solos com excelente fertilidade que, por se apresentarem mal estruturados, não têm

os nutrientes absorvidos pelas plantas em quantidades suficientes para se obter

41

boas produções. Evidentemente que apenas em solos bem estruturados é que

existirão as condições adequadas para um bom aproveitamento dos nutrientes.

3.7.2.2. Aeração

A porosidade do solo, volume de vazios ou espaço do solo não ocupado

pelas partículas sólidas, é composta pela micro e macroporosidade. A aeração está

associada à macroporosidade, aos macroporos do solo.

O que determina a quantidade e o tipo de poros são basicamente a textura e

a estrutura do solo. Solo bem estruturado apresenta equilíbrio entre macro e

microporosidade e, em consequência, condições para boa aeração. Quando mal

estruturado, solo arenoso terá predominância de macroporos e será excessivamente

aerado. Em solo argiloso, mal estruturado, ocorre predominância de microporos e,

por isso, baixa aeração, sendo comum, em certas situações, o aparecimento de

anaerobiose.

Percebe-se do exposto que boa condição de aeração (nem excesso nem

tampouco falta) ficará, em parte, na dependência de uma boa estruturação do solo.

Como visto à matéria orgânica afeta a estrutura do solo e, em consequência,

também a sua aeração.

É preciso lembrar que as raízes das plantas respiram e, também,

necessitam absorver água e os nutrientes que se acham nela dissolvidos (solução

do solo) e que, como será discutido a seguir, a água do solo está ligada à sua

microporosidade.

3.7.2.3. Retenção de água

Enquanto a aeração está associada à macroporosidade, a retenção de água

está a microporosidade.

Desta forma, solos arenosos e pobres em matéria orgânica tendem a ter

excessiva aeração e baixa capacidade de retenção de água, isto é, serem

excessivamente permeáveis. Como consequência da excessiva permeabilidade nos

solos arenosos tem-se maior facilidade para perda de nutrientes por lixiviação.

Enquanto isso, solos argilosos pobres em matéria orgânica, com predominância de

microporosidade, tendem a ter baixa aeração e nem por isso têm um bom

armazenamento de água. Nessas condições os solos argilosos são pouco

42

permeáveis, oferecendo resistência à penetração da água no sentido vertical. Ainda,

com as chuvas ou irrigação pode ocorrer à destruição de agregados na superfície,

obturando a porosidade normal desses solos em uma fina camada superficial,

levando a uma condição bastante insatisfatória de permeabilidade, na qual a água

não consegue infiltrar, tendendo a escorrer e provocar erosão.

A matéria orgânica funciona como um moderador da permeabilidade do solo,

melhorando-a através de uma melhor estruturação. Nos solos arenosos a matéria

orgânica diminui a macroporosidade, e nos argilosos promove a formação de

macroporosidade. No primeiro caso irá dificultar um pouco a infiltração da água e no

segundo ela será facilitada, concorrendo, em ambos os casos, para aumentar a

capacidade do solo em retê-la ou armazená-la. Sem dúvida a lixiviação e a erosão

serão em parte controladas.

Contudo, não é apenas através da melhoria da estrutura que a matéria

orgânica contribui para aumentar a capacidade do solo em reter água. O húmus

apresenta a propriedade de absorver água, podendo reter quantidades de água

equivalentes a 4 a 6 vezes o seu peso, sendo esse fato bastante importante.

3.7.2.4. Cor

Segundo citado por Ferreira & Cruz (1990), a cor do solo varia desde

"branca" a preta, passando por vários tons, e é determinada basicamente pelo

material de origem combinado com os teores de matéria orgânica e de água. Na

encosta o solo arenoso terá boa drenagem e acumulará pouca matéria orgânica e

por isso será claro ou terá um tom vermelho vivo se, respectivamente, apresentar-se

pobre ou rico em óxidos de ferro. Na baixada o solo arenoso, enriquecido em

matéria orgânica e com um teor de umidade mais elevado será mais escuro,

podendo adquirir uma cor cinza. Na baixada é onde normalmente aparecem os solos

orgânicos, os quais são de cor preta. Um solo rico em óxidos de ferro, quando pobre

em matéria orgânica, apresenta tons vermelhos bastante vivos e, à medida que se

tem o teor de matéria orgânica aumentada, vão surgindo cores mais escuras,

podendo, combinado com elevado teor de umidade, apresentar-se com coloração

cinza.

43

Como o teor de matéria orgânica diminui com a profundidade, deve-se

esperar, e normalmente ocorre que as camadas superiores sejam mais escuras do

que as inferiores.

Se existe efeito direto da cor do solo em sua fertilidade não se sabe. Mas um

fato é verdadeiro, quanto mais escuro um corpo, mais rapidamente ele se aquece, e

isso pode ter implicações em alguns cultivos em regiões frias.

3.7.3. Efeitos nas propriedades biológicas

A importância da matéria orgânica nas propriedades biológicas do solo está

nos seus efeitos em propriedades físicas e químicas que acabam dando melhores

condições para crescimento e desenvolvimento de microrganismos, que são os

agentes que mantêm em circulação os nutrientes de plantas. Além do meio físico e

químico favorável, a matéria orgânica fornece energia e nutrientes para esses

microrganismos se desenvolverem e completarem seu ciclo vital.

Ainda, durante o processo de decomposição são liberadas, no meio,

substâncias como as auxinas e outros hormônios que regulam ou estimulam o

crescimento e a produção vegetal. Eventualmente podem ser liberadas algumas

toxinas (geralmente em meio anaeróbico) que são prejudiciais às plantas, podendo

mesmo, apesar de excesso de água, ser notada uma pseudo deficiência hídrica

(murchamento).

3.8. MANUTENÇÃO E ACÚMULO DA MATÉRIA ORGÂNICA NOS SOLOS

Os princípios básicos para manutenção e possível acúmulo de matéria

orgânica nos solos são: arar e gradear o mínimo possível; fazer adubação verde;

deixar sobre o solo o máximo de resíduos da própria cultura e, sempre que possível;

colocar sobre ele outros restos, adubos orgânicos, etc.; fazer calagem e adubação

química para as diferentes culturas; adotar práticas conservacionistas para controle

da erosão; fazer rotação de culturas e, se possível, de vez em quando, transformar

áreas de culturas anuais em pastagens.

44

4. NITROGÊNIO NO SOLO

4.1. INTRODUÇÃO

Um elemento químico para ser considerado essencial precisa participar de

um composto vital ou de uma reação metabólica crucial para a planta O nitrogênio,

por exemplo, faz parte das proteínas e um dos objetivos da agricultura é produzir

proteínas para alimentação de homens e de animais.

O nitrogênio é um macronutriente primário, presente na forma molecular (N2)

em grandes quantidades na atmosfera (cerca de 80% da atmosfera é N2), forma em

que não é aproveitado pela maior parte das plantas, não existindo na natureza

qualquer rocha ou mineral que o contenha.

Tanto a deficiência quanto o excesso de nitrogênio para a planta são

prejudiciais e, em ambas as circunstâncias pode-se esperar prejuízos. Uma planta

adequadamente suprida com nitrogênio apresenta folhas com cor verde-escuro

devido à alta concentração de clorofila. Alta concentração de clorofila dá condições

para uma fotossíntese eficiente e, de maneira bem simples, para um bom

desenvolvimento e produção vegetal.

A deficiência de nitrogênio provoca aparecimento de folhas amarelecidas,

raquitismo, sistema radicular reduzido e mal desenvolvido, precocidade e diminuição

da floração, menor quantidade e pior qualidade de proteínas, etc.

Entre as principais consequências do excesso de nitrogênio está o super

desenvolvimento vegetativo com desequilíbrio de crescimento entre parte aérea e

sistema radicular, o que acarreta maior sensibilidade das plantas a déficits hídricos;

o acamamento em gramíneas; uma maior sensibilidade ao ataque de pragas e de

patógenos provocando, neste último caso, aparecimento de doenças; etc.

Ao se comparar as quantidades de nutrientes extraídas do solo pelas

colheitas (Tabela 21) verifica-se que, normalmente, o nitrogênio é o elemento

extraído ou exportado em maior quantidade. Contudo, ao se analisar as quantidades

do elemento que se adiciona ao solo se perceberão que ele nem sempre (é o caso

de agricultura menos desenvolvida) é o adicionado em maior quantidade. Esses e

outros aspectos provavelmente sejam responsáveis por Allison, citado por Mello et

al. (1983), ter afirmado que "o maior fator de sucesso do agricultor reside, em geral,

na sua habilidade em trabalhar eficientemente com o nitrogênio".

45

Tabela 21. Exigências de macronutrientes por algumas culturas.

Cultura Colheita N P K Ca Mg S

t ha-1 ------------------------------ kg ha-1 ------------------------------

Arroz

grãos 3 46 8 13 4 5 4

total 8 84 14 89 21 9 9

Milho

grãos 5 115 28 35 2 10 11

total 15 170 35 175 27 39 19

Cana-de-açúcar

colmo 100 132 8 110 13 19 12

Mandioca

raízes 19 39 4 32 12 6 2

total 113 II 79 62 18 8

Algodoeiro

sementes 1,3 29 4 24 II <5 10

total 84 >8 66 61 <13 <33

Soja

vagens 3 200 26 57 10 10 6

total 9 300 40 115 70 35 23

Citrus

frutos 2 ex/planta 150 24 240 90 24 15

Capim napier1 25 302 64 504 96 63 75

Capim colonião1 23 288 44 363 149 99 45 1Refere-se á produção de matéria seca.

Fonte: extraído de Malavolta (1979) e Malavolta et al. (1986)

O ciclo do nitrogênio pode ser esquematizado como o apresentado na Figura

21.

46

Figura 21. Ciclo do Nitrogênio (Corey, 1973)

4.2. AQUISIÇÃO DE NITROGÊNIO PELO SOLO

Por não existir na natureza rocha que contenha nitrogênio e considerando

que apenas certas "plantas" conseguem aproveitá-lo ou retirá-lo do reservatório

representado pelo ar atmosférico, surge a pergunta: como o solo ganha ou adquire

nitrogênio?

O solo ganha nitrogênio por meio dos processos de fixação biológica

(simbiótica e assimbiótica ou livre), da fixação industrial (adubos ou fertilizantes

industriais), da precipitação atmosférica e de resíduos orgânicos (adubos orgânicos,

quando o resíduo é oriundo de fora da área que o recebe). De acordo com o citado

por Victoria et al. (1992) os processos de fixação industrial e de fixação biológica são

os mais importantes.

A seguir serão feitos comentários gerais acerca de cada um dos processos de

ganho citados.

47

4.2.1. Fixação biológica

A fixação biológica do nitrogênio elementar (N2) é o processo pelo qual os

organismos vivos conseguem aproveitar o N atmosférico, incorporando-o à biosfera1.

Esse tipo de fixação é feito por microrganismos procariontes, isto é, organismos que

não apresentam núcleo organizado, presentes em ambientes terrestres e aquáticos.

Os sistemas de fixação biológica no solo são basicamente dois: simbiótico e

assimbiótico e, segundo Suhet et al. (1986), em termos de importância agrícola, o

principal é o que envolve a simbiose Rhizobium-leguminosa.

4.2.1.1. Fixação simbiótica

A fixação simbiótica é devida à interação entre um macrossimbionte, a planta,

e um microssimbionte, a bactéria. A planta é normalmente uma leguminosa e a

bactéria pertence aos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium. Devido à interação

planta-microrganismo ocorre a formação dos nódulos nas raízes das plantas, os

quais, em princípio, nada mais são do que uma reação fisiológica do hospedeiro

(planta ou macrossimbionte) à presença do microrganismo.

O processo é simbiótico, pois há benefícios tanto para o microrganismo

quanto para a planta. A planta fornece carboidratos, por exemplo, que se constituem

em fonte de energia para o microrganismo que fixa o nitrogênio. Conforme citado por

Franco & Neves (1992), o produto da fixação de nitrogênio é a amônia (NH3) que

precisa ser rapidamente removida ou assimilada por ser tóxica, sendo que, no caso

das leguminosas, ela é assimilada em glutamina e glutamato pela célula vegetal e

exportada para as demais partes da planta como ureídos, amidas e vários

aminoácidos. Desta forma fica completada a contraparte da simbiose com a

leguminosa sendo beneficiada ao receber o N combinado.

A quantidade de nitrogênio fixada simbioticamente varia bastante, podendo

atingir valores entre 17 a 500 ou mesmo 1000 kg/ha/ano. Em áreas tropicais, essa

quantidade fixada está pelo menos entre 30 e 220 kg/ha/ano, conforme Graharn &

Hubbell (1974).

Analisando-se a Tabela 22 percebe-se que a espécie vegetal, que no

processo simbiótico entre leguminosa/Rhizobium tem no nódulo um abrigo para a

bactéria (Franco & Neves, 1992), afeta a quantidade de nitrogênio fixada.

1 Biosfera = espaço do globo terrestre habitado pelos seres vivos.

48

Tabela 22. Nitrogênio fixado por várias associações leguminosa/Rhizobium.

Legumminosa Amplitude aproximada de N2 fixado

kg/ha/ano Alfafa (Medicago sativa) 100 - 300 Trevo doce (Me/ilotlls sp) 125 Trevo (Trifolillm sp) 100 – 150 Caupi (Vigna unguiclI/ata) 85 Fava (Viciafaba) 240 – 325 Lentilha (Lens sp) 100 Lupinus (Lupinus sp) 150 – 200 Amendoim (Arachis hypogaea) 50 Soja (G/ycine max) 60 – 80 Feijão mung (Vigna radiata) 55 Leguminosas forrageiras (Desmodium sp, Lespedez sp)

100 - 140

Em qualquer que seja o processo biológico de fixação de nitrogênio

praticamente é fixado e usado esse elemento conforme as plantas e/ou os

microrganismos envolvidos precisarem para o seu crescimento. Isto significa que

não ocorre uma fixação indiscriminada do elemento com grandes sobras além das

necessidades de microrganismos e de plantas. As sobras, quando existentes, na

associação leguminosa/Rhizobium são excretadas na rizosfera, e daí o beneficio da

consorciação entre algumas gramíneas e leguminosas. Assim, a espécie vegetal

afetará a quantidade de nitrogênio fixada tendo em vista as necessidades diferentes

de nitrogênio que cada uma apresenta, com aquelas mais exigentes em nitrogênio

levando a uma fixação maior. Segundo Freire (1992), geralmente as associações

leguminosas forrageiras/Rhizobium fixam mais nitrogênio do que as associações

leguminosas de grãos/ Rhizobium. É importante frisar que, em todos os casos, a

fixação propriamente dita se deve ao microrganismo, sendo a planta um beneficiário

do processo.

Além da espécie de planta, outros fatores como inóculo, condições de

fertilidade do solo e clima também influem na quantidade fixada.

Como já explicitado anteriormente não é qualquer microrganismo que

consegue se associar a plantas (e vice-versa) para juntos realizarem a fixação

simbiótica de nitrogênio. No caso mais conhecido, a associação

leguminosa/Rhizobium ou Bradyrhizobium, não é qualquer Rhizobium ou

Bradyrhizobium que se associa com uma determinada leguminosa e dá uma boa

49

associação com ela. Na fixação simbiótica, na associação leguminosa/rizóbio com

nodulação adequada, cerca de 75% da necessidade da leguminosa é suprida pela

fixação. Nas Tabelas 23 e 24 tem-se as principais associações leguminosa/

Rhizobium segundo a classificação antiga e a mais recente.

Tabela 23. Principais associações legumjnosa/Rhizobium.

Grupo Plantas incluídas Microrganismo

1. da alfafa alfafa e certos trevos R. melilotti

2. do trevo certos trevos R. trifolii

3. da ervilha ervilhas, feijões, lentilhas e outros R leguminosarum

4. do feijão feijão comum e outros R. phaseoli

5. da soja tremoço e outros R. lupini

6. do tremoço soja R. japonicum

7. da ervilha de vaca amendoim, caupi e outros R. sp

Fonte: Alexander (1961).

Tabela 24.Caracterização das bactérias de importância agrícola que vivem em associação simbiótica com leguminosas.

Gênero Espécie Planta hospedeira

Microrganismo de crescimento rápido

Rhizobium

R. melilotti Medicago (alfafa), Melilotus, Trigonella

R. trifolii Trifolium R leguminosarum

Pisum (ervilha), Vicia, Lathyms

R. phaseoli Phaseolus (feijão) Microrganismo de crescimento lento

Bradyrhizobium

R. lupini Lupinus, Latus

R. japonicum Glycine (soja), alguns caupis

R. sp Vigna (caupi), etc Fonte: Citado em Paul & Clark (1989)

Devido a problemas de efetiva interação entre planta-microrganismo se

observa, às vezes, que as raízes apresentam grande número de nódulos pequenos

e a quantidade de nitrogênio fixada é baixa. Outras vezes, têm-se poucos nódulos

formados e ainda baixa fixação de nitrogênio. Em ambos os casos, por alguma

razão, têm-se uma má funcionalidade de nódulos.

50

O efeito da fertilidade do solo se faz sentir principalmente por meio do pH, da

disponibilidade de nutrientes como cálcio, fósforo, molibdênio e ferro, da quantidade

de N combinado prontamente disponível presente no solo, etc.

Quanto ao efeito do pH, ele pode ser direto ou indireto. O efeito direto é

devido á própria concentração de íons H+ que, quando elevada (pH baixo), dificulta

ou impede a formação de nódulos. O efeito indireto está em que, mesmo que ocorra

a formação do nódulo, em pH baixo ele apresentará pequena ou nenhuma

funcionalidade, uma vez que, nestas condições, o suprimento de cálcio será baixo e

o microrganismo, sendo relativamente mais exigente neste nutriente do que a

própria planta, terá sua atividade reduzida ou nula.

Em que pese haver necessidade de bom suprimento de todos os nutrientes

para uma fixação de nitrogênio eficiente, uma exceção se faz necessária, ou seja,

que o solo apresente pouco N combinado prontamente disponível, isto é, que o meio

tenha deficiência de nitrogênio. Se houver o nitrogênio "pronto" (NH4+, NO3

-,

aminoácidos, etc.) o microrganismo não realizará a fixação. A nitrogenase, enzima

responsável pela fixação biológica do nitrogênio, tem a sua biossíntese reprimida

quando há disponibilidade deste elemento na forma de NH4+, NO3

-, aminoácidos,

etc. (Neves & Rumjaneck, 1992). Neste caso, se a quantidade de nitrogênio

presente no solo não for suficiente para o atendimento global de microrganismos e

planta a produção desta última será sensivelmente prejudicada.

O clima, representado pela precipitação e pela temperatura, parece afetar

mais a fisiologia do hospedeiro do que a associação hospedeiro-microrganismo.

Possivelmente, em regiões tropicais a umidade adequada seja mais importante,

havendo pouca ou nenhuma restrição do ponto de vista da temperatura na maior

parte do ano.

4.2.1.2 Fixação assimbiótica ou livre

A fixação assimbiótica ou livre é devida a microrganismos de vida livre no

solo, que fixam nitrogênio sem estar associados a plantas. Nesse tipo de fixação os

microrganismos podem obter a energia que necessitam da matéria orgânica ou de

certas substâncias carbonáceas excretadas na rizosfera, como é o caso dos

quimiorganotróficos, ou ainda de carboidratos por eles mesmos produzidos a partir

de processos foto ou quimiossintéticos (Franco & Neves, 1992). O nitrogênio é

51

captado do ar do solo, sendo a amônia o produto da fixação, conforme ocorre

também nos processos simbióticos. Na fixação livre os microrganismos fixam

nitrogênio para o seu próprio crescimento, sem excretá-lo para o meio.

Posteriormente, ao completarem o seu ciclo, serão decompostos por outros grupos

de microrganismos e o nitrogênio ficará disponível para as plantas.

A quantidade de nitrogênio fixada por esse processo é geralmente pequena

devido principalmente ao baixo suprimento de energia, competição com outros

microrganismos pelas mesmas fontes de energia, presença de nitrogênio mineral,

etc. Em condições excepcionais, em solos de regiões tropicais, a fixação livre pode

atingir 100 ou mais kg/ha/ano e, desta forma, nessas regiões será tão importante ou

mais do que a fixação simbiótica.

Os principais microrganismos fixadores assimbióticos são as bactérias

Azotobacter e Beijerinckia. O Azospirillum lipoferum e o Azospirillum brasiliensis,

presentes na rizosfera de gramíneas, constituem-se em esperanças quanto à

fixação de nitrogênio em solos tropicais. Além de bactérias, também alguns fungos,

algas e actinomicetos realizam esse tipo de fixação de nitrogênio.

Entre as condições que estimulam a fixação assimbiótica estão: presença de

boas quantidades de material ou substâncias orgânicas com relação C/N larga;

baixo teor de N combinado prontamente disponível no solo; pH em água em tomo de

6,0 (pH em CaCl2, ± 5,4); bom suprimento de nutrientes (cálcio, fósforo, molibdênio,

ferro e outros); etc.

4.2.2 Fixação industrial

Industrialmente o homem combina nitrogênio da atmosfera com hidrogênio

e/o oxigênio, colocando-o à disposição das plantas. Entre os adubos ou fertilizantes

nitrogenados os mais comumente encontrados no mercado são: sulfato de amônio

[(NH4)2SO4]; uréia [CO(NH2)2]; nitrato de amônio [NH4NO3]; nitrocálcio [NH4NO3 +

calcário]; diamônio fosfato, conhecido por DAP [(NH4)2HPO4]; monoamônio fosfato,

conhecido por MAP (NH4H2PO4]; etc.

Estes produtos apresentam nitrogênio ou nitrogênio e outro nutriente (enxofre,

fósforo) e têm preços que tendem a ficar cada dia mais elevado em função,

principalmente, dos problemas energéticos e de transporte. Contudo, em vista das

52

suas concentrações dificilmente poderão ser deixados de lado em um processo

produtivo.

4.2.3 Precipitação atmosférica

As descargas elétricas que se dão na atmosfera podem promover a

combinação de nitrogênio com hidrogênio ou oxigênio, com formação de amônia

(NH3), de nitrato (NO3-), etc., que são arrastados para o solo pelas águas das

chuvas. A contribuição desta forma de aquisição de nitrogênio para o solo varia de

6,5 a 72 kg/ha/ano, sendo afetada principalmente pela presença de indústrias na

área.

4.2.4. Resíduos orgânicos

Os resíduos orgânicos ou adubos orgânicos, principalmente os produzidos

dentro da própria fazenda, devem ser usados e junto com a fixação biológica se

constituem em importante meio para se diminuir o uso de adubos industriais ou

sintéticos, embora não excluam o seu uso. O teor de nitrogênio no resíduo

dependerá do seu tipo ou origem e a quantidade que poderá ser levada ao solo será

função, basicamente, da quantidade á disposição, além, evidentemente, do seu

custo. É fato que certos adubos orgânicos, como esterco de galinha, poderão vir de

fora da fazenda. Na Tabela 26 têm-se alguns resíduos orgânicos e respectivos

teores de umidade, de N, de P2O, e de K2O.

Tabela 26. Valores mais comuns• dos teores de umidade, nitrogênio, fósforo e potássio de adubos orgânicos.

Material Umidade N P2O5 K2O

% ---------- g kg-1 no material sem secar ------------ Esterco de bovino 10 – 85 3 – 22 3 – 18 5 – 15 Esterco de suíno 85 – 95 2 – 10 2 – 8 1 – 5 Esterco de aves 5 – 75 3 – 45 2 – 40 2 – 40 Composto 70 5 – 20 5 – 20 5 – 15 Lixo Urbano 5 – 75 3 – 10 2 – 20 2 – 15 Lodo de esgoto 5 – 95 2 – 27 2 – 45 1 – 8 Torta de filtro 16 – 30 9 – 22 5 – 19 3 – 5 Turfa 15 - 40 15 - 30 2 - 5 5 - 10 Fonte: Raij (1991)

53

4.3. CONTEÚDO E DISTRIBUIÇÃO

De maneira geral a quantidade de nitrogênio combinado total nos solos varia

desde ± 0,3 a ±20 g kg-1. Em solos minerais os valores situam-se entre 0,3 e 7,0 g

kg-1 e nos solos orgânicos, em torno de 20 g kg-1. Em termos de solos do Estado de

São Paulo os valores estão, respectivamente, entre 0,3 a 4,0 g kg-1 para os solos

minerais e ±13 g kg-1 para os orgânicos.

Este nitrogênio combinado no solo se encontra basicamente em duas formas:

a) orgânica, principalmente proteínas, aminoácidos, aminoaçúcares e bases

nitrogenadas;

b) inorgânica ou mineral, principalmente amônio (NH4+,), nitrito (NO2

-), nitrato (NO3-),

óxido nítrico (NO) e óxido nitroso (N2O).

Normalmente, 85 a 97% (em geral 97%) do N combinado total do solo, está

na forma orgânica e, 3 a 15% (em geral 3%), na mineral. Estes números indicam

que, cerca de 97% do nitrogênio combinado se encontra fazendo parte da matéria

orgânica do solo.

Ainda, como decorrência da maior participação da forma orgânica na

quantidade total de nitrogênio combinado, quanto maior o teor de matéria orgânica

de um solo, maior será o seu teor de nitrogênio combinado e vice-versa. Na

natureza, confirmando este fato, existe uma correlação positiva e significativa entre

teores de matéria orgânica e de nitrogênio no solo. Disso decorre que os fatores que

afetam o teor de matéria orgânica no solo (clima, topografia, textura, vegetação,

fertilidade do solo, etc.) afetam também o seu teor de nitrogênio.

4.4. ALGUMAS TRANSFORMAÇÕES DO NITROGÊNIO NO SOLO

A maioria dos vegetais absorve nitrogênio apenas nas formas minerais,

especificamente nítrica ou nitrato (NO3-) e amoniacal ou amônio (NH4

+). As plantas e

os microrganismos, ao absorverem nitrogênio mineral sintetizam substâncias

orgânicas (aminoácidos, proteínas, etc). Na decomposição da matéria orgânica, as

substâncias orgânicas como aminoácidos, proteínas, etc., são destruídas e acabam

deixando, entre outros produtos, nitrogênios minerais como amônio, nitrato, etc.

54

Tabela 27. Concentração de nitrogênio em solos do Estado de São Paulo

Solo Área ocupada Nitrogênio

% g/kg Argissolo Vermelho amarelo orto 2,5 0,6-1,0 Argissolo Vermelho amarelo variação Lavras 3,5 0,3-1,9 Solos Podzolizados de Lins e Marília variação Lins 10,9 0,4-1,3 Solos Podzolizados de Lins e Marília variação Marília 8,5 0,4-2,1 Terra Roxa 14,7 0,8-1,6 Latossolo Vermelho Escuro orto 4,4 0,9-2,4 Latossolo Vermelho Escuro fase arenosa 20,0 0,4-1,1 Latossolo Vermelho Amarelo orto 3,5 1,1-2,7 Latossolo Vermelho Amarelo fase rasa 3,8 2,1-3,8 Latossolo Vermelho Amarelo fase arenosa 5,0 0,5-0,8 Solos de Campos do Jordão 2,8 1,1-11,5 Solos Hidromórficos 2,2 0,6-2,3 Solos Orgânicos1 ±13,0 Regossolo 0,9 ±0,4 1na área mapeada apens 22 km

2 eram solos orgânicos

Fonte: Mello et al. (1983)

A transformação de nitrogênio mineral em nitrogênio orgânico, devido à

atividade metabólica de plantas ou de microrganismos, é denominada imobilização.

O processo inverso, isto é, a transformação do nitrogênio orgânico em nitrogênio

mineral (também com destacada atividade metabólica, agora apenas de

microrganismos, os heterótrofos), é denominada mineralização. Do ponto de vista da

fertilidade do solo este último processo é o que mais interessa, pois é o nitrogênio

orgânico do solo (contido na matéria orgânica) uma das principais fontes de

nitrogênio para as plantas, embora estas só absorvam a forma mineral. Em solos

não adubados a mineralização do N orgânico é a principal maneira pela qual as

plantas não leguminosas obtêm nitrogênio disponível (Kiehl, 1987).

A mineralização compreende duas etapas: aminização ou proteólise e

amonificação. A aminização é realizada por microrganismos heterótrofos que usam

carbono orgânico como fonte de energia e nitrogênio do substrato que está sendo

oxidado ou N mineral presente no solo. De forma simplificada, a aminização pode

ser esquematizada assim:

digestão

N orgânico R-NH2 + CO2 + outros produtos + E enzimática

A etapa seguinte é a amonificação, também realizada por microrganismos

heterótrofos e pode ser resumida da seguinte maneira:

digestão

55

R-NR2 + H2O NH3 + R-OH + E enzimática

A amônia (NH3) liberada se combina, por exemplo, com a água e produz:

NH3 + H2O NH4+ + OH-

O amônio formado pode ser absorvido diretamente pelas plantas, adsorvido

aos colóides do solo, dissolvido na solução do solo, perdido (volatilização),

transformado em NO3-, etc.

Como se pode verificar com a amonificação esta completada a mineralização

do nitrogênio. Contudo, em condições normais, a passagem de N- NH4+/ a N- NO3

-

se processa de forma tão rápida que fica difícil, na prática, se separar as duas

primeiras etapas (aminização e amonificação) da nitrificação, sendo esta

normalmente colocada como uma terceira etapa da mineralização. A nitrificação é

realizada por microrganismos autotróficos, que usam nitrogênio mineral como fonte

de energia, e pode ser esquematizada assim:

oxidação

2 NH4+ + 3O2 2 NO2

- + 2H2O + 4H+ + E (1) enzimática

oxidação

2 NO2- + O2 2 NO3

- + E (2) enzimática

A reação (1) se processa sob a ação de Nitrosomonas e Nitrosococcus e a (2)

de Nitrobacter.

Como detalhe importante desta etapa tem-se que: a nitrificação é um

processo essencialmente aeróbico; a Nitrobacter tem atividade muito maior do que a

Nitrosomonas e a Nitrosococcus, o que é importante, pois evita acúmulo de NO2-,

tóxico aos vegetais, no solo; a nitrificação acidifica o solo (não importa a fonte de

NH4+, se oriundo da mineralização de nitrogênio da matéria orgânica ou da adição

de adubo industrial). O nitrato produzido pode ser absorvido pelas plantas ou

microrganismos, ficar dissolvido na solução, ser perdido principalmente por lixiviação

ou por volatilização (denitrificação), etc.

Evidentemente que os fatores que afetam a transformação, isto é, a

decomposição da matéria orgânica, são os mesmos que afetam a transformação de

56

N orgânico em mineral, com os detalhes que excesso de umidade (anaerobiose)

pode permitir certa produção de amônio mas, pelas razões vistas, impossibilita a de

nitrato; produção de N mineral só ocorre com relação C/N menor do que 33/1, sendo

que a liberação de amônia começa com relação C/N 17/1 ou 22/1.

De acordo com Stevenson (1986) os principais fatores que afetam a

nitrificação são: temperatura, umidade, pH, presença de substratos (NH4+, O2).

Segundo o autor, essa etapa da mineralização pode sofrer inibição por substâncias

excretadas por certas plantas na rizosfera (pastagem). Quanto à temperatura, a

produção de NO3- diminui com o decréscimo da temperatura a valores abaixo de 30-

35°C, abaixo de 5°C muito pouco NO3- é formado e, assim sendo, em solos mos e

úmidos a velocidade de nitrificação é muito baixa. O teor de umidade é muito

importante, principalmente considerando-se que o O2 e o CO2, (como HCO3-)

requeridos pelos organismos nitrificadores estão na solução do solo.

Outro aspecto interessante é que, das bactérias que ocorrem comumente nos

solos, as nitrificadoras estão entre as mais sensíveis a herbicidas, inseticidas e

fungicidas adicionados. Contudo, a redução na população provocada pela adição

desses produtos parece ter curta duração,

Resumidamente pode-se citar que os fatores que afetam a mineralização, e

suas condições mais favoráveis são os seguintes: temperatura, ± 30°C; umidade,

entre 50 e 60% da capacidade de campo; pH em H2O, entre 5,5 e 6,5 a 8,5; relação

C/N, na faixa de 33/1 a 17/1 ocorre equilíbrio entre mineralização e imobilização e,

abaixo de 22/1 ou de 17/1, predomina a mineralização; solos bem arejados

permitem amonificação e nitrificação eficientes (em condições anaeróbicas apenas

os microrganismos que produzem amônio têm alguma ação; se houver nitrato

ocorrerá desnitrificação); bons teores de matéria orgânica ou adição de adubos

amoniacais ou de adubos orgânicos com relação C/N estreita, que são substratos

para amonificação e/ou nitrificação. Por fim, uma observação de ordem prática é que

quando o teor de N no adubo orgânico for <15 g kg-1 haverá imobilização de N

mineral e, quando >25 g kg-1, ocorrerá mineralização.

4.5. NITROGÊNIO DISPONÍVEL NO SOLO

Nitrogênio disponível é aquele que se encontra nas proximidades das raízes

em formas químicas prontamente assimiláveis pelos vegetais.

57

Foi visto que a maioria das plantas absorve nitrogênio na forma mineral (NH4+

e NO3-) e que no solo a maior parte (±97%) do nitrogênio combinado está na forma

orgânica. Daí se conclui que é baixa a quantidade de N disponível (N mineral),

sendo necessário que nitrogênio orgânico seja transformado em mineral para se

atender ás necessidades das plantas quanto ao nutriente ou, ainda, que se adicione

adubo nitrogenado mineral ao solo. Além disso, é bom que se lembre que o

nitrogênio mineral, principalmente o nitrato, está sujeito à intensa e fácil

movimentação no solo (especificamente lixiviação), o que retira parte razoável desse

nitrogênio da zona de maior concentração de raízes, reduzindo assim a sua

quantidade disponível para as plantas.

No que se refere o nitrogênio já presente no solo, considerando que:

a) a transformação do nitrogênio orgânico a mineral é dependente de uma série de

fatores como relação C/N relativamente estreita, boas condições de aeração e de

umidade, temperatura favorável, presença de quantidade satisfatória de matéria

orgânica, presença de outros nutrientes em quantidades e proporções convenientes,

valor de pH em água próximo de 6,0, etc.;

b) o N-NH4+, formado no solo ou a ele adicionado, passa rapidamente a N-NO3

- e

este, por formar apenas sais solúveis e não ser retido aos colóides do solo, fica

sujeito à lixiviação;

c) tanto N-NH4+ quanto N-NO3

- podem ser, em determinadas condições, perdidos

por volatilização, o nitrogênio disponível (Nd), em um dado instante será dado por:

Nd = Nm - Ni - Nl - Nv

em que:

Nm = nitrogênio mineralizado; Ni = N imobilizado; Nl = N lixiviado; Nv = N

volatilizado. Por isso, é difícil se avaliar a quantidade de nitrogênio que se encontra

disponível no solo para as plantas, principalmente em regiões com temperatura e

precipitação elevadas, o que é comum na maior parte do Brasil.

Dadas as relações entre matéria orgânica e nitrogênio, ela é utilizada como

referência do último, aceitando-se a existência de uma relação 10:1 entre matéria

orgânica e nitrogênio. Lógico, o valor deste dado é bastante relativo, pois, como se

viu, são necessárias condições favoráveis para que a matéria orgânica seja

mineralizada e coloque esse nutriente (e os outros) à disposição das plantas.

58

4.6. PERDAS DE NITROGÊNIO DO SOLO

O nitrogênio combinado presente no solo é perdido por meio de remoção

pelas colheitas, erosão, lixiviação e volatilização. Os três primeiros se constituem em

processos gerais de perda, isto é, praticamente todos os nutrientes estão sujeitos a

perdas por meio deles. O último, volatilização, é um processo de perda praticamente

restrito a nitrogênio, enxofre e cloro.

A seguir, de maneira sucinta, comentar-se-á cada um dos processos de perda

mencionados.

4.6.1. Remoção pelas colheitas

Este é o tipo de perda que é tolerável ou, até certo ponto, desejável. Embora

seja em parte desejável certa quantidade de nitrogênio, variável de cultura para

cultura, é perdida devido à colheita e a "defeitos" que ela apresente.

Uma análise da Tabela 21 permite verificar que a forma de se proceder a

colheita pode determinar uma grande variação na quantidade de nutriente que é

removida do solo (portanto perdida). Evidentemente que em certas situações o

interesse é, por exemplo, colher-se todo o milho (colmo, folhas e espigas) enquanto

que em outras, apenas os grãos. No primeiro caso, colheita feita para se fazer

silagem, a quantidade de nitrogênio removida é muito maior do que no segundo. Por

outro lado, deve-se lembrar que muitos agricultores têm por hábito queimar restos

de cultura e isso leva a perda de nitrogênio por volatilização. Esta é uma prática que

tanto quanto possível deve ser evitada. De forma objetiva, deve-se colher apenas

aquilo que realmente interessar, deixando-se os resíduos na própria área, na qual

devem ser incorporados.

As perdas de nitrogênio por esse processo variam de ±30 a 100 kg/ha/ciclo.

Cultivares mais produtivas, por exemplo, de milho, podem levar a perdas maiores

(em média o milho extrai cerca de 17 kg t-1 de grãos produzida). No caso de

produção de leguminosa em que não se aproveitou o seu potencial de captar esse

nutriente através do processo simbiótico, sendo usadas para atender suas

necessidades às reservas do solo ou adicionado adubo nitrogenado, o prejuízo é,

sem dúvida, maior, podendo chegar a 240 kg/ha/ciclo ou mais (Raij et al., 1991).

De maneira geral, a quantidade de nitrogênio perdida devido à colheita

depende do seguinte: teor de N disponível no solo; teor de outros nutrientes

disponíveis, pois, junto com o nitrogênio vão, até certo ponto, determinar a

59

magnitude da produção; espécie e variedade vegetal; fim a que se destina o

produto, que inclusive afeta o tipo de colheita; etc.

4.6.2 Erosão

Na região de Barretos, em condições normais, nos meses de novembro a

março, ocorre um excedente de precipitação pluvial da ordem de 400 mm de água

(400 litros/m2). Esse excedente, como em qualquer outra região, basicamente sai da

área que o recebeu através de escoamento horizontal ou vertical. Quando o

escoamento se dá no sentido horizontal, de cota mais alta para mais baixa, poder-

se-á ter arrastamento de partículas sólidas da superfície, de um local para outro,

provocando perdas por erosão.

A erosão, arrastando partículas sólidas de uma área para outra, leva

consegue matéria orgânica. Como ±97% do N combinado do solo está na forma

orgânica, fazendo parte da matéria orgânica do solo, ele será perdido devido a esse

processo.

A quantidade de nitrogênio perdida devido à erosão varia em função do tipo

de solo. (textura), topografia (declividade e comprimento de rampa), quantidade e

distribuição de chuvas, tipo de cobertura vegetal, práticas conservacionistas, etc. As

perdas devido à erosão podem ultrapassar a 45 kg/ha/ano, sendo maior do que a

retirada por determinadas culturas.

4.6.3 Lixiviação

Quando o escoamento do excedente de água que cai em uma área se dá no

sentido vertical, a água que percola carrega íons dissolvidos em solução em

camadas superiores para as inferiores ou mais profundas, caracterizando uma perda

por lixiviação. É importante chamar a atenção para o fato de que o que é lixiviado

são íons dissolvidos na solução do solo e não partículas do solo como a argila, o

húmus, etc. Ainda, o que é lixiviado são ânions e, estes ao serem lixiviados arrastam

cátions consigo, de forma a atender o princípio da eletroneutralidade.

Em termos de nitrogênio, a forma orgânica, por estar associada à matéria

orgânica (exclui-se aqui a uréia obtida industrialmente e aplicada ao solo), não é

perdida por lixiviação. Quanto à forma inorgânica ou mineral, tem-se que considerar

o seguinte:

60

a) o amônio (NH4+), por ser adsorvido às partículas coloidais do solo e também por

passar a nitrito (NO2-), é pouco perdido devido à lixiviação;

b) o nitrito, por passar rapidamente a nitrato (NO3-), também é pouco perdido;

c) finalmente, o nitrato é a forma de nitrogênio predominantemente perdida na

lixiviação, pois: não é retido pelos colóides do solo; é, em condições normais, o

produto final da transformação do nitrogênio; não forma compostos insolúveis no

solo, isto é, não existem sais insolúveis de nitrato.

Em algumas regiões admite-se que a quantidade de nitrogênio perdida por

lixiviação é contrabalançada pelo que chega ao solo devido a processos de fixação

biológica e descarga elétrica. De qualquer forma, as quantidades de nitrogênio

perdidas por lixiviação variam em função de uma série de fatores como: quantidade

de nitrogênio mineral no solo, principalmente de NO3-; quantidade e distribuição de

chuvas; tipo de solo (Tabela 28), com os arenosos estando mais sujeitos a perdas

por serem mais permeáveis; tipo de cobertura vegetal, em que o detalhe mais

interessante é que um solo sem vegetação (solo nu) perde mais do que o com

plantas em linha e estes, mais do que um solo sob pastagem; teor de matéria

orgânica; etc.

Tabela 28. Efeitos da textura do solo sobre as perdas de nutrientes por lixiviação.

Solo Argila N K Ca Mg

% -------------------------------- g/kg -------------------------------- Arenoso < 3 12 – 52 7 – 17 110 – 330 17 – 34 Barro-arenoso 16 0 – 27 0 – 14 0 – 242 0 – 37 Barrento 28 9 – 44 3 – 8 21 – 176 9 – 61 argiloso 39 5 - 44 3 - 8 71 - 341 10 - 54

As perdas devido à lixiviação representam o motivo principal para que seja

feito o parcelamento da aplicação de adubos nitrogenados solúveis (minerais e os

orgânicos obtidos industrialmente) em quase todas as áreas e para quase todas as

culturas. Há mesmo a recomendação para que o nitrogênio a ser colocado em uma

cultura seja dividido e aplicado em número de vezes tanto maior quanto mais

arenoso for o solo, quanto mais chover na região e maior for o ciclo da cultura em

questão.

61

4.6.4. Volatilização

O nitrogênio mineral do solo, devido à ação de microrganismos ou a reações

químicas no solo, pode ser perdido por volatilização. A volatilização é um processo

em que N sólido é transformado em N gasoso e com isso é facilitada a sua saída do

solo. Dois casos de perdas por volatilização chamam a atenção: denitrificação e

volatilização da amônia.

Quando ocorre encharcamento do solo o NO3- é perdido rapidamente através

da denitrificação. Nessas condições, alguns microrganismos anaeróbicos têm a

habilidade de obter oxigênio de NO3- e NO2

-, com liberação simultânea de N2 e N2O

(Tisdale et al., 1985).

A sequência provável do processo é a seguinte:

NO3- NO2

- NO N2O N2

+5 +3 +2 +1 0

Conforme Stevenson (1986), as condições no solo que favorecem a

denitrificação são:

a) drenagem deficiente: a denitrificação é desprezível em níveis de umidade abaixo

de 2/3 da capacidade de campo, mas é apreciável em solos inundados. O processo

pode ocorrer em microambientes anaeróbicos de solos bem drenados, tais como

poros cheios d'água, rizosfera e vizinhança imediata de resíduos de plantas e

animais em decomposição;

b) temperatura ≥ 25°C. Abaixo dessa temperatura ocorre a velocidade baixa e cessa

a aproximadamente 2°C;

c) reação do solo próxima à neutralidade, porque as bactérias denitrificadoras são

sensíveis a pH baixo;

d) bom suprimento de material orgânico facilmente decomponível: a quantidade

desses materiais é apreciável na superfície, mas desprezível no subsolo. Assim, as

perdas a profundidades maiores que seriam favorecidas por menor aeração, são

limitadas pela falta de substrato carbônico para a bactéria.

Em resumo, tem-se que em condições anaeróbicas alguns microrganismos

podem reduzir o nitrato (NO3-) a formas como óxido nítrico (NO), óxido nitroso (N2O)

e N elementar (N2). Esse tipo de perda não é importante em solos bem drenados a

não ser em curtos períodos em que eventual excesso de umidade pode criar

62

momentaneamente condições anaeróbicas. Por outro lado, é claro que em culturas

como a do arroz inundado não se deve aplicar adubos nítricos.

O amônio (NH4+), em determinadas situações, passa a amônia (NH3) e se

perde por volatilização (Tabela 29). Esse tipo de perda é muito importante

principalmente se não se tomar cuidado com a prática da calagem. A calagem mal

feita (por exemplo, calcário mal incorporado) pode criar uma condição de pH acima

de 7, o que, quando da aplicação de adubos amoniacais em superfície ou com a

produção de amônio a partir da mineralização da matéria orgânica, leva a uma

volatilização da amônia (NH3). Ainda, a evaporação muito rápida da água do solo, o

que é comum em áreas de clima tropical que ficam sem vegetação, ou seja, com

solos nus, contribuem para esse tipo de perda.

As diferentes formas de perda de nitrogênio por volatilização podem

representar perdas equivalentes a até 20 % ou mais do N combinado do solo.

Conforme citado por Siqueira & Franco (1988), podem atingir 25 a 30% ou mesmo

70% do N aplicado como fertilizante, propiciando perdas entre 30 e 200 kg/ha/ano

de N.

Tabela 29. Perdas cumulativas de nitrogênio, por volatilização de amônia, em função do modo de aplicação de uréia em arroz de sequeiro em condições de campo.

Modo de aplicação Dias

1 3 5 7 9

N volatilizado (kg/ha) Sem uréia 0 0 0 0,1 0,1 Enterrada a 5 cm 0,1 0,1 0,1 0,2 0,3 Superficial sobre o solo

0,1 0,2 0,3 0,4 0,5

Superficial sobre a palha

3,1 7,2 8,1 9,5 9,6

De forma a se restringir as perdas por volatilização algumas medidas devem

ser adotadas: manter o solo o máximo de tempo sob vegetação; aplicar adubo mais

adequado às condições; parcelar as aplicações de nitrogênio, evitando acúmulo de

N mineral no solo; procurar dar condições de boa drenagem ao solo; etc.

63

4.7. USO DO NITROGÊNIO

O nitrogênio é um nutriente de vital importância para plantas e animais e

apresenta um comportamento e relacionamento no sistema solo-planta-atmosfera

um tanto quanto complicado.

Para um uso racional desse elemento algumas metas devem ser

perseguidas, tais como: evitar perdas desnecessárias, promover o máximo retomo

de nitrogênio orgânico ao solo, fomentar a fixação biológica, adicionar em doses

econômicas não só o nitrogênio como outros nutrientes e corretivos.

Por último, é ainda interessante lembrar que o teor de nitrogênio no solo está

em equilíbrio com as condições ambientes, com a natureza e, manter níveis de

nitrogênio no solo superiores ao permitido é não só difícil como anti-econômico.

64

5. CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA

5.1. INTRODUÇÃO

Em função da fertilidade conceituou-se solo como sendo a camada arável da

crosta terrestre em que se desenvolve a maioria das raízes de plantas. Do ponto de

vista da pedologia, o solo é um sistema disperso constituído por três fases: sólida,

líquida e gasosa.

A fase sólida é constituída de matéria inorgânica ou mineral e matéria

orgânica. A fração mineral é formada por partículas de vários tamanhos resultantes

das rochas que deram origem ao solo. A porção orgânica tem a sua origem no

acúmulo dos resíduos vegetais e animais, ocorrendo em diversos estádios de

decomposição, contando ainda com organismos vivos e em atividade.

As partículas do solo de importância para a caracterização da sua textura

(distribuição das partículas quanto ao seu tamanho) são aquelas com dimensões

inferiores a 2 mm de diâmetro, sendo que a classe de 2,0 a 0,02 mm corresponde a

fração areia; menor que 0,02 a 0,002 mm, a fração silte; menor do que 0,002 mm, a

fração argila. Destas frações, praticamente a da argila é a que apresenta atividade

de superfície e a qual está ligada a troca iônica no solo.

A fase sólida de solos brasileiros é comumente constituída por partículas de

tamanho inferior a 2 mm de diâmetro. A mistura de partículas de diferentes

tamanhos permite o aparecimento de poros que são ocupados pela água e pelo ar.

A água constituí a fase líquida e nada mais é do que a conhecida solução do solo,

sendo composta por água, sais minerais e material coloidal em suspensão. A fase

gasosa recebe a denominação de ar do solo pelo fato da sua composição diferir da

do ar atmosférico.

Enquanto a fase sólida é considerada a fase dispersa, a fase líquida é tida

como a dispersante, estando os constituintes minerais, os constituintes orgânicos, a

solução e o ar do solo, misturados, de tal forma que é difícil delimitá-los

corretamente. Esse contato íntimo entre esses componentes vai permitir, e mesmo

facilitar, diferentes reações físicas, químicas e biológicas.

A proporção entre as fases sólida, líquida e gasosa varia de solo para solo e,

em um mesmo solo, com as condições reinantes. A proporção varia principalmente

65

com a temperatura, pressão, luz, atividade de microrganismos, adição de água,

absorção de íons pelas plantas, etc.

A formação de agregados possibilita o aparecimento de um maior volume e

melhor distribuição dos tipos de poros (macro e micro poros) e, um solo

supostamente ideal deve, conforme o Bureau of Reclamation, citado por Kiehl

(1979), apresentar a seguinte composição: 50% em volume de sólidos e os outros

50%, de poros. Dentro desta proposição a porosidade do solo pode ser classificada

em macroporosidade, constituída por poros maiores e geralmente ocupados pelo ar

do solo, e microporosidade, os poros menores ou capilares e principais responsáveis

pelo armazenamento de água. A proporção ideal seria de 2/3 de microporos e 1/3 de

macroporos. Esse solo, na capacidade de campo, apresentaria cerca de 33% de

água e cerca de 17% de ar (Figura 22), portanto com aproximadamente 8% a mais

de água do que o solo tido por outros autores como o ideal (25x25%). O solo seco

teria os poros ocupados só por ar e, o encharcado, só por água, o que equivale a

dizer que nos extremos os solos apresentariam apenas duas fases, sólida e gasosa

ou sólida e liquida.

Figura 22. Proporção ocupada pelos diferentes componentes de um solo ideal.

No solo tido como ideal, a fração mineral seria igual a 45% e a orgânica, a

5%. Por último, é importante chamar a atenção para o fato de que existem

diferenças fundamentais nos tipos de constituintes da fração mineral de solos de

regiões temperadas, que são pouco intemperizados ou jovens, e de regiões tropicais

e subtropicais, onde predominam solos muito intemperizados ou velhos. Enquanto

nos solos jovens são abundantes os minerais de argila silicatada do tipo

montmorilonita, ilita e vermiculita, nos solos velhos predominam a argila silicatada

caulinita e os óxidos ou sesquióxidos de ferro e os de alumínio, além do que os

primeiros podem apresentar maior teor de matéria orgânica.

66

5.2. GENERALIDADES E CONCEITOS

Foi citado que a fração argila apresenta atividade de superfície, sendo

necessário que se esclareça que essa atividade é devida não só a sua grande área

de superfície por unidade de massa como também á presença de cargas de

superfície, conferindo, a maior parte dos constituintes da fração argila, propriedades

coloidais.

As cargas de superfície são neutralizadas por íons com cargas contrárias, os

contraíons, de maneira que seja mantido um equilíbrio elétrico, isto é, a

eletroneutralidade. Nessa neutralização o detalhe é que o íon que está neutralizando

uma determinada carga pode ser trocado por outro que se encontra livre, dissolvido

na solução do solo. Percebe-se então a existência de uma interação entre as fases

sólida e líquida e esse fato determina a troca iônica. Pode-se então conceituar troca

iônica como sendo um processo reversível pelo qual, íons se intertrocam entre as

fases sólida e líquida quando postas em contato.

Quando a troca em questão é entre cátions, isto é, cátion por cátion, tem-se a

troca catiônica e, quando entre ânions, isto é, ânion por ânion, a troca aniônica.

A quantidade total de cátions que um solo pode trocar em determinadas

condições é denominada capacidade de troca de cátions. Evidentemente que no

caso dos ânions, tem-se a capacidade de troca de ânions.

Esquematicamente pode se visualizar as trocas de íons como apresentado na

Figura 23.

Percebe-se que na superfície, no caso retificada, da fase sólida podem

aparecer cargas negativas e positivas (elas coexistem, pois a distância é

suficientemente grande para isso) e, neutralizando estas cargas de superfície,

justapõem-se íons de sinais contrários, criando uma dupla camada elétrica. Há

contraíons neutralizando cargas na superfície e contraíons na solução, neutralizando

coíons, de maneira a manter a eletroneutralidade. Coíons são íons que apresentam

carga de mesmo sinal que a predominante na superfície.

67

Figura 23. Esquema da troca de íons no solo.

A troca de cátions predomina e a ela estão ligadas a importantes

características dos solos, como reação, estrutura, retenção e disponibilidade de

nutrientes, etc. Por estas razões é que se dará ênfase, dentro deste capítulo, a

capacidade de troca de cátions dos solos.

A carga total da superfície é igual à carga total dos contraíons e, assim,

medindo-se os contraíons tem-se a CTC.

5.3. CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS DO SOLO

5.3.1. Conceitos e características

Trocador é toda partícula sólida do solo que retém íons (por exemplo, cátions)

e os troca por íons (nesse caso, cátions) da solução do solo, sem que nessa troca

seja destruída ou modificada (por exemplo, caulinita é caulinita, antes e depois da

troca). Entre as características dos trocadores podem ser citadas as seguintes:

apresentam grande área de superfície por unidade de massa e cargas de superfície.

São, em última análise, partículas que apresentam propriedades coloidais e que,

como já citado, encontram-se na fração argila e na M.O.

68

Capacidade de troca de cátions (CTC) é a soma de todos os cátions

(inclusive o H) que um solo pode reter na forma trocável. Ela é expressa em mmolc

dm-3 ou mmolc kg-1.

5.3.2 Origem das cargas negativas

Quanto à origem de suas cargas negativas os trocadores apresentam

particularidades, principalmente em função do tipo de colóide, se mineral ou

orgânico.

Nos colóides minerais ou inorgânicos, possivelmente a primeira fonte de

carga negativa seja devida a substituição isomórfica. A substituição isomórfica

ocorre durante a formação do mineral de argila silicatada, principalmente do tipo 2:1

(lâmina de sílica:lâmina de alumina:lâmina de sílica), sendo pouco importante nas

argilas do tipo 1:1 (uma lâmina de sílica:uma lâmina de alumina). Ela é a principal

responsável pelo aparecimento de cargas negativas em argilas como montmorilonita

(80%), vermiculita e ilita. Nas argilas 2:1 tanto pode ocorrer à substituição de Si4+

nas camadas tetraédricas pelo Al3+ como a troca de Al3+ nas octaédricas pelo Mg2+,

sempre sem mudança na estrutura do mineral de argila, mas com um saldo de

cargas negativas (Figura 24). Nas argilas 1:1, quando ocorre, a substituição é de Si4+

nas camadas tetraédricas pelo Al3+. Estas cargas, uma vez presentes, são notadas

em qualquer valor de pH e, por isso, são denominadas de permanentes. Esse tipo

de carga, ocorrendo em pequena quantidade em argilas silicatadas do tipo 1:1 e não

ocorrendo nos óxidos ou sesquióxidos de ferro e de alumínio, não têm importância

em solos como os que predominam no Brasil.

Figura 24. Representação de substituição isomórfica na lâmina de alumina ou camada octaedral.

Outra fonte de cargas negativas em colóides minerais é representada pela

quebra de cristais, ocorrendo à exposição de faces ou bordas quebradas. Neste

caso, grupos hidroxílicos de octaedros de Al podem ficar expostos e o hidrogênio

69

destes grupos -OH, em função do pH da solução que circunda o cristal em questão,

dissocia-se originando uma carga negativa.

Esse tipo de carga aparece tanto em argilas silicatadas do tipo 1:1 quanto no

tipo 2:1 e, além da quebra do cristal depende também do pH (são cargas pH

dependentes ou variáveis).

Ainda, outra fonte de cargas negativas é a dissociação de grupos-OH que

ocorre nas superfícies de argilas silicatadas e nos sesquióxidos de Fe e de Al. Esses

grupos podem também receber H+ (ocorre protonação) e com isso gerar cargas

positivas. Tanto o aparecimento de carga negativa quanto o de positiva depende do

pH, sendo, por isso, pH dependentes e podem ser esquematicamente representadas

conforme a Figura 25.

Figura 25. Desenvolvimento de cargas negativas e positivas em argilas silicatadas e oxidicas.

Nos colóides orgânicos as cargas negativas aparecem principalmente nos

radicais carboxílicos e fenólicos que ocorrem no húmus. Essas cargas aparecem

devido a dissociação de H+ de grupos -OH desses radicais, o que ocorre com a

elevação do pH da solução que circunda a partícula ou colóide.

Assim, estas cargas são variáveis ou pH dependentes, e podem ser

esquematizadas de acordo com a Figura 26. Em ambos os casos a elevação do pH

leva a um aumento de cargas negativas e o abaixamento do pH, a uma diminuição.

70

Figura 26. Desenvolvimento de cargas negativas em radicais carboxílicos e fenólicos do húmus.

5.3.3 Aspectos gerais da adsorção e troca catiônica

A troca catiônica é um fenômeno que ocorre na fase sólida com a

participação da fase líquida. Para facilitar a sua compreensão pode-se esquematizar

a superfície do solo retificada e apenas as suas cargas de superfície negativas.

Neutralizando essas cargas negativas podem-se considerar apenas os cátions

(contraíons) mais abundantes, o que não exclui os demais. Ainda, como decorrência

da retificação da superfície sólida, pode-se imaginar também a retificação do filme

de água que a envolve e, ainda, apenas os cátions mais abundantes dissolvidos

nessa água (a solução do solo). Logicamente que além de outros cátions, também

existem dissolvidos nessa solução os ânions, os coíons, de forma a se manter o

sistema eletricamente neutro.

Deve-se citar que a planta retira os nutrientes da solução do solo (sejam

cátions ou ânions); que os íons perdidos na lixiviação são os que estão dissolvidos

na solução do solo; que aquilo que é colocado no solo (calcário e adubo) só vai para

a fase sólida depois de dissolvido na solução; que é a fase sólida que reabastece

naturalmente a solução do solo, seja por troca iônica, por dissolução de minerais ou

por decomposição da matéria orgânica. O esquema geral da troca catiônica é

apresentado na Figura 27 e algumas observações decorrentes das relações, são

apresentadas a seguir.

71

Figura 27. Esquema geral da troca catiônica.

Em função do esquema apresentado para troca catiônica pode-se concluir

que ocorre um equilíbrio químico não equitativo entre as fases sólida e líquida, isto

é, existem muito mais cátions adsorvidos na superfície sólida do que dissolvidos na

solução do solo (cátions em solução são cerca de 1 % do total dos cátions

trocáveis). O equilíbrio em questão é dinâmico, isto é, sempre estão saindo ou

entrando cátions na fase sólida e liquida em função da lixiviação, da retirada de

nutrientes pelas plantas, da decomposição da matéria orgânica, da calagem, da

adubação, etc.

Outro aspecto muito importante é que as alterações - saídas e entradas de

cátions - processam-se sempre de maneira proporcional e equivalente entre íons

adsorvidos e em solução e, ainda, os íons mais abundantes são sempre os mais

trocados.

Os cátions mais abundantes em solos de região úmida são o Ca2+ e o H+ e,

em menores quantidades tem-se o Mg2+, o K+, o Na+ e outros. Para muitos solos se

aceita que a participação mais adequada de diferentes íons no complexo de troca

seja a seguinte: Ca+2., 60 a 70%; Mg+2, 10 a 20%; K+, 2 a 5%; H+, 10 a 15%; outros

(Fe+2., Mn+2., Cu+2., Zn+2., Na+, etc.), 2 a 4%.

Por outro lado, é oportuno chamar a atenção para o fato de que trocável é o

elemento que está fracamente adsorvido na fase sólida, neutralizando as suas

cargas, no caso, negativas, e o que está presente na solução é íon dissolvido.

Lógico, em função de alterações que ocorrem, um cátion que está na forma trocável

(adsorvido fracamente a partículas da fase sólida) pode ser deslocado para a

solução do solo e, uma vez na solução constitui em um cátion dissolvido. Para que

um íon trocável passe para a solução é preciso que um íon dissolvido (presente na

solução) seja adsorvido fracamente pelos colóides do solo (fique na forma trocável)

72

ou que, com o aumento da acidez, H+ seja adsorvido fortemente. Finalmente, de

todos os cátions que podem neutralizar as cargas negativas do solo o único que

pode ser "gerado" espontaneamente é o H+, sendo que os demais, ou o solo os

possui originalmente ou a ele deverão ser adicionados.

5.3.4 Fatores que afetam a CTC

Segundo Guilherme et al. (s/d) os fatores que afetam a CTC dos solos são:

mineralogia, textura, matéria orgânica e pH do solo.

A mineralogia, a textura e a matéria orgânica podem ser reunidas em um

único fator, denominado material trocador. A seguir serão comentados os efeitos do

material trocador e do valor de pH do solo sobre a capacidade de troca de cátions do

solo.

a) Material trocador

O material trocador pode ser de origem mineral ou orgânica. O material

trocador tem dimensão muito pequena (diâmetro < 0,001 mm), apresentando grande

área de superfície por unidade de massa e carga de superfície. O número de cargas

de superfície do trocador depende do seu tamanho, o que afeta a sua área de

superfície por unidade de massa, e da densidade de carga, que é a quantidade de

cargas por cm2 de área. As argilas silicatadas do tipo 2:1, por exemplo a

montmorilonita, têm área de superfície muito maior do que as do tipo 1:1, por

exemplo a caulinita, e, apesar das últimas apresentarem densidade de carga maior,

as primeiras têm maior capacidade de troca de cátions. O trocador mineral e o

orgânico (o húmus) apresentam dimensões muito pequenas e estão na fração argila

e na matéria orgânica, portanto fazendo parte da fase sólida do solo. Dentre os

trocadores minerais, além das argilas silicatadas têm-se também os óxidos ou

hidróxidos de ferro e de alumínio. Os óxidos ou sesquióxidos de ferro e os de

alumínio são partículas anfotéricas, isto é, que apresentam predominância de cargas

negativas ou positivas dependendo do valor pH do meio. Os diferentes materiais

trocadores que os solos contêm apresentam os seguintes valores médios de CTC,

em mmolc kg-1 do trocador: húmus, ± 2000; montmorilonita, ± 1000; ilita, ± 300;

caulinita, ± 60; óxidos hidratados de Fe ou de AI, ± 40 (Tabela 30).

Os solos apresentam uma mistura de trocadores e, desta maneira, a sua

capacidade de troca de cátions é devida à contribuição de cada um deles e, assim,

73

ao se considerar o solo pode-se dizer que os fatores que afetam a sua CTC são

aqueles que afetam a sua superfície específica, como a textura, o tipo de mineral de

argila e a concentração de matéria orgânica.

Tabela 30. Superfície específica, densidade de cargas e valores médios de capacidade de troca de cátions de algumas argilas e do húmus.

Trocador Superfície específica

Densidade de carga

CTC

m2/g mmolc cm-2 mmolc kg Caulinita 30 2,0 x 10-7 60 llita 100 3,0 x 10-7 300 Vermiculita 750 2,0 x 10-7 1500 Montmorilonita 800 1,3 x 10-7 1000 Alofana 450 1,8 x 10-7 800 Húmus 700 200

Fonte: Fassbender (1975)

Embora a contribuição da matéria orgânica na CTC de solos argilosos, pela

razão deles geralmente apresentarem maiores quantidades de matéria orgânica,

seja, em números absolutos, normalmente maiores do que em solos arenosos, a sua

participação percentual na CTC total de solos argilosos é menor do que na de solos

arenosos. Este fato é devido a maior contribuição dos colóides minerais presentes

nos solos argilosos (Tabela 31). Um solo arenoso tem mais do que 85% de areias, é

argiloso quando tem mais de 35% de argila e barrento ou franco quando tiver menos

de 35% de argila e menos de 85% de areias.

Tabela 31. CTC total e da matéria orgânica de solos do Estado de São Paulo.

Solo Profun-didade

Argila M.O. CTC M.O.

Total M.O.

cm g kg-1 mmol kg-1 % Argissolo Vermelho Amarelo 0 – 6 50 7,8 32 22 69 Argissolo de Lins e Marília 0 – 15 60 6,0 33 21 64 Podzolizado de Lins e 0 – 14 120 25,2 100 82 82 Podzolizado com cascalho 0 – 16 190 24,0 74 60 81 Podzolizado Vermelho Amarelo- Orto 0 – 12 130 14,0 37 27 73 Terra Roxa Estruturada 0- 15 640 45,1 244 150 62 Latossolo Roxo 0 – 18 590 45,1 289 161 56 Latossolo Vermelho 0 - 17 240 12,1 39 29 74 Fonte: Raij (1991)

74

Conforme Raij (1969), a participação da matéria orgânica na CTC de solos do

Estado de São Paulo varia de 30 a 90%, com média de 74%. Anteriormente,

Verdade (1956) havia verificado que a contribuição da M.O. para a CTC de solos

argilosos estava entre 30 e 40% e, em solos arenosos, de 50 a 60%. Para finalizar,

em solos tropicais os trocadores são praticamente representados por argilas

silicatadas do tipo 1:1 (caulinita), sesquióxidos de Fe e de AI e húmus.

b) pH

Parte das cargas negativas apresentadas pelos colóides do solo é do tipo

permanente e parte do tipo pH dependente ou variável. Nos solos tropicais

predominam as últimas. Nas cargas negativas pH dependentes os íons hidrogênio

se ligam por covalência, uma ligação forte que não admite troca do H+ assim

adsorvido por qualquer outro íon dissolvido na solução do solo. Na prática, a carga

negativa pH dependente ocupada por H+ fica bloqueada ou "indisponível para troca".

Caso o pH se mantenha, qualquer cátion que for adicionado ao solo será facilmente

perdido por lixiviação. Em pH em água de 4 a 7 ocorre dissociação de grupo -OH de

radicais carboxílicos e, de pH de 6 a 7, de grupos -OH de radicais fenólicos.

Pode-se escrever que:

CTC total = CTC permanente + CTC pH dependente

Por outro lado, considerando o pH do solo tem-se a CTC potencial e a CTC

efetiva. CTC potencial é a quantidade de cargas negativas que o solo apresenta a

um valor de pH em água determinado (pH 7,0 ou 8,2). No Brasil é considerado o pH

7,0. CTC efetiva é a quantidade de cargas negativas que o solo apresenta nas

condições de pH em que o solo se encontra (Tabela 32).

Tabela 32. Capacidade de troca de cátions de minerais de argila de solos e de turfa do Kenia

Material CTC

Permanente Variável Total

---------------------------- mmol kg-1 ---------------------------- Montmorilonita 1120 60 1180 Vermiculita 850 0 850 Ilita 110 80 190 Haloisita 60 120 180 Caulinita 10 30 40 Gibbsita 0 50 50 Goetita 0 40 40 Alofana 100 410 510 Turfa 380 980 1360

Fonte: Sanchez (1981).

75

Assim, o efeito do pH e de vital importância. Uma das formas para elevar a

CTC efetiva do solo é elevando o pH do meio e, a outra, evidentemente,

aumentando o teor de matéria orgânica do solo. A CTC potencial somente será

aumentada com a matéria orgânica.

Segundo Lopes (1983), valores extremamente baixos de CTC efetiva são

indicativos do alto grau de intemperização do solo, com predominância de argilas de

baixa atividade. O autor cita também que CTC efetiva baixa e indicativa de um

grande potencial para lixiviação de cátions. Como resultado destas citações, é

preciso cuidado especial adotando-se manejo conveniente do solo para aumentar a

eficiência das adubações.

5.3.5 Relações entre CTC e características do solo

5.3.5.1 CTC e C orgânico e CTC e nitrogênio

São observadas correlações positivas e significativas entre CTC e carbono

orgânico (portanto, matéria orgânica) e entre CTC e teor de N no solo.

Essas correlações ocorrem uma vez que, como foi visto:

a) os colóides orgânicos apresentam cargas negativas derivadas da dissociação dos

grupos-OH dos radicais carboxílicos e fenólicos do húmus e a CTC devida aos

colóides orgânicos é quantitativamente expressiva nos solos. Quanto maior o teor de

carbono orgânico, maior o teor de húmus do solo, em consequência maior o número

de cargas negativas e, dai maiores a CTC;

b) a correlação positiva entre CTC e teor de N e decorrente da correlação positiva

entre matéria orgânica e N. A relação entre matéria orgânica para nitrogênio e de

20:1 ou, de outra maneira, 97% do N combinado total do solo está na forma

orgânica, o que significa que quanto maior o teor total de N combinado do solo maior

o teor de M.O. e, com isso, maior a CTC.

5.3.5.2. CTC e argila

É, praticamente, na fração argila dos solos que se encontram os trocadores

minerais. Dessa forma e de se esperar, e é encontrada, correlação positiva e

significativa entre CTC e teores da fração argila (quanto maior a fração argila, maior

a quantidade de minerais de argila silicatada e de sesquióxidos de Fe e de Al).

76

Ainda, geralmente, quanto mais argiloso o solo maior também e a sua quantidade de

matéria orgânica ou de húmus. Como conseqüência do citado, maior o número de

cargas negativas e, portanto, maior a CTC.

5.3.5.3. CTC e SB

Com base na definição de CTC tem-se que ela é o somatório de cargas

negativas da superfície de partículas da fase sólida do solo. Neutralizando essas

cargas negativas tem-se cátions (contraíons) como Ca2+, Mg2+, K+, Na+ ... H+ e Al3+.

Ao somatório de Ca2+ + Mg2+ + K+ (Na+ e NH4+) dá-se a denominação de soma de

bases ou valor SB. Deve-se esperar, e também é encontrada, correlação positiva e

significativa entre SB e CTC.

5.3.5.4. CTC e densidade global

A densidade global ou aparente do solo (dg) é dada pela relação entre peso

do solo seco (P) e volume total do solo seco inalterado (Vt), isto é, incluindo os

poros:

dg = P/Vt

e o seu valor aumenta à medida que aumenta o teor de areia do solo ou diminui o

seu teor de argila.

Como é, praticamente, na fração argila que se tem os trocadores, é de se

esperar que o aumento da dg, isto é, que o aumento do teor de areia do solo, leve a

uma diminuição da CTC. Tem-se então, uma correlação negativa entre densidade

global (massa especifica global) e CTC.

5.3.5.5. Entre CTC, V% e pH

Como visto, as cargas negativas dos solos são neutralizadas por cátions,

entre os quais: Ca2+, Mg2+, K+, Na+ ... H+ e Al3+.

O somatório de todos os cátions adsorvidos, expresso em mmolc dm-3 de

TFSA, é igual a CTC do solo. O somatório de H+ e Al3+ representam as cargas

negativas ocupadas por "ácidos". O somatório dos demais cátions, praticamente

Ca2+, Mg2+, K+, Na+, representa a fração das cargas negativas ocupadas por bases,

a soma de bases (valor SB ou SB. Em muitas regiões do Brasil, apenas valor S, o

que pode levar alguns a pensar, equivocadamente, em enxofre).

77

A proporção de bases, isto é, de SB em um dado momento, para uma dada

CTC, multiplicado por 100, é denominada de índice de saturação por bases (V%).

De maneira mais simples, V% dá a proporção de cargas negativas ocupadas

por bases. A diferença entre o total de cargas e V%, dá a proporção de cargas

negativas do solo ocupadas por ácidos:

100 – V% = "ácidos"

Dessa colocação decorre que, quanto maior V%, menor a proporção de H+ +

Al3+ no solo.

Os ácidos podem ser mais especificamente, representados por H. Embora o

equilíbrio químico entre os cátions adsorvidos à fase sólida e dissolvidos na solução

do solo seja não eqüitativo, é de se esperar, e ocorre que o cátion mais abundante

na fase sólida o seja também na fase líquida. Por outro lado, lembrando que pH é a

medida da concentração hidrogeniônica na solução do solo, expresso pelo logaritmo

do inverso da concentração dos íons H+ dissolvidos na solução do solo,

pode-se chegar à conclusão que quanto maior o V%, menos ácido é o solo, isto é,

maior seu valor de pH. Assim, existe uma correlação positiva e significativa entre pH

e V%.

Da análise da equação V% = 100SB/CTC, vê-se que V depende de SB e de

CTC e que para valores de SB e CTC diferentes pode-se ter o mesmo valor para V

e, com isso, valores pH semelhantes (Tabela 33).

Tabela 33. Relação entre valores de pH do solo e de índice de saturação por bases.

Solo pH SB CTC V

--------- mmol dm-3 --------- A 4,9 30 60 50 B 5,1 50 100 50

78

5.3.6 Importância da CTC do ponto de vista da fertilidade do solo

É de grande valia a capacidade de troca de cátions, pois as cargas negativas

funcionam como um reservatório de cátions no solo. O tamanho do reservatório, da

CTC, varia de solo para solo em função da textura, do tipo e quantidade de mineral

de argila e da concentração de matéria orgânica.

Preenchendo o reservatório tem todos os tipos de cátions, principalmente

Ca2+, Mg2+, K+, Na+ ... H+ e Al3+. Quando se determina ou se sabe o valor da CTC,

sabe-se na verdade o tamanho do reservatório, mas não necessariamente o que ele

contém. Em função disso diz-se que conhecendo a CTC tem-se uma estimativa da

fertilidade potencial do solo.

O conhecimento só da CTC é, portanto, insuficiente. É preciso que se saiba a

qualidade do que está dentro do reservatório, ou seja, quais os cátions que ele

contém. É o V% que fornece a idéia da fertilidade atual do solo, mas esse valor

isolado, também apresenta um significado restrito. Tem-se, com o valor V% quanto

do reservatório está ocupado por bases, mas, não necessariamente se sabe quais

as bases. Pode-se ter, por exemplo, um solo rico em cálcio e com teor de potássio

insuficiente, mas, apesar disso, um valor V% alto.

Dois aspectos precisam ser salientados:

a) um solo pode apresentar valores de CTC, SB e V% altos e outro, valores de

CTC e SB baixos e de V% alto. Nessas circunstâncias, o solo que apresentar CTC

alta terá maior fertilidade, podendo se manter produtivo por mais tempo.

b) dois solos, com V% baixos exigirá maior investimento em calcário e adubo

aquele que apresentar maior CTC.

Na Tabela 34 tem-se os padrões de fertilidade do solo para CTC e V%.

Tabela 34. Interpretação para valores de CTC e de V% do solo

Classe CTC Classe V

mmol dm-3 % Baixo 0 – 45 Muito baixo 0 – 25 Médio 46 – 100 Baixo 26 – 50 alto > 100 Médio 51 – 70 Alto 71 – 90 Muito alto > 90

79

5.3.7 CTC x disponibilidade de nutrientes

A passagem dos cátions da fase sólida para a solução do solo é regulada por

uma série de fatores que, em última instância, vão determinar a disponibilidade dos

nutrientes para as plantas. Entre esses fatores devem ser mencionados:

a) Valência do cátion

Quanto maior a valência do cátion maior o seu poder de substituição. Assim,

os cátions trivalentes são mais fortemente retidos do que os bivalentes e os

monovalentes. Os cátions bivalentes, por sua vez, são mais fortemente retidos do

que os monovalentes. Deste modo, os cátions monovalentes são mais facilmente

deslocados para a solução do solo. Ter-se-ia então a seguinte ordem:

Al3+ > Ca2+, Mg2+ > K+, Na+

Deve-se observar que o íon H+ é uma exceção, pois, ele se liga por

covalência às cargas pH dependente do solo.

b) Raio iônico

Para cátions de mesma valência, aquele com raio iônico não hidratado maior

será mais fortemente retido, isto porque se hidrata menos, sendo a hidratação maior

para cátions menores.

O íon que apresenta maior camada de hidratação, em função da distância

entre a superfície de seu núcleo e a partícula sólida, é retido com menor força e,

portanto, liberado mais facilmente. A valência e o raio iônico determinam a série

liotrópica ou de Hoffmeister.

Al3+ > H+ ≥ Ca2+> Mg2+ > K+> Na+

O raio iônico não hidratado do cálcio (0,099 nm) é maior do que o do

magnésio (0,066) e o do potássio (0,133 nm) do que o do sódio (0,097 nm).

Camada de hidratação

80

O comportamento particular do H+ é devido ás ligações covalentes com as

cargas negativas pH dependentes. Quando o íon H+ está ligado a cargas negativas

permanentes a força com que é retido é semelhante a com que é retido o íon cálcio.

c) Saturação do cátion no solo

Para solos com valores diferentes de CTC e de um cátion qualquer,

apresentará maior disponibilidade do nutriente aquele que apresentar maior

saturação do cátion em questão, independentemente dos valores absolutos (Tabela

35).

Tabela 35. Saturação de cátions no solo.

Solo CTC Teor de Ca Saturação de Ca

-------------- mmol dm-3 -------------- % A 100 30 30 B 80 20 25 C 60 20 33

d) Tipo de colóide

Colóides em que predominam cargas negativas permanentes tendem a

requerer maior saturação do que aqueles em que predominam cargas negativas pH

dependentes para proporcionarem a mesma disponibilidade. Essa situação é devida

a ligação de cátions a cargas pH dependentes ser muito mais fraca. Ainda existe o

problema da localização da carga. Nos colóides em que ocorre grande quantidade

de cargas permanentes, grande parte delas se acha no interior das grades 2:1.

Quanto ao tipo de colóide as argilas do tipo 2:1 com 70% de saturação em

cálcio oferecem mesma disponibilidade que as argilas do tipo 1:1 com 40% de

saturação de cálcio. Nas argilas 2:1 ocorre menor disponibilidade e maior proteção

contra perdas por lixiviação.

81

6. REAÇÃO DO SOLO

6.1. INTRODUÇÃO

A reação do solo é o grau de acidez ou de alcalinidade que ele apresenta e é

uma de suas características mais importantes, pois afeta tanto as suas propriedades

químicas, quanto as físicas e as biológicas. Ela pode ser ácida, neutra ou alcalina e

o aparecimento de um destes tipos de reação está intimamente ligado a condições

de precipitação pluvial na região e ao material de origem do solo.

De uma maneira geral, quando se tem precipitação pluvial alta e temperatura

elevada, o que ocorre nas regiões tropicais úmidas, os solos apresentam reação

ácida.

Em regiões de precipitação pluvial moderada, dependendo do material de

origem, os solos podem apresentar desde reação levemente ácida, a neutra, a

levemente alcalina.

O aparecimento de reação alcalina, portanto de solos alcalinos, está

associado a regiões áridas e semi-áridas.

O material de origem, dentro de certos limites, atua em função do que tem

para dar. A participação da precipitação pluvial será analisada depois.

Além do material de origem e das condições de precipitação pluvial, o uso e

manejo do solo também afetam a sua reação, podendo o solo se apresentar mais

ácido ou menos ácido em função do que foi ou é feito no local.

De qualquer forma, no Estado de São Paulo, como de resto em quase todo o

Brasil, o que se tem são solos ácidos ou tendentes a ácidos.

6.2. EXPRESSÃO DA REAÇÃO DO SOLO

A reação do solo é expressa em valores de pH (potencial de hidrogênio), que

representa o logaritmo do inverso da concentração hidrogeniônica ([H+]) ativa da

solução do solo.

pH = log 1/[H+] = - log [H+]

Da mesma forma como se utiliza a escala de pH para a água e para as

soluções puras, no solo a escala de pH varia de 0 a 14 e, quando:

82

[H+] = 10-7, o pH é igual a 7 e a reação é neutra (neste caso [OH] é também

igual a 10-7)

[H+] < 10-7, o pH é maior do que 7 e a reação é alcalina;

[H+] > 10-7, o pH é menor do que 7 e a reação é ácida.

No Estado de São Paulo, até 1982, a determinação do pH era feita em água

e, a partir de 1983, passou a ser feita em solução de CaCl 0,01 moI L-1. Na Tabela

36 são apresentadas as classes de valores de pH e respectivas interpretações,

conforme as recomendações do Instituto Agronômico, Campinas (SP). Segundo

Quaggio, citado por Raij et al. (1987), os valores de pH em CaCl-1 0,01 moI L-1 são,

em média, 0,6 unidade de pH menores do que os obtidos em água.

Tabela 36. Interpretação de valores de pH de solo no Estado de São Paulo1.

pH em água Interpretação pH em CaCl2 Interpretação

< 5,0 Fortemente ácido Até 4,3 Acidez muito alta 5,1 – 5,5 Medianamente

ácido 4,4 – 5,0 Acidez alta

5,5 – 6,9 Fracamente ácido 5,1 – 5,5 Acidez média 7,0 Neutro 5,6 – 6,0 Acidez baixa > 7,1 – 7,8 Fracamente

alcalino > 6,1 Acidez muito baixa

1segundo o Instituto Agronômico de Campinas (SP)

A situação das áreas cultivadas do Estado de São Paulo, de acordo com

Gargantini et al. (1970), era a seguinte: 4,8% das áreas com pH em água abaixo de

5,0; 42,5% com pH em água entre 5,0 e 5,5 e 40,0% entre 5,5 e 6,0. Isso significa

que 87,3% dos solos do Estado de São Paulo apresentavam pH em água menor do

que 6,0 (ou do que 5,4 se determinado em solução de CaCl2 0,01 moI L-1). Extraiu-

se de Melo et al. (1983) as informações de que em 51% do Estado de São Paulo a

calagem era imprescindível para a obtenção de colheitas compensadoras; em 30%

era essencial e em 19% era útil e, ainda, que cerca de 50% da área cultivada do

Estado de São Paulo apresentava problemas de acidez elevada, sendo

aconselhável o emprego de corretivos. Tal emprego, porém, era de caráter

obrigatório em 20% da mesma área devido aos teores elevados de AI trocável.

83

6.3. ACIDIFICAÇÃO DO SOLO

6.3.1 Aspectos gerais

O processo de acidificação do solo pode ser simplesmente representado por

uma remoção de cátions básicos do solo e a entrada de cátions "ácidos" (H+ e Al+3)

nos seus lugares.

A acidificação em termos de fase sólida significa que as cargas negativas vão

sendo saturadas por H+ e Al3+, o que leva a diminuição do índice de saturação por

bases (V%). O que se tem é, na verdade, a remoção de bases da solução do solo e

a adição de íons H+ nesta mesma solução, com as quebras de equilíbrio entre as

fases líquida e sólida e, depois, conseqüente reequilíbrio entre ambas (fases líquida

e sólida).

Pode-se retomar o esquema apresentado para representar troca iônica

(Figura 28).

Figura 28. Esquema de troca catiônica em solos.

Fica evidente na Figura 28 que a "saída" ou a "entrada" de cátions na fase

líquida provocará uma quebra de equilíbrio entre ambas as fases e que a toda saída

corresponde uma entrada e vice-versa, o que implica na necessidade de trocas de

cátions básicos e cátions ácidos entre as duas fases para que o equilíbrio seja

restabelecido.

Em qualquer situação o equilíbrio elétrico é mantido em cada uma das fases.

Em outras palavras, quando uma base sai da solução do solo é quebrado o

equilíbrio entre as bases da solução e as da fase sólida. Para que se restabeleça o

equilíbrio, certa quantidade de bases sairá da fase sólida e passará para a solução,

ficando, teoricamente, cargas negativas livres na fase sólida e cátions livres na

solução. Por meio de um processo natural quaisquer são "produzidos" íons H+ e

ânions. Parte dos íons H+ produzida neutraliza as cargas negativas livres (que estão

sobrando) na fase sólida e ânions "formam" sais com os cátions (neutralizam as

84

cargas positivas que estariam sobrando na solução). Todas essas trocas são

proporcionais e, quanto mais cátions básicos saírem, mais cátions ácidos entrarão e,

em consequência, mais ácido ficará o solo.

Ao invés da saída de bases no sistema fase sólida-fase líquida, pode-se ter

entrada de bases. O processo ocorre da mesma forma só que, logicamente, os

resultados são opostos.

Do apresentado pode-se concluir que acidificação ou alcalinização significa

perda ou ganho de bases ou de H+. Neste texto será dada ênfase a acidificação,

pois os solos do Estado de São Paulo, como a maioria dos solos do Brasil, são

ácidos ou tendentes a ácidos.

As perguntas a seguir são muito importantes. Como o solo perde bases?

Como ganha H+? Do que depende a intensidade da acidez desenvolvida?

6.3.2. Remoção de bases da solução

A remoção de bases da solução se dá, principalmente, por meio da lixiviação

e da absorção pelas plantas com posterior remoção devidas ás colheitas. É

interessante uma reflexão quanto ao que ocorre em área sob cultivo

comparativamente àquelas com vegetação natural, de gramíneas ou de florestas.

Por outro lado, a erosão se constitui em um processo que pode levar a exposição de

horizontes ou camadas do solo mais ácidas, não se constituindo simplesmente em

remoção de bases.

É claro que com a remoção de bases Ca2+, Mg2+, K+, etc da solução é

quebrado o equilíbrio entre as fases líquidas e sólidas. Para o restabelecimento do

equilíbrio destas bases entre as fases, certa quantidade de bases sai da fase sólida

e passa para a fase líquida. Essas mudanças e trocas ocorrem sistematicamente e,

em função das condições ambientais, desde material de origem a precipitação

pluvial, além de outros fatores como plantas cultivadas e removidas, etc. ter-se-á,

após certo tempo, um maior ou menor empobrecimento do solo nestas bases.

Em linhas gerais o que ocorre em termos de remoção de bases é o seguinte:

a) lixiviação. Com chuvas ou dependendo da irrigação, desde que ocorram

condições para percolação de água, ocorrerá arrastamento de cátions na água que

percola (portanto, ocorrerá lixiviação). Esses cátions saem acompanhando ou

"arrastados" por ânions da solução;

85

b) remoção de bases ou cátions básicos pela colheita. Ao absorverem os cátions

nutrientes as plantas estão concorrendo para a acidificação do solo. No caso de

culturas, a quantidade removida vai depender do tipo de cultivo, do sistema de

colheita, do tempo que a cultura fica no campo, de práticas adotadas, etc.

6.3.3. Aumento de H+ na solução

Em condições naturais o ganho de H+ na solução do solo pode ser devido a

dissolução de CO2 na água do solo, a atividades microbiológicas no solo, a

dissociação de íons H+ de grupos -OH de radicais orgânicos e minerais do solo, etc.

O aumento ou o aparecimento de íons H+ tanto pode ser provocado pelo

sistema na tentativa de manter um equilíbrio elétrico no meio (é o caso típico quando

ocorre perda de bases), como pode ser o causador de remoção de bases. A

atividade microbiológica, por exemplo, pode produzir ácidos que irão provocar

desequilíbrios entre as fases líquida e sólida, com mudanças na tentativa de manter

uma certa proporcionalidade entre os diferentes tipos de íons adsorvidos e em

solução.

Em linhas gerais o que ocorre em termos de acidificação é o seguinte:

a) dissolução de CO2 na solução ou água do solo

CO2 + H2O → H2CO3 H+ + HCO3-

O ânion bicarbonato (HCO3-) forma, com cátions Ca2+, Mg2+, K+, etc. da

solução do solo, bicarbonatos de cálcio, de magnésio, etc. que são solúveis e

perdidos facilmente por meio da água que percola, no processo conhecido por

lixiviação. Esse ânion vai arrastar bases dissolvidas na solução do solo e o

hidrogênio produzido remove cátions básicos da fase sólida para a solução. Esse

processo é tão mais importante quanto maior for o pH do solo. Em solos muito

ácidos é pouco importante.

b) atividade microbiológica no solo

Os microrganismos agindo em substâncias orgânicas e inorgânicas do solo

acabam produzindo ácidos como o nítrico, o sulfúrico, etc. Esse é o processo mais

importante de ganho de H+, principalmente se considerar a transformação do NH4+/

(independentemente de sua origem) a NO3-, que sempre produz H+, com suas

consequências. Além de produzir H+, o NO3- produzido fica sujeito à lixiviação e com

ele são arrastados cátions básicos.

86

c) dissociação de íons H+ de grupos-OH de radicais orgânicos e inorgânicos

Íons H+ de grupos-OH ligados a radicais carboxílicos (R-COOH) e fenólicos

(O-OH) ou a silício (Si-OH) e a alumínio (AI-OH), estes últimos também nas arestas

ou bordos de minerais de argila, em função de certas condições, se dissociam

provocando manutenção ou aumento de H+ na solução do solo.

6.3.4 Intensidade da acidez desenvolvida

Com a remoção de bases e ganho de H+ irá acontecer uma acidificação do

solo. A intensidade da acidez desenvolvida dependerá do seguinte:

a) da quantidade de água que percola

Quanto mais intensa e maior a percolação, maior a lixiviação e, com isso,

maior a acidez desenvolvida. A quantidade de água que percola depende não só do

volume que chega ao solo como também da sua permeabilidade.

b) da quantidade de resíduos orgânicos deixados ou levados ao solo

Quanto maior a quantidade de resíduos orgânicos deixados ou levados ao

solo, maior a acidificação por, principalmente, duas razões:

b1) na decomposição desses resíduos ocorre a formação de ácidos orgânicos e

inorgânicos e, lógico, quanto maior a quantidade de material que foi decomposto,

maior a produção de ácidos.

b2) o resíduo orgânico chega ao solo, sofre transformações físicas, químicas e

biológicas produzindo matéria orgânica. A matéria orgânica tem uma CTC muito

maior do que os minerais de argila e, em geral, as bases provenientes dos resíduos

orgânicos de que foi originada, não são suficientes para neutralizar as cargas

negativas geradas e estas ficam, em parte, ocupadas por H+, o que significa uma

menor saturação por bases e, logicamente, um valor de pH mais baixo.

c) do tipo e quantidade de adubo mineral empregado

Existem adubos que quando colocados no solo provocam acidificação. Na

Tabela 37 tem-se o equivalente de acidez provocado no solo por alguns fertilizantes.

Tomando como exemplo o sulfato de amônio, tem-se que o adubo, na nitrificação,

libera H+ conforme a reação simplificada a seguir:

2NH4+ + 4O2 2NO3

- + 4 H+ + 2H2O + E

Também, com a lixiviação de NO3- e remoção de bases ocorre acidificação.

87

Tabela 37. Equivalente de acidez dos principais fertilizantes.

Fertilizante Teor de N kg de CaCO3 puro

% Por kg de N Por 100 kg do

produto

Amônia 82 -1,80 -148

Uréia 44 -1,80 -79

Nitrato de amônio 32 -1,80 -58

Nitrocálcio 20 O O

Sulfato de amônio 20 -5,35 -107

Cloreto de amônio 25 -5,60 -140

Nitrato de cálcio 14 +1,35 +19

Fosfato monoamônico 9 -5,00 -45

Superfosfato simples O O

Superfosfato triplo O O

Fonte: Raij (1991).

d) uso do calcário

O calcário corrige a acidez e dai, em função da quantidade, da qualidade e da

frequência de aplicação, tem-se um maior ou menor controle da acidez,

consequentemente, uma maior ou menor acidificação.

e) poder tampão

Admitindo-se uma solução de ácido forte com pH igual a 4,0, se tratando de

uma solução pura, sem a presença de colóides, e conhecendo-se o seu volume, é

possível calcular a quantidade de bases necessária para neutralizar a acidez

presente. Agora, para o solo isso seria possível? O que aconteceria? Para

responder essa questão será considerado o seguinte caso: em uma área de I

hectare, coletou-se uma amostra de solo na profundidade de 0 a 20 cm e nela fez-se

a determinação do valor de pH em água O valor obtido foi igual a 4,0. Qual a

quantidade teórica de CaCO3 p.a. que deverá ser adicionada para corrigir essa

acidez, considerando-se que o solo apresenta 25% de umidade, isto é, 25 L de água

por 100 dm' de solo? Após a incorporação da quantidade de corretivo assim

calculado o pH do solo será corrigido para 7,0? Por quê? Resolvendo-se a

proposição tem-se:

88

solução com pH 4 = solução com 0,0001 mol L-1 de H+ ou 0,0001 molc L-1 de

H+.

área = 1 ha = 10.000 m2.

profundidade de 0 a 20 cm = altura (h) = 0,2 m;

umidade = 25% = 25 L por 100 dm3 de solo:

Daí:

volume de solo = 10.000 m2 x 0,2 m = 2.000 m3

Como 1 m = 10 dm e (1 m)3 = (10 dm)3, isto é, 1 m3 = 1.000 dm3, tem-se:

volume de solo = 2.000 m3 = 2.000.000 dm3

Assim, tem-se volume de água:

em 100 dm3 de solo → 25 L de água

em 2.000.000 dm3 → x

x = 500 000 L de água

Como:

1 litro de solução pH 4,0 → 0,0001 moI de H+ = 0,0001 molc de H+

500.000 litros → y

y = 50 molc de H+

Será usado CaCO3 p.a. para corrigir a acidez. Lembrando que as substâncias

reagem entre si molc contra molc, pode-se fazer:

1 molc de CaCO3 = (40 + 12 + 3 x 16)/2 = 50 gramas e,

1 molc de H+ reage com molc de CaCO3 ou,

1 molc de H+ →•com 50 gramas de CaCO3

50 molc de H+ → z

z = 50 x 50 = 2.500 g ou 2,5 kg de CaCO3 para, teoricamente, elevar o pH de

4 para 7.

No entanto, se colocar nesta área de 1 ha apenas 2,5 kg de CaCO3 não será

verificada mudança no valor de pH do solo. Como se explica? Simples. Quando íons

H+ da solução são neutralizados, a fase sólida os repõe, liberando íons H+ de

reserva. Tem-se então uma resistência à mudança de pH. A essa resistência

denomina-se poder tampão.

O poder tampão é responsável tanto por uma resistência na correção da

acidez do solo quanto na sua acidificação.

89

6.4. TIPOS DE ACIDEZ

Os solos têm comportamento semelhante a ácido fraco, isto é, têm constante

de equilíbrio (Ka) muito baixa, com muito pouco H+ dissociado em relação a

quantidade de H+ adsorvido ou ligado a partículas da fase sólida. Desta forma,

quando se adiciona OH-, neutralizando-se H+ da solução, a fase sólida, de forma a

manter uma certa Ka, libera íons H+ para o meio. O que se tem então é uma

resistência a mudança de pH, isto é, poder tampão.

A quantidade de H+ dissolvido na solução do solo constitui a acidez ativa ou

atual ou livre, e a capacidade da fase sólida, basicamente dos colóides orgânicos e

inorgânicos, de liberar H+ para a solução, é a acidez potencial ou de reserva do solo.

Para melhor visualizar o que se passa observe-se o equilíbrio entre fases sólida e

liquida, conforme o esquema na Figura 29, em que, propositalmente, são

representados apenas os cátions ácidos .

Figura 29. Esquema de troca iônica no solo demonstrando relação entre acidez de reserva e acidez ativa.

Então se pode conceituar acidez ativa e acidez potencial como a seguir:

a) acidez ativa é a atividade dos íons H+ na solução do solo;

b) acidez potencial é a quantidade de íons H+ que a fase sólida de um solo é capaz

de liberar quando em contato com uma solução tampo nada a pH 7. Inclui H+ ligado

por eletrovalência e por covalência e Al+3 trocável.

Na acidez atual a concentração de íons hidrogênio (H+) na solução é tão

baixa que a forma de expressá-la é o valor de pH. A acidez potencial é expressa em

mmolc dm-3 de (H+Al). A acidez potencial pode ser determinada com uma solução de

um sal tamponado, como por exemplo, o (CH3COO)2Ca, que é empregado em

quase todo o Brasil, exceção feita ao Estado de São Paulo, onde este tipo de acidez

90

é determinado com solução SMP, em procedimento previamente calibrado com o

(CH3COO)2Ca. Com o uso de solução SMP, tamponada a pH 7,5, e emprego de reta

padrão em que previamente se relacionou teores de H+Al extraídos com acetato de

cálcio 0,5 mol L-1, pH 7,0, e respectivos pHSMP obtidos em série de solos

representativos da região ou do Estado, se obtém a concentração de (H+Al) do solo.

Pode-se dividir a acidez potencial ou de reserva em:

a) Acidez trocável: É representada por H+e Al3+ eletrovalentes, sendo que na maioria

dos solos brasileiros, 5/6 é Al3+. Por isso, normalmente, ela é expressa em mmolc

dm-3 de Al3+. É determinada com um sal neutro não tamponado, por exemplo KCl

b) Acidez não trocável: É representada pelo H+ ligado por covalência a cargas

variáveis ou dependentes de pH e a maneira de avaliá-la no Brasil, em que a acidez

trocável é geralmente baixa, é por diferença entre a acidez potencial e a trocável.

Determinada a acidez potencial por meio de solução de sal neutro tampo nado e,

conhecida a acidez trocável (KCl), faz-se a diferença. A rigor, cerca de 1/6 da acidez

trocável é H+.

A acidez potencial é a causa e a acidez atual é o efeito.

6.5. EFEITO DA REAÇÃO DO SOLO SOBRE AS PLANTAS

Do apresentado no item 6.2. (expressão da reação do solo) pode-se concluir

que a reação do solo - neutra, ácida ou alcalina - é dada pelas proporções em que

se encontram os íons H+e OH- na solução do solo. Se estiverem em quantidades

iguais ([H+] = [OH-]), a reação será neutra; se predominar OH-, isto é, [OH-] > [H+], a

reação será alcalina; e, se predominar H+, portanto [H+] > [OH-], a reação será ácida.

De maneira geral, em condições de campo, as plantas cultivadas apresentam

melhor desenvolvimento e produção na faixa de pH em água entre 5,5 a 6,0-6,5 e de

pH em CaCl2 0,01 mol L-1 entre 4,9 a 5,4-5,9 (aproximadamente, 5,0 a 5,5-6,0). Essa

expectativa é confirmada ao se observar os dados apresentados nas Tabelas 35, 36

e 37.

Esses dados caracterizam um efeito do pH sobre o desenvolvimento e a

produção vegetal. Como esse efeito se manifesta? Os efeitos do pH no crescimento

e na produção vegetal podem se manifestar de dois modos: direto e indireto.

O efeito direto é devido à ação da [H+] sobre a planta, enquanto que o efeito

indireto é devido a ação da [H+] sobre fatores que afetam a planta, por exemplo,

91

sobre a disponibilidade de elementos no solo que, como se sabe, interfere no

desenvolvimento e na produção.

Uma questão de ordem prática é: por que, ao se começar a cultivar uma área,

geralmente, se planta primeiro arroz ou mesmo milho para depois se plantar soja? A

resposta é que a maioria dos solos são ácidos e requerem correção da acidez e, no

primeiro ano, mesmo com a calagem, não se tem condições favoráveis ao plantio da

soja. A explicação para a escolha pode ser complementada observando-se as

Tabelas 38 a 40.

Tabela 38. Produção relativa de algumas culturas em função do pH.

Cultura Produção relativa em função do pH em água

4,7 5,0 5,7 6,8 7,5

--------------------------------- (%) ---------------------------------

Milho 34 73 83 100 85

Trigo 68 76 89 100 99

Aveia 77 93 99 98 100

Centeio 0 23 80 95 100

Alfafa 2 9 42 100 100

Trevo doce 0 2 49 89 100

Trevo vermelho 12 21 53 98 100

Soja 65 79 80 100 93

Fonte: Malavolta (1985).

Tabela 39. Relação entre pH e crescimento das plantas

pH em água

4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0

Abacaxi F MD MF MF F D D D Algodoeiro D F MF MF F F D D Amendoim D F MF MF F D D D Arroz F MD MF MF MF D D D Banana D D D F MF MF MF D Batatinha F MF MF MF MF F D D Cafeeiro MF MF MF Cana-de-açúcar

D D D F MF MF MF D

Capins D D F MF MF F D D Laranja D D D F MF MF MF F Milho D F MF MF MF MF F D Soja D D F MF MF MF D D

F = favorável; MF = mais favorável; D = desfavorável

Fonte: Malavolta (s/d)

92

Tabela 40. Faixas de pH mais adequados para algumas culturas

Cultura pH em água Cultura pH em água

Algodoeiro 5,5 a 6,5 Arroz 5,0 a 6,5 Batatinha 5,0 a 5,5 Cafeeiro 6,0 a 7,0 Cana-de-açúcar 5,5 a 6,5 Capins 5,5 a 7,0 Laranja 5,0 a 7,0 Feijoeiro 5,5 a 6,7 Milho 5,5 a 6,5 Soja 5,5 a 7,0 Sorgo 5,5 a 7,0 Tomateiro 5,5 a 6,7 Trigo 6,0 a 7,0 Videira 5,5 a 7,5

Fonte: Malavolta (1985)

6.5.1 Efeito direto

Em estudo feito em solução de nutrientes se verificou que a planta morre e,

evidentemente, a produção é igual a zero quando se tem no meio pH ≤ 3 ou pH ≥: 9

(Figura 30).

Figura 30. Efeito do pH da solução sobre o crescimento das plantas.

Em pH ≤ 3,0 as plantas param de absorver nutrientes da solução, devido a

um efeito competitivo do íon H+ sobre a absorção de outros cátions, havendo ainda

um efeito destrutivo do íon H+ sobre a membrana celular. Além do efeito competitivo

na absorção de nutrientes, os íons H+ podem causar danos diretos ao sistema

radicular das plantas. A valores de pH abaixo de 4,0, o excesso de H+ causa a perda

de íons que já haviam sido absorvidos, através de um fluxo inverso nos tecidos da

raiz. Já foram relatadas perdas de potássio, magnésio, fósforo orgânico e

inorgânico, nitrogênio e cálcio através deste mecanismo. Isso sugere que o excesso

de íons H+ aumenta a permeabilidade das membranas celulares, o que permite a

saída de íons absorvidos do interior da raiz (Moore, 1974). O mesmo efeito

93

competitivo que se observa em relação a H+ e outros cátions, verifica-se também

entre OH- e outros ânions. Na medida em que essa competição pode levar a planta

a absorver menos nutrientes do que seria necessário, tem-se uma manifestação

indesejável tanto da acidez quanto da alcalinidade extremas. Ainda, em pH 9,0 as

plantas não absorvem fósforo e cálcio e logicamente não se desenvolvem, chegando

a morte.

6.5.2 Efeitos indiretos

A reação do solo - ácida, neutra ou alcalina - como já citado, é definida pelas

proporções em que se encontram os ions H+ e OH- na solução. Contudo, os efeitos

da reação do solo sobre as plantas não estão restritos apenas àqueles diretamente

relacionados aos íons H+ e OH-. A disponibilidade de todos os nutrientes de plantas,

e também daqueles elementos que, embora não sendo nutrientes são importantes

porque podem gerar toxicidade, é extremamente afetada pela reação do solo, bem

como por outros fatores que de uma ou outra forma afetam a produção vegetal. A

presença de Al3+ em solução é o resultado da dissolução de minerais de argila e de

óxidos de alumínio em condições de acidez elevada.

6.5.2.1 Disponibilidade de nutrientes

Como visto, as plantas absorvem íons da solução do solo, exceção feita a

algumas em relação ao nitrogênio. Portanto, de maneira geral, todo e qualquer

nutriente tem que estar dissolvido na solução do solo para ser absorvido pelas

plantas. Por outro lado, a solubilidade de compostos minerais e a mineralização da

matéria orgânica no solo são controladas, entre outros fatores, pelo pH do meio.

Na Figura 31 (Corey, citado por Wutke, 1972) tem-se, na ordenada, a

disponibilidade e, na abcissa, valores de pH em água. O que está mostrado é um

desenho com as tendências de efeito do pH em água na solubilidade de nutrientes,

sendo que em nenhum momento há preocupação com a quantidade absoluta do

nutriente considerado. Como para que um nutriente seja absorvido pela planta (com

o particular do N) ele precisa estar dissolvido na solução, entende-se que, no caso,

solubilidade é conseqüência ou sinônimo de disponibilidade.

Se o solo tiver muito do elemento, a condição mais favorável à solubilidade

poderá levar à sua toxicidade para a planta. Se o solo tiver pouco do elemento, a

94

condição que restringe mais a solubilidade poderão determinar problemas de

deficiência.

A seguir, com base na Figura 31, será comentado o comportamento dos

nutrientes frente a variações de pH e, depois, o efeito do pH sobre a sua

disponibilidade será generalizado.

Figura 31. Efeito do pH na disponibilidade dos nutrientes de planta.

a) Nitrogênio

No caso do nitrogênio, a quantidade total existente no solo se origina da

presença de sais nitrogenados minerais e de N orgânico (que precisa ser

mineralizado para ficar disponível), para os quais contribui, além de outros

processos, a fixação biológica (simbiótica e assimbiótica). O efeito do pH sobre

estes estoques de N se manifesta assim: a solubilidade dos sais nitrogenados

minerais não é afetada pelo pH; a mineralização do N orgânico é afetada pelo pH,

95

sendo que os microrganismos mais eficientes em fazer a mineralização requerem

pH em água em torno de 6,0; a fixação biológica do N, independente se simbiótica

ou assimbiótica, também é, normalmente, mais eficiente com pH em água em tomo

de 6,0.

De outra maneira, ao analisar o efeito do pH na disponibilidade do nitrogênio,

considerando a solubilidade de sais nitrogenados minerais, é alta em toda faixa de

pH; quanto ao nitrogênio orgânico, que representa cerca de 97% do N combinado do

solo, a sua disponibilização depende da mineralização pelos microrganismos e ela é

bastante afetada pelo pH do meio, estando a condição ótima em tomo de pH em

água igual a 6,0; e, fato semelhante ao notado quanto a mineralização do N orgânico

ocorre com a fixação biológica de nitrogênio, isto é, os microorganismos envolvidos

são mais eficientes quando o pH em água está em tomo de 6,0. Em resumo, pode-

se concluir que é devido a esses efeitos em conjunto que, segundo se observa na

Figura 31, a disponibilidade do nitrogênio tende a aumentar com a elevação do pH.

b) Enxofre

A principal fonte de enxofre para as plantas é a mineralização de matéria

orgânica e, por isso, o pH teria efeito semelhante ao verificado para o nitrogênio

orgânico (Figura 31). Quanto ao enxofre mineral (SO42-), ele pode ser retido

fortemente pelos colóides do solo, apresentando baixa disponibilidade ás plantas,

uma vez que os ânions SO42- podem se ligar às cargas positivas que aparecem

principalmente nos óxidos de Fe à medida que o pH diminui. Portanto, para enxofre,

mineral ou orgânico, quanto mais ácido o solo menor a sua disponibilidade, seja

devido à redução na taxa de mineralização do enxofre orgânico, ou seja, devido a

forte adsorção a que fica sujeito o ânion sulfato nestas condições. À medida que se

eleva o pH se tem, até certo ponto, aumento de disponibilidade, com estímulo à

mineralização do enxofre orgânico e uma menor retenção do sulfato. Em pH que

corresponderia a uma boa disponibilidade de SO42- podem ocorrer problemas devido

a perdas por lixiviação.

c) Fósforo

É possível que a máxima disponibilidade de fósforo para as plantas esteja na

faixa de pH em água entre 6,0 e 7,0 (Figura 31). Abaixo e acima destes valores ela é

bastante prejudicada. Acima de pH em água igual a 7,0 a solubilidade é bastante

96

afetada pelo cálcio, formando, em última instância, apatitas. Abaixo de pH em água

igual a 6,0, a solubilidade é bastante afetada por íons ferro e alumínio livres na

solução, com os quais o fosfato precipita, ou por óxidos desses elementos presentes

na fase sólida, sobre os quais o fosfato sofre forte adsorção.

d) Potássio, cálcio, magnésio e cloro

De acordo com o que se observa na Figura 31, a linha cheia, paralela a

abcissa, indica que não ocorre qualquer efeito direto do pH na absorção destes

nutrientes. A linha interrompida, inclinada à abcissa, indica a existência de um efeito

indireto do pH na quantidade desses nutrientes que é absorvida pelas plantas. Sabe-

se que existe uma correlação positiva entre pH e índice de saturação por bases e

que cálcio, magnésio e potássio são as principais bases do solo. Portanto, quanto

mais baixo o pH, menor o índice de saturação por bases e, logicamente, a

quantidade destes nutrientes à disposição da planta. Deve-se chamar a atenção

para o fato de que uma das causas da acidez é a lixiviação e logicamente que, à

medida que hidrogênio desloca cálcio, magnésio e potássio para a solução, desde

que ocorram condições de percolação, ter-se-á empobrecimento do solo nestes

nutrientes devido a lixiviação e, com isso, baixo suprimento deles para as plantas.

e) Ferro e manganês

A diminuição do pH provoca maior solubilidade de compostos de ferro e de

manganês e, nestas condições, em função do material de origem, podem acontecer

problemas de toxicidade (excesso) destes elementos (Figura 31). A diminuição de

solubilidade destes dois elementos com a elevação dos valores de pH deve-se à

formação de óxidos de ferro e de manganês pouco solúveis.

f) Cobre e zinco

O cobre e o zinco têm comportamento semelhante ao ferro e ao manganês,

de tal maneira que com a elevação do pH ocorre à formação de compostos de baixa

solubilidade e, conseqüentemente, diminuição de disponibilidade (Figura 31). Ao

contrário, em solos extremamente ácidos, e com teores originais elevados destes

cátions, pode ocorrer toxicidade devido ao aumento da solubilidade de seus

compostos. A calagem, elevando o pH, poderá corrigir o problema quanto à

toxicidade. Um caso interessante é o que ocorre em solos sob vegetação de cerrado

97

que, originalmente, têm teor de zinco muito baixo e, ao mesmo tempo, acidez

elevada, exigindo calagem para corrigi-la de forma a eliminar problemas com

alumínio. A calagem irá agravar o problema com o zinco, pela diminuição na sua

solubilidade. A alternativa é aplicar zinco, pois a calagem tem que ser feita.

g) Boro

Até pH 7,0 parece não haver efeito do pH sobre a solubilidade do boro (Figura

31). Contudo, em solos com grau de intemperismo avançado, em que a fonte

mineral predominante é a turmalina, que só permaneceu no solo devido a sua

grande resistência a degradação, a disponibilidade de boro aumenta com a elevação

do pH. Esse fato se deve a que a matéria orgânica é, nesses solos, a fonte primária

de boro para as plantas e, como já comentado, o pH afeta a mineralização da

matéria orgânica, a qual tende a aumentar com a elevação do pH.

h) Molibdênio

O molibdato é um ânion que em pH baixo reage com óxidos de ferro e de

alumínio à semelhança do que ocorre com o fosfato, tornando-se insolúvel. Quanto

menor o pH do solo, maior a quantidade de molibdato retido e, em conseqüência,

menor a sua disponibilidade para as plantas (Figura 32). Assim, tem-se que a

solubilidade do MoO42-• aumenta com a elevação do pH.

i) Tendências gerais

Não há interesse em se saber em que situação a disponibilidade de um dado

nutriente é máxima. O que interessa é a que seja favorável, o mais favorável, para

todos.

Podem-se agrupar os gráficos apresentados, conforme a Figura 32, obtendo-

se indicações mais gerais. Na referida figura os nutrientes foram agrupados em três

tendências ou curvas, sendo o alumínio apresentado em curva própria. Numa das

curvas estão reunidos o nitrogênio, o enxofre e o boro; em outra, estão o fósforo, o

potássio, o cálcio, o magnésio, o cloro e o molibdênio; e, em uma outra curva estão

o cobre, o ferro, o manganês e o zinco.

98

Figura 32. Tendências gerais do efeito do pH em água na solubilidade dos nutrientes de planta e do alumínio.

A faixa de pH mais favorável para disponibilidade de todos os nutrientes está

entre 5,5 a 6,5 (pH em água), o que corresponde a faixa entre 5,0 a 6,0 para pH em

CaCl2 0,01 mol L-1.

6.5.2.2 Toxicidade

No que se refere à toxicidade a reação do solo é muito importante

principalmente para alumínio e manganês.

a) Alumínio

À medida que diminui o pH, dependendo da natureza mineral do solo,

aumenta o alumínio trocável e solúvel do solo. De acordo com Raij (1981), o

alumínio constitui inicialmente uma consequência da acidez dos solos: a condição

de acidez elevada resulta na dissolução de minerais de argila e de óxidos de

alumínio, levando ao aparecimento da forma trocável.

Al(OH)3 + 3H+ → Al+3 + 3H2O

Uma vez na solução do solo, o alumínio (Al3+), através de uma série de

reações reversíveis, libera sucessivamente íons H+ para a solução, o que faz baixar

ainda mais o pH (Malavolta et al., 1977).

99

Al3+ + H2O ↔ Al(OH)2+ + H+

Al(OH)2+ + H2O ↔ Al(OH)+ + H+

Al(OH)+ + H2O ↔ Al(OH)3 + H+

A solubilidade do alumínio é afetada por uma série de fatores, além da reação

do solo. Pode-se citar entre eles o tipo predominante de mineral de argila, o

conteúdo de sais e o de matéria orgânica do solo.

Em solos neutros e alcalinos a solubilidade do alumínio é muito baixa, mas

em solos ácidos, com valores de pH em água abaixo de 5,5, ela aumenta

rapidamente.

Quanto à concentração de sais pode-se dizer que o aumento leva a uma

elevação no teor de Al3+ na solução do solo, pois outros cátions podem deslocá-los

dos sítios de troca. Por outro lado, pode-se esperar que o aumento do teor de

matéria orgânica promova uma redução na quantidade de Al3+ graças à formação de

complexos de solubilidade reduzida (Evans & Kamprath, 1970).

Quanto ao alumínio trocável, para se ter uma idéia da quantidade presente no

solo que representa problema, considera-se alguns critérios:

a.1) segundo alguns autores, quando o Al3+ trocável for igual ou maior do que

5 mmolc dm-3 de TFSA, ele é prejudicial (tóxico) e deve ser corrigido.

a.2) de acordo com Alvares et al. (1999), os teores de Al3+ trocável e a

saturação por alumínio devem ser interpretados segundo o que está apresentado na

Tabela 41.

Tabela 41. Critérios de interpretação de teores de alumínio trocável e de saturação por alumínio no

solo.

Alumínio trocável Saturação por alumínio

mmolc dm-3 % Muito baixo ≤ 2,0 ≤ 15,0 Baixo 2,1 – 5,0 15,1 – 30,0 Médio 5,1 – 10,0 30,1 – 50,0 Alto 10,1 – 20,0 50,1 – 75,0 Muito Alto > 20,0 > 75,0

Quando o pH em água do solo é menor do que 5,5 mais da metade dos locais

de troca de cátions pode estar ocupado por Al3+ (Evans & Kamprath, 1970). A

relação entre “Al3+ trocável” e “Al3+ + as bases trocáveis do solo” ou “CTC efetiva”,

expressa em portentagem, é chamada de saturação por alumínio. Esta relação é

100

conhecida como valor m e a maneira usual de se calcular a saturação por alumínio é

a seguinte:

Em que os valores de Ca2+, Mg2+, K+, Al3+ estão, por exemplo, em mmolc dm-

3. a experimentação tem mostrado que quando a saturação é da ordem de 45%, o

milho é prejudicado; de 20%, a soja o é; de 10% o algodoeiro e, de 4%, a alfafa.

O alumínio tem maior afinidade com cargas negativas permanentes, logo, em

solos como os do Brasil, onde predominam cargas variáveis ou pH dependentes,

deve-se esperar teores relativamente baixos, o que não significa que não existam

problemas de toxicidade do elemento. Basta lembrar que a CTC dos solos

brasileiros é geralmente baixa e, com isso, a saturação por alumínio poderá ser alta

mesmo quando o teor for relativamente baixo. Por outro lado, em valores de pH em

água próximos de 5,7 o teor de alumínio trocável é praticamente zero.

De qualquer forma, para se corrigir o alumínio é preciso que se leve em conta

a sua quantidade expressa em mmolcldm3 de TFSA.

b) Manganês

Geralmente a toxicidade de manganês aparece associada à de alumínio.

Portanto, quanto mais baixo o pH, dependendo do material de origem, maior a

possibilidade de aparecimento de toxicidade de manganês.

Em geral, cerca de 20 mg dm-3 de Mn trocável acarretam problemas para as

plantas. As plantas mais sensíveis parecem ser as leguminosas.

Deve-se ressaltar que o manganês é também um nutriente de planta.

6.5.2.3. Atividade de microrganismos

A reação do solo, como já visto, é seletora de microrganismos, afetando

principalmente a decomposição do material orgânico recém incorporado; a fixação

biológica de nitrogênio; etc.

101

6.5.2.4. CTC

Também, conforme já visto, as cargas negativas dos solos podem ser

permanentes e variáveis ou pH dependentes. Em solos como os do Brasil, em que o

tipo de carga predominante é a variável, quanto mais próximo de pH 7,0, maior é a

CTC efetiva do solo.

6.5.2.5. Condições físicas do solo

O aumento da acidez de um solo significa saída de bases da solução e em

consequência da fase sólida para a solução.

O cálcio é tido como importante elemento floculante. Com a sua perda o que

se tem é: solo disperso; facilidade para iluviação de argila, com possível formação

de camada de impedimento a certa profundidade; diminuição da CTC da camada

superficial; etc.

Por outro lado, em solos tropicais, ricos em sesquióxidos de ferro, os quais

têm, devido ao seu caráter anfótero2, grande importância na formação de grânulos

estáveis (afetando a estrutura do solo), ao se elevar o pH em água acima de 6

também ocorrerá prejuízo na estrutura (destruição dos grânulos).

6.6. CORREÇÃO DA ACIDEZ

6.6.1 Comentários gerais

Deve-se ficar preocupado em corrigir a acidez ativa ou a potencial? Os

aspectos apresentados servem para mostrar que a acidez ativa é consequência da

acidez de reserva, ou seja, a acidez de reserva é a causa da acidez atual e, portanto

é a que deve ser corrigida.

6.6.2 Materiais usados

São utilizados os seguintes materiais: calcários, cal virgem, cal extinta, etc.

Os calcários são mais utilizados e por isso a prática de se corrigir a acidez é

conhecida por calagem. De qualquer forma, as exigências requeridas para se aceitar

um material como corretivo são: que seja fácil de ser encontrado, com preço

razoável, que sua aplicação não prejudique o solo, que de preferência leve um ou

mais nutrientes de planta ao ser aplicado, etc,

2 Substância que se pode comportar como um ácido ou como uma base

102

6.6.3 Reações de neutralização da acidez do solo

Como citado, os materiais mais utilizados na correção da acidez do solo são

os calcários por conter cálcio e magnésio (nutrientes de plantas) e ser menos

indicado para outros usos industriais.

O calcário é um carbonato de cálcio ou de cálcio e magnésio de baixa

solubilidade, inferior a 0,3 g L-1 de solução, Em vista desta baixa solubilidade, a

reação do calcário com o solo é muito dependente do contato entre as partículas de

calcário e os ácidos do solo, Desta forma, a neutralização da acidez do meio

depende da finura do calcário, do modo e época de aplicação além, é claro, da sua

qualidade química,

Quanto às reações de neutralização o que se tem é, após a aplicação e

incorporação do calcário, uma reação de hidrólise até o limite de solubilidade do

material:

CaCO3 + H20 → Ca2+ + HCO3- + OH- (1)

Para que a hidrólise continue, isto é, para que o calcário continue sendo

solubilizado, é preciso que sejam consumidos ânions HCO3- e OH-, o que significaria

quebra do equilíbrio apresentado em (1) e, logicamente, na tentativa de se manter

esse mesmo equilíbrio, ocorreria uma nova hidrólise.

O consumo de HCO3- e OH- pode ser representado pelas equações a seguir:

HCO3- + H+ → H2CO3 → H2O + CO2 (2)

Observação: A equação (2), no sentido da esquerda para a direita está mostrando

neutralização da acidez. No sentido inverso (direita para a esquerda), mostraria um

processo natural de acidificação do solo, (maneira do solo ganhar H+). Lógico, na

discussão sobre neutralização da acidez este último aspecto não deve ser citado.

OH- + H+ → H2O (3)

3OH- + Al3+ → Al(OH)3 (4)

Insolúvel

As reações ocorrem na solução. Os íons H+ são os da solução, o que significa

quebra de equilíbrio com a fase sólida, forçando a que H+ da fase sólida passe para

a solução. Para isso ocorre dissociação de H+ de grupos -OH de radicais orgânicos

H+

Equilíbrio com o ar atmosférico

103

e inorgânicos do solo, liberando cargas negativas, as quais serão ocupadas

principalmente por Ca e Mg (sempre segundo o esquema de equilíbrio já citado).

Uma vez que haja consumo de HCO3-e de OH- haverá quebra do equilíbrio na

reação (1) e a hidrólise do calcário prosseguirá. A hidrólise do calcário ocorrerá até

que a acidez seja eliminada ou todo calcário, consumido.

6.7. BENEFÍCIOS DE UMA CALAGEM

Quando feita observando-se critérios técnicos uma calagem pode apresentar

os seguintes benefícios: ser fonte de Ca e de Mg para as plantas; colocar em

disponibilidade outros nutrientes; evitar a ação tóxica principalmente de alumínio e

de manganês; permitir atuação mais eficiente de adubos; aumentar a atividade

microbiana; acelerar a decomposição de material orgânico recém incorporado; etc.

104

7. CALCIO, MAGNÉSIO E ENXOFRE NO SOLO

7.1. INTRODUÇÃO

Enxofre, cálcio e magnésio são conhecidos como macronutrientes

secundários. Embora, do ponto de vista de nutrição vegetal, nenhum nutriente possa

ser considerado secundário, na adubação os três nutrientes são realmente

secundários.

A rigor, nenhum dos três macronutrientes secundários tem um preço. Por se

constituírem componentes de fertilizantes e corretivos que são comercializados,

respectivamente, por seu conteúdo em macronutrientes primários ou por sua

capacidade corretiva, eles não são valorizados diretamente. E não o sendo, não

despertam o interesse direto do setor comercial, a não ser para ressaltar as

propriedades dos produtos que os contém.

Isso leva, às vezes, a situações de deficiências desses nutrientes, que

precisam e podem facilmente ser evitadas. O problema mais sério é o do enxofre.

7.2. FORMAS NO SOLO

O cálcio e o magnésio são elementos que, em solos e em minerais, ocorrem

nas formas catiônicas de Ca+2 e Mg+2.

O cálcio tem sua origem primária nas rochas ígneas, estando contidos em

minerais como dolomita, calcita, apatita, feldspatos cálcicos e anfibólios, que

ocorrem também em rochas sedimentares e metamórficas. Em solos ácidos de

climas úmidos esses minerais são intemperizados e o cálcio é, em parte, perdido por

lixiviação. O que fica no solo encontra-se adsorvido nos colóides do solo ou

aprisionado na biomassa. Em solos de pH mais elevado, o cálcio pode insolubilizar-

se como carbonatos, fosfatos ou sulfatos.

O magnésio tem um comportamento similar ao do cálcio. A origem primária é

também em rochas ígneas e os principais minerais que o contêm são biotita,

dolomita, cIorita, serpentina e olivina, componentes também de rochas metamórficas

e sedimentares. Uma diferença importante é que o magnésio faz parte da estrutura

de minerais de argila, ocorrendo em ilita, vermiculita e montmorilonita. Quanto mais

intemperizado o solo, menor a ocorrência desses minerais, até que reste somente

magnésio trocável adsorvido ao solo ou retido na vegetação.

105

Uma particularidade do magnésio, que não ocorre com o cálcio, é a

possibilidade de formas não trocáveis converterem-se em trocáveis, por liberação

dos minerais, de forma similar ao que acontece com o potássio.

O cálcio trocável é mais retido no solo que o magnésio trocável, por ser um

íon hidratado de menor diâmetro. Dessa maneira, em solos bem drenados que não

receberam calagens, os teores de cálcio devem naturalmente superar bem os teores

de magnésio. Em alguns casos, em solos rasos ou em horizontes profundos, o

magnésio supera o cálcio, mesmo em climas úmidos. Isso pode ser tomado como

indício de intemperismo de minerais contendo magnésio.

O enxofre é um não-metal e, portanto, de comportamento até certo ponto

oposto ao dos dois elementos discutidos até aqui, principalmente na forma mineral

mais comum, do ânion SO4-2.

A fonte primária do enxofre são as rochas ígneas, nas quais o elemento

ocorre, em geral, em pequenas proporções como sulfatos.

No solo, a maior parte do enxofre encontra-se na forma orgânica,

permanecendo combinado com carbono e nitrogênio como nas plantas, nas quais

participa das proteínas.

A fração mineral do enxofre no solo é, em geral, reduzida, de menos de 5%

do total. Em condições aeróbicas, a forma que ocorre é o sulfato. Em condições

anaeróbicas, de solos permanentemente encharcados, ocorrem sulfetos, podendo

haver desprendimento de H2S do solo ou até formação de enxofre elementar.

Sulfatos de cálcio, magnésio, potássio e sódio podem ser importantes em

solos de regiões áridas. Em solos ricos em argilas do tipo 1:1 e óxidos de ferro e

alumínio, é comum haver adsorção de sulfato no subsolo.

A atmosfera é uma fonte importante do enxofre do solo. O enxofre existente

no ar pode ser proveniente da poluição industrial, pela queima de produtos contendo

enxofre, sendo uma origem importante para certas regiões do mundo.

Todavia, de uma forma geral, a origem da maior parte do enxofre atmosférico

é natural, provindo de atividade vulcânica e de H2S desprendido de pântanos

marítimos e de matéria orgânica em decomposição (Tisdale et aI., 1985).

A mineralização de SO4-2 da matéria orgânica é bastante afetada pela relação

C:N:S foi indicada como sendo da ordem de 100:10:1.

106

Assim, pode haver imobilização de enxofre mineral se as relações C:S ou N:S

forem muito altas. Se as relações forem baixas, ocorrerá liberação de enxofre

mineral.

A relação N:S indica que os teores de enxofre total são mais baixos que de

nitrogênio. Eles raramente ultrapassam 0,1% em solos.

Em subsolos de áreas muito adubadas, pode haver acúmulo de quantidade

consideráveis de sulfatos adsorvidos.

7.3. DISPONIBILIDADE E ANÁLISE DE SOLO PARA MAGNÉSIO E CÁLCIO

O magnésio ocorre em minerais, no complexo de troca catiônica e na solução

do solo como cátion Mg2+, que é a forma absorvida pelas plantas.

O procedimento de análise de solo mais usado para o referido elemento

avalia o chamado teor trocável, que na realidade inclui o solúvel. A solução extratora

mais comumente usada é o acetato de amônio normal a pH 7. Contudo, inúmeros

outros processos de extração, com soluções salinas, ácidos diluídos ou resina

trocadora de cátions, dão resultados equivalentes.

Se não há muito questionamento sobre a determinação de magnésio em

solos, ocorrem algumas polêmicas sobre a melhor maneira de representar a

disponibilidade do nutriente. Há autores e laboratórios que utilizam os teores

absolutos, enquanto outros preferem a representação como porcentagem de

saturação da CTC. Também tem sido usada a relação K/Mg.

Doll & Lucas (1973) reviram o assunto e chegaram à conclusão que os teores

absolutos seriam os mais adequados. O Instituto Agronômico mantém até hoje os

limites de interpretação indicados por Catani et aI. (1955), que são da mesma ordem

de grandeza dos números indicados por Doll & Lucas (1973). Os valores limites das

classes de interpretação dos teores foram apresentados na Tabela 39

Para a maioria das culturas, um teor de 4 mmolc dm-3 seria suficiente, isso

equivale a cerca de 100 kg ha-1.

O fato de se dar preferência aos teores absolutos de magnésio não significa

que as relações com outros cátions não sejam importantes. Como no caso do

potássio, o mais sensato parece ser não usar uma alternativa ou outra, mas

considerar os teores absolutos como fundamentais, indicando a quantidade

existente do nutriente, e as relações com outros cátions como um fator secundário

107

que afeta a disponibilidade. Assim, em solos de CTC muito elevada pode-se esperar

menor disponibilidade do magnésio. Outra regra prática é que os teores de potássio

não devem superar os teores de magnésio.

O que foi dito para o magnésio, vale para o cálcio. Determina-se o teor

trocável mais o solúvel, considerado na prática como teor trocável, já que o teor

solúvel é, em geral, muito baixo. A nutrição também se dá através da absorção de

Ca+2, levado às raízes das plantas predominantemente por fluxo de massa, da

mesma forma que Mg2+.

O cálcio é, via de regra, muito mais abundante no solo que o magnésio. As

necessidades das plantas não são das mais elevadas, em relação aos teores

existentes, principalmente porque solos com teores baixos do elemento são também

muito ácidos. Assim, a acidez dos solos quase sempre limita muito mais o

crescimento que a falta de cálcio. Isso tem dificultado o isolamento do efeito do

cálcio, como nutriente, da ação de neutralização da acidez com produtos que

contêm cálcio, como é o caso de calcários.

Muitos laboratórios do mundo nem determinam o cálcio, considerando que,

com a correção da acidez e mais a aplicação de adubos, haverá adições suficientes

do elemento. De qualquer forma, exceto para algumas culturas que têm exigências

especiais em cálcio (tomate, citros, amendoim, maçã, etc.), é muito rara a deficiência

de cálcio em condições de campo.

O Instituto Agronômico indicava, no passado, os limites de 0-20, 20-40 e mais

que 40 mmolc dm-3 de solo, respectivamente, para classes de teores baixos, médios

e altos (Catani et al., 1955).Na ocasião, limites foram estabelecidos para o cálcio,

em grande parte considerando a ocorrência de teores naturalmente presentes nos

solos cultivados em São Paulo, antes de 1955, portanto. Tratava-se de um critério

preliminar, a ser refinado com a obtenção de novas informações.

Posteriormente, o critério foi abandonado, considerando que as calagens em

geral suprem cálcio mais do que o suficiente.

Curiosamente, muitos laboratórios, na expectativa de apresentarem

interpretações mais completas, continuam mantendo aqueles valores que, na

realidade, não têm o mínimo valor teórico ou prático. Em solos de CTC baixa, menor

do que 40 mmolc dm-3 é até mesmo impossível que os solos cheguem ter "teores

altos" e, mesmo assim não ocorrerá deficiência de cálcio.

108

Os limites abaixo dos quais os teores de cálcio passam a limitar as produções

podem ser até mais baixos que os de magnésio. Como já foi dito, tem sido difícil

determiná-los, pela impossibilidade de dissociar, em muitos casos, o excesso de

acidez da falta de cálcio. Da mesma forma, a expressão de cálcio, como

porcentagem de saturação da CTC, também esbarra na mesma dificuldade.

7.4. DISPONIBILIDADE E ANÁLISE DE SOLO PARA ENXOFRE

O enxofre é absorvido pelas plantas na forma do ânion SO4-2. Em muitos

solos, esse ânion não é retido no solo e, assim, facilmente lixiviado. Em solos em

que predominam óxidos de ferro e alumínio, além de caulinita, pode haver adsorção

específica de SO4-2 no solo. Um fator muito importante nessa adsorção é o pH do

solo - quanto maior ele for, menor será a adsorção.

Ao contrário do que acontece com os cátions Ca+2 e Mg+2, mais retidos na

camada arável do solo, o SO4-2 enfrenta, nessa parte do solo, três fatores que

dificultam a sua permanência. O primeiro é a presença de teores maiores de matéria

orgânica, que reduzem a adsorção por óxidos e aumentam a carga negativa do solo,

portanto repelindo sulfatos. O segundo é a aplicação frequente de calcário,

causando o aumento do pH e a liberação de sulfatos adsorvidos.

Finalmente, os fosfatos aplicados em adubações ocupam preferencialmente

as posições de troca que seriam ocupados por sulfatos. Assim, é fato conhecido, em

solos de regiões tropicais úmidas, o acúmulo de sulfatos no subsolo (Fox & Blair,

1986).

A extração de sulfatos de solos é feita com água, com soluções salinas ou

com fosfatos (Reisenhauer et aI., 1973).

Para solos de regiões tropicais, a preferência é por soluções de fosfatos,

principalmente Ca(H2PO4)2 0,01M, que permitem a obtenção de extratos límpidos. O

acetato de amônio é também usado, fornecendo resultados similares.

O maior problema encontrado nos laboratórios é a determinação analítica do

sulfato. O método mais usado emprega a leitura turbidimétrica, em colorímetro ou

espectrofotômetro, do precipitado formado de sulfato de bário.

O método é afetado excessivamente por variáveis operacionais e, também,

pela coloração amarela devida à matéria orgânica do solo. Um método muito preciso

recorre à redução de sulfato a sulfeto, destilação desses como H2S e posterior

109

determinação colorimétrica (Tabatabai, 1986). É um método trabalhoso e, por essa

razão, pouco utilizado em laboratórios de rotina.

Vários laboratórios têm estabelecido limites de interpretação de sulfato em

solos. Os resultados são expressos em S-SO4, em ppm ou mg/kg ou mg/dm3 de

solo. S-SO4 significa que o resultado é dado em enxofre (S), determinado na forma

de sulfato.

Reisenhauer et aI. (1973), resumindo dados dos Estados Unidos, apresentam

a faixa de 6 a 12 ppm como aquela em que respostas não são esperadas. No Rio

Grande do Sul, os limites de interpretação são de 0-2, 2-5 e mais de 5 ppm de S,

respectivamente para teores baixos, médios e altos. O mínimo é de 10 ppm para

leguminosas e culturas mais exigentes em enxofre (Siqueira et aI., 1987).

O que chama a atenção, nos dados citados, são os valores relativamente

baixos. No caso de sulfato, os extratores em geral retiram todo, ou quase todo, o

sulfato do solo. Um valor de 5 ppm representa apenas 10 kg/ha de S, o que é pouco

para a maioria das culturas. O restante deve vir, então, ou de mineralização da

matéria orgânica ou, o que é mais provável, de absorção do subsolo.

É possível que, em solos que receberam aplicações abundantes de sulfatos

no passado, a deficiência de enxofre não se manifeste facilmente, se houver

acúmulo no subsolo.

Assim, uma análise da camada arável pode mostrar se há enxofre suficiente

no solo. Porém, um teor baixo pode não ser conclusivo, dependendo dos teores de

sulfato existentes abaixo da camada arável.

110

8. POTÁSSIO NO SOLO

8.1. INTRODUÇÃO

O potássio é o segundo macronutriente em teor contido nas plantas. É, depois

do fósforo, o nutriente mais consumido como fertilizante pela agricultura brasileira.

O comportamento do nutriente em solos tropicais aparenta ser muito mais

simples do que em solos de clima temperado. Além disso, só há praticamente um

adubo potássico de grande importância. Por essas razões, o interesse pela pesquisa

de potássio, em solos e para culturas, não tem sido dos maiores, restringindo-se, em

geral, a trabalhos básicos em casa de vegetação e à experimentação de doses no

campo. Só recentemente vêm sendo realizados trabalhos de modos de aplicação.

Assim, a lacuna de conhecimentos sobre a adubação potássica ainda é

grande para as condições brasileiras.

8.2. FORMAS NO SOLO

O potássio é um elemento muito abundante em rochas e em solos. Os teores

totais, em solos bem supridos, podem superar 1%. Grande parte desse potássio

encontra-se em minerais que contêm o elemento nas estruturas cristalinas.

Os minerais primários mais importantes, portadores de potássio, encontrados

em rochas ígneas, são os feldspatos e as duas micas, muscovita e biotita. Os

minerais secundários são as argilas do tipo 2:1, ilita e vermiculita, bem como

minerais interestratificados, que se situam entre ilita e micas e a vermiculita.

O intemperismo do material de origem e o grau de intemperismo do próprio

solo afetam os minerais e, consequentemente, as formas e as quantidades de

potássio existentes no solo. Os feldspatos são facilmente intemperizáveis, seguidos

da biotita, sendo a muscovita a mais persistente em solos, principalmente nas

frações de dimensões do limo ou acima.

Na intemperização das micas formam-se a ilita, também chamada de mica

hidratada, os minerais interestratificados e a vermiculita. À medida que o grau de

intemperismo avança esses minerais são menos comuns em solos, dando lugar à

caulinita, que não contém potássio em sua estrutura.

111

O importante desses minerais é que o potássio neles contido pode participar

da nutrição de plantas, quer seja através da liberação de K, quer seja através da

fixação do elemento em forma não disponível.

Além do potássio estrutural dos minerais, o nutriente ocorre no solo na forma

de cátion trocável e na solução do solo, sempre como íon K+, que é também a forma

de ocorrência em minerais. Os teores trocáveis em geral pouco representam em

relação aos teores totais. Contudo, em solos muito intemperizados, como é o caso

de vastas regiões brasileiras, eles podem ser a reserva mais importante do potássio

disponível.

8.3. DISPONIBILIDADE

O potássio é absorvido pelas plantas da solução do solo, na forma iônica de

K+. A absorção depende principalmente da difusão do elemento, através da solução

do solo e, em proporção menor, de fluxo de massa. Admite que o teor trocável seja

disponível para as plantas, sendo a principal fonte para reposição do potássio da

solução, que é absorvido pelas plantas.

O potássio tem alguma semelhança com o fósforo, no que diz respeito à

absorção pela planta, já que os dois nutrientes dependem de difusão para chegar à

superfície das raízes. Contudo, sais de potássio apresentam em geral alta

solubilidade e, assim, os teores de K+ na solução do solo podem atingir

concentrações bastante elevadas, dependendo do teor de ânions presentes. Isso

confere ao potássio uma mobilidade bem maior, relativamente ao fósforo, permitindo

também um esgotamento mais fácil pelas plantas.

Em solos que só contêm matéria orgânica, caulinita e óxidos de ferro e

alumínio como materiais responsáveis pela capacidade de troca de cátions, o

potássio trocável representa o teor disponível do elemento. É claro que o potássio

na solução do solo também é disponível, mas ele pouco representa em relação ao

teor trocável, além de ser de difícil determinação.

Em solos que contêm minerais potássicos, inclusive minerais de argila 2:1, a

situação é diferente. Existe equilíbrio entre o potássio trocável e uma parte do

potássio não-trocável, que pode se tornar trocável. A situação global da dinâmica do

potássio é ilustrada na Figura 33.

112

Em solos de clima temperado, as frações não-trocáveis são muito importantes

e elas chegam a condicionar, em parte, os teores trocáveis, impedindo que estes

aumentem ou diminuam, dentro de limites, graças à reação de equilíbrio mostrada

na Figura 33. Existem solos que fixam potássio de forma irreversível entre camadas

de minerais.

Figura 33. Representação esquemática das diversas formas de potássio do solo e da sua dinâmica.

8.4. FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE POTÁSSIO EM SOLOS

Dois aspectos merecem destaque especial e de certa forma estão

relacionados entre si e com várias propriedades de solos. São eles o efeito do teor

de água do solo na disponibilidade de potássio e a relação de potássio com os

elementos cálcio e magnésio.

Deve-se lembrar aqui que as plantas absorvem o íon K+ da solução do solo,

em equilíbrio com o potássio trocável.

É comum a observação, em condições de campo, de uma redução da

absorção de potássio em anos secos. O efeito do teor na água do solo, na

disponibilidade de potássio, pode ser explicado por dois mecanismos: difusão e

relação de cátions. Mais detalhes são dados por Diest (1978) e Bertsch & Thomas

(1985).

A diminuição do teor de água no solo afeta sobremaneira a difusão do

elemento e, assim, dificulta a absorção. Esse aspecto se torna mais importante pela

depleção que ocorre do potássio da solução do solo em torno das raízes. Se a

difusão é dificultada, não há reposição do potássio na zona de absorção. Além

113

disso, a falta de água no solo também reduz a atividade das raízes, prejudicando

dessa forma a absorção de todos os elementos.

Foi visto que a relação de atividades de cátions em solução é constante, de

acordo com a expressão aqui apresentada de forma ligeiramente diferente:

RA representa relação de atividades. Portanto, a relação da atividade de

potássio com a raiz quadrada das atividades de cálcio e magnésio é uma constante.

O teor de água no solo mais elevado ocorre uma diluição da concentração

salina e um abaixamento dos teores de íons na solução. Para manter a relação RA

constante, irá ocorrer uma adsorção líquida de cátions divalentes e uma desorção de

cátions monovalentes. Da mesma maneira, reduzindo a umidade do solo, a

concentração total de íons em solução aumenta, mas os teores de (Ca2+ + Mg2+)

aumentarão mais rapidamente que a concentração de K+.

Dessa forma, explica-se o porquê da maior absorção de potássio, quando

aumenta a umidade do solo.

Tem havido muito interesse em relacionar o potássio trocável com os outros

cátions trocáveis, para inferir sobre a disponibilidade. Isso porque há relação entre

os cátions em solução e os teores trocáveis. Na prática da análise de solo, porém,

teores em solução não são determinados. Essas medidas são feitas apenas para

trabalhos de pesquisa. Assim, é natural que exista uma tendência de se recorrer à

relação entre cátions trocáveis para indicar a disponibilidade de potássio. No caso

do potássio, contudo, é um assunto que tem deixado margem a dúvidas.

As correlações entre potássio trocável e as respostas à adubação potássica

têm-se revelado bastante similares, para solos com teores bastante variados de

cálcio e magnésio, o que leva a suspeita de que esses dois últimos elementos não

tenham uma importância decisiva na disponibilidade de potássio.

Sem dúvida, em presença de teores mais elevados de cálcio e magnésio no

solo, os mesmos teores de potássio trocável podem se revelar menos disponíveis

para certas culturas.

Tal fato abre a discussão sobre a validade das classes de interpretação de

análise de solo para potássio: poderiam elas ser consideradas como únicas, ou

114

haveria interesse em criar alternativas para solos com teores variáveis de cálcio e

magnésio? Partindo da análise de solo, isso traz uma outra dificuldade, ou seja, a

alteração nos teores de cálcio e magnésio no solo que ocorrerão por eventuais

calagens.

Dessa maneira, a melhor opção talvez seja considerar a CTC do solo. Solos

com CTC alta poderão necessitar maiores aplicações do potássio. Infelizmente

faltam pesquisas para equacionar melhor o assunto.

8.5. POTÁSSIO NA PLANTA

O teor de potássio nas plantas só é inferior, em geral, ao de nitrogênio. Os

dados da Tabela 43 mostram que os teores são elevados em folhas e mesmo nas

partes colhidas, com exceção de grãos amiláceos. Os teores em plantas colhidas

com elevado teor de água, como batatinha, mandioca, laranja e cana-de-açúcar,

mesmo baixos, são importantes, por causa da grande massa colhida por área.

Tabela 43. Teores de potássio mínimos adequados em folhas, na planta inteira e na parte colhida.

Teor de K

Folha Planta inteira Parte colhida

----------------------------------- % ----------------------------------- Arroz 2,0 0,18 0,23 Trigo 2,3 1,15 0,40 Milho 2,0 1,16 0,70 Batatinha 2,8 - 0,25 Mandioca 1,3 - 0,44 Feijão 2,0 3,10 2,20 Soja 1,7 1,28 1,90 Amendoim 1,5 1,89 4,67 Algodão 1,5 - 1,81 Cana-de-açúcar 1,2 0,11 0,11 Café 1,8 - 2,60 Laranja 1,0 - 0,63 Fonte: Adaptado de Malavolta (1976).

A maior parte do potássio é absorvida pelas plantas durante a fase de

crescimento vegetativo. As altas taxas de absorção implicam uma forte competição

com a absorção de outros cátions.

O potássio é absorvido como K+ pelas plantas e o nutriente mantém-se

sempre nesta forma, sendo o mais importante cátion na fisiologia vegetal. Não

fazendo parte de compostos específicos, a função do potássio não é estrutural.

115

O potássio é extremamente móvel na planta, ocorrendo transporte a longas

distâncias. É comum o potássio de folhas velhas ser distribuído para folhas novas.

Órgãos de plantas são supridos preferencialmente e, assim, tecidos meristemáticos

e frutos novos têm altos teores de potássio.

A deficiência de potássio não revela sintomas imediatos, caracterizando a

situação de "fome oculta". Inicialmente só ocorre redução de crescimento e, apenas

em fases mais avançadas da deficiência, ocorre clorose e necrose das folhas. Os

sintomas começam, em geral, nas folhas mais velhas, já que estas suprem as mais

novas. A clorose, seguida de necrose, ocorre nas pontas e nas margens das folhas.

Plantas deficientes em potássio têm a turgidez reduzida e, sob deficiência de

água, tornam-se flácidas. A resistência à seca é reduzida e as plantas tornam-se

mais susceptíveis a fungos. Em alguns casos, diminui a resistência das plantas ao

acamamento e a qualidade dos produtos colhidos.

116

9. FÓSFORO NO SOLO

9.1. INTRODUÇÃO

O fósforo é dos três macronutrientes, aquele exigido em menores

quantidades pelas plantas. Não obstante trata-se do nutriente mais usado em

adubação no Brasil.

Explica-se esta situação pela carência generalizada de fósforo nos solos

brasileiros e, também, porque o elemento tem forte interação com o solo.

Assim, ao estudar o fósforo, torna-se necessário reconhecer as interações do

elemento com o solo e compreender a dinâmica das formas disponíveis para as

plantas. Tal conhecimento é indispensável para avaliação da disponibilidade do

nutriente no solo e para orientar a prática da adubação fosfatada.

9.2. FORMAS NO SOLO

O fósforo encontra-se na solução do solo como íons ortofosfato, forma

derivada do ácido ortofosfórico, H3PO4. Em solução, esse ácido dissocia-se desta

maneira:

H3PO4 ↔ H+ + H2PO4- log K1 = 2,12 (1)

H2PO4- ↔ H+ + HPO4

-2 log K2 = -7,20 (2)

HPO4-2 ↔ H+ + PO4

-3 log K3 = -12,23 (3)

Como decorrência dessas reações de equilíbrio, em solos ácidos predomina,

na solução do solo, a forma H2PO4-. Isso é mostrado na Figura 34, que indica a

relação entre os íons H2PO4- e HPO4

-2 e o pH da solução. Percebe-se que o íon

HPO4-2 começa a ocorrer em maiores proporções a valores de pH acima de 6.

Na fase sólida do solo o fósforo combina como ortofosfato, principalmente

com metais como ferro, alumínio e cálcio, ocorrendo também na matéria orgânica.

Mesmo em combinações orgânicas, predomina o H2PO4- como grupamento central

dos fosfatos

117

Figura 34. Distribuição dos íons H2PO4- e H2PO4

- em relação ao pH da solução.

A proporção relativa dos compostos inorgânicos de fósforo, com ferro,

alumínio e cálcio (e outros metais, em menores proporções), é condicionada pelo pH

e pelo tipo e quantidade de minerais existentes na fração argila. Em solos ácidos,

com predomínio de caulinita e óxidos de ferro e alumínio, são mais importantes as

combinações de fósforo com ferro e alumínio, enquanto em solos neutros ou

calcários aparecem mais fosfatos de cálcio de ordem elevada e baixa solubilidade.

Os minerais e compostos mais comuns encontrados em solos são

apresentados na Tabela 44. Em solos ácidos predominam os fosfatos de ferro e

alumínio, enquanto os fosfatos de cálcio, principalmente as apatitas, são mais

freqüentes em solos alcalinos.

118

Tabela 44. Compostos ou minerais de fósforo que podem ocorrer em solos.

Mineral ou composto Fórmula Ocorrência

Estrengita FePO4.2H2O Solos ácidos Vivianita Fe3(PO4)2.8H2O Solos ácidos Vavelita Al3(OH)3(PO4)2.5H2O Solos ácidos Varisita Al4PO4.2H2O Solos ácidos Fosfato dicálcico CaHPO4 Produto de reação de adubos Fosfato ortocálcico Ca4H(PO4)3 Produto de reação de adubos Hidroxapatita Ca10(OH)2(PO4)6 Solos neutros e alcalinos Fluorapatita Ca10F2(PO4)6 Solos neutros e alcalinos

Na Tabela 44 encontram-se exemplos dos compostos puros. Contudo existe

urna diversidade muito grande de fosfatos e é muito difícil encontrar os produtos em

solos exatamente de acordo com as fórmulas indicadas. É mais comum a existência

de fósforo combinado com metais em formas difíceis de serem identificadas por

métodos cristalográficos. As impurezas existentes nos compostos fosfatados do solo

ocasionam materiais com solubilidades em geral mais elevadas do que as dos

extremos puros. Isso tem importantes conseqüências práticas na disponibilidade do

fósforo para as plantas.

Cabe ressaltar que, além de combinações complexas, o fósforo do solo pode

encontrar-se em diferentes posições. Assim, o elemento pode estar na superfície

das partículas do solo ou pode, também, estar ocluso dentro de partículas

recobertas de óxidos de ferro.

Outra abordagem das formas de fósforo no solo, mais aplicável à nutrição de

plantas, reconhece três frações, ou seja, o fósforo em solução, o fósforo lábil e o não

lábil, conforme ilustrado na figura 35.

O fósforo em solução é definido de maneira clara, embora a sua

determinação seja difícil, em decorrência da dificuldade de extrair soluções de solo.

Comumente faz-se extração do fósforo com água ou com soluções diluídas de

cloreto de cálcio, em relações de solução para solo muito mais largo do que as que

ocorrem em solos. Os resultados representam uma idéia da solução do solo, mas

não a situação real.

119

Figura 35. Diagrama mostrando a relação entre as frações de fósforo não-Iábil e o fósforo na solução do solo (adaptada de Intemalional Supcrphosphale Manufaclurers Associalion, 1978)

Os teores de fósforo na solução do solo são, em geral, baixos, da ordem de

0,1 mg L-1 de P, sendo quase sempre inferiores a esse valor, o que é decorrência da

baixa solubilidade dos compostos de fósforo existente no solo c da alta capacidade

de adsorção do elemento pelas partículas do solo.

O fósforo lábil está em equilíbrio rápido com o fósforo da solução. Ele é

representado por formas meta-estáveis de compostos de fósforo ainda mal

formados. Essa forma de fósforo tem sido determinada através de troca isotópica

com fósforo radioativo.

O fósforo não-Iábil, responsável pela maior parte do fósforo inorgânico do

solo, é representado por compostos insolúveis e que só lentamente podem se

transformar em fosfatos lábeis.

Note-se que a referência a fosfatos lábeis e não-Iábeis não conflita com as

formas inorgânicas de fósforo ligado a cálcio, ferro e alumínio. Qualquer uma dessas

120

formas pode existir em estado mais ou menos lábil, dependendo principalmente do

tempo de formação dos fosfatos e das condições existentes no solo, que influem no

"envelhecimento" ou retrogradação de formas lábeis a não-Iábeis.

Os teores totais de fósforo em solos variam de pouco mais de zero, em solos

muito arenosos, até valores de 2000 a 3000 μg/g ou mais (0,2 a 0,3% de P). O fator

condicionante principal é o material de origem do solo.

9.3. SOLUBILIDADE E ADSORÇÃO

Os teores de fósforo na solução em equilíbrio com fosfatos sólidos são

governados pelos produtos de solubilidade dos diferentes compostos.

No caso da hidroxiapatita, a equação de equilíbrio é esta

Ca10F2(PO4)6(OH)2 ↔ 10Ca+2 + 6PO4-3 + 2OH- (4)

O produto de solubilidade é dado por 1log Kso = -113,7

Da reação 4 pode-se concluir que, a concentrações fixas de cálcio, se houver

uma diminuição do pH, ocorrerá um decréscimo da atividade de OH- e,

consequentemente, um aumento da atividade de fósforo em solução. Isso explica

por que fosfatos de cálcio, como a hidroxiapatita, tornam-se mais solúveis com o

aumento da acidez dos solos.

No caso da variscita, a dissolução é expressa por:

Al4PO4.2H2O ↔ Al+3 + H2PO4- + OH- (5)

Nesse caso, a atividade do alumínio em solução é muito dependente do pH,

de acordo com:

Al(OH)3 ↔ Al+3 + 3OH- (6)

Essa última equação indica que, com a elevação do pH, a atividade de

alumínio decresce.

Combinando as equações 5 e 6 e introduzindo a constante de dissociação da

água obtém-se:

AlPO4.2H2O ↔ Al(OH)3 + H+ + H2PO4- (7)

121

Usando a notação em logarítmos de atividade, resulta a equação:

p(H2PO4) = 10,48 - pH

que define a atividade em solução do íon H2PO4 em função do pH. Torna-se claro

que a solubilidade do mineral aumenta com a elevação do pH.

Esses mesmos cálculos podem ser realizados para outros fosfatos. Na figura

36 são dadas as relações entre a atividade H2PO4- em solução e o pH, para seis

importantes compostos fosfatados. Percebe-se que a solubilidade dos fosfatos de

ferro e alumínio aumenta com o pH, enquanto a solubilidade dos fosfatos de cálcio

aumenta em sentido oposto, com a diminuição do pH. Dessa maneira, resulta uma

maior solubilidade de fósforo em torno de pH 6, no caso de existência simultânea de

vários compostos de fósforo, o que acontece em solos.

No caso de adsorção de fosfatos em solos, também se constata a mesma

coisa. Com o passar do tempo, contudo, o fósforo adsorvido torna-se menos solúvel,

ou menos lábil.

Isso tem importantes conseqüências práticas, pois resulta em diminuição da

eficiência de fósforo aplicado ao solo em adubações. Barrow (1980) engloba a

passagem do fósforo lábil para não lábil em "reações lentas". Essas reações

dependem de tempo e de temperatura, como mostra o exemplo da Figura 37, de

ensaio realizado na Austrália. Nota-se uma queda bastante rápida de eficiência

relativa de fósforo aplicado no início, havendo um aparente nivelamento com o

passar dos anos.

Estudos de solubilidade e de reação de adsorção de fosfatos são muito

complexos e, embora estejam servindo para avançar o conhecimento sobre o

fósforo em solos, são de difícil uso prático. Para fins aplicados, além desses

conhecimentos teóricos, são necessários métodos expeditos para avaliar a

disponibilidade de fósforo em solos para culturas.

122

Figura 36. lsotermas de solubilidade para diversos fosfatos, a uma atividade de cálcio de pCa = 2,50 (adaptada de Olsco & Khasawneh, 1980).

123

Figura 37. Efeito do tempo de incubação a 25oC, de fosfato com solo, na eficiência para planta

(adaptada de Darrow, 1980).

9.4. DISPONIBILIDADE

As plantas absorvem fósforo da solução do solo. Sob esse ponto de vista, o

único fósforo imediatamente disponível, a um dado momento, seria aquele em

solução.

Contudo os teores, de fósforo existente na solução do solo são, em geral,

muito baixos. Se for admitido, como exemplo, um solo contendo 25% de água e

0,1μg/cm-3 de P na solução, o fósforo solúvel existente na camada arável será de

apenas 50 g de P, portanto insuficiente para suprir as necessidades de uma cultura.

Note-se que a concentração de 0,1 μg/cm3 é até elevada, ocorrendo, em geral,

teores bem mais baixos de P na solução do solo. De qualquer maneira, é bastante

claro que deve haver uma constante reposição do fósforo em solução, o que se dá

através da dissolução do fosfato lábil, que está em equilíbrio com o fosfato em

solução, conforme indicado na Figura 35.

Ao se tratar da avaliação da disponibilidade de fósforo em solos regularmente

adubados, considera-se o sistema indicado na Figura 38.

Fosfatos adicionados ao solo como fertilizantes dissolvem-se, passando para

a solução do solo. Devido à baixa solubilidade dos compostos de fósforo formados

no solo e à forte tendência de adsorção pelo solo, a maior parte do elemento passa

para a fase sólida, onde fica em parte como fosfato lábil, passando gradativamente a

124

fosfato não-lábil. O fosfato lábil pode redissolver-se, caso haja abaixamento do teor

em solução, para manutenção do equilíbrio. O abaixamento do teor em solução dá-

se principalmente por absorção pelas plantas. Devido aos baixos teores de P em

geral existentes nos solos, a lixiviação do elemento nas águas de percolação é

mínima.

Figura 38. Representação esquemática do fósforo com relação aos aspectos que afetam a nutrição vegetal (adaptada de Larsen, 1971).

Na avaliação da disponibilidade do fósforo do solo são de menor influência, a

curto prazo, as perdas do sistema, via planta ou lixiviação (K4 e K5 na Figura

38).Dessa maneira, a maior preocupação fica com o fósforo do fertilizante, na

solução e nas formas lábil e não-lábil.

125

Há casos de fertilizantes fosfatados que se dissolvem lentamente no solo, ou

não se dissolvem. Como exemplo pode ser criado certos fosfatos naturais. Nesses

casos, o P fertilizante da Figura 38 permanece como tal no solo, muitas vezes em

forma não disponível. Há casos em que essa situação leva a estimativas errôneas

da disponibilidade de fósforo, como será visto posteriormente.

Quando fosfatos solúveis são adicionados ao solo, a maior parte do fósforo

passa para a fase sólida, ocasionando aumento nos fosfatos lábeis e em solução.

Com o tempo, há um envelhecimento dos fosfatos lábeis, que vão adquirindo uma

constituição mineralógica mais estável e de solubilização mais difícil. Conforme

ilustrado na Figura 37, com o passar do tempo a quantidade de fosfato lábil diminui.

Em outras palavras, fosfatos solúveis adicionados ao solo apresentam a sua

eficiência diminuída ao longo do tempo. Este fato pode criar dificuldades na

avaliação da disponibilidade de fósforo em solos que receberam aplicações recentes

de quantidades elevadas de fosfatos solúveis.

As plantas absorvem o fósforo da solução do solo, na qual ele se encontra em

concentrações muito baixas. Decorre daí que a extensão do sistema radicular é de

fundamental importância na absorção do elemento. Por maior que seja essa

extensão, ampliada em muitas plantas pela infecção com micorrizas, o volume de

solo que pode fornecer fósforo às raízes é apenas uma pequena fração do volume

total. Com a absorção do fósforo ocorre uma depleção de fósforo da solução em

torno das raízes. Para que a absorção tenha continuidade, o elemento deve

dissolver-se da fase sólida e movimentar-se por difusão até a superfície das raízes.

A absorção de fósforo pelas plantas depende principalmente da difusão do elemento

na solução do solo em torno das raízes. Essa difusão é afetada por diversas

propriedades de solos, que podem aumentar ou diminuir a sua intensidade.

Essa situação descrita explica por que devem existir no solo quantidades de

fósforo disponível bem acima daquelas que a planta necessita. É porque a maior

parte não é acessível, a um dado momento, à absorção pelas raízes. Invertendo o

raciocínio, pode-se concluir que, em solos muito deficientes em fósforo, há

necessidade de aplicações elevadas, até que o elemento possa atingir um nível de

disponibilidade que permita classificar o solo como são deficiente.

Além dos aspectos de solo, existem diferenças entre espécies vegetais em

aproveitar o fósforo do solo. Algumas diferenças são simples de entender. Assim,

plantas de crescimento muito rápido e sistema radicular pouco desenvolvido

126

aproveitam maio fósforo do solo e necessitam teores disponíveis elevados para bom

desenvolvimento. Já plantas de ciclo longo e sistemas radiculares muito

desenvolvidos aproveitam bem teores relativamente baixos de P disponível.

Existem, também, algumas características de espécies vegetais que

favorecem o melhor aproveitamento de fósforo, tais como maior capacidade de

absorção de cálcio, alteração do pH da rizosfera por absorção diferenciada de

cátions c ânions e infecção com micorrizas que aumentam a superfície de absorção

das raízes.

A conseqüência dessa situação complexa do comportamento do fósforo é a

necessidade dos métodos de análise de solos contarem com sólido respaldo teórico,

bem como adequada correlação com respostas de culturas à adubação fosfatada.

127

10. MICRONUTRIENTES NO SOLO

10.1. INTRODUÇÃO

Em razão das pequenas quantidades exigidas pelas culturas, as deficiências

de micronutrientes são as últimas que aparecem em solos cultivados originalmente

férteis.

Todavia a remoção pelas culturas reduz os teores no solo. Além disso,

produtividades crescentes das culturas aceleram essas remoções. Outrossim a

aplicação de quantidades de calcário muito mais elevadas que há anos passados,

em diversas regiões, deverá tornar a maior parte dos micronutrientes menos

disponíveis para as culturas.

Acrescente-se a isso o avanço da agricultura em solos das regiões de

cerrado, muitos deles já originalmente deficientes em micronutrientes.

O quadro aponta, então, para um agravamento geral das deficiências de

micronutrientes, tornando o conhecimento de seu comportamento em solos e

plantas um dos mais importantes.

10.2. FORMAS NO SOLO

Os micronutrientes são mais difíceis de estudar em solos, pelas pequenas

quantidades contidas. Mesmo assim, nas últimas décadas, tem-se acumulado um

grande número de informações de pesquisa, que tem ajudado a interpretação do

comportamento desses elementos.

O boro é um não-metal, caracterizado pelo seu comportamento aniônico. Em

soluções de solo, a forma mais provável é a de ácido bórico, H3BO3. Esse ácido é

muito fraco (pK1 de 9,24) e apenas acima de pH 7 pode ocorrer dissociação e

aparecimento da forma H2BO3-.

Os teores de boro no solo são variados, sendo ele um elemento não

uniformemente distribuído na crosta terrestre. Em amostras de solos superficiais,

têm sido constatados teores totais de 2 a 300 mg/kg, com valores médios variando

de 9 a 851 mg/kg, para solos do mundo. Grande parte do boro total encontra-se em

solos no mineral turmalina, que é de difícil dissolução.

O boro é adsorvido às partículas do solo, com mais intensidade em óxidos

hidratados de ferro e alumínio. Grande parte do boro disponível é retido pela matéria

128

orgânica, de forma bastante forte. Não obstante o boro é o mais móvel dos

micronutrientes (exceto cloro) e pode ser lixiviado de solos, principalmente daqueles

de textura leve.

Outro elemento de comportamento aniônico é o molibdênio, embora se trate

de um metal. Trata-se do micronutriente menos abundante no solo, com teores totais

da ordem de 2 mg/kg, mas variando, em solos mundiais, de 0,2 a 5 mg/kg. Em geral,

solos derivados de granitos e de argilitos são mais ricos. O mineral primário de

MO4+, molibdenita (MoS2), contém a maior parte do molibdênio terrestre. Esse

sulfeto é lentamente oxidado e transformado em íons molibdato MoO4-2 e HMoO4

-. A

primeira forma ocorre acima da neutralidade, enquanto HMoO4- ocorre em meio

ácido.

O molibdato é adsorvido ao solo, principalmente a óxidos, de maneira similar

à que acontece com sulfato e fosfatos. Da mesma forma que com aqueles ânions,

também a elevação do pH do meio resulta em desorção de molibdato.

O zinco encontra-se distribuído de maneira bastante uniforme em rochas

magmáticas (80 a 120 mg/kg). Em sedimentos argilosos o teor é ligeiramente maior

e bem menor em arenitos. Em rochas, o zinco ocorre principalmente como sulfetos

(ZnS), mas também aparece em substituições isomórficas de silicatos, em lugar de

Mg+2. A solubilização pelo intemperismo produz o cátion Zn+2, que é adsorvido aos

solos pelos minerais e pela matéria orgânica. Teores totais médios em diferentes

países variam de 2 a 300 mg/kg. O elemento é fortemente adsorvido aos solos,

principalmente pela fração mineral. A adsorção é reduzida pelo abaixamento do pH.

O cobre ocorre em rochas principalmente como sulfetos complexos. Esses

minerais são facilmente intemperizados e liberam íons de cobre, especialmente em

meios ácidos. Em solos, o elemento reage facilmente com componentes minerais e

orgânicos, tornando-se um elemento pouco móvel. Teores totais médios de solos

mundiais, excluindo solos contaminados, são da ordem de 2 a 300 mg/kg A forma

iônica mais comum de cobre em solos é Cu2+. O elemento é adsorvido à fração

mineral de solo e complexado pela matéria orgânica. A complexação de cobre pela

matéria orgânica é a reação mais importante a determinar o comportamento do

elemento na maioria dos solos. A habilidade da matéria orgânica do solo em reter

cobre é um dos assuntos mais estudados, pelas conseqüências que tem na

disponibilidade do elemento para as plantas.

129

O manganês é um dos micronutrientes mais comuns na litosfera, com teores

nas rochas comumente entre 20 a 3000 mg/kg. O manganês forma diversos

minerais, de valência Mn+2, Mn+3 e Mn+4. Pelo intemperismo, os compostos de

manganês das rochas são oxidados e reprecipitados, formando minerais

secundários, de comportamento químico e mineralógico muito complexo. Os

compostos de manganês são conhecidos pela sua rápida oxidação ou redução, nas

condições variáveis que ocorrem em solos. As formas mais solúveis são de Mn+2,

que é o íon trocável e existente na solução do solo. A forma tetravalente, do óxido

MnO2, é a mais inerte. O óxido Mn2O3 é considerado uma forma altamente reativa.

Os teores de manganês, em solos mundiais, variam de 10 a 9000 mg/kg, com

as freqüências máximas entre 200 e 800 mg/kg.

O ferro é o elemento metálico mais comum na crosta terrestre. A geoquímica

do ferro é complexa e determinada pela facilidade de mudança das valências (Fe+2 e

Fe+3), em resposta a alterações de condições físico-químicas do meio. O

comportamento do ferro é intimamente ligado às ciclagens de oxigênio, enxofre e

carbono. Em solos, a ocorrência é principalmente na forma de óxidos e hidróxidos.

Em solos ricos em matéria orgânica, o ferro aparece como quelatos. Os teores totais

em solo comumente estão entre 5 a 50 mg/kg, em solos do mundo. Em solos

brasileiros esses teores podem ser bem mais elevados, ultrapassando 100 mg/kg

em alguns casos.

Os teores de ferro solúvel na solução do solo são extremamente baixos. Há

diversas formas iônicas importantes, tais como Fe+3, Fe(OH)2, Fe(OH)+2, Fe+2,

Fe(OH)+3 e Fe(OH)4-2 (Kabata-Pendias & Pendias, 1984). A solubilidade de ferro

atinge um mínimo a valores de pH mais altos. Em solos bem aerados a forma Fe+2

contribui pouco, exceto em condições de pH baixo. Contudo, os solos são

inundados, ocorre redução de Fe+3, refletindo em aumento acentuado da

solubilidade de ferro. Essa redução é proporcionada por ação bacteriana.

O cloro é um elemento que ocorre na forma iônica de Cl-, sendo componente

comum de sais solúveis, como NaCl, CaCl2 e MgCl2. No solo o íon cloreto é muito

móvel tendo comportamento semelhante ao nitrato, sendo facilmente lixiviável. O

elemento no solo origina-se de sais inclusos nas rochas ou material de origem, de

adições atmosféricas ou por águas de irrigação, e de adubações com cloreto de

potássio.

130

10.3. FATORES QUE AFETAM A DISPONIBILIDADE DE MICRONUTRIENTES

A análise de solo usada isoladamente não é suficiente para avaliar a

disponibilidade de micronutrientes em solos. Contudo diversas propriedades de

solos afetam a solubilidade desses nutrientes e podem, então, ser usadas em

conjunto com os resultados da análise de solo.

O boro é muito afetado pelo pH, pela textura do solo e pelo teor de cálcio. A

valores de pH mais elevados o elemento se torna menos disponível. Solos mais

argilosos adsorvem mais O boro e podem, assim, dificultar a absorção pelas plantas.

O efeito do cálcio pode estar relacionado com interações na planta. Um fator muito

importante para a disponibilidade do boro é o teor de água no solo. Em condições de

seca as deficiências se acentuam, possivelmente pela menor liberação do elemento

da matéria orgânica.

O molibdênio é o único micronutriente cuja disponibilidade no solo aumenta

com a elevação do pH do solo. As deficiências são mais comuns em solos ácidos de

textura mais leve.

O zinco tem sua solubilidade afetada pelo pH, e calagens a valores de pH

acima de 6,0 podem induzir deficiências. Além disso, o elemento é fortemente retido

em solos argilosos, o que pode agravar as deficiências. Fosfatos tendem a reduzir a

solubilidade de zinco, e são conhecidas deficiências do elemento induzidas por

adubações fosfatadas elevadas.

O cobre tem, também, a solubilidade reduzida com a elevação do pH. A

deficiência é mais comum em solos orgânicos que, mesmo apresentando por vezes

teores totais altos do elemento, o retêm na forma de complexos muito estáveis.

O manganês tem sua disponibilidade reduzida pela elevação do pH. Além

disso, teores altos de matéria orgânica podem resultar em complexação do

elemento.

O ferro, igualmente, tem sua disponibilidade reduzida pela elevação do pH. A

deficiência pode ocorrer em solos alcalinos, resultando, ainda, de vários outros

fatores associados, como desbalanceamento com cobre e manganês e excesso de

fósforo.

10.4. INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DE SOLO

A faixa de teores médios vai de 0,15 a 0,40 mg/dm3 para cobre, de 0,20 a

0,50 mg/dm3 para zinco e de 0,1 a 0,3 mg/dm3 para boro.

131

Para culturas mais susceptíveis a deficiências, esses limites, para Zn e Cu,

provavelmente estão mais para o lado baixo do que alto. Já os valores de boro

parecem razoáveis. É claro que só a experiência no campo fornecerá os dados para

refinamento daqueles limites.

É inconveniente ficar citando limites de interpretação ou limites críticos de

publicações, ou de laboratórios de análise de solo, se não houver critérios razoáveis

para o seu endosso.

No caso de micronutrientes, solos férteis têm, em geral, teores altos de

elementos e a deficiência não é generalizada. Em alguns solos há muito cultivados

ou em solos de baixa fertilidade natural, podem ocorrer deficiências, principalmente

de zinco e boro. Também já foram constatadas deficiências de cobre e manganês.

Via de regra, tais solos apresentam teores baixos dos nutrientes, mas a análise nem

sempre é realizada.

A análise de solo é útil para monitorar a elevação de teores nos solos, em

casos de adubação com micronutrientes.

Nos próximos anos deverão ser estabelecidos, de maneira mais precisa os

limites de interpretação de micronutrientes em solos. Isso permitirá, com maior

segurança, o uso prático da análise de micronutrientes em solos.Micronutrientes

132

11. LITERATURA CONSULTADA E CITADA

ACAR. Como tirar amostras de solos para análises químicas. Serviço de

Extensão Rural. 1971. 12p.

ADETUNJI, M. T. Optimum sample size and sampling depth for soil nutrient

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ALVAREZ V. H., NOVAIS, R. F., BARROS, N. F., CANTARUTTI, R. B.,

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