revista linguistica 30, 1 diciembre 2014 (3)

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    ISSN

    :1132-0214impresa

    ISSN

    :2079-312X

    enlnea

    Volumen

    30 (2)diciembre

    2014

    Asociacin de Lingsticay Filologa de Amrica Latina

    Associao de Lingusticae Filologia da Amrica Latina

    www.mundoalfal.org

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    Asociacin de Lingsticay Filologa de Amrica Latina

    Associao de Lingusticae Filologia da Amrica Latina

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    Volumen

    30 (2)diciembre

    2014

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    ESTE FASCCULO MONOGRFICO SOBRE O

    TEMA GRAMTICA DO PORTUGUS:

    VARIEDADES DE ALM E AQUM-MARFOIPLANEJADO E ORGANIZADO

    por Roberto Gomes Camacho

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    LINGSTICA/ VOL. 30 (2), Diciembre2014:

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    ISSN 2079-312X en lnea

    NDICE

    Apresentao........................................................................................ 7

    Artculos/Artigos

    Maria Helena Mira Mateus - O comportamento das vogais

    nas variedades do portugus / Vowels behaviour in portuguesevarieties.................................................................................................. 17

    Ana Ruth Moresco Miranda -A fonologia em dados de escritainicial de crianas brasileiras /Phonology in data on early writing

    produced by Brazilian children ............................................................. 43

    Silvia Rodrigues Vieira e Silvia Figueiredo Brando - Tipologiade regras lingusticas e estatuto das variedades/lnguas: aconcordncia em portugus/ Tipology of linguistic rules and statusof varieties/languages: the agreement in portuguese............................ 79

    Maria Helena de Moura Neves -Intersubjetividade e interlocuonas relaes de causalidade. A funcionalidade dos juntivoscausais na lngua portuguesa/ Intersubjectivity and Interlocutionin Causal Relations. The Functionality of Causal Conjunctions in

    Portuguese ............................................................................................ 111

    Erotilde Goreti Pezatti e Aliana Lopes Cmara-Da descrio aoensino da orao adjetiva: a perspectiva dos livros didticos delngua portuguesa /From description to teaching of relative clauses:

    the perspective of text books in Portuguese........................................... 139

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    Mariangela Rios de Oliveira e Hanna Batoro - Construescom pronomes locativos (Loc) do tipo LocV e VLoc no PB e noPE: correspondncias e distines / Grammatical constructions

    with locative pronouns (loc) of the locvandvloctype in ep and bp:correspondences and distinctions.......................................................... 169

    Dante Lucchesi - A hiptese do substrato no contexto da histriasociolingustica do Portugus popular do Brasil / The substratehypothesis in the context of the sociolinguistic history ofpopular

    Brazilian Portuguese............................................................................. 207

    Juanito Avelar e Charlotte Galves - O papel das lnguas africanasna emergncia da gramtica do portugus brasileiro / Therole of african Languages in the emergence of Brazilian Portuguese

    grammar................................................................................................. 239

    Esmeralda Vailati Negro e Evani Viotti - Contato entrequimbundo e portugus clssico: impactos na gramtica de

    impessoalizao do portugus brasileiro e angolano / TheContact Between Kimbundu And Classical Portuguese: Impacts OnThe Grammar Of Impersonal Constructions In Brazilian And Angolan

    Portuguese ............................................................................................ 287

    Reseas/Resenhas

    MARCOS BAGNO. 2011. Gramtica pedaggica do portugusbrasileiro, So Paulo, Parbola............................................................ 331Resenhado por: Manoel Luiz Gonalves Corra

    MARIA HELENA DE MOURA NEVES & VNIA CASSEB GALVO(Orgs.). 2014. Gramticas contemporneas do portugus: com a

    palavra os autores, So Paulo, Parbola.............................................. 343Resenhado por: Marize Mattos Dall Aglio-Hattnher

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    APRESENTAO

    Este nmero da revistaLingstica da Alfal dirigido descriodo portugus, em especial s variedades de alm e aqum-mar. Essetema claramente dialoga com o texto Diagnosticando uma gram-tica brasileira: o portugus daqum e dalm-mar ao nal do sculoXIX, escrito por Fernando Tarallo e publicada em 1996, como ca-ptulo do livroPortugus Brasileiro. Uma viagem diacrnica, orga-nizado por Ian Roberts e Mary Kato.

    A principal questo que aquele texto levantava se j poderiacomprovar a emergncia de uma lngua brasileira em oposio ln-gua portuguesa tradicional, ou se a lngua aqui falada permanecerialusitana, especialmente num contexto, digamos assim, ideolgico,

    em que, muitas vezes, o perl da gramtica normativa praticada noBrasil vinha sendo ditado (e talvez venha sendo ainda), em grandeparte, pela tradio portuguesa.

    Em sua discusso do assunto, Tarallo argumenta que, no nal dosculo XIX, a gramtica do Portugus Brasileiro exibe diferenasestruturais em relao do Portugus Europeu. Evidncias quan-titativas apontam para a ocorrncia de mudanas dramticas navirada do sculo XIX para o XX, deixando claro, ento, que uma

    gramtica brasileira, ou uma variedade especicamente brasileira,de fato emergiu com sua prpria congurao, diferenciando-se ra-dicalmente da variedade lusitana.

    Conquanto no parea pairar quaisquer dvidas sobre a emer-gncia de uma gramtica brasileira especca, a discusso desse as-sunto tm se polarizado em torno da defesa da chamada hiptese daderivae da defesa da chamada hiptese do contato. Os defensoresda primeira posio sustentam que todas as marcas gramaticais doPortugus Brasileiro j existiam na lngua falada em Portugal. J osdefensores da segunda posio sustentam que as caractersticas gra-

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    maticais do Portugus Brasileiro, especialmente das variedades po-pulares, emergiram em consequncia de contato do Portugus com

    as lnguas indgenas e africanas.Um dos objetivos deste nmero monogrco traar um pano-rama to geral quanto possvel, em face das limitaes naturais doespao, da descrio de variedades do mundo lusfono, retomandoalguns aspectos que comprovam diferentes gramticas de um e deoutro lado do Atlntico e retomando outros que apontam para aspec-tos inovadores que possam motivar essa diferenciao em funo docontato lingustico do Portugus Brasileiro com lnguas indgenas e

    africanas.O outro objetivo deste nmero est vinculado aplicao de as-

    pectos variados da descrio formulao de princpios que possamguiar uma gramtica de referncia do portugus, questionando-se,por um lado, como a anlise cienticamente fundamentada pode seconverter num discurso sobre as regras efetivamente em uso e, poroutro, o grau em que aspectos relevantes da descrio do fenmenoabordado estejam prximos ou distantes do modo como o mesmofenmeno apresentado nas gramticas prescritivas.

    Esse segundo tipo de objetivo responde por um anseio de revisodo conceito tradicional de gramtica, iniciada no Brasil, principal-mente na dcada de 80, com a Nova gramtica do portugus con-temporneode Cunha & Cintra (1985), com a Gramtica descritivado portugusde Perini (1996), com a Moderna Gramtica Portu-guesade Bechara (1999) e, em Portugal, com Gramtica da lngua

    portuguesade Mateus et al. (1983); seus reexos mais recentes sefazem sentir na Gramtica de usosde Neves (2000), na Gramticada lngua portuguesade Vilela & Koch (2001), na Nova gramti-ca do Portugus Brasileiro de Castilho (2010), na Gramtica doPortugus Brasileirode Perini (2010), na Gramtica pedaggica doPortugus Brasileirode Bagno (2012) e no debate organizado porNeves & Galvo no livro Gramticas contemporneas do portu-gus: com a palavra os autores(2014).

    Estabelecidos esses dois eixos principais, diferentes, mas inter-relacionados, convidei especialistas com suciente prestgio cien-

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    Apresentao / ROBERTOGOMESCAMACHO 9

    tco e acadmico na pesquisa em lngua portuguesa, que, em suamaioria, aceitaram participar fornecendo contribuies diversas,

    que, desde j, reputo extremamente relevantes.Com efeito, basta um rpido olhar nos textos, para perceber que,alm de certa diversidade temtica, esto contemplados os diferen-tes nveis de anlise. Os textos de Mateus e de Miranda, que abremo nmero, tratam da Fonologia; a contribuio de Vieira & Brando,de uma perspectiva variacionista, e as de Avelar & Galves e Negro& Viotti, de uma perspectiva formal e diacrnica, cada qual a seumodo, tratam de aspectos diversos da Morfossintaxe. J a perspec-

    tiva funcional e a funcional-cognitivista identica as contribuiesde Neves, Pezatti & Cmara para o estudo da juno entre oraes ea de Oliveira & Batoro para o estudo de construes oracionais. Otexto de Lucchesi se aplica defesa de uma hiptese sociolingusticageral de transmisso lingustica irregular do tipo leve com base emprocessos derivados do Lxico.

    O eixo descritivo conta com contribuies que contemplam umacomparao entre as variedades brasileira e europeia do portugus,como os de Mateus, Vieira & Brando e Oliveira & Batoro, e ou-tros, como os de Miranda, Neves e Pezatti & Cmara, que se restrin-gem ao tratamento de diferentes aspectos da gramtica do PortugusBrasileiro; o mesmo se aplica s resenhas de Corra e DallAglio-Hattnher. J o eixo das possveis inuncias de lnguas africanasna formao do Portugus Brasileiro conta com as contribuies deLucchesi, Avelar & Galves e Negro & Viotti.

    A ordenao dos artigos se apoia numa perspectiva nitidamenteascendente de gramtica, que parte das unidades fnicas, em rela-o com as grcas, para, passando pelas unidades morfossintticasem si mesmas, atingir um nvel de formulao descritiva em que aMorfossintaxe acaba necessariamente por incorpora as motivaesdiscursivas emanadas da prpria situao de uso.

    Assumindo a perspectiva terica da fonologia gerativa, Mateusanalisa as vogais do Portugus Europeu e do Portugus Brasileiro,

    tanto em slaba tnica como tona, distinguindo as vogais resultantesda aplicao de regras que atuam nas duas variedades (como a har-

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    monizao voclica nos verbos) das vogais que apresentam variaes,sobretudo em slaba tona. Todas as explicaes ali desenvolvidas

    contribuem, por um lado, para advogar uma clara distino entre asduas variedades de aqum e de alm-mar e, por outro, para servir deapoio ao ensino do Portugus como lngua segunda ou estrangeira.

    Miranda traz um estudo descritivo com base na aquisio de gra-a por crianas brasileiras em fase escolar. A autora analisa dados deescrita inicial para discutir as relaes entre a seleo de elementosgrcos e o conhecimento fonolgico, com incidncia especial so-bre as consoantes palatais, as soantes, // e //, e as fricativas, //

    e //, consideradas complexas em estudos do portugus. A graaque as crianas selecionam para representar as soantes traz evidn-cias que corroboram o conceito de consoante complexa, mas no agraa das fricativas: ao revelar a apropriao do sistema alfabtico,projetada sobre a produo dos ditongos, esse tipo de graa podeser interpretado como indcio de mudana representacional das fri-cativas palatais.

    Vieira & Brando abordam a concordncia de nmero nominal everbal, em diferentes estruturas, no Portugus Europeu e no Portu-gus Brasileiro, cujas bases se assentam nos pressupostos quantita-tivos e qualitativos da sociolingustica variacionista. Os resultadosa que chegam as autoras permitem delinear diferenas ntidas entreos padres de concordncia das variedades daqum e dalm-mar.So justamente essas diferenas que lhes permitem demonstrar quea aplicao de uma tipologia de regras em trs instncias categri-ca, semicategrica e varivel, representa um recurso metodolgicoecaz para avaliar pers tipolgicos lingusticos em relao aos di-versos fenmenos gramaticais.

    Passando, agora, para os estudos funcionalistas, o artigo de Ne-ves contempla a expresso da causalidade na juno oracional emportugus, considerando o encadeamento entre o desempenho na so-ciointerao e o gatilho cognitivo, arraigado nas relaes intersubje-tivas. Com base no pressuposto de que o nvel morfossinttico, o

    responsvel pela organizao funcional dessas relaes, o estudo sedebrua sobre os juntivos tradicionalmente considerados causais,

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    Apresentao / ROBERTOGOMESCAMACHO 11

    mas se dedica especialmente s construes investidas de efeitos desentido que extrapolam a estrita direo causa-consequncia.

    Pezatti & Cmara, por seu lado, analisam o modo como os livrosdidticos, voltados para o nvel fundamental de ensino no Brasil,tratam as construes do domnio funcional da relativizao - ora-es adjetivas restritivas e explicativas - com base na seleo decinco livros didticos aprovados pelo Programa Nacional do LivroDidtico. Os resultados mostram que o ensino dessas construesainda reete os postulados da gramtica tradicional, na medida emque se baseia em atividades puramente metalingusticas de identi-

    cao e classicao de unidades morfossintticas, desconsiderandoaspectos semnticos, pragmticos e prosdicos que sobressaem dadescrio do uso real que as autoras desenvolvem com base numaperspectiva terica discursivo-funcional.

    Sob uma orientao funcional e cognitiva, prpria da perspectivada Lingustica Baseada no Uso e da Gramtica das Construes,Oliveira & Batoro analisam expresses verbais do Portugus Bra-sileiro e do Europeu, formadas por pronomes locativos (Loc), inter-pretadas como instanciaes de dois padres construcionais, confor-me a posio do pronome em relao ao verbo (V), LocV e VLoc,que atuam, respectivamente, na conexo textual e na marcao dis-cursiva. As autoras deduzem que, embora as duas variedades trilhemcaminhos anlogos, no deixam de apresentar tambm distines deuso. Nesse caso, a gramaticalizao dessas construes, a dependerda variedade, pode assumir traos mais especcos, com distinode visibilidade e de ritmo no nvel das mudanas construcionais,diferenas essas que se acham vinculadas a motivaes pragmticas,cognitivas e estruturais especcas.

    Encerrado aqui o elenco dos trabalhos descritivos e, em algunsaspectos, tambm voltados para o ensino, restam por apresentar ostrs artigos que se debruam sobre a histria do Portugus, especial-mente do Portugus Brasileiro, em relao lngua da metrpolecolonizadora, o Portugus Europeu, e as lnguas africanas aportadas

    na Amrica em razo do trco, motivado pelo sistema escravocratade economia implantado nas colnias.

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    O trabalho de Lucchesi discute a transferncia de estruturas daslnguas indgenas e africanas para a formao da gramtica de varie-

    dades do portugus popular brasileiro. O estudo se baseia na hiptesedo substrato, segundo a qual o contato um fator preponderante nahistria lingustica do pas, por permitir acentuar o paralelismo entre aorigem do portugus popular brasileiro e a formao de lnguas criou-las. O artigo defende uma formulao substratista, em pauta na pes-quisa de vrias lnguas crioulas, baseada no conceito de relexicao,para examinar as possibilidades de sua aplicao ao estudo da histriasociolingustica do Brasil, dentro da viso adotada de que as varieda-

    des populares do Portugus Brasileiro passaram, em sua formao,por um processo de transmisso lingustica irregular de tipo leve.

    O trabalho de Avelar & Galves se situa tambm entre os que ad-vogam a hiptese do contato, explorando a ideia de que certas marcasgramaticais, que singularizam o Portugus Brasileiro no conjuntodas lnguas romnicas, se devem ao dos contatos interlingusti-cos estabelecidos entre falantes de portugus e de lnguas africanas.Os autores defendem a hiptese de que as lnguas africanas, faladas

    pelos escravos introduzidos no Brasil colonial, desempenharam umpapel signicativo na emergncia da gramtica do Portugus Bra-sileiro. Explorando um vis terico mentalista, de base gerativa, oestudo se debrua sobre paralelismos morfossintticos entre o Por-tugus Brasileiro e o Portugus Africano, bem como entre essas va-riedades e as lnguas bantas. Como resultado, os autores defendemque a aquisio do portugus como segunda lngua pelos africanosproduziu mudanas em duas direes: (i) a transferncia de proprie-

    dades sintticas de suas lnguas maternas para o portugus em for-mao no Brasil e (ii) a reestruturao desencadeada pela diculda-de no aprendizado de marcas gramaticais especcas do portugus.

    Negro & Viotti tambm se alinham hiptese de contato na buscade uma explicao, tambm de fundo gerativo, para a emergncia deestratgias de passivizao, entendidas como construes de impesso-alizao, nas variedades brasileira e angolana do portugus, com mar-

    cas que as distinguem de construes similares na variedade europeia.As autoras postulam que essas construes emergiram do contato en-tre o Portugus Clssico e uma lngua banta, o Quimbundo, com base

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    Apresentao / ROBERTOGOMESCAMACHO 13

    em um espao transatlntico construdo na poca colonial decorrentede interaes intensivas, primeiramente, entre europeus e africanos e,

    posteriormente, entre mercadores brasileiros e angolanos. Foi nesseespao, que se teria formado um banco de dados lingusticos a partirde caractersticas morfossintticas das lnguas em contato.

    Por m, as duas resenhas, que fecham esse nmero, tratam exata-mente do segundo eixo organizador, a reviso de conceitos tradicio-nais e a formulao de princpios que possam guiar uma gramticade referncia do portugus, que se sustente na descrio lingustica.O texto de Corra se debrua sobre a gramtica de Bagno (2012)

    e o de DallAglio-Hattnher, sobre a obra organizada por Neves &Galvo (2014), em que os prprios autores discutem os princpiosestruturadores de seu fazer gramatical.

    Este breve relato mostra que as contribuies priorizam resul-tados de pesquisas sobre as variedades da Amrica, da Europa e dafrica, fornecendo, desse modo, um painel, seno exaustivo, pelomenos muito relevante, de aspectos cruciais da organizao grama-tical do portugus, assim como da emergncia de uma gramtica es-pecca para a variedade brasileira. Como pode testemunhar o leitor,o presente nmero apresenta tambm um conjunto potencialmenteinovador de contribuies, especialmente em funo da diversidadeterica das propostas, da variedade dos fenmenos envolvidos e dosnveis metatericos a que se aplicam as anlises. Como organiza-dor, deixo registrada a esperana de que a leitura dos artigos aquienfeixados estimule um debate com outras propostas e com outrasposies tericas, que possa fornecer as sementes de uma reexosempre crtica e fecunda, razo de ser da pesquisa lingustica.

    ROBERTOGOMESCAMACHOOrganizador

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    ARTCULOS/ARTIGOS

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    O COMPORTAMENTO DAS VOGAIS NASVARIEDADES DO PORTUGUS

    VOWELSBEHAVIOURINPORTUGUESEVARIETIES

    MARIAHELENAMIRAMATEUSFaculdade de Letras da Universidade de Lisboa / ILTEC

    [email protected]

    Este artigo tem como objetivo a anlise das vogais do PortugusEuropeu (PE) e do Portugus Brasileiro (PB), tanto em slaba tnicacomo tona, distinguindo entre as vogais resultantes da aplicao

    de regras que atuam em todas as variedades (como a harmonizaovoclica nos verbos) e as vogais apresentam variaes, sobretudoem slaba tona, provocando uma clara distino entre PE e BP. A

    perspetiva terica que enforma esta anlise a fonologia generativaque tem como princpio a existncia de nveis separados: o nvelfonolgico em que atuam processos fonolgicos, e o nvel fonticoque contm as formas de superfcie resultantes da atuao desses

    processos. As explicaes apresentadas podem servir de apoio no

    ensino do Portugus como lngua segunda ou estrangeira, tanto noesclarecimento dos professores sobre questes lingusticas e seusresultados na pronncia da lngua como na elucidao dos apren-dentes. A dimenso pedaggica deve provir de uma reexo ade-quada sobre as propostas aqui apresentadas.

    Palavras-chave: Vogal; Harmonizao Voclica; Vogal Temtica;Slaba tona.

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    The goal of this paper is the analysis of Portuguese vowels in Eu-ropean (EP) and Brazilian (BP) varieties, both in stressed and un-

    stressed syllable, making a distinction between vowels resultingfrom categorical rules that occur in all Portuguese varieties (asvowel harmonythat applies on root verbal vowels) from vowel al-ternations and variation, namely in unstressed syllable, that cause aclear distinction between EP and BP. The theoretical framework thatsustains this analysis is the generative phonology that considers theexistence of separate tiers: the phonological tier where processesthat have as a result the phonetic surface forms apply. The explana-

    tions we present may reinforce the Portuguese language teachingas a second or a foreign language in clarifying certain linguisticsquestions related to the pronunciation of Portuguese and the eluci-dation of the students. The pedagogical dimension can issue from anadequate reexion about the proposals presented here.

    Keywords:Vowel; Vowel Harmony; Theme Vowel; Unstressed Syl-lable.

    INTRODUO1.Neste artigo sero analisados os sistemas de vogais do portugus

    em slaba tnica e em slaba tona, tendo em ateno as diferenaspatentes nas duas variedades (portugus europeu, PE, e portugusbrasileiro, PB), e, quando tal se justicar, a variao no interior dasvariedades. A descrio e a explicao do comportamento das vo-

    gais podero ter aplicao no ensino da lngua a falantes que notm o portugus como lngua materna, para uma melhor compre-enso da especicidade da produo oral. A perspetiva terica queenforma esta discusso tem como princpio a existncia de um nvelsubjacente em que se integram sistemas (e subsistemas) presentes naconscincia fonolgica dos falantes, e em que assentam as variantes

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    19O COMPORTAMENTO DAS VOGAIS... / MARIAHELENAMIRA

    lexicais que ocorrem em superfcie quando so resultado de aplica-o de regras1.

    VOGAISFONOLGICASDOPORTUGUSEM2.SLABATNICA

    As vogais fonolgicas do portugus so as que permitem criaroposies distintivasatravs da construo depares mnimosde pa-lavras que contrastam apenas numa vogal e tm signicados diferen-

    tes. As vogais que permitem a oposies distintivas podem ser vo-gais mdias opem dois nomes (bola[bl ]/[b l ][o]/[ ]), um nomee uma forma verbal (selo[slu]

    N/ [s

    lu]V[e]/[ ]), ou duas formas do

    mesmo paradigma (devo/ deve[dvu]/[dvi] [e]/[ ], verbo dever, ou

    como / come[kmu]/[kmi] [o]/[ ] verbo comer)2. Podem tambm

    criar-se pares mnimos por oposio de duas vogais altas (la/fula[i]/[u]) ou de uma vogal mdia e uma baixa (bela/ bala[b

    l [/[bl ],[ ]/[a]). As vogais depreendidas a partir destas oposies guram no

    Quadro I.

    Quadro I

    PORTUGUS

    Altas i u

    Mdias altas e o

    Mdias baixas

    Baixas a

    1 Agradeo aos meus colegas Celeste Rodrigues e Fernando Martins a ajuda que me de-ram no s lendo com ateno o texto mas, tambm, resolvendo questes de compatibilidadedos smbolos fonticos utilizados.

    2 Note-se que nestes exemplos as vogais mdias que formam pares mnimos tm a mesmaortograa, o que constitui uma das diculdades sentida na aprendizagem do portugus comolngua estrangeira, sobretudo pelo facto de, ao aprenderem simultaneamente a escrita e a ora-

    lidade, no ser clara a distino das diferentes alturas dessas vogais mdias. A oposio entrelaefula muito mais evidente. Na transcrio fontica dos exemplos que apresento de (1.)a (5.) as vogais tonas seguem a pronncia do portugus europeu. A variao das tonas entreas duas variedades do portugus ser discutida adiante, a partir de 6.

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    Neste Quadro apresentam-se as vogais fonolgicas do portugusque ocorrem em slaba tnica. Os diversos processos fonolgicos e

    fonticos que funcionam na utilizao da lngua tm como resultadovariaes que, no nvel fontico, distinguem variedades da lnguaportuguesa, nomeadamente as variedades que so objeto deste arti-go: Portugus Europeu e Portugus Brasileiro.

    Para compreendermos as variaes a que esto sujeitas as vogaisfonolgicas necessrio considerarmos que os segmentos fonol-gicos so unidades complexas que tm propriedades identicadorasdenominadas traos distintivos. Os traos esto organizados hierar-

    quicamente e dependem de ns de classeque renem traos dis-tintivos com propriedades comuns. Para a anlise da relao entreos traos identicadores e as alteraes das vogais fonolgicas, sonecessrios e sucientes dois ns de classe: Altura, de que depen-dem os traos [alto] e [baixo] e Ponto de Articulao, de que depen-dem os traos [arredondado] e [recuado]. O Quadro IIapresentaos quatro traos designados, a que correspondem os sinais [+] e [-]conforme a vogal em questo for identicada pela presena ou au-

    sncia do trao. As vogais [e/ /o/ ] so habitualmente designadascomo mdias o que est de acordo com o facto de elas serem menosclaras nas oposies que formam entre si e pouco produtivas na cria-o de pares mnimos, alm de constiturem uma particularidade doportugus que no se verica em muitas outras lnguas3.

    Quadro II

    Vogais4

    Traos i e a o ualto + +

    baixo + + + recuado + + + +arredondado + + +

    3 No castelhano, por exemplo, a variao entre mdias como o mesmo ponto de articula-o ([e/ ] ou [o/ ] no altera o signicado do par de palavras.

    4 A vogal [a] considerada tradicionalmente central, embora seja tambm identicadacomo [+recuada] por oposio s [recuadas] como [i], [e] e [ ].

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    Alternncia entre vogais do radical nos paradigmas2.1.verbais.

    A oposio de altura entre vogais mdias em slaba tnica comodevo, deve [dvu] / [d

    vi] e movo, move [mvu] / [m vi] envolvea aplicao de dois processos sobre as vogais tnicas dos radicaisverbais:Harmonizao voclicae Abaixamento de altura das vo-gais acentuadas. Esta alternncia entre as vogais do radical umaespecicidade do portugus e est presente em todas as variedades.A exemplicao destes processos est apresentada em (2.2.) com

    os verbos dever, mover,ferire dormir. As vogais em anlise, que al-ternam entre mdias ([e/o]), baixas ([ / ]) e altas ([i/u]) esto dentrode parnteses retos.

    Exemplos de alternncia: verbos2.2. dever, mover, ferir edormir

    Presente do Indicativo

    d[]vo m[]vo f[]ro d[]rmod[]ves m[]ves f[]res d[]rmes

    d[]ve m[]ve f[]re d[]rme

    d[]vem m[]vem f[]rem d[]rmem

    Presente do Subjuntivo

    d[]va m[]va f[]ra d[]rmad[]vas m[]vas f[]ras d[]rmasd[]va m[]va f[ra d[]rmad[]vam m[]vam f[ram d[]rmam

    A alternncia das vogais do radical exemplicada em (2.2.) ([e]/[ ]; [o]/[ ]; [i]/[ ]; [u]/[ ]) decorre da atuao da harmonizao voc-

    licae do abaixamento das vogais, dois processos morfo-fonolgicosque tm sido interrelacionados em descries sincrnicas e diacrni-

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    cas do portugus. Na gramtica do portugus contemporneo (Cunhae Cintra, 1984) a descrio da harmonizao voclica incide sobre

    os Presentes do Indicativo e do Subjuntivo e sobre os ImperativosArmativo e Negativo (formas que se identicam com as dos refe-ridos presentes). A alternncia entre as vogais do radical em cadaparadigma e entre vogais correspondentes entre os trs paradigmas(1, 2 e 3 conjugaes) segue o modelo dos verbos apresentados em(2.2.), estendendo-se a aplicao, em Cunha e Cintra, a verbos comolevare lograr, devere mover,servire dormir,frigire acudir.

    A gramtica histrica procurou uma explicao destas alternn-

    cias voclicas reportando-se, ao timo latino, os aspetos morfol-gicos e fonticos deste caso particular da gramtica do portugus(Williams 19381, 1961: 213-221; Jos Joaquim Nunes 19291, 1951:282-290; Piel 1944). Williams considera que, nos verbos regularesda 2 e 3 conjugaes com vogal breve no radical em latim (exs.vertere volver,servire dormir), a diferena nas vogais acentuadasdo radical (primeira pessoa do singular do Presente do Indicativovs.as segunda e terceira do singular, e terceira do plural) se deve ao

    fechamento da vogal da primeira pessoa, que seria, no portugus ar-caico, aberta na 2 conjugao (p.ex. v[

    ]rto, hojev[e]rtoouv[ ]lvo,hojev[o]lvo) e mdia na 3 por inuncia assimilatria da semivogal(p.ex. s[e]rvo, deservio, hojes[i]rvooud[o]rmo, dedrmio, hojed[u]rmo)5. Este fechamento seria causado por metafonia ou assi-milao a distncia da vogal nal da primeira pessoa. Nas vogaisfechadas do Presente do Subjuntivo, segundo Williams, a passagemde v[ ]rta a v[e]rta e de v[ ]lva a v[o]lva ou de s[ ]rva a s[i]rva e

    de d[ ]rma a d[u]rma se fez por analogia com a primeira pessoa doPresente do Indicativo, e ainda por inuncia das formas do pluralem que a vogal no tnica mas tambm fechada:sirvamos,sirvais,etc.. A importncia da analogia para o neogramtico Williams leva-o a dizer: Tal a fora da analogia no seu triunfo sobre a fora damodicao fonolgica (1038: 214). Jos Joaquim Nunes tem a

    5 Os exemplos dados por Williams so de verbos com (o que justica que apenas procureuma explicao para a primeira pessoa, j que as restantes seriam, naturalmente, abertas.

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    mesma explicao para o fechamento das vogais da segunda conju-gao (inuncia assimilatria e analogia).

    Tambm em Piel (1944) a analogia tem um lugar de relevo. Se ofechamento da primeira pessoa do Indicativo e das formas do Sub-juntivo se deve inuncia assimilatria da vogal nal, as formas doSubjuntivo resultam da solidariedade morfolgica com a primeirapessoa do Indicativo (ou seja, um processo de analogia) (1944:373).Repare-se no entanto que, se foi possvel explicar as vogais mdiasou altas recorrendo assimilao e analogia, as vogais baixas ded[ ]ve (de dbet), m[ ]ve (de mvet), ou s[ ]be (desbtou t[ ]sse

    (de tsst), no cabem nesta explicao considerada a natureza dasvogais etimolgicas.

    Neste cruzamento de inuncias assimilatrias das vogais naise das semivogais com analogias entre tempos e formas verbais, ape-nas Jos Joaquim Nunes se refere importncia da vogal temti-ca na elevao das vogais: As mesmas vogais -e- e -o- do radicalconvertem-se respectivamente em -i- e -u-, se o verbo em que seencontram dos que terminam no innitivo em -ir (1951: 284).

    A explicao da histria das lnguas com recurso analogia, deque frequentemente se serviam os neogramticos, tem sido discuti-da6. O seu mbito est hoje bastante limitado, e utiliza-se, sobretudo,na referncia extenso da aplicao de regras gerais na variaolingustica e na aquisio da linguagem. Por outro lado, a anliseda estrutura interna das palavras e a subsequente construo de for-mas subjacentes regida por princpios gerais das lnguas permitiram

    apresentar uma explicao mais satisfatria do que a atrs referidapara a alternncia voclica nos verbos do portugus, no s por sermais generalizante mas por integrar numa mesma perspectiva os n-veis fonolgico e morfolgico.

    6 Ver Kiparsky (1968:192 e ss.) sobre a relao entre analogiaesimplicao.

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    A HARMONIZAOVOCLICAEO3.ABAIXAMENTONOSVERBOSDOPORTUGUS.UMAPROPOSTACOMRECURSOTEORIAAUTOSSEGMENTAL

    Como foi dito em (1.) e (2.), os problemas em anlise reportam-se existncia de uma alternncia de altura das vogais do radicalacentuadas nos tempos verbais Presente do Indicativo e Presente doSubjuntivo.7Em funo das caractersticas do trao distintivo altu-ra, o termo de fechamento substitudo pelo de elevaorelativa-

    mente s vogais mdias e fechadas, e o de abertura, pelo de abaixa-mentorelativamente s vogais abertas.

    A constituio das formas verbais subjacentes as suas represen-taes lexicais que so fonolgicas e constituem o lxico incluemo Temaformado pelo radicale pela vogaltemtica, e os suxosde tempo-modo e pessoa, como se apresenta em (3.1.) e (3.2.). Estaconstituio interna permite a aplicao de regras diversas na pro-

    duo fontica. No perodo de aquisio da lngua a aplicao deregras inferidas por analogia com outros processos pode criar for-mas erradas que posteriormente sero corrigidas pela integrao dasexcees e pela estabilizao da gramtica. A criao dessas formaspode entender-se como uma evidncia de capacidades metalingus-ticas dos falantes mesmo quando esto em processo de aquisio dalngua.

    Representaes lexicais das formas verbais3.1.

    Presente do Indicativo8

    fal + a + o bat + e + o part + i + o

    fal + a + s bat + e + s part + i + s

    7 Como disse, as formas do Imperativo armativo e negativo identicam-se com as dosPresentes.

    8 A segunda pessoa do plural (fazeis, bateisetc.) muito pouco utilizada nas duas varieda-des do portugus no est includa nestes dados.

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    fal + a bat + e part + i

    fal + a + mos bat + e + mos part + i + mos

    fal + a + m bat + e + m part + i + m

    Presente do Subjuntivo

    fal + a + e bat + e + a part + i + a

    fal + a + e+ s bat + e + a + s part + i + a + s

    fal + a + e bat + e + a part + i + a

    fal + a + e + mos bat + e + a + mos part + i + a + mos

    fal + a + e + m bat + e + a + m part + i + a + m

    Se compararmos os exemplos de (3.1.) com as formas de super-fcie (ver 3.2.) em que a vogal temtica no est presente (primeirapessoa do singular do Indicativo e todas as pessoas do Subjuntivo),vericamos que a vogal temtica suprimidaquando sua direitase encontra uma vogal, seja o suxo da primeira pessoa do singular

    do Presente do Indicativo, , seja o suxo do Presente do Sub-juntivo (na primeira conjugao e nas segunda e terceiraconjugaes).

    Formas de superfcie3.2.

    Presente do Indicativo Presente do Subjuntivo

    /fal + a + o/ falo [flu] /fal + a + e/ fale [fl] (PE)/[fli] (PB)

    /bat + e + o/ bato [btu] /bat + e + a/bata [bt] etc.

    /part + i +o/ parto [pRtu] /part + i + a/parta [pRt] etc.

    No quadro da teoria autossegmental em que se fundamenta aanlise fonolgica aqui realizada, os segmentos fonolgicos situam-se em nveis autnomos e independentes e os prprios traos dis-

    tintivostambm tm autonomia. portanto uma teoria multilinear.Apesar de autnomos, contudo, os traos distintivos que constituem

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    a estrutura interna de um segmento esto agrupados em ns de clas-se de que dependem, e esto localizados em nveisseparados.

    O trao distintivo da vogal temtica que nos interessa aqui consi-derar o trao de altura. Se as vogais de uma forma como fal+a+oforem representadas como V1 (vogal do radical), V2 (vogal tem-tica), V3 (vogal do suxo), a supresso da V2 por estar seguida deoutra vogal cria as condies para que o trao autnomo de alturadessa vogal temtica suprimida (denominadosegmento utuante) seprojete na vogal do radical (ver 3.3.). A aplicao das duas partes daregra ((a) e (b)) tem, portanto, como resultado que a altura da vogal

    temtica assimilada pela vogal do radical, o que provoca a alter-nncia destas vogais de acordo com a altura da temtica. Na regraest indicado o trao Voclico que o trao distintivo caractersticodas vogais. Veja-se a formulao da regra.

    Supresso da Vogal Temtica3.3.

    a) V1 V2 ]Tema V3 (b) V1]Tema V3 | | | | |

    Voclico Voclico Voclico Voclico Voclico

    | Altura Altura

    A altura est agora como um segmento utuante e pode projetar-se sobre a vogal do radical. Ora a harmonizao voclicanos verbosdo portugus resulta exatamente da assimilao, pela vogal do ra-dical, da altura da vogal temtica. Essa harmonizao torna-se evi-dente se compararmos a altura da ltima vogal do radical acentuada(tnica) nos verbos das trs conjugaes. As formas verbais so asmesmas em que a vogal temtica foi suprimida: a primeira pessoado singular do Presente do Indicativo (cf. a) e as primeira, segunda e

    terceira pessoas do singular e terceira do plural do Presente do Sub-

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    juntivo (cf. b). Tambm aqui existe uma alternncia de alturaque severica em todas as variedades da lngua. Os verbos que exempli-

    cam so levare morar, devere mover,ferire dormir.

    levar morar dever mover ferir dormir

    vogal temtica baixa vogal temtica mdia vogal temtica alta

    Presente do Indicativo3.3.1.

    l[]vo m []ro d[]vo m[]vo f[]ro d[]rmo

    Presente do Subjuntivo3.3.2.

    l[]ve m[]re d[]va m[]va f[]ra d[]rma

    l[]ves m[]es d[]vas m[]vas f[]ras d[]rmas

    l[]e m[]re d[]va m[]va f[ra d[]rma

    l[]vem m[]rem d[]vam m[]vam f[ram d[]rmam

    As formas verbais includas em (i), (ii) e (iii) mostram que asvogais acentuadas so:

    (i) [] e [] vogais baixas, nos verbos de vogal temtica /a/, vogal baixa(ii) [] e [], vogais mdias, nos verbos de vogal temtica /e/, vogal mdia(iii) [] e [], vogais altas, nos verbos de vogal temtica /i/, vogal alta

    Assim, e deixando por discutir outros aspetos que constituem ex-cees, a projeo do trao de altura da vogal temtica sobre a vogaldo radical representa-se como segue:

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    Assimilao do trao de altura pela vogal do radical3.4.

    V1 ]Tema

    V3

    |Voclico Voclico

    Altura

    Em consequncia da projeo da altura da vogal temtica, nosverbos da primeira conjugao as vogais do radical cam baixas, nasegunda cam mdias e na terceira cam altas.

    ABAIXAMENTODAVOGALDORADICAL4.Nas formas em que a vogal temtica no suprimida, ou seja,

    nas 2 e 3 pessoas do singular e na 3 do plural do Presente do In-dicativo, as vogais acentuadas do radical so todas baixas nas trsconjugaes:

    Formas com vogal baixa4.1.

    l[]vas m[]ras d[]ves m[]ves f[]res d[]rmesl[]va m[]ra d[]ve m[]ve f[re d[]rme

    l[]vam m[]ram d[]vem m[]vem f[rem d[]rmem

    A proposta de explicao da ocorrncia destas vogais baixas aseguinte: elas so o resultado de um processo de abaixamentoqueatua sobre as vogais do radical nas formas em que a vogal temticano foi suprimida.

    Se lembrarmos agora que a primeira pessoa do singular tem no

    nvel fontico uma vogal com a altura da temtica, vericamos queessa vogal muda conforme as conjugaes (ver 4.2.). Mas as vogais

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    das outras formas verbais (as segunda e terceira do singular e tercei-ra do plural) que receberam a aplicao da regra de abaixamentoso

    todas baixas, alternando assim com a primeira pessoa do singularnas 2 e 3 conjugaes. (ver mais uma vez 4.2.).

    Formas com aplicao da regra de abaixamento

    l[]vo m[]ro d[]vo m[]vo f[]ro d[]rmo

    l[]vas m[]ras d[]ves m[]ves f[]res d[]rmesl[]va m[]ra d[]ve m[]ve f[re d[]rme

    l[]vam m[]ram d[]vem m[]vem f[rem d[]rmem

    Encontra-se assim, neste conjunto de formas, uma outra alter-nncia de altura das vogais, resultante de um processo especco deabaixamento. Esta alternncia no se verica na comparao entreas trs conjugaes (como no caso da harmonizao voclica) masconstata-se entre as formas de cada um dos verbos das segunda eterceira conjugaes como vemos em 4.2.

    Resumindo: a harmonizao voclica dos verbos em portugus um processo de assimilao da altura da vogal temtica pela vogal doradical. Essa assimilao segue-se supresso da vogal temtica quedeixa o seu n de altura como um segmento utuante que se projetasobre a vogal do radical. Todo este processo precede a aplicao doacento de palavra. O abaixamento das vogais do radical nas formasem que a vogal temtica no foi suprimida um processo diferente

    da harmonizao que atua quando o acento j est aplicado.Tendo presente (i) que a diferena entre dois tipos de vogais m-dias que funcionam na distino entre formas verbais nos verbosdo portugus, e (ii) que outras lnguas podem no apresentar estetipo de oposies distintivas, deve integrar-se a explicitao desteproblema no ensino do portugus como lngua estrangeira ou lnguasegunda. A relao entre a abertura das diferentes vogais do radicale as respetivas vogais temticas uma questo que merece ateno

    mesmo no mbito do ensino da lngua como materna.

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    AINDAASVOGAISTNICAS5.

    A referncia a representaes lexicais no exclusiva do apa-relho terico da fonologia generativa. O lxico faz parte do conhe-cimento da lngua que possuem os falantes, e, nesta perspetiva, nolxico que esto inscritas as alternncias de altura das vogais quecriam oposies distintivas entre nomes como os exemplos dadosem (2.) de bola[bl ]/[b l ], com a mesma ortograa mas com dife-rentes vogais na lngua oral, ou entre um nome e uma forma verbalcomoselo[slu]

    N,/[s

    lu]V9. Ao referir as representaes lexicais no

    posso deixar de pr em relevo a importncia do conhecimento dolxico para o ensino da lngua materna ou estrangeira. As represen-taes lexicais dos radicais que fazem parte do lxico e dos outroselementos que fazem parte da constituio interna das palavras per-mitem que se compreendam as formas de superfcie sobre as quaisj se aplicaram processos fonolgicos e morfolgicos. O ensino naaprendizagem de uma lngua ter de ter em conta caractersticas des-te tipo obtidas quer por memorizao dos aprendentes, quer porque

    o professor conhece e est consciente dos processos da lngua que acaracterizam e podem determinar variedades diferentes.10

    Existem no entanto variaes que no provocam oposies dis-tintivas e que devem ser consideradas no ensino da lngua. Algumasdecorrem do contexto em que as vogais esto inseridas. Por exem-plo, as vogais seguidas de consoante nasal no so produzidas comobaixas nas normas padro do PE e do PB (antes de /m/ ou /n/ a vogaltnica nunca pode pronunciar-se como baixa, mas torna-se mdia

    como [ ] em cama[km], [o] emsono, [snu] ou

    [sou])11.A variao no distintiva pode resultar de outros fatores como

    a proximidade acstica entre segmentos. Exemplos desta variaoque no interfere no signicado encontram-se por comparao entre

    9 Embora a vogal baixa se possa explicar por harmonizao voclica como se diz em 4.

    10 A oposio que se d num par mnimo em que as vogais so distintas tambm ortogra-a por exemplo,fala/la[fl ]/[fl ] ou murro/morro[mRu]/[mRu] torna-se mais fcil deapreender.

    11 Vogais baixas seguidas de consoante nasal ou vogais baixas nasalizadas caracterizamdialetos no-padro.

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    diferentes estdios da lngua, como as vogais baixas e mdias repre-sentadas pelas letras e que, no portugus antigo, tinham

    uma distribuio diferente do portugus atual, ocorrendo em poesiasda poca rimas entre eterno,governoe inverno, entre desprezae al-teza, ou entresenhorae embora.12Tambm esta variao das vogaismdias est presente nos dialetos atuais do portugus europeu e bra-sileiro, provocando a pronncia varivel de palavras como dezoito[dizjtu]/[dizjtu] em PE e [dizjtu]/[dizjtu] em PB. A comparaoentre dialetos e socioletos evidencia tipos de variao da vogal acen-tuada que no se restringem ao trao de altura, mas podem abranger

    outros traos distintivos como, por exemplo, o ponto de articulao.Em dialetos do PE existem exemplos de vogais recuadas e no pala-tais como /u/ e /o/ pronunciadas com palatalizao (uva, []va;pou-co, p[]co; boi,b[]i). No ensino da lngua este tipo de variao nodeve ser considerado um erro porque decorre do contexto dialetal ousocial em que o aprendente est integrado.

    COMPORTAMENTODASVOGAISEMSLABA6. TONAUma das diferenas claras e evidentes no nvel oral quando con-

    trastamos o portugus europeu e o brasileiro situa-se na rea dass-labas no acentuadas(tonas). No pode analisar-se esta diferenase nos restringirmos s vogais que integram essas slabas mas temosde considerar a slaba como um constituinte prosdicoda lngua

    cuja segmentao cognitivamente mais simples do que a segmen-tao em elementos fonolgicos isolados. Compare-se a diviso depalavraem slabas: ou em segmentos fonticos: tanto uma pessoano alfabetizada como uma criana em idade pr escolar podem comfacilidade dividir em pedaos o exemplo (pa-la-vra) mas ser maisdifcil distinguir todos os segmentos fonolgicos que o constituem([p]-[ ]-[l]-[a] [v]-[ ]-[ ])13. Contudo, essa diferena no das mais

    12 Ver, por exemplo, Mateus e Nascimento (2005).

    13 Na variedade brasileira o primeiro [a] mais audvel do que o [ ] europeu.

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    notrias. Para analisar as reais distines, devemos ter presente aestrutura interna da slaba.

    Estrutura da slaba6.1.

    Quando consideramos as palavras , p, par, constitudas poruma slaba, vericamos que em todas elas est presente a vogal [a],ela o ncleodaRima. A consoante que a precede empe empar oAtaque; a nal depar a Coda. Da unidade silbica dependemo ataque e a rima, e desta dependem o ncleo e a coda. A estruturada slaba est portanto organizada hierarquicamente como se repre-senta adiante nas slabas da palavrapares (o sinal convencional deslaba []; [R] indica a rima, [Cod], a coda).

    A R A R

    N N Cod

    p a r e s

    O Ataque e os ncleos vazios6.1.1.

    Todas as consoantes isoladamente podem ser ataquede slabas.Contudo, uma sequncia de duas consoantes est sujeita a restries,a principal oprincpio de sonoridade denido como segue:

    Princpio de Sonoridade

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    A sonoridade dos segmentos que constituem a slaba aumenta a partir do

    incio at ao ncleo e diminui desde o ncleo at ao m14

    Assim, os ataques formados por uma oclusiva seguida de umafricativa (por exemplo, [ps]) infringem o princpio de sonoridade,alis sujeito tambm condio de dissimilaridadeque restringe aformao de ataques em que as duas consoantes seguidas no man-tenham entre si uma certa distncia de sonoridade (por exemplo,[bl] possvel mas [vl] desaconselhvel). Os princpios e as res-tries tm consequncias diversas sobretudo a nvel da oralidade e

    so um dos fatores mais inuentes na diferena entre as duas varie-dades da lngua.

    Em portugus europeu muitas sequncias em ataque de slabaviolam o princpio de sonoridade como as includas nas seguintespalavras:

    [pt] - captar [gn] -gnomo

    [bt] - obter [bs] - absurdo [pn]-pneu

    [bd] - abdmen [dv] - advertir [tm] - ritmo

    [dk] - adquirir [dm] - admirar [tn] - tnico

    As sequncias destes exemplos infringem o princpio da sonori-dade e em certos casos a condio de dissimilaridade 15.Estas vio-laes vericam-se no nvel fontico (ou nvel oral), mas no se

    vericam no nvel fonolgico. Neste nvel pode pr-se a hiptese deque as duas consoantes constituem o ataque e a coda de uma slaba,e entre elas se integra um ncleovazio. Em (i) e (ii) esto argumen-tos que sustentam esta hiptese:

    14 A sonoridade intrnseca dos segmentos permite a elaborao de uma escala, aqui apre-sentada no sentido crescente.Escala de sonoridade: consoantes oclusivas (no-vozeadas, vo-zeadas) < fricativas (no-vozeadas, vozeadas) < nasais < lquidas (vibrantes, laterais) < glides< vogais (altas, mdias, baixas). A denio atual de princpio de sonoridade est na basedos tradicionais grupos prprios constitudos por oclusivas seguidas de lquidas, as nicasconsideradas permitidas pela gramtica tradicional das lnguas romnicas.

    15 A anlise da slaba em portugus europeu tem maior desenvolvimento em Mateus et al.(2003, Cap. 26).

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    i) Ao pronunciar pausadamente uma palavra que integre uma sequncia de

    consoantes no aceitvel pelo princpio da sonoridade, frequente, na ln-

    gua oral, inserir-se uma vogal entre essas consoantes. No PE a vogal inse-

    rida [i]16. Esta insero ocorre em produes infantis, como por exemplo

    em *afeta [f it ] ou *pacto[pkitu] mas tambm pode ocorrer em produ-

    es de falantes adultos se lhes for pedida uma diviso silbica. No PB a

    vogal inserida [i]: uma insero que ocorre com muita frequncia como

    empsicologia[pi-sikolo], absurdo[abi-s -du], captar[kapi-t ]

    ii) Quando se faz uma translineao (diviso grca de uma palavra), co-

    mum haver hesitao na separao das letras que correspondem a uma

    sequncia de consoantes inaceitvel A hesitao pode provir da interpre-tao de palavras como admirarou advertirentendidas como tendo um

    prexo /ad/ (ad-mirar e ad-vertir) que explica a etimologia e permite a

    interpretao da consoante [d] como a coda da primeira slaba17. Tambm

    se podem aceitar separaes silbicas como a-dmirar em que a consoante

    [d], a primeira da sequncia [dm], passa a fazer parte do ataque da segunda

    slaba. Se [dm] fosse um grupo admissvel (p. ex. [d ]), o falante no sepa-

    rava as duas consoantes e sabia que ambas pertenciam ao ataque da sla-

    ba. Mas na anlise que estou a desenvolver as sequncias como [dm] so

    inaceitveis e, portanto, o falante teria que recorrer hiptese do ncleo

    vazio. Neste ltimo caso considera-se que as duas consoantes pertencem a

    duas slabas e entre elas existe um ncleo vazio

    Como se verica, h estratgias diferentes nas duas variedadesdo portugus para impedir sequncias de consoantes no aceitveis

    na lngua oral: PE introduz [i] e PB [i]. Estas vogais, que preenchemncleos vazios de acordo com a hiptese apresentada no tratamentoda diviso silbica, tambm ocorrem em outros contextos (em slabanal quando a consoante em coda no [l] ou [ ] comosebe[s

    bi]/ [s

    bi];em slaba inicial grafada como - espao, estar, escutaPE [] / PB[i]).

    16 Esta vogal tambm pode ser representada por []. A utilizao de [] responde melhor representao das caractersticas da vogal neutra do portugus europeu, de acordo com ar-maes de foneticistas e dialectlogos.

    17 J os timos latinos de absurdoou captarno permitem que a diviso evidencie a etimo-logia e portanto a translineao no pode recorrer a essa interpretao.

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    36 Lingstica 30 (2), Diciembre 2014

    c)tonas ps-tnicas no nais22 (d)tonas naisl23

    PE PB PE PB

    [i] sbito s[bi]to s[bi]to[u] cmoda c[mu]da c[mo]da [] jure ju[ ji[] sbado s[b]du s[ba]du [] jura ju[] j][] vrtebra vr[t]bra vr[ti]bra [u] juro j[u] ju[u] rgulo r[gu]lo r[gu]lo

    Em (iii)-(vii) esto resumidas as constataes decorrentes da ob-servao dos exemplos apresentados:

    iii) Os exemplos de (a) mostram que todas as vogais fonolgicas podem

    integrar slabas tnicas tanto em PE como em PB.

    iv) Os exemplos de (b) mostram que as vogais /i/ e /u/ se realizam em slaba

    tona como as tnicas correspondentes, tanto em PE como em PB.

    v) Ainda nos exemplos de (b), a realizao das vogais mdias /e/ e / / cons-

    titui uma das maiores diferenas entre as duas variedades: realizam-se

    como [i] em PE o que signica uma alterao nos traos de ponto de

    articulao e de altura dessas vogais, que passam a [+recuadas] e tambm

    a [+altas] e em PB mantm-se com os mesmos traos das tnicas24.

    vi) As vogais mdias /o/ e / / realizam-se em PE como [+altas] e no mos-

    tram alterao em PB. A vogal /a/ na slaba tona passa a [ ], [-baixa],

    em PE e no altera em PB25.

    vii) Os exemplos de (c) e (d) mostram mais uma vez que no PE e no PB, em

    slaba tona ps-tnica, as vogais /i/ e /u/ no alteram. As vogais mdias

    [-recuadas], [e] e [ ], reduzem--se a [i] no PE e a [i] no PB; as [+recu-

    adas], [o] e [ ], convergem em [u] em ambas as variedades. A vogal [ ]parece ocorrer nas duas variedades em nal absoluto.

    22 As vogais tonas ps-tnicas no nais includas em (c) no so determinadas a partir decontrastes como nos exemplos de (a) e (b) por seguirem as regras gerais do PE e d PB.

    23 A vogal [i] pode encontrar-se em PE em posio nal, em algumas palavras importadasou cultas como txi[tksi] ejri [i], sendo no entanto excecional esta ocorrncia.

    24 possvel que frequentemente [e] e [ ] convirjam para [e], embora os dialetos baianose alguns nordestinos mantenham (ou mesmo realizem) ambas as vogais [-recuadas] como[+baixas], [ ].

    25 A no ser em nal absoluto.

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    37O COMPORTAMENTO DAS VOGAIS... / MARIAHELENAMIRA

    As alteraes do vocalismo tono no PE e no PB esto represen-tadas nos Quadros III e IV. As setas que apontam para as realizaes

    fonticas das tonas podem ser entendidas, num outro tipo de for-malizao, como regras gerais do vocalismo tono. O Quadro IIIdiz respeito ao PE e o Quadro IV, ao PB. Estes quadros, que foramconstrudos a partir dos exemplos de 6.1.2.1., mostram de forma evi-dente, quando comparados entre si, a diferena de realizao entreas vogais tonas nas duas variedades.

    Quadro III. Alteraes gerais das vogais tonas do PE.

    +alta i u

    alta e obaixa

    +baixa

    arecuada +recuada

    Quadro IV.Alteraes gerais das vogais tonas do PB.

    +alta i u

    alta e obaixa

    +baixa a

    recuada +recuada

    Vejamos ainda um outro comportamento das vogais tonas em PEque caracteriza a produo oral desta variedade: a subida das vogais

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    representada no Quadro III tem como consequncia o seu frequentedesaparecimento (ou a sua supresso) na lngua oral, nomeadamente

    da vogal [i] que ocorre entre consoantes ou em m de palavra depoisde consoante26(pequeno, decifrar terreno, separa p.ex. meter[mt ],despegar [dpg], bate[bt], toque[tik], desprestigiar[dptii]).Nestas palavras e em outras semelhantes encontramos no nvel fon-tico a sequncias de duas consoantes, de trs, de quatro e at cincoconsoantes seguidas o que torna muitas vezes a perceo das frasesdifcil mesmo para os falantes de PB. importante que na aquisi-o da lngua materna e na aprendizagem do portugus como lngua

    segunda ou estrangeira o ensino tenha em conta as diferenas aquianalisadas porque elas so centrais na comunicao entre falantes damesma lngua sobretudo quando se trata da mesma lngua.

    Finalmente, numa perspetiva de ensino indispensvel que oaprendente da variedade PE tome conscincia das excees s re-gras gerais at aqui referidas. Em 6.1.2.2. esto includos exemplosdessas excees.

    6.1.2.2. Exemplos de excees s regras do vocalismo tono em PE

    (a) Slabas terminadas por [l] e slabas com ditongo em ncleo de slaba

    salto [] saltar [a]

    mal [] maldade [a]

    relva [ ] relvado [ ]

    belo [ ] beldade [ ]

    incrvel [ ]

    golpe [] golpear [ ]

    volta [] voltar [ ]

    solta [] soltar [o]

    volvo [] volver [o]

    soldo [] soldado [o]

    26 Tambm a vogal [u] resultante da subida das vogais [o] e [ ] pode ser suprimida emboramenos frequentemente do que [i].

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    39O COMPORTAMENTO DAS VOGAIS... / MARIAHELENAMIRA

    bairro [j] bairrista [aj]

    gaita [j] gaitinha [aj]

    loira [j] aloirada [oj] boi [j] boiada [oj]

    causa [w] causar [aw]

    Nos exemplos de (a) as vogais tonas no se elevam e tambmno so suprimidas ou seja, no esto sujeitas regra gera do PE por integrarem slabas com [l] em coda ou por fazerem parte de um

    ncleo com ditongo, portanto, em consequncia do contexto silbicoa que pertencem.

    (b) Excees no analisveis por aplicao de regras

    Existem outras excepes ao comportamento regular das vogaistonas em PE que esto exemplicadas em (b). A realizao das vo-gais tonas nestas palavras obriga a uma memorizao por parte dos

    aprendentes de portugus, visto no estarem sujeitas s regras geraisde aplicao em slaba tona. Vejam-se exemplos.

    invasor [a]

    relator [a]

    redaco [a]

    protector [ ]

    absorver [ ]

    adoptar [ ]

    pregar [ ]27

    corar [ ]

    aquecer [ ]

    27 As vogais nestes ltimos exemplos resultam de uma crase, o que as impede de se eleva-rem e muito menos de serem suprimidas.

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    Termino salientando a importncia do estudo das variantes deuma lngua de modo a que se perceba e se aceite a especicidade

    das variedades a par dos aspetos comuns. Num mundo globaliza-do em diversas reas vivenciais, existem forosamente lnguas queso pontes entre comunidades, lnguas que so portadoras de foraeconmica e empresarial. Mas a seu lado permanecem as lnguasidenticadoras de uma comunidade que so um suporte e um enri-quecimento da sua histria e da sua cultura.

    A lngua portuguesa uma lngua pelo mundo em pedaos re-partida, utilizada no quotidiano por muitos milhes de pessoas e

    distribui-se por um espao imenso. natural, portanto, que a sua va-riao seja notria e que o estudo dessa variao se torne a atrativo eestimulante. Porm o facto de, como linguistas, investigarmos a di-versidade que qualquer lngua apresenta no justica a perspetiva decriao de novas lnguas por diviso das existentes. Pelo contrrio, oestudo e o consequente ensino das variantes de uma lngua so parteimportante da sua riqueza e do fortalecimento da sua identidade.

    REFERNCIASBIBLIOGRFICAS7.Andrade Pardal, Ernesto d (1981). Sobre a alternncia voclica em portu-

    gus,Boletim de Filologia,26: 70-81.Cunha, Celso e Lus Felipe Lindley Cintra (1984).Nova gramtica do Por-

    tugus contemporne, Lisboa, Joo S da Costa.Freitas, Maria Joo e A. Santos (2001). Contar (histrias) de slabas. Des-

    crio e implicaes para o Ensino do Portugus como Lngua Mater-na,Lisboa, Edies Colibri e Associao de Professores de Portugus.

    Freitas, Maria Joo, Celeste Rodrigues, Teresa Costa e Adelina Castelo(2012). Os sons que esto dentro das palavras, Descrio e Implica-es para o Ensino do Portugus como Lngua Materna. Lisboa: Edi-es Colibri e Associao de Professores de Portugus.

    Mira Mateus, Maria Helena, Isabel Fal e Maria Joo Freitas (2005),Fon-tica e Fonologia do Portugus,Lisboa, Universidade Aberta.

    Mira Mateus, Maria Helena e Ernesto dAndrade (2000), The Phonology ofPortuguese,Oxford, Oxford University Press.

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    41O COMPORTAMENTO DAS VOGAIS... / MARIAHELENAMIRA

    Mira Mateus, Maria Helena e Maria Fernanda Bacelar do Nascimento(orgs.) (2005). A Lngua Portuguesa em Mudana, Lisboa, ILTEC,

    CLUL e UA.Mira Mateus, Maria Helena et al.(2003). Gramtica da Lngua Portugue-sa,Lisboa, Caminho.

    Nunes. J. J. (1919). Compndio de gramtica histrica portuguesa,Lisboa,Livraria Clssica Editora (4.a ed. Lisboa, Clssica Editora, 1951).

    Piel. J. M. (1944). A exo verbal do portugus,Biblos,20: 395-404.Williams, E. B. (1938). From Latin to Portuguese. Historical phonology

    and morphology of the portuguese language. Philadelphia: University

    of Pennsylvania. (Trad. part. de A. Hoauaiss. 1961.Do Latim ao Portu-gus. Fonologia e morfologia histricas da lngua portuguesa,Rio deJaneiro, MECIINL).

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    LINGSTICA/ VOL. 30 (2), Diciembre2014:

    ISSN 1132-0214 impresa

    ISSN 2079-312X en lnea

    A FONOLOGIA EM DADOS DE ESCRITAINICIAL DE CRIANAS BRASILEIRAS

    PHONOLOGYINDATAONEARLYWRITINGPRODUCEDBYBRAZILIANCHILDREN

    ANARUTHMORESCOMIRANDAUniversidade Federal de Pelotas

    [email protected]

    Neste artigo, so analisados dados de escrita inicial como o obje-tivo de promover discusses acerca das relaes entre as escolhas

    grcas das crianas e o conhecimento lingustico, especialmente, ofonolgico. O foco incide sobre a fonologia das consoantes palatais,as soantes, / / e //, e as fricativas, // e //, ambas consideradascomplexas em estudos do portugus. Os argumentos para a caracte-rizao desses segmentos como complexos ao serem confrontadoscom dados de escrita inicial mostram que as graas das crianas es-tudadas, no que diz respeito s soantes, corroboram a idia de con-soante complexa acrescendo evidncias s discusses. No que tange

    s fricativas, especicamente, em relao aos ditongos fonticos, osdados de aquisio da linguagem no trazem evidncias referentes constituio complexa das consoantes, mas revelam o efeito daapropriao do sistema alfabtico sobre a produo dos ditongos, oque pode ser interpretado como indcio de mudana representacio-nal das fricativas palatais.

    Palavras-chave: aquisio da linguagem; fonologia e ortograa;soantes palatais; ditongos fonticos

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    In this paper, data on early writing are analyzed in order to promotediscussions about relations among childrens spelling choices and

    their linguistic knowledge, mainly the phonological one. Emphasisis given to the phonology of palatal consonants, the sonorants, / /and //, and the fricatives, // and //, which have been consideredcomplex in studies of the Portuguese language. Arguments used tocharacterize these segments as complex ones, when they are com-

    pared with data on early writing, have shown that these childrensspelling, regarding sonorants, agrees with the idea of complex con-sonant and provides evidence to the discussions about the issue.

    Concerning fricatives, especially in terms of phonetic diphthongs,data on language acquisition have not provided any evidence of thecomplex constitution of consonants. However, they have revealedthe effect of the appropriation of the alphabetic system in the pro-duction of diphthongs, a fact that may be interpreted as a clue to therepresentational change of the palatal fricatives.

    Keywords: language acquisition; phonology and written; palatalsonorants; phonetic diphthongs

    INTRODUO1.A relao entre a escrita inicial e a fonologia tem sido abordada

    a partir de diferentes perspectivas, dentre as quais trs principais po-dem ser mencionadas: estudos que visam analisar os erros de escritaproduzidos pelas crianas com base na idia de que eles so ree-

    xos de processos fonolgicos, como aqueles encontrados na aqui-sio da linguagem e descritos por Stampe (1973) (Varella 1993;Ilha 2003); outros que enfocam o papel da conscincia fonolgicapara o desenvolvimento da escrita, largamente desenvolvidos apso estudo inaugural de Bradley e Bryant (1983); (Cardoso-Martins1991; Freitas 2004; Rigatti-Scherer 2008); e por m, os que, na tri-lha de Abaurre (1988, 1991), abordam o dado de escrita como fontepara reexes acerca da fonologia da lngua e/ou do conhecimento

    fonolgico construdo pelas crianas ao longo do desenvolvimento(Miranda 2008, 2009, 2012; Cunha 2004, 2010; Adamoli 2012).

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    45A FONOLOGIA EM DADOS DE ESCRITA... / ANARUTHMORESCO

    Neste estudo1, os dados de escrita inicial sero analisados na linhada terceira vertente de estudos recm referida. O erro (orto)grco2

    tomado pelas investigaes desenvolvidas pelo GEALE3

    como umdado capaz de revelar as hipteses das crianas sobre o sistema queelas esto a adquirir e, sobretudo, como um elemento revelador doconhecimento lingustico construdo desde os primeiros anos de de-senvolvimento da linguagem at o momento em que elas ingressamno processo de escolarizao.

    A fonologia nos/dos dados de escrita inicial ser explorada, nes-te artigo, com o objetivo de fomentar duas discusses principais: a

    primeira referente compatibilidade de um modelo terico da fono-logia no-linear, especicamente a autossegmental, com dados deescrita inicial que revelam aspectos do processo desenvolvimental;a segunda, ao efeito de reciprocidade entre as duas modalidades dalngua, isto , entre fala e escrita. As graas da soante lquida palatalsero tematizadas com o objetivo de subsidiar a primeira discusso;e dados de fala e de escrita de crianas dos anos iniciais referentesaos ditongos fonticos, a segunda.

    A abordagem aos dados de escrita inicial tem como pressupostastrs idias centrais: i) a aquisio da linguagem um processo dedescoberta orientada, guiada pela capacidade que as crianas tmpara construir gramticas (Kiparsky e Menn 1977); ii) aquisioda escrita parte do processo de aquisio da linguagem (Abaurre1991); iii) a aquisio de um sistema de escrita alfabtica cria ascondies necessrias para a atualizao do conhecimento fonolgi-co j adquirido (Miranda 2012).

    1 O presente artigo integra pesquisa apoiada pelo CNPq Processo n 309199/2011-5.

    2 O uso de parnteses tem como objetivo demarcar a diferena existente entre erros rela-cionados s regras do sistema ortogrco propriamente dito, os quais envolvem as relaesmltiplas entre fonemas e grafemas, denidas contextual ou arbitrariamente, e aqueles produ-zidos na fase inicial do desenvolvimento da escrita, muitas vezes motivados por questes re-presentacionais ou ainda por inuncia da fala, isto , referentes ao funcionamento fonolgicoda lngua.

    3 O Grupo de Estudos sobre Aquisio da Linguagem Escrita (GEALE), em funcionamen-to desde 2001, desenvolve estudos sobre os erros (orto)grcos produzidos por crianas dassries/anos iniciais.

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    O artigo est estruturado em trs sees, alm desta introduo.Na primeira, so tecidas consideraes sobre a aquisio da fono-

    logia e da escrita bem como sobre o modo como o conhecimentofonolgico se manifesta em dados de escrita inicial. Em seguida, sofocalizadas as consoantes palatais, as quais so contextualizadas doponto de vista da diacronia, da sincronia e da aquisio da lingua-gem. Por m, so apresentadas as consideraes nais.

    APONTAMENTOSSOBREAAQUISIODA2.LINGUAGEM: FONOLOGIAEESCRITA

    Autores que se voltam para questes desenvolvimentais, taiscomo Kiparsky e Menn (1977), Karmiloff-Smith (1986, 1992) eMacken (1992), por exemplo,concordam com a viso segundo aqual h uma capacidade humana especca para a construo de gra-mticas, sendo o processo de aquisio da linguagem resultado daintegrao de princpios gerais e padres de lnguas particulares sob

    o controle de um mecanismo central de aquisio, responsvel pelaformao de hipteses por parte das crianas desde uma idade muitoprecoce. Esse mecanismo libera e limita as hipteses que possibi-litam criana a descoberta dos padres de sua lngua e tambm acriao de regras que atuam no sistema em aquisio. Assumir umaabordagem como essa implica em preservar a ideia de desenvol-vimento cognitivo que, intrinsecamente, pressupe mudana, bemcomo valoriza a variao e a presena de diferenas individuais, no-

    tvel no processo de desenvolvimento da linguagem, sem que sejanecessrio, para isso, abrir mo de estruturas universais e padresgerais de aquisio.

    Para pensar no surgimento da fonologia, Macken (1992) argu-menta em favor da idia de que as primeiras produes das crianasapresentam uma congurao que explora mais a prosdia do que osegmento e sua estruturao interna. Para a autora, templatesde pa-lavras, segmentos e traos so adquiridos de forma simultnea, mas

    com predomnio dos primeiros. Aos poucos, a palavra deixa de sero elemento nuclear e os segmentos e os traos ganham centralidade.

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    A aquisio fonolgica, numa perspectiva distinta daquela ado-tada pela Fonologia Natural5, tem sido tratada como um processo de

    constante incrementao das representaes lexicais, as quais vo setornando mais complexas e completas ao longo do desenvolvimen-to lingustico (Matzenauer 1996; Lle 1997; Matzenauer e Miranda2012; entre outros). Especicamente, em se considerando a fonolo-gia da lngua, pode-se pensar que o conjunto de segmentos, prefe-rencialmente no-marcados no incio da produo fonolgica, vaisendo ampliado por meio da especicao de traos mais marcadosat que o inventrio da criana assemelhe-se ao da lngua alvo. Tal

    evoluo observada tambm em relao prosdia, medida queslabas cannicas CV desdobram-se em estruturas mais complexastais como CVC e CCV, por exemplo.

    Seguindo essa linha de raciocnio, entende-se que o inputtem pa-pel relevante no processo desenvolvimental, uma vez que funcionacomo gatilho para a construo do conhecimento lingustico que vaisendo internalizado. um jogo de interao entre mecanismos ge-rais de apreenso da gramtica e o input lingustico de que a criana

    dispe.No que diz respeito aquisio da escrita, considerada parte in-

    tegrante do processo de desenvolvimento da linguagem, conformemencionado anteriormente, importante fazer referncia s conquis-tas cognitivas necessrias para que uma criana ou mesmo um adul-to se aproprie de um sistema que, diferentemente da fala, pressupeinstruo sistemtica e explcita para que possa ser apreendido. Ascrianas aprendem a falar naturalmente em um ambiente no qual alinguagem esteja disponvel, mas no a ler espontaneamente, apesarde fazerem parte de uma sociedade grafocntrica, onde, em maior oumenor grau, materiais de leitura povoam o cotidiano.

    De acordo com a perspectiva psicogentica (Ferreiro e Teberosky1984), a criana dever compreender que letras simbolizam algo e

    5 A Fonologia Natural proposta por Stampe (1973 [1969]) considera que o processo de

    aquisio fonolgica decorre da supresso de Processos Fonolgicos (operaes mentais ina-tas). As representaes fonolgicas j esto constitudas desde o incio e a diferena entre aproduo do adulto e da criana somente ser superada medida que tais processos sejamsuprimidos.

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    que este algo a lngua em sua dimenso sonora, ou seja, so os ele-mentos da segunda articulao, aqueles no signicativos, que de-

    vero estar sob anlise. Essa no , portanto, uma tarefa trivial e vaiexigir um grande esforo cognitivo da parte do aprendiz acostumadoa prestar ateno no signicado lingustico, em primeiro plano nassituaes comunicativas de uso da lngua6. Haver, neste processo,a necessidade de os aprendizes perceberem que a cadeia sonora pro-duzida e compreendida no apenas contedo, mas tambm forma.Isso implica dizer que tero de perceber que a linguagem escrita um modo de representao da lngua, no apenas em seus aspectos

    signicativos mas tambm em seu aspecto sonoro. Segmentos e s-labas, antes subsumidos no uxo da fala, devero ganhar contornosconceitualmente acessveis.

    Em referncia ao sistema lingustico, Saussure (1916: 87) armaque os falantes, diante de mecanismo to complexo,somente pode-ro compreend-lo pela reexo, pois mesmo fazendo uso cotidianodele, ignoram-no profundamente. Tal observao remete diferenaentre o saber a lngua, no sentido de utiliz-la apropriadamente

    nos mais distintos contextos comunicativos e o saber sobre a ln-gua, tomando-a como objeto de conhecimento. Esse um cami-nho interessante tambm para se pensar sobre o efeito decorrenteda apropriao do sistema de escrita no processamento lingusticoo qual, inexoravelmente, ser modicado, uma vez que, a partir dacompreenso dos princpios de um sistema como o alfabtico, asunidades de segunda articulao adquirem novo estatuto7.

    As condies propcias para a retomada de conhecimentos lin-gusticos j construdos esto, pois, criadas e inicia-se assim umperodo que se caracteriza por uma atualizao desses conheci-mentos, especialmente aqueles concernentes fonologia. O termoatualizao, neste artigo, empregado na sua acepo lingustica

    6 Rigatti-Scherer (2011: 230), durante a realizao de um teste de conscincia fonolgicano incio do primeiro ano escolar, pergunta a uma criana em idade escolar: Se eu tirar o pide piolho, como ca? A criana responde: lndea. Tal exemplo, assim como muitos outrosmencionados pela autora, ilustra o fato de o foco da criana no estar na forma, mas no signi-cado.

    7 Conferir Firth (1998).

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    e corresponde ideia de emprestar expresso fsica a uma unidadeabstrata. Lyons (1968), faz referncia viso saussureana segun-

    do a qual uma unidade formal do plano da expresso, uma formasubjacente, possui uma atualizao correspondente em substncia:fonemas so atualizados em fones, morfemas, em morfes e repre-sentaes fonolgicas (sons e slabas) em unidades de fala. Note-seque tais constructos pertencem fala, considerada a substncia pri-mria do plano da expresso. A escrita, por seu turno, a substnciasecundria que se manifesta em traos visveis as letras, tornandopossvel um outro tipo de atualizao, pois usurios da lngua po-

    dem revisitar o conhecimento j construdo.Neste sentido, possvel pensar que o conhecimento fonolgico

    atualizado na produo oral e tambm na escrita. As unidades so-noras formais da lngua so expressas por meio de sons e de letras,realizaes substanciais de unidades abstratas que independem dasubstncia em que se atualizam. A aquisio da escrita, com baseneste raciocnio, cria uma oportunidade concreta para que a crianaatualize o conhecimento lingustico j adquirido de maneira natural

    e espontnea em seus primeiros anos de vida.O diagrama, apresentado a seguir, em (1), ilustra a relao entre o

    conhecimento fonolgico e o processo de aquisio da escrita:

    (1) relaes entre o conhecimento fonolgico e a aquisio da escrita

    Fonte: Elaborao prpria

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    A representao em (1) procura captar o conjunto de idias ex-

    pressas nesta seo, a saber: princpios gerais em contato com oinputlingustico redundam em um conhecimento sobre a fonologiada lngua especca que inclui tanto informaes segmentais comoprosdicas. Esse conhecimento funciona como insumo para a escri-ta alfabtica inicial e, nesse processo, cria-se o contexto para umanova atualizao do conhecimento j adquirido. Ao voltar-se para alngua, neste outro momento do desenvolvimento, contemplando-aem sua dimenso formal, o aprendiz pode reestruturar suas repre-

    sentaes, especialmente nas situaes em que houver discrepnciaentre aspectos de sua fonologia e a da lngua alvo, o modelo adulto. necessrio referir que esta formulao, derivada da abordagemadotada neste texto e de seu escopo, no pretende reduzir o comple-xo processo de aquisio da escrita apenas aos efeitos do conheci-mento lingustico. Tem-se em mente que a experincia derivada dasprticas de letramento exercem papel relevante durante a aquisioda escrita. O foco do artigo, no entanto, incide basicamente sobre

    aspectos lingusticos relacionados ao processo.

    FONOLOGIAE(ORTO)GRAFIA3.Nesta seo, sero trazidos resultados de estudos que enfocam

    os dois fenmenos em destaque neste artigo: as soantes palatais eos ditongos fonticos. Nas subsees desenvolvidas a seguir, ser

    feita a caracterizao deste tipo de segmento para, logo aps, serapresentada a contextualizao dos fenmenos fonolgicos aborda-dos. A apresentao dos dados de aquisio fonolgica descritos naliteratura anteceder a anlise dos dados de escrita inicial, a m deque a fonologia que deles emerge possa ser discutida.

    Antes de desenvolver os tpicos especcos anunciados, impor-tante, porm, destacar a relevncia do dado de escrita que est sendotratado como relacionado fonologia, uma vez que os estudos reali-zados pelo GEALE, a partir da anlise de dados do Banco de Textos

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    sobre Aquisio da Linguagem Escrita (BATALE)8, mostram que hgrande incidncia de erros relacionados a aspectos da fonologia da

    lngua. A computao dos erros encontrados em, aproximadamen-te, duas mil produes escritas, os quais foram extrados dos textospertencentes ao primeiro estrato do Banco (cf. nota 8), mostra queerros do tipo fonolgico so encontrados sempre em maior nmeroque aqueles referentes ortograa9, em ambas as escolas estudadas(cf. Miranda 2013).

    A fonologia das consoantes palatais: diacronia, sincronia3.1. e aquisio da linguagem

    Com base em parmetros articulatrios, sons palatais so deni-dos como aqueles produzidos pela aproximao ou contato da parteanterior da lngua com o palato duro (Crystal 1988:192). No portu-gus, a classe das palatais inclui as consoantes /, , , /, todas elasenvolvidas em discusses fonolgicas produzidas tanto por indaga-

    es acerca de sua congurao interna como no que diz respeito aseu modo de funcionamento na diacronia, na sincronia e no processode aquisio da linguagem.

    8 O BATALE comeou a ser criado em 2001 e composto por vrios estratos: (i) textosnarrativos produzidos, entre os anos de 2001 a 2004, por crianas de 1 a 4 srie de duas es-colas, uma pblica e outra particular, da cidade de Pelotas-RS; (ii) textos narrativos de 1 a 4ano produzidos por crianas portuguesas da regio de Lisboa, em 2008; (iii) textos narrativos

    produzidos por crianas de 1 a 4 ano de duas escolas pblicas, da cidade de Pelotas-RS,coletados em 2009; (iv) textos longitudinais de 15 alunos de EJA, coletados em 2009 emescola pblica da cidade de Pelotas-RS; (v) textos narrativos de 1 a 3 ano produzidos porcrianas portuguesas da regio do Porto, em 2009; (vi) textos narrativos produzidos a partir deestimulao para a graa das soantes palatais, lh e nh por crianas de 1a a 4a srie de umaescola Pblica da cidade de Pelotas, em 2009; (vii) textos narrativos, descritivos e argumenta-tivos produzidos por crianas de 1 a 4 ano de uma escola pblica, da cidade de Pelotas-RS,coletados em 2013.

    9 A classicao utilizada para categorizar os erros divide-os em dois grandes grupos: er-ros motivados por questes ortogrcas (arbitrariedade e contextualidade do sistema) e errosrelacionados a questes fonticas e/ou fonolgicas (motivao fontica, fonologia da slaba

    e do segmento, segmentao no-convencional e acento grco, sendo hbridas estas duasltimas categorias, uma vez que informao grca e fonolgica interagem claramente ali). Oresultado da anlise do primeiro estrato mostra a seguinte distribuio entre os dois grandesgrupos, conforme Miranda (2013), 36.7% e 62.7%, respectivamente.

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    53A FONOLOGIA EM DADOS DE ESCRITA... / ANARUTHMORESCO

    Estudos diacrnicos mostram que, na evoluo do sistema con-sonantal latino, as soantes palatais que hoje integram o inventrio

    do portugus derivam de suas contrapartes alveolares, /l/ e /n/, tendopassado por vrias modicaes.

    De acordo com Cmara Jr:

    A molhada // o reexo 1) ou de um grupo de constritiva labial ou

    oclusiva surda seguida de /l/, em posio intervoclica (speculum >spe-

    clum > espelho, scopulum > scoplum > escolho; 2) ou de /l/ seguido

    de um secundrio /i/ assilbico (palea> palia> palha).A nasal /n/, por

    sua vez, provm: 1) do grupo /gn/ (agnum> anho, ligna > lenha); 2) de

    /l/ seguido de um secundrio /i/ assilbico (linea> linia> linha); 3) da

    nasalao de /i/ tnico, proveniente da reduo de /n/ entre esta vogal e

    /a/ ou /o/ (pinum > pio > pinho) (Cmara Jr 1975: 55).

    As soantes palatais, que no estavam presentes no sistemaconsonantal do latim, foram introduzidas no portugus a partir demudanas fnicas ocorridas na passagem do latim para o portugus.

    De acordo com Silva (1996), o timo da nasal , preponderantemen-te, a sequncia ni, enquanto a lateral palatal teria derivado de sequ-ncias mais variadas como li, lli, cl, gl, e pl, por processosamplos de palatalizao. Tais processos ocorreram exclusivamentena posio intervoclica, o que pode ser uma das explicaes paraa restrio posicional que sofrem essas consoantes no que diz res-peito posio que podem ocupar na palavra. Formas iniciadas pornh e lh so verdadeiras excees, constam apenas em alguns pou-

    cos emprstimos e, no raro, recebem uma vogal epenttica, comoilustram os exemplos [i]nhoque e [li]ama, para nhoque e lhama,respectivamente.

    As fricativas, assim como as soantes, no faziam parte do inven-trio latino, tanto a sonora, //, quanto a surda, //, surgem a partir deum processo condicionado por ambientes fonolgicos especcos.Em (2), esto sistematizados o casos que, de acordo com Williams(1973: 109-110), explicam o surgimento dessas palatais na passa-gem do latim clssico para o portugus:

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    (2) o surgimento das palatais no sistema de consoantes do portugus

    timo latino de // exemplo timo latino de // exemplog inicial seguido de eou i genuculum > geollho >

    joelho; gentem > gente

    grupo cl clauem > chave

    gprecedido de consoante eseguido de eou i

    longe > longe grupofl flammam >chama

    i consonntico inicial, [j] ianuarium > janeiro;iurare > jurar

    grupopl plagam >chaga

    i consonntico intervoclico [j] cuium > cujo scitervoclico seguidode eou i

    piscem > peixe

    d inicial+ i diria > jeira scess seguido de iconsonntico [j]

    bassium > baixo;fasciam > faixa

    d medial + i hodie > hoje x medial fraxinum > freixo

    Fonte: Elaborao prpria a partir de Wiliams (1973)10

    A evoluo do sistema consonantal latino, ainda de acordo com oautor, evidencia a inuncia da vogal alta coronal no surgimento dasconsoantes palatais na lngua portuguesa. Em razo da histria des-sas consoantes e tambm de seu funcionamento particular, estudio-sos do portugus atual tm argumentado em favor da idia de que aspalatais so consoantes complexas, no que tange sua constituiointerna (Wetzels 1992, 1997 e Matzenauer 2000).

    Uma consoante complexa assim denida por Clements e Hume(1995: 253), com base na geometria de traos, como um n de raizcaracterizado por ter ao menos dois traos de diferentes articulado-res orais, o qual representa um segmento com duas ou mais constri-es simultneas no trato oral.

    H duas interpretaes para as palatais pela geometria de traos:elas podem ser consideradas complexas como mostra (3) ou sim-ples, conforme (4):

    10 Os grupos consonantais, nem sempre derivaram em fricativas palatais, houve caso emque eles permaneceram e outros em que resultaram em encontros comgr, fr, pr, como em.

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    55A FONOLOGIA EM DADOS DE ESCRITA... / ANARUTHMORESCO

    (3) Representao da lquida palatal consoante complexa

    Na composio interna de //, em (3), possvel observar a pre-sena do articulador secundrio, formalizado como um n voclicoem cujo domnio esto o trao de ponto, [coronal], e o n de aberturaresponsvel pela expresso da altura voclica11. Seguindo-se a pro-

    posta de segmento simples para esta consoante, tem-se (4).(4) Representao da lquida palatal consoante simples

    Em (4), o trao [-anterior] o responsvel pela diferenciao,necessria s consoantes do portugus, entre a lateral alveolar /l/ e a

    11 Os trs valores negativos caracterizam a vogal alta.

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    palatal / /. Essa mesma oposio entre os valores do trao [anterior]ser decisiva para as oposies entre /n/ e //, /s/ e // e /z/ e //, no

    sistema. A repercusso da adoo de uma ou outra estrutura pode-r ser melhor observada adiante, quando os fenmenos fonolgicosque envolvem as palatais forem analisados.

    O comportamento das soantes palatais, seja da lquida seja da na-sal, alm de motivar a proposta de complexidade segmental, alimen-ta uma linha de argumentao referente sua complexidade pros-dica, o que levou Wetzels (1997) a posicionar-se em favor de umaestrutura geminada para as soantes palatais. Os fatos sincrnicos

    utilizados pelo autor como evidncia de geminao podem ser as-sim sintetizados: i) restrio posicional, que impede soantes palataisde ocuparem posio de borda na palavra, ambas somente podemocupar posio intervoclica (malha e manha); ii) restrio quan-to passagem do acento prosdico, palatais bloqueiam a passagemdo acento, que somente pode incidir sobre a slaba imediatamenteanterior (baralho mas no baralho); iii) restrio presena deditongos precedendo palatais, sequncias voclicas so silabica-

    das como hiatos (fu.i.nha mas no fui.nha). A postulao de umaestrutura geminada explica essa srie de bloqueios, uma vez quepressupe a existncia de uma coda preenchida pela soante que ocu-pa duplamente coda e ataque, como mostra a representao em (5),na qual se pode observar a linha dupla que liga a mesma raiz a doistempos fonolgicos, ocupando a posio de coda e a de ataque:

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    (6)

    classe natural ordem de aquisio

    plosivas p, t, k > b, d > nasais m, n >

    fricativas f, v, z > s,,

    lquidas l , r > ,

    Fonte: Elaborao prpria, seguindo Lamprecht et al.(2004)

    O quadro em (6) mostra um ordenamento que, em se conside-rando as classes naturais, condizente com estudos sobre aquisi-

    o fonolgica em lnguas diversas: plosivas e nasais so as pri-meiras classes a compor o inventrio das crianas. Essa constataoconverge para a tendncia universal j explicitada por Jakobson([1941]1968) em seu estudo seminal sobre universais lingusticos,aquisio e perda de linguagem. Com base no ordenamento apre-sentado, pode-se observar que as palatais so aquelas de aquisiomais tardia dentro das classes a que pertencem. Dentre as soantes, anasal estar estabilizada por volta dos dois anos e a lquida somente

    ser consistentemente produzida a partir dos quatro anos; j as frica-tivas estaro estveis depois de dois anos e seis meses. A diferenano tempo de aquisio das consoantes em foco neste estudo estrelacionada ao fato de ser a nasal pa