+museu boletim n.º 6 | maio 2006

20
boletim do Museu Municipal de Palmela “Museus e Jovens” é o tema das comemorações do Dia Internacional dos Museus, este ano. Tendo-o por mote, queremos partilhar convosco uma reflexão acerca da estratégia que temos empreendido nesta área de trabalho e com base na qual, acreditamos, poder contribuir para reunir jovens de todas as idades em torno do Património histórico do nosso concelho. O balanço do Serviço Educativo do Museu Municipal, no ano lectivo 2004-05, indicou-nos que estamos no caminho da construção de um saber – no âmbito da Educação Patrimonial – partilhado por Todos, em prol da (re)descoberta de Memória(s) e da dignificação do mundo do trabalho. A diversidade de actividades concretizadas, ao longo do ano, a resposta dada à oferta municipal por parte de educadores e professores, o entusiasmo dos alunos – das crianças aos seniores - e a capacidade de envolvimento de outros actores da comunidade local, por parte destas temáticas, parece-nos demonstrar as potencialidades que actividades entre gerações / familiares possuem. Uma linha de acção que iremos prosseguir, caso os nossos parceiros – todos os nossos Munícipes – continuem empenhados connosco! Em Julho, fará um ano que abrimos ao público o núcleo do Museu Municipal dedicado ao património vitivinícola do concelho de Palmela. Esse espaço começou a ganhar vida ainda em 2004. Alunos, professores, famílias, partilharam com técnicos do município – bem antes de abrirmos as portas da adega feita museu – memórias do lugar, falaram de outros tempos e de outros modos de vida e de trabalhar a terra e da vinha, apropriaram-se deste local de trabalho, hoje com uma nova função. Esta Adega tornou-se, assim, palco de saberes recordados, transmitidos, apreendidos entre várias gerações: um lugar de partilha. Outro espaço de partilha da memória colectiva e de divulgação de valores: a exposição «Sentidos de Estado», produzida pelo Museu da Presidência da República e inaugurada pelo Sr. Presidente da República em Fevereiro último – no âmbito do V Encontro sobre Ordens Militares – em Palmela. Sugere-nos, este evento, uma reflexão acerca da importância e do valor da função presidencial no quadro da inserção de Portugal no Mundo actual. O percurso proposto sugere uma viagem pelo século XX português, capaz de entusiasmar o público infanto-juvenil, guiado pelas memórias de pais e avós. Um convite à descoberta dos caminhos da Democracia, no ano em que se comemoram 30 anos da Constituição democrática do nosso país. Educação, Conhecimento, Jovens de todas as idades – uma partilha movida pela prática museológica! Venham mais vezes ao Museu! A Presidente da Câmara Ana Teresa Vicente nº 6 • Maio 2006 Editorial Câmara Municipal de Palmela

Upload: museu-municipal-de-palmela

Post on 25-Jul-2016

222 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

boletim do Museu Municipal de Palmela

“Museus e Jovens” é o tema das comemorações do DiaInternacional dos Museus, este ano. Tendo-o por mote,queremos partilhar convosco uma reflexão acercada estratégia que temos empreendido nesta áreade trabalho e com base na qual, acreditamos, podercontribuir para reunir jovens de todas as idadesem torno do Património histórico do nosso concelho.

O balanço do Serviço Educativo do Museu Municipal,no ano lectivo 2004-05, indicou-nos que estamosno caminho da construção de um saber – no âmbitoda Educação Patrimonial – partilhado por Todos, em prolda (re)descoberta de Memória(s) e da dignificaçãodo mundo do trabalho. A diversidade de actividadesconcretizadas, ao longo do ano, a resposta dada à ofertamunicipal por parte de educadores e professores,o entusiasmo dos alunos – das crianças aos seniores- e a capacidade de envolvimento de outros actoresda comunidade local, por parte destas temáticas,parece-nos demonstrar as potencialidades queactividades entre gerações / familiares possuem.Uma linha de acção que iremos prosseguir, casoos nossos parceiros – todos os nossos Munícipes– continuem empenhados connosco!

Em Julho, fará um ano que abrimos ao público o núcleodo Museu Municipal dedicado ao património vitivinícolado concelho de Palmela. Esse espaço começou aganhar vida ainda em 2004. Alunos, professores, famílias,partilharam com técnicos do município – bem antesde abrirmos as portas da adega feita museu – memóriasdo lugar, falaram de outros tempos e de outros modosde vida e de trabalhar a terra e da vinha, apropriaram-sedeste local de trabalho, hoje com uma nova função.Esta Adega tornou-se, assim, palco de saberesrecordados, transmitidos, apreendidos entre váriasgerações: um lugar de partilha.

Outro espaço de partilha da memória colectiva e dedivulgação de valores: a exposição «Sentidos de Estado»,produzida pelo Museu da Presidência da Repúblicae inaugurada pelo Sr. Presidente da República emFevereiro último – no âmbito do V Encontro sobre OrdensMilitares – em Palmela. Sugere-nos, este evento, umareflexão acerca da importância e do valor da funçãopresidencial no quadro da inserção de Portugal noMundo actual. O percurso proposto sugere uma viagempelo século XX português, capaz de entusiasmaro público infanto-juvenil, guiado pelas memórias de paise avós. Um convite à descoberta dos caminhosda Democracia, no ano em que se comemoram 30 anosda Constituição democrática do nosso país.

Educação, Conhecimento, Jovens de todas as idades– uma partilha movida pela prática museológica!Venham mais vezes ao Museu!

A Presidente da Câmara

Ana Teresa Vicente

nº 6 • Maio 2006

Editorial

Câm

ara

Mun

icip

al d

e P

alm

ela

Page 2: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

Algeruz:Memórias de uma Herdade,resgatadas pelas Escolas

2

Este projecto pedagógico, designado Alge-ruz – Memórias de uma Herdade, visa sen-sibilizar o público escolar para o patrimóniovitivinícola do concelho de Palmela, tendo-sedesenvolvido em parceria com as três esco-las EB1 da freguesia de Palmela, localizadasna área envolvente do Núcleo Museológicodo Vinho e da Vinha, ao longo de dois perío-dos escolares.O projecto iniciou-se com formação dirigida aprofessores (intitulada “Como Construir aMemória ?”), realizada por técnicos do MuseuMunicipal, a qual proporcionou os instrumen-tos necessários para a sua concretização.Numa segunda etapa, o projecto foi desen-volvido pelos docentes nas suas turmas,tendo o Museu Municipal orientado váriasoficinas de sensibilização, propondo e or-ganizando várias actividades, como a reco-lha de memórias, as visitas temáticas e aprodução de materiais relacionados com oprojecto. Estas oficinas, organizadas em três

módulos, foram desenvolvidas através daactividade “O Museu vai à Escola”, e executa-das no ambiente de sala de aula.

Na sequência deste trabalho preparatório,cada uma das turmas participantes teve aoportunidade de construir o seu próprio re-trato, criando, pouco a pouco, o seu “Baú

em destaque...

No âmbito do projecto Arquivo de Fontes Orais do Concelho de Palmela,o Serviço Educativo do Museu Municipal desenvolveu, ao longo do anolectivo de 2004/2005, em parceria com professores e educadores, umaproposta de trabalho baseada na recolha de memórias/testemunhos,tendo em vista o resgate da memória oral e o seu registo. Neste caso,o resgate da memória oral concretizou-se mediante a recolha detestemunhos registados pelos próprios alunos, tornando-os, assim,agentes da sua própria história num movimento de reforço dos laçossociais entre escola, museu e comunidade.

“O Museu vai à Escola” – oficina de sensibilização

Page 3: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

3

das Memórias” e “O seu Pequeno Museu”,apreendendo e exercitando, desta forma, di-versos elementos-chave, como a noção deMemória e a construção de uma cronologia.Só após “O Museu vai à Escola” se passou àacção de sensibilização em relação ao Mu-seu, dinamizando um conjunto de visitas (fei-tas turma a turma) ao Núcleo Museológicodo Vinha e da Vinha / Adega de Algeruz, que,na altura, ainda se encontrava em fase deinstalação.Desta forma, os nossos primeiros visitantesforam esses mesmos alunos!

Por último, os alunos do 4º ano passaram àrecolha de testemunhos entre os antigos tra-balhadores da herdade de Algeruz, exerci-tando assim as ferramentas de trabalho e osconceitos que estiveram na base do próprioprojecto. Numa primeira fase, procedeu-se àelaboração do guião de entrevista, e daí às

“O Museu vai à Escola”

entrevistas propriamente ditas, realizadascom a orientação do professor da turma eem conformidade com o guião estabelecidopreviamente. Os depoimentos encontram-sereunidos sob a forma de registos escritos edesenhos, entretanto, guardados em supor-te digital.Há a intenção de alargar o projecto a outrasescolas da freguesia de Palmela, e, numa fasemais adiantada, registar o material produzi-do pelos alunos e professores no site esti-mulando-se, assim, a exploração das novastecnologias da informação por parte dos alu-nos envolvidos no projecto. Por outro lado, otrabalho desenvolvido pelos alunos contri-buiu, em si mesmo - e numa lógica de traba-lho para a descoberta da História Local pe-los alunos do 1º ciclo do Ensino Básico - parao enriquecimento do Arquivo de Fontes Oraisdo Concelho de Palmela.Resta dizer que o projecto terminou no finaldo ano lectivo com a exposição dos traba-lhos produzidos pelas três escolas participan-tes. Esta exposição fez parte da inauguraçãodo Núcleo Museológico do Vinho e da Vinha– Adega de Algeruz, verificada a dia 7 deJulho de 2005. Na altura, os Alunos foramtambém protagonistas principais, cantandotoadas tradicionais alusivas à temática do vi-nha e da uva.A todos os envolvidos – tanto alunos comoprofessores (Teresa Vieira, Vanda Dias, DoraFelício, Carmen Vieira, Alda Mexe, BenjamimMaître, Luisa Mantas, Teresa Bagorro, Elisa-bete Rocha e Lígia Seabra), o Museu Munici-pal/Serviço Educativo expressa o sinceroagradecimento e manifesta o propósito decontinuar juntos neste projecto.

Maria Leonor CamposTécnica Superior do Museu Municipal de Palmela

Page 4: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

4

“No dia 5 de Maio de 2005 eu fui à adega deAlgeruz que vai ser, um museu e a dra Lionorexplicou tudo e mostrou a adega e nós fize-mos perguntas. A dra Sandra não falou por-que tinha gripe e depois fomos embora.E eu gostei muito de ver os barris gigantes eda visita. Uns pais também foram mais o Ruique é o marido da professora e a D. Manuelaque é a avó da Andreia.”

Desenho do David, 4º ano/EB1-Brejos do Assa nº1

“Fomos a pé e fomos acompanhados peloRui (marido da Professora), a mãe da Sara, amãe do Toninho, a avó da Andreia e a profes-sora. Vimos dois tegões com sem fim. O semfim é uma máquina que tritura as uvas e tam-bém vimos mais máquinas!”

Joana, 4º ano/EB1-Brejos do Assa nº1

“No dia 5 de Maio de 2005 eu e os meuscolegas, a professora, o senhor Rui e as mãesde alguns colegas meus, fomos à Adega deAlgeruz. Quando chegámos lá a dra Leonore Sandra estavam à nossa espera. A draLeonor disse-nos para irmos atrás dela e nósfomos ver as videiras que dão várias castas,que se chamam: boal, fernão pires, castelão,piriquita, moscatel branco e moscatel roxo.A seguir fomos ver o tegão que recebe asuvas para serem esmagadas pelo sem fim.Depois entrámos na adega e a dra Leonormostrou máquinas onde se faz o vinho. De-pois sentámo-nos a conversar e a fazer per-guntas. Por fim fomos ao wc e regressámosà escola.”

Andreia, 4º ano/EB1-Brejos do Assa nº 1

Desenho do António, 4º ano/EB1-Brejos do Assa nº1

Testemunhosde actividadeVisita de estudo à Adega de Algeruz,realizada pela turma do 4º ano daEscola EB1- Brejos do Assa nº 15 de Maio de 2005

Page 5: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

5

“O Museu vai à Escola”EB1- Brejos do Assa nº 2

“O que é um Museu?”

No âmbito do Projecto «Como construir amemória?», em colaboração com a Câma-ra Municipal / Museu Municipal de Palmela,os docentes da EB1 de Brejos do Assa nº 2aceitaram o desafio de valorizar, preservar edivulgar as memórias dos alunos, professo-ras, família e a comunidade envolvente.

Como participantes activos, na tentativa decontribuir para o enriquecimento e desen-volvimento cultural da sua comunidade,tentaram destacar através de anotaçõespessoais, cartazes, episódios da vida real,as suas memórias individuais.

Trabalho “Memórias”

Finalizada a nossa pesquisa e trabalho, pode-mos dizer que estes são testemunhos vivosdas nossas memórias, contribuindo para onosso enriquecimento, em termos de conhe-cimentos e vivências.

Friso Cronológico

Por fim, foi construída a árvore genealógicados intervenientes deste projecto tendo emconta as datas de nascimento de cada ele-mento, a data de inauguração da escola ealguns acontecimentos importantes para onosso País e comunidade envolvente, o 25de Abril e a inauguração do Núcleo Museoló-gico do Vinho e da Vinha na Herdade deAlgeruz.Assim, todos poderão ter acesso aos nos-sos trabalhos no Núcleo Museológico do Vi-nho e da Vinha.

Page 6: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

6Num trabalho cooperativo entre a E.B.1 /C.A.I.C. Algeruz-Lau e o Núcleo Museológicodo Vinho e da Vinha/Museu Municipal, os alu-nos, durante o ano lectivo 2004/2005, explo-raram o tema das Memórias e da Herdadede Algeruz.Ao longo do 3º período escolar, recebemosna escola a visita de 3 ex-trabalhadores daherdade (familiares de alunos), os quais sedispuseram a contar as suas memórias so-bre o seu trabalho na antiga herdade. É umadestas entrevistas que a Verónica (aluna daescola), nos conta.

As Memórias de D. MerciliaNo dia 8 de Abril, a D. Mercilia, avó da Veró-nica Carreira e do Diogo Ferreira, veio à nos-sa escola partilhar as suas memórias da épo-ca em que trabalhou na Herdade de Algeruz.

“Quando tinha 11 anos começou a trabalharna apanha do tomate e aos 14 anos foi traba-lhar nas vindimas. O seu trabalho era podaras videiras com uma tesoura, apanhava asuvas com a ajuda de uma navalha e depoisenchia os cestos com as uvas.A D. Mercilia também nos disse que gostavamuito do seu trabalho e tem saudades dessetempo. Hoje a D. Mercilia tem 49 anos e tra-balhou na herdade há 35 anos atrás, no anode 1970.Também nos disse que a vida e o trabalhonaquela época eram difíceis, o trabalho tinhaque ser bem feito e ganhava à jorna. Não tra-balhavam com máquinas todo o trabalho erafeito à mão. Todos os alunos e professorasacharam a D. Mercilia muito simpática por tervindo à nossa escola contar um pouco da suavida.Muito obrigada D. Mercilia.”

Verónica 4º ano/EB1/C.A.I.C. Algeruz-Lau

Dessas visitas resultaram também vários tra-balhos como: vídeo, cassetes áudio, textose ilustrações feitas pelos alunos.

Visita à adega de Algeruz – “No canteiro da vinha”

Visita à adega de Algeruz – “No tegão da uva”

Inserido neste projecto, os alunos e profes-soras deslocaram-se à Herdade de Algeruzpara uma visita à adega com o propósito deconhecerem o espaço do Museu.As Professoras da E.B.1 / C.A.I.C. Algeruz--Lau sentem-se gratas por terem sido pio-neiras dentro deste projecto esperando quenum futuro próximo possamos voltar a co-laborar no sentido da partilha de saberes.

As ProfessorasTeresa Bagorro, Elisabete Rocha, Lígia Maria Seabra

Escola EB1 / C.A.I.C. Algeruz-Lau

Page 7: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

7

pelo Serviço Educativo do Museu Municipal

Balanço do ano lectivo2004/2005Museu/Escola...reflexos de uma parceria•Trabalho por ProjectoComo construir a Memória?

No seguimento do trabalho que tem vindo aser desenvolvido pelo Museu Municipal noâmbito do Arquivo de Fontes Orais, no anolectivo 2004-05, o MM-SE (Museu Munici-pal-Serviço Educativo) promoveu, junto dasescolas do 1º ciclo do Ensino Básico (1ºCEB)do concelho, um trabalho por projecto sob otema Memórias.Este trabalho, em parceria, tem por base aconvicção de que a escola é um espaço decriatividade, um veículo por excelência juntoda população e permite um maior envolvi-mento de toda a comunidade nos projectosque desenvolve. Por seu lado, este projecto éuma forma diferente, dinâmica e interdisciplinarde responder aos conteúdos escolares, per-mite às crianças um contacto intergeracionalprivilegiado, em nome do conhecimento emdomínios como o auto-conhecimento e o meioonde se vive, facto que – acreditamos –, con-tribuirá para desenvolver cidadãos mais cons-cientes, interventivos e críticos face ao que osrodeia.Assim, o projecto vem contribuir para o cum-primento de um princípio orientador da ac-ção pedagógica para o 1º ciclo, relativamen-te às aprendizagens significativas, pois osalunos relacionam-se com as vivências dasua história pessoal, dentro e fora da escola.

Envolvimento dos docentes

A adesão a este projecto por parte das esco-las foi, obviamente, voluntária, tendo apenas

como condicionante a frequência de umaacção de formação, animada por técnicosdo Museu Municipal, no Centro de Estudose Formação Autárquica Luís de Sá, no finaldo mês de Janeiro de 2005.A acção de formação “Histórias de Vida: Comoconstruir a Memória?” teve como objectivos:

• reconhecer da importância da(s) Me-mória(s) para o conhecimento cultural doterritório;• dotar a comunidade docente de com-petências metodológicas no âmbito darecolha de fontes orais, para que os pró-prios professores possam consolidar otrabalho que desenvolvem nesta área.

O programa da acção incidiu na descobertada importância da Memória, iniciando estepercurso pelas memórias de vida de cada um,fazendo a ponte para a memória colectiva.Pelo caminho, abordámos questões pertinen-tes como a metodologia das entrevistas, aspossibilidades de trabalho entre o museu eas escolas, partilhámos experiências de ou-tras instituições, ficámos... a conhecer-nosmelhor!

Acção de formação “Histórias de Vida: Como construir aMemória” - Construção do livro de Memórias.

Page 8: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

8

Acção de formação “Histórias de Vida:Como construir a Memória” - Jogo da Teia.

Avaliação da Acção de Formação

Na acção de formação participaram 36 pro-fessores. O tratamento gráfico de resultadosestá disponível, para consulta pública, noServiço Educativo do Museu Municipal. Aquiapresentamos alguns dados da avaliação.Não foram registados resultados negativos, si-tuando-se a avaliação maioritariamente entreo Bom e o Excelente nos itens avaliados: es-trutura; tempo e duração; adequação; mate-riais; objectivos; temas.

Consideramos importante apresentar algu-mas das opiniões manifestadas no campodas sugestões pelos docentes:

“Parece-me ter cumprido os objectivos, degrande utilidade pedagógica e de forma-ção pessoal. Na continuidade, com certe-za seremos surpreendidos pela positiva,a avaliar por estes gratos momentos. Atanto nos não faz falta a força e a boa von-tade para “abraçar” e consolidar este pro-jecto nas nossas “realidades”. Força, bomtrabalho!”

“Continuo a propôr este tipo de formação atodos os docentes. Foi importante pela for-ma interactiva como se foi desenrolando poisé belo haver esta troca de saberes e momen-tos de envolvimento emocional e afectivo tãointenso. Foi muito importante pelo que apren-di, revi, dei e recebi.”

“Continuem! Assim poderemos aprender avalorizar a “vida” contrariando um pouco apressa com que a vivemos.”

Foi também, sugestão comum, sobretudo na2ª acção de formação - o grupo participanteera maior - a necessidade de contemplar maisum dia de formação, tendo em conta a quan-tidade de informação produzida.

Envolvimento dos Alunos

No seguimento desta actividade, iniciámosos diversos ateliers para os alunos, nas es-colas envolvidas.

O trabalho por projecto continua a ser a es-tratégia adoptada pelo MM-SE para dar res-posta às necessidades da comunidadeeducativa do concelho, em particular do 1ºCEB.Num universo de 2361 alunos do 1ºCEB,destacamos a participação de 977 alunos(incluindo 16 alunos do Ensino Pré-Escolardo Centro de Animação Comunitário de Al-geruz-Lau) no projecto “Como Construir aMemória ?”.Compete-nos divulgar que neste âmbito fo-ram sugeridas temáticas de trabalho paracada uma das freguesias do concelho, sen-do as escolas da freguesia de Pinhal Novoas que mais aderiram ao trabalho por projec-to através das “Memórias do Habitar – Ar-quitectura e Vivências Caramelas”.

Page 9: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

9

A documentação (impressos) de avaliação deactividades integradas em Trabalho por Pro-jectos integra 6 itens* - atendimento telefóni-co ao público-alvo; capacidade de respostaaos pedidos de actividades; actividades pro-postas pelo SE-MM no âmbito do projecto;competências técnicas do pessoal do SE-MM;materiais distribuídos, apoio em transportes- acerca dos quais apreciamos anualmentea opinião do corpo docente e/ou educado-res envolvidos. Cada item é avaliado numa

* Nestas escolas o apoio do MM-SE limitou-se à realização das visitas de estudo inseridas no projecto (À descoberta de PinhalNovo e Jogo de Pista em Rio Frio).

Por motivos diversos, a equipa do MM-SE, neste ano lectivo, não se pode deslocar a esta escola. No entanto queremosdestacar o trabalho realizado pelos professores/Educadores da EB/JI de Bairro Alentejano, que após a participação na Acção deFormação “Histórias de Vida – Como Construir a Memória”, desenvolveram este projecto com toda a população escolar e o apoioda comunidade local.

1

No quadro apresentado são visíveis todas as escolas que connosco deram vida a esteprojecto.

escala de 5 graus: Excelente, Bom, Sufici-ente, Insuficiente ou Mau.É fundamental, para a equipa de SE-MM, arecolha e análise desta informação, pois estaprática permite-nos reflectir para adequarestratégias em acções seguintes, no quadrode uma lógica orientada para a melhoria con-tínua.A avaliação aos trabalhos desenvolvidos comrecurso à metodologia de projecto, na suamaioria, expressa resultados variáveis entre

* Num próximo número +museu publicaremos alguns do documentos de avaliação de actividades do Serviço Educativo do Museu Municipal de Palmela.

Page 10: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

10

o Suficiente (77 resultados), o Bom (73 resul-tados) e o Excelente (77 resultados); surgi-ram contudo – num total de 240 resultados -alguns resultados considerados Mau (4), 1respeitante a pontualidade dos transportes,1 relativo a adaptação de actividades à tur-ma, 2 apreciadores do nível de clareza dosmateriais disponibilizados e Medíocre (9).O maior número de resultados Bom e Exce-lente ocorreu nos itens “Atendimento telefóni-co/Educação”, “Capacidade de resposta aospedidos de actividades/satisfação e esclare-cimento”, “Actividades propostas/Informaçãoadequada”, “Competências técnicas do pes-soal/Dinâmica da acção, actualização de co-nhecimentos e adequação do discurso”.Tendo por base os resultados desta avaliação,no ano lectivo 2005-06, estamos a adequarnovas práticas, nomeadamente no estrei-tamento da relação de parceria entre o técni-co do Museu Municipal e o professor, atravésda preparação prévia de cada actividade pro-posta.Cumpre-nos salientar que, de entre os tra-balhos por projecto propostos, num univer-so de 6 372 alunos dos vários graus de es-colaridade, participaram 977 do 1º Ciclo doEnsino Básico em acções subordinadas aotema “Memórias” (vide quadro “Como cons-truir a Memória”).

“Museu vai à Escola”,visitas guiadas, exposições

Para além do Trabalho por Projecto, o MM-SE ofereceu outras actividades e recursos àcomunidade educativa. Os dados que se re-ferem à adesão dos diferentes níveis de en-sino do concelho à oferta do MM-SE e aonúmero de alunos que participou em cadauma das actividades, estão disponíveis paraconsulta no Museu Municipal e são tratadosanualmente pela equipa.A actividade “Museu vai à Escola” integrou723 participantes discentes, 95 dos quais daEscola EB 2,3 Hermenegildo Capelo e doColégio Islâmico; apraz-nos salientar que esteestabelecimento de ensino participou, nesseano lectivo, em diversas actividades com oobjectivo de dar a conhecer aos seus alunos

Visita à estação ferroviária de Pinhal Novo- análise do património azulejar

e professores a realidade histórico-cultural doconcelho de Palmela.No que respeita a visitas guiadas se, numpasseio pelo Castelo, forem surpreendidoscom a presença de ilustres personagens, nãose admirem: a visita História do Castelo con-tada por ilustres personagens continua aser a actividade mais requisitada por quemnos visita.Destacam-se também, as parcerias do Mu-seu Municipal com entidades externas, quenos permitem dar a conhecer o patrimónioconcelhio, através, por exemplo, das visitasaos Moinhos Vivos da Serra do Louro.No âmbito das comemorações dos 820 anosdo Foral de 1185 de Palmela, o Museu Muni-cipal produziu uma exposição itinerante acer-ca dessa temática, que pode ser requisitada,desde então, para estar patente nos estabe-lecimentos de ensino.Estiveram em exposição, na Igreja de Santi-ago, os 3 documentos vulgarmente conhe-cidos como “Forais” de Palmela, apreciadospela primeira vez na sede de concelho por778 alunos, na sua maioria da EB 2,3Hermenegildo Capelo.

A visita “À descoberta de Pinhal Novo” con-tinua também a ser muito procurada, sobre-tudo se integrada em trabalho por projecto.

A exposição mais visitada do ano lectivo foi“30 de Anos de Abril no concelho de Palmela”,vista por turmas do 1º CEB (788 alunos) quetambém exploraram uma maleta pedagógicaproduzida para o efeito. Uma das actividadesmais emotivas desta exposição foi a visita econversa com António Dias Lourenço; este re-sistente antifascista disponibilizou-se para fa-lar aos alunos da escola EB1 de Aires sobre asua actividade política no tempo da clandesti-

Page 11: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

11nidade, para comentar a exposição e, por fim,para se deslocar a uma casa onde viveu clan-destinamente, em Aires (freguesia de Palmela).Memórias de um tempo não muito longínquo,partilhadas por um “actor” que não se cansade as contar aos mais novos, ouvindo-os tam-bém com atenção.

Visita e palestra do resistente antifascista António DiasLourenço à exposição “30 de Anos de Abril no concelhode Palmela”

Público adulto ao Museu !

Dando cumprimento à visão e à missão doMM-SE, no ano 2004-05 investimos também,de forma organizada, no alargamento a ou-tros públicos do concelho, nomeadamente aopúblico adulto, em especial o enquadrado noâmbito da Organização Local de Educação eFormação de Adultos (OLEFA) – Palmela. Asturmas da OLEFA de Bairro Alentejano, Quin-ta do Anjo, Cajados, Lagoa da Palha, Palhotae Casa do Povo e Associação de Reforma-dos, Pensionistas e Idosos de Pinhal Novomarcaram presença sobretudo na exposição“Objectos e Memórias da Cultura Caramela”.No quadro da Comemoração do Mês do Ido-so, recebemos também a visita de adultosseniores do Centro Paroquial de Pinhal Novoe Santa Casa da Misericórdia de Palmela.Distribuidos por 12 actividades ao longo do

ano, os 238 visitantes manifestaram prefe-rência - além da citada exposição – pela visi-ta “À descoberta de Pinhal Novo”.

Dados para reflectir

Este é um documento-síntese do trabalhodesenvolvido pelo MM-SE no ano 2004-05,trabalho que não seria possível sem o empe-nho e a dedicação de todos os parceiros quecontribuiriam para este resultado.Ao efectuarmos o balanço deste ano lectivo,concluímos que num total de, sensivelmen-te, 6 505 alunos, da rede pública, distribuí-dos por Educação Pré-Escolar – 228 alunos;1º CEB – 2 361 alunos; 2º e 3º Ciclos – 3 523alunos; Ensino Secundário – 2 412 alunos, oSE-MM deu apoio no Trabalho por Projectosa 977 alunos do Ensino Pré-Escolar e 1º CEBe dinamizou actividades pontuais para 6 127alunos desde o Ensino Pré-Escolar ao Ensi-no Secundário, das redes pública e privadado concelho de Palmela.Destacaram-se como actividades mais pro-curadas – isto é, com maior número de alu-nos envolvidos/participantes - além do Tra-balho por Projecto, as actividades “em des-taque”: a visita às exposições temporárias “30anos de Abril no concelho” e “Os Forais dePalmela”.Estes resultados parecem evidenciar, por umlado, a importância do trabalho por projectocomo forma de consolidação de públicos e,por outro, a aposta na introdução sistemáti-ca de novas actividades, que anualmente di-versifiquem a nossa oferta. Abordagens di-ferentes, serão meios de conquistar visitasregulares ao mesmo Património Histórico ?No ano lectivo em curso - 2005-06 - novaspropostas se apresentaram à ComunidadeEducativa, que acreditamos irem ao encon-tro dos desejos e necessidades do nossopúblico, confiantes, uma vez mais, que jun-tos alcançamos os objectivos a que nos pro-pomos.Esse balanço será por todos feito, no próxi-mo número do +museu.

A equipa do Serviço Educativo do Museu Municipal de Palmela

António Dias Lourenço visitou – com alunos da EB1de Aires - a casa onde viveu clandestinamente.

Page 12: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

12

Fernando Loureiro, nasceu no ano 1945 emSetúbal. Cresceu em Brejos do Assa, onde ain-da habita. Começou a trabalhar com 8 anos naHerdade de Algeruz.“(…) Nessa idade fui para a Herdade de Algeruztrabalhar, à frente de um animal, do boi! Lavrava-se a vinha tudo com os bois, nã é? E depois tinhaum senhor atrás que andava com um charruecoe tinha um miúdo que andava à frente com umacorreia pa encaminhar o animal (…) Depois maistarde [10 anos], já passava a ter mais experiên-cia, já passava a ser rabiador (…) q’era andar como charrueco.”“A gente não tinha calçado. Naquele tempo caíageada – hoje não cai geada como caía naqueletempo – e as crianças andávamos descalços, emcima do gelo. E ali andávamos, com uma manti-nha com brasas. Fazia-se o lume, punha-se umasbrasinhas dentro de uma lata pá aquecer asmãozitas e coiso!, e ali andávamos com os to-néis em cima do gelo. (…) Era um sofrimentoque era de chorar, mesmo de chorar!”Desempenhou diversas funções na herdade eainda recorda episódios que marcavam a vidadessa época.“Eu lembro-me de andar na vindima, e mais a mi-nha mãe que Deus tenha – a minha mãe era acoca e eu era ajudante – e juntar as panelinhas debarro – 150 panelas de barro na rua. Que aquilo ocomer era todo feito em panelhinhas de barro.(…) E depois aquilo era tudo posto em fileira, umasao lado das outras, tunga, tunga, tunga, e depoisprocurava-se da maneira do vento (…) pa não tara ir o calor todo só pa cima de umas panelas. (…)Levavam por exemplo bacalhau pa fazer com umbocadinho de arroz, não é?, uma sopinha de ba-tata, ou levavam batatas com pele, com peixe oucom bacalhau (…) e depois levavam um saquinhocom arroz pa depois porem na panela, outro leva-va um ovozinho pa partirem pa porem lá dentro edepois a coca é que partia e punha dentro da pa-nela. E pronto, quando a malta vinha almoçar oalmocinho tava feito.”A herdade movimentava um grande número detrabalhadores, sendo que a maior parte era oriun-da de outras regiões do país.“Eles [maltezes] vinham de várias partes do país,principalmente do Alentejo. (…) A malta do norte

já era contratada. (…) Eles ficavam ali num barra-cão (…) chamavam mesmo o monte dos rati-nhos (…) tinham mesmo um quartel onde elesficavam e tinha um alpendre grande, e essa mal-ta [os maltezes] ficavam todos de baixo dessealpendre. (…) Faziam ali camas com palha dearroz, porque na altura a herdade tinha muita pa-lha de arroz, que semeava muito arroz, nã é? (…)Passavam ali aquela época e depois quando che-gava a altura que eram trabalhos que eles já nãosabiam fazer, que é o caso das podas e outrostrabalhos que eles já não se ajeitavam a fazerentão aí iam-se embora outra vez.(…) Meia-dú-zia deles ficavam de porta em porta a pedir es-mola.”Aos 15 anos começou a trabalhar na adega.“O que eu fazia era lavar aqueles tonéis, aquelasânforas grandes que lá estão. Aquilo era tudolavado.(…) Aquelas de madeira, aqueles tonéisgrandes de madeira, de cimento. Leva uma pin-ga de água lá pra dentro, depois levava cloreto(…), e aquilo no fundo faz uma poça que leva aí20 lts de água. Depois tem um escudela (…) e agente entrava por aqueles postigos. (…) Entra-se lá pra dentro e vamos bater aquela água, coma escudela a mandar às paredes dos tonéis, porcima por baixo, e depois passava-se a escova,umas escovas em aço. Ia um escadote pequenino(…) e aquilo era batido com quatro, cinco águas,até a água sair limpa.”Recorda a importância da Herdade de Algeruzna região de Palmela.“Os vinhos mais fortes que se vendiam aqui nazona eram os da herdade. Do estrangeiro e tudovinham aqui comprar vinho. A herdade tinha acaldeira (…) esses faziam lá a vínica pra depoiseles misturarem com o vinho. Assim, quando ovinho vinha das vinhas com pouco grau, eles alireforçavam-no e ele saia dali sempre com bas-tante grau. (…) Mesmo os vinhos que eram pa irpara o ultramar, climas quentes, tinham que servinhos fortes (…) e eu lembro-me de ouvir falardo vinho de Algeruz, como um desses vinhosque iam para fora.”

Entrevista transcrita por Teresa SampaioAntropóloga, Museu Municipal de Palmela

Património Local

Memóriasde trabalhadores

Arquivo de Fontes Orais do Concelho de Palmela

Page 13: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

13Nos bastidores...

O “canteiro”da Vinha

No âmbito do projecto museológico dedica-do ao património vitivinícola do concelho dePalmela, e ao mesmo tempo que se proce-dia ao estudo e levantamento das principaiscastas que tinham constituído a riquezavitivinícola de Algeruz, foi criado, como recur-so pedagógica, um “canteiro” de vinha.Escolhido o espaço de cultivo, e depois deseleccionadas as cinco mais importantescastas da produção vitícola da Herdade deAlgeruz, foram plantadas no canteiro, insta-lado à frente e à entrada do museu, as cas-tas: Boal Alicante (uma casta que dava maiscor ao vinho), Fernão Pires (casta de vinhobranco), Castelão (casta de vinho tinto), tam-bém conhecido por ‘Periquita’, e Moscatel(vinho licoroso), nas variedades de branco eroxo.

Fernando Loureiro* é encarregado dos Jardinsna Divisão Municipal de Ambiente. Antigo tra-balhador da Herdade de Algeruz, é também oresponsável pelos trabalhos do viveiro do nú-cleo museológico do vinho e da vinha.Desse acompanhamento e dos cuidados quea vinha exige, nos dá conta em registo para o+museu.

“Quando plantei as cepas no viveiro tive deabrir ‘um cubato’ [corte que se faz na terrapara meter o estrume]. Depois tapei com umpouco de terra e coloquei as videiras - as ce-pas uma a uma. Aperta-se bem a terra; se forpossível deita-se a água - uma pinguinha deágua que é para apertar a raiz. A plantaçãoestá feita. Esta plantação de vinha foi aramada,(é o sistema moderno) - coloquei as estacas

Adega de Algeruz – Canteiro da Vinha:Sr. Fernando a tratar a vinha

*vide rubrica Património Local, neste nº +museu

Page 14: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

14

em madeira tratada que já se compra,(é dasvaras que compramos para as árvores dosjardins nas ruas), para quando rebentarem,serem atadas com um fio próprio ao arame[isto ocorre durante a Primavera, em Abril, eantes dos temporais]. Estamos a puxá-la paracima, porque a cepa vai-se enrolando à esta-ca e vai crescendo. Nesta altura, há que fazero tratamento da vinha por causa das pragas.Por isso, ainda no mês de Abril [do ano pas-sado] dei-lhe a primeira cura com um pro-duto indicado para o míldio, e apliquei oproduto indicado para combater a lagartaque às vezes está enfiada na carrasca daprópria videira. E foi o D. Gregório que medisse uma vez se eu sabia qual era a me-lhor cura para combater a lagarta da uva?Respondendo-me que era a primeira e aúltima! Porque a última é dada com a ‘uvajá a pintar’ - é dada em Agosto!Na mesma época, aplica-se um produto in-dicado para combater o mal que é ‘a brancada uva’; se não for tratado, estala os bagos eos mosquitos acabam por estragar o resto.”

E continua descrevendo os ‘muitos trabalhos’que a vinha obriga, após a vindima...“No ano passado, fez-se a vindima; apanhá-mos os cachos que pela primeira vez davamuva aqui e provámos a uva. Era boa!Quando chegou o tempo fresco - foi em Ou-tubro - vim para aqui podar as cepas. A podaé: dividir a cepa, e deixar as varas própriaspara dar uva no ano seguinte. São atarraca-das a ‘três olhos’ porque não se pode deixarmais, tira a força à própria cepa, e depois auva fica miudinha e sem qualidade. Algunsrebentos que rebentaram no corpo da cepativeram que ser tirados para não estragar apoda do ano seguinte. Chama-se a isto‘esladroar a própria cepa’. E assim decorreuo Inverno.

Feita a poda estava preparada para avançar-mos com as novas curas que se fizeram apartir do mês de Abril.Neste próximo ano, temos que dar uma novacura às cepas que é para a cura em pau, ata-cando a doença que sai da cepa, e que mata.Só se faz este ano, porque o nosso canteiro éjovem e a vinha muito novinha!”

Page 15: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

15 Património Concelhio em documentos

Em 1954, foram registados, no Governo Civil do Distrito de Setúbal, os Estatutos da Socieda-de Escolar de Fonte, definidos em 10 de Dezembro de 1930, tendo com signatários Francis-co de Morais Carreira, Manuel de Carvalho, Custódio de Morais Carreira, Marcolino Pires,Miguel António, Francisco da Silva Pato e António Morais Carreira.Este documento, de 8 páginas, impresso em Setúbal, revela-nos uma vertente da história doassociativismo local do nosso concelho: a preocupação com a Educação de crianças e adultosde ambos os sexos, na freguesia de Marateca, lugar de Fonte da Barreira (de Baixo e de Cima).Podiam ser sócios “todos os indivíduos de ambos os sexos (…) proprietários em Fonte ou aímoradores com residência permanente e que concorram com a quota de 2$00 por mês.”(artº 3º)Esta sociedade deu origem à Associação Cultural e Recreativa de Fernando Pó.

Para contextualização, do documento à data em que foi registado, lembramos que a popula-ção residente na Marateca em 1950 (1) era constituída por 4 444 pessoas (num universoconcelhio de 22 993). No censo de 1960 (1), o concelho de Palmela tinha 20 547 residentesde 7 e mais anos, dos quais não sabiam ler 42,2 %.

«Estatutos da SociedadeEscolar de Fonte»Freguesia de Marateca

(1) Vide IX e X Recenseamentos Gerais da População no Continente e lhas Adjacentes, respectivamente de 1950 (Tomo II) e 1960 (Tomo III – vol. II)

Page 16: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

A não esquecer…

1616

Sentidos de Estadoaté 3 de SetembroExposição itinerante do Museuda Presidência da República, inauguradacom a presença do Sr. Presidenteda República, em Fevereiro na Igreja deSantiago – Castelo de Palmela, no âmbitodo V Encontro sobre Ordens Militares.

Exposições patentes ao público:

Memórias do Habitar– Cultura CaramelaExposição itinerante do Museu Municipalde Palmela, com a colaboraçãoda Organização Local de Educaçãoe Formação de Adultos (OLEFA) - PalmelaDe 30 de Maio a 01 de Julho de 2006Sala de Exposições da BibliotecaMunicipal de Palmela

Horário - 3ª feira das 10h30 às 21h00de 4ª feira a Sábado das 14h00 às 19h005ª e 6ª feira das 10h30 às 19h00

No Dia do Concelho - 1 de Junho - realizar-se-ão 2 visitas guiadas(às 11h00 e às 15h30) pelo Museu Municipal de Palmela.Inscrições gratuitas limitadas a 25 pessoas por períodoData limite de inscrição: 25 de MaioEnvio de inscrição para Museu Municipal de Palmela - Fax: 212 338 189

Centenáriode D. Gregório GonzalezBriz (1904-2004)Exposição do Museu Municipal de Palmela– Adega de Algeruz, dedicadaao fundador da unidade vitivinícola.Até Maio de 2007Sala Polivalente do Núcleo Museológicoda Vinha e do Vinho/Adega de AlgeruzHorário do Museu Municipal

Page 17: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

17

Na sessão de encerramento, a Comissão Ci-entífica e a Organização elencaram como con-clusões diversos aspectos que importa regis-tar e divulgar:• a dinâmica da estrutura municipal Gabine-te de Estudos sobre Ordem de Santiago(GEsOS), através da realização regular dosEncontros, dos Seminários, da promoção deinvestigação sobre Ordens Militares, da par-ticipação em projectos internacionais, da re-alização de parcerias com instituições uni-versitárias e de promoção cultural, da suaprestação de serviços como biblioteca es-pecializada;• a disponibilidade do Município de Palmela /GEsOS para a celebração de protocolos decolaboração e de parcerias com entidades vá-rias no âmbito da promoção da investigaçãosobre Ordens Militares;• a importância dos projectos apresentadosdurante o Encontro, nomeadamente os do Di-cionário de Ordens Militares Europeias na Ida-de Média (Universidade de Lyon - CNRS), oprojecto das Crónicas (CIH-FL-Universidade

do Porto), o projecto italiano (Istituto per i BeniArcheologici e Monumentali – CNR);• a necessidade de, em próximos Encontros,reforçar e ampliar as revisões historiográficas,as sínteses/balanços da investigação em Or-dens Militares por país, a análise de impor-tantes obras historiográficas, a temática darelação entre o Ocidente e o Oriente, a temá-tica da Arte, os espaços de debate e de apre-sentação de novos projectos;• a importância, para Portugal, das interven-ções de Pierre-Vincent Claverie e de AnthonyLuttrell, com especial interesse para o conhe-cimento das ligações portuguesas ao Orientemediterrânico, através das Ordens do Temploe do Hospital;• a necessidade de, em próximos Encontros,tocar questões de fundo como as relações dasordens, reflectir em torno da sua dimensão re-ligiosa e privilegiar a colocação dos proble-mas das Ordens Militares numa perspectivade longa duração, que atravesse a Idade Mé-dia e a Moderna;• a sugestão de, em próximos Encontros, darmaior relevância à análise de outras formasde memória colectiva das ordens (cinema, te-levisão, literatura, música, arte);• um apelo à maior representatividade dosmodernistas nestes Encontros, reconhecen-do-se embora que em Portugal haja poucosinvestigadores nesta área;• a eficaz organização do Encontro e o bomacolhimento de conferencistas e participan-tes;• o apoio prestado por várias entidades aoEncontro, com destaque para a SecretariaGeral da Presidência da República – Chance-laria das Ordens Honoríficas e vitivinicultoresdo concelho de Palmela;• a expectativa da qualidade das actas a pu-blicar e da realização do VI Encontro, em 2010,vinte anos depois da primeira iniciativa, na qualteve um papel impulsionador o ProfessorAgostinho da Silva.

A Comissão Executivado V Encontro sobre Ordens Militares

Os Encontros de Ordens Militaresrealizados pela Câmara Municipalde Palmela, constituem, desde1989, o único fórum regularde reflexão e apresentação dainvestigação científica internacionaldesenvolvida em torno destatemática específica. Este facto foirealçado ao longo dos trabalhosque, no Cine-Teatro S. João– Palmela, reuniram 49conferencistas e cerca de duascentenas de participantes inscritos.Neste V Encontro foi marcantea internacionalização expressa naparticipação de 22 conferencistasde oito países estrangeiros.

Balanço do V Encontro sobre Ordens MilitaresFevereiro 2006 - Palmela

Page 18: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

18

Ediçõesem destaqueFundos documentais especializados

Novas Aquisições do Fundo Documental do GEsOS

AYALA MARTINEZ, Carlos de e NÓVOAPORTELA, Feliciano – As Ordens Militaresna Europa Medieval, Lisboa: Chaves FerreiraPublicações, 2005

MEDIA AETAS: revista de estudos medievais - Dir.Manuel Sílvio Alves Conde, Ano 2000/2001, nº 3 /4 “Tipologia, funções e quotidianos da habitaçãomedieval”, Ponta Delgada: Patrimonia, 2001

SOUSA, Bernardo Vasconcelos e - OrdensReligiosas em Portugal: das Origens a Trento.Guia Histórico, Lisboa: Livros Horizonte, 2005

AAVV - Actas do VII Coloquio Galegode Museos. Museos. Construíndoa comunidade. 2002, Santiago de Compostela:Consello Galego de Museos, s/d

FONTAL MERILLAS, Olaia – La educaciónpatrimonial. Teoría y prática en el aula,el museo e internet, Gijón: Ediciones TREA,2003

MAGALHÃES, Fernando – Museus,Património e Identidade, Leiria: ESE/InstitutoPolitécnico de Leiria, 2005

Novas Aquisições do Fundo Documental do Museu Municipal

Page 19: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

19

CADA NÚMERO, UM JOGO

SITES A CONSULTAR

Museus

Museu Nacional do Vinho http://www.ivv.min-agricultura.pt/cultura/files/museus/museus.html#2Museu do Vinho do Porto http://www.cm-porto.pt/pagegen.asp?SYS_PAGE_ID=470385Museu do Vinho do Pico http://www.drac.raa.pt/pico1.htmlPaisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico – Património da Humanidadehttp://www1.universia.net/CatalogaXXI/C10051PPPTII2/E155988/index.htmlMuseu do Vinho dos Biscoitos http://www.casaagricolabrum.com/Museu Agrícola Entre o Douro e o Minho http://www.geira.pt/MAEDouroMinho/Museu Agrícola de Riachos http://www.ribatejo.com/ecos/tnovas/museuriachos/index.htmlMuseu da Agricultura de Fermentões http://www.geira.pt/MAFermentoes/

D. Gregório Briz plantouna Herdade de Algeruz 12 videiras.Agora é preciso dividir esta vinha em 4partes iguais, contendo cada umadelas o mesmo número de videiras,com distância igual entre si.Como pode ser feita esta divisão?

O Núcleo Museológico do Vinho e da Vinha tem disponível para consulta pública, no percursoexpositivo, um terminal informático no qual se acede a diversos sites, de entre os quais amuseus dedicados à vitivinicultura. Descubra-os!

D. Gregório Gonzalez Briz

Solução

Page 20: +museu boletim n.º 6 | maio 2006

Contactos:Divisão de Património Cultural - Museu MunicipalDepartamento de Cultura e Desportoda Câmara Municipal de PalmelaLargo do Município2951-505 PALMELA

Tel.: 212 338 180Fax: 212 338 189E-mail: [email protected]

Ficha TécnicaEdição: Câmara Municipal de PalmelaCoordenação Editorial: Chefia da Divisão de Património Cultural/Museu MunicipalColaboram neste número: Projecto “Memórias da Adega de Algeruz” EB1 Brejos do Assa nº 1 -Teresa Vieira (4º ano), Vanda Dias (2º ano), Dora Felício (3º ano), Carmen Vieira (1º ano), Alda Mexe eBenjamim Maître (professores do apoio educativo); EB1 Brejos do Assa nº 2 - Luisa Mantas (1, 2º, 3ºe 4º anos) EB1 / C.A.I.C. Algeruz-Lau - Teresa Bagorro (pré-escolar, Elisabete Rocha (1º e 2º anosturma A) e Lígia Seabra (3º e 4º anos, turma B), Andreia Martins, Lúcio Rabão, Maria Leonor Campos,Maria Teresa Rosendo, Sandra Abreu Silva, Teresa SampaioDesign: atelier Paulo CurtoFotografia: Adelino Chapa e Andreia MartinsImpressão: Armazém de Papéis do SadoCódigo de Edição: 230/06 - 3 000 exemplaresISBN: 927-8497-27-XDepósito Legal:196394/03

1

2

7

12

13

15

16

17

18

19

19

ÍndiceEditorial

Em destaque… Algeruz: Memórias de uma Herdade resgatadas pelasEscolas

Serviço Educativo do Museu Municipal de Palmela– Balanço do Ano Lectivo 2004/05

Património Local – Memória de trabalhadores– Arquivo de Fontes Orais do Concelho de Palmela

Nos Bastidores… O Canteiro da Vinha

Património Concelhio em documentosEstatutos da Sociedade Escolar de Fonte (1954)

A não esquecer…Exposições patentes ao público:- “Sentidos de Estado”- “ Memórias do Habitar – Cultura Caramela”- “ Centenário de Gregório Gonzalez Briz”

V Encontro sobre Ordens Militares, Fevereiro 2006

Fundos documentais especializados para consulta pública em Palmela

Sites a consultar

Cada número, um jogo

Faz parte integrante deste número uma separata com o documentoMuseu Municipal de Palmela – Serviço Educativo/Programação 2006-07