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Relatório de estágio referente a Pós-graduação em Turismo de Natureza

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  • CURSO DE ESPECIALIZAO PS-GRADUADA EM

    TURISMO DA NATUREZA

    Paulo Sandro Freitas

    Abril de 2006

    Promovido pela:

    - Associao para o Desenvolvimento da Faculdade de Cincias da Universidade do Porto

    - Ordem dos Bilogos

    - Comisso de Coordenao e Desenvolvimento da Regio Norte (CCDR-Norte)

  • Curso de Especializao Ps-Graduada em Turismo da Natureza Paulo Sandro Freitas

    Relatrio de Estgio 2

    RELATRIO DE ESTGIO

    Estgio Internacional:

    - Polnia (Parques Nacionais de Pieniny, Gorce e Tatras)

    Estgio Nacional:

    - Lamego (Naturimont Empresa de Animao Turstica)

    Abril de 2006

    Trabalho realizado por:

    Paulo Sandro Freitas

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    Relatrio de Estgio 3

    AGRADECIMENTOS

    Em Portugal:

    Professor Doutor Joo Machado Cruz Dr. Jos Pissara Dr. Paulo Alves e Dr. Joo Honrado Naturimont: Dr. Lus Quaresma, Dr. Ricardo, Dr. Paulo e Dr. Miguel Maia Clara Esprito Santo A todos os colegas de curso Famlia

    Na Polnia:

    Parque Nacional de Pieniny: Dr. Michal Sokolowski e Dra. Joanna Kozik Parque Nacional de Gorce: Dr. Pawel Czarnota, Dr. Marek Kurzeja e Dra. Mariola Parque Nacional dos Tatras: Dr. Tomasz Kozica, Dr. Marek Kot, Dr. Pawel Szczepanek

    e Dra. Malgorzata Kot

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    Relatrio de Estgio 4

    NDICE

    INTRODUO GERAL.....................................................................................................6 PARTE I: ESTGIO INTERNACIONAL...........................................................................8

    1. Localizao e Caracterizao Geral da Polnia ............................................9 2. Parque Nacional de Pieniny ........................................................................11

    2.1 Introduo.............................................................................................................11 2.2 Patrimnio Natural. ..............................................................................................12 2.3 Patrimnio Cultural ..............................................................................................14 2.4 Animao Ambiental............................................................................................15

    2.4.1 Actividades disponveis aos visitantes ....................................................................15 2.4.2 Infra-estruturas .......................................................................................................20

    2.5 Gesto da Presso Turstica..................................................................................22 3. Parque Nacional de Gorce ..........................................................................27

    3.1 Introduo.............................................................................................................27 3.2 Patrimnio Natural ...............................................................................................28 3.3 Patrimnio Cultural ..............................................................................................29 3.4 Animao Ambiental............................................................................................29

    3.4.1 Actividades disponveis ao visitante .......................................................................29 3.4.2 Infra-estruturas .......................................................................................................32

    3.5 Gesto do Parque..................................................................................................34 4. Parque Nacional dos Tatras........................................................................39

    4.1 Introduo.............................................................................................................39 4.2 Patrimnio Natural ...............................................................................................40 4.3 Patrimnio Cultural ..............................................................................................43 4.4 Animao Ambiental............................................................................................45

    4.4.1 Actividades disponveis aos visitantes ....................................................................45 4.4.2 Infra-estruturas .......................................................................................................49

    4.5 Gesto da Presso Turstica..................................................................................51 5. Consideraes Finais..................................................................................56

    PARTE II: ESTGIO NACIONAL...................................................................................59 1. Introduo ...................................................................................................60

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    Relatrio de Estgio 5

    2. Caracterizao da rea de Estudo..............................................................61 2.1 Localizao e Acessibilidades..............................................................................61 2.2 Clima, Biogeografia e Paisagem ..........................................................................62 2.3 Envolvncia Natural e Cultural ............................................................................63 2.4 Rotas e Desportos de Aventura ............................................................................65 2.5 Gastronomia, Artesanato, Festas e Alojamento ...................................................66

    3. Enquadramento...........................................................................................68 4. Memria Descritiva do Percurso Pedestre ..................................................69

    4.1 Localizao e Acesso ...........................................................................................69 3.2 Ficha Tcnica do Percurso ...................................................................................70 3.3 Descrio do Percurso ..........................................................................................71 3.4 Descrio dos Pontos de Interesse........................................................................73 3.5 Algumas Espcies Observveis no Percurso........................................................83 3.6 Cuidados Prvios ..................................................................................................84 3.7 Normas de Conduta ..............................................................................................85 3.8 Alojamento ...........................................................................................................85

    4. Consideraes Finais..................................................................................86 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...............................................................................88

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    Relatrio de Estgio 6

    INTRODUO GERAL

    Os conceitos de Ecoturismo e Turismo da Natureza tm gerado alguma confuso, pelo que importante fazer uma distino entre estes dois termos. Segundo Goodwin (1996), o Ecoturismo um turismo da natureza de baixo impacte que contribui directamente para a conservao das espcies e dos habitates, e/ou indirectamente, atravs da criao de receitas para as comunidades locais. As receitas geradas tm que ser em quantidade suficiente para que as populaes locais valorizem, e assim protejam, a vida selvagem existente nas reas onde vivem, pois representam uma importante fonte de rendimento. Por outro lado, e de acordo com o mesmo autor, o Turismo da Natureza constitui todas as formas de turismo turismo de aventura, turismo de baixo impacte, ecoturismo, turismo de massas - que utilizem os recursos naturais existentes no seu estado selvagem ou pouco desenvolvido, pelo que poder ser ou no uma actividade sustentvel [25]. Assim, apenas as modalidades de turismo da natureza que contribuam para a conservao, podem ser designadas por ecoturismo.

    Tendo em considerao que o curso uma ps-graduao em Turismo da Natureza (TN), optou-se por utilizar esta designao ao longo do documento. Contudo, o TN neste documento refere-se a uma modalidade de baixo impacte.

    Os parques nacionais e as reas protegidas so os locais com maiores potencialidades para o desenvolvimento do TN, que tm vindo a ter uma crescente importncia econmica a nvel mundial [25]. Actualmente em Portugal, as reas Protegidas (AP) ocupam cerca de 7,4% do territrio, distribudas por zonas geogrficas e socio-econmicas diversas, de Norte a Sul do pas. Englobam territrios que so palco de actividades humanas, que ao longo dos tempos moldaram as paisagens com os seus saberes e estilos de vida. Hoje so representativas e encerram em si valores naturais e culturais que as distinguem de outras regies do pas. Face crescente procura das AP como territrios de lazer e de turismo, preciso criar formas de gesto e de incentivos conducentes pratica de formas de turismo sustentveis. No sentido de dar resposta necessidade de promover modalidades de turismo compatveis com a conservao do ambiente, que privilegiem o investimento e a melhoria da qualidade de vida nas AP, criado em Portugal o Programa Nacional de Turismo da Natureza, que define o TN e os produtos, actividades e servios nele integrados. Entre os vrios objectivos deste programa est o incentivo ao aparecimento de novas profisses e actividades na rea do turismo.

    neste quadro de promoo da formao de profissionais conscientes das potencialidades de desenvolvimento do TN nos espaos naturais e nas AP de Portugal, que surge

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    Relatrio de Estgio 7

    o Curso de Especializao Ps-graduada em Turismo da Natureza. Ao longo do curso foram contempladas duas componentes. A primeira destas componentes foi terica e consistiu na abordagem de variados temas relacionados com o TN. A segunda componente tinha por objectivo possibilitar aos formandos um contacto de cariz prtico com a realidade do TN. Nesse sentido, o curso contemplou a realizao de um perodo de estgio de trs meses, repartido em um ms de estgio num pas estrangeiro e dois meses de estgio em Portugal.

    O presente documento pretende ser uma descrio das experincias e dos trabalhos conduzidos ao longo do perodo de trs meses de estgio. Na primeira parte deste documento abordado o estgio internacional, realizado na Polnia no ms de Julho de 2005, o qual foi repartido por trs parques nacionais: Pieniny, Gorce e Tatras. Estes parques tm a particularidade de estarem localizados na cordilheira montanhosa dos Crpatos. O contacto com as suas especificidades naturais, com as atraces disponveis para os visitantes, com as formas de gesto e os impactos positivos e negativos do turismo so alguns exemplos de experincias e temas de aprendizagem focados no turismo de natureza obtidos no mbito deste estgio. Na segunda parte, apresentam-se os trabalhos desenvolvidos durante o estgio nacional, realizado na empresa de animao turstica Naturimont, sediada em Lamego, nos meses de Agosto e Setembro de 2005. De um modo geral, procedeu-se ao levantamento do traado de um percurso pedestre com potencial de dinamizao na regio de Lamego e dos aspectos faunsticos, florsticos e culturais a ele associados.

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    Relatrio de Estgio 8

    PARTE I: ESTGIO INTERNACIONAL

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    Relatrio de Estgio 9

    1. Localizao e Caracterizao Geral da Polnia

    Localizada no centro da Europa, a Polnia ocupa uma rea de superfcie de 311.904 km2, onde habitam cerca de 38 milhes de pessoas. Com uma densidade populacional de 122 habitantes por km2, concentrados maioritariamente nos meios urbanos (61,7%), a Polnia constitui dos poucos pases da Europa que possuem ecossistemas naturais conservados praticamente no seu estado natural [37]. Exemplo disso a floresta original da Europa, no Parque Nacional de Bialowieza, que representa a maior rea de floresta primitiva intacta sobrevivente. Tambm neste parque, o mais antigo do pas, classificado como Reserva da Biosfera e Patrimnio da Humanidade pela UNESCO, pode ser observado o bisonte europeu, que foi reintroduzido com sucesso no meio selvagem [37, 57].

    A grande diversidade biolgica deste pas e as suas vastas reas naturais de natureza praticamente intacta tm sido legalmente protegidas ao longo dos anos, representando em 2002 quase 103.500 km2, ou seja, 33,1% do territrio da Polnia. Desta rea protegida, 297.000 hectares (1% do pas) incluem-se em 23 parques classificados como parques nacionais [37] (Fig. 1).

    Fig. 1 Representao grfica da localizao dos locais de estgio.

    Parque Nacional de Gorce

    Parque Nacional de Pieniny

    Parque Nacional dos Tatras

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    Relatrio de Estgio 10

    Os parques nacionais da Polnia so locais por excelncia para os amantes da natureza, onde podem ser encontradas paisagens diversificadas, desde montanhas com carcter alpino, zonas hmidas, lagos, vastas extenses de floresta natural, at zonas costeiras com dunas mveis. Para quem faz birdwatching, os parques constituem uma grande atraco, pois albergam 80% das espcies de aves europeias de zonas de altitude. Outras atraces so as redes de percursos pedestres e de trilhos interpretativos criados, que permitem ao visitante um contacto prximo com a natureza e o conhecimento dos parques. Esto tambm disponveis guias profissionais e agncias de turismo especializadas, servios que permitem melhorar e diversificar a oferta [48].

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    2. Parque Nacional de Pieniny

    2.1 Introduo

    A regio montanhosa de Pieniny, onde se localiza o Parque Nacional de Pieniny (PNP), constitui uma das mais conhecidas e mais pitorescas extenses montanhosas da Polnia, onde podem ser encontradas formas vegetais e geolgicas de uma variedade excepcional. Por esta razo, Pieniny considerada uma das regies mais interessantes da Polnia e uma das principais raridades naturais da Europa. A principal atraco turstica a descida do rio Dunajec em jangadas de madeira. Situada na cordilheira montanhosa dos Crpatos, a regio de Pieniny estende-se longitudinalmente ao longo da fronteira polaco-eslovaca, numa rea de 35 km de comprimento e 6 km de largura [34, 40].

    A primeira afirmao oficial para a necessidade de proteco de Pieniny partiu do Prof. Wladyslaw Szafer (chefe do Comit Nacional para a Proteco da Natureza), no ano de 1921. A existncia de espcies nicas e de elevado interesse para a conservao, exigiu a criao de uma rea protegida [45]. Em 1932 criado, na regio de Pieniny, o primeiro Parque Natural Transfronteirio da Europa, representado pelo Parque Nacional das Montanhas de Pieniny no territrio polaco e por uma Reserva Natural na Eslovquia [40, 41, 46]. Contudo, face aos acontecimentos que se verificaram na Polnia durante a II Guerra Mundial e a uma gesto desadequada da reserva natural na Eslovquia, s em 1954 e 1966 que so criados os Parques Nacionais de Pieniny na Polnia e na Eslovquia, como o conhecemos actualmente. Hoje em dia, o parque transfronteirio engloba 6096 hectares (ha) de rea protegida e 25 000 ha de zona tampo [40].

    As montanhas de Pieniny esto divididas em trs partes pelo rio Dunajec: Pieniny Spiskie, Pieniny Wlaciwe e Male Pieniny [29, 46]. O PNP est localizado em Pieniny Wlaciwe, com duas pequenas reas em Pieniny Spiskie, enquanto que o Parque Nacional Pieniny Eslovaco (PIENAP) est inteiramente em Male Pieniny, separado pelo rio Dunajec que estabelece a fronteira entre os dois pases (Fig. 2). Pieniny Wlaciwe, onde est localizado o parque nacional polaco, constitui a parte mais atractiva de toda esta extenso montanhosa, quer do ponto de vista natural, quer paisagstico [45].

    O PNP um dos mais pequenos do pas, com 2346 ha de rea protegida e 2682 ha de zona tampo [33]. Da rea protegida, 1311 ha pertencem ao estado e 750 ha so reserva integral. A rea do parque coberta por floresta de 1665 ha [46]. Os objectivos do parque so os de

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    preservar a beleza natural, a vida selvagem e o patrimnio cultural da regio, assim como fazer do parque um espao aberto investigao cientfica e ao turismo [46]. No sentido de procurar atingir estes objectivos esto definidas quatro linhas principais de aco [M. Sokolowski, com. pess.]:

    1- Manuteno e recuperao dos ecossistemas e da paisagem do parque (a mais importante) 2- Preparao do parque para o turismo (manuteno e construo de trilhos, vedaes e passadios) 3- Educao ambiental (para os visitantes e para os estudantes) 4- Investigao cientfica (ex. reproduo artificial de espcies ameaadas, como a borboleta-apolo (Parnassius apollo))

    Fig. 2 Mapa da regio de Pieniny (a linha verde marca os limites do parque transfronteirio e a linha cor-de-rosa marca a fronteira entre a Polnia e a Eslovquia).

    2.2 Patrimnio Natural.

    As formaes rochosas do PNP so compostas essencialmente por calcrio, o qual teve origem em depsitos geolgicos ocorridos no perodo do Jurrssico e no Cretcico. Anteriormente a estes perodos, os Crpatos encontravam-se submersos pelo oceano e j em perodo avanado do Trisico que se assiste a uma fragmentao e enrugamento do fundo do

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    oceano, causados por fortes movimentos tectnicos. Este fenmeno deu origem a pequenas bacias, entre elas a bacia de Pieniny. Em resultado da sedimentao e estrutura heterognea do fundo da bacia, foram criadas diferentes camadas de rocha, dominadas por rochas calcrias. No final do Cretcico tiveram incio fortes movimentos orognicos, que levaram abertura de fissuras nas rochas que haviam sido depositadas no fundo da bacia de Pieniny. Este processo conduziu elevao do macio de Pieniny acima do nvel do mar [45]. As pitorescas paredes rochosas de calcrio, ao longo do desfiladeiro do rio Dunajec, constituem uma das estruturas naturais mais atractivas do parque [46]. Por todas estas caractersticas e processos de formao, a complexa e pouco habitual estrutura geolgica de Pieniny tem sido objecto de fascnio de muitos gelogos [40].

    A complexa estrutura do relevo, dos bitopos, dos solos e das condies climticas que caracterizam Pieniny, fazem com que a diversidade de flora e de fauna encontrada no PNP seja muito elevada. O patrimnio florstico extremamente rico, estando documentadas 1100 espcies de plantas vasculares, algumas delas endmicas, como o caso das espcies Taraxacum pieninicum e Erysimum pieninicum. Os declives montanhosos encontram-se cobertos maioritariamente por florestas de abeto-branco (Abies alba) - alguns exemplares tm 40 metros e 200 anos de idade - e por florestas mistas de abeto-branco e abeto-do-norte (Picea abies). Em certas zonas, no topo das rochas, encontram-se preservados alguns clusters de relquias (espcies representativas de perodos geolgicos iniciais), como sejam as espcies Pinus sylvestris e Juniperus sabina, algumas delas com mais de 400 anos. Nos declives mais ngremes mantiveram-se tambm algumas pequenas manchas da floresta primitiva dos Crpatos. Os prados de montanha, ou seja, clareiras abertas na floresta, outrora utilizadas para pastagem do gado, so outro dos elementos muito importantes da flora. Em um metro quadrado de prado podem ser encontradas cerca de 30-40 espcies de plantas com flor, nas quais as orqudeas ocupam um lugar de destaque [40, 45].

    Relativamente fauna, o nmero de espcies aqui registadas bastante elevado, reflexo da variedade de habitates existentes. O PNP possui 7100 espcies, 25 das quais foram aqui descritas pela primeira vez. Entre as espcies conhecidas e aquelas que se supem existirem no parque, o seu nmero oscila entre as 13000 e as 15000, ou seja, cerca de metade do total de espcies conhecidas na Polnia. Os invertebrados esto aqui representados com mais de 6500 espcies. O grupo mais numeroso o dos insectos, que encontram nos prados uma fonte de alimento essencial. A borboleta-apolo (Parnassius apollo) uma espcie simblica da natureza

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    local, endmica da Polnia e que apenas encontra refgio nas montanhas de Pieniny e nos Tatra, tendo sido objecto de um programa de repovoamento para assegurar a sua conservao. Exemplos de outras espcies raras que aqui vivem so, no grupo das aves, a espcie Trichodroma muraria e o bufo-real (Bubo bubo), e, no grupo dos mamferos, o lince (Felis lynx) e o gato-bravo (Felis silvestris), este ltimo registado aqui pela ltima vez h doze ou mais anos. O lobo (Canis lupus) pode ser observado ocasionalmente e nos ltimos anos foram encontradas algumas pistas da visita de ursos (Ursus actos) a esta regio. Entre os grandes mamferos mais comuns encontram-se o veado (Cervus elaphus) e o coro (Capreolus capreolus) [37, 45].

    2.3 Patrimnio Cultural

    As particularidades naturais do PNP no so a sua nica atraco. Ao longo dos sculos o Homem foi marcando a sua presena cultural nesta regio [40]. Os primeiros registos da civilizao remontam ao Paleoltico, tendo sido encontrado na gruta de Oblazova, na regio de Pieniny, um boomerang feito de dente de mamute. Uma rplica deste achado pode ser observada na exposio permanente de histria natural, na sede do parque. Em Pieniny os arqueologistas encontraram tambm provas que documentam a existncia de povos do perodo Megaltico, do Neoltico e da Idade do Bronze [18].

    No incio do sc. XIII fixaram-se as primeiras povoaes, habitadas por povos de montanha. As suas aldeias eram construdas em madeira, possuam hbitos e costumes nicos, folclore e arte caractersticos e tinham um dialecto prprio. Pieniny era caracterizado por uma grande diversidade tnica; durante sculos fixaram-se nesta regio polacos, eslovacos, alemes, Lemkos, ciganos e judeus. Igrejas de madeira, construdas no sc. XV e XVI, como as existentes em Debno e Grywald, mostram o talento artstico destes povos de montanha, que viveram em Pieniny e nas montanhas adjacentes, constituindo hoje em dia uma importante atraco turstica [40].

    Igualmente atractivas so as paisagens semi-naturais de Pieniny, fruto da aco do homem ao longo dos sculos. Os prados de montanha e as terras cultivadas junto base das montanhas, alternam com as reas de floresta, conferindo a esta regio uma particular beleza. A importncia desta paisagem e a cultura a ela associada esto representadas numa rea de

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    Relatrio de Estgio 15

    pastagem, em Majerec, que foi mantida no interior do parque. Trata-se do nico local no parque onde permitido o pastoreio, realizado de acordo com princpios ecolgicos. Pastores de montanha, dos Tatras, passam todo o Vero neste prado, num abrigo, onde fazem o pastoreio de rebanhos de ovelhas (Fig. 3 e 4). A partir do leite produzem, segundo os mtodos tradicionais, um queijo fumado de alta qualidade. Este local est aberto aos turistas, que podem aqui comprar este produto de alta qualidade biolgica e contactar de perto com esta actividade cultural [45].

    Fig. 3 e 4 Abrigo de pastores no prado de montanha de Majerec e queijo fumado produzido.

    2.4 Animao Ambiental

    2.4.1 Actividades disponveis aos visitantes

    So vrias as actividades de animao disponveis ao visitante. A mais atractiva e importante, no s em Pieniny, mas tambm escala europeia, a descida do rio Dunajec em jangadas, atravs do desfiladeiro de Dunajec. Este desfiladeiro um dos mais bonitos da Europa; numa distncia de apenas 2,5 km em linha recta, o rio faz sete curvas ao longo de uma extenso de 9 km, onde podem ser contempladas as magnficas paredes brancas de calcrio (algumas chegam aos 500 metros), quase verticais, onde o rio escavou a sua passagem, a floresta luxuriante que cobre os montes e alguns dos pontos mais emblemticos do parque, como a montanha das Trs Coroas [37, 41] (Fig. 5 e 6).

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    Fig. 5 e 6 Paredes brancas de calcrio que caracterizam as margens do rio Dunajec e vista sobre o Pico das Trs Coroas.

    Esta actividade tem quase 200 anos de idade e comeou como um programa adicional para os visitantes do Spa em Szczawnica no incio do sculo XIX [54]. As jangadas so construdas em madeira, compostas por cinco mdulos, tipo canoas, amarrados uns aos outros. As jangadas so conduzidas por dois rafters, o mestre frente e o assistente atrs, e levam dez

    pessoas cada. Para controlar as jangadas so utilizadas duas varas compridas de madeira, que tocam no fundo do rio, o qual tem pouca profundidade na maior parte da sua extenso. O mestre e o assistente vestem trajes tradicionais, cujos coletes exibem ornamentos azuis bem carregados, o que constitui uma marca distintiva de outros trajes dos montanheiros polacos. Frequentemente,

    a partida das jangadas acompanhada por uma banda a tocar musica folclore tradicional. A descida do rio tem uma durao de 3 a 3,5 horas e uma extenso mxima de 18,5 km

    at Krscienko, o ltimo ponto de paragem deste percurso. O maior parte do seu percurso feito ao longo da fronteira polaco-eslovaca, constituindo tambm uma actividade realizada pelos eslovacos [41]. O nmero de visitantes que descem o rio Dunajec, no perodo de Abril a Outubro, de 200 a 300.000 [40]. A instituio que faz a explorao privada desta actividade possui 250 jangadas e emprega 500 rafters. Uma das condies impostas pelo parque que estes empregados tm que pertencer s populaes locais. Alguns dos rafters possuem um segundo

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    Relatrio de Estgio 17

    emprego e alugam quartos a turistas para obterem mais rendimentos. O valor a pagar por pessoa de 9,75 , dos quais um euro reverte para o parque [J. Kozik, com. pess.].

    A descida do rio em canoas tambm est autorizada, desde que cumpra as regras legais em vigor [45]. Com a construo das barragens e a formao dos lagos artificiais, surgiu a possibilidade de explorao, nesta regio, de outro tipo de desportos aquticos para alm dos mencionados, nomeadamente os barcos de recreio. Esta actividade realizada fora dos limites do parque e decorre de Maio a Outubro [18].

    Outra das actividades que traz muitos visitantes a esta regio o pedestrianismo. No interior do parque existem cerca de 35 km de trilhos marcados [42], repartidos por sete percursos, que conduzem os visitantes aos picos mais altos e atractivos, permitindo desfrutar das paisagens magnficas sobre a regio de Pieniny, o rio Dunajec, as montanhas dos Tatras, entre outros [46]. A rede de percursos pedestres nesta regio foi desenhada muito antes da existncia do parque, em 1893, por iniciativa de uma associao de bilogos, poetas e polticos. Tendo em considerao que a sua implementao anterior criao do parque, alguns destes trilhos percorrem reas no interior da reserva integral. Existem casos tambm em que os percursos so transfronteirios, estando sujeitos a controlo por parte dos guardas das fronteiras.

    Na sua generalidade, os percursos pedestres da regio de Pieniny so classificados como fceis ou moderados, com diferenas de altitude que nunca excedem os 600 metros e uma durao mxima de sete a oito horas [40]. A sinalizao vertical com informao turstica para os visitantes , normalmente, colocada nos locais de acesso ao interior do parque e nos pontos de maior interesse. No primeiro caso, tratam-se de painis informativos com o mapa do parque, a rede de trilhos, os possveis destinos a seguir, o tempo de durao dos percursos e as actividades autorizadas e interditas. O mapa est legendado em ingls e polaco, mas a informao fornecida apenas em polaco. No segundo caso, existe informao acerca das espcies que podem ser observadas e normas de conduta para quem utiliza a rede de trilhos, informao essa disponvel apenas em polaco. (Fig. 7 e 8)

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    Fig. 7 e 8 Sinalizao vertical entrada do parque e nos pontos de interesse.

    Os percursos mais atractivos e onde existe uma maior afluncia de pessoas, so aqueles que conduzem os visitantes aos picos das montanhas de Sokolica e das Trs Coroas. A elevada presso turstica a que esto sujeitos alvo de algumas medidas de gesto por parte do parque, que sero referidas posteriormente. O pico de Sokolica oferece uma paisagem nica sobre o desfiladeiro Dunajec, onde possvel observar o rio a serpentear por entre as montanhas. Nesta montanha esto

    presentes as rvores mais antigas da Polnia, representadas pela espcie Juniperus sabina, a mais velha das quais estimam ter 550 anos de idade. O pico das Trs Coroas, por sua vez, constitui o smbolo do parque, e detentor de uma rara beleza natural. A paisagem que possvel contemplar a partir daqui a mais espectacular e diversificada das montanhas de Pieniny (Fig. 9). Esta montanha muito importante em termos de conservao, pois as suas paredes verticais providenciam habitates para algumas espcies que so nicas, como o caso da borboleta-apolo (Parnassius apollo) e da planta endmica Taraxacum pieninicum [45].

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    Fig. 9 Paisagem vista do topo do Pico das Trs Coroas, com as montanhas dos Tatras ao fundo.

    Tambm bastante interessante e muito visitado pelos turistas o percurso realizado ao longo da estrada pblica na margem do rio Dunajec. Tem incio do lado polaco e, aps atravessar a fronteira, continua pelo Parque Nacional de Pieniny Eslovaco (PIENAP), sempre ao longo do rio, at chegar aldeia do Mosteiro Vermelho. aqui que se encontra a sede do PIENAP. Ao longo do percurso do lado eslovaco existem doze painis informativos, com indicaes das normas de boa conduta a ter, e temas variados, como a flora, a fauna e o desfiladeiro de Dunajec (Fig. 10 e 11). As informaes esto disponveis em eslovaco e em ingls. Este percurso permite a realizao de passeios de bicicleta ou a cavalo e a prtica do cross-country skiing.

    Fig. 10 e 11 Percurso pedestre na margem eslovaca do rio Dunajec e painel informativo.

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    Os desportos de Inverno tm vindo a desenvolver-se bastante nos ltimos anos. No interior do parque, apenas permitido esquiar em declives abertos no florestados ou nos prados, excepto se estiveram localizados nas reas de reserva integral [45]. Fora dos limites do parque esto disponveis vrias infra-estruturas para a prtica de esqui e existem alguns trilhos marcados para a realizao do cross-country skiing.

    Relativamente aos passeios de bicicleta no interior do parque, estes apenas esto autorizados em estradas pblicas. O mesmo acontece para as carruagens puxadas a cavalo [45]. Contudo, fora dos limites do parque, existem alguns percursos desenhados onde podem ser praticadas simultaneamente as actividades de pedestrianismo, passeios de bicicleta e a cavalo.

    2.4.2 Infra-estruturas

    Localizados nos limites fronteirios do parque existem cinco centros de interpretao: Krscienko; Szczawnica; Sromowce Nizne; Scromowce-Katy; Czorsztyn. O financiamento para a sua construo teve origem nas medidas de compensao resultantes da construo da barragem nesta regio. Cada centro est subordinado a uma temtica diferente. Em Krscienko, o centro de interpretao est na sede do PNP. A exibio aqui apresentada intitula-se Como foi construdo o cenrio contemporneo de Pieniny, e como e porqu devemos proteg-lo e aborda os problemas da proteco da natureza, os aspectos geolgicos, arquitectnicos, etnogrficos, ecolgicos, a localizao geogrfica e o zonamento do parque. Possui um modelo em 3-D interactivo da regio de Pieniny. Neste centro existe tambm um gabinete de informao turstica, uma loja (venda de panfletos, mapas, guias, recordaes) e casa de banho, infra-estruturas estas igualmente disponveis nos outros centros de interpretao. No restante edifcio esto instalados os servios de organizao e gesto do parque.

    Em Szczawnica, a exibio apresenta os vrios ecossistemas florestais existentes em Pieniny, enquanto que em Sromowce Nizne o tema os ecossistemas rochosos de Pieniny. Neste ltimo centro foi recriado um habitat de montanha artificial com animais embalsamados. Esto tambm expostos os trajes tradicionais da regio e os utenslios utilizados na tecelagem e na moagem no trigo (Fig. 12 e 13).

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    Fig 12 e 13 Centro de Interpretao em Sromowce Nizne e tear tradicional exposto no seu interior.

    Um outro tipo de ecossistema frequente nesta regio, est patente no centro de interpretao de Czorsztyn. Trata-se do ecossistema das reas de pastoreio e dos prados de montanha. Associada a esta temtica, existe uma exposio dos utenslios utilizados no fabrico do queijo tradicional produzido no prado de Majerez.

    Por ltimo, temos o pavilho em Scromowce-Katy, com uma exibio sobre o ecossistema de Dunajec e a histria da descida do rio em jangadas em Pieniny. neste local que se inicia a descida do rio Dunajec. Para alm deste pavilho, existem dois parques automveis e um recinto (com um servio de restaurao, onde se efectuam as vendas dos bilhetes).

    Durante as visitas aos centros de interpretao fornecida informao gratuita sobre os temas expostos no local. As entradas so tambm gratuitas, excepo do centro em Krscienko (na sede do parque), onde so cobrados 50 cntimos por pessoa [45].

    O Castelo de Czorsztyn propriedade do parque e est localizado num pequeno enclave da rea protegida do PNP. Foi construdo na segunda metade do sc. XIII. Em 1790 um grande incndio reduziu esta fortaleza a runas, que tm sido alvo de restauros sucessivos na ltima dcada. Este espao utilizado para os programas de educao ambiental, subordinados ao tema

    Histria do Castelo. No seu interior existe uma exposio sobre o PNP, uma loja com venda de

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    artigos relacionados com o castelo e esto expostos alguns dos fragmentos recuperados aps a sua destruio. Uma das atraces a possibilidade dos visitantes cunharem a sua prpria moeda, com o smbolo da Polnia, mediante o pagamento de um euro. Este castelo um dos locais mais frequentados desta regio, recebendo 120.000 visitantes por ano. A entrada custa 50 cntimos, valor que, juntamente com os fundos de compensao pela construo da barragem, utilizado para a recuperao do castelo. Neste momento esto tambm a concorrer a fundos de apoio para este propsito.

    No exterior do parque, mas prximo do seu limite, existem dois abrigos tursticos de montanha onde possvel ficar alojado. Um dos abrigos abrigo est localizado em Sromowce Nizne, e fica praticamente na base da montanha das Trs Coroas. O outro abrigo, fica situado na periferia de Szczawnica, prximo do centro de interpretao existente nesta localidade.

    Relativamente aos locais de destino da descida do rio em jangadas, existem duas marinas, em Krscienko e em Szczawnica. Na marina de Szczawnica est disponvel um restaurante e um parque automvel [41, 45]. Ainda no mbito dos desportos nuticos, os barcos de recreio que utilizam os lagos artificiais criados com a barragem, tm sua disposio quatro portos onde podem atracar, localizados em Czorsztyn, Mizerna, Kluszkowce e Maniowy [18].

    Para a prtica de esqui na regio, esto disponveis vrias infra-estruturas. Em Szczawnica foram construdos alguns elevadores de esqui, pistas de esqui e um telefrico (exteriores ao parque). As vilas de Jaworki, Kluszkowce, Krscienko e Niedzica esto a seguir o exemplo de desenvolvimento de Szczawnica. Em Male Pieniny, ou seja, no parque do lado eslovaco (PIENAP), existem boas condies para a prtica de esqui e esto disponveis um telefrico e alguns elevadores de esqui [40].

    2.5 Gesto da Presso Turstica

    A criao do PNP teve e tem um papel preponderante no desenvolvimento socio-econmico da regio de Pieniny. At aos anos 70 as populaes locais viviam essencialmente da agricultura, mas com o declnio desta actividade, o parque passou a funcionar como uma importante fonte de receitas. Actualmente, 80% dos habitantes da regio vivem do turismo que realizado neste parque, principalmente da oferta de alojamento e comrcio. Anualmente o parque visitado por 700.000 pessoas, o que se traduz numa densidade de 300 visitantes por ha e por

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    ano, representando a maior densidade de turistas por km2 do Sul da Polnia. Em termos comparativos, o Parque Nacional dos Tatras visitado anualmente por 2,5 milhes de pessoas, possui uma rea 10 vezes superior ao PNP e a densidade turstica menor (~ 120 visitantes por ha e por ano) [M. Sokolowski, com. pess.].

    Durante muito tempo a forma como o parque era gerido era bem aceite pelas populaes, que viam no turismo uma mais valia para o desenvolvimento local. Era uma gesto voltada para o ecoturismo e a sua explorao era sustentvel. Hoje em dia h uma forte presso turstica e os interesses de construo de infra-estruturas (hotis, comrcio, restaurao) so cada vez maiores. O comrcio local quer atrair ainda mais visitantes, mas esta vontade no partilhada pela administrao do parque, que alis considera o actual nmero demasiado elevado. O director do parque tem autoridade para avaliar os projectos imobilirios para a construo de infra-estruturas na zona tampo e decidir sobre os projectos que avanam ou no e de que forma. Variadas vezes as restries impostas no so bem aceites pelas populaes [M. Sokolowski, com. pess.]. neste ponto que entra uma das linhas de aco do parque, a educao ambiental. Atravs de um programa de educao ambiental criado para crianas, adultos e visitantes, procuram dar a conhecer as caractersticas e as atraces do parque, e alertar para as necessidades de conservao da natureza e de um desenvolvimento sustentvel [45].

    O actual turismo de massas no PNP constitui um grande problema para a administrao do parque, que tem que conciliar os interesses de conservao da natureza com o acesso ao parque pelos visitantes [58]. Algumas das medidas de gesto que esto a ser tomadas passam pela delimitao de zonas sensveis e importantes, definio de locais com acesso condicionado, aces de vigilncia por parte dos guardas do parque, manuteno e proteco dos trilhos, determinao das actividades de animao ambiental que so interditas, entre outras.

    A definio de locais de acesso condicionado foi estabelecida pelo parque atravs da aplicao, aos visitantes, de taxas para acederem aos pontos mais sensveis e/ou com maior presso turstica. Se o objectivo fosse apenas criar receitas, seria indiferente cobrar uma entrada no parque ou cobrar taxas nos pontos referidos anteriormente. Mas sendo o objectivo do PNP a conservao da natureza, ento a aplicao de taxas a medida mais correcta. Alm disso, tendo em considerao que 45% do territrio do parque propriedade privada, seria difcil cobrar uma entrada no parque, pois os privados iriam querer parte das receitas. Contudo, a aplicao destas taxas continua a ser insuficiente, pois o nmero de pessoas nestes locais ainda excessivo. Impor um limite ao nmero de visitantes seria socialmente mal aceite, alm de que difcil saber qual a

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    capacidade de carga. Uma forma de solucionar este problema passa pelo aumento do preo das taxas [M. Sokolowski, com. pess.].

    So quatro os locais onde as taxas, no valor de um euro cada, so cobradas aos visitantes: subida ao pico das Trs Coroas e ao pico Sokolica, descida do rio Dunajec em jangadas e visitas ao Castelo de Czorsztyn. Grande parte das receitas utilizada na manuteno dos trilhos, no corte dos prados de montanha e na educao ambiental.

    Relativamente s medidas de manuteno e proteco dos trilhos, estas so aplicadas na sua recuperao. Face grande quantidade de visitantes que vm ao parque, verifica-se uma elevada degradao dos trilhos, que na sua maioria encontram-se medianamente a muito

    estragados. O facto de nesta regio chover em abundncia, mesmo no Vero, e os trilhos serem de terra e/ou de pedra calcria (de fcil eroso), tambm contribui para o mau estado dos mesmos. Alguns exemplos das aces de manuteno so a colocao de estruturas de proteco no solo, ao lado dos trilhos, para evitar que as pessoas saiam do trilho e permitir a recuperao da vegetao. A construo de passadios de madeira nos locais onde o terreno est demasiado erodido e escorregadio outra das medidas. Devido ao mau estado constante em que se encontram os corrimos de madeira que ladeiam os trilhos mais ngremes, est a proceder-se sua substituio por corrimos de ferro, por terem maior durabilidade. Estas estruturas funcionam

    como pontos de apoio para os visitantes nos declives acentuados, facilitando a caminhada, e tm tambm por objectivo evitar que os visitantes saiam do trilho e faam percursos alternativos. No pico das Trs Coroas a construo de um passadio de metal foi uma boa medida encontrada para a proteco das rochas e da flora, assim como para assegurar a segurana dos turistas,

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    prevenir a eroso do trilho, controlar o acesso ao topo e orientar o percurso de subida e descida (Fig. 14).

    Fig. 14 Passadio de metal no Pico das Trs Coroas.

    Quanto interdio de determinadas actividades de animao, esta medida constitui um elemento fundamental para a preservao do parque. Os passeios de bicicleta e a cavalo, nos percursos pedestres marcados no interior do PNP, so proibidos. Os trilhos so por vezes acidentados e a realizao destas actividades seria muito difcil. Alm disso, o impacto seria superior ao que actualmente j se verifica. A prtica de escalada est interdita, por forma a proteger as rochas e a flora associada comunidades muito frgeis que interessam preservar. Outra das razes tem a ver com a segurana para quem faz a escalada [M. Sokolowski, com. pess.].

    Outras actividades que no esto autorizadas no PNP so o parapente e os barcos a motor [45]. Devido aos maiores impactos para a natureza resultantes do down-hill skiing, o parque procura promover o cross-country skiing [M. Sokolowski, com. pess.]. Durante a descida do rio em jangadas ou em canoas, no permitida a paragem nas margens no rio, excepto em casos de emergncia e nos locais consignados para o efeito [18, 40]. Com esta medida, o parque procura diminuir o impacto na natureza resultante destas actividades que atraem milhares de turistas.

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    Outras duas medidas de gesto da presso turstica tm a ver com a necessidade de autorizao por parte do director do parque para a realizao de visitas ou encontros organizados no parque. Uma vez conseguida a autorizao aconselhado o acompanhamento por um guia qualificado, servio este que se encontra disponvel na regio. A segunda medida no se trata de uma imposio, mas sim de sensibilizao, aconselhado-se s pessoas que fazem a descida do rio, a deixarem os seus automveis no local de destino e a dirigirem-se ao ponto de partida de autocarro. Com a construo da barragem foi aberta uma estrada que cortou ao meio a zona mais selvagem do parque, e que agora muito utilizada pelos turistas no acesso ao rio e pelos camies que transportam as jangadas de madeira de volta ao local de partida, constituindo um impacto muito grande. Assim, o facto de deixar o automvel fora do parque permite ao visitante relaxar e desfrutar melhor o passeio, e contribuir para a proteco da natureza [45].

    O excessivo nmero de turistas que se tem vindo a registar nos ltimos anos pe srios riscos aos objectivos de conservao da natureza do PNP. Face grande afluncia de visitantes, tm-se vindo a verificar um grande crescimento das povoaes prximas ao parque, o que constitui um impacte significativo. Um exemplo a cidade de Szczawnica, habitada por 7500 pessoas, cujo rudo constante dos automveis, principalmente no Vero, faz-se sentir no interior do parque e representa um factor de perturbao da vida selvagem. A degradao dos trilhos e o pisoteio das reas envolventes so uma realidade, o nmero de pessoas que sobem aos pontos mais sensveis superior sua capacidade de carga e a presso para a construo de infra-estruturas na zona tampo do parque cada vez maior. Algumas das medidas de gesto aplicadas pelo parque so claramente insuficientes e torna-se urgente que sejam impostas, gradualmente, algumas restries ao nmero de visitantes que entram no PNP. A sensibilizao das pessoas locais e dos visitantes para esta necessidade fundamental, sem a qual nenhuma aco de gesto ser bem aceite.

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    3. Parque Nacional de Gorce

    3.1 Introduo

    O Parque Nacional de Gorce (PNG) cobre a parte central e a parte Noroeste das montanhas de Gorce, sendo o ponto mais alto o monte de Jaworzyna Kamienicka, com 1288 metros (Fig. 15). Localizado no Sul da Polnia, na cordilheira montanhosa dos Crpatos, o parque teve a sua criao no ano de 1981, cobrindo uma rea de 5926 ha. Contudo, os primeiros contornos das medidas de conservao da natureza neste local tiveram incio em 1927, com o surgimento da reserva natural de Wladyslaw Orkan, em Turbacz, nas propriedades do conde Ludwik Wodzicki [27, 37]. Actualmente a rea do parque de 7030 ha, dos quais 3585 ha so reserva integral (51%). Desta rea total, apenas 6 a 7% so propriedades privadas. A zona tampo do parque de 16.647 ha. Os objectivos do PNG so a proteco da floresta e da paisagem. [P. Czarnota com. pess.].

    Fig. 15 Mapa do Parque Nacional de Gorce.

    A paisagem do parque dominada por montes suaves e redondos, na sua maioria cobertos por floresta, que, apesar de terem estado sob actividade humana durante centenas de anos, conseguiram manter o seu carcter natural. A rede de cursos de gua bastante densa divide o parque em vrias cristas montanhosas. Destaca-se o vale formado pelo rio de Kamienicki como o mais bonito e o mais selvagem vale do PNG. Uma das estruturas que tornam o parque ainda mais atractivo so os prados de montanha [37].

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    3.2 Patrimnio Natural

    Os elementos tpicos do relevo das montanhas de Gorce so as elevaes rochosas de arenitos, situadas nas vertentes viradas a Norte. O substrato geolgico desta regio composto por sedimentos de flysh dos Crpatos, que incluem os complexos de arenitos e conglomerado (formam as elevaes), assim como os complexos de xisto e arenitos (nas depresses e nas zonas de passagem entre as elevaes montanhosas) [27].

    O PNG um parque tpico de florestas montanhosas, formado por vrias camadas arbreas que cobrem cerca de 95% da rea total. A floresta natural de faias (Fagus silvatica) e de abetos-brancos (Abies alba), ocupa as zonas baixas, entre os 650 e os 1100 metros de altitude, enquanto que a floresta de abetos-do-norte (Picea abies) ocupa as zonas altas, entre os 1100 e os 1310 metros de altitude. Podem tambm ser encontradas outras espcies, menos dominantes, como o lario-europeu (Larix decidua), o freixo-europeu (Fraxinus excelsior) e o amieiro-cinzento (Alnus incana). Algumas rvores tm mais de cem anos [27, 28, 37, 49].

    Esto descritas 944 espcies de plantas vasculares, 35% das quais em prados de montanha. Estes representam actualmente 5% da rea do parque, albergando espcies protegidas como a Gladiolus imbricatus e Geum montanum. Estes prados foram criados pelo homem, constituindo reas de pastagem para o gado, que outrora ocuparam reas a altitudes mais elevadas. A reduo do pastoreio levou a um crescimento rpido de arbustos e rvores nestes locais, o que conduziu a uma degradao de muitas comunidades de plantas e ao desaparecimento de espcies tpicas. Presentemente, o parque procura preservar os prados por razes que se prendem com o seu valor natural, cultural e paisagstico [27, 37].

    As florestas de Gorce so habitat para numerosas espcies de animais. Mais de 100 espcies de aves reproduzem-se aqui, entre elas a cegonha-negra (Ciconia nigra), o tetraz-real (Tetrao urogallus) e o bufo-real (Bubo bubo) [37]. Existem cerca de 30 espcies de mamferos, sendo os mais interessantes os grandes predadores, como o lobo (Canis lupus), o lince (Lynx lynx) e o urso (Ursus actos). Este ltimo apenas visita ocasionalmente esta rea. Os ungulados mais comuns so o veado (Cervus elaphus), o coro (Capreolus capreolus) e o javali (Sus scrofa). O PNG alberga tambm anfbios interessantes como a salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra), a qual constitui o smbolo do parque, a espcie Bombina variegata, entre outros. Os rpteis ascendem ao nmero de 20, sendo alguns exemplos a vbora (Vipera

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    bereus) e o lagarto (Lacerta vivipera). O mais abundante, mas ainda pouco conhecido o grupo dos invertebrados [27].

    3.3 Patrimnio Cultural

    No sc. XII comearam a fixar-se os primeiros povos nas montanhas de Gorce. A sua aco na floresta fez-se sentir desde muito cedo, atravs do abate de rvores para a criao de terrenos de cultivo e mais tarde para o pastoreio do gado. As alteraes mais marcantes na flora de Gorce tiveram lugar no final do sc. XIV e no incio do sc. XV, pelas razes anteriormente descritas, e depois mais tarde no incio do sc. XIX, com o desenvolvimento da indstria, que conduziu a uma explorao excessiva da floresta [26, 27]. Os campos de cultivo e as pastagens, embora menos abundantes, so ainda hoje figuras marcantes da paisagem cultural das montanhas de Gorce e do parque.

    Actualmente, esta grande extenso montanhosa habitada por vrios grupos tnicos, com dialectos, costumes, trajes e formas de construo prprios, muitos dos quais mantiveram as suas antigas tradies. Os monumentos de arquitectura local so abundantes e variados, suscitando a atraco dos turistas que visitam o PNG. Exemplos disso so os abrigos de pastores, que podem ser encontrados nos prados de montanha. S dentro do parque esto listados 64, dos quais 12 esto classificados como monumentos histricos. O monumento sagrado mais antigo do parque a capela Bulanda, localizada no prado Jaworzynka Kamienicka, construda em 1904 por Tomasz Chlipala. Este antigo local de adorao e o seu construtor, um pastor, conhecido por ser um mdico feiticeiro, deram origem a muitas lendas. Outros locais visitados pelos turistas so as vrias igrejas construdas em madeira, das quais as mais antigas e preciosas so as construdas no sc. XVI, como a de St. Magdalena em Rabka e a de St. Anna em Nowy Targ [26, 28].

    3.4 Animao Ambiental

    3.4.1 Actividades disponveis ao visitante

    O PNG procurado maioritariamente por visitantes que querem estabelecer contacto com a natureza. A forma mais frequentemente utilizada para conhecer o parque o pedestrianismo (96 - 98%) [P. Czarnota com. pess.]. No interior do parque existem 70 km de trilhos, a maior

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    parte deles utilizados simultaneamente para os passeios de bicicleta e a cavalo (Fig. 16). Alguns destes trilhos so caminhos de terra batida ou estradas florestais, de acesso a terrenos privados localizados no interior do parque.

    Fig. 16 Rede de trilhos do PNG.

    No parque existe um nmero considervel de pontos a elevada altitude, que oferecem aos pedestrianistas panoramas extremamente atractivos, como sejam as extenses montanhosas vizinhas dos Tatras e de Pieniny. A paisagem do parque natural e o nvel de interferncia humana reduzido, pelo que o parque constitui um local muito interessante para o turismo [28]. Na sua generalidade, os percursos pedestres cruzam reas de prados de montanha, onde frequentemente existem antigos abrigos de pastores. Estas reas possuem uma grande diversidade de plantas com flor, que lhes conferem uma variedade de cores de beleza singular, na Primavera e Vero.

    Os trilhos mais frequentados concentram-se na parte Noroeste do parque. nesta zona que se situa o elevador de esqui, utilizado durante todo o ano para o transporte dos visitantes at ao ponto de maior altitude do PNG. Daqui se iniciam as caminhadas at aos principais locais de interesse do parque, nomeadamente o abrigo de montanha de Turbacz (35 - 45% dos visitantes).

    Karol Wojtyla visitou por duas vezes este parque nacional, ainda antes de se tornar no Papa Joo Paulo II. Num dos trilhos percorridos por Karol, foi criado mais tarde um percurso pedestre em sua memria.

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    Ao abrigo das aces de educao ambiental do PNG, foram desenhados, oito Trilhos Didcticos (Didatic Trails) no interior do parque. O incio de cada trilho marcado por um painel informativo, com o mapa da rota a realizar e um pequeno texto descritivo da temtica do percurso (em ingls e polaco) (Fig. 17, 18 e 19). No mapa esto assinalados os vrios pontos de paragem, marcados no terreno por uma pequena estaca de madeira. A cada ponto corresponde um texto interpretativo do tema proposto, descrito num livro criado para o efeito, que o grupo alvo desta aco traz consigo.

    Fig. 17, 18 e 19 Painel informativo e pormenor do mapa e texto nele representados.

    De uma forma geral, existe bastante sinalizao vertical com informao disponvel aos visitantes que procuram o PNG. Nos locais de acesso ao interior do parque, para a iniciao dos percursos, existem painis informativos com o mapa do parque, a rede de trilhos e placas indicativas com os possveis destinos e tempo de durao dos percursos. Existem tambm

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    painis com os smbolos das actividades que esto autorizadas e interditas. O mapa est legendado em ingls e polaco. Ao longo dos trilhos, nos pontos de interesse, esto disponveis leitores de paisagem e painis informativos, mas neste caso com descries apenas em polaco.

    No Inverno, o parque procurado por alguns praticantes de esqui, nomeadamente de cross-country skiing e down-hill skiing.

    Outras actividades que esto autorizadas dentro do parque, so os passeios de bicicleta e a cavalo. Estima-se que apenas 4% dos visitantes realizem passeios a bicicleta e que os passeios a cavalo apenas so efectuados ocasionalmente [P. Czarnota com. pess.].

    3.4.2 Infra-estruturas

    O nico edifcio ao qual se pode atribuir a designao de centro de interpretao, a sede do PNG. Fica localizada na povoao de Poreba Wielka, prximo do territrio do parque, num pequeno enclave de 12 ha que faz parte da rea protegida. Na sede esto concentrados os

    servios de recepo ao visitante e os departamentos de investigao, gesto e educao ambiental do parque. Neste edifcio existe uma pequena exposio, com os aspectos

    geolgicos, florsticos e faunsticos do parque. Uma das seces deste edifcio

    dedicada educao ambiental, onde esto expostos os desenhados realizados pelas crianas durante as aces de educao e o

    artesanato tpico da regio. As aulas so leccionadas numa sala de videoconferncias, para um pblico alvo composto por alunos do ensino bsico e secundrio, provenientes das comunidades vizinhas ao parque. As sadas de campo so realizadas nos trilhos didcticos mencionados anteriormente, guiadas por funcionrios do departamento de educao ambiental. Todos os anos decorre um programa especial para os professores que cooperam com o parque, intitulado Near meetings with nature. O parque est preparado para receber grupos organizados, como escolas, universidades, turistas, para realizarem as sadas guiadas ao longo dos trilhos didcticos, sendo necessria marcao prvia. Neste momento as sadas de campo so gratuitas, mas vo passar a ser pagas para os grupos organizados referidos, excepto para as escolas locais.

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    Futuramente, o parque vai criar um Museu Natural nas runas de um centro agrcola existente no interior do enclave junto sede, que funcionar como o centro de interpretao do parque.

    No prado de montanha de Wzorowa, o parque comprou um abrigo de pastores. Os objectivos so restaurar o abrigo e utiliz-lo para a realizao de actividades de educao ambiental e conservar activamente esta rea, por forma a impedir a progresso da floresta.

    Nos limites do parque existem dois abrigos tursticos, em Stare Wierchy (25 camas) e em Turbacz (100 camas) (Fig. 20 e 21). So abrigos muito agradveis e acolhedores, localizados em prados de montanha. A afluncia turstica a estes locais grande, especialmente ao abrigo de Turbacz. Estas duas infra-estruturas de alojamento e apoio ao visitante, procuram promover o parque atravs de algumas iniciativas. No abrigo de Stare Wierchy, pode ser adquirida alguma informao sobre o parque, como mapas, postais, livros. Alm disso, possuem uma sala de recepo aos visitantes, onde realizam apresentaes relacionadas com o parque. Esta iniciativa promovida pelos prprios proprietrios do abrigo e no tem qualquer ligao administrao do parque. No exterior do edifcio, existe um mapa do parque com a rede de trilhos e placas indicativas das direces e do tempo de durao dos percursos disponveis.

    O abrigo de Turbacz muito maior que o anterior e a sua localizao bem mais atractiva. Daqui podem observar-se, ao longe, as montanhas dos Tatras e, na proximidade, o nico prado (Wzorowa) onde o pastoreio est autorizado no interior do parque. No exterior do abrigo, est afixado um painel com a representao grfica das reas protegidas mais prximas de Gorce. Neste mesmo painel existem trs figuras mais pequenas, com desenhos e textos das normas de boa conduta a ter no interior do parque; regras do parque; cogumelos comestveis e forma correcta de os recolher. Existe um outro painel com o mapa do parque e a rede de trilhos, e tambm muitas placas indicativas das direces e do tempo de durao dos percursos disponveis. No interior do abrigo esto afixados outros mapas, com informao mais pormenorizada sobre as actividades permitidas. Toda esta informao est escrita em polaco.

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    Fig. 20 e 21 Abrigo turstico em Stare Wierchy e em Turbacz.

    No interior do parque, existe uma pista de esqui e algumas clareiras onde est autorizada a realizao do down-hill skiing. O acesso pista de esqui efectuado por um elevador de esqui, tambm construdo no interior do parque. O mesmo acontece com duas estruturas de cadeiras de esqui, mais pequenas, para o acesso s clareiras. Junto ao abrigo de Turbacz e na extremidade Nordeste do parque existem tambm cadeiras de esqui, mas a sua localizao exterior ao territrio da rea protegida.

    3.5 Gesto do Parque

    O PNG visitado anualmente por 30.000 turistas. Uma densidade de turistas de 4 pessoas por hectare e por ano, coloca este parque entre os 10 parques nacionais com menor fluxo

    turstico da Polnia [42]. Na opinio da administrao do parque, estes valores so suficientes, pois o principal objectivo do parque a conservao da natureza e no o turismo que se faz no seu interior [P. Czarnota com. pess.]. Contudo, o reduzido nmero de visitantes, tem algumas repercusses negativas, nomeadamente, na aceitao por parte das populaes locais da existncia desta rea protegida e na obteno de rendimentos para a gesto do parque.

    No que diz respeito s populaes locais, a criao do PNG no foi bem aceite, pois viviam maioritariamente das receitas provenientes do abate de rvores e, com as restries impostas, a sua actividade foi bastante prejudicada. Presentemente, e passados 25 anos do surgimento do parque, as novas geraes mostram uma maior aceitao, mas gostariam de ver o nmero de turistas aumentado. S assim se poderia assistir a um desenvolvimento econmico volta do turismo feito no parque, com o consequente desenvolvimento da regio e a criao de

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    Relatrio de Estgio 35

    emprego. Neste momento, so ainda muitas as famlias que vivem do abate de rvores nos terrenos que possuem dentro do parque e na zona tampo [P. Czarnota com. pess.], sujeitas s restries impostas pelo mesmo, e que continuam a ver esta rea protegida apenas como um entrave realizao dos seus propsitos.

    At data de realizao do estgio, a entrada no parque era efectuada gratuitamente, pelo que a fonte de receitas do PNG tinha origem no abate controlado e venda de rvores, nos apoios do Estado polaco e em Organizaes No Governamentais (ONG). As ONG do apoio financeiro para a edio de material educativo, manuteno dos trilhos e dos leitores de paisagem, e suportam algumas actividades do parque, como o programa de proteco do tetraz-real (Tetrao urogallus). Os fundos de apoio obtidos pelas ONG provm de fbricas poluentes, que por este meio pretendem compensar os impactos negativos que tm no ambiente natural [P. Czarnota com. pess.].

    Ainda no decorrer do ano de 2005, ia ser adoptado o sistema de taxas para entrar no parque, no valor de 25 a 50 cntimos. O mtodo escolhido, no foi a colocao de bilheteiras junto das entradas do parque, mas sim a venda de bilhetes nos locais onde, actualmente, vendida informao sobre o parque, ou seja, na sede do PNG, nos abrigos tursticos e nas lojas das povoaes em redor. Por forma a controlar as entradas ilegais, os funcionrios do parque vo passar a exigir a apresentao do bilhete aos visitantes que circulem no interior da rea protegida. A aplicao de taxas para entrar no parque, foi uma medida imposta pelo Estado polaco, que assim pretende aumentar as receitas provenientes do turismo nos parques nacionais [P. Czarnota com. pess.].

    A gesto do ambiente natural do parque efectuada segundo trs linhas de aco principais: a gesto dos prados de montanha, a gesto da zona tampo e a gesto da floresta. Os prados de montanha so reas que apresentam uma grande biodiversidade e um importante valor paisagstico, que interessam preservar. Nesse sentido, o parque tem procurado que os 5% de prados restantes sejam mantidos inalterados. Para atingir este propsito, o parque tem vindo a comprar, ao abrigo do Programa LIFE, os prados e os abrigos de montanha aos privados. O objectivo recuperar estes abrigos e incentivar os pastores da regio a colocarem o seu gado nos prados. Deste modo, consegue-se travar a progresso da floresta e manter a riqueza florstica que est associada aos prados de montanha. Outro objectivo da conservao dos prados relaciona-se com a proteco do tetraz-real (Tetrao urogallus), uma ave muito rara na Polnia, que se alimenta dos mirtilos que crescem nos prados [M. Kurzeja com. pess.]. Tambm para impedir a

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    progresso da floresta, o parque autoriza que sejam apanhados os mirtilos que crescem nos prados, pois o pisoteio impede de certa forma o crescimento das rvores. Alm disso, a apanha de mirtilos constitui uma fonte de receita muito importante para as comunidades locais. [P. Czarnota com. pess.].

    Na zona tampo do parque, a gesto destina-se a controlar a construo civil e o corte de rvores. Teoricamente, procura-se manter a arquitectura local e, para tal, ao construir uma casa

    exigida uma licena da cmara e do parque. Por vezes aparecem construes ilegais que tm que ser demolidas. Outro dos problemas a construo de anexos nas casas privadas, destinadas ao albergue de turistas. Quanto ao controlo do abate de rvores na zona tampo, este da competncia dos servios florestais. Os proprietrios podem cortar um nmero controlado de rvores, mediante a plantao posterior de igual nmero [P. Czarnota com. pess.].

    A gesto da floresta da responsabilidade dos guardas do parque e do departamento de investigao cientfica. Aos guardas cabem as tarefas de vigilncia e execuo prtica das aces de proteco, enquanto que o departamento de investigao responsvel pela monitorizao e investigao cientfica dos ecossistemas florestais, da sua dinmica e evoluo. Cada guarda est encarregue da gesto de 500 a 2000 ha de floresta, para alm das competncias relacionadas com a conservao da natureza e fiscalizao das actividades tursticas. De cinco em cinco anos, o departamento de investigao conduz aces de monitorizao da floresta e de controlo de pragas. Em 1969, trs reas de floresta de abetos-do-norte (Picea abies) foram destrudas por uma praga do insecto Ips typographus. Para impedir novas situaes como esta, so colocadas, ao longo da floresta, mais de 300 armadilhas para apanhar e monitorizar o nmero de insectos desta espcie que existem no parque [P. Czarnota com. pess.].

    Outra das aces de gesto que da competncia do parque, mas que falha por omisso, a manuteno e recuperao dos trilhos. Geralmente, a verificao do estado da marcao horizontal dos trilhos feita de dois em dois anos ou at mais, dependendo da condio em que se encontram. Esta sinalizao essencial para impedir que os visitantes se afastem dos percursos desenhados e faam caminhos alternativos, destruindo outras reas. Relativamente a este ponto, os percursos esto, geralmente, bem sinalizados. Contudo, o estado de degradao de

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    muitos trilhos elevado e muito pouco tem sido feito para combater este problema. Esta situao particularmente evidente nas estradas florestais de acesso a terrenos privados. O elevado estado

    de degradao condiciona muito a sua utilizao para passeios pedestres. Em resposta a este problema os visitantes procuram vias alternativas na proximidade, com grandes impactes negativos (Esquema 1). Esta situao poderia ser solucionada pelo parque atravs da criao de um percurso alternativo estrada, destinado somente utilizao pelos caminhantes. Outro exemplo

    do mau estado em que se encontram os trilhos, acontece no percurso mais utilizado (e com maior fluxo turstico em todo o parque) para chegar ao abrigo turstico de Turbacz. Os fortes ventos que por vezes ocorrem nesta regio levam queda de rvores que impedem a passagem pelo trilho O parque no toma medidas rpidas de limpeza destes trilhos, pelo que tambm aqui se multiplicam os trilhos alternativos deixados pelos turistas.

    Esquema 1 Vias alternativas criadas pelos pedestrianistas face ao elevado estado de degradao das estradas florestais.

    O PNG uma rea protegida de floresta que apresenta, comparativamente aos parques nacionais mais prximos de Pieniny e Tatras, uma paisagem muito homognea e menos atractiva, resultando num reduzido nmero de visitantes. Os locais mais interessantes do parque esto concentrados nos prados de montanha. Particularmente atraente o prado de Wzorowa, referido anteriormente. As 200 ovelhas que esto autorizadas a pastar neste prado, os ces de guarda e os seus criadores, do-lhe uma beleza especial e permitem reviver o passado desta regio, marcado pelo intenso pastoreio.

    Vias alternativas

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    Este parque constitui um bom exemplo em termos de conservao da natureza e de sensibilizao das populaes locais para a necessidade de proteco deste territrio. Um bom programa de educao ambiental, dirigido a um pblico alvo vasto, tem vindo a ter um papel fundamental na transmisso da palavra, dos valores que o parque possui e procura preservar. Contudo, o baixo fluxo turstico e o fraco desenvolvimento das comunidades locais so uma realidade, e a existncia do parque no constitui, para muitos, uma mais valia. Os rendimentos que o parque consegue obter so tambm insuficientes para a uma gesto apropriada. Tendo em considerao que esta rea protegida est longe de atingir a capacidade de carga, e que o aumento do nmero de visitantes seria benfico para o parque e para as comunidades locais, seria essencial promover o turismo neste local atravs de um bom marketing e da criao de mais infra-estruturas de apoio junto aos centros populacionais.

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    4. Parque Nacional dos Tatras

    4.1 Introduo

    O Parque Nacional dos Tatras (PNT) est localizado no Sul da Polnia, nos Crpatos, fazendo fronteira com a Eslovquia (Fig. 22). Juntamente com o Parque Nacional Eslovaco (TANAP), formam desde 1993 uma Reserva da Biosfera Transfronteiria (MaB Man and Biosphere), com uma rea de superfcie de 145.600 ha, da qual 20.400 ha esto do lado polaco da fronteira e 125.200 ha esto na Eslovquia.

    O PNT foi criado em 1954, com uma rea de 21.164 ha, repartidos em 15.191 ha de floresta e 5660 ha de prados de montanha e cumes rochosos, protegendo toda a extenso montanhosa dos Tatras em territrio polaco. As terras arveis (169 ha) e as guas (209 ha) ocupam 1,8% da rea total do parque. A reserva integral est representada em 11.514 ha, sendo que 6149 ha so ecossistemas florestais [37, 47, 52]. Relativamente propriedade do territrio, mais de 87% da rea do parque pertence ao Estado, enquanto que o restante pertence a uma comunidade constituda por oito vilas.

    Fig. 22 Mapa do Parque Nacional dos Tatras.

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    O principal objectivo do parque a preservao da natureza. Sendo assim, todas as actividades realizadas tm que ser efectuadas de acordo com os princpios de preservao da natureza e orientadas segundo a lei em vigor no territrio do PNT. Enquanto instituio, o parque promove a realizao de investigao cientfica, gere as actividades de turismo, desporto e recreao, conduz o programa de educao ambiental e protege o patrimnio cultural da regio, dando apoio aos artistas e artesos da regio [36, 51].

    A necessidade da proteco dos Tatras foi pela primeira questionada nos finais do sc. XIX, quando alguns cientistas descobriram a presena de valores naturais muito interessantes e bem preservados. A constante ameaa a que estavam sujeitos urgia que fossem tomadas medidas para a sua conservao. Contudo, apenas no incio do sc. XX foram dados os primeiros passos, em conjunto com a Eslovquia, no sentido da criao de um parque nacional, que protege-se o macio montanhoso dos Tatras na sua totalidade. O aparecimento de organizaes governamentais e sociais de proteco da natureza e o seu papel na consciencializao ambiental entre a sociedade polaca, foram preponderantes nesta fase. Em 1939 cria-se o Parque Natural dos Tatras em territrio polaco, mas s em 1947, aps a II Guerra Mundial, estabelecido o Parque Nacional dos Tatras (PNT), administrado pelos Servios Florestais do Estado. Em 1949 nasce o TANAP do lado eslovaco. O longo processo de criao do actual PNT s viria a ficar completado cinco anos mais tarde [36, 51].

    O PNT constitui um dos maiores parques da Polnia e tambm o nico com carcter alpino. Aqui podem ser contempladas paisagens magnficas, como as montanhas granticas pontiagudas, com as suas encostas cobertas de floresta, assim como as depresses ps-glaciares, transformadas em lagos de montanha o maior possui uma superfcie de cerca de 35 ha. Outras atraces da paisagem so os vales suspensos, as quedas de gua, os cursos de gua de montanha, entre outros [47, 59]. Estas razes e muitas outras fazem do parque um lugar bastante atractivo para os turistas e para os naturalistas [31].

    4.2 Patrimnio Natural

    As montanhas dos Tatras so das mais jovens da Polnia, caracterizadas por possurem um relevo bastante diversificado, com diferenas de altura que podem ascender at aos 1700 metros. O pico mais alto, Rysy, fica na fronteira com a Eslovquia e tem 2499 metros de altitude [52]. A formao das montanhas dos Tatras so o resultado de movimentos orognicos, iguais aos ocorridos nos Alpes. Tradicionalmente, os Tatras polacos so divididos em trs zonas: High

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    Tatras, West Tatras e Bielskie Tatras. Os High Tatras so constitudos principalmente por rochas magmticas (granitos), mas na sua parte Norte, no macio de Gesia Szyja e Kop Soltysie, so formados por rochas sedimentares, por calcrios e por dolomites. A crista principal dos West Tatras formada por rochas metamrficas: xistos e gneisses, se bem que a Norte esta zona predominantemente constituda por calcrios e dolomites. Os fundos dos vales encontram-se preenchidos por sedimentos granticos dos rios e sedimentos ps-glaciares.

    A complicada e diversificada estrutura geolgica das montanhas do parque, reflecte-se nas variadas formas de superfcie do solo que podem ser encontradas. As glaciaes do Plistocnio, que ocorreram pelo menos trs vezes nos Tatras, deixaram marcas bem visveis. Estas glaciaes so as responsveis pelo aparecimento de vales em forma de U, pela existncia de cavidades circulares nos flancos das montanhas dispostas umas sobre as outras, pelos vales suspensos, pelas paredes rochosas escarpadas, pelas cristas rochosas pontiagudas e pelas acumulaes de terra e de pedras no fundo dos vales, arrastadas pelos glaciares quando derreteram (moraines). Estes elementos esto particularmente bem visveis nos High Tatras, que devido maior altitude das suas montanhas, ficaram cobertos por placas de gelo de dimenses superiores s formadas nos West Tatras. Alguns pequenos vales nas regies montanhosas mais baixas, no ficaram cobertos por glaciares e mantiveram as suas formas tpicas, em V, originalmente cravadas na rocha pelos rios [51].

    No PNT podem ser encontradas comunidades de plantas naturais ou apenas ligeiramente modificadas. Esta vegetao, tpica das montanhas altas da Europa Central, bastante diversificada, sendo que a fauna encontrada tambm a que est tipicamente associada a este tipo de habitates. A estratificao da vegetao observada uma das caractersticas que marcam a natureza do parque [37]. Devido a uma estruturao vertical das condies climticas, esto definidas cinco camadas de cobertura florstica (Fig. 23). Esta diviso tambm influenciada pelas diferenas na composio qumica do solo onde se encontram.

    As camadas inferiores, at aos 1250 metros, so tpicas de uma cobertura florestal mista: faias (Fagus silvatica) e abetos-brancos (Abies alba). Contudo, devido ao abate intensivo de rvores verificado no sc. XIX esta floresta mista foi substituda por abetos-do-norte (Picea abies), que constituem actualmente a espcie dominante. Em alguns vales, mantiveram-se pequenos fragmentos da cobertura original e tm-se assistido nos ltimos anos a uma recuperao destas espcies. As tentativas de restauro por parte do parque tm sido tambm muito importantes. A camada seguinte, entre os 1250 e os 1550 metros, dominada completamente pela floresta de abetos-do-norte. Acima desta camada e at aos 1800 metros, o

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    coberto vegetal constitudo por turra (Pinus mugo). Esta espcie encontra-se perfeitamente adaptada ao clima frio e consegue resistir congelao no perodo do Inverno, quando fica submersa sob uma espessa camada de neve. medida que se sobe na montanha a turra torna-se cada vez menos abundante, ficando reduzida a pequenos aglomerados. Gradualmente comeam a aparecer os prados de montanha, cobertos por gramneas alpinas, onde pode ser encontrado um endemismo, o Delphinium oxysepalum. Esta camada pode se estender at aos 2200 metros. Finalmente temos a camada rochosa, at aos 2500 metros, podendo ser observados, nas paredes rochosas, pequenos aglomerados de gramneas e algumas espcies de plantas floridas [32, 36].

    Fig. 23 Estratificao da floresta nos Tatra.

    A flora dos Tatra est representada por cerca de 1000 espcies de plantas vasculares (85 esto protegidas por lei), incluindo alguns endemismos, como o Saxifraga wahlenbergii, o Delphinium oxysepalum, sub-endemismos (Lilium martagon) e espcies relquia como por exemplo o Pinus uliginosa [37, 51].

    Relativamente riqueza faunstica do parque, esta est representada por muitos endemismos e por espcies raras e protegidas [52]. Esto descritas 290 espcies de vertebrados e cerca de 8000 invertebrados. Podem ser encontradas aproximadamente 40 espcies de mamferos, representados por muitas espcies tpicas das florestas que encontram refgio nos Tatras, como por exemplo, o urso castanho (Ursus actos) e o lince (Felis lynx). Noutros territrios polacos, estas duas espcies foram perseguidas pelo homem at desaparecerem. Mais comuns neste tipo de habitat e que ocorrem por todo a Polnia, so o lobo (Canis lupus), o veado (Cervus elaphus), o coro (Capreolus capreolus) e a marta (Martes martes).

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    Acima da zona coberta por floresta, ocorrem algumas espcies interessantes, como a marmota alpina (Marmora marmota) e a camura (Rupicapra rupicapra), protegidas por lei desde o sc. XIX. A camura est mesmo representada no smbolo do PNT. Neste tipo de habitat tambm ocorrem algumas aves, como a ferreirinha-alpina (Prunella collaris) e a espcie Trichodroma muraria. A guia-real (Aquila chrysaetos) e o falco-peregrino (Falco peregrinus) so duas aves raras que podem ser observadas nos Tatras e esto entre as 101 espcies que aqui nidificam [36, 37]. Quanto aos anfbios, existem sete espcies no parque. A espcie mais numerosa e espalhada pelo parque a r-comum (Rana temporaria). Os rpteis apenas esto representados nos Tatras por quatro espcies. O mais prolfero o lagarto-comum (Lacerta vivipara) [51].

    4.3 Patrimnio Cultural

    O patrimnio cultural dos Tatras constitui, a par com a natureza, um importante componente do PNT [52]. Os primeiros sinais da interferncia humana nos Tatras ocorreram no sc. XV, com a entrada de pastores e caadores no seu territrio, que trouxeram consigo costumes e rituais provenientes das montanhas dos Balcs. Como as reas de pastoreio naturais eram muito limitadas, os pastores comearam a abater a floresta. O gado era mantido nas montanhas durante o Vero inteiro e a madeira proveniente do corte das rvores era utilizada pelos pastores para combustvel e para a construo dos seus abrigos.

    Hoje em dia, as marcas da sua passagem esto presentes nos prados de montanha que formam a paisagem dos Tatras, nos abrigos de pastores e nas construes sagradas existentes dentro dos limites do parque [36]. O pastoreio do gado foi praticamente banido do parque, excepto em 20 dos prados de montanha existentes (130 ha), onde a sua reintroduo em 1982 foi realizada com o objectivo de preservar uma tradio secular, que foi trazida para esta regio pelos pastores provenientes do Balcs. Outro dos objectivos foi impedir a progresso da floresta para a rea dos prados. Os donos do gado e os seus ajudantes so obrigados a utilizar equipamentos, trajes tradicionais e a falar o dialecto local. Apenas esto autorizados a fazer o pastoreio das ovelhas de produtores locais, e os seus ces de guarda tm que ser os ces de ovelhas dos Tatras polacos. O queijo comum e o queijo fumado, chamado de oscypek, tm que ser fabricados de acordo com os mtodos utilizados nos Tatras desde tempos imemoriais. Alm disto, os pastores devem preservar os seus rituais antigos, alguns deles associados religio e magia. Os cinco abrigos de pastores onde so produzidos os queijos esto abertos aos turistas e

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    constituem uma grande atraco. Por vezes a procura dos queijos chega a ser superior sua oferta.[51].

    Apesar da utilizao dos Tatras para o pastoreio, a fixao das populaes era mantida afastada do seu territrio. S em meados do sc. XVI comearam a se estabelecer as primeiras povoaes no sop dos Tatras. Foi neste perodo que surgiu a actual cidade de Zakopane, onde ficam alojados a maior parte dos visitantes desta regio. Trata-se de um local muito atractivo, outrora conhecido como uma estncia termal, e visitado por muitos escritores, pintores, cientistas e polticos, que tiveram um papel preponderante no crescimento e divulgao de Zakopane. Uma das atraces que fazem desta cidade um local to especial o folclore, presente nas roupas, na msica, nos rituais, na lngua, nas artes e no artesanato. As festividades regionais e a cozinha original so outros dos valores de Zakopane. A arquitectura extremamente interessante e foi desenvolvida na passagem do sc. XIX para o sc. XX por Stanislaw Witkiewicz, conhecida por estilo Zakopianski. As construes possuem fundaes granticas, com paredes de madeira. As varandas so abertas e espaosas e os telhados tm uma configurao tpica - altos e bastante declivosos, cobertos com ripas de madeira. Normalmente as casas so bastante ornamentadas, com flores e outros elementos que lhe do uma beleza particular (Fig. 24) [30].

    Fig. 24 Construo tpica na cidade de Zakopane - Estilo Zakopianski.

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    4.4 Animao Ambiental

    4.4.1 Actividades disponveis aos visitantes

    O PNT um dos mais antigos da Polnia e o que atrai o maior nmero de visitantes. Foi aqui que se desenvolveu, pela primeira vez, o turismo que hoje dia uma fora dominante na economia regional. O pedestrianismo representa cerca de 91% do volume turstico total no parque [17]. No seu interior existem mais de 240 km de trilhos, abertos no Inverno e no Vero, que se estendem praticamente por toda a rea protegida, excepo da parte que reserva integral. A rede de trilhos foi construda em 1873 pela Polish Tatra Association (PTA), aproveitando os antigos caminhos percorridos pelo gado e os caminhos florestais existentes [T. Kozica, com. pess.].

    A variedade de trilhos disponveis ao visitante permite-lhe desfrutar de uma multiplicidade de cenrios e contactar de perto com as atraces, que ao longo dos anos, tm fascinado milhares de turistas. O grau de dificuldade dos percursos varia entre passeios a p

    muito fceis e muito difceis, ao longo das cristas das montanhas. Nestes ltimos foram cravados degraus e correntes nas rochas para possibilitar aos caminhantes a transposio de zonas com difcil acesso. Todos os trilhos encontram-se abertos a todos os tipos de visitantes, sem quaisquer restries, sendo muito procurados pelas magnficas paisagens de montanha que proporcionam. Contudo, variadas vezes a realizao destes percursos resulta em quedas fatais, registando-se entre 10 e 20 acidentes mortais por ano [T. Kozica com. pess.].

    Apesar do parque ser muito procurado para o pedestrianismo, a quantidade de sinalizao vertical com informao turstica muito reduzida, no existindo painis

    informativos com descries relativas ao patrimnio do parque. As nicas estruturas informativas disponveis aos visitantes, so avisos, escritos apenas em polaco, com indicao de algumas interdies, dos perigos associados realizao de determinadas actividades e das normas de conduta (Fig. 25 e 26). Nos pontos de bifurcao dos trilhos, nos abrigos tursticos e

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    nas entradas do parque frequente encontrarem-se tambm indicaes das direces e do tempo de durao dos percursos disponveis.

    Fig. 25 e 26 Placas informativas com indicao dos perigos associados realizao do percurso e com a descrio das normas de boa conduta a ter no interior do parque.

    Os percursos pedestres mais procurados e com um maior fluxo de visitantes, dentro do PNT, so os que conduzem montanha de Giewont, ao lago de Morskie Oko e ao Vale de Koscieliska. O lago de Morskie Oko (Olho do Oceano) o ponto mais popular do PNT, recebendo em mdia 4000 pessoas por dia, podendo ascender s 9000 no Vero [T. Kozica com. pess.], o que contabiliza 25% do trfego total verificado no parque [17] (Fig. 27). o maior lago do PNT, com 35 ha de rea e 51 metros de profundidade, e est rodeado por montanhas [51]. Este percurso tambm utilizado nos programas de educao ambiental, durante as sadas de campo dos alunos das escolas, no ensino da ecologia. designado por Trilho Didctico e, para o efeito, foram construdos e colocados ao longo deste percurso sete painis interpretativos em madeira (Fig. 28). Cada painel aborda um tema diferente. Associado a este trilho foi publicado um pequeno livro, com uma descrio mais pormenorizada de cada ponto de paragem. O livro pode ser adquirido no posto de venda da sede do parque e nas entradas do parque. Existe um outro trilho educativo no interior do parque, no Vale de Bialego, com dez painis interpretativos [P. Szczepanek com. pess.].

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    Fig. 27 e 28 Lago de Morskie Oko e painel interpretativo do Trilho Didtico de Morskie Oko.

    O segundo ponto mais procurado o Vale de Koscieliska, um dos mais atractivos vales dos Tatras, visitado diariamente por 3000 pessoas [T. Kozica com. pess.], o que representa 19% do trfego total do parque [17]. A parte inicial do trilho paralela ao rio Koscieliski, constituindo um passeio muito agradvel. Trata-

    se de um percurso muito fcil, acessvel a todos os visitantes, que termina num abrigo turstico. Algumas das atraces ao longo do percurso so os prados de montanha e as grutas abertas aos visitantes. Num dos prados, existe um abrigo de pastores onde produzido