espiral do tempo 39

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A revista de quase todos os relógios

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16 Editorial por Hubert de Haro

18 Ficha Técnica

20 Espiraldotempo.com

22 Internet: Surf ‘n tell

24 Números

26 Crónica William S. Burroughs... Sonhos e revólveres por Rui Cardoso Martins

56 Produção Masters of Complications Frank Muller

68 Coleção Mille MigliaA saga das mil milhas por Miguel Seabra

74 Inovação Uma selo de excelência por Cesarina Sousa

78 Coleção Royal Oak Há 40 anos a navegar com sucessopor Fernando Correia de Oliveira

84 Cinema Viagem através do (im)possível por Cesarina Sousa

86 Iniciativa Deepsea Challenge Um salto para o abismo

94 Celebração Triunvirato histórico Porsche Design por Miguel Seabra

98 Submetidos à questão

100 Produção A nossa Escolha

112 Tempo Livre Adereço estival por Miguel Seabra

128 Laboratório Lange 1 Tourbillon Calendário Perpétuo

136 Gadgets

140 Embaixadora Cameron Diaz

142 Glamour

146 Produção A toda a velocidade TAG Heuer Formula 1

156 Independentes Hocus Pocus relojoeiropor Carlos Torres

158 Livros

160 Onde comprar

161 Assinaturas

162 Crónica Estar aí, estando aqui por José Luís Peixoto

tema de capa

28 «É uma obra minha num relógio»

Julião Sarmento foi convidado para ser o quinto artista

com assinatura na coleção Reverso Arte Portuguesa da

Jaeger‑LeCoultre. A Mulher, África e o Tempo marcaram

um encontro fugaz no seu próprio atelier...

SumárIO ESPIrAL dO TEmPO #39 PRIMAVERA/VERão 2012

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SumárIO ESPIrAL dO TEmPO #39 PRIMAVERA/VERão 2012

reportagens 36 A sustentável

leveza do alumínio F.P.Journe: lineSport por Miguel Seabra

46 Para além do círculo Vacheron Constantin por Miguel Seabra

88 mais & melhor A. Lange & Söhne: Datograph Auf/Ab por Miguel Seabra

entrevistas 40 Inovar por

herança MARC hAyEk por Hubert de Haro e Miguel Seabra

52 «Trabalhamos num projeto que valoriza o património vivo de Genebra» ESTELLE FALLET por Hubert de Haro

90 uma senhora comandante DInÁ AzEVEDo por Paulo Costa Dias

114 uma nova geração numa nova loja PEDRo gIL por Paulo Costa Dias

134 «Afirmamo-nos como uma luxury maison» nUno TEIxEIRA por Paulo Costa Dias

135 «O futuro é promissor» gUSTAVo PEREIRA por Paulo Costa Dias

152 «Há o vinho dos relógios de quartz e o vinho dos relógios mecânicos» João PAULo MARTInS por Paulo Costa Dias

em foco

116 Jaeger-LeCoultre Master Compressor Chronograph Céramique

118 Franck muller Casablanca Chronograph

120 Graham Silverstone Tourist Trophy 100 years

122 Cvstos Challenge Jet‑Liner

124 François-Paul Journe Centigraphe

124 raymond Weil Maestro Chronograph

126 TAG Heuer Carrera Chronograph Monaco grand Prix

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EdITOrIAL

«Muita gente pensa que abrir uma empresa inovadora depende sobretudo do marketing. Claro que as técnicas de venda existem, porém, nós, nunca gastámos um cêntimo em marketing. os bons produtos vendem sozinhos. Se fabricar um produto útil e bonito, as pessoas compram‑no.» A frase é de kevin Systron, 29 anos, que entrou, no passado dia 9 de abril, na restrita lista dos multimilioná‑rios americanos. kevin e o seu parceiro Mike krieger* venderam à Facebook a Instagram ‑ uma App que permite modificar as suas fotos antes de as partilhar com os amigos - precisamente 555 dias após o seu lançamento por ... mil milhões de dólares!

Claro que o fulminante sucesso dos dois jovens empresários deverá inspirar vários case studies no futuro: arriscar, inovar ou, ainda, surpreender deverão ser apresentadas como chaves do sucesso. Por mim, gosto de ver nesta fairy tale, só possível na pátria fundadora do mito do American Dream, a obsessão pelo ‘belo e o útil’.

não vejo melhor exemplo para a indústria relojoeira atual que, apesar de um crescimento recente impressionante (22% em 2010, 20% em 2011) esconde um risco latente: focar demasiado os novos lançamentos na satisfação de uma clientela chinesa que representa já perto de 40% das vendas do setor (somando as vendas na China e nas grande capitais europeias). Basta constatar as inúmeras séries ‘dragão’ apresentadas este ano para nos convencermos que o risco não é virtual e que a originalidade e a pluralidade da alta‑relojoaria devem ser defendidas.

Belo e útil foram, também, os dois critérios que nos guiaram na seleção das várias temáticas desta nossa 39.ª edição, a começar pela disposição horizontal da capa (única) que representa a saudável continuação da série Reverso Arte Portuguesa. Dias e noites agitaram a redação da revista para definir as melhores temáticas! Expoente máximo desta justa verbal: a escolha da ‘nossa escolha’(!). Foi nossa opção definir categorias (Desporto, Complicação, Inovação...) para ajudar a nossa seleção para esta primavera/verão de entre as muitas novidades apresentadas. Aguardamos os vossos comentários!

Saudações relojoeirasHubert de Haro

* Mike krieger chegou aos Estados‑Unidos em 2004, vindo do seu Brasil natal.

PS: Uma nota final para lamentar o desaparecimento do entusiástico fundador do primeiro e único Museu de Relojoaria do nosso País e da Península Ibérica, António Tavares d’Almeida. Esperamos que a sua dedicação e o seu espírito de entrega a uma causa tão nobre lhe sobrevivam e, quem sabe ‑ já que há poucos meses se estendeu até Évora, com o novo pólo do museu nesta cidade – se instala na capital... o nosso País, os seus colecionadores e os seus connoisseurs bem o merecem!

do belo e do útil

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FICHA TÉCNICA ALGuNS CúmPLICES

diretorHubert de [email protected]

EditoresPaulo Costa [email protected]

Cesarina [email protected]

Editor técnicoMiguel [email protected]

Design gráfico/ilustraçõesPaulo [email protected]

Magda [email protected]

FotografiaNuno Correia

Colaboraram nesta ediçãoCarlos Torres • Dody Giussani • Fernando Correia de Oliveira • José Luís Peixoto • Rui Cardoso Martins

ContabilidadeElsa Henriques - [email protected]

Coordenação de publicidade e assinaturas Patrícia Simas: [email protected]

revisãoLetrário - Serviços de Consultoria e Revisão de Textos

ContactosCorrespondência: Espiral do Tempo, Av. Almirante Reis, 39 -1169-039 Lisboa • Tel: 21 811 08 96

PropriedadeTodos os artigos, desenhos e fotografias estão sobre a proteção do código de direitos de autor e não podem ser total ou parcialmente reproduzidos sem a permissão prévia por escrito da empresa editora da revista: Company One, Lda sito na Av. Almirante Reis, 39 – 1169-039 Lisboa. Sede da Redação - Av. Almirante Reis, 39 - 1169-039 LisboaA revista não assume, necessariamente, as opiniões expressas pelos colabo radores.

Distribuição: VASPImpressão: Peres-Soctip, Indústrias Gráficas, SAEstrada Nacional 10, Km 108,3 2135-114 Samora Correia - PortugalPeriodicidade: Quadrimestral Tiragem: 20.000 exemplares Registo pessoa coletiva: 502964332Registo no ICS: 123890Depósito legal Nº 167784/01Registo na ERC - 123890

Nota da redação: A Espiral do Tempo foi redigida ao abrigo do novo acordo ortográfico

Fundador: Pedro Torres

dody GiussaniDiretora da revista italiana L’Orologio é também autora de uma das mais conceituadas rubricas de análise técnica de relógios. E é precisamente com os seus artigos técnicos que Dody giussani tem colaborado para a Espiral do Tempo. nesta edição, destaque para o Lange 1 Tourbillon Calendário Perpétuo da A.Lange & Söhne.

126 Lange 1 Tourbillon Calendário Perpétuo

Fernando Correia de Oliveirahá quase duas décadas que desenvolve atividade de produção e edição de títulos nas áreas da relojoaria e do luxo para os principais órgãos de comunicação social em Portugal, Espanha e México. Da sua atividade de investigação tem produzido regularmente obras como Relógios de Sol (2007), Dicionário de Relojoaria (2007) e Tempo e Poder em Lisboa (2008).

78 royal Oak: há 40 anos a navegar com sucesso

José Luís PeixotoDepois de O Livro, aquele que é talvez o mais pop dos escritores consagrados portugueses estreou‑se no passado mês de abril na literatura infantil com a obra A Mãe que Chovia. no entanto, e apesar das suas inúmeras viagens, José Luís Peixoto permanece como presença assídua nas nossas páginas com as suas crónicas à volta do Tempo. o privilégio é nosso, mas o prazer, confiamos, será seu!

162 Estar aí, estando aqui

Nuno CorreiaÉ um dos membros de longa data da Espiral do Tempo enquanto fotógrafo e nos últimos números tem revela‑ do uma nova faceta em produções de moda/still life//relógios que não deixam ninguém indiferente. Destaque nesta edição para a produção centrada em grandes complicações da Franck Muller. Assina também a capa deste número.

56 masters of Complications

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INTErNET ESPIRALDoTEMPo.CoM

20 O site da Espiral do Tempo foi remodelado e está mais ativo do que nunca.

uma nova abordagem, tipo blogue, que prima pela simplicidade. Vídeos

exclusivos, reportagens, entrevistas, fotos fantásticas e atualizações diárias

sempre com a qualidade que nos carateriza... Já passou por lá?

A 26 de março, o realizador e explorador concluiu com sucesso a sua expedição ao ponto mais fundo da Fossa das marianas, no oceano Pacífico. Cameron permaneceu cerca de 3 horas neste inóspito lugar. Consigo levou apenas um rolex Oyster Perpetual deepsea Challenge.

Continuar a ler

Karl-Friedrich Scheufele tem feito um trabalho notável no setor relojoeiro da Chopard e após fundar a manufatura de alta relojoaria L.U.C na década de 90 para os modelos mais superlativos da marca, acabou de montar a manufatura Fleurier Ébauches

Continuar a ler

Mais uma produção exclusiva com alguns dos mais sensuais e excitantes modelos, revelando‑os em toda a sua beleza, descontração, nudez e cor. Poderosos, femininos ou masculinos, mais sóbrio ou arrojados, mas sempre de enorme calibre! Modelos Franck Muller, claro…

Continuar a ler

James Cameron atinge o fundo da Fossa das marianasRoLEx | CIênCIA E TECnoLogIA, noTíCIAS, VIDEoS | ESPIRAL Do TEMPo | MARCh 30, 2012

Baselworld 2012 – Chopard ChoPARD | EnTREVISTAS, VIDEoS | ESPIRAL Do TEMPo | MARCh 12, 2012

Color dreams FRAnCk MULLER | FoTogALERIA | ESPIRAL Do TEMPo | FEBRUARy 14, 2012

from revista Espiral do Tempo on Flickr

Precisão Nórdica! Carlos Torres

O peso de um ícone Miguel Seabra

Ano Novo, Vida Nova hubert de haro

Em relação à crise europeia eu não oiço mais ninguém. Decidi simplesmente olhar para o que faço, fazer o meu trabalho e o resto não me interessa.

François‑Paul Journe

rELóGIOS Em FOCO (29)

ESPIrAL.TV (20)

FOTOGALErIA (4)

dESPOrTO (13)

CIêNCIA E TECNOLOGIA (4)

ENTrEVISTAS (10)

rEPOrTAGENS (22)

COLECIONISmO (4)

SAudAdE (2)

CróNICAS (7)

LIVrOS (3)

NOTíCIAS (25)

SABIA quE? (2)

TAG HEuEr (15)

JAEGEr-LECOuLTrE (12)

rOLEx (9)

CHOPArd (6)

FrANCK muLLEr (6)

rAymONd WEIL (6)

AudEmArS PIGuET (5)

GrAHAm (5)

A. LANGE & SöHNE (4)

BrEGuET (4)

OFFICINE PANErAI (4)

POrSCHE dESIGN (4)

F.P.JOurNE (3)

FOrTIS (3)

PATEK PHILIPPE (3)

TudOr (3)

CVSTOS (2)

mONTBLANC (2)

VACHErON CONSTANTIN (2)

VErSACE (2)

2Lmx (1)

BuLGArI (1)

CHANEL (1)

LOuIS VuITTON (1)

mB&F (1)

VOuTILAINEN (1)

NEWSLETTEr

ASSINATurAS

úLTImA EdIçãO ImPrESSA

PuBLICIdAdE

quem somos?Site oficial da revista Espiral do Tempo e uma porta de entrada, em língua portuguesa, para o mundo da alta‑relojoaria. Dos melhores relógios aos grandes eventos, dos protagonistas às novidades do setor, este é o espaço para quem os instrumentos do tempo são uma perdição. A Espiral do Tempo conta com 10 anos de edição.

Estamos a seguir

ESPIrAL dO TEmPO Color dreams

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22

Com apenas alguns cliques descobrem-se novidades e espaços

realmente interessantes. uma breve recolha de curiosidades que

nos chamaram a atenção pelo modo como descobrem a relojoaria.

Fondation de la Haute HorlogerieSediada em genebra, a Fondation de la haute horlogerie (Fundação de Alta‑ -Relojoaria) foi criada em 2005 com o intuito de promover a Bela Relojoaria a nível internacional. Para isso, desenvolve diversas iniciativas de modo a perpetuar valores como criatividade, cultura e tradição. Como não poderia deixar de ser, um dos projetos é o seu próprio site oficial que surge como uma referência no domínio da relojoaria. Experimente subscrever a newsletter e tem garantia de atualidade certa.www.hautehorlogerie.org

Casa-museu medeiros e AlmeidaUma porta de entrada para quem não conhece e uma oportunidade de visita sem sair do lugar. Ao vivo, a experiência é sempre outra, mas o site da Casa‑Museu Medeiros e Almeida surpreende pela diversidade e clareza de informações que ali podemos encontrar sobre as coleções expostas – o acervo conta com cerca de 2000 peças. Destaque para o interessante conjunto de relojoaria no qual está incluído um relógio inglês do século xVII que pertenceu à rainha Catarina de Bragança e um relógio de aparato em cristal de rocha que pertenceu à imperatriz Sissi da Áustria. www.casa-museumedeirosealmeida.pt

Ciência 2.0 «Promover um maior diálogo entre ciência e sociedade, abrindo ao público a possibilidade de participar com conteúdos de divulgação científica» ‑ é este o objetivo do Ciência 2.0, um projeto de comunicação, desenvolvido na Universidade do Porto. numa linguagem simples e clara, a Ciência fica ao nosso alcance, mas um dos motivos pelos quais sugerimos este site é a questão que inaugura a participação dos leitores: «o que é afinal o Tempo?»www.ciencia20.up.pt

INTErNET SURF’n TELL

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24Francos suíços (ChF). Valor atingindo pelo pêndulo Cygnes et mouettes Referência 1437 da Patek Philippe no leilão Important Modern and Vintage Timepieces da Antiquorum, realizado em genebra a 11 de março.

Mil milhões de francos suíços. Valor total de exportações de relojoaria suíça em 2011.

Número de visitantes profissionais da edição de 2012 de Baselworld.

Hz. Frequência do mikrogirder, o novo concept da TAg Heuer.

Menções da Audemars Piguet no Twitter durante o SIhh 2012.

Número de peças que compõem o movimento do Spherotourbillon da Jaeger-LeCoultre.

É o número desta página!

BrEVES núMERoS

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26

Tive, na juventude, como toda a gente, dois ou três amigos meio malucos (o mesmo achariam eles de outros). Lembro‑me, em particular, de um vizinho (ouvi dizer que, hoje, constrói à mão excelentes barcos de resina, além de ser atleta de nível mundial, a quem darei um abraço se o vir) que, aos 14 anos, andava a ler Alucinações de um Drogado / Refeição Nua. nessa altura, ele dizia várias coisas incompreensíveis e, quando se percebiam, assustadoras. Atribuí, então, a responsabilidade ao livro, e, passados estes anos, ainda sou capaz de ter razão. É curioso, a frase introdutória dá uma boa definição da obra (nem sempre acontece): «Acordei da Doença aos quarenta e cinco anos num estado de calma, no meu perfeito juízo, e consideravelmente de boa saúde, à exceção de desgaste no fígado bem como as feições pálidas caraterísticas de todos os que sobrevivem à Doença. A Doença... A maior parte dos sobreviventes não se lembra do delírio com detalhe. Eu aparentemente tirei notas detalhadas sobre doença e delírio. (...) A Doença é a adição à droga e eu fui drogado durante 15 anos.» A seguir, o autor faz uma lista das drogas – e dos métodos de as tomar – que não vale a pena descrever. naturais e sintéticas, opiáceas e alucinogénicas... pensem em todas as que conhecem, nas que nunca ouviram falar, e mesmo naquelas que já desapareceram. William S. Burroughs, o renegado que passou a membro da Academia de Letras Americanas. o homem que foi exterminador de ratos e insetos, empregado de bar, detetive e viajante; o escritor de culto da Beat Generation, dos anos 50 do século XX. Naked Lunch é, por sinal, um título de Jack kerouac,

CróNICA RUI CARDoSo MARTInS

William S. BurroughsSonhos e revólveres

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que estava a passar a obra à máquina – primeiro passada por Allen ginsberg – que se terá enganado a escrever ‘naked lust’ (luxúria nua). Para Burroughs, fez sentido: a ‘refeição nua’ seria «aquele momento parado em que toda a gente vê o que está na ponta do garfo». Burroughs acreditava na irrupção súbita da realidade, e do sonho, no nosso quotidiano. Durante muito tempo, foi assim que trabalhou: justapondo coisas sem relação aparente, coincidências notáveis, colagens, fotos, métodos das artes plásticas, da música e do cinema, sempre aprofundando o sentido do mundo. Burroughs é também, na origem, um dos mais trágicos escritores de sempre. Como disse David Cronenberg, a propósito da adaptação/recriação cinematográfica que fez de Naked Lunch (cheia de criaturas do delírio, um inseto gigante sodomita, um bar ‘intergaláctico’, que Burroughs inventou antes da Guerra das Estrelas etc.), em entrevista a Augusto M. Seabra (no Público, a 25 de setembro de 1992), era alguém que não separava a obra da vida: «no filme, na vida de Burroughs, a decisão demorou muito a ser tomada; ele só começou a escrever aos 35 anos, quando matou a mulher!»

Forma direta de descrever um dia terrível no México, onde Burroughs se refugiara para tomar morfina, e a quantidade de variações populares e policiais da tragédia. Muitos anos depois, em entrevista à Paris Review (a Conrad knickerbocker), Burroughs disse que a heroína só lhe foi útil depois de a deixar de vez – «diminui a consciência», um dia inteiro a olhar o dedo grande do pé etc. –, falou dos perigos de levar um tiro nos bares, e do assunto: «E tive aquele acidente terrível com Joan Vollmer, minha mulher. Eu

tinha um revólver que estava a planear vender a um amigo. Estava a examiná‑lo, e disparou — matando‑a. Começou um rumor de que eu estava a tentar acertar num copo de champanhe na cabeça dela, ao estilo de guilherme Tell. Absurdo e falso.» A entrevista à Paris Review é interessante pelo retrato que dá do homem e do seu aspeto. Burroughs estava no melhor hotel da sua cidade natal, Saint Louis, depois de voltar de Tânger. Estava tão elegante que «poderia ser o sócio maioritário de um banco privado, mapeando o curso de fortunas enormes, porém anónimas. Um amigo do entrevistador, avistando‑o do outro lado do saguão, pensou que ele era um diplomata inglês». Comparem com um dos exemplos que Jack kerouac dá de William S. Burroughs numa fase ‘pré‑escrita’: «Dentro de casa, a Joan lia os anúncios classificados na cozinha; o Bill chutava‑se na casa de banho, agarrando com os dentes a sua velha gravata preta a servir de garrote e espetando a agulha no seu braço pavoroso crivado de mil buracos» (ed. Relógio D’Água, trad. Margarida Vale de gato – uso a versão do ’rolo original’, com os nomes verdadeiros das personagens: Allen ginsberg deixa de ter o pseudónimo Carlo Marx e Burroughs; agora, é mesmo Bill e não old Bull Lee). Acrescenta, depois: «Contou‑nos o problema com os vizinhos: eram um bando deles com crianças malcriadas que atiravam pedras por cima dos destroços da cerca à Julie e ao Willie e, às vezes, ao Bill. Mandou‑os parar com aquilo; o velho veio de lá a correr e gritou qualquer coisa em português. o Bill entrou em casa e voltou com a caçadeira.»

há sempre um português nos sítios malucos.

Burroughs acreditava na irrupção súbita da realidade, e do sonho, no nosso quotidiano. Durante muito tempo, foi assim que trabalhou: justapondo coisas sem relação aparente, sempre aprofundando o sentido do mundo.

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ENTrEVISTA dE CAPA JULIão SARMEnTo

Em 2010, numa entrevista ao Jornal I, afirmou: «irrita-me pensar que, faça o que fizer, as pessoas compram, desde que esteja lá o meu nome.» Considera este projeto com a Jaeger- -LeCoultre um mero aproveitamento comercial, ou revelou-se algo de mais profundo?(risos) Essa pergunta é capciosa e essa frase foi descontextualizada. Está, portanto, a partir de uma premissa errada. há, no entanto, um pouco de verdade nisso, infelizmente. Cada vez mais, com a globalização, muito mais do que os resultados práti‑cos ou técnicos daquilo que as pessoas adquirem, o que interessa é a maneira como aquilo que se adquire soa. Tem que ver com a predominância das marcas. não se compra um relógio, compra‑se um LeCoultre; não se compra um carro, compra‑se um Aston Martin, mas a realidade não está aí. Muitas vezes, as pessoas não compram as coisas por causa da qualidade, compram as coisas por aquilo que elas significam, pelo status social ou cultural que essa aquisição lhes outorga. E, neste sentido, infelizmente, tenho quase a certeza de que há pes‑soas que compram coisas que eu faço, não porque gostem, não porque se interessem, mas porque está lá o meu nome. A proposta era desenhar o Tempo. Escolheu uma figura feminina. decidiu representar o tempo feminino?não desenhei o tempo feminino, porque acho que o tempo feminino não tem tempo. Quando me foi pedido um projeto, foi‑me pedida uma imagem que tivesse não só que ver com o tempo, mas que fosse assinatura visual absoluta e facilmente identificável, e eu sou, de facto, muito identificado com a repre‑

Julião Sarmento foi convidado para ser a quinta personalidade com

assinatura na coleção reverso Arte Portuguesa da Jaeger-LeCoultre.

um projeto que tinha como proposta a interpretação do Tempo de um

modo que fosse perfeitamente identificável como sua obra.

No final, a sua interpretação acabou por « girar em torno da iconografia

feminina», tema que melhor carateriza a obra daquele que é atualmente

um dos mais internacionais artistas plásticos portugueses. A mulher,

áfrica e, como não poderia deixar de ser, o Tempo marcaram um

encontro fugaz no seu próprio atelier...

Entrevista hubert de haro e Paulo Costa Dias, fotos nuno Correia

«É uma obra minha num relógio»

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aos homens a todos os níveis menos naqueles que, obviamente, não se deviam comparar. nada que na altura já não devesse de ser assim, repare.

Já se assumiu como «um construtor de enig-mas». É isto a mulher por si representada, um enigma?Seguramente. Mas não é só isso, porque a repre‑sentação da mulher no trabalho que eu faço tem um sentido mais histórico. Se vir, desde o início da representação, desde Lascaux, que as primei‑ras representações são do corpo humano, dos dedos, das mãos. o homem representa‑se, e é a coisa mais representada em toda a história da arte. na minha perspetiva, o corpo humano é o único símbolo que não é passível de se tornar um cliché, porque nós resistimos e renovamo‑nos. há coisas que se gastam, mas a representação do corpo não se gasta. É neste sentido que me interessa a representação do corpo, e só faço mulheres porque não gosto de fazer homens, é tão simples como isto (risos). A segunda leitura é a do lado enigmático. Que as mulheres são um enigma claro que são. Mas também há homens que são enigmas, as pessoas são enigmas.

sentação do corpo feminino. Todo o meu trabalho gira à volta disso, gira à volta da representação, da iconografia feminina e, de facto, tenho uma série de obras que são uma espécie de mulher expetante, que está à espera, o que tem que ver com o espaço e com o tempo. Com o espaço no qual ela existe, o espaço que ela preenche, e com o tempo indetermi‑nado em que ela lá está. Porque em qualquer altura em que você olhe para o desenho, ela continua lá, não se vai embora, e mesmo que você se vá embora, ela continua lá. Este não é um tempo fugaz, é um tempo eterno. E foi este o sentido que me interessou nesta conexão entre uma imagem de marca, a minha imagem de marca, e esta ideia do tempo que não acaba. O que mudou na mulher portuguesa desde os anos 60/70?não sei, não sou mulher. (risos) Acho que estão muito mais aware; que estão muito mais cientes de como as coisas são; são mais informadas, e os homens também; são menos dependentes; fizeram a descoberta do seu corpo; têm um grande sentido de liberdade, que eu acho excelente; estão cada vez mais bonitas, que acho melhor ainda. Comparam‑se

ENTrEVISTA dE CAPA JULIão SARMEnTo

Edição limitada a 20 exemplares em ouro rosa 18kt e a 30 exemplares em aço. Cada relógio é acompanhado de uma serigrafia de 76x112cm assinada pelo artista.referências: Q373247P (ouro rosa 18kt), Q373842P (Aço)movimento: Mecânico de corda manual JLC 976, 28’800 alt/h.Funções: horas, minutos e pequenos segundos.Caixa: ouro rosa 18kt ou aço, verso personalizado e fundo gravado com a assinatura de Julião Sar‑mento, estanque até 30 metros.Dimensões: 30 x 48,5 x 9,7mmBracelete: Pele de aligátor com fecho de báscula em ouro rosa 18kt ou aço.Preço: € 17.900 (ouro rosa 18kt)Preço: € 9.900 (Aço)

Jaeger-LeCoultrereverso Julião Sarmento

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«Quando me foi pedido um projeto, foi-me pedida uma imagem que tivesse não só que ver com o tempo, mas que fosse assinatura visual absoluta e facilmente identificável, e eu sou, de facto, muito identificado com a representação do corpo feminino» Julião Sarmento

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ENTrEVISTA dE CAPA JULIão SARMEnTo

Normalmente, ou sempre, há pouca cor na sua representação feminina? Vê a mulher a preto e branco?não é só nas mulheres, é no meu trabalho em geral. Salvo no início, em que andava um bocado à procura daquilo que queria fazer, sempre tive uma paleta de cores muito reduzida. nunca fui um Fauve, nunca utilizei todas as cores do universo, tipo Matisse, uns azuis extraordinários, uns amarelos brilhantes, uns cor de laranja deliciosos. Sempre fui um artista muito mais sombrio, mais recatado na utilização da cor. Até ao ponto em que, em 1989, 1990, comecei a pensar «será que eu preciso de usar cores?». Comecei a interrogar‑me porque é que eu usava cores e comecei a achar que, em determinadas circunstâncias, a cor não servia para nada, era uma espécie de fetiche kitsch, não tinha nenhum sentido prático, nem concetual, se quiser. Então, reduzi tanto a paleta que passei só a preto e branco. Só utilizo cor quando é absoluta e estrita‑mente necessário, como de vez em quando o é. Uma das serigrafias que é feita para esta edição limitada da Jaeger‑LeCoultre tem um amarelo venenoso. É uma imagem que tinha veneno e eu utilizei esse amarelo.

Aliás, nesta edição limitada, primeiro sentiu-se seduzido pelo relógio em aço e só depois pelo de ouro rosa.os dois são lindíssimos, mas eu só tinha visto os modelos dos relógios em fotografia, nos livros da marca, não os tinha visto ao natural – e é muito diferente. o sentido da cor, a junção de cores dá‑lhe força e faz realçar o branco.

Uma das primeiras exposições coletivas foi em Luanda, em 1973, e acaba de vir de férias em áfrica. Alguma relação especial com áfrica?Tenho, tenho uma relação especial. Mas a primeira relação com África foi dominada pelo medo, quando estava para ser incorporado e ir para a guerra. Acabei por não ir, mas o meu primeiro casamento foi com uma africana, com uma sul‑africana. Vivi em Moçam‑bique cerca de um ano e a minha relação com África começa aí. A minha primeira exposição a dois, aliás, inaugurar‑se‑ia em Lourenço Marques, na altura, no dia 25 de abril de 1974. (risos) Não foi inaugurada…

Poucos artistas conhecem o continente afri-cano sem que isso venha a influenciar a obra

deles. Não é muito visível no seu caso, no entanto.Bem, vou dizer uma coisa pela qual as pessoas me vão matar, mas não me interessa rigorosamente nada a África do norte. Eu gosto da África negra, da África do bush. não são as cidades, não é o lado urbano do continente que me interessa. Falavam‑me muito nisto e eu não acreditava, mas, depois de a pessoa entrar uma vez na mata, tem de lá voltar. É uma coisa estranha, é uma coisa que fica presa dentro de nós, não me pergunte porquê, mas é verdade.

mas isso ainda não se refletiu na sua obra, pois não?Por acaso, já. Esta primeira exposição que es‑tava para ser inaugurada a 25 de abril de 74 era toda sobre África, foi toda feita em África e era uma exposição que trabalhava com África. É difícil explicar. não quero estar a verbalizar aquilo que não é verbalizável, mas era uma exposição cujo leitmotiv era África.

daqui a seis meses, um ano, cruza-se na rua com uma pessoa que tem um reverso Julião Sarmento no pulso. Como o, ou a, imagina? (risos) Espero bem que seja uma pessoa que seja simpática, com a qual eu tenha empatia visual, senão é uma ‘chatice’. no fundo, não há grande diferença entre isto e algo que já me aconteceu, que foi ir a casa de alguém e haver lá um quadro meu, uma obra minha. Umas vezes fico contente, outras vezes fico tristíssimo, porque está num contexto que me apetece matar. (risos) Esta também é uma obra minha, não é numa tela, não é num papel, é num relógio. Imagino que neste caso se passe a mesma coisa, umas vezes será numa pessoa que me é agradável e que eu acho que tem bom gosto, outras vezes nem tanto.

Tem de se repartir pela criação, por perma-nentes viagens, pelas obrigações sociais e pessoais, o que obriga a alguma disciplina de horários. É um controlador do seu tempo? Tem de ser, senão era uma desgraça. Tenho de ser um grande controlador do meu tempo. Enfim, q. b., porque aparecem coisas à última hora, a todo o momento. Tento controlar tudo com o meu Black‑Berry e, às vezes, troco tudo (risos), mas tenho a minha vida quase marcada ao minuto.

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ENTrEVISTA dE CAPA JULIão SARMEnTo

Júlio Pomaro pintor português foi o primeiro artista a quem foi lançado o desafio de «Pintar o Tempo», isto é, criar a imagem exclusiva que decorou a caixa do mostrador de 30 relógios reverso data em ouro rosa 18 quilates. o primeiro dos 30 relógios foi leiloado em novembro 2000. o total da licitação, 5.150.000$00, reverteu integralmente a favor da Casa do Artista.

manuel CargaleiroA edição Reverso Or Déco/Manuel Cargaleiro foi a segunda incursão da Jaeger‑LeCoultre nas artes plásticas portuguesas, começando a esboçar‑se com esta edição uma Coleção Reverso/Arte Portuguesa. Esta edição foi limitada a 40 exemplares.

Paula regoEm 2002 Paula Rego aceitou o desafio de ‘Pintar o Tempo’ interpretando uma visão do tempo – e da mulher. A artista revelou na gravura que pintou em exclusivo para este relógio a sua visão num tema carregado de erotismo e de ambiguidade. Limitada a 40 exemplares esta série ficou conhecida como ‘O Tempo Eterno’.

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José de GuimarãesJosé de guimarães foi a escolha para a quarta edição Reverso/Arte Portuguesa. nasceu assim mais um modelo numa série limitada de 40 exemplares. Uma encantadora e misteriosa serpente povoa o verso do Reverso, interpretação proveniente da cultura africana e recorrente na obra do pintor.

Julião Sarmentonome maior das artes plásticas portuguesas, Julião Sarmento é o mais recente artista a ser convidado para eternizar uma das suas criações num Reverso. Pela primeira vez foram criados dois modelos, um em aço e outro em ouro rosa de 18kt e, após 10 anos de edição, a Espiral do Tempo quis assinalar este lançamento com uma capa especial, orientada horizontalmente.

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François-Paul Journe com Jean Alessi no atelier do mestre relojoeiro.

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rEPOrTAGEm F.P. JoURnE InVEnIT ET FECIT

A sustentável leveza do alumínioPor Miguel Seabra

Alta-relojoaria num invólucro de alumínio: François-Paul Journe aceitou

o desafio e transmitiu velocidade à sua coleção com o lançamento de

uma nova linha desportiva denominada lineSport – que, para já, tem dois

modelos com pouco mais de 50 gramas. O terceiro já está a ser preparado.

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rEPOrTAGEm F.P. JoURnE InVEnIT ET FECIT

há já quarenta anos que as casas de alta‑relojoaria quebraram um tabu vigente durante décadas ao lançarem linhas desportivas de elevado prestígio. Afinal de contas, os clientes e aficionados mais indefetíveis da alta‑relojoaria são cada vez mais adeptos de atividades desportivas ou radicais e não querem perder a oportunidade de usar nessas circunstâncias a sua marca relojoeira preferida – para não falar da capacidade inventiva e criativa das grandes marcas na criação de algo de diferente.Muitos dos modelos ou coleções da indústria relojoeira nascem a partir de uma inspiração específica ou até seguem sugestões particulares – e isso acontece sobretudo na alta‑relojoaria e nas marcas de criadores independentes, onde existe uma relação muito estreita com os clientes finais porque as tiragens são bem mais exclusivas e os preços habitualmente muito significativos. E foi a partir de uma sugestão de um cliente e amigo que François‑‑Paul Journe resolveu criar uma nova linha desportiva para a sua prestigiada coleção: a lineSport.

Esse amigo é um importante colecionador que decidiu transformar radicalmente a sua atividade sedentária de homem de negócios e abraçar um estilo de vida mais saudável e radicalmente desportivo, já que passou a correr regularmente em maratonas e a participar em provas de triatlo. Essa mudança de atitude e até de peso não fez o colecionador desinteressar‑-se pela alta-relojoaria: pelo contrário, desafiou François-Paul Journe a declinar as suas fabulosas criações em versões que lhe permitissem ser utilizadas em competição. E o hipergalardoado mestre‑relojoeiro, que nunca quis ir além de um ou outro modelo na sua coleção que tivesse caraterísticas mais desportivas mas que mantivesse códigos da alta‑relojoaria, acabou por aceitar o repto. Afinal de contas, os relojoeiros gostam de desafiar os seus próprios limites.

Códigos idênticos e distintosMas afinal o que significa alta-relojoaria? Para já, trata-se de um termo abusivamente generalizado, porque tem sido muitas vezes banalizado na definição de uma relojoaria que não é propriamente elevada. A alta-relojoaria implica premissas elitistas bem definidas na área dos acabamentos, da decoração, dos mecanismos, dos materiais, da exclusividade – e François‑Paul Journe sempre foi um apologista do endurecimento dessas premissas, tal como sempre evitou abraçar a moda das linhas desportivas, apesar de pontualmente lançar na sua coleção modelos com uma complicação mais conotada com o desporto: o cronógrafo. Primeiro, com o octa Chronographe, depois, com o Centigraphe Souverain.

A génese do sensacional Centigraphe Souverain até está ligada a uma visita ao autódromo de treinos da Ferrari em Maranello e a posteriores encontros com o então diretor‑geral e agora presidente da Federação Internacional Automóvel, Jean Todt. Afinal de contas, o desporto tem mesmo servido de inspiração e puxado a técnica relojoeira desde o início do século xx, graças ao advento das olimpíadas modernas e consequente proliferação das modalidades desportivas, sem esquecer a vertente

desportiva da indústria automóvel. E François‑Paul Journe, grande apóstolo da alta‑relojoaria e da relojoaria elegante, aceitou o repto e resolveu alargar as suas próprias fronteiras. Com base numa questão inicial: como fazer valer as suas valências de uma maneira diferente do que já se faz?

o primeiro passo foi encontrar um material que diminuísse o peso total dos relógios, mas que pudesse manter o espírito de alta‑relojoaria da marca F.P. Journe – até mesmo na construção de mecanismos. Após muita pesquisa, François‑Paul Journe optou por uma liga premium de alumínio utilizada na aeronáutica, com um tratamento adicional para tornar a superfície à prova de risco e para que essa liga assumisse propriedades anticorrosivas e antialérgicas.

Coração ligeiroo primeiro modelo lançado foi uma declinação do Centigraphe (cronógrafo capaz de leituras até ao centésimo de segundo) que ganhou o prémio Relógio do Ano, no grand Prix d’horlogerie de genéve. A versão Centigraphe Sport apresenta uma caixa diferente e uma bracelete específica, albergando um mecanismo em alumínio para um peso total de 55 gramas! O alumínio já havia sido utilizado e testado na relojoaria, mas nunca através de uma liga tão apurada que o enobrece significativamente ou em modelos de grande exclusividade; e é sobretudo a construção do calibre em alumínio que estabelece a diferenciação relativamente a tudo o que antes se fez.

Como a manufatura F.P. Journe tem a experiência de fazer os seus mecanismos em ouro rosa de 18 quilates (em vez dos tradicionais metal e latão), tornou‑se menos difícil a complicada transição para o alumínio e foi feito o mesmo para o mecanismo automático que equipa o mais recente modelo lineSport: o octa Sport (53 gramas). Segundo François-Paul Journe, o próximo modelo que está na calha é um cronógrafo de corda automática. «Como o Centigraphe será sempre feito em quantidades muito exclusivas, lançámos o octa Sport. o próximo relógio da linha será um modelo intermédio com um novo mecanismo cronográfico automático».

A criação da lineSport implicou também a estreia noutra área nunca antes explorada pela marca F.P. Journe: o patrocínio – no caso, o patrocínio desportivo. A afinidade com o compatriota Jean Alesi tornou natural que o antigo piloto francês de Fórmula 1 se estreasse nas 500 Milhas de Indianápolis com um F.P. Journe Centigraphe Sport no pulso durante as 200 vertiginosas voltas ao lendário circuito oval que promove velocidades de ponta acima dos 400 km/h!

Comparativamente com várias outras linhas desportivas de marcas relojoeiras de prestígio assentes mais na forma do que no conteúdo, a lineSport apresenta um grau técnico superlativo a partir do próprio mecanismo inteiramente em alumínio – e, se se pensar que François‑Paul Journe tinha prometido nunca criar uma linha de vocação desportiva com a chancela F.P. Journe, não há dúvida de que os seus novos relógios constituem o perfeito exemplo de que mais vale mudar de ideias tarde do que nunca...

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«Não faço desporto e sempre disse que nunca iria conceber relógios desportivos, mas podemos mudar de ideias»

François-Paul Journe

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ENTrEVISTA MARC A. hAyEk

marc A. Hayek, actual presidente e CEO montres Breguet SA, tem

a dupla responsabilidade de defender o nome do seu avô e o do

maior relojoeiro de todos os tempos. E não tem pejo em afirmar que

a verdadeira tradição relojoeira consiste em quebrar tabus e ser

vanguardista, como fez Abraham-Louis Breguet há dois séculos

e meio.

Por hubert de haro e Miguel Seabra, L’Abbaye, Suíça

Inovar por herança

nasceu no centro do universo relojoeiro. Reza a lenda que o avô, nicolas hayek, salvou a indústria relojoeira suíça da bancarrota, perante a concorrência asiática – com o lançamento da Swatch nos anos 80 –, e, entretanto, foi comprando marcas históricas e unidades de produção que lhe permitiram criar um autêntico império que deixou para os seus descendentes. Marc Alexander hayek sabia que, mais cedo ou mais tarde, seguiria as pisadas do avô e do pai, mas, entretanto, formou‑se em economia e marketing, mergulhou nas profundezas, foi piloto de corridas e esteve ligado ao negócio da restauração. hoje em dia, aos 41 anos, Marc hayek preside também aos destinos das duas mais destacadas marcas do grupo Swatch: a Breguet e a Blancpain. E explica como consegue gerir o peso quase esmagador de dois nomes incontornáveis na história da relojoaria.

«Há sempre a ideia de que para respeitar o passado não se pode mudar muito; para mim é precisamente o contrário: se atentarmos bem ao que Abraham-Louis Breguet fez… o que ele fez foi ousar!»

Marc A. Hayek

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ENTrEVISTA MARC A. hAyEk

«Para mim, o desafio era fazer essa ponte entre tradição e futuro. Tenho o dever de continuar a história da marca e procurar inventar, porque, para inovar, é preciso ousar, ainda que com muita reflexão»

Marc A. Hayek

manufatura montres Breguet, SA no Vale de Joux

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É difícil ser o herdeiro de alguém tão carismático e tão associado à história contemporânea suíça como Nicolas Hayek?Sim e não… é sobretudo uma força, uma estabilidade, uma riqueza e também uma liberdade. São raízes familiares fortes que nos dão vontade de ir mais longe e de conseguir fazer tão bem como o que tem sido feito.

Teve um percurso de vida muito eclético. Antes do regresso ao mundo da relojoaria, sentiu vontade de fazer algo que não tenha sido possível?gosto do espírito de criar algo e saber onde estou. A noção de montar algo de A a z no luxo não é muito diferente da gastronomia – onde existe um contacto extremamente concentrado no cliente final e onde acompanhamos todo um processo que é personalizado, além do prazer de se poder partilhar uma paixão. Depois, voltei à relojoaria. Não foi propriamente um regresso planificado, mas existem relações muito próximas e partilhadas na família. Sabia que a porta estaria sempre aberta. Lá fora, aprendi o que não se aprende na escola e fiquei contente por experimentar outras áreas. nunca tive a impressão de que me puxavam para regressar ao mundo da relojoaria. não houve pressão. Eu próprio não queria fazer nada de que não estivesse convencido que seria eu a querer fazer, uma atividade que me desse prazer. E, sobretudo, teria de ser mais do que um trabalho, teria de ser uma paixão – e tenho paixão pela mecânica, pelos produtos de luxo, pela importância do detalhe… todos esses elementos juntos pesaram na minha decisão de retomar a minha atividade relojoeira na Blancpain: era uma situação que não podia recusar, um projeto ambicioso. E depois surgiu a Breguet.

Tem um sobrenome famoso na história da relojoaria contemporânea e agora toma conta da marca que ostenta o nome do relojoeiro mais famoso da história da relojoaria. quando se tornou também responsável pela Breguet, qual era o desafio que se lhe afigurava?A missão da Breguet consiste, sobretudo, em fazer compreender o espírito da marca. há sempre a ideia de que, para respeitar o passado, não se pode mudar muito; para mim, é precisamente o contrário: é preciso compreender‑‑se premissas como a da qualidade irrepreensível, mas, se atentarmos bem ao que Abraham‑ ‑Louis Breguet fez… o que ele fez foi ousar! Ele atreveu‑se na parte técnica – com o turbilhão, por exemplo –, mas também na parte estética, desde os ponteiros às braceletes; quebrou tabus e era muito avançado para a sua época – e, para mim, a relojoaria é isso mesmo, é essa a verdadeira tradição relojoeira. A relojoaria sempre esteve ligada à ciência; ele estava muito ligado à astronomia, e tinha esse lado vanguardista, no que à pesquisa diz respeito. Para mim, o desafio era fazer essa ponte entre tradição e futuro. Tenho o dever de continuar a história da marca e procurar inventar, porque, para inovar, é preciso ousar, ainda que com muita reflexão, e, sobretudo, não utilizar a tecnologia moderna para fazer relógios mais rapidamente e com menos mão de obra. Aí, seria a morte do artista. não é esse o espírito da Breguet – esticar os limites, sim, é o espírito. nenhum relógio de hoje teria qualidade se fossem utilizados, na sua construção, os mesmos materiais de há 200 anos. A nova tecnologia é precisa. E é esse o desafio de uma marca como a Breguet: ousar, fazer avançar os limites da relojoaria. Com qualidade para respeitar uma história de 250 anos e também para preparar o futuro. Economicamente, seria muito fácil fazermos relógios bem feitos e de grande qualidade sem correr riscos ou investir em pesquisa – até porque, muitas vezes, há anos de investimento que resultam em nada. o nosso trabalho é preparar o futuro.

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ENTrEVISTA MARC A. hAyEk

Esse espírito vanguardista, embrulhado em códigos clássicos que a Breguet tem, vê-se atualmente na utilização de silício no fabrico de componentes e nas altas frequências de funcionamento dos mecanismos…Senti mais o peso da responsabilidade na Breguet do que na Blancpain – sinto mais liberdade na Blancpain, mas na Breguet também fiz coisas que não ousaria fazer na Blancpain. Nunca fiz parte dos fundamentalistas que diziam que não se devia mexer nos materiais tradicionais para o fabrico de componentes relojoeiros. Mas a relojoaria mudou muito nos últimos tempos, e senti que ainda havia muito a explorar. Quando debatíamos o assunto com o meu avô, nunca era colocada de parte a utilização de novos materiais. o silício, por si só, é um material cuja utilização tem vantagens … mas, além disso, é um material que abre outras portas: permite altas frequências que aumentam a precisão e estabilidade do funcionamento; tem caraterísticas antimagnéticas que impedem interferências no funcionamento – é aí que o silício se torna extremamente interessante, porque conseguimos fazer algo verdadeiramente diferente. É preciso capturar o espírito, imaginar o que Abraham‑Louis Breguet faria.

É importante afirmar que a Breguet é integrada verticalmente, mesmo estando integrada num grupo com grandes valências?no grupo Swatch utilizamos, sobretudo, as sinergias no aspeto da distribuição. Mas, na produção, é importante ter manufaturas próprias, ainda que, entre a Breguet e a Blancpain, haja boa comunicação e até complementaridade – mas depois é preciso que exista separação e concorrência. há o orgulho de se pertencer a uma marca.

Qual é o seu modelo preferido e como define a coleção?É o Tourbillon Fusée – para mim, é o relógio Breguet que melhor reúne a tradição e o futuro, recorrendo à tecnologia contemporânea. Tem um grande apelo para os colecionadores, mas também deixa jovens de 15 anos de boca aberta. Sobretudo, a coleção tem a riqueza de apresentar vertentes muito diferentes, sempre com a chancela Breguet: desde o formato tonneau da linha heritage até ao classicismo da linha Classique, passando pela feminina Reine de naples. Mas sempre Breguet. A linha Classique é a que vende mais, embora seja também a que tem mais modelos. A linha Marine é muito forte e tem muitos top-sellers. Foi sobretudo uma linha muito aproveitada pela emergência do mercado russo — historicamente, sempre houve grandes clientes russos para quem o nome Breguet era sinónimo de relógio. na China, a linha Classique é a que tem mais sucesso.

O mostrador em guilloché é emblemático da Breguet e as artes decorativas são especialmente acarinhadas e desenvolvidas pela marca. No modelo réveil du Tsar há mesmo sete diferentes padrões de guilloché!Queria, há muito, destacar a arte da guillochage; já o meu avô ‘puxou muito por ela’. E não se trata sequer de contratar um guillocheur genial para fazer séries limitadas. Queremos a perfeição manual em todas as peças – à exceção dos relógios que não utilizam essa decoração no mostrador, como os exemplares da linha Type xx e os que têm mostradores em esmalte. De resto, todos os relógios Breguet têm o respetivo mostrador em guilloché e apresentam grandes diferenças entre os modelos distintos. Desenvolvemos, também, padrões decorativos inovadores em guilloché – mas mantendo o espírito de sempre!

«Queremos a perfeição manual em todas as peças» Marc A. Hayek

Breguet Tourbillon FuséeBreguet réveil du Tsar

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A humanidade desde sempre se confrontou com a circularidade do tempo: o Sol alterna com a Lua, os dias sucedem‑se às noites, as estações revezam‑se continuamente – daí o mito do eterno retorno, a alegoria da serpente que engole a própria cauda. E tornou‑se natural que, a partir do momento em que surgiram os primeiros relógios, a melhor maneira de apresentar o tempo seria recorrendo a ponteiros em movimento cíclico a partir de um eixo num mostrador circular. Essa noção ainda hoje se verifica e, para a maioria, o primeiro reflexo na aquisição de um relógio consiste em optar por um modelo redondo.

rEPOrTAGEm VAChERon ConSTAnTIn

Se a representação do tempo tem sido essencialmente circular ao longo

dos séculos, a Vacheron Constantin é uma das casas tradicionais de alta-

-relojoaria que historicamente mais investiu em formas alternativas.

A nova linha malte revisita um formato do passado e atualiza-o para

gáudio dos pulsos contemporâneos.

Por Miguel Seabra, genebra, Suiça

Para além do círculo

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manufatura Vacheron Constantin, Plan-les-Ouates, Genebra

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rEPOrTAGEm VAChERon ConSTAnTIn

A Vacheron Constantin não tem escassez de relógios redondos na sua prestigiada coleção – desde as elegantes linhas Patrimony Traditionnelle e Patrimony Contemporaine de grande pureza circular até às mais recentes overseas e Quai de l’Ile, que colocam um mostrador redondo numa caixa de arquitetura mais geométrica. Mas a manufatura genebrina, cuja fundação remonta a 1755, tem-se caraterizado pela sua especialidade na exploração das formas alternativas há mais de um século e é seguramente uma das escassas casas de alta‑relojoaria com maior legitimidade no design de relógios que ultrapassam a mera convenção circular. Basta visitar o departamento de património da marca genebrina, situado no primeiro andar da Maison construída por Jean‑François Constantin na ilha localizada no centro da Cidade de Calvino, para o constatar. Mesmo que, do outro lado da rua, a emblemática Tour de l’Ile ostente orgulhosamente na torre um relógio… redondo.

romper o convencional o ritmo circular dos ponteiros torna lógico o recurso aos mostradores redondos; a melhor maneira de albergar um mostrador em forma de disco consiste em utilizar a geometria circular para a conceção da caixa, e convém sublinhar que, a partir de certa altura, as exigências de estanqueidade fizeram com que o formato redondo fosse até o preferido por razões técnicas. A dilatação dos materiais, que se efetua do centro

para a periferia, é mais fácil de gerir utilizando peças trabalhadas sobre uma base circular; as juntas em anel também são mais fáceis de produzir e os vidros redondos mais fáceis de acoplar à caixa. ou seja: por motivos simbólicos e técnicos, as caixas circulares tornaram‑se a escolha mais evidente – não só pela sua legibilidade intuitiva, mas também porque os relógios redondos eram obviamente mais resistentes e estanques.

As melhores manufaturas relojoeiras sempre estiveram mais livres para ultrapassar esses constrangimentos devido à sua mestria técnica. E também porque o peso do seu nome lhes permitia arriscar. Como a Vacheron Constantin, que cedo apresentou avanços significativos na produção de carrosserias e mecanismos ‘de forma’ (ou seja, não circulares) para proporcionar algo de diferente em alternativa à estética mais comum sobretudo a partir da segunda década do século xx – quando o período Art Déco fomentou diferentes soluções estéticas para as caixas dos relógios de pulso, que já então se assumiam como alternativa relativamente aos fiáveis relógios de bolso; a moda passou a influir decisivamente nos hábitos do público consumidor e deu-se o aparecimento de tendências que cortavam radicalmente com as modas precedentes. Como o mais habitual eram as caixas redondas, passou‑se à radicalidade dos ângulos retos nos quadrados e retângulos ou às variantes menos duras designadas por tonneau ou carré cambré; entretanto, o desenvolvimento tecnológico também permitiu avanços na área da ergonomia.

1914 1915 1922

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«Quando nos debruçamos sobre o passado da marca verificamos uma enorme diversidade de formas e muita criatividade patente nas diversas versões, em particular na forma tonneau»

Christian Selmoni Diretor de produto, Vacheron Constantin

malte Tourbillon, com o seu Calibre 2795

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rEPOrTAGEm VAChERon ConSTAnTIn

Animar a malteo formato tonneau contribuiu muito para apagar o anterior caráter marginal atribuído aos relógios que não eram redondos. Começou por ser usado na transição dos Loucos Anos 20 para a década seguinte, também como insolente forma de reagir face à tirania circular dos relógios de bolso e ainda porque a lógica do consumo sempre implicou que o desgaste de uma determinada tendência cria apetite por novas interpretações.

A Vacheron Constantin apresentou o seu primeiro modelo tonneau em 1912. Tal como noutras áreas de desenho industrial, as linhas curvas e côncavas ultrapassavam os meros aspetos da moda e buscavam tanto a perfeição técnica, como estética. Após o lançamento da linha Malte no início do milénio, a manufatura genebrina relançou‑a este ano – exatamente um século após estrear o formato tonneau – com formas ainda mais estilizadas e inspiradas no modelo original de 1912 e até numa versão de 1914. A estética da linha Malte, vigente entre 1995 e 2011, assentava em modelos mais largos e com asas reminiscentes da cruz de Malta que serve de logótipo à marca. A nova linha de 2012 apresenta proporções completamente distintas e, sobretudo, mais puras em caixas de ouro ou platina acompanhadas de mostradores prateados que acentuam o classicismo do conjunto.

Mas as novidades da linha Malte não são apenas visuais; para além do Malte Small Seconds, do Malte Small e do Malte 100th Anniversary Edition (que celebra precisamente o centenário de relógios tonneau da marca), a Vacheron Constantin aproveitou a ocasião para lançar o Malte Tourbillon – que com o seu Calibre 2795 turbilhão de corda manual é integralmente concebido de acordo com os novos critérios do Punção de genebra, que se tornaram ainda mais exigentes tanto no plano estético, como técnico e com incidência sobre o relógio completo e não apenas sobre o mecanismo como antes sucedia.

A Vacheron Constantin tem estado intimamente ligada ao Punção de genebra e tem mesmo um atelier especialmente dedicado a esta certificação na notável manufatura inaugurada em 2005 na área de Plan-les-Ouates, onde trabalham dezenas de portugueses e alguns deles com posições de chefia – como Pedro Lopes (responsável de produção), o seu irmão Paulo Lopes e Jean‑Paul Duarte (ambos no departamento de pesquisa e desenvolvimento de produto).

mecanismos de formaTal como sucede com os mostradores e as caixas, também os calibres redondos são os mais naturais – o círculo é o formato natural de qualquer mecanismo que permite ao tempo correr ciclicamente e os mecanismos redondos favorecem a inclusão, no espaço mais reduzido possível, de complicações suplementares. A Vacheron Constantin nunca se preocupou com os problemas causados pela quadratura do círculo: é certo que a maioria dos relógios retangulares da maioria das marcas relojoeiras se encontra atualmente dotada de mecanismos de forma redonda com cantos acrescidos, mas as verdadeiras manufaturas têm os seus próprios calibres de forma (incluindo variantes com grandes complicações). Como o Calibre 2795, para já aquele que é tecnicamente mais avançado da nova linha Malte.

Christian Selmoni passou por vários departamentos da Vacheron Constantin até se fixar como diretor de produto em 2010, trabalhando a par do diretor do departamento de design Vincent kauffman. «Temos a responsabilidade de perpetuar o classicismo, embora trabalhando o design e colocando a tecnologia ao serviço da manufatura. Quando nos debruçamos sobre o passado da marca, verificamos uma enorme diversidade de formas e muita criatividade patente nas diversas versões, em particular na forma tonneau. A anterior linha Malte, lançada em 2001, era sobretudo neoclássica, e em sua substituição quisemos apresentar algo mais puro. Acho que fomos bem‑-sucedidos, e a partir de agora o desafio é continuar a criar modelos que aproveitem o novo formato», refere.

o património da Vacheron Constantin não está apenas perpetuado através da exposição permanente de relógios icónicos na histórica sede social no centro de genebra: continua vivo na coleção contemporânea através da linha historiques, dedicada a recriar e reinterpretar modelos marcan‑ tes no passado da manufatura – muitos deles sublimes exer‑ cícios de formas, como o Aronde 1954, mais retangular com nuances curvas, o Toledo 1952, quadrado com cantos arredondados, ou o American 1921, carré cambré de mostrador descentrado. Todos com pormenores deliciosos que vão para além do círculo, apresentando aquela personalidade distinta dos relógios de forma – e que é tão fascinante na identidade da Vacheron Constantin.

«A partir de agora o desafio é continuar a criar modelos que aproveitem o novo formato»

Christian Selmoni Diretor de produto, Vacheron Constantin

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‘no início, eram os clichés’: a Suíça é sinónimo de chocolate, de bancos privados e de relógios.Estas imagens de Épinal, lugares‑comuns, continuam a persistir. genebra está, com efeito,

mundialmente associada à qualidade, ao prestígio e à precisão, graças, em grande parte, ao seu património relojoeiro. De tal modo que, para o visitante apaixonado pela bela relojoaria mecânica, a ‘cidade do repuxo’ é encarada, muitas vezes, como a verdadeira capital helvética.

Surge, assim, naturalmente a questão: como foi esta pequena cidade capaz de superar Paris ou Londres, locais históricos e incontestáveis de inovação relojoeira?

Para responder a estas perguntas, estivemos com Estelle Fallet, curadora e responsável pelo pólo de história do museu de arte e de história de genebra, que teve a gentileza de responder às nossas questões sobre a exposição única L’horlogerie à genève, Magie des Métiers, Trésors d’or et d’Email – A relojoaria em genebra, Magia das Artes, Tesouros de ouro e de Esmalte –, patente no Museu Rath, em genebra, até ao passado dia 29 de abril.

ENTrEVISTA ESTELLE FALLET

Peça atribuída a RuhardPêndulo de mostrador duplodesignado Le Temple de l’Amour, cerca de 1780 © MAh, M. Aeschimann

um encontro exclusivo com Estelle Fallet, curadora e responsável pelo pólo de

história do musée d’Art et d’Histoire (museu de arte e de história de Genebra),

por ocasião da exposição L’Horlogerie à Genève, magie des métiers, Trésors d’Or

et d’Email — A relojoaria em Genebra, magia das Artes, Tesouros de Ouro e de

Esmalte. Esta exposição esteve patente no museu rath, em Genebra, de 15

de dezembro de 2011 a 29 de abril de 2012..

Por hubert de haro, genebra, Suiça

«Trabalhamos num projeto quevaloriza o património vivo de Genebra»

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Para o amante da bela relojoaria, Genebra é sinónimo de qualidade, precisão e rigor, bem à frente dos seus ‘concorrentes’ noutros países. Na sua opinião, quais são os fatores determinantes desta imagem?historicamente, a relojoaria genebrina começou a distinguir‑se no nicho da relojoaria de gama alta a partir do último quartel do século xVIII, graças, especialmente, à qualidade, ao requinte e à beleza das pinturas em esmalte que ornam as caixas dos relógios. Esta especialidade distingue a produção local das produções europeias que, até essa altura, respondiam aos mesmos critérios estilísticos.

O dinamismo da Sociedade das Artes, desde a sua criação em 1776, poderá ter despoletado a emergência e afirmação da Fábrica Genebrina?o apoio da Sociedade das Artes é inegável. Começou com as bases acordadas na formação de aprendizes, no seio da primeira escola de relojoaria, e continuou com a organização de concursos (inovação) e de concursos de regulação (busca da

precisão). o desenvolvimento técnico, e não apenas decorativo, do relógio genebrino foi encorajado. o comité de relojoaria é composto pelos mais eminentes relojoeiros genebrinos contemporâneos.

qual é o conselho que dá ao visitante da exposição, relativamente aos três objetos que não deverá deixar de ver?os percursos temáticos permitem apresentar algumas obras‑primas: escritos microscópicos que se distinguem nos mostradores dos relógios; pinturas de esmalte de grande requinte; a qualidade dos bronzes que ornam um pêndulo de Breguet – um movimento que impressiona pela complexidade… simplicidade – ou a maravilhosa e preciosa gaiola de pássaros que cantam. há tantos tesouros a (re)descobrir!

François Dentand relógio Pêndulo de bolso, cerca de 1700 © MAh, M. Aeschimann

1 Oficina Giron & Lamunière, Borboleta em ouro, esmalte, diamantes e rubis, cerca de 1910© MAh, M. Aeschimann

«As artes e ofícios surgem em destaque nas casas contemporâneas, e o museu deve testemunhar a profundidade histórica da tradição e da transmissão savoir-faire»

Estelle Fallet

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ENTrEVISTA ESTELLE FALLET

A relojoaria e a esmaltagem estão intimamente ligadas ao esplendor genebrino no mundo. Como é que a cidade de Calvino foi capaz de autorizar esta ligação entre a indústria e as artes?As leis sumptuárias promulgadas por Calvino, à imagem de leis similares promulgadas nas cidades europeias, incitaram os relojoeiros a criar objetos úteis, os relógios, em associação com os artistas dedicados à esmaltagem e à joalharia, mais do que às extravagantes ‘belas-artes’. As artes aplicadas beneficiaram da integração dos artistas no domínio do fabrico genebrino, tudo em respeito ao espírito calvinista.

O dia 24 de novembro de 2002 permanece como uma data sombria para o património coletivo relojoeiro genebrino, com o roubo de peças únicas do museu de relojoaria. Foi preciso esperar uma década para que o público pudesse ter novamente acesso a este corpo relojoeiro. Porquê? o projeto de reorganização da cidade de Bryn Bella de Malagnou foi conduzido até uma proposta final à qual nem todas as autoridades aderiram; estas preferiram associar o projeto à amplificação e renovação do museu de e de história, casa-mãe das coleções de relojoaria, esmaltagem, joalharia e miniaturas que saíram em 1972 para formar um museu especializado ligado às atividades da fábrica de Genebra. Desde 2005, as exposições temáticas foram apresentadas parcialmente no museu de arte e de história. A exposição do Museu Rath pode ser vista como uma prefiguração da reintegração do importante corpo de obras conservadas no coração do museu de arte e de história.

Imagina ser possível e desejável que esses tesouros possam viajar além da fronteira helvética, como aconteceu no caso do Japão em 1978? Será necessário esperar até 2016 e ao fim dos trabalhos do novo museu de arte e de história para que os amantes tenham de novo acesso a este formidável património?na verdade, vamos responder a um pedido de museus da China, em específico, pelo que se prevê a circulação de um módulo adaptado da exposição, em 2013. Esta itinerância espetacular de coleções, no Japão, já não é imaginável nos dias de hoje. nós podemos oferecer um serviço de qualidade. outros projetos estão igualmente previstos para genebra, em torno das coleções de joalharia e de relojoaria.

O novo museu prevê partilhas com as escolas de relojoaria e com as manufaturas, respeitando a tradição histórica dos museus onde, como escreve, «o trabalhador pode formar o seu gosto»?Estes contactos sempre existiram e não foram interrompidos pelo encerramento do edifício de Malagnou. os projetos comuns ligam‑nos, o atelier de restauro de relojoaria e os nossos

depósitos estão abertos a estagiários, aprendizes e mestres. na mesma linha, as colaborações com as manufaturas são regulares e situam‑se, com efeito, na linha de uma longa tradição. Participamos, assim, igualmente, na elaboração de projetos de exposição, de restauro e de formação.

Apesar dos importantes donativos recentes de manufaturas suíças, a atual ‘moda’ de museus monomarca não semeará a discórdia ao dispersar os meios financeiros e ao dividir as potenciais visitas de curiosos da bela relojoaria?Se, há alguns anos, esta questão suscitou alguma controvérsia, as respetivas e complementares missões dos dois tipos de instituição estão agora bem definidas: as parcerias público-privadas são estabelecidas regularmente no âmbito do apoio a grandes eventos, tal como aconteceu agora com o Museu Rath. Para demonstrar e testemunhar a complementaridade e a sinergia entre as nossas instituições, este último oferece um espaço particular para as coleções patrimoniais dos nossos parceiros.

Poderá descrever-nos o lugar da relojoaria, em 2016, no âmbito da abertura do novo museu de alta-relojoaria?nós trabalhamos num projeto que valoriza o património vivo de Genebra, rodeando-o, como fizeram os nossos predecessores, de produções europeias que o inspiraram ou em que este se inspirou. nós desejamos evocar, não apenas as obras‑primas, mas os gestos na sua base, as ferramentas que os acompanharam e os artistas, pequenas mãos ou os comerciantes que tornaram possíveis a sua divulgação e difusão. As artes e os ofícios surgem em destaque nas casas contemporâneas e o museu deve testemunhar a profundidade histórica da tradição e da transmissão do savoir-faire.

Por fim, se tivesse à sua disposição fundos ilimitados, como veria a apresentação deste património coletivo?Arquitetos e museógrafos estão lá para ouvir e escutar os nossos sonhos… Magia, preciosidade, requinte, tecnicidade, savoir-faire: estes termos guiam a nossa reflexão… Gostaríamos de poder garantir à nossa futura apresentação os meios da nossa ambição: partilhar com o público as obras reunidas em genebra desde o final do século XVIII, na sua relação com a indústria predominante, exercida de maneira ininterrupta desde o século xVI.

«Magia, preciosidade, requinte, tecnicidade, savoir-faire: estes termos guiam a nossa reflexão»

Estelle Fallet

Mais informações em: www.ville-ge.ch/mah

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masters of Complications

Fotografia: nuno CorreiaPós-produção: Miguel Curtorealização: Ricardo Preto

Existem relógios com complicações e existem os relógios com complicações da Franck Muller. Por muito que digam, que comentem ou que tentem inventar, são poucas as marcas que conseguem num mostrador transmitir de forma tão clara e tão bela o requinte técnico de um movimento mecânico com complicações como a Franck Muller. Basta um simples olhar e a magia acontece. não há margem para dúvidas. nos mais belos relógios da marca, quem vê caras vê corações.

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Aeternitas mega 4referência: 8888AEMEgA4/oBBRVmovimento: Turbilhão mecânico de corda automática com microrrotor em platina.Funções: horas, minutos, turbilhão, reserva de corda; cronógrafo rattrapante, ponteiros dos segundos, contador de minutos e contador das horas; indicação dia‑noite; grande Sonnerie com carrilhão Westminster com 4 gongos; Pequena Sonnerie; mecanismo de isolamento da Son‑nerie; mecanismo que não permite o início de uma nova batida se a anterior não bateu.Caixa (42,1 x 61mm): ouro branco maciço 18kt, vidro de safira, estanque até 30 metros.Preço: € 2.064.000

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Franck muller Tourbillon revolution 3referência: 9800REV3/oBBRVmovimento: Turbilhão mecânico de corda manual.Funções: horas, minutos, segundos retrógrados, turbilhão e reserva de corda retrógrada.Caixa 41,2 x 55,5mm: ouro branco maciço 18kt, vidro de safira, estanque até 30 metros.Preço: € 750.000

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Franck muller Giga Tourbillonreferência: 8889TgSQTBRnR/ACmovimento: Turbilhão esqueletizado mecânico de corda manual, sobredimensionado (ø 20mm). Funções: horas, minutos e reserva de corda.Caixa 43,7 x 59,2 x 14mm: Aço com tratamento PVD preto, vidro de safira, estanque até 30 metros.Preço: € 207.100

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«Nos carros e nos relógios interessam-me obretudo o design e a tecnologia – duas vertentes que devem ser perfeitamente integradas. A tecnologia tem de corresponder ao que a forma promete»

Karl-Friedrich Scheufele

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rEPOrTAGEm ChoPARD

A saga das mil milhasPor Miguel Seabra

uma mítica competição que remonta aos tempos

épicos do desporto motorizado está por trás da mais

emblemática linha de relógios associada ao universo

automóvel. deliciosas viaturas e deslumbrantes cenários

fizeram da mille miglia a mais bela corrida do mundo,

atualmente formatada como um rali de clássicos que

se tornou no ponto de partida para uma celebrada saga

relojoeira com a chancela da Chopard.

É fácil de entender a afinidade que sempre existiu entre as máquinas automóveis e os instrumentos do tempo. Afinal de contas, existe uma área mecânica comum entre os dois setores e costuma dizer‑se que os carros e os relógios são as duas ‘joias’ do homem socialmente aceites – para além de serem veículos perfeitos para a orgulhosa ostentação do seu ‘status quo’. As últimas décadas têm sido férteis em mediáticas parcerias entre reputadas escuderias, prestigiadas competições e consagradas companhias relojoeiras. nesse casamento, normalmente, existe um ingrediente relevante: o termo ‘clássico’, que define atualmente valores estéticos intemporais e se aplica na perfeição, tanto a modelos que entraram para a lenda da indústria automóvel, como a relógios mecânicos que se regem por princípios imunes às modas passageiras.

É por isso que automóveis históricos e relógios de classe têm tanto em comum e reúnem o mesmo tipo de admiradores. E nenhuma outra associação tem perdurado tanto e dado lugar a uma coleção tão completa, como aquela que une a Mille Miglia e a Chopard. Desde o final dos anos 80, a casa genebrina de alta‑joalharia e alta‑relojoaria tornou‑se na principal patrocinadora do lendário rali de clássicos que decorre ao longo de mil milhas, num trajeto de ida e volta, entre Brescia e Roma – começando por comemorar cada edição com um relógio personalizado oferecido aos famosos participantes, para depois estender o conceito a uma linha relojoeira, particularmente dita, que até inspirou uma subcoleção dentro da marca e ainda uma alargada gama de acessórios para homem, que inclui marroquinaria, canetas e óculos.

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rEPOrTAGEm ChoPARD

Paixão duplaComo sempre sucede entre parcerias bem‑sucedidas, a associação entre o rali Mille Miglia e a casa Chopard ultrapassa, em muito, o mero interesse empresarial para se imiscuir na esfera emocional. E karl‑Friedrich Scheufele, copresidente da Chopard, personifica essa paixão dupla – compreendendo, melhor do que ninguém, como colecionador de viaturas clássicas e relógios históricos, as afinidades do mundo automóvel com o universo relojoeiro: «nos carros e nos relógios, interessam‑me, sobretudo, o design e a tecnologia – duas vertentes que devem ser perfeitamente integradas. A tecnologia tem de corresponder ao que a forma promete. Um carro antigo dá‑nos a melhor das experiências de condução; um carro moderno bloqueia todas as sensações que costumávamos ter, porque não sentimos a estrada e a qualidade de condução deixa de ser importante. É por isso que a Chopard foi pioneira em atividades relacionadas com viaturas clássicas ao tornar‑se patrocinadora principal do Mille Miglia, desde 1988, e ao desenvolver uma linha relojoeira dedicada a quem gosta de carros vintage e relógios mecânicos clássicos».

A partir de 1997, as edições anuais dos relógios Mille Miglia começaram a ser mais frequentemente cronógrafos automáticos e a ostentar uma bracelete reminiscente dos pneus Dunlop Racing, que se tornou tão emblemática como o logótipo da flecha vermelha e cujo padrão estriado acabaria por ser replicado nos acessórios.

o enorme interesse pelo conceito motivou edições paralelas (normalmente em número equivalente ao ano da corrida), a par do relógio personalizado entregue a cada um dos cerca de 375 participantes. Ano após ano, foram surgindo novidades, desde os primeiros modelos em titânio até à criação de conjuntos exclusivos (como o Racing Colors), e, sobretudo, a partir da adoção do novo formato gran’Turismo em 2006 – a partir daí a criatividade aumentou a par do alargamento da coleção, que atualmente também inclui versões femininas. Entretanto, os modelos‑base da linha Mille Miglia serviram também para o lançamento de relógios especiais associados a outros eventos (grand Prix historique de Monaco), a marcas (Alfa Romeo) e a pilotos (Jacky Ickx). o próximo passo será a utilização de mecanismos exclusivamente elaborados na nova manufatura da marca, a Fleurier Ébauches.

Mas a glamorosa associação da Chopard à corrida da Freccia Rossa (‘Flecha Vermelha’) não se faz através do mero patrocínio ou da entrega de relógios aos protagonistas. os donos da Chopard participam ativamente, tanto no plano desportivo

«Um carro antigo dá-nos a melhor das experiências de condução; um carro moderno bloqueia todas as sensações que costumávamos ter porque não sentimos a estrada e a qualidade de condução deixa de ser importante»

Karl-Friedrich Scheufele

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BRESCIA > ROMA > BRESCIA

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como social. o patriarca karl Scheufele participava, até há escassos anos, e, em 2006, por exemplo, fê‑lo ao volante de um Mercedes 300 SL de 1955, tendo por companhia o filho do seu amigo tenor José Carreras. De entre a vasta coleção automóvel da família, karl‑Friedrich Scheufele gosta muito do emblemático Porsche 550 RS de 1955 (igual ao que vitimou James Dean), e até já foi acompanhado da top model checa Eva herzigova numa partida simbólica, embora o seu parceiro mais habitual seja o lendário Jacky Ickx – antigo piloto belga de Formula 1 que ganhou por quatro vezes as 24 horas de Le Mans e que é um dos principais embaixadores da marca, para além de ter acompanhado o próprio karl‑Friedrich Scheufele aquando da sua primeira participação. As mulheres da família têm um papel igualmente preponderante nas atividades sociais paralelas, com a carismática Caroline gruosi‑Scheufele, sempre em grande destaque.

La piú bella corsa del mondoVeículo de cultura e paixão, a Mille Miglia é mais do que uma corrida fascinante – é o mais famoso museu itinerante do mundo, com lendários bólides da história do automobilismo a atravessarem centros históricos de enorme valor cultural e reservas naturais de incomparável beleza. o importante não é ganhar, é participar, porque vencer a più bella corsa del mondo acaba por se tornar um privilégio suplementar. E são mesmo mil milhas exatas: 1600 quilómetros, de Brescia a Roma, e de regresso a Brescia, em viaturas construídas entre 1927 e 1957 – precisamente o espaço temporal em que decorreu a Mille Miglia original, a corrida transalpina que exalava um fascínio tal, que seduziu todos os melhores pilotos do planeta, na altura, e juntou centenas de milhares de tifosi nas bermas das estradas do centro e do norte de Itália, para testemunharem presencialmente os progressos mecânicos das mais rápidas viaturas daquelas três décadas.

houve muitos incidentes, épicos e rocambolescos, que foram transmitidos verbalmente por quem a estes assistiu e que depois passaram, de geração em geração, aumentando a carga mítica da corrida. Como aquele episódio de 1954, em que Hans Herrmann estava ao volante do seu Porsche 550 Spyder, e prestava indicação às cábulas do seu ‘pendura’, herbert Linge, quando se depararam com uma passagem de nível com a cancela a descer e a luz vermelha a piscar, enquanto se aproximava o comboio. Como era tarde demais para travar, encolheram os seus capacetes e aceleraram por baixo da barreira. ou a prestação épica do lendário Tazio nuvolari, em

1948, quando comandou, adoentado, a última corrida da sua vida com o Ferrari Tipo 166, parcialmente destruído, e a cuspir sangue até não conseguir continuar devido à perigosa falta de travões!

Tragédia e ressurreiçãoo charme único de a Mille Miglia se realizar em estradas públicas que não eram fechadas ao entusiasmo exacerbado dos tifosi acabaria por originar algumas tragédias e foram precisamente as consequências nefastas do acidente protagonizado pelo marquês espanhol Alfonso de Portago a determinar a suspensão da corrida: o seu copiloto e dez espetadores morreram, quando o rebentamento de um pneu lançou o Ferrari para um canal... depois de atropelar o público.

O cancelamento foi um drama para pilotos e aficionados. Até que os saudosistas reabilitaram a lenda: a corrida de velocidade pura renasceu em 1977 com outro caráter – uma prova de regularidade dedicada aos carros clássicos de outrora. A feroz e perigosa competição deu lugar a um não menos fascinante evento que se tornou imperdível para colecionadores e se transformou gradualmente num acontecimento cultural onde celebridades, da mais diversa índole, gostam de ‘botar figura’. A capacidade cúbica e a prestação dos bólides não constituem requisitos para a participação: a única imposição prende‑se com o ano de origem do veículo, obrigatoriamente entre 1927 e 1957. O que significa que participam alguns carros de corrida deliciosamente lentos, sobretudo os que caminham para os 90 anos de idade!

Muitos dos veículos são fornecidos pelos museus das maiores marcas, da Ferrari à Aston Martin. E modelos raros ou inesquecíveis, como o Mercedes 300 SLR com que Stirling Moss venceu a edição de 1995 com o recorde absoluto de seis horas, 39 minutos e 43 segundos... exatamente 40 anos depois de o lendário piloto britânico ter ganho, no mesmo percurso, com a média de 157,650 quilómetros por hora! Mas, como devagar se vai ao longe, é mesmo calmamente que melhor se aprecia o trajeto que desce a península Itálica pelo lado do mar Adriático (costa leste) e que, no regresso, sobe pelo lado do mar Tirreno (costa oeste), ao longo de mil milhas – atravessando centros históricos e reservas naturais, cenários medievais, renascentistas, neoclássicos e modernos, a cidade e o campo, os lagos, os vales e a montanha, a civilização laica e os monumentos religiosos. Uma autêntica viagem no tempo com um relógio Chopard Mille Miglia no pulso.

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rEPOrTAGEm ChoPARD

«A Chopard foi pioneira em atividades relacionadas com viaturas clássicas ao tornar-se patrocinadora principal do Mille Miglia, desde 1988, e ao desenvolver uma linha relojoeira dedicada a quem gosta de carros vintage e relógios mecânicos clássicos»

Karl-Friedrich Scheufele

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INOVAçãO PUnção DE gEnEBRA

«Num espaço entre seis a oito anos, temos a ambição de produzir no seio da manufatura todos os nossos calibres e cada um ostentará o Punção de Genebra»

Juan-Carlos Torres CEO da Vacheron Constantin

VAChERon ConSTAnTIn,Patrimony Traditionnelle Tourbillon 14 dias o primeiro relógio homologado de acordo com os novos critérios do Punção de genebra.

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Chopard e Vacheron Constantin são algumas das marcas que nos habituámos a ver associadas ao Punção de genebra, um incontornável símbolo de prestígio no seio da indústria relojoeira de manufatura.

Desde 1886, o famoso selo de certificação para movimentos mecânicos relojoeiros concebidos no Cantão de genebra é garantia de excelência na origem e um atestado de qualidade de alto nível. Porém, as várias certificações que encontramos no atual panorama da relojoaria é revelador de uma certa polémica que a noção de certificação tem gerado ao longo dos últimos tempos. E, em relação ao Punção de genebra, em causa tem estado o facto de o processo de certificação incidir apenas nos aspetos estéticos do próprio movimento e não no relógio enquanto máquina completa. Por outro lado, no seio do debate em torno do termo ‘swiss made’, cujas regras vieram alargar para o mínimo de 60% do valor acrescentado nacional para que um produto industrial possa ser classificado Swiss Made, há muitos que consideram que a questão da qualidade suíça em relojoaria vai muito para além de percentagens. Foi por isso que marcas como a Patek Philippe ou a Jaeger‑LeCoultre optaram por seguir o seu caminho, à margem de certificações independentes, e criaram um selo próprio de qualidade – respetivamente, o Punção Patek Philippe e o selo 1000 hours Control ‑ que prima pelo rigor e pela exigência dos critérios, surgindo, assim, como uma forma distinta de comprometimento e de responsabilidade para com um determinado nível de excelência associado à própria marca que garante.

Mas recentemente chegou a vez de as entidades ligadas ao Punção de genebra também apostarem numa renovação que parecia cada vez mais necessária. No âmbito do 125.º aniversário do prestigiado selo, celebrado no dia 9 de novembro de 2011, foram anunciados novos critérios de certificação com base numa premissa que vem alterar o enfoque original da intervenção: a

partir de 2012, « a aprovação aplica‑se a todos os componentes do movimento, a quaisquer módulos adicionais e aos componentes externos». (1) neste sentido, além do movimento, será o relógio como um todo a obter a certificação, pelo que mesmo o design exterior, a caixa, os elementos de ligação do movimento à caixa e acabamentos, antes não contemplados, passam a ser incluídos como alvo de avaliação.

o Punção de genebra foi originalmente proposto como resposta ao uso abusivo da referência ‘genève’ nos movimentos ou nos mostradores dos relógios então criados. na altura, era comum a utilização desta referência mesmo por nomes e marcas fora de genebra, já que era sinónimo de prestígio junto do cliente. A solução foi a criação, por decreto, de um selo de qualidade garantido por uma entidade responsável e credenciada. nascia assim o Punção de genebra e cabia à Escola de Relojoaria de genebra a sua atribuição. Em 2009, a competência passou para as mãos do TIMELAB, Laboratoire d’horlogerie et de Microtechnique de genève. É a esta nova entidade que se deve a revisão dos critérios de certificação.

«A evolução do Punção de genebra proporcionar‑lhe‑á ainda mais prestígio», destaca Daniel Favre, presidente do Conselho da Fundação do TIMELAB, «esta AoC (Appelation d’origine Controlée) constitui uma autêntica garantia de qualidade, cujos limites foram ampliados com o fim de satisfazer o mais possível as expetativas dos clientes em relação aos modelos de alta‑ ‑relojoaria.»

nas páginas seguintes apresentamos uma síntese das novas normas do Punção de genebra, normas estas que só passarão a ser aplicadas a partir de junho de 2012 e só a novos modelos, à medida que vão sendo lançados.

Juan-Carlos Torres CEO da Vacheron Constantin

um selo de excelênciaPor Cesarina Sousa

mudam-se os tempos e com as mudanças surgem novas necessidades

e exigências. Por isso, no âmbito da celebração do 125.º aniversário,

o prestigiado selo que atesta a qualidade dos movimentos mecânicos

concebidos no Cantão de Genebra renasceu com novos critérios de avaliação.

O nível de exigência torna-se assim mais elevado.

ChoPARD,L.U.C Triple Certification Tourbillon primeiro relógio a receber os três certificados mais prestigiados da relojoaria Suiça: o COSC, Poinçon de Genève e o selo Fleurier quality Foundation.

(1) Punção de genebra – Resumo das alterações

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A platina, as pontes e placas para módulos adicionais devem ter os cantos polidos e os lados lixados paralelamente. A parte superior das pontes deve ter um acabamento Côtes de Genève que elimine as marcas de mecanização.

As peças que unem o movimento à caixa e ao mostrador devem ter acabamentos ao mesmo nível das peças do movimento. Consideram‑‑se peças de ligação as bridas, os parafusos ou chaves de fixação, os parafusos dos extensores e das alavancas dos pulsadores e os aros de encaixar, entre outras.

As peças de forma e partes devem ter ângulos polidos, os lados lixados e as faces suavizadas ou niveladas. A título de exemplo, as cabeças dos parafusos devem ser polidas ou granuladas circularmente e as bordas e fendas chanfradas.

Todos os movimentos devem estar dotados com rubis com perfuração polida, nas rodagens e no escape.

INOVAçãO PUnção DE gEnEBRA

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+ Precisão ‑ o relógio já montado não pode variar em mais de um minuto ao fim de sete dias, ou seja, cerca de 8,6 segundos por dia. A precisão é comprovada ao longo de sete dias, um período durante o qual o relógio é colocado numa máquina que simula os movimentos do utilizador.

+ Estanqueidade ‑ o relógio já montado deve resistir a uma pressão de 3 bares e a uma pressão negativa de 0,5 bares. o teste é realizado ao ar.

+ A reserva de corda do relógio já montado deve ser igual ou superior ao declarado pelo fabricante, sendo comprovada com o mostrador do relógio para cima.

A roda de escape não deverá ser maior do que o,16 mm de espessura nos movimentos com diâmetro superior a 18 mm. nos movimentos com um diâmetro inferior a esta medida a espessura da roda de escape não deve ser superior a 0,13 mm. As faces expostas dos dentes das engrenagens devem ser polidas.

Além da montagem e regulação do movimento, também agora a operação de encaixe deverá ser realizada exclusivamente no Cantão de genebra.

o cumprimento dos requisitos do Punção de genebra é da responsabilidade da manufatura que o solicita, e as inspeções periódicas do fabrico, realizadas pelo laboratório competente sem qualquer aviso prévio, avaliam a qualidade das peças e dos movimentos e comprovam que a montagem, a regulação e o encaixe são realizados em genebra.

Mais informações: www.timelab.ch

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COLEçãO AUDEMARS PIgUET RoyAL oAk

royal Oak: há 40 anos a navegar com sucesso

Foi o primeiro relógio desportivo de luxo, rompendo conceitos estéticos

e usando o aço como se fosse um metal precioso. O royal Oak ajudou

a Audemars Piguet a ultrapassar a crise do quartzo e mantém-se hoje

como modelo e ícone da manufatura.

Por Fernando Correia de oliveira

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há 40 anos, a Península Ibérica vivia em ditadura, mas os regimes de Lisboa e Madrid começavam a dar já sinais de desgaste e fraqueza. A comunidade internacional isolara um e outro, e as transições democráticas iriam chegar brevemente. Mas 1972 começara de forma sangrenta na Europa: em janeiro, em Derry, na Irlanda do norte, a repressão do exército britânico sobre os independentistas católicos saldava‑se em 13 mortos (o episódio, conhecido como Bloody Sunday, iria inspirar uma das mais conhecidas canções dos U2). o presi‑dente dos Estados Unidos, Richard Nixon, iria ficar na história pelos melhores e piores motivos: em fevereiro, fazia uma inesperada visita à China; meses depois, começava o escândalo Watergate, que iria levar ao seu afastamento.

o mundo vivia a tensão da guerra Fria e a Europa mantinha‑se dividida, num quadro saído da II guerra Mundial. nos Jogos olímpicos, em Munique, os pa‑ lestinianos do Setembro negro atacavam a delega‑ção israelita, tendo sido assassinados onze atletas. A Alemanha Federal sagrava‑se campeã da Europa em futebol, o alemão heinrich Böll era Prémio nobel da Literatura. Em Londres, estreava‑se Jesus Cristo Superstar, de Tim Rice e Andrew Lloyd Webber. O filme O Último Tango em Paris, de Bernardo Berttolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider, provocava o escândalo generalizado. A França apresentava o TgV. nascia o conceito de tempo universal coordenado (UTC), que vinha substituir o conceito de tempo médio de greenwich (gMT). E a indústria relojoeira suíça morria uma morte que parecia rápida e inexorável.

o aparecimento da tecnologia do quartzo e a inundação dos mercados com relógios fiáveis e baratos por parte do Japão provocaram uma he‑ catombe no setor, na década de 70 e no início dos anos 80. Segundo números da Fédération de l’industrie horlogère suisse (Fh), a indústria relojo‑eira tinha 90 mil trabalhadores em 1970 e chegou aos 30 mil em 1984. o número de empresas di‑ mi nuiu de 1.600, em 1970, para menos de 300 no auge da crise. hoje em dia, há cerca de 600 empresas, que empregam aproximadamente 50 mil pessoas.

«os efeitos do quartzo sobre a indústria relojoeira tradicional são devastadores», reflete Dominique Fléchon na sua mais recente obra, La Conquête du Temps (Flammarion, 2011). «Inúmeras manufaturas, entre elas algumas emblemáticas, como a francesa Lip, desaparecem. os relojoeiros mais velhos são reformados, os outros tentam reconverter‑se. As escolas de relojoaria fecham. Uma placa de chumbo abate-se sobre uma profissão sinistrada.»

Perante este cenário, não será difícil visualizar o clima de desesperança, de algum desespero mesmo, que rodeava a edição de 1972 da Feira de Basileia, já naquela altura a montra principal do setor a nível mundial.

Embora a pesquisa e o desenvolvimento se centrassem então, mesmo na Europa, no melho‑ramento da medição eletrónica do tempo, «alguns raros mestres relojoeiros perseveravam, ignorando o perigo, como se a mecânica, por milagre, pudesse vir a responder aos novos desafios impostos pelo progresso ávido de uma precisão que os meios tradicionais não podiam, inexoravelmente, satisfazer mais», escreve Fléchon.

Mas, ao mesmo tempo, começava a surgir por esta altura uma nova clientela – ousada, ativa, adepta dos desafios profissionais e desportivos, de um estilo de vida dinâmico. os relojoeiros tiveram então de inventar relógios suscetíveis de acom‑panhar os homens de ação em todas as suas atividades quotidianas, profissionais ou de lazer. o cronógrafo, sobretudo o automático, acabado de inventar (1969), popularizava‑se. Respondendo a esta realidade, no final dos anos 60 e início dos anos 70, uma nova abordagem estilística começa a

« Inúmeras manufaturas, entre elas algumas emblemáticas, como a francesa Lip, desaparecem. Os relojoeiros mais velhos são reformados, os outros tentam reconverter-se. As escolas de relojoaria fecham. Uma placa de chumbo abate-se sobre uma profissão sinistrada»

Dominique Fléchon

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atingir o design dos relógios de pulso. Após várias décadas, o relógio técnico adota a forma tonneau, dando‑lhe um lado masculino, reforçado pela caixa em aço, menos caro que o ouro. Clássico e robusto, o relógio desportivo atrai agora aqueles que veem nele também um objeto elegante, um acessório e, ao mesmo tempo, um instrumento que evoca o ambiente das corridas de automóveis. Aparecem as caixas quadradas.

É por esta altura que, «procurando um relógio que nunca tenha existido», a respeitável e histórica ma‑ nufatura Audemars Piguet aborda o designer gerald genta. E, na Feira de Basileia de 1972, é apresen‑tado o Royal oak, o primeiro relógio desportivo de

luxo, com caixa em aço, «metal deliberadamente promovido à categoria dos metais preciosos», lem‑bra Fléchon. A sua luneta octogonal, com parafusos aparentes e montada numa caixa com oito lados, alinha‑se ao gosto da época, num revivalismo do tonneau Art Déco.

Durante a apresentação do Royal oak, «o mundo relojoeiro está tão surpreendido como cético: este relógio em aço é, na verdade, mais caro que muitos relógios em ouro!», sublinha o historiador. «no entanto, o Royal oak conhecerá um sucesso planetário e durável.»

o Royal oak original (49 x 39 x 3 mm) tinha o mostrador com decoração guilloché, tipo tapeçaria. E vinha com um calibre automático, com rotor central, o mais fino da sua época. Indicava horas, minutos e data (numa janela, nas três horas). outro aspeto revolucionário e tecnicamente difícil de re‑solver era o facto de ter pulseira em aço, totalmente integrada na caixa.

gerald genta, falecido em agosto do ano pas‑sado, aos 80 anos, nasceu em Genebra e era filho de mãe suíça e pai italiano. A sua formação inicial foi em joalharia e ourivesaria, mas o primeiro em‑prego que teve, nos anos 50, foi logo na relojoaria – contratado pela Universal genève, desenvolveu ali um calibre automático, com microrrotor, que colocou no primeiro relógio que desenhou, o Poler‑outer. Seguiram‑se, para a mesma marca, o golden e o White Shadow (equipados com microrrotores e calibres elétricos Unisonic e Accutron, a tentativa de

o sucesso do Royal oak rapidamente levou a Audemars Piguet a conceber variações sobre o modelo. Do aço, passou‑se ao ouro e até às invulgares declinações em aço e ouro, denominadas bicolores.

COLEçãO AUDEMARS PIgUET RoyAL oAk

É por essa altura que, “procurando um relógio que nunca tenha existido”, a res‑peitável e histórica manufatura Audemars Piguet aborda o designer gerald genta. E, na Feira de Basileia de 1972, é apresen‑tado o Royal oak, o primeiro relógio des‑portivo de luxo, com caixa em aço, “metal deliberadamente promovido à categoria dos metais preciosos”, lembra Fléchon.

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gerald genta e o esboço daquele que viria a ser o primeiro Royal oak. As declinações do mostrador em azul e em preto sempre acompanharam o modelodesde a sua criação.

os desenhos técnicos submetidos para a atribuição da patente do Royal oak.

A caixa, a luneta octogonal e os caraterísticos parafusos do Royal oak são a sua assinatura. Inconfundível marca do ADn estético do relógio.

Um bilhete de entrada na Feira de Basileia de 1972 onde foi apresentado o Royal oak pela primeira vez. Face ao sucesso do modelo a Audemars Piguet iniciou a produção de variações, incluindo peças para senhora e em ouro.

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resposta suíça ao quartzo). gerald genta começa a ser conhecido como designer e a ser solicitado por muitas manufaturas. Além do Royal oak, criou alguns dos modelos mais conhecidos de sempre na relojoaria de pulso – o Omega Constellation (1959), o IWC Ingenieur (1976), o Patek Philippe nautilus (1976) ou o Cartier Pasha (1997). Desde 1969, tem a sua própria marca, especializada em sonneries e em encomendas especiais para ricos e famosos. Durante os anos 80, genta obteve licença da Walt Disney e produziu séries limitadas onde persona‑gens como Rato Mickey, a Minnie, o Pato Donald ou o Pateta aparecem em relógios em ouro.

Como surgiu a ideia do Royal oak? gerald genta nunca foi muito preciso quanto a isso: invocava a falta de documentos, de memória…

gregory Pons, jornalista francês que acompanha há quatro décadas o setor, dá‑nos alguns porme‑nores, depois de várias conversas com genta e, principalmente, com a viúva e a filha, que trabalha‑vam com ele no atelier de genebra. «os primeiros traços a lápis não foram propriamente para um relógio desportivo, mas para um trabalho sobre a caixa», refere o especialista. «A forma octogonal já lá estava há muito na sua cabeça, ele sempre teve in‑tenção de fazer um relógio com essa forma. A ideia dos parafusos ou a inspiração no portaló da linha de

veleiros Royal oak surgiu muito mais tarde.»Pons revela ainda outro pormenor inédito: foi um

pedido do importador da Audemars Piguet para Itália, Roberto Carlotti, que terá desencadeado o processo de encomenda do Royal oak. o mer‑cado italiano era, na altura, o mais importante para a marca e, tal como hoje, marcava as tendências estéticas. Carlotti começava a ter dificuldade em vender relógios suíços, de grande qualidade, mas com caixas de estética demasiado conservadora. E pediu à manufatura do Brassus que criasse algo de novo, em aço, para que não fosse tão caro como os de ouro, com movimento simples, mas de formas modernas, adaptadas a uma clientela mais nova e dinâmica.

«Existia, assim, do lado de genta, uma caixa octogonal; e do lado do importador italiano, um pe‑dido para um relógio simples, em aço. o Royal oak nasceu desta dupla realidade», diz Pons.

na primavera de 1971, o projeto para o novo relógio é aprovado internamente pela Audemars Piguet. Mas as máquinas de produção não estavam preparadas para o fabrico de caixas em aço e o investimento, em tempos de crise, ia ser volumoso. Mesmo assim, o relógio fez‑se. genta e Carlotti acreditavam muito no Royal oak. o designer terá mesmo oferecido o projeto à manufatura, para

COLEçãO AUDEMARS PIgUET RoyAL oAk

Para comemorar o 40.º aniversário do Royal oak, o primeiro relógio desportivo de luxo, a Audemars Piguet patrocinou a edição de um livro de 300 páginas consagrado à história deste perene e lendário modelo, desenhado por gerald genta. A obra, profusamente ilustrada, traça os 137 anos de história da manufatura Audemars Piguet e narra as quatro décadas do Royal oak, desde a sua criação, em 1972. o livro surge no contexto da exposição itinerante sobre o 40.º aniversário do modelo, que se iniciou em nova Iorque, e que seguirá depois para Milão, Paris, Beijing, Singapura e Dubai.Da autoria de Martin k. Wehrli e heinz heimann, a obra Royal oak custa 100 euros.

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apres sar a decisão de produção. E Carlotti enco‑mendado um número de peças suficiente para minimizar o risco.

na Feira de Basileia de 1972, prudentemente, a Audemars Piguet lança uma série muito limitada de mil Royal oak (tantos quantos Carlotti tinha encomendado…). «o mercado alemão iria enco‑mendar mais 300, os outros mercados mais umas quantas centenas, o que irá dissuadir georges golay, o diretor fabril da Audemars Piguet, a não dispensar a máquina de caixas que tinha usado para os primeiros Royal oak, como tinha pensado», garante Pons.

numa altura em que o marketing dava os primei‑ros passos e numa indústria muito conservadora, o lançamento do Royal oak foi quase clandes‑tino. Mas gerald genta, um iconoclasta criativo, sabia que tinha feito «o relógio em aço mais caro do mercado» e passou a comunicar este facto (o Royal Oak custava 3.650 francos suíços, quando um Patek Philippe Calatrava, de quartzo, mas em ouro, custava 2.000 francos suíços). Pormenor que acumulava mais‑valias entre o público novo e disponível que se estava a formar. As encomendas foram crescendo e a Audemars Piguet apercebeu‑se do êxito que tinha em mãos. o Royal oak iria gerar receitas que permitiriam às famílias Audemars

e Piguet (ainda hoje à frente do negócio) sobre‑viver ao período crítico do quartzo.gérald genta «sublinhou ao máximo o aspeto industrial do Royal oak, ao colocar os parafusos na luneta. Parafusos inspirados, segundo colaboradores próximos, nos parafusos que se encontram nos capacetes dos es‑cafandristas, que o fascinavam», afirma o especialis-ta. «no início dos anos 70, esta brutalidade técnica do design impõem‑se como um fator de rutura dos códigos, aparentemente apreciado por uma nova geração de consumidores, mais jovens, menos con‑formistas, muito diferentes dos colecionadores que tinham sido até então os principais clientes da marca.»

E o nome Royal oak? Terá saído igualmente da imaginação de gerald genta. Inspirado no veleiro histórico, nos seus canhões e portalós.

o Royal oak foi depois sendo declinado, ao longo dos anos, pela designer da manufatura, Jacqueline Dimier. É ela a responsável pelo lançamento do modelo feminino ou pela utilização de calibres com‑plicados na linha Royal oak. Em 1993, surge o Royal oak offshore, autoria do designer Emmanuel gueit. Depois, o Royal oak Concept, com a utilização de novos materiais. Tudo isto tem feito do Royal oak um dos modelos mais bem‑ ‑sucedidos e perenes de toda a indústria.

Tom Brady, olivier Audemars, Philippe Merk e Arnold Schwarzenegger na abertura da exposição itinerante dedicada aos 40 anos do Royal oak que se iniciou em nova Iorque. Peça central do evento é o magnífico expositor que contém todos os modelos Royal oak. história viva da relojoaria.

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CINEmA A InVEnção DE hUgo

o que é que relógios, autómatos, brinquedos, ilusionismo e cinema poderão ter em comum? À partida parece que nada, mas na galardoada longa‑metragem A Invenção de Hugo, de Martin Scorsese, estes elementos unem-se para nos transportar para um mundo de sonho que, afinal, está bem próximo da nossa realidade histórica.

hugo, um pequeno relojoeiro que, depois de perder o seu pai, passa a viver escondido numa estação de comboios, anseia consertar um autómato de caraterísticas muito especiais. Para o fazer, precisa de peças mecânicas e de uma chave em forma de coração. É com este objetivo que o jovem se vê envolvido numa fantástica aventura pelos primórdios do cinema e conhece Georges Méliès, reconhecido como ilustre realizador de filmes mudos e precursor dos efeitos especiais na sétima arte.

No que diz respeito ao filme em si, podemos, sem dúvida, afirmar que é uma homenagem fascinante. georges Méliès existiu mesmo, embora durante muito tempo tenha caído no esquecimento. Mas para aqui interessa‑nos a componente de relojoaria e o retrato tão verdadeiro que é feito dos relojoeiros que, por serem peritos em mecanismos e engrenagens, também reparavam e construíam autómatos, entre muitos outros engenhos. Da relojoaria ao ilusionismo a distância acabava, assim, por não ser muita. nos finais do século XIX, inícios do século XX, os autómatos e androides, como máquinas que reproduziam movimentos automaticamente, encantaram e surpreenderam pela sua aproximação à realidade, tornando‑se mesmo elementos cruciais para tornar mais realistas os truques de ilusionismo e de prestidigitação. A este propósito, lembramos Robert houdin (não confundir com houdini que viveu posteriormente), um relojoeiro francês que se tornou ilusionista e que é hoje considerado por muitos como o pai do ilusionismo moderno. o seu autómato em forma de árvore, capaz de num ápice fazer nascer laranjas, tornou‑se conhecido no mundo inteiro. Curiosamente, georges Méliès, que também foi prestidigitador antes de se dedicar ao cinema, comprou o famoso teatro de Robert‑houdin e fez dele o seu estúdio de realização. No filme de Scorsese, o autómato de Hugo é a ‘chave’ da ligação a georges Méliès.

*Título alusivo ao filme Le voyage à travers l’impossible (1904) de george Méliès.

Para saber mais:www.europafilmtreasures.eu/www.imdb.pt/title/tt0970179/www.hugomovie.com/www.maisondelamagie.fr/

Viagem através do (im)possível*Por Cesarina Sousa, Ilustrações Magda Pedrosa

No filme A Invenção de Hugo um pequeno relojoeiro, empenhado em

consertar um autómato deixado pelo seu pai, transporta-nos até ao

cinema fantástico de Georges méliès, um mundo onde os sonhos se

tornam realidade.

© Paramont Pictures

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Ben Kingsley No papel de Georges Meliès no filme A Invenção de Hugo

«Alguma vez pensaste de onde vêm os teus sonhos? Olha à tua volta... Aqui é onde são feitos»

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um salto para o abismoFotos Rolex Deepsea Challenge: Mark Thiessen

No passado dia 26 de março, James Cameron embarcou numa

aventura de cortar a respiração: desceu rumo ao fundo da Fossa das

marianas e realizou o mergulho individual mais profundo de sempre.

No pulso, o realizador e explorador levou um rolex.

Em 1960, um protótipo Rolex Deepsea Special com um vidro em forma de bolha foi acoplado ao flanco exterior de um batiscafo, o Trieste, e acompanhou o capitão Don Walsh e o oceanógrafo Jacques Piccard numa descida a 10.916 metros de profundidade na Fossa das Marianas, no oceano Pacífico. Os exploradores permaneceram cerca de 20 minutos nesta profundidade, e a pressão exercida no relógio foi superior a uma tonelada por centímetro quadrado. Porém, o Rolex Deepsea Special passou o teste com distinção. Um momento histórico para a Rolex, mas acima de tudo, um momento histórico para a humanidade. A expedição permitira alcançar «mares nunca de antes navegados», abrindo assim caminho para um melhor conhecimento das profundezas marinhas.

Mais de meio século depois, numa ação conjunta, o realizador James Cameron, a Rolex e a national geographic embarcaram no Deepsea Challenge, uma nova aventura na Fossa das Marianas que tinha objetivos bem definidos: ultrapassar os 11,2 km de profundidade (e recolher amostras para estudos científicos. A expedição foi um sucesso e, no dia 26 de março de 2012, fez‑ ‑se história. Cameron alcançou a meta pretendida cerca das 23 horas, hora de Lisboa, e regressou à superfície por volta das 3 horas, protagonizando o mergulho individual mais profundo de todos os

tempos, bem como o primeiro mergulho individual neste ponto do Pacífico.Durante a expedição, James Cameron usou um Rolex oyster Perpetual Deepsea Challenge, um novo relógio experimental de mergulho preparado para enfrentar os 12.000 metros de profundidade sem sofrer danos. A este nível, a carga exercida é de cerca de 13.6 toneladas sobre o vidro. Desde 1953, com o lançamento do Submariner, a Rolex tem‑se especializado na produção de relógios estanques a grande profundidade. Após a aventura na Fossa das Marianas com o protótipo de 1960, o Sea‑Dweller surgiu em 1967 na coleção regular, para permitir mergulhar a uma profundidade ainda maior graças a uma válvula que descarrega uma reserva de hélio dentro do relógio, de maneira a fomentar, aquando da subida, uma descompressão similar à do mergulhador. Este Sea‑Dweller garantia uma estanqueidade até 1.220 metros, até que surgiu o Sea‑Dweller Deepsea, com uma estanqueidade de mais do dobro. Ao contrário do Deepsea Special de 1960, que tinha um aspeto concetual, o oyster Perpetual Deepsea Challenge que desceu agora a Fossa das Marianas está muito mais próximo dos modelos de produção regular.

Para saber mais: www.deepseachallenge.com

INICIATIVA DEEPSEA ChALLEngE

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«Tive uma sensação de completo isolamento de toda a humanidade»

James Cameron

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rEPOrTAGEm A. LAngE & SöhnE DATogRAPh AUF/AB

(2)

(3)

mais & melhorPor Miguel Seabra, Dresden, Alemanha

um dos mais belos e cobiçados cronógrafos

jamais concebidos foi atualizado pela

A. Lange & Söhne: o Datograph Auf/Ab

é uma versão ainda melhor do datograph

e exala toda a superlativa qualidade da

manufatura saxónia.

Após a reunificação, Dresden tem vindo paulatinamente a recuperar todo o seu esplendor de antiga capital não só estatal mas também de arte e cultura – tal como a manufatura A. Lange & Söhne, sediada na vizinha localidade de glashütte, recuperou toda a sua grandiosidade para se tornar na única entidade de alta‑relojoaria capaz de rivalizar com as melhores manufaturas suíças. Um dos ex‑libris da sua coleção era o Datograph, que após uma dúzia de anos passa a ser doravante designado por Datograph Auf/Ab na sequência de alguns aperfeiçoamentos destinados a tornar o melhor ainda melhor.

A nova versão será tanto ou mais cobiçada do que a do cronógrafo de 1999 que já era considerado como um dos mais belos e desejados de sempre. Com toda a classe e pertinácia que a carateriza, a A. Lange & Söhne fez crescer ligeiramente o Datograph mantendo todo o sentido das proporções originais e juntou‑lhe alguns aperfeiçoamentos técnicos a par de criteriosas alterações. o resultado é o esperado: muito estilo e elegância.

Pequenos grandes detalheso primeiro impacto visual do Datograph Auf/Ab prende‑se com o ligeiro crescimento da caixa em platina de 39 para 41 milímetros (1) e a inclusão de um indicador de reserva de corda (2) no mostrador preto de totalizadores argenté contrastantes. o crescimento do tamanho mantém toda a elegância do Datograph original, tal como o mostrador não é afetado na sua harmonia – e outro dos detalhes prende‑se com a eliminação dos algarismos romanos II, VI e x e a consequente adoção exclusiva de indexes aplicados em ouro rodinado para as horas (3); a janela dupla para a data tão caraterística da A. Lange & Söhne cresceu discretamente quatro por cento e o novo indicador da autonomia do mecanismo de corda manual (que aumenta um dia para um total de 60 horas) surge nas 6 horas com a tal inscrição em alemão Auf/Ab (Down/Up, ou Vazio/Cheio, daí o acréscimo ao nome do relógio) (2).

datograph, 1999

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(1)

Estrutura arquitetónica o aumento da reserva de marcha está associado a um tambor de corda maior no Calibre L951.6 – que mantém a estrutura arquitetónica do original Datograph (Calibre L951.1) que fez dele um dos mais belos mecanismos relojoeiros jamais construídos pelo homem. Trata‑se de um calibre cronográfico de roda de colunas com uma frequência tradicional de 18’800 alt/h embelezado artesanalmente com decorações de alta‑relojoaria e padrões estéticos de glashütte (gravação do galo do balanço, platina em prata alemã, anglage, châtons de ouro etc.); o ponteiro do totalizador dos minutos dá saltos precisos de um em um minuto durante a contagem, e a função flyback otimiza/

/acelera o processo cronográfico ao fazer o ponteiro regressar ao zero e recomeçar com uma única pressão do correspondente botão. o balan‑ ço e a espiral também são os mesmos manufatu‑rados na A. Lange & Söhne estreados no Double Split.

houve quem torcesse o nariz ao crescimento, mas os 41 milímetros estão bem dentro dos padrões canónicos. E a passagem dos algarismos romanos para os bastões depuram o mostrador, evitando dispersão estilística. Quaisquer reparos por parte dos puristas não passarão de minudências, porque o Datograph Auf/Ab é um relógio fabuloso que será tão invejado como o primeiro Datograph.

Datograph Auf/Ab, 2012

«Na verdade, foi um grande desafio porque quando se toca num produto tão emblemático como o Datograph há que ter muito cuidado, há que manter a identificação»

Anthony de Haas Diretor técnico A. Lange & Söhne

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O que a levou a optar pela Força Aérea? O que a seduziu ao ponto de decidir apostar numa carreira militar?Inicialmente, foi a novidade, o desconhecido, viver um desafio, influenciada por um professor, que me disse «vai experimentar». não foi mais do que isso. houve uma fase em que até nem gostei muito, sou sincera. Era um universo de tal forma desconhecido que, de início, não me aliciou tanto quanto eu esperava. o que despertou o meu interesse foi o estágio de voo. Aí é que tomei a decisão de ficar. Pensei «isto é, de facto, aquilo que eu quero fazer». Depois, foi um crescendo de gosto, ao longo dos anos.

Como é ser mulher num mundo maioritariamente masculino? Já deve ter ouvido esta pergunta centenas de vezes, mas creio que se continua a justificar, porque continua a não haver assim tantas mulheres nestas funções, não é?Sim, exato. É isso o que eu ia dizer. Quando eu entrei, com 18 anos, era a única, mas o desbravamento das coisas já tinha sido feito dois anos antes. As primeiras vivências, na Academia da Força Aérea, com os meus camaradas de curso, foram as melhores. Era tratada como uma princesa (risos), e diria que tive o apoio de todos eles. Acho que é importante a instituição adaptar‑se aos elementos femininos, mas também é importante nós permitirmos essa adaptação e adaptarmo‑nos, nós próprias, à situação. Isso é fundamental. no estrangeiro, quando estive nos AWACS*, também fui a primeira mulher piloto europeia. houve duas americanas, mas, na Europa, fui a primeira, entre os 15 países que compunham a missão. Tenho tido sorte, porque o profissionalismo, a competência, o conhecimento técnico e a maneira de estar em posições de comando e liderança têm sido os principais fatores para a minha progressão. Isto faz com que me sinta muito bem aqui. não sinto discriminação, nem positiva nem negativa. É assim que tenho vivido estes 21 anos perfeitamente integrada. E eu gosto de trabalhar com homens.

Sente-se a porta-voz de um género?Sim, acho que sim, até porque já tive algumas solicitações nesse sentido. Já me convidaram para falar sobre a importância da mulher na sociedade e sobre a minha experiência, que tem sido positiva –

ENTrEVISTA DInÁ AzEVEDo

É longa e consistente a relação da Fortis com a Aviação e a marinha portuguesas. O lançamento de mais uma edição limitada da marca suíça permitiu-nos conhecer um pouco melhor o âmbito e as responsabilidades daquela que será, porventura, a esquadra da Força Aérea com um maior leque de funções: a Esquadra 502, Elefantes. A propósito daquele lançamento, falámos com a sua comandante, uma senhora, a tenente-coronel diná Azevedo – a primeira mulher a comandar uma esquadra em Portugal.

uma senhora comandante Entrevista por Paulo Costa Dias, Base Aérea do Montijo

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tenho sido uma felizarda (risos). Uma vez, levámos um grupo de jovens numa aeronave, e lembro‑me de uma rapariga, nos seus 14 anos, chegar ao cockpit, olhar para mim, séria, e dizer‑me: «um dia hei de estar aí, no seu lugar». Mas acho que cada um de nós, homens e mulheres, vai fazendo isso, nas suas casas e na sociedade.

mas tornar-se na primeira comandante de esquadra da Força Aérea portuguesa ‘tem que se lhe diga’...É alguma história que é feita, um caminho que é percorrido e que há de ficar para a posterioridade.

A forma de pilotar e de comandar aviões e equipas difere de um género para outro? Ou varia mais em função da personalidade de cada um?Pela personalidade, indubitavelmente. Quanto à forma de pilotar, não há dúvida nenhuma: nós somos ensinados, desde o início, a fazer as coisas como se fossemos uma máquina. Temos de fazer todas as coisas da mesma maneira, para garantir a segurança de voo. É sempre ‘by the book’, em todos os procedimentos técnicos e operacionais. há coisas que podem diferenciar os pilotos, coisas que têm que ver com técnicas individuais, mas que são pormenores relativos a cada voo ou a cada missão. Quanto a comandar equipas, é mais a personalidade de cada um que define a maneira de o fazer, embora as mulheres talvez exerçam a liderança de forma ligeiramente diferente dos homens. não é melhor nem é pior, mas exploram algumas capacidades, algumas caraterísticas diferentes – e o contrário também acontece.

Não há espaço para lideranças maternais aqui, pois não?não, não (risos)! Eu gosto da comunicação, e isso tem a ver com a minha personalidade. gosto do discurso direto, realista, e essa caraterística minha passa para a forma de comunicar nas situações de comando e liderança, naturalmente.

Qual a importância das missões no palco internacional para Portugal em termos diplomáticos, de prontidão e aptidão militar e tecnológica, e de formação dos quadros?Para nós, são extremamente importantes. A nossa experiência maior fora do País, além das missões

de um dia, foi uma de seis meses em contexto de vigilância marítima e controlo de emigração ilegal, na grécia, em Itália e em Espanha. Estávamos no início desta capacidade, a de vigilância marítima, e isso permitiu‑nos treinar as tripulações fora do ambiente de conforto, o que nos garante um treino mais efetivo neste tipo de missão. Preparar todas as questões técnicas e logísticas para garantir que a missão é cumprida fora da unidade‑base, dá‑nos um treino e uma experiência muito completos. no que respeita ao reconhecimento no exterior, deixar Portugal bem visto também foi muito importante. A União Europeia pediu‑nos apoio, simplesmente porque tinha conhecimento das capacidades do avião, e nós, em dois dias, preparámos a aeronave e a tripulação para iniciar um destacamento longo. Começámos a fazer as missões ao terceiro dia. A nossa prestação ia sendo avaliada, o que fez com que eles fossem alongando no tempo a nossa participação e acabassem por mostrar esse reconhecimento de diversas formas. Penso que é importante para o País.

Em que medida é que a precisão, incontornável na sua profissão, é determinante para si ‘cá fora’?Consciente ou inconscientemente, o treino que temos aqui na FA, condiciona, afeta e está constantemente presente na minha vida. Esse treino formata‑nos, e, portanto, por mais que me descontraia na vida pessoal, a precisão está sempre presente. Mas dependerá de cada pessoa, de cada personalidade.

Este modelo Fortis que homenageia a sua esquadra é um modelo masculino. Já usava relógios masculinos ou deixou-se seduzir agora? Já, já usei. Tenho modelos masculinos e femininos, e, agora, até já vai havendo a moda de as senhoras usarem relógios masculinos. Eu acho que sim, que me fica bem e que ficará bem a outras mulheres, dependendo do pulso de cada uma, da sua disposição, de cada pessoa.

O que a seduz neste modelo específico?É bonito, discreto, harmonioso. não é nenhum aspeto em especial que me seduz, mas sim o seu conjunto, que acho equilibrado. Pelo menos no meu pulso… (risos).

* o AWACS (Airborne Warning and Control System) é um sistema de vigilância aérea eletrónica com radares instalados em aeronaves, que tem uma finalidade tática e de defesa militar.

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ENTrEVISTA DInÁ AzEVEDo

Fortis B-42 Automatic Elefantesreferência: 647.10.11ESQ.502Edição 2011 oficial, limitada a 150 exemplares com estojo especial de viagem com o patch da Esquadra em cauchu.movimento: Mecânico de corda automática, calibre 2836‑2.Funções: horas, minutos, segundos, dia da semana e mês.Caixa: Aço, vidro de safira com tratamento antirreflexos, luneta unidireccional, fundo em vidro personalizado com a gravação do nome das aeronaves operadas pela Esquadra Elefantes, coroa com o logótipo FoRTIS , estanque até 200 metros.Dimensões: Ø 40mmBracelete: Pele com pesponto branco e fecho de báscula em aço.Preço: € 1.290

Personalizado nas 6h com um elefante, símbolo retirado do patch da Esquadra; ponteiro dos segundos em amarelo, evocativo da cor da Esquadra; silhueta de um avião C-295 nas 12h, atual aeronave operada pela Esquadra.na lateral o nome do proprietário da peça ladeada por duas cruzes de Cristo.

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A Espiral do Tempo esteve presente na apresentação do relógio Fortis B‑42 Automatic Elefantes onde o primeiro exemplar foi entregue à comandante Diná Azevedo. Para além da carga simbólica e comemorativa o Fortis B‑42 é um instrumento de trabalho habituado a ‘altos voos’.

‘Doninha’ é um dos nomes que ficará para sempre ligado a esta edição, afinal foi o Capitão Luís Marques Cóias o agente de ligação entre a esquadra e o importador da Fortis para Portugal, a Torres Distribuição. Muitos foram os presentes no dia da apresentação. Entre antigos e atuais membros e suas famílias o ambiente foi festivo tendo começado cedo e terminado com o magnífico jantar, servido na Casa Branca, na BA 6.

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COLECIONISmO PORSCHE DESIGN HERITAGE P’6500

E tudo começou com um rabisco com toque de Midas no início da década de 60: o Porsche 911 assumia‑se perante o mundo como um bólide de culto, com linhas tão aerodinâmicas que o seu perfil podia ser traçado num gesto único da mão. O desenho do lendário carro data de 1963, mas manteve‑se ao longo dos tempos, e transformou‑se num clássico, evoluindo de modo a alargar o seu conceito a uma bem‑sucedida linha de produtos de luxo, onde a função e a forma se casam de maneira ideal – concebidos pelo atelier Porsche Design, montado em 1972 pelo professor Ferdinand Alexander Porsche para desenvolver soluções de ponta com a ajuda de desenhos vanguardistas.

Nascido em 1935, Ferdinand Alexander Porsche não só desenvolveu a escuderia automóvel fundada pelo seu pai como idealizou o incontornável 911 e também expandiu a marca Porsche para outras áreas de intervenção. A sua filosofia estética foi sempre a de aplicar um traçado que se desenvolve do interior para o exterior como expressão de um princípio funcional e assenta em quatro bases: a redução dos objetos à sua função essencial; a obtenção de linhas puras e fluidas; a seleção criteriosa dos materiais mais apropriados; e uma execução que combina métodos artesanais e tecnologias modernas.

um estojo comemorativo que celebra um triunvirato e quatro décadas do atelier Porsche design, fundado em 1972 para estabelecer a primeira linha de acessórios de luxo exclusivamente para o homem e alargar a diversos objetos de culto uma apurada visão vanguardista. Cada um dos três relógios icónicos fez história ao combinar forma com função graças a uma estética arrojada mas pragmática e à utilização de materiais de ponta.

Triunvirato históricoPor Miguel Seabra

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inspirados em cockpits, materiais de ponta (ligas de titânio, alumínio, cauchu), engenharia mecânica superlativa assente em calibres automáticos ou de quartzo. o triunvirato destinado a celebrar o 40.º aniversário do atelier Porsche Design está reunido num belo estojo limitado a 100 exemplares numerados em todo o mundo, sendo que posteriormente cada elemento do trio poderá ser adquirido separadamente.

Valor de coleçãoO estojo comemorativo do 40.º aniversário da fundação do atelier Porsche Design inclui uma troika de modelos históricos fiéis aos originais, mas concebidos segundo os mais atualizados padrões de fabrico, e também com um tamanho mais contemporâneo: o P’6510 Black Chronograph, o P’6520 Compass Watch e o P’6530 Titanium Chronograph. Denominado Heritage P’6500, o estojo é limitado a 100 conjuntos que valem a pena ser adquiridos pelo seu valor de coleção e simbolismo na história da relojoaria de pulso – embora cada um dos relógios clássicos seja depois comercializado com numeração de 101 a 911.

Instrumentos do tempoos objetos de culto com a etiqueta Porsche Design rapidamente se tornaram um paradigma de funcionalidade intemporal e inovação técnica; a paixão do Ferdinand Alexander Porsche pela relojoaria desde logo fez com que o seu conceito de design fosse aplicado a instrumentos do tempo com um visual simultaneamente minimalista e sofisticado. E inovador: o primeiro produto saído do estúdio Porsche Design foi também o primeiro cronógrafo completamente negro na história da relojoaria de pulso, estreado em 1972. Um modelo recentemente reeditado pela marca, tal como outros relógios históricos, como o primeiro relógio com compasso integrado em 1978 e o primeiro relógio concebido em titânio no ano de 1980.

os três surgem agora reunidos numa edição comemorativa que também faz a narrativa do percurso da marca: foi nesse trio de reedições históricas que o departamento relojoeiro da Porsche Design escolheu o triunvirato destinado a celebrar as suas quatro décadas de existência, que desde o final dos anos 90 beneficiou da aquisição da histórica manufatura Eterna – que lhe deu uma sólida base relojoeira para a aplicação dos seus princípios, perfeitamente exemplificados na sua coleção: mostradores

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COLECIONISmO PORSCHE DESIGN HERITAGE P’6500

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P’6510 Black Chronographo primeiro produto saído do estúdio Porsche Design foi também o primeiro cronógrafo completamente negro na história da relojoaria de pulso, estreado em 1972, um modelo que então tinha a simples designação Chronograph I pelas suas caraterísticas originais. A reedição Heritage P’6510 Black Chronograph respeita fielmente a forma e a proporção, mas cresceu seis milímetros até aos 44 que se adequam perfeitamente ao crescimento da população e aos padrões do século xxI. o revestimento actual é em PVD, revestimento mais resistente; dentro de uma caixa estanque até 100 metros de profundidade, bate o mecanismo cronográfico Valjoux 7750 com indicação do dia e da data.

P’6520 Compass Watcho Compass foi concebido em 1978 e tornou‑se no primeiro relógio com compasso integrado. A reedição Heritage P’6520 é construída em titânio revestido a PVD negro com acabamento de superfície escovado e fornece mecanicamente as indicações do tempo e as direções geográficas: a parte superior da carrosseria é destinada ao relógio (alimentado por um calibre Sellita SW 300) e a parte inferior inclui um compasso amovível cuja agulha indica invariavelmente o norte. o diâmetro cresceu ligeiramente relativamente ao original, até aos 42 milímetros, e o compasso assenta numa base líquida. Para otimizar a utilização do instrumento, foi colocado um espelho antirrisco no fundo do relógio e por cima do compasso, que é amovível. o conjunto é estanque até 60 metros e fecha com um clique num ângulo de 45 graus.

P’6530 Titanium ChronographAté 1980, o titânio só tinha sido utilizado na aeronáutica – era considerado um metal de transição, mas as suas propriedades (leveza, resistência à corrosão, elasticidade, elevado ponto de fusão) mais do que convenceram Ferdinand Alexander Porsche, tanto mais porque as caraterísticas antialérgicas faziam do titânio um material ideal para todos aqueles que não se davam bem com relógios de aço. A reedição Heritage P’6530 Titanium Chronograph revisita o clássico de 1980 com as mesmas linhas puras, botões integrados e o conjunto caixa/bracelete construído totalmente em titânio com acabamento microbillé de superfície. o tamanho foi atualizado, com a passagem para um diâmetro de 44 milímetros. o mostrador tricompax (três submostradores) vertical inclui janelas para o dia e para a data, com uma escala taquimétrica impressa no vidro de safira que possibilita leituras de velocidade dos 55 aos 300 km/h. A motorização fica a cargo de um calibre Valjoux 7750.

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Submetidos à questão

JEAN-CHrISTOPHE BABINPresidente e CEo da TAg heuer

mikrogirder 10.000?nós já tínhamos apresentado o Mikrogirder 2000, mas agora em Baselworld temos o Mikrogirder 10.000 no qual em apenas dois meses trabalhámos cerca de 30% do movimento para fazê-lo mais fiável, muito mais intuitivo, simples e imediato. o que se vai ver é um totalmente novo Mikrogirder que continua a bater com a inacreditável velocidade de 1000 hertz, mas comparado com a versão original é absolutamente rápido, incrível e imediato.

OLIVIEr BErNHEImPresidente e CEo Raymond Weil

música?A Raymond Weil está no universo da música desde 1984 com o filme Amadeus, numa colaboração extraordinária com Milos Forman, e em Portugal temos a sorte de nos ligarmos ao Fado através da nossa magnífica embaixadora com quem temos uma colaboração intensa e muito importante que simboliza bem, eu diria, este universo relojoeiro da Raymond Weil que cria a sua música. Ano após anos nós escrevemos a partitura, criamos as notas de música da Raymond Weil.

PAOLO mArAICEo Versace Precious Items

Tendências 2012?na Versace nós temos uma grande vantagem que é o facto da a nossa designer chefe, a inventora de todos os produtos Versace, ser a Donatella, que é uma mulher; portanto, se perguntarmos o que é que as mulheres querem ela certamente sabe os que as mulheres querem.

COLECIONISmO PORSCHE DESIGN HERITAGE P’6500

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PHILIPPE mErKCEo Audemars Piguet

40 anos royal Oak?no início esta foi uma coleção um tanto rebelde porque nessa altura a alta‑relojoaria era interpretada de modo muito diferente com materiais nobres, relógios redondos, sempre com movimentos bonitos e, então, surgiu um design nunca antes visto: moderno, orientado para o desporto, com detalhes incríveis. Acho que isto mudou bastante o modo como se encaravam os relógios valiosos e, ao longo do tempo tornou‑se um ícone. É o ponto de referencia do luxo de topo e é uma grande responsabilidade para nós continuar esta viagem de sucesso.

KArL-FrIEdrICH SHEuFELECo‑Presidente Chopard

Alta-frequência?o projeto de alta‑frequência dura há quase quatro anos e acabámos por apresentar o primeiro movimento equipado com um escape de 8hz. Além disso o movimento tem certificação cronométrica. É mais fácil de acertar, mais fácil de regular e a alta‑frequência permite um mais rápido recuar da frequência em caso de choque; pelo que no caso de um uso desportivo do relógio, podemos esperar uma melhor performance em termos de precisão. há obviamente claras vantagens e esta é uma das razões pela qual entrámos nesta aventura da alta‑frequência.

ErIC LOTHCEo graham

Ano de 2012?Este ano, estamos a tentar recuperar alguns valores para a marca e para os produtos. o que para mim é importante é que um relógio não é apenas um relógio. Um relógio reflete a origem da marca, reflete uma série valores combinados. nós gostamos de criar produtos que correspondam a algo que tenha um significado para o cliente. E quando falei de valores, a história é um dos valores que nós temos, mas capacidade de inovação é outro dos valores que podemos trazer para o mercado.

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A nossa escolhaAs maiores apresentações mundiais de relojoaria têm lugar sempre no primeiro quartel do ano. Janeiro traz‑nos o prestigiados Salon International de la haute horlogerie, o geneva Time Exhibition e muitas outras apresentações paralelas que decorrem em genebra, e mais tarde, no final do trimestre, Baselworld renasce em Basileia todos os anos com um leque de marcas bem mais abrangente. Em 2012, as tendências surgem em continuidade com os últimos anos, sem grandes rupturas, com os relógios de perfil mais clássico a permanecerem como uma das grandes apostas das marcas. o turbilhão é cada vez mais utilizado enquanto exercício de estilo e de demonstra ção de mestria técnica até nas coleções femininas e as cores revelam uma tendência para os cinzentos ou antracites realçados com apontamentos de cores mais vibrantes. Por outro lado, a corrida da alta‑frequência continua a dar que falar e o resultado são movimentos aperfeiçoados que garantem maior precisão. Das grandes novidades, selecionámos por categorias aquelas que, na nossa opinião, refletem bem o atual vigor criativo da indústria relojoeira.

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A nossa escolha ~ Alta FrequênciaChopard L.u.C. 8HFreferência: L.U.C. 01.06‑L | Preço: € 14.840

o resultado da incursão da Chopard pelos caminhos de alta‑frequência é uma edição limitadíssima de apenas 100 exemplares de um relógio com caixa em titânio, com um coração surpreendente. Falamos de 57’600 alt/h, uma frequência de 8Hz, antes impensável. não é um concept e, em termos práticos, ganha‑se em estabilidade e precisão.

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A nossa escolha ~ InovaçãoJaeger-LeCoultre duomètre à Sphérotourbillonreferência: Q605.25.20 | Preço: € 206.000

Um movimento com 460 peças; um turbilhão esférico com 105 componentes, com gaiola inclinada a 20 graus; dois movimentos combinados – por um lado a rotação do eixo da gaiola, por outro lado a rotação da própria gaiola –; 50 horas de reserva de marcha. Eis alguns dos extras que renderam os profissio- nais. Esta maravilha da micromecânica surge hipnotizante e uma verdadeira obra‑prima.

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A nossa escolha ~ IndependentesHeritage Watch manufactory FirmamentumPreço: € 140.000

o Firmamentum foi inspirado no lendário sextante português, resultando num verdadeiro instrumento de navegação. Esta peça fantástica não só permite medir a rotação da Terra, como também o movi‑mento do Sol e dos planetas no nosso sistema solar e das estrelas. Claro está que a indicação de um segundo fuso horário também não poderia faltar. Um relógio perfeito para viajantes.

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A nossa escolha ~ ComplicaçãoPatek Philippe Calendário Perpétuo com Cronógrafo rattrappantereferência: 5204 | Preço: Sob consulta

Um movimento mecânico de corda manual que contraria as tendências. Em causa está um calendário perpétuo com cronógrafo rattrapante que inclui contador instantâneo de 30 minutos, dia, mês, ano bissexto, indicação dia/noite, data, fases da Lua e pequenos segundos. Com um estilo sóbrio e incon‑fundível é seguramente um relógio para a vida.

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A nossa escolha ~ desportorolex Oyster Perpetual Sky-dwellerreferência: 326939‑72419 | Preço: Sob consulta

o Sky‑Dweller capta a nossa atenção pelas suas 14 patentes e pela forma inédita de apresentação de informações essenciais ao viajante. Além do disco central para indicação do segundo fuso horário, está equipado com o SARoS, um calendário que apenas precisa de um ajuste durante o ano. Mas também temos a indicação dos meses por meio de pequenas janelas na periferia do mostrador.

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A nossa escolha ~ VintageTAG Heuer Carrera Calibre 17 Jack Heuer 80th anniversaryreferência: CV2119.FC6310 | Preço: € 4.500

Um modelo que a TAg heuer lançou este ano em homenagem ao pai do cronógrafo desportivo. Antes mesmo da sua apresentação oficial, este Carrera centrou de imediato as atenções dos aficionados em todo o mundo tanto pela sua tiragem restrita, como pela assinatura exclusiva. Jack heuer merece a distinção e nós merecemos usá‑lo no pulso. Edição limitada a 3000 exemplares.

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A nossa escolha ~ designGraham Chronofighter Prodivereferência: 2CDAV.B01A | Preço: € 11.700

A alavanca dos modelos Chronofighter é um traço distintivo da coleção Graham, por isso mesmo, foi com bons olhos que encarámos o novo Prodive que surge com um lugar muito particular no seio da emblemática coleção. A alavanca é sempre digna de registo, mas os elementos do mostrador, as asas resenhadas e seleção de cores fazem deste um relógio particularmente especial.

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A nossa escolha ~ Preço/Qualidaderaymond Weil Nabucco Cuore Vivoreferência: 7830-TIR-05207 | Preço: € 4.990

o poderoso cronógrafo nabucco apresenta‑se na sua versão anual de 2012 com o nome Cuore Vivo, nome mais do que perfeito e que se refere a uma janela no mostrador que deixa ver a atividade do balanço e da espiral (o coração do relógio mecânico). A produção do nabucco Cuore Vivo será limitada.

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A nossa escolha ~ ColecionismoOfficine Panerai Radiomir California 3 Days 47 mmreferência: PAM 00448 | Preço: € 6.500

Uma edição especial limitada a 500 exemplares que presta homenagem à história da marca italiana, como criadora de relógios profissionais. Inspirado num protótipo criado pela Panerai em 1936 para equipar os mergulhadores da marinha real italiana, este instrumento do tempo destaca‑se pelo mostra‑dor de ótima legibilidade, com alternância de números árabes e números romanos.

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A nossa escolha ~ TradiçãoFranck muller Vintagereferência: 7421BS6VIn/oVESM | Preço: € 13.110

Para quem a marca Franck Muller é sinónimo de formato Cintrée Curvex, este novo modelo vem lembrar que a marca também tende a derivar para novos caminhos, sempre que necessário. Por ser redondo, de linhas modernas, mas de códigos tradicionais e por, ainda assim, dentro do seu classicismo conseguir manter a sua identidade Franck Muller. Um modelo para os puristas da relojoaria de pulso.

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A nossa escolha ~ FemmeChanel Première Tourbillon VolantPreço: Sob consulta

A Chanel continua a investir em grandes complicações relojoeiras de tiragem limitada e a grande novidade deste ano foi o fabuloso turbilhão idealizado por giulio Papi: o Première Tourbillon Volant, numa caixa retangular inspirada na geometria da Place Vendôme. Disponível também numa edição decorada com diamantes, pela sua exclusividade escolhemos para aqui a sublime versão cravejada de rubis angolanos. Uma peça única, já adquirida.

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TEmPO LIVrE PoR MIgUEL SEABRA

É, para mim, o complemento ideal

de primavera para alguns dos meus

relógios: as braceletes em nylon,

ditas braceletes NATO. Subestimadas

por alguns, são objetos de culto para

colecionadores e até constituem o

adereço ideal para edições especiais

ou vintage.

Adereço estival

Quando olho para um qualquer relógio costumo abstrair‑me da correia/bracelete e visualizar imediatamente qual a alternativa ideal quando considero que a escolha original da marca não é a mais adequada – e muitas vezes não é. Mas mesmo que o seja, a maneira mais rápida de mudar o visual de um relógio e dotá‑lo de uma personalidade completamente distinta consiste em adotar uma correia ou bracelete diferente na cor e/ou na matéria.

Uma das opções mais interessantes é a das braceletes em nylon denominadas nATo (também designadas G10 e que obedecem a uma cartilha oficial) ou derivadas: são leves, resistentes, fáceis de lavar, moldam‑se bem ao pulso e particularmente agradáveis de usar no período estival – quando o suor provocado pelo calor ou a areia da praia arruínam qualquer correia de pele ou riscam qualquer bracelete de aço. Para mais, a sua substituição é extremamente fácil e pode‑se fazer uma mudança em escassos segundos – bastando passar a bracelete entre a caixa do relógio e as molas das asas. num ápice, a troca de cores muda o aspeto de um relógio consoante a circunstância e o estado de espírito!

As braceletes NATO propriamente ditas foram criadas segundo especificações militares e rapidamente adotadas pelos colecionadores, sobretudo a partir do momento em que Sean Connery utilizou uma num Rolex Submariner enquanto James Bond no filme Goldfinger, de 1964; adoradas pelos aficionados e subestimadas pelos tradicionalistas, já começam a tornar‑se mainstream com a ajuda de algumas marcas de prestígio: a Jaeger‑‑LeCoultre dotou um dos seus modelos militares da linha Master Compressor de uma, mas tem sido sobretudo o facto de a Tudor equipar os seus modelos da linha Vintage com emblemáticas braceletes de nylon/tecido a chamar a atenção do público em geral.

E como chegar até elas? É fácil adquiri‑las na internet, mas comprei algumas na Central Station, em nova Iorque, outras no relojoeiro luso‑francês Antoine de Macedo, em Paris, e mais recentemente em duas casas lisboetas dedicadas aos relógios vintage – a novavenida e a Tempus d’ouro. Com uma particularidade: corto sempre a proteção extra e as peças metálicas suplementares para um look mais limpo e que não desvia a atenção do mostrador.

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Este é, certamente, um ano importante para a Gilles Joalheiros. quais são as expetativas?As expetativas são elevadas, mesmo sabendo que não vai ser um ano fácil. Mas confiamos no nosso profissionalismo e numa experiência que remonta a 1920. nessa altura Artur de Brito, pai do ex-presidente do Benfica, Jorge de Brito, e tio avô do meu pai, abriu uma ourivesaria nas Portas de Santo Antão. Quase cem anos depois voltamos ao local de origem com a marca que agora ostentamos, a gilles Joalheiros, criada pelos meus pais há cerca de 20 anos. Este ano, vamos refrear algumas coisas: a disponibilidade não será a mesma e vamos gerir com mais atenção os investimentos que fizermos, ainda que o nosso ramo nos dê algumas garantias de tranquilidade.

Não passou pelas anteriores crises que abalaram o País. qual é a perspetiva que um jovem pode ter desta crise?nós somos privilegiados porque o ramo do nosso negócio permite ao consumidor fazer bons investimentos: possibilita a aquisição de valores seguros, de peças que conservam muito do seu valor, podendo mesmo este aumentar. não são produtos de desgaste, como peças de roupa, viagens, malas ou calçado — invendáveis depois de usados —, e têm um desgaste completamente diferente do de uma joia ou de um bom relógio. numa altura em que se apela a valores seguros, quem continua a poder satisfazer os seus desejos de consumo opta frequentemente por produtos como os que nós oferecemos. há estudos que fazem essa comparação: entre o custo de um par de sapatos — que dura um ano ou dois — e o de uma joia, com um valor de aquisição possivelmente muito superior, embora dure uma centena de anos ou mais. o custo da joia é mínimo, considerando o tempo que esta dura, e hoje as pessoas têm isto presente, consciente ou inconscientemente.E depois, há a questão da identidade familiar que está associada à transmissão de jóias ou de relógios. Ainda há pouco tempo, uma cliente nossa herdou um anel de homem, em ouro, com um diamante de dimensões generosas, mas não sabia o que fazer com ele. Convidámo‑la a sentar‑se com a nossa designer

ENTrEVISTA PEDRo gIL

Há quase um século, antepassados de Pedro Gil

instalaram-se comercialmente, e no mesmo ramo, não

muito longe da Avenida da Liberdade onde, no final do

ano passado, abriu a mais recente loja Gilles Joalheiros.

Fomos ‘apalpar o pulso’ à nova geração desta famlia de

joalheiros e verificar que, com esta nova loja num dos

mais emblemáticos ‘centros comerciais’ da Europa, ela

atravessa este momento de turbulência com inesperada

tranquilidade.

uma nova geração numa nova lojaEntrevista Paulo Costa Dias

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e criámos um anel exclusivo, com um design trabalhado com a cliente, aproveitando o ouro e o diamante. Ficou com uma peça ao seu gosto e com um valor acrescido, porque manteve o valor da matéria‑prima e acrescentou‑lhe a mais‑valia de ser única.

A Avenida da Liberdade é um espaço comercial raro na Europa. O que significa esta aposta para a Gilles Joalheiros? Significa que chegámos ao topo. Se avaliarmos a avenida com base nas ofertas comerciais existentes, na localização de empresas e de escritórios, na oferta hoteleira, com vários hotéis de 5 estrelas — enfim, tudo no segmento premium —, temos de considerar que chegámos ao topo. Cabe‑nos agora corresponder e servir bem o tipo de clientes que por aqui gravita, portugueses e estrangeiros.

Também trazem uma clientela oriunda das vossas outras lojas?Sim, temos vários clientes que são frequentadores das lojas de gama alta da avenida. há marcas na avenida que não se encontram em mais nenhum sítio da cidade ou do País, o que faz com que determinada clientela acabe por vir aqui fazer compras.

que diferenças sente, para já, entre as lojas de centro comercial, onde têm estado, e esta, uma loja de rua?Já tínhamos sentido uma diferença significativa na passagem da nossa primeira loja, que ainda mantemos, no centro comercial da Colina do Sol, para os espaços comerciais de excelência, como são o Vasco da gama ou o Colombo – pela sua grandeza, pela qualidade da oferta e pela abundância de público.A diferença, no que respeita ao público, que notamos, para já, é que nos centros comerciais há mais curiosos, enquanto, aqui, as pessoas entram com intenção de comprar. Podem não comprar na altura, até podem ir comprar outra coisa a outro lado, mas é um público com capacidade e vontade de consumir.As lojas que temos no Vasco da gama e no Colombo estão muito bem situadas e, no Vasco da gama, onde estamos no corredor principal, o teto é em vidro e permite que a nossa loja fique inundada de luz natural. Estar, contudo, 14 horas por dia num centro comercial é diferente de estar as mesmas horas numa

avenida como esta – que é lindíssima, com os seus edifícios, cada vez mais, recuperados, com eventos, com muita vida, e que, num dia como o de hoje, cheio de sol, se torna muito agradável.

A oferta é, então, diferenciada de loja para loja?Exato. De relojoaria, temos algumas marcas comuns, embora apenas uma delas seja comum às lojas do Colombo, do Vasco da gama e da Avenida. De joalharia, também apresentamos produtos diferentes em cada loja, adaptando‑os ao tipo de clientela de cada espaço.

E o segmento feminino, que importância tem para a Gilles Joalheiros?A nossa génese é a joalharia e, por isso, estamos, desde sempre, presentes nesse segmento. Temos uma marca própria, um atelier próprio com design nosso, exclusivo, e apostamos noutras marcas, o que nos permite ter uma oferta alargada.

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Em FOCO JAEgER‑LECoULTRE master Compressor Chronograph Céramique

referência: Q204C470

Edição limitada: 500

movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática JLC 751F, 65h de reserva de corda, 28’800 alt/h, 39 rubis, 277 peças no total, 5,72mm de altura.

Funções: horas, minutos, pequenos segundos, cronógrafo e data.

Caixa: Cerâmica preta, vidro de safira, estanque até 100 metros.

Dimensões: Ø 44mm

Bracelete: Pele de aligátor com fivela em aço.

Preço: € 10.800

«Uma peça de grande fiabilidade, desenvolvida para enfrentar os extremos, mas com espírito mais urbano, pelo design e conjugação cromática. Em destaque a caixa concebida em cerâmica, um material ultrarresistente e que é cada vez mais utilizado em relojoaria»

José Teixeira Ourivesaria Camanga

Com dimensões viris e um visual simultaneamente desportivo e militar, o

master Compressor Chronograph Céramique é um cronógrafo de prestígio.

A Jaeger‑LeCoultre estreou a linha Master Compressor há precisamente uma década, para abrir uma nova dimensão desportiva na sua coleção, graças a uma revolucionária fórmula de estanqueidade – uma nova geração de relógios desportivos de gama alta devidamente carimbada com a designação ‘Master Compressor’ no fundo da caixa e estilizada com um grafismo inspirado no emblemático Memovox Polaris de 1965, sendo que as inovadoras válvulas de compressão para proteger as coroas não só constituem uma mais‑valia técnico‑estética como também contribuem para o seu batismo. A última adição à linha Master Compressor é um modelo em edição limitada (500 exemplares) assente numa sofisticada caixa de cerâmica negra e dotado de um mecanismo cronográfico de manufatura. Com dimensões viris e um visual simultaneamente desportivo e militar, o Master Compressor Céramique é um cronógrafo de prestígio desejável por qualquer pulso masculino – e não só.

A pujança da matéria

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um disco no mostrador

A disposição tricompax do depurado mostrador implica

totalizadores (das horas e dos minutos) do cronógrafo às 9 e

3 horas, com o submostrador dos segundos contínuos às 6

horas. o toque assimétrico é dado pela janela da data às 4

horas, mas o detalhe mais diferenciador surge no totalizador

das horas: a indicação do tempo decorrido é fornecida por um

disco e não pelo tradicional ponteiro. os algarismos ‘12’ e ‘6’

são emblemáticos da linha master compressor.

Compressão e estanqueidade

A designação ‘Compressor’ refere‑se ao sistema

revolucionário adotado para a coroa, e consiste numa

válvula externa que pressiona uma das juntas vedantes

contra a junta interior mediante uma rotação manual de 180

graus. o sistema foi concebido para assegurar a máxima

estanqueidade, já que o mecanismo de compressão está

dentro da carrosseria e por isso protegido de areias, poeira

e humidade. A título informativo, a válvula apresenta uma

seta vermelha para anunciar que está aberta e outra branca

para assegurar que o relógio está hermeticamente fechado.

qualidade mecânica

Um motor de qualidade: um movimento cronográfico de corda

automática com roda de colunas cuja embraiagem vertical

torna a função start/stop mais precisa. Para a robustez e

fiabilidade do mecanismo, contribuem também um rotor

assente em rolamentos de esferas em cerâmica, um balanço

de inércia variável com elevada frequência e reserva de corda

de 65 horas. A decoração tem a habitual chancela estética da

casa Jaeger‑LeCoultre.

Caixa em cerâmica

A cerâmica só mais recentemente foi adotada como

material de alta tecnologia devido às suas caraterísticas

intrínsecas – grande rigidez, muita leveza e qualidade

estética. na caixa do Master Compressor Céramique é

muito bem conseguida e contribui para a personalidade

do relógio: um diâmetro forte, personalizado pela

emblemática chave de compressão na coroa.

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O emblemático modelo Casablanca foi recentemente revisitado para receber voluptuosos cronógrafos em ouro rosa com novos mostradores.

Lançada em 1994, a linha Casablanca foi preponderante para o sucesso da então jovem marca lançada por Franck Muller: inspirada nos tons quentes do norte de África e da cidade marroquina que o cinema imortalizou, soube personificar esse espírito tão caraterístico do Magreb e tornou inconfundível o formato Cintrée Curvex idealizado pelo irreverente mestre genebrino. Elegantes mas informais, os modelos Casablanca evocavam de modo perfeito o perfume colonial do período entre as duas grandes guerras – não só através das cores dos mostradores e das correias de couro pespontadas à mão como na marroquinaria, mas também devido ao seu estilo Art Déco num modelo em aço mais acessível. A caminho das duas décadas de vida, o modelo da Franck Muller teve entretanto versões escurecidas com PVD e foi recentemente revisitado para receber voluptuosos cronógrafos em ouro rosa com novos mostradores. É caso para dizer, à maneira de humphrey Bogart, «play it again, Franck!»

Play it again, Franck!

Em FOCO FRAnCk MULLER Casablanca Chronograph

referência Preto: 8880CCCDT/oVPR Branco: 8880CCCDT/oVBRCA Salmão: 8880CCCDT/oVSA

movimento Cronógrafo mecânico de corda automática Calibre FM7000; 46/48h de reserva de corda; 28’800 alt/h; 28 rubis; 255 peças no total; Ø 30mm; 7,90mm de altura.

Funções horas, minutos, segundos, cronógrafo e data.

CaixaOuro rosa 18kt, vidro de safira, botão nas 2h: activação e paragem do cronógrafo, botão nas 4h: retorno a zero, estanque até 30 metros.

Dimensões 50,4x36x11,90mm

Bracelete Pele de aligátor com fivela em ouro rosa 18kt.

Preço € 26.740

«Com os tons quentes do ouro rosa e a variedade de mostradores, os novos modelos Casablanca vêm refletir ainda mais o espírito que está na base da coleção – um misto de exotismo e de elegância, que se revela sempre tão atual»

Paulo Torres Torres Joalheiros

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mecanismo automático

o sistema bicompax (dois submostradores)

o cronógrafo acentua a simetria do grafismo:

o ponteiro cronográfico dos segundos está

ao centro, o totalizador dos 30 minutos

surge nas 6 horas e os pequenos segundos

estão nas 9 horas, com a janela para a data

nas 6 horas.

Três mostradores

o novo cronógrafo Casablanca em ouro rosa está declinado

em três versões distintas consoante os mostradores: branco,

salmão e preto – a paleta de cores perpetua o acasalamento

artístico entre as cores e as formas que já se podia encontrar

nas primeiras versões em aço, mas que surge agora

reinterpretado em mostradores particularmente refinados.

os grandes algarismos árabes estilizados são também uma

marca típica Franck Muller.

Noblesse oblige

A correia em couro pespontado ao estilo da

marroquinaria contribuiu para a personalidade

do relógio nas versões Casablanca em aço,

mas as versões em ouro rosa pedem um

suporte mais prestigiado – e não há melhor

pele do que a de aligátor da Luisiana, a escolha

mais comum para os relógios de alta‑relojoaria:

é forte, maleável, resistente à água e de grande

qualidade de acabamento. As correias surgem

naturalmente acompanhadas de uma fivela em

ouro rosa a condizer.

Cintrée Curvex

A linha Casablanca está umbilicalmente associada ao formato

Cintrée Curvex – baseado numa forma tonneau que é simples

na aparência, mas extremamente complicada de fazer na

sua tridimensionalidade. Muito ergonómica, é adaptável a

qualquer pulso, mesmo nas dimensões maiores dos novos

Casablanca. A construção baseia‑se num ponto de referência

esférico e requer vidros e mostradores de conceção

igualmente complexa.

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A Graham, fiel ao seu espírito britânico e sempre sensível ao desporto motorizado, não podia deixar de se associar ao Tourist Trophy.

o Tourist Trophy que se realiza anualmente na Ilha de Man é uma meca para os puristas do motociclismo – é provavelmente a mais louca corrida do mundo, disputada num circuito improvisado de 60 quilómetros com cerca de 250 curvas e que normalmente atravessa zonas quentes e frias, de sol e nevoeiro, do nível do mar até quase 500 metros de altitude… mas sobretudo com um grau de periculosidade quase insano, uma vez que as velocidades atingem os 300 km/h em vias estreitas ladeadas por casas ou muros íngremes sem escapatórias que já vitimaram mais de 200 pilotos desde 1907. E a Graham, fiel ao seu espírito britânico e sempre sensível ao desporto motorizado, não podia deixar passar a oportunidade de se associar à competição: responsabiliza‑se pela cronometragem oficial e premeia o vencedor de cada categoria com um dos relógios anuais em tiragem limitada alusivos ao TT. A próxima edição realiza‑se entre 26 de maio e 8 de junho, e o cronógrafo atualmente vigente é o Silverstone Tourist Trophy. Convém não deixar escapá‑lo!

Pulso no acelerador

Em FOCO gRAhAM Silverstone Tourist Trophy 100 years

referência 2BLUV.B25R.L13N

Edição limitada: 200

movimento Cronógrafo mecânico de corda automática calibre g1734; 48h de reserva de corda; 28’800 alt/h; 27 rubis.

Funções horas, minutos, segundos, cronógrafo e data.

CaixaAço com tratamento PVD preto, vidro de safira com tratamento aintirreflexo dos dois lados; fundo em vidro ‘esfumado’ de safira com gravação do número de edição limitada, estanque até 100 metros.

Dimensões Ø 47mm

Bracelete Pele com fivela em aço.

Preço € 5.750

«Todos os anos, a Graham apresenta uma edição exclusiva dedicada a um dos mais míticos eventos do motociclismo, pelo que cada Graham TT fica associado a uma história única, já que cada evento TT é um momento sem igual»

António Machado Machado Joalheiro

Page 121: Espiral do Tempo 39

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motorização bicompax

O Calibre G1734, preparado nas oficinas da

manufatura de mecanismos La Joux‑Perret,

situada precisamente no rés do chão da sede

da graham, está devidamente decorado

com Vagas de genebra, perlage e parafusos

azulados. o fundo da caixa apresenta um

vidro fumado que deixa ver o mecanismo em

funcionamento. o acionamento do cronógrafo

é suave e preciso.

Adrenalina e velocidade

A imponente caixa é enegrecida com

tratamento PVD e apresenta na luneta

uma escala taquimétrica para cálculos de

velocidade com decoração em Clous de

Paris no anel exterior. Tem pormenores

dignos da sua inspiração automobilística:

botões com superfície picotada para

especial aderência, coroa estilizada com

formato de porca hexagonal, bracelete

com pespontos vermelhos.

Centenário no mostrador

A edição limitada atualmente vigente celebra os 100

anos da lendária competição num mostrador que exibe

orgulhosamente a inscrição centenária em destaque.

Completado com vários elementos estilísticos alusivos ao

desporto motorizado: uma base em fibra de carbono e

um grafismo desportivo assente em cores contrastantes e

matéria luminescente (Super‑Luminova branca) nos grandes

algarismos árabes e volumosos ponteiros. o totalizador

de 30 minutos está bem delineado nas 3 horas e ainda

há uma janela para a data nas 7 horas, mas a vedeta é o

submostrador de pequenos segundos contínuos nas 9 horas,

com o logótipo do Tourist Trophy como ponteiro!

Page 122: Espiral do Tempo 39

Em FOCO CVSToS Challenge Jet-Liner

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«Este é um dos mais recentes instrumentos do tempo da Cvstos e que é a prova do amadurecimento de uma marca ainda tão recente. A caixa é concebida em titânio pelo que o seu leve peso contrasta surpreendentemente com o design poderoso caraterístico da marca»

Jaime Severino Severino Relojoeiros

Page 123: Espiral do Tempo 39

Um sofisticado relógio estilizado de maneira original e com uma estética que transborda tecnologia e modernismo.

A Cvstos representa uma fusão entre relojoaria de ponta e design de vanguarda inspirado no universo das competições automobilísticas – mas, com o Jet‑Liner, a jovem marca genebrina estende a sua fonte de inspiração a outras engenharias bem mais aéreas: a glamorosa aviação de luxo, dos aviões privados que cruzam fronteiras e continentes sem se submeterem a horários preestabelecidos ou a filas de aeroportos. Uma das obsessões da indústria aeronáutica é a leveza, e essa premissa é perfeitamente identificável no Jet-Liner. A Cvstos redesenhou as mais de 60 peças do Calibre CVS 350 para eliminar qualquer peso supérfluo sem comprometer a sua rigidez ou a sua mecânica, e aplicou o mesmo princípio não só à caixa aerodinâmica, como também à bracelete e ao correspondente fecho. O resultado é um sofisticado relógio estilizado de maneira original e com uma estética que transborda tecnologia e modernismo.

A força dos reatores referência CV11045CHJSL5N000000001

movimento Esqueletizado cronógrafo mecânico de corda automática Calibre Cvstos CVS350 com rotor numa liga exclusiva Cvstos Technology: Tungsténio 88 e Titânio; 42h de reserva de corda; 28’800 alt/h; 21 rubis.

Funções horas, minutos, segundos e data.

mostrador: Ponteiros e indexes cromados com tratamento Super‑Luminova e decoração exclusiva Cvstos Technology.

Caixaouro rosa, coroa de rosca em titânio grau 5 e cauchu, vidro e fundo de safira com tratamento antirreflexo, estanque até 100m.

Dimensões 53,7 x 41 x 13,35 mm.

Bracelete Cauchu com fecho de báscula personalizado em ouro rosa.

Preço € 18.900

mecânica esqueletizada

o calibre é esqueletizado para acentuar a leveza do

conjunto, com o disco da data – também esqueletizado

– a proporcionar um efeito espetacular. o tratamento

com plasma negro e a galvanização das várias peças

aumentam o espírito tecnicista e estruturado da peça,

reforçando a filosofia relojoeira da Cvstos.

A segurança do guardião

o nome Cvstos foi inspirado numa inscrição

vigente nos antigos sestércios romanos e

significa ‘guardião’ (de um sistema assente

em quatro valores: eficácia, performance,

elegância e preciosidade, dizem os

fundadores). A bracelete guardiã do guardião

Jet‑Liner é em borracha vulcanizada

antialérgica.

Pormenores originais

A principal caraterística da caixa da linha Jet‑

Liner é o relevo à superfície, sendo escavada

para ficar despojada de todo o peso supérfluo,

o que acentua toda a tridimensionalidade

do conjunto. os parafusos caraterísticos da

marca, tanto funcionais quanto estéticos e

devidamente patenteados, são elaborados em

titânio e a coroa é feita em titânio e nitril. os

ponteiros ‘furados’ são cromados e banhados

com matéria luminescente SuperLuminova.

Caixa aerodinâmica

A caixa do Jet‑Liner é esculpida aerodinamicamente no

formato tonneau, tão caro à Cvstos, com dimensões viris,

mas com a espessura mais fina de toda a coleção da

marca. o Jet‑Liner está disponível em titânio, aço ou ouro

rosa – com um acabamento de superfície alternadamente

polido e escovado. «A alta‑relojoaria é uma maneira de

fazer relógios e não uma reputação; a alta‑relojoaria não

é meter quatro artesãos num atelier, é a performance»,

dizem os fundadores Sassoon Sirmakès e António

Terranova.

Page 124: Espiral do Tempo 39

Em FOCO TAg hEUER Carrera Chronograph monaco Grand Prix

«O regresso da Carrera numa interpretação ainda mais desportiva, não fosse a bracelete personalizada com o perfil de um pneu. De dimensões viris e com elementos únicos, esta edição limitada é um hino ao espírito racing da marca»

Rui Neves Marcolino Relojoeiro

Page 125: Espiral do Tempo 39

do metal ao cauchu

Para a bracelete há duas opções:

em borracha vulcanizada com as

ranhuras típicas de um pneu; ou em aço

formada por cinco elos alternadamente

polidos e escovados. A bracelete

em cauchu apresenta o estilo mais

apropriado a um relógio de inspiração

automobilística e também é mais

invulgar na história da coleção Carrera;

surge equipada com um fecho de

báscula com botões de segurança.

respeito pela herança

o Carrera Calibre 16 Chronograph

Day‑Date Monaco grand Prix Limited

Edition está declinado na maior caixa

da histórica linhagem do Carrera. o

formato perfeitamente redondo e as

asas estilizadas respeitam o original de

1964; o grafismo da escala taquimétrica

(que inclui a inscrição a vermelho

«Monaco grand Prix») sobre a luneta

negra dá‑lhe uma personalidade

especialmente desportiva, e tanto

o anel negro na coroa estriada

como o anel vermelho no botão de

acionamento/paragem do cronógrafo

contribuem para o toque racing.

mostrador instrumental

Configuração tricompax com os

totalizadores das horas (nas 6 h) e dos

minutos (nas 12 h) ladeados por um anel

prateado que contrasta com o fundo

preto mate, enquanto o submostrador

dos pequenos segundos inclui a

inscrição Automatic Chronograph;

o mostrador é complementado por

duas janelas para fazer jus ao nome

– uma para a data, outra para o dia

da semana. os ponteiros vermelhos

do cronógrafo acentuam o caráter

desportivo da peça.

uma nova adição especialmente desportiva a uma das mais celebradas linhagens na história da relojoaria mecânica de pulso.

Para comemorar a parceria oficial com o Grande Prémio do Mónaco, a TAG Heuer lançou uma edição especial de um cronógrafo dedicado à lendária corrida do mítico circuito monegasco – concebido não no emblemático formato quadrilátero do cronógrafo Monaco (cujo nome se inspirou precisamente no grande Prémio do Mónaco), mas tendo por base o Carrera Calibre 16 Chronograph Day‑Date. A combinação de preto, prateado e vermelho – que é a cor do Principado e fornece também o toque racing – resulta num atraente relógio de tiragem limitada, devidamente numerada de um a 3.000 e com diversas personalizações. numa altura em que estão quase a cumprir-se 50 anos desde a génese do Carrera original, em 1964, o Carrera Day‑Date Monaco grand Prix Limited Edition é uma nova adição especialmente desportiva a uma das mais celebradas linhagens na história da relojoaria mecânica de pulso.

meio século de corrida referência: CV2A1F.FT6033

Edição limitada: 3000

movimento: Cronógrafo mecânico de corda automática Calibre 16.

Funções: horas, minutos, pequenos segundos, cronógrafo e data.

Caixa: Aço, fundo com a gravação do logótipo «Monaco grand Prix» e do respetivo número de edição limitada, vidro e fundo de safira com tratamento antirreflexo dos dois lados, estanque até 100m.

Dimensões: Ø 43mm

Bracelete: Cauchu com perfil dos pneus e fecho de báscula em aço.

Preço: € 4.700

motorização automática

o Carrera original de 1964 era

alimentado por um calibre de corda

manual e foi um dos primeiros modelos

da coleção a receber o primeiro

mecanismo cronográfico automático.

o Carrera Day‑Date Monaco grand

Prix apresenta uma motorização

baseada num mecanismo cronográfico

automático (Calibre 16, baseado no

Valjoux 7750) que também inclui duas

funções de calendário (dia e data).

Page 126: Espiral do Tempo 39

Grande elegância e classicismo num relógio de beleza intemporal, valorizado

com a função cronográfica.

A linha Maestro ganhou preponderância na coleção da Raymond Weil, porque representa valores associados diretamente à génese da marca – que nasceu e floresceu, nos anos 70, com modelos elegantes dotados de uma excelente relação entre preço e qualidade. Por oposição às tendências modernas e vanguardistas, todos os exemplares que têm a chancela Maestro representam o essencial da tradição relojoeira com detalhes habituais na alta‑relojoaria clássica: dimensões canónicas, mostrador prateado, com decoração em guilloché, ponteiros reminiscentes do estilo Breguet e algumas complicações mecânicas suplementares nos calibres automáticos. A linha contempla uma versão cronográfica; outra com calendário duplo e fases da Lua; outra com fases da Lua/data analógica; e ainda o modelo básico de três ponteiros. Como não podia deixar de ser, o Maestro Chronograph recolhe favoritismo de um público que gosta de um toque ligeiramente mais desportivo dentro do classicismo global pretendido.

música, maestro!

Em FOCO RAyMonD WEIL maestro Chronograph

referência 7737-PC5-00659

movimento Cronógrafo mecânico de corda automática calibre RW5000; 46h de reserva de corda, 28’800 alt/h

Funções horas, minutos, segundos, cronógrafo e data.

CaixaAço com tratamento PVD de ouro rosa, vidro e fundo em safira com tratamento antirreflexo nos dois lados, estanque até 50 metros.

Dimensões Ø 41,5 mm; 12,8mm de espessura

Bracelete Pele com fivela em aço com revestimento PVD de ouro rosa

Preço € 2.650

«Reflexo incontestável do espírito Raymond Weil, este relógio distingue-se por um misto de tradição e modernidade e afigura--se como uma peça muito elegante, apesar da função cronográfica que preenche o mostrador»

Carlos Correia Ourivesaria Correia

Page 127: Espiral do Tempo 39

rosto prateado

o mostrador argenté apresenta uma

disposição tricompax vertical nos

submostradores – com uma janela para

a data nas três horas em oposição a um

totalizador dos minutos nas 12 horas,

um totalizador das horas nas 6 horas

e o submostrador para os segundos

contínuos nas 9 horas.

Toque clássico

os algarismos romanos contribuem

para o toque clássico, acentuado com

um disco central, decorado em guilloché

(motivo Clous de Paris), que, contribui

para dar diferentes reflexos ao belo

mostrador, consoante a luz a que

é submetido.

Duas versões

Disponível em duas versões de preço

muito aproximado e de igual elegância:

uma em aço revestido a ouro rosa (5N)

através do tratamento em PVD que lhe

dá uma auréola de opulência; a outra,

em aço, para aqueles que preferem um

visual ligeiramente mais discreto.

Page 128: Espiral do Tempo 39

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LABOrATórIO A. LAngE & SöhnE LAngE 1 ToURBILLon CALEnDÁRIo PERPÉTUo

A. Lange & SöhneLange 1 Tourbillon Calendário PerpétuoPor Dody giussani, diretora da revista L’Orologio

A A. Lange & Söhne tem-nos habituado ao lançamento de modelos de

grande destaque, com uma renovada vitalidade criativa. Esta criatividade

levou ao nascimento, no último ano, do richard Lange Tourbillon Pour Le

mérite, um dos relógios mais inovadores da Casa.

E foi a partir dos estudos técnicos efetuados precisamente para este

modelo que derivou a nova complicação apresentada este ano: um

calendário perpétuo com grande data e uma inédita indicação do mês por

meio de disco, concebida de forma a manter a pureza e a legibilidade do

mostrador do Lange 1, o primeiro modelo lançado após o renascimento da

A. Lange & Söhne, em 1994.

o Lange 1 Tourbillon Calendário Perpétuo foi apresentado no recente Salão Internacional de Alta‑Relojoaria de genebra e a sua gigantesca reprodução tridimensional dominou o stand da A. Lange & Söhne. São duas as versões que estarão disponíveis no final deste ano: em ouro rosa e em platina (edição limitada a 100 exemplares). não se pode dizer que o relógio seja um campeão, no que diz respeito a dimensões mais reduzidas, com os seus 42mm de diâmetro. no entanto, os designers ficaram muito satisfeitos com a sua espessura, que, apesar da presença do turbilhão e de estar equipado com uma platina específica para o calendário perpétuo, se mantém nos 12mm. Mérito, ainda, para a adoção de um came de programação dos meses do ano em vez de um disco, deixando espaço no centro do movimento para as numerosas alavancas responsáveis pelo avanço simultâneo das diversas indicações. graças à adoção do mesmo sistema utilizado na janela do turbilhão do Richard Lange para fazer aparecer e desaparecer, velozmente, a secção do mostrador das horas que cobre parte da gaiola do turbilhão – assunto abordado no número 194 –, no Lange 1 Tourbillon Calendário Perpétuo, as indicações avançam instantaneamente. nesta edição, procuramos desvendar as peculiaridades deste movimento, prevendo proceder, futuramente, a um confronto com a platina do calendário perpétuo instantâneo Patek Philippe, cuja análise já publicámos em 2009, um ano antes do seu lançamento.

Page 129: Espiral do Tempo 39

o indicador de dia e de noite assinala se as horas indicadas se referem ao tempo anterior ao meio‑dia (am) ou depois do meio‑dia (pm). o relógio na foto indica 1:51 horas e 33 segundos pm (do dia). A lua crescente está no primeiro quarto.

o turbilhão é visível unicamente através do vidro de safira no fundo do relógio, ao contrário da tendência, imposta nos últimos anos, de apresentar a gaiola rotativa no mostrador.

Indicação do ano bissexto, que é o quarto do ciclo e assinalado a vermelho. os números de 1 a 3 surgem a preto. A janela do ano está localizada por cima do indicador triangular fixo do mês.

o mês em curso é indicado por um disco que rodeia o mostrador. Em destaque, está o facto de o calendário perpétuo indicar de forma completa a data – o dia, o mês e o ano – respeitando a duração dos diversos meses. o seu complexo mecanismo atualiza as indicações no mostrador, passando exatamente do último dia dos meses anteriores para o primeiro dia dos meses de fevereiro (independentemente de ser ou não ano bissexto), abril, junho, setembro e novembro, sem indicar datas inexistentes, como 30 de fevereiro.

o dia da semana é indicado por meio de um ponteiro retrógrado. Ao chegar a domingo (sunday), o ponteiro regressa, à meia‑noite, instantaneamente ao «M» de monday (segunda‑feira).

o ponteiro dos pequenos segundos não é coaxial ao turbilhão.

Indicação das fases da Lua.

na grande data Lange, o dia é indicado por meio de dois discos sobrepostos: um para as unidades e outro para as dezenas. Este último, que apresenta os números 1, 2 e 3, tem a forma de cruz com um braço branco para os dias de 1 a 9 de cada mês.

Page 130: Espiral do Tempo 39

Dois dentes no disco do mês ativam a indicação do ano ‘a cavalo’ da meia‑noite do dia 31 de dezembro. o indicador do mês alcança o «12», enquanto o indicador do ano é posicionado nas seis horas no mostrador. Desta forma, os dois dentes de avanço encontram‑se diametralmente opostos ao mês de dezembro, entre maio e junho.

o disco das dezenas da data apresenta os números de 1 a 3 para afixação dos dias de 10 a 31 de cada mês.

o disco dos meses é a indicação mais original do novo calendário perpétuo Lange. o disco avança com um salto, completando uma repentina rotação de 30 graus, no final de cada mês (ou seja, nos dias 28, 29, 30 ou 31, dependendo do mês em causa).

o disco das fases da Lua cumpre uma volta em duas lunações, revelando no mostrador as fases da Lua – do quarto crescente à lua nova.

o disco das unidades apresenta os números de zero a nove. A grande data dupla utilizada no Lange 1 Tourbillon é a mesma já utilizada no Langematik Perpetual, com o disco em cruz das dezenas colocado no exterior do disco das unidades. neste caso, o princípio de funcionamento, baseado no mecanismo da cruz de Malta, não muda.

roda do ano, solidária ao disco de indicação do ano em respeito ao ciclo quadrienal do ano bissexto. A roda tem oito dentes e avança um espaço de dois dentes em cada ano, à meia‑noite do 31 de dezembro.

LABOrATórIO A. LAngE & SöhnE LAngE 1 ToURBILLon CALEnDÁRIo PERPÉTUo

Page 131: Espiral do Tempo 39

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o came caracol de comando da data, do dia da semana e das fases lunares roda em 24 horas. À meia‑noite, a alavanca de impulso (com a sua mola) é pressionada contra esta secção do perfil do came.

A báscula de avanço suplementar da data opera no final dos meses que têm menos do que 31 dias para induzir a data a dar um, dois ou três saltos adicionais para, desta forma, passar dos dias 28, 28 ou 30 para o dia 1 do mês seguinte. Uma extremidade da báscula interage com um came solidário ao disco dos anos. Este came, em correspondência com os anos bissextos, limita o movimento da báscula, de modo a permitir afixar o dia 29 de fevereiro e fazer com que o disco da data dê dois saltos suplementares (e não três, como sucede no dia 28 dos anos não bissextos) para passar para o dia 1 de março.

A alavanca de impulso, pressionada por uma mola, flui ao longo do perfil de um came caracol de acionamento do calendário. o came completa uma volta em 24 horas: à meia‑noite, a extremidade da alavanca cai a partir do ponto mais externo do perfil para o ponto mais próximo do eixo do came, empurrando esta última. A alavanca de impulso induz o came e a roda abaixo a uma aceleração que faz mover, simultaneamente, a indicação da data, do dia da semana e das fases lunares. Em suma, para efetuar um avanço rápido das indicações (de forma instantânea), é utilizada uma rotação que, no momento culminante de avanço, recebe uma forte aceleração. Isto é possível graças ao emprego de uma cruz de Malta no mecanismo da data. Um came análogo fornece a energia para o avanço rápido do mês e do ano. Desta forma, o calendário perpétuo não absorve a energia do movimento de base e não influi negativamente na marcha do relógio ou na amplitude de oscilação do sistema balanço‑espiral.

As secções menos profundas correspondem aos meses de 29 dias. o papel do came é determinar a amplitude de rotação da forquilha que aciona a data para que a data efetue um, dois ou três saltos adicionais (para passar dos dias 28, 29 ou 30 ao dia 1 do mês seguinte, tendo em conta o número de dias deste mês).

o novo mecanismo para o calendário perpétuo Lange emprega um came inovador de anel, no lugar do came de disco. o came Lange é programado para 12 meses (em vez de 48). A cada mês que tem menos do que 31 dias corresponde uma secção do perfil interno do came, contra o qual circula a extremidade da báscula de avanço suplementar da data.

A secção mais profunda no came de programação dos 12 meses corresponde ao mês de fevereiro de 28 dias. o que significa que, no dia 28 de fevereiro, o sensor da báscula de avanço suplementar da data muda de posição contra a zona interna desta secção. no ano bissexto, um came solidário ao disco do ano (que roda em quatro anos) age sobre a extremidade da báscula de avanço suplementar da data, limitando o percurso desta última, como se o sensor se encontrasse em correspondência com uma secção ligeiramente menos profunda, como encontramos na figura. Deste modo, o mecanismo do calendário reconhece que o mês de fevereiro bissexto conta com 29 dias.

os entalhes de perfil mais profundos correspondem aos meses de 31 dias.

o indicador de dia e noite roda em cada 24 horas.

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A ponte do turbilhão é gravada à mão, assim como a ponte mais pequena da roda intermédia.

o turbilhão é novo e propositadamente desenhado para este calibre. A gaiola em aço é polida. o turbilhão completo conta com 84 peças num movimento composto por 624 (das quais, 68 rubis e um pino em diamante).

A roda liga o turbilhão à engrenagem do tempo, transmitindo‑lhe a energia necessária ao seu movimento.

A roda intermédia transmite o movimento do turbilhão ao carrete solidário ao ponteiro dos segundos no mostrador, que, por si, não é coaxial ao turbilhão.

o rotor de corda automática apresenta um segmento externo em platina, que não aumenta a inércia, de modo a potenciar a eficiência do sistema de corda. A zona central é, por seu turno, concebida em ouro de 21 quilates.

Pela primeira vez, um turbilhão Lange é equipado com um balanço de inércia variável do tipo Gyromax, com seis massas de regulação.

LABOrATórIO A. LAngE & SöhnE LAngE 1 ToURBILLon CALEnDÁRIo PERPÉTUo

Page 133: Espiral do Tempo 39

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Parte do mecanismo de cruz de Malta para o normal avanço da grande data Lange.

o segmento externo em platina é fixo ao rotor em ouro de 21 quilates por meio de cinco parafusos.

Came de programação do calendário perpétuo de 12 meses.

roda de escape. o escape completo é montado na gaiola rotativa do turbilhão.

o balanço de inércia variável não necessita de raqueta de regulação com espiral.

A espiral que equipa o balanço é de produção Lange. A frequência de oscilação do sistema balanço‑espiral é de 21’600 alt/h.

Platina principal do movimento. Em todo o calibre Lange, a platina e as pontes são concebidas em alpaca natural não rodiada.

Platina do módulo adicional para o calendário perpétuo.

Tambor de corda. o calibre L0852.1 dispõe de 50 horas de reserva de corda.

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Há cerca de um ano, a loja da Avenida da Liberdade abriu ao público, renovada. que balanço faz do ano que passou?Efetivamente, foi uma alteração profunda, porque passámos a poder oferecer aos consumidores portugueses todos os produtos de todas as categorias que a marca tinha à disposição no mercado internacional, mas que não podia apresentar em Portugal. Esta foi a grande alteração, além da alteração do próprio conceito da loja, que é agora muito mais luxuosa, muito mais moderna e que nos permite proporcionar outro conforto aos clientes Montblanc.

que produtos são esses cuja comercialização a abertura desta loja veio possibilitar?Estas possibilidades nasceram da abertura do primeiro andar, onde temos um VIP room através do qual tentamos atingir dois grandes objetivos: por um lado, ter uma sala que dá mais privacidade aos nossos clientes e que permite, inclusive, proporcionar um atendimento fechado; por outro lado, ter um espaço onde podemos apresentar as nossas linhas de topo. Isto em três áreas perfeitamente distintas: uma dedicada à nossa fine jewellery, uma linha de joalharia em ouro amarelo ou branco – sendo esta a única loja em Portugal que tem joalharia de ouro da Montblanc que, por norma da Montblanc, só se pode vender em boutiques de rua da marca –; outra área dedicada às edições limitadas de escrita, que só estão à venda em lojas Montblanc e que são edições que custam acima dos 15.000 euros; e um espaço dedicado à alta‑relojoaria, à nossa manufatura, dedicado aos relógios produzidos em Villeret, com o modelo mais barato a rondar os 32.000 euros. São estas gamas de produtos de luxo que a marca tem, que a loja hoje tem, mas que até há um ano não podíamos apresentar em Lisboa.

Como é que um gestor de uma multinacional do luxo gere o seu tempo?olhe, tentei sair daquilo que é a norma. normalmente, começo a trabalhar às 6h 30m da manhã para evitar o trânsito, e tento sair relativamente cedo, para acompanhar os meus filhos na parte final do dia. Como trabalho muito com a Alemanha e com Espanha, madrugar permite‑me entrar primeiro que eles, apesar da hora de diferença, e, quando chego a meio da manhã, já tenho o meu dia organizado. Esta fórmula, naturalmente, requereu alguns ajustes pessoais, mas tem vindo a consolidar‑se como a forma correta de gerir o meu tempo e conseguir equilibrar três áreas: o trabalho, o descanso e a família.

que relógio tem no pulso e que caneta tem no bolso?neste momento, estou a usar um Rieussec, que considero um relógio com um design distinto, com uma máquina própria e um conceito histórico que faz jus ao inventor do cronógrafo. Quanto à caneta, continuo fiel àquele que é o ícone da marca desde 1924, a Meisterstück 149.

Leia a entrevista completa em www.espiraldotempo.com

ENTrEVISTA nUno TEIxEIRA

quem o diz é Nuno Teixeira, brand manager da montblanc em Portugal. Nascido em moçambique, lidera a marca alemã desde que a montblanc se ‘instalou’ em Portugal, em 2009. O pretexto para a conversa foi o primeiro aniversário da abertura em pleno da loja da Avenida da Liberdade, com os seus dois pisos, que veio proporcionar ao consumidor o acesso aos mais exclusivos produtos da marca. Isto no ano em que a montblanc, decidida e declaradamente, pretende afirmar-se como uma marca de luxo em todos os segmentos.

«Afirmamo-nos como uma luxury maison»Por Paulo Costa Dias

«Um espaço dedicado à alta-relojoaria, à nossa manufatura, dedicado aos relógios produzidos em Villeret, com o modelo mais barato a rondar os 32.000 euros»

Nuno Teixeira

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ENTrEVISTA gUSTAVo PEREIRA

Está há três anos na Audi. que mudanças no mercado português houve nestes três anos e que mudanças adivinha no próximo triénio?Infelizmente, estes últimos três anos têm sido marcados por uma crise económica generalizada, com naturais impactos no setor automóvel. Em 2008, o mercado automóvel de ligeiros vendeu mais de 213.000 unidades e, em 2011, acabou com cerca de 153.000 unidades, o que representa uma quebra muito assinalável relativamente a 2008. Prever o que pode acontecer daqui a três anos é tarefa para astrólogos e não para profissionais… Vivemos numa época em que fazer previsões a um mês é considerado longo prazo, pois o nível de incerteza é muito elevado. no entanto, a expetativa é que, depois de um ano como o de 2012, em que prevemos uma quebra de 15% do mercado, possa haver uma ligeira recuperação em 2013. O que destaca da performance da Audi nos últimos três anos no mercado português/internacional?Apesar de o mercado ter vindo a apresentar maus resultados nos últimos três anos, a marca Audi, devido à forte imagem que tem e ao lançamento contínuo de novos modelos para novos segmentos de mercado, tem apresentado excelentes resultados

a nível nacional e internacional. A nível nacional, no ano 2010, batemos o nosso recorde de vendas, com o volume de 8.403 unidades vendidas. no ano passado, em 2011, obtivemos a nossa melhor quota de mercado de sempre, atingindo o valor de 4,32%. A nível internacional, a Audi acabou o ano 2011 batendo o recorde de vendas, ultrapassando mais de 1.300.000 unidades vendidas (mais 19,2% relativamente a 2010), sendo a marca premium líder na Europa e ultrapassando, pela primeira vez, a Mercedes, a nível mundial. Quais os desafios para a Audi, no futuro próximo?A Audi tem vindo a crescer consecutivamente desde 1994, ou através de novos modelos, ou através de novas gerações de modelos existentes. o investimento no desenvolvimento de novos modelos é uma constante e uma prioridade para a Audi, e esse investimento vai continuar forte nos próximos anos. novos modelos, a entrada no mercado dos veículos elétricos e híbridos, marcarão os próximos tempos. Com os resultados alcançados no ano passado no mercado premium – liderança na Europa e segunda posição ao nível mundial, o futuro é promissor. Com o que é que detesta perder Tempo?Com o trânsito. Com as pessoas que teimam em chegar atrasadas. Com conversa fiada.

quantas vezes, por dia, vê as horas?Sou completamente ‘relógiodependente’, pois como detesto chegar atrasado a onde quer que seja, e como num dia típico de trabalho tenho sempre várias reuniões, olho para o meu relógio muitas vezes por dia.

que relógio combina com o Audi q3?Dos mais recentes lançamentos, claramente opto pelo TAg heuer Mikrogirder. Tal como o Q3, este novo modelo da TAg heuer combina um design de vanguarda, uma qualidade de construção elevada e um nível de precisão imbatível, mostrando que, tal como o Audi Q3, está na vanguarda da técnica.

Leia a entrevista completa em www.espiraldotempo.com

quem o afirma é Gustavo Pereira, diretor de marketing da Audi. Num setor em crise, há sempre quem consiga passar razoavelmente incólume e, até, apresentar bons resultados. O setor automóvel não é exceção e a Audi é disso exemplo. Num ano marcado pela incerteza, a marca alemã não parece disposta a perder velocidade.

«O futuro é promissor»Por Paulo Costa Dias

«O investimento no desenvolvimento de novos modelos é uma constante e uma prioridade para a Audi, e esse investimento vai continuar forte nos próximos anos»

Gustavo Pereira

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GAdGETS

Less is moreSão muitos os pesadelos associados a optar por uma bicicleta em plena cidade de Lisboa. E fora a poluição, as subidas e os automóveis, a tendência para desaparecerem peças será certamente um desses pesadelos. Mas este é um problema que os holandeses da Vanmoof conhecem bem e foi com os olhos postos na simplicidade, resistência e adaptação que nasceu uma bicicleta de linhas minimalistas e de espírito vintage que promete. Em causa está a eliminação de componentes dispensáveis e a integração de elementos essenciais no interior dos tubos do quadro em alumínio. A Vanmoof nr.3 está disponível em diversas versões, entre elas a versão unissexo com luzes embutidas que podem ser carregadas a energia solar ou via cabo USB.

Vanmoof Nr.3 Simple Speed Preço: € 478

Vanmoof Nr.3 Over-The-TopPreço: € 578

www.oldscooter.pt

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Espírito mcqueenPara além de ser ator, Steve McQueen era também conhecido pela sua paixão pela velocidade e são muitas as referências à sua ligação ao mundo motorizado. Por isto mesmo, a Triumph acaba de lançar uma edição limitada da Bonneville de tributo à ligação de Steve McQueen à marca inglesa e como evocação de um dos modelos mais utilizados pelo ator na década de 60. Apenas 1100 exemplares estarão disponíveis. E se esta é uma daquelas motas que desperta a sua atenção, há que escolher um companheiro de pulso mais adequado. Tem dúvidas? nós ajudamos: o Monaco Chronograph Calibre 11 com mostrador cinza. Uma variante do famoso cronógrafo quadrado, usado por Steve McQueen no filme Le Mans, acabada de chegar a Portugal.

Triumph BonnevillePreço: Sob consulta

TAG Heuer monaco Chronograph Calibre 1Preço: € 6.950

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Lentes de manufaturaTal como um mestre‑relojoeiro da mais pura tradição, o japonês Miyazaki distingue‑se por conceber lentes de manufatura para as câmaras fotográficas Leica e depois de ter sido reconhecido pelas originais Perar de 35 mm e pela conversão de lentes, o criador apresentou a Perar Super Triplet 28mm F/4 MC. Uma lente que surgiu depois de mais de um ano de pesquisa no sentido de superar alguns dos problemas verificados noutros modelos produzidos. Limitada a 180 exemplares, a nova lente surge ultracompacta e ultraleve (apenas 45 gramas), com um design triplo para melhor nitidez e com revestimento Premium que garante uma taxa de 97% de transmissão de luz.

MS-Optical Perar 28mm F/4 Super Triplet Mais informações: japancamerahunter.com

GAdGETS

Page 139: Espiral do Tempo 39

Inesquecível...Com uma acústica brilhante e uma grande variedade de tons a hollowbody II promete momentos de musicais inesquecíveis. Em destaque a combinação de alto bordo com os lados em mogno que garantem extraordinárias clareza e ressonância tonal, bem como o braço padrão e pickups 57/08. Por outro lado, a guitarra vem reforçada com o acabamento V12 que permite melhorar a aparência e acentuar a beleza natural da madeira, sem prejudicar a sua ressonância natural.

Guitarra Hollowbody IIMais informações: www.prsguitars.com

Pura Classenão se trata apenas de ouvir a mais pura qualidade de som. Trata‑se também de ouvir com a mais pura classe. o sistema de som harman kardon® GLA-55 une arte e ciência, beleza e funcionalidade. Cada detalhe, desde a estrutura exclusiva lapidada das colunas aos altifalantes cromados, foi pensado como equivalente à versatilidade e qualidade sonoras. os sons graves são garantidos por woofers Atlas® e os sons agudos por tweeters de alumínio CMMD®. Cada coluna tem 56 Watts de potência, emitindo frequências de 35 Hz a 20 kHz. Para além da aparência hipnotizante, pode ser conetado a computadores, iPods, CD players ou outros equipamentos com dispositivo áudio com output de 3,5 mm.

Harman Kardon® GLA-55 Mais informações: www.harmankardon.com

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Cameron diazNova embaixadora TAG Heuer

É raro vê-la associada a uma parceria deste género. Como é que escolheu a TAG Heuer? Ao longo da minha carreira, fui muito seletiva no que diz respeito à minha ligação com as marcas. Adoro o facto de a TAG Heuer desafiar as regras e pensar outside the box e sinto‑me honrada em estar associada a uma marca que tem uma maneira de pensar tão à frente.

A parceria de Leonardo diCaprio com a TAG Heuer está a angariar fundos para organizações ambientais. Agora, o seu compromisso é apoiar a uN Women. O que pensa das responsabilidade social da TAG Heuer? Eu aprecio a responsabilidade social da TAg heuer e esse foi um fator importante na minha decisão em alinhar nesta campanha. É muito importante que as companhias e os indivíduos lutem por fazer do nosso mundo um melhor lugar e estou feliz por estar envolvida com uma companhia que compreende isto.

um luxo sem o qual não poderia viver? o luxo do tempo. Quando não estou a trabalhar, adoro o sentimento de não ter pressa.

EmBAIxAdOrA

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Fora da boxDesde que renovou a linha de senhora da coleção Formula 1, a TAg heuer não para de apelar aos corações femininos sempre com bonitas e elegantes versões. Aqui uma das mais recentes novidades.Cerâmica, aço, ouro e diamantes: que outra combinação poderia ser mais exclusiva e atual?

TAG Heuer Formula 1 Ceramic BicolorPreço: € 2.750

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um toque de ‘romance’A nova coleção Romance da gilles Fine Jewellery foi inspirada na natureza e surpreende pelos motivos florais e toques de romantismo. São várias as peças disponíveis, todas trabalhadas numa grande diversidade de materiais. A nossa sugestão: brincos em ouro amarelo, branco e rosa e diamantes.

Gilles Fine Jewellery Brincos Cocoon Preço: € 3.358

digna de princesas...Eva herzigova esteve no SIhh, em genebra, para apresentar a nova coleção Princesse grace de Monaco da Montblanc e as peças começam agora a ser apresentadas também em Portugal. Estamos perante uma coleção rica e delicada inspirada em motivos naturais e pensada para os vários momentos do quotidiano feminino. Como marca diretamente associada à criação de instrumentos de escrita, não poderia faltar na nova coleção da Montblanc uma edição especial de canetas com detalhes de exceção.

montblanc Princesse Grace de monacoCaneta de tinta permanente Preço: € 760

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GLAmOur

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Cara metadeA aposta numa grande variedade de cores surge como uma das grandes tendências 2012 da Versace e nova coleção Vanitas é um verdadeiro hino a esta opção. os elementos caraterísticos da marca não faltam, mas o apontamento de originalidade é dado pelo mostrador dividido por duas escalas diferentes: numa metade indexes, na outra metade números romanos. Um must have para a estação das flores.

Versace VanitasPreço: € 850

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Ouro e diamantesPermanecem como uma dupla intemporal: o ouro e os diamantes unem‑se na criação de relógios e joias que são autênticas peças de sonho. E quando complementados com os detalhes certos descobrem‑se ainda mais exclusivos. Claro está que o ouro rosa surge enquanto material de eleição, como podemos constatar nas sugestões que aqui apresentamos. Um relógio da elegante linha Jasmine da Raymond Weil com revestimento PVD de ouro rosa e adornado com luneta em diamantes ou um conjunto CEMtury de alianças em ouro rosa, amarelo e branco com brilhantes.

raymond Weil Jasmine Preço: € 2.450

CEmtury by Torres JoalheirosAliança ouro rosa com pavé de brilhantesPreço: € 4.350Alianças em ouro com brilhantes no topoPreço: desde € 1.128

GLAmOur

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Pantera Cor-de-rosa...Surge sem ninguém dar por isso e, quando menos se espera, já andou a fazer das suas. A Pantera Cor‑de‑Rosa, está de volta e, desta vez, bem preciosa. A Chopard enriqueceu a sua coleção Animal World com a famosa personagem de animação criada em 1963 para abertura do filme com o mesmo nome e que é metáfora de um sublime diamante. Perante tal inspiração, a casa suíça não se fez rogada: são 1600 diamantes cravados num corpo de ouro rosa de 18 quilates numa peça que faria as delícias do misterioso Fantasma eternamente perseguido por Jacques Clouseau... E para complementar porque não um dos mais recentes membros da coleção de pulso Imperiale?

Chopard Animal WorldColar Pantera Cor de rosa Preço: € 549.490

Imperialerelógio em ouro amarelo com diamantesPreço: € 34.110

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A toda a velocidade...A TAg heuer reformulou a sua icónica linha Formula 1. Mais contemporâneos e com mostradores ainda mais desportivos, os novos modelos surgem agora indiscutivelmente maduros e demarcam‑‑se, sem medos, do estigma de serem considerados relógios de gama baixa pensados para um público mais jovem. os materiais de excelência, bem como os detalhes únicos, nunca antes contemplados na linha que foi originalmente lançada nos anos 80, provam que os novos modelos cresceram de forma sensata para marcar posição, surpreendendo pela sua versatilidade e perfeita adequação a todas as idades. Em poucas palavras, os novos TAg heuer Formula 1 evoluíram para melhor e regressaram para conquistar um lugar no pódio... Ainda tem dúvidas?

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TAG HeuerFormula 1 Chronographreferência: CAU1117.FT6024 | Preço: € 1.750

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TAG HeuerFormula 1 Chronographreferência: CAU1114.FT6024 | Preço: € 1.650

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«Tudo na vida tem a ver com o tempo, dentro e fora da pista. Lutamos constantemente para alcançar aquele centésimo de segundo que pode significar a diferença entre perder e ganhar» Lewis Hamilton

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«Acredito que tenho bom olho para selecionar relógios de qualidade e tenho muito orgulho nos relógios que uso» Jenson Button

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TAG HeuerFormula 1 Alarmreferência: WAU111B.BA0858 | Preço: € 1.300

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ENTrEVISTA João PAULo MARTInS

Por Paulo Costa Dias

O vinho e os relógios têm um óbvio

denominador comum, o tempo. O tempo que

leva a pensá-los, a concebê-los, a produzi-

-los, o tempo de os apreciar, o tempo que a

sua existência marca. decantada a conversa

com uma das principais referências no setor

do vinho em Portugal, João Paulo martins,

descobrimos alguém que sabe mais sobre

relógios que o comum dos mortais sobre

vinhos. E descobrimos outro denominador

comum, o hedonismo que o mundo dos

vinhos e dos relógios encerra. Sem sombra

de pecado.

«Há o vinho dos relógios de quartzo e há o vinho dos relógios mecânicos»

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quão longe vão os tempos de ‘o vinho dá de comer a um milhão de portugueses’, quer em relação ao vinho, quer em relação ao consumidor?Vão muito longe. nós já fomos um dos maiores consumidores de vinho do mundo. A par da França, éramos, ainda nos anos 70, consumidores na casa dos 95, 98 litros per capita por ano, o que é uma ‘barbaridade’. nos anos 60, as colónias absorviam grande parte da produção a granel, sobretudo das regiões da Estremadura e do Ribatejo, que tinham a sua produção virada para esse mercado e para as tascas de Lisboa. As pessoas não têm a noção, mas produziam‑se imensos milhões de litros. A situação alterou‑se, mas, por exemplo, na Estremadura (agora chamada Lisboa), onde chegou a haver 23 adegas cooperativas, ainda hoje existe uma que não faz um único vinho certificado, é tudo a granel.

A questão da imagem é a grande falha para a promoção dos vinhos portugueses?É, mas no caso do Douro têm sido dados passos significativos. Tirou‑se partido da fama da região, que tem 300 anos de história à custa do vinho do Porto, mas onde antes havia o Barca Velha e pouco mais; e tem de se aplaudir o trabalho e o mérito do grupo dos Douro Boys (http://www.douroboys.com/), que funcionaram como um grupo de pressão internacional para projetar a marca Douro. Com o interesse que as principais empresas de vinho do Porto passaram a dedicar a vinhos de consumo e a aproveitar os canais de distribuição para promover os vinhos do Douro, hoje já há um reconhecimento internacional do Douro, enquanto zona de produção de bons vinhos; quer nos vinhos ‘de entrada’, quer nos topos de gama. E se fizermos uma lista dos 20 ou 40 vinhos do Douro mais famosos, ou mais caros, o que quiser, vamos encontrar, sobretudo, vinhos de lote, não vinhos de uma só casta, o que é, de resto, a tradição portuguesa.

mas já há vinhos portugueses a aparecerem com alguma regularidade entre os melhores do mundo nas revistas de referência e nos concursos.São um bocadinho diferentes, as revistas e os concursos. Eu só faço parte, normalmente, do júri de um concurso internacional. Os concursos têm uma especificidade própria. Há muitas marcas que não concorrem a estes certames. As grandes marcas

não concorrem, nem as portuguesas nem as estrangeiras; não precisam dos prémios e seria um desprestígio se não ganhassem. não é o seu campeonato. o campeonato dos concursos é o das entradas de gama e das gamas médias, porque é aí que um vinho que pode custar até dez euros. Se ganhar uma medalha de ouro, provoca um impacte nas vendas muito interessante. Mas os concursos são tão voláteis como o vinho. São concursos sérios, com prova cega onde só sabemos o ano de colheita, mas é sempre muito subjetivo. não se deve atribuir a essas medalhas um valor absoluto, como aconteceu com a história do moscatel de Setúbal, de que foi dito ser o melhor moscatel do mundo. É uma estupidez – e pode escrever mesmo isso. É tacanhez e provincianismo. ou, no outro concurso do melhor Alvarinho do mundo, que decorreu no Minho. Mas como é que se escolhe o melhor Alvarinho do mundo, se Espanha produz seis ou sete vezes mais que Portugal e só havia meia dúzia de marcas espanholas a concurso? É preciso não perder a lucidez. o vinho moscatel ganhou uma medalha de ouro? Fantástico, ninguém lhe tira o mérito. Conseguiu‑se vender o moscatel todo numa semana? Extraordinário. Vendeu‑se mais caro do que se estava a pensar? Melhor ainda. Vamos todos bater palmas, mas não vamos entrar em loucuras.

Há um labor e um tempo na construção de um vinho que tem paralelo na construção de um relógio mecânico. mas o vinho desaparece num ápice. Não tem o seu ‘quê’ de frustrante?Tem, é verdade. Faz‑me lembrar a comparação que fazem entre os fumadores de charuto e os de cachimbo. Estes acham que o prazer não se esgota no fumar porque fica o objeto, enquanto os charutos, quando acabam, acabam. há algumas formas de arte que têm essa precariedade, sendo a mais conhecida de todas a culinária, que se esgota no ato da criação. Para um colecionador de vinhos, o prazer implica a morte do objeto colecionado. Se tenho uma velha garrafa, no dia em que a beber, mato a coleção. os vinhos têm esse estigma, o de serem mortos uns a seguir aos outros. E, de facto, é preciso uma paciência e meticulosidade na sua produção que se pode associar a outras profissões, como relojoeiro. É também verdade que há duas formas de fazer vinho. há o ‘vinho dos relógios de quartzo’ e há o ‘vinho dos relógios mecânicos’, sem dúvida.

«Prefiro os relógios mecânicos porque acho uma coisa mais humana que os relógios de quartzo»

João Paulo Martins

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Grandes consumidores de grandes vinhos são os brasileiros e os angolanos. Angola tem todas as possibilidades agrícolas, menos para produzir vinho, ou não?É. haverá uma pequena região no sul, com clima mais temperado, com capacidade para produzir vinhos. Mas Angola tem um grande produtor de vinho ali ao lado, que é a África do Sul. Felizmente para nós, portugueses, os angolanos, que têm uma relação sentimental connosco, preferem beber os vinhos portugueses a beber os sul africanos. Era muito mais prático comprarem na África do Sul, onde os há bons e baratos, mas eles gostam mais de vinho português. E os brasileiros também, apesar de os vinhos chegarem caríssimos ao Brasil – não temos qualquer relação de privilégio pela história comum. Eles saem daqui a 10 e vendem‑se lá a 30, mas há uma grande camada de gente rica, para quem não há dinheiro que os assuste, que consome todos os grandes vinhos portugueses e estrangeiros. Depois, há umas marcas ‘fetiche’ para os brasileiros. Além do

Barca Velha, o Quinta da Bacalhôa e o Pêra Manca, por exemplo, que são autênticos ícones no Brasil, uma espécie de ‘loucura’. Valerão a pena ser os ícones que são? Eu acho que não, mas, às vezes, há razões que a razão desconhece.

que relação tem com os relógios? Numa primeira abordagem, falou-me da A. Lange & Söhne, que não é uma marca conhecida de todos. Eu só conheci a marca depois da queda do muro de Berlim – não sou tão velho que a conhecesse de antes da guerra. Tenho, contudo, um irmão que vive na Alemanha e que gosta de relógios e foi ele que me falou da Lange. Depois, tenho um amigo do Porto que também é um grande ‘fanático’ dos relógios, o Dirk nieeport. Além disto, fui um dia a uma loja Torres e comecei a falar da Lange e o senhor deve ter achado que eu era um ‘óvni’ e ofereceu‑me um catálogo lindíssimo da marca, o que me deixou completamente ‘inchado’. A Lange tem modelos de que eu gosto muito, de facto. Sou um bocado conservador, porque gosto

Bater a bota com a perdigotaEra inevitável propor a João Paulo

martins a brincadeira de lhe

apresentarmos um relógio para

que ele nos sugerisse um vinho

que fizesse o match perfeito.

Acabámos a propor 5 modelos de

5 marcas e o resultado é o que

aqui apresentamos.

Algo ‘totalmente subjetivo’ como

o próprio não deixou de referir.

Jaeger Le‑Coultre master Tourbillonref. Q1652420preço: € 59.000

Celebrar, conviver, seduzir, partilhar, tudo isso se liga na perfeição ao espumante. Este é um espumante muito especial, feito em Lamego, requintado, exótico, exclusivo. Só para grandes apreciadores. Este não tem brilhantes mas Jean Paul gaultier desenhou uma vez um champanhe que era um verdadeiro objeto de ourivesaria e o mesmo fez a Ruinart com o champanhe para a viragem do século.

vinho: Espumante murganheira Czar Grande Cuvée rosé 2005região: Távora-Varosa; produtor: Caves da murganheira

Franck Muller Cintrée Curvex Lady diamonds ref. 2852QZDP/OVBRpreço: € 19.670

Tal como o relógio, este vinho também é muito complicado de fazer. Exigente na perfeição de todas as operações desde a vindima até à mesa do apreciador, passa por um longo período em que tem de demonstrar que continua perfeito para poder ser apelidado de Barca Velha. ninguém faz um Barca Velha só porque tem uvas tal como este relógio não é feito só porque temos os parafusos e os mostradores…

vinho: Barca Velha 2000região: douro; produtor: Sogrape Vinhos

ENTrEVISTA João PAULo MARTInS

Page 155: Espiral do Tempo 39

de relógios sóbrios; a questão das complicações não é uma coisa que me excite muito, não sei o suficiente para as valorizar. Prefiro os relógios mecânicos, porque os considero uma coisa mais humana que os relógios de quartzo. os de pilha não me dizem nada. gosto mais de relógios de corda manual do que de automáticos.Estas coisas não podem ser vistas como uma mera utilidade, são mais do que isso. Como dizia a célebre frase publicitária da Jaeger‑LeCoultre: «não se usa um Jaeger‑LeCoultre simplesmente para ver as horas, tal como não se bebe Dom Pérignon para matar a sede!» Acho uma frase notável. Para ter uma mera utilidade, qualquer relógio de pilha dá as horas. É como a ‘história’ das esferográficas. Porque é que eu hei de comprar uma Montblanc, se uma Bic também escreve bem? Se eu compro Montblanc é porque quero mais qualquer coisa, é porque estou a pensar em mais qualquer coisa. o que é uma coisa recorrente em relação aos vinhos: porque é que eu hei de dar 100 euros por uma garrafa? Para já, por causa da raridade

– normalmente, são mais caras porque são mais raras e há muita gente a querer comprar e pouca gente a querer vender. É a lei do mercado. Eu já bebi vinhos que custam 3500 euros, uma garrafa. Qual é a justificação? Tecnicamente, nenhuma. Pelos custos de produção, também não pode ser. Só há a razão da raridade e a razão do prazer que dá dizer: «eu já bebi…». É a mesma coisa que dizer: «eu tenho um A. Lange & Sohne» (risos). Estas coisas vão além do utilitarismo do objeto, e o vinho é a mesma coisa. É, também, uma questão de comodidade. Se 50.000 euros não me fizerem diferença nenhuma, se me for cómodo dispor deles, porque não hei de eu comprar um relógio desse preço? É a mesma coisa com os vinhos de 1000 ou de 3000 euros. Para quem não bebe vinho acima de 3 euros, um vinho de 20 euros é um luxo extraordinário. Para mim, um vinho de 20 euros não é luxo nenhum. não me é incómodo dar 20 euros por um vinho. Para os tais brasileiros ricos que andam de helicóptero e jato particular, 50.000 euros não é, sequer, dinheiro; não conta, são trocos, e é para estes que esses objetos são feitos.

vinho: quinta da Bacalhôa tinto 2009região: regional Península de Setúbal; produtor: Bacalhôa Vinhos de Portugal

Aqui o que temos é um compromisso entre um certo classicismo (que o rótulo do vinho bem expressa) e uma certa ousadia e modernidade, aqui também conferida pela utilização da casta Cabernet Sauvignon, a campeã dos vinhos de Bordéus e a responsável por alguns dos mais famosos e caros vinhos do mundo. E tal como a fama dos bordaleses ultrapassou fronteiras, também este Bacalhôa adquiriu o estatuto de estrela, nomeadamente no Brasil. Um tinto luxuoso mas, tal como o relógio, a preços não proibitivos.

Chopard LuC Lunar OneRef. 161927-5001Preço: € 47.660

vinho: Pêra manca tinto 2005região: Alentejo; produtor: Fundação Eugénio de Almeida

Este é um dos vinhos mais famosos que existe em Portugal, o tal que todos querem beber, quer nós aqui quer além atlântico, quer em África. Símbolo de exclusividade, de status e só ao alcance de alguns, o Pêra Manca tem fama para dar e vender. E, tal como no caso do relógio, se a qualidade não está em causa, já a exclusividade ou brilhantismo se podem questionar mas isso, face à enorme audiência e inúmeros adeptos, não interessa nada

Rolex Submariner dateRef. 116610LnPreço: € 6.460

vinho: Colecção Privada domingos Soares Franco moscatel roxo rosé 2011região: regional Península de Setúbal; produtor: José maria da Fonseca

Este é o verdadeiro vinho para ser bebido descontraidamente, sem pensar muito, apenas pelo prazer do convívio, preferencialmente em dias quentes. É um dos melhores, senão mesmo o melhor rosé que se faz em Portugal e, seguramente, o mais original de todos. Imperdível.

TAg heuer Carrera Chronograph 1887Ref. CAR2111.FC6291Preço: € 4.350

Leia a entrevista completa em: www.espiraldotempo.com

Page 156: Espiral do Tempo 39

Three, foi introduzida também uma animação mecânica.

Os automatons da era modernanos últimos anos, a alta‑relojoaria tem assistido a uma tendência crescente no sentido de apresentar indicações conhecidas sob uma nova perspetiva, que, além de mais criativa, introduz um grau de complexidade mais elevado. Em alguns casos, este fenómeno surge associado a uma vertente lúdica reminiscente dos autómatos dos séculos xVIII e xIx. À função, ou complicação básica do relógio era associado um sistema mecânico que, em boa parte, tinha de se manifestar através de um movimento adicional e percetível de um grupo de elementos com o propósito de entreter o observador.

nos dias de hoje, tornou‑se relativamente comum entre nomes representativos da alta‑relojoaria mundial uma abordagem similar, mas mais orientada para uma animação suplementar de complicações e indicações que ameaçavam tornar‑se comuns devido ao crescente acesso às mais recentes tecnologias. os

o Chapter Three da Maîtres du Temps é o terceiro modelo de um projeto iniciado em 2007 por Steven holzman e destinado a ensaiar uma nova filosofia criativa que procurou, nos maiores talentos relojoeiros da atualidade, uma parceria para a conceção dos seus relógios. Inaugurado por Roger Dubuis, Christophe Claret e Peter Speake‑Marin, o lançamento do Chapter one em 2008 foi sucedido no ano seguinte pelo Chapter Two para o qual trabalharam em parceria Daniel Roth e, novamente, Peter Speake‑Marin. A conceção do terceiro modelo da série caiu sobre a responsabilidade de uma nova dupla de mágicos relojoeiros. Andreas Strehler e kari Voutilainen aceitaram desenvolver um modelo que segue a filosofia das criações anteriores, onde as indicações clássicas são elevadas a um novo grau de complexidade. no caso do Chapter

departamentos criativos destas casas relojoeiras reagiram a este fenómeno procurando demarcar‑se da concorrência através da elevação da complexidade de uma determinada complicação, juntando‑lhe funcionalidades adicionais.

A magia do Chapter ThreeO caso da Maîtres du Temps reflete esta abordagem criativa, cujo sucesso está ligado à qualidade dos mestres relojoeiros intervenientes. O desafio apresentado a Andreas Strehler e a kari Voutilainen residia na ideia de se poder transformar um mostrador complexo com múltiplas indicações para o viajante frequente num mostrador clássico e desobstruído baseado no conceito de que o utilizador não necessita de toda a informação disponível durante todo o tempo. Assim, às indicações de horas, minutos, segundos, data e fases da Lua, foram acrescentados um segundo fuso horário e uma indicação de dia/noite que se revelam apenas a pedido, mantendo‑se o equilíbrio entre funcionalidade e elegância.

A observação das indicações no mostrador do Chapter Three permite uma melhor compreensão do conceito. 156

Hocus pocus são as palavras

proferidas pelos mágicos quando

se preparam para apresentar

alguma mudança ou transformação

inesperada. Kari Voutilainen e

Andreas Strehler foram os mágicos

de serviço da maîtres du Temps para

a criação do Chapter Three.

Hocus Pocus relojoeiroPor Carlos Torres

INdEPENdENTES MAîTRE DU TEMPS ChAPTER ThREE

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Começamos pelo centro, onde os ponteiros das horas e dos minutos assumem a posição dominante e tradicional como é apanágio da maioria dos relógios. nas oito horas, um pequeno submostrador com a inscrição ‘Petite Seconde’ encarrega‑se da indicação da escala menor de divisão do tempo permitida pelo modelo. Uma indicação de estética semelhante na posição das duas horas permite a leitura da data e, nas quatro horas, o ciclo das fases da Lua, com uma duração ligeiramente superior a 29,5 dias, ocupa uma janela circular de moldura larga.

E é a partir daqui que, tal como descreve a Maîtres du Temps, começa «o mistério, o suspense e a surpresa.» A pressão exercida sobre o botão da coroa aciona um sistema mecânico que movimenta dois painéis em posições opostas sobre o mostrador que servem de apoio à numeração romana nas 12 e nas seis horas. A ocultação destes segmentos do mostrador revela as duas indicações em falta: o segundo fuso horário (nas seis horas – também conhecido como gMT) e a indicação de dia/noite (nas 12 horas) através da

representação do Sol que se faz alternar por um céu estrelado ao longo de um ciclo de 24 horas. Ambas recorrem a cilindros que, desde a sua utilização nos primeiros dois modelos da marca se tornaram uma verdadeira assinatura da Maîtres du Temps.

no segundo fuso horário nas seis horas, optou‑se por inscrever os números de um a seis e de sete a 12 em dois cilindros separados que repartem o mesmo eixo. Quando se dá a transição entre as seis e as sete ou entre as 12 e a uma hora, os cilindros deslizam horizontalmente, ocupando alternadamente a posição diante da janela aberta na base do mostrador. Controlado por um botão localizado nas nove horas na lateral da caixa o mecanismo permite que cada número se apresente com o dobro da dimensão, em oposição a um sistema de apenas um cilindro, representando um incremento substancial da legibilidade desta indicação.

o movimento do Chapter Three é o primeiro movimento integralmente in--house da Maîtres du Temps e requereu mais de três anos de trabalho conjunto. Um verdadeiro hocus pocus relojoeiro.

O desafio apresentado a Andreas Strehler e a Kari Voutilainen para o Chapter Three residia na ideia de se poder transformar um mostrador complexo com múltiplas indicações orientadas para o viajante frequente, num mostrador clássico e desobstruído baseado no conceito de que o utilizador não necessita de toda a informação disponível durante todo o tempo.

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La montre à remontage AutomatiquexVIII – xxI siècles

/ Textos Jean‑Claude Sabrier com prefácio de Jean‑Claude Biver

/ Edição Cercle d’Art, 2011

«Como a noção de transmutação de metais, a noção de ‘movimento perpétuo’ sempre fascinou cientistas ávidos de descobertas espetaculares» – é assim que Jean‑Claude Sabrier começa por nos aguçar o apetite para o mundo dos relógios mecânicos automáticos. na verdade, por mais que se tente atribuir a invenção do relógio automático a apenas um nome, a história revela que muito mais há para explorar e para descobrir. Como o próprio autor refere, «o relógio nunca foi inventado, mas resulta de uma evolução natural», e, no que diz respeito ao relógio automático, é difícil encontrar uma resposta inequívoca sobre quem foi realmente o seu original criador. La Montre à Remontage Automatique é uma obra recente ancorada na análise cuidada e no estudo de inúmeros documentos históricos. Ao longo de 12 capítulos, as origens e os desenvolvimentos associados ao relógio automático são apresentados, e nomes incontornáveis como Abraham‑Louis Perrelet, Louis Recordon, Abraham‑Louis Breguet e Jaquet Droz surgem aqui referenciados. Com prefácio do carismático Jean‑Claude Biver, este é um livro fundamental para os verdadeiros apreciadores da história da relojoaria em geral e da história dos relógios automáticos em particular.

LIVrOS

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Audemars Piguet,Le maître de l’horlogerie depuis 1875

/ Textos François Chaille / Edição Flammarion, 2011 / Fotografias Éric Sauvage

e Francis hammond A história da Audemars Piguet revisitada num livro extraordinário. o percurso histórico da manufatura de Le Brassus é contado desde as origens e ilustrado por imagens de grande qualidade. Do Vallée de Joux como inspiração para a criação relojoeira, passando por um portefólio composto por uma impressionante diversidade de instrumentos do tempo, a legitimidade da companhia familiar, enquanto nome de calibre na relojoaria suíça, é, de imediato, apreendida em apenas breves instantes de contacto. Peças raras apresentadas em grande plano e detalhes minuciosos fazem deste livro um tributo ao que de melhor se faz em relojoaria.

La Conquête du TempsHistoire de l’horlogerie des origines à nos jours: découvertes- -inventions-progrès

/ Textos Dominique Fléchon, com prefácio de Franco Cologni

/ Edição Flammarion, Fondation de la haute horlogerie, 2011

/ Fotografias Éric Sauvage e Francis hammond

Apesar de ser uma obra recentemente lançada, tem tudo para ser já considerada, na nossa perspetiva, uma autêntica ‘bíblia da relojoaria,’ com a mais‑valia de ter sido publicada em parceria com a prestigiada Fondation de la haute horlogerie. La Conquête du Temps compila, em 450 belíssimas páginas, a história da relojoaria, desde as origens – partindo da sua inevitável relação com a Astronomia – até à atualidade. Um grandioso trabalho de pesquisa que vem demonstrar como o mundo da relojoaria é uma vertente fundamental da história da civilização humana na sua relação com a noção de tempo e com as mais diversas áreas do conhecimento e das artes.

Abraham-Louis BreguetL’horlogerie à la conquête du monde

/ Textos (direcção) Emmanuel Breguet, nicole Minder e Rodolphe de Pierri

/ Edição Louvre Editions; Musée national suisse; Somogy éditions d’art; Montres Breguet S.A. 2011

Breguet é o sobrenome mais respeitado na história da relojoaria, porque se devem a Abraham‑Louis Breguet uma grande parte dos principais desenvolvimentos da relojoaria. Em sua homenagem e em homenagem aos seus instrumentos do tempo, o Museu nacional Suíço apresentou, em 2011, a exposição A.‑L. Breguet: Como a relojoaria conquistou o Mundo. o livro, com o mesmo nome da exposição, é um catálogo em edição de luxo que contextualiza o universo Breguet e apresenta imagens de excelente qualidade das peças e dos documentos que constituíram esta mostra histórica.

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Participaram nos Em Foco desta edição

machado Joalheiro www.machadojoalheiro.com 226 101 283marcolino relojoeiro www.marcolino.com.pt 222 001 606 Ourivesaria Camanga www.camanga.com 217 955 245 Ourivesaria Correia 213 529 888Severino relojoeiro www.severino.pt 217 237 315Torres Joalheiros www.torres.pt 213 472 753

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ESgoTADoS

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Se existem várias realidades em simultâneo, se cada um vê o mundo desde

um ponto diferente, é porque existem vários tempos a partilharem o mesmo

espaço. Tempo fora e dentro do corpo.

Estar aí estando aqui

Existe o tempo deles: a brincarem com legos, a admirarem‑se com os saltos de um gafanhoto, a rirem‑se de caretas no espelho. E existe o nosso tempo: preocupados com a segurança social, com o boletim meteorológico, com as alergias, com o parquímetro, com o trânsito; atrasados para a reunião, para o jantar, para a aula de yoga. Impressiona considerar que estes dois tempos existem sobrepostos. Por isso, parecem o mesmo tempo. Mas não são. A contemporaneidade engana muito.

Se formos dados à caminhada, cruzamo‑nos todos os dias nos passeios das cidades com multidões de pessoas de outro tempo. Cada um caminha na sua época privada, na sua idade única, contabilizada não apenas em anos, meses e horas, mas, mais do que isso, contabilizada em memória e em consciência.

Da mesma maneira que cada indivíduo vive num tempo próprio, construído a partir de notícias de jornal, de boatos de vizinhas, de aconchegos e de suspeitas, também é certo que cada um desses mesmos indivíduos vive a um tempo que lhe pertence, que é impartilhável, intransmissível. A velocidade da respiração depende do tamanho dos pulmões, da pressa com que se caminha e, sobretudo, da vontade de respirar. o ritmo de cada um é biológico, mas é, também, fruto do pensamento e da relação maior ou menor com que se aceita a dor. Essa atitude pessoal com que se encara os gestos necessários e a ação perante o mundo mexe no ritmo geral das coisas e desregula o tempo. Aos olhos daqueles que correm ou que estão parados, existe a sensação de minutos que passam demasiado depressa ou demasiado devagar.

E, de modo subliminar, é como se houvesse períodos em que o tempo passa ao seu ritmo devido e outros, de prazer, que passam rápido, e outros, de dor, que passam devagar. no centro dessas marés, o tempo que me levanta mais questões é aquele que julgamos ter decorrido ao passo natural do próprio tempo. Que tempo é esse? Qual é o tempo que não avança demasiado depressa ou demasiado devagar? Essas variações, parece‑me, só se notam no momento em que se olha para o relógio. Estão, as pessoas dizem: «já?» E procuram gentilezas tão banais como: «Que conversa tão agradável, o tempo passou a voar.» ou, perante a dor, debaixo dela, olha‑se para um relógio e a pausa entre os segundos é enorme, como se os ponteiros estivessem indecisos e, segundo a segundo, tivessem de resistir à tentação de voltar para trás.

E, no entanto, existe o tempo delas: a saírem de casa às cinco da manhã para limpar escritórios, a esperarem na paragem de autocarros, com as orelhas geladas. E existe o tempo delas: a irem para casa de táxi depois de uma ladies night, com hálito de gin tónico, com as roupas e os cabelos a cheirarem a fumo. Existe também o tempo delas: a acordarem com pijamas de flanela, a avançarem ensonadas pelos corredores. E existo eu: bem desperto de madrugada, insone, a escrever estas palavras e a imaginar aquilo que existe ao longo de toda a distância que se vê da minha janela.

CróNICA JoSÉ LUIS PEIxoTo

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