ii jornada de filosofia da faculdade pan americana...

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JORNAL CIENTÍFICO DA FACULDADE PAN AMERICANA ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL -DEZEMBRO DE 2011 É, justamente, por isso que tanto a Filosofia, quanto a Ciência diferem do senso comum, ... Fonte: http://diariodoverde.com/, 2011. II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará) Da Filosofia ao Mundo da Vida: Práticas, Linguagens & Saberes Disto, portanto, decorre a necessidade de debatermos a relevância objetiva do Curso de Filosofia, tanto quanto assuntos que estejam relacionados a outras áreas do conhecimento como Teologia, Pedagogia e Letras, de modo que possamos compreender o fenômeno da existência em suas múltiplas acepções (ética, moral, política, jurídica, pedagógica e comunicativa). A “II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará)” tem como tema central a interface da Filosofia com o mundo da vi- da, isto é, a interface do pen- samento filosófico com as di- mensões ética-moral, polí- tica, jurídica, educacional (formativa) e lingüística (co- municativa) da existência. Neste sentido, trabalhar- se-á com questões interdisci- plinares e transversais que impliquem na passagem Da Filosofia ao Mundo da Vida, destacando-se Práticas, Lin- guagens & Saberes (locais e regionais) como objetos de investigação da razão que, na medida em que se volta para a ação, tenta cotejar o real com o ideal, na medida em que é possível se pensar crítica e reflexivamente a realidade humana vivida. A “II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará) – Da Filosofia ao Mundo da Vida: Práticas, Linguagens & Saberes” pretende destacar uma parte relevante da atividade reflexiva e filosó- fica, qual seja, o mundo da vida. Esta noção, cara à fenomenologia de Husserl, integra (de modo amplo e total) aquilo que historica- mente se inscreve nos hori- zontes da Filosofia Prática. E o que isto significa? Nada mais que pensar o agir situado no contexto em que nos inserimos, a partir do mo- mento em que nos percebe- mos como sujeitos não ape- nas pensantes, mas também como agentes morais. Fonte: http://www.fondos-iphone.es/hombre-de-vitruvio Capanema - PA, 02 e 03 de dezembro de 2011 Geral: - Debater questões fundamen- tais (interdisciplinares e trans- versais) implicadas no mundo da vida. A “II Jornada de Filosofia da FPA” tem como principais objetivos: Específicos: - Discutir os limites e possibili- dades, isto é, os desafios e perspectivas do Curso de Fi- losofia da Faculdade Pan Americana em comparação com outras realidades aca- dêmico-institucionais, rela- tivamente à formação de Ba- charéis e Licenciados enga- jados na reflexão e em cau- sas sociais; - Discutir as fronteiras teó- ricas e as diferenças especí- ficas de pensamento e refle- xão entre Filosofia e Teolo- gia, particularmente no que diz respeito à abordagem de questões como aborto, pro- vetas, clonagem, eugenia li- beral, diagnósticos genéticos de pré-implantação e euta- násia; - Discutir questões como ética e formação de pro- fessores, políticas públicas e cidadania, diversidade étnico-cultural e lingüístico- social e, finalmente, direitos humanos e inclusão social. A metodologia de trabalhos e atividades desta “II Jornada” contará, fundamentalmen- te, com palestras e mini- cursos e o público-alvo são: 1 - Alunos/as de Filosofia e demais cursos de Graduação e Pós-Graduação da FPA; 2 - Alunos/as de Filosofia e demais cursos de Graduação e Pós-Graduação de outras instituições de nível superior (pública e privadas); 3 - Professores de Filosofia e demais profissionais da educação. A organização da “II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará) – Da Filosofia ao Mundo da Vida: Práticas, Linguagens & Saberes” foi planejada e organizada pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão em Filosofia e Teologia da Faculdade Pan Americana (NUPEFIT) e encerra as atividades acadêmicas do ano letivo de 2011.

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JORNAL CIENTÍFICO DA FACULDADE PAN AMERICANAANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL -DEZEMBRO DE 2011

É, justamente, por isso que tanto a Filosofia, quanto a Ciência diferem do senso comum, ...

Fonte: http://diariodoverde.com/, 2011.

II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará)Da Filosofia ao Mundo da Vida: Práticas, Linguagens & Saberes

Disto, portanto, decorre a necessidade de debatermos a relevância objetiva do Curso de Filosofia, tanto quanto assuntos que estejam relacionados a outras áreas do conhecimento como Teologia, Pedagogia e Letras, de modo que possamos compreender o fenômeno da existência em suas múltiplas acepções (ética, moral, política, jurídica, pedagógica e comunicativa).

A “II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará)” tem como tema central a interface da Filosofia com o mundo da vi-da, isto é, a interface do pen-samento filosófico com as di-mensões ética-moral, polí-tica, jurídica, educacional (formativa) e lingüística (co-municativa) da existência.

Neste sentido, trabalhar-se-á com questões interdisci-plinares e transversais que impliquem na passagem Da Filosofia ao Mundo da Vida, destacando-se Práticas, Lin-guagens & Saberes (locais e regionais) como objetos de investigação da razão que, na medida em que se volta para a ação, tenta cotejar o real com o ideal, na medida em que é possível se pensar crítica e reflexivamente a realidade humana vivida.

A “II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará) – Da Filosofia ao Mundo da Vida: Práticas, Linguagens & Saberes” pretende destacar uma parte relevante da atividade reflexiva e filosó-fica, qual seja, o mundo da vida. Esta noção, cara à fenomenologia de Husserl, integra (de modo amplo e total) aquilo que historica-mente se inscreve nos hori-zontes da Filosofia Prática.

E o que isto significa?

Nada mais que pensar o agir

situado no contexto em que

nos inserimos, a partir do mo-

mento em que nos percebe-

mos como sujeitos não ape-

nas pensantes, mas também

como agentes morais.

Fonte: http://www.fondos-iphone.es/hombre-de-vitruvio

Capanema - PA, 02 e 03 de dezembro de 2011

Geral:

- Debater questões fundamen-

tais (interdisciplinares e trans-

versais) implicadas no mundo

da vida.

A “II Jornada de Filosofia da

FPA” tem como principais

objetivos:

Específicos:

- Discutir os limites e possibili-

dades, isto é, os desafios e

perspectivas do Curso de Fi-

losofia da Faculdade Pan

Americana em comparação

com outras realidades aca-

dêmico-institucionais, rela-

tivamente à formação de Ba-

charéis e Licenciados enga-

jados na reflexão e em cau-

sas sociais;

- Discutir as fronteiras teó-

ricas e as diferenças especí-

ficas de pensamento e refle-

xão entre Filosofia e Teolo-

gia, particularmente no que

diz respeito à abordagem de

questões como aborto, pro-

vetas, clonagem, eugenia li-

beral, diagnósticos genéticos

de pré-implantação e euta-

násia;

- Discutir questões como

ética e formação de pro-

fessores, políticas públicas e

cidadania, diversidade

étnico-cultural e lingüístico-

social e, finalmente, direitos

humanos e inclusão social.

A metodologia de trabalhos e atividades desta “II Jornada” contará, fundamentalmen-te, com palestras e mini-cursos e o público-alvo são:

1 - Alunos/as de Filosofia e demais cursos de Graduação e Pós-Graduação da FPA;

2 - Alunos/as de Filosofia e demais cursos de Graduação e Pós-Graduação de outras instituições de nível superior (pública e privadas);

3 - Professores de Filosofia e

demais profissionais da

educação.

A organização da “II Jornada de Filosofia da Faculdade Pan Americana (Capanema/Pará) – Da Filosofia ao Mundo da Vida: Práticas, Linguagens & Saberes” foi planejada e organizada pelo Núcleo de Pesquisa e Extensão em Filosofia e Teologia da Faculdade Pan Americana (NUPEFIT) e encerra as atividades acadêmicas do ano letivo de 2011.

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ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL -DEZEMBRO DE 2011

Wladirson Cardoso é Bacharel/Licenciado em Filosofia pelo instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (IFCH/UFPA); Mestre em Direitos Humanos e Inclusão Social pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará e Doutorando em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA/UFPA).

Editorial

02

Um leve toque de Sophia...

A Escola de Atenas, de Rafael (1506-1510)

É muito comum estudantes e professores de Filosofia serem questionados acerca da natureza e dos propósitos da mesma. Se, por um lado, todos imaginam saber qual o escopo do ensino das Letras, qual a importância do ensino da Matemática, qual o caráter do ensino da Física, qual o interesse do ensino da Química, qual a necessidade do estudo da Biologia, da História e da Geografia, pouquíssimos são aqueles que reconhecem a legitimidade da F i l o s o f i a e s u a v e r d a d e i r a contrapartida. No entanto, antes de prosseguir, é mister observar que Filosofia não é, sobremaneira, argumento de religião – embora possa fundamentar a Teologia enquanto uma possibi l idade ou tentat iva de compreender lógica e racionalmente o “fenômeno” divino. Porém, diga-se, a F i losof ia pensa Deus e não simplesmente o aceita. Emerge, aqui, então, uma primeira distinção: enquanto as doutrinas religiosas estruturam-se mediante a experiência (muitas vezes mística!) da fé, a Filosofia estrutura-se a partir da razão.

Nestes termos, a Filosofia constitui um campo do conhecimento e não um postulado ou corolário de dogmas que devem ser observados, sob pena do crente ou fiel ser punido, castigado ou até mesmo execrado. A diferença entre Filosofia e religião é, portanto, uma das notas preliminares que devem ser consideradas, haja vista confundirem-se a seriedade teórico-epistêmica da postura do filósofo com a austeridade ascética do cristão empedernido. Todavia, pode-se objetar este argumento contrastivo, destacando-se que, assim como a religião, a Filosofia está preocupada com as questões fundamentais da existência. Porém, deve-se advertir que, quando a racionalidade filosófica perscruta a origem (arké) e o télos (fim), ela o faz com vistas no mundo d o s h o m e n s e n ã o e m u m suprassensível para além das estrelas...

Pois muito que bem, se a Filosofia é conhecimento racional, qual a diferença dela em relação à Ciência q u e t a m b é m s e u t i l i z a d a racionalidade como parâmetro estruturante do saber? Ora, tanto a Filosofia, quanto a Ciência buscam as causas das coisas. Efetivamente falando, só se pode conhecer filosófica e/ou cientificamente o mundo e/ou a realidade (física ou

h u m a n a / s o c i a l ) m e d i a n t e a investigação sistemática, regular e coerente das causas. É, justamente, por isso que tanto a Filosofia, quanto a Ciência diferem do senso comum, porquanto ambas não aceitam passivamente, isto é, sem análise crítica, as superstições e preconceitos histórica e socialmente construídos. No entanto, na medida em que a Filosofia busca compreender a realidade a partir de um ponto de vista eminentemente teórico-especulativo, ela se caracteriza como um saber totalizante; ao passo que a Ciência delimita pontualmente seu objeto de estudo, investigando, a part i r de métodos e técnicas (instrumentais), a realidade física (como no caso das ditas hard sciences, isto é, das chamadas “ciências duras”, tais como a Química, por exemplo) ou, ainda, a realidade humana e/ou social (cultural).

Se, como diz o adágio popular, “de médico e louco todo o mundo tem um pouco”, tenha-se plena certeza que cada um de nós, inequivocamente, é também um pouquinho de “filósofo”. Quando pretendemos “descobrir” quem somos – na acepção mais genuína do verbo ser; quando questionamos o sentido da vida; quando desconfiamos das certezas absolutas e, ainda, quando buscamos um entendimento do contexto histórico-social humano, já estamos a caminho de tudo aquilo que os grandes pensadores elaboraram. Todavia, deve-se ficar bem claro que a Filosofia não se confunde com a Psicologia e que ambas não tem nada a ver com autoajuda. Ora, a Psicologia é uma ciência que visa, mediante diversas abordagens, garantir ou restituir a integridade do indivíduo; já a Filosofia está muito mais interessada em fazer um uso teórico da razão do que propriamente promover o bem-estar psíquico. Em última instância, a Psicologia trata da subjetividade humana, ao passo que a Filosofia pergunta-se, como bem ensina Kant, “o que posso conhecer?”, “o que devo fazer?”, “o que posso esperar?” e “o que é o homem?”. Vê-se, assim, que a Filosofia difere da Psicologia e que nem uma e nem outra compactuam com a postura tacanha de “superação” de dificuldades propalada de modo vulgar pela literatura de autoajuda que graça nas estantes das livrarias que negociam verborreias infundadas como se fossem verdadeiras teorias.

Porém, de todas as confusões e

impropérios que orbitam ao redor da Filosofia está o subproduto mais imediato da ignorância daqueles que desconhecem a ma té r i a e a mediocridade daqueles que acreditam que sabem de tudo, qual seja, a ideia de que a razão filosofante confunde-se com a loucura inebriante. Ora, o questionamento incisivo e a crítica radical não devem ser confundidos com a inconsistência de um pensamento desarranjado e a incoerência de um juízo patologicamente afetado. Filosofia – repito – não é sinônimo de l o u c u r a – a o m e n o s n ã o necessariamente...! Mas, afinal, o que é Filosofia? Pois bem, a palavra “Filosofia” vem do grego e significa amor (filo, fila) à sabedoria (sophia). Dizia Pitágoras (570/571 a.C a 496/497 a.C) que os filósofos não são sábios, pois a sabedoria enquanto tal pertence aos deuses, de modo que aos humanos cabe apenas aspirá-la, amá-la. Nestes termos, o filósofo é o amante da sabedoria, o amigo do saber. A Filosofia nasce no século VII a.C, entre os Jônios, na Cidade de Mileto, com Tales, desprendendo-se do interior das formulações mitopoéticas que, por sua vez, eram cantadas pelos poetas inspirados, homens tidos como sábios. Quando surge, portanto, a Filosofia opera uma verdadeira transformação na percepção total da realidade. O filósofo, ao contrário do poeta (aedo ou rapsodo), não é mais o sábio que detém o conhecimento dos sortilégios do m u n d o , e s i m a p e n a s u m “investigador”.

No entanto, não basta dizer que a Filosofia é o “amor à sabedoria”, posto que o que caracteriza o esforço teórico do filósofo é, também, responder a esta pergunta, levando-se em conta as “aquisições” conceituais dos que o antecederam. Logo, se se disser que o

filósofo busca a verdade, tem que se dispor que esta “verdade” é historicamente construída e só pode ser adquirida coletivamente. E, ainda, se se diz que verdade e realidade se confundem, é necessário, então, investigar os limites e possibilidades para o conhecimento das coisas, já que a Filosofia é um exercício racional de constante reflexão. Porém, se o filósofo deve, além de descrever as primeiras causas e os primeiros princípios que regem o conhecimento da realidade física, ele também tem que dar conta dos valores ético-morais que devem orientar a vida e a práxis política, da mesma forma que deve-se ocupar dos juízos de (bom) gosto que definem os limites entre arte e natureza.

Como diria Platão, a Filosofia é para poucos – e não adianta insistir quando não se tem uma espécie de “talento natural”. O número de fi lósofos no mundo, desde o surgimento da Filosofia na Grécia até os dias atuais, é infinitamente menor que a escala absoluta da população do globo. Excetuando-se, portanto, essa seleta de “livres-pensadores”, quem resta? Ora, restam apenas bons comentadores de Filosofia, professores e alunos (de Filosofia ou não), pessoas que ouviram dizer mas não conhecem, pessoas que desprezam totalmente e, ainda, pessoas que ignoram esta que é a “ciência da liberdade do espírito” – permitindo-me falar em “enigmas” como Hegel. Para concluir, se, como disse Kant, “não se aprende Filosofia, mas a Filosofar”, só tem sentido falar em um ensino de Filosofia em escolas e Faculdades se a preocupação inicial for com uma cultura da reflexão que possibilite uma atitude crítica diante das coisas do mundo e da cultura.

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ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL - DEZEMBRO DE 2011

Proª. Msc. Giovana Cristina Pantoja de Souza

Coordenadora do Curso de Pedagogia da FPA

03

A INTERSUBJETIVAÇÃO ENTRE HOMEM E NATUREZA – ASPECTOS SOCIAIS, POLÍTICOS E AMBIENTAIS

Ao se falar em intersubje-tivação homem natureza faz-se necessário a priori, refletir inicialmente no que vem a ser

a r e l a ç ã o homem/homem

.Para entender melhor

como isto se processa

O ponto de partida EU-TU mostra o mundo das relações, de diferentes experiências, do multiculturalismo da vida cotidiana que segundo Buber, realiza-se em três esferas: a vida com a nature-za, a vida com os homens e a vida com os seres espirituais.

A vida com a natureza, tudo o que compõe a nature-za que cerca o homem, está ali, o homem tem o poder de fazer o melhor ou pior uso “Nesta esfera a relação realiza-se numa penumbra como que aquém da lingua-gem. As criaturas movem-se diante de nós sem possibili-dade de vir até nós e o TU que lhes endereçamos depara-se com o limiar da palavra”. (BUBER, 2001, p.6-7). As possibilidades de relação homem /objeto são restritas, dependem diretamente das concepções humanas que o ser humano carrega.

Na segunda esfera, a vida com os homens vem a ser a relação onde mais claramen-te percebe-se a reciprocida-de. É o diálogo por excelên-cia. “ “Nesta esfera a relação é manifesta e explícita: podemos endereçar e receber o TU”. (BUBER, 2001, p.7).

Na terceira esfera, isto é, vida com os seres espirituais Giles (1989) diz que “trata-se

Intersubjetividade, esta se apresenta como umas das áreas que envolve a vida do h o m e m ,

e por isso precisa ser refletida e analisada pela filosofia, em especial pela Antropologia Filosófica

esta inter-relação segundo Martin Buber, envolve o diálogo, o encontro e a responsabilida-de, entre dois sujeitos e/ou a relação que existe entre o sujeito e o objeto.

do homem relacionando-se com todos os frutos da criatividade humana como a arte e a filosofia, a relação se dá silenciosa, mas gerando a linguagem”. A relação homem e o outro se revela de forma silenciosa, silencio este, que vale mais que palavras mal ditas.

As esferas por hora apresen-tadas materializam o significa-do da palavra EU-TU que vem muito antes da relação EU-ISSO. O intra pessoal, a relação na essência homem/homem agrega valores sentimentos do eu interior para se viver no mundo exterior.

Contudo, Buber mostra que há

um certo perigo quando o

homem coloca o ISSO como o

único meio de ver o mundo e

deixa de lado a essência da

relação humana “o homem não

pode viver sem o ISSO, mas

aquele que vive somente com o

ISSO não é homem”. (BUBER,

2001, p.39). A única coisa

importante é que, para cada

um dos dois homens, o outro

aconteça como este outro

determinado; que cada um dos

dois se torne consciente do

outro de tal forma que precisa-

mente por isso assuma para

com ele um comportamento,

que não o considere e não o

trate como seu objeto mas

como seu parceiro num aconte-

cimento da vida, mesmo que

seja apenas uma luta de boxe.

(BUBER, 1982, p.138). Com

mais precisão Buber diz que:

(…) na sua essência este dom não é mais um olhar para o outro; é um penetrar audacioso no outro, potente como um vôo, penetrar no outro que reivindica o movimento mais intensivo do meu ser, à maneira de toda fantasia verdadeira, só que aqui o campo de minha ação não é o todo-possível, mas a pessoa real e singular que vem ao meu encontro, que

A parceria viva entre os seres desabrocha no inter-humano a relação harmoniosa e saudável entre o EU e o ISSO. Evidencia-se porém que influência do eu para com o outro apresenta-se de duas maneiras, uma pela imposição, o que prevalece é a opinião própria. A segunda maneira a pessoa quer encontrar-se também na alma do outro, incentivando nele aquilo que reconhece em si mesmo como certo. Ou seja, o que considero certo deve também estar vivo potencialmente no microcosmo do outro, bastando que este se abra a essa possibilidade. Essa abertura acontece essencial-mente não como aprendizado, mas como encontro. Trata-se da comunicação existencial entre um ente que é e um outro que pode vir a ser. Esta se desenvol-veu mais no campo da educa-ção. (OLIVEIRA,2005)

É a assistência mútua do ser-próprio que completa a essên-cia humana “O homem é antropologicamente existente não no seu isolamento, mas na integridade da relação entre homem e homem: é somente a reciprocidade da ação que possibilita a compreensão adequada da natureza huma-na”. (BUBER, 1982, p.152).

Sendo assim, Martin Buber dá uma definição “ É somente quando há dois homens, dos quais cada um, ao ter o outro em mente, tem em mente ao mesmo tempo a coisa elevada que a este é destinada e que serve ao cumprimento do seu destino, sem querer impor ao outro algo da sua própria realização, é somente aí que se manifesta de uma forma encarnada toda a glória dinâmica do ser do homem. (BUBER, 1982, p.152).

Em se tratando dos aspectos que interferem na relação homem/natureza sabe-se que os indivíduos reagem em relação ao meio conforme seus processos mentais que para Faggionato (2007) na medida que a percepção se torna a linguagem que o homem esta se dá através de três áreas: a cognição (processos de perceber, conhecer e pensar); afetividade (que esta relacionada aos senti-mentos, sensações e emo-ções) e a conexão entre a ação humana sobre o meio, como resposta a cognição e afetividade. Para Oliveira (2008), existem várias formas de se apreender o ambiente, e isso cada indivíduo o faz de forma particular e depois ocorre um consenso coletivo sobre a qualidade desse ambiente relacionado com o meio natural e o espaço construí-do. Émile Durkhein, em seus escritos fala da importância das representações da sociedade e como elas influem nas decisões que cada indivíduo toma,pode-se dizer que mesmo vivendo em grupo, os indivíduos perce-bem e atuam no meio conforme sua formação cultural, social, intelectual e econômica.

Diante dos aspectos por hora tratados entende-se que a intersubjetivação na relação homem e natureza vai além do simples fato de conhecer a realidade em foco, requer a aquisição de valores éticos e morais adquiridos nas relações que se estabelecem no seio familiar e posteriormente na relação social a qual o indivíduo está inserido.

eu posso tentar tornar presente para mim, assim mesmo e não de outra forma, na sua totalidade, sua unidade e unicidade, e no seu centro dinâmico que realiza tudo isto sempre de novo. (BUBER, 1982, p.148).

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ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL - DEZEMBRO DE 201104

AVALIO informativo da CPA – COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO da FPA

AÇÃOUm dos principais obje-tivos deste instrumento de

comunicação, é explicar a importância da avaliação institucional – principal objetivo da CPA – para o qual, o maior argumento é a possibilidade que a Instituição cria para elabo-rar sua auto-imagem e aquilatar a qualidade de sua ação. Além disso, não é possível participar dos avan-ços da ciência e formar seres humanos críticos senão fo-rem avaliadas a consecução das metas, os processos empregados e a utilização dos resultados. Neste intuito, a FPA por meio do seu jornal “O acadêmico” lança a proposta

deste pequeno porém não menos importante informativo da Comissão Própria de Avaliação, para que seja mais um canal de comunicação entre a Comissão e todos os setores instituicionais. Por tanto, prezados leitores, invadindo o espaço do próprio jornal, lançamos o convite para que todos participem de nossa AVALI , seja enviando dúvidas, sugestões, elogios, críticas, etc. etc. à redação do jornal o diretamente ao e-mail: .

Estaremos aguardando sua colaboração:

AÇÃO

[email protected]

SOMOS A FPA!!!

ATENÇÃO!!! EM BREVE você poderá responder ao QUESTIONÁRIO através do site da FPA (www.fpa.edu.br). Estamos trabalhando para que o diálogo, a participação e o envolvimento seja de todos, neste processo de Avaliação permanente da Faculdade Pan Americana, em benefício de todos os setores: discentes, docentes, funcionários e diretoria.

Vem aí o Centro de ex-alunos da FPA!!! AGUARDE...

Estas são algumas das melhorias conquistadas em 2011

· Implementação do novo sistema informatizado

“Amplus” para processamento de dados, elaboração

de diários, emissão de boletos bancários, etc.

· Instalação de três terminais informatizados de auto

atendimento

· Funcionamento pleno da OUVIDORIA e do

LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

· Criação da TV interativa, para divulgação das

atividades próprias da Instituição

· Compras de xxx livros para a Biblioteca “Juventina

Grando” da FPA

· Investimento para o atendimento dos profissionais

da Secretaria Acadêmica, do setor de Cobranças e da

Biblioteca

· Recepção da Comissão examinadora do MEC com

vistas ao Reconhecimento do curso de PEDAGOGIA,

obtendo o conceito 3 na avaliação geral

· Elaboração dos novos questionários avaliativos os

quais serão disponibilizados via on-line, através do

site no início de 2012

VOCÊ FAZ PARTE DESTE PROCESSO: JUNTE-SE A NÓS

www.fpa.edu.br

PARTICIPE DE NOSSA ENQUETE:

- VOCÊ GOSTOU DAS ATIVIDADES REALIZADAS NA SUA FACULDADE DURANTE 2011?- QUE OUTRAS ATIVIDADES VOCÊ PROPÕE PARA 2012?Deixe seu comentário na urna da CPA ou mande-o pelo e-mail: SUA COLABORAÇÃO É MUITO IMPORTANTE: PARTICIPE!!!

[email protected]

A CPA – COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO – DESEJA A TODOS:

ALUNOS, PROFESSORES, FUNCIONÁRIOS E DIRETORIA, UM FELIZ NATAL

E UM PRÓSPERO ANO NOVO, ESPERANDO CONTAR COM TODOS PARA A

EXECUÇÃO DOS TRABALHOS EM 2012, PRINCIPALMENTE FAZENDO DA

NOSSA FPA, A MELHOR FACULDADE DO NORDESTE DO PARÁ.

FELIZ 2012!!!

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ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL - DEZEMBRO DE 2011 05

(Respectivamente: Georges Lapassade, René Lourau, Félix Guattari, Gilles Deleuze & Michel Foucault)

A ANÁLISE INSTITUCIONAL FRANCESA EM QUESTÃO

A Análise Institucional é um movimento intelectual contemporâneo que se configurou na França em meados do século passado entre o pós-guerra e o pós-68 . Dev ido aos fa tos históricos ocorridos durante esse período os desdobra-mentos contestatórios às instituições sociais e huma-nas eram inúmeros. É dentro desse contexto que foi se gestando o institucionalismo, como ficou conhecido o movimento. A Análise Institu-cional é uma certa forma de compreender e de intervir na realidade social. É uma abor-dagem teórico-metodológica de intervenção sobre a realidade social a partir da análise e compreensão do funcionamento das relações instituídas nos grupos em organizações de trabalho, de saúde ou de educação. A

Análise Institucional não é uma ciência ou disciplina. É um conjunto não totalizável de escolas, correntes, abordagens e tendências que subscrevem o mesmo objetivo comum: deflagrar nos coletivos huma-nos processos de auto-análise e autogestão.

Para tanto, a estrutura social é analisada e compreen-dida em três grandes níveis: o nível do grupo (dos papéis sociais individuais), o nível da organização (das funções da organização) e o nível institu-cional (os papéis em situação prática das funções). Todos constituem sistemasparciais nos quais a Análise Institucional atua e intervém.É uma propos-ta singular de entender e de agir como um analista psico-lógico sobre as relações instituídas, dentro de uma perspectiva predominan-temente social e política do

trabalho em instituições. A Análise Institucional é um conjunto aberto e diversificado de teorias, práticas, expe-riências, saberes e afazeres que pretendem desencadear rup-tura com um certo modo cris-talizado de existência insti-tucional, contrapondo à aliena-ção a autonomianos mais diver-sos grupos ou coletivos sociais. A Análise Institucional toma por objeto os grupos e coletivos sociais no que se refere às lógi-cas das instituições que os re-gem, às formas concretas em que essas se materializam, às finalidades que perseguem e à medida que as alcançam, assim como aos expedientes que se dão para obtê-las.

A Análise Institucional ocu-pa-se, portanto, das institui-ções, organizações, estabele-cimentos e equipamentos (suas tecnologias), assim como dos agentes e práticas que estes

protagonizam. Consiste numa expressão extremada de questionamento da hegemonia do pensamento instituído (científico ou não), defendendo a fertilidade de todos os saberes, incluindo, por exemplo, os que existem em “estado prático nas atividades leigas”. A Análise Institucional possui suas raízes teóricas na interseção de diferentes disciplinas como a Psicologia Social, a Sociologia e a Pedagogia. Suas raízes práticas surgem a partir de uma diversidade de propedêuticasoriginais nas-cidas tanto nos campos “psi” (da Psicologia, da Psiquia-tria, da Psicanálise, da Psicoterapia), quanto na Pedagogia, abrigadas numa reunião diversificada de tendências teórico-metodo-lógicas e de práticas não-diretivas inovadoras.

Os principais expoentes de analistas institucionais são:o pedagogo Georges Lapassade (1924-2008) com as obrasGrupos, organizações, instituições (1974) e As microssociologias (1996); o sociólogo René Lourau (1933-2000) com a obra A Análise institucional (1970); o psiquiatra Félix Guattari (1930-1992) com as obras Revolução molecular: pulsações políticas do desejo (1981) e Micropolítica: cartografias do desejo (1985); o filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) com as obras A lógica do sentido (1969) e Diferença e repetição (1969); e o filósofo e historiador Michel Foucault (1926-1984) com as obras Nascimento da clínica (1963), Microfísica do poder (1979) e Nascimento da Biopolítica (1979). No Brasil, a difusão da Análise Institucional ficou a cargo

de Gregório Baremblitt (psiquiatra e psicanalista) em Compêndio de Análise institucional e outras correntes: teoria e prática (1992), de José Augusto Guilhon de Albuquerque (sociólogo e cientista político)em Instituição e poder: a análise concreta das relações de poder nas instituições (1980) e Metáforas da desordem: o contexto social da doença mental (1978), e de Marlene Guirado(psicóloga e psicanalista) em Psicologia Institucional (1987).

Michel de Vilhena Ferreira

Pedagogo pela UEPA& Psicólogo pela UFPA. Docente do Ensino Superior. Professor da Faculdade Pan Americana.

CRP: 3346/10. E-mail: [email protected].

A visita do MEC par avaliar o curso de Pedagogia permitiu para a equipe diretiva e corpo administrativo e pedagógico a possibilidade de renovação e certeza do compromisso assumido com nossos alunos. Tal momento é reflexo de uma caminhada que constantemente precisa ser renovada na certeza de que acertar vem a ser o objetivo central. Sabe-se que o reconhecimento por parte dos alunos para com os benefícios alcançados através da FPA foi de extrema importância para aprovação do curso. Hoje podemos dizer sem medo que o MEC concorda continuidade do trabalho que ao ser disponibilizado tem um corpo docente compromisso. Aproveitamos para agradecer a participação ativa dos envolvidos.

Proª. Msc. Giovana Cristina Pantoja de Souza - Coordenadora do Curso de Pedagogia da FPA

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ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL -DEZEMBRO DE 201106

A DIMENSÃO SIMBÓLICA DA SEXUALIDADE – O PRAZER COMO MATÉRIA FILOSÓFICA

Bacharel e Graduada em Ciências Sociais, Ênfase em Ciência Política –

Universidade Federal do Pará. Especialista em Sociologia e Educação Ambiental – Universidade do Estado do

Pará. Aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na Escola – Universidade

Federal do Pará. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Área

de Concentração em Bioantropologia – PPGA-UFPA.

As noções conceituais de "homem" e de "mulher" na sociedade brasileira abrigam o que, a partir da categoria "Gênero", entendemos por "masculino" e "feminino" no entorno da sexualidade, por assim dizer. No entanto, a dimensão simbólica dos termos engloba, a priori, aspectos da vida social que compõem percepções de caráter público e privado em sua totalidade e que, na medida do possível, precisam ser esclarecidos e interpreta-dos de acordo com o contexto social em que estão inseri-dos.

O caráter privado da sexualidade humana compre-ende escolhas (com quem devemos nos relacionar sexualmente, sentimental-mente, intimamente, etc.), parcerias de casamentos, namoros ou companheirismo, identidades sexuais da "pessoa" ou do "indivíduo" (para usar termos sociológi-cos) e o direito à liberdade de expressão garantida por Lei (CF), adentrando no caráter público (da sexualidade e da cidadania), que, entre outros prevê a proteção integral contra qualquer tipo de discriminação de cor, credo, manifestação política e, finalmente, sexual; que ecoa por todos os cantos a necessi-dade de viver dignamente sem preconceitos e que, aqueles direitos sexuais (como a luta contra a Homofobia) sejam, de fato, reiterados e seguidos pelos aparelhos ideológicos de Estado (sendo Althusseriana) e, entre eles, a Escola.

O estereótipo de "masculi-nidade" e "feminilidade" que a sociedade impõe a determi-nados sujeitos "gays" e "lésbicas" como o "homem afeminado" e a "mulher masculinizada" contribui para a reprodução do preconceito e da discrimina-ção de um aspecto que é privado, o "modo de ser de cada um de nós" (que deve,

para o "padrão heterossexual" ser "eminentemente homem macho" e "mulher fêmea" em " p a p é i s s o c i a i s p r é -determinados") como, por exemplo, no jogo de futebol feminino, na celeuma que afirma que: "O "goleiro" não é menina" e, numa atitude estapafúrdia, grupos de pessoas duvidam da identidade "biológi-ca" de uma jogadora que, ao querer exercitar o seu "direito" ao lazer (direito de todo cidadão e de toda cidadã), culmina na marginalização da "pessoa individualizada" em seu caráter privado na humilhação de "ter que provar" que é "mulher", como acontece rotineiramente em escolas, olimpíadas, copas, campeona-tos e outros eventos esportivos.

O corpo tanto do homem quanto da mulher possui diversos significados: simbóli-cos, sociais, culturais, psicoló-gicos, emocionais, etc. e é dotado de desejos, prazeres, valores, sentimentos, identida-des sexuais, direitos públicos e privados e, principalmente, engloba dimensões que são construídas ao logo do tempo histórico (que é dinâmico, mutável, pós-moderno) e que, simbolicamente, resguardam para cada ser humano, a possibilidade de um reconheci-mento coletivo da liberdade de ir e vir e da convivência social harmônica, do desenvolvimento de habilidades culturais e da compreensão da realidade social que compreende o mundo como diverso, diversidade que deve envolver a Escola e que através de "modelos de condu-ta" que deixam transparecer "efeitos de verdade" ressignifi-car histórias pessoais através do olhar reflexivo do combate à violência da discriminação sexual.A sexualidade é, sem dúvida, uma construção. Construção de valores "modernos", de condu-tas éticas, de um processo contínuo da percepção de quem somos em condições históricas, culturais e de interrelações humanas específicas, portanto,

contextualizadas localmente (como diria Geertz), sendo que o simbolismo da vida sexual - e humana - está coadunado com a conformação familiar, escolar, pessoal, pública, privada, de abstratação da realidade e da concretização de atitudes de combate à discriminação, como atua o Movimento LGBT Brasileiro que luta pelo direito à livre expressão e por Direitos Humanos, assim como da idéia do que vem a ser sexo (prática sexual), o sexo do corpo (gênero e fisiologia), a identi-dade de gênero (quem eu sou na sociedade), a orientação sexual (que não tem qualquer base "natural", absolutamente biológica) e também, o signifi-cado cultural e político de visibilidade dessa construção de sujeitos históricos, logo, sujeitos políticos e comprome-tidos com a dinâmica social, que deve ser exercitada também, na Escola (assim como em toda a construção da vida cotidiana) que levante a bandeira contra toda forma de dominação ideológica e hegemônica de poder, como diria Foucault em "História da Sexualidade I: A Vontade de Saber":

Desse modo, a construção da sexualidade é diária. Constante. Contra todas as f o rmas de poder, de discriminação, de preconcei-tos, de (i) legitimidade sexual e de imposições culturais, que devem ser analisadas na Escola de maneira clara, objetiva, madura, rotineira, sem medos ou valores tradicio-nais para que possamos por em prática todo o conteúdo teórico que adotamos como significante da vida social e, assim, ter alunos e alunas realmente livres de toda forma de discriminação.

"Dizendo poder, não quero significar 'o poder', como um conjunto de instituições e aparelhos garantidores da sujeição dos cidadãos em um estado determinado. Também não entendo poder como um modo de s u j e i ç ã o q u e , p o r oposição à violência, tenha a forma de regra. Enfim, não o entendo como um sistema geral de dominação exercida por um elemento ou grupo sobre o outro e cu jo s e fe i to s , po r derivações sucessivas, atravessem o corpo social inteiro. A análise em termos de poder não deve postular, como dados iniciais, a sobera-nia do Estado, a forma da lei ou a unidade global de uma dominação; estas são apenas e, antes de

Ariana Kelly Leandra Silva da Silva

mais nada, suas formas terminais. Parece-me que se deve compreen-der o poder, primeiro, como a multiplicidade de correlações de forças imanentes ao d o m í n i o o n d e s e exercem e constituti-vas de sua organização; o jogo que, através de lutas e afrontamentos incessantes as transfor-ma, reforça, inverte; os apoios que tais correlações de força encontram umas nas ou t ra s , f o rmando cadeias ou sistemas ou a o c o n t r á r i o , a s defasagens e contradi-ções que as isolam entre si; enfim, as estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas hegemonias sociais." (FOUCAULT, 1993:88-89).

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ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL - DEZEMBRO DE 2011

Editado pela Equipe de Comunicação da Faculdade PAN Americana.

Av. João Paulo II, nº xx, Fátima Capanema-Pa Cep 68700-000 Fone: 91 3462-4548

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Impressão:Gráfica: IDEMA Serviços Gráficos

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Tiragem:5.000 Exemplares

FACULDADE PAN AMERICANA – FPAMantenedora: IMES - INSTITUTO MISSIONARIO DE

EDUCAÇÃO SUPERIOR

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DIRETORA ADMINISTRATIVA-FINANCEIRAProf. Esp. Cleudimar Soares Milani

DIRETORA ACADÊMICAProf. Esp. Auréa Silva e Silva

DIRETOR DE PESQUISA E EXTENSÃOProf. Dr. Lucinaldo S. Blandtt

DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO E NEGÓCIOSAdv. Tarcisio Soares Milani

SECRETÁRIO ACADÊMICO/PESQUISADOR INSTITUCIONAL

Prof. Lionel Soares Milani

COORDENADOR ADMINISTRATIVODom Geraldo Santos de Magela Neto

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.

Diretor Superintedente: Prof. Dr. Lucinaldo S. Blandtt

Diretora de Redação: Profª Esp. Grazielle Leal

Edição Gráfica: Ivan Nazareno

Jornalistas:

- Albenize Maciel

- Carmeci Mendes

- Francilma Bulhões

- Márcio Douglas

- Márcio Mota

- Maria de Fátima

- Solange Sousa

LEITURA INSTITUCIONALISTA DO FILME “PATCH ADAMS – O AMOR É CONTAGIOSO”

Um suicida é internado em uma clínica psiquiátrica após a sua última tentativa frustrada. Lá ele descobre que os pacientes precisam ser vistos com outros olhos, de outras formas para fazê-los felizes e assim melhorar sua qualidade de vida. Depois disso, ao sair da clínica, o rapaz resolve estudar medicina para ajudar as pessoas. Ainda na faculdade, Hunter Adams, conhecido como "Patch", adota métodos nada hortodoxos no trato com os doentes. Instaura-se assimuma discussão acerca das práticas instituídas e instituintes como o cerne da questão central no filme. Essa questão do filme tenta demonstrar que o conjunto de tendências, saberes e afazeres, enfim, de certas práticas instituintes são capazes de provocar, de deflagrar nos grupos de diversos setores (institui-ções, organizações, estabe-lecimentos, etc.) processos de auto-análise e autogestão (auto-escolha) dos processos e das práticas que aí irão se conf igurar.Essas novas formas de saberes, afazeres e práticas que se articulam nesses ambientes, num hospital ou numa escola, por exemplo,podem contribuir c om mecan i smo s que auxiliam efetivamentena consolidação de uma cons-ciência autocrítica, emanci-patória e desalienante nas pessoas que atuam nesses grupos, como ainda as que podem para com ele colabo-rar. Fugindo, desse modo das formas tradicionais de se gerir a vida em grupos e em s o c i e d a d e , r e v e l a d a s p r i n c i p a l m e n t e p e l a s práticas e pelos afazeres já constituídos e instituídos nesses espaços.

Em diversos campos profissionais e nos lugares onde esse profissional atua, ou seja, em uma instituição, seja ela educacional ou não, existem duas importantes

domínios no qual sua atividade irá se dar: ou no do instituído e ou no do instituinte. O instituí-do é o efeito, o resultado da atividade instituinte, enquanto que o instituinte apresenta-se como um processo. O instituin-te transmite uma característica dinâmica, enquanto que o instituído transmite uma característica estática. Esse processo é “essencialmente cambiante, mutativo; então, para que os instituídos sejam úteis, sejam funcionais na vida social, eles têm de estar acompanhando a transforma-ção da vida social mesma para produzir cada vez mais novos instituídos que sejam apropria-dos aos novos estados sociais” (BAREMBLITT, 1996, p. 32).É exatamente o que se observa no filme, na medida em que Patch identifica as demandas sociais das pessoas que estão passando pelo que ele passou. Foi, portanto, a partir da auto-análise de Patch sobre o que era praticado nos hospitais (institu-ído) que ele começa uma tentativa que se transforma em uma verdadeira cruzada rumo às mudanças nos critérios e nas maneiras de atendimento do hospital (instituinte), causando polêmica junto aos órgãos

reguladores da atividade médica, que passam a assumir até mesmo uma aceitação perante o que se quer instituir. Também se observa no filme que ocorre uma resistênciadas práticas efetuadas por Patch por parte da direção do hospital e da universidade. Ocorre até mesmo uma resistência do amigo de quarto que não aceita o estilo de Patch, assumindo a postura de uma espécie de “agente do instituído”, encer-rando uma associação com o sistema e com a ordem instituí-da, onde o instituinte aparece

como atividade revolucioná-ria, criativa, inovadora e transformadora por excelên-cia. Nesse sentido, podemos observar e estender os mesmos tipos de questões como essas dentro do espaço escolar, do contexto microe-ducativo, como por exemplo, na intimidade da relação professor-aluno,onde mais comumente irá se dar a “luta”, o jogo de forças entre as duas vertentes (instituído e instituinte). É necessário que a educação, mais precisamente na figura do professor, esteja consciente dessas relações utilizando-se desse ângulo de visão teórica que irá se manifestar direta-mente em suas práticas d e n o m i n a d a A n á l i s e Institucional.

Título Original: Patch Adams. Gênero: Drama. Direção: Tom Shadyac. Elenco: Robin Williams (Hunter "Patch" Adams), Daniel London (Truman Schiff), Monica Potter (Carin Fisher), Philip Seymour Hoffman (Mitch). Ano de Produção (EUA): 1998. Tempo de Duração:114 minutos. Formato: DVD

REFERÊNCIA

BAREMBLITT, Gregório F. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática. 3 ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1996.

Michel de Vilhena Ferreira

Pedagogo pela UEPA & Psicólogo pela UFPA.

Docente do Ensino Superior. Professor da Faculdade Pan Americana.

CRP: 3346/10. E-mail: [email protected].

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ANO - I/Nº 04 - CAPANEMA-PA - BRASIL - DEZEMBRO DE 201108

Quando se pensa em linguagem ou em lingüística, pensa-se única e exclusi-vamente em uma montanha de regras gramaticais que tenham de sistematizar um universo chamado língua. É válido ressaltar de antemão que a gramática não é a língua, e sim, um dos campos de estudo do signo lingüís-tico. A gramática está no mundo como a semiótica, a pragmática, a didática e tantos outros saberes que nos ajudam a entender a sociedade em que vivemos. O conceito de língua é um tanto quanto complexo e de difícil aceitabilidade, pois, precisa-se levar em conta de onde está se falando e qual o objetivo de tal atitude.

A língua pode ser enten-dida como um código comum dentro de uma comunidade que respeita diversos fatores como nível social, gênero, idade, escolaridade, entre outros. Ou pode ser um barulho. É isso mesmo, a língua pode ser entendida como um barulho. Imagine-mos que um brasileiro que nunca ouviu a língua árabe, por curiosidade entra em uma página da internet para assistir a um telejornal naquela língua. Ele enten-derá apenas ruídos, sons, barulhos sem sentidos para seu mundo. Esta situação é diferente quando o sujeito já estudou ou já interagiu de alguma maneira com algum falante desse idioma.

Marcos dos Reis Batista

UM POUCO DE FILOSOFIA E LINGUAGEM

Graduado em Letras (Língua germânica), Especialista em Ensino-

aprendizagem de português como língua estrangeira/língua segunda, é

Mestre em Letras (Linguística - Ensino-aprendizagem de Línguas).

Atua como professor de alemão, italiano e português como língua

estrangeira, tradutor português/italiano, português/alemão,

pesquisador no campo da interculturalidade e ensino de línguas

e coordena o Curso de Letras da Faculdade Pan Americana.

Os primeiros filósofos não refletiam sobre a língua e, sim, sobre a linguagem. A língua é um dos ramos do complexo universo chamado linguagem. A linguagem foi tratada na Grécia, desde Homero, apesar de não haver ainda nenhuma reflexão teórica acerca dela. Os antigos gregos entendiam a linguagem como uma realidade sonora e que, para Homero, a ação seria praticada a partir daquilo que se fala e daquilo que se faz. Em Hesíodo isso não acontece, ele não narra acontecimentos, como Home-ro. Hesíodo passa, por meio da fala, aquilo que lhe é revelado pelas musas. São a elas que se confere o vero ou falso do que é expresso e, assim se instaura uma ordem por meio das palavras. A poesia é uma fala ditada pelas musas, mas ao lado da mesma, se desenvolve também a retórica, por meio da qual cada ser humano pode se expressar. São duas formas de linguagem e é delas que surge o discurso filosófico preocupado com o princípio das coisas. Na segunda metade do século V a.C. se desenvolve o que se chama hoje de sofística que tem como preocupação funda-mental a formação política. Os sofistas não tinham como objetivo ensinar o vero, mas uma arte da fala, a persuasão, com um caráter englobante que é a posteriori criticado por Platão.

A linguagem se constrói a partir das proposições. Este fato tem levado os filósofos,

desde a antiguidade até nossos dias, a exigirem uma noção ma i s p rec i sa do te rmo “proposição” dando surgimento à várias teorias da proposição. Platão não aprofundou esta questão, mas a fundamentou dando início a uma discussão sobre o conceito de proposição nas suas obras Crátilo e Sofista.

Ao tratarmos do debate Filosofia e Linguagem, é ne-cessário considerarmos a com-plexidade da dimensão humana e da sua criatividade. A dimen-são humana pode ser vista e colocada a prova quando nos deparamos com as mais diver-sas culturas pelo mundo, espa-lhadas nele ou juntas nele. Um aprendente africano um dia nos dizia que o ser humano era e é um ser fascinante, onde temos a mesma cor no sangue, mas mundos diversos. Temos os mesmo traços, mas somos diferentes. A criatividade hu-mana se dar quando nos deparamos com o desenvol-vimento das mais diferentes formas de expressão.

Entre as muitas formas de expressão, peguemos o texto como exemplo. Ele – que por muito tempo se resumia em sua forma escrita. Pois, originou-se em uma sociedade de cultura escrita – passou a ser entendido de um modo mais amplo e hoje alguns estudos apontam para o texto-discurso. Ou seja, aquele que não precisa de papel e tinta, mas de um teor muito mais profundo e consistente, que são as idéias. Estas por sua vez podem construir pontes

entre povos ou criar muros. Desse modo, a linguagem po-de ser entendida como uma dimensão supra-humana em que o ser demonstra pelos mais diferentes recursos maneiras de agir e pensar.

Por fim, chegamos pon-tualmente em nosso campo de atuação profissional que cuida da formação de do-centes para o ensino de lín-guas. Ainda nos deparamos com aprendentes e colegas que não atentaram para a di-mensão supra-humana – que é entendida neste trabalho como o ser em sua dimensão interior e exterior. O acordar para o entendimento da lin-guagem como fator pre-ponderante para a formação do cidadão que constrói uma nação é de fundamental importância para aqueles que cuidam do nosso bem maior: a educação. Uma formação que leve em conta os primórdios de Platão, todo o legado dos filósofos clássicos e tantos estudos que apontam para uma visão plural diante do nosso objeto maior que é a vida.