cap. passarelli (2012)

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Trata, em suma, da utilização da escrita em diferentes veículos e contextos.

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  • 3. Essa preciosa advertncia [e outras tantas._.] me foi dada pelo Professor JooWanderley Geraldi por ocasio da leitura que fez deste livro para prefaci-lo.

    Geraldi,3 O fato de no constar no editorial o registro fsi-co da autoria significa que ele assinado pela instituiojornalstica. Por tratar-se do gnero de opinio do jornale, por isso mesmo, assumido corno institucional, muitomais do que as reportagens ou notcias no assinadas, emque aparecem fontes e s vezes as agncias noticiosas,talvez o editorial seja o mais assinado de todos os textosveiculados nessa esfera de atividade discursiva.

    Tambm a ttulo de exemplificao dos recursos ex-pressivos empregados no texto, no 70 pargrafo, com baseno repertrio social, possvel interpretar a relao esta-belecida entre o que acontece nas reas centrais da cidade,e o videoclipe de Michael]ackson serve para descrever oestado horroroso e lamentvel em que se encontram osusurios de crack.

    Outra atividade significativa em relao aos recursosexpressivos a de identificar a funo de ocorrncias denatureza lxico-semntica, como a criao de termos novos.Em "Aqui surgiu a tristemente famosa cracolndia", a pala-vra grifada, um neologismo, isto , uma rfova palavra criadapara atender necessidade de expresso dos falantes, foicomposta para dar nome a uma regio onde muito grandeo consumo da droga e tem o significado de terra do crack.

    O efeito de sentido produzido pelo uso intencional demecanismos de notao tambm contribui para o que podese constituir em bom exerccio de natureza epilingustica.No editorial em tela, as aspas so empregadas ao longo dotexto com diferentes finalidades, quais sejam: 1Q pargrafo

    - realar palavra empregada em sentido figurado comosinnimo da droga; 4 pargrafo - sinalizar palavra dalinguagem dos drogados, cujo emprego descreve o estadoem que eles ficam quando no a consomem; 7 pargrafo- assinalar ttulo do videoc1ipe.

    Esse tipo de exerccio contempla a construo de sa-beres lingusticos utilizveis em situaes da vida prtica,que, para Coseriu (1992), so os saberes sobre conheci-mentos atinentes s normas de uso da linguagem: o quese fala, com quem se fala e em que ocasio se fala. A cons-truo desses saberes produtiva tanto para o aluno seapropriar das caractersticas dos gneros textuais que ser-vem de base para as propostas, como para o professorprodutor da proposta de produo textual.

    Pensando nesse papel do professor, que tambm temde redigir textos claros e coerentes para que seus alunosfiquem de fato orientados quando forem produzir seustextos, apresento a lista de pontos que o professor tem decontemplar. necessrio certo esclarecimento antes deiniciar o trabalho.

    comum que o professor utilize o ttulo da redao parafornecer instrues, mas nem sempre o ttulo oferece pistassuficientes para que sejam esclarecidas todas as caracters-ticas do texto. Toda vez que o aluno l a proposta e precisade esclarecimentos adicionais do professor para dar inCio escrita, sinal de que a proposta no est bem redigida.

    Para encaminhar a tarefa, deixando os alunos menosinseguros, este outro quadro, elaborado articuladamenteao Quadro 3, apresenta os elementos que devem estarpresentes na proposta:

    , ,,

    137ENSINO ECORREAo NA PRODUO DE TEXTOS ESCOLARESLfLlAN GHIURO PASSARELLI136

  • Alm do tradicional gnero redao escolar, tambm conhe

    cido por texto dissertativoargumentativo e texto narrativo, temsido solicitados na escola outros gneros, tais como artigo deopinio, carta de leitor, receita, crnica, notcia, currculo, poe

    Que formallla, e-mail..

    Gnero textual Visto que um mesmo tema pode ser materializado sob difeter o texto? rentes formas, como os gneros que constam no pargrafo anterior, o aluno precisa dessa informao para, em funo das intenes comunicativas, organizar o gnero que lhe solicitadodentro de suas caractersticas mais peculiarmente estveis e para

    alcanar o que pretende.

    importante que o professor esclarea aos alunos a noosobre tipologia textual, o que implica a predominncia, por

    exemplo. do tipo argumentativo.Por ser o argumento uma manifestao lingustica que inclui

    uma assero capaz de levar a uma concluso. enyoh'e a eOllsltTuo de 3rgulnentos COl1\'incentes e persuasl\'os para sustl't1tar :

    O aluno precisao ponto ele vista defendido. Se o gner~ for um artigo de. t.1Pini"O.\

    Tipo textual emsaber qual o tipo

    por exemplo, preelomlnantemente lia a presena do tipo '11~11'

    predominncia: mentHtivo; se for UIna carta de leitur, t;.unbI1l: um3 n:Lcit~1. in !

    argumentativotextual que tem de juntivo; UTIln crnica e uma notcia. narrativo; um currl..:ulo. \ser contemplado?

    descritivo. I

    Ateno especial dispensese ao advrbio "preelominantemente", uma vez que, como no h texto puro, sequncias

    narrativas e/ou descritivas, por exemplo, podem complo - daa perspectiva bakhtiniana da relativa estabilidade dos gneros

    textuais. Alis, via de regra, raro o texto em cuja composio

    no aparece o descritivo.

    O aluno precisa ser informado do destino desse texto, isto

    Onde ci rcular, em que situao circular e em que suporte ser acomodada

    Veiculao: a ltima verso, pois, ao ser informado com clareza sobre osituao o texto? contexto de circulao, ainda que se trate de um exerccio esco

    comunicativa Onde ser 1(~r que somente ter como leitor o professor, isso tambm tempblica publicado? de ser esclarecido para o aluno dar incio escrita sem ter de

    ficar perguntando o que quer que seja ao professor.

    Ter cincia do pblico-leitor fundamental, pois sempre se

    escreve algo para algum. At mesmo textos que tm como alvoleitores desconhecidos, em funo do script a ser seguido porcausa da situao comunicativa, possvel ter em mente um

    leitor preconcebido.

    Quem ler?Se a situao comunicativa criada pelo professor pressupu-

    ser outros leitores que no somente o prprio professor, o en-

    Relao entreO professor? volvimento e a motivao podem ser mais promissores para o

    A turma? aluno escrever o texto. Dessa forma, oportuno que se especi-participantes A comunidadeda situao escolar?

    fique explicitamente o destinatrio e que a escolha no recaia

    comunicativaAlgum de

    sempre no professor.O papel de quem escreve depende do objetivo e do gnero

    fora da escola? do texto. Se o objetivo do texto, por exemplo, for discutir um

    tema polmico, espera-se que o redator argumente de formaconvincente e persuasiva. Para tanto, poder assumir a primei-ra pessoa (do singular ou do plural) ou esconder-se por detrsda pretensa neutralidade, expressa pela terceira pessoa do

    Quer seja um ou mais objetivos, o aluno precisa estar devi

    damente informado, para que, posteriormente, durante a avaliao, professor e aluno verifiquem se o que estava na propostafoi atingido ou no.

    Por exemplo: se foi estabelecido para o estudante escreveruma carta manifestando sua opinio sobre algo, como o foi noVestibular Unificado 2012, da PUC-SP, e o estudante redigir um

    O que se pretende? texto dissertativo-argumentativo, bvio que o produto apresen-Discutir um tema? tado no est de acordo com o gnero solicitado e, portanto, no

    Contar uma atende aos objetivos que assim foram enunciados na proposta:Funo social histria?

    Usalldo um pseudl/imo, redija lima carta presidel/teou propsito Organizarcomunicativo informaes?

    Di/ma Rousseff, su,qeril/do-lhe qual deve ser a prioridade

    Convencer algumde'>fI( governo, para rea/mfl1tf marcar seullome lia hist'ria do Brasil. Use argumentos necessrios para cOllvenc-la

    sobre algo?de que slla sugesto real mell te re/emltle.

    Entreter/divertir?Por se tratar de propsito comunicativo destinado a mani-

    festar opinio, configurando-se, assim, em funo utilitria, aconstruo da argumentao tambm pode se basear em procedimentos que elogiem a presidente pelo fato de ser a primeiramulher a galgar esse posto, alm de sensibiliz-la para que acei-te os argumentos apresentados, o que tem a ver com a funoes t tica que tambm compe o propsi to com unica tivo da carta.

    O assunto sobre o qual o texto ser produzido a matria-pri-ina. Quanto mais o produtor do texto conhece o assunto, maisfacilitada se torna a atividade. Muitas vezes, o estudante no temmuita familiaridade com o assunto, mas a proposta oferece textoscom informaes que servem para o aluno expandir seus conhe-

    NaturezaQual o assunto

    cimentos a respeito do que vai desenvolver. No caso da propostad a informao

    do texto?usada como exemplo, dois textos a compem: um excerto do pro-

    ou contedo nunciamento ela presidente ao assumir o cargo e elado do Censode 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (lEGE).

    Alm disso, frequentemente, o objeto da produo textualpode ser deduzielo a partir de um tema ou ttulo. Um bom temaou ttulo poelero gerar uma discusso, o quej um modo decomear a trabalhar.

    A situao comunicativa e o tipo de relao entre os interlocutores norteiam a opo pelo registro mais indicado e, emfuno da natureza da situao, que define o grau de proximi-dade ou distanciamento entre os participantes, os usos lingus-ticos com os quais o texto construdo diferem. Se o pblico-al-vo composto por jovens, o texto tem de se apresentarcondizentemente a esse tipo de interlocutor. Quanto mais oprodutor do texto considera o perfil de seu leitor, melhor pode

    Registro Com qual ficar O produto textual, da a relevncia de levar em considerao

    lingustico em registro deve o nvel social e a formao, entre outros fatores, do destinatrio.uso na situao ser construdo Retomando o exemplo da carta presidente Dilma Rousseff,

    interlocutiva o texto? natural que o registro seja o mais formal possvel, mesmo queo candidato se assuma como algum do povo. Pessoas cuja esco-laridad" no tenha sido a ideal sabem perfeitamente que comautoridades o comportamento tem de ser mais formal - querseja lingustico, quer referente s regras sociais.

    No se trata, portanto, de somente atender norma culta,mas principalmente de ter em conta que a situao comunicati-va estabelece uma interlocuo com pessoas hierara1JiC::lm"ntp

  • Como o professor o grande agente para desencadearmudanas, ele quem deve conferir a requerida e devidaateno ao conjunto de relaes peculiar e constitutivo dascondies de produo textual, considerando os recursosexpressivos mobilizados quando da construo de textos,e o aluno aprimore sua capacidade de produzir seu prpriodiscurso na produo textual que escreve e o revele emoutros contextos situacionais de escrita.

    Se os alunos tiverem acesso aos critrios de avaliao ado-tados pelo professor, eles podero canalizar suas energias pro-dutivamente. Tais critrios esto diretamente relacionados aoselementos anteriores e variam de proposta para proposta, po-dendo variar, tambm, conforme o gnero de texto solicitado.Estabelecidos com bastante clareza pelo professor, devem servircomo norteadores tanto para ele prprio como para o aluno.Observ2-los papel do professor que deseja criar um clima fa-vorvel de trabalho, compatvel com a natureza complexa datarefa de escrever.

    Como a produoEm funo dos elementos anteriores esti a extenso do

    textual sertexto. Aqui entra a questo relacionada ao equilbrio quantidade/

    Critrios de corrigida?qualidade. Nem sempre escrever muito resulta em bom texto. Adefinio de um dado nmero de linhas pode estar relacionada

    correo Que tamanhoaos objetivos e ao tempo disponvel.

    o texto deveExemplificando ainda com base no exemplo do Vestibular

    apresentar?da PUC-SP, alm de haver novamente instruo sobre o nome aser adotado pelo candidato - "Use um pseudnimo para assinarsua carta" -, constava o seguinte: "Seu trabalho ser avaliadode acordo com os seguintes critrios: esprito crtico, clareza ecoerncia compatveis com o gnero textual solicit:ado e com asituao comunicativa."

    Obviamente o que se espera que o texto apresente a estru-tura e os elementos composicionais tpicos do gnero cartaformal, alm da relevncia do que o candidato eleg:e para apon-tar como prioridade no governo Dilma.

    QUADRO 5. Elementos da proposta de produo textual.

    ENSINO E CORREO NA PRODUO DE TEXTOS ESCOLARES 141

    Ao defender a ideia de que ressignificar o ensino daescrita pela interveno mediadora do professor para aconstruo de um sujeito-autor em lugar de uma prticahigienista, o pressuposto bsico a interao construti-va. Mas isso ter mais sentido se o professor considerare levar para sua prtica pedaggica que a escrita umprocesso. Consciente de que a assuno de tais pressu-postos requer um empenho e dedicao maiores e dascondies nem sempre ideais que permeiam a atuaodo professor, as sugestes deste captulo so relevan tes,mas no pretendem resolver a problemtica que envolveo ensino da escrita.

    (