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AS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL NO APL CALÇADISTA DE CAMPINA GRANDE - PB VALTERCIO ARAUJO DE ALBUQUERQUE (UFPB) [email protected] Maria de Lourdes Barreto Gomes (UFPB) [email protected] Ricardo Moreira da Silva (UFPB) [email protected] Inocencio Avelino Padilha (UFPB) [email protected] O presente artigo tem por objetivo identificar práticas de sustentabilidade empresarial no APL Calçadista de Campina Grande - PB, cuja pesquisa foi financiada pelo CNPq. Para tanto, utilizou-se como base o modelo triple bottom line (tripé dda sustentabilidade) proposto por John Elkington (1997), o qual compreende três dimensões da sustentabilidade: people, planet e profit (dimensão social, ambiental e econômica). Em termos metodológicos, o estudo contemplou tanto a pesquisa bibliográfica como a pesquisa de campo, podendo ser caracterizada como descritiva e conduzida sob a forma de estudo de caso. A coleta dos dados foi realizada através de um questionário, e a complementação das informações foi feita mediante a análise de dados históricos das empresas no que diz respeito a crescimento, investimento, financiamento, processos produtivos, como também pela observação in loco. Os resultados do estudo demonstram que as empresas pesquisadas ainda não atentaram efetivamente para a sustentabilidade empresarial, exercendo, ainda de maneira incipiente, práticas direcionadas a essa temática. Recomenda-se que o APL Calçadista de Campina Grande busque formas de implementar a sustentabilidade empresarial, através de práticas efetivas que integrem aspectos sociais, ambientais e econômicos para que promovam o seu desenvolvimento sustentável e conquistem uma maior parcela no mercado em que estão inseridas. Palavras-chaves: arranjo produtivo local; sustentabilidade social; sustentabilidade econômica; sustentabilidade ambiental; triple bottom line; tripé da sustentabilidade. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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AS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE

EMPRESARIAL NO APL CALÇADISTA

DE CAMPINA GRANDE - PB

VALTERCIO ARAUJO DE ALBUQUERQUE (UFPB)

[email protected]

Maria de Lourdes Barreto Gomes (UFPB)

[email protected]

Ricardo Moreira da Silva (UFPB)

[email protected]

Inocencio Avelino Padilha (UFPB)

[email protected]

O presente artigo tem por objetivo identificar práticas de

sustentabilidade empresarial no APL Calçadista de Campina Grande -

PB, cuja pesquisa foi financiada pelo CNPq. Para tanto, utilizou-se

como base o modelo triple bottom line (tripé dda sustentabilidade)

proposto por John Elkington (1997), o qual compreende três dimensões

da sustentabilidade: people, planet e profit (dimensão social, ambiental

e econômica). Em termos metodológicos, o estudo contemplou tanto a

pesquisa bibliográfica como a pesquisa de campo, podendo ser

caracterizada como descritiva e conduzida sob a forma de estudo de

caso. A coleta dos dados foi realizada através de um questionário, e a

complementação das informações foi feita mediante a análise de dados

históricos das empresas no que diz respeito a crescimento,

investimento, financiamento, processos produtivos, como também pela

observação in loco. Os resultados do estudo demonstram que as

empresas pesquisadas ainda não atentaram efetivamente para a

sustentabilidade empresarial, exercendo, ainda de maneira incipiente,

práticas direcionadas a essa temática. Recomenda-se que o APL

Calçadista de Campina Grande busque formas de implementar a

sustentabilidade empresarial, através de práticas efetivas que integrem

aspectos sociais, ambientais e econômicos para que promovam o seu

desenvolvimento sustentável e conquistem uma maior parcela no

mercado em que estão inseridas.

Palavras-chaves: arranjo produtivo local; sustentabilidade social;

sustentabilidade econômica; sustentabilidade ambiental; triple bottom

line; tripé da sustentabilidade.

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

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1. Introdução

Uma das principais tendências que vem se intensificando na economia moderna sob o marco

da globalização e do processo de reestruturação industrial, são as formas de relações intra e

inter empresas, particularmente aquelas envolvendo micro, pequenas e médias organizações

próximas geograficamente e pertencentes a uma mesma cadeia produtiva.

A literatura que examina a importância do relacionamento intra e inter empresas, quer seja na

forma de redes, clusters, arranjos produtivos locais (APLs), entre outras denominações, é

vasta. Diversas pesquisas se concentram no mapeamento dessas aglomerações, não só para

compreender a sua formação, seu funcionamento ou os atores que dão suporte ao seu

desenvolvimento, mas também para apurar a importância das interações e verificar o tempo

necessário para que se tornem eficientes.

Segundo a Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos do Instituto de Economia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – RedeSist (2010), APLs são aglomerações

territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto específico de

atividades econômicas que apresentam vínculos e interdependências. Esta definição inclui

vários segmentos que vão desde as empresas produtoras de bens a empresas prestadoras de

serviços. Abrange, também, instituições públicas e privadas que podem dar suporte aos APLs

como aquelas voltadas para a formação e capacitação de recursos humanos (escolas técnicas e

universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.

A literatura relacionada a APLs dá ênfase a aglomerações de empresas, interação e

interdependência entre elas. Os APLs devem estar inseridos em um ambiente favorável ao

surgimento de novas empresas, com ações voltadas para a cooperação e para o

desenvolvimento de estratégias competitivas. Além disso, requerem, para o seu bom

funcionamento, estoque de conhecimentos, habilidades e capacidade de instituir políticas

democráticas de confiança para promover a articulação de várias formas de relacionamento e

ações em comum.

Optou-se pelo segmento industrial calçadista, especialmente devido ao comportamento

vivenciado pelo setor, no período marcado por significativas mudanças decorrentes da

competição globalizada, pleno desenvolvimento tecnológico e incorporação, pelas empresas,

de novos paradigmas gerenciais.

No Estado da Paraíba, as indústrias de calçados surgiram nos anos 60, e se consolidaram nos

anos 90, apresentando crescimento tanto em números de empresas, quanto na absorção de

mão-de-obra. Além disso, destaca-se a abrangência de mercado e as mudanças no padrão dos

produtos, desde os calçados simples, para o consumo local, no inicio da atuação das empresas,

à exportação dos mesmos para o mercado nacional e internacional.

Este artigo tem como foco o APL do segmento calçadista pelos seguintes motivos: o primeiro

está relacionado à predominância desses arranjos no segmento industrial de calçados na

região de Campina Grande-PB. O segundo motivo, de caráter mais geral, é a importância

socioeconômica que tem sido atribuída ao APL do segmento de calçados nessa região.

Informações do SEBRAE (2008) indicam que o mesmo possui um potencial ímpar na

economia local, englobando a possibilidade de gerar empregos e condições de expansão e,

consequentemente de desenvolvimento de áreas ignoradas pelas políticas governamentais,

entre outros.

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Contudo, faz-se necessário estudos voltados para análise da existência de práticas sociais e

ambientais, além da econômica. Observa-se que a indústria calçadista local é constituída, em

sua maioria, por empresas de pequeno porte, o que desperta uma preocupação em relação aos

impactos que causam ao meio ambiente, na medida em que apresentam produção considerável

e, paralelamente, ainda não possuem sistemas de gestão ambiental.

Diante do exposto, as empresas precisam se reestruturar para se adequarem as pressões sociais

e restrições impostas, forçando-as a buscar formas de reduzir seu impacto ambiental e a

melhorar sua imagem frente a sua responsabilidade social. (CORAL, 2002).

Para Buarque (1999), o alcance da sustentabilidade requer um processo de mudança social e

elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o

crescimento e a eficiência econômica, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a

equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre

gerações.

Neste contexto, este artigo aborda está questão ao identificar práticas de sustentabilidade

empresarial no APL Calçadista de Campina Grande – PB. Para tanto, utilizou-se como base o

modelo Triple Bottom Line (Tripé da Sustentabilidade) proposto por John Elkington, o qual

compreende três dimensões da sustentabilidade: people, planet e profit (social, ambiental e

econômica), para tal esse foi estudo descritivo conduzida sob a forma de estudo de caso,

através de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, observando as dimensôes assinadas

por Elkintgton (2012).

Houve uma amostra representada por 16 empresas localizadas nos bairros de Bodocongó (4

empresas) , José Pinheiro (8 empresas) e Santo Antônio (4 empresas) e a coleta dos dados foi

realizada através de um questionário elebaorado com as variáveis que compõem o modelo de

sustentabilidade, o qual compreende: sustentabilidade econômica, ambiental e social..

A complementação das informações foi feita mediante a análise de dados históricos das

empresas no que diz respeito a crescimento, investimento, financiamento, processos

produtivos, como também pela observação in loco. Utilizou-se, também, uma abordagem

quantitativa (análise estatística descritiva, tabelas e gráficos) de modo a dar suporte aos

aspectos mensuráveis das empresas pesquisadas, e de uma abordagem qualitativa com base na

bibliografia utilizada.

2 Arranjos produtivos locais - APLs

Segundo Cassiolato e Szapiro (2002) um sistema produtivo local é definido como uma

aglomeração de agentes econômicos, políticos e sociais, que estão inseridos numa mesma

localidade territorial e, além disso, articulam-se e interagem de forma cooperativa, ou seja, um

sistema de inovação representa um conjunto de instituições diferentes que isoladamente ou

em grupo, desenvolvem e difundem tecnologias e a partir dos quais os governos formam e

implementam políticas com o objetivo de influenciar os processos inovativos.

Já por arranjo produtivo local (APL) caracterizam-se os aglomerados produtivos cujas

relações entre os agentes locais não são tão eficientes ou desenvolvidas a ponto de

caracterizarem um sistema, embora haja fortes vínculos devido à localização e instituições

(NELSON; WINTER, 2002).

Em sua dimensão extensiva, o conceito de APL compreende: um conjunto de produtores de

bens/serviços finais, fornecedores de matérias-primas, insumos e equipamentos; distribuidoras

e comercializadoras; trabalhadores e consumidores; organizações de capacitação de recursos

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humanos, informação, engenharia, P&D; apoio/promoção/financiamento; cooperativas,

associações/sindicatos e demais órgãos de representação patronal, sindical ou outras,

governos e movimentos sociais (CAVALCANTI FILHO et al, 2009).

A tipologia apresentada por Cassiolato e Szapiro (2002), dá ênfase à territorialização,

explicando que a mesma está ligada a interdependências específicas da vida econômica muito

além da simples localização. Segundo os autores, a territorialização envolve relações de

dependência em relação a recursos localmente específicos, que podem incluir desde recursos

característicos de determinada região, disponibilidade de trabalho especializado até as

relações empresas-mercado. Uma atividade pode ser considerada de alta territorialidade

quando sua viabilidade econômica está intimamente ligada a recursos que não estão

disponíveis em outros lugares. Há também casos em que o grau de territorialização está

fortemente ligado ao destino de sua produção.

O reconhecimento da importância das vantagens de aglomeração, fundada numa

especialização produtiva, é antigo em economia e já está presente nos escritos de Alfred

Marshall no início do século XX (distritos marshallianos). Tais vantagens derivam da

ocorrência de economias externas às empresas e implicam em redução de custos e eficiência

coletiva a partir do compartilhamento da infraestrutura, canais de distribuição, escoamento da

produção (comercialização), facilidade de acesso a insumos, presença de fornecedores de bens

e serviços, bem como do aprendizado coletivo (PROJETO DE PESQUISA BNDES /

FUNPEC, 2010).

3 Sustentabilidade empresarial

É preciso expor que há uma discussão sobre o conceito de desenvolvimento sustentável e

sustentabilidade, apresentam-se a seguir as duas visões. A primeira refere-se ao fato de que o

desenvolvimento sustentável é comumente associado à expectativa de um país que entra numa

fase de crescimento que se mantém ao longo do tempo. A segunda trata a sustentabilidade

como a capacidade de autossustentar-se, de automanter-se. Uma atividade sustentável

qualquer é aquela que pode ser mantida por um longo período, para não se esgotar nunca,

apesar dos imprevistos que podem vir a ocorrer. (ARAÚJO; MENDONÇA, 2009)

O rápido crescimento demográfico, somado ao consumo sem moderação dos recursos naturais

do planeta, a degradação do meio ambiente e a persistência da pobreza, da injustiça e da

violência em grande parte da humanidade, exige da sociedade ações corretivas ao modelo de

crescimento econômico. Diante dessa constatação, surge a ideia do desenvolvimento

sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental e,

ainda, ao fim da pobreza no mundo. (KRAEMER, 2003)

De acordo com Almeida (2002), uma empresa para ser sustentável deve buscar em todas as

suas ações e decisões a ecoeficiência, procurando produzir mais e com melhor qualidade

gerando menos poluição e utilizando menos recursos naturais. A empresa que é partidária dos

princípios da sustentabilidade deve ainda ser socialmente responsável, assumindo que está

imersa num ambiente social em que influi ao mesmo tempo em que sofre influência. A

motivação dos líderes empresariais deve ser respaldada numa visão de longo prazo, em que se

leve em consideração os custos futuros e não somente os custos presentes.

A incorporação da sustentabilidade no universo empresarial está condicionada a vários

aspectos como as crenças do próprio dirigente da empresa, a mobilização da sociedade, a

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influência do mercado nacional e internacional, a atuação do setor público, a pressão de

organismos internacionais, entre inúmeros outros fatores de ordem conjuntural.

A contribuição para o desenvolvimento sustentável por parte das empresas, conforme afirma

Coral (2002) acontece quando há modificações nos sistemas produtivos adotados pelas

empresas, tornando-os mais eficientes e com impactos não negativos no meio ambiente. Além

disso, as empresas devem assumir o papel de recuperar as áreas degradadas e oferecer

produtos e serviços que promovam a melhoria do desempenho ambiental dos consumidores.

Na verdade, o grande diferencial do conceito de sustentabilidade no meio empresarial é

associar a questão da ecoeficiência com a noção de responsabilidade social corporativa. A

empresa considerada sustentável é aquela que procura considerar em suas ações as dimensões

econômica, social e ambiental. Em outras palavras, a empresa continua visando o lucro, seu

objetivo primordial, só que passa a considerar o impacto de suas atividades no meio ambiente

procurando amenizá-las de maneira eficiente, desempenhando ao mesmo tempo ações de

cunho social, seja em benefício de seus funcionários ou da comunidade. (BARROS et al.,

2010)

Em conformidade com esse pensamento Kraemer (2005) afirma que o desenvolvimento

econômico e o meio ambiente estão intimamente ligados. Só é inteligente o uso de recursos

naturais para o desenvolvimento caso haja moderação e responsabilidade no uso dos referidos

recursos. Do contrário, a degradação e o caos serão inevitáveis.

De acordo com a figura 1, a ordem é a busca do desenvolvimento sustentável, que em três

critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente: equidade social, prudência

ecológica e eficiência econômica (KRAEMER, 2005).

Figura 1 – Desenvolvimento sustentável – tripé da sustentabilidade empresarial

Fonte: Kraemer, p. 9, 2005

Dessa forma, o tripé da sustentabilidade ou Triple Bottom Line torna-se uma ferramenta

fundamental para que as empresas desenvolvam ações que permeiem essas três dimensões:

econômica, social e ambiental. Para melhor entendimento apresenta-se, a seguir, uma breve

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explanação concernente às dimensões abordadas no referido modelo de sustentabilidade

empresarial.

3.1 Sustentabilidade financeira

A sustentabilidade econômica entra no âmbito socioeconômico com o intuito de tornar não

somente o futuro mais próspero, mas também alterar alguns fatores da realidade em que se

vive. A definição de sustentabilidade econômica leva fundamentos básicos como medidas que

visam um desenvolvimento estável, evitando os picos econômicos, e que leve em

consideração uma baixíssima, senão nula taxa de inflação por ano.

Além disso, também contam como fatores essenciais: a boa gestão de recursos naturais,

principalmente no tocante a geração de energia, usando, para tanto, fontes renováveis em

substituição as que não são renováveis. A sustentabilidade econômica visa tanto o presente,

acentuando até mesmo mudanças não bruscas em todos os setores econômico-industriais, sem

que com isso ocorra uma brusca mudança estrutural. Visando também as gerações futuras, e

nesse ponto interliga-se a medidas de outras abrangências, como por exemplo, a

sustentabilidade ambiental.

Segundo Kraemer (2005) as variáveis de avaliação deveriam ser: resultado econômico,

direitos dos acionistas, competitividade e relação entre clientes e fornecedores

3.2. Sustentabilidade ambiental

A sustentabilidade ambiental começa a ser debatida com maior frequência por cientistas e

pessoas ligadas à preservação do meio ambiente e que percebem que o atual ritmo de

degradação e consumo dos recursos ambientais acabará tornando inviável a permanência do

homem sobre a face do planeta.

Está vinculado a ela o termo ecoeficiência, o qual é conceituado como uma nova filosofia de

gestão empresarial que incorpora a gestão ambiental, associando-a aos objetivos econômicos,

cujo principal objetivo é fazer a economia crescer qualitativamente, e não quantitativamente,

o que compreende ações do tipo: redução do gasto de materiais com bens e serviços; redução

do gasto de energia com bens e serviços; redução da emissão de substâncias tóxicas;

intensificação da reciclagem de materiais; maximização do uso sustentável de recursos

renováveis; prolongamento da durabilidade dos produtos; e agregação de valor aos bens e

serviços (ALMEIDA, 2005 apud BARROS et al., 2010).

Segundo Kraemer (2005) as variáveis de avaliação deveriam ser: Proteção ambiental, recursos

renováveis, ecoeficiência, gestão de resíduos e a gestão dos riscos, assim a sustentabilidade

ambiental deveria ser garantida a partir da soma de ações individuais e globais, tanto de

pessoas engajadas em movimentos conservacionistas quanto na implementação de políticas

internacionais para a criação da consciência ambiental em empresas e nas nações da terra.

3.3- Sustentabilidade social

A sustentabilidade social é um dos mais importantes setores para a mudança nos panoramas

da sociedade. O modo de vida pós-capitalista levou não apenas o homem, mas também o

próprio espaço urbano a degradações. A desigualdade social, o uso excessivo dos recursos

naturais por uma parte da população enquanto a outra cresce desmedidamente são fatores que

são extremamente combatidos no âmbito da sustentabilidade social.

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Nos últimos tempos, o envolvimento do setor privado com os problemas sociais vem

deixando de ser uma opção de filantropia e passa a se caracterizar como um mecanismo de

atuação estratégica. (BARROS et al., 2010)

Os autores Mello Neto e Froes (1999) apud Barros et al. (2010), defendem a importância da

atuação social das empresas com caráter estratégico, que quando assumida de forma

consistente e inteligente pela empresa, pode contribuir de forma decisiva para a

sustentabilidade, bem como para o desempenho empresarial, uma vez que passa a imagem de

uma organização de consciência social comprometida com a busca de soluções para graves

problemas sociais que assolam a comunidade.

Segundo Kraemer (2005) as variáveis de avaliação deveriam ser: direitos humanos e dos

trabalhadores, envolvimento com a comunidade, transparência e postura ética. Na verdade, a

sustentabilidade social visa o bem-estar da sociedade de hoje e a de amanhã em iguais

medidas. Para que ela de fato se concretize é necessária grande campanha de divulgação,

instalada tanto pelas macroestruturas (setores políticos e básicos) quanto por empresas que

visem os projetos e a aplicação da mesma.

4 Caracterização do arranjo produtivo local pesquisado

O arranjo coureiro-calçadista de Campina Grande é composto fundamentalmente por

produtores locais de micro, pequeno a médio porte de calçados e artefatos de couro ou de

material sintético, sendo grande parte das empresas é de estrutura familiar (LEMOS;

PALHANO, 2000).

O arranjo coureiro-calçadista de Campina Grande até meados da década de 1990 apresentava

um quadro de desenvolvimento econômico promissor, com reflexos no município e na região.

Sua importância pode ser reconhecida a partir de alguns fatores: (LEMOS; PALHANO,

2000).

a) A articulação de vários organismos públicos e privados para estimular seu

desenvolvimento através de estudos e diagnósticos e da elaboração e implantação de

alguns programas ou projetos voltados para o setor;

b) A criação desde a década de 1970 de capacitação científica e tecnológica na

universidade federal para a formação de graduados e especialistas;

c) A posterior criação de um centro tecnológico específico para couro e calçados, único

da região Nordeste;

d) O pioneirismo na atração, através de incentivos, de grandes empresas de outras regiões

do país, incluindo fornecedoras de insumos para a indústria calçadista.

Atualmente, o arranjo produtivo de calçados de Campina Grande é composto

fundamentalmente por produtores de micro e pequeno porte de calçados e artefatos de couro

ou de material sintético, sendo cerca de 40 empresas formalmente constituídas e um

contingente de produtores informais em torno de 187 unidades. Tais empresas se caracterizam

como sendo de estrutura familiar, característica encontrada, também, na maioria dos outros

polos calçadistas espalhados pelo Brasil. (BARROS et al., 2010)

4.1 Análise através do modelo tripé da sustentabilidade (econômica, social e ambiental)

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Como mencionado anteriormente, a pesquisa embasou-se no modelo Triple Bottom Line

(Tripé da Sustentabilidade) proposto por Elkington (2012), o qual compreende três dimensões

da sustentabilidade: people, planet e profit (social, ambiental e econômica), cujo resultado

podem ser identificados relacionados a essas dimensões resumido nos anexo 1.

Atualmente, o único crescimento viável é o que consegue ser, ao mesmo tempo, socialmente

justo, ambientalmente sustentado e economicamente rentável. É consenso que a

sustentabilidade entrou na ordem do dia de empresas, organizações e governos em todo o

mundo. Se inicialmente ainda era associado exclusivamente a uma preocupação com o meio

ambiente, o conceito de sustentabilidade evoluiu, incorporando também os aspectos

econômicos e sociais.

Na dimensão ambiental, observou-se um alto grau de desperdício de matéria-prima, inerentes

ao processo de corte (88%), onde há perda de couro (75%) e laminados sintéticos (63%),

valores bastante elevados concernentes à ausência de controle de perdas de materiais em

processo (69%) e erros humanos, sejam por falta de experiência (44%) ou por falta de

treinamento (31%).

Outro ponto abordado diz respeito ao destino dado aos materiais rejeitados durante o processo

de produção, para os laminados sintéticos, identificou-se que 50% foram vendidos, 38%

descartados para o lixo e apenas 12% reciclados. Para o couro os dados foram mais

preocupantes, pois identificou-se que 56% foram descartados para o lixo e apenas 6%

reciclados, demonstrando a ausência de programas ambientais (75%) tanto para o controle

desses resíduos quanto para a emissão de poluentes (75%). Em contrapartida, pôde-se

verificar, de maneira positiva, à utilização sustentável de alguns recursos como: materiais

reciclados (69%) e materiais biodegradáveis (19%).

Adentrando na dimensão social, verificou-se a participação das empresas em programas de

responsabilidade socioambiental, onde identificou-se que 81% não participavam desse tipo de

iniciativa. Quanto ao cumprimento das legislações trabalhistas como salários, férias, FGTS, a

maioria (75%) afirmou que cumpre corretamente. Perguntou-se também a utilização de

programas anti-bulling, contra assédio moral e sexual reportando uma resposta negativa de

todas. Quanto à contratação de pessoas com necessidades especiais, 88% das empresas

pesquisadas não possuem esses tipos de profissionais em seu quadro de pessoal.

Na dimensão econômica observou-se uma má gestão de recursos, causando altos níveis de

desperdício de materiais e de energia, pois não há a utilização de fontes renováveis em

substituição as que não são renováveis. Consequentemente há uma elevação do custo de

produção devido ao desperdício e retrabalho causados pela falta de controle de qualidade nas

etapas do processo produtivo, apesar das empresas afirmarem que fazem o controle no fim do

processo (94%), isto atinge diretamente o desempenho e a produtividade das mesmas,

afetando a sua competitividade no mercado local e regional. No que tange a divulgação dos

resultados para os funcionários, 94% das empresas não fornecem esse tipo de informação.

Por fim, fazem-se necessárias medidas estatais ou políticas que sejam favoráveis a

implantação da economia sustentável. A sustentabilidade econômica entra no âmbito

socioeconômico com o intuito de tornar não somente o futuro mais próspero, mas também

alterar alguns fatores da realidade em que se vive.

5. Considerações finais

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Atualmente, a sustentabilidade empresarial é um desafio para as organizações, sobretudo as

de pequeno porte, uma vez que esta dependerá de suas competências e atribuições para ser

sustentavelmente competitiva, da sua relação com o meio ambiente, bem como de ações de

responsabilidade social.

Observando as dimensões propostas pelo modelo Triple Bottom Line (Tripé da

Sustentabilidade), quanto à sustentabilidade ambiental, não foram constatadas medidas

efetivas direcionadas à preservação ambiental, tais como programas de gestão ambiental,

capazes principalmente de absorver a grande quantidade de resíduos que a indústria de

calçados gera e são destinados ao lixo.

Quanto à sustentabilidade econômica, o APL calçadista de Campina Grande se destaca no

mercado local e regional, todavia parte das empresas opera ainda na informalidade, tendo

como consequência condições de trabalho inadequadas e baixos salários. Faz-se necessário,

medidas estatais ou políticas que sejam favoráveis a implantação da economia sustentável.

Referente à dimensão social, percebeu-se que o APL reconhece a importância da adoção de

práticas que promovam o bem-estar de seus funcionários e da comunidade em geral, embora

todas cumpram as exigências trabalhistas, um dos itens que é contemplado como ação

sustentável, o fazem por obrigação, para evitarem complicações trabalhistas, demonstrando

incipiência nas práticas sociais.

Portanto, as empresas pesquisadas ainda não atentaram efetivamente para esta realidade e

exercem de maneira incipiente práticas direcionadas a sustentabilidade empresarial,

recomenda-se que o APL Calçadista de Campina Grande busque formas de implementar a

sustentabilidade empresarial, através de práticas efetivas que integrem aspectos sociais,

ambientais e econômicos para que promovam o seu desenvolvimento sustentável e

conquistem uma maior parcela no mercado em que estão inseridas.

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ANEXO 01

Quadro 01: Aplicação do tripé da sustentabilidade empresarial

Fonte: autoria própria

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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção

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