13 estudos sobre fonologia ronice

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  • 5/9/2018 13 Estudos Sobre Fonologia Ronice

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    S O B R E A S A U T O R A SRonice Muller de Quadros e ouvinte, pedagoga, mestre e doutora em l.inquistica. pro-fessora e pesquisadora na UFSC/EED/Nucleind, coordenadora do Grupo de EstudosSurdos - GES, consultora em cursos de formacao de professores para surdos e inter-pretes de lingua de sinais. [email protected] Becker Karnopp e mestre e doutora em l.inqulstica, professora e pesquisadorada Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Atua na area de linquistica das linguasde sinais e educacao de surdas.

    RES?EITE a AUTORNAO F ACA C()?Am m 4 1 ! i i. W a ! D

    Q1I Quadros, Ronice Muller deLingua de sinais brasileira: estudos linguisticos /

    Ronice Muller de Quadros e Lodenir Becker Karnopp.- Porto Alegre: Artmed, 2004.1. Linguist ica - Ligua de sinais - Surdos - Brasi l.

    1. Karnopp, Lodenir Becker. II. Titulo.CDU 81'221.24(81)

    Catalogacao na publicacao: Monica Ballejo Canto - CRB 10/1023ISBN 85-363-0308-5

    Linguade sinaisbrasileira

    E s t u d o sl i n g O f s t i c o s

    Ronice Miiller de QuadrosLodenir Becker Karnopp

    2004

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    L IN G U A D E S IN A IS B R AS IL EIR A 51ESTUDOS SOBRE A FONOLOGIA DA LiNGUA DE SINAIS BRASILEIRA

    Os articuladores primaries das linguas de sinais sao as maos, que se mo-vimentam no espaco em frente ao corpo e articulam sinais em determinadaslocacoes nesse espaco. Urn sinal pode ser articulado com uma ou duas maos.Urn mesmo sinal pode ser articulado tanto com a mao direita quanta com aesquerda; tal mudanca, portanto, nao e distintiva. Sinais articulados com umamao sao produzidos pela mao dominante (tipicamente a direita para destrose a esquerda para canhotos), sendo que sinais articulados com as duas maostambem ocorrem e apresentam restricoes em relacao ao tipo de interacaoentre as maos.

    A lingua de sinais brasileira, assim como as outras linguas de sinais, ebasicamente produzida pelas maos, embora movimentos do corpo e da facetambern desempenhem funcoes, Seus principais parametres fonologicos saolocacao, movimento e configuracao de mao, exemplificados na figura aseguir.

    Os parametres fonologicos da lingua de sinais brasileira(baseado em Ferreira-Brito 1990, p. 23)

    Uma das tarefas de urn investigador de uma determinada lingua de si-nais e identificar as configuracoes de mao, as locacoes e os movimentos quetern urn carater distintivo. Isso pode ser feito comparando-se pares de sinaisque contrastam minimamente, urn metodo utilizado na analise tradicional defones distintivos das linguas naturais.o valor contrastivo dos parametres fonol6gicos e ilustrado na figura quesegue, em que se observa que 0 contraste de apenas urn dos parametres alterao significado dos sinais.

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    Sinais que se opoem quanta a configuracao de mao

    52 Q U AD ROS & K A RNO PPPares minimos na lingua de sinais brasileira

    PEDRA QUEIJOSinais que se opoem quanta ao movimento

    TRABALHAR

    Sinais que se opoern quanta a locacao

    APRENDER

    VIDEO

    L IN G UA D E S IN A IS B R AS IL EI RA 53o fato de as linguas de sinais mostrarem estrutura dual (isto e, unidades

    com significado (morfemas) e unidades sem significado (fonemas)), apesarde 0 conjunto de articuladores ser completamente diferente daquele das lin-guas orais, atesta a abstracao e a universalidade da estrutura fono16gica naslinguas humanas.

    Confiquracao de mao (CM)Conforme Ferreira-Brito, a lingua de sinais brasileira apresenta 46 CMs

    (ver Quadro 1abaixo), urn sistema bastante similar aquele da ASL, emboranem todas as linguas de sinais partilhem 0mesmo inventario de CMs. Para aautora, as CMsda lingua de sinais brasileira foram descritas a partir de dadoscoletados nas principais capitais brasileiras, sendo agrupadas verticalmentesegundo a sernelhanca entre elas, mas ainda sem uma identificacao enquantoCMsbasicas ou CMsvariantes. Dessa forma, 0 conjunto de CMs a seguir refe-re-se apenas as manifestacoes de superffcie, isto e, de nivel fonetico, encon-tradas na lingua de sinais brasileira.

    1 2 3 4 5 6

    ~[B] ~A] ~[G] m[C] ~ ~ M

    ~] ~] ~G1] ~C] ~[54] f 1 / (V i~[Bb] ~[As] ~Gg

    ~ ~[AU~Gd

    f:';[5i~[5]

    9 10 11 128

    13 14 15 16 17 18 19

    As 46 Clv ls da li ngua de si nai s brasil eira (Ferre ira -Brit o e Langevin , 1995)

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    54 QUADROS & KARNOPPMovimento (M)

    Para que haja movimento, e preciso haver objeto e espaco. Nas linguasde sinais, a(s) mELO(s)do enunciador representa(m) 0 objeto, enquanto 0 es-pac;:oem que 0movimento se realiza (0 espaco de enunciacao) e a area emtorno do corpo do enunciador (Ferreira-Brito e Langevin, 1995).0 movimen-to e definido como urn parametro complexo que pode envolver uma vastarede de formas e direcces, desde os movimentos internos da mao, os movi-mentos do pulso e os movimentos direcionais no espaco (Klima e Bellugi,1979).

    Para Ursula Bellugi e pesquisadores do Instituto Salk, certas variacoes nomovimento sao significativas na gramatica da lingua dos sinais. Urn exemplodisso sao as cores na ASL- AZUL,VERDE,AMARELOe ROXO-, articuladasno espaco neutro. 0 movimento basico do sinal AZULna ASL envolve urnpequeno contorno na mao. Todavia, se esse movimento e alterado, ocorremudanca no significado do sinal:

    AZUL

    AZUL ESCURO

    AZUL CLARO

    Exemplos de sinais na ASL (Baker e Padden, 1978, p. 12)AZUL CELESTE

    o exemplo mostra que, na ASL,0 parametro movimento pode variar (decerto modo previsto pelas regras da lingua), do que resulta urn significado dife-rente, mas relacionado ao da forma base (Baker e Padden, 1978, p. 11-12).

    Mudancas no movimento servem para distinguir itens lexicais, por exem-plo, .nomes e verbos (Supalla.e Newp~rt,. 19?8). Alem disso, variacoes domovimento podem estar relacionadas a dlreclOnalidade do verbo (Klima e

    L IN G UA D E S IN A IS B R AS IL E IR A 55Bellugi, 1979), por exemplo, 0 verbo OLHAR.Certos movimentos indicamtambem, variacoes em relacao ao tempo dos verbos, por exemplo na ASL osignificado do,v.erbo FrCAREMPEtorna-se FrCAREMPEPORMiJITOTEM-PO, cas? se adicione urn movimento circular a esse sinal, semelhante ao movi-mento ilustrado em (f) da figura a seguir.

    ~~/ja)o l he para

    ~~

    ~ C ) O i ~ " "d) Contemple e) Observe

    ~~f) Olhe por um longo tempo g) Olhe varies vezes

    Aspecto temporal de OLHE-PARA (Klima e Bellugi, 1979, p. 293)

    . Osmovimentos identificados na lingua de sinais brasileira por Ferreira-Bnto (1990) sao semelhantes as categorias propostas por Friedman (1977),S.upalla e Newport (1978) e Klima e Bellugi (1979). Taistraces referem-se aotIPO, direcionalidade, maneira e frequencia do movimento. Assim, Ferreira-Brito (1990) n:enciona que? movimento pode estar nas maos, puisos e ante-braco; osmovimentos direcionais podem ser unidirecionais, bidirecionais oumultidir~cionais; a m~neira e a categoria que descreve a qualidade, a tensaoe a velocld~de do rnovimento; a Irequencia refere-se ao mimero de repetico esde urn movimento. 0 quadro a seguir mostra as categorias do movimento.

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    56 QUADROS & KARNOPPCategorias do pararnetro movimento na lingua de sinais brasileira(Ferreira-Brito, 1990)TIPOContorno au forma qeometrice: retillneo. helicoidal, circular, semicircular, sinuoso, an-gular, pontualtntereciio : altern ado, de aproxirnacao, de separacao. de insercao. cruzado .Cantata: de l igagi io, de agarrar , de desl izamento, de toque, de esf regar, de nscar. deescovar ou de pincelarTorcedura do pulso: rotacao. com refreamentoDobramento do pulso: para cima, para baixoInterno das miios : abertura, fechamento, curvamento e dobramento (sirnultaneo/gradativo)

    DIRECIONALIDADEDirecional- Unidireciona/: para cima, para baixo, para a direi ta, para a esquerda, para dentro,

    para fora, para 0 centro, para a lateral infer ior esquerda, para a lateral infer ior direi-ta, para a lateral super ior esquerda, para a lateral super ior direi ta, para especif icoponto referencial- Bidireciona/: para cima e para baixo, para a esquerda e para a d ireita, para dentro epara fora, para laterais opostas - super ior direi ta e infer ior esquerda

    Niio-direcional

    MANEIRAOualidade, tensiio e velocidade

    continuode retencaorefreado

    FREOUENCIARepeticao- simples- repetido

    Wilbur (1987), ao analisar 0 parametro movimento, argumentou quedeveria ser dividido em dois tipos, movimento de direcao (path movement) emovimento local, conhecido tambem como movimento interno da mao. A ra-zao para esta divisao e que urn sinal pode apresentar somente urn movimentode direcao (path), somente urn movimento local ou a cornbinacao simultaneaentre ambos.Locacao (l)

    Stokoe define lccacao (ou ponto de articulacaoj como urn dos tres prin-cipais aspectos formacionais da ASL.Friedman (1977, p. 4) afirma que loca-

    L iN GU A D E S IN AI S B RA SI LE IR A 57cao "e aquela area no corpo, ou no espaco de articulacao definido pelo corpo,em que ou perto da qual 0 sinal e articulado"." Klima e Bellugi (1979, p. 50)utilizam a definicao de Stokoe para 0 aspecto locacao: "(...) 0 segundo dosprincipais parametres de sinais lexicais da ASL e 0 locus de movimento dosinal, seu ponto de articulacao"."

    Na lingua de sinais brasileira, assim como em outras linguas de sinais ateo momenta investigadas, 0 espaco de enunciacao e uma area que contemtodos os pontos dentro do raio de alcance das maos em que os sinais saoarticulados.

    Espaco de realizacao dos sinais e as quatro areas princ ipais de articulacaodos sinais (baseado em Battison, 1978, p. 49)

    Dentro desse espaco de enunciacao, pode-se determinar urn mimero finito(limitado) de locacoes, sendo que algumas sao mais exatas, tais como a pontado nariz e outros sao mais abrangentes, como a frente do torax (Ferreira-Britoe Lange~n, 1995). 0 espaco de enunciacao e urn espaco ideal, no se~tido _deque se considera que os interlocutores estejam face a face. Pode haver sltua~oesem que 0 espaco de enunciacao seja totalmente reposicionado e/ou reduzido;por exemplo, se urn enunciador A faz sinal para B,que esta fisicamente distan-te, 0 espaco de enunciacao sera alterado. 0 importante e que, nessas situacoes,as locacoes tenham posicoes relativas aquelas da enunciacao ideal.

    SNooriginal: C . . ) that area on the body, or in the articulat ion space defined by the body, atwhich or near which the sign is articulated. (Friedman, 1977, p. 4).6N0original: The second major parameter ofASL lexical signs is the locus of a sign's movement,its place of articulation. (Klima e Bellugi 1979, p. 50).

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    58 QUADROS & KARNOPPo quadro a seguir descreve as locacoes reunidas po: Frie~man (197~),

    sendo adaptadas para a lingua de sinais brasileira por Ferreira-Brito e Langevin(1995). As locacoes dividem-se em quatro regioes principais: cabeca, mao,tronco e espaco neutro.

    Locacoes (Ferreira-Brito e Langevin, 1995)Cabec;:a Troncotopo da cabecatestarostoparte superior do rostoparte inferior do rostoorelhaolhosnarizbocabochechasqueixo

    pescoc;:oombrobustoestornaqocinturabracesbraceantebrac;:ocotovelopulso

    Mao Espaco Neutropalmacostas das rnaoslade do indicadorlade do dedo minimodedosponta dos dedosdedo minimoanulardedo medicindicadorpolegar

    A afirrnacao - feita por Kegl e Wilbur (1976), Battison (1978) e Sandler(1989) - de que cada sinal apresenta apenas uma locacao especificada podeparecer surpreendente, considerando 0fato de que muitos sinais envolvemurn movimento da mao, indo de uma locacao para outra. Tais autores mos-tram distincces entre locacoes principais e subespacos. 7 Locacoes principaisincluem categorias abrangentes, tais como cabeca, tronco, mao passiva e es-

    7Subespac;o e tarnbern referido como ponto especifico, locacao especifica ou simplesmentelocacao.

    L iN GU A D E S IN AI S B RA SI LE IR A 59paco neutro, e, nesse sentido, 0 sinal apresenta somente uma especifica

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    PARA DENTRO PARA FORA

    PARA 0 LADO[CONTRALATERAL]

    PARA 0 LADO[IPSILATERAL]

    Expressoes nao-manuais ( ENM )Asexpressoes nao-manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeca ou

    do tronco) prestam-se a dois papeis nas linguas de sinais: marcacao de cons-trucoes sintaticas e diferenciacao de itens lexicais. Asexpressoes nao-manuaisque tern funcao sintatica marcam sentencas interrogativas sirn-nao ,interrogativas QU-,oracoes relativas, topicalizacoes, concordancia e foco, con-forme abordado no Capitulo 4. As expressoes nao-manuais que constituemcomponentes lexicais marcam referenda espedfica, referenda pronominal,particula negativa, adverbio, grau ou aspecto, conforme apresentado no Capi-tulo 3. Ferreira-Brito e Langevin (1995), baseados no trabalho de Baker (1983),identificam as express5es nao-manuais da lingua de sinais brasileira, as quaissao encontradas no rosto, na cabeca e no troneo (eonforme quadro a seguir).Deve-se salientar que duas express5es nao-manuais podem oearrer simulta-neamente, por exemplo, as mareas de interrogacao e negacao.

    L IN G UA D E S I N AI S B R AS IL E IR A 61

    Express6es nao-rnanuais da lingua de sinais brasileira(Ferreira-Brito e Langevin, 1995)RostoParte superiorsobrancelhas franzidasolhos arregaladoslance de olhossobrancelhas levantadasParte inferiorbochechas infladasbochechas contrafdaslabio s contrafdos e projetados e sobrancelhas franzidascorrer da I fngua contra a parte infer ior interna da bochechaapenas bochecha direita infladacontr acao do labia superiorfranzir do nariz

    Cabe c abalanceamento para frente e para tras (sim)balanceamento para os lados (nao)inclinacao para frenteinclinacao para 0 ladoinclinacao para tras

    Rosto e cabecacabeca projetada para a frente, olhos levemente cerrados, sobrancelhas franzidascabeca projetada para tras e olhos arregalados

    Troncopara frentepara trasbalanceamento altern ado dos ombrosbalanceamento sirnultarieo dos ombrosbalanceamento de um unico ombro