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Temas Contemporâneos Revista Literal Universidade Anhembi Morumbi | Curso de Jornalismo | 6º Semestre | Turma CE Manhã | 2017-2 AS HQS AGORA SÃO ASSUNTO DE GENTE GRANDE SEBOS: DESCUBRA AONDE SE ESCONDEM OS LIVROS USADOS TERROR O GÊNERO QUE ESTÁ CONQUISTANDO O BRASIL literatura ao pe da letra

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Page 1: Temas Literal RevistaContemporâneos · Leão, roteirista da Turma da Mônica Jovem Pág. 22. 6 Temas Contemporâneos Literatura Nacional 7 Literatura Virtual Por Ana Carolina Sousa

Literatura Nacional 1

TemasContemporâneos Revista Literal

Universidade Anhembi Morumbi | Curso de Jornalismo | 6º Semestre | Turma CE Manhã | 2017-2

AS HQS AGORA SÃO ASSUNTO DE GENTE GRANDE

SEBOS: DESCUBRA AONDE SE ESCONDEM OS LIVROS USADOS

T E R R O R O GÊNERO QUE ESTÁ CONQUISTANDO O BRASIL

literatura ao pe da letra

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Literatura Nacional 3

Revista produzida por alunos do 6º semestre do curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi

ReitorProf. Paolo Tommasini

Diretor da Escola de Comunicação e Educação Prof. Dr. Luís Alberto De Farias

Coord. do Curso de JornalismoProf. Dr. Nivaldo Ferraz

Coord. Adjunto do Curso de JornalismoProf. Me. Alexandre Possendoro

Projeto GráficoProf. Me. Ricardo Senise

Professores orientadoresProf.

Data desta ediçãoNovembro de 2017

Capa - IlustraçãoFelipe Carmona

Letícia Lima20 anos, diretora de arte,

designer, redatora e editora

Barbara Bergamini23 anos, redatora,

produtora de imagens

Bruna Souza20 anos, redatora,

produtora de imagens, repórter

Patrícia Affiune21 anos, redatora e

editora

Veronique Affiune23 anos, redatora,

repórter

TemasContemporâneos

Expediente

Ana Carolina Sousa20 anos, redatora e

editora

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ApresentaçãoLer é viajar. É conhecer outros mundos. É ir

para o outro lado do mundo sem precisar pegar avião. Livros são o passaporte favorito da imagina-ção. Por sorte, no Brasil o que não falta é literatura. E tem para todos os gostos, idades e gêneros.

Para provar isso, nessa primeira edição a Revis-ta Literal aborda o assunto do momento: os book-tubers. Revive a história e conta curiosades sobre os sebos, lugar favorito dos amantes de literatura. Além disso, tem um papo bacana com escritores de livros de terror e uma viagem incrível ao universo das HQs.

Ficou curioso? Então aperte o cinto que a nossa viagem começa agora!

Sumário

ITERATURA VIRTUALBooktubers criam nova forma de incentivo a leituraConheça quem tem incentivado o hábito de leitura através do YoutubePág. 7

OP 55 autores brasileiros que você não pode deixar de conhecerFizemos uma lista pra te deixar com gosto de quero maisPág. 6

UADRO A QUADROA nona arte traça seu caminho ao reconhecimentoQuebrando o tabu de que HQs só são para criançasPág. 14

REFÁCIODicas de livros que abordam romance, suspense e histórias de vida.Pág. 12

IVRO A LIVROUma leitura sangrentaLivros de terror tem ganhado mais espaço nas prateleiras dos brasileirosPág. 8

ANCHA GRÁFICAMelodrama da estrela de mil pontas“A Hora da Estrela” de Clarice Lispector por um outro olhar.Pág. 20

A ESTANTEO esconderijo dos livros usadosTem um livro que quer se desfazer? Existem lojas que compram esses livros e revendemPág. 16

ARCA PÁGINAO universo da poesia, um mergulho sem voltaUm artigo sobre o universo da poesia através das palavras de Camila T. AlvimPág. 24

ORA DO CHÁUma história por trás dos quadrinhosConversamos com Petra Leão, roteirista da Turma da Mônica JovemPág. 22

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Literatura Virtual

Por Ana Carolina Sousa e Bruna Souza

Top 5

5 autores brasileiros que você não pode deixar de conhecer

Com vídeos sobre os mais diversos tipos de livros, os booktubers formam um novo nicho dentro do Youtube.

Por Ana Carolina Sousa e Bruna Souza

Os canais de vídeos do Youtube atra-em cada vez mais o público jovem, mas dentro desse uni-

verso gigantesco tem uma galera que resolveu usar a internet para falar sobre um assunto pouco co-mentado pelos brasileiros: a lite-ratura.

A comunidade literária no YouTube ainda é um grupo pe-queno, na qual o maior canal tem uma média de 200 mil inscritos, o que é pouco comparado com ou-tros canais que abordam outros tipos de assuntos, como moda e games. Mas, apesar de atingirem um público em escala menor, os booktubers – como são chama-dos aqueles que têm canais so-bre livros – possuem o poder de influenciar seus seguidores ao hábito da leitura, transmitindo histórias e compartilhando críti-cas literárias de um jeito descon-traído.

Victor Almeida, ou Geek Freak como é chamado pelos seus seguidores, é um dos jovens que resolveu apertar o play e come-çar a compartilhar suas opiniões e análises sobre os mais diversos livros. Hoje o canal já tem mais de 70 mil inscritos. “Algumas pesso-as já comentaram que se sentem meio que batendo um papo co-migo. Essa proximidade é o sen-timento gostoso no booktuber”,

conta Victor.No Brasil, ler ainda não é um

hábito. Segundo dados da quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, somente 56% dos brasileiros costumam ler. Um dado que chama a atenção é que 33% dos leitores passam a gos-tar de livros por influência de al-guém. Atualmente, os maiores in-fluenciadores estão no Youtube.

A professora de literatura e blogueira Mellory Ferraz produz conteúdo para o seu canal “Lite-rature-se” e já conta com 65 mil inscritos. Ela comenta que rece-be comentários de pessoas que começaram a acompanhar seus vídeos sem nenhuma pretensão e acabaram se apaixonando pela literatura.

Para Mel – como gosta de ser chamada –, incentivar alguém a leitura pode ser desafiador, mas ao mesmo tempo gratificante. “Não é um exercício fácil. Se uma pessoa diz que não tem o hábito de ler, dificilmente estará aberta a uma experiência pautada pela visão popular de que ‘ler é chato’. Reverter esta visão é algo desa-fiador para mim, mas animador também”.

De acordo com Geek Freak, algumas das vantagens em ser booktuber é que esse universo proporciona a possibilidade de conhecer pessoas novas e tam-bém leva à prática de ler bastante

para produzir um conteúdo inte-ressante para os inscritos. Porém, por trás disso, existe uma pressão de que o booktuber deve ter a obrigação de ler o suficiente para saber bem do assunto a ser trata-do nos vídeos, o que muitas ve-zes gera insegurança ao abordar assunto delicados. Para que isso não aconteça, o compromisso é um dos aspectos importantes que o booktuber precisa ter na hora de falar sobre o tema esco-lhido.

Para Victor, é preciso ter res-ponsabilidade sobre aquilo que se fala. “Você não pode chegar lá falando qualquer coisa, então é uma coisa que você precisa ter um pouco de cuidado”. Outro fator importante é oferecer con-teúdo relevante. Mel conta que busca despertar a curiosidade ao invés de repassar informações su-perficiais.

D escobrir novos livros é sempre uma aventura. Muitas vezes as pessoas ficam presas aos mesmos autores de best-sellers internacio-nais, enquanto no cenário literário

nacional tem muita gente jovem escrevendo e pu-blicando livros de sucesso. Pensando nisso, a Literal deste mês selecionou 5 escritores brasileiros para você conhecer.

Daniel BonovolentoRelacionamentos e comportamento são os

principais temas do blogueiro e escritor Daniel Bo-volento. Ele ganhou destaque com o blog “Entre todas as coisas”. Nesse espaço na internet, Daniel escreve crônicas sobre o cotidiano, fala sobre séries, signos e amor. Em 2015, lançou seu primeiro livro: “Por onde andam as pessoas interessantes?”. A obra é uma coletânea de textos do autor que aborda as relações no mundo moderno. Seu mais recente lançamento é o livro “Depois do fim”, que mostra a trajetória de quem acabou de terminar um relacio-namento ou perdeu um grande amor.

Babi DewetA jovem paulistana começou escrevendo fan-

fics na internet e falando sobre k-pop – música po-pular coreana. Hoje, ela é autora de diversos livros e contos, além de escrever resenhas para o blog que carrega seu nome. A música é tema presente em to-das as suas publicações. Seu lançamento de maior sucesso é o livro “Sábado a noite” que começou como fanfic, foi publicado de forma independente pela primeira vez e acabou virando uma trilogia.

João Doederlein (Aka Poeta)O jovem brasiliense João Doederlein, ou

Aka Poeta, ficou conhecido nas redes sociais por dar novos significados para várias palavras. Seus ressignificados fizeram tanto sucesso que acabou lançando “O Livro Dos Ressignificados”, no qual ele desconstrói e constrói uma nova definição para vá-rios termos como felicidade, desencontro, girassol, cafuné e muitos outros. Hoje, João tem mais de 769 mil curtidas na página do Facebook “Contos Mal Contados” e mais de 632 mil seguidores no seu perfil do Instagram, @akapoeta.

Barbara MoraisEm uma aula de ciências políticas, a escritora

e economista, Barbara Morais teve a brilhante ideia de misturar conflitos sociais e superpoderes em “A Ilha dos Dissidentes” publicada em 2013, que mais tarde se transformou na “Trilogia Anômalos”. Além disso, ela já teve contos publicados em coletâne-as como “Meu amor é um Mito (2012)” e “O Outro Lado da Cidade (2015)”. Recentemente Barbara foi convidada para participar da coletânea “Realezas Urbanas”, que será lançada em dezembro de 2017 na Comic Con Experience.

Vitor MartinsEle tem 26 anos, é formado em jornalismo,

nasceu no Rio de Janeiro e hoje mora em São Paulo. A seu primeiro romance publicado é o livro “Quinze Dias”, no qual ele conta a história de Felipe, um me-nino homossexual. São 15 capítulos que podem ser lidos facilmente. Além de escrever, Vitor também faz vídeos para o youtube sobre literatura.

ELES RECOMENDAM:

Os booktubers Mellory e Victor indica-ram alguns de seus canais favoritos. Confira:

· Pam Gonçalves

· Isa Vichi (LidoLendo)

· Yuri (Livrada!)

· Tati Feltrin

Booktubers criam nova forma de incentivo à leitura

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Eric Novello na Livraria Cultura da região da Avenida Paulista lendo o livro “It – a coisa” do escritor americano, e grande inspiração literária, Stephen King. (Foto: Barbara Bergamini)

UMA LEITURA SANGRENTACom histórias misteriosas, assustadoras e intrigantes, o gênero terror está cada dia mais ganhando espaço entre as prateleiras de todos os brasileiros e com isso, está se tornando um dos gêneros literários mais lidos e adorados por aqueles que enaltecem e apreciam uma boa

leitura sangrenta. Prepare-se para se assustar

Por Barbara Bergamini e Veronique Affiune

Livro a livro

Harry Potter elevaram a literatura fantástica para outro patamar, trazendo o público jovem ao mercado literário. Além disso, o escritor as-segura que fusões das editoras com grupos estrangeiros, ampliaram a forma de escrita da literatura brasileira. Complementando o que foi dito por Novello, o escritor Ademir Pascale (autor de “O desejo de Lilith e “Caçadores de demônios”) diz que “se compararmos o reco-nhecimento dos escritores nacionais desse gê-nero com escritos de outros países como dos EUA, não chegamos nem perto. Acredito que tudo isso também tem a ver com cultura, os EUA têm muito mais leitores e consecutiva-mente a mídia tem mais interesse em mostrar algo do qual certamente terá mais audiência”.

Ao escrever um livro de terror, os auto-res precisam construir histórias que brinquem com o imaginário do público. Formado em Le-tras, o escritor Frodo Oliveira (autor de “Extre-ma perfeição” e “A torre negra”) explica que é preciso buscar inspiração aonde quer que ela esteja escondida. Ademir adiciona que ‘’a ideia inicial sempre surge de repente, começo a es-crever e nunca sei qual será o final. Não faço uma estrutura programada para seguir. ”Gran-de parte dos autores se orientam através do Stephen King, mas ao mesmo tempo confor-me vão lendo outros livros, os pontos impor-tantes acabam influenciando temas, estilos e perfis de personagens.

O que move o gênero do terror é essencialmente o medo. Graças a sua categoria independente o horror pode ser ligado a outros gêneros, como o fantástico e

ficção científica. Criaturas como lobisomens, vampiros, bruxas e espíritos provocam o ima-ginário popular e chegaram a atemorizar al-guns educadores modernos. Hoje, os escri-tores mais cultuados no gênero horror são Stephen King e o britânico Clive Barker. A arte brasileira é fortemente marcada por temas ra-cionais e por traços que compõem a identida-de nacional do país, alcançando sempre novos públicos. “Pegando terror, ficção científica e tudo mais, ela consegue abrir debates de ma-neira indireta e isso permite chegar em muito mais gente”, complementa o escritor Eric No-vello (autor de grandes obras como “Ninguém nasce herói” e “Exorcismos, amores e uma dose de blues”).

“Hoje, os escritores mais cultuados no gênero horror são Stephen King e o britânico Clive Barker’’

Durante muito tempo, a literatura realis-ta predominou, mas para Eric, os sete livros da autora J. K. Rowling sobre a história do bruxo

BARREIRAS LITERÁRIAS NO BRASILApesar de ser um gênero bastante con-

sagrado em vários países, no Brasil, os livros de terror não possuem a mesma divulgação ne-cessária para a expansão de suas obras literá-rias. Felizmente, há vários escritores brasileiros que lutam diariamente para que esse gênero, que carece tanto de novos leitores, conquiste o seu espaço entre as prateleiras de todos os brasileiros. Esses escritores tão respeitáveis e significativos para a nossa literatura brasileira como um todo, encontram no gênero terror e suas variantes, formas de mesclar conteúdos de extrema importância do cotidiano (como é o caso da ditatura) e uma utopia criada por eles mesmos em suas obras, além de abrir a mente de seu leitor para um terror psicológico pouco visto em outras obras internacionais.

De acordo com o escritor Ademir Pasca-le, um grande problema em relação a ausên-cia de novos leitores é essencialmente o preço dos livros que estão presentes no mercado “O governo poderia reduzir o valor dos impostos das publicações, assim consecutivamente o

SAIBA MAIS SOBRE: STEPHEN KING

E claro, sabemos que é impossível falar sobre livros de terror sem citar o gênio vivo da literatura americana, Stephen King. Vendendo mais de 400 milhões de cópias de livros, o escritor que é considerado um grande alucinado pelo horror fantástico e psicológico, possui em seu acervo obras como O iluminado (1977), It (1986), Carrie (1976) e vários outros grandes sucessos. De acordo com o seu site oficial (www.stephenking.com), King começou a escrever histórias com a temática terror desde muito jovem, mais precisamente na escola, aonde descobriu o seu verdadeiro amor por esse gênero literário que tanto iria lhe consagrar no futuro.

Stephen King, sem dúvidas, é considerado uma referência quando se fala em terror. Além de servir de inspiração para milhares de escritores, possui na bagagem várias obras literárias que já foram parar nos cinemas. Quem nunca assistiu o clássico “O Iluminado” (adaptado por Stanley Ku-brick) e saiu da sala com a sua psique conturbada após diversos aconte-cimentos que marcaram essa fantástica obra prima? Stephen tem o dom de conturbar a mente de seus fãs com histórias de terror psicológico que assustam bem mais que qualquer história que envolva um exército de zumbis.

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valor de um exemplar seria bem menor e o acesso aos livros bem maior’’.

Além do problema do custo de livros que é um dos fatores que mais atrapalham no processo de divulgação e produção de novas obras literárias, o Brasil enfrenta uma grande dificuldade em seu ensino. De acordo com Eric Novello, os professores do ensino médio não apresentam corretamente a leitura para os jovens- adultos e isso acaba pro-vocando uma falta de estímulo para a leitura, sem contar que isso enfraquece ainda mais a

Escritor Ademir Pascale na livraria Martins Fontes, lendo e apreciando o livro “A compaixão pelo rato” de Jose Henrique Fardin.(Foto: Divulgação)

aproximação com um público não familiarizado com os livros“Trazer o pessoal mais periférico é di-fícil, então alimentar quem já tem o gosto é fazer o clube de leitura, propagandas na tv para incen-tivar a leitura, e o lance era reforma educacional. O problema é cultural. Tem esperanças, primeiro que a gente nunca luta pela gente, a gente luta por quem está vindo lá trás, a luta do presente está sempre perdida. E como o Brasil está abraçando a literatura popular, conseguimos trazer mais leito-res para o mercado”, complementa.

Eric Novello na Livraria Cultura da região da Avenida Paulista lendo o livro “It – a coisa” do escritor americano, e grande inspiração literária, Stephen King(Foto: Barbara Bergamini)

DICAS PARA ESCRITORES INICIANTES

De acordo com os escritores Ademir Pascale, Eric Novello e Frodo Oliveira, se você deseja e quer se tornar um grande escritor futuramente é extremamente necessário seguir essas 4 dicas bá-sicas:

- Possuir uma postura profissional; - Ler e escrever muito; - Se esforçar, afinal literatura é 10% inspiração e 90%

transpiração; - Ter a opinião de leitores críticos.

Escritor, Eric Novello, na Livraria Cultura da região da Avenida Paulista. (Foto: Barbara Bergamini)

MULHERES NO TERROR

As mulheres estão cada dia mais se destacando em vária áreas importantes da sociedade, principalmente na literatura. Como pensar no gênero terror sem citar essas grandes e fantásticas escritoras: Mary Shelley (Frankenstein), Shirley Jackson (A assom-bração na casa da colina) e Anne Rice (Entrevista com o vampiro)? É praticamente impossível. Pensando nisso, várias escritoras de terror (e brasileiras!) se juntaram e lançaram “Insanas – Elas matam!”, um livro composto por 16 contos e escrito apenas por mulheres. A obra apresenta para os seus leitores vários contos recheados de crueldade, tortura, sangue, terror, entre outros assuntos vindos de mentes femininas extremamente criativas e insanas. Sexo frágil aqui? Jamais!

Título: Insanas – elas matam! Autoras: Alicia Azevedo, Alma Kazur, Anna Schermak, Carolina Mancini, Caroline Libar, Celly Borges, Debora Moraes, Laila Ribeiro, Laris Neal, Roberta Nunes, Sandra Franzoso, Tatiana Ruiz e Valentina Silva Ferreira.

Gênero: Horror, Contos Ano: 2011 Páginas: 164 Editora: Estronho Preço: Cerca de R$ 18,00

Capas dos livros dos autores Eric Novello e Ademir Pascale respectivamente. (Foto: Divulgação)

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Prefácio

Uma boa leitura que seja leve e gostosa é o que muitos amantes de livros buscam para se distraírem. Raiza Va-rella é uma jovem escrito-

ra nascida na cidade de São Paulo que ama escrever histórias que tenham finais felizes. A trilogia Encantados, publica-da pela editora Pandorga, é uma prova disso e mescla comédia, romance e um

pouco de suspense. O primeiro livro é muito gostoso de ler, pois prende o leitor logo de início. A história é narrada pela personagem principal Bárbara Bittencourt, uma advogada bem-suce-dida que tem o sonho de se casar e ser feliz com seu amado. Ela vive diversas turbulências que atrapalham seus planos e é humilhada publicamente, mas junto com os envolventes persona-gens secundários, ela tentará descobrir toda a verdade e acabar com todo sofrimento. O livro também apresenta os irmãos protetores de Bárbara e outras duas pessoas que serão impor-tantes em sua vida. Raiza Varella coloca alguns contos de fadas dentro da trama, dividindo o livro em partes e apresentando o que está por vir. Após o conto de fadas de Bárbara, a história continua, porém com um novo personagem principal, seu irmão Augusto. Conhecido como Monstro, ele possui uma carreira sólida em um Hospital e nunca se apaixonou, por isso dispen-sa qualquer mulher que entra em sua vida. Neste livro, a autora traz muita sensibilização com a menina “sem nome” e um garotinho que Augusto salva após um acidente de carro. Juntos, eles proporcionam todos os tipos de emoções ao leitor com toda a tensão, segredos e confusão da família Bittencourt. O livro final da trilogia levanta uma questão “O que você perdoaria por amor?”. Nesta última história o leitor conhece ainda mais Gustavo Bittencourt, o outro irmão de Bárbara. Em meio a encontros e desencontros, o personagem mantinha uma namorada escon-dida com medo da reação de sua família, afinal, como os três livros estão interligados, os leito-res logo perceberão quem é a namorada traidora e falsa de Gustavo. Varrela conseguiu manter uma narrativa muito fluida e leve nos três volumes, e por mais que tenha três protagonistas distintos, a autora fez uma história só, conectando uma a uma. O público se sente inserido e curioso, e ao mesmo tempo muito feliz por estar vendo todos os personagens juntos.

• O GAROTO DOS OLHOS AZUIS, 2014, RAIZA VARELLA, EDITORA PANDORGA, 352 PÁGS, R$ 29,90.

• O GAROTO QUE TINHA ASAS, 2016, RAIZA VARELLA, EDITORA PANDORGA, 470 PÁGS, R$ 32,90.

• O GAROTO QUE EU ABANDONEI, 2017, RAIZA VARELLA, EDITORA PANDORGA, 694 PÁGS, DISPONÍVEL APENAS ONLINE POR R$ 1,99.

Trilogia Encantados

O romance Vidas Provisórias conta a história de Paulo Roberto e Bárba-ra. Os dois sofrem mudanças brus-cas em suas vidas ainda jovens e se vêem obrigados a começar do

zero em outro país. Ele é obrigado a fugir do Brasil durante a ditatura militar, após ser preso e torturado. Ela vai para os EUA com um passa-porte falso, depois de seu pai ser assassinado. O livro é dividido em capítulos curtos que se en-

tercalam e contam, de forma paralela, a história das personagens e descrevem o contexto histórico da época. Um detalhe que cha-ma a atenção é o design escolhido. Enquanto ass partes que con-tam sobre Paulo têm fonte preta – como na maioria dos livros – as páginas que narram a história de Barbára têm fonte azul. No início essa diferenciação pode ser incomôda, mas os acontecimentos acabam superando esse detalhe. O enredo é de tirar o folêgo e a narrativa é cheia de detalhes, o que torna o livro extremamente

• VIDAS PROVISÓRIAS – EDNEY SILVESTRE, 2013, EDNEY SILVESTRE, INTRÍSECA, 240 PÁGS, R$ 34,90.

Carolina Maria de Jesus foi uma escritora que viveu rotulada como “mulher, negra e favelada”. Foi mãe solteira e com baixa esco-

laridade, sem ao menos terminar o Ensino Fundamental. Ela encontrou nos lixões do entorno de uma favela em São Paulo, os meios de sustentar a família e construir uma base para sua

literatura. No livro, publicado pela editora Ática & Fran-cisco Alves, Carolina aborda de forma bastante realista o seu cotidiano, marcado pela pobreza, o preconceito e a falta de esperança. O enredo marca profundamente os leitores por ser uma história triste e realista, mas os deixa ansiosos por uma notícia boa. Por ser um diário, é possível ver a dinâmica de uma favela e como funciona a rotina por busca de alimentos, o que acaba comoven-do e tirando o público da zona de conforto.

•O QUARTO DO DESPEJO – DIÁRIO DE UMA FA-VELADA, 2015, CAROLINA DE JESUS, ÁTICA, 173 PÁGS, R$ 38,00.

Vidas Provisórias

O Quarto do Despejo – Diário de uma Favelada

Por Veronique Affiune Por Ana Carolina

Por Veronique Affiune

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Quadro a quadro

do 29º Troféu HQMix na categoria Publicação Infanto--Juvenil.

O prêmio não é garantia que o trabalho é bom, mas aponta que a obra foi lida por bastante gente. Isso é satisfatório, se pensar em um país onde o maior de-safio para os quadrinistas é sobreviver, como afirma Bianca, o destaque em eventos é bem-vindo. A realida-de desses artistas é a venda de 3 a 10 mil exemplares, considerando o tamanho do Brasil, esses números são baixos.

“A internet é grande aliada dos quadrinistas inde-pendentes na medida em que permite que pessoas do Brasil e do mundo todo tenham acesso ao seu traba-lho. Nos traz divulgação e leitores”. Para Bianca, todas as suas HQs estavam disponíveis gratuitamente na in-ternet. “Ser lido é a melhor coisa”.

Os quadrinistas, jovens e veteranos, independen-tes e sob uma editora, dividem o mesmo espaço. Não existe aqui um mercado estabelecido para quadrinhos. O que muitos artistas costumam dizer, segundo Bianca, é a existência de uma “cena” de HQs no país.

Quem está na cena nacional e internacional há 29 anos é o quadrinista Marcello Quintanilha. “Quando eu comecei, era inevitável que você estivesse ligado a uma editora, você precisava de uma para fazer seu trabalho chegar até o público. Hoje isso não é necessariamente assim.”

Nascido em Niterói, Rio de Janeiro, o quadrinis-ta hoje vive em Barcelona por conta do contrato com a editora belga Le Lombard – sob esse selo publicou em 2003, La promesse (A promessa), primeiro volume da série estrangeira Sept balles pour Oxford (Sete balas para Oxford).

Seu primeiro trabalho em quadrinho foi lançado na revista Mestre Kim em 1988. A primeira HQ publica-da, no entanto, foi Fealdade de Fabiano Gorila em 1999 pela Editora Conrad. Entre as principais obras de Mar-cello encontra-se as HQs Talco de Vidro, Hinário Nacio-nal e Tungstênio, pelo qual recebeu, em 2016, o prêmio Fauve Polar SCNF do Festival de Angoulême, principal premiação francesa das histórias em quadrinhos.

Existe mercado para HQ fora do Brasil e estes di-ferem entre si. Os três grandes polos produtores são os

A nona arte traça seu caminho ao reconhecimento

Surgem em cena os quadrinistas para dizer que a arte das HQs vão além de história para criança

Por Letícia Lima e Patrícia Affiune

Por que eu leria quadrinhos? Já está tudo ali mastigado, não deixa nada para a ima-ginação”. A frase solta numa roda de con-versa em uma fila qualquer de um museu poderia ter sido dita por qualquer um no

Brasil. Onde o hábito de leitura é visto por muitos como obrigação, os que leem preferem cultuar os best-sellers e os livros clássicos. Nesse cenário, a história em quadrinhos é a várzea.

HQs são ainda ligadas à ideia de que são his-tórias infantis, sobretudo para quem não está no meio da “cultura geek”. Poucos são os títulos que se destacam, e os que o fazem ganham um status de obra à parte do meio. As obras do Maurício de Sou-sa são exemplo. Turma da Mônica sempre é lembra-da quando se fala em HQs.

· BIANCA COMEÇOU A LER COM AS HQS DA TURMA DA MÔNICA;

· GRAPHIC MSP MÔNICA -FORÇA FOI LANÇADA NO MESMO MÊS QUE O TERCEI-RO VOLUME DE BEAR E A HQ DORA.

EUA, a Europa francófona - França, Bélgica e Suí-ça - e Japão. A existência do mercado consolida-do nesses países está ligada ao aspecto cultural e interferem no histórico-social, conta Marcello.

Para o autor, o maior desafio dos quadri-nistas é ainda o mesmo enfrentado por este em toda a história. “É chegar para o leitor de uma maneira honesta e profunda, eu acho. Sempre foi. Em minha opinião, não tem nada de muito diferente nisso. Agora, em termos mercadológi-cos, não sei mercado é muito ilógico”.

E na cena brasileira, se os fãs estão lendo mais HQs nacionais, um fator influenciador são espaços como a Comic Con Experience que têm dado mais destaque para quadrinistas e am-biente para interação. Outro ponto importante é a internet que ajuda no custo e distribuição.

Pode-se dizer que os quadrinhos estão ganhando seu espaço. Ainda é frequentemen-te associada, de alguma forma, à literatura. Há sim algumas semelhanças, mas é um insulto re-baixar HQs como “prima” dos livros, quando são expressões artísticas distintas. Hoje, a nona arte possui seu espaço no Prêmio Jabuti, a categoria História em Quadrinhos. Citando Bianca Pinhei-ro: “está aí para lembrar aos esquecidos. Quadri-nhos são quadrinhos. Não são livro ilustrado, li-teratura, cinema estático ou o que quer que seja. Quadrinhos são quadrinhos”.

fala em HQs.Bianca Pinheiro faz parte da área dos quadri-

nhos desde 2014. A quadrinista de Curitiba come-çou com as webcomics e seu principal trabalho, a HQ Bear, que conta as aventuras de uma menina e seu amigo urso, teve a primeira edição física pu-blicada em 2014, o segundo volume em 2015 e o terceiro em 2016. A obra continua em andamento nas publicações feitas pela artista em seu tumblr. (http://bianca-pinheiro.tumblr.com/)

Entre outros trabalhos de Bianca encontram--se Dora e Meu Pai é um Homem da Montanha.

A quadrinista participou do Graphic MSP Mô-nica – Força, projeto criado por Maurício de Sousa onde outro autor fica responsável por reinterpretar seus personagens. Com essa obra, foi a vencedora

· AS HQS DE MARCELO QUINTANILHA TÊM SEMPRE CENÁRIOS E PERSONAGENS BRASILEIROS;

· A HQ TUNGSTÊNIO FOI ADAPTADA PARA FILME E TEM PREVISÃO DE ESTREIA PARA O SEGUNDO SEMESTRE DE 2017.

Capas de “Força” e Tungstênio. (Foto: Divulgação)

Foto: Letícia Lima

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Na estante

O esconderijo dos livros usadosCom preços muito mais acessíveis e um acervo de raridades, os sebos são as lojas

favoritas dos amantes de literatura.

Por Ana Carolina, Bruna Souza e Patrícia Affiune

Você já ouviu falar em sebo? E aqui não tem nada a ver com aquela secreção que todo o ser humano tem, mas sim de um termo usado para se referir a lojas de livros usados.

O termo “sebo “, que em latim significa “gor-dura”, surgiu a princípio como gíria e hoje é dado a loja de livros que um dia já tiveram um dono, mas que agora não são de ninguém. O nome está liga-do ao aspecto de sujeira que os livros ganham de tanto serem manuseados. Na maioria das vezes, também é possível encontrar versões novas, de primeira mão, além de CDs, discos de vinil e gibis.

Em São Paulo, eles existem de monte. De pequeno, grande ou médio porte. O mais famoso fica localizado bem no centro da capital paulista. É o Sebo do Messias, um local com cerca de 300 mil exemplares organizados por gênero, assunto e em ordem alfabética. Na entrada há uma vitrine com HQs, brinquedos e miniaturas de super-he-róis. Além disso, o sebo contém alguns relógios antigos de parede e vários quadros espalhados pela loja toda, que a princípio, o dono, seu Mes-sias deixa claro que não estão à venda. “É só para deixar vocês com água na boca e tampar a sujeira da parede”.

O sebo já existe há 46 anos e é um negócio de família. Messias começou vendendo livros de porta em porta na década de 70. Um dia, uma de suas cliente colocou à venda o acervo de seu fa-lecido marido. “Eu tinha vontade de montar um sebo, começar a comprar uns livrinhos e montar um sebo devagar e apareceu essa oportunidade”, comenta. Hoje, ele administra a loja com a ajuda

de suas filhas.Considerado por muitos como patrimônio

cultural de São Paulo, o lugar recebe em média 400 pessoas por dia. Uma das frequentadoras é a estudande de direito, Lorena Moreira. Ela conhe-ceu o lugar através de indicações de amigos e conta que a principal motivo para escolher com-prar em sebos ao invés de livrarias é o preço. “Já paguei menos da metade do valor de alguns li-vros. Comprei uma edição de 2010 sobre Consti-tuição Federal por R$50, que deve estar em torno de R$150 nas lojas”.

Os sebos também são um dos lugares fa-voritos de colecionadores de plantão. Isso por-que além da economia, a chance de encontrar exemplares mais raros também chama a atenção. Quem procura bem, sempre consegue encontrar um disco antigo ou um livro especial. É o caso do redator publicitário José Mota, 25. Ele conta que adora ler clássicos. “Passei essa semana no Messias e encontrei um interessantíssimo que procurava há tempos.”

Para as pessoas que buscam exemplares vol-tados para a àrea de humanas, o Sebo Avalovara é uma ótima referência. Localizado na Zona Oeste de São Paulo, o lugar é aconchegante e tem como foco os livros de filosofia, artes, arquitetura, músi-ca e cinema. A loja já teve vários donos, mas desde 2011 é administrada por Sandro Giuliano, o atual proprietário. Ao lado dele, mais dois amigos próxi-mos cuidam do local.

Por mais que os livros sejam, em sua maioria, de segunda mão, ao entrar nos sebos pela primei-ra vez a organização surpreende. O acervo não

Foto: Bruna Souza

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surge do dia para a noite. As pessoas, geralmente, vendem seus livros para os donos do sebo. A ne-gociação acontece no balcão. “Eu só compro livros em bom estado”, conta Sandro.

Já Messias conta que não compra livro só por comprar e a escolha do que entra ou não é basea-da na sua experência de 47 anos no ramo. “O que não serve, eu devolvo mesmo porque não adianta eu comprar, ele não vai sair, eu tenho certeza e vai ocupar espaço na livraria. Eu prefiro ocupar espa-ço na livraria com produto que é vendável.”

CONHEÇA OS SEBOS:

• O Sebo do Messias está localizado na Praça Dr. João Men-des, nº 140, na Sé – São Paulo.Horário de Funcionamento: De segunda à sexta-feira das 09 às 19h. E aos sábados das 09 às 17h (exceto feriados).Para mais informações acesse: https://sebodomessias.com.br/.

• Já o Sebo Avalovara fica na Avenida Pedroso de Moraes, nº 809, em Pinheiros – São Paulo.Horário de Funcionamento: De segunda-feira a sábado das 10 às 18h. Para mais informações acesse: https://www.seboavalovara.com.br/.

Logo na entrada o cliente pode conferir e folhear alguns livros antigos. (Foto: Bruna Souza)

“Já paguei menos da meta-de do valor de alguns livros. Comprei uma edição de 2010 sobre Constituição Federal por R$50, que deve estar em torno de R$150 nas lojas”.

A TECNOLOGIA: VILÃ OU ALIADA DOS SEBOS?Com o avanço da tecnologia que trouxe os

e-books e e-readers (leitor de livros digitais) para o universo da literatura, muitos acharam que seria o fim dos livros físicos. Mas, o resultado foi muito pelo contrário, os livros de papel continuam sendo os queridinhos da maior parte dos leitores. Tanto

para Sandro quanto para o Messias, os livros digi-tais não interferem em nada e a tecnologia veio para somar.

No Sebo do Messias, mais especificamente

no subsolo da loja, uma equipe trabalha dedicada somente às vendas online de livros usados, CDs, DVDs e LPs. Cerca de novecentos a mil livros são cadastrados todos os dias no site, que hoje con-ta com, aproximadamente, 200 mil exemplares. O portal é considerado um dos melhores do Brasil.

Os livros que vão para a loja virtual são dife-rentes dos disponíveis na loja física, o que, de acor-do com Messias, garante um maior controle sob tantos exemplares. “99,9% é de certeza que ele (o cliente) vai receber, porque o estoque está separa-do e o público não tem acesso, só através dos seuscomputadores, nas suas residências ou através do cliente que vem até a loja. Ele viu o livro na tela da casa dele, então ele vem aqui e a gente entra nos 13 terminais que temos aqui, faz o pedido e cinco minutos depois está nas mãos dele. Eu fui bastan-te feliz em separar os dois estoques”.

O Sebo Avalovara oferece um acervo amplo em um espaço acolhedor. (Foto: Bruna Souza)

“Ele viu o livro na tela da casa dele, então ele vem aqui e a gente entra nos 13 terminais que temos aqui, faz o pedido e cinco minutos depois está nas mãos dele”.

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Mancha gráfica

MelodraMa da

estrela de Mil pontas

Por Letícia Lima

• A HORA DA ESTRELA, 19777, CLARICE LISPECTOR, EDITORA ROCCO, 87 PÁGS, R$ 5,00 A 20,00.

A Hora da Estrela é a história da inocên-cia pisada. Não nos importa o nome da personagem, o que

interessa aqui é saber que esta pessoa veio do Nordeste, é alago-ana, e sem nenhum amparo, foi jogada na rotina do Rio de Janei-ro. Uma migrante que só come cachorro quente. Foi assim que a escritora Clarice Lispector con-tou sobre seu livro antes mesmo da estreia, na entrevista conce-dida para o programa Panorama da TV Cultura, em 1977. Tudo que envolve a trama são eventos consequentes desse cenário, até mesmo o livro se descreve des-sa forma “apenas fatos não tra-balhados de matéria-prima”. No mesmo ano da matéria, a obra foi publicada e sua autora faleceu.

O curto enredo nos engana a pensar que esta é uma história fácil, a Hora da Estrela está longe de ser simples. O livro é bruto e real, tem uma dose de verídico e poderia ser a reflexão de algum migrante (mesmo que os eventos ali não tenham realmente acon-tecido). Pode-se dizer da escrita que descreve fatos e conta da ex-periência de ir viver tão longe de

sua terra natal através da vida pa-cata da personagem principal.

Clarice desde sempre teve sua escrita caracterizada pela in-flexão intimista, neste livro, ela tenta se afastar disso completa-mente. Até cria um autor falso para contar a história, o escritor Rodrigo S.M. Mesmo assim não consegue afastar suas reflexões de marcarem a narração. A bus-ca por algo diferente se mostra nesse trecho da obra: “Transgre-dir, porém, os meus próprios li-mites me fascinou de repente. E foi quando pensei em escrever sobre a realidade, já que essa me ultrapassa”.

A realidade a que se refere é a história de Macabéa, a persona-gem principal. Frequentemente, no livro é descrita como miserá-vel, sozinha, sem consciência de si mesma e que vivia pela crença de que tudo era assim porque ti-

nha que ser, sua única explicação. Por mais que nada tivesse, e lhe faltasse uma certa conexão com o mundo, não existia em si a mi-séria humana, não tinha malda-de. Era pura inocência, e na medi-da do aceitável ela se permitia ter esperança. Seguia sua vida como fina matéria orgânica. Macabéa só existia.

O que tornava a presença da personagem notável no mun-do eram as poucas pessoas com quem tinha relação. Seus pais

morreram quando ainda era criança, sua primeira inteiração familiar foi com a tia beata, sem-pre rígida. Quando esta veio a fa-lecer, foi quando Macabéa se mu-dou para o Rio de Janeiro.Conhecia suas colegas de quarto, as três Marias, e uma colega de trabalho, a Glória. Conhecia tam-bém o que ouvia da Rádio Reló-gio, mesmo quando quase nada entendia. Depois veio a conhecer o que seria seu namorado e pri-meiro amor, o Olímpio de Jesus. Este, também nordestino, era o seu oposto, apesar de vítima do mundo, era vingativo. A única coisa que ofereceu a ela no na-moro foi um café, e isso definia as relações da moça, Macabéa espe-rava muito pouco das pessoas e achava que era isso que cabia a ela.

Alma miserável e inocente que anseia por ser Marylin Mon-roe, mas é mera existência. A Hora da Estrela é o momento de Macabéa. Esta é a história que está escrita e, no entanto, precisa de olhos mais atentos e coração mais aberto para conseguir ler o que o livro conta.

Para terminar nas palavras de Clarice: “Se o leitor possui al-guma riqueza e vida bem acomo-dada, sairá de si para ver como é às vezes o outro. Se é pobre, não estará me lendo porque ler-me é supérfluo para quem tem uma leve fome permanente”.

“Transgredir, porém, os meus próprios limites me fascinou de repen-te. E foi quando pensei em escrever sobre a realidade, já que essa me ultrapassa”

Foto: Letícia Lima Wikicommons

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Barbara Bergamini e Bruna Souza

Uma história por trás dos quadrinhos

Hora do chá

Em entrevista exclusiva, Petra Leão conta como conseguiu entrar na Maurício de Sousa Produções e outros desafios na sua vida de roteirista.

Se você é apaixonado pelo universo dos quadrinhos provavelmente já deve ter ouvido falar sobre a “Turma da Mônica Jovem”, que se trata de uma releitura dos personagens da Turma da Mônica,

porém em versões adolescentes.Na edição desse mês a revista Literal bateu

um papo com Petra Leão, que trabalha na Mau-rício de Sousa Produções desde 2008, roteirizan-do HQs da Turma da Mônica Jovem e Chico Bento Moço. Além disso, Petra que é cosplayer nas ho-ras vagas, foi a primeira mulher brasileira a ter um quadrinho publicado nos Estados Unidos! Sem dúvidas, é uma bela e admirável história para ser contada.

Literal: Você sempre se imaginou traba-lhando como roteirista?

Petra: Não (risos). Na verdade, não. Quando eu era mais nova eu sonhava em ser desenhista. Eu gostava e continuo gostando muito de desenhar. Até eu ter uns 16 anos, eu ainda alimentava essa ilusão na minha vida, mas eu percebi que não era aquilo que me dava prazer.... Demorou um tempo para eu descobrir que eu gostava de verdade era de contar as histórias.

Você começou sua carreira como rotei-rista de história em quadrinhos bem cedo, em 2000. Já pensou em contar histórias de outra maneira escrevendo um livro só seu, por exem-plo?

Sim! Na verdade, eu já estou fazendo isso. Este ano eu comecei (a escrever um livro). Havia uma co-brança muito grande que fosse algo relacionado com os quadrinhos, mas eu gostaria de fazer algo diferen-te. Então, eu acabei conhecendo pessoas do meio li-terário e elas foram me estimulando. Apesar disso, é uma coisa que eu tenho que fazer muito aos poucos. A prioridade são sempre os quadrinhos, até porque é o meu trabalho e o livro é um projeto pessoal.

E você pode dar algum spoiler sobre o seu futuro livro?

Posso! Quando eu era adolescente, os livros para adolescentes não me contemplavam. Eram his-tória de jovens que iam para as baladas e sou muito nerd (risos), sempre fui com muito orgulho. Então agora eu estou escrevendo um livro sobre esse tipo de adolescentes! Adolescentes nerds e como eles vi-vem a vida, as coisas boas e ruins.

Trabalhar com o Maurício de Sousa sempre foi um sonho?

Só não foi um sonho porque foi algo que eu sempre achei que nunca iria acontecer e justamente quando aconteceu eu pensei “cara, não acredito que está acontecendo isso comigo! ”. Eu pensei que ia ter apenas uma história aprovada, mas aí as coisas fo-ram acontecendo e aconteceu que o estilo da revista acabou ficando muito com a minha cara, mas claro, sempre com a supervisão do Maurício e com o resto da equipe que trabalha com ele.

Em 2012, você ganhou o prêmio Angelo Agostini de melhor roteirista brasileira. Como foi?

Foi a maior surpresa! Eu não esperei muitas coisas na minha vida, porque eu não achava que iria acontecer e que era impossível e esse prêmio foi uma delas. Eu não fiz campanha nem nada, então foi uma surpresa muito grande. Eu fiquei muito grata e feliz, a gente às vezes recebe tanto ódio pela internet que esquecemos que existem pessoas que torcem em si-lêncio pelo nosso trabalho.

Nos Estados Unidos você publicou a conti-nuação da mini-série Victory, e com isso feito, se tornou a primeira roteirista feminina brasileira a publicar quadrinhos em território americano. Como você se sentiu em relação a isso?

Esse quadrinho é continuação de uma história do Marcelo Cassaro, nós publicamos e eles (editora) compraram o pacote. Então, eles publicaram lá nos Estados Unidos e tinha um agente intermediando e quando vi o contrato, eu avisei o Marcelo dizendo que aquele contrato estava muito estranho, mas ele

nunca tinha trabalhado com isso, então autorizou publicar. Até porque o Cassaro era o autor da his-tória toda. Depois que foi publicado, esse agente desapareceu e acabou que não fomos pagos pela história. Claro que foi muito legal ter um trabalho publicado lá fora, mas ao mesmo me dá esse gos-to amargo saber que eu fui roubada. Mas como ‘feito’ foi incrível!

Como você lidou com os ataques feitos pelos internautas por utilizar a expressão “Meu corpo, minhas regras” na edição nº 94?

Teve muita gente que me atacou, eu recebi até ameaça de morte. Foi uma das situações mais difíceis da minha vida. É até difícil falar sobre isso, porque foi muito pesado. O ponto que eu senti foi que: essas reações não foram dos leitores, não fo-ram os leitores que ficaram incomodados, foi gen-te que nunca nem ouviu falar da revista direito. Gente que nem leu a história, pegou só o quadri-nho, tirou do contexto e disse que eu fiz ‘apologia ao aborto’. Se um dia eu fosse falar sobre o abor-to não iria ser desse jeito. Até porque não cabe a mim, entrar em um tema desses dentro da Turma da Mônica Jovem, eu nunca faria uma coisa que não estaria alinhada com os valores da empresa. Se eu tivesse feito uma metáfora sobre o aborto, eu assumiria, com certeza.

Escritora Petra Leão com a edição 34 da Turma da Mônica Jovem (Foto: Bruna Souza)

Petra se preocupa com o conteudo de suas produções para os públicos (Foto: Bruna Souza)

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O universo da poesia, um mergulho sem volta

Por quê poesia? Qual a sua utilidade? Qual sua relevância em tempos de tecnicismos, felici-dades instantâneas,

ostentação e pressa? Poesia não vende! E se não vende, não vale?

Há quem diga que ela não serve para nada, e descartam. Al-guns acreditam que ela transfor-ma, insurge, rebela. Outros dizem que ela existe por puro prazer. Tudo cabe nela. A poesia está para ser fruída. Cada quem como puder.

Na escola eu já tinha cabeça para a poesia. Cabeça de vento. Menina no mundo da lua. Pesar no lado de dentro e o olhar para o

lado de fora, voava pela janela. Cabeça apoiada na mão, quase deitada, alma lenta, respiração preguiçosa. Distraidamente so-brevivi.

Já mais crescida, fui surpre-endida pela poesia. Numa pra-teleira de casa um livro de uma poeta cega. Cheio de poemas de amores impossíveis. Fui seduzida por cada verso, percebi que a po-esia sempre nos diz algo. Nesse despertar poético somos tocados, alcançados por ela em algum re-côndito da alma. E foi ali, naque-le beco, que me fiz sua amante. Fui desvirginada pela poesia. Me deitei com muitos poetas. Tenho muitos deles e delas bem aqui: dentro de mim. Hoje flertava com um livro posto faz três meses no meu criado mudo. Daí penso... por quê esse nome para a tal me-sinha? Deve mesmo permanecer mudo esse criado. Testemunha casos, prantos, medos e sonhos. A leitura de poemas começou cedo e prosseguiu rasgando cortinas. Derrubando muralhas. Abrindo os olhos da alma.

Ler poesia é estar numa outra língua dentro da grande linguagem humana. Cada poeta é um universo: um universo líri-co. Poesia é coceira: incômodo prazeroso. Confissão. Declaração. Subversão. Inquietação.

Cada poeta falará do amor, da morte, da solidão, da natureza, do tempo, das suas inconformi-dades políticas e sociais eterni-zando-as na cultura. Alimento de revoluções. Veículo. Abertura.

Já mulher madura, entendi que a poesia está no corpo, na pele, nos sentidos, tatuada como estética dos signos-sons-símbo-los. Entendi que os poros pedem encontros, trocas, interações.

Poesia é transbordar em palavras vivas, sua matéria prima, e o que se experimenta intensa-mente dentro do corpo quando reverbera em contato com os ou-tros. É perceber o contorno da luz na silhueta de um rosto daquele corpo deitado perto da janela. É o mau cheiro do rio e a náusea. É borboleta no para-brisa. É espe-rança suicida diante do abismo de voltar ao nada originário. É sentir o cheiro, a cor e o tamanho do lugar nenhum. Reconhecer a fome do pobre como sua. Sentir doer o frio do refugiando mesmo sob cobertores de lã. É usar a pa-lavra para fazer algo quando não se pode fazer nada.

Há poetas por todas partes. Alguns nunca registraram tão so-mente uma palavra. A poesia está para além da palavra. Ouvi a pou-co que a poesia era o indizível. O indizível é a própria experiência poética. A poesia é como, através das palavras, tentamos comuni-car ‘algo’ desta experiência. Brin-cadeira carregada da mistura de simplicidade com a sofisticação. Numa mesma comunicação o po-eta transmite o paradoxo da ex-periência humana, da concretude às abstrações. Poesia é atitude criativa de transformação. Nosso mundo sofre a falta dela. Acorde-mos os poetas!

Camila T. Alvim Psicóloga, educadora, mãe e amante da poesia