plano pastoral e palavra evangelizadora da aridez espiritual da cultura dominante

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  • 7/25/2019 Plano pastoral e palavra evangelizadora da aridez espiritual da cultura dominante

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    PLANO PASTORAL E PALAVRA EVANGELIZADORA

    DA ARIDEZ ESPIRITUAL DA CULTURA DOMINANTE

    Com esta Eucaristia, em plena comunho com o senhor Arcebispo e em seunome, abrimos oficialmente o novo ano pastoral nesta nossa Arquidiocese. Connoscoest a totalidade da Igreja diocesana, aqui representada nos ministros ordenados e nosfiis leigos, mormente nos delegados dos movimentos, obras, sectores e estruturascoordenadoras do apostolado organizado. Somos uma poro da Igreja que se dispema deixar-se guiar pelo Esprito do Ressuscitado, a formar-se interiormente e a actuar nomundo, no individualisticamente e por sua conta e risco, mas segundo o desgnio deDeus que, ao constituir-nos Povo da Nova Aliana, nos deu, como regra suprema deactuao, aquela espiritualidade de comunho que se traduz no mesmo sentir e nomesmo actuar: Que todos sejam um (Jo 17, 21).

    E um plano pastoral insere-se precisamente aqui: neste sentido de pertena auma mesma famlia que, no obstante a especificidade dos seus membros, no s seidentifica pelo mesmo apelido, mas constri uma unidade to forte que at revela osmesmos traos comportamentais, vive na persecuo dos mesmos objectivos e faz seusos xitos e fracassos dos outros membros.

    1. Tema do ano: Acolher a Palavra com a alegri a do Esprito Santo (1 Ts 1,6)

    aceite por todos que precisamos de enraizar a fmuitas vezes, meramente detradio ou sociolgica- e de a nutrir com o nico substrato que a pode sustentar: aPalavra de Deus, via a percorrer para o Seu conhecimento e acesso. Sem ela, no s avida religiosa estiola por aridez, como nem sequer se encontram razes para a pertenaeclesial e, muito menos, para a aceitao da especificidade do estilo de vida dosseguidores do Mestre. A ponto de o nosso mundo ver esta dimenso moral como rgidae opressiva, quando, na realidade, ela sensata, alegre e plenamente libertadora.

    Consciente disto, esta Arquidiocese decidiu-se Tomar conta da Palavra quetoma conta de ns ao longo deste trinio pastoral que vai de 2008 a 2011. E, nestesegundo ano, vai privilegiar o tema da recepo: saber escutar e acolher a Palavratransformadora e reler a Constituio Dogmtica Dei Verbum sobre a revelaodivina, extraordinrio documento do Vaticano II que nos prope a genuna doutrina

    sobre a revelao de Deus e sua transmisso, para que o mundo inteiro, ouvindo,

    acredite na mensagem de salvao, acreditando espere, e esperando ame (DV 1).Gostava que prestssemos ateno a esta muito densa formulao e s

    consequncias para onde aponta.

    2. Palavra de Deus e misso eclesial

    Em primeiro lugar, fala-se de doutrina genuna. Filosofias, pontos de vista,anlises sociais e ideologias sempre as houve e algumas, que se pretendiam ltimas e

    definitivas, abarcaram uma extenso verdadeiramente assinalvel. Mas no disto quese trata. A genuna doutrina de que aqui se fala deriva da Palavra de Deus contida na

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    Sagrada Escritura e transmitida pela Tradio da Igreja, sob a contnua vigilncia doMagistrio para que nada de esprio se acrescente, nem se perca um s jota ou um stil (Mt 5, 18), para o dizer com a conhecida expresso do Senhor Jesus Cristo.

    Depois, diz-se que esta Palavra se destina ao mundo inteiro. verdade. Nsno somos proslitos que dominem a vtima pelo cansao da muita insistncia. Mastambm no esquecemos que temos mandato divino para ir por todo o mundo e fazerdiscpulos (cf. Mc 16, 15). Isto , pertence essncia da f crist difundir oconhecimento do Senhor Jesus, porque debaixo do cu no existe outro nome peloqual possamos ser salvos (Act 4, 12).Externa e interiormente, l fora e c dentro.Este ms de Outubro, dedicado s Misses, ajuda-nos a compreender isto. E a notar aurgncia de evangelizao de um mundo inteiro no qual apenas uma em cada cinco

    pessoas se pode honrar de no se submeter a qualquer senhorio que no seja o doverdadeiro Salvador. Mundo a evangelizar a partir da nossa casa e da nossa porta, pois,nestes pases de velha cristandade, o vento da cultura de massas varreu a f de muitos.

    Depois, este nmero da Dei Verbum a que me estou a reportar interliga aPalavra de Deus com as virtudes teologais, nico trip onde pode assentar o equilbrioda vida crente: para que todo o homem e mulher acredite na mensagem de salvao,acreditando espere e esperando ame. A f s nos pode chegar pela escuta destaPalavra. Esta nutre aquela e, simultaneamente, revela a inconsistncia de tantas

    perspectivas que se pretendem verdadeiras fs e at pensamento nico. E leva-nostambm a sorrir dessa pretensa infalibilidade.

    Esta Palavra , ainda, penhor de esperana e certeza de salvao. Um pensadorconhecido dizia que todo o pensamento actual se pretende salvador e que, nos temposmais recentes, no se tem procurado outra coisa que no seja filosofias de salvao.Mas isto tem levado, frequentemente, ao logro e ao engano. E tambm ao malinstitucionalizado, falta de sentido e at ao suicdio. Pelo contrrio, a esperana cristaponta para o horizonte de significao de Deus-Amor e d sentido a uma existnciaque sabe que dEle vem e para Ele se dirige.

    3. Palavra que se faz testemunho

    esta certeza que funda e justifica a moral crente. No como arbitrariedade,mas consequncia lgica de uma f que se professa. De facto, como sabemos, a culturadominante tolera a nossa f e a nossa esperana, particularmente se assumidas em

    privado e na sacristia. Mas, por vezes, diz-se ofendida com a nossa moral,especialmente quando esta pe a nu a ligeireza de outras perspectivas ticas.

    No de admirar. Foi assim no tempo de Jesus, como o tinha sido no tempo deMoiss. Disso do provas as leituras da Missa de hoje. No princpio, isto , na menteordenadora de Deus ou no seu plano para o mundo, estava que o homem desse nomeaos animais, assumisse o responsvel senhorio organizador das coisas em plena uniocom todas as pessoas, a representadas na mulher, ser da sua natureza ou osso dos

    seus ossos (Gn 2, 23). Depois, no decorrer dos tempos, com a especulao mais oumenos sofista, a razo sem a f e com a dureza (Mc 10, 5) de um corao que se nodeixa transformar, introduzimos do nosso a ponto de substituirmos o tal plano de Deus

    pelo plano dos bem-pensantes. E passamos a justificar tudo o que, antecipadamente,queramos justificar: Olha que at Moiss permitiu que se passasse um certificado de

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    repdio e se abandonasse a mulher (Mc 10, 4), argumentavam os fariseus.Obviamente, perante esta perspectiva interesseira, o dilogo no suficiente para sechegar a acordo. Mas ao crente indicada a via da infncia espiritual, comof/confiana plena nesse plano divino: Quem no acolher o Reino de Deus como umacriancinha, no entrar nele (Mc 10, 15).

    Apelo final

    Caros fiis em Cristo, tendes nas vossas mos o Plano Pastoral Arquidiocesanopara este ano de 2009/2010. Passai-o dos olhos mente e desta ao corao. Descobrique a Igreja nos chama, hoje, a uma unidade evangelizadora que se traduz numa co-responsabilidade ou em caminhos de comunho, como referia o Papa aos bispos

    portugueses na ltima visita ad limina. E que esta no suporta o isolacionismo, masreclama uma pastoral integrada e integral. Uma pastoral ntegra, no sentido de no

    parcelar ou meramente de capelinhapor mais e melhor que se trabalhe- mas de baseeclesial, ainda mais urgente neste tempo de globalizao. Por algum motivo, naEucaristia, sacramento da unidade, no expressamos a nossa comunho eclesial deIgreja dispersa por todo o mundo em unio, por hiptese, com o nosso Proco oucom o dirigente do Movimento ou Obra de Apostolado, mas em unio com o nosso

    Papa e o nosso bispo to concretos que at lhes referimos o nome.Este tipo de espiritualidade de comunho coaduna-se perfeitamente com o Ano

    Sacerdotal que o Papa declarou. Na figura do Santo Cura dArs encontramos o fielcrente e o sacerdote zeloso que no segue os caminhos perigosos de um eficientismo

    pastoral prprio e exclusivista, mas o Pastor que prega o que a Igreja prega, faz o que aIgreja faz e apronta para onde a Igreja aponta. E nisso reside a sua grandeza.

    Que, do Cu, ele interceda por ns e pela nossa Arquidiocese para, em nome doSenhor Jesus e sob a guia do nosso Arcebispo, nos dispormos a acolher a Palavra,

    presena amorosa e salvadora de Deus, em ordem nossa prpria transformao e domundo, e a ganharmos coragem de centrar a nossa aco eclesial no Plano Pastoral,

    base slida de uma pertena assumida e de um cristianismo fiel.

    + Manuel Linda