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O papel dos arquipélagos dos Açores e da Madeira no relacionamento luso-americano nos finais

do século XVIII e inícios do século XIX

Jorge Martilzs Ribeiro

Os Açores, a Madeira e a América do Norte desde cedo manti- veram proveitosas relações de carácter comercial. Aliás, a partir do sé- culo XVIII, os interesses portugueses centram-se decididamente no es- paço atlântico que, de acordo com Vitorino Magalhães Godinho, é "numa outra escala, um Mediterrâneo i s avessas". De facto, Portugal, nação atlântica, possuía, ainda, neste oceano, as ilhas de Cabo Verde e de S. Tomé e Príncipe, vários estabelecimentos ao longo da costa afri- cana, bem como o Brasill.

A Madeira e os Açores ocupavam um lugar significativo nas tro- cas entre os espaço português e a América do Norte, pois ficavam nas rotas dos navios que, através do Atlântico, ligavam os continentes eu- ropeu e americano. A sua impoitância para a navegação residia no facto

I GODINI-IO. Virorino Magalhjer - Puili,~ol e <is,fi,t<,s r10 <iqlíc<rr- (1670-17701, in «Ensaios II . Sobre Históia de Ponugaln, 2." ed., Lisboa, S i da Costa Ediiora. 1978, p. 427-429; RIBEIRO, Jorge Matiuel Manins - Coriiércio e diplo>ii<icio izns irl<lqCc.x lirso-ari~cricnitas (1776-1822). Pono: Facul- dade de Letras da Universidade do Porro, 1997. Tese de douroraniecito, p. 35.

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286 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO DA ILHA TERCEIRA

de ambos os arquipélagos serem pontos de escala, reabastecimento e abrigo, quer para os barcos, quer para as tripulaçõesz.

A posição geográfica do Mclcleleii-a permitia aos navios que da Grã- -Bretanha se dirigiam para a América aí fazerem escala e carregarem vinlio em troca de tecidos de lã, trigo, farinha, linho, arenques, produ- tos da Irlanda e aduelas. Na viagem de regresso deixavam na ilha pro- dutos americanos tais como bacalhau, cereais, tabaco, madeira, an.oz, cera, tecidos de algodão, manteiga, carne e batatas'.

Os Açores, apesar de não estarem tão bem posicionados quanto o arquipélago niadeirense, eram também importantes como pontos de apoio à navegação atlântica. De facto, podiam-se aí obter alimentos, água potá- vel, apetrechos navais e equipagens. A colonização das costas da América doNorte e Central, no decurso do século XVII, aumentou o valor económi- co das ilhas açorianas, em particular do porto da Horta, dando azo aque aí se realizassem negócios vantajosos. De facto, a excelente localização do Faial, bem como o vinho e a aguardente que exportava explicam a sua im- portânciaco~nercial, além de que o local se mostrava ideal para servir de

BEECHERT, Jr, Edward - Tiie i%,iiie ri-<ide ofriie ihii?ecri coloiiier. Uiiiveccity olCalifomin, 1947. DissenaçZo de mestrado. p. 19: RAMOS, Luis António <Ir Oliveira - Do ilasri.<i~óo <ir, iilie- i.<!lisriio. Porto: Lello & Irm5o Witores. 1979, p. 63: DUNCAN, T Beotley - Arlaitric 1.siand.v. Ma- deira, Iltc Aiurrs <i i~d lhe Cc!pe Veille.7 "I ~ ~ ~ ~ l l l ~ e l l l / l - ~ e l t l l ~ ~ ~ ~~,n!lte~.ce nitd ri<irigoriuii. Chicago: Thc University of Chicago Prers, 1972, I>. 2.17: RIBEIRO. J o r p Martins - Algu,?,<iir <iii>ecio.r do cot>iéi'cir, do Madciiir coiii li Ar,iéiica do Nrvre ira regiriida slerode do réciiio XVIII. In «Actas. 111 Colóquio In- ternacional de Hisrória da Madeira.. Funchal: Secretana Regional do Turismo e CuliurdCcntro dc Es- tudos de Hisiória do AtlSntico, 1993, p. 389: RIBEIRO, Jorge Manuel Moninr - Coiiiércio e diplo- iii<ici<r t ios rrirrp%s ii,ro-<ri,,eiic<i,,ris (1776-1822). p. 40.

' McCUSKER. 1011" J.; MENARD, Russcll R. - Tire ecoii«i,~. ofB~'iii.vlt A,,?eiic<z, 1607.1789. Cliapcl Hill: Ilirtitut of Early Ariierican Histaiy abid Culture TThc University ol North Carolina Press, 1985. p. 79-80: 101; 201: HERNÁNDEZ GONZALEZ, Manuel - Lri />royccciuii de E.~rrrdor Uiti<lr~r eii /<i ii,osotierio «ri<iiiliea: L<, ,>i-olecciori de iiiosoites iiiadeirerise.~ eiz C<ii,<iii<ir. «Revista islenhan, Funchal. 8 Jan.-Jun. 1991, p. 98: SILBERT, Albert - Un cai-i-e/otri- rlei'A1i~~riliqire: Mcidèir (1640- 1820). «Anais do Instituto Superior de Ciências Econóriiicas e Fiiranmirain, Lisboa, 22 (3, 1954, 1,. 422; SOUSA. JoSo José Abicii de - O ii!o~.interiio do porto do F~,iclzrii e o coizjiieiiir-<i dri iixideim de 17270 I810 Ait io i s ~ ~ , ~ / ~ c c i o . ~ , Funchal, Secretaria Regional do Turismo, Culturn e EmigruçSo, 1989, p. 119. RAU. Virginia - O III<>I.~,?~PIIIL) du b<ii.r<, do DOI,IV di,l.nnte .séc~$o XVIII: t d i i ~ < i ~,~ ICI~ I .E I< I - $50. «Boletim Cultural da C3rnara Municipal». Pono, 21 (112). 1958, p. 19: RIBEIRO, Jorge Manins - Aigaiis arl~ecius do cuinéiciu do Madeiro coin n Aiizéi-ic<$ do Narre r,« .segrttzd<i ,irerede do .sén,/o X1'111, p. 390; RIBEIRO, J a rg Manuel Maniiia - Coiitércio e dipioiii<rr-i<, iz<rs irl<rr<ics li,.ro-(iriieri- cro~is (1776-1822).. p. 40.

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entreposto a trocas e a fazer baldeação. A Horta, aliás, passou a desempe- nhar, nos séculos XVIII e XM, um papel significativo, sendo um ponto de encontro para os navios que cruzavam o oceano, bem como para os que se dirigiam para as Índias Ocidentaisd.

A ilha de S. Miguel, amaiore mais populosa, não tinhauma posição - .

geográfica tão favorável quanto o Faial. A sua principal exportação para a América do Norte era constituída por laranjas e limões, sendo o porto de Boston um dos destinos principais das exportações micaelenses. Já a Ter- ceira, o centro político, militar e eclesiástico açoriano importava da Nova Inglaterra e da Terra Nova, bacalhau, óleo de peixe, aduelas para pipas e inadeiras. Além disto, os americanos, desde aépocacolonial, tinham inte- resses na indústria baleeira dos Açores. Na segunda metade do século XVIII compravam óleo de baleia que enviavam paraLondres, a fim de ser refinado e reexportado para o norte de África5.

As principais mercadorias expedidas por Portugal metropolitano e arquipélagos atlânticos para as treze colónias inglesas da América doNor- te, antes e depois da independência, eram, sobretudo, vinho e sal, de lá re- cebendo priinordialmente cereais em grão (trigo e milho) e farinha6.

A Madeira ocupava um lugar de relevo no comércio luso-ainerica- no, dado ser um mercado importalite para produtos como o arroz, biscouto, carne salgada, cera, farinhas, madeira, milho, óleo de peixe, peixe, presun- to, sabão, sebo, toucinho, bem como velas de espermacete. E, se se veri- fica um decréscimo das exportações americanas para o arquipélago, não parece ter havido uma quebra muito acentuada entre 1785 e 1802. Em

MENESES, Aiaeiiiio de Freitas dc - Or Ar~ire.s rios eitciiríilbarlor de reicce,iror (1740-1770). I - Pr,dere,~ .r I,i.~1;11ii[.,irr Ponta Dclgxla: Univeisidade dos A~orcs. 1993, p. 29; DUNCAN. T. Beiiiley, ob. cil., p. 154-156; RIBEIRO, Jorge Manuel Munins - Coi,,é,cio e diploiir<zci<t i><,.? rrl<rç<icr liiso- irii~cricaiias (1776-1822). p. 46-47.

5 MENESES, Avelino de Freiias de - O.< A~o'er iins e,ici.arilb<id<ir de Srrrccirios (1740- 1770). 11 -Ecoi,orni<i:, Pontn Dcigidn: U~iivenidsde dos Ayores, 1995, p. 218-221: 235.239 (quadros 21 a 26) : DUNCAN, T Benlley, 06. cil., p. 136; AFONSO, Joiio - B<ilençriu elos Aioi-er rili diii6- iiricn <iil<ii,ric<r clesde o sécillo XVlll. «Boletim do Inslituto Histórico da ilha Terceira», Angra do Heroismo, 45 (2). 1988. p. 1276 RIBEIRO, Jorge Manuel Manins - C<,ii!éirio e diploii~<iciu ?tas ir-

lo@s lr,.~o-ririrr-~co~~~r.r (/178-1'8221. p. 47-48. 218-221 "RIBEIRO. Jorze Monucl Manins - Cui?zércio e dipl<irn<ici<i izos rrl<r(.<íes Iaso-<~i~,eiic<tri<ir

(1776-1822). p. 949.

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288 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO DA ILHA TERCEIRA

180111 802 assistiu-se, de facto, a uma diminuição das exportações devi- do ao desembarque, em 1801, de tropas inglesas no Funchal, as quais aí se mantiveram até inícios de 1802, pouco antes da assinatura da Paz de Amiens. De 1802 a 1807, este escambo vai experimentar altos e baixos, paraconhecer uma novaquebra em 180711808, devido ao embargo ame- ricano, o que, ao impedir a chegada a estas ilhas de farinhas e cereais, criou dificuldades de abastecimento.

Gráfico 1 -Exportações dos Estados Unidos para a Madeira (Percentagem em relação ao total exportado para a Metrópole,

Madeira, Açores e Domínios)

Foiitc: ESTADOS UNIDOS, Congresso - Aiiieiicriri Siore Popei.,~. Docirii,ei,rr, Legi.r/orive orid Eiecieiic ofrhe COI I~~~.SS ofihe Urtired S1oie.r. Washington: Galcs and Seaion. 1832- 1834. Vols. VI1 e VIII.

Entre 1807 e 1814, a Madeira voltou a estar ocupada pelas forças britânicas, sendo, no entanto, o período entre 1 de Outubro de 1808 e 30 de Setembro de 18 11, aquele em que comprou mais produtos aos Estados Unidos. A queda subsequente deve-se à guerra anglo-americana, inicia- da em 18 12. A diminuição das exportações estadunidenses para a ilha pa-

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BOLETIM DO INSTITUTO HISTORICO DA ILHA TERCEIRA 289

rece resultar do aumento dos direitos sobre o vinho da Madeira nos Esta- dos Unidos; daí que o arquipélago i n a d e i r e n s e passasse a ter menos dis- ponibilidades para adquirir as mercadorias que n e c e s s i t a v a 7 .

Gráfico 2 - Ex~ortações dos Estados Unidos para os Açores (percentagem em relação ao total exportado para a Metrópole,

Madeira, Açores e Domínios)

Fonte: ESTADOS UNIDOS, Congresso - A~iierrcnii Srarc Pape l r Docri~rre~tts, Legislative niid Execrtrivc of rlie Coizgiess of tlie Utiited Srntcs. Wasliin:ion: Gales and Seatoii,

1832- 1834. Vols. VI1 e V111.

7 SOUSA. João José Abi-eu, ob. cir., p. 89: SILBERT. Alben, ob. c i r . p. 4 3 2 Nntional Archives 2nd Recoids Ad,>iinistration (Washington. DC)., General records of tlie Depanment of Stute. Ceiitral lilcs, Des~>niclie.r.finiii U?circd Sr<ites Corirrrlr iii Fulrirclial, 1793.1806, uni. 1 (Mriiib 21. 1793 - Jlrb 16. 1831). (Nutiorirri Airbiics ri i iqf i l i iz ~>trúlic<ilioii, 7205. i.010 I ) . Memória do c6nsul dos Estados Unidos no Fuiicliul, Diogo Leandcr Cathcan, dingidn ao Príncipe Regente D. Jogo, datada do Funclial, 6 de Noveinbro de I81 1: Arquivos NncionnisKorre do Tombo. Ministério dos Negócios Estrangeiros, Arquivo Central, crirrrpoi,dêrici<i ieccbid<i. cnirrlioiidêirci<i dar Leg<rçrjes P~ii-riyires<ir. 1Vosliiiigtoii. c<ii.v<i 554 (1830-1~733. Oficio no. 18 do encarregado dc negócios. Jacob Frederico Torlade Pereira dc Azaiubuja, ]para o Ministro e Secretino dc Estado dos Negócios Esrrangciros, 2'. visconde de Santaréin, Manuel Francisco Mesquita de Macedo Lei130 e Carvalhosa, datado de Georgetown. 26 de Fevereiro de 1830: RIBEIRO. Jorze Manuel Martitis - Coiiréicio e <lil>luiiioci<i ii<is rsl<rç,ies liiso-<liileiicriri<is (1776-18221, p. 193-196.

A panir de agora os Naiianal Archives m d Recoids Adminisnation passam a ser designados pela abreviatura N.A.R.A e os Arquivos NacioanisKoire do Tombo pela abreviatura A.N.K.T.

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Conforme se pode verificar, através do gráfico 2, a importância dos Açores coino destino das mercadorias americanas é menor que o madeirense. A partir de 1796 as exportações dos Estados Unidos para o arquipélago decrescem, apresentando um ináxiino no biénio econó- mico 1808/1810. De facto, nesta altura, em coiisequência do embargo de 1807-1809, o porto da Horta tornou-se um entreposto para os pro- dutos estadunidenses, de onde eram enviados para a Inglatera. Daí que, com o advento da Paz, as compras das ilhas dos Açores aos norte-ame- ricanos diminuissem muitos.

O vinho era um dos principais produtos expedidos pelos arqui- pélagos inadeirense e açoriano para os portos da América setentrional. De facto, o vinho da Madeira era o preferido pelos colonos, sobretudo pelas classes superiores, conforme constata, ein 1795, o ministro resi- dente de Portugal junto do executivo americano, Cipriano Ribeiro Freireg. Aliás, as bebidas alcoólicas, em geral, gozavam de grande po- pularidade entre os habitantes desta região, devido h dificuldade em obter outro tipo próprio para o consumo e a preços razoáveis. Assim, a maioria da população optava pelas bebidas fermentadas, enquanto, as classes abastadas preferiam o vinho, julgando, inclusive, que este es- tava isento de álcool. Daí ter sido grande a surpresa quando se desco- briu que o Madeira, o vinho mais consumido, tinha um teor alcoólico superior a 20%. Isto explica porque, após 1820, foi alvo de ataques das associações que se opunham ao consumo destas bebidaslo. De qualquer modo, de acordo com W. J. Rorabaugh, entre 1790 e 1830 o consumo, per c n p i t a , dos noite-americanos foi superior ao de qualquer outro pe- ríodo da sua história".

3 VERMETTE, Mnry Thercsa Sylvia - Eoi-S A>iieiic<i5 iri<iri<>izrhii> ivirit riie Azoirs; <i cori- rirlni. vieir «Boletiiii do Institirto Histórico da ilha Terceira», Angn do Heroismo, 45 (I?), 1988 , p. 1306 e 0.v R~rzkees e o firiirl. «O Faia1 c a Periferia Açoriaiia nos sécs. XV a XIX», Hona: Núcleo Cul- tiiral da Hona, 1995. p. 297; RIBEIRO, Jorgc Manuel Mnnins - C,>iizéicio e <liplutiincl<i i~<,s >rl<i- pUrs Iiiso-oiscricniz<is (1 776-1822)., p. 197-200.

9 RORABAUGH, W. I. - Tl8e nlcol~ulic Repiiblic. Ai, Aiaei-ic<irl Ti-<r&riori. New York: Oxford University Press, 1981, 101: largc Manuel Mnniiis - Coriiérci<i c diplot,z<rci<i iios ialoçües iaro-oiiie- ricaiws (1776.18221. p. 36, 225-22: A.N.iT.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Arquivo Central. coi-iinrpo,idê,icir> ircebidu. cni.ier~>oridêiicia d<ls Leg<içüer Poiri<girs.ru.r. Il'o.vhii,gloii. cnir<r 550 (1777- 1796). Documento No. XXXII intitulada "Commcrcio geral dos Estados Unidos com as principacs potencias da Europa e panicularmenle com Ponugal" anexo ao oficio no. 42 do ministro residente, Cipnano Ribeiro Freirc, para o Secretino de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Luís Pinto de Soiisa Coutinho. dnrncin de Filadélfia, 27 de Junho de 1795.

' 0 RORABAUGH. W J., ob. cil., p. 100-101: RIBEIRO, Jorge Mattins -Aiginlr nrpecros r10 cariiérclo do Madeira cuni <i Ariiéiic<r do Narre iio segaiid<i tiierode do sécrrio Xl~ill., p. 391-392.

" RORABAUGH, W J., ob. cit., p. 1%; RIBEIRO; Jorge Manuel Manins - Co,iiéxio e di- pioriirrcin t8a.y isioçües iitso-o,rzeilcarxir (1776-1822). p. 217.

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A popularidade do vinho da Madeira na América do Norte, pa- rece dever-se a uma série de factores. De facto, as leis britânicas faci- litavam a sua importação, o comércio entre as colónias inglesas e o ar- quipélago madeirense era lucrativo e Londres impusera limites à com- pra de vinhos noutrds locais. Além disto, as características do Madei- ra faziam com que não perdesse qualidades após uma longa viagem marítima, acreditando-se que tinha poderes medicinais, numa altura em que se utilizava o vinho como anti-séptico, antibiótico e a n e s t é s i c o ' 2 .

Cabe aqui também referir que a maior parte deste lucrativo trá- fico se encontrava na mão de ingleses, tendo sido eles quem promo- veu o consumo deste vinho nas colónias britânicas da América do Nor- tel3. Na realidade, entre 1735 e 1775, houve um aumento constante do preço do Madeira no mercado de Filadélfia, mesmo nos anos de 1756 e 1775 em que a qualidade é considerada f r a c a l 4 . Esta tendência man- tém-se no período de 1796 a 1822, atingindo no final deste quarto de século praticamente o dobro. Isto explica, aliás, o facto de vinhos das ilhas Canárias serem vendidos nos Estados Unidos como se de Madeira se tratasse e de servirem para adulterar este Ú l t i m o l s .

' 1 SILBERT, Alben, 06. cir., p. 422; MANCHESTER, Alan K. - Biiiirh prreii!irlei,ce iii Bro;il. lis i,se <i>,d decliiie. r1 .si,,dy i91 Ei<i.operrir e.~1~orisiorz. New Yoik: Octagoii Books, 1972, p. 29: RIBEIRO, Jorge Mmins - Alg<ii,r a.?I>eci«r do curilérrio do Madeiro c,,r,rri o Aiitérico do Norte i io se- gro~dri ,iierri<lc do récrrlu XVIII, p. 390-391: RIBEIRO; Jorge Manuel Manins - Coiiiércio e diplu- iuacio nas r-eln@e.~ lnso-<ririeric<ii,<is (1776-18221. p. 42.

l i GUIMERA RAVINA. Agustín - «L<rs islos de1 viiioa (Modeir", Azores ). C(iil<ii:i<is) ). Ir1 Aiael.ica Nrgles<r dui-rrrire E1 sigilo XVIII: ail<i <il>ro.i-i!iz<icid!r ri s u esrirdio. In *Colóquio Internacional de História da Madeira. 1986», vol. 2. Funchii: Governa Regional da Madeira, 1990, p. 929-930; SILBERT, Alben, 06. cii., p. 399; RIBEIRO; Jorge Manuel Manins - C<,~iiérciu c diplr~,iincio ,i<r.r re- lri~6e.r Iirso-ni>,er?c<i,i<is (1776-1822), p. 43.

" BEECHERT, Ir, Edward, ob. cii., p. 14, 21; MINCHINTON, Walter - Briroi~i <r,,d Mri- deim 10 181C In «Actas do I Colóquio Internacional dc História da Madeira - 1986r Funchal: Go- vemo Regional da Mridcira. 1989, p. 502: RIBEIRO; Jorge Manuel Manins - Coi,zéiri« e dil~loti,<i- cio iior reloçrirs lrrsn-niireilc<iiinr (1776-1822). p. 44.

ir A.N.TTT., Minisiério dos Negócios Estrangeiros, Arquivo Central, cor?rspoizd8~tci<i recebi- da, coi-i-erporid&ici<i <I<ls Legaç8c.v Poiirrgircsris. IW~slti>igio,i. c<ii.ro 550 (1777-1796). Documento No. LIV, pane do relatório inlitulado "Cornmercia gcral dos Estados Unidos com as principms potcncias da Europa e paniculamicnte coni Ponugai" anexo ao ofício no. 42 do ministro residente, Cipriano Ri- beiro Freire, para o Sccrelirio de Estado dos Negócios Estrangeiros c da Guerra. Luis Pinto de Sousa Coutinlio, datado de Filadt'lfin de 27 de Junlio de 1795; HERNÁNDEZ GONZALEZ, Manuel - Lu pwecciori de E,si<,do,~ Uizidos oi lo !i!asoitei.io orlnizricir: L<i pmreccioir de ,ii<isoiics r,!<i<lcii.etlser eii Co,i<ii,<is, p. 98; BETHENCOUIIT MASSIEU, Antonio - C<rrwi-ios e h,g/nierm: e1 co,ueicio de vir?or (1650-1800). Las Palmas: Cabildo Insular de Gran Canaria, 1991. p. 37-38, 100. 140, FRANCIS, Alan David - T11e ivitie ilridc. Nova lorque: Harpcr and Row Publishers. 1992. 11. 62-63; 162. RIBEIRO, Jorge Manuel Mmins - C<,,iiéiria e dipiaiincin rios rel<i$8es leso-<ri~,eiic<irilir (1776-15221, p.42-43; 23 1-232.

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292 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO DA ILHA TERCEIRA

O gráfico 3, construído com base em dados fornecidos por Maria de Lourdes de Freitas Ferraz, mostra-nos quanto os Estados Unidos eram clientes importaiites, entre 1780 e 1799, chegando, nalguns anos, a com- prar mais de uin quarto de todo o vinho exportado. É, no entanto, de re- ferir que, em 1787, a maior parte das pipas enviadas para os Estados Uiiidos e colóiiias britânicas do continente americano teve como desti- no as Antilhas, outro grande centro coiisumidor do Madeiral6.

Gráfico 3 - Vinho da Madeira exportado para os Estados Unidos (percentagem em relação ao total

I I

Fonte: FERRAZ, Maria de Lourdes de Freiras - O i~iiziio rln ~Mndeiln iio séci<lo XVIII - Pivdi<çáo e »ieirodus iiiiei,irrcioi~nis. In «Actas do 1 colóquio internacioiial de História da Madeira*, \'ol. 2. Fuiichal: Governo Rezional da MadeiraISecretaria Regioiial do Turismo, Cultura e Emigração, 1990. p. 963 (quadro 6); 955 (quadro 9).

'"SILBERT, Alben, 06. ci!, p. 426-428: FERRAZ, Maria de Liirdes de Freiias - O iinhr, da Mrideiiu eo .sécirlo Xl/III - Pro<!lipio e riieiu<rdos i!iien,ocioiinis. In «Actas do I colóquio inter- nzcionnl de Hisr6ria da ,\f~&rm>, "o!. 2. Funcha!: Governo Region,?! da h 4 a d e j i ~ ~ S e c i e f ~ ~ ~ ruoml do Turismo, Cultura e Emigia$Xo, 1990, p. 963 (quadm 6): 965 (quadro 9): RIBEIRO, Jorge Manuel Manins - C,,j>,ii,éirio e di!>lorrinci<i iios rel<i$:<ies !l<ro-rriiieiicoil<is (1776-18221. p. 225.

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294 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO DA ILHA TERCEIRA

Será aqui curioso referir que, além do arquipélago madeirense, os Estados Unidos compravam Madeira em muito outros locais, nomea- damente nas colónias da Dinainarca, Espanha, França, Grã-Bretanha e Suécia. Alguin deste, devia tratar-se do denominado vinho de roda, so- bretudo o que era exportado pelo Brasil e por Cabo Verde, enquanto no decurso do conflito de 1812l1814 uma porção iinpoitante do vinho entrado ein portos estadunidenses era parte da carga de navios captu- rados. Além disto. o já referido Cipriano Ribeiro Freire alertava as au- toridades de Lisboa para o facto de chegar aos portos americanos muito mais Madeira do que o registado nos documentos alfandegários. Aliás, de acordo com o que já inencionámos para os tempos coloniais, além de servir para adulterar este vinho, o de Tenerife continuava a entrar em território estadunidense como se fosse proveniente do arqui- pélago madeirense. Isto explica-se pelo facto do das Canárias pagar cerca de inetade dos direitos alfandegáriosl9.

Gráfico 5 - Preço médio anual do vinho da Madeira no mercado de Filadélfia, em dólares de 1822

Preço por pipa em dólares de 1822 450

Fonte: COLE, Anhur Hmison - llJ/~u/e.~ale pricer iii llie UitiredSr<iler 1700-/%/ Cainbridgc: Hanurd Univcrsity Press, 1938. p. 109-203.

'3 A.N.íí.T., Ministério dos Negócios Estrangeiros, Arquivo Central, c o r r p ~ l c i recebi- da, coi-respuiidê~zci<~ d«s Leg<rrõcr Por?lrgirar<rr. IV<ishii~gloii. coixo 350 (1777-17961. Documento No. XXXII intitulado "Comrnercio geral dos Estados Unidos com as principnes potencias da Europa e par- ticularmente coin Ponugal" anexo no ofício n". 42 do ministro residente. Cipriano Ribeiro *ire, pxa o Secrelário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, Luís Pinto dc Sousa Coutinho, datado de Filadélfia, 27 dc Junho de 1794: VIEIRA, Albeno - Bini<írn> do ?i,i/in e </o vii,li<i do M<t<leii.<i. Porir<, DeIg<rriri: Euinsigiio Pi,lilic<i~des, Ld"., 1990, p. 70; RIBEIRO, Jorge Manuel Manins - Co- I I I ~ I C ~ ~ e dii>loiiraci<t iiui i-elripõer irrso-<iri~eric<ie<~r (1776-1822), p. 230.232, 237.

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Além da Madeira e de Portugal metropolitano, as principais re- giões portuguesas exportadoras de vinho para o mercado americano, os Açores, embora ocupando um lugar mais modesto, também enviavam algum deste produto para os Estados Unidos. Apesar da maioria das .' ilhas produzirein vinho, apenas os do Pico e de S. Jorge tinham quali- dade para serem vendidos na América do Norte. O da ilha Graciosa, embora de menor qualidade, também era consumido na América devido ao seu preço inferioi"0.

Na realidade, o mais popular era o do Pico, conhecido coino vi- nho do Faial (Faynl Wiize) entre os norte-americanos, embora, tal como o de S. Jorge, fosse exportado através do porto da Horta. Isto explica porque, no século XVIII, se misturavam com frequência os vinhos das duas illias. O do Pico era parecido com o da Madeira, embora fosse de q~ialidade inferior, sendo vendido por cerca de metade do preço. Re- sistia, no entanto, a altas temperaturas, o que também o tornava bom para ser coinercializado e consumido ein regiões tropicais. Além dis- to, na segunda metade do século XVII, a Nova Inglaterra absorvia uma maior quantidade deste produto do que os países europeus".

Os Ai7iericaiz State Pnpei-s, a fonte por nós utilizada, não nos per- mite deterininar coni exactidão a quantidade do denominado vinho do Faial exportado para os Estados Unidos, pois, a partir de 1816, este aparece somado aos de Tenerife, sendo impossível separá-los, confor- me se pode virificar através do quadro 1. De qualquer modo, tal como acontecia com o da Madeira, os Estados Unidos adquiriam-nos ein vá- rios locais do globo e não apenas nos arquipélagos que os produziam

2' DUNCAN, T. Bent1i.y. ob. til.. p. 130; A.N.m.T., MiiiistCrio dos Nezócios Estrangeiros, Ar- quivo Centnl, cni.re.s~~sl>oi~dêrzciii ircebidri. cor,r.cl>oiidèi~ci<i das Legoç<icr Poi.iirg~rer<,r. IVoriiiiig~uri. crii- i a 550 (1777.17961 Documento N". XXXII intitillado "Cornmercio scrnl dos Estados Unidor com as piincipnes poteiicius i la Eiiropa e pnnicularinente com Ponugnl" anexo ao ofício no. I 2 do ministro re- sidente, Cipiiano Ribeiro Freire, para o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, Luis Pinto de Sousa Coutinlio, ditado dc Filadeifia, 27 de Junho de 1795; IIIBEIRO. Jorge Manuel Ivlanins - Cuisércio c <li/,ioiitoci<i ririr ieloifier Iiiro-<isieiicaiioric. (1776-l8??1. 11. 214-236.

2 DUNCAN, T Bentley, ob. c;!., i>. 151-153; RIBEIRO, Jorge Maiiiiel Mnnins - Coiiiér~in c rlii?loi?t<icio n<is irl<i~&r iiira-n>ireiicnit<is (1776-18?2), p. 46-47.

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Quadro 1 - Importação de vinhos de Tenerife e do Faia1 pelos Estados Unidos da América

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ou nos dois países ibéricos. Se atentarmos nos totais dos vinhos de Tenerife e do Faial importados pelos norte-americanos verificámos que a maior porção foi expedida pela Espanha e ilhas Canárias, enquanto de Portugal, Madeira e Açores saiu uma parte muito pequena. De fac- to, o volume dos vinhos de Tenerife comprado pelos Estados Unidos era superior ao importado dos Açores22. Através da fonte consultada conseguimos, no entanto, apurar a quantidade de vinho que o arquipé- lago açoriano vendeu aos norte-americanos, conforme se pode ver atra- vés do quadro 223.

Quadro 2 - Exportações de vinhos dos Açores para os Estados Unidos (Unidade - galão)

Fonte: ESTADOS UNIDOS, Congresso - Aiiiei-icurl Sture Pupers. Docrrr~~ei~rs, Lcgislurivc uild Execirrive of rlle Corigress ofilze Urlired Srafe. Washington: Gales and Seaton, 1832- 1834. Vols. VI1 e VIII.

Algum sal, embora não de produção local, citrinos da Terceira e S. Miguel eram outros dos produtos exportados para a América do Norte24. Aliás, em 1812, o cônsul americano no Faial lamentava que o comércio entre as ilhas de S. Miguel e da Terceira com os Estados Uni-

" RIBEIRO, Jorge Manisel Mnninr, ub. cir., p. 238-239 2 Idem, ibidein, p. 239 (nota 170). " Id., ibid., p. 252; 256.

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298 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO DA ILHA TERCEIRA

dos fosse insignificante, limitando-se à troca de laranjas e limões por mer- cadorias estadunidenses25.

A posição geo-estratégica e a sua importância comercial explicam, desde cedo, a existência de representantes estadunidenses em ambos os arquipélagos. Assim, a 31 de Outubro de 1783, o americano John Marsden Pintard, residente na Madeira, foi nomeado agente do seu país para esta ilha e para a de Porto Santo. Esta decisão do Coiigresso I-eve- lava-se necessária e até urgente, porque, de acordo com as normas em vigor, os navios só podiam obter os despachos alfandegários através do cônsul ou do agente da nação a que pertenciam. Na realidade, e para obviar a dificuldades deco~~entes da iião existência de um represelitalite no arquipélago, logo após a revogação do decreto de 4 de Julho de 1776, pelo qual Lisboa fechara os portos portugueses aos navios americanos, o governador do arquipélago escolheu John Marsden Pintard para actu- ar como agente dos Estados Unidos. Além do mais, todos os negocian- tes que exportavam vinho em barcos americanos arrecadavam uma taxa igual à cobrada quando este era enviado em navios britânicos. Enquan- to este se destinava a um fundo destinado a auxiliar súbditos ingleses em dificuldades, o dinheiro recebido pelo vinho exportado a bordo de navi- os americanos ficava na posse dos c~merciantes~~.

John Marsden Pintard acabou por ser nomeado cônsul dos Esta-

= N.A.R.A. Gcneral recordr of tlie Oelianmcnt o i State. Central Filer. De.~~~nrclier./i.oii~ Uiiircd Sroies coi,sirl.~ iii i;-(11, 1795-1897, i.01. I lM<iirh 4, 1795 - Noici?rl>ei- 28, 1832). (N<irioi~olAicbjver riiicr-ofrliir pirúlic<iriorz R03. rolo 1). Despacho do cônsul John Bass Oabney para o Secretjno de Es- toda, lames Monroe, datado do Wial. 6 de A b d dc 1812; lorge Manuel Mmiiis - Cuiaéir.lo e di- />loiiincio ir<ir rel<i~<ics lrrro-oriiei-icuiios (1776-18221. p. 928.

Joi,ni<ilr "f lhe Coriiit,e,ir<rl Coi,xirsr 1774-1789, (editados por WC. Ford. G.Hunr e J.C. Fitzparrick). vol. XXV. 1783 (Seprember I - Dccember 31). Wasliington.Govemmest Printine OiIíce, 1922, (1. 778-780; N.A.R.A. General records of tlie Depnnment o l State. Central Files, Di/>loiit<ilic orzd C<iiisirl<ii. hzsrisaiorir Foreifit LCIIQS <>/!/!e C<>,tri,tenr<~l COI I~ES ciizd ibe Dcpiii-riiieizr o/Sl<ile. 1785- 1790. val. I (Jminuaiy 14, 1785 - Oeceiiibci 23, 1790). (National Archivrs microfilm publicntion, M61, rolo I), p. 292-293. Cana do Secrct5rio dc Estado dos Negócios Estrangeiros, John Jay, para o capi- 15,-gera1 da ilha da Madeira, O. Oioeo Forjar Coutinlio, datada de Nova lorque, datada de 7 de De- zembro de 1787; RIBEIRO, lorgc Manuel Maninr - Coinércio e d;l>lorilricirr rios irI<iç&s Iirso-oliie- i-ic<rii<rr (1776-18221, p. 354-355.

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BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO DA ILHA TERCEIRA 299

dos Unidos, no Funchal, pelo Presidente George Washington e confirma- do no cargo pelas autoridades portuguesas, em 17 de Setembro de 1791, pouco depois da chegada do ministro residente David Humphreys, a Lisboa?'.

Tal corno as outras funções consulares em Pomigal metropolitano, este posto revelava-se apetecível pelo prestígio e privilégios que conce- dia a quem o exercesse2s. Isto explica, por uin lado, a atitude de urn dos sócios de uma das mais importantes finnas da Madeira, a h z a c Hill, Bisset & C., que pretendia o cargo para um primo. Além de ser uma boa colocação para este seu parente, a casa retiraria daí muitas vantagens de carácter comercial29. Por outro lado, justifica, quanto a nós, a ambição de, em 1793, ser também nomeado cônsul da França na Madeira, após o fa- lecimento da pessoa que ocupava tal lugai; para o que obteve um pare- cer favorável do Secretário de Estado, Thomas Jefferson. A documeiita- çáo consultada não nos permitiu deterininar se Pintard alguma vez exer- ceu estas funções consulares. Sabemos, contudo, que, em 1798, tentou obter o lugar de cônsul dos Estados Unidos em Cádis, tendo acabado por

3 N.A.R.A. Generiil recards of rhç Dspn,riiirnt af Stare, Centnl tiles. Dil~l~ir>ir<i;c <urd Cm- srrlor htrir?icrioiis. Forcign Lcneis otf ilze Coiiiiiieiiinl C ~ ~ n g , r r r <ind ilte Del~<ri-riae,,r of Srrrie. 1785- 1790, vol. I (Januãry I?, 1785 - Deccmber23, 1790). (Nntionul Archives miciofilm publication. M61, rolo I) , p. 354. Ocspncho do Secietzírio de Estada, Thomas Jefferson. para o c6nsul Jolin Mnrsden Piiitard, datada de Nova lorque, 15 <!c Junho de 1790.RIBEIR0, Jorgc Mnnins - Algarir o.?/>rcior do corriémio da Mrirleiio cr~iiz <i Aii!érico do h'oiie iio regirirrlo ,iierolle </o séci,lr> XVII I . p. 400; A.N.KT., Minirt6rio dos Negócios Ertiaii@iros, Arquivo Central, c ~ ~ ~ ~ ~ e . r { ~ o ~ ~ ~ l ê ~ ~ ~ i ~ ~ <1<).7 lex,,<6e.c e.v/ro,~xcir<t.r c,), Lirbool, c<!i.~cr 110 (1790- I80iJ . Notas do ministro residente, coroncl David Huinplireys, para o Secie- t6"o de Estado dos Ncgócios Estlnngeiior e da Guerra, Luis Pinto de Sourn Coiirinlio. datadas de Lisboa (Bueiias Aircs), 10 de Junho, 1. 9 e 17 de Setembro de 1791: RIBEIRO. Jorge hlanuel Manins - Coii~ércir, e <lil,lotii<iciri iicrr iel<i<<íes Iirrn-<irizei.ic<iilris (1776-1822). p. 156.

? 8 RIBEIRO. Jarze Msniiis - O curlio consii/<,r no iior-oeste l>orntgu& !to./irtnl do sécirlo X1'111: Iiierorqrriar e dirri-il>ai<<io rerriiorini. ConiunicaçZo apresentada nas IV Jornadas de Estudos Nonc de Ponugal-Aquitiinia, subordinadas no terna: "Articulatiolis des temitoires dans Ia Péninsule 1bé"que". Bordéiis, 19 a 21 de Noveinbro 1998, policopiado.

' 9 RIBEIRO, Jorge Manins - Algiliis nsl>ecio,s do c«iilEir.io do Mri<leii.<r coii! o Aiuéi-icrr do Noi-re rio .segiiitd<i ii,ei<ide do sécirlo XVI I I . , p. 400-401; RIBEIRO. Jorge Manuel Manins - Coiizéi- cio E diploiencia wis rrl<r(.<ic.r 1iii;u-<iinei?c<iri<ir (1776- /822) , p. 9 18-919.

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ir para o Rio de Janeiro como secretário do ministro plenipotenciário Thomas Sumtei; J u n i o r 3 0 .

Após a saída de John Marsden Pintard, as funções de agente con- sular no Funchal foram exercidas por Lewis S. Pintard, Mariel Lamar e, a paitir de 1807, por James Leander Cathcait. Este foi nomeado, pelo Se- nado, a 29 de Dezembro de 1806, tendo desembarcado no Funchal a 18 de Junho de 1807". Cathcart que estivera vários anos cativo em Argel, antes de ser nomeado cônsul nessa Regência, bem como ein Tunis, Tripoli e Livorno, viveu na Madeira durante 8 anos. Este foi um perío- do difícil, tendo sido uma época de embargo, de ausência de relações co- merciais e de guena. De facto, como já referimos, a Madeira esteve ocu- pada por forças inglesas, embora tal facto não tivesse causado probleinas de maior ao cônsul. A James Leander Cathcart sucedeu o tenente-coro-

'W.A.R.A. Gcncial iccords o l thc Depanmcnr of State, Central files. De.si~<riclres/ioia Uiiiied Siurer cortsi<ls iits Fuiich<ii, r o l i (M<ricli 21. i793 - Jrrly 16, IB3i1, (N<ttioi,ol Aiiitir.es siicir,/ii?, i>~l.licrriiori. 7205. roi<, i ) . Despnchos do cônsul Jolin Marsden Pinbtard para o Secretário de Estado. Tliornas Jefferson, datados do Funchal, 27 de Mar90 e 7 de Jullio de 1793; cópia de uma cana do cônsul lrai>cfs, Dc Ia Tuellicr para a cônsul John Marsden Pintard, datada do Funchal, 26 de tnarço de 1793. anexa ao despacho do cônsul John Marsden Pintard para o Secret5rio de Estudo, Tliomus Jefeson. da- tado do Funchal, 27 de Março d ç 1793. Id., Dii~Ios,<iiic oiid Coi~s,r/<rr. Ir~rii.ircii,~izs. 1791-1801. vol. 2 (Aeflurr 22, 1793 - Jsrie i , 1795). p. 25 (Naii<ii,al Alrliiver riiici<ifiliir ~>iibiicririoiz, M28, iolo 2). Des- oaciio do Secretária de Estado. Tlioinns Jeferson. "ara o cônsul John Marsdeit Pintard. datado de Fi- 1.J;lii.i. I? ,ti. Se~ciiilirl .I< 17,:l Id . Oc.,i><.i s i . % l i . , !$ l/ii.ii,i! . i i , i i , i !/,i.. r . I'. i ( 1 1 .i . . . 2 I . - . , I . i . i \'..r.. >i,, ,\i,ii.i<.i i,,./ li,,, i . <li ,,i ] " , '> ' : . " ' <' 11.1.1 8 . i 1 . i

i I>cr u ; i i ~ ii I I .I i i i t i i i i c i i i !il:iiin,icii;i::no \Vi.Iiz1ci S i i .~ i I i ii.1r.i .i Sc:ii.t:ii~l .I< E>1i1.Ioi 11111>111. . . Pickrring, datado de Lisboa, 10 de Novembro de 1798; Id., De.~porci!es,fi.oirz U~ziied S~i<i,er Miizirreir io Bini i l , vcil. i (Apii l 3, 1809 - Oct,,l.ei- 11, 1813). (A'ntioi~ril Archivcs ritici-ofilrii pitblicniioii. Mi21, rolo 2). Derpaclio no. 7 do ministro plenipotenciário, Thosias Sumter, Junior, para o Secretário de Es- tudo, Roben Smith. datado do Rio de Janeiro, 11 de Janeiro de 1811: RIBEIRO, Jorge Manuel Martins - Coiiréirio e diploi?rncin ,i<ir i r lo~Ues liriu-<iiiiei?c<irinr (1776-1822). p. 919-920.

3 N.A.R.A. General records of tlie Depanriient of Statc, Central files. Personciel Records. Liri qf U.S. C<ii~nrlr~i. O//cem. 1789.1939. !:o/. i 1 (Nritiurtol Airhiver iizici.o$lri! i>irblicritioir, M587, rolo i i ) : Id., De.sparclzerfir,i~i Utiited Sirrier cuiisrrlr ir, Fz<ilitchal, v01 i (Mriiric 21. i793 - Jul). 16, 1831). (Nnrioit<tl Airiiives iiiicrqílfr(rii pi<l.licnriorz, 7205 rolo i ) . Despacho do cônsul Jaines Leander Cathcm para o Secretino de Estado, James Madisan, datado da Madeira. 23 de Junho de 1807: A.N.KT., Mi- iiisrério das Ncgócios Estrangeiros, Arquivo Ceiitral, corirrpoizdêiicio das ieg<i~Ues esImiigeir<is ciri Lirúoa, c<zlr<i 411 (1806-1826). Nota do cônsul William J m i a p a n o Secretário de Estado dos Negó- cios Estrangeiros e da Guerra, António de Araújo de Azevedo, datada dc Lisboa. 18 de Maio de 1807; RIBEIRO, Jorge Manuel Maains - Coiiiéirio c dii>loinnci<i ,!<ir irloç<ies h,sr,-riiiiei-ici>>~<~.v (1776-18221, o. 921.

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BOLETIM DO INSTITUTO HISTORICO DA ILHA TERCEIRA 301 :

nel Robert Hector Macpherson e, após a i i i o r t e deste, ern 1817, John Howard M a s c 1 1 3 ~ .

Relativamente aos Açores. Douglas Wheeler escreve que a noine- açáo de diplomatas apenas reconheceu o facto dos comerciantes da Nova 1ngIateri.a estarem profundamente e i i v o l v i d o s em empreendimentos nes- te arquipélago e de alguns aí residirem. A falta de diplomatas profissio- nais nos anos seguintes à independência dos Estados Unidos levou a que essas f u i l ç õ e s fossem exercidas por negociantes, os quais retiravam o seli sustento do coinércio. E, de acordo com o referido historiador, os em- preendimentos marítimos de a i n e r i c a i i o s e açorianos ligavam a Nova In- glateria c o i n o a s q u i p é l a g o 3 2 .

Ern 1776 foi nomeado v i c e - c ô i i s u l na ilha de S. Miguel, Thomas Hickling, um c o r n e i e i a i i t e americano, oriundo de uma proeminente famí- lia da Nova Inglaterra que se fixara em Ponta Delgada em 1769. Este exerceu as f ~ ~ i i ç õ e s de vice-cônsul ein S. Miguel e Santa Maria, pratica- mente até à data da sua m o i t e , em 18343-'. Por outro lado, a 5 de Agos-

" N.A.R.A. Geiicial lecoids of tlie Oepanmz$it of Siate, Central files, Derpoiche,~,fiiiii Uiiiied Slctter rorir i i l .~ i,, Ftiiiclial. voi. I (hl<!rclt ? I . 1793 - Jirli. 16. lS311. (ivoiioriai Axl i ires iriii.~.o/iiiii ~~rrblicriiiuiz, 7205, inlo I ) . Oespacl>o do c6nsul Jaiucs Lcasdcr Cathcan para o Sccrçtjiio de Estada, Inmes Madison. datado da Madeira, I4 dc Maio de 1815: ld.. Persannel Records, Lisi of U.S. Corirs- ioi- Ofjcei-r. 1789-19.79. roi. 11 (Niitioirol Ar.cltives inici-ojilrit ~>i,blic<itioit, iMS87, rolo 111: Id.. Deparc i ie~ f lo i i~ U,,iie<l Si<iicr coeritlr iiz liiricli<il, v01 I (i14oirb 71. 1793 - Jr<O 16, 1831). (Nrrii<~ii<ii Air-hiver riiiciolilii! ~>rrblirrriinii. ??OS rolo I ) . Ocspicl>os do cünsiil Robcri Hector Macplierron para o Secrztjrio de Estado, Jariies Ivlonroe. datados <]c Filadélfia. 17 de Dezcriibro de 1815 e dn Midçirn. 24 dc Jniieiro dc 1816: dcspaclio da cânsiil Jolin Howaid M ~ r c h para o Secretdrio de Estado. lainer Monroc. datado da Madcirn, 3 de Janeiro de 1817: CATI-1CART. Jan~es Leandcr - Tlte C<il>iivcr. i-icvcii ?e<m o [>i-isoiier i,! illgiei-r uie!/>iled I?? Irir <l<iiigltrci- J. B. Neiiark. La Ponc. Icid.: Herald Piint, s.d.. p. 111-I\': 310: RIBEIRO. Jorge Mariiiçl Mailicis - Co!!,iilércio e rliploi,,<icio rins i r l < i ~ & . ~ iiir,,-,-oii,e- i.ic<lii<is (1776-18271, p. 922.

" WHEELER, D o u ~ l n s L. - Tire Azares <o,d :/te U,?i:e<l S:<i,e,r (1787-1987): EI.O Iiit,,rlwd ) .~<i l~ ~lfsb<iie<l hi.sroi'. 111 «Boletim do Inrtitiito Histórico da lllia Tercciran. Aiigra do Heroismo. 1987. i ~ l . XLV, toino 1, p.57-58.

3' VERIVIETTE, Maiy Tlicrcsa Silvia - E<crly Atiieiico :s irI<rtioirrbi/> ir i lh ibe A r o r r i ri coil- .srl/(tr rieii,. «Boletiiil do Instituto Hisl6"co da illia Terceira*., Angm do Heroísino, 15 (I), 1988, p. 1302; ROGERS, Francis Millei - SI. iMic1ioel:v Hickliiigr. F q o l D n D i ~ q s orid rireir Bi-iiirh coiziteciiurir. rArquip6lngon. Ponta Oclgsda. número especial. 1988, p. 125; N.A.R.A. Desl>orclte.rfir>iit Uftiied Siriter C~~~i,iairl.s i,, F<I~<II. 1795-1897 rol. 2 (Jirly 76, I833 - Dccciitbei- J. 1811) (N~~f io i ia i Airliiues i~rici-ofilrii ( ~ ! ~ b l i ~ o f i ~ , ~ ~ , i203, ii,Io 2). Olicios do cânsul no Fninl. Charles William Dabne): para o Secretário de Estado. Louis McLune, datados dc Lisboa. 8 de Maio e I 4 de Setembro dc 18311; RIBEIRO, loigc Ma- ouel Mnrlins - Coiiiéirio e <lil>loiirocia rmr i r Iu~6es li,ru-ariiei,caii<rr (1776.1827). p. 326-357.

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302 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO DA ILHA TERCEIRA

to de 1790, o inglês John Street, natural do Faial, que entretanto se tronara cidadão americano, era confirmado, pelo Senado, como vice-cônsul dos Estados Unidos na ilha onde nascera35. John Street foi substituído por John Bass Dabney, a partir de 1807, tendo ocupado o cargo de cônsul nos Açores até à sua morte em 182636. Refira-se que, durante o tempo em que John Bass Dabney exerceu funções, e até ao terceiro quartel do sé- culo XJX, as ilhas açorianas foram utilizadas pelas frotas baleeiras ame- ricanas, as quais frequentavam, sobretudo, as Flores e o porto da Horta. Este era um local de aguada, de descanso das tripulações onde tambéni se procedia à substituição de elementos da equipagem ou se completa- va esta, caso o navio tivesse saído do porto de origem sem o número ne- cessário de homens para o serviço de bordo. Além disto, nesta cidade, os marinheiros tinham acesso a assistência médica e hospitalar, podiam receber correspondência e abastecerem-se de utensílios de pesca, de ina- teriais de reparação naval, sem esquecer que era uin local propício ao

3s Id., Prisontiel Records, Liri -f U.S. Cuiirirl~ri~ Ofliccr.~, 1789-1939, i'ol 7 (Noiiori<il Arc1iii.c.r riiicr"filii> pitblic<iiio,i, M587, rolo 71, Id., De.~p<lrc/iesfioirr Uriired Si<ires Mi~iirieil ro Poriirgal, rol. 3 (Noioii6ei- 19. 1790 - Scpiei,zi>ei. 17, 1793). (Noiini~rl A~1zive.r iiiici.<!(ibrl />ublicriiioii. M43. rolo 2). Dcspacho ri'. 39 do ministro residente, coronel Dwid Humphreys, para o Secretário de Estada, Tliornns Jefferson. datado de Lisboa, 22 de Noveinbro de 1791; Id., Diplon~niic critd Co,irrrIrri- hirii-crciioiir Foiript Leirei-s of lhe Coiiiiizetir<rl Cr,!z,iigi-ess nrtd rl!e Del>ni-iirre,ii of Siaie, 1785-1790, vol. I ( J n i i u q 14, 1785 - Deceinbei 23, 1790). (Nationnl Archives miciolil~u publicatioii, M61. rolo I), p. 379. Dcspacho do Secret5ria dc Estado, Thomas Jefferson, p a n o vicc-cônsul Jolin Street, data- da de Nova Iorque, 5 de Agosto de 1790; Id., Deri>nicbes/rnii! Uriiled Sioies coizsais iii Lir6orz. vol. 1 (Jid) 27, 1791 -Decciiii>ei- 18, 1802). (Noiiuiwl Airliives ~iiicir,filrir~~r~6licrriioi~. Tl80, mio I ) . Car- ta de John Street pura o Secretária de Estado, Thomas Jefferson, datado de Lisboa. 8 de Novembro de 1791: RIBEIRO, Jorge Manuel Manins - Coiitéicir, e diploritncio r t < r , ~ i-elrip7c.~ I(irso-~iiiieiicoi~o5 (1776- 18221, p. 924-925; AFONSO, JoSo - Dos Ariois <lu l<ra,oi,tiiia DOO,!-. /i<ii.<i O Hi.sl<i,lo Oiloceriiisio dos A~oi-er rii<iizo Pci-.spcciii.<r Ail<(i,iic<i, «O Faial r n Periferia A~oriana nos sécs. XV a XIXn. Hona: Nú- cleo Culeral da Hona, 1995, p. 240.

36 N.A.R.A. General rccords of the Depmment of Statc, Central files, Desl>niclirrjiaiit Uiriied S1nie.r c,~,,,isirl.s iit I;ny<il, 1795-1897, vol I (Mnirli 4. 1795 - N<,reri8bcr- 28. 18321. (Nniioitol Aiuhives iizici-ufilii, pzrblic<tiiori, T203. iolo I ) . Despacho do cônsul Jahn B. Dabney para o Secretário de Ests- do. James Msdison, datada do Faial, I2 de Abril de 1807 e despacha de Charles Willinin Dnbney para o Secretario de Estado, Henry Clay, datado do Faial, 10 de Setembro de 1826; Id. Pemoriirel Recoi.d.r, Lisr "f U.S. Coizsi~lni. Oflcers, 1789-1939, v01 7 (Nririoitnl Aicliiicr niicr@i!liliit piililic<riiuii, M587, rolo 7): RIBEIRO. Jorge Manuel Manins - Coinó-cio e dil>loiir<ici<i iios ialri~<íes liisri-orirericarim (1776- 18231, p. 926-927.

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contrabando. E, desde o início do século XJX que açorianos serviram a bordo de embarcações baleeiras americanas37.

O coipo consular americano, em ambos os arquipélagos, foi um espectador privilegiado do modo como os seus habitantes viveram a tur- bulência política e militar de finais do século XVIII e primeiras décadas do século XJX, a qual não deixou de afectar o relacionamento luso-ame- ricano. Navios corsários americanos, sobretudo do porto de Baltimore, munidos de cartas de corso dos insurgentes da América do StiI, noinea- damente do patriota usuguaio general Artigas, actuaram em águas açori- anas, capturando embarcaqões portuguesas, o que motivou protestos das autoridades de Lisboa junto dos representantes estadunidenses em Por- tugal e dos diplomatas lusos nos Estados Unidos's.

Por outro lado, a guerra anglo-americana, iniciada em 1812, aca- bou por se reflectir na Madeira, uma vez que navios americanos foram apresados por barcos de guelra britânicos nas águas circundantes da ilha39. Nesta altura, as águas açorianas também forain palco de recontros entre ingleses e americanos, sendo o episódio mais famoso a desti-tiição do na- vio corsário americano Gerze~nl A I ~ ? Z S ~ T O I Z ~ , que acabou por envenenar as relações entre Poitugal e os Estados Unidos, no período posterior i guer- ra-'o. O barco foi destruído por um esquadrão de três navios britânicos,

'7 AFONSO, Jazo - Dor Aii<iir d6 Fc~iiiilia Bobiicy J>L,F<, a Hiridi.i<i Oiroceizri.%i« dos Acoms irtriao Pei-ri>eciiio Ai/di!iic<i, p. 240-241; VERMETTE, Mary Thercsn Silvia - Os Yoitkrer e o Fuiol, n 291. r~ -~ ~

IVASTELO-BRANCO. Fcrnando - Sirbsirli<is pai?, n Hiririiia dr, l;<1i<il c do Pri-jfei?o ACO- ii<is<l, "0 Fnial e n Periferia Açoriana nos sfcs. XV a XIXn, Hona: Núcleo Cultilral da Hona, 1995, o. 106-107.

'Y N.A.R.A. General recaids of thc Depanmcnt of Stntç, Central files, De.v/~<itches,/ir>ii~ Uitired S1,iIrs c<iiiraIr iir F<~yrii, 1795.l897, rol. I (M<ii.cl? 4, 1795 - Noieiirbcr 28. 1832). (Noiiai,<ri Arcliives iiiicrofiliii />irbUc<iiioii. T203, i.<iln I ) . Despachas do cònsul Jnmer Lcandcr Cathcan para o Sccretirio de Estado, Jsines Monroe, datados da Madeira. 1, 13 e 29 de Maio de 1813; RIBEIRO. Jorze Manuel Maninr - Coiizéirio c dil>l«rii<rci<~ fios iria~<ies Iirro-iiiiieiic<rit<is (1776-i82?), p. 923.

N.A.R.A. General records of the Oepanmeni of State, Central files, De.~pl>niclze.cfioi~, U8iired Siriler coitrii1.r iri F<,yul, 1795-1897, rol. I (M<ii~.h 4, 1795 - Noir,iiber 28, 111321. (N<iiioit<il Aicliiver iiiio.o/ilie ~>irl>licniioii, 7203 iv l r , 11. Despacho do cònrul John Bass Dabney para o Secretário de Es- tado, James Monroe, datado do Faial, 17 de Julho de 1808: Tlie hirloi). of ibe ir«ridrijirl b<iiiie qfrlze biig-<i/-li,ai. GPIICI.LI/ A~.~r.~~ro>zg IWIII II Briiisb .sql!a<i~.~iii <I[ Foyol. 1814. 7%ef<iiiioiis giiii, Loi i~ R~rii.

Skeicl, o/ ilie lffe ,~f >/c!pr<iin S<iii,irrl Ciiesrer Reirl. coriit?i<iri<lei- o/ ibe Aniiri>oii,q; ib,Ijo dcsigiied iiie ~~reseliijirig of lhe Uiiired Si01e.r iii 18lX Hirroq rif iIiefi<ig. hiie,rsiii,g irici<ieitis, eic., Borton, Mass, L: Bana & C'., PrinterS, 1893, p. 15-30; Jorge Manitcl Manins - Coiiréirio e clil~loiii<ici~i izos rrln- ~ õ e s lrrso-<i,i!eric<i,,ns (1776-1822). p. 928.

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ein 26 de Seteinbro de 1814, no porto da Horta, onde entrara para se abastecer de ág~ia potável. No decurso do incidente em que moiyeram vários marinheiros americanos, o Geizeral A I ~ I Z S ~ ~ V I Z ~ acabou por ser in- cendiado pelos ingleses. Os mnadores do corsário estimaram as perdas em 30.700 dólares e pediram uina indemnização a Poiíugal. A corte por- tuguesa, então sediada no Rio de Janeiro, não aceitou esta reclamação, pois na sua óptica, além da neutralidade poituguesa ter sido violada, o governador do Faial tudo fizera para evitar este confronto. Ao mesmo tempo, o govemo potíuguês deu instiuções, ao seu representante ein Lon- dres, para reclamar e pedir uina reparação ao governo biitânico, tanto para portugueses como para americanos. Refira-se, ainda, que esta pendência se arrastou por vários anos, até 1852, altura em que por mediação do en- tão presidente da República Francesa, o futuro Napoleão 111, foi dada ra- zão a P o ~ t u g a l ~ ~ .

A posição geográfica da Madeira e dos Açores, bem como a sua importância económica, explicam o papel deteiminante destas ilhas no âmbito das relações diploináticas e comerciais entre o espaço português e os Estados Unidos. De facto, ambos os arquipélagos tinham um gran- de alcance estratégico e-económico, pois serviam de pontos de apoio à navegação estadunidense e também de mercados para os produtos ame- ricanos, dadas as carências alimentares com que se debatiam. Conforme vimos, o madeirense exportava o vinho da Madeira, o preferido da classe

4 BOURDON, Leon - José Cowê<z do 3el.m ~lli/><l.v.?<ldeu~' dil Royort,iie-U,zi de Porlirg<rl ei Bvéril ii IW,rhiizgioii 1816-1820. Paris: Funda~ão Calousle GulbenkianlCenlro Cultural Ponuguès, 1973, p. 19; AGAN, Joreph - 71re Dip/oiii<riic iel<tri,,rz,rls oflde Utiired Siriies riiid Bi-ozii. Paris: Jouve et Cie, Editeuis, 1926. Vol. I. 71,e P,ii?tigirere Coni-i ni Rio de J<irieiia. p 48-62 HILL, Lawrence F. - Bil,loiiz<iiic irl<iiioi,s I>eiii.eet! rlze Utiiicd Si<iics oiid Bi-mil. Ouiliaiil: Duke University Prcss, 1932, p. 12-15; MAGALHÃES, Josr' Calver - Hi.ri,ji,a dos ~lo1.6e.r dil>l(~iiidiic<ir ertrrr Poi?ngal e os E.ri<i- d0.v Uizidos d<i Aii!éricri 1776-1911. Mem Manins: Publicações Europa-Amhrici, 1991, p. 245-148; 169; Jorge Manuel Manins - Co,izéi.ciu c dil>lori~cicio ricrr irloç<ies Iirro-<risci?c<iil<~r (1776-1,722). p. 490- 491.

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aristocsática norte-americana, e os Açores o denominado vinho do Faia1 (Fayc~l i.virze), produzido nas ilhas do Pico e de S. Jorge, e expedido atra- vés do porto da Horta. Da América do Norte estas ilhas importavam so- bretudo cereais, mas também bacalhau e madeiras.

A iinpostância destas relações comerciais explicam porque razão, logo após a independência, as autoridades americanas nomearam agen- tes consulares para os dois arquipélagos, os quais foram espectadores pri- vilegiados das dificuldades provocadas pelos conflitos em que Portugal e os Estados Unidos se viram envolvidos nas duas priineiras décadas do século X E .