ensaio crítico de teoria arqueológica

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 Universidade Federal de Pelotas Instituto de Ciências Humanas Departamento de Antropologia Teoria Arqueológica I Estud o crít ico das obra s: “Diá logos da arque ologia sul-america na: Hermann von Ihering, o Museu Paulista e os museus argentinos no inal do s!culo "I" e início do ""#$, de %&cio Mene' es( “) *ínt ese Im+er ial: )scens o do ac ismo$, de .ruce /# 0rigger, e do documentário “Hist1ria do acismo$ ..2# Discente: Bruno Leonardo icardo i!eiro  Acredito que a lin"a central que permita a #costura$ entre am!os os te%tos e o document&rio se deten"a a quest 'o da pol(tica de e%pans'o imp eri al adotada pelas potências europ)ias* ao longo do s)culo +I+* principalmente no que tange o #lugar$ e a rela,'o a ser esta!elecida com o #outro$- i.e. os nativos* no e%emplo do document&rio* os grupos a/ricanos presentes nas #por,0es$ reservadas a Aleman"a e a Inglaterra após o tratado de Berlim e a partil"a da 1/rica. 2m!asada principal mente nas teorias antropológicas vigentes na segunda metade do s)culo +I+ 3 apesar de n'o ter certe4a se neste momento  5& podemos considerar tais teorias como #antropológicas$ 3 tal pol(tica* inspirada nas propostas de alguns intelectuais como 6pencer* Dar7in e Lu!!oc8* se apoiava na id)ia de uma evolu,'o cultural unilinear da esp)cie "umana* que enquadraria os mais variados povos e grupos )tnicos em di/erentes #graus$ de avan,o neste processo evolutivo* que teria por &pice a civili4a,'o europ)ia. 9s graus se di/erenciariam de acordo com as propostas de Henr: ;organ* que os dividiu em 6elvagens* B&r!aros e Civili4ados* e cada grupo seria ent'o encai%ado em determinada categoria de acordo com tra,os isolados veri/icados em suas sociedades* como tecnologias* religiosidade* tipo de organi4a,'o social e /amiliar e etc. <o =m!ito deste estudo* entretanto* ên/ase deve ser dada aos tra!al"os de Lu!!oc8* qu e ap es ar de n'o destoar muito das pr op os tas unilineares em vo ga > sua )p oca* assimilava /ero4mente a proposta dar7inista de sele,'o natural e aplicava-a a sociedades e culturas variadas. 2m sua ótica* os povos mais #primitivos$* em rela,'o aos europeus* n'o só o eram tecnologicamente ou socialmente /alando* mas tam!)m o eram intelectualmente /alando. 2ssa era* inclusive* sua grande 5usti/icativa para a grande #eleva,'o evolutiva$ veri/icada entre a cultura europ)ia e os demais povos espal"ados pelo mundo. Lu!!oc8

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Estudo crítico das obras: “Diálogos da arqueologia sul-americana: Hermann von Ihering, o Museu Paulista e os museus argentinos no final do século XIX e início do XX.”, de Lúcio Menezes; “A Síntese Imperial: Ascensão do Racismo”, de Bruce G. Trigger, e do documentário “História do Racismo” BBC.

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Universidade Federal de PelotasInstituto de Cincias HumanasDepartamento de AntropologiaTeoria Arqueolgica I

Estudo crtico das obras: Dilogos da arqueologia sul-americana: Hermann von Ihering, o Museu Paulista e os museus argentinos no final do sculo XIX e incio do XX., de Lcio Menezes; A Sntese Imperial: Ascenso do Racismo, de Bruce G. Trigger, e do documentrio Histria do Racismo BBC.Discente: Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro Acredito que a linha central que permita a costura entre ambos os textos e o documentrio se detenha a questo da poltica de expanso imperial adotada pelas potncias europias, ao longo do sculo XIX, principalmente no que tange o lugar e a relao a ser estabelecida com o outro- i.e. os nativos, no exemplo do documentrio, os grupos africanos presentes nas pores reservadas a Alemanha e a Inglaterra aps o tratado de Berlim e a partilha da frica. Embasada principalmente nas teorias antropolgicas vigentes na segunda metade do sculo XIX apesar de no ter certeza se neste momento j podemos considerar tais teorias como antropolgicas tal poltica, inspirada nas propostas de alguns intelectuais como Spencer, Darwin e Lubbock, se apoiava na idia de uma evoluo cultural unilinear da espcie humana, que enquadraria os mais variados povos e grupos tnicos em diferentes graus de avano neste processo evolutivo, que teria por pice a civilizao europia. Os graus se diferenciariam de acordo com as propostas de Henry Morgan, que os dividiu em Selvagens, Brbaros e Civilizados, e cada grupo seria ento encaixado em determinada categoria de acordo com traos isolados verificados em suas sociedades, como tecnologias, religiosidade, tipo de organizao social e familiar e etc.No mbito deste estudo, entretanto, nfase deve ser dada aos trabalhos de Lubbock, que apesar de no destoar muito das propostas unilineares em voga sua poca, assimilava ferozmente a proposta darwinista de seleo natural e aplicava-a a sociedades e culturas variadas. Em sua tica, os povos mais primitivos, em relao aos europeus, no s o eram tecnologicamente ou socialmente falando, mas tambm o eram intelectualmente falando. Essa era, inclusive, sua grande justificativa para a grande elevao evolutiva verificada entre a cultura europia e os demais povos espalhados pelo mundo. Lubbock ainda ia alm, pois usava o mesmo argumento para explicar disparidades sociais dentro da prpria sociedade europia, argumentando que aqueles mais bem sucedidos social e economicamente falando, o eram exatamente por questes de seleo natural, por serem mais aptos e mais adaptados ao mundo moderno, e assim relegava os prias sociais a condies inferiores na escala evolutiva humana.Finalmente, a viso de mundo de Lubbock no permitia, ou no abria espao, para a coexistncia entre estes povos mais primitivos e os europeus, pois em sua teoria tais grupos estariam fadados ao desaparecimento frente ao constante processo de expanso da civilizao, uma vez que para ele nenhuma forma de educao seria possvel para adequar povos to atrasados, e que por tanto tempo foram deixados de lado pelo processo de seleo natural, s normas do mundo moderno. A extino dos povos primitivos no apenas era inevitvel como seria um processo natural, visto com bons olhos.Tal linha de pensamento, conhecida como Darwinismo social, se no foi dominante, pelo menos impregnou boa parcela da elite intelectual, econmica e poltica europia durante finais do sculo XIX, para os quais a simples manuteno de sociedades primitivas e suas instituies j eram vistas como entraves para o progresso e o avano civilizatrio. Temos um exemplo claro disso no texto de Lcio Menezes sobre Hermann Von Ihering e o Museu paulista, principalmente no que tange a distino binria proposta por Von Ihering para os indgenas brasileiros. Difusionista, Hermann entendia que na Amrica do Sul existiu apenas um grande plo irradiador de cultura, os Andes, do qual dentre os indgenas brasileiros apenas os integrantes do tronco Tupiguarani teriam se beneficiado e, portanto, eram entendidos como os nicos indgenas brasileiros potencialmente civilizveis. Os grupos que compunham o tronco Macro-J, por sua vez, como os Botocudos, os Kainguanges, e outros estes, exemplos utilizados pelo autor ao relatar sobre os empecilhos que a raa J, representavam ao avano do progresso, principalmente os Kainguangues no estado de So Paulo eram entendidos como descendentes dos primeiros ocupantes do continente, herdeiros dos povos sambaquieiros e em ltima instncia associados ao povo de Luzia, descobertos por Peter Lund. Estes grupos seriam de tamanha selvageria que nenhuma forma de adequao, interao ou socializao com eles seria possvel; seu completo e total extermnio no apenas era uma necessidade como seria um bem para o progresso da nao.Grosso modo, foi isto que percebi durante a exibio do documentrio em sala de aula: a prtica indiscriminada da poltica imperialista, embasada sobre os preceitos do darwinismo social, sobre povos culturalmente diferentes; sem o mnimo zelo para com sua situao ou possvel extino, se a utilizao do termo no for muito pesada. Os exemplos de como a Inglaterra e a Alemanha lidaram com os povos autctones de seus novos territrios, conquistados atravs da partilha da frica, e o total descaso quanto a manuteno de sua cultura ou seu estilo de vida, mesmo com sua qualidade de vida se que podemos nos referir aos campos de concentrao apresentados e as condies de fome e misria demonstrados, como baixa qualidade de vida refletem claramente o pensamento predominante na poca, que os povos primitivos no eram nada alm de um entrave ao desenvolvimento e o progresso daqueles povos mais civilizados, sub-raas cujo extermnio era quase uma obrigao, ou prerrogativa, das naes em ascenso.