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REDES DE INOVAÇÃO – DINAMIZANDO PROCESSOS DE INOVAÇÃO EM EMPRESAS FORNECEDORAS DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL NO BRASIL Ivan De Pellegrin TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Aprovada por: ____________________________________________________ Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc. ____________________________________________________ Prof. Mario Salerno, D.Sc. ____________________________________________________ Prof. Adriano Proença, D.Sc. ____________________________________________________ Prof a Lia Hasenclever, D.Sc. ____________________________________________________ Prof. José Antonio Valle Antunes Jr., D.Sc. ____________________________________________________ Prof. Francisco José de Castro Moura Duarte, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO DE 2005

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  • REDES DE INOVAÇÃO – DINAMIZANDO PROCESSOS DE INOVAÇÃO EM

    EMPRESAS FORNECEDORAS DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL

    NO BRASIL

    Ivan De Pellegrin

    TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.

    Aprovada por:

    ____________________________________________________

    Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc.

    ____________________________________________________

    Prof. Mario Salerno, D.Sc.

    ____________________________________________________

    Prof. Adriano Proença, D.Sc.

    ____________________________________________________

    Profa Lia Hasenclever, D.Sc.

    ____________________________________________________

    Prof. José Antonio Valle Antunes Jr., D.Sc.

    ____________________________________________________

    Prof. Francisco José de Castro Moura Duarte, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

    MARÇO DE 2005

  • II

    PELLEGRIN, IVAN DE

    Redes de Inovação – Dinamizando

    Processos de Inovação em Empresas

    Fornecedoras da Indústria de Petróleo e Gás

    Natural no Brasil [Rio de Janeiro] 2004

    XIV, 605 p., 29,7 cm (COPPE/UFRJ, D.Sc.,

    Engenharia de Produção, 2006)

    Tese - Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, COPPE

    1. Inovação. 2. Indústria do Petróleo. 3.

    Redes de Inovação.

    I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

  • III

    Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

    REDES DE INOVAÇÃO – DINAMIZANDO PROCESSOS DE INOVAÇÃO EM EMPRESAS FORNECEDORAS DA INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL

    NO BRASIL

    Ivan De Pellegrin

    Março/2006

    Orientador: Heitor Mansur Caulliraux

    Programa: Engenharia de Produção.

    A institucionalização de redes de organizações (firmas fornecedoras, governo,

    universidades, laboratórios de pesquisa) pode promover a articulação entre atores e

    recursos do Sistema Regional de Inovação, contribuindo para o desenvolvimento de

    novos produtos e serviços pelas empresas locais, bem como melhorando o seu

    posicionamento enquanto fornecedoras para setores específicos.

    Essa tese propõe um esquema conceitual para um modelo organizacional definido

    como Rede de Inovação Horizontal Induzida - RIHI. A RIHI apóia os processos de

    inovação das empresas e contribui para um ambiente favorável à colaboração e à

    inovatividade.

    O Caso de uma rede de inovação focada no apoio à empresas fornecedoras da

    Indústria de Petróleo e Gás Natural - a Rede PETRO-RS - é estudado para subsidiar a

    crítica do esquema conceitual de RIHI proposto, a partir de uma incursão empírica.

    Conclui-se que as Redes de Inovação Horizontais Induzidas podem ser uma

    alternativa interessante para a implementação de políticas industriais e de inovação no

    que tange ao desenvolvimento da competitividade de setores produtores de bens de

    capital para a Indústria de Petróleo e Gás Natural no Brasil.

  • IV

    Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

    INNOVATION NETWORKS – DYNAMIZING INNOVATION PROCESSES IN SUPPLY COMPANIES OF THE BRAZILIAN OIL AND GAS INDUSTRY

    Ivan De Pellegrin

    March/2006

    Advisor: Heitor Mansur Caulliraux

    Department: Production Engineering.

    The institutionalization of organizations networks (gathering firms, government,

    universities, labs and research organizations) can improve connection between players

    and resources of the Regional Innovation Systems and this may contribute to the

    development of new products and services by local firms as well as to a better

    positioning of these firms as suppliers of specific sectors. This thesis suggests a

    conceptual framework for a network organizational model defined as Induced

    Horizontal Innovation Network - IHIN. The IHIN supports the innovation processes at

    the firm level and contributes to a favorable environment for cooperation and

    innovativeness.

    The case of an innovation network focused on supporting Oil and Gas Industry

    suppliers - the case of PETRO-RS - is studied to support the critique of this conceptual

    framework through an empirical analysis.

    The conclusion is that the IHIN may play an important role in the implementation of

    industrial and innovation policies concerning the development of competitiveness of the

    supply chain for the Oil and Gas Industry in Brazil.

  • V

    AGRADECIMENTOS

    Meus agradecimentos para todos que de alguma forma tenham contribuído

    para a realização deste trabalho, dentre os quais gostaria de destacar os que seguem.

    A Rede PETRO-RS, com especial agradecimento aos profissionais, empresas

    e outras organizações que foram ou são ligados a ela e que receberam o pesquisador

    quando das pesquisas de campo:

    o José Antônio Valle Antunes Jr., Adão Villaverde e Nelson Fujimoto (ex-

    SCT/RS), Márcia Lange (SEDAI);

    o Fulvio Chimisso (FURG), Telmo Roberto Strohaecker (LAMEF/UFRGS),

    Luis Fernando Cantele (URI);

    o Marcus Coester (Coester Automação), Maurício Graeff (ETM

    Integradora de Serviços de Engenharia), José Abu-Jamra e Felipe

    Andrian Techeira (Cordoaria São Leopoldo), Luis Fernando Dambroz e

    Alvaro Tergolina (Dambroz), Paulo Schmidt (Koch Metalúrgica), Luciano

    Karnas (Serrano Automação), Marcelo Cantele (Intecnial), Conrrado

    Lacchini (Digicon), Gerbase (Altus), Cláudia Messias (Elipse Software),

    José Garcia (Tecmoldin), Octavio Teichmann (Forjas Taurus);

    o Vitor Odorcyck (FINEP) e Tiago Lemos (SEBRAE-RS);

    o Suzana Sperry (PETRO-RS) e Marcelo Lopes (RBT);

    o Hamilton Romanato Ribeiro (REFAP S.A.) e João Carlos Nunes (ex-

    PETROBRAS).

    Aos representantes de organizações internacionais que receberam o

    pesquisador em suas visitas de referência: Johnar Olsen (Innovation Norway), Knut

    Gulbrand Wangen (INTSOK – Noruega), Ewan Daniel (Aberdeen City Council), Chris

    Feeman (LOGIC), Morten Holmager e Peter Blach (Offshore Center Denmark).

    Ao orientador, professor Heitor Mansur Caulliraux, que propiciou a

    oportunidade do Doutorado e das pesquisas no GPI, além do aprendizado entre uma e

    outra atividade de trabalho. Ao professor Adriano Proença pela co-orientação e

    oportunidade da convivência fraternal. Aos demais colegas do GPI, especialmente à

    Sandra e à Almaisa.

    Ao professor Nelson Casarotto Filho e aos colegas e amigos Roberto dos Reis

    Alvarez e Marcelo Lopes, pelas críticas sobre os questionários das pesquisas de

    campo. Ao companheiro Alvarez também pela convivência fraternal durante meus três

    anos de residência no Rio de Janeiro e posteriormente.

  • VI

    Aos amigos Junico Antunes e Moisés Balestro meus agradecimentos especiais

    pelo apoio nas discussões de caráter metodológico e teórico, bem como pelo apoio na

    orientação ao longo dessa trajetória. Junico, muito obrigado pelas orientações e pela

    amizade.

    Ao amigo e colega Renato Samuel, pelo apoio e parceria no projeto da

    PETRO-BC, bem como aos demais colegas de projetos na COPPE.

    Ao pessoal de Macaé que participou do projeto PETRO-BC e ao Antônio

    Batista do SEBRAE/RJ que foi fundamental para a concretização daquela experiência.

    Ao Rodrigo Pinto pelo empenho e apoio na reta final do trabalho.

    Agradeço também aos amigos da Cordoaria São Leopoldo: Zeca, Leó, Percí,

    Felipe, Leandro, Fátima, Valdecir, Cíntia, entre tantos colegas com quem tive o

    privilégio de trabalhar e conviver durante o período que mais contribuiu para meu

    aprendizado sobre a inovação em empresas fornecedoras da indústria de petróleo do

    Brasil e do mundo.

    Um agradecimento especial ao Engenheiro Fúlvio Celso Petracco, mestre

    maior na minha carreira profissional, sobretudo em relação à ética, ao respeito à

    natureza, pela acolhida fraternal em tantos momentos e por tantos exemplos a serem

    seguidos.

    A todos de minha família, especialmente aos meus pais pela formação, à

    minha irmã Ana e à Dona Ilse pelos constantes incentivos e aos primos e tios que me

    deram forte apoio nesta e noutras empreitadas.

    Um agradecimento especial também para minha esposa, Flávia, pela paciência

    (que foi tão exigida) e pelo carinho, fundamental em tantas horas. Também aos seus

    pais, Fernanda e Moisés, pelos incentivos nessa trajetória.

    Finalmente, à minha filha Catharina, que tanto motivou para a conclusão do

    trabalho, com o desejo de que tenha as oportunidades e o apoio que tive nessa

    jornada.

  • VII

    SUMÁRIO

    LISTA DE QUADROS................................................................................................... XII LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... XIII 1. APRESENTAÇÃO........................................................................................................1 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ....................................................................................1 1.2. IMPORTÂNCIA DO TRABALHO...............................................................................8 1.3. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................14

    1.3.1. Justificativa Acadêmica..................................................................................14 1.3.2. Justificativa para o Brasil ...............................................................................15 1.3.3. Justificativa do Estudo de Caso selecionado.................................................17

    1.4. QUESTÃO GERAL DA PESQUISA.........................................................................18 1.5. OBJETIVOS.............................................................................................................19

    1.5.1. Objetivo Geral ................................................................................................19 1.5.2. Objetivos Específicos.....................................................................................19

    1.6. DELIMITAÇÕES......................................................................................................20 1.7. ESTRUTURA DO TRABALHO................................................................................23 2. REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................................................27 2.1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................27 2.2. PROCESSOS DE INOVAÇÃO................................................................................28

    2.2.1. Modelos esquemáticos de inovação ..............................................................29 2.2.2. Trajetórias, paradigmas, externalidades e regimes econômicos ...................34 2.2.3. Atributos da inovação.....................................................................................39 2.2.4. Inovação e posicionamento estratégico.........................................................41

    2.2.4.1. Estratégia de inovação ofensiva ..............................................................48 2.2.4.2. Estratégia de inovação defensiva ............................................................48 2.2.4.3. Estratégias dependente e imitativa..........................................................49 2.2.4.4. Estratégia Tradicional ..............................................................................50 2.2.4.5. Estratégia Oportunista .............................................................................51

    2.2.5. Competências centrais e capacitações dinâmicas ........................................52 2.3. INOVAÇÃO ALÉM DAS FRONTEIRAS DA EMPRESA..........................................56

    2.3.1. Sistemas de inovação ....................................................................................57 2.3.1.1. Sistema Nacional de Inovação – SNI ......................................................61 2.3.1.2. Sistema Regional de Inovação – SRI ......................................................67 2.3.1.3. Sistema Setorial de Inovação – SSI ........................................................71 2.3.1.4. Sistemas Tecnológicos – STEC ..............................................................73

  • VIII

    2.3.2. Fatores locais determinantes da competitividade – Teoria de clusters..........75 2.3.2.1. Os determinantes da vantagem competitiva de um cluster .....................77 2.3.2.2. A influência do Governo na competitividade do cluster ...........................87 2.3.2.3. A influência do setor privado na competitividade do cluster ....................89

    2.3.3. Redes de inovação ........................................................................................92 2.4. PROPOSIÇÃO DE ESQUEMA CONCEITUAL PARA REDE DE INOVAÇÃO

    HORIZONTAL INDUZIDA – RIHI .................................................................................100 2.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................107 3. METODOLOGIA DA PESQUISA..............................................................................108 3.1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................108 3.2. MÉTODO DE PESQUISA......................................................................................108

    3.2.1. Modalidades de Estudos de Caso ...............................................................111 3.2.2. Projeto do Estudo de Caso com Unidades Incorporadas ............................113

    3.2.2.1. A questão do estudo de caso ................................................................114 3.2.2.2. Os objetivos da pesquisa de campo......................................................114 3.2.2.3. As unidades de análise..........................................................................115 3.2.2.4. A lógica que une os dados aos objetivos da pesquisa de campo .........116 3.2.2.5. As variáveis explicativas e seus desdobramentos operacionais ...........118

    3.3. MÉTODO DE TRABALHO.....................................................................................123 3.3.1. Definição e Planejamento ............................................................................125

    3.3.1.1. Definição do Tema Geral .......................................................................126 3.3.1.2. Levantamento do Referencial Teórico e Empírico.................................126 3.3.1.3. Definição do Tema Específico e do Esquema Conceitual Inicial...........127 3.3.1.4. Definição da Metodologia da Pesquisa e Seleção do Caso ..................127

    3.3.2. Preparação, coleta e análises preliminares .................................................128 3.3.2.1. Visitas de referência no Reino Unido, Noruega e Dinamarca ...............129 3.3.2.2. Preparação de questionários .................................................................129 3.3.2.3. Levantamentos de informações e dados da PETRO-RS ......................131

    3.3.3. Análises e Conclusões da Pesquisa ............................................................134 3.3.3.1. Análises .................................................................................................135 3.3.3.2. Conclusões da Pesquisa .......................................................................137

    4. EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS DE APOIO ÀS CADEIAS FORNECEDORAS

    DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO E GÁS NATURAL....................................................138 4.1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................138 4.2. O CASO DO REINO UNIDO .................................................................................140 4.3. O CASO DA NORUEGA........................................................................................147 4.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................154

  • IX

    5. CONTEXTO DO ESTUDO DE CASO ......................................................................156 5.1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................156 5.2. A INDÚSTRIA DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL NO MUNDO E NO BRASIL ...157

    5.2.1. Elementos Históricos da Indústria de Petróleo e Gás Natural .....................157 5.2.2. Tendência Mundial das Taxas Reserva/Produção (R/T) .............................166

    5.2.2.1. Petróleo..................................................................................................166 5.2.2.1. Gás Natural............................................................................................173

    5.2.3. Investimentos Previstos na Indústria de Petróleo e Gás no Brasil ..............178 5.3. O FORNECIMENTO DE BENS E SERVIÇOS PARA A INDÚSTRIA DE

    PETRÓLEO E GÁS NATURAL ....................................................................................184 5.4. SISTEMA BRASILEIRO DE INOVAÇÃO DO SETOR DE PETRÓLEO ................193

    5.4.1. Elementos da Dimensão Nacional ...............................................................195 5.4.1.1. Principais Atores da Dimensão Nacional para o SBISP........................195 5.4.1.2. Políticas, Leis e Programas da dimensão Nacional relevantes para o

    SBISP .................................................................................................................198 5.4.2. Elementos da Dimensão Estadual ...............................................................210

    5.4.2.1. Principais Atores da Dimensão Estadual no RS para o SBISP .............210 5.4.2.2. Políticas, Leis e Programas da Dimensão Estadual relevantes para o

    SBISP .................................................................................................................211 5.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................213 6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO .........................................216 6.1.INTRODUÇÃO........................................................................................................216 6.2. DESCRIÇÃO DA PETRO-RS – VISÃO HISTÓRICA ............................................217

    6.2.1. Fase 1 – da idéia ao lançamento da rede (Dezembro/1998 a

    Dezembro/1999) ....................................................................................................218 6.2.2. Fase 2 – do lançamento à primeira mudança de governo (Dezembro/1999 a

    Dezembro/2002) ....................................................................................................224 6.2.3. Fase 3 – da primeira mudança de governo até os dias atuais

    (Dezembro/2002 em diante) ..................................................................................241 6.3. ANÁLISE DE INDICADORES DE INOVAÇÃO DA PETRO-RS ............................252

    6.3.1. Tipos de empresas do survey PETRO-RS 2005 .........................................254 6.3.2. Inovação Tecnológica ..................................................................................255 6.3.3. Inovação Organizacional..............................................................................259 6.3.4. Patentes .......................................................................................................260 6.3.5. Fontes Externas de Informação e Conhecimento........................................260 6.3.6. Parcerias pró-inovação desenvolvidas ........................................................262 6.3.7. Participação de Novos Produtos no Faturamento .......................................266

  • X

    6.4. A PETRO-RS À LUZ DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE ......................................268 6.4.1. Estrutura da rede, objetivos e papéis dos atores.........................................269

    6.4.1.1. Governo .................................................................................................270 6.4.1.2. Organizações de apoio e fomento .........................................................271 6.4.1.3. PETROBRAS.........................................................................................272 6.4.1.4. Organizações de P&D ...........................................................................273 6.4.1.5. Empresas...............................................................................................274

    6.4.2. Produtos, Atividades e recursos ..................................................................276 6.4.2.1. Rotinas...................................................................................................277 6.4.2.2. Ações coletivas ......................................................................................282

    6.4.3. Interações/relações entre os atores.............................................................287 6.4.4. Aspectos institucionais.................................................................................294 6.4.5. Ganhos relacionais para o ambiente local ...................................................308

    6.4.5.1. Ganhos relativos a fatores relacionados com demanda........................308 6.4.5.2. Ganhos relativos a fatores relacionados com insumos .........................311 6.4.5.3. Ganhos relativos a fatores relacionados com setores correlatos e de

    apoio ...................................................................................................................313 6.4.5.4. Ganhos relativos a fatores relacionados com o contexto pró-inovação 315

    6.4.6. Processos de inovação ................................................................................316 6.4.6.1. Etapa 1 – Mercado Potencial.................................................................317 6.4.6.2. Etapa 2 – Invenção e/ou Concepção do Projeto Básico........................322 6.4.6.3. Etapa 3 – Projeto Detalhado e Testes ...................................................323 6.4.6.4. Etapa 4 – Reprojeto e Produção............................................................328 6.4.6.5. Etapa 5 – Distribuição e comercialização ..............................................331

    6.4.7. Críticas e sugestões à Rede PETRO-RS ....................................................334 6.4.7.1. Com relação ao ambiente externo à rede..............................................335 6.4.7.2. Ambiente interno à rede.........................................................................340

    6.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................349 7. REVISÃO DO ESQUEMA CONCEITUAL DE RIHI ..................................................353 7.1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................353 7.2. MODELO CONCEITUAL DE REDE DE INOVAÇÃO HORIZONTAL INDUZIDA..353

    7.1.1. Definição e objetivos ....................................................................................354 7.1.2. Estrutura e relacionamentos ........................................................................357 7.1.3. Produtos, atividades e recursos...................................................................361 7.1.4. Representação esquemática do modelo de RIHI ........................................365

    7.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................368 8. CONCLUSÕES.........................................................................................................369

  • XI

    8.1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................369 8.2. CONCLUSÕES GLOBAIS DA PESQUISA ...........................................................370 8.3. CONSIDERAÇÕES FINAIS DA PESQUISA .........................................................387 8.4. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS...........................................389 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................391 ANEXOS.......................................................................................................................400

  • XII

    LISTA DE QUADROS Quadro 1: Evolução da Oferta Interna de Energia no Brasil 1984 - 2004 ...................... 2 Quadro 2: Valor do Barril de Petróleo Brent no período 2000-2004............................... 3 Quadro 3: Lucro Líquido e Faturamento das quatro maiores empresas da América

    Latina em 2003 e 2004................................................................................. 3 Quadro 4: Tecnologia do Processo e do Produto e as Estratégias Genéricas ............ 42 Quadro 5: Liderança Tecnológica e Vantagem Competitiva ........................................ 42 Quadro 6: Grau de competência desejável por função técnica da firma para diferentes

    estratégias em relação à inovação............................................................. 47 Quadro 7: Dimensões dos Sistemas de Inovação e respectivas Unidades de Análise 61 Quadro 8: Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa ................. 109 Quadro 9: Tipos básicos de projetos para os estudos de caso.................................. 112 Quadro 10: Dados macroeconômicos da Noruega (2002), Brasil e Rio Grande do Sul

    (2004) ....................................................................................................... 147 Quadro 11: Evolução do Conteúdo Local nos fornecimentos da indústria de petróleo e

    gás natural na Noruega 1970 - 1996........................................................ 148 Quadro 12: Reservas Provadas x Produção de Petróleo no mundo 1984 - 2004...... 169 Quadro 13: Consumo de Petróleo no mundo ............................................................. 171 Quadro 14: Reservas Provadas x Produção de Gás Natural no mundo 1984 - 2004 175 Quadro 15: Consumo de Gás Natural no Mundo em bilhões de metros cúbicos 1994 -

    2004 ......................................................................................................... 176 Quadro 16: Conteúdo Local dos Investimentos da PETROBRAS 2006-2010 ........... 180 Quadro 17: Concentração das aquisições externas da PETROBRAS 2006-2010 .... 180 Quadro 18: Investimentos de empresas do setor de Petróleo e Gás Natural no Brasil

    além da PETROBRAS em 2006-2010 ..................................................... 182 Quadro 19: Exemplos de empresas grandes contratantes da Indústria de Petróleo e

    Gás Natural .............................................................................................. 187 Quadro 20: Conteúdo Local realizado nos investimentos na Indústria de Petróleo e

    Gás no Brasil entre 2003 - 2005 .............................................................. 188 Quadro 21: Evolução da PETRO-RS entre 2000 - 2005 – ações, atividades e dados

    gerais........................................................................................................ 251 Quadro 22: Taxa de Inovação das empresas brasileiras por porte da empresa PINTEC

    2000 e Survey PETRO-RS 2005.............................................................. 257 Quadro 23: Cooperação com outras organizações PINTEC 2000 e 2003................. 262 Quadro 24: Cooperação entre empresas e organizações de P&D – RBT 2006 ........ 264 Quadro 25: Cooperação com outras organizações – Noruega 1997 ......................... 265 Quadro 26: % de empresas por faixa de participação de novos produtos no

    faturamento 2004 no survey PETRO-RS 2005 ........................................ 266 Quadro 27: % de empresas por faixa de participação de novos produtos no

    faturamento 2004 na PINTEC 1998 e 2000 ............................................. 267 Quadro 28: Valores do Fundo CTPETRO (em Milhões de Reais) 1999 - 2005 ......... 298

  • XIII

    LISTA DE FIGURAS Figura 1: Matriz Energética Mundial em 2004 ................................................................ 1 Figura 2: Modelo Linear de inovação ........................................................................... 29 Figura 3: Modelo Linked Chain (Elo de Cadeia).......................................................... 32 Figura 4: Modelo Sistêmico da Inovação...................................................................... 33 Figura 5: Dinâmica induzida pelas inovações .............................................................. 38 Figura 6: Tecnologias x Atividades da Cadeia de Valor ............................................... 44 Figura 7: Relações horizontais e verticais entre empresas de um Sistema de Valor... 45 Figura 8: Elementos de um Sistema Nacional de Inovação ......................................... 65 Figura 9: O Sistema Nacional de Inovação como uma Matriz de SRI's e SSI's........... 70 Figura 10: Fontes da vantagem competitiva da localização......................................... 78 Figura 11: As influências do governo no aprimoramento dos clusters ......................... 88 Figura 12: Influência do setor privado no aprimoramento dos clusters ........................ 90 Figura 13: Necessidade de Especialização X Diversificação de Competências da Firma

    ................................................................................................................... 97 Figura 14: Esquema conceitual de Rede de Inovação Horizontal Induzida ............... 102 Figura 15: O Método de estudo de caso .................................................................... 124 Figura 16: Esquema do Método de Trabalho aplicado na Tese................................. 125 Figura 17: Países membros da OECD em 2005 ........................................................ 161 Figura 18: Reservas mundiais e brasileiras de petróleo 1994 – 2004 (bilhões de barris)

    ................................................................................................................. 167 Figura 19: Produção mundial e brasileira de petróleo (milhares de barris/dia) .......... 167 Figura 20: Índice Reservas/Produção de Petróleo mundial e brasileiro em anos 1994 -

    2004 ......................................................................................................... 168 Figura 21: Reservas de Petróleo no Brasil no período 1994 - 2004, terra e mar, em

    bilhões de barris ....................................................................................... 171 Figura 22: Demanda x Produção mundial de petróleo em 2004 em Milhares de barris

    por dia ...................................................................................................... 173 Figura 23: Reservas mundiais e brasileiras de Gás Natural em trilhões de metros

    cúbicos 1994 - 2004 ................................................................................. 174 Figura 24: Produção mundial e brasileira de GN em bilhões de metros cúbicos 1994 -

    2004 ......................................................................................................... 174 Figura 25: Índice Reservas/Produção de Gás Natural mundial e brasileiro em anos

    1994 - 2004 .............................................................................................. 175 Figura 26: Reservas de GN no Brasil no período 1994 - 2004, terra e mar, em bilhões

    de metros cúbicos .................................................................................... 176 Figura 27: Demanda versus Produção mundial de GN em 2004 em bilhões de metros

    cúbicos ..................................................................................................... 178 Figura 28: Planejamento Estratégico e de Investimentos da PETROBRAS 2003 - 2015

    ................................................................................................................. 179 Figura 29: Fontes para os investimentos da PETROBRAS 2004 - 2015 ................... 182 Figura 30: Modalidades de Negociação e Compras da PETROBRAS ...................... 189 Figura 31: Segmentação das Categorias de itens adquiridos (Bens de Capital) ....... 191 Figura 32: Principais elementos do Sistema Brasileiro de Inovação do Setor de

    Petróleo .................................................................................................... 194 Figura 33: Estrutura de Governança do PROMINP.................................................... 200 Figura 34: Valores realizados e previsões de Conteúdo Local alocado nos

    investimentos do setor de petróleo e GN no Brasil entre 2003 - 2010..... 202 Figura 35: Estrutura Organizacional da Rede PETRO-RS a partir de Dezembro de

    1999 ......................................................................................................... 225 Figura 36: Gancho KS modelado pelo pessoal do LAMEF/UFRGS........................... 230 Figura 37: Estrutura organizacional da rede PETRO-RS ........................................... 232

  • XIV

    Figura 38: Estande da PETRO-RS na Feira Argentina OIL & GAS EXPO 2001 ....... 236 Figura 39: Unidade de Geração de Energia Elétrica a Gás Natural........................... 238 Figura 40: Unidade de Bombeio – Cavalo de Pau ..................................................... 240 Figura 41: Estande da PETRO-RS na Argentina Oil & Gás 2003 .............................. 245 Figura 42: Porte das empresas do survey PETRO-RS 2005 ..................................... 254 Figura 43: Taxa de Inovação de Produto e Processo na PETRO-RS – Survey PETRO-

    RS 2005 ................................................................................................... 255 Figura 44: Taxas de Inovação do survey PETRO-RS 2005 por faixa de pessoal

    ocupado.................................................................................................... 256 Figura 45: Grau de utilização de informações externas à empresa na PETRO-RS –

    Survey PETRO-RS 2005.......................................................................... 261 Figura 46: Relação Volume de Investimentos Viáveis por Taxa de Juros Nominais em

    Novembro/2005........................................................................................ 264 Figura 47: Representação Esquemática das “Relações na Rede” na Fase 2 da

    PETRO-RS............................................................................................... 291 Figura 48: Representação Esquemática das “Relações na Rede” na Fase 3 da

    PETRO-RS............................................................................................... 291 Figura 49: Tipos de interações entre atores de uma RIHI e mecanismos de governança

    preponderantes nas relações................................................................... 293 Figura 50: % de Empresas pesquisadas com linhas de produto para o mercado de

    petróleo e gás no período 2000-2004 ...................................................... 328 Figura 51: Desenho esquemático da Estrutura Organizacional de uma RIHI genérica

    ................................................................................................................. 359 Figura 52: Desenho esquemático das relações entre os tipos de atores da RIHI

    genérica.................................................................................................... 360 Figura 53: Relacionamento entre Atividades da Rede PETRO-RS e Produtos ......... 362 Figura 54: Representação esquemática da Rede de Inovação Horizontal Induzida –

    RIHI .......................................................................................................... 366

  • 1

    1. Apresentação

    1.1. Considerações Iniciais

    Dentre vários setores econômicos relevantes para o Brasil e para o mundo, um

    dos que cada vez mais se destaca como estratégico é o setor de Energia. Em 2004, o

    consumo mundial de combustíveis em geral cresceu acima da média dos 10 anos

    anteriores (um crescimento da ordem de 4,3% sobre o ano de 2003), sendo que

    aproximadamente 88% da demanda foi suprida por combustíveis fósseis. Do total do

    consumo energético daquele ano, 66% foi ofertado pela Indústria de Petróleo e Gás

    Natural, conforme ilustrado na Figura 1.

    Matriz Energética Mundial (2004)

    37%

    24%

    27%

    6% 6% PetróleoGás NaturalCarvãoNuclearHidroelétrica

    Figura 1: Matriz Energética Mundial em 2004

    Fonte: BRITISH PETROLEUM (2005b).

  • 2

    No Brasil, em 2004, o Petróleo e o Gás Natural tiveram uma participação

    significativa na Matriz Energética, tendo representado, respectivamente, 39,1% e 8,9%

    da oferta interna de energia, conforme demonstra o Quadro 1.

    Quadro 1: Evolução da Oferta Interna de Energia no Brasil 1984 - 2004

    EVOLUÇÃO DA OFERTA INTERNA DE ENERGIA - UNIDADE: 10³ tep*

    IDENTIFICAÇÃO 1984 1994 2004 % em 2004 2004/1984

    ENERGIA NÃO RENOVÁVEL 58.276 83.215 119.757 56,1% 106%PETRÓLEO E DERIVADOS 46.535 66.692 83.381 39,1% 79%GÁS NATURAL 2.406 5.128 18.982 8,9% 689%CARVÃO MINERAL E DERIVADOS 8.477 11.353 14.225 6,7% 68%

    URÂNIO (U3O8) E DERIVADOS 857 43 3.170 1,5% 270%ENERGIA RENOVÁVEL 65.068 74.227 93.613 43,9% 44%HIDRÁULICA E ELETRICIDADE (*) 14.314 23.595 30.804 14,4% 115%

    LENHA E CARVÃO VEGETAL 33.340 24.854 28.193 13,2% – 15%DERIVADOS DA CANA-DE-AÇÚCAR 15.989 22.773 28.756 13,5% 80%

    OUTRAS RENOVÁVEIS 1.425 3.004 5.860 2,7% 311%TOTAL 123.343 157.442 213.370 100% 73%

    (*) tep = Tonelada Equivalente de Petróleo.

    Fonte: MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (2005).

    O Quadro 1 mostra que houve uma inversão na matriz de energia no Brasil nas

    última duas décadas. Em 1984, a oferta interna de energia renovável1 foi superior à de

    energia não renovável. Entre 1984 e 2004 houve um crescimento de 106% da oferta

    de energia não renovável, frente a um crescimento de 44% da oferta de energia

    renovável, sendo que o maior crescimento refere-se à oferta de gás natural (689%),

    alcançando 8,9% da oferta total de energia no país.

    Essa ocorrência de maior participação das fontes não renováveis na matriz

    energética, especialmente do petróleo e do gás natural, foi global. O pico da taxa

    reservas/produção de petróleo no mundo deverá ocorrer no período 2010-2020

    (LEITE, 2005), o que sugere tendências de manutenção ou crescimento do valor

    1 O termo energia renovável é utilizado pelo pesquisador para explicar o Quadro 1 e refere-se à fonte de energia e não à energia propriamente dita. O termo energia renovável não seria rigorosamente correto do ponto de vista científico caso se referisse a uma forma de energia, haja vista que a segunda Lei da Termodinâmica mostra que os processos de transformação de energia em calor não são 100% reversíveis, portanto, qualquer forma de energia convertida em calor não é 100% renovável.

  • 3

    médio do barril de petróleo nos próximos anos. O Quadro 2 apresenta o valor nominal

    do barril de petróleo Brent no período 2000 a 2004.

    Quadro 2: Valor do Barril de Petróleo Brent no período 2000-2004

    Ano U$/Barril 2000 28,50 2001 24,44 2002 25,02 2003 28,83 2004 38,27

    Fonte: BRITISH PETROLEUM (2005b).

    Para a Indústria de Petróleo e Gás Natural, esses cenários, com preço e

    demanda estáveis ou crescentes, são favoráveis para viabilizar as atividades de

    Exploração e Produção (E&P) em águas ultra-profundas, como é o caso do Brasil. As

    principais reservas brasileiras são offshore, localizadas em lâminas d’água entre 300 e

    3.000 metros de profundidade, o que implica em grandes investimentos em bens de

    capital e em serviços especializados, além de grandes desafios tecnológicos para um

    amplo conjunto de cadeias fornecedoras.

    Outros aspectos que sugerem atenção para a Indústria de Petróleo e Gás

    Natural são: é fortemente concentrada nas empresas operadoras (no caso do Brasil

    em uma empresa estatal, a PETROBRAS), com importância econômica ampla, pois,

    além de ser fonte energética para praticamente todos os demais setores da economia,

    é insumo para a Indústria Petroquímica, a qual também é transversal a um grande

    número de setores.

    Na amostra das 500 maiores empresas em faturamento da América Latina as

    quatro maiores empresas são estatais de Petróleo e Gás (AMÉRICA ECONOMIA,

    2005). O Quadro 3 mostra a PETROBRAS como a empresa mais lucrativa em 2004,

    apesar de não ser a maior em faturamento.

    Quadro 3: Lucro e faturamento das quatro maiores empresas da América Latina 2003 - 2004

    Lucro Líquido (US$ Milhões)

    Vendas (US$ Milhões) Empresa

    2004 2003 2004 2003 PETROBRAS 6.728,00 6.159,00 40.763,00 33.181,00 PDVSA 6.600,00 3.100,00 63.200,00 46.000,00 PETRÓLEOS MEXICANOS -1.268,40 -3.718,00 69.834,00 55.726,00 PEMEX REFINATION -1.978,00 -3.222,00 28.350,00 27.420,00

    Fonte dos dados: AMÉRICA ECONOMIA (2005).

  • 4

    A dinâmica tecnológica dessa indústria no Brasil é marcante desde os anos

    19602. A participação da PETROBRAS no desenvolvimento de tecnologia e de

    fornecedores nacionais tem sido um fator relevante para a economia brasileira,

    sobretudo em função das inovações resultantes de projetos de Pesquisa e

    Desenvolvimento (P&D) do CENPES (Centro de Pesquisas da PETROBRAS).

    Os números projetados no Plano de negócios 2006-2010 da PETROBRAS, em

    termos de valor médio anual adicionado à economia brasileira, equivalem a cerca de

    10% do PIB Nacional (BARUSCO FILHO, 2005), assim distribuídos: (i) R$ 92

    bilhões/ano de faturamento médio; (ii) R$ 49 bilhões/ano com a cadeia produtiva dos

    gastos operacionais; e (iii) R$ 35 bilhões/ano com as cadeias produtivas dos

    investimentos (correspondente aos desdobramentos das aquisições de várias cadeias

    produtivas fornecedoras da estatal). A PETROBRAS projeta ainda para esse período a

    ocupação anual de 160 mil postos de trabalho diretos e 502 mil postos de trabalho

    indiretos, como efeito de sua atuação no Brasil (BARUSCO FILHO, 2005).

    O total de investimentos diretos projetados para essa indústria no Brasil3 no

    período 2006-2010 monta US$ 66,2 bilhões, dos quais a PETROBRAS deve participar

    com 74% (TEIXEIRA, 2005; BARUSCO FILHO, 2005). Esses investimentos envolvem

    produtos de alto valor agregado, com alto padrão tecnológico4, representando uma

    oportunidade sem precedentes para as empresas nacionais fornecedoras, de várias

    cadeias produtivas, haja vista a diversidade de itens demandados. Nesse contexto há

    uma série de necessidades (e oportunidades) de desenvolvimento de produtos e

    processos novos para o mercado mundial, cujas demandas tecnológicas já vêm sendo

    tratadas por programas do CENPES, como o PROCAP 30005.

    O ambiente de concorrência global no qual estão inseridas empresas

    brasileiras da indústria em geral, e em especial aquelas de capital majoritariamente

    Nacional que são fornecedoras da indústria de Petróleo e Gás Natural, sugere a

    necessidade de esforços de catch up tecnológico em relação a fornecedores

    noruegueses, ingleses, escoceses, dinamarqueses, norte-americanos, canadenses,

    2 O item 5.2.1 deste trabalho descreve sinteticamente a história dessa indústria no mundo e no Brasil. 3 Dados referentes a investimentos na indústria de petróleo mundial e no Brasil podem ser vistos em http://www.iea.org, página do IEA – International Energy Agency e em http://www.prominp.com.br, página do PROMINP – Programa Nacional de Mobilização da Indústria do Petróleo. Detalhes sobre previsões de investimentos da PETROBRAS para o período 2003 – 2007 são apresentados no Capítulo 4 desta Tese. 4 O Anexo III apresenta uma relação de bens e serviços utilizados pela indústria de Petróleo e Gás Natural. No Capítulo 3 deste documento estão descritos os investimentos planejados pela PETROBRAS para o período 2003 a 2007, o que dá uma visão mais clara sobre os tipos de bens e serviços relacionados a tais investimentos. 5 PROCAP 3000 é o programa do CENPES que visa desenvolver capacitações para produção de petróleo e gás natural em lâminas d’água de até 3.000 metros de profundidade.

  • 5

    entre outros6. Empresas destes países vêm fornecendo produtos para essa indústria

    há vários anos, inclusive para demandas específicas de atividades de exploração e

    produção em águas profundas, como no caso do Mar do Norte. Com as tendências de

    queda das reservas e da produção naquela região, uma série de esforços

    colaborativos envolvendo empresas, organizações de apoio e governos, vem sendo

    desenvolvida para aumentar a competitividade das empresas fornecedoras daqueles

    países em mercados alvo como o Golfo do México, a Costa Brasileira e a Costa da

    África.

    A articulação desses atores com vistas a inovações vem sendo tratada como

    peça-chave para a competitividade das firmas e para o desenvolvimento econômico de

    países, regiões e setores em geral. A competitividade está cada vez mais associada à

    capacidade de inovação institucional, organizacional e tecnológica, desde o nível do

    Estado até o nível da Firma, e em todos os setores da economia (OECD, 1997).

    Em 1999, uma pesquisa promovida pela Agência Nacional do Petróleo – ANP

    (ANP, 1999) já indicava que a Indústria Nacional Brasileira teria tecnologia e

    capacidade produtiva e de engenharia para atender cerca de 70% da demanda por

    bens e serviços para o setor de Petróleo. Esse estudo mostrava que em 1999 a

    Indústria Brasileira atendia tão somente cerca de 30% dessa demanda.

    Ainda em 2003, a maior parte dos suprimentos (em valor) para a PETROBRAS

    nas atividades de E&P, permanecia composta direta ou indiretamente de itens

    importados. Estudo de PELLEGRIN & SAMUEL (2004), baseado em dados da

    PETROBRAS, aponta que mais de 50% do valor das aquisições de produtos e

    contratos de serviços da PETROBRAS na região da Bacia de Campos naquele ano

    eram fornecimentos diretos de empresas externas. O mesmo estudo aponta ainda que

    uma parte do que é adquirido internamente (no Brasil), é realizado junto a empresas

    (nacionais) de capital externo, que por sua vez utilizam recursos de suas matrizes no

    exterior, como rebocadores oceânicos, barcos de apoio, ferramentas, plataformas,

    equipamentos, componentes, engenharia, tecnologias, entre outros.

    Esses dados sugerem a possível existência de restrições no Sistema Brasileiro

    de Inovação do Setor de Petróleo, restrições essas, que teriam limitado o potencial de

    inovação das firmas fornecedoras de capital nacional nas últimas décadas,

    demandando a importação de tecnologias, bens e serviços externos pela Indústria

    Nacional.

    6 Os países Escandinavos, especialmente Noruega e Dinamarca, e do Reino Unido, especialmente Escócia e Inglaterra, têm uma indústria de Petróleo e Gás Natural bastante desenvolvida em relação atividades offshore, enquanto países como EUA e Canadá destacam-se mais pela sua indústria onshore.

  • 6

    Diretrizes estratégicas do Governo Federal Brasileiro apontam para a

    articulação de ações que visem maximizar o fornecimento a partir das firmas

    nacionais, através da substituição competitiva de importações (REDE BRASIL DE

    TECNOLOGIA, 2005; PROMINP, 2006)7. Nessa linha, uma série de projetos vem

    sendo viabilizada a partir do Fundo Setorial CT-PETRO do MCT/FINEP, através de

    financiamento de estudos e projetos específicos para o setor de Petróleo, visando

    desenvolver as inovações que essa indústria demanda (REDE BRASIL DE

    TECNOLOGIA, 2005).

    Esses esforços são consonantes com o referencial teórico desta tese, o qual

    postula que, embora o locus principal da inovação seja a empresa, os processos de

    inovação tecnológica ocorrem dentro de um sistema mais amplo, envolvendo outros

    atores, cujas interações são mediadas por elementos de natureza institucional. Ainda,

    a viabilização econômica dos processos de inovação poderá depender de outros

    atores, como governo (políticas e legislação relativas a inovações tecnológicas,

    proteção dos novos entrantes nacionais, fomento, etc.) e/ou agentes financeiros, além

    da capacidade de colaboração entre os próprios clientes/usuários e seus

    fornecedores.

    Algumas experiências no Brasil, como a da Rede PETRO-RS e a Rede Brasil

    de Tecnologia (RBT) mostram caminhos possíveis para apoiar as empresas brasileiras

    a buscarem competitividade internacional (VILLAVERDE et al., 2000; BALESTRO et

    al., 2004; BALESTRO e PELLEGRIN, 2005). Fundamentalmente, essas iniciativas

    tratam de apoiar as firmas através de ações colaborativas com os demais atores dos

    Sistemas de Inovação, ações essas que tenham impacto na produtividade ou na

    capacidade de inovar das empresas. São experiências públicas, privadas ou híbridas

    que envolvem a coordenação e a execução de um conjunto de ações e projetos,

    articulando vários atores para atuarem de forma sinérgica. Reforçam-se questões tais

    como captação de informações (e oportunidades) de mercado, representação política,

    relações sociais e empresariais, além da flexibilidade no uso de recursos externos,

    com vantagens de redução de riscos e de custos em vários aspectos.

    O caso apresentado neste trabalho, da Rede PETRO-RS, indica que o Brasil

    pode fazer uso da experiência de Redes de Inovação para expandir o fornecimento

    das firmas nacionais para a indústria de petróleo e para outros setores, com

    competitividade em nível global.

    Os resultados medidos mostram que essa rede vem potencializando as

    inovações tecnológicas no Estado do Rio Grande do Sul, ao facilitar as interações

    7 Mais detalhes no Capítulo 4 da tese.

  • 7

    entre atores (firmas, Universidades, instâncias do Governo Estadual e Federal,

    Unidades da PETROBRAS em outros Estados e em outros países, FINEP, SEBRAE,

    entre outros), além de estar potencializando a institucionalização de novas formas de

    relacionamento no tecido econômico. A PETRO-RS vem apoiando a articulação dos

    atores para desenvolvimento de projetos colaborativos e para desenvolver relações

    mais qualificadas entre os mesmos. Esses projetos já resultaram no desenvolvimento

    de uma série de produtos novos pelas firmas do Rio Grande do Sul, além da

    ampliação do número de fornecedores locais para a PETROBRAS e para o exterior.

    Outras ações da PETRO-RS viabilizaram a participação de empresas do RS

    em eventos, tais como missões ao exterior e exposição em feiras nacionais e

    internacionais. Algumas firmas elevaram significativamente o seu faturamento para o

    setor de petróleo, e muitas delas creditam parte desses resultados às ações da

    PETRO-RS.

    A própria constituição da Rede PETRO-RS, pode ser considerada como uma

    inovação organizacional para a Indústria Nacional de Petróleo, na medida em que o

    seu modus operandi foi original no país, potencializando os processos de inovação

    com o desenvolvimento de ações de governança horizontais (ou simétricas)8 sobre os

    elementos dos Sistemas de Inovação Nacional, Regional e Setorial envolvidos.

    O modelo de organização da PETRO-RS está sendo disseminado

    nacionalmente pela própria PETRO-RS, bem como pelo Ministério da Ciência e da

    Tecnologia (MCT) através da Rede Brasil de Tecnologia (RBT). Essa disseminação,

    que esteve como objetivo da rede desde a sua origem, é estratégica, uma vez que a

    performance dos processos de inovação desenvolvidos pelos atores da PETRO-RS

    depende, em grande medida, de organizações e de instituições nacionais e setoriais.

    Em última análise, trata-se de uma contribuição concreta para o fortalecimento do

    Sistema Brasileiro de Inovação do Setor de Petróleo, propriamente dito.

    A partir dessas considerações iniciais, este Capítulo introdutório da tese

    apresenta os elementos formais da pesquisa, tais como a importância do trabalho,

    alguns conceitos básicos, as justificativas de natureza econômica e acadêmica, as

    questões de pesquisa, seus objetivos e suas delimitações. Apresenta também, ao

    final, uma descrição sobre a estrutura deste documento.

    8 Por ações de governança horizontais ou simétricas entende-se a articulação dos atores compartilhando a mesma capacidade de influência (poder de decisão). Fornecedores e outros atores (laboratórios de P&D, governo, agentes financeiros e de fomento, por exemplo) articulam-se numa lógica de organização horizontal em parceria com a PETROBRAS, distinta (mas não excludente) de outras formas de organização, também exitosas, onde os esforços de desenvolvimento das cadeias de fornecimento e/ou dos parceiros de P&D partem da PETROBRAS, numa lógica top down (verticalizada e/ou assimétrica). Sobre redes horizontais e verticais (top down) ver CASAROTTO FILHO & PIRES (2001). Sobre redes simétricas e assimétricas ver GRANDORI & SODA (1995) e AMATO NETO, (2000). O item 2.3.3 deste trabalho apresenta essas formas organizacionais.

  • 8

    1.2. Importância do trabalho

    Como em tantas outras matérias, a história é fundamental para a compreensão

    das atuais fronteiras do conhecimento sobre o tema da Inovação. Isso tanto no que diz

    respeito à evolução dos aspectos teóricos, como em relação ao conhecimento das

    experiências empíricas.

    Já na edição de Alexander Hamilton dos Reports of the Secretary of the

    Treasury on the Subjects of Manufactures9 (HAMILTON, 1791 apud CHANG, 2004) e

    na obra The National System of Political Economy10, de Friederich List (LIST, 1885),

    argumentava-se o que se comprova hoje: que os países que lograram maior sucesso

    em termos de desenvolvimento industrial e econômico, desenvolvem fortemente ações

    político-estruturais de suporte e fomento ao desenvolvimento de capital intelectual, de

    empresas inovadoras.

    “O estado presente das nações é o resultado da acumulação de descobertas,

    invenções, melhorias, acertos e erros de todas as gerações que têm vivido

    antes de nós; eles formam o capital intelectual atual da raça humana, e cada

    nação separada é produtiva somente na proporção em que tenha

    conhecimento sobre como se apropriar daqueles conhecimentos das gerações

    passadas e incrementá-los pelas suas próprias competências” (LIST, 1885, p.

    79).

    LIST (1885) antecipou, de certa forma, as idéias sistêmicas dos estudos

    contemporâneos sobre inovação, especialmente a necessidade de articulação de um

    conjunto de atores, tais como Governo, firmas, agentes financeiros, organizações de

    educação e treinamento, de Pesquisa e Desenvolvimento, entre outros. LIST ressaltou

    a importância de elementos como a aprendizagem interativa entre usuários e

    produtores, a acumulação de conhecimento, adaptação de tecnologia importada,

    promoção de indústrias estratégicas, etc. Ele também colocou ênfase no papel do

    Estado na coordenação e condução de políticas de longo prazo para a indústria e para

    a economia de uma forma geral.

    9 “Relatórios do Secretário do Tesouro sobre a Questão das Manufaturas”, original publicado nos EUA no ano de 1791. 10 “O Sistema Nacional de Política Econômica”, original publicado na Alemanha no ano de 1841.

  • 9

    Joseph A. Schumpeter em sua obra Capitalism, Socialism and Democracy11

    (SCHUMPETER, 1976), apresenta a tese do desequilíbrio inerente ao sistema

    capitalista em mercados competitivos, onde os atores buscam a diferenciação como

    estratégia principal para auferir ganhos de monopólio temporário, ao oferecerem novos

    produtos e serviços. Essas, entre outras obras, vieram embasando o arcabouço

    teórico sobre Inovação, com abordagens para o entendimento da dinâmica da

    economia e da competitividade, desde o nível do Estado Nação até o nível da firma, e

    suas conexões.

    Na sua obra de 1942, Schumpeter já propunha que as inovações

    desenvolvidas pelas firmas são o motor da economia capitalista, e que essas

    inovações podem ser de diversas naturezas, por exemplo, “novos bens de consumo,

    novos métodos de produção ou de transporte, novos mercados e novas formas

    organizacionais que a firma capitalista cria” (SCHUMPETER, 1976, p. 83). Percebe-se

    claramente em Schumpeter a preocupação com inovações de natureza

    organizacional, além de inovações tecnológicas.

    As contribuições teóricas de Schumpeter ganharam novo impulso, sobretudo a

    partir dos anos 1980, com os economistas evolucionistas12 (NELSON & WINTER,

    1982, DOSI, 1982 e 1988, entre outros) 13. Essa linha teórica reforça a idéia da

    empresa como agente central da inovação através da implementação de suas

    estratégias competitivas, baseada em incorporação de tecnologia e mudanças

    organizacionais. Nessa abordagem as inovações são desenvolvidas a partir de um

    processo interativo que envolve fatores internos e externos à firma, tanto nas fases de

    geração como de difusão tecnológica (NELSON & WINTER, 1982).

    Essa concepção teórica parte de uma série de críticas à teoria econômica

    neoclássica. A escola evolucionista entende a concorrência não como um estado

    representativo ou com tendência ao equilíbrio (visão estática e clássica), mas como

    um processo dinâmico, que induz os agentes a formularem estratégias de

    diversificação. Nessa visão, as estratégias vencedoras são aquelas selecionadas pelo

    mercado, e o resultado são rendimentos extraordinários temporários alcançados pelas

    empresas inovadoras.

    No contexto analítico evolucionista, tanto o mercado como as empresas (por

    suas decisões) selecionam certas estratégias que as firmas ou a estrutura de mercado

    ou da indústria seguirão. Apesar de ser muito difícil predizer o sucesso de uma

    inovação, é razoável supor que uma inovação de sucesso possa gerar uma situação

    11 “Capitalismo, Socialismo e Democracia”. Original publicado nos EUA no ano de 1942. 12 Ou evolucionários. 13 Essa linha teórica é mais detalhada no item 2.2.2. deste Capítulo.

  • 10

    de desequilíbrio temporário no mercado ou na indústria. Essa situação de desequilíbrio

    possivelmente terá respostas por parte dos concorrentes, porém, respostas que a

    priori são desconhecidas. Assim, o equilíbrio pode ser admitido como um caso (ou

    acaso) particular do processo, uma característica momentânea, mas que não perdura

    no longo prazo, pois a estrutura de mercado estará constantemente sujeita ao

    processo competitivo, o qual resulta em desequilíbrio, potencializado pelas inovações.

    A hipótese da racionalidade dos agentes econômicos é abandonada sobretudo

    devido à existência de incertezas no horizonte de análise. O processo de tomada de

    decisão ocorre em um ambiente onde há limitação cognitiva dos agentes, os quais

    estão sujeitos também às limitações relativas à disponibilidade de informações e,

    principalmente, onde há mudança estrutural constante, com grau de incerteza elevada.

    Na prática, os agentes econômicos, particularmente as firmas, tem objetivos a

    serem perseguidos e tomam decisões baseadas em racionalidade limitada14. Além de

    existir uma diversidade entre os agentes, estes mesmos tomam decisões em

    condições de informação incompleta e distinta. Normalmente as decisões são tomadas

    com base em heurísticas (um conjunto de regras de rotina), ou seja, seguindo um

    conjunto de procedimentos e metas, conscientes de que os objetivos não estarão

    assegurados. Para os economistas da escola evolucionista essa articulação para a

    tomada de decisão é, em última análise, a definição da estratégia – um processo de

    busca de novas oportunidades, através de inovações, sobre o contexto tecnológico

    atual ou futuro já percebido pelo agente.

    Verifica-se que, neste contexto, o desenvolvimento pela firma de uma rede de

    relacionamentos que lhe permita obter informações mais atualizadas e com menor

    grau de incerteza sobre mercado e tecnologia, poderia significar uma redução

    substancial dos riscos associados aos processos de inovação.

    Essa abordagem também enfatiza que o progresso tecnológico tem

    características de cumulatividade, isto é, as experiências passadas e os investimentos

    já comprometidos em recursos incorrem em características de irreversibilidade ao

    processo de busca de oportunidades econômicas. A busca tem também caráter

    contingente em função da trajetória tecnológica atual e incorpora um elevado grau de

    incerteza, pois os resultados econômicos não são conhecidos a priori, tampouco a

    reação dos concorrentes.

    As inovações, por sua vez, não costumam se dar exclusivamente de um só

    golpe, a partir de um produto ou processo inteiramente novo. Há um desdobramento

    de inovações incrementais que podem ser desenvolvidas tanto pela firma que deu

    14 Sobre racionalidade limitada ver SIMON (1955 e 1979).

  • 11

    origem à inovação (respostas a feedback dos consumidores), como pelas firmas

    concorrentes, que em postura defensiva poderão buscar incorporar melhorias ao

    produto original. NELSON & WINTER (1982) chamam esse processo inovativo de

    “trajetória natural”, ou progresso ao longo de curvas de aprendizagem.

    A partir dos anos 1980 o aprofundamento das discussões sobre os fenômenos

    que envolvem a inovação trouxe consigo novos conceitos. Por exemplo, os conceitos

    de trajetórias tecnológicas (path dependence), paradigmas tecnológicos, assim como o

    conceito de atributos da inovação (oportunidade, cumulatividade e apropriabilidade)

    destacados por DOSI (1982 e 1988), apóiam o entendimento sobre a existência de

    componentes endógenos e exógenos à firma que impactam a eficácia dos seus

    processos de inovação.

    Também ganha novo impulso, na década de 1980, a discussão sobre a

    relevância da dimensão local para a competitividade. Enquanto a apropriabilidade dos

    retornos econômicos de uma firma, propiciados pela inovação, é, notadamente, um

    aspecto de natureza privada, existem outros resultados ao longo dos processos de

    inovação que podem ser vistos como não privados, ou quase-públicos, caracterizados

    como externalidades positivas (DOSI, 1988). Na aquisição de máquinas e

    equipamentos, e nos relacionamentos entre produtores e usuários de bens de capital

    ou serviços normalmente ocorrem trocas de informações, comunicação de

    especificações técnicas, visitas, entre outras práticas, as quais são elementos

    fundamentais para os processos de inovação, mesmo que algumas vezes essas

    atividades não envolvam transações financeiras ou sejam informais. Boa parte de tais

    transações, também geram impostos que, de forma direta ou indireta, contribuirão

    para manter e/ou desenvolver recursos (como infra-estrutura tecnológica) à disposição

    das firmas. Esses fenômenos representam um conjunto estruturado de externalidades

    que pode, algumas vezes, ser reconhecido como um “ativo coletivo” (LUNDVALL 1984

    e 1988 apud DOSI, 1988 p. 1146) de um grupo de firmas e ou indústrias de um país

    ou de uma região, ou seja, tendem a ser internalizados pelas firmas individualmente,

    estando “em potencial”15 no ambiente.

    Nesse sentido, PORTER (1990) apresenta a teoria de clusters como resultado

    da compilação de cerca de 180 referências bibliográficas sobre a temática das

    vantagens oferecidas por uma localidade à competitividade das empresas. Baseia-se

    também em 34 relatórios e estudos de caso sobre clusters, conduzidos em 17

    diferentes regiões do mundo, por diversos pesquisadores. Essa abordagem discute

    que os ganhos de competitividade propiciados pela participação da firma em um

    15 Grifo do pesquisador.

  • 12

    cluster são fundamentados em duas grandes linhas, a saber: (i) ganhos de

    produtividade; e (ii) através de inovações. O autor enfatiza a importância das

    inovações, situando a discussão, fundamentalmente, no âmbito das relações externas

    da firma, sem aprofundar a discussão sobre os fatores internos que permitem à

    empresa alcançar e internalizar esse tipo de vantagem competitiva.

    O conceito de externalidades tecnológicas (DOSI, 1988), por sua vez, apóia o

    entendimento da dinâmica entre componentes endógenos e exógenos à firma. Essa,

    dentre outras contribuições, vem embasando a abordagem de Sistemas de

    Inovação16, a qual, sem perder a referência da firma como o locus principal da

    inovação, discute aspectos sistêmicos, além das fronteiras da firma. Os primeiros

    trabalhos empíricos desenvolvidos a partir da década de 1990 com essa abordagem

    visavam estudos comparativos entre a competitividade de diferentes países. Formava-

    se, nessa época, o arcabouço teórico sobre Sistema Nacional de Inovação17.

    A abordagem de Sistemas de Inovação evoluiu também para outras dimensões

    além da Nacional, a saber: Sistema Regional de Inovação18, Sistema Setorial de

    Inovação19 e Sistemas Tecnológicos de Inovação20.

    O desenvolvimento da abordagem de Sistemas de Inovação inspirou uma

    tipologia para classificação das inovações, a qual sugere que as inovações podem ser

    de três naturezas:

    1. Inovações Tecnológicas: dizem respeito ao desenvolvimento de produtos (bens

    e serviços) novos ou substancialmente modificados, e ao desenvolvimento de

    novos materiais;

    2. Inovações Organizacionais: referem-se a forma de organização do trabalho,

    aos métodos e técnicas de gestão, aos modelos e processos de negócio, e a

    estrutura organizacional;

    3. Inovações Institucionais: dizem respeito às “regras do jogo ou condições

    estruturais” (EDQUIST et al., 1998; p. 04). Podem ser subdivididas em três

    grupos:

    a. de natureza informal cognitiva (prioridades, crenças, cultura);

    b. informal normativa (normas, valores, sistemas de autoridade, códigos

    de conduta); e

    16 Essa abordagem é apresentada adiante neste capítulo. 17 Ver síntese no item 2.2.4 deste capítulo. Para detalhes ver FREEMAN (1987), LUNDVALL (1992), NELSON (1993), EDQUIST et al. (1998); OECD (1999 e 2002b) e FREEMAN (2002). 18 Ver síntese no item 2.2.4 deste capítulo. Para detalhes ver COOKE (1996), COOKE & MORGAN (1998), OEA (2001), OECD (2001), CHUNG (2002) e COOKE, HEIDENREICH e BRACZYK (2004). 19 Ver síntese no item 2.2.4 deste capítulo. Para detalhes ver MALERBA (2002 e 2004). 20 Ver síntese no item 2.2.4 deste capítulo. Para detalhes ver CARLSSON & STANKIEWICZ (1995) e CARLSSON et al., (2002).

  • 13

    c. formal de regulação (leis, regras formais, sanções, regulamentações,

    contratos, normas técnicas, entre outras).

    Esse arcabouço teórico discute que o desenvolvimento e a sustentação da

    competitividade da firma, da indústria, de uma região e/ou de uma nação, passam,

    necessariamente, pela existência de um ambiente local favorável ao desenvolvimento

    dos fatores que impactam os processos de inovação das firmas.

    Desde o modelo mais clássico utilizado para representar processos de

    inovação, o modelo linear Technology Push, passando por modelos mais interativos

    como o Linked Chain ou Elo de Cadeia (KLINE & ROSEMBERG, 1986), até o modelo

    sistêmico (OECD, 1999), todos incluem um conjunto de atores participantes dos

    processos de inovação, externos à empresa. Ganham importância, nesses contextos,

    as atividades que devem ser desenvolvidas pela firma para melhor interagir com

    atores externos, bem como os recursos que estão “em potencial” 21 no ambiente e que

    poderão ser utilizados para alavancar sua competitividade.

    Os desenvolvimentos teóricos e as pesquisas empíricas mais recentes

    reforçam que dentre os fatores mais decisivos para a sustentabilidade de posições

    estratégicas e para a evolução da competitividade estão o acesso e a aplicação de

    novas tecnologias de produto, de processo e de gestão, bem como o desenvolvimento

    de novos insumos e de novos mercados. Destacam-se as capacitações relacionais da

    firma, para apropriação de conhecimento e informações e para alcançar outros

    recursos externos necessários aos processos de inovação (OECD, 2002a), a partir de

    interações com outros atores.

    Muitos desses fatores que impactam na competitividade individual de cada

    empresa podem ser impulsionados através da melhoria da qualidade nas relações

    inter-firmas, assim como do aprimoramento das relações entre empresa e

    organizações de apoio, como Universidades e Centros de Pesquisa, financiadores,

    Governo, entre outros (OECD, 2002b; DYER & SINGH, 2004). Nessa linha POWELL,

    KOPUT & DOERR-SMITH (1996) apresentam evidências de que o crescimento das

    empresas está relacionado com as suas relações de rede. A absorção de

    conhecimento externo depende, entre outras coisas, da rede de relações inter-

    organizacionais que as empresas estabelecem.

    Em paralelo com a evolução dos conceitos de Sistemas de Inovação,

    discussões sobre modelos inter-organizacionais, tais como redes de inovação e redes

    de cooperação ganharam espaço. Um dos aspectos mais relevantes nessa temática é

    21 Grifo do pesquisador.

  • 14

    o fato de que essas formas de organização vêm propiciando principalmente para

    firmas de pequeno e médio porte, mesmo em países menos desenvolvidos, maiores

    oportunidades para alcançar níveis superiores de competitividade, através de ações

    de colaboração horizontal e vertical em suas cadeias produtivas, ou mesmo entre

    diferentes setores da indústria (DEBRESSON & AMESSE, 1991; ROTHWELL, 1996;

    POWELL, KOPUT e DOERR-SMITH, 1996; KUMARESAN & MIYAZAKI, 1999;

    KÜPERS & PYKA, 2002; NOOTEBOOM, 2004).

    O conceito de Rede de Inovação Horizontal Induzida que é proposto nesta tese

    vem ao encontro dessas questões, seja a serviço da firma, enquanto mecanismo de

    apoio aos seus processos de inovação, seja a serviço do Estado, enquanto

    mecanismo de apoio à execução de políticas de inovação.

    1.3. Justificativa

    A seguir serão apresentadas as justificativas do trabalho a partir de três

    diferentes prismas inter-relacionados: (i) da Academia; (ii) do País; e (iii) do Caso

    selecionado.

    1.3.1. Justificativa Acadêmica

    As abordagens teóricas sobre inovação vêm sendo desenvolvidas com

    colaborações diversas, principalmente de pesquisadores de Economia Industrial, da

    Sociologia, das Engenharias e da Administração entre outras áreas do conhecimento.

    Dentre vasto arcabouço teórico relacionado ao tema, destacam-se nesta tese, tópicos

    da Economia e da Engenharia de Produção, a saber: (i) questões relativas aos

    elementos sistêmicos do ambiente onde a firma inovadora está inserida; e (ii) questões

    pertinentes aos fatores determinantes da competitividade local que impactam os

    processos de inovação da firma; (iii.) questões relacionadas com o modelo

    organizacional de uma rede de inovação.

    Particularmente para os pesquisadores de Engenharia de Produção mais afins

    com as temáticas da estratégia e da microeconomia, o estudo dos processos de

    inovação e de suas interfaces apresenta-se como um tema relevante. Ele trata

    diretamente de capacitações dinâmicas e da articulação de recursos internos e

    externos da empresa, elementos esses que impactam na sua competitividade. São

  • 15

    questões, por exemplo, sob a perspectiva de sistemas de inovação e/ou sob a

    perspectiva da estratégia competitiva, relacionadas com o entendimento de “por que”

    e/ou “como” a articulação de uma rede de atores distintos pode apoiar as empresas,

    de forma individual e coletiva, nos seus processos de inovação.

    As questões da tese associam-se ao quadro contemporâneo de pesquisa sobre

    Inovação, especialmente Sistemas e Redes de Inovação. Redes de Inovação é um

    campo em conformação, com contribuições de diferentes disciplinas e várias áreas do

    conhecimento, sendo necessário avançar as pesquisas que contribuam teórica e

    empiricamente com o mesmo (ALVAREZ, 2004). Uma das principais contribuições que

    se pretende trazer com este trabalho é analisar, com certo grau de detalhamento,

    porque uma Rede de Inovação, que, pode-se dizer, está no nível “meso”, pode apoiar

    os processos de inovação da firma, que está no nível “micro”.

    Pretende-se trazer contribuições à “Teoria da Inovação22”, tanto de cunho

    conceitual como prático. Desenvolve-se, a partir do referencial teórico, um esquema

    conceitual para um tipo de Rede de Inovação, a Rede de Inovação Horizontal Induzida

    - RIHI, evidenciando os elementos institucionais que mediam as interações entre os

    atores participantes dos processos de inovação entre outros fatores determinantes da

    competitividade local. Esse esquema é analisado à luz de um Estudo de Caso e dá

    origem a um modelo que é proposto para ser testado em trabalhos futuros. Também,

    um conjunto de dados é levantado, tanto em entrevistas estruturadas como em

    entrevistas em profundidade (semi-estruturadas), de forma a contribuir com as

    pesquisas empíricas sobre o tema de Redes de Inovação.

    1.3.2. Justificativa para o Brasil

    Algumas questões que justificam a condução deste trabalho de pesquisa, sobre

    o ponto de vista da importância nacional do tema, foram colocadas no item “1.2.

    Importância do Trabalho”, neste Capítulo. Essas questões vem se tornando ainda mais

    relevantes com o incremento da competição resultante da globalização e com a

    aceleração dos desenvolvimentos tecnológicos, particularmente com as tecnologias da

    informação e seu impacto sobre a difusão do conhecimento e da informação

    propriamente dita.

    22 Grifo do Pesquisador. O termo Teoria da Inovação está colocado na Tese como o conjunto ou arcabouço teórico sobre inovação, por exemplo, a abordagem evolucionista e a economia da inovação.

  • 16

    O modelo conceitual de Rede de Inovação proposto é aplicável para situações

    em que a localização geográfica das empresas não seja concentrada, e onde haja

    diversidade tecnológica ou de setores da economia23. Este foco parece ser

    particularmente interessante para o Brasil, país de dimensões continentais, onde

    empresas que tenham interesses comuns possam estar geograficamente dispersas. E

    em especial, atualmente, para empresas inseridas nas diversas cadeias de

    fornecimento da indústria de petróleo, dadas as condições favoráveis de investimento

    previstas para esse início de século nesse setor no Brasil.

    O conjunto de tópicos a seguir procura sintetizar as questões que justificam

    essa pesquisa, sob o prisma nacional:

    O setor de petróleo e gás natural tem importância estratégica em âmbito

    mundial. Essa importância se traduz, em termos econômicos, em uma

    participação relevante na produção econômica mundial atual, como principal

    insumo energético para praticamente todos os demais setores e, também,

    como matéria-prima para a indústria petroquímica, com derivações diversas, na

    química fina e farmacêutica, novos materiais, entre outras áreas;

    Trata-se de uma indústria dinâmica, especialmente nos países como o Brasil,

    onde as reservas concentram-se em águas ultra-profundas, o que demanda

    constante investimento em novas tecnologias de produtos (bens e serviços).

    O setor é intensivo em capital, sendo abastecido por cadeias de fornecimento

    diversas e não exclusivas, oportunizando, em muitos casos, que as inovações

    demandadas transbordem para outros setores da economia, tanto com respeito

    às tecnologias de materiais, de produtos e de processos de fabricação como

    também em relação à inovações na organização do trabalho, na gestão do

    conhecimento e da inovação, novos modelos de negócio, melhorias na

    articulação dos atores dos processos de inovação entre si e destes em relação

    aos elementos institucionais determinantes da competitividade das empresas;

    O estudo de modelos inter-organizacionais que contemplem a questão da

    dispersão geográfica dos atores participantes parece ser relevante em países

    com dimensões continentais, como o Brasil;

    A atratividade desse setor no Brasil para os fornecedores internacionais,

    particularmente do Reino Unido, Noruega, Dinamarca, entre outros, é

    crescente, devido aos investimentos previstos no Brasil e devido à redução de

    23 Esse interesse especial por Redes de Inovação com empresas geograficamente dispersas, e de diferentes setores da economia, decorre justamente da escassez de pesquisas nesses contextos, ao passo que há riqueza de referências bibliográficas sobre aglomerados (clusters) na literatura que, normalmente, referem-se a concentrações setoriais. Sobre inovação em clusters ver PORTER (1990 e 1999) e OECD (2001).

  • 17

    reservas de seus países de origem, especialmente no Mar do Norte. Este fato

    tende a tornar o ambiente de competição mais acirrado para as empresas

    brasileiras, as quais têm potencial para atender a tais demandas; e

    Pouco há escrito, de forma estruturada, a respeito dos elementos que

    concorrem para a definição das possibilidades de participação de empresas

    locais no fornecimento da indústria de petróleo e gás natural, seguindo a

    abordagem de Sistemas e/ou Redes de Inovação24. Esta tese propõe um

    conjunto de conceitos e idéias articuladas que visam explicar porque e como

    uma Rede de Inovação pode contribuir para que as empresas nacionais

    possam ser mais competitivas no atendimento às demandas da indústria do

    petróleo e gás natural.

    1.3.3. Justificativa do Estudo de Caso selecionado

    Como comentado anteriormente neste Capítulo, a indústria de Petróleo no

    Brasil vêm atravessando uma fase de grandes desafios e grandes avanços

    tecnológicos, criando um ambiente rico em oportunidades para empresas

    empreendedoras, que invistam em desenvolvimento de produtos e serviços. A

    abertura do setor e a legislação atual trazem também uma nova dinâmica ao setor,

    colocando as empresas nacionais em concorrência direta com as de outros países. A

    fase atual pela qual passa a indústria nacional do petróleo conta ainda com a

    vanguarda tecnológica da PETROBRAS em várias tecnologias relacionadas com

    exploração e produção em águas ultra-profundas, refino de óleos pesados, entre

    outras. Essa dinâmica do ambiente no qual estão inseridas as empresas fornecedoras

    nacionais, deve perdurar ainda por pelo menos uma década25.

    A experiência bastante recente de uma Rede de Inovação para essa indústria

    no Brasil indica que é possível melhorar a competitividade de um conjunto de

    empresas nacionais, a partir da ação de organizações inter-firma como a Rede

    PETRO-RS. Com uma nova abordagem organizacional para essa cadeia de

    suprimentos multi-setorial, onde a colaboração entre empresas e dessas com

    organizações de apoio assume papel central, um conjunto de empresas e outros

    atores do Estado do Rio Grande do Sul vêm, de forma articulada, respondendo às

    24 Alguns estudos como os de Alex Tubino Dantas e os de André Furtado tratam desse tema, mas não sobre o enfoque proposto nesta pesquisa, de redes de inovação. 25 No Capítulo 4 da tese são apresentados indicadores referentes a taxa de produção sobre reservas e outras informações que apontam para um horizonte de atividades na indústria brasileira de petróleo e gás natural, pelo menos, até o ano de 2025.

  • 18

    novas demandas tecnológicas e desenvolvendo inovações, aumentando sua inserção

    no mercado nacional e internacional. O estudo do caso da Rede PETRO-RS visa

    auxiliar o entendimento sobre “por que” uma Rede de Inovação é efetiva para apoiar

    os processos de inovação das firmas nacionais em ambientes de diversidade e

    dinâmica tecnológica como o que vive a indústria de petróleo no Brasil.

    A opção de focalizar a pesquisa no Caso da PETRO-RS está associada

    também às características particulares daquele contexto econômico, onde as

    empresas estão geograficamente dispersas e pertencem a diversos setores da

    indústria, o que também poderá ser o caso de outras redes PETRO que vem se

    estruturando em outros Estados do país.

    Procurou-se, ainda, na literatura, experiências similares à PETRO-RS no

    exterior, sendo que uma viagem para visitas de referência à organizações de apoio a

    empresas fornecedoras da indústria de petróleo foi realizada, envolvendo Noruega,

    Dinamarca e Reino Unido. Nenhuma das organizações visitadas permite um estudo de

    caso comparativo, muito embora uma série de informações colhidas seja relevante

    para as análises do caso e conclusões da pesquisa.

    1.4. Questão geral da pesquisa

    O problema de pesquisa foi estruturado a partir da seguinte questão geral:

    Por que uma Rede de Inovação pode apoiar os processos de inovação de

    um grupo de empresas?

    Essa questão conforma o objetivo geral e um conjunto de objetivos específicos,

    apresentados adiante, que foram perseguidos pelo pesquisador durante o projeto. Ela

    norteou as etapas de busca e seleção de referências bibliográficas, teóricas e

    empíricas, bem como contribuiu para a definição do método de estudo de caso como

    estratégia de pesquisa a ser empregada, conforme detalhado no Capítulo 3 deste

    trabalho.

    Trata-se de uma questão de natureza proeminentemente exploratória, inserida

    em contexto teórico em conformação. A questão geral está relacionada ao

    entendimento sobre os elementos determinantes e/ou de impacto sobre os processos

    de inovação das empresas que possam ser mais facilmente alcançados a partir de

    esforços coletivos e/ou coordenados em forma de rede. A exploração dos elementos

  • 19

    teóricos associados a essa questão têm, como ponto de partida, uma pesquisa

    preliminar de caráter explanatório, que serve de base para a construção de um

    esquema conceitual inicial sobre Redes de Inovação, apresentado no final do Capítulo

    2 da tese.

    A questão geral traz embutida a necessidade de avançar também na

    explanação de “como” uma rede de inovação pode apoiar os processos de inovação.

    Essa questão refere-se, principalmente, às questões relacionadas com estrutura,

    atividades e recursos que compõem o modus operandi de uma rede de inovação e à

    participação dos diversos tipos de atores na mesma. Entretanto, a questão também

    remete para os processos de inovação das empresas, o que, não necessariamente,

    encontra homogeneidade, ou seja, as ações e recursos disponibilizados pela Rede de

    Inovação que forem mais significantes para uma empresa não necessariamente o

    serão para outra, dado que pode existir diversidade de demandas entre as empresas

    da mesma rede, fruto de diferentes bases tecnológicas, mercados distintos e/ou

    estratégias distintas, entre outras razões. Essa situação implica em realizar

    levantamentos tanto no nível da coordenação da Rede de Inovação, como no nível

    das empresas, a fim de investigar potenciais diferenças entre as unidades de análise

    e, assim, caracterizar um quadro mais completo sobre o tema.

    1.5. Objetivos

    São os seguintes os objetivos geral e específicos do presente trabalho.

    1.5.1. Objetivo Geral

    O objetivo geral dessa