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ISSN 1982-1166 EDITOR Centro Universitário Padre Albino CONSELHO EDITORIAL Editora-Chefe Virtude Maria Soler Centro Universitário Padre Albino - Catanduva-SP. Editores Alessandra Mazzo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP, Ribeirão Preto-SP. Antonio Carlos de Araujo Centro Universitário Padre Albino Catanduva - SP. Ilza dos Passos Zborowski Fundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Funfarme. Luciana Bernardo Miotto Centro Universitário – UniMetrocamp-Wyden, Campinas - SP. Maria Regina Lourenço Jabur Fundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Funfarme. Analista Técnico Marisa Centurion Stuchi Centro Universitário Padre Albino – Catanduva-SP. FUNDAÇÃO PADRE ALBINO Conselho de Administração Presidente: Antonio Hércules Diretoria Administrativa Presidente: José Carlos Rodrigues Amarante CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ALBINO Reitor: Nelson Jimenes Pró-Reitor Acadêmico: Antonio Carlos de Araujo CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM Coordenadora de Graduação: Maria Cláudia Parro Rua dos Estudantes, 225 Parque Iracema Catanduva-SP - Brasil CEP. 15809-144 Fone: (17) 3311-3331 E-mail: revistaenfermagem@unifipa.com.br Indexada: Base de Dados de Enfermagem - BDENF - BIREME A é uma publicação com periodicidade semestral, editada pelo Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino. Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 12 Número 2, p. 145-230 - jul./dez 2018 Semestral

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2018 jul.- dez.; 12(2): 145

ISSN 1982-1166

EDITOR

Centro Universitário Padre Albino

CONSELHO EDITORIAL

Editora-ChefeVirtude Maria SolerCentro Universitário Padre Albino - Catanduva-SP.

Editores

Alessandra MazzoEscola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo – USP, Ribeirão Preto-SP.Antonio Carlos de AraujoCentro Universitário Padre Albino Catanduva - SP.Ilza dos Passos ZborowskiFundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Funfarme.Luciana Bernardo MiottoCentro Universitário – UniMetrocamp-Wyden, Campinas - SP.Maria Regina Lourenço JaburFundação Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Funfarme.

Analista Técnico Marisa Centurion StuchiCentro Universitário Padre Albino – Catanduva-SP.

FUNDAÇÃO PADRE ALBINO

Conselho de AdministraçãoPresidente: Antonio HérculesDiretoria AdministrativaPresidente: José Carlos Rodrigues Amarante

CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ALBINO

Reitor: Nelson JimenesPró-Reitor Acadêmico: Antonio Carlos de Araujo

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEMCoordenadora de Graduação: Maria Cláudia Parro

Rua dos Estudantes, 225Parque Iracema

Catanduva-SP - BrasilCEP. 15809-144

Fone: (17) 3311-3331

E-mail: revistaenfermagem@unifi pa.com.br

Indexada: Base de Dados de Enfermagem - BDENF - BIREME

A é uma publicação com periodicidade semestral, editada pelo Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino.

Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 12 Número 2, p. 145-230 - jul./dez 2018 Semestral

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146 2018 jul.- dez.; 12(2):

CONSELHO CIENTÍFICOAna Paula Girol – Bióloga – Centro Universitário Padre Albino (FIPA), Catanduva - SP.Anamaria Alves Napoleão – Enfermeira – Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), SP.Antonio Chizotti - Sociólogo - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), SP.Bethania Ferreira Goulart – Enfermeira - Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba-MG. Cristina Arreguy-Sena – Enfermeira - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), MG.Flaviana Vieira – Enfermeira - Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia-GO. Gilson Luiz Volpato - Biólogo - Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Botucatu-SP.Helena Megumi Sonobe – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Isabel Cristina Belasco – Enfermeira – Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, BA.Ítalo Rodolfo Silva – Enfermeiro - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), RJ.Jane Cristina Anders – Enfermeira – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis-SC.Johis Ortega - Enfermeiro - Escuela de Enfermeria y Ciências de La Salud, Universidad de Miami, USA.José Carlos Amado Martins - Enfermeiro - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal.Josefi na Gallegos Martínez - Enfermeira - Facultad de Enfermería de La Universidad Autónoma de San Luis Potosí, México. Josimerci Ittavo Lamana Faria – Enfermeira – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP.Lúcia Marta Giunta da Silva – Enfermeira – Sociedade Benefi cente Israelita Brasileira Albert Einstein (SBIBAE) – Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo-SP.Luciana Bernardo Miotto – Socióloga - Centro Universitário – UniMetrocamp-Wyden, Campinas - SP.Lucieli Dias Pedreschi Chaves – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Magda Fabbri Isaac Silva – Enfermeira – Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (HCFM-USP), SP.Manoel Santos – Psicólogo – Faculdade de Filosofi a Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), SP.Márcia Bucchi Alencastre – Enfermeira – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP) e Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal, SP.Maria Auxiliadora Trevizan - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.

Maria Cristina de Moura-Ferreira – Enfermeira - Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (FAMED-UFU), MG.Maria de Fátima Farinha Martins Furlan – Enfermeira – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP.Maria Helena Larcher Caliri - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Maria Elena Echevarría Guanilo – Enfermeira - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis-SC.María de los Ángeles Rodríguez-Gázquez – Enfermeira - Universidad de Antioquia y de la Universidad de Sevilla Medellín, Antioquia – Colombia.Maria José Bistafa Pereira - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Maria Luiza Nunes Mamede Rosa – Farmacêutica e Bioquímica – Faculdade de Medicina de Barretos, SP.Maria Manuela Frederico Ferreira - Enfermeira - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal.Maria Tereza Cuamatzi Peña - Enfermeira – Faculdad de Estúdios Superiores Zaragoza da Universidad Nacional Autónoma de México, México.Margarida Maria da Silva Vieira – Enfermeira - Universidade Católica Portuguesa, Porto - Portugal.Mariza Almeida Silva – Enfermeira – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador-BA.Marli Villela Mamede - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Mary Elizabeth Santana – Enfermeira – Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém do Pará-PA.Myeko Hayashida - Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.Rosemary Aparecida Garcia Stuchi – Enfermeira – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina-MG.Sara Mendoza-Parra – Enfermeira - Facultad de Enfermería, Universidad de Concepción, Concepción – Chile. Simone Albino da Silva - Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), MG. Simone Perufo Opitz – Enfermeira – Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Branco-AC.Simone Roque Mazoni – Enfermeira - Universidade de Brasília, DF.Sinval Avelino dos Santos – Enfermeiro - Universidade Paulista (UNIP), Ribeirão Preto – SP e Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal, SP.Wilson Cañon Montañez – Enfermeiro - Universidad de Santander (UDES), Colômbia. Yolanda Dora Martinez Évora – Enfermeira - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (USP), SP.

EDITORAÇÃO DE REVISTAS

Os artigos publicados na são de inteira responsabilidade dos autores.• É permitida a reprodução parcial desde que citada a fonte• Início de circulação: dezembro de 2007 / Circulation start: December 2007• Data de impressão: dezembro 2018 / Printing date: December 2018

Marisa Centurion Stuchi

CuidArte enfermagem / Centro Universitário Padre Albino, Curso de Graduação em Enfermagem. - - Vol. 12, n. 2 (jul./dez. 2018) - . – Catanduva: Centro Universitário Padre Albino, Curso de Enfermagem, 2007-

v. : il. ; 27 cm Semestral. ISSN 1982-1166 1. Enfermagem - periódico. I. Centro Universitário Padre Albino. Curso de

Graduação em Enfermagem. CDD 610.73

C966

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2018 jul.- dez.; 12(2): 147

ISSN 1982-1166

SUMÁRIO / SUMMARY / CONTENIDOEditorialLuciana Bernardo Miotto ......................................................................................................................................149

ARTIGOS ORIGINAIS

VIVER COM ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDADE, CONVÍVIO SOCIAL E ACEITAÇÃOLIVING WITH INTESTINAL STOMY: SELF-CARE, SEXUALITY, SOCIAL CONVIVAL AND ACCEPTANCEVIVIR CON ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDAD, CONVIVENCIA SOCIAL Y ACEPTACIÓNJoão Cesar Jacon, Roberta Lauani Dermindo de Oliveira, Giselda Aparecida Moura Castro Campos ............................153

TENDÊNCIAS DE MORTALIDADE POR CÂNCER SEGUNDO A DIRETORIA REGIONAL DE SAÚDE XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASILTRENDS OF MORTALITY BY CANCER ACCORDING TO THE REGIONAL DIRECTORATE OF HEALTH XV OF SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRAZILTENDENCIAS DE MORTALIDAD POR CÁNCER SEGÚN LA DELEGACIÓN REGIONAL DE SALUD XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASILRenata Prado Bereta Vilela, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice, Márcia Ayres Alves, Janaina Benatti de Almeida, Karina Rumi de Moura, Andiara Judith Arruda, Fernanda Luciana Calegari, Allini Mafra da Costa ..........................................160

PREVENÇÃO GINECOLÓGICA: PERCEPÇÃO DO AUTOCUIDADO DE TRABALHADORAS DE UMA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLÁVELGYNECOLOGICAL PREVENTION: PERCEPTION OF SELF-CARE OF WORKERS FROM A COOPERATIVE OF RECYCLABLE MATERIALPREVENCIÓN GINECOLÓGICA: PERCEPCIÓN DEL AUTOCUIDADO DE TRABAJADORES DE UNA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLABLELarissa Longui Dias, Jaçamar Alderona dos Santos, Francine Alves Gratival Raposo, Norma Lucia Santos Raymundo ..167

ANÁLISE DE CASOS DE CÂNCER DE PELE EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTAANALYSIS OF CASES OF SKIN CANCER IN A HOSPITAL OF INTERIOR PAULISTAANÁLISIS DE CASOS DE CÁNCER DE PIEL EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTAAna Rafaela Foloni, Maria Augusta Carvalho Carnelossi, Maria Julia Azarite Salomão, Rafaela Marega Frigério Lopes ..175

PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTAPREVALENCE OF ANEMIA IN ONCOLOGICAL PATIENTS ATTENDED IN SÃO PAULO INTERIOR HOSPITALPREVALENCIA DE ANEMIA EN PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTALara Lazaro Coxa, Paola Renata Cavalcante Joanini, Andréia de Haro Moreno ..........................................................181

Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 12 Número 2, p. 145-230 - jul./dez 2018 Semestral

147 -148

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ESTUDO DA ALTERAÇÃO GLICÊMICA EM PACIENTES ENTRE 30 A 40 ANOS NÃO DIABÉTICOS EM AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA DE UM HOSPITAL-ESCOLA NA CIDADE DE CATANDUVA-SPSTUDY OF THE CHANGE IN GLYCEMIC INDEX IN PATIENTS BETWEEN 30 TO 40 YEARS OLD NON-DIABETIC INDIVIDUALS IN PRE-ANESTHESIA EVALUATION CARE AT A HOSPITAL-SCHOOL IN THE CITY OF SÃO PAULOESTUDIO DE LA ALTERACIÓN GLUCÉMICA EN PACIENTES ENTRE 30 A 40 AÑOS NO DIABÉTICOS EN LA EVALUACIÓN PRE-ANESTÉSICA DE UN HOSPITAL-ESCUELA DE LA CIUDAD DE CATANDUVA-SPLuis Fernando Rodrigues Maria, Jaime João Jorge, Gizelly Ayumi Yamamoto, Guilherme Martins Tahan, Leonardo dos Reis Resende, Luiza Mastrange Pugin, Matheus Nascimento dos Anjos, Valdir Jesus Pagotto Junior, Vinicius Areia Garcia ...187

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ESTUDANTES DE UM CURSO DE MEDICINAINSTRUMENTS FOR EVALUATING THE PERFORMANCE OF STUDENTS OF A MEDICINE COURSEINSTRUMENTOS DE EVALUACIÓN DEL RENDIMIENTO DE ESTUDIANTES DE UN CURSO DE MEDICINATerezinha Soares Biscegli, Helene Franzin, Marília de Jesus Nogueira, Fernanda Yae Takaoka Muraishi, Silvia Ibiraci de Souza Leite .........................................................................................................................................................192

EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE MEDICINA NA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEISEXPERIENCE OF ACADEMICS OF MEDICINE IN THE PREVENTION OF SEXUALLY TRANSMITTED INFECTIONSEXPERIENCIA DE ACADÉMICOS DE MEDICINA EN LA PREVENCIÓN DE INFECCIONES SEXUALMENTE TRANSMISIBLESAna Cristyna Saad Murad, Carolina Vecchio Ardeu, Flávio Pereira dos Santos Júnior, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice, Renata Galli Barbosa ...........................................................................................................................................200

GESTÃO DA DEMANDA EM SAÚDE: QUALIDADE DO SERVIÇO OFERECIDO NA VISÃO DOS USUÁRIOSDEMAND MANAGEMENT IN HEALTH CARE: QUALITY OF SERVICE OFFERED ON THE VISION OF USERSLA GESTIÓN DE LA DEMANDA EN EL CUIDADO DE LA SALUD: LA CALIDAD DE LOS SERVICIOS OFRECIDOS EN LA VISIÓN DE LOS USUARIOSTatiane Veteri Coneglian, Adriani Izabel de Souza Moraes, Gabriela Cristina Dias, Ananda Carolina Pereira Araujo, Maria Claudia Parro, Nilson Mozas Olivares .....................................................................................................................204

FATORES MATERNOS ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DA SÍFILIS CONGÊNITAMATERNAL FACTORS ASSOCIATED WITH THE VERTICAL TRANSMISSION OF CONGENITAL SYPHILISFACTORES MATERNOS ASOCIADOS A LA TRANSMISIÓN VERTICAL DE LA SÍFILIS CONGÉNITACristina Sancowich Zoilo, Erica Patrícia Marim Barbosa, Juliano Aparecido Barbosa, Luciana Braz de Oliveira Paes ......211

AVALIAÇÃO DO PERFIL PSICOLÓGICO (CRITÉRIOS DE BECK) E DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA BARIÁTRICAEVALUATION OF THE PSYCHOLOGICAL PROFILE (BECK CRITERIA) AND THE FREQUENCY OF INGESTION IN BARIATRIC PATIENTSEVALUACIÓN DEL PERFIL PSICOLÓGICO (CRITERIOS DE BECK) Y DE LA FRECUENCIA ALIMENTARIA DE PACIENTES SUBMETIDOS A LA CIRUGÍA BARIÁTRICABeatriz Andrea Allegrini, Gabriel Teixeira Cagnin, Milena Theodoro, Bruno Ziade Gil, Durval Ribas Filho......................218

ANÁLISE PROTOPARASITOLÓGICA E MICROBIOLÓGICA EM AMOSTRAS DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE ATENDIDAS POR CRECHE EM CAMPINAS-SPPROTOPARASITOLOGICAL AND MICROBIOLOGICAL ANALYSIS IN SAMPLES OF CHILDREN FROM 0 TO 6 YEARS OLD ATTENDED IN DAY CARE CENTER IN CAMPINAS-SPANALISIS PROTOPARASITOLÓGICA Y ANÁLISIS MICROBIOLÓGICOS EN MUESTRAS DE NIÑOS DE 0 A 6 AÑOS DE EDAD, ATENDIDAS POR GUARDERIAS INFANTILES EN CAMPINAS - SP.Águeda Cleofe Marques Zaratin, Alexandre Veronez, Rosana Francisco dos Santos Siqueira, Andrezza Pereira Barbato, Michelle Maria Monteiro dos Santos ......................................................................................................................223

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO ..........................................................................................................................228

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2018 jul.- dez.; 12(2): 149

ISSN 1982-1166

EditorialLuciana Bernardo Miotto*

Em uma perspectiva evolucionista, o ser humano aumentou seu conhecimento em saúde, especialmente a partir do século XIX, com as novas descobertas na química, na física e na biologia. No fi nal do século XX, com a decodifi cação do DNA e o avanço na difusão das informações científi cas, multiplicaram-se, exponencialmente, os estudos sobre o funcionamento dessa máquina considerada perfeita: o corpo humano.

Logicamente, o avanço científi co não teria sido possível sem a contribuição de renascentistas como Andreas Vesalius (1514-1564), no campo da anatomia, ou de homens curiosos que, posteriormente, nos legaram descobertas importantes, como a do microscópio, por Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) e a da circulação do sangue, por William Harvey (1578-1647), ambas no século XVII; ou ainda, mais à frente, no século XIX, o desvelamento da microbiologia com base no trabalho de Louis Pasteur.

Esse processo de construção do conhecimento em saúde passou a requerer a formação de um tipo específi co de profi ssional: conhecedor do corpo humano e das possibilidades de agressão a essa máquina perfeita. Em termos físicos, o conhecimento biomédico foi surpreendente, com o controle de endemias e epidemias, no surgimento e avanço da epidemiologia, e a cura para inúmeras doenças.

As escolas médicas, já no século XX, estruturaram-se em torno desse modelo biomédico voltado para o controle e a cura, fragmentando-se em especialidades cada vez mais precisas. A formação dos profi ssionais de saúde, de médicos a enfermeiros, foi direcionada a uma prática moldada pela especifi cidade da doença e sua possibilidade de cura. Muitas doenças foram controladas e vários processos patológicos totalmente compreendidos, fi sicamente. Contudo, a realidade atual nos faz repensar este modelo de formação em virtude dos novos desafi os que se apresentam.

Em 2017, a Organização Mundial de Saúde, por ocasião do dia mundial da saúde, comemorado em 7 de abril, lançou o tema “Depressão”, cujo lema ofi cial foi Let's Talk ("Vamos Conversar", em português). Haja vista o aumento no índice de suicídios, considerado um problema de saúde pública em todo o mundo. Por outro lado, a longevidade é uma das características de nosso século. Porém, viver mais nem sempre tem sido sinônimo de viver com saúde. Além disso, diversos outros fatores hoje comprometem a qualidade dessa vida longeva, traduzidos nas doenças crônicas não transmissíveis. E, por fi m, aliado a esses aspectos, pode-se, ainda, mencionar o contexto em que vive e trabalha grande parte das pessoas, nem sempre em ambientes considerados sadios, adentrando-se o campo dos determinantes sociais em saúde.

Como formar, então, novos profi ssionais em saúde para atuarem nesse novo contexto, de forma a expandir seu foco de atuação, não mais centrado na doença em si, porém, nos variados aspectos que a circundam – sociais, econômicos, psicológicos, ambientais?

As novas diretrizes curriculares para os cursos da área de saúde, no Brasil, e o surgimento de novos campos de atuação profi ssional são parte dessa mudança. Isso tem impactado na formação dos estudantes e também no redirecionamento da atuação docente. Os profi ssionais de saúde ao se depararem com o atendimento ao paciente necessitam compreender o processo saúde-doença na perspectiva da integralidade. O corpo não é apenas máquina.

Estamos diante, é óbvio, de um grande desafi o: capacitar novos profi ssionais de saúde que atuem com base em uma perspectiva integral e holística, de cunho preventivo e generalista. Simultaneamente, sem perder de vista o aspecto da cura, a evidência científi ca e o olhar especializado. Até mesmo a construção do conhecimento em saúde tem exercido o diálogo interdisciplinar. E a própria atuação dos profi ssionais na comunidade não pode se esquivar do campo político. Na origem do SUS, por exemplo, está o papel atuante dos profi ssionais de saúde diante das carências urbanas. Ou ainda, na luta por políticas públicas de saúde que garantam condições de trabalho dignas a estes profi ssionais.

Catanduva, SP Cuid Enferm. Volume 12 Número 2, p. 145-230 - jul./dez 2018 Semestral

Editorial

*Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora Titular no Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, em Campinas-SP. Contato: [email protected]

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Editorial

Luciana Bernardo Miotto*

From an evolutionary perspective, the human being increased his knowledge of health, especially from the nineteenth century, with new discoveries in chemistry, physics and biology. At the end of the twentieth century, with the decoding of DNA and the advance in the diffusion of scientifi c information, studies of the functioning of this machine, considered to be perfect, have multiplied exponentially: the human body.

It is obvious that scientifi c advance would not have been possible without the contribution of Renaissance scholars such as Andreas Vesalius (1514-1564) in the Anatomy fi eld, or of curious men who later bequeathed important discoveries, such as the microscope, by Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) and the blood circulation, by William Harvey (1578-1647), both in the seventeenth century; or later, in the nineteenth century, the unveiling of microbiology based on the Louis Pasteur studies.

This process of construction of health knowledge began to require the formation of a specifi c type of professional: knowledge of the human body and the possibilities of aggression to this perfect machine. In physical terms, biomedical knowledge was surprising, with the control of endemics and epidemics, in the emergence and advancement of epidemiology, and the cure for numerous diseases.

Medical schools, already in the twentieth century, were structured around this biomedical model focused on control and healing, breaking up into more and more precise specialties. The training of health professionals, from physicians to nurses, was directed to a practice shaped by the specifi city of the disease and its possibility of cure. Many diseases were controlled and several disease processes were fully understood, physically. However, the current reality makes us rethink this training model due to the new challenges that are presented.

In 2017, the World Health Organization, on the occasion of World Health Day, celebrated on April 7, launched the theme "Depression", whose offi cial motto was "Let's Talk". For example, the increase in the number of suicides, considered a public health problem worldwide. On the other hand, longevity is one of the characteristics of our century. However, living longer has not always been synonymous with living healthly. In addition to this, several other factors compromise the quality of this long-lived life, translated into chronic non-communicable diseases. And fi nally, allied to these aspects, we can also mention the context in which many people live and work, not always in environments considered healthy, entering the fi eld of social determinants of health.

How to train new health professionals to work in this new context, in order to expand their focus of action, no longer focused on the disease itself, but on the various aspects that surround it - social, economic, psychological, and environmental?

The new curricular guidelines for health courses in Brazil and the emergence of new fi elds of professional activity are part of this change. This has impacted on the training of students and also on the redirection of the teaching activity. Health professionals, when confronted with patient care, need to understand the health-disease process in the perspective of integrality. The body is not just machine.

Of course, we are faced with a great challenge: to train new health professionals who act on a holistic, preventive and generalist perspective. Simultaneously, without losing sight of the healing aspect, the scientifi c evidence and the specialized aproach. Even the construction of health knowledge has exercised interdisciplinary dialogue. And the professional performance in the community cannot avoid the political fi eld. At the origin of SUS, for example, there is the active role of health professionals in the face of urban needs. Or, in the fi ght for public health policies that guarantee decent work conditions for these professionals.

Editorial149 -151

*Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora Titular no Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, em Campinas-SP. Contato: [email protected]

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2018 jul.- dez.; 12(2): 151

Editorial

Luciana Bernardo Miotto*

En una perspectiva evolucionista, el ser humano aumentó su conocimiento en salud, especialmente a partir del siglo XIX, con los nuevos descubrimientos en la química, la física y la biología. A fi nales del siglo XX, con la decodifi cación del DNA y el avance en la difusión de las informaciones científi cas, se multiplicaron exponencialmente los estudios sobre el funcionamiento de esa máquina considerada perfecta: el cuerpo humano.

Lógicamente, el avance científi co no habría sido posible sin la contribución de renacentistas como Andreas Vesalius (1514-1564), en el campo de la anatomía, o de hombres curiosos que, posteriormente, nos legaron descubrimientos importantes, como del microscopio, por Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) y del circulación de la sangre, por William Harvey (1578-1647), ambas en el siglo XVII; o aún, más adelante, en el siglo XIX, el desvelamiento de la microbiología con base en el trabajo de Louis Pasteur.

Este proceso de construcción del conocimiento en salud pasó a requerir la formación de un tipo específi co de profesional: conocedor del cuerpo humano y de las posibilidades de agresión a esa máquina perfecta. En términos físicos, el conocimiento biomédico fue sorprendente, con el control de endemias y epidemias, en el surgimiento y avance de la epidemiología, y la cura para innumerables enfermedades.

Las escuelas médicas, ya en el siglo XX, se estructuraron en torno a ese modelo biomédico orientado hacia el control y la cura, fragmentandose en especialidades cada vez más precisas. La formación de los profesionales de salud, de médicos a enfermeros, fue dirigida a una práctica moldeada por la especifi cidad de la enfermedad y su posibilidad de curación. Muchas enfermedades han sido controladas y varios procesos patológicos totalmente comprendidos, físicamente. Sin embargo, la realidad actual nos hace repensar este modelo de formación en virtud de los nuevos desafíos que se presentan.

En 2017, la Organización Mundial de la Salud, con motivo del Día Mundial de la Salud, se celebrado el 7 de abril, lanzó el tema "Depresión", cuyo lema ofi cial fue Let’s Talk ("Vamos a hablar”, en espanhol). En vista del aumento en el índice de suicidios, considerado un problema de salud pública en todo el mundo. Por outro lado, la longevidad es una de las características de nuestro siglo. Pero, vivir más no siempre ha sido sinónimo de vivir con salud. Sumado a ello, muchos otros factores hoy comprometen la calidad de esa vida longeva, que se traducen en las enfermedades crónicas no transmisibles. Por ultimo, aliado a estos aspectos, se puede, aún, mencionar el contexto en que vive y trabaja gran parte de las personas, no siempre en ambientes considerados sanos, adentrando-se en el campo de los determinantes sociales en salud.

¿Cómo formar, entonces, nuevos profesionales en salud para que actúen en ese nuevo contexto, de modo a ampliar su enfoque de actuación no más centrado en la enfermedad en sí misma, pero en los variados aspectos que la circundan - sociales, económicos, psicológicos, ambientales.

Las nuevas directrices curriculares para los cursos del área de salud, en Brasil, y el surgimiento de nuevos campos de actuación profesional son parte de ese cambio. Esto ha impactado en la formación de los estudiantes y también en la redirección de la actuación docente. Los profesionales de salud al encontrarse con la atención al paciente necesitan comprender el proceso salud-enfermedad en la perspectiva de la integralidad. El cuerpo no es sólo máquina.

Estamos ante todo, es obvio, de un gran desafío: capacitar a nuevos profesionales de la salud que actúen basados en una perspectiva integral y holística, de cuño preventivo y generalista. Simultáneamente, sin perder de vista el aspecto de la curación, la evidencia científi ca y las especialidades. Incluso la construcción del conocimiento en salud ha ejercido el diálogo interdisciplinario. Y la propia actuación de los profesionales en la comunidad no puede esquivar el campo político. En el origen del SUS, por ejemplo, está el papel actuante de los profesionales de salud ante las carencias urbanas. O en la lucha por políticas públicas de salud que garanticen condiciones de trabajo dignas a estos profesionales.

Editorial 149 -151

*Doutora em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Professora Titular no Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, em Campinas-SP. Contato: [email protected]

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152 2018 jul.- dez.; 12(2):

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2018 jul.- dez.; 12(2): 153Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação

VIVER COM ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDADE, CONVÍVIO SOCIAL E ACEITAÇÃO

LIVING WITH INTESTINAL STOMY: SELF-CARE, SEXUALITY, SOCIAL CONVIVAL AND ACCEPTANCE

VIVIR CON ESTOMIA INTESTINAL: AUTOCUIDADO, SEXUALIDAD, CONVIVENCIA SOCIAL Y ACEPTACIÓN

*Mestre em Enfermagem. Docente do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP, Brasil. Contato: [email protected]**Enfermeiras Graduadas pelo Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP, Brasil.

ResumoIntrodução: Estomias, temporárias ou defi nitivas, podem desencadear diversas complicações com consequências, tanto físicas quanto psicológicas. Objetivo: Identifi car o autocuidado, aceitação, convívio social e sexualidade no estomizado intestinal. Método: Pesquisa transversal, observacional com abordagem quantitativa, realizada em um município do interior paulista. Um instrumento estruturado, elaborado e validado pelos autores, embasado na Classifi cação das Intervenções de Enfermagem (NIC) e na Classifi cação dos Resultados de Enfermagem (NOC), foi utilizado para a coleta de dados. Utilizou-se estatística descritiva para análise dos dados. Resultados: Participaram da pesquisa 20 estomizados com igual distribuição entre os sexo e média de idade de 65 anos; a neoplasia confi gurou-se como a principal causa para a confecção do estoma. A maioria convive com o estoma há mais de dois anos, alterou o estilo do vestuário, reajustou a alimentação e reduziu signifi cativamente o estilo de vida sexual. Conclusão: O estomizado intestinal é capaz de (re)signifi car seu viver, adaptar-se às mudanças vivenciadas nos aspectos do autocuidado, aceitação, convívio social e sexualidade.

Palavras-chave:Enfermagem. Estomia. Sexualidade. Autoimagem. Autocuidado.

AbstractIntroduction: Temporary or permanent ostomy can trigger various complications with physical and psychological consequences. Objective: To identify self-care, self-acceptance, social interaction and sexuality in the intestinal stomates. Method: Cross-sectional, observational research with a quantitative approach, carried out in a city in the interior of São Paulo. A structured instrument, developed and validated by the authors, based on the Classifi cation of Nursing Interventions (NIC) and Nursing Outcomes Classifi cation (NOC), was used to collect data. Descriptive statistics were used to analyze the data. Results: Twenty-one stomized patients with equal distribution between genders and mean age of 65 participated in the study; the neoplasia was the main cause for the stoma preparation. Most stomates have coexisted with the stoma for more than two years, altered the style of clothing, readjusted food, and signifi cantly reduced the sexual lifestyle. Conclusion: The intestinal stomates are capable of giving new meaning to their living, adapting to the changes experienced in the aspects of self-care, acceptance, social interaction and sexuality.

Keywords:Nursing. Ostomy. Sexuality. Selfconcept. Self-care.

ResumenIntrodución: Las estomías, temporales o defi nitivas, pueden desencadenar diversas complicaciones con consecuencias tanto físicas como psicológicas. Objetivo: Identifi car el autocuidado, aceptación, convivencia social y sexualidad en el estomizado intestinal. Método: Investigación transversal, observacional con abordaje cuantitativo, realizada en un municipio del interior paulista. Un instrumento estructurado, elaborado y validado por los autores, basado en la Clasifi cación de las Intervenciones de Enfermería (NIC) y en la Clasifi cación de los Resultados de Enfermería (NOC), fue utilizado para la recolección de datos. Resultados: Participaron de la encuesta 20 estomizados con igual distribución entre los sexos y media de edad de 65 años; la neoplasia se confi guró como la principal causa para la confección del estoma. La mayoría convive con el estoma hace más de dos años, alteró el estilo de la ropa, reajustó la alimentación y redujo signifi cativamente el estilo de vida sexual. Conclusión: El estomizado intestinal es capaz de (re) signifi car su vivir, adaptarse a los cambios vivenciados en los aspectos del autocuidado, aceptación, convivencia social y sexualidad.

Palabras clave: Enfermería. Estomía. Sexualidad. Autoimagem. Autocuidado.

João Cesar Jacon*, Roberta Lauani Dermindo de Oliveira**, Giselda Aparecida Moura Castro Campos**

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154 2018 jul.- dez.; 12(2):

INTRODUÇÃO

Estoma é uma palavra de origem grega, signifi ca

boca ou abertura, sendo defi nida como o acesso de uma

víscera oca ao meio externo através de incisão cirúrgica1,2.

Ela pode ser classifi cada em três tipos: estomia de

respiração, alimentação e de eliminação. As estomias de

eliminações são denominadas colostomia, ileostomia e

urostomia3.

A confecção de uma estomia de eliminação intestinal

pode ser feita em qualquer região do intestino delgado ou

grosso. Quando feita no intestino delgado é denominada

de ileostomia e quando feita no intestino grosso é chamado

de colostomia1.

Confi guram-se como as principais causas de

realização de um estoma intestinal o câncer colorretal e

os traumas intestinais; são descritas outras causas como a

diverticulite, doenças intestinais infl amatórias, doença de

Crohn, infecções perineais graves e doença de Chagas4,5.

Alguns estomas são confeccionados como medidas

temporárias ou defi nitivas, as estomias temporárias têm

maior incidência nos traumas por arma branca ou arma

de fogo, havendo necessidade de um desvio até que

ocorra a cicatrização e se realize a reversão. Já a estomia

permanente tem indicação quando há perda da função

peristáltica, diretamente relacionada ao tumor de reto e

doenças infl amatórias3,4,6.

Sendo assim, após a construção de uma estomia, o

paciente necessita de cuidados específi cos para encorajar

a integração do seu estado de vida às suas atividades,

já que esta condição é capaz de desencadear diversas

complicações, provocando consequências tanto físicas

quanto psicológicas. Dentre elas destacam-se fadiga,

náuseas, vômitos, dores, diarreia, constipação, alterações

da imagem corporal, disfunção sexual e impacto

fi nanceiro; também promove alterações signifi cativas

quanto à alimentação, ao uso de dispositivo adequado e

aos cuidados de higiene1,3,7.

O resultado fi nal destas modifi cações na vida do

estomizado depende do acolhimento social e psicológico.

No pré-operatório podem ser reveladas algumas emoções:

ansiedade, medo da anestesia, riscos da cirurgia,

pensamento de morte, alterações da imagem corporal e

o receio de enfrentar um novo estilo de vida. O auxílio

no processo de adaptação é papel fundamental da equipe

multiprofi ssional envolvida no processo de cuidar8,9.

Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação

Por meio do desenvolvimento de ações educativas

em saúde e promoção do autocuidado o enfermeiro

exerce grande infl uência no processo de autonomia do

estomizado. A adesão do estomizado ao autocuidado

dependerá de alguns fatores, tais como: faixa etária,

hábitos de vida, sexo, grau de instrução, fatores sociais,

fi nanceiros e culturais. O estabelecimento de um vínculo

e confi ança entre estomizado e enfermeiro são condições

fundamentais para o sucesso no autocuidado10.

O autocuidado para o estomizado é sinônimo de

independência e diminuição do sentimento de invalidez7,8,

o aprendizado para autocuidado deve ocorrer lento e

continuamente estimulando a autonomia do paciente2,9.

A implantação de um estoma vem ocasionar

incertezas em relação ao futuro sexual, pelas alterações

fi siológicas em decorrência da cirurgia, dentre elas a

perda da função esfíncteriana privando o controle fecal,

com eliminações involuntárias de gases e odores alterando

o estímulo sexual. Alguns homens podem apresentar

disfunção erétil, distúrbios ejaculatórios e infertilidade.

Já em relação às mulheres é comum o constrangimento

sexual e ausência de lubrifi cação vaginal11,12.

O estomizado apresenta a autoestima afetada em

decorrência da sua imagem corporal alterada, afastando-o

do convívio social, passando a não desejar sair de casa,

limitando as suas atividades de vida diária por “medo

de acidentes” relacionados ao rompimento da bolsa,

eliminação de gases e fezes e odor exalado ao seu redor,

prejudicando os momentos de lazer e o seu bem estar

físico e mental, repercutindo na qualidade de vida4.

A mutilação de qualquer segmento corporal é

conturbadora e leva a pessoa a ajustar-se à sua nova

condição. O apoio social é fundamental em relação aos

aspectos cognitivos e interpessoais do estomizado. A

participação em grupos de autoajuda ou o convívio com

pessoas signifi cativas traduz-se como sentimento de

interesse e afetividade, permitindo enfrentar a situação

atual com mais facilidade. No entanto, este processo é

lento e individual2,10,13.

OBJETIVO

Identifi car no estomizado o autocuidado, o convívio

social, a sexualidade e a aceitação.

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2018 jul.- dez.; 12(2): 155MATERIAL E MÉTODO

Pesquisa transversal e observacional com abordagem

quantitativa. A pesquisa foi realizada no Centro de

Especialidades Médicas (CEM) Catanduva-SP. A população

do estudo foi representada pelos pacientes com estoma

intestinal, pertencentes a esse centro.

Os dados foram coletados por meio de um instrumento

estruturado, elaborado pelos autores, embasado na

intervenção de enfermagem Cuidados com estomias da

Classifi cação das Intervenções de Enfermagem (NIC) e

nos resultados esperados: Comportamento de tratamento:

doença ou lesão, Autocuidado: higiene; Continência

intestinal, Eliminação intestinal; Integridade tissular: pele

mucosa; Aceitação do estado de saúde; Autocuidado:

atividades da vida diária; Autocuidado: alimentação;

Conhecimento: dieta; Sexualidade; Enfrentamento

familiar; Envolvimento social; Ajuste psicossocial: mudança

de vida; Autoestima; Bem estar; Conhecimento: cuidados

na doença; Imagem corporal; Controle da depressão da

Classifi cação dos Resultados de Enfermagem (NOC).

O instrumento foi dividido em duas partes: a primeira

parte consta de questões referentes à caracterização do

perfi l sociográfi co da amostra e a segunda parte aborda

os aspectos relacionados ao autocuidado, aceitação,

sexualidade, suporte psicológico, atividade laboral e

convívio social. Foi validado por 2 enfermeiros especialistas

quanto à aparência, conteúdo, clareza e objetividade. A

aplicação do instrumento para coleta de dados ocorreu

durante as reuniões mensais do grupo de estomizados no

CEM. Os dados coletados foram organizados em planilha

no Excel e, posteriormente, analisados por meio de

estatística descritiva.

Foram critérios de inclusão: ser paciente do CEM,

da cidade de Catanduva-SP e da região, ser portador de

estoma intestinal, estar apto a responder as perguntas do

instrumento e aceitar participar da pesquisa assinando

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Excluiram-se os estomizados com alterações cognitivas

que impossibilitassem a compreensão e as respostas às

questões que compunhamo instrumento de coleta de

dados.

O projeto obedeceu às recomendações da Resolução

nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisas

que envolvem seres humanos, sendo aprovado pelo

Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro Universitário

Padre Albino (UNIFIPA) sob o parecer nº 2.684.677.

RESULTADOS

Fizeram parte da pesquisa 20 pessoas com estomia

intestinal, a Tabela 1 apresenta o perfi l sociográfi co da

amostra.

Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação

Tabela 1 - Perfi l sociográfi co dos sujeitos, Catanduva-SP, 2018

Sexo (N) %

Feminino 10 50

Masculino 10 50

Idade

Até 45 3 15

De 46 a 59 5 25

De 60 a 70 6 30

< 70 anos 6 30

Escolaridade

Primeiro Grau Completo 5 25

Primeiro Grau Incompleto 7 35

Ensino Médio Completo 6 30

Ensino Médio Incompleto 0 0

Ensino Superior Completo 1 5

Ensino Superior Incompleto 1 5

Estado civil antes da estomia

Casado (a) 12 60

Solteiro (a) 2 10

Amasiado (a) 2 10

Divorciado (a) 3 15

Viúvo (a) 1 5

Estado civil depois da estomia

Casado (a) 10 50

Solteiro (a) 1 5

Amasiado (a) 2 10

Divorciado (a) 5 25

Viúvo (a) 2 10

Renda familiar

Até salário mínimo 10 50

2-3 salários mínimos 9 45

4-5 salários mínimos 1 5

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156 2018 jul.- dez.; 12(2): Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação153 -159

Tabela 2 - Caracterização do estoma, Catanduva-SP, 2018

Tipo de estoma (N) %

Colostomia 17 85

Ileostomia 2 10

Colostomia + Urostomia 1 5

Tempo de permanência

Defi nitivo 15 75

Temporária 4 20

Não sabe informar 1 5

Etiolologia

Neoplasia 14 70

Doença de Crohn 2 10

Diverticulite 1 5

Perfuração intestinal 1 5

Doença de Chagas 1 5

Fasceite necrótica 1 5

Local da neoplasia

Reto 10 50

Cólon 2 10

Não sabe 2 10

Tempo de estomia

Inferior a 6 meses 3 15

13/24 meses 2 10

Mais de 24 meses 15 75

A Tabela 2 caracteriza o tipo de estoma.

As complicações relacionadas à estomia estão

descritas na Tabela 3. As mais prevalentes foram a hérnia

paraestomal (20%), seguida de dermatite periestomal

(15%).

Tabela 3 - Complicações relacionadas ao estoma, Catanduva-SP, 2018

Complicações pós-estomia (N) %

Sim 12 60

Não 8 40

Complicações

Dermatite 3 15

Hérnia e Dermatite 2 10

Hérnia 4 20

Prolapso 2 10

Retração 2 10

Hérnia e Prolapso 1 10

Outros 1 5

Em relação ao autocuidado com a estomia, 65% dos

entrevistados referiram sentir-se confortáveis com relação

ao autocuidado. De um modo geral dispensam de 15 a 30

minutos diários para o cuidado com o estoma. A Tabela

4 destaca o perfi l quanto ao autocuidado do estomizado.

Tabela 4 - Autocuidado do estomizado, Catanduva-SP, 2018

Variáveis (N) %

Alterou o estilo do vestuário devido à estomia 15 75

Reajustou alimentação devido à estomia 12 60

Alterou a dieta para prevenir a emissão de gases

13 65

Conhece os alimentos que reduzem o odor 14 70

Quanto tempo demorou a sentir-se confortável no autocuidado a estomia

Aceitou de início 3 15

Menos de um mês 10 50

Até um ano 1 5

Mais de um ano 3 15

Faz o autocuidado, mas não se sente confor-tável

1 5

Não aceitou 2 10

Em média, quanto tempo demora para cuidar do estoma

Menos de 30 minutos 11 55

Mais de 30 minutos 9 45

Se não pratica o autocuidado, quem faz

Esposo (a) e Filho (a) 4 20

Neto 1 5

Foi informado previamente sobre como seria o convívio com a estomia

Sim 16 80

Não 4 20

Quem informou

Enfermeiro(a) Estomoterapeuta 5 25

Médico(a) 4 20

Enfermeiro(a)/Psicólogo(a) 1 5

Enfermeiro(a)/Médico(a) 2 10

Assistente Social 1 5

Enfermeiro(a) do programa de estoma 3 15

Quando foi informado

Antes da cirurgia 11 55

Depois da cirurgia 7 35

Nunca foi informado 2 10

A estomia interfere na capacidade de viajar

Não interfere 4 20

Interfere 3 15

Causa grande interferência 13 65

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2018 jul.- dez.; 12(2): 157Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação

DISCUSSÃO

Com relação aos dados sociográfi cos existem

variações quanto ao sexo, idade, grau de escolaridade,

renda familiar e estado civil, predominando os casados

antes e após a estomia2,4,13-16. Vale ressaltar que neste

estudo observou-se um aumento no divórcio após a

confecção do estoma.

Considerando a sexualidade do estomizado, a Tabela

5 sintetiza esses resultados.

Tabela 5 - Sexualidade do estomizado, Catanduva-SP, 2018

Era sexualmente ativo antes da estomia (N) %

Sim 14 70

Não 6 30

Reduziu sua atividade sexual depois da confecção do estoma

Sim 13 65

Não 7 35

Está satisfeito com a atividade sexual

Sim 16 80

Não 4 20

Se homem, teve problema de ereção ou manutenção da mesma

Sim 5 25

Não 5 25

Em relação ao convívio social e à aceitação da

estomia, a Tabela 6 evidencia que 45% dos entrevistados

relatam algum grau de difi culdade ao olhar para o seu

estoma; 75% sentem-se otimistas quanto ao seu futuro

e que a confecção do estoma repercutiu positivamente na

sua vida.

Tabela 6 - Convívio social e aceitação do estomizado, Catanduva-SP, 2018

Qual a difi culdade em olhar para o estoma (N) %

Não há difi culdade 11 55

Há difi culdade 5 25

Há muita difi culdade 4 20

A estomia trouxe consequências negativas no meio familiar?

Não houve consequência 16 80

Houve consequência 1 5

Houve muita consequência 3 15

Sente-se otimista quanto ao futuro?

Não se sente otimista 3 15

Sente-se otimista 2 10

Sente-se muito otimista 15 75

O fato de ter uma estomia trouxe mudanças positivas?

Não trouxe 4 20

Sim, trouxe 2 10

Trouxe muita mudança 14 70

Na caracterização do estoma a colostomia é

predominante, seguida de ileostomia, com tempo de

permanência defi nitivo. Quanto à etiologia, destaca-se a

neoplasia, sendo no reto 50% e cólon 10% dos casos;

a doença de Crohn, diverticulite, perfuração intestinal,

doença de Chagas e fasceite necrótica também foram

identifi cadas como causas. O aumento na incidência de

casos de câncer de cólon e reto14-23 favorece a realização do

estoma, corroborando com os resultados da pesquisa. Em

outro estudo observou-se que 75% dos participantes da

amostra possuíam estoma há mais de 24 meses, os quais

referiram estar adaptados ao convívio com o estoma2,

porém em diversos estudos há variações relacionadas à

caracterização do estoma, levando a entender assim que

pode estar relacionado ao tamanho da amostra e local do

estudo2,4,15,19,20.

Nas complicações relacionadas ao estoma, 60%

dos pacientes relatam problemas após a confecção do

mesmo, tais como hérnia, dermatite e prolapso. Estudos

corroboram com esses resultados e estabelecem que as

complicações estão relacionadas à falta de conhecimento

e preparo dos profi ssionais envolvidos na assistência ao

estomizado4,15,19,21.

Quanto às intervenções para o autocuidado citadas

por diferentes estudos, as mesmas confi rmam os resultados

obtidos nesta pesquisa onde houve a necessidade

de alteração no estilo de vestuário, sendo necessário

reajustar-se ao uso de roupas largas para ocultar o volume

provocado pela bolsa coletora no abdome, além da

alteração do padrão habitual de consumo alimentar devido

à falta de controle voluntário na eliminação de fezes, gases

e odores. Já em relação ao tempo de sentir-se confortável

no autocuidado há uma variação signifi cativa em relação a

adaptação de cada indivíduo7,9,20,.

Considerando a importância das informações

recebidas no pré-operatório pelos pacientes submetidos à

confecção cirúrgica do estoma, observou-se em um estudo

realizado em um hospital do interior de paulista, que

profi ssionais bem treinados para preparar a vida futura

dos estomizados contribuem e refl etem em diferença

signifi cativa na adaptação dos mesmos7.

Quanto à difi culdade em olhar para o estoma, 55%

dos estomizados consideram que têm pouca difi culdade e

80% relataram raras consequências negativas no ambiente

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158 2018 jul.- dez.; 12(2):

familiar. É evidente nos pacientes a interferência da

estomia na capacidade de viajar, sendo que neste estudo

65% não viajam mais por se sentirem constrangidos ao

parar em locais para o esvaziamento da bolsa ou por

medo de descolamento da mesma e extravasamento das

fezes; percebe-se neste momento sentimentos comuns de

negação, revolta, perda da autoestima e isolamento social,

mas ao mesmo tempo, com o desenvolver da entrevista,

nota-se que esta mudança é necessária para a vida, pela

oportunidade de viver, apesar das limitações, havendo a

necessidade de aceitar-se e adaptar-se ao estoma9,11,20.

Ao abordar a sexualidade, 70% eram ativos antes

da confecção do estoma, contudo, após a confecção, 65%

reduziram sua atividade sexual, mas ao mesmo tempo,

80% dos sujeitos da amostra afi rmam estar satisfeitos.

Dos homens, 25% relatam ter problemas na ereção ou

sua manutenção, porém fi ca claro o constrangimento ao

falarem sobre o assunto, uma vez que o instrumento foi

aplicado junto ao estomizado com o intuito de melhor

interpretação das perguntas. Destaca-se a importância

do papel do profi ssional de saúde na orientação do

paciente visando diminuir as complicações relacionadas às

disfunções sexuais, desde o pré-operatório, aspecto ainda

pouco explorado.

Considerando os relatos de difi culdades e

constrangimentos ao se expor, assim como a perda da

libido ocorrida em decorrência da presença de um estoma,

os mesmos referem difi culdades em se despir na frente do

companheiro por mudança na imagem corporal e medo de

rejeição. Por sua vez, o companheiro tem medo de tocar

o local do estoma achando que pode machucar. Esses

dados indicam a necessidade de profi ssionais treinados

e preparados para orientar e divulgar informações

relacionadas à sexualidade nos encontros com grupos de

estomizados7,10. Nessas ocasiões, os estomizados devem

refl etir e expressar suas experiências, já que cada um se

adapta de maneira diferente e, desse modo, auxilia aquele

que possui mais difi culdades2,11,20-23.

Relacionado ao convívio social e a aceitação do

estomizado, 55% dos sujeitos sentem pouca difi culdade

em olhar para o estoma. Quanto ao futuro, 75% sentem-

se otimistas. O fato de ter uma estomia trouxe mudanças

positivas na vida, referido por 70% dos participantes,

concretizado por relatos de que se não fosse o estoma

eles não estariam mais aqui; apenas 20% consideram

que o estoma acarretou poucas mudanças positivas, com

queixas de não se adaptarem à nova situação de vida.

Observa-se que o convívio social, a autoestima,

o autocuidado e a sexualidade estão todos em um

contexto entrelaçado, evidenciando neste estudo que os

estomizados que aceitaram sua condição foram os mesmos

que melhor se adaptaram. Ressalta-se a importância do

preparo do enfermeiro para assistir ao estomizado frente

às difi culdades relacionadas, principalmente à autoestima

e ao convívio social, cabendo a este profi ssional planejar e

implementar intervenções de enfermagem que promovam

um cuidado sistematizado, assim como compor equipes

multidisciplinares voltadas para as necessidades desta

clientela2,7,9,24.

CONCLUSÃO

Este estudo, embora desenvolvido por meio de uma

amostra pequena, possibilitou identifi car que o estomizado

intestinal é capaz de (re)signifi car seu viver, adaptar-se

às mudanças vivenciadas nos aspectos do autocuidado,

aceitação, convívio social e sexualidade, porém necessita

ser auxiliado.

A aceitação da nova condição de vida como

estomizado dos clientes entrevistados destaca-se como

um dos principais fatores, pois a não aceitação pode

concorrer para o atraso na retomada das atividades de

vida diárias e na adaptação para o autocuidado.

A atuação de uma equipe multidisciplinar competente

para a realização de uma abordagem individual junto

aos clientes e de seus familiares no período pré e pós-

confecção de uma estomia, estimula o autocuidado, reduz

as complicações e contribui para a melhoria da qualidade

de vida. Destaca-se a participação em grupo de apoio a

clientes estomizados como uma prática fundamental no

processo de adaptação e aceitação.

Nesse contexto, o uso das taxonomias, NIC e NOC

consolidam-se como efi cazes para avaliação do estomizado

intestinal, uma vez que contemplam os aspectos do

convívio social, sexualidade, aceitação e autocuidado.

Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação153 -159

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2018 jul.- dez.; 12(2): 159

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Envio: 25/04/2018 Aceite: 28/07/2018

Viver com estomia intestinal: autocuidado, sexualidade, convívio social e aceitação 153 -159

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160 2018 jul.- dez.; 12(2): Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil

TENDÊNCIAS DE MORTALIDADE POR CÂNCER SEGUNDO A DIRETORIA REGIONAL DE SAÚDE XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASIL

TRENDS OF MORTALITY BY CANCER ACCORDING TO THE REGIONAL DIRECTORATE OF HEALTH XV OF SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRAZIL

TENDENCIAS DE MORTALIDAD POR CÁNCER SEGÚN LA DELEGACIÓN REGIONAL DE SALUD XV DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SÃO PAULO, BRASIL

*Enfermeiras. Docentes do Programa de Integração Comunitária, Faculdade de Medicina Ceres (FACERES), São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. **Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Oncologia do Hospital de Câncer de Barretos – Fundação Pio XII e Docente do Programa de Integração Comunitária do curso de Medicina da FACERES, São José do Rio Preto. Registro de Câncer de Base Populacional de Barretos, Barretos, São Paulo, Brasil. Contato: [email protected]

ResumoIntrodução: Pesquisas sobre as taxas de mortalidade dos diferentes tipos de cânceres são elementos-chave para o alcance da meta de redução. Objetivo: Avaliar a tendência da mortalidade por câncer na região de São José do Rio Preto (DRS-XV) no período de 2000 a 2015. Material e Método: Estudo populacional de séries temporais. As referências de população dos municípios pertencentes à DRS-XV bem como as respectivas estimativas intercensitárias foram obtidas no sítio eletrônico do DATASUS e as informações sobre a mortalidade obtidas de dados ofi ciais do Ministério da Saúde. Os coefi cientes de mortalidade para cada 100 mil habitantes ajustados pela população mundial ao longo do tempo, por sexo, variação anual percentual média (AAPC) e intervalo de confi ança de 95% foram analisados para os tumores mais incidentes no Brasil, segundo as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Resultados: Observou-se uma redução signifi cativa dos coefi cientes de mortalidade por câncer de estômago, na ordem de -4,0% ao ano (IC 95%: -6,0 a -2,0). Também, aumento signifi cativo dos coefi cientes de mortalidade por câncer colorretal e cavidade oral, de 2,4% (IC 95%: 0,1 a 4,7) e 3,2 (IC 95%: 0,6 a 5,9) ao ano, respectivamente. Para os tumores de próstata e pulmão as tendências de mortalidade se mostraram estáveis, bem como para todos os tumores entre as mulheres quando se avaliaram as tendências de mortalidade. Conclusão: A mortalidade por câncer de estômago está reduzindo, enquanto por câncer colorretal e cavidade oral está aumentando na população masculina. Todos os tumores avaliados na população feminina não demonstraram mudanças na mortalidade no período estudado.

Palavras-chave: Doenças não transmissíveis. Neoplasias. Mortalidade. Prevenção de doenças. Saúde pública. Enfermagem.

AbstractIntroduction: Studies presenting mortality rates for selected cancers are key elements in achieving the reduction target on in-hospital mortality. Objective: To evaluate cancer mortality trends by different neoplasms in the region of São José do Rio Preto (DRS-XV) from 2000 to 2015. Material and Methods: We carried out a time series analysis from 2000 to 2015. The population references of the municipalities belonging to the Regional Department of Health (DRS) XV region of São José do Rio Preto, São Paulo State, Brazil, as well as the estimate temporal census data were obtained from the DATASUS electronic website. Offi cial data on mortality information were retrieved from the Ministry of Health database. We analyzed the world population-based mortality coeffi cients for each 100,000 in habitants over time, by sex; average annual percent change (AAPC), and 95% confi dence interval. These coeffi cients were analyzed for the most incident cancers in Brazil, according to the Brazilian National Cancer Institute - INCA estimates. We observed an expressive reduction of the mortality coeffi cients for gastric cancer of -4.0% per year (95% CI: -6.0 to -2.0). Also, we noted a signifi cant increase in mortality coeffi cients for colorectal and oral cavity cancers from 2.4% (95% CI: 0.1 to 4.7) and 3.2 (95% CI: 0.6 to 5.9) per year, respectively. Prostate cancer and lung cancer mortality trends remained stable. Mortality rates for all cancers among females remained stable over the years. Conclusion: Gastric cancer mortality is decreasing, while colorectal cancer and oral cancer are increasing among males. All cancers evaluated in the female population did not show changes in mortality in the period studied.

Keywords: Noncommunicable diseases. Neoplasms. Mortality. Disease prevention. Public health. Nursing.

ResumenIntroducción: Las investigaciones sobre las tasas de mortalidad de los diferentes tipos de cáncer son elementos clave para el alcance de la meta de reducción. Objetivo: Evaluar la tendencia de la mortalidad por cáncer en la región de São José do Rio Preto (DRS-XV) en el período de 2000 a 2015. Material y Método: Estudio poblacional de series temporales. Las referencias de población de los municipios pertenecientes a la DRS-XV así como las respectivas estimaciones intercensitarias fueron obtenidas en el sitio electrónico de DATASUS y las informaciones sobre la mortalidad obtenidas de datos ofi ciales del Ministerio de Salud. Los coefi cientes de mortalidad por cada 100 mil habitantes ajustados por la población mundial a lo largo del tiempo, por sexo, variación anual porcentual media (AAPC) y intervalo de confi anza del 95% fueron analizados para los tumores más incidentes en Brasil, según las estimaciones del Instituto Nacional de Cáncer (INCA). Resultados: Se observó una reducción signifi cativa de los coefi cientes de mortalidad por cáncer de estómago, en el orden del -4,0% al año (IC 95%: -6,0 a -2,0). También, un aumento signifi cativo de los coefi cientes de mortalidad por cáncer colorrectal y cavidad oral, del 2,4% (IC 95%: 0,1 a 4,7) y 3,2 (IC 95%: 0,6 a 5,9) al año, respectivamente. Para los tumores de próstata y pulmón las tendencias de mortalidad se mostraron estables, así como para todos los tumores entre las mujeres cuando se evaluaron las tendencias de mortalidad. Conclusión: La mortalidad por cáncer de estómago está reduciendo, mientras que por cáncer colorrectal y cavidad oral está aumentando en la población masculina. Todos los tumores evaluados en la población femenina no mostraron cambios en la mortalidad en el período estudiado.

Palabras clave: Enfermedades no transmisibles. Neoplasias. Mortalidad. Prevención de enfermedades. Salud pública. Enfermería.

Renata Prado Bereta Vilela*, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice*, Márcia Ayres Alves*, Janaina Benatti de Almeida*, Karina Rumi de Moura*, Andiara Judith Arruda*, Fernanda Luciana Calegari*, Allini Mafra da Costa**

160 -166

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2018 jul.- dez.; 12(2): 161Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) concebe

que mais de 70% de todas as mortes por câncer ocorrem

em países de baixa e média renda, onde os recursos

disponíveis para prevenção, diagnóstico e tratamento são

limitados ou inexistentes1.

Estudos que revelem a tendência da mortalidade

por câncer em países em desenvolvimento são escassos.

Contudo, as taxas de mortalidade e morbidade permanecem

elevadas, causando impacto sobre a qualidade de vida e o

custo de tratamento dos pacientes com esta patologia2-4.

O câncer pode afetar o indivíduo em todas as

dimensões: física, psicoemocional e sócioespiritual,

podendo ocasionar sérias mudanças e consequente

impacto na qualidade de vida dos pacientes. Entender

as principais causas de mortalidade pode auxiliar na

escolha do tratamento, melhor organização e qualidade

do cuidado, principalmente quanto à identifi cação de

aspectos de impacto que ajudem na decisão da efi cácia

do tratamento. O conhecimento das principais causas

de óbitos por câncer no Brasil permite que as diferentes

esferas de governo estabeleçam prioridades e aloquem

recursos de forma direcionada para o enfrentamento do

problema1,2,5.

Pesquisas que apontam dados fi dedignos sobre as

reais taxas de mortalidade acerca dos diferentes tipos

de cânceres são elementos-chave para o progresso no

alcance da meta de redução da mortalidade por câncer6.

OBJETIVO

Avaliar a tendência da mortalidade por câncer na

região de São José do Rio Preto (DRS-XV) no período de

2000 a 2015.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo populacional de séries

temporais, realizado na região do Departamento Regional

de Saúde de São José do Rio Preto (DRS-XV), composta

por 102 municípios (Adolfo, Álvares Florence, Américo

de Campos, Aparecida D'Oeste, Ariranha, Aspásia, Bady

Bassit, Bálsamo, Cardoso, Catanduva, Catiguá, Cedral,

Cosmorama, Dirce Reis, Dolcinópolis, Elisiário, Embaúba,

Estrela D'Oeste, Fernandópolis, Fernando Prestes,

Floreal, Gastão Vidigal, General Salgado, Guapiaçu,

Guarani D'Oeste, Ibirá, Icém, Indiaporã, Ipiguá, Irapuã,

Itajobi, Jaci, Jales, José Bonifácio, Macaubal, Macedônia,

Magda, Marapoama, Marinópolis, Mendonça, Meridiano,

Mesópolis, Mira Estrela, Mirassol, Mirassolândia, Monções,

Monte Aprazível, Neves Paulista, Nhandeara, Nipoã, Nova

Aliança, Nova Canaã Paulista, Nova Granada, Novais, Novo

Horizonte, Onda Verde, Orindiúva, Ouroeste, Palestina,

Palmares Paulista, Palmeira D'Oeste, Paraíso, Paranapuã,

Parisi, Paulo de Faria, Pedranópolis, Pindorama, Pirangi,

Planalto, Poloni, Pontalinda, Pontes Gestal, Populina,

Potirendaba, Riolândia, Rubineia, Sales, Santa Adélia,

Santa Albertina, Santa Clara D'Oeste, Santa Fé do Sul,

Santa Rita D'Oeste, Santa Salete, Santana da Ponte Pensa,

São Francisco, São João das Duas Pontes, São João de

Iracema, São José do Rio Preto, Sebastianópolis do Sul,

Tabapuã, Tanabi, Três Fronteiras, Turmalina, Ubarana,

Uchoa, União Paulista, Urânia, Urupês, Valentim Gentil,

Vitória Brasil, Votuporanga, Zacarias). Juntos, estes

municípios formam uma população de aproximadamente

1.602.845 habitantes7.

As referências de população dos 102 municípios

pertencentes à DRS-XV baseadas na distribuição de idade

em grupos de 5 em 5 anos, por sexo, dos censos de 2000 e

2010, bem como as respectivas estimativas intercensitárias

foram obtidas no sítio eletrônico do DATASUS, fornecidas

pelo IBGE, em “Informações de saúde”, módulo TABNET,

na opção “Demográfi cas e socioeconômicas” seguida de

“Censos (1980, 1991, 2000 e 2010), Contagem (1996) e

projeções intercensitárias (1981 a 2012), segundo faixa

etária, sexo e situação de domicílio”, através da página

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/

popsp.def. Como o último ano disponível no DATASUS é

o ano de 2012, os dados foram replicados para o período

2013-2015.

Os tumores selecionados para análise deste estudo

basearam-se nos tumores mais frequentes estimados para

o biênio 2018/2019 pelo Ministério da Saúde, através do

Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o Brasil, sendo

Próstata (C61), Traqueia, Brônquios e Pulmões (C33034),

Colorretal (C18020), Estômago (C16) e Cavidade Oral

(C02006) para homens; e Mama (C50), Colorretal

(C33034), Colo do útero (C53), Traqueia, Brônquios e

Pulmões (C33034) e Tireoide (C73) para as mulheres2.

As informações a respeito da mortalidade foram

obtidas de dados ofi ciais do Ministério da Saúde em

que a fonte é o Sistema de Informação de Mortalidade

160 -166

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162 2018 jul.- dez.; 12(2): Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil

(SIM), através do acesso ao sítio do Departamento de

Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS),

em “Informações de Saúde”, módulo TABNET, na opção

“Estatísticas Vitais”, grupo “Mortalidade – 1996 a 2015,

pela CID010” e “Mortalidade geral”, através da página

http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/

obt10sp.def. Na linha, foi selecionada a opção “Ano do

óbito”, na coluna a opção “Faixa etária det” e no conteúdo

“Óbitos p/ Residência”. Em “Períodos disponíveis” foram

selecionados os anos entre 2000 e 2014, no item “Região

de Saúde (CIR)” foi realizado o fi ltro para “São José

do Rio Preto” sendo utilizado o campo “Categoria CID-

10” como fi ltro para os tumores selecionados. Todos os

dados obtidos através das consultas foram arquivados no

formato “csv” (comma separated value).

Os casos incidentes e as mortes foram distribuídos

por grupos etários de 5 em 5 anos.

O coefi ciente padronizado pela idade foi calculado

para reduzir os efeitos das estruturas etárias entre as

populações, fossem elas locais em diferentes períodos, ou

de diferentes regiões. Dessa forma, os dados levantados

a partir deste estudo poderão ser comparados com

estudos realizados em diferentes partes do mundo. O

cálculo foi realizado utilizando-se o método direto, tendo a

população mundial como padrão e sendo ela empregada

com um sistema de pesos para serem calculadas as taxas

ponderadas8-10.

Os dados foram armazenados no formato “csv” o

que permitiu o gerenciamento versátil quando utilizado

o Microsoft Excel 2013 (Microsoft Corporation 2013).

A variação percentual média anual (Average Annual

Percentage Change - AAPC) das taxas de mortalidade

determinadas utilizando-se o software Join Point

Regression 4.5.0.1 (Junho 2017; Statistical Methodology

and Applications Branch, Surveillance Research Program,

National Cancer Institute, EUA). Para testar a signifi cância

do programa foi utilizado o método de permutações de

Monte Carlo, havendo, assim, melhor ajuste para cada

segmento de reta e determinação da AAPC de cada taxa

utilizando-se o logaritmo natural das taxas, através das

fórmulas, y=mx+b, sendo y=In(taxa) e x=ano civil

então APC=100x(em -1) 11. A AAPC é usada assim como

estimativa da tendência, sendo o ano civil a variável de

regressão. Para descrever a tendência linear por período,

foram computados os dados referentes aos AAPC e os

respectivos intervalos de confi ança de 95% (IC 95%) para

cada uma de suas tendências.

Trata-se de um estudo retrospectivo. Portanto,

trouxe riscos mínimos aos participantes envolvidos. Da

mesma forma, também não trouxe benefícios diretos

aos participantes, porém, estudos baseados em dados

secundários de mortalidade poderão fornecer subsídios

para a vigilância do câncer em uma determinada região

geográfi ca, permitindo assim um maior monitoramento

de mortes por câncer, além de auxiliar nas mudanças de

estratégias de políticas de saúde. Considerando-se que

os dados foram obtidos do banco de dados disponível na

internet (DATASUS), seguiram os preceitos da Resolução

nº 510 de 07 de abril de 2016, com parecer do Comitê de

Ética em Pesquisa nº. 1590/2018.

RESULTADOS

Entre 2000 e 2015 na população pertencente a DRS-

XV de São José do Rio Preto, foram reportados entre os

homens 707 óbitos por câncer de próstata, 992 óbitos por

câncer de pulmão, 529 óbitos por câncer colorretal, 553

óbitos por câncer de estômago e 150 óbitos por câncer da

cavidade oral; e entre as mulheres 706 óbitos por câncer

de mama, 505 óbitos por câncer colorretal, 219 óbitos por

câncer de colo uterino, 497 óbitos por câncer de pulmão e

33 óbitos por câncer de tireoide.

Quanto às características sociodemográfi cas da

população de homens e mulheres na DRS-XV de São

José do Rio Preto, referente à idade, os dados avaliados

consideram a faixa etária no momento do óbito, 24

(3,4%) homens com menos de 60 anos tiveram câncer de

próstata e 217 (21,9%) homens com menos de 60 anos,

câncer de pulmão; já dentre os homens acima de 60 anos,

85 (56%) tinham câncer de cavidade oral e 775 (78,1)

câncer de pulmão. Quanto às mulheres, 10 (30,3%) das

que tinham menos de 60 anos tinham câncer de tireoide

e a maioria, predominantemente, 226 (32,5%), câncer de

mama. Enquanto entre as mulheres com mais de 60 anos,

23 (69,7%) delas tiveram câncer de tireoide e a maioria,

470 (67,5%), câncer de mama.

Referente à escolaridade, da população masculina

com câncer, 73 (11,9%) não tinham nenhuma escolaridade,

207 (33,5%) tinham 1-3 anos de escolaridade, 187 (30,3%)

de 4-7 anos, 99 (16%) de 8-11 anos de escolaridade.

Porém, a maioria dos homens, 51 (15,1%), com mais de

160 -166

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2018 jul.- dez.; 12(2): 163Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil

12 anos de escolaridade tiveram câncer colorretal. Em

relação às mulheres, 52 (17%) com câncer de pulmão

não tinham nenhuma escolaridade, 123 (27,1%) tinham

de 1-3 anos de escolaridade, 138 (30,4%) de 4-7 anos

de escolaridade, 77 (30,4%) 8-11 anos de escolaridade,

e para aquelas com mais de 12 anos de escolaridade, 65

(14,3%), também predominou o câncer de mama.

Em relação ao estado civil e diagnosticados com

câncer de pulmão, a maioria dos homens era solteiro 129

(13,2%), casados 612 (62,9%) e divorciados 91 (9,3%),

enquanto o câncer de próstata predominou nos homens

viúvos 179 (25,5%). Em comparação com as mulheres, o

câncer de mama foi prevalente nas solteiras 119 (17,1%),

casadas 312 (44,8%) e divorciadas 83 (11,9%), havendo

entre as viúvas, predomínio de câncer colorretal 191

(38,1%).

Alguns tipos de câncer são prevalentes em

determinadas raças. Quanto às raças, 910 (92,7%)

homens registrados como sendo da raça branca tinham

câncer de pulmão e 50 (7,1%) dos homens negros, câncer

de próstata, apenas 8 (1,5%) de pessoas da raça amarela

tinham câncer de estômago, 56 (8%) dos homens pardos

câncer de próstata e não houve homens da raça indígena

acometidos pelas variáveis patológicas do câncer. No sexo

feminino, o câncer de mama foi o mais prevalente entre

todas as raças, não havendo nenhuma mulher da raça

indígena acometida por câncer.

Quanto aos locais de ocorrência do óbito, tem-se

que no hospital 853 (86%) e outro estabelecimento de

saúde 34 (3,4%) a maior causa de óbito foi câncer de

pulmão nos homens; já em domicílio, 106 (15%) óbitos de

homens com câncer de próstata. Entre as mulheres, 621

(88%) foram a óbito em hospital, com câncer de mama,

12 (1,7%) mulheres com câncer de mama foram a óbito

em outro estabelecimento de saúde, 67 (9,5 %) óbitos de

mulheres com câncer de mama em domicílio e nenhum

óbito de mulheres em via pública.

Os coefi cientes de mortalidade na DRS-XV (São José

do Rio Preto) para cada 100 mil habitantes ajustados pela

população mundial ao longo do tempo, por sexo, variação

anual média percentual (AAPC) e intervalo de confi ança de

95% foram analisados para os tumores mais incidentes no

Brasil, segundo as estimativas do INCA, e estão disponíveis

nas Tabelas 1 e 2.

Com relação à mortalidade por câncer na população

masculina, observou-se coefi ciente médio de 11,61

mortes por câncer de próstata, 17,76 mortes por câncer

de pulmão, 9,02 mortes por câncer colorretal, 9,96

mortes por câncer de estômago e 2,75 mortes por câncer

de cavidade oral para cada 100 mil homens. Redução

signifi cativa dos coefi cientes de mortalidade por câncer

de estômago foi observada, de -4,0% ao ano (IC 95%:

-6,0 a -2,0). Aumento signifi cativo dos coefi cientes de

mortalidade por câncer colorretal e cavidade oral foram

observados, de 2,4% (IC 95%: 0,1 a 4,7) e 3,2 (IC 95%:

0,6 a 5,9) ao ano, respectivamente. Para os tumores

de próstata e pulmão as tendências de mortalidade se

mostraram estáveis.

Com relação à mortalidade por câncer na população

feminina, observou-se coefi ciente médio de 10,78 mortes

por câncer de mama, 7,05 mortes por câncer colorretal,

3,13 mortes por câncer do colo uterino, 7,13 mortes por

câncer de pulmão e 0,41 mortes por câncer de tireoide

para cada 100 mil mulheres. Para todos os tumores

avaliados entre as mulheres as tendências de mortalidade

se mostraram estáveis.

Tabela 1- Coefi cientes de Mortalidade por câncer ajustados pela população mundial para cada 100.000 homens, DRS-XV, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, anos 2000-2015

Homens

Ano Próstata Pulmão Colorretal Estômago Cavidade Oral

2000 11,11 19,83 5,79 12,02 1,82

2001 15,31 18,97 7,38 12,58 2,12

2002 11,49 20,63 8,05 13,19 2,13

2003 13,00 18,85 10,16 12,51 3,11

2004 14,61 22,41 7,37 16,09 1,80

2005 12,85 18,19 10,99 11,20 3,27

2006 13,05 18,54 8,06 5,84 3,11

2007 10,03 17,24 9,21 9,99 3,07

2008 5,89 18,15 11,55 7,54 2,32

2009 9,08 14,50 7,52 9,30 2,42

2010 12,94 12,94 8,87 8,00 2,35

2011 14,52 14,88 8,66 8,40 2,18

2012 7,87 13,72 7,03 8,63 3,86

2013 10,72 19,30 9,30 8,41 3,05

2014 12,04 17,38 11,34 8,26 4,18

2015 11,31 18,63 13,13 7,54 3,24

Média 11,61 17,76 9,02 9,96 2,75

AAPC -1,2 -1,4 2,4^ -4,0^ 3,2^

(IC 95%) (-3,7 a 1,3) (-2,9 a 0,2) (0,1 a 4,7) (-6,0 a -2,0) (0,6 a 5,9)

AAPC: do inglês Average Annual Percentage Change, Variação Percentual Média AnualIC 95%: Intervalo de confi ança de (95%)^: Estatisticamente signifi cativo

160 -166

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164 2018 jul.- dez.; 12(2): Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil

Tabela 2 - Coefi cientes de Mortalidade por câncer ajustados pela po-pulação mundial para cada 100.000 mulheres, DRS-XV, São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil, anos 2000-2015

Mulheres

Ano Mama Colorretal Colo do útero

Pulmão Tireoide

2000 9,81 7,18 2,49 5,76 0,00

2001 10,43 6,21 3,75 7,27 0,00

2002 14,84 9,67 3,88 5,63 0,64

2003 7,89 7,35 3,55 8,05 0,40

2004 16,97 6,49 3,18 5,82 0,64

2005 11,07 12,44 2,26 7,03 0,26

2006 11,54 5,65 3,88 8,52 0,73

2007 7,70 7,49 3,68 7,27 0,78

2008 11,20 4,98 3,30 6,29 0,36

2009 7,48 6,87 4,85 6,68 0,25

2010 11,38 6,05 3,16 7,84 0,27

2011 10,24 7,09 2,43 6,02 0,35

2012 11,52 5,62 2,57 6,78 0,43

2013 11,23 5,45 1,74 9,24 0,24

2014 10,30 6,30 2,43 6,72 0,36

2015 8,91 7,99 3,05 9,23 0,97

Média 10,78 7,05 3,13 7,13 0,41

AAPC -1,3 -1,7 -2,1 1,5 0,1

(IC 95%) (-3,8 a 1,3) (-4,5 a 1,1) (-5,1 a 1,0) (-0,3 a 3,4) (-6,8 a 7,4)

AAPC: do inglês Average Annual Percentage Change, Variação Percentual Média AnualIC 95%:Intervalo de confi ança de (95%)^: Estatisticamente signifi cativo.

DISCUSSÃO

Os dados utilizados neste estudo, originados do

DATASUS, registrados no período de 2000 a 2015,

demonstraram que em todos os tipos de câncer a

mortalidade é maior em pessoas de 60 anos ou mais.

Estes dados corroboram com o crescimento acelerado da

população de idosos e diminuição das taxas de natalidade,

resultado da transição demográfi ca atual, aumentando o

número de doenças crônicas, incluindo as neoplasias e

suas consequências12.

As maiores taxas de mortalidade por todos os tipos

de câncer estão compreendidas entre as populações

com menor nível de escolaridade (entre zero e sete anos

de estudo), corroborando com os dados de um estudo

de coorte realizado na cidade de São Paulo entre 1994

a 199513, onde pacientes com 12 anos ou mais anos de

estudo apresentavam menor mortalidade pela doença e

diagnóstico mais precoce. Outro estudo sugere que uma

maior escolaridade está associada ao maior conhecimento

sobre saúde, com destaque à prevenção e diagnóstico

precoce da doença14.

Nos homens, o câncer colorretal e de cavidade oral

apresentaram aumento nos coefi cientes de mortalidade,

enquanto que o tumor de estômago apresentou diminuição

nos coefi cientes de mortalidade ao longo do tempo.

Os tumores de próstata e pulmão não apresentaram

mudanças em suas tendências, enquanto as neoplasias

já representam a segunda causa de morte na maioria dos

países. Projeta-se que em breve, os cânceres ultrapassarão

as doenças cardiovasculares. A tendência de declínio das

taxas de neoplasias nos Estados Unidos ocorreu após os

anos 1990. No Brasil, esse foi o grupo de doenças crônicas

com menor declínio. No entanto, as tendências são

distintas, segundo o tipo de câncer, idade e sexo15.

Nos homens, as taxas de mortalidade por câncer

de próstata e colorretal estão aumentando, o que, no

caso das taxas de câncer de próstata, este estudo aponta

estabilidade e não o aumento. Já as de câncer de estômago

e de pulmão diminuem parcialmente de forma semelhante,

como pode ser observado no presente estudo16.

Homens com câncer de próstata, em geral,

apresentam faixas etárias mais elevadas no momento

do óbito, como o ocorrido no presente estudo, e a

não diminuição da tendência de mortalidade pode ser

justifi cada pela baixa procura dos homens pelos serviços

de saúde e também pelo preconceito cultural em relação à

tecnica de diagnóstico precoce deste tipo de neoplasia16,17.

Na população feminina as tendências dos tumores

avaliados mostraram-se estáveis. Ao contrário do estudo

de Malta et al.15, em que as taxas de mortalidade por

câncer de mama, de pulmão e colorretal aumentaram,

enquanto as de câncer do colo do útero diminuíram.

A detecção precoce do câncer do colo do útero

consiste na realização sistemática de exame para

identifi car alterações no colo do útero em uma população

assintomática. Serviços de prevenção e detecção precoce

podem ser prestados de forma organizada ou conveniente

(ou seja, aproveitando-se o atendimento da mulher

no serviço de saúde por outra fi nalidade) ou de forma

combinada. Em geral, acredita-se que o custo-benefício

seja melhor com a prevenção/detecção precoce de forma

organizada que a de forma conveniente, pois há melhor

uso dos recursos e assegura-se que um maior número de

mulheres seja benefi ciado18.

O efeito do rastreamento na redução da mortalidade

160 -166

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2018 jul.- dez.; 12(2): 165por câncer de mama é menor do que o que acontece com

o câncer de colo do útero. Estudos recentes indicam que

o impacto da mamografi a de rastreamento na mortalidade

é inferior ao que se esperava e a grande redução da

mortalidade em países ricos vem sendo atribuída aos

avanços terapêuticos recentes19,20.

No presente estudo, observou-se que o índice de

mortalidade por câncer de pulmão é o mais frequente

entre os homens e o terceiro entre as mulheres. Pesquisa

que analisou este tipo de neoplasia em seis países distintos

– Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Reino Unido e

Japão, relacionaram-no diretamente ao tabagismo, com

padrões históricos distintos, que podem explicar, em

grande parte, as diferenças encontradas nos resultados

entre os estudos21. Em São Paulo, embora atualmente

a prevalência de tabagismo seja maior nas classes mais

pobres, o risco de morte por câncer de pulmão é maior

nas classes consideradas mais ricas. É provável que isso

se explique por uma maior prevalência de tabagismo em

décadas passadas em pessoas das classes mais abastadas

e que serão necessárias algumas décadas para se inverter

a distribuição desse câncer em desfavor das classes

socialmente desprivilegiadas21.

O INCA publicou em 2017 a estimativa para os tipos

de câncer mais incidentes no Brasil para o ano de 20182.

Tais dados referem que nos homens o câncer de próstata

ocupa o primeiro lugar do ranking, seguido pelo câncer

de traqueia, brônquio e pulmão, colorretal, estômago e

cavidade oral. Já nas mulheres encontra-se com mais alta

incidência o câncer de mama, seguido pelo câncer de

cólon e reto, colo de útero, traqueia, brônquio e pulmão e,

após, glândula tireoide.

Todavia, neste estudo, as tendências de mortalidade

na região DRS-XV em homens, em primeiro lugar está

o câncer de pulmão, seguido pelo câncer de próstata,

colorretal, estômago e cavidade oral. Nas mulheres, em

primeiro lugar encontramos o câncer de mama, seguido

pelo colorretal, pulmão, colo do útero e, por fi m, glândula

tireoide.

O grande desafi o do Sistema Único de Saúde (SUS)

encontra-se na elaboração e aplicação de políticas de

controle, vigilância e monitoramento focadas na prevenção

e atenção aos indivíduos ou portadores dessas doenças em

todas as regiões, porque a carga de morbidade e o curso

prolongado dessas doenças requerem uma abordagem

longitudinal e integral. Além disso, é necessário atuar sobre

os condicionantes e determinantes de saúde, articulando

ações mais efetivas do Estado no sentido de minimizar as

desigualdades, bem como coordenar ações intra e inter

setoriais, operando um cuidado integral das Doenças

Crônicas não Transmissíveis (DCNT) e seus fatores de

risco. Entre as ações de promoção da saúde, torna-se

importante reforçar políticas públicas que promovam

hábitos saudáveis, como alimentação de boa qualidade,

utilização de espaços públicos destinados à atividade física,

ambientes livres de fumo, regulamentação da propaganda

do álcool, dentre outras. Ademais, mostra-se fundamental

reduzir as iniquidades em saúde, garantindo acesso a

essas tecnologias para toda a população, especialmente

para os grupos mais vulneráveis22,23.

CONCLUSÃO

Os dados obtidos neste estudo evidenciam que

a mortalidade por câncer de estômago está reduzindo,

enquanto a mortalidade por câncer colorretal e cavidade

oral está aumentando na população masculina na

regional de saúde de São José do Rio Preto. Os demais

tumores avaliados na população masculina e todos os

demais tumores avaliados na população feminina não

demonstraram mudanças na mortalidade no período

estudado. Dessa forma, esse estudo pode servir como

uma importante ferramenta para nortear a tomada de

decisão relacionada à prevenção de câncer, uma vez que

os dados apontam para a caracterização dos óbitos pela

patologia, identifi cando os principais grupos de risco.

Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil 160 -166

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166 2018 jul.- dez.; 12(2):

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Envio: 15/05/2018 Aceite: 23/07/2018

Tendências de mortalidade por câncer segundo a diretoria regional de saúde XV de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil160 -166

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2018 jul.- dez.; 12(2): 167

PREVENÇÃO GINECOLÓGICA: PERCEPÇÃO DO AUTOCUIDADO DE TRABALHADORAS DE UMA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLÁVEL

GYNECOLOGICAL PREVENTION: PERCEPTION OF SELF-CARE OF WORKERS FROM A COOPERATIVE OF RECYCLABLE MATERIAL

PREVENCIÓN GINECOLÓGICA: PERCEPCIÓN DEL AUTOCUIDADO DE TRABAJADORES DE UNA COOPERATIVA DE MATERIAL RECICLABLE

* Graduada em Farmácia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Discente de Medicina da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Contato: [email protected]**Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora Assistente da Universidade Federal do Acre (UFAC). Contato: [email protected]***Mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Docente da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Contato: [email protected]****Mestre em Microbiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG). Docente da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Contato: [email protected]

ResumoIntrodução: As mulheres separadoras de materiais recicláveis, diante da condição de pobreza e exclusão e perante a difi culdade no acesso aos serviços de saúde, estão sujeitas à vulnerabilidade social. Por esse motivo, apresentam difi culdade em mobilizar-se para execução do autocuidado em prevenção ginecológica. Objetivo: Descrever a percepção sobre o autocuidado, relacionada à prevenção ginecológica em trabalhadoras de uma cooperativa de separação de material reciclável, no município de Vitória-ES. Material e Método: Trata-se de uma pesquisa descritiva qualitativa, desenvolvida em Vitória-ES, tendo como cenário a Associação dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória (AMARIV). Dez mulheres trabalhadoras da associação participaram do estudo. Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada para coleta de dados, os quais foram tratados por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin. Resultados: Evidenciou-se o processo de formação das categorias de estudo: a necessidade de maior atenção ao autocuidado, relacionada à prevenção ginecológica; a necessidade de aprimoramento da qualidade da consulta médica e, por fi m, difi culdades e equívocos associados à falta de orientação médica e às barreiras do sistema de saúde. Conclusões: As evidências demostraram que o processo do autocuidado relacionado à prevenção ginecológica entre as mulheres estudadas é defi ciente, mostrando que falta educação em saúde nos serviços. Dessa forma, julga-se necessário maior efetividade dos serviços públicos em relação à prevenção e educação em saúde, por meio dos programas já estabelecidos na área de saúde da mulher.

Palavras-chave: Autocuidado. Saúde da mulher. Assistência à saúde. Vulnerabilidade social.

AbstractIntroduction: Women separators of recyclable materials, faced with the condition of poverty and exclusion and due to the diffi culty in accessing health services, are subject to social vulnerability. Therefore, they have diffi culty in mobilizing themselves for the execution of self-care in gynecological prevention. Objective: To describe the perception about self-care related to gynecological prevention in workers of a cooperative of separation of recyclable material, in the city of Vitoria/ES. Method: This is a qualitative descriptive study, developed in Vitoria/ES, based on the Association of Recyclable Waste Pickers on the Island of Vitoria (AMARIV). Ten women workers from the association participated to the study. A semi-structured interview script was used for data collection, which were treated using the Bardin content analysis technique. Results: The study categories formations were evidenced: the need for greater attention to self-care related to gynecological prevention, the need to improve the medical consultation quality, and, fi nally, the diffi culties and misunderstandings associated with the lack of medical guidance and barriers of the health system. Conclusions: Evidence has shown that the process of self-care related to gynecological prevention among the women studied is defi cient, showing lack of health education in services. Thus, it is considered necessary to increase the effectiveness of public services in relation to prevention and health education, through established programs in the area of women's health.

Keywords: Self-care. Women's health. Delivery of health care. Social vulnerability.

ResumenIntroducción: Las mujeres separadoras de material reciclable, ante la condición de pobreza y exclusión y la difi cultad en el acceso a los servicios de salud, están sujetas a la vulnerabilidad social. Por ese motivo, presentan difi cultad en movilizarse para la ejecución del autocuidado en prevención ginecológica. Objetivo: Describir la percepción sobre el autocuidado relacionada a la prevención ginecológica en trabajadoras de una cooperativa de separación de material reciclable, en Vitória-ES. Método: Investigación descriptiva cualitativa, desarrollada en Vitória/ES, en la Asociación de los Recolectores y Recolectores de Materiales Reciclables de la Isla de Vitória (AMARIV). Diez mujeres trabajadoras de la asociación participaron. Se utilizó de una entrevista semiestructurada para la recolección de datos, los cuales fueron tratados por la técnica de análisis de contenido de Bardin. Resultados: Se evidenció el proceso de formación de las categorías de estudio: la necesidad de mayor atención al autocuidado relacionada a la prevención ginecológica, la necesidad de perfeccionamiento de la calidad de la consulta médica, y por último, a difi cultades y equívocos asociados a la falta de orientación médica y las barreras del sistema de salud. Conclusiones: Las evidencias demostraron que el proceso del autocuidado relacionado a la prevención ginecológica entre las mujeres estudiadas es defi ciente, mostrando que falta educación en salud en los servicios. Se considera necesaria una mayor efectividad de los servicios públicos en relación a la prevención y educación en salud, a través de los programas ya establecidos en el área de salud de la mujer.

Palabras clave: Autocuidado. Salud de la mujer. Prestación de atención de salud. Vulnerabilidad social.

Larissa Longui Dias*, Jaçamar Alderona dos Santos**, Francine Alves Gratival Raposo***, Norma Lucia Santos Raymundo****

Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável 167-174

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168 2018 jul.- dez.; 12(2): Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável

INTRODUÇÃO

A população feminina com menor suporte fi nanceiro

passa por diversas barreiras sociais para sobreviver e

proporcionar o mínimo para a si e sua família1. Diante

dessa realidade, movimentos internacionais, tais como o

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em

2005, e a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, ocorrida

em Beijing, no ano de 1995, defendem a ideia de que

uma parcela crescente das pessoas com menor renda

é composta de mulheres. Logo, a “feminização” dessa

parcela populacional com baixa rentabilidade pode gerar

desigualdade social entre os gêneros2.

Nesse contexto, sabe-se que o trabalho com

materiais recicláveis é executado por essa parte da

população menos favorecida fi nanceiramente, como

também é marcado por desvalorização e exclusão social.

Os problemas estão relacionados à falta de estrutura,

ao contato com o lixo, à inexistência de apoio do poder

público, à ausência de treinamentos e de equipamentos

de segurança, entre outros3.

A pobreza e a exclusão social resultam em

vulnerabilidade social, a qual leva a um estado de privação

de direitos na vida pessoal do indivíduo, à medida que

produz a banalização de sentimentos, dos afetos e dos

vínculos4. Tal perda ou rompimento dos vínculos causa

descrença de si mesmo, conduzindo a uma defi ciência

da necessidade do autocuidado5. Acrescenta-se, ainda,

a difi culdade de acesso ao sistema de saúde, muito

marcante na realidade brasileira6.

Consequentemente, as mulheres separadoras de

materiais recicláveis, por estarem sujeitas a todos esses

determinantes sociais, fi cam expostas a uma difi culdade

maior de automobilização para buscar o atendimento em

saúde, sobretudo no que se refere à prevenção de agravos7.

Como exemplo, há procura insufi ciente por serviços como

o de citologia oncótica, para prevenção de câncer de colo

de útero, e de mamografi a, para rastreio de câncer de

mama, no que se refere à prevenção ginecológica8.

Assim, ressalta-se que o autocuidado em saúde, no

caso de mulheres socialmente vulneráveis, tais como as

mulheres separadoras de materiais recicláveis, vai além

da capacidade do indivíduo em buscar ser saudável,

envolvendo, adicionalmente, aspectos socioeconômicos

que freiam a tentativa de obter saúde.

Portanto, entendendo que o papel dos profi ssionais

de saúde, incluindo o médico, também é atuar no

autocuidado e na prevenção à saúde, julga-se importante

saber quais as difi culdades enfrentadas por essa população

estudada, em relação ao presente tema. Diante desse

cenário, surge a importância de compreender como as

mulheres separadoras de materiais recicláveis entendem o

autocuidado relacionado à prevenção ginecológica.

A relevância deste estudo consiste em contribuir

para um atendimento mais humanizado. Desse modo,

o objetivo desta pesquisa é descrever a percepção das

mulheres trabalhadoras de uma cooperativa de separação

de material reciclável sobre o autocuidado, relacionada à

prevenção ginecológica, no município de Vitória, Espírito

Santo, Brasil.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem

qualitativa, tendo como local de observação o ambiente

natural do sujeito. Não se pautou em quantifi cações das

ocorrências ou em relações causa-efeito. A interpretação

dos resultados se deu a partir dos pressupostos iniciais

revistos, dos conceitos construídos ou conhecimentos

originais produzidos9.

A pesquisa foi realizada no município de Vitória-ES,

Brasil, e teve como cenário a Associação dos Catadores

e Catadoras de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória

(AMARIV), que existe desde 2007 e possui a natureza

jurídica de associação privada. Ao contrário do que o nome

diz, não trabalha com a catação de materiais recicláveis,

mas sim recolhe, separa, enfarda e vende. A coleta dos

resíduos nas ruas e residências é realizada pelo programa

de coleta seletiva da prefeitura municipal de Vitória. Já a

triagem dos materiais é realizada na AMARIV, por meio do

trabalho manual dos associados. Após triados e prensados,

os materiais são comercializados.

Destaca-se que a maioria dos associados, no momento

da coleta dos dados, era do sexo feminino. A pesquisa foi

realizada no período de junho a julho de 2018. O contato

inicial com os participantes deu-se presencialmente, após

autorização da associação. As entrevistas aconteceram

na AMARIV, em uma sala reservada, sem circulação de

pessoas, garantindo a privacidade, sendo entrevistada

uma mulher por vez.

As entrevistadas foram convidadas a participar

da pesquisa por meio da concordância e da assinatura

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2018 jul.- dez.; 12(2): 169Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável

de termo de consentimento livre e esclarecido, do qual

cada participante recebeu uma via. Não houve recusas

à participação. Foi aplicado um roteiro de entrevista

semiestruturada a dez mulheres da associação, que

estivessem há mais de um ano trabalhando no local. As

entrevistas tiveram duração média de 30 minutos, foram

gravadas e transcritas de modo integral, armazenadas em

programa Microsoft Word.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e

Pesquisa (CEP) da Escola Superior de Ciências da Santa

Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM), que é uma

instituição de ensino superior privada situada em Vitória,

Espírito Santo, Brasil, sob parecer nº2.683.615.

ORGANIZAÇÃO DOS DADOS

A organização das informações ocorreu por meio da

técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin10, que

possui as fases de pré-análise, exploração do material e

tratamento dos resultados.

Pré-análise: fase da organização do material bruto.

Nesta fase, houve o processo de escolha e seleção dos

documentos, de acordo com as hipóteses e os objetivos

da pesquisa. Realizaram-se as transcrições dos áudios

e, por meio da leitura “fl utuante”, buscou-se conhecer

os signifi cados, as impressões e as percepções das

participantes. Assim, fez-se a construção do corpus da

pesquisa10.

Exploração do material: constitui-se a partir dos

recortes, das palavras ou frases. Realizou-se a aplicação

sistemática das decisões tomadas para a construção das

Unidades de Registro (UR) e Unidades de Contexto (UC).

Dessa forma, colocou-se em prática a codifi cação dos

dados, à qual se aplicou a regra de frequência simples,

presença e frequência ponderada, para o surgimento das

UR e UC10.

A UR é compreendida como a unidade de signifi cação

codifi cada que se relaciona com o objetivo da pesquisa.

Possibilitou a categorização por contagem e frequência

de palavras ou frases encontradas nas falas transcritas.

Após essa passagem, houve subsídio para a formação das

UC, por meio da codifi cação que envolveu os signifi cados

relacionados ao objeto e ao objetivo do estudo. Com base

nessas unidades- UR e UC -, foi possível realizar inferências

acerca dos sentidos, dos signifi cados e das mensagens,

que foram a chave para as categorizações10.

Tratamento dos resultados: nessa fase, houve a

referenciação dos índices e a elaboração de indicadores,

que consistiram em elencar recortes dos textos contendo as

signifi cações iniciais encontradas, separando-os em índices

de ordem mais subjetiva e qualitativa; indicadores mais

relacionados à frequência, de caráter mais quantitativo,

que serão explicados pela análise/categorização temática,

possibilitando, portanto, a formação das categorias e

unidades sistemáticas10, conforme é apresentado no

Quadro 1.

Unidades de Registro Unidades de Contexto Categorias Analíticas

Autocuidado; consulta ginecológica; exames de rotina; exame preventivo; indiferença por saúde mental.

Maior disponibilidade de acesso a serviços de promoção e prevenção em saúde; maior dispo-nibilidade de acesso a serviços de diagnóstico; maior disponibilidade de acesso à educação em saúde mental.

Percepção do autocuidado e da prevenção ginecológica

Aversão à consulta médica; conceito equivoca-do sobre prevenção em saúde; constrangimento para consulta ginecológica; difi culdade para mar-cação de consulta; difi culdade de compreensão; constrangimento para tirar dúvidas; orientação médica inefi caz; caligrafi a ilegível; difi culdade de adesão; orientação cautelosa; linguagem acessí-vel; modelos e gravuras.

Garantia de acesso aos serviços de promoção e prevenção em saúde da mulher; capacitação de recursos humanos; garantia de acesso a serviços; educação em saúde; ensino e aprendizado.

Difi culdades associadas ao autocuidado e à prevenção ginecológica

Fonte: elaboração própria (2018).

Quadro 1 - Unidade de Registro e Unidades de Contexto para as categorias formadas, segundo técnica de Análise de Conteúdo proposta por Bardin10

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170 2018 jul.- dez.; 12(2): Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável

Portanto, após estas etapas, iniciou-se a construção

das categorias baseadas nas evidências e a fi nalização

da análise de conteúdo, construindo as evidências

e categorias de estudo, baseadas nas UR, UC e nas

inferências10, conforme é apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 – Descrição das categorias e evidências do estudo

Categorias do estudo Evidências

Percepção do autocui-dado e da prevenção ginecológica

Evidenciou-se a necessidade de educação em saúde, para melhoria da percepção e vivência do autocuidado, uma vez que são insufi cientes para promoção da saúde.

Difi culdades associadas ao autocuidado e à pre-venção ginecológica

Ainda é constatado o cuidado centrado no modelo biomédico de assistência à saúde, com ênfase na doença e nos atendimen-tos de demanda. Logo, é necessário o aprimoramento da qualidade da consulta médica, bem como da orientação médica e da educação em saúde. Verifi cou-se que é preciso vencer o modelo biomédico de assistência à saúde, como forma de au-xiliar na ultrapassagem das barreiras do sistema, como tentativa de praticar a pro-moção em saúde, em forma de orientação efetiva e educação em saúde, que cons-cientize, de fato, o usuário, empoderan-do-o. Notou-se que existe uma urgente necessidade em efetivar o direito consti-tucional ao acesso universal e integral aos serviços de saúde, vencendo os determi-nantes que impedem tal efetivação.

Fonte: Elaboração própria (2018).

RESULTADOS

Caracterização dos participantes do estudo

Fizeram parte deste estudo dez trabalhadoras da

AMARIV, com faixa etária entre 23 e 63 anos. Quanto ao

tempo de trabalho, quatro participantes tinham mais de

cinco anos. Em relação à formação educacional, todas

tinham o ensino médio completo.

EVIDÊNCIAS DO ESTUDO

Tomando como referência as UR e UC, buscaram-

se as evidências expressas nas falas e nos registros dos

momentos de observação, conforme o Quadro 2.

DISCUSSÃO

Percepção do autocuidado e da prevenção

ginecológica

Com o processo de reestruturação dos modelos

assistenciais, valorizando e apostando na lógica da Atenção

Primária à Saúde, principalmente na Estratégia de Saúde

da Família, as práticas tradicionais vêm sendo revistas. A

forma de organização que os novos modelos assistenciais

requerem, privilegiando o trabalho em equipe, a

integralidade, o vínculo com a comunidade, a abordagem

familiar, a corresponsabilidade e a participação, evidencia

o esgotamento dos modelos de atenção tradicionalmente

disponíveis, como também cria necessidades urgentes de

mudanças quanto à organização do serviço e das práticas

nele desenvolvidas.

Nesse contexto de novidades, o aspecto do cuidado

se reconfi gura e ganha destaque com o formato de

autocuidado, ao trazer o foco para o usuário desse sistema,

concedendo-lhe poder dentro do processo da atenção em

saúde. Agora, a responsabilidade do paciente de saber de

si passa a ser considerada fundamental. Com a ampliação

do acesso aos serviços de saúde, a responsabilidade pelo

fracasso ou sucesso de uma conduta não é exclusiva do

sistema. O que antes era responsabilidade do sistema,

pela falta de profi ssionais e de serviços disponíveis, passa

a ser responsabilidade do usuário se, ao ter acesso, não

assume o autocuidado seguindo a conduta indicada.

No entanto, deve-se se problematizar o autocuidado,

levando em conta a complexidade da realidade local e do

cotidiano popular que faz das práticas de autocuidado algo

extremamente modifi cável segundo um contexto, que

pode ser favorecedor ou não11.

Portanto, para que haja uma efetiva promoção da

saúde, diante do acesso aos serviços, é imprescindível que

a mulher tenha conhecimento e vivência do autocuidado.

Entende-se autocuidado como a capacidade que os

indivíduos têm de cuidar de si, desempenhando atividades

em seu próprio benefício, a fi m de manter a vida, a saúde

e o bem-estar próprio12.

O modo como a conceituação e a vivência do

autocuidado aparecem nas entrevistas se evidencia nas

falas das entrevistadas:

[...] Ah, eu acho que autocuidado é o cuidado com a gente mesmo, né... Ah, eu acho que eu cuidar de mim mesmo, é cuidar do meu bem-estar interior? [...] Mas pra tá bem por fora, a gente tem que também tá bem por dentro. Seria tá bem comigo mesmo, é quando a gente tá bem com a gente mesmo, né?.É...se empenha mais (Rosa).

[...] Eu está sempre no médico, fazendo preventivo... coisa que eu fi quei muitos anos sem fazê. É.… fazê o preventivo. Também é....está sempre fazendo ixame... Todo ano fazendo meus ixame. É.… cuidando da minha vista, do meu...do...de mim mesmo” (Dália).

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2018 jul.- dez.; 12(2): 171Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável

[...] Pessoa cuidar de si, cuidar da saúde. Estar sempre assim...Indo ao médico, né? E fazendo ixames, essas coisas. Preventivo, a gente mulher, sempre tá fazendo preventivo. Sempre tá vendo como a gente tá, através de exames (Violeta).

Percebeu-se, em algumas falas, a difi culdade de conceituação e vivência do autocuidado:

[...] Eu sou relaxada com isso, eu nunca fi z um preventivo. É importante, todo mundo fala e tenta colocá na minha cabeça, mas eu tenho muita vergonha (Jasmim).

[...] Mas autocuidado de que? (Dália).

[...] porque eu acho que o cartão postal da gente é o visual, e muitas vezes a gente não tem essa condições, né? De tá se produzindo, né? A gente tenta, mas não

consegue, não dá (Amarílis).

Difi culdades associadas ao autocuidado e à

prevenção ginecológica

Consulta médica

Apesar do avanço tecnológico e do acesso à

informação, ocorridos nas últimas décadas na área

biológica, vem havendo prejuízos na relação médico-

paciente, uma vez que há um foco na fi siopatologia

e na tecnologia, distanciando o paciente do médico,

comprometendo, por consequência, a qualidade dos

atendimentos. Nesse contexto, uma das razões que mais

infl uenciaram no desgaste da antiga relação médico-

paciente foi o apagamento do médico humanista, por conta

da adoção do modelo de ensino médico norte-americano,

pragmático e fundamentado nas ciências biológicas. Tal

modelo de ensino médico propõe que o paciente, antes

de ser humano, é um organismo enfermo que busca o

restabelecimento de sua saúde e, desse modo, nada mais

se espera do médico13,14.

Apesar dos esforços da prática médica em assumir

uma postura mais humanizada e integral nos últimos

anos, ainda não foi possível romper com o método de

abordagem baseado no modelo biomédico tradicional,

centrado na doença. Por conseguinte, surge o desafi o de

integrar, dentro do processo de produção de cuidado, a

medicina baseada em evidências, o atendimento centrado

na pessoa e o trabalho em equipe, na tentativa de trazer

a pessoa ao centro dos relacionamentos associados à

saúde, em detrimento da valorização exclusiva da doença

que acomete o indivíduo. Como forma de aprimorar o

atendimento médico, surge o método clínico centrado na

pessoa15,16.

O método em questão enfatiza a importância de

abordar, na consulta, três aspectos: a perspectiva do

médico, relacionada aos sintomas e à doença; a perspectiva

do paciente, que inclui suas preocupações, seus medos e

sua experiência de adoecer; a integração entre as duas

perspectivas. Ele descreve quatro componentes interativos

do processo de atendimento: a) explorando a saúde, a

doença e a experiência da doença; b) entendendo a

pessoa como um todo (indivíduo, família, contexto);

c) encontrando um terreno comum; d) intensifi cando o

relacionamento entre pessoa e médico. Diante do primeiro

componente, é imprescindível diferenciar a doença do

adoecimento. Sabe-se que a doença é uma construção

teórica com base em observações objetivas que tentam

explicar o problema; já o adoecimento é a experiência

pessoal e subjetiva de quem está doente, sendo diferente

para cada indivíduo15.

Nas entrevistas, a necessidade do aprimoramento da

qualidade da consulta médica surge conforme apresentado

a seguir:

[...] eu acho assim, o médico, pra ele melhorar, ele tem que... que escrever mais detalhado, né? É.…explicar, mesmo que a pessoa às vez, tem assim, difi culdade de ler, né? De leitura. Então, ele escreva mais, assim, é.…como diz? Uma letra mais... Que dá pra pessoa entender melhor, porque muitas vezes o médico dá um rabisco e cabou. A pessoa que tem que dicifrar o que que é aquilo, né? (Amarílis).

[...] fazer uma demonstração, né? Mostrar num.… Tipo assim... Ah, eu não... Como é que eu falo? Num tem, tipo...Igual essas aulas que... Que fazem. Faz tipo uma demonstração, pode ser numa televisão, no computador, mostrando o corpo, explicando direitinho, né? Ah, aqui é isso, aqui é isso, pode acontecer isso! Eu acho assim, que a pessoa vai vendo a imagem, e vai entendendo o que pode tá acontecendo, o que pode acontecer (Margarida).

[...] Acho que ele fala rápido. É, eu acho que ele podia falar devagar, né? Muito rápido (Magnólia).

[...] Ah, tem médico que fala coisa difícil, e que às vezes as pessoa...Eu fi co com vergonha de pergunta (Petúnia).

Orientação médica

A importância da educação para a promoção da

saúde é fator imprescindível para a melhoria da qualidade

de vida. Sabe-se que as práticas de saúde adequadas

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172 2018 jul.- dez.; 12(2): Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável

ou inadequadas surgem de experiências de ensino-

aprendizagem e infl uenciam as decisões a serem tomadas

pelos indivíduos, podendo contribuir para diminuir, manter

ou elevar o seu nível de saúde. Consequentemente, a

abordagem educativa deve estar presente em todas as

ações, para promover a saúde e prevenir as doenças,

facilitando a incorporação de ideias e práticas corretas17.

A promoção da saúde deve ser viabilizada pela

educação em saúde, preparando cada indivíduo para

assumir o controle e a responsabilidade sobre a sua

própria saúde e sobre a saúde da comunidade, tornando-o

apto para o empoderamento, a participação, a tomada de

decisões, o controle social, para exigir direitos e para atuar

sobre os fatores determinantes e condicionantes da sua

saúde e qualidade de vida17,18.

A educação em saúde consiste em proporcionar à

população os conhecimentos e as destrezas necessárias

para a promoção e a proteção de sua saúde individual, da

saúde de sua família e de sua comunidade, por meio do

desenvolvimento de capacidades e habilidades, para que

as pessoas participem de modo ativo na defi nição de suas

necessidadese consigam gerir suas metas de saúde17.

Dessa forma, cabe ao médico e aos profi ssionais

de saúde, diante de todas as oportunidades que lhes

aparecem no exercício profi ssional, orientar de modo

adequado a população atendida, com cuidado peculiar

em relação àqueles com menor escolaridade e renda,

uma vez que demandam mais atenção para que sejam

completamente empossados da informação capaz de levar

ao aumento do nível de saúde15.

Percebeu-se, diante da fala das entrevistadas, que

falta orientação médica:

[...] Tipo, medicamento ele manda você tomar sete dia, eu tomei, com três, quatro dias, tô boa. E eu não vou continuar tomando mais, que eu não gosto de tomar medicamento (Jasmim).

[...] Tem pessoas que...algumas coisas, algumas palavras que eles vão dizer num, num, num dá pra entender direito. Então tem pessoas que precisam de mais clareza, né? Eu acho assim, que o profi ssional em si, ele deveria ter um pouco meio que... Se expressar melhor, às vezes no que ele diz, pra que a pessoa compreenda o que... O que ele tá querendo passar, entendeu? (Rosa).

[...] Por que o povo é.… pensa assim: Ah, num tem necessidade de fazê uma consulta ginecológica! É...

Primeiro por que eu só tenho um parceiro, segundo por que eu num tenho, é.…Difi cul... Num tenho doença, num tenho nada (Dália).

Barreiras do sistema

Apesar dos avanços desde a implantação do Sistema

Único de Saúde (SUS), relacionados principalmente à

ampliação da atenção básica, o acesso aos serviços

de saúde ainda é desafi ador. A efetivação do direito

constitucional ao acesso universal e integral envolve

inúmeros e complexos determinantes19.

O conceito de acesso aos serviços de saúde pode

ser abordado como liberdade para uso, baseada na

consciência da possibilidade de uso pelo indivíduo e no

seu empoderamento para escolha. Estão associados não

só a acesso, mas a fatores como a existência de um

serviço específi co ao alcance do indivíduo, a cordialidade

do serviço com o usuário, a existência de sistemas de

marcação de horários, a capacidade do paciente em

arcar com os custos diretos e indiretos da assistência;

e a fatores subjetivos, sociais e culturais envolvidos no

processo. Dessa maneira, o nível de acesso aos serviços

de saúde seria determinado pelo grau de adequação entre

indivíduos, comunidades e sistema de saúde20.

Nesse contexto, existem várias barreiras que

entremeiam e difi cultam os determinantes do acesso a tais

serviços. É possível verifi car que há intensa fragmentação

das ações e dos serviços de saúde, desqualifi cação na

gestão do cuidado, prioridade sobre as ações curativas

e condições agudas de demanda, lacunas assistenciais,

insufi ciência de fi nanciamento público, inadequação de

distribuição dos serviços, precariedade de importante grau

de trabalho e carência de profi ssionais21.

Tais barreiras de acesso aos serviços do sistema

de saúde repercutem, principalmente, sobre a população

economicamente menos favorecida. A literatura nacional

revela a presença de desigualdades no acesso aos serviços

de saúde no país e entre as regiões. Essa desigualdade

é mais acentuada para cuidados preventivos. Indivíduos

mais pobres usufruem menos de cuidados preventivos, em

relação aos mais ricos6.

As barreiras do sistema emergem da seguinte forma

no discurso das entrevistadas:

[...] porque demorou um pouco. As vezes...É.…Eu tenho

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2018 jul.- dez.; 12(2): 173Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável

difi culdade de conseguir preventivo no meu posto de saúde. Por isso que eu não coloquei como excelente, tão excelente assim...É.… pra eu conseguir uma fi cha pra conseguir pra marcar um preventivo foi um pouco difícil (Violeta).

[...] tipo assim... Quando a gente consegue, aí é bom, né? Por que é até difícil. Pelo menos, no posto aonde eu moro, é difícil eu ir no médico, quando eu passo mal eu vou direto pra policlínica, por que no posto eu não consigo (Hortênsia).

[...] porque eles resolve os probremas ali momentâneos, mais acaba vindo novamente uns dias depois (Rosa).

Educação em saúde

Pelo fato de o sistema de saúde vigente privilegiar a

assistência curativa e o modelo biomédico, a informação

e a educação em saúde não são práticas presentes nos

serviços de saúde. A educação em saúde é imprescindível

para efetivação do autocuidado, e a falta da mesma pode

prejudicar a participação da mulher nas decisões sobre

o cuidado com seu corpo. Verifi ca-se proporções mais

importantes do dilema em questão, quando se tratam

de mulheres de baixa renda, uma vez que inúmeros

determinantes sociais interferem no direito constitucional

ao acesso universal e integral aos serviços de saúde19,22,23.

Percebe-se, por exemplo, que muitas mulheres não

realizam o exame de citologia oncótica, por fatores como

receio de sentir dor, medo ou vergonha22. Muitas dessas

mulheres de baixa renda representam uma parcela da

população difícil de ser identifi cada, abordada e tratada

em suas comunidades de origem. Algumas delas nunca

se apresentaram a serviços de saúde, uma vez que a

promoção em saúde e o acesso aos serviços não é efetivo1.

As difi culdades e equívocos associados a falta de

educação em saúde são percebidas diante das seguintes

falas:

[...] Eu só fi quei com muita vergonha na prova de toque pra ganhar minhas menina, né? (Jasmim).

[...] Na realidade, eu tenho 23 anos, mas eu nunca me consultei com um ginecologista. Nunca, nunca (Rosa).

[...] Mas, questão do exame, da mamografi a, acho que por eu não ter feito ainda, assim... eu escuto muita...muitas coisas, né? Que é dolorido... (Margarida).

CONCLUSÃO

Evidenciou-se que as mulheres apresentam

conhecimento inadequado sobre o autocuidado e a

prevenção ginecológica, o que as torna insufi cientes

para que tenham responsabilidade sobre si e possuam

capacidade de promover o benefício próprio. Agregado a

isso, há difi culdade em obter acesso aos serviços de saúde,

diante de um modelo ainda voltado para a doença, de

uma defi ciente gestão dos recursos materiais, do pessoal

e da organização e diante do fl uxograma de serviços.

Consequentemente, as ações de promoção e prevenção

tornam-se pouco efetivas junto à comunidade.

Portanto, julga-se necessário maior atenção e

efetividade dos serviços públicos em relação à prevenção

em saúde, por meio dos programas já estabelecidos na

área da saúde da mulher, de modo que as mulheres

de baixa renda, tais como as separadoras de materiais

recicláveis estudadas, possam ter garantido o direito

constitucional ao acesso universal e integral à saúde.

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Envio: 16/04/2018 Aceite: 28/07/2018

Prevenção ginecológica: percepção do autocuidado de trabalhadoras de uma cooperativa de material reciclável167 - 174

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ANÁLISE DE CASOS DE CÂNCER DE PELE EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTA

ANALYSIS OF CASES OF SKIN CANCER IN A HOSPITAL OF INTERIOR PAULISTA

ANÁLISIS DE CASOS DE CÁNCER DE PIEL EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTA

* Acadêmicas do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.** Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Demartologia e docente nível 1 na disciplina de Dermatologia do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva - SP. Contato: [email protected]

ResumoIntrodução: Câncer de pele confi gura-se como problema de saúde pública, sendo frequente em todas as populações e se apresenta basicamente sob duas formas: o melanoma e o não melanoma (carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular). O principal fator de risco associado a essa neoplasia é a exposição excessiva aos raios solares (raios ultravioletas). Identifi car os estágios iniciais da doença pode reduzir taxas de morbidade e mortalidade. Objetivo: Levantar dados estatísticos quanto aos casos novos de câncer de pele atendidos no ambulatório de dermatologia do Hospital-Escola Emilio Carlos na cidade de Catanduva-SP, no período entre 2012 e 2016. A partir disso, avaliar o perfi l epidemiológico dessa neoplasia na cidade de Catanduva e região. Material e Método: Estudo observacional transversal do tipo descritivo, retrospectivo e quanti-qualitativo, realizado por meio da análise dos prontuários de pacientes atendidos no ambulatório de dermatologia. As variáveis estudadas foram: sexo, idade, raça, tipo de câncer de pele e localização. Resultados: A incidência de câncer de pele durante os últimos cinco anos no ambulatório de dermatologia foi de 25,37%. Os pacientes eram, em sua maioria, do sexo masculino, entre a faixa etária de 71 a 80 anos e brancos. O câncer de pele mais frequente foi o carcinoma basocelular e as regiões mais afetadas foram aquelas expostas ao sol, como a face. Conclusão: É inquestionável que o câncer é um problema de saúde pública. Podemos observar que as regiões corporais mais afetadas são aquelas expostas ao sol, como a face, reforçando que essa neoplasia é passível de prevenção, ressaltando a importância da prevenção primária.

Palavras-chave: Câncer de pele. Radiação solar. Fator de risco. Incidência. Perfi l epidemiológico.

AbstractIntroduction: Skin cancer is the most common type of cancer in all populations and occurs basically in two forms: melanoma and non-melanoma (basal cell carcinoma and squamous cell carcinoma). Sun exposure is the main risk factor. Identifying the early stages of cancer can reduce rates of morbidity and mortality. Objective: To collect statistical data and to evaluate the epidemiological profi le of new cases of skin cancer in the last fi ve years (2012-2016) attended at the dermatology outpatient clinic of Hospital Emilio Carlos-Catanduva. Methods: Transversal descriptive observational, retrospective and quanti-qualitative study type, through the analysis of the medical records of patients attended at the dermatology outpatient clinic. The studied variables were: gender, age, etnia, skin cancer type and location. Results: The incidence of skin cancer during the last fi ve years in the dermatology clinic was 25.37%. Most patients were caucasian and males between the ages of 71 to 80 years. The most frequent skin cancer was basal cell carcinoma, and the regions most affected were those exposed to the sun, such as the face. Conclusion: Skin cancer is very frequent and your relationship with sun exposure (time, intensity) makes this neoplasm preventable. As there are other causes, it is extremely important to carry out screening campaigns.

Keywords: Skin neoplasms. Solar radiation. Risk factors. Incidence. Health profi le.

ResumenIntroducción: Cáncer de piel se confi gura como problema de salud pública, siendo frecuente en todas las poblaciones y se presenta básicamente bajo dos formas: el melanoma y el no melanoma (carcinoma basocelular y carcinoma espinocelular). El principal factor de riesgo asociado a esta neoplasia es la exposición excesiva a los rayos solares (rayos ultravioleta). Identifi car las etapas iniciales de la enfermedad puede reducir las tasas de morbilidad y mortalidad. Objetivo: Levantar datos estadísticos en cuanto a los casos nuevos de cáncer de piel atendidos en el ambulatorio de dermatología del Hospital-Escuela Emilio Carlos en la ciudad de Catanduva-SP, en el período entre 2012 y 2016. A partir de ello, evaluar el perfi l epidemiológico de esa neoplasia en la ciudad de Catanduva y región. Material y Método: Estudio observacional transversal del tipo descriptivo, retrospectivo y cuantitativo, realizado por medio del análisis de los prontuarios de pacientes atendidos en el ambulatorio de dermatología. Las variables estudiadas fueron: sexo, edad, raza, tipo de cáncer de piel y localización. Resultados: La incidencia de cáncer de piel durante los últimos cinco años en el ambulatorio de dermatología fue del 25,37%. Los pacientes eran, en su mayoría, del sexo masculino, entre el grupo de edad de 71 a 80 años y blancos. El cáncer de piel más frecuente fue el carcinoma basocelular y las regiones más afectadas fueron las expuestas al sol, como la cara. Conclusión: Es incuestionable que el cáncer es un problema de salud pública. Podemos observar que las regiones corporales más afectadas son aquellas expuestas al sol, como la cara, reforzando que esa neoplasia es pasible de prevención, resaltando la importancia de la prevención primaria.

Palabras clave: Neoplasias cutáneas. Radiación solar. Factores de riesgo. Incidencia. Perfi l de salud.

Ana Rafaela Foloni*, Maria Augusta Carvalho Carnelossi*, Maria Julia Azarite Salomão*, Rafaela Marega Frigério Lopes**

Análise de casos de câncer de pele em um hospital do interior paulista 175-180

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176 2018 jul.- dez.; 12(2):

INTRODUÇÃO

Câncer é uma patologia de etiologia multifatorial,

resultante, principalmente, de alterações genéticas,

fatores ambientais e do estilo de vida. Segundo o Instituto

Nacional do Câncer (INCA), é um conjunto de mais de cem

doenças que têm em comum o crescimento desordenado

de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo

metastizar-se1.

O câncer de pele confi gura-se como o mais frequente

em todas as populações e se apresenta basicamente sob

duas formas: o melanoma e o não melanoma: carcinoma

basocelular e carcinoma espinocelular. Dos tipos não

melanoma, o carcinoma basocelular é o mais frequente2.

O melanoma é o mais maligno dos tumores

cutâneos, ocorrendo em geral entre os 30 e 60 anos de

idade. Pode originar-se de nevo melanocítico, entretanto,

em cerca de 75% dos casos não é relatada a existência

prévia do nevo pigmentar. São classifi cados em três tipos,

com particularidades epidemiológicas e prognósticas

diferentes: melanoma extensivo superfi cial (mais

frequente), melanoma nodular (prognóstico desfavorável)

e o melanoma lentiginoso acral (raro em brancos, mais

comum em negros e asiáticos)3.

O carcinoma basocelular (CBC) é constituído de

células que se assemelham às células basais da epiderme,

mas também podem se originar de diferentes partes

do aparelho folicular e isto justifi ca a denominação de

epitelioma basocelular. É o menos agressivo dos tumores

epiteliais e pode ser considerado incapaz de originar

metástase. Possui, entretanto, malignidade local, podendo

invadir e destruir tecidos adjacentes, inclusive ossos.

Acomete geralmente indivíduos acima dos 40 anos, sendo

raro em negros. A localização preferencial é nos dois

terços superiores da face e não ocorre nas palmas, plantas

e mucosas3.

O carcinoma espinocelular (CEC) é tumor maligno,

constituído por proliferação atípica de células espinhosas de

caráter invasor, podendo originar metástase, corresponde

a 15% das neoplasias epiteliais malignas. Pode ocorrer

em pele normal, mas frequentemente tem origem

na queratose solar, leucoplasia, radiodermite crônica,

queratose arsenical, xeroderma pigmentoso, úlceras

crônicas e cicatrizes de queimaduras. Ocorre geralmente

após os 50 anos e é mais comum no sexo masculino. As

localizações mais comuns são: lábio inferior, orelhas, face,

dorso das mãos, mucosa bucal e genitália externa3.

O principal fator de risco associado aos cânceres

da pele é a exposição excessiva aos raios solares (raios

ultravioletas)4. Fatores genéticos e história familiar de

câncer da pele são bem defi nidos5. Também têm infl uência:

uso de álcool, tabagismo, exposição ao arsênico, radiação

ionizante, processos dermatológicos irritativos, cicatriz

antiga, distribuição geográfi ca, raça caucasiana6.

Além da exposição à radiação solar, aumentou a

exposição a fontes artifi ciais de radiação ultravioleta.

Argumenta-se que o bronzeamento artifi cial seria uma

opção segura, pois as lâmpadas empregadas emitiriam

somente radiação ultravioleta de comprimento de onda

mais longo (UVA). Porém, estudos recentes apontam

o UVA como importante para a gênese do melanoma,

atuando sinergicamente com o UVB (ultravioleta B)7.

A identifi cação dos estágios iniciais do câncer pode

reduzir taxas de morbidade e mortalidade. Com esse

intuito, existem três níveis de programas de prevenção:

a primária, que previne a ocorrência da enfermidade; a

secundária, que consiste no diagnóstico precoce por meio

de rastreamento; e a terciária, que previne deformidades,

recidivas e morte8.

A prevenção primária do câncer de pele deve ter

como principal população-alvo a infantil, uma vez que as

crianças se expõem ao sol três vezes mais que os adultos, e

a exposição cumulativa durante os primeiros 10 a 20 anos

de vida determina o risco de câncer da pele, mostrando

ser a infância uma fase particularmente vulnerável aos

efeitos nocivos do sol9. Portanto, a prevenção primária

foca principalmente na fotoproteção8.

A prevenção secundária, por sua vez, baseia-se em

campanhas de detecção massiva em dias determinados a

fi m de detectar tumores de pele em estádios precoces8. Tal

prevenção pode e deve ser realizada na rotina da atenção

à saúde, o que, porém, requer maior engajamento dos

profi ssionais de saúde e da população em geral na ação

preventiva9.

Devido à importância epidemiológica desse tipo

de câncer e visto a crescente incidência do mesmo na

população mundial, impõe-se sua consideração como

problema de saúde pública10.

Por ser um problema de saúde pública e não haver

um estudo recente sobre o perfi l epidemiológico dos

pacientes portadores de câncer de pele na cidade de

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2018 jul.- dez.; 12(2): 177Catanduva e região observou-se a necessidade de um

levantamento de dados. Desse modo, essa pesquisa

contribuirá para o planejamento e avaliação das ações de

prevenção e controle de câncer.

OBJETIVO

Levantar dados estatísticos quanto aos casos

novos de câncer de pele atendidos no ambulatório de

dermatologia do Hospital-Escola Emilio Carlos (HEEC) na

cidade de Catanduva-SP, no período entre 2012 e 2016. A

partir disso, avaliar o perfi l epidemiológico dessa neoplasia

na cidade de Catanduva e região.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo observacional transversal

do tipo descritivo, retrospectivo e quanti-qualitativo.

As informações foram coletadas através da análise dos

prontuários de pacientes atendidos no ambulatório de

Dermatologia do HEEC na cidade de Catanduva, interior

de São Paulo, no período entre 2012 e 2016.

Os pacientes atendidos são procedentes das

cidades de Catanduva e região, abrangendo as cidades

de: Ariranha, Catiguá, Elisiário, Embaúba, Irapuã, Itajobi,

Marapoama, Monte Alto, Novais, Novo Horizonte, Palmares

Paulista, Pindorama, Pirangi, Sales, Santa Adélia, Tabapuã

e Urupês.

As seguintes variáveis foram estudadas: sexo, idade,

raça, tipo de câncer de pele e localização.

A pesquisa foi realizada após a aprovação do Comitê

de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Padre Albino

(UNIFIPA), conforme a Resolução 466/2012 do Conselho

Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres

humanos com parecer nº 2.060.303.

RESULTADOS

No período de janeiro de 2012 a dezembro de

2016 (cinco anos), 3.893 pacientes foram atendidos no

ambulatório de dermatologia do HEEC, conforme registro

hospitalar do HEEC. Os pacientes inclusos no estudo

foram aqueles que receberam diagnóstico de câncer de

pele durante esse período: total de 988 pacientes. Desse

modo, a incidência de câncer de pele durante os últimos

cinco anos no ambulatório de dermatologia foi de 25,37%.

As características da amostra quanto à idade,

sexo e raça encontram-se descritas nos Gráfi cos 1 e 2.

Os pacientes eram, em sua maioria, do sexo masculino

(51,21%), entre a faixa etária de 71 a 80 anos e brancos.

Gráfi co 1 - Idade dos pacientes diagnosticados com câncer de pele entre 2012 e 2016, no ambulatório de dermatologia do HEEC

Gráfi co 2 - Sexo dos pacientes diagnosticados com câncer de pele entre 2012 e 2016, no ambulatório de dermatologia do HEEC

Em relação ao tipo de câncer, constatou-se que

o CA de maior incidência foi o CBC (Tabela 1) com 693

(65,94%), assim como mostra a literatura. O segundo de

maior incidência foi o CEC, 282 (26,83%). A associação do

CBC e CEC foi observada em 47 pacientes. E o melanoma

representou apenas 28 (2,66%) dos casos avaliados.

Tabela 1 - Distribuição dos subtipos de câncer de pele dos pacientes atendidos no ambulatório de dermatologia do HEEC entre 2012 e 2016

TIPO CÂNCER 2012 2013 2014 2015 2016 Total Frequência Relativa

Melanoma 7 7 9 4 1 28 2,66%

CBC 106 135 151 144 157 693 65,94%

CEC 53 53 58 45 73 282 26,83%

CBC+CEC 11 13 6 7 10 47 4,47%

Todos 0 0 1 0 0 1 0,10%

TOTAL 100,00%

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178 2018 jul.- dez.; 12(2):

Além de analisarmos a incidência dos tipos de câncer

de pele na população atendida no ambulatório do HEEC,

também relacionamos as áreas do corpo mais afetadas em

relação a cada tipo. As áreas do corpo foram divididas em:

face, região retroauricular, região cervical, tronco, membro

superior, membro inferior e pele sem especifi cação.

Subdividimos a região da face em: região frontal, malar

e temporal, periocular, nasal, perioral, lábio e face sem

especifi cação.

A maioria dos CBC e CEC afetaram a face dos

pacientes, sendo a região perioral mais prevalente nos CEC

e a região nasal predominou nos casos de CBC (Figuras 1

e 2). Os membros superiores e inferiores também foram

sede de lesão dos CEC. Já em relação ao CBC, podemos

observar sua preferência por região cervical, tronco e

membros superiores (Tabelas 2 e 3).

Figura 1 - Proporção de CEC na região facial

Figura 2 - Proporção de CBC na região facial

Tabela 2 - Distribuição da localização anatômica com relação ao CEC

CEC 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL

PELE 4 0 4 1 4 13

FACE 27 33 33 24 56 173

RETROAURICULAR 0 2 0 0 1 3

COURO CABELUDO 2 2 3 2 3 12

CERVICAL 5 5 2 4 0 16

TRONCO 1 6 7 3 7 24

MMSS 10 14 12 10 6 52

MMII 7 4 4 4 7 26

Tabela 3 - Distribuição da localização anatômica com relação ao Carci-noma Basocelular (CBC)

CBC 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL

PELE 2 5 7 6 15 35

FACE 110 115 111 114 120 570

RETROAURICULAR 3 2 5 3 2 15

COURO CABELUDO 1 1 0 1 1 4

CERVICAL 6 7 12 7 3 35

TRONCO 13 8 15 9 14 59

MMSS 5 11 3 11 13 43

MMII 1 1 0 3 0 5

O melanoma teve baixa incidência, com apenas

28 casos confi rmados nesses últimos cinco anos. Em

10 pacientes, as lesões se encontravam no tronco e em

sete, nos membros inferiores (Tabela 4). Também foram

descritas outras regiões, como: face e membro superior.

Na face, as regiões mais comuns foram temporal e nasal.

Tabela 4 - Distribuição da localização anatômica com relação ao me-lanoma

MELANOMA 2012 2013 2014 2015 2016 TOTAL

PELE 1 0 1 0 0 2

FACE 0 2 1 0 1 4

RETROAURICULAR 0 0 0 0 0 0

COURO CABELUDO 0 0 0 0 0 0

CERVICAL 1 0 0 0 0 1

TRONCO 1 2 7 0 0 10

MMSS 1 2 0 1 0 4

MMII 2 2 0 3 0 7

28

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2018 jul.- dez.; 12(2): 179DISCUSSÃO

O câncer da pele representa a neoplasia de maior

incidência no Brasil. Estima-se que cerca de metade das

pessoas brancas com mais de 60 anos desenvolverão algum

tipo de neoplasia cutânea5. Sendo assim, é de extrema

importância a compreensão sobre proteção e exposição

aos raios solares para que seja possível a prevenção da

doença. Não havendo publicações sobre câncer de pele

na cidade de Catanduva e região, o presente estudo visou

preencher essa lacuna.

A população do estudo foi composta

predominantemente por indivíduos de pele branca e

idosos, confi gurando assim fatores de risco importantes.

Para o Brasil, estimam-se 85.170 casos novos de câncer

de pele não melanoma entre homens e 80.410 nas

mulheres para cada ano do biênio 2018-2019. Esses

valores correspondem a um risco estimado de 82,53 casos

novos a cada 100 mil homens e 75,84 para cada 100 mil

mulheres. Quanto ao melanoma, sua letalidade é elevada,

porém sua incidência é baixa (2.920 casos novos em

homens e 3.340 casos novos em mulheres)11. Os dados

obtidos no estudo também encontraram o câncer de pele

não melanoma como o mais comum, somando 92,77% de

todos os casos novos durante o período de 2012 a 2016.

É necessário ressaltar que o estudo foi feito mediante

base hospitalar e não base populacional, não incluindo

diagnósticos feitos em clínicas particulares.

A incidência de câncer de pele não melanoma está

aumentando rapidamente. Em populações caucasianas na

Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália, o

aumento médio de câncer de pele não melanoma foi de 3

a 8% ao ano desde os anos 196012. As crescentes taxas

de incidência dessa neoplasia são provavelmente devido

a uma combinação de aumento da exposição ao sol ou

exposição à luz ultravioleta (UV), aumento de atividades

ao ar livre, mudanças no estilo de roupas, aumento da

longevidade e depleção da camada de ozônio12.

Em contraste com o câncer de pele não melanoma,

que afeta principalmente indivíduos mais velhos, a

frequência de picos de melanoma ocorre em pessoas entre

20 e 45 anos, embora as taxas específi cas continuem a

aumentar com a idade12. O envelhecimento da população

e o aumento da exposição à radiação ultravioleta ao

longo do tempo e padrões alterados de exposição estão

fortemente correlacionados com o aumento da incidência

de melanoma em todo o mundo13.

Mesmo doses baixas de radiação ultravioleta, bem

abaixo do limiar eritemal, podem causar a formação

de fotoprodutos diméricos no DNA, e produzir espécies

reativas de oxigênio que reagem com o DNA, produzindo

fotolesões oxidativas. Esse dano ao DNA pode resultar em

mutações genéticas se não for efetivamente reparado13.

As áreas mais afetadas pela neoplasia são aquelas

predominantemente expostas ao sol, semelhante a outros

estudos14, o que reforça as evidências epidemiológicas

sobre a relação entre a excessiva exposição solar e o risco

de desenvolver câncer da pele, especialmente o câncer de

pele não-melanoma.

Como muitos dos cânceres de pele não melanoma

não causam sintomas ou morte durante a vida do paciente,

eles geralmente não são detectados até que os pacientes

compareçam em programas de triagem15. Isto é verdade

para pacientes com mais de 60 anos que participam de

programas de rastreamento do câncer de pele com mais

frequência (36%), em comparação com outros grupos

etários15.

A classe médica terá que enfrentar um aumento do

câncer de pele nas próximas décadas. É improvável que

apenas os dermatologistas possam gerenciar todos esses

novos casos no futuro. Assim, os clínicos gerais podem

desempenhar um papel importante no combate ao câncer

de pele, e eles devem ser treinados e preparados para

este desafi o15.

Um diagnóstico de câncer de pele precisa considerar

diagnósticos alternativos. Em relação à ceratose actínica,

condições benignas incluem queratose seborreica, verruga

vulgar, poroceratose actínica, granuloma actínico de

O’Brien, eczema, lentigo solar, líquen plano ou psoríase,

enquanto que condições malignas incluem CEC, doença de

Bowen, CBC, lentigo maligno, ceratoacantoma ou doença

de Paget extramamária16.

Os médicos devem idealmente realizar o exame da

pele corporal total, pelo menos para indivíduos de alto

risco. O uso de tecnologias ópticas não invasivas, como

tomografi a de coerência óptica ou dermatoscopia pode ser

útil para melhorar a precisão do diagnóstico em alguns

tipos de câncer de pele16.

CONCLUSÃO

É inquestionável que o câncer é um problema

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180 2018 jul.- dez.; 12(2):

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Envio: 16/03/2018 Aceite: 28/07/2018

de saúde pública e o tumor de pele está entre os mais

frequentes do Brasil. Apesar da alta porcentagem de casos

novos por ano, o câncer de pele não melanoma tem pouca

mortalidade e altos percentuais de cura se detectado

precocemente. Em contrapartida, o melanoma apresenta

maior taxa de letalidade. Podemos observar que as

regiões corporais mais afetadas são aquelas expostas ao

sol, como a face, reforçando que essa neoplasia é passível

de prevenção e que o planejamento de saúde deve

ressaltar a importância da prevenção primária, por meio

de orientação de fotoproteção e campanhas de rastreio.

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PREVALÊNCIA DE ANEMIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EM UM HOSPITAL DO INTERIOR PAULISTA

PREVALENCE OF ANEMIA IN ONCOLOGICAL PATIENTS ATTENDED IN SÃO PAULO INTERIOR HOSPITAL

PREVALENCIA DE ANEMIA EN PACIENTES ONCOLÓGICOS ATENDIDOS EN UN HOSPITAL DEL INTERIOR PAULISTA

*Acadêmicas do curso de Biomedicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.** Farmacêutica, mestre em Ciências Farmacêuticas, doutora em Análise e Controle de Medicamentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCFAR-UNESP), Araraquara-SP. Docente dos cursos de Biomedicina, Enfermagem e Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP. Contato: [email protected]

ResumoIntrodução: A anemia é caracterizada pela defi ciência de ferro no organismo, com níveis de hemoglobina abaixo do normal, sendo muito frequente em pacientes com câncer. Sabe-se que até 70% dos pacientes oncológicos apresentam anemia em alguma fase da doença ou tratamento, principalmente durante a quimioterapia, como uma forma de toxicidade do tratamento. Objetivo: Verifi car a prevalência de anemia e alterações hematológicas em pacientes oncológicos atendidos em um hospital do interior paulista. Material e Método: A pesquisa foi realizada através da coleta e análise dos dados correspondentes aos casos de anemia diagnosticada em pacientes oncológicos por meio do hemograma. Resultados: Ao todo, foram analisados 99 prontuários, sendo 55 da oncologia e 44 da quimioterapia, sendo que 43 eram do sexo masculino e 56 do sexo feminino e com faixa etária variando de 14 a 96 anos. Valores inferiores de hematócrito foram encontrados em mais de 68% dos pacientes, mostrando a maior suscetibilidade de anemia nesse tipo de paciente.Os índices hematimétricos mostraram alteração em mais de 20% para os pacientes da quimioterapia em relação aos pacientes da oncologia ambulatorial, o que se deve, em grande parte, aos efeitos dos medicamentos quimioterápicos sobre a hematopoese. Portanto, houve prevalência de anemia do tipo ferropriva, com valores de hematócrito inferiores a 11% e ausência de alterações morfológicas eritrocitárias. Conclusão: O acompanhamento clínico é extremamente importante durante o tratamento do paciente oncológico, a fi m de contribuir para o sucesso da terapêutica oncológica utilizada.

Palavras-chave: Anemia. Prevalência. Pacientes. Oncologia. Doenças hematológicas.

AbstractIntroduction: Anemia is characterized by iron defi ciency in the body, with below normal hemoglobina levels, and is very common in patients with cancer. It is known that up to 70% of patients with cancer have anemia at some stage of the disease or treatment, especially during chemotherapy, as a form of treatment toxicity. Objective: To verify the prevalence of anemia and hematological alterations in patients with cancer attended at the hospital in the interior of São Paulo. Material and Method: The study was performed through the collection and analysis of the data corresponding to cases of anemia diagnosed in cancer patients through the blood count. Results: Altogether, 99 medical records were analyzed, 55 oncology and 44 chemotherapy, 43 male and 56 female, with ages between 14 and 96 years old. Lower values of hematocrit were found in more than 68% of the patients, showing the highest susceptibility of anemia in this type of patient. The hematimetric indexes showed a change of more than 20% for chemotherapy patients in relation to oncology patients, which are due, in large part, to the effects of chemotherapy drugs on hematopoiesis. Therefore, there was a prevalence of iron defi ciency anemia, with hematocrit values below 11% and absence of erythrocyte morphological changes. Conclusion: Clinical follow-up is extremely important during cancer treatment, in order to contribute to the success of cancer therapy used.

Keywords: Anemia. Prevalence. Patients. Oncology. Hematological diseases.

ResumenIntroducción: La anemia se caracteriza por la defi ciencia de hierro en el organismo, con niveles de hemoglobina por debajo de lo normal, siendo muy frecuente en pacientes con cáncer. Se sabe que hasta el 70% de los pacientes oncológicos presentan anemia en alguna fase de la enfermedad o tratamiento, principalmente durante la quimioterapia, como una forma de toxicidad del tratamiento. Objetivo: Verifi car la prevalencia de anemia y alteraciones hematológicas en pacientes oncológicos atendidos en un hospital del interior paulista. Material y Método: La investigación fue realizada a través de la recolección y análisis de los datos correspondientes a los casos de anemia diagnosticada en pacientes oncológicos a través del hemograma. Resultados: En total, se analizaron 99 prontuarios, siendo 55 de la oncología y 44 de la quimioterapia, donde 43 eran del sexo masculino y 56 del sexo femenino y con rango de edad variando de 14 a 96 años. Los valores inferiores de hematocrito fueron encontrados en más del 68% de los pacientes, mostrando la mayor susceptibilidad de anemia en ese tipo de paciente. Los índices hematimétricos mostraron alteración en más del 20% para los pacientes de la quimioterapia en relación a los pacientes de la oncología ambulatoria, se debe, en gran parte, a los efectos de los medicamentos quimioterápicos sobre la hematopoyesis. Por lo tanto, hubo prevalencia de anemia del tipo ferropriva, con valores de hematocrito inferiores al 11% y ausencia de alteraciones morfológicas eritrocitarias. Conclusion: El seguimiento clínico es extremadamente importante durante el tratamiento del paciente oncológico, a fi n de contribuir al éxito del tratamiento oncológico utilizado.

Palabras clave: Anemia. Prevalence. Pacientes. Oncología. Enfermedades hematológicas.

Lara Lazaro Coxa*, Paola Renata Cavalcante Joanini*, Andréia de Haro Moreno**

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INTRODUÇÃO

A anemia é uma complicação frequente em pacientes

oncológicos, caracterizada pela defi ciência de ferro no

organismo, quando os níveis de hemoglobina apresentam-

se abaixo do normal (para adultos é de 13 g/dL segundo

os critérios da Organização Mundial da Saúde - OMS,

representando um problema de saúde pública mundial,

tanto em países em desenvolvimento quanto em países

desenvolvidos, pelo fato de qualquer grupo etário estar

propenso a esse tipo de defi ciência1. Sabe-se que até 70%

dos pacientes oncológicos apresentam essa complicação

em algum momento da doença ou do tratamento. A

incidência e a severidade da anemia dependem do tipo

de tumor, idade do paciente, estádio da doença, do tipo e

intensidade do tratamento. Desta forma, quando presente,

a anemia exerce uma infl uência negativa na qualidade de

vida de pacientes com câncer, sendo identifi cada como um

fator prognóstico desfavorável2.

O tipo mais comum de anemia nesses pacientes

é conhecido como anemia da doença crônica. Nela,

substâncias pró-infl amatórias são produzidas pelo tumor

e impedem o funcionamento normal da medula óssea.

Assim, em pacientes que estejam recebendo quimioterapia

é muito comum o surgimento da anemia como uma forma

de toxicidade devido ao tratamento. Os quimioterápicos

citotóxicos, por atuarem em células em multiplicação,

acabam agindo de forma adversa na produção de hemácias

na medula óssea. Nestes casos, quando for possível, a

redução da dose de quimioterápico costuma ser a terapia

de escolha3.

O desenvolvimento de anemia em pacientes

oncológicos é multifatorial. Diferentes mecanismos como

perdas sanguíneas, aumento da destruição dos glóbulos

vermelhos ou diminuição na sua produção podem

coexistir em um mesmo paciente. A defi ciência de ferro,

absoluta ou relativa, contribui de forma importante para a

ocorrência de anemia nesta população, pois pacientes com

câncer frequentemente apresentam alterações fi siológicas

provocadas pela própria doença e pelos tratamentos

cirúrgicos ou radio/quimioterápicos que limitam ou

impedem o paciente de se alimentar3,4.

A anemia resulta em uma série de sintomas que

podem infl uenciar o estado físico e funcional dos pacientes,

interferindo negativamente no tratamento e qualidade de

vida dos mesmos. As manifestações clínicas são variadas,

como a redução na capacidade de exercícios, dor de

cabeça, dispneia, falta de libido, tonturas, palpitação,

náusea, depressão, disfunção cognitiva, impactando

negativamente na sobrevida e acentuandoa fadiga

relacionada à doença2,4. A prevalência da anemia no

mundo é de 24,8% para todas as populações e 12,7%

para os homens adultos. Para os idosos (>60 anos) é de

23,9% e está associada com a incapacidade e diminuição

do desempenho e força muscular3.

Em todos os pacientes com câncer e que desenvolvam

qualquer grau de anemia é importante investigar se há

defi ciência de ferro, através da medição de seus níveis

sanguíneos, sendo a investigação diagnóstica guiada

pelo tipo de tumor e sinais e sintomas apresentados pelo

paciente5. A anemia ferropriva é a forma mais comum

de anemia em pacientes portadores de câncer (anemia

da doença crônica), pois a utilização defeituosa de ferro

consiste na base da anemia da doença crônica, que

geralmente se manifesta no primeiro ou segundo mês de

evolução da doença1,4.

A anemia hemolítica autoimune resulta da produção

de anticorpos dirigidos contra as hemácias do hospedeiro e

predomina nas doenças linfoproliferativas, especialmente

na leucemia linfocítica crônica (LLC) e linfomas de células

B. Essa condição é caracterizada por uma anemia de grau

variável, ligeira icterícia e, mais raramente, esplenomegalia.

Já a anemia hemolítica microangiopática consiste em um

processo mediado pela deposição de fi brina e agregação

plaquetária na microcirculação e se caracteriza pela

fragmentação das hemácias (esquisócitos). Pode ser

observada em pacientes portadores de carcinoma

metastático, geralmente adenocarcinomas produtores de

mucina, sendo o câncer de estômago o mais comum6.

A anemia aplástica é uma doença autoimune em que

a medula óssea diminui a produção de células sanguíneas,

causando sintomas como manchas roxas na pele,

hematomas frequentes e sangramentos. O tratamento

é feito com transplante de medula óssea e transfusão

de sangue, mas não é um tipo de anemia diretamente

relacionada com o câncer7.

A anemia de Fanconi consiste em outro tipo de

anemia genética, caracterizada pelo aumento do tamanho

dos glóbulos vermelhos e diminuição dos glóbulos brancos

e plaquetas, provocado pela defi ciência de vitamina B12.

Os sintomas incluem dores abdominais, queda de cabelo,

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2018 jul.- dez.; 12(2): 183cansaço e feridas na boca. O tratamento é iniciado com

o uso de corticoides, mas pode ser necessário realizar

transfusões de sangue ou mesmo transplante de medula

óssea8.

A anemia megaloblástica caracteriza-se por

alterações da medula óssea, associadas com a diminuição

dos níveis de folato sérico e costuma aparecer em pacientes

portadores de neoplasias de cabeça e pescoço, devido à

difi culdade de alimentação, assim como em pacientes com

câncer disseminado no fígado9. Já a anemia por defi ciência

de vitamina B12 não está associada diretamente com

câncer, sendo observada em pacientes submetidos à

gastrectomia total devido à perda de células parietais10.

Por fi m, a quimioterapia citostática é uma das

principais causas de anemia nos pacientes com câncer,

sendo que esse tipo de tratamento agrava ainda mais a

anemia, além de ser progressiva, tornando-se mais grave

após repetidos ciclos de quimioterapia. Já na radioterapia

as alterações reversíveis e irreversíveis provocadas na

medula óssea pela radiação sugerem que a hipóxia

relacionada à reduzida capacidade de transporte de

oxigênio pelo sangue de pacientes anêmicos aumente a

radiorresistência dos tecidos malignos4,8.

O hemograma consiste em um exame que reúne

os resultados de contagem de hemácias, conteúdo de

hemoglobina e determinação do hematócrito, além

dos chamados índices hematimétricos (Corpuscular

Médio – VCM , Hemoglobina Corpuscular Média – HCM,

Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média –

CHCM) que, juntos, fornecem importantes resultados

sobre a condição do paciente, como a predisposição e

confi rmação de anemia5,11 (Quadro 1).

Quadro 1 - Valores de referência para parâmetros hematológicos eritrocitários5,11

ERITROGRAMA VALORES DE REFERÊNCIA UNIDADE

Homens Mulheres

Hemácias 4,50 a 5,50 4,20 a 5,40 milhões/mm³

Hemoglobina 13,0 a 17,5 12,0 a 16,0 g/dL

Hematócrito 41,0 a 51,0 35,0 a 45,0 %

VCM 80,0 a 96,0 80,0 a 96,0 fL

HCM 27,0 a 33,0 27,0 a 33,0 pg

CHCM 33,0 a 36,0 33,0 a 36,0 g/dL

O número de hemácias (Hm) por microlitro de

sangue está sujeito a variações, como ocorre na anemia,

sendo bastante comum na prática médica e caracterizadas

pela redução do número de células. Associam-se com

frequência às alterações da morfologia das hemácias e

baixa concentração de hemoglobina6.

A hemoglobina (Hb) é sintetizada e transportada

para outros órgãos no interior das hemácias, onde são

metabolicamente capazes de mantê-la em condições

de realizar as trocas de oxigênio e gás carbônico. Nas

formas jovens e de diferenciação das hemácias, ocorre a

captação do ferro para o interior dessas células através da

transferrina plasmática5,6,11.

A determinação do hematócrito (Ht) é bastante

valiosa, pois informa facilmente sobre várias alterações,

além de relacionar-se com outros valores, como o número

de hemácias e concentração de hemoglobina. Na prática,

a determinação de hemoglobina e do hematócrito são

mais utilizáveis que a contagem de hemácias. Esta,

mais demorada e sujeita a erros, é, no entanto, útil na

determinação dos índices hematimétricos5,11.

Os índices hematimétricos são usados na classifi cação

morfológica das anemias e fornecem valores médios da

concentração de hemoglobina e volume das hemácias,

sendo calculados a partir de determinações prévias

do hematócrito, hemoglobina e número de hemácias

por microlitro de sangue. São classifi cados segundo a

determinação do VCM, da HCM e da CHCM6-11.

O VCM corresponde ao volume médio de um

eritrócito, expresso em valores da ordem de fentolitros, e

indica o seu tamanho (hemácias normocíticas, microcíticas

ou macrocíticas). Já o HCM corresponde ao peso médio

(quantidade) de hemoglobina de cada eritrócito, expresso

em picogramas e indica a coloração do eritrócito

(normocromia, hipocromia ou hipercromia). Por fi m, o

CHCM corresponde à concentração de hemoglobina em

um volume de eritrócitos (hematócrito) e demonstra a

saturação de hemoglobina no eritrócito, correspondendo

à percentagem de hemoglobina em 100 mililitros de

hemácias5,11.

Desta forma, pacientes oncológicos frequentemente

apresentam anemia, que pode ser consequência direta do

tumor ou do próprio tratamento a que se submetem, sendo

que essa complicação hematológica comumente resulta

em aumento da morbidade do câncer, podendo até mesmo

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ter impacto negativo sobre a taxa de mortalidade. Tendo

em vista que pacientes anêmicos cursam pior prognóstico

e apresentam resultados terapêuticos inferiores àqueles

observados em pacientes com valores hematimétricos

satisfatórios, torna-se imprescindível investir esforços no

sentido de minimizar a anemia dos pacientes oncológicos.

OBJETIVO

O objetivo do trabalho foi verifi car a prevalência

de anemia em pacientes oncológicos atendidos em um

hospital do município de Catanduva-SP e discutir as

alterações hematológicas mais comumente encontradas

no hemograma que indiquem ou confi rmem o diagnóstico

de anemia.

MÉTODO

O processo de pesquisa foi iniciado após aprovação

em 12 de junho de 2017 pelo Comitê de Ética em Pesquisa

do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), com

número de parecer 2.114.393. A pesquisa foi realizada por

meio da coleta e análise dos dados de casos de anemia

diagnosticada por meio do hemograma em pacientes

oncológicos atendidos no Hospital-Escola Emílio Carlos

(HEEC) do município de Catanduva-SP, abrangendo

o período de janeiro a junho de 2017. Os dados foram

coletados nos prontuários dos pacientes (arquivo HEEC)

através de sistema de computação ou manual, e puderam

ser obtidos os dados referentes a casos de anemias em

pacientes portadores de algum tipo de câncer. Com os

dados coletados foi realizada a análise do possível tipo

de anemia diagnosticada para o paciente através da

observação de todas as alterações encontradas nos valores

dos índices hematimétricos, identifi cando a prevalência da

doença nos pacientes atendidos pelo hospital de ensino no

município. A organização dos dados coletados foi realizada

em gráfi cos e tabelas, utilizando o programa Microsoft

Excell.

RESULTADOS

Foram analisados 99 prontuários de pacientes dos

setores de Oncologia (55) e Quimioterapia (44) do HEEC,

sendo 46 do sexo masculino e 53 do sexo feminino. A

faixa etária dos pacientes do sexo masculino variou de

14 a 85 anos e do sexo feminino de 25 a 96 anos (Tabela

1). Foram selecionados os últimos hemogramas realizados

para análise dos parâmetros eritrocitários nos pacientes

em tratamento ambulatorial e quimioterápico.

Tabela 1 - Hemogramas analisados nos setores de oncologia e quimio-terapia do HEEC no período de janeiro a junho de 2017

MASCULINO FEMININO

Faixa etária 60 anos a 80 anos 50 anos a 80 anos

Oncologia 20 35

Quimioterapia 26 18

Total de pacientes 46 53

Foram considerados os seguintes parâmetros nos

hemogramas: contagem de hemácias, teor de hemoglobina,

hematócrito, índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM),

além da contagem de plaquetas e leucócitos, considerando

como valores de referência aqueles expressos no Quadro

1. De todos os hemogramas analisados, 30 pacientes

do sexo masculino e 28 do sexo feminino apresentaram

alterações nos parâmetros hematológicos eritrocitários.

O Gráfi co 1 mostra a porcentagem de alteração nos

parâmetros avaliados para esses pacientes.

Gráfi co 1 - Alterações nos parâmetros hematológicos de pacientes onco-lógicos atendidos no HEEC

DISCUSSÃO

De acordo com o Gráfi co 1, as alterações do

número de hemácias, da quantidade de hemoglobina e

do hematócrito mostraram as maiores variações quando

analisados, sendo justamente os parâmetros mais

empregados no diagnóstico de anemias. Valores inferiores

de hematócrito em mais de 68% dos pacientes mostram

a maior suscetibilidade de anemia nesse tipo de paciente.

As menores quantidades de hemácias e hemoglobina

refl etem na redução dos valores de hematócrito, uma vez

que este representa o percentual de hemácias em relação

ao sangue total5. Além disso, os exames com alterações

evidenciaram anisocitose, microcitose e hipocromia,

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2018 jul.- dez.; 12(2): 185confi rmando a prevalência de anemia do tipo ferropriva

nesses pacientes5,12,13.

Os índices hematimétricos mostraram menor

alteração que os parâmetros anteriores, prevalecendo

nos pacientes do setor de quimioterapia, em mais de

20% em relação aos pacientes do setor de oncologia

ambulatorial. Isso se deve, em grande parte, aos efeitos

dos medicamentos quimioterápicos sobre a hematopoese,

levando à redução signifi cativa nos valores absolutos

desses índices.

Alterações nos níveis de plaquetas e leucócitos

também foram verifi cadas nos pacientes submetidos

à quimioterapia, mostrando a maior suscetibilidade a

doenças e a processos hemorrágicos nesses pacientes,

com valores abaixo dos recomendados pela OMS6,8.

De acordo com a Tabela 2, os dados encontrados

nos prontuários dos pacientes indicam prevalência de

anemia do tipo ferropriva, com valores de hematócrito

menores que 11%. De acordo com Aapro et al.2, a

anemia resulta em uma série de sintomas que acabam

infl uenciando o estado físico e funcional dos pacientes,

interferindo negativamente no tratamento e qualidade de

vida dos mesmos. Assim, investigar a defi ciência de ferro

é de especial importância para a confi rmação de anemia

ferropriva.

Tabela 2 - Valores hematimétricos prevalentes sem algumas anemias6

ANEMIA Hb Hm Ht VCM HCM CHCM

Sideroblástica 8,3 2,22 24,7 111,2 37,4 33,6

Aplástica 9,5 2,92 26,4 90,4 32,5 35,9

Hemolítica autoimune 10,8 3,69 32,7 88,6 29,2 33,0

Aplasia eritrocitária 5,2 1,44 14,5 100,6 36,1 35,8

Ferropriva 3,3 1,83 11,0 60,1 18,0 30,0

Megaloblástica 5,4 1,57 18,1 115,2 34,3 29,8

Na anemia da doença crônica a utilização do ferro

ocorre de maneira defeituosa, com uma diminuição do

ferro sérico, mas com níveis normais ou aumentados de

ferritina e ferro armazenado. Esses dados auxiliam no

diagnóstico diferencial entre anemia da doença crônica,

anemia ferropênica e outras relacionadas a doenças

primárias das hemácias14-16.

Uma característica importante em pacientes

oncológicos é a extensa infi ltração medular por células

neoplásicas oriundas de tecidos hematopoiéticos,

que acabam levando a uma reação fi brótica medular,

comprometendo a liberação de células sanguíneas

maduras4. O quadro sugestivo de infi ltração medular é

caracterizado pela presença de anisocitose, poiquilocitose

e hemácias em formato dacriócito (gota de lágrima), com

eventual presença de eritroblastos12,13,17. No entanto, os

achados laboratoriais para os pacientes avaliados não

evidenciaram esse tipo de comprometimento medular

no período considerado, sendo os valores obtidos

concordantes com a literatura quanto à prevalência de

anemia do tipo ferropriva.

CONCLUSÃO

Verifi cou-se por meio do estudo a prevalência de

anemia em pacientes oncológicos e, através da discussão

das alterações hematológicas encontradas no hemograma,

foi possível estabelecer o tipo de anemia prevalente, no

caso, a ferropriva, e, dessa forma, ressaltar a importância

do acompanhamento clínico do paciente durante o

tratamento ambulatorial e quimioterápico, tendo em

vista contribuir como sucesso da terapêutica oncológica

utilizada.

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Envio: 16/03/2018 Aceite: 25/07/2018

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ESTUDO DA ALTERAÇÃO GLICÊMICA EM PACIENTES ENTRE 30 A 40 ANOS NÃO DIABÉTICOS EM AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA DE UM HOSPITAL-ESCOLA NA

CIDADE DE CATANDUVA-SP

STUDY OF THE CHANGE IN GLYCEMIC INDEX IN PATIENTS BETWEEN 30 TO 40 YEARS OLD NON-DIABETIC INDIVIDUALS IN PRE-ANESTHESIA EVALUATION CARE AT A

HOSPITAL-SCHOOL IN THE CITY OF CATANDUVA - SP

ESTUDIO DE LA ALTERACIÓN GLUCÉMICA EN PACIENTES ENTRE 30 A 40 AÑOS NO DIABÉTICOS EN LA EVALUACIÓN PRE-ANESTÉSICA DE UN HOSPITAL-ESCUELA DE LA

CIUDAD DE CATANDUVA-SP

*Mestre em Cirurgia Vascular, Cardíaca, Torácica e Anestesiologia pela Universidade Federal de São Paulo. Docente da disciplina de Anestesiologia do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino ((UNIFIPA), Catanduva-SP. Contato: [email protected]**Mestre em Farmacologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP. Docente da disciplina de Anestesiologia do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino ((UNIFIPA), Catanduva-SP.***Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino ((UNIFIPA), Catanduva-SP.

ResumoIntrodução: O valor da glicemia é de grande importância para a avaliação pré-anestésica, que tem como fi nalidade reduzir a morbimortalidade do paciente durante ou após a cirurgia. Isso inclui realizar avaliações criteriosas e mais minuciosas com exames complementares para auxiliar em diagnósticos antes não encontrados, como o caso de alterações glicêmicas. Objetivo: Detectar alterações da glicemia em pacientes de 30 a 40 anos, não portadores de diabetes mellitus, de modo retrospectivo. Método: A metodologia é descritiva; trata-se da análise de prontuários de maio a agosto de 2017, considerando alguns fatores de exclusão como paciente em uso de hipoglicemiantes orais. Resultados: Os resultados encontrados demonstraram uma média glicêmica normal, porém com um desvio padrão que indica picos glicêmicos em alguns pacientes. Tais resultados mostraram a possibilidade de 25,85% dos pacientes encontrados apresentarem alterações glicêmicas e uma incidência maior das mesmas em indivíduos com idade mais avançada, mesmo que com exclusão prévia de pessoas já diagnosticadas com diabetes. Conclusão: Sendo ainda considerado o fato de que a maior parte dos indivíduos com alterações glicêmicas estão classifi cados como ASA II (83,33%), demonstra-se também, através deste trabalho, que esta condição está acompanhada de maior risco de morte envolvendo processos cirúrgicos.

Palavras-chave: Paciente. Avaliação anestésica. Alteração glicêmica.

AbstractIntroduction: The value of blood glucose is of great importance for the pre-anesthetic evaluation that has as purpose to reduce the mortality and morbidity of the patient during or after surgery. This includes conducting evaluations insightful and more in-depth with additional tests to assist in diagnoses not previously encountered, such as in case of glycemic changes. Objective: To detect blood glucose changes in patients 30 to 40 years old, non-carriers of diabetes mellitus, retrospective. Method: The methodology is descriptive through the analysis of medical records from May to August of 2017, considering some factors of exclusion as a patient on the use of oral hypoglycemic. Results: The results found showed an average glycemic normal, but with a standard deviation that indicates peaks of glucose in some patients. The results showed the possibility of 25.85% of the patients found to present changes glycemic and a higher incidence of the same in individuals with more advanced age, even with exclusion of prior people already diagnosed with diabetes. Conclusion: The majority of individuals with with changes glycemic are classifi ed as ASA II (83.33%), and through this studies we could observe this condition is accompanied by greater risk of death involving surgical procedures.

Keywords: Patients. Evaluation of anesthesia. Change glycemic.

ResumenIntroducción: El valor de la glucemia es de gran importancia para la evaluación pre anestésica, que tiene como fi nalidad reducir la morbi mortalidad del paciente durante o después de la cirugía. Esto incluye realizar evaluaciones cuidadosas y más minuciosas con exámenes complementarios para auxiliar en diagnósticos antes no encontrados, como el caso de alteraciones glucémicas. Objetivo: Detectar cambios de la glucemia en pacientes de 30 a 40 años, no portadores de diabetes mellitus, de modo retrospectivo. Método: La metodología es descriptiva; se trata del análisis de prontuarios de mayo a agosto de 2017, considerando algunos factores de exclusión como paciente en uso de hipoglucemiantes orales. Resultados: Los resultados encontrados demostraron una media glucémica normal, pero con una desviación estándar que indica picos glucémicos en algunos pacientes. Tales resultados mostraram la posibilidad de que el 25,85% de los pacientes encontrados presenten alteraciones glucémicas y una incidencia mayor de las mismas en individuos con edad más avanzada, aun que con exclusión previa de personas ya diagnosticadas con diabetes. Conclusión: Siendo todavía considerado el hecho de que la mayor parte de los individuos con alteraciones glucémicas están clasifi cados como ASA II (83,33%), se demuestra también, a través de este trabajo, que esta condición está acompañada de mayor riesgo de muerte involucrando procesos quirúrgico.

Palabras clave: Paciente. Evaluación de la anestesia. Alteración glucémica.

Luis Fernando Rodrigues Maria*, Jaime João Jorge**, Gizelly Ayumi Yamamoto***, Guilherme Martins Tahan***, Leonardo dos Reis Resende***, Luiza Mastrange Pugin***, Matheus Nascimento dos Anjos***, Valdir Jesus Pagotto Junior***, Vinicius Areia Garcia***

Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP 187-191

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188 2018 jul.- dez.; 12(2):

INTRODUÇÃO

A avaliação pré-anestésica apresenta objetivos

diversos que se relacionam a vários âmbitos, apresentando

como principal propósito a redução da morbimortalidade

do paciente durante ou após a cirurgia. Além de

proporcionar benefícios como diminuição do número de

cirurgias suspensas e aumento da satisfação da equipe

médica e do paciente. A aplicação das diretrizes de normas

e cuidados anestésicos foram propostas pela American

Society of Anesthesiologists (ASA) em 1987. Tais diretrizes

investigam anestesias prévias, medicamentos em uso,

alergias e sugerem a revisão dos prontuários e de exames

físicos seguidos de exames laboratoriais de importância

para o ato anestésico-cirúrgico, como o exame glicêmico1.

A anamnese, ou história médica, é um constituinte

crucial no pré-operatório. Durante a composição da

história médica do paciente deve-se documentar distúrbios

médicos, cirurgias prévias, complicações relacionadas a

anestesias anteriores, alergias e hábitos, como a prática de

exercícios físicos, etilismo, tabagismo ou drogas ilícitas. É

também necessário conhecer a natureza do procedimento

cirúrgico que será realizado, uma vez que pode auxiliar

direcionando a condução da avaliação pré-anestésica e

do planejamento da anestesia, bem como na avaliação

de riscos específi cos durante ou após procedimento

cirúrgico2. A avaliação inclui uma análise geral dos sistemas

cardiovascular, com identifi cação de sinais e sintomas de

isquemia miocárdica, insufi ciência cardíaca congestiva,

hipertensão descontrolada, doenças valvulares e

alterações do ritmo cardíaco3; pulmonar, com identifi cação

das principais causas de morbimortalidade, incluindo

bronquite, broncoespasmo, hipoxemia, pneumonia,

doença pulmonar obstrutiva crônica e insufi ciência

respiratória4; endócrino, ao investigar poliúria, polidipsia,

fadiga, apatia, ganho ponderal ou perda de peso, tontura,

cefaleia, nervosismo e tremor5; neurológico e muscular.

Exames como eletrocardiograma, ureia, creatinina

e eletrólitos são necessários para complementar a

avaliação pré-anestésica6. A solicitação de exames

complementares realizar-se-á de forma individualizada

e segue recomendações com relação aos exames pré-

operatórios mais frequentemente solicitados7. Dentre eles,

há o exame de glicemia.

Apesar do baixo risco de complicações perioperatórias

em pacientes saudáveis, historicamente, a realização

de vários testes laboratoriais antes de procedimentos

cirúrgicos eletivos tornou-se rotineira em todo o mundo, na

segunda metade do século XX8,9. Entretanto, a solicitação

de uma bateria de exames para todos os pacientes

não trouxe muitas informações úteis e não diminuiu os

eventos adversos, além de mostrar vários resultados

falso-positivos. Assim, a partir da década de 1990 surgiu a

preocupação de se limitar a solicitação de exames àqueles

realmente indicados de acordo com o quadro clínico do

paciente. Apesar disso, o excesso de exames realizados

antes de uma cirurgia ainda é uma realidade em muitos

serviços, sendo apontado como uma das principais causas

de gastos desnecessários10.

O exame de glicemia é importante por detectar

hiperglicemia e hipoglicemia, para ajudar o diagnóstico

de diabetes e para monitorar os níveis de glicose em

pessoas com diabetes, através de uma amostra de sangue

do paciente em jejum11. Em nosso ambulatório, o exame

é solicitado para pacientes diabéticos, com doenças

neurológicas, com uso de corticosteroides e com idade

maior de 50 anos. Níveis altos de glicose, geralmente,

indicam diabetes, mas muitas outras doenças e estados

clínicos podem causar hiperglicemia.

O Quadro 1 resume o signifi cado dos resultados, que

foram baseados em recomendações da American Diabetes

Association11.

Quadro 1 – Signifi cados dos resultados do nível de glicose

Glicemia em jejum

NÍVEL DE GLICOSE SIGNIFICADO

De 70 a 99 mg/dL Glicemia em jejum normal

De 100 a 125 mg/dL (de 5,6 a 6,9 mmol/L)

Glicemia em jejum alterada (pré-diabetes)

De 126 mg/dL ou mais em pelo menos dois exames

Diabetes

Outros critérios além da American Diabetes

Association podem ser utilizados para diagnóstico de

diabetes no adulto12:

• glicemia ao acaso superior ou igual a 200 mg/dL

com sintomas clássicos;

• GTT (teste de tolerância à glicose) menor que 126

mg/dL e, em 2 horas, após 75 g de glicose por via oral,

superior ou igual a 200 mg/dL.

OBJETIVO

O objetivo desse estudo é analisar a glicemia de

Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP187 - 191

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2018 jul.- dez.; 12(2): 189jejum de 30 pacientes com idade entre 30 e 40 anos,

sabidamente não portadores de diabetes de maneira

retrospectiva através de estudo do prontuário.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, no qual foram

separados 30 pacientes, de ambos os sexos, que

realizaram avaliação pré-anestésica, semanalmente, no

ambulatório de avaliação pré-anestésica do Hospital-

Escola Emílio Carlos (HEEC) do Centro Universitário Padre

Albino (UNIFIPA), no período de 07 de junho de 2017

a 14 de setembro de 2017. Estudo aprovado mediante

parecer do Comitê de Ética em Pesquisa/UNIFIPA sob nº

2.151.850.

Têm-se como base dessa pesquisa alguns fatores

que auxiliam na análise dos dados:

• fatores de inclusão: pacientes que possuem

glicemia de jejum solicitada em um período inferior a 6

meses da data da consulta e não diabéticos (intervalo de

dias da data do exame e da consulta é de 180 dias);

• fatores de exclusão: pacientes sabidamente

diabéticos e em uso de hipoglicemiante oral, pacientes

que realizaram pancreatectomia, pacientes internados ou

com infecção.

Foram considerados como glicemia de jejum

alterada valores abaixo de 70 mg/dl ou acima de 100 mg/

dl, utilizando como instrumento a tabela com base nas

recomendações da American Diabetes Association12. Os

principais materiais utilizados foram os prontuários dos

meses de junho a setembro de 2017 do HEEC e a tabela

de controle dos dados.

A Tabela 1 distribui a população do estudo quanto ao

sexo. A Tabela 2 mostra a data do exame de glicemia e a

data da avaliação pré-anestésica, retiradas dos prontuários

do paciente. O intervalo de dias, calculado na Tabela 2, é

usado para critério de inclusão, uma vez que os pacientes

devem ter a glicemia de jejum solicitada em um período

inferior a 6 meses da data da consulta. A Tabela 3 distribui

os pacientes conforme a especialidade médica que

encaminhou o paciente para a avaliação pré-anestésica.

A avaliação ainda classifi ca o paciente de acordo com

o escore de predição de risco de óbito, o Sistema de

Classifi cação do Estado Físico da ASA13. A Tabela 4 divide

esses pacientes em ASA 1 (paciente sadio sem alterações

orgânicas) e ASA 2 (paciente com alteração sistêmica leve

ou moderada). A Tabela 5 mostra os valores do exame

de glicemia obtidos nos prontuários de cada paciente da

amostra.

Dados antropométricos

Tabela 1 - Distribuição quanto ao sexo da população

Número pacientes 30

Masculino 3

Feminino 27

Tabela 2 - Data do exame e da consulta e intervalo de dias

Data da consulta Data do exame Intervalo de dias

22/06/2017 22/06/2017 Mesmo dia

31/08/2017 21/08/2017 10 dias

22/06/2017 08/06/2017 14 dias

30/08/2017 28/08/2017 2 dias

30/08/2017 17/08/2017 13 dias

06/09/2017 28/07/2017 42 dias

12/07/2017 12/05/2017 61 dias

26/07/2017 12/07/2017 14 dias

26/07/2017 11/07/2017 15 dias

26/07/2017 07/07/2017 19 dias

16/08/2017 01/08/2017 15 dias

23/08/2017 17/08/2017 6 dias

14/09/2017 13/09/2017 1 dia

28/06/2017 21/06/2017 7 dias

28/06/2017 21/06/2017 7 dias

22/06/2017 12/05/2017 41 dias

21/06/2017 05/06/2017 16 dias

06/09/2017 14/08/2017 23 dias

28/06/2017 21/06/2017 7 dias

07/06/2017 19/05/2017 19 dias

14/06/2017 19/06/2017 5 dias

05/07/2017 06/04/2017 90 dias

12/07/2017 27/06/2017 15 dias

14/07/2017 14/04/2017 91 dias

28/06/2017 23/06/2017 5 dias

26/07/2017 07/07/2017 19 dias

26/07/2017 03/07/2017 23 dias

19/07/2017 03/07/2017 16 dias

02/08/2017 13/07/2017 20 dias

21/06/2017 09/06/2017 12 dias

Tabela 3 - Distribuição da amostra por especialidade médica

Especialidade Total de pacientes

Cirurgia geral 1

Ortopedia 3

Ginecologia e obstetrícia 7

Cirurgia plástica 12

Oncologia 1

Clínica cirúrgica 4

Reumatologia 1

Vascular 1

Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP 187-191

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190 2018 jul.- dez.; 12(2):

Tabela 4 - Classifi cação ASA da amostra

ASA Total de pacientes

1 16

2 14

Tabela 5 - Distribuição dos valores glicêmicos da amostra

Paciente Glicemia

1 86mg/dl

2 83mg/dl

3 74mg/dl

4 108mg/dl

5 83mg/dl

6 103mg/dl

7 125mg/dl

8 87mg/dl

9 90mg/dl

10 98mg/dl

11 94mg/dl

12 91mg/dl

13 93mg/dl

14 130mg/dl

15 100mg/dl

16 82mg/dl

17 94mg/dl

18 78mg/dl

19 84mg/dl

20 94mg/dl

21 86mg/dl

22 77mg/dl

23 91mg/dl

24 98mg/dl

25 100mg/dl

26 89mg/dl

27 89mg/dl

28 86mg/dl

29 74mg/dl

30 85mg/dl

DISCUSSÃO

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde feita

pelo IBGE em 2013, as mulheres (7,0%) apresentaram

maior proporção de relato de diagnóstico de diabetes

que os homens (5,4%)13. Os resultados de nosso estudo

mostram no Gráfi co 1 que de uma amostra de 30 pacientes,

27 são do sexo feminino, em que quatro apresentaram

glicemia em jejum alterada e uma com glicemia acima de

125 mg/dl. Três são do sexo masculino, em que um deles

apresenta glicemia em jejum alterada.

Gráfi co 1 - Glicemia em jejum por sexo

Na amostra, a faixa etária predominante foi de 33-34

anos (nove pacientes), seguida pelas faixas de 35-36 anos

e 39-40 anos (ambas com seis pacientes cada), 30-32

anos (cinco pacientes) e 37-38 anos (quatro pacientes).

Conforme a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, em

relação aos grupos de idade, quanto maior a faixa etária,

maior o percentual de diabéticos. De acordo com os

resultados obtidos no estudo, dos seis pacientes na faixa

etária 39-40 anos, dois apresentam glicemia em jejum

alterada e um paciente com glicemia acima de 125 mg/dl.

Foi usado o escore de predição de risco de óbito

para avaliação pré-operatória, Sistema de Classifi cação

do Estado Físico da ASA13, obtido nos prontuários

médicos. Dos trinta pacientes, dezesseis apresentam ASA

1 (paciente sadio sem alterações orgânicas) e quatorze

apresentam ASA 2 (paciente com alteração sistêmica leve

ou moderada). Nesse aspecto, dos seis pacientes com

glicemia igual ou maior a 100 mg/dl, cinco apresentam

ASA 2.

Utilizando os dados para análise estatística, é

possível criar um histograma glicêmico (Gráfi co 2) a partir

da média da amostra. É utilizado o método de distribuição

normal para formar os Gráfi cos 2 e 3, permitindo estudar

probabilisticamente a média das variáveis da amostra.

Com base em uma função, é possível formar uma curva

de distribuição normal, que inclui os valores glicêmicos dos

pacientes. Assim, traçando o intervalo do Gráfi co 2 em 100

mg/dl ou mais, é obtida uma área da curva de distribuição

normal, delimitada no Gráfi co 3. Com base nessa área é

possível afi rmar que a probabilidade de um paciente da

amostra apresentar uma glicemia maior ou igual a 100

mg/dl é de 25,85%.

Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP187 - 191

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2018 jul.- dez.; 12(2): 191

FREQ

UÊN

CIA

Gráfi co 2 - Histograma glicêmico

Gráfi co 3 -Distribution plot

A maioria dos pacientes com alteração glicêmica,

83,33%, estão classifi cados como ASA II. A média

glicêmica da amostra foi de 91,73 mg/dl, considerada

normal. Entretanto, o desvio padrão foi de 12,76. Logo,

a amostra não era homogênea e podem-se encontrar

pacientes com picos glicêmicos bem elevados dentre os

demais.

CONCLUSÃO

A avaliação pré-anestésica tem como objetivo

reduzir a morbimortalidade do paciente durante ou após

a cirurgia. Além disso, diminui o número de cirurgias

suspensas, aumenta a satisfação da equipe e, portanto,

proporciona um benefício considerável. Para isso, é

realizada uma análise bem minuciosa de antecedentes

patológicos, cirúrgicos, medicamentosos, anestésicos,

históricos familiares e alterações nos diversos sistemas do

organismo. Essa preocupação passou a gerar gastos com

exames, procedimentos eventualmente desnecessários.

Portanto, são utilizados critérios para selecionar o que

deve ser pedido ao paciente, como é o caso da glicemia.

Pode-se detectar hiperglicemia, hipoglicemia e ajudar no

diagnóstico de diabetes.

Analisando os prontuários do ambulatório foi

possível descrever que 25,85% dos pacientes apresentam

alterações glicêmicas. Esse dado é relevante uma vez que

foram excluídas as pessoas com diagnóstico prévio de

diabetes. Além da incidência neste estudo de pacientes

com glicemia alterada, mais estudos serão realizados para

serem confrontados com a literatura.

REFERÊNCIAS

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2. Amaral JLG, Geretto P, Tardelli MA. Guia de anestesiologia e medicina intensiva. São Paulo: Manole; 2011.

3. Silva GV, Mion Júnior D, Gomes MAM, Machado CA, Praxedes JN, Amodeo C, et al. Qual a diretriz de hipertensão arterial os médicos brasileiros devem seguir? Análise comparativa das diretrizes brasileiras, européias e norte-americanas (JNC VII). Arq Bras Cardiol. 2004; 83(2):179-81.

4. Adesanya A. Preventing postoperative pulmonary complications. ASA Newsletter. 2008;72(4):11-4.

5. Hata TM, Moyers JR. Perioperative patient assessment and management. In: Barash PG, Cullen BF, Stoelting RK, Cahalan MK, Stock MC, editors. Clinical anesthesia. Philadelphia: Lippincott, Williams, and Wilkins; 2009. p. 581.

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8. Foss JF, Apfelbaum J. Economics of preoperative evaluation clinics. Curr Opin Anaesthesiol. 2001; 14(5):559-62.

9. Sharma GK, Sharma SB, Shaheen WH. Preoperative testin. [Internet]. New York: Medscape Reference. [citado em 22 fev. 2018]. Disponívelem: https://emedicine.medscape.com/article/285191-overview#showall

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11. Marathe PH, Gao HX, Close KL. American Diabetes Association standards of medical care in diabetes 2017. J Diabetes. 2017; 9(4):320-4.

12. Cangliani LM. Tratado de anestesiologia – SAESP. 7ª. ed. São Paulo: Atheneu; 2011.

13. IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho de Rendimento. Pesquisa Nacional de Saúde. Rio de Janeiro; 2013.

Envio: 28/03/2018 Aceite: 12/07/2018

Estudo da alteração glicêmica em pacientes entre 30 a 40 anos não diabéticos em avaliação pré-anestésica de em hospital-escola na cidade de Catanduva-SP 187-191

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192 2018 jul.- dez.; 12(2):

INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE ESTUDANTES DE UM CURSO DE MEDICINA

INSTRUMENTS FOR EVALUATING THE PERFORMANCE OF STUDENTS OF A MEDICINE COURSE

INSTRUMENTOS DE EVALUACIÓN DEL RENDIMIENTO DE ESTUDIANTES DE UN CURSO DE MEDICINA

*Pediatra, doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Do Instituto de Ciência da Saúde do curso de Medicina do Centro Uni-versitário Padre Albino (UNIFIPA). Catanduva-SP. Contato: [email protected]**Acadêmicas do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). *** Doutora em Sociologia pela Universidade Paulista Júlio de Mesquita Filho. Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). Catanduva-SP.

ResumoIntrodução: A avaliação do desempenho do estudante constitui, possivelmente, a etapa de maior relevância em todo o processo educacional, permitindo a obtenção de informações sobre o aprendizado e subsidiando a tomada de decisões que, muitas vezes, são críticas para a vida do estudante. Objetivos: Descrever os instrumentos de avaliação do desempenho estudantil e comparar resultados com propostas das Diretrizes Curriculares Nacionais. Material e Método: Estudo transversal, descritivo, realizado através da aplicação de questionário aos docentes de todas as disciplinas do ciclo básico do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), de Catanduva-SP, no período de junho a novembro/2017. As variáveis analisadas foram: disciplina, série e respostas da questão relativa aos instrumentos de avaliação de desempenho estudantil. Resultados: Os participantes representaram 64% dos docentes. Os instrumentos de avaliação citados foram: prova teórica (100%); discussão de caso clínico, seminário e prova prática em laboratório próprio (32-39%); relatório (25%); Multiple Choice Questions, portfólio e prova oral (11-17%); Objetive Structured Clinical Examination, Short Case, Extended Matching Items, Short Answer Question e Ask Oriented Assessment of Clinical Skills (1-6%). Conclusões: O processo de avaliação do desempenho do estudante está de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, mas necessita de aprimoramento. Os resultados auxiliaram na elaboração de um diagnóstico situacional e sugerem a necessidade de se ampliar os programas de desenvolvimento docente, além da premência de se implantar um sistema de avaliação programática que contribua para a efi cácia das funções de avaliação.

Palavras-chave: Educação médica. Docentes de Medicina. Questionários. Avaliação educacional.

AbstractIntroduction: A subject that has been widely discussed in recent times is the evaluation of student performance, which is possibly the most relevant stage in the whole educational process, allowing the acquisition of information about learning and subsidizing decision making that often, are critical to student life. Objectives: To describe the instruments for evaluating student performance and to compare results with proposals of the National Curricular Guidelines. Material and Method: a cross-sectional, descriptive study conducted through the application of a questionnaire to professors from all disciplines of the basic cycle of the UNIFIPA Medicine course, from Catanduva-SP, from June to November/2017. The variables analyzed were: discipline, series and answers to the question regarding the instruments of evaluation of student performance. Results: The participants represented 64% of the professors. The evaluation instruments cited were: Theoretical test (100%); Discussion of Clinical Case, Seminar and practical test in own laboratory (32-39%); Report (25%); Multiple Choice Questions, Portfolio and Oral Test (11-17%); Objective Structured Clinical Examination, Short Case, Extended Matching Items, Short Answer Question and Ask Oriented Assessment of Clinical Skills (1-6%). Conclusions: The student performance evaluation process is in accordance with the National Curriculum Guidelines, but needs improvement. The results helped in the elaboration of a situational diagnosis and suggested the need to expand the professor development programs, besides the urgency to implement a program evaluation system that contributed to the effectiveness of the evaluation functions.

Keywords: Medical education. Medical teachers. Questionnaires. Educational evaluation.

ResumenIntroducción: La evaluación del desempeño del estudiante constituye, posiblemente, la etapa de mayor relevancia en todo el proceso educativo, permitiendo la obtención de informaciones sobre el a prendizaje y subsidiando la toma de decisiones que a menudo son críticas para la vida del estudiante. Objetivos: Describir los instrumentos de evaluación del desempeño estudiantil y comparar resultados con propuestas de las Directrices Curriculares Nacionales. Material y Método: Estudio transversal, descriptivo, realizado a través de la aplicación de cuestionario a los docentes de todas las disciplinas del ciclo básico del curso de Medicina del Centro Universitario Padre Albino (UNIFIPA), de Catanduva-SP, en el período de junio a noviembre / 2017. Las variables analizadas fueron: disciplina, serie y respuestas de la cuestión relativa a los instrumentos de evaluación de desempeño estudiantil. Resultados: Los participantes representaron el 64% de los docentes. Los instrumentos de evaluación citados fueron: Prueba teórica (100%); Discusión de Caso Clínico, Seminario y Prueba práctica en laboratório propio (32-39%); Informe (25%); Multiple Choice Questions, Portafolio y Prueba oral (11-17%); Objetive Structured Clinical Examination, Short Case, Extended Matching Items, Short Answer Questione y Ask Oriented Assessmentof Clinical Skills (1-6%). Conclusiones: El proceso de evaluación del desempeño del estudiante está de acuerdo con las Directrices Curriculares Nacionales, pero necesita de perfeccionamiento. Los resultados ayudaron en la elaboración de un diagnóstico situacional y sugieren la necesidad de ampliar los programas de desarrollo docente, además de la premencia de implantar un sistema de evaluación programática que contribuya a la efi cacia de las funciones de evaluación.

Palabras clave: Educación médica. Docentes médicos. Cuestionarios. Evaluación educacional.

Terezinha Soares Biscegli*, Helene Franzin**, Marília de Jesus Nogueira**, Fernanda Yae Takaoka Muraishi**, Silvia Ibiraci de Souza Leite***

Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina192 - 199

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2018 jul.- dez.; 12(2): 193INTRODUÇÃO

Um assunto bastante discutido nos últimos

tempos é a avaliação do desempenho do estudante, que

constitui, possivelmente, a etapa de maior relevância em

todo o processo educacional, pois permite a obtenção de

informações sobre o aprendizado e subsidia a tomada

de decisões que, muitas vezes, são críticas para a vida

do estudante. Além disso, a forma e o conteúdo das

avaliações são altamente importantes, na medida em

que constituem um poderoso determinante de como os

alunos estudam e aprendem1,2.

No caso específi co do estudante de Medicina, a

avaliação reveste-se de importância especial, visto que

deve contemplar não só um conjunto de conhecimentos

fundamentais e uma diversidade de habilidades de

complexidade variável, mas também uma infi nidade

de atitudes frente a inúmeros aspectos da prática

profi ssional, que nem sempre são de fácil avaliação. É

componente essencial na sua formação, interessando

não só ao estudante, como também à escola médica, aos

sistemas de saúde e à sociedade.

Na área da Educação Médica, o foco de atenção

tem se dirigido ao que se denomina de competências

médicas. Competência é, em geral, defi nida como um

conjunto de habilidades de natureza intelectual ou

física, relevante para um determinado fi m, passível de

ser ensinada, aprendida e avaliada. O reconhecimento

progressivo desta importância tem propiciado um

grande desenvolvimento desta modalidade de avaliação

e sua evolução tem resultado em uma diversidade de

conceitos e de métodos aplicáveis a situações específi cas

na avaliação do estudante, bem como no aumento da

complexidade e da difi culdade inerente à área3-5.

A avaliação é parte integrante do processo ensino/

aprendizagem. Entretanto, necessita de preparo técnico

e adequada observação dos profi ssionais envolvidos no

contexto educacional. Dessa forma, a avaliação integral

implica em obter informações, por meio da aplicação de

métodos específi cos, que podem subsidiar a tomada de

decisões relativa ao binômio educador/educando e deve

ser entendida como “um processo de comparação entre

os dados do desempenho do estudante e os objetivos

instrucionais previamente estabelecidos”6. Entretanto,

tal intervenção deve cumprir suas três principais funções

que são: estimular o aprendizado (função formativa),

embasar a tomada de decisões (função somativa) e prover

elementos para o controle da qualidade do currículo

(função informativa)6. O instrumento de avaliação deve

possuir atributos fundamentais, tais como validade,

fi dedignidade, viabilidade, equivalência, aceitabilidade,

impacto educacional e efeito catalítico7,8.

Considerando a necessidade de atualização, em

2014, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) instituiu

Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) mais abrangentes,

assim, preconiza que a formação do graduando em

Medicina deve se desdobrar nas áreas de Atenção à

Saúde, Gestão em Saúde e Educação em Saúde e tornando

imperativa a revisão dos currículos dos cursos9.

OBJETIVO

Descrever os instrumentos de avaliação do

desempenho estudantil no curso de Medicina do Centro

Universitário Padre Albino (UNIFIPA); comparar os

resultados com as propostas das DCN; sugerir eventuais

alterações ou acréscimos para adequação das práticas

vigentes até o momento.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, descritivo,

quantitativo, no qual se utilizou um “questionário

estruturado não disfarçado” composto de dados de

identifi cação das disciplinas do curso, além de uma

questão com 16 alternativas, como instrumentos para

coleta de dados na avaliação do desempenho estudantil.

Participaram da amostra 71 docentes responsáveis

pelas disciplinas vigentes no curso de Medicina da

UNIFIPA, de Catanduva-SP10, durante o período de junho

a novembro de 2017. Através de treinamento específi co,

a coleta dos dados foi realizada pelos acadêmicos

pesquisadores e a abordagem dos entrevistados, feita

de forma individual. Após esclarecimento e autorização

através de assinatura do Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido (TCLE), os participantes foram orientados

a responder as questões assinalando uma ou mais das

opções oferecidas e os aplicadores marcavam data e local

para a devolução do questionário preenchido.

Foram sujeitos do estudo todos os docentes

responsáveis pelas 71 disciplinas do ciclo básico (1ª à 4ª

séries) vigentes no curso no período da pesquisa, assim

como, todos os sujeitos preencheram corretamente o

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194 2018 jul.- dez.; 12(2):

questionário e o retornaram dentro do prazo programado.

As variáveis analisadas foram: disciplina, série e

respostas da questão 1.

Os dados coletados foram armazenados em planilha

do Microsoft Offi ce Excel e os resultados expressos em

número e porcentagem.

O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisa/UNIFIPA sob o parecer nº 1.812.603 e CAAE

nº 61519916.9.0000.5430.

RESULTADOS

A distribuição das disciplinas de acordo com as

séries em curso compreende as 71 disciplinas do curso

de Medicina da UNIFIPA, de Catanduva-SP, no período

de junho a novembro de 2017, de acordo com as séries

do ciclo básico. Referente à primeira série, temos 25%,

14,1% para a segunda série, 32,4% para a terceira e 31%

representando a quarta-série.

A Tabela 1 apresenta a distribuição das respostas dos

docentes relativas aos instrumentos de coleta de dados

utilizados para avaliar o desempenho dos estudantes do

curso.

Tabela 1 – Distribuição das respostas dos 71 docentes responsáveis por disciplinas do curso de Medicina da UNIFIPA, de Catanduva-SP, relativas aos instrumentos de coleta de dados utilizados para avaliar o desempe-nho dos estudantes no período de junho a novembro de 2017

Instrumentos Disciplinas

N %

Prova teórica: dissertativa ou objetiva (múltipla es-colha, verdadeiro/falso)

71 100,0

Prova prática em laboratório próprio de cada dis-ciplina

23 32,4

Prova oral 8 11,3

Seminário 25 35,2

Discussão de caso clínico 28 39,4

Portfólio 8 11,3

Relatório 18 25,4

Logbook 0 0,0

MCQ (Multiple Choice Questions) 12 16,9

EMI (Extended Matching Items) 1 1,4

SAQ (Short Answer Question) 1 1,4

OSCE (Objetive Structured Clinical Examination) 4 5,6

Viva voice 0 0,0

SC (Short Case) 2 2,8

TOACS (Ask Oriented Assessment of Clinical Skills) 1 1,4

Outros (citar) 10 14,1

DISCUSSÃO

As faculdades da mantenedora Fundação Padre

Albino transformaram-se em Faculdades Integradas Padre

Albino (FIPA), em 2007, e a Faculdade de Medicina de

Catanduva (FAMECA), criada em 1969, passou a se integrar

como curso de Medicina. Em 2017, a FIPA foi credenciada

como Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA)11. O

curso de Medicina consolida-se, cada vez mais, como

um importante centro de ensino, extensão e pesquisa,

destacando-se por seu relevante papel como formador

de profi ssionais médicos para atuarem em âmbito

nacional, reformulando-se, em um processo contínuo de

aprimoramento, com ênfase na busca de soluções para as

demandas locais e regionais estratifi cadas pela situação

geográfi ca, política e econômica onde está inserido.

Atualmente, emergem tendências de reorganização

de conteúdos e de assistências que envolvem novas

premissas e conceitos, tendo-se em vista, acompanhar

o desenvolvimento célere de tecnologias de grande

impacto. Portanto, à medida que novas tecnologias

são criadas e colocadas a serviço da sociedade, estas

devem ser introduzidas na estrutura curricular do curso,

na forma de conteúdos programáticos e de novas

propostas metodológicas. Assim, busca-se contemplar

o contemporâneo e o atual ao saber de formação

consolidado, estabelecendo a interdisciplinaridade e

a inovação, no contexto pedagógico e em relação à

formação profi ssional do graduando. Entende-se que a

constante transformação e atualização de conhecimentos

universais, em sintonia com o mundo e o mercado de

trabalho, favorecem o aprendizado.

Quanto ao projeto pedagógico10, este prevê um

conjunto de conteúdos de aprendizagem articulados entre

si, que valorizam o saber científi co, técnico e humanístico.

Dessa maneira, para ministrá-los, no curso de Medicina

da UNIFIPA são capacitados e disponibilizados docentes

qualifi cados, ajustados ao Plano de Carreira implantado

pela IES em 2008.

Considerando contemplar cada momento

de formação, a organização curricular estabelece

conteúdos de aprendizagem norteados por um projeto

interdisciplinar, de tal forma estabelecida que possibilite

observar, na dimensão vertical, como esses momentos

são compreendidos, de acordo com os objetivos daquela

organização. A articulação entre os diferentes momentos

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2018 jul.- dez.; 12(2): 195e conteúdos é indicada nas ementas e na compatibilidade

entre competências, habilidades e dimensões da formação,

sempre de acordo com as DCN, de forma a garantir a

qualidade da formação profi ssional em dupla dimensão:

a formal, que diz respeito ao conteúdo específi co, e a

social, que corresponde ao envolvimento crítico com os

problemas da sociedade.

Dentro desse contexto formador, o currículo do curso

passou por uma reestruturação de sua matriz curricular

no período de 2007 a 2012, elaborada a partir das

necessidades de ajustes curriculares. Após este período,

houve necessidade de reajustes e adequações no ciclo de

formação (1ª à 4ª séries) e, portanto, foi elaborado um

novo processo de reestruturação da matriz, implantada

gradativamente, ano a ano, a partir de 2013, com a 1ª

série, e fi nalizada em 2016, com as adequações da 4ª

série, sendo que a partir de 2015 já com base nas DCN

Medicina 2014.

O Currículo Pleno, o planejamento da seriação

e das sequências, as programações e matérias de suas

disciplinas têm referência em alguns critérios categorizados

e apresentados ordenadamente com o propósito de atingir

os objetivos do curso e o perfi l do egresso. Em cada ano

foi inserido um conjunto de Módulos que por sua vez reúne

um conjunto de Disciplinas referentes às seguintes Áreas

do Conhecimento: Ciências Básicas; Ciências Humanas/

Tecnológicas e Saúde Coletiva; Clínica Médica e Saúde

Mental; Cirurgia, Materno-Infantil, Emergências Médicas/

Medicina Intensiva. As disciplinas de cada uma das áreas

mencionadas estão distribuídas de forma equitativa ao

longo do curso, nas séries respectivas, sendo que algumas

delas são ministradas progressivamente em duas ou mais

séries.

No período atual, o curso disponibiliza 71 disciplinas,

dentre elas: Anatomia; Biofísica; Biologia Celular;

Bioquímica; Farmacologia; Fisiologia; Genética; Histologia;

Embriologia; Microbiologia/Micologia; Imunologia;

Parasitologia; Patologia Geral, Especial e Clínica; Medicina

Preventiva e Social; Sociologia; Psicologia; Enfermagem;

Metodologia Científi ca; Bioestatística; Informática Médica;

Medicina Legal; Bioética; Nutrologia; Documentação

Médica; Medicina do Trabalho; Introdução à Gestão em

Saúde; Medicina de Família e Comunidade e Educação em

Saúde; Obstetrícia/Medicina Fetal; Pediatria; Puericultura;

Neuro desenvolvimento; Semiologia; Nefrologia;

Dermatologia; Reumatologia; Psiquiatria; Cardiologia;

Pneumologia; Neurologia; Endocrinologia; Hematologia;

Doenças Infecciosas; Gastroenterologia; Geriatria e

Cuidados Paliativos; Imunologia Clínica; Imagem/Medicina

Nuclear; Medicina Complementar; Bases Gerais da Cirurgia;

Cirurgia Plástica; Urologia; Ortopedia e Traumatologia;

Otorrinolaringologia; Oftalmologia; Anestesiologia;

Sistema Digestório e Anexos; Cirurgia Vascular; Cirurgia

Torácica; Oncologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço;

Neurocirurgia; Cirurgia Pediátrica; Urgência; Medicina

Intensiva.

As organizações de saúde têm se defrontado com

crescentes desafi os e difi culdades. A incorporação de

novas tecnologias demanda novos posicionamentos e a

administração de um volume muito maior de informações

que subsidiem processos decisórios. Vislumbra, portanto,

novos posicionamentos e requer o uso de tecnologias

de ponta, para atender a uma sociedade diferente -

uma “sociedade conectada”. A formação em saúde

exige, atualmente, professores mais bem preparados e

capazes de estimular alunos para o reconhecimento de

suas potencialidades, respeitando suas características

individuais.

Metodologicamente, norteia os graduandos e

professores para a utilização de conteúdos fundamentais

de diferentes áreas, abrangendo as disciplinas básicas

de laboratório e as de conteúdo social, psicológico,

antropológico, fi losófi co, ambiental, pedagógico e

metodológico. Quanto aos conteúdos específi cos, estes

são inerentes ao conhecimento e à prática, enquanto

subsídios para a formação do profi ssional que atuará no

mercado de trabalho em um mundo globalizado; nessa

especifi cidade, o aluno se prepara para melhorar seu

perfi l, iniciando atividades de prática profi ssional e/ou

estágios já na 1ª série.

Avaliação do desempenho do estudante

A avaliação do estudante de Medicina compreende

a obtenção de informações sobre os domínios trabalhados

na sua educação e treinamento para cumprir diferentes

fi nalidades. Para o perfeito entendimento deste conceito

demanda considerar quais são estes domínios (o quê), a

natureza, as indicações, as vantagens e as desvantagens

dos diferentes métodos e técnicas existentes (como), o

ambiente ou contexto em que se dá a avaliação (onde),

Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina 192-199

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196 2018 jul.- dez.; 12(2):

as instâncias envolvidas (quem), os momentos específi cos

(quando) e as fi nalidades a que serve (para quê)6.

A educação do acadêmico constitui um processo

complexo, que caminha em paralelo ao seu treinamento

para o exercício de uma profi ssão. Requer a realização

de diferentes atividades discentes articuladas e planejadas

em função de desfechos esperados, na aquisição de

conhecimentos, habilidades e competências (o currículo).

Na avaliação tradicional, o estudante é examinado

em cada unidade curricular (disciplina, módulo, estágio) e,

frequentemente, a comunicação entre elas é precária. Um

mesmo método de avaliação, não raramente, é empregado

diferentemente por distintas unidades. As informações

são analisadas por critérios diferentes, e a integração

entre os dados das várias áreas é também escassa. Ao

contrário, na avaliação programática, a responsabilidade

pelas diferentes avaliações do estudante, em momentos

variados, é da escola médica, como instituição, sendo

planejada e executada por instância central, contando

com a contribuição das várias unidades curriculares. Esta

instância deve cuidar para que os vários métodos de

avaliação do estudante sejam empregados de maneira

uniforme, nas diferentes áreas de formação, nas melhores

condições possíveis.

A educação e o treinamento do estudante de

Medicina compõem um programa formativo, sendo assim

também pertinente conceber a avaliação do estudante

como tendo uma dimensão programática, que ao contrário

do que ocorre na avaliação tradicional, a responsabilidade

pelas diferentes avaliações do estudante, em momentos

variados, é da escola médica, como instituição, sendo

planejada e executada por instância central, contando

com a contribuição das várias unidades curriculares. Esta

instância deve cuidar para que os vários métodos de

avaliação do estudante sejam empregados de maneira

uniforme, nas diferentes áreas de formação, nas melhores

condições possíveis.

Deste modo, pode-se conceituar a avaliação

programática como um conjunto de ações diversifi cadas,

mas coordenadas, que se desenvolvem em diferentes

momentos, compondo um verdadeiro programa, visando

ao cumprimento, da melhor forma possível, das várias

funções da avaliação do estudante. Em outras palavras,

pode-se entender a avaliação programática do estudante

como uma forma inovadora de aplicar conceitos

tradicionais, para que as funções da avaliação (formativa,

somativa e informativa ou diagnóstica) sejam cumpridas

com efi cácia6.

Dada a complexidade da avaliação programática,

sua implementação e execução demandam a confi guração

de um sistema de avaliação programática, que pode então

ser conceituado como um conjunto de recursos materiais

e humanos, instrumentais e operacionais, que permitam

que a avaliação programática do estudante se desenvolva

de forma satisfatória e no nível desejado de qualidade.

Constitui incumbência da escola médica, o currículo

integrado, de caráter interdisciplinar, de forma a propiciar

a formação de médicos críticos e capazes de atuarem na

atenção integral à saúde. Assim, o currículo médico deve

ser adequado à visão moderna de saúde tendo em vista

formar profi ssionais comprometidos com a realidade social

do país. De forma indissociável, inclui o processo educativo

acadêmico, cultural e comunitário relacionando o ensino

à pesquisa e à extensão. Envolve, portanto, refl exão

acerca da transformação das relações entre ensino, os

serviços de saúde e as comunidades e, para tanto, deve

investir na estruturação de um programa coerente de

avaliação, que apresente os atributos de centralização,

institucionalização, uniformização, integração, abrangência

e continuidade. A adoção da avaliação programática

permite minimizar várias das distorções associadas às

práticas tradicionais, dar destaque à avaliação para o

aprendizado e valorizar variáveis de natureza qualitativa,

como o juízo de supervisores qualifi cados, na tomada

das decisões próprias da função somativa. A implantação

de sistemas de avaliação programática pode encontrar

desafi os e difi culdades previsíveis, mas tem representado

um progresso nas práticas institucionais de avaliação do

aluno. O bom funcionamento da avaliação programática

depende criticamente da participação dos estudantes e dos

professores, que devem estar convencidos das vantagens

deste esquema. Da mesma forma que se supõe que o

estudante tenha autonomia e assuma responsabilidades e

papel ativo em seu aprendizado, espera-se que demonstre

engajamento efetivo na avaliação programática6.

Na perspectiva de promover uma visão ampliada

dos métodos avaliativos que vêm sendo utilizados na

educação em saúde, Sampaio et al.12, em estudo de

revisão, realizam uma descrição geral e diversifi cada de

vários métodos de avaliação. Nele, os autores comentam

Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina192 - 199

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2018 jul.- dez.; 12(2): 197que como não existe um único método de avaliação

capaz de atingir “conhecimentos, habilidades e atitudes”,

apenas a combinação de métodos é capaz de produzir os

resultados esperados da avaliação e que as avaliações

clínicas estruturadas surgiram como alternativa avaliativa,

baseadas na observação “do fazer ou do demonstrar como

se faz”, instrumentos que auxiliam o examinador a focar

a atenção no desempenho de habilidades específi cas,

objetivando a avaliação.

Importante também no processo é a autoavaliação

crítico-refl exiva do estudante de Medicina. Um estudo

sobre a implantação do portfólio como instrumento

avaliador concluiu que, inicialmente, a inexperiência dos

professores com a metodologia ativa e com utilização do

portfólio contribuiu para que houvesse certa rejeição ao

processo avaliativo, tornando este instrumento enfadonho

e pouco produtivo. À medida que alunos e professores

foram adquirindo experiência com o método e as alterações

foram realizadas, no sentido de tornar o portfólio mais

refl exivo, houve uma melhora nas opiniões e aceitação do

instrumento de avaliação13.

Muito se tem feito para desenvolver métodos que

avaliem de forma confi ável a profi ciência em habilidade

clínica dos alunos de graduação médica. Há fortes

evidências de que a avaliação global pode ser uma

alternativa viável e confi ável na avaliação de estudantes

de graduação no ambiente clínico. Usando este método,

os docentes podem expressar sua percepção global dos

alunos, de forma mais objetiva, em relação a duas esferas

distintas da competência: técnica (contendo itens como

história clínica, exame físico, conhecimento médico,

julgamento clínico, solução de problemas e hábitos no

trabalho) e humanista (incluindo comunicação com

pacientes e familiares, respeito, habilidades refl exivas,

sensibilidade ao contexto e trabalho em equipe)14.

Norcini e McKinley15 comentam que os métodos

baseados em trabalho, tais como o mCEX (Mini-clinical

evaluation exercise), a Observação direta das competências

processuais, a Discussão de casos e o mPAT (Mini-peer

assessment tool) são adequados para avaliar o aprendizado

em programas de treinamento médico, pois proveem

desafi os realistas e oferecem oportunidade de feedback;

entretanto, ressaltam que em todos eles a supervisão de

equivalência é necessária.

Outros autores também concordam que a avaliação

deve ser adaptada ao contexto no qual será usada e voltada

para os objetivos previamente traçados. Uma abordagem

holística, que integre métodos, permitirá a avaliação de

conhecimento, compreensão, solução de problemas,

habilidades técnicas, atitude e ética. Neste contexto, a

avaliação por observação estruturada do desempenho

clínico na forma de mini-CEX, OSLER (Objective Structured

Long Examination Record), OSCE, casos curtos e longos

têm um lugar destacado, por abrangerem aspectos

técnicos, éticos e relacionais. As difi culdades operacionais

e a habilitação do corpo docente para trabalhar com os

diferentes instrumentos devem ser discutidas no processo

de decisão sobre os métodos de avaliação das habilidades

clínicas a serem empregadas, com destaque para a etapa

de aprendizado em serviço, o internato16.

Estudo desenvolvido em uma escola médica brasileira

tradicional, cujo objetivo foi descrever as percepções

de estudantes e professores frente à introdução do

instrumento de avaliação “OSCE”, concluiu que, junto

com a falta de recursos e a complexidade organizacional,

particularidades de ordem cultural e a ausência de um

ambiente educacional mais favorável podem difi cultar o

aperfeiçoamento dos métodos de avaliação nas escolas

médicas tradicionais17.

Considerando agora a Avaliação do Desempenho

Escolar deste curso de Medicina, vale lembrar que segue

as normas gerais estabelecidas no Regimento da UNIFIPA

e tem caráter disciplinar no ciclo básico (1ª à 4ª série).

As avaliações baseiam-se, em sua maioria, em

conhecimentos, embora poucas disciplinas avaliem

também habilidades e atitudes, que são rotina na

avaliação do ciclo do internato (5ª e 6ª séries). Os

docentes utilizam-se de diversos instrumentos de coleta

de dados para avaliar a aprendizagem dos alunos, tendo

liberdade de escolher um ou mais instrumentos, de acordo

com conteúdo programático da disciplina, da série, do tipo

de atividade (prática, teórico-prática ou teórica) e dos

cenários de ensino, sendo que os mesmos podem ser

usados em sua forma original ou através de adaptações

dos já consagrados.

Dos instrumentos para avaliação do estudante

rastreados no presente investigação, a prova teórica,

seja na modalidade teste ou dissertativa, foi unanimidade

entre todos os docentes responsáveis pelas 71 disciplinas.

Outros instrumentos citados, em ordem decrescente de

Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina 192-199

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198 2018 jul.- dez.; 12(2):

frequência foram: discussão de caso clínico, seminário e

prova prática em laboratório próprio (32-39%); relatório

(25%); MCQ, portfólio e prova oral (11-17%); OSCE, SC,

EMI, SAQ e TOACS (1-6%). O Logbook e o Viva voice não

foram referidos no ciclo básico, embora o curso os utilize

na avaliação do ciclo do internato10. Sendo assim, pode-

se considerar que também o processo avaliativo do curso

cumpre os preceitos básicos desta legislação, pois nos

mais variados momentos, nas mais diversas formas e com

mais ou menos frequência, avalia-se, de acordo com o

currículo defi nido, os conhecimentos, as habilidades e as

atitudes dos futuros médicos.

Baseado nos resultados apresentados e discutidos,

pode-se considerar que o curso de Medicina em

investigação está de acordo com o Cap. III, Artigos 31

e 32 das DCN para o curso de graduação em Medicina9,

que dispõem, respectivamente: “As avaliações dos

estudantes basear-se-ão em conhecimentos, habilidades,

atitudes e conteúdos curriculares desenvolvidos” e “O

Curso de Graduação em Medicina deverá utilizar [...] e

critérios para acompanhamento e avaliação do processo

ensino-aprendizagem e do próprio curso, bem como

desenvolver instrumentos que verifi quem a estrutura, os

processos e os resultados, em consonância com o Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e

com a dinâmica curricular defi nidos pela IES em que for

implantado e desenvolvido”.

Entretanto, vale a pena ressaltar que os 71 docentes

responsáveis por disciplina (64% do total de 111, dos quais

88 médicos) não representavam a totalidade do quadro de

professores atuantes no curso. Convém lembrar também

que o curso, apesar de vir investindo cada vez mais em

programas de capacitação de docentes relativos à nova

concepção pedagógica crítico-refl exiva, até o presente

momento só conseguiu qualifi car na área de educação

em saúde 40% deles. Outro aspecto a ser destacado é

que embora tenham ocorrido avanços e melhorias nos

processos de ensinagem e avaliação, muitos aspectos ainda

necessitam de melhoria, tais como o processo avaliativo,

que ainda é realizado da forma tradicional, por disciplinas,

módulos ou setores de estágio, sem estruturação ou

sistematização, como é o caso da avaliação programática.

CONCLUSÃO

Destarte, o presente estudo permitiu concluir que

o processo de avaliação do desempenho do estudante

do curso de Medicina da UNIFIPA, embora esteja de

acordo com as preconizações das DCN, necessita de

aprimoramento. Os resultados auxiliaram na elaboração de

um diagnóstico situacional destes processos institucionais

e sugerema necessidade de se ampliar os programas

de desenvolvimento docente de forma a capacitar a

totalidade do seu quadro de professores, proporcionando-

lhes segurança em escolher e empregar os mais variados

instrumentos de avaliação, além da premência de se

implantar um sistema de avaliação programática que

contribua para a efi cácia das funções de avaliação.

Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina192 - 199

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Envio: 12/03/2018 Aceite: 28/05/2018

Instrumentos de avaliação do desempenho de estudantes de um curso de medicina 192-199

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200 2018 jul.- dez.; 12(2):

EXPERIÊNCIA DE ACADÊMICOS DE MEDICINA NA PREVENÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

EXPERIENCE OF ACADEMICS OF MEDICINE IN THE PREVENTION OF SEXUALLY TRANSMITTED INFECTIONS

EXPERIENCIA DE ACADÉMICOS DE MEDICINA EN LA PREVENCIÓN DE INFECCIONES SEXUALMENTE TRANSMISIBLES

*Acadêmicos do curso de Medicina da FACERES, São José do Rio Preto-SP. **Enfermeira, Mestre em Promoção da Saúde, docente do curso de Medicina da FACERES, São José do Rio Preto - SP. Contato: [email protected]*** Psicóloga, Coordenadora Geral do Projeto Multiplicadores de Prevenção (UNIVERSITÁRIOS) da Secretaria de Saúde, São José do Rio Preto - SP.

ResumoIntrodução: Acadêmicos de Medicina, multiplicadores de prevenção em saúde, em parceria com a Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto-SP, realizaram ação com alunos de uma escola do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com faixa etária de 16 a 60 anos por meio do Programa Universitários no município em 2017. Objetivo: Aproximar os acadêmicos de Medicina da comunidade, ampliar a prevenção e incentivar a realização do diagnóstico das Infecções Sexuamente Transmissíveis (IST), HIV, hepatites virais e transmissão vertical da sífi lis para alunos do EJA. Método: Aplicação de uma dinâmica denominada “Teia de Transmissão” pela qual os multiplicadores incentivam os envolvidos a participarem ativamente do processo, possibilitando uma refl exão individual e coletiva sobre as temáticas, identifi cação dos riscos e vulnerabilidades com a proposta de gestão de riscos na vida de cada um e divulgação das ações públicas disponíveis para aconselhamento, diagnóstico e tratamento destas infecções no município. Resultados: Apesar das várias campanhas e ações governamentais sobre a temática, parcelas da população do município, como alunos do EJA, ainda necessitam de orientações não somente sobre IST, mas também sobre os serviços de saúde do município que efetuam ações de prevenção, diagnóstico e tratamento. Conclusão: A formação de universitários multiplicadores de prevenção perfaz uma alternativa efi caz para contribuir com a diminuição das vulnerabilidades em saúde da população e ainda contribui na formação profi ssional destes universitários.

Palavras-chave: Promoção da saúde. Multiplicadores de prevenção. Infecções sexualmente transmissíveis.

AbstractIntroduction: Medical students are considered multipliers of health prevention and with Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto-SP partnership, they made an activity with students of a school of the Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), with ages between 16 and 60 years old trough the University Program in the county in 2017. Objetive: To bring medical students closer to the community, expand prevention education and encourage the diagnosis of Sexual Trasmissible Infections (STI), HIV, Viral Hepatitis and vertical trasmission of Sifi lis for EJA students. Method: Application of a dynamic method called “Transmission Web” where by the multipliers encourage those involved to participate actively in the process, allowing individual and collective refl ection on the issues, identifying the risks and vulnerabilities with the proposed risk management in the life of each and dissemination of public actions available for counseling, diagnosis and treatment of these infections in the county. Results: In spite of the various government campaigns and actions on the subject, some parts of the population of the county, like EJA´s students, still need information not only about the infection but also about the county health services that perform these actions of prevention, diagnosis and treatment. Conclusion: The training of university multipliers of prevention is an effective alternative to contribute to the reduction of health vulnerabilities of the population and also contributes to the professional training of these university students.

Keywords: Health promotion. Prevention multipliers. Sexually transmitted infections.

ResumenIntroducción: Los académicos de medicina multiplicadores de prevención en salud en asociación con la Secretaría de Salud de São José do Rio Preto-SP realizaron acción con alumnos de una escuela del Programa de Educación de Jóvenes y adultos (EJA), con un grupo de edad de 16 a 60 años a través del Programa Universitario en el municipio en 2017. Objetivo: Aproximar a los académicos de medicina de la comunidad, ampliar la prevención e incentivar la realización del diagnóstico de las Infecciones de Transmiciones sexual (IST), VIH, hepatitis virales y transmisión vertical de la sífi lis para alumnos del EJA. Material y Método: Aplicación de una dinámica denominada "Red de Transmisión" por la cual los multiplicadores alientan a los involucrados a participar activamente en el proceso, posibilitando una refl exión individual y colectiva sobre las temáticas, identifi cación de los riesgos y vulnerabilidades con la propuesta de gestión de riesgos en la propuesta vida de cada uno y divulgación de las acciones públicas disponibles para asesoramiento, diagnóstico y tratamiento de estas infecciones en el municipio. Resultados: A pesar de las diversas campañas y acciones gubernamentales sobre la temática, parcelas de la población del municipio, como alumnos del EJA, todavía necesitan orientaciones no sólo sobre IST, sino también sobre los servicios de salud del municipio que efectúan acciones de prevención, diagnóstico y tratamiento. Conclusión: La formación de universitarios multiplicadores de prevención constituye una alternativa efi caz para contribuir con la disminución de las vulnerabilidades en salud de lapoblación y aún contribuye en la formación profesional de estos universitarios.

Palabras clave: Promoción de la salud. Multiplicadores de prevenção. Infecciones de transmisión sexual.

Ana Cristyna Saad Murad*, Carolina Vecchio Ardeu*, Flávio Pereira dos Santos Júnior*, Fernanda Aparecida Novelli Sanfelice**, Renata Galli Barbosa***

Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis200 - 203

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2018 jul.- dez.; 12(2): 201INTRODUÇÃO

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)

são causadas por mais de 30 agentes etiológicos

(vírus, bactérias, fungos e protozoários) e transmitidas,

principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal,

anal e de forma eventual por via sanguínea) sem o uso de

camisinha masculina ou feminina, com uma pessoa que

esteja infectada. A transmissão de uma IST pode acontecer,

ainda, da mãe para a criança durante a gestação, o parto

ou a amamentação1.

No Brasil, a maioria das ISTs tem acometido a

população de jovens e adolescentes, destacando-se a

presença da sífi lis em gestantes, do Papilomavírus Humano

(HPV) e do Vírus da Imunodefi ciência Humana (HIV)2.

Em 2017 foram notifi cados 1.187 casos de IST em

São José do Rio Preto-SP. Até outubro de 2017 já havia

572 (48,2%) notifi cações de sífi lis3.

Em relação ao HIV/Aids no município, no ano de 2007

o coefi ciente de incidência de HIV foi de 22,8 casos/100.000

habitantes e de Aids foi de 25,1 casos/100.000 habitantes.

Até outubro de 2017 o coefi ciente de incidência de HIV

foi de 30,2 casos/100.000 habitantes e de Aids foi 11,8

casos/100.000 habitantes. Durante esses dez anos

observou-se um aumento de 1,8 vezes casos de HIV e 0,5

vezes casos de Aids notifi cados no município, resultado

da intensifi cação do diagnóstico nas unidades de Atenção

Básica e Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA),

com a estratégia do “Fique Sabendo” sendo realizada

rotineiramente nos serviços de saúde. A faixa etária mais

atingida da população é de 20 a 39 anos (67,5%) para o

HIV, com aumento de três vezes mais casos nesta faixa

etária em 2017 se comparado a 2007, principalmente

entre os homens. Já em relação a Aids, o predomínio dos

casos ocorre entre indivíduos de 30 a 49 anos (59,3%)3.

A exposição sexual é predominante para o HIV e

Aids, representando respectivamente 90,6% e 92,3%

do total de casos, sendo a categoria heterossexual mais

atingida3.

O município apresentou até outubro de 2017, 11.554

casos notifi cados de Hepatite B e C. Quando aplicado o

estudo de prevalência estimada segundo o inquérito do

Ministério da Saúde estima-se o número de portadores

de Hepatite B encontrados no município correspondendo

a 38,1% e 42,6% para Hepatite C. Sobre a Hepatite

C, estratégias de ampliação do acesso ao diagnóstico

possibilitam alto coefi ciente de detecção de caso. Vale

ressaltar que 47% das notifi cações ocorreram em pessoas

com faixa etária entre 40 a 59 anos3.

Não menos importante, é válido ressaltar a

existência de grupos específi cos como gays, profi ssionais

do sexo, travestis/transexuais e pessoas que usam drogas

– denominadas de populações-chaves, que requerem

estratégias mais específi cas4. Dessa forma, é muito

importante considerar os contextos de vulnerabilidade

da população e a necessidade de ações contínuas para

diminuir os índices entre essas pessoas. Nesse sentido,

o desenvolvimento do Projeto Formação de Universitários

Multiplicadores se mostra efi caz e dinâmico não somente no

âmbito da instituição universitária, mas pela abrangência

dos atores envolvidos na comunidade escolar.

O projeto de extensão, além da aproximação com a

comunidade universitária e escolar, identifi cou o interesse

dos jovens, nem sempre explícito, a respeito dos temas,

assim como a necessidade de discussão e elaboração de

estratégias efi cazes para responder, orientar e acompanhar

nesta fase de descobertas e experimentações5.

O papel das escolas, serviços de saúde e

universidades deve ser traduzido em ações conjuntas que

subsidiem novas práticas, preencham lacunas que por

ventura existam, reduzam a vulnerabilidade no campo

da saúde e previnam num clima de diálogo, trocas e de

apoios, pois o aprendizado é um encontro de afetividade,

de saberes e de doação5.

Ao versar sobre a importância da instituição de

novos paradigmas na prevenção do HIV/Aids (que pode

ser extrapolado para as outras IST e hepatites virais), a

gestão de risco tem se constituído como nova perspectiva

na história da prevenção. Aliado a essa premissa, são

necessárias novas estratégias de prevenção que busquem

considerar, de fato, a importância da autonomia dos

sujeitos em relação aos seus cuidados com a saúde e o

desenho de novas práticas de intervenção que garantam a

legitimidade desta autonomia6.

O objetivo do presente estudo é descrever o

trabalho desenvolvido pelos acadêmicos de Medicina,

multiplicadores de prevenção de IST, realizado com alunos

de uma Escola do Programa de Educação de Jovens e

Adultos (EJA), na faixa etária de 16 a 60 anos no ano de

2017.

Este trabalho é realizado através de uma parceria

Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis 200 - 203

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202 2018 jul.- dez.; 12(2):

entre o curso de Medicina da FACERES e o Programa

Universitários da Secretaria de Saúde do município. Para

realização das ações em escolas estes alunos fi zeram

capacitação permanente com técnicos do PM DST/Aids e

suas ações foram acompanhadas e supervisionadas por

estes técnicos.

Contribuir com a melhoria da qualidade de saúde da

população é uma das responsabilidades sociais dos cursos

universitários em sua comunidade7. No caso de alunos

de Medicina, esta aproximação com as necessidades da

comunidade é de extrema importância, desde os anos

iniciais do curso, para uma formação humanizada e

alinhada com as necessidades da população e das políticas

públicas de saúde vigentes.

A metodologia selecionada para o desenvolvimento

desta ação se deu através da aplicação de uma dinâmica

denominada “Teia de Transmissão”. Esta dinâmica é

aplicada a partir da escolha aleatória de nove alunos em

cada sala de aula com a distribuição de nove crachás com

cores diferentes para cada um. Neste tipo de dinâmica,

após a colocação dos crachás, os alunos recebem um

barbante que devem entregar para outro aluno até que

seforme uma teia (rede) na qual todos estão conectados.

Com a teia formada, os alunos multiplicadores

(que são os facilitadores) da dinâmica pedem para os

participantes imaginarem que estão em algum lugar (uma

festa ou uma situação qualquer) onde sairão com a pessoa

a quem passaram o barbante. O restante dos alunos e

o professor da sala sentam-se ao redor do grupo que

está realizando a dinâmica e também participam. Cada

um é representado por uma cor. Cada cor representa

uma situação: verde: tem hepatite B; azul: tem hepatite

C; roxo: está com herpes genital e condiloma; rosa: está

usando preservativo feminino; amarelo: não apresenta

nenhum tipo de DST/HIV/hepatites e não está usando

preservativo; preto: está gestante e não sabe; vermelho:

está usando preservativo masculino; laranja: tem HIV;

branco: está com sífi lis.

O primeiro aluno que pegou o barbante diz em voz

alta qual a cor de seu crachá e com quem ele saiu (qual a

cor do crachá da pessoa que ele saiu). Cada vez que um

aluno diz com quem saiu o facilitador revela o signifi cado

da cor e pede para os alunos que estão dentro da dinâmica

e os que estão sentados ao redor do grupo revelarem o

que sabem sobre aquela IST.

Os facilitadores incentivam os envolvidos a

participarem ativamente do processo possibilitando uma

refl exão individual e coletiva sobre as temáticas, de maneira

a identifi car formas de transmissão, prevenção, locais de

aconselhamento e testagem, riscos e vulnerabilidades

envolvidas naquela situação, e assim segue a dinâmica até

o último participante que é a última ponta do barbante.

Os facilitadores têm o papel de encorajar o grupo

a falar e completar as informações necessárias que

complementem as respostas. Ao fi nal, discute-se que a

cadeia de transmissão pode ser invisível, que nem sempre

é possível saber qual o status sorológico e, assim sendo,

não é sempre que visualizamos nas relações sexuais as

IST que uma pessoa pode ter. Não menos importante,

são expostos: a importância da imunização para Hepatite

B, a gravidade da sífi lis congênita, a importância da

responsabilidade compartilhada na vida sexual saudável,

quais locais do município oferecem aconselhamento,

diagnóstico e tratamento para estas infecções.

No presente estudo, os acadêmicos de Medicina

realizaram a dinâmica em cinco salas de aula, com alunos

do Programa EJA, em período noturno, que cursavam do

7º ao 9º ano do ensino fundamental II, totalizando 83

alunos com faixa etária entre 18 e 70 anos, com média de

16 alunos por sala.

Os resultados mostraram que apesar das várias

campanhas e ações governamentais sobre estas temáticas,

parcelas da população do município, como alunos do EJA,

ainda necessitam de orientações não somente sobre

estas infecções, mas também sobre os serviços de saúde

do município que realizam orientações, diagnóstico e

tratamento das IST/HIV/Hepatites B e C, assim como

novas tecnologias como Profi laxia Pós-exposição (PEP) e

Profi laxia Pré-Exposição (PrEP)8,9. Além disso, vale ressaltar

que esta escola, localizada em um território de grande

vulnerabilidade (segundo os estudos de vulnerabilidade

social e de saúde do próprio município), não contava com

nenhuma outra programação para discussão deste tema

no ano desta intervenção, o que mostra a importância do

trabalho destes universitários nestas ações, com o objetivo

de diminuir os riscos e vulnerabilidades dos alunos em

relação às infecções.

Mesmo que o enfoque principal deste estudo seja

sobre a atuação dos acadêmicos de Medicina como

multiplicadores de prevenção em escolas, e não contar

Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis200 - 203

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2018 jul.- dez.; 12(2): 203com dados de um inquérito ou aplicação de questionário

para avaliar o nível de conhecimento sobre IST/HIV/

Hepatites B e C, práticas preventivas e uso dos serviços de

aconselhamento, testagem e tratamento destas infecções

pelos alunos do EJA, observou-se que mais de 80% dos

alunos mostraram conhecimento insufi ciente sobre a

maioria das IST e Hepatites B e C para se prevenirem e

reconhecerem estar ou não sob uma situação de risco.

Sobre as formas de transmissão e prevenção do HIV

observou-se maior conhecimento. O desconhecimento

sobre as formas de transmissão das Hepatites B e C foi

signifi cativamente maior do que em relação às outras IST

e HIV.

Em relação à sífi lis, a maioria dos participantes

não soube dizer sobre a importância desta infecção em

suas próprias vidas e a gravidade da transmissão vertical

da mesma. Grande parte dos participantes referiu a

inexistência de sequer uma oportunidade na vida para

discussão sobre o tema abordado de forma ampla para

sanar suas dúvidas.

O envolvimento dos acadêmicos multiplicadores de

prevenção com a comunidade traz novos conhecimentos no

seu processo de formação, seja sob a ótica de tecnologias

de promoção de saúde, seja para o desenvolvimento de

novas habilidades profi ssionais de promoção de saúde.

O contato com a comunidade possibilita refl exões

nesta formação profi ssional que vai além do conhecimento

teórico sobre os temas que abordam, mas também em

relação aos seus valores, estigmas, preconceitos e atitudes

como uma oportunidade para refl exão e avaliação frente

ao seu papel nas políticas públicas vigentes, nos rumos

de sua formação e necessidades de saúde da população.

Os resultados apresentados também mostram que

apesar das várias campanhas e ações governamentais

sobre estas temáticas, algumas parcelas da população

do município, como alunos do EJA, ainda necessitam

de orientações não somente sobre estas infecções, mas

também sobre os serviços de saúde do município que

realizam orientações, diagnóstico e tratamento das IST/

HIV/Hepatites B e C.

É possível concluir que o estabelecimento de

parceria entre o curso de Medicina e a Secretaria de

Saúde do município contribuiu para enriquecimento no

conhecimento concernente ao processo de formação

médica, tanto no que se refere aos aspectos teóricos e

metodológicos, quanto no desenvolvimento de novas

habilidades profi ssionais nas ações de promoção à

saúde. Além disso, foi possível refl etir sobre estigmas,

preconceitos, função social dos acadêmicos de Medicina

frente às necessidades de saúde da comunidade, assim

como contribuir para a empoderamento da população

quanto a diminuição dos riscos e vulnerabilidades frente

às IST/HIV/Aids/Hepatites virais.

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Envio: 16/06/2018 Aceite: 28/07/2018

Experiência de acadêmicos de medicina na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis 200 - 203

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204 2018 jul.- dez.; 12(2):

GESTÃO DA DEMANDA EM SAÚDE: QUALIDADE DO SERVIÇO OFERECIDO NA VISÃO DOS USUÁRIOS

DEMAND MANAGEMENT IN HEALTH CARE: QUALITY OF SERVICE OFFERED ON THE VISION OF USERS

LA GESTIÓN DE LA DEMANDA EN EL CUIDADO DE LA SALUD: LA CALIDAD DE LOS SERVICIOS OFRECIDOS EN LA VISIÓN DE LOS USUARIOS

*Acadêmicas do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.** Acadêmica do curso de Administração do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.***Doutora em Ciências da Saúde, coordenadora e docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). Contato: [email protected]****Mestre em Engenharia de Produção, docente dos cursos de Administração, Enfermagem e Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA). Catanduva-SP. Contato: [email protected]

ResumoIntrodução: Unidades de Pronto Atendimento (UPA) atendem diuturnamente conforme a Política Nacional de Urgência e Emergência, objetivando integrar a atenção às urgências. No atual ambiente econômico, com sérias restrições orçamentárias, o controle de recursos escassos aliado à efi ciência em sua utilização se torna crítico. Assim, é essencial identifi car o gargalo do fl uxo de atendimento para, então, defi nir o modelo de gestão mais adequado e gerenciar as restrições. Objetivo: Descrever os processos assistenciais numa UPA, encontrar o gargalo e verifi car se este exerce infl uência/signifi cância na satisfação dos usuários quanto à qualidade do serviço. Material e Método: Pesquisa, observacional, descritiva, sobre uma situação real e cotidiana, onde se aplicou um questionário para avaliar a satisfação do usuário associada à sua percepção em comparação ao gargalo identifi cado na UPA. Resultados: Por meio da cronometragem do tempo de atendimento destes processos, foi identifi cado o gargalo na etapa de atendimento médico, gerando fi la de espera e descontentamento. As quatro etapas de atendimento: recepção, classifi cação de risco, consultório médico e assistência de enfermagem, após a avaliação obtiveram nota 5 de mediana referente ao grau de satisfação do cliente, enquanto, na etapa de atendimento médico foi obtida a menor média. Conclusão: O menor índice de satisfação encontrado corresponde ao gargalo obtido por meio do uso da teoria das restrições (Theory of Constraints- TOC), indicando uma relação direta entre a percepção do usuário e a etapa mais frágil. Conclui-se que o gargalo exerce infl uência/signifi cância na percepção da qualidade através da satisfação do usuário.

Palavras-chave: Enfermagem. Gestão em saúde. Qualidade da assistência à saúde

AbstractIntroduction: Emergency Care Units (UPA) attend daily according to the National Emergency and Urgency Policy, aiming to integrate attention to urgencies services. In the current economic environment, with serious budgetary constraints, the control of scarce resources in association with effi ciency in its use becomes critical. Thus, it is essential to identify the “bottleneck” in the service fl ow in order to defi ne the most appropriate management model and manage constraints. Objective: To describe the UPA care processes to fi nd the “bottleneck” and to verify if it exerts infl uence / signifi cance on the satisfaction of the users regarding the service quality. Material and Method: Descriptive, observational research on a real and everyday situation, where a questionnaire was applied to evaluate the user satisfaction associated with their perception in comparison to the “bottleneck” identifi ed in the UPA. Results: Through the timing of these processes, the “bottleneck” was identifi ed in the medical care stage, generating queue and dissatisfaction. The four stages of care: reception, risk classifi cation, physician's offi ce and nursing care, obtained 5 as a median score, referring to the degree of user satisfaction, while the lowest average was obtained in the medical care stage. Conclusion: The lowest satisfaction index found corresponds to the “bottleneck” obtained through the use of constraint theory (Theory of Constraints - TOC), indicating a direct relationship between user perception and the most fragile stage. It is concluded that the “bottleneck” exerts infl uence / signifi cance on the perception of quality through user satisfaction.

Keywords: Nursing. Health management. Quality of health care.

ResumenIntroducción: Unidades de Pronto Atención (UPA) atienden diuturnamente conforme a la Política Nacional de Urgencia y Emergencia, con el objetivo de integrar la atención a las urgencias. En el actual ambiente económico, con serias restricciones presupuestarias, el control de recursos escasos aliado a la efi ciencia en su utilización se vuelve crítico. Así, es esencial identifi car el cuello de botella de fl ujo de atención para, entonces, defi nir el modelo de gestión más adecuado y gestionar las restricciones. Objetivo: Describir los procesos asistenciales en una UPA, encontrar el cuello de botella y verifi car si éste ejerce infl uencia / signifi cancia en la satisfacción de los usuarios en cuanto a la calidad del servicio. Material y Método: Investigación, observacional, descriptiva, sobre una situación real y cotidiana, donde se aplicó un cuestionario para evaluar la satisfacción del usuario asociada a su percepción en comparación al cuello de botella identifi cado en la UPA. Resultados: A través del cronometraje del tiempo de atención de estos procesos, se identifi có el cuello en la etapa de atención médica, generando fi la de espera y descontento. Las cuatro etapas de atención: recepción, clasifi cación de riesgo, consultorio médico y asistencia de enfermería, después de la evaluación obtuvieron nota 5 de mediana referente al grado de satisfacción del cliente, mientras que en la etapa de atención médica fue obtenida la menor media. Conclusión: El menor índice de satisfacción encontrado corresponde al cuello obtenido por medio del uso de la teoría de las restricciones (Theory of Constraints - TOC), indicando una relación directa entre la percepción del usuario y la etapa más frágil. Se concluye que el cuello de botella ejerce infl uencia / signifi cancia en la percepción de la calidad a través de la satisfacción del usuario.

Palabras clave: Enfermería. Gestión de la salud. Calidad de la asistencia sanitaria.

Tatiane Veteri Coneglian*, Adriani Izabel de Souza Moraes*, Gabriela Cristina Dias*, Ananda Carolina Pereira Araujo**, Maria Claudia Parro***, Nilson Mozas Olivares****

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2018 jul.- dez.; 12(2): 205Gestão da demanda em saúde: qualidade do serviço oferecido na visão dos usuários

INTRODUÇÃO

Para o Ministério da Saúde¹, o Sistema Único de

Saúde (SUS) está inserido como um dos maiores sistemas

de saúde na escala global, criado em 1988 pela Constituição

Federal Brasileira, oferecendo atendimento gratuito para

os mais diversos serviços de saúde e abrangendo toda a

população do Brasil.

Lançadas como parte da Política Nacional de Urgência

e Emergência (2003), as Unidades de Pronto Atendimento

(UPA 24 horas) funcionam como unidades intermediárias

entre as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e os hospitais

e ajudam a remover a sobrecarga dos prontos-socorros,

ampliando e melhorando o acesso dos brasileiros aos

serviços de urgência².

Essas unidades atendem a casos de saúde de

atenção médica intermediária como problemas de pressão,

febre alta, fraturas, cortes e infartos, evitando que estes

pacientes sejam sempre encaminhados aos prontos-

socorros dos hospitais³.

No sistema de saúde brasileiro, as Unidades de

Emergência (UE) são inseridas como o local onde a

população recorre a fi m de que as suas necessidades,

emergenciais ou não, de saúde possam ser assistidas.

Em função desse cenário, elas têm atendido acima da sua

capacidade instalada, ocasionando um agravamento no

sistema de saúde, o que se torna assunto de discussão

e debate sobre os fatores que estão relacionados com a

defi ciência no atendimento emergencial, principalmente

nos países em desenvolvimento4.

A qualidade nos serviços prestados tornou-se um dos

desafi os enfrentados pelo SUS, o que traz sérios danos aos

pacientes que precisam desse serviço, como por exemplo,

demora na realização de consultas médicas, de exames e

cirurgias5.

No atual ambiente econômico, com sérias

restrições orçamentárias, o controle de recursos escassos

aliado à efi ciência em sua utilização se torna crítico.

Administradores da área da saúde lidam com o desafi o

de conduzir organizações de grande complexidade, sendo

que a gestão da capacidade de atendimento desempenha

um papel estratégico que envolve recursos escassos e

altos custos6.

A administração de serviços de saúde desempenha

um papel estratégico, no sentido da necessidade de

acompanhar rigorosamente a utilização de recursos que

estão se tornando cada vez mais escassos e de alto custo.

Os indicadores de desempenho das instituições de saúde

não se limitam apenas aos dados de produção, como por

exemplo: número de internações, consultas, cirurgias

realizadas etc. Esses tipos de variáveis quantitativas não

são apropriados para conseguirem explicar o que mais

preocupa a sociedade nesse setor, ou seja, as fi las de

atendimento7.

Dessa forma, é essencial verifi car questões do

cotidiano das clínicas, entender a situação da fi la de

atendimento oferecida por cada serviço, encontrando

o gargalo do fl uxo de atendimento, para, assim, defi nir

o modelo de gestão apropriado para gerenciar o que se

conhece como restrições7.

A teoria das restrições é uma fi losofi a de melhoria

sistêmica originalmente apresentada por Eliyahu M.

Goldratt8. A teoria das restrições (Theory of Constraints-

TOC) teve seu surgimento com a revolução industrial

e sua fi losofi a é aplicada nos mais diversos tipos de

organizações, inclusive, recentemente, na área da saúde7.

As restrições são abordadas por meio de um Processo

de Pensamento (Thinking Process-TP), procurando

obter respostas a três perguntas: O que mudar? Para

que mudar? E como provocar essa mudança? Somente

com as respostas para essas três perguntas é que será

possível reconhecer que o desempenho da cadeia de

valor, responsável por gerar toda a riqueza, é submisso ao

gerenciamento das suas restrições, o que leva a procurar

maximizar estes recursos8.

Para as respostas a essas perguntas emprega-se o

uso dos cinco passos para melhoria contínua, refi namentos

de conceitos de como gerenciar a produção e demais

áreas de uma organização, aplicando a TOC8: 1º passo

- Identifi cação da restrição do sistema: primeiramente,

antes de qualquer mudança, localizar a restrição; 2º passo

- Exploração da restrição do sistema: visando maximizar

os recursos da empresa, obter um melhor desempenho do

conjunto de restrições; 3º passo - Subordinação à restrição

encontrada: ajustar todos os demais componentes do

sistema a fi m de que a restrição atinja o seu máximo

desempenho; 4º passo - Elevação da restrição: ao atingir

esta etapa, deve-se fazer mudanças signifi cativas em todo

sistema, aumentando a capacidade das restrições; e 5º

passo - Obstrução da inércia: impedir uma nova restrição

no sistema, caso algum passo anterior seja violado. Caso

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206 2018 jul.- dez.; 12(2):

ocorra, retoma-se o primeiro passo, procurando pela

restrição do desempenho, de forma cíclica até que seja

totalmente eliminada8.

Para a consultora do instituto Goldratt, é fundamental

que uma organização de saúde tenha metas para oferecer

um tratamento com qualidade, sendo que a geração de

lucro torna-se algo complementar, porém essencial9.

Toda instituição se dispõe em torno de um conjunto

de subsistemas interdependentes que interagem, tanto

no âmbito da organização técnica quanto da humana10.

O seu sucesso dependerá do desempenho conjunto de

todos os seus elementos, sendo o grupo determinado ou

limitado pelo elo mais fraco, não importando a quantidade

ou esforços gastos pela organização para melhorar o seu

sistema, pois essa melhoria apenas se dará quando for

melhorado o elo mais fraco da corrente8.

A simulação utiliza técnicas computacionais como

método de pesquisa, com a fi nalidade de representar

como os sistemas produtivos funcionam por meio de

modelos matemáticos11. A simulação funciona como uma

ferramenta que pode modelar vários cenários de uma

maneira bem fl exível.

A satisfação do usuário está atrelada a maneira

como ele avalia a qualidade do serviço ou atendimento,

sendo que essas informações servirão para uma análise da

estrutura que é oferecida, a execução de seus processos e

os próprios resultados alcançados12,13.

A qualidade no setor de saúde pode ser defi nida

como um conjunto de atributos que vem atrelado a

um nível de excelência profi ssional, o uso efi ciente de

recursos, um mínimo de risco ao usuário, um alto grau de

satisfação por parte dos clientes, além de considerar os

valores sociais existentes14.

OBJETIVO

Descrever os processos assistenciais numa unidade

de Pronto Atendimento, encontrar o gargalo e verifi car

se este exerce infl uência/signifi cância na satisfação dos

usuários quanto à qualidade do serviço oferecido.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa observacional de caráter

descritivo, desenvolvida por meio de uma situação real e

cotidiana, a fi m de encontrar e obter conclusões a respeito

do gargalo. Para que o aluno pesquisador pudesse

entender o referido problema, iniciou-se pelo mapeamento

do processo investigado, seguido de um levantamento

dos dados, ou seja, após a cronometragem de tempo dos

atendimentos a pacientes, esses dados foram tabulados

e analisados por simulação computacional, empregando-

lhes as ferramentas de gestão de processos sobre os

princípios inerentes a teoria das restrições. Foi explorado

o primeiro passo da TOC, que consiste na identifi cação da

restrição do sistema para posteriormente estabelecer as

mudanças apropriadas8.

Uma segunda etapa do estudo avaliou a satisfação

do usuário em relação à sua percepção da qualidade do

atendimento quanto ao tempo de espera. Para isto foi

elaborado um questionário com questões que classifi caram

o tempo de espera para cada um dos processos

assistenciais, por meio de uma escala qualitativa de cinco

pontos, sendo utilizado o valor 5 (concordo totalmente)

como concordância e o valor 1 (discordo totalmente)

como discordância à satisfação dos clientes para otempo

de atendimento.

Os dados qualitativos obtidos por meio da pesquisa

de satisfação foram comparados ao gargalo encontrado na

unidade de pronto atendimento, permitindo correlacionar

os resultados.

A amostra foi constituída por pacientes atendidos

na Unidade de Emergência, seguindo os critérios de

elegibilidade: pacientes classifi cados como pouco

urgente ou não urgente, conforme classifi cação de risco,

idade igual ou superior a 18 anos, alfabetizados e que

apresentavam condições clínicas favoráveis para responder

ao instrumento de coleta dos dados.

A pesquisa tem aprovação do Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Padre Albino

(UNIFIPA), sob o parecer nº2.225.656.

RESULTADOS

O estudo permitiu analisar se a qualidade no

serviço prestado percebida pelo usuário na referida

unidade de emergência tem relação direta com o gargalo

a ser investigado, contribuindo para a reformulação dos

aspectos avaliados.

O processo de atendimento

O atendimento inicia-se com a chegada do usuário

à recepção, onde é emitida uma fi cha de atendimento

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2018 jul.- dez.; 12(2): 207segundo a ordem de chegada. Pos-

teriormente, o usuário é chamado

por profi ssional enfermeiro(a) que

realiza a classifi cação de risco con-

forme protocolo estabelecido pela

Unidade. Este sistema permite iden-

tifi car a demanda de cada paciente/

cliente, minimizando o tempo de es-

pera daqueles com demandas priori-

tárias de atendimento15. Os usuários

classifi cados como “não críticos” ou

“baixa e média complexidade” rece-

bem a classifi cação em cores verde

e azul, respectivamente, aguardan-

do o atendimento médico16. Após o

atendimento médico os pacientes

que não recebem alta são encaminhados pelo médico à

equipe de enfermagem, podendo ou não ser necessária

uma reavaliação médica, conforme fl uxo desenvolvido em

software Bizagi® (Figura 1).

Identifi cação da restrição do sistema

Foram cronometrados os tempos, em segundos, de

cada etapa do processo de atendimento, sendo utilizado o

software Offi ce Excel® para a elaboração de planilhas com

as informações obtidas. Posteriormente, foram gerados

dados estatísticos, por meio do uso do software Minitab®,

distribuídos conforme Tabela 1.

Tabela 1– Tempo de atendimento

Variável Total Contagem

Média Desvio Padrão

Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Recepção 107 140,18 103,16 22,00 62,00 120,00 171,00 583,00

Classifi cação de Risco

119 275,30 172,60 84,00 163,00 208,00 310,00 918,00

Consultório 206 603,80 563,90 82,00 246,80 367,00 840,80 3600,00

Enfermagem 99 420,30 241,50 120,00 245,00 360,00 500,00 1365,00

Figura 1 - Fluxo de atendimento

Quanto à satisfação, foram entrevistados 26 usuários

que avaliaram o tempo de espera em cada uma das etapas

do atendimento. Os entrevistados foram perguntados se o

tempo de espera para atendimento foi satisfatório, sendo

as opções de resposta: concordo; concordo parcialmente;

não concordo, nem discordo; discordo parcialmente e

discordo. Posteriormente, as respostas foram identifi cadas

numericamente, sendo atribuídos os valores 5 para

concordo, 4 para concordo parcialmente, 3 para não

concordo, nem discordo, 2 para discordo parcialmente e 1

para discordo. Os resultados são apresentados conforme

Tabela 2.

Tabela 2 - Satisfação do cliente

Variável Total Contagem

Média Mínimo Q1 Mediana Q3 Máximo

Recepção 26 4,6920 1,0000 5,0000 5,0000 5,0000 5,0000

Classificação de Risco

26 4,8846 4,0000 5,0000 5,0000 5,0000 5,0000

Consultório 26 4,0380 1,0000 3,0000 5,0000 5,0000 5,0000

Enfermagem 26 4,6920 1,0000 5,0000 5,0000 5,0000 5,0000

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208 2018 jul.- dez.; 12(2):

Recepção

Conforme citado anteriormente, o processo inicia-

se na recepção, onde os pacientes/clientes são atendidos

seguindo a ordem em que chegam à unidade. Foi

cronometrado o tempo de atendimento de 107 pacientes/

clientes, perfazendo um tempo médio de 140,18 segundos.

Com relação ao grau de satisfação destes, foram coletados

de 26 clientes, sendo que a recepção obteve a mediana de

classifi cação 5, referindo satisfação dos usuários.

Classifi cação de risco

A palavra “triagem” deriva do francês trier e signifi ca

selecionar, sendo um dos princípios do cuidado de

emergência e obrigatório nas UPAs, tendo como objetivo

identifi car prioridades2.

A classifi cação de risco realizada pelo profi ssional

enfermeiro, preconizada pelo Ministério da Saúde,

determina a necessidade de atendimento de cada

usuário, identifi cando-o pelos seguintes níveis: Vermelho:

prioridade zero – emergência, necessidade de atendimento

imediato; Amarelo: prioridade 1 – urgência, atendimento

o mais rápido possível; Verde: prioridade 2 – prioridade

não urgente; e Azul: prioridade 3 – consultas de baixa

complexidade – atendimento de acordo com o horário de

chegada17.

Nesta etapa foram contabilizados 119 pacientes,

tendo sido obtido tempo médio de atendimento de 275,3

segundos, com uma média de 13 pacientes atendidos/

hora. Quanto à avaliação da satisfação, foi obtida mediana

de 5.

Atendimento médico

Na etapa de atendimento médico, foram

contabilizados 206 usuários, tendo sido identifi cada como

gargalo (Gráfi co 1), apresentando média e desvio padrão

de atendimento (603,8±563,9) segundos, representando

um tempo 219,32% maior do que o obtido como média

da etapa anterior. Por sua vez, o nível de satisfação do

paciente/cliente avaliado obteve 5 como mediana de

satisfação.

O Gráfi co 1 apresenta a distribuição dos tempos, em

segundos, obtidos nos processos de “recepção” (140,18

segundos), “classifi cação de risco” (275,3 segundos),

“consultório médico” (603,8 segundos) e “enfermagem”

(420,3 segundos), mostrando, portanto, que o consultório

médico possui o maior tempo e variabilidade no

atendimento aos pacientes.

Gráfi co 1 – Tempo de espera por etapa

Atendimento de enfermagem

Na etapa de atendimento pela equipe de enfermagem

foram cronometrados os tempos de 99 pacientes/clientes,

sendo obtida a média de tempo de atendimento de

420,3 segundos, ou seja, 7 minutos. Quanto ao nível de

satisfação, obteve-se a mediana 5.

Espera para atendimento (explorar a restrição)

Os tempos obtidos em cada etapa do processo

de atendimento foram inseridos em um software de

simulação computacional, demonstrando as fi las de espera

geradas, bem como dados relacionados a essas fi las.

Pode-se observar grafi camente por meio desse software

a capacidade de saída de cada etapa, sendo o gargalo

evidenciado pelo acúmulo de pacientes/clientes na etapa

mais frágil do processo.

A Figura 2 demonstra o início da fi la de espera. Ela

se forma na etapa anterior ao gargalo. Isso ocorre em

decorrência do tempo médio de saída do atendimento

médico (603,8 segundos) ser maior do que o tempo médio

de saída da classifi cação de risco (275,3 segundos).

Figura 2 - Espera para atendimento inicial

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2018 jul.- dez.; 12(2): 209O tempo de atendimento da classifi cação de risco

representa uma capacidade média de 13 pacientes

atendidos/hora, enquanto o atendimento médico é capaz

de atender uma média de 6 pacientes/hora. Na Figura

3 vemos a passagem dos pacientes para a etapa de

atendimento médico enquanto a fi la se forma na etapa

anterior.

Figura 3 - Fila de espera

DISCUSSÃO

No presente estudo foi observada uma taxa de

atendimento para a etapa do processo identifi cada

como gargalo (atendimento médico) de 6 usuários/hora,

enquanto a etapa anterior (classifi cação de risco) possui

taxa de atendimento de 13 usuários/hora, indicando

tempo 219,32% maior do que o obtido na etapa anterior.

Resultados de estudo2 semelhante corroboram com

o apresentado pelo presente estudo, demonstrando

produtos similares, com taxa de 6,6 usuários/hora na

etapa de atendimento médico e 13,1 usuários/hora na

etapa de classifi cação de risco, representando tempo

198,48% maior que o obtido na etapa anterior.

Em outro estudo6, observou-se a geração de fi la

(15,3 minutos de espera em média) para a etapa de

atendimento de enfermagem, atribuído pelos autores

ao contexto em que apenas um profi ssional realiza

o atendimento, executando procedimentos, como a

aplicação de soro, que demandam tempo maior em

relação a outros procedimentos, como administração de

medicação intramuscular ou via oral. Esse cenário difere

do observado pelo presente estudo, considerando que o

tempo de atendimento obtido foi de 7 minutos em média,

em um contexto que inclui procedimentos de aplicação

de soro e outros com menor demanda de tempo, no

entanto realizados por uma equipe de profi ssionais de

enfermagem.

Em relação ao nível de satisfação dos pacientes

referente ao tempo de atendimento nos quatro processos

observados, sendo eles a recepção, classifi cação de risco,

atendimento médico e atendimento de enfermagem,

todos obtiveram mediana 5. Considera-se este o grau

de satisfação do cliente que subsidiará as tomadas de

decisões para melhorias nestes ambientes de saúde5.

CONCLUSÃO

O gargalo e a qualidade dos serviços oferecidos

na visão dos usuários em relação ao tempo de espera

em uma UPA, considerando-se os quatro processos

analisados, possibilitou identifi car a restrição ou gargalo

na etapa de atendimento médico que, por vezes, é onde

ocorre a ociosidade, gerando maior tempo de espera aos

pacientes, bem como, descontentamento. Embora nos

processos envolvidos tenha-se obtido o valor equivalente a

5 de mediana relacionado ao grau de satisfação do cliente,

foi no processo 3, consultório médico, que foi encontrada

a menor média, 4,038.

O menor índice de satisfação encontrado corresponde

ao gargalo obtido por meio do uso da TOC, o que indica

uma relação direta entre a satisfação do usuário e o gargalo

encontrado no atendimento. Dessa forma, reitera-se que

o gargalo exerce infl uência/signifi cância na percepção da

qualidade, segundo o grau de satisfação do usuário.

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210 2018 jul.- dez.; 12(2):

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Envio: 11/03/2018 Aceite: 10/07/2018

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FATORES MATERNOS ASSOCIADOS À TRANSMISSÃO VERTICAL DA SÍFILIS CONGÊNITA

MATERNAL FACTORS ASSOCIATED WITH THE VERTICAL TRANSMISSION OF CONGENITAL SYPHILIS

FACTORES MATERNOS ASOCIADOS A LA TRANSMISIÓN VERTICAL DE LA SÍFILIS CONGÉNITA

*Acadêmicas do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA).**Enfermeira obstetra. Mestre em Enfermagem. Docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA).

ResumoIntrodução: A transmissão vertical da sífi lis é um problema de saúde pública, com impacto epidemiológico. Ocorre quando a gestante não tratada ou inadequadamente tratada transmite a doença para o concepto. Objetivo: Descrever os fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita. Método: Pesquisa descritiva com abordagem quantitativa, cujos dados foram coletados entre maio e julho de 2018, através de um questionário estruturado, aplicado junto à puérperas com sífi lis por ocasião do parto, em um hospital-escola do noroeste paulista. Resultados: Das 18 puérperas entrevistadas, 8 (44,44 %) tinham idade entre 22 e 27 anos e escolaridade de 9 a 11 anos. Quanto à ocupação, 12 (66,67%) se declararam autônomas; sobre a procedência, 11 (61,11%) residiam no município onde se realizou o estudo. Dados obstétricos: todas as puérperas realizaram o pré-natal, 7 (38,89) eram multíparas e 12 (66,67%) submetidas a parto vaginal. Quanto à sífi lis na gestação, 13 (72,22%) foram diagnosticadas nesta gravidez, enquanto 5 (27,78%) foram infectadas anteriormente. Quanto ao tratamento no pré-natal, 17 (94,44%) gestantes realizaram-no e apenas 10 dos parceiros (55,56%)também o fi zeram. Porém, os dados laboratoriais mostraram que mesmo tratadas às mulheres tiveram no parto uma titulação maior ou igual a 1:2; dos recém-nascidos, 3 titulações até 1:2, enquanto 15 (78,95%) titulações com valores maiores. Todos os recém-nascidos haviam sido tratados. Conclusão: Os fatores maternos associados à transmissão foram: menor escolaridade, estar em idade reprodutiva, não estar inserida no mercado de trabalho, possuir companheiro e ser multí para. Diante desse contexto, é possível afi rmar que a sífi lis congênita persiste e os resultados obtidos apontam falhas no pré-natal.

Palavras-chave: Sífi lis na gestação. Sífi lis congênita.Transmissão vertical.

AbstractIntroduction: The vertical transmission of syphilis is considered a public health problem with epidemiological impact. To objective: describe the maternal factors associated with the vertical transmission of congenital syphilis. Method: A descriptive study with quantitative approach, whose data were collected between May and July, 2018, through a structured questionnaire, applied to post partum women with syphilis at the time of delivery, in a hospital in the northwest of São Paulo. Results: Of the 18 postpartum women interviewed, 8 (44.44%) were between 22 and 27 years old and they had at least 9 years of schooling. Concerning the occupation, 12 (66.67%) declared them-selves as freelancer, and 11 (61.11%) were resident in the municipality where the study was carried out. Obstetric data: all postpartum women underwent prenatal care, 7 (38.89%) were multiparous and 12 (66.67%) underwent vaginal delivery. Regarding Syphilis during gestation, 13 (72.22%) were diagnosed in this pregnancy, while 5 (27.78%) were previously infected. Regarding prenatal care, 17 (94.44%) pregnant women did it, and only 10 of the partners (55.56%) did it. However, laboratory data showed that even women treated had a higher titreat delivery or equal to 1: 2; of newborns, 3 titrations up to 1: 2, while 15 (78.95%) titrations with higher values. All newborns had been treated. Conclusion: The maternal factors associated with the transmission were: lower schooling, being of reproductive age, not being part of the labor market, having a partner and being multiparous. Given this context, it is possible to affi rm that congenital syphilis persists and the results obtained indicate failures in prenatal care.

Keywords: Syphilis in pregnancy. Congenital syphilis. Vertical transmission.

ResumenIntroducción: La transmisión vertical de la sífi lis es un problema de salud pública, con impacto epidemiológico. Ocurre cuando la gestante no tratada o inadecuadamente tratada transmite la enfermedad al concepto. Objetivo: Describir los factores maternos asociados a la transmisión vertical de la sífi lis congénita. Método: Investigaciones con abordaje cuantitativo, cuyos datos fueron recolectados entre mayo y julio de 2018, a través de un cuestionario estructurado, aplicado junto a la puérperas con sífi lis con motivo del parto, en un hospital-escolta do noroeste paulista. Resultados: De las 18 puérperas entrevistadas, 8 (44,44%) tenían edad entre 22 y 27 años de escolaridad de 9 a 11 años. En cuanto a la asignación, 12 (66,67%) se declararon autónomas, sobre la procedencia, 11 (61,11%) residían en el municipio donde se realizó el estudio. Datos obstétricos: todas las puérperas realizaron el prenatal, 7 (38,89) eran multíparas e12 (66,67%) sometidas a parto vaginal. En cuanto a las sífi lis en la gestación, 13 (72,22%) fueron diagnosticadas en este embarazo, mientras que 5 (27,78%) fueron infectadas anteriormente. En cuanto a la edad en el prenatal, 17 (94,44%) gestantes lo realizaron y sólo 10 de los socios (55,56%) también lo hicieron. Además, los datos de laboratorio muestran que incluso tratadas las mujeres tuvieron en el parto una titulación mayor o igual a 1: 2; de los recién nacidos, 3 titulaciones hasta 1: 2, mientras que 15 (78,95%) tivieron titulaciones con valores mayores. Todos los recién nacidos habían sido tratados. Conclusión: Los factores maternos asociados a la transmisión fueron: menor escolaridad, estar en edad reproductiva, no estar inserta en el mercado de trabajo, tener compañero y ser multípara. En este contexto, es posible afi rmar que la sífi lis congénita persiste y los resultados obtenidos apuntan fallas en el prenatal.

Palabras clave: Sífi lis en el embarazo. Sífi lis congénita. Transmisión vertical.

Cristina Sancowich Zoilo*, Erica Patrícia Marim Barbosa*, Juliano Aparecido Barbosa*, Luciana Braz de Oliveira Paes**

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212 2018 jul.- dez.; 12(2):

INTRODUÇÃO

A transmissão vertical da sífi lis é considerada um

problema de saúde pública, com impacto epidemiológico

signifi cativo¹. Globalmente, 1,36 milhões de gestantes

apresentaram sífi lis, destas 80% realizaram pré-natal,

38% apresentaram desfechos graves como mortalidade

fetal e neonatal, prematuridade ou baixo peso e infecção

congênita².

Ao contrário da recomendação da Organização

Pan-Americana da Saúde (OPAS) que defi niu a redução

da incidência de sífi lis congênita para ≤0,5 casos

por 1000 vivos até 2015, houve aumento dos casos,

pois, aproximadamente dois milhões de gestantes são

contaminadas anualmente, causando impacto nos

indicadores de transmissão vertical³ e, consequentemente,

tornando-se uma epidemia, com incidência de 1,3/1000

nascidos vivos infectados nas Américas e 6,5/1000 no

Brasil4.

Aumento semelhante ocorreu na taxa de mortalidade

por sífi lis congênita. Em 2006, o Brasil apresentou taxa de

2,3 óbitos por 100 mil nascidos vivos e passou para 7,4

óbitos em 2015. O incremento mencionado foi relatado

também nos Estados Unidos onde a taxa passou de 8,4

casos por 100 mil nascidos vivos (2008/12) para 11,6 casos

em 20145. No Brasil, de 2005 a 2016, foram notifi cados

no Sistema de Informações de Agravos de Notifi cação

(SINAN) 169.546 casos de sífi lis em gestantes6.

A sífi lis é uma doença infectocontagiosa sistêmica,

de evolução crônica, causada pelo Treponema pallidum ou

Spirochaeta pallida. Sua transmissão pode ocorrer por via

sexual (sífi lis adquirida) e vertical (sífi lis congênita/infecção

do feto via placentária), existindo também outras formas

de transmissão menos comuns como a via indireta (objetos

contaminados)7 ou transfusão sanguínea, considerada

rara nos dias atuais8. A sífi lis congênita ocorre quando

a gestante, não tratada ou inadequadamente tratada,

transmite a sífi lis para o feto por via transplacentária,

podendo trazer consequências graves à gestação. Entre

as doenças de transmissão vertical, apresentam o Brasil

as maiores taxas (34,3%)9.

As consequências da sífi lis durante a gravidez variam

de acordo com alguns fatores, como o tempo de exposição

fetal ao treponema e a carga de treponema materna, que

podem resultar em: aborto, natimorto ou óbito fetal,

malformação, crescimento intrauterino restrito (CIUR),

prematuridade, sequelas pós-natais como cegueira,

surdez, defi ciência mental. As sequelas podem ser de

manifestação precoce quando aparecem até o segundo

ano de vida, ou tardia, surgindo após o segundo ano de

vida10, com sérias repercussões futuras11.

Dessa forma, a transmissão e os danos da sífi lis

congênita dependerão da fase gestacional em que a

infecção se instalou. Na infecção de último trimestre, o

recém-nascido terá menor probabilidade de apresentar

sintomas12. Na sífi lis congênita recente, é possível

aparecerem os sinais e sintomas logo após o nascimento

ou nos primeiros dois anos de vida. São eles: baixo peso,

rinite com coriza serosa sanguinolenta, obstrução nasal,

prematuridade, osteocondrite, periostite ou osteíte e

choro ao manuseio. Podem ocorrer hepatoesplenomegalia,

alterações respiratórias ou pneumonia, hidropsia,

pseudoparalisia dos membros, fi ssura orifi cial, condiloma

plano, pênfi go palmoplantar e outras lesões cutâneas,

icterícia e anemia13.

Na sífi lis congênita tardia, a partir do segundo ano

de vida, os principais sintomas observados são: tíbia em

lâmina de sabre, fronte olímpica, nariz em sela, dentes

deformados (dentes de Hutchinson), mandíbula curta, arco

palatino elevado, ceratite intersticial com cegueira, surdez

neurológica, difi culdade no aprendizado, hidrocefalia e

retardo mental13 com mortalidadede até 40% das crianças

infectadas14.

Assim, são necessárias estratégias efetivas para

tratar a sífi lis congênita como problema de saúde em

âmbito nacional. Merece destaque na sua importância

ministerial para diminuir os casos da doença e suas

complicações às gestantes e recém-nascidos15. Diante das

atuais taxas de sífi lis em gestantes, a transmissão vertical

pode ser evitada durante uma assistência ao pré-natal

efi caz, mediante diagnóstico e tratamento adequados da

gestante infectada e seu(s) parceiro(s) sexual, prevenindo

resultados gestacionais prejudiciais para mãe e fi lho16,17.

Em uma revisão sistemática realizada da literatura

de múltiplas bases de dados, utilizando dados globais, foi

possível identifi car que a infecção por sífi lis é a principal

causa de óbito fetal identifi cada, estando associado à

assistência pré-natal inadequada, pois o baixo número de

consultas resulta na não realização, ou na realização de

apenas um exame Venereal Disease Research Laboratory

(VDRL) durante o pré-natal e, também, o tratamento

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2018 jul.- dez.; 12(2): 213inadequado em resposta à um exame positivo. Compete

aos serviços de saúde a busca ativa e a assistência

adequada dessas gestantes durante o pré-natal18, já que o

diagnóstico e tratamento oportuno são altamente efi cazes

e reduzem a transmissão vertical em até 97%19.

Diante da complexidade deste problema de saúde

pública, a proposta deste trabalho foi investigar os fatores

maternos associados à transmissão vertical da sífi lis

congênita, tendo em vista as complicações para o recém-

nascido.

MÉTODO

Pesquisa de caráter exploratório, descritiva e

quantitativa, cujos dados foram coletados através de um

questionário estruturado, elaborado pelos pesquisadores,

aplicado a puérperas em um hospital-escola de um

município do interior do estado de São Paulo. As

entrevistas foram realizadas com puérperas que tiveram

seus fi lhos no período de abril a julho de 2018, no Sistema

Único de Saúde (SUS), mediante resultado de teste rápido

de sífi lis reagente e/ou VDRL com titulação acima de 1:2

no momento do parto e que concordaram em participar

do estudo.

Em respeito às recomendações da Resolução nº

466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, esta pesquisa

foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro

Universitário Padre Albino e aprovada sob parecer nº

2.658.263.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados a seguir mostram a relação de

algumas variáveis de caracterização amostral de gestantes

que apresentaram titulações para sífi lis durante o parto,

nos meses de abril, maio, junho e julho de 2018 na

maternidade de realização do estudo. Foram registrados

21 casos de gestantes com VDRL positivo no momento do

parto, porém apenas 18 destas foram inseridas no estudo.

As variáveis de caracterização amostral são apresentadas

sequencialmente.

Tabela 1 - Percentuais sociodemográfi cos das mulheres que apresenta-ram sífi lis no momento do parto (2018)

Variáveis sociodemográfi cas N = 18

%

Faixa etária

10 a 15 anos 00 0,00%

16 a 21 anos 06 33,33%

22 a 27 anos 08 44,44%

28 a 33 anos 03 16,67%

34 a 40 anos 01 5,56%

Escolaridade

Nenhuma 00 0,00%

1 a 4 anos 01 5,56%

5 a 8 anos 07 38,89%

9 a 11 anos 08 44,44%

≥ 12 anos 02 11,11%

Possui companheiro

Sim 11 61,11%

Não 07 38,89%

Ocupação

Trabalho doméstico próprio

12 66,67%

Trabalho informal 01 5,56%

Trabalho formal 04 22,22%

Desempregada 01 5,56%

Outros 00 0,00%

Procedência

Cidade do estudo 11 61,11%

Cidades da região 07 38,89%

Das 18 mulheres, as idades variaram entre 16 a 40

anos, com predomínio na faixa de 22 a 27 anos (44,44%).

Com relação ao grau de escolaridade, apenas 01 (5,56%)

mulher apresentou estudo de 1 a 4 anos, 07 (38,89%)

de 5 a 8 anos, 02 (11,11%) maior ou igual a 12 anos,

com predominância de 08 (44,44%) com escolaridade

de 9 a 11 anos. A maioria das mulheres 11 (61,11%)

relatou ter companheiro. Esse dado corrobora com outro

estudo em que mulheres casadas são mais suscetíveis à

infecção sexualmente transmissível por deixarem de se

proteger adequadamente20. Quanto à ocupação, a maioria

se classifi ca em realizar trabalho doméstico próprio 12

(66,67%), 04 (22,22%) trabalham formalmente, 01

(5,56%) realiza trabalho informal e 01 (5,56%) está

desempregada. Resultados semelhantes relatam que a

maioria das mulheres não exerce atividade remunerada,

fator relacionado com a baixa escolaridade e menor chance

de emprego21. A maioria das mulheres é procedente da

cidade em que o estudo foi realizado 11 (61,11%) e 07

(38,89%) residem em cidades da região.

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214 2018 jul.- dez.; 12(2):

De acordo com estes dados, fatores maternos são

agravantes para transmissão vertical. No que diz respeito

à idade, este estudo concorda com os demais presentes na

literatura ao verifi car que é preocupante observar a idade

em que prevalece a sífi lis, o qual ocorre principalmente

na fase reprodutiva, e tem relevância epidemiológica da

transmissão vertical, como a gravidez indesejada por falta

do uso de preservativos. Outro fator associado é baixa

escolaridade, pois indica a difi culdade de entendimento

da doença. Assim como múltiplos parceiros e o não

tratamento dos mesmos, o que esclarece a gravidade da

disseminação da doença22-25.

Tabela 2 - Percentuais obstétricos das mulheres que apresentaram sífi -lis no momento do parto (2018)

Variáveis obstétricas N = 18 %

Gestação

1 06 33,33%

02 a 03 05 27,78%

04 a 05 07 38,89%

Paridade

0 00 0,00%

01 a 02 09 50,00%

03 a 04 09 50,00%

Aborto

0 14 77,78%

1 03 16,67%

2 01 5,56%

Acompanhamento pré-natal

Sim 18 100,00%

Não 00 0,00%

Tipo de parto

Vaginal 12 66,67%

Cesárea 06 33,33%

Fórceps 00 0,00%

Quanto ao número de gestações, 6 (33,33%) são

primíparas, 12 (66,67%) são multíparas, sendo que 5

(27,78%) tiveram de 2 a 3 gestações e 7 (38,89%) de 4 a

5 gestações; 9 delas pariram de 01 a 02 (50,00%) vezes

e outras 9 pariram de 3 a 4 (50,00%) vezes; 4 (22,23%)

apresentaram aborto. Também concordando com estudo

realizado no Distrito Federal no qual a predominância das

gestantes infectadas são as que apresentaram mais de

uma gestação21. Quanto ao pré-natal, todas as 18 (100%)

realizaram o acompanhamento, o que nos preocupa e nos

faz refl etir sobre a qualidade do pré-natal e sua função

enquanto promoção de saúde. Costa et al.25 referem

que entre os anos de 2000 a 2009, a maioria dos bebês

infectados eram de mães que realizaram pré-natal.

O tipo de parto predominante foi o parto vaginal, 12

(66,67%), outras 06 (33,33%) tiveram cesárea. O parto

vaginal foi maioria entre mães infectadas em um outro

estudo18.

Dessa forma, neste estudo é possível observar que

quanto maior o número de gestações, menor a participação

no pré-natal. Consequentemente, a assistência ao

pré-natal inadequada contribui para a persistência da

transmissão vertical da sífi lis26.

Tabela 3 - Percentuais referentes à incidência de sífi lis nas gestações anteriores (2018)

Incidência de sífi lis na gestação anterior N = 18 %

Sífi lis antes da gestação

Sim 05 27,78%

Não 13 72,22%

Se sim, quantas realizaram o tratamento com o parceiro?

Sim 04 22,22%

Não 01 5,56%

Em relação à sífi lis em gestações anteriores,

13 (72,22%) negaram ter apresentado a infecção

anteriormente, outras 5 (27,78%) afi rmaram ter

diagnóstico anterior de sífi lis, entre estas, 4 (80,00%)

realizaram o tratamento com o parceiro e apenas 01

mulher (20,00%) relatou que o parceiro não fez o

tratamento. Foram encontrados resultados semelhantes

em outros estudos23,27,28.

O estudo de Tannous et al.29, realizado em 2015,

confi rmou um aumento signifi cativo da sífi lis congênita na

região noroeste do Estado de São Paulo, ocorrido, entre

outros fatores, devido ao desabastecimento nacional de

penicilinas, decorrente da falta de matéria-prima para sua

produção, confi rmado em nota informativa pelo Ministério

da Saúde em 201530.

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2018 jul.- dez.; 12(2): 215

Tabela 4 - Percentuais referentes à incidência de sífi lis nas gestantes antes e durante o pré-natal (2018)

Variáveis relacionadas à sífi lis N = 18 %

Difi culdade para realizar o tratamento

Sim 01 5,56%

Não 17 94,44%

Mulheres que receberam orientações no pré-natal

Sim 12 66,67%

Não 06 33,33%

Realizaram o tratamento para sífi lis durante o pré-natal

Sim 17 94,44%

Não 01 5,56%

Parceiros que realizaram o tratamento

Sim 10 55,56%

Não 08 44,44%

Das 18 (100%) participantes, 17 (94,44%) não

tiveram problemas para realizar o tratamento e apenas

1 (5,56%) teve difi culdades por ser alérgica à penicilina,

sendo realizado tratamento alternativo. Quanto às

orientações no pré-natal, 12 (66,67%) mulheres afi rmaram

ter recebido orientações, outras 06 (33,33%) disseram

que não as receberam.

Sobre o tratamento para sífi lis durante o pré-natal,

17 (94,44%) relataram tê-lo feito e apenas 1 (5,56%)

não o fez. Quanto aos parceiros, 10 (55,56%) realizaram

o tratamento junto com a gestante, outros 08 (44,44%)

não o realizaram. Deve-se ressaltar que é imprescindível

o homem no acompanhamento de pré-natal, pois o não

tratamento do parceiro explica a difi culdade na quebra da

transmissão da sífi lis congênita22.

Com este estudo, destaca-se como fator de maior

relevância a assistência pré-natal inadequada, pois todas as

gestantes que participaram da pesquisa e realizaram o pré-

natal relataram falhas nas orientações recebidas durante

a assistência. Assim como mencionam outros trabalhos

científi cos, é fundamental a relação do diagnóstico inicial

e controle da sífi lis congênita, presumindo ações que

intensifi quem a diminuição da sífi lis no período gestacional

e, portanto, da sífi lis congênita21,31.

Tabela 5 - Percentuais dos resultados de exames laboratoriais das mu-lheres e de recém-nascidos com sífi lis (2018)

Dados das mulheres e do RN relacionados aos exames laboratoriais

Mulheres No pré-natal No hospital

Recém-Nascido

M1 1 = NR 1:8 1:4

2 = NR

M2 1 = 1:2 1:4 1:4

2 = teste treponêmico

M3 1 = 1:16 1:8 G1= 1:2

2 = teste treponêmico G2= 1:2

M4 1 = 1:81 1:4 1:2

2 = teste treponêmico

M5 1 = 1:64 1:64 1:32

2 = teste treponêmico

M6 1 = 1:4 1:2 1:1

2 = 1:2

M7 1 = 1:16 1:8 1:4

2 = teste treponêmico

M8 1 = 1:128 1:64 1:8

2 = 1:32

3 = 1:16

M9 1 = 1:4 1:8 1:4

2 = teste treponêmico

M10 1 = 1:1 1:2 1:1

2 = teste treponêmico

M11 1 = 1:8 1:8 1:8

2 = 1:4

M12 1 = 1:32 1:64 1:4

2 = teste treponêmico

M13 1 = 1:16 1:2 1:2

2 = teste treponêmico

M14 1 = 1:32 1:32 1:16

2 = 1:64

M15 1 = 1:128 1:128 1:64

2 = 1:64

M16 1 = 1:32 1:8 1:4

2 = 1:8

M17 1 = 1:64 1:128 1 = NR

2 = teste treponêmico 2 = 1:16

M18 1 = 1:8 1:2 1:1

2 = teste treponêmico

* NR = Não Reagente * G1 e G2 = Gemelar

Todas as mulheres realizaram o exame no pré-natal

e parto. Os exames padronizados no município são teste

rápido, VDRL, FTA-abs (fl uorescente treponemal antibody-

absorption). A esse respeito, os resultados laboratoriais

identifi caram que mesmo tratadas, as puérperas

apresentaram, no momento do parto, titulação maior ou

igual a 1:2.

Dados laboratoriais mostram que apenas uma

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216 2018 jul.- dez.; 12(2):

gestante (5,56%) teve o VDRL não reagente durante o

pré-natal, sendo diagnosticada a sífi lis com VDRL titulação

1:8 no momento do parto. Encontramos resultados

semelhantes sem que o primeiro exame VDRL foi não

reagente em 7,1% das gestantes pesquisadas, não

indicando a infecção no período gestacional23.

Ao nascimento, 15 (78,95%) recém-nascidos

apresentaram titulação maior ou igual a 1:2, outros 3

(15,79%) apresentaram titulação de 1:1, porém também

foram tratados baseados em protocolo de atendimento.

O recém-nascido que apresentou resultado não reagente

ao nascimento 1 (5,26%) foi tratado com uma dose de

penicilina procaína IM profi lática. Após nove dias do

tratamento, o exame de VDRL foi repetido apresentando

titulação de 1:16, iniciando tratamento conforme protocolo

de atendimento.

É importante ressaltar que a mãe (M5) foi tratada

com medicações alternativas, pois a mesma apresentava

alergia a penicilina. Dessa forma, este estudo comprova a

ausência de efi cácia na prevenção de transmissão vertical

da sífi lis congênita, pois o recém-nascido apresentou

VDRL com titulação 1:32. Assim, corrobora com outro

estudo ao relatar que o tratamento alternativo poderá

levar a cura da gestante, não do feto17. Neste contexto,

a mãe permaneceu com titulação elevada no momento

do parto, constatando a importância da realização da

dessensibilização da penicilina para estes casos32.

Gráfi co 1 - Percentuais referentes à drogadição durante o uso na gestação das mulheres que apresentaram sífi lis (2018)

Relacionado ao uso de álcool e drogas durante a

gestação, 14 (77,78%) mulheres o negaram e 4 (22,22%)

afi rmaram ter usado álcool ou drogas durante todo o

período gestacional. Portanto, neste estudo observamos

que o uso de drogas não foi fator relevante, discordando

de outros estudos que comprovam que a drogadição é

fator de risco para sífi lis congênita21,33,34.

CONCLUSÃO

Os fatores maternos associados a transmissão

da sífi lis congênita neste estudo, foram: possuir menor

escolaridade, estar em idade reprodutiva, não estar

inserida no mercado de trabalho, possuir companheiro e

ser multípara. Além de evidenciarmos que fazer pré-natal

apenas da mulher não contribui para redução da sífi lis

congênita, é urgente a necessidade de políticas públicas

que insiram o homem de forma efetiva no pré-natal.

Atualmente, pode-se dizer que na região do estudo

vive-se uma epidemia de sífi lis, e estratégias para o

controle da doença devem ser tomadas, como treinamento

e capacitação para os profi ssionais da saúde. Diante desse

contexto, é possível afi rmar que a sífi lis congênita persiste

e os resultados obtidos apontam falhas no pré-natal sendo

necessário intensifi car as políticas de saúde reprodutiva e

sexual.

REFERÊNCIAS

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Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita211 - 217

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Envio: 12/06/2018 Aceite: 28/08/2018

Fatores maternos associados à transmissão vertical da sífi lis congênita 211 - 217

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218 2018 jul.- dez.; 12(2):

AVALIAÇÃO DO PERFIL PSICOLÓGICO (CRITÉRIOS DE BECK) E DA FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA BARIÁTRICA

EVALUATION OF THE PSYCHOLOGICAL PROFILE (BECK CRITERIA) AND THE FREQUENCY OF INGESTION IN BARIATRIC PATIENTS

EVALUACIÓN DEL PERFIL PSICOLÓGICO (CRITERIOS DE BECK) Y DE LA FRECUENCIA ALIMENTARIA DE PACIENTES SUBMETIDOS A LA CIRUGÍA BARIÁTRICA

*Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP. **Médico especializado em Cirurgia do Aparelho Digestivo. Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP.*** Docente da disciplina de Nutrologia do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA), Catanduva-SP. Professor de pós-graduação em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nu-trologia (ABRAN). Presidente da ABRAN. Contato:[email protected]

ResumoIntrodução: A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corpórea, sendo que para seu critério diagnóstico e classifi catório é utilizado o Índice de Massa Corporal (IMC). Diversos distúrbios psiquiátricos associam-se à obesidade, sendo o principal deles a depressão. O manejo da obesidade mórbida engloba nutroterapia, atividade física e farmacoterapia. Todavia, a cirurgia bariátrica é empregada como um recurso terapêutico quando há difi culdade de se obter um resultado satisfatório por outros meios. Assim, a cirurgia bariátrica é efi ciente para a perda de peso, além de poder promover mudanças na imagem corporal, reduzindo os índices de depressão. Objetivos: Avaliar a prevalência e identifi car o perfi l psicológico do transtorno depressivo em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, caracterizando a população estudada segundo dados epidemiológicos. Metodologia: Estudo transversal quanti-qualitativo realizado na cidade de Catanduva-SP entre março a agosto de 2017, sendo aplicado questionário sociodemográfi co e Inventário de Beck para Depressão (IBD) à 17 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pelos métodos “Sleeve” e “Bypass”. Resultados: A maioria dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica era casada (64,7%), do sexo feminino (76,47%) e com ensino superior completo (47,05%). No pré-operatório foram classifi cados como obesos graus II (35,29%) ou III (64,70%). Posteriormente, com a perda de peso, 52,94% dos pacientes deixaram de ser obesos e passaram a ser classifi cados como “sobrepeso” ou peso “adequado”. Em relação ao IBD, foram constatados níveis de depressão mínima (88,23%) e leve (11,77%) no pós-operatório. Não foram encontrados índices de depressão moderada ou grave. Os sinais que evidenciaram a maior prevalência na população em estudo foram: autoacusações, irritabilidade, perda de apetite, perda de peso e perda de libido. Conclusão: A depressão é um sintoma frequentemente encontrado entre os pacientes selecionados para a cirurgia bariátrica. Os índices encontrados neste trabalho demonstram que a depressão está intimamente relacionada à obesidade, uma vez que no pós-operatório, com a redução do peso, foram encontrados níveis de depressão mínimos ou leves. Assim, a perda de peso proveniente da cirurgia sugere uma melhora da imagem corporal, ansiedade, autoestima e da condição psíquica do paciente.

Palavras-chave: Obesidade. Depressão. Cirurgia bariátrica. Inventário da depressão de Beck.

AbstractIntroduction: Obesity is characterized by excessive accumulation of body fat, and the Body Mass Index (BMI) is used for its diagnostic and classifi cation criteria. Several psychiatric disorders are associated with obesity, the main one being depression. The management of morbid obesity includes nutrition therapy, physical activity and pharmacotherapy. However, bariatric surgery is used as a therapeutic resource, when it is diffi cult to obtain a satisfactory result by other means. Thus, bariatric surgery is effi cient for weight loss, in addition to being able to promote changes in body image, reducing the rates of depression. Objectives: Evaluate the prevalence and identify the depressive disorder in the psychological profi le of patients undergoing bariatric surgery, characterizing the studied population according to epidemiological data. Methods: A quanti-qualitative cross-sectional study was carried out in the city of Catanduva-SP between March and August 2017. A sociodemographic questionnaire and Beck Inventory for Depression (BID) were applied to 17 patients undergoing bariatric surgery using the "Sleeve" and "Bypass" surgical method. Results: The majority of bariatric patient were married (64,7%), female (76,47%) and with complete higher education (47,05%). In the preoperative period, they were classifi ed as obese degrees II (35,29%), or III (64,70%). Subsequently, with weight loss, 52.94% of the patients ceased to be obese and passed a being classifi ed as "overweight" or "adequate" weight. Regarding IDB, there were levels of minimal (88.23%) and mild (11.77%) postoperative depression. No indices of moderate or severe depression were found. The depressive signs that showed a higher prevalence in the study population were: self-accusations, irritability, loss of appetite, weight loss and loss of libido. Conclusion: Depression is a symptom often found among patients selected for bariatric surgery. The values found in this study demonstrate that depression is closely related to obesity, since in the postoperative period, with the reduction of weight, minimal or mild levels of depression were found. Thus, weight loss from surgery suggests an improvement of the body image, anxiety, self-esteem and the psychic condition of the patient.

Keywords: Obesity. Depression. Bariatric surgery. Beck inventory for depression.

ResumenIntroducción: La obesidad se caracteriza por la acumulación excesiva de grasa corporal, siendo que para su criterio diagnóstico y clasifi catorio se utiliza el Índice de Masa Corporal (IMC). Diversos disturbios psiquiátricos se asocian a la obesidad, siendo el principal de ellos la depresión. El manejo de la obesidad mórbida engloba nutroterapia, actividad física y farmacoterapia. Sin embargo, la cirugía bariátrica se emplea como un recurso terapéutico cuando hay difi cultad para obtener un resultado satisfactorio por otros medios. Así, la cirugía bariátrica es efi ciente para la pérdida de peso, además de poder promover cambios en la imagen corporal, reduciendo los índices de depresión. Objetivos: Evaluar la prevalencia e identifi car el perfi l psicológico del trastorno depresivo en pacientes sometidos a la cirugía bariátrica, caracterizando a la población estudiada según datos epidemiológicos. Metodología: Estudio transversal cuanti-cualitativo realizado en la ciudad de Catanduva-SP entre marzo a agosto de 2017, siendo aplicado cuestionario sociodemográfi co e Inventario de Beck para Depresión (IBD) a 17 pacientes sometidos a la cirugía bariátrica por los métodos "Sleeve" y "Bypass". Resultados: La mayoría de los pacientes sometidos a la cirugía bariátrica estaban casados (64,7%), del sexo femenino (76,47%) y con enseñanza superior completa (47,05%). En el preoperatorio se clasifi caron como obesos grados II (35,29%) o III (64,70%). Posteriormente, con la pérdida de peso, el 52,94% de los pacientes dejaron de ser obesos y pasaron a ser clasifi cados como "sobrepeso" o peso "adecuado". En relación al IBD, se constataron niveles de depresión mínima (88,23%) y leve (11,77%) en el postoperatorio. No se encontraron índices de depresión moderada o grave. Las señales que evidenciaron la mayor prevalencia en la población en estudio fueron: autoacusaciones, irritabilidad, pérdida de apetito, pérdida de peso y pérdida de libido. Conclusión: La depresión es un síntoma frecuentemente encontrado entre los pacientes seleccionados para la cirugía bariátrica. Los índices encontrados en este trabajo demuestran que la depresión está íntimamente relacionada a la obesidad, ya que en el postoperatorio, con la reducción del peso, se han encontrado niveles de depresión mínimos o leves. Así, la pérdida de peso proveniente de la cirugía sugiere una mejora de la imagen corporal, ansiedad, autoestima y de la condición psíquica del paciente.

Palabras clave: Obesidad. Depresión. Cirugía bariátrica. Inventario de la depresión de Beck.

Beatriz Andrea Allegrini*, Gabriel Teixeira Cagnin*, Milena Theodoro*, Bruno Ziade Gil**, Durval Ribas Filho***

Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica218 - 222

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2018 jul.- dez.; 12(2): 219INTRODUÇÃO

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo

de gordura corpórea1, levando a prejuízos na saúde do

paciente, como doenças metabólicas, difi culdades de

locomoção e respiração2. Na prática clínica, um método

quantitativo para o diagnóstico da obesidade é o Índice

de Massa Corporal (IMC), calculado dividindo-se o peso

corporal em quilogramas, pelo quadrado da altura, em

metros quadrados. O IMC acima de 30 kg/m² classifi ca o

indivíduo como obeso3. Quanto à gravidade, a Organização

Mundial de Saúde (OMS) defi ne obesidade grau I quando

o IMC situa-se entre 30 e 34,9 kg/m², obesidade grau II

quando o IMC está entre 35 e 39,9 kg/m² e obesidade

grau III ou mórbida quando o IMC ultrapassa 40 kg/m².

O manejo da obesidade mórbida engloba orientação

dietética, programação de atividade física e o uso de

fármacos antiobesidade. Todavia, pela difi culdade de

se obter um resultado satisfatório e defi nitivo para a

obesidade mórbida por meio de um tratamento clínico,

a cirurgia bariátrica tem sido cada vez mais empregada

como um recurso terapêutico4. A seleção de pacientes para

a operação requer um mínimo de cinco anos de evolução

da obesidade com fracasso dos métodos convencionais de

tratamento, bem como a avaliação de doenças associadas.

As técnicas cirúrgicas se diferenciam de acordo com o

mecanismo de ação, podendo ser restritivas, disabsortivas

ou mistas. O padrão ouro atual é uma técnica mista

denominada Fobi-Capella5.

Ainda que a obesidade não seja classifi cada como

um transtorno psiquiátrico6, distúrbios psiquiátricos são

frequentemente encontrados em pacientes portadores

de tal condição. A depressão, transtorno do humor

caracterizado principalmente pela presença de humor

deprimido, perda do interesse por atividades prazerosas,

alterações de sono e do apetite, é o transtorno psiquiátrico

que mais se associa ao quadro de obesidade7.

A associação da depressão e obesidade não se

relaciona a uma personalidade específi ca8, visto que

pessoas obesas são geralmente alvos de discriminação

e preconceito, contribuindo para a manifestação de

distúrbios psicossociais9.

A insatisfação com o corpo é um dos elementos da

baixa autoestima que pode ter relação com a depressão10

e que se apresenta mais nítida no período pré-operatório,

fase em que o paciente tem uma imagem corporal

negativa. Pode-se conceituar imagem corporal como o

conjunto de percepções, pensamentos e sentimentos de

um indivíduo sobre o seu próprio corpo, e essa forma de

perceber o próprio corpo pode infl uenciar a percepção do

ambiente à sua volta, inclusive modifi cando suas relações

com outras pessoas11.

A cirurgia bariátrica é, portanto, uma efi ciente

terapia para a perda de peso, podendo promover também

mudanças na imagem corporal e, consequentemente,

no perfi l psiquiátrico dos pacientes, contribuindo para a

redução dos índices de depressão12.

A obesidade não é considerada um problema

psiquiátrico, porém, além dos problemas físicos, ela

causa uma série de distúrbios psicológicos no paciente,

como distúrbios de imagem corporal, transtornos do

comportamento alimentar, ansiedade e depressão.

Todos esses fatores interferem direta e indiretamente na

qualidade de vida dos pacientes13.

Posto isso, o estudo em questão tem sua importância

na avaliação do perfi l psicológico dos pacientes

submetidos à cirurgia bariátrica, a fi m de identifi car, por

meio do Inventário Diagnóstico de Beck (IDB), os níveis

de depressão e os aspectos depressivos encontrados na

avaliação dos pacientes, e demonstrar a prevalência do

distúrbio depressivo entre os pacientes submetidos à

cirurgia bariátrica.

OBJETIVOS

Avaliar a prevalência de transtornos depressivos em

pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pelos métodos

“Sleeve” e “Bypass”, caracterizando a população estudada

segundo dados epidemiológicos e mensurando esse grau

de depressão segundo o IDB.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal quanti-qualitativo,

realizado em uma clínica particular de atendimento na

cidade de Catanduva, interior do estado de São Paulo,

no período de março a agosto de 2017. A amostra foi

composta por 17 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica

pelos métodos “Sleeve” e “Bypass” de ambos os sexos,

com idades entre 25 e 47 anos, residentes em Catanduva-

SP ou região.

Foram usados critérios de inclusão: ter idade igual ou

superior a 18 anos, período pós-cirurgia bariátrica entre 8

Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica 218 - 222

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220 2018 jul.- dez.; 12(2):

a 15 meses, além de assinar o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE). Pacientes que se negaram a

participar da pesquisa a qualquer momento ou por não

possuírem condições físicas e/ou mentais satisfatórias

para responder às perguntas foram excluídos.

Para a pesquisa utilizaram-se dois questionários:

o primeiro foi desenvolvido pelos pesquisadores com

informações socioeconômicas (sexo, idade, escolaridade,

estado civil, profi ssão, peso atual, peso prévio à cirurgia e

altura) e o outro foi o IDB, devidamente validado para a

língua portuguesa14.

O IDB é composto por 21 itens com valores: 0, 1, 2

e 3, podendo totalizar um escore de 0 a 63. As respostas

com valores 1, 2 e 3 foram consideradas como indicativas

de sinais depressivos. Os itens referem-se a: 1) “Tristeza”;

2) “Pessimismo”; 3) “Sentimento de fracasso”; 4)

“Insatisfação; 5) “Culpa”; 6) “Punição; 7) “Autoaversão”;

8) “Autoacusações”;9) “Ideias suicidas”; 10) “Choro”; 11)

“Irritabilidade”; 12) “Retraimento social”; 13) “Indecisão”;

14) “Mudança na autoimagem”; 15) “Difi culdade de

trabalhar”; 16) “Insônia”; 17) “Fatigabilidade”; 18) “Perda

de apetite”; 19) “Perda de peso”; 20) “Preocupações

somáticas”; 21) “Perda da libido”. Para análise do

questionário foram somadas as numerações assinaladas

para cada item separadamente.

Assim, os escores de 0-11 representam depressão

mínima; de 12-19, depressão leve; de 20-35, depressão

moderada; e de 36-63, depressão grave15,16 (Quadro 1).

Quadro 1 - Níveis dos escores do IDB, para pacientes psiquiátricos, quando é empregada a versão em português

Nível Escores

Mínimo 0-11

Leve 12-19

Moderado 20-35

Grave 36-63

Fonte: Cunha16.

Os dados coletados foram digitados no programa

Excel 2007, sendo feita uma análise posterior relacionando

os resultados obtidos ao levantamento bibliográfi co

adquirido.

O projeto foi devidamente submetido ao Comitê de

Ética em Pesquisa do Centro Universitário Padre Albino

e encontra-se aprovado e registrado sob o protocolo nº

74449417.1.0000.5430.

RESULTADOS

Em relação aos dados sociodemográfi cos, foi

observado que os participantes do presente estudo (n=17)

apresentavam idades entre 25 e 47 anos; a maioria era

casada (64,7%) e do sexo feminino (76,47%); mais da

metade dos participantes (64,69%) se dividia em um

nível de escolaridade correspondente ao ensino superior

completo (47,05%) e ensino médio completo (17,64%).

A respeito dos dados de IMC calculados do pré-

operatório, todos os pacientes foram classifi cados como

obesos; alguns obtiveram IMC entre 35-39,9 kg/m2

(35,29%), classifi cados como obesos grau II; e a maioria

dos pacientes constaram IMC acima de 40 kg/m2 (64,7%),

classifi cados como obesos grau III. No pós-operatório,

mais da metade dos pacientes deixaram de ser obesos

(52,94%) e se enquadraram nas classes “sobrepeso” (IMC

entre 20-29,9 kg/m2) e “peso adequado” (IMC entre 18,6-

24,9 kg/m2).

Em relação ao IDB, observaram-se índices de

depressão mínima (88,23%) e leve (11,77%) (Gráfi co 1).

Não foram constatados níveis de depressão moderada ou

grave.

As perguntas 8, 11, 18, 19 e 21 referentes aos

sinais depressivos: autoacusações, irritabilidade, perda de

apetite, perda de peso e perda de libido, foram as questões

que evidenciaram a maior prevalência dos sinais clínicos

da depressão na população em estudo, correspondendo

a mais da metade (59,21%) das respostas consideradas

indicativas de sinais depressivos.

O sinal mais prevalente encontrado foi o de perda

de peso (70%), seguido de irritabilidade (58%), perda de

apetite (52%), autoacusações (47%) e perda de libido

Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica218 - 222

Gráfi co 1 - Intensidade da depressão em pacientes pós-cirurgia bariátrica

12%

88%

MÍNINO (0 A 11) LEVE (12 A 19)

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2018 jul.- dez.; 12(2): 221(35%). O único sinal não pontuado no IDB foi o referente

ao “sentimento de fracasso” (Tabela 1).

Tabela 1 - Prevalência dos sinais depressivos na população de pacien-tes bariátricos de 5-15 meses de pós-operatório

SINAIS DEPRESSIVOS

1. Tristeza 5,88%

2. Pessimismo 11,76%

3. Sentimento de fracasso 0%

4. Insatisfação 11,76%

5. Culpa 5,88%

6. Punição 11,76%

7. Autoaversão 11,76%

8. Autoacusações 47,05%

9. Ideias suicidas 5,88%

10. Choro 23,52%

11. Irritabilidade 58,82%

12. Retraimento social 17,64%

13. Indecisão 23,52%

14. Mudança na autoimagem 5,88%

15. Difi culdades de trabalhar 5,88%

16. Insônia 11,76%

17. Fatigabilidade 17,64%

18. Perda de apetite 52,94%

19. Perda de peso 70,58%

20. Preocupação somática 11,76%

21. Perda de libido 35,29%

DISCUSSÃO

Os dados encontrados corroboram a hipótese

de que a depressão está relacionada à obesidade. Foi

possível constatar que todos os pacientes pós-bariátrica

apresentaram algum grau de depressão, seja mínimo ou

leve nos valores respectivos de 88,23% e 11,77%; um

padrão similar da prevalência da depressão pós-bariátrica

foi relatado por Mota17, cujo estudo avaliou 50 pacientes

bariátricos no pré e pós-operatório da cirurgia por meio

do IDB. Os dados desse estudo acerca da prevalência de

depressão mínima e leve no pós-operatório foram 84% e

12%, portanto, semelhantes aos encontrados em nosso

estudo.

Para tanto, podemos deduzir que os valores estão

consoantes com o estudo de Mota17, estando a depressão

nessa população evidente. Dentre os aspectos depressivos

avaliados pelo IDB, os que mais se destacaram foram perda

de peso, irritabilidade, perda de apetite, autoacusações e

perda de libido. Tais aspectos podem estar relacionados

à mudança corporal e psíquica que a cirurgia proporciona

aos pacientes, associados à perda da capacidade de

ingerir quantidades satisfatórias de alimentos relacionadas

ao bem-estar causado por eles.

CONCLUSÃO

Os resultados do estudo possibilitaram identifi car

índices de depressão mínimo e leve nos pacientes bariátricos

pós-cirurgia, sendo os mais prevalentes irritabilidade e

autoacusações. Além disso, foi possível confi rmar que a

obesidade e a depressão estão relacionadas, tendo em

vista que todos apresentaram algum grau depressivo

segundo o questionário de Beck.

Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica 218 - 222

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Avaliação do perfi l psicológico (critérios de beck) e da frequência alimentar de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica218 - 222

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2018 jul.- dez.; 12(2): 223

ANÁLISE PROTOPARASITOLÓGICA E MICROBIOLÓGICA EM AMOSTRAS DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS DE IDADE ATENDIDAS POR CRECHE EM CAMPINAS-SP

PROTOPARASITOLOGICAL AND MICROBIOLOGICAL ANALYSIS IN SAMPLES OF CHILDREN FROM 0 TO 6 YEARS OLD ATTENDED IN DAY CARE CENTER IN CAMPINAS-SP

PROTOPARASITOLÓGICO Y ANALISIS MICROBIOLÓGICO EN MUESTRAS DE NIÑOS DE 0 A 6 AÑOS DE EDAD, ATENDIDAS POR GUARDERIAS INFANTILES EN CAMPINAS-SP

*Docentes do curso de Biomedicina do Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, Campinas-SP. Contato: [email protected]; [email protected]; [email protected]**Graduadas pelo curso de Biomedicina do Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, Campinas-SP.

ResumoIntrodução: As doenças parasitárias e enterobactérias patogênicas afetam um grande número de pessoas em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, sendo muitas vezes associadas a más condições de higiene e tendo poucas manobras sanitárias efetivas junto à população. O grau socioeconômico e de escolaridade baixos também contribuem para aumentar o contágio e disseminação dessas doenças entre a população. Os mais afetados, pelas enteroparasitoses e pelas infecções alimentares, são as crianças que possuem barreira imunológica imatura e maior contato e facilidade de disseminação desses microorganismos no meio em que vivem. Objetivo: Identifi car e classifi car, através de exames protoparasitológicos e microbiológicos, a frequência de microorganismos enteroparasitários em amostras de fezes de crianças atendidas por creche. Metodologia: Foram analisadas 36 amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade, sendo 17 meninas e 19 meninos, todos atendidos por uma creche fi lantrópica no município de Campinas, São Paulo. As amostras de fezes foram testadas em laboratório de parasitologia por duas metodologias: Hoffman e Faust, e em laboratório de microbiologia por Coprocultura. Resultados: Das 36 amostras, 14 (38,8%) apresentaram positividade para as parasitoses intestinais; observou-se uma porcentagem ligeiramente superior para o sexo feminino; com relação à idade, a maior positividade está entre os escolares com 3 anos (45,5%). O parasita mais encontrado foi Giardia lamblia (42,8%) e Entamoeba coli (42,8%), seguido por Endolimax nana (21,4%). Conclusão: O diagnóstico dessas doenças, tratamento e principalmente orientação quanto à profi laxia, visam melhorar a qualidade de vida e de saúde das crianças e seus familiares, reduzir gastos com complicações devido à cronicidade dessas doenças e minimizar a proliferação dessas doenças na comunidade.

Palavras-chave: Coprocultura. Creche. Enterobactérias patogênicas. Enteroparasitoses. Exame protoparasitológico.

AbstractIntroduction: Parasitic and pathogenic enterobacteriaceae diseases affect a great number of people under developed and developing countries, being many times associated to poor hygiene conditions and receiving few effective sanitary measures. Low educational and sociocultural levels also contribute to increase of these diseases infection and spread. The most affected by enteroparasitosis and by food-borne infection diseases are children; for having immature immunological barriers and more contact and facility to spread these microorganisms into the means where they live in. Objective: Identify and classify through (proto-) parasitological and microbiological examination the frequency of entero parasitic microorganisms in samples of children who attend day care center. Methodology: 36 samples of children aged 0-6 years old were analysed, being 17 girls and 19 boys, all attended by a charitable day care center in Campinas city - São Paulo state. Theses samples were tested in parasitology laboratory using two methods: Hoffman and Faust and in microbiology laboratory hroughfaecal tests. Results: 14 out of the 36 samples, (38.8%) presented positive for intestinal parasitosis, a slightly higher percentage was noticed for female sex. About age, the great test positivity is among 3-year-old schoolchildren (45.5%). The most found parasite were Giardia lamblia (42.8%) and Entamoeba coli (42.8%) followed by Endolimax nana (21.4%). Conclusion: The diagnosis of these diseases, treatment and mainly guidance on prophylaxis, aim to improve the quality of life and health of children and their families, reduce costs with complications due to the chronicity of these diseases and minimize the proliferation of these diseases in the community.

Keywords: Faecal test. Child day care centers. Pathogenic enterobacteria. Enteroparasitosis. Parasintological examination.

ResumenIntroducción: Las enfermedades parasitarias y enterobacterias patógenas afectan a un gran número de personas en países subdesarrollados y en desarrollo, a menudo asociadas a malas condiciones de higiene y teniendo pocas maniobras sanitarias efectivas junto a la población. El grado socioeconómico y de escolaridad bajos también contribuyen a aumentar el contagio y diseminación de esas enfermedades entre la población. Los más afectados, por las enteroparasitosas y las infecciones alimenticias, son los niños que poseen una barrera inmunológica inmadura y un mayor contacto y facilidad de diseminación de esos microorganismos en el medio en que viven. Objetivo: Identifi car y clasifi car, a través de exámenes protoparasitológicos y microbiológicos, la presencia de microorganismos enteroparasitarios en muestras de heces de niños atendidas por guardería. Metodología: Se analizaron 36 muestras de niños de 0 a 6 años de edad, siendo 17 niñas y 19 niños, todos atendidos por la guardería fi lantrópica en el municipio de Campinas, São Paulo. Las muestras de heces fueron probadas en laboratorio de parasitología por dos metodologías: Hoffman y Faust y en laboratorio de microbiología por Coprocultura. Resultados: De las 36 muestras, 14 (38,8%) presentaron positividad para las parasitosis intestinales, se observó un porcentaje ligeramente superior para el sexo femenino, con relación a la edad la mayor positividad es entre los escolares de 3 años (45,5%). El parásito más encontrado fue Giardia lamblia (42,8%) y Entamoeba coli (42,8%), seguido por Endolimax nana (21,4%). Conclusión: El diagnóstico de estas enfermedades, tratamiento y principalmente orientación en cuanto a la profi laxis, tienen como objetivo mejorar la calidad de vida y de salud de los niños y sus familiares, reducir gastos con complicaciones debido a la cronicidad de esas enfermedades y minimizar la proliferación de esas enfermedades en la comunidad.

Palabras clave: Cultivo de heces. Guarderias infantiles. Enterobacterias patógenas. Parásitos intestinales. Examen protoparasitológico.

Águeda Cleofe Marques Zaratin*, Alexandre Veronez*, Rosana Francisco dos Santos Siqueira*, Andrezza Pereira Barbato**, Michelle Maria Monteiro dos Santos**

Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP 223 - 227

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224 2018 jul.- dez.; 12(2):

INTRODUÇÃO

As infecções causadas por parasitas intestinais

constituem um problema de saúde pública mundial,

apresentando maior prevalência em indivíduos de países

subdesenvolvidos, devido a inúmeros fatores, como

poluição fecal da água e de alimentos contaminados,

ausência de instalações sanitárias adequadas, aspectos

socioculturais, falta de saneamento básico, convívio com

determinados animais, além do tipo de parasita e idade do

hospedeiro1,2.

As gastroenterites infecciosas afetam grande parte

da população mundial. São eventos deletérios à saúde

humana, também decorrentes da precariedade sanitária,

afetando, principalmente, grupos com hipossufi ciência

socioeconômica que costumam habitar locais insalubres3.

O estudo sobre a epidemiologia dos parasitas

intestinais tem a fi nalidade de indicar as principais doenças

e seus agentes etiológicos que são disseminados em

determinada região, de maneira epidêmica ou endêmica.

Identifi cando e analisando a prevalência desses parasitas

e suas formas de propagação entre os indivíduos, medidas

de controle mais efi cientes devem ser prioritárias,

favorecendo intervenções apropriadas na redução dos

agravos4.

No Brasil, as doenças entéricas são responsáveis

por grande número de atendimentos na rede pública de

saúde, exigindo maior atenção às crianças que apresentam

os seguintes sintomas mais comuns: irritabilidade,

desnutrição, retardo cognitivo, anemia, aumento da

suscetibilidade e complicações agudas. Isso pode ocorrer

por conta das más condições de higiene e sanitárias, além

da condição de desnutrição e do ambiente em que estão,

como creches, orfanatos, escolas, facilitando o contato

interpessoal e disseminação destes patógenos5.

A diversidade de patógenos em ambientes

escolares revela a carência de conhecimentos de higiene

e educação sanitária que acomete a população e como

essa circunstância favorece a propagação de doenças. A

creche serve de indicador do que esperar da comunidade

próxima. Analisar como se encontram as crianças da

creche nos auxilia a descrever os aspectos epidemiológicos

da comunidade local, analisando os prováveis fatores de

risco. A creche também funciona como um centro de

conhecimento para os indivíduos periféricos, incluindo as

crianças como agentes multiplicadores dos conhecimentos

relacionados às boas práticas de saúde e higiene5.

O presente estudo teve por objetivo identifi car e

classifi car, através de exames protoparasitológicos e mi-

crobiológicos, a frequência de microorganismos entero-

parasitários em amostras de fezes de crianças atendidas

por creche, prestando conhecimento para a comunidade

envolvida na pesquisa, tanto os familiares quanto os pro-

fi ssionais da creche, da situação de risco que enfrentam

quanto às infecções parasitárias e alimentares. Os resulta-

dos dos laudos e as orientações podem auxiliar a diminuir

a incidência de doenças entéricas nessa comunidade.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de um estudo de caráter descritivo-

analítico realizado em uma creche fi lantrópica da cidade

de Campinas-SP com nível socioeconômico baixo. Foram

analisadas amostras de 36 crianças de 0 a 6 anos, das

quais, os pais responderam pela participação mediante a

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE). Os frascos coletores foram disponibilizados para

que o próprio professor da creche realizasse a coleta das

amostras de fezes, sendo uma amostra de cada criança. As

amostras foram recolhidas em uma data pré-estabelecida

e enviadas em um recipiente próprio, de isopor, ao

laboratório de Análises Clínicas do Centro Universitário

UniMetrocamp-Wyden.

Para a realização do exame parasitológico foram

utilizados dois métodos laboratoriais diferentes: Método

de Faust (centrífugo-fl utuação em sulfato de zinco) usado

para a pesquisa de cistos de protozoários, permitindo,

também, o encontro de ovos leves; e o Método de Hoffmann

(sedimentação espontânea) baseado na sedimentação

espontânea de ovos pesados, cistos e larvas, com leitura

de uma lâmina de cada amostra ao microscópio óptico.

Em relação ao exame microbiológico, foi empregada

a técnica de coprocultura para verifi car a presença e

classifi car bactérias patogênicas no trato gastrointestinal

do indivíduo. As amostras foram testadas buscando

investigar a presença de Salmonella sp. e Shigella sp. A

pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa

do Centro Universitário UniMetrocamp-Wyden, sob o

número 80406317.2.0000.5632.

RESULTADOS

De acordo com os testes parasitológicos, das

Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP223 - 227

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2018 jul.- dez.; 12(2): 22536 amostras analisadas, 14 (38,8%) apresentavam

positividade para as parasitoses intestinais. Conforme

o sexo dos indivíduos (Gráfi co 1), observa-se uma

porcentagem ligeiramente superior para o sexo feminino

(41,2%). Com relação à idade (Gráfi co 2), a maior

positividade está entre os escolares com 3 anos (45,5%).

Gráfi co 1 - Frequência dos parasitas de acordo com o sexo dos indivíduos

Gráfi co 2 - Frequência dos parasitas de acordo com a idade dos indivíduos

De acordo com os parasitas encontrados (Gráfi co3),

observou-se igual frequência de Giardia sp.(42,8%) e de

E. coli (42,8%), seguidos por Endolimax nana (21,4%).

Para o sexo masculino houve 4 casos de Giardia sp.

(66,6%), 3 casos de E. coli (50%) e 1 caso de Endolimax

nana (33,4%), e para o sexo feminino houve 3 casos

de E. coli (50%), 2 casos de Giardia sp. (33,4%) e 2 de

Endolimax nana (66,6%). Entre as amostras analisadas foi

encontrado um caso de poliparasitismo em um indivíduo

do sexo masculino.

Gráfi co 3 - Frequência dos parasitas de acordo com o sexo dos indivíduos

Conforme o Gráfi co 4, a frequência de Giardia sp. e

E. coli no total de alunos analisados foi igual, sendo que

E. coli foi encontrada nos indivíduos de 1 ano, 3 anos e

6 anos de idade; enquanto que a Giardia sp mostrou-se

presente nos indivíduos de todas as faixas etárias com

exceção dos de 5 anos. Endolimax nana foi encontrada

somente nos indivíduos de 3 e 6 anos.

Gráfi co 4 - Frequência dos parasitas encontrados de acordo com a idade dos indivíduos

Nas análises microbiológicas todas as amostras

foram negativas para Salmonella sp. e Shigella sp.

DISCUSSÃO

A realização de exames protoparasitológicos e

microbiológicos de indivíduos de uma determinada região

pode estabelecer uma análise epidemiológica sobre

essa comunidade relacionando as doenças parasitárias

e infecções gastrointestinais aos hábitos de higiene e

condições sanitárias desta população.

No presente estudo, a frequência de parasitoses

foi de 38,8%, sendo a Giardia lamblia o parasita mais

frequente (42,8%), afetando principalmente as crianças

de 3 anos. Em um estudo realizado em uma creche da

cidade de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, em

crianças com faixa etária semelhante ao presente estudo,

os resultados foram semelhantes quanto à positividade

para parasitoses, com 32,3%, sendo o parasita mais

frequente a Giardia lamblia com 90%5. Um outro estudo,

dessa vez em Tubarão, Santa Catarina, encontrou 29,3%

de escolares infectados, sendo o parasita mais presente a

Giardia lamblia com 18,7%6. Pesquisa realizada em uma

escola pública de Porto Alegre-RS, encontrou 36% das

amostras positivas, porém, o parasita mais frequente foi o

Ascaris lumbricoides, com 50,72%7. Em Catanduva-SP, um

estudo encontrou 29,2% de indivíduos entre 2 e 5 anos

de idade parasitados, sendo 73% por Giardia lamblia,10%

por Entamoeba coli e 7,9% por Endolimax nana8.

Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP 223 - 227

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226 2018 jul.- dez.; 12(2):

Quanto à idade das crianças parasitadas, elas se

encontram na etapa da oralidade, passando por mudanças

de hábitos alimentares e pessoais; também possuem uma

resposta imune imatura, tornando-se essencial a prática

de medidas preventivas9.

No nosso estudo, a maior positividade está entre

os escolares de 3 anos (45,5%), também encontrado por

Reuter et al.5 com 54,6% de positividade. Ferreira et al.9

identifi caram no Movimento Sem Teto 83% das crianças

até 5 anos parasitadas, sendo que quase todas maiores

de 2 anos de idade estavam parasitadas, o que pode

ser explicado pelo fato de no segundo semestre de vida

começar o período de desenvolvimento, possibilitando

à criança se locomover no ambiente, assim elevando as

chances de contaminação.

Os resultados deste estudo indicam que há maior

frequência de parasitoses intestinais em escolares do

sexo feminino, 41,2%, contra 36,9% do sexo masculino.

Como também encontrado por Zaiden et al.10 com uma

porcentagem de 22,8% do sexo feminino, contra 17% do

sexo masculino, e por Reuter et al.5 com uma porcentagem

de 60% de crianças do sexo feminino parasitadas. Até o

momento não foram encontrados estudos que justifi quem

a relação entre o sexo do indivíduo e a presença de

parasitose intestinal.

A frequência de giardíase demonstra que tanto a

idade como o nível socioeconômico são relevantes para

esta infecção. Crianças de creche têm maior contato entre

si, o que contribui para a transmissão de pessoa para

pessoa. O nível socioeconômico infl uencia as práticas de

higiene pessoal e os cuidados com os alimentos e a água11.

A giardíase apresenta aspectos clínicos abrangentes

que variam de casos de pacientes assintomáticos até

pacientes com efeitos severos. As variáveis são múltiplas,

podendo ser atribuídas ao tipo de cepa do parasita,

duração da infecção, estado nutricional e imunidade12.

Embora a área da saúde apresente melhorias

técnico-científi cas, as doenças parasitárias são mais

constantes em indivíduos de baixa renda, devido à falta de

saneamento básico que leva a condições mais suscetíveis

ao risco de infecção parasitária6.

A Entamoeba coli e a Endolimax nana, dois parasitas

também encontrados nas amostras deste estudo, são

classifi cadas como amebas não patogênicas, ou seja, não

causam amebíase. Entretanto, sua presença nas fezes

indica contaminação fecal da água e/ou dos alimentos

ingeridos pelo paciente, um dado importante a ser debatido

neste trabalho, que tem como fi nalidade evidenciar a

importância da educação continuada sobre a higiene

pessoal e a disponibilidade do saneamento básico para

toda a população. A única ameba que em determinadas

situações pode ser patogênica é a Entamoeba histolytica

sendo considerada a segunda causa de óbito entre as

doenças parasitárias em todo o mundo, com grande

impacto na saúde dessas populações13.

No presente estudo houve apenas um caso de

poliparasitismo. A predominância do monoparasitismo14,15

está relacionada à competição do mesmo nicho pelos

parasitas16 ou à baixa interação do indivíduo com meios

contaminados por diferentes espécies de parasitas.

Segundo Uchôa et al.17 seria importante realizar o

estudo abrangendo os profi ssionais que trabalham com as

crianças na creche, principalmente aqueles envolvidos na

preparação dos alimentos das crianças, visto que a maioria

das parasitoses e das infecções entéricas por bactérias

patogênicas ocorrem por consumo de água e alimentos

contaminados.

As análises microbiológicas apresentaram resultado

negativo para todas as amostras. A pesquisa microbiológica

teve como foco, principalmente, a detecção de Salmonella

sp. e Shigella sp., ambas bactérias patogênicas causadoras

de infecção alimentar.

Por se tratarem de enterobactérias, sua transmissão

ocorre pela via fecal-oral através da ingestão de água e/

ou alimentos contaminados ou via pessoa-pessoa quando

os indivíduos manipuladores de alimentos não realizam

as boas práticas de higiene sanitária18. Dessa forma, o

fato de não encontrarmos a presença destes patógenos

nas amostras de fezes permite concluir que não há

disseminação destas bactérias patogênicas na creche ou

nos domicílios dos pesquisados.

CONCLUSÃO

O resultado do estudo mostrou que há crianças

parasitadas na creche onde o levantamento dos dados

foi realizado. Os dados foram concordantes com outros

estudos sobre o tema. Não houve diferença entre a

quantidade de meninos e meninas parasitados, entretanto,

as crianças entre 2 e 5 anos são as mais atingidas pelos

parasitas devido à fase da oralidade, maior independência

Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP223 - 227

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2018 jul.- dez.; 12(2): 227de movimentos e locomoção, e menor conhecimento sobre

higiene pessoal. Por se tratar de crianças que frequentam

o ambiente de uma creche, há maior contato entre elas e

menor supervisão de um adulto.

Os resultados da pesquisa sugerem que as pessoas

da comunidade onde se encontra a creche podem estar

sendo acometidas por doenças parasitárias, visto que a

transmissão dos parasitas ocorre pelo contato entre as

pessoas e geralmente com a ingestão de água e alimentos

contaminados. O presente trabalho indica que os familiares

próximos das crianças que tiveram resultados positivos

deveriam procurar o serviço de saúde para avaliação e

tratamento. Os familiares das crianças cujos resultados

apresentaram-se negativos podem repetir o exame

caso haja sintomas de infecções parasitárias, visto que

com apenas uma coleta do material fecal não é possível

garantir 100% de efetividade do exame devido ao ciclo de

vida dos parasitas.

Como não houve identifi cação de bactérias

patogênicas nas amostras, concluímos que não há casos

de infecção enterobacteriana nos indivíduos participantes

da pesquisa.

Salientamos, ainda, a importância de palestras

educativas sobre higiene pessoal e coletiva para prevenção

de contaminação e reinfecção.

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9. Ferreira HS, Assunção ML, Vasconcelos VS, Melo FP, Oliveira CG, Santos TO. Saúde de populações marginalizadas: desnutrição, anemia e enteroparasitoses em crianças de uma favela do “Movimento dos Sem Teto”, Maceió, Alagoas. Rev Bras Saude Mater Infant. 2002; 2(2):177-85.

10. Zaiden MF, Santos BO, Cano MAT, Nascif Júnior, IA. Epidemiologia das parasitoses intestinais em crianças de creches de Rio Verde-GO. Medicina (Ribeirão Preto). 2008; 41(2):182-7.

11. Araujo Filho HB, Carmo-Rodrigues, MS, Mello, CS, Melli, LCFL, Tahan,

S, Morais, MB. Parasitoses intestinais se associam a menores índices de peso e estatura em escolares de baixo estrato socioeconômico. Rev Paul Pediatr. 2011; 29(4):521-8.

12. Pedroso, RF, Amarante, MK. Giardíase: aspectos parasitológicos e imunológicos. Biosaúde. 2006; 8(1):61-72.

13. Santos, FLN, Soares, NM. Mecanismos fi siopatogênicos e diagnóstico laboratorial da infecção causada pela Entamoeba histolytica. J Bras Patol Med Lab. 2008; 44(4):249-61.

14. Silva, EF, Silva, VBC, Freitas, FLC. Parasitoses intestinais em crianças residentes na comunidade Ribeirinha São Francisco do Laranjal, município de Coari, Estado do Amazonas, Brasil. Rev Patol Trop. 2012; 41(1):97-101.

15. Visser S, Giatti LL, Carvalho RAC, Guerreiro JCH. Estudo da associação entre fatores socioambientais e prevalência de parasitose intestinal em área periférica da cidade de Manaus (AM, Brasil). Ciênc Saúde Colet. 2011; 16(8):3481-92.

16. Silva PL, Silva RMG. Ocorrência de enteroparasitoses em Centros de Educação Infantil no município de Patos de Minas, MG, Brasil. Biosci J. 2010; 26 (1):147-51.

17. Uchôa CMA, Albuquerque MC, Carvalho FM, Falcão AO, Silva P, Basto OMP. Parasitismo intestinal em crianças e funcionários de creches comunitárias na cidade de Niterói-RJ, Brasil. Rev Patol Trop. 2009; 38(4):267-78.

18. Delazeri MAF, Lawisch GKS. Incidência de parasitos intestinais em crianças das escolas municipais de educação infantil e ensino fundamental de um município do interior do Rio Grande do Sul. Destaques Acadêmicos. 2017; 9 (3):206-15.

Envio: 11/05/2018 Aceite: 12/07/2018

Análise protoparasitológica e microbiológica em amostras de crianças de 0 a 6 anos de idade atendidas por creche em Campinas-SP 223 - 227

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228 2018 jul.- dez.; 12(2):

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

A , revista do Centro

Universitário Padre Albino (FIPA) de Catanduva-SP, com

periodicidade semestral, tem por objetivo proporcionar à

comunidade científi ca, enquanto um canal formal de comunicação

e disseminação da produção técnico-científi ca nacional, a

publicação de artigos relacionados à área da saúde, especialmente

da Enfermagem. Objetiva também publicar suplementos sob a

forma de coleções de artigos que abordem tópicos ou temas

relacionados à saúde. O artigo deve ser inédito, isto é, não

publicado em outros meios de comunicação.

As normas de um periódico estabelecem os princípios

éticos na condução e no relatório da pesquisa e fornecem

recomendações com relação aos elementos específi cos da edição

e da escrita. Visam melhorar a qualidade e a clareza dos textos

dos artigos submetidos à revista, além de facilitar a edição.

Os Editores recomendam que os critérios para autoria sejam

contribuições substanciais à concepção e ao desenho, ou à coleta,

análise e à interpretação de dados; redação do artigo ou revisão

crítica visando manter a qualidade do conteúdo intelectual; e

aprovação fi nal da versão a publicar.

CATEGORIAS DE ARTIGOS DA REVISTA

ARTIGOS ORIGINAIS: trabalho de pesquisa com resultados

inéditos que agreguem valores à área da saúde, em especial

na área da Enfermagem. Sua estrutura deve conter: resumo,

descritores (palavras-chave), introdução, objetivos, material e

métodos, resultados, discussão, conclusões e referências. Sua

extensão limita-se a 15 páginas. Seguir instruções que constam na

preparação do artigo. Recomenda-se que o número de referências

bibliográfi cas limite-se a 20, havendo, todavia, fl exibilidade. O

texto deve conter fontes bibliográfi cas internacionais. O artigo

original não deve ter sido divulgado em nenhuma outra forma de

publicação ou em revista nacional.

ARTIGOS DE REVISÃO: avaliação crítica e abrangente sobre

assuntos específi cos e de interesse para o desenvolvimento da

Enfermagem, já cientifi camente publicados. Os artigos deverão

conter até 15 páginas.

ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO: trabalhos

descritivos e interpretativos sobre novas técnicas ou procedimentos

globais e atuais em que se encontram determinados assuntos

investigativos. Os artigos deverão conter até 10 páginas.

ESPAÇO ACADÊMICO: destinado à divulgação de estudos

desenvolvidos durante graduação, em obediência as mesmas

normas exigidas para os artigos originais. O nome do orientador

deverá ser indicado em nota de rodapé, e deverão conter no

máximo 10 páginas.

RELATOS DE CASO(S): descrição de casos envolvendo

pacientes, ou situações singulares, doenças raras ou nunca

descritas, assim como formas inovadoras de diagnóstico ou

tratamento. O texto em questão aborda os aspectos relevantes

que devem ser comparados com os disponíveis na literatura.

Deverá ser enviada cópia do Parecer do CEP.

RESENHAS E REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS: análise crítica da

literatura científi ca publicada recentemente. Os artigos deverão

conter até 3 páginas.

Os artigos devem ser encaminhados ao editor-chefe da

revista, especifi cando a sua categoria, devendo ser anexada a

DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E TRANSFERÊNCIA

DE DIREITOS AUTORAIS, nos seguintes moldes: Eu (nós),

abaixo assinado(s) transfi ro(erimos) todos os direitos autorais do

artigo intitulado (título) à CuidArte Enfermagem. Declaro(amos)

ainda que o trabalho é original e que não está sendo considerado

para publicação em outra revista, quer seja no formato impresso

ou eletrônico. Data e Assinatura(s).

Cada artigo deverá indicar o nome do autor responsável pela

correspondência junto a Revista, e seu respectivo endereço,

incluindo telefone e e-mail, e a este autor será enviado um

exemplar da revista.

ASPECTOS ÉTICOS: todas as pesquisas envolvendo estudos com

seres humanos deverão estar de acordo com a Resolução CNS-

196/96, devendo constar o consentimento por escrito do sujeito

e a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa. Caso a pesquisa

não envolva seres humanos, especifi car no ofício encaminhado.

Deverá ser enviada cópia do Parecer do CEP. Quando relatam

experimentos com animais, os autores devem mencionar se

foram seguidas as diretrizes institucionais e nacionais para os

cuidados e a utilização dos animais de laboratório.

ENVIO DE ORIGINAIS: o artigo deve ser enviado pelo correio

em 2 vias impressas, com cópia em CD, digitado no programa

Microsoft Offi ce Word da versão 2003 a 2010. A revista não

228 - 230

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2018 jul.- dez.; 12(2): 229se responsabilizará por eventual extravio durante o envio do

material. Após o recebimento do material será enviado e-mail de

confi rmação ao autor responsável.

SELEÇÃO DOS ARTIGOS: inicialmente, todo artigo submetido à

Revista será apreciado pelo Conselho Científi co nos seus aspectos

gerais, normativos e sua qualidade científi ca. Ao ser aprovado,

o artigo será encaminhado para avaliação de dois revisores do

Conselho Científi co com reconhecida competência no assunto

abordado. Caso os pareceres sejam divergentes o artigo será

encaminhado a um terceiro conselheiro para desempate (o

Conselho Editorial pode, a seu critério, emitir o terceiro parecer).

Os artigos aceitos ou sob restrições poderão ser devolvidos aos

autores para correções ou adequação à normalização segundo

as normas da Revista. Artigos não aceitos serão devolvidos aos

autores, com o parecer do Conselho Editorial, sendo omitidos

os nomes dos revisores. Aos artigos serão preservados a

confi dencialidade e sigilo, assim como, respeitados os princípios

éticos.

PREPARAÇÃO DO ARTIGO

Formatação do Artigo: a formatação deverá obedecer às

seguintes características: impressão e confi guração em folha A4

(210 X 297 mm) com margem esquerda e superior de 3cm e

margem direita e inferior de 2cm. Digitados em fonte Times New

Roman tamanho 12, espaço 1,5 entrelinhas, com todas as páginas

numeradas no canto superior direito. Devem ser redigidos em

português. Se for necessário incluir depoimentos dos sujeitos,

estes deverão ser em itálico em letra tamanho 10, na sequência

do texto. Citação ipsis litteris usar aspas na sequência do texto.

Autoria, Título e Subtítulo do Artigo: apresentar o título do

trabalho (também em inglês e espanhol) conciso e informativo,

contendo o nome dos autores (no máximo 6). No rodapé, deverá

constar a ordem em que devem aparecer os autores na publicação,

a maior titulação acadêmica obtida, fi liação institucional, onde

o trabalho foi realizado (se foi subvencionado, indicar o tipo de

auxílio, nome da agência fi nanciadora) e o endereço eletrônico.

Resumo: deverá ser apresentado em português, inglês

(Abstract) e espanhol (Resumen). Deve vir após a folha de rosto,

tipo informativo, limitar-se ao máximo de 250 palavras e deverá

conter: objetivo do estudo, procedimentos básicos (seleção dos

sujeitos, métodos de observação e análise, principais resultados e

as conclusões). Redigir em parágrafo único, espaço simples, fonte

10, sem recuo de parágrafo.

Palavras-chave: devem aparecer abaixo do resumo, conter

no mínimo 3 e no máximo 6 termos que identifi quem o tema,

limitando-se aos descritores recomendados nos Descritores em

Ciência da Saúde (DeCS) e apresentado pela BIREME na forma

trilingue, disponível à página URL: http://decs.bvs.br. Apresentá-

los em letra inicial maiúscula, separados por ponto. Ex: Palavras-

chave: Enfermagem hospitalar. Qualidade. Saúde.

Tabelas: as tabelas (fonte 10) devem ser numeradas

consecutivamente com algarismos arábicos, na ordem em que

forem citadas no texto, com a inicial do título em letra maiúscula

e sem grifo, evitando-se traços internos horizontais ou verticais.

Notas explicativas deverão ser colocadas no rodapé das tabelas.

Seguir Normas de Apresentação Tabular do IBGE. Há uma

diferença entre Quadro e Tabela. Nos quadros colocam-se as

grades laterais e são usados para dados e informações de caráter

informativo. Nas tabelas não se utilizam as grades laterais e são

usadas para dados analisados.

Ilustrações: qualquer que seja o tipo de ilustração, sua

identifi cação aparece na parte superior, precedida da palavra

designativa (Desenho, Esquema, Fluxograma, Fotografi a, Gráfi co,

Mapa, Organograma, Planta, Quadro, Retrato, Figura, Imagem,

entre outros), seguida de seu número de ordem de ocorrência

no texto, em algarismos arábicos, travessão e do respectivo

título. As legendas devem ser claras. Para utilização de ilustrações

extraídas de outros estudos, já publicados, os autores devem

solicitar a permissão, por escrito, para reprodução das mesmas.

As autorizações devem ser enviadas junto ao material por

ocasião da submissão. Figuras coloridas não serão publicadas.

As ilustrações deverão ser enviadas juntamente com os artigos

em uma pasta denominada fi guras, no formato BMP ou TIF com

resolução mínima de 300 DPI. A revista não se responsabilizará

por eventual extravio durante o envio do material.

Abreviações/Nomenclatura: o uso de abreviações deve ser

mínimo e utilizadas segundo a padronização da literatura. Indicar

o termo por extenso, seguido da abreviatura entre parênteses, na

primeira vez que aparecer no texto. Quando necessário, citar apenas

a denominação química ou a designação científi ca do produto.

Citações no texto: devem ser numeradas com algarismos

arábicos sobrescritos, de acordo com a ordem de aparecimento no

texto. Quando o autor é novamente citado manter o identifi cador

inicial. No caso de citação no fi nal da frase, esta deverá vir antes

do ponto fi nal e no decorrer do texto, antes da vírgula. Exemplo

1: citações com numeração sequencial “...de acordo com vários

estudos”1-9. - Exemplo 2: citações com números intercalados “...

de acordo com vários estudos”1,3,7-10,12. Excepcionalmente pode ser

empregado o nome do autor da referência como, por exemplo, no

início de frases destacando sua importância.

228 - 230

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230 2018 jul.- dez.; 12(2):

Agradecimentos: deverão, quando necessário, ocupar um

parágrafo separado antes das referências bibliográfi cas.

Referências: as referências devem estar numeradas

consecutivamente na ordem que aparecem no texto pela primeira

vez e estar de acordo com o “Estilo Vancouver” Requisitos

Uniformes do Comitê Internacional de Editores de Revistas

Médicas (International Committee of Medical Journal Editors –

ICMJE). Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_

requirements.html e também disponível em: http://www.bu.ufsc.

br/ccsm/vancouver.html traduzido e adaptado por Maria Gorete

M. Savi (Coordenadora) e Helena Schmidt Burg. Os títulos dos

periódicos devem ser abreviados pela lista de abreviaturas de

periódicos da Index Medicus (base de dados Medline), que pode

ser consultado no endereço: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/

query.fcgi?db=journals sendo que coloca-se um ponto após o

título para separá-lo do ano. Exemplos: N Engl J Med. 2013. Para

abreviatura dos títulos de periódicos nacionais e latino-americanos,

consulte o site: http://portal.revistas.bvs.br eliminando os pontos

da abreviatura, com exceção do último ponto para separar do

ano. Exemplos: Femina., Rev Bras Reumatol., Rev Bras Hipertens.

Utilizar preferencialmente referências com menos de cinco anos

de publicação. Incluir também referências internacionais na

discussão, principalmente de textos publicados em periódicos

científi cos internacionais ou, se forem periódicos publicados no

Brasil, que sejam também indexados em bases internacionais.

EXEMPLO DE REFERÊNCIAS

Devem ser citados até seis autores, acima deste número, citam-

se apenas os seis primeiros autores seguidos de et al.

Livro

Baird SB, Mccorkle R, Grant M. Cancer nursing: a comprehensive

textbook. Philadelphia: WB. Saunders; 1991.

Capítulo de livro

Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH,

Brener BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and

management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78.

Agência governamental como autor

Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde,

Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS.

Acolhimento e classifi cação de risco nos serviços de urgência.

Brasília: Ministério da Saúde; 2009.

Autor (pessoa física) e organização como autores

Vallancien G, Emberton M, Harving N, van Moorselaar RJ; Alf-One

Study Group. Sexual dysfunction in 1,274 European men suffering

from lower urinary tract symptoms. J Urol. 2003; 169(6):2257-61.

Artigo de periódico com mais de 6 autores

Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E, et

al. Childhood leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-

up. Br J Cancer. 1996; 73:1006-12.

Trabalho apresentado em congresso

Lorenzetti J. A saúde no Brasil na década de 80 e perspectivas

para os anos 90. In: Mendes NTC, coordenadora. Anais do 41º

Congresso Brasileiro de Enfermagem; 1989 set 2-7; Florianópolis,

Brasil. Florianópolis: ABEn – Seção SC; 1989. p. 92-5.

Documentos jurídicos

Brasil. Lei nº. 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre

a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras

providências. Diário Ofi cial da República Federativa do Brasil, 26

jun 1986. Seção 1, p.1.

Tese/Dissertação

Lipinski JM. A assistência de enfermagem a mulher que provocou

aborto discutida por enfermeiros em busca de uma assistência

humanizada [dissertação]. Florianópolis (SC): Programa de Pós-

Graduação em Enfermagem/ UFSC; 2000.

Artigo em formato eletrônico

Polgreen PM, Diekema DJ, Vandeberg J, Wiblin RT, Chen YY,

David S, et al. Risk factors for groin wound infection after femoral

artery catheterization: a case-control study. Infect Control Hosp

Epidemiol [Internet]. 2006 Jan [citado em 5 jan. 2007]; 27(1):34-

7. Disponível em: http://www.journals.uchicago.edu/ICHE/

journal/issues/v27n1/2004069/2004069.web.pdf

Alves Júnior L, Rodrigues AJ, Évora PRB, Basseto S, Scorzoni

Filho A, Luciano PM, et al. Fatores de risco em septuagenários

ou mais idosos submetidos à revascularização do miocárdio e

ou operações valvares. Rev Bras Cir Cardiovasc [Internet]. 2008

[citado em 06 out. 2016]; 23(4):550-5. Disponível em: http://

www.scielo.br/ pdf/rbccv/v23n4/v23n4a16.pdf

ENDEREÇO PARA ENCAMINHAMENTO DE ARTIGOS

Rua dos Estudantes, 225

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CEP. 15809-144

Contato: e-mail: revistaenfermagem@unifi pa.com.br

Fone: (17) 3311-3331

228 - 230

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2018 jul.- dez.; 12(2): 231

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232 2018 jul.- dez.; 12(2):

Tel.: (17) 3522-4453E-mail: [email protected]

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