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PROPOSTA DE REDIMENSIONAMENTO DE INSTRUMENTO SOBRE CONSUMO SUSTENTÁVEL A PARTIR DA ÓTICA DE UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS SILVANA SILVA VIEIRA TAMBOSI Universidade Regional de Blumenau - FURB [email protected] VANESSA EDY DAGNONI MONDINI FURB - Universidade Regional de Blumenau [email protected] GUSTAVO DA ROSA BORGES FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau [email protected] NELSON HEIN FURB [email protected]

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PROPOSTA DE REDIMENSIONAMENTO DEINSTRUMENTO SOBRE CONSUMO SUSTENTÁVEL APARTIR DA ÓTICA DE UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS

 

 

SILVANA SILVA VIEIRA TAMBOSIUniversidade Regional de Blumenau - [email protected] VANESSA EDY DAGNONI MONDINIFURB - Universidade Regional de [email protected] GUSTAVO DA ROSA BORGESFURB - Fundação Universidade Regional de [email protected] NELSON [email protected] 

 

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PROPOSTA DE REDIMENSIONAMENTO DE INSTRUMENTO SOBRE CONSUMO

SUSTENTÁVEL A PARTIR DA ÓTICA DE UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS

RESUMO

O objetivo deste estudo é propor um redimensionamento de um instrumento de pesquisa sobre

consumo sustentável a partir da ótica de universitários brasileiros. Para isso, utilizou-se uma

pesquisa quantitativa e descritiva com 182 estudantes de uma instituição de ensino superior

do sul do Brasil. Os dados foram analisados pela análise fatorial exploratória, a qual indicou

um redirecionamento dos itens propostos por Cardoso e Cairrão (2007), quando estudaram

universitários portugueses. Após o tratamento estatístico, percebeu-se a existência de oito

dimensões ao invés das três originais. Elas foram assim batizadas: Consciência ambiental,

Embalagens sustentáveis, Produtos naturais, Crescimento controlado, Controle humano sobre

a natureza, Sustentabilidade, Impactos ambientais e Reciclagem. Dentre elas, a Consciência

ambiental, a preferência por embalagens sustentáveis e o consumo de Produtos naturais foram

as mais importantes na ótica dos acadêmicos brasileiros pesquisados. Outros resultados foram

encontrados e discutidos no trabalho.

Palavras-Chaves: Sustentabilidade; Consumo Sustentável; Produtos Ecológicos; Consciência

ambiental.

RESIZING PROPOSAL OF A RESEARCH INSTRUMENT ABOUT SUSTAINABLE

CONSUMPTION IN THE PERCEPTION OF BRAZILIAN UNIVERSITY STUDENTS

ABSTRACT

The goal of this article is to propose the resizing of a research instrument about Sustainable

Consumption from the perception of Brazilian university students. For this, a quantitative and

survey research was used, with 182 university students from the south of the country. The

data was analyzed by means of exploratory factor analysis, which indicated a resizing of the

items proposed by the authors and Cairrão Cardoso (2007). After statistical analysis, eight

dimensions were found, instead of the original three. They were then denominate:

environmental consciousness, environmental packaging, controlled growth, human control

over nature, and sustainable, environmental and recycling impacts. Among them,

environmental consciousness, the preference for environmental packaging and the consumption of natural products was the most important in the perception of Brazilian

university students. Other results were found and are discussed in this article.

Key-words: Sustainability. Sustainable Consumption. Ecological Products. Environmental

Consciousness

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1 INTRODUÇÃO

Discussões sobre questões ecológicas, sustentabilidade e consciência ambiental são

cada vez mais freqüentes em todas as esferas. Se inicialmente os motivos de preocupação

ambientais se voltavam para as práticas organizacionais, atualmente, os hábitos de consumo

da sociedade e do indivíduo passaram a permear os discursos ambientalistas com igual

intensidade. Sob esta perspectiva, é fundamental entender se a percepção sobre questões

ecológicas e hábitos de consumo sustentáveis já permeiam o cotidiano e a prática dos

consumidores, uma vez que nem o rigor da legislação ambiental e nem campanhas em prol da

sustentabilidade parecem ter se mostrado completamente eficientes até o momento.

Apesar das constantes exigências de verificações e certificações ambientais, o

desenvolvimento de produtos sustentáveis, por parte das empresas, ainda é insipiente, se

comparado às pressões sofridas. Quanto aos consumidores, uma diversidade de estudos sobre

seus hábitos vêm demonstrando que as pessoas se dizem propensas a comprar de forma

sustentável, mas essas declarações nem sempre refletem suas práticas cotidianas (Horne,

2009, Young et al., 2010). Gorni, Gomes e Dreher (2012) estudaram o público jovem, mais

especificamente os universitários, e verificaram que, apesar de se mostrarem conscientes

sobre o consumo sustentável, a aquisição de produtos ecológicos só acontecerá se o preço for

acessível.

Dentre os consumidores, o público jovem é sempre associado ao consumismo e ao

materialismo (Cardoso & Cairrão, 2007). Porém, quando questões relacionadas ao consumo

sustentável são direcionadas para jovens universitários, presume-se que este público, por

freqüentar uma instituição de ensino superior e trocar informações constantemente com

professores e colegas, esteja bem informado sobre questões atuais, nas quais o tema

sustentabilidade se insere. Desta maneira, este artigo apresenta a seguinte questão de

pesquisa: pode haver um redimensionamento de questões que venham a mensurar o consumo

sustentável? Assim sendo, o objetivo deste estudo é testar o instrumento de consumo

sustentável proposto por Cardoso e Cairrão (2007) e verificar um possível

redimensionamento. A escolha do instrumento deve-se ao fato de ele medir o que se pretende

e ao fato de ele ser pouco utilizado no Brasil, onde se busca uma verificação da percepção das

questões ambientais em um contexto nacional.

Como objetivos secundários, serão analisados dois aspectos, o desempenho das

dimensões que mensuram o consumo sustentável e o desempenho dos itens da escala, na ótica

de estudantes brasileiros.

Este artigo foi estruturado em cinco partes. Na introdução são apresentados temas

relacionados a questões ambientais e consumo sustentável, o objetivo e a justificativa da

pesquisa. Em seguida, é apresentado o referencial teórico que servirá de base para a discussão

dos resultados. A terceira parte contém os aspectos metodológicos e a caracterização da

população de pesquisa. A quarta etapa apresenta os resultados e a quinta, contêm as

considerações finais e as limitações da pesquisa, assim como, as recomendações para futuros

estudos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este tópico apresenta uma revisão da literatura a respeito de hábitos de consumo

sustentável, intenção de compra de produtos ecológicos e consciência ambiental.

2.1 Produtos ecológicos e hábitos de consumo sustentável

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A preocupação com o impacto ambiental causado pelo consumo descontrolado

desencadeou movimentos denominados de "consumo verde" e, posteriormente, "consumo

sustentável". Estes movimentos, iniciados nos anos 70 e entendidos como atribuições do

Estado, se expandiram e, por volta dos anos 80, as cobranças de atitudes ambientalmente

responsáveis passaram a envolver a iniciativa privada. Após os anos 90, os hábitos de

consumo da sociedade também entraram em pauta. A partir destas três fases, assumiu-se que a

crise ambiental é responsabilidade de todos, Estado, organizações e indivíduos (Portilho,

2005).

Atualmente, a sociedade vem exibindo uma maior preocupação com a natureza.

Percebe-se que aos poucos se desenvolve um movimento ambientalista destinado a pressionar

governos, organizações e indivíduos a se voltarem a questões ecológicas (Portilho, 1999). Isso

exige das empresas inovação em produtos e processos e a oferta de soluções que satisfaçam os

consumidores sem agredir a natureza (Kruter, Barcellos & Silva, 2012) e, em contra partida,

que os consumidores repensem seus hábitos de compra. Correspondendo a estas pressões,

ainda que de forma insipiente, as empresas têm aumentado o número de lançamentos de

produtos “verdes”, idealizados para atender além dos consumidores, às necessidades de

preservação ambiental (Ottman, 1994).

A concepção de produtos ecologicamente corretos implica na escolha de matérias-

primas adequadas, renováveis, recicláveis e que preservem os recursos naturais durante a

extração. Além disso, é preciso desenvolver um processo produtivo que preveja o uso

eficiente da água, energia e solo, e que apresente alternativas de descarte correto ou

reutilização (Calomarde, 2000). A elaboração de produtos verdes exige condições que

favoreçam a redução ou a reutilização de embalagens, o aumento da vida útil dos produtos e a

possibilidade de sua transformação em adubo (Lambin, 2002).

Já com relação ao consumo, a sociedade o entende como um indicador de qualidade de

vida e isto é um problema. A ampliação dos níveis de consumo, especialmente nos países

industrializados, é um dos principais influenciadores da degradação ambiental. O grande

dilema da sociedade contemporânea é equacionar qualidade de vida e manutenção de índices

de consumo em quantidades que não impliquem no esgotamento dos recursos naturais (Mont

& Plepys, 2008).

Alguns consumidores parecem já ter despertado para esta realidade e, além de critérios

como qualidade e preço, passaram a considerar variáveis ambientais ao executarem suas

compras. Estes consumidores, ao preferirem produtos favoráveis ao meio ambiente, acabam

pressionando as organizações a produzirem com responsabilidade e sem degradar a natureza

(Portilho, 2005).

Analisar o comportamento do consumidor exige o estudo dos processos inerentes aos

momentos de seleção, aquisição e uso de produtos pelos clientes (Solomon, 2002). Este

comportamento, no entanto, é moldado por variáveis como diferenças individuais, influências

ambientais e processos psicológicos difíceis de serem identificados (Engel, Blackwell &

Miniard, 2000). Enquanto alguns consumidores já se dizem propensos a considerar atributos

sustentáveis em suas compras, a maioria ainda utiliza o preço e a qualidade dos produtos

como critérios para nortear suas aquisições (Horne, 2009).

Diversos estudos sobre a intenção de compra de produtos ecológicos já foram

realizados, alguns com resultados positivos Wiedmann et al. (2014), Motta e Oliveira (2007),

Silva, Ferreira e Ferreira (2009), Monteiro et al (2012), Nagar (2013) e outros com resultados

contraditórios Young et al. (2010); Vieira, (2013).

Wiedmann et al. (2014) afirmam que a sensibilização coletiva sobre questões

ambientais e a preocupação com a saúde, vêm desencadeando um aumento na procura por

produtos classificados como orgânicos, verdes ou ecológicos. Estes produtos são percebidos

pelos consumidores como superiores com relação a sabor, qualidade, segurança, impacto na

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saúde e no meio ambiente, refletindo em uma disposição em pagar mais ou recomendar estes

produtos a amigos.

Motta e Oliveira (2007) realizaram uma pesquisa exploratória, na cidade de São Paulo,

com o objetivo de verificar se as consumidoras adquirem (ou já adquiriram) produtos levando

em conta o fator ecológico. Como resultado, identificaram uma predisposição destas

consumidoras em pagar um preço superior por produtos ecologicamente corretos,

demonstrando que se atribui maior valor a esses produtos.

Silva, Ferreira e Ferreira (2009) se propuseram a testar um modelo teórico para avaliar

os impactos das estratégias de marketing verde sobre o comportamento de 272 consumidores

da Grande São Paulo. Os resultados revelaram que a propaganda do produto verde no ponto

de venda influencia a intenção de compra dos consumidores.

Monteiro et al (2012) mensuraram o grau de consciência ecológica de 150 graduandos

de administração de uma instituição do interior de São Paulo. Os autores concluíram que,

apesar de não poderem ser caracterizados como consumidores com consciência ecológica,

estes estudantes se mostraram atentos às causas ambientais.

Nagar (2013) ao realizar uma pesquisa com 180 consumidores de bens ecológicos

descobriu que este público se mostra disposto a pagar mais por produtos verdes, além de

desenvolverem maior lealdade a estas marcas. Isto se deve, segundo o autor, pela percepção

de que produtos e serviços anunciados como ecológicos são entendidos como mais seguros de

usar, transferindo à empresa maior credibilidade.

Por outro lado, Young et al. (2010) em seus estudos sobre hábitos de consumo,

concluíram que há um gap entre a atitude declarada e o comportamento praticado pelos

indivíduos. Apesar de 30% dos consumidores pesquisados se revelarem muito preocupados

com questões ambientais, estas afirmações não se concretizaram no momento de efetivar as

compras.

Vieira (2013), ao pesquisar 261 consumidores de supermercados da cidade de Porto

Alegre verificou que já há uma pré-disposição destes compradores para a aquisição de

alimentos orgânicos. Porém, os motivos ainda não se relacionam com a consciência ambiental

e sim, com crenças sobre os benefícios à saúde ou status que este tipo de compra confere.

Apesar de não haver um consenso sobre o interesse dos consumidores a respeito do

consumo sustentável, todas as nações concordam que atitudes, escolhas e estilos de vida

impactam fortemente no rumo do planeta e precisam ser reavaliados (Marchand & Walker,

2008).

2.2 Consciência ambiental

A consciência ambiental se forma a partir de valores aprendidos na infância e

informações recebidas ao longo da vida sobre benefícios e prejuízos ambientais causados

pelos seres humanos (Dias, 2007). Estes conhecimentos e experiências arraigadas são

decisivos no momento da aquisição de produtos ecologicamente corretos (Calomarde, 2000).

Ao atrelarem responsabilidade ambiental a seus padrões de compra, os consumidores mudam

seu foco e passam a preferir alternativas de produtos que minimizem o impacto negativo no

meio ambiente (Motta e Rossi, 2003). Adquirindo produtos verdes o consumidor atesta que se

seus valores estão em consonância com as questões ecológicas atuais e que, de sua parte,

existe preocupação com o meio ambiente. A construção desta consciência ambiental está

relacionada à inserção social e é influenciada também por relacionamentos interpessoais

(Anderson Jr. & Cunningham, 1972).

Se cultura, valores e experiências determinam as formas de consumo é preciso que a

consciência ambiental seja ensinada desde cedo (Mattar, 2013). Existem avançadas

ferramentas tecnológicas de informação e comunicação atualmente disponíveis para

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disseminar ações educativas que promovam um engajamento à causa ambiental. Quanto

maior o nível de consciência ecológica, maior a possibilidade de o consumidor preocupar-se

com o impacto ambiental causado por seus atos (Bedante & Slongo, 2004).

A proposta de expansão do conceito de consumo verde parte da premissa de que é

preciso conhecimento para que os consumidores desenvolvam uma consciência ambiental. A

partir de então, será possível a adoção de atitudes e comportamentos ambientalmente

responsáveis. Partindo deste princípio, estratégias que enfatizem programas educacionais e

pesquisas sobre o tema, são fundamentais (Portilho, 2005).

3 MÉTODO DE PESQUISA

Nesta pesquisa adotou-se uma abordagem quantitativa. Esta abordagem é comumente

utilizada para a mensuração de dados numéricos, usados diretamente para representar as

propriedades de algo (Hair Jr. et al., 2005). Com relação à técnica, utilizou-se, inicialmente,

uma survey, procedimento adotado para coleta de dados primários a partir de um grande

número de indivíduos (Hair Jr. et al., 2005).

O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário estruturado, baseado

nas três dimensões propostas no estudo de Cardoso e Cairrão (2007): hábitos de consumo

sustentável; intenção de compra de produtos ecológicos e consciência ambiental. Estes

autores realizaram sua pesquisa com 330 universitários das cidades de Porto e Coimbra, em

Portugal. No Brasil, este modelo foi utilizado por Gorni, Gomes e Dreher (2012), com 312

estudantes de cursos de Administração, de uma universidade de Blumenau, SC, no entanto,

não houve uma nova de agrupamentos por meio da técnica aqui adotada.

Para o processo de coleta de dados deste estudo, foi disponibilizado um questionário

no Google docs, cujo link foi enviado por e-mail para os 736 universitários (população), dos

cursos de Administração, Artes Visuais, Gestão Comercial, Logística, Processos Gerenciais,

Pedagogia e Psicologia, de uma instituição de ensino superior do sul do Brasil. O questionário

ficou disponível entre os dias 06 e 18 de fevereiro de 2014 e, durante este período, 182

questionários retornaram devidamente preenchidos (correspondendo a 24,8% do universo),

passando a configurar a amostra deste estudo.

A partir do modelo utilizado por Cardoso e Cairrão (2007) com universitários de

Portugal, objetivou-se identificar o agrupamento de questões que pudessem representar a

percepção do aluno universitário de uma instituição de ensino superior do sul do Brasil, em

relação ao consumo sustentável. Para isso foi utilizada como técnica estatística a Análise

Fatorial Exploratória. Esta técnica analisa o padrão de correlações existentes entre as variáveis

e, por meio destes padrões, busca agrupar suas variáveis em fatores, as variáveis não

observadas que se objetiva medir a partir das variáveis observadas. A técnica procura

descobrir a existência de estruturas que não podem ser observadas diretamente (Corrar & Dias

Filho, 2007).

4 RESULTADOS DA PESQUISA

Neste tópico serão apresentados e discutidos os resultados da pesquisa. Na primeira

parte, apresenta-se o perfil dos estudantes, em seguida são apresentados os dados das

dimensões originais (iniciais) do modelo de Cardoso e Cairrão (2007). Estas dimensões foram

analisadas utilizando a técnica de análise fatorial exploratória a fim de responder ao objetivo

desse estudo: propor um redimensionamento de um instrumento de pesquisa sobre consumo

sustentável a partir da ótica de universitários brasileiros.

4.1 Caracterização dos respondentes

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Neste capítulo é apresentado o perfil dos estudantes que participaram da pesquisa,

quanto à idade (tabela 1), gênero, estado civil, pessoas com quem mora e o curso superior que

frequenta (tabela 2).

Tabela 1 – Idade dos respondentes

Média Desvio padrão Análise N

Idade 29,93 8,177 182

Fonte: Dados da pesquisa (2014)

Na tabela 1 por meio da estatística descritiva, verifica-se que a média de idade dos

respondentes está entre 29 e 30 anos.

Tabela 2 – Perfil dos respondentes

Variáveis Frequência Porcentual Porcentagem

acumulativa

Gênero

Masculino 127 69,8 69,8

Feminino 55 30,2 100,0

Total 182 100,0

Estado Civil

Solteiro 71 39,0 39,0

Casado 108 59,3 98,4

Separado 3 1,6 100,0

Total 182 100,0

Com quem

mora

Sozinho 15 8,2 8,2

Família 162 89,0 97,3

Amigos 5 2,7 100,0

Total 182 100,0

Cursos

Processos Gerenciais 63 34,6 34,6

Gestão Comercial 46 25,3 59,9

Administração 24 13,2 73,1

Pedagogia 40 22,0 95,1

Artes Visuais 1 ,5 95,6

Logística 7 3,8 99,5

Psicologia 1 ,5 100,0

Total 182 100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Na tabela 2, é possível verificar que a maioria dos respondentes, 69,8% são homens e

30,2% são mulheres. Quanto ao estado civil a maioria, 59,3% dos estudantes são casados e

39% são solteiros, corroborando com o dado que indica que 89% residem com a família. Com

relação ao curso que os estudantes realizam, houve uma distribuição equilibrada entre quatro

cursos, Processos Gerenciais (34,6%), Gestão Comercial (25,3%), Pedagogia (22%) e

Administração (13,2%). Por meio desses dados é possível perceber que há uma concentração

maior de respondentes, nos cursos relacionados à área de gestão.

4.2 Análise das médias

Neste capítulo, na tabela 3, são apresentadas as médias de todas as questões.

Tabela 3 – Valor da média das questões.

Questões Média Desvio padrão Análise N

Q32 4,76 0,610 182

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Q31 4,71 0,636 182

Q30 4,49 0,872 182

Q29 4,29 0,979 182

Q21 4,28 0,869 182

Q22 4,19 0,929 182

Q4 4,18 0,989 182

Q26 4,15 1,071 182

Q25 4,14 0,878 182

Q19 4,02 1,003 182

Q13 3,97 1,097 182

Q1 3,96 1,032 182

Q20 3,94 0,993 182

Q8 3,89 1,198 182

Q14 3,87 1,067 182

Q15 3,74 1,164 182

Q3 3,71 1,192 182

Q7 3,7 1,133 182

Q24 3,67 1,166 182

Q28 3,61 1,121 182

Q10 3,58 1,167 182

Q9 3,52 1,169 182

Q16 3,48 1,096 182

Q2 3,46 1,154 182

Q11 3,26 1,168 182

Q6 3,25 1,133 182

Q18 3,24 1,007 182

Q12 3,2 1,174 182

Q17 3,2 1,121 182

Q5 3,07 1,217 182

Q27 2,14 1,279 182

Q23 2,08 1,191 182

Q33 2,04 1,139 182

Q34 1,69 1,100 182

Fonte: dados da pesquisa.

A tabela 4 demonstra a avaliação das 34 questões pesquisadas. As mais bem avaliadas

foram: Q32 (A humanidade está abusando seriamente do meio ambiente), Q31 (Os seres

humanos devem viver em harmonia com a natureza para que possam sobreviver melhor) e

Q30 (Quando os seres humanos interferem na natureza, isso frequentemente produz

consequências desastrosas). Estas questões remetem a ideia da consciência ambiental.

Já as questões que obtiveram resultados mais inferiores são: Q23 (As plantas e os

animais existem, basicamente, para serem utilizados pelos seres humanos); Q33 (Os seres

humanos têm o direito de modificar o meio ambiente para ajustá-lo as suas necessidades) e

Q34 (A humanidade foi criada para dominar a natureza). Estas indicações sugerem o

pressuposto que de a dominação do homem sobre a natureza é condenada pelos participantes

da pesquisa.

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Estes resultados demonstram que as pessoas parecem estar mais conscientes sobre a

sua atuação frente à natureza, visto que a relação de dominação evidenciou não ser bem

aceita. Portilho (1999) ratifica esta informação ao afirmar que a sociedade vem exibindo uma

maior preocupação com a natureza. Este fato é percebido por meio das inúmeras

manifestações e movimentos ambientalistas que vem ocorrendo, destinados a pressionar

governos, organizações e indivíduos a se voltarem para as questões ecológicas.

4.3 Análise fatorial exploratória

Para esta análise, inicialmente foi realizado o cálculo relacionado à matriz de

correlação. Optou-se pelo KMO (Kaizer-Meyer-Olkin) e o teste de esfericidade de Barlett. O

teste KMO, mede o grau de correlação parcial entre as variáveis. Já, o teste de Barlett, indica

se a matriz de correlação é uma matriz de identidade, correlação zero entre as variáveis

(Corrar & Dias Filho, 2007).

Tabela 4 – Teste de KMO e Bartlett

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem ,850

Teste de esfericidade de Bartlett

Qui-quadrado aprox. 3261,869

df 561

Sig. ,000

Fonte: dados da pesquisa.

Nesta pesquisa, percebe-se que o KMO, segundo Fávero et al (2009), é considerado

bom, visto que o valor foi maior que 0,8. O teste de Bartlett, por sua vez, confirma que o

conjunto de itens pode representar o construto proposto.

A seguir realizou-se a análise fatorial exploratória dos 34 itens pesquisados e

agrupados incialmente em três dimensões. Para utilização da técnica, optou-se pela rotação

varimax, usualmente utilizada em estudos de ciências sociais e comportamentos do

consumidor. Os resultados são apresentados na tabela 5.

Tabela 5 – Rotação das questões.

Questões Componente Alfa de

Cronbach 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Q6 ,785

0,87

Q7 ,758

Q2 ,692

Q1 ,674

Q8 ,624

Q5 ,574

Q3 ,550

Q4 ,539

Q9 ,839

0,89

Q10 ,815

Q11 ,758

Q12 ,645

Q18 ,554

Q15 ,715

0,86

Q14 ,707

Q13 ,686

Q16 ,601

Q32 ,871

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Q31 ,829 0,81

Q30 ,757

Q29 ,569

Q21 ,794

0,81

Q20 ,780

Q22 ,750

Q19 ,727

Q26 ,748

0,70

Q28 ,715

Q24 ,696

Q25 ,594

Q27 ,730 0,51

Q23 ,723

Q33 ,777

Q34 ,658 0,64

Q17 ,751

Variância

Explicada 28,42% 10,46% 6% 5,6% 4,6% 4,1% 3,5% 3,2% 2,96%

Fonte: dados da pesquisa.

Na tabela 5 apresenta-se a carga fatorial e o agrupamento das questões, formando

novas dimensões (constructos), além do Alfa de Cronbach de cada nova dimensão formada

por esses agrupamentos. Verifica-se que os seis primeiros componente possuem a maior

intensidade da associação, acima de 0,8, que segundo Hair (2005) é considerada muito boa.

Além da carga fatorial e do Alfa de Cronbach, na tabela 6 também são apresentadas as

variâncias de cada dimensão (componentes). Percebe-se que o componente 1 é o que possui a

maior variância explicada (28,42%), seguido do componente 2 (10,46%) e o componente 3

(6%). O último componente apresentou um item isolado, ao qual foi excluído da análise pelo

fato de não haver agrupamento com outras dimensões.

A seguir, no quadro 1, será demonstrado o agrupamento de cada uma das dimensões,

assim como, a nomeação das mesmas realizada pelos autores.

Quadro 1: Conjunto de dimensões Dimensão 1 Variáveis (questões)

Q6 Para a minha casa não compro produtos que prejudiquem o meio ambiente.

Q7 Não compro um produto quando sei dos possíveis danos que ele pode causar ao meio

ambiente.

Q2 Não compro produtos fabricados ou vendidos por empresas que prejudicam ou

desrespeitam o meio ambiente.

Q1 Quando tenho que escolher entre dois produtos iguais, eu escolho sempre o que é

menos prejudicial às outras pessoas e ao meio ambiente.

Q8 Não compro produtos e alimentos que possam causar a extinção de algumas espécies

animais ou vegetais.

Q5 Já convenci amigos e familiares a não comprar produtos que prejudicam o meio

ambiente.

Q3 Faço sempre um esforço para reduzir o uso de produtos feitos de recursos naturais

escassos.

Q4 Quando possível, escolho sempre produtos que causam menos poluição.

Dimensão 2 Variáveis (questões)

Q9 Procuro comprar produtos feitos em papel reciclado.

Q10 Sempre que possível, compro produtos feitos de material reciclado.

Q11 Tento comprar apenas produtos que possam ser reciclados.

Q12 Evito comprar produtos que não sejam biodegradáveis.

Q18 Prioriza compra de produtos em embalagens biodegradáveis.

Dimensão 3 Variáveis (questões)

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Q15 Estou disposto a pagar um pouco mais por produtos e alimentos que estejam livres de

elementos químicos que prejudiquem o meio ambiente.

Q14 Prefiro alimentos sem fertilizantes químicos porque respeitam o meio ambiente.

Q13 Compro produtos naturais porque são mais saudáveis.

Q16 Quando compro produtos e alimentos a preocupação com o meio ambiente influencia a

minha decisão de escolha.

Dimensão 4 Variáveis (questões)

Q32 A humanidade está abusando seriamente do meio ambiente.

Q31 Os seres humanos devem viver em harmonia com a natureza para que possam

sobreviver melhor.

Q30 Quando os seres humanos interferem na natureza, isso frequentemente produz

consequências desastrosas.

Q29 O equilíbrio da natureza é muito delicado e facilmente perturbado.

Dimensão 5 Variáveis (questões)

Q21

Compraria um produto numa embalagem pouco tradicional (por exemplo, redonda

quando a maioria é quadrada) se isso se traduzisse na criação de menos resíduos

sólidos (lixo).

Q20 Estaria disposto a comprar alguns produtos (que agora compro em embalagens

menores) em embalagens maiores e com menor frequência.

Q22 Compraria um produto com uma embalagem menos atrativa se soubesse que todo o

plástico e/ou papel desnecessário nesta embalagem tivesse sido eliminado.

Q19 Compraria um produto numa embalagem reciclável em alternativa a comprar um

produto similar numa embalagem não reciclável.

Dimensão 6 Variáveis (questões)

Q26 O planeta Terra é como uma aeronave, com espaço e recursos limitados.

Q28 Existem limites de crescimento para além dos quais a nossa sociedade industrializada

não pode expandir-se.

Q24 Estamos nos aproximando do número limite de habitantes que a terra pode suportar.

Q25 Para manter uma economia saudável teremos que desenvolvê-la para que o

crescimento industrial seja controlado.

Dimensão 7 Variáveis (questões) (revertidas)

Q27 Os seres humanos precisam se adaptar ao ambiente natural porque podem adaptar o

meio ambiente às suas necessidades.

Q23 As plantas e os animais não existem, basicamente, para serem utilizados pelos seres

humanos.

Dimensão 8 Variáveis (questões) (revertidas)

Q33 Os seres humanos não têm o direito de modificar o meio ambiente para ajustá-lo as

suas necessidades.

Q34 A humanidade não foi criada para dominar a natureza.

Obs.: as últimas questões foram revertidas do questionário original.

Fonte: dados da pesquisa.

O quadro 1 demonstra as 8 dimensões resultantes da pesquisa. A Dimensão 1,

nomeada de “Consciência Ambiental”, é composta pelas variáveis: Q6, Q7, Q2, Q1, Q8, Q5,

Q3, Q4. Esta dimensão possui uma variância explicada de 28,42% e a confiabilidade

estatística de 0,87, (Alfa de Cronbach), o que demonstra uma alta correlação entre as suas

variáveis.

Verifica-se, por este resultado, que as oito questões que compõem esta dimensão são

as mais representativas na percepção dos alunos e possuem uma grande associação entre si.

De maneira geral, estas questões envolvem afirmações a respeito da não aquisição de

produtos que colaborem para a destruição da natureza, não causem extinção de espécies

animais ou vegetais, nem poluam o ambiente ou usem recursos naturais escassos em seus

processos produtivos. Assim como afirma Calomarde (2000) as organizações precisam adotar,

em seus processos produtivos, ferramentas e tecnologias para responder a essa demanda por

produtos sustentáveis, desenvolvendo processos que possam utilizar materiais recicláveis e

embalagens menos agressivas, por exemplo. Portilho (2005) salienta que as pessoas vêm

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despertando para as preocupações ambientais, levando em consideração não somente,

variáveis de consumo como qualidade e preço, mas também a produtos que levem

consideração as questões ambientais na fabricação dos produtos.

A Dimensão 2, nomeada de “Embalagens sustentáveis”, é formada pelas variáveis:

Q9, Q10, Q11, Q12, Q18. Esta dimensão possui uma variância explicada de 10,46% e

confiabilidade estatística de 0,89, (Alfa de Cronbach), demonstrando uma alta correlação

entre as variáveis da dimensão. Já, a Dimensão 3, nomeada de “Produtos naturais”, é

composta pelas variáveis: Q15, Q14, Q13, Q16. Esta dimensão possui uma variância

explicada de 6% e confiabilidade estatística de 0,86, (Alfa de Cronbach), demonstrando uma

alta correlação entre as variáveis da dimensão. As dimensões 2 e 3 referem-se à aquisição de

produtos feitos em papel reciclado e embalagens biodegradáveis (Dimensão2) e questões

referentes à aquisição de produtos naturais, sem fertilizantes, e livres de elementos químicos

que prejudiquem ao meio ambiente (Dimensão 3).

A seguir, será demonstrada a média e o desvio padrão de cada uma das dimensões

criadas.

Tabela 6 – Média e desvio padrão das dimensões.

N Média Desvio padrão

Consciência Ambiental 182 4,6401 0,65087

Embalagens sustentáveis 182 4,1731 0,81015

Produtos naturais 182 4,1374 0,96074

Crescimento controlado 182 3,9918 0,89423

Controle humano sobre a

natureza 182 3,8901 1,01318

Sustentabilidade 182 3,7995 1,02706

Impactos ambientais 182 3,5549 1,01631

Reciclagem 182 3,3681 1,06251

Fonte: dados da pesquisa.

A tabela 6 demonstra a média e o desvio padrão das dimensões, percebe-se que os

alunos dão mais atenção a consciência ambiental. Este consciência ambiental pode ocasionar

duas ações: a preferência por embalagens sustentáveis e por produtos naturais. Para

Calomarde (2000) a consciência ambiental é fundamental para que consumidores venham a

adquirir produtos ecologicamente corretos. A consciência ambiental pode ser percebida como

um pré-requisito importante, corroborando com os achados de Bedante e Slongo (2004), no

qual retrataram que o aumento do nível de consciência ambiental leva a uma maior

preocupação com possíveis impactos ambientais causados pelo homem. Gorni, Gomes e

Dreher (2012) foram outros autores a verificar que estudantes possuem de fato uma

consciência ambiental.

Em relação à embalagem, Kruter, Barcellos e Silva (2012) verificaram que os

consumidores possuem atitudes positivas em relação a embalagens recicláveis, sendo esta

percepção aqui confirmada. Lambin (2002) reforça que a elaboração de produtos verdes exige

condições que favoreçam a redução ou a reutilização de embalagens, o aumento da vida útil

dos produtos e a possibilidade de sua transformação em adubo. Motta e Rossi (2003)

ressaltaram que a responsabilidade ambiental interfere nos padrões de compra, fazendo com

que os consumidores passem a preferir produtos que minimizem o impacto negativo no meio

ambiente, neste caso, embalagens recicláveis.

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Em relação aos Produtos naturais, percebe-se que os respondentes possuem uma

preferência pelo consumo destes tipos de alimentos. Sobre esta temática, Mont e Plepys

(2008) e Wiedmann et al. (2014) constataram uma preocupação das pessoas com a qualidade

de vida, sendo que Vieira (2013), demonstrou haver uma pré-disposição das pessoas para a

aquisição de alimentos orgânicos, o que se confirma neste trabalho.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, partiu-se do pressuposto que é fundamental discutir sobre questões

ecológicas, hábitos de consumo sustentáveis e consciência ambiental. O objetivo principal

deste estudo foi testar o instrumento de consumo sustentável proposto por Cardoso e Cairrão

(2007) e verificar um possível redimensionamento.

Os resultados demonstram haver um redimensionamento das questões propostas, onde

se constatou a existência de oito e não três dimensões anteriormente propostas. Estas oito

dimensões foram assim batizadas: Consciência ambiental, Embalagens sustentáveis, Produtos

naturais, Crescimento controlado, Controle humano sobre a natureza, Sustentabilidade,

Impactos ambientais e Reciclagem.

Dentre estes, a Consciência ambiental, a preferência por Embalagens sustentáveis e o

consumo de Produtos naturais foram as questões indicadas como fundamentais para os

acadêmicos brasileiros pesquisados, sendo esta descoberta o primeiro objetivo secundário

aqui proposto. Estes resultados sugerem que essa preferência possa ser decorrente da

consciência ambiental. Cabe ressaltar que Calomarde (2000) já alertou a importância da

consciência ambiental, sendo fundamental para a mudança de hábitos de consumo,

especificamente para a aquisição de produtos ecologicamente corretos.

Em relação à análise dos 34 itens pesquisados, segundo objetivo secundário deste

trabalho, verificou-se que os mais bem avaliados foram: “a humanidade está abusando

seriamente do meio ambiente”, “os seres humanos devem viver em harmonia com a natureza

para que possam sobreviver melhor” e “quando os seres humanos interferem na natureza, isso

frequentemente produz consequências desastrosas”. Estes resultados remetem à ideia de uma

consciência ambiental presente entre os participantes do estudo.

Já as questões que obtiveram resultados mais insignificantes foram: “as plantas e os

animais existem, basicamente, para serem utilizados pelos seres humanos”, “os seres humanos

têm o direito de modificar o meio ambiente para ajustá-lo as suas necessidades” e “a

humanidade foi criada para dominar a natureza”. Estas indicações sugerem o pressuposto de

que a dominação do homem sobre a natureza é condenada pelos participantes da pesquisa.

5.1 Sugestões e limitações

O fato de o estudo ter sido realizado com estudantes de uma única instituição de

ensino superior é um fator de limitação da pesquisa. Outra limitação foi o trabalho ter tido

como foco a análise de apenas um instrumento validado. Isto quer dizer que se houvesse a

inclusão de outras questões, os resultados poderiam ter sido diferentes.

Como sugestão, recomenda-se que, em estudos futuros, esta proposta de instrumento

redimensionado seja utilizada para averiguar a percepção de outros públicos, de diferentes

estados, a respeito de questões ambientais. Também se recomenda que estudos futuros

busquem a resposta para a seguinte questão: a preferência por embalagens recicláveis e por

alimentos naturais, resultados aqui encontrados, são decorrentes da consciência ambiental?

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