prÓ-reitoria de pÓs-graduaÇÃo programa regional de … · 2017-10-20 · josé pio granjeiro...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
Dinâmica da paisagem na Microbacia do Riacho Cajazeiras no
semiárido potiguar A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
José Pio Granjeiro Batista
2011
Natal – RN
Brasil
José Pio Granjeiro Batista
Dinâmica da paisagem na microbacia do Riacho Cajazeiras no
semiárido Potiguar A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR
SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof.Dr. Fernando Moreira da Silva
2011
Natal – RN
Brasil
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro de Biociências Batista, José Pio Granjeiro. Dinâmica da paisagem na Microbacia do Riacho Cajazeiras no semiárido potiguar / José Pio Granjeiro Batista. – Natal, RN, 2011. 99 f. : Il.
Orientador: Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA. 1. Fragilidade ambiental - Dissertação. 2. Degradação – Dissertação. 3. Paisagem – Dissertação. I. Silva, Fernando Moreira da. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BSE-CB CDU 502.1
José Pio Granjeiro Batista
Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________________________________
Fernando Moreira da Silva Prof. Dr.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN) (Presidente)
___________________________________________________________________________
Cimone Rozendo de Souza Prof(a). Dr(a).
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN) (Examinadora interna)
___________________________________________________________________________
Bartolomeu Israel de Souza Prof. Dr.
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) (Examinador externo)
AGRADECIMENTOS
Muitos foram os desafios para construção das ideias desta pesquisa. Nesse sentido,
agradeço aqueles que foram importantes nessa caminhada sertaneja. Agradeço, em primeiro
lugar ao meu orientar Fernando Moreira e a minha esposa Rosana.
A meu pai João Granjeiro Filho, aos meus avôs (João, Lucas) e minhas avós (Marias)
e tios, João, Eufrásio, Cícero, Maria e Alzira (postumamente), e aos outros tios (Manel,
Miraci e neném) minha mãe Maria de Lourdes, aos meus irmãos (Eudes, Luciene e Eliene),
aos meus sobrinhos (Paloma, Letícia e João Luís), a minha prima Norma e aos demais primos.
Aos professores do ECT/UFRN: Sebastião, Vera, Jaziele e Luciana pelo incentivo e
lições importantes no meu caminhar. Meu muito obrigado aos professores do Departamento
de Geografia: Francis, Socorro Martin, e Cleonice Furtado e ao Prof. Samir do IFRN. Outra
mestra importante foi a professora Joana D’arc que me ensinou as primeiras lições
Aos meus amigos: Marcos, Alisson, Gildásio, Edwigenes, Aparecida, Karina,
Cleidson, Derlam, Gisele, Sebastião, João Maria, Almino Afonso, Neto, Rogério,
Raimundinho, Iguatemir, Rogério Nitéroi, Sara Raquel e aos colegas da turma do
PRODEMA.
Aos funcionários e professores do PRODEMA que muito se empenham no
crescimento do programa.
Aos habitantes da Microbacia do Riacho Cajazeiras, que nos receberam tão bem em
suas casas e, em suas terras, no trabalho de campo e nas entrevistas.
“Sou processo das correntezas do Cachoeirinha, das águas calmas do Açude 25 de Março, da beleza da Serra do Bom Será e da enxada amolada na pedra e na batida do martelo” (José Pio Granjeiro Batista).
RESUMO
O semiárido nordestino vem passando por mudanças desde sua formação acarretando transformações na paisagem e aumento da degradação. A dinâmica econômica que se estabeleceu no semiárido potiguar durante muito tempo esteve assentada na pecuária, agricultura de subsistência e algodão, entretanto, essas economias declinam a partir dos anos de 1970. Desse modo, os espaços potiguares estão passando por um processo de reordenamento espacial marcado pelo crescimento das atividades agropecuárias e pelo processo de urbanização. Na região do oeste potiguar tais mudanças fragilizam e transformam significativamente a paisagem. Nessas áreas, o processo de urbanização e a atividade agropecuária têm provocado mudanças na paisagem sertaneja alterando a dinâmica natural do Bioma Caatinga que passou a sofrer interferências negativas com a retirada indiscriminada da vegetação. No caso, específico da área em estudo a microbacia do Riacho Cajazeiras localizada nos municípios de Pau dos Ferros, Água Nova, Encanto e Rafael Fernandes as alterações na paisagem tem provocado a degradação e a fragilidade ambiental. Nessa perspectiva, o objetivo da pesquisa consiste em avaliar a dinâmica da paisagem da microbacia do Riacho Cajazeiras, semiárido potiguar, identificando os fatores degradantes, às áreas mais degradadas e/ou susceptíveis a degradação e as fragilidades ambientais. A pesquisa investigou os fenômenos a luz da teoria geossistêmica que enfatiza a integração dos elementos na formação da paisagem. Para a realização do trabalho foram realizadas as pesquisa exploratória, bibliográfica, o trabalho de campo e técnicas de geoprocessamento para avaliar as condições socioambientais da área de pesquisa e sua fragilidade ambiental. Para tanto, primeiramente, foi feito uma analise multitemporal com base nos anos de 1984, 1996 e 2009 demonstrando que a dinâmicade do uso e da ocupação do solo na microbacia do Riacho Cajazeiras mostrou uma mudança significativa na paisagem, especialmente, na vegetação de caatinga. Esta vem se recuperando em varias areas da microbacia, principalmente, em seu alto curso nas Serras do Bom Sera, do Encanto. A análise mostrou a necessidade de desenvolver políticas e programas voltados para a manutenção, recuperação e preservação da vegetação de caatinga da rede fluvial e dos corpos d água. Além disso, foram identificadas as áreas mais degradadas da microbacia e a fragilidade ambiental potencial e emergente que levam em consideração os componentes da paisagem tais como: clima, relevo, geologia, pedologia, geomorfologia e uso e ocupação do solo de forma integrada. Os resultados mostram que a paisagem da microbacia apresenta fragilidade ambiental média e alta em toda sua área, destacando-se, nas margens da rede fluvial proporcionada pelo o uso e ocupação do solo de forma inadequada com as condições ambientais da microbacia. Palavras-chave: Degradação, Fragilidade ambiental, Microbacia e Paisagem.
ABSTRACT
The semi-arid Northeast region are coming through changes since its formation causing changes in the landscape and increased degradation. The economic dynamics which was established at the Potiguar semiarid had for a long time settled in livestock, subsistence agriculture and cotton, however, these economies decline from the year 1970. Thus, the Potiguar spaces are undergoing by a process of space reordering marked by the growth of agricultural activities and the process of urbanization. In the Potiguar western region these changes weaken significantly transform the landscape. In these areas, the process of urbanization and agricultural activities have caused changes in the hinterland landscape changing the natural dynamics of the caatinga biome that has been subject to negative interference with the indiscriminate removal of vegetation. In this case, the specific study area of the watershed of Cajazeiras Creek located in the cities of Pau dos Ferros, Água Nova, Encanto and Rafael Fernandes, changes in the landscape has led to degradation and environmental fragility. From this perspective, the research objective is to assess the dynamics of the landscape of the watershed of Cajazeiras Creek, semiarid region of the state of Rio Grande do Norte, identifying the degrading factors, the most degraded areas and/or susceptible to degradation and environmental fragility. The research investigated the phenomena of light geosystems theory that emphasizes the integration of elements in shaping the landscape. During this reporting period, it was carried out exploratory and bibliographical research, and geoprocessing techniques to assess the social and environmental conditions of the researched area and its environmental fragility. To do so, first, it was made an multitemporal analisis on the basis of the years 1984, 1996 and 2009 demonstrating that the dynamics of use and land cover in the watershed of Cajazeiras Creek showed a significant change in the landscape, especially in the caatinga vegetation. This has been recovering in various areas of the watershed, especially in its upper course in the mountains of Bom Sera, in Encanto city. The analysis showed the need to develop policies and programs for the maintenance, restoration and preservation of the caatinga vegetation of the river network and of water bodies. In addition, it was identified the most degraded areas of the watershed, environmental fragility and potential emerging that take into account the landscape components such as climate, topography, geology, pedology, geomorphology and the use and occupation of the soil in an integrated manner. The results show that the landscape of the watershed has medium and high environmental fragility throughout its area, especially on the banks of the river network provided by the use and occupation of the soil in an inadequate way with the environmental conditions of the watershed. Keywords: Degradation, Environmental fragility, Watershed and Landscape.
LISTA DE FIGURAS
p. 1- Localização da microbacia do Riacho Cajazeiras/RN. 24 2- Localização da área urbana e dos Sítios do Riacho Cajazeiras/RN. 25 3- Resultado da classificação, espacialização e identificação das classes de uso e
ocupação do solo 30
4- Organograma simplificado da pesquisa CAPÍTULO 1
31
1- Localização da microbacia do Riacho Cajazeiras/RN. 40 2- Esquema gráfico da classificação, espacialização e identificação das classes de
uso e ocupação do solo na Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN.
43
3- Vegetação de caatinga densa 45 4- Vegetação e caatinga esparsa 45 5- Uso e ocupação do solo na microbacia do riacho Cajazeiras/RN em 1984. 47 6- Uso e ocupação do solo na microbacia do riacho Cajazeiras/RN em 1996. 48 7- Uso e ocupação do solo na microbacia do riacho Cajazeiras/RN em 2009. 49 8- Desmatamentos na microbacia (A, B e C) 52 9- Solos expostos na microbacia (D, E e F) 52 10- Construções irregulares na zona urbana de Pau dos Ferros (G, H e I) 54 11- Áreas degradadas na microbacia CAPÍTULO 2
55
1- Localização da microbacia do Riacho Cajazeiras/RN. 64 2- Clima da microbacia 71 3- Geologia da microbacia 72 4- Geomorfologia da microbacia 73 5- Declividade da microbacia 74 6- Solos da microbacia 76 7- Fragilidade potencial da microbacia 79 8- Uso e ocupação do solo na microbacia do riacho Cajazeiras/RN em 2011 82 9- Fragilidade emergente na microbacia 83
LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E QUADRO
1- Tabela: Evolução da população dos municípios que compõem a microbacia 16 1- Tabela: Uso e ocupação do solo na microbacia (Capítulo 1) 50 2- Tabela: Evolução da população dos municípios que compõem a microbacia 53 1- Gráfico: Uso e ocupação do solo em 1984 50 2- Gráfico: Uso e ocupação do solo em 1984 50 3- Gráfico: Uso e ocupação do solo em 2009 51 1- Quadro: Localização das áreas degradadas na microbacia 56
SUMÁRIO p. APRESENTAÇÃO 11 INTRODUÇÃO GERAL E REVISÃO DA LITERATURA/FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA. 13
Ocupação histórica do sertão nordestino 13 Uso e ocupação do solo, degradação ambiental e fragilidade no semiárido 16 Geossistemas, paisagem e as bacias hidrográficas.
20
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO 24
METODOLOGIA GERAL
27
REFERÊNCIAS
33
CAPÍTULO 1 – Dinâmica do uso e (da) ocupação do solo na microbacia do Riacho Cajazeiras no semiárido/RN e suas implicações socioambientais.
36
Resumo 36 Abstract 37 Resumen 37 Introdução 38 Características da área de estudo 39 Procedimentos metodológicos 41 O uso e ocupação do solo no semiárido e suas implicações socioambientais 44 Resultados e discussão 45 Considerações finais 57 Referências
58
CAPÍTULO 2 - Avaliação da Fragilidade ambiental na microbacia do Riacho Cajazeiras no Semiárido Potiguar
61
Resumo 61 Abstract 62 Introdução 62 Caracterização da área de estudo 63 Procedimentos metodológicos 65 Referencial teórico 66 Resultados e discussão 68 Considerações finais 84 Referências
86
CONSIDERAÇOES GERAIS 88 APÊNDICE
Formulário de campo
91
ANEXOS Regras Revista Mercator 94 Regras Revista Boletim Goaino 96 Comprovante do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN 98
11
APRESENTAÇÃO
A presente pesquisa “Dinâmica da Paisagem na microbacia do Riacho Cajazeiras no
semiárido potiguar” analisa o uso e a ocupação da paisagem nos anos de 1984, 1996, 2009 e
2011 e, ainda, analisa a degradação e as fragilidades ambientais causadas pelas atividades
antrópicas e naturais na perspectiva integrativa dos diversos elementos da paisagem. O
trabalho está dividido em três partes: apresentação geral, capítulo 01 e capítulo 02.
Nos capítulos “Dinâmica do uso e da Ocupação do Solo na microbacia do Riacho
Cajazeiras no semiárido/RN e suas Implicações Socioambientais” e a “Avaliação da
fragilidade ambiental da microbacia do Riacho Cajazeiras no semiárido potiguar” são
discutidas temáticas relacionadas ao uso e ocupação do solo e suas consequências na
paisagem. Desse modo, destaca-se a importância de estudos sobre a questão ambiental na área
de pesquisa, pois na região existem poucos trabalhos científicos sobre a temática abordada
nessa pesquisa. Como bem lembra o grande geógrafo francês, Jean Tricart (1977) a ocupação
da paisagem precisa ser estudada pela Geografia, com bastante vigor, mas estando aberta às
outras ciências, principalmente, aquelas que procurem discutir de forma interdisciplinar a
dinâmica da paisagem. Entretanto, a Geografia é capaz de analisar a paisagem de forma
integrativa indicando a estabilidade geodinâmica dos geossistemas de forma não disciplinar.
A perspectiva disciplinar parece está mergulhada em uma crise paradigmática sem
saída, pois cabe perguntar se a relação sociedade-natureza pode ser vislumbrada a partir da
ótica disciplinar? Nesse sentido, para Ross (2003, 2009) a Geografia pode responder essa e
outras perguntas de forma satisfatória e prospectiva sob a ótica geosssitêmica, permitindo
indicar caminhos para o uso e a ocupação do solo relacionando os aspectos econômicos,
sociais e ambientais.
A metodologia geossistêmica aborda a paisagem inter-relacionando os vários
elementos da paisagem como: a climatologia, a pedologia, a geologia, a geomorfologia (esta
focada na declividade), e o uso e ocupação do solo utilizando técnicas de geoprocessamento.
A pesquisa optou por analisar a dinâmica da paisagem da microbacia do Riacho Cajazeiras, na
ótica geossistêmica dada a necessidade de estudos para compreender a dinâmica da
sociedade/natureza. Além disso, se faz necessário discutir a situação das microbacias para
contribuir com a gestão territorial local, pois a bacia hidrográfica é considerada pela Politica
12
Nacional de Recursos Hídricos como célula essencial para o equilíbrio socioambiental dos
territórios.
Nesse sentido, a pesquisa tem por objetivo geral fazer uma análise da dinâmica da
paisagem e suas implicações socioambientais na microbacia do Riacho Cajazeriras/RN no
semiárido potiguar utilizando os pressupostos da teoria geossistêmica. No primeiro capítulo é
discutido o uso e a ocupação do solo e suas implicações socioambientais; no segundo capítulo
é discutida a fragilidade ambiental potencial e emergente da microbacia pautada na concepção
metodológica de Tricart (1977) e Ross (2003 e 2009). No final são apresentadas as
considerações gerais da pesquisa.
Portanto, é imprescindível uma mudança paradigmática para que se compreenda de
forma interdisciplinar e multidisciplinar a dinâmica estabelecida na relação
sociedade/natureza. Por fim, espera-se que o trabalho possa contribuir para a realização de
outras pesquisas afins.
13
INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ocupação histórica do sertão nordestino
Segundo Andrade (2011) o sertão nordestino começou a ser ocupada desde o século
XVI pela pecuária ultraextensiva em campo aberto, iniciando desse modo, a retirada da
vegetação de caatinga para a criação de gado e para a agricultura de subsistência. O gado
exerceu e exerce papel fundamental na ocupação das áreas do interior do sertão nordestino.
Na literatura é comum associar o sertão nordestino ao ciclo do gado na formação territorial e
como uma atividade socioeconômica e cultural importante
A criação de gado foi desde os primeiros tempos uma atividade econômica subsidiária da cana-de-açúcar. Os engenhos eram quase sempre movidos à tração animal e, tanto o transporte da cana, dos partidos para a fábrica, como o transporte do açúcar, das fábricas para os portos de embarque, estavam sempre a exigir grande número de bois e de cavalos. Nos primeiros tempos, a criação de gado foi uma atividade a que alguns se dedicaram com espírito demasiado independente para não se submeterem à hierarquia social rígida da civilização açucareira; como não dispunham de capital para montar engenhos, adquirir escravos e plantar canaviais, procuraram estabelecer-se sempre nas proximidades da costa ou dos rios navegáveis, uma vez que os transportes por água eram os únicos usados para as grandes travessias. A guerra holandesa e o medo de perder seus animais, requisitados pelos invasores, fizeram com criadores alagoanos e sergipanos subissem o rio São Francisco em demanda do sertão. A parte alta e as superfícies aplainadas sobre a Borborema não haviam sido exploradas, haviam sido contornadas ao sul por criadores de gado quando subiam o São Francisco, ao norte quando alcançavam e subiam os Vales do Açu e do Apodi. (ANDRADE, 2011, p. 151-152)
Para Manuel Correia de Andrade (2011) o gado foi sempre um servo da indústria
açucareira, sendo importante como força motriz e fonte de alimentação dos engenhos do
litoral nordestino. Além disso, foi uma das atividades responsável pela ocupação de grandes
áreas dos vales fluviais do sertão nordestino ao lado do algodão, que passou a ocupar grandes
áreas dos carrascos e das capoeiras do sertão nordestino desde os primórdios do processo de
colonização em comunhão com o feijão, o milho e a fava.
No Nordeste brasileiro, principalmente no sertão, o algodão esteve presente desde o
começo da colonização que segundo Andrade (2011) nos séculos de XVII e metade do XVIII
essa atividade entrou em crise servindo apenas como tecidos ordinários para vestimenta dos
escravos, mas a partir da industrialização engendrada nas mudanças de relações sociais de
14
poder na Europa, principalmente na Inglaterra, o algodão passa a ser um produto comercial
para exportação importante no semiárido.
Os reflexos dessas transformações atingem diretamente o Brasil, porque a economia
portuguesa nesse período era muito dependente da economia inglesa. Ainda segundo esse
autor a partir do século XIX a cultura do algodão incrementa-se devido à utilização da
semente do algodão para a produção de óleo descoberta pelo naturalista Arruda Câmara; pela
abertura dos portos ao comércio inglês; por causa da guerra de Secessão nos EUA (1861-64)
só vindo a entrar em crise em 1929 com a crise econômica mundial e, em relação ao nordeste,
com a praga da lagarta amarela e expansão do algodão nas terras paulistas a cultura algodoeira
que nunca mais se recuperou no sertão nordestino.
No caso do sertão do Rio Grande do Norte a ocupação de acordo com Clementino
(1987) se ocorreu também nos séculos XVI, XVII e XVIII não foi diferente dos outros
estados nordestinos, pois em todos eles se desenvolveram a atividade pecuária e a agricultura,
em consórcio com o chamado binômio gado-algodão associado com o algodão-cultura de
subsistência uma particularidade social do sertão nordestino. A partir do XVIII até os anos de
1980 do século XX o algodão (mocó) passa a ser o principal produto agrícola do estado do
Rio Grande do Norte. Segundo Takeya apud Clementino (1987) o sistema entra em crise no
final do século passado devido ao cenário econômico internacional e a praga do bicudo. Como
lembra Clementino (1987) à estrutura fundiária era e ainda é concentrada nas mãos dos
grandes proprietários de terras que utilizavam a parceria como relação de trabalho
preponderante, mesmo nos dias atuais, ainda é utilizada nas terras potiguares.
O processo de colonização do sertão nordestino realizou-se primeiramente nas
margens da rede fluvial pela pecuária e a agricultura de subsistência. Nas terras do sertão
potiguar o rio Piranhas-Açu e o Apodi-Mossoró são exemplos desse tipo de colonização. No
caso específico a área de estudo deste trabalho localiza-se no alto curso do rio Apodi-Mossoró
que têm a cidade de Pau dos Ferros como um dos ícones característico desse tipo de
conquista, pois era lugar de passagem e parada de boiadas para descanso tanto das boiadas
como dos vaqueiros.
E foi a margem da pequena lagoa, onde hoje correm as ruas da cidade, que os vaqueiros encontraram o lugar de repouso e descanso desejado- a alfombra de frondosa oiticica em cuja haste gravavam a ponta de faca os sinais da fazenda como pontos de referência e distintivos identificadores da rês sumidiça e tresmalhada [...] Pau dos Ferros, na sua origem primitiva, era uma grandiosa oiticica, situada à margem do rio, no cruzamento da estrada, a cuja sombra benfazeja descansavam os
15
viandantes [...]Tamanho foi o desenvolvimento da fazenda, que em breve se tornou o centro de convergência, seguindo-se o construir de novas edificações e aumentando assustadoramente o número de sua população que ‘ em pouco tempo, com observa o professor Manoel Jacome de Lima – foi preciso construir uma capela para atender ás necessidades espirituais dos habitantes da localidade que se transformou rapidamente em florescente povoação(MELO, 1990, p. 156-157).
A região do Alto-oeste potiguar era importante rota que ligava o sertão aos portos de
Aracati no Ceará, num primeiro momento e o porto de Areia Branca num segundo momento,
para abastecer os engenhos do litoral nordestino e a mineração das regiões Sudeste e Centro-
Oeste do Brasil. Segundo Lacerda e Barbosa (2006, p. 74) “a colonização realizada pelas
vias fluviais e de onde se processaram elementos de descoberta e ocupação dessas regiões, se
constitui as bases das raízes históricas de onde se ergueu a relação do homem com as
florestas”.
No que se refere à área de estudo à dinâmica e formação territorial tanto urbana como
rural foi estruturada na produção agropecuária – bovino, caprino, ovino, algodão, feijão,
milho arroz – em que a pecuária abastecia a população local com seus produtos tanto
alimentício – leite, queijo de manteiga e qualho, nata, qualhada – como para vestimentas e
construções de utensílios diversos – caçuá, arreios para os cavalos, burros, muares, mulas,
bois de carroça e capinadeira, e roupas (gibão), sapatos, botas, alpercatas, bornó, chapéus,
cintos entre outros- e até o século XIX abastecia a região dos engenhos de cana-de-açúcar e a
região das minas de ouro e diamante entrando em decadência com a crise dessas atividades.
No entanto, a pecuária ainda é importante na região como fonte de subsistência e
abastecimento das áreas urbanas que crescem como é o caso da cidade de Pau dos Ferros que
vem passando por uma urbanização significativa. No caso do algodão, este foi muito
importante para a economia da chamada região da “tromba do elefante” (Alto-oeste potiguar)
até os anos 1980 quando entra em decadência não se recuperando até os dias atuais. Tal
situação pode ser explicada pela falta de políticas públicas, pela praga do bicudo e a
conjuntura da economia mundial, nacional e regional.
Na atualidade a área de pesquisa é composta pelos municípios de Pau dos Ferros,
Encanto, Água Nova e Rafael Fernandes. Cabe destacar que o município de Pau dos Ferros
passa por um processo de urbanização, (tabela 01) como foi observado no estudo – esse
município é o centro polarizador da região do Alto-oeste potiguar e de cidades dos estados do
Ceará e Paraíba por se destacar economicamente no setor de serviços (nas áreas de saúde,
educação, e comércio).
16
Ano Água Nova Encanto Rafael Fernandes Pau dos Ferros
Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural
1980 2.040 739 1.301 4.178 1.056 3.122 2.688 670 2.018 16.216 12.957 3.259
1991 2.309 1.193 1.116 4.720 2.102 2.618 3.332 1.529 1.803 20.827 17.782 3.045
2000 2.678 1.630 1.048 4.798 2.116 2.682 4.247 2.206 2.041 24.758 22.311 2.447
2010 2.980 1.908 1.072 5.231 2.130 3.101 4.692 2.709 1.983 27.745 25.551 2.194
Tabela 01: Evolução da população dos municípios que compõem a microbacia do Riacho Cajazeiras/RN.
O processo de urbanização1 é um dos fatores mais degradantes das condições
socioambientais devido ao uso e ocupação desordenada, em especial, nas áreas próximas as
margens da rede fluvial, provocando uma série de problemas nas áreas sociais, econômicas e
ambientais. Nesse contexto o planejamento territorial urbano não tem conseguido de forma
satisfatória, conter o processo de degradação na área de sua influência. Para Ross (2009) a
política de planejamento da produção do espaço territorial brasileiro não tem contemplado o
desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma holística e inclusiva, permanecendo
graves problemas socioambientais, tanto nos espaços urbanos como nos espaços rurais de
todas as regiões do Brasil.
Uso e ocupação do solo, degradação ambiental e fragilidade no semiárido
O processo de urbanização e a atividade agropecuária têm provocado mudanças na
paisagem sertaneja alterando a dinâmica natural do Bioma Caatinga que passou a ser sofrer
interferências negativas com a retirada indiscriminada da vegetação. Nesse contexto o
processo de degradação deve ser considerado, pois segundo o Ministério do Meio Ambiente –
MMA (2009) cerca de 80% dos ecossistemas da caatinga já sofreram degradação ao longo do
processo histórico devido ao uso indevido do solo.
A intensificação fragilidade potencializa o processo de degradação ambiental que se
deu justamente com o início da atividade agropecuárias seguida do algodão e do processo de
urbanização. As práticas utilizadas pelas atividades agropecuárias e pela ocupação urbana
desordenada ocorrem sem planejamento e são na maioria das vezes inconsistentes com as
condições naturais do semiárido, provocando ao longo da sua formação territorial, graves
problemas socioambientais. 1 A questão urbana é aqui inserida na perspectiva do IBGE.
17
Os atributos que dão similitude às regiões semiáridas são sempre de origem climática, hídrica e fitogeográfica: baixos níveis de umidade, escassez de chuvas anuais, irregularidade no ritmo das precipitações ao longo dos anos; prolongados períodos de carência hídrica; solos problemáticos tanto do ponto de vista físico quanto do geoquímico (solos parcialmente salinos, solos carbonáticos) e ausência de rios perenes, sobretudo no que se refere às drenagens autóctones. [...] No entanto, a análise das condicionantes do meio natural constitui uma prévia decisiva para explicar causas básicas de uma questão que se insere no cruzamento dos fatos físicos, ecológicos e sociais (AB’SABER, 1999, p. 7).
Como destaca Ab’Saber (1999) para analisar o semiárido é importante que considere
não só os atributos físicos e geoquímico, como também incluir os atributos ecológicos e
sociais. Como se pode perceber as ações humanas e as necessidades transformam e
requalificam os espaços. Desse modo, ao longo do processo histórico temos as alterações na
paisagem intensificadas pela ação humana.
As formas de ocupação e uso do solo têm alterado a dinâmica natural dos ecossistemas
terrestres, aéreos, lacustres, fluviais, urbanos causando desequilíbrio socioambiental. Desse
modo, a degradação ambiental tem sido apontada como um dos principais problemas na
atualidade. Segundo Sánchez (2008, p. 27) degradação ambiental é “qualquer alteração
adversa dos processos, funções ou componentes ambientais, ou como alteração adversa da
qualidade ambiental”. No âmbito da lei nº. 6.938/1981 art.3º, inciso III- da Política Nacional
de Meio Ambiente a degradação ambiental é definida “alteração adversa das características
do meio ambiente”.
A degradação ambiental pode advir de vários fatores induzidos pelas ações humanas.
Tais ações podem provocar inclusive mudanças no clima global aumentando a temperatura,
diminuindo a pluviosidade em algumas regiões e aumentando em outras, alterações na vida
animal e vegetal que podem resultar na extinção ou até a mutação de determinadas espécies.
A degradação ambiental pode afetar diretamente os diversos ecossistemas terrestres
agravando a situação natural de algumas regiões como, por exemplo, o semiárido brasileiro
que historicamente passa por períodos de secas cíclicas. Cabe destacar que as degradações
nessas áreas podem ser revertidas com o uso adequado do solo e da manutenção da vegetação
(GUERRA, ALMEIDA e ARAUJO, 2009).
A reversibilidade pode não recuperar toda a biodiversidade anterior existente nessas
áreas. No Brasil segundo Guerra, Almeida e Araujo (2009, p. 28) “Os principais tipos de
degradação consistem na perda da camada superior do solo, proveniente da erosão hídrica
18
(39% da área degradada) na perda de nutrientes do solo (28%) e na deformação do terreno
pela erosão hídrica (12%). No semiárido nordestino, em relação à vegetação de caatinga e a
sua fauna vem sofrendo processo de degradação ambiental causado por práticas extrativistas
como: a retirada da vegetação para abastecer os fornos das cerâmicas, das padarias, para o
consumo doméstico e para a produção de carvão que abastecem as áreas urbanas; a caça
predatória de várias espécies nessas áreas como: tatu, peba, preá, juriti, codorna, nambu,
rolinhas entre outras espécies. Além disso, a retirada de mel de abelhas italiana e jandaíra.
Outras práticas degradantes dizem respeito atividades agrícolas e ao pastoreio. Essas
práticas se iniciam com a derrubada e queimada da vegetação para a produção agropecuária
que abastecem principalmente as áreas urbanas. Para tanto, são utilizadas máquinas pesadas
como tratores (estes geralmente cedidos pelas prefeituras aos pequenos produtores) para arar a
terra nos primeiros dias de chuvas, em especial, nos solos mais profundos, à plantação é feita
diretamente nas encostas sem utilizar técnicas de conservação dos solos (como o
terraceamento) e o pastoreio extensivo de bovinos, caprinos e ovinos.
A utilização da Caatinga no semiárido mantém-se presa ainda à prática extrativista, seja pastoril, agrícola ou madeireira. O pastoreio, principalmente de bovinos e caprinos, tem contribuído para a modificação da cobertura vegetal: juntamente com atividade agrícola, explorada segundo práticas itinerantes, que incluem desmatamento e queimadas, tem aumentado a degradação ambiental com perdas irrecuperáveis para a diversidade da florística e faunística, acelerando o processo de erosão e o declínio da fertilidade do solo e da qualidade estrutural das bacias hidrográficas (BRASIL, 2004, p. 51).
Essas atividades compactam e expõem o solo ao processo erosivo; o que tem
intensificado a perda do solo. Como também, tem contribuído para desestruturação das bacias
hidrográficas tornando os ambientes mais frágeis, e, consequentemente, mais instáveis
socioambientalmente.
No semiárido nordestino os fatores mais degradantes estão relacionados a práticas
historicamente inadequadas do uso e ocupação do solo apontado no texto anterior (a citação) e
por outros estudos como os de Ross (2009), Ab’Saber (1999) e Tricart (1977) afirmam que o
regime pluvial irregular com chuvas intensas, secas periódicas e solos rasos facilitam a
degradação e aumentam a fragilidade ambiental.. Essas características aliadas ao uso e
ocupação inadequada do solo tem provocado ao longo da sua formação territorial, graves
problemas socioambientais nas paisagens, seja no espaço rural ou urbano.
19
Para Tricart (1977) a paisagem evolui de forma contínua e complexa segundo suas
próprias leis, nesse sentido, as ações antrópicas são exercidas em um sistema natural mutante.
Por isso, é crucial no estudo da organização do espaço identificar como essas ações se
inserem na dinâmica natural com intuito de mitigar a fragilidade da paisagem, e, sugerir quais
são as melhores atividades econômicas a serem praticadas nessas áreas. Nesse contexto, para
estudar a paisagem o autor passou a distinguir a fragilidade em meios morfodinâmicos:
estáveis, intergrades e instáveis definidos por meio da integração dos elementos físicos e as
atividades antrópicas.
Nos meios morfodinâmicos estáveis as condições do ambiente apresentam baixa
fragilidade ambiental, pois onde predomina vegetação densa natural, estabilidade tectônica e
dissecação moderada e declividade do relevo os processos mecânicos da morfogênese são
moderados. Nos meios intergrades ou meio de transição predomina a morfogênese ou a
pedogênese, cabendo ao pesquisador identificar se esses ambientes caminham em direção à
predominância morfogênetica (instabilidade) ou a predominância da pedogenética
(estabilidade) “Os meios intergrades são delicados e suscetíveis a fenômenos de
amplificaçâo, transformando-se em meios instáveis cuja explotação fica comprometida”
(TRICART, 1977, p. 51). Com relação aos meios instáveis a morfogênese predomina em
detrimento da pedogênese. Nesses meios os processos morfogenéticos são intensos com a
presença de erosão intensa (ravinas e voçorocas), solapamentos dos talvegues, assoreamentos
da rede fluvial e desmatamentos aumentando a fragilidade desses ambientes e intensificando a
degradação (TRICART, 1977).
Ross (2003) faz referencia aos estudos de Tricart e acrescenta que a dinâmica
socioespacial da paisagem deve ser analisada de forma integrativa, pois os diversos
componentes da natureza são interdependentes. O clima, o solo, a vegetação, a
geomorfologia, a geologia, o uso e ocupação do solo devem ser correlacionados nas
avaliações para obterem-se as os graus fragilidades representadas pelos geosssistemas.
A ocorrência da degradação ambiental e o aumento da fragilidade ambiental estão
vinculados ao uso e ocupação do solo de forma não coerente com os sistemas ambientais
naturais dificultando seu funcionamento e auto-regulação. Esses processos manifestam-se em
conseqüências socioambientais concretas, tais como a perda da capacidade produtiva dos
solos e, consequentemente, a diminuição da produção agropecuária, que se reflete em perda
da identidade cultural, em migração da população, empobrecimento da população e perda da
qualidade de vida. A problemática nordestina vai muito além da questão física-natural como
descreve Rodrigues e Silva (2002, p. 110),
20
Ao mesmo tempo, pode-se apontar que o grande problema do Nordeste semiárido não é de ordem física; é de ordem social. Entre os fatores sociais que influem sobre a desertificação, podem se colocar os seguintes: o sistema da propriedade da terra; o acesso e apropriação dos recursos; a racionalidade dos agentes e atores sociais envolvidos; a intensa pressão humana sobre os sistemas naturais; a tecnologia inadequada prevalecente; a insuficiente integração regional.
Portanto, para avaliar a paisagem é preciso compreender o contexto econômico social
inter-relacionando-os com os elementos físicos da paisagem. No caso do semiárido nordestino
muito se tem atribuído aos fatores naturais referentes às condições climáticas, que durante
muito tempo tem sido utilizado para justificar as mazelas sociais da região dita do “atraso” ou
da “seca”. Nesse sentido, vários mecanismos foram criados para desenvolver a região
nordestina e os estudos de Andrade (2011), Celso Furtado (1980) e Araujo (1995, 2000) e
outros ajudam a entender a integração da região nordeste ao contexto, internacional, nacional
e regional. Não cabe aqui detalhar tal discussão, mas é importante lembrar as marcas deixadas
por esse processo na sociedade nordestina.
Desse modo, a pesquisa analisa a dinâmica multitemporal do uso e da ocupação do
solo, a degradação e a fragilidade ambiental potencial e emergente da paisagem, levando em
consideração os elementos naturais e suas inter-relações na relação sociedade-natureza na
perspectiva geossistêmica. Para tanto, acredita-se que a visão geossistêmica possibilita
analisar a paisagem de forma sistêmica ou “global” utilizando, a bacia hidrográfica, a sub-
bacia ou a microbacia bacia hidrográfica como unidade de análise de forma satisfatória.
Geossistemas, paisagem e as bacias hidrográficas
A ideia de uma visão global das interações da Natureza com a Sociedade na academia
se iniciou segundo Rodriguez e Silva (2002) no final do século XVIII e início do século XIX,
com os trabalhos de Kant, Humboldt e Ritter. Duas correntes se destacaram no contexto da
Geografia: uma visão voltada para a Natureza pautada na Geografia Física (principalmente
com as concepções de Humboldt e Dokuchaev), e uma visão centrada nas causas humanas
(Geografia Humana ou a Antropogeografia) de Karl Ritter. Outra corrente foi o surgimento da
Ecologia como disciplina biológica nos finais do século XIX dando ênfase aos estudos das
relações entre meio físico-químico e os seres vivos. Entretanto, conceito de ecossistema só
veio a surgir em 1935, baseado na concepção da Teoria Geral de Sistemas. Destaca-se
21
também a Geoecologia das Paisagens de Karl Troll, surgida nos meados de 1930, onde
analisava funcionalmente a paisagem, integrando o social ao ecológico.
Para tanto, a visão geossistêmica nos possibilita analisar a paisagem de forma
sistêmica ou “global”, utilizando a microbacia hidrográfica como unidade de análise por
entendermos que se encaixa nessa perspectiva teórica e metodológica.
A condição para o desenvolvimento da visão integrada da paisagem na União
Soviética e no leste europeu deve-se as duas condições: o uso do Marxismo o do pensamento
de Lênin como doutrina oficial de cunho dialético materialista e das necessidades de
planificação estatal dos países “socialista” que precisava conhecer as unidades naturais de
forma integrada, para serem bem controladas (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI,
2007).
Na ciência geográfica a paisagem é um elemento de análise importante que durante
muito tempo esteve associada ao conceito de região como se fossem sinônimos. De acordo
com Milton Santos (2008), essa ideia persistiu até o final do século passado dada a influência
da geografia europeia. Com as grandes transformações no mundo a discussão sobre a
paisagem se amplia e Carl Sauer tipifica a paisagem em: natural e artificial. Os dois tipos de
paisagem marcam a relação do homem sobre a natureza. Desse modo, Santos (2008, p. 71)
descreve: “A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formada
por frações ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro
critério. A paisagem é sempre heterogênea”.
A paisagem acompanha as transformações da sociedade alterando-se em detrimento
das necessidades da estrutura social. Desse modo, a mesma pode ser considerada como
“resultado de uma acumulação de tempos” (SANTOS, 2007, p. 54). Sob a ótica geosistêmica
a paisagem é discutida por Bertrand que aborda e propõe uma classificação metodológica
específica, baseada na relação entre os fatores bióticos, abióticos e a ação antrópica. De
acordo com Bertrand (2004, p. 141),
A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução.
A partir dos anos 70 do século XX, a análise da paisagem ganha destaque com a
Ecogeografia desenvolvida por Jean Tricart que considera as unidades ecodinâmicas como
sistemas ambientais por excelência, tendo a Geomorfologia como elemento integrador central
nos seus estudos.
22
Vale salientar que a ciência Geográfica tem buscado um método desde sua formação,
que permitisse melhor compreender e analisar, os diversos elementos e processos que
compõem, modifica e modelam as paisagens sob uma ótica mais integradora. Dentre as
teorias e concepções metodológicas da Geografia, destaca-se a Teoria da Ecodinâmica de
Tricart, onde analisa a dinâmica e os processos ecológicos que modelam e modificam a
paisagem, definindo sua resiliência e fragilidades dos ecossistemas, possibilitando apontar
formas mais adequadas e sustentáveis de uso e ocupação do solo em consonância com a
capacidade de cada ecossistema e as necessidades humanas.
De acordo com Tricart (1977) para compreender os mecanismos e a amplitude da
degradação antrópica dos ecossistemas, é imprescindível conhecer as modalidades e a
simultaneidade entre os elementos da natureza: cobertura vegetal, solos, processos
morfogenéticos, hidrológicos e as interferências antrópicas.
O conhecimento das estruturas dos sistemas naturais e sócio-econômicos permite apreciar certas dinâmicas, prever as modificações que podem da reorganização do território. Cada unidade deve, também, ser estudada em função do seu princípio de coesão interna e dos laços de interdependência com outras unidades mais ou menos distantes (TRICART, 1977, p 78)
Nessa mesma linha, temos a teoria da paisagem do francês Georges Bertrand (2004),
que procura entender a paisagem como um sistema dinâmico e instável composto dos
elementos naturais- o clima, o solo, a vegetação, o relevo, fauna, hidrologia e sociedade. O
Autor enfatiza que é preciso estudar as paisagens na concepção geossistêmica.
Outros nomes importantes na atualidade que defendem a visão geossistêmica são: o
cubano José Manuel Mateo Rodriguez que traz novas contribuições para essa corrente de
análise aprimorando a Geoecologia das Paisagens propostas por Karl Troll. No Brasil
podemos destacar os estudos de Antônio Chistofoletti, Carlos augusto de Figueiredo Monteiro
e Jurandir Ross autores que tem se destacado na análise sistêmica da paisagem através de
várias obras nas quais se destacam: Análise de Sistemas em Geografia (CHISTOFOLETTI,
1979); Geossistemas: a história de uma procura (MONTEIRO, 2000) e Ecogeografia do
Brasil: subsídios para o planejamento ambiental (ROSS, 2009).
O estudo utilizou a perspectiva teórica geossistêmica pautada nos estudos de Tricart
(1977), Ross (2003 e 2009) para analisar e compreender os fenômenos e os fatores
degradantes da paisagem da Microbacia do Riacho Cajazeiras, uma vez que, a ocupação
desordenada do solo nas bacias hidrográficas, nas sub-bacias e nas microbacias, tem causado
23
degradação ambiental na estrutura pedológica, geomorfológica e florística nas diversas
regiões do planeta, agravando o desequilíbrio socioambiental.
O uso inadequado da ocupação e uso do solo dentro do Bioma Caatinga no semiárido
brasileiro, é apontado pelos estudos de Souza et.al (2008), Alves (2007), entre outros, como
um grave problema a ser resolvido por toda a sociedade. Desse modo, estudos e avaliações
acerca da situação das bacias hidrográficas são fundamentais. Nessa perspectiva, utilizou-se a
microbacia como unidade de análise assim definida:
[...] microbacia é toda bacia hidrográfica cuja área seja suficientemente grande, para que se possam identificar as inter-relações existentes entre os diversos elementos do quadro socioambiental que a caracteriza, e pequena o suficiente para estar compatível com os recursos disponíveis (materiais, humanos e tempo), respondendo positivamente à relação custo/benefício existente em qualquer projeto de planejamento (VITTE e GUERRA, 2007, p. 157)
No caso das bacias hidrográficas, é imprescindível a utilização de ferramentas que
possibilitem um acompanhamento do uso e ocupação do solo uma vez que a bacia
hidrográfica é fonte de abastecimento de água para: o lazer, indústria, agricultura,
dessedentação dos animais, para a sobrevivência e equilíbrio da flora e fauna entre outros.
Desse modo, é importante estudar as bacias hidrográficas de forma integrada em que as
teorias científicas e as tecnologias, estejam voltadas para a construção de sociedades
sustentáveis.
As considerações já feitas mostram a necessidade de buscar novas perspectivas
paradigmáticas para solucionar e mitigar o processo de degradação no semiárido nordestino,
em especial, na área de estudo onde se percebe vários problemas socioambientais causados
pela ação humana. Diante desse quadro, pretendemos investigar e responder os seguintes
questionamentos: Quais são as implicações socioambientais ocasionadas pela retirada da
vegetação de caatinga na microbacia do riacho Cajazeiras/RN? Quais são os fatores
responsáveis pela degradação na área em estudo? Quais são as áreas de maior fragilidade
ambiental da microbacia? De tal forma, o objetivo da pesquisa consiste em avaliar a dinâmica
da paisagem da Microbacia do Riacho Cajazeiras no Semiárido Potiguar, identificando os
fatores degradantes, às áreas mais degradadas e/ou susceptíveis a degradação e as fragilidades
ambientais. Contribuindo desse modo, para o advento de outros estudos e/ou para a
proposição de medidas que visem o processo de construção de sociedades sustentáveis.
24
CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO
A Microbacia Bacia do Riacho Cajazeiras (figura 01) está localizada no Nordeste
brasileiro na Mesorregião do Alto Oeste Potiguar/RN nas microrregiões de Pau dos Ferros e
São Miguel fazendo parte de sua área: os municípios de Pau dos Ferros (na sua área se
encontra os sítios: Maretas, Torrões, Grossos, Alencar, Lagoinha dos Estevãos, Carvão,
Cachoeirinha, Amarela, Boa Sorte, Lagoinha, Seis Olhos, Lagoa de Fora, Várzea de Baixo e
parte do núcleo urbano da cidade), Rafael Fernandes os sítios: Maretas de Cima e Ingá, Água
Nova os sítios Vaca Morta, São Luiz e Lanchinha e Encanto os Sítios: Várzea de Cima,
Sanharão e Cantinho (figura 02). Cabe pontuar que não engloba todas as áreas desses
municípios. Nesse sentido, a microbacia é um recorte compreendendo parte das zonas rurais
dos municípios de Rafael Fernandes, Água Nova, Encanto e Pau dos Ferros e parte da zona
urbana desse último município.
Figura 01: Localização da microbacia do Riacho Cajazeiras/RN.
Fonte: baseado na malha do IBGE. Adaptado pelo autor, 2010.
25
Figura 02: Localização da área urbana e dos Sítios do Riacho Cajazeiras/RN.
Fonte: Malha do IBGE, 2010 e pesquisa de campo realizada pelo autor, 2010.
A Microbacia abrange uma área de drenagem de 116,9 km2 fazendo parte da Sub-
Bacia do Rio Encanto, localizada no alto curso Bacia do Rio Apodi-Mossoró/RN, na região
hidrográfica do atlântico nordeste ocidental brasileiro, tendo como principais afluentes: o
Riacho Cajazeiras (principal, que recebe o nome de Riacho do Meio no seu baixo curso)) o
Riacho Cachoeirinha, o Riacho da Favela, o Riacho dos Estevãos e o Riacho Boa Sorte. Além
disso, a microbacia apresenta grande quantidade de açudes, barreiros e pequenas barragens,
destacando-se o Açude 25 de Março dentro da área urbana da cidade de Pau dos Ferros e o
Açude das Maretas localizado na zona rural do município de Rafael Fernandes. Os aqüíferos
presentes na microbacia são: os aquíferos fissurais descontínuos no espaço das rochas
cristalinas e os aquíferos aluviais das margens dos riachos e córregos.
26
O regime fluvial dos riachos da Microbacia do Riacho Cajazeiras caracteriza-se pela
intermitência de suas águas por estarem submetidos ao regime do clima semiárido (Bs) na
maior parte de sua área. Entretanto, na parte de seu alto curso ocorre à presença do clima sub-
úmido seco (Bw) devido à altitude do Planalto da Borborema (Koppen-Geiger).
A vegetação presente na área da microbacia citada pelos moradores nas entrevistas e
no trabalho de campo, é a Caatinga Hipoxerófila, formada por plantas arbóreas (jurema preta
e branca, aroeira, jucazeiro, mufumbo, marmeleiro, catingueira, angico, sabiá, pereiro,
ingazeira, carnaúba, oiticica, juazeiro, pacotê, emburana; arbustivas (velame, muçambê, rosa
seda, unha de gato, bredo, anil entre outras). Também é encontrada a Caatinga hiperxerófila
(vegetação altamente resistente as condições de aridez) formada pelas cactáceas: xique-
xique, cardeiros e facheiros.
Em relação à fauna, os animais que ainda são encontrados segundo os habitantes da
área da pesquisa conforme as entrevistas realizadas (Apêndice 1) são: mocó, sussuarana,
veado, peba, tejo, tejubina, calango, preá, timbu, cordona, corduniz, nambu, gavião-peneira,
gavião-vermelho e gavião-pequeno, rolinha cascavel, rolinha caldo-de-feijão, rolinha pé-de-
anjo e rolinha-branca, bem-te-vi, sabiá, coruja, azulão, galo-de-campina, golinha, bico-de-
prata, caboclo-lino, fura-barreira, burguesa, canção, bico-de-osso, periquito, currupião,
casaca-de-couro, anum-branco, anum-preto, papa-sebo, João-de-barro, papa-arroz, juriti, as
abelhas (jandaíra, capuchu, maribondo, arapuá); as formigas (de roça, a preta e alemã ou
vermelha), cupins, as cobras (jararaca, corre-campo, cobra- de-cipó, cobra verde, cascavel,
cobra-de-veado, goi-peba) e camaleão.
A geologia dominante na área de estudo segundo o Serviço Geológico do Brasil –
CPRM (2005) é complexo Jaguaretama (com ortognaisse migamatizado tonalitico a
grandiorítico e granítico, migmatitico, restos de supracristais) com uma pequena incidência de
um suíte Serra do deserto caracterizado por ortognaisse grandiorítico e granítico. Em relação à
geomorfologia a microbacia está inserida na Depressão Sertaneja e no Planalto da Borborema
em que as altitudes variam entre 200 a 600m tendo como principal divisor de água a Serra do
Bom Será localizada nos municípios de Encanto e Água Nova e, também as planícies aluviais
presentes nas margens da rede fluvial. Os solos predominantes na área são: Neossolos,
Neossolos litolicos, Luvissolo e Argissolo vermelho-amarelo (EMBRAPA, 2005).
O clima predominante da área segundo a classificação de Köppen-Geiger é o tropical
semiárido quente e seco, entretanto, no seu alto curso registra-se o clima sub-úmido seco
proporcionado pelo Planalto da Borborema marcado por médias térmicas anuais elevadas em
torno de 28°C e por chuvas escassas e irregulares predominantes nos meses de fevereiro a
27
maio por chuvas escassas e irregulares predominantes nos meses de fevereiro com uma
precipitação média anual varia entre 400 e 800 mm. Em relação à evaporação média anual
pode ficar entre 1500 e 2200 mm. Nesse sentido, à evaporação sendo bem maior que a
precipitação tende a aumentar o teor de sais nos corpos d’água (barreiros e reservatórios
diversos) e, também na solução do solo e das águas subterrâneas.
A população residente ( uma média feita relacionando a área de cada município com
os dados do IBGE) na área da Microbacia, do Riacho Cajazeiras é de aproximadamente 11
mil pessoas concentrada, principalmente, na zona urbana do município de Pau dos Ferros com
cerca de 8. 500 mil habitantes e cerca 1000 habitantes na zona rural; no município de Rafael
Fernandes aproximadamente 500 habitantes na área rural que faz parte da área de estudo; na
área pertencente ao município de Água Nova na zona rural inserida na microbacia, reside
cerca de 400 habitantes e na área da zona rural na microbacia pertencente ao município do
Encanto, habita aproximadamente cerca de 600 pessoas.
METODOLOGIA GERAL
Para realização da pesquisa foi feito inicialmente, o levantamento bibliográfico em
diversas fontes sobre a temática estudada. Para isso, inclusive, foi realizado um levantamento
em documentos, teses e revistas especializadas sobre os estudos teóricos e estudos de caso
sobre a área de pesquisa.
No entanto, em relação à Microbacia do Riacho Cajazeiras, evidenciou-se apenas a
existência de relatórios técnicos sobre as condições da água da mesorregião da região do Alto
Oeste, vários estudos sobre a Bacia Apodi-Mossoró e alguns estudos pontuais relacionados
aos riscos ambientais e a degradação ambiental, enchentes e problemas urbanos da cidade de
Pau dos Ferros, mas no que se refere à Microbacia do Riacho Cajazeiras, em específico, não
foi encontrado nenhum estudo.
Desse modo, iniciou-se o trabalho e a pesquisa sistematizada em fases distintas
contemplando: coleta de dados primários e secundários, trabalho de gabinete, reconhecimento
e visitas na área de estudo, trabalho de campo com a aplicação de entrevistas, levantamento
fotográfico com registro de coordenadas geográficas com a utilização de GPS e a elaboração
de mapas com o uso de técnicas de geoprocessamento com a utilização de SIG – Sistema de
Informação Geográfica.
28
Na fase seguinte, paralelo ao levantamento bibliográfico, fora realizado o
levantamento de dados demográficos, físico-naturais e socioeconômicos dos municípios que
compõem a Microbacia do Riacho Cajazeiras, ou melhor, Pau dos Ferros, Rafael Fernandes,
Encanto e Água Nova. Para isso, utilizaram-se os dados disponíveis no IBGE, EMBRAPA e
IDEMA.
Em seguida, foi feita a aquisição de imagens de satélite gratuitamente no website do
INPE – Instituto nacional de pesquisas Espaciais dos satélites Landsat 5 (Land Remote
Sensing Satélite) sensor TM (Thematic Mapper) e Landsat 7 (Enhanced Thematic Mapper) na
órbita/ponto 216/64 em que selecionou-se àquelas com melhores condições visuais para
realizar o trabalho de comparação e análise sobre o uso e ocupação do solo na microbacia em
estudo. Com isso, foram trabalhadas três imagens do satélite Landsat 5 - que contem 7 bandas
espectrais e resolução de 30 m - nas datas de 26 de julho de 1984, 11 de julho de 1996 e 16 de
junho de 2009. A temporalidade é um fator importante, e o critério de seleção das imagens
baseou-se na semelhança do comportamento e das condições de umidade da área.
Para o processamento das imagens na fase realizada em gabinete, utilizou-se o
software Spring versão 5.1.5 desenvolvido pelo INPE. O processamento da imagem para a
delimitação do recorte da bacia e registro e ajuste das imagens teve referências as cartas do
IBGE e da EMBRAPA da área de estudo na escala de 1:100.000.
Para a delimitação da microbacia considerou-se o relevo e a altimetria disponibilizada
pela EMBRAPA. Após a delimitação da área de estudo, iniciou-se as etapas para a elaboração
do mapa de uso e ocupação do solo: o registro, a segmentação, a classificação e edição das
imagens. A projeção cartográfica utilizada foi UTM/SAD 69, Zona 24 long. 39º, que fora
utilizada como base para o registro, ou seja, o georreferenciamento das informações da
microbacia em estudo.
A composição das bandas utilizadas no trabalho foram 3R4G5B em todas as cenas.
Após o registro e importação das imagens, realizou-se a segmentação que é o processo onde
ocorre o particionamento da imagem em regiões espectralmente semelhantes. Dessas regiões
são extraídos atributos espectrais, geométricos e contextuais que são usados na classificação
de cada região.
O processo usado para segmentar as imagens, foi baseado na técnica de crescimento
de regiões, a qual agrega pixels com propriedades similares (ROSA, 2009). Na segmentação
foram utilizados os parâmetros de similaridade 2 e área 4. Após a segmentação iniciou-se o
processo de classificação que consiste na extração de informação em imagens para reconhecer
padrões e objetos homogêneos.
29
Os métodos de classificação são usados para mapear áreas da superfície terrestre que
apresentam um mesmo significado em imagens digitais. Dessa forma, definiram-se as classes,
ou seja, as unidades de uso e ocupação de solo em 6 classes denominadas: caatinga densa,
caatinga esparsa, agropecuária, solo exposto, corpos d’agua, urbano e nuvem/sombra. Esta
última classe fora agregada numa única classe devido a sua pouca incidência.
Com a definição das classes, realizou-se o treinamento utilizando a classificação
supervisionada, com o classificador Bathacharia que é usado no classificador por regiões,
para medir a separabilidade estatística entre um par de classes espectrais, ou seja, mede a
distância média entre as distribuições de probabilidades de classes espectrais. O limiar de
aceitação usado foi de 99,9%. Na figura 03 pode ser visualizado o resultado preliminar da
interpretação e espacialização das classes de uso e ocupação do solo da Microbacia do Riacho
Cajazeiras.
30
Figura 03: Resultado da classificação, espacialização e identificação das classes de uso e ocupação do solo na microbacia do Riacho Cajazeiras/RN
31
Ao término da classificação e associação das classes (caatinga densa, caatinga esparsa,
agropecuária, solo exposto, corpos d’agua, urbano e nuvem/sombra), resultou no mapeamento e
num plano de informação no formato matriz, que foi convertida para imagem temática,
possibilitando uma análise da dinâmica da paisagem que circunscreve a microbacia em relação ao
seu uso e ocupação. Para o melhor entendimento as fases da pesquisa foram organizadas no
organograma (figura 04) abaixo:
Figura 04: Organograma simplificado da pesquisa.
Após a construção dos mapas de uso e ocupação do solo, realizou-se uma visita de campo na
área de estudo, em que foi realizado o levantamento fotográfico com registro de coordenadas
geográficas com a utilização de GPS para validar a pesquisa e identificar as áreas degradadas. Outro
procedimento adotado foi à aplicação de entrevistas para coleta de dados primários com os
Etapas da pesquisa
Levantamento bibliográfico em diversas fontes
Trabalho de campo com a aplicação de entrevistas
Análises e elaboração do texto final da dissertação
Coleta de dados primários
Visita de campo para validação da pesquisa de gabinete e o registro fotográfico das áreas degradadas
Trabalho de gabinete
Aquisição de imagens
Segmentação
Classificação
Elaboração do mapa de uso e ocupação
32
moradores da área em estudo. A pesquisa consistiu numa amostra de 50 pessoas. O formulário
semi-estruturado (em anexo) diz respeito às condições sociais e ambientais que envolvem a
microbacia, no que e refere à água, a fauna, a flora, a agropecuária, a vegetação de caatinga e as
principais mudanças na paisagem. A entrevista foi aplicada de forma aleatória com os sujeitos –
homens ou mulheres de maior idade, moradores da área - contemplando toda a área que
circunscreve a microbacia.
Na elaboração da carta de fragilidade ambiental, foi utilizada a metodologia empregada por
Ross (1994, 2003), que define o grau de fragilidade em duas variáveis: fragilidade ambiental
potencial definida pelos elementos físicos da paisagem (clima, geologia, geomorfologia, pedologia)
e fragilidade ambiental emergente definida pelos elementos físicos somados ao uso e ocupação do
solo.
Nessa perspectiva, os elementos da paisagem foram integrados da seguinte forma: o clima
está relacionado à quantidade e a intensidade da pluviometria; a geologia refere-se à coesão
representada pelos tipos de rochas; a geomorfologia depende do grau de declividade proporcionado
pelo relevo; a pedologia depende das características físicas e minerais do solo e sua capacidade de
resiliência frente aos processos naturais e as ações antrópicas.
Em relação ao uso e ocupação do solo foi considerado o grau de proteção do terreno assim
distribuído: alta proteção nas áreas de floresta densa; média proteção para as áreas de vegetação de
caatinga esparsa; baixa proteção nas áreas urbanas com planejamento inadequado, nas atividades
agropecuárias e nas áreas com presença de solo exposto.
Com o resultado da análise integrada, o uso de técnicas de geoprocessamento e da
superposição das informações da estrutura climática, geológica, geomorfológica (declividade),
pedológica, hidrológica e pelo o uso e ocupação do solo na microbacia, foi confeccionado um
mapa-síntese com os graus de fragilidade ambiental potencial e emergente em três níveis: baixa
fragilidade (peso 1), média fragilidade (peso 2) e alta fragilidade (peso 3). Nesse sentido, a
fragilidade ambiental foi representada nas cores vermelha, amarela e verde que correspondem
respectivamente à fragilidade ambiental alta, média e baixa. Com isso, foram obtidos dois mapas
sínteses que correspondem à fragilidade ambiental potencial e fragilidade ambiental emergente.
O primeiro caracteriza-se pela fragilidade natural representada pelos elementos naturais de
uma determinada paisagem. A capacidade de resiliência dos solos (erosão), das condições climática
(intensidade e pluviometria), da geomorfologia (declividade do relevo), da geologia (coesão das
rochas) que indicam o equilíbrio ou desequilíbrio natural. O último considera a fragilidade potencial
emergente dos elementos naturais somados a ação antrópica definidas no uso e ocupação do solo.
33
Por fim, a pesquisa analisa a dinâmica da paisagem na Microbacia do Riacho Cajazeiras no
Semiárido Potiguar a luz da teoria geossistêmica, utilizando técnicas de geoprocessamento, trabalho
de campo e a utilização de entrevistas.
REFERÊNCIAS
AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Revista estudos
avançados 13 (36), 1999.
ANDRADE, Manuel Correa de. A terra e o homem no nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no nordeste. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2011. ALVES, Jose Jakson Amancio. Geoecologia da caatinga no semi-árido do nordeste brasileiro, Revista de Climatologia e Estudo da Paisagem, Rio Claro vol. 2.n.1. jan/jun, 2007. p. 58 -71. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/viewFile/266/667 Acesso em: 12 de maio de 2011. ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Nordeste, Nordestes: que nordeste? In: AFFONSO, Rui de Brito Álvares; SILVA, Pedro Luiz Barros. Desigualdades regionais e desenvolvimento. São Paulo: Unesp, 1995. ______. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: Heranças e Urgências. Rio de Janeiro: Revan; Fase, 2000. BERTRAND, Georges. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Revista RA´E GA, Curitiba, Editora UFPR, n. 8, p. 141-152, 2004. Disponível em: http://www.nepa.ufma.br/Producao/importantes/paisagem%20bertrand.pdf Acesso em: 07 de jun. 2011.
BRASIL, Conselho Nacional da reserva da Biosfera da caatinga. Cenários para o bioma caatinga. Recife: SECTMA, 2004. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. MMA. Disponível em: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=203 Acesso em: 03 de junho de 2009. BRASIL, Lei N.º 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõem sobre a política nacional de meio ambiente, seus fins e mecanismo de formulação e aplicação e dá outras atividades. Diário Oficial da união: República Federativa do Brasil: poder legislativo, Brasília, DF, 31 de agosto de 1981. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=313 Acesso em: 13 de junho de 2011. CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda. O maquinista de algodão e o capital comercial. Natal: Ed. Universitária, 1987. CHISTOFOLETTI, Análise de Sistemas em Geografia. São Paulo: Hucitec, 1979.
34
CPRM. Serviço geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. Recife: CPRM; PRODEEM, 2005. DIEGUES, Antonio Carlos. Desenvolvimento sustentável ou sociedades sustentáveis: da critica aos modelos aos novos paradigmas. Revista São Paulo em Perspectiva. Jan./junho de 1992. p. 22 – 29. FURTADO. Celso. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1980. GUERRA, Antonio José Teixeira; ALMEIDA, Josimar Ribeiro de; ARAUJO, Gustavo Henrique de Souza. Gestão ambiental de áreas degradadas. 4. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. IBGE, Instituto Brasileiro de geografia e Estatística, Censos 1980, 1991, 2000 e 2010. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mapa da vegetação brasileira, Rio de Janeiro: IBGE, 2003. LACERDA, Alecksandra Vieira de; BARBOSA, Francisca Maria. Matas ciliares no domínio das caatingas. João Pessoa: UFPB, 2006. MELO, José Fernandes de. Nem todos calçam 40. Coleção clima, v.75. Carlos Lima: Pau dos Ferros, 1990. MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Geossistemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2000. RODRIGUEZ, J. Manuel Mateo; SILVA, E. Vicente; CAVALCANTI, A. Paula Brito. Geoecologia das paisagens: uma visão geossistemica da análise ambiental. 2. ed. Fortaleza: UFC, 2007. RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da. A classificação das paisagens a partir de uma visão geossistêmica. Revista Mercator de Geografia da UFC, ano 01, número 01, 2002. ROSS, Jurandir L. S. Ecogeografia do Brasil: subsídios para o planejamento ambiental. São Paulo: Oficina de textos, 2009. ______. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2003. ROSA, Roberto. Introdução ao sensoriamento remoto. 7. Ed. Uberlândia: EDUFU, 2009. SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 5. ed. São Paulo. EDUSP, 2007. SANTOS, Milton. Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. .6. ed. São Paulo. EDUSP, 2008. SÁNCHEZ, Luis Henrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. SOUZA, Ridelson Farias de (Et. Al). Estudo da evolução espaço-temporal da cobertura vegetal do município de Boa Vista-PB utilizando geoprocessamento. Revista caatinga, v. 21, n. 3, jun./agosto de 2008, p. 22-30. Disponível em: http://www.periodicos.ufersa.edu.br/revistas/index.php/ Acesso em: 02 de junho de 2011.
35
TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE; SUPREN, 1977. VITTE, Antonio Carlos; GUERRA, Antonio José Teixeira. (Org.). Geografia Física no Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
36
DINÂMICA DO USO E (DA) OCUPAÇÃO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIACHO CAJAZEIRAS NO SEMIÁRIDO/RN E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS
DYNAMICS OF THE USE AND OCCUPATION OF THE SOIL IN THE WATERSHED OF CAJAZEIRAS CREEK IN THE SEMIARID REGION, STATE OF RN, AND ITS SOCIO-
ENVIRONMENTAL IMPLICATIONS
Esp. José Pio Granjeiro Batista
Mestrando do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente/PRODEMA
Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente/PRODEMA
Resumo:
Este artigo analisa a dinâmica do uso e (da) ocupação do solo na Microbacia do Riacho
Cajazeiras/RN, localizada nos municípios de Pau dos Ferros, Rafael Fernandes, Água Nova e
Encanto no semiárido nordestino e suas implicações socioambientais com base na análise da
paisagem. Para a efetivação do estudo foram realizadas as seguintes etapas metodológicas:
levantamento bibliográfico, trabalho de gabinete, trabalho de campo, levantamento fotográfico,
coleta de dados e mapas de referência da área, aquisição de imagens de satélite Landsat5 em que
foram selecionados os anos de 1984, 1996 e 2009 utilizando técnicas de geoprocessamento para
avaliar as condições socioambientais da área de pesquisa. As informaçõese obtidas demonstram que
a dinâmicade do uso e da ocupação do solo na Microbacia do Riacho Cajazeiras teve uma mudança
significativa na paisagem, especialmente, na vegetação de caatinga. Ressaltando que a vegetação de
caatinga vem se recuperando, principalmente, em seu alto curso. A análise mostrou a necessidade
de desenvolver políticas e programas voltados para a manutenção, recuperação e preservação da
vegetação de caatinga.
Palavras-chave: Microbacia hidrográfica, Paisagem e Solo.
37
Abstract:
This article examines the dynamics of the use and occupation of the soil in the watershed of
Cajazeiras Creek, state of Rio Grande do Norte, located in the municipalities of Pau dos Ferros,
Rafael Fernandes, Água Nova and Encanto in the semi-arid northeastern region and its social-
environmental implications based on the analysis of landscape . For the realization of the study it
was performed the following methodological steps: bibliographical survey, office work, field work,
photographic survey, data collection and reference maps of the area, acquisition of satellite images
Landsat5 that were selected in the years 1984, 1996 and 2009 using geoprocessing techniques to
assess the social and environmental conditions of the research area. The informations obtained
demonstrate that the dynamics of the use and occupation of the soil in the watershed of Cajazeiras
Creek had a significant change in the landscape, especially in the caatiga vegetation. Noting that the
caatinga vegetation is recovering, especially in its upper course. The analysis showed the need to
develop policies and programs for the maintenance, restoration and preservation of caatinga
vegetation.
Keywords: Watershed, Landscape and Soil.
Resumen Este artículo examina la dinámica de luso de la tierra y el suelo en la cuenca de la rroyo
Cajazeiras/RN, ubicada en los municipios de Pau dos Ferros, Rafael Fernandes, Água Nova y
Encanto en el noreste y sus implicaciones socioambientales basada en el análisis del paisaje. Para el
estudio se llevó a cabo los siguientes pasos metodológicos: revisión de la literatura, el trabajo de
oficina, trabajo de campo, relevamiento fotográfico, la recopilación de datos y mapas de referencia
de la zona, la adquisición de imágenes Landsat 5 en el que se seleccionaron los años 1984, 1996 y
2009 usando técnicas de SIG para evaluar las condiciones sociales y ambientales dela zona de
búsqueda. La información y análisis obtenidos muestran que la dinámica del uso de la tierra y del
ocupación de la Cuenca en Riacho Cajazeiras había un cambio significativo en el paisaje,
especialmente en la vegetación de sabana. Es importante destacar que la vegetación de sabana se
está recuperando, sobre todo en su curso superior El análisis mostró la necesidad de desarrollar
políticas y programas para el mantenimiento, restauración y conservación de la vegetación de
sabana.
Palabras clave: cuencas hidrográficas, pasaje y suelo.
38
Introdução
A ocupação desordenada do solo nas bacias hidrográficas, nas sub-bacias e nas microbacias,
tem causado degradação ambiental, comprometendo a estrutura pedológica, geomorfológica,
climática, florística, faunística nas diversas regiões do planeta agravando o desequilíbrio
socioambiental, principalmente nas regiões de maior fragilidade ambiental. Nesse aspecto, a região
do semiárido brasileiro é uma das regiões que apresenta graves problemas socioambientais nas suas
bacias hidrográficas, provocado por planejamentos e manejos inadequados, acarretando segundo
Alves (2007), Souza et.al (2011) graves problemas a serem resolvidos por toda a sociedade. Desse
modo, estudos acerca da situação das bacias hidrográficas são fundamentais para diminuir a
fragilidade socioambiental nessas regiões. Este trabalho tem como unidade de análise a microbacia.
Nessa perspectiva, a microbacia é conceituada por Vitte e Guerra (2007, p. 157).
[...] microbacia é toda bacia hidrográfica cuja área seja suficientemente grande, para que se possam identificar as inter-relações existentes entre os diversos elementos do quadro socioambiental que a caracteriza, e pequena o suficiente para estar compatível com os recursos disponíveis (materiais, humanos e tempo), respondendo positivamente à relação custo/benefício existente em qualquer projeto de planejamento.
Nesse cenário, é imprescindível a utilização de ferramentas que possibilitem um
acompanhamento do uso e ocupação do solo, uma vez que as bacias hidrográficas são fontes de
abastecimento de água para: o lazer, a indústria, a agricultura, a dessedentação dos animais, a a
sobrevivência e o equilíbrio da flora e da fauna, entre outros. Desse modo é importante estudar as
bacias hidrográficas de forma integrada em que as teorias científicas e as tecnologias estejam
voltadas para a construção de uma sociedade sustentável que, segundo Diegues (1992, p. 28),
apenas será possível se cada sociedade seguir seus próprios parâmetros étnicos, culturais,
econômicos, políticos e sociais.
Vale salientar a importância da análise espaço multitemporal do uso e ocupação do solo para
os estudos sobre as condições das bacias hidrográficas como uma unidade territorial de análise e
planejamento, utilizando técnicas de geoprocessamento como ferramenta auxiliar importante para
alcançar tais objetivos. O geoprocessamento consiste em técnicas matemáticas e computacionais
para o tratamento da informação geográfica que utiliza um Sistema de Informação Geográfica –
SIG que permite integrar e armazenar informações geográficas para utilizar nos estudos ambientais
e no planejamento das cidades, no monitoramento dos espaços, nos estudos das bacias hidrográficas
e outros fins (FLORENZANO, 2007).
39
Destarte, os estudos sobre o uso e ocupação do solo tem se tornado cada vez mais
importante na análise da dinâmica dos elementos que compõem a paisagem. Esta é entendida como
“formação antroponatural: constituindo um sistema territorial composto por elementos naturais e
antropotecnogênicos condicionados socialmente, que modificam ou transformam as propriedades
das paisagens naturais originais” (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI, 2007, p. 15).
Partindo desse contexto o objetivo do artigo é analisar a dinâmica do uso e da ocupação do
solo na Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, no semiárido nordestino e suas implicações
socioambientais. Para isso, foi realizada pesquisa bibliográfica, trabalho de campo, trabalho de
gabinete, coleta de dados, de mapas de referência e utilização de técnicas de geoprocessamento em
que foram selecionadas imagens de satélite de três anos distintos 1984, 1996, 2009 por
apresentarem regime pluviométrico nessa região acima de 750 mm (EMPARN, 2011). Esses anos
são considerados chuvosos, o que não compromete a análise, pois é sabido que a vegetação de
caatinga responde as condições atmosféricas perdendo suas folhas rapidamente ou recuperando-se
rapidamente (ROSS, 2009). Os dados possibilitam realizar a análise acerca do uso e da ocupação do
solo na área da pesquisa de forma mais adequada com a dinâmica da vegetação (caatinga) presente
na área de estudo.
Características da área de estudo
A Microbacia do Riacho Cajazeiras faz parte da Sub-bacia hidrográfica do Rio Encanto
afluente do Rio Apodi-Mossoró/RN pertencentes à região hidrográfica do Atlântico Nordeste
Oriental brasileiro. A microbacia está situada na mesorregião do Oeste Potiguar e nas microrregiões
da Serra de São Miguel e Pau dos Ferros possuindo uma área de drenagem de 116,7 km2 envoltos
quatro municípios: Encanto, Pau dos Ferros, Água Nova e Rafael Fernandes.
A hidrografia da Microbacia do Riacho Cajazeiras caracteriza-se pela intermitência de suas
águas tendo como principais afluentes o Riacho Cachoeirinha, o Riacho da Favela, o Riacho dos
Estevãos e o Riacho Boa Sorte. Cabe destacar, que em seu baixo curso o Riacho Cajazeiras é
chamado de Riacho do Meio. Além disso, a microbacia apresenta vários açudes e algumas pequenas
barragens no leito de seus riachos, destacando-se os açudes públicos: Açude 25 de Março, com
capacidade de 8.181.000 m3, dentro da área urbana da cidade de Pau dos Ferros, e o Açude das
Maretas, com capacidade de 3.587.000 m3, localizado na zona rural (Sítio Maretas) do município de
Rafael Fernandes (Figura 01).
A vegetação presente na área da microbacia é a Caatinga Hipoxerófila formada por plantas
arbórea (jurema preta e branca, aroeira, jucazeiro, mufumbo, marmeleiro, catingueira, angico, sabiá,
40
pereiro, ingazeira, carnaúba, oiticica, juazeiro, pacotê, imburana, entre outras). Arbustivas (velame,
muçambê, rosa seda, unha de gato, anil). Também é encontrada a Caatinga Hiperxerófila (vegetação
altamente resistente às condições de aridez) formada pelas cactáceas: xique-xique, cardeiros e
facheiros.
Barreiros, açudes, e barragens
Riachos e córregos
N
Riacho Cajazeira
s
Rio A
podi-Mossoró
Rio Encanto
Açude das Maretas
Açude 25 de Março
Méd
io Curso
Baixo Curso
Alt
o C
urso
38º 11’ 38º 14’ 38º 16’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
2 0 2 4 6 8 km
Figura 01: Localização da Bacia Hidrográfica do Riacho Cajazeiras/RN.
A geologia dominante na área de estudo segundo a CPRM (2005) é complexo Jaguaretama
(com ortognaisse migamatizado tonalitico a grandiorítico e granítico, migmatitico, restos de
supracristais) com uma pequena incidência de suíte Serra do deserto caracterizado por ortognaisse
grandiorítico e granítico. Em relação à geomorfologia a microbacia está inserida na Depressão
Sertaneja e no Planalto da Borborema em que as altitudes variam entre 200 a 600 m tendo como
principal divisor de água a Serra do Bom Será localizada nos municípios de Encanto e Água Nova.
Os solos predominantes na área são: Neossolos, Neossolos litolicos, Luvissolo e Argissolo
vermelho-amarelo (EMBRAPA, 2005).
O clima predominante da área de estudo segundo a classificação de Köppen é o tropical
semiárido quente e seco marcado por médias térmicas anuais elevadas em torno de 28°C e por
41
chuvas escassas e irregulares predominantes nos meses de fevereiro a maio. Entretanto no seu alto
curso registra-se o clima sub-úmido seco proporcionado pelos Contrafortes do Planalto da
Borborema.
Procedimentos metodológicos
Para realização deste trabalho foi efetivado o levantamento bibliográfico, a coleta de dados,
o trabalho de gabinete, o trabalho de campo e o levantamento fotográfico com registro de
coordenadas geográficas com a utilização de GPS e o uso de técnicas de geoprocessamento na qual
utilizamos o software Spring versão 5.1.5 desenvolvido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais). Desse modo, através do uso de técnicas de geoprocessamento e do trabalho de campo
foi possível realizar uma análise temporal sobre o uso e ocupação do solo da Microbacia do Riacho
Cajazeiras. As informações cartográficas tiveram como base as cartas do IBGE e EMBRAPA na
escala de 1:100.000. Em seguida, foi realizado o registro, a segmentação e a classificação das
imagens de satélite selecionadas. A projeção cartográfica utilizada foi UTM/SAD 69, Zona 24 long.
39º que fora empregada como base para o registro, ou seja, o georreferenciamento das informações
da microbacia em estudo.
No trabalho utilizamos imagens do satélite Landsat5 (Land Remote Sensing Satélite) sensor
TM (ThematicMapper) órbita/ponto 216/64 nas datas de 26 de julho de 1984, 11 de julho de 1996 e
16 de junho de 2009. A composição das bandas usadas foi 5R4G3B em todas as cenas. Após o
registro e importação das imagens realizamos a segmentação que é o processo em que ocorre o
particionamento da imagem em regiões espectralmente semelhantes. Dessas regiões são extraídos
atributos espectrais, geométricos e contextuais que são usados na classificação de cada região. O
processo usado para segmentar as imagens foi baseado na técnica de crescimento de regiões, a qual
agrega pixels com propriedades similares (ROSA, 2009). Na segmentação foram utilizado os
parâmetros de similaridade 2 e área 4. Na etapa seguinte realizamos a classificação.
A Classificação é o processo de extração de informação em imagens para reconhecer
padrões e objetos homogêneos. Os métodos de classificação são usados para mapear áreas da
superfície terrestre que apresentam um mesmo significado em imagens digitais (ROSA, 2009).
Nessa etapa utilizamos a classificação supervisionada com o classificador Bathacharia.
Na avaliação da dinâmica do uso do solo e a situação da vegetação na Microbacia do Riacho
Cajazeiras foi utilizada uma perspectiva espaço multitemporal associado com as visitas e análises
de campo que foram realizados em janeiro de 2011. Nessa perspectiva, foi elaborada uma
espacialização multitemporal do uso e ocupação do solo nos anos de 1984, 1996 e 2009 e as
42
principais alterações socioambientais através de técnicas de geoprocessamento e do uso de
geotecnologias que possibilitaram uma leitura da área de pesquisa.
Com a utilização de técnicas de geoprocessamento selecionamos imagens de satélite de anos
chuvosos (acima de 750 mm de chuva anual nos três anos pesquisados) para que a análise não
sofresse diferenças expressivas na dinâmica da paisagem. Sabe-se que a vegetação de caatinga
perde suas folhas depois da época chuvosa. Desse modo, a seleção das imagens levou em
consideração a precipitação como um elemento importante na análise da dinâmica da paisagem
evitando discrepâncias entre os anos pesquisados. Na etapa seguinte, foram definidas as classes de
estudo baseando-se nos critérios de identificação, forma, cor e textura mais usuais, segundo as
técnicas de classificação de imagens de satélite (FLORENZANO, 2007). Dessa forma, foram
definidas as seguintes classes: vegetação de caatinga densa, vegetação de caatinga esparsa,
agropecuária, solo exposto, urbano e, ainda cabe destacar que nuvem/sombra e áreas não
identificadas foram agregados numa única classe (Figura 02).
No que se refere à escolha das classes de vegetação caatinga densa e caatinga esparsa
podemos detectar que não existe na literatura uma classificação taxonômica padrão para a
vegetação da caatinga apontado nos estudos de Rodal, Alcoforado Filho, Sampaio (2003) entre
outros que caracterizam a vegetação da caatinga por diferentes critérios que apresentam
semelhanças e diferenças. Nesse contexto, pelos trabalhos que realizamos em gabinete e no campo
verificamos que os dois tipos escolhidos para representar a vegetação atendiam as perspectivas do
trabalho. Além disso, as limitações nas imagens impossibilitam um detalhamento com precisão da
diversidade florística da caatinga como também da identificação precisa da mata ciliar.
Ao término da classificação e associação das classes resultou um plano de informação no
formato matriz, que foi convertida para imagem temática possibilitando uma análise da dinâmica da
paisagem que circunscreve a microbacia em relação ao seu uso e ocupação.
43
Figura 02: Esquema gráfico da classificação, espacialização e identificação das classes de uso e ocupação do solo na Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN.
44
O uso e ocupação do solo no semiárido e suas implicações socioambientais
As alterações na paisagem provocadas por práticas inadequadas de ocupação e uso do
solo alteram a dinâmica natural dos ecossistemas terrestres, aéreos, lacustres, fluviais e
urbanos causando desequilíbrio socioambiental. Desse modo, a degradação ambiental tem
sido apontada como um dos principais problemas na atualidade causada pelo uso e ocupação
do solo sem planejamento, implicando negativamente na qualidade ambiental e na qualidade
de vida da sociedade. Segundo Sánchez degradação ambiental é “qualquer alteração adversa
dos processos, funções ou componentes ambientais, ou como alteração adversa da qualidade
ambiental” (2008, p. 27). No âmbito da lei nº. 6.938/1981 art. 3º, inciso III- da Política
Nacional de Meio Ambiente a degradação ambiental é definida “alteração adversa das
características do meio ambiente”.
No semiárido nordestino à vegetação de caatinga, a fauna e os solos vêm sofrendo
processo de degradação ambiental. Segundo o Ministério do Meio Ambiente – MMA (2009)
cerca de 80% dos ecossistemas da caatinga já sofreram degradação ao longo do processo
histórico devido ao mau uso e ocupação do solo. Nesse contexto, as práticas agrícolas e o
pastoreio têm contribuído para o aumento da degradação dessas áreas. Essas práticas se
iniciam com a derrubada e queimada da vegetação; em seguida, na maioria das vezes, são
utilizadas máquinas pesadas ( geralmente cedida pelas prefeituras aos pequenos agricultores)
como tratores para “arar a terra”; a plantação diretamente nas encostas, pastoreio extensivo de
bovinos, caprinos e ovinos, atividades que compactam e expõem o solo intensificando o
processo erosivo e a qualidade do solo e da água desestruturando as bacias hidrográficas.
A utilização da Caatinga no semiárido mantém-se presa ainda à prática extrativista, seja pastoril, agrícola ou madeireira. O pastoreio, principalmente de bovinos e caprinos, tem contribuído para a modificação da cobertura vegetal: juntamente com atividade agrícola, explorada segundo práticas itinerantes, que incluem desmatamento e queimadas, tem aumentado a degradação ambiental com perdas irrecuperáveis para a diversidade da florística e faunística, acelerandoo processo de erosão e o declínio da fertilidade do solo e da qualidade estrutural das bacias hidrográficas (BRASIL, 2004, p. 51).
No semiárido nordestino os fatores degradantes estão relacionados a práticas
historicamente inadequadas do uso e ocupação do solo intensificado pelo regime pluvial
irregular com chuvas intensas facilitando o processo de erosão e a degradação do solo nas
áreas de vegetação esparsa como, por exemplo, a caatinga nordestina, Tricart (1977). Essa
característica aliada ao uso de práticas inconsistentes com as condições climáticas,
45
pedológicas e florística vem provocando ao longo da sua formação territorial, graves
problemas socioambientais no espaço rural e no espaço urbano comprometendo a estrutura
das bacias hidrográficas.
Resultados e discussão
Os resultados obtidos permitiram analisar a dinâmica da paisagem da Microbacia do
Riacho Cajazeiras nos anos de 1984, 1996 e 2009 de forma satisfatória, possibilitando
perceber as alterações provocadas pela dinâmica do uso e ocupação do solo engendrado na
relação sociedade-natureza. De tal forma foi identificado uma variação significativa entre
todas as classes selecionadas para o presente trabalho, em especial, a caatinga densa (Figura
03) e a caatinga esparsa (Figura 04).
A caatinga densa caracteriza-se por apresentar maior número de espécies por unidade
de área. Essa vegetação está presente em alguns trechos da microbacia, em especial, nas áreas
serranas no seu alto curso em que se destaca: a Serra do Bom Será, onde a vegetação é mais
densa e exuberante Essa vegetação sofreu uma dinâmica na área de estudo como revela os
dados obtidos conforme demonstra à tabela 01 e nas (figuras 05, 06 e 07).
Considerando a área em km2 a vegetação densa reduziu aproximada de 30% entre os
anos 1984 e 1996 explicados pelo o aumento de 50% dos corpos d’água construído na área,
em específico, a construção do Açude das Maretas (alto curso) em 1987 e o aumento do solo
exposto. Nos os anos de 1996 e 2009 houve um aumento de mais de 50% da vegetação densa
Figura 03: Vegetação de caatinga densa na margem
esquerda do Riacho do Ingá na Serra do Bom Será,
localizado no Sítio Ingá, município de Rafael
Fernandes/RN (coordenadas lat.: s 6º 9’ 14’’ long. o
38º 15’ 41”).
Fotos: José Pio Granjeiro Batista, Janeiro de 2011.
Figura 04: Vegetação de caatinga esparsa na
margem esquerda do Riacho do Meio localizado
no Sítio Alencar de Baixo, município de Pau dos
Ferros/RN (coordenadas lat.: s 6º 4’ 54’’ long. o
38º 12’ 10”).
46
demonstrando uma mudança na dinâmica espacial na área pesquisada, que pode ser entendida
com a redução em torno de 60% da área destinada para a atividade agropecuária, em
específico a agricultura de subsistência que reduziu significativamente nos anos de 1990 e
2009 como mostra os dados do IBGE e confirmado pela evolução demográfica na área de
pesquisa conforme (tabela 2), e também, a recuperação e transformação da caatinga esparsa
em caatinga densa no alto curso e em alguns trechos da Microbacia do Riacho Cajazeiras.
A caatinga esparsa na área se caracteriza como uma vegetação de poucas espécies e
fragmentada em alguns pontos. As análises obtidas nos anos de 1984, 1996 e 2009 mostraram
que essa vegetação aumentou significativamente, algo em torno de 90% entre os anos de 1984
e 1996 frente à redução da atividade agropecuária, especialmente a agricultura. Entre os anos
de 1996 e 2009 ocorreu uma redução da caatinga esparsa de quase 15% explicada pelo
aumento da caatinga densa nas áreas antes ocupadas pela caatinga esparsa demonstrando um
processo de recuperação da vegetação de caatinga densa, principalmente no seu alto curso
como podemos visualizar (figura 5, 6 e 7). No que diz respeito à vegetação de caatinga, é
importante destacar que com o advento das chuvas, essa se regenera rapidamente como uma
“fênix”.
47
NUso e ocupação do solo na microbacia do Riacho Cajazeiras em 1984
Fonte: Landsat5 TM 26/07/1984 elaborado pelo autor, 2011.
1 0 1 2 3 4 km Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Zona urbana
Agropecuária
Solo expostoCaat inga densa
Corpos d’água
Caat inga esparsa
Figura 05: Uso e ocupação do solo da microbacia do Riacho Cajazeiras/RN em 1984.
48
NUso e ocupação do solo na microbacia do Riacho Cajazeiras em 1996
Fonte: Landsat5 TM 11/07/1996 elaborado pelo autor, 2011.
1 0 1 2 3 4 km Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Zona urbana
Agropecuária
Solo expostoCaat inga densa
Corpos d’água
Caat inga esparsa
Figura 06: Uso e ocupação do solo da microbacia do Riacho Cajazeiras/RN em 1996.
49
NUso e ocupação do solo na microbacia do Riacho Cajazeiras em 2009
Fonte: Landsat5 TM 16/06/2009 elaborado pelo autor, 2011.
1 0 1 2 3 4 km Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Zona urbana
Agropecuária
Solo expostoCaat inga densa
Corpos d’água
Caat inga esparsa
Nuvem/sombra
Figura 07: Uso e ocupação do solo da microbacia do Riacho Cajazeiras/RN em 2009.
50
Os dados obtidos (tabela 01) demonstram uma redução significativa da agropecuária
no período analisado nos anos de 1984 a 2009 com uma redução significativa de 60%
correspondendo a uma área de 30,7 km² (Gráficos 01, 02 e 03). Corroborando com esses
dados, a plantação de algodão praticamente desapareceu e a agricultura de subsistência
(milho, arroz e feijão) tem diminuído significativamente, como mostra os dados do IBGE; em
1990 à área plantada era de 4.754 ha reduzindo para 3.651 ha em 2009 significando uma
redução de quase 25% no que se refere à área plantada das lavouras temporárias. Entretanto, a
pecuária (bovina, caprina e ovina) ainda é uma atividade importante na região desde sua
formação territorial permanecendo como uma atividade econômica e cultural muito presente
no sertão. Na área de pesquisa segundo os dados do IBGE o número de bovinos aumentou,
principalmente, no município de Pau dos Ferros, passando de 4.891 em 1984 para 11.974
cabeças em 2009. Em muitas áreas antes ocupadas pela agricultura de subsistência e o cultivo
de algodão ocorreu à substituição pela pecuária, principalmente, próximo às planícies
aluviais.
CLASSES
1984 1996 2009 Km² % Km² % Km² %
Caatinga densa 12,8 11 9,2 8 19,2 17 Caatinga esparsa 34,3 31 61,5 54 56,7 49 Agropecuária 50,7 45 21 18 20 17 Solo exposto 9,7 9 17,8 15 9,7 8 Corpo d’água 2,5 2 3,7 3 5,3 5 Urbano 0,3 0,1 0,6 1 1,9 2 Nuvem e sombra/não classificado 2,2 2 0,8 1 2,0 2
Tabela 01: Uso e ocupação do solo na Microbacia do Riacho Cajazeiras, RN.
Fonte: Do autor.
11%
31%45%
9%2%0%2%
1984
Caatinga densa Caatinga esparsa degradada
Agropecuária Solo exposto
Corpos d’á gua Urbano
Nuvem/sombra e não classificado
Gráfico 01: Uso e ocupação do solo em 1984 na Microbacia
do Riacho Cajazeiras, RN.
Fonte: Do autor, 2011.
Gráfico 02: Uso e ocupação do solo em 1996 na
Microbacia do Riacho Cajazeiras, RN.
Fonte: Do autor, 2011.
8%
54%
18%
15%3% 1% 1%
1996
Caatinga densa Caatinga esparsa degradada
Agropecuária Solo exposto
Corpos d’á gua Urbano
Nuvem/sombra e não classificado
51
17%
49%
17%
8%5% 2% 2%
2009
Caatinga densa Caatinga esparsa degradada
Agropecuária Solo exposto
Corpos d’á gua Urbano
Nuvem/sombra e não classificado
Gráfico 03: Uso e ocupação do solo em 2009 na Microbacia do
Riacho Cajazeiras, RN.
Fonte: Do autor, 2011.
Ao analisar a dinâmica da paisagem da microbacia nota-se que houve uma oscilação
do solo exposto indicando uma regeneração da vegetação de caatinga em algumas áreas,
principalmente, no baixo curso da microbacia (figuras 5, 6 e 7). Todavia, no que se refere à
classe solo exposto estão inseridos os afloramentos rochosos, os solos agrícolas em pousio, as
estradas e as áreas construídas na zona rural. Tal inserção deve-se a impossibilidade de
identificação precisa de tais elementos devido às limitações da resolução das imagens Landsat
5. No entanto, tais limitações não prejudicaram a análise da dinâmica da paisagem almejada
na pesquisa.
O solo exposto apresentou no período analisado um aumento significativo de 9,7 km²
para 17,87 km², respectivamente, nos anos de 1984 a 1996; porém, nos anos de 1996 e 2009
observou-se uma diminuição de 17,8 km2 para 9,7km2 respectivamente (Tabela 01). Contudo,
na pesquisa de campo foram verificadas várias áreas desmatadas para usos diversos:
comercial e doméstico, agricultura de subsistência e pecuária extensiva (Figura 08).
Durante a realização da pesquisa de campo observou-se a ocorrência dos processos
erosivos em toda a microbacia, principalmente, próximos da área urbana de Pau dos Ferros
onde se notou maior concentração e exposição de solos expostos com a presença de
ravinamentos e assoreamentos (Figura 09) em vários pontos dos leitos fluviais, em especial,
no médio e baixo curso da microbacia.
Segundo Tricart (1977) os solos diretamente expostos à precipitação das chuvas
concentradas nos meses de março a maio com chuvas torrenciais nesse período, característica
do sistema climático do semiárido nordestino, e a forte radiação solar são fatores que
intensificam os processos erosivos. O que se verificou com a presença de ravinas em vários
pontos da microbacia. As ravinas segundo Bigarella (2003, p. 926) “é um estado avançado de
52
degradação do solo iniciado pela erosão em lençol”. Esse tipo de processo erosivo acelerado
tende a se intensificar com a retirada da vegetação, técnicas agrícolas inadequadas com o uso
de máquinas pesadas, principalmente, tratores em solos rasos como é caso da maioria dos
solos do semiárido nordestino, causando o assoreamento dos corpos d’água e da rede fluvial.
Ainda nesse contexto, vale ressaltar que a área de pesquisa está inserida na bacia do Apodi-
Mossoró que segundo Rocha, Baccari e Silva (2009) que essa apresenta alta degradação
ambiental em todo o seu curso.
Figura 08: A) Desmatamento e lenha na margem esquerda do Riacho Favela localizado no Sítio Grossos,
município de Pau dos Ferros/RN (coordenadas lat.: s 6º 8’ 47’’ long. o 38º 12’ 56”); B) Desmatamento na
encosta da Serra do Bom Será no lado esquerdo do Riacho Cajazeiras localizado no Sítio São Luiz , município
de Água Nova (coordenadas lat.: s 6º 8’ 42’’ long. o 38º 13’ 11”); C) Criação de bovinos em área desmatada na
margem direita do Riacho Cachoeirinha localizado no Sítio Sanharão, município de Encanto/RN (coordenadas
lat.: s 6º 8’ 09’’ long. o 38º 17’ 01”) (da esquerda para a direita).
Fotos: José Pio Granjeiro Batista, Janeiro de 2011.
Figura 09: D) Solo exposto na margem esquerda do Riacho do Meio localizado no Sítio Alencar, município de
Pau dos Ferros/RN (coordenadas lat.: s 6º 3’ 3’’ long. o 38º 12’2”); E) Assoreamento no leito do Riacho
Cajazeiras localizado no Sitio Torrões município de Pau dos Ferros/RN (coordenadas lat.: s 6º 08’ 4’’ long. o 38º
13’ 1”); F) Erosão com ravinamento na margem esquerda do Riacho do Meio no Sitio Carvão , município de Pau
dos Ferros/RN (coordenadas lat.: s 6º 6’ 11’’ long. o 38º 13’ 10”).
Fotos: José Pio Granjeiro Batista, Janeiro de 2011.
A C B
D F E
53
Os corpos d’águas da área pesquisada sofreram um aumento significativo, passando de
2,5 km² em 1984 para 5,6 km² em 2009 um aumento de 124%. Esse crescimento se deve a
construção de barreiros e açudes em vários pontos da sua rede fluvial, em que se destaca o
Açude das Maretas (público) no seu alto curso, inaugurado em 1987 com capacidade de
armazenar 3.587.000 m3 de água, planejado para o abastecimento humano, dessedentação dos
animais e agricultura de vazante. Entretanto, segundo os relatos dos moradores, à água do
açude não é utilizada para o consumo humano direto, sendo utilizada apenas para uso
doméstico (lavar louça, casa e roupa), devido à contaminação proporcionada pelo despejo do
esgoto in natura de parte do núcleo urbano do município de Pau dos Ferros.
No que diz respeito à dinâmica demográfica na área da pesquisa percebemos que
houve uma migração da população rural para os núcleos urbanos em todos os municípios que
fazem parte da Microbacia do Riacho Cajazeiras, em especial, o aumento significativo da
população urbana que ocorreu no município de Pau dos Ferros conforme podemos visualizar
na tabela 02.
Ano Água Nova Encanto Rafael Fernandes Pau dos Ferros
Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural
1980 2.040 739 1.301 4.178 1.056 3.122 2.688 670 2.018 16.216 12.957 3.259
1991 2.309 1.193 1.116 4.720 2.102 2.618 3.332 1.529 1.803 20.827 17.782 3.045
2000 2.678 1.630 1.048 4.798 2.116 2.682 4.247 2.206 2.041 24.758 22.311 2.447
2010 2.980 1.908 1.072 5.231 2.130 3.101 4.692 2.709 1.983 27.745 25.551 2.194
Tabela 02: evolução da população dos municípios pertencentes à microbacia do Riacho Cajazeiras/RN.
Fonte: Censos IBGE, 1980, 1991, 2000 e 2010.
Entretanto, a área urbana do município de Pau dos Ferros vem crescendo de forma
desordenada com construções irregulares nas margens fluviais e nas margens dos corpos
d’água. Além disso, a falta de saneamento básico e da coleta de lixo na periferia e na zona
rural, como foi observado na visita em lócus, tem contribuído para o aumento da degradação
(Figura 10). Nesse município, parte dos efluentes é depositado in natura no Açude 25 de
Março, localizado no centro urbano, cuja capacidade é de 8.180.000 m3. Esse açude é usado
pela população para uso doméstico, na pesca, na agricultura de vazantes e cultivo de
hortaliças. Nas margens do Riacho do Meio (o Riacho Cajazeiras na sua jusante recebe essa
denominação) verificamos áreas que apresentam degradação ambiental de níveis
preocupantes, pois numerosas famílias vivem em áreas insalubres e frágeis que estão sujeitas
54
a inundações e a patologias causadas por infestação de insetos. Os estudos de Costa (2010)
também indicaram áreas de risco e fragilidades ambientais e sociais nessas áreas.
Figura 10: G) Construções irregulares na margem do Riacho do Meio (indica a seta) localizado na área urbana
próximo ao Clube da SEMA(coordenadas lat.: s 6º 06’3’’ long. o 38º 13’05”) H) Construções irregulares no
Sangradouro do Açude 25 de Março (indica a seta) no Bairro Riacho do Meio,município de Pau dos
Ferros/RN(coordenadas lat.: s 6º 06’2’’ long. o 38º 13’2”); I) Esgoto a céu aberto despejado in natura nas águas
do açude 25 de Março (como indica a seta), localizado no Bairro do campo na área urbana do município de Pau
Ferros/RN, (coordenadas lat.: s 6º 07’06’’ long. o 38º 1’ 6”) (da esquerda para a direita).
Fotos: José Pio Granjeiro Batista, Janeiro de 2011.
O crescimento urbano desordenado gera sérios problemas socioambientais interferindo
na qualidade de vida da sociedade. Segundo os estudos de Guerra, Almeida e Araújo (2009) a
concentração da população exerce pressão nos recursos naturais através dos desmatamentos
desproporcionais e outro efeito surge da mudança de hábitos dos moradores urbanos, que
normalmente preferem carvão a madeira, aumentando os impactos nos recursos florestais.
Além disso, na área rural de toda a microbacia foi verificado que não existe coleta de lixo,
este é enterrado, jogado ao redor das moradias ou queimado pelos moradores dos quatro
municípios que fazem parte da área de estudo. Outra situação agravante é a existência do
lixão a céu aberto no Sitio Vaca Morta, no município de Água Nova, área próxima a sua
nascente.
Na área de pesquisa, de forma geral, observou-se que a degradação da paisagem tem
comprometido a sustentabilidade socioambiental da Microbacia do Riacho Cajazeiras como
identificado no trabalho de campo. Conforme se pode visualizar na figura 11 e no quadro 01.
G I H
55
ÁREAS DEGRADADAS NA MICROBACIA DO RIACHO CAJAZEIRAS/RN
Fonte: Trabalho de campo realizado pelo autor, 2011.Imagem Landsat 5 de 06/08/2011.
3
4
5
2
1
6
7
8
12
14
15
16
17
18
19
20
9
10
11
13
21
22
23
24
25
Pau dos Ferros
Baixo Curso
Médio Curso
Alt
o C
urso
N
Áreas degradadas
Riachos e córregos
Figura 11: Áreas degradadas na microbacia do Riacho Cajazeiras/RN.
56
As áreas indicadas pelos pontos 4, 6 e 7 estão localizadas nas margens do Riacho
Cachoeirinha e os pontos 1, 2, 3, 5 e 8 estão localizados nas margens do Riacho do Meio (no
baixo curso o Riacho Cajazeiras recebe esse nome pelos moradores). Essas áreas apresentam
desmatamentos, erosão em ravinamentos, solapamento no talvegue e assoreamento do canal.
Os problemas citados são provocados, em geral, pelas atividades agrícolas e pela pecuária
(bovina, caprina e ovina) e lenha para s padarias de Pau dos Ferros.
Quadro 01: Áreas degradadas na microbacia do Riacho Cajazeiras/RN.
Fonte: Trabalho de campo realizado pelo autor, 2011.
Em relação ao médio curso os pontos a seguir estão situados em: 9 (Córrego da
Amarela),10 (Riacho Cachoeirinha) , 13 (Riacho Boa Sorte),14 (Riacho do Carvão), 15, 16,
17, 18, 19 e 22 (Riacho Cajazeiras) e 20 (Riacho dos Estevãos) todos localizados no médio
curso da microbacia. Nessas áreas observou-se a presença de: ravinamento, assoreamento,
solapamento do canal, desmatamento da mata ciliar das planícies aluviais e desmatamentos da
caatinga na depressão pedimentada.
Tais danos, em geral, como foram observados na pesquisa de campo são causados
pelas atividades agropecuárias e pelas atividades urbanas. Cabe ressaltar, que no ponto 14,
observou-se a presença de construções irregulares, lixo no canal e esgotos. No ponto 15, foi
Setores da microbacia do Riacho Cajazeiras Pontos
Coordenadas geográficas (latitude e longitude) e altitude
Baixo Curso
1 Lat.06 2’ 10” s, Long. 38 11’ 7” w; Altitude:206m 2 Lat.06 03’ 54” s, Long. 38 12’ 10” w; Altitude 183m 3 Lat. 06 04’ 13” s, Long. 38 12’ 03”w; Altitude 195m 4 Lat. 06 04’ 32”s, Long.38 12’ 14” w; Altitude 192m 5 Lat. 06 04’ 42”s, Long. 38 12’ 52”w; Altitude 198m 6 Lat. 06 05’ 13”s, Long.38 14’ 32”w; Altitude 207m 7 Lat. 06 05’ 33”s, Long.38 14’ 44” w; Altitude 223m 8 Lat. 06 04’ 34”s, Long.38 13’ 57” w; Altitude 190m
Médio Curso
9 Lat. 06 06’ 16”s, Long.38 15’ 03” w; Altitude 222m 10 La.t 06 06’ 12”s, Long.38 15’ 58”w; Altitude 228m 13 Lat. 06 07’ 27”s, Long.38 13’ 56” w; Altitude 211m 14 La.t 06 06’ 38” s, Long.38 13’ 12” w; Altitude 212m 15 Lat. 06 08’ 01” s, Long.38 12’ 58” w; Altitude 220m 16 Lat. 06 08’ 041”s, Long. 38 01’ 11” w; Altitude 209m 17 Lat. 06 08’ 44”s, Long.38 13’ 23”w; Altitude 220m 18 Lat. 06 10’ 31”s, Long.38 14’ 06” w; Altitude 228m 19 Lat. 06 10’ 11” s, Long.38 14’ 25” w; Altitude 234m 20 Lat. 06 09’ 14” s, Long.38 15’ 41”w; Altitude 245m 22 Lat. 06 10’ 54” s, Long.38 14’ 53” w; Altitude 244m
Alto Curso
11 Lat. 06 07’ 08”s, Long.38 17’ 01”w; Altitude 240m 12 Lat. 06 07’ 51”s, Long.38 17’ 12”w; Altitude 230m 21 Lat. 06 08’ 47” s, Long.38 16’ 54”w; Altitude 266m 23 Lat. 06 11’ 37”s, Long.38 15’ 44” w; Altitude 257m 24 Lat. 06 11’ 44”s, Long.38 16’ 28” w; Altitude 257m 25 Lat. 06 12’ 10”s, Long.38 16’ 06” w; Altitude 250m
57
observada a retirada de areia e argila para a construção civil, especificamente para o
município de Pau dos Ferros, e o lançamento de resíduos do matadouro público desse
município lançados in natura na rede fluvial. No ponto 22 foi observado a presença de
construções irregulares próximo ao Açude público das Maretas.
Nas áreas do alto curso da Microbacia do Riacho Cajazeiras no alto oeste potiguar2
foram identificados pela pesquisa de campo nos pontos 11, 12 e 21 próximo às margens do
Riacho Cachoeirinha e nos pontos 23, 24 e 25 próximo às margens do Riacho Cajazeiras a
presença de ravinamentos, assoreamento e solapamento do talvegue e desmatamento da
caatinga nas encostas e da mata ciliar presente nessas áreas. Além disso, no ponto 24,
próximo a nascente do Riacho Cajazeiras, existe um lixão a céu aberto no Sítio Vaca Morta,
pertencente ao Município de Água Nova, contribuindo para aumentar a degradação da
paisagem como também é demonstrado na pesquisa de Guedes, Maia e Fernandes (2008).
Portanto, é preciso repensar ou instituir políticas e programas de recuperação da mata
ciliar, das vertentes e nascentes, recuperar os canais dos riachos, recuperar os solos, manejo
adequado da vegetação de caatinga, políticas de saneamento, coleta de lixo e a construção de
um aterro sanitário, utilização de técnicas menos degradantes aplicadas na agropecuária. Essas
ações são imprescindíveis para recuperar o equilíbrio socioambiental da Microbacia do
Riacho Cajazeiras no Semiárido Potiguar.
Considerações finais
A pesquisa mostrou uma significativa mudança na paisagem da Microbacia do Riacho
Cajazeiras entre os anos de 1984 a 2009 provocado pelo uso e ocupação do solo. Cabe
destacar, que as técnicas de geoprocessamento utilizadas no trabalho permitiram realizar uma
leitura da paisagem da microbacia, embora tais técnicas apresentem limitações quanto à escala
e a resolução das imagens. No entanto, a associação das técnicas de geoprocessamento com o
trabalho de campo e a aplicação de entrevistas reduziram tais limitações, validando e
complementando a análise de forma satisfatória.
Dentre as mudanças ocorridas na área de pesquisa pode-se destacar a diminuição da
agricultura de subsistência e comercial. Todavia, a diminuição da agricultura pode ser
explicada por duas razões: êxodo rural e a falta de politicas agrícolas que considerem as
diversas racionalidades e a suas potencialidades e fragilidades socioambiental na região.
2 Conhecida também com tromba do elefante por causa do estado do Rio Grande do Norte ter um formato que lembra esse paquiderme.
58
Aliado a esses fatores considera-se a substituição de muitas áreas agrícolas pela atividade
pecuarista, principalmente, nas áreas da planície aluvial.
Outro ponto importante detectado na pesquisa foi os sérios problemas socioambientais
derivado do crescimento urbano na cidade de Pau dos Ferros sem planejamento territorial
adequado tem comprometido à qualidade da água dos mananciais, principalmente, o Açude
25 de Março que é o receptor de parte do esgoto in natura da cidade. Além disso, as
construções habitacionais nas margens do Riacho Cajazeiras (Riacho do Meio, baixo curso
recebe esse nome) na área urbana desse município constituem áreas de risco passíveis de
inundação. Além disso, a falta de gerenciamento dos resíduos sólidos constitui um grave
problema potencializador da degradação socioambiental. Os municípios que compõem a
microbacia não possuem coleta de lixo nas zonas rurais bem como não possuem aterros
sanitários, descartando seus resíduos em lixões a céu aberto.
Na pesquisa de campo foi verificada a retirada indiscriminada da vegetação de
caatinga, seja para o uso doméstico, ou para alimentar o gado em períodos de estiagem, ou
ainda para fornecer lenha às padarias dos centros urbanos locais, especialmente o município
de Pau dos Ferros, intensificado o processo erosivo com a formação de ravinas, erosão e
assoreamento dos seus canais fluviais. Associado a isso temos a perda da biodiversidade
florística e faunística.
Desse modo, a análise preliminar identificou que uma das implicações mais
significativas é o processo de degradação ambiental causada pelo uso e ocupação do solo de
forma desordenada na Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN contribuindo para aumentar os
problemas sociais tanto no espaço urbano como no rural. Nesse contexto, é importante que os
gestores públicos nas esferas: federal, estadual e municipal cumpram as políticas
estabelecidas em lei em conformidade com o Código Florestal, a Política Nacional e Estadual
de Recursos Hídricos, as Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Saneamento Básico e de
Resíduos Sólidos adequando-se as normas urbanísticas e as demais legislações em vigor.
Nessa perspectiva, torna-se importante à implementação de medidas mitigadoras para
recuperar as áreas degradadas nas nascentes e nas áreas próximas aos mananciais; como
também recuperar os canais fluviais que se encontram degradados. Portanto, se faz
necessários estudos mais pormenorizados na Microbacia do Riacho Cajazeiras associados
com as geotecnologias para o planejamento e gestão que objetivem um maior equilíbrio
socioambiental na área de pesquisa e contribua para o equilíbrio da bacia hidrográfica do
Apodi-Mossoró.
59
Referências ALVES, Jose Jakson Amancio.Geoecologia da caatinga no semi-árido do nordeste brasileiro, Revista de Climatologia e Estudo da Paisagem, Rio Claro vol. 2.n.1. jan/jun, 2007. p. 58 -71. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/viewFile/266/667Acesso em: 12 de maio de 2011. BRASIL, Conselho Nacional da reserva da Biosfera da caatinga. Cenários para o bioma caatinga. Recife: SECTMA, 2004. BRASIL, Lei N.º 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõem sobre a política nacional de meio ambiente, seus fins e mecanismo de formulação e aplicação e dá outras atividades. Diário Oficial da união: República Federativa do Brasil: poder legislativo, Brasília, DF, 31 de agosto de 1981. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=313 Acesso em: 13 de junho de 2011. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. MMA. Disponível em: http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=203 Acesso em: 03 de junho de 2009. BIGARELLA, João José [Et al]. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. Contribuição de Everton Passos. Florianópolis: UFSC, 2003. COSTA, Franklin Roberto da. Inundações urbanas no semi-árido nordestino: o caso do município de Pau dos Ferros. Dissertação de mestrado. PRODEMA/UFRN: Natal, 2010. CPRM. Serviço geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. Recife: CPRM; PRODEEM, 2005. DIEGUES, Antonio Carlos. Desenvolvimento sustentável ou sociedades sustentáveis: da critica aos modelos aos novos paradigmas. Revista São Paulo em Perspectiva. Jan./junho de 1992. p. 22 – 29. EMPARN. Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte. Dados mensais de precipitação (mm). Disponível em: < http://www.emparn.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/emparn/principal/enviados/index.asp> Acesso em fev. de 2011. FLORENZANO, Teresa Gallotti. Iniciação em sensoriamento remoto. 2. Ed. São Paulo: Oficina de textos, 2007. GUEDES, Josiel de A.; MAIA, Jéssica C. L.; FERNANDES, Clefson. Análise da degradação ambiental na microbacia do Riacho Cajazeiras, Pau dos Ferros/RN. Anais do II Simpósio de Geografia Física do Nordeste, 2008. IBGE, Instituto Brasileiro de geografia e Estatística, Censos 1980, 1991, 2000 e 2010. INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Catálogo de imagens Landsat. Disponível em: http://www.dgi.inpe.br/CDSR/. Acesso em 10/08/2010.
60
GUERRA, Antonio José Teixeira; ALMEIDA, Josimar Ribeiro de; ARAUJO, Gustavo Henrique de Souza. Gestão ambiental de áreas degradadas. 4. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. ROCHA, Alexsandra Bezerra da; BACCARO, Claudete Aparecida Dallevedove; SILVA, Paulo César Moura da. Mapeamento geomorfológico da bacia do Apodi-Mossoró- RN – NE do Brasil. Revista Mercator de Geografia da UFC, ano 08, número 16, 2009. RODAL M. J. N, ALCOFORADO FILHO, SAMPAIO, E. V. S. B, Florística e fitossociologia de um remanescente de vegetação caducifólia espinhosa arbórea em Caruarú, Pernambuco, Acta Botânica Brasílica, v. 17, n. 2 p. 171-324, 2003. RODRIGUEZ, J. Manuel Mateo; SILVA, Vicente; CAVALCANTI, A. Paula Brito. Geoecologia das paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. 2. Ed. Fortaleza: UFC, 2007. ROSA, Roberto. Introdução ao sensoriamento remoto. 7. Ed. Uberlândia: EDUFU, 2009. ROSS, Jurandir. Ecogeografia do Brasil: subsídios para o planejamento ambiental. São Paulo: oficina de textos, 2009. SÁNCHEZ, Luis Henrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. SOUZA, Ridelson Farias de (Et. Al.). Estudo da evolução espaço-temporal da cobertura vegetal do município de Boa Vista-PB utilizando geoprocessamento. Revista caatinga, v. 21, n. 3, jun./agosto de 2008, p. 22-30. Disponível em: http://www.periodicos.ufersa.edu.br/revistas/index.php/Acesso em: 02 de junho de 2011. TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE; SUPREN, 1977. VITTE, Antonio Carlos; GUERRA, Antonio José Teixeira.(Org.). Geografia Física no Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
61
Avaliação da Fragilidade ambiental na Microbacia do Riacho Cajazeiras no
Semiárido Potiguar
Evaluation of environmental vulnerability in the watershed of Cajazeiras Creek in the Potiguar Semiarid
Esp. José Pio Granjeiro Batista
Mestrando do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente/PRODEMA
([email protected]) Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente/PRODEMA
RESUMO
O presente artigo analisa a fragilidade ambiental na Microbacia do Riacho
Cajazeiras localizado na mesorregião do oeste potiguar. A pesquisa tomou como
base a concepção integrada da paisagem de Tricart (1977), Bertrand (2004),
Sotchava (1978), Ross (1994, 2003, 2009), Crepani (2008), Ab’Saber (1999)
utilizando técnicas de geoprocessamento para a análise do geossistema na
identificação da fragilidade ambiental dos componentes da paisagem, tais como
clima, relevo, geologia, pedologia, geomorfologia e uso e ocupação do solo. Os
resultados mostram que a paisagem da microbacia apresenta fragilidade ambiental
média e alta em toda sua área, destacando-se, nas margens da rede fluvial
proporcionada pelo o uso e ocupação para a agropecuária e pela ocupação de áreas
urbanas da cidade de Pau dos Ferros. Nesse contexto, se torna urgente uma política
de gestão territorial que considere a bacia hidrográfica como célula de planejamento
e que seja construído um plano de uso e ocupação do solo compatível com a
realidade ambiental e social, considerando as várias racionalidades e os princípios
democráticos.
Palavras-chave: Fragilidade, Paisagem e Microbacia
62
ABSTRACT:
This article analyzes the environmental fragility in the watershed of Cajazeiras
creek located in the mesoregion of Potiguar west. The research was based on the
integrated design of the landscape of Tricart (1977), Bertrand (2004), Sotchava
(1978), Ross (1994, 2003, 2009), Crepani (2008), Ab’Saber (1999), using
geoprocessing techniques for the analysis of geosystem in the identification of
environmental fragility of the landscape components such as climate, relief, geology,
pedology, geomorphology and use and occupation of the soil. The results show that
the landscape of the watershed has medium and high environmental fragility
throughout its area, especially on the banks of the river network provided by the use
and occupation for farming and urban areas of Pau dos Ferros city. In this context, it
is necessary, urgently, a regional policy for supporting territorial management that it
considers the watershed as a planning cell and that is constructed a plan for the use
and occupation of the soil compatible with the environmental and social rationalities
and considering the various democratic principles.
Keywords: Environmental fragility, Landscape and Watershed
INTRODUÇÃO
A sociedade vive uma crise paradigmática preconizada principalmente pelo
sistema capitalista pautado no individualismo e no materialismo, ou seja, numa
racionalidade formal e instrumental regulada no controle da natureza e da sociedade
que acaba potencializando a fragilidade dos diversos geosssistemas provocando
graves problemas sociais e ambientais. A sociedade interfere nos ambientes
naturais criando novas situações, construindo e reordenando os espaços físicos com
a implantação de cidades, estradas, atividades agrícolas, instalações de barragens,
retificações de canais fluviais, entre outras constituem alterações que modificam o
equilíbrio da natureza. De acordo com Ross a natureza (2003, p.12) “não é estática,
mas que apresenta quase sempre um dinamismo harmonioso em evolução estável e
contínua, quando não afetada pelos homens”.
63
Nesse contexto, se faz necessário tomar decisões que busquem um melhor
relacionamento entre sociedade e natureza, estruturada na sustentabilidade
geossistêmica, tendo a bacia hidrográfica como célula importante de análise e
planejamento territorial.
O presente trabalho busca analisar a fragilidade ambiental proporcionada
pelas próprias condições naturais somadas a contribuição das ações antrópicas
provocado pelo o uso e ocupação do solo na Microbacia do Riacho Cajazeiras no
semiárido potiguar na perspectiva integrada da paisagem. A fragilidade do ambiente
foi classificada na metodologia empregada por Ross (1994, 2003) que define o grau
de fragilidade em duas variáveis: fragilidade ambiental potencial definida pelos
elementos físicos da paisagem (clima, geologia, geomorfologia, pedologia) e
fragilidade ambiental emergente definida pelos elementos físicos somados ao uso e
ocupação do solo.
Nessa perspectiva, os elementos da paisagem foram integrados da seguinte
forma: o clima está relacionado à quantidade e a intensidade da pluviometria; a
geologia refere-se à coesão representada pelos tipos de rochas; a geomorfologia
depende do grau de declividade proporcionado pelo relevo; a pedologia depende
das características físicas e minerais do solo e sua capacidade de resiliência frente
aos processos naturais e as ações antrópicas. Em relação ao uso e ocupação do
solo foi considerado o grau de proteção do terreno assim distribuído: alta proteção
nas áreas de floresta densa; média proteção para as áreas de vegetação de
caatinga esparsa; baixa proteção nas áreas urbanas com planejamento inadequado,
nas atividades agropecuárias e nas áreas com presença de solo exposto.
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A Microbacia do Rio Cajazeiras faz parte da Sub-bacia hidrográfica do Rio
Encanto/RN e da bacia do Rio Apodi-Mossoró/RN, ambas pertencentes à região
hidrográfica do atlântico nordeste oriental brasileiro que fica situada na mesorregião
do Oeste Potiguar e nas microrregiões da Serra de São Miguel e Pau dos Ferros,
possuindo uma área de drenagem de 116,8 km2 abrangendo quatro municípios:
Encanto, Pau dos Ferros, Água Nova e Rafael Fernandes.
64
A hidrografia da microbacia caracteriza-se pela intermitência de suas águas
tendo como principais afluentes o Riacho Cachoeirinha, o Riacho da Favela, o
Riacho dos Estevãos e o Riacho Boa Sorte. Além disso, a microbacia apresenta
grande quantidade de açudes destacando-se o Açude 25 de Março dentro da área
urbana da cidade de Pau dos Ferros e o açude das Maretas localizado na zona rural
do município de Rafael Fernandes (Figura 01).
Barreiros, açudes, e barragens
Riachos e córregos
N
Riacho Cajazeira
s
Rio A
podi-Mossoró
Rio Encanto
Açude das Maretas
Açude 25 de Março
Méd
io Curso
Baixo Curso
Alt
o C
urso
38º 11’ 38º 14 ’ 38º 16 ’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
2 0 2 4 6 8 km
Figura 01: Localização da Bacia Hidrográfica do Riacho Cajazeiras/RN.
Fonte: baseado na malha do IBGE. Adaptado pelo autor, 2010.
A geologia dominante na área de estudo segundo a CPRM (2005) é complexo
Jaguaretama (com ortognaisse migamatiza dotonalitico a grandiorítico e granítico,
migmatitico, restos de supracristais) com uma pequena incidência de suíte Serra do
deserto caracterizado por ortognaisse grandiorítico e granítico. Em relação à
geomorfologia, a microbacia está inserida na Depressão Sertaneja e no Planalto da
Borborema em que as altitudes variam entre 200 a 600 m tendo como principal
divisor de água a Serra do Bom Será localizada nos municípios de Encanto, Rafael
Fernandes e Água Nova. Os solos predominantes na área são: Neossolos, Neossolo
65
Litólico, Luvissolo e Argissolo Vermelho-Amarelo (EMBRAPA, 2005). O clima da
área segundo a classificação de Köppen-Geiger é tropical semiárido na maior parte
da microbacia. Entretanto, no seu alto curso o clima é tropical subúmido seco devido
à altitude dos contrafortes da Borborema.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A presente pesquisa foi sistematizada em fases distintas contemplando:
coleta de dados primários e secundários, trabalho de gabinete, reconhecimento e
visitas na área de estudo, trabalho de campo com a aplicação de entrevistas,
levantamento fotográfico com registro de coordenadas geográficas com a utilização
de GPS e a elaboração de mapas da paisagem utilizando técnicas de
geoprocessamento com a utilização do Sistema de Informação Geográfica - SIG na
perspectiva geosssistêmica utilizando a paisagem como unidade de análise.
Para fazer a análise da paisagem da microbacia do Riacho Cajazeiras utiliza-
se a visão integrada da paisagem na perspectiva de Tricart (1977), Ab’Saber, Ross
(1994, 2003 e 2009) Crepani (2008), Sotachava (1978), Bertrand (2004).
A análise da fragilidade ambiental potencial e emergente da paisagem da
Microbacia do Riacho Cajazeiras levou em consideração os levantamentos de dados
realizados em gabinete, e, em campo, utilizando cartas: topográficas, geológicas,
geomorfológicas, pedológicas e imagens de satélite. A pesquisa foi orientada por
cartas de escalas médias e pequenas (1:50.000, 1:100.000, 1:200.000). No entanto,
para a construção dos mapas temáticos foi utilizada a escala média de 1:100.000.
Para realização do trabalho foi utilizado o softwares Spring 5.1.5 e o CorelDraw.
A espacialização das informações baseou-se em diversas fontes como o
IBGE, Embrapa, CPRM, a classificação de Koppen-Geiger e a classificação do
relevo de Ross. Na construção do mapa de uso do solo foram utilizadas técnicas de
geoprocessamento com a segmentação e classificação da imagem Landsat
considerando o comportamento da paisagem e as unidades de usos selecionadas
quer sejam: caatinga densa, caatinga esparsa, agropecuária, corpos d’agua, solo
exposto e urbano.
Com o resultado da análise integrada e da superposição das informações da
estrutura climática, geológica, geomorfológica (declividade), pedológica, hidrológica
e pelo o uso e ocupação do solo na microbacia foi confeccionado um mapa-síntese
66
com os graus de fragilidade ambiental potencial e emergente distribuídos em três
níveis: fragilidade baixa (peso 1), fragilidade média (peso 2) e alta (peso 3).
REFERENCIAL TEÓRICO
Análise integrada da paisagem e a fragilidade ambiental
A idéia de uma visão global das interações da natureza com a sociedade na
academia se iniciou segundo Rodriguez e Silva (2002) no final do século XVIII e
início do século XIX, com os trabalhos de Kant, Humboldt e Ritter. Duas correntes se
destacaram no contexto da Geografia: uma visão voltada para a Natureza pautada
na Geografia Física (principalmente com as concepções de Humboldt e Dokuchaev),
e uma visão centrada nas causas humanas (Geografia Humana ou a
Antropogeografia) de Karl Ritter.
Outra corrente foi o surgimento da Ecologia como disciplina biológica nos
finais do século XIX dando ênfase aos estudos das relações entre meio físico-
químico e os seres vivos. Entretanto, conceito de ecossistema só veio a surgir em
1935 influenciado pela concepção da Teoria Geral de Sistemas. Destaca-se também
Geoecologia das Paisagens de Karl Troll surgida nos de 1930 que analisava
funcionalmente da paisagem integrando o social e ecológico.
Em relação à teoria Geossistêmica ela surge na década de 60 do século XX
com Victor Sotchava, especialista siberiano, na ótica das paisagens (Landschaft)
elaborada pela Escola Russa, fundamentada na Teoria Geral de Sistemas
considerado paisagem como sinônimo de geossistema. A condição para o
desenvolvimento da visão integrada da paisagem na União Soviética e no leste
europeu deve-se as duas condições: o uso do Marxismo o do pensamento de Lênin
como doutrina oficial de cunho dialético materialista e das necessidades de
planificação estatal dos países “socialista” que precisava conhecer as unidades
naturais de forma integrada, para melhor serem controladas.
A partir dos anos 70 do século XX a análise da paisagem de forma integrada
ganha destaque com a Ecogeografia desenvolvida por Jean Tricart que considera as
unidades ecodinâmicas como sistemas ambientais por excelência, tendo a
Geomorfologia como central nos seus estudos. Vale salientar que a ciência
Geográfica tem buscado um método desde sua formação que permitisse melhor
67
compreender e analisar, os diversos elementos e processos que compõem,
modificam e modelam as paisagens sob uma ótica mais integradora.
Dentre as teorias e concepções metodológicas da Geografia, destaca-se a
Teoria da Ecodinâmica de Tricart que analisa a dinâmica e os processos ecológicos
que modelam e modificam a paisagem, definindo sua resiliência e fragilidades dos
ecossistemas possibilitando apontar formas mais adequadas e sustentáveis de uso
e ocupação do solo em consonância com a capacidade de cada ecossistema e as
necessidades humanas. De acordo com Tricart (1977), para compreender os
mecanismos e a amplitude da degradação antrópica dos ecossistemas é
imprescindível conhecer as modalidades e a simultaneidade entre os elementos da
natureza: cobertura vegetal, solos, processos morfogenêticos, hidrológicos e as
interferências antrópicas.
Nessa mesma linha temos a teoria da paisagem do francês Georges Bertrand
(2004) que procura entender a paisagem como um sistema dinâmico e instável
composto dos elementos naturais: o clima, o solo, a vegetação, o relevo, fauna,
hidrologia e sociedade. O Autor enfatiza que é preciso estudar as paisagens na
concepção geossistêmica. Outro nome considerado importante nos estudos
geossitemicos é José Manuel Mateo Rodriguez que traz novas contribuições para
essa corrente de análise aprimorando a Geoecologia das Paisagens propostas por
Karl Troll.
No Brasil, destacam-se Antônio Chistofoletti, Carlos Augusto de Figueiredo
Monteiro e Jurandir Ross nos estudos que versam sobre a análise sistêmica da
paisagem. Nessa ótica algumas obras se destacam como: Análise de Sistemas em
Geografia (CHISTOFOLETTI,1979); Geossistemas: a história de uma procura
(MONTEIRO, 2000) e Ecogeografia do Brasil: subsídios para o planejamento
ambiental (ROSS, 2009).
No estudo utiliza-se a perspectiva teórica geossistêmica, pois esta integra os
elementos da paisagem e subsidia o entendimento dos fenômenos de forma mais
abrangente considerado os elementos naturais e artificiais e a ação antrópica. Desse
modo, destaca-se o uso da cartografia e de técnicas de geoprocessamento com uso
de SIG na identificação e intensidade da fragilidade dos ambientes. Tais estudos são
de suma importância para tentar mitigar a degradação. De acordo com Ross (1994,
p. 2)
Os estudos relativos à fragilidade, expressos através de cartogramas e textos, são documentos de extrema importância ao Planejamento Ambiental, que tenha como centro de preocupação
68
o desenvolvimento sustentado, onde conservação e recuperação ambiental estão lado a lado com desenvolvimento econômico e social
De acordo com Ross (2009), a fragilidade ambiental é a perda do estado
‘clímax’ em que os processos mecânicos atuam em equilíbrio dinâmico
predominando a pedogênese em detrimento da morfogênese, ou melhor, a perda do
potencial ambiental repercutindo no desenvolvimento social da área. Ainda segundo
Ross (2009) a fragilidade diz respeito à quebra do potencial ecológico de um
geossistema diretamente relacionado com as condições do meio físico natural,
principalmente com a cobertura vegetal e o potencial à degradação provocada pelas
atividades antrópicas.
Contudo, a presente pesquisa ateve-se nos referenciais discutidos e na
aplicação da metodologia proposta por Ross (1994, 2003) para analisar a paisagem
da Microbacia do Riacho Cajazeiras.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
1) Fragilidade ambiental potencial
A fragilidade ambiental potencial caracteriza-se pela fragilidade natural de um
determinado espaço que está submetido à capacidade de resiliência dos solos
(erosão), do clima (intensidade e pluviometria), da geomorfologia (declividade do
relevo), da geologia (coesão das rochas) que indicam o equilíbrio ou desequilíbrio
natural. Desse modo, ao analisar os ambientes sob a ótica da fragilidade potencial
são considerados apenas os aspectos naturais. Nessa perspectiva, Tricart (1977)
destaca que para analisar o equilíbrio dinâmico da paisagem é necessário criar
unidades ou tipos das quais ele denominou unidades ecodinâmicas classificadas
em: meios estáveis, meios fortemente instáveis e meios intergrades.
Na Microbacia do Riacho Cajazeiras a fragilidade potencial foi analisada com
a superposição dos mapas de clima (Figura 02), geologia, geomorfologia e
pedologia. Sob essa ótica a pesquisa descreve o resultado da análise dos elementos
naturais, e em seguida, o resultado retorna-se a discussão e mapa-síntese da
fragilidade potencial da Microbacia do Riacho Cajazeiras.
69
O clima é um dos fatores mais importante na formação da paisagem porque
atua de forma contundente nos processos pedológicos, geomorfológicos,
geológicos, hidrográficos, florístico e faunístico. Nas regiões semiáridas o clima tem
sido um “fator determinante” na formação da paisagem. De acordo com Ab’Saber
(1999, p. 13)
Há muito outros fatores que respondem a marcante originalidade no Nordeste seco a começar pelo fato que elas ocupam posição geográfica anômala, mas próxima do Equador do que dos trópicos. O ritmo do clima regional, porém, continua sendo tropical, com duas estações bem marcadas: uma muito seca, outra moderamente chuvosa, cuja continuidade, entretanto, como vimos, está sujeita a fortes rupturas ao longo dos anos. Podem ocorrer anos muito secos e eventuais períodos de grandes chuvas, com inundações catastróficas.
A fragilidade do clima está relacionada à pluviosidade total, a intensidade
pluviométrica e a distribuição sazonal. Entretanto, a característica mais importante é
a intensidade pluviométrica, pois está diretamente relacionada à quantidade de
precipitação e o tempo dessa precipitação. Nesse caso, onde predomina uma
pluviometria bem distribuída e não torrencial durante todo o ano, o poder erosivo é
bem menor do que onde predomina uma distribuição irregular, concentrada e
torrencial em um único período temporal o processo erosivo é mais intenso.
Entretanto, segundo Ab’Saber (1999, p. 7)
Os atributos que dão similitude às regiões semiáridas são sempre de origem climática, hídrica e fitogeográfica: baixos níveis de umidade, escassez de chuvas anuais, irregularidade no ritmo das precipitações ao longo dos anos; prolongados períodos de carência hídrica; solos problemático tanto do ponto de vista físico quanto do geoquímico (solos parcialmente salinos, solos carbonáticos) e ausência de rios perenes, sobretudo no que se refere às drenagens autóctones. (...) No entanto, a análise das condicionantes do meio natural constitui uma prévia decisiva para explicar causas básicas de uma questão que se insere no cruzamento dos fatos físicos, ecológicos e sociais.
Como destaca Ab’Saber (1999) os problemas referentes ao semiárido deve
ser analisado integrando os atributos ambientais (o clima, geomorfologia, os solos, a
geologia e as atividades que se destacam na paisagem.
Para Cholley apud Andrade (2011, p. 36) os domínios físicos no nordeste
como a estrutura geológica, o relevo, o clima, a hidrografia, o meio biológico, a
vegetação e o espaço geográfico se influenciam mutuamente resultando em
70
paisagens naturais e culturais singulares, tendo como elemento que marca mais
sensivelmente a paisagem o clima e a desigualdade social. O clima semiárido tem
como característica principal a pluviometria irregular e secas periódicas. Esse clima
no Rio Grande do Norte equivale a 92,0% do território. Entretanto, na região
ocidental do Estado há uma série de serras com altitudes superiores a 700m
separada pelo planalto da Borborema comandado pelo aplainamento do rio Piranhas
Açu e Apodi-Mossoró modificando a pluviometria e a temperatura devido à altitude
nessas áreas (Figura 03).
As Serras testemunhos, também chamadas de (inselbergues) são bastante
resistente ao intemperismo e a erosão, no entanto, as variações do clima global no
Período Terciário e Quartanário do Cenozóico são responsáveis pela dinâmica da
paisagem no semiárido, como aponta os estudos Ab’Saber, Ross (1994, 2003),
Tricart (1977), Nunes (2006) e Bigarella (2003) Segundo esses autores o clima
oscilou entre clima Tropical quente e úmido e clima tropical semiárido, intensificando
os processos pedogenéticos. Um exemplo é a descontinuidade do relevo
proporcionada pelas serras, serrotes e inselbergues nessa região (Figura 04)
A análise da fragilidade ambiental representada pela geologia está
relacionada ao grau de coesão das rochas, ou seja, a intensidade de ligações entre
os minerais que as compõem. Nas rochas pouco coesas prevalecem os processos
(morfogênese) intempéricos e erosivos, enquanto nas rochas mais coesas
prevalecem a pedogênese.
Aproximadamente 60% do território potiguar são constituídos por rochas
cristalinas do pré-cambriano. O cristalino ocupa grandes áreas na parte sul do
estado do semiárido potiguar, estendendo-se desde o limite da região sedimentar do
litoral leste até o extremo oeste onde o relevo é bastante movimentado por serras,
inselbergues, serrotes e platôs, sendo estes modificados por mudanças climáticas
71
Fonte: Baseado na classificação de Köppen, 1936. Adaptado pelo autor, 2011.
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
N
38º 11’ 38º 14’ 38º 16’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Pau dos Ferros
Rafael Fernandes
Água Nova
Encanto
Núcleo urbano
Limite municipal
Semiárido
Subúmidoseco
CLIMAS
1 0 1 2 3 4 km
Figura 02: Climas da Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, 2011.
72
Fonte: CPRM, 2005. Adaptado pelo autor, 2011.
1 0 1 2 3 4 km Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Núcleo urbano
Limite municipal
UNIDADES GEOLÓGICAS
N
38º 11’ 38º 14’ 38º 16’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Pau dos Ferros
Rafael Fernandes
Água Nova
Encanto
Complexo JaguaretamaSuíte Serra do Deserto
Figura 03: Geologia da Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, 2011.
73
N
38º 11’ 38º 14’ 38º 16’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Rafael Fernandes
Água Nova
EncantoPau dos Ferros
Fonte: Baseado na classificação de Ross, 2009 e NUNES, 2006. Adaptado pelo autor, 2011.
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Núcleo urbano
Limite municipal
UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS
1 0 1 2 3 4 km
Relevos residuaislDepressãoSertane jaPlanície Aluviais
Serra do Encanto
Serra do Bom Será
Serro te
da Gangorra
Figura 04: Geomorfologia da Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, 2011.
74
do Cenozoico. Essas rochas apresentam baixa fragilidade ambiental, pois
apresentam alta coesividade o que dificulta o intemperismo.
A fragilidade ambiental representado pelo relevo segundo Tricart (1977), A’b
Saber (1979), Ross (2003) é crucial na análise integrada da paisagem, porque
possibilita a sociedade usar e ocupar a paisagem de forma mais harmônica. A
dinâmica do relevo é influenciada pela ação da declividade topográfica. Numa área
de declividade suave, quase plana, o intemperismo é forte e o processo erosivo é
pequeno. Quando os declives são acentuados, como nas áreas montanhosas e nas
escarpas das serras, o processo erosivo é intenso. Nesse trabalho o grau de
fragilidade ambiental representada pelo relevo será pautado na declividade
conforme a figura 05.
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD692 0 2 4 6 8 km
4 - 6
2 - 4
0 - 2
6 - 8
20 - 30
10 - 20
8 - 10
30 - 40
DECLIVIDADE (GRAUS)
Fonte: EMBRA PA, Brasil em Relevo, 2011.
N
Figura 05: Declividade da microbacia do Riacho Cajazeiras, 2011.
Nesse sentido, evita-se que a sociedade ocupe áreas de nascentes, de
inundação que acabam causando graves consequências à sociedade
potencializando a fragilidade ambiental, e, consequentemente, intensifica os riscos a
desabamentos e enchentes, diminui a fertilidade dos solos, ocorre à diminuição do
75
lençol freático, aumenta o assoreamento e solapamento da rede fluvial, intensifica o
desequilíbrio térmico e a capacidade de produção agropecuária.
Nas planícies fluviais a fragilidade ambiental é baixa, pois apresenta
declividade de 0 a 4º. Estas áreas servem de proteção à rede fluvial e aos corpos
d’água. Cabe ressaltar, que essas áreas são protegidas em lei por representar
importância ao equilíbrio dinâmico ambiental e social. As planícies fluviais localizam-
se nas margens dos rios e riachos, essas são geralmente mais espessas nos baixos
cursos. Nessas planícies predominam os solos aluviais compostos de sedimentos
não consolidados em camadas estratigráficas ricas em matéria orgânica de origem
fluvial.
Em relação aos relevos residuais representados pela Serra do Bom Será, a
fragilidade ambiental é considerada média em aproximadamente 70% de sua área,
pois a declividade predominante é de 4 a 20º os demais 30% possui declividade
entre 20 e 30º caracterizando uma fragilidade potencial alta. Na Serra do Encanto a
fragilidade ambiental é média em 50% devido sua declividade está entre 4 e 20º a
outra porção a fragilidade é alta devido a declividade apresentar-se acima de 20º.
Cabe destacar que a Serra do Encanto apresenta a maior declividade da microbacia
entre 30 à 40º (Figura 04). O Serrote da Gangorra apresenta baixa fragilidade
ambiental, pois a declividade varia entre 0 a 4º em quase toda sua área.
A depressão sertaneja apresenta baixa fragilidade ao processo erosivo, pois
sua declividade encontra-se entre 0 a 6º e, em pequenas áreas (próximo a Serra do
Encanto e no baixo do curso do riacho Cachoerinha) apresenta média fragilidade.
A fragilidade dos solos ao processo de degradação na perspectiva de Tricart
(1977), Ross (2009), Guerra e Vitte (2007), Nunes (2006), Ab‘Saber (1979) está
relacionado à capacidade dos solos resistirem aos processos erosivos. Na análise
da fragilidade do solo, considera-se o grau de maturidade dado pelo produto direto
do balanço morfogênese/pedogênese. (Figura 06)
No Rio Grande do Norte, embora existam alguns solos de alta fertilidade
natural (Cambissolo, Luvissolos, Solos Orgânicos e Solos Aluviais), em geral os
solos
76
Fonte: EMBRAPA, 2005. Adaptado pelo autor, 2011.
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Núcleo urbano
Limite municipal
1 0 1 2 3 4 km
N
38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Rafael Fernandes
Água Nova
Encanto
38º 11’ 38º 14 ’ 38º 16’
Pau dos Ferros
Neossolos
Argissolo Vermelho-Amarelo
Neossolo Li tól ico Luvissolo
UNIDADES PEDOLÓGICAS
Figura 06: Pedologia da Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, 2011.
77
tropicais são frágeis, requerendo no seu trato cuidados especiais para não se
empobreceram quimicamente, e, se degradarem.
Os Solos Aluviais (Neossolos, EMBRAPA, 2005) estão presentes próximos às
margens dos riachos da microbacia como mostra a figura 06. Esses solos, segundo
Nunes (2006), são encontrados encravados nos vales dos rios e riachos dos relevos
residuais da depressão sertaneja sendo muito utilizados na construção civilepelos
agropecuaristas devido a sua alta fertilidade. Esses solos apresentam um manto de
alteração de alta fragilidade ambiental.
Os Solos Litólicos (Neossolo Litólico, EMBRAPA, 2005) são encontrados com
frequência nos planaltos, colinas cristalinas, serras, serrotes e inselbergues e na
depressão sertaneja do semiárido. Esses solos apresentam horizontes A-C-R com
espessura inferior a 50 cm e poucos desenvolvidos. Outra característica importante
desses solos é a sua baixa capacidade de infiltração devido à rápida saturação,
facilitando o escoamento superficial. Por isso esses solos apresentam alta
fragilidade ao processo erosivo, principalmente, em relevos mais acidentados. As
limitações agrícolas mais importantes dizem respeito à pequena profundidade
efetiva, pedregosidade, rochosidade, baixa capacidade de armazenamento de água
e de nutrientes nos mais arenosos e a alta suscetibilidade à erosão, sobretudo nos
relevos mais declivosos.
O solo Bruno-não-cálcio (Luvissolo, EMBRAPA, 2005) apresenta alta
fragilidade ao processo de degradação, principalmente, a erosão, devido a pouca
espessura do solo, variando de rasos a pouco profundos em torno de 80 cm, e, em
muitas áreas do semiárido aparece juntos a afloramentos e pedregosidades.
O solo Podzólico Vermelho Amarelo (Argissolo Vermelho-Amarelo,
EMBRAPA, 2005) são solos encontrados na região semiárida nordestina originários
de rochas cristalinas metamórficas profundos a mediano profundos com horizonte B
textural(Bt) vermelho-amarelo rico em argila forte a moderadamente drenados. Por
apresentar um horizonte B (Bt) textural argiloso acaba por apresentar média
fragilidade a degradação.
Como resultado da análise dos elementos naturais obteve-se o mapa da
fragilidade potencial ambiental a partir dos elementos geossitêmicos analisados.
(Figura 07). Os resultados obtidos mostram que cerca de 86% área da microbacia
78
apresenta média fragilidade potencial e o outros 14% apresentam alta fragilidade
ambiental potencial. Cabe ressaltar, que a alta fragilidade concentra-se nos relevos
residuais da Serra do Bom Será, da Serra do Encanto e do Serrote da Gangorra
localizados no alto curso da microbacia.
79
N
38º 11’ 38º 14’ 38º 16’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Rafael Fernandes
Água Nova
EncantoPau dos Ferros
Fonte: Baseado na proposta metodológica de Ross, 2009. Adaptado pelo autor, 2011.
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Núcleo urbano
Limite municipal
FRAGILIDADE POTENCIAL
1 0 1 2 3 4 km
AltaMédia
Figura 07: Fragilidade potencial da Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, 2011.
80
2) Fragilidade Ambiental Emergente
A fragilidade ambiental emergente da paisagem considera a fragilidade
potencial dos elementos naturais somada com as atividades antrópicas que pode ser
observada no mapa de uso e ocupação do solo. Na análise considerar-se-á o uso e
a ocupação do solo e, em seguida, segue o mapa-síntese com a fragilidade
emergente da microbacia do Riacho Cajazeiras.
O grau de fragilidade ambiental da paisagem relacionado ao uso e ocupação
da terra e da cobertura vegetal está diretamente ligado à capacidade de proteção da
vegetação aos processos morfogenéticos e pedogenéticos. Na concepção desses
autores, já citados, nas áreas onde predominam vegetação densa a fragilidade
ambiental diminui, predominando a pedogênese, enquanto nas áreas onde a
vegetação foi parcialmente ou totalmente suprimida a fragilidade aumenta
predominando, a morfogênese, e, nas áreas urbanas a erosão é mais intensa por
causa do aumento da energia potencial provocada pelas construções, facilitando a
morfogênese (Figura 08).
Na área urbana do município de Pau dos Ferros parte dos esgotos dessa
cidade é lançada in natura no principal corpo d’água da microbacia o Açude 25 de
Março como fora observado no trabalho de campo e também demonstrado no
trabalho de Guedes, Maia e Fernandes (2008) que apontaram a poluição nas águas
desse açude, um dos ícones centenário do município, comprometendo a qualidade
ambiental desse corpo d´água, e, ainda, compromete a qualidade dos
hortifrutigranjeiros; afetando a sobrevivência de diversos pequenos agricultores
vazanteiros e pequenos pescadores.
Nas margens do Riacho Cajazeiras no seu médio curso e nas margens do
Riacho do Meio no seu baixo curso (a partir da parede do Açude 25 de Março o
Riacho Cajazeiras é chamado Riacho do Meio) observou-se em vários pontos a
existência de construções irregulares na zona urbana pauferrense potencializando a
fragilidade social e ambiental dessas áreas. Cabe salientar, que os estudos de Costa
(2010) apontam a existência de várias áreas de risco de inundação nesses pontos.
Ainda aponta o trabalho de Rocha, Baccaro e Silva (2009) alto grau de antropização
nessas áreas do Rio Apodi-Mossoró causado pelas atividades econômicas e o
processo de urbanização.
81
A espacialização identificou que nas unidades serranas da microbacia (Serra
do Bom Será, Serra do Encanto e Serrote da Gangorra) predominam alta e média
fragilidade ambiental devido uma boa representatividade da vegetação de caatinga
densa nessas áreas (Figura 09). Entretanto, alguns pontos dessas áreas são
desmatados para a agricultura e pecuária como foi observado na pesquisa de
campo e, indicado no trabalho de Guedes, Maia e Fernandes (2008). O
desmatamento segundo Tricart (1977), Bertrand (2004) Ab’Saber (1999) e Guerra e
Vitte (2007) aumenta significativamente à fragilidade ambiental
Nas áreas da Depressão Sertaneja o grau de fragilidade ambiental mais
significativo é o médio, por causa da declividade apresentar-se entre 0º a 6º; da
presença de vegetação de caatinga esparsa ser predominante, entretanto, cace
ressaltar que essa unidade apresenta uma área significativa de alta fragililidade
ambiental, porque foi identificada uma significativa quantidade de solo expostos em
vários pontos da microbacia.
O estudo da avaliação da fragilidade ambiental da microbacia do Riacho
Cajazeiras no semiárido potiguar identificou que a situação da paisagem é
preocupante, pois a alta fragilidade emergente representa 33,7km2 da área,
localizada principalmente na planície aluvial, nas áreas serranas e na zona urbana
do município de Pau dos Ferros. A média fragilidade emergente foi predominante em
79,6 km2 da área da microbacia destacando-se na área da depressão Sertaneja,
principalmente no baixo e médio curso e em algumas áreas do alto curso. A
microbacia apresentou fragilidade potencial ecológico sensível ao desequilíbrio
geossistêmico, predominando a morfogênese, em detrimento, da pedogênese. Tal
fragilidade da paisagem é intensificada pelo o uso e ocupação do solo realizado de
forma inadequada em relação as suas características ambientais.
82
Fonte: Imagem Landsat 5 de 06/08/2011. Processado em ambiente SPRING pelo autor, 2011.
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Núcleo urbano
Limite municipal
1 0 1 2 3 4 km
N
38º 11’ 38º 14’ 38º 16’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Pau dos Ferros
Rafael Fernandes
Água Nova
Encanto
Zona urbana
Agropecuária Solo exposto
Caatinga densa
Corpos d’água
Caatinga esparsa
Figura 08: Uso do solo na Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, 2011.
83
Projeção e DatumUTM Zona 24s SAD69
Núcleo urbano
Limite municipal
1 0 1 2 3 4 km
N
38º 11’ 38º 14’ 38º 16’ 38º 19’ 38º 9’
6º 4’
6º 7’
6º 10’
6º 13’
Pau dos Ferros
Rafael Fernandes
Água Nova
Encanto
FRAGILIDADE EMERGENTE
AltaMédia
Fonte: Baseado na proposta metodológica de Ross, 2009. Adaptado pelo autor, 2011.
Riachos e córregos
Figura 09: Fragilidade emergente da Microbacia do Riacho Cajazeiras/RN, 2011.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fragilidade ambiental da paisagem da Microbacia do Riacho Cajazeiras no
semiárido potiguar aponta que as áreas mais frágeis encontram-se espalhados por
toda a microbacia, entretanto, as áreas que apresentam maiores índices estão nas
planícies aluviais dos Riachos: Cajazeiras (Riacho do Meio no seu baixo curso)
Cachoeirinha, da Favela, dos Estevãos e Boa Sorte. Os graus de fragilidade foram
espacializados integrando os dados da fragilidade do clima, da geologia, da
geomorfologia (declividade), dos solos, do uso e ocupação do solo da paisagem.
O estudo da avaliação da fragilidade ambiental da microbacia do Riacho
Cajazeiras no semiárido potiguar identificou que a situação da paisagem é
preocupante, pois a alta fragilidade emergente representa 33,7km2 da área,
localizada principalmente na planície aluvial, nas áreas serranas e na zona urbana
do município de Pau dos Ferros. A média fragilidade emergente foi predominante em
79,6 km2 da área da microbacia destacando-se na área da depressão Sertaneja,
principalmente no baixo e médio curso e em algumas áreas do alto curso. A
microbacia apresentou fragilidade potencial ecológico sensível ao desequilíbrio
geossistêmico, predominando a morfogênese, em detrimento, da pedogênese. Tal
fragilidade da paisagem é intensificada pelo o uso e ocupação do solo realizado de
forma inadequada em relação as suas características ambientais.
Os resultados também mostraram que a vegetação é mais densa no alto
curso da microbacia nos relevos residuais Serra do Bom Será, Serra do Encanto e
Serrote da Gangorra, no entanto, aquela se destaca como o divisor de água mais
importante tanto em extensão quanto por ser nascente dos principais riachos da
microbacia. A presença da vegetação de caatinga densa nessas unidades
geomorfológicas ou nas outras unidades analisadas é crucial para o equilíbrio
dinâmico e para restringir a fragilidade potencial das unidades físicas e a fragilidade
emergente. Cabe ressaltar, que dos 47 moradores entrevistados todos disseram que
antes existia uma mata ciliar exuberante próximo aos riachos com a presença de
grandes oiticicas, de carnaúbas, de cajazeiras, de timbaúbas, de mufunbos entre
outros. Em relação à fauna todos os entrevistados disseram que os animais (tatu-
bola, susssuarna, tamanduá, mocó, juriti, peba) estão desaparecendo devido a caça
nessas áreas
85
Diante desse quadro, torna-se necessário implementar soluções para mitigar
e corrigir os efeitos provocado pelas atividades econômicas e a expansão urbana
que não estão em harmonia com o potencial ambiental e social da área de estudo.
Nesse contexto, foram identificados vários problemas que acentuam o processo de
degradação e com isso aumentam a fragilidade ambiental potencial e emergente
evidenciadas na área de estudo. Na execução do trabalho de campo e nas
entrevistas foi evidenciado o uso de agrotóxicos na agricultura de subsistência. Dos
47 entrevistados 90% sinalizaram a utilização de venenos e outros produtos em
suas lavouras. Além disso, foi apontada a ausência de coleta de lixo na zona rural
da microbacia por todos os entrevistados; a presença de um lixão próxima a
nascente do Riacho Cajazeiras; a inexistência de saneamento básico nas zonas
rurais e baixo na zona urbana de Pau dos Ferros.
O mapa síntese da fragilidade ambiental emergente (figura 9) mostrou que as
atividades agropecuárias concentram-se próximo das redes fluviais e corpos d’águas
da microbacia não respeitando a legislação ambiental e todo o sistema normativo.
Nessas áreas, foram identificados solapamentos dos canais de todos os riachos da
microbacia, ravinamentos nas suas margens e vários pontos de desmatamento das
matas ciliares.
Portanto, a metodologia empregada ajudou a compreender a dinâmica da
paisagem de forma satisfatória no que se refere o estudo da fragilidade ambiental
potencial e emergente do geossistema. Nesse sentido, como a microbacia do
Riacho Cajazeiras pertence à Bacia do Apodi-Mossoró torna-se necessário
desenvolver um estudo avaliativo das condições socioambientais de toda a bacia
hidrográfica. Esse estudo torna-se importante para subsidiar o planejamento
territorial da microbacia do Riacho Cajazeiras em harmonia com o seu potencial
ecológico, social, econômico e cultural. Tais elementos são constitutivos das
dimensões que compõem a sustentabilidade.
86
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Manuel Correa de. A terra e o homem no nordeste: contribuição ao estudo da questão agrária no nordeste. 8. Ed. São Paulo: Cortez, 2011. AB’SÁBER, Aziz Nacib. Sertões e sertanejos: uma geografia humana sofrida. Revista estudos avançados 13 (36), 1999. BERTRAND, Georges. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Revista RA´E GA, Curitiba, Editora UFPR, n. 8, p. 141-152, 2004. Disponível em: http://www.nepa.ufma.br/Producao/importantes/paisagem%20bertrand.pdf Acesso em: 07 de jun. 2011. BIGARELLA, João José [Et al]. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. Contribuição de Everton Passos. Florianópolis: UFSC, 2003. COSTA, Franklin Roberto da. Inundações urbanas no semi-árido nordestino: o caso do município de Pau dos Ferros. Dissertação de mestrado. PRODEMA/UFRN: Natal, 2010. CPRM. Serviço geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. Recife: CPRM; PRODEEM, 2005. CHISTOFOLETTI, Análise de Sistemas em Geografia. São Paulo: Hucitec, 1979. CREPANI, Edison. Zoneamento ecológico-econômico. In: FLORENZANO, Teresa Galloti. (Org.) Geomorfologia: conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de textos, 2008. EMBRAPA. Brasil em Relevo. Campinas: Monitoramento por Satélite, 2005. Disponível em: <http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 7 set. 2011. GUERRA, Antonio José Teixeira; VITTE, Antonio Carlos (Orgs.). Geografia Física no Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. GUEDES, Josiel de A.; MAIA, Jéssica C. L.; FERNANDES, Clefson. Análise da degradação ambiental na microbacia do Riacho Cajazeiras, Pau dos Ferros/RN. Anais do II Simpósio de Geografia Física do Nordeste, 2008. MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. Geossistemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2000. NUNES, José Elias. Geografia física do Rio Grande do Norte. Natal: Imagem Gráfica, 2006. ROCHA, Alexsandra Bezerra da; BACCARO, Claudete Aparecida Dallevedove; SILVA, Paulo César Moura da. Mapeamento geomorfológico da bacia do Apodi-Mossoró- RN – NE do Brasil. Revista Mercator de Geografia da UFC, ano 08, número 16, 2009. RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da. A classificação das paisagens a partir de uma visão geossistêmica. Revista Mercator de Geografia da UFC, ano 01, número 01, 2002.
87
ROSS, Jurandir L. S. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. In: Revista do Departamento de Geografia; n. 8, p. 63 - 74. São Paulo, USP, 1994. ROSS, Jurandir L. S. Geomorfologia: ambiente e planejamento. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2003. _______. Ecogeografia do Brasil: subsídios para o planejamento ambiental. São Paulo: Oficina de textos, 2009. SOTCHAVA, U. B. Por uma teoria de classificação de geossistemas da vida terrestre. Biogeografia. São Paulo, n. 14, 1978. TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE; SUPREN, 1977.
88
CONSIDERAÇÕES GERAIS
As sociedades humanas ao se fixarem na paisagem transformam-na e imprimem suas
ideologias na dinâmica desses ambientes. Na atualidade as sociedades passam por uma crise,
em todas as dimensões alterando e degradando negativamente o meio ambiente. Nesse caso, é
preciso que os seres humanos transformem e mudem sua relação com a natureza.
Diante dos resultados analisados na pesquisa conclui-se: que a metodologia aplicada
na pesquisa correspondeu às perspectivas e objetivos propostos. Entretanto, cabe ressaltar,
que as limitações encontradas podem ser diminuídas utilizando uma escala cartográfica maior
de análise. Estudar a dinâmica da paisagem na ótica geossistêmica mostrou-se satisfatória,
entrementes, é preciso considerar os fatores sociais com mais atenção.
Os resultados alcançados identificaram que a microbacia apresenta fragilidade
ambiental alta média tanto do ponto de vista da fragilidade ambiental potencial e a fragilidade
ambiental emergente. Desse modo, todos os setores da microbacia apresentam degradação de
suas terras e da estrutura hídrica. Cabe enfatizar, que houve uma recuperação da vegetação de
caatinga densa, principalmente no alto curso, e um aumento da vegetação esparsa em áreas
antes destinada a agricultura, principalmente na Depressão Sertaneja.
A análise também mostra, que o zona urbana do município de Pau Ferros tem
proporcionado uma pressão significativa para o aumento da fragilidade e da degradação dos
corpos d’água. Pode-se destacar a situação crítica do Açude 25 de Março e dos riachos que
cortam a cidade, pois esse e estes recebem considerada quantidade de resíduos não tratados,
contribuindo para aumentar a degradação no baixo curso da microbacia.
Desse modo, a análise identificou que uma das implicações mais significativas é o
processo de degradação ambiental causada pelo uso e ocupação do solo de forma desordenada
na microbacia do Riacho Cajazeiras/RN contribuindo para aumentar os problemas sociais
tanto no espaço urbano como no rural. Nesse contexto, é importante que os gestores públicos
nas esferas: federal, estadual e municipal cumpram as políticas estabelecidas em lei em
conformidade com o Código Florestal, a Política Nacional e Estadual de Recursos Hídricos,
as Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Saneamento Básico e de Resíduos Sólidos
adequando-se as normas urbanísticas e as demais legislações em vigor.
Nessa perspectiva, torna-se importante à implementação de medidas mitigadoras para
recuperar as áreas degradadas nas nascentes e nas áreas próximas aos mananciais; como
89
também recuperar os canais fluviais que se encontram degradados. Portanto, se faz
necessários estudos mais pormenorizados na microbacia do Riacho Cajazeiras associados com
as geotecnologias para o planejamento e gestão que objetivem a construção de uma sociedade
sustentável.
90
APÊNDICE
91
UNIVERSIDADE FEDRAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA
FORMULÁRIO DE CAMPO
PESQUISADOR RESPONSÁVEL: JOSÉ PIO GRANJEIRO BATISTA
NOME DO ENTREVISTADO:______________________________________________Idade:____
Local:_____________________________________________________________ Data:_______
1) Há quantos anos o Sr(a) mora nesse lugar?____________________
2) O Sr.(a) gosta de viver aqui? ( ) sim (...) não
3) Tem escola na localidade ( ) sim ( ) não
4) Tem posto de saúde ( ) sim ( ) não
5) Tem banheiro ( ) sim ( ) não
6) Possui fossa séptica ( ) sim ( ) não
7) Tem coleta de lixo ( ) sim ( ) não
8) Existe algum rio, riacho ou córrego aqui na localidade? ( ) sim (...) não. Caso positivo: Quais
são eles?_____________________________
9) O Sr(a) usa a água do rio? ( ) sim (...) não. Caso positivo: Para qual atividade:
__________________: Caso negativo: Porquê:_______________________
10) A água do rio tem boa qualidade ( ) sim ( ) não
11) Onde nasce o rio que cruza a sua localidade?________________________________
12) Sua propriedade possui:
Açude - sim ( ) quantos________ não ( )
cacimba - sim ( ) quantos________ não ( )
cacimbão - sim ( ) quantos________ não ( )
barragem superficial - sim ( ) quantos________ não ( )
barragem subterrânea - sim ( ) quantos________ não ( )
Outros quais?__________________
13) O Sr(a) usa areia ou barro proveniente da área do rio? ( ) sim ( ) não. Caso positivo: Para
quê?_____________________________
14) Como era o rio antigamente?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_____________________________________________________
15) O Sr. (a) usa algum tipo agrotóxicos (veneno) na sua propriedade? ( ) sim ( ) não. Caso
positivo: Qual (is): ____________________________
92
16) Já houve casos de doenças causadas pelo uso da água? ( ) sim ( )não. Caso positivo:
Qual(is):_____________
17) Na sua propriedade o Sr(a) usa lenha para cozinhar? ( ) sim ( ) não. Caso positivo: Quais são
as espécies utilizadas: ______________________________
18) Quais são as plantas que existiam próximas dos rios?
_______________________________________________________________________
19) Quais são as plantas que existem hoje próximas dos rios?
_______________________________________________________________________
20) Quais são os animais que eram vistos na localidade que o Sr. (a) já não vêem mais?
Quais:_______________________________________________________________________
________________________________________________________________
21) Existe algum problema relacionado ao abastecimento de água? ( ) sim ( ) não. Caso
positivo: Qual
(is):_________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
______________________
22) Existe algum projeto para melhorar o abastecimento de água? ( ) sim ( ) não
Caso positivo: Qual
(is):_________________________________________________________________
23) O que Sr(a) acha que deve ser feito para resolver os problemas relacionados à água?
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
________________________
Observações:_________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
____________________________________
93
ANEXOS
94
ANEXO 1 - Normas de submissão da Revista Mercator
REVISTA MERCATOR
Diretrizes para Autores DA APRESENTAÇÃO DOS TRABALHOS/ PRESENTATION OF PAPERS O original deverá conter título do artigo, nome completo do autor, titulação, instituição a que está vinculado e e-mail. DA NORMALIZAÇÃO DOS ARTIGOS/ STANDARD OF PAPERS Os artigos deverão ser submetidos a normalização da ABNT, a saber: NBR-10520 (informação e documentação - citações em documentos - apresentação) e NBR-6023 (informação e documentação- referências - elaboração) de agosto de 2002. NBR-10520 REGRAS GERAIS DE APRESENTAÇÃO/ GENERAL PRESENTATION RULES Nas citações, as chamadas pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou título incluído na sentença devem ser em letras maiúsculas e minúsculas e, quando estiverem entre parênteses, devem ser em letras maiúsculas. Exemplos/ Example: A ironia seria assim uma forma implicita de heterogeneidade mostrada, conforme a classificação proposta por Authier-Reiriz (1982).";;;; Apesar das aparências, a descontrução do logocentrismo não é uma psicanálise da filosofia [...]";;;; (DERRIDA, 1967, p.293). Especificar no texto a(s) página(s), volume(s), tomo(s) ou seção(ões) da fonte consultada, nas citações diretas. Este(s) deve(m) seguir a data, separado(s) por vírgula e precedido(s) pelo termo, que o(s) caracteriza, de forma abreviada. Nas citações indiretas, a indicação da(s) página(s) consultadas é opcional. As citações diretas, no texto, de até três linhas, devem estar contidas entre aspas duplas. As aspas simples são utilizadas para indicar citação no interior da citação. Exemplos: Barbour (1971, p.35) descreve: ";;;;O estudo da morfologia dos terrenos [...] ativos [...].";;;; ";;;;Não se mova, faça de conta que está morta.";;;; (CLARAC; BONNIN, 1985, p.72).Segundo Sá (1995, p.27): ";;;; [...] por meio da mesma ‘arte de conversação’ que abrange tão extensa e significativa parte da nossa existência cotidiana [...]";;;; As citações diretas, no texto, com mais de três linhas, devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas. Exemplos: A teleconferência permite ao indivíduo participar de um encontro nacional ou regional sem a necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comuns de teleconferência incluem o uso da televisão, telefone, e computador. Através de áudio-conferência, utilizando a companhia local de telefone, um sinal de áudio pode ser emitido em um salão de qualquer dimensão. (NICHOLS, 1993, p. 181). SISTEMA DE CHAMADA As citações devem ser indicadas no texto por um sistema de chamada: [...] autor-data. Quando o(s) nome(s) do(s) autore(s), instituição(ões) responsável(eis) estiver(em) incluído(s) na Exemplos/ Example: Em Teatro Aberto (1963) relata-se a emergência do teatro do absurdo.Segundo Morais (1955, p.32) assinala ";;;; [...] a presença de concreções de bauxita no Rio Cricon.";;;; As citações de diversos documentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distinguidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lista de referências. Exemplos: De acordo com Reeside (1927a)(REESIDE, 1927b). As citações indiretas de diversos documentos de vários autores, mencionados simultaneamente, devem ser separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabética. Exemplos/ Example: Ela polariza e encaminha, sob forma de ";;;;demanda coletiva";;;;, as necessidades de todos (FONSECA, 19997; PAIVA, 1997; SILVA, 1997)Diversos autores salientam a importância do ";;;; acontecimento desencadeador";;;; no início de um processo de aprendizagem (CROSS, 1984; KNOX, 1986; MEZIROW, 1991). NBR 6023 REGRAS GERAIS DE APRESENTAÇÃO/ GENERAL PRESENTATION RULES As referências são alinhadas somente à margem esquerda do texto [...] em espaço simples e separadas entre si por espaço duplo [...]. O recurso tipográfico negrito utilizado para destacar o elemento título. Itens de Verificação para Submissão
95
Como parte do processo de submissão, os autores são obrigados a verificar a conformidade da submissão em relação a todos os itens listados a seguir. As submissões que não estiverem de acordo com as normas serão devolvidas aos autores.
1. Contribuição inédita e original. Em caso negativo justificar ao editor em";;;;;;;;Comentários ao Editor";;;;;;;;(abaixo).
2. Arquivo em formato doc (word) ou RTF. 3. Endereços incluídos no texto encontram-se ativos (ex: http://www.ufc.br). 4. Texto escrito em espaço 1,5, times new roman 12, espaços 2,5 cm. Figuras e tabelas
inseridas no texto em sua devida localização. 5. Texto segue diretrizes de formatação constantes no tópico ";;;DIRETRIZES PARA
OS AUTORES";;;, constante na seção ";;;;;;;;SOBRE";;;;;;;; da MERCATOR. 6. Título do texto em INGLÊS, bem como resumo escrito em três línguas, dentre o
Português e Inglês, obrigatórios, e o francês ou espanhol. Declaração de Direito Autoral Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à MERCATOR o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
Política de Privacidade Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os serviços prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros. Taxas para Autores ##about.authorFeesMessage## Obtenção Número DOI: 34,00 (BRL) A MERCATOR, enveredando esforços no sentido de se aprimorar como periódico científico, se inseriu, recentemente, à Plataforma CROSS REF (http://www.crossref.org/). Pela Cross Ref há a possibilidade de destinação do número DOI, grosso modo definido como número de indexação eletrônico, demandado inclusive no preenchimento dos dados do Currículo Lattes. Para viabilizar sua obtenção propõe-se participação dos colaboradores com depósito de contribuição de 34 reais (trinta e quatro reais - US$ 20,00) por autor, em uma das contas abaixo: BANCO REAL Ag: 0508 C/C: 3705272-4 BANCO BRASIL ag: 4439-3 C/c: 6.181-6 Caso não possa pagar as taxas descritas, notifique a Equipe Editorial através do campo Comentários, pois não é de interesse impedir a publicação de trabalhos importantes. Texto extraído de: http://www.mercator.ufc.br/index.php/mercator/index
96
ANEXO 2 - Normas de submissão da Revista Boletim Goiano de Geografia
Diretrizes para Autores
O texto deve estar salvo em formato Microsoft Word. Os metadados deverão ser preenchidos com o título do trabalho, nome(s) do(s) autor(es), último grau acadêmico, instituição que trabalha, endereço postal, telefone, fax e e-mail. A extensão do texto poderá variar de 10 a 20 páginas, para artigos e de 5 a 10 págias para notas de pesquisa . O texto deve ser redigido em português ou espanhol e ser acompanhado de resumos (não usar tradutor automático) com o máximo de 200 palavras e títulos em português, inglês, espanhol ou francês (resumos em três línguas) seguido das palavras-chave e key words, palabras clave ou mots clés. Sugere-se o número de 3 a 4 palavras chaves, atentando-se para o conteúdo do texto. Abaixo dos Títulos deverão ser inseridas as informações sobre a afiliação de todos os autores( Por extenso e de forma completa): nome, instituição, estado, cidade e país de origem. Recomenda-se passar a revisão do artigo bem como dos resumos a profissionais especializados.Texto em fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 12, com espaço duplo entre linhas. Margens inferiores e superiores de 2 e 2,5 cm, esquerda e direita de 3 e 2,5 cm respectivamente. A estrutura do texto deve ser dividida em partes não numeradas, sendo obrigatória a introdução e asconsiderações finais.As figuras (desenhos, gráficos, mapas, esquemas, fotografias e cromos) e suas legendas deverão ser enviados preferencialmente coloridos de modo a permitir uma perfeita legibilidade, em dimensões nunca superiores a 12 cm X 16 cm. Os arquivos de figuras, em formato COREL, TIF ou EPS. No inicio do artigo deve ser incluido nome do autor (es), filiação, cidade, estado, país e e-mail para contato.
Em caso de pesquisa financiada por agência de fomento, inserir nota no final do artigo informando o tipo de fomento (financiamento de mestrado ou doutorado, agências federais, estaduais, municipais ou mesmo internacionais, empresas privadas etc.) e a data de vigência do financiamento.
As referências deverão ser organizadas, obrigatoriamente, de acordo com a NBR-6023 da ABNT (agosto de 2002).
Condições para submissão
Como parte do processo de submissão, os autores são obrigados a verificar a conformidade da submissão em relação a todos os itens listados a seguir. As submissões que não estiverem de acordo com as normas serão devolvidas aos autores.
1. A contribuição deve ser original e inédita, e não estar sendo avaliada para publicação por outra revista.
2. Os arquivos para submissão estão em formato Microsoft Word, OpenOffice ou RTF (desde que não ultrapasse os 3MB)
3. Todos os endereços de páginas na Internet (URLs), incluídas no texto (Ex.: http://www.ibict.br) estão ativos e prontos para clicar.
4. O texto está em espaço duplo; usa uma fonte de 12-pontos; emprega itálico ao invés de sublinhar (exceto em endereços URL); com figuras e tabelas inseridas no texto. As imagens usadas no decorrer do texto devem também ser enviadas em documento a parte e em formato que permita total legibilidade.
5. O texto segue os padrões de estilo e requisitos bibliográficos descritos em Diretrizes para Autores, na seção Sobre a Revista.
6. Os direitos autorais serão cedidos para o Boletim Goiano de Geografia.
97
Declaração de Direito Autoral
Os autores não serão remunerados pela publicação de trabalhos no Boletim
Goiano de Geografia, pois devem abrir mão de seus direitos autorais em
favor deste periódico. Os conteúdos publicados, contudo, são de inteira e
exclusiva responsabilidade de seus autores, ainda que reservado aos
editores o direito de proceder a ajustes textuais e de adequação às normas
da publicação.
Política de Privacidade
Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os serviços prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou à terceiros.
UFG – Universida de Federal de Goiás Instituto de Estudos Sócio-Ambientais – IESA Campus II, Conjunto Itatiaia, Caixa Postal 131, Goiânia- Goiás- Brasil.
Texto extraído de: http://www.revistas.ufg.br/index.php/bgg/about/submissions#authorGuidelines
98
ANEXO 3 – Comprovante de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN
99