museus, ruinas e paisagens - regina abreu
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Identidades e omunicao
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que neste perodo que
o
sentido do patrimnio, isto
,
dos bens fundamentais
inalienveis se estendeu pela primeira vez na Frana s obras
de
arte, tanto em
funo dos valores tradicionais nelas incorporados como em nome de
um
sentimento
novo de bem comum, daquilo que constitui uma riqueza moral para a nao .
neste
contexto que aparece a noo de vandalismo como atentado criminoso ao patrimnio.
Os movimentos populares tendiam a demolir edifcios, portas, monumentos onde
se
inscreviam os nomes e a glria dos reis, vistos como testemunhos da opresso. Logo
gerou-se uma inquietao diante das vontades de esquecimento e destruio
e, em
nome da arte, procurou-se construir
um
movimento oposto que preservasse para o
conjunto
d
nao objetos, edifcios, palcios, monumentos identificados como de
''valor artstico .
Em
1792,
um
Comit destinado preservao das obras de arte
estabeleceu alguns pressupostos para uma ao que colocasse um freio nos anseios
de destruio das lembranas do despotismo quando estes anseios ferissem obras
de arte que pudessem ser usufruidas por todos. Alguns dos administradores da
poca como o abade Grgoire deixou documentada as dificuldades encontradas
para a conteno das ondas de destruio. Ele narra que teria sido necessrio conter
aes de fria que chegavam a propor o incndio de biblioteca pblicas. De todos
os lados, partiam ataques a livros, quadros, monumentos que traziam emblemas da
religio, da feudal idade, da monarquia.
Foi
incalculvel a perda de objetos religiosos,
cientficos, literrios. O abade relata que quando pela primeira vez, ele props
o fim destas devastaes, foi chamado de fantico e recebeu a a acusao que,
sob o pretexto de conservar as artes, desejava salvar os trofus da superstio.
Chastel, Andr. La Notion de Patrimoine, in: Nora, Pierre (org.) Les Lieux de Mmoire, La Nation,
Paris, ed. Gallimard, 1986, pg. 413
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Entretanto, to grandes teriam sido os excessos que todos acabaram concordando
com ele promulgando no Comit de Instruo Pblica uma recomendao contra
o vandalismo. Segundo o abade, o nome vandalismo teria sido criado por ele para
cortar pela raiz o efeito cascata das destruies contra as artes e os patrimnios.
O sentido da noo de patrimnio associado idia de bem pblico e
memria de um coletivo incrementa-se durante o sculo XIX. Ao lado do movimento
de preservao de bens considerados referncias para uma sociedade, no podemos
esquecer que
as
cidades cresciam trazendo os especuladores imobilirios. A destruio
de prdios e monumentos tambm era motivada por interesses comerciais motivados
pelo capitalismo industrial.
m
1832, o escritor Victor Hugo escreveu um artigo que
se tornou clebre onde dizia que quaisquer que fossem os direitos d propriedade,
no se devia permitir que ignbeis especuladores destruissem edifcios histricos e
monumentais. Para ele, haveria dois aspectos importantes nestes edifcios: sua utilidade
e sua beleza. Mas, enquanto no aspecto utilitrio, o prdio pertencia ao proprietrio, no
aspecto da beleza o prdio pertencia a todos tout
le
monde). Este artigo emblemtico
sinalizou dois aspectos que seriam decisivos para a aquisio de um significado
ocidental moderno da noo de patrimnio: de um lado, o conceito universal do
belo
que desaguar na noo de um patrimnio universal
ou
da humanidade e, de outro
lado, na crescente hegemonia da visual idade no campo patrimonial.
O patrimnio passaria cada vez mais a ser compreendido como um bem pblico
para ser visto Podemos pois afirmar que a centralidade da noo de patrimnio que
se
afirmou durante os sculos XIX e XX caminhou lado a lado com o paradigma
oculocntrico da sociedade moderna. O sentido da visualidade ter a primazia sobre
os demais. nesta chave que o tema da paisagem adquire especial significao
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Preservar o patrimnio passou a significar tambm preservar uma paisagem
um
cenrio no espao das metrpoles um lugar para ser visto contemplado admirado. As
novas configuraes das cidades modernas passaram a incluir uma esttica pautada na
conjugao de elementos do passado com novas aquisies do capitalismo industrial.
Prdios monumentos museus obras de arte tornaram-se elementos de construo
de paisagens nas cidades modernas. Estas referncias do passado foram apropriadas
por narrativas modernas no espao urbano convivendo lado a lado com diversos outros
elementos que expressavam o progresso e a crena no futuro expressando a polissem a
e a multiplicidade de informaes das novas cidades. O caso francs emblemtico.
m
meados do sculo XIX o arquiteto Viollet-le-Duc empreendeu um dos maiores
esforos de restaurao do espao pblico na capital do pas. Conjuntos arquitetnicos
foram restaurados visando constituir nova funcionalidade e estabelecendo importantes
referncias visuais nos principais espaos pblicos da cidade. O importante a assinalar
que as restauraes de prdios monumentos museus obras de arte no constituram
reprodues puras e simples do passado. O que ocorreu foi um movimento novo de
apropriao de elementos do passado num contexto de crena e exaltao do futuro.
As importantes restauraes e os emblemticos movimentos de preservao do
patrimnio nos novos cenrios urbanos tambm no foram uma reproduo pura e
simples de todos os passados impregnados nos prdios em runas
ou
nos objetos
salvos do vandalismo dos grupos sociais emergentes. Os movimentos patrimoniais
que incluam a idenficao a restaurao a preservao a difuso de bens mveis
e imveis foram o produto de escolhas selees decises julgamentos. Os agentes
do patrimnio no nasceram de movimentos sociais isolados ou contrrios s novas
tendncias de administrao do espao urbano. Pelo contrrio eles formaram desde
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sempre o que havia de mais moderno nas adminisraes nacionais regionais ou locais.
Seus ideais no eram nostlgicos mas sim de universalizar as conquistas do mundo
burgus. Assim como administradores pblicos os agentes do patrimnio tambm
tiveram que se perguntar: o que preservar? Quais prdios restaurar? Quais dos usos ou
das caractersticas de um prdio ou de um palcio priorizar numa restaurao? Quais
estilos arquitetnicos manter e valorizar e quais os estilos arquitetnicos descartar ou
apagar? Quais memrias iluminar e quais memrias apagar?
Desse modo a ao patrimonial teve como marca fundante a noo de que
o objeto da preservao e da restaurao no seria nunca um objeto total mas uma
seleo limitada e intencional. Este movimento fez com que todos os chamados
patrimnios expressassem tambm runas. Ao selecionar um aspecto de memrias
mltiplas e polissmicas e
ao
concentrar os esforos para iluminar este nico aspecto
o movimento de patrimonializao seria tambm um movimento de apagamento.
Desse modo preciso chamar a ateno para o fato de que como runas os bens
tombados ocultam tambm diversas ocupaes e usos sociais.
m
palcio que serviu
a uma dinastia de reis e que depois foi sede de governo e depois museu e depois
ainda passou por um perodo de decadncia para depois ser revitalizado e tornar-se
uma biblioteca
ou um
centro cultural.
m
casa que serviu de residncia a um industrial
que a vendeu para
um
comerciante que virou casa de cmodos que foi adquirida pelo
Governo para ser restaurada para abrigar uma biblioteca. Uma casa erigida em cima
de um antigo sambaqui que serviu de residncia a um baro de caf que foi vendida
a
um
industrial e abrigou uma fbrica de tecidos e que ficou em runas at que a
prefeitura local a aquirisse para fazer uma escola. Todos estes exemplos apontam
para a complexidade de sentidos e de significados que os patrimnios mais passara a
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ocultar do que evidenciar. O enorme esforo de restaurao de prdios histricos que
fz Violet Le Duc
em
Paris tranformando a cidade numa exuberante vitrine de vestgios
do passado pode ser apresentada como exemplo emblemtico da conjugao destes
dois movimentos: o da lembrana e o do esquecimento. Analisando as imagens dos
prdios restaurados, como fez Bruno Foucart, ficam explicitados os apagamentos, os
silenciamentos, os deslizamentos de sentidos.
Chegamos pois a
um
tema central formulado por Walter Benjamin na
primeira metade do sculo
XX
que soou como uma profecia para os anos vindouros:
a modernidade se converter num mundo em runas. A instabilidade dos sentidos
assombrar o mundo moderno. A velocidade das transformaes imporo ao homem
moderno um mundo presentificado, onde
se
tornar praticamente impossvel a
preservao das referncias com suas nuances, seus mltiplos e variados significados.
O mundo moderno ser sinnimo de novidade, apelando para a atualidade da
informao. Nesta nova e original configurao, haver uma desvalorizao no
do passado, mas da experincia, da tradio, dos elos que permitem aos sujeitos a
articulao de mltiplas temporal dades. O patrimnio segundo a vertente benjaminiana
expressar este passado fetichizado, concebido como uma informao sobre aquilo
que
se foi, opondo-se portanto ao passado atualizado como experincia, como
vnculo entre sujeitos que se conectam atravs das geraes. Todo este movimento
ter como cenrio o espao urbano, lugar de entrecruzamento de tradies e culturas,
de rapidez, de fluidez. O mundo rural com sua lentido, com seu tempo de longa
durao se perder inexoravelmente.
3
2 Foucart, Bruno, Viollet-le-duc et la restauration
,
in: Les Lieux de Mmoire, vol. , La Nation, Pari
s,
ditions Gallimard, 1986, pg. 613-649.
3 Caiafa, Janice, A Aventura das Cidades: Ensaios e Etnografias,
RJ
, ed. FGV, 2007
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Entretanto, diferentemente do que poderia se esperar, Benjamin no v com
maus olhos o espao urbano. Pelo contrrio, ele se deixa fascinar pelas possibilidades
que a movimentao das grandes cidades traz com a diversidade humana, os
variados estmulos e o ambiente
de
descontinuidades que interpelam os sujeitos e
exigem deles novas posturas e modos de agir. Benjamin vai propor caminhos para
a recuperao dos sentidos no espao urbano. Ele vai centrar seu olhar no numa
direo
do
preservacionismo, das polticas de patrimnio, mas nas possibilidades
que os indivduos teriam para no se deixar engolir pelas transformaes velozes e
pela compresso do tempo
a
presentificao). Com Benjamin, poderamos pensar
a modernidade como
um
espao-tempo liso e que caberia aos homens assumir o
protagonismo de suas vidas transformando este espao-tempo de liso em rugoso,
com
reentrncias, possibilidades, conjugaes entre diferentes temporalidades.
E a partir de seu encontro com a poesia de Charles Baudelaire que o
filsofo alemo sugere, no contexto da configurao moderna, algumas das mais
criativas sadas para a retomada pelos sujeitos modernos da possibilidade da
experincia. Sua principal aposta est na afirmao pelos sujeitos modernos de
novas atitudes que os capacitem para um distanciamento e uma reflexo frente
a uma enxurrada de estmulos a que passaram a estar expostos. Bejamin elogia
a atitude do flaneur , encarnada por Baudelaire, o observador apaixonado que
caminha no espao urbano e procura conviver com o movimento, o instante fugidio,
a paisagem permanentemente transformada e vai construindo novos sentidos no
se deixando oprimir pelas violentas transformaes do mundo sua volta. Apenas o
flaneur , movendo-se pela cidade com
um
sentido potico, seria capaz de realizar
uma escavao das camadas topogrficas do espao urbano. Sua tarefa consiste
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em
encontrar as correspondncias entre o antigo e o moderno, em articular a
tradio no novo, na fantasmagoria
de um
mundo cercado por mercadorias.
O flaneur ter que lidar tambm com
as
implicaes de certos dispositivos
modernos, como a reproduo
tecnolgica da arte, nas mudanas da capacidade
de percepo do mundo. Benjamim destaca uma espcie de choque perceptivo
gerado por estes dispositivos desencadeando novas formas de olhar.
As
tcnicas
de
colagem e de
mont gem
procedimentos tpicos das vanguardas, cooptadas
pelo cinema e pelo rdio, e naturalizadas na praxis vital da experincia moderna
- se relacionam com a emergncia desta qualidade ttil, sinestsica, orgnica,
que possibilita o que Benjamim nomeia como recepo na disperso . Ele chama
ainda a ateno para as possibilidades de leituras que a modernidade engendra
e que faz do leitor tambm um autor, um protagonista, um intrprete. Alm disso,
a prpria cidade, como espao de exibio das mercadorias poetizadas
a
fantasmagoria do novo) que transforma e reestrutura as faculdades perceptivas.
O choque traz o sentido da fragmentao, da descontinuidade e da impresso
brusca mas tambm envolve a possibilidade de relao com o diferente, o
exerccio possvel de construo da subjetividade na relao com a alteridade.
Benjamin, flaneur por excelncia, colecionador incansvel, sugere que
se maneje a cidade como se o mundo fosse
um
texto. Como assinalou, Sandra
Valderatto, em Benjamin, o fragmento e a reticncia adquirem uma importncia
terico-metodolgica por oposio a explicaes esquemticas, totalizadoras
e fechadas. A partir do projeto de colecionar, Benjamin visa captar
um
ritmo
diferente nas coisas e reconhecer novas configuraes que no esto visveis
a priori. Esta forma de captao reticular, intersticial, constitui o princpio
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geral a partir do qual ele acredita ser possvel reconstruir os nexos perdidos
com o choque da modernidade.
4
Vamos ento reter a aluso
ao
"flaneur"e a proposta
de
"perambular"
ou
"deambular como estratgia para se inserir e se apropriar da dinmica urbana
fugidia, ilusria e transitria da cidade moderna. O "flaneur no um simples
passante
ou um
contemplador nostlgico, ele
se
incorpora na multido, percorre
as
galerias, enxerga
as
vitrines, se perde pelas ruas na busca pela memria, procura
extrair o eterno
do
transitrio. Podemos perceber a preocupao de Benjamin com
a recuperao dos sentidos do passado na indagao: como faz o indivduo para
traduzir sua necessidade interior de recordao
no
meio de uma realidade externa
fragmentada? Assim o "flaneur'' vai
se
apropriar do espao urbano da cidade
4 Valderatto, Sandra.
Lo
Urbano como la experiencia de la modernidad, Baudelaire segn
Benjamin. Disponvel em http://rephip.unr.edu.ar/bitstream/handle/2133/288Naldettaro_Anuario_5.
pdf?sequence=1 Segundo a autora, na viso de Benjamin, EI contexto urbano produce una
profunda transformacin en los modos de percibir la realidad en todos sus niveles, tanto espaciales
como temporales. La percepcin opera como una serie de colisiones impactantes, mecnicas,
discontnuas, tanto de naturaleza tctil como ptica . Desde
el
simple acto de encender un fsforo
hasta el movimiento mecnico de levantar el telfono o el de "disparar" la cmara fotogrfica, desde
la fragmentacin y yuxtaposicin de la pgina de anuncios de un peridico hasta el trfico de la
ciudad, todo parece seralar, como apunta Baudelaire, a la multitud como una especie de "reserva de
energa elctrica".
Es
por ello que "la tcnica ha sometido
el
sensorio humano a un entrenamiento de
ndole muy compleja", semejante
ai
"ritmo de la produccin". Se trata entonces de una transformacin
estructural que tiene que ver con los cambios en las condiciones de trabajo desde el artesanado a la
produccin industrial. La interconexin de los distintos momentos presentes en el proceso de trabajo
manual se "independiza" cosificndose "en la cinta sin fin frente ai obrero de la fbrica"; es un tipo de
existencia-impacto y de uniformidad que irradia su modalidad a todos los mbitos de la vida. Y aunque
ni
Poe ni Baudelaire realizaron estas asociaciones, sus figuras iterarias vuelven transparentes este
vnculo entre civilizacin y barbarie. En Baudelaire, la figura del desocupado y el juego de azar como
proceso remiten a este vnculo. "
En
el juego de azar el llamado coup equivale a la explosin en el
movimiento de la maquinaria", ambos estn vaciados de contenido . Benjamin conecta la imagen
moderna del jugador con la figura arcaica delluchador
en
Baudelaire. Son ambos "figuras heroicas
.
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moderna a partir de sua experincia como colecionador de imagens, de cenas que
no lhe pertencem e que passam pouco a pouco a constrituir sua memria. Visto
sob este ngulo, o flaneur no descreve
um
acontecimento ou
um
lugar, ele o
transforma. A cidade para o flaneur ao mesmo tempo paisagem que se abre para
o seu olhar e habitao que o acolhe.
Ele
passeia na cidade em busca dos lugares
onde o passado ainda apresenta seus vestgios.
A metfora
do
flaneur pode ser compreendida como a possibilidade da
revitalizao da experincia
no
contexto urbano-industrial. Face
tendncia
de
fragmentao e presentificao e
hegemonia do valor da informao enquanto
novidade absoluta, a retomada da experincia torna-se vital para os sujeitos, pois
neste processo que eles se tornam protagonistas. O curioso argumento de Benjamin
desagua na conclamao a percorrer um mundo
em
runas utilizando como
ferramenta a proposta do colecionamento de imagens e fragmentos de universos
desaparecidos para que sejam tecidas novas configuraes , novos sentidos e
consequentemente, novas aes transformadoras. importante lembrar a adeso
5 Janice Gaiata lembra que mover-se numa cidade uma experincia muito particular: envolve a
geografia das ruas e a arquitetura da cidade, a relao com o trnsito de veculos e de pessoas, os
estmulos de luzes, das lojas, as vozes humanas.
um
modo de mover-se que produz, de fato , uma
dana. Walter
Ben
jamin {1995) escreveu sobre a situao de caminhar na cidade e de como o meio
urbano trouxe para seus habitantes novos padres perceptivos. Re fere-se a essa experincia na
cidade por vezes como uma experincia de choquee fala de um movimento manaco que pode
tomar conta do pedestre na cidade. A aparece a figura do transeunte, que Benjamin distingue em
alguns momentos do flaneur. O transeunte tem seu movimento ditado pela agitao urbana e no
frui de sua caminhada. O flaneur, ao contrrio,
um
habitante da cidade que deambula a seu bel
prazer. Tipicamente o flaneur anda a esmo, mas enquanto se ope ao transeunte . Antes de tudo ele
conta o tempo de seu andar, percorre as ruas em ritmo prprio. Essa distino intrressante porque
constitui um dos momentos em que Benjamin resgata
um
aspecto criador na experincia moderna -
aqui com a figura do flaneur.
In
: Caiafa, Janice, op.cit. , 2007, pg. 57.
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de Benjamin
ao
materialismo histrico e ideologia comunista. Sob este ngulo,
a atitude do flaneur est longe de significar acomodao, mas pelo contrrio
expressa possibilidades de aes transformadoras.
A metodologia do flaneur e os museus: etnografia dos
percursos ou transformando
ru
nas em
al
egorias
Passo ento para a segunda parte deste ensaio, onde fao o relato de
uma experincia de pesquisa onde busquei inspirao na figura do flaneur
para construir uma metodologia de pesquisa. preciso antes fazer meno ao
objeto da pesquisa propriamente dito onde esta metodologia foi aplicada como
um exerccio. Trata-se de uma pesquisa sobre os museus do Estado do Rio de
Janeiro. A proposta consistiu em mapear qualitativamente os museus existentes
no
Estado verificando a relao destes com
as
regies onde se inserem.
m
que
medida os museus servem tambm para contar histrias sobre a regio em que
se encontram? At que ponto os museus expressam histrias locais ou regionais?
Estas eram algumas das perguntas que serviram como ponto de partida para o
projeto que foi desenvolvido com apoio da Faperj no mbito de um edital voltado
para contribuir para a sustentabilidade do Estado do Rio de Janeiro.
Nesta parte
do ensaio deixarei
de
lado
os
produtos que a pesquisa realizou e me concentrarei
no relato da experincia da pesquisa. Partindo das informaes existentes no
6 O edital da Faperj que viabilizou o projeto foi o Edital Pensa Rio 2007 e o projeto foi intitulado
Memria, Cultura, Transformao Social e Desenvolvimento: Panorama dos Museus do Estado
do Rio de Janeiro e foi realizado no Programa de Ps-Graduao em Memria Social da UNIRIO
com apoio da Escola de Museolog ia da UNI RIO e com a parceria do IBRAM. O projeto previu como
resultados um portal (www.museusdorio.com.br) um livro, e um programa de tv com os percursos
visitados (tambm intitulado museus do r
io
).
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Cadastro Nacional de Museus que o IBRAM vem desenvolvendo, constatamos que
no
Estado do Rio
de
Janeiro h cerca
de
300 museus. Estes esto distribudos
basicamente
em
duas grandes regies: a cidade do Rio de Janeiro que concentra
mais da metade deste nmero e o restante do Estado que abarca a outra parte numa
distribuio muito heterognea.
regies ou cidades que concentram grande
nmero de museus como a cidade serrana de Petrpolis e h outras regies que
no contam com praticamente nenhum museu, como a regio noroeste do Estado.
Decidimos de imediato que a pesquisa trabalharia com amostras de museus por
regio e que faramos visitas e pesquisas de campo nestes museus. Trabalhamos
previamente
um
pequeno roteiro de visitaes e fizemos contato com
os
museus
explicando o teor do projeto e a necessidade de sermos recebidos por agentes que
apresentassem o ponto de vista institucional.
A metodologia da etnografia dos percursos consiste
em
vivenciar a
experincia do viajante que percorre uma regio, buscando exercitar
um
olhar
que estranha, que inquire, que indaga, que procura novos ngulos, novas
perspectivas, novas faces de paisagens j vistas e consagradas. A etnografia,
gnero de escritura que se desenvolveu com a tradio antropolgica, guarda um
parentesco com o dirio de viagem
ou
dirio de campo. Uma caracterstica central
da etnografia o fato de que o pesquisador
se
inclui na pesquisa e inclui tambm
a relao com os outros, na medida em que procura expressar o pensamento
dos segmentos pesquisados, dialogar com outras culturas, com outras pessoas.
um trabalho artesanal. Na etnografia, importa o aspecto relacional, o aspecto
experimental, o aspecto de construo dos dados da pesquisa a partir da viso
do pesquisador no trabalho de campo.
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Nosso objetivo consistiu em focalizar os museus como runas onde possvel
encontrar muitas histrias sobre a ocupao das regies onde eles se encontram. Para
ns interessou desde sempre mais os diferentes fragmentos sinais e vestgios por
detrs dos discursos prontos e codificados que os museus em suas monumental dades
expressam. Queramos encontrar o Rio de Janeiro para alm das paisagens
consagradas do outro lado do po de acar do Corcovado das belas praias da zona
sul para alm da prpria cidade do Rio de Janeiro. Ao focalizar o estado do Rio de Janeiro
queramos levar ao extremo as consequncias da duplicidade de sentidos de um Rio
de Janeiro cidade e de um Rio de Janeiro estado. Entendemos que esta superposio
de nomes no casual. Ela implica histrias complexas expressando foras polticas
contrrias tenses disputas. Habitar o Rio de Janeiro expressa construes muito
variadas e polissmicas sinalizando cidados de uma cidade e/ou de um estado.
Identidades e diferenas que falam da proximidade com o mar com o litoral com as
conexes internacionais e que tambm falam do serto do interior de conexes com
outros estados Minas Gerais Esprito Santo So Paulo. Rio de Janeiro sinnimo
de foras e dentros cariocas e fluminenses. Cartografar o Rio de Janeiro palmilh-lo
percorr-lo significa lanar-se numa aventura de trilhas histrias imaginrios raramente
coincidentes. A polifonia da regio est em cada trecho englobando reas de ocupao
muito antiga onde praticamente toda a histria do pas revista e recontada por muitas
geraes de grupos sociais diferentes e contraditrios. Decididamente no h registros
nicos e os museus vistos como runas podem nos trazer um pouco desta polifonia
de vozes. As pistas nos mostravam que a tendncia seria caminhar por camadas
de sentidos que convivem coetneas embora muitos sculos as separem. Numa
mesma rea encontramos registros de quilombolas bandeirantes povos indgenas
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fazendeiros empresrios aventureiros viajantes. Portugueses franceses tamoios
sambaquieiros turcos italianos africanos tupiniquins. Como cartografar uma regio
to ampla e to repleta de imaginrios? Como trabalhar com a riqueza da diversidade
de museus numa regio que
j
foi sede do Governo portugus da Colnia do Imprio
da Repblica? Uma regio onde se fizeram as bases da economia do pas as primeiras
elites econmicas e polticas as muitas relaes de trabalho - escravido trabalho
assalariado servios terceirizados-? Como no perceber de imediato que muitos dos
quase trezentos museus do Rio de Janeiro contam tambm histrias do io de Janeiro
vestgios que so de antigas construes fazendas palcios casas de remanescentes
de quilombos runas de antigas estaes ferrovirias. Para a construo da nossa
metodologia de pesquisa esta foi pois nossa primeira assertiva: partimos da noo de
que os museus do io de Janeiro eram signos de mltiplas narrativas sobre
si
mesmos
e sobre o espao onde se inserem. Por outro lado estas narrativas revelam
um
aspecto extremamente fragmentrio sinais de mundos j desaparecidos. Alis todas
as tentativas de estabelecer grandes narrativas que os interligassem em algum sistema
comum parecem ter fracassado. As classificaes que outrora guiaram o universo
dos museus e os subdividiram em categorias como histricos artsticos cientficos
biogrficos etnogrficos
ou
nacionais locais regionais parecem ter perdido o poder
explicativo tamanha tem sido a diversidade de gneros e a novidade no campo.
Assim encontramos lado a lado os grandes museus - como o Museu
Histrico Nacional ou o Museu Nacional de Belas Artes ancorados em
representaes do
nacional
.
H os museus centrados em personagens
histricos como o Museu Casa de Rui Barbosa ou o Museu Casa de Benjamin
Constant. Mas h tambm museus que se formaram pela nostalgia de mundos
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que desapareceram como os museus ferrovirios, espalhados por todo o estado
e que to bem expressam a saudade dos antigos ferrovirios que viviam do
trem e para o trem. H vestgios muito antigos como os solares de Campos
e Maca que testemunharam os primeiros aldeamentos indgenas, as misses
jesuticas, os
ciclos econmicos da cana de acar, da transformao da cultura
canavieira para a cultura cafeeira e depois para pastos de gado e que agora
observam atnitos a transformao da regio pela fora do petrleo e do pr-sal.
So prdios imponentes que abrigaram originalmente corporaes de jesutas
que ali fizeram
as
primeiras fbricas e empresas lucrativas do pas. Mas, h
tambm museus que so colees de toda uma vida como o museu de conchas
de Mangaratiba, resultado do esforo de
um
colecionador que conta a histria
das transformaes do local por meio das conchas que foram desaparecendo
e que ali jazem testemunhas de pocas de bio-diversidades mais pulsantes
num local hoje repleto de habitaes precrias, lajes, puxadinhos, prdios de
pequenos apartamentos lanando-se
em
penhascos que se projetam para o mar.
Ou ainda o museu do surf em Cabo Frio, resultado de uma coleo de um surfista
fantico que capaz de narrar por meio de seus preciosos objetos mincias da
histria internacional do surf: a primeira prancha enorme de madeira, miniaturas
de surfistas famosos, fotos antolgicas, prmios recebidos por destemidos
desafiadores
de
ondas no Hawa.
Ou
ainda o museu da cachaa, resultado
da coleo de um antigo aviador apaixonado por rtulos de garrafa de cachaa
que disponibilizou a coleo de uma vida inteira para visitao pblica na
pequena cidade de Paty do Alferes no centro sul fluminense, iniciativa que vem
contribuindo para a dinamizao do turismo na regio.
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Museografia e Arquitetura e Museus
Eles esto por toda a parte, espalhados pelo estado, sintoma de uma
vitalidade enorme que abre
um
leque
de
inmeras possibilidades
de
histrias
e memrias. De espaos consagrados aos grandes heris da histria ptria
a espaos de valorizao de pequenos heris das mais nfimas localidades, os
museus constituem hoje espaos cada vez mais relevantes respondendo ao nosso
anseio por referncias, elos, conexes
com
diferentes temporalidades. Como
assinalou Andreas Huyssen, os museus nos seduzem e num certo sentido nos
confortam. Aliviam o mal estar que parece fluir de uma sobrecarga informacional e
percepcional combinada com uma acelerao cultural, com
as
quais
nem
a nossa
psique nem os nossos sentidos esto bem equipados para lidar. Quanto mais
rpido somos empurrados para o futuro global que no nos inspira confiana, mais
forte o nosso desejo de ir mais devagar e mais nos voltarmos para a memria
em busca
de
conforto. Mas, que conforto podemos esperar da memria e dos
museus se hoje as grandes narrativas se perderam, se no h seno sentidos
breves, fugazes, permanentemente construdos e negociados? Onde esto as
memrias coletivas que se afirmavam
em
mitos e ritos? Onde esto os coletivos
produtores
de
memrias persistentes? O que so os museus na contemporaneidade
seno fragmentos cujos sentidos no escapam
ao
paradigma contemporneo da
fugacidade, da mudana, da velocidade? Mesmo estas instituies feitas para
durar expressam cada vez mais dinmicas de grande mobilidade. Muitos deles so
permanentemente modificados, ressignificados, remanejados para atender novas
demandas de pblico, de idias, de tendncias.
7 Huyssen, Andreas. Seduzidos pela memria, RJ ,
Ed
. Aeroplano, 2000, pg. 33
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Regina Abreu
A metodologia da etnografia dos percursos nos sinaliza para mltiplas
possibilidades de leitura de rotas e paisagens onde os museus configuram-se em sinais
de tempos e espaos variados. e um prdio conservado, se um acervo preservado,
se
um
museu edificado e se isto faz parte de uma poltica cultural num municpio,
podemos ler este fato como significativo. Guardamos aquilo que faz sentido para ns
e descartamos aquilo que no nos serve ou no queremos lembrar. A memria no se
faz espontaneamente, ela necessita de agentes e suportes, e os museus podem ser
lidos como estes elementos que sinalizam algo sobre aqueles que os constrem e os
mantm. E tambm sobre os que os modificam ou os renegam e destroem.
Assim, temos percorrido os museus que habitam o Rio de Janeiro como
seres vivos, pulsantes, expressivos, que contam histrias sobre espaos-tempos,
e que vem despertando no pesquisador- flaneur do espao urbano certo sentido
de alteridade absolutamente necessrio para novos sentimentos e percepes
das paisagens. preciso experimentar o recurso flaneur na pesquisa, aceitando
o convite de Walter Benjamin. Percorrer cada cidade e de uma cidade a outra
deixando-se levar pela satisfao de encontrar aberta uma porta de museu e
simplesmente entrar. Solicitar a algum que ali est que nos conte sua histria e a
histria daquele museu. Abrir os sentidos para narradores experientes no sentido
que Benjamin atribui para a categoria experincia : algum que tem uma histria
pra contar porque inicia seu relato a partir da sua vivncia, da sua relao ntima
com o prdio, com os objetos, com a instituio.
Os sentimentos diante destes seres museais so diversos. Tambm porque
so polifnicas as instituies. Assim como as lembranas. Fazer a etnografia dos
percursos em museus tem possibilitado que ecoem mltiplas vozes. Os museus
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so espaos com muitas camadas estratigrficas que no raro so contraditrias.
o
caminho da cidade
do
Rio
de
Janeiro para a cidade
de
Araruama na Costa
do Sol
um
museu apresenta primeira vista a memria
de
uma fazenda
de
caf
com vestgios do que outrora foi uma casa grande. Na parte de trs h alguns
fragmentos do que teria sido uma senzala. Mas a grande surpresa encontrar
neste mesmo espao ossadas e conchas encontradas numa escavao deixando
visvel a memria dos sambaquieiros povos antigos que viveram
no
Brasil antes
dos tupi. A memria assim. No tem fim. Por debaixo de uma camada tem outra
e outra e outra e mais outra. Memrias que
nem
sempre se encontram
ou se
combinam. Memrias que por vezes
se
contrastam
se
enfrentam
se
contradizem.
O territrio das memrias no
um
territrio apaziguado pelo contrrio constitui
um
campo
de
disputas e tenses. No tudo que fica. Fazer uma etnografia dos
percursos
no
campo dos museus e do patrimnio pode ser uma contribuio da
Antropologia para o encontro com uma pluralidade
de
sentidos e significados que
possibilite menos uma monumentalizao
do
passado e mais uma humanizao
das memrias. uma boa aposta.
E seguindo nosso percurso sobre
os
museus do estado
do Rio de
Janeiro
encontramos tambm memrias que operam como contra-memrias. Museus que
longe de narrar histrias glamorosas valorizam o esforo
de
populaes pobres
em
construir suas trajetrias. Museus construdos
em
favelas
ou em
comunidades
carentes. Museus
com
baixssimo recurso e muita simplicidade mas tambm muito
eficazes
no
empreendimento
de
expressar histrias nunca antes relatadas.
Quais os significados destes espaos
de
memria? Quais
as
novidades
que eles trazem? Tenho a impresso de que estas experincias esto trazendo
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formas de empoderamento social e de uma nova apropriao dos sentidos do
espao, transformando territrios lisos
em
paisagens rugosas, iluminando o que
antes era opaco e invisvel. So museus recm-criados
em
regies de baixo IDH,
regies perifricas e estigmatizadas de espaos urbanos. Um destes museus que
encontramos na pesquisa chama-se museu vivo do So Bento .
Foi
criado num
local degradado da regio metropolitana do
rio
de janeiro: o municpio de Duque de
Caxias conhecido no imaginrio do carioca e do fluminense como local de grupos de
extermnio, milcias, aliado
ao
fato de abrigar o maior lixo da regio - o aterro de
Gramacho - e ainda uma refinaria de petrleo, tudo contribuindo para a degradao
da qualidade de vida dos moradores. Os moradores destas paragens ridas da
regio metropolitana do Rio de Janeiro frequentemente internalizam
um
sentimento
de baixa auto-estima associando-se a
um
lugar perifrico e relacionando-se de forma
negativa com o espao onde vivem. Suas aspiraes incluem a busca por uma porta
de sada deste lugar e o acesso a outros espaos valorizados socialmente. neste
contexto que a iniciativa de alguns indivduos, militantes da memria e do patrimnio
locais,
me
parece significativa.
o
procurar recuperar ainda que idealmente uma
histria local, onde um passado mais digno acionado, este grupo articula-se num
esforo de re-existncia, alterando a rota de
um
destino aparentemente letal. Os
sujeitos desta nova narrativa de esperana para o bairro de So Bento em Duque de
Caxias so professores do ensino mdio, a maior parte de Histria.
Estas iniciativas de patrimonializao e musealizao inscrevem-se em
novas construes de percepes espaciais e de ressignificaes de paisagens
visando a dignidade social num espao socialmente degradado. Outra experincia
nesta direo o museu da Mar construdo no complexo de favelas da Mar no
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Museografia e Arquitetura de Museus
Rio de Janeiro. Assim como o Museu Vivo do So Bento partiu da experincia
de
jovens moradores do morro
do
Timbau que conseguiram chegar
Universidade
e que fizeram deste acesso
um
caminho de volta para potencializar a prpria
comunidade onde nasceram e
se
criaram.
A etnografia dos percursos tem nos conduzido a mundos jamais imaginados
mundos que se situam na fronteira entre temporalidades muito distintas que
ao se mesclarem ressignificam
s
experincias de vida e as percepes da
paisagem. Nossos narradores
ou
guias de museus so intermedirios
em
nossos
objetivos de restaurar elos perdidos vnculos que se romperam entre
s
muitas
histrias que
se
superpuseram no contexto do Rio de Janeiro. Alguns como os
narradores do Museu Vivo do So Bento e do Museu da Mar so agentes do
que Andreas Huyssen chama de rememorao produtiva que podemos tambm
denominar de rememorao prepositiva onde escrevendo a histria de
um
modo
novo os agentes sociais possam garantir
um
futuro de memria. O museu vivo
do So Bento e o museu da Mar associam-se claramente
expanso e
o
fortalecimento
de
esferas pblicas da sociedade civil onde me parece crucial
esta ocupao da cidade pelos seus mais diversos cidados. exatamente por
meio de uma proposta de novas percepes de paisagens j to sucateadas que
se torna possvel acalentar
um
fio de esperana no porvir. E este fio de esperana
ancora-se na alteridade produzida por imagens esquecidas de
um
passado pleno
de dignidade. E isto
se
d justamente porque este passado antes
de
se fundar na
nostalgia pelo contrario anuncia a potncia de novos agenciamentos.
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Regina Abreu
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Museografia e Arquitetura de Museus
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Huyssen Andreas. Seduzidos pela memria RJ
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Aeroplano 2000 pg. 33
Regina breu
Antroploga, professora adjunta do Programa de Ps-Graduao
em
Memria
Social da Escola de Museo/ogia da UNIR/O. lder do Grupo de Pesquisa
Memria, Cultura Patrimnio cadastrado no CNPq. autora de ensaios e livros
sobre museus e patrimnios, entre os quais o livro Memria e Patrimnio: Ensaios
Contemporneos,
RJ
editora Lamparina, 2008.
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