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Ler Portugal no Século XIX ... - Luna Ler Portugal no Século XIX: Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós. Prof. Dr. Jayro Luna (Jairo Nogueira Luna ) – UPE Resumo: Neste artigo se busca comentar acerca dos principais escritores de romances em Portugal do Século XIX. Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco representando cada um, uma vertente narrativa do Romantismo, ao passo que Eça de Queirós, realista, nos apresenta uma quarta possibilidade narrativa. Os aspectos históricos, sociais e culturais de Portugal estão presentes em cada um dos romancistas citados, porém, com especificidades no tratamento que dão aos mesmos aspectos. Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós. Abstract: In this article we seek comment on the main writers of novels of the nineteenth century in Portugal. Almeida Garrett, Alexandre Herculano and Camilo Castelo Branco each representing one of Romanticism narrative aspect, while Eca de Queiroz, realistic, presents us with a fourth possibility narrative. The historical, social and cultural features of Portugal are present in each of their novelists, however, with specific in their treatment of the same features. Keywords: Portuguese literature, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Eca de Queiroz. 1. Introdução O Século XIX em Portugal é um século que muitas transformações políticas, sociais,econômicas e culturais em Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 55

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Page 1: Ler Portugal no Século XIX: Almeida Garrett, Alexandre ... · Sant’Ana”, O Arco de Sant’Ana de Almeida Garrett. Rio de Janeiro, Ediouro, 1966, p. 17) 2. 2. Do Volume II:

Ler Portugal no Século XIX ... - Luna

Ler Portugal no Século XIX: Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós.

Prof. Dr. Jayro Luna (Jairo Nogueira Luna ) – UPE Resumo: Neste artigo se busca comentar acerca dos principais escritores de romances em Portugal do Século XIX. Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco representando cada um, uma vertente narrativa do Romantismo, ao passo que Eça de Queirós, realista, nos apresenta uma quarta possibilidade narrativa. Os aspectos históricos, sociais e culturais de Portugal estão presentes em cada um dos romancistas citados, porém, com especificidades no tratamento que dão aos mesmos aspectos. Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós. Abstract: In this article we seek comment on the main writers of novels of the nineteenth century in Portugal. Almeida Garrett, Alexandre Herculano and Camilo Castelo Branco each representing one of Romanticism narrative aspect, while Eca de Queiroz, realistic, presents us with a fourth possibility narrative. The historical, social and cultural features of Portugal are present in each of their novelists, however, with specific in their treatment of the same features. Keywords: Portuguese literature, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Eca de Queiroz. 1. Introdução

O Século XIX em Portugal é um século que muitas

transformações políticas, sociais,econômicas e culturais em

Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 55

Page 2: Ler Portugal no Século XIX: Almeida Garrett, Alexandre ... · Sant’Ana”, O Arco de Sant’Ana de Almeida Garrett. Rio de Janeiro, Ediouro, 1966, p. 17) 2. 2. Do Volume II:

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Portugal. No âmbito da Literatura compreende a passagem do

Neoclássico para o Romantismo, e na sua segunda metade,

notadamente a partir da década de 70, é o momento em que se

apresenta a escola Realista.

Não falaremos nessa aula das características peculiares de

cada escola, mas destacaremos quatro escritores, três românticos

e um realista, que produziram um conjunto de obras em que o

tema a se destacar é a visão que tinham desse Portugal em

transformação.

No início do século, Portugal, como toda a Europa, sofreu

os efeitos do período Napoleônico, a ida da família real para o

Brasil, muito mais que uma fuga apressada, foi a transposição

para a colônia de toda a corte portuguesa, inclusive, com a ajuda

de vários navios ingleses. O reino unido de Brasil e Portugal, com

capital no Rio de Janeiro, que perdurou até 1815, quando da

queda de Napoleão em Waterloo, foi o ponto inicial que marca o

processo de separação da sua principal colônia do domínio da

metrópole portuguesa. A solicitação da volta do príncipe Dom

Pedro para Lisboa e a recusa deste, levando ao processo de

independência do Brasil, causou em Portugal profundas

transformações econômicas que se somaram ao período caótico

da dominação francesa. Portugal entra assim no chamado período

romântico em grande crise de identidade e com um sentimento de

desesperança quanto ao futuro do império lusitano. O sistema Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 56

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sócio-econômico baseado na simples exploração das riquezas

coloniais estava em franca decadência, e as colônias africanas

restantes, além duns parcos territórios na Ásia não poderiam

sustentar as necessidades da aristocracia lusitana, num país que

deixava passar o período de industrialização na Europa

praticamente em branco.

2. Almeida Garret

É nesse panorama que Almeida Garret vai se destacar

como o autor que apresenta obras cujo tema é a discussão acerca

da identidade da nação portuguesa e da busca dessa identidade na

análise dum passado tido glorioso e do entendimento das causas

da perda dessa grandiosidade.

Assim é que costuma-se destacar duas obras, o drama em

três atos, Frei Luís de Sousa e o romance Viagens na Minha

Terra.

No primeiro, o passado de Portugal parece ser uma

espécie de fantasma que a todo momento ameaça ruir a frágil

estrutura do presente, principalmente na figura de Dom João de

Portugal. O mito sebastianista também vai sendo apresentado na

obra, na contextualização dos momentos posteriores à batalha

Alcácer Qibir e na eminência do domínio espanhol.

O casamento em segundas núpcias de Madalena e Manuel

Coutinho, e a filha do casal, Maria de Noronha, constroem assim Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 57

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uma família cuja base está no desaparecimento de D. João de

Portugal. Este, análogo ao mito sebastianista, retornará para

ocupar o seu lugar, fazendo com que os amantes resolvam adotar

o hábito religioso como forma de expiação e a filha que morre

diante da situação trágica de destruição de sua família. Espécie de

metáfora de um Portugal que ao tempo de Almeida Garrett parece

desacreditar na possibilidade de recuperação de seu passado.

Em Viagens na Minha Terra, romance cuja estrutura de

capítulos e a forma como se conecta a parte ficcional com a

narrativa romanceada da viagem executada por Garrett e amigos

de Lisboa ao interior de Portugal, passando por monumentos e

paisagens históricas de Portugal, dão à obra um aspecto de

romance de invenção, de experimentalismo.

O drama inserido – a parte ficcional, digamos assim – gira

em torno do romance de Joaninha e Carlos. Essa espécie de bom

vivant e conquistador, que se vê dividido entre o amor de

Joaninha, os amores ingleses e a luta na revolução portuguesa

(1828-1834), tendo como causa a disputa da coroa portuguesa

entre os dois filhos de Dom João VI, Dom Pedro (I do Brasil e IV

de Portugal) e Dom Miguel, que culminou com o regresso de

Dona Maria II ao trono – conforme era a intenção dos liberais de

Pedro IV, e o exílio de Miguel na Alemanha. O auxílio dos

ingleses foi fundamental para a vitória de Pedro.

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Dom Dinis, é o personagem nessa obra que tem um

passado a esconder, qual seja, o de ser o pai de Carlos. A

revelação da origem de Carlos é também a revelação do passado

esquecido de Portugal. È o encontro com sua verdadeira origem e

as viagens de Carlos à Inglaterra representam também o modo

como Portugal se associava ao império britânico, tornando-se,

nesse sentido, dependente dos ingleses para solução de seus

problemas internos.

Por outro lado, os capítulos em que Garrett faz a narrativa

da viagem que efetivamente fizera pelo interior de Portugal, em

companhia de amigos, vão se compondo com a descrição de

monumentos e cenários da história de Portugal, recuperando aqui

e ali, elementos – não raras vezes – lendários e heróicos, como o

túmulo de Pedro Álvares Cabral, a história de Santa Iria, a

descrição de Santarém.

Viagens na Minha Terra fornece por meio das personagens

do drama amoroso uma visão simbólica de Portugal em que se

busca dialogar acerca das causas da decadência do império

português. Assim, o instável Carlos, que não consegue decidir-se

acerca das suas relações amorosas, é o personagem que podemos

ligar às características biográficas do próprio autor. Georgina, a

namorada inglesa de Carlos, apresenta-nos uma visão de

ingenuidade e altruísmo como caracteres de uma mulher

estrangeira que acaba por não querer envolver-se por questões Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 59

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sentimentais ao drama histórico de Portugal, fazendo de sua

reclusão religiosa a justificativa para não participar dos dilemas e

conflitos históricos que motivaram sua decepção amorosa. É a

fleugma britânica. Joaninha, a amada de Carlos, singela e terna,

nascida e vivendo no vale de Santarém, a “menina dos rouxinóis”

simboliza uma visão ingênua de Portugal, quase folclórica, que

não se sustenta diante das condições históricas. A velha cega

Francisca, avó de Joaninha, mostra-nos a imprudência e a falta de

planejamento com que Portugal se colocava no governo dos

liberalistas, levando a nação à decadência. Por fim, Frei Dinis é a

própria tradição calcada num passado histórico glorioso, que no

entanto, não é mais capaz de justificar-se sem uma revisão de

valores e de perspectivas. O final do drama, que culmina na

morte de Joaninha e na fuga de Carlos para tornar-se barão,

representa a própria crise de valores em que o apego à

materialidade e ao imediatismo acaba por fechar um ciclo de

mutações de caráter duvidoso e instável.

2.1. O Arco de Sant’Anna – volume I

Uma outra obra, que não é muito lembrada na questão de

como Garrett analisa Portugal, é O Arco de Sant’Anna. Romance

publicado em dois volumes, com um espaçamento de mais de dez

anos entre a publicação do primeiro e do segundo volume. Haja

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vista que poucos têm sido os leitores atualmente desse romance,

resolvo aqui fazer um breve resumo do enredo da obra:

Do Volume I (por Oliveira Marreca): “É no Porto. Reina D. Pedro Cru. É senhor temporal e espiritual do burgo o bispo D. Egídio (se a crônica lhe acerta com o nome). E este bispo, esquecido de sua esposa em Cristo, gosta de mulheres casadas, e das solteiras também. Aninhas, uma rapariga que mora no Arco de Sant’Ana, e tem ausente o marido, é requestada por ordem do prelado por Pero Cão, o mordomo ostensivo e mercúrio secreto de sua reverendíssima. Resiste; e como resiste, numa noite é raptada. Uma vizinha e amiga sua íntima, ao levantar-se de manhã seguinte, descobre o rapto, e, atinando com a origem dele, fez amotinar o povo. O povo amotinado corre em tumultos aos paços episcopais, vociferando palavras de indignação. O Bispo, paramentado para sair na procissão de S. Marcos, apresenta-se ao torpel dos populares com aspecto composto e imperturbável. Estes titubeiam. Mas depois de uns tropos momentâneos, renasce mais tremenda a sua irritação. Aparece então Paio Guterres, um clérigo muito benquisto e respeitado, e à sua voz persuasiva é dissipado o tumulto.

Contudo o rapto não ficara por vingar; por que se o grande reparador não se mostra ainda, já se adivinha. El Rei já está nas vizinhanças do Porto; vem punir o atentado do Bispo, por aviso que lhe deram. Levou-lho a instigações da amiga de Aninhas, um D. Vasco, estudante e (afilhado?) do Bispo. O segundo volume o dirá...”

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(em: Teófilo Braga: “Elaboração do ‘Arco de Sant’Ana”, O Arco de Sant’Ana de Almeida Garrett. Rio de Janeiro, Ediouro, 1966, p. 17)

2. 2. Do Volume II:

Vasco vai conversar com a “bruxa de Gaia”, mulher

marginalizada e temida na cidade do Porto, que só não fora para a

fogueira, como queria o bispo, por intercessão de Paio Guterres

que a defendia das intenções inquisitoriais do bispo. Guiomar, diz

ela se chamar, e conta a Vasco a história de sua vida, que este de

algum tempo a conhecera e sobre ele exercia uma certa proteção.

Conta, em prantos, o seu passado, que era filha de um judeu

muito influente na política local, Abraão Zacuto, que era um

grande físico (alquimista) ombreando com Avicena. Certa feita,

um cavaleiro fora acolhido na casa desse Abraão por estar muito

ferido de uma batalha. Quando já se recuperava, o cavaleiro,

numa noite, aproveitando a ausência de Abraão Zacuto, violenta

sua filha que o cuidara durante toda sua recuperação. Tendo

vergonha de contar o acontecido, a filha foge de casa. Pouco

tempo depois, sem encontrar a filha, Abraão Zacuto e sua mulher

Sara morrem. A filha, que até se chamava Éster é recolhida pela

família de Paio Guterres, que ainda muito jovem, dedica-se a

cuidar da moça até que nasce seu filho. Guiomar, conta para

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Vasco que ela é Éster e que seu filho é ele, Vasco. Vasco

pergunta sobre a identidade de seu pai, esse cavaleiro que

desonrara sua mãe. Guiomar (Éster) nega-se a revelar sua

identidade. Vasco volta para a cidade, onde é nomeado caudilho

da revolta contra o domínio do Bispo pelos populares chefiados

por Rui Vaz sob o Arco de Sant’Ana numa investidura

semelhante à dos cavaleiros medievais, com o toque da espada

sobre a cabeça. Vasco, Rui Vaz e os populares planejam os

passos da revolta e conseguem a aprovação do “Senatus

Populusque” que lhe concede o estandarte da cidade. Enquanto

isso, o Bispo em sua fortaleza episcopal, bem guarnecida, tentava

nos labirintos subterrâneos violentar Aninhas, esta consegue

safar-se no momento derradeiro por intermédio da ajuda de Paio

Guterres. A revolta popular se aproxima da fortaleza, inicia-se

luta acirrada, com muitas mortes. Num momento decisivo,

quando Vasco está prestes a vencer o Bispo, este usando de

artimanhas, consegue um armistício até à meia-noite. Era uma

cilada, para ganhar tempo, e numa rápida manobra recupera o

domínio da situação. Porém, chega para recuperar seu poder, o rei

D. Pedro o Cru, que domina o bispo e retira-lhe do bispado.

Surgem nessa cena final, a mãe de Vasco que revela a identidade

do pai do jovem caudilho, é o próprio bispo; Aninhas que é

ovacionada pelo povo e Gertrudes, a amiga de Aninhas e amada

de Vasco. Vasco pede pela vida do bispo. O Rei poupa a vida do Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 63

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desonesto bispo, mas lança-o ao exílio em Bruges. Vasco e

Gertrudes se casam numa cerimônia sob o arco de Sant’Ana e

Paio Guterres é nomeado o novo bispo que batiza Éster. Pero Cão

surge enforcado numa figueira, ao que parece, num ato final,

imitando o gesto de Judas.

2.3. Comentários ao Arco de Sant’Anna

Em um artigo que publiquei no livro Caderno de

Anotações, fiz um estudo da obra “Almeida Garrett – O Arco de

Sant’Anna: anotações esparsas para uma análise formalista” em

que, entre outras coisas, faço a enumeração das personagens do

romance comparando-as com os elementos que constituem a

bandeira portuguesa do reinado de D. Pedro o Cru, personagem

heróico na obra. De fato, é possível fazer a comparação, ligando

cada personagem a um elemento da bandeira, criando assim uma

analogia, cujo fim é destacar a importância de Dom Pedro para a

solução do impasse que envolvia os personagens principais da

obra, o bispo, Aninhas, Gertrudes, Guiomar e Vasco. E com a

revelação de que o bispo era o pai de Vasco, retoma-se a noção

do passado esquecido que guarda segredos sobre a origem e a

causa de problemas de identidade e de reconhecimento da

nacionalidade portuguesa. Garrett soube assim utilizar a questão

do reconhecimento, característica de romances românticos, como

elemento para a discussão acerca da nacionalidade portuguesa.

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3. Alexandre Herculano – Eurico e as Batalhas Medievais da

resistência à invasão árabe.

Alexandre Herculano, escritor cuja formação de

historiador, permitiu que construísse obras em que o elemento

histórico se sobressaísse, escreveu entre outros, os romances

Eurico, o Presbítero – sua obra mais lida e conhecida – e O

Bobo.

Em Eurico, o Presbítero – Herculano nos apresenta o

contexto histórico da formação dos reinos espanhóis na sua luta

contra o domínio árabe logo após a invasão do reino visigodo.

Eurico, o personagem principal, dividido entre o amor

carnal por Hermengarda, rompido por imposição do pai da

heroína e a carreira religiosa, acaba por se tornar também o

enigmático cavaleiro negro que luta ao lado da resistência nas

Astúrias contra a dominação árabe.

No romance, se destaca a descrição pormenorizada de

duas batalhas. A batalha de Crissus e a de Auseba. Na primeira os

árabes vencem o visigodo Roderico e instalam o domínio árabe

sobre a península ibérica, na segunda inicia-se a reconquista lenta

e paulatina dos territórios pelos nascentes reinos espanhóis, tendo

a frente a liderança de Pelágio. No desenlance da trama do

romance, Eurico – agora revelando sua identidade de cavaleiro Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 65

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negro, salvador de Hermengarda, prisioneira dos árabes, opta

martírio ao se atirar solitário contra as tropas árabes, morrendo,

não sem antes matar dois personagens traidores de Roderico e

que estavam agora ao lado dos invasores.

Em um artigo “O Jogo de xadrez e as batalhas medievais

de Eurico, o Presbítero de Alexandre Herculano”, também

publicado no livro Caderno de Anotações, artigo escrito com base

em apresentação que fiz na SBPC de 2003, faço uma analogia

entre a descrição das duas batalhas e o jogo de xadrez – que é

efetivamente a representação de uma batalha medieval. Podemos

notar na analogia que os personagens envolvidos na descrição das

batalhas na obra de Herculano – quer sejam os históricos quanto

os ficcionais, compõem um panorama que se ajusta efetivamente

a uma partida de xadrez, de tal modo que Eurico, é ao mesmo

tempo duas peças: o bispo e o cavalo. E ao optar pela posição de

cavalo no jogo de xadrez, está em posição que logo após ganhar o

cavalo adversário – que representa o traidor Juliano, encontra-se

diante do bispo adversário Muguite, que o mata, recuperando

assim sua condição de presbítero.

3.1. O Bobo e a Corte Portuguesa

Em “O Bobo”, romance menos conhecido de Herculano, a

história se desenvolve no período da independência do condado

portucalense. Nessa obra ficcional, Herculano consegue nos Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 66

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apresentar toda a trama de corte que envolveu o processo de

independência do condado portucalense dos reinos espanhóis. Ao

colocar, como personagem principal, o bobo da corte, Herculano

vai nos colocando a par de todas as intrigas palacianas, uma vez

que o bobo, por sua condição e natureza, tinha ampla liberdade de

passear pelos corredores, ouvir segredos e inclusive fazer glosa e

anedotas com as condições de cada um.

Ao que nos parece, as referidas obras de Almeida Garrett

e Herculano recuperam elementos da história de Portugal,

discutem o seu processo de formação. Garrett nos parece mais

crítico e mais definido em sua posição política, ao inserir o

sebastianismo como elemento de suas obras e ao mesmo tempo

ao propor a discussão acerca da necessidade de recuperação da

história portuguesa como forma de repensar o presente. Por outro

lado, Herculano, vai apresentando seus conhecimentos da história

da formação de Portugal e da Espanha, e nessa apresentação, vai

busca retirar do olvido a natureza e a identidade da península

ibérica.

A história toda se passa no castelo de Guimarães ou nos

seus arredores. O período é o da independência de Portugal e gira

em torno dos antecedentes e dos acontecimentos da batalha de

Aljubarrota (1136).

A trama se sustenta sobre personagens históricos: D.

Tareja está recebendo em seu castelo a Fernando Peres, conde de Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 67

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Trava, com quem deve contrair matrimônio, porém, o filho, D.

Afonso Henriques é contra a presença de Fernando Peres por

considerá-lo um usurpador e um tirano.

Dom Bibas é um bobo da corte que vive no castelo de

Guimarães. Dulce, uma das sobrinhas de D. Tareja tem uma

paixão secreta por Egas Moniz, cavaleiro pobre que luta ao lado

de Afonso Henriques.

No castelo existe um temor de que se desenrole uma

batalha envolvendo o conde de Trava, que tem a seu dispor

maiores e melhores tropas e Afonso Henriques, que tem o apoio

de uns poucos nobres portugueses.

O Conde de Trava incentiva um jovem cavaleiro, Garcia

Bermudez, a tentar desposar Dulce. Conta-se no castelo que a

paixão do jovem cavaleiro pela moça é notória, porém, a moça

não dá esperanças aos apelos do cavaleiro.

Dom Bibas é repreendido por ouvir conversas entre o

Conde de Trava e o cavaleiro Garcia Bermudez, Dom Bibas,

inclusive, caçoa com seus versos o nobre. O bobo é mandado ser

açoitado e jura vingança. Após esse fato, ficamos sabendo que D.

Bibas conhece uma passagem secreta que dá para fora do castelo

de Guimarães, por meio dela, manda avisar a Afonso Henriques

do que se desenrola no castelo. O Lidador, Gonçalo Mendes de

Maia, está do lado de Afonso Henriques e planeja uma forma de

ajudar o desafiante ao poder do Conde de Trava. Egaz Moniz, Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 68

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que estava com a tropa de Afonso Henriques vindo em direção do

castelo de Guimarães trazendo uma mensagem de paz. Porém, o

Conde de Trava ignora o pedido de paz e prende o emissário.

Dulce ao saber da prisão do amado, consegue falar-lhe, porém,

conta que para que o cavaleiro amado ficasse vivo fora obrigada a

se casar com Garcia Bermudez. Egas Moniz não aceita a

explicação e se considera traído no amor. Dom Bibas faz ver a

Egaz Moniz - este desejoso de vingança - que seria melhor fugir

pela passagem secreta e depois da batalha poderia vingar-se de

Garcia Bermudez.

Não existe propriamente a narração da batalha no

romance. A narrativa retoma já depois de ocorrida a batalha entre

Afonso Henriques e Fernando Peres. Explica-nos o narrador que

a vitória fora de Afonso Henriques e que nessa batalha Egaz

Moniz matara Garcia Bermudez. Dulce, porém, não aprova a

violência daquela morte, por entender que Egaz Moniz se tornara

um homem violento e desejoso de vingança e então a jovem se

mata. Egaz Moniz, depois, retira-se levando vestindo-se com as

roupas de um frade. Dias depois, Egas Moniz aparece morto,

vestido de frade sobre o túmulo de Dulce.

Dom Bibas viverá no castelo de Guimarães na corte de

Afonso Henriques dias de tranqüilidade, uma vez que um dos

grandes trunfos na batalha, fora a entrada secreta pela qual vários

soldados de Afonso Henriques puderam passar. Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 69

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As personagens do drama amoroso (Egas Moniz, Dulce e

Garcia Bermudez) bem como o próprio Dom Bibas são

personagens ficcionais. Um outro personagem que aparece na

história é o jovem cavaleiro Tructesindo, que embora tenha um

papel secundário, será relembrado por Eça de Queirós em A

Ilustre Casa de Ramires. Outro personagem secundário é o Frei

Hilarião, que morre de tanto comer.

4. Camilo Castelo Branco e o romance de folhetim

Camilo Castelo Branco, romancista muito conhecido por

suas novelas de tramas amorosas trágicas como Amor de

Perdição e Amor de Salvação. Em Amor de Perdição, num

contexto de pessimismo romântico, todos os que amam tem final

trágico, inclusive o par Simão e Teresa, num final característico

de melodrama. Em Amor de Salvação, o conformismo se

apresenta como solução para os desencontros amorosos. De certo

modo, nessas novelas, o autor faz a crítica das classes burguesas e

aristocráticas portuguesas que guardavam costumes de natureza

medieval, como os casamentos arranjados, os dotes, a observação

da sujeição da mulher aos princípios e às determinações da

sustentação do clã familiar, a dominação da igreja e a falta de

vocação para a carreira religiosa, além da questão da moralidade

e dos costumes. Muito dessas características podem ser

Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 70

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observadas numa outra obra menos lida, como Eusébio Macário,

em que o padre Justino usufrui da companhia de uma amante,

Felícia, mas que depois de abandonado por ela, encontra outra, a

modista Eufémia. Nessa obra o casamento por interesse também

se apresenta, o casamento de Custódia com Bento, o comendador

e irmão de Felícia.

Num contexto também de crítica dos costumes da

sociedade portuguesa se insere A Brasileira de Prazins, em que a

personagem Marta, tem como um de seus pretendentes o velho

José Feliciano, que chega do Brasil um homem rico.

Em Coração, Cabeça e Estômago, Camilo narra as

peripécias de Silvestre, de como primeiramente guiado pelo

coração ama sete mulheres, depois de como desiludido no amor,

deixa-se guiar pela razão (cabeça) para alcançar sucesso

profissional e político, e por fim, de como acaba por casar-se e

engordar (estômago), morrendo, porém, endividado pelo gosto

que desenvolve pelo jogo.

Por essas críticas que Camilo vai tecendo acerca da

sociedade portuguesa, levanta-se a questão acerca do quanto ele

foi um novelista romântico ou se já se apresenta em sua obra

elementos suficientes para considerá-lo realista. De fato, as

tramas amorosas, os desencontros, as cenas com característica

exagerada no sentimentalismo, são tipicamente românticas, mas

também o modo como vários de seus personagens são Revista Diálogos – N.° 12 – Set. / Out. - 2014 71

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apresentados, representantes de comportamentos caricaturais

encontrados por Camilo na sociedade portuguesa, que aliás, a

vida do autor é já uma complexa novela em que não faltaram

traições, duelos e prisões.

5. Eça de Queirós e a crítica realista

Eça de Queirós, um dos mais lidos autores portugueses e

também dos autores que mais teve obras adaptadas para o cinema

e a televisão.

Realista propriamente, apresenta uma leitura de Portugal,

em que a recuperação da identidade portuguesa se mostra

presente em várias de suas obras.

Em Os Maias, a saga de três gerações do clã familiar vai

nos apresentando o processo de passagem do domínio político da

aristocracia para a burguesia.

Os Maias, publicado em 1888, é a mais acabada realização de

Eça de Queirós. O romance se desenvolve em duas linhas de ação: a

primeira, em torno dos amores incestuosos de Carlos da maia; a

segunda, em torno da vida da alta burguesia lisboeta. A narrativa inicia-se com Pedro da Maia, filho de Afonso da Maia,

educado, conforme enfatiza o narrador, de acordo com padrões

românticos. Pedro da Maia casa-se com Maria Monforte, filha de um

traficante de escravos. Dessa união nascem dois filhos: Maria Eduarda

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e Carlos. O casal se separa logo depois. A menina fica com a mãe, e o

menino com o pai, que se suicida. Educado pelo avô, segundo padrões

britânicos, Carlos da Maia forma-se em Medicina. Como médico, vai

exercendo sua profissão apenas de forma eventual, isto é, por

diletantismo; também na vida seu procedimento é o mesmo, pois, em

decorrência de uma sociedade desprovida de motivações científicas e

culturais, não se fixa em nada. A adesão afetiva do narrado é maior quando fala de João da

Ega, caracterizado como um revolucionário inofensivo. Essa visão

simpática também aparece em outras personagens, como Afonso da

Maia e Craft, modelo da fleuma britânica. Em sentido oposto, o

narrador apresenta Damaso Salcede, pretenso sedutor de mulheres, de

forma sarcástica e ainda Eusebiozinho Silveira, produto da debilidade

moral e física do Romantismo. O filho de Pedro da Maia, após alguns encontros amorosos com

a condessa Gouvarinho, conhece madame Castro Gomes (Maria

Eduarda) e apaixona-se por ela. A amada rompe com Castro Gomes,

com quem não era casada, e vai viver com Carlos da Maia. Considera-

se oficialmente sua “noiva”: ambos aguardam apenas a morte do avô

Afonso para poderem se casar. Entretanto, um jornalista idoso, Joaquim Guimarães, entrega a

João da Ega uma caixa de documentos a ele confiada por Maria

Monforte em Paris, para que ele a encaminhasse a Carlos e à “irmã”.

Carlos julgava que a irmã, como a mãe, estivesse morta há muito

tempo. Ega lê os documentos e, aterrorizado, vai mostrá-los a Carlos:

ele e sua amada, Maria Eduarda, eram irmãos.

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Carlos da Maia, desnorteado, volta a encontrar-se com a irmã,

numa atitude de incesto consciente. Surpreendido com o

reaparecimento da neta, que surgia como amante do irmão, Afonso da

Maia falece. A situação entre os irmãos só é solucionada após o funeral:

Maria Eduarda, com a identidade esclarecida, vai para Paris e lá se

casa; Carlos viaja para a América e o Japão, em companhia de Ega.

Mais tarde, Carlos acaba fixando residência também em Paris, onde alia

a ociosidade ao diletantismo.

A Cidade e as Serras, é um exemplo de obra em que Eça

nos apresenta a oposição entre o progresso urbano e vida simples

do campo, mas ao mesmo tempo, nos mostra a gratuidade do

progresso sem outra preocupação que a ostentação e a moda e o

conhecimento da origem de Portugal. Assim, a volta do

personagem a sua vila de nascimento é também o reencontro de

Portugal com seu passado.

A Ilustre Casa de Ramires vai fundo na discussão do

passado de Portugal, em que o personagem Gonçalo Ramires ao

se dedicar ao estudo de seu antepassado, o cavaleiro Tructesindo,

vai também reaprendendo acerca dos valores que deveriam

determinar a nação portuguesa e assim, o personagem, antes

envolto em problemas aparentemente insolúveis vai aos poucos

resolvendo-os, agora pela influência dos valores apreendidos com

o antepassado.

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Em O Crime do Padre Amaro, Eça de Queirós apresenta-

nos um contexto de desregramento moral da igreja provinciana

em Portugal, bem como discute a questão da vocação religiosa e a

busca de status a partir do prestígio que o clero ostenta na

sociedade portuguesa.

O Primo Basílio, obra que já virou filme, minissérie de

televisão...o drama amoroso dos amantes Luísa e Basílio é

também o desencontro entre o espírito romântico da heroína e o

espírito bom vivant e aproveitador de Basílio. A morte de Luísa e

a tentativa de aproveitar-se indevidamente da situação da

empregada Joana, vai também apresentando ao leitor os conflitos

de classes bem como as questões que envolvem a moral e os

costumes na sociedade de caráter vitoriano em Portugal.

Neste sentido, os quatro autores aqui citados e brevemente

comentados, nos permitem ver um Portugal no século XIX em

que a decadência do império marítimo chega ao ponto de

apresentar elementos que em pouco tempo causarão a queda

monarquia e o início de uma república turbulenta e contraditória.

Referências BRANCO, Camilo Castelo. Amor de Perdição. São Paulo, Ática, 1988. _________. Amor de Perdição. São Paulo, Ática, 1988.

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