física, astronomia, teatro e dança

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  • 11Fsica na Escola, v. 7, n. 1, 2006

    Fsica, Astronomia, Teatro e Dana

    Cincia e Arte

    notrio o fato de como a dico-tomia entre Cincia e Arte, cor-po e alma, entre matria e cons-cincia, entre res extensa e res cogitans ainda o paradigma vigente em todasos campos do conhecimento humano,at mesmo no educacional, o que con-tribui para estigmatizar o ensino, in-clusive dividindo-o nas reas de exatase humanas. Comose no fosse neces-srio, para a reade exatas, o uso daemoo, assim co-mo, para a rea dehumanas, o uso damente e do racio-cnio.

    Muitos traba-lhos, desenvolvidos atualmente bus-cam contrariar este paradigma, egrandes passos tm sido dados. Nessecaminho apresentamos este trabalho,desenvolvido para alunos, tanto doEnsino Fundamental como iniciantesno Ensino Mdio, onde enfatizamosa importncia da relao entre Cinciae Arte. H profundas relaes entreuma e outra que raramente so traba-lhadas, mas deveriam s-lo, pois amaneira como se apresenta o contextocultural atualmente, decorrente danova viso de mundo inaugurada pelafsica moderna, pede que o homemconstrua novas formas de sentir,pensar e agir que possibilitem a cons-truo de novas formas de ensinar eaprender, de maneira a contemplar es-sas relaes.

    Nas palavras de Pujol [1], A cinciafornece a motivao racional, que nutrea intuio esttica e artstica, e a arte

    Silvia Helena Mariano de CarvalhoMestranda em Ensino de CinciasUniversidade de So Pauloe-mail: [email protected].

    oferece instrumentos intuitivos para seapropriar dos conceitos que a Cinciaprope.

    Trabalhar a Cincia sem a Arte oua Arte sem a Cincia desprezar a cria-tividade para inventar um futuromais belo e humano que possibilite amodificao das regras do jogo esta-belecidas pelos detentores do poder. Ofsico e escritor ingls C.P. Snow(1905-1980) afirmava que a separa-

    o entre essas duasculturas, Cincia eArte, dificultava abusca pela soluode graves problemasque afetavam a hu-manidade [2].

    Por esses moti-vos a unio do tea-tro e da dana,

    conhecidas artes do corpo, com a Fsica mais do que bem vinda e justificada,j que permite o dilogo, ou a ponte,entre essas duas reas do conhecimen-to. Tambm achamos importante ainsero do corpo, do movimento nasaulas de Fsica para desfazer a idia deque somente necessrio o uso darazo (mente) nessa Cincia.

    No fazer artstico o corpo pensao espao, o tempo, o sensvel e a emo-o, e o pensamento se amplia porquese torna ao experenciada e nosomente processo racional e mental.As emoes participam da racionali-dade atravs do corpo, possvel, por-tanto, reatar a ligao entre sujeito eobjeto, esprito e matria, qualidade equantidade, sentimento e razo, liber-dade e determinismo, existncia eessncia, corpo e mente.

    Esses contrrios tornam-se com-plementares assim como o so o

    Neste artigo fazemos o relato de um projetodesenvolvido com alunos do Ensino Fundamen-tal, na disciplina Cincias, que teve como pontode partida o carter conceitual e histrico daCincia, geralmente omitido pelo ensino atual.O ponto central do projeto foi uma pea de teatroe atividades paralelas, como a construo de ma-quetes e confeco de cartazes, complementarame ilustraram o tema da pea.Tal atividade permitiu-nos levantar, junto aosalunos, importantes discusses a respeito daproduo cientfica, tais como: a falibilidade etransitoriedade da Cincia, a viso do cientistacomo um homem comum e a finalidade da pro-duo cientfica.O projeto culminou com a apresentao teatrale exposio das atividades. Os resultados foramavaliados atravs da participao dos alunos noprojeto e da anlise de algumas questes levan-tadas em sala de aula. Estes mostraram-se bas-tante satisfatrios levando-nos concluso deque possvel unir Cincia e Arte em prol deuma educao mais dinmica e complementar.

    A maneira como se apre-senta o contexto cultural

    atualmente, decorrente danova viso de mundo inau-gurada pela fsica moderna,pede que o homem construa

    novas formas de sentir,pensar e agir

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    espao e o tempo, as ondas e as part-culas. Essa singularidade favorece aapropriao, o dilogo e a negociao,caractersticas necessrias na constru-o de uma nova organizao social emque devem participar atores diferentesdada a complexidade atual. Por isso, aeducao cientfica de hoje precisa con-templar aquilo que antagnico e com-plementar [1].

    Terra e UniversoAliando essas perspectivas ne-

    cessidade de desenvolver um projetode trabalho na escola, pensamos emescrever uma pea de teatro com lin-guagem simples e divertida, comoponto central do projeto, em que seriapossvel trabalhar, atravs da Histriada Cincia, alguns conceitos de Fsicae Astronomia.

    A pea se desenvolve atravs dodilogo entre um av idoso e seus doisnetos, sentados per-to de um monte deareia. Durante odilogo os persona-gens, que contribu-ram com suas idiase descobertas, seapresentam no pal-co (Pitgoras, Aris-tarco de Samos,Claudio Ptolomeu,Nicolau Coprnico, Tycho Brahe,Johannes Kepler, Galileu Galilei, IsaacNewton e Albert Einstein). Foramabordados os conceitos, geocentrismo,heliocentrismo, leis de Kepler, gravita-o de Newton e as teorias da relativi-dade de Einstein.

    Em determinado momento acon-tece uma coreografia sobre as esta-es do ano. Foi interessante porqueas alunas que apresentaram essadana, sob o som de As Quatro Estaesde Vivaldi, representaram como essasestaes ocorrem na Terra atravs desuas roupas. Por exemplo, a primeiravestia uma cala florida (primavera)e a blusa em tons terra (outono), asegunda vestia, da cintura para baixo,shorts e sandlias (vero) e blusa del (inverno), a terceira vestia, da cin-tura para baixo, roupas em tons terra(outono) e blusa com estampa deflores (primavera) e a quarta, da cin-tura para baixo calas grossas e botas

    (inverno) e blusa de alas (vero).Escolhemos a oitava srie para re-

    presentar a pea porque, alm de esta-rem em uma faixa etria mais apro-priada para assimilar o texto, teriama oportunidade de conhecer a Fsicaatravs desse enfoque, antes do habi-tual apresentado no Ensino Mdio, oque lhes facilitaria o aprendizado,pois, como disse Albert Einstein, Ne-nhum cientista pensa em frmulas. An-tes que o cientista comece a calcular, deveter em seu crebro o desenvolvimento deseus raciocnios. Estes ltimos, na maio-ria dos casos, podem ser expostos compalavras simples. Os clculos e as fr-mulas constituem o passo seguinte.

    Atividades relacionadas aos con-ceitos trabalhados na pea foram rea-lizadas por outras sries e constitu-ram-se, basicamente, na construoe confeco de maquetes e cartazes dosmodelos sobre os quais a pea discor-

    ria. Isso foi feitoporque o projeto daescola se estendia daquinta a stima s-ries do Ensino Fun-damental.

    A quinta sriepesquisou a origemda matria e doUniverso e confec-cionou uma ma-

    quete sobre este assunto com o ttuloNs somos poeira das estrelas.

    A sexta srie montou uma repre-sentao do Sol, da Terra, da Lua edas constelaes do zodaco de manei-ra que fossem demonstradas comoocorrem as estaes do ano e as fasesda Lua. Pesquisou-se a importnciados instrumentos pticos no desen-volvimento da Astronomia e a dife-rena entre esta e a astrologia.

    A stima srie confeccionou carta-zes explicativos dos modelos geocn-trico e heliocntrico, construiu umamaquete do modelo geocntrico dePtolomeu e, o que foi muito interes-sante, uma maquete do pndulo deFoucault, instrumento que possibili-tou a comprovao do movimento derotao da Terra.

    A oitava srie participou tambmda construo de algumas maquetes.Fizeram a representao da Terracomo era vista pelos antigos gregos e

    construram um brinquedo baseadono conceito de centro de gravidade.Aprenderam a construir elipses eclassific-las (excentricidade), diferen-ciando-as das circunferncias.

    Alm desta apresentao uma ou-tra ocorreu em outra escola e em ou-tro momento (2003), desta vez comalunos do primeiro ano do EnsinoMdio.

    Uma Viagem pelos CusCenrio: palco com luzes e pano

    preto, dando a impresso de uma noi-te estrelada, monte de areia em umcanto. Os personagens entram olhan-do para as luzes que representam asestrelas.

    Personagem 1 (neto/a): - Olhaque cu maravilhoso.

    Personagem 2 (neto/a): - mes-mo, d vontade de ficar a noite inteiraadmirando essa beleza.

    Personagem 3 (vov): - Vocs es-to vendo este monte de areia? (P3 pe-ga um punhado de areia nas mos)

    P2: - Estamos sim vov, mas oque isso tem a ver com o cu estrela-do?

    P3: - que este cu estrelado apenas um pedacinho do Universo emque vivemos, cheio de milhes de es-trelas, galxias e planetas, assim comoeste monte de areia contm milharesde grozinhos.

    P1: - Como podemos saber essascoisas sobre o Universo?

    P3: - Atravs de uma cincia quese chama Astronomia, que comeouh muito tempo atrs, quando o ho-mem percebeu que o Sol era fonte decalor, que a Lua ia e vinha em ciclosregulares, que determinadas estrelasapareceriam nas pocas das chuvas,outras no perodo da colheita de suasplantaes e que formavam figurasno cu.

    P2: - Ah! por isso ento quederam nomes s estrelas?

    P3: - sim P2. Acreditavam queeram seus deuses e que o cu era suamorada, lugar perfeito, nada de novoali acontecia.

    P1: - Mas no verdade, locorrem coisas interessantes, no mesmo?

    P3: sim, coisas que s puderamser conhecidas depois que os homens

    Fsica, Astronomia, Teatro e Dana

    Escolhemos a oitava sriepara representar a peaporque, alm de estaremem uma faixa etria mais

    apropriada para assimilar otexto, teriam a oportunidadede conhecer a Fsica atravs

    desse enfoque, antes dohabitual apresentado no

    Ensino Mdio

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    comearam a estudar o cu.P2: - Quando foi isso, P3?P3: - Foi h muito tempo. Os

    povos babilnicos, chineses e egpciostinham grande interesse pelos fen-menos celestes, mas foram os gregos,por volta do sculo VI a.C. que come-aram a estud-lo de forma racional,desvinculado da mitologia.

    P1: - Conta pra ns essa histria.P3: - Bem, comeou praticamente

    com um tal de Pitgoras.

    Entra Pitgoras com um modelode Terra plana (disco grande de vinil -LP) em uma das mos e na outra ummodelo esfrico.

    Pitgoras: - Sabe, na minha poca,praticamente todo mundo pensavaque a Terra era plana, rodeada de abis-mos. Eu avisei pra eles: no bem as-sim, a Terra redonda e que o Uni-verso regido por leis harmoniosas.Poucos acreditaram em mim.

    P3: - Pensavam que a Terra era ocentro do Universo.

    P2: - Mas ela no , no mesmo?P3: Vamos ver. Um tal de Aris-

    tarco de Samos, que viveu na Grciadepois de Pitgoras, teve um palpitefeliz.

    Entra Aristarco carregando ummodelo heliocntrico.

    Aristarco: - Fui o primeiro a falarque o Sol ocupa o centro do Universo,s que meus conterrneos acharamque eu estava biruta. Demorou muitotempo para as pessoas verem que euestava certo.

    P1: - Como puderam ser toestpidos e continuar achando que aTerra estava no centro?

    P3: - Voc imagina que estamosviajando a 108.000 km/h em voltado Sol?

    P2: - Puxa, tudo isso! Parece queestamos parados.

    P3: - Pois , era o que pensavam,viam o Sol passando e achavam queele que se movia. No podemos cha-m-los de estpidos. Alm de no pos-surem instrumentos precisos deobservao, acreditavam no queviam. Imagine daqui a algum temponos chamarem de bobos por acreditar-mos em coisas que achamos que estocompletamente certas hoje. A Cincia

    cheia de novas descobertas que po-dem encontrar falhas nas velhas e atcontradiz-las, por isso no podemosachar que a Cincia chega verdadeabsoluta dos fatos.

    P1: - Vamos, me conta mais destahistria. Quem mais pensava assim?

    P3: - Aristteles, grande filsofogrego e seu amigo Eudoxo bolaramum modelo de Universo cheio de esfe-ras ocas e transparentes com a Terraocupando o lugar central. Essa idiacorreu o mundo por muito tempo porcausa de um livro escrito por CludioPtolomeu, no ano 150 da nossa era.

    Entra Ptolomeu com um livro namo e o modelo geocntrico na outra.

    Ptolomeu: - Oi, sou autor de umlivro chamado O Almagesto. Nestelivro explico direitinho como o Uni-verso com a Terra no centro. Estaobra-prima foi um grande livro de As-tronomia. Todo mundo acreditou nelepor quase 1500 anos, at aparecer umtal de Coprnico e propor um novomodelo de Universo.

    Entra Coprnico com um livro namo e com um modelo heliocntricona outra.

    Coprnico: - No leiam o livro queesse cara escreveu. Comprem o meu,Sobre a Revoluo das Esferas Celestes, mais atualizado. Se eu soubesse queele ia ficar to famoso (mostrando olivro) no teria tanto receio de public-lo.

    P2: - Por qu o medo de falar queo Sol estava no centro do Universo?

    P3: - Porque para as pessoas dapoca, principalmente para a igreja,o homem era a criao mxima deDeus, portanto deveria ocupar ocentro do Universo. Falar o contrrioera blasfemar contra Deus e a Bblia.

    P1: - Ento este livro deve ter cau-sado uma revoluo!

    P3: - Causou mesmo, uma granderevoluo que teve outros colabora-dores.

    P2: - Quem mais?P3: - Tycho Brahe foi um deles.

    Entra Tycho com nariz encapadode papel alumnio.

    Tycho: - Sou um nobre dinamar-qus e ganhei uma ilha de presente

    do rei onde constru um observatrioceleste. Um belo dia, quando voltavapara casa, olhei para o cu e vi umaestrela que nunca havia estado na-quele lugar. Ser possvel?

    - Bem, tinha tanto trabalho emobservar e anotar o que via no cuque precisei de um assistente. Veio umtal de Johannes Kepler. O cara era meiotinhoso, at acreditava que a Terra semovia em torno do Sol, mas fez bomuso de minhas observaes que porsinal eram bem completas.

    - Ah, querem saber o que aconte-ceu com meu nariz? Perdi a ponta emum duelo na poca de estudante.

    Entra Kepler segurando uma fi-gura elptica.

    Kepler: - J ouviram minha fama.Sou realmente um cara esquisito.Tambm pudera, fiquei vivo com ummonte de filhos para cuidar, minhame quase foi queimada na fogueiraporque achavam que ela era bruxa.

    - Bem, vamos ao que interessa.Com as anotaes de Tycho somadass minhas observaes, descobri coi-sas que ningum conhecia. Descobrique a rbita dos planetas no umcirculo perfeito, como se imaginava,mas sim uma elipse (mostra a figuranas suas mos) com o Sol ocupandoum dos focos. Portanto os planetasora passam mais perto do Sol, oramais longe. Quando esto mais afas-tados do Sol andam mais devagar equando mais perto andam maisrpidos.

    Tycho: - Ento por isso que exis-tem as estaes do ano, uma hora oplaneta est mais longe e outra horamais perto do Sol.

    Kepler: - No nada disso, se fosseassim seria inverno na Terra toda, ouvero na Terra toda e no isso o queacontece. Enquanto no hemisfrio Sul vero, no Norte inverno. As esta-es do ano acontecem por causa dainclinao do eixo da Terra.

    Neste momento entra uma coreo-grafia sobre as estaes do ano.

    Kepler: - Voltando s minhas leis,descobri tambm outra coisa: quantomais longe do Sol est o planeta, maislongo o seu ano. Por isso a Terrademora 1 ano para dar a volta em

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    cobertas que contradizem ou achamfalhas nas antigas descobertas?

    P2: Sim, e que por isso a Cinciano pode ser considerada a verdadeabsoluta dos fatos nem responde atodas as questes humanas.

    P3: - Pois , as leis de Newton fo-ram e so as respostas satisfatriaspara muitos fenmenos da natureza,mas a Lei da Gravitao Universal nodava conta de explicar satisfatoria-mente a rbita do planeta Mercrio.

    P2: - Puxa, ento como se explicaesse enrosco?

    P3: - Vamos convidar um caramuito legal, que alm de ser grandecientista, foi um grande ser humano,preocupado com a paz e o respeitoentre os povos, para explicar isso.

    Entra Einstein com um relgiogrande pendurado no pescoo.

    Einstein: - Ol pessoal, vou lhesfalar um pouco sobre minhas desco-bertas. As Leis de Newton explicammuitos bem os fenmenos que acon-tecem aqui na Terra, onde a velocidadedos corpos relativamente pequenase comparada velocidade da luz, jas minhas teorias dizem respeito aomundo do muito pequeno, o mundodo tomo, e tambm ao mundo doque muito grande, tais como as di-menses do Universo e a velocidadeda luz.

    Entra Newton.Newton:- Ol senhor Einstein,

    tenho grande prazer em conhecer pes-soa to ilustre, no tanto quanto eu, lgico. Conta esse negcio direito,eu no estou entendendo.

    Einstein: - Vou lhe contar, Sir IsaacNewton. Nas minhas teorias da rela-tividade, explico que a matria podese transformar em energia e vice-versa (vira o relgio e mostra atrsdeste a famosa equao E = mc2).

    Newton: - Como assim? O senhor louco!

    Einstein: - No Sir, isto aconteceno Sol. L, tomos de hidrognio sefundem, uma parte se transforma nogs hlio e outra se transforma nessaenergia maravilhosa que propicia avida na Terra.

    Newton: - Ah, meu pai! Era s oque me faltava. Fale mais.

    torno do Sol enquanto Jpiter demora11 anos. As leis que regem o Universoso harmoniosas como melodias ce-lestes (Toca a msica de ContatosImediatos).

    P1: - Por que Tycho Brahe se as-sustou ao ver uma estrela que nuncatinha visto no cu?

    P3: - Porque o cu era consideradoa morada de Deus, o lugar da perfei-o, nada mudava.

    P2: - Puxa, deve ter sido uma sur-presa para quem pensava desse jeito...

    P3: - Vocs no viram nada, sur-presa mesmo veio com o famosoGalileu Galilei, na Itlia, em uma po-ca de grande atividade cultural, oRenascimento.

    Entra Galileu segurando uma lu-neta.

    Galileu: - No fui eu quem inven-tou a luneta, mas fui o primeiro quea apontou para o cu para verificar oque realmente acontecia por l. Porisso sou considerado o pai da cinciamoderna. Vi tanta coisa que no davapara acreditar, alis, ningum acredi-tava mesmo. Vi manchas na Lua, noSol, descobri luas em Jpiter e tam-bm que o tal de Coprnico poderiaestar certo, a Terra que gira em tornodo Sol. Mas estas descobertas me cau-saram um problemo com a Igreja dapoca.

    Entra uma menina vestida de lon-go, um crucifixo no peito e um livrorepresentando a Bblia na mo.

    Igreja: - Senhor Galileu, o senhorest falando abominaes contra asSagradas Escrituras.

    Galileu: - No estou! Apenas faloo que vejo e, alm disso, a Bblia mos-tra o caminho para o cu, no oscaminhos que o cu segue e sobreestes que falo.

    Igreja: - Lembre-se que o senhorpoder ser queimado na fogueira porfalar heresias.

    Galileu: - O que? Ser queimadovivo como foi o tal de Giordano Bru-no?

    Igreja: - Ento desminta tudo oque o senhor afirmou.

    Galileu: - T bom, por livre eespontnea presso, eu abjuro, amal-

    dio e deploro todos os erros e here-sias contra a Santa Igreja, e juro queno futuro jamais mencionarei oral-mente ou por escrito qualquer coisaque levante suspeitas semelhantescontra mim.

    P1: - O que aconteceu com ele?P3: - Teve que cumprir uma pena,

    ficar trancafiado dentro de casa e nun-ca mais tocar no assunto at morrer,aos 78 anos, cego de tanto olhar parao Sol com sua luneta.

    P2: - E as pessoas continuaramacreditando que o Sol e os planetasgiravam em torno da Terra?

    P3: - Bem, acho que at hoje temgente que pensa assim, mas no de-morou muito para que a maioria daspessoas mudasse de idia. Curiosa-mente, no ano em que Galileu mor-reu, em 1642, nasceu na InglaterraIsaac Newton.

    Entra Newton jogando uma ma-.

    Newton: - Podem me chamar deSir Isaac Newton. Sou muito vaidoso,tambm pudera, descobri algumas leisque praticamente explicam o funcio-namento do Universo. Desvendei osmistrios que fazem as guas dosoceanos subirem e descerem, a Luaaparecer e desaparecer no cu e os pla-netas orbitarem o Sol. Se vi mais longedo que outros homens, foi porque es-tava sobre ombros de gigantes (vmpara perto de Newton, Kepler, Copr-nico e Galileu).

    - A consagrao de meu nome co-mo um dos maiores cientistas de to-dos os tempos ocorreu em 1846,quando descobriram o planeta Netu-no usando minha Lei da GravitaoUniversal, que diz o seguinte: mat-ria atrai matria, na razo direta dasmassas, na razo inversa do quadradoda distncia.

    - Foi um arraso e a confirmaodo que est escrito em minha lpide:A natureza e suas leis jaziam ocultasna noite. Deus disse: Que Newtonexista! E tudo se fez luz.

    P1: - Nossa, o homem foi gran-dioso mesmo!

    P3: - Foi e , mas voc se lembraquando te falei que na Cincia h des-

    Fsica, Astronomia, Teatro e Dana

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    Einstein: - Ah! Tambm descobrioura coisa. Alm das trs dimensesdo espao, h outra, a do tempo. Porisso o tempo relativo.

    Newton; - O senhor est engana-do, o tempo no relativo, e sim abso-luto.

    Einstein: - Deixe-me explicar.Imagine que o senhor tem um irmogmeo que fica aqui na Terra enquan-to o senhor vai fazer uma excursopelo Universo afora, viajando pr-ximo velocidade da luz que de300.000 km/s.

    Newton: - Como se isso fossepossvel!

    Einstein: - Realmente ainda no, mas vamos l. Quando o senhorretornasse dessa viagem, o senhorpoderia ter uma grande surpresa. Seuirmo, que ficou na Terra, estariamuito mais velho que o senhor por-que o tempo passa mais rpido paraquem est a velocidades normais,estas a que estamos acostumados,mas passa muito lentamente paraquem viaja prximo velocidade daluz.

    Newton: - Cruz credo, o homem tam-tam mesmo, se bem que estariaai a soluo para sermos sempre jo-vens.

    Einstein: Tem mais, companheiro,descobri como se explica melhor agravidade dos planetas.

    Newton: - O que isso, estquerendo me afrontar?

    Einstein: - No, s ajudar.Newton: - Ento fala.Einstein: - Vamos pedir ajuda aos

    nossos ilustres companheiros de ca-minhada, por favor, Coprnico, Keplere Galileu, venham nos ajudar. Segurecada um uma ponta deste lenol.

    - Newton, me empresta tua ma,vou coloc-la no meio do lenol,representando o Sol. Agora prestemateno, quando solto esta pequenabola que representa um planeta qual-quer, reparem que ela circunda a bolamaior porque esta afunda o lenol.

    Galileu: - Bem, o que essa coisatem a ver com a gravidade?

    Einstein: - Pois assim queacontece. Os corpos pesados defor-mam o espao em sua volta, fazendocom que os corpos menores fiquem

    circulando em torno de si, como osplanetas em torno do Sol. No mes-mo Coprnico?

    Coprnico: - isso mesmo, ami-go.

    Einstein: - Pois Sir Newton, mi-nhas descobertas foram um passomuito grande para o avano das mo-dernas tecnologias, mas tambm fo-ram um impulso para a construoda bomba atmica. Por que ser quetemos que usar a Cincia para totristes fins?

    P2: - Eu concordo com Einstein,o homem vezes utiliza a Cincia parafabricar coisas que destroem a vida eo planeta.

    P3: - Isso no deixa de ser verdade,s que no podemos nos esquecer doquanto a Cincia jfez por ns. Atravsda Cincia aprimo-ramos a prevenoe a cura de muitasdoenas, aprende-mos sobre os plane-tas prximos e dis-tantes, sobre a Lua,o Sol, as estrelas eas galxias longnquas. Do ponto devista da Astronomia, a Terra umastro entre todos os astros que po-voam o espao csmico, como se fos-se apenas um grozinho deste montede areia.

    P1: - , mas acontece que a Terra nosso lugar, e isso a faz especial parans. Devemos cuidar desse grozinho,pois para onde iremos se destruirmosa nossa morada?

    Segundas intenesCom este tipo de atividade inten-

    cionamos tambm apresentar aosalunos alguns aspectos inerentes produo cientfica.

    Evidenciamos a dificuldade deexpor novas idias, teorias ou modelosna pessoa de Aristarco, de Coprnico(na relutncia para publicar seu livro),e de Galileu (seu problema com a igre-ja), realando que no fcil fazerCincia, j que os fatores histricos,filosficos e sociais esto sempre pre-sentes na sua edificao. ConformeCarvalho [3] , O desenvolvimentohistrico nos faz compreender os racio-

    Fsica, Astronomia, Teatro e Dana

    cnios elaborados em cada etapa do pro-cesso de desenvolvimento de um conceitoe as dificuldades encontradas peloscientistas que, s vezes, levaram anos eanos para super-las.

    Em alguns episdios destacamoso carter humano da construo cien-tfica, por exemplo, a grandiosidade ea coragem de Newton, a reao de Ga-lileu, que negou suas afirmaes parase livrar de uma condenao, como ade Bruno. Questionamos os alunos seno fariam o mesmo no lugar destescientistas. No so eles como ns?

    Esperamos assim que os alunospossam perceber uma poro gene-rosa de falhas que permeiam a Cinciaassim como os cientistas, desmasca-rando a viso da Cincia perfeita e ada figura do cientista sobre-humano.

    Achamos impor-tante frisar que noexistiria Cincia semo homem para rea-liz-la e, como ofazer humanono perfeito, valeressaltar que sendoa Cincia frutodesse fazer, tambm

    passvel de imperfeies e de certasinfluncias.

    Trabalhamos a transitoriedade daCincia ao mostrar que os modelosvo sendo modificados ao longo dotempo, como foi o caso do modeloheliocntrico em substituio ao geo-cntrico e pretendemos deixar claroque o que sabemos hoje, pode no tero mesmo significado amanh, por-tanto, considerar a Cincia como adona absoluta da verdade igno-rncia.

    Tambm procuramos mostrar queexiste uma relao entre Cincia eTecnologia ao citar que atravs da lu-neta Galileu pde observar muitascoisas que antes no podiam ser obser-vadas e, finalmente, quando Einsteinlamenta o uso da Cincia para a des-truio e um personagem (o av) mos-tra que no s para fins obscuros quea Cincia trabalha, levantamos a pol-mica a respeito dos fins para os quais aproduo cientfica se destina.

    Acreditamos que esse aspecto importante, pois necessrio desper-tar a conscincia do aluno para o uso

    Evidenciamos a dificuldadede expor novas idias,

    teorias ou modelos,realando que no fcilfazer Cincia, j que os

    fatores histricos, filosficose sociais esto sempre

    presentes na sua edificao

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    Referncias[1] Rosa Pujol, Alambique 3232323232, 15 (2002).[2] C.P. Snow, The Two Cultures (Cambrid-

    ge University Press, Cambridge,1993).

    [3] Anna Maria P. Carvalho, Fsica: Pro-posta para um Ensino Construtivista(Editora Pedaggica e UniversitriaLtda, So Paulo, 1989).

    Fsica, Astronomia, Teatro e Dana

    As leis de NewtonCursos introdutrios sobre foras e movimento circular podem ser encontrados em vrios stios. Alguns tutoriais

    so bastante teis, apresentando vrias questes para o aluno treinar seus conhecimentos. Dentre eles citamos:http://www.physics.uoguelph.ca/tutorials/fbd/FBD.htm, para discutir diagrama de foras.http://www.fisica.ufpb.br/prolicen/Cursos/Curso1/ln51int.html

    No stio http://ffden-2.phys.uaf.edu/211.fall2000.web.projects/Vlad%20Paverman/forces.htm as leis de Newtonso analisadas no esporte de queda livre e salto de pra-quedas. Uma pequena animao de como o pra-quedas funciona apresentada de forma bastante clara.

    Em http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/carcr.html h uma discusso sobre coliso de automveis, a foranecessria para parar um carro e os efeitos de uma coliso.

    http://www.hesston.edu/academic/faculty/nelsonk/PhysicsResearch/Ski/matts_page.htm uma pgina voltadapara o Ensino Mdio. Discute a Fsica envolvida no ato de esquiar e como o esqui funciona. Muito bem feito e de fcilcompreenso.

    ambguo dos conhecimentos que aCincia proporciona, que tanto podelevar ao caminho do desenvolvimentocomo tambm le-var ao caminho in-verso, do atraso, dadiscriminao e dadestruio. Levar oaluno a pensar nautilizao racional etica da Cincia, ponto importanteda educao cientfica e essencial nosdias de hoje.

    ConclusoPodemos dizer que a pea obteve

    o sucesso esperado, pois os alunos seempenharam bastante e demonstra-ram grande interesse em todas as eta-pas envolvidas, desde a confeco docenrio e do vesturio dos persona-gens at o momento da apresentao.

    Atravs de questes e debates, reali-zados na sala de aula, avaliamos quecompreenderam os conceitos traba-

    lhados, assim comopassaram a enten-der alguns aspectosda produo cient-fica.

    Atravs dessaobra, que contou

    um pouco da histria da Fsica e daAstronomia, procuramos mostrarque no devemos fechar nossas men-tes para essa Cincia devido ao pr-conceito de que ela difcil. A Fsicano s feita de frmulas, no smatemtica. Ela pensamento, ra-ciocnio, divagao e imaginao.

    No temos que v-la apenas porum ngulo, h muitos outros pelosquais devemos conhec-la. Afinal, VanGogh viu o cu de uma maneira,

    Shakeaspeare de outra e Galileu comsua luneta inaugurou o que veramosatravs da Cincia. Todas so belas,cada uma a seu modo. Da a impor-tncia da criatividade e da ousadiapara o ensino da Fsica.

    importante que possamos en-xergar esta Cincia com outros olhos,ressaltando-lhe no apenas o aspectoconceitual e formal, mas tambm oseu carter cultural, afinal, como disseo prof. Joo Zanetic, Fsica tambm cultura .

    A Fsica no s feita defrmulas, no s matem-

    tica. Ela pensamento,raciocnio, divagao e

    imaginao