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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE ZERO A SEIS ANOS Por: Andréia Campos Pinto Simonetti Orientadora: Profª. Maria Poppe Rio de Janeiro 2010 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA O

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE ZERO A SEIS ANOS

Por: Andréia Campos Pinto Simonetti

Orientadora: Profª. Maria Poppe

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA O

DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE ZERO A SEIS ANOS

Monografia apresentada à

Universidade Candido Mendes como

requisito para a conclusão do curso de

pós-graduação “lato sensu” em

Educação Infantil e Desenvolvimento.

Por: Andréia Campos Pinto Simonetti

Orientadora: Profª. Maria Poppe

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DEDICATÓRIA

Dedico o presente trabalho a todos os

profissionais da educação que, assim

como eu, enfrentam os obstáculos diários

desta árdua jornada e para superá-los

dedicam seu tempo à pesquisa e ao

estudo, buscando um mundo maravilhoso,

melhor e justo para todos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por sempre me mostrar que posso

chegar onde quiser.

A minha família em especial ao meu

esposo, pela força, apoio e compreensão.

A todos que, de alguma forma,

contribuíram para o meu êxito

profissional.

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EPÍGRAFE

“Ah, como é importante para a formação

de qualquer criança ouvir muitas, muitas

histórias... Escutá-las é o início da

aprendizagem para ser um leitor, e ser

leitor é ter um caminho absolutamente

infinito de descoberta e de compreensão

do mundo”...

Fanny Abramovich

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RESUMO

Desde que surgiu, a literatura infantil e a escola estão entrelaçadas. A

literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação,

emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa, é uma das formas

mais atrativas, quando bem trabalhada, para a formação de novos leitores. O

gostar de ler é muito mais que uma descoberta, e para tal, tanto os pais como

os professores e a sociedade têm a grande responsabilidade de oportunizar ao

educando esta prática de forma lúdica e prazerosa. Esta monografia propõe

mostrar a importância da literatura infantil para o desenvolvimento social,

emocional e cognitivo da criança nos primeiros seis anos de vida, mostra

também a dificuldade por legitimar o gênero e as peculiaridades da literatura

para criança. O material para análise fez uso de uma pesquisa exploratória,

usando técnicas bibliográficas. O referencial teórico desta pesquisa centra-se

nos autores que apresentam a preocupação em tornar a leitura em descoberta

e prazer, entre alguns podemos citar: ABRAMOVICH (1997), LAJOLO (2001),

ZILBERMAN (2003), OLIVEIRA (1968, 1991), BETTELHEIM (2003), COELHO

(1997), CUNHA (2003). Esta pesquisa também se embasou em artigos e

ensaios retirados da Internet. Como fonte de prazer e sabedoria, a leitura não

esgota seu poder de sedução nos limitados círculos escolares, a leitura do

mundo se estende à medida em que vivemos.

Palavras-chave: literatura infantil, criança, leitura.

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METODOLOGIA

O material para análise desta pesquisa foi retirado de uma pesquisa

bibliográfica de autores conceituados, como CUNHA (2003), LAJOLO (2003),

ZILBERMAN (2003), BETTEHLHEIM (2003), ABRAMOVICH (1997), WALLON

(1934), COELHO (2002), entre outros, que têm em comum idéias relacionadas

à literatura infantil.

Tais autores levam a uma percepção e reflexão acerca da literatura

infantil, enquanto formação e prazer, além de orientarem e ampliarem

conhecimentos e experiências. Com base nas leituras, foram destacados

alguns tópicos relevantes sobre a literatura infantil, bem como seus aspectos,

características e funções.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................8

CAPÍTULO I.......................................................................................................11 PRECEDENTES HISTÓRICOS.........................................................................11 1.1 - Contextualizando a literatura infantil..........................................................13

1.2 - O Caráter Pedagógico na Literatura Infantil..............................................14

CAPÍTULO II......................................................................................................16

O DESENVOLVIMENTO INFANTIL.................................................................16

2.1 – Os estágios psicológicos da criança e a literatura....................................19 CAPÍTULO III.....................................................................................................21 OS PRIMEIROS CONTADORES DE HISTÓRIA: A MÃE, DEPOIS O

PROFESSOR....................................................................................................21

3.1 - Conseqüência e Resultado da leitura.......................................................23

3.2 - As Histórias Infantis Auxiliando na Formação dos Valores.......................26

CONCLUSÃO....................................................................................................29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................31

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INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico tem como tema a importância da literatura

infantil para o desenvolvimento da criança. Visando verificar sua contribuição para o desenvolvimento social, emocional e cognitivo, reconhecendo sua

importância e incentivando a formação do hábito de leitura na infância. Neste

sentido, a literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a

imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa.

Esta pesquisa visa enfocar toda a importância que a literatura infantil

possui, ou seja, que ela é fundamental para a aquisição de conhecimentos,

recreação, informação e interação necessários ao ato de ler.

A literatura infantil é uma das formas mais atrativas, quando bem

trabalhada, para a formação de novos leitores. O gostar de ler é muito mais

que uma descoberta, e para tal, tanto os Pais como os professores e a

sociedade têm a grande responsabilidade de oportunizar ao educando esta

prática de forma lúdica e prazerosa, para que esta atividade não seja

distorcida, transformando o momento de leitura em uma atividade de tortura.

É importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas

histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e

ser um leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e

de compreensão do mundo. (ABRAMOVICH, 1991, p. 16).

Sintetizando o pensamento de Abramovich, acima citado, a leitura é o

caminho para formar cidadãos críticos, reflexivos e criativos. Desta forma, a

leitura da obra literária infantil quando é oportunizada, estimulada e incentivada

na forma de exemplos, é uma real ferramenta para fazer com que os pequenos

leitores repensem em suas ações e conflitos, servem para temas de

discussões na forma de debates ou em conversas informais, até mesmo nas

rotineiras rodinhas de início de aula.

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Para que uma estória realmente prenda a atenção da criança, esta

deve entretê-la e despertar sua curiosidade. Mas para enriquecer sua

vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu

intelecto e a tornar claras suas emoções; estar harmonizada com

suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas

dificuldades e, ao mesmo tempo sugerir soluções para os problemas

que a perturbam. (BETTELHEIM, 2003, p. 13).

As atividades relacionadas com a literatura infantil nas escolas deveriam

estar relacionadas diretamente ao prazer. A promoção da leitura deve

acontecer como meio de despertar no aluno a oportunidade de conhecer

pessoas, lugares, acontecimentos, situações diversas, de viver aventuras,

descobrir-se como rei, príncipe ou super-herói, ou simplesmente como forma

da aquisição de um novo conhecimento. O prazer em ler deve despertar nos

leitores um mundo maravilhosamente fantástico cheio de mistérios que o levem

à vontade de ter sempre bons livros como companhia.

Quero salientar que o principal objetivo desta pesquisa é verificar a

importância da literatura infantil para o desenvolvimento social, emocional e

cognitivo da criança de zero a seis anos de idade. Pesquisando sobre a

literatura infantil e os estágios psicológicos da criança, analisando a história da

literatura infantil e suas características e apresentando sua importância na

escola.

Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante,

que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida

inteira. A criança que houve histórias desde cedo, que tem contato direto com

livros e que seja estimulada, terá um desenvolvimento favorável, bem como a

prontidão para a leitura.

Os assuntos tratados nesta pesquisa são pertinentes à literatura infantil.

O primeiro capítulo trata a origem da literatura infantil e o teor pedagógico dos

livros para crianças. O assunto abordado no segundo capítulo é o

desenvolvimento da criança de zero a seis anos de idade, com argumentos das

etapas e períodos do desenvolvimento infantil. E, por fim, será examinada a

participação do adulto e sua contribuição ou ausência nas práticas de leituras

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feitas pela criança, quer seja no âmbito familiar ou escolar. Também serão

abordadas as funções básicas da literatura infantil como fonte de

entretenimento, como auxiliar nas questões existenciais e como o primeiro

contato com textos literários através das narrativas orais, que serão a porta de

entrada para se concretizar o gosto e a efetivação da leitura.

Sei que esta proposição por ser tão complexa não se esgota neste

trabalho, mas é uma fonte de pesquisa para profissionais da área e

interessados no assunto.

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CAPÍTULO I

PRECEDENTES HISTÓRICOS

A literatura infantil teve sua origem na Europa, no século XVIII, quando

os primeiros textos exclusivamente escritos para crianças surgiram. Segundo

Lajolo e Zilberman (2003), a literatura infantil começa a delinear-se às vésperas

do século XVIII com o acadêmico francês Perrault, que em 1697 estreou esta

modalidade discursiva com o livro Contos da Mamãe Gansa; esta obra foi

destinada ao rei da França, que na época ainda era uma criança.

Perrault era uma figura importante nos meios intelectuais franceses e

escrever uma obra com elementos popularescos e de tradição oral,

representava fazer uma concessão a que ele não podia se permitir, por isso a

autoria deste livro foi atribuída a seu filho mais novo. Desta forma, desde seu

início a literatura infantil deixa evidente o caráter ambivalente do gênero.

Para Cunha (2003), antes de a literatura infantil ter seu início no século

XVIII com Perrault, não haveria propriamente uma infância no sentido que

conhecemos. As crianças eram vistas como adultos em miniatura e

participavam, desde a mais tenra idade, da vida adulta. Não havendo livros,

nem histórias dirigidas especificamente a elas, não existiria nada que pudesse

ser chamado de literatura infantil.

A história da literatura infantil tem relativamente poucos capítulos.

Começa a delinear-se no início do século XVIII, quando a criança

passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com

necessidades e características próprias, pelo que se deveria

distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação

especial, que a preparasse para a vida adulta.

Antes disso, a criança, acompanhando a vida social do adulto,

participava também de sua literatura. (CUNHA, 2003, p. 22)

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Segundo Lajolo e Zilberman (2003), os escritores franceses não foram

os únicos a escrever para crianças, a expansão do gênero também se deu na

Inglaterra, que na época iniciava o processo de industrialização. Como

conseqüência desse processo, as cidades atraíram as pessoas do campo,

houve o êxodo rural que inchou as cidades, incrementou o comércio e

incentivou várias áreas no setor urbano.

A urbanização se fez de modo desigual, acentuando as diferenças

sociais, de um lado o proletariado que se constituiu basicamente das pessoas

que vieram do campo, e do outro lado a burguesia, que se consolidava como

classe social apoiada num patrimônio que se media por cifrões e reivindicando

poder político, o qual foi conquistado gradativamente.

De acordo com Cunha (2003), a família foi à primeira instituição a apoiar

a burguesia. A manutenção do estereótipo familiar, que se estabilizava através

da divisão do trabalho entre seus membros, converteu-se na finalidade

existencial do indivíduo. Entretanto, para legitimá-la foi necessário promover a

criança como beneficiário principal, adquirindo um prestígio social até então

inexistente. Com este novo status, a criança tem um papel central, motivando a

industrialização de vários produtos e mesmo novos ramos da ciência

destinados a ela, como a psicologia infantil, pedagogia ou a pediatria.

Seguindo o pensamento da escritora citada anteriormente, a segunda

instituição a colaborar com a solidificação política e ideológica da burguesia foi

a escola. A escola seria a mediadora entre a criança e a sociedade, seu papel

era complementar a função da família e neutralizar possíveis conflitos entre a

criança e a sociedade. E para as crianças, freqüentar o espaço escolar era

destino natural, porque o objetivo da escola era preparar os pequenos para

enfrentar o mundo de forma madura.

Sobre o surgimento da literatura infantil, com ascensão da burguesia,

podemos citar:

Antes da constituição deste modelo familiar burguês, inexistia uma

consideração especial para com a infância. Essa faixa etária não era

percebida como um tempo diferente, nem o mundo da criança como

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um espaço separado. Pequenos e grandes compartilhavam dos

mesmos eventos, porém nenhum laço amoroso especial os

aproximava. A nova valorização da infância gerou maior união

familiar, mas igualmente os meios de controle do desenvolvimento

intelectual da criança e manipulação de suas emoções. Literatura

infantil e escola, inventada a primeira reformada a segunda, são

convocadas para cumprir esta missão. (ZILBERMAN, apud CUNHA

2003, p. 23)

A literatura infantil percorria o mundo e em cada país, além da literatura

classificada como universal vão surgindo propostas diferentes de obras infantis.

Entre alguns autores dessa fase renovada podemos citar: Andersen, Carlo

Collodi, Lewis Carrol, Mark Twain. (ZILBERMAN, 2003)

1.1- Contextualizando a literatura infantil

Segundo Cunha (2003) a literatura infantil surge no início do século

XVIII, época em a criança é considerada um ser diferente do adulto com

necessidades específicas.

Os primeiros textos para criança surgem com o marcante objetivo

pedagógico e moralista, porque foram escritos por pedagogos e professores. E

a partir desta tradição histórica, alguns textos infantis atualmente ainda rendem

tributo à pedagogia, embora isso não precise ocorrer. (CUNHA, 2003)

Autores como La Fontaine e Charles Perrault escreviam suas obras,

enfocando principalmente os contos de fadas. De lá pra cá, a literatura infantil

foi ocupando seu espaço e apresentando sua relevância. Com isto, muitos

autores foram surgindo, como Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm,

imortalizados pela grandiosidade de suas obras.

No Brasil, a literatura infantil se consolida com traços tipicamente

nacionais das obras de Monteiro Lobato (1882 – 1948), que leva aos pequenos

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leitores nosso folclore e temas peculiares da nossa terra. Lobato rompe com a

tradição européia, mas sem jamais ignorá-la.

A partir do genial Lobato, surgem vários autores contemporâneos,

principalmente na década de 70, época em que os setores editoriais são

estimulados pela aparição de autores criativos e comprometidos com um novo

tipo de literatura, mais preocupada com a arte e em estimular o espírito

libertador, crítico e reflexivo dos pequenos leitores.

De acordo com Zilberman (2003), atualmente percebe-se por parte de

autores de livros infantis, uma constante preocupação para que suas obras

apresentem um teor formativo, que atendam as necessidades da criança.

Para que uma criança tenha o hábito da leitura, ela precisa ser estimula

em casa e posteriormente na escola. Segundo Abramovich (1991), o primeiro

contato que a criança tem com os textos infantis é em casa, através da

narrativa oral dos familiares.

Desde pequena a criança deve ter uma interação com livros e ser

instigada a participar desse universo rico e prazeroso de fantasias, que

auxiliem em seu desenvolvimento, além de ser um fértil material de apoio para

a criança resolver conflitos e impasses. (BETTELHEIM, 2003)

1.2- O Caráter Pedagógico na Literatura Infantil

Conforme Zilberman (2003), a literatura infantil foi criada com objetivo

pedagógico, sua peculiaridade era formar, reformar e fixar os conceitos morais

e sociais da época. Os textos para crianças possuíam uma linguagem

carregada de ideologia. Desta forma, os primeiros textos apresentados nas

escolas possuíam um teor nitidamente pedagógico, pois além de endossar os

valores de uma sociedade burguesa, os mesmos imitavam os padrões

comportamentais dessa sociedade.

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Sobre os textos escritos para a escola, Zilberman (2003, p.24) explica

que eles “...[ ] se revelavam como um manual de instruções, tomando o lugar

da emissão adulta, mas não ocultando o sentido pedagógico”. Os textos

acabavam sendo controlados pelos adultos que impunham limites no

conhecimento e aprendizagem.

Segundo Cunha (2003), o conteúdo dos livros apresentava a fala do

narrador ou um simples diálogo entre personagens com um único intuito: o

leitor infantil, cujo pensamento deveria ser resgatado. Nesse processo

educativo autoritário, não existia a possibilidade de respostas alternativas, a

criança tinha a função de um aprendiz passivo à mercê do domínio de um

narrador adulto e seu enfoque sobre a realidade social.

Sobre este aspecto podemos citar:

Outras características completam a definição de literatura infantil,

impondo sua fisionomia. A primeira delas dá conta do tipo de

representação a que os livros procedem. Estes deixam transparecer o

modo como o adulto quer que a criança veja o mundo. Em outras

palavras, não se trata necessariamente de um espelhamento literal de

uma dada realidade, [...] e essa propriedade, permite a exposição de

um mundo idealizado e melhor, embora a superioridade desenhada

nem sempre seja renovadora ou emancipatória. (LAJOLO E

ZILBERMAN, 2003, p. 19)

Dessa forma, os textos e os livros didáticos surgem com a pretensão de

fixar estereótipos humanos e comportamentos exemplares. A função

pedagógica marcou e muito o início da produção literária infantil e há indícios

de que isso acontece até nos dias de hoje.

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CAPÍTULO II

O DESENVOLVIMENTO INFANTIL DE ZERO A SEIS

ANOS

A infância é um período com necessidades e características próprias e,

segundo Wallon (1989), sua função primordial é a constituição do adulto. Sua

teoria se baseia num enfoque interacionista, segundo o qual todos os aspectos

do desenvolvimento da criança surgem da interação de predisposições

geneticamente determinadas e características da espécie com uma grande

influência de fatores ambientais, ou seja, o desenvolvimento da criança se

constitui no entrelaçamento de suas condições orgânicas e de suas condições

de existência cotidiana. Assim, a criança deve ser estudada na sucessão das

etapas de desenvolvimento caracterizadas pelos domínios funcionais da

afetividade, do ato motor e do conhecimento, entendidos como sendo

desenvolvido primordialmente pelo meio social.

O período da infância é subdividido em estágios ou fases, cada um delas

com características próprias, durante os quais a criança vê o mundo e age de

modo diferente, interage com as pessoas e o ambiente. Os estágios mantêm

uma seqüência estável, nenhum é omitido, cada um é uma seqüência do

anterior e base para o seguinte, sendo que, apesar de cada fase ter uma idade

aproximada durante a qual deve ocorrer cada criança tem o seu próprio ritmo.

Portanto, mesmo considerando que a seqüência é sempre a mesma (todos

passam por todas as fases), há variações individuais que dependem de

características pessoais, estímulos, etc.

Galvão (1995) utiliza a seguinte terminologia acerca das etapas do

desenvolvimento humano segundo Wallon:

Estágio impulsivo-emocional ocorre no primeiro ano de vida da criança.

A predominância do afetivo orienta as reações da criança às pessoas as quais

intermediam sua relação com o meio físico.

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Estágio sensório-motor e projetivo ocorre até os três anos de idade, a

criança cria uma maior autonomia na manipulação dos objetos e na exploração

dos espaços, voltando-se para a exploração do mundo físico. Ocorre também

neste estágio o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo

projetivo refere-se ao fato de a ação do pensamento necessitar dos gestos

para se exteriorizar. Assim o ato mental projeta-se em atos motores.

Estágio do personalismo acontece dos três anos aos seis anos de idade.

Nesse estágio desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as

interações sociais, reorientando o interesse da criança pelas pessoas. Esse

estágio divide-se em três períodos distintos, esses períodos têm o objetivo de

tornar o eu mais independente e diversificado. São eles:

Período da “negação”, a necessidade de se auto-afirmar, de se impor

surge na criança, que tenta fazer prevalecer sua vontade.

Por volta dos quatro anos, surge a “idade da graça” na qual a criança

desenvolve maneiras de chamar a atenção e de ser admirada, com uma

grande necessidade de agradar para obter a aprovação dos demais.

O período da imitação acontece por volta dos cinco anos e representa o

esforço para substituir o outro por meio da imitação.

Esses três períodos que caracterizam o estágio do personalismo

acontecem na interação social. A partir das idéias elaboradas por Wallon

(1989) podemos entender que, na base orgânica do corpo humano, as

conexões cerebrais modificam-se à medida que o ser humano relaciona-se

socialmente. Por isso, Wallon (1989) afirma que o ser humano é organicamente

social. Cada sujeito humano se torna o que é, constitui sua identidade e seu

conhecimento nos relacionamentos sociais.

Cada estágio é considerado um sistema completo em si, isto é, a sua configuração e o seu funcionamento revelam a presença de

todos os seus componentes, o tipo de relação que os une e os

integra em numa só totalidade:a pessoa. Temos, então, uma pessoa

completa a cada estágio. ( MAHONEY, 2003, P.15)

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Já para Piaget (1978) o desenvolvimento humano é abordado a partir de

quatro períodos de acordo com os interesses e necessidades das crianças em

suas diferentes faixas etárias, a saber:

Período sensório-motor (0 a 2 anos): o desenvolvimento ocorre a partir

da atividade reflexa para a representação e soluções sensório-motoras dos

problemas. Os primeiros esquemas do recém-nascido são esquemas de

reflexos, isto é, ações espontâneas que aparecem automaticamente em

presença de certos estímulos. As emoções são o canal de interação do bebê

com o adulto, assim o dialogo afetivo entre adulto e criança principalmente

caracterizado pelo toque corporal e mudanças no tom de voz, constitui um

espaço privilegiado de aprendizagem. O aparecimento da função simbólica por

volta do segundo ano de vida, tem entre outras conseqüências a de possibilitar

que os esquemas de ação, característicos da inteligência sensório-motora

possam converter-se em esquemas representativos.

Período pré-operatório (2 a 7 anos) tem inicio no desenvolvimento da

criança, com o aparecimento da atividade de representação que modifica as

condutas práticas, ou seja, a criança passa a imitar o que vê. De acordo com

Piaget (1978), as primeiras reconstituições lingüísticas de ações surgem à

reprodução de situações ausentes, através da brincadeira simbólica e da

imitação. A criança começa verbalizar o que só realiza motoramente.

Colocando em palavras o seu pensamento referente às brincadeiras de

fantasiar, a criança está se desenvolvendo ativamente e isso lhe dá

possibilidades de se utilizar da inteligência pratica decorrente dos esquemas

simbólicos. Este é o período da fantasia, do faz-de-conta e do uso de símbolos

como significantes. A criança adora ouvir histórias pelo prazer de poder

fantasiar e imaginar o contexto e as personagens. Neste período a criança

possui também como característica principal o egocentrismo. Ela é o centro

das atenções, consegue brincar com outras crianças, mas não divide os

brinquedos nem suas idéias. Está característica é amenizada aos cinco e seis

anos aproximadamente, quando a criança passa a se adaptar ao processo de

socialização. Tal adaptação se dá pelo fato da criança construir novos

conceitos e aprender a relacionar-se com os outros. Todo conhecimento que a

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criança constrói depende dos estímulos oriundos do meio onde está inserida e

das ligações e relações feitas com esses estímulos, portanto, é fundamental

que a criança aja sobre os objetos, a fim de transformá-los e assim conhecê-los

para poder construir e se adaptar as versões do mundo.

Período operatório concreto (7 aos 12 anos) nessa fase, o

desenvolvimento vai do pensamento pré-lógico para as soluções lógicas de

problemas concretos. Pela amplitude que as relações sociais vão acontecendo

na vida da criança, percebe-se que as brincadeiras simbólicas vão sendo

substituídas por jogos construtivos e de regras. Observa-se o símbolo ainda

nesta fase, mas de maneira deferente, o interesse por artistas de TV,

esportistas, cantores e atores. Surge a necessidade de explicar logicamente

suas idéias e ações.

Período das operações formais (12 anos em diante) nesta fase a

criança, amplia as capacidades conquistadas na fase anterior e já é capaz de

raciocinar sobre hipóteses na medida em que ela consegue formar esquemas

conceituais abstratos e através deles executar operações mentais dentro de

princípios da lógica formal.

Em interação permanente da pessoa com o meio físico e social, novos

recursos de aprendizagem são adquiridos. O conhecimento desse

relacionamento dos processos de desenvolvimento e aprendizagem permite ao

professor realizar com seus alunos atividades que promovam um entrosamento

mais produtivo entre as características de cada estágio de desenvolvimento e

as condições de ensino.

2.1 - Os estágios psicológicos da criança e a literatura

Segundo Coelho (2000), para que a literatura e o leitor resultem em

efetivo convívio, muitos são os fatores em jogo. Um dos mais importantes é a

adequação do texto às etapas do desenvolvimento da criança e alguns

princípios orientadores podem ser utilizados para a escolha de livros

adequados para cada leitor.

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O pré-leitor é a primeira categoria que abrange duas fases: a primeira

infância (15/17 meses a três anos) fase em que se inicia o reconhecimento da

realidade através dos contatos afetivos e pelo tato. É conhecida como a fase

da “invenção da mão”, pois a criança passa a pegar tudo o que encontra ao

seu alcance. É também o momento em que a criança inicia a conquista da

própria linguagem e começa a nomear a realidade a sua volta. O importante

nessa fase é a presença do adulto, nomeando e manipulando os objetos ou

brinquedos; inventando situações que os relacionem com a criança. É nesse

momento que o mundo natural e cultural (da linguagem nomeadora) passa a se

relacionar e a criança passa a perceber o espaço em que vive.

A Segunda infância (a partir dos três anos) fase em que se iniciam os

valores vitais (saúde), sensoriais ( prazer ou carências afetivas e físicas) e

também o egocentrismo. Os livros adequados para essa idade devem

incentivar vivências familiares.

Leitor iniciante (a partir dos 6 anos) é a fase da aprendizagem da leitura,

início do processo de socialização e de racionalização da realidade. A

presença do adulto como estimulador nessa fase é muito importante, pois

ajudará a criança a se encontrar com o mundo contido no livro e a decodificar

os sinais que mostrarão as portas do mundo da escrita.

Nessa fase a criança é atraída particularmente pelas histórias bem-

humoradas em que a astúcia do fraco vence a prepotência do forte;

ou em que a inteligência vence o mal. Contemporaneamente, a

literatura para crianças enfatiza especialmente o fenômeno do

pensar, do sentir e do querer, em sua necessária complementaridade

(COELHO, 2000, P.36).

Os livros destinados às crianças precisam atender às suas necessidades

fundamentais e próprias da infância. Às vezes, o que é relevante a um adulto

não tem qualquer valor para uma criança, por isso os assuntos escolhidos

devem ser relacionados com o universo infantil e ao seu interesse.

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CAPÍTULO III OS PRIMEIROS CONTADORES DE HISTÓRIAS: A MÃE,

DEPOIS O PROFESSOR

Contar histórias pode ser o início de um processo que motivará e

incentivará a pequena criança a se tornar uma leitora funcional.

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir

muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para

ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de

descoberta e de compreensão do mundo...” (ABRAMOVICH,1991,

p.16)

A literatura infantil é apresentada à criança de forma instintiva quando

esta é ainda um bebê. Seu primeiro contato com esta modalidade discursiva é

sonoro, através da fala e da linguagem que são expressas em ambiente

familiar. Este primeiro momento pode ser decisivo para que a criança seja uma

grande apreciadora da arte literária.

Já no início da vida, a criança tem contato com diversos repertórios

(contos de fada, histórias bíblicas, histórias inventadas), que embalam os dias

e as noites dos pequenos.

A finalidade de se contar uma história para uma criança pode ser

múltipla: distrair, transmitir a cultura, encantar, esperar o sono, preparar para

um assunto importante, apresentar o universo impresso e as letras, acalmar,

amenizar alguma angústia ou simplesmente, por pura falta de opção, conta-se

uma história.

A linguagem oral é a mais remota figura de comunicação entre as

pessoas. Efetivamente, pela linguagem nos expressamos nos revelamos, nos

relacionamos com o outro e com o mundo. Somos humanos pela linguagem, e

isso é o que nos diferencia dos animais. Através da linguagem, povoamos o

nosso imaginário. Com as palavras nosso mundo é construído e nossa História

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está sendo feita. Segundo Cunha (2000, p. 33), “através da linguagem,

criamos, construímos a sociedade e fazemos histórias.”

Nos velhos tempos, os homens primitivos se aqueciam ao redor do fogo,

e esse momento era também para dialogar e narrar acontecimentos diários.

Assim reunidos, contavam e repetiam histórias, para guardar suas tradições e

sua língua. Transmitiam o conhecimento acumulado pelas gerações, as

crenças, os mitos, os costumes e os valores a serem resguardados pela

comunidade.

Certamente esse homem primitivo fazia silêncio para ouvir aquele que

melhor contasse uma história e haveria de ser o que melhor a

revestisse de detalhes, sem fugir ao essencial, o que tivesse mais

dons de graça, fantasia, aquele que contasse com emoção – como se

estivesse vendo o que sua própria fala evocava na imaginação dos

companheiros... (COELHO, 1997, pp. 8 e 9)

Na nossa História, já tivemos grandes contadores que desenvolveram

suas narrativas com sucesso, como exemplo, devemos lembrar de Jesus

Cristo, que em suas pregações usava a parábola, uma forma narrativa

alegórica, uma história, para passar sua mensagem aos homens. Suas

palavras iam do concreto ao simbólico e exerciam um papel importante, já que

era uma forma simplificada, para a compreensão de quem as ouvia.

No desenvolvimento das crianças as histórias têm papel respeitável. O

ato de contar uma história, além de atividade lúdica, amplia a imaginação e

ajuda a criança a organizar sua fala, através da coerência e da realidade. O

ver, sentir e ouvir são as primeiras disposições na memória das pessoas.

Conforme Coelho (2002) enfatiza, ouvir histórias é uma atividade que as

crianças gostam muito e isso possibilita estreitar os laços entre o narrador e os

ouvintes, e os ouvintes entre si. Esta abertura estabelece uma aproximação

entre os participantes, envolvendo e tornando-os protagonistas na resolução de

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problemas e flexíveis ao aceitar as diferenças. A interação que se estabelece

aproxima os envolvidos.

A atividade de narrar histórias abrange uma diversidade de

possibilidades do universo infantil. A criança não se sente solitária e conta com

a cumplicidade dos personagens para lidar com assuntos delicados.

É suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a

tantas perguntas, é encontrar outras idéias para solucionar questões.

É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos

impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos – dum

jeito ou de outro – através dos problemas que vão sendo defrontados,

enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada

história. [...] e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou

encontrar um caminho para a resolução delas...” (ABRAMOVICH,

1997, p. 17)

3.1- Conseqüência e resultado da leitura

Segundo Coelho (2002, p.12), “há quem conte histórias para enfatizar

mensagens, transmitir conhecimentos, disciplinar, até fazer uma espécie de

chantagem – ‘se ficarem quietos, conto uma história’, ‘se isso’, ‘se aquilo’ –

quando o inverso é que funciona. A história aquieta, serena, prende a atenção,

informa, socializa, educa”. Se desde pequenas, as crianças escutarem

atentamente as histórias, quando crescerem provavelmente gostarão de livros,

que poderão identificar as mesmas histórias contadas.

A criança necessita ouvir histórias para desenvolver sua imaginação,

estimular o desenhar, o pensar, o representar, o observar, bem como a

linguagem oral e escrita, assim como o prazer pela arte, à habilidade de dar

lógica aos acontecimentos. Mais que uma linguagem prazerosa e educativa, a

ação de contar e ouvir histórias possibilita o resgate da memória cultural e

afetiva. Segundo Abramovich (1991, p. 23), “não devíamos esquecer nunca

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que o destino da narração dos contos é o de ensinar a criança a escutar, a

pensar e a ver com os olhos da imaginação.”

Deve-se levar em conta um fato importante, nem toda história vem

pronta no livro para ser contada. A linguagem escrita, por mais simples e

acessível, ainda requer a adaptação verbal que facilite sua compreensão e a

torne mais dinâmica, mais comunicativa.

Para que uma narrativa tenha o sucesso esperado ao ser contada

oralmente, é necessário tomar algumas providências, como estudar a história

previamente, analisar o recurso mais eficaz ao apresentá-la, pesquisar a faixa

etária, as condições sócio-econômicas e o interesse literário dos ouvintes.

Coelho (2002, p. 13) afirma, que “às vezes, é indispensável que se leve

algum tempo pesquisando em livros e revistas até encontrar a história

adequada que atenda aos interesses do ouvinte e ao objetivo específico que a

ocasião requer. É preciso também considerar o estilo e o gosto pessoal do

narrador”. Portanto, o critério de seleção é do narrador, a ele cabe toda a

responsabilidade em aproveitar o texto enquanto texto e enquanto pretexto. Se

a história não despertar a sensibilidade e a emoção, não será contada nem

ouvida com êxito e os objetivos pré-estabelecidos estarão fadados ao fracasso.

Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve

entretê-la, despertar sua curiosidade e ter a característica de ser sempre atual.

Na era da globalização, quando o avanço tecnológico afasta mais e mais os

indivíduos do mundo literário dos livros, devem-se adaptar as histórias à

realidade dos ouvintes, tentando aproximar a linguagem, o tema e o enredo ao

contemporâneo.

Contar histórias, certamente, é uma arte, e para os contadores é um ato

gratificante e até mesmo encantador, pois podem sempre contar com a

participação, inferência ou mesmo interferência na narrativa. É como se cada

vez que se contasse uma história ou a mesma história, ela delineasse uma

nova perspectiva, nascendo de forma diferente, com uma nova recepção, uma

expectativa nova. Para Abramovich (1991), os principais motivos de se contar

uma história, é mostrar à criança um universo de possibilidades, de apresentar

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a ela o universo literário, e essencialmente, incentivá-la a se tornar um leitor,

porque ler não é apenas decodificar signos, ler é um ato libertador.

Dentre muitos motivos para se contar histórias, podemos destacar

alguns para reflexão: (www.unioeste.br/projetos):

• As histórias formam o gosto pela leitura - Quando a criança

aprende a gostar de ouvir histórias contadas ou lidas, ela adquire o

impulso inicial que mais tarde a atrairá para a leitura.

• As histórias são um poderoso recurso de estimulação do

desenvolvimento psicológico e moral que pode ser utilizado como

recurso auxiliar da manutenção da saúde mental do indivíduo em

crescimento.

• As histórias instruem – ao enriquecer o vocabulário infantil, amplia

seu mundo de idéias e conhecimentos e desenvolve a linguagem e o

pensamento.

• As histórias educam e estimulam o desenvolvimento da atenção,

da imaginação, observação, memória, reflexão e linguagem.

• As histórias cultivam a sensibilidade, e isso significa educar o

espírito. A literatura e os contos de fadas dirigem a criança para a

descoberta de sua identidade e comunicação e também sugerem as

experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o

seu caráter.

• As histórias facilitam a adaptação da criança ao meio ambiente,

pela incorporação de valores sociais e morais que ela capta da vida

de seus personagens.

• As histórias recreiam, distraem, descarregam as tensões, aliviam

sobrecargas emocionais e auxiliam, muitas vezes, a resolver

conflitos emocionais próprios.

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3.2- As Histórias Infantis Auxiliando na Formação dos Valores

A criança que tem a oportunidade, o acesso e a compreensão das obras

literárias escritas terá a possibilidade de ter um maior entendimento de si e do

outro. Terá também a oportunidade de desenvolver sua criatividade e ampliar

seu universo cognitivo e cultural, percebendo efetivamente o mundo real que a

rodeia.

Enquanto diverte a criança, o conto de fadas a esclarece sobre a si

mesma, e favorece o desenvolvimento de sua personalidade. Oferece

significado em tantos níveis diferentes, e enriquece a existência da

criança de tantos modos que nenhum livro pode fazer justiça à

multidão de diversidade de contribuições que esses contos dão à vida

da criança. (BETTELHEIM, 2003, p. 20)

As histórias infantis têm importante papel na formação da personalidade

e do caráter da criança. Os contos de fadas revelam os conflitos de cada um e

a forma de superá-los e recuperar a harmonia existencial. A contribuição dos

contos de fadas para o desenvolvimento da imaginação e superação de

obstáculos, mostra-se desde cedo no universo infantil.

Esta é exatamente a mensagem que os contos de fada transmitem à

criança de forma múltipla: que uma luta contra as dificuldades graves

na vida é inevitável, é parte intrínseca da existência humana – mas

que a pessoa não se intimida mas se defronta de modo firme com as

opressões inesperadas e muitas injustas, ela dominará todos os

obstáculos e, ao fim, emergirá vitoriosa. (IDEM, 2003, p. 14)

Neste espaço teórico, de acordo com Bleichmar e Bleichmar (1992),

Melaine Klein, aluna e discípula de Freud, que é dissidente das idéias

freudianas, acentua o aspecto congênito, o interno, sobre o ambiental.

Segundo a autora, os fatores constitucionais possuem maior hierarquia do que

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os ambientais, no desenvolvimento do psiquismo e na concepção da doença

mental. Na teoria kleiniana, percebemos a realidade, segundo os vínculos de

objetos que projetamos nela. Embora as hipóteses kleinianas tenham recebido

críticas, sua autora afirma que a realidade interna é verificada por meio da

realidade externa.

As narrativas infantis auxiliam a criança fazer a escolha sobre quem

quer ser, além da possibilidade de viver grandes aventuras, feitos heróicos e

grandes amores, com intenso prazer, tornando possível a exteriorização de

sentimentos e de atitudes.

[...] as escolhas das crianças são baseadas não tanto sobre o certo

versus o errado, mas sobre quem desperta sua simpatia e quem

desperta sua antipatia. [...] A criança decide isto na base de se

projetar calorosamente num personagem. (BETTELHEIM, 2003, p.

18)

Quando o professor propicia o trabalho com literatura infantil, um laço

dialógico com o aluno está sendo firmado. Ele estabelece condições para que a

criança direcione a narrativa de acordo com seu ponto de vista, assumindo

uma postura em frente aos acontecimentos narrados, mantendo ou mudando

seus conceitos em relação à história e personagens, criando circunstâncias

para vivenciar uma nova história.

Ler histórias para crianças, sempre, sempre... É poder sorrir, rir,

gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a idéia

do conto ou com o jeito de escrever dum autor e, então, poder ser um

pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira, de

divertimento... É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade

respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras idéias

para solucionar questões (como as personagens fizeram...).

(ABRAMOVICH, 1997, p. 17)

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O caráter maravilhoso das narrativas infantis é um dos elementos mais

importantes na literatura dedicada à criança. Por intermédio do simbolismo que

está subentendido nas histórias, esta modalidade discursiva pode ser decisiva

para a formação da personalidade da criança.

Portanto o grande papel da literatura infantil é o de fazer fluir dúvidas,

revisão de padrões e comportamentos, pois cada vez mais nos livros infantis

surgem temas como: preconceitos, questões sociais, separação dos pais,

morte na família, entre outros assuntos que poderão ser reavaliados não como

verdades absolutas, mas como temas que fazem parte do cotidiano de

qualquer criança, podendo ser transformado em uma outra opinião ou mesmo

um novo conceito: “A leitura de textos de vários autores desembaraça o espírito

analítico e crítico do leitor, nas comparações e nos julgamentos.” (Oliveira

1991, p. 34)

A criança é um ser cheio de indagações, curiosidades e que apresenta

uma grande necessidade de saber, de aprender, de descobrir, de decifrar, de

desvencilhar o que é real e o que é apenas parte da sua imaginação. “É

preciso ler muito, ler sempre para ir formando o espírito crítico, associando as

experiências pessoais às de outrem, interrogando cada vez mais, antes de

afirmar”, ressalta Andaló (2000, p. 46).

Com a autora citada, resumimos este capítulo, acreditando que através

das histórias e dos textos a criança desenvolve todos os aspectos: ser gente,

ser humano, ser sentimento, ser produtora de sua própria história.

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CONCLUSÃO

A literatura infantil desde seu início traz a marca da pedagogia em seu

conteúdo. Os primeiros textos infantis foram escritos com o objetivo

prioritariamente educacional e moralista, isto devido à época em que foram

criados. Segundo as informações de Cunha (2003), ainda hoje encontramos

alguns textos infantis que continuam se rendendo à tradição de serem escritos

à mercê da pedagogia, embora isso não seja uma necessidade real. Sabemos

que a leitura, além de informar, deve promover o prazer.

Concordo com Abramovich (1991), que acredita que o primeiro contato

da criança com a literatura e com os textos infantis é em casa, obviamente

através da narrativa dos familiares, em situações de leitura ou nos momentos

em que todos se reúnem para contar histórias, esta é a primeira e principal

instituição responsável por incentivar a leitura. Posteriormente a escola passa a

estimular a criança, assim como seu meio social também deverá promover uma

série de situações que levarão o pequeno leitor à percepção de uma

necessidade de aprendizagem mais aprimorada e constante.

Pelos estudos e observações de Bettelheim (2003), estou de acordo

que, desde pequena, a criança deve ser oportunizada na interação com as

mais diversas literaturas, assim como deve ser instigada a participar desse

imenso universo rico e prazeroso do imaginário e das fantasias, que a

auxiliarão em seu desenvolvimento. A literatura apresenta indiretamente uma

enorme quantidade de materiais que servirão de apoio para a criança quando

esta precisar de explicação ou de exemplos de situações que possam

favorecer seus momentos para resolução de conflitos e impasses.

Para as crianças, os textos com fadas, dragões, príncipes e princesas é

a porta de entrada para outros textos. Essas leituras devem estimular a

imaginação e criar expectativas por novas leituras. A leitura é um ato libertador

e deve, portanto, levantar questionamentos: é o não aceitar uma realidade

maquiada; é o entender o comportamento humano; é o revelar dos desejos; é o

repelir a hipocrisia; é poder tirar suas próprias conclusões sem qualquer

possibilidade de manipulação.

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A criança é um ser cheio de indagações, curiosidades e com

necessidades de saber, de aprender, de descobrir o que é real e o que faz

parte da sua imaginação. “É preciso ler muito, ler sempre para ir formando o

espírito crítico, associando as experiências pessoais às de outrem,

interrogando cada vez mais, antes de afirmar”, ressalta Andaló (2000, p.46).

É preciso que o professor observe a idade cronológica e o estágio de

desenvolvimento de leitura em que seu aluno se encontra. Nesta pesquisa,

tentei mostrar que, se os livros de literatura infantil forem de boa qualidade,

incentivados em ambiente escolar e bem trabalhados de acordo com o

desenvolvimento das crianças, podem iniciar nelas a apreciação literária,

provocando a criatividade e predispondo à preparação do bom gosto no leitor.

É indispensável que nós professores, que estamos em constante

processo de aprendizagem, mudemos nossa postura em relação à literatura

infantil na escola e busquemos subsídios para trabalhar de forma mais

apreciativa e atraente em relação aos pequenos leitores. Sabemos que a

criança é irrequieta por natureza, incapaz de se concentrar por um longo

período. Desta forma, ela irá se interessar por livros em que a todo instante

apareçam fatos novos, muitas aventuras e peripécias, situações imprevistas,

movimentando assim o espírito infantil. “As narrativas precisam correr a galope,

sem nenhum efeito literário.” (LOBATO, apud CUNHA, 2003, p. 98).

Como relata Oliveira (1991) e assentimos com seu raciocínio, a criança

lê antes mesmo de ser alfabetizada, folheando, olhando as gravuras,

observando o gesto de leitura dos outros – pais, professores ou outras

crianças. Mesmo que não decodifique palavras ou frases escritas, o processo

de aprendizagem começa com a percepção.

Assim, essa pesquisa buscou categorizar o lugar da literatura infantil

para desenvolvimento das crianças, proporcionando-as a oportunidade de

encontrar nos livros um mundo repleto de descobertas e encantamentos.

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