base científica das mudanças climáticas

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Base científica das mudanças climáticas primeiro relatório de avaliação nacional Volume 1

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  • B a s e c i e n t f i c a d a sm u d a n a s c l i m t i c a s

    p r i m e i r o r e l a t r i o d e a v a l i a o n a c i o n a l

    V o l u m e 1

  • C arlos Afonso NobreP r e s i d e n t e d o C o n s e l h o D i r e t o r

    Suzana K ahn R ibe i roP r e s i d e n t e d o C o m i t C i e n t f i c o

    Andrea Souza SantosS e c r e t r i a E x e c u t i v a

    Moac yr Cunha de Ar au jo F i lhoTerc io Ambr i zz iC o o r d e n a d o r e s d o G r u p o d e Tr a b a l h o 1

    Dan ie l ly God iva Santana de SouzaA s s e s s o r a T c n i c a d o G r u p o d e Tr a b a l h o 1

    Er ico Le i vaAdr iane Mendes V i e i r a MotaFab i ana Soares Le i t eU n i d a d e d e A p o i o T c n i c o d o G r u p o d e Tr a b a l h o 1

    Tr ao Des ignP r o j e t o g r f i c o

    I NTRODUO

    E STR UTU R A DO C APTU LO

    P R I NC I PAI S QU E STE S DI SCUTI DAS

    3 .1 C AP TU LO 2 : OBSE RVAE S AM B I E NTAI S ATMOSF R IC AS E DE P ROP R I E DADE S DA SU P E R F C I E

    3 .2 C AP TU LOS 3 : OBSE RVAE S COSTE I R AS OC EN IC AS

    3 .3 C AP TU LO 4 : I N FOR MAE S PALEOC L I MIT IC AS BR AS I LE I R AS

    3 .4 C AP TU LO 5 : C IC LOS B IOGEOQUM ICOS E M U DAN AS C L I MT IC AS

    3 .5 C AP TU LO 6 : AE ROSSI S ATMOSF R ICOS E N UVE N S

    3 .6 C AP TU LO 7 : FOR ANTE R AD IAT IVA NATU R AL E ANTRP IC A

    3 .7 : C AP TU LO 8 : AVAL IAO DE MODE LOS GLOBAI S E R EG IONAI S C L I MT ICOS

    3 .8 C AP TU LO 9 : M U DAN AS AM B I E NTAI S DE C U RTO E LONGO P R A ZO

    P ROJ EE S R EVE R S I B I L I DADE E ATR I BU IO

    R E f E RNCIA B I BL IOg Rf IC A

    14

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    30

    S u m r i o

    C A P T U LO 1 I N T R O D U O E P R I N C I PA I S Q U E S T E S D I S C U T I D A S

    S U mR IO ExECUTIVO

    2 .1 PADRE S DE VAR IAB I L I DADE DO CL I mA

    2 .1.1 C AR AC TE R ST IC AS BS IC AS DOS R EG I M E S DE P R EC I P ITAO NO BR AS I L

    38

    40

    41

    C A P T U LO 2 O B S E R VA E S A m B I E N TA I S AT m O S f R I C A S E D E P R O P R I E D A D E D A S U P E R f C I E

  • 2 .1.2 VAR IAB I L I DADE I NTE R AN UAL

    2 .1.3 VAR IAB I L I DADE I NTE R DEC ADAL E DE LONGO P R A ZO

    2.1.4 MODO DE M U DAN A C L I MT IC A?

    2 .2 OBS E RVAE S DE m U DAN AS NA Am R IC A DO S U L

    2 .2 .1 h I DROLOGIA : P R EC I P ITAO, VA ZE S

    2 .2 .2 TE M P E R ATU R A

    2 .2 .3 E VE NTOS E x TR E MOS

    2 .2 .4 COM PON E NTE S DE R AD IAO E BAL ANO DE E N E RG IA

    2 .2 .5 P ROBLE MAS DAS OBSE RVAE S

    2 .3 S U mR IO

    R E f E RNCIA B I BL IOg Rf IC A

    42

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    44

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    47

    47

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    49

    50

    52

    S U mR IO ExECUTIVO

    3.1 I NTRODUO

    3.2 m U DAN AS DE P ROCE S SOS NA S U P E R fC I E DO

    OCEANO E I NTE R AO OCEANO -ATmOS f E R A

    3 .2 .1 TROC AS AR-MAR DE C ALOR E F LU xOS DE GUA DOC E

    3 .2 .2 TE N SO DE C I SALhAM E NTO DO VE NTO E F LU xOS DE MOM E NTU M

    3.2 .3 TE M P E R ATU R A E SAL I N I DADE DA SU P E R F C I E DO MAR

    3 .2 .4 S NTE SE

    3 .3 m U DAN AS NA TE m P E R ATU R A E CONTEDO

    DE C ALOR NO ATLNTICO S U L

    3 .3 .1 C AMADA SU P E R IOR

    3 .3 .2 OC E ANO P ROF U N DO

    3.3 .3 TR AN SPORTE M E R I D IONAL DE C ALOR

    3 .3 .4 S NTE SE

    3 .4 m U DAN A NA SALI N I DADE E CONTEDO DE g UA DOCE

    3 .4 .1 M U DAN AS NAS C AMADAS SU P E R IOR E S

    3 .4 .2 M U DAN AS NAS R EG IE S P ROF U N DAS

    3 .4 .3 CONTR I BU IO DE DE SC ARGAS F LUV IA I S NO ATLNT ICO SU L

    3 .4 .4 S NTE SE

    3 .5 ALTE R AE S NA C I RCU L AO E mAS SAS DE g UA

    3 .5 .1 C I RC U L AO GE R AL E VAR IAB I L I DADE C L I MT IC A DO OC E ANO ATLNT ICO SU L

    3 .5 .2 E STR AT I F IC AO E P ROF U N DI DADE DA C AMADA DE M I STU R A

    3 .5 .3 VE NT I L AO E FOR MAO DE MASSAS DE GUA

    3 .5 .4 ALTE R AE S NO VA Z AM E NTO DAS AGU LhAS NO G I RO SU BTROP IC AL E NA C LU L A M E R I D IONAL DO ATLNT ICO

    3 .6 ALTE R AE S NO NVE L DO mAR E NA f R EQUNCIA

    DE Ex TR E mOS NA mAR m ETEOROLg IC A

    3 .6 .1 ALTE R AE S DE V I DO A AU M E NTO DE TE M P E R ATU R A

    3 .6 .2 AU M E NTO DE MASSA DE V I DO A DEGE LOS DE GE LE I R AS CONT I N E NTAI S

    3 .6 .3 ALTE R AE S NA F R EQUNC IA DE OCOR RNC IA DE E x TR E MOS DE MAR M E TEOROLGIC A

    3 .6 .4 S NTE SE

    3 .7 m U DAN AS NA B IOg EOQUm IC A OCEN IC A,

    I NCLU I N DO AC I DI f IC AO DO OCEANO

    3 .7.1 O C IC LO DE C AR BONO NO ATLNT ICO TROP IC AL

    3 .7.2 S NTE SE

    3 .8 m U DAN AS NA E STR UTU R A DE mANg U E S

    3 .8 .1 EQU I L BR IO ECOLGICO E E STR UTU R A DO ECOSS I STE MA

    3 .8 .2 POTE NC IA I S R E SPOSTAS E STR UTU R AI S DOS MANGU E Z AI S AOS I M PAC TOS DAS M U DAN AS C L I MT IC AS

    3 .8 .2 .1 AU M E NTO DO NVE L M D IO R E L AT IVO DO MAR-N M R M

    3.8 .2 .2 AU M E NTO DAS TE M P E R ATU R AS M D IAS

    3 .8 .2 .3 ALTE R AE S NAS TA x AS DE CO2

    C A P T U LO 3 O B S E R VA E S C O S T E I R A S E O C E N I C A S

  • 3 .8 .2 .4 ALTE R AE S NA P LUV IOS I DADE

    3 .8 .2 .5 M U DAN AS E M F R EQUNC IA E I NTE N S I DADE DE TE M P E STADE S TROP IC A I S

    3 .8 .3 S NTE SE

    3 .9 OCOR RNCIAS DE E ROSO E m P R AIAS E zONAS COSTE I R AS

    3 .9 .1 A COSTA BR AS I LE I R A

    3 .9 .2 E ROSO OBSE RVADA NA COSTA DO BR AS I L

    3 .9 .2 .1 COSTA DE MANGU E Z AI S DOM I NADA P E L A MAR DA R EG IO NORTE

    3 .9 .2 .2 COSTA DO NOR DE STE COM E SC ASSE Z DE SE D I M E NTOS

    3 .9 .2 .3 COSTA DE LTA IC A DOM I NADA P E L A AO DE ON DAS

    3 .9 .2 .4 COSTA ROC hOSA DO SU DE STE

    3 .9 .2 .5 A COSTA AR E NOSA DO SU L

    3 .9 .3 S NTE SE

    3 .10 ALTE R AE S NOS PADRE S DE VAR IAB I L I DADE

    E S PAC IAL E TE m POR AL DO OCEANO

    3.10.1 PR INCIPAIS MODOS DE VAR IABILIDADE DOS OCEANOS RELEVANTES PAR A O BR ASIL

    3 .10 .2 ALTE R AE S NOS MODOS DE VAR IAB I L I DADE DO ATLNT ICO TROP IC AL E SU L DE V I DO A M U DAN AS NO E N SO

    3.10 .3 ALTE R AE S DOS MODOS E VAR IAB I L I DADE DO ATLNT ICO TROP IC AL

    E SU L DE V I DO A M U DAN AS NA C I RC U L AO TE R MOhALI NA

    3 .10 .4 S NTE SE

    3 .11 R E L AE S E NTR E m U DAN AS CL I mTIC AS E OS

    P R I m E I ROS NVE I S DA R E DE TRf IC A mAR I N hA

    3 .11.1 I NTRODUO

    3.11.2 O PAP E L DO F ITOP LNC TON NA R E DE TRF IC A MAR I N hA E NO BOM BE AM E NTO B IOLGICO

    3 .11.3 PAP E L DOS M IC ROORGAN I SMOS MAR I N hOS NA R EGU L AO C L I MT IC A

    3 .11.4 S NTE SE

    3 .12 S U mR IO ExECUTIVO

    R E f E RNCIA B I BL IOg Rf IC A

    4 .1 I NTRODUO

    4 .2 m U DAN AS CL I mTIC AS E m E SC AL A TE m POR AL OR B ITAL

    4 .2 .1 I NTRODUO

    4.2 .2 E V I DNC IAS PALEOC L I MT IC AS A PART I R DE R EG I STROS L AC U STR E S

    4 .2 .3 E V I DNC IAS PALEOC L I MT IC AS A PART I R DE E SP E LEOTE MAS

    4 .2 .4 CON S I DE R AE S F I NA I S

    4 .3 m U DAN AS CL I mTIC AS ABR U PTAS

    4 .3 .1 I NTRODUO

    4.3 .2 OS R EG I STROS DAS M U DAN AS C L I MT IC AS ABR U PTAS

    DO LT I MO P E R ODO GL AC IAL E I NTE RGL AC IAL

    4 .3 .3 OS M EC AN I SMOS R E SPON SVE I S P E L AS M U DAN AS C L I MT IC AS ABR U PTAS

    4 .3 .4 CON S I DE R AE S F I NA I S

    4 .4 m U DAN AS NA PALEOCI RCU L AO DA PORO OE STE DO ATLNTICO S U L

    4 .4 .1 I NTRODUO

    4.4 .2 O LT I MO Mx I MO GL AC IAL

    4 .4 .3 A LT I MA DEGL AC IAO

    4.4 .4 O hOLOC E NO

    4.4 .5 CON S I DE R AE S F I NA I S

    4 .5 VAR IAE S NO NVE L R E L ATIVO DO mAR DU R ANTE O hOLOCE NO

    4 .5 .1 I NTRODUO

    4.5 .2 P E R ODO DE SU BM E R SO DA P L ATAFOR MA E DA ZONA COSTE I R A ATUAL

    4 .5 .3 O P E R ODO DE E M E R SO DA ZONA COSTE I R A ATUAL

    4 .5 .4 CON S I DE R AE S F I NA I S

    4 .6 AS QU E I mADAS NO R Eg I STRO PALEOCLI mTICO

    4 .6 .1 I NTRODUO

    4.6 .2 AS QU E I MADAS NO R EG I STRO PALEOC L I MT ICO

    C A P T U LO 4 I N f O R m A E S PA L E O C L I m T I C A S B R A S I L E I R A S

  • 4 .6 .3 CON S I DE R AE S F I NA I S

    4 .7 A OCU PAO h U mANA E AS m U DAN AS CL I mTIC AS

    4 .7.1 I NTRODUO

    4.7.2 A TR AN S IO P LE I STOC E NO / hOLOC E NO

    4.7.3 A OC U PAO PALEO I N DIA NO hOLOC E NO I N IC IAL

    5 .7.4 O h IATO DO ARC AICO NO hOLOC E NO M DIO

    4 .7.5 A E x P LOSO DE MOGRF IC A , SOC IAL E C U LTU R AL POSTE R IOR AO h IATO

    4 .8 m U DAN AS CL I mTIC AS DU R ANTE O LTI mO m I LN IO

    4 .8 .1 I NTRODUO

    4.8 .2 D I SC U SSO

    4.8 .3 CON S I DE R AE S F I NA I S

    4 .9 COm PAR AE S E NTR E R ECON STITU IE S PALEOCLI mTIC AS E DADOS DE mODE LOS

    C L I MT ICOS

    4 .9 .1 I NTRODUO

    4.9 .2 M E TODOLOGIA

    4 .9 .3 R E SU LTADOS

    4 .9 .4 CONC LU SE S

    R E f E RNCIAS

    S U mR IO

    5.1 I NTRODUO

    5.2 BR EVE DE SCR IO DOS B IOmAS BR AS I LE I ROS

    5 .2 .1. AMA ZN IA

    5 .2 .2 . MATA ATLNT IC A

    5 .2 .3 . PANTANAL

    5 .2 .4 . C A AT I NGA

    5 .2 .5 . C E R R ADO

    S U mR IO ExECUTIVO

    6.1 I NTRODUO

    6.2 . AE ROS SI S DE fONTE S NATU R AI S NA Am R IC A DO S U L

    E E m R Eg IE S QU E POS SAm Af ET-L A

    6 .3 . fONTE S ANTRP IC AS: AE ROS SI S DE QU E I mADAS E POLU IO U R BANA

    6 .3 .1. V I SO GE R AL DAS E M I SSE S ANTRP IC AS NO BR AS I L

    6 .3 .2 . VALOR E S T P ICOS DE CONC E NTR AO DE MATE R IAL PART IC U L ADO

    6.3 .3 . CONC E NTR AO DE PART C U L AS

    6 .4 . I NTE R AO AE ROS SI S-N UVE N S: AE ROS SI S COmO CN, CCN E I N

    6 .5 . m ICROfS IC A DE N UVE N S E P R EC I P ITAO NA fAS E QU E NTE

    6.6 . m ICROfS IC A DE N UVE N S DE fAS E f R IA E m I STA

    6.7. RELAES ENTRE AEROSSIS, NUVENS, VAPOR DgUA E A CIRCULAO DE gRANDE ESCALA

    6 .8 . MODE L AGE M DOS P ROC E SSOS E NVOLVE N DO AE ROSSI S , N UVE N S E CONVECO

    R E f E RNCIAS

    C A P T U LO 5 C I C LO S B I O g E O Q U m I C O S E m U D A N A S C L I m T I C A S

    C A P T U LO 6 A E R O S S I S AT m O S f R I C O S E N U V E N S

    5 .2 .6 . PAM PA

    5 .3 BAS E CONCE ITUAL

    5.4 P R I NC I PAI S R E S E RVATR IOS E f LUxOS DE C AR BONO

    E N ITROgN IO NOS P R I NC I PAI S B IOmAS BR AS I LE I ROS

    5.5 I m PACTOS POTE NCIAI S DAS m U DAN AS CL I mTIC AS

    5 .5 .1 AMA ZN IA

    5 .5 .2 MATA ATLNT IC A

    5 .5 .3 C E R R ADO

    5.5 .4 C A AT I NGA

    5 .5 .5 PANTANAL

    5 .5 .6 PAM PAS

    5 .5 .7 GUAS I NTE R IOR E S

    R E f E RNCIAS

  • Introduo e principais questes discutidas 1110 Painel brasileiro de mudanas climticas

    SUmRIO ExECUTIVO

    7.1 INTRODUO

    7.1.1 OBjETIVOS E ESTRUTURA DO CAPTULO

    7.1.2 O CONCEITO DE FORANTE RADIATIVA

    7.2 fORANTE RADIATIVA NATURAL

    7.2.1 EFEITOS CLIMTICOS ORBITAIS

    7.2.2 EFEITOS CLIMTICOS DEVIDO A VARIAES DA ATIVIDADE SOLAR

    7.2.3 EVIDNCIAS DO APORTE DE AEROSSOL MINERAL DA FRICA PARA O BRASIL

    7.2.4 O EFEITO RADIATIVO DE NUVENS

    7.3 fORANTE RADIATIVA ANTRPICA

    7.3.1 FORANTE RADIATIVA DIRETA DO AEROSSOL ANTRPICO

    7.3.2 FORANTE RADIATIVA INDIRETA DO AEROSSOL ANTRPICO

    7.4 EfEITOS DA QUmICA ATmOSfRICA NA COmPOSIO E

    DISTRIBUIO DE gASES DE EfEITO ESTUfA E AEROSSIS

    7.5 mTRICAS E mEDIDAS DO ImPACTO DE gASES DE EfEITO ESTUfA

    7.5.1 AS FONTES DE EMISSES DE GASES DE EFEITO ESTUFA

    7.6 OBSERVAES fINAIS E RECOmENDAES

    R E f E RNCIAS

    SUmRIO

    8.1 INTRODUO

    8.1 A hIERARQUIA DOS mODELOS ACOPLADOS, gLOBAIS E REgIONAIS,

    INCLUINDO mTODOS DE ANINhAmENTO E DOwNSCALLINg

    8.1.1 MODELAGEM ATMOSFRICA GLOBAL

    8.1.2 MODELAGEM ACOPLADA OCEANO-ATMOSFERA

    SUmRIO

    9.1 INTRODUO

    9.2 CONSTRUO DE CENRIOS DE EmISSES E SUAS INCERTEzAS

    9.3 AVALIAO DE mETODOLOgIAS DE PROJEES E ATRIBUIO DE mUDANAS AmBIENTAIS

    9.4 PROJEES REgIONAIS DAS mUDANAS AmBIENTAIS PARA O SCULO 21

    9.5 COmENTRIOS fINAIS

    R E f E RNCIAS

    C A P T U LO 7 f O R A N T E R A D I AT I VA N AT U R A L E A N T R P I C A

    C A P T U LO 8 AVA L I A O D E m O D E LO S g LO B A I S E R E g I O N A I S C L I m T I CO S

    C A P T U LO 9 m U D A N A S A m B I E N TA I S D E C U R TO E LO N g O P R A zO : P R O J E E S , R E V E R S I B I L I D A D E E AT R I B U I O

    8.1.3 MODELAGEM ATMOSFRICA REGIONAL

    8.1.4 MTODOS DE DOwNSCALLING ESTATSTICO

    8.2 REPRESENTAES DE PROCESSOS DE RETROALImENTAO NOS mODELOS CLImTICOS

    8.2.1 OCEANO-ATMOSFERA

    8.2.2 BIOSFERA-ATMOSFERA

    8.3 SImULAES E PREVISIBILIDADE DO CLImA PRESENTE, I.E., PADRES REgIONAIS,

    VARIABILIDADE E ExTREmOS NOS fENmENOS: ITCz, ENSO, SACz, mJO, LLJ

    8.3.1 MODELOS DE CIRCULAO GERAL DA ATMOSFERA GLOBAL

    8.3.2 MODELOS ACOPLADOS OCEANO-ATMOSFERA GLOBAIS

    8.3.3 ZONA DE CONVERGNCIA DO ATLNTICO SUL ZCAS

    8.3.4 jATO DE BAIxOS NVEIS - jBN

    8.4 PROJEES DE mUDANAS CLImTICAS NO fUTURO

    8.5. mEgACIDADES COmO fATORES CAUSAIS DE mUDANAS CLImTICAS REgIONAIS

    8.5.1 RESULTADOS DE MODELOS DE QUMICA DA ATMOSFERA

    8.5.2 ILhAS DE CALOR DAS MEGACIDADES E MUDANAS CLIMTICAS REGIONAIS

    8.6 AVALIAO DE INCERTEzAS Em SImULAES DO CLImA PRESENTE E fUTURO

    8.7 PROJEES DE mUDANAS NA CICLAgEm DO CARBONO

    R E f E RNCIAS

  • I n t r o d u o e P r i n c i pa i s Q u e s t e s D i s c u t i d a s

    1

    Autores Principais

    Trcio Ambrizzi Universidade de So Paulo;

    Moacyr Arajo Universidade Federal de Pernambuco

    Autores Revisores

    Luiz Gylvan Meira Filho Universidade de So Paulo; Pedro Leite da Silva Dias

    Laboratrio Nacional de Computao Cientifica Petroplis/RJ;

    Ilana Wainer Universidade de So Paulo

  • Introduo e principais questes discutidas 15

    Os sequentes Relatrios de Avaliao elaborados pelo Painel Intergovernamental de Mudanas Climticas (IPCC)

    tm destacado, progressivamente, o papel das forantes antrpicas sobre o processo de aquecimento global. Estas

    avaliaes baseiam-se na anlise acumulada de grandes quantidades de dados observacionais, sobre os quais so

    utilizadas tcnicas mais ou menos sofisticadas, visando compreenso dos mecanismos atuantes e das margens de

    incerteza em suas determinaes.

    Diante da complexidade do clima planetrio e da importncia dos mecanismos remotos e de suas teleconexes,

    de se esperar que a qualidade das anlises realizadas e a reduo de incertezas nas projees das mudanas climticas

    globais e regionais sejam diretamente relacionadas quantidade de estudos cientficos e de levantamentos existentes

    nas diferentes regies do planeta. Nesse sentido, uma anlise simples da literatura referenciada pelo Grupo de Trabalho

    1 Bases das Cincias Fsicas do Quarto Relatrio de Avaliao (AR4) do IPCC evidencia o desequilbrio inter-hemis-

    frico e regional nos quantitativos de produo cientfica e de levantamentos observacionais utilizados na avaliao,

    traduzindo a necessidade de esforos adicionais para minimizar estas diferenas.

    Ciente do potencial de contribuio do Brasil para a compreenso das mudanas climticas globais, e da neces-

    sidade de uma abordagem nacionalizada sobre o tema, foi institudo em setembro de 2009 o Painel Brasileiro de Mu-

    danas Climticas (PBMC). O PBMC um organismo cientfico nacional criado pelos Ministrios da Cincia, Tecnologia

    e Inovao (MCTI) e do Meio Ambiente (MMA). Com estrutura espelhada no Painel Intergovernamental de Mudanas

    Climticas, o PBMC objetiva fornecer avaliaes cientficas sobre as mudanas climticas de relevncia para o Brasil,

    incluindo os impactos, vulnerabilidades e aes de adaptao e mitigao. As informaes cientficas levantadas pelo

    PBMC so sistematizadas por meio de um processo objetivo, aberto e transparente de organizao dos levantamentos

    produzidos pela comunidade cientfica sobre as vertentes ambientais, sociais e econmicas das mudanas climticas.

    Desta forma, o Painel poder subsidiar o processo de formulao de polticas pblicas e tomada de deciso para o

    enfrentamento dos desafios representados por estas mudanas, servindo tambm como fonte de informaes de

    referncia para a sociedade.

    O Primeiro Relatrio de Avaliao Nacional (RAN1) do PBMC publicado em 2012 composto de trs volumes,

    correspondentes s atividades de cada Grupo de Trabalho (www.pbmc.coppe.ufrj.br). O presente documento traz

    uma sntese das principais contribuies para o RAN1 do Grupo de Trabalho 1 (GT1) Bases Cientficas das Mudanas

    Climticas, cujo objetivo avaliar os aspectos cientficos do sistema climtico e de suas mudanas

    S u m r i o E x e c u t i v o

  • Introduo e principais questes discutidas 17

    P r i n c i pa i s Q u e s t e s D i s c u t i d a s

    c ap tulo 2 observaes amb i enta i s atmosfr ic ase de propr i edades da superf c i e

    16 Painel brasileiro de mudanas climticas

    Questo 1: Quais so os resultados observacionais relacionados s variaes de parmetros ambientais que podem representar efeitos da variabilidade climtica natural de longo perodo e, em alguns casos, indicaes de efeitos da ao humana?

    Esta questo abordada no Captulo 2 do GT1. Conforme

    apresentado a seguir, os resultados descritos revelam o

    grande impacto da variabilidade interanual, que pode pro-

    duzir alteraes por um fator maior que quatro nas chuvas

    sazonais em certas regies, como a Amaznia.

    A maior fonte de variabilidade interanual so os eventos

    El Nio e La Nia. As variaes decadais/interdecadais apre-

    sentam menor diferena entre fases opostas (alteraes por

    at fator de dois), mas so relevantes em termos de adapta-

    o porque so persistentes, podendo causar secas prolonga-

    das ou dcadas com mais eventos extremos de chuva. Os

    modos de variabilidade interdecadal produziram forte varia-

    o climtica na dcada de 1970, devido superposio de

    efeitos da mudana de fase de diferentes modos nessa dca-

    da. Portanto, anlises de tendncias em sries relativamente

    curtas de parmetros climticos, que compreendem perodos

    antes e depois dessa dcada, so mais sugestivas do que con-

    clusivas. Parte das tendncias detectadas na precipitao do

    Brasil pode ser explicada por mudanas de fase em oscilaes

    interdecadais, no entanto, possvel que outra porcentagem

    j seja uma consequncia do atual aquecimento global obser-

    vado. Por exemplo, algumas das tendncias detectadas so

    consistentes com a variao produzida na segunda metade

    do sculo passado pelo primeiro modo interdecadal de chu-

    vas anuais, que significativamente correlacionado com um

    modo de tendncia de temperatura da superfcie do mar

    (TSM), mas tambm com a Oscilao Multidecadal do Atln-

    tico (OMA) e com a Oscilao Interdecadal do Pacfico. Estes

    ESTRUTURA DO CAPTULO O documento est estruturado de acordo com o escopo do GT1, que foi previamente definido, coletivamente,

    com os Autores Principais dos Captulos. Os levantamentos aqui apresentados resultam de uma extensa pesquisa bibliogrfica, quando se

    procurou, de um lado, evidenciar as implicaes para o Brasil dos principais pontos do IPCC AR4 e, de outro, registrar e discutir os principais

    trabalhos cientficos publicados aps 2007, com destaque para aqueles relacionados mais diretamente s mudanas climticas na Amrica

    do Sul e no Brasil.

    As snteses de cada Captulo so apresentadas a seguir, e foram organizadas de modo a responder a questes-chaves especficas de cada

    domnio da pesquisa. O conjunto das respostas a estas questes forma a primeira contribuio do Grupo de Trabalho 1 (GT1) Bases

    Cientficas das Mudanas Climticas para o Primeiro Relatrio de Avaliao Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanas Climticas.

    resultados mostram tendncias negativas no norte e oeste da

    Amaznia, positivas no sul da Amaznia, positivas no Centro-

    Oeste e Sul do Brasil, e ausncia de tendncia no Nordeste.

    A tendncia de aumento da precipitao entre 1950-2000 no

    Sul do Brasil e outras partes da baixa Bacia do Paran/Prata,

    principalmente entre o perodo anterior e posterior dcada

    de 1970, aparece em outros modos interdecadais, principal-

    mente no quarto modo, sendo que esta tendncia supor-

    tada por sries um pouco mais longas.

    Para verificar se as tendncias associadas com o 1 modo

    interdecadal de precipitao se devem apenas a mudana de

    fase da OMA ou se so parte de comportamento consistente

    de mais longo perodo, seriam necessrias: (i) sries mais

    longas de precipitao e (ii) consistncia entre estas tendn-

    cias e as mudanas de precipitao apontadas nessas regies

    pelas projees de mudanas climticas feitas por numero-

    sos modelos. Portanto, necessrio esperar algum tempo

    para ter certeza sobre tendncias na precipitao do Brasil e

    tambm verificar sua consistncia com projees climticas.

    Da mesma forma, ainda difcil de analisar o quanto as mu-

    danas antropognicas tm influenciado os eventos extremos

    de precipitao, cujas variaes tambm podem estar mais

    relacionadas a oscilaes climticas naturais.

    Estudos de tendncia da temperatura utilizando dados de

    estao sobre a Amrica do Sul limitam-se, na sua maioria,

    ao perodo entre 1960-2000. Os resultados mais significati-

    vos referem-se s variaes de ndices baseados na tempera-

    tura mnima diria, que indicam aumento de noites quentes

    e diminuio de noites frias na maior parte da Amrica do

    Sul, com consequente diminuio da amplitude diurna da

    temperatura, especialmente na primavera e no outono. Estes

    resultados so mais robustos para as estaes localizadas nas

    costas leste e oeste dos continentes e so confirmados para

    sries em perodos mais longos.

    Embora a influncia da variabilidade dos oceanos Atln-

    tico e Pacfico no comportamento de longo prazo das temper-

    aturas sobre a Amrica do Sul precise ser levada em conta, a

    influncia antropognica sobre os extremos de temperatura

    parece ser mais provvel do que aquela verificada sobre os

    extremos de precipitao. A enorme escassez de dados de

    estao sobre vastas reas tropicais como a Amaznia e o

    centro-oeste e leste do Brasil limita o estabelecimento de

    concluses acuradas para estas regies usando dados de

    estao. Estudos recentes mostraram que fatores como mu-

    dana de uso da terra e queima de biomassa podem influ-

    enciar a temperatura nestas regies, sobretudo na Amaznia

    e no Cerrado; porm, a magnitude e extenso espacial do

    sinal de longo prazo dessas influncias sobre a temperatura

    em superfcie ainda precisa ser investigado. Conforme ser

    discutido nas prximas sees, o efeito da mudana de uso

    da terra e da liberao de calor antropognico nos grandes

    centros urbanos, conhecido como ilha de calor urbana, pode

    ser importante agente contribuindo para o aumento da tem-

    peratura mdia global.

    Dados de reanlises, desde 1948, fornecem evidncia

    de aumento de temperatura em baixos nveis na atmosfera

    de forma mais acentuada em direo aos trpicos do que

    nos subtrpicos da Amrica do Sul, durante o vero austral.

    Neste caso, a temperatura mdia anual junto da superfcie

    nos trpicos tem apresentado tendncia positiva desde

    ento, enquanto nos subtrpicos h tendncia negativa des-

    de meados da dcada de 1990. O aumento da temperatura

    tambm foi verificado sobre o Atlntico Tropical, sugerindo

    que possam ter ocorrido mudanas no contraste oceano-

    atmosfera e, portanto, no desenvolvimento do sistema de

    mones. Estas mudanas podem causar alteraes no

    regime de precipitao e nebulosidade e criar feedbacks

    ainda desconhecidos na temperatura e no clima local. Mu-

    danas nos campos mdios globais e na TSM, antes e aps

    o perodo conhecido como climate shift, no final dos anos

    70, podem ter exercido importante papel no regime de tem-

    peraturas e respectivas tendncias e precisam ser considera-

    das para se avaliar corretamente o efeito do aquecimento

    global sobre a Amrica do Sul. Neste contexto, tambm

    importante avaliar o impacto de oscilaes climticas nat-

    urais interdecadais sobre a temperatura na Amrica do Sul.

  • Introduo e principais questes discutidas 19

    O Captulo 3 trata do sistema ocenico, que participa

    de forma decisiva no equilbrio climtico. Devido sua

    grande extenso espacial, e alta capacidade trmica da

    gua, indiscutvel que o aumento do contedo de calor

    dos oceanos e o aumento do nvel do mar so indica-

    dores robustos de aquecimento do planeta. Apesar da

    grande dificuldade de se observar o oceano com a cobe-

    rtura espacial e temporal necessria para melhor moni-

    torar e entender mudanas nos oceanos e as respostas

    dessas mudanas no clima, h de se reconhecer que

    grandes progressos tm sido obtidos nos ltimos anos.

    Observaes remotas por satlite tm sido realidade j

    h algumas dcadas e programas observacionais in situ,

    como o Argo, tm permitido a obteno de conjuntos

    de dados valiosos desde a superfcie at profundidades

    intermedirias do oceano. Recentemente, vrios esforos

    tm sido despendidos na reavaliao de dados histricos,

    possibilitando interpretaes mais confiveis por mais

    longos perodos de tempo.

    Com base em um nmero considervel de trabalhos

    publicados nas ltimas dcadas, o Quarto Relatrio de

    Avaliao do Clima do IPCC (IPCC-AR4, 2007) concluiu,

    de forma inequvoca, que a temperatura do oceano glob-

    al aumentou entre 1960 e 2006. Apesar das controvrsias

    decorrentes de alguns pequenos enganos no IPCC-AR4,

    a grande maioria dos estudos cientficos realizados nos

    ltimos 5 anos tm confirmado, de forma indiscutvel,

    o aquecimento das guas ocenicas. A temperatura da

    superfcie do mar (TSM) no Atlntico tem aumentado

    nas ltimas dcadas. No Atlntico sul, esse aumento

    intensificado a partir da segunda metade do sculo xx,

    possivelmente devido a mudanas na camada de oznio

    sobre o Polo Sul e tambm ao aumento dos gases efeito

    estufa. De forma consistente com um clima mais quente,

    o ciclo hidrolgico tem tambm se alterado, refletindo

    em mudanas na salinidade da superfcie do mar. Estu-

    dos mostram que a regio subtropical do Atlntico Sul

    est se tornando mais quente e mais salina.

    Abaixo da superfcie, h evidncias claras do aumen-

    to da temperatura nas camadas superiores do oceano.

    Reanlise de dados histricos, obtidos por batitermgra-

    fos descartveis (xBTs), mostram uma clara tendncia de

    aquecimento nos primeiros 700 m da coluna de gua.

    Estudos independentes com dados obtidos at 2000 m

    de profundidade com perfiladores Argo sugerem um

    aquecimento significativo tambm abaixo de 700 m.

    Os estudos analisados pelo IPCC-AR4 e outros mais

    recentes tambm apontam para variaes no contedo

    de calor e na elevao do nvel do mar, em escala global.

    Variaes nessas propriedades promovem alteraes nas

    caractersticas das diferentes massas de gua, o que fa-

    talmente leva a alteraes nos padres de circulao do

    oceano. Por sua vez, mudanas na circulao resultam

    em alteraes na forma como o calor e outras proprie-

    dades biolgicas, fsicas e qumicas so redistribudas na

    superfcie da Terra.

    O nvel do mar est aumentando. Grande parte das

    projees de aumento do nvel do mar para todo o sculo

    xxI deve ser alcanada ao longo das primeiras dcadas, o

    que faz com que se configurem perspectivas mais preo-

    18 Painel brasileiro de mudanas climticas

    c ap tulo 3observaes coste i r as e ocen ic as

    Questo 2: Qual o papel dos oceanos, e em particular do Atlntico tropical e subtropical sul, como indutor e como indicador das variabilidades climticas de origem natural e antrpica observadas no Brasil e na Amrica do Sul?

    cupantes do que aquelas divulgadas no incio dos anos

    2000. Variaes de 20 a 30 cm, esperadas para ocorrer ao

    longo do todo o sculo xxI, j devem ser atingidas, em

    algumas localidades, at meados do sculo ou at antes

    disso. Dever haver tambm maior variabilidade espacial

    da resposta do nvel do mar entre os distintos locais do

    globo. Na costa do Brasil so poucos os estudos real-

    izados com base em observaes in situ. Mesmo assim,

    taxas de aumento do nvel do mar na costa sul-sudeste

    j vm sendo reportadas pela comunidade cientfica

    brasileira desde o final dos anos 80 e incio dos anos 90.

    O aumento do nvel do mar, assim como o aumento

    de temperatura, mudanas no volume e distribuio das

    precipitaes e concentraes de CO2 afetaro de modo

    varivel o equilbrio ecolgico de manguezais, depen-

    dendo da amplitude destas alteraes e das caractersti-

    cas locais de sedimentao e espao de acomodao.

    Ao longo da extenso da linha de costa brasileira so

    vrios os trechos em eroso, distribudos irregularmente

    e muitas vezes associados aos dinmicos ambientes de

    desembocaduras. Diversas so as reas costeiras densa-

    mente povoadas que se situam em regies planas e

    baixas, nas quais os j existentes problemas de eroso,

    drenagem e inundaes sero amplificados em cenrios

    de mudanas climticas.

    Importantes massas de gua esto se alterando.

    As guas modo (guas de 18oC) do Oceano Sul e as

    guas Profundas Circumpolares se aqueceram no pero-

    do de 1960 a 2000. Essa tendncia continua durante a

    presente dcada. Aquecimento similar ocorreu tambm

    nas guas modo da Corrente do Golfo e da Kuroshio.

    Os giros subtropicais do Atlntico Norte e Sul tm se

    tornado mais quentes e mais salinos. Como consequn-

    cia, segundo concluso do IPCC-AR4 e de estudos mais

    recentes, bastante provvel que pelo menos at o final

    do ltimo sculo a Clula de Revolvimento Meridional

    do Atlntico (CRMA) tenha se alterado significativa-

    mente em escalas de interanuais a decenais.

    No Atlntico Sul, vrios estudos nos ltimos anos

    sugerem variaes importantes nas propriedades fsicas

    e qumicas das camadas superiores do oceano, associa-

    das com alteraes nos padres da circulao atmos-

    frica. Esses estudos mostram que, em consequncia

    do deslocamento do rotacional do vento em direo

    ao polo, o transporte de guas do Oceano ndico para

    Atlntico sul, fenmeno conhecido como o vazamen-

    to das Agulhas, vem aumentando nos ltimos anos.

    Anlises de dados obtidos remotamente por satlite e in

    situ mostram mudanas no giro subtropical do Atlntico

    Sul associados a mudanas na salinidade das camadas

    superiores. Resultados de observaes e modelos sug-

    erem que o giro subtropical do Atlntico Sul vem se ex-

    pandindo, com um deslocamento para sul da regio da

    Confluncia Brasil-Malvinas.

    h tambm fortes indcios de que as caractersticas

    dos eventos de El Nio no Pacfico esto mudando nas

    ltimas dcadas. Como consequncia, tem havido uma

    mudana nos modos de variabilidade da TSM no Atln-

    tico Sul. Essas alteraes nos padres de TSM favore-

    cem precipitaes acima da mdia ou na mdia sobre

    o norte e nordeste brasileiro e mais chuvas no sul e

    sudeste do Brasil.

  • Introduo e principais questes discutidas 2120 Painel brasileiro de mudanas climticas

    Esta questo abordada no Captulo 4, que traz o conjunto

    de estudos paleoclimticos desenvolvidos com registros

    continentais e marinhos brasileiros e, subordinadamente,

    de outros pases da Amrica do Sul e dos oceanos adjacen-

    tes. As anlises realizadas permitem afirmar que as mudan-

    as na insolao recebida pela Terra em escala temporal

    orbital foram a principal causa de modificaes na precipi-

    tao e nos ecossistemas das regies tropical e subtropical

    do Brasil, principalmente aquelas regies sob influncia do

    Sistema de Mono da Amrica do Sul. Valores altos de

    insolao de vero para o hemisfrio sul foram associados

    a perodos de fortalecimento do Sistema de Mono da

    Amrica do Sul e vice-versa.

    Na escala temporal milenar, foram observadas fortes

    e abruptas oscilaes no gradiente de temperatura do

    Oceano Atlntico, bem como na pluviosidade associada ao

    Sistema de Mones da Amrica do Sul e Zona de Con-

    vergncia Intertropical. A causa destas mudanas climticas

    abruptas reside aparentemente em marcantes mudanas

    na intensidade da Clula de Revolvimento Meridional do

    Atlntico. Perodos de enfraquecimento desta clula foram

    associados a um aumento da precipitao nas regies

    tropicais e subtropicais do Brasil.

    Marcantes alteraes na circulao da poro oeste do

    Atlntico Sul foram reconstitudas para o ltimo Mximo

    Glacial (de 23 a 19 cal ka AP), a ltima deglaciao (de 19 a

    11,7 cal ka AP) e o holoceno (de 11,7 a 0 cal ka AP). Dentre

    elas pode-se citar: (i) uma diminuio na profundidade dos

    contatos entre as massas de gua intermediria e profunda

    durante o ltimo Mximo Glacial, que foi caracterizado por

    uma clula de revolvimento que no foi nem significativa-

    mente mais fraca, nem uma verso significativamente mais

    forte, se comparada com sua intensidade atual; (ii) um

    aquecimento das temperaturas de superfcie do Atlntico

    Sul durante eventos de diminuio na intensidade da C-

    lula de Revolvimento Meridional do Atlntico em perodos

    especficos da ltima deglaciao (e.g., heinrich Stadial 1

    (entre ca. 18,1 e 14,7 cal ka AP) e Younger Dryas (entre ca.

    12,8 e 11,7 cal ka AP)); e (iii) o estabelecimento de um pa-

    dro similar ao atual de circulao superficial na margem

    continental sul do Brasil entre 5 e 4 cal ka AP.

    O nvel relativo do mar na costa do Brasil atingiu at 5

    m acima do nvel atual entre ca. 6 e 5 cal ka AP e diminuiu

    gradativamente at o incio do perodo industrial.

    Anlises paleoantracolgicas indicam que por um lon-

    go perodo do Quaternrio tardio o fogo tem sido um fator

    de grande perturbao em ecossistemas tropicais e sub-

    tropicais e, juntamente com o clima, de suma importncia

    na determinao da dinmica da vegetao no passado

    geolgico.

    Apesar de ainda existirem marcantes controvrsias

    a respeito de pontos importantes relacionados ocupa-

    o humana das Amricas (e.g., idade das primeiras mi-

    graes, quantas levas de migraes ocorreram, por que

    caminhos se processaram as migraes), pode-se afirmar

    que toda a Amrica do Sul j estava ocupada pelo Homo

    sapiens ao redor de 12 cal ka AP e tais ocupaes j mo-

    stravam padres adaptativos e econmicos distintos entre

    si. A aparente estabilidade na ocupao humana do Brasil

    foi interrompida entre ca. 8 e 2 cal ka AP, com significativo

    c ap tulo 4i n formaes pa leocl imt ic as br as i l e i r as

    Questo 3: Quais as evidncias observacionais do clima do passado que contribuem para o entendimento das variabilidades climticas observadas no presente e para a inferncia de cenrios prognsticos de mudanas no clima do Brasil e do continente sul-americano?

    abandono de stios e de populao em escala regional, que

    deve estar associado a marcantes mudanas climticas.

    A Pequena Idade do Gelo (de ca. 1500 a 1850 AD) foi

    caracterizada, na poro (sub)tropical da Amrica do Sul ao

    sul da linha do Equador, por um aumento na precipitao

    que provavelmente est associado a um fortalecimento do

    Sistema de Mono da Amrica do Sul e a uma desintensi-

    ficao da Clula de Revolvimento Meridional do Atlntico.

    Entretanto, os mecanismos climticos associados no esto

    consolidados e o nmero de registros paleoclimticos e pa-

    leoceanogrficos disponveis em ambientes (sub)tropicais

    deste evento particularmente reduzido.

    Genericamente, observa-se um nmero ainda bastante

    restrito de registros paleoclimticos e paleoceanogrficos

    provenientes do Brasil e da poro oeste do Atlntico Sul.

    De fato, apenas nos ltimos anos foram publicados os pri-

    meiros estudos (e.g., Cheng et al., 2009; Chiessi et al., 2009;

    Souto et al., 2011; Laprida et al., 2011; Strkis et al., 2011)

    para algumas regies (e.g., regio Centro-Oeste, Zona de

    Confluncia Brasil-Malvinas) e temas (e.g., temperatura da

    superfcie do mar para o holoceno, variabilidade multide-

    cenal e secular na precipitao). Neste sentido, de suma

    importncia que lacunas nesta rea do conhecimento se-

    jam preenchidas nos prximos 10 anos.

    No Brasil so esperadas mudanas profundas e variveis

    no clima conforme a regio do pas. esperado que essas

    mudanas afetem os ecossistemas aquticos e terrestres

    do Brasil. Neste quesito, o pas um dos mais ricos do

    mundo, tendo seis biomas terrestres (Amaznia, Mata

    Atlntica, Pantanal, Pampas, Cerrado e Caatinga), que

    englobam alguns dos maiores rios do mundo, como o

    Amazonas, Paran e So Francisco; e uma costa com cerca

    de 8.000 km, contendo pelo menos sete grandes zonas

    estuarinas e toda a plataforma continental. O foco principal

    deste captulo ser investigar como os principais processos

    biogeoqumicos seriam afetados pelas mudanas climti-

    cas nos principais biomas e bacias brasileiras.

    Devido falta de informaes espaciais compatveis

    com as escalas dos biomas brasileiros, as anlises feitas

    neste captulo sero concentradas em regies de cada bio-

    ma onde informaes se encontram disponveis. Ao mesmo

    tempo em que esse tipo de limitao nos impede de fazer

    uma generalizao para um determinado bioma, serve

    como um alerta sobre a limitao destas informaes em

    escalas compatveis com as grandes reas de nossos bio-

    mas. h uma carncia de informaes crtica para determi-

    nados biomas, como os Pampas, o Pantanal e a Caatinga.

    Um volume maior de informaes se encontra na Amaznia

    e, secundariamente, no Cerrado. Somente recentemente es-

    tudos tm sido desenvolvidos na Mata Atlntica, mas ainda

    concentrados em algumas poucas reas.

    A previso mais crtica para a regio Amaznica a

    savanizao da floresta. Uma mudana to profunda

    na vegetao acarretaria perdas significativas nos es-

    toques de carbono tanto do solo, como da vegetao.

    Alm das perdas de carbono, haveria outras mudanas

    fisiolgicas e fenolgicas similares quelas descritas mais

    adiante para o Cerrado brasileiro. Tais mudanas se refle-

    c ap tulo 5c ic los b iogeoqu m icos e mudan as c l imt ic as

    Questo 4: Como os principais processos biogeoqumicos seriam afetados pelas mudanas climticas nos biomas e sistemas hdricos brasileiros?

  • 22 Painel brasileiro de mudanas climticas

    tiriam no somente no ciclo do carbono, mas tambm

    no ciclo do nitrognio.

    A Mata Atlntica estoca quantidades apreciveis de car-

    bono e nitrognio em seus solos, principalmente em maio-

    res altitudes. Os aumentos previstos para a temperatura do

    ar na regio Sudeste do Brasil levaria a um aumento nos

    processos de respirao e decomposio, gerando um au-

    mento nas perdas de carbono e nitrognio para a atmos-

    fera. A pergunta que permanece por falta de informaes

    se essas perdas seriam compensadas por um aumento

    na produtividade primria lquida do sistema. Nos cam-

    pos sulinos dos Pampas, similarmente Mata Atlntica, os

    solos detm um aprecivel estoque de carbono. Portanto,

    aumentos na temperatura previstos para o futuro aumen-

    tariam as emisses de CO2 para a atmosfera.

    O balano entre a vegetao lenhosa e a vegetao

    herbcea um importante aspecto da fisionomia do Cer-

    rado. A vegetao lenhosa tem estoques de nutrientes

    mais recalcitrantes na forma de razes profundas e caules,

    enquanto a vegetao herbcea mais prontamente de-

    composta pelo fogo. reas onde a durao da seca fosse

    maior favoreceriam em tese um aumento na incidncia

    de fogo, que, por sua vez, favoreceria o aparecimento

    de uma vegetao herbcea, implicando em mudanas

    importantes no funcionamento do Cerrado. A produ-

    tividade primria do Cerrado pode potencialmente ser

    reduzida frente s mudanas climticas projetadas para

    este bioma. O aumento da temperatura provavelmente

    resultar em uma reduo do processo fotossinttico nas

    plantas do Cerrado, implicando em um possvel decrs-

    cimo de sua biomassa. Adicionalmente, na estao seca o

    Cerrado passa a ser uma fonte de carbono para a atmos-

    fera. Portanto, um aumento na durao deste perodo

    implicaria tambm em uma reduo na produtividade

    primria do Cerrado. O mesmo aumento na durao

    do perodo seco pode potencialmente resultar em um

    aumento na vulnerabilidade ao fogo no Cerrado. O au-

    mento da ocorrncia de eventos de fogo resultaria em

    uma diminuio nos estoques de biomassa e nutrientes

    atravs de escoamento profundo, eroso, transporte de

    partculas e volatilizao.

    De forma geral, h uma grande incerteza em rela-

    o aos efeitos de alteraes climticas nos recursos

    hdricos do Brasil. As bacias hidrogrficas mais impor-

    tantes do pas, segundo seus atributos hidrolgicos e

    ecolgicos, so as do Amazonas, Tocantins-Araguaia,

    Paran, Paraguai e So Francisco. Essas bacias cortam

    regies que devem sofrer diferentes impactos relacio-

    nados a alteraes de temperatura e precipitao (vol-

    ume e frequncia de chuvas), com efeitos distintos na

    disponibilidade de gua ao uso humano, assim como

    manuteno de processos ecolgicos. Regionalmente,

    o aumento de eventos extremos associados frequn-

    cia e volume de precipitao tambm previsto. Os

    cenrios apontam para diminuio da pluviosidade nos

    meses de inverno em todo pas, assim como no vero

    no leste da Amaznia e Nordeste. Da mesma forma, a

    frequncia de chuvas na regio Nordeste e no Leste da

    Amaznia (Par, parte do Amazonas, Tocantins, Maran-

    ho) deve diminuir, com aumento da frequncia de dias

    secos consecutivos. Este cenrio dever impor um stress

    srio aos j escassos recursos hdricos da regio Nor-

    deste. Em contraste, o pas deve observar o aumento

    da frequncia e da intensidade das chuvas intensas na

    regio subtropical (regio Sul e parte do Sudeste) e no

    extremo oeste de Amaznia.

    c ap tulo 6aeross i s atmosfr icos e nuvens

    Questo 5: Como as mudanas antropognicas sobre o campo de aerossis podem interferir sobre a precipitao e a circulao atmosfrica? Quais as incertezas na representao dos pro-cessos envolvendo a modelagem de aerossis e nuvens?

    Neste captulo apresentada uma reviso de algumas das

    principais contribuies cientficas para a caracterizao dos

    aerossis atmosfricos sobre o Brasil, incluindo o papel exer-

    cido por suas fontes naturais e antrpicas, como queima de

    biomassa, poluio urbana, dentre outras, e para o entendi-

    mento dos processos de microfsica de nuvens.

    Ainda que em anos recentes tenha sido observada

    uma reduo nas taxas de desmatamento (Koren et al.,

    2007), certo que as queimadas na Amaznia so ainda

    a principal fonte antrpica de partculas de aerossol em

    escala continental na Amrica do Sul e no Brasil. Em menor

    escala, mas com importante impacto no clima regional,

    tambm ocorrem queimadas nas culturas de cana-de-a-

    car (Lara et al., 2005). Por outro lado, h uma importante

    contribuio de emisses situadas em regies urbanas,

    fruto principalmente de emisses veiculares. Ainda que

    no sejam majoritrias no contedo total de emisses,

    as partculas de aerossol das emisses urbanas exercem

    papel importante no clima urbano e na sade pblica das

    metrpoles brasileiras (e.g., Andrade et al., 2010).

    Diversos experimentos realizados na regio amazni-

    ca, quase todos dentro do contexto do experimento LBA

    (Experimento de Larga Escala da Biosfera Atmosfera da

    Amaznia), foram capazes de qualificar e quantificar a

    composio do aerossol presente na atmosfera amazni-

    ca. A composio do aerossol natural na regio amaznica

    pode ser observada durante a estao chuvosa, quando

    atividades relacionadas s queimadas so desprezveis.

    A concluso geral dos trabalhos focados na regio de

    que o aerossol natural amaznico uma soma das con-

    tribuies do transporte de aerossol marinho para dentro

    do continente, de episdios de transporte de poeira do

    Saara, e de emisses biognicas da vegetao. Em termos

    de contribuio absoluta massa do material particulado,

    as emisses biognicas primrias so dominantes.

    O papel dos aerossis no balano de energia do

    sistema Terra-atmosfera normalmente classificado como

    efeito direto e indireto, sendo o primeiro dado pela inte-

    rao direta com a radiao (absoro e espalhamento) e

    o segundo atravs da modificao das propriedades mi-

    crofsicas e, por consequncia, na dimenso e no ciclo de

    vida das nuvens. Neste ltimo caso, um parmetro chave

    o nmero de partculas de aerossol com capacidade de

    atuar como ncleos de condensao (CCN) e de gelo (IN).

    A maioria dos estudos das propriedades dos CCN e

    das nuvens na Amrica do Sul se concentra na Regio

    Amaznica (e, em menor extenso, sobre o Nordeste).

    Esse nmero limitado de experimentos de campo e a in-

    existncia de medidas em grande parte do Brasil impem

    bvias limitaes representao dos processos microfsi-

    cos em modelos aplicados sobre o territrio nacional. Os

    trabalhos existentes baseiam-se na anlise de dados de

    satlite e, em menor nmero, em campanhas intensivas

    de medidas de campo. Por exemplo, medidas in situ re-

    alizadas na bacia amaznica durante o experimento LBA/

    SMOCC 2002, em regio de pastagem em Rondnia, que

    cobriram um perodo com intensa atividade de queima-

    das (setembro), transio (outubro) e o incio da estao

    chuvosa (novembro), indicam um grande aumento no

    nmero de partculas no perodo seco em funo das quei-

    Introduo e principais questes discutidas 23

  • Introduo e principais questes discutidas 2524 Painel brasileiro de mudanas climticas

    madas. As medies de Martins et al. (2009), realizadas

    com aeronave, estudaram as propriedades dos CCN na

    Regio Amaznica, comparando regies limpas e regies

    sob intensa atividade de queima de biomassa. Os autores

    observaram um decrscimo generalizado na concentrao

    de CCN desde o final da estao seca at o incio da es-

    tao chuvosa. A comparao entre dias poludos e dias

    limpos mostra uma concentrao pelo menos cinco vezes

    maior para os dias poludos. Diferenas ainda maiores so

    verificadas quando reas limpas e poludas foram com-

    paradas para uma mesma data, indicando que a atividade

    de queima de biomassa mais eficiente em produzir, prin-

    cipalmente, partculas pequenas e com pequena frao

    solvel. Mais recentemente, Pschl et al. (2010) mostraram

    que partculas finas, faixa em que predominam os CCN,

    so preponderantemente compostas de material orgnico

    secundrio formado pela oxidao de precursores biogni-

    cos, enquanto que partculas grossas, importantes nu-

    cleadores de gelo, consistem de material biolgico emitido

    diretamente pela floresta.

    Os chamados efeitos indiretos dos aerossis constituem

    os mecanismos atravs dos quais estes modificam a micro-

    estrutura das nuvens, com consequncias para suas pro-

    priedades radiativas e seu ciclo de vida. jones e Christopher

    (2010) estudaram as propriedades estatsticas da interao

    aerossis-nuvens-precipitao sobre a Amrica do Sul, em

    busca de indicativos do efeito indireto dos aerossis sobre

    os processos associados a nuvens quentes. Os autores tra-

    balharam com a hiptese de que, se os efeitos indiretos

    (e tambm o semidireto) se manifestarem, em condies

    poludas, como consequncia da reduo nos processos de

    coliso e coalescncia ou aumento na estabilidade, deveria

    haver uma diminuio na precipitao estratiforme em com-

    parao com condies mais limpas no mesmo ambiente.

    Comparando amostras sem chuva, com chuva e chuva in-

    tensa, concluram, porm, que as condies atmosfricas de

    maior escala so mais importantes para o desenvolvimento

    da precipitao do que a concentrao de aerossis.

    Por exemplo, Andreae et al. (2004) sugerem que a

    fumaa produzida a partir das queimadas na Amaz-

    nia produz efeitos significativos sobre a microestrutura

    das nuvens, com uma reduo no dimetro mdio das

    gotculas, inibindo a coliso-coalescncia. Esta noo

    corroborada por Freud et al. (2008), que discutem que h

    um aumento consistente em cerca de 350 m na altitude

    sobre a base da nuvem na qual a coliso-coalescncia

    dispara a formao de chuva quente para cada 100 n-

    cleos de condensao (a uma supersaturao de 0,5%)

    adicionados por cm3. Indcios no mesmo sentido so

    tambm apresentados por Costa e Pauliquevis (2009),

    cujos resultados apontam para altitudes de chuva quente

    (isto , a altitude em que o processo de formao de

    chuva quente se inicia), indo de 1200-2300 m em ambi-

    entes martimos e costeiros a 5400-7100 m em ambien-

    tes influenciados por queimadas.

    Como apontam Lee e Penner (2010), o fato de nu-

    vens cirrus cobrirem tipicamente mais de 20% do planeta

    faz com que as mesmas sejam importantes para o bal-

    ano radiativo planetrio. Nuvens convectivas profundas,

    particularmente nos trpicos, so responsveis por me-

    canismos de transporte vertical cruciais para a circulao

    geral atmosfrica. Nesse sentido, os aerossis cumprem

    um papel significativo na microestrutura de nuvens cu-

    mulonimbus, sendo que suas estimativas apontam para

    valores de dimetro efetivo de 10 a 20% menores sobre

    o continente do que sobre o oceano e com uma mar-

    cada variabilidade sazonal nessa varivel em regies com

    queima de biomassa, como a Amaznia. Medidas in situ

    das propriedades microfsicas de nuvens frias e de fase

    mista sobre o Brasil, no entanto, so extremamente lim-

    itadas, havendo indicaes de dados coletados apenas

    durante um experimento de campo, o TRMM-LBA (Tropi-

    cal Rainfall Measuring Mission - Large-Scale Biosphere-

    Atmosphere Experiment in Amazonia).

    A modelagem dos processos envolvendo nuvens na

    maior parte dos modelos globais e regionais utilizados

    para previso de tempo e clima e para as simulaes

    de mudanas climticas no Brasil e no mundo ainda

    se caracteriza pela utilizao de um grande nmero de

    simplificaes nos processos envolvendo nuvens. par-

    ticularmente significativo que as escalas dos movimen-

    tos convectivos no sejam explicitamente resolvidas

    na maioria desses modelos. Isto se d em funo da

    limitao de recursos computacionais e pelo fato de os

    modelos atualmente disponveis dependerem significa-

    tivamente de parametrizaes de conveco. Outro as-

    pecto importante a ser considerado a variabilidade na

    forma da distribuio de tamanho das gotculas, que

    ao mesmo tempo um fator fisicamente relevante no de-

    senvolvimento da precipitao, assim como a fase gelo,

    que se constituem em fontes de incerteza importantes na

    modelagem dos processos de nuvens.

    O clima controlado por diversos fatores, chamados agen-

    tes climticos, que podem ser naturais ou originados de

    atividades humanas (antrpicos). Um certo agente climti-

    co pode contribuir para aquecer o planeta, como por

    exemplo os gases de efeito estufa antrpicos, enquanto

    outro agente pode tender a resfri-lo, como as nuvens. Ao

    tomador de decises seria conveniente conhecer qual a

    influncia quantitativa de cada agente climtico. Por ex-

    emplo, conhecer qual a contribuio de cada agente para

    as variaes de temperatura na superfcie do planeta, ou

    mesmo no Brasil. No entanto, os modelos climticos que

    constituem o estado da arte atual, no mundo todo, ainda

    precisam de anos de desenvolvimento para que forneam

    resultados confiveis e consistentes para previses de mu-

    danas climticas: ainda h grandes divergncias entre pre-

    vises de temperatura, cobertura de nuvens, precipitao,

    etc., elaboradas com modelos diferentes. No Captulo 7

    discutem-se estimativas da forante radiativa e efeitos ra-

    diativos, sobre a atmosfera e a superfcie, causados por

    agentes naturais e antrpicos sobre o Brasil.

    O conceito de forante radiativa, tal como definido

    no relatrio IPCC-AR4, um passo intermedirio que no

    necessita, em princpio, de modelos climticos para seu

    clculo, por isso os valores de forante radiativa podem ser

    mais objetivamente interpretveis. Uma forante radiativa

    positiva significa que um agente tende a aquecer o planeta,

    ao passo que valores negativos indicam uma tendncia de

    resfriamento. Uma inconvenincia do conceito de forante

    radiativa que em geral ela expressa em termos de wm

    2 (watt por metro quadrado), que uma unidade menos

    familiar que graus Celsius, por exemplo. Se um agente

    climtico representa uma forante radiativa de +2 wm 2,

    isso indica que ele tende a aquecer o planeta. Uma vez

    determinado o valor da forante radiativa de um agente,

    pode-se usar esse valor em modelos climticos que pro-

    curaro traduzi-lo, por exemplo, como mudanas de tem-

    peratura superfcie, ou mudanas no volume de chuvas,

    etc. Como os modelos climticos ainda apresentam resul-

    tados bastante divergentes, um mesmo valor de forante

    pode dar origem a diferentes previses, dependendo do

    c ap tulo 7for ante r ad iat i va natur al e antrp ic a

    Questo 6: Quais so as estimativas da forante radiativa e dos efeitos radiativos, sobre a atmosfera e a superfcie, causados por agentes naturais e antrpicos, sobre o Brasil e a Amrica do Sul?

  • Introduo e principais questes discutidas 2726 Painel brasileiro de mudanas climticas

    modelo climtico escolhido e das condies em que ele

    utilizado. nesse contexto que o conceito de forante

    radiativa oferece um meio de comparao entre diferen-

    tes agentes climticos, independentemente da preciso

    dos modelos climticos atuais. A quantificao numrica

    da intensidade da forante radiativa permite ao tomador

    de deciso visualizar quais os agentes mais significativos,

    classificando-os por ordem de magnitude relativa. Calcular

    a forante radiativa de um agente climtico como definir

    uma escala padro, que permite a possibilidade de se esti-

    mar a intensidade de sua perturbao sobre o clima, para

    algum local ou regio do globo.

    Alm de agentes climticos independentes, ocorrem

    tambm situaes de interdependncia entre agentes,

    chamados processos de retroalimentao, que tornam ainda

    mais complexa a compreenso de qual o efeito climtico

    final de um certo agente. Alguns agentes climticos podem

    influenciar o ciclo hidrolgico. Por exemplo, alguns pes-

    quisadores afirmam que a fumaa emitida em queimadas

    na Amaznia pode alterar o funcionamento natural das

    nuvens, diminuindo o volume de chuvas que essas nuvens

    podem produzir. Se isso acontece, ento a menor ocorrn-

    cia de chuvas pode favorecer a ocorrncia de um nmero

    ainda maior de queimadas, e assim se estabelece um ciclo

    de retroalimentao. Em tais ciclos de retroalimentao, as

    relaes de causa e efeito so complexas, e por esse motivo

    a avaliao do impacto sobre o clima denominada efeito

    radiativo, e no uma forante radiativa. Essa distino uti-

    lizada de forma rigorosa neste captulo.

    importante levar em considerao escalas de tempo e

    espao. Mudanas climticas que ocorrem em longo prazo,

    em escalas de milhares a milhes de anos, so controladas

    por variaes orbitais do planeta. No entanto, numa escala

    de centenas de anos as mudanas orbitais so virtualmente

    irrelevantes, e outros fatores predominam. Um exemplo a

    influncia antrpica sobre o clima devido emisso de gases

    de efeito estufa, que vem causando um aumento anmalo

    da temperatura mdia na superfcie do planeta.

    Este captulo apresenta a definio formal de forante

    radiativa, do potencial de aquecimento global e do potencial

    de temperatura global, que so grandezas utilizadas para pa-

    dronizar uma metodologia de comparao, e que permitem

    estimar quantitativamente os efeitos de diferentes agentes

    climticos. O captulo apresenta uma reviso bibliogrfica de

    estudos recentes, efetuados sobre o Brasil ou sobre a Amri-

    ca do Sul, que identificaram alguns dos principais agentes

    climticos naturais e antrpicos atuantes no pas. Embora

    a inteno fosse apresentar, em nmeros, a contribuio

    para a forante radiativa atribuda aos diferentes agentes, a

    inexistncia de trabalhos cientficos no pas para vrios deles

    trouxe outra dimenso ao captulo.

    Os efeitos climticos mais significativos em escalas de

    dezenas a centenas de anos, no Brasil, so os efeitos radiati-

    vos de nuvens, a forante radiativa dos gases de efeito estu-

    fa, a forante de mudana de uso do solo, e a dos aerossis

    (fumaa) emitidos em queimadas por fontes antrpicas.

    Nuvens exercem um efeito radiativo natural, mas suas

    propriedades podem ser alteradas pela ao humana (e.g.,

    efeitos indiretos de aerossis, mudana de propriedades da

    superfcie, entre outros). Essas alteraes podem envolver

    processos de retroalimentao, com possveis impactos so-

    bre o ciclo hidrolgico, causando alteraes na disponibi-

    lidade de gua doce, ou na frequncia de ocorrncia de

    eventos extremos de precipitao, como secas ou tem-

    pestades severas. Os resultados compilados neste captulo

    mostram que as nuvens constituem o agente climtico mais

    importante do ponto de vista de balano de radiao sobre

    a Amaznia, reduzindo em at 110 wm 2 a radiao su-

    perfcie, e contribuindo com cerca de +26 wm 2 no topo da

    atmosfera. Isso significa que as nuvens na Amaznia atuam

    causando em mdia um resfriamento da superfcie, mas

    um aquecimento do planeta. Cabe ressaltar que o modo

    como os estudos consideram as nuvens distribudas na

    vertical desempenha um papel fundamental nos resultados

    obtidos: nuvens altas tendem a contribuir com um efeito de

    aquecimento do planeta, enquanto nuvens baixas tendem

    a resfri-lo. Desse modo, importante destacar que esse

    resultado no pode ser automaticamente estendido para

    outras regies, com padres de nuvens e caractersticas de

    superfcie diferentes da regio amaznica.

    No Brasil, a principal fonte de gases de efeito estufa

    e aerossis antrpicos a queima de biomassa, utilizada

    como prtica agrcola ou na mudana da cobertura do solo.

    Como tcnica agrcola, as queimadas so empregadas no

    combate a pragas e na limpeza de lavouras com objetivo

    de facilitar a colheita, como no caso do cultivo da cana-de-

    acar. O uso de queimadas para alterao do uso do solo

    observado especialmente na regio amaznica. No caso

    dos gases de efeito estufa, grande parte do esforo das

    pesquisas no Brasil atualmente se concentra na elaborao

    de inventrios de emisso. No se encontram na literatura

    cientfica estimativas de clculos da forante radiativa desses

    gases considerando as condies das emisses brasileiras.

    Aerossis antrpicos, emitidos principalmente em

    queimadas, podem absorver e refletir a luz do Sol. Essa

    interao direta entre aerossis e a luz (radiao) solar

    define a forante radiativa direta de aerossis. Vrios es-

    tudos quantificaram essa forante de aerossis antrpicos,

    sobretudo na Amaznia. Uma mdia ponderada de alguns

    dos resultados compilados neste captulo resultou em uma

    forante radiativa de -8,00,5 wm 2, indicando que, em

    mdia, a fumaa emitida em queimadas contribui para

    resfriar o planeta, contrapondo-se parcialmente ao aqueci-

    mento causado por gases de efeito estufa antrpicos.

    muito importante, no entanto, ressaltar que aerossis e

    gases tm escalas de tempo e espao muito diferentes: en-

    quanto gases de efeito estufa tendem a se espalhar aproxi-

    madamente de modo uniforme sobre o planeta, e tm

    tipicamente vida mdia de centenas de anos, aerossis

    emitidos em queimadas na Amaznia espalham-se sobre

    grande parte do continente da Amrica do Sul, e tm vida

    mdia de dias (so removidos da atmosfera e depositam-

    se sobre a superfcie). Assim, a comparao das forantes

    de aerossis e gases no pode ser feita diretamente.

    As mudanas antrpicas no uso do solo, como, por

    exemplo, o processo de longo prazo de urbanizao das

    cidades brasileiras, ou a converso de florestas para a ag-

    ropecuria na regio amaznica desde 1970, resultaram em

    modificaes de propriedades da superfcie vegetada como,

    por exemplo, o albedo (refletividade da superfcie). No caso

    da Amaznia, em geral, substitui-se uma superfcie mais

    escura (floresta), por superfcies mais brilhantes (e.g., plan-

    taes, estradas, construes, etc.), o que implica em uma

    maior frao da luz solar sendo refletida de volta ao espao.

    Encontrou-se um trabalho sobre a mudana de albedo em

    regies desmatadas desde 1970 na Amaznia, que estimou

    em 7,30,9 wm 2 como a magnitude dessa forante an-

    trpica. Note-se que esse valor semelhante forante de

    aerossis antrpicos, porm, importante salientar que o

    desmatamento na Amaznia tem carter virtualmente per-

    manente (i.e., a maioria das reas degradadas em geral no

    volta a ser recomposta como floresta primria), enquanto

    aerossis de queimada tm vida mdia da ordem de dias. Es-

    sas observaes indicam a necessidade de se realizar estudos

    mais aprofundados sobre essa forante originada nos pro-

    cessos de mudana de uso do solo, em especial incluindo-se

    o efeito da urbanizao histrica e da expanso agropecuria

    em nvel nacional e em vrias escalas temporais.

    Aerossis tambm interagem com nuvens, modifican-

    do suas propriedades. As nuvens modificadas, por sua vez,

    interagem com a radiao solar. Dessa forma, define-se a

    forante indireta (i.e., mediada pela interao com nuvens)

    de aerossis. As estimativas de forante radiativa para os

    efeitos indiretos de aerossis encontradas na literatura

    apresentaram uma ampla gama de valores. A maioria dos

    resultados tem sinal negativo, variando entre cerca de -9,5

    a -0,02 wm 2 para diferentes tipos de superfcie, indicando

    condies de resfriamento climtico. Este um tpico que

    ainda necessita de mais estudos de caracterizao e verifi-

    caes independentes, para que esse componente da for-

    ante antrpica sobre o Brasil possa ser adequadamente

    representado em modelos climticos.

  • Introduo e principais questes discutidas 2928 Painel brasileiro de mudanas climticas

    No foram encontrados trabalhos avaliando a forante

    radiativa no Brasil devido ao aerossol de origem urbana, ao

    aerossol natural de poeira oriunda da frica, ou de erupes

    vulcnicas, nem formao de trilhas de condensao pelas

    atividades da aviao comercial. Essas forantes radiativas,

    por ora desconhecidas, podem, ou no, serem comparveis

    quelas devido a gases de efeito estufa e aerossis antrpi-

    cos. Os trabalhos analisados na elaborao deste captulo

    evidenciam a existncia de lacunas significativas em estudos

    de forantes radiativas no Brasil. Conhecer com preciso a

    magnitude dessas forantes e aprimorar a compreenso

    de seus impactos resultaro em melhorias nos modelos de

    previso de tempo e clima. Tais modelos so ferramentas

    importantes para instrumentalizar a tomada de decises

    polticas e econmicas diante das mudanas climticas que

    vm atuando no pas.

    Este tema abordado no Captulo 8 do GT1. Nele so descri-

    tas as caractersticas e desenvolvimentos do modelo global

    atmosfrico do CPTEC e modelos regionais climticos. O

    Modelo de Circulao Global Atmosfrico do CPTEC/INPE,

    base do Modelo Brasileiro do Sistema Climtico Global

    (MBSCG), tem sido desenvolvido desde a sua verso inicial

    CPTEC/COLA de 1994. A variao sazonal da precipitao,

    presso ao nvel do mar, ventos em altos e baixos nveis,

    bem como a estrutura vertical dos ventos e temperatura,

    tm sido bem representados pelo MCGA CPTEC/COLA. Os

    principais centros associados a ondas estacionrias nos dois

    hemisfrios so razoavelmente bem reproduzidos. Entretan-

    to, a precipitao subestimada principalmente na regio da

    Amaznia e centro-sul da Amrica do Sul e superestimada

    no Nordeste do Brasil e nas regies de convergncia inter-

    tropical (ZCIT) e da Amrica do Sul (ZCAS). Embora erros

    sistemticos sejam mais destacados nas regies tropicais,

    as maiores correlaes entre anomalias de precipitao do

    modelo e observadas ocorrem nessa regio, que inclui o

    extremo norte do Nordeste do Brasil e leste da Amaznia.

    Tendo em vista que os modelos regionais climticos

    possibilitam um maior detalhamento dos cenrios climti-

    cos fornecidos pelos modelos globais, que geralmente

    apresentam baixa resoluo espacial e menor custo com-

    putacional, vrios estudos, com diferentes modelos, tm

    sido realizados ao longo dos ltimos anos.

    Por exemplo, Marengo et al. (2009), utilizando trs mod-

    elos regionais (hadRM3P, Eta-CCS e RegCM3) cujas simula-

    es foram realizadas com as mesmas condies de con-

    torno do modelo global hadAM3P, obtiveram simulaes

    do clima atual e projees de clima futuro para o final deste

    sculo sobre a Amrica do Sul (AS). Em relao ao clima

    atual, os autores mostraram que os modelos tm um vis

    negativo de precipitao na parte mais setentrional da AS e

    tambm um vis negativo que domina quase todo o conti-

    nente, com exceo da parte mais central, que se mostrou

    mais dependente da sazonalidade. Os resultados indicaram

    que o Eta-CCS apresenta um maior aquecimento no oeste

    da Amaznia quando comparado aos modelos RegCM3 e

    hadRM3P, enquanto que estes ltimos apresentam maior

    c ap tulo 8aval i ao de modelos globa i s e reg iona i s c l imt icos

    Questo 7: Qual a capacidade dos modelos numricos em reproduzir o clima presente e futuro sobre o Brasil e a Amrica do Sul?

    aquecimento na regio leste da Amaznia. Os autores de-

    stacam ainda que as projees destes modelos diferem em

    relao s regies onde so verificados os maiores aqueci-

    mentos (acima de 8C), por exemplo, na Amaznia oriental

    ou na Amaznia ocidental, dependendo do modelo regional

    utilizado. Conforme mencionado em Marengo et al. (2010,

    2011), estas incertezas s podem ser reduzidas com avanos

    no conhecimento do sistema climtico.

    Vrios estudos utilizando modelos globais atmosfricos

    e acoplados e regionais climticos abordaram fenmenos

    meteorolgicos que atuam na AS, em particular no Brasil.

    Por exemplo, com relao Zona de Convergncia do

    Atlntico Sul (ZCAS), os trabalhos de Pesquero (2009) e

    Pesquero et al. (2009), que utilizaram o modelo Eta aninha-

    do s condies do hadAM3P, verificaram a capacidade do

    modelo em reproduzir a circulao de mono da Amrica

    do Sul e a frequncia de eventos de ZCAS, tanto no clima

    presente (1961-1990), quanto no clima futuro (2070-2099),

    utilizando-se o cenrio A1B do IPCC-SRES. Os resultados

    indicaram no haver diferenas importantes entre os fluxos

    de umidade em toda a estao chuvosa, quando compara-

    dos aos perodos de ZCAS sobre a Regio SE. No entanto,

    em relao a precipitaes intensas, constatou-se a ocor-

    rncia de valores de precipitao entre 90 e 140 mm/dia em

    diversas situaes do clima futuro.

    Outro fenmeno de importncia para o clima da AS o

    jato de Baixo Nvel (jBN). Os resultados de Soares e Maren-

    go (2009), com a utilizao do modelo hadRM3P, indicar-

    am um total de 169 casos de jBNs detectados no perodo

    1980-1989, enquanto que as ocorrncias entre 2080 e 2089

    totalizaram 224, evidenciando assim o impacto do SRES A2

    na frequncia de ocorrncia de jBNs da AS.

    Apesar dos acelerados avanos tericos e computacio-

    nais verificados nos ltimos anos, as projees climticas

    so cercadas de imperfeies e incertezas, oriundas da

    prpria dinmica do sistema climtico. Existem pelo menos

    duas principais fontes de incerteza inerentes s projees

    do clima: aquelas relacionadas aos cenrios de emisses,

    e modelagem do clima e suas parametrizaes. Embora

    os cenrios de emisses sejam baseados em um conjunto

    de suposies coerentes e fisicamente consistentes sobre

    suas forantes, tais como demografia, desenvolvimento

    socioeconmico e mudanas tecnolgicas, no se pode

    afirmar exatamente como estes vo evoluir ao longo das

    prximas dcadas. Em relao s incertezas na modelagem

    do clima, tcnicas diferentes de regionalizao e/ou pa-

    rametrizao podem produzir diferentes respostas locais,

    ainda que todas as simulaes sejam foradas pelo mesmo

    modelo global, alm da possibilidade de erros advindos

    dos prprios MCGs.

  • Introduo e principais questes discutidas 3130 Painel brasileiro de mudanas climticas

    Cenrios futuros do clima so projees ou simulaes

    geradas por modelos que levam em considerao os dife-

    rentes cenrios de emisses globais de gases do efeito

    estufa (GEE) propostos pelo IPCC. Atualmente, a melhor

    ferramenta cientfica disponvel para a gerao das pro-

    jees de mudanas ambientais o downscaling (region-

    alizao) dinmico, cuja tcnica consiste em usar um mod-

    elo climtico regional aninhado a um modelo climtico

    global (maiores detalhes sobre modelagem encontram-se

    no Captulo 9). Os resultados cientficos consensuais das

    projees regionalizadas de clima nos diferentes biomas

    do Brasil, considerando os perodos de incio (2011-2040),

    meados (2041-2070) e final (2071-2100) do sculo xxI, so

    sumariados neste captulo.

    Em geral, as projees climticas possuem desem-

    penho (skill) relativamente melhor nos setores norte/

    nordeste (Amaznia e Caatinga) e sul (Pampa) do Brasil,

    e desempenho pior no centro-oeste e sudeste (Cerrado,

    Pantanal e Mata Atlntica). As projees consensuais

    para os biomas brasileiros, baseadas nos resultados

    cientficos de modelagem climtica global e regional,

    so as seguintes:

    AMAZNIA Redues percentuais de -10% na distri-

    buio de chuva e aumento de temperatura de 1 a 1,5C

    at 2040, mantendo a tendncia de diminuio de -25%

    a -30% nas chuvas e aumento de temperatura entre 3 e

    3,5C no perodo 2041-2070, sendo que no final do scu-

    lo (2071-2100) as mudanas so mais crticas, com clima

    significativamente menos chuvoso (reduo de -40% a

    -45% nas chuvas) e muito mais quente (aumento de 5

    a 6C de temperatura). Enquanto tais modificaes de

    clima associadas s mudanas globais podem compro-

    meter o bioma em longo prazo (final do sculo), no

    obstante, a questo atual do desmatamento decorrente

    das intensas atividades de uso da terra representa uma

    ameaa mais imediata para a Amaznia. Estudos obser-

    vacionais e de modelagem numrica sugerem que, caso

    o desmatamento alcance 40% na regio, se esperam

    mudanas drsticas no ciclo hidrolgico, com reduo

    de -40% na pluviometria durante os meses de julho a

    novembro, prolongando a durao da estao seca, bem

    como provocando aquecimento superficial em at 4C.

    Assim, as mudanas regionais pelo efeito do desmata-

    mento somam-se quelas provenientes das mudanas

    globais, constituindo, portanto, condies propcias

    prevalncia de vegetao do tipo cerrado, sendo que

    esse problema de savanizao da Amaznia tende a ser

    mais crtico na poro oriental.

    CAATINGA Aumento de 0,5 a 1C na temperatura do

    ar e decrscimo entre -10% e -20% na chuva durante as

    prximas trs dcadas (at 2040), com aumento gradual

    de temperatura para 1,5 a 2,5C e diminuio entre -25%

    e -35% nos padres de chuva no perodo de 2041-2070.

    No final do sculo (2071-2100) as projees indicam

    condies significativamente mais quentes (aumento de

    temperatura entre 3,5 e 4,5C) e agravamento do dficit

    hdrico regional com diminuio de praticamente metade

    (-40 a -50%) da distribuio de chuva.

    c ap tulo 9mudanas ambientais de curto e longo prazo: projees e atribuio

    Questo 8: Quais as mudanas climticas projetadas para curto e longo prazo que iro afetar os principais biomas brasileiros?

    CERRADO Aumento de 1C na temperatura superficial

    com diminuio percentual entre -10% a -20% na pre-

    cipitao durante as prximas trs dcadas (at 2040). Em

    meados do sculo (2041-2070) espera-se aumento entre

    3 e 3,5C da temperatura do ar e reduo entre -20% e

    -35% da pluviometria. No final do sculo (2071-2100) o

    aumento de temperatura atinge valores entre 5 e 5,5C

    e a retrao na distribuio de chuva mais crtica, com

    diminuio entre -35% e -45%..

    PANTANAL Aumento de 1C na temperatura e diminuio

    entre -5% e -15% nos padres de chuva at 2040, man-

    tendo a tendncia de reduo das chuvas para valores entre

    -10% e -25% e aumento de 2,5 a 3C de temperatura em

    meados do sculo (2041-2070). No final do sculo (2071-

    2100), predominam condies de aquecimento intenso (au-

    mento de temperatura entre 3,5 e 4,5C), com diminuio

    acentuada nos padres de chuva de -35% a -45%.

    MATA ATLNTICA Como este bioma abrange reas des-

    de o sul, sudeste at o nordeste brasileiro, as projees

    apontam dois regimes distintos. Poro Nordeste (NE):

    Aumento relativamente baixo nas temperaturas de 0,5 a

    1C e decrscimo nas chuvas em torno de -10% at 2040,

    mantendo a tendncia de aquecimento entre 2 e 3C e

    diminuio pluviomtrica entre -20% e -25% em meados

    do sculo (2041-2070). Para o final do sculo (2071-2100),

    esperam-se condies de aquecimento intenso (aumento

    de 3 a 4C) e diminuio entre -30% e -35% nos pa-

    dres de chuva regional. Poro Sul/Sudeste (S/SE): At

    2040 as projees indicam aumento relativamente baixo

    de temperatura entre 0,5 e 1C, com intensificao nos

    padres de chuva em torno de 5% a 10%. Em medos do

    sculo (2041-2070), continuam as tendncias de aumento

    gradual de 1,5 a 2C na temperatura e de 15% a 20% nas

    chuvas, sendo que essas tendncias se acentuam no final

    do sculo (2071-2100), com padres de clima entre 2,5 e

    3C mais quente e entre 25% a 30% mais chuvoso.

    PAMPA No perodo at 2040 prevalecem condies de

    clima regional de 5% a 10% mais chuvoso e at 1C mais

    quente, mantendo a tendncia de aquecimento entre 1

    e 1,5C e intensificao das chuvas entre 15% e 20%

    at meados do sculo (2041-2070). No final do sculo

    (2071-2100) as projees so mais agravantes com au-

    mento de temperatura de 2,5 a 3C e chuvas de 35% a

    40% acima do normal.

    Em virtude do alto grau de vulnerabilidade das regies

    norte e nordeste do Brasil, ressalta-se que as projees

    mais preocupantes para o final do sculo so para os

    biomas Amaznia e Caatinga, cujas tendncias de aqueci-

    mento na temperatura do ar e de diminuio nos padres

    regionais de chuva so maiores do que a variao mdia

    global. Em termos de atribuio de causa fsica, sugere-se

    que essa mudana climtica de reduo na pluviometria

    se associa aos padres ocenicos tropicais anomalamente

    mais aquecidos sobre o Pacfico e o Atlntico (esperados

    num clima futuro de aquecimento global), os quais modi-

    ficam o regime de vento de forma a induzir diminuio no

    transporte de umidade e prevalncia de circulao atmos-

    frica descendente (clulas de hadley e walker) sobre o

    Brasil tropical, inibindo a formao de nuvens convectivas e

    explicando assim as condies de chuva abaixo do normal.

  • Introduo e principais questes discutidas 3332 Painel brasileiro de mudanas climticas

    R E F E R N C I A S

    Ambrizzi T., Rocha R., Marengo j.A., Pisnitchenko I., Alves L.M. (2007). Cenrios regionalizados de clima no Brasil para o Sculo xxI: Projees de clima usando trs modelos regionais. Relatrio 3, MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA, SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS SBF, DIRETORIA DE CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE DCBio Mudanas Climticas Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade - Subprojeto: Caracterizao do clima atual e definio das alteraes climticas para o territrio brasileiro ao longo do Sculo xxI. Braslia, fevereiro de 2007.

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  • 34 Painel brasileiro de mudanas climticas

    O b s e r v a e s A m b i e n ta i s At m o s f r i c a s e d e

    P r o p r i e d a d e s d aS u p e r f c i e

    2

    Autores Principais

    Alice M. Grimm - UFPR; Gilvan Sampaio - INPE

    Autores Revisores

    Gilberto Fisch IEA/CTA; Maria Cristina Forti - INPE

    Autores Colaboradores

    Celso von Randow INPE; Expedito Ronald Gomes Rebello INMET; Francinete

    Francis Lacerda ITEP/PE; Francisco de Assis Diniz INMET; Gabriel Blain IAC/SP;

    Guillermo Obregn INPE; Iracema Cavalcanti INPE; Jos Fernando Pesquero

    INPE; Leila Maria Vespoli Carvalho UCSB; Lincoln Muniz Alves INPE;

    Manoel Ferreira Cardoso INPE; Orivaldo Brunini IAC/SP;

    Osmar Pinto Jnior INPE; Prakki Satyamurty - UEA.

  • 36 Painel brasileiro de mudanas climticas

    Neste captulo so apresentados resultados observacionais a respeito de variaes de parmetros ambientais que po-

    dem representar efeitos da variabilidade climtica natural de longo perodo e, em alguns casos, indicaes de efeitos da

    ao humana. As sries temporais climticas so um produto de interaes complexas do sistema climtico terrestre,

    representando um efeito combinado de oscilaes intra e interanuais, decenais/ interdecenais e at escalas de tempo

    maiores (por exemplo, milhares a milhes de anos), que so naturais do sistema climtico. A separao dessas variaes

    naturais das alteraes antropognicas no uma tarefa fcil, e talvez nem possvel na maioria dos casos, tendo em vista

    que tais resultados so geralmente baseados em sries temporais de observaes feitas durante perodos relativamente

    curtos, bem inferiores s escalas de tempo paleoclimatolgicas, tratadas no Captulo 4. Portanto, necessrio cautela na

    atribuio das causas das variaes observadas. De qualquer maneira, quer sejam variaes naturais que venham a ser

    revertidas aps uma ou mais dcadas, quer sejam reais tendncias causadas por ao humana, tais variaes necessitam

    ser conhecidas para que seja possvel planejar a adaptao a elas, para enfrent-las em seus aspectos negativos ou delas

    tirar o mximo proveito. A magnitude tanto das variaes naturais como das mudanas climticas antropognicas tem

    repercusses para a sociedade, uma vez que diversas atividades econmicas, particularmente, a hidroeletricidade e a

    agricultura, so afetadas com variaes de longo prazo, principalmente do elemento climtico precipitao.

    S u m r i o E x e c u t i v o

    Observaes ambientais atmosfricas e de propriedades da superfcie 37

  • Observaes ambientais atmosfricas e de propriedades da superfcie 39

    2 . 1padres de var iab ilidade do clima

    2 .1.1 PADRE S DE VAR IAB I L I DADE DO C L I MA

    38 Painel brasileiro de mudanas climticas

    importante caracterizar, no contexto deste captulo, a vari-

    abilidade natural do clima na Amrica do Sul, tendo em vista

    que esta bastante significativa e pode, muitas vezes, ser

    confundida com tendncias climticas associadas com mu-

    dana climtica antropognica. Essa variabilidade climtica

    natural um modulador de baixa frequncia da variabili-

    dade sintica diretamente ligada aos sistemas de tempo e

    influencia tambm a frequncia de eventos extremos.

    A caracterizao desta variabilidade ser feita basi-

    camente em termos das variaes de precipitao, pois

    so estas as mais documentadas. Antes de apresentar

    as variaes climticas, interessante revisar os aspec-

    tos bsicos dos regimes de precipitao na Amrica do

    Sul, com foco no Brasil, para que