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Revista Pymes, Innovación y Desarrollo - 2018
Vol. 6, No. 3, pp. 122-141
ISSN: 2344-9195 http://www.redpymes.org.ar/index.php/nuestra-revista / https://revistas.unc.edu.ar/index.php/pid/index Pymes, Innovación y
Desarrollo – editada por la Asociación Civil Red Pymes Mercosur
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Dinâmica econômica das principais culturas agrícolas na pauta de produção
cearense
José Ediglê Alcantara Moura*
Maria Jeanne Gonzaga de Paiva**
Resumo
A reestruturação produtiva alicerçada na inserção competitiva encontra na agropecuária
do estado do Ceará sua reprodução. Esse foi o suporte de condução da agricultura
cearense. Nesse sentido, a pesquisa investiga a dinâmica econômica da agropecuária
cearense nos anos de 2000/2010/2015. Utilizando um banco de dados de órgãos oficiais
públicos como o IBGE. Os resultados evidenciam que as culturas frutícolas como melão
e melancia obtiveram maiores expansões, enquanto que feijão e milho foram às culturas
que mais arrefeceram em área plantada e quantidade produzida. Na análise
mesorregional, Jaguaribe e Noroeste são os maiores produtores frutícolas do estado,
enquanto que os Sertões predominam a ovinocaprinocultura.
Palavras-chave: Setor Agropecuário; Mesorregiões do Ceará; Dinâmica Econômica.
Abstract
The productive restructuration encouraged within competitive insertion policies is
observed in Ceará’s farming sector. This policy has been the support of Ceará’s
farming. In this sense, this research studies the economic dynamics of Ceará’s farming
in the years 2000/2010/2015. Using a database offered by public official bodies such as
the IBGE, we find that results show that fruit cultures such as melon and watermelon
expanded further while beans and corn where the products that experienced the highest
growth with regards to planted areas and amounts produced. In a meso-regional
analysis, Jaguaribe and the Northwestern region proved to be the largest fruit producers
in the state while in the dry lands there is a sheep and goat farming predominance.
Keywords: Agricultural Sector; Mesoregions of Ceará; Economic Dynamics.
JEL: Q13 -Mercados Agrícolas e Marketing; Cooperativas; Agronegócio.
Recibido 20 de agosto 2018 / Aceptado 16 de noviembre 2018. * Mestrando em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará/UFC, graduado em Ciências
Econômicas pela Universidade Regional do Cariri/URCA. E-mail: genur@yahoo.com.br ** Mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará, docente do Departamento de
Economia da URCA. E-mail: jeanne.paiva@urca.br
Revista Pymes, Innovación y Desarrollo - 2018
Vol. 6, No. 3, pp. 122-141
ISSN: 2344-9195 http://www.redpymes.org.ar/index.php/nuestra-revista / https://revistas.unc.edu.ar/index.php/pid/index Pymes, Innovación y
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1. INTRODUÇÃO
O processo de desconcentração produtiva alicerçada na “modernização
conservadora” na década de 1970 acabou por fortalecer a agricultura brasileira mediante
eficiência da base técnica da produção, expresso nos elevados ganhos de produtividade.
Tal movimento, por um lado, contribuiu para maior geração de divisas e por outro,
viabilizou o agravamento da estrutura fundiária, permitindo a reprodução das estruturas
sociais vigentes (Cano, 2011; Graziano da Silva, 1998; 1999).
Mediante as ações do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), baseados na
estratégia de crescimento aliado ao endividamento externo, inseriu-se a região Nordeste
na divisão regional do trabalho como fornecedora de bens intermediários para
complementação da indústria nacional, em que no contexto macroestrutural do Processo
de Substituição de Importações (PSI) fortaleceu o setor agropecuário nacional através
da disponibilização de insumos necessários à expansão da capacidade produtiva.
Esse processo havia começado ainda em fins dos anos 1960, com a modernização
agrícola incentivada pelos Complexos Agroindustriais (CAIs). A dinâmica econômica
nordestina ganhou novas feições pelo surgimento de “ilhas de prosperidade”,
impactando na diminuição dos postos de trabalho em atividades monoculturas como o
caso da cana-de-açúcar, em seus maiores produtores regionais (Alagoas, Pernambuco e
Paraíba), em detrimento da crescente participação da fruticultura irrigada,
principalmente, nos vales do Rio São Francisco (Bahia e Pernambuco) e Vale do Açu
(Rio Grande do Norte) além da produção de commodities em grãos (soja e milho), no
oeste baiano, sul do Piauí e Maranhão, voltados especialmente para o mercado externo.
Dessa forma, seguindo o que preconiza os argumentos das “ilhas de produtividade”
de Pacheco (1998), ou até mesmo dos diferenciados padrões de desenvolvimento no
Nordeste apontados por Araújo (2000) observa-se de fato uma aprofundada Lima Júnior
(2014) e Madeira (2012) uma heterogeneidade na estrutura econômica nordestina com a
agricultura mais intensiva em capital nos espaços mais úmidos nas áreas em encostas de
serras ou banhadas por grandes rios (Lima Júnior, 2014; Madeira, 2012).
Nesse contexto, o artigo tem como objetivo avaliar a dinâmica do setor agropecuário
cearense nos anos de 2000, 2010 e 2015. A definição desta unidade federativa como
estudo se justifica pela localização encravada no sertão nordestino que proporcionam
condições edafoclimáticas particulares, como alta insolação e baixa umidade do ar, que
reduzem o risco de pragas, além de proporcionar condições para o desenvolvimento da
fruticultura irrigada que, considerando este contexto climático, proporciona múltiplas
safras anuais contribuindo para geração de divisas internacionais e economias de escala
no processo produtivo.
Segundo o Censo Agropecuário de 2006, o estado do Ceará possui um total de
381.017 estabelecimentos agropecuários, ocupando 1.145.990 trabalhadores. O estado
em estudo é formado preponderantemente por médias e grandes propriedades, sendo
que 67,57% dos estabelecimentos têm menos de 10 hectares, indicando um perfil de
concentração fundiária1.
Para alcançar o objetivo proposto, o trabalho está dividido em duas partes além da
introdução e considerações finais. Na primeira seção são traçadas algumas notas sobre a
1 O Censo Agropecuário de 2006 foi o último realizado pelo IBGE. Apesar do hiato temporal, seus dados dão
parâmetros de análises acerca da configuração mais detalhada da agropecuária brasileira.
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dinâmica econômica do setor agropecuário Nordestino e Cearense. Na segunda seção é
analisado de forma empírica o comportamento do setor agropecuário do Ceará
desagregado em mesorregiões nos anos de 2000, 2010 e 2015.
Admitiu-se como questionamento problematizador, a seguinte indagação: qual o
comportamento do setor agropecuário cearense face ao contexto de inserção externa
capitalista? A hipótese norteadora a ser seguida para resposta a tal questionamento é que
com a reestruturação produtiva e maior abertura ao mercado consumidor internacional,
as culturas2 secularmente cultivadas no Ceará vêm perdendo participação absoluta e
relativa (arroz, feijão e milho), enquanto que os ramos mais competitivos da fruticultura
irrigada (melão, melancia, e até mesmo castanha de caju) vêm passando paulatinamente
a compor a pauta de produção agrícola com vistas a atender especialmente ao mercado
externo.
Para a realização dessa pesquisa, foi utilizada uma abordagem metodológica
descritivo-explicativo, recorrendo-se a inicialmente uma revisão da literatura acerca do
setor agropecuário nordestino e cearense, posteriormente utilizou-se a base de dados da
Pesquisa Anual Municipal (PAM) e Pesquisa Pecuária Mensal (PPM), ambas contidas
no banco de dados Agregados do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA),
publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
2. PROCECIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1. Caracterização da área de estudo
O Ceará é um dos nove estados que compõe a Região Nordeste3 do Brasil4 e possui
184 municípios sendo sua capital é Fortaleza. Sua posição geográfica tem como limites:
ao Norte com o Oceano Atlântico; ao Sul com o Estado de Pernambuco; a leste com os
Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba e a Oeste com o Estado do Piauí. O Estado
do Ceará tem uma área geográfica de aproximadamente 148.825,6 km2, que
corresponde a 9,57% da área total da região Nordeste e a 1,74% da total do Brasil
(IBGE, 2010). A proximidade geográfica com o Continente Africano, Europeu e
Americano, o torna privilegiado para o desenvolvimento de relações com o comércio
exterior e atração do turismo internacional (IPECE, 2010).
2 As culturas consideradas neste trabalho referem-se aos produtos das lavouras temporárias e permanentes do Ceará,
que se caracterizam não só pela importância econômica que possuem na pauta de exportações, como também por sua
relevância social, componentes que são da cesta básica do cearense, tendo como unidade de coleta a mesorregião. 3 A Região Nordeste é uma macrorregião do Brasil, que tem uma área de 1.554.291,6 km² (corresponde a 18,2% do
território brasileiro), e uma estrutura produtiva diversificada, com a presença de indústrias de diferentes portes,
especialmente a têxtil, alimentícia e calçadista. Ademais, destaca-se uma grande rede comercial, especialmente nas
cidades médias interioranas e serviços complexos nas áreas litorâneas, notadamente nas principais capitais, Fortaleza
(CE), Recife (PE) e Salvador (BA). A agricultura é bastante diversificada, com forte produção de grãos e fruticultura
irrigada em expansão, contrastando com a agricultura familiar e pecuária rudimentar denotada da herança histórica da
região (LIMA JÚNIOR, 2014). 4 O Brasil é um país que integra a América do Sul e um possui uma área de 8.516.000 km². É cortado pelo Equador e
Trópico de Capricórnio, com a maior parte de suas terras situadas nas latitudes mais baixas do globo, o que lhe
confere as características de país tropical. Configura-se como o maior país do Continente Sul-americano e, no mundo,
só é superado pela Rússia, Canadá e República Popular da China, se consideradas apenas as terras contínuas, e pelos
Estados Unidos, levando-se em conta as terras descontínuas. O país é um grande produtor e exportador de
mercadorias de diversos tipos, principalmente commodities minerais, agrícolas e manufaturados, sendo que o setor
agropecuário é o grande responsável por divisas e riquezas geradas (IBGE, 2010).
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A divisão política do Ceará compreende sete mesorregiões, que comportam 33
microrregiões e 184 municípios. A população total era de 8.448.054 milhões de
habitantes (4.118.065 homens e 4329.989 mulheres) em 01/08/2010, posicionando-se
como a oitava Unidade Federativa mais populosa do Brasil, ao contribuir com 4,4% do
contingente demográfico do país e 15,9% do Nordeste (IBGE, 2010).
De acordo com o Quadro 1, o Estado do Ceará possui 07 mesorregiões com
população predominantemente rural em quase todas elas, salvo o caso da Mesorregião
Metropolitana de fortaleza em decorrência de suas particularidades metropolitanas.
Conforme se observa as mesorregiões de importância econômica nas atividades
agropecuárias, em estudo no presente trabalho, a população rural supera a proporção dos
40% da população total sendo por ordem de grandeza 45,2%, 44,3%, 41,7% e 40,6%,
respectivamente nas Mesorregiões dos Sertões, Norte, Jaguaribe e Noroeste.
Quadro 1: Mesorregiões do Estado do Ceará: Populações Total, Urbana e Rural (2010)
Mesorregiões Nº de
Microrregiões
Nº de
Municípios
População
No. % Total Urbana Rural
Noroeste 7 47 25,5 132.6771 787.722 539.049
Norte 8 36 19,6 100.6582 560.520 446.062
Metropolitana
de Fortaleza
2
11
6,0 346.8137 3.367.714 100.423
Sertões 4 30 16,3 869.778 476.210 393.568
Jaguaribe 4 21 11,4 528.274 308.245 220.029
Centro Sul 3 14 7,6 376.239 227.667 148.572
Sul
Cearense
5 25 13,6
876.600 618.479 258.121
TOTAL 33 184 100,0 8.452.381 6.346.557 2.105.824
Fonte: Censo Demográfico IBGE (2010).
Segundo os dados demográficos de 2010, o Ceará possui uma densidade demográfica
de 56,76 hab./km2 e taxa de urbanização de 75,09% da área total ocupada (IPECE,
2015). O PIB per capita do referido ano era de R$ 6.149,00, com um Produto Interno
Bruto (PIB) calculado em mais de 50 bilhões de reais. O Ceará também possui a terceira
maior economia da Região Nordeste do Brasil, permanecendo atrás da Bahia e
Pernambuco (IBGE, 2010). Ademais, o estado do Ceará possui fortes atrativos
turísticos, contando com mais de 02 milhões de visitantes turistas por ano, o setor de
serviços é que compreende a maior riqueza gerada no Ceará: 70,24%. O setor da
indústria gera outros 23,57% da riqueza e agropecuária 6,19%.
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Dessa maneira, é interessante destacar que a agricultura no estado do Ceará é
responsável pelo Valor Adicionado Bruto (VAB) 5 em termos relativos de 5,06%,
participação que encobre a importância para a economia local, como fonte de ocupação
dos municípios cearenses, cujos produtos econômicos são dependentes de serviços nos
quais a administração pública tem peso relevante. Em segundo lugar, parte das
atividades do setor industrial, comercial e dos serviços está vinculada e dependente da
agricultura. Portanto, há forte correlação entre a agricultura e os demais setores
econômicos.
2.2. Natureza dos dados.
Metodologicamente se recorreu à base de dados da Pesquisa Pecuária Municipal
(PPM) e Pesquisa Agrícola Municipal (PAM), ambos fornecidos pelo Sistema IBGE de
Recuperação Automática (SIDRA) extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia
(IBGE). Essa base de dados dispõe de informações para diferentes níveis territoriais,
como região, unidade de federação, mesorregião e microrregião geográfica e município,
sendo que se utilizou para este estudo os dados referentes ao estado do Ceará em
mesorregiões.
2.3. Método de análise
Para atender o objetivo proposto nesse trabalho, foram adotados os métodos,
descritivo e explicativo. O primeiro descreve as características do tema proposto, a
partir da evolução e caracterização do setor agropecuário nordestino, mediante revisão
da literatura. Segundo Gil (2010), a abordagem metodológica explicativa tem como
objetivo complementar o método explicativo, por meio da análise das estatísticas
descritivas que levam à obtenção dos resultados, servindo como base de sustentação
dos conhecimentos expostos. Dessa maneira, foram utilizados o estudo e tabulação das
principais variáveis concernentes a variação no efetivo de animais, produção física das
culturas agrícolas, área plantada e produtividade média.
3. ANÁLISE DO SETOR AGROPECUÁRIO CEARENSE: BREVES
CONSIDERAÇÕES
Caracterizada como a região mais seca e com baixa produtividade dos fatores
empregados na agricultura, o Nordeste brasileiro têm-se configurado no cenário
nacional como dependente de políticas públicas que objetivam amenizar os gargalos
socioeconômicos provenientes de seu contexto histórico (Baer-El, 2006; Carneiro,
1982).
Desde a perda do dinamismo baseado na atividade agroexportadoras como a
açucareira inicialmente e a algodoeira num segundo momento, o Nordeste brasileiro não
experimentou nenhuma outra atividade de grande rentabilidade. Assim, as principais
11 O valor Adicionado Bruto (VAB) refere-se ao valor que cada atividade agrega aos bens e serviços consumidos na
produção. Deste modo, representa a contribuição do Produto Interno Bruto (PIB) das atividades econômicas,
calculado a partir da diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário (IBGE, 2010).
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explicações do entrave para o desenvolvimento econômico nessa região fundamentam-
se em atividades agrícolas historicamente vinculadas ao mercado externo, áreas onde
predominavam atividades de exploração pecuária extensiva, concentração fundiária e
hídrica, predominância do capital mercantil além da baixa produtividade nos fatores de
produção (Cano, 2011; Muller, 1982).
Por volta de 1950, os diagnósticos pautados economia política clássica Ricardiana
das vantagens comparativas são questionados com os estudos de Raul Prebish e Celso
Furtado, em que contrariando a tendência de subdesenvolvimento crônico imposto às
nações da América Latina e acentuação da divisão internacional do trabalho, são
elaboradas análises da questão regional brasileira e consequentemente os “gaps” e/ou
hiatos entre Nordeste e Centro-Sul.
Segundo os estudos da CEPAL (1949), órgão que agregou esses e outros pensadores
do desenvolvimento latino-americano diante da deterioração dos termos de troca,
observa-se que as economias cuja base produtiva pertence ao setor agropecuário,
melhoraram sua eficiência dado a absorção do progresso técnico neste segmento que
tende a provocar queda acentuada nos preços dos gêneros agrícolas posto sua demanda
inelástica e de característica perecível, que se assemelha a estrutura de mercado
denominada de concorrência perfeita. Já nas economias industrializadas, caracterizadas
pela estrutura de mercado oligopolizada, a tendência de queda nos preços é
relativamente menor, impactando em uma significativa deterioração dos termos de
intercâmbio a longo prazo, assim como uma nítida divisão regional do trabalho
Derivando desse contexto, com a elaboração das análises de subdesenvolvimento
estrutural do Nordeste brasileiro, apontados pelo Grupo de Trabalho para o
Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) vem à tona o esclarecimento de que a causa
principal do atraso socioeconômico e demográfico do Nordeste não decorria
exclusivamente da herança histórico-estrutural, mas também das relações mercantis
voltadas para o mercado externo, padrão de consumo elitista incompatível com a renda
regional, inviabilizando a formação de poupança interna, enquanto que as divisas
geradas pela periferia eram direcionadas à economia do Centro-Sul do país,
contribuindo para o “gap” entre as produtividades dos fatores de produção e acúmulo de
capital nas regiões hegemônicas (Diniz, 2009; GTDN; 1967).
O atraso socioeconômico caracterizado no Nordeste brasileiro fundamentava-se na
formação histórica da região com sistemas produtivos de baixa rentabilidade e expelidos
à dinâmica do mercado externo (cana-de-açúcar, pecuária, algodão e agricultura de
subsistência) com elevada concentração de terras (controladas pelos latifundiários das
zonas semiárida e úmida do sertão), além das políticas cambiais e de subsídios
favoráveis aos industriais do Centro-Sul (Lima Júnior, 2014).
Desse modo, consolidam-se no final dos anos 1960, em consequência dos estudos
sobre obsoletismo regional, políticas industriais mergulhadas em um cenário de
intervenção do Estado sob a ótica do pensamento Cepalino que seria ponto de partida
para amenização das disparidades regionais, surgindo dessa forma a Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) que proporcionou a consolidação de um
conjunto de transformações na região, pautadas também em investimentos públicos em
infraestrutura (Diniz, 2009; Pacheco, 1998).
O avanço nesse conjunto de grandes transformações na estrutura produtiva do
Nordeste se dá com maior veemência a partir das ações do II Plano Nacional de
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Desenvolvimento Nacional (II PND) na década de 1970, em que, na busca de reduzir as
disparidades regionais elencou grandes projetos de infraestrutura. No campo da
dinamização das atividades agrícolas, ocorreram ações como a criação de “polos
dinâmicos”, a exemplo do polo agroindustrial de Juazeiro/Petrolina no Vale do São
Francisco e expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país6
(Gomes, 2010).
Assiste-se a partir de então a formação de “ilhas de prosperidade” através da
dinamização de polos irrigados, com a produção de commodities orientadas
especialmente para o mercado externo (Lima, 2005; Lima Júnior, 2014) e com a
expansão da fronteira agrícola a introdução de máquinas e insumos modernos, em que,
ao passo que eleva a produtividade promove a precarização das relações de trabalho
presentes no meio rural (Vale et al, 2010).
Apesar das críticas, o potencial do agronegócio do Nordeste justifica-se pautado em
fundamentos das vantagens comparativas, a exemplo da mão-de-obra abundante,
condições edafoclimáticas privilegiadas, como alta insolação e baixa umidade do ar, que
se constituem pontos de grande valia para obtenção de múltiplas safras anuais,
especialmente no segmento frutícola, impulsionando níveis de produtividade maiores,
quando comparados a outras regiões do Brasil (Evangelista, 1996; Sousa, 2010).
A irrigação no Nordeste tem sido incentivada por diversas políticas e instituições no
intuito de modernizar a agricultura, aumentar a produção e, por fim, gerar renda em
regiões economicamente estagnadas. No âmbito da política hídrica, a partir do final do
século XIX e início do século XX foi instituída a Inspetoria de Obras Contra as Secas –
IOCS que posteriormente se transformou em Departamento Nacional de Obras Contra
as Secas – DNOCS. As intervenções posteriores ao DENOCS tiveram caráter mais
estruturantes sendo elas: já em 1948, a Companhia Hidroelétrica do Rio São Francisco –
CHESF e a Comissão do Vale do São Francisco, que foi substituída pela Companhia de
Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF, além da já mencionada
Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, em 1959.
Dentre outras ações mais amplas, tais instituições eram responsáveis pela execução
da política de irrigação delineada com a instituição do Grupo Executivo de Irrigação e
Desenvolvimento Agrário – GEIDA, com o Programa Plurianual de Irrigação, além do
Programa de Integração Nacional, que financiou a primeira fase do Programa Nacional
de Irrigação, seguidos pelos dois Planos Nacionais de Desenvolvimento, em 1972 e
1979. Entre esses dois, destacou-se o Programa de Desenvolvimento do Nordeste -
POLONORDESTE, em 1974, teve efeitos na configuração da área de agricultura da
parte oeste nordestina, que se dinamizou em torno da produção agrícola de grãos.
Posteriormente foi criado o Programa de Irrigação do Nordeste – PROINE, em 1986,
e instituído o Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Fruticultura Irrigada no
Nordeste7, em 1996. (Ablas, 1988; Buainain, Garcia; 2013; Ramos, 2007; Silva, 2003).
Ainda assim, essa dinâmica passou por um processo de inflexão através do
arrefecimento do crescimento econômico nos anos 1980. Dentre outros aspectos, tal
6 Torna-se necessário salientar de forma mais recente a expansão da fronteira agrícola para a região do MATOPIBA
(Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). 7 No entanto, a prática da irrigação, exclusivamente, não é suficiente para promover um sistema sustentável aos
agricultores, já que em muitos casos estes projetos dependem economicamente da tutela do Estado. A irrigação
pública, segundo Silva (2003), sempre teve forte suporte da esfera federal de governo com muitos projetos não tendo
alcançado as metas estabelecidas e não apresentando condições de sustentabilidade.
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quadro foi resultante da crise econômica desencadeada pela elevação do endividamento
externo, associado à impossibilidade de obtenção de saldo de divisas através das
exportações no contexto de restrição do crédito internacional, crescente instabilidade
inflacionária que repercutiu negativamente na agropecuária nacional, uma vez que as
políticas para esse setor tornaram-se mais tímidas com redução do crédito e eliminação
dos subsídios (Valois, 2012).
Nesse ambiente, enquanto que o Brasil passava por pífias taxas de crescimento do
produto, o Ceará no período de 1985/1995 passou a apresentar taxas de crescimento do
PIB total (2,70%) superior ao desempenho das economias nordestina (2,01%) e
brasileira (2,37%) no mesmo período (Vasconcelos, 1999).
Diante do exposto, torna-se válido ressaltar que os resultados em termos de produto
no estado cearense devem-se às reformas econômicas e políticas na segunda metade da
década de 1980 compreendidos no primeiro Governo Estadual de Tasso Jereissati
(1987-1990) que implantou no Estado do Ceará um profundo ajuste fiscal e
administrativo com um modelo de desenvolvimento econômico e social pautado no
estimulo ao tripé modernizante agronegócio, indústria e turismo (Abut-El-Hay, 2002),
objetivando um processo amplo de inserção competitiva global.
Como ponto de partida para o estudo considera-se que o Ceará possui uma série de
vantagens comparativas e/ou possíveis potencialidades para o desenvolvimento do setor
agropecuário como a proximidade geográfica com o mercado consumidor internacional
que favorece a inserção da fruticultura irrigada em áreas denominadas de agropolos
(Ablas, 1988; Gomes, 2010).
Entretanto, a maior parte geográfica da unidade da federação analisada é
compreendida pelos sertões cearenses, que reproduzem os gargalos socioeconômicos
com a predominância da agricultura de subsistência, intensiva em mão-de-obra e com
baixa integração ao setor externo, identificando assim, que a relativa modernização
agrícola cearense induz a um processo de intensa seletividade ao longo dos anos, ao
invés de atenuá-la (Madeira, 2012).
Por outro lado, ao beneficiar a dinâmica econômica, as ocupações criadas em
segmentos agrícolas frutícolas são caracterizadas mais modernas e capital/intensivas
tendo em vista o uso de maquinário bem como a aplicação de técnicas de manejos, uso
de sementes e mudas transgênicas. Assim, tendem a proporcionar aos ocupados elevada
rotatividade, interpretado por um lado pela sazonalidade característica do setor
agropecuário, e por outro pela hegemonia do modelo neoliberal que seleciona
trabalhadores cada vez mais qualificados em um mercado de trabalho altamente flexível
(Balsadi, 2009; Belik et al, 2003; Silva, 1998; Graziano da Silva, 1999).
Segundo os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) o estado do
Ceará no ano de 2015 contava com um total de 27.522 postos formais de trabalho no
setor agropecuário, sendo que a Mesorregião de Jaguaribe 8 abarcava 39,39% e
Mesorregião Metropolitana de Fortaleza com 24,03% do total de ocupações formais
agrícolas9. As Mesorregiões Centro-Sul, Sul Cearense e Sertões juntos ocupam apenas
7,81% dos vínculos formais do Estado (RAIS, 2015) indicando uma forte presença da
8 Desagregando a nível mesorregional observou-se que a atividade do cultivo de melão gerou 5.760 postos formais
de trabalho (RAIS, 2015). 9 O Estado do Ceará possui, na divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), sete mesorregiões,
sendo elas: Noroeste Cearense, Norte Cearense, Metropolitana de Fortaleza, Jaguaribe, Centro-Sul Cearense e Sul
Cearense.
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Vol. 6, No. 3, pp. 122-141
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130
precarização do mercado de trabalho agrícola estadual, sendo que o perfil
socioeconômico e sociodemográfico dos ocupados no setor em estudo apontam intensa
seletividade por sexo e idade, com melhoria relativa do nível de instrução dos ocupados
e contraditoriamente ao esperado redução dos salários nominais dos assalariados 10
(Moura, Paiva; 2016).
4. A DINÂMICA ECONÔMICA DO SETOR AGROPECUÁRIO CEARENSE NO
PERÍODO 2000/2010/2015.
4.1. A produção agrícola cearense: um olhar para as suas mesorregiões.
No tocante a participação relativa das culturas agrícolas por mesorregiões no estado
do Ceará, percebe-se ao longo do período em estudo queda expressiva das culturas que
historicamente lançaram as bases para a formação econômica estadual, a exemplo do
algodão. Esta produção, ao longo dos anos em análise, vem perdendo participação em
todas as mesorregiões cearenses.
À medida que culturas tradicionais foram declinando, a participação da fruticultura
foi se ampliando permitindo induzir uma substituição de cultivos. No caso da banana,
percebe-se que a produção se concentra em duas mesorregiões: Norte e Jaguaribe, sendo
que a primeira em 2000participou com 11,4%, chegando 13,5% em 2010 reduzindo
para 11,7% em 2015. Na segunda mesorregião em análise para o ano de 2000 tem-se
um total de 4,3%, passando 2010 para 7,8% e extraordinariamente chegando em 2015
com 26,7%. O Sul Cearense percebe-se que em 2015 participa com 28,1% (ranking em
participação relativa dentre as mesorregiões cearenses no ano de 2015). Para os Sertões
Cearenses a atividade tradicional de plantio de algodão analisada vem perdendo
composição na sua pauta de produção, alcançando pífios 0,2% no último ano verificado.
(Tabela 1).
No que tange à castanha de caju, percebe-se que as mesorregiões Norte e Noroeste
são as que mais produziram em toneladas nos anos analisados, sendo que a primeira no
ano de 2000 obteve 33,13%, caindo em 2010 para 31,3% e atingindo 42,8% em 2015.
Na segunda mesorregião, percebe-se sensível queda ao longo dos anos, sendo que em
2000 tem-se uma participação de 40,9% passando para 40,3% e atingindo em 2015
38,9% ton. As demais mesorregiões pouco participam, a exemplo dos sertões que ano
de 2015 registra apenas 1% na participação física de castanha de caju no estado do
Ceará. Conforme destaca Lima Júnior (2014, pp. 105-106), a castanha de caju nestas
mesorregiões tinha exploração inicialmente extrativista passando, de meados dos anos
2000 em diante a ser estimulado o plantio de forma mais competitiva.
No caso da cultura do mamão, a Mesorregião Noroeste cearense é a que mais
contribui na produção no ano de 2000 atingindo 43,7% do total da participação. No
entanto para o ano de 2015 se orienta para a Mesorregião de Jaguaribe como a maior
produtora alcançando 63,6% do total da produção de mamão no estado do Ceará,
seguindo os caminhos que consolidam esta como a área de maior produtividade na
fruticultura irrigada no Ceará (Lima Júnior, 2014).
10 É importante mencionar as restrições de análises sobre o mercado de trabalho agrícola pautado exclusivamente em
dados da RAIS, tendo em vista que este banco de informações se constitui em registros unicamente formais. Este
setor tem forte participação de trabalhadores não formalizados, principalmente na Região Nordeste onde a
informalidade é característica comum à todas as atividades econômicas (Lima Júnior, 2014).
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131
Para a manga, tem-se a Mesorregião Sul Cearense como a maior produtora em 2015,
alcançando 20,5% do total, seguindo das Mesorregiões Jaguaribe e Noroeste que
ocupam aproximadamente 18% do total da produção de mangas no estado. A novidade
nesta cultura é a inserção da Mesorregião Sul, que é uma das beneficiadas em destaque
pelos programas e ações da Secretaria de Agricultura Irrigada do Estado, através do
Instituo Agropolos, almejando a diversificação de sua agricultura. (Tabela 1).
Tabela 1: Participação relativa (%) das culturas agrícolas em (Ton.) nas mesorregiões
cearenses nos anos de2000/2010/2015 (CEARÁ=100). Discriminação Anos Noroeste Norte Metropolitano Sertões Jaguaribe Centro-
Sul
Sul
Cearense
Algodão
arbóreo
2000
2010
2015
16,5
40,3
---------
57,3
5,7
------
----------------
-----------------
23,8
54,0
-------
-------
------
--------
0,37
------
------
------
------
------
Algodão
Herbácio
2000
2010
2015
8,0
6,1
----
5,7
1,1
-----
1,2
--------
--------
43,3
35,7
--------
26,1
22,3
-----
9,0
29,0
-----
6,5
7,8
----
Banana 2000
2010
2015
11,4
13,5
11,7
69,0
62,7
27,8
7,0
6,4
1,4
1,7
1,5
0,2
4,3
7,8
26,7
2,1
1,9
4,3
4,5
6,2
28,1
Castanha de
Caju
2000
2010
2015
33,3
31,3
42,8
40,9
40,3
38,9
4,6
4,8
8,0
1,7
1,6
1,0
19,0
21,3
8,3
0,1
------
-------
0,5
0,9
0,7
Mamão 2000
2010
2015
43,7
49,6
24,9
18,4
18,2
7,5
22,8
12,4
0,8
1,4
4,0
1,7
12,8
12,7
63,6
0,1
------
0,3
0,8
3,1
1,9
Manga 2000
2010
2015
31,6
28,1
18,1
30,5
28,9
30,2
11,7
10,2
8,5
6,7
5,0
3,8
3,6
10,5
18,3
2,3
1,9
1,2
13,6
15,4
20,5
Arroz 2000
2010
2015
11,4
20,7
1,70
9,0
11,8
6,17
1,5
0,6
0,2
6,3
5,6
0,02
11,3
23,5
75,5
32,4
21,8
15,3
27,7
15,9
1,4
Feijão 2000
2010
2015
22,2
29,3
24,5
15,7
18,9
22,0
1,5
1,7
1,7
30,9
27,9
30,7
10,9
5,6
7,6
5,9
5,9
3,1
12,9
10,7
9,4
Mandioca 2000
2010
2015
45,8
39,8
43,9
32,1
33,0
31,8
3,9
6,9
3,3
2,7
1,9
0,8
3,0
7,7
3,7
0,2
0,1
0,1
12,4
10,6
16,6
Milho 2000
2010
2015
18,2
23,0
18,0
14,3
16,0
34,0
1,3
1,2
14,1
34,0
31,1
33,5
7,4
2,8
2,8
6,2
7,8
5,7
18,6
18,1
23,0
Melão 2000
2010
2015
------
------
-------
12,4
------
------
0,9
0,2
0,8
0,1
------
0,00
86,5
99,8
99,92
-----
-----
------
----
-----
-----
Melancia 2000
2010
2015
50,2
35,3
26,8
12,3
-------
0,3
-------
0,1
0,6
0,7
-----
2,5
36,8
64,2
66,0
-----
0,4
----
-----
------
3,9
Fonte: PAM/IBGE (2000, 2010, 2015). Elaborado pelos autores.
No que tange as culturas tradicionais como arroz, feijão, mandioca e milho têm-se
expressivas variações. No caso do arroz, em 2000 a Mesorregião Centro-Sul era o maior
produtor (32,4%) seguido do Sul Cearense (27,7%). Tal resultado vem a modificar no
ano de 2010, sendo que a Mesorregião maior produtora passa a ser Jaguaribe (23,5%)
seguido do Centro-Sul e Noroeste Cearenses com mais de 20% cada uma da produção
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132
estadual de arroz. No ano de 2015, a mesorregião Jaguaribe alcança maior produção
(75,5%), ficando em segundo lugar o centro-sul com 15,3%. Isso demarca o
reordenamento territorial sustentado no presente artigo, com a substituição dos
produtores tradicionais por aqueles capazes de uma produção mais competitiva pelo
apoio de políticas de estímulo (Tabela 1).
No que se refere ao feijão uma das culturas mais tradicionais da agricultura do
estado, em 2000, a Mesorregião dos Sertões Cearenses era o maior produtor (30,9%),
em 2010, (27,9%) e em 2015, mesmo com as estiagens ainda se configura com maior
participação (30,7%). Os segundos maiores produtores são a Mesorregião Noroeste e
Norte cearense, sendo que em 2015 participam respectivamente com 24,5% e 22,0% do
total de feijão em toneladas no estado do Ceará. (Tabela 1).
No caso da mandioca, a Mesorregião Noroeste se configura como maior produtor em
2000 (45,8%), 2010, (39,8%), 2015 (43,9%). A mesorregião que menos produz é
Centro-Sul cearense com menos de 1% do total de mandioca cultivado no estado
(Tabela 1).
Ainda se tratando das culturas tradicionais e calhadas à produção em regime de
agricultura familiar, para o milho, a Mesorregião Sertões Cearenses se destaca como o
maior produtor do estado cearense, alcançando uma participação de 34,0% em 2000,
31,1% em 2010 e 33,5% em 2015, em segundo lugar vem a Mesorregião Norte com
34,0% do total de milho produzido em âmbito estadual em 2015. (Tabela 1).
De acordo com a Tabela 1, no caso da produção frutícola de melão, percebe-se que a
Mesorregião Jaguaribe se configura como o maior produtor, ao longo dos anos, sendo
que em 2015 participa com 99,92% da produção estadual, produção esta direcionada
quase que exclusivamente à exportação. Segundo os dados da Relação Anual de
Informações Sociais (RAIS), o cultivo de melão gera 5.760 empregos formais, sendo
que 15,76% são ocupados pelos trabalhadores do sexo feminino e 84,24% do sexo
masculino, sendo que aproximadamente 30% alocados na faixa etária de 30 a 39 anos.
Ademais, este polo de fruticultura irrigada, localizado no limite do Estado do Ceará com
o Rio Grande do Norte, apresenta-se como um polojá consolidado neste último estado,
em Assu-Mossoró e especializado na produção de melões para exportação.
No que tange a produção de melancia, as mesorregiões Jaguaribe e Noroeste são os
maiores produtores, sendo que para o primeiro participou em 2000 com 50,52% caiu em
2010 para 35,3% e vindo atingir 26,8%, as quedas na produção dessa mesorregião
forma compensadas pelos aumentos no Jaguaribe que em 2000 participou com 36,8%,
2010 aumentou para 64,2%, atingindo em 2015 um total de 66,0% do total de melancias
produzidas no estado do Ceará. (Tabela 1).
4.2. Análise dos diferenciais de produtividade11 nas culturas agrícolas cearenses.
Em relação à produção de melão no Ceará, os dados da Pesquisa Pecuária Municipal
(PPM) expostos na Tabela 2indicam que ocorreram, ao longo dos anos selecionados,
variações expressivas. Observou-se que, nos anos de 2000 e 2001, registraram-se as
11 A produtividade aqui está relacionada apenas à quantidade produzida por área plantada, sem, contudo, levar em
consideração outros fatores que a influenciam, tais como número de máquinas utilizadas no plantio e na colheita,
precipitações pluviométricas, indicadores de utilização de inseticidas e pesticidas, dentre outros.
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menores produtividades, respectivamente de 21,99 e 23,79 toneladas por hectare
plantado, e a maior (30,26ton./h) no ano de 2014.
Tabela 02: Produção de Melão por área plantada (em hectares): Ceará- 2000-2015. Ano Área Plantada Ceará-
Hectares
Produção- Ceará-
Toneladas
Produção por Hectare-
Toneladas
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2.016
3.002
3.842
4.119
4.394
4.951
6.629
6.923
6.803
4.888
5.431
5.629
7.794
7.329
7.349
4.482
44.338
71.442
92.047
99.496
109.566
117.937
165.333
173.378
170.424
124.157
153.161
143.466
219.309
212.362
222.391
111.487
21,99
23,79
23,95
25,78
24,94
23,82
24,94
25,04
25,05
25,40
28,20
25,49
28,14
28,98
30,26
24,87 Fonte: PAM/IBGE (2000-2015). Elaborado pelos autores.
Cabe observar que no ano 2000, primeiro da série, a produtividade por hectare foi de
21,99 toneladas. No último ano analisado, elevou-se para 29,20 toneladas. Diante do
exposto, é possível garantir apenas que a produtividade oscila ao longo dos anos sendo
estimulado principalmente pelas exportações. Conforme apontam os dados da SECEX,
no grupo de frutas, a produção de melões está entre as dez primeiras mais exportadas
pelo país desde 2001, sendo que no Ceará há uma evolução positiva, saindo da 11ª
posição para a 3ª de produto mais exportado do estado entre o período aqui analisado12.
Isso evidencia que o reordenamento prevalecendo esta cultura sinaliza para imprimir
uma agricultura de atendimento ás demandas externas, pautada no princípio da inserção
competitiva global conforme atesta Macedo (2010).
Em relação à área plantada, observa-se elevação nos anos da série. No primeiro ano,
registraram-se, segundo dados da Pesquisa Agrícola Municipal 2.016 hectares plantados
no estado. Houve oscilações ao longo da série, com registro de maior área plantada no
ano de 2012 (7.794). Para o último ano analisado tem-se 111.487 hectares plantados. No
que tange à produção em 2000, o Ceará produziu 44.338 toneladas de melão, passando
para 153.161 ton. em 2010 e atingindo 111.487 ton. em 2015, uma variação negativa de
27,21% entre estes dois últimos anos. (Tabela 2).
No tocante a produção de melancia, outra atividade prioritariamente voltada para o
mercado externo, os dados plotados na Tabela 3apresentam que durante os anos
selecionados ocorreram variações expressivas. Observou-se que o ano de 2000 registrou
a menor produtividade média (3,84 t/h) e maior no ano de 2010 (41,14 ton./h).
12 Os valores exportados saltam de U$S 11.315.014,00 para U$S 88.710.968,00 respectivamente entre 2001 e 2015
(SECEX, 2017).
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134
Tabela 3: Produção de Melancia por área plantada (em hectares): Ceará- 2000-
2015 Ano Area Plantada Ceará-
Hectares
Produção- Ceará
Toneladas
Produção Por Hectare-
Toneladas
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
340
367
311
272
463
677
1.066
1.218
1.473
1.465
1.223
1.621
2.089
2.024
1.859
1.391
1.306
5.710
5.521
7.973
15.337
22.065
34.794
39.720
56.285
51.281
50.324
56.910
75.442
68.895
82.424
35.805
3,84
15,56
17,75
29,31
33,13
32,59
32,64
32,61
38,21
35,00
41,14
35,10
36,11
34,00
44,33
25,74 Fonte: PAM/IBGE (2000-2015). Elaborado pelos autores.
De acordo com a Tabela 3, cabe afirmar, que durante os anos selecionados área
plantada cresceu substancialmente, sendo que em 2000 registram 340 hectares
plantados, passando para 1.223 em 2010, alcançando em 2015 em termos absolutos um
total de 1.391 hectares. No que tange a produção no ano de 2000 registrou um total de
1.306 toneladas, passando para 50.324 ton. em 2010 e vindo atingir em 2015 um total
de 35.805 toneladas, reproduzindo a mesma dinâmica que o melão: uma cultura de
direcionamento ao mercado externo sendo condutora de transformações na agricultura
estadual.
No âmbito das culturas mais tradicionais, a Tabela 4 manifesta a produção de feijão
no Ceará, os dados apontam que no período 2000-2015 a produtividade média dessa
cultura caiu quase que interruptamente, a menor produtividade média é registrada em
2013 com 0,12 t/h e maior no ano de 2006 com 0,46 t/h.
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135
Tabela 4: Produção de Feijão por área plantada (em hectares): Ceará- 2000-2015 Ano Area Plantada Ceará
Hectares
Produção- Ceará-
Toneladas
Produção por Hectare-
Toneladas
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
570.027
525.965
597.221
599.096
566.191
494.132
547.178
561.220
592.716
610.267
464.636
600.137
456.787
318.952
403.666
404.701
196.696
87.661
199.493
208.792
129.821
132.366
253.258
129.512
252.741
129.827
83.286
264.205
52.721
55.630
108.998
67.350
0,34
0,17
0,33
0,35
0,23
0,27
0,46
0,23
0,43
0,21
0,18
0,44
0,12
0,17
0,27
0,17
Fonte: PAM/IBGE (2000-2015). Elaborado pelos autores.
Com suporte na Tabela 04, em 2000, o Ceará produziu um total de 196.696 ton.
passando em 2010 para 83.286 e atingindo em 2015 em termos absolutos 67.350. Como
não se trata prioritariamente de uma atividade irrigada, tal resultado deve-se as longas
estiagens que ocorreu nos últimos anos no estado, no qual diminuiu consideravelmente
a produção em culturas de sequeiro que dependem das precipitações pluviométricas. No
tocante à área plantada em 2000 auferiu-se um total de 570.027 ha, passando em 2010
para 464.636 h e chegando em 2015 a apresentar em termos absolutos 404.701 ha.
No tocante à produção de milho no Ceará, percebem-se as oscilações no nível de
produtividade média da cultura analisada, o menor nível de produtividade é observado
no ano de 2012 (0,23%) e maior em 2011 (1,26%). No ano de 2000 a relação área
plantada/hectare foi de 1,06 t/h passando em 2010 para 0,32 ton./h e atingindo em 2015
um valor de 0,26ton./h. Desta forma, a vulnerabilidade da produção que predominavam
na agricultura cearense é explicitadas vis-à-vis o estímulo àquelas outras que tem valor
econômico de boa inserção internacional. (Tabela 5).
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Tabela 05: Produção de Milho por área plantada (em hectares): Ceará- 2000-2015 Ano Área plantada Ceará
Hectares
Produção Ceará
Toneladas
Produção por Hectare-
Toneladas
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
613.626
619.265
702.962
707.891
655.677
568.753
639.205
679.901
694.054
714.034
551.984
725.301
535.959
360.877
474.619
495.927
623.630
244.580
629.447
745.317
379.837
281.713
760.231
357.342
752.882
538.962
174.955
915.286
122.501
112.741
347.828
130.887
1,06
0,39
0,89
1,05
0,58
0,49
1,19
0,53
1,08
0,75
0,32
1,26
0,23
0,31
0,73
0,26 Fonte: PAM/IBGE. (2000-2015). Elaborado pelos autores.
Em 2000, o Ceará produziu 623.630 t, passando a apresentar em 2010 para 174.955 t
e caindo para 130.887 ton. em 2015. No tocante a área plantada, seguiu-se a mesma
dinâmica de queda em termos absolutos. Em 2000, o Ceará tem um total de área
plantada no valor de 613.626 ha, auferindo em 2010 551,984h e chegando o último ano
da série a apresentar um total de 495.927 ha. (Tabela 5).
4.3. Mesorregião dos sertões, vocação para ovinaprinocultura: um balanço para os
anos de 2000/2010/2015.
Os movimentos de transformação da agropecuária cearense são percebidos
adicionalmente na evolução do efetivo do seu rebanho. É importante ressaltar que o
território deste estado do Nordeste teve sua incorporação econômica à dinâmica global
no seu processo de formação econômico, pautada na economia do gado, o que deu a
alcunha de “ciclo econômico do couro”. Segundo Lima Júnior (2014), considerando os
aspectos físicos, todo o território cearense estava adaptado a um vasto curral cujas sedes
de fazendas criatórias deram origem às primeiras vilas e cidades.
Essa pecuária, de caráter extensivo, passou também por mudanças recentes
significativas, pelo estímulo à criação de rebanhos mais adequados à natureza local e no
bojo de ações de apoio ao pequeno criador.
No tocante a pecuária recente do estado do Ceará, os dados da Pesquisa Pecuária
Municipal (PAM) mostram que no período de 2000/2010/205 o estoque de bovinos
elenca maior participação dentre as mesorregiões analisadas nos anos 2000 (31,26%),
2010 (29,31%) e 2015 (29,45%) nos Sertões Cearenses, sendo a que auferiu menor
participação relativa à Mesorregião Metropolitana de Fortaleza em 2000 (3,18%), 2010
(3,01%) e 2015 (3,42%). Isto decorre por ser a primeira a de maior tradição e condições
físicas para a pecuária ao passo que a segunda é a mais urbanizada, sendo, portanto
inadequada para a atividade. (Tabela 6).
Para o Sul Cearense percebe-se aumento relativo do estoque bovino ao longo dos
anos em estudo com 11,82% em 2010, 12,55% em 2010, 14,36% em 2015. O Noroeste
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Cearense segue dinâmica semelhante ao observar queda em termos relativos de bovinos,
vindo atingir em 2015 um total de 15,57%. No caso do Norte Cearense, percebe-se
queda em termos relativos atingindo um estoque de 9,38% em 2015. (Tabela 6)
Tabela 06: Participação relativa (%) no efetivo de animais nas mesorregiões nas
Mesorregiões cearenses nos anos de 2000/2010/2015 (CEARÁ=100) Discriminação Anos Noroeste Norte Metropolit. Sertões Jaguaribe Centro-
Sul
Sul
Cearen
se
Bovinos 2000
2010
2015
18,28
17,44
15,57
11,38
10,63
9,38
3,18
3,01
3,42
31,26
29,91
29,45
13,71
15,03
15,31
10,36
11,43
12,52
11,82
12,55
14,36
Suínos 2000
2010
2015
33,13
35,99
40,02
13,01
14,29
11,93
3,03
3,41
3,73
27,75
23,19
16,64
6,11
6,96
10,35
7,79
6,58
6,96
9,18
9,56
8,38
Caprinos 2000
2010
2015
26,04
27,69
25,53
9,81
10,44
9,98
1,24
1,03
1,11
39,80
36,16
35,11
15,34
16,75
19,52
3,21
3,26
3,48
4,56
4,66
5,28
Ovinos 2000
2010
2015
17,81
18,27
15,94
8,78
9,59
9,07
1,19
1,43
1,67
47,19
45,89
41,83
17,36
17,38
20,70
4,07
3,42
5,31
3,60
4,02
5,57 Fonte PPM/IBGE (2000/2010/2015). Elaborado pelos autores.
No caso dos suínos, percebe-se que a Mesorregião Noroeste cearense tem crescente
participação com 33,13% em 2000, 35,99% em 2010 e 40,02% em 2015, alcançando
dessa forma, a maior participação no Estado do Ceará, enquanto que a Mesorregião
Metropolitana aponta com menor participação atingindo 3,73% em 2015. Os Sertões
Cearenses auferiram em 2000 (27,75%), 2010 (23,19%) e 2015 com (16,64%). A
Mesorregião Jaguaribe ao longo dos anos analisados teve participação relativa
crescente, vindo a atingir 10,35% em 2015. Centro-Sul e Sul elencam a menor
participação percentual auferindo 6,96% e 8,38%, respectivamente, em 2015 (Tabela 6).
No caso dos caprinos, percebe-se novamente a proeminência da Mesorregião Sertões
Cearenses com a maior participação ao longo dos anos, apresentando 39,80% em 2000,
36,16% em 2010 e vindo atingir 35,11% em 2015, em segundo lugar destaca-se a
Noroeste Cearense que em 2015 participa com aproximadamente ¼ do total de caprinos
no estado. Estes números apontam para a especialização dos Sertões na pecuária,
conforme apontado anteriormente, tendo em vista o seu quadro físico e geográfico bem
como as heranças históricas (Campos e Campos, 2013). Tais aspectos estimularam
programas de apoio à agricultura familiar criatória de rebanhos de animais pequeno
porte como caprinos e ovinos. (Tabela 6)
No que tange aos ovinos, os Sertões Cearenses também configuram como a
mesorregião com maior participação relativa dentre as demais do estado do Ceará: no
ano de 2000, ela detém participa com 47,19%, caindo em 2010 para 45,89% e vindo
atingir em 2015 um total de 41,83% do total de cabeças de ovinos estadual. (Tabela 6).
Essa forma, pela análise descritiva da dinâmica econômica agropecuária cearense,
observa-se um gradativo reordenamento com a conversão de culturas tradicionais em
culturas mais voltadas ao mercado externo na produção agrícola e no pecuário, a
ampliação de rebanhos em áreas onde as características climáticas são mais restritas ao
plantio. Neste caso tem-se a expansão de rebanhos de animais de menor porte.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
O estado do Ceará passou no final dos anos 1980 por um ajuste no paradigma de
regulação na gestão, pela emergência do modelo neoliberal pautado na eficiência
pública e da austeridade fiscal a fim de se alinhar ao macrocontexto de inserção
produtiva internacional e romper o círculo vicioso de crônico atraso decorrente dos
estrangulamentos físicos e sociodemográficos presentes em suas mesorregiões. Assim
houve um alinhamento dessa forma ao processo de abertura econômica, globalização
dos mercados e ao redimensionamento do papel do Estado, a fim de amenizar hiato que
separa o Ceará dos estados mais desenvolvidos do Brasil.
No âmbito da agropecuária este processo se propôs a um conjunto de modernização
pautado principalmente na ótica da inserção competitiva e direcionamento par
atividades econômicas que corroborassem tal intento.
O trabalho, ao analisar a dinâmica econômica do setor agropecuário cearense e sua
evolução nos anos de 2000/2010/2015. Os principais resultados mostram que a
Mesorregião Jaguaribe Cearense configura como o maior subespaço de produção
frutícola no estado, elencado como produtor quase que, absoluto na produção de melão
para exportação, gerando o maior volume de empregos formais no setor agropecuário
(39,39%).
No que tange a produtividade média das culturas, recorreu-se a análise das
commodities que são direcionadas a fruticultura irrigada: melão e melancia, e do outro
lado as culturas tradicionalmente cultivadas como feijão e milho. Os dados mostraram
que as frutícolas analisadas obtiveram maior produtividade média, com destaque para a
melancia que passou de 3,84 ton./ha em 2000 para 25,74 ton./ha em 2015. No caso do
feijão e milho, ambas, atingiram respectivamente 0,17 ton./ha e 0,26 ton./ha no último
ano da série. Os resultados podem ser explicados pelos longos períodos de estiagem que
vem ocorrendo na região, diminuindo a produção na agricultura de sequeiro.
Ademais, as culturas tradicionais estão sendo substituídas por aquelas de maior
interesse do mercado externo. As Mesorregiões Centro-Sul e Sul Cearenses pouco
participam na produção agropecuária estadual, enquanto que Mesorregião dos Sertões
Cearenses tem na pecuária, notadamente a ovinocaprinocultura uma base de estímulo à
economia local.
Em síntese, percebe-se que as culturas tradicionalmente cultivadas no Ceará (feijão,
milho, aqui analisadas) vêm perdendo participação em detrimento do crescimento das
frutícolas (melão e melancia), indicando que a dinâmica do setor agropecuário cearense
pouco responde à demanda inelástica dos consumidores por alimentos básicos se
dedicando à atividades para atender ao mercado externo. O reordenamento econômico
decorrente leva a considera que a inserção competitiva é o veio condutor da
reestruturação na dinâmica deste setor levando a induzir poucas culturas de interesse
deste desiderato e abandonando as mais tradicionais.
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