herdeiros do destino
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Gerson Machado de Avillez
HERDEIROS DO DESTINO®
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 2
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 3
HERDEIROS DO DESTINO®
Gerson Machado de Avillez
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 4
Copyright © Gerson Machado de Avillez 2014
Todos os direitos reservados a Gerson Machado de Avillez
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Blog: http://filoversismo.blogspot.com
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Título Original
Herdeiros do Destino
Capa
Gerson Machado de Avillez
Revisão
Gerson Machado de Avillez
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 5
PREFÀCIO
“Somente os constantes tocarão o destino”.
Gerson Machado de Avillez – Sombras dos Tempos
ual o percurso do destino a seu alvo objetivo? Não supondo que
como a flecha rompe com intrepidez um percurso reto e
constante ao alvo de modo a concretizar mais de um ponto a
outro do lugar, mas no tempo, seu objetivo. Todavia a água o qual
preenche todas lacunas é delineada não por um objetivo, mas o leito
do rio por onde corre as densas águas a uma direção. Assim é o tempo,
sentido, não interpretado por letras ou palavras a conotações ambíguas
e vagas por sua passividade de interpretações, mas numa poesia
harmônica onipresente ao tempo, mas que mesmo não sendo constante
o que o rompe o será. Deverás compreender o destino dado a alguns a
suceder como tocha a cada geração sob todos ataques e atos sem
consistência ou nada de constante, pois o único modo de romper o que
é líquido é o sólido, o inconstante, o constante como propósito quer
herdado ou concebido por atitudes ante aos anômalos que não se
podem resumir ou definir.
Se em ‘Sombras dos Tempos’ se define o destino pela Caixa,
aqui são os genes, se o constante era o destino, as sombras
representavam seu oposto, assim como os que se levantam pelo
simples fato deste possuir o destino a correr em suas veias e com
exemplar sadismo, injustiça e combate. Sobretudo neste livro ao falar
de destino falo ao romper tempos, cronológicos, oníricos, não lineares,
e assim gêneros. O drama é no presente, a melancolia no passado, mas
o mediúnico sentimento de ver o futuro é dado apenas aos profetas e
escritores da ficção científica numa imersão a introspeção, a mescla
deste cá estão.
A intenção da construção desta cosmovisão particular do autor
sobre sua perspectiva de sua visão do mundo e do universo é enxergar
além do aparente, da realidade resultante de verdades intrínsecas
Q
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 6
muitas vezes invisíveis quer como metafísica ou mesmo algo
malévolo entranhado nas vísceras da história a exemplo de uma trama
conspiratória. Como visto nos livros anteriores tais livros então é uma
viagem pela mente do autor como modo em que penso longe de
aberrações distorcivas da moralidade subversiva e onde a concepção
extra mental é deste mal comum que sofri (e sofro) durante anos sem
motivo algum aparente a não ser sentir-me destinado a algo virtuoso e
por isso incomodar os maus. Somado o encaixe histórico forma-se
então um mosaico que somente pode ser compreendido em sua
totalidade moral e afetivamente, pois sua parte mais íntima é a poesia
dos sentimentos.
Fazer um livro é um pedido do subconsicente de se fazer
conhecida sua vida ainda que indiretamente, a mim por uma
incapacidade de se fazer valer uma completa autobiografia. Por isso a
medida que a perseguição discriminatória cresce sobre mim as
sombras e males crescem em meus livros, como a intervenção do mau
em minhas obras, não inspiração. Tem que se ter sensibilidade, a
delicadeza que os maus veem como fraqueza, pois ler um livro é
intuitivamente compreender que a história deste transcende o mesmo
onde personagem e personalidade se misturam. Todavia os mentirosos
em suas desculpas analógicas para desviarem-se da gratidão e da
moral, não procedem, por isso se sucedem, pois, o fato de não terem
empatia com o autor não prova que sou eu a máquina, mas sim estes.
Todavia o mau em tudo vê maldade, se possível mesmo pelos meus
olhos a cada direção parca que meu olhar cruza. Impressionante como
alguns chegaram tal longe com sua encefalia suprida apenas pela força
estupida, estes acreditam ser o que não praticam, pois furtam como a
lesma que vive da concha alheia.
Todavia assim como em meus livros, mais fácil deixar um
pouco de mim por onde passo, do que levar comigo um pouco do
lugar a não ser por fotos ou lembranças.
Não sou escritor no sentido profissional da palavra, mas
porque preciso imprimir em palavras o que sou e o como vejo o
universo. Para mim tão necessário quanto comer, não apresentando a
futilidade do vício, mas a vitalidade do 'porque'. Pois mais que orgia
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 7
de letras é uma condensação reflexiva do meu ser. Assim o espelho é
o acetato e as palavras nele, meu reflexo, e furtar essas palavras é
como tentar tirar-me a alma, coisa do algoz demônio das letras e
entrelinhas que pela ausência de um reflexo no espelho tira o meu
como um vampiro ante o espelho. Empenho-me então a me inspirar
nesse garbo literário e me inebriar mesmo que dando voltas
desnecessárias em verbos vaidosos. Pois o ato de delinear contornos
desse reflexo em verbos e advérbios está mais para ser realmente arte
do que profissão, pois nesta se insere muito mais dos sentimentos que
a vontade de lucrar com eles. Naturalmente que entre a mente e os
sentimentos, o mistério paira sobre os labirintos dos miolos cerebrais
que consiste em encontrar a mim mesmo nas palavras que por ele
traduz e somente com a correta honestidade pode-se alcança-lo, afinal
os sentimentos expressam verdades abstratas cujo algoz, a mentira,
entorpece os sentidos fazendo a lamuria dos fatos por estarem
escondidos. Os plagiadores são pálidos ecos da origem, pois a minha
melhor droga é respirar a criatividade. Se Moisés por 40 anos levou
um povo pelo deserto porque não poderia leva-los por algumas horas
através de meu livro?
Baseado em fatos históricos reais a trama traça linhas entre
pontos de evidências que denotam uma conspiração pela descoberta
das Américas, as conjecturas extraoficiais são fictícias, mas
exemplificativas ao mosaico da história humana até os dias atuais,
entre liberdades poéticas não tem quaisquer vínculos com seitas e
sociedades secretas reais sendo as duas únicas fictícias.
A história começa quando convocado pela misteriosa Ordo
Christianitas Av Ventus subordinada ao Vaticano, Pedro Mendendez
de Avilez se torna o secreto Herdeiro de Seth, quando é lançado com
sua família em missão nos ainda misterioso oceano do Atlântico a
criar a primeira Colônia onde um dia seria Flórida. Porém, entre estes
interesses estaria a de suplantar um segredo que com a descoberta de
um junco chinês naufragado em seu litoral poderia mudar o mapa
geopolítico do mundo para sempre. Portando tal segredo Pedro
escreve uma carta a ser dada por herança a seus descentes até que
gerações mais tarde é aberta pelo notável Conde Jorge de Avillez para
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 8
descobrir que os domínios de Portugal, Espanha e Inglaterra estariam
em risco nas Américas numa trama envolvendo chineses e o que
teriam o levado até essas terras à lendária El Dorado. Então Jorge
Avillez, mesmo desacreditado tentará um levante para impedir a
independência temendo que algo mais vil aconteça.
O Aprendizado dos maus sempre leva ao mesmo, as
repetições de sempre, pois para este o futuro não se diferencia do
passado. São incapazes de contemplar o infinito em sua verdadeira
natureza, singular. Fora do eixo comum de ciclos que nos voltam ao
mesmo lugar. O ponto de vista de quem empurra não é o mesmo do
empurrado, mais fácil é pisar do que ser pisado, são diferentes visões
na realidade daquele que é incapaz de nos encarar em termo de
igualdade. Não são meras figuras de linguagem ante aqueles que não
distinguem metáfora, fábula, analogia e meros trocadilhos. Procuro ser
verdadeiramente responsável e por isso apenas aceitar a moralidade de
meus atos, não dos alheios.
Mas como é possível quem copia se achar melhor que o
copiado? É como dizer que o original depende do reflexo no espelho
para existir, quando é o contrário. Não criei minhas teorias, elas são a
natureza, então abandonem que a Relatividade é de Einstein, o
princípio da incerteza como de Heinsenberg assim como as Leis de
Newtons não são dele, na verdade, existiam antes, mas seus nomes
estão nelas, pois eles a trouxeram ao conhecimento como um pai a
criança ao mundo, assim como Filoversismo comigo. Ainda a quem
não tenha discernimento pode interpretar mal minha obra, porém,
minha responsabilidade é pelo que sou reconhecido, não furtado.
Ser designado é ter a habilidade de manter-se constante ante
as mutações do tempo, ajustar suas velas ao vento. E isso somente
ocorre quando há verdade, porém, as mutações são naturais e não
incluiu suposições sobrenaturais, e entre elas o que alguns chamam
por sorte ou azar, vê-se como sincronismo sem causa aparente, pois no
destino o azar pode se tornar sorte. Não somos nós apenas quem
fazemos o destino, apenas transitamos por sua via, independente de
sua escolha apenas estará moldando o rumo de nosso mundo como
passageiros no mesmo barco. Juntas as escolhas determinam a direção
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 9
de nossa dimensão numa visão muita mais ampla que a de um
universo espacial onde a seta do tempo é apenas a resultante visível
ante variáveis invisíveis a estreita visão do universo. Não por menos
uma consciência global influí nos padrões de nosso mundo, pois o
realizamos ainda que uns tenham mais poderes que outros de influir
nele direta ou indiretamente, e por isso querem submeter a
humanidade para que como um cavalo montem sobre ela e através das
cordas da ignorância manipulem o povo a direção que almejarem, a
mentira e o engano.
Índice
Renascença dos Ventos – pág.10
Opus Ad Tempus – Pág.30
A Estirpe dos Tempos – Pág.50 Chave dos Ventos – Pág.68
Codex Ad Tempus – Pág.93
Porto dos Ventos – Pág.106
O Mestre dos Tempos e os Peregrinos do Destino– Pág.121
Regis ad aqua speculis – Pág.137
A Pergunta mais importante de todas – Pág.154
A Cidade Perdida – pág.168
Mestre do Caos – Pág.191
O Elixir de Kairos – Pág.213
Appendix – Pág.235
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 10
Ato I
Renascença dos Ventos
"O que, então, é o tempo?
Se ninguém me perguntar, eu sei o que é.
Se quiser explicar para alguém me perguntar, não sei mais."
Santo Agostinho
Vento soa e ressoava pela vegetação criando uma dança entre
a flora do lugar num ritmo natural como regido por uma
sinfonia cujo maestro era invisível e onipresente vento, que
como um Deus tocava e movia o que era imóvel. De fato, ao
contemplar do alto aquela imagem o vento fazia parecer aquela
floresta como um mar verde formado por folhas e cujas ondulações
rítmicas ecoavam pelo sopro ao passar pelas pedras como signo mor
da força eólica do qual nenhum dos homens é capaz de controlar
diretamente. Porém, isso pouco importava a não ser a sensação que o
vento me proporcionava ao tocar os pelos de meu braço que pelo tato
aquilo reboava a me proporcionar a singular sensação de estar vivo
com arrepios reconhecidos como a tipificação de um prazer de estar
em quase comunhão com uma criação de Deus.
Naturalmente que não como um pagão, não confundia a
criatura com Criador, mas concebendo os ciclos e estações anuais
compreendia o porque da vida ter vindo como de um sopro dEle, do
qual sem essa qualidade o homem teoricamente não passaria de barro.
Assim era quando caminhava pelas mediações do castelinho, em
Petrópolis, Rio de Janeiro, quando procurava não isolar-me do mundo,
mas das futilidades que vieram junto a civilização, pois na natureza
não havia hipocrisia ou ganância mesmo que acreditasse numa moral
O
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 11
elementar e mesmo presente em seres considerados “menos
evoluídos” que agente, qualidades que psicopatas do qual comumente
cruzava o caminho tinham. Aqueles eram tempos sem nexo para mim,
procurava entender o porque de muitos males acontecerem sem
qualquer causa aparente a me chegar a conclusão pura e simples de
que o mau é a causa primária, o que gera o desiquilíbrio inicial a
justificar nossa trajetória por equilibrar-se e como o caos a justificar o
destino.
Nutria minha fé não baseada em meras superstições ou
crendices como daqueles que me perseguiam injutificavelmente, mas
milagres vívidos e eventualmente recorrentes em minha vida, ainda
que sem se quer compreender quem eu era e porque aquilo passava a
não ser o fato de estar certo e de que ao contrário do mau havia um
propósito especifico. Do céu a manifestar o impossível quer no
firmamento ou por maravilhas indecifráveis por qualquer teorização
científica justificou minha busca pela verdade como porquês, assim
nasceu minha síntese antes debruçada sobre o existente, para depois
emergir como original servindo apenas aos maus para definirem um
pouco melhor o alvo de suas animosidades, a ganância e inveja, aqui
começa essa história do qual uns chamarão por ficção, mas mesmo
que alguns trechos sejam surreais defino uma meta-verdade.
Em algum lugar de Roma
O lugar parecia pacato com construções tradicionais nas mediações do
Vaticano. Porém, ali mesmo que afastado do cargo um homem cuja
importância se desconhecia em sua totalidade era de preservar
documentos secretos do Vaticano que pelo acumulo de anos, décadas,
séculos e milênios certamente eram ricos, ainda que uma pequena
fração deles tenham sido liberadas como de momentos da inquisição
num pedido de perdão da Santa Sé pelas mortes em chamas – muitas
injustificadas. Todavia aquela era apenas a ponta do iceberg. Desde
quando o Vaticano se dá por Vaticano, desde Constantinopla,
guardava em dezenas de bibliotecas livros cerrados da visão do povo
cujos conhecimentos considerados perigosos ou heréticos eram
guardados, poemas, filosofias, feitiçarias, gnoses, e toda sorte de
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 12
coisas das mais absurdas ou triviais faziam do Vaticano um
depositário do conhecimento talvez maior em totalidade do que a
celebre biblioteca de Alexandria. E assim vivia Javier Farina em
tempos áureos, como guardião desses documentos como atualmente
ex-responsável pelos arquivos secretos do Vaticano. O Cardeal de
idade avançada tinha muitos segredos e aquilo com a aposentadoria se
tornou um enfado doloroso de se carregar ainda que um de seus
maiores segredos fosse justificável, não por heresia, mas a fim de
proteger a verdade.
Ao receber a visita de outro amigo cardeal de longa data o
homem adoentado num leito sabia que a malévola morte espreitava,
impiedosa e fria como o vazio do abismo enquanto ele agarrado com
fidelidade ao seu crucifixo compreendia que o Deus que servia
vencera a morte. Todavia não era esse o temor dele, mas sim do que
tinha engasgado em sua garganta de modo que não parasse de pensar
nisto cada dia que viveu. Assim adentrou seu amigo, também de idade
avançada, cujo tempo generoso lhes fez o favor de lhe prestar a
experiência como ancião de muita instrução. Ele adentrou o lugar e
viu o companheiro da Cúria tentando sentar-se a cama para
cumprimenta-lo num sorriso pálido entre um suor frio que escorria de
seu rosto enquanto ele tentava se enxugar tremulo com um lenço e
disse ao amigo.
- Bom ter vindo, tenho boas lembranças contigo monsenhor.
- E eu contigo irmão Javier. Foram muitas as aventuras no
conhecimento.
- E surpreendentes desventuras nos segredos. – Completou
Javier com um sorriso. – Mas talvez a Santa Sé tenha fracassado em
proteger as famílias deste mundo como encarnação do destino no
mesmo, o território de Roma fora impregnado várias vezes pela
mentira e pela arrogância ante a lama da fraude, o diabo se esforçou
com êxito em muitos momentos e nem seus exorcismos o libertou.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 13
Naquele momento o Cardeal amigo de Javier Farina cujo
nome era Gabriel Modenna sorriu de modo esperançoso a irradiar a
paz e disse.
- O diabo sempre toma muitas formas para tentar se apossar da
verdade, muitas vezes se passou pelo próprio Vaticano, mesmo eu fora
enganado, mas a mentira passa.
- Nós contemos os futuros pelas rédeas do destino, Gabriel, e
se quer fomos reconhecidos por isso, sucumbiremos a um mau maior.
- Nas rédeas do tempo não é importante o tamanho, pois no
caos é o menor quem faz as maiores mudanças Javier. – Respondeu
Gabriel. – Davi era o menor que destruir o maior, o tamanho só é
relevante ao espaço.
- Queria revelar o segredo dos 37, como os amigos de Davi a
lhe revelar a verdadeira natureza de seu tempo até os descobridores
atuais, sempre marginalizados. O projeto realizado por Augustin
Milagros é vital a natureza da Ordem, temos que o defendes, temos
rivais nada leais. Impostores sempre são perigosos e matam estes
como prova de sua amoralidade.
- Para o tempo, sempre há seu tempo, mesmo para a verdade e
seus portadores, por Deus serão justificados. Assim diz o Senhor, não
temas, estou contigo! – Completou Gabriel de modo gracioso a seu
irmão. – Os maus o fazem por inveja. A inveja é a virtude dos
incapazes, é uma admiração distorcida. Os que te descartam não
podem se considerar essenciais para o descartado, são o arroto do
inferno.
Naquele momento Javier deitou-se na cama e ficou com a
respiração ofegante, sentia-se mau como se seu corpo estive destituído
de forças e como se o sopro da Deus da vida estivesse lhe deixando.
Assim Gabriel se ergueu e passou ele o lenço em seu rosto procurando
lhe acalentar.
- Até aqui todos cumpriram seu destino, justificaram os sinais
e o destino. Como disse, não temas.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 14
- A Ordem dos Ventos, nunca existiu oficialmente, fora
realmente não mais que um sopro de Deus como a vida em nós, no
entanto, mesmo em ideias, quisera eu ter conhecido meus antecessores
como Pedro Menendez, que o Tempo de Deus lhe preserve suas
memorias e feitos, assim como seu descendente Jorge Avillez e os
demais pelo que fizeram e farão. Impediram que as Américas
desviassem de seu destino.
- Muitos foram, muitos virão, como o Bispo Helder Zanini,
mas suas memórias e atos serão ecoados eternamente por Kairos. A
Ordem dos Ventos está em nossas mentes cujas sementes plantadas
pelo vento germinaram por sentimentos nobres.
Naquele momento Javier se contorceu na cama como quem
agonizando e torceu as mãos quando Gabriel segurou sua mão com
força lhe dizendo palavras de força e começou a rezar em latim ante
ele.
- Barba non facit philosophum, Non deterret sapientem mors.
Temos aqui um dos Caballarius Inexpugnabilis, lhe devolvendo o
sopro do qual sem a vida não é nada. Como último suspiro entregamos
ele a ti, pois agora seu corpo se tornará como o pó da areia de onde
veio.
- Di-digo-go-lhe – falou Javier moribundo interrompendo
Gabriel – antes um epitáfio. – Ele respirou mais uma vez com
dificuldade e seguiu - Chegada a hora do Advento como o vento da
verdade do qual... – Parou ele agonizando a dizer e segui – destruíra
toda mentira que cobre a verdade.
Ao completar essas palavras seus olhos pararam de irradiar o
brilho de vida, mas antes agora contemplando o vazio suas pupilas se
dilataram fazendo Gabriel fechar suas pálpebras com carinho e
enxugando mais uma vez seu rosto suado completou dizendo.
- Amém, meu irmão e amigo. Assim seja.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 15
O homem se abaixou ali e pegou seu crucifixo de sua mão e
cobriu se rosto, e então de joelhos orou a Deus enquanto notava-se um
choro suave descer de seus olhos, juntou as mãos sobre seu corpo e
rezou em silêncio os segredos que aquele homem guardava.
Século XVI, Astúrias, Espanha
O ano era precisamente 1534 e o lugar eram belos campos
verdejantes, não que o lugar fosse importante, mas sim quem por ele
transitava. Curioso como um gato o jovem Pedro Mendendez de
Avilés frequentemente fugia para procurar pedras de valor próximo a
uma jazida de Topázio e outras pedras, ele havia perdido seu pai Juan
Alfonso Sánchez de Avilés a pouco tempo. Pedro, ficava perplexo
com seu lapidar e a maneira como eram confeccionadas joias e
sobretudo quando pelos rios a correnteza das águas a moldava.
Meditava nisso horas como se houve alguma compreensão que lhe
fugisse ao comum e objetivo e procurava analogias para compreender
em comparação a outros eventos que ficassem sem respostas. O jovem
tinha uns 15 anos, mas a perspicácia era de um jovem sagaz de 25
anos. Tinha no amuleto no pai uma espécie ícone da família, uma
pedra de Berílio forjada na forma de uma estrela de oito pontas e do
qual o pai desconhecia onde e quando sua família adquiriu sendo
passada de geração a geração a perder-se de vista no horizonte infinito
do tempo. Porém, o que ele procurava naquele momento era
justamente a pedra de sua família como signo de uma linha até ali
incorruptível e repleta de rebentos produtivos ante a história. O fato é
que um menino vizinho havia a furtado quando estavam em sua
companhia na ausência dos pais.
Apesar de ser duma família abastada por ser nobre de origem,
o garoto era simples como uma pomba a caminhar como quem levado
ao vento deixando seus vinte irmãos e sua mãe María Alonso y
Menéndez Arango e havia fugido de um parente com quem vivia para
ser seu tutor. Assim ele viu o seu coleguinha usurpador adentrar uma
mina no alto de uma colina perto de uma edificação incomum
chamada por Covadonga que era reerguida sobre uma cachoeira.
Antiga e peculiar muitos boatos corriam sobre a atual natureza
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 16
daquele abrigo, como até mesmo de rituais pagãos o quais seus pais
abominavam. Porém, levado pela curiosidade o menino adentrou o
lugar e logo atrás Pedro Menendez ainda que temoroso.
Por estar fechado o menino se equilibrando passou pela
beirada da cachoeira cuja vista era sensacional e segurando-se nas
pedras da edificação conseguiu adentrar o lugar por uma janela aberta
e Pedro fora atrás sem saber do perigo que corria. Passou pela beirada
com receio e se equilibrando quando num movimento em falso
escorregou sendo seguro pelo coleguinha. Pedro segurou-se na janela
e se reequilibrou olhando para baixo enquanto via a intensidade de
águas caírem se remoendo numa nuvem de gotículas lá embaixo,
porém, quando entrava um barulho denunciou que alguém adentrava o
lugar fazendo o menino fugir dali deixando Pedro sozinho. Ele tentou
se esconder ao contemplar uma série de livros e uma mesa ao centro
assim como uma espécie de banheira cheia de água a seu lado, cujo
desenho ao seu fundo era o mesmo desenho da pedra de sua família.
O menino, porém, deixou a pedra dele cair ao chão fazendo-o
ir buscar enquanto ele pulava a outra janela a abrindo. Era tarde, um
homem franzino, mas com aparência muito invocada desembainhou
uma espada sobre ele lhe apontando em seu pescoço fazendo ele se
render. O homem parecia muito contrariado ao saber que alguém
adentrou aquele lugar sem permissão como artimanha infantil dele e
assim o amarrou e o deixou lá amordaçado por longos minutos após
pegar a pedra da mão dele.
Depois de um tempo ouviu as vozes de alguma conversa
discutindo algo sobre a pedra e em seguida entrou um homem esguio
com aparência bastante tranquila naquele lugar e parou diante dele lhe
olhando bem nos olhos e disse.
- Onde achou essa pedra garoto? – falou o homem que a
despeito da serenidade parecia severo.
- Essa pedra é minha, de meu pai. – respondeu Pedro sem
encara-lo nos olhos.
- Mentira! Onde achou essa pedra?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 17
Pedro se calou e não respondeu e assim o homem seguiu.
- Muito bem, qual é seu nome garoto, e como entrou aqui?
- Meu nome é Pedro Menendez de Avilés, filho de Juan
Alfonso Sánchez de Avilés, vim atrás de meu colega que tinha pego a
pedra.
O homem ao seu lado abaixou a espada, riu e em seguida o
esguio que lhe interrogava pegou uma adaga e cortou a corda de seus
pulsos o levando a perguntar.
- Porque você me libertou? - Perguntou Pedro.
- Conhecereis a verdade e ela vos libertará - disse o homem
misterioso.
- Qual verdade? – Indagou Pedro.
- A verdade o qual persegue. A Verdade é sempre dignificante
e edificante, pode doer e machucar, mas também pode curar, a
verdade somente é venenosa ao mentiroso. – Falou ele mostrando a
pedra em sua mão. – Conheço sua linha, ela tem vocações no destino
há muito tempo a investigamos, afinal toda linha o é ante uma linha de
tempo.
- Santo Graal? Descendentes de Cristo? – Perguntou Pedro
ironicamente demonstrando conhecimentos avançados para alguém
como ele.
- Esqueça isso, tal fora criação de alguns para conseguirem
dinheiro e poder, porque os Templários não compreenderam quem
tinham em mãos, nosso criador. Falamos dos Herdeiros do Destino e
seu milenar conhecimento temporal.
- Como vocês saberiam isso? – Indagou ele se erguendo e
esfregando os pulsos ardidos e vermelhos por ficar tanto tempo preso.
– De quem seriam descendentes?
- Não sabemos, apenas observamos os frutos, os sinais
descritos, os perseguidos injustamente e aqueles cujos renovos a
forjaram o Tempo o fazem protegidos pelo desconhecimento de sua
origem e escolhidos. Assim como há muito tempo sua família. – Falou
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 18
o homem sorrindo e mudando completamente o tom do dialogo ainda
que aquele que ainda empunhava a espada parecesse severo. - Passou
por coisas a tempos atrás sem qualquer motivo aparente? Acreditamos
que esteja sendo visado e os ventos do destino nos soprou até nós.
- Quase agora por vocês! – Falou ele rindo – bom realmente
invadi, mas... – Ele então tomou coragem e olhou diretamente nos
olhos do homem e perguntou. - Isso é mais um tipo de seita, alguma
ordem clandestina com a intenção de esconder rituais macabros e
pagãos? – Perguntou Pedro de modo desafiante.
- Não, uma ordem não oficial que protege a verdade de
conhecimentos duma linha muito anterior ao Vaticano, mas sob
aprovação destes. Seu artefato familiar, não sabemos o propósito, mas
não pertence a este tempo. A Ordem dos Ventos é o sopro de Deus
ante o destino, o mesmo que deu vida, não são de algum lugar, mas
estão em todo lugar assim como Deus. E essa pedra é mais um indicio
de que você é um de nós, pois este artefato pertence ao tempo. – O
homem o entregou de volta ao garoto que o pegou fechando a mão.
- Como assim meu objeto pertence ao tempo? Ordem dos
Ventos...
- Pegue este objeto metálico. - Disse o homem entregando
uma vara de metal que ao ser pega por Pedro este notou ser muito
leve.
- Nunca vi um ferro tão leve! - Disse ele.
- Sua pedra parece ter acabamento nesse tipo material,
chamamos de aço e não existe técnica para fazer isso ainda.
Acreditamos que por possuir isso em sua família você seja um
Herdeiro do Destino. – Falou o homem - Se possuírem tal técnica isso
poderia mudar as rotas de comercio e tirar a centralização do poder na
Europa.
- Ou seja, mudar o rumo da história. - Completou Pedro.
- Algo que como Herdeiros do Destino e Cavalheiros
Inexpugnáveis temos obrigação de defender como o Destino em sua
linearidade.
- Vocês poderiam ficar milionários! - Disse Pedro
entusiasmado.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 19
- Podemos mudar o mundo, mas antes apenas direcionamos o
Tempo a seu objetivo natural e linear. Procuramos anomalias e
desvios do destino para corrigir o curso da história, defendemos a
verdade em sua linearidade e origem, para que a seu tempo a verdade
desde tal origem seja revelada, contra poderes malévolos
irreconciliáveis e destruidores.
- Vocês defendem algum tipo de profecia que não sabemos.
Quando isso seria? - Perguntou Pedro.
- Não sabemos quando - disse outro homem entrando na
conversa após olhar para o do lado que havia lhe soltado - Mas
segundo o fundador da Ordem disse que seria com o advento que
rompe o tempo, daqui a muitos séculos.
- Pedro, acreditamos que isso é um sinal na sua família para
herdarem tal destino, segundo o livro 'Tratactus ad Tempus' do criador
da Ordem. Que você faz parte de uma profecia se assim preferir
acreditar. Tampouco seu nome é fruto do acaso.
- Porque vocês estão me contando isso tudo? Afinal de onde
vieram estes herdeiros do destino?
- Não podemos lhe contar toda verdade, ainda, você terá de ser
treinado, a propósito nos pagar pela invasão que diga-se de passagem
é crime. Mas creio que seu destino cruzou o nosso não por acaso. Na
hierarquia do Tempo e do caos o que se chama de sorte serve ao
Destino. – Disse o homem ajeitando seu cabelo liso claro que caia
sobre a testa.
- Não sei se seria uma boa ideia – falou Pedro olhando para os
dois homens quando outro entrou no lugar com a pedra familiar nas
mãos. – Como se chama?
- Meu nome é Joaquim Milagros. – Respondeu ele olhando
para os homens entrando.
Ele parecia nutrir dúvidas, sem falar das dívidas ao invadir os
aposentos, ele seguiu até um engradado de vidro e viu uma caneca
dentro, ele a abriu e a pegou notando que era leve, era um material a
eles desconhecido.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 20
- Não toque nisso! – Falou o companheiro de Joaquim. - Você
é muito curioso jovem Pedro, isso levou Adão a seu pecado original,
assim como você a este lugar. Você quer as mesmas consequências?
- Não, apenas achei curioso como tudo de vocês é mais leve.
Do que é feito essa caneca?
- O fardo é leve e o julgo é suave, mesmo que a verdade
alguns possam tornar em enfado pelo segredo e mentira. – Disse
Joaquim ao jovem – Vamos me dê isto e só volte se estiver preparado
para treinar a ciência da verdade e a filosofia do tempo. E se contar às
coisas que viu aqui, bom, duvido que o faça, mas...
- Como você saberia que não contaria? – Indagou ele.
- O Vento me sussurrou os segredos do tempo! – Disse
Joaquim a Pedro com certa ironia - Você tem muitas perguntas e
poucas atitudes, mas se quiser suas respostas isso terá seu preço, e
dedicação, esforço, e seu silêncio, pois o dia da verdade ainda não é
chegado.
Pedro fora assim praticamente enxotado do lugar pelo capanga
franzino do Joaquim e ele saiu com mais dúvidas que certezas, pois se
quer sabia se deveria ter encontrado aquilo. Passou ele por longos
minutos em silêncio pelos campos verdes sentindo o vento no rosto e
pensando se de fato este poderia contar-lhe algo assim como fez com
aqueles homens, porém, o zunido era um rítmico a ecoar pelas arvores
e plantas. Naquele momento ele viu o seu colega de desventura e
rindo veio falar com ele.
- Te pegaram, não é? Ninguém entra naquele lugar, falam que
eles tem coisas do futuro e até feitiçarias. O que você viu? O que
aconteceu lá? Eles são loucos mesmo, não? – Indagou o menino sobre
Covadonga.
- Não sei ao certo ainda. – Disse ele quando viu um homem de
capuz passar por de trás do menino olhar para ele. Pedro olhou para o
homem e ele levantou um dedo sobre a boca sorrindo levemente e
pedindo-lhe silêncio para o garoto. – Agora tenho que ir, meus pais
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 21
estão me aguardando, demoramos muito, nunca mais pegue meu
amuleto.
Ao chegar no lugar onde estavam hospedados pois seu pai
Juan estavam de viagem nas mediações de Astúrias, no lar de um
amigo seu. Pedro parecia incomumente quieto de modo que mesmo
seus pais se perguntaram o que havia acontecido. Todavia Pedro
afirmou com um “nada” a pergunta de seus pais ainda que em seu
intimo sentiu-se controlado por Joaquim como se soubesse que pelo
que havia dito teria influência por si só para ele ficar quieto. Ao
deitar-se estranhamente não conseguiu adormecer, mas antes inerte em
suas perguntas que lhe martelava como se Pedro realmente fosse uma
pedra, e assim ele mexeu e se remexeu em seu leito onírico alternando
pensamentos despertos e sonhos quando ele concebeu uma imagem
surreal de um homem saindo do meio de uma nevoa densa que não
permitia compreender que lugar era e o que havia. Aquele homem lhe
passava sentimentos de ganância e inveja sem limites e olhou para ele
fincando seus olhos grandes avermelhados.
Viu ele então uma multidão pedindo súplicas, mas sendo
açoitadas incessantemente a mando dele, e ele pegou conhecimentos
da Ordem dos Ventos e se proclamou dono de todos os saberes e
ideias, subvertendo os destinos pelo caos para impor seus próprios
desígnios antinaturais. Naqueles sonhos as palavras eram assopradas
como em seu ouvido a ecoar a verdadeira natureza futura daquilo caso
não fosse impedido. Onde aquelas figuras do sonho, sem rosto ou
identidade, eram como sombras coloridas e torneadas por um vazio
persistente até que gradualmente tomavam formas não menos vazias.
Aquele homem queria estar em todo lugar em que ele estava como um
tumor se espalhando num cérebro apenas a monopolizar e expulsa-lo
como a encarnação da discriminação, se travestia em tudo, até
criações, como um demônio a assombrar-me pelo medo. Do que
amava tomava ou destruía como um parasita de sentimento, incapaz
de ser humano chama de cão! Assim então subitamente ele despertou
com sua mãe, a lhe chamar.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 22
- Já são quase 10 horas Pedro, estava sonhando?
- Não, apenas um pesadelo.
Pedro levantou-se da cama e tomou seu café matutino inerte
ainda mais em seus pensamentos pois suas perguntas era o convite a
retornar a Covadonga, e assim o fez. Caminhou a passos largos até
contemplar ao alto do monte um homem no arado, ele parou para
contempla-lo e com um sorriso perguntou ao jovem.
- Então você é o travesso Pedro?
- Como sabes?
- Joaquim lhe aguarda lá dentro.
O homem largou o arado e levou ele até o lugar deixando a
terra com caminhos para o plantio e então Pedro entrou no lugar
vendo Joaquim diante daquele tipo de banheira lançando pequenas
pedras sobre as águas e contemplando suas ondulações.
- Tive um sonho essa noite. – Disse Pedro.
- Todos têm. – Falou Joaquim sem tirar os olhos das águas. –
Mas o que importa é com o que você sonhou?
- Como você sabia que viria aqui?
- As respostas lhe chamavam Pedro, restava você vir com as
perguntas. Certamente o motivo de seus sonhos. As respostas são o
destino, e eles clamam por seu livre-arbítrio.
Pedro se aproximou e viu que a parte de baixo da banheira
tinha o mesmo desenho da pedra dele. Ele a tirou do bolso e abriu-a
nas mãos contemplando-a, lembrando dos dias que seu pai lhe deu por
herança.
- Porque a rosa dos ventos? – Perguntou ele.
- Rosa dos ventos é um de seus nomes, todavia, sua inspiração
aos homens do espaço é um enigma, mas para nós a conhecermos, é a
mesma que levou a confecção desta pedra. Esse é o símbolo da Ordem
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 23
dos Ventos. São símbolos. Não é como a rosa dos ventos dos relés
navegantes existentes, mas uma que leva a revelar segredos e
conhecimentos do tempo. Não é como a comum rosa dos ventos mas
uma estrela de ventos que indica adventos.
- Como meus sonhos, acredito. – Retrucou Pedro quando
Joaquim então parou de lançar pedras na água e então olhou para ele e
disse.
- As metáforas e símbolos não são a verdade, mas sua
representação, é o abstrato por onde transitam ideias inexpugnáveis e
quando justificável a verdade. A comparação é para tudo que é finito,
pois não se compara finito com infinito, mas somente infinito pode se
comparar com o infinito. O Mérito do autoconhecimento é
incomparável, pois o referencial como à criança é para quem dá os
primeiros passos como tudo que começa. A má metáfora é circundante
a verdade, nunca a toca, pois é mutante, anômala, não constante como
a verdade que sempre será invariavelmente a mesma. E como tudo que
é imperfeito, não toca a perfeição, mas apenas interpretações egoístas
e distorcidas em degeneração da verdade. Jesus disse que não mais
falaria por metáforas, pois chegaria o momento do singular de
compreensão única e incomparável, que somente você há de
compreender, apenas lhe serei por guia a jornada ao eterno.
- As águas distorcem o símbolo. – Retrucou Pedro. –
Sobretudo pelo que sei a rosa dos ventos é para os ventos, não água.
- O leito deste tanque é o mesmo assim como o destino, veja
quando as águas ficam tranquilas podemos enxerga-lo com nitidez, é
na confusão que a mentiras se fazem sobre a verdade.
- Isso é algum tipo de hidromancia?
- Aqui olho para as águas como quem olho para o Tempo,
Pedro. Yeshua, como cajado sobre as ondulações as rompe, como aos
ciclos, eis seu desígnio.
- Dizem que Ele andava sobre as águas.
- Como o Espírito Santo no Gêneses, curioso não? Sei que tem
muitas perguntas, e garanto, eu tenho as respostas.
- Sim, quero saber como você sabe destas coisas todas, quem é
seu Mestre?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 24
- Neste mundo sou o mestre dos 37 cavalheiros
inexpugnáveis, se lhe dissesse que o mesmo conhecimento que sei
levou os três reis magos a Jesus, você acreditaria?
- Sinceramente não posso se quer lhe responder se acredito,
pois atualmente não sei no que acreditar.
- Pois então fique ciente que a muito tempo a fonte o qual
jorra o conhecimento beberam homens que intencionaram subverter o
destino matando ao Cristo.
- Que fonte é essa? – Indagou Pedro.
- O Tempo. Você quer beber desta fonte Pedro? – Perguntou
ele de modo tentador.
Pedro inseguro hesitou virando os olhos para o lado, mas
acenou com a cabeça timidamente, mais orientado pela curiosidade
que pela certeza, como se o medo lhe bloqueasse o caminho ao que
desejava.
- O Destino sopra como o vento ante o tempo que se comporta
como água, Feng Shui como diriam os chineses. Conhecer suas
nuances é necessário para se conhecer o destino, pois a certeza e a fé é
o triunfo sobre a dúvida e o medo, medo que ainda vejo em ti Pedro. –
Disse Joaquim completando o discurso ao jovem, se levantando, e
aquele homem franzino lhe entregando um cajado como de pastor de
ovelhas e tocando as águas, ele tocou o desenho que estava em suas
bases e sorrindo seguiu - Somos os 32 ventos, e como o vento há de
semear ideias, criar ondulações para o destino, a verdade em mentes e
corações para o destino-mor. Somos a sétima onda a varrer o mundo
da mentira. E ao beber a água deste tanque simboliza seu
compromisso com a Ordem dos Ventos como o advento vindouro. A
Ordem dos Ventos é o sopro de Deus ante o destino, não são de algum
lugar, mas estão em todo lugar assim como Deus, assim como o
Tempo. Se antes os setianos colhiam os frutos do solo, hoje plantamos
no tempo e colhemos os frutos do destino.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 25
Joaquim então pegou aquela caneca leve que Pedro havia pego
no dia anterior e colocou-a nas águas e deu para ele beber dizendo.
- Como símbolo, beba da fonte dos tempos e conheça a
verdade que lhe instruirei. A Cristo lhe deram vinagre, a ti dou,
porém, as águas da verdade, para lhe libertar de suas dúvidas. Assim
como fora batizado pelas águas agora serás batizado pelos tempos,
rumo ao alvo que é o destino, a verdade vindoura.
Pedro pegou a caneca cheia de água e olhou para ela pensando
haver algo diferente na mesma, mas a bebeu duma só vez fazendo-a
entornar levemente sobre sua roupa, e Joaquim sorriu quando um
vento entrou pela janela abrindo as cortinas brancas como se fosse
uma resposta a seu ato meramente simbólico.
- Agarre seu destino Pedro, pois é sua herança, o aceitaste
livremente, mas antes dos segredos revelados terá de ler diante de
meus homens este texto e assina-lo – falou ele entregando um
pergaminho que ao desenrolar era um tipo de contrato enquanto o
homem da lavoura adentrou ao lado de outros quatro.
Pedro sentiu-se intimidado diante de tudo aquilo, entregou a
caneca de volta e começou a ler o texto lentamente diante dos homens
que pararam solenemente diante dele a espera de que lesse o que
queria Joaquim e assim o fez.
- Me comprometendo a não mentir sob as alegações de como
seguidor do que é a Verdade assim como é Yeshua e vendo que toda
afirmação é uma jura a verdade, sob pena ser expulso e punido caso
me contradiga, ou aos estatutos renegue neste contrato. Assim afirmo
solenemente diante das sagradas escrituras assim como pelo fundador
da Ordem, Heidrun Adail e sob a lenda de Fo-Hi tendo por
testemunhas meus irmãos e irmãs de jornada a cumprir meus deveres
e não somente usufruir dos direitos a mim cedidos como privilégios de
conhecimentos protegidos do tempo, mas proteger os valores
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 26
transcendes e atemporais do mesmo, a todos que prezam valores e a
família, e exercer meu oficio com compromisso a proteger a linha
familiar tal como a verdade de maneira incorruptível e como aos
irmãos de jornada e de fé, compartilhado dos benefícios e encargos, e
instruindo, exortando e orientando a direção a tomar ante o tempo,
ante o único caminho espiritual, e nunca tirar proveito do poder por
sua sedução me enaltecendo sobre os demais, assim como de posições,
status ou circunstâncias cedidas a meu posto procurando gozar da boa
reputação não por meras palavras, mas atos. Assim como reservo-me a
calar ante os segredos a mim revelados como reservando ao
destinatário do tempo futuro, e nós correspondentes a selar ante os
maus que anseiam subverter a justiça e a verdade a todo custo, me
comprometendo a colher apenas o por mim plantado e desejar apenas
o que sou capaz de produzir. Confiro a minha plena e total
responsabilidade pelos meus atos e até mesmo doar-me ante a causa
mediante a iminência de risco a sua verdade em conhecimento, pois
agora sou um herdeiro do destino.
Pedro mal compreendia que sua vida mudaria por completo,
para melhor, ante conhecimentos sem precedentes comuns, pois nunca
mais veria o mundo com os mesmos olhos, pois veria o mundo através
dos tempos. O jovem assinou o contrato de fidelidade e
confidencialidade com os seus e um dos homens pegou e mostrou a
Joaquim que assentiu e em seguida disse.
- Conte-nos seu sonho, Pedro, e lhe direi o que é. – falou
Joaquim pegando de volta o pergaminho com um sorriso cordial
diante dele enquanto os homens se retiravam em fila silenciosamente.
Assim Pedro o fez, sentindo-se agora mais a vontade como se
fizesse parte de algo realmente relevante, lhe em seu íntimo sabia que
daria sentido em seu viver, pois afinal tudo que significavam eles era a
busca por um sentido que para ele parecia perdido.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 27
Ao revelar confidencialmente o sonho a Joaquim que lhe
ouviu atentamente de braços cruzados esse ao completar apenas viu o
sorriso modesto como de comprovação de algo e disse.
- Veja Pedro, o sonho significa que no futuro criarão
fragmentações e caminhos para ao mesmo lugar levar e a todos
abranger independente do rumo no tempo a tomar. Porém, o caminho
sem verdade leva a ilusão, mas quando carrega-se a verdade ao alvo.
Pois o tempo do lugar é agora, mas ao futuro pertence ao tempo, pois
não é lugar. O tempo não tem tamanho, pois não é espaço, mas ao
espaço toda matéria. Siga-me. – Completou ele indo em direção a uma
porta a abrindo e revelando um interior com mais livros e armaduras
deixando o jovem perplexo e vislumbrado.
- O que vocês estudam aqui? – Perguntou ele.
- A verdadeira natureza do universo. – Respondeu Joaquim
enquanto parecia procurar algo como numa escrivaninha e continuou -
A mentira é como a lama, como uma camada de cotão cobre a verdade
impedindo seu brilho, mas as águas as lavam em suas areias e revelam
a verdade. Assim é a falsa realidade como um véu sobre a verdade. –
Joaquim pegou então um livro em papiro muito antigo e o abriu e
retornou em sua direção - Lutamos contra o deus material que detido
no espaço se detém a matéria onde está tamanho, e a tudo consome e
domina, mas antes clamamos a um Deus transcendente ao material,
sua metafísica o qual o tempo a tudo move.
- Que livro é este? – Perguntou Pedro o pegando nas mãos e
viu o título ‘Tractatus Ad Tempus’ de Heidrun Adail.
Pedro vendo a resposta a própria pergunta em mãos o abriu
lentamente e viu detalhes de épocas períodos futuros com datas
precisas que incluíam horas e localização sobre os pontos de eventos
que transcendiam ao tempo cronológico e ao espaço mundano. Viu no
livro gravuras e detalhados esquemas de latitude e longitude com
termos em latim e português o qual ele tinha instrução parcial com
frases que diziam coisas como ‘efeito de singularidade, evento
categoria 6’ e em seguida vortex natural de fenda temporal em anos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 28
impares assim como direções ante a concepção da rosa dos ventos,
coisas que os maus poderia utilizar para criar transtornos e até mesmo
matar em lugares que se quer Pedro tinha ciência que existia, pois na
verdade nunca haviam sido descobertos oficialmente. Impressionando
com aquele conhecimento ele sentou-se numa cadeira e então virou
para Joaquim e perguntou.
- Como ele tinha conhecimentos tão precisos do futuro? Era
um dos profetas mais importantes e não conhecia!
- A profecia nunca é tão precisa Pedro, pois é quando o
homem do passado vai com sua consciência ao futuro, mas este é
quando o homem vem do futuro vai ao passado. – Respondeu Joaquim
encostando-se na escrivaninha com uma carta nas mãos. - O que
protegemos é a linearidade natural de origem dos eventos, e estes
pontos são as fissuras neles. Somos protetores da verdade não
usurpadores dela, dos que criam, autores, dos que possuem, donos. O
que tenho aqui em mãos é algo que creio ser destinado a você, antes
mesmo de nascer.
- Que carta é tal que seguras? – Perguntou ele.
- Do mesmo autor deste livro. Escrita há muitos séculos atrás.
– Respondeu ele a entregando em mãos.
Pedro quando pegou-a ficou chocado, como por uma milagre
aquele sujeito conhecia seu nome e até quando nasceria mas com
informações aparentemente deliberadamente fragmentada como se
dissesse apenas o que ele deveria ter ciência e assim ele viu-a
atentamente e começou a ler.
Ao futuro de Pedro Menendez de Avilés que nascido em 15 de
fevereiro de 1519 terá papel importante ao rumo do destino no
tempo vindouro, pois a fé é temporal, não se prende ao agora,
mas está no futuro e ela a ti alcança pela providência divina
eternamente pura. O tempo não tem tamanho, pois não é
espaço, mas ao espaço toda matéria o qual advém as medidas de
tamanho, porém, a sua medida será a eternidade do destino.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 29
O que revelar em terras não conhecidas será guardião em suas
viagens o qual encontrará, assim entenderá o que digo, segredos
que rompem os tempos e que se tornam mentiras nas mãos dos
maus, e como toda mentira apenas mata, não liberta. Meu
endereçado é Pedro, destinatário do destino o qual a estirpe
possuí bons rebentos no tempo como a arvore de bons frutos, a
perpetuar o recado da eternidade que é a fé e a verdade. Seus
laços com a história se estreitarão e terás a oportunidade de
escreve-la, mas isso não direi ainda que no futuro seu
descendente, o mesmo não conseguirá pois a mentira será
domínio comum do mundo.
Porém, lhe digo que serás perseguido e envolvido no começo da
trama que a este atingirá, mas qual endereçado do destino não
há de ser perseguido? Em seu combate contra isso derramará
sangue, mas somente após perceberás que sangue derramado
não muda o destino, mas suja as mãos. Porém, digo novamente,
tenha fé pois o que se enrolará como mistério dos tempos será
completo apenas no vindouro, acalente sua alma, esforce sua fé,
segure o estandarte da verdade e com fidelidade ao que lhe
entregar tal carta como instrutor dos tempos.
Ao ler aquilo Pedro ficou na verdade mais repleto de dúvidas do
que certezas, ainda que a dúvida fosse a não compreensão na sua
vontade de compreender.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 30
Ato II
Opus ad Tempus
"Eu devo e irei conhecer a ti, Ser Desconhecido,
Que procuras nas profundezes de minh'alma,
E sopras através da minha vida como uma tempestade,
Inalcançável, e ainda assim meu parente!
Eu devo e irei conhecer a ti, e servir a ti."
Nietzsche - 1864
Algum lugar de Roma, Vaticano
A superfície aparentava ser apenas um prédio histórico comum a
localidade o qual pelo tempo de pé que possuía, o tinha de incontáveis
histórias como testemunha ocular da humanidade que a forjou.
Todavia em seu interior, no subterrâneo havia um laboratório criado,
mantido e pesquisado por Jesuítas com o dinheiro do Vaticano em
associação com o SIV, Serviço de Inteligência do Vaticano
tecnológicas impermeáveis a invasões de criptografia a cifras
quânticas como contra inteligência de agências como NSA. Porém,
mesmo que a aura moderna permeasse aquele lugar os cientistas de
batina remontavam os tempos áureos dos Jesuítas quando pelo
conhecimento praticamente criaram o mundo moderno e o
dominaram, homens de fé, cruzando o rumo da ciência onde
surpreendentemente em sua encruzilhada ambos se encontrariam
como um serviço de ‘ciência santa’ como Augustin Milagros definia o
projeto em que trabalhava chamado Hidrocriptografia, um sistema de
criptografia quântica que utiliza de métodos probabilísticos da função
de onda pela incerteza de Heinsenberg, algo prodigioso e feito sob a
tutela ética dos jesuítas cuja imparcialidade e a metodologia era
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 31
seguida a risca e desenvolvido como modo frio sob a coordenação do
bispo Milagros.
Augustin Milagros, era um homem simples. Tirando sua
batina poderia se passar por qualquer pessoa e mesmo que doutorado
em física quântica em Oxford conseguiu conciliar a batina com a
ciência servindo a SIV com ideias próprias e de muito uso para o
Vaticano depois do chamado Vatileaks. Magro e com cabelo grisalho
e usando uns óculos fino no rosto, carregava consigo um crucifixo e
um terço enquanto monitorava os esforços da Hidrocriptografia criada
originalmente a proteger documentos e conta bancárias virtuais de
possíveis invasões até mesmo da NSA que trabalhava num outro
computador quântico que quebrava todo tipo de senha. Todavia
naqueles dias ficaram eles eufóricos com algo que toparam por acaso
em suas pesquisas.
A Hidrocriptografia era baseada justamente nas flutuações
quânticas e aparentemente aleatórias onde o código aparentemente
parecia oscilar de modo imprevisível a qualquer sistema similar e
tornando possível apenas rompe-lo com uma chave de seta, que
chamavam de ‘Código de destino’. No entanto, padrões imprevisíveis
foram notados uma vez colocada a chave no sistema caótico o que os
deixaram inicialmente perplexos. Porém, o que se seguiu fora uma
concepção que tornou capaz de prever flutuações posteriores a esta
chave como se inicialmente pudesse ver padrões caóticos futuros de
alguns segundos e posteriormente ao ser aplicado de modo mais
preciso minutos criando modelos completos de previsões
probabilistas. O código criado incialmente criptográfico era na
verdade uma chave que levava a uma equação capaz de estabelecer
modelos futuros. Como um tipo de vetor de que indica variáveis com
uma precisão de 98% mediante a observância tornava aquilo uma
máquina sensacional de previsão temporal.
- Não vamos publicar esses resultados agora. – Disse
Milagros. – Vemos implicações disto nas mãos de pessoas amorais e
imorais, pode ser desastroso. Talvez favorece até mesmo o Anticristo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 32
- Recebi ameaças ontem, Milagros. – Disse o jovem negro que
era um padre também cientista.
- O Siv está nos protegendo, temos a graça do Santo Papa e de
Deus. Documente todo progresso, registros e leve o backup daqui,
sabe-se que esses alienados são capazes de qualquer coisa para tirar o
que desejam.
O Jovem chamado por José Maria suava nervoso, ainda que
sob um bom ar condicionado ao pegar o pen drive com os documentos
com registros de todos movimentos assim como de registros
scaneados colocando-o dentro do jaleco branco com um sorriso meio
pálido para Milagros.
- Temos que buscar a fonte senhor Milagros. Se estão me
ameaçando assim imagina, o criador conceitual disto.
- Gabriel Modenna me contatou hoje pela manhã, Javier
faleceu, mas estamos tomando medidas com o SIV no Brasil. Se
estamos certos assim como Gerson, isso pode formular quadros que
compõe toda construção do universo e talvez literalmente ser capaz de
prever o futuro. Modenna crê que isso pode decifrar profecias e em
mãos erradas pode ser um poder imensurável de domínio pra
escravizar, a exemplo do que fazem com esse autor.
- Acho que Gerson Avillez está inatingível, os abismos que
criaram até ele nenhuma ponte é capaz de alcançar.
- Fé, meu prezado, ela faz qualquer ponte ser real.
- Você acha que é a NSA que está por de trás disso? –
Perguntou José Maria. – As relações do Vaticano com algumas
sociedades secretas foram postas abaixo com o Papa Francisco.
- Quando se há ganância e cobiça o tiro pode vir de qualquer
direção, a obstinação amoral destes demonstra o mal que são. – Disse
Modenna – Mas não temas, Deus está contigo, agora vá. Você será
reputado por ter descoberto o padrão previsto por Gerson.
O Jovem saiu do laboratório um pouco atrapalhado indo até a
porta de segurança quando deixou cair seu celular no chão. Ele se
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 33
abaixou, mas nisso o guarda que era da Siv se abaixou primeiro e com
um sorriso lhe devolveu o aparelho perguntando se havia danificado
com o tombo. José Maria negou e tentou esboçar um sorriso de volta,
mas seu olhar fraquejou. A porta se abriu e ele se retirou indo até o
exterior enquanto duas belas jovens passavam sorrindo enquanto
tomavam sorvete.
Um carro parado do outro lado da rua tinha um senhor de
bigode branco conversando com um homem calvo e sorridente ao seu
lado. Aparentemente nada incomum. Ele atravessou até um carro
simples que era o dele e abriu a porta quando ao fim da rua era
possível ver uma das entradas ao Vaticano. O jovem ligou o carro e
deu partida saindo da calçada.
Ligou o rádio e passou por várias estações, mas independente
da música, nada o deixava confortável. Com uma mão colocou o
celular sobre a poltrona do lado e se abaixando, um carro na mão
contrária buzinou. José Maria levantou-se olhando para a rua jogou o
carro de volta para seu lado de mão quando com a outra mão apalpou
o bolso do jaleco sentindo o pen drive dentro dele. Naquele momento
porém, uma senhora atravessou a rua sobre o carro dele, e assustado
apertou o freio jogando o carro para a via oposta quando notou que o
freio de nada adiantou, não havia freio.
Tenso com a situação o jovem quase perdendo o controle do
carro tentou diminuir a marcha sem resultado quando vendo outro
carro vindo na mão contrária, buzinando, este ao colocar perdeu o
controle indo para fora da pista batendo sobre um monte de caixas e
capotou quase atingindo uma barraca de frutas onde estavam duas
meninas e uma senhora.
Poucos segundos depois curiosos brotaram de todos os lados
quando uma moto veio em direção ao carro parado e estacionou. O
homem desceu da moto sem esboçar qualquer afeição no rosto, com
os cabelos encachiados tirou o capacete como se fosse algo comum e
foi até a janela quebrada e nela se debruçou se abaixando. José Maria
estava apagado dentro do carro em meio a cacos de vidro, mas o
homem ao invés de soltar seu sinto de segurança apalpou por todo seu
corpo até que viu o pen drive no teto do carro e o pegou. Em seguida
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 34
pegou um tipo de dardo, e perfurou seu pescoço fazendo o jovem se
remexer dependurado no banco, de ponta cabeça. Aquele motoqueiro
então disse bem baixinho.
- Como Pedro morreu na cruz. – Disse ele esboçando aquele
sorriso sádico na face.
Tendo a mesma calma com que fora até o carro, colocou o pen
drive no bolso enquanto um senhor perguntava se estava tudo
tranquilo com o motorista. Mas o ignorando retornou a moto do
mesmo modo que veio, colocou o capacete e deu partida indo embora
dali deixando os curiosos cercarem o carro quando sirenes se ouvia ao
final da rua se aproximando, José Maria estava morto, eliminado,
quando as ambulâncias lá chegaram encontraram seu corpo sem o
sopro de vida que havia recebido assim como Adão no Éden. Ao ser
levado ao legista nada perceberam a não ser meramente um aparente
infarto provocado pela tensão do acidente, que na realidade teve os
freios adulterados para falhar.
Siv, Serviço de Inteligência do Vaticano, Roma, 2014
Um alarme soou quando homens de fé discutiam os passos a serem
tomados numa investigação sobre as descobertas recentemente feitas
pelo grupo Jesuíta naquele laboratório, aquele era o centro nervoso do
SIV, Serviço de Inteligência do Vaticano. Os agentes da fé haviam
falhado em proteger um dos jesuítas que trabalhavam no Projeto
Hidroneiros como era chamado por Modenna. Diretamente do
telefone Augustin Milagros esbravejava sobre o porque de nada terem
feito ou monitorado o jovem no que indicava algum tipo de
sabotagem.
- Isso é alguma conspiração dos infernos! – Disse Augustin
Milagros – Quero a verdade sobre tudo que aconteceu!
- Senhor, os relatórios oficiais que recebemos agora disseram
que fora um infarto, não podemos explanar na mídia algo sem provas
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 35
factuais, incialmente apenas acreditamos que o freio fora sabotado. –
Disse o agente da Siv a Milagros.
- Quero que investigue qualquer seita, agência de inteligência
e sociedade secreta que tenha tomado conhecimento destas
informações, se furtaram o pen drive de dentro do carro, então sabiam
o que faziam! – Retrucou Milagros no telefone. – Modenna e eu
estaremos indo ai tão logo, e tratem de contatar Gerson o quanto antes,
ele tem informações valiosas caso a Chave do Tempo caia nas mãos
malignas dos que isto fizeram.
Chave do Tempo era o termo que Milagros designou para o
vetor-chave como código para conseguir decifrar a hidrocriptograma,
no backup colocado nas mãos confiáveis de José Maria haviam
documentos criptografados, mas facilmente quebráveis com o
computador quântico da NSA, porém, o documento deliberadamente
estava fragmentado em partes onde uma parte do backup ficava no
laboratório, a dita chave, enquanto o código estava com José Maria.
Milagros sabia do quão malignos eram aqueles homens sem
escrúpulos ou valores, seriam capazes até mesmo de fazer guerras para
impedir a justiça e excluir alguém que eles desejassem algo,
extremamente covardes eram arbitrários para servir-se de qualquer
meio a fim de se apropriar de algo, dominar, controlar e agora
comprovadamente aquela conspiração que a tudo isto indicava.
Rio de Janeiro, Brasil.
Entre sete bilhões de pessoas não existem duas pessoas com o mesmo
código genético, a mesma genética, córnea, íris, a não repetição de
algumas coisas surpreendem e assustam tanto quanto a repetição pelo
fato do caos que permeia aparentemente idôneo onde suas relações
físicas advém as demais formas por influência e convergência das
demais leis físicas e determinações pelas leis da termodinâmica, de
modo que é a medida desse caos perante a termodinâmica que move e
transforma, da informação a energia, e da energia a matéria tornando o
inexistente existente como bolhas a submergir a superfície conhecida
de nosso universo. Como pode disto advir qualquer destino?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 36
Mesmo a energia nunca se perde, mas a tudo converte, a
termodinâmica avisa, porém, que ela pode vazar e ser vazada a
exemplo da energia escura, de onde vem? A busca por um moto-
perpetuo parece impossível, mas diante de nossos olhos estamos
diante do maior de todos eles, o universo ainda que sob o caos.
Ao menos conforta o fato de que não somente é o universo
que paira flutuando sobre o abismo que tanto temeu Nietzsche, pois
talvez seja justamente o medo de Deus em seu isolamento perpetuo
levando-o a construir esse palácio do universo como ponte a um
sentido para si mesmo viver, universo este o qual o mal tenta se
esconder saindo de sua casa de origem, o abismo de onde Deus deu
ordem para que todo caos tivesse sentido, destino.
Mas o caos como sombra nos assombra por séculos, invasores
e ingratos com suas embaixadas na física astronômica de buracos
negros da existência, em que não se a troca ou tem retorno
proporcional, pois a maldade representa o acabar do sentido, da fé, o
cessar a única volta que almeja, o do não adianta a falta de decoro dos
facínoras da injustiça e do mau, é uma fragrância do qual a única coisa
de singular é a inhaca que reconheço de longe. Mas em terras de
trópicos dizem que o calor com sua medida de temperatura física
denota variações entrópicas e consequentemente desse caos. Ânimos
acirrados parecem intrigantemente se mesclar favorecendo situações
que de algum modo se relacionem a agressões e violências não por
menos atribuindo tal temperatura ao inferno onde nela a de reinar. A
medida de ordem de um sistema é medido justamente pela entropia
que estabelece vinculo com sua temperatura que extremado aparente a
deliberar numa assimetria de reatividade numa sucessão de eventos
que relacionados podem levar ao que se concebe por sorte ou azar.
São como águas a ferver que pela intensidade do calor borbulham
tornando-se agitadas e assim sua previsão muito mais difícil, nos
restando por aquele ferver, a fé do qual atribui-se o fervor,
curiosamente.
Assim vivia eu, excluso, não exclusivo, recluso, não incluído.
A exclusão e discriminação, é uma cadeia no qual ficamos detidos
pelo dolo alheio. É como a doença da maldade, só se faz sentir os
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 37
sintomas em terceiros, suas vítimas. O calor aflorando como grilhões
do caos a anunciar a sobrevivência do qual restava-me como numa
savana mas não por animais que se atribua apenas sua manutenção,
mas ao sadismo dos que eram incapazes de viver dos próprios ganhos,
sua própria vida. A pista era de terra e havia crianças brincando
quando ao me dirigir a caixa postal, abrindo-a, notei uma
correspondência. Havia dentro dela um desenho peculiar onde anjos e
aparentemente Deus com suas longas barbas brancas assoprava sobre
as nuvens, sobre o texto, com estilo daqueles convites de casórios ou
de 15 anos, comum por estas regiões. Ao ler o curto texto havia o
seguinte.
Ao estimado Gerson Machado de Avillez o qual concebeu com
esforço e mérito próprio ante uma árdua perseguição o que
pesquisou e desenvolveu a próprio punho ante o que lhe
afligiu, sua presença é requerida a tratar de negócios
pertinente as suas referidas descobertas, mediante a
gravidade do caso acreditamos que corra perigo por
impostores e fanáticos que almejam domina-las com todos os
meios possíveis.
Amanhã na Av.Rio Branco, em frente ao edifício central, as
10:25. Dr.Petronio Fonseca.
O.C.A.V.
Ao ler aquilo, mais movido pela curiosidade que pela certeza
devido a situação presente, resolvi, com certa relutância me dirigir ao
local em vista que era de movimento e público de modo que
dificilmente correria perigo. Não obstante dificilmente algum
impostor me enviaria uma carta com adornos e desenhos tão
agradáveis me convidando com peculiar cordialidade a alguma cilada
de abate, pois concebe-se a psicopatas nunca tratar assim suas vítimas
o qual se consideram donos.
No dia seguinte me dirigi ao local designado mediante o
horário, notadamente como quem buscasse respostas existencialistas a
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 38
minha própria busca particular de significados da vida que alguns
tanto obstinadamente tiravam como se este fosse simultaneamente o
sentido da vida deles. As 10:17 passei diante do lugar onde alguns
ambulantes esticavam uma sucessão de programas piratas de
computador para vender, quando notei um homem que destoava dos
demais ao ter um chapéu coco engraçado e vestindo uma camisa
quadriculada como se estivesse “disfarçado” de turista. Parei
aproximadamente a ele e o observei quando ao olhar ao relógio notei
ser 10:27, quando alguém me cutucou.
Ao virar-me, um sorriso radiante e cordial abriu-se diante de
mim como se me conhecesse de longo período e imediatamente me
cumprimentou falando meu nome completo.
- Sou doutor Petrônio Fonseca. Compreendendo a forma como
lhe contatei estimo que não tenha lhe levanto más suspeitas.
- Considerei incomum, no mínimo. – Respondi eu.
- Naturalmente, tendo-se em vista o tanto o quanto padeceu. –
Respondeu Petrônio retirando o chapéu e enxugando o rosto com um
lenço demonstrando uma testa avermelhada pelo calor. – Vou ser
sincero e direito, não sou bom em não ser objetivo. Podemos ir a
algum lugar mais apropriado?
- Pode ser num café que tem lá embaixo, dentro do prédio. –
Respondi eu.
Assim descemos e imediatamente o doutor Petrônio pediu um
café expresso e o mesmo pra mim e quase bufou dado ao calor. Tirou
uma pasta que carregava consigo e colocou-a sobre a mesinha onde
era servido o café. Ele a abriu, e dentro tirou alguns papéis e fotos.
- Trabalho a serviço do Siv, um serviço de inteligência do
Vaticano, venho em nome de Gabriel Modenna, um bispo que vem
desenvolvendo um projeto baseado em suas teorias. Na última
semana, um dos nossos cientistas que trabalhavam num laboratório
Jesuíta fora morto em circunstâncias duvidosas.
- Mas tenho alguma relação ou suspeita nisso? – Indaguei eu.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 39
- De modo algum, na verdade acreditamos que seja o próximo
alvo. – Respondeu ele mostrando uma foto do padre que havia sido
morto, José Maria. – O que recentemente descobrimos parece
confirmar por completo suas hipóteses formuladas e parcialmente
colocadas na internet. O que alguns naturalmente cobiçam e pouco se
importam pra qualquer legalidade ou respeito, pra eles você é menos
do que nada, só importa suas teorias, só. Falo de uma Sociedade
Secreta conhecida por Ordo Ad Innaturas ou como algumas vezes se
vê Ordo Ad Chaos, antiga adversária de nós.
- Isso pelo que sei é apenas uma mensagem relacionada a
alguns ocultistas fanáticos. – Respondi.
- Não apenas, é algum tipo de círculo inserido dentro de várias
Sociedades Secretas e seitas o qual acreditam que o domínio do caos
trás o poder numa ordem própria. – Respondeu Petrônio novamente
enxugando a testa do suor. O que nos leva novamente a você como
ponto em comum entre estes e a Ordem Jesuíta.
- Por quê?
- Recentemente José Maria trabalhava num novo sistema de
criptografia quântica utilizando o principio postulado por você ao ser
associado ao principio da incerteza, o qual chamamos de
Hidrocriptografia. Criado originalmente a proteger nossos mainframes
de invasões como pela NSA que atualmente possuí um computador
capaz de quebrar quaisquer senhas, descobrimos, porém, algo dentro
da aparente aleatório ao utilizar a Chave vetor.
- Os jesuítas veem nisso a oportunidade de retomar o poder de
outrora, o que seus adversários não querem evidentemente. – Concluí
eu quase interrompendo.
- Sem rodeios. Há muito mais nisso do que aparenta prezado.
Sou do Siv, mas participo do que oficialmente nunca existiu, a Ordo
Christianitas Ad Ventus, uma ordem ultra secreta criada há séculos
atrás e que guarda segredos proféticos pertinentes ao tempo que
justamente converge a esta descoberta. – Respondeu ele passando a
mão sobre seus cabelos brancos e se inclinando em minha direção e
então seguiu. - A irmandade dos Ventos procuram o autor, que chama
de “chave dos ventos”, não somos uma máfia, não viemos para matar,
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 40
mas libertar, pois o livre-arbítrio consciente é a verdadeira liberdade.
Nós cuidados para que a humanidade siga seu curso natural e
profético, zelamos pelo destino da humanidade para que algumas
cosias não alterem a ordem natural e divina estipulada como destino.
- Mas como nunca soubemos de vocês?
- Somos pessoas comuns com conhecimentos fantásticos. –
Respondeu ele sorrindo cordialmente - O fato de não se ver os ventos
não significa que ele não existe. O tempo não tem forma, todavia a
confere ao que toca com o alisar de séculos, você pode soca-lo o dia
inteiro e nunca vence-lo. Assim é a informação, ele altera, muda, pode
conduzir a energia e a energia a matéria pelo caos. Estamos todos
dançando ante o perpetuo tempo. Das ínfimas partículas que vibram
ao ritmo inabalável do Tempo, as voltas em torno deste mundo insano
em rotação, e do constante e raro ato heroico da transladação que nos
permite comemorar anos de vida. Quem permanecer mais tempo de pé
dançando a de vencer.
O doutor então tirou de dentro da pasta uma gravura com uma
pintura conhecida por mim, era um descente meu que a muitos anos
havia trazido a família para o Brasil.
- Você conhece este homem. – Disse Petrônio – Conde Jorge
Avillez, governado militar da Cisplatina, porém, mais do que seu
cargo oficial ele defendeu algo que poderia ter mudando o curso do
país e do mundo.
- Ele era a Ordo Christianita Ad Ventus? – Indaguei eu tendo
um aceno positivo de Petrônio.
- Oficialmente ele era da Ordem de Cristo, uma sucessora dos
Templários, todavia aquilo era apenas uma formalidade conferida a
algum de seu posto, pois o conteúdo mesmo era de uma trama que
protegia um segredo muito antigo.
- Mas qual a relação disso com o caso que você estava
citando?
- Algo muito antigo que “profetizou” sobre estas descobertas
atuais e do qual você é, não por acaso, herdeiro comum, e parte da
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 41
própria natureza da Ordem dos Ventos, ou se preferir Advento. Há
todos os tipos de ventos, os que anunciam tempestades são os mais
importantes, algo pertinente ao destino sobre o caos, o que a Ordem
do Caos quer furtar e como impostores apenas aniquilar. Todas
variáveis ante o caos leva a valores constantes como determinantes a
um destino comum o que leva a Ordo Christianita Ad Ventus.
Naquele momento o doutor arrumou a pasta onde se viu uma
folha com o termo ‘Philoversism’ escrito no título, um conceito criado
por mim há alguns anos. Tudo fez sentido naquele momento, sobre a
natureza do que ocorria, todavia quase irreal pelo conhecimento de
minha própria família que ele propunha. Senti-me insaciável na
curiosidade de compreender melhor e ter ciência de até onde era de
algum jeito parte daquilo, como uma peça num mosaico peculiar,
quando ele disse mais uma vez.
- O tempo urge e engole as mentiras de homens vãos, dos
resistentes a verdade. Porém, se nada fizermos devemos aceitar o
resultado que vier. Preciso ter certeza se você está conosco nisso.
Acenei que sim com o rosto ainda que não compreende-se o
que poderia auxiliar eles, quando então o homem tirou de dentro do
blusão uma passagem de avião. Uma viagem para Itália, Roma.
Diretamente para o Vaticano onde me juntaria não somente a
investigação como ao experimento lá realizado a somar ideias sobre as
concepções lá propostas a fim de conseguir resultados antes que estes
dominem tal conhecimento e tragam o caos ao mundo.
Marchal, município da Espanha, século XVI.
Alguns anos haviam transcorrido desde que o jovem Pedro havia
encontrado com aqueles homens de conhecimentos peculiares e
surreais ao conhecimento dele. Havia recém completo 18 anos e no
auge do borbulhar hormonal de garotos do tipo. Repleto de energia e
vigor da idade o jovem Pedro naquele momento, depois de anos de
espera, estava começando por fim seu treinamento junto a Ordem dos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 42
Ventos. Quando Joaquim Milagros se aproximou do jovem
carregando um pergaminho nas mãos e lhe olhando sério sentou-se ao
lado de Pedro, numa pedra redonda tirada de algum rio ou corredeira
no alto da colina onde estava uma edificação similar a de Covadonga e
disse.
- Hoje começaremos o treinamento Pedro, ele será duro, mas
com um propósito específico, torna-lo igualmente duro de ser
quebrado ou partido. – Disse Joaquim abrindo o pergaminho e seguiu
– nada do que faremos será para lhe fazer mal, mas lhe moldar assim
como a pedra o qual nos assentamos fora moldada por milhares de
anos sob a correnteza das águas. As águas a tudo moldam e dão
forma, mas ela não tem forma. O Treinamento corresponde a cada
filão exemplificativo dos conhecimentos do Opus Ad Tempus – disse
ele apontando para o pergaminho – algo muito antigo que sobreviveu
a aniquilação de uma cidade. Mas, antes de tudo, deves compreender a
diferença entre mandar, pedir e ordenar. Somos uma Ordem, Pedro,
mas isso não significa que não respeitemos o livre-arbítrio, antes
zelamos por ele. Lhe mostrarei o caminho, lhe ensinarei a liderar, lhe
darei o conhecimento que ao mundo pode moldar como as águas que
moldaram essa pedra. Porém, terá de provar seu valor a receber uma
tarefa, pois aquele que ostenta conhecimentos sem prática seu
aprendizado é ilusão, como o que se contradiz não é digno de
confiança muito menos de beber da fonte que lhe ofereço, não
ostentamos apenas a fachada de algo oco de valores. Por isso o
primeiro passo do aprendizado não é só pratica-lo, mas respeitar seu
mentor. Sou sua fonte até que um dia você se torne um manancial. –
Joaquim então levantou-se quando um homem negro alto surgiu
carregando uma espécie de mochila cheia de pedras e com esforço
entregou a Pedro e disse. – No caos é fácil empurrar ladeira abaixo,
não há grande esforço nisso, porém, levar ladeira acima pedras exige
esforço e destreza. Derrubar é mais fácil que levantar, estou aqui para
não fazer cair, pois a gravidade a todos empurra, estou aqui para poder
mostrar o erguer.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 43
- Mas isto é muito pesado! – Exclamou Pedro ao pegar a
mochila cheia de pedras.
- Esse é o peso que alguns tornam o fardo do conhecimento da
verdade Pedro, mas somente após levar ao alto você poderá se dizer
apto poder trazer abaixo. Você deve subir o resto da colina, e lá no
alto haverá uma fonte a que beber como recompensa, pois somente
com os malévolos nada se ganha pelo esforço.
Pedro com certa dificuldade, mesmo no vigor físico da
juventude colocou a mochila nas costas ao se levantar quase perdendo
o equilíbrio e fazendo umas caretas e disse.
- Não sei se consigo, está pesado demais, vou cair no chão no
caminho.
- O mal é como a gravidade, ela lhe prende ao chão. Mas os
verdadeiros peregrinos não possuem raízes no chão, mas na fé e no
tempo. Mas persiga o futuro e no máximo alcançará o presente, siga a
verdade e ela te libertará para a eternidade. – Completou ele
apontando para o alto da colina e em seguida cruzando os braços o
aguardando. – Como lhe disse não estou ordenando isso, mas a fonte
está lá encima, somente lá subindo você poderá bebê-la, você terá de
colocar as pedras sobre uma balança para abri-la. Os que não
valorizam o esforço, são os que saqueiam fontes e rapinam
conhecimento.
Pedro fez uma careta de desanimo pela proposta, mas seguiu a
instrução de Joaquim como se fosse um soldado e seguiam andando
com certa dificuldade rumo a colina sob os olhares silenciosos daquele
negro de quase dois metros de altura. Joaquim veio atrás como se
fosse um súdito de Jesus o acompanhando até o calvário e a cada
passo de esforço da subida o jovem quase tropeçava sobre si mesmo e
tão logo o suor começou a escorrer de sua face.
- Jesus padeceu igual a isto, mas ele teve sua recompensa de
Deus, Pedro, ele ressuscitou e venceu toda gravidade, subiu! Com
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 44
Deus não há dificuldade sem porque, é o porque que nos move, e a
pergunta que nos leva a fé. Quando Adão fora expulso do paraíso foi-
lhe ordenado a viver do próprio suor, porque contigo seria diferente?
Os que não suam, rapinam, mas o prémio deles é outro, é o inferno.
Pedro então caiu com as mãos no solo inclinado e com esforço
tentou se levantar em vão. O negro que acompanhava Joaquim foi
para tentar auxilia-lo se erguer, mas fora impedido por Joaquim.
- Sua jornada Joaquim, sua jornada, apenas lhe mostro o
caminho, mas quem cruza é você. – Disse ele e continuou - Você se
torna o que faz, mas vale aquilo que defende, a proporção em que
defende. Lembre-se neste caminho que segues tem de haver verdade,
pois sem verdade apenas há ilusão. – Joaquim então pegou um lenço e
passou no rosto, pois também suava com o calor de um sol intenso e
continuou - Descer é fácil, subir é difícil. Fácil é subir sobre o que
diminui, como lutar sem igualdade, qual bravura há no massacre?
Suba a montanha antes de falar do mais baixo, caminhe milhas antes
de culpar as plantas, somente então beba das águas de meu
conhecimento! Certamente Solomon Pellegrin ficará orgulhoso disto.
Pedro se remexeu grunhindo algo sem sentido se ergueu e ao
olhar pra frente viu que ainda havia quase uma milha de subida. Ao
suar ele parecia ressoar como o sino soa e o vento propaga. O jovem
seguiu ofegante e com o suor descendo em sua vista, dando um passo
por vez como se estivesse reaprendendo a caminhar. Ele se perguntou
quem era tal homem, Solomon Pellegrim.
Longos minutos se passaram e Pedro ficou com uma
coloração avermelhada pelo esforço, agora estava a poucos metros do
objetivo. Pedro parou um pouco e respirou ofegante, ajeitou a mochila
e olhou para Joaquim como se estivesse sendo penalizado por algo
que nunca fez de mal. Sem nada dizer seguiu a diante, cambaleante
pelo cansaço quando finalmente visualizou a fonte. Diante dela parou
e tirou a mochila das costas fazendo-a cair e espalhar as pedras que
nela haviam, eram quartzos e cristais comuns de grande tamanho e
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 45
algumas pedras de granito. Pedro se lançou ao chão vendo que não
saia água da fonte e ofegante respirou sem cessar por longos segundos
quando Joaquim lhe disse.
- Arrancar frutos da arvore para derruba-la é como defecar na
fonte em que bebe, pode-se condenar o autor o qual copia? Somente
os tolos que não conhecem o valor de um trabalho assim o fazem. –
Disse Joaquim se abaixando e colocando as mãos em seu ombro e
disse. – Veja a fonte Joaquim, agora a dê valor pelo esforço que
fizeste, mas coloque as pedras como tributo ao que vai beber para que
possa bebê-la.
- Não vejo... – disse ofegante - onde colocar as pedras na
balança! – Disse Pedro.
Joaquim apontou a seu lado direito uma espécie de prato de
metal sob um material sensível amarrado a uma corrente e então disse.
- O Teimoso é aquele que insiste numa coisa que se sabe ser
mentira ou mal, o persistente no que conhece o sonho que anseia
conquistar com valores e esforço próprio. – Coloque as pedras e
beberás de sua água.
Pedro ergueu se recobrando e colocou as pedras no prato uma
a uma até que ao atingir o peso adequado, o prato desceu puxando a
corda que liberou a fonte. O jovem lançou-se sobre um pequeno
manancial de água que dela jorrou abundante, e meteu seu rosto na
água de qualquer jeito se molhando, abriu a boca e da água se encheu,
se ensopou por completo de água fazendo aquele homem negro rir e
em seguida Joaquim.
- Como a água é boa não? Beba-a como o conhecimento que
lhe passarei, meu preço é o esforço ao contrário dos tolos que tomam a
fonte sem nada pagar e dela cobram a quem descobriu. – Disse
Joaquim colocando a mão em seu ombro e continuou - Não somos
assim, dela criamos, somos a fonte. Mas não se pode reputar por
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 46
Mestre quem age apenas como algoz, pois da Maria não nasceu a
mazela, mas a redenção! Prometo que o esforço feito não será em vão,
como os vãos do qual a obstinação em ganhar esquecesse de estar
certo e de tais valores, redenção não caí do céu, Pedro, é uma
caminhada para o céu. Mas a estes algozes apenas aprendemos o valor
dos justos ante eles, nada mais. Eles são a ladeira, a gravidade seu
rancor, as perguntas as pedras, e a fonte suas respostas, a resolução.
Pedro acenou com a cabeça sinalizando que compreendeu. O
jovem deixou de lado toda aquela aparência o qual escondia o esforço
que iria realizar. Pegou uma espécie de cantil e encheu-o de água e
guardou enquanto Joaquim com um sorriso de felicidade ao ver o
avanço de seu aprendiz sentou-se numa pedra e pediu para ele fazer o
mesmo.
- Na sua jornada, deves identificar o mal. – Disse Joaquim ao
jovem encharcado de água sentando-se ao seu lado ainda ofegante. - O
modo mais eficaz de identificar o mal, é pelo contraditório, não há
cínico justo. Se é ambíguo, vago e duvidoso, não é bom. Mas suas
duvidas sendo justas e sinceras são perguntas, e elas não mentem.
Você bebeu dá agua por suas dúvidas, assim escolheu e lhe
justificarei. Em nada paira maior injustiça se não ser prisioneiro da
crença alheia, mas quando verdade liberta, lhe ofereço a verdade,
Pedro, uma verdade que o mal não pode oferecer pois ele a desfigura,
altera sua fonte.
Joaquim lá permaneceu mais por longos minutos diante do
olhar daquele negro que lhe era guardião quando Joaquim parou e
apontou para ele perguntando.
- Mas este seu amigo nada diz?
- Jopy Iago era servo da crença alheia, a crença na escravidão.
Mas assim como Jesus nos comprou para libertar, o comprei para ser
dono de si mesmo. Quando oferecemos água e conforto a alma
somente os malévolos não são capazes de ser fiéis. Não o julgue pelo
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 47
interior, o verbo está em sua mente a movê-lo em atitudes. Nós
movemos o tempo, e ele se move por nós.
Jopy sorriu para seu mestre de braços cruzados como sendo
um homem realizado. Após alguns minutos os três desceram
novamente desta vez dividindo o peso das pedras. Joaquim seguiu até
o pequeno castelo sob aquele manancial de águas e abriu a porta para
que o jovem Pedro adentrasse. As pedras não haviam criado, mas eles
haviam polido como as águas o fazem ao longo dos tempos. Pedro
tirou a roupa ensopada até secar. Vestiu uma roupa branca como quem
tivesse sido purificado e Joaquim o levou diante de um espelho onde
ficou olhando-o a si próprio e disse.
- O que vê Pedro?
- Eu mesmo.
- Errado, isso é um eco seu. Apenas seu reflexo, aquém
imitação. Quanto a nós acusar de mentir não prova que é verdade,
principalmente contra o factual e provas. O reflexo é uma ressonância
gerada pelo rebater da luz, mas ela pode ser enganosa, você tem que
ver através do espelho para enxergar seu interior. Pois a aparência
pode ser mentira assim como trocar rótulos de um perfume por um
veneno. Terá de enfrentar a si mesmo como diante do espelho, seus
demônios do ego e somente quando vencer a si próprio poderá vencer
o exterior. Não existe vitória ou superação sem ser sobre si próprio,
você não pode ser melhor do que ninguém sem ser melhor que você
mesmo.
Pedro ficou meio sem jeito e olhou para os lados como se
duvidasse do que Joaquim dizia, mas em seguida olhou firme pra
dentro de seus próprios olhos, e assim Joaquim Milagros então seguiu
e disse mais.
- Seu reflexo é fruto da ação do verbo “refletir”. Pode refletir
suas atitudes, um espelho nunca traí, nunca mente, nunca tem falta de
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 48
proporção. Sempre é justo. Assim como Jesus, versos a eternidade dos
ventos, verbo que se fez carne.
Cúria romana, Vaticano, tempos atuais.
Fiquei encantando com a grandiosidade daquele lugar secular. Um
complexo de prédios construídos a muitos séculos o qual a cada viga e
coluna carregava memórias de séculos da igreja Católica. De seus
erros e acertos, de seus conhecimentos. A praça de São Pedro
remontava a vida de um simples pescador que ao lado de um homem
somente no aspecto histórico mudou por completo o mundo forjando a
mais influente religião de todos os tempos, o cristianismo. Todavia
apesar de tudo aquilo algo estava errado demais pelo clima visível até
mesmo a visitantes quando rumores da morte de dois bispos dos
arquivos secreto do Vaticano após algum furtado por algum grupo o
qual doutor Petrônio dizia ser a Ordo ad Chaos, num visível latrocínio
daqueles que desejavam se apropriar dos conhecimentos assim como
do designo históricos, mas ainda sem compreender a relação de seus
descendentes com aquilo.
Fui orientado até a biblioteca do Vaticano onde estava quem
queria nos encontrar o bispo Gabriel Modenna e Augustin Milagros.
Petrônio estava visivelmente tenso com o crime que havia ocorrido lá
no Vaticano sob o nariz do Siv e de sua guarda oficial de soldados
suíços. Adentrei por uma enorme porta aberta por onde alguns turistas
entusiasmados tiravam fotos e alguns mais roçavam os dedos no
crucifixo em sina de fé e respeito a Jesus. Tão logo vi um homem de
batina parado diante de mim quando acenou para Petrônio como quem
lhe aguardasse ansioso e quando a ele chegamos disse após se
identificar e me cumprimentar se apresentando cordialmente.
- Me perdoe o clima atual, desde quando Javier Farina faleceu
as coisas andam tensas por aqui. Temos motivos para crer que até
mesmo sua morte pode ter sido induzida – disse o bispo Modenna
quando Augustin se aproximou igualmente o cumprimentando-os e
prosseguiu Modenna – As peças aqui presentes e as informações ditas
são sigilosas, mas temos motivos pra acreditar que isso é o ponto
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 49
culminante da conspiração de séculos. Não queremos mais mortes por
aqui, Petrônio, por isso pedi para trazer nosso amigo Gerson, creio que
seu conhecimento pode ter a chave não somente para o que
descobrimos, mas para impedir mais crimes como estes.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 50
Ato III
A Estirpe dos Tempos
“Os mais fortes de todos os guerreiros são estes dois: Tempo e
Paciência”
Liev Tolstói
omos orientados biblioteca a dentro pelos dois bispos onde um
grupo de policiais observava um desenho no chão definindo
onde o corpo fora encontrado morto. Um homem estava
abaixado colocando placas com números ao lado de evidências e um
fotografo tirava fotos do que lá ocorria enquanto o detetive
responsável pela investigação anotava tudo num palmtop ao lado de
um outro cardeal e um homem de terno, identificado como da Siv.
- Não fazemos ideia de como esse homem conseguiu entrar
aqui e furtar esses documentos, somente pessoal credenciado. – Disse
o cardeal intrigado.
- Qual era o teor dos documentos, que tipo de conhecimentos
haviam nele?
Naquele momento o cardeal hesitou visivelmente olhando
para o homem do Siv quando fora salvo por Milagros que interrompeu
e disse ao oficial da lei.
- Aqui é território da Santa Sé, o que envolve os documentos
está sob investigação do Siv e não vamos revelar detalhes até que tudo
seja resolvido. Temos que proteger tais conhecimentos que em mão
erradas pode ser dano e colocar em risco as fontes.
- Mas já não pegaram isto? – retrucou o oficial da lei.
F
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 51
- Apenas uma parte. – Disse Milagros – os documentos
furtados são dados pertinentes a natureza de um experimento
científico que realizamos, nós os Jesuítas.
- Não sei o que está acontecendo aqui, Milagros. – Disse o
oficial – Mas deduzo que tenha relação com o aparente acidente de
José Maria, e se estiver relacionado com a renúncia do Papa Bento,
trata-se de uma conspiração e ela está além de seu território, mas em
Roma.
- Infelizmente é tudo que posso informar até o presente
momento. – Disse Milagros ao ver o oficial acenar positivo se
retirando para o alivio do cardeal que virando-se para Milagros disse.
- Não gosto de segredos Milagros, eles sempre são perigosos.
- Meu irmão, tenha paciência, nós vamos conseguir, estamos
perto. – Completou Milagros se retirando e vindo junto eu e Petrônio.
- Conspiração que levou a renúncia do Papa Bento XVI? Qual
a relação disso com a descoberta da Hidrocriptografia? – Indaguei.
- Uma coisa de cada vez Gerson. – Respondeu Modenna com
sotaque italiano ao virar a um monge que guardava a biblioteca e
disse. – Que partes do corpo ele levou de Andreas Santiago?
- Isso é chocante Modenna, não vi nada parecido com isso. –
Respondeu o monge visivelmente atribulado – Ele levou o coração e o
rins e deixou um bilhete aterrador mencionando o órgão como se fosse
personalidades.
- O idiota solene, atribuía a partes da anatomia e órgãos
humanos personalidades de modo quase independente como se um
órgão pudesse ataca-lo em traição ao corpo e mata-lo. – Respondeu
Milagros.
- Mas estes tipos quando meros condutos a vontade alheia,
como fantoches, lançam palavras envenenadas e após o antidoto
mostram o lado bom de si mesmo em contrariedade ao obrigado a ser
dito, todavia, os maus sucedem doses cavalares de veneno apenas
corroído pelo ácido de minhas palavras. – Respondeu Modenna.
- Então você conhece o teor do bilhete? – Indagou o monge. –
Ele fala de que o caos é a ordem que submete a ordem natural, não faz
sentido, pois o caos é parte da ordem natural. Mencionou os órgãos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 52
como se fossem julgadores do Andreas e tivessem lhe condenado
abandonando seu corpo. Isso é doentio.
- A tempestade do caos então se aproxima. – Respondeu
Milagros – Estão aniquilando pontes temos que ter cuidado com o
pontífice. Os documentos ligam ele a alguma coisa?
- Não diretamente, mas o Papa tem ciência de tudo que corre
em sigilo, acho que escavaram coisa grande nisso. – Respondeu o
monge. – Mas esta ossada não é da Cúria.
O Monge que era um homem instruído e conhecedor de
muitos livros, inclusive malditos e jamais publicados zelava por
aquele acervo imensurável de conhecimento que remontava o tempo
dos Jesuítas e da Santa inquisição, naturalmente haviam dados
pertinentes a alguns queimados em fogueiras o qual sofriam
constantes acusações dos adversários da Cúria Romana como falhas
da igreja ainda que de outro lado fanáticos pareciam desejar mais do
mesmo, contra inocentes. Havia um mal infiltrado na Santa Sé. Algo
que eles temiam como parte da Ordo Ad Innaturatus para arruinar as
bases da própria instituição. O termo Ordo ad Innaturatus era
visivelmente algum tipo de corruptela do latim a um Inaturam que
significa aquilo que é contrário a natureza, quer de algo ou do
universo. Obviamente que a relação disto com o caos era de forma
emblematicamente negativa com a conotação de que o invocasse
contra a ordem de equilíbrio comum relacionando-se ao termo "Ordo
Ab Chao". Todavia, como uma instituição prudente mantinha cópias
digitalizadas de cada documento lá presente e não era diferente com os
registros roubados de dentro da biblioteca santa o que os levaram até
os computadores da instituição pesquisar. Modenna sentou-se e pediu
para que eu assim igualmente o fizesse observando o hábil bispo
diante do teclado onde digitou a que surgisse na tela documentos do
século XVI atiçando Milagros em sua curiosidade.
Quando ampliou a tela, uma imagem de um pergaminho cujo
papiro envelhecido pelo tempo mostrava inscrições em espanhol e
relações de período e local em que foram escritos, ao ampliar a tela o
texto mostrava uma tradução em italiano e inglês, mas era
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 53
compreensível pra mim, quando pra minha surpresa vi o nome de um
descendente meu novamente, Pedro Menendez de Aviles.
- Este não fora o primeiro colono da Flórida? Meu
descendente! – Indaguei a Modenna.
- Perfeitamente, agora compreende porque estais neste lugar. –
Respondeu Modenna em tom sereno mesmo ante o clima tenso.
Li parcialmente o documento e vi que mencionava
informações pertinentes a colonização aliada aos jesuítas. Uma
instituição presente na fundação de muitas cidades e até mesmo
países, São Paulo por exemplo. Porém, os dados para minha surpresa
descreviam informações relacionadas aos chineses, conhecimentos em
comum com Pedro o qual aparentemente cruzava duas civilizações
aparentemente opostas, conhecimentos que conforme mostrado por
Galvin Menezes em seu livro indicava que a China havia descoberto
antes as Américas.
- Como assim Pedro Menendez de Aviles tinha ciência disso?
Não fora ocasional as grandes navegações? – Indaguei comigo
mesmo, mas sendo respondido habilmente por Milagros.
- Por de baixo da camada a história existem mais segredos do
que aparenta Gerson. As descobertas das Américas, do “novo mundo”
não fora acidental.
- Isso tem haver com a Ordo Christianitas Ad Ventus? – Segui
com outra pergunta tendo um aceno positivo do homem.
- Vikings que foram para o Canadá no ano 1000, não tenho
evidências, mas acho que tiveram relações com os fenícios. –
Respondeu Petrônio. - O mundo é muito simples de se compreender,
menos alguns idiotas que nele habitam e atrasam.
Todavia não havia quaisquer traços desta Ordem dos Ventos
mencionada pelo próprio, soando como dúvida a ele, e sobretudo não
compreendendo qual a relação disso com o teor das descobertas lá
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 54
realizadas com meu conhecimento, quando ele interrompeu meu
conhecimento introspectivo e disse.
- Você não descobriu o que descobriu por acaso. Você estava
destinado a descobrir o que descobriu, pois é parte do sangue que
corre em suas veias. Nada é por acaso neste mundo, mas naturalmente
que isso não agrada os impostores que o crime aqui cometido fizeram.
- A Ordem do Caos. – Deduzi.
Naquele momento Modenna mudou a tela até um arquivo
similar que também havia sido furtado dali, de um período posterior a
descoberta e colonização das Américas onde Pedro Aviles identificava
um junko chinês naufragado no litoral da Flórida e que teria algo nele
encontrado, algum segredo que apenas mencionou vagamente naquela
carta, assim Milagros continuou o que mencionava.
- Como você percebe, a Ordo ad Chaos é a antagonista
perfeita da Ordem dos Ventos, enquanto uma outorga legitimidade do
que ela mesma criou e descobriu e protege o curso natural da história
como um rio em seu leito, a Ordem do Caos deseja pelo caos que cria
dela furtar o destino.
- Estes homens – disse Petrônio interrompendo – foram
responsáveis por incendiar Roma nos tempos de Nero o qual teorias
de círculos internos dos monges aqui presentes acreditam que Nero
chegou fazer parte. Eles têm o mais extenso histórico nefasto de
pilhagem conhecido. Estavam presentes na biblioteca de Alexandria
não protegendo conhecimentos que nela havia, mas por eles furtados
de uma cidade remota e pouco conhecida.
- Pitah. – Concluiu Mialgros – Uma cidade que apesar dos
poucos documentos atribuídos teria sido fundada por uma estirpe que
não seguiu o propósito de Abraão, mas um designo próprio e que
possuía conhecimentos do futuro e astronômicos.
- Setianos? – Perguntei tendo um aceno positivo de Milagros
como se tivesse ficado feliz em perceber que havia captado a teoria.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 55
- Ao contrário do que se pensa – seguiu Milagros – A Ordo ad
Chaos não terminou, ela se dispersou e se infiltrou nas sociedades
secretas das mais diferentes matizes e temos dicas que nos levam a
crer que até mesmo entre Jesuítas antigos.
- Atualmente acreditamos que eles declinaram eventos que
levaram ao 9/11 nos Estados Unidos, é gente da pesada e eles já tem
ciência de quem é você. – Concluiu Petrônio.
- Mas o que havia na biblioteca de Alexandria que remontava
a cidade de Pitah? – Indaguei.
- Mais do que bens materiais que de lá levaram meu caro. –
Respondeu Milagros em tom sereno. – Mas conhecimento, não temos
ideia ao certo, mas alguns relacionam que fora aniquilado no incêndio
da biblioteca onde um bibliotecário diz ter visto esferas de fogo. Um
conjunto de documentos que contem aspectos do conhecimento do
tempo que levaram a construção da Ordo Christianistas Ad Ventus.
Algo que tem relação com seu conhecimento e teorias que criou e que
convergiram a descoberta das Américas.
Marchal, Espanha, século XVI
A simpática cidade carregava em seu nome mais do que uma
peculiaridade que descendia dos antigos judeus relacionada ao tempo.
Na verdade mencionava-se que este município da província de
Granada era não por acaso autônoma a Andaluzia e possuindo uma
pequena população que até nos tempos atuais não passa de 400
pessoas. Porém, fora de seu tamanho demográfico em sua área de área
7,84 km² havia algumas peculiaridades pertinentes até mesmo a sua
criação com vínculos não conhecidos pela história oficial com os reis
de Leão de Astúrias, donde numa vila veio os primeiros Avilez.
Aqueles homem após a criação secreta da Ordo Christianitas Ad
Ventus por um aparente estranho com conhecimentos que se
encaixavam perfeitamente as memórias ancestrais deles, por ela fora
acolhidos assim como ao jovem Pedro cujo futuro não fazia ideia do
que lhe reservava, como Marchal, termo hebraico que identificava
justamente que estava-se de costas ao futuro a eles ainda não
conhecidos.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 56
- O nome desta cidade não fora criado em vão meu prezado. –
disse o mentor do jovem Pedro com um sorriso na face. – seu nome
deriva-se do hebraico e quer dizer futuro. Na realidade os seus
criadores são seus ancestrais.
- Os reis de Leão? – Perguntou Pedro tendo um aceno positivo
de Joaquim quando um homem com barba branca entrou no recinto e
seguiu Joaquim dizendo – este é Noah Marchal. Não termos ideia do
grau de parentesco que possuí com ele, mas certamente tens
descendentes comuns.
O senhor muito simples e de afável cordialidade apertou a
mão dele com um sorriso receptivo e convidativo a uma boa amizade.
- Sobretudo a verdade relacionada a este munícipio não está
na sua população ou tamanho, mas do que a mando dos Reis de Leão
aqui guardam. – Prosseguiu Joaquim. – Algo que trouxera até aqui, de
tempos remotos passando por dentro de Israel e por fora dele, do qual
o valor levaria homens perversos são capazes de matar para possuir.
Porém, este será seu prémio final quando apenas concluir o
treinamento.
Aquilo frustrou Pedro que teve a curiosidade atiçada por seu
mentor, mas o chamando ao exterior do lugar fora levado no tempo
seguinte até o litoral permanecendo introspectivo e sem compreender
ainda tudo o quanto acontecia com seu treinamento. A carruagem
então parou ao lado de um cavalheiro, o negro Jopy que como fiel
escudeiro os acompanhava protegendo-os, desceram e viram um
pequeno barco de madeira a beira de algumas pedras no mar. Havia
nele um mastro com uma vela que ao entrar Joaquim a estendeu
notando a intensidade do vento que soprava firme sobre eles. Joaquim
pediu para que Pedro viesse a bordo quando seu mentor disse
enquanto subia com certa dificuldade.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 57
- Vejo que não tem muito equilíbrio nas pernas Pedro. Porém,
estamos aqui justamente para disso testificar e lhe treinar – completou
vendo-o colocar os pés nas águas se agitando e continuou olhando
seus pés. - O que provoca maior impacto nas águas são os pés o
caminhar como sucessão de equilíbrios e desequilíbrios é a busca do
rumo, do destino ante o caos.
- Isso tem haver com algum sermão de Jesus caminhando
sobre as águas com seus apóstolos? – Indagou Pedro fazendo Joaquim
sorrir.
- Não é esse o propósito, mas vez a calhar, não acha? –
Respondeu ele pegando um remo e entregando nas mãos dele
enquanto Joaquim empurrou o barco sob o olhar de Jopy de braços
cruzados e continuou. - O universo está em constante mudança, a
mutação é a lei do universo, a verdadeira arte do destino e ter
equilíbrio para alcança-lo. Mas como mencionaste, Jesus isso quis
ensinar quando caminhou sobre as águas, o mesmo a seu xará, o
apostolo Pedro. Ou acha que tudo isso é apenas acaso?
O barco avançou sobre o mar em meio as ondas enquanto
Pedro remava sem ter ideia do que e para que, quando Joaquim
acenou pra ele dizendo pra não mais remar como se aquele ponto
estivesse bom e disse.
- Sinta o vento Pedro, como ele influência as águas e como as
correntezas do mar indicam direções assim como o vento. – Joaquim
então moveu as velas e continuou lhe falando - O tempo é invisível
como o vento, mas pode ver seus efeitos, quem pode contra o tempo?
Alguns o percebem apenas quando fora deste. Mesmo eu que vos
instruo como mestre, dele sou discípulo, não possuo o tempo, não sou
dono do que estudo, mas autor do que crio, isso é humildade.
- Você veio aqui apenas pra me mostrar isso? – Indagou
Pedro.
- Não, quero que você fique de pé com as pernas nos dois
lados sobre o barco, você precisa aprender a arte do equilíbrio ante as
mutações, ante o caos, ser firme como o destino é ante o mesmo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 58
Observe que neste ponto você não vai contar o tempo, mesmo abaixo
sobre você a agua move, e fazer mover esse ponto, esse lugar não
existe, são apenas flutuações pelo tempo levada pelas correntezas dele.
Tome este remo para se equilibrar. – Disse Joaquim lhe dando o remo
nas suas mãos e prosseguiu - O melhor tempo é o não medido, mas
sentido pois a medida que medimos o tempo é pedido para dele ser
escravos, assim os relógios testemunhas de Cronos o senhor da
linearidade o qual todos correm mas ninguém escapa, estão assim o
horário apenas a apontar na realidade a direção para fugir da cadeia do
agora à hora da eternidade.
Pedro subiu ficando de pé sobre o barco que balançou com seu
movimento ante o vento. Pedro então emborcou para trás caindo
sentado com o remo nas mãos enquanto Joaquim o observou calado e
pediu para que se levantasse novamente na posição que havia lhe
indicado. Pedro então se ergueu e cambaleando com o oscilar do barco
ante o vento levantou os remos com a duas mãos e procurou se
equilibrar novamente quando Joaquim disse.
- Não lute contra o vento, mas através do vento, mova as
águas a que por elas seja movido, seja o mediador das reflexões. Veja
através do caos e verá o destino.
Porém, Pedro caiu nas águas junto com o remo fazendo Jopy
lá na margem rir, Joaquim sentiu o gosto salgado da água e o cuspindo
jogou o remo para dentro do barco e puxou com as mãos pra entrar
novamente dentro dele.
- Como disse Jesus a Pedro, tú és um homem de pouca fé. –
Completou Joaquim com um certo tom de ironia. – Ter fé não é
somente confiar e crer, mas também crer em si próprio, se harmonizar
com o vento e o as águas, pois tudo está em perpetuo movimento.
- Talvez deveria dizer neste momento "guia-me mansamente a
águas tranquilas." – Disse Pedro demonstrando conhecimento bíblico.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 59
- Salmos 23.2. – Disse Joaquim – Muito adequado Pedro,
completou ele sorrindo, mas não altera seu treinamento. Mesmo eu
passei pelo mesmo treinamento. Tente novamente e te conto um
segredo sobre o antigo Rei Davi. Lembre-se do que disse Jesus, "Meu
poder se aperfeiçoa em sua fraqueja." Não despreza a fraqueja, mais
se aprende na fraqueza que na força. A virtude é o triunfo e domínio
sobre ela e o medo, não sua ausência, ficar forte significa aprender
com sua própria fraqueza, assim como ter coragem é aprender com o
próprio medo.
Pedro então olhou ao redor, naquele magnifico lugar enquanto
gaivotas rondavam como se flutuassem pelos ventos e fez Pedro
imaginar como justamente elas possuíam tal domínio, na realidade em
comunhão com os ventos elas plainavam sobre eles.
- Mesmo a natureza tem a nos ensinar, mas do que a maldade
a não ser procurar o que é bom. As gaivotas estão em harmonia com
os ventos, possuem tranquilidade, pois tem simbiose, não estão a se
aniquilar mutuamente. Nisso consiste o verdadeiro equilíbrio e
oposições do universo, o que anula é o verdadeiro mal. – Completou
Joaquim ao ver Pedro permanecer por alguns segundos ensopado de
água do mar equilibrado sobre o barco e Joaquim então continuou - O
tempo não marginaliza, compõe a essência da sabedoria mesmo ante
os que estão marginalizados pela idade. Mas é da marginalização que
surgem mundos paralelos e todas divergências, quem marginaliza não
possuí a posição para impor concordância. Mas alguns a tudo tem pela
metade até a sabedoria que a é sem moralidade.
Pedro permaneceu então mais tempo e caiu novamente nas
águas e Joaquim olhou para Jopy nas margens e sorriu para ele e então
disse a Pedro.
- Como uma pedra na água, assim é nosso amado Pedro. Olhe
quantas ondas provocaste em sua superfície? Sim, o que alguns
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 60
provocam quando nos fazem cair. Agressão altera o tempo, toda
violência é por ele sentida a ecoar.
Pedro agora ficou determinado, e subiu novamente no barco
em tom severo como se tivesse por fim aceitado um desafio pessoal
como se tivesse ferido o orgulho dele.
- Humildade sim Pedro, orgulho não. Você não vence o
tempo, apenas com ele faz um acordo.
O Jovem subiu novamente sobre o barco determinado e olhou
pra Jopy como se o riso dele fosse um desafio aceito por Pedro e então
olhou para a vela balançando com o vento e dançou levemente o barco
de um lado a outro quando conseguiu estabilizar. Assim permaneceu
por longos minutos sob o olhar de Joaquim que se inclinou em direção
dele para observa-lo com interesse.
- Isso é o bastante? – Disse o encharcado Pedro pra seu
mentor sob o vento em sua roupa embebida de água o fazendo tremer
levemente de frio.
Joaquim assentiu após mais alguns minutos e o fez descer ao
barco onde remaram de volta a margem quando abraçando a si próprio
Pedro perguntou ao seu mentor.
- O que você iria me contar sobre Davi?
- Sim, claro, não era um herdeiro de sangue, mas ao receber o
propósito fora instruído por 37 amigos, sobre uma filosofia de
ondularidades, das águas ao vento. O mesmo segredo que compartilho
contigo neste treinamento, justamente o que aprendeu hoje. Uma
filosofia das águas que compreendia os tempos ante o livre-arbítrio.
Acreditamos que os amigos dele eram setianos, que dentre os quais
alguns instruíram Salomão.
- Como vocês tem ciência de tudo isso?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 61
- A ideias são fantasmas que capturam e são capturados pelos
tempos, mas a fonte é a mente de um autor, pois tudo tem uma
origem. Não me interessa na agua nada mais que sua fluidez, pois da
sua ondularidade ressoo eternamente pelo tempo, disto me sacio
apenas pela verdade. Não crio água, extraio dela conhecimentos pela
minha reflexão, não crio água, mas faço dela meu suor assim como
tem feito. – Respondeu Joaquim e seguiu falando - Abra as portas da
verdade e feche para os maus e mentirosos, pois deles somente vem
mentiras e injustiça.
O barco então encostou as margens sendo puxado por aquele
cordial e silencioso guardião negro que apesar de abrutalhado em seu
físico inspirava confiança e tranquilidade e então continuou Joaquim
falando.
- É da prisão da omissão que nasce a ilusão cujos muros são a
mesma ignorância dos que nada conhecem! O tolo dança em volta da
verdade como em volta da fogueira, pois a verdade queima o
mentiroso. Pois estes esquecem da verdade e comemoram a mentira a
ditando como verdade o que é apenas crença. Mas até a fé na mentira
é vã, é esperar sentido no abismo de onde vem a ilusão! Temos que
estar de acordo com a verdade e o universo, somos filhos de Deus,
mas crias do universo. Não quero que seja refém de mentiras, mas
guardião das verdades do qual a responsabilidade pode ser grande,
todavia os direitos proporcionais ou não seria justo.
- Verdade, viemos do barro da terra. – Respondeu Pedro
entrando em terra firme.
- E seriamos, porém, apenas isso sem o sopro de Deus. –
Completou Joaquim igualmente saindo do barco e puxando-o ao lado
de Jopy pra margem.
Joaquim limpou as mãos enquanto Jopy amarrava uma corda
do barco a uma estaca fincada no solo e ainda parcialmente na água
ele se moveu de um lado a outro oscilando pelas ondas que batiam em
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 62
suas margens, sobre as pedras enquanto Pedro observava tudo aquilo e
vendo isto Joaquim disse.
- Finalmente então vê o mundo de maneira diferente, não
Pedro? Compreenda, tudo que é constante toca o destino, como a
verdade, mas a mutação antinatural é anômala, apenas a circunda. Se
dizem que a verdade se aproxima de Deus, a mentira leva ao inferno.
Os dois seguiram caminhando pela margem subindo um
declive que saia da beira do mar enquanto Jopy tirou de uma sacola
uma toalha e deu a Pedro para se cobrir do vento sobre sua roupa
molhada e então Joaquim continuou o sermão falando.
- As águas purificam, o que resta é a verdade, pois mesmo que
crie ressonâncias nunca apagará a linearidade. Deus assim levou o mal
com águas purificando-os, 40 dias para um homem, ou 40 anos para
um povo! – Joaquim então lhe abraçou pelo lado como certa
intimidade e prosseguiu. Foco na eternidade o qual lhe será por
herança, somente a quem tenha verdade, pois a ilusão da mentira se
dissipa sem quem a diga! Mas a verdade permanece mesmo soterrada,
mas aos que furtam o conhecimento tiram a chave da ciência e não
entram e não deixam entrar, porque a verdade furtada nunca será
plenamente verdade.
Pedro Menendez Aviles havia completado seu treinamento
com seu mentor Joaquim o qual lhe instruía numa filosofia derivada
de conhecimentos bíblicos, mas apenas como preparação as revelações
que iria receber, instruções segundo o qual eram convenientes apenas
a alguém que se tornava Pedro e do que o destino, segundo Joaquim
reservava a ele, conhecer um novo mundo antes desconhecido do
ocidente, navegar por águas estranhas a sua linhagem e desbravar
terras onde apenas homens selvagens habitariam. Como ele não tinha
ideia de quem vinha tal conhecimento, mas sim de chineses o qual a
filosofia, dizia Joaquim, mesclar elementos que transcendiam a
matéria do espaço em idoneidade temporal.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 63
A água é um dos elementos mais antigos e comuns em nosso
mundo e base para toda forma de vida, porém, olhando mais do que
um mero fluído que qualquer um bebe e se banha, desta hidronomia,
ela pode nos levar a compreensões apenas aos instruídos a
compreender a verdadeira natureza de nosso universo e substancial a
todo ele, o tempo que traduz um conceito hidrológico a uma
cronodinâmica que pode tocar Kairos, o tempo sobre o tempo e
incompreensível aos materialistas circundantes e contraditórios, pois
como se dizia na palavra de Deus 'o Espírito de Deus que se movia
sobre a face das águas'.
A cada onda uma ressonância a vibrar em direções e sentidos
o qual criam composições mediante sua interação. Não se diz da água
que corre no solo, mas o impermeável a quaisquer mãos e que a tudo
atravessa tornando o lugar sua construção e após ruínas. São as águas
que moldam as pedras, assim como o tempo as consome e a todo lugar
pela erosão, o espaço seria apenas um abismo não fosse por ele, o
tempo. O tempo é visível como o vento e se comporta como as águas
num Feng Shui, mas seus resultados são inquestionáveis assim como
de um Criador a sua criatura e ao autor e sua obra.
Mediações do Vaticano, laboratório Jesuíta, Projeto Hidroneiros.
Após as revelações bombásticas sobre meu descendente, e
vislumbrado com as edificações monumentais a memória da
humanidade que era o Vaticano, me dirigi as mediações onde estava o
laboratório praticamente secreto dos Jesuítas. O projeto apesar de ser
coordenado por Gabriel Milagros tinha pares judeus o qual
anteriormente haviam interesses comuns neste desenvolvimento, na
realidade conjunto após um homem atribuir códigos secretos
encontrados na bíblia original em hebraico, que aliado ao Mossad
após uma divergência provocada pelas revelações de Edward
Snowden os levaram a produzir em conjunto tal projeto tendo ainda
por aliados até mesmo alguns ateus que com a revelação tornaram-se
duvidosos sobre a existência de Deus. As implicações eram infinitas
como as probabilidades abertas na concepção das variáveis da
hidrocriptografia, e naturalmente seus adversários o qual tanto
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 64
odiavam cristãos e judeus não deveriam estar nada confortáveis ao
observa-los trabalhando juntos.
A relação dos Jesuítas se estreitou após o Vaticano se tornar
responsável por administrar alguns pontos da cidade Santa que era
convergência comum dos que professavam fé diferentes, dos cristãos
luteranos, católicos ortodoxos e mulçumanos. Quando o carro
estacionou ao lado de um prédio histórico da cidade muito acolhedora
por sinal, um casal de namorados atravessavam a rua de mãos dadas
enquanto os homens da Cúria Romana fechavam o carro em direção
ao prédio.
- Javier Farina, eram um pai espiritual pra esse projeto. – disse
Gabriel Modenna ajeitado a batina - Acreditava ele que o Big Bang
poderia provar a relação quântica com a relatividade se as leis fossem
as mesmas onipresentes ainda que este elo sempre terá uma concepção
de singularidade relacionada com o tempo em suas relações de
flutuações similares ao efeito Casimir e o princípio da incerteza, algo
inerente a própria natureza do caos.
- Não achava que católicos aceitassem a ideia do Big Bang. –
respondi eu ao simpático e sociável bispo.
- Muitos irmãos de fé tem reservas sobre tal hipótese. –
respondeu o Bispo – Porém, crendice é o que se fundamenta na ilusão,
mas se ao menos concebe o melhor e aprimora as dignidades é
respeitável, caso contrário abominável. Não existe razão sem
imparcialidade assim como amor sem afeição, tal concepção pertence
a distorções do ego. Proferimos uma fé, porém, ela não deve ser
contra fatos ainda que o Big Bang seja uma teoria. Mas justamente de
onde o micro, pelo quântico, atinge e faz o macro, pela relatividade.
- Padrões probabilísticos – interrompeu Augustin Milagros
após atravessar a rua acenando para o guarda que lhe abriu a porta do
prédio. - Com oscilações de variáveis indicam a influência do caos
que denotam veracidade aos números imaginários relacionando a
números negativos. Liga-se ao principio da incerteza como se algo
fluísse nestas variáveis para fora de nossa dimensão indicando
dimensões que ressoam fora desta.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 65
- Números imaginários para deduzir os rumos por um tempo
não meramente imaginário, mas prévio, confirmados como pré-
existentes a mundo ressoantes. – completei eu o que o homem de
Deus dizia. – Deduzi isto no Filoversismo.
- Pois então. – seguiu Milagros – Alguns judeus envolvidos no
projeto acreditam que tal código seja capaz de decifrar profecias
bíblicas, similar ao Código da Bíblia, porém, compondo datas e locais
com maior precisão, pois as profecias são bastante parciais.
- Não devemos nos antecipar em precipitar-se sobre
conclusões – respondeu Modenna adentrando por um corredor que
descia ao subsolo do lugar após transitarem por quadros com fotos de
alguns envolvidos no projeto.
O Sistema de ar condicionado era intenso afim de manter o
maquinário que lá era construído a partir dos dados fomentados pela
hidrocripgrafia. Porém preocupados com a exposição ocorrida pelos
incidentes anteriores a segurança havia sido reforçada havendo
guardas disfarçados até mesmo ao redor do prédio, em bares, a
passeio, em apartamentos a observar todo e qualquer tipo de
movimentação e qualquer tipo de adulteração nos veículos dos
funcionários, pois conheciam eles o tipo de canalhas com que
lidavam, tendo agora um apoio logístico do Mossad israelense. Ao
chegar no fim do corredor uma porta de vidro vedada se abriu quando
um guarda cumprimentou os homens e pediu que fizessem o checkup
de identificação padrão a fim de averiguar se eles estava sob tensão ou
estressados a que fizessem algo contrariados a sua vontade e aos
protocolos rígidos de registros do laboratório.
Milagros verificou a pupila de seus olhos dando resultado de
liberação assim como condições de batimentos cardíacos e vasculares
por um tipo de scanner lá instalado. O mesmo sucedeu a Modenna e
depois pra mim, me deixando sem jeito ao me inserir naquele
maquinário que parecia uma ultrassonografia de parede. Mas Milagros
interrompeu o silencioso embaraço falando.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 66
- O Tempo a tempo todo flutua, são como ventos que reagem
ao livre-arbítrio, como ondas onde os sensíveis sentem suas
frequências e decifram suas inefáveis palavras onde ecoam ecos dos
que nunca nasceram a esta dimensão. – Disse ele e seguiu – Ao tempo
todo o principio da incerteza isso indicavam. Mas a observância pela
luz conseguimos driblar com esse procedimento de variáveis.
Exatamente como você previra, Gerson.
Naquele momento, porém, um dos funcionários, um jovem
judeu, se aproximou deles e disse em tom entusiasmado a Milagros.
- As imagens da câmera do acidente de José Maria fora
localizada – disse ele. – as imagens foram liberadas pela investigação
e... pasmem... havia alguém que acompanhava o carro dele, e quando
capotou adentrou pela janela quebrada furtando o pen drive.
- Identificaram o homem? – Perguntou Milagros visivelmente
intrigado.
- Sim. – Respondeu o jovem – mas ele saiu do país. Estamos
ativando a polícia de pra onde foi, Espanha.
- O que ele faria na Espanha? – Indagou Modenna.
- O nome dele é Daniel Motta, brasileiro que ao investigar
tinha relações com grupos neonazistas e antissemitas.
- Um prato cheio pra vocês não? – Interrompi eu ao perceber
que era para minha infelicidade um compatriota comum – Também
sou do Brasil.
- Gerson Machado de Avillez, presumo. – Disse o jovem
judeu com um sorriso. – Suas ideias provocam impacto temos que
reconhecer. Mas não se preocupe quanto ao fato da metodologia, não
somente respeitamos fontes como as protegemos sendo o caso.
- Como bem sabemos, são os impostores que nos oferecem
risco. – Concluiu Modenna. – Com eles “acidentes” acontecem e até
pessoas “se matam”, e não porque meramente tiram o significado de
viver. – Completou com certa ironia.
- Mas descobriram se ele tem relações com a Ordo ad Chaos?
– Perguntei eu.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 67
- Evidências desse tipo são muito difíceis. Mas temos indícios
de que sim. – Completou o jovem e em seguida virando-se pediu para
segui-lo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 68
Ato IV
A Chave dos Ventos
“O homem sábio não se exibe, e por isso ele brilha.
Ele não tenta se fazer conhecido, e por isso é notado.
Ele não se glorifica, e por isso tem mérito.
E porque ele não compete, ninguém no mundo pode competir com
ele."
Tao Te Ching
Jovem judeu era um seguidor do Talmud e adepto de que a
bíblia de fato tinha um código secreto na linguagem original
do hebraico, algo que era controvérsia no meio acadêmico
mas tinha uma parcela significativa de adeptos como ele. Ao entrar
naquele escritório havia um computador numa escrivaninha aberta
com duas telas, uma mostrando composições da bíblia hebraica e dos
documentos que fora furtados da biblioteca do Vaticano. Chamado por
Isaac Godofred, o judeu era um entusiasta da fé judaica e naquele
momento buscava relações do documento furtado com o Código da
Bíblia.
Porém, sobre a escrivaninha estava um livro intitulado
Protocolos dos Sábios de Sião, o que evidentemente me chamou a
atenção por ter uma relação controvérsia com todos ali presentes.
Surgido no final do século XIX, na Rússia, imediatamente atribuíram
o documento aos judeus e maçons por menciona-los diretamente como
parte de alguma conspiração global para dominação. Todavia ainda
que sem autoria conhecida, o infame livro que exaltava práticas nada
ortodoxas a sociedade aberta e livre justificou ser proibido em
inúmeros países, inclusive o Brasil. Vendo que eu observava o livro
ao lado do monitor o jovem sorriu e disse.
O
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 69
- Você pode estar pensando ser doidice um judeu como eu ter
esse livro antissemita nas minhas mãos. Mas apesar de alguns
atribuírem a autoria até mesmo a Jesuítas vejo nisso uma prova a
interferência da Ordo Ad Chaos.
Olhei para o lado a fim de perceber qualquer tipo de reação do
Jesuíta lá presente, mas Milagro limitou-se a cruzar os braços e sorrir,
mas Petrônio que vinha logo atrás após entrar no laboratório disse
entrando no papo.
- Os Jesuítas não eram mais tão influentes no século XIX,
acredito por infiltrações que os levaram a mudar seu curso. Natural,
porém, que eles queriam encobrir algo caso tivesse redigido esse
documento, algo envolvendo o conhecimento da família dele. –
Completou apontando pra mim.
- Acredito que o documento infame fora implantado
deliberadamente pra criar o caos entre sionistas e maçons lançando
uns contra os outros, mas fica evidente caso observarmos melhor que
operava algo sobre estes e suas sinagogas, a ponto de referir-se que
atacariam eles. – Completou Issac. – Algo que os Jesuítas antes de
serem dissolvidos pelo Vaticano tentou proteger deles, da Ordo Ad
Chaos.
- Creio que os jesuítas investigaram algo que pensaram
inicialmente se tratar de uma heresia, mas não era. – Respondeu
doutor Petrônio. – Algo que sucedeu ao Conde Jorge de Avilez.
Ouvindo aquilo fiquei perplexo, o patrono de minha família
no Brasil aparentemente deu sucessão a algo relacionado a Pedro,
perguntei-me. Todavia ainda que perplexo não me entreguei naquela
discussão quando um alarme soou na tela mostrando uma codificação
completa.
- O que está fazendo ai? – Perguntou Milagros a Issac.
- Buscando padrões, buscando padrões. – Respondeu o jovem
virando-se pela tela e seguiu – na verdade relações de eventos comuns
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 70
ao código da bíblia. Digitei alguns nomes como de “Jorge de Avillez”
e “Pedro Menendez de Aviles” assim como “China” e cruzei os dados
enquanto fazia um teste com a hidrocriptografia sob a concepção do
código bíblico do hebraico. Assim este é o resultado.
- Você estava dizendo que associou a hidrocriptografia ao dito
código bíblico? – Indaguei eu ao judeu tendo um aceno positivo
correspondente. – Apenas um alento de minha parte.
- Não temos tempo a perder com pesquisas sem conotação ao
projeto aqui estipulado. Compreendeu ou tenho de ser mais objetivo?
– Disse Milagros mas Isaac sorriu e virando-se para a tela disse.
- Certamente o senhor vai se intrigar com esse resultado.
Ao virar-se para tela sob os protestos de Milagros pela
utilização aparentemente indevida dos recursos ali presentes viu uma
janela que ao abrir apareceram várias marcações na bíblia hebraica
onde surgiu a disposição dos nomes chaves citado, de acordo com ele
o sistema hidrocriptográfico procurava mais do que concessões
proféticas escondidas e possíveis flutuações, mas utilizando-se da
chave determinou a posição de variáveis e o mais importante, a
vetoração de eventos comuns a um alvo-destino e pra sua surpresa um
trecho relacionado ao dilúvio apareceu a associação do nome de Pedro
Menendez Aviles numa diagonal relacionando, segundo Isaac as
navegações de colonização ao “novo mundo”.
- Podem ser meras coincidências. – Disse eu ao ver a imagem
na tela com os algarismos marcados. – Porque vocês não pesquisam
no novo testamento? Talvez no apocalipse.
O Jovem, porém, seguiu na tela associando os demais nomes e
encontrou o meu e o de Jorge relacionados a eventos da pedra de Jacó.
- Não associo, pois, a língua destes livros é grego em boa
parte, mas posso realizar alguns ajustes procurando padrões
linguísticos. Particularmente conceitos que propõe que a língua dos
judeus teria conotações com o DNA me parecem muito intrigantes
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 71
quando relacionados a uma língua angélica. Sem mencionar o peculiar
padrão de Zipf.
A Lei de Zipf fora uma concepção de George Kingsley Zipf
que notou um incomum padrão de repetição nas línguas onde a
primeira palavra mais usada do idioma incide cerca duas vezes mais
que a segunda, numa proporção que se sucede exatamente a terceira,
quarta e demais palavras mais usadas. Aquilo era tão impressionante
que ganhou aplicação até mesmo entre golfinhos e demonstravam um
padrão inconsciente na comunicação não somente humana.
Naturalmente que somada a tais buscas de padrões similarmente no
código da bíblia o argumento de Isaac era e que os padrões similares
eram inseridos inconscientemente pelos profetas e por Moisés na
construção bíblica da Torá, algo relacionado a aparente caótica onde
uma demonstração de proporcionalidade comprovava a busca singular
pelo equilíbrio por simplesmente mais do que energia e matéria, o
universo era criado por informação, e naturalmente toda forma de
comunicação é a interação de informações que adequados ao
Filoversismo traduz-se como ‘O verbo que move’.
Tal teoria realmente era intrigante, formando um mosaico que
dava maior compreensão ao postulado, verbos a ecoar pelo tempo. O
jovem entusiasta do Projeto Hidroneiros acreditava em tal intrigada
relação implícita a padrões síncronos que poderiam até mesmo
irromper o tempo linear como eventos não apenas a um momento
presente, mas do passado ao futuro e vice-versa sem uma relação
aparente. Daquele modo as possiblidades abertas por esta
hidrocriptografia dava margem a mensurar tais possíveis padrões sem
antes relações visíveis a ciência humana.
- Palavras que se interagem, cruzam-se e tem significativas
relações com o que ocorre no universo, não sei se este sobre nós, ou
nós sobre estes, talvez os dois ao mesmo tempo numa interação pelo
livre-arbítrio. – Respondeu Isaac como se estivesse orgulhoso do que
propunha se esparramando na cadeira como completamente relaxado
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 72
num triunfo sobre o dialogo ainda que Milagros continuava sério o
observando.
- Por hora sem maiores teorias conspiratórias e de influências
adormecidas coletivas sob a linguagem de todos seres. – Disse
Milagros a Isaac – Temos que voltar nossas atenções e foco ao estudo
aqui realizado, preciso de um quadro definido sobre o
Hidrocriptograma fornecido e se consegue realizar padrões mais
distantes caoticamente falando. Naturalmente faça backup de
absolutamente tudo, compreendeu? – Finalizou Milagros pedindo para
que os seguisse.
- O senhor tem funcionários muito intrigantes – disse eu –
Realmente levam a sério as propostas por mim criadas. – Concluí. –
Porém gostaria de ter melhor ciência de qual relação de Jorge Avilez
com isso tudo que tem acontecido no Vaticano e esse projeto.
- Vou lhe mostrar alguns documentos, temos motivos para
crer que a ciência que desenvolveu tinha relações com chineses alguns
católicos e um mítico personagem chamado Fo-Hi, suposto autor do I
Ching. – Disse Milagros – isso foge um pouco o foco dos estudos,
porém, Isaac se antecipou em fazer alguns quadros que me
impressionaram o bastante ao prever padrões por este livro.
- Isso porque – disse Petrônio – As concepções do livro não
somente conceberam a linguagem, desta vez binária, dos
computadores como de concepções de variáveis estipuladas pelo
hidrograma criado pela hidrocriptografia. Na astronomia mesmo cita-
se as direções do vento "espacial" algo comum que indica eventos que
fluem não somente a uma direção material e espacial, mas temporal
em convergências. O que teria levado os chineses a descobrirem as
Américas antes do ocidente.
- Sugere que os padrões intrínsecos e não mensuráveis de uma
observância de bifurcações levam não somente a direções espaciais,
mas temporais? Tudo aquilo era um postulado estritamente teórico. –
Respondi eu.
- Porém, não só faz sentido, como parece ser ter indícios de
que isto é um fato.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 73
A Criptografia possuí dois tipos de chaves, as simetrias e
assimétricas, porém, a observação disto pela quântica derivou-se a
condição probabilística entre esses dois tipos. A tecnologia
ultramoderna tributava os antigos autores que com a cifra e
criptografia colaboraram, de Maquiavel, Sun Tzu a Karl von
Clausewitz. Não há consenso sobre sua origem, mas diz-se que teria
surgido em 1900 a.C. quando um egípcio trocou os hieróglifos numa
inscrição, sendo seguido nos séculos seguintes pelos hebreus num
método de substituição levando a escrever deste modo o livro de
Jeremias por meio de substituições monoalfabéticas e monogâmicas.
Uma das mais famosas teria sido a "Codificador de Júlio César"
utilizada pelo Império Romano.
Nos tempos modernos a criação de máquinas de criptografia
se mescla com a origem dos próprios computadores. Um dos
primeiros computadores, Colossus, fora concebido como máquina de
encriptação e o principio binário como combinações e consequente
linguagem.
O problema destas cifras e criptograma era o fato de quem ao
descobrir a chave e código pelo adversário a cifra em questão perdia o
valor levando-a a ser abandonada. Mesmo Leonardo Da Vinci
utilizava-se de cifras e criptografia em seus textos, um exemplo era a
escrita espelhada onde por ser ambidestro escrevia textos ao contrário
apenas compreendidos diante de um espelho ao leigo. O principio da
hidrocriptografia era a isto semelhante. Numa analogia concebe-se
igual concepção de reflexão da cifra, mas ao invés de ser num espelho
estático era pela ondularidade onde sentidos simétricos e assimétricos
poderiam se mesclar e sendo apenas decifrado pela chave, um vetor-
destinatário. A ideia do Vaticano era então criar nesse sistema
quântico de incerteza um padrão onde apenas o usuário acessaria ao
fazer dele próprio a chave tornando necessário literalmente utilizar-se
de suas peculiaridades de identificação única além de ser necessário
possuir o próprio programa utilizando numa máquina quântica
ultramoderna. Ou seja, era virtualmente impossível se quebrar tais
criptografias por trabalhar com tantas variáveis que deixaria quaisquer
máquinas doidas por atribuir neste até mesmo números imaginários,
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 74
vetando a mais moderna criptoanálise conhecida pois ter padrões
ondulares relacionados a caótica entrópica, levando a tantas variáveis
que a mera tentativa de decifração criava mais bifurcações e variáveis.
Não havia Enigma nazista que superasse sua encriptação, pois
certamente deixaria seus criadores, o holandês Kerckhoff e o alemão
Kasiski assustados. Todavia sua chave notoriamente se tornou a chave
para o próprio trabalho da teoria do caos.
O caminho era este, uma ciência perfeita onde ao associar os
princípios do I Ching do código binário agora sobrepostos pela
quântica se multiplicava pelas variáveis da incerteza de modo único se
relacionando e casualmente formando um quadro geral do mosaico do
caos onde tudo se relacionava. Obviamente que os dominadores
cobiçavam isto, e sem qualquer reconhecimento aos seus autores e
desenvolvedores saquear tais conhecimentos, se possível os apagando
da história.
Século XVI, Astúrias, alguns anos após o treinamento
O Jovem Pedro estava estático diante de uma bacia com água. Mais
maduro do que antes ele observava inerte as sutis ondulações
provocadas por uma simples toque o qual esboçava reações de que
ficava perplexo com que via. Pedro então abaixou a cabeça e começou
a murmurar palavras de oração.
Aos 32 ventos será ao dia a verdade, e ele sussurrará a todos.
Que o vento leve as mentiras, e revela a verdade como versos a
eternidade.
No ar há demônios, mas no sopro de Deus a purificação dos ares.
Assim como aos caminhos do puro Yeshua toma as mãos como a
verdade
Sopre a nós o destino que o divino nos acompanhará, e como a onda
no tempo o mal varrerá
Guie-nos a qual direção a tomar e ajustar as velas no mar.
Rumo ao alvo, o destino é a verdade, ante a anulação a ponte a
eternidade,
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 75
do espinho maldito e da morte nos desviem para que nossos frutos não
seja transfigurados no mal.
que todas linhas não sejam cortada como ao tempo, quer de
consanguíneos ou de tempos.
Após recitar aquela prece visivelmente decorada, mas com
entoação emocional, Pedro, já adulto ergueu-se e molhou seu rosto
com a água da bacia, e em sem seguida se olhou no espelho. Naquele
momento adentrou o recinto um senhor que havia conhecido anos
atrás, Noah Marchal que ao lado de Jopy viu-o levantar-se do chão
quando o senhor lhe disse.
- Vejo que aquele jovem amadureceu. O momento de seu
destino se aproxima, jovem Pedro. Verás livros proibidos a esse
tempo.
- Sinto-me preparado em fim. – Disse Pedro ao senhor
enxugando o rosto - Conheço a língua dos ventos e o conhecimento
das águas, e eles me falam palavras de amor e eternidade com toda
verdade.
- Haverão outros querendo isto. – Disse Noah - Cães dos
destinos, são saqueadores e sabotadores que furtam o porque e com
dano tira o significado, anulam e matam, interrompem o destino e
proclamar o vazio do caos como se não possuísse inicio ou fim.
Aquele tipo de malévolos extremamente cínicos e falsos de onde vem
toda injustiça e discriminação. Siga-me.
Pedro adentrou um cômodo daquele quase castelo na cidade
de Marchal que nunca havia entrado antes. A chave da porta estava
dentro de sua manga e era dourada com um sete anotado dentro dela.
A colocou e girou que com um trincado fez a porta se abrir lentamente
revelando um interior escuro mas que se iluminou com uma
lamparina. Jopy que estava a seu lado acenou com a mão para ele
entrar como se fosse intimo anteriormente daquele lugar e então Noah
disse pra ele.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 76
- Mataram Joaquim, Pedro.
- Quando? – Perguntou ele assustado e surpreso mesmo que
não o visse a mais de dois anos.
- Há dois dias, a mensagem me chegou pelo vento. –
Respondeu Noah entrando no cômodo e revelando uma vista
biblioteca, mas que pela súbita informação tirou completamente o
foco dele e Noah continuou – Somos homens marcados pelo mal, pois
somos marcados pelo destino. – Respondeu. – é o que se espera destes
quando o tribunal deles tem a Ganância por juiz, a letra por evidência,
e a Inveja e Acepção por testemunhas. O advogado de defesa é o
Medo, e o de acusação a Desculpa. O veredito disso já se imagina,
pois, o acusado é a Vítima. O mataram, pois queriam tirar um
manuscrito dele, adulterar a verdade e ele a defendeu com a própria
vida. – Naquele momento Noah parecia quase chorar com seus olhos
brilhando e seguiu dizendo - São fundamentalistas, extremistas, e
fanáticos os excessos os unem, a injustiça os qualificam, talvez o
único sincretismo que busquem seja este.
- Mas você agora é sucessor de Joaquim, Pedro. – Disse Jopy.
– Por isso lhe daremos a chave da biblioteca.
Noah virou-se para ele e lhe mostrou a chave que tinha a rosa
dos ventos encravada do outro lado e então Pedro disse ao pega-la.
- Sendo então nós marcados, digo que se a vingança é como
cavar duas covas, uma para mim e outra para meu alvo, resta-me
apenas cavar mais uma para me vingar!
- A Melhor vingança que existe é a verdade. – Disse Noah pra
Pedro – Estou com idade avançada e meu corpo doí, Cronos está me
alcançando. Peço-lhe para que tome conta disto até que siga a jornada
que lhe espera. Mas o mesmo Cronos se encarregará dos sanguinários
que isso lhe fizeram, ou Kairos antes, pois está abreviando os dias
alheios e tiraste o significado de vidas. Quando grande a fúria, perto é
a vitória, dão graças as suas desgraças, pois apenas dão a luz a mazela!
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 77
- Eles desejam tomar tudo isto aqui. – Disse Jopy – Joaquim
me fez um homem afortunado ao me instruir nisso. Adulterarão tudo,
assim como faziam com a história de Jesus.
- Mas o dia que a imitação for original, é o dia que a mentira
passará a existir como verdade, mas chamo isso de ilusão! – Seguiu
Noah lhe entregando a lamparina nas mãos de Pedro que ao pegar
contemplou todo o lugar girando em 360 por todo cômodo enquanto
Noah exausto sentou-se num banco.
- Noé, guardou mais que animas na arca. – Disse ele – E essa
é a arca do conhecimento, Deus o tenha. Mas quero que se lembre.
Pecado é ter um livro e não ler, é como encarcerar ao isolamento o
conhecimento, pior que isso somente os encéfalos da anticultura a
destruí-los em incêndios do saber. Porém, a relés tinta que torneam
delimitando suas letras nas páginas do livro não bastam para definir o
sentido que elas transmitem, pois apenas estarão completas pela mente
do autor. – Noah então colocou as mãos sobre o joelho se inclinando
sobre si próprio e disse. - As letras então passam a ser ínfimas
testemunhas de uma verdade em sua concepção metafísica, que é a
dos sentimentos, algo que os maus limitam-se a simular e copiar, mas
os poetas as expressam como autores do mesmo. Assim lançar versos
ao vento é como semear sementes de ideias que nascem pelo
sentimento a se concretizar por atos, e assim como o verbo se fazer
carne, o transcendental aforismo da pré-existência ante ao eterno
tempo que como sentimento antecede a parca razão cuja tola e
infrutífera tentativa de mensurá-lo apenas o nega como a tudo que não
se compreende. Todavia é o sentimento parte da compreensão, como
nega-lo?
Pedro Avilés pouco tinha a dizer diante daquilo, emocionado
por uma perda e simuntaneamente por um ganho ao conceber aquela
biblioteca onde rolos de pergaminhos se enfileiravam nas prateleiras o
fazendo pegar um, enquanto refletia no que disse Noah. Para alguns o
futuro é o despontar do tempo assim como o passado sua capitulação,
mas conceber que o tempo, efêmero, o tempo todo como num epitáfio
falece e simultaneamente nasce é mera encenação. Pedro Menendez
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 78
de Avilés, teria alguns anos para ler todos aqueles livros até que sua
jornada começasse a justificar do porque de seus últimos anos
aprender latim e hebraico com Noah naquele lugar onde ia em
períodos específicos.
A coleção de livros, muitos dos quais remontavam as
bibliotecas secretas do Vaticano se avolumaram junto a livros únicos
trazidos como herança por Joaquim e mais alguns membros sobre as
filosofias que os uniam e a linha da estirpe que seguiam, isso
tornavam a Ordo Christianitas Ad Ventus quase como um assombro
aos rivais a justificar a perseguição e até mesmo uma relação
conturbada com o Vaticano, não por praticas anticristãs condenadas
pelo cânon como a sodomia, mas por simplesmente chegar a
conclusão de conhecimentos filosóficos e científicos sobre o tempo de
que até mesmo o espaço era dominado pelo diabo enquanto o tempo
de Deus, Kairos, sobrepunha o de Chronos, o linear de acordo com
Efésios.
Tempos atuais, Laboratório Jesuíta
Após discutir por longos minutos informações sobre os possíveis
rumos e aplicações da hidrocriptografia nas mãos da Ordo Ad Chaos,
um telefonema interrompeu a breve reunião com aqueles judeus, ateus
e jesuítas como num quase comitê. O telefone era de um contato da
Espanha onde após receber as informações de investigações sobre para
onde ia Daniel Motta levantou-se indícios claros de que se dirigia a
cidade de Avilés, fundada por Pedro Menendez de Avilés após suas
viagens ao continente do ‘Novo mundo’. A partir daquilo as hipóteses
fervilharam em minha mente sobre o porquê deste homem procurar o
lugar onde um descendente meu a muitos séculos teria se estabelecido,
mas curiosamente Milagros parecia ter conhecimento de algo que
relacionasse justamente aquela carta dele vista na biblioteca do
Vaticano com aquele lugar.
- Na verdade existem hipóteses de que Pedro Menendez
Avilés ao encontrar o junco chinês teria encontrado algo o qual
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 79
guardou em Granada onde existe uma cidade pequena chamada
Marchal. – Disse ele.
- Mas o que seria isto? – Indaguei eu.
- Conhecimentos, não artefatos. – Respondeu Milagros –
Acredito que parte do que o levou até a Flórida, algo que a França
também procurava e estaria no navio chinês.
- Sei que ele matou franceses no período. Mas anteriormente
fora a frota dos chineses liderada por Zheng He que partiram em 1421,
o que se acredita é que Niccolò Da Conti, um veneziano conseguiu de
algum modo o mapa dos chineses o repassando a Frei Mauro, que fez
o célebre mapa-múndi de 1459. Talvez o mapa que levou a descoberta
do novo mundo.
- Então 1492 e Cristóvão Colombo chegando a América é a
mentira oficial. Porém, algo mais, e que tinha relações com Joaquim
Milagros, um descendente meu, e um misterioso padre com relações
conturbadas com o Vaticano.
- Porque?
- Dizem que ele retornou de uma viagem a China com ideias
que divergiam do sacramento. Chegou a ser inquerido, mas nunca
esclarecido, relacionam ele a improvável Ordo Christianitas Ad
Ventus.
Naquele momento Petrônio ainda que não tenha se
identificado como integrante do dito grupo olhou para mim e em
seguida para Milagros como se buscasse consenso em falar algo e
assim o fez.
- Mencionava-se como mais que um tipo de sociedade secreta,
a Ordem dos Ventos era uma espécie de corrente de pensamento com
crenças que apesar de não divergir da doutrina católica tinha
intepretações próprias da bíblia relacionadas aos ventos e águas e que
substancialmente procuravam famílias que teriam surgido em paralelo
a formação de Israel ainda que por ele cruzasse.
- Algum tipo de linhagem nunca conhecida? – Perguntei.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 80
- Sim, mas sem relações com povos árabes, egípcios,
acreditavam ser uma parte da linha sobrevivente do dilúvio que seguiu
um designo divino próprio ao futuro. Filhos de Noé que carregariam
conhecimentos astronômicos e sobre o tempo que os tornavam aptos a
criar profecias, como Enoque. – Respondeu Milagros. – Naturalmente
não tem qualquer relação com descendentes de Cristo.
- Particularmente creio que uma parte destes teriam se dirigido
a China onde se mesclaram. – Disse Petrônio – O conhecimento que
temos coincide perfeitamente com visões do I Ching, assim como
indícios de tradições ligam alguns japoneses aos judeus antes das
grandes navegações. Os indícios podem ter vazado, e as respostas
podem estar na Espanha, para onde tais indícios apontam.
Nostradamus tinha crenças semelhantes.
Formada a opinião com aquela discursão perguntávamos
agora quais as probabilidades de encontrarmos uma peça nesse
quebra-cabeças que igualmente aquele provável assassino de José
Maria o teria feito. Naturalmente Modenna concordou em formar uma
equipe para lá se dirigir junto a Petrônio. A escala europeia até a
Espanha não seria tão exaustiva, mas certamente passaríamos a noite
na viagem patrocinada pelo Vaticano, e assim fizemos.
O Trajeto transcorreu tranquilo e suave enquanto Petrônio me
demonstrava uma personalidade magnética e carismática ao relatar
mais alguns detalhes intrigantes de sua própria história e a relação
com a dita Ordo Christianistas Ad Ventus enquanto os testes seguiam
no laboratório em Roma. O pouso suave do jato as 4:28 após dormir
umas duas horas de sono me fez levantar ainda que a despeito da
preguiça revigorado com as possibilidades não somente turísticas de
visitar uma cidade de um antepassado, mas de descobrir mais sobre
minhas próprias origens. O lugar era belo ainda que padecendo uma
crise econômica severa afetando profundamente seus compatriotas
espanhóis de onde minha família veio.
O Percurso seguinte durou mais algumas horas até a cidade
litorânea de Avilés conhecida pelo seu turismo onde a primeira coisa
que fiz após visualiza-la fora adquirir um souvenir com o nome da
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 81
cidade após passar por policias com o nome estampado nela. Petrônio
fora recebido por uma professora de história e arqueologia que ao me
cumprimentar se apresentando vi uma singela tatuagem de uma rosa
dos ventos sobre sua mão, porém, não comum, mas relacionada ao
estilo chinês. A mulher que apesar de ter seus quarenta e poucos anos,
era muito bonita, com cabelos até o ombro e vestindo-se com um
cachecol em torno do pescoço e botas até quase os joelhos por estar
frio naquele período. Seu nome era Zaira Alonso Arango e com um
sorriso cordial nos orientou até um departamento policial onde ao
entrar vendo um investigador amigo seu disse.
- Temos aqui um legítimo Avillez, mas com dois ‘l’s’ e ‘z’.
Aparentemente tem interesses em comum com meu amigo sobre esse
turista chamado Daniel.
- Ah naturalmente. Não estamos com muitos recursos – disse
o investigador em espanhol – mas colocamos dois policiais para
acompanha-lo. Aparentemente ele está próximo a biblioteca da cidade.
- Algum documento histórico que não conheçamos
relacionado a origem da cidade e Pedro Avilés?
- Sempre há documentos, isso é com Zaira. – Respondeu o
investigador com um sorriso quando ela se virou pra mim e ele
continuou antes que saísse – Espere. Fizemos um dossiê com dados da
Siv sobre ele, acho que podem ter informações que não conhece. Essa
época do ano sempre notamos turistas incomuns a visitar a biblioteca,
mas pelo que me informou o interesse dele é bem específico, mesmo à
origem da cidade.
Após agradecer a cordialidade do policial, Zaira, eu e Petrônio
nós retiramos indo em direção a biblioteca após ela pegar seu carro,
um simpático beetle. Petrônio abriu o dossiê numa pasta viu-se fotos
do jovem que havia se formado em física quântica e história. Porém
com um histórico de agressões a calouros e até mesmo por matar
animais no campus. Não obstante, tinha três passagens na polícia por
porte ilegal de arma e por fumar maconha dentro de uma igreja.
Aquilo intrigou Petrônio, pois com mais dados cruzados soube que ele
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 82
tinha uma investigação o relacionando a crimes antissemitas e
agressões verbais na internet onde num fórum após atacar com todo
tipo de falácia sua vítima, a ameaçou coisas que provocariam aflição
de serem ditas aqui, ou seja, apesar do diploma um idiota.
- Paira à discriminação não somente ver diferenças como
abismo, mas associações semelhantes a tudo que é mau, resumindo
porém, a seus atos. De nada adianta sofisticar a maldade se ela
continua sendo maldade. Nunca há jeito ou adianta, a maldade é um
beco sem saída moral. – Disse Petrônio ao me mostrar o dossiê – Ele é
um candidato em tanto a Ordo Ad Chaos, claro que alguém com
passagem na policia não seria membro oficial, mas certamente faz
trabalhos.
- Alguns gostam de humilhar para se sentirem por cima, numa
necessidade mórbida e egocêntrica de arrogância por ser incapaz de
serem superiores por si só – respondi enquanto via os documentos - os
mesmos que não se teme por sua justiça, mas se tem medo pela
injustiça e covardia. Julgam para se sentirem donos do certo assim
como da verdade, mas julgar com discriminação sempre estará errado,
pois não é possível estar certo fazendo o mal, afinal não se faz justiça,
mas injustiça. Estes não são dignos de moral, por isso são moralistas,
pois zelam não por suas reputações, mas mascaras o qual se escondem
como a um demônio ante a Jesus Cristo.
- Sou ateia – disse Zaira ao encostar o carro no lado oposto da
rua onde ficava a biblioteca – Mas alguns me fazem acreditar que o
diabo existe. Em todas minhas pesquisas percebi histórias
impressionantes da maldade destes, e digo, isso não é natural e
justifica o título Innaturatus. Não há traços que provem que se quer
existiram similarmente a Ordem dos Ventos, mas os sinais por onde
passaram são irrecusáveis, pelo profundo dano provocado.
- São impostores dos mais promíscuos conhecidos, se
associam a qualquer coisa para beneficio próprio, sem qualquer
honestidade intelectual furtam informações, adulteram provas,
falsificam documentos – disse Petrônio pra mim - e seus meios sem
escrúpulos denunciam a que veio, para dominação e monopólio
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 83
absoluto, sendo inconstantes apenas a criar o caos, mudando de ideia e
apenas dançando conforme o vigente, mas dissimuladamente, sendo
amantes da mentira e todas as distorções desta, discriminando e
agindo contra toda natureza conhecida, quer sexual ou de fatores
biológicos. São as criaturas mais ávidas de ganância e cobiça que se
tem conhecimento, diabólicos insaciáveis, são exacerbados no
materialismo ainda que se digam o contrário, somos apenas pelancas
de carne super-sexualizadas para eles a exemplo de uma obsessão com
o coito fora do comum assim como o do ilícito para com suas vítimas
notavelmente sem qualquer senso de proporcionalidade e equilíbrio,
como se a inferiorizarão de suas vítimas e sua completa rapina fosse
uma tradição vital a sua vitória, pra eles como regra única a trazerem
ao qual cruzam seu caminho as tornando nos seres mais infelizes e
azarados do mundo, dando uma profundidade nova ao termo 'coitado'.
Avessos a todo bom costume e valores, na verdade não cogita-se as
suas vítimas permitir a liberdade e uma vida normal e plena, não
cessam até acabar com uma pessoa, tirando sua identidade,
humanidade e dignidade até se tornar um farrapo humano a
perambular com o fiapo aflito de sopro divino que lhe restou. Lamento
profundamente por aqueles marcados por estes seres o qual chama-los
de cão é ofender toda mãe natureza.
- Deus tenha misericórdia de nós caso Daniel Motta seja um
destes, pois mesmo o diabo nos meus pesadelos era mais simpático e
respeitador. – Disse Zaira após parar o carro o desligando - Te
matarem com um tiro na testa é o mais perto que eles podem chegar
de serem bons, pois o mais faria o mais experiente investigador
criminal de homicídios se internar para tratamento psicológico. – Ela
abriu a porta e fez o vento frio entrar e prosseguiu - Sobreviver
considera-se uma obra de arte de puro heroísmo, e estes são poucos,
homens que tenho muito respeito por simplesmente isso.
Após sairmos do carro enquanto introspectivo fiquei com
aquela imagem que me passaram destes homens, imaginava o que
seriam capazes de fazer conosco para conseguir o que queriam de nós,
talvez nos virar do avesso assim como todos valores no mundo e
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 84
defendidos pela igreja. Ao atravessarmos a rua notei com o entrar de
Zaira na biblioteca que ela era muito conhecida por lá. Os
funcionários a cumprimentavam com um sorriso e por vezes
brincando com peculiaridades que somente o relacionamento deles
compreendiam quase como cifrado para mim como visitante. Tendo
intimidade Zaira sentia-se em casa devido o longo tempo que ficava a
pesquisar documentos históricos não só naquela biblioteca, mas em
vários lugares da Europa, normalmente dedicado ao estudo das
origens de famílias espanholas principalmente reais como a dos Reis
de Leão. A mulher apertou os passos após ter a liberação do guarda
que anunciava que havia conseguido um namoro com alguém que ela
apresentou e em seguida entramos por um extenso corredor onde as
estantes estavam cobertas de livros até o teto e com aquelas escadas
presas a elas que se moviam com rodinhas até o ponto desejado.
- Aprendi a dar valor ao tempo, como as lembranças e a fé no
futuro quando o agora se tornou intolerável. – Disse Zaira pra nós
enquanto entrava agora numa cúpula onde haviam pergaminhos e uma
série interminável de papiros e papéis muito envelhecidos pelo tempo
e continuou falando – mas hoje ao menos os tempos tem sido
generosos comigo, seus ventos sopram a meu favor.
- Presumo que muito deve ter aprendido e conhecido neste
paraíso – disse eu concluindo lá dentro de mim que ao ver a tatuagem
dela na mão aquela mulher era parte integrante da Ordem dos Ventos.
- Você é do tamanho de seu conhecimento, sendo insuficiente,
estreito em sua visão. Sendo vasto compreende toda variação e
variedade que cerca o universo a debruçar-se sobre a janela do
multiverso num conhecimento que vendo fora do horizonte universal
compreende uma visão de 360 graus do tempo. – Disse Petrônio pra
mim diante dele na caminhada.
- Porém, pelo visto os segredos dos tempos vazaram aos maus,
agora como amorais irão se proclamar donos e aniquilar os
verdadeiros autores e guardiões. – Disse Zaira - Ventos tempestuosos
de Wotan surgem no horizonte ao sopro dos maus. Mesmo aqui já dei
falta de documentos, espero que não esteja adulterando nada.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 85
- Chegando a esse ponto acho que o tempo dos dominadores
chegará com a tempestade dos séculos, Zaira. – Disse Petrônio –
Obviamente que vejo aniquilação, justos sendo eliminados,
esmagados e apagados. Será impossível ver o futuro de modo nítido
como já acontece com alguns.
- Verdade, amor, memória, tempo, fé, Deus e eternidade, pois
o tempo eterno é memória da verdade apenas atingido pelo amor. São
as palavras que mais amo como lema particular. – Respondeu Zaira
quando parou diante de uma bancada com uma jovem estagiaria com
aparelhos no dentes que imediatamente abriu um vasto e amplo sorriso
pra nós.
- Zaira, quanto tempo. Trouxe seus amigos desta vez? –
Perguntou ela.
- Um do Brasil, descendente de quem fundou tudo isso,
Gerson. – Disse Zaira apontando pra mim me apresentar – e ao meu
lado Petrônio, italiano e padre.
- Nobre termos alguém que carregue o sobrenome da família.
– Disse ela pra mim com um sorriso ao falar em espanhol após ajeitar
o cabelo.
- Na verdade tenho minhas dúvidas. – Disse eu – A parte da
família que venho veio de Portugal para o Brasil com o conde Jorge
Avillez.
- Interessante mencionar isso, pois tem registros de visitas
dele a esta cidade. – Disse ela. – Vi isso agora pouco.
- Bom, na verdade procuramos este jovem aqui. – Disse Zaira
ao mostrar a foto de Daniel para ela.
- Pode parecer mentira, mas é exatamente ele quem solicitou
arquivos de Jorge Avillez e um mapa antigo da cidade. – Respondeu a
jovem virando-se para um caderno onde tudo era anotado. – Bom,
anotei aqui o nome dele...
- Daniel Motta. – Respondeu Zaira.
- Sim, perfeitamente.. aqui. – Respondeu ela. – Fora
exatamente a 47 minutos atrás. Acho que pesquisava algo sobre uma
pedra base colocada no monumento da praça da cidade.
- Isso não conhecia. – Disse Zaira.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 86
- Como não? Admirar você. – Disse ela sorrindo de modo
gracioso – abaixo da estatua do fundador da cidade, Pedro, poucos
tem ciência disto, mas... O que vocês querem com ele? É algum
marginal?
- Na verdade acreditamos que tenha matado um dos amigos de
Petrônio.
- Oh sim, compreendo. Provavelmente ele deve ter feito algo
mais pra virem pessoalmente aqui – respondeu ela – Se quiser pego o
documento que ele acessou.
- Por favor. – Respondeu Zaira.
A Jovem saindo do balcão se dirigiu a uma das prateleiras e
movendo o dedo sobre os papéis parou numa das fileiras puxou um
mote e se dirigiu novamente ao balcão ajeitando o cabelo e o
colocando suavemente sobre ele. Confesso que pego de soslaio fiquei
visivelmente atraído por ela a ponto de Petrônio perceber ao me olhar.
- Tenho que reclamar com a supervisora, pois tenho notado
alguns documentos mexidos. – Disse a jovem quando Zaira agora
pegava o documento nas mãos. - O manuseio será por pouco tempo,
pois vamos digitalizar tudo para ser acessível apenas pelo computador.
- Que tipo de documento você notou mexido? – Perguntou
Zaira.
- Não específico. Apenas fora da ordem anterior, pode ter sido
o novato que entrou na semana passada. – Respondeu ela. – Mas me
diz, o que que esse Daniel fez.
- Furtou um pen drive com informações de um projeto nosso
de um moribundo.
- Meu Deus, esse mundo está perdido mesmo. – Respondeu
ela de modo ingênuo – semana passada disseram que tentaram invadir
a biblioteca e chegaram quebrar uma janela.
- Não fiquei ciente disso. – Respondeu Zaira que antes parecia
compenetrada nos documentos. – Como aconteceu?
- Não sei ao certo. Mas me parece que queriam entrar nesse
setor de documentos históricos.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 87
- E então você nota documentos mexidos. – Disse eu pra ela
sugerindo o óbvio.
- Bom mencionar – disse ela colocando a mão no rosto – Não
havia pensado nisso. Mas tudo está registrado em ordem numérica,
tirar um documento fica o vácuo de sua ausência, fica defasado. Vou
perguntar a supervisora.
Enquanto isso Zaira voltou a mergulhar no documento quando
o desenho mostrava o formado original das primeiras ruas até a praça,
nada incomum. Porém, um detalhe indicava letras sem aparente nexo
espalhadas pelo mapa. Aquilo chamou a atenção dela por não
conseguir compreender qualquer padrão naquilo e então chamou
Petrônio.
- Petrônio, veja isto. – Disse ela fazendo o homem se
aproximar inclinando-se sobre o mapa enquanto eu do outro lado via o
mesmo – veja estas letras, você que participa da pesquisa de
criptografia, lhe diz algo?
- Não sei, teria que analisar. Se as letras estiverem como
pontos a formar algum traço talvez siga alguma ordem específica. –
Respondeu ele. – Podemos tirar uma cópia do documento?
Naquele momento fiquei estático olhando o mapa quando
observei no seu canto uma estrela dos ventos similar a da tatuagem de
Zaira, no estilo chinês. Imediatamente apontei pra eles que ao
observarem fizeram os dois se entre olharem e em seguida apontar
para as letras ‘E’, ‘L’, ‘I’ seguindo na diagonal do mapa e Petrônio
continuou e disse.
- As letras cruzam até o centro da praça onde ela disse que
está a estátua. Veja estas letras ‘X’ e em seguida ‘I’ e por fim do outro
lado ‘R’.
- ‘Xir’? – Indaguei eu. – O que significa?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 88
- Elixir. – Respondeu Zaira. – Pedro tinha um conhecimento
peculiar de cartas náuticas, ele teve em mãos, de acordo alguns a carta
que deu origem ao mapa de Pire Reis.
- Mas tipo um mapa do tesouro a indicar um Elixir como
tesouro? – Perguntei novamente.
Naquele momento, porém, Petrônio acenou para a Zaira e
disse.
- Pode contar.
- Bom. – Disse ela virando-se pra mim – Disseram que Pedro
Menendez teria descoberto um conhecimento no junco que
completava o motivo de parte das viagens dos chineses a América,
algo que ele mencionava numa carta do Vaticano com Elixir de Kairos
que seria uma chave ligada a cidade de Pitah.
- Não fazemos ideia do que seja. – Repercutiu Petrônio –
Apenas temos conjecturas, mas fazem completo sentido sobre um
conhecimento que a Ordem dos Ventos buscava e que os tornava
aptos a ter informações fora do tempo linear.
Porém, naquele momento a jovem estagiaria retornou
assustada até nós e disse.
- Meu Deus, atacaram a praça. – Disse ela assustada pra nós -
Acho que explodiram algo na estátua de Pedro Avilés!
Sem pensar duas vezes eles seguiram imediatamente para a
praça e encontraram um cenário de desolação com a estátua de Pedro
Menendez Avilés caída ao chão repleta de cacos de concreto e um
buraco embaixo de onde visivelmente havia alguém agachado
mexendo em algo.
Pessoas corriam de um lado a outro, muitas cobertas de sague,
quer próprio ou de terceiros que estavam próximos. Sirenes começam
a inundar o lugar, de ambulâncias, bombeiros à policia quando vendo
aquilo Petrônio correu até onde estava o monumento em meio a
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 89
feridos no chão, alguns com membros amputados. O que ele viu fora
aquele jovem das fotos, Daniel Motta que ao se aproximar tirou algo
de dentro de uma caixa e virou-se para ele e tentou correr, mas do
outro lado eu apareci lhe bloqueando a passagem.
- Não sei pra quem você ainda trabalha, mas se esteve
responsável pela morte também da biblioteca e do furto de
documentos vai ter que responder em juízo. – Disse Petrônio de modo
severo quando vários policiais vinham em direção a ele empunhando
armas com alguns apontando aquela direção.
- Nunca serei preso, nunca. E você Gerson era pra estar morto,
não é admissível isso, cão safado, nossa posse! Vamos te virar do lado
avesso, deveria ser apagado da humanidade! – Disse ele como se
estivesse embriagado com bebida estragada.
- Não sou seu cachorro, psicopatas como vocês podem no
máximo ter minhas carnes, não minha mente e sentimentos. –
Respondi, agora visivelmente tenso.
Daniel, porém, tirou algo do bolso e os policiais vendo isto
gritavam para nos deitar no chão por estarmos numa cena do crime,
crime de terrorismo. Lugar onde algum artefato explosivo fora
posicionado a criar o maior estrago possível e fazendo uma série de
eventos em reação em cadeia acontecer.
- Caos, é a ordem, a ordem é o caos! – Gritou Daniel
visivelmente transtornado em meio a fumaça e demais gritos de
pessoas aflitas. – Essa é minha arte – completou ele girando olhando
ao redor da cena do crime.
Porém, mesmo que nos tivéssemos nos deitado mediante o
procedimento padrão, Daniel sorriu de modo sádico e tirando algo do
bolso apontou para os policiais e vários tiros foram efetuados por
acharem ser algum tipo de arma o fazendo cair morto empoçado em
seu sangue. Os policias nos cercaram apontando armas e falando em
espanhol conosco, verificou o pulso de Daniel, que não havia, e em
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 90
seguida perguntou quem éramos quando surgiu Zaira identificando-
nos ao lado do investigador que ela havia encontrado na delegacia
tempos atrás. Os policiais pegaram o que estava dentro da estátua e
levaram como evidências da cena do crime não possibilitando que
fosse visto o que se tratava.
Após a incomoda situação nos levantamos e na delegacia a
primeira coisa que fizeram fora coletar imagens de todas as câmeras
da região e em poucos minutos o que vimos era impressionante.
Primeiro vimos uma sequência em que visivelmente Daniel
estava com mais alguém, um homem meio gordo e de cabelos lisos
lhe dava o artefato explosivo nas mãos enquanto colocava mais outro
num outro canto da praça. Eles tinham algo nas mãos que
aparentemente faziam leituras fazendo-o mudar de posição de acordo
com o que viam no aparelho até que estando no ponto adequado eles
lá deixaram e seguiram juntos para fora do local. Petrônio ao ver o
rosto daquele outro homem ficou perplexo e gelou como se o
conhecesse. Zaira vendo isto virou-se para ele perguntou chamando a
atenção do inspetor que reconheceu pela prisão deles que eram peças
chave naquele atentado como não se via desde 11 de março em Madri,
no país.
- Se você conhece esse homem, preciso que me diga tudo que
conhecer dele. – Disse o investigador após lhe empurrar um prato com
pedaços de bolo pra eles.
- Esse homem é William Sanchez, é aquele tipo de ineptocrata
que trabalha pra uma família de vida fácil, bilionários de grandes
empresas e relações com banqueiros, pedras de tropeço aos pobres.
Dizem que ele ao lado daqueles aniquilaram um autor o qual lhe
desejavam as obras. – Disse Petrônio – Eles tem influência demais, ele
é identificado pelo Siv como o principal líder atual da Ordo ad Chaos
que espalha incidentes e acidentes por onde passam. Isso não dá pra
vocês, é gente do pior nível possível. – Completou ele pálido
levantando-se da cadeira e deixando o policial lá junto com seus
amigos.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 91
O Policial ficou parado diante daquilo e então olhou pra Zaira
como se esperasse que ela dissesse algo, mas ela estava com a cabeça
agachada sobre as mãos acenando em negação. E ao ver o policial
apenas disse.
- Precisamos informar o Papa, o Siv, o Mossad o que puder. A
última vez que investigamos um deles acabou na renuncia do Papa
Bento XVI. – Disse ela.
O Policial então virou-se novamente para a televisão e seguiu
o vídeo na minha frente, e o que vi me surpreendeu como resultado da
colocação dos explosivos no local. A sequência de explosões levaram
um poste cair sobre um banco onde estava uma velhinha, os pertences
dela voaram até um carrinho de bebê que caiu junto com a mãe e em
seguida a arvore por onde havia caído o poste caiu do outro lado
diante de um carro fazendo este se desviar e batendo num outro poste
que caiu enquanto outros carros se engavetaram suscetivelmente,
alguns capotando uns sobre os outros. O investigador então virou-se
para mim assustado e eu fiz uma careta dizendo.
- Nunca vi nada parecido com isso.
O telefone tocou, era o prefeito que por sua vez havia sido
contatado pelo presidente pedindo por medidas urgentes sobre o caso,
como se diz o ditado, a merda desce a ladeira, e naquele lugar com
pressão.
Ao ir lá fora, Zaira, viu Petrônio de braços cruzados olhando
para o céu e então Zaira acendeu o cigarro ao seu lado e pegou o
telefone smartphone e disse enquanto discava algo nele.
- Sobrevivemos por séculos, Petrônio, a Ordo Christianitas Ad
Ventus não vai acabar até o advento acontecer. O porquê nos move à
resposta, a dúvida ante isso nos edifica a fé. Os herdeiros do
inexorável tem que estar preparados, Joaquim não fora morto em vão.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 92
- Não fale de Joaquim Milagros, as coisas que fizeram com ele é
abominável, são crimes de cães!
- A Ordo Ad Chaos está neste mundo apenas para testar o
destino, por isso são nossos Antagonistas, mas no fim eles apenas
servem ao próprio destino e apenas justificam a fé!
Naquele momento o telefone fora atendido do outro lado da
linha, era um assessor do Papa que perguntou em italiano o que
queriam.
- Ordo ad Chaos com envolvimento no incidente da biblioteca
confirmado. Avisem o Siv e ao Papa, sinto que vem algo grande por
ai. A tempestade perfeita.
Zaira desligou o telefone e olhou para o céu enquanto Petrônio
colocou as mãos no rosto o balançando após ver algumas nuvens
passando. Zaira colocou as mãos no ombro dele para acolhe-lo e
procurar acalma-lo quando o telefone dele tocou, o fazendo pega-lo e
atende-lo.
- Petrônio. Milagros, e Gabriel Modenna, já estão ciente do
ocorrido, e temos mais más noticias, infelizmente, a autopsia de
Javier, indicou que ele fora envenenado! Não somente isto, agora
pouco recebemos a notícia de que houve um massacre dentro de
alguma seita, mataram todos os membros. Tirando o atentado, o que
vocês têm pra nós?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 93
Ato V
Codex Ad Tempus
"O acaso é o pseudônimo de Deus, quando ele não quer assinar."
Théophile Gautier
Região litorânea da Espanha, 1552
Havia se passado mais alguns anos desde que seu mentor secreto,
Joaquim, fora morto nas mãos de homens tenebrosos. Pedro
Menendéz de Avilés havia se tornado hábil em combates marítimos
servindo o Rei Felipe II, normalmente atuando contra corsários
franceses. Tão logo se tornou notório seu ímpeto e bravura em
batalhas, mas agora estava ao porto aproveitando os ganhos em servir
a coroa espanhola para construir seu próprio navio Patache, um navio
hábil e veloz apesar de pequeno, mas ótimo em manobras evasivas.
Observando seus empregados a construírem sob instruções de uma
planta de engenharia Pedro agora tinha família, havia se casado e tinha
por filho Juan como particular aprendiz do que a muitos anos havia
aprendido com Joaquim Milagros, na Ordem dos Ventos.
O garoto estava sob uma tora de madeira, equilibrando-se com
uma espada enquanto ensaiava movimentos quando seu pai se
aproximou vendo um pedaço de pano branco esvoaçante amarrado em
seu pescoço indicando a direção do vento e lhe disse.
- Não seja Dom Quixote, não lute contra o vento, mas pelo
vento, através dos ventos. – Pedro cruzou os braços e disse mais. –
Não deixe que a raiva o guie. O lema da Ordem dos Ventos é verdade,
amor, memória, tempo, fé, Deus e eternidade, as palavras mais
importantes pra nós. Os que não a praticam certamente são
impostores.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 94
O Jovem então deu mais um movimento e a tira de pano
branco cruzou o caminho da espada com fio afiado e esta a cortou
fazendo-a voar pelo vento.
- A vontade e desejos irresistíveis do destino é porque ele é
atrativo assim como ao verdadeiros sentimentos puros como amor e
afeição.
Naquele momento o jovem perdeu o equilíbrio e caiu da tora
sendo escorado pelo pai, quando atrás dele um homem surgiu falando
seu nome.
- Pedro. – Disse a voz aproximando-se. - decidi vir.
Pedro virou-se e viu o resplandecer do rosto de seu irmão
Bartolomé Menéndez que havia então aceito o convite dele de
participar de sua nova empreitada e navegar por águas turvas caçando
piratas e combatendo invasões. Imediatamente ao ver isto, Pedro abriu
um largo sorriso e fora em sua direção lhe abraçando acaloradamente,
enquanto Juan guardava a espada para igualmente cumprimentar seu
tio.
- Me disseram que adquiriu conhecimentos privilegiados
sobre as navegações. – Disse Bartolomé a seu irmão enquanto o jovem
Juan lhe abraçava.
- Pelo jeito Juan tem falado um pouco de mais. – Respondeu
Pedro olhando para o filho. – Mas nem tudo que é rosa dos ventos,
carrega o conhecimento dos ventos. – Como disse pra Juan, caso lhe
perguntem algo que não queira mentir, responda com uma pergunta,
pois uma pergunta nunca mente. Digo isto, pois os que se contradizem
sempre não são confiáveis, pois mentem ou omitem algo.
- Mas é os rumores, mentem? Estes me falam de que o tempo
em que esteve fora frequentava círculos de homens peculiares do
Vaticano. – Disse Bartolomé com um sorriso cordial a Pedro e seu
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 95
irmão então olhou ao redor e disse a seus empregados ao lado do
navio que era edificado.
- Meus amigos. – Disse Pedro aos trabalhadores inclusive dois
escravos que foram por ele comprados, mas que tinham ótimas
condições de vida. – Vamos comer, hora do descanso.
Os homens suados pelo trabalho diante do sol, pararam e
desceram na embarcação incompleta e seguiram para dentro de uma
espécie de hangar.
- Muitos querem ser seu escravo Pedro. – Disse Bartolomé
sorrindo – a lenda de que é um bom senhor parece percorrer a costa
espanhola assim como sua ferocidade em batalha.
- Eles são humanos, Bartolomé. Um dia não serão mais
vendidos. – Respondeu Pedro colocando a mão em seu ombro quando
chamou alguém de dentre caixas de madeira, era seu amigo e guardião
Jopy, um negro enorme, mas que apesar da aparência rude, era um
cavalheiro gentil.
- A Ordem dos Ventos, não veio para escravizar. Mas libertar,
Bartolomé. – disse Pedro quando Jopy apertou a mão de seu irmão o
cumprimentando. – Se tratamos os nossos como cães, eles agem como
cães. Dê humanidade, e serão como humanos. Lhe digo neste
momento que se quiser participar disto, a instrução da Ordo
Christianitas Ad Ventus, acolhe famílias perseguidas através dos
tempos num estirpe do destino, uma linha de defensores da verdade
contra anomalias, e como verdade, ela liberta, não escraviza.
- Como assim anomalias?
- Traga o Codex Ad Tempus – pediu Pedro a Jopy tendo um
aceno positivo do negro.
O homem trouxe uma espécie de mochila e de dentro dela
tirou um rolo escrito em grego. Pedro o pegou enquanto Juan parou a
seu lado para observar seu pai manuseando aquele pergaminho o
abrindo lentamente diante dele e falou.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 96
- Temos livros secretos do Advento, alguns com
conhecimentos de uma estirpe que seguiu um caminho diferente a de
seu irmão Abraão. Fundaram uma cidade muito antiga, e ao ser
aniquilada rumaram aos quatro cantos da terra com seu conhecimento.
À Todas direções da rosa dos ventos.
- Mas isto fala de algo chinês. – Disse seu irmão Bartolomé
observando o que o rolo falava.
- O novo mundo descoberto, não é novo Bartolomé. Muito
antes de Portugueses tocar essas terras, os chineses lá estiveram, pelo
mesmo conhecimento que levou eu em minha busca. – Respondeu
Pedro. – Tudo o quanto estou realizando aqui é um preparo para nosso
destino, o conhecimento em terras longínquas, além atlântico.
- O Vaticano conhece estas informações. Isso pode mudar
tudo, afirmar que o conhecimento dos portugueses, ingleses e
espanhóis vem de chineses.
- Sim, poucos conhecem, mas muitos o deduzem. Mas
substancialmente não importa o que eles descobriram primeiro, mas
sim o que procuravam. O conhecimento que alguns chineses
compartilham é quase o mesmo da Ordem dos Ventos e não por acaso,
mas porque os sobreviventes do destino, assim realizaram entre os
povos. Você precisa vir comigo até Covadonga.
Bartolomé e seu irmão Pedro seguiram com seu filho Juan
afim de fazerem uma refeição e então seguindo a sugestão de Pedro
seguirem até o mítico lugar chamado Covadonga, nas mediações de
Astúrias. Seguido pelo sempre fiel Jopy que pouco falava os quatro
seguiram até o local que ao ser visualizado por seu irmão Bartolomé
lhe deixou impressionado pela peculiaridade da edificação sobre uma
cachoeira, uma fonte de água pura. Ao chegar um homem o
reconhecendo abriu a porta com um sorriso cordial e cumprimentou
Bartolomé e passou a mão na cabeça de Juan e disse.
- Seu filho foi melhor que você no teste da colina.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 97
- Fiquei ciente disso. – Respondeu Pedro. – Bom ter a
presença de nosso agora Mestre dos Ventos. – Seguiu o homem o qual
era chamado por Hydrocrates.
- A Caixa já escolheu seu novo portador, Hydrocrates? –
Perguntou Pedro olhando para uma Caixa no alto de uma estante.
- Não, ainda espera o tempo dela, somente Kairos isso dirá. –
Respondeu Hydrocrates trancando a porta por dentro e mostrando uma
espécie de banheira com uma estrela dos ventos sob ela.
- O que é isto? – Perguntou Bartolomé a seu irmão. – Algum
tipo de hidromância?
- Me perguntei o mesmo, Bartolomé, mas não. – Respondeu
Pedro. – Não se trata assim de uma mera hidrosofia, mas na verdade
de uma cronosofia o qual se quer Kronos o qual crepitava justamente
nas águas em suas ondulações.
Bartolomé parou diante das águas e observou o filho de Pedro
jogar uma pedra criando ondulações e distorcendo o desenho embaixo.
- Medite no movimento das águas, observe como ela preenche
as lacunas – disse Pedro cruzando os braços - como são suas ondas e
reflexões e como os menores objetos são os que criam as maiores
ondulações. Reflita nas águas e pelas águas e descobrirá que no
universo reativo tudo são perspectivas vibradas de uma única verdade.
Mesmo as pedras lançadas a água refletem ao quicar. As águas podem
mostrar a verdade, mas também podem distorce-las assim como sua
própria imagem nela.
- Quando as águas estão tranquilas fica possível conhecer a
dinâmica das ondas, quando caóticas surgem bolhas. – Disse
Hydrocrates, um homem de olhos azuis pelo qual na verdade havia
ganhado esse nome ao entrar para a estirpe. - Como a água ressoa, o
que aqui é incerteza, é certeza noutro universo.
- O que vemos é compreensão dos movimentos de modo
atemporal, pois mais que uma arte é um modo de ver o universo fora
do aparente, uma filosofia. – Respondeu Pedro. - O finito e o infinito
as vezes podem ser uma ilusão, deriva-se de ciclos modificados do
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 98
finito, de ondulações. Pergunto-lhe se como meu irmão deseja
compartilhar dos conhecimentos que disto revelamos.
Bartolomé, se aproximou do recipiente onde estava a água e
então tocou com as mãos vendo criar ondulações e Hydrocrates disse.
- Com água pode se lavar, mas não se pode lavar a água, a
água não é o tempo, mas o tempo como água, são elas quem
purificam.
- O que vocês tem pra me revelar? – Perguntou Bartolomé
virando-se a estes visivelmente intrigado como se tivesse sido fisgado
como um peixe.
- A verdade, algo que vai expandir sua mente, vai lhe libertar,
a verdadeira natureza da realidade. – Respondeu Pedro com um
sorriso cordial no rosto e seguiu – Algo que os malévolos desejam,
mas que são contrário a tudo que ensinamos. O que possuí o destino,
não age com relações parasitoides, harmoniza, nivela, iguala ao
universo. Quem tem o destino não precisa ser dominador ou tirano,
pois simplesmente fluí seu poder como as águas.
- Sendo necessário fazer força demais, é porque não é uma
roda a girar. – Disse Hydrocrates. - Mas a matemática é filosofar com
números, limitados, mas necessários para conhecer as resultantes que
por desconstrução pode levar a verdade.
- Consegue compreender nosso irmão Hydrocrates, ele é um
Filosofo das águas. – Disse Pedro. - Compreenda os caminhos para a
perfeição, que são reconhecer-se imperfeito, não se contradizer
honrando a própria palavra, praticar o que discursar, ser caridoso.
Os olhos de Bartolomé brilharam como se aquilo fosse o
sentido de sua vida, algo repleto de significado que lhe conferisse o
porque para o por quê, de modo que fora assim instruído após seu
compromisso acertado por contrato aos seus, sua família se ampliou,
cresceu e seus conhecimentos ganharam mais volume com quem
compartilhou, mais um homem o qual a ressoar pelo tempo em coro
uniforme a instruí-los pela honra, mas não em desculpas falhas dos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 99
malévolos que isto cobiçavam e cegos pela ganância. Casos de
anomalias que se levantavam como distorções a toda verdade,
arbitrárias, fenômenos ditos sobrenaturais e seres e pessoas que ao
longo do tempo aniquilavam eram compartilhados com Bartolomé
junto aos manuscritos da biblioteca o qual Pedro se tornará guardião.
Centenas de histórias que levariam a mitos e lendas de vampiros,
lobisomens e todo tipo de criaturas filhas de uma anomalia ainda que
não tão exatamente colocadas pela ficção.
Porém, tão logo Bartolomé se tornou companheiro de
navegações de seu irmão, junto a seu filho onde com seu recém
construído navio tiveram a primeira vitória contra corsários franceses
que atacaram três cargueiros espanhóis na costa de Galiza. Assim suas
batalhas começaram cada vez mais ganhar notoriedades, talvez porque
não estivessem apenas navegando pelas águas marinhas, mas pelo
tempo, rumo ao destino.
Uma batalha em particular se tornou notória ao perseguir dois
Biscayan, fragatas conseguindo hesito pela astúcia de movimentos por
eles realizados naquelas águas, não eram navegadores comuns, eram
alguma coisa mais que levavam eles a se tornarem motivo de
conversas até mesmo entre as cortes reais e transpassando fronteiras
de países, da França a Espanha, decepcionando seus adversários da
Casa do Comércio de Sevilha se tornando cada vez mais influentes até
que em 1554 fora chamado pelo próprio rei Felipe II da Espanha o
designando como Almirante da frota das Índias, lhe outorgando poder
da coroa que lhe permitiria autorizar a construção de fortalezas reais
em portos caribenhos e assim partiram eles a sua primeira jornada
cruzando o Atlântico onde tinham compromisso de defender a fé
cristã. O destino fluía, e com vento era levado a seu alvo, o esforço
natural se tornava o sobrenatural, não como o excesso de força dos
tiranos que por eles cruzavam os caminhos.
Pedro Menendez Avilés, fora paciente a aguardar seu destino
encontra-lo e ele a seu destino, pois concebendo o ser verdadeiro, não
somente não havia mentira, como a tudo respondia, a tudo se
encaixava como as águas em seu percurso no leito, como as gaivotas
que pelos ventos plainavam, e os malévolos o qual apenas pertenciam
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 100
a acusação perplexos ficavam, na verdade, com sua própria cobiça de
não conseguirem os mesmos feitos e conhecimentos, limitando-se a
imitar e buscar castigar o que imitavam, pois eram justamente os
males que combatiam Pedro e seus parentes ao lado de Jopy nas
navegações, aqueles que detinham obstinadamente a verdade em
injustiça.
Cidade de Avilés, Espanha, atualidade
Após Petrônio observar as imagens das câmeras de segurança pública,
ficou estarrecido e teve certeza de que o conhecimento furtado pela
Ordo Ad Chaos estava sendo usado por aqueles boçais que nada
respeitavam a tudo invadiam. Na verdade Zaira ainda aguardava a
permissão das autoridades legais para a liberação do artefato
encontrado na estátua a fim de conseguirem mais uma peça do
mosaico que se formava diante deles e que indicavam uma
conspiração de séculos que levou as grandes navegações e a uma
corrida secreta por algum tipo de conhecimento relacionado ao Novo
Mundo que eles ainda não conheciam.
Porém, intrigados como aqueles homens malévolos em tão
pouco tempo conseguiram uma aplicação prática dos conhecimentos
da hidrocriptografia não somente para proteger dados, mas a fim de
controlar de certo modo o caos numa sucessão de eventos
aparentemente síncronos e ocasionais, levando eles a discutirem entre
si que algo como este poderia lhes conceder o poder a longo prazo de
controlar o rumo da humanidade através do caos prevendo eventos
futuros nos mínimos detalhes, fomentando um significado verdadeiro
por de trás das superstições destes.
O termo derivado do latim superstitio que provinha por sua
vez do superstare, tinha um significado peculiar de estar sobre algo
em paralelo a sobreviver. Talvez por estar relacionado a práticas
selvagens e igualmente caóticas, estes por imperícia sobre si mesmo
necessitassem estar sobre suas vítimas, levando ao fundamento
exacerbado daqueles que somente conseguiam ver algo sobre alguém,
naturalmente relacionados ao fanatismo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 101
Os romanos tinham uma relação mais adequada com seu
termo religio que trazia uma conotação de ‘respeito devido e com a
medida dos deuses’. Os termos assim evoluíram – ou nem tanto – a
medida com que tais praticas se modificaram com o tempo, enquanto
os ditos Herdeiros do Destino, considerava-se sobre o caos, os do caos
consideravam-se sobre suas vítimas como algozes, relacionando a
mistificação destes como se isto lhes conferisse boa sorte relacionada
aos amuletos e talismãs determinado como sorte do latim sors que
significa “parte, porção, o que cabe a cada um”. Que relacionado ao
termo grego télesma significava “rito religioso, talismã”.
Obviamente que tais coisas estavam relacionadas a encantos e
feitiços de religiões pagãs, de modo que numa conotação semelhante o
termo mascote vem do francês mascotte vindo por sua vez de masco
que significa “feiticeira, bruxa” o que se tornou de modo contradizente
ícone tradicional em clubes esportivos e unidades militares.
- Não existe "amuleto da sorte", mas esta é uma relíquia
temporal o qual o destino se faz sobre o caos. – Disse Petrônio –
Naturalmente que explica o porquê da origem de tantas superstições.
Ao menos o termo ‘simpatia’ é o menos tenso deles. – Conclui ele.
- O leito do tempo é o destino. – Disse Zaira – Mas o que eles
desejam é desvia-lo através da mentira, contra toda forma de direito.
- Agora compreendo de onde vem à superstição de quebrar um
espelho serão sete anos de azar. – Disse eu rindo daquilo na intensão
de não contrair mais o clima.
- As superstições são conhecimentos incompletos da verdade,
quando não sua distorção como no movimento das águas. –
Completou Petrônio ignorando minha tentativa de humor. - Não faço
o que herdo, mas herdo o que faço. O livre-arbítrio é nossa assinatura
no Destino a concordar com o contrato de Deus! Mas essa gente só
quer que herdamos a mentira que eles são. Se você não fez algo era
porque esse algo não era pra ser seu, isso é inerente a linearidade do
universo assim como suas leis. Não destrua nada que não seja capaz
de construir.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 102
- Mas é exatamente tudo que estes malévolos obstinados são,
só bebem da fonte em que invadem e a ela condenam. Não são nossos
convidados, mas invadem, por isso o caos, de toda agressão o vem. –
Respondeu Zaira diante da imagem no vídeo que seguia repetindo-se
em loop quando Petrônio parou para observar e disse.
- Indícios de comportamento temporal síncrono de modo
espelhado ocorreram de modo não cíclico de loop, mas como uma
sinfonia frequencial, um caso peculiar demonstra isso, onde eventos
de Lincoln e Kennedy demonstram padrões diamentralmente inversos
em tal sincronismo que sendo temporais, porém transcorrem em
sentido anti-horário contra a aparente linearidade, como se algo do
futuro deste o projetasse como fonte de demais sincronismo a afetar
até mesmo a consciência. – Concluiu Petrônio olhando para a tela.
Tudo segue padrões sobre o caos, mesmo a linguagem.
- Fato histórico, conheço essa teoria amplamente divulgada. –
Respondi eu intrigado. - Abraham Lincoln fora eleito ao Congresso
em 1846 e Kennedy em 1946, ambos nomes tem sete letras e suas
esposas perderam filhos quando viviam na Casa Branca. Ambos fora
baleados numa sexta-feira e seus respectivos sucessores nasceram em
1808 e 1908, ambos com sobrenome Johnson, assim como a secretária
de Lincoln era Kennedy e a de Kennedy, Lincoln. Apesar de ter sido
contestado alguns desses dados, a série de coincidências são realmente
impressionantes como um tipo de sincronismo espelhado.
- Não creio ter sido deliberado. Mas para o caso de hoje pra
isso um sistema de previsão de caos deverá lidar essencialmente com
múltiplas dimensões, pois elas explicam as interações caóticas,
entrópicas e até da energia negra o que poderia com maior refino
torna-se explorável. – Seguiu Zaira demonstrando conhecimentos de
física.
- Posso então afirmar que você aspira a ser uma historiadora
de histórias paralelas? – Perguntou de modo irônico.
- Nunca se sabe. – Respondeu ela tentando esboçar um sorriso
pra descontrair. – Mas nosso compromisso é apenas com o contestado
factualmente, não somos impostores como essa gente. Não queremos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 103
inventar nada arbitrariamente meramente para tirar proveito de algo ou
alguém.
- Tenha sua ambição a medida de seu talento, pois você não
pode produzir fruto maior do que pode carregar, mas os tolos nem o
que podem praticar em sua totalidade cobiçam. – Disse Petrônio
virando-se pra nós - Você é seus frutos, seus frutos são você, pois
você é o que faz, não o que fazem com você. Algo que o Maligno
nesse mundo jamais vai aprender.
No momento em que discutiam sobre as possibilidades do que
acontecia naquele lugar, a policia em Roma estava nas mediações
onde pessoas se reuniam para algum tipo de culto e que foram
massacradas. Não se compreendia o porquê da relação com o que
estava acontecendo na Espanha e Vaticano, mas a comprovada relação
da Ordo Ad Chaos com tudo aquilo fazia sentido com a passagem
bíblica “homens desmaiarão de pavor” o que sentia mesmo Petrônio.
Porém, uma mulher que fazia serviço de prostituta cultual havia
sobrevivido coberta do sangue daqueles que faziam sexo com ela, a
mulher identificou que foram atacados por serem não oposição a eles,
mas rivais, algo envolvendo a Ordo ad Chaos.
Por vários séculos houveram conflitos de crenças, na realidade
pelo motivo verdadeiro que levavam homens perversos atacarem toda
justiça, a cobiça e desejo insaciável por poder sobre as demais. O que
sempre levavam a toda sorte de crimes de guerras e guerras de crimes,
contra os justos que cuidavam pela tranquilidade dos seus. Porém,
naquele momento o delegado conhecendo que nós éramos idôneos e
comprometidos com a verdade, mesmo eu sendo autodidata, resolveu
liberar o artefato pego na cena do crime naquele atentado a fim de
talvez obter algumas respostas a cerca dos objetivos de fazerem aquela
chacina.
O objeto envolto num saco plástico transparente fora aberto
cuidadosamente pelo investigador que tinha luvas nas mãos e tirando
de dentro dele após ver que nós colocamos igualmente luvas de látex,
pois apesar do objeto já ter passado pela pericia a procura de digitais
ou quaisquer coisas que levassem poderia ainda conter algum indicio
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 104
que revelasse as reais intensões dessa gente nefasta e obstinada. Assim
ao pegar o objeto, Petrônio notou haver um papel dentro como se
fosse um recipiente onde guardava algum tipo de carta ou anotação
onde imediatamente Zaira reconheceu ser a letra de Pedro Menendez
que falavam em castelhano ser para proteger as coordenadas de Renne
Sanchez.
- Em tempos remotos esse era o líder secreto da Ordem do
Caos, fora acusado de sodomia pelo Vaticano, no século XVI, apesar
de não haver registros alguns alegavam que era arquinimigo de Pedro
Menendez de Avilés. Acho que isso é uma evidência. – Disse Zaira.
- Por acaso descendente desse tal de William? – Perguntei eu
vendo a correspondência onde indicava um lugar no interior do Brasil.
Zaira concordou que sim movendo o rosto e olhando pra mim,
como se fosse na realidade conflitos entre descendentes, pois enquanto
alguns herdavam algo bom, outros herdavam apenas a servidão aos
que perseguiam. Ao lerem a carta por completo indicava também um
lugar ali na Espanha, uma cidade pequena do interior chamada
Marchal. Não por acaso, Zaira lembrou a evidente relação com a
língua dos judeus em vista que aquilo significava ‘futuro’
demonstrando que eles estavam relacionados a algum tipo de
conhecimento provavelmente sobre o futuro, algo que não somente
levou a tais navegações como a conhecimentos que tanto chineses
como europeus que o possuíam procuravam. Antes de partirem para
Vaticano novamente agora eles tinham mais um percurso a ser levado
em consideração, a dita cidade do interior que aparentemente nada
tinha de valor.
- Creio que Pedro Menendez passou por esta cidade em seu
tempo, mas nunca me ficou claro o porque. – Disse Petrônio. – Acho
que vamos descobrir em fim do que se trata, mas o nome sempre me
pareceu sugestivo e não arbitrário ao acaso, pois no destino isso é
apenas um nome.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 105
- Vamos rumo a mais importante das perguntas. – Disse Zaira
entregando novamente a carta ao perito e continuou. – Vamos antes
que de algum modo eles tenha chegado lá.
Ao nos retirarmos do local, seguimos ao carro de Zaira
quando a noite já havia caído e ao conceber que a cidade era a
algumas horas de distância dali, concebemos que passaríamos boa
parte da noite à madrugada cruzando as estradas da Espanha até nosso
destino iminente a uma cidade considerada insignificante
turisticamente assim como para os próprios espanhóis, mas como
aprendemos naquela investigação a fachada nada importava, a
aparência era apenas ilusão ante o verdadeiro conteúdo procurado, os
menores frascos poderiam conter os melhores perfumes assim como
os piores venenos e se trocassem seus rótulos estaríamos perdidos,
mas as digitais de viajantes muito antigos foram deixados de modo
irrecusável ao verdadeiro conhecedor da verdade que éramos nós.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 106
Ato VI
O Porto dos Ventos
"Vento mistral, perseguidor de nuvens,
Assassino da tristeza, varredor dos céus,
Vento de tempestade furioso, como eu te amo!
E nós dois somos os primeiros frutos
Do mesmo útero, sempre predestinados
Ao mesmo destino?"
Nietzsche - Canção Mistral
1560, Mediações do Caribe
Passou-se muitas águas, e por muitas águas passaram os navegadores
de Pedro Menendez de Avilés a conceber que naquele leito oscilante
que era o mar, o lugar não tinha lugar, mas só o tempo e a orientação
secular das estrelas que Pedro disse ser herdado dos fundadores de
Pitah, o qual no intimo outorgava as primeiras navegações jamais
feitas pelo homem ao redor do mundo, espalhando suas sementes.
Pedro havia se tornado o capitão geral do tesouro espanhol onde num
porto fora com seu irmão Bartolomé encontrar um viajante que
supostamente seria um Guardião do Tempo como chamava-se alguns
dos seus.
O Lugar poderia ser acessível a qualquer pessoa, o lugar
chamado Portos dos Ventos, era uma parada obrigatória aos
navegantes a fim de suprir alimentos, mas quem lá estava de mais
importante era tido como quase nada, um homem que estava a receber
os navegantes fora do comum que ao ouvirem como o vento o som de
um violino, parecia ritmar harmoniosamente com a natureza em
concordância plena ao contrário dos Innaturatus o qual o ritmo era
contra toda ordem natural, onde como algozes os que produziam
sempre tinham que pagar, nunca ganharem pelo que faziam.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 107
Protegido por Jopy que ia na frente a fim de verificar
quaisquer coisas nada dignas de confiança, a noite era avançada sobre
aquele lugar e pela envergadura de seu fiel escudeiro o temor dos que
cruzavam o caminho era reciproco e por isso mesmo encaminhado por
Pedro, pois quem não o conhecia achava-o ser algum perigoso
corsário daqueles que viajam a invadir vilas e saqueá-las matando e
violentando suas vítimas por toda costa das Américas. Pedro utilizava
das aparências àqueles que viam apenas aparências a se enganar.
Jopy parou diante da porta da residência de onde vinha a
música que soprava junto ao vento e então bateu a porta e a música
subitamente cessou. Alguns segundos se silêncio se seguiram até que
a residência feita de pedra, destoando das demais que era de madeira
se abriu lentamente, revelando um rosto de uma senhora com cabelos
crespos amarrados para trás e olhar assustado.
- Quem quer?
- Viemos procurar a guardiã do oeste, Gisela Montana.
Jopy colou suas mãos grandes a calejadas segurando a porta e
fez a senhora arregalar os olhos recuando assustada para dentro e
disse.
- Se veio fazer o que veio fazer, então faça a que veio. - Disse
ela largando o violino assustada com o tamanho do homem por ser
acostumada a ser perseguida de todas as maneiras possíveis.
- Não, espere. – Disse a voz de Pedro surgindo por de trás do
grandalhão Jopy. – Venho pela cora espanhola, e trago a
tranquilidade.
- Você é o lendário Pedro? – Disse ela cerrando a visão e
inclinando a cabeça em sua direção – Os ventos lhe anunciaram a
chegada, bons ventos em meio a tempestade, digo eu. Entrem.
Jopy largou a porta e deixou que aqueles homens entrassem e
depois Jopy que tirou um chapéu que usava sobre a cabeça e colocou
sobre sua barriga ficando de pé inerte olhando pra ela e seus senhores.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 108
- Não esperava que a senhora fosse se assustar com as
aparências. – Disse Pedro olhando para ela referindo-se a seu guardião
Jopy.
- Não, não, claro. – Respondeu ela tirando algo da lareira em
água fervente. – Querem um chá?
Juan após ser apresentado recusou, mas Pedro e Jopy
aceitaram e em seguida seguiram a sugestão dela para que se
sentassem, enquanto ela aparentemente maltrapilha com roupas velhas
tinha sobre a mesa uma bíblia e um crucifixo destoando da aparência
que alguns diriam ser de bruxa.
- Vivemos tempos de apreensão meus prezados, tempestade se
formando no porto dos ventos. – Disse ela e assim seguiu - As vezes
trás pessoas que nesse mundo não existem e pessoas que nesse mundo
existem, desaparecem. Somente navegadores hábeis como vocês
conhecem os rumos a tomar.
- Conheço a lenda do mar de sargaços.
- Quando vier a nevoa siga ao leste, pois o que pode encontrar
não lhe será compreensível. Estou aqui para receber visitantes não
nascidos em nosso mundo. – Disse ela então pegando uma bacia de
água e colocando diante dele pediu para que ele abrisse as mãos e
assim Pedro fez e ela derramou gotas de água sobre sua mão aberta e
disse. – Observe como ela escorre pelo aparente caos aleatório. A cada
direção um destino, qual o certo?
- A senhor diz sobre o que vim a realizar neste mundo?
- Perfeitamente, assim são os frutos do tempo, Destino. O que
se planta no chão, colhe do chão, mas quem planta no tempo colhe-se
na eternidade. Mas nada é sem verdade. – disse ela enquanto Jopy
tomava um gole do chá quente e observava. Ela então derrubou mais
gotas sobre sua mão e continuou a falar. - De todas as coisas no
universo são as pequenas que mais me fascinam, pois não só
enriquece o universo em detalhes, mas que podem proporcionar as
maiores mudanças temporais ante o caos. Sim, no futuro farão homens
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 109
de uma partícula pode criar uma explosão maior que qualquer bomba
existente, assim é no tempo.
- Com a fé a distância é ilusão, quem pode medir o
comprimento da fé, é ela a que tudo cumpre. – Respondeu Pedro
completando o raciocínio.
- Para se encontrar o sentido como destino, tem que se sentir,
ele é intuitivo e mais forte que qualquer razão. – Disse ela lhe olhando
nos olhos enquanto segurava sua mão sendo visível o brilho deles pelo
crepitar do fogo na lareira. - Pedro quer dizer pedra e pedras mesmo
que possam ser moldados pelo tempo, são constantes. Para nós as
pedras representam tudo o quanto é constante, como Jesus é a rocha
ante a inconstância e mutação do tempo, e esta é capaz de criar as
maiores mudanças no tempo, tempo onde o tamanho não é
documento. Mas existem pedras e pedras, algumas preciosas, outras
de tropeço e algumas para a edificação... – disse ela soltando a mão
dele que pegou a xícara e tomou um gole do chá quente que nela havia
e seguiu. - Se conhece a forma de um objeto pela força que se faz nele,
quando se faz força para impedir de rodar, não é quadrado, quando se
faz força para rodar é porque não é redondo. Naturalmente que não se
atribui as qualidades e virtudes de um objeto ao ato externo.
- Compreendo o que a senhora quer me falar. – Repercutiu ele
olhando agora pra palma de sua mão e então ela se levantou e pegou
algo de uma estante, um papiro que aberto sobre a mesa revelou um
mapa muito antigo, em chinês.
- A Ordem dos Ventos contempla o estudo do tempo e do
livre-arbítrio ante o destino no tempo como concepção das escolhas e
opções que levam a estes pontos, e estamos aqui para orientar o
navegante a seu destino, até o porto seguro dos ventos, algo querem
tirar da humanidade, mas nós, inexpugnáveis preservamos e guiamos
os eventos – disse ela deixando o mapa sobre o móvel e acendendo
uma lamparina para enxerga-lo e continuou - a seu destino sem nunca
anular o livre-arbítrio humano que tanto incomoda os maus, viemos
para libertar a humanidade não impor a vontade de alguns sobre todos
apenas apontamos a direção a ser tomada. Mas vou lhe mostrar a que
veio Pedro, como uma pedra preciosa no mosaico do tempo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 110
- O Mapa que levou os chineses ao novo mundo. – Completou
Bartolomé ao levantar-se contemplando o mapa e tendo um sorriso da
senhora revelando um dente de ouro na parte superior de sua boca,
reluzindo diante da luz da fogueira.
- Mais que um mapa – disse ela sorrindo e mostrando
inscrições em português ao contrário. – Mas um guia do tempo, os
portugueses foram os primeiros a tocar, mas viram apenas o espaço
onde chegar. No Litoral, ao norte há um navio chinês naufrago que
você deve encontrar. Nele há informações e informações valem mais
que qualquer lugar, pois são informações do tempo. A Partir desta
carta surgiram as demais cartas náuticas por aqueles que viajaram o
mundo na realidade procurando sua origem.
- Os chineses não queriam apenas colonizar e desbravar o
mundo? – Perguntou Pedro intrigado.
- Não, procuravam a cidade ancestral que surgiu após Pitah,
ao sul daqui. Pois lá eles poderiam encontrar o Elixir do Tempo onde
os tempos convergem. Algo que seu imortal Imperador teria dito aos
seus amigos de confiança.
- Mas então porque tenho que ir ao norte? – Indagou Pedro.
- Pois este mapa é apenas parte do conhecimento onde está a
cidade encrustara no interior de uma terra inabitada por homens
civilizados. – Disse ela enquanto Jopy via os ideogramas chineses por
todo mapa e uma estrela dos ventos estilizada deles. - Porém,
aproxima-se o momento de uma tempestade que cruzará os tempos
alinhando e sincronizando eventos do passado, presente e futuro onde
marchal encontrará temol em eventos comuns, um advento que tanto a
Ordem dos Ventos busca.
- Onde está no navio? – Perguntou ele e então a senhora
apontou onde estava um “X”, onde curiosamente ele haveria de ir em
breve, pois não obstante, não poderia mudar o curso de sua viagem.
Naquele momento então alguém bateu a porta e quando Jopy
levantou-se viu a janela ao lado quebrar-se. Bartolomé pulou do banco
desembainhando a espada assim como Jopy indo a seu lado e Gisela
enrolou o mapa entregando a Pedro, mas repentinamente uma flecha
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 111
atravessa a janela e vara o pescoço da senhora que cai ao chão
agonizando sem conseguir nada falar.
Jopy abre a porta e vai pra fora a procura do algoz e correndo
pelo escuro, aquele homenzarrão encontra um homem que apesar de
franzino demonstra-se bastante veloz e hábil para se esquivar dele.
Jopy porém, o encurrala e o agarra pelo pescoço e grita por Pedro.
Bartolomé chega correndo até aquele beco e vê o homem, que era
conhecido como dos bastidores da corte francesa, Renne Sanchez que
se esgueirava furtivo a aproveitar-se de cada fresta para atacar e tirar
conhecimentos o qual não lhe convinham, pois nem autor ou fiel a
seus preceitos era. O homem porém, ri e começa a falar quando solta-
lhe.
- Você é Pedro Menendez de Avilés, não? – Perguntou ele
como se não tivesse qualquer temor por estar invadindo o que não lhe
era pertence. – Joaquim, se lembra? Eu mesmo o matei, o degolei
como um porco.
Pedro não resistiu e lhe esbofeteou o rosto com força tirando
sangue de seu nariz, quando vários homens surgiram de cima, do
telhado lhe apontando arcos e flechas e então Bartolomé compreendeu
o porque de seu sorriso sarcástico.
- Solte-me ou todos nós aqui morreremos. E Jean Ribault
perseguirá até o fim do mundo os que sobreviverem.
Bartolomé olhou para Pedro e disse concordando que assim
deveriam proceder a fim de não levar a algum tipo de chacina. Renne,
soltou-se e se aprumou em sua roupa de seda colocando um chapéu de
navegador na cabeça e acenando para seus homens no telhado.
- Cruzaremos nossas espadas Pedro, mas não agora, não
agora, lhe virá nossa ira. – Disse ele debochando e saindo em direção
aquele estreito e escuro caminho até sumir nas nevoas.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 112
Pedro e Bartolomé voltaram correndo pra dentro da residência
de pedra e viram que a senhora estava jazida naquele lugar em meio a
seu sangue restando a Pedro procurar tudo que lhe dizia respeito para
proteger as memórias dela e guardar seu trabalho naquele tipo de
posto avançado da Ordem dos Ventos, em memória de Gisela
Montana o qual como bons cristãos tinham o dever de zelar pelo que
ela fez em vida.
Ao encontrar seu filho no porto, Juan estava adormecendo
sobre seu pulso, recostado sobre um caixote quando acordou com
Jopy diante dele manchado de sangue na camisa, o assustando.
- O que houve? O que aconteceu?
- Temos que ir, Juan. – Disse seu pai Pedro – Vamos, entre no
barco e vamos retornar a embarcação, antes que sejamos associados ao
crime que fizeram.
Não questionando seu pai ao ver que haviam motivos
justificáveis para aquilo, fosse o que fosse que tivesse acontecido.
Todos entraram no barco enquanto o negro carregando uma série de
papéis os protegiam das águas que saltavam como ondas com o remar
do barco de madeira. Numa ultima olhada para trás Bartolomé viu no
chão um desenho incrustrado com as direções dos ventos para os
navegantes diante dos olhos de todos, mas decifrável apenas aos justos
e furtado apenas pelos malévolos.
Adentraram a embarcação, e imediatamente aportaram a
encontrar sua frota que não estava muito longe dali. Pedro pediu para
que o marujo lançasse as medidas de nós a bombordo para que
conseguisse ter ideia se estavam navegando e a que velocidade, uma
vez que o termo “lugar” no mar era ambíguo, pois as águas sempre
estão em movimento. Jopy imediatamente tirou a camisa manchada de
sangue e gritou para que seus amigos cooperassem enquanto as velas
eram estiadas ante o vento que soprava indo em direção ao leste.
Pedro viu seu filho Juan, que aprendia velozmente como navegar
orientando os homens no mastro enquanto ele próprio guiava a
embarcação. Pouco tempo se passou e as esparsas luzes da cidade de
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 113
postes iluminados com óleo de baleia ficassem tão tênue que deram
lugar as estrelas como guia mais preciso naquele momento.
Todavia um homem do alto do mastro principal notou algo
surgir no horizonte ao adentrarem o mar aberto poucos minutos após.
Nuvens que vinham em direção a eles numa velocidade incomum
demais para ser uma mera tempestade. Pedro pediu para que seu filho
tomasse a direção do navio o conduzindo a direção correta enquanto ia
ele mesmo verificar. Primeiro Bartolomé confirmou as distâncias e
posições com seus equipamentos habituais como um sextante, e então
Pedro resolveu tirar a espada e ele próprio subir o mastro com uma
luneta a fim de observar o incomum fenômeno atmosférico.
Ao chegar no alto o homem dele parecia legitimamente
assustado com aquilo, ainda que fosse um experimentado marujo de
inúmeras viagens da frota espanhola a serviço da coroa. As nuvens
vinham se espalhando e gradualmente iam tomando o céu a sua frente
quando alguns esparsos raios iluminaram o horizonte e o vento
repentinamente cessou como esperado por ele.
- Senhor. – Disse o marujo – temos que mudar o rumo, ouvir
falar disso no mar do diabo, embarcações ficaram presas por dias
numa calmaria e relataram coisas indescritíveis a qualquer navegador
experimente.
- Negativo, vamos manter o curso. – Insistiu Pedro.
- Mas senhor, o que vimos é que embarcações até mesmo
desapareceram nestas mediações, encontramos uma fragata deserta,
completamente a deriva como se todos tivessem dela saído. –
Retrucou o marujo querendo em seu íntimo até mesmo pular ao mar e
nadar de volta ao litoral.
O Barco seguiu ainda que o vento estivesse tão escasso de
modo que as velas mal se moviam até que eles simplesmente pararam
num silêncio tão estressante que deixaria até mesmo o mais experiente
dos experientes navegadores tenso com a calmaria que sucedia
naquele momento. Pedro desceu o mastro e perguntou se seus homens
estavam alimentados, pois pelo jeito lá permaneceriam por longas
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 114
horas, ou até dias, até que o vento tornasse a soprar tendo apenas
como uma sinfonia o ranger das madeiras do navio. Todos foram
dormir, deixando apenas dois guardiães a vigiar a proa do navio e um
no alto do mastro e tudo seguia tranquilamente entre um ranger e
outro até que um grito despertou Pedro nas primeiras horas do dia
quando os raios solares com grande esforço rompiam parcialmente a
densa nevoa sobre eles que não permitiam conhecer nem a posição ou
velocidade que se moviam pelas correntes marítimas.
Pedro colocou sua blusa de manga comprida de qualquer jeito
e ajeitou se chapéu subindo aos tropeços ao sair de seus aposentos,
fazendo seu filho levantar a cabeça assustado com o levantar de
supetão do pai. Lá fora, Bartolomé visivelmente com sono se
aproximava também saindo de seus aposentos ajeitando o quepe e
olhando para o alto do mastro onde um garoto apontou para uma
direção em meio a nevoa cuja brancura parecia perpetua e medonha.
- Vi algo se mover, era grande como um navio de tesouros. –
Gritou o jovem assustado.
- Chame Jopy. – Disse Bartolomé – Vamos mandar um barco
em direção aquilo.
Bartolomé tonto de sono seguiu para dentro da embarcação
enquanto Pedro pegando uma luneta viu de fato um vulto parar em
meio a nevoa a um quilometro de distância. Assustado com o que
seria, pois não poderia ser qualquer animal como baleia, ele pediu para
que seus homens se levantassem e fossem para seus postos temendo
ser algum tipo de ataque, e assim fez o cadete.
Poucos minutos depois Jopy estava pronto a descer a
embarcação ao mar junto a mais dois homens, pois Jopy era homem
de confiança de Pedro. Ao adentrarem, Juan que agora estava
igualmente intrigado deu-lhe uma luneta para observar o que seria
aquilo parado, pois a forma não se assemelhava a nada conhecido, e
assim fizeram remando em direção a embarcação até eles se
mesclarem as nevoas e águas. Passou-se então longos minutos de
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 115
silêncio e contemplação dos homens no navio enquanto Pedro
revessava a luneta com Juan e Bartolomé.
O barco adentrou a nevoa deixando-os na expectativa até que
viram ao longe o barco se movendo novamente em direção a eles, com
os remos se movendo e gradualmente ganhando forma até que viram
Jopy acenando para eles quando o vulto em meio a nevoa se moveu
subitamente virando-se e desaparecendo de vez em meio ao nevoeiro
denso.
- Podem ser piratas, corsários saqueadores senhor, existem
vários por aqui, o caribe está infestado. Talvez tenham aqueles barcos
a remo. – Sugeriu um marujo.
- Não existe barcos deste porte com remos meu caro. –
Respondeu Pedro olhando pela luneta a expressão de Jopy no barco,
agora remando apressadamente em direção a eles até que ao chegar
tocar no navio lhe jogaram cordas e puxaram os homens pra cima.
Bartolomé e Juan desceram até eles para recebe-los e
perguntar o que aconteceu para estarem tão assustados como estavam,
e então Jopy ofegante e suado por longos minutos remando disse.
- Vi um barco grande, mas como de ferro, e nele os detalhes
estavam com ferrugem, era cinza e tinha canhões apontando para os
céus. – Respondeu o negro que pelo suor sua testa reluzia.
- Loucura! Impossível metal boiar sobre as águas. -
Respondeu Bartolomé - Não vou nem relatar esse delírio alucinado.
- O que está acontecendo? – Perguntou Pedro descendo até
eles.
- Nada Pedro, acho que é um engano, talvez um delírio de
homens exaustos. – Respondeu Bartolomé.
- Mudaram o rumo, acho que não vão nos saquear mais. –
Disse Juan – essas bandas está cheia de gente primitiva como o lodo
de águas apodrecidas.
- Fora real senhor, eu juro! – Insistiu Jopy vendo um de seus
homens concordarem, mas receosos.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 116
Jopy ficou perplexo, pois a imagem que vira não lhe saiu da
cabeça assim como a de seus colegas, porém, por considerarem
absurdo ignoraram eles aquilo como sendo algum tipo de miragem.
Pouco depois as nevoas começaram a dispersar tão velozmente
quando começaram até que o vento começou a soprar novamente
movendo as velas e permitindo Pedro seguir seu percurso como se
nada tivesse ocorrido.
Passou-se o tempo e Pedro e seu irmão e filhos retornaram a
Espanha a serviço da coroa do Rei Felipe II a espera do momento
oportuno para em fim procurar o que desejavam com aquele mapa
deixado por Gisela antes de ser morta por aqueles primitivos algozes.
O ano era 1561 quando rumores começam a pairar inicialmente como
fuxico de que Pedro e seus parentes estariam relacionados ao
contrabando e até pilhagem.
Numa noite enquanto Pedro e Juan preparavam-se para dormir
ouviram algo bater a porta o que fez Pedro ficar perplexo por não
receber visitas aquela hora. Juan se dirigiu a porta e ao abrir notou ser
oficiais da coroa para prender Pedro por contrabando. Juan tenso viu
que as acusações eram vazias e injustificáveis e notavelmente Pedro
sentiu o dedo de alguém malévolo nisso contra todas provas e
evidências, estavam tramando contra ele.
Pedro Menendez de Avilés seguiu a lei estipulada o qual
nenhum dos homens, quer de patente ou de posições estariam imunes
a arbitrariedades de seus dolos ainda que sendo aliado e escudeiro fiel
do rei Felipe II, e assim sucedeu que nos dias seguintes fora inquerido
as cargas, posições e até mesmo os períodos de navegações de toda a
frota o qual ele comandava. Bartolomé tentou intervir a seu favor
conseguindo melhores condições para seu irmão até que ele obteve
uma transferência de seu caso ao tribunal a conceber que não havendo
evidências factuais de contrabando o juiz sendo clemente e imparcial
o libertou.
Ao se retirar do tribunal Pedro vira um homem que de longa
data conhecida Noah Marchal que apesar de não vê-lo a tanto tempo
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 117
olhou para ele com discrição e ao cumprimenta-lo tirou uma envelope
do bolso a entrega-lo e disse.
- Eles estão se infiltrado aqui. Estão conspirando contra o
senhor, querem tirar-lhe tudo que conquistou por mérito próprio, e
mais, o que lhe tem por designo.
- Quem está fazendo isso? – Perguntou Pedro.
- Quem te confrontou no Caribe, o algoz de Joaquim. Siga as
instruções da carta que nos falaremos melhor. – Respondeu Noah.
Pedro adentrou a carruagem onde dentro estava seu filho Juan
e seguiram até sua residência em Astúrias enquanto ele abria a
correspondência e leu com atenção o que ela dizia.
Ventos malignos sopra contra bons ventos da verdade. Nuvens
tenebrosas se formam no horizonte, as águas se agitam. Tema
até mesmo a calmaria, pois no silêncio a conspiração se
anuncia.
O Rei Felipe II ficou alarmado ao receber um relatório do Dr.
Gabriel de Enveja a que nos serve de que tal trama devora as
entranhas francesas rumo a nossa direção. Há sangue e
adulteração em seu caminho, Jean Ribault tem ciência, ainda
que ilícita de nossos conhecimentos e tomou sorrateiramente o
título de "capitão-geral e vice-rei da Nova França", e apressa
em mover navios em direção a Flórida, direto de Dieppe com
soldados e materiais. 500 arcabuzeiros, incontáveis canhões
de bronze. Fica a seu encargo convencer o Rei da urgência de
proteger tais terras alegadamente, pois o que Jean Ribault
deseja são os caminhos não meramente da China, mas para os
conhecimentos chineses. Ele quer catar as pistas deixadas
pelos orientais para chegar ao conhecimento e domina-lo.
Encontre-me as 14:37 em Covadonga, donde a fonte da
verdade que lhe criou jorra.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 118
Ao ler aquilo, concebeu Pedro que não havia qualquer
legitimidade a não ser furtiva nos atos de Jean Ribault assim como de
seu capataz Renne Sanchez, a sorrateiro visavam tomar
conhecimentos que não lhe foram conferidos como impostores
perigosos que alcançaram posições de poder em tempos importantes.
Marchal, interior da Espanha
Horário de trevas quase perpetuas não fossem pelas luzes dos postes
da estrada por onde cortava o carro de Zaira em velocidade alta até o
destino conferido a eles quando finalmente visualizaram as primeiras
edificações daquele antigo e subestimado local, que sobretudo era
relacionado ao tempo por si só. Petrônio havia tombado para o lado
dormindo encostado sobre o vidro fechado da janela quando eu
acordei com o parar súbito do carro no município de Granada. Zaira
encostou por alguns minutos em silêncio a conferir a internet no
celular quando os raios do alvorecer começavam a brotar tímidos no
céu e sendo anunciado pelo canto encantador de pássaros locais.
Petrônio acordou para perceber que estava praticamente babando
sobre seu ombro quando Zaira sorriu a ele anunciou ao ver um homem
sair da residência indicada no papel, deixado debaixo da estátua de
Pedro.
- O lugar certo no tempo certo? – Perguntou ele.
- Tempo certo não sei. – Disse ela guardando o celular no
bolso da jaqueta. – Mas as coodernadas espaciais ao menos batem.
Zaira abriu a porta e viu uma senhora ir até a varanda sentar-
se numa cadeira na mesma residência e os viu saírem do carro.
Petrônio e eu seguimos Zaira ainda que temendo que suspeitassem de
visitas aquele horário. Deixei que ela fosse a frente pois uma mulher
daria menos temor ainda que fossemos estrangeiros para eles, porém,
para minha surpresa a senhor sorriu para gente e acenou com a mão
dizendo bom dia.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 119
- Bom dia, minha senhora – disse Zaira fazendo um sorriso
ensaiado. – Me perdoe incomoda-los tão cedo, mas gostaria de fazer-
lhes algumas perguntas.
- Sem problema. – Respondeu a senhora enquanto o homem
que estava saindo de lá olhou para trás e para eles. – Vos aguardava a
muitos anos pra ser sincera.
Aquilo deixou-nos perplexos, pois a senhora que a despeito da
idade parecia tão austera a falar coisas coincidentes com o que
queríamos.
- Como a senhor se chama? – Disse Zaira chegando a varanda.
- Josefa Solidad Temol. Presumo que vocês encontraram um recado
muito antigo aos pés do bom e velho Pedro. – Completou ela sorrindo
cordialmente.
Zaira virou-se para Petrônio como se inquerisse com o olhar
se ele conhecia aquela mulher de algum lugar, mas fora negado por ele
ao balançar a cabeça. Fomos então nós para dentro do lar da senhora
tão convidativa e nos serviu café e até mesmo um desjejum abençoado
com ovos, leite e bacon. Havia um espelho retangular no lado oposto
da cozinha.
- Vocês têm a mais importante pergunta de todas, mas o que é
a pergunta sem a resposta? – Disse a senhora sentando-se numa
cadeira com um vestido longo. – Certamente se perguntam o que
levou tal cidade aparentemente insignificante ganhar esse nome de
batismo. Mas esta pergunta é apenas a virgula da pergunta central.
- Acho que a senhora lê pensamentos. – Disse Zaira quando a
senhor se inclinou sobre ela e pegou a mão dela e viu a tatuagem e
disse.
– São ventos e há ventos, mas quais ventos são os bons?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 120
Zaira virou-se para Petrônio que apesar do sono agora estava
muito atento ao que a senhora dizia inicialmente em aparente enigmas
e continuou.
- Há o ladrão de respostas e a verdade sempre a espreitar, pois
quando tiram o porque deixam apenas a pergunta. – disse a senhora
pegando um pouco de café e dando um gole - O pior ladrão de
respostas é o que tira o 'porque'. Mas como se diz, se você ver algo
sem permissão assuma as consequências como quem comeu dum fruto
sem lhe ser dado ou permitido.
- A Ordem dos Ventos acertou ao alvo, eu sinto isso do futuro.
Mas também fora vítima de si próprio. De um lado Nostradamus fiel
aos seus preceitos conseguiu intuitivamente extrair seus
conhecimentos parcialmente das águas, mas como o tempo a água
sempre cria flutuações. Mas de outro lado Nietzsche viu nos ventos o
caos, não o destino, como os Inaturam. Mas agora com o que criaram
como tecnologia de tal ciência, tudo se torna mais perigoso.
- O código da Hidrocriptografia. – Concluiu Petrônio – como
a senhora soube disso? A senhora é da Ordo Christianita ad Ventus?
- Nas cidades pequenas os rumores são precisos. – Disse a
senhora rindo. – Ou não. – Completou.
- Podemos decifrar relações indiretas de uma sincronidade e
assim ligar a eles como responsáveis pelo aparente de acidentes e até
mesmo prevê-los.- disse Zaira. – Possibilidades infinitas.
- Mas estes tomem cuidado. Eles vão arrombar as portas para
fechar as portas para você. Como todo mal faz. – Completou Josefa. -
Os milagres precedem Deus, a aflição e medo o diabo. Ninguém é
dono da disciplina que estuda, mas autor do que cria, mas os
impostores se exaltaram sobre tudo isso e contra toda verdade.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 121
Ato VII
O Mestre dos Tempos
e os Peregrinos do Destino
"Um vento ruidoso rompeu os portões; assoviando, gritando e
lamentando, ele lançou um caixão negro diante de mim.
E entre o ruído e assovio e grito, o caixão se abriu e jorrou mil
gargalhadas.
O discípulo que interpretou o sonho disse a Zarathustra:
Você não é o vento com assovio estridente, que abre os portões da
fortaleza da morte?
Você não é o caixão preenchido de vida com malícia alegre e caretas
angelicais?"
Nietzsche
oram alguns longos minutos travados naquele dialogo com a
simpática senhora afeições europeias que tinha em torno de seus
quase 70 anos. Incrivelmente intuitiva ela tinha capacidade de
deduções velozes a cerca de muitas coisas o qual ocorriam no mundo
naquele momento ainda que com suas crenças ela acreditasse ser
capaz de decifrar padrões que indicassem pelo clima as direções que
poderiam tomar os eventos que se seguiam. Naquele momento ela
parou e virou-se diante do espelho e disse.
- Intrigante o nome da cidade criada do presente deles para
Marchal, e de nosso presente para Temol, por isso meu nome. São
espelhos, meus caros. Tudo que faço são deduzir reflexos que os
ventos indicam as direções. Vejo variações para suas escolhas, todavia
as escolhas que tomarem criará variações muito opostas. Fiquem
cientes, pois - disse ela - Liberdade é conhecer a verdade de todas
F
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 122
alternativas vindouras mediante a escolha totalmente consciente do
curso a ser tomado.
- A senhora é como um oráculo dos ventos. – Sugeriu Petrônio
impressionado. – Por acaso és descendente de...
- Noah Marchal. – Concluiu ela sorrindo. – Neto direto do
fundador desta cidade, onde secretamente algumas famílias que
acreditavam ter descendentes comuns a guardaram para o seu futuro,
nosso presente. São descendentes dos sobreviventes de Pitah, pois
saquearam não todos seus conhecimentos, alguns fugiram com seus
segredos. Algo que Pedro, seu descendente – disse ela apontando pra
mim. – Teve acesso. – Por isso vocês aqui vieram.
Os viajantes que atravessaram meia Espanha para lá chegar
como peregrinos ficaram legitimamente intrigados com o que seria
este livro quando a senhora pediu para que os acompanhassem a parte
de trás de sua residência tradicional.
- Se algo que aprendi com o tempo é não confiar nos mais
experientes, pois a experiência pode ensinar, mas também corromper,
Salomão é um deles! – Disse a senhora caminhando lentamente e
passando por frente a um celeiro com bovinos e cavalos e seguiu
falando. – O conhecimento da verdade e a intuição mais valem.
- Quais as famílias que se uniram com uma origem comum? –
Indagou Zaira. – O livro fala sobre elas?
- São várias as famílias, mas a herança comum as unem de um
matriarca comum e sua identidade é serem perseguidos sempre, pois
os tiranos dominadores confundem dominação com destino, mas seus
atos são de escravidão como algozes. Os tolos bebem da água dos
tempos mas apenas contraditoriamente como espaçosos a se afogar da
água do mar, pois na verdade nadam na mentira sem nenhuma verdade
a chegar. Água e areia, vira lama. – Completou ela em seguida abrindo
uma edificação de tijolos de pedra notavelmente muito mais antiga, a
mesma onde Pedro frequentava séculos atrás.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 123
Josefa parou diante da porta após passar por um portão menor
e tirou uma chave do bolso, uma chave dourada com o símbolo da
rosa dos ventos de um lado e um ‘sete’ de outro. A senhora encaixou a
chave na fechadura e então girou lentamente fazendo o barulho de
trincado e assim a porta ficou sem a trava.
- Muito melhor a porta ao pedágio, a porta é a quem tem a
chave, o pedágio a quem tenha dinheiro. Há muito tempo – disse a
senhora acendendo uma luz improvisada dentro da edificação - Um
homem que com o conhecimento da Ordem dos ventos tentou matar
vários familiares dos membros. – Queriam nos fazer afligir. - Mas se
aflição fosse divina, o inferno seria o paraíso, e o masoquismo
doutrina, mas é uma permissão divina ante a provação do homem ou
por sucessão de se ter provado o fruto proibido, é alerta da
degeneração da carne, porém, nada mais se adequa mais ao divino que
o prazer lícito, correto, a cartasse divina em sua inspiração é
prazerosa. Mas isso é fútil como discutir o sexo dos anjos, tolos
conversam tolices como a sexualidade alheia.
Quanto eles entraram no lugar haviam velhas prateleiras que
antes estavam repletas de livros e pergaminhos, mas agora
apodrecidas nada havia a não ser alguns itens esparsos, o que fizeram
eles ficar sem compreender o que ela queria mostrar de fato, porém,
ela moveu um caixote e então tirou uma tapeçaria e viu-se uma
portinhola por de trás da estante e ela olhou para mim e para Petrônio
e pediu para arrastarmos.
Assim fizemos mais movidos pela curiosidade do que por
vontade de fazer esforço aquela hora da manhã, quando Petrônio
perguntou.
- A senhora soube que veríamos hoje?
- O tempo como o clima sempre muda, um ano, uma década,
ou um dia, sempre tive certeza de que viriam para este momento.
Como disse não vejo o futuro, mas o sinto, e sinto o agora, neste
momento. - O melhor tempo não é o medido, mas sentido. Refletimos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 124
no tempo, pois do agora não podemos conhecer marchal, somente com
a fé projetamos pelo tempo que me reflete o conhecimento.
Ao abrir a pequena porta um cofre guardava algo que ela
moveu os números habilmente até abri-lo e de dentro tirar algo
enrolado num pano de seda. A senhora colocou-o sobre uma caixa
grande que estava no chão e então o desenrolou e entregou nas minhas
mãos dizendo.
- Na hierarquia genética você é o próximo herdeiro natural
desperto.
- Sinto-me honrado, mas... – retruquei eu de modo tímido,
mas ela insistiu.
- Pegue, o tempo é curto. – Colocou ela o livro nas minhas
mãos e disse - Há um olho mal lhe observando, querendo tragar seus
conhecimentos e vomita-lo em contradição. Se resigne de chorar no
solo infértil do mal, pois de suas lágrimas nele nascerá apenas
espinhos, mas a eternidade apenas abrirá as portas para os retos e
sinceros. Temas os que plantam rosas apenas para lhe dar os espinhos,
pois são os mesmos que coroaram a Jesus e não como Rei dos reis.
Abri o livro em minha frente, era como um tipo de diário do
próprio Pedro onde descrevia suas viagens e parte de um livro assim
como uma carta feito num papiro muito antigo onde falavam coisas
incríveis como.
Do mapa que tive em mão vieram as cartas de Pire Reis. Mas
os 32 ventos sussurram-me veladamente segredos inefáveis
que um dia serão ditos abertamente num coral da verdade, dos
nomes marginalizados pelos maus, e seus atos
correspondentes de importância ao mesmo. A ti esta carta, o
filho de minhas sementes que com o tempo fomos separados.
Intrépido e perseguido são suas marcas, rejeitado são seus
convívios e genial sua dedução, justo a nadar nas lamas dos
que alimentam abismos com as carnes dos inocentes em
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 125
tempos servis. Negado e ignorado, tapete, dos perversos, mas
esperança dos retos e justos.
A ti esta carta, pois tens a marca do destino que são tais
traços, ante a anomalia que até mesmo tentou impedir seu
nascimento e fazer pó seu destino, mas sua obra lhe testifica
no tempo em que o que cremos se tornar ciência e dela prática
como nossos objetos, é o tempo que os Malignos vão se
engrandecer e descarta-lo pela mentira e discriminação.
Porém, sua luta é minha batalha, ainda que separados pelo
tempo, Marchal e Temol se encontram e o destino nos dá as
mãos. Vi sua face e sorri diante dela, ainda que Cronos me
alcance e não tenha tocado as terras de sonhos, a ti reservo
esse segredo como ao filho meu que dela zelou séculos antes
de ti.
Como a chave abra o destino e cerre o caos em suas mãos para
que a mazela não triunfe, pois, os homens demônios o
devorarão assim como seus conhecimentos para neles se
exaltar em engano, ultrapassei a sabedoria destes a partir do
momento que me furtaram, assim como anseia tirar nosso
futuro que é o destino. Porém, o destino a ti é fé, para mim é
fato, mas juntos compreenderemos. Amargo estou, mas do
doce provei e do salgado salguei, pois agora completei meu
destino a transmiti-lo a ti.
Pedro Menendez Zuzarte de Avilés, 25 de setembro de 1574
Ao finalizar aquela leitura com Zaira e Petrônio ao meu lado
debruçando-se sobre mim me identifiquei subitamente com tudo o
quanto ele falava como se fosse diretamente endereçada pra mim,
meus olhos se encheram de lágrimas sentindo uma vontade
incontrolável de conhecer aquele homem que mesmo sendo imperfeito
e cometendo equívocos era preciso e audaz na busca por seu destino e
dando o mesmo a vinda ao mundo tão sem significado pelo que
padecia.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 126
- Não viemos para acabar, mas a indicar o começo, orientar,
pois o livre-arbítrio são as bases de todas flutuações e quem pode tira-
lo senão o mal? – Disse Josefa sorrindo pra mim - Não só de pão
viverá o homem, mas de toda palavra que sair da boca de Deus, pois a
do diabo apenas acaba, a ele ambiciona selar a liberdade como a dele
fora selada pela condenação de tirar a verdade ao mentir.
- Muito obrigado pelas palavras, assim sendo me envia
palavras divinas como as de Deus. – Disse eu virando as demais
páginas e notando desenhos e descrições como a de que ele encontrou
aquele lugar deserto após sua viagem as Américas.
- Mantenha os pés sobre o chão do lugar espacial, e a
consciência no tempo. – Disse ela e seguiu – Lembre-se, sabedoria
sem prática é pela metade, sabedoria pela metade é o engano. Quanto
a vocês sei que não lhes respondi todas vossas perguntas, nem a mais
importante delas, porém, deixarei que os ventos lhe tragam tais
respostas. São hábeis e despertos para decifrar o que eles dizem.
Astúrias, Espanha. 28 de agosto de 1561.
Conseguindo uma concessão do rei Felipe, Juan, intrigado com o
mapa em posse do pai resolve partir em navegações as Américas a
procura dos indícios referidos temendo que franceses o encontrassem
antes. Acreditando tratar-se de mais uma expedição de policiamento
da região e identificação de pontos críticos, a corte espanhola
prontamente patrocinou o embarque imediato de Juan Avilés e sua
tripulação a cruzar o oceano Atlântico deixando seu pai a par apenas
dois dias antes do embarque a águas oceânicas. Jean Ribault, por sua
vez armava planos astutos para alcançar o mesmo fim tendo em posse
conhecimentos análogos em semelhança ao deles por infiltrações entre
chineses e até mesmo de alguns membros de algumas das famílias da
Ordem dos Ventos, visivelmente Jean Ribault queria mais do que o
domínio das terras do ‘novo mundo’ mas a busca mítica por algo que
ele particularmente acreditava ser a água da vida que seria o Elixir de
Kairos como “peça chave” em toda concepção alquímica que alguns
dos seus derivavam, porém, por concessões financeiras da corte
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 127
francesa seus planos igualmente estavam limitados as permissões da
realeza por dependência financeira da coroa.
Juan partiu deixando seu pai detido na Espanha até segunda
ordem da realeza quando com os meses se passaram e sem respostas
da viagem do filho, até que uma mensagem inesperada lhe veio com a
notícia de que o navio de Juan teria desaparecido ou naufragado nas
mediações da Flórida. Sem compreender o que poderia fazer naquele
momento, Pedro convocou uma audiência imediata com o Rei Felipe
II e assim o encontrou num dia de céu azul e bons ventos, perfeito
para navegações. Pedro inicialmente pediu permissão a outros
membros da realeza não sempre receptivos e cordiais e assim o
negando.
Pedro passou pela entrada do castelo da realeza sendo
cumprimentado pela guarda real mediante suas altas patentes num
cargo conquistado por méritos de batalha. Com seu uniforme a
demonstrar formalidade, Pedro estava imponente com suas divisas e
medalhas quando um homem pomposo surgiu diante dele e abriu a
porta pedindo-o para entrar num enorme cômodo ornamentado com
pedras nobres e objetos de valor vindos diretamente da Índia e África.
O homem o seguiu anunciando a presença de Pedro e em seguida
agachou-se diante de onde o rei estava sendo barbeado por um homem
de bigode pontudo e num cumprimento exagerado com as mãos e
curvando-se a este o homem que anunciava Pedro retirou-se do recinto
deixando-o lá.
O rei Felipe estava de costas inclinado para trás enquanto do
outro lado havia um menino tocando violino e uma mulher muito
formosa arpa. Havia uma bacia de água e por uns instantes Pedro
olhou-a instintivamente quando o barbeiro colocou suas mãos nela
para limpar o sebo de pelos faciais que retirava do rosto do nobre rei.
Como partidário deste em seu trono, Pedro tinha boa reputação ainda
que visivelmente o incidente de tempos atrás quase o manchasse pelas
acusações de contrabando, mas nada que impedisse uma quase
amizade particular com o rei espanhol que lhe sorriu inclinado virando
os olhos a vê-lo de relance.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 128
- Quais as novas Pedro. – Disse o rei enquanto o homem
passou mais uma navalhada em sua face. – Infelizmente fiquei ciente
sobre seu filho.
- Sobre isto venho lhe falar nobre rei, ainda que
compreendendo ter entregue a frota do tesouro. – Respondeu Pedro
tirando um quepe da cabeça em respeito a sua alteza e inclinando-se
levemente a ele. – Concebendo ser um homem justo e afamado por
sua imparcialidade ao colocar seus decretos, peço-lhe permissão a
concessão de seguir os interesses da coroa e procurar meu filho e
demais entes queridos.
- Soube que negaram a ti isto, por isso veio até mim. Natural
para um pai assim desejar, e não proponho o oposto, nobres reis
aprendem com a natureza, não a contrariando, é a família, é a natureza
da maioria dos seres, inclusive do homem, caso contrário não
haveriam reis. – Respondeu acenando para que o barbeiro parasse e
ele pegou uma toalha de rosto e enxugou-o. - Mesmo quando caço
coelhos não ataco seus filhotes, é imoral a um homem atingir o futuro
que são os filhos. Mas Jean Ribault, é homem de vida fácil e tem me
incomodado muito, ele nada constrói apenas tira. – Continuou dizendo
ele levantando-se e virando-se diretamente a Pedro após entregar a
toalha ao barbeiro. – Algum impostor ainda que consiga galgar postos
elevados continuará sendo apenas impostor, a consequência disso, a
história fala por si, e mesmo tu sendo de nobre estirpe assim concebe.
Permito-lhe que vá Pedro, mas pegue dois coelhos numa só cajadada
quero que alcance Jean Ribault e impeça ele de colonizar aquelas
terras.
Pedro Menendez inclinou-se em reverência agradecendo a
confiança e bondade recebidas, mas ao dar as costas Felipe falou algo
mais.
- Espere. – Disse Felipe – Rumores rondam minha casa sobre
intrigas que vagueiam pelas sombras e de ventos sussurrantes a
respeito da origem das acusações que lhe vieram. Mesmo os pássaros
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 129
me parecem mais sinceros do que estes ao cantar pela matina. O que é
verdade ou mentira, Pedro?
- Nem tudo se diz, e tudo que se diz nem sempre é verdade. –
Respondeu Pedro.
- Não estais sendo insolente comigo não? – Respondeu Felipe
– Para mim não quero segredos, eles estagnam e matam, considere
isto com um teste de sua fidelidade a coroa, pois muitos reis assim são
derrubados.
- Me perdoe se assim soou insolente, alteza – respondeu Pedro
– Como poderia desafiar a quem o temor precede a justeza? Mas entre
fuxicos mais identificáveis são a mentira, Jean Ribault estais entre
estas vozes, creio ele ter espiões pelas mediações, mas contatei
Gabriel a fim de conseguir conter melhor isto. Os interesses nisto lhe
são óbvios. Conheço quem criou o perdão, mas quem ensinou o
homem apontar o dedo certamente fora o diabo!
- Perfeitamente. – Respondeu Felipe não notando que havia
algo mais por de trás dos interesses e conflitos dos dois navegantes. –
Porém, entre tais fuxicos não me é muito identificável onde começa a
mentira e termina a verdade. Espero no retorno podemos combinar
caçar coelhos.
- Claro alteza. Certamente será um prazer. – Repercutiu Pedro
sorrindo e assim o cumprimentando a se retirar.
Pedro ao sair pelo corretor viu aquele homem cujo oficio era
ser puxa-saco oficial da realeza com sua peruca com cabelos
enrolados e todo emplumado num traje rigorosamente luxuoso. O
homem o cumprimento com a formalidade exageradamente irritante e
seguiu em frente colocando o chapéu na cabeça quando Pedro decidiu
ir até uma fonte o qual Noah Marchal havia passado a alguns dias para
encontra-lo antes de partir ao novo mundo novamente. O homem era
um dos mais antigos lideres da Ordem dos Ventos, chamado por
Solomon Pellegrin, o qual atribuía-se um posto de proteger
conhecimentos relacionados ao tempo onde comumente entre os
membros e as famílias da Ordem era tido por Mestre do Tempo, a
instruí-los e guia-los.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 130
Ao ir para o exterior uma carruagem aguardava Pedro e
imediatamente ele instruiu o cocheiro com um bilhete a seguir ao
lugar designado por Noah em pessoa e assim o homem fez.
Naturalmente que Pedro tinha conhecimentos muito avançados ao se
tornar portador da biblioteca secreta, de modo que hierarquicamente
se tornou um dos títulos mais elevados dentro da Ordem, algo
conferido a poucos, pois o que isto determinava era estritamente o
conhecimento de algo que somente, segundo estes, poderia ser
revelado na integra no futuro com o advento, quando a Ordem não se
tornaria mais necessária por atingir o alvo que era o destino.
A carruagem seguiu por dentre ruas entre feirantes e
vendedores e escravos, adentrou ruelas e passou por praças até que
chegou no que seria uma vila no interior de Astúrias onde Pedro tinha
ciência de vínculos. Ao adentrar o lugar o cocheiro fora parado por
dois homens de guarda e informou quem carregava lhe entregando o
bilhete e assim estes liberaram. Pedro abriu a janela da carruagem e
viu no centro da vila como uma praça, algo similar a um relógio de sol
e dois garotinhos brincado ao seu lado.
Ao parar ele abriu a porta e desceu indo até o relógio quando o
homem que estava na portaria adentrou uma da casa e levou alguns
segundos até sair com um senhor de barbas brancas caminhando com
vestes cumpridas de seda. O senhor acenou para as criancinhas que se
retiraram adentrando como se soubesse que ele queria ter privacidade
naquele momento.
- O senhor é Solomon Pellegrin? – Perguntou Pedro tirando o
chapéu militar e tendo um aceno positivo dele.
O senhor se aproximou do relógio de sol quando ele já estava
baixo e as horas quase não mais eram vistas e disse a Pedro.
- Sou um dos senhores do tempo, o das intepretações
originais. Fico muito feliz por conhece-lo, esperei por muitos anos até
este momento de vê-lo preparado ao destino. A dadiva do tempo é a
paciência, porém com ela também vem Cronos que me alcançou. Por
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 131
muitos anos fui guia dos ventos a seus rumos, e no suplício do espaço,
o tempo é parte da tortura. Mas só estudo o espaço para compreender
a ação do Tempo sobre ele. – Disse o home sentindo o peso do tempo
sobre si pela idade. - Não terei muitos tempos mais pela frente, meu
Marchal em breve se tornará temol.
- Como posso ajudar o senhor? Fico igualmente honrado em
conhecer quem orientou minha instrução por anos sem conhece-lo. –
Perguntou Pedro sentindo se tratar de um homem a despeito do
conhecimento, estar moribundo.
- O conhecimento que tens em mãos muda as rotas de
comércio do mundo assim como a centralização de poder, ou seja, o
rumo natural a história que antes fora colocada nas mãos dos chineses.
– Respondeu o senhor e então seguiu – porém, engana-se que foram
por si só, eles igualmente receberam instruções e um mapa igualmente
anterior. 10 anos depois um vazamento que teria levado os chineses ao
descobrimento o faz ir numa missão a América, descobre que alguns
deles haviam furtado o conhecimento junto a alguns templários, que
foram para a América em 1300, supostamente em Oak Island, no
Canadá.
- Quem passou os conhecimentos aos chineses? – Perguntou
Pedro intrigado.
- Os mesmos que escreveram muitos dos livros que lera, com
descrições de mapas do futuro.
- Herdeiros do Destino, sobreviventes de Pitah. – Concluiu
ele.
– Apesar de sua cidade ter sido aniquilada e saqueada eles
protegeram o que mais importava, conhecimentos do futuro em
comparação ao movimento dos astros - disse o senhor – histórias que
compreendem todo um espectro de linearidade da humanidade.
- Herdeiros de Seth. – Disse Pedro. – Nunca consegui
acreditar nisso.
- Os sinais testificam suas famílias, protegemos o futuro da
humanidade sobre todas variações. Não somente a ordem natural dos
acontecimentos que só se transtornou em ciência deles, tanto quando
de informações pertinentes a descobertas futuras. – Completou o
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 132
senhor olhando o relógio em suas sombras se tornando tênues com o
entardecer.
- Como a do novo mundo. – Concluiu Pedro tendo um aceno
de Solomon Pellegrin e um sorriso.
- Concebe então compreender de onde viera o mapa dos
chineses. – Continuou a sorrir o senhor.
- Mas isso significa que já houve uma distorção da
linearidade. – Completou Pedro olhando ao lado igualmente vendo
que a sombra estava sobre as 17 horas.
- Mudar o tempo o menor tem o poder, mas mudar o destino é
como mudar o curso de um rio, o destino é a correnteza mais forte do
universo. – Completou o senhor então ajeitando suas vestes com o
vento que veio balançado as plantas e seguiu - O Futuro é um cavalo
feroz dominado apenas pelas rédeas do destino. A Ordo Ad Ventus é
seu cavalheiro.
- Mas como isso desviou o curso? – Indagou Pedro intrigado.
- Porque o Destino não se pode alcançar pela mentira, pois o
destino é o triunfo do constante, ora quem não é constante se contradiz
em atos ou palavras, quem se contradiz testifica a mentira. A mentira
assim é a criadora da ilusão, uma falsa realidade. Isso leva a
bifurcações e transtornos, variáveis, mas que estamos corrigindo. Mas
a anomalia deseja subvertê-lo ao antinatural assim como sua linha, por
inveja, destruir o destino para através do caos impor o seu subvertendo
a humanidade, a esse mal não importa livre-arbítrio, a verdade, a
bíblia, direitos ou leis, invade.
- Nós não lutamos para colonizar o novo mundo?
- Os medíocres lutam pelo lugar, nos lutamos pelo destino. –
Completou Sollomon. - O que é o destino que não um cavalo alado o
qual os ventos seguem e Deus assopra?
- Mas o que queriam os chineses no ‘Novo Mundo’? –
Perguntou Pedro ainda visivelmente intrigado.
- As perguntas sempre são puras. Não podemos conhecer a
resposta, ao menos que perguntemos. O que é segredo? O que
ninguém sabe ou o que todos sabem, mas ninguém diz? Digo eu de
segredos que somente o tempo poderá revelar, a marchal. –
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 133
Respondeu o senhor indo até uma planta e pegando uma flor amarela
com as mãos. – Há um lugar que os chineses buscavam no novo
mundo, mas a chave para isso está no junco naufragado na Flórida,
para isso que você vai lá.
- Alguma cidade perdida?
Solomon Pellegrin observou a flor na sua mão balançar suas
pétalas com o vento e viu uma delas cair ao chão e olhou para Pedro e
disse.
- Quando estiver na Flórida, o sol nascer ao oeste se lembrará
do sopro de vida de Deus presente na ordem ante o caos. Tudo é troca
no universo, num negocio combinado, numa amizade espontânea,
apenas o anômalo não é assim. O universo em sua natureza é muito
social, só a maldade não vê assim. Pois dentre todas as coisas no
universo a morte é exclusivamente a que nada cria a não ser si própria,
morte! Porém, atente a isto como signo da mazela, a intensidade da
correnteza de eventos lineares é como um rio que engole até mesmo as
ressonâncias e variáveis em ondulações como uma ancora do tempo,
mas anulando o livre-arbítrio de quem é por ela tragado, essa é a
tempestade do mal.
- A Tempestade, Josefa me falou algo assim antes de ser
morta. – Concluiu Pedro.
- Sim, disso mesmo que falo. – Respondeu o ancião agora
pegando em sua mão e a observando nos nós dos dedos, mas Pedro
não resistiu a mais uma pergunta.
- O senhor conhece o que vai acontecer daqui para a frente?
- Vejo que ainda mantém a pureza da infância, Pedro. – Disse
o senhor rindo – Muito bom, pois a visão das crianças são sinceras,
porém, você não está preparado a ver o mais de marchal, pois poderá
altera-lo. Aos que estão na frente apenas o básico, mas quando
completar a que veio, receberá seu prémio. Olhe esse relógio Pedro. –
Disse ele – As sombras podem ser más, mas indicam sempre alguma
direção, ao hábil navegador do tempo, concebe-se discernir, a origem
da sombra e pra onde ela vai.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 134
Uma jovem muito formosa saiu de dentro da residência dele e
atrás uma senhora o chamando e veio então o porteiro e pega-lo pelo
braço o escorando e este virou-se para Pedro e completou.
- Boa jornada Pedro, confie no destino e ele confiará em você.
Muito caminhei pelo tempo e não consigo mais caminhar como um
peregrino do destino, isso cabe a você.
Pedro olhou aquele homem tão nobre ainda que sem ter ideia
de sua história ou genealogia, qual ramo pertencia aquele pedaço do
clã dos tempos. Pedro relutou a retirar-se até ver o senhor entrar no
imóvel e fechar a porta, viu ele então que o relógio não mais marcava
as horas, pois a noite caia, e resolveu ele seguir a carruagem
adentrando nela e pedindo para o cocheiro partir de volta a sua
residência. Pedro ficou introspectivo por toda viagem imaginando em
todas as possibilidades daquela conversa das mais agradáveis que teve
em toda sua vida, um homem com conhecimento ímpares que poderia
ele simplesmente ficar toda uma tarde em sua companhia
confidencializando segredos do tempo que a humanidade não
conhecia. Porém, temia ele que ante a exclusão da mentira sobre todos
os fatos, haveriam os maus de tentar abafa-lo e lhe tirar o mérito
devido contra toda verdade e assim furtar o destino apenas a
transtorna-lo em caos.
Madri, Espanha, tempos atuais
Ao receberem uma ligação da policia de Avilés, Dr.Petrônio e nós
fomos orientados a se dirigir ao laboratório de Madri onde as
melhores condições permitiam a revelação de coisas que não faziam
ideia até então. Durante a viagem eu lia o diário de Pedro Menendez
de Avilés até que entre suas páginas descobri uma carta que
similarmente com traços e características indicava ter sido escrita por
Pedro, endereçada a Jorge de Avillez. Perplexo refleti no como dele
ter dito tal conhecimento de dar detalhes de pessoas que não eram
nascidas em sua época, tanto Jorge quanto eu, indicando ele tivesse
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 135
acesso a algum conhecimento ou meio de tê-lo diretamente do futuro.
Refleti sobre as possibilidades de viagens temporais, todavia me
parecia demasiado forçado ao Ockanismo naquele momento, me
levando a única suposição possível, o Elixir de Kairos, algo que
pudesse levar a ter vislumbres de pontos determinados do tempo e de
seu destino comum em meio aquela intriga de conspirações antigas
pelo domínio não somente das terras das Américas como do
conhecimento que levou a descobri-las.
- A concepção de cartas destinadas ao tempo, não é estrita
dele. – Interrompeu Zaira ao ver lendo mais esta descoberta onde a
carta parece ter sido assinada pelo próprio Jorge como se ele a tivesse
visto com anotações pessoais em português. – Mas as sete cartas do
Apocalipse denotam visivelmente uma inspiração divina temporal do
apostolo João na ilha de Patmos. – Completou ela dirigindo o carro
após o sinal abrir.
- Concebível perceber que dada a idade avançada e a condição
do exilio não permitiria ele entregar tais escritos a destinatários das
referidas igrejas do qual muitas foram visitadas por Paulo. – Petrônio
seguiu o raciocínio de Zaira – João referia-se ao futuro, Marchal, a
condições atribuídas pelos crsitãos como estados espirituais, mas que
uma vez transloucado concebe-se o destino desta. Ou seja, variáveis
do futuro.
- Mas está sugerindo que talvez o apostolo João teve acesso a
um elixir de Kairos? – Perguntei eu intrigado.
- Como poderia afirmar uma coisa destas? – Respondeu
Petrônio sorrindo. – Não estava lá e não existem quais quer provas
factuais. Mas a forma como fora escrita tem destinatários certos. O
que posso afirmar é que há indícios de viagens de gente desta região
nas Américas muito antes da descoberta do Brasil.
- Verdade. Relatos antigos de indígenas indicam o surgimento
de um homem que carregava um livro ou pergaminho o que não era
comum a época e sua descrição confere com a de alguns apóstolos. –
Disse Zaira olhando para frente ao volante. – Ainda que alguns
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 136
atribuam a evangelizadores católicos dos séculos seguintes. O fato é
que não temo ideia de como ele fora parar lá, como ou por que.
- O conhecimento que lidamos me indica cortar a linearidade
do tempo. Ao que chegou parcialmente ao conhecimento da Ordo Ad
Chaos há alguns séculos. – Disse Petrônio pegando o diário de mim e
vendo as páginas. – A corrida por um caminho as Índias fora apenas
uma fachada para 'descobrirem' o novo mundo. Concebe-se aqui a
mais antiga conspiração que tenho conhecimento, talvez algo
semelhante tenha acontecido apenas para crucificar Jesus. Porém,
tenho motivos para crer que pelas mesmas tradições que uniram
judeus por séculos de dispersão, as tradições destes o unem até sua
fonte, Seth, o deus do caos dos egípcios, certamente estava presente na
fundação dessa civilização.
- Mas era um setiano? – Indago eu perplexo.
- Não. – Respondeu Petrônio pegando a carta de Pedro nas
mãos e seguiu – ele teria sido responsável por atacar a cidade que
precedeu o Egito, Pitah. O objetivo evidente de Seth ao contrario dos
setianos era furtar o destino pelo caos por isso atribui-se como deus
das tempestades assim como a seus seguidores que foram
descendentes da Ordo ad Chaos. Ele teria atraído discípulos com os
conhecimentos pilhados de Pitah, o qual atribui-se a tempestade que
os aniquilou e destes adotou o nome querendo ser um Seth legítimo,
mas impostor em vista que os Seth são ao contrário.
- O Tempo os separam e a doutrina os unem. – Disse eu
comigo mesmo olhando pela janela uma bela paisagem de campos. –
Assim como atribui-se quer voluntariamente ou não associações com
o diabo aqueles fazem o que na bíblia é tido que ele faz. – Concluiu
tendo um aceno de positivo dele.
- Similarmente a fé cristã une a um só corpo, assim é a Ordo
ad Inaturatus pelo caos, pilhagem, aniquilação. – Disse Petrônio e
seguiu ao me entregar o diário nas minhas mãos - O caos é o modo de
anular o livre-arbítrio e criar o destino próprio mas anômalo,
antinatural, por ser contradizente. Nunca mudarão sua própria
essência, a interrupção de um destino natural sempre será pelo caos a
provar o que são. Como aquela senhora lhe disse.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 137
Ato VIII
Regis ad aqua speculis
"Os tristes acham que o vento geme, os alegres acham que ele canta."
Luiz Fernando Verissimo
aquele momento nas mediações do Vaticano, no laboratório
um agente do Siv nota algo incomum ao redor da entrada do
laboratório, apesar de haver uma movimentação comum tão
longo um carro veio quando uma senhora atravessava a rua e algo a
fez soltar um carrinho de bebê que estava guiado. O carro ao tentar
desviar sobe a calçada e bate num poste chamando a atenção dele que
estava sobre o terraço de um prédio vizinho monitorando. O problema
é que o poste caiu ao meio da rua quando um caminhão vinha batendo
nele entrou pela fachada de uma loja lançando-se sobre os fregueses
que lá dentro estava e o caminhão sem controle bate nos demais carros
que derrubam outro poste e um destes capotam diante da entrada do
laboratório, nisso um dos carros explodem e agora dominada pelo
caos, as pessoas corriam de um lado a outro gritando e pedindo por
socorro quando o agente assustado observa a situação caótica sem
prestar a atenção que um homem entra no laboratório com mais dois
homens em meio a fumaça. William Sanchez, porém, fora identificado
por um dos agentes que acompanhava a situação pelas câmeras
solicitando medidas urgentes.
William Sanchez entrou com olhar impassível e os seus
homens sacaram armas e mataram o soldado que protegia a entrada e
em seguida colocou algo no painel de entrada provocando algum tipo
de curto permitindo adentrar, o lugar repleto de cientistas indefesos.
Ao ver isto Gabriel Modenna corre para uma espécie de
quarto do pânico e veda o local ligando para a segurança em legítimo
pânico adequado ao lugar. As luzes se apagam, e um dos soldados de
William Sanchez corta todas as linhas telefônicas e apenas se vê o
N
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 138
piscar de luzes de suas armas de fogo massacrando todos presentes.
Quando cessou William vira-se a um destes que ainda tinha vida
empossado no chão e diz.
- A tradição desde Pitah deve ser mantida a todo custo, minha
luz vem do caos para edificar nossa ordem, aniquilem as pontes,
proíbam os direitos, façamos nossa própria justiça para que não se
defendam. – Disse ele dando um tiro na cabeça dele, e considera-se
afortunado por não ter feito pior.
Os homens agora seguiam os computadores, diretamente no
ponto onde estava tudo armazenado, retira os HD´s e pega backups, e
vê a porta do lugar onde Gabriel Modenna trancado e sorri
sadicamente enquanto os homens se movem para a saída.
***
Fomos até o lugar designado pelas autoridades de Avilés e
quando chegamos recebemos uma notícia de quer algo ainda não
muito claro acontecerá no laboratório. Petrônio assustado com que
poderia ser ligou inúmeras vezes ao laboratório de esforço
internacional sem qualquer resposta e os telefones do Siv estava
ocupados. Um cientista forense se aproximou de nós quando Petrônio
disse a si próprio.
- Ao que fica preso a hora local, jamais conhecerá a hora do
universo, a eternidade, mas nosso é tal destino.
- Quando o agora é perverso, resta-nos nos esconder nas
memórias agradáveis e ter fé no futuro. – Respondeu Zaira tentando
acalma-lo.
- Perdoe-me interrompe-los. – Disse o cientista forense de
óculos e com uma caneta no bolso e um livro nas mãos. – Meu nome é
Madhav Nalapat – disse o homem que era indiano nos
cumprimentando com um sorriso. – Temos investigado com todos
recursos e tivemos algum material liberado pelo Siv e o com o
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 139
alvoroço da mídia temos que ter cuidado com hoax e mentiras. Ao
analisarmos imagens da biblioteca do Vaticano descobrimos que
Andreas Santiago escondia algo em suas mãos quando fora morto.
Vocês têm ideia do que seria?
Petrônio limitou-se a acenar em sinal de negação e sendo
consentido por Zaira. Andreas Santiago tinha o histórico conturbado
de acusações de lavagem de dinheiro do banco do Vaticano e por isso
mesmo tirado de seu cargo ainda que as investigações nada
provassem, mas sobretudo alguns agentes do Siv investigavam seus
passos e não tinha um comportamento muito formal que pelo vídeo
aparentemente tinha liberado a entrada dos homens que o mataram
naquele local.
- Acreditamos que ele talvez tenha descoberto algo e
repassado as informações a quem o matou descartando-o. Dois livros
sumiram lá de dentro, um era Tractatus Ad Tempus, estão furtando
informações e os meios não indicam um bom fim.
- Não há mais Vatileaks. – Retrucou Petrônio – Conhecemos
que adversários do Vaticano querem aniquilar o status do Vaticano e
sua reputação, mas nem casos de lavagem de dinheiro e padres
pedófilos o farão! – Disse Petrônio contrariado pois conhecia os
milhões de fiéis que realmente eram seguidores da sã doutrina cristã.
- Naturalmente senhor. – Respondeu Madhav Nalapat com um
sorriso – No entanto, mesmo que seja uma instituição de Deus, ela é
feita por homens, e homens falham, quer santos ou não. O fato é que
se alguém planeja fazer mais chacinas por ai temos que descobrir para
impedi-los. E o rastro de aniquilação tem se espalhado pela Europa, e
temos motivos que vá ao Brasil.
- Porque? – Indaguei eu.
- De modo extra-oficial, descobrimos um padrão no bilhete de
Pedro que indica que algo que essa gente procura está no Brasil,
algum tipo de Elixir. – Disse Madhav Nalapat guardando o livro
dentro do jaleco.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 140
- Elixir de Kairos. – Respondi. – Não somente isso, neste
momento recebemos instruções de que o laboratório de vocês fora
invadido, o número de mortos não é confirmado.
Naquele momento Petrônio colocou a mão sobre a testa como
se esperasse pelo que imaginava e Zaira olhou severa ao cientista
forense e perguntou.
- Por a acaso fora precedido por algum “acidente” em frente o
ponto do ataque?
- Sim. Com impressionantes coincidências, um aparente
acidente tem o mesmo padrão de assinatura de sincronidade de
sequências a da praça de Alivés. – Respondeu ele. – Eles querem fazer
cair os justos pelo jeito. Algo que vocês têm ciência e não
conhecemos?
- Realizávamos um projeto de pesquisa quântica quando
descobrimos aparentes padrões por de trás do caos. Desejam utilizar a
hidrocriptografia para sincronizar eventos não somente lineares, mas
dimensionais, e temos motivos para acreditar que o Elixir de Kairos,
seja o que for é peça chave. – Respondeu Petrônio num resumo do que
aconteceu.
- Mas se eles utilizavam seu conhecimento antes significa que
já havia vazamentos. – Concluiu Madhav Nalapa.
- Essa gente é perigosa e capaz de qualquer coisa para tirar o
que interessa a eles e de quem está em seu caminho. – Disse Zaira. –
Temos alguns contatos no Brasil, um autor que teria descoberto e
criado algo e que hoje vive na sarjeta.
- Elijah Muros? – Indagou Petrônio tendo o aceno de
concordância da historiadora.
Após aquele dialogo Zaira e Dr.Petrônio expuseram tudo o
quanto se relacionada ao caso mesclando a série e crimes que estava
se espalhando pela Europa e com indícios de que ia ao Brasil. O livro
Tratactus ad Tempus escrito por um autor de histórias não conhecidas
traria conhecimentos relativos a pontos de fenômenos de singularidade
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 141
e dimensionais onde, segundo Petrônio, que era guardião da obra
indicava tais fissuras no Brasil, em dois pontos em tempos específicos,
na Amazônia e um nas mediações da Serra do Roncador, onde o
lendário Percy Fawcett teria sumido após uma expedição para
encontrar a mítica cidade de El Dorado. Seria de fato este lugar que
defendiam os antigos membros da Ordo Christianistas Ad Ventus? Tal
pergunta somente o tempo poderia responder.
Fomos dali direto ao aeroporto onde pegamos um avião de
Madri ao Brasil a fim de resolver o mistério e seguir as mesmas
indicações fomentadas pelo material encontrado e para minha surpresa
parecia se confirmar ao consultar o diário e perceber que Pedro
Menendez de Avilés se lastimava por não ter alcançado seu objetivo
de atingir um lugar considerado secreto e que por anos os espanhóis e
seus seguidores procuraram durante o período do Tratado de
Tordesilhas. Zaira parecia introspectiva até que interrompeu o silêncio
e disse sobre a sincronidade e as aparentes coincidências
impressionantes.
- Há muitos anos, em 1965 um garoto de quatro anos de idade
estava se afogando quando fora resgatado por uma mulher chamada
Alice Blaise. – Disse ela fechando um panfleto que havia no banco do
avião e continuou – Tempos mais tarde, aproximadamente nove anos
depois o garoto agora crescido resgatou um homem de ser afogado na
praia, justamente o marido dela, de Alice.
- Acho a moral da história bastante explícita. – Respondi pra
ela – O destino segue padrões ante o caos que sempre tem significados
e porque ao contrário do caos total. – Completei tendo um sorriso dela
que concordou balançando o rosto.
- Tudo que está acontecendo tem que haver um porque,
Gerson, mesmo que aparentemente seja a batalha desses contra o
porquê e significados, afinal, os intitulam o caos e a antinaturalidade.
– Disse ela me vendo com o diário de Pedro nas mãos. Imagine se
Alice não tivesse resgatado o garoto naquele dia?
- Estaríamos numa dimensão ressoante diferente. – Concluiu
eu com ironia e sorrindo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 142
- Você tem sorte de estar aqui, essa gente maligna não admite
que os que são considerados sua posse tenham nada de bom. Elijah
Muros é a prova disso.
Refleti por alguns minutos sobre aquele homem o qual Zaira
mostrou num notebook que ameaças de aflição vinham aos que
tentavam fazer algo por ele, como se ao protege-lo eles fossem
responsabilizados por alguma tragédia justificando a injustiça, pois se
quer cogitava-se ele ser reconhecido por seu trabalho. Porém, ao nos
levarem ao lugar onde viam os vídeos sentimos e observamos o que
Madhav Nalapa queria nos mostrar naquele momento, liguei o celular
e observei os e-mails quando Zaira disse impressionada me chamando.
- Gerson, olhe isso.
Ao virar meu rosto, o que vi naquele vídeo era uma imagem
de Andreas Santiago encontrando William Sanchez lhe dando alguns
documentos e aparentemente um livro muito antigo que Madhav
afirmava ser o ‘Tratactus Ad Ventus’. O jovem cientista paralisou a
imagem e aproximou congelando-a que com um programa de
amplificação de resolução o título se tornou parcialmente legível, e
após, na sequência, William Sanchez debochou de algo dando as
costas e saindo. Aquilo era prova o bastante para demonstrar que
Andreas Santiago estava comprometido e provavelmente fora
descartado como queima de arquivo no momento daquela invasão.
28 de agosto de 1565, algum lugar do oceano Atlântico.
O balançar das águas se moviam de um lado a outro pelo barco
fazendo com que uma caneca dançasse sobre uma mesa dentro da
embarcação até que fora segura pelo irmão de Pedro, Bartolomé
Menéndez que sentou-se ao lado do irmão que tinha em mãos o
mesmo diário que no futuro eu lia. Pedro estava escrevendo as
ocorrências incomuns do dia após ter avistado o navio de Jean Ribault
a uma semana atrás, mas se esquivando dentro de algum nevoeiro.
Naquele momento, porém, um homem gritou no convéns por Pedro.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 143
Pedro murmurou algo consigo mesmo, largou a pena e fechou o diário
e olhou para o irmão que disse.
- Hoje é dia da festa de Agostinho de Hipona. Talvez seja
algum presente divino. – Completou tentando manter o bom humor. –
Não se preocupe, Pedro, encontraremos seu filho, vamos relaxe,
vamos curtir.
Ao subir até o convéns os homens pareciam comemorar algo e
não somente a festa de Agostinho de Hipona, mas do avistamento de
terra firme, a costa da Flórida, na América do Norte. Pedro
imediatamente pegou uma luneta nas mãos do jovem cadete que
guiava o navio em sua ausência e contemplou que a costa se
identificava com as cartas náuticas de navegadores no período. Pedro
consentiu a Bartolomé com um sorriso após semanas de navegação
num horizonte infindável de águas, e um jovem marujo pegou uma
garrafa de vinho abriu para comemorar e tão longo começaram e
entoar cânticos felizes no convéns enquanto Jopy sorria abraçando um
dos camaradas de viagem.
- Esse brinde é por Agostinho de Hipona. – Disse Jopy
mostrando o caneco pra Pedro com um sorriso. – Por esse patrão
maravilhoso e honrado, o qual tenho orgulho em servir, mestre Pedro.
Com as horas indo a costa cresceu diante deles e tão logo se
viram alguns animais nas praias acompanhando o navio, e assim
Pedro enviou Jopy que um pouco embriagado seguiu no barco junto
com demais marujos aos gritos de comemoração pelo dia, e por
chegarem enfim ao continente do ‘novo mundo’.
O barco quando encostou nas areias, Jopy pulou nas aguas
puxando o barco e quando tocou o solo pegou areia da praia rindo e
jogando sobre o companheiro que lhe acompanhava.
- Vamos, pare com isso Jopy, não quero ficar cheio de areia,
parece que nunca viu terra firme!
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 144
Tão logo todos desembarcaram e Pedro ordenou a construção
de um assentamento em terras consideradas virgens aos europeus e
nomeou de St.Augustine em homenagem ao dia que lá chegou, como
o primeiro assentamento St. Augustine e se tornar o mais importante
nos séculos seguintes. Os homens trabalharam duro ao lado de Pedro,
cortando arvores para a construção de edificações e uma igreja
humilde onde realizaram a primeira missa em território americano.
Os dias se passaram até que da embarcação de Pedro um
homem veio a dar a noticia de que avistaram o que parecia ser parte da
frota de Jean Ribault alarmando Pedro e levando a crer que teriam ido
ao Fort Caroline. Pedro resolveu sondar antes de qualquer investida e
sobretudo aproveitar o momento de aparente conforto no
assentamento a deixar seus homens e procurar o que tanto ansiava
ainda que não tivera sinal de seu filho Juan.
Ao entrar na embarcação, Pedro estava sendo aguardado por
Jopy usando seus habituais trajes rasgados e de dar medo a quem fosse
de fora pela estatura do afrodescendente. Jopy Iago se inclinou sobre o
patrão o puxando pelo pulso com um sorriso e disse.
- Mestre Pedro, acho o momento oportuno para procurar o
junco chinês. Bons ventos sopram a nosso favor. – Repercutiu ele com
um sorriso.
- Certamente Jopy. – Completou Pedro tirando o chapéu e
com aquela gola esquisita de sua roupa, ele estava suando pelo calor. -
Jean Ribault não pode encontrar isso, se tirar esse conhecimento pode
ser danoso, seja o que for.
- Pode ser a oportunidade do senhor também vingar a morte de
Joaquim. – Respondeu ele e tendo um aceno de positivo.
Seguiram eles com o mínimo necessário de tripulantes pela
costa da Flórida para que o conhecimento do que buscava fosse
exposto aos homens dele em vão. Após longas horas ao lado de
Bartolomé e o sempre fiel Jopy avistam algo em aguas translúcidas
perto de terra firme. Jopy observou que tinha contornos como de um
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 145
navio, porém, muito maior que a embarcação dele e então para ter
uma melhor vista subiu do alto do mastro cortando entre as velas e no
topo olhou para baixo e contemplou um enorme navio de madeira, o
junco chinês.
- Mestre Pedro, é maior que qualquer barco que já vi, mesmo
aquele de ferro.
Pedro intrigado fora a estibordo do navio ao lado de todos os
homens presente e debruçando-se na mureta do navio viram a imagem
difusa do barco em aguas cristalinas, e Bartolomé tirou o chapéu
rindo.
- Talvez tenha algum tesouro, Pedro!
- Nosso tesouro é o conhecimento. – Retrucou Pedro – e com
verdade, por favor! – Completou sorrindo.
Os homens de Pedro mergulharam nas águas e tentaram
alcançar o local do naufrágio, mas não havia folego o bastante. E não
bastando havia águas vivas demais nas mediações o que preocupava
Pedro caso alguns destes fosse picado. Pedro improvisou uma espécie
de saco de ar para ele próprio mergulhar naquelas aguas e conseguir
um pouco mais de tempo em folego e assim fez mergulhando e
nadando até que conseguiu tocar o navio, uma construção maravilhosa
de muitos metros de extensão e largura. Adentrou Pedro pelo convéns
e respirou um pouco do ar no recipiente e seguiu por cima de um
mastro caído e adentrou por uma porta que dava ao que ele acreditava
ser o quarto do capitão. Haviam peixes coloridos de um lado a outro
quando uma agua viva cortou seu caminho tornando naquele momento
a visualização difícil por ser um local fechado.
Pedro novamente respirou mais um pouco e seguiu vendo que
o ar estava no fim. Viu então moveis virados e gaiolas quando notou
haver o que aparentava ser uma espécie de pergaminho denotando que
aquilo lá estava a não muito tempo. Pedro pegou o bloco e notou que
era uma espécie de diário assinado pelo capitão do navio chinês e
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 146
vendo que não tinha mais ar recuou indo até a superfície com o
achado em mãos.
Ao ver aquilo Jopy imediatamente estendeu as mãos o puxado
dentro do barco e Pedro largou o bolsão de ar dentro e disse ainda
ofegante para Jopy.
- Preciso anotar todas as informações disto, quem escreveu,
quando escreveu e o que diz. Aquele tradutor chinês tem que servir.
- Ele está no convés senhor. – Respondeu Jopy sorrindo. –
Levantou suspeitas do almirante lá na Espanha, mas acho que vai
valer. – Completou ele rindo afinal não havia motivos razoáveis para
Pedro levar um tradutor de chinês no navio.
- Ótimo, os demais homens precisam mergulhar mais e
localizar alguns itens de valor e quero registros de tudo encontrado. –
Completou Pedro sentindo-se aliviado de que aquele conhecimento
não estava em mãos erradas, por enquanto.
Ao longo dos dias seguintes Pedro trabalhava ao lado do
tradutor de chinês numa tradução mais próxima o possível dos textos
encontrados, com determinação inquerir todos dados possíveis de
lugares, períodos e nomes dos autores daquele documento que
começava a se fragmentar ainda que fosse um tipo durável de material
sob o mar. Perseverante perante as evidências factuais Pedro tinha
apenas algo que dividia suas atenções no momento, a busca por seu
filho Juan e seus amigos no barco de onde partiram, mas naquele
momento viram eles algo que chamou a atenção do tradutor Miguel
Sobreiro.
- O junco fazia parte de uma frota que aparentemente vinha do
sul, do Brasil. – Disse o homem e então seguiu – Olhe isso, isso aqui
dá as coordenadas de um lugar no interior de onde batizaram como
Brasil. Conhecemos agora que estas terras foram antes descobertas por
chineses.
- Isso é parte de um mapa. – Respondeu Pedro olhando-o e em
seguida tirou uma carta náutica e percebeu que se encaixava com o
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 147
desenho da costa do Brasil, quando alguém interrompeu o foco deles
no trabalho, era Jopy.
- Mestre Pedro. – Disse ele tirando o chapéu na entrada –
Perdoe-nos mas acho que tem algo que deseja tomar conhecimento.
- Diga Jopy, temos que relaxar um pouco mesmo, estamos a
longas horas nisso aqui.
- Receio que não haverá descanso. – Seguiu Jopy olhando para
Miguel e seguiu dizendo – descobrimos que parte do pessoal de Jean
Ribault está no Fort Caroline. Achei que o senhor gostaria de ficar
ciente disso.
- Naturalmente Jopy, bom trabalho. – Disse Pedro que então
virou-se para o tradutor colocando o chapéu e disse. – Acho que
vamos adiar a tradução por alguns dias.
Pedro Avilés sem pensar duas vezes seguiu a formar uma
equipe liderada por seu irmão Bartolomé a fim de ir atrás dos homens
de Jean Ribault, não somente por impedir a colonização deles, mas
atrás de informações de seu filho e quem sabe vingar-se da morte
covarde de Joaquim anos atrás, porém a aguardar reforços, mas apenas
sondar o lugar. Os homens seguiram por longas horas até o percurso
quando dois dias depois avistaram o Fort Caroline. Era dia 14 de
setembro de 1565 e Bartolomé pediu para que seus homens
procurassem pontos estratégicos e saídas do Fort a fim de render quem
de lá saísse, porém foram recebidos com violência por alguns que de
lá saiam.
Jopy companheiro e escudeiro fiel de Pedro e seu irmão
atacou bravamente defendendo Bartolomé, de modo que o combate
em pouco tempo levou a mortes dentre seus homens.
Todavia os homens que Bartolomé mais queriam deter para
interrogatório haviam falecido, menos outro deles. Os navegantes de
Pedro havia recebido a noticia de que seriam hereges perigosos por
práticas violentas com suas vítimas, e mandou Jopy ainda rufando do
feroz combate ir atrás dos homens que escaparam junto a Bartolomé,
quando ele pegou o ferido no chão e perguntou se Jean Ribault estava
com eles.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 148
- Se procuras Juan, não tenho noticias. – Disse o homem
empoçado em seu próprio sangue com ferimentos fatais no corpo –
todavia foram enviados por Ribault para caça-lo como fez com
Joaquim.
- Porque está fazendo isso? O que te fizemos antes? – Indagou
Bartolomé o pegando pela camisa cheia de sangue, mas o homem
virou-se para a areia que por estar molhada de lama a pegou com a
mão e jogo no rosto de Bartolomé.
- Não vê, ele quer que o mate para não dizer nada. – Disse um
dos homens dele.
- Tem razão, talvez deveríamos prolongar essa vida que
limita-se a tirar o significado de tantas mais, seu pagão venerador de
solos e chão! – Disse ele ao limpar sua roupa da lama. – Me diz, os
homens que mataram Joaquim estão com eles? Renne Sanchez.
- Sim, mas vocês nunca o pegarão. – Disse o homem dando
aquele sorriso de deboche ainda que moribundo. – Enquanto aqui
estais estão cercando St. Augustine para aniquilar seus colonos e
pegar o que deve ser nosso.
- Vamos ver quem caça quem. – respondeu Bartolomé e então
enfiou a espada no peito dele o fazendo morrer ali no chão.
Ao limpar a espada ensanguentada num pedaço de trapo
Bartolomé olhou para seu irmão que ficou assustado com a ferocidade
dele e lhe perguntou se não era muito melhor retornarem a St.
Augustine impedir um iminente massacre. Bartolomé estava relutante,
pois queria ir atrás dos homens que escaparam, mas o dever lhe
chamava e fora obrigado da retornar no mesmo pé que vieram. Soube
ele que o chefe daqueles hereges, Jean Ribault estava entre os homens
e que quatro navios de sua frota para lá se dirigia ao assentamento
colonial, porém, uma intensa tempestade se formava no horizonte e
ventos fortes indicavam que haveriam mais mortes.
Assim que chegaram ao lugar notaram eles que os homens já
haviam avistado a pouco os navios de Jean Ribault se aproximarem da
praia fazendo com que a guarnição se dirigisse até o mar a ficarem a
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 149
postos para o combate iminente em meio a um vendaval intenso e com
nuvens cinzas sobre eles. Pedro ainda que determinado a seu propósito
sentiu uma centelha de medo ao ver Jopy observando as nuvens do
convés e temendo algum tipo de encontro com “navios de ferro”,
como ele descrevia. Assim que se aproximaram os navios franceses
preparam seus canhões, mas os ventos eram aliados de Pedro que
seguia intrépido ao alto mar cortando as ondas com destreza de um
experimentado navegador.
As ondas batiam no casco do navio lançando gotículas de
água, mesmo onde estava ele ao lado de seu irmão, orientando a
navegação enquanto os marujos abaixavam as velas devido a
intensidade do vento. Bartolomé ficou temoroso pelas montanhas de
águas que se erguiam quase tocando os ventos e duvidando de que
estivesse a seu favor quando viram ao longe, por luneta, um dos
barcos franceses virar ao mar arrancando gritos de comemoração dos
marujos, e Jopy disse a seu mestre.
- Meu Mestre, é a divina providência, Deus guarda as famílias
dos justos.
- Certamente justifica o título de Mestre dos Ventos –
completou Bartolomé batendo nos ombros de seu irmão ainda que
nada tivesse feito a não ser resistir a ferocidade da natureza quando
outro barco virou diante de seus olhos enquanto Pedro vendo uma
onda se erguer virou o barco para corta-la antes que passasse por eles
de lado.
Mais gritos de comemoração se ouviram sem dispararem
nenhuma bala de canhão e um marujo desceu do alto quando a chuva
torrencial descia sobre eles a anunciar que mais um barco dava a volta
para ir embora dali, nas mediações de Ponce de León.
Porém, Pedro não havia desistido, mas ordenou que seguissem
os demais navios que seguiam agora rumo a onde um dia seria o Cabo
Canaveral e as ondas vibravam fazendo dos mares um amontoado de
agua oscilante onde o feroz navio dele era apenas um corajoso barco a
cortar por entre elas, quando mais um barco não resistiu e virou, sendo
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 150
engolido pelas ondas que todos gritaram vendo que o restante seguia
hesitante ao horizonte até que fora o outro a afundar.
Pedro viu naquilo como um sinal divino não somente por ficar
intacto em meio a tempestade mas por ela ter literalmente engolido
seus algozes e resolveram retornar a terra a fim de concluir o que
haviam feito, enquanto mais homens eram enviados atravessando o
Rio John após caminharem 30 quilômetros ao Forte Caroline, o
batizando por São Mateus após matarem 132 homens, ainda que
alguns escaparam junto a um francês de huguenotes chamado René
Goulaine até um lugar que no futuro se chamaria Jacksonville. A
pedido de Pedro porém, foram poupadas as cerca de 60 crianças e
mulheres e pedindo para dependurar os mortos dando-lhes a
impressão que foram enforcados com os dizeres: "Enforcado, não
como franceses, mas como hereges".
Naquele momento Pedro tinha por objetivo encontrar
sobreviventes dos navios afundados enviando uma patrulha a fim de
capturar os sobreviventes assim que os localizaram e sendo rendidos
por seus homens. Pedro os colocou em fila e caminhou diante deles os
observando até que resolveu pegar um destes de soslaio e o lançou ao
chão.
- Diga-me o que fizeram com meu filho! – Disse ele puxando-
o pela camisa.
- Não sei nada sobre Juan, juro!
- Onde está Renne Sanchez e Jean Ribault?
- Morreram no naufrágio. – Disse uma mulher entre eles
fazendo com que Jopy lhe apontasse a espada temendo algo mais.
Pedro então caminhou olhando-os diretamente nos olhos.
Estava suando de modo abundante mas impassível diante dos rendidos
até que parou diante de um homem que olhava para um moita de mato
e então olho em sua direção e disse.
- Porque deveria ser clemente com vocês, já que não foram
com meu tutor e com suas vítimas?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 151
Ninguém respondeu nada ficando imóveis olhando para frente
transpirando sob o sol e então Pedro virou-se para Jopy e pediu para
olhar na moita apontando com a espada. Jopy foi até lá e remexeu o
matagal com a espada até que algo se moveu fazendo os homens de
Pedro avançar até o lugar capturando outro deles e para sua surpresa
era Renne Sanchez.
Ao ver aquilo Pedro colocou a espada para trás e olhou
fixamente para o homem que vendo-se sem vantagem abaixou a
cabeça visivelmente assustado. Jopy o empurrou caindo de joelhos
diante de Pedro que abaixou-se pegando-o pelo cabelo e disse.
- Espero que se lembre de nosso último encontro após matar
Josefa. – Disse vendo que Jopy também estava visivelmente invocado
com o ato covarde do homem anos atrás. – Pois lembro-me de suas
palavras que disse como teria matado Joaquim. Poderia repeti-las, por
favor?
Pedro levantou o rosto e em seguida pediu para levarem os
demais em fila numa caminhada até St.Augustine após amarra-lhes
cordas e continuou.
- Se existe algo que tenho nojo é de gente covarde como
vocês, agora não é mais macho?
Renne limitou-se a tentar esboçar um sorriso em meio ao
medo que estava por recear lhe sobrevir exatamente o que fazia com
suas vítimas.
- Nós vimos o que vocês acharam na costa. – Disse o homem.
– o navio chinês que procurávamos.
- Para quem mais contou sobre isso? – Indagou Pedro
enquanto Jopy estava de braços cruzados lhe encarando.
- Todos do grupo. – Disse ele rindo – Se me matar aqui, eles
contarão a todos mais sobre o que buscamos e o motivo de toda essa
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 152
corrida pelo “novo mundo”. Você deveria ser nosso cachorrinho, para
abusarmos e depois lhe matar assim como fizemos com Joaquim.
Naquele momento Pedro tirou a espada, mas Jopy virou-se
para ele e disse.
- Senhor ele quer justamente isso, que o mate, teme que seja
torturado pelo senhor assim como ele faz com suas vítimas.
Pedro então o esbofeteou o fazendo cair no chão ao pó
fazendo a poeira do chão levantar-se com sua respiração por estar
seca. Pedro então o puxou pelos pulsos amarrados e o colocou
novamente de joelhos, quando Renne disse.
- No momento em que você me fala Covadonga está sendo
invadida assim como aquele casebre em Marchal, vocês devem ser
inferiorizados por nós e você nada pode fazer para impedir isso.
- Como você teria ideia de tal invasão? – Gritou Pedro.
- Seu destino deverá ser o nosso destino. – Completou ele
rindo – Sua verdade e autorias serão as nossas, e deverão ser apagados
da história assim como da existência.
Aquilo fora demais para Pedro que pegou a espada e o
transpassou ali mesmo vendo Renne definhar com aquele pedaço de
metal fincado no peito, até que Pedro o puxou de volta e o homem
caiu de bruços no chão definhando lentamente com o rosto ao pó.
Jopy olhou pelo caminho por onde foram os rendidos e Pedro
pediu para acompanha-los e completamente tenso com o que
acontecia, temendo estar acontecendo algum massacre naquele
momento na Espanha sem ter como se comunicar com eles, alcançou
os demais e parou-os pedindo para ficar em fila que ao notarem o
semblante transtornado de Pedro temeram muito.
- Quais de vocês são católicos?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 153
Alguns homens levantaram as mãos timidamente assustados e
algumas mulheres, quando um homem resolveu arriscar e disse.
- Sou protestante senhor, mas tenho habilidades uteis.
- Alguém mais? – Perguntou Pedro caminhando entre eles
quando mais homens se confessaram ser protestantes com habilidades
uteis. Pedro então virou-se a estes e disse. – Dentre vocês os quais
praticam sodomia ou sacrifícios humanos serão mortos como pagãos
que são, compreenden?
Então Pedro desembainhou a espada e fincou no busto dos
homens que não assim disseram e pediu para que seus homens
fizessem o mesmo, os matando um a um sob os olhos dos demais que
eram cristãos e então com sangue em seus punhos virou-se para os que
foram poupados e disse.
- Preciso agora que vocês me digam. Quais de vocês viram
nós nos restos de um navio chinês?
Os homens tremeram nas bases e balançaram as cabeças em
negação afirmando com veemência que nenhum deles havia visto nada
parecido ainda que talvez o tivesse, mas vendo que se falasse seriam
mortos nada disseram, e então levaram os demais homens dando o
nome aquele lugar pelo ocorrido de Matanzas onde um dia mais
adiante seria erguido o Fort Matanzas.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 154
Ato IX
A Pergunta mais
importante de todas
"Os acasos são cicatrizes do destino".
A Sombra do Vento - Carlos Ruiz Zafón - Pág.360
Astúrias, 7 de outubro de 1565
A noite havia caído sob os ruídos os ventos na colina, nas mediações e
Covadonga sob um luar perfeito que irradiava sua suave luz a
eventuais caminhadas noturnas até que assim aconteceu quando uma
sombra tênue emergiu dentro do mato que dançava de um lado a outro
perante o vento que soprava de modo relaxante. Dentre aquela sombra
mais outra surgiu e depois mais outra tomando o percurso por homens
que tinham espadas agora em punho em direção a Covadonga donde
uma cachoeira abaixo fazia descer águas de uma fonte pura e cristalina
quando um homem, um guardião da Ordem dos Ventos assim os
viram se aproximar e apagando a lamparina correu até a edificação
avisar Noah e Hydrocrates que por lá estavam a instruir mais alguns
membros dentre as famílias que participavam com eu histórico de
perseguição.
Da porta se ouviram o bater dos punhos do jovem guardião
chamando a atenção de Noah que levantou-se a ver do que se tratava
largando dois jovens que sentados ao chão liam o começo do Gêneses
bíblico. Noah abriu a porta, porém, não viu nada, mas quando ia
fechar a porta Hydrocrates a segurou ao ver a maçaneta manchada de
sangue. Noah virou-se para trás e assoviou para os garotos a que
pegassem as espadas então pediu para que Hydrocrates entrasse ao
bater a porta e juntasse os manuscritos que pudesse e descesse pela
corda de emergência que tinham na janela que saia sobre a cachoeira,
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 155
e assim o fez quando ouviram novamente baterem na porta, fazendo
os dois jovens gelarem.
- Quem são? – Indagou Noah empunhando uma espada e
pedindo para apagarem as lamparinas, mas tiveram o silêncio como
resposta.
Então repentinamente um estrondo se ouviu na porta, estavam
a forçando com um tronco enquanto vozes falavam baixinho
instruções ao que parecia ser vários homens. Noah colocou um baú
atrás da porta e olhou para trás vendo Hydrocrates saindo pela janela
carregado de pergaminhos e algumas peças, um dos jovens fora lhe
auxiliar.
Mais um estrondo se ouviu e as juntas da porta começaram a
ceder. Depois de alguns segundos mais outro estrondo e os ferrolhos
que ligavam a porta ao caixote começaram a soltar junto com o metal
que prendia a madeira da porta unida. Noah gelou de medo, mas ficou
firme quando observou o vento adentrar pela janela movendo as águas
dentro da banheira que lá havia.
Um jovem parou ao seu lado e apontou a espada quando outro
estrondo seu ouviu fazendo a porta ceder abrindo-se parcialmente.
Silêncio se fez quando um braço adentrou a porta procurando
a tranca dela, mas o jovem enfiou a espada cortando a mão de quem
quer que fosse e algum grito se ouviu.
Alguns segundos mais se passaram e então mais um estrondo
se ouviu e em seguida lançaram algo em chamas lá dentro pegando
fogo na cortina e a porta caiu.
O fogo crepitante rapidamente se alastrou criando uma luz
oscilante que ao adentrar Noah vira a face do homem parcialmente
iluminada como a de um demônio e ao abrir a boca dentes
apodrecidos e um dourado brilhou diante dele com um sorriso
tenebroso de cobiça e ganância e disse ao empurrar a porta permitindo
que os demais homens entrassem.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 156
- Enforquem esses cães e digam que eles estavam roubando
nossos conhecimentos para criar uma guerra. Acabou! - Disse ele -
nunca colherão seus frutos e os farei pagar por eles! Eu quem torno
vosso trabalho em vão. Covadonga vos será por cova!
O jovem atacou tentando proteger seu mestre que era Noah,
mas em vão sendo morto num só golpe e então veio o segundo jovem
e atacou com ferocidade matando mais um destes cortando-lhe o
pescoço e esguichando sangue sobre um texto numa escrivaninha, mas
fora morto em seguida restando a Noah que vendo ser aquilo na
verdade um massacre abaixou a arma quando fora rodeado por eles e
ao invasor disse.
- Como sempre covardes, só são homens assim. – Completou
Noah ofegante de medo ante o massacre iminente quando o chefe dos
invasores disse.
- Ars ad inaturam, ordo ab chaos, nom veritas ad verve!
Cortem as pontes do destino, e lance-os no abismo e os chamemos de
vão!
Os homens, se é que assim poderia se chamar, lhes fincaram
as espadas neles de todas as direções a seu redor deixando Noah
inerte, de pé, até cair lentamente diante do olhar compenetrado
daquele homem diabólico. Mas quando aquele aparente líder de dentes
apodrecidos fora até a janela notou a corda e que um destes havia
fugido dali enquanto o fogo se alastrava consumindo o lugar secreto
deles.
Hydrocrates molhado ao colocar os pés sobre as pedras
recolheu um dos pergaminhos que caiu numa delas e colocou de volta
quando algo caiu sobre as pedras ao seu lado. Era o corpo de Noah,
lançado pelos homens de dentro do lugar, e sem ter se quer a chance
de lamentar correu com todas suas forças para conseguir sobreviver
aquilo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 157
Tempos atuais, Brasil, Rio de Janeiro
Ao desembarcar no aeroporto do Galeão Dr.Petrônio sentiu a
diferença climática do equatorial ao tropical carioca daquele país de
belezas naturais sem fim mas dominado por pessoas que não lhe
correspondem, suando abundamente ao ir até o ônibus com Zaira, ele
tirou um lenço que constantemente enxugava o rosto que agora estava
avermelhado por ser demasiado branco. Zaira que conhecia resolveu
nos acompanhar o lugar onde costumava ficar Elijah Muros e
conhecendo seu trabalho tinha ciência eles de que escrevia sobre
teorias conspiratórias e mistérios relacionados ao Brasil e o mundo,
entre eles o de Akator. Foram até a praça XV onde costumava ficar,
porém, ao perguntar os demais sem tetos que vagavam pela região
disseram que fazia algum tempo que não o via.
Caminhamos por alguns minutos quando o vimos então sair
de dentro de um mergulhão que havia sob a praça e ele nos olhou com
olhar de desconfiança ao nos aproximarmos, o fazendo tirar a mochila
que carregava a colocando no chão e olhando para os lados.
- Você é Elijah Muros? – Perguntou Zaira num português
carregado no sotaque espanhol e tendo apenas um aceno concordando,
mas sem qualquer confiança em nós.
- Conhecemos seu trabalho e gostaríamos de lhes fazer
algumas perguntas, aceita tomar uma refeição? – Perguntou
Dr.Petrônio suado, mas esboçando um sorriso.
Naturalmente que Elijah concordou afinal não era a todo
momento em que alguém lhe estendia a mão para lhe fazer caridade e
com generosidade lhe oferecer algo pois os seus algozes abastados que
isso exigia para si.
Ao levarmos ele um botequim um homem ficou nos
observando enquanto tomava cerveja, mas ainda assim pedido um
prato farto ao jovem entregue as moscas que comeu com vontade
como não deveria fazer a algum tempo, quando então perguntamos.
- O que você conhece sobre Jorge de Avillez e Akator?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 158
- Sim, sim. – Disse Elijah de boca cheia mastigando e deu um
tempo engolindo a comida e seguiu – Tenho motivos para crer que
Jorge Avillez protegia algo nas mediações da Serra do Roncador, ele
fez incursões secretas a este lugar, a última logo após ser expulso por
Dom Pedro com a independência. Não era apenas fiel a Dom Pedro I
ao notar que isso fizeram quando esteve fora.
- Akator? – Perguntei eu abrindo a carteira e mostrando minha
identidade.
- Você é descendente dele então! – Disse Elijah sorrindo pra
mim. – Motivos pessoais o trás até mim? Negócios de família?
- Também. – Respondi
- Bom o que sei é que os espanhóis procuravam secretamente
algo desde o tratado de Tordesilhas. Mas o final da história é
conhecido, pois caso hesito tivesse tido, certamente teríamos ciência,
não se poderia esconder uma descoberta desse quilate.
- Mas porque fizeram isso contigo? – Indaguei eu intrigado.
- Pelo mesmos motivos que fizeram o que fizeram com Conde
Jorge. Porque conhecia coisas que eles não conheciam, e estava perto
de descobrir sua localização, mas alguns homens impediram, as
conspirações lhe projetaram sombras tenebrosas. – Disse Elijah dando
mais uma garfada farta no prato e seguiu mastigando e falando, pois
estava faminto - me isolaram, tiraram todos amigos, família,
impediram ter trabalho, não consegui mais nada, nem mulher, nem
reconhecimento, vivo excluído e marginalizado. Cá estou eu.
- Isso poderia acontecer contigo - disse Petrônio para mim –
visivelmente estão te visando.
- Ouvi falar de suas ideias. – Disse Elijah para mim dando um
sorriso enquanto mastigava. – Mas aqueles homens são aves de rapina
baratas, disseram que eu era um autor menor demais para estragar o
que descobri e criei com meu nome e história.
- Já vi isso antes. – Disse Petrônio em tom de ironia. – Para
quem gosta de acusar fizeram bom trabalho destruindo você. Mas me
diga quer dar um passeio conosco até a serra do Roncador?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 159
Elijah largou o garfo e sorriu amplamente como fiapo de fé na
humanidade, como se o sentido de sua vida fosse simplesmente aquela
sua busca, e acenou com o rosto em sinal positivo.
Ao comer toda a refeição o levamos a um hotel onde ele
tomou um banho e lhe demos roupas limpas o fazendo sentir coceira
pelo corpo dado o tempo que permanecera sem tomar banho. Petrônio
colocou sobre a cama seu material de pesquisa e contou tudo o quando
acontecia do outro lado do planeta envolvendo aquilo tudo. Elijah
ouviu atentamente de modo entusiasmado com as descobertas e
implicações daquele caso incomum, pois até então apenas lendas
vazaram sobre a mítica El Dorado levando Percy Fawcett a
desaparecer naquelas regiões.
- Há uma tribo de descendentes de chineses que protege o
local. Mas se eles foram até lá, então nossos amigos já estão mortos. E
eles se dizem os mocinhos. – Disse Elijah sentando na cama vendo as
fotos.
- Afligir é a cultura do Maligno! – respondi - Os que são
iguais ao que combate, não são inimigos, mas rivais. Massacraram
uma seita nas mediações de Roma com as mesmas assinaturas deles.
- O que lidamos aqui é com conhecimentos tão antigos que se
perdem nas nevoas da história e do tempo. Mas acreditamos que um
dos primeiros vazamentos atingiu templários os fazendo irem as
Américas antes do previsto.
- Conheço essa história, na América do norte. – Disse Elijah –
mas nada encontraram, apenas pastaram em terras selvagens. Os que
retornaram teria espalhado a noticia confirmada de ‘um novo mundo’
que em posse dos mapas chineses levou a onde levou.
- Vazamentos maiores aconteceram com a hidrocriptografia e
a tendência disso é nós vivermos as margens do que nós mesmos
criamos e descobrimos. – Disse Dr.Petrônio.
A noite havia caído após uma tarde intensa de diálogos e
planejamento dos próximos passos a serem dados no Brasil temendo
que aqueles homens já tivessem naquela região com apoio de grupos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 160
da localidade enganados com sua aparência civilizada. Teríamos um
dia cheio até chegar a Mato Grosso e então fomos dormir.
Astúrias, Espanha, 1566
Pedro chegou durante a noite no porto, mas ainda que exausto da
longa jornada seguiu temoroso por notícias da Ordem dos Ventos
notando que nenhum dos membros vieram lhe receber. Partiu a cavalo
até Astúrias a procura de Covadonga deixando para trás até mesmo
Jopy e seu irmão e temendo o que poderia ter acontecido seguiu por
longas horas madrugada a dentro até chegar ao lugar onde havia seus
encontros e documentos.
Pedro desceu do cavalo e subiu a colina sem o mesmo vigor
da juventude quando Joaquim lhe pediu para subir com pedras numa
mochila. Exausto viu do alto o luar e iluminar seu caminho entre a
vegetação rasteira que dançava com o vento a sua volta, mas ao
visualizar Covadonga não viu quaisquer sinais de luzes. Teriam
dormido?
Ofegante pela subida Pedro chegou até a porta e viu que havia
sido derrubada. Olhou e viu o contorno com marcas de incêndio e
adentrou o recinto que com dificuldade pegou uma lamparina caída e
acendeu contemplando o lugar completamente destruído e queimado
por chamas ateadas evidentemente por algum invasor e saqueador.
Artefatos foram tirados, peças quebradas, nem a banheira fora
poupada. Pedro mergulhou em suas memórias lembrando das décadas
passadas quando ele encontrou aquele lugar quando ainda era criança
ao fugir de seu tutor original, porém, naquele momento uma voz se
ouviu.
- Não vai encontrar nada ai.
Ao ouvir aquilo Pedro virou-se desembainhando a espada e
apontando a lamparina a sua direção, era Hydrocrates que surgiu
entrando no lugar.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 161
- Assim que soube que chegou de viagem vim aqui, tinha
certeza de que seria o primeiro lugar a procurar. – Respondeu ele
olhando com cara de decepcionado. – Invadiram aqui, tentaram levar
tudo o quanto construímos, mas não vai encontrar mais nada nem em
Marchal. Os ventos já nos denunciavam que isso iria acontecer.
- Para onde foram? – Indagou Pedro com os olhos brilhando
de quase lágrimas. – Mataram quem?
- Não foram para onde, mas quando Pedro, tudo é uma
questão de Tempo. – Respondeu Hydrocrates colocando a mão sobre
seu ombro – estão seguros, somente isso posso lhe afirmar, quando a
fúria é grande é porque certamente estamos certos. Mas ainda não
acabou. Você é o novo líder da Ordo Christianitas Ad Ventus,
cumpriu seu papel ainda que somente em Marchal seus descendentes
completarão o designado, encontrar o lugar secreto no novo mundo. –
Completou Hydrocrates tirando algo do bolso e lhe dando, era um
frasco.
- O que é isso? – perguntou Pedro.
- A última poção que temos do Elixir de Kairos. – Respondeu
Hydrocrates – Apenas concedemos ao líder em vista que o último
faleceu há alguns meses. – Vem duma fonte rara que lhe aguçará a
visão não com seus olhos, mas a contemplar Marchal, não podemos
nos permitir que as mortes aqui acontecidas tenham sido em vão.
Pedro então se retirou do lugar após cumprimentar mais uma
vez Hydrocrates e com um sorriso entristecido guardou o Elixir dentro
de uma pasta que carregava. Desceu a colina e montou em seu cavalo
e fora até sua casa encontrando seus filhos e mulher dormindo. Porém,
Pedro não conseguia dormir e fora então até sua escrivaninha e
sentou-se diante de papéis e pegou uma pena quando ao tirar o Elixir
do bolso o tomou numa só dose.
Inicialmente Pedro nada sentiu, e então começou a escrever
até que nos minutos seguintes lhe vieram uma tontura seguida por um
rubor o fazendo suar, então Pedro olhou para a janela por onde entrava
um vento frio da madrugada e tonto viu seus sentidos se confundirem
com o agora e o amanhecer vendo seus filhos virem falar com ele.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 162
Pedro relutou em ceder aquele aparente estado de alucinação porém,
um sono lhe tomou o fazendo adormecer ali mesmo.
Uma imagem enevoada por estar se mesclando com uma
nevoa não conseguia se definir quando uma voz lhe gritou dentre ela
falando “segure a corda”. Pedro olhou para baixo e viu que uma corda
vinha descendo até ele, e então ele pegou a ponta dela a esticando e
atravessando aquela nevoa como se fosse uma guia.
Ao caminhar, a medida que avançava via as coisas que tinham
pela frente tomar forma gradual de eventos a pessoas, e assim notou
seus filhos tendo filhos, e desses netos tendo bisnetos, e até que viu
sem conhecer nenhum dos nomes, sua família fugindo da Espanha
após algum perverso rei tomar o poder e ordenar matar toda sua
família, e depois Jorge Avillez navegando em águas rumo ao ponto
em que buscava, o Brasil. Viu todo conflito e sentiu um vento forte
lhe bater no rosto quando o Dom Pedro I lhe mandava retornar a
Portugal. Viu a lamúria de tantos mais que não conseguiram alcançar
seu designo por algo antinatural a este e então viu meu rosto entre a
nevoa desse tempo a medida que avançava cada vez mais nebuloso.
Viu então versões diferentes de mim a ecoar de diferentes formas,
uma na jornada ao Europa, outra vivendo perseguido e marginalizado
e tantas mais onde coisas ainda piores onde homens sádicos,
obstinados e impassíveis me assistiam a distância proibindo todo
direito e me furtando, e tanto mais aconteciam por ter descoberto algo
pertinente a própria natureza do tempo que ele mergulhou. Porém,
num momento Pedro viu as imagens se mesclarem e então Jorge olhar
diretamente para ele assim como eu em meio a uma tormenta.
Tão subitamente quanto Pedro acordou voltou a dormir e
assustado com aquela visão de olhos fechados cuja nitidez era perfeita
olhou-se no espelho intrigado. O que seguiu então é que ele sentiu
muitas coisas e uma vontade incontrolável de escrever, o destino havia
lhe tomado e agora servia ele a este descrever.
Pedro sentou-se na escrivaninha e começou a escrever uma
carta destinada ao homem que viu defendendo o Rei de Portugal e
depois para mim, com traços, ainda que sem ter ideias de nomes sobre
acontecimentos e assim começou.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 163
Do mapa que tive em mão vieram as cartas de Pire Reis. Mas
os 32 ventos sussurram-me veladamente segredos inefáveis que um
dia serão ditos abertamente num coral da verdade, dos nomes
marginalizados pelos maus, e seus atos correspondentes de
importância ao mesmo...
A mesma carta que havia lido séculos mais tarde fora escrita
por ele e quando completou sem ter ideia do destinatário a ser
colocado nela, fechou e colocou um selo como endereçada ao futuro.
Em seguida pegou mais um papel e começou a escreve mais uma carta
e depois mais uma, e assim permanecendo até amanhecer, e quando os
primeiros raios do alvorecer adentravam a janela uma voz se ouviu
atrás dele exatamente como no sonho, era seu filho mais novo vindo
falar com ele.
Pedro sorriu com fé em Marchal como através de Kairos
mesmo conhecendo de linhas más e tiranas que lutavam para tirar o
sentido de suas vidas, lembrando-se do que disse meu amigo “não
foram para onde, mas quando, Pedro, tudo é uma questão de Tempo”.
Pedro nunca mais encontrou seu filho de aventuras deixando
algum vazio dentro de si, ele voltaria a realizar viagens e se tornaria
governador de Cuba, porém, nunca alcançaria o lugar que almejou no
interior do Brasil que era a mítica Akator.
Mato Grosso, Brasil, tempos atuais.
Quando o avião pousou a primeira coisa que Dr.Petrônio fora procurar
as autoridades legais a alerta-los sobre aqueles homens que visavam
saquear e matar. Os oficiais da lei em seu dever inicialmente não
deram crédito, mas ao mostrar as evidências que lá nos levaram em
relação ao ocorrido na Espanha e em Roma, perceberam haver de fato
algo negativo acontecendo.
Fomos orientados as autoridades a que relatasse ao delegado
federal o ocorrido, porém, mediante o tempo curto tínhamos que
seguir ao destino e começar uma expedição na Serra do Roncador.
Lhes fornecemos material e fotos dos meliantes e assim um policial
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 164
reconheceu quando algo soou chamando os policiais a algum
incidente.
O que sucedeu é que algum tipo de engavetamento aconteceu
numa rodovia nas mediações da entrada a trilha para a serra
supracitada. E dado o grau de coincidências nossos anseios foram
confirmados, era trabalho da Ordo Ad Chaos, fazendo seu Ordo Ab
Chaos. Os policiais nos orientaram a ver as imagens quando vimos o
rosto de William Sanchez passando segundos antes do “acidente”.
Vendo que seria uma sabotagem com as visíveis assinaturas os
policiais foram a encalço de Sanchez e lhe detiveram levando para
interrogatório.
O homem era tenebroso e tinha apesar da aparência educada
algo negativo que dele exalava. Sentando numa mesa como se nada
tivesse acontecido, as autoridades contataram o exterior e buscaram
seus antecedentes não havendo nada em sua ficha. Naquele momento
Elijah Muros virou-se para nós e disse ao ver os documentos dele.
- William Sanchez, descendente de Renne Sanchez, adversário
de Pedro Menéndez. Não pode ser coincidência, no destino nada o é. –
disse ele intrigado tendo minha atenção – eles são como o abismo, e o
que faz o abismo se não engolir e nos anular, tornando tudo em vão?
Enquanto existem boas estirpes as más são percebidas igualmente por
seus frutos, quando os tem.
- Lidamos com o sistema perfeito para criar atentados por
reatividade síncrona, ou seja, eles criam "acidentes" sem traços de que
não fora. Um sincronizador de eventos, por meio de uma tecnologia
que prevê padrões caóticos na ondularidade do tempo. – Disse Zaira. –
Ao prevermos tais padrões por acaso com um projeto multinacional
realizando em convênio com o Vaticano.
Na verdade aquele evento entre parentes eram síncronos, sem
ter ciência um do outro, Sanchez seguia o designo negativo de modo
não linear com destinos semelhantes entre ambas famílias.
Naturalmente que não se poderia generalizar, pois de todo rebento
assim como bons membros haveriam, também haveriam as “ovelhas
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 165
negras” da família como dizia o ditado comum. Naturalmente que as
autoridades ficaram perplexas porém, abstenho de provas nada
poderiam fazer com o caso.
Fosse o que fosse aquilo levou todo o dia até que percebemos
que tínhamos que seguir, pois naturalmente ele poderia ter sido pego
deliberadamente até que sua equipe seguisse em frente para nos
atrasar. Porém, naquele momento eles receberiam uma ligação
improvável do Vaticano ao constatar que Augustin Milagros havia
desaparecido do laboratório, e nenhum sobrevivente restou para contar
a história, os deixando duvidoso.
- Sendo William Sanchez quem o sequestrou e não pediu
resgate ou algo em troca, tenha certeza, ele está morto. - Disse Zaira
sentando na beira da cama.
Porém, naquele momento algo se ouviu na porta do quarto do
hotel onde estavam batendo na porta. Muros levantou-se e ao lado de
mim fomos até a porta e ao olhar pelo olho mágico ninguém havia, e
em seguida ao abrir sob o olhar atento de dr.Petrônio vimos no chão
uma cabeça de porco ensanguentada dizendo num bilhete “vocês
querem um Milagro?”
***
Não longe dali, em meio a densa floresta, a equipe de William
Sanchez se aproximou de uma clareira quando avistaram uma aldeia
com índios armados de arco e flecha, os Kalapalo cujo nome significa
‘do outro lado’. Anos atrás haviam mentido ao serem descobertos
pelos irmãos Vilas Boas sobre o desaparecimento de Percy Fawcett
nas regiões do alto Xingu, a fim de proteger aquele lugar e
posteriormente expulsaram uma equipe de exploradores da região que
continua inexplorada.
Porém, agora eles enfrentariam pessoas hostis, que de modo
impassível os homens tiraram suas armas as empunhando quando um
índio surgiu atrás deles lhe apontando as flechas e falando em seu
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 166
idioma para se renderem. Quem liderava o grupo vendo que mais dois
índios estavam na copa das arvores pediu para abaixar as armas
apenas por temer serem mortos antes que o matassem aqueles índios
eram os guardiões de Akator conforme a lenda, e onde um homem
com visíveis traços chineses vestindo-se como índio surgiu falando a
língua deles e olhando-os diretamente nos olhos quando tirou um
papel onde estava desenhado um rosto e palavras em chinês.
A aldeia tinha de fato descendentes chineses que lá ficaram
séculos atrás para proteger a dita cidade perdida indicando que
estavam eles próximos, o homem do grupo invasor esboçou um
sorriso de cordialidade, porém, sem sinceridade para tentar lhes
ganhar a confiança ao notar que a imagem do papel não correspondia
a daqueles homens.
Naquele momento outro membro do grupo surgiu dentre a
mata chamando a atenção dos índios viraram-se dando tempo para que
o invasor ordenasse que os matassem e assim dispararam com suas
armas matando-os e fazendo o pessoal da tribo se agitar nervosamente
gritando em seus idiomas e levando as mulheres e crianças a um lugar
seguro quando o homem apontando para a aldeia disse.
- Matem esses insignificantes, são apenas menores em nosso
caminho!
O que seguiu fora uma sucessão de tiros que assustaram os
pássaros das arvores que levantaram voo, tiros que não se ouviram na
civilização a muitos quilômetros dali até que poucos fugiram e os
restantes foram mortos sem chance de defender-se. O homem com
olhar impassível apenas via-se sua face trepidar com os coices da arma
ao dar os tiros e quando o silêncio tomou o lugar por toda vida ter
cessado, caminharam entre os corpos a procurar quaisquer coisas de
valor quando viram dentro de uma oca, uma capacete e o diário muito
antigo com fotos de Percy Fawcett. O homem pegou aquilo e então
virou-se para uma mulher armada como uma semiautomática e disse.
- Queime esse diário e todas evidências, estamos perto.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 167
Naquele momento um índio caído no chão baleado se remexeu
agonizando e virou-se para o homem que se aproximou e ao vê-lo e
colocou sua botina sobre seu tronco. O índio ferido fatalmente apenas
perguntou a ele.
- Por que?
Ao longe ouviu-se um tiro ecoar por toda floresta fazendo-a
em seguida mergulhar novamente no silêncio que a seguia quando o
vento cessou de soprar sobre suas arvores.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 168
Ato X
A Cidade Perdida
"O Destino não faz visitas, é preciso ir atrás dele."
Carlos Ruiz Zafón
Guerras Napoleônicas, Badajoz, Espanha, 25 de janeiro de 1817
No meio do caos provocado por mais uma batalha nas guerras
napoleônicas homens correm bravamente desembainhando suas
espadas e indo com ferocidade ao outro lado das linhas adversários
naquele front. O céu cinzento pela fumaça de explosões e das
primeiras armas de fogo dividiam espaço com corpos caídos ao chão
como baixas de guerra. No comando Jorge Juzarte de Avillez, o
Coronel da coroa portuguesa a defender o estandarte de sua nação
servindo a Brigada do Algarve em conjunto com o exército Britânico
para expulsar os franceses daquela terra de seus ancestrais.
Explosões se ouvem ecoando entre gritos e feridos gemendo
de dor caídos ao chão quando Jorge atravessa o campo ao ver homens
recuando com ferimentos pelo corpo e grita.
- Quem mandou recuarem!? Mandem mais soldados ao front!
– Disse Jorge.
Os subordinados obedeceram seu Tenente-general e assim
fizeram após socorrerem os feridos quando um destes parou diante de
Jorge ensanguentado e disse.
- Estava me escondendo numa trincheira com mortos senhor.
– Disse o soldado ferido.
- Ótimo, então vá a enfermaria, agora não é mais surpresa. –
completou ele colocando sua mão no ombro do soldado e disse – Bom
trabalho soldado.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 169
Jorge de Avillez era Fidalgo Cavaleiro da Casa Real conforme
a carta que o nomeou em 6 de janeiro de 1794. Condecorado inúmeras
vezes por comandar tropas e servir a coroa portuguesa reuniu títulos
como Coudel-mór da Comarca de Portalegre num período
relativamente curto e se tornando promissor carreirista militar com
apenas 32 anos. Ele havia nascido em 28 de março de 1785.
Porém, mesmo com os êxitos nas guerras que seguiam na
Europa por causa de um baixinho imperador francês que apesar de
demasiado feroz era um estrategista nato, as batalhas ainda
arruinavam homens e famílias em seus anos de duração, quando numa
trégua daquele combate Jorge retornou a sua tenda onde sentou-se
após falar com seus generais sobre os próximos passos. Um jovem
mensageiro adentrou o recinto e após cumprimenta-lo disse que
alguém lhe enviara uma carta endereçada a ele.
Jorge agradeceu ao jovem pedindo para quem um tenente lhe
desse água e em seguida abriu o envelope silenciosamente a notar que
o papel do interior era muito mais velho que o exterior. Jorge viu que
a carta não havia em qualquer ponto seu nome, mas embaixo notou
que estava assinada por Pedro Menendez de Avilés, no tempo em que
sua família ainda não tinha fugido da Espanha pelo irmão do rei que
eram partidários ao tomar o trono. O jovem estava se retirando após
beber um pouco do líquido quando Jorge lhe perguntou.
- Quem lhe passou essa carta?
- Não sei o nome senhor. – Disse o jovem. – Apenas me
entregou e pagou uma gorjeta dizendo para entrega-la no front. Era
um homem franzino, moreno e calvo com comprida barba branca.
Parecia afável e simpático, na verdade me cumprimentou com uma
cordialidade peculiar, não resisti a seus encantos.
- Não conheço. – Disse Jorge – Como se vestia?
- Sim, ele estava diferente dos demais, usava uma espécie de
capa branca e atrás tinha uma estrela dos ventos, distinto cavalheiro
diria.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 170
Ao ouvir aquilo Jorge ficou perplexo e dispensando o jovem a
seguir com seu trabalho tirou o chapéu e abriu um pouco a gola do
pescoço para escapar melhor o suor e então resolveu ler a carta que
estava em espanhol.
Ao que ler esta carta e com isto se identificar certamente é
meu herdeiro. Não herdeiro de riquezas materiais ou das
mentiras de impostores e piratas salafraios, mas uma herança
o qual preserva o destino do qual faz parte, o tempo que mais
vale do que terras, não por contenção e sendo contradizente,
mas por verdade o qual o elo consanguíneo nos une. Peço-lhe
porém, de antemão diante do amargo de não ter alcançado
meu alvo que o faça por mim, por nós, pois muito padecemos
por séculos por isto. Perdi um amado filho, e muitos de meus
irmãos de conhecimento e origem, mas não admitamos perder
nosso destino por aqueles que o interrompem como
antinaturais.
Tu que sendo homem de hombridade e varão varonil repousas
sobre a verdade, sabe da mentira e da ignorância e com espada
corrige os perversos, enfrenta batalhas e sobre ela as triunfa,
fidedigno a verdade com o estandarte da coroa portuguesa.
Honra ao sobrenome que carregas ainda que igual perseguição
lhe sobrevirá, quando disto tomar conhecimento, pois os que
são marcados pelo destino também são marcados pelo mal. O
mal a todos que o possuem busca anula e aniquila a todo
valor, pois são os algozes, servos do diabo e da mentira.
Nobre herdeiro cujos títulos da nobreza lhe predizem, não de
Cristovão Colombo que levou as terras do além mar, mas
anterior até mesmo aos que lhe inspiraram, os chineses.
Compreenda o que há nas terras do além atlântico, pois no
meio do pó do solo o tempo guardou riquezas que os mesmos
chineses buscaram, conhecer. Vi o futuro, e vi você, o qual a
estas terras irá conhecer, o Brasil. Procure tal riqueza e veja a
eternidade dentro de seus olhos e poderá me contemplar face a
face.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 171
Adentre o Brasil, e o que seguirá do que conhecer na
imponente pedra diante do mar cuja face lhe perdiz, nela o
conhecimento que lhe conduzirá até a raiz da verdade que não
está fincada no solo, mas no tempo da eternidade. Procure o
Guardião do Sul, pois ele te procurará, honre a verdade e ela
te honrará com a eternidade. Guarde tais palavras em sigilo,
nem entre seus irmãos de combate ou grupo. Você
compreenderá, mais que palavras a verdade que elas diz.
Ao terminar de ler aquilo e ver a assinatura do histórico
homem conhecido por colonizar parte dos Estados Unidos, Jorge ficou
perplexo e introspectivo dobrou a carta como assombrado pelo
conteúdo dela, querendo compreender como um homem poderia falar-
lhe antes mesmo de nascer, quando simplesmente algo irrompeu a
tenda com o esvoaçar do pano quando um homem adentrou tirando o
chapéu e prestando continência a Jorge.
- Jorge Avillez? – Disse o homem em continência.
- Sim. – Respondeu Jorge erguendo o rosto e guardando a
carta numa pasta.
- Venho em nome do príncipe a lhe convocar a Divisão de
Voluntários do Príncipe. – Disse o homem colocando-se em posição
de descanso e seguiu ele – Tenho ordens mediante a organização de
tal divisão se juntar a nós para conquistar Montevidéu.
- Estou em combate meu caro, não vê? Como poderia
abandonar meus homens no front?
- Lhe será dado o posto de Marechal de campo. Organize-se e
deverá partir dentro dois dias.
Jorge não poderia negar, afinal aquilo vinha diretamente do
príncipe da corte a estender o domínio da coroa sobre a América do
Sul e coincidentemente justamente ao ler aquela carta o qual todos
sinais a ele destinava ainda que sem seu nome a indicar o mesmo
rumo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 172
Assim o audaz cavalheiro da Ordem de Cristo que era Jorge
seguiu as instruções de ambas como confirmação de consenso do
destino, agrupou seus homens e passou o encargo do comando a um
colega de divisas e seguiu rumo ao porto após longa viagem até
Barcelona quando depois de horas exausto parou a esticar suas pernas
e tomar e comer algo adentrando num bar quando um homem se
aproximou.
- Senhor Jorge de Avillez? – Disse o homem com cabelos
lisos abaixando um capuz e com um cajado em mãos e um sorriso
cordial no rosto. Ele falava português.
- Digas! – Disse Jorge virando-se sobre o que estava sentando
dentro duma carruagem aberta.
- Percebo que o senhor recebeu a carta do eternificado Pedro.
– Disse ele tendo um aceno positivo de Jorge e agora tendo sua total
atenção. – Pois então, lhe oriento procurar que tal carta lhe passou, ele
está na no local que lhe forneço aqui. – Completou ele entregando-o
um papel com anotações onde indicava um endereço Taberna de
Eliseu e então deu-lhe as costas após lhe prestar reverência e fora
andando entre os homens sentados a beber e comer.
- Espere! Quem são vocês? – Perguntou Jorge fazendo o
homem parar e virar-se para ele.
- Filhos do Tempo, senhor, talvez seus irmãos, pois com o
tempo as linhas se confundem, mas não com tanto tempo para lhe
instruir. O senhor está sendo observado, por isso não lhe abordamos –
disse ele apontando com os olhos para um grupo de chineses que
estavam sobre um caixote. – Siga firme, constante senhor, pois o
destino está no caminho constante.
- Como vocês conseguiram esse documento? – Indagou Jorge
novamente, intrigado.
- O tempo nos revelam coisas pelo vento, e a água os reserva.
Somos herdeiros comuns a ele. – Falou o homem com um sorriso
cordial e então abaixou-se e dando as costas levantando o capuz e
disse. - Procure o guardião do sul, o destino do futuro está nesta
direção e você saberá seu designo e de seus descendentes.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 173
Intrigado com tudo aquilo Jorge tomou uns goles e comeu
algo refletindo sobre as possibilidades que aquilo lhe traria. Pensou na
verdade se tratar de algum negócio da Ordem de Cristo, mas não, era
algo que envolvia sua família e herança naquela terra onde eles
habitaram por longos anos.
Assim levantou-se ele movido pela curiosidade até o lugar que
lhe era emparelhado e poucos minutos de caminhada pela cidade,
seguindo as dicas de habitantes sobre o dito lugar chegou-se ao
destino onde uma placa anuncia Taberna de Eliseu.
Ao entrar Jorge sentiu-se perdido por ser um ambiente
destoado do que lhe era por costume e tão logo compreendeu o nome
da Taberna ao ver um cliente chamando o dono por Eliseu. Jorge
olhou ao redor, sentindo-se peixe fora d’água quando um homem
sentando numa bancada lhe acenou o rosto. Um homem com a mesma
descrição dada pelo mensageiro. Jorge se aproximou firme ainda que
por dentro hesitante, mas tão logo o homem cortou o gelo abrindo um
sorriso amigo a ele.
- Por favor, sente-se. – disse o senhor tomando um gole de
alguma bebida.
Jorge olhou-lhe receoso, mas em seguida olhou para os lados e
resolveu sentar-se diante dele.
- Não é o ambiente adequado as suas divisas, certamente. –
Respondeu o homem – certamente aqui estás motivado pelas
perguntas que lhe sobrevieram, a carta. Porém, por mais intrigante que
lhe pareça, você mesmo é a resposta.
- Como conseguiram aquela carta? Como poderei conceber
que não é de algum impostor? – Retrucou Jorge.
- Naturalmente. – Respondeu o homem – essa é óbvia, não?
Porém, lhe digo que assim como a dúvida é uma pergunta e a fé é a
resposta, o destino é a fechadura e nós as chaves. Quais portas desejas
abrir?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 174
- A do futuro? – Indagou Jorge – Qual sua graça?
- Pode me chamar por Dr.kairos Mahalingam. Mas alguns me
conhecem apenas por guardião do sul, aquele é mítico como o vento
que murmura. – Completou ele tirando uma pasta aparentemente
comum e dentro delas papéis com documentos.
- O homem pede a legitimação por registros e documentos,
mas a burocracia é criação do demônio. Todavia serve-nos como
prova de quem somos ao contrário de impostores, pois a verdade
sempre deixa evidências, evidências que estes desejam apagar ou
cobrir.
Dr.Kairos Mahalingam, como se referia lhe mostrou papéis
sobre a bancada com carimbos e selos oficiais da realeza espanhola e
do período de Pedro onde sua caligrafia era visivelmente a mesma.
Havia também anotações comuns onde ele mencionara livros de uma
certa Ordo Christianista Ad Ventus que a Jorge era estranha.
- Temos alguns documentos e livros que adoraria lhes mostrar,
porém, Jesuítas sobre escritos de livros que não são hereges, mas fora
da compreensão comum. – Disse o homem. – Há outros, porém, lhe
digo, cuidado com estes que cobram preço a quem é o autor, os que se
dizem essenciais a ti mas desejando dispensa-lo e substituí-lo, esses
são o próprio mal o qual lutamos. Pois nada mais servil que aquele o
qual tira o destino.
- O que desejas de mim? – Disse Jorge agora convencido dos
documentos e da autenticidade da carta.
- Somos algo que nunca se viu, mas assim como o vento se
sente que existe. – Disse o Guardião do Sul. - A Renascença e tudo o
quanto, fora nosso toque, o tempo por nós corrido a seu rumo natural,
a descoberta do novo mundo por nós orientada, somos os ventos que
sopraram em suas velas, o leito do rio do tempo. Oh Tempo virginal o
qual a pureza lhe trás! – Disse o homem pegando os papéis e
guardando-os novamente e a taverna agora estava vazia - Somente o
que for purificado nas águas do tempo podem dialogar comigo
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 175
abertamente e são poucos os dignos disto, os mais limitam-se a
bifurcar palavras por línguas peçonhentas.
- Fui eu purificado? – Indagou-se Jorge intrigado.
- Sim, homem de batalhas, suou e padeceu ainda que sob bom
estandarte, como o que nós instruímos a Pedro em seu treinamento. –
Respondeu ele. - Somos um clã dos tempos, por algumas famílias
perseguidas e muitas vezes marginalizadas incluindo os Avillez, sendo
daquele modo um lugar de abrigo para tantas famílias, linhas de
predestinados a feitos revolucionários, o celeiro destes até que a
maldade os tire. Fomos criados por um homem de fora do tempo, o
misterioso Heidrun Adail que reuniu a linha dos tempos,
sobreviventes de Pitah
- Pitah? – Indagou Jorge
- Há muito tempo atrás houve a lenda de uma cidade que fora
apagada da história por pessoas que arbitrariamente julgavam quem
deveria ser lembrado ou não, contra toda linearidade natural e
evidências factuais. – Disse doutor Kairos e seguiu - O nome desta
cidade era Pitah. A escrita determinou o fim da pré-história a história,
porém, de algum modo estes possuíam escritas anteriores, uma língua
que deu origem ao hebraico e continuou a ser usada por eles nos
séculos posteriores para seus escritos não serem decifrados.
O lugar resplandecia em meio a um deserto como um oásis,
vegetação com arbustos e coqueiros típicos do clima da região entre
cortados por um sistema de aquedutos que irrigava o plantio de uma
agricultura autossustentável, tudo vindo de fontes subterrâneas
escavadas com muito afinco por homens que apesar de duros no
trabalho tinham líderes intelectuais que passavam as noites
contemplando as estrelas, e não apenas para poderem determinar as
maravilhas e alinhamentos nos ciclos astronômicos que determinavam
os períodos do ano, mas a de eventos futuros.
Não era uma civilização demasiada grande, todavia os homens
e mulheres que nela habitavam eram justos que colhiam apenas o que
plantavam, tinham frutos apenas próprios, e que se tornaram nômades
desde tempos distantes quando supostamente seguiram um caminho
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 176
diferente a de seus irmãos, filhos de Noé. Na verdade, guardavam
consigo algo que carregaram na Arca, conhecimentos anotados em
pergaminhos antigos que traziam tais conhecimentos herdados de
ninguém menos que Seth, o filho de Adão. Numa cúpula central na
cidade havia guardado o que eles recuperaram após o dilúvio, uma
coluna de onde advinha todo conhecimento astronômico e pai de todas
distorções posteriores de megalíticos e a astronomia, algo tão
importante para eles que eram guardados por homens o qual eram
criados desde a infância especialmente para aquilo, se tornando os
mais cultos da tribo e que com habilidades incomuns, por meio de
interpretações liam o que aquilo lhes falava sobre o futuro.
Não eram exploradores, porém, sendo homens de fé ao
debruçarem-se sobre o futuro armazenavam uma ínfima quantidade de
água o qual considerava ser de Avila, um lugar do Éden a muito
perdido, água esse que teria propriedades da chamada 'água da vida' o
qual poderia permitir ver o tempo de fora do tempo linear, no tempo
de Kairos.
Tudo era prospero entre aquele povo que não se interessava
em expandir seus horizontes explorando outros povos e conhecendo
outras culturas, vivendo apenas entre si sem importunar quaisquer
mais. Porém, assim os escolhidos têm a marca do destino também são
marcados pelo mal e não demorou a quem um dos guardiões da coluna
visse sinais de alguma tempestade a se formar no horizonte, trazendo
homens maus e impassíveis. Um filosofo de quilate imensurável as
virtudes humanas dos setianos e um dos mais hábeis em decifrar a
coluna, ele prevê 'a tormenta' que de modo antinatural viria a aniquila-
los, violentar suas mulheres, matar suas crianças, furtar seus
conhecimentos e derrubar suas edificações de modo que aos
sobreviventes que ficassem seria escravizados, assim viu ele ante
aquela observação ao beber daquela água. O jovem aprendiz de
guardião temporal, como se referia ficou assombrado com as
revelações de seu mestre e tutor e caiu em prantos quando ele lhe
falou.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 177
- O Futuro se move, eu sinto, nossos herdeiros como embriões
no tempo. Não temas, nos espalharemos, mas sobrevivermos, assim
como os futuros hebreus. - Disse o homem com sua veste esvoaçante
ante o vento ao contemplar as dunas nos limites da cidade e continuou
- Preste atenção o que lhe digo, assim como a Noé fora mostrado
construir a arca, guarde os pergaminhos com os conhecimentos do
tempo e selecione homens para cada qual a uma direção cardial. Aos
quatro cantos do mundo.
O jovem obediente a seu tutor vendo como homem de
hombridade e justiça seguiu o que ele disse e selecionou aqueles que
consideravam os melhores homens da tribo, hábeis agricultores e
caçadores e foram instruídos pelo filosofo e guardião do
conhecimento da tribo. E eram 32 os homens que seriam guiados por
mais 5 totalizando 37, cada qual as 32 direções do vento conforme ele
disse, carregando conhecimentos e mostras daquela água muito
incomum.
O dia havia chegado e o povo temoroso se preparava para
invasão, muitos fugindo e outros se escondendo, mas alguns se
preparando para defender seu mestre que lá permaneceu após instruir
a levar a coluna até a beira de um rio e lá enterrar. Diante dele, o
Mestre disse.
- Vá como os ventos vão, que o sopro deles sobre vocês os
carreguem como as sementes das plantas e frutifiquem como todos o
são.
Os homens partiram e numa noite o jovem que lá permaneceu
viu homens surgiram do alto duma duna carregando lâmpadas e com
olhares tenebrosos sobre eles, de cobiça e rancor, como se soubessem
o que procuravam. O mestre disso sabia e assim sentou-se com os
ventos a balançar suas túnicas e de joelhos orou a seu Deus ao vê-los
se aproximar, conhecendo seu fim pois eram homens perversos. E
assim atacaram a cidade massacrando a todos que lá permaneceram, e
queimara suas casas, furtaram seus conhecimentos restantes, e as
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 178
poucas mulheres a possuíram a força e nelas criaram bastardas e os
que não morreram fora escravizado, nem mesmo os homens foram
poupados dos coitos, e levados até uma terra distante. Mas o chefe
destes ao conhecer o Mestre, seu líder, conheceu sua origem e então se
proclamou como Seth, mas que tendo por destino o caos que lançou
sobre aquela cidade aniquilada impiedosamente, pois ele apenas
extirpava os destinos como os intestinos de seus animais, ladrão servil
abreviou a vida deles contra todo natural, nada colheram, mas foram
colhidos a espada. Assim eles prosperaram com seu conhecimento,
fizeram riqueza, tiveram mulheres e ergueram um império.
Mas aos fugitivos padeceram, muitos adentraram a tantas
civilizações, Ásia, europa se espalharam até descobrirem uma terra
isenta de homens perversos, do lado oposto do planeta em terras
selvagens e com a ciência de seu descendente construíram uma arca
navegável e pelo oceano atravessaram e lá construíram Akator.
Ao concluiu aquela história sorriu após olhar para o vazio
como se contemplasse as imagens daquele lugar e tirou de dentro de
suas vestes um diário, o diário de Pedro e deu-lhe nas mãos de Jorge e
disse.
- Onde fores carregue o conhecimento como parte de si
mesmo, pois você é do destino e o destino é de você, vivem em
simbiose. A cada direção, um tempo, um destino, lembre-se destas
palavras como quem lembra das horas. – Respondeu o senhor
simpático de modo cordial – Conhecereis a verdade e ela vos libertará.
Tudo muda com o tempo, as rosas murcham, e as rochas de desenham,
mas as pedras como a verdade permanecem.
- O que devo procurar no Brasil? – Perguntou Jorge que em
pouco tempo de conversa fora cativado por aquele senhor de modo
que confiou nele como por fé.
- A cidade perdida o qual os espanhóis procuravam dentro de
seu tratado de Tordesilhas e conforme o diário, algo que Pedro
procurou, lhe destinando completar sua obra. Siga os rumores, os
boatos lhe indicarão, mas antes visite a Pedra da Gávea onde repousa
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 179
a face de um mestre do tempo, no Rio de Janeiro. Porém, atente a isto,
os maus também têm sua linha, e anseiam destruir a linha dos bons e
usurparem seus desígnios para si em contradição a tudo que a palavra
prega, mas se dizendo parte dela. Eles têm vários nomes ao longo dos
tempos e gostam de se incluir e invadir onde não estão, e nos excluir
do que fazemos e somos parte, assim como do destino. Certamente o
conhecerá, pois bebi da água de Avila, o Elixir de Kairos, a última
poção, pois o mais buscará.
- Quem é este?
- Lendário adversário de Pedro, e assim como tantos outros
pegará a ganância e lhes perseguirá. O Ladrão de destinos, nunca
herdeiro por testamento, registro ou consanguíneo, sem legitimidade
alguma tomará o trono e se firmará como deus, mas não o bastante,
pois o destino ele não escolhe, mas o destino escolhe os seus, e o
tempo os testificará com sinais e obras.
Naquele momento a porta se abriu e entrou um homem
incomum fazendo Doutor Kairos abaixar o rosto na direção de Jorge e
falar.
- O destino lhe aguarda, o tempo o mais lhe responderá, mas
agora vá! Pois agora você está no centro duma conspiração. – Disse o
homem se levantando e então seguiu dizendo – Falarei contigo em
terras tropicais. Lembre-se os que te anulam caso dê certo, são os
mesmos que o chamam de líder caso dê errado para eles.
O homem se retirou caminhando até o balcão e colocou umas
moedas sobre ele pagando a bebida e retirou-se do recinto passando
pelo homem que havia adentrado com olhar tenebroso. Jorge fez o
mesmo, e ergueu-se seguindo a passos largos para retirar-se daquele
lugar insalubre.
Seguiu então ele até sua terra e de lá partiu para o Brasil numa
longa jornada de dias cruzando o atlântico até por fim finalmente
visualizar terras tropicais onde o calor os anunciava a aproximação
por gaivotas e por demais seres amistosos.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 180
Mato Grosso, Brasil, tempos atuais
Caminhava pela floresta quando ao entrar em mata fechada a mais
feroz nuvem de insetos me atacou selvagemente durante todo percurso
na trilha. Com diversas picadas resolvi parar no meio do percurso
tomado pela vegetação a engolir a trilha de modo extenuado pelo calor
intenso na ausência de ventos, quando reparei algo no chão. Abaixo-
me e pego o que aparenta ser um relógio e dentro dele um desenho
cortando os ponteiros da mesma estrela dos ventos que os chineses
utilizavam.
Viro o relógio e atrás noto as inscrições gravada P.F. 1910.
Naquele momento porém, alguém surge por de trás de mim e coloca
as mãos no meu ombro e me assustando viro-me a observar para
minha surpresa ser ninguém menos que Percy Fawcett que com um
bigode engraçado e um capacete de caçador antigo sorriu para mim e
pediu o relógio que estava caído entre a vegetação, quando acordei.
Sentei-me na cama e vi que eram 7:46 da manhã quando notei
que apenas Muros dormia um sono profundo e agradável como poucas
vezes dormira nos últimos anos. Naquele momento ouvi Zaira num
outro cômodo dialogar com alguém ao telefone e parecia reclamar
sobre o infeliz achado na porta daquele quarto de hotel.
- Como não tem ideia de quem jogou aquilo? – Disse ela tensa
ao telefone – Sem digitais, veio do nada? É como crer que existem
frutos sem arvore e livros sem autores! Sei... – disse ela e fez uma
pausa - E ainda por cima liberam o calhorda do William Sanchez?
Essa gente é comprada, não é possível!
Ao finalizar a ligação ela sentou-se numa cadeira e olhou para
Petrônio como se todos seus esforços fossem em vão, talvez fizesse
sentido a alegação de que ante o caos negativo todo livre-arbítrio e
consequentemente o esforço resultante dele, estaria anulando-se,
enquanto William Sanchez aparentemente parecia zombar de nós
tentando completar algo ainda mais malévolo, pois não tínhamos ideia
do que exatamente poderia haver em Akator.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 181
- Li o diário e busco compreender o que Jorge teria encontrado
lá, e não consigo compreender que minha família guardasse tal
segredo. – Disse eu ao nosso amigo Muros.
- Tem que compreender que por de baixo de eventos oficiais
da história existem coisas que na realidade mostro as verdadeiras
causas desses eventos históricos, do descobrimento das Américas a
sua independência havia interesses de poderosos por de trás. –
Respondeu ele esfregando o rosto por estar levantando-se naquele
momento. – A obstinação dessa gente é esconder a verdade.
- Sua família fugiu da Espanha – disse Zaira virando-se para
nós – A versão oficial narra que recebeu esse nome ao serem
recebidos por Rui Peres, como um apelido por serem de Ávila, uma
vila de Astúrias. Foram perseguidos após o Rei Pedro, o Cruel, ter
sido destituído do poder por seu irmão Henrique, por serem
partidários e fidedignos ao poder da coroa legitimado até em tão. Não
existem menções a qualquer Ordem dos Ventos, sendo, porém, alguns
membros associados a Ordem de Calatrava, o qual tinha ligações com
a Ordem dos Templários e Cister, ordem reconhecida pelo Papa em
1164.
- Naquele tempo eram muito comuns ordens militares a
serviço do Vaticano até serem abolidas no século XX – disse Muros
continuando o que Zaira falava – porém, o que atraí isto era
justamente a trama de poder e conspiração que na época deles levaram
a destituição do antigo rei, e naturalmente os jogos de interesses não
eram apenas por relações importantes que os Avillez tinham em
Portugal. Tens as mesmas descendências dos reis de leão que Pedro
tinha e certamente eram descendentes comuns. Alguns poderiam
atribuir isso a prováveis relações do Santo Graal dos reis da Dinastia
Asturo-leonesa ou Pelagiana, de 866 à 1037, pois algumas construções
da época tem relações com o mito, mas não. Antes destes o estudo
genealógico se torna nebuloso de mais para tais afirmações a não ser
uma coisa, alguns conhecimentos e tradições. – Completou Muros
pegando um copo de leite e tomando quando Zaira pegou a deixa e
seguiu.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 182
- Ao meu ver a fuga deles tem relação pelo fato de o Rei
Pedro ser adepto dos conhecimentos desses Avillez que por iniciativa
própria após a fuga resolveram não transmitir a seus filhos por temer a
perseguição, mas concebendo que tornaria ao mesmo. – Completou
ele.
Os nobres fugitivos da então corte do Rei Pedro, se dirigiram
sob instruções a Portugal. A cordialidade com que foram recebidos é
notória ainda que não se veja provas de quem tinham laços tão
estreitos com estes nobres de Portugal o que denota que sua influência
era mais que por dinheiro. Recebidos por D. Álvaro Gonçalves
Pereira, prior do Crato, na época em Portugal, Domingos de Avilez
recebeu suas honras e graças e a atribuição do nome Avillez não teria
sido ao acaso ao relacionar-se com a cidade de Avilés e não por menos
considerados variações de mesmo nome e família. O fato é que tão
logo foram arrumados casórios adequados a estes, de modo que
Fernando de Avillez recebeu a oferta de casório de D. Álvaro
Gonçalves Pereira ao oferecer a mão de sua filha. Porque? Queriam
ter uma herança em comum. Casamentos entre nobres e famílias
influentes na época eram muito comuns para fortalecer laços e
influência por heranças comuns e cruzadas a estas. O que se seguiu
levou a tantos mais Avillez influentes até chegar ao destacado Conde
Jorge de Avillez que acumulou notórios títulos ao longo de sua vida,
se tornando um clã muito influente no período.
- A perseguição vem de gerações então. – Concluo eu.
- Uns membros mais e outros menos, mas não é por acaso. –
Respondeu Zaira – evidente que nesta história alguns aparente
encobertamentos, apenas ligamos os pontos.
- Temos que seguir – disse Petrônio – Fica evidente pra mim
que aquilo que Sanchez fez fora apenas para nos atrasar e desviar as
atenções.
A Conclusão de Doutor Petrônio era óbvia e acertada sobre o
dito, uma vez que não havia quaisquer interesses particulares de
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 183
Sanchez fazer, mas atentados terroristas na região, pois tinha perfeito
entendimento que buscávamos igualmente a mítica cidade.
Rio de Janeiro, Governo Militar da Cisplatina.
Jorge Avillez havia retornado do Uruguai após mais uma campanha de
sucesso onde fora Governador de Montevidéu em 1818. Movido ao
Rio de Janeiro, fora promovido ao cargo de Tenente General após ser
nomeado como Governador das Armas da Corte e Província do Rio de
Janeiro quando ao partir do Rei e da corte em 1821 tumultos ocorriam
motivados por sua partida. Aquele era um dos primeiros sinais da
emancipação onde os contornos se formavam aos céus pelos ventos.
Ainda que atarefado, Jorge de Avillez viu num momento de
descanso a oportunidade de procurar as pistas deixadas até a Pedra da
Gávea onde resolveu realizar uma incursão num fim de semana, em
segredo e apenas com dois homens de confiança.
O Dia era claro, a visibilidade notável não bastando o fato de
que na época não havia a poluição que havia hoje, mas ante um ar
puro e refrescante Jorge como a muito não fazia resolveu se aventurar
numa escalda carregando cordas ao lado de seus amigos Domingos
Peres e Álvaro Nogueira. A caminhada gradualmente se tornou
acentuada e com as arvores bloqueando os ventos, abafado. Não
haviam fontes de água pós certos altura, mas sendo prevenido haviam
cantis de água pelo fato dos irmãos conhecerem a geografia do lugar
assim como suas lendas que o envolviam.
Caminharam eles alguns longos minutos até que viram o que
justificava o mito que lhe cercava, um rosto visivelmente reconhecível
na face praticamente escondida do mar e onde ainda que desgastada
pela vento e ações climáticas como a chuva tornava evidente a estes
que eram provas de uma visita ulterior de povos não europeus aquele
lugar, ainda que alguns afirmassem que justamente eram as ações
climáticas que havia lhe dado aquela forma.
Vislumbrado com aquela paisagem, Jorge bebeu um gole de
água e tirou da pasta o diário de Pedro onde curiosamente vira aquele
desenho sem que ele se quer tenha conhecido aquelas mediações, e
fosse o que fosse ele prosseguiu. Cruzaram eles um trecho íngreme
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 184
onde ao escalar com dificuldade conseguiram após mais alguns
minutos de caminhada chegar ao topo, topo este cuja vista única
poder-se-ia contemplar todo um Rio de Janeiro praticamente sem
cidades, casas e construções.
As instruções diziam de um Rei Fenício que teria precedido o
conhecimento dos chineses, porém, estavam enganados. Jorge
caminhou pelo topo ao lado dos amigos procurando quaisquer
entradas em vão, sem cavernas, mas notaram eles haver cortes
verticais nas pedras em paralelo por todo um lado daquela enorme
Pedra que parecia vigiar as entradas do Rio de Janeiro. Fora naquele
momento que Domingos Peres teve a ideia de amarrar a corda e descer
pela lateral da pedra para contemplar melhor aqueles aparentes talhes
que visivelmente indicavam padrões. Sem muito ânimo por não ter
encontrado o que desejava, Jorge aceitou, uma vez que lá em cima já
estavam e assim seguiram os homens.
Domingos Peres, desceu ao amarrar a corda em sua cintura e
inclinando-se receoso com os dois homens acima viu as marcas na
parede, porém, uma entrada impossível de uma caverna, no alto, e
acessível apenas descendo de corda. Domingos Peres gritou
entusiasmado pedindo para que lhe puxasse de volta ao topo e assim
que subiu relatou o que vira a seus amigos e como Jorge conseguira
tais conhecimentos, sendo negado por ele.
Os Fenícios teriam ido aquelas terras por volta de 600 a.C.
algo que somente nos séculos posteriores descobririam com
evidências concretas sobre os feitos deste povo. Porém, agora
envolvido pelo entusiasmo de seu amigo Jorge resolveu ele mesmo
descer até a posição de tal entrada temendo o que lá poderia haver e
assim o fez, fora descido pelos seus dois amigos por alguns metros
quando temendo a altura contemplou a entrada discreta naquela pedra,
não poderia ser algo natural, pensou ele consigo próprio. Jorge pediu
para segurarem a corda, pois precisava de impulso para adentrar o
conseguindo com êxito ao se agarrar numa pedra que nela havia.
Jorge ao adentrar, suado, pelo esforço notou que apesar da luz
agora não atingir aquele ponto, via-se desenhos na parede. Ele abriu a
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 185
pasta e tirou o diário de Pedro e uma pequena lamparina e acendeu e o
que vira era simplesmente incrível.
Havia um corpo, um esqueleto dentro de trajes com detalhes
em ouro e demonstrando nobreza deste, dentro uma tabuleta com
inscrições que não compreendia, sendo algo como similar ao hebraico.
Jorge abaixou-se e viu desenhos de estrelas relacionadas a datas de
algum calendário e também um mapa onde indicava o desenho do
litoral brasileiro e uma linha que levada até o interior em território que
era do tratado de Tordesilhas tempos atrás, tratado assinado na
povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de Junho de 1494, número
emblemático provavelmente não por acaso.
Jorge compreendeu que mais do que mero fenício aquele
homem era talvez um descendente de seth, sobrevivente de Pitah que
atravessou os mares carregando o conhecimento que marcado por um
X delimitava uma cidade perdida no meio da floresta Amazônica, nas
mediações de onde seria a Serra do Roncador, a cidade de Akator.
Jorge Avillez com muita dificuldade conseguiu guardar o que
conseguia dentro de sua pasta e então pediu para que seus amigos o
puxassem ao topo novamente e assim o fizeram com igual dificuldade.
Ao chegar ao topo, Jorge, mostrou a eles os artefatos que estavam
presentes na caverna e que temendo que outros ali alcançassem com
os mesmos conhecimentos pediu para que não somente guardassem
segredo sobre o descoberto como os artefatos restantes e dessem um
fim no corpo deixando apenas as inscrições na parede da caverna,
levando que apenas isto fosse descoberto nos anos seguintes.
Assim fizeram tais homens, desta vez Domingos Peres desceu
a incursão da caverna ficando não menos surpreendido que Jorge.
Com duas cordas agora ele amarrou o corpo mumificado e o
suspendeu pelos amigos que estava no topo, não sem ter algumas de
suas partes caindo de altura inominável. Jorge enrolou o corpo do que
aparentava ser algum tipo de rei, num lençol e os três desceram
carregando-o e na base da Pedra o enterraram em segredo. A face do
homem estava relativamente conservada pelas condições da caverna e
umidade preservando aquilo por milênios, mas que seria alvo de
saqueadores.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 186
Naturalmente que Jorge realizou anotações em seu diário
registrando tudo o quanto feito, um diário particular que sempre
estava com ele onde quer que fosse, inclusive da localização do corpo
daquele homem e os indícios de que fosse um sobrevivente da mítica
Pitah, uma cidade com conhecimentos singulares, únicos, fez
novamente seus dois amigos prestar promessa de segredo ante o
revelado por eles sob a promessa de leva-los a quem lhe instruiu sobre
aquilo.
Tudo transcorria tranquilamente quando ao chegar nas
mediações de onde estava morando na ocasião Jorge viu justamente a
quem havia lhe instruído, Dr.Kairos Mahalingam, após despedir-se de
seus amigos. O homem estava ao entardecer na praça XV ao lado de
uma mulher com capuz branco cobrindo a cabeça, mas que não
deixava de revelar os belos contornos dela.
O homem em bons trajes e de parecer vistoso apesar de
aparentar certa idade levantou-se ao vê-lo entre as esparsas arvores
que havia naquele ponto de modo que percebia Jorge ser muito mais
que a mera aparência. Surpreso com a presença inesperada de uma
amizade não menos inesperada pelo modo como o conheceu.
- Vejo que certamente conseguira encontrar a caverna oculta
da Pedra da Gávea, a julgar por seus trajes. – Disse Kairos.
- Como soube? – Indagou Jorge o cumprimentando e em
seguida a bela e formosa jovem.
- Por onde anda o vento, anda meu conhecimento. –
Respondeu ele de modo enigmático. – Há ficções que falam mais
verdades se dizendo mentira do que algumas fantasias que se passam
por verdade.
- Pressuponho que apesar da aparente amizade, se quer sei seu
nome verdadeiro. – Respondeu Jorge intrigado – Mas por favor siga-
me, não lhe farei cruzar o oceano em vão.
Os dois seguiram Jorge até entrar na residência oficial do
Governador naquele tempo e gradualmente com o anoitecer as
primeiras luzes eram acessas nos postes com óleo de baleia enquanto
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 187
algumas carroças transitavam e casais passeiam a beira do mar. Jorge
lavou o rosto e lhe ofereceu água e alimentos e então acendeu uma
lamparina e a colocou sobre um móvel como de seu escritório
particular. Doutor Kairos abriu aos manuscritos encontrados por ele e
sorriu como se seus olhos brilhassem de prazer pelo conhecimento
encontrado e disse.
- Muito bom! A peça que restava no quebra-cabeça, esses
escritos estão numa língua que antecede ao hebraico e aramaico, sendo
sua origem, veja os contornos das letras como se assemelham. –
Completou ele enquanto a jovem de cabelos claros se inclinava sobre
ele na cadeira ao lado observando aquilo quando ele seguiu falando –
Diz algo icônico como o Peregrino do Destino oculto, pelos quatro
cantos fomos, de um ponto viemos, deixamos nosso pai Noé em
caminho próprio por nosso pai Seth, o melhor abaixo de Deus. –
Kairos fez uma pausa e tirou uma lente do bolso se esforçando para
compreender o mais e seguiu – Pelo presente estamos cobertos, mas
pelo futuro revelados, guardo minha herança que é o tesouro, não de
fortunas materiais, mas da fortuna que do tempo a que tudo faz.
Convém ao hábil, justiça, pois dela se faz o destino assim como
tempestade.
Doutor Kairos quase chorou de felicidade com aquilo em suas
mãos como se aguardasse por Jorge como destinado ao papel de
descobri-lo. Abaixou a lente e investigou os demais artefatos com
muito cuidado quando Jorge disse.
- Acho que o senhor me deve algumas respostas mais.
- Mediante o feito, como negar? Como agradecer? -
Respondeu Kairos sorrindo pra ele. – Compreenda meu caro, estamos
num labirinto. Um labirinto é um teste, pode fazer seu visitante perder
a direção, o sentido e o rumo se ele tiver fraca percepção, mas instigar
ao hábil tomar o rumo pela dúvida, com fé. Por isso existe a Ordem
dos Ventos, somos guias do labirinto, do tempo!
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 188
A jovem ao seu lado, que deveria ter uns 20 anos pegou o
manuscrito e o examinou com igual cuidado a de seu aparente Mestre,
quando Jorge perguntou.
- O que há no lugar indicado no mapa?
- O que restou de intacto na única cidade herdeira de Seth até
então. Mas, sobretudo o sul, porque não meramente no espaço, mas
porque nesse espaço é de onde tem uma abertura no tempo ao futuro.
- Como assim? – Perguntou Jorge não se dando por satisfeito.
- Um modo de romper a dimensão em que vive, e a fonte do
que restou das puras águas de Avila.
- Éden? – Indagou ele tendo um aceno positivo com o rosto
quando a jovem interrompeu e disse.
- Veja isto, a parte que não traduziu tem mais informações.
Doutor Kairos pegou o manuscrito e colocando a lente
novamente sobre seu olho cerrou a visão de modo confiante e lendo
balançou o rosto como se tivesse concordando o que a carta revelava
que assim dizia.
Trago somente a quem mereceu encontrar tal carta, por até
aqui chegar, o último testamento do reconhecimento daqueles
que foram apagados da existência pela mentira e perversidade
dos malignos. O conhecimento ao futuro vazar por aqueles o
qual os atos comprovam com os males, os bons justificam a
busca tomar por nós herdeiros de Pitah. No caminho do
destino as vezes se passa pelo vale da sombra e da morte de
onde vem o eco do abismo, pois no percurso há tempos e
locais malignos. Por muitas terras andei, e as muitas águas
atravessei, mas é pelo tempo que triunfarei. Venho então aqui
em minha derradeira viagem deixar isto que o tempo se
encarregue de entrega-lo, siga o mapa e descubra a eternidade,
de onde ondas que ressoam do futuro criando flutuações por
quem a induz a seus destinatários pelo elixir de Kairos, como
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 189
sua última fonte. Proteja-a, guarde-a destes que querem
desejam torcer o destino da direção a Tempestade perfeita.
Ao finalizar aquela leitura Jorge se remexeu em seu acento
como quem tivesse consumido pela curiosidade e anseios do que
poderiam ter eles em mãos quando Doutor Kairos disse.
- Compreende agora que as lendas que os espanhóis
perseguiam não eram meros dizeres indígenas? Quando há consenso
entre as afirmações ainda que de modo variável por ser distorcido pelo
tempo, liga-se os pontos e temos um mosaico.
- O interesse dos espanhóis no tratado de Tordesilhas então
era encontrar a mítica eldorado, que seria onde na verdade os últimos
setianos depositaram seus conhecimentos e protegiam a entrada para
algo do futuro? – Indagou Jorge pegando o manuscrito e ele mesmo
vendo suas inscrições como se duvidasse da leitura.
- Sim. – Respondeu o Guardião do Sul sorrindo – A forma
como eles escrevem era mantida a língua original justamente para que
não lessem. Diga-me então, queres realizar uma excursão ao interior
da Amazônia?
Jorge sentiu-se como uma criança possuído por um
entusiasmo singular e pueril como víeis que motivava ele a descobrir
o mundo a sua volta, porém, muito mais do que aqueles que com
olhos cobiçosos espreitavam e inqueriam com suas mentiras apenas
para saquear e excluir o justo de suas obras pois não faziam igual.
Assim levando apenas poucos segundos ele acenou concordando
quando a jovem abriu um sorriso cordial virando-se para seu mestre.
- O tempo de Kairos se aproximou, por isso então o tempo
linear é curto. – Disse o Guardião do Sul. – Vede isso que tramam
neste momento, pois no silêncio discutem o rumo destas terras, e disso
virá caos e sobre você virá perseguição, pois outros povos, do norte,
desejam dominar a terra e desvendar seus mistérios antes que os
chineses outorguem-se seu dono.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 190
- A proclamação da independência. – Respondeu Jorge – soam
boatos após a retirada do rei, mas apenas cumpro o que me é
designado.
- Seu designo entre homens não pode suplantar o designo de
Kairos. Enfrente o caos e vá ao destino que lhe é aparelhado, pois
chegará o tempo em que independente da direção a ser tomada levará
ao mesmo pelo caos, estará tudo dominado em todas variáveis,
direções e opções, muitos correrão de um lado a outro e dirão, quem
nos defenderá? Quem é confiável? O que lhe pedirei é que preste
obediência primeiramente sobre Deus e sua palavra, depois as leis do
homem estando de acordo com esta, e a ordem natural o qual a família
se insere, lembrando que todas estas coisas nada são sem verdade e
amor, de sorte que as duas antecedem as primeiras. Digo isto, pois
mesmo eu falharei, mas estas coisas nunca.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 191
Ato XI
O Mestre do Caos
“Muitos correrão de uma parte para outra ...”
Daniel 12:4
Barra do Garças, Floresta Amazônia, Mato Grosso, tempos atuais.
Muitos se questionavam se de fato o mito de um Santo Graal
realmente existia, na realidade ao longo dos tempos o mito ganhou
inúmeras formas e variações de modo que para uns era derivado de
uma pedra que teria caído do terceiro olho de Lúcifer ao cair neste
mundo, uma pedra alquímica capaz de transmutar metais e ser a chave
para estes magos da época. O fato é que assim como o mito das fadas
ainda que relacionados a entidades várias vezes demoníacas tem
relações com alguns pontos verdadeiros em sua fonte de origem, mas
que fora distorcida pelo boca a boca com o passar dos séculos. A
diferença entre o Graal pedra para um Graal de filhos de Jesus é
grande de modo que até mesmo alguns relacionaram se tratar com
lendas do Rei Arthur e uma fonte que levava a imortalidade, fatos
incomportáveis e que as ordens militares e sociedades secretas da
época se aproveitaram para tomar posições não legitimadas diversas
vezes.
Os Templários chegaram perto e com os conhecimentos
vazados na época viajaram justamente ao novo mundo procura-lo, não
deixaram tesouros como diziam as lendas de sua derrota, pois onde
teriam ido, onde hoje é o Canadá nunca houve quaisquer tesouros,
simplesmente porque eles na verdade nunca o encontraram.
Contempla-se então o mosaico dos distorcidos mitos que isoladamente
pouco sentido faz, mas unidos em suas pontas concebe-se um mosaico
que Flavio Josefo em tempos remotos e posteriores a Jesus fora o mais
perto de se aproximar. Os herdeiros de seth são constantes num tempo
mutável, assim como as pedras de um graal que permanecem imóveis
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 192
nas águas, constantes ante um destino, de mesmo modo as pedras
jogadas criam ondas nas águas em seu caminho, como fadas eles
fazem o destino e mudam o mundo por onde transitam, o mosaico
ainda que não comprovado se completa e o circulo se fecha, os
herdeiros do destino fundaram reinados e com povos se miscigenaram,
caminharam entre judeus, instruíram Davi e aprenderam com Jesus
que andava sobre as águas. Mas a água que carregavam assim como a
dos tempos que mudavam não trazia a imortalidade, mas uma visão da
eternidade e não seria isso a imortalidade ultrapassar o tempo linear,
romper os grilhões impostos pelo severo Chronos e ecoar
perpetuamente como um grito de existência ante o caos, as fadas eram
pequenas, mas tinham poder de grandes feitos no tempo, pelo tempo e
através dos tempos.
Porém, assim como positivos e negativos, Deus e o diabo,
perseguidos e algozes, há o destino e o caos tão distintos quando o
bem e o mal, mas que ao exceder o natural aniquilam-se, não
coexistem, isso conheceram os Filhos de Seth, os Herdeiros do
Destino ao encontrar com o caos e o caos a lhe encontrar pela
aniquilação, violência e medo dos que invadiram e saquearam Pitah.
Mas assim como ventos sopram do norte pelas lembranças, ventos
fortes sopram do sul por Marchal a ecoar feitos futuros no passado, e
não somente o passado no futuro.
Tudo aquilo ecoava em minha mente como perguntas latentes,
e que por um denominador comum ressoava todas flutuações duma
função de onda pelo tempo entrecortado pelo destino, e nós erámos a
chave assim como a quem responde as perguntas e dá sentido.
Todavia o tempo urge como dizia o ditado nos forçando a
tomar posições num jogo onde alguns não competiam, apenas
impediam de se competir, pois levantavam-se quanto tudo que era
legitimado e verdadeiro. Por isso partimos rumo as matas como
desbravadores de um tempo não conhecido, onde florestas virginais
como o tempo pueril anunciavam o incógnita de um destino nunca
nefasto, mas como se temer, pois no caminho do destino quando não
se vê se tem fé, e a fé tudo vê.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 193
Porém ao caminhar o pesar da gravidade embotava o tempo
fazendo parecer minutos em horas e horas em dias, abafado pelos
extensos galhos de arvores a luz escapava tênue em raios dispersos
entre folhas e cantos de pássaros que pareciam enunciar nossa
aproximação.
Vi macacos em seu galho num breve momento lembrando-me
do ditado e quase me arrancando um sorriso entre o rosto suado,
enquanto a mochila ao ser movida de minhas costas ao expor o suor a
menor brisa refrescava quando vimos uma fonte de águas cristalinas.
- Os primeiros relatos de índios da região apontavam a
eldorado nas nascentes do rio Amazonas, no Planalto das Guianas,
região entre a Venezuela, a Guiana e o Brasil – disse Zaira ofegante
após molhar o rosto com a água do cantil – área de muitas incursões
dos espanhóis durante os tratados de Tordesilhas indicando que não
somente relatos vazaram, mas conhecimentos talvez relacionados a
Pedro Menéndez de Avilés. O termo Eldorado significa ‘homem
dourado’ ou ‘o dourado’, uns fazendo referência a rica cidade e que
seu imperador costumava se cobrir de ouro em pó ficando com a pele
dourada.
- Mas naturalmente que não era isto. – Conclui eu ainda
ofegante pelo caminhar. - Percy Fawcett, talvez a tenha descoberto
dado os relatos contradizentes dos índios kalapalos.
- Ele seguiu por aqui, por Barra do Garças tendo o último
contato no Alto Xingú em 29 de maio de 1925. Desde então em torno
de 100 exploradores a procura deles faleceram tendo três expedições
desaparecidas. – Disse Zaira encharcada de suor e água e tendo um
guia indígena parado lhes aguardando. Somente os irmãos Vilas Boas
encontraram restos que suspeitaram ser de Fawcett na incursão que
descobriram os índios kalapalos, nada comprovado e as alegações dos
índios não se encaixam com as afirmações posteriores de expulsar
mais exploradores os fazendo prometer que desistiriam de procurar.
Há indícios de que até mesmo nazistas realizaram expedições para
estes lados, eles procuravam algo que acreditavam ser provas de
sobreviventes atlantis.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 194
Talvez os nazistas estivessem procurando certo pelos motivos
errados uma vez que não se tratava de sobreviventes da Atlântida
perdida, mas a Pitah aniquilada, como se percebe os mitos se cruzam e
assim como as ondas nas águas se distorcem.
- O mais intrigante é o conhecimento que levou Percy Fawcett
a realizar mais de uma expedição a região até desaparecer. – Disse
Petrônio sentindo o peso da idade e continuou – Como temos ciência
ele era um agente da MI6 por onde cruza todo tipo de informações e
segredos, sendo coincidência ou não sua relação com o misterioso
grupo de The Seven Circle me parece emblemático aos setianos
mesmo porque nas ondas do mar a sétima é a mais forte, assim como
Platão afirmava a Atlanrtica ser feita de anéis.
- Esse grupo realizava serviços de inteligência – completou
Zaira – Mas era também uma sociedade secreta com preceitos
relacionados a mágica e não muito claros para mim. Não podemos
afirmar se fora deles que veio tal conhecimento.
- Vamos, dentro de duas horas a noite vai cair. – Disse
Petrônio colocando a mochila nas costas e sinalizando para o índio
que tinha apenas a tanga como roupa e penas como chapéu.
Caminhamos por mais uma hora quando então vimos uma
clareira e sinal de fumaça. O índio parou assustado resmungando algo
em seu idioma nativo e então virando-se para nós disse.
- Kalapalos são territoriais, não passar daqui. Mas eles não
vêm, acho que algo aconteceu.
Petrônio parou e tirou um binoculo da mochila e viu que a
aldeia estava praticamente sem movimento a não ser uma cutia que
andava de um lado a outro. Ele moveu o binoculo a direita e naquele
momento então viu o que parecia ser um corpo caído ao chão, quando
abaixando o binoculo virou-se para Muros e disse.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 195
- Você estava certo, se eles passaram por aqui, eles estão
mortos.
- Como assim? – Disse Zaira tirando o binoculo da mão de
Petrônio e olhando ela mesma e ficando estarrecida.
Caminhamos mais alguns metros adentrando a aldeia com o
índio resmungando mais palavras indecifráveis quando perguntei a
Petrônio o que ele falava e apenas limitou-se a dizer.
- Ele falou que o demônio do caos e da tempestade passou por
aqui.
Ao olharmos o local até mesmo as crianças haviam sido
mortas, nem mesmo uma índia grávida fora poupada. Todos caídos ao
chão enquanto uma oca estava toda revirada.
Parei diante dela e então temendo haver ainda algum perigo
tirei a mochila e entrei lentamente com aquela sensação do apertar da
bexiga pela tensão e vi o que parecia ser o pajé morto ao chão e então
me abaixei e vi o relógio que tinha visto no sonho, era um Dumont
assim como o criado por Santos Dumont e com as iniciais P.F.
deixando Petrônio intrigado e disse.
- Quando o caos é natural a aleatoriedade não anula o livre-
arbítrio, mas quando negativo, sem equilíbrio, este o engole como a
mais forte correnteza convergindo eventos a exclusivamente uma
direção ao contrários do livre-arbítrio.
- Sei disso. – Respondi – Vejo por este cenário desolado.
Havia um ponto onde havia restos de algo queimado numa
fogueira de onde vinha a fumaça e ao chegarmos ao lugar mexemos e
vimos que havia restos de um diário escrito em inglês.
- Sem dúvida eles passaram aqui e estão apagando rastros e
evidências factuais. – Disse Zaira – São restos da expedição de
Fawcett.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 196
- Não se pode sair da verdade sem entrar na mentira, é como
abandonar a própria história e memória, a identidade do que somos. –
Conclui eu de modo introspectivo.
Petrônio resolveu pegar seu telefone via satélite e ligar para as
autoridades informando sobre o caso do massacre lá realizado de
modo covarde evidentemente pelos homens de Sanches, eram
fanáticos sem escrúpulos. Após juntarmos os corpos e temendo o cair
da noite resolvemos procurar um lugar para acampar a noite e
procurando dentro do possível relaxar as preocupações que nos
consumiam gradualmente em anseios.
A noite caiu e eu abri o diário de Pedro Avilés a constatar que
por aqueles amigos confiáveis que fiz estávamos ligados não apenas
pelo sangue em nossas veias, mas pelo tempo que nos une, pois de
algum modo as demais famílias se auxiliavam aparentemente sem se
dar conta, quando senti que algo fluía em minha direção como se ao
ler aquele diário o passado estivesse transcorrendo gradualmente
alinhado em paralelo ao meu tempo.
Barra do Garças, Floresta Amazônia, Mato Grosso, Brasil, 1820
Jorge Avillez seguiu as instruções do Guardião do Sul de que fosse em
companhia da misteriosa e bela jovem aprendiz que com ele estava,
pois estando em idade avançada o Guardião do Sul, como se referia
assim como os demais, não tinha disposição física de antes, ainda que
Jorge indagasse quantas histórias aquele homem não deveria possuir e
por quantas aventuras e caminhos não cruzou. Fosse como fosse
seguiram os dois por vários dias ao interior do Brasil onde
anteriormente era território espanhol pelo tratado de Tordesilhas, seus
descendentes. A jovem cujo nome era Stephanie Fonseca não era de
muitas palavras, mas de formosura ímpar, levando Jorge a ficar
encantando com a delicadeza simultânea ao vigor e disposição física
da companheira de viagem. Seus cabelos lisos e castanhos claro
combinavam com os contornos suaves e delicados e um rosto lindo
que irradiava volúpia com o primeiro sinal de sorriso. Para Deus, para
criar o homem precisou apenas se olhar no espelho, mas para criar a
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 197
mulher ele precisou de imaginação, e Stephanie era prova disto, sem
dúvida uma das criações mais bela de um Criador aparentemente
ausente.
Após as longas horas com Jorge tentando buscar assunto sem
muito sucesso, finalmente ele havia quebrado um pouco o gelo ao
fazer algumas brincadeiras relacionadas aos índios locais por onde
transitavam lhe roubando um sorriso tímido, mas sincero. Jorge então
resolveu arrisca fazer-lhe perguntas mais pessoais a jovem.
- Como você participou da Ordem dos Ventos?
- Era muito jovem quando fui pega por Doutor Kairos. – Disse
ela olhando pela janela da carruagem. – Minha família fora
massacrada por piratas e corsários, em Cuba. O Guardião na época
estava num posto avançado no que era chamado de portos dos ventos.
- Sua família possuía algum segredo. – Indagou ele – Ou
riqueza.
- Na realidade eram dissidentes da Espanha, após o Rei
Henrique tomar o poder.
- Intrigante, minha família também! – Concluiu Jorge. – Conte
mais sobre isso, não conheço Fonseca na Espanha.
- Não eram, mudamos o sobrenome temendo a perseguição,
assim como alguns portugueses alteraram seus nomes no Brasil para
Silva. É gente do pior tipo, não admitem qualquer status ou liberdade
aqueles que perseguem. São o caos desse mundo, a Ordo Ad Chaos.
- Na Ordem de Cristo, ouço falar as vezes de boatos de alguns
infiltrados que dizem algo sobre Ordo Ab Chaos. – Respondeu Jorge.
- Certamente, o senhor conhece segredos dos Templários, que
na realidade eram segredos desses descendentes. – Respondeu
Stephanie.
- Herdamos o que o Vaticano nos passou após o fim da Ordem
dos Cavalheiros empobrecidos de Cristo. – Respondeu Jorge agora
olhando para a janela igualmente enquanto via alguns índios
caminharem numa estrada aberta recentemente – Acho intrigante
como algo com voto de pobreza enriqueceu tanto.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 198
- Mestre Kairos ensinou que se contradiz sempre não é
confiável. Acho que ele está certo.
- Lamento por sua família, estou a sua disposição. –
Respondeu Jorge pegando na mão da jovem e a olhando dentro dos
olhos com sinceridade ainda que legitimamente atraído por ela. – O
doutor Kairos, ou seja, qual for seu nome, certamente me parece um
homem muito justo e integro.
Com os dias indo e vindo, passou-se uma semana até que
chegaram a Mato Grosso onde encontraram a dita entrada ao lugar
onde deveriam seguir, e ainda restavam muito tempo de percursos,
talvez uma semana ou duas, agora a pé. Jorge encontrou no local
Álvaro Nogueira que junto a dois índios como guia seguiram mata a
dentro após ser apresentado a formosa Stephanie e seguiram com seus
recursos do período com a dificuldade ante o calor extenuante daquela
floresta que tinha a beleza proporcional a impiedade com que assolava
seus viajantes.
Após dias de muito esforço e cansaço chegaram à eles ao Alto
Xingu onde avistaram uma aldeia indígena que imediatamente os
índios que estavam como guia não quiseram prosseguir por serem
rivais, falando algo em sua língua de modo intraduzível a não ser a
Álvaro que conhecia a língua deles.
- O que eles dizem? – Perguntou Jorge intrigado.
- Falam que são os homens do outro lado. Guardiões da cidade
Akator. – Respondeu o amigo de Álvaro não menos perplexo. –
Kalapalo? – Perguntou ele aos índios.
- Como assim outro lado? – Perguntou Jorge sob o olhar
preocupado de Stephanie que resistiu firme a viagem enquanto Álvaro
perguntava-lhe em sua língua nativa o que seria aquilo.
- São homens de um mundo diferente, não compreendo o que
querem falar com isso, mas não faz sentido. – Respondeu ele
traduzindo o que eles falavam. – Vieram pra cá há muito tempo e
protegem a entrada de um tempo de longe, tempo de um lado
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 199
diferente, a defender os que apagam memórias, comem existências e
sentido.
Ofegante pelo longo percurso, Jorge viu os índios acenando
com as mãos em negação de que não seguiriam e que os aguardariam
caso resolvessem seguir, deixaram eles para trás sob os olharem
atentos dos dois índios com um arco e outro com cajado quando ao
entrar no perímetro veem um índio surgir acenando com a mão para
irem embora enquanto falavam coisas num idioma diferente a dos
índios anteriores.
Jorge levantou a mão e abaixou levemente a cabeça em
respeito aos homens, afinal era território deles quando Álvaro tentou
arriscar palavras no idioma da outra tribo e Jorge tirou da pasta o
mapa que havia encontrado no alto da Pedra da Gávea.
Ao ver aquilo o índio gritou para um outro que saiu de dentro
mata enquanto ele pegava o mapa com as mãos falando aquelas
palavras sem parar e vindo correndo o índio parou ao lado de seu
colega e pegou o mapa e colocou o arco no ombro e então colocou a
mão no ombro de Jorge e olhando nos olhos o puxou pelas mãos o
levando por um caminho dentro a mata até chegar a aldeia com seus
dois amigos os seguindo.
Ao entrar no lugar algumas crianças brincavam com um
macaco prego que estava preso a uma corda e o largaram
imediatamente ao ver as visitas com as crianças os rodeando.
Temendo as intensões dos índios, os que estavam com eles o largaram
e segundos depois apareceram novamente ao lado de um ancião muito
peculiar que se aproximou após fazerem as crianças se retirarem e
pegou o mapa nas mãos e então os encarou e disse em espanhol.
- O que querem no lugar onde o tempo pula? Onde
encontraram mapa?
- Pedra da Gávea, no litoral do Rio. – Respondeu Álvaro em
espanhol.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 200
O ancião então virou-se ao seus índios e levantou o mapa com
as mãos e eles gritaram levantando os arcos nas mãos e as mulheres
começaram a bater os pés. O que parecia ser o cacique então virou-se
de volta para eles e disse.
- Certamente é o escolhido de seu tempo. – Disse o homem
num espanhol arrastado. – Faz água correr ao contrário! Passar por
aqui.
O homem então apontou para um índio jovem que veio
prontamente até o cacique com um arco nas mãos e lhe falou na sua
língua com ele concordando em tudo o quanto dizia. O cacique então
virou-se para Jorge e colocando a mão sobre seu ombro disse.
- Guiar vocês, ele. Até a porta, mas a porta você atravessar. –
Completou ele abaixando a cabeça com respeito aparentemente
inexplicável como se o mapa fosse algum convite ao lugar.
Jorge, Stephanie e Álvaro então seguiram cruzando a aldeia
até ir fora do perímetro acompanhando pelas crianças que gritavam
sem parar ao lado do índio até que vendo-se longe elas retornaram
deixando o caminho agora somente aos quatro aventureiros.
Tempos atuais, Alto Xingu
A medida que os avanços científicos progrediam acelera o
desenvolvimento de modo proporcional a uma aritmética mas que não
acompanha iguais avanços de valores e bons costumes, a história
ocidental é manchada por massacres, pestes e todo tipo de
discriminação dos modos mais variados possíveis, o comportamento
do encontro destes ocidentais com demais povos deu-se diversas vezes
de modo desastroso e aniquilador, até pouco tempo os índios norte-
americanos eram retratados nos filmes de Hollywood como vilões
selvagens e eram caçados como animais danosos, o tempo passou, e
vimos o genocídio do nazismo a Hiroshima e Nagasaki a demonstrar
as tendências do homem de aniquilar o semelhante lhe tirando a
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 201
humanidade que este próprio parece nestes momentos não possuir.
Pilhagens, estupro, medo e pobreza, a ética é a fachada dos poderosos
distante da realidade que destes resulta. Negros, judeus, gays,
deficientes, amarelos, índios, de tempos em tempos a discriminação
alterna seus alvos, mas no fundo é sempre o mesmo, a diferença
daqueles que não aceita direitos iguais. Não é ocasional, mas
ideológico, pois a incidência repetitiva indica intensão, não existe
acidente na intencionalidade, mas como crença na maldade, da
maldade, por isso temos que atravessar rios, ou eles atravessam nós.
A viagem que eles seguiam naquele percurso sinuoso não
mais acompanhava o rio que atravessaram e viram eles ante a seus
pensamentos de introspecção uma montanha que se erguia diante
deles e completamente verde pela cobertura da vegetação e fauna
enquanto animais e pássaros peculiares cantavam na copa das arvores.
- Segundo o mapa está na montanha, a entrada – disse Zaira
com o rosto suado tirando da pasta o mapa – A mítica cidade ‘Z’ de
Percy Fawcett.
- Não existem mapas detalhados de satélite na região? –
Perguntou eu intrigado.
- Tudo coberto pela vegetação, até mesmo pirâmides em
outras partes da Amazônia foram somente recentemente descobertas –
respondeu Zaira guardando o mapa e então seguiu pegando um cantil
– não obstante, no topo da montanha fica a maior parte do tempo
encoberto por nuvens, é como uma muralha climática natural.
Petrônio e Muros olharam ao topo e realmente isso
concordaram, pois, nuvens estavam no alto cobrindo boa parte da
visão, e então colocaram novamente as mochilas nas costas após se
refrescarem um pouco e continuaram a caminhar por alguns minutos
até que toparam com algo inusitado e Petrônio acenou apontando para
o chão mostrando uma aparente estátua quebrada.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 202
- O que é isto? – Indaguei intrigado com o objeto, não tendo
resposta deles vendo Zaira apenas tirar uma máquina fotográfica e
registrar o objeto no chão.
O objeto tinha aparentemente asas, uma estátua com detalhes
dourados, aparentemente ouro. O rosto era humano, e tinha nas mãos
uma espécie de flecha e a outra mão erguida como se estivesse os
cumprimentado, aquilo simbolizava a seta do tempo a quem possuía o
destino nas mãos. Zaira moveu a peça que tinha em torno de meio
metro quando Muros de repente disse.
- Meu Deus! Olhem isso!
Zaira e eu viramos olhando para a direção em que Muros
olhava e vimos uma espécie de muro coberto por vegetação e ao lado
cipós e trepadeiras que desciam cobrindo uma aparente entrada.
Tiramos as mochilas e caminhamos em silêncio ante aquilo quando
vimos objetos como vasos e peças quebradas no chão. Zaira abaixou-
se novamente e notou que haviam inscrições dos chineses nos objetos.
- Os chineses realmente estiveram aqui. – Respondeu ela
pegando a máquina e tirando mais fotos daquele sítio arqueológico. –
Incrível, vejo-me no National Geographic. – Completou ela rindo.
Larguei a mochila no chão lembrando-me da vez em que
encontrei um sítio arqueológico por acaso em Ilha Grande, um
sambaqui primitivo abandonado onde haviam restos de peças e
ossadas. Adentrei por uma espécie de portal tirando as trepadeiras da
frente e vendo um extenso corredor que aparentemente descia
sumindo na escuridão quando tropecei em algo.
Virei-me lentamente e vi que era um corpo, um esqueleto com
roupas tradicionais e muito antigas e então vi que segurava um diário
nas mãos e ao lado uma espada me levando a gritar.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 203
- Encontrei algo! Acho que é algum ocidental - completei
pegando o diário de suas mãos e notando ser espanhol.
Todos adentraram o lugar maravilhados vendo que a entrada
invisível de fora pela vegetação tinha cerca de quatro metros de altura
e uns seis de largura. Zaira como historiadora com pé na arqueologia
abaixou-se e olhou de perto a comprovar que era um espanhol, e para
minha surpresa ao abrir o diário era ninguém menos que Juan
Menéndez de Avilés.
- Seu descendente. – Respondeu Zaira – incrível, então de
algum modo ele após encontrar o mapa resolveu seguir o curso da
cidade perdida sozinho com sua tripulação, por isso Pedro Avilés não
o encontrou.
- Justifica sobretudo os boatos dos espanhóis no tempo do
tratado de Tordesilhas, talvez tenha sido o segundo a descobrir a
localização depois dos chineses. – Respondi eu intrigado com uma
vocação peculiar a arqueologia por descobrir diversas vezes sítios
arqueológicos por acaso.
Todavia nos pertences de Juan havia outros objetos que não
pareciam ser relacionados a ele. Enquanto pegava sua espada com
suas iniciais gravadas J.M.A. vi Zaira revirar uma espécie de sacola
largada a muitos anos ali e haviam objetos e uma arma mais moderna
e um bilhete escrito em inglês.
- Parece que alguns guardaram a entrada e deixaram bilhetes
antes de entrar. – disse Zaira abrindo o bilhete enquanto Doutor
Petrônio suado se inclinava sobre ele.
- Isso é de Percy Fawcett! – Exclamou ele – O único inglês
que teria vindo até aqui, mas onde está seu corpo?
- Talvez ele tenha entrado e não retornado – disse Zaira
olhando ao extenso e frio corredor que não se fazia ideia de onde
levava.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 204
Zaira, porém, tão brevemente começou a ler o bilhete o
traduzindo e ficou impressionada com o que ele relatava, sobre o
encontro deles com os índios Kalapalos que lhe vetaram a entrada,
mas aparentemente ao tentarem dar a volta foram perseguidos e
mortos pelos índios alegadamente por não terem ‘o convite’ ou
‘permissão’ a adentrar a ‘região do tempo’, mas Percy de algum modo
fugiu e conseguiu sobreviver, sendo, porém, sitiado naquele lugar ao
lado de seu irmão. O terceiro visitante, à dita cidade Z então teria
deixado aquele bilhete avisando que mergulharia no que aparentava
ser um complexo subterrâneo que guardava mais que conhecimentos
pertinente ao tempo e eventos de Kairos, mas uma entrada a Marchal,
como referia-se.
Padecemos após longas horas de caminhada, ao labirinto das
matas a sermos proibidos de adentrar o território que não eram dos
Kalapalos, mas aparentemente por eles protegidos. Não são índios
comuns, alguns destes parecem ter mesclas com chineses em traços
mongóis comuns, mas fosse o que fosse ao darmos a volta a aldeia,
fomos percebidos e perseguidos impiedosamente por eles que
afirmavam segundo me parece que os ‘não legitimados poderiam
corromper o conhecimento’. Eles usavam flechas com pontas
douradas a estes casos e mataram nosso amigo, mas consegui fugir
com meu irmão encontrando esse lugar que creio ser a entrada da
cidade Z.
Fomos sitiados pelos índios que agora nos proibiram de
retornar sob pena de sermos mortos, restando-nos apenas adentrar seus
portões e mergulhar no incógnito que nos cerca, por isso deixo este
bilhete como aviso ao virtuoso homem que conseguir encontrar esse
paraíso arqueológico. Mergulhamos nas vísceras de Akator, quem
quiser descobrir o que nele há, mergulhe igualmente, amos meus
familiares e meus amigos, Arthur adoraria ver as histórias que esse
lugar tem.
Ao terminar de ler aquele registro do nobre explorador inglês
com sincero pesar ante o descoberto e que não conseguiria mais
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 205
retornar entregando-se a uma evidente carta não somente de aviso,
mas adeus aos que por ventura conseguisse encontrar, referindo-se ao
autor Arthur Conan que havia inspirado histórias até mesmo de Conan
e tantos mais com suas aventuras.
Zaira virou-se então para mim que lia o diário de Juan com os
olhos brilhando ao ver relatos de alguém que havia adentrado o
complexo e retornando, mas sendo lá vetado igualmente o retorno a
civilização, mas os relatos eram ainda mais perturbadores e
fascinantes do que vira ele lá dentro.
Perdoe-me meu pai querido por esta mudança de rumo, mas
acho que este lugar me chamou como meu destino soasse num
sino da hora oportuna, creio que Deus me perdoará muito,
pois as intensões são puras e sinceras ao contemplar o que viu
meus olhos, mas minha mente ainda dúvida acreditar. O
senhor estava certo, os chineses aqui chegaram, mas não
fundaram esta cidade, e aquele Junco que encontramos na
Flórida havia vindo justamente daqui, carregado de
conhecimentos e da verdade. Audazes navegantes,
desbravadores da verdade, pioneiros de um mundo não
conhecido a mente vã. Penetrei suas vísceras e vi o inefável
com os olhos mortais, pois o que vi era imortal, eterno, temo
ao que aqui adentrarem para vangloria e se exaltar.
Fui até a ‘A Fonte’, aquela o qual podemos conhecer a
imortalidade não pelo corpo, mas pelo tempo, vi o atrás e o a
frente, vi também o lateral, mas como uma seta, segui em
frente a conhecer o futuro da fonte que bebi, o Elixir de
Kairos. Como tolos eram os que distorceram as lendas e se
tornaram em crendices, mas vi de fora da nevoa do tempo
linear o que os perversos veem apenas a própria vontade.
Mergulhe no complexo ao audaz, mas siga a verdade não o
coração ou a cobiça, pois o sentimento puro dá o rumo certo,
um labirinto nos serve para se encontrar, não se perder e em
seu centro o tesouro.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 206
Vi dozes homens a seu entorno, cada qual a uma direção, mas
sobre tudo das horas que do lugar, são rostos singelos e
homens virtuosos que fundaram este lugar, cada quando
apontando a uma direção com sua verdade e sentido. No
centro a fonte que um brilho de cima reluz o que vale mais do
que ouro, o tempo. Sim, vi algo do alto, a uns 10 metros como
um portal cuja porta leva a coisas inefáveis que não ousei
adentrar, os doze anciões pareciam me reprovar ao provar da
água, do Elixir de Kairos.
Temi eles, não somente pelo conhecimento e seu derradeiro
poder, mas por serem homens virtuosos e justos que vi dentro
de mim a mostrar a todas estas direções a comprovar serem
mais que estatuas com detalhes dourados e suas espadas
afiadas nos indicando a direção, as direções.
No centro, dentro da fonte uma coluna vi, como carregada de
um lugar distante e inscrições ulteriores ao hebraico
mostrando mapas dos céus, relacionados a períodos da terra, e
a seu entorno com toda afeição singela de homens com uma
consciência superior que disseram orientar até mesmo povos
hebreus.
Minhas forças se esvaírem, entrego-me a estes homens de
ímpeto puro, não resisto a eles, é magnifico demais! Abaixam
as espadas diante deles meus homens, e juro matar quaisquer
que profanarem o lugar, é como um santuário incorruptível,
somente a quem é São.
Conti minhas lágrimas ao contemplar suas histórias e alguns
de meus homens ao retirarem-se foram mortos pelos índios
que este lugar protegem, e tantos mais ao retornarem
perderam-se em seus corredores, uns voltaram a seu centro e
relataram tabuletas e manuscritos com conhecimentos deste
povo sobrevivente doutra era muito antiga, mas que conhece a
todo futuro a muitas eras além, como se de lá viessem e para
lá retornassem, e Marchal toque Temol, e Temol a Marchal.
A comida cessou a nós, estamos sitiados, mas minha fome de
conhecimento saciada, pois vi uma verdade ulterior a todo
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 207
local, temos água, temos tempo, mas nossos corpos definham,
pois também somos carne, por isso escrevo esta carta, para o
que ao adentrar tenha temor, pois ao que não o fizer
certamente virá o tremor. São dignos, são puros, seu
conhecimento é do infinito, não posso resistir a verdade como
o tolo mentiroso. A minha família digo: compreendo de onde
viemos assim como os demais puros e a para onde vamos
ainda que tentem nos lançar ao abismo.
Finalizo esta carta, pois vi quem vai o encontrar, e seus
sentimentos aflorar como homens não somente da mesma
estirpe, mas do mesmo destino e pureza em sinceridade,
porém, o homem do caos segue a profanar esse templo do
tempo, e aniquilar destinos com a maldição que lhe convém, é
o devorador, o gafanhoto. Guarde isso, meu amado, nos
veremos.
Juan Menéndez de Avilés, 28 de abril de 1572
A finalizar a leitura agacho-me diante do corpo do jovem
Juan, e vejo a pena em suas mãos e um mapa que indicava como
chegar ao centro, ao lado de sua farda. Pego o mapa e silencioso
permaneço diante dele emocionado por encontrar meu próprio passado
naquele lugar como se sentado estivesse me aguardando sorrindo
involuntariamente por não haver mais lábios em seu rosto. O homem
nobre dormia ao sono eterno olhado para entrada como se esperasse
pelo próximo visitante enquanto algum material ao redor estava
mexido indicando que recentemente alguém havia passado naquele
lugar e então vimos que era o momento de seguirmos em frente, rumo
ao destino o qual os demais perder-se-iam não sendo constantes.
Caminhamos após acender uma lanterna e algum lampião
velho que lá havia e permaneci mudo mergulhando inicialmente em
meus pensamentos refletindo sobre aquele virtuoso e nobre homem
que tinha meu passado a relatar enquanto via os corredores cruzarem
entre si, e inúmeras bifurcações o qual ao adentrar algumas vimos
mais alguns cadáveres quase mumificados pela condição do
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 208
complexo, indicando ter levado muitos anos, ou talvez décadas, para
ser finalizado. Haviam vasos, pergaminhos, manuscritos, tabuletas, e
até mesmo o que parecia ser o cemitério deles indicando que um povo
inteiro lá habitou por muitos anos até simplesmente sumirem por
algum motivo não conhecido.
Observamos o mapa enumerando as entradas a fim de não nos
perder quando encontramos um lugar amplo em espaço e o teto
elevado a muitos metros como na entrada, mas ouvimos algo lá no
fundo ao ver luzes crepitantes oscilarem e vozes fúnebres falando
algo.
- Há gente aqui! – Disse Doutor Petrônio. – É a gente do
William Sanchez.
- Perigo, impostores ao oeste! – Disse Muros.
Antes que Zaira fizesse sinal de silêncio alguém surgiu por
trás de nós apontando uma arma e rindo e então emerge das trevas que
sepultavam aquele local o boçal do William Sanchez vindo com uma
espada encontrada ali e disse.
- Ótimo! Vejam se tem alguma coisa de valor e tirem, e a esse
Gerson Avillez lhe digo, vou pisa-lo até se tornar um toco. Traga-os
para cá.
Sentindo enorme medo por ser aquele homem maligno e
diabólico percebemos que iria inventar qualquer desculpa contra os
fatos para excluir e saquear, e certamente nos matar, contra toda
natureza impedir todo fruto de ser colhido diametralmente contrário
aos Herdeiros de Seth. Os homens dele amarraram Zaira e Doutor
Petrônio quando vimos às ditas estátuas que se erguiam diante daquele
enorme centro com uns quatro metros de altura, imponentes com
espadas douradas cada qual apontando uma direção conforme relatava
a carta de Juan.
Os homens dele montavam o mesmo aparelho de sincronidade
de eventos enquanto outros dois cortavam peças de ouro das estátuas e
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 209
quebravam até mesmo alguns vasos para verem o que havia no
interior, aquela abominação fez Zaira se contorcer e certamente
deixaria Juan aflito remexendo seu corpo na entrada da cidade.
A visão ainda que magnifica era embotada por aqueles
diabólicos homens que pegava e mexiam em todos objetos e falavam
de sacrificar eu como oferenda a sabe-se lá o que, definitivamente
eram algum tipo de seita verdadeiramente diabólica e desejavam
contaminar o lugar com a podridão deles.
- Vocês agora conhecerão, o poder do caos. – Disse Williason
Sanchez - Somos impunes, podemos fazer o que quiser, sem regras,
fronteiras ou lei, apenas nossa vontade, a mais perfeita liberdade! Sou
o Mestre do caos e eu ditarei o destino a ser tomado!
- Você é o líder da Ordo Ad Chaos. Pode o caos ditar o
destino? – Concluiu Zaira com expressão de quem tinha desprezo
legitimo por este homem – Maldito decrépito, imoral! Abreviar vidas
é liberar o caos, pois o romper de destino é o abismo do que não tem
direção, por isso não vão durar muito!
- Exatamente! – Disse ele abrindo os braços e depois batendo
no peito – vou beber da fonte dos herdeiros do destino e então eu
mesmo alterarei os tempos, o destino, pois o caos a tudo aniquila,
quem pode resistir a mim, ninguém! Traga Gerson para cá. –
Completou ele a seus homens. – Deve ter sido bom ver seus
descendentes serem mortos, o destino fazem apenas baratas resistentes
ao caos, mas desta vez não!
Alto Xingu, agosto de 1820
Jorge e seus amigos após caminhar longas horas lado a lado aquele
índio Kalapalo, viu se aproximar uma montanha coberta por nuvens
no topo, a mesma montanha o qual havia chegado seus descentes
séculos mais tarde como se fosse naquele mesmo momento.
Impressionado pela cobertura de vegetação naquele lugar tropica,
havia um córrego com água pura brotando de uma nascente quando o
índio os chamou até a entrada cortando a vegetação trepadeira que
crescia tapando. Jorge tirou seu chapéu e contemplou com respeito
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 210
aquele magnifico lugar quando viu ao chão o corpo de Juan dormindo
o sono perpetuo.
Álvaro abaixou-se e pegou o diário e Jorge leu atentamente,
mas sentiu dentro de si que deveria colocar o diário no lugar, pois não
seria o único naquele lugar. Contemplou que havia restos de artefatos
chineses indicando que aqueles homens lá estiveram muito tempo
atrás, antes de Pedro Alvarez Cabral lá descobrir oficialmente. O índio
então parou na entrada e levantou as duas mãos acenando de que
somente os dois portugueses deveriam lá seguir em diante e então os
cumprimentou em respeito e retribuíram Jorge e Álvaro. Os dois
caminharam pelos extensos corredores e depois viram que o complexo
subia ao interior da montanha e uma parte, que ia ao centro descia.
Jorge fez uma copia do mapa de Juan após constatar que era um
navegante a muito desaparecido e seu descendente.
- A El Dorado seria onde os setianos teriam depositado parte
de seu conhecimento – disse Jorge a Álvaro impressionado com o
lugar, o verdadeiro tesouro, pois o tesouro é a verdade – disse
Stephanie. – na verdade Mestre Kairos diz que isto leva as concepções
anteriores de seus herdeiros e origem numa criptohistória assim como
de um pilar pertencente a algo maior
Naquele momento eles viram uma enorme gravura numa
parede entre um cruzamento que dava a corredores em várias direções
como a rosa dos ventos e então notam que na realidade a rosa-dos-
ventos é uma estrela, a sete-estrelo, forjada em ouro num pilar, como
uma referência Plêiades como conhecida e nominada a civilização
ocidental.
Uma série de estrelas a seu entorno mostravam a composição
e confirmação de que a era, e como este era de algum modo a
inspiração daqueles homens, não se tendo ciência do porque.
Stephanie parou diante daquilo e tocou com a ponta dos dedos
lentamente a gravura em ouro e emocionado ficou inerte por longos
segundos até que Jorge lhe chamou.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 211
- Akator é subterrânea, mas relatos dizem haver visões de um
exterior, sobreviventes de Pitah. – Disse ela ajeitando a mochila em
suas costas. – Mestre Kairos adoraria ver isto!
Como pioneiros desbravadores seguiram eles transitando por
corredores e encontrado peças raras e nos mesmos lugares por onde
transitariam meu grupo num futuro, chegaram até ao centro onde
vislumbrados com o esplendor do lugar Jorge simplesmente tirou a
mochila e sentiu vontade legitima de ficar de joelhos diante daquilo ao
ver as 12 estátuas em pontos equivalentes das direções da estrela de
Plêiades, ou sete-estrelo que estava incrustrada no chão e em seu
centro a fonte que não compreendiam eles como não secara, uma
coluna com as inscrições exatamente como viram meus amigos e eu
no futuro. Stephanie sorriu com uma indescritível felicidade como se
todo o significado de uma vida culminasse e convergisse naquele
ponto, os 12 guardiões das direções, assim como o guardião do sul que
era doutor Kairos em correspondência as horas do dia, aos doze meses
do ano e talvez as doze tribos dos judeus.
Jorge se aproximou diante da fonte e se prostrou de joelhos
em respeito ao lugar e ao conhecimento que nele havia que suplantava
a todo espaço e então tocou a fonte e pegando seu cantil a encheu de
água e em seguida levou a seu rosto após sentir o cheiro e virando-se a
Álvaro sorriu e disse.
- Caso eu morra, relate o que aconteceu ao Guardião do sul, as
memórias devem ser guardadas, sejam quais forem assim como nesse
lugar me parece fazer registros de toda história deles.
De fato aquela mais que uma cidade era um monumento
secular, na verdade milenar de um povo que fora aparentemente
apagado da história, algo que relatavam em tabuletas assim como
manuscritos histórias do passado e mesmo do futuro como se a ciência
dele de lá tivesse vindo, de Marchal.
Stephanie Fonseca após contemplar tudo aquilo consegui
identificar muito do que estava escrito e vislumbrada via as histórias
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 212
tanto da viagem até aquele lugar, do povo que ali habitava, e do que os
antecederam a muitos séculos, indo do Éden a Noé, e o que restara da
fonte secreta de Avila.
Todavia ela fora igualmente beber da água e quando Jorge a
tornou em seus lábios, passou o cantil a ela que após olhar para os
dois sorriu e bebeu de modo silencioso o cantil e então sentou-se ali,
no meio do imenso lugar como se aguardasse algo acontecer não
bastando a revelação que por si só havia naquele ponto nunca antes
conhecido da humanidade, e os motivos que os antecederam.
Jorge Avillez então tonteou e teve a sensação de ter visto uma
das estátuas se moverem, quando colocando as mãos sobre o joelho
viu algo como nevoas surgirem e então ecos de homens caminhando
por aquele lugar surgindo diante dele. Homens trabalhando na
construção daquele lugar, esculpindo as tabuletas, erguendo as
estátuas e um ancião com túnicas até os pés os orientando enquanto
alguns mais carregavam objetos, caixas e pedras de um lado a outro na
edificação daquilo tudo, e então Jorge virou-se a outra direção e viu
que as nevoas se acentuaram, era a direção do futuro.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 213
Ato XII
O Elixir de Kairos
"A única força do passado lhe advém do futuro."
Jean-Paul Sartre - O ser e o nada, pág. 580
Região do Alto Xingu, 1646
Uma embarcação espanhola encosta na beira de um rio quando vários
índios correm em direção a eles enquanto puxam a embarcação para a
areia. Um homem distinto dos demais, então dirigisse ao que parecia
ser o líder dos índios, um homem com muitas penas entre o cabelo e
um cocar com dentes e mais penas no pescoço e diz algo em sua
língua intraduzível ao espanhol que defendia as fronteiras do tratado
de Tordesilhas.
Ao terminar de falar o que queria apontando para uma direção
especifica, o espanhol virou-se para seu tradutor e perguntou o que
seria, o que aquele homem falava.
- Ele diz de uma cidade que mergulha na montanha, e que
possuem ouro, conhecimento de ouro. – Disse o homem um pouco
confuso – Não compreendo o que ele quer dizer com conhecimento de
ouro, talvez conhecimento de algum ouro no lugar.
- El Dorado. – Disse o espanhol colocando as mãos na cintura.
– Isso tem que justificar o tratado de Tordesilhas, as lendas que
relatam desde Pedro Menéndez não podem ser mentira! Vamos até lá!
Os homens então pegaram mantimentos quando o cacique
então acenou com a mão em negativo, como se fossem para não irem
até o lugar e falando algo demonstrando muito temor.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 214
- Ele diz que há guardiões, índios agressivos aos que adentram
sem permissão e convite, é terra de deuses do tempo protegida dos
deuses do caos, pois lá guardam o destino. – Disse o homem intrigado.
- Não importa! – Institui o homem – Ouro é ouro! Vamos.
O cacique então afastou-se e ficou a contemplar os espanhóis
arrumarem seus mantimentos e mudo acompanhou eles com os olhos
até adentrar a floresta em direção a montanha coberta no topo quando
uma criança pegou na mão do cacique e ele a chamou a retornar a
aldeia.
Os dias se seguiram até que maltrapilha aqueles homens após
perder dois dos seus retornaram e preferiram manter o caso em sigilo
ante o que lá aconteceu, mas com certeza absoluta eles ficaram
igualmente temorosos a ponto de nunca mais retornarem.
Interior de Akator, algum lugar do Alto Xingu, tempos atuais.
O homem, pervertido como o anticristo, parecia voraz a tragarmos ao
abismo pelo caos, pegou uma das espadas remanescentes de algum
guerreiro daquele povo, que não compreende-se o porque não mais
habitarem o lugar, e colocou-me diante da fonte deitado no chão e
amarrado a aparentemente matar-me como oferenda a Wotan, o deus
germânico das tempestades. Zaira estava em pânico temendo o
homicídio eminente por aquele psicopata que era incapaz de esboçar,
ao menos naquele momento, qualquer sentimentos de clemência para
comigo.
- Evoco a ti, Wotan, e Seth ancestral deus que pelo caos impõe
sua ordem a oferecer a este para que lhe trague o destino. – Disse
William Sanchez esboçando agora com suas bochechas tremulas
algum tipo de sorriso sádico ao ver-me indefeso sem ter a menor
chance de defesa quando um tiro se ouviu ecoando por todo lugar.
Todos viraram e para a surpresa de nosso grupo alguém ao
lado de nada menos que Augustin Milagros num comportamento
imprevisto a alguém de seu cargo ante o Vaticano, mas que a seu
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 215
modo nos surpreendeu. William Sanchez cambaleou caindo de lado
com a espada no chão e olhando pra Milagro como se estivesse
igualmente surpreso disse.
- Traidor!
Ficamos confusos com aquilo, pois não conseguíamos
conceber que Milagros tivesse quaisquer negócios com eles quando ao
se aproximar apontando as armas aos demais, mais alguns homens
adentraram aquela enorme cúpula armados, eram agentes da SIV, e
vieram rendendo os homens de William Sanchez e a tirar as cordas
que nos prendiam.
- Muito tenho de pedir perdão amados. – Disse Milagro –
Estou trabalho junto com o SIV há alguns anos me infiltrando como
traidor dos Jesuítas entre a Ordo ad Chaos.
- Então você não fora sequestrado por William Sanchez? –
Indagou Zaira movendo os punhos agora libertos e tendo um aceno
negativo do homem de ciência e fé.
- Acompanhávamos os vazamentos, e me coloquei como
informante deles, a Ordo ad Innaturatus, queríamos ver até onde
chegariam, e depois do que fizeram no laboratório era hora de agir. –
Completou Milagros vendo William Sanchez com cara de ódio sobre
ele. – Fui com ele, não esperava a invasão, mas concebendo que
Andreas Santiago era o anterior informante tivemos que tomar
algumas medidas urgências.
- Apropriado seu nome. – Disse eu levantando-me aliviado
por não ter sido picotado a espada por aquele sádico psicopata – você
é meu pessoal milagre. – Completei como certa ironia.
- Sem ironias meu caro, isso é gente das mais perigosas. Mas a
descoberta aqui realizada é sem precedentes e certamente ele farão de
tudo para domina-la e cobrir a verdade. – Completou ele enquanto os
agentes agora mandavam os homens de William Sanchez deitar-se no
chão igual a que nos tinha feito. – Procurávamos há muitos séculos
esse lugar, os rumores vararam inicialmente de jesuítas espanhóis
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 216
levando a Pedro Menendez de Avilés e percorreram até os templários
em tempos anteriores. Meio mundo mudou e gente de mais morreu
por isso.
- Mas e agora? – Perguntou doutor Petrônio enquanto Muros
se esticava por ter ficado por longos minutos torto no chão.
- Estamos providenciando uma licença do governo brasileiro a
pesquisar este lugar, temos alguns anos de pesquisas a frente e a
obrigação moral de reescrever alguns livros de história que estavam
errados. – Completou ele sorrindo ao passar com William Sanchez a
seu lado com ele o encarando ainda que ferido com um tiro no ombro.
O funesto homem deu mais algum sorriso malicioso como se
tivesse algo que não esperavam quando um bip soou dentro da cúpula
ou templo central. Milagros e eu olhamos ao objeto de sincronidade de
eventos no chão e notamos que havia um contador que havia zerado
naquele momento, mas aparentemente nada aconteceu.
Um agente do SIV foi até o aparelho e notou que vibrava, mas
não sendo seu idealizador nada compreendeu quando sentiram eles
uma vibração dentro do tempo. Milagros parou e olhando para trás
acenou ao agente que carregava William Sanchez e disse.
- O que fizeste aqui, filho de belial?
- Caos. – Respondeu ele quando uma das colossais estatuas de
um dos anciões veio a baixo em minha direção dando tempo apenas de
correr e jogar-me ao lado caindo dentro da fonte de água.
Zaira olhou ao teto e notou que uma luminescência surgia do
alto crescendo gradualmente até tomar a forma de algum vórtice
tremulando luz por todo lugar anteriormente apenas iluminado por
tochas. William Sanchez ficou inerte com as mãos amarradas para trás
contemplando aquilo não sendo previsto a ele mesmo enquanto eu de
cara no leito da água o qual chamavam de Elixir de Kairos a engoli o
bastante para me engasgar.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 217
- Protejam a Fonte do Tempo – disse Milagros gritando a seus
agentes.
Zaira agarrou-me quando uma estatua a mais caiu sobre a
espada que carregava um dos homens de William Sanchez o fazendo
gritar até ser estraçalhado por ela sobre ele. Sanchez correu até uma
das espadas que haviam letras semelhantes ao hebraico escritos por
toda lamina e atravessou doutor Petrônio pelo estomago fazendo uma
careta covarde.
Os agentes atiraram enquanto o estudioso homem do vaticano
caia no chão com a mão na barriga e eu ao tentar ir a seu socorro uma
súbita tontura me veio fazendo cair ao chão.
A imagem inicialmente ficou embaçada e não conseguia me
focar quando vi um homem em trajes antigos vir em minha direção em
simultâneo a um dos agentes a socorrer Petrônio agonizante.
Tentei me erguer quando vi um homem que conhecia apenas
por pinturas, Jorge de Avillez. Inicialmente não conseguia
compreender aquilo, mas ele estava ao lado de uma jovem muito
formosa e Jorge virou-se para mim e olhou diretamente como se visse.
Caminhei em sua direção, mas cambaleei para lado como um
caranguejo na praia, virei de um lado e vi um dos homens de Sanchez
soltar-se e lutando para pegar a arma de um dos agentes do Siv veio
Zaira colocando as mãos no meu ombro perguntando-me algo, mas
não compreendi, como se minha mente estivesse solta no tempo.
Naquele momento Jorge veio em minha direção quando a jovem
igualmente me vendo ao lado dele apontou para meu lado assustada e
ao me virar vi William Sanchez investindo contra mim com uma
espada.
Me esquivei, mas caí no chão. Sanchez então gritando algo
que não consegui ouvi pulou sobre mim querendo enfiar a espada em
meu pescoço, gritando e escorrendo saliva de seus lábios como sendo
algum tipo de cão danado.
Jorge aproximou-me mais como se quisesse intervir, mas não
conseguia me tocar nem a Sanchez quando um tiro irrompeu de seu
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 218
peito o fazendo cair ao chão, do meu lado. Era um dos agentes de
Milagros.
Zaira me puxou do chão e disse que tínhamos que correr dali,
pois corria risco de desabar, mas olhei ao lado de vi Sanchez
rastejando até a fonte e bebendo de sua água.
***
Jorge intrigado com as visões que estava tendo olhou para
mim quando Álvaro assustado com o comportamento dele e Stephanie
diante do nada naquele templo o puxou perguntando.
- O que está acontecendo Jorge?
- Estou tendo visões. – Respondeu ele – vejo pessoas de outro
tempo, eles têm coisas que brilham e armas de fogo poderosas, o
templo parece estar desabando.
- Nada está acontecendo. – Respondeu Álvaro intrigado.
- Como não, nós interferimos com o que acontecia no que
parece ser o futuro! – Respondeu Stephanie olhando ao nada como se
fosse tudo.
- Loucura! Temos que ir, talvez vocês estejam intoxicados.
Jorge de Avillez pegou sua mochila e encheu mais um cantil
de água e a guardou dentro quando ouviu algo como uma voz vindo
de dentro da direção de onde olhava.
- Venha a frente Jorge. A direção correta você está.
Jorge largou o cantil e olhou como se avançasse os
acontecimentos de onde Sanchez nos atacava quando viu mais adiante,
no mesmo lugar homem com equipamentos ultramodernos
pesquisando todo recinto escorado por vigas e tendo luminárias de
grande porte ao lado de dois fotógrafos com crachás.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 219
- Quem está falando, de onde? – Perguntou Jorge, deixando
Álvaro alarmado.
- Não de onde, mas de quando. Se Marchal está atrás, estou eu
a frente, sou de temol audaz descedente. – disse a voz e quando Jorge
olhou mais focado viu uma nevoa se dissipar e viu Pedro Menendez
de Avilés diante de uma escrivaninha com papéis e uma janela aberta
com uma cortina esvoaçante. – Você consegue alterar os ventos. Eu
sinto ele adentrar pela janela. – Completou ele sorrindo.
- Pedro Avilés? – Indagou Jorge quando notou que Stephanie
igualmente conseguira visualizar a imagem.
- Vejo-os, vejo que conseguiram encontrar Akator. – Disse
Pedro – Uma vida por isso, Jorge, congratulações. Ficou eu aliviado
de agora conhecer o destino de meu filho, ele me viu, eu o amo.
Somos uma família, separados pelo tempo, unidos pelo destino. Se
você virar-se, Marchal deixará de o ser, e Temol lhe estará por de trás,
vire-se e veja mais ao passado, pegue a corda e siga-a.
Jorge assim o fez vendo toda sua linha como se fosse uma
corda que ao ser puxada levou a membros que não conheceu e tantos
mais que nunca ouviu falar. Caminhou ele pelo tempo, sem sair do
lugar, e viu indo mais longe e contemplou os reis de Leão no trono
comentando sobre conhecimentos que tinham e o perigo de serem
descobertos.
Mergulhou mais e viu ainda mais longe quando um homem
estranho chegou as terras de Astúrias falando de coisas maravilhosas
de conhecimentos e ciências que homens nada cultos não conheciam e
por eles fora agraciado e levado ao trono. Jorge insatisfeito mergulhou
mais e puxando a corda viu que encontrava com a de mais alguns que
vagaram por anos como nômades e peregrinos, cruzando entre quase
todos povos como estranhos. Puxou e viu um dos homens encontrar
um estudioso da antiga palestina chamado Flavio Josefo e indo mais
longe chegou a uma cidade que como um oásis reinava no meio do
deserto, Pitah.
Jorge viu todas tais coisas e chorou e ao virar-se ao lado notou
que Stephanie o observava, sem registros, provas ou evidências,
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 220
apenas aquela visão monumental, naquele momento Jorge largou a
corda e toda imagem desapareceu diante de seus olhos vendo-se
mergulhar novamente em nevoas até chegar a seu tempo presente
quando ouviu um grito, era eu naquele mesmo lugar, noutro tempo,
quando a voz de Pedro falou novamente ecoando por aquela quase
dimensão própria.
- Algo do tempo adiante somando ao Elixir de Kairos está
provocando a tormenta de tempos, está a abrir a passagem, pelo caos.
- Que passagem? – Indagou Jorge perplexo.
- Onde vocês está, no futuro onde não está presente. – Disse
Pedro quando viram eles aproximar-se a imagem do vil homem
chamado Sanchez.
***
Assustado com as visões caminhei com dificuldade, mas
agora William Sanchez começava a ter visões e procurava seguir em
minha direção e tropecei confundindo o chão com épocas sobrepostas
como se meu consciente não estivesse suportando toda aquela
informação, quando ouvi.
- Gerson. Tenha foco, tenha fé. São adventos síncronos de
tempestades não-lineares.
- Quem fala? – Me indaguei perplexo.
- Sou eu, Jorge, conheci conhecimentos do futuro, seu
passado. Isso está afetando o que o templo protege, uma abertura ao
futuro.
Como os relatos do Triangulo das Bermudas vimos que aquele
templo não era apenas um tributo a conhecimento dos setianos e de
Pitah aniquilada por pilhadores sodomitas, assim como da fonte do
tempo o elixir de Kairos, mas uma cúpula que preservava ao seu
centro um vórtice, sobre a fonte de água, e que emergia até o cume
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 221
daquela montanha e rompia o tempo linear comum engolindo coisas e
pessoas a outro tempo.
Olhei para o alto e notei que o teto parecia se abrir, mas sem
qualquer buraco, apenas uma fenda que esticava o lugar como se o
espaço se torcesse e o tempo se distorcesse. Olhei dentro da abertura
que descia sobre a fonte enquanto Sanchez estendia as mãos do chão
querendo-a tocar com aquele sorriso sádico de pervertido e então
caminhei vendo flashes de várias épocas e agora chineses na cúpula
caminhando ao lado de índios extasiados com o lugar, virei-me e vi
Jorge e vi Pedro noutro lugar, tudo parecia se mesclar e minha mente
quase se fundir, ‘tenho foco, tenha fé’, lembrei-me do que disse Jorge,
não com ouvidos de carne, mas o bastante a seguir o que ele dizia.
Sanchez começou a gritar e levantando-se apoiando sobre a
coluna no centro da fonte tentou tocar o vórtice que se abrir sobre ele
quando ao olhar dentro, agora via homens de roupas douradas e mais
alguns com túnicas brancas até os pés como se fossem anjos, dentre
eles um homem que aparentava ser Percy Fawcett a contemplar aquilo
de modo desconsertado quando os homens se mexeram como se
conhecesse a perversidade daquele tal homem e apontaram pra mim
quando virei ao lado e mais uma estátua não suportava e veio abaixo,
desta vez sobre Sanchez o esmagando sobre a coluna e fonte, voltando
justamente seu desejo que tinha sobre mim, sobre si próprio como se
num jogo de espelho o rebatesse de volta a quem desejou. O vórtice
então subitamente se fechou e toda luz que dele vinha cessou dando-
me tempo apenas de ser agarrado por Milagros e arrastado por um de
seus agentes me tirando de lá a um lugar seguro.
***
Jorge Juzarte de Avillez se recompôs quando a intensidade das
visões diminuíram assim como da jovem Stephanie Fonseca sendo-os
acudidos pelo fiel amigo Álvaro que os guiou até retirar-se daquele
complexo subterrâneo. Jorge tinha dois cantis cheios de água quando
ao verem a luz natural do dia notaram a presença do índio de pé ao
lado da entrada os aguardando com um arco e flecha nas mãos.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 222
Ao nos ver, o simpático índio acenou com as duas mãos em
direção de Jorge, sorrindo e falando algo em seu idioma levando Jorge
a perguntar o que dizia, mas Álvaro não compreendia perfeitamente,
limitando apenas a comentar o seu entendimento parcial daquela
língua semelhante ao guarani.
- Seguiu a linha de sangue, ou algo assim, e conheceu a
eternidade. – Respondeu Álvaro concluindo – Não me faz o menor
sentido.
- Para nós, faz. – Disse Jorge olhando para Stephanie que lhe
deu a mão e sorriram eles seguindo floresta a dentro.
Ao chegarem a aldeia, os índios festejaram como se fosse um
acontecimento único sem terem a menor ciência do que aconteceria
nos anos seguintes com seus netos e bisnetos nas mãos de William
Sanchez e seus degenerados algozes da Ordo Ad Chaos, os
antinaturais. Jorge agora tinha uma visão diferente do mundo, pois
vira o tempo linear de fora dele, vira o tempo de Kairos.
Após se fartarem de um banquete lá ficaram durante a noite
para no dia seguinte, ao raiar dos primeiros raios solares seguirem
rumo a civilização que crescia e aflorava no Brasil, numa longa
jornada de retorno até o Rio de Janeiro onde tinham compromissos
como governador militar da Cisplatina.
Uma semana se passou quando chegamos por fim ao Rio de
Stephanie, fora a procurar seu tutor e pai adotivo, o guardião do sul
que estava num lugar designado por ele até o fim daquele mês. Jorge a
acompanhou agora muito mais intimo da jovem e ao adentrar o recinto
de um senhor de engenho encontraram os aposentos deserto após uma
revolta de escravos, comum na época.
Stephenie preocupada fora até o quarto após ver dois corpos
ao chão e ao abrir a porta vira seu tutor dependurado numa corda
enforcado diante de uma janela.
A jovem correu em sua direção aos prantos abraçando suas
pernas como se agora estivesse órfã novamente, e estava. Jorge
temendo haver mais alguém no lugar desembainhou sua espada e
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 223
olhou ao redor, mas nada vira a não ser um bilhete sobre a cama ao
lado de um móvel revirado com papéis ao chão. Jorge pegou o bilhete
de modo enlutado por aquele inesperado amigo que lhe levou a
conhecimentos tão significativos sobre ele próprio assim como do
futuro.
Morto por auto decreto ao buscar tomar as arestas do destino,
fugaz da idiotice solene ao tentar com bravura vã querer ter
significado e melhor sabedoria sem consentimento, pois somente nós
admitimos a possuir. A sua seguidora e a seu envolvimento com Jorge
e por lutar por liberdades inexistentes a não ser para nós. Perdedores
devem ser mortos, perderam o direito de viver e de ter posses, a
tradição nos une. Que lhes sirva de sinal pois nós a tudo movemos e
não aceitamos cães em nosso caminho.
Jorge sentou-se na cama com os olhos brilhando a conceber
que a luta se arrastaria por longos anos, a demais descendentes
atravessando décadas e séculos a justificar a visão que teve comigo
padecendo por algozes que apenas justificam alguns como escolhidos.
- Filhos de Caim, saquearam todo conhecimento que puderam
e anseiam exterminar todos os demais. – Disse Stephanie enxugando
as lágrimas do rosto pegando a túnica dele com o símbolo da estrela
dos ventos.
- Vamos, Stephanie – disse Jorge tocando em seu ombro – são
tempos perigosos a uma dama como você. Você precisa retornar aos
seus, aos amigos de Kairos.
Jorge retirou-se do lugar ao verem uma carroça virada e um
celeiro saindo fumaça, provavelmente criaram a situação naquele
lugar para se aproveitarem e matar o bom homem de conhecimentos
prodigiosos. No céu, do horizonte formavam-se mais nuvens
carregadas prenunciando tempestades com os boatos de emancipação
e Jorge estava temoroso do que lhe viria. Quando ao entrarem na
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 224
carruagem um chinês se aproximou dele com um sorriso no rosto e o
cumprimentando e disse.
- Vejo que o senhor, o excelentíssimo governador da
Cisplatina tem uma vida dupla. – Completou ele insinuando algo com
aquele tipo de sorriso maldoso na face.
- Quem é você e o que desejas? – Perguntou Jorge não
curtindo nada o tom de sua voz.
- Temos interesses comuns e não sabes. – Disse o homem
tirando um papel do bolso. – Enquanto conversamos aqui, homens
tramam planos do futuro. Há vários grupos tendo interesses
particulares na independência, mas nenhum deles conhece seus
motivos fora a fidelidade ao imperador, apenas desconfiam de que há
algo mais que você tem ciência e eles não. - Disse ele ao futuro Conde
Jorge.
Jorge pegou o bilhete de suas mãos sem qualquer confiança e
o desembrulhou enquanto o chinês permanecia diante dele com o
mesmo sorriso no rosto quando Jorge perguntou.
- O senhor tem algo haver com o que aconteceu aqui?
- Como teria? Li meu I Ching hoje, mas eventos sem aparente
relação ocorrem com simples atos por mim feito. – Respondeu ele
mostrando um dente de ouro na boca.
Ao terminar de abrir o bilhete, Jorge viu um mapa nas suas
mãos, que mostrava disposto um desenho das mediações de onde
viera, Akator e então ele olhou de visão cerrada ao chinês entendendo
o recado pertinente a negócios antigos que eles tinham na região.
- O que você quer com isso? – Indagou Jorge ao chinês.
- Vozes se misturam as sombras, e tramam o futuro da nação,
prezado Jorge, apenas queremos defender o que mais nos importa
nestas terras, mas ao decretarem a independência do pais selarão o
destino do império português decretando seu próprio fim. Não somos
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 225
homens de má fé, mas voluntários a verdade, seja fiel ao imperador
Dom Pedro I como sempre fora e estará no lado certo.
- Como assim? – Indagou Jorge intrigado com o rumo sinistro
daquele papo.
- Dom Pedro II não tem a menor ideia do que está
acontecendo, ele apenas sabe da aparência do que lhe contam. Mas
tem gente perigosa com eles e vão querer lhe fazer maldade.
Amaldiçoadores, pois até a alta cúpula americana tem ciência disso e
deseja ficar livre de Portugal para explorar o Brasil. Ainda não
finalizamos as buscas, mas se eles descobrirem aquilo... – completou o
chinês referindo-se ao mapa. – Sei onde esteve, os mesmos ventos que
sussurram a seu ouvido, sussurram aos nossos. – Disse ele agora
retirando-se ao dar as costas deixando Jorge sem palavras.
- Espere! – Disse Jorge não se dando por satisfeito com o que
ouviu daquele homem o fazendo parar e olhar para trás. – Não sei se
consigo deter a independência.
- Talvez não consiga. – Respondeu ele sorrindo – Mas
preferiria tentar e ter a consciência limpa de que fez o justo. Estamos
diante do começo da grande conspiração global que visa monopolizar
a tudo e acabar com as liberdades individuais. Os poderosos estão se
posicionando para a dominação final de nosso mundo.
- Você é da Ordo Christianitas Ad Ventus? – Indagou Jorge
curioso.
- As oscilações estão aumentando, estão a balançar o barco de
um lado a outro, para uns do passado você é o caneco na escrivaninha,
mas ao futuro o vulto da verdade coberta. – Respondeu ele ignorando
por completo a pergunta como se suas atitudes e jeito respondesse por
si só. – Me perdoe meu sorriso, a ironia é minha luva. – Completou e
então retirou-se o homem que se quer Jorge soube o nome.
A carruagem seguiu e então Jorge levou a jovem a sua
residência oficial e não resistiu aos abraços da jovem enlutada e se
acalentaram num só leito. No dia seguinte ele a levou até o porto de
onde iria a Portugal levando uma carta assinada por ele próprio, que a
protegessem a jovem donzela que lhe fora companhia de valor.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 226
Os dias se passaram, e assim as semanas e meses até que a
situação na penumbra invisível das entrelinhas se tornou insustentável
levando em 5 de julho de 1821 Jorge de Avillez ao príncipe D. Pedro
um ultimado de juramento que levasse a formulação da constituição e
demitisse o conde de Arcos a forjar uma junta governativa, repetindo
o mesmo em outubro daquele ano aceitando o pedido de Jorge de
anunciar publicamente as decisões da Corte que estava no período em
Lisboa, mas voltou atrás por visíveis influências, e em 1822 decidiu
ficar no Brasil forçando Jorge demitir-se como governador de armas
quando notou que tramavam lhe tirar a vida por tropas embrionárias
que no futuro formariam a chamada Policia Militar o levando a se
refugiar na Praia Grande, do outro lado da baia do Guanabara onde
fortificou um famosos lugar histórico até que o próprio príncipe
regente D.Pedro lhe expulsou.
A Vida de Jorge nunca mais fora a mesma ainda que antes
feitos notáveis, visivelmente algo lhe perseguia onde quer que fosse e
após regressar do Brasil em maio de 1822 seguiu sua brilhante carreira
se tornando deputado no mesmo ano e em 1823 tomando a liderança
de um movimento do Infante D. Miguel não conseguindo êxito de um
golpe de estado levando ao regime absolutista do Vilafrancada.
Procurou a jovem Stephanie por meia Portugal em segredo,
mas sem qualquer êxito, procurou aos seus informantes quaisquer
coisas que a ela ligasse, sem resultados, até que acusações lhe vieram
mediante seu conhecimento avançado e fora preso após ser destituído
de seu cargo e títulos, assim como a Pedro séculos atrás e a sua
própria família ao fugir da Espanha perseguidos por seu conhecimento
daqueles que incapazes de alegar condenações indiretas agiam
furtivamente pelas sombras a inquerir culpas e acusações que não
existiam, os mais vis eram impunes cada vez mais a seus atos.
Ficou no castelo de S. Jorge e depois levado a Torre de Belém
até que após ser condenado fora levado ao Castelo de Vide. O tempo
que lá permaneceu escreveu uma carta destinada ao futuro assim como
Pedro Menendez fez para ele, agora fez o mesmo por mim e mais
alguém no futuro que não compreendia quem era.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 227
Correspondências do tempo, quais segredos reservam Kairos
ao oportuno decifrador de suas ondas? Talvez sutilmente
tramando no linear para trás do tempo. Bebi novamente da
dita fonte e ela é inesgotável ao conhecimento, pelo Elixir de
Kairos procuro respostas em vão, mas selo tal carta apenas ao
avante do tempo. Estamos aqui porque não conquistaram
nossas mentes e corações e por isso agora querem conquistar
nossos corpos, mas lhe digo que hoje ainda que morra,
morrerei lutando, pois se os quiserem terão que vir buscar!
Somente me considerarei vencido o dia em que estiver
sepultado, não cogita-se perder para aqueles que apenas
querem nos saquear e matar.
Mas a ti, audaz herdeiro do destino, o qual a perseguição que
lhe aflige é sua sina, sua constância sua marca e seu
conhecimento seus frutos, lhe digo, decretam eles derrotas,
mas junto a certeza de que estão errados. Siga em frente,
jovem audaz, siga. Com fé lute ainda que morra, pois melhor
que morrer massacrado. Na rasteje, não aceite os espinhos
travestidos de pétalas pois desejam é seu crânio como a morte
endeusada.
Jorge Zuzarte de Avillez, 28 de junho de 1825
Jorge não permaneceu muito tempo na prisão, sua carreira era
por demais lustrosa mesmo a seus adversários a espreita e num certo
dia de junho de 1827 ao receber a ordem de sua soltura no período da
regência da Infanta D. Isabel Maria de Bragança fora recebido por um
homem que conheceu anos atrás no Brasil, aquele chinês de parecer
inóspito que lhe surgiu na saída da prisão e com um sorriso lhe
cumprimentou.
- Tranquilidade a ti, Jorge. – Respondeu ele olhando-o nos
olhos.
- Você? – Indagou Jorge – Qual é seu nome? Você é quem
fora responsável por me libertar?
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 228
- Quanta sede tens pela verdade. – Respondeu o chinês. –
Você nos surpreendeu, mas nós estamos apenas corrigindo o curso da
história. – Respondeu ele – Mas tive de vir pessoalmente e ter contigo,
confesso que alguns se tornaram seus fãs. Você será restituído a seus
títulos e posto.
O chinês apertou sua mão e então retirou-se mesclando-se a
multidão, deixando Jorge ali inerte e perplexo pela aparição daquele
homem tão breve quando desaparecera.
Jorge fora restituído a seu cargo conforme predito pelo
misterioso chinês ainda que mais um ataque lhe veio a prender-lhe
novamente em junho de 1828 permanecendo por longos anos até fugir
em percurso contrário a sua família, retornando a Espanha. Por lá
procurou quaisquer traços dos homens que lhe contataram com tais
conhecimentos em vão, mesmo sua mulher fora presa ainda que
posteriormente liberta. Até que D.Pedro com o fim da guerra civil
finalmente se reconciliou o levando a governador militar da Corte e
província da Estremadura, e se tornando tenente general efetivo
ascendendo até ganhar o título de Conde depois do título de Visconde
do Reguengo em 1835 até que morrerá em 15 de fevereiro de 1845 em
Lisboa, sem nunca ter suas demais perguntas respondidas de modo
coerente e desejado a seu ímpeto desbravador, mas quando ao beber
do último gole daquela fonte o qual advinha de Avila e Pison
transmitida a Pitah a procurar mergulhar nos mistérios do tempo como
ao alcoólatra a fugir da realidade do agora, até que ao adormecer
diante duma visão de 1429.
Vaticano, 1429.
Boatos corriam de todos os lados sobre a legitimidade da posse do
Papa Martinho V, na realidade duma trama ulterior levando ao
Antipapa sobre a posse de um mapa que lhes viera da China. Bernard
Garnier, se intitulou Bento XIV como o antipapa de Martinho V, na
realidade conhecendo que um segredo havia levado no século passado
os templários remanescentes a fugirem com o único segredo
verdadeiro que possuíam. Um mapa que levava ao novo mundo, que
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 229
foram as mãos dos chineses e agora retornara levando a uma disputa
entusiástica entre o poder no Vaticano para que os Jesuítas pudessem
por fim conseguir alcançar aquelas terras do além oceano e nelas
fundarem as bases do mundo moderno, de São Paulo a tanto mais.
Bernard Garnier estava em meio a uma intriga nos bastidores
da milenar igreja com seus segredos quer emparedados ou não, mas
protegidos sob pena de morte diversas vezes. O homem desejava
revelar ao mundo o mapa que serviu de combustível a navegadores
por séculos, mas que apontavam mais que a terras, mas a um
conhecimento fincado firme no centro da América Latina onde hoje é
o Brasil. O poder deste conhecimento escorreu pelas mãos assim
como o tempo aos seus perseguidores e cansado viu apenas aquela
trama de séculos lhe anunciar a chegada dos chineses a este território e
a queimar o mapa após recebe-lo de um informante infiltrado entre
navegadores. O papa queria proteger o mapa de mãos vás, mas
conhecia o antipapa que o vazamento aconteceria, pois a água não
poderiam deter, Bernard Garnier era da Ordo Christianitas Ad Ventus,
e viu seus esforços fracassarem ao iniciarem quando já velho as
navegações dos descobrimentos oficiais.
Rio de Janeiro, tempos atuais
Sentei-me diante da Tevê ao ver o anuncio da descoberta que a tanto
vi remoer turbilhões de correntezas conspiratórias e de caos pela Ordo
Ab Chaos da Ordem do Caos. Viu uma reportagem onde Augustin
Milagros surgiu numa coletiva a informar sobre a hidrocriptografia o
qual era pai intelectual e assim falou o homem com vigor de sua
constância.
- O que ele faz não é apenas mensurar dados de previsões
futuras, mas de variáveis levando a concepções alternativas de
realidade por números imaginários, mas que os padrões indicam ser
reais. O desenvolvimento de um computador de hidrocriptografia
quântica é o passo adiante na concepção da informação e da
mensuração de nosso próprio universo do qual acreditamos ser apenas
uma fração do que o é. – completou ele.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 230
Aquilo estava a levar-me a crer que aquilo não era tão
diferente do Elixir de Kairos que alguns buscaram por tanto tempo
como a fonte da vida eterna por simplesmente contemplar o infinito,
mas concebendo que não estava em mãos erradas não temia por minha
vida como aos piratas que mataram a família de Stephanie para pilha-
la, como acontecia sempre esporadicamente como ecos de Pitah, quer
com um ou um povo. Um homem, mas, então, apresentou-se e
começou a falar, era Johansen Menzies.
- A Linearidade do tempo é uma ilusão, ele vem do futuro ao
passado por sincronidades invertidas e naturalmente imensuráveis. –
Completou o homem de cabelos grisalhos a impressa. – Anunciamos
então o inicio de um Projeto do computador de hidrocriptografia
quântica, destinando a explorar exatamente os aspectos do tempo e do
caos de modo multidimensional.
Naquele momento alguém bateu a porta. Era Dr.Petrônio que
pra minha surpresa tinha algo endereçado pra mim.
- Surpreso em ver-me? – Disse ele com um sorriso cordial no
rosto levemente suado pelo calor. – Posso? – Disse pedindo permissão
para entrar e tendo meu consentimento.
O homem tirou uma pasta e então me entregou algo enrolado
em seda que me deixou perplexo. O pegou nas mãos e tirou o suave
tecido que ele envolvia e notei ser um diário do Conde Jorge de
Avillez.
- Não gosto de fazer papel de carteiro, mas encontrei isso
junto aos documentos do fim da Ordem de Cristo o qual ele pertencia
quando procurávamos vestígios do livro que fora furtado. – Disse
Petrônio. – Abra e veja o que tem dentro.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 231
Assim o fim e então contemplei folha a folha escrita a mão
num papiro muito antigo e amarelado pelo tempo como documento
histórico soterrado por toneladas de documentos nas bibliotecas da
Santa Sé, quando por fim encontrei uma carta assinada por ele e o
destinatário uma incógnita do futuro. Comecei a ler e entendi, pela
descrição quem era e com um sorriso amplo respondi a Petrônio como
agradecimento aquilo que limitou-se a responder em seguida.
- Frutos, mais que lugar tem tempo próprios.
- Conseguiram descobrir algo sobre a água daquela fonte? –
Indaguei eu.
- Quer que lhe diga como homem de fé ou da ciência? –
Perguntou Petrônio como resposta.
- Homens de opiniões confiáveis como o senhor tem a livre
escolha de responder como achar melhor. – Respondi – Certamente
não apelar a quaisquer crendices que visem tirar qualificações.
- A luz na medida certa revela, quando demais cega, quando
mal colocada cria sombras, mas nas posições corretas podem
transpassar o tempo, uma luz pura o qual é o conhecimento, não
aflição.
- Disseram que alguém do tempo a frente soprava a seu
tempo, mas quem seria? - Pergunto eu.
- O futuro influencia o passado? Alguém de marchal olhando
para o passado e soprando sobre ele, vendo temol. - Disse Petrônio -
Talvez um descendente. Tal verve parece por vezes ter fontes
'despertas' do futuro a influir em eventos no passado que levam não
somente a você, mas a Jorge, Pedro e talvez muitos mais.
- O senhor tomou a fonte. – Concluiu eu com um sorriso.
- Tão óbvio assim? – Respondeu Petrônio. – Somos todos
navegantes, Gerson, navegantes no tempo, e você ao conseguir de
certo modo corrigiu o rumo ainda que maiores tempestades venham.
Ao retirar-se após tomar um bom café, Petrônio me deixou
com súbitas saudades numa nostalgia que somente o tempo poderia
demonstrar, mas com o cair da noite o sono me veio em meio a um
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 232
turbilhão de perguntas ainda sem respostas, como portas trancadas
sem as chaves.
Acredito na eternidade, pois o universo somente é o que é hoje
pela soma de todo passado ante a linearidade, o universo não poderia
ser relapso quando somos a soma de informações e memórias
transformadas, a linearidade e a entropia de nós testifica, pois, a seta
do tempo por eles rompe ainda que se olharmos para os lados veremos
variações, direções. Mas qual o advento? Olhei a temol e ele olhou
para mim quando adormeci e mergulhei em sonhos incomuns.
Vi-me rodeado de doze homens e estes nobres com suas
barbas longas e brancas se juntaram a mais doze e um vendo-me
sorriu pra mim e disse.
- Veja a corda, puxe-a.
Olhe a baixo e vi uma corda e assim o fiz intrigado com o
porque daquilo, virei então e olhei para o ancião de dias e ele acenou
com o rosto pedindo para seguir em frente onde a corda indicava
como um guia e assim o fiz andando até que tudo se tornou como uma
nevoa. Caminhei e vi os boatos da III Grande Guerra se concretizarem
e tudo ficou ainda mais enevoado como a fumaça das explosões, e um
vento forte me veio, caminhei e senti o medo e o odor de enxofre e o
caos sobre o mundo. Caminhei mais sem nada conseguir ver por ser
demais nebuloso até que ouvi o canto de aves e uma cruzou por mim
batendo as asas e então senti algo puxar a corda.
Intrigado, puxei de volta e segui em frente até que vagamente
a nevoa se dissipou e mais a frente da corda, no final dela, vi um
homem vestindo dourado, a fonte do tempo, de fora da tempestade
perfeita, algo de Marchal a nos comunicar algo e nos orientar ao
destino, direção ao futuro, eles tinham um semblante amistoso e sorriu
cordialmente ao me ver.
Acordo assustado e vejo a minha volta algo como sendo um
dia maravilhoso quando me dou conta como por um encanto que a
Ordo Christianistas Ad Ventus nunca existiu, e resolvo escrever este
livro. Vou escrever uma carta ao futuro, ainda que aqueles não sendo
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 233
humanos me chamem de cão, pois vi e sei que o futuro não faz
acepção.
Caminhei até a porta quando vi uma carta por debaixo da
porta, mais uma carta. Ao abri-la notei ser na verdade um convite.
Não havia texto apenas um título informando de quem era, um tal de
Clube de Pioneiros pelos engenhos que descobrir e criei, talvez
alguém em fim valorize meu talento.
Não dando a menor importância resolvi caminhar imaginando
o que poderia ser aquele sonho, talvez fosse o que fosse apenas
contemplávamos o tempo como sendo presente o que era o passado.
Subi um monte onde um fino gramado movia-se ante o vento e lá
sentei-me por longos minutos a refletir sobre o tempo e tanto o mais,
vi as nuvens se moverem, e imaginei o que mais o tempo guardava a
ser revelado a seu tempo, segredos que apenas Kairos poderia
responder e que certamente aquele ao fim da corda conheceria todos
seus segredos e com justiça certamente julgaria, pois a eternidade não
se faz apagando, mas a tudo guardando e armazenando, tentei olhar ao
passado e contemplar mais uma vez o face de Jorge de Avillez, Pedro
Menéndez e até Mesmo Juan, mas compreendi que mesmo passado,
assim como do futuro nos olhavam, Pedro estaria sentando ao lado de
Jopy perguntando-se a mesma coisa sobre o futuro, quem era o
homem a quem ele escreveu a carta?
Vaticano, Roma
Um homem adentra pelos corredores apressado em direção ao
gabinete do Papa e após cumprimentar a guarda da entradada abre as
portas e entra num lugar onde próximo a uma janela está o Papa
sentando lendo algo. A santidade vira-se ao cardeal e sem nada dizer
pergunta o que desejava.
- Santidade - disse o cardeal se aproximando do Santo Papa -
encontraram Akator, acho que confirma os mistérios dos setianos, o
mistério de Kairos, revelado.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 234
- Conhece as medidas a serem tomadas. – Respondeu o Papa.
– Certifique-se de que não vão se aproveitar disto e atacar o Vaticano.
- Sim senhor. – Respondeu o homem – Mas um grupo vem
reivindicando algo incomum sobre nosso projeto do computador de
hidrocriptografia. – Seguiu o cardeal.
- O que?
- Um certo grupo chamado Clube dos Pioneiros. – Disse o
homem de Deus ao santo Papa. – Falam que pioneiros de diversas
áreas de todos os tempos participaram ou foram instruídos.
- Verifique até onde vão as verdades.
- Sim senhor. - Completou o homem retirando-se do escritório
do Santo Papa.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 235
Appendix
“A nossa vida é um livro em branco que nós próprios vamos
escrevendo e de que somos os únicos autores”.
Jean-Paul satre
á que ideias e informações não nascem no solo ou vem do futuro
prontas como num surto de informação, eu pesquiso e a partir do
conhecimento existente , meditação - normalmente sobre a
natureza - e de minhas experiências (boas ou más) realizo as minhas
criações originais com honestidade da citação das fontes ao contrário
de alguns. A Ordo Christianistas Ad Ventus concebida por mim como
sociedade do meme para o livro ‘Crônicas Atemporais’ é parte da
teoria do tempo por mim forjada, desenvolvida e descoberta (ver mais
nos apêndices dos demais livros) sob as falhas da teorias existentes
limitadas para não se dizerem incompletas trazendo por sua vez em
minha visão particular uma concepção mais completa física e
filosoficamente como cosmovisão. Sem dúvida a inspiração não foram
ordens maçônicas ou qualquer outro tipo de sociedade secreta ou seita
por ter uma filosofia diametralmente diferente das mesmas, pois é
temporal, o tamanho não importa, por uma “filosofia das águas e dos
ventos” do qual seu comportamento ondulatório me inspirou como em
outros conceitos físicos como do princípio da incerteza de
Heinsenberg, debruçados sobre a bíblia em minha interpretação
particular, tendo muito mais haver com o cristianismo e o catolicismo
que venera em alguns países gaia.
A Ordem dos Ventos, ou Ordem do Advento, tem por objetivo
proteger a verdade temporalmente e valores, e como a linhagem
consequentemente a família. A ordem dos ventos, é a chave ao lado da
linha de seth como constantes do tempo para a teoria do tempo que
não funcionam direito sendo isoladas, mas se completam como a
teoria perfeita do tempo e destino por tantos cobiçada, mas que jamais
se adequarão aos valores em princípios de alguns. O melhor de minhas
J
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 236
teorias é que ao menos me divirto, pois a de alguns é tortura e nada
mais.
A concepção da Ordem do Ventos é como Ordem do Advento,
não um sincretismo religioso, mas a protetora duma verdade que deve
ser revelada a seu tempo, é filosofia da ciência que cruza-se a religião
por ter fins comuns, justamente a verdade, porém, estritamente
ilustrativa a trama. Sobretudo diz algo sobre a jornada pelo esforço o
mesmo que o autor teve ao longo dos anos como perseguido a
condizer com a concepção da mesma e em construir tal obra, algo que
cabe apenas ao maligno tirar o valor. A medida com que lutam para
tirar meu valor provam apenas que não o possuem, mas eu sim. De
nada adianta grandeza sem virtude, pois a virtude determina o valor de
uma grandeza.
Todos apontam a uma direção, mesmo a um guarda de transito
é seu ofício, mas isso não faz dele necessariamente da Ordem dos
Ventos, ou a Ordem dos ventos uma cópia dele. Mas alguns piores que
cego, veem apenas o que anseiam em ver, excepcionam o que creem
fazer semelhanças e assim apontam apenas para o abismo. Porém o
adendo é que a semelhança não faz igualdade, como constata-se na
prática com estes a exemplo do que passo, afinal uma bicicleta não é
uma moto.
A mais magnifica filosofia como cosmovisão do que é o
filoversismo, que mesmo se adequando coincidente a alguns aspectos
filosóficos do tempo chinês, não fora inspiração, mesmo que o autor
mencione o 'sul' como o 'futuro' igualmente a concepção vista de
direção e tempo dos chineses que são cinco, porém, o conceito da
Ordem dos Ventos já havia sido feito antes do autor conhece-la. Não
tem aspirações em gnose ou esoterismo, mas sim numa filosofia
inicialmente platônica, mas dirigida a compreensão temporal
cientificamente. Não leio na cartilha de qualquer seita, ordem ou
sociedade secreta para se determinar alguma inspiração, antes não
gosto de brincar com o que não conheço e ou criei. A ideia
originalmente criada por mim é ímpar, mas encaixa-se perfeitamente
no contexto bíblico e até cientifico.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 237
"Há geada lá fora, há neve cegante,
os caprichos do vento, a feroz tempestade
mas minha infantil, em que a felicidade
se aquece à lareira de luz crepitante.
Tua atenção será presa pelas palavras mágicas.
E não nós de temer as rodadas mais trágicas.
Se enfim a sombra esquiva de um suspiro
profundo tremular ao longo da história,
dos dias de verão pela perdida glória,
pelo feliz fulgor que te alegrou o mundo,
não poderá afetar, com tristeza alada,
A alegria e o frescor deste conto de fadas."
Alice no pais dos espelhos - Lewis Carrol
A ideia da hidrocriptografia surgiu por acaso quando
preocupado com a espionagem que me afligia visse criações - como
esta - que tivesse ao concebe-las. Conhecendo o tipo evasivo dessa
gente, pesquisei sobre o assunto, porém, conhecendo os avanços
tecnológicos capazes de quebrar virtualmente quase todo tipo de cifra
e criptograma, inicialmente desisti ao ver que a NSA desenvolvia uma
máquina quântica exclusivamente para isso, quebrar todo tipo de
senha para exatamente nos espionar. Resolvi então ler um manual de
um curso de detetive (IICC, Bechara) e por acaso topei com o assunto
da criptografia novamente, mas ainda sem uma solução para minha
pergunta.
Analisando então meus próprios conceitos relacionados a
concepção de ondular idade do tempo relacionada ao caos chego a
conclusão de tal conceito ao mescla-lo a incerteza de Heinsenberg, o
que trás conotações e possibilidades prodigiosas, mas igualmente
aterradoras nas mãos dos amorais e imorais.
A criptografia quântica originalmente criada por Stephen
Wiesner em 1970 era descrita como uma habilidade de unir duas
mensagens, mas que pelo princípio da incerteza de Heinsenberg não
se poderia decodificar as duas simultaneamente. O principio
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 238
semelhante é utilizado na hidrocriptografia, porém, não como duas
mensagens, mas de oscilações criando mais variáveis de uma única
informação pela mera influência observava de decifração de modo que
nunca se poderia encontrar a decifração sem uma chave de constante,
ou de destino, neste caso atribuída ao destinatário da informação.
Obviamente não tenho recursos técnicos para desenvolver tal
teoria, à prática - a situação em que vivo de exclusão e marginalidade
não me permite - mas me parece perfeitamente aplicável, restando
para mim lamentar não poder aplica-la em minhas inúmeras ideias que
tenho diante do que pesquiso, o que me leva a guardar muito mais
ideias - quando não as perco - em minha mente.
Conceitos patéticos de cifras permeia minha vida, alguns
atribuídos ao uso por escoteiros onde se coloca valores numéricos
mediante a ordem alfabética das letras, o que me é estressante por não
ter qualquer valor ou significado, rendendo no máximo trocadilhos
infantis ou coisas ainda mais doentias a fim de aterrorizar. Não há
qualquer porque de manter uma coisa desta como comunicação
quando todos a conhecem e assim se comunicam, e principalmente
atribuir valores e significados a isto. Naturalmente que o conceito da
hidrocriptografia demonstra-se como uma metáfora a própria natureza
do Universo e sua chave ao destino, algo constante nele em meio as
flutuações, neste caso os ditos herdeiros do destino o qual destina-se
até conceitos de profecias a comprovar sobretudo, no aspecto
cientifico, que a informação é a verdadeira natureza do universo,
considerando mais primordial que a própria relação de energia e
matéria.
Conhecimento é poder, e é um contrassenso a ideia da
Síndrome de Cassandra de ter ciência de algo e não poder altera-lo,
pois não sei de caso algum de alerta futuro que implicasse justamente
leva-lo a acontecer e sendo diametralmente contrário a hipótese do
livre-arbítrio ante o tempo ressoante ondular. Não obstante, casos de
mothmans (homens mariposa) conforme mostrado no livro ‘Crônicas
do Tempo’ assemelham-se a tais declinações negativas mas
visivelmente ligado a algo negativo justamente.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 239
A principal inspiração é a bíblia, assim a concepção destes
escolhidos serem perseguidos em sua linha é comum a tal mesmo que
a versão de Van Helsing a mesma seja também inspiradora. Sobre a
teoria em si, a semelhança com a Teoria das Cordas é igualmente
coincidente e o fato de adequar-se as demais apenas comprova que
esta é verdadeira.
Sobre os fatos históricos envolvendo principalmente Pedro
Menendez de Avilés não são tão fidedignos por não ter tido acesso a
documento históricos limitando-se a pesquisa virtual de documentos.
Todavia todos feitos históricos destes personagens são verídicos o
mais levantando-se como hipóteses a ideia conspiratória conhecendo
por fortes indícios de que os conhecimentos de navegações dos
chineses de fato, de algum modo, em algum momento, vieram aos
europeus levando estes a "descobrirem" o novo mundo por
conveniência de quem algum outro país tomasse tal dianteira, ficando
evidente isto na corrida feita entre Pedro Menendez Avilés e o francês.
Somente quando o conhecimento de terras do outro lado dos oceanos
vazaram a franceses tendo a dianteira portuguesa é que os demais
países como Inglaterra e Espanha se empenharam em iguais esforços,
ficando evidente ao hábil historiador ante exemplos de mapas como de
Pire-Reis e conforme predito no livro '1421' de Galvin Menizes que
tais viagens fora visivelmente induzidas numa trama internacional o
qual minha família teve importante influência. O exemplo do caso em
que Pedro encontra o junko chinês é completamente verídico ainda
que nunca se tenha dito se ele resgatou algo de lá, quem quiser
pesquisar procure nos apêndices do livro '1421' de Galvin Menizes.
Há muitos anos um amigo meu dos tempos em que trabalhava
na Lona Cultural com Marcos Guimarães, escreveu um livro sobre
uma viagem ao Brasil antes da descoberta oficial. Rodrigo Fernandez,
que nunca mais vi sem quaisquer rastros de contato, fez todo um
trabalho de pesquisa sobre o modo de se escrever no período o que
ficou realmente muito aprazível, porém, apesar de semelhanças não
fora o que me inspirou, mas sim a obra de Galvin Menizes ao
mencionar Pedro Menendez de Avilés que descobriu um junko chinês
no litoral da Flórida. Não obstante, é digno de nota ainda que meu
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 240
livro não trate duma viagem as Américas antes da descoberta oficial,
mas sim duma trama conspiratória que levou a estes eventos. De modo
algum vou fazer pouco caso do trabalho de Rodrigo, não obstante, as
pesquisas realizadas para os detalhes de época, feitos por ele sem
dúvidas ficaram melhor que o meu o qual limitei-me normalmente a
internet ainda que considere meu argumento e demais detalhes muito
melhor. Gostaria muito de contatá-lo e de todo modo mencionar seu
livro nas fontes – que não me recordo, admito.
Notadamente a relação de Akator ou a mítica El Dorado
igualmente é correspondente a realidade, ainda que em fragmentos, de
acordo com '1421', traços dos chineses antes da descoberta oficial
foram encontradas na Amazônia indicando que eles subiram o rio
amazonas levando o autor postular que a dita cidade perdida poderia
ter sido na verdade criada por eles.
Coincidente ou não o tratado de Tordesilhas que dividiu o
Brasil entre a Espanha demonstra que justamente a Espanha ficou com
o lado onde estaria tal cidade. As Conjecturas de que tal cidade tenha
sido fundada por descendentes de setianos é pura especulação assim
da relação de Pitah com estes, mas pelas descrições daqueles que a
teriam encontrado indicam ser algo cujo avanço excede a de quaisquer
povos primitivos da região e explicaria o conhecimento astronômico
de alguns povos do continente em vista que como previsto por Flavio
Josefo, os setianos eram os mais hábeis astrônomos de seu tempo.
Algo diametralmente oposto a uma linha como a dos setianos a todos
bons costumes e valores que visa lhe aniquilar e pilhar, sendo ou não
verídico, parece indicar que sim dado as tradições e modos de alguns
se portar, a exemplo do que fazem com o autor.
A linguística deriva-se como importante estudo dos troncos de
origem de linguagem podendo dar dicas sobre a origem de muitos
povos, a relação da linhagem de faraós como arque inimigos dos
setianos são baseadas na ideia de Pitah, que todavia o autor não
encontrou provas que a confirmasse, permanecendo assim como mera
teoria.
Muitos são chamados, poucos escolhidos. Tal passagem
bíblica determina o significado dos escolhidos de Deus, os designados
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 241
e não somente referindo-se a 140 mil judeus conforme o livro do
apocalipse. A muito pesquisar a vocação messiânica na bíblia e os
posteriores a Jesus o anseio da humanidade por um líder libertador e
revolucionário clama em momentos de caos e opressão.
Filosoficamente a compreensão de destino lhe reputa a qualidade de
um escolhido cuja missão única é aguardada com ansiedade pelos
crentes como signo de fé e esperança humana mediante a um porque e
propósitos normalmente atrelados ao divino a levar e elevar a redimir
e libertar um povo ante o improvável e sempre precedido por sinais e
prodígios como relacionados a uma profecia secular. Poucos povos no
mundo trazem de modo tão forte a imagem messiânica quanto os
judeus o que reflete no cristianismo. Por não terem considerado Jesus
Cristo um libertador de Israel em vista que no período em que surgiu
eram cativos de Roma, uma série de outros auto-entitulados messias
surgiram na palestina nos anos seguintes a Jesus, mas todos eles com
exceções tiveram fins desastrosos a si próprio quanto a seus
seguidores.
A concepção de Jesus como designado messias atribui-se a
ideia de um caminho aberto pela fé o qual atribui-se a autoria e como
seu combustor tornando os seus escolhidos a um fim o que denota
justamente uma concepção de povo escolhido, isto é, os verdadeiros
cristãos. Observa-se sobretudo que o destino não é ausência de caos,
mas triunfo sobre ele, e urge ao tempo de Kairos sua insurgência com
convicção pela fé. A emblemática ideia messiânica que tem seus
reflexos em outros povos detona um sentido estritamente moral da
salvação da integridade dos justos que sendo retos - no caso do
cristianismo - ruma ao alvo que estipula-se o destino. Naturalmente
que destino é o rumo a dado alvo de modo que o fator constante ante
ele e sobre o mundo de inconstâncias o que tem a concepção dos
Herdeiros do Destino, os seth como uma exemplificação de todos
estes. Sinais os justificam e precedem em proporção a sua
importância, são normalmente rejeitados e perseguidos sem motivo ou
por motivos injustificáveis a manifestar dons incomuns a confirmar ao
contrário de seus opostos do qual a exclusiva função é tirar o
significado e propósito destes contra todo 'porque' como escolhidos do
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 242
abismo batizados pela ilusão por serem orientados pela vontade
normalmente apresentando ao contrário da ordem divina algum tipo
de ordem antinatural, anticonstitucional e antibíblica. Diversos traços
como incapacidade de horarem a própria palavra contradizendo-se e
assim demonstrando inconstância do discurso e prática e sendo
impiedosos com seus perseguidos proibindo-lhes direitos básicos.
Pode-se definir o objetivo do Filoversismo como "expor a
essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas
existentes" ainda "oferecer a última palavra acerca das coisas que
existem e ocupar o lugar que autora fora da filosofia." Para isso negar
o ego é substancial para fugir das distorções da vontade que levam a
discriminação e injustiça sempre contraditórias mesmo. Uma
metodologia verdadeiramente filosófica e imparcial onde as metáforas
nunca sirvam para fugir da verdade, mas exemplifica-la ainda que
nunca com perfeição. Assim a concepção do singular nato surge e
veremos que essas figuras de linguagem são pálidos símiles do que
não se copia, quanto mais na verdade das ideias que abstêm o concreto
por ser estritamente imaterial, de modo que o renovo metafísico vise
exceder todo materialismo comum a distorções das cobiças, ganâncias
e consumo.
Porém, o que me agrada no Tempo é ser homogêneo, não há
desigualdades como no espaço, o tempo é generoso somente aos
pacientes, compreende-se assim que não existe tempinho, ou tempão.
Assim os bons na realidade não atrapalham, incomodam. Pertence é a
maldade atrapalhar o que é bom. O autor não se responsabiliza pelo
que é exposto sem a publicação do mesmo, pois crê que toda
discussão indireta não é digna de responsabilidade do mesmo assim
como entendo o silêncio de não atenderem uma porta quando bato,
uma negação de mim ou ao que eu produzo. É a Deus quem agradeço
pelo presente dos dons e capacitação que incorre em mim não em
crendices infrutíferas a não ser da mesmice sob fachada de justiça,
mas apenas aos próprios olhos. A verdadeira teoria ainda que teoria
nunca contradiga a verdade, mas apenas a ela explique como
realidade.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 243
Confunde-se preconceito com preferência, antes o primeiro
com discriminação de acepção julga "por baixo" a cor, idade, sexo,
tamanho e classe social sempre inerentes a conceitos materialistas e
aparentes, nunca correspondentes a realidades do que define o ser pelo
poder de suas atitudes, aqui associações comparativas sempre são para
baixo enquanto o conceito do filoversismo é imaterial, afinal quem
pode medir uma ideia?
Não se pode compreender a razão em detrimento da ausência
de responsabilidade, pois razão sem "porque" é apenas ilusão.
Resumindo a ideia do Filoversismo é elevar a compreensão por uma
consciência que caminhe lado a lado com sentimentos concebendo
uma lógica superior que pode tocar o infinito, que o materialismo e a
visão linear do pensamento ocidental não é capaz.
O discurso de aceitação é inspirado parcialmente no juramento
de Hipócrates, e tanto o mais foram ideais minhas. Naturalmente que a
minha criação por ser tão coerente, de fato chamou atenção (para
minha infelicidade) de homens maus do qual os meios denunciam os
fins a criar um feedback demonstrado nos mesmos livros como
personificação da injustiça, discriminação e fraudes diversas, sob suas
mais variadas formas normalmente mutantes e indefiníveis, mas que
invariavelmente se personifica pela subversão em sua relação não
simbiótica com o que deseja, pessoas que desconhecem até mesmo o
livre-arbítrio. O autor chegou sofrer atentados e constantes ameaças –
normalmente veladas – pela ganância de pessoas que não conhecem o
termo “sociabilizar-se”, subvertem, taxam, aprendem sempre, mas na
prática nunca tocarão a verdade proposta nestes livros.
Todavia, como autor, advém o termo autoridade sobre o
criado ainda que alguns pela arrogância e ingratidão não reconheçam
por pura injustiça que sempre lhe foram naturais ante a ausência de
empatia, mas que tropeçam nas próprias mentiras, a única coisa que
tem por autoria.
Os fatos relatos dos descentes e familiares são verídicos, de
Pedro Menendez Aviles ao Conde Jorge de Avillez dos quais as
participações históricas são de valor inestimáveis ainda que não haja
qualquer evidências destes terem descoberto alguma conspiração
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 244
internacional envolvendo a descoberta das Américas mesmo que
estudos indiquem haver outros descobridores anteriores aos
portugueses e espanhóis por estas terras, dos chineses e a quem diga
dos fenícios do qual relatos realmente indicam haver evidências deles
numa caverna na Pedra da Gávea.
"Tudo neste mundo tem seu tempo; cada coisa tem sua ocasião.
Há um tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar;
tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derrubar e tempo de construir;
Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar:
tempo de chorar e tempo de dançar;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las;
tempo de abraçar e tempo de afastar;
Há tempo de procurar e tempo de perder;
tempo de economizar e tempo de desperdiçar;
tempo de rasgar e tempo de remendar;
tempo de ficar calado e tempo de falar.
Há tempo de amar e tempo de odiar
tempo de guerra e tempo de paz."
A bíblia Sagrada - Eclesiastes 3 1-8
Vocabulário
Cronodinâmica: conceito que
estipula como fluí o tempo numa
comparação as águas em sua
hidrologia.
Cronosofia: Conhecimento
derivado do tempo e seu modo
fluídico ressoante que pode trazer
informações de tempos não
lineares.
Hidrologia: conceito de lógica
ondular proveniente da
meditação das águas.
Hidrosofia: Conhecimento
derivado das águas por um
mestre da Ordem dos Ventos.
Feng Shui: Termo em chinês
para ‘vento-água’ e aplicado
pelos herdeiros do destino como
meditação do tempo.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 245
Ordo ad Innaturatus: Também
conhecida como Ordo Ad Chaos
é o tipo de seita infiltradora do
qual os preceitos visam agir
contra a natureza para
implementar o caos e dele
dominar. Teriam acabado com
uma cidade da antiguidade
chamada Pitah após uma invasão
e sua população aniquilada e
pilhada tornando-se tradição a
estes absorvendo conhecimentos
pilhados que teriam influenciado
o surgimento do Egito. Toda
maneira de inverter a natureza e
o rumo natural é aplicado, da
sodomia a homicídios. São
extremamente agressivos e
diabólicos.
SIV: Serviço de Inteligência do
Vaticano.
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 246
Fontes:
Galvin Menizes - 1421 – O Ano em que a China descobriu o mundo
F. S. de Lacerda Machado, «O Tenente-general Conde de Avilez
(1785-1845)», 2 vols., Gaia, 19313
Wikipedia
Ana María Lorandi, De Quimeras, Rebeliones y Utopias: la gesta del
inca Pedro Bohorque. Lima: Fondo Editorial de la PUC del Peru,
1997.
Jorge Magasich-Airola e Jean-Marc de Beer, América Mágica: quando
a Europa da Renascença pensou estar conquistando o Paraíso. São
Paulo: Paz e Terra, 2000.
Vicente Restrepo, Los chibchas antes de la conquista española,
Bogotá: Imprenta de la luz, 1895 [6]
R. S. Dietz e J. F. McHone, "Laguna Guatavita: Not Meteoritic,
Probably Salt Collapse Crater" [7]
Revista Mundo Estranho – Editor Abril
Gerson Machado de Avillez – 2014
Gerson Machado de Avillez – Herdeiros do Destino 247
Agradecimentos
Então defino este livro como um tributo àqueles que se é
possível sociabilizar, do qual espera-se gratidão, respeito como
moedas de troca comum ante a verdade, aos que lutam contra a
discriminação e a desigualdade e toda distorção da verdade inerente a
estes. Aos que preservam, ou procuraram preservar, a família e os
valores comuns a sociedade aberta e livre. A estes meu carinho e
retribuição, coisa que o mau nunca será capaz. É a Deus quem
agradeço pelo presente dos dons e capacitação que incorre em mim
não em crendices infrutíferas a não ser da mesmice sob fachada de
justiça, mas apenas aos próprios olhos.
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