a estrutura do prólogo e do párodo de assembleia de mulheres de

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Este documento está disponible para su consulta y descarga en Memoria Académica, el repositorio institucional de la Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación de la Universidad Nacional de La Plata, que procura la reunión, el registro, la difusión y la preservación de la producción científico-académica édita e inédita de los miembros de su comunidad académica. Para más información, visite el sitio www.memoria.fahce.unlp.edu.ar Esta iniciativa está a cargo de BIBHUMA, la Biblioteca de la Facultad, que lleva adelante las tareas de gestión y coordinación para la concre- ción de los objetivos planteados. Para más información, visite el sitio www.bibhuma.fahce.unlp.edu.ar Licenciamiento Esta obra está bajo una licencia Atribución-No comercial-Sin obras derivadas 2.5 Argentina de Creative Commons. Para ver una copia breve de esta licencia, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/ar/. Para ver la licencia completa en código legal, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/ar/legalcode. O envíe una carta a Creative Commons, 559 Nathan Abbott Way, Stanford, California 94305, USA. 2010, vol. 17, p. 13-24 Drumond, Greice Ferreira Synthesis Cita sugerida: Drumond, G. F. (2010) A estrutura do prólogo e do párodo de Assembleia de Mulheres de Aristófanes. Synthesis, 17, 13-24. En Memoria Académica. Disponible en: http://www.fuentesmemoria.fahce.unlp.edu.ar/art_revistas/pr.4215/pr. 4215.pdf A estrutura do prólogo e do párodo de Assembleia de Mulheres de Aristófanes

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    O enve una carta a Creative Commons, 559 Nathan Abbott Way, Stanford, California 94305, USA.

    2010, vol. 17, p. 13-24

    Drumond, Greice Ferreira

    Synthesis

    Cita sugerida: Drumond, G. F. (2010) A estrutura do prlogo e do prodo de Assembleia de Mulheres de Aristfanes. Synthesis, 17, 13-24. En Memoria Acadmica. Disponible en: http://www.fuentesmemoria.fahce.unlp.edu.ar/art_revistas/pr.4215/pr.4215.pdf

    A estrutura do prlogo e do prodo de Assembleia de Mulheres de Aristfanes

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    A ESTRUTURA DO PRLOGO E DO PRODO DE ASSEMBLEIA DE MULHERES DE ARISTFANES

    GREICE FERREIRA DRUMONDUniversidade Federal Fluminense

    RESUMENEste artculo presenta um anlisis de la estructura del prlogo y parbasis de La

    Asamblea de las Mujeres, una pieza que marca la transicin de la comedia griega para indicar una transformacin de los elementos dramticos, como coro y parbasis, que marca posteriormente la comedia.

    ABSTRACTThis article presents an analysis of the structure of the prologue and parodos of

    Assemblywomen, comedy that marks a transition of greek comedy for showing a changing in dramatic elements, such as chorus and parabasis, which will let a mark to the comedy in another periods.

    PALABRAS-CLAVE Asamblea De Las Mujeres Aristfanes - Comedia Griega Coro - Personaje. KEY - WORDS:Assemblywomen Aristophanes - Greek Comedy Chorus- Characters.

    A penltima pea suprstite de Aristfanes, Assembleia de Mulheres (392 a. C.), apresenta algumas modificaes em sua estrutura que a fazem ser vista com destaque, quando comparada com as peas anteriores. Por isso mesmo, as anlises que procuram definir seu lugar no corpus aristofnico so controversas, visto que mudanas fundamentais quanto ao emprego dos elementos dramticos caracterizam as fases da comdia grega, sendo Assembleia considerada, portanto, ora como pertencente ao perodo antigo, ora ao intermedirio.

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    Para Maidment (1935: 4), Ecclesiazusae e Plutus so peas estruturalmente dis-tintas da srie de comdias anteriores de Aristfanes que se encerra com Rs, produzida em 405. Webster (1952: 13) observa que o perodo intermedirio da comdia grega situa-se entre 400 e 320 a. C., quando Menandro comeou a compor. Whitman (1964: 2) e Dear-den (1976: 101) consideram que a comdia antiga teve fim com o trmino da Guerra do Peloponeso. Para Carrire (1979: 94), Assembleia de Mulheres pertence, em princpio, comdia intermediria. Segal (1996: 1) avalia que a nomenclatura comdia intermediria abrange as peas da comdia grega produzidas entre a queda de Atenas (404 a. C.) e a batalha de Queroneia (338 a. C.). Dessa forma, caberia situar Assembleia de Mulheres entre as peas da comdia intermediria.

    Por outro lado, de acordo com Rothwell (1990: 24), as duas ltimas peas de Aristfanes indicam new directions in the evolution of ancient comedy, mas, ainda assim, Ecclesiazusae is therefore best seem as essentially a product of Old Comedy. Flashar (1996: 314-315), aponta para a possibilidade de se analisarem Assembleia de Mulheres e Pluto como peas de transio para a comdia intermediria, sem que, com isso, elas se separem do restante do corpus aristofnico, pois, ao mesmo tempo em que se destacam das demais peas, ainda reproduzem importantes elementos que caracterizam as comdias de Aristfanes do sc. V.

    Adriane Duarte considera que, ao se falar em Assembleia de Mulheres e Pluto, lidamos com peas de transio para a comdia intermediria, sendo elas caracterizadas por terem um incremento do dilogo em detrimento da lrica coral, uniformizao da linguagem e concentrao no universo domstico (Duarte, 2000: 11).

    O fato de se reconhecerem em Assembleia elementos que so marcantes em um perodo posterior da comdia impulsiona nosso estudo, pois temos como objetivo analisar a estrutura da pea em suas duas primeiras sees, prlogo e prodo, a fim de verificarmos os elementos que sofreram transformao nessas duas partes da pea.

    Com o ttulo , temos uma primeira referncia ao elemento dramtico fundamental no teatro grego antigo, o coro. Esse termo indica as mulheres que foram convocadas pela herona a se reunirem em assembleia, disfaradas de homens, com o objetivo de construir uma nova forma de governo na qual todos os cidados teriam acesso aos bens da plis.

    Greice Ferreira Drumond

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    Vale notar que, tematicamente, Assembleia de Mulheres pode ter sofrido uma influncia das ideias polticas e filosficas que circulavam em Atenas e que, posteriormente, foram apresentadas na Repblica de Plato.1 De qualquer modo, o que sabemos que a pea foi produzida em um perodo difcil para os atenienses, pois eles mal tiveram tempo de se recuperarem da crise ocasionada pela Guerra do Peloponeso e j estavam envolvidos em outra batalha, a Guerra Corntia (395-387/386),2 que refletiu negativamente no campo econmico.3

    Assembleia de Mulheres uma comdia que nos remete Lisstrata, produzida em 411 a. C., pois seu enredo tambm aborda o papel da mulher na administrao pblica. Entretanto, enquanto na pea do sculo V o governo feminino era transitrio, composto para resolver um problema pontual, a guerra, em Assembleia, ele permanente. Caber nova administrao tornar disponveis bens, comida e favores sexuais a todos os cidados, sendo necessrio somente que eles se disponham a esse novo estado de coisas entregando seus bens e seus corpos para que sejam compartilhados.

    No primeiro prlogo da pea (vv. 1-284), temos Praxgora, personagem principal, que aparece sozinha no palco, espera de suas parceiras, as quais comporo o coro da pea. A primeira companheira a entrar a corifeia, que utiliza em sua fala um ditico pessoal, o pronome , ao dizer (v. 31) [enquanto ns estvamos nos aproximando], mostrando que ela no estava s, mas com um grupo de pessoas. Mesmo na fala de Praxgora, podemos perceber que se trata de um grupo, na verdade, de uma parte do coro, pois ela se refere corifeia usando o pronome pessoal no plural, (v. 32), em vez de se dirigir a ele empregando o pronome no singular.

    Em Assembleia de Mulheres, a corifeia aparece no verso 30 atuando na funo de didskalos, ao dirigir cenicamente o coro. por isso tambm que, em suas primeiras intervenes, ela no dialoga com Praxgora, mas conclama o grupo que est conduzindo a se aproximar do lugar marcado para o encontro dizendo [...] [ hora de irmos] (v. 30). Entendemos que, embora o lder do coro participasse da trama, segundo Dearden (1976: 107), na maior parte do seu tempo, ele trata de organizar o coro, conduzir a

    1 Cf. Carrire (1979: 98); Thiercy (1986: 278); MacDowell (1995: 314).2 Cf. MacDowell (1995: 301).3 Rothwell (1990: 2-5) aponta a possibilidade de os atenienses estarem otimistas com relao retomada da hegemonia de Atenas nesse tempo.

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    dana e dar ao auleta o sinal para que ele comece a tocar. Portanto, a proxmica da corifeia restringe-se orkhstra, posto que ela atua direcionada ao coro, ainda que tenha surgido em cena para apoiar o projeto da herona com suas companheiras.

    Com a formao do coro, que se deu de forma gradual, Praxgora passa a exercer o comando da ao, durante o ensaio, ordenando cenicamente as companheiras no lugar antes ocupado pela corifeia, que se submete ao comando da herona. Praxgora passa, como general, a revistar sua tropa, para verificar se todas esto devidamente travestidas, e a treinar o discurso delas, a fim de que atuem como homens na assembleia.

    Assim, como podemos observar, temos uma comdia em que o coro se organiza desde o prlogo,4 sem se manifestar como um grupo. Verificamos que o fato de ele ini-cialmente no participar de nenhum dilogo no primeiro prlogo, mas compor um ncleo parte, indica um certo distanciamento em que se dar sua atuao.

    Para Russo (1994: 6), a apario das mulheres nos versos iniciais da pea no constitui o prodo, pois elas, como grupo, ficam em silncio. Ele caracteriza essa formao do coro como uma marca de sua futura desintegrao. No entanto, temos a manifestao do coro como grupo somente com o fim do primeiro prlogo, marcando o incio de uma nova seo, que, em Assembleia, denominamos primeiro prodo (vv. 285-310). Essa par-te da pea era um momento importante do espetculo, pois, como afirma Zimmermann (1996: 186), o pblico ficava atento esperando para saber o coro seria colocado em cena.

    Para situarmos o primeiro prodo da pea nos versos 285-310, levamos em conta que esse tipo de participao em que o coro aparece gradualmente, e no como um bloco homogneo, j havia sido feito em peas anteriores. Logo, essa formao do coro em As-sembleia no inovadora no repertrio aristofnico, pois, em Aves (414 a.C.), a entrada do coro se d individualmente, ainda no prlogo, e, em Lisstrata (411 a.C.), o coro entra, no prodo, dividido em dois grupos, o masculino e o feminino.5

    O coro passa a cantar a partir do verso 289. No entanto, como conclui Parker

    4 Na tragdia, temos Suplicantes, pea de squilo em que o coro composto pelas 50 filhas de Dnao aparece logo no incio, mas, nesse caso, temos imediatamente um prodo.5 Alm dessa forma de composio do coro em Aves e Lisstrata, lembramos que Rs apresenta tambm, como Assembleia de Mulheres, dois prodos. A diferena com relao a esta ltima pea consiste em que o coro que canta no primeiro prodo de Rs no o mesmo que atua no segundo. Para Webster (1970: 191), o primeiro prodo de Assembleia de Mulheres uma preparao para a sada do coro condicionada pelo enredo.

    Greice Ferreira Drumond

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    (1997: 528), o grupo dirige-se assembleia entoando uma cano processional, terminando o prodo fora de cena. A inovao desse primeiro prodo consiste no fato de que o coro, em vez de entoar um canto de entrada, realiza uma sada, um xodo. Assim, temos uma mudana na representao do elemento coral que consiste na descaracterizao de sua atuao no prodo, pois ele, para ajudar Prxagora, sai de cena. Como o papel actancial do coro de Assembleia atuar como adjuvante, essa ajuda acontecer extracenicamente. Ainda assim, consideramos essa seo como prodo, pois a primeira manifestao lrica do coro com um grupo coeso na pea.

    Com o fim da cano no prodo, no temos mais o grupo em cena, visto que se dirigiram assembleia. Assim, verificamos que esse primeiro prodo, na verdade, encontra-se metamorfoseado, com as seguintes caractersticas: parte do prlogo, j que comea a se formar no incio da pea (1), contm a primeira participao lrica do coro, o que o define como prodo (2), e, no lugar de o canto apresentar o coro ao pblico, faz-se uma despedida, constituindo-se em uma sada, uma forma de xodo (3).

    O coro, no primeiro prodo, atua como elemento cnico indicando a passagem de uma seo a outra, pois, do primeiro prlogo, em que atuavam Praxgora, suas duas companheiras e as coreutas, passamos, depois da participao lrica do coro nos versos 285-310, a uma seo com novas personagens, Blpiro, seu vizinho e Cremes.

    O segundo prlogo acontece temporalmente em paralelo com o primeiro prlogo, em que a corifeia exorta as mulheres para que cheguem assembleia durante o amanhecer (v. 291).

    O marido de Praxgora abre a nova seo, o segundo prlogo (vv. 311-477), com um monlogo (vv. 311-326), sendo, portanto, identificado como aquele que ir conduzir a cena, assim como sua esposa, pois ela, no primeiro prlogo, tambm abre a pea com um monlogo.

    Blpiro, sem suas roupas, reclama em voz alta por no poder sair de casa, sendo ouvido por seu vizinho. O objetivo dessas duas personagens saber onde esto as respectivas esposas e as vestimentas de ambos, mas eles permanecem na ignorncia. A participao do

    Vizinho6 finalizada com o anncio de que hora de ir para a assembleia (v. 352).

    6 A falta de lexicalizao da personagem mostra, mais uma vez, que sua atuao no ser ampliada na trama.

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    Na verdade, por essa hora, as mulheres j tinham se dirigido Pnix. Mas, devido a sua dor de barriga, Blpiro continua em cena, agachado, em mais um monlogo (vv. 357b-371), fazendo uma transio entre as cenas que compem esse segundo prlogo.

    Enquanto Blpiro fala, Cremes chega da assembleia e v seu vizinho ainda aga-chado (v. 372). Ao ser interpelado por Cremes, Blpiro levanta-se e responde rapidamente em esticomitias s perguntas de Cremes sobre a situao em que ele se encontra, pois ele est no s agachado, mas vestido de roupa feminina (vv. 372-375). A relao entre os dois muda quando Blpiro sabe que o Vizinho vem da ekklesa (v. 376), pois este passa a encabear as perguntas, cabendo a Cremes respond-las (vv. 377-404). Dessa forma, caber nova personagem o relato da atuao de Praxgora e suas companheiras que teve lugar durante a primeira parte do segundo prlogo.

    Em geral, as peas suprstites de Aristfanes apresentam em seus prlogos duas partes: uma em que se faz a exposio do plano do heri, seguida de sua execuo. Assim, essas duas cenas so tratadas por Mazon (1904: 153) como componentes do prlogo, porque, para ele, no ocorre uma entrada propriamente dita do coro, mas temos ainda uma exposio contnua do plano da protagonista7 feita por outras personagens. No entanto, concordamos com Russo (1994: 221), que considera essas cenas como um segundo prlogo, visto que o coro atua como grupo nos versos do que chamamos de primeiro prodo (vv. 285-310).

    Observamos ainda que esta seo acontece em paralelo com a atuao das mulheres que ensaiam, no primeiro prlogo, e atuam na assembleia, fora de cena. Com a diferena de que nesse segundo prlogo a referncia atuao das mulheres na assembleia feita a partir do ponto de vista masculino. Analisamos, portanto, esta seo como um segundo prlogo dividindo-a em duas partes: (1) a cena do dilogo de Blpiro com o Vizinho como um prlogo paralelo (vv. 311-357), pois sua ao simultnea ao que ocorre extracenicamente aps o primeiro prlogo, i. , ela ocorre durante a atuao das mulheres na assembleia, (2) e o dilogo seguinte como um prlogo digressivo (vv. 358-477), pois o tempo j tinha avanado, sendo necessrio, portanto, retomar diegeticamente o que aconteceu fora de cena tanto para as personagens como para o pblico. Consideramos o prlogo digressivo como uma retomada do que aconteceu no drama, mas que no foi encenado.

    7 Para Mazon (1904: 153), o prodo ocorre somente nos versos 478-503. Para Gil Fernndez (1996, passim), o prlogo influi nas cenas (vv. 311-477) que seguem o prodo (vv. 285-310).

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    Dessa maneira, no percebemos uma alterao na ao da pea nos versos 311-357, que constituem a parte paralela do segundo prlogo, pois h um continuum com o primeiro prodo que foi entrecortado pela atuao do coro no primeiro prodo para que se mostrasse um outro lado da ao das mulheres que afetou os homens, enquanto elas agiam. Com relao aos versos seguintes (vv. 358-477), na digresso, o que encontramos um relato do que aconteceu quando Praxgora e o coro chegaram Pnix e uma descrio do efeito causado pela atuao das mulheres na assembleia.

    A abertura da primeira cena nesse segundo prlogo ocorre como no primeiro prlogo com a personagem falando sozinha. No tratamos essa primeira parte como um elemento de transio entre as duas cenas desse segundo prlogo por considerarmos que a participao do coro nos versos 285-310 consiste em uma espcie de cortina que muda o ambiente cnico, fazendo a pausa dramtica para que entrem novas personagens.

    Como a transio de cena j foi feita pelo coro, esse monlogo nos mostra a similaridade que o segundo prlogo tem com o primeiro, pois tambm se inicia com uma personagem falando sozinha na sken. Assim, o segundo prlogo mantm a relao com o que estava sendo tratado no prlogo anterior, j que o travestimento das mulheres, que tiveram de tomar as roupas de seus maridos na surdina no primeiro prlogo, apresentado nesse segundo prlogo sob o ponto de vista daqueles que ficaram sem suas roupas.

    O dilogo de Blpiro e seu Vizinho (vv. 327-357) esclarece ao pblico o porqu da pouca presena dos homens na assembleia, visto que as esposas tinham usado suas roupas antes de eles acordarem. Ento, enquanto as mulheres vo ao encontro de Praxgora com a roupa de seus maridos, estes, ao acordarem, procuram seus mantos e sapatos (vv. 329-347), sem encontr-los.

    A partir do verso 358, temos a segunda parte do segundo prlogo que se inicia com um outro monlogo de Blpiro (vv. 358-371), que fica sozinho em cena com a sada do Vizinho no verso 356. Esse trecho serve de transio para a chegada de outra personagem, ocorrendo, portanto, uma passagem no tempo da ao da pea e uma mudana de cena. O encontro de Cremes e Blpiro cria a ocasio para que a nova personagem relate acerca da atuao de Praxgora na assembleia, visto que a vitria da herona ocorreu em paralelo com a primeira parte do segundo prlogo.

    A conquista do objeto de Praxgora, anunciado desde o primeiro prlogo, era

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    o momento mais esperado da pea, pois a comdia aristofnica consiste em representar a realizao do projeto do heri e as consequncias de sua execuo, dividindo, muitas vezes, as peas cmicas em duas partes, uma, que segue at o agn, sendo separada pela parbase, e outra, que mostra as consequncias da vitria do heri, aps a parbase.

    A partir do verso 460, Cremes deixa de descrever a atuao das mulheres na assembleia e responde s questes de Blpiro sobre o novo estado de coisas, explicando ao companheiro como agora os cidados devem se comportar. Com isso, sabemos que os homens devem deixar de atender s convocaes para irem assembleia, pois essa incubn-cia cabe s mulheres. Alis, ocorre, como resultado do plano de Praxgora, uma inverso de papis: enquanto as mulheres vo assembleia e sustentam a casa, os homens podem ficar em casa e acordar tarde (vv. 458-466). Mas isso no significa que a vida ser mais fcil, visto que, nessa nova conjuntura, os homens so obrigados a satisfazer sexualmente suas parceiras, ainda que no tenham vigor para isso (vv. 467-471a).

    No aspecto cnico e dramtico, essa seo apresenta uma proxmica bastante dinmica em que, mais uma vez, encontram-se dois ncleos distintos de atuao de per-sonagens por meio do encontro estabelecido primeiramente entre Blpiro e seu Vizinho e, em seguida, entre Blpiro e Cremes, diferenciando-se da diviso apresentada entre dois ncleos no primeiro prlogo, pois, neste, os ncleos atuam paralelamente, enquanto, no segundo prlogo, um sucede ao outro.

    Como pode ser verificado, nessa seo, Blpiro o condutor da cena, reproduzin-do a atuao de Praxgora no primeiro prlogo. Mas, no segundo prlogo, mostrado o ponto de vista dos homens relativo ao das mulheres ocorrida extracenicamente. Logo, no s no drama, mas tambm em termos espaciais, a sken passa a ser ocupada em sua totalidade por personagens do sexo masculino.

    A duplicao da estrutura prlogo-prodo aponta-nos o fato de que essa com-posio, no que nos foi transmitido textualmente, concentra-se mais em uma exposio narrativa que performtica da ao, j que objetivo principal da herona, a tomada do poder pelas mulheres, delineada desde o incio da pea e, portanto, bastante aguardada, no encenada, mas contada digressivamente no segundo prlogo.

    A retomada que feita para se apresentar ao pblico a realizao do projeto da herona faz com que haja uma ruptura na ao da pea, tornando-a descontnua. Como cabe

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    no prlogo a exposio o plano do heri, nesse segundo prlogo, o pblico j conhecia o plano da herona de levar as mulheres assembleia disfaradas de homens para votar em prol da proposta de se entregar a administrao da cidade a elas.

    Dessa forma, podemos antever essa realizao do projeto da protagonista no primeiro prlogo, por meio de um ensaio, ainda que a execuo do plano de Praxgora no faa parte da performance, o que evita um deslocamento das personagens at a Pnix em cena. As eventuais oposies ocorridas durante a assembleia foram representadas no relato de Cremes e na reao de Blpiro e seu Vizinho, durante o segundo prlogo, isto , aps a vitria de Praxgora na assembleia.

    Ao tratarmos das partes estruturais duplicadas, podemos nos remeter pea Rs que tida como a ltima das peas da comdia antiga (Thiercy, 1986: 236),8 pois nela encontramos o maior nmero de elementos duplicados: prlogo, prodo, parbase.9 Mesmo assim, Rs ainda considerada uma comdia da fase antiga pelo tratamento dado ao coro, que continua a atuar como nas peas anteriores.10

    Dessa forma, no de se estranhar que, em Assembleia de Mulheres, haja o uso de algo que j tinha sido colocado em cena e que funcionara bem, posto que a pea Rs venceu o concurso em primeiro lugar. O fato de se duplicarem as sees em Assembleia fruto, portanto, de um experimentalismo que deu certo.

    Em Assembleia de Mulheres, o segundo prodo (vv. 478-503) ocorre com a en-trada do coro em grupo marchando sob a conduo da corifeia para dar suporte herona. A lder do coro est exortando suas companheiras a seguirem em frente olhando para trs, para os lados, a fim de verificar se algum as observava (vv. 478-482). interessante notar que a ordem para a marcha marcada no primeiro verso pelo uso de um simples mtron anapstico (----),11 o qual, segundo Parker (1997: 530), indica um estilo militar: ,

    8 Para English (2005: 5), Rs delineia os traos encontrados em Assembleia e Pluto.9 Cf. Duarte (2000: 175). 10 Devemos apontar outras atuaes especiais do coro em Nuvens (423 a.C.), na qual o coro comea a cantar sem ser visto pela personagem Estrepsades, em Aves (414 a.C.), cujos coreutas aparecem um a um, e no em grupo, e em Tesmoforiantes (411 a.C.), em que no feito um anncio da entrada do coro, que se dirige orquestra em silncio no verso 280 e passa a cantar no verso 312. Zimmermann (1996: 183) considera que nessas peas, s quais ele soma Rs e Assembleia de Mulheres, ocorre um prodo que foge dos moldes tradicionais. Para ele, o termo prodo usado com relao a essas peas por convenincia (ibidem, loc. cit.).11 No verso em questo, os quatro tempos do mtron anapstico (uu uu -) so compostos por dois ps espondaicos (- - - -), formando os quatro tempos em dipodia em que se renem dois ps iguais para se formar uma unidade.

    A estrutura do prlogo e do prodo de assembleia de mulheres de aristfanes

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    (v. 478) [V em frente, avance!].Segundo Gil Fernndez (1996: 24), o coro faz sua entrada quando o espectador

    tem notcia dos pressupostos e da finalidade da pea, o que j tinha sido feito nos dois prlogos da comdia. O prodo consiste na entrada do coro para participar da pea como um grupo, posicionando-se a favor (Cavaleiros, Paz) ou contra a ao do heri (Acarnen-ses, Lisstrata). Os coreutas tambm podem se agrupar para a prtica de alguma atividade, como em Tesmoforiantes e Rs, em que os membros se renem para um festival religioso. Logo, Assembleia de Mulheres consegue apresentar ao seu pblico o coro se reunindo em dois momentos, a fim de se posicionar ao lado da herona.

    Nesse segundo prodo, o coro encontra-se travestido e, depois de cumprir seu papel de adjuvante na assembleia, trata de se desvencilhar do disfarce para no ser descoberto e, mais uma vez, o acessrio apresentado como um elemento que capacita a personagem a se transformar em uma outra, pois dada a ordem de tirar a indumentria para que as coreutas pudessem voltar a ser elas mesmas quando o coro ordena no verso 499a: -/ [troque de roupa mais uma vez e torne-se de novo voc mesma].

    Observamos que o canto do coro nesse segundo prodo marcado pelo predo-mnio dos versos imbicos, em dmetros e trmetros, o que torna essa participao coral com um fraco teor lrico, estando mais prxima da fala12. Podemos comparar essa cena com a primeira performance do coro no primeiro prodo que se despede cantando em elio-corimbico, ritmo muito mais vibrante que o verso imbico.

    O segundo prodo permite a transio para uma prxima seo, pois a corifeia anuncia no verso 500 a aproximao da strategs, e, assim, Praxgora recebida em um novo ambiente cnico.

    Em Assembleia de Mulheres, o coro participa do drama at o agn, seo da comdia em que a atuao do coro era essencial em sua estrutura. Como consequncia do silenciamento do coro depois do agn, uma seo que era peculiar comdia aristofnica, a parbase, deixa de existir na comdia de transio, pois, como ela estruturada com base na participao do coro, no teria como ser composta sem sua atuao.

    12 Na Potica de Aristteles, temos a referncia ao metro imbico, usado nos dilogos, como sendo o metro que mais se conforma ao ritmo natural da linguagem corrente (Pot., IV, 1449a25).

    Greice Ferreira Drumond

  • / SyntheSiS (2010) iSSn 03281205, vol.17 23

    Em toda essa discusso acerca do lugar da pea no corpus aristofnico, percebemos que o papel de Assembleia de Mulheres no rol das comdias compostas por Aristfanes o de indicar o caminho, ainda que de forma experimental, para uma nova forma que ainda ir se cristalizar.

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