59023691 7356476 espiritualidade contemporanea

Upload: paulo-fernandes

Post on 03-Jun-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    1/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    2/146

    EspiritualidadeContempornea

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    3/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    4/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    EspiritualidadeContempornea

    So Paulo - 2002

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    5/146

    2002 de Marcelo Bolshaw GomesTtulo original portugus:

    Espiritualidade ContemporneaCapa:

    Julio Cesar PortelladaReviso:

    Elina MiottoEditorao eletrnica:

    Julio Cesar Portellada

    PROIBIDA A REPRODUO

    Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitidapor meios eletrnicos ou gravaes, assim como traduzida, sem a permisso, por escrito, daautora. Os infratores sero punidos pela Lei n 9.610/98.

    Impresso no Brasil / Printed in Brazil

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    6/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    7/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    8/146

    7

    Espiritualidade Contempornea

    O Espelho de Oxum

    Santo Daime, o Vinho do Esprito

    Umbanda Caridade

    Transferncia de Identidade no Candombl

    Jurema Rainha

    O Tar como Mapa Cognitivo

    Os Trs Erros de Lenidas

    As Flores do Bem

    O Eneagrama da Personalidade

    DArte da Loucura (quase) Controlada

    Espiritualidade ContemporneaExperincias Transpessoais e ensaios sobre o simbolismo

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    9/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    10/146

    9

    Espiritualidade Contempornea

    Conta a lenda que, em um tempo imemorial, o rei Xang,orix escolhido por Oxal para governar a terra e os outrosdeuses, tinha diversas esposas. As duas mais importantes eramYans, a Senhora das Tempestades, e Oxum, cujo domnio seestendia pelos rios, lagos e cachoeiras.

    Certo dia, enciumada da preferncia de Xang pela suaadversria, Yans decidiu vingar-se de Oxum e, em um raiointempestivo de clera, investiu contra a me das guas doces,quando esta se banhava nua s margens de um grande lago,tendo apenas um espelho entre as mos. Devido ao fato de noser uma guerreira, mas uma mulher dcil e vaidosa, afeita apenasaos expedientes da Seduo e da Dissimulao para se defender;Oxum viu-se completamente indefesa frente ira arrebatadora da

    Rainha dos Raios. Oxum, ento, rezou a Oxal e, em um instantemgico, percebeu que o Sol brilhava forte nas costas de suaagressora. Rapidamente, ela utilizou seu espelho para reetir osraios solares de forma a cegar Yans. Ao saber da vitria deOxum, o rei Xang rearmou sua preferncia pela Senhora dasguas, que alm de mais bela e delicada, provou ser tambm

    mais poderosa que a Senhora das Tempestades.

    Um Objeto SingularO espelho aparece em inmeros mitos e reete um

    sentido claramente universal porque tem um valor cognitivo

    O Espelho de Oxum

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    11/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    10

    e epistemolgico. Ele um smbolo da conscincia.Conscincia entendida no apenas como auto-imagem socialou prossional, mas, sobretudo, como identidade psquicaprofunda, a verdadeira face sob a mscara do ego, a centelhaluminosa, o reexo interior do Fiat Lux. Plato e Plotino ocomparavam alma, metfora que em seguida foi adotada porSanto Atansio e Gregrio Niseno. Mas com So Paulo queo Espelho se torna um smbolo de transformao, um duploinstrumento para o conhecimento antropomrco de Deus epara o conhecimento cosmolgico do Homem.

    E ns todos que, com a face descoberta, reetimos comoem um espelho a glria do Senhor, somos transgurados nessamesma imagem, cada vez mais resplandecente, pela ao doSenhor, que o Esprito. (...) Agora vemos em espelho e demaneira confusa, mas, depois, veremos face a face. Agora omeu conhecimento limitado, mas, depois, conhecerei como sou

    conhecido.1

    Mas se o Espelho smbolo do autoconhecimento mstico,da imagem e semelhana onde o Homem e Deus se reetem,ele tambm aparece constantemente como metfora da ilusonarcsica, como condente da beleza egica, como um reexoinvertido da realidade. O smbolo da verdade , ao mesmotempo, signo da falsidade e da iluso. E certamente foi estecarter paradoxal e contraditrio que criou O fascnio dosEspelhos.

    Das inmeras narrativas onde este fascnio se manifestaescolhemos o mito nag do Espelho de Oxum, originariamenterecolhido por Pierre Verger na frica2, pois ele apresentavrios elementos simblicos importantes para caracterizar

    _______________________ .(1)2Corntios 3,l8 e 1Corntios l3,l2 Novo Testamento, Bblia. Edies Paulineas.l988.(2)A Lenda foi reescrita a partir da verso da revista Planeta Os Orixs. Ed. Trs.l982.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    12/146

    11

    Espiritualidade Contempornea

    o funcionamento arquetpico dos mitos que constituem odispositivo especular e sua estratgia epistemolgica. Antes,porm, de analisar os diversos aspectos simblicos desta lendamtica, vamos estudar como o tema do espelho se manifesta emoutras narrativas de diferentes culturas, procurando identicarsuas relaes com um arqutipo nico, que possa esclarecer opapel universal que o Espelho desempenha na lenda nag.

    Pelo fato de no emanarem luz prpria, mas dereeti-la, os espelhos foram associados Lua durante toda

    Antiguidade. Desta associao chave, sobrepuseram-se asque relacionam o Espelho ao feminino e sua beleza. Osimbolismo lunar do Espelho, no entanto, no se limita smulheres e aos poetas que lhes cantam a beleza, mas encontralugar tambm entre os feiticeiros e mgicos, que utilizavam assuperfcies espelhadas para entrar em transe, como o casodos xams siberianos.

    Possivelmente, a tradio de utilizao mgica do espelhotenha tido sua origem no fato de ele ter sido usadona astronomia/astrologia para determinar o movimentodas estrelas no cu. No sem motivo que o verboespecular, operao mental, procede do latim especulum,que originariamente signicava observar o cu, admirar e

    estudar suas constelaes. Como os estudiosos da cinciados astros desta poca, invariavelmente, eram tambm magos,os espelhos foram, gradativamente, interiorizados. De modoque comenta o cabalista Mario Satz3 o espelho nosomente est fora de ns, como um artifcio metlico, discopolido entrevisto no toucador ou no harm, mas se encontratambm entre os hemisfrios cerebrais, que invertem o

    contemplado transladando o esquerdo ao direito e vice-versa. curioso observar que este duplo processo de representao

    _______________________ .(3)SATZ, MARIO. O Dador Alegre. Ed. Ground. 1991.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    13/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    12

    da realidade atravs de espelhos se desenvolveu paralelamenteem diversas culturas antigas na China, na ndia, noOriente Mdio e no Mediterrneo gerando diferentesmitologias astrolgicas, mas uma nica concepo universalde representao.

    A contemplao deste espelho interior particularmenterica entre os msticos sus, que o entendem em um sentidosemelhante ao de So Paulo, como a imagem de Deus e doHomem. Deus , pois escreveu Ibn rabi de Mrcia4

    o espelho no qual tu mesmo te vs; do mesmo modo quetu s seu espelho em que Ele contempla seus nomes. Outromstico su, Shabistari, ainda mais especco em seu Jardimdo Mistrio

    O no-ser um espelho, o mundo uma imagem, o homem o olho dessa imagem, e Ele a luz do olho. Quem alguma vez viuo olho atravs do qual todas as coisas so vistas? O mundo se

    tornou homem, e o homem, mundo; no h explicao mais claraque essa. Quando olhas atentamente no corao da matria, Ele ao mesmo tempo a viso, o olho, a coisa olhada. A Santa

    Tradio nos legou isto, e sem olho nem ouvido o demonstrou.5

    Tambm o Zohar, recomenda que, para que o homem possaconhecer a Glria, utilize-se de um espelho, observando-a

    indiretamente para no ser cego por sua luminosidaderesplandecente. Ou seja, o tema do Espelho uma unanimidadeentre os msticos, sejam judeus, cristos ou mulumanos. Estecurioso consenso talvez explique a crena, tambm universal,de que quebrar um espelho acarreta em um longo perodode azar ou m-sorte. Tambm a crena de que as criaturassem alma sob a forma humana, como os vampiros e os

    zumbis, no tm suas imagens reetidas no Espelho; deve ter_______________________ .(4)Ibdem.(5) BALTRUSAITIS, JURGIS. El Espejo. Madri: Miraguano. 1988.Citado por Satz, M. Ibdem.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    14/146

    13

    Espiritualidade Contempornea

    sua origem na associao universal dos espelhos imagemhologrca de Deus no Homem, feita em diversas pocas pordiferentes religies.

    Adiante, quando analisarmos a lenda de Oxum,veremos como, devido a sua associao universal com aLua, o Espelho guarda uma relao direta com o simbolismoaqutico, mas dele se diferencia por reetir a luz do fogoelementar. Agora, o importante que se entenda que quandose fala do simbolismo do Espelho no se trata apenas da

    mitolgica iluso de Narciso ou ainda da ftil vaidadefeminina, mas tambm da contemplao mstica luz de umlimbo transcendente.

    Mas se o Espelho serve para que as donzelas ecortess reforcem seus egos e para que os sbios msticos sedesvencilhem dos seus, ele tambm uma poderosa arma deguerra, utilizada para atear fogo, gerado distncia atravs

    de raios luminosos, como no clebre episdio atribudo aArquimedes de Siracusa, que com um gigantesco espelhocatptrico incendiava os navios que tentavam invadir a antigailha da Siclia.

    De todas as lendas envolvendo espelhos como arma amais conhecida , sem sombra de dvida, a luta de Kadmo

    contra a Medusa, narrada por Plato no Timeu. Nesta narrativa,o heri vence a terrvel grgona, cujo olhar tem o poder detransformar seus oponentes em pedra, com a ajuda de umespelho preso ao seu escudo. Kadmo fez com que a Medusavisualizasse sua prpria imagem reetida no espelho e tivesseo mesmo destino de suas vtimas, petricando-se para sempre.Ou seja, o espelho uma arma capaz de fazer com que o

    outro se reconhea, com que o adversrio tome conscinciade si e de suas projees. O mal reconhecendo a si mesmocomo tal, perde toda a sua eccia e sucumbe a sua prpriaconscincia.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    15/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    14

    Talvez por isso, em seu livro,De Natura Deorum, Ccerolembra que o Espelho uma inveno de Esculpio, o deusda medicina; e os antigos sacerdotes nahuas do Mxicocostumavam levar um espelho pendurado no peito para queos demais (homens) descobrissem seu verdadeiro rosto e secorrigissem6. Pena que este expediente simblico no tenhafuncionado com os conquistadores espanhis. Estes, alis,realizaram boa parte da conquista das Amricas custada seduo de miangas e dos espelhos, presenteando-osaos indgenas, para que enquanto eles se distrassem comseus reexos, no percebessem o que se tramava s suascostas. Caberia ainda lembrar que a sobreposio de temasaparentemente contrrios fez do Smbolo do Espelho umametfora do paradigma epistemolgico pr-cientco e,posteriormente, devido a sua reexibilidade passiva frente aopensamento consciente, o Espelho passou a ser comparado

    com o prprio inconsciente como detalhamos a seguirsobre as relaes do dispositivo especular com as cinciashumanas.

    A Porta do Inconsciente

    Espelho, espelho meu, existe algum intelectual mais

    sabido do que eu? Num primeiro nvel, a reexo sobreo espelho sempre ser um questionamento do ego sobre simesmo. Mas o espelho nunca responde, ou melhor, nuncadiscorda, ao contrrio, seu silncio eternamente cmplice sefaz ntimo das mais desmesuradas comparaes.

    Entretanto, este primeiro momento de reexo, emborasempre rearme a identidade, que revela a objetividade

    do subjetivo, pois permite que o observador se observe,imaginando como ser visto pelos outros. E desta reexo

    _______________________ .(6)Ibdem

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    16/146

    15

    Espiritualidade Contempornea

    primeira da conscincia que (re)surgem as grandes idiase os grandes empreendimentos. Realidade ou alucinao,os mundos ordenados com estes instrumentos de precisorevelam a reversibilidade de todas as coisas: a certezado aparente, a incerteza do existente.7 Aqui o Espelho comparado a um grande lago de guas lmpidas e cristalinas,como um campo projetivo da experincia humana, onde ohomem pensa e repensa sua identidade.

    Rompendo com esta primeira perspectiva esttica, o tema

    de entrar atravs do Espelho em um mundo imaginrio,presente, por exemplo, em Alice de Lewis Carroll, tornou-selugar comum na atualidade, principalmente em Vdeo-Clipsde bandas de rock e lmes de co cientca. Interessante observar que este mergulho no inconsciente sempre parecedemarcar os limites da realidade virtual e da vida cotidiana,para a qual o protagonista sempre volta ao nal da narrativa.

    uma fuga do ego para a fantasia e seu invarivel retorno. Emmuitos casos, o tema do espelho se confunde com o smbolodo Ssia, do Outro, do Duplo.8

    como se contemplar no espelho:A forma e o reexo se observam.

    Tu no s o reexo,

    Mas, o reexo s tu

    O reexo, no entanto, no apenas uma sombra: emalgumas narrativas, o duplo se rebela contra sua matriz; emoutras, o Ssia se liberta de uma dimenso paralela existenteatravs do Espelho. Em todas podemos observar a idia deporta dimensional e em boa parte a idia da imagem reetida,do duplo como um veculo do Eu para viagens imaginrias,

    _______________________ .(7)E. MEYEROVITCH.Les Songes et leur interpretation chez le Persans, Paris, l959.(8) MAESTRO TOZAN. Hokyo Zan Mai, Samadhi del Tesouro Ilusorio.Adiax, Barcelona. 1981.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    17/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    16

    um corpo astral ou sonhador. Mesmo nas estrias ondeo Ssia se rebela contra o protagonista e adquire vontadeprpria, existe esta relao, pois o Outro se revolta contra suafuno original que a de representar a forma no mundo dosreexos, de duplicar o ego em uma imagem que possibilitao autoconhecimento. Porm, os espelhos guardam ainda umsentido mais profundo.

    Entre os tibetanos, a Sabedoria do Grande Espelhoensinao segredo supremo: que o mundo das formas que ali se

    reete no mais que um aspecto do sunyata, da vacuidade.Patanjali9 chamou esse conhecimento de uxo imvel e noso raros os relatos semelhantes dos msticos de diferentestradies. Para eles, o Espelho smbolo da transcendnciatemporal, da no historicidade, da superao da continuidadeda percepo sensorial pelos lampejos da eternidade.

    Poderamos, ento, concluir que os mitos do Espelhosimbolizam a prpria representao, no se constituindo ourepresentando um nico arqutipo, mas a prpria noode inconsciente coletivo ou de unidade fundamental daexperincia simblica. Representando a prpria representao,os espelhos so smbolos da realidade simblica, so, assim,imagem paradigmtica ou um dispositivo complexo, cuja

    ambivalncia expressa sempre um paradoxo: verdade absolutae iluso passageira, beleza supercial e profunda sabedoria,arma e remdio, alienao social e reintegrao psquica, etc.

    Mas se vemos no Espelho este emblema de alma coletiva,ou pelo menos, se encontramos nele um smbolo da culturaou a metfora mais abstrata e paradigmtica da linguagem,podemos comparar seus reexos sintagmticos aos arqutipos,

    pois enquanto o dispositivo especular enfatiza a diferena,seus espectros sempre rearmam a identidade simblica.

    _______________________ .(9) SATZ, MARIO. Ibdem.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    18/146

    17

    Espiritualidade Contempornea

    Em si, os reexos nunca so ambivalentes, eles so apenasimagens duplicadas. J o Espelho no uma simples estruturaduplicadora porque contextualiza e at transforma a realidade,uma vez que remete o observador a uma contemplao doconjunto da representao.

    Enquanto os reexos nos encantam e nos enganam comoidentidades arquetpicas, o Espelho representa a conscinciade que essas identidades so passageiras e parciais. O Espelho um convite eternidade, como, alis, sugerem as muitas

    lendas que o associam longitividade e manuteno dabeleza por meios sobrenaturais, das quais O Retrato de DorianGray certamente a mais conhecida.

    Muito ainda poderia ser dito sobre os espelhos e suavastssima simbologia, porm j reunimos os elementosnecessrios anlise da lenda nag a que nos propomosinicialmente. Voltemos agora, portanto, ao mito do Espelho deOxum.

    No Universo dos deuses nags

    A narrativa comea dizendo que Oxal, em um tempoimemorivel, delegara o governo da terra e dos deuses aXang, se comportando como um deus oticius ou uraniano,que cria o mundo e o entrega administrao de um deseus lhos, deuses menores. Por uma feliz coincidncia,este conceito de Deus-pai existente para alm dos cusfoi estabelecido por Mircea Eliade10justamente estudando acultura Iorub, onde Olorum se retira entregando todo poder aObatal.

    O incio da narrativa expressa, portanto, uma duplicaodo mito cosmolgico. Trata-se de um tempo imemorial,

    _______________________ .(10) ELIADE, MIRCEA. Tratado Histrico das Religies.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    19/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    18

    mas no de um tempo primordial. Poderamos, fazendouma analogia grosseira entre as mitologias grega e nag, dizerque se Olorum corresponde a Urano, Obatal/Oxal, apesarde seu papel eminentemente solar na lenda analisada, seriaa verso africana de Cronos/Saturno, e ainda que Xang,terceira gerao divina a ocupar o poder, corresponderia aZeus/Jpiter.

    Alis, como j falamos de passagem, no so poucos epequenos os elementos simblicos comuns entre Xang e o

    rei dos deuses gregos e romanos, pois ambos tm machadossagrados, lanam raios do alto de suas montanhas, representamo arqutipo da Justia e, sobretudo, tm mltiplas relaesamorosas hierogmicas com diversas deusas que representamdiferentes aspectos da Natureza sempre feminina.

    Em nossa estria, temos uma luta, no entre duas mulheres,mas entre dois destes aspectos femininos da natureza: Yans,Rainha dos Raios, dos Ventos e das Tempestades, senhora doseguns e do mundo dos mortos; e Oxum, Me das guas Docese senhora do jogo de adivinhao do If. Oxum tambm uma deusa do amor e da beleza, uma Afrodite nag.Os temperamentos das deusas so bastante opostos. Oxumexemplica a mulher aparentemente submissa e dcil, mas,

    na verdade, sedutora e dissimulada. Yans, ao contrrio,encarna o ideal de uma mulher independente e sincera, masde gnio irascvel. tambm a orix feminina que tem maisrelacionamentos amorosos com outros deuses, caractersticaque, no entanto, no a fez menos ciumenta e possessiva. ASenhora das guas nada podia contra a fora dos ventos.Oxum no poderia se valer de suas armas habituais, a

    seduo e a mentira, mas para invocar o poder solar de Oxal(o self), ela teve que transcender sua condio narcista ereexiva. A superao desta vaidade inicial do espelho quepermite a Oxum us-lo como uma arma real e no como um

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    20/146

    19

    Espiritualidade Contempornea

    instrumento psicanaltico feito o heri Kadmo diante damedusa. E este um ponto chave desta lenda: apenas com aajuda do elemento Fogo, a Me das guas se torna tambma Senhora do Espelho e vence Yans. E assim conquistadenitivamente a preferncia de Xang.

    Pode-se tambm pensar o embate das duas deusas comouma luta entre uma feminista militante e uma dondoca. Masessa forma de pr as coisas no nos ajudar a entender odesfecho da lenda seno como uma advertncia moralista

    de que o comportamento feminino mais adequado seja oda submisso dissimulada e no o da liberdade, autonomiae igualdade frente ao masculino. Entretanto, esta leitura equivocada.

    A mitologia nag amoral e no est preocupadaem ditar modelos morais de comportamento. Na verdade,a vitria de Oxum tem dois signicados para os Iorubs:representa, primeiro, do ponto de vista da agricultura, apreferncia pelas chuvas moderadas atribudas Oxum comoOrix da Fertilidade do que pelas tempestades, simbolizadaspelo casamento de Xang com Yans. E, no plano religioso,a vitria de Oxum representa a superioridade da atividadedivinatria simbolizada pelo espelho (inconsciente coletivo)

    sobre a necromancia e o culto aos antepassados, representadopelo aspecto ctnico e intempestivo da Rainha dos Raios.

    Mas esta tendncia ocidental em ver uma espcie de Evaem Oxum e uma Lilith em Yans tem uma razo de ser.Deixemos por hora esta questo e voltemos mais uma vez aotema do espelho, procurando agora observar como a lenda deOxum decisiva para sua compreenso.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    21/146

    A Caverna de Plato

    De todas alegorias ou metforas envolvendo o tema do

    espelho, a de maior signicao epistemolgica certamente a da imagem paradigmtica da Caverna descrita por Plato11:

    Acorrentados de costas para a luz em um crcere subterrneo,os prisioneiros s podem ver, dos homens, animais e gurasque passam pelo exterior, as sombras projetadas no fundo daCaverna. Quando um dos prisioneiros se liberta e retorna aomundo exterior, cego pela luminosidade do Sol e s aos poucos

    consegue se adaptar nova realidade. Percebe, ento, que omundo no qual vivia era irreal e inconsciente, feito de sombras ereexos das coisas. Porm, o prisioneiro correria srio risco devida se, retornando ao interior da caverna, procurasse revelaraos seus antigos companheiros a irrealidade do mundo em que se

    encontram. Provavelmente, eles o matariam.

    Nesta imagem genial, Plato no apenas resumiu suaconcepo sobre a realidade e a linguagem, mas tambm nostransmitiu sua experincia pessoal, mais precisamente, suaexplicao losca para o trgico destino de seu mestre,Scrates, forado a beber veneno pelas autoridades ateniensesem virtude de sua defesa intransigente de uma viso maisobjetiva da realidade. E no foi o nico. Giordano Brunogeralmente costuma encabear a longa lista dos mrtires dacincia e do pensamento objetivo vitimados pela ignornciados homens escravizados pelas representaes subjetivas darealidade.

    Entretanto, o desenvolvimento do pensamento cientcono foi, como nos faz pensar o senso-comum, um gradualacumular de informaes, mas, ao contrrio, uma srie de

    reviravoltas metodolgicas, com sucessivas trocas de modelo.O prprio conceito de paradigma conjunto de estruturas

    _______________________ .(11) Reescrito a partir da narrativa descrita no Timeu, Os Pensadores.Ed. Abril.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    22/146

    cognitivas e epistemolgicas surgiu de uma longa discussometodolgica em torno das revolues cientcas.

    Hoje, no entanto, vivemos um momento em que a racio-nalidade cientca e sua viso objetiva do universo des-troaram a maioria das iluses ideolgicas das represen-taessubjetivas. Poderamos dizer, utilizando a imagem de Plato,que todos os homens se libertaram da caverna e do seuespelho, e que agora desprezam as imagens fantasmagricas aque estavam acostumados no cativeiro. Neste novo contexto,

    as sombras tornaram-se smbolos do inconsciente as quais oshomens racionais negam, mas que voltam em seus sonhos enas reexes involuntrias de sua imaginao. Movidos peloautoconhecimento, os homens que atualmente decidem voltar caverna e ao seu velho espelho so considerados loucos ouexcntricos. No se trata mais de conhecer a objetividade, masde observar o desenvolvimento da conscincia intersubjetiva,

    de entender sua linguagem.

    Assim, por exemplo, no paradigma cientco daastronomia, sabemos que a Terra gira em torno do Sol;no entanto, continuamos dependendo simbolicamente doparadigma subjetivo da astrologia, que como uma linguagemdo inconsciente, condiciona atitudes e comportamentos. Alis,

    ao contrrio do que pensam os historiadores da cincia, osistema geocntrico no signica que Ptolomeu acreditasseque o Sol girasse em torno da Terra, mas sim que ele colocavaa questo da representao objetiva do universo em umsegundo plano diante da idia de decifrao do destino atravsda observao especular das estrelas.

    A tarefa metodolgica que nos contempornea estabelecer um terceiro paradigma de representao queconcilie a objetividade cientca com a funo simblica dalinguagem desenvolvida pelo hemisfrio esquerdo do celebro,

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    23/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    22

    que integre nosso conhecimento astronmico em uma novasimbologia astrolgica, que relacione o espelho no fundo dacaverna ao sol e ao mundo exterior.

    Os ocultistas modernos estudiosos da Cabala hebraica12tm uma curiosa teoria a respeito de Deus, do Homem eda Mulher. Para eles, o fato do Homem ser a imagem esemelhana de Deus implica em que ambos jamais possam sever frente a frente. Mas a mulher, devido ao fato de ter seusistema neurolgico invertido em relao ao masculino destro,

    pode ver Deus face a face. De acordo com este preceito,os homens nos rituais de magia e cerimnias religiosasdeveriam se manter sempre de costas para o altar e de frentepara participantes femininas o que acontece em diversasreligies.

    Nesta proposio, enquanto o Homem a imagem esemelhana de Deus, a Mulher seu inverso simtrico, seuespelho. Assim, o Homem s pode ver a Deus atravs damulher e Deus necessita dela para dar luz ao seu lho. Estaposio de reexo primordial, de mediao entre o Criadore a criatura tambm tem um carter universal entre as diversasdeusas que representam a grande me csmica. Assim, se ouniverso um sonho de Brahma, se o mundo foi criado para

    que Deus se reita nele e conhea a Si prprio, este espelho,segundo momento cosmogmico de muitas mitologias, sempre um elemento feminino.

    Neste sentido geral e estritamente simblico que podemosassociar Oxum Eva e ao arqutipo feminino genuno,enquanto Yans, de costas para o sol, corresponderia aoarqutipo do feminino masculinizado. O signicado central

    da narrativa est no fato de Oxum, devido situao de perigoiminente, transcender a sua condio de mulher-objeto e se

    _______________________ .(12) FORTUNE, DION. A Cabala Mstica. Ed. Pensamento. 1986.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    24/146

    23

    Espiritualidade Contempornea

    associar ao Sol, de abandonar o uso reexivo tradicional de seuespelho e utiliz-lo de uma forma tecnolgica, racional, solar;como uma arma laser. A lenda, desta maneira, representa aunio cognitiva entre os hemisfrios cerebrais e a integraoepistemolgica dos paradigmas.

    Chegamos ao nal. Resta apenas a lembrana quelesque no se reconheceram neste texto, que por mais queprocurem um outro duplo com o qual se identiquem, sempreencontraro o sentimento de incompletude to prprios dos

    espelhos e da instantaneidade dos seus mltiplos reexos dada vastido e complexidade deste tema permanente. Oueterno?

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    25/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    26/146

    25

    Espiritualidade Contempornea

    Para a maioria das culturas pr-colombianas o uso deplantas e ervas com substncias de efeito psquico sagrado.Atravs delas estes povos entravam em contato com o Divino.As drogas eram, neste contexto, um fator de integraocoletiva e de evoluo individual. O uso ritual das plantas depoder nas Amricas hoje em dia pode ainda ser observadoem vrios cultos e religies sincrticas provenientes destaantiga tradio cultural de nosso continente: o peyolt nosEUA, a Jurema na caatinga nordestina, o San Pedro e aCoca na Bolvia e no Peru, as inmeras sementes mexicanas(Ololiuhqui/Tlitlietzen, Mescal Beans e as Colorines) e os

    diversos tipos de cogumelos alucingenos e espcies deDatura (Solancea) so alguns dos exemplos mais conhecidosdo uso religioso e/ou inicitico das drogas hierobotnicas emcomunidades amerndias.

    O Ch do Santo Daime ou Vegetal preparado do cipdo Jagube ou Mariri (Banisteriopsis caapi) e da folha daRainha ou Chacrona (Psycotria viridis) naturais da regio

    amaznica. A bebida tambm conhecida como Ayahuasca ouYaj pelos ndios e xams do noroeste do Brasil e das regiesa leste dos Andes certamente oriunda da tradio espiritual

    Santo Daime, o Vinho do Esprito

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    27/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    26

    dos Incas. Segundo uma lenda, com a invaso espanhola,o prncipe Atahualpa se rendeu e foi escravizado, mas oprncipe Ayahuasca refugiou-se na oresta amaznica e ouso do ch permaneceu sendo divulgado no Peru, na Bolviae no Brasil. Seu uso aps a era pr-colombiana teria sedifundido entre vrias tribos indgenas, das quais se temrazovel conhecimento antropolgico. Ingerindo o ch, osndios absorviam o esprito da planta e, em transe, tinhamexperincias psquicas e vivenciavam fenmenos paranormais,tais como a telepatia, a regresso a vidas passadas, contatoscom os espritos dos seus antepassados mortos, prescinciae viso distncia. Vrios relatos apontam ainda que algunsfeiticeiros e xams usavam a bebida para descobrir qual era adoena de seus pacientes e saber como trat-la.

    Diversos antroplogos, inclusive, tomaram o ch edescreveram seus efeitos parapsquicos. Ainda hoje, vrias

    tribos praticam rituais com o uso da Ayahuasca no Brasil,como as dos Kampas e dos Kaxinaws, localizadas perto dafronteira com o Peru.

    Desde o incio do sculo, nos contatos culturais entreseringueiros e ndios, a Ayahuasca passou a ser conhecidae usada pelos migrantes nordestinos, que colonizaram a

    Amaznia ocidental. Destes contatos surgiram diversos gruposque sincretizaram o uso da bebida a um contexto religiosocristo-esprita, dos quais a Unio do Vegetal, no estadode Rondnia, o Santo Daime e a Barquinha, no Acre, soos maiores expoentes. Paralelamente ao crescimento dosdois grupos e expanso do uso religioso e teraputico daAyahuasca, uma forte resistncia dos setores conservadores

    da sociedade brasileira se formou, pressionando o ConselhoFederal de Entorpecentes (Confen) para embargar ofuncionamento destas instituies nos grandes centrosmetropolitanos.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    28/146

    27

    Espiritualidade Contempornea

    Porm, no dia dois de junho de l992, o conselho decidiuliberar denitivamente a utilizao do ch para ns religiososem todo o territrio nacional. Segundo a ento presidente doConfen, Ester Kosovsky, a investigao, desenvolvida desdel985, baseou-se numa abordagem interdisciplinar, levando emconta o lado antropolgico, sociolgico, cultural e psicolgico,alm de anlises toqumicas.

    O relator do processo de investigao, Domingos Carneirode S, explicou que o fator fundamental para a liberao

    da bebida foi o comportamento dos daimistas e a seriedadedos centros que utilizam o ch em seus rituais: Noforam observadas atitudes anti-sociais dos participantes doscultos, ao contrrio, podemos constatar os efeitos integradorese reestruturantes do Daime com indivduos que antes departiciparem dos rituais apresentavam desajustes sociais oupsicolgicos.

    Coroando o processo de legalizao, as entidades religiosasque utilizam a bebida, sem prejuzo de suas identidades econvices, comprometeram-se a adotar procedimentos ticoscomuns em torno do uso do ch, rmando uma cartade princpios. Neste documento, elaborado durante o ICongresso Internacional da Ayahuasca, ocorrido em novembro

    de 92 em Rio Branco, no Acre, os centros decidiram:vetar a comercializao da bebida, sua mistura com outrassubstncias, a prtica de curanderismo e estabeleceram regraspara divulgao. Tambm cou denido que a participaode menores de idade nos rituais s seria possvel mediantea autorizao dos pais e responsveis; e que, sob nenhumacondio, seriam admitidos decientes mentais, pessoas sob o

    efeito de lcool ou de outras substncias psicoativas.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    29/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    28

    A Unio como entidade

    O sincretismo religioso do Santo Daime o maior dos

    grupos que alia uma concepo crist-esprita s inunciasindgenas pr-colombianas tem um ritual bastante simples:os participantes se posicionam em las formando umquadriltero, com as moas e as mulheres de um lado e oshomens e rapazes do outro, ao redor de uma mesa. Nas festasociais, os homens usam ternos brancos e gravatas azuis, eas mulheres, camisa e saia brancas com uma jardineira verde

    com tas coloridas e usam uma coroa prateada. Ao centro, oSanto Cruzeiro (a cruz de Caravaca) e a Estrela do Oriente (oselo de Salomo com uma guia sobre uma lua minguante).

    Aps rezarem um tero do Rosrio, todos tomam umadose do ch e entoam cnticos em louvor a Deus, VirgemMaria e a Jesus Cristo. Alm do canto, h tambm umadana chamada de bailado que consiste em deslocar ocorpo no compasso da msica, em conjunto com todos, para adireita e para a esquerda de forma alternada, em uma espciede ciranda esttica. Esta corrente de voz e movimento ritmada por maracs, pequenos chocalhos de lata que quasetodos usam. A doutrina transmitida atravs das msicas ea estrutura do ritual se assemelha a muitas festas populares

    do interior do Brasil, provenientes da forte tradio oral dasculturas Amerndia e Afro-brasileira, tais como o Reizadoe o Catimb. Os hinrios, como os adeptos chamam ascerimnias, comeam, geralmente, com o pr-do-sol paras terminar na manh seguinte. Os adeptos do culto vemneste processo uma representao do sofrimento, mortee ressurreio do Cristo. Os hinos, cantados no decorrer

    da noite, so recebidos mediunicamente e ensaiados comantecedncia para a apresentao durante o ritual. As idiasbsicas transmitidas pelos hinos so as de solidariedadehumana, conscincia ecolgica e de espiritualizao trovas

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    30/146

    29

    Espiritualidade Contempornea

    poticas entoada em melodias simples e repetitivas, quefuncionam como mantras. Um hinrio reete o aprendizadoda pessoa que o recebeu, que novamente vivido por todosaqueles que o cantam durante os rituais explica Alex Polari,um dos dirigentes do CEFLURIS (Centro Ecltico da Fluenteda Luz Universal Raimundo Irineu Serra) o Hinrio doCruzeiro, recebido pelo Mestre Irineu, fundador da doutrina,por exemplo, um conjunto de 129 cnticos que expressasua biograa espiritual, com as provas e experincias queele enfrentou durante o decorrer de sua vida. Alm disso,cada hinrio tambm se caracteriza pelos ensinamentos de umsanto em particular, segundo as caractersticas espirituais doguia que orienta seu receptor. Assim, o hinrio do PadrinhoSebastio, O Justiceiro, reete os ensinamentos de So JooBatista; o hinrio de seu lho, Alfredo Gregrio, expressaos ensinamentos do Rei Salomo. No caso do hinrio do

    fundador, Mestre Irineu, por ser o primeiro, encontram-se osensinamentos de Jesus Cristo.

    O efeito da bebida do Santo Daime promove uma expansona conscincia que, sem a perda da capacidade de aovoluntria, permite que se observe os prprios sentimentose pensamentos com maior clareza. No decorrer do ritual,o estado de conscincia intensicada pelo ch amplica

    as situaes recorrentes da vida cotidiana, revelando con-tradies existenciais e processos interiores que se repeteminconscientemente em diversos nveis. Esses processos invo-luntrios so compreendidos pela conscincia intensicadados participantes, atravs da corrente formada pelo bailado epelos hinos, que sugerem sempre uma soluo positiva para osproblemas. Segundo os participantes do culto, o ritual uma

    auto-anlise. O processo vivido sobre o efeito da bebida,abrindo as portas do subconsciente e ao condicionante dohinrio (hinos + bailado) leva a um exame crtico de nossas

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    31/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    30

    aes cotidianas, com base nos princpios cristos.

    Porm no se pode resumir o Santo Daime ao psicolgico,

    nem reduzir seus efeitos a simples conjuno da expansoqumica da conscincia a mecanismos de auto-sugestohipntica da doutrina crist. H um inegvel aspecto espiritualnos rituais, com incorporaes conscientes e fenmenosligados vidncia e cura. A presena de seres deluz, bem como de obsessores desencarnados, claramentesentida no salo. Existem, inclusive, adeptos do Santo

    Daime no municpio uminense de Nova Friburgo que aliamo uso do ch incorporao de entidades da linha daUmbanda, desenvolvendo um rico relacionamento entre asduas modalidades de trabalho espiritual.

    Porm, para eles, o aspecto espiritual indissociveldo psicolgico, uma vez que os hinos tanto servem para

    doutrinar os desencarnados como para, simultaneamente,apontar as falhas e os defeitos morais dos participantes,desmascarando a sintonia existente entre o que as pessoaspensam e o que acontece no mundo espiritual. Neste duploprocesso, de autodesenvolvimento psicolgico e desobsessoesprita, os participantes sofrem as peias e tm as miraes.A peia representa uma difcil prova crmica a ser vencida

    ou o castigo necessrio ao perdo dos pecados, o sofrimentopuricador que pode se manifestar na forma de vmitos,choro convulsivo, diarria e mal-estar generalizado. J amirao uma viso mstica, semelhante ao sonho, quemescla a revelao divina com os smbolos do inconsciente,muitas vezes coincidentes com a temtica e os personagensdos hinos.

    Alm de Jesus Cristo ser freqentemente sincretizadocom o Sol, a Virgem Maria associada Lua, ao Mar e Floresta, e as presenas de So Joo Batista e do Patriarca

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    32/146

    31

    Espiritualidade Contempornea

    So Jos so constantemente lembradas nas canes do SantoDaime. Outra imagem freqente a do Divino Pai Eterno,armao do princpio monotesta da doutrina, que imperasobre uma Corte Celestial de Todos os Seres Divinos queengloba, no manto pantesta da Rainha da Floresta, entidadesque vo dos Devas Orientais aos Orixs africanos. Porm, aentidade central do ritual do Santo Daime Juramidam, oMestre Imprio. Este ser quem, segundo os hinos e osparticipantes do culto, preside os rituais e identicado comoo prprio esprito da bebida ingerida nas cerimnias.

    Os hinos do Santo Daime tambm versam sobre umatransformao nas condies de vida da humanidade om dos tempos, o Apocalipse, o balano e sobre oadvento da utopia social, a Nova Jerusalm, o Reino deDeus na Terra. Em relao a este ideal de utopia social, osparticipantes dos rituais armam que a vida comunitria

    um aspecto fundamental na doutrina do Santo Daime. Atravsdela aprendemos e construmos na prtica o signicadoda Unio, que cantamos nos hinrios. Para eles, quandotomamos Daime e cantamos hinos estamos apenas acelerandoe intensicando conitos e relaes interpessoais que sedesenvolvem no nosso cotidiano comunitrio. O objetivo alongo prazo, ao que prece, conquistar no dia-a-dia uma

    unio material to slida quanto a unio mstica alcanada nascerimnias. Assim, concluem, realizamos o ideal da NovaJerusalm. Desta forma, a Unio, metfora da comunidadee smbolo da utopia social, uma das entidades centrais dosrituais e da doutrina do Santo Daime.

    Mais informao em:

    www.santodaime.orgwww.ayahuasca.com

    www.yage.net

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    33/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    34/146

    33

    Espiritualidade Contempornea

    Na sesso esprita do dia 15 de novembro de 1908,presidida por Jos de Souza, na sede da Federao Esprita deNiteri, Estado do Rio de Janeiro, uma srie de fatos estranhosaconteceu: espritos, que se diziam de escravos negros, ndiose crianas incorporaram nos mdiuns da casa, de forma querompia com as prticas kardecistas: pedindo balas, fumoe bebidas. Esses espritos foram, ento, convidados a seretirarem do recinto pelo presidente dos trabalhos, advertidosdo seu estado de atraso espiritual.

    Foi ento que o jovem Zlio Fernandino de Moraes, deapenas 17 anos, que pela primeira vez freqentava um trabalho

    do gnero, foi dominado por uma fora estranha, que fez comque ele falasse sem saber o que dizia. Era a voz do CabocloSete Encruzilhadas, que, em alto e bom tom, refutou a tesedefendida pelo dirigente de que os mortos fossem atrasadosespiritualmente devido sua etnia ou classe social a quepertenciam quando vivos.

    Dia 17, na Rua Floriano Peixoto, nmero 30, em Neves,Zlio abriu o primeiro centro de Umbanda do Brasil: a casaNossa Senhora da Piedade. s 20 horas, como havia prometidoem sua primeira apario, o Caboclo Sete Encruzilhadas

    Umbanda Caridade

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    35/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    34

    se manifestou em Zlio e declarou que se iniciava naquelemomento, um novo culto em que os espritos dos velhosafricanos que no encontravam campo de ao nem nokardecismo nem no Candombl e os ndios nativos denossa terra poderiam trabalhar em benefcio dos seus irmosencarnados, qualquer fosse a cor, a raa, o credo e a condiosocial.

    Estava fundada a Umbanda!13

    O que Umbanda?

    A Umbanda um culto religioso-losco desenvolvidobasicamente no Brasil, mesclando a mitologia africana docandombl e algumas de suas prticas, mitos dos ndiosbrasileiros e conceitos cristos tanto de inuncia catlicacomo esprita kardecista. A Umbanda cultua os Orixs,

    mas com um status diferente do dado pelo Candombl. Naprimeira, os mdiuns incorporam os guias, os espritosdos mortos, que funcionam como mensageiros dos deuses,os orixs, os quais nunca entram em contato direto comos seres vivos. J no Candombl, a incorporao ritual a do prprio Orix sobre seu lho-de-santo, dispensandointermediao, no recomendando mesmo que qualquer vivo

    se deixe incorporar ou inuenciar por espritos de mortos.H ainda duas diferenas importantes. A primeira que

    o Candombl bem anterior Umbanda, pois trata-se deuma religio africana, trazida pelos escravos negros para oBrasil durante o Imprio e aqui cultuada com uma srie dediferenas relativas s etnias e regies em que oresceu (comodetalharemos mais a frente). J a Umbanda genuinamentebrasileira e surgiu, como vimos, no incio do sculo XX,_______________________ .(13) Informaes da pesquisadora Thereza Saidenberg, na Revista Planeta EdioEspecial.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    36/146

    35

    Espiritualidade Contempornea

    fruto do sincretismo do fetichismo africano dos Orixs com oCristo e os Santos Catlicos, e com vrias prticas alimentarese medicinais indgenas. A outra diferena que a Umbandatem, em comum com o cristianismo, as noes morais deBem e Mal e o conceito evolutivo-tico que deve nortearo comportamento social. Ou seja: ela s se presta a trabalhosque se enquadrem no conceito ocidental de bem, enquantono Candombl, el a uma tradio no dicotomizada pelamoral crist, cultua deuses amorais, muitas vezes, partilhando,sem culpa, de suas principais caractersticas, fraquezas epaixes.14

    Entre a Cruz e a Espada

    Assim, h na Umbanda, atualmente, diversos grausde aproximao e distanciamento de dois plos bastante

    antagnicos: o culto do Candombl e o espiritismo kardecista.E, claro, dentro desses limites extremos a mesae a nao o movimento umbandista extremamentecosmopolita e antropofgico: existem as umbandas esotricas,inuenciadas pelo ocultismo, pelas religies orientais, pelaastrologia e por vrias prticas espirituais contemporneas.Segundo seus adeptos, a prpria palavra Umbanda no tem

    origem africana, mas deriva de mantras no idioma snscritoAum Bhandan15.

    Porm, de uma forma geral, podemos dizer que a Umbandase resume em cinco credos: a crena na existncia de um Deusnico, Onipotente, Eterno e Incriado; a crena em entidades

    _______________________ .(14) The Orishas and the Psychological Types

    (15) Umbanda Esotrica do Brasil o grupomais importante, contando com vrios casas e terreiros espalhados pelo Pas.Outro grupo bastante importante, mais popular e menos terico, a Proto SnteseCsmica

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    37/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    36

    espirituais em plano superior de evoluo os orixs, anjose santos bem como em entidades ainda em evoluo exus, crianas, caboclos e pretos-velhos que servem deintermedirios entre as entidades superiores e o mundo dosvivos; a crena na reencarnao e na lei de causa e efeito(Karma): na crena de que o Homem a sntese, a miniatura doUniverso; e, principalmente, na crena da prtica medinica,sob as mais variadas formas, como maneira de aliviar o karmade si e dos outros.

    Por isso, como resume a poesia dos prprios cantos doculto, Umbanda caridade.

    Veja tambm outras pginas sobre Umbanda:

    www.umbanda.com.br

    www.marciobamberg.com.br/umbanda

    www.nwm.com.br/umbandawww.angelre.com/de/umbanda

    www.jornalumbandahoje.com.br

    www.sul.com.br/~umbanda

    www.geocities.com/arrudax/umbanda.htm

    http://sites.uol.com.br/umbanda

    www.saravaumbanda.cjb.net

    www.nativa.etc.br/umbanda

    www.geocities.com/Athens/Acropolis/9175/banda.htm

    www.geocieties.com/Athens/Pantheon/2543/english.htm

    www.umbandaracional.com.br/umbanda.html

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    38/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    39/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    38

    participantes e os Orixs no existe apenas no momentoprivilegiado do transe ritual; a identidade entre o iniciado eseu santo corresponde incorporao psicolgica permanentedas caractersticas do orix na personalidade de seus lhos.Esta identidade instaura-se no s atravs da iniciao e sedesenvolve lenta e gradualmente nos transes, mas tambm reforada periodicamente nas obrigaes sucessivas e renovadanas festas pblicas dos santos, quando toda a comunidadepresente se torna testemunha e adora desta aliana e dela sebenecia.

    Os rituais do Candombl consistem basicamente de umconjunto de temas arquetpicos - a representao\incorporaode foras naturais personicadas em comportamentos eestrias que se sucedem durante a cerimnia. Cada entidadese manifesta atravs de um transe caracterstico, produzidopor imagens, sons, cheiros, gostos, danas, ritmos, cores,

    trajes e adereos especcos. Invocados atravs de danasextticas e de trs tambores cerimoniais (rum, rumpi e l),os deuses africanos incorporam em seus lhos, fazendo-osre-dramatizar os grandes feitos mticos e lendas: a lutados irmos Ogum e Xang pelo amor de Oxum, a viagem deOxaluf ao encontro de seu lho Xang, as aventurasamorosas de Yans... As entidades so, ao mesmo tempo,

    fundamentos psquicos de comportamentos humanos e forasmsticas da Natureza; e so representadas nos rituais comoidentidades sagradas que se manifestam dentro de umaestrutura mtico-litrgica de interpretao do mundo.

    No se trata, portanto, de uma encenao teatral ou de umacatarse histrica: neste psicodrama mtico h uma economia

    energtica, onde foras espirituais so manipuladas emanipulam os corpos dos participantes, em um espetculocoreogrco que associa imagens-tema a ritmos determinados.Essas associaes audiovisuais so produto e instrumento

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    40/146

    39

    Espiritualidade Contempornea

    de um processo de construo de uma identidade simblica,que vai de acordo com a tradio cultural de cada Nao doCandombl e com a fora-entidade invocada.

    O que se pode perceber em uma rpida comparao dastrs naes que nos Voduns e nos Inquices esto no apenasas mesmas foras msticas que formam os Orixs nags,mas tambm outras foras e outros conceitos. No caso dos

    Jeje, existentes no Haiti, em Cuba e no estado brasileiro doMaranho, os Voduns cultuados so em nmero maior queos orixs mais conhecidos habitualmente no culto Iorub. OsVoduns podem ser divididos em homens e mulheres; e, dentro

    KETO-NAG(ORIX)

    Olorum ouOlodumar

    OxalOgum

    Oxossi

    Omulu

    Xang

    Yans

    Oxum

    Yemanj

    Oxumar

    Ossaim

    Exu/Iroko

    Nan-Buruk

    JEJE-FON(VOODUM)

    Mavu Lissaa

    OlissaG

    Sapat

    Sob

    Oi

    Aziri Tobossi

    Abe

    Bessm e D

    Agu

    Loko

    Nanambioc

    ANGOLA-CONGO(INQUICE)

    Zambi ou Zania pombo

    a

    Lemb ou LembarengangaSumbo Mucumbe

    Mutalamb ou Tauamim

    Burumguno ou Cuquete

    Cambaranguaje ou Zaze

    Bamburucema ou Matamba

    Quicimbe ou Caiala

    Bandalunda

    Angor

    Catende (Caipora)

    Tempo

    Quer-quer

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    41/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    40

    destes, em moos e velhos, somando um total de quarentaentidades. J no caso dos ritos bantos, h, devido outraconcepo acerca da ancestralidade, entidades provenientesda mitologia indgena e tambm a presena de diversos tiposde espritos de mortos (caboclos, pretos velhos, crianas,ndias).

    Na frica16, as naes eram identidades tnicas dediferentes grupos geogrcos. Porm, o termo nao nocontexto do candombl brasileiro17signica um grupo cultural

    com tradies prprias intrnsecas de culto. H, portanto, umadiferena acentuada entre a identidade tnica das naesafricanas e a identidade cultural das naes do candomblno Brasil. De uma forma geral, podemos dizer que o modeloJeje-Nag predominante no Candombl brasileiro. Ele omais tradicional, o menos permevel a mudanas e inunciasculturais, o mais prximo do modelo africano original ainda

    hoje existente na Nigria. Em oposio a esta tendnciatradicionalista do modelo Jeje-Nag, o grupo cultural dosBantos (naes de Angola e Congo) foi o que mais sesincretizou. Os Bantos, mesmo depois de um primeiromomento de autonomia religiosa e embora conservassemo nome original de certas entidades de origem congolesas,viram seus rituais progressivamente desagregarem, para dar

    lugar ao sincretismo afro-amerndio (Catimb, Candombl deCaboclo, a pajelana e o culto a entidades indgenas) e aoafro-esprita (Jurema, Umbanda) ou se adaptaram s regras

    _______________________ .(16) Candombl africano em geralH muitos sites especcos sobre os Nag e a cultura Ioruba como o InstitutoOnimol. Para um estudo aprofundado do cultoVoodoo um bom ponto

    de partida. Tambm h pginas especcas sobre oCandombl de Angolae os Inquices(17) Candombl africano no Brasil

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    42/146

    41

    Espiritualidade Contempornea

    ditadas pelos candombls nags, no se distinguindo destesseno por seus cantos mesclarem o banto com o portugus emlouvores a Zambi.

    Assim, se o Candombl uma manifestao da identidadecultural dos negros no Brasil, pode-se notar facilmente aexistncia de uma linha de desenvolvimento angolana emoposio a uma linha nag. A primeira, incorporando aancestralidade indgena e mestia, responsvel por novasformas de identidade social dentro da realidade brasileira; e a

    segunda, ao contrrio, procurando cada vez mais se africanizar,cultuando exclusivamente os orixs e mantendo as cerimnias,com os espritos dos mortos (ou antepassados), restritas aosritos secretos da Sociedade dos Eguns Il Agboua, na ilha deItaparica (BA).

    Alm dessas variaes culturais das referncias

    simblicas, segundo as naes que, no Brasil, se diversicamem milhares de seitas e cultos multisincretizados sob ahegemonia Jeje-Nag h, ainda, uma variao simblicareferente a cada entidade dentro de um mesmo ritual, onde osreferentes so organizados de modo a caracterizar a identidadede cada orix. Cada Santo tem sua cor, suas msicas,sua dana e, ao mesmo tempo, corresponde a um tipo de

    comportamento humano especco e a uma faixa vibratria daNatureza. Cada entidade um feixe de referentes simblicos.No Xire, a ordem seqencial de apresentao durante oritual quando melhor se observa como os Orixs formamas freqncias de rede do Candombl enquanto linguagemsimblica: no incio as vibraes mais densas e ctnnicas; nonal, as mais desmaterializadas e distantes. Trata-se, como

    dissemos, de reunicar o Ay (Mundo do preto e vermelho)ao Orum (universo luminoso do branco), passando por todoespectro de vibraes/entidade intermedirias.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    43/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    42

    O modelo Jeje-Nag ou baiano apresenta, geralmente,dezesseis orixs principais: Exu, Ogum, Oxossi, Ossaim,Xang, Ians, Oxum, Ob, Nan Buruk, Omulu, Oxumar,Iroko, Ibeji, Loguned, Yemanj e Oxal. Vejamos agora

    ORIX

    Oxal

    Yemanj

    Iroko

    Oxumar

    Omulu

    NanBuruk

    Ibeji

    Loguned

    Ob

    Oxum

    Ians

    Xang

    Ossaim

    Oxossi

    Ogum

    Exu

    SAUDAO

    Ax Bab!

    Odoi!

    Iroko i s!

    Ar Boboi!

    Atot!

    Salub!

    Bej Oro!

    Logumou Oriki!

    Ob Xire!

    Ora iei!

    Epahei!

    Kau-Kabissel!

    Ue-e!

    Ok Aro!

    Ogunh!

    Laroi!

    DOMNIO

    A Criao

    AMaternidade

    O Tempo

    A Alternnciados Opostos

    Sofrimento

    e dorA Morte

    Os Jogos

    A Caa e aPesca

    A Culinria

    A Beleza

    Os mortos

    Raio e Trovo(Justia)

    Cura eLiturgia

    Animais daFloresta

    Caminhos eGuerra

    Portas eEncruzilhadas

    ELEMENTO

    O Cu

    O Mar

    Gamaleira(rvore)

    O Arco-rise a Cobra

    A Doena

    Lama, LodoPntanos

    Crianas

    Rios eFloresta

    Cachoeiras

    gua Doce

    ATempestade

    Pedras eMontes

    Folhas

    Matas

    Ferro

    Fogo

    SUA COR

    Branco

    Branco ePrata

    Branco eCinza

    Vermelhoe Amarelo

    Branco e

    PretoRoxo

    VriasCores Vivas

    Amarelo eAzul Claro

    Amarelo eVermelho

    Amarelo

    MarromAvermelho

    Vermelhoe Branco

    Azul eVermelho

    Verde eAzul Claro

    Azul Escuro

    Preto eVermelho

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    44/146

    43

    Espiritualidade Contempornea

    como se organizam os referentes simblicos (alimentares eaudiovisuais) dessas dezesseis entidades no sistema divinatriodo If.

    Mesmo sendo um processo onde a identidade produzidapredominantemente por freqncias rtmicas e cromticas,o Candombl no apenas um conjunto de refernciasaudiovisuais, mas, tambm, de referncias degustativas,olfativas e tteis (as comidas, incensos e ervas). Na verdade,essas referncias sinestsicas literalmente alimentam as

    freqncias audiovisuais, atravs de oferendas e sacrifcios,as linguagens simblicas necessitam ser nutridas de energiapsquica, o Ax. Vejamos suas principais referncias simb-licas.

    Ao processo ritualstico pelo qual se liga um corpo material energia de um determinado orix, chama-se assentamento.Por reduo, o termo utilizado para designar objetos (pedras,amuletos, instrumentos ritualsticos) que representam cadaorix, depois de um ritual onde a energia mstica da entidadeseja concentrada nos seus corpos. O fetiche mais comum oot (pedra). Ele ca mergulhado em lquidos e substncias,guardadas em pequenos frascos (as quartinhas) vedadas companos coloridos com smbolos bordados, dependendo do

    orix. Os lquidos mais comuns so o mel, o azeite-de-dende a gua macerada com ervas do santo. So utilizadas guasde diferentes procedncias: gua do mar, dos rios, da chuva,etc., Os lquidos ou Abs so preparados ritualmente comalgumas gotas de sangue animal e com cantos secretos queapenas os Babalorixs conhecem. H casos, no entanto,como na gua de Xang, que preparada a partir de uma

    pedra de raio (meteorito), em que o ot que imanta olquido da quartinha. Todos assentamentos so periodicamentealimentados por sacrifcios e oferendas caractersticas de cadaentidade, de forma a reenergiz-lo do seu Ax especco.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    45/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    44

    Tal energia armazenada nos pontos centrais do terreiro eutilizada para dinamizar novos objetos ritualsticos ou paraa manifestao das entidades em seus lhos. Assim, porextenso, o termo assentamento tambm se refere pedrafundamental do terreiro (onde por ocasio da inauguraoso enterrados diversos objetos referentes ao santo da casa)e ao processo de iniciao ritual de um lho no santo (ouIa), para designar o momento em que a fora mstica doorix xada na cabea de um participante do culto. Temos,portanto, trs tipos de assentamentos distintos e trs esferas derealimentao energtica.

    Todos candombls tradicionais tm assentamentos da casa,aqueles pertencentes ao orix a que o terreiro dedicado.Estes assentamentos so enterrados por ocasio da cerimniade inaugurao do local, na pedra fundamental da casa ousob o Ix, um mastro central onde se hasteia a bandeira

    com os smbolos grcos do orix padroeiro. Na entrada detodos terreiros, costuma existir uma Gameleira-Branca, rvoreconsagrada a Iroko (o Tempo), que plantada segundo rituaisprescritos e tambm deve ser considerado um assentamentoda casa. Este orix responde pelas mudanas climticas emeteorolgicas, uma espcie de guardio do terreiro. Casoexista no local a presena de outras foras naturais (cachoeiras,

    rios, pedreiras) tambm pode haver assentamentos especcospara os orixs correspondentes.

    De uma forma geral, estes assentamentos so alimentadosno Oss anual que uma grande festa de limpeza do altare de todo terreiro, quando so servidos alimentos ritualsticosespeciais para todos os orixs e nas festas de cada santo,

    conforme o calendrio litrgico tradicional.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    46/146

    45

    Espiritualidade Contempornea

    Apesar do carter semimatriarcal das culturas africanas, ocalendrio litrgico original do candombl era marcado peloadvento das quatro estaes climticas, com o solstcio deinverno (junho) dedicado aos principais orixs masculinos(Ogum, Xang, Oxal) e o solstcio de vero (dezembro)

    consagrado aos orixs femininos (Ians, Oxum, Yemanj).Nunca houve um nico calendrio para o culto dos orixs.No Brasil, a scalizao que os feitores das fazendas ondetrabalhavam os escravos africanos exerciam e a represso em

    DATA

    20 de janeiro

    02 de fevereiro

    23 de abril

    13 de junho

    24 de junho

    29 de junho

    26 de julho

    24 de agosto

    27 de setembro

    30 de setembro

    02 de novembro

    04 de dezembro

    08 de dezembro

    SANTO DODIA

    So Sebastio

    N. Sra. das Candeias

    So Jorge

    Santo Antnio

    So Joo Batista

    S. Pedro e S. Paulo

    N. Sra. de Santana

    So Bartolomeu

    Cosme e Damio

    So Jernimo

    Finados

    Santa Brbara

    Virgem da Conceio

    CELEBRAO

    Festa de Omulu (BA)

    e Oxossi (RJ)

    Festa de Yemanj (BA)

    Festa de Ogum (RJ)e Oxossi (BA)

    Festa de Ogum (BA)

    Festa de Xang

    Festa de Oxal

    Festa de Nan Buruk

    Festa de Oxumar

    Festa dos Ibeji

    Festa de Xang

    Festa de Todoos Santos

    Festa de Yans

    Festa de Oxum

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    47/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    46

    geral aos cultos do candombl zeram com que os negrosadaptassem suas festas s cerimnias catlicas.

    Existem ainda no mbito do terreiro: a tronqueira, oassentamento do Exu protetor da casa, e o Il-Saim, a casa dosmortos (eguns) que ainda esto identicados vida material.Esses assentamentos, que cam sempre fora da rea do terreiroconsagrada aos orixs, no so alimentados anualmente, massim conforme o ciclo lunar de 28 dias. No candombl, o Exu a entidade que apresenta a freqncia mais densa do espectro

    (vermelho e preto), a nica capaz de estabelecer uma ligaoentre os homens e os orixs. Por isso, ele requisitado parainiciar todas operaes rituais do culto. Cada orix tem seusprprios exus, que funcionam como servos ou mensageiros,possibilitando o contato com as entidades. Portanto, antesde qualquer oferenda para os santos, tambm sempre feitoum sacrifcio aos exus correspondentes. O objetivo destes

    sacrifcios manter atuantes os axs dos assentamentos, asforas msticas dos orixs. O sangue, o lcool e a sexualidadeso veculos materiais que emitem as vibraes indispensveisaos exus e aos desencarnados em geral para atuarem noplano material e, tambm, no sentido inverso, para homenspenetrarem em outros estados de percepo e conscincia.O assentamento de um orix em um ser humano realizado

    atravs de um processo cerimonial chamado de iniciao.Estes processos so alimentados por obrigaes, oferendasindividuais de cada iniciado aos seus orixs tutelares ou a umaentidade com a qual esteja momentaneamente desarmonizado.Alm das cerimnias anuais do calendrio litrgico, existe umdia da semana consagrado a cada orix, que pode ser usadopara a entrega de obrigaes individuais, feitas de comidas

    ofertadas e da realizao de sacrifcios de animais.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    48/146

    47

    Espiritualidade Contempornea

    OFERENDA

    Farofa de Dend, mel e cachaa

    Aberm (bolo de milho ou arroz,Doburu (pipoca sem sal) e Latipa

    (folhas de mostarda cozidas)

    Ander (vatap de feijofradinho) e tambm as comidas

    de Omulu, Iroko e Oxumar

    Inhame assado, acaraje feijoada com cerveja

    Feijo com milho, Gururu,camaro com azeite e cebola

    Ajab (quiabos picados com mele milho branco com feijo

    Amal (caruru de quiabos),acaraj comprido e farofa demandioca com feijo e arroz

    Acaraj e Amal com 14 quiabos

    Feijo preto torrado,axox e inhame

    Fumo, mel e farofa

    Omolocum (pasta de feijo,camaro, ovos, cebola com

    dend. Pratos de Oxum e Oxossi

    Aaa de arroz com mel,eb de milho branco

    Eb de milho branco,arroz, mel e ang

    Omolocum, xinxins degalinhas, Adum e Ipet.

    Caruru, vapat, doces e balas

    Frango preto,galinha dangola

    e bode preto

    Bode, porcoe galo

    Cabrae galinha

    Galo

    Bode, galoou galinha

    Galo oucarneiro

    Galo oucarneiro

    Cabra egalinha

    Bode, porcoe galo

    Bode e galo

    Od (bodecastrado)

    Cabra, pombos,galinha branca

    Patas cabras egalinha branca

    Cabra, galinhae pata

    Frango de leite

    ORIX

    Exu

    Omulu

    Nana

    Ogum

    Oxumar

    Iroko

    Xang

    Ians

    Oxossi

    Ossaim

    Loguned

    Oxal

    Yemanj

    Oxum

    Ibeji

    SACRIFCIO

    SEG

    TER

    QUA

    QUI

    SEX

    SA

    B

    DOM

    DIA

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    49/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    48

    As restries alimentares tambm condicionam simbo-licamente esta identidade permanente entre os homens eos deuses: as proibies consistem em no consumir assubstncias que vibram na mesma freqncia do santo a quese est identicado. Apenas no processo de iniciao estassubstncias so ritualmente ingeridas. Aps este perodo,as comidas caractersticas de cada orix so interditadas aseus lhos. Caso o indivduo no obedea a estas restriesalimentares a que se encontra submetido e realize uma auto-antropofagia simblica, ele sofrer as quizilas (sensaode nojo, mal-estar). Pelo mesmo motivo, a manutenoda identidade psquica entre o Orix e o iniciado, eramconsiderados incestuosos os casamentos entre os lhos deum mesmo santo. Na frica, visto que os candomblseram verdadeiras identidades tnicas e haverem laos reaisde parentesco entre os grupos que cultuavam uma mesma

    entidade, esta proibio tinha um sentido gentico, alm decultural e intersubjetivo.

    Mas no se deve pensar que os homens so prisioneirosde um comportamento estereotipado, meros instrumentospassivos dos deuses: o santo tambm possudo por seuslhos, que tm um papel ativo, tecendo relaes complexasentre os orixs e a comunidade, multiplicando as relaes

    entre as prprias entidades. O discurso dos iniciados traduzesta reciprocidade claramente. Do mesmo modo que se falado seu santo, costuma-se comentar tambm que se oprprio santo: o Xang de fulano rebelde; e inversamente:Beltrano um dos Ogum da casa. Ou seja: ao mesmo tempoem que os deuses so designados como propriedades dos seuslhos, os iniciados tambm so propriedades dos orixs com

    que esto identicados. Ocorre, assim, um jogo constante detrocas entre o indivduo concreto e o princpio abstrato que elemanifesta. H, portanto, uma reciprocidade simblica muito

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    50/146

    49

    Espiritualidade Contempornea

    dinmica entre a entidade e a pessoa. E esta reciprocidadeque se desenvolve simultaneamente em trs nveis o cicloanual de rmeza da casa, o ciclo mensal de realimentaoenergtica dos fetiches e dos abs, e o ciclo semanal dasobrigaes individuais decorrentes da iniciao. E este ltimociclo, no entanto, acabou simplicando todo sistema mltiplo eselvagem do If em um sistema de sete vibraes principais.

    Hoje as comidas e plantas no so mais classicadassegundo seus lugares no espao/tempo mtico, mas sim em

    relao s faixas vibratrias de um corpo universalizado.A passagem do sistema mltiplo, selvagem e territorial dosOrixs no Candombl para as sete linhas da Umbanda segueum caminho de enquadramento e sntese das freqncias nomodelo de correspondncia do Ocidente, como no caso dossete dias da semana, em detrimento das datas locais e daterritorialidade.

    Assim toda estrutura litrgica do culto aos orixsno candombl pode ser resumida como o processo de,ritualisticamente, acumular e em seguida transmitir ax paraos Ias18em trs nveis: o ciclo anual de rmeza da casa,o ciclo mensal de realimentao energtica dos fetiches e dosabs, e o ciclo dirio das obrigaes individuais decorrentesda iniciao.

    No centro de todas essas relaes que compem aeconomia energtica do candombl est If, o Orix doDestino19. O jogo oracular mais comum constitudo por l6bzios (pequenas conchas). O pai-de-santo agita os bzios nasmos e lana-os dentro de um crculo, formado por colaresde diversos orixs. O bzio pode cair aberto ou fechado,

    _______________________ .(18) Glossrio do Candombl(19) If, o Orix do Destino

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    51/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    50

    ou seja, com sua face onde h uma fenda ou com o lado liso.Cada uma dessas cadas uma manifestao de um orixe tem um signicado prprio, j que, conforme a ordenaoresultante, pode-se determinar qual deles est respondendo.

    Todos os aspectos da vida so suscetveis de codicaopor cada um dos orixs que se manifestam no jogo. Osdeuses se tornam assim o princpio de classicao dosacontecimentos: cada um governa um acontecimento-tipo.Alm da ordenao dos bzios (abertos e fechados), que

    determina a entidade que preside cada resposta, a congurao ou o modo particular como os bzios se distriburamno espao geometricamente tambm fundamental paraa leitura, pois corresponde organizao energtica doinconsciente do indivduo frente a uma fora matriz.

    O conjunto dos dois fatores, ordenao e congurao,chama-se odu ou sina. O Sistema de If, embora bastante

    contestada por pesquisadores posteriores, a relao recolhida eapresentada por Roger Bastide e Pierre Verger, hoje utilizadae at citada por alguns cartomantes como sendo a tradicional.

    Entidade

    ExuIbeji

    OgumXang

    YemanjYansOxossiOxal

    Bzios

    1 abertos e 15 fechados2 abertos e 14 fechados

    3 abertos e 13 fechados4 abertos e 12 fechados5 abertos e 11 fechados6 abertos e 10 fechados7 abertos e 9 fechados8 abertos e 8 fechados

    Entidade

    ObOxumar

    OmuluOssaim

    LogunedOxumNan

    Lance nulo

    Bzios

    15 abertos e 1 fechado14 abertos e 2 fechados

    13 abertos e 3 fechados12 abertos e 4 fechados11 abertos e 5 fechados10 abertos e 6 fechados9 abertos e 7 fechados16 abertos ou fechados

    Dessa forma, a ordenao aberto-fechado determina queorix est falando e a congurao espacial dos bzios indica o

    que ele est dizendo. Atravs de sucessivas jogadas, chega-se,

    ento, a uma espcie de inventrio do que est acontecendo

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    52/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    53/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    52

    de comportamento humano especco e a uma faixa vibratriada Natureza. O verdadeiro resgate a reconstituio do Axdos Orixs.

    A Umbanda, por sua vez, adota a escala musical sptuplae o espectro cromtico da luz no arco-ris: as sete linha daumbanda, onde cabem, em diferentes patamares, todos osorixs, mensageiros e energias. H uma virtualizao dasidentidades simblico-genticas em identidades simblico-culturais. o sistema de classicao das referncias

    alimentares e audiovisuais dos orixs (o If) transformadoem sistema de classicao de referncias psicolgicas dapersonalidade. O Ax foi personalizado e os orixs tornaram-seprogressivamente mscaras, tipos de pessoas e/ou aspectospsicolgicos da personalidade dos vivos e dos mortos.

    Mas h diferentes nveis de aplicao desses critrios. Emalguns centros, que tanto trabalham com Umbanda quantocom Candombl (Nao), costuma-se dizer que Orix noincorpora, irradia. Porm, ao se tratar do Orix Ibeji e dascrianas da Umbanda a diferena apenas conceitual. Alis,muitas vezes o estado de er mais um estgio do transedo que uma freqncia especca. O mesmo tambm podeser dito sobre os pretos-velhos e os orixs mais idosos Nan,

    Oxagui, Omulu. Essas experincias de transe nos remetemmais aos arqutipos junguianos da criana interior e dovelho sbio (elementos de dramatizao dos diferentesmomentos da vida) do que propriamente de diferentescombinaes dos aspectos psicolgicos da personalidade. Htambm vrias interpretaes e analogias possveis entre alinguagem astrolgica e do If, como a que compara o orix

    de cabea com o signo solar e adjunto como ascendente, ouaspecto secundrio da personalidade. Outros preferem ler osorixs como planetas e os aspectos como seus relacionamentosmticos.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    54/146

    53

    Espiritualidade Contempornea

    Oxal

    Yemanj

    Omulu

    Xang

    Ogum

    Oxum

    Exu

    Sol

    Lua

    Saturno

    Jpiter

    Marte

    Vnus

    Mercrio

    Espiritualidade

    Sensibilidade

    Severidade/limites

    Generosidade

    Agressividade

    Sexualidade

    Comunicao/Transporte

    Os Orixs e os Sete Planetas

    Essas duas tendncias opostas (o resgate do patrimniosimblico do candombl e o sincretismo antropofgico da

    Umbanda) nada tm de recentes alis ela esto nas razes

    no apenas do cultos africanos, mas tambm no estudo de

    vrias outras religies primitivas. Existem os que acreditam

    que houve personagens histricos, que por fora de grandes

    feitos, se fundiram natureza e se tornaram Orixs; e tambm

    h os que pensam que os Orixs so deuses que sempreexistiram, em um mundo anterior ao nosso. Uns divinizam

    seus antepassados, outros cultuam um presente eterno e

    csmico do mundo das idias.

    O mesmo tambm poderia ser dito sobre as diversas

    controvrsias sobre o carter divino e humano de Buda (ou de

    Sidarta Gautama) e da dupla natureza do Cristo (lho de Deus

    e lho do Homem) nos primeiros sculos do Cristianismo. H

    sempre uma tendncia gnstica, platnica, fenomenolgica,

    que cr que o mundo das idias anterior ao das coisas e ca

    do lado de fora da caverna para retomarmos o exemplo da

    imagem do Espelho de Oxum; e h uma tendncia descritiva

    que pensa que a caverna que corresponde ao mundo das

    idias e o lado de fora e que feito de coisas e fatosobjetivos. Tendncias opostas, mas tambm complementares.

    Todo mito sempre uma atualizao de um contedo virtual e

    a virtualizao de um aspecto contemporneo da atualidade.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    55/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    56/146

    55

    Espiritualidade Contempornea

    Dentre os estudos da antropologia brasileira, a Juremaocupa um lugar singular. O prprio termo comporta denotaesmltiplas, que so associadas em um simbolismo complexo.Alm do sentido botnico20, a palavra Jurema designa aindapelos menos trs outros signicados:

    1. Preparado lquido base de elementos do vegetal, de usomedicinal ou mstico, externo e interno, como a bebida sagrada,vinho da Jurema;

    2. Cerimnia mgico-religiosa, liderada por pajs, xams,curandeiros, rezadeiras, pais de santo, mestras ou mestres

    juremeiros que preparam e bebem este vinho e/ou do a bebera iniciados ou a clientes;

    3. Jurema sendo igualmente uma entidade espiritual, umacabocla, ou divindade evocada tanto por indgenas, comoremanescentes, herdeiros diretos em cerimnias do Catimb, de

    cultos afro-brasileiros e mais recentemente na Umbanda.

    Para o professor Jos Maria Tavares de Andrade21, essecomplexo semitico chamado Jurema, representa, at hoje,

    Jurema Rainha

    _______________________ .(20) Etnobotnica da Jurema: Mimosa tenuiora (Will.) Poiret (=M. hostilis Benth.)e outras espcies de Mimosceas no Nordeste-Brasil.(21) Doutor em Antropologia, GERSULP, Strasbourg. Ming Anthony, Musum

    National dHistoire Naturelle, Paris.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    57/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    56

    na polissemia deste termo, um ponto de vista e uma resistnciatnica dos nordestinos autctones, um o condutor de umtrao cultural, distintivo do componente indgena da culturapopular, regional e nacional. Vejamos a citao completa:

    Numa primeira fase da colonizao, a resistncia dos povosindgenas no Nordeste no permitiu que a Jurema, enquantorvore sagrada, fosse conhecida em seus usos e signicados, nosendo assim documentada pelos colonizadores e estrangeiros.Numa segunda fase histrica a Jurema representa um elementoritual ligado prpria resistncia armada dos povos indgenas ou

    guerra empreendida contra inimigos inclusive em suas alianas.Ainda nesta fase na qual a Jurema comea a ser documentada,seu signicado ainda no entendido, mas seu uso j motivode represso, priso e morte de ndios, (...). Na medida em queavana o rolo compressor da colonizao, processo de genocdioou tentativa de dominao, no s poltica e econmica comotambm cultural, aparece uma nova forma de resistncia: aJurema assume um lugar central na religiosidade popular, no

    s indgena regional - Catimb. Diante do componente negroa Jurema garante seu reconhecimento, como entidade (esprito,divindade, cabocla) autctone, dona da terra. A Jurema absorvida pelos cultos afro-brasileiros, tendo surgido inclusiveos Candombls de Caboclos. Nas ltimas dcadas nocontexto da Umbanda, religio nascente e em pleno processode sistematizao e de expanso nacional, que a Jurema integrada na cosmologia sagrada, no panteo da religio

    nacional. Constatamos em vrios estados nordestinos as Linhasda Jurema, dentre as linhagens e liaes religiosas daUmbanda. Nesses ltimos anos, e paralelo ao movimento religiosopropriamente brasileiro, a Jurema continua como ncleo duro,segredo, bandeira ou smbolo para os remanescentes indgenas,em pleno movimento tnico, num contexto de defesa de seusdireitos humanos, de suas reas de reservas e de sua autonomiae reconhecimento no pluralismo da sociedade e das culturas

    brasileiras22

    .

    _______________________ .(22) ANDRADE, J. M Jurema: da festa guerra, de ontem e de hoje.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    58/146

    57

    Espiritualidade Contempornea

    No difcil entender porque a Jurema seria sagrada paraos ndios nordestinos antes da chegada dos brancos. SegundoAndrade, enraizamento lingstico do termo Yurema nalngua tupi um forte indcio de que o uso primordial,inclusive cerimonial do vinho da Jurema, alm de ser heranada cultura indgena, regional, certamente j existia antes dapresena dos colonizadores.

    Alm de seu carter alucingeno23e do seu comprovadouso nas guerras e ritos de passagem, a Jurema, enquanto

    planta, desempenha um papel central no ecossistema semi-rido das caatingas nordestinas: durante os longos perodos deestiagem, quando a paisagem do serto ca cinza e vermelha,apenas ela e o cacto do mandacaru resistem verdes e comreservas de gua. Na verdade, no auge da estiagem, a cascada Jurema seca, enquanto seu interior permanece vioso.Quando a chuva volta, a casca seca cai e a rvore reaparece

    jovem. Esse fenmeno d margem a uma longa mitologiade lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade emorte/renascimento. Mas, ao contrrio do mandacaru, do qualo sertanejo pode extrair gua durante a estiagem, a gua daJurema completamente inacessvel ao uso humano. No casoda Jurema, a existncia de gua atrai a presena de pequenosinsetos e de vrios nveis de pequenos predadores da cadeia

    alimentar do ecossistema do serto. As cobras so habituais nojuremal, tanto pela existncia farta de seu alimento como pelaproteo dos galhos espinhosos, impossibilitando o trnsitode animais maiores.

    Este fato deu margem a uma extensa mitologia popular,cantada em pontos e chamadas tradicionais, em que as cobras

    protegem espiritualmente rvore, assim como esta, com seus_______________________ .(23) A Jurema tem D.M.T. (Dimetril TriptaMina), o mesmo alcalide psicoativo daAyahuasca, bebida xamnica utilizada pelos ndios da Amaznia Ocidental e, maisrecentemente, pelas seitas religiosas do Santo Daime e da Unio do Vegetal.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    59/146

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    60/146

    59

    Espiritualidade Contempornea

    ainda um novo ciclo de religiosidade popular o dos mestresda jurema no camtib nordestino, que at a primeira metade dosculo XX a utilizam para desfazer feitios e encantamentosno Cear, Paraba e Rio Grande do Norte.

    A partir deste quadro, muitas perguntas impossveis deserem respondidas podem ser formuladas: O que aconteceucom a Jurema? Como ela se transformou de prtica xamnica,desta manifestao tnico-popular secreta dos ndios e negros,em uma simples cabocla da linha de Oxossi sem qualquer

    relao com a planta e seu consumo? Como uma tradio tosignicativa desapareceu assim sem deixar vestgios?

    Porm, s entenderemos o verdadeiro signicado daJurema, o motivo principal de sua sacralidade, as causasde seu misterioso desaparecimento e sua reconstruo mticana ps-modernidade, se a relacionarmos com toda discussocontempornea sobre entheognesis.

    Entheognesis signica origem divina (Theo = Deus,Gnesis = Origem). A palavra enthegenos, no entanto,surgiu em contraposio a denominao de alucingenospara designar a utilizao de substncias qumicas comnalidades msticas, religiosas ou cognitivas. Segundoseus defensores a denominao de alucingeno para as

    substncias qumicas de feito psquico que provocam mudanasnos estados de percepo e conscincia preconceituosa, poisembute o sentido de entorpecimento e alienao.

    A partir da h dois sentidos possveis:

    A) A hiptese de que foi a ingesto de cogumelos alucingenosque despertaram a conscincia nos macacos.

    B) A enteognesis o uso no alienante das drogas como

    prescreveram vrios pensadores da Contracultura. Timothy Leary25,entre outros menos famosos, defendia o carter revolucionrio da

    _______________________ .(25) www.leary.com

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    61/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    60

    experincia psicodlica atravs de drogas. Para Leary, os estadosalterados de conscincia provocavam mudanas existenciais

    profundas, transformaes na personalidade, tornando as pessoas

    mais conscientes de si.

    Tambm Carlos Castaneda26, antroplogo convertido aosistema de feitiaria tolteca, iniciou-se nessa tradio atravsda utilizao das plantas de poder, principalmente a Datura(a Erva do Diabo) e oPeyote27 (o mescalito). A droga aqui utilizada para romper com a descrio ordinria da realidade,com a percepo cotidiana de mundo, como uma forma de sesentir presente em outros universos dimensionais.

    A droga alucina e cura, equilibra e enlouquece, maravilha evicia. um paradoxo, um dispositivo de funes aparentementecontrrias. Entre os autores brasileiros que pensaram a questodas drogas dentro de uma perspectiva foucaultiana dos modosde sujeio, Edson Passetti28 talvez quem melhor coloque o

    papel central deste dispositivo na sociedade contempornea.

    A droga pensada como produto mdico para recolocar umindivduo dentro da normalidade social. tambm alucingenocapaz quando usado fora do espao de connamento defomentar ou gerar no indivduo distores em sua personalidade.De ambos os lados, a droga afeta a chamada alma do sujeito,quer recuperando-a quer perdendo-a. Assim, dentro da mais

    perfeita ordem das coisas, a droga doena e cura, crime e lei,cujo uso regulamentado por rgos governamentais.

    (...) A relao droga e alma, essa coisa que pode serracionalmente capturada, organizada e disposta para que oindivduo possa viver uma suposta plenitude terrena, que asreligies no fornecem e justamente por esse princpio contribuipara a reproduo da religio , visa combater o desprezvel nointerior e no exterior do indivduo, reticando partes ou o todo.

    (pp.56-57)_______________________ .(26) www.nagual.com(27) www.peyote.com(28) PASSETTI, E. Das Fumaries ao Narcotrco. So Paulo, EDUC, 1991.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    62/146

    61

    Espiritualidade Contempornea

    Com o pesquisador Terence McKenna29, o carter cognitivodas drogas e da experincia psicodlica na contracultura vai setornar uma etnofarmacologia, isto , um estudo sistemticodas tradies de consumo de enthegenos. McKenna - autor dediversos livros sobre drogas e religiosidade contempornea30 retoma a associao entre a utopia social e os estadosde conscincia quimicamente alterada (proposta por CharlesBaudelaire e Aldous Huxley) e desenvolve ainda a idia deque nossa experincia com o sagrado deriva do consumo desubstncias qumicas e a combina com a hiptese Gaia e comum desconcertante arsenal de perguntas:

    Estaramos ainda evoluindo as leis eternas da natureza?Existiria um reino alm do espao e do tempo que assegurariaos padres e as condies de criatividade e de organizao, eo processo evolutivo emergente ou o universo se construiriaa si mesmo medida que fosse caminhando? As causas dascoisas estariam no passado ou no futuro? Haveria algum Objeto

    hiperdimensional, que nos atrairia para a frente ? Seria ahistria apenas uma sombra que a escatologia projeta atrsde si? Seramos ns, os seres humanos, os imaginadores ou osimaginados? Ou seria a histria, de certo modo, uma co-criao uma parceira instvel, cronicamente evolvente e pusilnimeentre ns mesmos e o Fazedor de Padres hiperdimensionais?Seriam os vegetais visionrios nossos potenciadores e nossosguias; e seria a teo-botnica a chave de tudo isso? Seria o

    caos meramente catico, ou abrigaria a dinmica de toda acriatividade? Que conexo existiria entre a luz fsica e a luz daconscincia? Como transporamos nossos limites fundamentais a

    m de ingressar numa nova fase de aventura humana?31

    _______________________ .(29) Biograa em portugus www.rizoma.net/rizoma/mckenna.htm(30) MCKENNA, T. - Alucinaes Reais, Alimento dos Deuses e Retorno cultura arcaica Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1993, 1995 e 1996. Em ingls,

    h ainda os livros em parceria com seu irmo Dennis McKenna, The InvisibleLandscape e Psilocybin: The Magic Mushroom Growers Guide.(31) MCKENNA, T. Caos, Criatividade e o retorno do Sagrado trilogos nasfronteiras do Ocidente (com Ralph Abraham e Rupert Sheldrake). So Paulo:Cultrix/Pensamento, 1994.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    63/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    62

    Porm, o certo que, a partir do advento TerenceMcKenna, h todo um movimento em curso sobre essahistria de Entheognesis. Atualmente, na internet, tantoencontramos pginas dos grupos religiosos ligados a tradiesxamnicas com a Ayahuasca quanto de psiconautas eestudiosos. bem verdade que as idias do movimentoenthegeno esto dando margem para toda sorte de teoriasdelirantes. Para alguns, por exemplo, o cogumelo entheognicoseria apenas o corpo fsico de um ser vindo de outro planetapara colonizar a terra, um veculo biolgico da memriaarcaica. Por outro lado, claro que os grupos tradicionaisdiscordam dos psiconautas. Alex Polari do Santo Daime, porexemplo, escreveu Seriam os Deuses Alcalides?32

    Mas, a verdade que o prprio crescimento dos grupostradicionais em progresso geomtrica em nvel internacional(que usam substncias qumicas atravs de plantas de poder

    Ayahuasca, Peiote, San Pedro) se deve ao movimentoenthegeno e que este, muitas vezes, acaba inuenciando emodicando bastante aqueles como em relao a Jurema.

    No artigo A Jurema em Regime de ndio33, podemosobservar o contraste de alguns aspectos simblicos destareconstituio do uso cerimonial da Jurema em um contexto

    religioso contemporneo e seu contexto tradicional.E hoje mais fcil encontrar trabalhos espirituais com a

    utilizao daJuremana Europa que nas caatingas do nordestebrasileiro. Vivemos um processo de reconstruo mticaglobalizada, em que um smbolo/substncia qumica de nossaconscincia tnica est sendo re-importado e reinventado emum contexto contemporneo.

    _______________________ .(32) www.santodaime.org/arquivos/alex1.htm(33) GRNEWALD, R. A. Jurema em Regime de ndio. Amsterd: Lycaeum,1999.

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    64/146

    63

    Espiritualidade Contempornea

    Segundo a tradio, quando os sacerdotes egpcios,herdeiros da sabedoria Atlante, eram ainda guardies dosMistrios Sagrados, o Grande Hierofante, prevendo uma pocade decaimento espiritual da humanidade e a perseguio aoensinamento sagrado, convocou ao templo todos os sbiossacerdotes do Egito para que, juntos, pudessem achar um meio depreservar da destruio os ensinamentos iniciticos, permitindo,assim, seu uso s geraes de um futuro distante. Muitas sugestesforam apresentadas, mas, o mais sbio entre os presentes disseque, devido ao declnio moral da humanidade, o vcio iriaprevalecer por toda parte e sugeriu ento que as VerdadesEternas fossem perpetuadas atravs do vcio, at a poca em quenovamente poderiam ser ensinadas. Assim foi feito e o grandiososistema simblico da Sabedoria Esotrica - o Tar - foi dado

    humanidade sob a forma de um baralho de 78 cartas, que, desdemilhares de anos, servem para satisfazer a curiosidade humanaa respeito do seu futuro ou para distrair-se e matar o tempo,jogando.

    MEBES, G. Arcanos Menores Do Tar

    As Cartas e suas Origens

    O baralho de 78 cartas denominado genericamente deTar um mtodo de autoconhecimento que permitedescobrir e localizar atitudes e posturas que condicionam

    O Tar como Mapa Cognitivo

  • 8/12/2019 59023691 7356476 Espiritualidade Contemporanea

    65/146

    Marcelo Bolshaw Gomes

    64

    nosso comportamento, identicando, em suas combinaes,as situaes existenciais recorrentes que entravam nossodesenvolvimento. As 78 imagens-conceitos funcionam comoeus ou identidades, que se organizam em determinadospadres simblicos correspondentes s situaes que vivemos.O Tar um espelho da alma, suas cartas so reexos da vidainterior que tomam forma e nos apresentam como os nossosvrios eus esto estruturados no inconsciente.

    Costuma-se subdividir as 78 cartas do Tar em dois

    grandes grupos distintos: os Arcanos Maiores (22 cartasalegricas) e os Arcanos Menores (56 cartas de naipe). Nosmanuais de cartomancia, arma-se sempre que os ArcanosMenores enfocam a vida objetiva, feita de acontecimentos- tais como: viagens, doenas, lhos, dinheiro - enquanto osArcanos Maiores seriam mais psicolgicos ou subjetivos,representando em suas alegorias estados de nossa vida interior.

    Autores esotricos com preocupaes mais iniciticas quedivinatrias, como G. O. Mebes34, ressaltam que somenteaps estudar e compreender os vinte e