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INVERTEBRADOS TERRESTRES

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INVERTEBRADOS TERRESTRES

Invertebrados Terrestres

Panorama Geral dos Invertebrados Terrestres Ameaados de ExtinoAngelo B. M. Machado 1 Antonio D. Brescovit 2 Olaf H. Mielke 3 Mirna Casagrande 4 Fernando A. Silveira 5 Fernanda P. Ohlweiler 6 Douglas Zeppelini 7 Mrio De Maria 8 Alfredo H. Wieloch 9

O nmero total de espcies de invertebrados conhecidas no mundo hoje situa-se entre 1.218.500 e 1.298.600, e estima-se que 96.660-129.840 ocorrem no Brasil (Lewinsohn & Prado, 2005). Os principais responsveis por esses nmeros so os insetos, dos quais se conhecem 950 mil espcies no mundo e 80.750-109.250 no Brasil (Lewinsohn & Prado, 2005). Para se ter uma dimenso da diversidade da entomofauna mundial, basta lembrar que uma s famlia de colepteros, os Curculionidae, tem cerca de 60.000 espcies conhecidas (Naskrecki, 2005), o que corresponde quase totalidade dos cordados at o momento descritos (60.800). A idia de que a biodiversidade conhecida de invertebrados terrestres era apenas parte da real j era consenso entre os zologos. Faltava, entretanto, obter dados numricos que tambm levassem em conta a biodiversidade desconhecida, o que foi feito pela primeira vez por Erwin (1982). Esse cientista submeteu rvores isoladas de oresta tropical a um tratamento com inseticida, que matou e permitiu a contagem da totalidade dos insetos nelas presentes, a maioria colepteros. Admitindo uma especicidade de 20% dos insetos em relao s plantas hospedeiras e levando em conta a diversidade das espcies de plantas, esse autor estimou que a diversidade da entomofauna mundial estaria em 30 milhes de espcies ou mais, a maior parte nas orestas tropicais, em especial nas copas das rvores. Embora esse valor tenha sido contestado (Stork, 1997; Odegaard et al., 2000), a biodiversidade dos invertebrados terrestres ainda muito alta, situando-se em torno de 5-15 milhes de espcies (Odegaard et al., 2000). Para toda a biodiversidade do planeta, Wilson (1999) estimou um valor de 13.620.000 espcies. No caso do Brasil, as menores estimativas indicam a existncia de sete vezes mais espcies de invertebrados terrestres do que as hoje registradas (Lewinsohn & Prado, 2005). Esses valores colocam dois grandes desaos aos conservacionistas e taxnomos: proteger essas espcies da extino e descrev-las em uma velocidade maior do que sua velocidade de extino. Trabalhando com a mdia dos valores obtidos pelos autores que estudaram o assunto, Wilson (1999) estimou em 6% a velocidade de extino de espcies por dcadas. Para uma biodiversidade total de 13.620.000 espcies (Wilson, 1999), isso signica uma perda de 81.720 espcies por ano. Ora, como a velocidade de descrio de 13.000 espcies por ano (Wilson, 1999), mantida a mesma taxa de extino, seria necessrio aumentar 6,2 vezes o nmero de taxnomos em atividade para evitar que espcies fossem extintas antes de serem descritas. O problema ainda mais srio se considerarmos que a maioria dos taxnomos trabalha com espcies de maior porte, quando as extines ocorrem principalmente entre as espcies menos conspcuas, como na maioria dos invertebrados terrestres. O ideal que o aumento no nmero de taxnomos fosse acompanhado de uma reduo na taxa de extino de espcies. Como essas medidas nem sempre so ecazes, importante investir maciamente em coletas de campo e em colees taxonmicas, visando, pelo menos, o salvamento cientco das espcies. Considerando que os valores acima apresentados para a biodiversidade do planeta se referem, em sua grande maioria, a invertebrados terrestres, pode-se inferir que o nmero de invertebrados terrestres j extintos antes de serem descritos seja muito alto, especialmente na Mata Atlntica, que apresenta alto nvel de endemismo, abrigando hoje 89 (76%) das 130 espcies de invertebrados terrestres ameaados de extino (Machado et al., 2005), em uma rea que tem apenas 7,25% da cobertura orestal original. Do que

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Universidade Federal de Minas Gerais - Av. Antnio Carlos, 6.627, Pampulha, CEP: 31.270-901, Belo Horizonte/MG Instituto Butantan - Av. Vital Brasil, 1.500, CEP: 05.503-900, So Paulo/SP 3, 4 Universidade Federal do Paran - Rua XV de Novembro, 1.299, CEP: 80.060-000, Curitiba/PR 6 Superintendncia de Controle de Endemias (SUCEN) - Rua Paula Souza, 166, CEP: 01.027-000, So Paulo/SP 7 Universidade Federal da Paraba - Cidade Universitria, CEP: 58.051-90, Joo Pessoa/PB.

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foi exposto, conclui-se que o risco de extino antes da descrio bem maior nos invertebrados que nos vertebrados, cujo nmero de espcies a serem descritas muito menor. Esse raciocnio nos leva a admitir que, de fato, existem hoje na natureza muito mais espcies ameaadas de extino entre os invertebrados que entre os vertebrados, situao exatamente oposta revelada na lista de 2003, na qual o nmero de espcies ameaadas de vertebrados (419 ou 67%) era o dobro do registrado para invertebrados (208 ou 33%). O principal fator que explica essa diferena o grau de conhecimento disponvel para incluir espcies na lista vermelha, muito maior nos vertebrados que nos invertebrados. Alis, alguns zologos brasileiros ainda consideram impossvel incluir corretamente invertebrados terrestres, em especial insetos, nas listas vermelhas, dada a falta de conhecimento. Outro fator a percepo, por parte do pblico leigo e de alguns zologos, de que a extino de invertebrados menos importante do que a de vertebrados e no justicaria a preocupao de coloc-los nas listas vermelhas. Hoje, essa situao vem se modicando, tanto assim que, na lista nacional de espcies ameaadas de 1973, havia apenas um invertebrado terrestre, nmero que aumentou para 29 na lista de 1989, saltando para 102 na lista de 2003. Isso reete a percepo cada vez maior da importncia ecolgica, econmica, mdica e esttica dos invertebrados terrestres, sem falar de sua grande importncia para pesquisas cientcas bsicas. Como exemplo, temos o extraordinrio avano que ocorreu na gentica com o estudo das droslas. Durante muito tempo, a conservao de invertebrados terrestres foi feita apenas como um subproduto de projetos de proteo de habitats, visando a conservao de vertebrados, em especial de espcies-bandeira, como o muriqui e os micos-lees. At pouco tempo, a nica Unidade de Conservao que tinha como principal objetivo a proteo de invertebrados era a Estao Biolgica de Tripu, prxima a Ouro Preto, criada para a proteo do onicforo Macroperipatus acacioi. Em 2005 foi criada outra Unidade de Conservao destinada proteo de invertebrados terrestres, o Refgio de Vida Silvestre Liblulas da Serra de So Jos, no municpio de Tiradentes, em Minas Gerais, voltado para a proteo de sua riqussima fauna de Odonatos. Da lista ocial revisada de espcies da fauna brasileira ameaada de extino, constam 130 espcies de invertebrados terrestres, distribudas em quatro los, seis classes, 14 ordens e 43 famlias (Tabela 1).

Tabela 1. Nmero de espcies de invertebrados terrestres ameaadas de extino ou extintas nas diferentes classes, ordens e famlias, com as respectivas categorias, de acordo com a Lista da Fauna Brasileira Ameaada de Extino (MMA, 2003).Classe/Ordem VU 2 1 1 1 4 1 1 1 1 1 Total 2 5 1 3 3 1 1 1 4 1 1 1 3 1 1 1 Gastropoda Stylommatophora Bulimulidae Megalobulimidae Streptaxidae Strophocheilidae Glossoscolecidae Peripatidae Charinidae Araneidae Corinnidae Ctenidae Eresidae Symphytognathidae Gonyleptidae Minuidae Chernetidae Chthoniidae Famlia EX 2 EW Categorias* CR EN 1 2 5 2 1 1 1 1 VU 2 1 1 1 4 1 1 1 1 1 Total 2 5 1 3 3 1 1 1 4 1 1 1 3 1 1 1

ias EN 5 2 1 1 1 1

Oligochaeta Haplotaxida Onychophora** Euonychophora Arachnida Amblypygi Araneae

Opiliones Pseudoscorpiones

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Continuao

Classe/Ordem Diplopoda Polydesmida

Famlia EX Chelodesmidae Cryptodesmidae Pyrgodesmidae 1 1 4 EW 0

Categorias* CR 1 1 2 10 4 1 3 1 1 27 EN 1 2 1 9 2 2 2 1 1 1 33 VU 1 1 1 1 5 2 3 5 5 2 2 3 4 1 7 3 1 1 1 1 1 1 66 Total 1 1 1 1 5 2 3 5 1 5 2 1 3 4 8 2 26 9 4 1 6 1 1 3 1 2 1 130

Spirobolida Insecta Coleoptera

Rhinocrichidae Carabidae Cerambycidae Chrysomelidae Dynastidae Scarabaeidae

Collembola Ephemeroptera Hymenoptera Lepidptera

Arrhopalitidae Paronellidae Leptophlebiidae Apidae Formicidae Hesperiidae Lycaenidae Nymphalidae Papilionidae Pieridae Pyralidae Riodinidae Saturniidae

Odonata

Aeshnidae Coenagrionidae Gomphidae Megapodagrionidae Pseudostigmatidae

Total

* EX Extinta; EW Extinta na Natureza; CR Criticamente em Perigo; EN Em Perigo; VU Vulnervel; ** Atualmente considerados como filo.

Nessa lista, foram includas tambm uma liblula, uma formiga e duas oligoquetas consideradas extintas. Ela mostra o nmero de espcies de invertebrados terrestres ameaados de extino no Brasil nos diferentes grupos zoolgicos, com as respectivas categorias de ameaa. A Tabela 1 mostra tambm que 66 ou 50,7% das espcies ameaadas esto na categoria Vulnervel. Em relao lista de 1989, houve o acrscimo dos los Mollusca e Anellida, de cinco classes, 12 ordens, 32 famlias e 73 espcies de invertebrados terrestres. Espera-se que, na prxima reviso da lista, seja possvel ampliar a avaliao para outros grupos, como os hempteros, ortpteros, dpteros e possivelmente os ispteros. A grande diferena entre a lista de 1989 e a atual a presena, nesta ltima, de 23 artrpodes caverncolas, nmero que equivale a 17,7% dos invertebrados terrestres nela relacionados. A Tabela 2 relaciona essas espcies com sua posio taxonmica, caverna onde ocorrem, Estado de origem e presena em Unidades de Conservao. Demonstra ainda que 46% das espcies de invertebrados terrestres caverncolas ameaadas de extino esto em So Paulo, seguindo-se os Estados da Bahia (16,6%), Minas Gerais (16,6%), Gois (12,5%), Paran (4,1%) e Mato Grosso do Sul (4,1%). Quase todas as espcies de So Paulo ocorrem em Iporanga, no Parque Estadual Turstico do Alto Ribeira PETAR. Apenas o colmbolo Trogolaphysa hauseri ocorre fora dessa rea.

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Tabela 2. Locais de ocorrncia dos invertebrados caverncolas ameaados de extino no Brasil (MMA, 2003).Categoria taxonmica Collembola: Arrhopalitidae Arrhopalites amorimi Arrhopalites gnaspinius Arrhopalites lawrencei Arrhopalites papaveroi Arrhopalites wallacei Collembola: Paronellidae Trogolaphysa aelleni Trogolaphysa hauseri Coleoptera: Carabidae Coarazuphium bezerra Coarazuphium cessaima Coarazuphium pains Coarazuphium tessai Schizogenius ocellatus Caverna Caverna Casa de Pedra Gruta Alambari de Baixo Gruta de Tapagem Caverna Joo de Arruda Caverna Morro Preto Gruta das Areias Gruta da Tapagem Lapa do Bezerra Lapa do Bode Gruta Tabocas III Gruta do Padre Caverna Areias de Cima Cavernas de Pescaria Santana e Lage Branca Municpio-Estado Iporanga, SP Iporanga, SP Iporanga, SP Bonito, MS Iporanga, SP Iporanga, SP Eldorado, SP So Domingos, GO Itaet, BA Pains, MG Santana, BA Iporanga, SP Unidades de Conservao PE Turstico do Alto Ribeira PETAR PE Turstico do Alto Ribeira PETAR PE de Jacupiranga PE Turstico do Alto Ribeira PETAR PE Turstico do Alto Ribeira PETAR PE de Jacupiranga PE Terra Ronca PE Turstico do Alto Ribeira PETAR PE Turstico do Alto Ribeira PETAR PE Turstico do Alto Ribeira PETAR PE de Jacupiranga

Araneae: Synphytognathidae Anapistula guyri Lapa do Passa Trs So Domingos, GO Amblypygi: Charinidae Charinus troglobius Gruta do Z Bastos Carinhanha, BA Opiliones: Gonyleptidae Giupoponia chagasi Lapa do Boqueiro Carinhanha, BA Gruta do Z Bastos Carinhanha, BA Pachylospeleus strinatti Grutas Areias de Cima Iporanga, SP Grutas Areias de Baixo Iandumoema uai Gruta Olhos D`gua Itacarambi, MG Opiliones: Minuidae Spaleoleptes apaelusa Lapa Nova de Maquin Cordisburgo, MG Pseudoscorpiones: Chernetidae Maxchernes iporangae Caverna Alambari de Baixo Iporanga, SP Gruta das guas Quentes Pseudoscorpiones: Chtonidae Pseudochtonius strinatii Cavernas Areias de Cima Iporanga, SP Caverna Morro Preto Eldorado, SP Caverna Tapagem Adrianpolis, PR Gruta do Rocha Sete Lagoas, MG Buraco do Medo Pedro Leopoldo, MG Lapa Vermelha Diplopoda: Chelodesmidae Leodesmus yporangae Caverna Areias de Cima Iporanga, SP Caverna Areias de Baixo Ressurgncia das Areias de guas Quentes Caverna Alambari de Cima Diplopoda: Cryptodesmidae Peridontodesmella alba Gruta Betari de Baixo Iporanga, SP Mina do Esprito Santo Caverna Areias de Baixo Gruta dos Paiava Adrianpolis, PR Mina do Paqueiro Erminda Paiol do Alto Diplopoda: Pyrgodesmidae Yporangiella stygius Gruta do Monjolinho Iporanga, SP

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Assim, as medidas de proteo s cavernas do Parque Estadual Turstico do Alto Ribeira PETAR alcanam quase a metade da fauna caverncola ameaada de extino no Brasil. Todas essas espcies so troglbias, ou seja, tm habitats restritos s cavernas. A maioria delas tambm troglomrca, ou seja, apresenta adaptaes morfolgicas ao ambiente das cavernas, tais como despigmentao, alongamento de antenas e reduo ou ausncia de olhos. De um modo geral, cada uma das espcies troglbias de carabdeos e colmbolos, assim como a maioria dos aracndeos, habita uma s caverna, tem anidade entre si e com espcies prximas, porm situadas no meio externo de onde vieram. Assim, os invertebrados caverncolas so de grande interesse cientico, permitindo o estudo dos processos evolutivos e biogeogrcos que levaram a uma convergncia de caracteres entre txons diferentes ou entre txons bem distantes, sendo uns hipgeos e outros epgeos. Outra importante linha de pesquisa o estudo das cadeias trcas nas cavernas onde a matria orgnica vem de fora ou produzida dentro delas, a exemplo do guano dos morcegos. Sabe-se que os colmbolos, geralmente detritvoros, tm importante papel nessa cadeia, alimentando-se de matria orgnica e servindo de alimento a um grande nmero de animais, como caros, aranhas de pequeno porte, amblipgeos jovens, besouros (trequindeos, stalindeos, carabdeos), diplpodes etc. (Christiansen, 1971). A presena de invertebrados terrestres nos frgeis ambientes das cavernas torna-os vulnerveis a qualquer alterao do ambiente caverncola, sobretudo a destruio causada pela explorao mineral, o desmatamento externo e conseqente reduo do aporte de material orgnico, o turismo descontrolado e a poluio dos rios hipgeos. Por outro lado, a presena de espcies ameaadas de extino nas cavernas traz um novo argumento para sua proteo. Infelizmente, a fauna de invertebrados terrestres de grande nmero de cavernas brasileiras ainda no foi estudada. Quando isso for feito, certamente o nmero de invertebrados caverncolas ameaados de extino aumentar consideravelmente. Dada as particularidades dos grupos que compem os invertebrados terrestres e as distintas situaes que colocam suas espcies em risco, o texto subseqente retrata as caractersticas e um panorama geral do status de conservao de cada grupo avaliado na atual lista de espcies de invertebrados terrestres ameaadas no Brasil.

OligoquetasOs representantes da classe Oligochaeta caracterizam-se por apresentar corpo vermiforme, em geral alongado, constitudo de anis visveis externamente e que correspondem s divises internas. Apresentam cerdas pouco numerosas, que facilitam a locomoo, feita por peristaltismo resultante de contraes alternadas das musculaturas circular e longitudinal da parede do corpo. Locomovendo-se no folhedo, afastam as partculas para os lados e, no solo, cavam galerias, ingerindo o material que se encontra em seu caminho. Muitas vezes, deslocam-se utilizando galerias preexistentes. Algumas espcies de oligoquetas terrestres da ordem Haplotaxida, subordem Lumbricina, so conhecidas popularmente como minhocas ou minhocuus, quando maiores do que 15 a 20 cm de comprimento. Atualmente, em todo o mundo, so conhecidas de 3.500 a 4.000 espcies de oligoquetas, reunidas em 36 famlias de trs ordens (Aelosomatida, Lumbriculida e Haplotaxida) (Righi, 1999). Segundo Brown & James (2007), existem no Brasil 306 espcies de minhocas, das quais 85% so nativas e 15% exticas. Nesse nmero esto includas 40 espcies novas, totalizando 266 espcies j descritas, que esto distribudas em 66 gneros de oito famlias, das quais a de maior diversidade Glossoscolecidae, com 202 espcies, todas nativas. Essa famlia endmica da regio neotropical, estendendo-se do Mxico ao norte da Argentina e da costa atlntica costa do Pacco (Righi, 1999). As oligoquetas terrestres so muito sensveis s alteraes sutis de seus habitats e respondem a impactos ambientais de diferentes intensidades, podendo, dessa forma, servir para monitoramento ambiental do solo. Considerando o pequeno conhecimento da biologia das espcies de oligoquetas do Brasil, em especial as do Cerrado, h uma necessidade premente de desenvolver pesquisas sobre elas e de proteger suas reas de ocorrncia, a m de garantir a biodiversidade do solo. As principais ameaas biodiversidade das oligoquetas so a eroso do solo; a desintegrao de suas galerias, causada por pisoteio supercial, principalmente pelo gado; a degradao dos diversos tipos de vegetao presentes nos locais onde elas vivem; e a invaso desses locais por monoculturas de gramneas, amplamente utilizadas na criao de gado bovino. Outra causa de ameaa a algumas espcies de oligoquetas a explorao predatria visando a obteno de iscas vivas para a pesca. Sendo animais dceis, de grande tamanho e fcil manuseio, tornaram-se as iscas preferidas dos pescadores. A ocorrncia de fezes junto s cmaras evidencia a presena dos minhocuus e facilita sua captura pelos minhoqueiros. O uso do fogo para a abertura de reas virgens e para facilitar o rebrotamento das gramneas, utilizadas nas reas para pastoreio, uma prtica prejudicial aos minhocuus e muito usada pelos mi-

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nhoqueiros. Segundo Righi (1997), j em 1789 a importncia das minhocas para o solo foi ressaltada por Gilbert White, devendo-se a Darwin a rica documentao e divulgao do papel das minhocas no solo. O principal servio ecolgico das oligoquetas terrestres o processamento e a incorporao da matria orgnica ao solo mineral. As caractersticas fsicas, qumicas e microbiolgicas do solo so inuenciadas pelo metabolismo e comportamento desses animais. Aproveitando apenas 10% do material ingerido, seu intestino produz fezes com muito material disponvel e em vrios graus de processamento. Da a coprofagia ser comum entre as oligoquetas, formando fezes cada vez menores, que originam, pela perda de gua e aglutinao das partculas, agregados estveis durante anos, enriquecendo os solos. Comendo e cavando, os minhocuus destroem e modicam os agregados do solo. Eles constroem galerias e inuem em sua estrutura, na micro e macroporosidade, na aerao, na drenagem e na capacidade de reteno de gua. A composio da fauna de oligoquetas varia em resposta a diferentes sistemas de perturbao ou de manejo da terra. As espcies de minhocas so claramente diferentes, por exemplo, entre os distintos sistemas de uso da terra na Amaznia (Barros et al., 2002) e mostram respostas variveis s diferentes tcnicas de aragem no domnio da Mata Atlntica (Brown et al., 2003). Na lista de 2003 (MMA, 2003) e na lista de Minas Gerais (Machado et al., 1998), constam trs espcies de oligoquetas ameaadas de extino ou j extintas: Rhinodrilus fafner (EX), Rhinodrilus alatus (EN) e Fimoscolex sporadochaetus (EX), todas endmicas do Estado de Minas Gerais. Contudo, na ltima reviso da lista da fauna ameaada de Minas Gerais, ocorrida em setembro de 2006 e que deve ser publicada ainda no segundo semestre de 2008, a espcie R. alatus foi reavaliada e seu status mudou para a categoria Quase Ameaada (NT) da Unio Mundial para a Natureza IUCN. Sendo a espcie endmica de Minas Gerais, em uma prxima reviso da lista brasileira ou mesmo em portarias adicionais, certamente ser excluda da lista de ameaadas. Outra situao diz respeito F. sporadochaetus, espcie redescoberta pelo pesquisador George G. Brown em 2006 (G. Brown, com. pess.), no municpio de Ouro Preto (MG), onde foram coletados quatro exemplares identicados pelo taxnomo Samuel James. Assim, do mesmo modo que R. alatus, F. sporododochaetus dever ter o status de conservao revisto, saindo da categoria Extinta para uma das categorias de ameaa da Unio Mundial para a Natureza IUCN. O reencontro da espcie tambm assinalado em Brown & James (2007). Rhinodrilus fafner o maior minhocuu do mundo, atingindo 2,10 m de comprimento, e no encontrado desde 1918, sendo conhecido apenas por sua descrio original. Fimoscolex sporodochaetus tem aproximadamente 70 mm e, at pouco tempo, era conhecido de um nico exemplar (Righi & De Maria, 1998). Rhinodrilus alatus, a chamada minhocuu-do-cerrado, a espcie mais usada como isca de pesca, sendo alvo de ativa comercializao. Chaves para a identicao das famlias de oligoquetas brasileiras e para os gneros e as espcies lmnicas do Brasil foram elaboradas por Righi (1999). No h guias para a identicao das espcies terrestres. Para o reconhecimento dos gneros e das espcies de dez gneros das Glossoscolecidae, famlia dominante no solo neotropical, foram publicadas chaves por Righi, em 1999. As espcies de minhocuu so muito sensveis s variaes ambientais, sendo o desmatamento e a degradao dos ambientes terrestres e aquticos as principais ameaas sua sobrevivncia. Nos casos de R. fafner e R. sporadochaetus, ainda que tenham seu status de conservao melhorado, so necessrias pesquisas bsicas de campo, visando encontrar novas populaes dessas espcies. Elas seriam, ento, objeto de aes conservacionistas, destacando-se a proteo do hbitat. No caso de R. allatus, a coleta predatria e a intensa comercializao potencializam o declnio de suas populaes. Alm disso, provocam a destruio do hbitat, com a derrubada e/ ou queima da mata e escavao do solo. No momento, imprescindvel a criao de Unidades de Conservao onde a espcie possa sobreviver. A isso devem associar-se pesquisas bsicas em biologia da conservao, como: determinar o tamanho e a distribuio das populaes, a poca e a taxa de reproduo, o tempo necessrio maturao e ao desenvolvimento e como incrementar esses fenmenos biolgicos. Devem tambm ser favorecidos projetos para a criao em cativeiro visando a comercializao e reintroduo em reas devastadas; estabelecer programas de educao ambiental com a interao de bilogos, agrnomos e professores; promover a scalizao, no sentido de coibir a coleta dos animais na natureza, seu comrcio e, sobretudo, seu transporte pelas estradas; proteger o hbitat, impedindo derrubadas, queimadas e escavaes; incentivar projetos de manejo das populaes.

Moluscos: gastrpodesOs moluscos terrestres pertencem classe Gastropoda, que rene em torno de 80 mil espcies (Thom et al., 2004). Existem cerca de 30.000 espcies de gastrpodes terrestres no mundo, sendo que 670 possuem registro

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para o Brasil, estimando-se que esse nmero pode chegar a 2.000 (Simone, 1999). Os moluscos terrestres aparecem em menor nmero, pois a maior parte das espcies vive em ambientes aquticos, sendo que as marinhas predominam sobre as dulciaqcolas. Os gastrpodes terrestres apresentam caracteres morfolgicos adaptados a esse ambiente. Um aspecto muito importante a capacidade que os moluscos terrestres tm de sobreviver em ambientes desfavorveis, com pouca umidade. Nesse caso, para se proteger das adversidades ambientais, os moluscos secretam um muco na abertura da concha, o que evita a perda de gua dos tecidos. No inverno ou em perodos de seca, mais difcil a localizao dos moluscos, j que eles entram em estado de hibernao, muitas vezes enterrando-se no solo. Os moluscos terrestres so encontrados em ambientes midos e sombreados, como matas, campos, jardins e plantaes. Durante o dia, costumam proteger-se sob folhas ou troncos no cho, rvores ou, ento, permanecem enterrados. Apresentam maior atividade durante a noite, perodo em que costumam sair para se alimentar de vegetais vivos ou em decomposio. Alguns moluscos terrestres possuem hbitos carnvoros, a exemplo dos Streptaxidae, que se alimentam de moluscos menores (Picoral & Thom, 1993). Algumas espcies de moluscos terrestres so pragas agrcolas, como Oxystyla pulchella (Spix, 1827) e Bradybaena similaris (Frrussac, 1821), outras so de importncia para a sade pblica, como a Achatina fulica Bowdich, 1822, que hospedeira intermediria do nematdeo Angiostrongylus cantonensis (Chen, 1935), e existem aquelas de importncia econmica, como espcies das famlias Megalobulimidae e Helicidae, como, o Helix aspersa Mller, 1774, por exemplo (Bof, 1979). A classe Gastropoda apresenta trs subclasses: Opisthobranchia, Prosobranchia e Pulmonata, mas somente as duas ltimas possuem representantes terrestres. A subclasse Prosobranchia divide-se nas ordens Archaeogastropoda, Mesogastropoda e Neogastropoda, sendo que apenas os Archaeogastropoda e os Mesogastropoda possuem espcies terrestres. Dentre os Mesogastropoda, existem espcies dulciaqcolas, de hbitos anfbios, adaptando-se perfeitamente tanto ao ambiente aqutico como ao terrestre. A subclasse Pulmonata divide-se nas ordens Soleolifera (=Systellommatophora), Basommatophora e Stylommatophora, incluindo as espcies mais bem adaptadas ao ambiente terrestre. Os dois primeiros grupos incluem tambm espcies aquticas, marinhas e dulciaqcolas. J os Stylommatophora apresentam espcies exclusivamente terrestres (Souza & Clark Lima, 1997). As 11 espcies de moluscos terrestres que constam na atual lista da fauna brasileira ameaada de extino pertencem ordem Stylommatophora, famlias Bulimulidae, Megalobulimidae, Streptaxidae e Strophocheilidae. Os motivos pelos quais essas espcies fazem parte da lista so a destruio e alterao dos ambientes naturais, provocadas principalmente pelo desmatamento e pela disseminao de plantaes agrcolas. Cabe salientar a introduo de espcies exticas para ns comerciais no Brasil, como a Achatina fulica Bowdich, 1822, um gastrpode terrestre natural da frica. A espcie acabou alastrando-se em grande parte do territrio brasileiro, onde encontrou timas condies de sobrevivncia, principalmente pela falta de predadores naturais. Dada a sua grande capacidade reprodutiva, ocorre em grandes quantidades e, sendo um molusco muito voraz, disputa espao e alimento com a fauna nativa. Acredita-se que a introduo de espcies exticas uma ameaa nossa malacofauna, alm de causar problemas de sade pblica e prejuzos econmicos. Como prioridade para a preservao da malacofauna, sugere-se um minucioso estudo sobre a anatomia, distribuio, biologia e ecologia das espcies. Ampliar o conhecimento sobre a anatomia dos moluscos terrestres de suma importncia, tendo em vista a decincia de caracteres morfolgicos capazes de permitir a identicao das espcies. Esses estudos objetivam a elucidao de problemas taxonmicos para ns logenticos, visto que os trabalhos existentes se referem basicamente a caracteres conquiliolgicos. Os estudos relacionados biologia, distribuio e ecologia dos moluscos terrestres so de grande relevncia para a caracterizao e preservao das espcies. No se deve esquecer, tambm, a importncia da recuperao e proteo dos ambientes naturais para evitar a dizimao de nossas espcies nativas.

OnicforosOs onicforos constituem um lo de invertebrados terrestres que sofreram poucas modicaes ao longo do tempo, sendo que seus ancestrais fsseis datam do baixo e mdio Cambriano (aproximadamente 570 milhes de anos). O grupo possui distribuio restrita a regies tropicais e temperadas do hemisfrio sul. Os onicforos so conhecidos como peripatus ou vermes veludo. A maioria das espcies est connada a habitats midos, vivendo sob troncos, pedras, folhas, ao longo de cursos dgua e cavernas. H muito tempo, os onicforos tm des-

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pertado curiosidade entre os pesquisadores, pelo fato de compartilhar aspectos morfosiolgicos com aneldeos e artrpodos, causando muita discusso sobre sua posio logentica (Scott & Rowell, 1991; Monge-Najera, 1995; Reid, 1996). Existem aproximadamente 46 gneros e 150 espcies de onicforos no mundo (Reid, 1996; Moore, 2001). Desses, 11 esto ameaados de extino pela lista da Unio Mundial para a Natureza - IUCN (2006), no existindo nessa lista nenhuma espcie do Brasil. Existem no Brasil quatro gneros e 11 espcies, mas somente uma delas (Tabela 1), Macroperipatus acacioi (Marcus & Marcus, 1955), consta da Lista da Fauna Brasileira Ameaada de Extino (MMA, 2003; Machado et al., 2005). Todas as demais espcies, embora no constem de nenhuma lista, qualicam-se para a categoria Decientes em Dados (DD) da Unio Mundial para a Natureza IUCN, uma vez que, aps suas descries, nenhuma outra informao surgiu sobre elas na literatura e sequer se sabe se esto sofrendo algum tipo de ameaa. As espcies de onicforos so raras, susceptveis a impactos e apresentam populaes pequenas e de baixa densidade. Por tudo isso e levando-se em conta tambm sua importncia cientca para o entendimento da evoluo dos invertebrados, a conservao dos onicforos importante e prioritria (New, 1995). O pequeno nmero de espcies de onicforos descritas no Brasil deve-se falta de especialistas, diculdade de identicao em nvel especco, restrio das espcies a locais no impactados e de difcil acesso, entre outras. Tudo isso tem dicultado o avano dos estudos sobre o lo no Brasil, tanto que, somente 37 anos aps a descrio de Epiperipatus tucupi por Froehlich (1968), outra espcie brasileira foi descrita (Oliveira & Wieloch, 2005) Entretanto, h relatos recentes de indivduos coletados nos seguintes Estados brasileiros: Alagoas, Amap, Bahia, Cear, Esprito Santo, Gois, Maranho, Mato Grosso, Minas Gerais, Par, Pernambuco e Tocantins. Muitos desses exemplares permanecem sem identicao em museus e departamentos de zoologia de unidades universitrias brasileiras. O estudo desse material importante e levar a um aumento signicativo do nmero de espcies brasileiras (Vasconcellos et al., 2004). Na Tabela 3, esto relacionadas as espcies de onicforos j descritas no Brasil. Ela mostra que seis espcies ocorrem na Amaznia, cinco no Sudeste, duas no Brasil Central e nenhuma nas regies Nordeste e Sul, que se tornam, assim, reas prioritrias para coleta e estudo de onicforos.

Tabela 3. Gneros e Espcies de Onychophora BrasileirosGnero Epiperipatus Espcie E. brasiliensis (Bouvier) E. edwardsii (Blanchard) E. simoni (Bouvier) E. tucupi Froehlich M. acacioi (Marcus&Marcus) M. geayi ( Bouvier) M. machadoi Oliveira & Wieloch M. ohausi (Bouvier) O. eiseni Wheeler P. evelinae Marcus P. heloisae Carvalho Localizao Santarm, PA Rio Guam, Belm, PA. Porto Cachoeira, Rio Doce e Esprito Santo Par, Breves e ilha de Maraj Par Minas Gerais Fronteira do Brasil com Guiana Francesa Caratinga, MG Petrpolis, RJ Rio Purus, AM Cana Brava e Nova Roma, divisa dos Estados de MG e GO Rio Tapirap e rio Araguaia, Brasil Central

ira, Rio Doce e Esprito Santo

Macroperipatus*

esa

Estados de MG e GO ntral

Oroperipatus Peripatus

* Com exceo de M. machadoi, as demais espcies foram descritas no gnero Peripatus e transferidas para Macroperipatus por Peck (1975).

AracndeosA classe Arachnida apresenta atualmente 11 ordens, das quais apenas quatro Araneae, Opiliones, Pseudoscorpiones e Amblypygi esto representadas na lista dos animais ameaados de extino no Brasil. Embora esta classe apresente entre 80.000 e 93.000 espcies no mundo e ampla diversidade neotropical, com uma estimativa de 5.600 a 6.500 espcies (Lewinsohn et al., 2005), muito pouco ainda se sabe sobre essas ordens, principalmente sobre sua biologia e ecologia. Pela primeira vez, os aracndeos aparecem na lista ocial do Ministrio do Meio Ambiente, sendo que apenas algumas espcies foram citadas em listas estaduais, como as do Rio de Janeiro e de So Paulo. Ao todo, 15 espcies dessa classe foram includas na lista nacional, sendo que

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na maioria dos casos esses animais vivem em ambientes restritos, como cavernas, ou suas populaes esto em reas amplamente impactadas pela urbanizao. As aranhas formam o segundo maior e o mais conhecido grupo entre os aracndeos, apresentando cerca de 39.000 espcies descritas, distribudas em 3.607 gneros e 110 famlias (Platnick, 2005). Esses nmeros, entretanto, podem estar muito abaixo do que ainda h para ser descrito, uma vez que previses otimistas estimam entre 90.000 e 170.000 espcies de aranhas no mundo (Coddington & Levi, 1991), enquanto as menos otimistas falam de 80.000 a 90.000 (Platnick, 2000). A regio neotropical e a frica so as reas onde no mais que 20% das espcies so conhecidas (Coddington & Levi, 1991). Dados recentes mostram que, no Brasil, existem cerca de 3.200 espcies de aranhas descritas (Brescovit & Francesconi, 2004) e a grande maioria conhecida apenas por um nico exemplar, o espcime-tipo. Pela primeira vez, assim como outros aracndeos, as aranhas aparecem na lista ocial do Ministrio do Meio Ambiente. Das oito espcies includas na lista, duas ocorrem na Amaznia, cinco na Mata Atlntica e apenas uma provm do Cerrado. Esses animais esto ameaados principalmente pela destruio de seus habitats, em geral restritos, como os ambientes caverncolas, por exemplo. Das oito espcies de aranhas, uma (Anapistula guyri Rheims & Brescovit) habita cavernas (Tabela 2). Cinco espcies do gnero Iantuba so restritas ao sul do Estado da Bahia, regio da Mata Atlntica com grande nmero de espcies endmicas. A principal ameaa a essas espcies a rpida destruio das cabrucas (plantaes de cacau sob a mata), transformadas em pastagens para o gado ou plantaes de mamo. Apenas duas espcies de aranhas includas na lista so amaznicas: Taczanowskia trilobata Simon, descrita de uma rea hoje urbana de Belm, e Stegodyphus manaus Kraus & Kraus, descrita da Reserva de Campina (atualmente Reserva Biolgica INPA/SUFRAMA), prxima a Manaus. Os opilies so aracndeos inofensivos, pouco conhecidos pelo pblico em geral, com hbitos crpticos e noturnos. Apesar disso, so facilmente reconhecidos pelo corpo com cefalotrax largamente fundido com o abdmen, presena de um par de olhos centrais e um par de glndulas repugnatrias nas laterais do cefalotrax, que os faz exalar um odor desagradvel quando perturbados. Ocorrem em campos, cerrados, mata de araucria, mas a grande diversidade do grupo est na Mata Atlntica. Poucos estudos sobre a histria natural das espcies neotropicais foram publicados (Pinto-da-Rocha, 1999) e a maioria das publicaes existentes aborda sistemtica. Para a fauna brasileira, j foram registradas mais de 950 espcies das 5.000 conhecidas no mundo (Shear, 1982). Os Estados mais bem amostrados do Brasil so So Paulo e Rio de Janeiro, onde dois teros da fauna j deve ter sido descrita (Pinto-da-Rocha, 1999). O bioma mais conhecido para a espcie a Mata Atlntica (Pinto-da-Rocha, 1999) e tambm as cavernas (Pinto-da-Rocha, 1995). um grupo com elevado nmero de endemismos e risco de extino alto, quando grandes reas so devastadas, especialmente nas regies serranas e com alta umidade, ou aquelas onde h expressivo nmero de cavernas. Quatro espcies de opilies foram includas na lista ocial do Ministrio do Meio Ambiente e todas so exclusivas de cavernas (Tabela 2). Os pseudoescorpies so arachndeos com menos de 1 cm de comprimento, sendo predadores de pequenos artrpodes. Como vivem em fendas ou buracos, dicilmente so vistos. Ocupam diversos habitats, como a serapilheira, troncos podres, sob cascas das rvores, dentro de frestas e no interior de grutas e cavernas. So conhecidas aproximadamente 3.000 espcies de pseudoescorpies no mundo (Harvey, 1990). Na lista ocial do Ministrio do Meio Ambiente constam duas espcies, Pseudochtonius strinatii (Chthoniidae) e Maxchernes hiporangae (Chernetidae), ambas caverncolas (Tabela 2) e com adaptaes a esses ambientes (Chamberlain & Malcolm, 1960). Os amblipgeos so aracndeos bizarros, conhecidos popularmente como aranhas-chicote, por causa de sua longa perna I, que funciona como uma antena. Vivem em reas tropicais e subtropicais, onde so comuns em cavernas, buracos de troncos, sob cascas das rvores e, em alguns casos, podem penetrar nos ambientes domiciliares. Cerca de 120 espcies foram descritas para Amrica do Sul, frica e sia, em quatro famlias Charinidae, Charontidae, Phrynidae e Phrynichidae. Apesar de seu aspecto estranho, so animais inofensivos, mas considerados extremamente venenosos e perigosos em algumas regies. So aracndeos de mdio a grande porte, com pernas longas e robustas, e pedipalpos fortemente armados com longos espinhos. Alimentam-se de artrpodes em geral e de pequenos vertebrados, como lagartixas e sapinhos. Na lista ocial dos animais em extino, consta apenas Charinus troglobius Baptista & Giuponni, que vive em uma caverna na serra do Ramalho, em Carinhanha, Bahia. Este foi o primeiro Charinus troglbio descrito para o Brasil. A principal ameaa espcie a destruio ou alterao das condies fsicas das cavernas dessa regio, e a criao de uma rea de proteo s cavernas locais muito importante.

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Para nalizar, salienta-se que os animais aqui includos correm risco de desaparecer principalmente pela destruio de seus habitats, sendo que muito pouco ou quase nada se conhece sobre sua biologia. As medidas de proteo mais efetivas seriam a proteo desses ambientes, em especial as cavernas, o que ajudaria a manter as populaes ainda existentes e as demais espcies que vivem nessas reas.

Miripodes: diplpodesOs miripodes, de modo geral, compreendem um grupo complexo, com relativa diversidade de espcies. Porm, pouco se conhece sobre sua sistemtica e biologia, visto o pequeno nmero de especialistas que se dedicaram ou se dedicam ao grupo, ressaltando que no Brasil esse atraso estende-se por mais de trs dcadas. Os Myriapoda esto divididos em quatro classes: Chilopoda, Diplopoda, Pauropoda e Symphyla. Apenas as espcies da classe Diplopoda, popularmente denominadas gongolos ou piolho-de-cobra, esto includas na lista do Ministrio do Meio Ambiente. A classe est representada por aproximadamente 8.000 espcies descritas no mundo (Hoffman et al., 1996), com cerca de 1.000 espcies e subespcies da regio neotropical (Golovatch, 1992). So registradas 20 famlias de diplpodes para o Brasil, com grande nmero de endemismos para o Brasil Central (Schubart, 1950; Golovatch, 1992; Hoffman et al., 1996). Os diplpodos so encontrados em quase todas as regies togeogrcas do pas, mas o conhecimento mais abrangente de reas da Amaznia e Mata Atlntica. No Brasil, revises recentes referem-se especicamente regio amaznica (Golovatch, 1992; Pereira et al., 1995). Pela primeira vez, aparecem na lista ocial do Ministrio do Meio Ambiente quatro espcies de miripodes da classe Diplopoda, as quais foram includas na categoria Vulnervel. Dessas, excetuando Rhinocricus padbergi Verhoeff, todas so caverncolas (Tabela 2). Rhinocricus padbergi merece destaque, por apresentar um par de glndulas repugnantes a partir do 6 segmento do corpo, que produz benzoquinona, uma substncia com ao irritativa da mucosa, que pode afetar seres humanos (Haddad-Jr. et al., 2000) e causar medo nas pessoas. Entretanto, apesar da substncia irritativa produzida, ele no ataca os homens diretamente. As outras trs espcies Leodesmus yporangae (Schubart), Peridontodesmella alba Schubart e Yporangiella stygius Schubart so diplpodes troglbios (restritos aos ambientes subterrneos). A Tabela 2 mostra as cavernas onde essas espcies foram encontradas, todas elas em Iporanga, So Paulo, sendo que P. alba ocorre tambm no Paran. Leodesmus yporangae possui reduo de pigmentao do corpo, gefago, cavando tneis em substratos arenosos a argilosos, em bancos de sedimentos ao longo de rios subterrneos. As populaes de P. alba esto concentradas em paredes das rochas, sempre prximas a depsitos de guano. Historicamente, formavam populaes numerosas na gruta Betari de Baixo, no vale do Ribeira, So Paulo, mas esta sofreu declnio aps controle dos morcegos hematfagos e reduo nos acmulos de guano. De Yporangiella stygius s se conhece o espcime-tipo da gruta do Monjolinho, no Parque Estadual Turstico do Alto Ribeira PETAR (Pinto-da-Rocha, 1995; Trajano et al., 2000), mas nada se sabe sobre sua biologia ou distribuio espacial. As principais ameaas s trs espcies troglobias so os desmatamentos do ambiente epgeo, causando a diminuio do aporte de alimento s cavernas; a visitao turstica intensiva, que provoca alteraes no ambiente, como temperatura, umidade, pisoteio; e a reduo das fontes de alimento, com declnio da populao. Algumas solues para proteo seriam a realizao de planos de manejo nas cavernas, com visitao intensiva, scalizao mais ecaz e projetos de educao ambiental nos parques e entorno, mostrando a importncia da conservao de animais de solo em geral.

ColmbolosLubbock (1873) props o termo Collembola para o gnero Podura de Linnaeus, ento considerado uma diviso de Thysanura. O termo refere-se existncia de uma estrutura abdominal, chamada colforo, que possibilita ao animal aderir-se superfcie ou substrato em que se encontra. No existe um nome comum em portugus para os colmbolos. Eles so pequenos artrpodes com um tamanho que pode variar de 0,2 a 3 mm, mas em alguns raros casos alcanam 8 mm (Tetrodontophora gigas Reuter). No possuem asas e apresentam apndices abdominais particulares e um abdmen com seis segmentos. So ametbolos, portanto realizam mudas durante toda a vida, sem que ocorra uma metamorfose propriamente dita. Esses animais so tradicionalmente includos na classe Insecta, subclasse Ellipura (Zeppelini & Bellini, 2004).

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Collembola formado por quatro grupos distintos que podem ser classicados como ordens. Os dois grupos mais basais, Poduromorpha e Entomobryomorpha, apresentam corpo alongado, enquanto os dois grupos mais derivados, Neelipleona e Symphypleona, apresentam corpo globoso, com fuso de segmentos. um dos grupos mais ubquos de artrpodes, sendo possvel encontrar representantes do grupo em qualquer hbitat. Entretanto, sua ocorrncia em ambientes aquticos abaixo da pelcula de tenso supercial rara ou acidental. O maior nmero e a maior diversidade de colmbolos so encontrados no solo e em micro-habitats adjacentes, principalmente onde h abundncia de matria orgnica (Christiansen & Bellinger, 1998). A distribuio geogrca dos Collembola, em geral, vai do crculo polar rtico latitude 83 Sul na Antrtida. So conhecidas espcies de colmbolos vivendo permanentemente em glaciares de montanhas acima de 5.000 m e outras nas partes profundas da maioria das cavernas, tanto em clima tropical quanto no temperado. H espcies especializadas em viver na superfcie da gua (epineuston) de pequenos corpos aqferos. Talvez o exemplo mais notvel seja Podura aqutica, mas vrias outras espcies tm habilidade de mover-se sobre a gua. As rochas das zonas litorais de intermars, bem como os espaos areos da areia em dunas e praias, tambm so habitados por colmbolos. Apesar de sensveis dessecao, h espcies que habitam desertos e se protegem da falta de gua por meio de padres comportamentais e seleo de micro-habitats. possvel observar colmbolos ativos durante a noite e em camadas profundas do solo, ou abrigados sobre plantas em horrios muito quentes, para reduzir a perda de gua. comum encontrar colmbolos vivendo em ninhos de animais, incluindo aves, mamferos e insetos sociais. Em alguns casos, a associao com insetos sociais pode ser mais do que eventual, estabelecendo-se uma verdadeira relao comensal. o caso de algumas espcies termitlas que apresentam reduo do nmero de omatdeos e de pigmentos, como efeito da evoluo vida no interior de cupinzeiros, onde no h luz e as condies microclimticas so mais estveis que no meio externo. Em todo o mundo, existem mais de 7.500 espcies descritas de colmbolos, includos em cerca de 600 gneros de 30 famlias distintas. No Brasil so conhecidas 209 espcies, distribudas em 19 famlias e 82 gneros (Culik & Zeppelini, 2003; Zeppelini & Bellini, 2004). Esse nmero muito reduzido, se levarmos em considerao a extenso do territrio e a diversidade de habitats disponveis. Isso pode ser notado no acmulo de espcies novas que esperam descrio nas colees e principalmente pela concentrao de informaes sobre o grupo em apenas quatro Estados (AM, PA, RJ, SP). Dentre as 209 espcies de colmbolos conhecidas no Brasil, somente sete (3,35%) de dois gneros (Arrhopalites e Trogolaphysa) de duas famlias (Arrhopalitidae e Paronellidae) se encontram na Lista Ocial da Fauna Ameaada de Extino do Brasil (MMA, 2003). Esse nmero deve ser analisado sob dois pontos de vista. De um lado, a lista brasileira coloca-se na vanguarda, ao contemplar Collembola, que no est presente na lista da Unio Mundial para a Natureza IUCN (2006). Isso possibilita o embasamento legal para a elaborao de estratgias de conservao e leva ao conhecimento pblico a realidade desse grupo, to importante ambiental e cienticamente. Por outro lado, a extrema falta de especialistas em Collembola e demais grupos de solo igualmente pouco conhecidos leva esses grupos a serem sub-avaliados em estudos dessa natureza. Da mesma forma, a preservao dessa fauna geralmente ocorre de forma indireta, a partir da preservao do ambiente em que est inserida uma espcie-bandeira de um grupo no relacionado. Uma anlise da situao do conhecimento sobre Collembola no Brasil mostra que o nmero de espcies descritas ou com ocorrncia registrada em territrio brasileiro no reete a real diversidade dos diferentes biomas do pas, que tem dimenses continentais, grande variedade de habitats e nichos ecolgicos, alm de condies climticas que variam do temperado ao equatorial. Vrios grupos de animais utilizam colmbolos em suas dietas em diferentes estgios de suas vidas. Predadores de grande porte, como amblipgidos, podem utilizar esse recurso nas primeiras fases de suas vidas. So reconhecidos predadores de colmbolos: caros, aranhas de pequeno porte (2-5 mm), besouros (trechindeos, estaphilindeos e carbidos), formigas, opilies, quilpodes, peixes, sapos, lagartos, aves e at pequenos marsupiais e mamferos (Christiansen, 1971; Greenslade, 1991). Alguns mecanismos de escape so bastante teis para evitar a predao, como nas espcies que possuem uma frcula abdominal utilizada para saltar. Diversos estudos tm utilizado os colmbolos como bioindicadores, para reconhecer reas degradadas ou avaliar a recuperao dessas reas. Espcies endmicas so sensveis e intimamente relacionadas s condies ambientais, como qumica do solo e tipo de hmus, oferecendo uma resposta rpida s alteraes dessas condies (Deharveng, 1996; Cassagne et al., 2003). Tambm se utiliza a densidade populacional de colmbolos para reconhecer contaminao de solos por defensivos agrcolas. A contaminao com pesticidas pode causar a eliminao de espcies endmicas, mais especialistas na explorao dos recursos, e uma exploso demogrca

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nas populaes de espcies oportunistas de colmbolos. Dada a sua resistncia a metais pesados e outros agentes poluentes, algumas dessas espcies so capazes de sobreviver em locais onde seus predadores e competidores foram eliminados (Greenslade, 1991; Syrek et al., 2005). Alguns poluentes encontrados em solos agrcolas, como o DDT, podem ser metabolizados por colmbolos quando em concentraes moderadas. Isso lhes confere a importncia de recuperadores de solos contaminados e podem ser armas valiosas em operaes de despoluio de reas agrcolas e industriais. Tais caractersticas indicam que um estudo dos colmbolos, bem como da fauna de microartrpodes de solo, de modo geral (e.g., Protura, Diplura, Acari), pode evidenciar impactos ambientais antes que atinjam outros elementos da fauna, que reagem de forma mais lenta s alteraes. Em outras palavras, a resposta das espcies de colmbolos bioindicadores pode ser utilizada como um mecanismo disparador precoce de um programa de preservao ou recuperao ambiental. Todas as sete espcies de colmbolos que constam na lista ocial da fauna ameaada no Brasil habitam cavernas, constituindo, juntamente com colepteros carabdeos, aracndeos e diplpodes, um conjunto de 23 espcies caverncolas relacionadas na Tabela 2 e discutidas na introduo deste captulo de invertebrados terrestres. Entretanto, estudos mais detalhados devem mostrar que vrias outras espcies de colmbolos, que no habitam cavernas, devem ser includas na lista de fauna ameaada, em diferentes categorias. Sendo assim, a medida mais urgente e eciente para a conservao da fauna em larga escala o investimento em pesquisas direcionadas ao levantamento dessa fauna e ao estudo de sua biologia e relevncia ambiental.

Insetos: colepterosColepteros so insetos holometbolos conhecidos popularmente no Brasil como besouros, besouros-rola-bosta, besouros-serra-pau, vagalumes, pirilampos, joaninhas, gorgulhos, carochas, entre outras denominaes. Com 275.000 a 350.000 espcies descritas (Naskrecki, 2005), das quais 30.000 ocorrem no Brasil (Lewinshon et al., 2005), os colepteros constituem a maior ordem de seres vivos. A propsito desse fato, costuma-se citar a seguinte frase atribuda ao geneticista ingls J.B.S. Haldane: O Criador, se existir, tem uma preferncia especial por besouros. Convm lembrar que as projees segundo as quais devem existir no mundo mais de 30 milhes de espcies (Erwin, 1982) ou, o que mais aceito hoje, entre cinco e 15 milhes (Odegaard et al., 2000) so baseadas principalmente na riqueza das espcies de colepteros das copas das rvores das orestas tropicais. Com essa fantstica diversidade, os colepteros ocupam praticamente todos os ambientes do planeta, com exceo apenas dos ambientes marinhos. A literatura existente sobre colepteros, mesmo os do Brasil, extraordinariamente grande. Para o estudo da morfologia, biologia, sistemtica e espcies mais relevantes do Brasil, apesar de bastante antiga, ainda imprescindvel a monumental obra de Costa Lima, Insetos do Brasil, volume 7-10, dedicada aos colepteros (Lima, 1952; 1953; 1955; 1956). Com seu aparelho bucal mastigador, os colepteros alimentam-se de quase todos os produtos orgnicos do planeta. Na maioria dos casos, o alimento ingerido, mas em muitas larvas a digesto extra oral, ou seja, enzimas digestivas so lanadas sobre os alimentos, seguindo-se a ingesto do material pr-digerido (Crowson, 1984). Segue-se uma relao dos principais hbitos alimentares dos colepteros, com exemplo de famlias que os utilizam como adultos ou como larvas. Assim, temos colepteros necrfagos (Scarabaeidae, Trogidae, Silphidae), coprfagos (Scarabaeidae), micetfagos (Erotylidae, Endomychidae), tfagos e xilfagos (Curculionidae, Chrysomelidae, Lucanidae, Cerambycidae, Buprestidae), predadores (Carabidae, Cicindelidae, Coccinellidae) e os que se alimentam de troncos de rvores em decomposio (Dynastidae, Passalidae). Embora a grande maioria dos colepteros seja terrestre, existem os aquticos (Dytiscidae, Hydrophilidae, Gyrinidae) e subterrneos (Hypocephalus armatus). Do que foi visto, fcil entender que os colepteros tiveram grande sucesso evolutivo. Um dos fatores aos quais se atribui esse sucesso a presena de um estojo capaz de manter a umidade, formado pelos litros e o dorso do abdmen. Do ponto de vista taxonmico, a maioria dos autores hoje classica os colepteros em trs subordens: Archostemata, Adephaga e Polyphaga, encontrando-se no Brasil 109 famlias (Costa et al., 1988). Do ponto de vista ecolgico, os colepteros participam de um grande nmero de cadeias trcas e, em alguns casos, prestam importantes servios ecolgicos, como os besouros rola-bosta (Scarabaeidae), que constroem e enterram bolas de fezes onde pem seus ovos, contribuindo para a incorporao de matria orgnica ao solo e, principalmente, evitando que as fezes sejam levadas aos rios e lagos, eutrocando-os. Uma das principais diferenas entre as listas nacionais de espcies ameaadas de 1989 e 2003 a presena, nessa ltima, de colepteros representados por 16 espcies das seguintes famlias: Dynastidae (5), Scarabaeidae (1), Carabidae (5), Chrysomelidae (3) e Cerambycidae (2). A famlia Dynastidae contm alguns dos maiores e

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mais conspcuos besouros do planeta, como as vrias subespcies de Dynastes hercules, entre as quais est a subespcie da Mata Atlntica D. hercules paschoali Grossi & Arnaud (1991), cujos machos tm at 140 mm de comprimento. Essa subespcie est na lista ocial de espcies ameaadas de extino (MMA, 2003), na qual esto tambm duas espcies e uma subespcie de Megasoma, besouros notveis pelo tamanho (machos de 92-120 mm) e por cornos que, como em Dynastes hercules, ocorrem apenas nos machos. As larvas desses dinastdeos desenvolvem-se em troncos de rvores de grande calibre, em decomposio no solo rico em hmus. A carncia desses troncos por desmatamento ou mesmo por corte seletivo das rvores maiores a principal ameaa a esses insetos. Cabe assinalar, tambm, que algumas espcies de Dynastes e Megasoma tm sido criadas em cativeiro com sucesso, o que abre a possibilidade de se fazer o mesmo com as espcies brasileiras ameaadas de extino, com vistas sua reintroduo na natureza. A famlia Scarabaeidae, que contm os besouros-rola-bosta, est representada no Brasil por 1.777 espcies (Lewinsohn et al., 2005), das quais apenas uma est na lista de 2003 (MMA, 2003), Dichotomius schiferi, possivelmente endmica ilha de Guriri, no litoral norte do Esprito Santo. A famlia Carabidae, com 1.132 espcies no Brasil (Lewinshon et al., 2005), est representada na lista de 2003 (MMA, 2003) por quatro espcies do gnero Coarazuphium e uma de Schizogenius, que constituem, juntamente com espcies de colmbolos e vrios aracndeos, um grupo de 23 espcies de artrpodes caverncolas ameaados de extino relacionados na Tabela 2 e discutidos na introduo deste captulo. Da famlia Chrysomelidae, que segundo Lewinsohn et al. (2005) tem 4.362 espcies no Brasil, constam trs espcies na lista de 2003 (MMA, 2003). A principal ameaa a essas espcies, todas tfagas, a destruio dos habitats onde se encontram suas plantas hospedeiras. Com 5.000 espcies no Brasil (Lewinsohn et al., 2005), a famlia Cerambycidae uma das mais bem estudadas no Brasil e contm na subfamlia Prioninae alguns dos maiores colepteros do mundo, Tytanus giganteus e Macrodontia cervicornis, este ltimo ameaado na lista da IUCN (2006), mas no ameaado na lista brasileira. Da lista de 2003 (MMA, 2003) constam trs espcies de Cerambicdeos, uma das quais, Hypocephalus armatus, tem despertado grande interesse entre os colecionadores e controvrsias entre os entomlogos. Sua morfologia estranha, sem asas membranosas e litros fundidos, sua aparncia de um grilotroupeira e seus hbitos fossoriais levaram alguns autores a criar a famlia Hypocephalidae exclusivamente para ele. Entretanto, prevalece hoje o ponto de vista de que a espcie um Cerambycidae da subfamlia Anoplodermatinae. Hypocephalus armatus ocorre exclusivamente em uma pequena rea do norte de Minas e sul da Bahia. O nmero de espcies de colepteros da fauna brasileira ameaada de extino representa apenas 0,05% do total de espcies descritas para o pas (Tabela 1), o que se deve em grande parte ao pouco conhecimento que se tem sobre essa ordem, dicultando a incluso das espcies nas categorias de ameaadas da IUCN. Corroborando isso, entre as espcies cujo status de conservao foi avaliado, 12 foram colocadas na categoria de Decientes em Dados (DD), indicando a necessidade de novos estudos para se saber seu real status de conservao.

Insetos: efemerpterosOs insetos da ordem Ephemeroptera so hemimetbolos e anbiticos, ou seja, as ninfas so aquticas e os adultos terrestres. Juntamente com os odonatos, constituem o grupo mais antigo entre os insetos alados, com ancestrais que remontam ao Carbonfero Superior (350 milhes de anos). O nome Ephemeroptera vem do grego ephemeros, o que dura pouco, e refere-se ao fato de que os efemerpteros adultos tm vida breve, em alguns casos no mais que duas horas, em marcante contraste com as ninfas, que vivem 2-3 anos, com mais de 20 ecdises (Lima, 1938). Enquanto as ninfas aquticas se alimentam ativamente, podendo ser raspadoras, ltradoras, coletoras ou predadoras, as formas adultas no se alimentam e tm o aparelho bucal atroado. As ninfas de efemerpteros vivem em todos os ambientes aquticos, tanto lnticos como lticos, mas a maior diversidade e abundncia ocorrem em rios e crregos, principalmente nas cabeceiras, onde a gua mais oxigenada. Na poca apropriada, os adultos emergem, copulam durante o vo e as fmeas botam ovos na gua e morrem. So comuns revoadas de cpula com um nmero fantasticamente grande de indivduos. H relatos nos Estados Unidos de efemerpteros mortos formando camadas to grandes que atrapalhavam o trnsito nas estradas (Lehmkuht, 1979). A ordem conta hoje com 4.000 espcies, das quais 166 envolvendo 63 gneros e 10 famlias ocorrem no Brasil (Salles et al., 2004). A partir da dcada de 1990, o conhecimento sobre os efemerpteros brasileiros aumentou consideravelmente e o nmero de espcies novas ou registradas para o Brasil praticamente dobrou nos ltimos 20 anos (Salles et al., 2004). Apesar disso, apenas uma espcie, Perissophlebioides inti (Savaget, 1982), da famlia Leptophlebiide, est na lista de espcies ameaadas de extino (MMA, 2003), na categoria Em Perigo.

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Embora aparentemente no tenham importncia econmica ou mdica, os efemerpteros tm grande importncia ecolgica. Como suas ninfas so detritvoras ou herbvoras, sendo predadas por outros insetos e principalmente por peixes, exercem papel importante nas cadeias trcas dos corpos dgua onde vivem. Por outro lado, como a maioria dessas ninfas extremamente sensvel a variaes na qualidade da gua, os efemerpteros talvez sejam o componente macroplanctnico mais importante para o monitoramento da qualidade da gua. Ao contrrio do que ocorre com a maioria dos insetos, as ninfas dos efemerpteros apresentam diversidade morfolgica muito maior do que os adultos (Lehmkuhl, 1979). Isso torna mais fcil identicar as ninfas e facilita o seu uso em monitoramento ambiental.

Insetos: himenpterosOs insetos da ordem Hymenoptera so popularmente conhecidos como vespas (ou maribondos), formigas e abelhas. Eles constituem um dos grupos de maior diversidade entre os insetos, com um total estimado entre 300 mil e 500 mil espcies no mundo (Gaston, 1991; Mason & Huber, 1993). Em geral, os himenpteros adultos se alimentam do nctar das ores, mas suas larvas podem consumir grande variedade de alimentos. Entre os grupos mais antigos (Symphyta), as larvas, semelhantes s lagartas de borboletas e mariposas, consomem folhas; na maioria dos grupos restantes, entretanto, elas se alimentam de outros artrpodes (aranhas, pulges, lagartas etc.). As principais excees so as abelhas, que alimentam suas larvas com plen e nctar (em algumas delas, transformado-os em mel), e muitas espcies de formigas, que podem se alimentar de uma diversidade de produtos. Entre essas, destacam-se as formigas cortadeiras (savas e quenquns), que se alimentam dos fungos que cultivam nos formigueiros. A grande diversidade de modos de vida entre os himenpteros faz com que eles desempenhem papis importantes nas comunidades que ajudam a compor. Vespas, em sua grande maioria, so predadoras ou parasitides e constituem ecientes agentes de controle natural das populaes de outros artrpodes, papel desempenhado tambm por inmeras espcies de formigas. Vespas e principalmente abelhas esto entre os principais agentes polinizadores, sendo responsveis pela manuteno dos ciclos reprodutivos sexuados das plantas, bem como da diversidade gentica de suas populaes. Dessa ao polinizadora depende, tambm, a produo de frutos e sementes, que vo alimentar outros animais. Do ponto de vista econmico, os himenpteros trazem benefcios sobretudo no controle de pragas agrcolas (espcies predadoras e parasitides) e na polinizao das plantas cultivadas. No Brasil, os grupos de himenpteros mais bem estudados so as formigas e abelhas. Das cerca de 2.500 espcies de formigas existentes na fauna brasileira (Lewinsohn et al., 2005), quatro esto includas na lista da fauna brasileira ameaada de extino; e entre as aproximadamente 3.000 espcies de abelhas (Silveira et al., 2002), trs so consideradas ameaadas de extino no Brasil. Na realidade, esse pequeno nmero de espcies ameaadas (em torno de 0,1% do total estimado de espcies) talvez reita apenas a nossa falta de conhecimento sobre o estado de conservao das espcies desses grupos. No caso das abelhas, por exemplo, outras 11 espcies indicadas para a lista de espcies ameaadas deixaram de ser includas, dada a falta de informaes, qualicando-se na categoria Decientes em Dados (DD). Some-se a isso as diculdades oriundas do desconhecimento taxonmico. Por exemplo, nos mesmos ambientes em que vivem as espcies de abelhas consideradas ameaadas, muitas no podem ser identicadas e, portanto, no podem sequer ser consideradas nas avaliaes de risco. provvel que vrias delas sejam endmicas desses ambientes ameaados. De toda forma, qualquer ao de conservao voltada para as espcies includas na lista muito certamente ir beneciar, tambm, outras espcies no mesmo ambiente. importante ressaltar, ainda, que estamos nos restringindo a dois grupos de himenpteros que, embora importantes, representam uma parcela relativamente pequena da diversidade da ordem. Assim, enquanto abelhas e formigas contribuem com cerca de 12% das espcies de Hymenoptera, os insetos das superfamlias Ichneumonoidea e Chalcidoidea representam, juntos, cerca de 40% da diversidade desta ordem (Gaston, 1991). Isso sugere que o estado de conservao de cerca de 20.000 espcies dessas duas superfamlias, importantssimas por sua ao como predadores ou parasitides de outros artrpodes, estejam sendo ignoradas nas avaliaes de risco para a fauna brasileira. Como ocorre para os demais insetos, poucas so as fontes de ameaa que podem ser avaliadas objetivamente, quando se considera o estado de conservao dos himenpteros. Uma delas, de importncia universal, a destruio de habitats. Uma fonte de ameaa especca o esforo deliberado do homem para eliminar formigas

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consideradas (s vezes erroneamente) como pragas das plantas cultivadas (espcies dos gneros Acromyrmex e Atta, duas das quais includas na lista da fauna ameaada). As abelhas chamadas de indgenas sem ferro tm, tambm, seus ninhos destrudos para explorao predatria do mel. importante ressaltar que a reduo de hbitat e a conseqente diminuio das populaes locais podem criar para as abelhas, alm dos problemas reconhecidos para outros organismos, um problema adicional. Isso se deve ao mecanismo de determinao do sexo nesses insetos. Segundo Kerr et al. (1996), a endogamia pode levar produo crescente de machos diplides em lugar de operrias, causando o enfraquecimento das colnias e sua eventual extino. possvel que tais problemas ocorram, tambm, em outros himenpteros. A principal medida de conservao recomendada para os himenpteros a conservao de seus habitats, o que possibilita a conservao simultnea de locais de nidicao e fontes de alimento em um ambiente propcio ao desenvolvimento de suas atividades normais. Entretanto, duas medidas especcas so recomendadas: uma a maior racionalidade nas prticas de controle de formigas cortadeiras, de forma a evitar a eliminao de colnias de espcies pouco comuns e que pouco ou nenhum prejuzo trazem para a agricultura, e outra a inibio das prticas de extrao predatria de mel e captura de enxames silvestres das abelhas indgenas sem ferro em reas de preservao. Essas medidas especcas exigem esforo de educao ambiental e, no segundo caso, o investimento em desenvolvimento de prticas de manejo racional das abelhas, de forma a reduzir a presso sobre suas populaes silvestres onde essa atividade tiver alguma importncia para as populaes locais. Apesar das diculdades para a obteno de conhecimento sobre o estado de conservao dos insetos, 17 espcies de himenpteros, alm das includas na lista brasileira, foram colocadas em listas de espcies ameaadas de Estados do Brasil. Duas espcies de quenquns foram inseridas entre as espcies ameaadas de extino no Estado de So Paulo e 15 espcies de abelhas entraram para as listas dos Estados de Minas Gerais (1 espcie), Rio Grande do Sul (10) e So Paulo (4).

Insetos: lepidpterosOs lepidpteros (classe Insecta ordem Lepidoptera) incluem as borboletas e mariposas, conhecidas tambm com outros nomes populares, como azulo, borboleta-coruja, capito-do-mato, estaladeira, papan, 88, borboletapalha, borboleta-espelho, bruxa bicho-da-seda e traas, entre outros. O nome Lepidoptera deriva do grego e quer dizer asas com escamas, pois todos os lepidpteros possuem o corpo e os apndices cobertos por escamas. Alm disso, so conhecidos pela modicao do aparelho bucal, formando uma longa espirotromba sugadora, resultante da unio das gleas das maxilas e por onde absorvido o alimento, sempre no estado lquido. Embora a maioria das espcies possua esse tipo de aparelho bucal (caracterizando a subordem Glossata), existem outras trs subordens, com cerca de 150 espcies, nas quais o aparelho bucal do tipo mastigador (Zeugloptera, Heterobathmiina e Aglossata, que no ocorrem no Brasil). Os lepidpteros esto em todos os continentes, em diversos habitats, desde o nvel do mar at pouco mais de 5.500 m de altitude, sendo ausentes apenas nos plos. A ordem Lepidoptera possui aproximadamente 150.000 espcies, sendo que 20.000 so borboletas. Na regio neotropical h aproximadamente 38.000 espcies de mariposas (Heppner, 1991) e 7.784 de borboletas (Lamas, 2004). No Brasil, so 25.000 espcies de mariposas e 3.300 de borboletas (Brown, 1996), presentes em todos os biomas. Destas, 55 espcies de borboletas e duas de mariposas fazem parte da Lista da Fauna Brasileira Ameaada de Extino. So insetos holometbolos: do ovo sai uma larva ou lagarta, que passa por vrias mudas do exoesqueleto (ecdises), at transformar-se em pupa, estgio praticamente imvel em que a larva sofre grandes mudanas, tanto externas como internas, at o surgimento do inseto adulto, alado e sexuado (uma borboleta ou mariposa). As lagartas, em geral, alimentam-se de uma ou algumas plantas especcas, como britas e pteridtas, mas geralmente de gimnospermas e angiospermas (existem espcies que se alimentam tambm de fungos, lquens e at de tecido animal). Algumas so minadoras e brocas, enquanto outras podem formar galhas. Quando as plantas hospedeiras so eliminadas, o ciclo interrompido e a espcie pode desaparecer. Na fase de larva, os lepidpteros so vorazes, e algumas espcies so consideradas pragas. J na fase adulta, muitas espcies so visitantes orais e potenciais polinizadores, auxiliando, portanto, na reproduo de muitas espcies de plantas. Outras espcies alimentam-se de frutas em decomposio, excrementos animais, exsudados vegetais, sais dissolvidos em meio lquido e at plen. Diversas espcies tm, em suas diferentes fases de desenvolvimento, muitas estruturas de

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defesa contra predadores e parasitides (como escolos, cerdas ou escamas urticantes), que podem causar srios acidentes, como queimaduras na pele, hemorragia e eventualmente levar morte (erucismo ou lepidopterismo), especialmente nos casos de acidentes por lagartas do gnero Lonomia. Os lepidpteros, tanto na fase de ovo, larva, pupa ou adulta, so comidos por vertebrados, desde peixes at mamferos, e tambm por outros insetos (como liblulas, percevejos, louva-a-deus e besouros), aranhas e miripodes. Por outro lado, so tambm parasitados por dpteros, himenpteros, nematdeos, diversos microorganismos e fungos. Apesar de todos esses inimigos naturais, na ausncia de alteraes antrpicas os nveis populacionais so mantidos pela alta taxa de reproduo: as fmeas ovipositam de centenas at alguns milhares de ovos, sendo que a maioria eliminada por predadores e parasitas. As borboletas, juntamente com os mamferos, aves, rpteis e anfbios, esto entre os animais mais freqentemente utilizados em estudos, levantamentos e avaliaes de cunho conservacionista. Em parte, esse fato se deve relativa facilidade de identicao das espcies na natureza e por estarem entre os insetos mais bem conhecidos cienticamente, mesmo considerando que existem enormes lacunas a serem preenchidas. A ocupao humana do planeta elimina os habitats naturais (orestas, campos, banhados e cerrados) principalmente por meio de derrubadas, queimadas e uso indiscriminado de agrotxicos. Isso evidente na nova lista de espcies ameaadas: 56 ocorrem no bioma Mata Atlntica, o mais explorado economicamente, e apenas uma no bioma Floresta Amaznica (Paititia neglecta), no Acre. Em funo da ocupao desenfreada dos espaos naturais, grande parte da cobertura vegetal original do Brasil encontra-se profundamente alterada, mesmo que ainda restem algumas reas protegidas pelos proprietrios particulares ou sob vrias denominaes dos governos federal, estadual ou municipal. O resultado dessas modicaes foi a diminuio ou extermnio de muitas populaes de lepidpteros, alm dos efeitos de isolamento das populaes, com conseqente perda da variabilidade gentica. Muitos exemplos de extermnio local de populaes so hoje conhecidos, graas a registros histricos feitos por naturalistas e coletores prossionais ou amadores (muitos deles extremamente preocupados com a conservao dos ambientes). Como exemplo, pode-se citar Orobrassolis ornamentalis (Nymphalidae: Brassolinae). Esta espcie, hoje restrita a poucas reas na serra da Mantiqueira, foi coletada no incio do sculo XX, em Castro, Paran, por Edward Dukineld Jones, cuja coleo foi transferida para o The Natural History Museum, em Londres, Inglaterra. Hoje, a espcie est aparentemente extinta em Castro e em todo o Estado do Paran, j que no existem mais habitats naturais adequados manuteno de suas populaes (campos de altitude nativos de gramneas e ciperceas), mas seu registro est conrmado para o Paran pelos exemplares no referido Museu. Enm, como considerao nal, podemos armar categoricamente que a conservao dos lepidpteros (ameaados ou no) est intimamente relacionada conservao de seus habitats naturais (Carvalho & Mielke, 1971; Parsons, 1992; Brown & Brown, 1992).

Insetos: odonatosA ordem Odonata compreende insetos hemimetbolos com ninfas aquticas, geralmente conhecidas como liblulas. Este nome, entretanto, erudito e muito usado nos livros didticos e cientcos. Alm dele, existe um grande nmero de denominaes regionais, como jacinta, jacina, catirina, zig-zig, cabacega, cachimbau, cachimbo-d`gua, lavadeira, pita, pito-do-saci, pito-do-sem-nome, cigarra, bisorro, lava-bunda, fura-olho e cavalo-de-judeu. No mundo, so conhecidas hoje 5.600 espcies de liblulas, das quais 50 de 195 gneros ocupam a regio neotropical (Garrison et al., 2006). O nmero de espcies da fauna brasileira de 738, distribudas em 14 famlias (Costa & Oldrini, 2008). O primeiro trabalho de liblula feito por taxnomo brasileiro foi publicado em 1941, por Newton Dias dos Santos, considerado o pai da odonatologia brasileira. De l para c, grande nmero de novos txons foi descrito no Brasil, seja por Santos e seus discpulos ou por taxnomos de outros pases. Um problema srio com o qual se deparavam os que pretendiam iniciar estudos taxonmicos de odonatos brasileiros era a grande disperso da bibliograa e a ausncia quase total de obras mais abrangentes, atualizadas e bem ilustradas. Esse problema comea a ser resolvido, com a recente publicao de dois livros sobre os zigpteros do Brasil (Lencioni, 2006), um livro sobre os gneros de Anisopteros do Novo Mundo (Garrison et al., 2006) e outro sobre as espcies de anispteros da Amrica do Sul. Segundo Lewinsohn et al. (2005), as lib-

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lulas, assim como as borboletas, abelhas e formigas, so os insetos mais bem estudados no Brasil. Entretanto, estudos recentes (De Marco et al., 2005) mostram a existncia de reas onde o esforo de coleta de odonatos foi muito pequeno, como nos Estados do Nordeste e em reas dos escudos brasileiros e das Guianas. Novas coletas, principalmente nessas reas, certamente mostraro que o nmero de espcies de odonatos da fauna brasileira bem maior do que se conhece hoje. Cabe ressaltar tambm que, no workshop realizado pela Fundao Biodiversitas em 2003 para reviso da Lista da Fauna Brasileira Ameaada de Extino, oito espcies de odonatos foram enquadradas na categoria de Decientes em Dados (DD), o que indica a necessidade de novos estudos para denir seu status de conservao. As liblulas tm, em sua maioria, tamanho grande e so muito visveis e acessveis no campo, o que as torna especialmente adequadas para pesquisas cientcas bsicas nas reas de siologia, ecologia e comportamento. As liblulas foram os primeiros insetos para os quais se descreveu comportamento territorial, tanto nos adultos (Moore, 1957) como nas ninfas (Machado, 1977). Alm disso, pela primeira vez nos invertebrados, foi feito o clculo do suprimento energtico anual. Tambm importantes foram os estudos feitos em liblulas sobre termorregulao e o fenmeno do deslocamento do esperma das fmeas durante a cpula. Uma reviso geral desses assuntos, com base na vastssima literatura existente, foi feita por Corbet (2004). Tanto os adultos como as ninfas dos odonatos so predadores generalistas: os adultos de odonatos, por exemplo, alimentam-se de mosquitos e, do mesmo modo, ninfas de odonatos predam larvas de mosquitos. Portanto, os odonatos tm um papel controlador sobre as populaes dos mosquitos (Corbet, 2004). Vericou-se tambm que a liblula crepuscular Gynacantha bida preda maciamente o besouro Xyloborus sp, importante praga do cacaueiro na Bahia (Soria & Machado, 1982). Por sua vez, as ninfas de algumas espcies de liblula, como Pantala avescens, predam alevinos nos tanques de piscicultura, causando grandes prejuzos (Santos et al., 1988). Das 738 espcies conhecidas no Brasil, oito esto na lista de espcies ameaadas, trs na categoria Vulnervel, trs Em Perigo, uma Criticamente em Perigo e uma Extinta. Com exceo de Mecistogaster pronoti, que entrou na lista pelo critrio A1c, todas as demais espcies entraram pelo critrio B1ab(iii), que leva em conta, principalmente, a rea de distribuio restrita da espcie. Essas oito espcies so da Mata Atlntica, o que est coerente com o fato de que apenas 7,2% deste bioma ainda existe. Os odonatos se distribuem em duas subordens principais: Zygoptera, com asas iguais e pousando geralmente com asas fechadas, e Anisoptera, com as asas posteriores mais largas que as anteriores, geralmente pousando com as asas abertas. Os zigpteros tm oviposio endoftica, ou seja, os ovos so inseridos dentro de folhas de vegetais marginais ou de macrtas aquticas, cuja retirada uma sria ameaa a esses insetos. J na maioria dos anispteros, a oviposio exoftica, ou seja, os ovos envoltos em gelatina so liberados pelas fmeas na gua, da o nome popular de lava-bunda. Quanto ao tipo de ambientes aquticos onde vivem suas ninfas, as liblulas podem ser lticas ou lnticas. Entre as lnticas, esto as dos gneros Leptagrion e Bromeliagrion, cujas ninfas se criam na gua acumulada nas bainhas das folhas de bromeliceas (Santos, 1966; De Marmels & Garrison, 2005), ou as do gnero Mecistogaster, cujas ninfas se criam na gua acumulada em buracos de troncos de rvore (Corbet, 2004). Em Mecistogaster martinesi, os ovos so arremessados sobre a gua nesses buracos (Machado & Martinez, 1982). Do ponto de vista de conservao, as liblulas que se criam nesses ambientes (Phytotelmata) so especialmente vulnerveis a situaes em que desaparecem os troncos de rvore, seja por desmatamento ou coleta seletiva de rvores mortas, o mesmo valendo para as liblulas que se criam em bromeliceas. Vale lembrar que, na nova lista de plantas ameaadas de extino elaborada pela Fundao Biodiversitas em 2005, esto 36 espcies de Vriesias e 18 de Aechmea, bromlias de tanque onde j foram encontradas ninfas de Leptagrion. A extino ou diminuio das populaes dessas bromlias coloca em risco os zigpteros, que dependem delas para criao de suas ninfas. As ninfas de muitas espcies de odonatos so muito sensveis e tm sido usadas para monitoramento ambiental (Carle, 1979). A conservao das liblulas e dos ambientes aquticos onde vivem tm sido preocupao constante dos odonatlogos. Em vrias partes do mundo, em especial no Japo, tm sido criadas Unidades de Conservao com o objetivo primrio de proteger a fauna de liblulas. A primeira Unidade de Conservao do Brasil com esse objetivo foi criada em 2005, pela Secretaria do Meio Ambiente de Minas Gerais, em rea do municpio de Tiradentes, Minas Gerais. Com 200 espcies de liblulas, o Refgio de Vida Silvestre Liblulas da Serra de So Jos abriga uma das mais ricas faunas odonatolgicas do Brasil.

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Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaada de Extino

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