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RUI DE ASCENSÃO FERREIRA CASCÃO Revista de Historia das Ideias Vol. 14(1992)

AS CORRENTES NACIONALISTAS DA SEGUNDA DÉCADA DO SÉCULO XX

1. O nacionalismo — tentativa de definição

O termo nacionalismo comporta significações variadas, ambivalentes e até contraditórias. Maurice Duverger, num artigo escrito há cerca de trinta anos, afirmava que o nacionalismo era uma arma de que as ideologias se têm valido para exercerem o poder. Por isso, o nacionalismo tem sido sucessivamente objecto de manipulação por monárquicos e republicanos, esquerdas e direitas, conservadores, radicais, comunistas, etc. 0).

Não deixa de ser sintomático o facto de tanto se falar em nacionalismo, durante as primeiras décadas do século XX, e de raras vezes se definir o seu conteúdo. A mais completa formulação, mais ao jeito de descrição do que de definição, encontrei-a num artigo de Quirino de Jesus, publicado na revista O Economista Portuguez, de que era director e redactor principal (2):

"O nacionalismo na sua forma legítima não se confunde com o imperialismo ambicioso, nem com o chauvinisme estreito. Há-de existir sempre. Um povo, uma raça, uma pátria são extensões naturais da família. Esta nunca deixará de ter a sua existência, a sua posteridade, os seus apanágios. A identidade de origem, de língua, *

* Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.O M. Duverger, "Adonde van los nacionalismos ?", in Las ideologías y sus

aplicaciones en el siglo XX, Madrid, 1962, citado na Gran Enciclopedia Rialp, vol. XVI, 1973, artigo "Nacionalismo", p. 545.

(2) "Nacionalismo económico dentro da Liga das Nações", O Economista Portugez, 2- série, 10 e ano, n2 54, 9 de Novembro de 1918, p. 685.

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Descobrimentos, Expansão, Identidade Nacional

de território, determinará, enquanto houver mundo, a necessidade moral e material de uma vida política, social e económica, em certa comunidade de fins e de manifestações'7 (3).

Veremos até que ponto os diferentes modelos do nacionalismo português, durante a década crucial de 1911 a 1920, se conformam com a definição supracitada ou dela se afastam.

2. Os nacionalismos portugueses

O pensamento tradicionalista e contra-revolucionário português tem fortes e longínquas raízes históricas. António Sardinha, o principal ideólogo do Integralismo Lusitano, chega a sugerir que José da Gama e Castro, José Agostinho de Macedo, Faustino José da Madre de Deus e outros autores que discursaram sobre os "caracteres mórbidos" das democracias, se anteciparam a Charles Maurras, o mais importante teórico da Action Française (4).

Quirino de Jesus (1855-1935), que passa por ser um dos principais inspiradores da política levada a cabo pela Ditadura Militar, a partir de 1930, e posteriormente pelo Estado Novo, pensava que o "nacionalismo português" (na acepção restritiva do termo) não era, na sua essência, uma novidade recente, sendo mesmo anterior ao liberalismo individualista e revolucionário (5).

Segundo o mesmo autor, os vários modelos de nacionalismo em Portugal apresentam como denominador comum a denúncia dos erros e dos exageros decorrentes do regime demo-liberal. Na sua perspectiva, seria possível reconhecer seis tipos ou variantes de nacionalismo (6):

a) O legitimismo, cuja força e identidade ideológica se foi desvanecendo ao longo do século XIX.

b) O nacionalismo católico, nascido na década de 90 do século XIX, na sequência das encíclicas sociais do Papa Leão XIII, tinha como finalidades essenciais o revigoramento

(3) "O nacionalismo, como ideia e sentimento da Pátria, é inerente aos Estados, em todos os tempos e lugares", afirmará mais tarde na obra Nacionalismo Português, Lisboa, 1932, p. 5.

(4) "Das razões do Integralismo", Nação Portuguesa, nQ 7,1915, p. 207.(5) Nacionalismo Português...., p. 56.(6) Ibidem, pp. 58-62.

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