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Valores, Vivências e quotidianos da Idade Média Introdução Executei este trabalho sobre os “Valores, Vivências e Quotidiano da Idade Média” no â disciplina de História A, e com ele pretendo abordar conceitos como a experiência urb medieval, a cultura leiga e profana nas cortes régias e a difusão do gosto e da práti viagens neste período histórico. Aprofundarei estes temas e tratarei, também, dos assuntos da arte, das mudanças na Ig expansão do ensino e a cultura medieval, e, desta forma, ampliarei as minhas noções s atitudes e os aspectos intelectuais que fizeram com que a sociedade épica se avultass diferenciando a cultura popular da cultura erudita; tentarei desenvolver a minha capa sensibilidade a nível artístico, através da identificação e análise de obras de arte medieval; e valorizarei formas de organização colectivas da vida em sociedade. No final deste documento está inserido em anexo, documentos referentes aos temas abor Época Medieval A época medieval teve uma duração de cerca de 1000 anos, é um período que divide a Hi tendo como início a destituição do último imperador romano do Ocidente, em 476, e com tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. Esta época é um período longo, com inú mutações históricas. É também identificada como uma sociedade aristocrática e vassáli como principal símbolo, o castelo. A experiência urbana Nos últimos séculos da Idade Média, a cidade tornou-se no centro mundano. Ao contrári esta tornou-se um uma porta aberta para o futuro, com inovações, um mundo de negócios com que a organização social, a vivência da religião, a cultura e arte sofram profund Desta forma, são alterados valores e vivências quotidianas, que afectaram, claramente da época medieval.

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Valores, Vivências e quotidianos da Idade Média

IntroduçãoExecutei este trabalho sobre os “Valores, Vivências e Quotidiano da Idade Média” no âmbito da disciplina de História A, e com ele pretendo abordar conceitos como a experiência urbana da época medieval, a cultura leiga e profana nas cortes régias e a difusão do gosto e da prática de viagens neste período histórico.

Aprofundarei estes temas e tratarei, também, dos assuntos da arte, das mudanças na Igreja, da expansão do ensino e a cultura medieval, e, desta forma, ampliarei as minhas noções sobre as atitudes e os aspectos intelectuais que fizeram com que a sociedade épica se avultasse, diferenciando a cultura popular da cultura erudita; tentarei desenvolver a minha capacidade de sensibilidade a nível artístico, através da identificação e análise de obras de arte do período medieval; e valorizarei formas de organização colectivas da vida em sociedade.

No final deste documento está inserido em anexo, documentos referentes aos temas abordados.

Época MedievalA época medieval teve uma duração de cerca de 1000 anos, é um período que divide a História, tendo como início a destituição do último imperador romano do Ocidente, em 476, e como final, a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. Esta época é um período longo, com inúmeras mutações históricas. É também identificada como uma sociedade aristocrática e vassálica, tendo, como principal símbolo, o castelo.

A experiência urbanaNos últimos séculos da Idade Média, a cidade tornou-se no centro mundano. Ao contrário do campo, esta tornou-se um uma porta aberta para o futuro, com inovações, um mundo de negócios que fazem com que a organização social, a vivência da religião, a cultura e arte sofram profundas reformas. Desta forma, são alterados valores e vivências quotidianas, que afectaram, claramente, o declínio da época medieval.

· Uma nova sensibilidade artística:

O GóticoA burguesia era orgulhosa de si própria e da sua cidade, a qual dependia bastante de si, devido aos negócios, portanto, existia uma espécie de “patriotismo local”, em que esta classe faz todos os esforços por tornar a sua cidade a mais bela, comparativamente às cidades vizinhas. Os burgueses contribuíam com quantias avultadas (com o intuito de receber algum mérito ou honras) para as construções urbanas: muralhas, portas monumentais, palácios, igrejas.

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Então é criado um novo estilo artístico: o Gótico. Uma combinação engenhosa de componentes arquitecturais que fazem com que estas construções sejam elevadas, com torres muito altas. Desta forma, as torres podem ser vistas ao longe, mostrando, assim, a importância daquele povo.

Embora este estilo tenha sido utilizado em diversas construções artísticas e civis, são as igrejas a quem está intimamente ligado, e as catedrais foram a sua melhor expressão.

A catedral, expoente do GóticoDe acordo com a finalidade espiritual procurada no estilo gótico, as catedrais deveriam possuir: uma elevada altitude e uma grande verticalidade (procurando atingir o Céu), luminosidade e uma plena continuidade entre o início de seus pilares e o cume de suas abóbadas, o que lhes confere um exterior imponente e extremamente decorado, como a Catedral de Notre-Dame [ver Doc.2]. As igrejas góticas têm, também, um interior vasto, elevado e luminoso, com formas arquitectónicas suaves, comparadas com os interiores robustos romanos. São compostas por grandes janelas, com vitrais, defendendo, assim, a divisa “Deus é luz”, como é visível, por exemplo, na capela gótica, Sainte-Chapelle, em Paris [Doc.3].

Os elementos construtivosAs características do estilo gótico estão ligadas aos seus marcantes elementos construtivos, como o arco quebrado, a abóbada de cruzamento de ogivas e o arcobotante:

. arco quebrado: também podendo chamar-se arco gótico ou em ogiva, é alto, independentemente da largura da sua base; usado em entradas e portais para lhes conferir verticalidade [Doc.4];

. abóbada de cruzamento de ogivas: derivada da abóbada de aresta românica, tem função decorativa e caracteriza-se pelos arcos de suporte (ogivas). Estas abóbadas são articuladas, compostas por tramos (secções independentes) unidos. Estes suportam o peso da abóbada em quatro ângulos [Doc.4];

. arcobotante: este é composto por duas partes: o estribo (espécie de contraforte, às vezes encimado por um pináculo) e um ou mais arcos, que apoiam as paredes da nave central, para que estas tivessem pouca espessura e fossem cobertas por vitrais [Doc.4].

Todas estas componentes decorativas conferem às catedrais góticas a sua magnificência e conformidade.

O “livro de imagens” da CristandadeDurante o século XIII, a relação entre a escultura e a arquitectura é muito forte. Assim, decorando edifícios, fachadas, portais e telhados, eram visíveis imagens.

Estas não demonstravam dinamismo e eram naturalistas; eram ordenadas e simétricas, destacando-se dos edifícios aos quais se encontravam unidas. Revelam perfeição e qualidade nos modelos de rostos e vestes, que não eram vistas no Ocidente desde o decrescimento da arte romana, como é visível no Doc.5.

A escultura é, então, o “livro de imagens” da Cristandade. Para além do valor decorativo, as esculturas contavam ao povo analfabeto da Idade Média a vida de Cristo e dos Santos, enquanto as gárgulas [Doc.6] alertavam para a

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possibilidade de condenação do pecado.

Os vitrais também serviam de ensinamento àqueles que não sabia ler, pois retratavam os ensinamentos que deviam seguir e aquilo em que deviam acreditar.

· As mutações da religiosidade: ordens mendicantes e confrarias

A cidade era um lugar de muitos contrastes. Com as actividades económicas a melhorarem, os ricos adquiriam cada vez mais riqueza e, consequentemente, havia rivalidade de poderes.

Em contraste a tamanha abundância, assistia-se a uma extrema miséria. Ao chegarem à cidade, os camponeses nem sempre encontravam trabalho e assim, sozinhos, viviam em condições de pobreza iguais ou piores às que tinham quando chegaram à cidade.

Para acabar com a miséria, desenvolveram-se organismos de interdependência dirigidos à ajuda mútua e à prática da caridade. Muitas destas organizações devem-se às ordens mendicantes.

O papel das obras mendicantesO clero, contrariando os dogmas primitivos de renúncia a bens materiais, de humildade, vivia ostentosamente, o que fez com que muitos crentes aderissem a heresias. Movimentos de refutação à vida eclesiástica de luxo, de retorno à humildade e pobreza originais, pregadas pelo cristianismo, nasceram dentro da própria Igreja. As ordens mendicantes que mais influenciaram estes movimentos foram as de S. Francisco e S. Domingos.

S. Francisco [Doc.7], natural de Assis (Itália), fundou a Ordem dos Frades Menores, uma ordem humilde que vivia em pobreza absoluta. Sobreviviam diariamente graças ao seu trabalho e às esmolas (daí o termo mendicantes). Esta ordem dedicava-se à pregação e à ajuda de quem mais necessitava.

Os primeiros conventos Franciscanos fundaram-se desde muito cedo em Portugal. Primeiro em Alenquer e Guimarães e logo depois em Lisboa e Coimbra. Salienta-se o de Leiria que servia de albergue a peregrinos e mendigos.

S. Domingos de Gusmão, natural de Espanha, fundou, por sua vez, os Dominicanos e partilhava os mesmos ideais de S. Francisco. Dando ênfase à pregação e tentando combater a heresia, dedicavam-se ao estudo da Teologia.

As ordens mendicantes contribuíram assim para a renovação da fé cristã e para que os sentimentos de fraternidade e entreajuda fizessem parte da comunidade medieval. Assim, foram criadas as confrarias e outras associações de socorro mútuo.

As confrariasAs confrarias eram associações de socorro mútuo, de carácter religioso e que se organizavam sob a protecção de um santo. Mesmo em pequenas cidades podiam existir dezenas, pois ligavam vizinhos, pessoas com devoção ao mesmo santo, homens com a mesma ocupação profissional (os grupos profissionais organizavam-se em corporações), ou apenas pessoas que desejavam praticar a caridade. Dedicavam-se, portanto, à generosidade,

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como meio de minimizar a pobreza urbana.

Cada confraria tinha os seus estatutos, ou seja, definiam que tipo de ajuda deveria ser prestado: distribuição de esmolas, manutenção dos hospitais, etc. Para estas actividades, os fundos provinham das quotas anuais obrigatórias de cada confrade, os mais ricos faziam também doações. Do dinheiro angariado era retirado uma parte para celebrações religiosas, como, por exemplo, procissões e festas ao santo padroeiro.

· A expansão do ensino elementar; a fundação de universidades

As primeiras escolas urbanasAté ao séc. XI, a leitura e a escrita eram privilégios quase exclusivos aos clérigos. Os mosteiros tinham vastas bibliotecas e escolas monacais. Estas escolas foram diminuindo devido ao êxodo rural, pois estas inseriam-se em áreas rurais.

No séc. XI criaram-se as primeiras escolas urbanas, no centro das cidades, que, ainda sob a alçada da Igreja, se destinavam, além de clérigos, à população leiga.

Com o desenvolvimento citadino, são necessários homens instruídos em letras para ocuparem cargos de juristas, notários e escrivães. Formavam-se novos médicos, legistas, futuros funcionários régios, ou seja, funcionários reais que sejam capazes de planear e executar e de fazer novas tarefas em cidades que estavam em crescimento. Para registos mais rigorosos necessários na expansão das grandes companhias comerciais, foram criadas nas cidades mercantis, como em Londres, Lubeque, Veneza ou Florença, uma espécie de “escolas secundárias” que, além de Lógica e Gramática, ensinavam também Aritmética.

As universidadesDurante o século XII, algumas escolas catedralícias obtiveram fama internacional, o que atraía estudantes de Teologia, Medicina ou Direito. Porque era necessária uma organização mais rígida devido ao ensino ter-se tornado mais complexo, criaram-se as universidades[7], que definiam objectivamente as matérias a estudar, os graus académicos e defendiam os seus membros. Duas das primeiras escolas catedrais a assumir este sistema de organização foram a Bolonha (1088) e a de Notre-Dame (1158). Em 1231, Gregório IX determinou que as universidades estabeleceriam as suas próprias leis e regras, no que dizia respeito a cursos, estados e graus (existiam os graus de bacharel, licenciado e doutor), desta forma, ficaram sob influência do Papa.

A universidade de Bolonha centralizou-se no ensino de Direito e a de Notre-Dame, em Paris, em Teologia.

Os estudos organizavam-se em faculdades, cada uma correspondente a um ramo de ensino; todas tinham a de Artes que era a base dos estudos universitários. Depois de um curso de seis anos em Artes, iniciado entre os 14 e os 16 anos, atingia-se o grau de licenciado. Depois, era possível a especialização em Teologia (que poderia durar até mais quinze anos), Medicina ou Direito (estes dois últimos exigiam mais seis anos de estudos). O ensino era baseado em leitura e comentário, pelo mestre, dos escritos das autoridades no assunto frequentado.

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A primeira universidade portuguesaEm Portugal, D. Dinis apoiou alguns pedidos dos clérigos ao Papa para que criasse um Estudo Geral, futura universidade [como é possível ver no Doc. 8]. Em 1290, foi fundada a primeira universidade portuguesa, O Estudo Geral de Lisboa. Este funcionou com as faculdades de Artes, Direito Canónico, Leis e Medicina; o ensino da Teologia continuou a ser proporcionado nas escolas dos mosteiros da Santa Cruz de Coimbra e Alcobaça.

Em 1308, o rei transferiu o Estudo Geral para Coimbra, pois esta ocupava já uma posição de destaque no panorama cultural português. Embora tenha sido transferida novamente para Lisboa, em 1537, a universidade portuguesa fixou-se definitivamente em Coimbra, o que alterou a vida académica coimbrã até aos nossos dias.

A cultura leiga e profana nas cortes régias e senhoriaisCom um clima de prosperidade e paz, as cidades renasceram e com elas, a cultura. O gosto por uma cultura erudita proliferou nas cidades (com as escolas e as universidades) mas também nas cortes régias e senhoriais. A rudeza dá lugar à cortesia e os nobres tornam-se cavaleiros ideais: bons e corajosos, defendem a causa da justiça e cortejam as damas de acordo com o amor cortês. Nesta cultura, a literatura assume um papel central, pois assim se espalharam os ideais cavaleirescos, cantaram-se sentimentos e honraram-se as memórias de antepassados e de grandes feitos praticados.

· O ideal de cavalaria

Nasce o ideal do perfeito cavaleiro, com que toda a nobreza se identificava.

Para atingir esse estatuto, era necessário ser filho de um nobre e ser honrado, corajoso e leal para com o seu senhor; piedoso e justo. O cavaleiro tem como fundador o arcanjo S. Miguel e por isso lutam por Cristo. Seguiam, portanto, modelos espirituais, mas também humanos, como grandes figuras da Antiguidade ou o lendário Rei Artur.

Os serões das cortes eram ocupados com a leitura de narrativas de cavalaria. As novelas arturianas foram as mais importantes na formação de narrativas deste género.

Antes de ser armado cavaleiro, um jovem tinha de ter uma educação rigorosa, prestar provas da sua coragem e destreza e só depois possuía a honra de um cavaleiro, pertencendo, então, a uma das muitas ordens de cavalaria que cresciam na Europa.

A educação cavaleirescaNos primeiros anos de vida, o rapaz era cuidado pela mãe e depois seguia para uma “casa grande”, a casa de um senhor, onde servia, durante sete anos, como pajem, iniciando-se na equitação e no manuseamento de armas; na adolescência, já conhecia a arte de cavalgar e tornava-se escudeiro, ou seja, durante mais sete anos, servia um cavaleiro nas suas expedições, tratava do seu cavalo e das armas. Durante estes anos, o jovem treinava para, no futuro, se tornar cavaleiro.

Como treino físico eram praticados desportos como a caça, os torneios e as justas. A caça, sobretudo a montaria,

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em que perseguiam grandes animais, obrigava a cavalgadas nos bosques; no entanto os torneios eram bastante mais apreciados, simulando combates amigáveis entre dois grupos de cavaleiros.

Após cerca de 14 anos de aprendizagem o jovem proferia os votos de cavalaria: sagrados e de grande valor espiritual. O jovem passava por um ritual solene que incluía uma noite de vigília na igreja, uma missa e comunhão, para que pudesse purificar a alma. Para purificar o corpo, tomava um banho simbólico. Após este ritual, recebia as esporas de cavaleiro e a espada, símbolo de direito e dever de combater, ingressando, assim, numa ordem de cavalaria.

· O amor cortês

O código da cavalaria integrava também um código de amor: conjunto de normas que explica como deve ser o amor e define-o como uma parte importante na vida de um cavaleiro que é um herói que serve por amor.

O conceito do amor cortês foi desenvolvido entre os aristocratas franceses durante o ano 1100. No amor cortês, um homem devota uma grande paixão a dama. Por causa do costume medieval, onde quase todos os casamentos eram feitos por interesse, o amor cortês funcionava como o único e verdadeiro sentimento na vida da maioria das pessoas. Conforme mostra no Doc.9, autores medievais, artistas, e trovadores inspiravam-se no amor cortês como tema principal na maior parte de seus trabalhos. É um amor essencialmente espiritual.

O homem mantém uma atitude de veneração perante a Dama; é educado e requintado. A mulher, por sua vez, corresponde aos ideais de perfeição a nível físico e espiritual.

A influência da literaturaNas cortes, assistiam-se a espectáculos de jograis que recitavam e cantavam poemas dos trovadores que pertenciam, na maioria, à nobreza. Este tipo de poesia amorosa chamava-se poesia trovadoresca (de influência provençal, francesa, espalhou-se pela Europa), foi a primeira manifestação literária portuguesa.

O Romance da Rosa, alegoria ao amor, é também um documento sobre o tema do amor; nele, a rosa simboliza a mulher, que só pode ser «colhida» depois de duas provas prestadas pelo cavaleiro. Este romance foi popular durante dois séculos e serviu de culto (apesar de muita polémica) entre os homens mais enobrecidos da época.

Na Península Ibérica, D. Afonso X, o Sábio (1221-1284), rei de Castela e avô de D. Dinis, iniciou a literatura galaico-portuguesa com as cantigas de amigos e as cantigas de amor [ver Doc.10].

É possível concluir que o amor foi, portanto, um elemento fundamental na cultura erudita da Idade Média: foi, para muitos, um código de vida e, até um ideal de vida.

· O culto da memória dos antepassados

Nos Livros de Linhagens, os antepassados nobres eram recordados pelas famílias suas famílias, assim como os grandiosos feitos que praticaram e isso enaltecia aquela linhagem, aquela família.

Esta literatura genealógica difundiu-se pela nobreza europeia nos séculos XIII e XIV. Em Portugal, D. Pedro, Conde de Barcelos, filho ilegítimo de D. Dinis, foi quem deu autoria a um dos mais importantes livros de linhagens: O Livro de Linhagens do Conde D. Pedro. Neste livro, inserem-se narrativas históricas como batalhas importantes, mas

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também lendas de tradição oral, com personagens fantásticas, o que lhe confere um carácter literário [Doc.11].

A difusão do gosto e da prática das viagensNos séculos XIII e XIV, antigas barreiras geográficas foram quebradas, graças ao comércio. Viajava-se para lugares mais longínquos e, até, para a Ásia.

Mercadores, missionários, peregrinos, diplomatas, cavaleiros que partem à procura de uma vida melhor abriram as portas do mundo através de viagens, preparando assim, a Europa para os Descobrimentos.

· Viagens de negócios e missões político-diplomáticas

Os negociantes eram grandes viajantes, em busca de melhores locais para expandirem o seu comércio, apesar da existência de riscos, como roubo ou destruição de mercadoria. São então elaborados, pelos mercadores expeditos, que conheciam várias línguas, dicionários e guias de viagem.

Os italianos foram os primeiros a ousar percorrer o continente asiático, tendo sido bem recebidos e efectuado bons negócios.

Marco Polo, filho de Niccolò Polo, chegou a Pequim em 1271, com apenas vinte e um anos. Graças às suas faculdades diplomáticas e linguísticas, foi honrado pelo Imperador e até nomeado governador de uma das suas províncias [Doc.12].

Vinte anos depois, volta ao seu país e escreve O Livro de Marco Polo, mundialmente conhecido, onde relatou as suas aventuras, os povos orientais e as maravilhas das suas terras. Este foi o impulsionador dos portugueses para que, dois séculos depois, iniciassem os Descobrimentos.

Com o desenvolvimento do comércio, as viagens político-diplomáticas passaram a ser efectuadas por mercadores em nome dos reis – embaixadores.

Roma era o local onde todos os embaixadores se encontravam e o Papa passou, assim, a ser o intermediário entre os Estados.

· Romarias e peregrinações

Na Época Medieval, a religião ajudou também a quebrar fronteiras graças aos rituais religiosos, como as peregrinações.

As igrejas, capelas e ermidas eram objectos de adoração, quer devido às relíquias que guardavam, quer pelas imagens dos santos milagrosos, ou pela devoção ao seu santo padroeiro. Eram então feitas peregrinações, como cumprimento de promessas, em busca de ajuda espiritual ou simplesmente pela fé religiosa.

As romarias eram pequenas viagens até ao destino religioso pretendido; feitas em honra de um santo, numa data fixa do ano, onde participava o povo de zonas vizinhas, com carácter não só religioso mas também lúdico [Doc. 13].

Já no santuário, pagavam-se as promessas, participavam em missas e geralmente em procissões. Aproveitavam para realizar negócios nas feiras, trocavam notícias, cantavam, dançavam e vivia-se ambientes festivos [Doc. 14].

As romarias tornaram-se assim em manifestações importantes na cultura popular, chegando até aos nossos dias.

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Ao invés das pequenas romarias, realizavam-se as grandes peregrinações, de tradição judaico-cristã. Juntavam-se grandes grupos de pessoas com um destino predefinido. Nestas peregrinações participavam homens e mulheres, crianças e idosos, doentes e sãos; também grandes senhores participavam, a cavalo, levando uma comitiva, ou a pé, juntamente com a população humilde.

Os lugares de destaque das peregrinações eram Jerusalém (local da morte de Cristo); Roma, onde se encontrava o papado e onde S. Pedro morreu mártir; e Santiago de Compostela, onde no século IX se encontrou o túmulo do apóstolo S. Tiago.

Jerusalém era a viagem mais longa e mais perigosa, mas acreditava-se que quem lá fosse se redimia de todos os seus pecados.

A população da Europa Ocidental visitava, frequentemente, Santiago de Compostela, acreditando em poderes milagrosos de cura. Multiplicaram-se os santuários e foram criados mosteiros, albergarias e hospitais para apoio aos peregrinos, oferecendo-lhes local de repouso, água e comida.

Como estas peregrinações eram preparadas com antecedência, originaram-se guias especializados, como o Guia de Santiago, que descrevia os roteiros, media as distâncias, ensinava a ultrapassar alguns acidentes naturais, descreia os santuários a visitar e outros detalhes de utilidade. Acautelava sobre a compra de falsas relíquias, sobre as excessivas portagens em alguns rios e reprovava todos aqueles que se aproveitavam da boa fé dos crentes para enriquecerem.

Assim que chegassem ao destino pretendido, eram abençoados e as misericórdias próprias de cada local e ouviam uma missa pro peregrinantibus. Passavam, então, muito tempo na igreja, rezavam o mais próximo possível das relíquias milagrosas ou dos túmulos dos santos, para melhor se fortalecerem espiritualmente. Pagavam as suas promessas e regressavam a casa, para mais uns dias ou até meses de viagem, cansados fisicamente mas agradecidos e fortificados pelo espírito cristão.

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Doc. 6 – Escultura de uma gárgula, que adornava o exterior das catedrais.

Doc. 7 – S. Francisco de Assis.

A Universidade de Lisboa

Ao Santíssimo Padre (…) nós, o abade de Alcobaça, o prior de Santa Cruz de Coimbra, o prior de S. Vicente de Lisboa e outros clérigos do reino de Portugal e do Algarve (…) consideramos ser muito conveniente ter um Estudo Geral de Ciências, por vermos que à falta dele, muitos não ousam e temem ir estudar para outras partes devido às muitas despesas e perigos da vida. Por estas causas, rogamos a D. Dinis (…) que se dignasse ordenar fazer um Estudo Geral na cidade de Lisboa. (…) Assentou-se que o salário dos mestres e doutores se pagasse com as rendas dos nossos mosteiros e igrejas. (…) Recorremos a Vossa Santidade pedindo-lhe humildemente que queira confirmar uma obra tão louvável.

Carta ao Papa Nicolau IV, 1288 (adaptado)Doc. 8 – Carta enviada por alguns clérigos ao Papa Nicolau IV, pedindo a fundação de um Estudo Geral em Portugal.

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Doc. 9 – Damas e Cavaleiros dançando no jardim. Miniatura de O Romance da Rosa – 1490-1500.

Cantar de Amor

Quer’ eu en maneira de proençal

fazer agora um cantar d’amor

e querrei muit’ i loar mha senhor,

a que prez nen fremusura non fal,

nen bondade, e mais vos direi en:

tanto a fez Deus comprida de bem

que mais que todas las do mundo val.

Ca mha senhor quiso Deus fazer tal

quando a fez, que a fez sabedor

de todo bem e de mui gran valor

e com tod[o] est’é mui comunal,

ali u deve; er deu-lhi bem sen

e des i non lhi fez pouco de ben,

quando non quis que lh’ outra foss’ igual.

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Ca en mha senhor nunca Deus pôs mal,

mais põs prez e beldad’ e loor

e falar mui bem e riir melhor

que outra molher; des i é leal

muit’, e por esto non sei oj’ eu quen

possa compridamente no seu bem

falar, ca non á, tra-lo seu bem, al.

D. Denis, CV 123, CBN 485, ALC

Doc. 10 – Cantiga de Amor do Rei D. Dinis – Lírica Trovadoresca.

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Doc. 11 – Iluminura do anterrosto do Livro de Linhagens do Conde Dom Pedro, datada do século XVII, inserida numa cópia manuscrita do início do século XVI.

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Doc. 12 – Percurso de Marco Polo na China.

Doc. 13 – Danças populares – iluminura de um missal francês da segunda metade do século XV.

Cantiga de Romaria

Pois nossas madres vam a San Simon

de Val de Prados, candeas queimar,

nós, as meninhas, punhemos d’andar

com nossas madres, e elas enton

queimem candeas por nós e por si

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e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos todos lá iran

por nos veer, e andaremos nós

bailand’ ant’ eles, fremosas [en] cós,

e nossas madres, pois que lá van,

queimem candeas por nós e por si

e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos iran por cousir

como bailamos, e podem veer

bailar moças de bom parecer,

e nossas madres, pois lá queren ir,

queimem candeas por nós e por si

e nós, meninhas, bailaremos i.

 Pero de Viviães, CV 336, CBN 698, ALC

Doc. 14 – Cantiga de romaria de Pero de Viviães, século XIII (pág.9).

ConclusãoCom a realização deste trabalho prático sobre “Valores, Vivências e Quotidiano da Idade Média”, desenvolvi as minhas capacidades a vários níveis. Os objectivos a que me propus no início deste projecto foram atingidos e, por isso, agora sou capaz de identificar elementos artísticos góticos da Época Medieval; compreendo melhor como a sociedade estava organizada de acordo com os seus padrões de cultura, quer popular, quer erudita; e toda uma Europa que funcionava em conjunto.

Ao aprofundar os meus conhecimentos sobre Arte, idealizo, mais fielmente, a “imagem” gótica da Idade Medieval visível nas cidades, através de edifícios como catedrais, que deixavam a população de uma cidade orgulhosa da mesma.

As mudanças na Igreja conduziram à criação de obras mendicantes, que pregavam os verdadeiros sacramentos da Cristandade: humildade e pobreza; e as confrarias que tiveram um papel importante nas cidades medievais, como forma de solidariedade.

Quanto à expansão do ensino, a criação de um «ensino secundário» e de universidades foi uma mais-valia a nível

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cultural, que ajudou no desenvolvimento da Europa, tornando a população mais instruída pois já era, então possível estudar Direito, Medicina, Teologia.

Isto fez com que as atitudes e os aspectos culturais da época se engrandecessem, traduzindo numa diferenciação entre a cultura popular e a cultura erudita, desta forma criando ideias de perfeição: ideal do perfeito cavaleiro; o amor ideal, o amor cortês; o que enalteceu a literatura portuguesa com as cantigas e os livros de linhagens. Estes prestavam culto aos antepassados de uma família, recordando os seus grandes feitos praticados e como serviram o país, como forma de dignificação dessa mesma família nobre.

A difusão e a prática de viagens possibilitou a comunicação entre a Europa e a Ásia, amplificou os negócios mercantis e deixou a Europa, principalmente os portugueses (que dois séculos depois da edição do Livro de Marco Polo iniciaram os Descobrimentos) a sonhar com um mundo novo, cheio de possibilidades e riquezas.

A religião Cristã trouxe também povos de várias zonas da Europa a lugares santos como centros de fé, lugares milagrosos. A cultura popular era vista em romarias – viagens pequenas até um local sagrado, com celebração de rituais, bailes, feiras – e peregrinações – viagens que duravam dias ou meses, também com o intuito de visitar locais sagrados em busca de ajuda, de alívio para doenças.

Como disse Cícero, filósofo romano (século I a.C.): "Não saber o que aconteceu antes do teu nascimento seria para ti a mesma coisa que permanecer criança para sempre", é essencial conhecermos a nossa história, os factos que nos trouxeram ao que somos hoje e o que fez com que a sociedade evoluísse em vários níveis: cultural e religioso.