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UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID FACULTAD DE CIENCIAS DE LA INFORMACIÓN TESIS DOCTORAL Diplomacia pública, tecnología y religión: el impacto de las tecnologías de la información y de la sociedad en red en la actividad diplomática y la importancia de la religión en la diplomacia pública MEMORIA PARA OPTAR AL GRADO DE DOCTOR PRESENTADA POR António Sérgio Correia Mendonça Director Félix Sagredo Fernández Madrid, 2016 © António Sérgio Correia Mendonça, 2015

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  • UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID

    FACULTAD DE CIENCIAS DE LA INFORMACIN

    TESIS DOCTORAL

    Diplomacia pblica, tecnologa y religin: el impacto de las tecnologas de la informacin y de la sociedad en red en la actividad diplomtica y

    la importancia de la religin en la diplomacia pblica

    MEMORIA PARA OPTAR AL GRADO DE DOCTOR

    PRESENTADA POR

    Antnio Srgio Correia Mendona

    Director

    Flix Sagredo Fernndez

    Madrid, 2016

    Antnio Srgio Correia Mendona, 2015

  • UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID

    INSTITUTO UNIVERSITARIO DE INVESTIGACIN

    ORTEGA Y GASSET

    Programa de Doctorado

    PROBLEMAS CONTEMPORANEOS DE LA SOCIEDAD DE LA INFORMACIN

    Ttulo de la Tesis Doctoral

    DIPLOMACIA PBLICA, TECNOLOGA Y RELIGIN: EL IMPACTO DE

    LAS TECNOLOGAS DE LA INFORMACIN Y DE LA SOCIEDAD EN RED EN

    LA ACTIVIDAD DIPLOMTICA Y LA IMPORTANCIA DE LA RELIGIN EN LA

    DIPLOMACIA PBLICA

    Doctorando(a)

    ANTNIO SRGIO CORREIA MENDONA

    Director de la Tesis

    DR. FLIX SAGREDO FERNNDEZ

    UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID

    Madrid, 2015

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 2

    UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID

    INSTITUTO UNIVERSITARIO DE INVESTIGACIN

    ORTEGA Y GASSET

    Programa de Doutoramento

    PROBLEMAS CONTEMPORNEOS DA SOCIEDADE DA INFORMAO

    Ttulo da Tese Doutoral

    DIPLOMACIA PBLICA, TECNOLOGIA E RELIGIO:

    O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAO E DA SOCIEDADE EM

    REDE NA ATIVIDADE DIPLOMTICA E A IMPORTNCIA DA RELIGIO NA

    DIPLOMACIA PBLICA

    Doutorando

    ANTNIO SRGIO CORREIA MENDONA

    Orientador da Tese

    DR. FLIX SAGREDO FERNNDEZ

    UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID

    Madrid, 2015

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 3

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 4

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

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  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

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    Para Maria e Sofia,

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 7

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 8

    Agradecimentos

    Em primeiro lugar, agradeo ao meu orientador da dissertao, Professor Doutor

    D. Flix Sagredo Fernndez por todo o apoio e incentivo. A sua energia inesgotvel e o

    seu nimo e motivao foram fundamentais na superao de momentos de maior

    dificuldade e na focalizao em aspetos particularmente relevantes. As suas sugestes e

    crticas revelaram-se tambm fundamentais ao longo da elaborao deste trabalho.

    Agradeo de forma muito especial ao Tenente-Coronel Doutor Paulo Viegas

    Nunes. Foi dele o incentivo inicial para a realizao desta dissertao, e a confiana que

    depositou em mim foi fundamental para fazer acontecer este projeto. O seu incentivo

    permanente e a sua determinao foram muito relevantes para ultrapassar muitos dos

    obstculos que se colocaram sua realizao.

    Mestre Rubina Berardo agradeo o entusiasmo que me transmitiu para o

    estudo de algumas das matrias analisadas na presente dissertao e pela perseverana

    que incitou a ter.

    Ao Mestre Rui Alves, pelo exemplo de persistncia e de conquista e pela

    amizade de longa data.

    Agradeo Sofia, incansvel na dedicao, abnegao e compreenso que a

    elaborao desta tese tantas vezes exigiu.

    Aos meus pais, uma palavra de gratido por todo o apoio e estmulo que neles

    encontrei nos momentos mais difceis. minha av pelo exemplo de vida.

    Agradeo ainda de forma muito expressiva a todas pessoas que me incentivaram

    a dedicar-me elaborao desta dissertao e a perseverar em momentos mais difceis.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 9

    Palavras-Chave

    Diplomacia; diplomacia pblica; tecnologia; rede; informao; religio;

    comunicao; Pennsula Ibrica; redes sociais; ciberespao; soft power; guerra de

    informao; hacktivismo

    Palabras Clave

    Diplomacia; diplomacia pblica; tecnologa; red; informacin; religin;

    comunicacin; Pennsula Ibrica; reds sociales; ciberespacio; poder blando; guerra de la

    informacin; hacktivismo

    Key Words

    Diplomacy; public diplomacy; tecnology; network; information; religion;

    comunication; Iberian Peninsula; social networks; cyberspace; soft power; information

    warfare; hacktivism

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 10

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 11

    Resumo

    No atual ambiental comunicacional caracterizado pela interconexo e

    globalizao, o modo como os vrios Estados comunicam apresenta uma importncia

    crescente. A facilidade com que os cidados conseguem hoje aceder informao, por

    um lado, e a rapidez com que a mesma se propaga, por outro, elevam a responsabilidade

    dos Estados no processo comunicativo, levando a um maior cuidado na informao

    prestada e a uma maior rapidez no contexto de um mundo crescentemente interativo e

    interconectado vinte e quatro horas por dia.

    Por outro lado, o papel dos Estados cada vez mais afetado pela concorrncia na

    atividade diplomtica de atores no estatais de alcance global e de organizaes de

    carter multilateral.

    Neste contexto de comunicao global, ganhou especial relevncia a

    comunicao entre os Estados e as populaes de outros Estados. A imagem e as

    percees formadas de um Estado apresentam hoje uma importncia acrescida na

    vivncia dos Estados e dos seus agentes econmicos relativamente ao que acontecia em

    contextos histricos anteriores.

    Deste modo, a adoo de estratgias de diplomacia pblica merece uma ateno

    cada vez mais cuidada por um nmero cada vez maior de Estados, que integram

    crescentemente instrumentos habitualmente utilizados no sector privado como o

    branding como forma de aumentar a sua reputao e credibilidade perante pblicos

    externos.

    Assume tambm uma grande importncia o papel da Internet no contexto da

    diplomacia pblica, sendo pertinente verificar em que medida poder corresponder a um

    meio privilegiado para o exerccio de diplomacia pblica pelos Estados face aos

    desenvolvimentos proporcionados pela era da informao.

    Neste contexto, partindo do conceito de informao enquanto matria-prima

    fundamental da atividade diplomtica pretende-se questionar at que ponto estaremos a

    assistir a um processo gradual de afirmao da diplomacia pblica enquanto atividade

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 12

    diplomtica fundamental em detrimento da atividade diplomtica tradicional no

    contexto do atual ambiente comunicacional.

    Para este efeito, imprescindvel um olhar sobre o impacto sobre a atividade

    diplomtica de diferentes formas de organizao social, nomeadamente, da sociedade

    estruturada em rede e do papel que os desenvolvimentos tecnolgicos vo assumindo

    nesse particular.

    Nesse contexto, e tendo em vista a caracterizao do exerccio da diplomacia no

    ciberespao ser considerado um conjunto de construes tericas no que se refere a

    polticas diplomticas para o ciberespao, assumindo particular importncia a

    noopolitik, a cyberpolitik ou a netpolitik.

    Ser ainda considerado o papel das redes sociais na atividade diplomtica em

    geral, e no contexto especfico do exerccio da diplomacia pblica, o papel a

    desempenhar por atores no estatais na atividade diplomtica, bem como o conceito de

    comunicao de massas distinguindo a diplomacia pblica de outras aes como a

    propaganda, o branding, public affairs, relaes pblicas, publicidade e outras formas

    de comunicao mais predominantes no contexto militar.

    Tambm relevante neste mbito, a anlise da conflitualidade social no

    ciberespao e do seu impacto na atividade diplomtica, nomeadamente, no que se refere

    influncia do hacktivismo e do wikileaks na ao diplomtica no ciberespao.

    Optou-se ainda pela anlise de um tpico menos estudado no contexto da

    diplomacia pblica, particularmente na Europa, que se refere influncia exercida pela

    religio nessa atividade e que, em alguns contextos tender a ser determinante.

    A partir do conjunto de dimenses consideradas relativas ao exerccio da

    diplomacia pblica, procurou-se definir e apresentar um conjunto de competncias que

    devero caracterizar um profissional de diplomacia pblica no contexto do atual

    ambiente comunicacional.

    .

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 13

    Resumen

    En el entorno comunicacional actual caracterizado por la interconexin y por la

    globalizacin, la forma como los varios Estados comunicn tiene una importancia

    creciente. La facilidad com que los ciudadanos pueden hoy aceder a la informacin, por

    un lado, y la velocidad con que se propaga, por otro, aumentan la responsabilidad de los

    Estados en lo processo comunicativo, que conduce a un mayor cuidado el na

    informacin proporcionada y a una mayor velocidade, en el contexto de un mundo

    crecientemente interactivo y interconectado veinticuatro horas por da.

    Por otro lado, el papel de los Estados est cada vez ms afectado por la

    concorrncia en la actividad diplomtica de los actores no estatales com alcance global

    y de organizaciones multilaterales.

    En este contexto de comunicacin global, ganou una especial relevancia la

    comunicacin entre los Estados y las populaciones de otros Estados. La imagn y las

    percepciones formadas de un Estado presentn hoy una mayor importancia en la vida de

    los Estados y sus agentes econmicos por comparacin con contextos anteriores.

    De esta manera, la adopcin de estrategias de diplomacia pblica merece una

    atencin cada vez ms cuidadosa por un nmero cada vez mayor de Estados, que

    integrn cada vez ms instrumentos utilizados en el sector privado como el branding, a

    fin de aumentar su reputacin y credibilidad ante los pblicos externos.

    Tambin es muy importante el papel de Internet en el contexto de la diplomacia

    pblica, siendo importante comprovar cmo Internet puede ser un medio objetivo para

    el ejerccio de la diplomacia pblica de los Estados en el contexto del desarrollo

    resultante de era de la informacin.

    En este contexto, a partir del concepto de informacin como materia prima

    fundamental de la actividad diplomtica se pretende cuestionar en qu medida estamos

    presenciando a un proceso gradual de afirmacin de la diplomacia pblica como

    actividad diplomtica fundamental encima de la actividad diplomtica tradicional en el

    contexto del entorno comunicacional actual.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 14

    Para este propsito, es indispensable verificar el impacto de diferentes formas de

    organizacin social, a saber, de la sociedad estructurada en red y del papel del desarrollo

    tecnolgico.

    En este contexto, en vista de la caracterizacin de la actividad diplomtica en el

    ciberespacio, ser considerado un conjunto de construcciones tericas en lo que respecta

    a polticas diplomticas para el ciberespacio, teniendo importancia especial la

    noopolitik, la cyberpolitik o la netpolitik.

    Sigue siendo considerado el papel de las redes sociales en la actividad

    diplomtica, a saber en el contexto especfico de la diplomacia pblica, y el papel que

    deben desempear los actores no estatales en la actividad diplomtica, y el concepto de

    comunicacin de masas hacendo la distincin entre la diplomacia pblica y otras

    acciones como la propaganda, el branding, los public affairs, las relaciones pblicas, la

    publicidade y otras formas de comunicacin ms predominantes en el contexto militar.

    Tambin es muy importante en este mbito la anlisis de la conflictualidad

    social en el ciberespacio e su impacto en la actividad diplomtica, a saber, en lo que se

    refiere a la influencia de lo hacktivismo y de la wikileaks en la accin diplomtica en el

    ciberespacio.

    Se h optado tambin por un anlisis de un tpico menos estudado en el contexto

    de la diplomacia pblica, sobretodo en Europa, que se refiere a la influencia ejercida por

    la religin en esa actividad, que en algunos contextos tender a ser decisivo.

    A partir del conjunto de dimensiones consideradas com relacin al ejercicio de

    la diplomacia pblica, se h intentado definir y presentar un conjunto de habilidades que

    debern caracterizar un profissional de diplomacia pblica en el contexto del entorno

    comunicacional actual.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 15

    Abstract

    At the current comunicational environment characterized by na interconection

    and the globalization, the way how the States communicate has become increasingly

    importante. The ease with which citizens can access information, on one hand, and the

    rapidity with which it spreads, on the other hand, increase the responsibility of the

    States in the communicational process, leading to a greater care in the information

    provided and to a greater speed in the contyext of na increasingly interactive world and

    interconnected 24 hours a day.

    On the other hand, States are increasingly affected by the competition in the

    diplomatic activity of non-state actors of global reach and of multilateral organizations.

    In this context of global communication, the communication between States and

    foreign populations has become inceasingly importante. The image of a State and the

    way in which it is perceived have today a bigger relevance in States living ando f their

    economic actors comparing to other historical contexts.

    This way, the adoption of public diplomacy strategies desserves an increasingly

    bigger attention by a greater number of States, that integrate more and more instruments

    normally used in the private sector, such as branding, as a way to improve their

    reputation and credibility against external audiences.

    It is also very important the influence of the Internet in the context of public

    diplomacy, being relevant to check the relevance of the Internet in States public

    diplomacy against the developments of the information era.

    In this context, starting from the concept of information as the fundamental

    element of the diplomatic activity, it is intended to question to what extent are we

    witnessing to process of gradual affirmation of the public diplomacy as main diplomatic

    activity over the traditional diplomatic activity in the context of the current

    communicational environment.

    For this purpose, it is essential to analyze the impact of diferente forms of social

    organization in the diplomatic activity, namely, the network society and the role

    assumed by diferent technological developments in that context.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 16

    In that contexto, in order to characterize the diplomatic activity in the

    cyberspace, a number of theoretical constructs regarding to diplomatic policies in the

    cyberspace will be considered, namely, the noopolitik, the cyberpolitik or the netpolitik

    It will also be considered the role that social networks have in the diplomatic

    acivity, mainly in the specific contexto of public diplomacy, as well as the role played

    by non-state actors in the diplomatic activity, and the concept of mass communication

    distinguishing public diplomacy from other actions suchs as propaganda, branding,

    public affairs, public relations, publicity and other forms of communication more

    predominant in the militar context.

    It is also relevant under this scope, the analysis of social conflicts in the

    cyberspace and its impact in the diplomatic activity, namely, the influence of hacktivism

    and of the wikileaks in the diplomatic action in the cyberspace.

    We have also opted for the analysis of a topic less studied in the context of

    public diplomacy, particularly in Europe, that refers to the influence played by the

    religion in that activity, that, in some contexts tends to be determinant.

    From the set of dimensions considered, relative to the public diplomacy, we tried

    to define and presente a set of skills that should characterize a professional of public

    diplomacy in the contexto of the current communicational environment.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 17

    ndice Geral

    Dedicatria ....................................................................................................................... 6

    Agradecimentos ............................................................................................................... 8

    Palavras-Chave ................................................................................................................ 9

    Palavras-Clave ................................................................................................................. 9

    Key Words ........................................................................................................................ 9

    Resumo ........................................................................................................................... 11

    Resumen ......................................................................................................................... 13

    Abstract .......................................................................................................................... 15

    ndice Geral .................................................................................................................... 17

    ndice de Figuras ........................................................................................................... 22

    Siglas Utilizadas ............................................................................................................. 24

    1. Introduo .......................................................................................................... 28

    1.1. Enquadramento ................................................................................................... 28

    1.2. Objeto e justificao do estudo ............................................................................ 33

    1.3. Motivao ............................................................................................................ 35

    1.4. Hipteses de trabalho e objetivos ........................................................................ 36

    1.5. Metodologia ......................................................................................................... 37

    1.6. Estrutura do trabalho ............................................................................................ 38

    2. Diplomacia e Informao .................................................................................. 40

    2.1. Diplomacia ........................................................................................................... 41

    2.2. Informao ........................................................................................................... 45

    2.2.1. Conceito de informao ........................................................................... 45

    2.2.2. Processo de informacionalizao ............................................................. 56

    2.2.3. Sociedade da informao ......................................................................... 58

    2.3. Conhecimento ...................................................................................................... 69

    2.3.1. Tipologias do conhecimento .................................................................... 77

    2.3.2. Capital intelectual .................................................................................... 82

    2.3.3. Sociedade e economia do conhecimento ................................................. 87

    2.3.4. Gesto do conhecimento .......................................................................... 90

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 18

    2.4. Estratgia e Informao ....................................................................................... 92

    2.5. Comunicao ....................................................................................................... 95

    2.5.1. Definio .................................................................................................. 95

    2.5.2. Comunicao poltica ............................................................................. 113

    2.5.3. Perspetiva histrica ................................................................................ 128

    2.5.4. Noo moderna de comunicao ........................................................... 138

    2.5.5. Conceito de aldeia global de Marshall McLuhan .................................. 141

    2.5.6. Internet ................................................................................................... 144

    2.5.7. Sociedade em rede ................................................................................. 155

    2.6. Ativismo e hacktivismo: Anonymous, Wikileaks e Edward Snowden ............... 162

    2.6.1. Acesso s redes de operaes informticas, o hacktivismo e

    infraestruturas crticas ............................................................................................ 180

    3. Diplomacia, redes e tecnologia ........................................................................ 182

    3.1. Tecnologia ......................................................................................................... 182

    3.1.1. Tecnologia e informao ........................................................................ 184

    3.1.2. Redes ...................................................................................................... 187

    3.2. A computao em rede ...................................................................................... 204

    3.2.1. A Web 2.0, o poder dos cidados e desafios tecnolgicos e

    organizacionais ....................................................................................................... 210

    3.2.2. Tecnologia, diplomacia e governao .................................................... 217

    3.2.3. Os Estados face s redes globais de comunicao ................................. 221

    3.3. Diplomacia e noosfera ....................................................................................... 223

    3.3.1. Realpolitik .............................................................................................. 226

    3.3.2. Noopolitik ou polticas para uma conscincia planetria global ............ 227

    3.3.3. Cyberpolitik ............................................................................................ 243

    3.3.4. Netpolitik ................................................................................................ 244

    3.3.5. Infopolitik ............................................................................................... 245

    3.3.6. Kinpolitik ................................................................................................ 245

    3.4. Sociedade em rede e competitive intelligence ................................................... 248

    3.4.1. Redes sociais .......................................................................................... 261

    3.4.2. Redes sociais face a um mundo globalizado .......................................... 265

    3.4.3. Diplomacia digital e em tempo real ....................................................... 270

    4. Diplomacia pblica .......................................................................................... 280

    4.1. O conceito de diplomacia pblica ...................................................................... 280

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 19

    4.1.1. Tipologia da diplomacia pblica ............................................................ 306

    4.1.2. A nova diplomacia pblica .................................................................... 307

    4.1.3. Perspetiva histrica da diplomacia pblica ............................................ 324

    4.1.4. Diplomacia pblica da Unio Europeia ................................................. 336

    4.1.5. O caso japons ....................................................................................... 343

    4.2. O soft power ....................................................................................................... 345

    4.3. Diplomacia pblica e soft power ....................................................................... 360

    4.4. Crticas ao conceito de soft power ..................................................................... 364

    4.5. Diplomacia pblica e relaes pblicas ............................................................. 366

    4.6. Diplomacia pblica face diplomacia tradicional ............................................. 369

    4.6.1. Da era da informao era da comunicao global: a diplomacia pblica

    estratgica de Rhonda Zaharna .............................................................................. 374

    4.7. A operacionalizao da diplomacia pblica ...................................................... 380

    4.8. Credibilidade e tica .......................................................................................... 396

    4.9. Diplomacia pblica e propaganda ..................................................................... 399

    4.9.1. Tipos de propaganda .............................................................................. 409

    4.10. Nation branding a marca pas ........................................................................ 410

    4.11. Privatizao da diplomacia pblica? ................................................................. 420

    4.12. Diplomacia pblica no contexto militar ............................................................ 435

    4.12.1. A diplomacia pblica no contexto militar e diferentes formas de

    comunicao militar ............................................................................................... 443

    4.12.2. Comunicao estratgica ....................................................................... 444

    4.12.3. Operaes de Informao ...................................................................... 451

    4.12.4. Diplomacia pblica e public affairs ....................................................... 452

    4.12.5. Diplomacia pblica e guerra de informao .......................................... 454

    4.12.6. Defense support to public diplomacy .................................................... 455

    4.12.7. As PSYOP militares (MISO) e a diplomacia pblica ............................ 456

    4.12.8. Diplomacia pblica da NATO ............................................................... 460

    5. Que perspetivas futuras para a diplomacia? ................................................. 461

    5.1. O diplomata pblico .......................................................................................... 465

    5.2. Novas diplomacias .......................................................................................... 470

    5.2.1. Diplomacia do conhecimento ................................................................ 471

    5.3. Diplomacia pblica, globalizao e desenvolvimento ....................................... 475

    5.3.1. Globalizao e informao .................................................................... 489

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 20

    5.4. Diplomacia de guerrilha .................................................................................... 491

    6. Diplomacia cultural......................................................................................... 497

    6.1. Diplomacia pblica e religio ............................................................................ 511

    6.1.1. Razes para uma diplomacia religiosa ................................................... 512

    6.1.2. O conceito de secularizao ................................................................... 514

    6.1.3. O impacto global da religio .................................................................. 524

    6.1.4. O papel dos lderes religiosos ................................................................ 539

    6.1.5. A religio no contexto das relaes internacionais ................................ 539

    6.1.6. Diplomacia baseada na f ...................................................................... 544

    6.1.7. A religio e os trs paradigmas das relaes internacionais .................. 549

    6.1.8. O choque de civilizaes ....................................................................... 557

    6.1.9. Diplomacia pblica e religio: casos concretos ..................................... 560

    7. Diplomacia pblica e a Pennsula Ibrica ..................................................... 565

    7.1. O contexto da Pennsula Ibrica ........................................................................ 565

    7.2. Diplomacia pblica a uma escala global ........................................................... 576

    7.2.1. A expanso das naes ibricas ............................................................. 580

    7.2.2. A presena portuguesa no mundo .......................................................... 582

    7.3. Bases para uma diplomacia pblica cultural na Pennsula Ibrica .................... 589

    7.3.1. Diplomacia pblica religiosa portuguesa e espanhola: pioneiras a uma

    escala global? ......................................................................................................... 592

    8. Elementos para a definio de uma estratgia de diplomacia pblica ....... 604

    8.1. Caractersticas especficas de Portugal .............................................................. 606

    8.2. Instituies portuguesas que podero ser includas numa estratgia de

    diplomacia pblica ..................................................................................................... 608

    8.3. O exemplo de Espanha ...................................................................................... 610

    8.3.1. Possibilidades de cooperao ibrica ..................................................... 611

    8.4. Diplomacia pblica religiosa ............................................................................. 612

    8.5. Diplomacia cultural ........................................................................................... 614

    8.6. Institucionalizao da cooperao cientfica o exemplo do Japo ................. 618

    8.7. Criao de mecanismos de diplomacia pblica no mbito militar .................... 619

    8.8. Criao de programas de formao permanente para profissionais da diplomacia

    pblica ........................................................................................................................ 621

    8.9. Criao de mecanismos para a integrao de privados nas atividades de

    diplomacia pblica ..................................................................................................... 622

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 21

    8.10. Cooperao e desenvolvimento ........................................................................ 624

    9. Concluso .......................................................................................................... 626

    10. Bibliografia ....................................................................................................... 640

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 22

    ndice de Figuras

    Figura 1 Relao entre factos e conhecimento ......................................................... 72

    Figura 2 Comparao entre conhecimento tcito e conhecimento explcito ......... 79

    Figura 3 Modelo base do ciclo de converso de conhecimento de Nonaka e

    Takeuchi (1995) ............................................................................................................. 80

    Figura 4 Comparao de esquemas de classificao do capital intelectual........... 86

    Figura 5 Gesto do capital intelectual e gesto do conhecimento .......................... 91

    Figura 6 Cadeia de valor da gesto do conhecimento ............................................. 92

    Figura 7 Conceitos-chave associados comunicao ............................................ 100

    Figura 8 Influncias sobre a opinio pblica internacional ................................. 121

    Figura 9 Formas de organizao econmica e social: hierarquia vs. rede .......... 190

    Figura 10.1 Indivduos no associados em rede ..................................................... 193

    Figura 10.2 Rede em cadeia ..................................................................................... 194

    Figura 10.3 Rede em estrela..................................................................................... 195

    Figura 10.4 Rede em todos os canais ...................................................................... 196

    Figura 10.5 O fluxo de informao mass media .................................................... 197

    Figura 10.6 Combinao dos mass media e da rede em todos os canais da

    audincia ....................................................................................................................... 198

    Figura 10.7 Mensagem distorcida por filtro cultural ............................................ 199

    Figura 11 Realpolitik vs novas abordagens ............................................................ 225

    Figura 12 A noosfera ................................................................................................ 235

    Figura 13 Comparao realpolitik/noopolitik ......................................................... 241

    Figura 14 O ciclo de intelligence .............................................................................. 250

    Figura 15.1 Implantao global de algumas das principais redes sociais ano de

    2007 ............................................................................................................................... 262

    Figura 15.2 Implantao global de algumas das principais redes sociais ano de

    2014 ............................................................................................................................... 263

    Figura 15.3 Penetrao da Internet a nvel global ................................................. 264

    Figura 16 Diplomacia pblica ................................................................................. 283

    Figura 17 Diplomacia pblica tradicional e diplomacia pblica para o sculo XXI

    ....................................................................................................................................... 293

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 23

    Figura 18 Horizonte temporal da diplomacia pblica .......................................... 301

    Figura 19 Velha diplomacia pblica/nova diplomacia pblica ............................ 316

    Figura 20 Comparao hard/soft power .................................................................. 347

    Figura 21 Hard power vs soft power ......................................................................... 355

    Figura 22 Tipos de diplomacia ................................................................................ 372

    Figura 23 Atividades da diplomacia pblica .......................................................... 381

    Figura 24.1 Distino entre imprio e globalizao quanto gnese .................. 476

    Figura 24.2 Distino entre imprio e globalizao quanto natureza .............. 476

    Figura 24.3 Distino entre imprio e globalizao quanto aos efeitos ............... 477

    Figura 25 Religiosidade no mundo ......................................................................... 524

    Figura 26 Distribuio global das guerras civis religiosas .................................... 526

    Figura 27 Distribuio de guerras civis com a religio como fator central ou

    perifrico....................................................................................................................... 527

    Figura 28 Distribuio de guerras civis religiosas por Estados ........................... 528

    Figura 29 Distribuio por religio dominante ..................................................... 530

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 24

    Siglas Utilizadas

    ADN cido Desoxirribonucleico

    AECI Agencia Espaola de Cooperacin Internacional

    AICEP Agncia para o Investimento e Comrcio Externo Portugus

    AOL America Online

    ARPA Advanced Research Projects Agency

    AT&T American Telephone & Telegraph

    BBC British Broadcasting Company

    BBG Broadcasting Board of Governors

    Bit Binary Digit

    BHMS - Black Hole Management Style

    C4ISR Command, Control, Communications, Computers, Intelligence,

    Surveillence and Reconnaissance

    CCTV - China Central Television

    CD Compact Disc

    CEE - Comunidade Econmica Europeia

    CERN Conseil Europen pour la Recherche Nuclaire

    CNN CableNews Network

    CRI - China Radio International

    DOD - Department of Defense

    DoS Denial of Service

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 25

    DDoS Distributed Denial of Service

    DVD Digital Video Disk

    E-mail Electronic Mail

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FAO Food and Agriculture Organization

    FIS Foreign Information Service

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    G7 Grupo dos Sete

    IMDb Internet Movie Database

    INFOOP Information Operations

    IP Internet Protocol

    IPAD Instituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento

    JAMCO - Japanese Media Communication Center

    MISO Military Information Support Operations

    MLMS - Maginot Line Management Style

    MOFA Ministry of Foreign Affairs of Japan

    NATO North Atlantic Treaty Organization

    NHK Nippon Hoso Kyokai

    NSA National Security Agency

    OMC Organizao Mundial do Comrcio

    ONG Organizaes No-Governamentais

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PALOP Pases Africanos de Lngua Oficial Portuguesa

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 26

    PC Personal Computer

    PME Pequenas e Mdias Empresas

    PSYOP Psychological Operations

    RTP Rdio e Televiso de Portugal

    RTVE Radio Televisin Espaola

    SAP Systems Applications and Products

    SEACEX Sociedad Estatal para la Accin Cultural en el Exterior

    SECC Sociedad Estatal de Conmemoraciones Estatales

    SMS Short Message Service

    SPMS - Snail Pace Management Style

    TIC Tecnologias de Informao e Comunicao

    TV - Televiso

    UE Unio Europeia

    UNCTAD United Nations Conference on Trade and Development

    UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

    URSS Unio das Repblicas Socialistas Soviticas

    USAID United States Agency for International Development

    USIA United States Information Agency

    VOA Voice of America

    WIP World Internet Project

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 27

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 28

    1. Introduo

    1.1 Enquadramento

    No mundo atual, extensamente globalizado e interconectado, cada vez mais

    relevante o modo como os Estados comunicam. Existe hoje um acesso muito mais fcil

    informao, que est mais facilmente acessvel a uma escala global, e que, por outro

    lado, muito mais perene, muito dificilmente poder ser eliminada depois de

    transmitida.

    Neste contexto, o modo como efetuada a comunicao entre os Estados e as

    populaes de outros Estados ganhou uma relevncia muito acrescida. As

    consequncias da informao que transmitida e a forma como se processa essa

    comunicao, bem como da imagem e das percees formadas de um Estado podem ser

    hoje muito mais srias que em contextos anteriores.

    Deste modo, a adoo de estratgias de diplomacia pblica tem merecido uma

    ateno crescente de cada vez mais Estados, que vm recorrendo a tcnicas

    habitualmente usadas no sector privado como o branding (por exemplo na promoo da

    marca-pas) como forma de aumentar a sua reputao e credibilidade perante pblicos

    externos.

    Como veremos no decurso deste trabalho, alguns autores referem como

    objetivos da diplomacia pblica, a influncia sobre o curso poltico interno de outros

    Estados em consonncia com os seus prprios interesses. Esses autores relevam que a

    opinio e o comportamento dos cidados dos outros Estados, pode ter um efeito muito

    relevante, pela presso estabelecida diretamente sobre os governos locais atravs de

    posies polticas ou, indiretamente, mediante escolhas e comportamentos individuais.

    Esta uma definio de diplomacia pblica hard que no a privilegiada neste

    trabalho. Trata-se de uma abordagem diplomacia pblica mais negativa e menos

    associada cooperao e livre comunicao com cidados externos e que tende a

    aproximar o conceito de diplomacia pblica ao de propaganda e ao exerccio de prticas

    enganosas relativamente a cidados no nacionais.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 29

    A este propsito, refira-se que alguns autores, como Nio & Montero (2012),

    tendem mesmo a considerar a diplomacia pblica como o exerccio da propaganda de

    forma dissimulada, dada a conotao negativa que o termo propaganda havia conhecido.

    No entanto, como veremos mais frente existem outras abordagens a esta

    atividade, que analisaremos mais em detalhe.

    Em termos gerais, este estudo enquadra-se ainda na anlise do impacto das

    tecnologias de informao e comunicao e da sociedade em rede no exerccio da

    atividade diplomtica, mais concretamente no contexto especfico da diplomacia

    pblica.

    Ao contrrio da diplomacia tradicional, a diplomacia pblica dirige-se aos

    cidados de outros Estados e no especificamente aos governos, sendo hoje encarada

    como muito relevante para a segurana dos pases, especialmente a partir do 11 de

    setembro, podendo traduzir-se numa ferramenta fundamental na preveno de conflitos,

    na gerao de condies para o estabelecimento de parcerias, a nvel poltico e cultural.

    Pelo que, convir analisar esta temtica tendo em considerao a sua vertente

    instrumental para a segurana e defesa de um Estado, e o modo como tem vindo a

    ganhar importncia, num contexto de desenvolvimento de infraestruturas tecnolgicas

    propcias sua afirmao como a Internet e as redes de comunicao de alcance global.

    No existe ainda uma ideia consensual do que significa exatamente diplomacia

    pblica. De um modo geral, podemos dizer que se refere a atos de comunicao, no

    havendo consenso quanto ao mbito e atores desses atos. Iremos aceitar que a

    diplomacia pblica como o prprio nome indica e como acontece com qualquer

    atividade diplomtica, refere-se a relaes internacionais, pelo que tem a ver

    necessariamente com a relao entre atores de Estados diferentes. No caso concreto da

    diplomacia pblica, iremos aceitar que se refere a definio de que se refere relao

    entre o Estado (ou outros em representao deste) e cidados de outros pases. A

    aceitao desta definio dever, no entanto, ter em conta o facto de haver cada vez

    maior dificuldade na segmentao de pblicos na era da informao. Embora no seja

    esse o entendimento de todos os autores, assume-se por isso que as relaes entre um

    Estado e os seus prprios cidados so designadas por outro termo que no este.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 30

    As diferentes perspetivas relativamente diplomacia pblica revelam-se tambm

    geograficamente. Nos EUA, esta disciplina refere-se predominantemente facilitao

    ou comunicao de uma mensagem para influenciar, enquanto que na China refere-se

    manuteno de uma imagem global e gesto de fluxos de informao e no Japo ao

    estebelecimento de conexes que do as bases para uma maior apreciao do Japo, as

    suas polticas e indstrias criativas (Hayden, 2012, p. 287).

    Para uma melhor avaliao do impacto e dos objetivos da diplomacia pblica,

    optmos tambm por efetuar uma anlise evolutiva do conceito de diplomacia pblica

    ao longo da histria e ao contexto tecnolgico que moldou o ambiente comunicacional

    em que a atividade se foi desenrolando.

    Para entender o impacto da diplomacia pblica no contexto atual, torna-se

    relevante compreender os desenvolvimentos associados ao incio da denominada era da

    informao e, mais tarde, ao que alguns autores, como Rhonda Zaharna, denominam era

    da comunicao global.

    A era da informao caracteriza-se por um esbatimento das fronteiras e uma

    grande mobilidade de pessoas e bens, grande interdependncia e globalizao, grande

    fragmentao, uma eroso do poder, com a ascenso de atores no estatais, novas

    identidades, lealdades e comunidades virtuais, revoluo da informao e revoluo

    democrtica, turbulncia, caos e complexidade (Arquilla & Ronfeldt, 1996, p. 17),

    tratando-se de um contexto em que a afirmao das redes enquanto estrutura

    organizacional prevalecente, em detrimento das hierarquias, leva a uma transformao

    profunda da sociedade.

    Pelo que uma anlise era da informao pressupe que se estude o conceito de

    rede, e a estruturao da sociedade em rede. Entre outros autores, incontornvel o

    trabalho de Manuel Castells neste domnio. aqui pertinente verificar qual o papel da

    atividade diplomtica numa sociedade estruturada em rede, nomeadamente, quanto

    influncia da sociedade em rede no relacionamento direto entre os Estados e com os

    atores diversos de outros Estados, e em que medida se assiste a uma diminuio da

    importncia relativa da relao direta entre os Estados e ao reforo da importncia da

    diplomacia pblica.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 31

    Tal exerccio pressupe tambm obrigatoriamente um olhar ao papel que a

    tecnologia tem neste domnio, e sua influncia na preponderncia que a diplomacia

    pblica assume no atual ambiente comunicacional.

    Neste contexto, particularmente importante o surgimento de novas construes

    tericas no que se refere a polticas diplomticas para o ciberespao. Apresenta aqui

    especial importncia a noopolitik de John Arquilla e David Ronfeldt, a cyberpolitik de

    David Rothkopf ou a netpolitik de David Bollier. A comparao das suas caractersticas

    com as da realpolitik permite-nos compreender alguns dos principais desafios que se

    colocam ao exerccio da diplomacia pblica no contexto atual.

    Assumem tambm um papel crescentemente importante as redes sociais, sendo

    relevante analisar a sua influncia na atividade diplomtica e a sua associao mais

    particular ao conceito de diplomacia pblica. Pretende-se verificar at que ponto a

    rpida expanso de redes sociais online vai de encontro aos interesses dos Estados ao

    nvel da diplomacia pblica.

    Mais concretamente, relevante determinar em que medida podero as redes

    sociais corresponder a um instrumento objetivo de diplomacia pblica dos Estados face

    aos desenvolvimentos proporcionados pela era da informao.

    Esta anlise dever ter presente que a diplomacia pblica refere-se

    fundamentalmente ao processo de comunicao estabelecido com cidados estrangeiros,

    sendo particularmente relevante o estudo da comunicao de massas e a distino da

    diplomacia pblica dos conceitos de propaganda e publicidade.

    Outra questo cada vez mais focada por alguns autores refere-se propriedade

    da diplomacia pblica. Autores como Peter Peterson vm reclamando a privatizao de

    domnios associados diplomacia pblica. Ser relevante analisar em que medida estas

    atividades devero ser exercidas por agentes pblicos ou privados, e quais as

    implicaes para a atividade diplomtica e para os interesses dos Estados que podero

    advir da sada da esfera estatal destas atividades. Diretamente associada questo da

    propriedade, est a da credibilidade no exerccio da diplomacia pblica, que iremos

    analisar neste trabalho.

    Outro domnio relevante refere-se s implicaes do aumento da conflitualidade

    social no ciberespao para a atividade diplomtica. De outro modo, at que ponto o

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 32

    novo paradigma de conflitualidade social no ciberespao ditou a necessidade de agir

    diplomaticamente em rede, reforando a importncia da diplomacia pblica na era da

    informao. Neste domnio tambm relevante a anlise de conceitos especificamente

    militares como as INFOOP, as MISO e a deceo e a sua relao com a diplomacia

    pblica.

    A diplomacia cultural uma dimenso preponderante e central da diplomacia

    pblica. Dentro da diplomacia cultural, tem um papel fundamental a diplomacia

    religiosa. No contexto de um mundo muito claramente cada vez mais religioso (com a

    exceo da Europa) esta uma questo cada vez mais relevante, e uma dimenso que

    cada vez mais deve ser incorporada nas estratgias de diplomacia pblica, incluindo a

    formao de profissionais nesta rea e o recurso a a especialistas religiosos, quando os

    contextos especficos o justifiquem.

    Na segunda parte deste trabalho, e tendo por base em parte a anlise efetuada

    nos captulos anteriores pretende-se identificar tendncias que caraterizem o futuro da

    diplomacia pblica, e as competncias que dever dominar um diplomata pblico para o

    exerccio futuro desta atividade. Um diplomata pblico da era da informao dever

    adquirir competncias funcionais e tcnicas de interao no ciberespao, embora

    tambm deva dominar competncias da diplomacia tradicional.

    Procura-se tambm focalizar no exerccio da diplomacia pblica no contexto da

    Pennsula Ibrica, enfatizando as suas razes histricas, procurando identificar, ao longo

    da histria, o modo como os dois pases da Pennsula exerceram a diplomacia pblica,

    as semelhanas na sua atuao e as perspetivas futuras que a mesma poder ter.

    Neste sentido, esta dissertao situa-se na confluncia de diversos campos como

    a informao, comunicao ou relaes internacionais, mas tambm sociologia, gesto,

    economia. Pretende-se com este estudo contribuir para uma clarificao quanto ao

    exerccio da diplomacia pblica numa era de comunicao global e quanto s

    potencialidades dos pases da Pennsula Ibrica, com particular incidncia em Portugal,

    em que esta disciplina se encontra muito menos estudada.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 33

    1.2. Objeto e justificao do estudo

    Procura-se neste estudo verificar, no mbito do exerccio da atividade

    diplomtica na era da informao ou no contexto de uma era de comunicao global, at

    que ponto estaremos a assistir a um processo gradual de afirmao da diplomacia

    pblica enquanto atividade diplomtica fundamental em detrimento da atividade

    diplomtica tradicional.

    Pelo que a questo central especificamente a seguinte: Na era da informao

    ou numa era de comunicao global, onde se assiste a um aumento da interatividade e

    da conflitualidade social no ciberespao, estaremos a assistir a um processo gradual de

    afirmao da diplomacia pblica enquanto atividade diplomtica dominante?

    A partir desta questo central, considerou-se um conjunto adicional de questes

    derivadas, que contriburam para a orientao e desenvolvimento do presente estudo:

    Qual o impacto na atividade diplomtica de uma sociedade estruturada em

    rede?

    De que forma o papel dos Estados afetado pela concorrncia na atividade

    diplomtica de atores no estatais de alcance global e de organizaes de carcter

    multilateral?

    Em que medida poder-se- afirmar que a rpida expanso de redes sociais

    online vai de encontro aos interesses dos Estados ao nvel da diplomacia pblica?

    Quais as implicaes do aumento da conflitualidade social no ciberespao para

    a actividade diplomtica?

    Qual o impacto do ciberespao no sistema poltico internacional (ex: Wikileaks

    e do hacktivismo social) na actividade diplomtica?

    Que competncias dever dominar um profissional da diplomacia pblica na

    era da informao ou numa era de comunicao global?

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 34

    Ao longo dos captulos deste estudo considerou-se um conjunto de abordagens

    distintas procurando encadear e demonstrar os principais aspetos da diplomacia pblica

    desde a sua origem, estruturando este exerccio a partir do conceito da prpria

    diplomacia pblica e dos conceitos de informao, comunicao e diplomacia.

    Procuraremos tambm analisar de que forma o papel dos Estados afetado pela

    concorrncia na atividade diplomtica de atores no estatais de alcance global e de

    organizaes de carter multilateral, nomeadamente, at que ponto a resoluo dos

    problemas gerados pela era da informao requer a participao de entidades no

    estatais e de organizaes multilaterais, pelo que algumas das funes tipicamente

    estatais passariam a ser desempenhadas por estas entidades, reduzindo a importncia

    relativa dos Estados.

    Pretende-se analisar tambm a importncia que as instituies militares tm na

    implementao prtica de uma estratgia de diplomacia pblica, abordando o papel do

    Military support to public diplomacy.

    Outro aspeto a analisar relaciona-se com o impacto do ciberespao no sistema

    poltico internacional, nomeadamente, quanto ao impacto dos fenmenos associados ao

    wikileaks e do hacktivismo social, na atividade diplomtica.

    Neste contexto, relevante a forma como fenmenos tais como o hacktivismo

    nas suas formas distintas e como o wikileaks revelam a emergncia de um novo tipo de

    atores no sistema poltico internacional e a uma nova forma de comunicao traduzindo-

    se em novos desafios para a diplomacia pblica.

    Existe um conjunto extenso de literatura em lngua inglesa relativa diplomacia

    pblica como Philip Taylor, Nancy Snow, Philip Seib, Kishan Rana, Darryl Copeland

    ou, de alguma forma, John Arquilla e David Ronfeldt, que se debruam um conjunto

    vasto de tpicos relacionados com a informao. Em lngua espanhola podem ser

    referidos os nomes de Javier Noya e Javier Hernndez.

    Na rea das relaes internacionais autores como Robert Cooper, Robert Kaplan

    ou Adriano Moreira apresentam contribuies importantes para a temtica deste estudo.

    Na rea da diplomacia pblica religiosa, autores com Douglas Johnston, Jack

    Snyder, Madeleine Albright so dos principais a relevar a sua importncia.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 35

    1.3. Motivao

    A ideia de realizar este projeto surgiu na sequncia da realizao de um estudo

    anterior que se referiu ao exerccio da diplomacia no contexto da era da informao

    conducente ao grau de mestre na Universidade do Minho com orientao da Professora

    Doutora Isabel Ramos em 2009, para o qual contribuiram decisivamente os

    conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Ps-Graduao em Guerra de

    Informao/Competitive Intelligence na Academia Militar.

    O estudo em causa analisou o exerccio da diplomacia na era da informao,

    procurando caracterizar o caso concreto de Portugal. Procurou-se verificar at que ponto

    as instituies portuguesas se estavam a adaptar ao exerccio da diplomacia na era da

    informao

    Do mesmo estudo veio a resultar um outro trabalho apresentado no I Congresso

    Nacional de Segurana e Defesa, em Lisboa, no ano de 2010 e que sintetizava as

    principais concluses do primeiro estudo.

    Ao longo da realizao dos estudos em causa, foi possvel identificar sinais que

    apontavam para uma mudana na forma como a atividade diplomtica se estava a

    exercer no mbito de um novo ambiente comunicacional em que participavam

    ativamente diversos conjuntos diversificados de atores. Nesse contexto, foi possvel

    identificar que uma forma especfica de diplomacia, a diplomacia pblica, parecia estar

    a ganhar uma preponderncia clara.

    Deste modo, colocou-se a questo da forma como essa preponderncia poderia

    alterar decisivamente o modo de exercer a atividade diplomtica, ao ponto de a

    diplomacia pblica poder substituir a diplomacia tradicional enquanto atividade

    diplomtica dominante num novo ambiente comunicacional.

    Pelo que nos pareceu relevante a realizao de um estudo mais aprofundado do

    exerccio da diplomacia pblica, da sua evoluo a nvel global, mas tambm no

    contexto ibrico, procurando identificar especificidades do seu exerccio no contexto

    dos pases da Pennsula Ibrica e de perspetivas futuras, tendo sempre em mente a

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 36

    verificao da hiptese de que a mesma se est a traduzir crescentemente na atividade

    diplomtica dominante.

    1.4. Hipteses de trabalho e objetivos

    As hipteses construdas visaram orientar a obteno de respostas s questes

    formuladas neste estudo, a partir da questo central que pretende verificar de que forma

    a era da informao, o desenvolvimento da sociedade em rede, das redes sociais esto a

    ditar a afirmao da diplomacia pblica enquanto atividade diplomtica dominante em

    detrimento da diplomacia tradicional.

    Pretende-se a partir de uma viso global sobre os diversos instrumentos

    disponveis para a implementao de uma estratgia de diplomacia pblica, adequada a

    um novo ambiente comunicacional e a uma nova era de redes de informao globais,

    potenci-los tendo em conta a concretizao de objetivos estratgicos nacionais

    previamente definidos.

    Deste modo, foi considerado um conjunto de hipteses de trabalho que orientou

    o presente estudo:

    Hipteses: A sociedade em rede potenciou o contacto directo entre os Estados e

    actores diversos de outros Estados, diminuindo a importncia relativa da relao

    directa entre Estados e reforando a importncia da diplomacia pblica.

    A resoluo dos problemas gerados pela era da informao requer a

    participao de entidades no estatais e de organizaes multilaterais, pelo que

    algumas das funes tipicamente estatais passam a ser desempenhadas por estas

    entidades, reduzindo a importncia relativa dos Estados.

    As redes sociais correspondem a um instrumento objectivo de diplomacia

    pblica dos Estados face aos desenvolvimentos proporcionados pela era da

    informao.

    O novo paradigma de conflitualidade social no ciberespao ditou a necessidade

    de agir diplomaticamente em rede, reforando a importncia da diplomacia pblica na

    era da informao.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 37

    O 11 de Setembro reflectiu a existncia de netwars, e evidenciou a necessidade

    de uma actuao eficaz ao nvel da diplomacia pblica contra o terrorismo,

    potenciando, decisivamente, o seu desenvolvimento, sendo de sublinhar o envolvimento

    das instituies militares.

    Um diplomata pblico da era da informao dever adquirir competncias

    funcionais e tcnicas de interao no ciberespao, embora tambm deva dominar as

    competncias da diplomacia tradicional.

    Para a validao destas hipteses procedeu-se a um extenso estudo bibliogrfico

    e anlise de casos especficos.

    1.5. Metodologia

    Referindo-se a questo central deste estudo anlise do exerccio da atividade

    diplomtica, e da diplomacia pblica em particular, optou-se por um extenso

    levantamento bibliogrfico que permitisse uma caracterizao abrangente da sua prtica

    no contexto de uma era de comunicao global, tendo em conta os seguintes aspetos:

    Pesquisa e seleo de um conjunto de bibliografia adequada sobre

    informao, comunicao e diplomacia pblica nas suas diversas vertentes;

    Pesquisa de pginas na web sobre diplomacia pblica;

    Elaborao de uma questo central e de um conjunto de hipteses que

    serviram de orientao para o estudo a realizar;

    Seleo da informao mais adequada e das modalidades de diplomacia

    pblica mais relevantes para o estudo em causa;

    Seleo de bibliografia de autores com opinies contrrias tendo em vista a

    obteno de uma viso global quanto ao exerccio da diplomacia pblica.

    Refira-se ainda que muitos dos exemplos indicados e das anlises conceptuais

    elaboradas acabam por se basear em aspetos especficos dos EUA, dado que muitos

    conceitos que servem de base a este estudo l tm origem.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 38

    Em termos geogrficos, optou-se tambm por uma ateno mais particular ao

    mbito geogrfico dos pases da Pennsula Ibrica.

    1.6. Estrutura do trabalho

    O presente estudo encontra-se organizado em sete captulos.

    O captulo dois refere-se a conceitos bsicos, centrando-se no conceito de

    diplomacia nas suas diferentes perspetivas e vises. So tambm analisados os

    conceitos de informao, comunicao.

    A introduo a esta temtica parte do conceito de informao enquanto matria-

    prima fundamental da atividade diplomtica e do conceito de comunicao inerente ao

    exerccio da diplomacia pblica.

    A anlise diplomacia pblica requer tambm, no atual ambiente

    comunicacional, o estudo aprofundado do conceito de soft power e de diversas

    ferramentas utilizadas pelos Estados na comunicao com os cidados de outros pases

    como a propaganda, as relaes pblicas, distinguindo-as da diplomacia pblica.

    Tal anlise requer uma ateno vertente tecnolgica, sendo fundamental um

    olhar sobre as tecnologias de informao e comunicao e da interatividade que

    proporcionam no contacto entre os Estados e os cidados, efetuada no captulo trs.

    Neste captulo tambm analisado o conceito de rede enquanto forma de organizao

    prevalecente na sociedade.

    No captulo quatro feita uma anlise aprofundada ao conceito de diplomacia

    pblica, sublinhando-se o facto de no existir ainda uma definio consensual e precisa.

    feita uma distino da diplomacia pblica face diplomacia tradicional.

    No captulo cinco analisam-se perspetivas futuras para o exerccio da atividade

    diplomtica centrando a anlise na diplomacia pblica, e no processo de globalizao e

    desenvolvimento.

    O captulo seis refere-se anlise da diplomacia cultural, dimenso fundamental

    fundamental do exerccio da diplomacia pblica na atualidade, no mbito da qual

    assume um papel fundamental a diplomacia pblica religiosa.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 39

    O captulo sete refere-se anlise da diplomacia pblica no contexto da

    Pennsula Ibrica, enquadrando-a historicamente e projetando possveis

    desenvolvimentos futuros, sendo propostas possveis linhas de ao para uma estratgia

    de diplomacia pblica ibrica, a partir de uma comparao internacional de diversos

    casos.

    Este captulo refere-se a uma anlise mais objetiva dos contextos portugus e

    espanhol, com uma anlise das semelhanas existentes entre os dois pases da Pennsula

    Ibrica, e as diferenas entre estes. Tendo em conta os conceitos anteriormente

    analisados, que assumiram o papel de orientadores do trabalho de pesquisa efetuado

    partiu-se para a identificao de situaes prticas e a anlise de situaes de natureza

    mais prtica.

    No captulo oito pretendem estabelecer-se linhas gerais tendentes adoo de

    estratgias de diplomacia pblica pelos dois pases da Pennsula Ibrica.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 40

    A diplomacia uma arte, no uma cincia (Cooper, 2003, p. 85)

    2. Diplomacia e Informao

    O conceito de diplomacia est diretamente associado ao conceito de informao,

    que constitui a sua matria-prima base. fundamentalmente na recolha e anlise dessa

    informao que incide a essncia da atividade diplomtica. Por outro lado, podemos

    constatar que o prprio conceito de diplomacia evoluiu ao longo do tempo

    acompanhando o desenvolvimento das Tecnologias de Informao e Comunicao

    (TIC), nomeadamente ao nvel do tratamento da informao disponvel, e do modo

    como as redes eletrnicas afetam hoje o exerccio da atividade.

    De facto, ao longo do tempo, novos conceitos que derivam do termo diplomacia

    foram surgindo, procurando adaptar esta atividade s mudanas polticas e sociais que

    se foram verificando. A ttulo exemplificativo note-se o conceito de diplomacia virtual,

    que se refere ao exerccio da atividade diplomtica adaptada a um novo ambiente

    comunicacional e a um novo contexto tecnolgico, ou o conceito de diplomacia pblica,

    entendido por muitos autores como a modalidade diplomtica melhor adaptada a um

    contexto de comunicao global, em que o Estado j no detm o monoplio da

    informao nem controla os fluxos de informao, conceito esse que analisaremos de

    forma detalhada mais adiante neste trabalho.

    Neste contexto, dois conceitos-chave so os de informao e comunicao,

    fundamentais na caracterizao da era da informao. Estes dois termos apresentam

    uma grande interdependncia pois a informao s existe quando comunicada e a

    comunicao no existe sem a informao (Stumpf & Weber, 2003, p. 122).

    Analisaremos estes conceitos separadamente ao longo deste captulo.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 41

    2.1. Diplomacia

    A atividade diplomtica remete-nos para a relao entre Estados diferentes e

    para processos de negociao entre eles, tendo por base interesses nacionais que podem

    ser distintos, sendo desempenhada tradicionalmente por embaixadores e enviados.

    Como referido em Mendona (2009, p. 18) a partir da definio de diplomacia

    de Smith (1999) para ilustrar a importncia da influncia sobre a ao de outros grupos

    nos fundamentos da atividade diplomtica, a diplomacia pode ser entendida como a

    arte de defender os interesses nacionais atravs da troca de informao sustentada entre

    governos, naes e outros grupos. O seu objetivo o de () atingir acordos e resolver

    problemas. a prtica da persuaso. Moreira (2005), define-a como uma arte da

    negociao ou o conjunto das tcnicas e processos de conduzir as relaes entre os

    Estados (pp. 74-75).

    Outro aspeto importante da diplomacia refere-se ao facto de a diplomacia, por

    definio, dedicar-se soluo de problemas e resoluo de diferendos sem o uso da

    fora, conseguindo-o atravs da negociao e do compromisso, da promoo da

    cooperao para ganhos mtuos e da recolha de informao relacionada com a defesa

    dos interesses nacionais (Copeland, 2009, p. 2).

    Outra viso tradicional da diplomacia a de que se refere a um instrumento da

    poltica externa para o estabelecimento e desenvolvimento de contactos pacficos entre

    os governos dos diferentes Estados pelo emprego de intermedirios mutuamente

    reconhecidos pelas partes (Magalhes, 1995, p. 90).

    Mas como referido anteriormente, a atividade diplomtica encontra-se muito

    associada ao conceito da informao. Os conceitos de diplomacia e informao

    entrelaam-se cada vez mais. A opinio pblica internacional encontra-se mais

    informada, o seu poder est aumentando; e a diplomacia mais pblica, mais

    transparente e universal (Hernndez, 2012, p. 2).

    Pelo que, sustenta que a matria-prima da diplomacia a informao: a forma

    como obtida, acedida e tratada para o benefcio de outros (Schultz, 1997).

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 42

    Numa perspetiva semelhante, Schmitz (1997) defende que a obteno de

    informao a razo de ser da diplomacia, enquanto que Smith (1999) refere que a

    informao, pblica ou privada o sangue da actividade diplomtica.

    De um modo geral, as definies de diplomacia encontram-se centradas na

    noo de Estado, no entanto, alguns autores, como os acima referidos, relevam mais a

    informao enquanto fundamento da atividade diplomtica (Mendona, 2009, p. 20).

    Outra dimenso muito relevante da diplomacia a comunicativa. Javier

    Hernndez (2012) olha para a atividade diplomtica muito por esta tica e sublinha que

    a diplomacia um processo comunicativo, a que se associam o carcter negociador,

    relacional e simblico da atividade diplomtica (p. 77).

    Nesta tica, Hernndez (2012, pp. 78-80) apresenta seis modalidades distintas da

    atividade diplomtica contempornea:

    Diplomacia direta, que supera os canais ordinrios estabelecidos

    de encontro e negociao e vai mais alm, no sentido em que so os prprios

    Chefes de Estado, Chefes de Governo ou Ministros titulares quem estabelece

    esses contactos no lugar das representaes diplomticas oficiais em vez dos

    canais ordinrios. No entanto, a necessidade de tomar decises muito

    rapidamente um dos pontos fracos da diplomacia direta que no permite

    margem de manobra e reflexo;

    Diplomacia multilateral ou por conferncia, cujo precedente mais

    direto est nas conferncias internacionais do sculo XIX. So encontros fixados

    antecipadamente, organizados de antemo, com o objetivo de celebrar acordos

    atravs do debate para consolidar linhas de atuao poltica partilhada;

    Diplomacia parlamentar constitui uma evoluo da diplomacia

    multilateral no sentido em que se d amparo a uma organizao internacional

    permanente que pode ser a Unio Europeia ou a ONU, tendo um carcter

    complementar diplomacia governamental;

    Diplomacia ad hoc - a modalidade mais clssica e tradicional,

    onde o diplomtico tem um papel maior. Corresponde a misses especiais,

    negociaes ou encontros para questes concretas;

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 43

    Diplomacia Pblica tem o objetivo de influir na opinio dos

    pases estrangeiros. Dirige-se a novos atores, busca novas opes de

    relacionamento e encontram na comunicao e nas novas tecnologias um refgio

    sobre o que assentar as suas estratgias;

    Entidades subestatais que esto ganhando mais importncia no

    cenrio internacional, como o caso das regies, que desenvolvem atividades de

    representao, sociais, culturais e econmicas, o que apelida de paradiplomacia.

    Por exemplo, no caso da Unio Europeia, muitas regies esto representadas

    diretamente em Bruxelas.

    Por outro lado, outro autor espanhol Javier Noya (2007, p. 107) apresenta uma

    distino entre quatro tipos de diplomacia, a partir de uma matriz elaborada por Mark

    Leonard:

    Diplomacia tradicional que se refere relao de governo para

    governo;

    Diplomacia pessoal relativa relao de diplomata para

    diplomata;

    Diplomacia civil (ONG) e diplomacia de dispora (emigrao)

    que se referem a relaes de pessoas para pessoas;

    Diplomacia pblica relativa relao entre governo e pessoas;

    Um outro conjunto de autores olha para a diplomacia de um modo mais

    abrangente, incluindo-a dentro do conceito um conjunto mais amplo de aes. White

    (1999, p. 250) considera que o termo diplomacia sintetiza genericamente todo o

    conjunto de aes associadas a relaes internacionais, poltica mundial ou poltica

    externa. Esta uma perspetiva da diplomacia como um processo global que se traduz

    em mltiplas aes no mbito internacional. Como citado anteriormente em Mendona

    (2009) nesta perspetiva a diplomacia pode ser encarada numa perspetiva macro (estudo

    da poltica mundial como um todo) ou numa perspetiva micro (comportamento de

    Estados e outros atores na poltica internacional). Numa perspetiva macro, White

    considera estarmos perante um processo de comunicaes central a nvel global,

    abrangendo a resoluo de conflitos pela negociao e dilogo. Numa perspetiva micro,

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 44

    a diplomacia mais olhada como um mtodo ou ferramenta para atingir um objetivo ou

    meta, e menos como processo global (p. 19).

    Por seu turno, Copeland (2009, p. 165) considera a diplomacia como algo

    amplo, mas de uma perspetiva muito prtica. Sublinha que a diplomacia tradicional

    envolve o contacto direto entre Estados distinguindo-a de outras aes. De modo

    diferente, as relaes pblicas procuram tambm informar como a diplomacia mas no

    tm um elemento de persuaso. As relaes culturais enriquecem a experincia e

    aumentam a compreenso mtua, mas se no enquadradas numa estratgia diplomtica,

    podem carecer de objetividade. Por outro lado, a propaganda um fluxo de informao,

    ao contrrio da diplomacia, num s sentido, e muitas vezes caracterizado por

    enviesamento ou falta de rigor.

    Copeland (idem) considera ainda que os envolvidos na guerra da informao e

    PSYOP (hoje MISO) aspiram a dominar as comunicaes e afetar os processos em

    situaes de conflito, o que os difere dos atores diplomticos. No entanto, como

    veremos mais frente, podero fazer parte de um quadro de uma estratgia diplomtica.

    Para o mbito deste estudo, interessa-nos sobretudo reter a associao entre a

    diplomacia e os conceitos de informao e comunicao, bem como a sua relao com

    dimenses distintas como a cultural, a das relaes pblicas, a dimenso militar ou a

    religiosa.

    No mbito do presente estudo, interessa-nos, sobretudo, a anlise do conceito de

    diplomacia pblica, que iremos analisar mais frente enquanto modalidade diplomtica

    dirigida aos cidados externos e que tem vindo a ganhar relevncia no atual ambiente

    comunicacional. Neste sentido, tambm fundamental a anlise do processo

    comunicacional entre os Estados e os cidados estrangeiros, num contexto cada vez

    mais interativo e dinmico.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 45

    2.2. Informao

    2.2.1. Conceito de informao

    Comearemos pela anlise ao conceito de informao e de que forma a sua

    evoluo veio a exercer influncia na forma e relacionamento entre atores de diferentes

    Estados.

    No atual ambiente comunicacional, a atividade diplomtica, em qualquer uma

    das suas modalidades, est diretamente associada ao conceito de informao, mas

    tambm aos conceitos de conhecimento ou de comunicao. Pelo que til olhar para

    estes conceitos e para a sua abrangncia associando-os ao exerccio da diplomacia.

    Na sociedade atual, caraterizada por um volume e fluxo de informao sem

    precedentes e crescentes, a informao desempenha um papel cada vez mais central a

    diversos nveis como o social, econmico, poltico ou cultural, nos quais as redes

    globais de informao, como a Internet, adquirem uma importncia crescente.

    Existem vrias abordagens ao conceito de informao, nem sempre compatveis

    umas com as outras.

    Sagredo Fernndez e Izquierdo Arroyo (1983, p. 179) remetem a origem do

    termo informao para a raiz inform a partir da qual se formam os termos

    informao, e tambm informar ou informado.

    Informar resulta de IN+FORMARE, referindo-se transmisso de uma notcia,

    dar a conhecer o desconhecido (para o destinatrio) (idem, pp. 180-181).

    Outra perspetiva quanto origem da palavra informao, a de que, no seu

    sentido original, a palavra informao exprime essencialmente a ideia de em-formao

    (enformao). Tendo da derivado o sentido atual de informao sendo a enformao

    feita com vista a uma informao (Monteiro et al, 2008, p. 233).

    Podemos definir genericamente informao como o significado atribudo por um

    indivduo a um dado conjunto de sinais, dando o nome de mensagem a esse conjunto de

    sinais (Ferreira do Amaral, 2009, p. 13).

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 46

    A mensagem pode ser definida como a manifestao fsica da informao

    produzida por uma fonte, distinguindo informao analgica, referente quantidade

    fsica de informao que varia com o tempo de uma forma suave e contnua e

    informao digital construda a partir de uma sequncia de smbolos discretos (Nunes,

    1995, p. 17).

    Esse conjunto de sinais corresponde a dados que podem ser definidos como

    conjuntos de factos discretos e objetivos sobre eventos recebidos por intermdio dos

    sentidos (Amaral & Pedro, 2004, p. 31).

    A informao poder referir-se tambm organizao de dados com o objetivo

    de explicar uma situao especfica ou particular. Pelo que poderemos tambm definir

    informao como o resultado da agregao e composio desses dados elementares,

    realizada de acordo com determinados objetivos. a informao que fornece sentido

    aos dados de forma a obter descries de acontecimentos, objetos ou situaes (Santos

    & Ramos, 2006, p. 8).

    Deste modo, os dados para se transformarem em informao, devero conter um

    significado capaz de cativar o destinatrio, correspondendo a um conjunto de factos

    discretos e objetivos que caracterizam um determinado acontecimento (Cabrita, 2009,

    p. 46).

    Amaral e Pedro (2004) referem que o conceito de informao sobressai desta

    forma como o esforo de contextualizao para extrair da realidade dos dados os

    detalhes essenciais para a nossa sobrevivncia (p. 32). Neste sentido, a informao

    provm dos dados mas dever ter significado para o destinatrio para ser considerada

    como tal, devendo:

    Possuir contexto, atribuindo objetivo aos dados;

    Ser categorizada, a partir de uma abstrao da realidade

    constituda por categorias;

    Ser valorizada no contexto das categorias;

    Permitir o controlo de erro induzido pela categorizao;

    Ter coerncia percebida com outros dados relativos mesma

    realidade.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 47

    Deste modo, existe uma diferena muito relevante entre dados e informao. A

    pouca relevncia de que os dados so acusados advm da ausncia de: contextualizao;

    atribuio de sentido, de interpretao e de avaliao, porque descrevem apenas uma

    parte dos acontecimentos (Cabrita, 2009, p. 46). Esta autora defende ainda que:

    Desprovidos de contexto temporal e espacial, os dados apresentam-se sob a

    forma de nmeros, palavras, sons e imagens podendo ser criados, adquiridos,

    armazenados, recuperados distribudos, nomeadamente atravs de sistemas

    tecnolgicos existentes nas organizaes. Embora pouco relevantes, os dados

    so importantes, porque so a matria-prima essencial para a construo da

    informao (ibidem).

    De modo diferente a informao constitui a leitura que uma pessoa faz dos dados

    ou a relao efetuada entre dados. So dados interpretados, dotados de relevncia e

    propsito. A informao compreende factos e dados organizados e implica um ato de

    transferncia ou partilha entre, pelo menos, duas pessoas, o emissor e o recetor

    (Cabrita, 2009, p. 46).

    Deste modo, existe no processo informativo o nascimento de algo novo. O

    principal atributo da informao moldar ou alterar a viso ou perspetiva de quem a

    recebe. o recetor que, luz do seu julgamento, crenas, valores e verdades, acaba por

    selecionar, interpretar e dar sentido informao (ibidem).

    Numa perspetiva distinta, menos subjetiva, Sagredo Fernndez e Izquierdo

    Arroyo (1983, p. 181) referem duas acees comuns da palavra informao:

    Ao e efeito de informar-se;

    Notcia ou conjunto de notcias resultantes dessa ao/efeito.

    A partir destas duas acees, estes autores citando Lpez Yepes (1978)

    sublinham a polissemia do termo informao que se pode referir ao contedo de uma

    mensagem e ao processo da sua transmisso, indicando simultaneamente o processo e o

    objeto da informao.

    A informao tanto pode ser contedo (notcia) como pode ser o modo como

    esse contedo transmitido (mass media). Ela designa tanto as empresas de difuso

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 48

    como a exigncia social de informar e de estar informado, facto fundamentalmente de

    transformao coletiva (Monteiro et al, 2008, p. 233).

    Tal como referem Sagredo Fernndez & Izquierdo Arroyo (1983, p. 254) e

    tambm Monteiro et al (2008, p. 233) em termos do seu uso prtico, a palavra

    informao, acaba por no distinguir-se muitas vezes dos outros termos muitas vezes

    utilizados para designar realidades empriricamente semelhantes como comunicao de

    massa e mass media.

    Benito, citado por Sagredo Fernndez & Izquierdo Arroyo (1983), referia-se

    informao defendendo que todo o estudo da informao deve partir do seu primeiro

    sentido verbal de dar notcia de uma coisa: a informao como ao e efeito de informar

    ou informar-se (p. 253).

    Lecrerc (2000) define informao como todo o enunciado que se refere a um

    qualquer estado da realidade, tal como o que d a distncia da Terra Lua, o nmero da

    populao francesa em 1995, a presena de um livro numa biblioteca pblica (p. 37).

    Nesta tica, uma informao um enunciado que trata de um qualquer estado da

    realidade, quer esse estado seja estvel, duradouro, ou, pelo contrrio, transitrio e

    passageiro. Como refere Lecrerc (2000) Quando o estado sobre o qual se refere a

    informao estvel (estado orgnico), a informao possui um valor durvel (p. 37).

    Pelo contrrio, quando este estado transitrio, ento a informao s possui validade

    de valor de verdade apenas durante o perodo de tempo ao qual se refere (p. 38).

    A noo de cdigo tambm relevante neste contexto, sendo necessrio

    descodificar um cdigo para que haja informao. A pgina de um livro s por si no

    constitui qualquer informao para todos os que no souberem descodificar o cdigo em

    que essa pgina est escrita (Freixo, 2011, p. 377). A pgina, tal como o papel ou a

    tinta permanecem no plano emprico ao nvel da materialidade das coisas e no das

    palavras, que j pertencem ao domnio do simblico (idem, p. 378).

    Wiener afirmava que informao um termo que designa o contedo daquilo

    que permutamos com o mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que o nosso

    ajustamento seja nele percebido (citado por Freixo, 2011, p. 379). Freixo considera

    que:

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 49

    O processo de receber e utilizar informao o processo do nosso ajustamento

    s contingncias do meio ambiente. Neste sentido, podemos ento afirmar que

    informar dar forma a uma informao destinada a outra ou a vrias pessoas. A

    informao , pois, uma noo que abrange simultaneamente um contedo e a

    sua forma, bem como o ato de o transmitir. Pode ser compreendida como a

    notcia, no sentido corrente: primeiro sinal que se d ou se recebe de um

    acontecimento que acaba de se produzir ou de ser conhecido. Pode estender o

    seu significado a todo o processo que vai da investigao difuso. Na sua

    aceo mais vulgar, a informao cobre o conjunto dos factos de atualidade

    levados pelos mdia ao conhecimento do pblico (ibidem).

    A caracterizao da informao remete-nos tambm para a sua disponibilidade.

    A crescente facilidade no acesso informao potenciada pelo desenvolvimento de

    novas tecnologias de informao e comunicao levou definio de uma era da

    informao a partir dos anos 1970s.

    Como refere Wik (1999) antigamente toda a informao estava escondida, com

    a exceo da que estava disponvel. Hoje toda a informao est disponvel, com a

    exceo da que est escondida.

    Outra dimenso relevante da informao a de que se trata de algo varivel no

    tempo, relacional e no absoluto (Borer, 2007, pp. 236-237). Este aspeto leva a que a

    informao seja difcil de medir, categorizar e entender, sendo que o que o que boa

    informao numa semana poder representar desinformao na semana seguinte.

    Outros autores referem-se mais a uma dimenso poltica da informao, como

    o caso de Seib (2012) que sublinha que cada vez mais a informao chegar s pessoas

    e quando chegar, ir em muitos casos provar ser libertadora (p. 16).

    Taylor (2009, p. 14) aborda tambm o conceito de informao e a era da

    informao numa dimenso mais poltica. Este autor atribui uma relao era da

    informao e ao terrorismo dado que considera que os terroristas sem a sociedade da

    informao no passariam de anarquistas ou criminosos comuns, correspondendo a sua

    ao efetiva a 90% de publicidade e apenas 10% a violncia.

    Outros autores olham para a informao como basilar da prpria existncia.

  • Diplomacia Pblica, Tecnologia e Religio

    Antnio Srgio Mendona Pgina 50

    Jiri Zeman (citado por Sagredo Fernndez & Izquierdo Arroyo, 1983) considera

    que:

    a informao significa a disposio de alguns elementos e partes materiais ou

    imateriais em alguma forma, em algum sistema classificado. Isso significa a

    classificao de algo. Nessa forma geral, a informao tanto a classificao de

    smbolos e das suas relaes numa conexo, como a organizao dos rgos e

    das funes do ser vivo, ou a organizao de um sistema social qualquer ou de