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AS VIDAS DE CHICO XAVIER WILSON DA CUNHA 1 Material de Estudo – Tema 5 As Vidas de Chico Xavier

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ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Material de Estudo – Tema 5

As Vidas de Chico Xavier

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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CHICO XAVIER – MISSIONÁRIO DO CRISTO

Biografia de Chico Xavier:

É necessário falarmos de Chico Xavier, de seu exemplo de vida.

É necessário falarmos por ele, pois ele nada diz de si mesmo, das suas

experiências passadas e de suas caminhadas. É necessário dizer que

espíritos como ele, deixam para todos nós um rastro de luz através dos

exemplos que nos impulsionam a desejar, também, caminharmos em

direção dessa árdua ascensão.

Livros “Herculanum” de J.W. Roschester e “Narrações do

Infinito”, de Camille Flammario, assim como a biografia de Allan

Kardec, escrita por Henri Sausse, vão revelando existências outras do

Codificador; habitante que foi de um planeta da constelação de Orion,

sacerdote druida, ao tempo das Gálias, e como Quirilo Cornélius, na

velha Roma, época de Jesus. O centurião cornélius, que tem o seu

nome citado em muitos versículos da bíblia..

É com o sentimento de reconhecimento à esse grande espírito

que começamos a narrar toda a odisseia existencial de Chico Xavier,

nesse planeta Terra.

É necessário dizer que a biografia das caminhadas existenciais

de Chico é o suficiente para atestar que não existe a ressurreição e

nem tão pouco o sono eterno, aguardando o dia do julgamento.

A Revista Reformador de outubro de 1.995, cita os seguintes

livros que fazem revelações sobre algumas das suas vidas anteriores.

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Sua caminhada nos faz entender que todo diamante, para tornar-

se brilhante, tem que passar pela lapidação que nos conduzirá a

maturação espiritual.

Voltemos a falar de Chico na indumentária do centurião

Quirilius Cornélius, citando apenas alguns versículos da Bíblia:

Atos dos apóstolos capítulo 10, introdução:

“E havia em Cesaréia um varão por nome Cornélus, centurião

da coorte Italiana”.

Versículo 21:

“E descendo Pedro para junto dos varões que lhe foram

enviados por Cornélius”.

Versículo 22:

“E eles disseram: Cornélius centurião, varão justo e temente à

Deus, e que tem bom testemunho de toda a nação dos Judeus, foi

avisado por um santo anjo para que te chamasse a sua casa, e

ouvisse as tuas palavras” – essa visita referia-se à Pedro.

Versículo 31:

“E eis que diante de mim se apresentou um varrão com vestes

resplandecentes. E disse: Cornélius, a tua oração foi ouvida, e as

tuas esmolas estão em memória diante de Deus”.

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Se não bastasse, voltemos a falar desse espírito (Chico Xavier).

Espírito oriundo da constelação de Orion, que esteve até pouco tempo

conosco, oriundo dos idos tempos da dinastia dos RAMSÉS, no

templo de AMOM, na pessoa do sacerdote AMEHONPHIS. Chico

não ficou na inércia do sono eterno – como se apregoa em nossos dias

– em nenhuma de suas existências.

Ele retorna à luta do aprendizado e novamente é reconhecido na

época de Herodes e Pilatos, servindo ao exército Romano,

personificado no centurião Quirílius Cornélius, o centurião de Jesus.

Acompanhemos o diálogo do jovem Cornélius com o seu avô

Domício Petronio Cornélius:

-Meu neto, orgulho de nossa raça, sempre acalentei o desejo de

fazer-te um sábio, mas, teu pai se impõe aos meus projetos que por

sinal, são os mesmos de tua mãe.

-Não é totalmente desconhecido que teu pai deseja que sigas,

como ele a carreira das armas...

-É lamentável. Confesso-te, vovô, que me seria bem melhor

seguir-te pelos caminhos da filosofia. O saber é bem mais atraente

que a secura das armas.

-Meu nobre neto, ainda bem que não perdeste teu tempo com

futilidade, deténs conhecimento superiores que honrariam a qualquer

tribuno.

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-Vovô: além das línguas, atraí-me a filosofia. Em alguns cultos

escravos tenho encontrado material para profundos estudos.

-É estranho Cornélius, mas eu também, confessou-lhe o avô!

-Tu?!

-Sim, sinto-me tocado pelos conhecimentos de alguns escravos

Caldeus. Com um abraço, envolveu o neto.

-Filho, um soldado não tem pouso. Ora esta aqui, ora acolá.

-Meu neto, nas Gálias encontrará Tibério, subjugando os

pobres Gauleses.

Cornélius em pouco tempo foi reconhecido como um dos mais

cultos e responsáveis soldados por saber o grego e assírio, motivo de

ter sido convocado para trabalhar na Judéia.

Na Judéia, conheceu Abigail e comenta que achava que ela

falava uma língua estranha – “O Aramaico”.

-Queres aprender – perguntou ela.

-Sim – respondeu ele.

Foi nesse lar que Cornélius ouviu falar que determinado homem

ensinava nas sinagogas, amor e perdão (...). Ensinava o desapego aos

bens materiais. Ele dizia também que devemos perdoar até o inimigo!

Sua sabedoria ultrapassa a dos rabinos do templo!

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Cornélius ouvia discretamente. Desde esse instante, o moço

centurião sentiu-se preso de grande interesse, levado a uma

incompreensível emoção.

Na angústia de sua alma, quero acreditar que relembrava

inconscientemente a promessa de Jesus àqueles exilados de Capela a

dizer: “vão confiante que eu estarei com vocês”.

Naquele dia, não conseguia conciliar o sono, dava largas

passadas na sala. Cornélius assimilava as informações de Jesus com

elevado interesse. Cornélius, através da família de Abigail,

participava a medida do possível das suas reuniões cujo objetivo era

o Messias.

Aqui estamos diante da confiança dessa família ao aceitar a

presença de um soldado romano nessas reuniões. Bem-Jhamu,

considerando Cornélius um membro da família, mantinha com ele

diálogo esclarecedores e dava-lhe textos sagrados para ler e

apreciar, e assim Chico caminhava ao encontro desse Jesus.

Agradável surpresa aguardava Cornélius, ele deveria

comparecer à sala do chefe dos centuriões. O comandante portando

alguns documentos dirigiu-se a ele confidencialmente.

-Dado a seriedade e a confiança que o exército romano

deposita em ti, fostes o escolhido para uma missão secreta e

importante. Há cerca de um ano, surgiu um homem chamado Jesus

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que anda percorrendo toda a Galiléia e províncias – Cornélius

esboçou um leve sorriso.

-Tu o conheces?

-Não, mas já ouvi algo a seu respeito. Aquela ordem vinha a

calhar, e seu coração pulsou rápido.

Finalmente o soldado via uma multidão e lá estava Jesus. O

coração do soldado bateu rápido, de repente, parou – ele viu Jesus!

A sua respiração, por um instante, se prendeu. Jamais vira

alguém tão belo!

Tinha o porte de um rei.

E seu olhar!

Ah! Era doce, de uma bondade extrema.

“Só pode ser ele” - pensou.

Estranha sensação de paz apossou-se do centurião que,

vagarosamente, sem tirar os olhos dele, aproximou-se bem perto.

Pensou: Como pode alguém achá-lo perigoso? É fascinante!

O centurião sentiu uma brusca mudança em sua alma, jamais

voltaria a ser o mesmo, depois de conhecê-lo.

Estava quase escuro, a multidão já não era mais a mesma.

Cornélios seguiu-o com o olhar totalmente sem reação. De repente, o

mestre parou, voltou-se para ele, mergulhando seu olhar nos seus e

murmurou em forma que somente ele pudesse ouvir:

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-Centurião, agora que minha palavra tocou-te o coração, tu

estarás comigo. Aqueles que insinuaram a teu chefe, que eu deveria

ser vigiado, têm em mira algo que tu desconheces, renuncia,

portanto, a tua tarefa.

Quando se recuperou o profeta já ia longe. Voltou a procurar

Jesus, porém ele buscava outras regiões. Alguns dias depois,

apresentou sucinto relatório ao chefe.

-O Galileu, em absoluto, atenta contra a segurança e a paz do

estado. Muitíssimo ao contrário, ele ensina a seus discípulos o

completo desapego aos bens materiais e o respeito às leis. Seus

ensinamentos infundiam nas pessoas sentimentos de paz, amor e

cumprimento das leis. Não há absolutamente nada a temer por parte

dele.

O comandante sorriu satisfeito ao ler o relatório. O Assunto foi

encerrado ali. Que felicidade para aquele que viria a ser o Chico, ao

sentir que desviara de seus superiores uma possível perseguição à

Jesus. Entretanto, não conseguia deixar de pensar nele. Em

Cafarnaum como em toda a Galiléia, não se falava em outra coisa.

Em contrapartida:

o Cresce a inveja dos sacerdotes;

o Herodes passa a incriminar o Mestre deturpando seus

ensinamentos;

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o Pilatos procurador da Judéia é envolvido por uma rede de

intrigas contra o mestre.

Por que o amor causou e causa, ainda, tanto ódio? Ainda hoje,

dialogamos com espíritos que se apresentam com ódio de Jesus,

oriundo dos seus ensinamentos, há dois mil anos.

Cornélius ainda se encontra na Galilélia, mas certo dia,

retornando para Cafarnaum, encontra um de seus servos a beira da

morte.

Cornélius lembra-se de Jesus. O moço saiu apressadamente, era

a segunda vez que o centurião procurava Jesus. Desta vez,

envergando a reluzente armadura romana ao tilintar dos metais.

Quando se movimentava, todos se silenciavam.

Ao ver Jesus, assentado a tosca mesa de madeira, onde apoiava

as mãos, irresistível emoção apoderou-se dele, teve ímpeto de se

atirar a seus pés e beijá-lo, mas conteve-se.

CornélIus nada disse e sim o mestre:

-Eu irei e curarei.

-Mas senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa.

Diz uma só palavra e meu criado, será salvo. Senhor eu tenho

soldados que estão as minhas ordens e digo a um acolá, e ele vai, a

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outro vem cá, e ele vem, faça isto, e ele faz (...) Senhor, não é

necessário ir até lá, basta ordenares.

Um sorriso no semblante do mestre. E voltando-se para quem

seria em um futuro mais distante o Chico Xavier, disse:

-Em verdade, vos digo: Não encontrei semelhante fé em

ninguém de Israel – esta passagem esta na bíblia.

Depois, Jesus virou-se para o centurião e ordenou-lhe:

-Vai, seja feito conforme a tua fé – lágrimas desceram dos olhos

de Cornélius o centurião de Jesus. Sua fé era tamanha que mil vidas

daria por Jesus, se mil vidas tivesse.

Ali estava o verdadeiro sentido da palavra batismo, era o seu

batismo – o batismo de sair vencedor de si mesmo, no momento de

uma decisão difícil – ainda hoje não compreendido.

Corria o ano 33 da era cristã. Abigail, a jovem que animava o

coração do centurião comentava:

-Cornélius, assisti à pregação de Jesus no templo de Jerusalém,

e temo que seja a última. O mestre disse que quem quiser ser o maior

no templo, terá que se fazer servo de todos. Só assim será

reconhecido no reino de Deus.

-Abigail, estes fariseus são cruéis e vingativos. É isso que temo;

irão armar ciladas e jogarão Jesus contra o império romano. Jesus é

o sábio que ama disciplinando e disciplina amando. É o maior

pedagogo que a terra teve ou terá.

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Vejamos, Jesus disse “Eu sou o caminho a verdade e a vida,

ninguém vai ao pai senão por mim”.

Os doutores da lei tentaram corrigi-lo, Jesus respondeu:

-Tu dás testemunho de ti mesmo, teu testemunho não é digno de

fé. Eu dou testemunho de mim mesmo. O meu testemunho é digno de

fé, porque sei de onde vim e para onde vou más, vós não sabeis de

onde venho e nem para onde vou. Vós julgais segundo a aparência; eu

não julgo, o meu julgamento é verdadeiro.

Ainda lhe perguntaram os fariseus, cheios de raiva:

-Onde está o teu pai?

-Não, conheces a mim, como conhecer o meu pai.

Cornélius, preocupado, sentiu que aqueles acontecimentos

tomavam rumos perigosos para o mestre. Jesus era bom demais!

Desabafou o centurião. O povo comentava os seus milagres, falava-se

admirados da ressurreição de Lázaro.

-Precisamos estar atentos, e agir se for preciso – disse Cornélius.

Jerusalém era um amontoado de peregrinos. Sua população de

cento e vinte mil habitantes aumentava ainda com a aproximação da

festa dos Judeus, era a páscoa. Antes da páscoa, Jesus decidiu ir a

Jerusalém.

Vendo o Messias a multidão, tirava seus mantos e os colocava

no chão para que ele passasse. Era aplaudido como um grande

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monarca, embora montado em um jumentinho. Alguém narrou que

quem pisou nos mantos e tapetes foi o jumentinho e não Jesus.

Este fato irritou de tal forma os fariseus. Murmuraram entre si:

-Reparai, todo mundo corre após ele! – A gritaria era geral. Viva

Jesus – Nosso Mestre !

E Jesus dizia:

-Eu sou o caminho a verdade e a vida;

-Se me amais, observai meus mandamentos;

-Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amo;

-Jamais vos deixarei sozinhos! Mandarei o Espírito da verdade

para vos consolar. (Eis o Espiritismo - O consolador prometido)

Com essas palavras, os discípulos compreenderam que o Mestre

estava se despedindo deles. No monte das oliveiras, o Mestre se

encostou em uma pedra e pôs-se a orar, enquanto os seus discípulos

dormiam. Nesse sono dos apóstolos, os soldados o prenderam.

Abro um parêntese: Esse sono dos discípulos, continua entre

nós, pois se não dormimos, estamos sonolentos em relação às coisas

do pai.

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Após um dia de trabalho, Cornélius retorna para sua casa, um

cômodo alugado, e vendo Abigail com os olhos vermelhos de chorar

pergunta:

-O que aconteceu Abigail?

-Estão procurando o mestre para matá-lo.

Cornélius não mais conseguiu conciliar o sono, passou a noite

pensando como encontrar Jesus, desconhecia ele que Jesus já estava

preso. Pela manhã, saindo pensando em como ajudar Jesus, recebeu

pelo seu amigo David a notícia que Jesus estava em poder de Pôncio

Pilatos.

-Como? Tão cedo e sem julgamento? – Questionou.

Imediatamente, encaminhou-se à residência do governador romano.

No sinédrio, encontrou Jesus amarrado e ferido. Seu rosto

estampava grande paz e serenidade. Cornélius teve ímpeto de libertá-

lo, mas o olhar de Jesus indicava para conter-se. Para salvá-lo, daria

mil vezes a sua própria vida – afirma o Espírito J.W. Rochester.

Dentre outros, lá se encontrava o senador romano Públio

Lentulos, - o Padre Manoel da Nobrega dos nossos dias, ou

Emmanuel, mentor do Chico Xavier, que tentou interceder, sem êxito.

Cornélius que a tudo acompanhava, sem nada poder fazer,

estarrecido a tudo assistia. A flagelação foi feita no pátio da fortaleza

Antonia, os soldados batiam com bastão de tiras de couro com bola

de metal. Outros ofertavam socos no rosto e no tórax. O seu anseio

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era que o preso fosse confiado a ele o centurião Cornélius e isso

aconteceu.

Tinha que ser rápido. Sabia que antes da crucificação iria

permanecer por alguns instantes na prisão. Aproveitou aquele

momento único para salvá-lo, utilizando-se de seus meio e prestígios.

Recolheu-se apressadamente a um compartimento longe da

multidão e dos soldados. Aos seus subordinados ordenou:

-Cuidem bem para que ninguém entre nesta sala.

Cornélius nunca sentiu, em toda a sua vida, missão tão pesada e

dever tão doloroso.

Jesus seria crucificado ao lado de dois ladrões – Gistas e

Dimas, que era pouco mais que adolescente.

Eu já admirava e amava Jesus, mas, à vista da sua paciência,

doçura e sobre-humana majestade, com que suportava todos os

martírios, haveria de ligar-me a ele irrevogavelmente, de sorte que,

por salvar-lhe a vida, daria mil vezes a minha própria vida.

Pronunciada a sentença, o preso foi confinado à minha guarda,

até o instante em que deveria partir, com dois outros condenados,

para o lugar do suplício. Para passar as poucas horas que lhe

restavam, fiz que o recolhessem a um compartimento que dava para o

pátio, no qual permanecia a escolta. Fingindo rigorosa vigilância,

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postei-me à porta de compartimento e acabei, finalmente, por lá

entrar.

Foi então que vi Jesus ajoelhado junto de um banco de pedra,

todo absorvido em prece fervorosa. Seu rosto pálido, macerado,

estampava, os sofrimentos atrozes que lhe haviam infligido.

-Mestre – disse, aproximando-se – não posso conformar-me

que, sendo tu bom e tão puro, pereça assim de morte infamante.

-Deixa-me salvar-te, toma a minha armadura, este manto e esta

chave, abre a portinha que ali vês e que dá para um estreito corredor,

ao fim do qual te encontrarás numa viela deserta: dali irás para a

minha casa, onde moram pessoas dedicadas que te facilitarão a fuga

da cidade (...) Deixa-me morrer em teu lugar, porque a vida de um

soldado obscuro não vale a de que, como tu, é providencial e

benéfica aos enfermos e desgraçados.

Ele se levantara logo às minhas primeiras frases e seu rosto

transpirava uma calma celeste (,...). Olhava-me com um velado olhar

de melancólica doçura e assim falou:

-Agradeço-te e muito aprecio o teu devotamento, mas não posso

aceitá-lo.

-Acaso considera menor o meu sacrifício, se houvera de

permanecer neste mundo em que me é tão difícil praticar o bem?

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-Não, amigo, eu não deploro a minha sorte, a mesma que

tiveram os profetas que me precederam, mortos pelos homens. Mas

não suponhas, também, que eu desdenho o sacrifício da sua vida!

Parou com os olhos no vácuo, dando à fisionomia uma afeição

singular, pois tu (Cornélios / João Rus / Kardec e Chico – muitos

corpos mas o espírito é o mesmo) hás de morrer, por mim, estou a ver

as chamas da fogueira que te espera (...)

João Russ morreu na fogueira condenado pela Igreja.

Mas, isso não será agora (...) Será então, quando lhes enviarei

o Espírito da Verdade e a cortina que barra a pátria da alma se

rasgará: os mortos ressuscitarão e falarão aos homens por diversos

meios. Outras, coisas quisera, ainda dizer-te, mas teu espírito não

está preparado para compreender-me.

Um barulho de vozes no corredor interrompeu nossa entrevista.

-Quem é e que pretende essa mulher? – pergunta Cornélius,

aproximando-se;

-É – respondeu um soldado – a mãe do condenado.

Os olhos dela me fixaram com tal expressão de angústia que

tive um calafrio. A justiça de Roma condenou; mas a lei não impede a

mãe de ver e despedir-se do filho. Ela ergueu-se cambaleante e

começou a chorar copiosamente.

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Jesus reconhecendo-a ergueu-se, abrindo-lhes os braços.

-Minha mãe, minha pobre mãe! – ela precipitou-se para ele, em

soluções, deixou pender a cabeça no seu peito. Ele por sua vez

contempla-a, por momentos, com amor e tristeza; depois, ergueu sua

fonte e disse:

-Mãe, lembre-se: instrui-te, contigo reparti a minha ciência, a

fim de que esta hora te fosse menos dolorosa; tu me entendeste, tu me

acreditaste e, conduto choras e sofres neste momento decisivo (...).

Dir-se-ia que a morte te apavora, quando bem sabes que a nossa

separação será apenas momentânea. Dar-se-á que tenhas perdido a

fé?

Sentindo-se reconfortada, Maria Santíssima perfilou-se e,

tomando a mão do Mestre, beijo-a:

-Não filho: hei de conformar-me, quero mostrar-me digna do

filho que tenho.

-Permita-me, centurião, que o acompanhe ao lugar do suplicio?

-Não consinta que os teus soldados me rechacem de junto da

cruz. Dei o de acordo emocionado, e o que lastimo é nada poder

fazer a teu favor.

Tudo consumado, Jesus estava morto. Trêmulo, estupefato,

olhei em torno de mim e percebi a mãe do Mestre ajoelhada, braços

estendidos à cruz. A multidão apavorada com as trevas e a violência

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da tempestade, debandaram-se aos gritos e eu mesmo não consegui

enquanto a chuva torrencial não veio lavar a atmosfera.

Cornélius /Chico foi o responsável em chamar a atenção do

soldado LUGÍ, que feriu Jesus, depois de morto, com a lança.

Esse soldado esteve conosco, recebendo o nome de Dom Pedro

de Alcântara.

Pasmem, para a maioria dos brasileiros, esse centurião que tem

o nome inscrito em muitos momentos na Bíblia, não é identificado

nesse Brasil, apenas é conhecido como Chico o caipira de Uberaba.

Túmulo vazio, o assunto agora era a ressurreição do crucificado.

Cornélius estava perplexo:

-Como, se eu o vi frio e inerte? – questionava.

Nota:

Ressurreição é apresentar-se com o mesmo corpo; exemplo de

Lazaro.

Reencarnar é retornar com um corpo diferente.

Mesmo sem Jesus, uma nova reunião do conselho decidira matar

também, os seguidores de Jesus.

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Em toda essa confusão, Mestre Gamaliel, - ele também tem o

seu nome mencionado na Bíblia - doutor da lei, homem sensato

ponderava:

-É prudente observar em primeiro lugar:

Se a obra do Cristo se origina dos homens, com o tempo, será

destruída, mas se for de Deus, ninguém poderá destruí-las e que era,

inútil lutarem contra o próprio Deus!

Com a alma cansada do árduo combate, o centurião Cornélius

almejava rever seus entes queridos em Roma.

Assim estabeleceu um diálogo com Abigail.

-Abigail, devo ausentar-me.

-Como?

-Voltarei para Roma, meu avô encontra-se doente.

Os olhos da mulher encheram-se de lágrimas e o soldado

continuou:

-Lastimo ter que deixá-la (...)

Abigail chorou.

-Irei contrariado, pois aqui nesse lar Cristão encontro paz.

-Fica então meu bondoso Quitilus Cornélius - pediu Abigail

beijando-lhes as mãos.

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-Tenho intenção de ficar, minha doce Abigail, mas antes preciso

desligar-me do exército imperial e dar satisfação de meus atos ao

imperador.

-Temo não te ver mais Cornélius.

-Que pensamentos são estes? Irás me ver sim!

Dito isso, enlaçou a esposa.

-Voltarei sim, Abigail e encontraremos um lugarejo tranquilo para

morarmos. Pretendo comprar um belo sítio perto de alguma

montanha e viveremos da agricultura.

O casal ficou de tecer sonhos de um futuro melhor, onde

pudesse criar seus filhos e dedicar-se a mensagem do mestre.

A família de Cornélius ignorava o seu casamento. Ela era Cristã,

era melhor manter-se em sigilo. Ao avô ele disse.

-Conheci uma moça que não pertence a nossa classe social, a ela

me uni.

-Quem é ela?

-É uma moça simples, judia, de família israelita.

-Tu a a amas ? – perguntou o velho sábio.

-É mais do que amor, vovô (...) não existem sentimentos que o

ultrapasse! Agora conhece meu segredo vovô.

-Foi Abigail a causa de tão grande mudança?

-Também, mas tenho outro segredo que te quero revelar – e

descreveu tudo o que sabia de Jesus!

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-Diante da sua expressão, acreditando em ti, também, a partir

desse momento, aceito esse Jesus!

Chico já se tornara médium de vidência, pois no derradeiro

momento do desencarne do avô, vê a sua avó a dizer:

-venho buscar-te, meu velho Domício.

Quirilus é tido como demente por sua mãe e seu irmão. Passado

os dias de luto, o irmão o procurou.

-Sim, vai saber já. Escutei todos os detalhes de tua ignóbil

confissão.

-Antonius, o que está acontecendo?

-É bom que saibas, mãe. Quirilus é um traidor e responsável

pela morte do vovô.

Ele diz:

-Mãe uni-me a esta Judia e, através dela e de seus familiares,

conheci Jesus – e então detalhou esses fatos.

-Está bem Cornélius, vemos que é inocente da morte do seu avô,

pois já estava muito doente.

Esse assunto tornava-se melindroso. Acreditando ter encontrado

a melhor maneira em ajudar os filhos, a mãe sugere:

-Seria melhor pedirmos a intervenção do exército para que ele

não volte mais aquela região e assim possamos tratar da sua

insanidade.

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Depois de longa exposição, quanto mais falava, mais seus pais

supunham que ele era demente.

-Pai, resta-me voltar, não vim para permanecer, e percebo que

nessa casa não há mais lugar para mim. Prefiro antecipar a minha

volta.

Envergonhado pelas ideias do filho, preferiu deixa-lo ir-se de

Roma e que nada diria ao exército. Após a sua partida da casa de seus

pais, o seu primo conversava longamente com o seu irmão com

referência a uma carta que fora escrita por Públio Lêntulos ao seu

amigo, Tibério César – intitulada “Retrato de Jesus”.

Sabendo que desejas conhecer quanto vou narrar, existindo nos

nossos tempos um homem, o qual vive atualmente de grandes

virtudes, chamado Jesus que pelo povo é inculcado o profeta da

verdade, e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, criador do

céu e da Terra e de todas as coisas que nela se acham, e que tenham

estado, em verdade, ó César, cada dia se ouvem coisas maravilhosas

de Jesus:

Ressuscita os mortos, - referindo-se a Lázaro que retorna ao

mesmo corpo, depois de uma crise aguda de epilepsia – cura os

enfermos, em uma só palavra: é um homem de justa estatura e é muito

belo no aspecto, e há tanta majestade no rosto, que aqueles que o

vêem são forçados a amá-lo ou temê-lo.

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Tem os cabelos da cor de amêndoas bem madura, são

distendidos até as orelhas, e das orelhas até as espáduas, são da cor da

terra, porém mais reluzentes.

Tem no meio de sua fronte, uma linha separando os cabelos, na

forma em uso dos nazarenos, o seu rosto é cheio, o seu aspecto é

muito sereno, nenhuma ruga ou manchas se vê em sua face, de uma

cor moderada: o nariz e a boca são irrepreensíveis.

A barba é espessa, semelhante aos cabelos, não muito longa,

mas separada pelo meio, seu olhar é muito afetuoso e grave, tem os

olhos expressivos e claros, o que surpreende é que resplandecem no

seu rosto como os raios do sol, porém ninguém pode olhar fixo o seu

semblante, porque quando resplende, apavora, e quando ameniza, faz

chorar, faz-se amar e é alegre com gravidade.

Diz-se que nunca ninguém o viu rir, mas antes, chorar. Tem os

braços e as mãos muito belas; na palestra, contenta muito, mas o faz

raramente e, quando dele se aproxima, verifica-se que é muito

modesto na presença e na pessoa. É o mais belo homem que se possa

imaginar, muito semelhante à sua mãe, a qual é de uma rara beleza,

não se tendo, jamais, visto por estas partes uma mulher tão bela,

porém, se a majestade Tua ó Cezar deseja vê-lo, como no aviso

passado escrevestes, dá-me ordens, que não falharei de mandá-lo o

mais depressa possível.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém, ele sabe

todas as ciências e nunca estudou nada.

Ele caminha descalço e sem coisa alguma na cabeça. Muitos se

riem, vendo-o assim, porém em sua presença, falando com ele tremem

e admiram.

Dizem que tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em

verdade, segundo me dizem os hebreus, não se ouviram jamais tais

conselhos, de grande doutrina, como ensina Jesus, muitos dos judeus

o têm como Divino e muitos me querelam, afirmando que é contra a

lei da Tua Majestade, eu sou grandemente molestado por estes

malignos hebreus.

Diz-se que este homem, nunca fez mal a quem quer que seja,

mas, ao contrário afirmam ter dele recebido grandes benefícios e

saúde, porém à tua obediência estou prontíssimo, aquilo que Tua

Majestade (Tibério César) ordenar será cumprido.

Vale da Majestade Tua, fidelíssimo e obrigadíssimo (...) Públio

Lêntulos, presidente da Júdéia – o qual esteve conosco personificado

em Padre Manoel da Nobre, catequizando os índios e a nós outros em

espírito, conhecido como Emmanuel.

Cornélius já com a esposa dirige-se a ela e diz:

-Abigail, está disposta a seguir-me para Cesaréia? Uma vez que

ainda não pude desligar-me do exército?

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

25

-Claro. Quirilus, já não foram suficientes longos anos de

ausência? Ah! Meu querido, não quero mais ficar longe de ti.

-Assim que tiver arrumado moradia, virei buscar-te – nessa

época, ele procurava seguir as pegadas do Nazareno, fazendo

distribuição de alimentos aqui e acolá, ofertava esmolas, auxiliava a

comunidade como podia. Rapidamente ficou conhecido como o

centurião de Jesus.

Já sentia a mediunidade presente, via e escutava os espíritos.

Vamos ao diálogo de Cornélius com Pedro:

-Há três dias estava orando em minha casa quando surgiu diante

de mim um varão que me ordenou que te procurasse, porque tu sabes

o que me dizer.

Eles tiveram longas conversas sobre Jesus. No diálogo

Cornélius contou-lhe seus dois encontros com JESUS e a cura do seu

escravo. Pedro o olhou, assustado!

-Eras tu aquele centurião?

-Sim Pedro (...), havia tanta gente em torno do mestre (...).

Então Pedro recordou-se, há mais de dez anos.

-Cornélius, pedirei a Matheus que inclua em suas anotações as

palavras de Jesus: “nunca vi tanta fé em toda Israel”.

-Pedro, não cites, o meu nome, peço-te.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Esse Pedro era Cefas, sobre seus dons mediúnicos estariam

assentadas as pedras do edifício da verdade.

-Conta-me Pedro a respeito da Parábola da Vinha.

-Eis Cornélius o seu significado:

Deus o dono da vinha;

Jesus o herdeiro da vinha;

Os vinheiros homicidas, são os judeus infiéis que o mataram. E

o outro a quem será entregue a vinha, são os pagãos;

-O mestre disso isso?

-Bem, o senhor deu-me a entender.

-Agora entendo Pedro, porque o senhor chamou-te Cefas.

Cornélius busca novamente desligar-se do exército, mas (...).

-Quirilus Cornélius, o exército nunca necessitou tanto de

homens como tu, que atendessem às responsabilidades do império!

-Tenciono regressar à Roma, comandante - alegou o centurião.

-Não podemos admitir agora a tua saída da Palestina, Cornélius.

O caos reinava em Jerusalém e toda Judéia, era a epidemia a se

alastrar. Abigail, ao cuidar do pai contraiu a doença e faleceu meses

depois. Cornélius passa a inteirar-se da infância e adolescência de

Jesus, e da sua aparição.

Determinado dia, à sombra dos carvalhos o seu amigo

Abinadab, sentou-se ao seu lado e disse:

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

27

-Cornélius, pressinto para a humanidade grandes lutas, sinto-me

levado a presença do Senhor que me pede para reter-te, em nosso

acampamento.

Alguns dias depois o profeta Abinadad diz:

-Cornélius, iras começar teu apostulado. Não serás

compreendido pela maioria dos homens. Vejo muitas lutas sangrentas

e cruéis perseguições a todos que operam em nome de Jesus de

Nazaré. Vai filho querido, segue o teu caminho! Roma de aguarda.

Cornélius substitui a armadura por uma túnica ofertada por

Abinadad. Não parecia mais um soldado romano.

-Agora é um dos nossos – disse sorrindo o amigo, aproveitando

para ensinar a cura pela água magnetizada.

Cornélius e Abinadad ouviram um tropel. Eram seus soldados

que regressavam. O mais velho dos dois perguntou-lhe apreensivo.

-Não voltarás para o acampamento, comandante?

Foi, então, que souberam da sua grande decisão. Naquele

momento, após conversar com os seus soldados, dois deles disseram:

-Senhor, quero servir-te não importa como e nem onde.

Cornélius retorna a Roma. Seus pais já tinham morridos sua mãe

deixou através do filho de um servo um objeto para ser devolvido

com essas palavras “Filho do meu coração e de minha alma, muito

aprendi com a cruz que você me presenteou”.

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Cornélius, segue para Herculanum, próximo à Pompéia. Lá o

seu avô deixou uma rica herdade ao falecer. O zelador Glacio não

cumprira com as suas obrigações, deixando instalar-se na propriedade

famílias necessitadas e a pobreza toma conta da propriedade.

A bela casa transforma-se em abrigo de crianças carentes,

doentes e mendigos. À chegada do ex-centurião, os invasores pediram

prazo para saírem até encontrarem outra casa.

Cornélius passou a interessar pelos seus problemas,

compreendeu que eram párias da sociedade, não haviam tido

oportunidade de crescerem como cidadãos.

Sensibilizado com aquela discriminação, defensor da seita do

nazareno, procurava um meio de ajudá-los e lembrou-se da figura

amada do Mestre.

Como faria o Mestre em seu lugar?

Não seria esse o primeiro gesto de caridade que deveria praticar

em nome Dele?

Pedro, também, não havia transformado sua casa em abrigo de

todos os irmãos do caminho?

Sob os olhares curiosos daquelas criaturas emagrecidas, tirou

um pergaminho de seu alforje e começou a ler os ensinamentos de

Jesus.

Era a sua primeira pregação da boa nova.

Leu as anotações de Matheus:

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-Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede pois

prudente como uma serpente, mas simples como os pombos.

Acredito que nesse momento estabeleceu-se na terra a primeira

reforma agrária.

Vejamos: Os campos destinados às plantações e pomares dantes

abandonados, foram restaurados. Homens, mulheres e crianças

ociosas foram direcionados ao trabalho no campo.

Em menos de um ano, a paisagem era totalmente modificada, a

propriedade agora era uma vila. As crianças eram obrigadas a estudar

e, nos intervalos, dedicavam-se ao trabalho de artesanato, sobrando

tempo para outro passatempo.

O ex-centurião recebera de Pedro o nome de Pai João.

A noite, após o jantar, todos se juntavam na grande sala para

ouvirem Pai João falar de Cristo.

Ao lado das terras do ex-centurião havia uma propriedade

devoluta. Com montanhas e gruta, muitas moradias foram se

formando ao longo do percurso entre as duas propriedades. Logo a

gruta ficou conhecida como a gruta do Pai João. Uma vila Cristã. Ele

tornara-se procurado por pessoas doentes.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Os cabelos e barbas de Pai João tornaram-se prateadas. Nos

pequenos momentos de descanso e meditação buscava naquela gruta

momentos de recordações mais caras:

Sua mãe, Abigail, Addiel, David, Pedro, o velho Rabina Zhadir,

Adinadad – todos já haviam partidos.

Cornélius tentava manter contato com Júnia, sua única irmã, que

morava em Pompéia, mas tanto elas, como o marido, fizeram questão

de despachá-lo da soleira da porta ao verem seu aspecto simples, de

homem da lavoura.

Cornélius recebia com tristeza as notícias de Roma: as cruéis

perseguições aos cristãos.

Certo dia do ano 79, pai João estava lá no alto da montanha,

perto da gruta e observava aquele quadro trágico, a erupção do

Vesúvio que destruiu Herculannum, Pompéia e Estábia. Em sua volta,

tudo se tornou destruição na vegetação.

De repente ele avistou um homem caído perto da fonte. Desceu

rapidamente para o devido socorro.

Quem seria? Um jovem patrício. Fugitivo do vulcão, seu nome

era Caius, estava muito mal, o restabelecimento foi um verdadeiro

milagre.

Esse jovem era irmão de Nero, converteu-se ao cristianismo,

através do pai João. No final desse trabalho, registramos um

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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depoimento que nos emociona. Do espírito Caiús, hoje conhecido no

meio espírita como J.W. Roochester.

Nero, tomando conhecimento de Pai João, veio até ele

solicitando um filtro para conquistar o amor de uma mulher. Pai João

diz:

-Aqui podes encontrar o que queres: a prece, a caridade, a

abnegação, mas nunca um filtro. Esse encontro com Nero não se deu

na gruta.

Vociferando vingança, certa feita, Caiús retornando a gruta de

pai João, por se encontrar muito doente, foi seguido sem saber pelo

seu irmão o tributo Nero, que deu ordens aos soldados para destruir

tudo.

O já cristão Caiús, ao defender os cristãos naquela gruta cai

semi-morto, pelo próprio irmão. Pai João, doente, fraco e agredido

por Nero, pouco tempo depois vem a desencarnar.

Retornemos aos instantes em que no olhar distante de Jesus ele

dizia a Cornélius:

-Você diz querer morrer em meu lugar! Pois eu estou a ver-te

em chamas de uma fogueira, em um futuro longínguo.

Portanto não seria naquele momento. Não era.

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Transcrevo as anotações do espírito J.W. Rochester em seu livro

Herculanum, com referência ao dia em que o Centurião esteve com

Jesus no cárcere. Assim ele descreve:

Conforme foi dito por Jesus, o retorno de Cornélius, concretiza-

se, personificado em João Russ, o sacerdote da idade média, em

1.369. Formado em teologia em 1.394 e artes em 1.396, pela

Univerdade de Praga. Em 1.400, ordenou-se sacerdote. Em 1.402,

passava a ocupar o cargo de reitor da referida Universidade.

Na mesma ocasião em que assumia o cargo de reitor, a sua alma

começava a inquietar-se, com as decepções oriundas da conduta de

seus superiores eclesiásticos. Se não bastasse essas inquietações

exatamente no mesmo ano em que era nomeado pregador da capela de

Belém em Praga, tomava conhecimento da obra de Wicliffe, o grande

reformador e precursor da reforma que ocorria no século seguinte.

Diante disso, a pouco e pouco se iam escapando de seus sermões

criticas ao clero, o que, ao mesmo tempo, punha em evidência as

simpatias de João Huss pelas ideias do odiado reformador Inglês.

Paulo de Tarso, personificado em Lutero, que vinha com a

missão de diminuir a vaidade entre as pessoas e tornar rotineiro o

estudo da Bíblia.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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João Huss (o Chico dos nossos dias), combatia:

• A cobrança de indulgência;

• A confissão;

• Cristo, sim é o chefe da igreja e não Pedro;

Enquanto crescia a admiração pelo seu trabalho honesto, em

1.410, é excomungado. Tal acontecimento, fez com que a população

de Praga, em tumulto incontido, o brindava com o título de herói

nacional.

Isso fez crescer ainda mais a onda de perseguição dentro da

igreja contra João Russ, decretando o vaticano nova excomunhão

contra ele, em 1.412. A segunda excomunhão deu-se pelo motivo em

que ele continuava a afirmar nos púlpitos que as escritas sagradas

deveriam ser às únicas regras a serem obedecidas pela igreja, e que

somente o Cristo é soberano e único na igreja.

Diante de tal situação, João Russ se viu premido a abandonar a

cidade. Roma, no entanto, utiliza-se de mais uma estratégia para

exterminar a vida do ousado reformador. Decreta a realização do

concílio de Constança, em 1.414 e João Russ é convidado sob a

garantia de um salvo-conduto do Imperador Sigismundo da Alemanha

e rei da Hungria.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Desse modo, a igreja procuraria inteirar-se melhor das ideias de

Huss, armando assim uma cilada prevista.

Huss, o centurião que conheceu Jesus, manteve os seus pontos

de vista sem receio das ameaças, percebendo que estava diante de

uma cilada a qual o levou a ser condenado a morrer pelo fogo.

Percebendo a impossibilidade de se ver livre, fez questão de

enfatizar as suas ideias, e submeter-se à terrível fogueira, expirando

no dia 6/7/1.415, em uma praça de Constança.

João Ruus retorna personificado em Allan Kardec. Essa

trajetória desse espírito desde a sua vinda, para junto de nós, oriundo

do planeta da constelação de ORION, na dinastia de RAMSÉS,

servindo no templo de AMOM, na pessoa do sacerdote AMEHOPHIS

é encontrada em muitas obras espíritas.

Porém, para não prejudicar a tarefa do Chico Xavier, nessa

estada conosco, os espíritos se silenciaram com referência a Chico ser

o Kardec. Esse é o motivo desse nosso trabalho a partir de agora.

Assim sendo, apresentamos material para a reflexão e dedução

pessoal de cada um – eu já tenho a minha.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Kardec pergunta aos espíritos:

Que causas, poderiam determinar o meu malogro, diante da

minha responsabilidade espiritual? Seria a insuficiência das minhas

capacidades?

E os espíritos respondem:

-Não, mas a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e

perigos. Previno-te de que é rude a tua, portanto se trata de abalar e

transformar o mundo inteiro. Não suponhas que te basta publicar um

livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranquilo.

“Obras Póstumas”, páginas 300, edição 22, diz:

-Não permanecerá longo tempo entre nós. Terás que voltar a

terra para concluir a tua missão, que não podes terminar nessa

existência.

Coincidência ou não, após o nascimento de Chico Xavier, a

Federação Espírita Brasileira não mais recebeu comunicação

mediúnica do espírito Allan Kardec.

(...) Se completa não esta a minha missão na terra; se mereço

ainda do Senhor a Graça de vir esclarecer a doutrina que aí me foi

revelada, dando-vos novos conhecimentos compatíveis com o

desenvolvimento das vossas inteligências. Allan Kardec.

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No dia que ele (Kardec) desencarnou – 31 de março –, ele

estava de mudança para o bairro próximo daquele que ele morava, de

nome “bairro da Ópera”, onde acabava de erguer uma pequena

comunidade a quem deu o nome de Vila Seguir, como mais ou menos

se pronuncia no português.

Naquela pequena vila, ele esperava hospedar anciãos espíritas

cujas famílias obstinadamente combateriam o espiritismo e com

efeito, desprezariam os familiares idosos.

Naquele período em que as pessoas se tornaram espíritas, seus

familiares criavam obstáculos, e ele sabia que chegado à velhice, no

período da pendência, os filhos ingratos expulsariam seus pais de

casa. Portanto, era necessário que esses idosos tivessem um albergue,

um lar onde pudessem preservar as chamas dos seus ideais e viver a

realidade da mensagem libertadora.

Em uma carta que foi escrita por Kardec naquele dia 31 de

março a um amigo, assim ele se expressou:

Os tapetes estão enrolados, a louça e os objetos pessoais já estão

guardados em caixotes para transferência. Essa vila ainda existe em

Paris à Rua Seguirro, fica em um dos lugares mais expressivos da

França, consequentemente em um dos bairros mais elegantes de Paris,

perto do túmulo de Napoleão Bonaparte, junto à escola militar.

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Quando os despojos de Kardec foram transferidos do cemitério

da Monatre, para o cemitério monumental de Perla Cherze, o pai de

Gabriel Delani, Alexandre Delani que era amigo íntimo de Kardec,

deveria proferir uma conferência. Naquela oportunidade, ficou

enfermo e foi restabelecer-se em uma cidade próxima de Paris a trinta

quilômetros, a cidade chamava-se Ru-Vrê.

Dessa cidade ele mandou uma carta que foi providencial e

melhor que a sua presença, porque se ele houvesse dito, cairia no

esquecimento. Mas a carta que ele mandou permanece para dar a

dimensão do caráter caritativo de Allan Kardec.

Kardec estava com ele proferindo palestra em uma cidade do

interior da França, hospedado em uma casa de uma família quando se

deu conta que o chefe da casa passava por uma áspera provação que

não se havia queixado.

Era provação de ordem financeira e ele estava as portas da

falência; Kardec deu-se conta, manteve a atitude gentil de

desconhecer o problema familiar e chegando à Paris, reuniu parcos

recursos em moedas de ouro que ele tinha. Fez uma carta para esse

cavalheiro e mandou as moedas de ouro com bilhete, o qual dizia:

Tomando conhecimento da aflição que o atormentava, desejo

auxiliá-lo a sair da dificuldade. Da parte dos bons espíritos.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Não assinou a carta! E Delani diz:

-Ele dava com uma mão sem que a outra tomasse conhecimento.

Mais tarde ele soube de um homem muito pobre que morava em

uma água furtada e que naquele inverno vigoroso estava arrancando

as tábuas do piso da sua casa para queimar na lareira para não morrer

de frio.

Kardec, sabendo que esse homem suportava essas provações

com grande coragem, tomou da mesma providência: adquiriu algumas

moedas de ouro mandando-as no seu clássico papel cor de rosa. “Para

diminuir as dificuldades, da parte dos bons espíritos”.

Era início do século XX e nas regiões mais elevadas da

espiritualidade, acontecia importante reunião:

Discutia-se a volta de Kardec, o apostolo espírita às lides

terrenas.

Época difícil da Doutrina Espírita. Controvérsia estéril entre os

adeptos. Ideias de exclusividade da investigação científica e

filosófica. Clima de emoção. Recolhimento e expectativa. Venerável

preposto de Jesus, envolto em luz, dirigiu-se à Kardec e falou com

bondade:

-Chegou a hora meu filho...

Renascerá em condições adversas...

Obedecerei a vontade do senhor.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Começaras muito novo, entre as aflições e dificuldades, e

trabalharás com sacrifício e renúncia por longo tempo.

Dedicarei cada minuto à seara do bem.

Não possuirás títulos acadêmicos.

O único título que almejará é o de fiel servidos do Cristo.

Encontrarás desconfiança e agressões...

Buscarei na fé e na humildade a força para resistir.

Terás a dor por companheira constante...

Saberá aceitá-la com o amparo do alto.

Companheiros não te entenderão e se voltarão contra ti...

Cumprirei meu dever e guardarei a consciência em paz.

Não farás nada por ti mesmo, serás apenas instrumento...

Agradecerei a Deus a oportunidade de servir.

Não gozaras as alegrias e o aconchego do lar constituído...

A humanidade será minha família.

Assumir espinhosa missão no desdobramento da codificação

espírita ...

Serei leal aos princípios doutrinários, ciente de que o

espiritismo é o Consolador Prometido por Jesus.

A tarefa te exigirá devotamento e abnegação...

Não hesitarei viver em plenitude o Evangelho e a Doutrina

espírita.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

40

O iluminado benfeitor interrompeu o colóquio e, após

elucidativos comentários sobre a nova etapa de trabalho, rogou as

bênçãos do senhor ao missionário de partida.

Poderia terminar aqui a narração da caminhada desse espírito,

mas convido a todos a reflexão:

Hhabitante que foi de um planeta da constelação de Orion,

vindo a ter conosco nos idos tempos da dinastia dos RAMSÉS, no

templo de AMOM, na pessoa do sacerdote AMEHOPHIS, não ficou

no sono eterno como se apregoa em nossos dias.

Ele retorna à luta do aprendizado e novamente, corporifica-se na

época de Herodes e Pilatos, servindo ao exercito Romano – por

imposição do seu pai, pois ele mesmo queria ser filósofo – conhecido

como Quirilo o centurião Cornélius, o qual conhecendo Jesus, tornou-

se, fervoroso cristão a tal ponto de ter o seu nome inserido na Bíblia.

Quando Jesus disse:

-Não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel – corria o

ano 33 da era Cristã.

Deixa o exercito de Roma e por ser Cristão é perseguido,

refugiando-se em uma gruta de onde via a destruição de Pompéia.

pela ajuda aos sobreviventes passa a ser conhecido como Pai João,

nome dado pelo apostolo Pedro. E é esse pai João que salvou a vida

do sobrevivente do vulcão Vesúvio, Caius, Irmão de Nero.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Não esquecendo que no século quatorze ele retorna

personificado em João Russ, queimado na fogueira;

Não esquecendo também que esteve entre nós no século vinte

com o nome de Chico Xavier, o caipira de Minas Gerais.

Quanto à dor nos homens para que ele possa adquirir vibrações

de amor em seu coração vamos a um exemplo:

Tereza Dávila, quando em viagem para atender necessidades de

uma igrejinha muito distante. Chovia muito e em uma parte do

caminho as águas havia destruiu a pequena ponte que dava acesso a

região da Igrejinha.

Ela ajeita a sua roupa de freira e passa a atravessar o pequeno

rio. A correnteza forte e o peso da roupa ela encontra muita

dificuldade para alcançar a outra margem. Conseguiu atravessar, mas

lá estava alguém com mãos estendidas ajudando ela ganhar as

margens do riacho.

Ela olha e diz:

-Ufa! Jesus, é assim que o senhor trata os seus amigos?

Ele confirma, e ela diz:

-Motivo de o senhor ter poucos amigos.

Verdade ou não é digno de reflexão a todos nós que sofremos na

busca desse Jesus.

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Observação:

É lamentável ter conhecimento que no meio dos espíritas ativos

de Casas Espíritas desse Brasil, ainda existem pessoas que não tem o

devido entendimento em relação à mediunidade missionária de

determinados médiuns. Assim sendo, muitos não entendem quando o

Chico pedia preces, para conduzir adequadamente o Cristianismo de

Jesus.

Foi muito pouco entendido. Ainda hoje se escuta:

-Ah! Se eu fosse igual ao Chico.

Vejamos se qualquer um de nós teria condições para administrar

tal mandado mediúnico.

Muita gente procurava Chico em seu emprego e isto começou a

lhe causar problemas.

Certa vez uma senhora, em adiantado estado de perturbação foi

procurá-lo. O seu chefe não queria que ele atendesse ninguém em seu

ambiente de trabalho e foi dito à senhora que o Chico estava em casa.

Para lá ela se dirigiu, sendo informada que o Chico estava

trabalhando. Voltou novamente, ao emprego e disseram a ela que o

nosso amigo tenha saído em serviço. Ela resmungou qualquer

palavrão e se foi.

À noite, quando as portas do Centro Espírita se abriram, ela

avançou sobre ele e lhe deu inúmeros bofetões no rosto.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Quando acabou de desabafar, através da agressão, falou com

voz, nervosa e trêmula:

-Está pensando que tenho tempo para andar atrás de você para

cima e para baixo? Agora, vá lá para aquela sala que você vai dar um

passe em mim, cachorro.

A senhor sentou-se em uma cadeira e ficou esperando. O Chico

começou a pensar:

“Senhor Jesus para se transmitir um passe precisamos estar

calmos, com o coração voltado para o amor ao próximo. O senhor

sabe todas as coisas e sabe que não estou com raiva dela, mas ela me

deixou em um estado diferente. Ajude-me, senhor”.

Então o Espírito Emmanuel apareceu para ele e disse:

-Para ajudá-la é preciso alcançar seu coração. Converse com ela.

Então Chico disse para a irmã em sofrimento:

-Minha irmã, a senhora me perdoe por ser uma pessoa tão

ocupada. Não pude atendê-la em meu emprego, porque meu chefe não

permite. A senhora compreende? Estou ali para servir a empresa, que

me paga. Não posso perder aquele serviço porque tenho muitos

irmãos para ajudar.

ASVIDASDECHICOXAVIER WILSONDACUNHA

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Foi conversando, conversando, e a mulher se acalmando, para

em seguida, começar a chorar. O Chico então, transmitiu-lhe o passe e

ela foi devolvida à razão.

Depois de sua saída, o médium perguntou ao Espírito de

Emmanuel:

-Emmanuel, eu não estou com a razão?

A resposta foi essa jóia da caridade cristã:

-Você está com a razão, mas ela está com a necessidade.

No outro dia, quando o Chico chegou ao serviço, estava com o

rosto inchado. Seu chefe indagou o que ocorrera.

-Bati na porta – ele respondeu.

Ele então olhou por sobre os óculos e perguntou, novamente:

-Mas, nos dois lados?

A pergunta que devemos fazer a nós mesmos é: estamos

preparados para vivenciar o Evangelho de Jesus na expressão de Jesus

ao dizer: “Se alguém lhes bate em uma das faces, ofereça a outra” -

mesmo não sendo a face do rosto, mas sim a face da ingratidão, do

prejuízo, etc.?