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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAacute

NUacuteCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZOcircNICOS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM DESENVOLVIMENTO

SUSTENTAacuteVEL DO TROacutePICO UacuteMIDO

SOL ELIZABETH GONZAacuteLEZ PEacuteREZ

EXPLORACcedilAtildeO DE RECURSOS FLORESTAIS NAtildeO MADEIREIROS PELOS

MẼBEcircNGOcircKRE-KAYAPOacute DA ALDEIA LAS CASAS - TERRA INDIacuteGENA LAS

CASAS NO SUDESTE DO PARAacute Aspectos bioloacutegicos sociais e econocircmicos relevantes

para a sustentabilidade da comercializaccedilatildeo

BELEacuteM

2016






Tese apresentada como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do grau de

Doutora em Ciecircncias Desenvolvimento Socioambiental Nuacutecleo de Altos Estudos Amazocircnicos (NAEA) da Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Desenvolvimento Sustentaacutevel do Troacutepico Uacutemido (PPGDSTU)

Linha de Pesquisa Desenvolvimento Regional e Agraacuterio Orientador Prof Dr Francisco de Assis Costa

Co-Orientadora Dra Danielle Mitja

BELEacuteM

2016

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Biblioteca do NAEAUFPA

_________________________________________________________________________

Gonzaacutelez Peacuterez Sol Elizabeth

Exploraccedilatildeo de recursos florestais natildeo madeireiros pelos Mẽbecircngocirckre - Kayapoacute da aldeia Las Casas -

terra indiacutegena Las Casas no sudeste do Paraacute aspectos bioloacutegicos sociais e econocircmicos relevantes para a

sustentabilidade da comercializaccedilatildeo Sol Elizabeth Gonzaacutelez Peacuterez Orientador Francisco de Assis

Costa ndash 2016

264 f il 29 cm

Inclui bibliografias

Tese (Doutorado) ndash Universidade Federal do Paraacute Nuacutecleo de Altos Estudos Amazocircnicos Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel do Troacutepico Uacutemido Beleacutem 2016

1 Mẽbecircngocirckre 2 Uso da terra 3 Economia tradicional 4 Comercializaccedilatildeo I Costa Francisco de

Assis orientador II Tiacutetulo

CDD 22 ed 630

_____________________________________________________________________________







Doutora em Ciecircncias Desenvolvimento Socioambiental Nuacutecleo de Altos Estudos Amazocircnicos (NAEA) da Universidade Federal

do Paraacute (UFPA) Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel do Troacutepico Uacutemido (PPGDSTU) Linha de Pesquisa Desenvolvimento Regional e Agraacuterio

Orientador Prof Dr Francisco de Assis Costa


Data de aprovaccedilatildeo 12052016

Banca Examinadora

___________________________________________________

Prof Dr Francisco de Assis Costa (Orientador ndash NAEAUFPA)

___________________________________________________

Profordf Drordf Rosa Acevedo Marin (Examinadora Interna ndash NAEAUFPA) ___________________________________________________

Prof Dr Danilo Arauacutejo Fernandes (Examinador Interno ndash NAEAUFPA)

___________________________________________________ Profordf Drordf Claudia Leonor Loacutepez Garceacutes (Examinadora Externa- IFCH-MPEG)

___________________________________________________ Prof Dr Flaacutevio Bezerra Barros (Examinador Externo NCADR-UFPA)

BELEacuteM

2016

A minha famiacutelia especialmente meus pais que me deram vida e assim a oportunidade de viver

as coisas lindas que vivo

Aos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute meus grandes mestres no mundo das plantas

AGRADECIMENTOS

Agrave famiacutelia e amigos da Aldeia Tekrejarocircti-re Las Casas que me receberam com muito carinho

sempre confiaram em mim e me ensinaram a beleza e a dureza da vida Mẽbecircngocirckre o trabalho

da roccedila os babaccediluais a caccedila a pesca os banhos no rio as caminhadas mex kumrex E sua

cultura a todos vocecircs muito obrigada

Agraves menire de Las Casas minhas irmatildes Mẽbecircngocirckre Ynhore Nhakrarakti Bekwynhdjecircre t i

Bekwynhkamrocirc e Kraudia e aacutes grandes amigas Fatima Bewynhbocirc Karotildebe Kamryto Irebocirc e

Piorecircj que muitas vezes me alimentaram e me fizeram descobrir o mundo das plantas no

universo feminino e a culinaacuteria Mẽbecircngocirckre abrindo suas portas para descobrir a vida

Mẽbecircngocirckre no Kapocirct todas grandes mestras

Aos companheiros de campo que me ajudaram e cuidaram de mim Pankroriti Bekoacute

Bepnhoronti Meyre My-i e Bepkajkrit e Mytyrya a todos vocecircs muito obrigada pelo carinho

e apoio

A Tabocirc Kayapoacute a seu filho Bekoacute Kayapoacute e aTakwyacuteryacute Kayapoacute pelo apoio e traduccedilatildeo nas

conversas com a comunidade de Las Casas os transportes aldeia-cidade e pelo carinho e

confianccedila que sempre demonstraram para este trabalho

Agrave antropoacuteloga Claacuteudia Loacutepez pelo apoio incondicional para continuar em Beleacutem e me dar a

oportunidade de continuar as pesquisas com os Mẽbecircngocirckre de Las Casas pelos ensinamentos

e o apoio muito obrigada

Ao antropoacutelogo indigenista e grande amigo Juliano Almeida pelo convite para colaborar nos

projetos Mẽ kunhecircre e Me agrave yry Las Casas acredito que muitas descobertas desta pesquisa natildeo

teriam sido possiacuteveis sem esse convite ainda ganhei um grande amigo

A meus companheiros de trabalho de campo Claacuteudia Loacutepez Veuderllane Campos e Juliano

Almeida pelo companheirismo e fazer do trabalho de campo uma experiecircncia maravilhosa

tranquila e agradaacutevel

Ao meu orientador Dr Francisco de Assis Costa pelo carinho e por me orientar e encaminhar a

novos conhecimentos aleacutem da biologia e a etnobotacircnica ainda pela grande oportunidade que

foi fazer doutorado sanduiacuteche grande crescimento para mim como pessoa e como profissiona l

muito obrigada Chiquito

A minha co-orientadora Dra Danielle Mitja pelo apoio dedicaccedilatildeo e orientaccedilatildeo no meu periacuteodo

de estaacutegio sanduiacuteche na Franccedila pelos ensinamentos e as discussotildees sobre babaccedilu que foram

de grande contribuiccedilatildeo para esta pesquisa e para minha formaccedilatildeo tambeacutem por me acolher no

seu grupo de pesquisa e no IRD e ainda agrave distacircncia pelas correccedilotildees e contribuiccedilotildees para as

melhoras deste trabalho

Ao Dr Eric Delaicirctre pelo apoio as aulas agrave dedicaccedilatildeo para me ensinar o que para mim era

totalmente desconhecido o mundo das imagens de sateacutelite o que foi uma contribuiccedilatildeo para esta

tese aprendi a conhecer a Terra Indiacutegena Las Casas a partir de outros olhares agradeccedilo tambeacutem

por me acolher com grande carinho trabalhar com vocecirc e Danielle Mitja foi uma experiecircnc ia

maravilhosa e de muito crescimento

Agraves pesquisadoras Pascale de Robert e Elisabeth Habert pelo convite para o estaacutegio no

Laboratoacuterio de Cartografia do IRD-Paris as ferramentas fornecidas neste estaacutegio foram um

grande aporte para a etapa final da pesquisa

Agrave UFPA o NAEA e o Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel do

Troacutepico Uacutemido (PPGDSTU) pela oportunidade de fazer doutorado neste programa foi uma

grande contribuiccedilatildeo agrave minha formaccedilatildeo acadecircmica e como pessoa

A todos meus colegas de doutorado especialmente a Paulo Pinto Claudia Nascimento Vacircnia

Quadros e Simmy Correcirca que me apoiaram quando mais precisei

Agrave CAPES pelas bolsas concedidas para o doutorado e o doutorado sanduiacuteche sem estas bolsas

este trabalho natildeo teria sido possiacutevel

Ao INCT-MPEG atraveacutes do projeto Laboratoacuterio de praacuteticas sustentaacuteveis em terras indiacutegenas

proacuteximas ao arco do desmatamento participar deste projeto foi uma grande oportunidade e

aporte ao desenvolvimento e financiamento desta pesquisa

Ao projeto Prointegraccedilatildeo Quantificaccedilatildeo de Biomassa Nativa e Secundaacuteria para o

Financiamento do Desenvolvimento Regional no Estado do Paraacute pelo financiamento de parte

da pesquisa de campo e pela concessatildeo da bolsa de doutorado sanduiacuteche -CAPES

Ao projeto GEOSUD Equipex-GEOSUD-Financement dexcellence de LrsquoANRFrance pelo

financiamento das Imagens de Sateacutelite de Altiacutessima Resoluccedilatildeo Pleiades da TI Las Casas de

Junho de 2013 agosto de 2015

A Zingara Azevedo e Fernanda Moreira pelo apoio e colaboraccedilatildeo no desenvolvimento da

pesquisa e tambeacutem pela amizade e carinho sem o apoio de vocecircs muitas coisas natildeo teriam

dado certo muito obrigada

A meu irmatildeo Fabio Reis Ribeiro de Arauacutejo pelo apoio incondicional sempre que precisei nas

minhas idas a Marabaacute e Las Casas hospedagens jantares e alegria que foram fundamenta is

para chegar com acircnimo para trabalhar em Las Casas e no retorno a Beleacutem

Agrave minha grande famiacutelia no Paraacute formada por paraenses paulistas colombianas franceses e

uma alematilde amigos e irmatildeos que ganhei nestes uacuteltimos sete anos aqui em Beleacutem especialmente

Diana Monroy Rocio Aguilar Ruth Matos Benoit Guichard Michelle Cougo Julien Rapiau

Etienne Polge Veuderllane Campos Yvonne Miller Fabricio Costa Ferreira e Fabio Reis

Ribeiro de Arauacutejo e Fernanda Carneiro Romagnoli

Finalmente a minha famiacutelia que mesmo agrave distacircncia estatildeo todo dia me apoiando e confiando

em que chego onde quero chegar a vocecircs agradeccedilo a vida que tenho e as vivecircncias que me

levam pelos melhores caminhos e aos caminhos que jaacute trilhei

Kayapoacute

poucos o viram era tiacutemido e arisco

gostava de ficar escondido

entre os cabelos lisos

negros longos feito noite chovendo sem parar

devia ter cinco anos o piaacute

que o criava

estirado em volta do pescoccedilo

desde que o encontrara agarrado ao dorso

da matildee roendo a flecha

um dia

enquanto o piaacute preparava o urucum

o pequeno meteu o focinho para fora do cangote

e cheirou a tinta que mais tarde pintaria seu mundo

de vermelho

poema ineacutedito de Paulo Vieira

RESUMO

Esta tese analisa os diferentes tipos de usos de produtos florestais natildeo madeireiros na Terra

Indiacutegena Las Casas assim como tambeacutem a importacircncia destes na subsistecircncia do povo

Mẽbecircngocirckre da aldeia Las Casas a utilizaccedilatildeo e os caminhos que estes e a comunidade de Las

Casas seguem atraveacutes da comercializaccedilatildeo A pesquisa consistiu numa combinaccedilatildeo de meacutetodos

e teacutecnicas interdisciplinares das ciecircncias bioloacutegicas assim como tambeacutem das ciecircncias humanas

servindo-se finalmente de teacutecnicas da etnobotacircnica e sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica Para

entender o contexto atual do uso de produtos florestais natildeo madeireiros e a inserccedilatildeo no mercado

se analisa o histoacuterico de ocupaccedilatildeo da Terra Indiacutegena Las Casas a dinacircmica do uso da terra a

atraveacutes do processamento de imagens de sateacutelite Landsat e os diferentes tipos de ocupaccedilatildeo solo

descritos pelos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute da aldeia Las Casas assim como tambeacutem as plantas e

recursos que utiliza em fim a economia tradicional deste povo Se analisaram tambeacutem as

diferentes formas de relaccedilatildeo dos Mẽbecircngotildekre-Kayapoacute com a sociedade envolvente e como estas

influenciaram na inserccedilatildeo ao mercado e em diferentes atividades econocircmicas dando destaque

em Las Casas agrave inserccedilatildeo no mercado atraveacutes dos projetos Mẽkunhecircre e Me agrave yry Las Casas A

Terra Indiacutegena Las Casas apresenta uma dinacircmica de uso da terra guiada por eventos de

desmatamento e recuperaccedilatildeo das aacutereas desmatadas Desta maneira os Kayapoacute reconhecem e

classificam diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo entre as que se destacam formaccedilotildees savacircnicas

e florestais e aacutereas antroacutepicas resultantes da ocupaccedilatildeo por posseiros da regiatildeo para o

estabelecimento de fazendas de gado A classificaccedilatildeo dos usos do solo pelos Kayapoacute de Las

Casas eacute compatiacutevel agrave obtida atraveacutes da imagem de sateacutelite Landsat-8 mesmo assim os Kayapoacute

diferenciam ocupaccedilotildees que na imagem natildeo podem ser reconhecidas como satildeo babaccediluais

pequizais capoeiras roccedilas e zonas uacutemidas de Cerrado Nestes territoacuterios caccedilam pesca

cultivam suas roccedilas de maneira tradicional Entre as espeacutecies vegetais utilizadas na sua

subsistecircncia identificam e exploram pelo menos 95 espeacutecies uacuteteis distribuiacutedas em 36 famiacutelias

e 72 gecircneros botacircnicos Para estas espeacutecies foram levantados 21 usos diferentes agrupados em

oito categorias de uso As espeacutecies que tiveram usos destacados para a subsistecircncia e a produccedilatildeo

de cultura material pertencem agrave famiacutelia Arecaceae (babaccedilu buriti bacaba) e Caryocaraceae

(pequiacute) Estas espeacutecies satildeo manejadas por eles e fazem parte da rede de troca de recursos entre

aldeias a qual garante a circulaccedilatildeo de diferentes variedades de espeacutecies cultivadas e mateacuterias -

primas utilizadas na produccedilatildeo de objetos destinados agrave vida ritual e agrave comercializaccedilatildeo

Finalmente se conclui que para a comercializaccedilatildeo de maneira sustentaacutevel dos frutos de babaccedilu

e pequi seria necessaacuteria a criaccedilatildeo de planos de manejo para ambas as espeacutecies Desta maneira

a atividade que mais oferece oportunidades de geraccedilatildeo de renda eacute a comercializaccedilatildeo de

artesanato Mesmo assim ainda haacute aspectos que devem ser melhorados principalmente na

organizaccedilatildeo da comunidade e da associaccedilatildeo Ngonh-rocircrocirc-kre

Palavras-chave Mẽbecircngocirckre Uso da terra Economia tradicional Comercializaccedilatildeo

ABSTRACT

This thesis analyzes the different types of non-timber forest products use on Indigenous Land

Las Casas as well as the importance of them to Mẽbecircngocirckre people of village Las Casas

subsistence Besides that the thesis describes the use and the ways that the products and the

community of Las Casas follow through market The research was a combination of

interdisciplinary methods and techniques of biological sciences and human sciences fina lly

using techniques of ethnobotany and geographic information systems To understand the

current context of the use of non-timber forest products and the integration into the market it

was conducted an analyzes of the history of occupation of Indigenous Land Las Casas the

dynamics of the use of land through the processing of Landsat satellite images and the different

types of soil were described by Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute village of Las Casas occupation also with

the plants and resources used that is the traditional economy of this people I also analyzed the

different forms of relationship of Mẽbecircngocirckre Kayapoacute with the surrounding society and how

these influenced the market integration and different economic activities highlighting in Las

Casas to entering the market through Mẽkunhecircre and Me agrave yry Las Casas projects I found that

the Indigenous Land Las Casas presents a dynamic use of the land guided by deforestation

events and recovery of deforested areas In this way the Kayapoacute people recognize and classify

different types of land use between that stand out savannas and forests and disturbed areas

resulting from the occupation by squatters in the area for the establishment of cattle ranches

The classification of land use by Kayapoacute people from Las Casas was compatible to that

obtained by the satellite Landsat-8 yet the Kayapoacute differentiate occupations that the image

cannot be recognized as are babaccediluais pequizais barns fields and humid areas In these

territories the Kayapoacute people hunt fish and cultivate their traditional way fields Among the

plant species used for their livelihoods identify and explore at least 95 useful species distributed

in 36 families and 72 botanicals genera For these species were raised 21 different uses grouped

into eight categories of use The species that were highlighted uses for subsistence and

production of material culture belong to the family Arecaceae (Attalea speciosa Mart Mauritia

flexuosa Lf Oenocarpus distichus Mart) e Caryocaraceae (Caryocar brasiliense ASt-Hil)

and Caryocaraceae (Caryocar brasiliense ASt-Hil) These species are managed by them and

are part of resource exchange network between villages which ensures the circulation of

different crop varieties and raw materials used in the production of objects intended for ritual

life and commercialization Finally for the commercialization in a sustainable manner the fruits

of babassu and pequi would be necessary to develop management plans for both species In

this way the activity that provides more income opportunities is the commercialization of

handicrafts Even so there are still aspects that should be improved Especially in Ngonh-rocircrocirc-

kre association and community organization

Key-words Mẽbecircngocirckre Land use Indigenous economy Commercialization

LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES

Figura 1 Mapa de localizaccedilatildeo da Terra Indiacutegena Las Casas 33

Figura 2 Detalhe da Imagem Pleiades (pancromaacutetica) das aacutereas de exploraccedilatildeo da

aldeia Las Casas da Terra Indiacutegena Las Casas utilizada na

fotointerpretaccedilatildeo da densidade do babaccedilu

46

Figura 3 Diferenccedila de NDVI na TI Las Casas no periacuteodo 1984-1990 61





Figura 8 Ynhore mẽ Bepkajkrit mẽ nhotilde mapa Mapa do uso e ocupaccedilatildeo do solo

realizado a partir dos conhecimentos fornecidos por Ynhore e Bepkajkrit

Kayapoacute

70

Figura 9 Kapocirct Savana gramiacuteneo- lenhosa 71

Figura 10 Kapocirct punu savana florestada 71

Figura 11 Kapocirct savana arborizada 71

Figura 12 Floresta estacional decidual Bagrave kamrek 72

Figura 13 Floresta de galeria 73

Figura 14 Ilha de floresta apecircjti 74

Figura 15 Detalhe do solo no campo uacutemido de Cerrado Imocirc 75

Figura 16 Kapocirct rotildene kocirc -babaccedilual(Aeichleri) 76

Figura 17 Rotilden-kocirc babaccedilual (A speciosa) 76

Figura 18 Ngwra kocirc buritizal 83

Figura 19 Krahn Serras da TI Las Casas ao fundo a Serra Tekrejarocircti-re 84

Figura 20 Roccedila tradicional Kayapoacute- puru 85

Figura 21 Ibecirc ndashCapoeira 86

Figura 22 Mekratildepti nhotilde puru kwy roccedila comunitaacuteria de mandioca e macaxeira 87

Figura 23 Mry Kapocirct nhotilde -Pastagens na TI Las Casas 88

Figura 24 Aldeia Las Casas Kri 88

Figura 25 Caminhos e estradas prykarere caminho ao rio e agraves roccedilas 89

Figura 26 Ocupaccedilatildeo do solo na Terra Indiacutegena Las Casas a partir da imagem

Landsat 8-OLI do 12062014

95

Figura 27 Grupo de homens trabalhando na confecccedilatildeo do croqui de recursos 99

Figura 28 Grupo de mulheres trabalhando na confecccedilatildeo do croqui de recursos 99

Figura 29 Menire nhotilde croqui Croqui das mulheres 100

Figura 30 Memy nhotilde croqui Croqui dos homens 103

Figura 31 Confecccedilatildeo de um cesto de expediente com folhas de rotildene (Aeichleri) 140

Figura 32 Artefatos confeccionados com folhas de rotilden tire (A speciosa) 143

Figura 33 Homens danccedilando com folhas de babaccedilu na festa dos homens Memy bi

ocirck

145

Figura 34 Menire bi ok Festa das Mulheres 145

Figura 35 Maacutescaras de Kukoj confeccionadas com folhas de babaccedilu e bacaba 146

Figura 36 Parcelas inventariadas na imagem de altiacutessima resoluccedilatildeo Pleiades de

2013

153

Figura 37 Berarubu de pequi preparado no ki e folhas de bananeira 156

Figura 38 Coleta de frutos de pequi 157

Figura 39 Frutos de Tekagrave kamrekti uma das variedades de banana (M

paradisiaca) cultivada na ladeia Las Casas

161

Figura 40 Mulheres preparando as batatas para assar no forno de pedras ki depois

de uma jornada de trabalho

169

Figura 41 Bekwynhdjecircrecircti e Nhakrarakti limpando cocos num babaccedilual 171

Figura 42 Kamryrito descansando com a lenha pronta para ser transportada ateacute a

aldeia

172

Figura 43 Jabutis caccedilados para a festa das mulheres menire bi ocirck 175

Figura 44 Patykre pescando com arco e flecha 176

Figura 45 Mulheres carregando pedras para o preparo dos fornos Ki na festa das

mulheres menire bi ocirck

180

Figura 46 Pinturas produzidas pelas mulheres e cestos produzidos pelos homens

nas oficinas Mẽkunhecircre Las Casas

200

Figura 47 Capa do Cataacutelogo e etiqueta com a logomarca criados no projeto Me agrave

yry Las Casas

204

Figura 48 Diadema utilizado na festa das mulheres menire bi ocirck confeccionado

com mistura de canudos plaacutesticos penas de arara talas de buriti e linhas

de algodatildeo

209

Quadro 1 Tipos de Ocupaccedilatildeo e uso do solo levantados segundo a nomenclatura

Kayapoacute descrita por Posey e levantada em Las Casas e seus

77

correspondentes no Manual Teacutecnico da Vegetaccedilatildeo Brasileira e segundo

Eiten 2001

Tabela 1 Ocupaccedilatildeo do solo na Terra Indiacutegena Las Casas 94

Tabela 2 Espeacutecies uacuteteis de Las Casas Forma de Vida A=arboacutereo Ar= arbustivo

L= lianescente H= herbaacutecea P= palmeira arborescente PA= palmeira acaule Estas espeacutecies natildeo ocorrem em Las Casas mas satildeo obtidas atraveacutes de intercacircmbios ou visitas em outras aldeias

PPV= Valor para a parte da planta utilizada (PPV) nas espeacutecies uacuteteis levantadas em Las Casas IVS= Iacutendice de valor de importacircncia

110

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AFP Associaccedilatildeo Floresta Protegida

ANR Agence Nationale de la Recherche

APA Aacuterea de Proteccedilatildeo Permanente

CAPES Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior

CIMI Conselho Indigenista Missionaacuterio

COICA Coordinadora de las Organizaciones Indiacutegenas de la Cuenca Amazoacutenica

COP Conferecircncia das Partes

CVRD Companhia Vale do Rio Doce

DSEI Kayapoacute Distrito Especial de Sauacutede Indiacutegena Kayapoacute

FUNAI Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio

FUNASA Fundaccedilatildeo Nacional da Sauacutede

GPS Global Positioning System

GT Grupo Teacutecnico

IPHAN Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional

IPCST Indigenous Peoplersquos Cultural Support Trust

Ivs Iacutendice de valor de importacircncia

Kg Quilograma

LANDSAT Land Remote Sensing Sattelite

MDA Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio

mm Miliacutemetros

MMS Multispectral Scanner System

MPEG Museu Paraense Emilio Goeldi

NASA National Aeronautics and Space Administration

NDVI Normalized Difference Vegetation Index

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IK Instituto Kabu

IN Instruccedilatildeo Normativa

INCT Instituto Nacional de Ciecircncia e Tecnologia

INPE Instituto Nacional de Pesquisa Espacial

IR Instituto Raoniacute

IRD Institute de Recherche pour le Deacuteveloppement

OLI Operational Land Imager

PFNM Produtos Florestais Natildeo Madeireiros

PDPI Projetos Demonstrativos dos Povos Indiacutegenas

PIX Parque Indiacutegena do Xingu

PNGATI Poliacutetica Nacional de Gestatildeo Ambiental e Territorial de Terras Indiacutegenas

PNCSA Projeto Nova Cartografia Social da Amazocircnia

PPV Iacutendice de valor para a parte da planta utilizada

PSA Pagamento por Serviccedilos Ambientais

PVs Postos de Vigilacircncia

REED Reduccedilatildeo Evitada por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal

SPOT Satellite pour lrsquoobservation de la terre

TAP Termo de Anuecircncia Preacutevia

TI Terra Indiacutegena

TIK Terra Indiacutegena Kayapoacute

SPI Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio

TM Thematic Mapper

UHE Usina Hidroeleacutetrica

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 20

11 Problema de pesquisa 27

12 Justificativa 29

13 Hipoacutetese 30

14 Objetivos 30

141 Objetivo Geral 30

142 Objetivos Especiacuteficos 31

15 Estrutura da Tese 31

2 ABORDAGEM METODOLOacuteGICA 33

21 Aacuterea de estudo terra indiacutegena Las Casas 33

22 Procedimentos eacuteticos 35

23 Coleta de dados metodologias interdisciplinares 36

24 Dados socioeconocircmicos dos moradores de Las Casas 38

25 Caracterizaccedilatildeo dos usos e meacutetodos de coleta levantamentos

participativos

39

26 Ocupaccedilatildeo do solo e dinacircmica do uso do solo na terra Indiacutegena Las Casas 40

261 Levantamento em campo dos tipos de ocupaccedilatildeo do solo 40

262 Imagens de sateacutelite utilizadas 41

263 Preacute-tratamento das imagens 41

264 Mapa do uso do solo e dinacircmica do uso do solo na terra indiacutegena Las Casas 42

265 Dinacircmica do uso do solo 43

27 Inventaacuterios de babaccedilu e pequi 44

271 Inventaacuterio de campo 44

272 Inventaacuterio da densidade de babaccedilu e pequi atraveacutes da fotointerpretaccedilatildeo de imagens de sateacutelite de altiacutessima resoluccedilatildeo Pleiades

45

28 Anaacutelise dos dados 46

3 OS MẼBEcircNGOcircKRE-KAYAPOacute 49

4 OCUPACcedilAtildeO E DINAcircMICA DE USO DO SOLO NO TERRITOacuteRIO

TRADICIONAL DOS OS MẼBEcircNGOcircKRE-KAYAPOacute DE LAS

CASAS DO CONHECIMENTO LOCAL AOS SISTEMAS DE

INFORMACcedilAtildeO GEOGRAacuteFICA

56

41 Histoacuterico de ocupaccedilatildeo da Terra Indiacutegena Las Casas 56

42 Dinacircmica do uso do solo da Terra Indiacutegena Las Casas 58

421 1984-1990 periacuteodo preacute-retorno Kayapoacute-I algum desmatamento e regeneraccedilatildeo

59

422 1990-1995 periacuteodo preacute-Kayapoacute-II Intensificaccedilatildeo do desmatamento e regeneraccedilatildeo da vegetaccedilatildeo

59

423 1995-2006 sob o domiacutenio Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute I-Redefiniccedilotildees de uso e regeneraccedilatildeo da vegetaccedilatildeo

63

424 2006-2011 sob o domiacutenio Kayapoacute II-Regeneraccedilatildeo acelerada mediante

recuperaccedilatildeo de usos

64

425 2011-2014 Domiacutenio Kayapoacute III- A garantia dos recursos 67

43 Ocupaccedilatildeo do solo atual em Las Casas o conhecimento do territoacuterio

ocupado pelos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute de Las Casas

69

44 O uso do solo na Terra Indiacutegena Las Casas interpretado atraveacutes de

Imagens de Sateacutelite Landsat e dados coletados em campo

91

5 OS RECURSOS DE LAS CASAS DO CONHECIMENTO AO USO

E MANEJO

98

51 O conhecimento dos homens e das mulheres de Las Casas 98

52 As plantas uacuteteis de Las Casas 107

521 Usos levantados e partes usadas das plantas 107

522 As partes utilizadas das plantas levantadas 108

523 A importacircncia das plantas medicinais para os Mẽbecircngocirckre de Las Casas 133

524 O conhecimento das plantas que utilizam 134

53 As palmeiras provedoras de recursos em Las Casas 137

54 O caso da palmeira babaccedilu (Attalea speciosa Mart) na TI Las Casas

densidade e mudanccedilas do uso do solo nas aacutereas de ocorrecircncia

150

55 O pequi (Caryocar brasiliense A St Hil) como recurso bioloacutegico e

econocircmico importante para os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute de Las Casas

156

56 As espeacutecies cultivadas em Las Casas 160

6 A ECONOMIA DOS MẼBENGOcircKRE-KAYAPOacute DA ALDEIA LAS

CASAS DOS SISTEMAS DE COLETA E PRODUCcedilAtildeO

TRADICIONAL Agrave INSERCcedilAtildeO NO MERCADO

163

61 Economia Indiacutegena 163

62 Atividades produtivas Agricultura coleta e manejo dos recursos na

Aldeia Las Casas

165

621 O trabalho das mulheres Menire djagravepecircj 166

622 O trabalho dos homens Memy djagravepecircj 173

623 Reciprocidade e redes de troca de recursos o que tem e o que natildeo tem

em Las Casas

181

63 A integraccedilatildeo da economia indiacutegena na economia de mercado 184

631 Os Povos Indiacutegenas e os riscos resultantes das relaccedilotildees com a sociedade envolvente na economia tradicional

184

632 Os Mẽbecircngocirckre e as diferentes relaccedilotildees com a sociedade envolvente

visando agrave geraccedilatildeo de renda

188

64 Experiecircncias na aldeia Las Casas com a comercializaccedilatildeo do

artesanato das Parcerias com O Museu Paraense Emilio Goeldi a

Funai e o Museu o iacutendio aos Projetos Mẽkunhecircre e Me agrave yry Las Casas

193

641 As parcerias estabelecidas atraveacutes do Museu Paraense Emilio Goeldi 193

642 Novas parcerias A FUNAI o Museu do Iacutendio e os Projetos Mẽkunhecircre e Me agrave yry Las Casas

196

6421 Mẽkunhecircre Las Casas 196

6422 Me agrave yry Las Casas 203

65 Novos desafios na Economia Indiacutegena 211

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 215

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 219

APEcircNDICE 233

APEcircNDICE 1 Termos de anuecircncia preacutevia apresentado na aldeia Las Casas 234

APEcircNDICE 2 Questionaacuterio para as entrevistas semiestruturadas aplicadas aos

moradores de Las Casas para levantamento de dados socioeconocircmicos uso e manejo do babaccedilu

247

APEcircNDICE 3 Composiccedilotildees Coloridas das Imagens Landsat 1 MMS de 1973 e Landsat 5 TM da TI Las Casas

252

APEcircNDICE 4 Dendrograma com as distacircncias entre as classes de ocupaccedilatildeo do solo

obtidas em R a partir dos poliacutegonos realizados com os pontos GPS coletados em campo

254

APEcircNDICE 5 Mudanccedilas na ocupaccedilatildeo do solo em parcelas inventariadas de babaccedilu nos anos 1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 e 2015

255

ANEXOS 262

ANEXO A- Autorizaccedilatildeo de ingresso concedida pela Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio FUNAI para o ingresso e pesquisa na Terra indiacutegena Las Casas

263

ANEXOndashB Autorizaccedilatildeo de acesso ao conhecimento tradicional associado concedida pelo Instituto do Patrimocircnio histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN

264

20

1 INTRODUCcedilAtildeO

A partir de estudos de ecologia e etnoecologia que surgiram desde a deacutecada de 1970

tem emergido discussotildees sobre a importacircncia e o valor do conhecimento tradicional na

conservaccedilatildeo da biodiversidade (DIEGUES 1996 DESCOLA 1997) Desta maneira deu-se

importacircncia a este conhecimento que eacute o acumulado por uma determinada cultura atraveacutes de

geraccedilotildees em relaccedilatildeo com a natureza no qual satildeo contemplados sistemas de classificaccedilatildeo

zoneamento e experiecircncias de manejo e adaptaccedilatildeo ao meio ambiente Este natildeo deve ser

considerado apenas pela antiguidade mas tambeacutem pela maneira como este eacute usado e foi

adquirido como o desenvolveram e continuam desenvolvendo (LEONEL 2000) Este

conhecimento eacute usado para sustentar as comunidades e sua cultura tanto nos seus aspectos

materiais quanto imateriais assim como tambeacutem para conseguir e manter os recursos

necessaacuterios para a sua reproduccedilatildeo no futuro (HANSEN VANFLEET 2003)

Toledo e Barrera-Bassols (2015) destacam que os povos indiacutegenas e as comunidades

tradicionais desenvolveram ao longo dos anos estrateacutegias de subsistecircncia que evitam os riscos

por meio de criaccedilatildeo manutenccedilatildeo e melhoramento da complexidade geograacutefica e ecoloacutegica da

diversidade bioloacutegica geneacutetica e paisagiacutestica em diferentes escalas territoriais Desta maneir a

a diversidade eacute mantida e enriquecida atraveacutes de ditas estrateacutegias que natildeo estatildeo configuradas

por um plano fixo e sim por programas localmente organizados para dissipar distuacuterbios

sagrados e concretos Destacam tambeacutem os autores que esta racionalidade eacute orientada pela

satisfaccedilatildeo de necessidades locais para desta maneira fazer frente tanto agraves incertezas climaacuteticas

quanto agrave escassez de matildeo de obra de capital de terra e de outros fatores econocircmicos

Assim esta loacutegica ecoloacutegica-econocircmica vem se evidenciar atraveacutes do uso muacuteltiplo de

recursos e no manejo do ambiente local tendo eles como base redes sociais e culturais de

reciprocidade seja no interior do lar do bairro ou da comunidade do seu entorno (TOLEDO

BARRERA-BASSOLS 2015)

Pesquisas realizadas a partir da deacutecada de 2000 tecircm demonstrado as contribuiccedilotildees dos

conhecimentos indiacutegenas para o desenvolvimento sustentaacutevel (VAN MARREWIJK 2001

KOLAWOLE 2001 CAVALCANTI 2006 HALL 2006 MILLIKEN 2006 DE ROBERT

2008) Em muitas oportunidades esses conhecimentos tecircm oferecido ferramentas para entender

como as populaccedilotildees que sofreram empobrecimento e marginalizaccedilatildeo utilizaram estes

21

conhecimentos para favorecer o manejo de recursos naturais como vias eficientes e

sustentaacuteveis para manter as suas necessidades de vida (VAN MARREWIJK 2001) Eacute por esta

razatildeo que termos como conservaccedilatildeo populaccedilotildees locais e desenvolvimento sustentaacuteve l

comeccedilaram a ser vistos como inseparaacuteveis (TOLEDO 1992 HANAZAKI 2003)

Entre os recursos utilizados pelas populaccedilotildees tradicionais e cujo conhecimento

tradicional associado eacute de grande importacircncia se destacam os Produtos Florestais Natildeo

Madeireiros (PFNMs) que constituem o meio de subsistecircncia para diversas comunidades rurais

e povos indiacutegenas tanto no troacutepico quanto em regiotildees temperadas sendo tambeacutem elementos

significativos da economia rural e regional em diversos paiacuteses ao mesmo tempo em que

desempenham um papel importante na cultura e identidade de diversos povos em todos os

cantos do planeta No caso da Amazocircnia produtos como a borracha (Hevea brasiliensis (Willd

ex A Juss) Muumlll Arg) a castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa Bonpl) fundamentaram os

pilares da economia amazocircnica a partir de mediados do seacuteculo XIX Pois foi graccedilas ao

extrativismo da seringueira que se iniciou o processo de povoamento da regiatildeo e que permitiu

a construccedilatildeo da infraestrutura produtiva e sustentou a economia nacional durante pelo menos

trecircs deacutecadas como terceiro produto de exportaccedilatildeo depois do cafeacute e algodatildeo Nos dias de hoje a

economia da regiatildeo tem se fortalecido tambeacutem com outros produtos com outros produtos como

accedilaiacute (Euterpe oleracea Mart) que eacute um dos principais recursos explorados pelos ribeirinhos

no nordeste paraense (SHANLEY et al 2006 HOMMA 2010 COSTA 2012 2016)

Os produtos florestais natildeo madeireiros (PFNMs) satildeo produtos de origem vegetal e animal

provenientes de florestas naturais ou aacutereas manejadas e que satildeo diferentes da madeira

(SOLDATI ALBUQUERQUE 2008) Constituem um meio de subsistecircncia para muita s

comunidades tradicionais povos indiacutegenas e camponeses nas regiotildees temperadas e tropicais

sendo tambeacutem elementos significativos da economia rural e regional em diversos paiacuteses

(GHORBANI et al 2012) Aleacutem disso os PFNMs satildeo elementos importantes na cultura

identidade mitos e praacuteticas espirituais locais em todos os cantos do planeta (SHANLEY

PIERCE LAIRD 2006) Ghorbani et al (2012) argumentam que a utilizaccedilatildeo de PFNMs eacute

menos destrutiva para o meio ambiente do que a exploraccedilatildeo madeireira ou a produccedilatildeo agriacutecola

Isto eacute provaacutevel em alguns casos particularmente quando os usuaacuterios fazem coleta local e

esporaacutedica Em uma recente revisatildeo Stanley et al (2012) sugerem que a maioria das atividades

de coleta de PFNMs satildeo atualmente ecologicamente sustentaacuteveis ou pelo menos tentam secirc-lo

No entanto no caso de PFNMs com alta demanda principalmente aqueles destinados aos

22

mercados distantes a colheita de galhos folhas frutas ou indiviacuteduos inteiros pode tornar-se

ecologicamente destrutiva (CUNNINGHAM 2001)

Vale destacar que os PFNMs de origem vegetal aos quais se daratildeo destaque nesta

pesquisa podem se separar em dois grupos aqueles em que a exploraccedilatildeo presume a supressatildeo

das matrizes ou dos indiviacuteduos produtivos ou aqueles que opostamente poderiam ajudar na

conservaccedilatildeo do indiviacuteduo e da populaccedilatildeo onde soacute satildeo utilizadas partes da planta sem afetar a

existecircncia do indiviacuteduo

Estes grupos podem ser tambeacutem conhecidos respectivamente como de coleta destrutiva

onde estatildeo incluiacutedos cipoacutes oacuteleos extraiacutedos a partir do lenho raiacutezes alguns palmitos e cascas e

os de coleta natildeo destrutiva onde se incluem folhas frutos sementes alguns oacuteleos e resinas

(SOARES 2008)

Estudos nas uacuteltimas deacutecadas vecircm sendo conduzidos sobre PFNMs e sua importacircncia na

subsistecircncia das populaccedilotildees tradicionais e na economia das regiotildees tropicais Alexiades e

Shanley (2005) poreacutem chamam atenccedilatildeo para o fato de que os aspectos mais importantes no

estudo dos PFNMs satildeo a complexidade e o caraacuteter multidimensional que estes detecircm pois de

fato fazem parte da identidade e da vida poliacutetica institucional e cultural das pessoas envolvidas

na sua coleta e consumo ou seja as diferentes governanccedilas relacionadas a estas atividades

Assim a diversificaccedilatildeo de estrateacutegias empregadas pelos produtores e as constantes mudanccedilas

nas relaccedilotildees entre produtores processadores comerciantes mercados e florestas ndash sistemas

dinacircmicos em si ndash contribuem para que cada produto florestal demonstre uma trajetoacuteria

histoacuterica e cultural diferente em muitos casos longa e complexa

Nos uacuteltimos anos esta trajetoacuteria tem se caracterizado por um interesse renovado nos

PFNMs como possibilidades para o desenvolvimento socialmente equitativo e ecologicamente

sustentaacutevel

Desta maneira a coleta de PFNMs oferece oportunidades de comercializaccedilatildeo aos

agricultores familiares comunidades tradicionais e povos indiacutegenas Para o caso dos povos

indiacutegenas Inglez de Souza (2010) aponta que mesmo em terras indiacutegenas com grandes

extensotildees territoriais e disponibilidade florestal como eacute caso das Terras Indiacutegenas (TIs) do povo

Mẽbecircngocirckre no estado do Paraacute a intensificaccedilatildeo da produccedilatildeo voltada para a venda pode reduzir

ou ateacute mesmo extinguir os recursos O autor considera tambeacutem que a carecircncia de recursos

econocircmicos das comunidades gera grandes expectativas sobre a geraccedilatildeo de renda o que somado

ao imediatismo pode acarretar formas inadequadas de exploraccedilatildeo

23

Segundo Homma (2010) o extrativismo vegetal na Amazocircnia foi e natildeo deixa de ser

importante no presente mesmo assim eacute necessaacuterio pensar de forma criacutetica sobre a coleta destes

recursos na regiatildeo O autor destaca que a economia extrativa apresenta limitaccedilotildees conforme o

mercado vai crescendo decorrente das tensotildees quando a oferta consegue atender a demanda eacute

limitada aos estoques naturais Desta maneira o extrativismo seria viaacutevel enquanto o mercado

for reduzido ou o recurso existir em grandes estoques servindo entatildeo apenas para responder a

pequenos nichos do mercado ou enquanto surgirem novas alternativas econocircmicas

Cita Homma (2010) que tem se criado uma falsa concepccedilatildeo de que a exploraccedilatildeo de

todo PFNM eacute sustentaacutevel esquecendo que nem sempre a extraccedilatildeo econocircmica garante a

sustentabilidade bioloacutegica e vice-versa

Desta maneira o extrativismo poderia apresentar grandes limitaccedilotildees em termos de

produccedilatildeo muitas vezes em relaccedilatildeo agrave baixa densidade das espeacutecies exploradas (BAHRI 2000)

Portanto a consequecircncia ecoloacutegica mais direta da extraccedilatildeo PFNMs eacute a alteraccedilatildeo das

taxas de sobrevivecircncia crescimento e reproduccedilatildeo dos indiviacuteduos colhidos Alteraccedilotildees em estas

taxas vitais por sua vez podem afetar estrutura e dinacircmica das populaccedilotildees (TICKTIN 2004)

Por exemplo a colheita pode afetar as respostas fisioloacutegicas dos indiviacuteduos a mudanccedila de

padrotildees demograacuteficos e geneacuteticos de populaccedilotildees assim como tambeacutem alterar processos na

densidade das populaccedilotildees ao niacutevel do ecossistema Segundo Bahri (2000) uma intensificaccedilatildeo

da produccedilatildeo deve considerar o cultivo dessas espeacutecies seja em plantaccedilotildees mono ou

poliespeciacuteficas Por outro lado esse cultivo poderia significar uma destruiccedilatildeo ou modificaccedilatildeo

da floresta e sua substituiccedilatildeo por ecossistemas simplificados e fraacutegeis gerando erosatildeo geneacutetica

degradaccedilatildeo dos solos problemas fitossanitaacuterios entre outros

O uso de sementes por populaccedilotildees tradicionais eacute uma das alternativas agrave geraccedilatildeo de renda

que estimula a manutenccedilatildeo da floresta em peacute e se realizada de forma sustentaacutevel pode ser

considerada uma atividade florestal de baixo impacto e compatiacutevel com os preceitos da

conservaccedilatildeo ambiental (VALENTE MUumlLLER 2008) Levando em consideraccedilatildeo que as

sementes tambeacutem alimentam animais a coleta deve ser feita de maneira a preservar parte da

produccedilatildeo para a fauna que ao se alimentar destas assegura a dispersatildeo e o recrutamento de

novas placircntulas de espeacutecies como o accedilaiacute solteiro (Euterpe precatoria Mart) a bacaba

(Oenocarpus distichus Mart) e a Castanha do Brasil (B excelsa) cujas sementes satildeo dispersas

respectivamente por aves (araras papagaios tucanos entre outras) cutias (Dasyprocta sp) e

pacas (VALENTE MUumlLLER 2008)

24

Neste sentido o estudo da ecologia dos povos indiacutegenas da Amazocircnia eacute importante para

a conservaccedilatildeo da regiatildeo uma vez que esses povos podem aportar um conhecimento novo

tanto para a proacutepria conservaccedilatildeo quanto para o manejo das espeacutecies Como exemplos mais

conhecidos nessa perspectiva consideram-se os povos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute Karsquoapor e

Kuikuro cujos conhecimentos sobre o meio ambiente foram publicados em importantes

trabalhos de etnociecircncias (POSEY 1992 BALEacuteE 1989 CARDOSO 1997)

Alguns povos indiacutegenas participam de forma ativa do mercado a exemplo dos Krahocirc

que ocupam uma aacuterea de cerrado no nordeste do Estado do Tocantins e utilizam as espeacutecies

Attalea maripa (Aubl) Mart Mautia flexuosa Lf Euterpe edulis Mart e espeacutecies do gecircnero

Astrocaryum para fabricar objetos comercializados localmente e nas cidades proacuteximas

(NASCIMENTO 2010) A utilizaccedilatildeo de palmeiras no artesanato eacute recorrente tambeacutem em

outros paiacuteses amazocircnicos Na Colocircmbia por exemplo os indiacutegenas Emberaacute-Katiacuteo utilizam

seis espeacutecies desta famiacutelia empregando diferentes partes da planta com destaque para as

sementes (FRAUSIM et al 2008) Na Venezuela Telleria e Conde (2004) mencionam pelo

menos quatro espeacutecies de palmeiras utilizadas na cestaria indiacutegena venezuelana entre as que se

destacam o moriche (M flexuosa) a palma manaca (Euterpe oleracea Mart) o pijiguao

(Bactris gasipaes Kunth) o uru (Bactris major Jacq) e a palma coroba (Attalea macrolepis

(Burret) WessBoer)

Neste cenaacuterio cresce entre o povo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute que habita na aldeia Las Casas

(Terra Indiacutegena Las Casas) o interesse em explorar esses recursos Nesta aldeia onde se

desenvolveu esta pesquisa recentemente surgiu o interesse em comercializar frutos de pequi (C

brasiliense) babaccedilu (Attalea speciosa Mart) e seus derivados e o artesanato produzido a partir

de fibras de buriti (M flexuosa) e sementes de espeacutecies representantes das Famiacutelias botacircnicas

Arecaceae e Fabaceae principalmente (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2013)

O povo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute eacute conhecido por realizar o manejo de diversos recursos

naturais que utilizam (POSEY 1987 ANDERSON POSEY 1989) dentre os quais se destacam

algumas plantas usadas na medicina tradicional assim como tambeacutem a Castanha-do-Brasil e

uma ampla variedade de palmeiras principalmente o inajaacute e o tucumatilde (em aacutereas de floresta

ombroacutefila densa) e o babaccedilu e o buriti (no Cerrado) Em Las Casas as espeacutecies que se destacam

devido agrave sua abundacircncia e importacircncia econocircmica e cultural satildeo o babaccedilu o pequi e o buriti

Uma das famiacutelias de plantas mais utilizadas por populaccedilotildees tradicionais e povos

indiacutegenas na Amazocircnia devido aos recursos que oferece eacute das Arecaceae Entre as integrantes

desta famiacutelia na Amazocircnia o babaccedilu (Attalea speciosa Mart) se destaca por ser uma das

25

espeacutecies mais abundantes distribuindo-se amplamente no sul da regiatildeo do oceano Atlacircntico agrave

Boliacutevia (BALICK PINHEIRO 2000) e especialmente nas zonas de transiccedilatildeo entre a bacia

amazocircnica e o semiaacuterido nordestino do Brasil Estaacute presente principalmente nos Estados do

Piauiacute Maranhatildeo e em menor escala no Tocantins Goiaacutes Mato Grosso e Paraacute (LORENZI et

al 2010 MAY et al 1985 MEIRELLES 2004) Estima-se que os babaccediluais ocupem entre 18

e 20 milhotildees de hectares do territoacuterio brasileiro com cerca da metade dessa aacuterea concentrada

no estado do Maranhatildeo (PINTO et al 2010) Trata-se de uma das espeacutecies mais importantes

na subsistecircncia de muitas populaccedilotildees tradicionais sobretudo no Nordeste do paiacutes jaacute que todas

as partes da palmeira satildeo aproveitaacuteveis (PINHEIRO FRAZAtildeO 1995) Atualmente tem sido

vista como uma das espeacutecies vegetais de maior potencial para a produccedilatildeo do biodiesel devido

agrave composiccedilatildeo do oacuteleo de suas amecircndoas ser predominantemente laacuteurica o que garante um

biodiesel de excelentes caracteriacutesticas fiacutesico-quiacutemicas oferecendo maiores rendimentos em

relaccedilatildeo a outros oacuteleos (LIMA et al 2007) assim como tambeacutem apresenta um grande potencial

na induacutestria cosmeacutetica e principalmente na fabricaccedilatildeo de sabotildees e glicerina (BIONDI et al

2008 MEIRELLES 2004)

Na regiatildeo nordeste principalmente no Estado do Maranhatildeo destaca-se o importante

papel do babaccedilu para as populaccedilotildees tradicionais cuja economia e subsistecircncia se baseiam nas

atividades agriacutecolas e no extrativismo deste recurso praacutetica quase que exclusivamente feminina

e que sustenta a economia de aproximadamente 200 mil famiacutelias (PORRO 2002 PINHEIRO

FRAZAtildeO 1995) Nesta regiatildeo as mulheres autodenominadas ldquoquebradeiras de coco babaccedilurdquo

se organizaram e tecircm desenvolvido uma grande luta no que se refere ao acesso e agrave conservaccedilatildeo

dos babaccediluais junto com reivindicaccedilotildees identitaacuterias (SHIRAISHI 1999) Como resultado da

luta das quebradeiras de coco babaccedilu originaram-se duas organizaccedilotildees de grande importacircnc ia

a Associaccedilatildeo das Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR) e o Movimento Interestadual das

Quebradeiras de Coco Babaccedilu (MIQCB) (ALBIERO et al 2007) Paralelamente a estes

movimentos surgiram diversas propostas como a Lei do Babaccedilu Livre e o Plano Nacional de

Promoccedilatildeo de Cadeias de Produtos da Biodiversidade o qual visa apoiar principalmente agraves

comunidades extrativistas de principalmente de produtos como a Castanha-do-Brasil e o

babaccedilu Poreacutem apesar dos logros das quebradeiras de coco organizadas muitas comunidade s

estatildeo ainda afastadas dos movimentos sociais que defendem e promovem o extrativismo do

babaccedilu Eacute o caso a aldeia indiacutegena Las Casas do povo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute na Terra Indiacutegena

homocircnima onde o babaccedilu eacute abundante e amplamente utilizado (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al

2012)

26

O conhecimento e uso associados a esta espeacutecie por diferentes grupos indiacutegenas foram

documentados por alguns autores (VIDAL 1977 BALICK 1988 HETCH POSEY 1989

FORLINE 2000 NASCIMENTO et al 2009 DE ROBERT KATZ 2010) Atraveacutes dos

estudos realizados por Fuerst (1970) Posey (1989) Anderson e Posey (1989) sabe-se tambeacutem

que o babaccedilu o buriti e o pequi satildeo recursos de importacircncia cultural e tradicionalmente

utilizados pelos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute e que o interesse de suas comunidades pela

comercializaccedilatildeo destes recursos e das fibras do buriti utilizadas na confecccedilatildeo de artesanato

como alternativa para a geraccedilatildeo de renda vem crescendo significativamente nos uacuteltimos anos

A primeira experiecircncia conhecida de comercializaccedilatildeo de oacuteleo de babaccedilu entre os Mẽbecircngocirckre-

Kayapoacute teve lugar na aldeia Bauacute da TI homocircnima localizada no Oeste do Paraacute a qual com

apoio do Instituto Kabu1 conseguiu exportar para o Reino Unido 400 litros de oacuteleo de babaccedilu

para as empresas SampD Aroma e ILA SPA em 2010 Esta aldeia estaacute prestes a receber nova

encomenda para mais 1000 litros das mesmas empresas o que configura que a parceria com a

Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental (ONG) inglesa IPCST ndash Indigenous Peoples Cultural Suport

Trust ndash vem prospectando o mercado inglecircs de produtos naturais com intuito de buscar um

mercado justo para os PFNMs das Florestas Kayapoacute (INSTITUTO KABU 2010) O Instituto

Kabu recentemente tem apoiado tambeacutem as aldeias Pukany Bauacute e Kubenkokre da TI Bauacute em

projetos de comercializaccedilatildeo de artesanato em lojas itinerantes em diferentes eventos e numa

loja online onde satildeo oferecidas peccedilas como velas em ouriccedilo de Castanha do Brasil bordunas

em miniatura e pequenos cestos com Castanha do Brasil (KAYAPOacute MEKRAtildeGNOTI 2013)

Em maio de 2013 a aldeia Las Casas iniciou a comercializaccedilatildeo de artesanato atraveacutes da

Associaccedilatildeo Indiacutegena desta aldeia ldquoNgocircnh-rocircrocirc-krerdquo Este artesanato estaacute disponiacutevel a venda na

Casa do Artesatildeo no Polo Joalheiro Satildeo Joseacute Liberto em Beleacutem o comeccedilo destas atividades foi

iniciado atraveacutes dos projetos em parceria FUNAIMuseu do IacutendioMuseu Paraense Emilio

Goeldi e a Aldeia Las Casas no acircmbito dos editais de Accedilatildeo de Promoccedilatildeo do Patrimocircnio

Cultural dos Povos Indiacutegenas do Museu do Iacutendio-FUNAI

A comercializaccedilatildeo de produtos florestais natildeo madeireiros entre povos indiacutegenas surge a

partir da deacutecada de 1990 principalmente entre os Kayapoacute como uma alternativa agrave geraccedilatildeo de

renda ligada a conservaccedilatildeo do meio ambiente Pois as primeiras relaccedilotildees deste povo como

mercado estiveram principalmente ligadas a atividades predatoacuterias como a exploraccedilatildeo de

madeira (mogno) e ouro A mudanccedila destas relaccedilotildees de mercado surgiu como demanda das

comunidades Kayapoacute e deu-se principalmente atraveacutes da criaccedilatildeo de associaccedilotildees indiacutegenas que

1 Associaccedilatildeo indiacutegena que representa as aldeias da terra indiacutegena (TI) Bauacute

27

representassem as comunidades Mesmo assim eacute uma atividade que natildeo tem sido consolidada

devido a diferentes fatores como eacute a distacircncia das aldeias aos centros de comercializaccedilatildeo assim

como a relaccedilatildeo das associaccedilotildees indiacutegenas ligadas agraves atividades de comercializaccedilatildeo como eacute o

caso da Associaccedilatildeo Floresta Protegida (AFP) que comeccedilou atuando em apenas quatro aldeias

e soacute nos uacuteltimos dois anos conseguiu consolidar sua atuaccedilatildeo em pelo menos 22 aldeias

Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute (JEROZOLIMSKI RIBEIRO 2011 VILLAS-BOcircAS et al 2014) Por

outro lado eacute necessaacuterio destacar que boa parte da economia ligada agrave coleta e comercializaccedilatildeo

de PFNMs principalmente no nordeste paraense estaacute ligada aos camponeses da regiatildeo em cujo

modo de produccedilatildeo converge aos sistemas agroflorestais associados agrave extraccedilatildeo de PFNMs

Segundo menciona Costa (2016) os camponeses da microrregiatildeo de Cametaacute pertencentes ao

que ele denomina Paradigma Agroextrativista conformado pela Trajetoacuteria camponesa (T2)

agricultores familiares e por sua vez extrativistas2 Esta trajetoacuteria pressupotildee em algum niacutevel dos

seus processos produtivos a preservaccedilatildeo da natureza originaria A T2 no ano de 1995 era

responsaacutevel pelo 60 do extrativismo natildeo madeireiro de toda a economia rural da regiatildeo

amazocircnica (COSTA 2016)

Aspectos sobre a coleta de produtos florestais natildeo madeireiros e principalmente os de

importacircncia cultural no que se refere agrave cultura material assim como na subsistecircncia do povo

Kayapoacute satildeo tratados aqui nesta tese onde se pretendeu entender os processos tanto de coleta e

consumo destes produtos dentro da economia tradicional assim como tambeacutem as

transformaccedilotildees organizaccedilatildeo e dificuldades dos processos pelos quais passam estes produtos

para chegar ao mercado

11 Problema de pesquisa

Como mencionado acima o extrativismo na Amazocircnia se constitui como a principal base

da economia de muitas comunidades indiacutegenas ribeirinhas e camponesas na regiatildeo Mesmo

assim esta atividade sempre contou com os empecilhos das grandes distacircncias e

consequentemente as dificuldades no escoamento de ditos produtos Atualmente esta atividade

continua tendo muitas dificuldades na Amazocircnia e depende muitas vezes tanto de apoio por

parte dos entes governamentais quanto de organizaccedilatildeo das comunidades envolvidas Desde o

iniacutecio comercializaccedilatildeo na aldeia Las Casas tanto de artesanato quanto de frutos do pequi

atividade tem se desenvolvido de forma esporaacutedica dependendo da disponibilidade estacional

2 Para aprofundar sobre as Trajetoacuterias tecnoloacutegicas em evoluccedilatildeo na Amazocircnia ver Costa (2009 2012 2016)

28

do pequi assim como tambeacutem das mateacuterias-primas de origem vegetal e industrializadas (no caso

do artesanato) enfrentando tambeacutem as dinacircmicas econocircmicas internas e externas em relaccedilatildeo

com os mercados locais e regionais No que se refere agrave comercializaccedilatildeo de artesanato desde

seu iniacutecio deu-se atraveacutes de intermediaacuterios principalmente dos Padres da Igreja Catoacutelica os

quais moram no nuacutecleo urbano do municiacutepio de Redenccedilatildeo (no sudeste do Paraacute) e que ateacute hoje

possuem relaccedilotildees estreitas com a comunidade Em muitas ocasiotildees os proacuteprios pesquisadores

que desenvolvem pesquisa na TI Las Casas atuam como intermediaacuterios entregando o

artesanato destinado agrave venda nas lojas em Beleacutem Tambeacutem em algumas oportunidades os

indiacutegenas aproveitam suas idas agrave cidade para tentar vender algo da sua produccedilatildeo artesanal e

fazer pintura corporal para desta maneira gerar renda

Por um lado uma das possiacuteveis causas do parco sucesso da comercializaccedilatildeo de produtos

oriundos do extrativismo e da agricultura tradicional para muitas comunidades indiacutegenas pode

estar relacionada em parte agrave falta de oportunidades de apoio pelo governo para o

empreendimento de atividades como estas em povos indiacutegenas assim como tambeacutem aos

problemas na organizaccedilatildeo dentro da comunidade ou instabilidade nas relaccedilotildees dentro desta o

que em muitos casos acaba impedindo o avanccedilo destas atividades pois para levar agrave frente a

comercializaccedilatildeo de produtos as comunidades tradicionais e povos indiacutegenas devem contar com

associaccedilotildees indiacutegenas ou cooperativas que representem ditas comunidades e que o

funcionamento das mesmas siga diretrizes loacutegicas e padrotildees que natildeo satildeo proacuteprios destes povos

e comunidades e que definidos de maneira adventiacutecia pretensamente satildeo tidos como aqueles

que permitem os melhores resultados Por outro lado a dificuldade de acesso agraves Terras

Indiacutegenas se apresenta como mais um empecilho para o sucesso da comercializaccedilatildeo de produtos

oriundos do extrativismo mesmo que o acesso agraves mesmas seja terrestre pois nem sempre as

condiccedilotildees das estradas satildeo as melhores

Aleacutem disso como outros povos indiacutegenas o povo indiacutegena Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute

conserva ainda sua organizaccedilatildeo social para as atividades produtivas como a agricultura pesca

caccedila coleta e a produccedilatildeo de artefatos atividades proacuteprias da sua cultura e que demandam

investimento de tempo quando se pensa em produccedilatildeo para comercializaccedilatildeo que ateacute o momento

natildeo tem sido a prioridade deste povo Tomando em conta os padrotildees de produccedilatildeo familiar e os

que seriam exigidos pelo mercado no caso que estas demandas aconteccedilam com sucesso estes

satildeo pontos importantes a serem considerados

Apesar de tudo no iniacutecio da pesquisa na aldeia Las Casas surgiram demandas para

buscar soluccedilotildees econocircmicas e viabilizar a comercializaccedilatildeo de frutos de pequi buriti e babaccedilu

29

assim como tambeacutem do artesanato produzido pela comunidade Atraveacutes dos editais de Accedilatildeo de

Promoccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural dos Povos Indiacutegenas apoiado pelo Museu do IacutendioFUNAI

(20122013) foram levadas a cabo oficinas ministradas pela proacutepria comunidade para o resgate

da cultura e sua preparaccedilatildeo na inserccedilatildeo do mercado regional Este processo ainda estaacute em

construccedilatildeo mas se apresenta como uma experiecircncia que pode ou natildeo mudar o rumo da

organizaccedilatildeo da comunidade para a inserccedilatildeo no mercado local e regional pois foi primeira

experiecircncia de participaccedilatildeo das mulheres da comunidade nas atividades geridas pela associaccedilatildeo

indiacutegena e a maioria dos moradores da comunidade estatildeo participando deste processo onde

houve como ferramentas a construccedilatildeo de um cataacutelogo de artesanato criaccedilatildeo de uma logomarca

(criada e escolhida pela comunidade) e etiquetas que auxiliam na identidade visual da

comunidade nos produtos comercializados

Cabe se perguntar entatildeo depois destas afirmativas se o sucesso destes novos processos

de organizaccedilatildeo podem implicar em uma pressatildeo dos recursos explorados que pretendem

comercializar (pequi e babaccedilu) assim como a extraccedilatildeo de fibras vegetais extraiacutedas do buriti para

a confecccedilatildeo de artesanato

Quais as praacuteticas de manejo envolvidas na extraccedilatildeo destes recursos

Como a exploraccedilatildeo de recursos para a comercializaccedilatildeo pode influenciar as redes de

troca de recursos das quais os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute participam ou ao contraacuterio como estas

trocas podem interferir na comercializaccedilatildeo

Quais os processos que dominam tensotildees da inserccedilatildeo dos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute no

mercado natildeo indiacutegena

12 Justificativa

Entre o povo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute satildeo explorados PFNMs entre estes se destacam

principalmente mateacuterias-primas utilizadas na cultura material e na confecccedilatildeo de artesanato

destinado agrave venda a Castanha-do-Brasil atualmente comercializada por algumas aldeias e a

qual tem se dado destaque em projetos de desenvolvimento sustentaacutevel e frutos de algumas

palmeiras como bacaba accedilaiacute inajaacute buriti e babaccedilu assim como tambeacutem e plantas medicina is

Na aldeia Las Casas localizada na TI homocircnima devido agrave sua abundacircncia e importacircnc ia

cultural tem surgido o interesse em comercializar tanto o oacuteleo de babaccedilu produzido pelas

mulheres quanto outros subprodutos aproveitaacuteveis como por exemplo a casca do fruto de

babaccedilu que poderia ser aproveitada para a produccedilatildeo de carvatildeo frutos do pequi para consumo

humano e o artesanato confeccionado tanto pelos homens quanto pelas mulheres da aldeia

30

Desse modo considera-se que para atender novas tensotildees econocircmicas informaccedilotildees

sobre o conhecimento e o manejo das espeacutecies exploradas assim como os niacuteveis adequados de

coleta satildeo essenciais para garantir a sustentabilidade destas atividades Vale agrave pena destacar

tambeacutem que a sociedade Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute como muitas outras eacute uma sociedade onde

atividades masculinas e femininas ganham seu espaccedilo de forma separada e em diferentes

categorias de idade Por outro lado possuem relaccedilatildeo com a sociedade envolvente Assim a

maioria dos projetos desenvolvidos nas comunidades tem sido executada exclusivamente pelos

homens em muitos casos por um aspecto limitante como a comunicaccedilatildeo devido agrave maioria das

mulheres natildeo falarem a liacutengua portuguesa Desse modo este estudo se apresenta como uma

oportunidade dentro desta comunidade para a participaccedilatildeo tanto de homens e mulheres e como

uma futura geraccedilatildeo de renda para as mulheres

Por fim este estudo poderaacute fornecer informaccedilotildees bioloacutegicas e culturais relevantes para

subsidiar a elaboraccedilatildeo de planos de manejo que visem garantir a sustentabilidade da exploraccedilatildeo

do babaccedilu pequi e buriti por esta e outras comunidades da Amazocircnia bem como acrescentar

os dados de ocorrecircncia destas espeacutecies no estado do Paraacute e dos aspectos da economia tradiciona l

deste povo assim como tambeacutem o processo da inserccedilatildeo deste povo indiacutegena na economia de

mercado

13 Hipoacutetese

Como hipoacutetese desta pesquisa pensou-se que o sucesso da inserccedilatildeo das novas relaccedilotildees

no mercado de PFNMs oriundos da Terra Indiacutegena Las Casas-Aldeia Las Casas bem como o

artesanato produzido encontra-se determinado pelas dinacircmicas internas do povo Mẽbecircngocirckre-

Kayapoacute tanto dentro do seu entorno assim como pelas dinacircmicas externas e pelas poliacuteticas

impostas pelo Estado

14 Objetivos

141 Objetivo geral

Acompanhar os processos de coleta e manejo de pelo menos trecircs produtos florestais natildeo

madeireiros abundantes na TI Las Casas e a organizaccedilatildeo e inserccedilatildeo da aldeia Las Casas no

mercado local e regional na comercializaccedilatildeo destes produtos

31

142 Objetivos especiacuteficos

a) Descrever as atividades produtivas da aldeia Las Casas tomando em conta a participaccedilatildeo

das famiacutelias na exploraccedilatildeo produtos florestais natildeo madeireiros utilizados coletados tanto

para a subsistecircncia quanto na produccedilatildeo de artesanato

b) Entender as dinacircmicas internas da economia tradicional e a inserccedilatildeo de produtos

indiacutegenas no mercado local regional ou nacional

c) Determinar a densidade de indiviacuteduos de babaccedilu e pequihectare nos locais explorados

dentro desta TI

d) Caracterizar os usos dados para as espeacutecies A speciosa M flexuosa e C brasiliense

pelos iacutendios Kayapoacute de Las Casas e os sistemas de coleta para os diferentes contextos

de exploraccedilatildeo e consumo

e) Entender as dinacircmicas de ocupaccedilatildeo de uso do solo na TI Las Casas e sua relaccedilatildeo com o

uso do solo atual

f) Verificar quais as praacuteticas de manejo para assegurar a existecircncia das espeacutecies

exploradas

15 Estrutura da tese

Esta tese estaacute estruturada em sete partes introduccedilatildeo abordagem metodoloacutegica e quatro

seccedilotildees de desenvolvimento da pesquisa aleacutem das consideraccedilotildees finais referecircncias

bibliograacuteficas apecircndices e anexos O conteuacutedo da tese se resume a seguir

A primeira parte apresenta uma introduccedilatildeo agrave exploraccedilatildeo de Produtos Florestais Natildeo

Madeireiros no Brasil dando ecircnfase agrave exploraccedilatildeo destes produtos pelas comunidades

tradicionais e povos indiacutegenas da Amazocircnia principalmente agrave exploraccedilatildeo de palmeiras tanto

para a subsistecircncia assim como tambeacutem na produccedilatildeo de cultura material e artesanato assim

como tambeacutem as dificuldades da comercializaccedilatildeo de ditos produtos Tambeacutem se apresentam a

justificativa hipoacutetese e os objetivos da pesquisa

Numa segunda seccedilatildeo se apresenta a abordagem metodoloacutegica seguida conseguir os

objetivos estabelecidos para a pesquisa

A terceira seccedilatildeo trata dos Mẽbecircngocirckre onde se apresentam informaccedilotildees sobre a

organizaccedilatildeo social populaccedilatildeo e o comeccedilo das relaccedilotildees com a sociedade envolvente que

definem as relaccedilotildees atuais nos contextos econocircmico e social

Na seccedilatildeo quatro se analisa o histoacuterico de ocupaccedilatildeo da TI Las Casas tomando em conta

momentos chave da ocupaccedilatildeo dos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute e posseiros na regiatildeo e o processo de

32

recuperaccedilatildeo e homologaccedilatildeo do territoacuterio tradicional A partir destas informaccedilotildees eacute analisada a

dinacircmica de ocupaccedilatildeo de solo atraveacutes do processamento de imagens de sateacutelite da series

Landsat 5-TM e Landsat 8-OLI Tambeacutem se apresenta o mapa dos tipos ocupaccedilatildeo do solo na

Terra Indiacutegena Las casas partindo do conhecimento local da ocupaccedilatildeo do solo segundo a

nomenclatura Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute em comparaccedilatildeo aos resultados obtidos da ocupaccedilatildeo do solo

atraveacutes do processamento da imagem de sateacutelite Landsat 8-OLI de 2014

Na quinta seccedilatildeo se apresentam os resultados dos levantamentos etnobotacircnicos

relacionados agraves espeacutecies vegetais exploradas dando ecircnfase agraves espeacutecies das quais haacute interesse de

comercializar pela comunidade da aldeia Tekrejarocircti-re seja in natura ou atraveacutes da confecccedilatildeo

de artesanato e a produccedilatildeo de oacuteleo de babaccedilu Assim como tambeacutem o uso de recursos vegetais

animais (caccedila pesca criaccedilatildeo e na vida ritual) e minerais coletados por eles utilizados na vida

cotidiana Satildeo analisados tambeacutem os diferentes usos levantados para os diferentes recursos

atraveacutes das diferentes categorias de uso assim como tambeacutem as praacuteticas de manejo Discute -se

tambeacutem com base nos dados coletados em campo e na literatura existente os resultados obtidos

sobre densidade de populaccedilatildeo teacutecnicas de coleta e manejo dos principais Produtos Florestais

Natildeo Madeireiros de interesse econocircmico para a aldeia Las Casas

Na sexta seccedilatildeo se apresentam aspectos da economia tradicional indiacutegena dando

destaque aos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute da aldeia Las Casas tomando em conta as atividades

produtivas e as relaccedilotildees de troca de recursos com outras aldeias dentro de esta economia assim

como tambeacutem a inserccedilatildeo na economia de mercado (natildeo indiacutegena) do povo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute

da aldeia Las Casas discutindo com base na literatura existente sobre economia indiacutegena assim

como tambeacutem da literatura sobre povos indiacutegenas e os diferentes projetos executados como

caminho principal para o ingresso ao mercado Esta discussatildeo estaacute baseada nas experiecircncias da

Terra Indiacutegena (TI) Las Casas e de outras terras indiacutegenas e suas aldeias No caso de Las Casas

tomar-se-aacute em conta a comercializaccedilatildeo de artesanato que foi iniciada atraveacutes do programa de

ldquoAccedilatildeo de Promoccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural dos Povos Indiacutegenasrdquo do Museu do Iacutendio

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI) Aldeia Las Casas em parceria com pesquisadores do

Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Experiecircncia na qual a comunidade passou a ser representada

pela Associaccedilatildeo Indiacutegena Ngotildenh-rocircrocirc-kre atraveacutes do cadastro da mesma na Casa do Artesatildeo

no Polo Joalheiro Satildeo Joseacute Liberto e na livraria do Parque do Museu Paraense Emiacutelio Goeldi

Finalmente se apresentam as consideraccedilotildees finais resultantes dos aspectos discutidos

nas diferentes seccedilotildees

33

2 ABORDAGEM METODOLOacuteGICA

21 Aacuterea de estudo Terra Indiacutegena Las Casas

Este estudo foi realizado na TI Las Casas (7⁰ 55rsquo088rsquorsquoS 49⁰ 55rsquo348rsquorsquoW) na aldeia Las

Casas conhecida tambeacutem como Tekrejarocircti-re A TI conta com uma aacuterea total de 21344

hectares estaacute localizada no sudeste do estado do Paraacute dentro dos municiacutepios de Pau DacuteArco

Floresta do Araguaia e Redenccedilatildeo (Figura 1)

Figura 1 1 Mapa de localizaccedilatildeo da Terra Indiacutegena Las Casas

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Atualmente a Terra Indiacutegena Las Casas conta com trecircs aldeias a mais antiga Las Casas

eacute denominada Tekrejarocircti-re pelos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute outra que foi instalada em 2011

denominada Kapratildemkrere e a mais recente Rotildenekore estabelecida em 2014 As aldeias contam

com uma populaccedilatildeo aproximada de 189 160 e 50 habitantes respectivamente Em Tekrejarocircti-

re geralmente conhecida com Las Casas onde foi desenvolvida a pesquisa habitam 24 famiacutelias

esta aldeia segue o padratildeo tradicional das aldeias Mẽbecircngocirckre dos grupos jecirc e Bororo do Brasil

Central (LEA 2012 TURNER 1991) Que se caracterizam por um ciacuterculo de casas com seus

respectivos quintais ao redor de uma praccedila e em cujo centro encontra-se o ngagrave espaccedilo poliacutetico

34

onde satildeo realizadas as reuniotildees da comunidade para a tomada de decisotildees Logo depois do

periacutemetro da aldeia encontram-se os novos elementos inseridos na estrutura tradicional das

aldeias Mẽbecircngocirckre a escola de ensino fundamental na qual atuam dois professores natildeo

indiacutegenas e dois professores indiacutegenas Frente agrave escola encontra-se a sede da Associaccedilatildeo

Indiacutegena Ngonh-rocircrocirc-kre esta associaccedilatildeo representa a aldeia perante o Distrito Sanitaacuterio

Especial Indiacutegena Kaiapoacute (DSEI Kaiapoacute) no Paraacute e atraveacutes da qual foram organizadas as

vendas de artesanato e outros projetos relacionados ao desenvolvimento e geraccedilatildeo de renda da

aldeia Do lado da escola e da sede da associaccedilatildeo tem o posto de sauacutede que depende do DSEI

Kaiapoacute Neste haacute atendimento diaacuterio por uma teacutecnica em enfermagem que trabalha em rodiacutezios

entre aldeias da TI Kayapoacute e a TI Las Casas em periacuteodos de 20 dias com atendimentos uma

vez por mecircs de enfermeiras meacutedicos do programa mais meacutedicos do governo federal e dentistas

Na periferia da comunidade encontra-se uma igreja evangeacutelica da Assembleia de Deus3 que foi

construiacuteda em maio de 2014 e onde acontecem os cultos nas quartas feiras e nos domingos A

TI Las Casas estaacute localizada num territoacuterio habitado no passado pelos Mẽbecircngocirckre da regiatildeo

os Iratildea mraire jaacute extintos (MELO 2002) A TI Las Casas foi homologada com o decreto

publicado no dia 22 de dezembro de 2009 Atualmente ela faz parte dos territoacuterios tradiciona is

do povo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute poreacutem encontra-se numa regiatildeo afetada pelo desmatamento

uma vez que estaacute incluiacuteda no espaccedilo regional denominado ldquoArco do Desmatamentordquo A forma

de ingresso diferentemente de muitas aldeias Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute eacute a via terrestre pelo

municiacutepio de Pau DrsquoArco

A economia da aldeia Las Casas depende sobretudo das roccedilas cultivadas pelas famiacutelias

Nestas cultivam-se batata doce milho inhame aboacutebora mandioca macaxeira banana

melancia mamatildeo e cana de accediluacutecar espeacutecies das quais conhecem e manejam distintas

variedades (DE ROBERT et al 2012) Aleacutem da agricultura dependem da coleta de frutos

silvestres aleacutem da caccedila e da pesca Estas atividades agriacutecolas e extrativistas satildeo

complementadas com uma renda monetaacuteria proveniente de aposentadorias do Programa Bolsa -

Famiacutelia salaacuterios (agentes de sauacutede professores e funcionaacuterios puacuteblicos) e em algumas

oportunidades da venda de artesanato (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2013)

A TI Las Casas se encontra numa aacuterea de transiccedilatildeo entre dois tipos de formaccedilotildees

vegetais as florestas ombroacutefilas abertas e diversos tipos de vegetaccedilatildeo que fisionomicamente

satildeo consideradas savanas (MELO 2002)

3 Segundo Tagravekwyry Kayapoacute presidente da Associaccedilatildeo Indiacutegena da aldeia a igreja evangeacutelica foi estabelecida na

aldeia haacute mais de dois anos Os cultos satildeo dirigidos pelos pastores indiacutegenas Tagravekagravenhikwa e Xwakre Kayapoacute

35

Estas aacutereas de savana satildeo definidas por Coutinho (2006) como campestre ou campo

limpo de cerrado e que corresponde agraves savanas gramiacuteneo- lenhosas descritas nas classes

fitoecoloacutegicas do Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2012) e a

savacircnica Esta uacuteltima se divide em campo sujo de cerrado campo cerrado e cerrado sensu stricto

equivalentes agrave Savana arborizada citada pelo IBGE (2012) e a florestal ou cerradatildeo que segundo

Coutinho (2006) inclui as savanas florestadas constituiacutedas por florestas tropicais estacionais

escleromorfas semideciacuteduas mais abertas entrando nesta categoria tambeacutem as florestas de

galeria e as florestas estacionas deciduais mencionadas entre classes fitoecoloacutegicas do Brasil

(IBGE 2012) Segundo Coutinho (2006) e Batalha (2011) pela ocorrecircncia destas classes

fitoecoloacutegicas poderia se considerar que o Cerrado eacute um conjunto de biomas distribuiacutedos em

mosaico Batalha (2011) menciona que se deve considerar o cerrado sensu lato um domiacutenio

formado por trecircs biomas o campo tropical (campo limpo) a savana (campo sujo campo

cerrado e cerrado sensu stricto) e a floresta estacional (cerradatildeo)

Melo (2002) destaca tomando em conta a consideraccedilotildees do IBGE (2012) que essa

regiatildeo representa uma aacuterea de tensatildeo ecoloacutegica devida ao contato entre dois ou mais tipos de

vegetaccedilatildeo Desse modo esta TI se encontra no ecotono Amazocircnia-Cerrado

22 Procedimentos eacuteticos

No Brasil ao realizar estudos com comunidades tradicionais e povos indiacutegenas eacute

necessaacuterio obter principalmente duas autorizaccedilotildees A primeira eacute para o ingresso agrave Terra

Indiacutegena neste caso para o ingresso na Terra Indiacutegena Las Casas foi solicitada perante a

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio (FUNAI) Embora a proacutepria comunidade tenha solicitado apoio

para o estudo necessaacuterio para comercializar ldquococo babaccedilurdquo pequi e artesanato foi necessaacuterio

apresentar um Termo de Anuecircncia Preacutevia (TAP) agrave comunidade e suas lideranccedilas apresentando

o projeto de pesquisa e desta maneira poder dar iniacutecio agrave pesquisa (Apecircndice 1) A segunda

autorizaccedilatildeo solicitada foi a referente ao acesso ao conhecimento tradicional associado agrave

biodiversidade que foi obtida perante o Instituto de Patrimocircnio Histoacuterico Artiacutestico Nacional

(IPHAN) oacutergatildeo do Ministeacuterio da Cultura responsaacutevel ateacute o ano de 2015 de autorizar pesquisas

que acessem o conhecimento tradicional associado agrave biodiversidade o qual eacute considerado um

patrimocircnio imaterial neste caso numa populaccedilatildeo indiacutegena

A pesquisa foi levada a cabo respeitando as formas de organizaccedilatildeo social e de

representaccedilatildeo poliacutetica tradicional do povo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute da Aldeia Las Casas ou seja

36

atraveacutes de diferentes reuniotildees com a comunidade e suas lideranccedilas com a autorizaccedilatildeo da

comunidade para todas as atividades de pesquisa em campo assim como tambeacutem decisotildees

tomadas durante o processo de anuecircncia previa seguindo os princiacutepios ditados pelo Decreto nordm

60402007 e pela Resoluccedilatildeo Ndeg 5 de 26 de junho de 2003 que abordam o reconhecimento a

valorizaccedilatildeo e o respeito agrave diversidade socioambiental e cultural dos povos e comunidades

tradicionais levando-se em conta dentre outros aspectos os recortes de etnia raccedila gecircnero

idade religiosidade ancestralidade orientaccedilatildeo sexual e atividades laborais bem como a relaccedilatildeo

desses em cada comunidade ou povo de modo a natildeo desrespeitar subsumir ou negligenciar as

diferenccedilas dos mesmos grupos comunidades ou povos ou ainda instaurar ou reforccedilar qualquer

relaccedilatildeo de desigualdade

O acesso agrave informaccedilatildeo e ao conteuacutedo da pesquisa foi explicado em linguagem acessiacutevel

agrave comunidade da aldeia Tekrejarocircti-re Foram preservadas as claacuteusulas de confidencialidade

dos dados sendo vedada a difusatildeo e transmissatildeo de conhecimentos tradicionais que ameacem

seus direitos intelectuais

As autorizaccedilotildees mencionadas foram solicitadas e aprovadas perante o IPHAN e a

FUNAI respectivamente (ver Anexos A e B)

23 Coleta de dados Metodologias interdisciplinares

A metodologia utilizada nesta pesquisa consistiu numa combinaccedilatildeo de meacutetodos e

teacutecnicas interdisciplinares das ciecircncias bioloacutegicas especificamente da botacircnica e da ecologia

assim como tambeacutem das ciecircncias humanas principalmente da antropologia da sociologia e a

histoacuteria servindo-se finalmente de teacutecnicas da etnobotacircnica etc seguindo para a anaacutelise dos

dados coletados atraveacutes de uma revisatildeo bibliograacutefica interdisciplinar

Nos diferentes trabalhos de campo foram levantadas informaccedilotildees etnograacuteficas seguindo

uma linha antropoloacutegica atraveacutes da linha de meacutetodos introduzida por Malinowski (1976) cuja

proposta eacute a de conviver com os ldquonativosrdquo atraveacutes do contato mais iacutentimo possiacutevel e que eacute

tambeacutem conhecida como observaccedilatildeo participante Segundo o autor cada fenocircmeno vivenc iado

nessa convivecircncia deve ser estudado atraveacutes de manifestaccedilotildees concretas e da forma mais ampla

possiacutevel fazendo levantamentos exaustivos de exemplos detalhados de cada evento pois

provavelmente muitos fenocircmenos natildeo podem ser observados em plena realizaccedilatildeo simplesme nte

atraveacutes de questionaacuterios Geertz (2014) destaca que para entender os ldquonativosrdquo natildeo eacute necessaacuterio

ser um deles mas deve-se sim utilizar as teacutecnicas corretas para pelo menos entender o modus

37

vivendi sem tornar este processo limitado aos horizontes mentais do povo para desta maneira

tornar o ponto de vista dos deles menos misterioso O autor destaca tambeacutem que o truque para

entender os diferentes pontos de vista eacute natildeo se deixar envolver por nenhum tipo de empatia

espiritual interna com seus interlocutores

A observaccedilatildeo participante foi fundamental para compreender tanto os processos de

organizaccedilatildeo da comunidade quanto os processos de produccedilatildeo e coleta para a subsistecircncia das

famiacutelias envolvidas na comercializaccedilatildeo de produtos florestais natildeo madeireiros e artesanato

Mesmo assim esta teacutecnica foi complementada com entrevistas estruturadas

semiestruturadas e reuniotildees jaacute que foi necessaacuterio levantamento de informaccedilotildees

socioeconocircmicas e ambientais que implicaram tambeacutem na realizaccedilatildeo de reuniotildees com a

comunidade e suas lideranccedilas (Apecircndice 2) Todas as informaccedilotildees levantadas no decorrer da

pesquisa foram registradas em cadernos de campo Nos diferentes periacuteodos de trabalho de

campo foram utilizadas tambeacutem teacutecnicas de cunho etnobotacircnico como satildeo as entrevistas por

artefato dirigidas especificamente aos artesatildeos Esta teacutecnica consiste em mostrar um ou mais

artefatos a vaacuterios interlocutores sequencial ou simultaneamente e a estes se pergunta quais satildeo

as plantas empregadas em sua manufatura ou preparaccedilatildeo (MARTIN 1995 ALEXIADES

1996)

Tambeacutem foi utilizada a teacutecnica do grupo focal que permite natildeo soacute examinar as diferentes

anaacutelises num grupo em relaccedilatildeo a um tema mas tambeacutem permite identificar percepccedilotildees

sentimentos atitudes e ideias dos participantes a respeito de um determinado assunto produto

ou atividade (ALBUQUERQUE et al 2008) Os objetivos especiacuteficos desta teacutecnica variam de

acordo com a abordagem de pesquisa Esta tambeacutem permite explorar como os fatos satildeo

articulados censurados confrontados e alterados por meio da interaccedilatildeo grupal e ainda como

isto se relaciona agrave comunicaccedilatildeo de pares e agraves normas grupais

Outra linha metodoloacutegica adotada nesta pesquisa foi a da Pesquisa-Accedilatildeo a qual estaacute

baseada na pesquisa social participativa de base empiacuterica onde se procura resolver um

problema coletivo e na qual tanto os pesquisadores quanto os participantes representantes da

situaccedilatildeo ou problema estatildeo envolvidos de forma participativa ou cooperativa (THIOLLENT

2008) A pesquisa-accedilatildeo eacute associada a diversas formas de accedilatildeo coletiva orientada agrave resoluccedilatildeo de

problemas ou pelo menos para gerar transformaccedilatildeo tanto para a comunidade envolvida quanto

para o pesquisador Segundo Thiollent (2008) nesta linha de pesquisa natildeo se pretende fazer um

simples levantamento de dados e sim a participaccedilatildeo de todos (pesquisadores e interessados) na

anaacutelise dinacircmica dos problemas tomando decisotildees e executando accedilotildees em conjunto

38

Aleacutem de todas as informaccedilotildees coletadas nos trabalhos de campo correspondentes ao

periacuteodo de doutorado foram considerados os levantamentos jaacute realizados desde 2010 quando

comeccedilaram os contatos com a aldeia Las Casas tanto para a minha dissertaccedilatildeo de mestrado

quanto para o projeto ldquoLaboratoacuterio de praacuteticas sustentaacuteveis em Terras indiacutegenas proacuteximas ao

arco do desmatamentordquo coordenado pela Dra Claudia Loacutepez Garceacutes do Museu Paraense

Emilio Goeldi (MPEG) e do qual fiz parte na equipe de pesquisa como estudante de mestrado

e doutorado (2009-2014) e depois como bolsista DTI-3 no periacuteodo de abril de 2011 ateacute julho

de 2012

Devido a que os Kayapoacute falam a liacutengua mẽbecircngocirckre para poder desenvolver a pesquisa

foram aprendidas frases baacutesicas na liacutengua mẽbecircngocirckre como dar bom dia boa noite ir-voltar

estaacute em tal lugar e com o tempo o nome das plantas mais utilizadas Para poder inic iar

conversas e estabelecer um bom relacionamento com as pessoas da comunidade Mesmo assim

foi difiacutecil aprender a liacutengua de maneira fluente devido a que a foneacutetica eacute bastante diferente da

foneacutetica das liacutenguas latinas como o portuguecircs e o espanhol (minha liacutengua nativa) e para

aprendecirc-la eacute preciso estudar a liacutengua com tempo e dedicaccedilatildeo No total foram realizados onze

trabalhos de campo desde 2010 ateacute 2015 a maioria dos periacuteodos em campo foram de 15 21 e

29 dias respectivamente Mesmo assim estes foram realizados entre periacuteodos de tempo

distantes pelo menos oito meses a um ano entre uma viagem e a outra razatildeo que tambeacutem

dificultou o aprendizado da liacutengua

24 Dados socioeconocircmicos dos moradores da aldeia Las Casas

Aleacutem de informaccedilotildees baacutesicas para caracterizar o niacutevel socioeconocircmico das diferentes

famiacutelias envolvidas ou natildeo na exploraccedilatildeo destas espeacutecies e na produccedilatildeo de artesanato para

pesquisar o ingresso de renda mensal dos moradores foram realizadas entrevistas

semiestruturadas sobre quais as atividades econocircmicas que geram renda entre as diferentes

famiacutelias que moram na aldeia assim como tambeacutem conversas com o cacique e outras lideranccedilas

da aldeia que poderiam fornecer informaccedilotildees importantes e se satildeo benefic iados ou natildeo com

programas de repasse de renda do Governo Federal como a Bolsa Famiacutelia Bolsa Verde ou de

seguridade social como auxiacutelio maternidade ou aposentadoria (GIL 2002) Tambeacutem foram

pesquisados quais os recursos que jaacute foram comercializados na comunidade pelas unidades

domeacutesticas ou e atraveacutes da associaccedilatildeo indiacutegena da aldeia assim com tambeacutem a participaccedilatildeo em

projetos que visem o desenvolvimento socioeconocircmico da aldeia Las Casas

39

25 Caracterizaccedilatildeo dos usos e meacutetodos de coleta levantamentos participativos

A partir de experiecircncias de campo anteriores atraveacutes do projeto ldquoLaboratoacuterio de Praacuteticas

sustentaacuteveis em terras indiacutegenas proacuteximas ao arco do desmatamentordquo pode-se observar a

organizaccedilatildeo social do trabalho na comunidade onde as atividades femininas e masculinas tecircm

um espaccedilo marcado e diferenciado Estes espaccedilos satildeo diferenciados tanto no que se refere agrave

coleta de PFNMs como o pequi e o babaccedilu a coleta de fibras e sementes para confecccedilatildeo de

artesanato entre outros produtos utilizados na vida cotidiana deste povo bem como a

organizaccedilatildeo para o trabalho na roccedila e as saiacutedas para caccedilar e pescar Desta maneira foi possiacutevel

observar as diferentes categorias de idade nas quais satildeo organizadas as atividades produtivas

da comunidade Por esta razatildeo foram realizados dois croquis comunitaacuterios o croqui das

mulheres Menire nhotilde croqui que foi realizado por um grupo de oito mulheres pertencentes agrave

categoria mekrapdjire (mulheres com filhos grandes e netos) com uma faixa etaacuteria entre 35 e

45 anos O croqui dos homens Memy nhotilde croqui foi realizado por um grupo de cinco homens

pertencentes agrave categoria de idade mekrare (homens casados e com filhos grandes) com uma

faixa etaacuteria entre 20 e 40 anos Em cada croqui foram representados os locais de coleta das

espeacutecies exploradas aacutereas de pesca caccedila rios estradas limites da Terra Indiacutegena assim como

tambeacutem o croqui da aldeia (SIEBER ALBUQUERQUE 2008) Para mapear as aacutereas de

ocorrecircncia do buriti babaccedilu e pequi foram realizadas saiacutedas com cinco famiacutelias (homens

mulheres filhas filhos netos e netas) e um grupo de dez homens da categoria de idade mekrare

para conhecer os locais onde coletam folhas de buriti Foi realizado por um casal das categorias

de idade mekrare e mekapdjire um mapa dos tipos de ocupaccedilatildeo do solo no territoacuterio explorado

por eles utilizando uma imagem Spot de 30 de junho de 2013 obtida atraveacutes do GoogleEarth

Os indiacutegenas indicaram os diferentes ambientes explorados e as diferentes formaccedilotildees vegetais

que eles conhecem este mapa foi realizado seguindo a metodologia utilizada por de Robert et

al (2006) de ocupaccedilatildeo do solo descritos pelo casal Depois de realizado o mapeamento

comunitaacuterio e o mapa de ocupaccedilatildeo do solo nos deslocamos agraves aacutereas exploradas para o

reconhecimento das aacutereas definidas nos mapas para os levantamentos de recursos No caso do

babaccedilu pequi e buriti os indiviacuteduos adultos foram mapeados com um Global Positioning

System (GPS) (Garmin GPSmap 60CS) com o auxiacutelio das mulheres Kayapoacute nas aacutereas de

ocorrecircncia

Para caracterizar os diferentes usos e sistemas de coleta do babaccedilu buriti e pequi e

verificar a existecircncia de praacuteticas de manejo entre os Mẽbecircngocirckre- Kayapoacute da TI Las Casas

40

foram utilizadas teacutecnicas de cunho qualitativo a) entrevistas por artefatos (MARTIN 1995

ALEXIADES 1996) b) entrevistas semiestruturadas com homens e mulheres de 13 unidades

residenciais (23 homens e 19 mulheres) nas quais foram feitas perguntas relacionadas aos usos

e os meacutetodos e a organizaccedilatildeo social para a coleta locais de coleta se a coleta eacute feita mais de

uma vez sob a mesma matriz (planta) se estas espeacutecies satildeo plantadas em algum local e em

caso positivo com que intenccedilatildeo (GIL 2002) Tambeacutem foram levantados os diferentes usos

atribuiacutedos agraves espeacutecies de interesse nesta pesquisa e suas diferentes categorias e subcategorias

de uso As informaccedilotildees sobre manejo organizaccedilatildeo da comunidade para suas atividades

produtivas foram complementadas com a observaccedilatildeo participante e direta abrangendo

atividades de subsistecircncia e culturais (MARTIN 1995 ALEXIADES 1996)

No decorrer dos levantamentos participativos tambeacutem foram medidos com auxiacutelio do

GPS a distacircncias (quilocircmetros) e o tempo (em horas) de deslocamento desde a aldeia ateacute os

locais de coleta das espeacutecies citadas e outros PFNMs como por exemplo as espeacutecies

fornecedoras de fibras utilizadas no artesanato e artefatos domeacutesticos e frutos para alimentaccedilatildeo

Desta maneira atraveacutes de observaccedilatildeo direta e de entrevistas estruturadas foi medido o tempo

gasto na produccedilatildeo de artefatos (cultura material e artesanato para a comercializaccedilatildeo ou troca) e

oacuteleo de babaccedilu

Atraveacutes de entrevistas abertas foi pesquisado na feria de Redenccedilatildeo dados referentes agrave

comercializaccedilatildeo de pequi e oacuteleo de babaccedilu assim como tambeacutem as possibilidades de

comercializaccedilatildeo destes produtos pelos indiacutegenas em dita feira

26 Ocupaccedilatildeo do solo e dinacircmica de uso da Terra na TI Las Casas

261 Levantamento em campo dos tipos de ocupaccedilatildeo do solo

Aleacutem das observaccedilotildees realizadas em campo desde o iniacutecio da pesquisa para o

reconhecimento dos tipos de ocupaccedilatildeo do solo em 2014 foi realizado um levantamento dos

diferentes tipos de ocupaccedilatildeo jaacute levantados Com auxiacutelio de um GPS Garmin (CS60 Map)

foram levantados no total 110 pontos nos seguintes tipos de ocupaccedilatildeo do solo 1) savana

gramiacuteneo- lenhosa que compreende as aacutereas predominacircncia de gramiacuteneas e poucas aacutervores de

tronco torto espalhadas 2) savana arborizada onde haacute aacutervores de tronco torto espalhadas na

savana 3) savana florestada que compreende aacutereas com maior densidade de aacutervores na savana

4) florestas de galeria tanto no curso do Rio Pau DArco quanto agraves florestas de galeria presentes

41

ao redor dos coacuterregos 5) floresta estacional decidual que compreende as aacutereas de floresta

contigua as florestas de galeria 6) Capoeiras estas aacutereas foram indicadas pelos indiacutegenas 7)

mangal que compreende uma ilha de floresta com alta densidade de arvores de manga

(Mangifera indica L) 8) capim onde foi considerada uma pequena aacuterea com pasto plantado

9) roccedilas tradicionais 10) Solo nu onde foram consideradas as aacutereas da aldeia e o campo de

futebol e 10) rio onde foram levantados pontos no curso do Rio Pau DArco e nos coacuterregos

com floresta de galeria pouco densa

262 Imagens de sateacutelite utilizadas

Para realizar o mapa do uso do solo da TI Las Casas foi escolhida a imagem Landsat 8-

OLI de junho de 2014 (Path 223Rua 66) adquirida a partir do site USGS Global Visualization

Viewer (GloVis) Para estudar a dinacircmica do uso do solo foram escolhidas cenas disponiacuteve is

de 1984 1990 1995 2000 2006 2011 e 2014 dos sensores Landsat 5 Thematic mapper

(TM) e Landsat 8 Operational Land Imager OLI) adquiridas a partir do site USGS Global

Visualization Viewer (Glovis) e do cataacutelogo de imagens de sateacutelite on-line do Instituto Nacional

de Pesquisa Espacial- INPE

263 Pre-tratamento das imagens

Para comeccedilar a classificaccedilatildeo dos tipos de uso de solo foi necessaacuterio tratar as imagens

escolhidas para estudar a dinacircmica do uso da terra Principalmente foram georreferenciadas as

imagens que natildeo estavam disponiacuteveis com o georreferenciamento e foram realizadas as

composiccedilotildees coloridas de cada cena Landsat no programa ArcGis 1022 com as bandas 1 2

3 4 5 e 7 nas imagens Landsat 5 TM e nas bandas 2 4 5 6 e 7 na imagem Landsat 8-OLI

Seguidamente foram feitas as correccedilotildees radiomeacutetricas em funccedilatildeo da refletacircncia a traveacutes do

programa ENVI 50 (ToolboxRadiometric CorrectionRadiometric calibration) para de esta

maneira poder comparar as imagens Landsat 5 dos anos 1984 1990 1995 2000 2006 e 2011

com a Landsat 8-OLI de 2014 A primeira imagem a ser tratada para a classificaccedilatildeo dos tipos

de uso do solo foi a imagem de 2014 pois foram levantados pontos em campo em 2014 e 2015

dos diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo

42

264 Mapa do uso do solo e dinacircmica do uso da Terra na TI Las Casas

Para classificar a imagem de 2014 e separar a aacuterea em diferentes classes de utilizaccedilatildeo

do solo trabalhamos com o programa ArcGis na versatildeo 1022 Com os pontos coletados em

campo com GPS em 2014 foram criados 110 poliacutegonos ao redor destes com 12 pixels por

poliacutegono estes poliacutegonos foram realizados para cada tipo de ocupaccedilatildeo do solo levantados em

campo Logo depois de completar os poliacutegonos foram aplicadas as estatiacutesticas zonais para

calcular as medias da refletacircncia em cada poliacutegono atraveacutes do ArcGis (ArctoolboxrarrOutils

Spatial analist rarrZonauxrarr statistiques zonales (table)) Com os valores obtidos para as medias

da banda 4 (vermelho) e a banda 5 (infravermelho proacuteximo) foi calculado o Iacutendice de vegetaccedilatildeo

por diferenccedila normalizada (NDVI) atraveacutes da seguinte equaccedilatildeo no Excel

NDVI (IVP-V) (IVP+V)

Estes valores satildeo obtidos atraveacutes da diferenccedila entre a refletacircncia do infravermelho

proacuteximo (IVP) e a refletacircncia do vermelho (V) dividida respectivamente pela soma das duas

refletacircncias Essa equaccedilatildeo gera um iacutendice onde os valores variam de -1 a 1 Desta maneira

quanto maior o valor do iacutendice maior a presenccedila de vegetaccedilatildeo Atraveacutes deste iacutendice podemos

diferenciar de forma mais detalhada os diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo

Depois de obter o NDVI foram calculadas as estatiacutesticas utilizando as medias da

refletacircncia de cada poliacutegono para cada banda para ter uma ideia de como pode variar a

refletacircncia dependendo dos tipos de uso de solo levantados em campo Tambeacutem foi calculado

o NDVI diretamente na imagem atraveacutes do programa ArcGis (1022) utilizando as ferramentas

de anaacutelise de imagem -aacutelgebra espacial

Com o NDVI e as medias de refletacircncia para cada banda foi usado o programa R para

fazer a separaccedilatildeo das diferentes classes de ocupaccedilatildeo do solo em ascendecircncia hieraacuterquica para

isto trabalhamos com o programa Tin R atraveacutes do qual aplicamos os comandos (scripts) para

a criaccedilatildeo de matrizes de distacircncia que permitiram fazer uma separaccedilatildeo mais precisa das

diferentes classes de uso do solo

A separaccedilatildeo foi feita para nove dez e onze diferentes classes de uso do solo nos

dendrogramas gerados pelo programa R Estas classificaccedilotildees foram analisadas tomando em

conta onde havia uma melhor separaccedilatildeo dos tipos de ocupaccedilatildeo de solo que se encontram na TI

Las Casas finalmente foi escolhida a separaccedilatildeo com onze classes pois nesta separaccedilatildeo de

classes foi onde obtivemos a separaccedilatildeo das florestas de galeria e floresta estacional decidual

43

Depois de obter os grupos para separar os diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo foram

organizados a traveacutes do programa ArcGis 1022 os shapes de cada tipo de ocupaccedilatildeo do solo

nos diferentes grupos obtidos na classificaccedilatildeo com R com estes shapes trabalhamos no

programa ENVI (50) para fazer a classificaccedilatildeo da imagem com as diferentes classes obtidas

fazendo uma classificaccedilatildeo supervisionada de maacutexima verossimilhanccedila (Maximum likelihood)

265 Dinacircmica do uso do solo

Devido a que as imagens utilizadas para analisar a dinacircmica do uso do solo foram

obtidas em meses diferentes e por dois captores diferentes (Landsat 5 TM e Landsat 8-OLI)

foram realizados mapas de uso do solo para cada ano estudado tomando em conta o NDVI pois

utilizando a classificaccedilatildeo supervisionada foi difiacutecil obter mapas de uso do solo comparaacuteveis nas

diferentes datas estudadas

Para analisar a dinacircmica de uso da terra foram tratadas as imagens como mencionado

anteriormente fazendo as correccedilotildees radiomeacutetricas Este tratamento foi realizado no programa

ENVI 50 onde foi calculado o NDVI para cada imagem Depois atraveacutes do programa ENVI

50 foi calculada a diferenccedila de NDVI entre duas datas consecutivas atraveacutes da seguinte

foacutermula

Onde T2 eacute a data mais recente e T1 eacute a data anterior

Para interpretar os resultados foram analisados os valores obtidos da seguinte maneira

Ao obter altos valores negativos = NDVIT2ltNDVIT1 haacute uma diminuiccedilatildeo de NDVI neste caso

o resultado estaacute relacionado ao desmatamento ou perda da atividade fotossinteacutetica geralmente

ao desmatamento pode se reconhecer pela presenccedila de figuras geomeacutetricas uniformes ao

contraacuterio se houver perda da atividade fotossinteacutetica em formaccedilotildees vegetais naturais a mudanccedila

vai estar representada por figuras irregulares No caso do aumento do NDVI ou seja

NDVIT2gtNDVIT1 haacute regeneraccedilatildeo da vegetaccedilatildeo ou aumento da atividade fotossinteacutetica

Com os resultados obtidos foram confeccionados cinco mapas indicando estas

diferenccedilas de NDVI foram realizados mapas para os periacuteodos 1990-1984 1995-1990 2006-

1995 2011-2006 e 2014-2011 cada um mostrando as aacutereas que mudaram ou natildeo no periacuteodo

de tempo estudado (1984 ateacute 2014) com valores altos meacutedios e baixos de NDVI

respectivamente Para analisar a diferenccedila de NDVI entre as duas imagens foram estabelecidas

(NDVIT2-NDVIT1) foacutermula ENVI = b2-b1

44

onze diferentes classes de NDVI tomando em conta o aumento ou da diminuiccedilatildeo destes valores

as Classes de +5 a +1 indicam aumento de NDVI com valores positivos (aacutereas com coloraccedilatildeo

vermelha) a classe 6 indica que natildeo houve mudanccedilas na vegetaccedilatildeo no periacuteodo estudado (aacutereas

com coloraccedilatildeo cinza) e as classes -5 a -1 indicam diminuiccedilatildeo do NDVI (coloraccedilatildeo azul) os

mapas obtidos foram finalizados em ArcGis 1022 As classes estabelecidas foram as seguintes

1) Classe 1 (+5) Diferenccedila de NDVI gt 05

2) Classe 2 (+4) Diferenccedila de NDVI gt04 e le 05


4) Classe 4(+2) Diferenccedila de NDVI gt 02 e le 03

5) Classe 5 (+1) Diferenccedila de NDVI gt01 le02

6) Classe 6 (natildeo haacute mudanccedilas) Diferenccedila de NDVI gt01 le-01

7) Classe 7 (-1) Diferenccedila de NDVI le-01 e ge 02

8) Classe 8 (-2) Diferenccedila de NDVI lt -02 e ge -03

9) Classe 9 (-3) Diferenccedila de NDVI lt -03 e ge-04

10) Classe 10 (-4) Diferenccedila de NDVI lt-04 e ge -05

11) Classe 11 (-5) Diferenccedila de NDVI lt -05

27 Inventaacuterios de Babaccedilu

271 Inventaacuterios em campo

Para estimar a densidade de babaccedilu foram instaladas duas parcelas de um hectare com

ajuda de indiacutegenas designados pela comunidade em aacutereas de florestas de galeria Tambeacutem

foram levantadas e descritas atraveacutes de conversaccedilotildees abertas as aacutereas dentro da Terra Indiacutegena

nas quais o babaccedilu natildeo ocorre Foram considerados indiviacuteduos dos estaacutegios definidos por Mitja

et al (2013) estaacutegio 5 (jovens caulescentes com ou sem estipe livre) e estaacutegio 6 (adultos co m

cachos eou inflorescecircncias masculinas e femininas ou com traccedilas destas) Quando houve

presenccedila de cachos foi contabilizado o nuacutemero de cachos por indiviacuteduo Em indiviacuteduos

consideravelmente altos estas informaccedilotildees foram complementadas com auxiacutelio de um binoacuteculo

e atraveacutes de flores e frutos encontrados no solo aleacutem de informaccedilotildees fornecidas pelas ajudantes

Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute atraveacutes da nomenclatura etnobotacircnica estabelecida por elas Tambeacutem foi

estimada a altura total de cada indiviacuteduo e a circunferecircncia na altura do peito (CAP) segundo

a metodologia estabelecida por Mitja et al (2008)

45

272 Inventaacuterio da densidade de Babaccedilu e pequi atraveacutes da fotointerpretaccedilatildeo com imagem de

Altiacutessima Resoluccedilatildeo Pleiades

Para medir a densidade de babaccedilu atraveacutes da fotointerpretaccedilatildeo foi utilizada uma imagem

de altiacutessima resoluccedilatildeo Pleiades4 (05 m) pancromaacutetica da TI Las Casas de julho de 2013

(01072013) com menos do 5 de cobertura de nuvens Para trabalhar na fotointerpretaccedilatildeo

foi necessaacuterio georreferenciar a imagem Pleiades a georreferenciaccedilatildeo foi feita atraveacutes do

programa ArcGis (1022) e corrigida com ajuda dos pontos e trilhas levantados em campo com

o GPS Garmin (CS60 Map) Depois foi criada uma grade com poliacutegonos de um hectare (100m

x 100m) e foi realizado um cruzamento desta com as diferentes classes de uso do solo obtidas

na classificaccedilatildeo da imagem Landsat 8-OLI (30062014) (figura 2)

Com o cruzamento foram escolhidos poliacutegonos de um hectare que tivessem ou se

aproximassem a 100 de cada tipo de uso do solo Foi criada tambeacutem uma camada de pontos

para desta maneira poder marcar as palmeiras em cada poliacutegono a inventariar Foram

inventariados no total 15 hectares para cada um dos sete tipos de ocupaccedilatildeo do solo obtidos na

classificaccedilatildeo da imagem Landsat-8-OLI e tambeacutem foram consideradas aacutereas com ocorrecircncia de

capoeiras e pastagem que natildeo foram reconhecidas na classificaccedilatildeo da imagem Landsat 8-OLI

mas que foram localizadas na imagem atraveacutes dos pontos coletados na imagem de 2013 foram

inventariados no total 120 hectares

Tambeacutem foi observado o tipo de ocupaccedilatildeo do solo nas parcelas inventariadas nas

imagens Landsat dos anos 1984 1990 1995 2000 2006 2011 e 2014 para desta maneira

analisar as mudanccedilas de uso de solo nestas parcelas e sua possiacutevel influecircncia na densidade atual

do babaccedilu

Para o pequi foram consideradas 15 parcelas em savana arborizada contabilizando os

indiviacuteduos presentes em cada parcela

4 Imagem obtida atraveacutes do projeto GEOSUD Equipex- GEOSUD-Financement dexcellence de lANRFranccedila

46

Figura 2 Detalhe da Imagem Pleiades (pancromaacutetica) das aacutereas de exploraccedilatildeo da aldeia Las Casas da Terra

Indiacutegena Las Casas utilizada na fotointerpretaccedilatildeo da densidade do babaccedilu Imagem de 2013 (01072013)

Fonte Google Earth Pro 2015

28 Anaacutelises dos dados

Foram contados os diferentes tipos de usos atribuiacutedos agraves espeacutecies levantadas em 2010

na TI Las Casas (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011) considerando o nuacutemero de citaccedilotildees para cada

espeacutecie Os usos levantados foram distribuiacutedos em oito categorias etnobotacircnicas as quais foram

subdivididas em subcategorias de uso citadas por Maciacutea et al (2011)

Estas categorias satildeo

1) Alimentaccedilatildeo animal esta categoria inclui as seguintes subcategorias iscas para pescar

alimento para animais domeacutesticos e alimentos que podem atrair caccedila

47

2) Construccedilatildeo compreende as plantas utilizadas na construccedilatildeo e dependendo do tipo de

construccedilatildeo foram consideradas as seguintes subcategorias construccedilatildeo de pontes casas

barracas para acampamentos e palhas utilizadas na construccedilatildeo de tetos e paredes currais para

animais e no caso do uso ni transporte canoas e outros itens utilizados para se deslocar

3) Cultural nesta categoria satildeo considerados usos relacionados principalmente agrave vida

ritual e considera as seguintes subcategorias confecccedilatildeo de roupas plantas utilizadas na

produccedilatildeo de cosmeacuteticos oacuteleos perfumes e outros itens de cuidado pessoal materiais utilizados

na produccedilatildeo de tintas e pintura corporal adornos pessoais como colares braceletes brincos

cintos etc e plantas utilizadas para fins recreativos como brinquedos instrumentos musica is

cachimbos plantas utilizadas em rituais de cunho miacutetico-religioso ou seja usos relacionados

a festas danccedilas feiticcedilaria construccedilatildeo de urnas funeraacuterias etc

4) Combustiacutevel a categoria inclui madeiras utilizadas para lenha para ascender fogo e na

fabricaccedilatildeo de tochas

5) Alimentaccedilatildeo humana que inclui espeacutecies utilizadas na alimentaccedilatildeo seja em natura ou

processadas dentro desta categoria se destacam trecircs subcategorias a primeira compreende

espeacutecies utilizadas no reparo de bebidas a segunda espeacutecies utilizadas como alimentos e a

terceira plantas utilizadas para temperos oacuteleos e gorduras vegetais

6) Utensiacutelios e ferramentas esta categoria inclui as seguintes subcategorias uma primeira

que inclui plantas utilizadas para a confecccedilatildeo de utensiacutelios de uso domeacutestico como cestos para

carregar alimentos tapetes abanadores uma segunda onde se incluem plantas utilizadas para

confeccionar ferramentas de trabalho e uma terceira que inclui plantas utilizadas para a

confecccedilatildeo de objetos ou ferramentas utilizadas para caccedila e pesca assim como tambeacutem a

confecccedilatildeo de cordas ou amarras

7) Toacutexicos esta categoria inclui plantas utilizadas como veneno para pescar eou caccedilar

8) Medicinal e veterinaacuterio inclui plantas de uso medicinal para tratar doenccedilas e dores em

geral assim como tambeacutem padecimentos de origem miacutetico-religioso por uma cultura especifica

como por exemplo mau olhado sustos etc

Foi aplicado o iacutendice de valor de importacircncia (IVs) proposto por Byg e Baslev (2001)

que mede a proporccedilatildeo de informantes que citaram uma espeacutecie como mais importante os

valores variam de 0 a 1 e eacute obtido a partir da seguinte foacutermula

IVs=nisn

48

Onde nis = nuacutemero de informantes que consideram a espeacutecie s como mais importante e n=

nuacutemero total de informantes

Tambeacutem foi aplicado entre as palmeiras levantadas o iacutendice de valor para a parte da

planta citado por Gomez-Beloz (2002) e que mede o grau de consistecircncia entre informantes

em relaccedilatildeo agrave parte da planta utilizada o iacutendice eacute obtido a partir da seguinte foacutermula

Onde sumRU (parte da planta) nuacutemero de usos reportados para a parte da planta e sumRU eacute o

nuacutemero total de usos citados para todas as partes da planta

Os ambientes de ocorrecircncia das espeacutecies segundo a nomenclatura Mẽbecircngocirckre -

Kayapoacute foram descritos e comparados com as classes fitoecoloacutegicas do Brasil descritas no

Manual Teacutecnico da Vegetaccedilatildeo Brasileira (VELOSO 1992) e por Eiten (2001)

Os dados levantados sobre densidade de babaccedilu em campo e atraveacutes de

fotointerpretaccedilatildeo em imagem de altiacutessima resoluccedilatildeo foram tabulados e foram calculadas as

meacutedias e desvio padratildeo da densidade das espeacutecies por hectare

Para a correccedilatildeo dos erros da classificaccedilatildeo dos diferentes tipos de uso do solo na imagem

Landsat 8-OLI foram realizados graacuteficos para verificar a similitude de refletacircncia nos

diferentes grupos classificados Desta maneira os mapas finais foram corrigidos com ajuda do

programa Adobe Illustrator principalmente nas aacutereas reconhecidas como aacutegua nas aacutereas de

floresta com sombras

Para a escrita dos nomes de plantas e animais lugares de ocorrecircncia levantados em Las

Casas foram considerados e corrigidos os estabelecidos por Bekoacute Kayapoacute um dos professores

da aldeia Las Casas No caso dos nomes de lugares comuns entre os subgrupos Mẽbecircngocirckre

citados na literatura sobre os Mẽbecircngocirckre foram respeitados os citados na literatura

PPV= sumRU (parte da planta) sumRU

49

3 OS MẼBEcircNGOcircKRE-KAYAPOacute

Os conhecidos Kayapoacute autodenominados Mẽbecircngocirckre o que significa ldquohomens do

olho de aacuteguardquo (FUERST 1971 POSEY 2002) satildeo um povo indiacutegena pertencente ao tronco

linguiacutestico Macro-Jecirc famiacutelia linguiacutestica Jecirc junto com os Akweacuten (Xakriabaacute Xavante e

Xerente) Apinayeacute Kaigang Panaraacute Suyaacute (Tapayuna) e Timbira (Canela Gaviatildeo

Parkateyeacute Gaviatildeo Pukobiyeacute Krahocirc e Krikati) (ISA 2016)

Ocupam atualmente uma aacuterea total de 13 milhotildees de hectares em ambas as margens do

Rio Xingu repartidas entre floresta contiacutenua primaacuteria e savanas (campo cerrado) ao sul do

estado do Paraacute e ao norte do estado do Mato Grosso (Zimmerman et al 2001 Schwartzman amp

Zimmerman 2005) Por esta razatildeo se encontram espalhados entre as florestas amazocircnicas

e as savanas do Cerrado porem habitam tambeacutem nas aacutereas de transiccedilatildeo entre estes dois

biomas (LEA 2012) A aacuterea habitada por eles se constitui de dez terras indiacutegenas entre

estas pelo menos seis satildeo contiguas e as outras quatro se encontram isoladas do resto Entre as

Terras Indiacutegenas (TIs) ocupadas Badjonkocircre Las Casas Kararaocirc Bauacute Kayapoacute Xikrin do

Cateteacute e Trincheira Bacajaacute estatildeo localizadas no estado do Paraacute habitadas apenas pelo povo

Mẽbecircngocirckre as TIs Menkragnotiacute Kapocirct Nhinore estatildeo localizadas no estado do Paraacute e

Mato Grosso apenas a TI CapotoJarina estaacute localizada soacute no estado de Mato Grosso e

habitada aleacutem do povo Kayapoacute pelo povo Tapayuna Destas TIs apenas a TI Kapocirct Nhino re

estaacute ainda em processo de identificaccedilatildeo e aleacutem do povo Kayapoacute estaacute habitada pelos Yudjaacute

as TIs restantes jaacute foram homologadas

Diversos autores que trabalharam com o povo Mẽbecircngocirckre destacam os diferentes

subgrupos que resultaram a partir das cisotildees de um grupo principal a partir de 18805

Verswijver (2002) e Jerozolimski et al (2010) destacam que a iniacutecios do seacuteculo XIX

estavam divididos em trecircs grandes subgrupos entre os que destacam os Iratildeatildemranh-re os

que passeiam nas planiacutecies que foram extintos na deacutecada de 1940 os Goroti Kumrenhtx

ancestrais dos atuais subgrupos Gorotire Kuben-KranKen Kokraimoro Kararaocirc

Menkragnotiacute e Metuktire ou os homens do verdadeiro grande grupo e os Porekry os

homens dos pequenos bambus ancestrais do atuais Xikrin Relatam Jerozolimski et al

(2011) que a origem do povo Mẽbecircngocirckre parece ter ocorrido na regiatildeo entre os Rios

5 Para aprofundar sobre a cisatildeo dos Mẽbecircngocirckre nos diferentes subgrupos ver tambeacutem Vidal (1977) Turner

(1991) Jerozolimski et al (2011) e Lea (2012)

50

Araguaia e Tocantins e a separaccedilatildeo dos atuais Xikrin6 do ancestral dos demais grupos

atuais Mẽbecircngocirckre denominados de forma geral Kayapoacute provavelmente ocorreu haacute cerca

de trecircs seacuteculos todas as cisotildees que originaram os atuais subgrupos dos Mẽbecircngocirckre

ocorreram apenas no iniacutecio do seacuteculo XX Estas cisotildees fazem parte da dinacircmica deste povo

e continuam dando origem a novas aldeias em todo o territoacuterio tradicional dos

Mẽbecircngocirckre

A populaccedilatildeo estimada dos Mẽbecircngocirckre segundo os dados da Funasa em 20107

incluindo todos os subgrupos era de aproximadamente 10456 habitantes (ISA 2016)

Mesmo assim segundo Verswijver (2002) os Kayapoacute apresentam fortes flutuaccedilotildees

demograacuteficas Segundo ele haacute pelo menos trecircs deacutecadas que a populaccedilatildeo Kayapoacute aumenta

de forma constante Em alguns grupos a populaccedilatildeo tem aumentado cerca do 5 ao ano

Mesmo assim este crescimento pode se ver comprometido com a ocorrecircncia de doenccedilas

ocidentais que podem se transformar em verdadeiras epidemias Segundo Villas-Bocircas et

al (2014) esta populaccedilatildeo estava distribuiacuteda em mais de 50 aldeias existentes nas TIs

ocupadas por eles

Segundo mencionam Turner (1992) e Lea (2012) os Kayapoacute tradicionalmente satildeo

de haacutebitos seminocircmades No passado havia deslocamentos frequentes entre as aldeias

principalmente porque estes deslocamentos garantiam o aproveitamento de roccedilas antigas

que natildeo ficassem muito distantes para poder aproveitar os recursos que estas podem

oferecer Estes deslocamentos tambeacutem estavam associados agrave vida ritual Segundo

menciona Lea (2012) antigamente as expediccedilotildees para os acampamentos de caccedila e coleta

poderiam demorar de uma semana a meses pois as saiacutedas tinham que garantir alimento

durante a festa para a aldeia inteira

Na atualidade as aldeias Mẽbecircngocirckre tendem a ser grandes em comparaccedilatildeo aos

padrotildees amazocircnicos superando hoje uma populaccedilatildeo de mil habitantes em Gorotire a maior

aldeia deste povo Organizam-se em aldeias cujo padratildeo tradicional eacute um ciacuterculo de casas

familiares dispostas ao redor de uma praccedila central na qual se encontra a casa dos homens

ou casa dos guerreiros denominado ngagrave8 que representa dentro das comunidades o centro

poliacutetico onde acontecem as reuniotildees para tomadas de decisatildeo da comunidade assim como

6 Estabelecidos nas TIs Xikrin do Cateteacute e TrincheiraBacajaacute 7 Dados atualizados ainda natildeo foram publicados 8 O ngagrave aleacutem de ser o eacute um espaccedilo masculino onde os homens velhos ensinam aos jovens os trabalhos do seu

gecircnero vale destacar que eles tambeacutem trabalham no espaccedilo da sua residecircncia (LAS CASAS 2013)

51

tambeacutem onde eacute o centro das reuniotildees quando haacute festas na aldeia Em algumas aldeias as

casas satildeo estabelecidas formando um quadro ou retacircngulo ao redor do ngagrave As residecircnc ias

na aldeia satildeo matri-uxorilocais ou seja quando casam o casal deve morar na casa da

esposa com os pais dela suas irmatildes e irmatildeos (TURNER 1991 LAS CASAS 2013)

Segundo Turner (1991) a casa dos homens eacute o local de residecircncia dos jovens natildeo

iniciados e dos solteiros assim como tambeacutem o local de reuniotildees das associaccedilotildees dos

homens maduros Eacute importante destacar aqui que a sociedade Mẽbecircngocirckre se organiza

como muitas outras sociedades em diferentes categorias de idade ou como chama Turner

faixas etaacuterias Estas categorias estatildeo relacionadas ao tipo de atividades que podem ou

sabem realizar assim como tambeacutem agraves diferentes etapas reprodutivas tanto das mulheres

quanto dos homens

Assim numa primeira categoria entram as crianccedilas chamadas mẽprim ou mẽprire

que inclui todas as crianccedilas pequenas de ambos os sexos Depois dos quatro anos e ateacute seis

anos de idade os meninos entram na categoria mẽ-bokti entre os oito e dez anos entram

na categoria mẽ-be-ngo-dju seguida da categoria menotilderotildenyre que contempla os jovens

puacuteberes e solteiros Jaacute as meninas passam da categoria mẽprire agrave categoria mẽprinti ou

mekurere que satildeo as meninas puacuteberes consideradas aptas para se casar mas que ainda satildeo

solteiras e natildeo tiveram filhos Depois do casamento as mulheres (menire) se organizam

nas seguintes categorias mekrapdjire as mulheres que casaram e tiveram filhos e as

mebecircngecircjte nesta categoria podem se considerar as mulheres idosas ou que tem vaacuterios

filhos e netos Entre os homens (memy) estatildeo os mekrare os homens que jaacute tiveram pelo

menos o primeiro filho e considerados homens maduros e os homens velhos os mebecircngecirct

que jaacute tiveram vaacuterios filhos e netos (VIDAL 1977 LAS CASAS 2013)

Lux Vidal (1977) antropoacuteloga que trabalhou desde o final da deacutecada de 1960 com

os Xikrin de Cateteacute um subgrupo Mẽbecircngocirckre descreve diferentes subcategorias de idade

que vatildeo depender tanto da experiecircncia dentro das atividades a serem executadas na vida

cotidiana e no que se refere agrave vida ritual assim como tambeacutem agrave idade em que eacute concebido

o primeiro filho e os posteriores

Segundo explicou Patykre Kayapoacute pertencente agrave categoria mebecircngecirct numa

conversa na sua casa entre os Mẽbecircngocirckre o fato de um casal ter muitos filhos e

permanecerem juntos ateacute chegar agrave categoria mebecircngecirct (no caso dele) e mebecircngecircjte (sua

52

esposa) eacute uma razatildeo para ter orgulho dentro da sociedade Mẽbecircngocirckre pois denota que o

casal tem muita forccedila experiecircncia satildeo fortes (tyx) ou seja no decorrer das suas vidas os

dois tecircm adquirido muitos conhecimentos que podem repassar aos mais novos e desta

maneira contribuem agrave manutenccedilatildeo e fortalecimento da cultura Tambeacutem o fato de uma

mulher parir muitos filhos demonstra que eacute uma mulher muito forte e conseguiu criar bem

seus filhos No caso dos homens o fato de manter todos seus filhos estaacute relacionado a que

o pai conseguiu prover de proteiacutenas a famiacutelia Por estas razotildees ganham respeito na aldeia

e satildeo considerados maduros e com experiecircncia O fato contraacuterio pode ser motivo de

desprestigio

Segundo Lea (2012) no passado as aldeias na sua estrutura apresentavam duas casas

dos homens as duas localizadas dentro da aldeia nos lados oriental e ocidental do centro

da mesma organizaccedilatildeo que poderia estar relacionada aos diferentes grupos ou turmas de

homens encabeccedilados por um liacuteder ou cacique pertencendo cada grupo a uma turma o

que poderia estar relacionado a facccedilotildees ou simplesmente separaccedilatildeo entre categorias de

idade Destaca a autora que este padratildeo natildeo se observa mais nas aldeias atuais 9 e

argumenta que este fato pode se dever a que ao iniciar uma nova aldeia a partir de uma

cisatildeo as aldeias natildeo costumam ser populosas razatildeo pela qual natildeo eacute necessaacuteria a construccedilatildeo

de duas casas dos homens

Jerozolimski et al (2011) ressaltam que no passado as cisotildees das aldeias eram

ocasionadas por conflitos entre grupos sob o comando de algumas lideranccedilas que em geral

foram desencadeados por acusaccedilotildees de feiticcedilaria ciuacutemes conflitos sobre decisotildees

relacionadas a guerras com outros subgrupos Kayapoacute ou outras etnias Tambeacutem se

relacionam com as decisotildees sobre mudanccedilas das aldeias procurando localidades com maior

abundacircncia recursos

Ressalte-se que depois do contato regular com a sociedade envolvente novas

tensotildees passaram a influenciar a dinacircmica das cisotildees entre as aldeias (JEROZOLIMSKI et

al 2011 LEA 2012) Estas relaccedilotildees com a sociedade envolvente verificaram-se a partir

das primeiras relaccedilotildees com o mercado

Lux Vidal (1977) menciona que jaacute na deacutecada de 1970 os Xikrin do Cateteacute

comercializavam a castanha-do-Brasil Esta comercializaccedilatildeo era possiacutevel atraveacutes do

9 A aldeia Las Casas soacute tem uma casa dos homens

53

auxiacutelio da Funai o que representava para eles uma oportunidade para a aquisiccedilatildeo de bens

natildeo indiacutegenas Mesmo assim todo o processo de venda e aquisiccedilatildeo de objetos era mediado

pelo oacutergatildeo indigenista (JEROZOLIMSKI et al 2011)

Por outro lado os autores citados acima destacam que com a expansatildeo das frentes

nacionais e o iniacutecio da ocupaccedilatildeo dos territoacuterios em torno de suas aldeias alguns Kayapoacute

comeccedilaram a trocar artesanatos e outros produtos da floresta com os ocupantes das

fazendas estabelecidas no entorno das aldeias Assim o acesso a recursos naturais com

valor comercial ou de troca passaram a influenciar novos processos de cisatildeo

(JEROZOLIMSKI et al 2011)

As mudanccedilas nas dinacircmicas territoriais se acentuaram no comeccedilo da deacutecada de

1980 pois comeccedilou nos territoacuterios ocupados pelos Kayapoacute principalmente na TI

homocircnima o auge das atividades garimpeira e madeireira A exploraccedilatildeo de ouro teve uma

retraccedilatildeo no iniacutecio da deacutecada de 1990 Poreacutem com uma intensificaccedilatildeo da exploraccedilatildeo do

mogno (Swietenia macrophylla King) voltou a crescer rapidamente Como consequecircnc ia

deste raacutepido crescimento ateacute as comunidades mais isoladas geograficamente se

envolveram nestas atividades (JEROZOLIMSKI et al 2011)

A participaccedilatildeo dos Kayapoacute em atividades predatoacuterias como a extraccedilatildeo de ouro e

madeira levantou muitas polecircmicas principalmente porque os Kayapoacute eram considerados

um povo ecoloacutegico pela luta para o reconhecimento dos direitos indiacutegenas assim como

tambeacutem da conservaccedilatildeo tanto ambiental quanto dos territoacuterios tradicionais onde tiveram

uma participaccedilatildeo emblemaacutetica em oposiccedilatildeo agrave construccedilatildeo da Usina Hidroeleacutetrica (UHE)

Kararaocirc hoje UHE Belo Monte (LOacutePEZ GARCEacuteS et al 2015 DE ROBERT 2006)

Mesmo assim segundo de Robert (2006) os Kayapoacute se envolveram em ditas atividades

porque quando a madeira explorada natildeo era vendida muitas vezes os madeireiros a

roubaram Depois de vaacuterios anos estas atividades pararam tanto pela vontade dos proacuteprios

Mẽbecircngocirckre como tambeacutem pela escassez dos recursos

Devido a estes eventos os Kayapoacute se sentiram ameaccedilados fato que levou agrave criaccedilatildeo

com apoio da FUNAI de postos de vigilacircncia (PVs) e que com o decorrer do tempo alguns

destes se converteram em aldeias Desta maneira tambeacutem com apoio da FUNAI aos poucos

foram introduzidos novos elementos agraves aldeias como satildeo por exemplo postos de sauacutede

escolas e pistas de pouso o que acabou por estabelecer a sedentarizaccedilatildeo deste povo

54

(JEROZOLIMSKI et al 2011 LEA 2012) O fato da sedentarizaccedilatildeo como tambeacutem as

novas relaccedilotildees com a sociedade envolvente estimularam a aquisiccedilatildeo de novos bens de

consumo

Depois de todos estes eventos com o envolvimento dos Kayapoacute com atividades

predatoacuterias comeccedilaram a buscar apoio para geraccedilatildeo de renda com atividades sustentaacuteve is

principalmente atraveacutes da criaccedilatildeo de associaccedilotildees indiacutegenas com as quais tecircm fortalec ido

principalmente o comeacutercio da castanha-do-Brasil e na atualidade o artesanato Ao mesmo

tempo passaram a ter um maior controle destas atividades (JEROZOLIMSKI RIBEIRO

2011)

Para o desenvolvimento tanto de atividades sustentaacuteveis que garantissem a geraccedilatildeo

de renda quanto o desenvolvimento das comunidades em relaccedilatildeo agrave sauacutede e educaccedilatildeo os

Kayapoacute se organizaram em diferentes associaccedilotildees indiacutegenas Segundo Inglez de Sousa

(2006) no Brasil na deacutecada de 1990 comeccedilou a criaccedilatildeo de associaccedilotildees indiacutegenas entre a

maioria dos povos indiacutegenas brasileiros No caso dos Kayapoacute foi apenas depois do ano

2000 que a maior parte das associaccedilotildees foram criadas pois no ano 1998 apenas tinha sido

formalizada uma associaccedilatildeo na cidade de Redenccedilatildeo no sudeste do Paraacute De Robert (2010)

menciona que houve uma multiplicaccedilatildeo de associaccedilotildees indiacutegenas na deacutecada de 2000 as

quais se estabeleceram como novas alianccedilas para o desenvolvimento local e sustentaacuteve l

Mesmo assim foi levantado por Villas-Bocircas et al (2014) que atualmente haacute trecircs

associaccedilotildees desenvolvendo projetos com as aldeias das Terras Indiacutegenas Kayapoacute a

Associaccedilatildeo Floresta Protegida (AFP) que atua na TI LAS Casas nas trecircs aldeias que a TI

tem na TIK em 20 aldeias e uma aldeia da TI Menkragnoti representando no total 24

aldeias O Instituto Kabu (IK) que representa duas aldeias da TI Bauacute e cinco na TI

Menkragnoti e o Instituto Raoni (IR) que representa trecircs aldeias da TI Menkragnoti e 12

na TI CapotoJarina

Mesmo assim continuam existindo associaccedilotildees nas diferentes aldeias Poreacutem como

relataram Villas-Bocircas et al (2014) elas natildeo possuem endereccedilo fiacutesico ou estatildeo inativas A

aldeia Las Casas aleacutem de fazer parte da AFP faz parte da associaccedilatildeo indiacutegena Ngonh-

rocircrocirc-kre da aldeia Las Casas Tekrejarocircti-re atraveacutes da qual funcionam os projetos

relacionados agrave sauacutede agrave educaccedilatildeo e venda de artesanato

55

Outro papel importante das associaccedilotildees indiacutegenas eacute o desenvolvimento dos planos

de gestatildeo territorial e ambiental das Terras Indiacutegenas Estes planos satildeo executados nas

terras indiacutegenas atraveacutes das associaccedilotildees em cumprimento da Poliacutetica Nacional de Gestatildeo

Territorial e Ambiental de Terras Indiacutegenas (PNGATI) fornecendo ferramentas tanto para

a gestatildeo de recursos quanto para a proteccedilatildeo do territoacuterio ocupado pelos povos indiacutegenas

que vem sofrendo ameaccedilas pelas diferentes frentes de expansatildeo principalmente na

Amazocircnia As aldeias da TI Las Casas nos anos 2014 e 2015 iniciaram o plano de gestatilde o

territorial atraveacutes da AFP o qual deve ser finalizado ainda em 2016

56


TRADICIONAL DOS MẼBEcircNGOcircKRE-KAYAPOacute DE LAS CASAS DO

CONHECIMENTO LOCAL AOS SISTEMAS DE INFORMACcedilAtildeO GEOGRAacuteFICA

41 Histoacuterico de ocupaccedilatildeo na Terra Indiacutegena Las Casas

Segundo Brondiacutezio (2014) nas duas uacuteltimas deacutecadas o estudo do uso da terra se tornou

uma das aacutereas mais ativas na pesquisa interdisciplinar no Brasil em suas vaacuterias modalidades E

a abrangecircncia destes estudos tenta responder a questotildees relacionadas com a maneira como a

globalizaccedilatildeo e as pressotildees dos mercados afetam as decisotildees e praacuteticas de uso da terra nos niacuteveis

local e regional Tambeacutem resulta de como as pessoas respondem a estas mudanccedilas em diferentes

escalas e de como eles impactam na qualidade de vida de diferentes grupos sociais

O territoacuterio atual da Terra Indiacutegena (TI) Las Casas tem sido alvo de distintos eventos

de ocupaccedilatildeo e uso da terra desde meados do seacuteculo XIX Sabe-se pela histoacuteria contada pelos

proacuteprios Mẽbecircngocirckre que hoje habitam em Las Casas e pela literatura que trata o histoacuterico de

ocupaccedilatildeo da regiatildeo que eacute um territoacuterio tradicional deste povo sendo os Iratildersquoa mraire um

subgrupo extinto os primeiros em ocupar a regiatildeo (SILVA 2007 MELO 2002 MOREIRA

NETO 1960 apud SILVA 2007) Poreacutem Las Casas se insere numa regiatildeo de conflitos razatildeo

pela qual tem passado por uma dinacircmica de uso e ocupaccedilatildeo da terra ateacute a deacutecada de 1960 que

esteve e continua relacionada aos conflitos com as frentes de expansatildeo nacional

Destaca Melo (2002) que jaacute no ano de 1824 Cunha Matos relata o primeiro contato com

os Kayapoacute nos campos cerrados entre Tocantins e Araguaia Depois as frentes pioneiras de

expansatildeo da sociedade nacional chegaram agraves terras Kayapoacute em 1859 as quais penetraram pelos

campos de Pau DrsquoArco tradicionalmente ocupados pelos Iratildersquoa mraire Desde entatildeo tem

acontecido um processo sistemaacutetico de invasatildeo das terras Kayapoacute sendo suas consequecircncias

mais visiacuteveis o esbulho e a degradaccedilatildeo ambiental das mesmas A invasatildeo dos territoacuterios

indiacutegenas pelas frentes de expansatildeo da sociedade nacional alterou natildeo apenas a vida dos

Kayapoacute mas tambeacutem a proacutepria configuraccedilatildeo geograacutefica regional sendo que a reocupaccedilatildeo da

aacuterea pelos iacutendios implicaraacute em novas transformaccedilotildees sociais e espaciais

Segundo Melo (2002) que em 1888 os Iratildersquoa mraire passaram a ser reconhecidos como

os Kayapoacute de Pau DArco e estavam estabelecidos na aacuterea atual da aldeia Las Casas

Nesta eacutepoca estavam distribuiacutedos em quatro aldeias na beira do Rio Pau DArco contando com

uma populaccedilatildeo aproximada de 1500 pessoas A partir de 1900 comeccedila uma movimentaccedilatildeo dos

57

Kayapoacute entre a atual TI Las Casas e a TIK afirma tambeacutem Silva (2007) que ao longo da uacuteltima

deacutecada do seacuteculo XIX a aacuterea de campos naturais de Pau DArco foi transformada em fronteira

camponesa inicialmente com a utilizaccedilatildeo dos proacuteprios iacutendios na conversatildeo de terras ocupadas

tradicionalmente por eles em terras camponesas e posteriormente com a extinccedilatildeo dos mesmos

com a utilizaccedilatildeo pelos colonizadores da regiatildeo Desta maneira toda a aacuterea ocupada pelos

extintos Iratildersquoa mraire foi convertida na eacutepoca em pastagens e as roccedilas tradicionais dos indiacutegenas

nas matas ciliares dos Rios Arraias e Pau DArco foram ampliadas e postas em serviccedilo da frente

expansionista (MOREIRA NETO 1960 apud SILVA 2004) Os subgrupos Mẽbecircngocirckre que

habitavam a regiatildeo se viram obrigados a se movimentar depois de ver a situaccedilatildeo pela que

passaram os Iratildersquoa mraire os quais foram dizimados por causa de doenccedilas ocidentais

Finalmente em 1948 foi criado pelo Serviccedilo de Proteccedilatildeo ao Iacutendio (SPI) o posto de atraccedilatildeo Padre

Las Casas mesmo assim a situaccedilatildeo se tornou insustentaacutevel pois sem poder contar com

remeacutedios e com cuidados meacutedicos adequados foram muitos os Kayapoacute que morreram no Posto

de Atraccedilatildeo Las Casas Pois aleacutem dos problemas na aacuterea meacutedica havia ainda escassez de

recursos o que dificultava a continuaccedilatildeo dos trabalhos de pacificaccedilatildeo Por outro lado em

comunicaccedilatildeo oficial escreveu Miguel Arauacutejo10 que o Posto Las Casas carecia inclusive de

material para a ldquoatraccedilatildeordquo ou seja machados panelas espelhos espingardas etc (MELO

2002)

Somava-se tambeacutem a essa conjuntura a natildeo colaboraccedilatildeo da populaccedilatildeo regional que

constantemente divulgava notiacutecias falsas sobre os ataques indiacutegenas alimentando o medo e a

intoleracircncia frente agrave presenccedila dos indiacutegenas na regiatildeo assim como tambeacutem o aumento das

mortes por doenccedilas que se espalharam como epidemias o que implicou em que os cemiteacuter ios

de Las Casas ficassem repletos razatildeo pela qual os Kayapoacute que estavam no posto de atraccedilatildeo

voltaram em 1966 para a TIK pois ainda nesta eacutepoca os conflitos pela posse de terras foram

intensificados (MELO 2015) Finalmente no ano de 1996 e objetivando reverter agrave situaccedilatildeo de

esbulho um grupo Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute oriundos das aldeias Gorotire (TIK) e Xikrin do

Cateteacute (TI Xicriacuten do Cateteacute) migraram para Las Casas onde se encontram desde entatildeo

A partir desse momento comeccedilaram a pressionar a FUNAI de Brasiacutelia para a

regularizaccedilatildeo da aacuterea sendo que a composiccedilatildeo do Grupo Teacutecnico (GT) com vistas agrave resoluccedilatildeo

desse impasse fundiaacuterio foi uma resultante direta da mobilizaccedilatildeo Kayapoacute Nesse momento um

grupo de aproximadamente 20 Kayapoacute se deslocou para onde se encontra atualmente a aldeia

10 Miguel Arauacutejo foi um sertanista que comeccedilou os contatos e processo de pacificaccedilatildeo em Las Casas (MELO

2015)

58

Las Casas denominada Tekrejarocircti-re pelos Mẽbecircngocirckre que ocuparam a regiatildeo Ali eles

abriram uma clareira e erigiram sua aldeia Em 2001 o grupo havia aumentado em termos

numeacutericos eram 52 pessoas dentre elas Xikrin Kubenkrankeng e Gorotire todos subgrupos

Kayapoacute Setentrionais (MELO 2015) Uma grande parte do grupo que voltou em 1996 mora

em caraacuteter permanente na aldeia Las Casas que hoje conta com uma populaccedilatildeo de 189

habitantes empreendendo expediccedilotildees cotidianamente de caccedila coleta pesca e tambeacutem de

controle territorial que satildeo realizadas individual ou coletivamente

42 Dinacircmica do uso do solo na Terra Indiacutegena Las Casas

Para analisar as mudanccedilas ocorridas na terra indiacutegena em relaccedilatildeo agrave dinacircmica do uso do

solo foram escolhidas imagens de sateacutelite Landsat (5-TM e 8-OLI) de datas relacionadas agrave

ocupaccedilatildeo deste territoacuterio pelos Kayapoacute e as frentes de expansatildeo nacional principalmente para

o estabelecimento de fazendas na regiatildeo Por esta razatildeo foram analisadas imagens Landsat 5-

TM e Landsat 8-OLI disponiacuteveis de 1973 ateacute 2014 tomando em conta datas importantes da

entrada e saiacuteda dos Kayapoacute do territoacuterio da TI Las Casas Deu-se destaque aqui agrave importacircnc ia

da recuperaccedilatildeo do territoacuterio tradicional pelos Kayapoacute tanto para a subsistecircncia deste povo

assim como tambeacutem agrave recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas pelo estabelecimento de fazendas

Segundo Melo (2002 2015) em 2002 havia um total de 87 ocupaccedilotildees natildeo indiacutegenas e ainda

em 201611 um nuacutemero menor destas ocupaccedilotildees continuam na TI devido ao fato de que estes

ocupantes natildeo tinham sido indenizados

A partir do histoacuterico de ocupaccedilatildeo da imagem Landsat 1-MSS de maio de 197312 e das

mudanccedilas do iacutendice de vegetaccedilatildeo por diferenccedila normalizada (NDVI) entre os anos 1984 e 2014

analisou-se aqui a dinacircmica de uso do solo na Terra Indiacutegena Las Casas Pode-se observar a

partir das imagens de 1984 que houve desmatamentos para a instalaccedilatildeo de fazendas para

criaccedilatildeo de gado e a recuperaccedilatildeo atual destas aacutereas Tomamos como referecircncia para o

desmatamento uma imagem Landsat 1-MSS de maio de 1973 Na qual pode se observar apenas

por fotointerpretaccedilatildeo que neste periacuteodo comeccedilou o desmatamento nas aacutereas de floresta ao sul

da terra indiacutegena contiacuteguas agraves florestas de galeria na beira do Rio Pau DArco para o

estabelecimento de pastagens para gado Essas aacutereas fazem parte do territoacuterio tradicional e atual

11 Estas Informaccedilotildees foram confirmadas tambeacutem atraveacutes de uma conversaccedilatildeo na aldeia com as lideranccedilas da aldeia

e os representantes do Ministeacuterio Puacuteblico em Redenccedilatildeo 12 Esta imagem natildeo foi utilizada na anaacutelise das mudanccedilas de NDVI por ser da seacuterie Landsat 1 MMS razatildeo pe la

qual natildeo conseguimos fazer a calibraccedilatildeo radiomeacutetrica para poder analisar junto com as outras imagens a diferenccedila

de NDVI

59

da TI Las Casas (ver anexo C) Observou-se que estas aacutereas comeccedilaram a ser desmatadas em

1973 e algumas aacutereas foram regeneradas no decorrer do tempo Hoje mesmo com a presenccedila

de posseiros dentro da TI a vegetaccedilatildeo antigamente desmatada continua se recuperando

Relataremos a partir da leitura das imagens de sateacutelite os principais momentos desse

processo

421 1984-1990 Periacuteodo preacute-retorno Kayapoacute-I Algum desmatamento e regeneraccedilatildeo

Num primeiro periacuteodo estudado onde foram analisadas imagens de julho de 1984 e maio

de 1990 (ver Figura 3) podem se observar zonas onde houve desmatamento nas aacutereas com

menor iacutendice de NDVI (aacutereas em azul) onde haacute formas relativamente geomeacutetricas

especificamente ao nordeste e no centro-oeste da TI o que indica que houve desmatamento para

estabelecimento de fazendas para a criaccedilatildeo de gado13 Poreacutem se pode notar tambeacutem um

aumento do NDVI (aacutereas em vermelho) em todo o territoacuterio da TI o que nesta ocasiatildeo estaacute

relacionado com a regeneraccedilatildeo da vegetaccedilatildeo que tinha sido desmatada antes de 1984 ateacute 1990

Observe-se poreacutem que essa variaccedilatildeo pode se dever tambeacutem ao aumento da atividade

fotossinteacutetica jaacute que em maio 1990 a precipitaccedilatildeo meacutedia (125 mm) era maior do que em julho

de 1984 (125 mm) Haacute tambeacutem uma grande extensatildeo do territoacuterio em coloraccedilatildeo cinza o que

indica que natildeo houve mudanccedilas de NDVI nestas aacutereas para esse periacuteodo por tanto a vegetaccedilatildeo

natildeo foi alterada

422 1990-1995 Periacuteodo preacute-Kayapoacute II-Intensificaccedilatildeo do desmatamento e regeneraccedilatildeo da

vegetaccedilatildeo

Para o periacuteodo de 1990 a 1995 (figura 4) pode se observar que haacute uma diminuiccedilatildeo do

NDVI em todo o territoacuterio da TI por um lado devido a uma diminuiccedilatildeo da atividade

fotossinteacutetica (aacutereas em azul claro com formas irregulares) o que pode estar relacionado ao fato

que a imagem utilizada de 1990 eacute do mecircs de maio e de 1995 eacute do mecircs de agosto quando a

meacutedia de precipitaccedilatildeo foi baixa (1 mm) Por outro lado podem-se notar zonas com diminuiccedilatildeo

de NDVI representadas por formas geomeacutetricas (em azul escuro) no norte centro oeste e

nordeste da TI o que indica o possiacutevel desmatamento destas aacutereas para estabelecimento de

fazendas Porem formas irregulares ao sul da Terra Indiacutegena podem ter sido causadas por

13 Atividade econocircmica predominante na regiatildeo

60

queimadas na estaccedilatildeo seca jaacute que na composiccedilatildeo colorida da imagem de Landsat TM de 1995

(Apecircndice 3) pode-se observar claramente a coloraccedilatildeo preta causada por queimadas Haacute

tambeacutem pequenas zonas com aumento de NDVI (em tonalidades de vermelho) o que pode

representar aacutereas de vegetaccedilatildeo em regeneraccedilatildeo ou aumento da atividade fotossinteacutetica nessas

aacutereas

61

Figura 3 Diferenccedila de NDVI na TI Las Casas no periacuteodo 1984-1990

Fonte imagens utilizadas Landsat5 TM de 11 de julho de 1984 e Landsat 5 TM de 25 de maio de 1990

62


Fontes imagens utilizadas Landsat 5 TM de 25 de maio de 1990 e Landsat 5 TM de 11 de agosto de

1995

63

423 1995-2006 sob o domiacutenio Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute I-Redefiniccedilotildees de uso e

regeneraccedilatildeo da vegetaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995-2006 (Figura 5) pode se observar uma recuperaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo

nas aacutereas que sofreram queimadas de 1995 devido pelo aumento do NDVI (coloraccedilatildeo

vermelha) nessas aacutereas ao sul da terra indiacutegena Mesmo assim podem-se observar novas aacutereas

que sofreram queimadas em 2006 localizadas no centro ao norte e no limite noroeste da TI e

que nesta imagem estatildeo representadas por aacutereas com diminuiccedilatildeo de NDVI (em azul) Tambeacutem

haacute aacutereas com NDVI baixo com formas irregulares que poderiam representar o estabelecimento

de roccedilas tradicionais Kayapoacute Vale lembrar que os Kayapoacute voltaram para Las Casas em 1996

e ateacute o ano de 2002 segundo Melo (2002) em Las Casas tinham sido plantadas novas roccedilas

tradicionais e uma roccedila coletiva de arroz estabelecidas principalmente nas florestas de galeria

as quais eram exploradas pelas famiacutelias que moravam em Las Casas Esse eacute o caso tambeacutem

das capoeiras que poderiam ter resultado do descanso destas roccedilas Por outro lado as atividades

agropecuaacuterias por sua vez tinham gerado o desmatamento de quase todos os remanescentes

florestais inclusive das regiotildees serranas (ao norte e sudeste da TI onde haviam projetos de

assentamentos no entorno de Las Casas)

Eacute interessante mencionar aqui que Melo (2002) destacou no Relatoacuterio circunstanc iado

de identificaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo da Terra Indiacutegena Las Casas que o processo de desmatamento

jaacute tinha sido iniciado em Las Casas para este periacuteodo Segundo ela as serras tatildeo importantes

para os Kayapoacute da regiatildeo em termos materiais ambientais e cosmoloacutegicos jaacute tinham comeccedilado

a se transformar em pastagens com uma velocidade acelerada e segundo a autora caso a

proposta do laudo antropoloacutegico da TI Las Casas fosse rejeitada em menos de um ano toda a

biodiversidade presente no territoacuterio de Las Casas poderia ter desaparecido em virtude da accedilatildeo

predatoacuteria dos posseiros da regiatildeo instalados na TI

64

Figura 5 Diferenccedila de NDVI na TI Las Casas no periacuteodo de 1995-2006

Fontes imagens utilizadas Landsat 5 TM de 11 de agosto de 1995 e Landsat 5 TM de 10 de setembro de 2006

424 2006-2011 Sob o domiacutenio Kayapoacute II-Regeneraccedilatildeo acelerada mediante recuperaccedilatildeo

de usos

Neste periacuteodo pode se observar que haacute tambeacutem aacutereas (em cinza) que praticamente natildeo

sofreram mudanccedilas ou seja natildeo foram desmatadas ou natildeo se regeneraram Entre os periacuteodos

analisados de 2006-2011 e 2011-2014 (Figuras 6 e 7) aleacutem das aacutereas que se mantiveram sem

65

mudanccedilas no que se refere ao NDVI pode-se observar um aumento da atividade fotossinteacutet ica

tanto no periacuteodo de 2006-2011 quanto no periacuteodo 2011-2014 Observa-se nas figuras 5 e 6 que

houve uma recuperaccedilatildeo das aacutereas desmatadas na base da serra agraves que se refere Melo (2002)

possivelmente pela presenccedila dos Kayapoacute no seu territoacuterio tradicional

Depois que eles reocuparam seu territoacuterio tradicional em 1996 no ano 2001 se

conformou o Grupo Teacutecnico (GT) de Identificaccedilatildeo da Terra Indiacutegena Las Casas que foi

constituiacutedo atraveacutes das Portarias nordm 992PRES de 06 de dezembro de 2001 e nordm 1051 de 19

de dezembro de 2001 Desta maneira comeccedilou o processo para a legalizaccedilatildeo da TI Las Casas

Segundo Melo (2015) este GT consistiu na primeira etapa de regularizaccedilatildeo fundiaacuteria da TI Las

Casas seguida da publicaccedilatildeo do resumo do Relatoacuterio publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo em

2003 Neste ano Las Casas foi reconhecida oficialmente como terra indiacutegena obtendo sua

homologaccedilatildeo em dezembro de 2009 Assim desde seu retorno em 1996 os Kayapoacute instalados

em Las Casas mesmo explorando recursos necessaacuterios para a subsistecircncia visaram recuperar

aacutereas importantes devido aos recursos que oferecem e ao significado ritual que estas detecircm

como por exemplo o conjunto de serras entre as quais destacam a serra Tekrejarocircti-re onde se

encontra a aldeia dos mortos sagrada para eles Segundo menciona Melo (2015) a relaccedilatildeo com

esta serra tem importacircncia simboacutelica e espiritual que jogou um papel muito importante na

organizaccedilatildeo para a recuperaccedilatildeo do territoacuterio tradicional Segundo K Kayapoacute14 (2010) no ano

de 2010 estavam deixando recuperar as serras porque os kuben (natildeo indiacutegenas) tinham

desmatado a serra e para poder explorar no futuro os recursos uacuteteis presentes na serra era preciso

deixaacute-la descansar

14 Entrevista em trabalho de campo em 2010

66


Fonte imagens utilizadas Landsat 5 TM de 10 setembro de 2006 e Landsat 5 TM de 7 de agosto de 2011

67

425 2011-2014 Domiacutenio Kayapoacute III-A garantia dos recursos

Em relaccedilatildeo ao periacuteodo 2011-2014 eacute necessaacuterio destacar que mesmo observando um

aumento de NDVI em grande parte do territoacuterio da TI e mesmo que natildeo seja notaacutevel na figura

7 aconteceram mudanccedilas no uso do solo dentro da TI no ano 201315 Neste ano foram limpas

trecircs aacutereas com trator na savana gramiacuteneo- lenhosa para o estabelecimento de trecircs roccedilas

comunitaacuterias de mandioca nestas aacutereas Possivelmente as aacutereas natildeo satildeo reconhecidas na

imagem obtida com as diferenccedilas de NDVI devido ao fato que a limpeza para o estabelecimento

das roccedilas foi realizada em novembro de 2013 e ateacute junho de 2014 data em que foi obtida a

imagem a vegetaccedilatildeo possivelmente tinha se recuperado e a mandioca plantada jaacute tinha crescido

Das trecircs roccedilas planejadas apenas foi plantada uma assim a roccedila estabelecida e as aacutereas que

foram limpas poderiam estar se confundindo com aacutereas de savana gramiacuteneo- lenhosa Por outro

lado ainda se observa um aumento de atividade fotossinteacutetica pois mesmo o mecircs de junho

sendo veratildeo para o ano de 2014 natildeo era o mecircs mais seco na regiatildeo tendo uma precipitaccedilatildeo

meacutedia de 125 mm

Pode-se notar que a pesar dos diferentes eventos acontecidos na TI Las Casas desde que

foi instalado pelo SPI o posto de atraccedilatildeo Padre Las Casas ateacute os dias de hoje a vegetaccedilatildeo que

tinha sido desmatada comeccedilou um processo de recuperaccedilatildeo que pode ser observado com o

aumento da atividade fotossinteacutetica nos uacuteltimos periacuteodos estudados o que pode indicar a

regeneraccedilatildeo de aacutereas desmatadas

Nepstad et al (2006) que utilizaram mapas baseados imagens de sateacutelite interpretando

cobertura vegetal e incidecircncia de incecircndios em unidades de conservaccedilatildeo e terras indiacutegenas na

Amazocircnia brasileira comparando a prevenccedilatildeo de incecircndios e o desmatamento entre estas

encontraram que as terras indiacutegenas inibiram completamente o desmatamento mesmo com altas

taxas de desmatamento ao redor dos seus limites Este efeito inibidor das TIs em relaccedilatildeo ao

desmatamento das terras indiacutegenas tem sido notaacutevel depois de seacuteculos de contato com a

sociedade nacional e natildeo se correlaciona como a densidade populacional dos povos indiacutegenas

Para estes mesmos autores os povos indiacutegenas satildeo hoje a barreira mais importante para o

desmatamento na Amazocircnia brasileira mesmo assim segundo mencionam o maior desafio seraacute

a implementaccedilatildeo exitosa de reservas em aacutereas com alto risco de expansatildeo da fronteira agriacutecola

ao mesmo tempo em que o reforccedilo na proteccedilatildeo das terras indiacutegenas fato que depende neste

15 A comunidade fez acordos com um fazendeiro do municiacutepio Floresta do Araguaia (PA) que ainda tinha gado

na TI alugando terras para criaccedilatildeo de gado e cujo adicional de pagamento seria o a ajuda no estabelecimento de

roccedilas comunitaacuterias de mandioca com um trator para limpar o terreno de plantio

68

caso de uma ampla base de apoio poliacutetico e que na atualidade estaacute se enfraquecendo cada vez

mais Cabe destacar aqui tambeacutem a importacircncia do papel dos povos indiacutegenas que durante

muito tempo foram vistos como paradigmas de subdesenvolvimento e passaram nos dias de

hoje a serem considerados parceiros importantes na formulaccedilatildeo de estrateacutegias de conservaccedilatildeo

(KAHWAGE LOBATO 2011)


Fontes imagens utilizadas Landsat 5 TM de 7 de agosto de 2011 e Landsat 8-OLI de 12 de junho de 2014

69

43 Ocupaccedilatildeo do solo atual em Las Casas o conhecimento do territoacuterio ocupado pelos

Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute de Las Casas

Devido agrave TI Las Casas se encontrar na transiccedilatildeo Amazocircnia-Cerrado no sudeste do Paraacute

pode-se dizer que esta se encontra numa regiatildeo de tensatildeo ecoloacutegica (IBGE 2012) onde

predominam as savanas e formaccedilotildees florestais que incluem florestas de galeria ao longo do Rio

Pau DArco e dos coacuterregos presentes em toda a terra indiacutegena as florestas ombroacutefilas

caducifoacutelias que se estendem depois das florestas de galeria assim como tambeacutem nas ilhas de

floresta entre as savanas

Apresenta-se aqui a classificaccedilatildeo dos tipos de uso do solo mencionados pelos Kayapoacute

da aldeia Las Casas assim como tambeacutem o mapa confeccionado a partir das informaccedilotildees

fornecidas pelo casal Bepkajkrit e Ynhore do modo como descreveram e nomearam os

diferentes ambientes explorados por eles (Figura 8)

Entre os diferentes tipos de vegetaccedilatildeo e usos do solo que se destacam na Terra Indiacutegena

Las Casas (ver Quadro 1) os Kayapoacute reconhecem duas grandes formaccedilotildees vegetais que satildeo o

Kapocirct (Cerrado ou campo) que compreende os diferentes tipos de savanas ali presentes e dentro

das quais se destacam as savanas gramiacuteneo- lenhosas savanas arborizadas e savanas florestadas

descritas por Veloso (1999) (ver figura 910 e 11) e Bagrave (mato) que compreende o conjunto de

florestas de galeria florestas estacionais deciduais e as ilhas de florestas espalhadas no Cerrado

(ver figuras 12 13 e 14) Em Las Casas as pessoas reconhecem dois tipos de Kapocirct o kapocirct

que compreende as savanas gramiacuteneo- lenhosas mas tambeacutem eacute uma maneira de chamar a savana

de forma geral e o kapocirct punu que inclui as savanas florestadas e arborizadas

70

Figura 8 Ynhore mẽ Bepkajkrit mẽ nhotilde mapa Mapa do uso e ocupaccedilatildeo do solo realizado a partir dos conhecimentos fornecidos por Ynhore e Bepkajkrit Kayapoacute


71

Figura 9 Kapocirct Savana gramiacuteneo-lenhosa

Fonte Fotografia Sol Gonzaacutelez (2011)

Figura 10 Kapocirct punu- Savana florestada

Fonte Fotografiacutea Sol Gonzaacutelez (2015)

Figura 11 Savana arborizada


Posey (1985) destacou pela primeira vez a classificaccedilatildeo que os Kayapoacute da aldeia

Gorotire fazem do Cerrado em diferentes zonas ecoloacutegicas ou ecozonas demonstrando assim

72

o conhecimento das aacutereas exploradas por eles As ecozonas definidas por Posey se referem a

aacutereas ecoloacutegicas que correspondem a categorias ecircmicas reconhecidas em sistemas de

classificaccedilatildeo tradicionais e segundo mencionam Coelho-de-Souza et al (2016) as categorias

podem ou natildeo coincidir com as tipologias cientiacuteficas

No trabalho do Posey haacute uma classificaccedilatildeo mais detalhada dos diferentes tipos de

savanas onde os Kayapoacute da aldeia Gorotire da TIK fazem fizeram a seguinte classificaccedilatildeo

Kapocirct kein campo limpo savanas com poucas aacutervores kapocirct kumrenx campo aberto com

pequenas ilhas de floresta kapocirct mecirctx campo aberto com gramiacuteneas kapocirct punu campo

fechado com arbustos Kapocirct jajocircre campo aberto com manchas de arbustos kapocirct imok krecirc

pocirck re pequenas aacutereas abertas rodeadas de arbustos kapocirct kam imocirc campo com inundaccedilotildees

estacionais kapocirct imotilde noi pocirck campos abertos nos topos das serras e kapocirct kratilde nhi mocirck os

campos rupestres Nesse trabalho Posey (1985) tambeacutem menciona a classificaccedilatildeo que os

Kayapoacute de Gorotire fazem para as diferentes aacutereas de transiccedilatildeo entre a savana e as serras

Figura 12 Floresta estacional decidual bagrave kamrek


Em Las Casas as florestas de galeria conformam um conjunto completo denominado

ngagrave magravet que inclui tanto a formaccedilatildeo florestal e as grotas ou pequenos riachos e o rio Pau

DArco que atravessa o limite oeste da TI eacute denominado ngocirc rax (ver figura 13) Na aldeia

Moikarakocirc na TI Kayapoacute os Kayapoacute denominam a floresta de galeria ngocirc kocirct que neste caso

faz referecircncia agrave vaacuterzea contiacutegua agrave floresta de terra firme (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011)

73

Figura 13 Floresta de galeria no rio Pau DArco


Outra formaccedilatildeo de importacircncia pelos recursos que oferece eacute o Apecircjti conformado por

ilhas de floresta16 que ocorrem espalhadas no Kapocirct estas satildeo mencionadas no trabalho do

Posey (1985) como apecirctecirc Segundo ele os Kayapoacute da aldeia Gorotire (TIK) reconhecem nove

tipos diferentes de ilhas de floresta dependendo da composiccedilatildeo floriacutestica que estas apresentam

Para os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute do Cerrado satildeo formaccedilotildees de grande importacircncia pois satildeo

espaccedilos manejados onde ocorrem algumas espeacutecies uacuteteis de palmeiras e que em alguns casos

como foi observado nas primeiras saiacutedas na aldeia para conhecer as aacutereas exploradas estas satildeo

aproveitadas para plantar diferentes variedades de bananeira e coletar fibras e frutos de algumas

palmeiras (ver figura 14)

Esta formaccedilatildeo vegetal foi alvo de discussotildees sobre sua origem e manejo pois segundo

Posey (1989) as ilhas de floresta satildeo o resultado do manejo que os Kayapoacute fazem do Cerrado

plantando e criando ditas ilhas de floresta poreacutem Parker (1992) discorda desta afirmativa pois

em geral estas ilhas de floresta satildeo encontradas nas aacutereas de Cerrado fora dos territoacuterios

indiacutegenas inclusive as mesmas espeacutecies levantadas por Posey nos Apetecirc manejados pelos

Kayapoacute de Gorotire nas aacutereas de Cerrado levantadas em 1989

16 Floresta estacional decidual

74

Figura 14 Ilha de floresta apecircjti


Outra zona ecoloacutegica reconhecida pelos Kayapoacute da TI Las Casas e mencionado por

Gonzaacutelez-Peacuterez (2011) na aldeia Moikarakocirc na TIK eacute o Imocirc que compreende aacutereas alagadas

tanto na floresta quanto na savana no caso da floresta de terra firme corresponde agraves aacutereas que

sofrem alagamento na eacutepoca do inverno neste caso o Imocirc se refere ao igapoacute estacional nos

levantamentos realizados por Posey (1985) o imocirc que ocorre no campo eacute denominado pelos

kayapoacute de Gorotire Kapocirct kam imocirc17 Em Las Casas o Imocirc corresponde aos campos uacutemidos de

Cerrado descritos por Eiten (2001) os quais compreendem as aacutereas alagadas de savana que

bordejam a floresta de galeria e que ficam alagadas desde o inverno ateacute o comeccedilo do veratildeo (ver

figura 15)

17 O que quer dizer imocirc no Cerrado

75

Tanto nas florestas de galeria quanto nas savanas os Kayapoacute reconhecem aacutereas com

maior densidade de populaccedilatildeo das espeacutecies que exploram e que possivelmente satildeo o resultado

do manejo destas florestas pelos povos indiacutegenas que habitaram na regiatildeo entre estas aacutereas tem

destaque os babaccediluais nas florestas de galeria -rotildenkocirc (conformados por altas densidades de A

speciosa) babaccediluais- kapocirct rotildene kocirc (conformados por altas densidades de populaccedilatildeo de

Aeichleri) nas savanas arborizadas kapocirct kuten kocirc (aacutereas com alta densidade de populaccedilatildeo de

murici (Byrsonima crassifolia (L) Kunth) na savana arborizada mangueiral- pidjwocirc kocirc (aacutereas

com alta densidade de populaccedilatildeo de manga (Mangifera indica L) em ilhas de floresta buritiza l-

ngwra kocirc (Mauritia flexuosa L) nas florestas de galeria e nas aacutereas de savana inundaacuteveis (imocirc)

e pequizal- prin kocirc aacutereas no kapocirct com maior ocorrecircncia e densidade de pequi (Caryocar

brasiliense ASt-Hil) na savana arborizada (ver figuras 1617 e 18)

Figura 15 Detalhe do solo no campo uacutemido de Cerrado Imocirc


76

Figura 16 Kapocirct rotildene kocirc -babaccedilual (Aeichleri)


Figura 17 Rotilden kocirc - babaccedilual (A speciosa)


77

Quadro 1 Tipos de Ocupaccedilatildeo e uso do solo levantados segundo a nomenclatura Kayapoacute descrita por Posey e

levantada em Las Casas e seus correspondentes no Manual Teacutecnico da Vegetaccedilatildeo Brasileira e segundo Eiten 2001

Ambientes citados

segundo nomenclatura

Kayapoacute

Formaccedilotildees

Vegetais

Descriccedilatildeo

Kapocirct

Savana

(Cerrado)

Savana gramiacuteneo-

lenhosa

(Campo limpo de

Cerrado)

Vegetaccedilatildeo xeromorfa

que ocorre em distintos tipos

de clima

Formaccedilatildeo savacircnica

onde prevalecem herbaacuteceas

principalmente das famiacutelias

Poaceae e Cyperaceae e

aacutervores de tronco torto de

pequeno porte

Apresenta aacutervores de

tronco torto chegando a

alturas entre 8 e 10 metros

possui uma composiccedilatildeo

floriacutestica repetitiva que

pode estar representada por

espeacutecies da famiacutelia

Caryocaraceae representada

Savana Florestada

(Cerradatildeo)

78

aqui pelo pequi (Caryocar

brasiliense ASt-Hil)

Kapocirct punu

Savana arborizada

(Campo cerrado)

Formaccedilatildeo savaacutenica

natural ou antropizada com

um estrato florestal

nanofanerofiacutetico (altura de

ateacute 2 metros) e outro estrato

graminoide continuo

predominam espeacutecies como

Curatella americana L

tambem ocorre A eichleri

em alta densidade

Baacute kamrek

Floresta estacional

decidual

Caracteriza-se por

apresentar indiviacuteduos

predominantemente

caducifoacutelios despidos de

folhagem no periacuteodo

desfavoraacutevel no Cerrado se

apresenta em pequenas aacutereas

de transiccedilatildeo com as matas

de galeria

Formaccedilatildeo ribeirinha

ou ldquofloresta ciliarrdquo presente

ao longo dos cursos de aacutegua

79

Baacute prin Ngagravemot

Floresta de Galeria

apresentando um dossel

emergente sua fisionomia se

torna bastante aberta com

palmeiras no estrato

intermediaacuterio apresenta

tambeacutem lianas herbaacuteceas e

epiacutefitas Nesta haacute arvores

eretas que podem atingir os

30 metros de altura

Tambeacutem haacute Heliconiaacuteceas

(Heliconia sp) costaacuteceas (

Costus sp) e nas aacutereas mais

abertas roikokre

(Astrocaryum huaimi Mart)

babaccedilu ( A speciosa) buriti

(M flexuosa)

Apejti

Ilhas de floresta

Satildeo ilhas de floresta

estacional decidual

espalhadas na savana e que

geralmente satildeo manejadas

Estas aacutereas satildeo aproveitadas

para o cultivo de bananeiras

e para coleta de frutos de

algumas espeacutecies de

palmeiras plantas

medicinais e enviras a

composiccedilatildeo eacute similar agraves

florestas de galeria

Corresponde aos

campos uacutemidos de Cerrado

80

Imocirc

Campo uacutemido de

Cerrado

descritos por Eiten (2001)

que compreende aacutereas

alagadas de savana que

bordejam a floresta de

galeria e que sofrem

alagamento desde o inverno

ateacute o comeccedilo do veratildeo

Ngrwa kocirc

Buritizal

Aacutereas com alta

densidade de populaccedilatildeo de

M flexuosa podem estar

localizadas em floresta de

galeria ou em campos

uacutemidos de cerrado

Rotilden kocirc

Babaccedilual

Aacutereas com alta


rotilden tire -A speciosa em

florestas de galeria e floresta

estacional decidual

Kapocirct rotildene kocirc

Babaccedilual

Aacutereas com alta


rotildene -A eichleri na savana

arborizada

Kapocirct kuten kocirc

Aacutereas com alta


81

Aacutereas com alta

densidade de murici

Byrsonima crassifolia (L)

Kunth na savana arborizada

Prin kocirc

Pequizal

Aacutereas com alta


Prin- C brasiliense que

ocorre na savana florestada

Pidjwocirc kocirc

Mangueiral

Aacutereas com alta


manga (Mangifera indica

L) en ilhas de floresta

Puru

Roccedila

Aacuterea inicialmente

cobertas por floresta de

galeria onde houve

derrubada de agravervores para o

establecimento de cultivos

tradicionais Depois do

cultivo prevalecem restos de

agravervores queimadas herbas e

algumas palmeiras

Ibecirc

Sucessatildeo Natural

Capoeira

Formaccedilatildeo secundaacuteria

de origem antroacutepica

resultante da colonizaccedilatildeo de

espeacutecies pioneiras em roccedilas

abandonadas com

82

predominacircncia de herbaacuteceas

alguns arbustos e palmeiras

Kikre bunum

Quintais

Os quintais estatildeo

contiacuteguos agraves casas satildeo

espaccedilos onde haacute uma

variedade de plantas

alimentiacutecias principalmente

frutiacuteferas como a bananeira

(Musa X paradisiaca)

mamatildeo (Carica papaya L)

manga (M indica) e

jenipapo (Genipa

americana L) Espeacutecie de

grande importacircncia para o

preparo da pintura corporal

e algumas plantas de uso

medicinal Nesta aacuterea

tambeacutem satildeo armazenados e

processados produtos

coletados nas aacutereas de

exploraccedilatildeo

Mry nhotilde Kapocirct

PastagemFazenda

Agropecuaacuteria

Aacuterea com

intervenccedilatildeo antroacutepica para

uso da pecuaacuteria com

presenccedila ou natildeo de

pastagem

83

Krahn

Serras

Conjunto de serras

localizadas na terra indiacutegena

e de grande importacircncia para

os Mẽbecircngocirckre pois estatildeo

rodeadas de floresta

estacional decidual e onde

podem ser coletadas

algumas madeiras utilizadas

na cultura material e frutos

de palmeiras como babaccedilu e

bacaba

Fonte Modificado e atualizado de Gonzaacutelez-Peacuterez 2011

Figura 18 Ngwra kocirc buritizal


Estas florestas manejadas dispersas entre as savanas kapocirct e a floresta bagrave podem ser o

resultado de florestas culturais mencionadas por Baleacutee (1989) ou as chamadas florestas

oligaacuterquicas mencionadas por Peters et al (1989) onde haacute domiacutenio de determinadas espeacutecies

como eacute o caso das florestas onde predominam espeacutecies de importacircncia econocircmica da famiacutelia

Arecaceae como babaccedilu (A speciosa) buriti (M flexuosa) patauaacute (Oenocarpus bataua Mart)

84

e accedilaiacute (Euterpe oleracea Mart) Outro exemplo deste manejo da floresta entre os Kayapoacute da

TIK satildeo os castanhais Piy-kocirc e os accedilaizais Kamerekagravek kocirc (Euterpe precatoria Mart)

reconhecidos e manejados por eles (RIBEIRO et al 2014 DE ROBERT ET AL 2012 DE

ROBERT 2008-2009) Toledo e Barrera-Bassols (2015) mencionam que esta conversatildeo de

florestas naturais em florestas humanizadas tem sido uma praacutetica antiga nas diferentes regiotildees

tropicais do mundo Segundo os autores estes processos envolveram mudanccedilas tanto na

composiccedilatildeo original das florestas com o intuito de criar o que eles chamam de jardins

florestais atraveacutes do manejo de espeacutecies arboacutereas e da introduccedilatildeo de outras espeacutecies uacuteteis como

ervas e arbustos assim como tambeacutem culturas comerciais como por exemplo borracha baunilha

cacau cafeacute e especiarias

As serras Krahn satildeo as aacutereas com alto relevo na terra indiacutegena podendo chegar perto da

aldeia a alturas de 470 metros acima do niacutevel do mar e onde satildeo coletados frutos de palmeiras

como babaccedilu e bacaba assim como tambeacutem madeiras para a confecccedilatildeo de bordunas e

cachimbos (ver Figura 19)

Figura 19 Krahn Serras da TI Las Casas ao fundo a Serra Tekrejarocircti-re (ver seta)


85

Tambeacutem satildeo mencionados outros usos do solo em aacutereas com intervenccedilatildeo antroacutepica e de

grande importacircncia na subsistecircncia deste povo como satildeo as roccedilas puru as capoeiras ibecirc e os

quintais Kikre bunum As roccedilas seguem o padratildeo tradicional Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute em Las

Casas estatildeo estabelecidas em florestas de galeria umas contiguas agraves outras a diferenccedila da

maioria das aldeias localizadas na TIK onde as roccedilas satildeo estabelecidas em florestas

ombroacutefilas18 pois nessa TI o territoacuterio de exploraccedilatildeo de cada aldeia eacute maior se comparado ao

territoacuterio da TI Las Casas Segundo menciona Moran (1990) no Cerrado haacute limitaccedilotildees para o

estabelecimento da agricultura em comparaccedilatildeo com aacutereas onde abundam as florestas de terra

firme devido agrave extrema acidez do solo o alto conteuacutedo de alumiacutenio e o baixo teor em foacutesforo

eacute por esta razatildeo que diversos povos indiacutegenas que habitam no Cerrado tecircm aproveitado as

florestas de galeria para suas praacuteticas agriacutecolas (ver figuras 20 e 21)

Figura 20 Roccedila tradicional Kayapoacute- puru


Satildeo reconhecidas tambeacutem em Las Casas aacutereas de sucessatildeo natural ou capoeiras que vecircm

formar as florestas secundarias da TI Las Casas denominadas Ibecirc na liacutengua Mẽbecircngocirckre vale

a pena destacar que entre os Kayapoacute este termo tambeacutem se utiliza exclusivamente para aacutereas

onde houve estabelecimento de roccedilas que foram abandonadas segundo menciona Posey (1985)

18 A Terra Indiacutegena Kayapoacute (TIK) possui uma aacuterea de 3284005 hectares a aacuterea de Las Casas eacute de 21344 hectares

86

as capoeiras satildeo aproveitadas por certos recursos que oferecem principalmente para atrair caccedila

e como foi mencionado anteriormente pode se aproveitar a permanecircncia de algumas variedades

de banana outras frutiacuteferas como o mamatildeo e algumas espeacutecies uacuteteis de palmeiras como o

babaccedilu o buriti e a bacaba Em Las Casas pode-se observar em visitas agraves capoeiras Ibecirc a

permanecircncia de variedades de bananeira na capoeira formada da antiga roccedila de Bekwynhbocirc

onde hoje as mulheres da aldeia nas saiacutedas coletivas aproveitam para coletar frutos de babaccedilu

(A speciosa) e banana (Musa x paradisiaca L)

Figura 21 Ibecirc Capoeira


Outro uso do solo que eacute recente em Las Casas eacute o Mekratildepti nhotilde puru kwyry19 (roccedila de

mandioca e macaxeira) uma roccedila comunitaacuteria que natildeo segue o padratildeo das roccedilas tradiciona is

dos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute no que se refere agraves variedade de plantas cultivadas e que foi

estabelecida perto da aldeia na savana arborizada o estabelecimento desta roccedila comunitaacuter ia

deu-se graccedilas a um projeto proposto pela comunidade onde conseguiram apoio atraveacutes da

Secretaria de Meio Ambiente do Municiacutepio Floresta do Araguaia para fazer limpeza do terreno

com um trator e apoio da FUNAI para conseguir as manivas que foram plantadas Ao fazer o

19 Nesta roccedila comunitaacuteria soacute foi plantada mandioca agrave diferenccedila das roccedilas tradicionais onde haacute diversas espeacutecies

cultivadas

87

mapeamento com a imagem Spot (2013) Bepkajkrit e Ynhore reconheceram e destacaram outra

aacuterea onde fizeram movimento de terra com o trator mas que ateacute agora natildeo foi cultivada (figura

22)

Figura 22 Mekratildepti nhotilde puru kwyry roccedila comunitaacuteria de mandioca e macaxeira


As aacutereas onde foram estabelecidas fazendas satildeo chamadas Mry Kapocirct nhotilde (campo do

gado) que compreende aacutereas onde ainda haacute fazendas para criaccedilatildeo de gado em algumas destas

foi introduzido o pasto e outras onde a criaccedilatildeo de gado se estabeleceu aproveitando as savanas

gramiacuteneo- lenhosas (ver figura 23)

Outra aacuterea antroacutepica representada eacute a aldeia denominada por eles Kri que foi

estabelecida seguindo a organizaccedilatildeo tradicional das aldeias Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute onde as casas

estatildeo dispostas num ciacuterculo ao redor de uma praccedila grande em cujo centro fica o ngagrave ou casa

dos guerreiros que eacute o principal espaccedilo poliacutetico onde acontecem as reuniotildees para as tomadas de

decisatildeo da comunidade A aldeia ocupa uma aacuterea aproximada de 579 hectares e inclui as casas

dispostas em ciacuterculo o campo de futebol o posto de sauacutede contiguo ao ciacuterculo de casas a escola

e a sede da Associaccedilatildeo Indiacutegena Ngonh rocircrocirc-kre que representa agrave comunidade (figura 24)

88

Figura 23 Mry Kapocirct nhotilde -Pastagens na TI Las Casas


Figura 24 Aldeia Las Casas Kri


89

A atual aldeia Tekrejarocircti-re ou Las Casas foi estabelecida no local onde na deacutecada de

1940 foi instalado o posto de atraccedilatildeo Padre Las Casas e onde se instalaram de novo em 1996

para recuperar o territoacuterio tradicional (LAS CASAS 2013 MELO 2002)

Aproximadamente a 680 metros de distacircncia da aldeia encontra-se o pyka kratilde o

cemiteacuterio da aldeia onde satildeo feitos os enterros da maneira tradicional Mẽbecircngocirckre onde seus

mortos satildeo enterrados e depois eacute depositada uma montanha (kratilde) de terra (pyka) Tambeacutem haacute

destaque neste mapa das estradas e caminhos pry karecircrecirc utilizados para o deslocamento tanto

para as aacutereas de exploraccedilatildeo quanto para a cidade de Pau DArco (figura 25)

Figura 25 Caminhos e estradas prykarere caminho ao rio e agraves roccedilas


Outros estudos sobre conhecimento e manejo do ambiente por povos indiacutegenas no

Brasil como o trabalho de Carneiro (1997) que estudou o uso do solo e a classificaccedilatildeo da

floresta pelos Kuikuro do alto Xingu nesse trabalho o autor destaca as diferentes maneiras de

utilizaccedilatildeo da floresta principalmente para o estabelecimento das roccedilas e a coleta de produtos

para a subsistecircncia

Os Kuikuro da mesma maneira que os Kayapoacute distinguem vaacuterios tipos de florestas

dependendo dos estaacutegios da mesma itsuni que eacute a floresta primaacuteria (natildeo necessariamente

virgem) a vegetaccedilatildeo que invade as roccedilas abandonadas se denomina tafuga e a floresta

secundaacuteria resultante das tafugas sem atingir o estado de itsuni recebe diferentes nomes (p e

agipe agafagipe ketijepe) o indagipe eacute a floresta que cresce a o longo da margem dos rios e

lagos que eacute a floresta de galeria e oti que satildeo as savanas arborizadas onde predominam espeacutecies

90

como a lixeira (Curatella americana L) o caju (Anacardium occidentale L) e a mangabe ira

(Hancornia speciosa Gomes) (CARNEIRO 1997) Outro tipo de floresta reconhecida entre os

Kuikuro eacute o egepe cujo caraacuteter distintivo eacute o tipo de solo subjacente a este segundo Carneiro

(1997) a maior parte do itsuni cresce sobre solos vermelhos e arenosos que os Kuikuro

denominam nono jaacute a terra que estaacute embaixo do egepe eacute mais negra

Haverroth (2007) que estudou a etnobotacircnica Kaigang demonstrou o conhecimento dos

ambientes explorados por esse povo Segundo o autor os Kaigang mencionam diferentes tipos

de ambientes que traduzem a ordenaccedilatildeo do ambiente Kaigang e sua relaccedilatildeo com as plantas e

animais encontrados nestes ambientes assim como tambeacutem os tipos de solo umidade

elevaccedilatildeo entre outros Entre os Kayapoacute pode-se observar que esta relaccedilatildeo tambeacutem eacute evidente

pois haacute uma forte relaccedilatildeo entre os recursos explorados e as aacutereas de ocorrecircncia sejam aacutereas

naturais como eacute o caso do Cerrado Kapocirct ou a floresta bagrave ou aacutereas com intervenccedilatildeo antroacutepica

como satildeo as roccedilas capoeiras babaccediluais buritizais ilhas de floresta e fazendas Tambeacutem eacute

importante destacar que o conhecimento das aacutereas exploradas natildeo inclui somente o

conhecimento relacionado a plantas e animais como tambeacutem inclui o conhecimento do solo

Mesmo natildeo sendo o objeto desta tese eacute interessante destacar que haacute tambeacutem um

conhecimento relacionado aos diferentes tipos de solo Cooper et al (2005) estudaram a

classificaccedilatildeo do solo pelos Xikrin-Kayapoacute da TI Xikrin do Cateteacute onde os autores reportaram

que os Xikrin reconhecem oito diferentes tipos de solo dependendo da textura umidade

pedregosidade e cor e que por sua vez estaacute relacionado ao uso destes para a agricultura

Duvall (2008) apresenta em seu trabalho sobre a classificaccedilatildeo do ambiente biofiacutes ico

entre os Maninka de Mali na Aacutefrica segundo o autor destaca este povo faz uma classificaccedilatildeo

do ambiente que eles denominam biofiacutesico em dois grandes grupos o ambiente bioespiritua l

que compreende todos os seres hadamadegraven (humanos) Jine (espiacuteritos) os animais as plantas

e suas poses jaacute o ambiente fiacutesico estaacute composto por caracteriacutesticas fiacutesicas que indicam uma

distribuiccedilatildeo espaccedilo-temporal dos recursos naturais e os perigos que os afetam

O ambiente fiacutesico consiste em todos os natildeo vivos caracteriacutesticas fiacutesicas do ambiente e

compreende trecircs categorias principais Ala ka Baara (o trabalho de Allah terra ceacuteu e subsolo)

entre as que classificam diferentes tipos de solo coberturas vegetais cursos de aacutegua e Mogograve ka

Baara (o trabalho de seres humanos) ou seja as formaccedilotildees antropogecircnicas estes dois

juntamente com os ambientes criados pelos animais estes ambientes compartilham algumas

categorias subordinadas (DUVALL 2008)

91

Os exemplos acima demonstram o conhecimento que diferentes povos tradiciona is

detecircm para distinguir e classificar unidades da paisagem com base no relevo agraves formaccedilotildees

vegetais nos recursos naturais que oferecem assim como tambeacutem as mudanccedilas antroacutepicas

presentes nestes ambientes

Em relaccedilatildeo a este contexto Toledo e Barrera-Bassols (2009) destacam que eacute

interessante fazer uma anaacutelise dos topocircnimos (nomes atribuiacutedos a lugares especiacuteficos) que

normalmente denotam alguma caracteriacutestica do lugar que os povos tradicionais valorizam

Neste sentido o conhecimento dirigido a distinguir unidades ambientais no espaccedilo imprime

sentido em termos praacuteticos porque geralmente estas operam como unidades de manejo nas

estrateacutegias de apropriaccedilatildeo dos recursos naturais Segundo estes autores investigaccedilotildees nas

uacuteltimas deacutecadas demonstram que a capacidade de reconhecer diferentes unidades no universo

natural estaacute relacionada com o tipo de habitat e especialmente com as atividades de produccedilatildeo

dos povos que as exploram Por outro lado o conhecimento sobre as descontinuidades da

vegetaccedilatildeo natildeo parece ter maior sentido senatildeo como parte ou fraccedilatildeo de um processo atraveacutes

do qual a mente do produtor sintetiza ou combina seus conhecimentos das unidades de

vegetaccedilatildeo com os do solo e os acidentes topograacuteficos ou do relevo e outros fatores assim o

resultado desta siacutentese eacute o reconhecimento de unidades ecogeograacuteficas (cada uma delas com

um particular potencial produtivo a partir das quais escolhem e traccedilam suas estrateacutegias para o

aproveitamento dos recursos que cada uma destas unidades oferece (TOLEDO BARRERA-

BASSOLS 2009) O conhecimento tanto dos ambientes quanto dos recursos que exploram

deriva das experiecircncias sociais e nas necessidades locais desta maneira os saberes formam um

complexo entendimentos sobre as estruturas naturais e suas relaccedilotildees dinacircmicas ecoloacutegicas

sempre incertas em constante transformaccedilatildeo (TOLEDO BARRERA-BASSOLS 2015)

44 O uso do solo na Terra Indiacutegena Las Casas interpretado atraveacutes de imagens de

sateacutelite Landsat e dados coletados em campo

Tomando em conta os diferentes eventos acontecidos no histoacuterico de ocupaccedilatildeo da TI

Las Casas e a mudanccedila de uso da terra dentro do contexto que envolve a relaccedilatildeo dos Kayapoacute

com as sociedades envolventes se faz necessaacuterio neste momento destacar a importacircncia do

trabalho de campo associado agrave interpretaccedilatildeo e anaacutelise de imagens de sateacutelite para conhecer e

entender as ditas mudanccedilas assim como tambeacutem para entender o contexto atual do uso da terra

92

neste territoacuterio mudanccedilas de uso que natildeo podem ser reconhecidas apenas atraveacutes destas

imagens neste caso analisando a diferenccedilas de NDVI

Segundo destacam DAntona et al (2008) para estudar as mudanccedilas de uso da terra

atraveacutes de imagens de sateacutelite eacute recomendaacutevel complementar aleacutem de dados histoacutericos com

mapeamentos participativos o que permite fazer um trabalho colaborativo assim como tambeacutem

revelar aspectos do uso da terra natildeo visiacuteveis nas imagens de sateacutelite Brondizio (2014) menciona

tambeacutem que para entender as mudanccedilas de uso da terra importantes o uso de teacutecnicas

etnograacuteficas e levantamentos socioeconocircmicos no niacutevel de unidades domeacutesticas ou de

comunidade assim como tambeacutem o uso de teacutecnicas de etnoecologiacutea e etnobotacircnica satildeo

importantes

Uma experiecircncia importante a destacar aqui e que tem dado voz a diferentes

comunidades tradicionais na Amazocircnia eacute o Projeto Nova Cartografia Social da Amazocircnia

(PNCSA) que contempla a auto-cartografia destas comunidades Segundo o PNCSA (2016)

com o material produzido tem-se natildeo apenas um maior conhecimento dos processos de

ocupaccedilatildeo destas comunidades no contexto da regiatildeo mas tambeacutem o PNCSA se apresenta como

uma ferramenta para o fortalecimento dos movimentos sociais que existem na regiatildeo Assim a

nova cartografia social se apresenta como uma ferramenta de combate e de auto-afirmaccedilatildeo

social Assim como tambeacutem eacute uma maneira de demonstrar os diferentes tipos de uso e ocupaccedilatildeo

do territoacuterio assim como tambeacutem a existecircncia destas comunidades por vezes ignoradas

Assim conhecer as mudanccedilas de uso da terra na TI Las Casas no decorrer do tempo

fornece uma ferramenta importante para entender o contexto atual do uso e ocupaccedilatildeo do solo

assim como os diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo e fitofisionomias vegetais reconhecidos

pelos Kayapoacute a exploraccedilatildeo de recursos e as atividades econocircmicas ligadas agrave subsistecircncia deles

Eacute necessaacuterio destacar que por um lado os estudos relacionados agrave anaacutelise de NDVI assim

como tambeacutem os estudos de dinacircmica de uso da terra podem ser limitados graccedilas agrave

disponibilidade de imagens de sateacutelite anuais a momentos comparaacuteveis da estaccedilatildeo seca como

aconteceu neste estudo Por outro lado as diferenccedilas anuais de umidade durante a estaccedilatildeo seca

podem atrapalhar a interpretaccedilatildeo das imagens

Em relaccedilatildeo a estas limitaccedilotildees Brondizio (2014 p166) destaca que devido aos dados de

sensoriamento remoto apresentarem datas determinadas de aquisiccedilatildeo poderiam natildeo mostrar

sistemas de uso da terra particulares a certas estaccedilotildees do ano por esta razatildeo devem se considerar

as limitaccedilotildees destas anaacutelises e a necessidade de outros tipos de dados para poder representar ou

discutir sobre a presenccedila de outros tipos de usos na aacuterea estudada Segundo o autor durante o

93

periacuteodo de atividades agriacutecolas na regiatildeo amazocircnica a frequente cobertura de nuvens pode

limitar a disponibilidade de imagens em certas eacutepocas ou no caso da disponibilidade podem ter

uma cobertura de nuvens que faz que a interpretaccedilatildeo seja praticamente impossiacutevel tornando os

diferentes usos da terra potencialmente invisiacuteveis Poreacutem a disponibilidade de imagens do

sateacutelite Landsat 8-OLI que foi lanccedilado em 2014 que captura imagens a cada quinze dias pode

contribuir agrave melhora deste tipo de estudos

Atraveacutes do processamento da imagem Landsat 8-OLI de 2014 e os levantamentos

realizados em campo nos diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo reconhecidos e indicados pelos

Kayapoacute foram obtidas sete classes de ocupaccedilatildeo do solo e estabelecidos segundo os tipos de

vegetaccedilatildeo descritos no Manual Teacutecnico da Vegetaccedilatildeo Brasileira (IBGE 2012)

Na classificaccedilatildeo realizada foram obtidas num primeiro momento onze diferentes classes

de ocupaccedilatildeo do solo (ver Apecircndice 4) as quais foram reagrupadas em sete classes (Figura 26

Tabela 1) devido a que entre as classes obtidas atraveacutes do programa R quatro das onze classes

tinham tipos de ocupaccedilatildeo do solo semelhantes mas em grupos diferentes Entre as sete classes

obtidas se destacam cinco fitofisionomias vegetais Florestas de galeria que ocupam 1273

da terra indiacutegena floresta estacional decidual (2783) savanas florestadas (1665) savanas

arborizadas 4032 savanas gramiacuteneo- lenhosas (110) assim como tambeacutem corpos de aacutegua

representados principalmente pelo Rio Pau dArco (057) e aacutereas de solo nu (077) que

representam aacutereas onde foram estabelecidas as aldeias e compreende tambeacutem aacutereas degradas

por pastagem e de savana arborizada que foram suprimidas com trator para o estabelecimento

da roccedila comunitaacuteria natildeo tradicional

Ao obter a classificaccedilatildeo foram encontrados alguns detalhes para corrigir e melhorar

assim a classificaccedilatildeo obtida principalmente nas aacutereas de sombra que a serra produz nas aacutereas

de floresta que se encontram na sua base De fato existem na imagem aacutereas onde se sabe que

haacute uma elevaccedilatildeo de aproximadamente 380 metros onde se encontra uma floresta estacional

decidual em transiccedilatildeo entre a savana e as aacutereas mais elevadas dentro da TI na serra e devido agraves

sombras que a elevaccedilatildeo da serra gera sobre as aacutereas de floresta na imagem estas satildeo

reconhecidas como aacutegua

94

Tabela 1 Ocupaccedilatildeo do solo na Terra Indiacutegena Las Casas


Isto tambeacutem aconteceu com a classificaccedilatildeo das aacutereas de savana florestada e savana

arborizada onde possivelmente haacute confusatildeo radiomeacutetrica devido a que as aacutereas de transiccedilatildeo satildeo

contiguas e muitas vezes essa transiccedilatildeo natildeo supera os 30 metros de largura razatildeo pela qual no

momento da classificaccedilatildeo houve confusatildeo para a classificaccedilatildeo nos diferentes tipos de ocupaccedilatildeo

do solo nessas diferentes aacutereas

Eacute necessaacuterio destacar por um lado que nas aacutereas classificadas como floresta de galeria

haacute roccedilas estabelecidas e capoeiras e mesmo fazendo a classificaccedilatildeo supervisionada natildeo foi

possiacutevel diferenciar as roccedilas da floresta de galeria Devido ao fato que as roccedilas ocupam

superfiacutecie menor do que a captada pelos pixels da imagem Landsat

Por outro lado nas saiacutedas para coletar dados nos diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo

observou-se que haacute aacutereas dentro das florestas de galeria onde segundo Kapotidjagrave e Bepkajkrit

Kayapoacute jaacute foram estabelecidas roccedilas no passado (1996 e ano 2000) que hoje satildeo florestas

Classes de ocupaccedilatildeo do Solo

Superfiacutecie

Aacuterea (ha) Abrangecircncia ()

Savana Arborizada 8608 403

Floresta Estacional Decidual 5941 278

Savana Florestada 3555 167

Floresta de Galeria 2718 127

Savana Gramiacuteneo- lenhosa 236 11

Solo nu 166 06

Rios 122 06

95

secundaacuterias mas que tecircm a estrutura da floresta de galeria e que neste caso satildeo classificadas

como florestas de galeria

Figura 26 Ocupaccedilatildeo do solo na Terra Indiacutegena Las Casas a partir da imagem Landsat 8-OLI do 12062014

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria da autora

Ao encontrar as dificuldades aqui mencionadas na diferenciaccedilatildeo dos tipos de ocupaccedilatildeo

do solo resultantes de diferentes eventos de ocupaccedilatildeo do territoacuterio e diferentes contextos de

exploraccedilatildeo como satildeo o estabelecimento de roccedilas pastagens queimadas e exploraccedilatildeo de

produtos florestais madeireiros e natildeo madeireiros para a subsistecircncia dos diferentes grupos

sociais que tecircm ocupado a regiatildeo pode se dizer aqui que os diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do

96

solo principalmente as formaccedilotildees florestais secundaacuterias apresentam-se natildeo como ecossistemas

ou formaccedilotildees vegetais distintos mas como menciona Pardini (2012) florestas dentro da

floresta permanecendo desta maneira incoacutegnitas ou disfarccediladas de floresta referecircncia que

o autor faz agraves florestas culturais citadas por Baleacutee (1989) Assim pelo fato de natildeo se diferenc iar

formaccedilatildeo vegetal pode ser ainda muito mais difiacutecil diferenciaacute-la atraveacutes de imagens de sateacutelite

Segundo Brondizio (2014) a visibilidade ou invisibilidade dos diferentes sistemas de

uso da terra e das pessoas envolvidas pode estar relacionada agrave limitaccedilatildeo dos dados utilizados

ou seja agrave resoluccedilatildeo espacial eou temporal das imagens utilizadas agrave escala das atividades

produtivas realizadas pelo grupo em estudo como por exemplo o tamanho ou tipo das aacutereas

agriacutecolas e agroflorestais assim como tambeacutem o sistema de classificaccedilatildeo utilizado para

representar a paisagem O autor destaca que eacute difiacutecil representar sistemas agroflorestais em

geral em imagens de sateacutelite que satildeo classificados geralmente como vegetaccedilatildeo secundaria uma

capoeira ou uma floresta natildeo manejada assim o uso natildeo criacutetico de um sistema de uso da terra

pode esconder um uso da terra intensivo importante pois na Amazocircnia haacute diversos sistemas de

uso da terra em pequenas escalas e de difiacutecil diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves florestas adjacentes

ou que ao contraacuterio envolvem o uso de produtos da floresta sem deixar cicatrizes visiacuteveis na

paisagem (BRONDIZIO 2014p 164)

DAntona et al (2008) fazem tambeacutem referecircncia agrave dificuldade que traz o uso de

imagens Landsat (30m x 30m) que pode causar erros na classificaccedilatildeo dos tipos de uso o solo

devido agrave incapacidade de distinguir pequenos objetos ou diferentes usos da terra como eacute o caso

aqui das aacutereas de transiccedilatildeo entre savanas gramiacuteneo- lenhosas e florestas de galeria

Mesmo assim os dados gerados atraveacutes da interpretaccedilatildeo de imagens de sateacutelite para o

mapeamento da ocupaccedilatildeo e a dinacircmica do uso do solo em terras indiacutegenas ligado aos dados

levantados em campo se apresentam como uma importante ferramenta para conhecer a situaccedilatildeo

atual das terras indiacutegenas assim como tambeacutem as ameaccedilas que podem estar afetando as

mesmas Tambeacutem para entender as mudanccedilas atuais na economia deste povo a qual pode seguir

diferentes contextos dependendo da exploraccedilatildeo dos recursos naturais presentes no territoacuterio

ocupado por eles assim como tambeacutem a integraccedilatildeo agraves atividades econocircmicas na regiatildeo e a

sociedade envolvente com a qual estes povos tecircm contato

Por outro lado estudos das mudanccedilas e ocupaccedilatildeo do solo em terras indiacutegenas satildeo

necessaacuterias como uma ferramenta para discutir a situaccedilatildeo ambiental das mesmas Esta

importacircncia deve ser reforccedilada ainda em terras indiacutegenas localizadas no Cerrado pois por ser

um bioma onde as fitofisionomias caracteriacutesticas satildeo as savacircnicas pouco destaque se daacute agraves

97

possiacuteveis ameaccedilas de desmatamento nas formaccedilotildees florestais presentes neste bioma No

relatoacuterio apresentado pelo Instituto Socioambiental (ISA) a iniacutecios de 2014 os autores

mencionam o desmatamento para o estabelecimento de pastagens no limite TI Las Casas como

uma das principais ameaccedilas neste territoacuterio Mesmo assim soacute eacute feito um levantamento das aacutereas

desmatadas em TIs onde a situaccedilatildeo eacute mais criacutetica principalmente as TIs Kayapoacute Bauacute

Badjonkore CapotoJarina e Mekragnoti pois existem para estas TIs informaccedilotildees de

desmatamento disponibilizadas na base de dados do Projeto de Monitoramento do

Desmatamento na Amazocircnia Legal por Sateacutelite (PRODES) (VILLAS-BOcircAS et al 2014)

98

5 OS RECURSOS DE LAS CASAS DO CONHECIMENTO AO USO E MANEJO

51 O conhecimento dos homens e das mulheres de Las Casas

Para entender a relaccedilatildeo com a natureza no sistema de adaptaccedilatildeo do homem a

determinado ambiente e a utilizaccedilatildeo de recursos que um determinado conjunto de ambientes

oferece eacute necessaacuterio considerar a etnobiologia para poder enfatizar as categorias e conceito s

cognitivos utilizados pelos povos em estudo (POSEY 1997)

Segundo este autor o conhecimento indiacutegena natildeo se enquadra em categorias e

subdivisotildees que a biologia tenta organizar de maneira artificial assim o conhecimento bioloacutegico

dos povos indiacutegenas vem ser o que ele chama de uma amaacutelgama de plantas animais caccediladas

horticultura espiacuteritos mitos cerimocircnias ritos reuniotildees energias cantos e danccedilas

Assim desde o comeccedilo da pesquisa em Las Casas em 2010 o trabalho desenvolvido

com a comunidade da aldeia foi sempre tomando em conta as demandas da comunidade atraveacutes

de ferramentas que permitissem entender as relaccedilotildees deles com seu territoacuterio e o uso de

recursos para desta maneira atender as demandas deles que visavam apoio para geraccedilatildeo de

renda a partir dos recursos existentes na TI que eles conhecem utilizam e manejam Para isto

deu-se continuidade agrave pesquisa no acircmbito do projeto Laboratoacuterio de Praacuteticas Sustentaacuteveis em

Terras indiacutegenas proacuteximas ao arco do desmatamento20 e decidiu-se que para poder atender

ditas demandas o primeiro passo era fazer o levantamento dos recursos utilizados por eles suas

aacutereas de ocorrecircncia e a possibilidade de comercializaccedilatildeo para a futura geraccedilatildeo de renda na

aldeia Num primeiro momento atraveacutes de mapeamento comunitaacuterio foi possiacutevel ter uma visatildeo

ampla das aacutereas exploradas na TI e de como estas ganham espaccedilos diferenciados entre homens

e mulheres (ver figuras 27 e 28)

Foram realizados dois croquis Menire nhotilde croqui (figura 29) croqui das mulheres

realizado por um grupo de oito mulheres de faixa etaacuteria entre 35 e 45 anos pertencentes agrave

categoria mekrapdjire e Memy nhotilde croqui (figura 30) o croqui dos homens realizado por

um grupo de cinco homens com uma faixa etaacuteria entre 20 e 40 anos e pertencentes agrave categoria

mekrare

Nestes croquis pode-se observar a concepccedilatildeo do espaccedilo em relaccedilatildeo aos recursos

explorados no territoacuterio pelos homens e pelas mulheres e a importacircncia que determinados

recursos podem ter para a comunidade assim como tambeacutem as atividades que cada gecircnero

(homens e mulheres) desempenha em dito territoacuterio na sua vida cotidiana Esta separaccedilatildeo de

20 Projeto financiado pelo INCT-CNPq e coordenado pela Antropoacuteloga Dra Claudia Leonor Loacutepez Garceacutes

pesquisadora do Museu Paraense Emilio Goeldi

99

espaccedilos se faz presente tanto nas atividades domeacutesticas e de subsistecircncia quanto na organizaccedilatildeo

de atividades dentro da comunidade fato que foi notaacutevel no momento da confecccedilatildeo dos mapas

Figura 27 Grupo de homens trabalhando na confecccedilatildeo do croqui de recursos


Figura 28 Grupo de mulheres trabalhando na confecccedilatildeo do croqui de recursos


100

Figura 29 Menire nhotilde croqui Croqui das mulheres

101

Em ambos os croquis homens em mulheres representaram tanto os ambientes de

ocorrecircncia quanto os diferentes tipos de recursos explorados

Os Mẽbecircngocirckre classificam em categorias separadas os recursos que exploram as

plantas kre as classificam dependendo dos lugares de ocorrecircncia das mesmas por

exemplo entre os grupos mencionados por eles estatildeo as bagrave kre que inclui as ldquoplantas do

matordquo ou seja que ocorrem nos das diferentes formaccedilotildees florestais as que ocorrem no

campo ou kapocirct denominadas Kapocirct kre que satildeo nativas dos diferentes ambientes que

explora e no caso das plantas que ocorrem no Kapocirct e as plantas que cultivam na roccedila

denominadas djwagrave kre No caso dos animais satildeo denominados mry Onde se agrupam

principalmente os mamiacuteferos ou animais que satildeo consumidos na alimentaccedilatildeo eou que

por sua vez representam uma ameaccedila para eles como por exemplo a onccedila

Os recursos explorados aleacutem de plantas e animais satildeo os minerais como a terra

ou pyka onde plantam enterram a seus mortos e constroem suas casas tradicionais em

mistura com palhas troncos e terra assim como tambeacutem na cocccedilatildeo de alimentos Para a

cocccedilatildeo de alimentos tambeacutem utilizam as pedras ou ken para preparar o ki forno

tradicional no qual esquentam pedras com lenha e quantos estas estatildeo quentes os

alimentos que seratildeo cozidos (batatas doces abobora ou carnes de caccedila) satildeo tampados com

terra e folhas de banana brava Outro recurso importante principal fonte de vida a aacutegua

eacute denominada na liacutengua mẽbecircngocirckre ngagrave que compreende a agua tanto de rios riachos

e grotas

Nas representaccedilotildees realizadas dos recursos que exploram no croqui das mulheres

Menire nhotilde croqui pode-se observar que haacute uma representaccedilatildeo dos diferentes recursos

vegetais e animais que satildeo explorados e os diferentes tipos de uso do territoacuterio e mesmo

sem fazer menccedilatildeo da floresta e das savanas estas satildeo representadas com os recursos

presentes em cada um destes espaccedilos Satildeo destacados a aldeia (Kri) a serra (krahn) os

rios (ngocirc rax) as roccedilas (puru) estradas e os caminhos (pry karere) assim como tambeacutem

aacutereas de exploraccedilatildeo de recursos que fazem parte das atividades exclusivamente femininas

dentro da cultura Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute Entre os recursos vegetais destacados no croqui

as mulheres (menire) desenharam espeacutecies uacuteteis consideradas importantes para elas

dando destaque agraves aacutereas de ocorrecircncia das mesmas

Entre as espeacutecies se destacam espeacutecies utilizadas na alimentaccedilatildeo e na cultura

material e imaterial e que fazem parte do cotidiano feminino como satildeo babaccedilu (rotildentire -

A speciosa) babaccedilu pequeno (rotildene - A echleri) buriti (ngrwa- M flexuosa) bacaba

102

(Kamere - O distichus) guriri (Allagoptera leucocalyx (Drude) Kuntze) pequi (prin- C

brasiliense) manga (pidjwocirc -M indica) banana (tyryti - Musa X paradisiaca) banana

brava (tyry prekre - Heliconia sp)

As mulheres citam tambeacutem a espeacutecies que natildeo utilizam mas que conhecem jaacute que

as pacas se alimentam dos seus frutos e possuem nome na liacutengua Mẽbecircngocirckre devido

tambeacutem a que ocorrem em aacutereas exploradas por elas eacute o caso de Bakamakjecirc (pertencente

agrave famiacutelia Arecaceae possivelmente ao gecircnero Attalea) e buritirana (ngwraragravere-

Mauritiella sp) as duas espeacutecies ocorrem em florestas de galeria

Entre os animais representados tecircm destaque os animais que fazem parte da dieta

tradicional como satildeo jabutiacute (kapratilde- Chelonoidis sp) considerado tambeacutem um animal

sagrado nas festas tatu (tocirct) anta (Kukryt - Tapirus terrestris) capivara (ngocirc kam mry-

Hydrochaeris hydrochaeris) e os peixes (tep) Representam tambeacutem animais silvestres

como a ema (matildeti- Rhea americana pato (ngocirc kajuti) onccedila negra (roptykre) e pintada (-

ropkrori -Panthera onca) e o gado bovino (ngjadjy - Bos taurus) presente nas fazendas

existentes ainda dentro da Terra Indiacutegena

103

Figura 30 Memy nhotilde croqui Croqui dos homens

104

No croqui dos homens Memy nhotilde croqui pode-se observar uma representaccedilatildeo de

locais de importacircncia para a exploraccedilatildeo de recursos como satildeo a serra Tekrejarocircti-re e

Kranh keine o campo (kapocirct) a mata (bagrave) e o rio (ngocirc rax) e os recursos importantes

para eles em cada um destes ambientes Aqui se representam tambeacutem recursos explorados

no territoacuterio como o pequi (prin- C brasiliense) o buritiacute (ngrwa-M flexuosa) babaccedilu

(rotildentire - A speciosa) a copaiacuteba (pinkangocirc- Copaifera sp) assim como tambeacutem as aacutereas

de pesca e caccedila representadas no croqui por animais como o tatu (tocirct) macaco (kukoj)

catitu (angrocirc-re - Tayassu tajacu) e os peixes (tep)

Foram representadas tambeacutem aacutereas antroacutepicas como a sede da fazenda onde

ainda haacute instalaccedilotildees de uma antiga fazenda a roccedila comunitaacuteria onde haacute um monocult ivo

de mandioca e a aacuterea onde passaram o trator para futuros plantios de mandioca planejados

por projetos conseguidos pela comunidade em parceria com o secretaacuterio do meio

ambiente do municiacutepio Floresta do Araguaia

Eacute interessante destacar que tanto no croqui das mulheres quanto no croqui dos

homens entre os recursos vegetais representados por ambos os grupos estatildeo o babaccedilu

buriti e pequi espeacutecies que desde que comeccedilou a pesquisa em Las Casas foram

mencionadas como espeacutecies importantes devido a que satildeo utilizadas tanto na alimentaccedilatildeo

quanto na cultura material e que satildeo coletadas por homens e mulheres tambeacutem para eles

estas espeacutecies poderiam servir para gerar renda para a comunidade devido tambeacutem agrave

densidade pois segundo as lideranccedilas da aldeia tem muito pequi buriti e coco (babaccedilu)

Tanto mulheres quanto homens representaram os animais consumidos na

alimentaccedilatildeo A caccedila se pensarmos no gecircnero eacute uma atividade masculina mas satildeo as

mulheres que preparam as carnes caccediladas Tambeacutem satildeo representados animais que natildeo

satildeo consumidos mas que fazem parte do ambiente explorado por eles e satildeo importantes

devido agraves vantagens ou ameaccedilas que estes possam representar

Um exemplo disto eacute a onccedila (Pantera onca) que natildeo eacute consumida mas que

representa uma ameaccedila para o gado que eacute criado dentro do territoacuterio e para os proacuteprios

Kayapoacute o catitu que eacute consumido mas tambeacutem constitui uma ameaccedila quando novas roccedilas

satildeo estabelecidas pois geralmente o catitu come mudas de batata e macaxeira E muito

comum perguntar para uma famiacutelia como vai sua roccedila e ter a resposta o catitu comeu

tudo Mesmo assim em Las Casas o catitu eacute um dos animais de estimaccedilatildeo bastante

apreciado Se ao caccedilaacute-lo caccedilam uma fecircmea e esta tem filhotes eles pegam e criam

cuidam deles com carinho e ateacute pintam com urucum e colocam brincos de miccedilangas

105

Enquanto agraves estradas e caminhos eacute importante destacar que as mulheres fazem

uma representaccedilatildeo com destaque aos caminhos que conduzem agraves aacutereas de exploraccedilatildeo

como satildeo as florestas de galeria onde estatildeo os babaccediluais os caminhos para as roccedilas e

para o rio onde vatildeo pescar Jaacute os homens destacam caminhos e estradas que representam

a comunicaccedilatildeo com a cidade espaccedilo mais frequentado pelos homens do que as mulheres

pois satildeo os homens que fazem as relaccedilotildees poliacuteticas na aldeia devido a que a maioria fala

a liacutengua portuguesa Entre os Mẽbecircngocirckre satildeo poucas as mulheres que falam portuguecircs

Atraveacutes da realizaccedilatildeo destes croquis foi possiacutevel fazer um pequeno levantamento

atraveacutes de discussotildees sobre quais satildeo os recursos mais importantes para eles dentro da

Terra Indiacutegena principalmente as espeacutecies uacuteteis na vida cotidiana O mapeamento tambeacutem

serviu como ferramenta para eles analisarem o aproveitamento do territoacuterio e dos recursos

que este oferece na vida cotidiana assim como tambeacutem na possibilidade de geraccedilatildeo de

renda Atraveacutes de discussotildees com o grupo de homens e o grupo de mulheres foi possiacutevel

tambeacutem pensar em outros recursos que satildeo utilizados aleacutem dos representados nestes

mapas e que satildeo importantes natildeo soacute para a subsistecircncia mas tambeacutem fazem parte da

cultura Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute

Cabe destacar aqui o que Toledo e Barrera-Bassols (2009) citam segundo o eles

os criteacuterios utilizados pela mente tradicional diferem quando se trata de distinguir

unidades nas massas florestais as quais adquirem valor para as praacuteticas de exploraccedilatildeo

como a caccedila e a colheita quando os espaccedilos satildeo convertidos agrave agricultura ou aos

rebanhos ou quando se trata de classificar unidades em corpos de aacutegua (rios lagoas lagos

e mares) que satildeo de utilidade para as atividades pesqueiras Mesmo assim apesar dessas

variaccedilotildees tudo indica que a diferenccedila de unidades nas paisagens florestais agropecuaacuterias

ou pesqueiras eacute o resultado de uma operaccedilatildeo comum que faz parte dos procedimentos

normais de toda estrateacutegia tradicional de uso dos recursos Segundo mencionam Toledo

e Barrera-Bassols (2015) devido a que a realidade muda constantemente devido a

diferentes circunstacircncias a percepccedilatildeo e organizaccedilatildeo mental sobre o mundo natural natildeo eacute

fixa nem estaacutetica mas sim polissecircmica multidimensional e polivalente Segundo os

autores os vaacuterios niacuteveis de organizaccedilatildeo mental sobre o mundo vatildeo depender das

circunstacircncias e das necessidades individuais familiares e comunitaacuterias

Por outro lado eacute interessante destacar a importacircncia da participaccedilatildeo das mulheres

neste mapeamento para o levantamento de recursos Pois desde que comeccedilaram os

trabalhos de pesquisa em Las Casas principalmente no que se refere aos recursos

106

presentes na TI e ao seu potencial econocircmico e cultural poderiam se apresentar como uma

oportunidade de geraccedilatildeo de renda tanto para os homens quanto para as mulheres Esta

participaccedilatildeo demonstra por um lado o conhecimento que homens e mulheres detecircm das

aacutereas exploradas mesmo independentemente da atividade de uso e manejo de recursos

seja considerada do domiacutenio masculino ou feminino

Desta maneira destacarei aqui uma experiecircncia de mapeamento participat ivo

entre os Kayapoacute da aldeia Moikarakocirc na TIK onde os homens decidiram fazer parte da

pesquisa e atraveacutes das ferramentas fornecidas para o reconhecimento do territoacuterio e seus

recursos se tornaram pesquisadores usando o mapeamento da sua terra como uma

ferramenta poliacutetica Assim criaram diferentes mapas entre os quais fizeram um chamado

caminhando com os antepassados baseado em imagens de sateacutelites Nos mapas

confeccionados observaram que a TIK parecia um territoacuterio vazio e poderia ser

interpretado como um espaccedilo natural para o resto da sociedade brasileira por isto

jovens e anciatildeos decidiram trabalhar para dotar de detalhes seus mapas de maneira que

estes demonstrassem a ocupaccedilatildeo dos Mẽbecircngocirckre dentro dos seus territoacuterios

(MOIKARAKOcirc et al 2006)

Nesse mapeamento natildeo houve participaccedilatildeo das mulheres dessa aldeia Segundo

mencionaram os autores satildeo os homens que possuem uma experiecircncia mais expansiva do

territoacuterio porque ao organizar acampamentos de caccedila coletiva os homens devem morar

longe da aldeia na floresta21 Em Las Casas a experiecircncia foi totalmente diferente

possivelmente devido ao fato que agraves aacutereas de exploraccedilatildeo desta aldeia no territoacuterio da TI

natildeo ficarem a grandes distacircncias da aldeia desta maneira tanto homens quanto mulheres

tiveram participaccedilatildeo ativa no mapeamento dos recursos Em Las Casas para chegar agraves

aacutereas de coleta de recursos tanto homens quanto mulheres podem ir andando jaacute em

Moikarakocirc os homens dependem de longas caminhadas na floresta ou navegando pelo

rio em canoas para chegar ateacute as roccedilas

Eacute importante destacar aqui que quando comeccedilaram as primeiras conversas em

Las Casas as mulheres demonstraram grande interesse em participar das atividades e dos

21 Quando estive na aldeia Moikarakocirc em julho de 2010 no trabalho de campo para minha dissertaccedilatildeo de

mestrado fazendo o levantamento dos diferentes tipos de vegetaccedilatildeo onde homens e mulheres da aldeia

coletavam sementes para a confecccedilatildeo de artesanato foi realizado um mapeamento das aacutereas de coleta

atraveacutes de uma imagem de sateacutelite Spot Neste participaram unicamente os homens devido agraves mesmas

razotildees mencionadas acima por Moikarakocirc et al (2006)

107

projetos de pesquisa demonstrando desta maneira a importacircncia que poderia ter o

conhecimento delas sobre o territoacuterio e os recursos explorados

Neste aspecto Gilmore e Young (2012) numa experiecircncia de mapeamento

participativo com o povo Maijuna da Amazocircnia peruana destacam que o mapeamento

participativo eacute uma ferramenta importante para o levantamento de informaccedilotildees

etnobiologicas e que podem ser aplicadas a planos de conservaccedilatildeo de recursos

bioculturales demostrando nestes possiacuteveis ameaccedilas aos recursos explorados

fortalecendo assim agrave comunidade

Por um lado podem proporcionar tambeacutem uma compreensatildeo mais detalhada dos

limites do territoacuterio que as comunidades locais exploram e uma ampla apreciaccedilatildeo da

conexatildeo histoacuterica e o conhecimento tradicional relacionado agrave aacuterea representada nos

mapas Por outro lado o mapeamento participativo pode ajudar a esclarecer como

propostas de projetos de desenvolvimento poderatildeo ter impacto sobre os recursos

explorados e sua conservaccedilatildeo Neste caso sobrepondo o mapa participativo e os mapas

realizados atraveacutes de sistemas de informaccedilatildeo geograacutefica representando os locais

importantes para dita comunidade e as possiacuteveis aacutereas a ser afetadas no projeto planejado

(GILMORE YOUNG 2012)

52 As plantas uacuteteis de Las Casas

521 Usos levantados e partes usadas das plantas

Atraveacutes de entrevistas semi-estruturadas oficinas e observaccedilatildeo participante e

direta foram levantadas no total 95 espeacutecies uacuteteis distribuiacutedas em 36 famiacutelias e 72 gecircneros

botacircnicos Destas espeacutecies 10 natildeo foram identificadas Do total 3684 satildeo espeacutecies

arboacutereas 3052 herbaacuteceas 1578 arbustos 736 lianas 947 palmeiras

arborescentes e 210 palmeiras acaules As famiacutelias de plantas uacuteteis que tecircm destaque

pela riqueza floriacutestica satildeo Fabaceae com 17 espeacutecies distribuiacutedas em nove gecircneros e

Arecaceae com nove espeacutecies distribuiacutedas em oito gecircneros seguidas de Apocynaceae e

Rubiaceae com quatro gecircneros e quatro espeacutecies cada uma o restante das famiacutelias

levantadas apresentaram apenas uma espeacutecie por famiacutelia

Foram registrados 21 tipos de usos diferentes que foram agrupados em oito

categorias medicinal alimento humano alimento para animais cultural construccedilatildeo

108

utensiacutelios e ferramentas combustiacutevel e toacutexico entre estas categorias foram registradas 16

subcategorias (ver tabela 2)

A categoria de uso onde foram levantadas mais espeacutecies foi a categoria Medicina l

onde foram citadas 48 espeacutecies seguida da categoria cultural com 39 espeacutecies

alimentaccedilatildeo humana com 15 espeacutecies utensiacutelios e ferramentas 11 espeacutecies combustiacuteve l

com seis espeacutecies alimentaccedilatildeo para animais dois espeacutecies e construccedilatildeo e toacutexica cada

uma com apenas uma espeacutecie Do total de espeacutecies levantadas houve oito espeacutecies que

apresentaram usos em diferentes categorias entre estas tecircm destaque as representantes da

famiacutelia Arecaceae como eacute o babaccedilu (A speciosa e A eichleri) apresentando usos na

alimentaccedilatildeo usos culturais na construccedilatildeo na confecccedilatildeo de utensiacutelios e ferramentas e

combustiacutevel O buriti (M flexuosa) se destaca por apresentar usos na alimentaccedilatildeo

fabricaccedilatildeo de utensiacutelios e ferramentas e usos culturais a bacaba (O distichus) com usos

culturais na alimentaccedilatildeo e na fabricaccedilatildeo de utensiacutelios e ferramentas o tucumatilde (A

aculeatum) apresentou usos na alimentaccedilatildeo na confecccedilatildeo de utensiacutelios e ferramentas A

paxiuacuteba (S exorrhiza) e a bacaba (O distichus) apresentaram usos na alimentaccedilatildeo e na

fabricaccedilatildeo de utensiacutelio e ferramentas O pequi (C brasiliense) da famiacutelia Caryocaraceae

apresenta usos na alimentaccedilatildeo confecccedilatildeo de utensiacutelios domeacutesticos usos medicinais e

culturais

522 As partes utilizadas das plantas levantadas

Em relaccedilatildeo agrave parte da planta utilizada encontramos que em 54 espeacutecies a parte

mais utilizada eacute a folha entre estas 50 espeacutecies se destacaram pelo uso soacute das folhas

apresentando um valor de PPV= 1 a categoria de uso mais citada para as folhas foi a

medicinal seguida do uso na confecccedilatildeo de utensiacutelios domeacutesticos onde se destacam as

palmeiras babaccedilu buriti e bacaba cujas folhas satildeo utilizadas na confecccedilatildeo de cestos

maacutescaras e em tranccedilados para confecccedilatildeo de objetos de cunho ritual usos na construccedilatildeo

(A speciosa) Na alimentaccedilatildeo se destaca o uso da banana brava (Heliconia sp) utilizada

para envolver alimentos cozidos no forno tradicional Kayapoacute (ki) (ver tabela2)

O uso de sementes foi citado para 26 espeacutecies das quais trecircs satildeo utilizadas na

alimentaccedilatildeo consumidas in natura eacute o caso do babaccedilu (A eichleri e A speciosa) e a

castanha-do-Brasil (B excelsa) as sementes do babaccedilu tambeacutem satildeo utilizadas na

produccedilatildeo de oacuteleo para fins cosmeacutetico e ritual pois o oacuteleo produzido eacute utilizado para passar

no cabelo e para misturar com as sementes de urucum preparado assim a tinta vermelha

109

utilizada na pintura corporal e no tingimento de braceletes tecidos com algodatildeo

(GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2012)

Do restante das espeacutecies citadas 23 satildeo utilizadas para a confecccedilatildeo de adornos

corporais principalmente colares destinados agrave comercializaccedilatildeo Gonzaacutelez-Peacuterez et al

(2013) num estudo paralelo a este levantamento encontraram que das espeacutecies levantadas

em Las Casas 14 destas satildeo tambeacutem utilizadas para a confecccedilatildeo de colares pulseiras e

braceletes destinados agrave comercializaccedilatildeo pelos habitantes de Moikarakocirc na TIK Segundo

as autoras pelo menos cinco das espeacutecies utilizadas em ambas as aldeias satildeo produto de

intercacircmbio entre estas pois espeacutecies como o tucumatilde (Astrocaryum aculeatum Mart) e

a paxiuacuteba (Socratea exorrhiza Mart) natildeo ocorrem em Las Casas mas satildeo utilizadas e

citadas nesta aldeia e satildeo obtidas atraveacutes de trocas com parentes de outras aldeias

Em 15 espeacutecies foi citado o uso do fruto na alimentaccedilatildeo assim com tambeacutem no

preparo de tintas para a pintura corporal como eacute o caso do mrocircti o jenipapo (Genipa

americana L) cujo fruto eacute consumido na alimentaccedilatildeo mas seu uso mais citado e

importante entre os Mẽbecircngocirckre eacute no preparo da tinta negro-azulada utilizada na pintura

corporal (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2012)

O caule galhos e cascas estatildeo entre as partes da planta menos citadas para seu

uso natildeo sendo menos importantes foram citadas pelo menos quatro espeacutecies na categoria

combustiacutevel utilizadas para lenha e quatro espeacutecies cuja casca eacute utilizada para a extraccedilatildeo

de fibras no caso das enviras utilizadas para amarras e fabricaccedilatildeo de alccedilas para cestos

cargueiros

Apenas em duas das espeacutecies levantadas foi citado e observado o uso das flores

eacute o caso das flores da planta chamada mẽkaron (P rigida) cujo uso citado eacute de cunho

ritual pois segundo Panhkoriti Kayapoacute (entrevista em campo em novembro de 2010) as

flores satildeo colocadas nas portas das casas para evitar brigas e as flores do pequi (C

brasiliense) que satildeo utilizadas pelas crianccedilas para brincar

A planta inteira para um mesmo uso soacute foi citada em duas espeacutecies de uso

medicinal Apenas para uma espeacutecie eacute citado uso medicinal da seiva extraiacuteda do tronco

eacute o caso de Copaifera sp assim como tambeacutem o consumo do palmito (estipe) que foi

citado soacute para trecircs espeacutecies (A speciosa A aculeatum)

110

Tabela 2 Espeacutecies uacuteteis de Las Casas Forma de Vida A=arboacutereo Ar= arbustivo L= lianescente H= herbaacutecea P= palmeira arborescente

PA= palmeira acaule Estas espeacutecies natildeo ocorrem em Las Casas mas satildeo obtidas atraveacutes de intercacircmbios ou visitas em outras a ldeias


Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

ANACARDIACEAE

Caju

Anacardium

occidentale L

Fruto A Alimento

humano Alimentaccedilatildeo

6 1 0142

Pidjwocirc Manga Mangifera indica L

Fruto A Alimento


18 1 0428

ANNONACEAE

Annona crassiflora

Mart

Folha A

Medicinal Natildeo especificado

1 1 0024

Annona tomentosa

REFr

Folha A


1 1 0024

Kuben ni

Envira

cheirosa

Xylopia aromatica

(Lam) Mart

Caule

A Utensiacutelios e

ferramentas Corda para amarras

1

1

1

1

0024

0024

111

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

APOCYNACEAE

- Cynanchum sp Folha H Medicinal Natildeo especificado 1 1 0024

- Marsdenia sp Folha H Medicinal Natildeo especificado 1 1 0024

Oki kre ti - Prestonia sp

Folha

Ar Medicinal Natildeo especificado

1

1

0024

Aguaiacute

Cascabela thevetia

(L) Lippold

Frutosemente

A Cultural Recreativo tornozeleira

3

1

0071

ARECACEAE

Roi ti Tucumatilde

Astrocaryum

aculeatum G May

Semente

P Cultural Adornos corporais

5

112

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Folha Utensiacutelios e

ferramentas Utensiacutelios domeacutesticos cestos

8 0421 0452

Estipe Alimento

humano

Alimento palmito cru ou

asado

6 0316

Roi kokre Tucum

Astrocaryum huami

Mart

Semente


9

1

0214

Mry kok Murumuru

Astrocaryum

murumuru Mart

Semente P

Cultural Adornos corporais

5 1 0112

Rotildene

Babaccedilu

piaccedilaveira

Attalea eichleri

(Drude) AJ Hend

Fruto

Amecircndoa

PA

Alimento


8

0872 0833

Amecircndoa Alimentaccedilatildeo

de animais Isca para pescar

1

Amecircndoa

Cultural CosmeacuteticoRitual

20

113

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Folha

Utensiacutelios e

ferramentas

Utensiacutelios domeacutesticos

Cestaria de expediente

6

0128

Fruto exocarpo Combustiacutevel Carvatildeo 6

Fruto Cultural Ritual 6

Rotildetire Babaccedilu

Attalea speciosa

Mart

Amecircndoa P Alimento


16 0833

Amecircndoa Alimento

para animais Isca para pescar

1

Amecircndoa

Cultural

Produccedilatildeo de oacuteleo Cosmeacutetico

Ritual

30

Amecircndoa Medicinal Natildeo especificado 1

Estipe

(palmito)

Alimento


10 0067

114

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Fruto Cultural Ritual 2 0376

Folha foliacuteolos

e ou peciacuteolo

Construccedilatildeo Casas paredes e tetos

22

0557

Folha peciacuteolo

Construccedilatildeo

Barreiras para pesca com

timboacute

5

Folhas

Utensiacutelios e

ferramentas


cestaria de expediente

esteiras e abanadores

20

Folha peciacuteolo

Cultural Recreativo brinquedos

16

Folha foliacuteolos Cultural Recreativo brinquedos 10

115

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Folha Cultural Ritual festas 15

Folha

Cultural

Ritual confecccedilatildeo de

maacutescaras

10

Folha Cultural Adornos pessoais 12

Roi Macauacuteba

Acrocomia aculeata

(Jacq) Lodd ex

Mart

Fruto

P

Alimento

humano Alimentaccedilatildeo 8

1

0333

Semente Cultural Adornos pessoais enfeites 6 -

Ngratilde djware

Guriri

Allagoptera

leucocalyx (Drude)

Kuntze

Fruto

PA

Alimentaccedilatildeo

humana


10

1

0238


116

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Ngwra Buriti Mauritia flexuosa L Fruto P Alimentaccedilatildeo

humana

18 0286 0833

Folha

Cultural


maacutescaras

11 0714

Folha peciacuteolo Cultural Ritual 5

Folha foliacuteolos

Cultural

Ritual Tranccedilados de outros

artefatos

10

Folha Peciacuteolo

Utensiacutelios e

ferramentas


Cestos

30

Ngrowareoaatildek-y Paxiuba

Socratea exorrhiza

(Mart) H Wendl

Semente


3

05

0119

Estipe Cultural Confecccedilatildeo de Arcos 3 05

117

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Wore Catoleacute

Syagrus comosa

(Mart) Mart

Frutos P

Alimento

humano


10

1 0238

Kamere Bacaba

Oenocarpus distichus

Mart

Fruto

P

Alimento

humano Bebida

16

0422

0714


ferramentas Cestos

14 0578

Folha

Cultural


maacutescaras

8

ASTERACEAE

-

Vernonia herbacea

(Vell) Rusby

Folha H


2 1 0048

BIGNONIACEAE

118

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Akrocirc Kangocircti -

Arrabidaea

brachypoda (DC)

Bur

Planta inteira L


1 1 0024

Ipecirc

Tabebuia caraiba

(Mart) Bureau

Casca A


1 1 0024

Ipecirc amarelo

Tabebuia serratifolia

(Vahl) GNicholson

Caule

A Cultural Ritual

6

1

0143

BIXACEAE

Py Urucum Bixa orellana L

Sementes

A

Cultural

Corante para tecidos e

pintura corporal

20

1

0476

119

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

CAMPANULACEAE

- - Lobelia sp Folha H Medicinal Natildeo especificado 2 1 0048

CANNACEAE

Prati-y Canna sp

Sementes

H Cultural Adornos corporais

3

1

0071

CARYOCARACEAE

Prin Pequi

Caryocar brasiliense

ASt-Hil

Fruto

A

Alimento


32

0812

0762

Folha Cultural Ritual 4 0125

Folha Medicinal Sistema digestivo 4

Sementes

Cultural

Recreativo confecccedilatildeo de

tornozeleiras para danccedilas

20

120

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Caule Utensiacutelios e

ferramentas


confecccedilatildeo de kawa (pilatildeo)

4 0065

CHRYSOBALANACEAE

- - Couepia sp Folha A Medicinal Natildeo especificado 2 1 0048

CONNARACEAE

- -

Connarus suberosus

Planch

Folha Ar


2 1 0048

- -

Rourea induta Planch

var Induta

Folha Ar


2 1 0048

CONVOLVULACAE

Evolvulus glomeratus

Nees amp Mart

Folha H


1 1 0024

121

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pityktkotuk -

Ipomoea setifera

Poir

Folha H


1 1 0024

CYPERACEAE

Botilde kratilde

Bulbostylis paradoxa

(Spreng)Lindm

Planta inteira H

Medicinal Doenccedila cultural

3 1 0071

Angocirc Tiririca

Scleria mitis PJ

Bergius

Sementes H


5 1 0119

DILLENIACEAE

Krare-ocirc Lixeira

Curatella americana

L

Folha A Utensiacutelios e

ferramentas Ferramenta de trabalho lixa

8 1 0190

DIOSCOREACEAE

122

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Dioscorea

amaranthoides C

Presl

Folha H

Medicinal Sistema cardiovascular

3 1 0071

EUPHORBIACEAE

Euphorbia sp Folha H Medicinal Doenccedila cultural 1 1 0024

FABACEAE

Pyxanh-y kamrek Tento Carolina

Adenanthera

pavoniva L

Semente A


5 1 0119

Akrocircdjwocirc Centrocema sp Semente L Cultural Adornos corporais 2 1 0048

Clitoria guianensis

(Aubl) Benth Var

Guianensis

Folha

H

Medicinal

Natildeo especificado

4

1

0095

Pinkangocirc Copaiacuteba Copaifera sp Seiva A Medicinal Cicatrizante 20 1 0476

123

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

- -

Dioclea virgata

(Rich) Amshoff

Folha L


2 1 0048

Kukojre Jagravemagravek

Orelha de

macaco Enterolobium sp

Semente A


2 1 00448

Remedio de jacu

Eriosema rufum

(HBK) Mey

Folha H

Medicinal

Natildeo especificado 2 1 0048

- -

Eriosema

simplicifoliun

(Kunth) G Don

Folha

H

Medicinal


2

1

0048

Mocircj Jatobagrave

Hymenaea courbaril

L

Fruto A Alimento

humano

Alimentaccedilatildeo 7 1 0167

Semente Cultural Adornos corporais 7

- - Inga sp Folha Ar Medicinal Natildeo especificado 5 05 0119

124

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Fruto Alimento


5 05

- -

Camptosema

ellipticum (Desv)

Burtkar

Folha Ar

Medicinal


Bari are

Tachigali vulgaris L

G Silva amp HC Lima

Folha Ar

Medicinal


Vigna liniearis

(Kunth) Mareacutechal et

al

Folha Ar

Medicinal


Platimenia reticulata

Benth

Folha

Ar

Medicinal


1

1

0024

Ormosia sp1 Semente L Cultural Adornos pessoais 5 1 0119

125

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pyxanh-y tykamrek Ormosia sp 2

Semente

A Cultural Adornos corporais

8

1

0190

Pyxanh-y kryre

Olho de cabra

mirim

Rhynchosia

phaseoloides (Sandw)

DC

Semente

L Cultural Adornos corporais

8

1

0190

HELICONIACEAE

Tyrytiacutepekre Heliconia Heloconia sp

Folha H Alimento

humano Para cozinhar alimentos

12 1 0286

LAMIACEAE

Pidjwocirc - Amasonia sp Folha H Medicinal Natildeo especificado 1 1 0024

126

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

-

Hyptis alutacea Pohl

Ex Benth

Folha H

Medicinal


-

Hyptis crenata

Epling

Folha H

Medicinal


LECYTHIDACEAE

Piy

Castanha do

Brasil

Bertholletia excelsa

Bonpl

Semente A Alimento

humano

Alimento 21 1 05

LITHRACEAE

- -

Lafoensia densiflora

Pohl

Folha H


2 1 0048

Pinghi ngratildegratilde -

Physocalymma

scaberrimum Pohl

Folha

H

Medicinal


3

1

0071

127

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MALPHIGIACEAE

Kapratilden Kane -

Mascagnia

benthamiana

(Griseb) WR

Anderson

Folha H


1 1 0024

Mry Kane -

Byrsonima

verbascifolia (L) DC

Folha H


2 1 0048

Murici

Byrsonima crassifolia

(L) Kunth

Fruto A Alimento


10 1 0238

- Stygmaphyllom sp Folha Ar Medicinal Doenccedila cultural 1 1 0024

MALVACEAE

- -

Guazumaulmifolia

Lam

Folha A


2 1 0048

MENISPERMACEAE

Abuta grandifolia

Mart Sandwith

Folha

H Medicinal Doenccedila cultural

2

1

0048

128

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MONIMIACEAE

Ron mire agrave -

Siparuna guianensis

Aubl

Folha Ar


2 1 0048

MORACEAE

- -

Dorstenia cayapia

Vell

Folha H


1 1 0024

MYRTACEAE

Tepnoti Araccedila Campomanesia sp

Fruto A Alimento


4 1 0095

OPILICIACEAE

-

Agonandra

brasiliensis Miers ex

Benth

Casca A

Cultural

Carvatildeo corante na pintura

corporal

16 1 0380

129

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

PIPERACEAE

Atworo kon -

Piper callosum Ruiz

amp Pavoacuten

Folha H


1 1 0024

POLYGALACEAE

- -

Polygala spectabilis

DC

Folha Ar


1 1 0024

PTERIDACEAE

Adiantum

serratodentatum

Humb amp Bonpl ex

Willd

Folha H


1 1 0024

RUBIACEAE

130

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Mrocircti Jenipapo Genipa americana L Fruto A Cultural Ritualcorante 36 1 0857

Fruto Alimento


Mekaron -

Palicourea rigida

Kunth

Flores Ar

Cultural Ritual

1 1 0024

Pidjwocirc -

Rudgea cornifolia

(Kunth) Standl

Folhas Ar


6 1 0143

Akrocirc Cipoacute timboacute

Serjania paucidentata

DC

Caule L

Toacutexico Veneno para pesca

18 1 0429

SAPINDACEAE

Pidjwocirc-y tykre Olho de veado

Sapindus saponaria

L

Sementes A


14 1 0333

SIMAROUBACEAE

131

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pituti -

Simaba multiflora A

Juss

Folha H


3 1 0071

TURNERACEAE

Turnera ulmifolia L Folha H Medicinal Natildeo especificado 2 1 0048

Pio kudjware Turnera sp Folha H Medicinal Natildeo especificado 6 1 0143

ESPEacuteCIES NAtildeO

IDENTIFICADAS

Akro nhire-y Sp1 Sementes L Cultural Adornos corporais 2 1 0048

Akrocirc kangoti Sp 2 Sementes A Cultural Adornos corporais 2 1 0048

Ok-y Sp 3 Sementes A Cultural Adornos corporais 2 1 0048

Akrocirc djwocirc y Sp 4 Sementes A Cultural Adornos corporais 2 1 0048

Pidjwocirc-y Sp 5 Sementes A Cultural Adornos corporais 1 1 0024

Pingratilde Sp 6 Caule e galhos A Combustiacutevel Lenha 6 0143


132

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pin ngratilde sp8 Caule e galhos A Combustiacutevel Lenha 6 0143


Prine Sp 10 Fruto A Alimento

humano

Alimentaccedilatildeo 1 0024

Banhoro Sp 11 Casca A Utensiacutelios e ferramentas Cordas 4 1 0095

Banhoro Sp 12 Casca A Utensiacutelios e ferramentas Cordas para

amarras

4 1 0095


amarras

4 1 0095

133

Por outro lado eacute interessante destacar que o babaccedilu representado por duas

etnoespeacutecies em Las Casas rotildentire (A speciosa) e rotildene (A eichleri) GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et

al 2012) e o pequi satildeo espeacutecies das quais satildeo aproveitadas praticamente todas suas partes

Excetuando a raiz destas espeacutecies satildeo aproveitadas as sementes (amecircndoas) para produccedilatildeo de

oacuteleo no caso do babaccedilu e chocalhos no caso do pequi as folhas do babaccedilu satildeo aproveitadas

para a construccedilatildeo de tetos e paredes (A speciosa) cestaria de expediente (A speciosa e A

eichleri) confecccedilatildeo de maacutescaras esteiras e abanadores (A speciosa) no caso do pequi as folhas

tecircm uso medicinal jaacute os frutos do babaccedilu quebrados depois da extraccedilatildeo das sementes algumas

vezes satildeo utilizados para a produccedilatildeo de carvatildeo e os frutos do pequi satildeo consumidos in natura

cozidos em aacutegua ou asados

523 A importacircncia das plantas medicinais para os Mẽbecircngocirckre de Las Casas

Pode-se notar que neste levantamento haacute um grande nuacutemero de espeacutecies de uso

medicinal eacute importante destacar que do total das espeacutecies levantadas nesta categoria 24

espeacutecies foram citadas soacute por uma pessoa neste caso o pageacute (wayangaacute) da aldeia Parityk

Kayapoacute 13 por duas pessoas o pageacute e Panhkroriti Kayapoacute quatro espeacutecies fora citadas por trecircs

pessoas e apenas uma espeacutecie foi mencionada por 20 pessoas eacute o caso do pinkangocirc (Copaifera

sp) devido a que haacute um peacute de copaiacuteba onde os moradores da aldeia coletam o oacuteleo

Eacute importante destacar aqui que a medicina tradicional Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute ainda eacute

bastante valorizada entre este povo mesmo com a presenccedila do posto de sauacutede na aldeia O

conhecimento de plantas de uso medicinal em Las Casas se concentra principalmente pelo pageacute

mas tambeacutem pelos chamados raizeiros Pois segundo explicaram os interlocutores haacute doenccedilas

Mẽbecircngocirckre (Mẽbecircngocirckre nhotilde kanecirc) que soacute o pageacute pode curar e doenccedilas de kuben (kuben nhotilde

kanecirc) que satildeo tratadas no posto de sauacutede Esta diferenciaccedilatildeo tambeacutem eacute destacada por

Elisabetsky (1986) entre os Kayapoacute da aldeia Gorotire na TIK Mesmo assim a medicina

tradicional Kayapoacute demonstra ser bastante complexa segundo mencionaram os Mẽbecircngocirckre

de Las Casas o pageacute conhece o uso de todas as plantas que podem curar as doenccedilas

Mẽbecircngocirckre mesmo se relacionadas a espiacuteritos ou Mẽkarotilde

Aleacutem do pageacute tem os raizeiros que conhecem as propriedades das plantas que podem

curar as doenccedilas Mẽbecircngocirckre e podem passar o conhecimento para outras pessoas e desta

maneira pode se tornar pageacute espiritual assim se o raizeiro tem o dom para ser pageacute haacute a

possibilidade de adquirir esses conhecimentos

134

se nasceu sem conhecimento o espiacuterito experiente pode entrar nele e passar o

conhecimento agrave noite(T Kayapoacute 2013)

Existem tambeacutem curandeiros que conhecem soacute as ervas para tratar doenccedilas natildeo

relacionadas a espiacuteritos As mulheres tambeacutem satildeo detentoras de conhecimento de plantas

medicinais principalmente as plantas utilizadas para prevenir a gravidez dar banhos nos receacutem-

nascidos para garantir a vida assim como tambeacutem para curar gripes febre e diarreia plantas

que em alguns casos satildeo plantadas nos quintais

Segundo Posey e Elisabetsky (1991) para entender a medicina tradicional Kayapoacute eacute

necessaacuterio entender o significado das doenccedilas as quais estatildeo relacionadas ao desequiliacutebrio de

energia das pessoas inversamente agrave sauacutede que neste caso se caracteriza pelo equiliacuteb r io

harmonioso de todas as energias coacutesmicas e os Mẽbecircngocirckre (POSEY 1982 apud POSEY

1991)

Desta maneira pode haver doenccedilas natildeo relacionadas a espiacuteritos cuja causa principal eacute

a ingestatildeo de animais de caccedila e que podem estar relacionadas ao armazenamento ou pelo

contato com fezes pecirclos ou ossos de animais tambeacutem pela ingestatildeo excessiva de comida ou

fumo jaacute as doenccedilas relacionadas a espiacuteritos estatildeo relacionadas aos animais que soacute podem causar

doenccedilas atraveacutes de seus espiacuteritos ou seja haacute doenccedilas caracterizadas pela semelhanccedila entre um

sintoma marcante da moleacutestia e uma caracteriacutestica do animal (POSEY ELISABETSKY 1991)

Segundo estes mesmos autores os Kayapoacute tambeacutem reconhecem doenccedilas de cachorro pois eacute o

principal animal domesticado jaacute que eacute criado para vigiar e caccedilar Portanto tecircm um sistema

medicinal elaborado para seus cachorros principalmente no que se refere agraves melhoras do olfato

no momento de caccedilar Por outro lado reconhecem tambeacutem doenccedilas de plantas principalmente

quando satildeo atacadas por pragas ou quando estas tecircm baixa produtividade

524 O conhecimento das plantas que utilizam

Tomando em conta as diferentes categorias de uso levantadas em Las Casas eacute

necessaacuterio destacar que aleacutem do conhecimento das plantas para os variados usos aqui

mencionados os Kayapoacute classificam tanto as partes da planta que utilizam assim como tambeacutem

os estaacutegios reprodutivos das palmeiras Segundo Berlim (1992) os povos tradicionais possuem

um sistema etnobioloacutegico de classificaccedilatildeo para certos grupos de plantas e animais localizados

em uma determinada aacuterea e este sistema estaacute associado principalmente agrave funcionalidade de

ditos recursos associada agrave cultura e subsistecircncia de um determinado povo

135

Desta maneira cabe destacar o que Toledo e Barrera- Bassols (2015) afirmam pois

segundo eles nos saberes locais a realidade se constroacutei com base nas experiecircncias e necessidades

locais Assim os conhecimentos locais formam um complexo entendimento sobre as estruturas

naturais e suas dinacircmicas ecoloacutegicas sempre incertas e em constante transformaccedilatildeo (TOLEDO


Em Las Casas quando se referem agraves caracteriacutesticas da planta tanto homens quanto

mulheres primeiro citam o nome da planta e depois a parte utilizada principalmente para

palmeiras como rotildentirerotildene (babaccedilu) ngwra (buriti) kamere (bacaba) embora citem outras

espeacutecies uacuteteis como o prin (pequi) e o pyacute (urucum)

Partes da planta utilizadas

As sementes satildeo denominadas na liacutengua Mẽbecircngocirckre y como mencionado acima para

citar as sementes de uma planta primeiro eacute citado o nome da planta e depois a terminaccedilatildeo y

Por exemplo rotildentire-y rotildene- y ngrwa-y kamere-y pyacute-y prin-y Para as sementes usadas no

artesanato pertencentes agrave famiacutelia Fabaceae e pertencentes aos gecircneros Acosmium

Adenanthera Ormosia e Rhynchosia utilizam o prefixo pyxanh e depois sufixo -y seguido de

alguma caracteriacutestica da cor ou do tamanho da semente Por exemplo entre as sementes citadas

para confecccedilatildeo de artesanato o tento negro (Ormosia flava (Ducke) Rudd) eacute denominado

Pyxanh-y-tykre tykre neste caso significa negro A semente olho de cabra mirim (Rhynchosia

phaseoloides (Sw) DC) eacute denominado pyxanh-y-kryre onde kryre significa pequeno

As folhas ou palhas satildeo denotadas pelo sufixo ocirc que tambeacutem vai depois do nome da

planta utilizada ao fazerem menccedilatildeo ao uso de folhas natildeo fazem diferenccedilas entre tipos de folhas

diferentes no caso sempre vatildeo se diferenciar atraveacutes do nome da planta rotildentire-ocirc rotildene-ocirc

kamere-ocirc prin-ocirc Fazem distinccedilatildeo entre o caule das espeacutecies arboacutereas de dicotiledocircneas e o

estipe22 das palmeiras (monocotiledocircneas) Para as palmeiras utilizam o radical krai que neste

caso seria o estipe da palmeira por exemplo rotildentire-krai ngwra-krai kamere-krai Jaacute para o

caule das espeacutecies arboacutereas de dicotiledocircneas eacute utilizado o prefixo pin que faz menccedilatildeo agrave madeira

utilizada e relacionada agrave caracteriacutestica ou cor que esta apresenta por exemplo pin ngratildegratilde uma

das espeacutecies cuja madeira utilizada na confecccedilatildeo de cachimbos esta madeira possui uma cor

amarelada ngratildegratilde na liacutengua mẽbecircngocirckre significa amarelo Em algumas ocasiotildees falando das

espeacutecies que conheciam os homens mencionaram o pau Brasil cujo nome em mẽbecircngocirckre eacute

22 Na morfologia vegetal convencional o caule faz parte do corpo da planta mas existem diferentes tipos de caule

dependendo do grupo de plantas no caso das angiospermas e gimnospermas o tipo de caule eacute o tronco e no caso

das monocotiledocircneas especificamente das Arecaceae o tipo de caule eacute o estipe

136

pin kamrek neste caso kamrek se refere agrave cor vermelha ou roxa Por outro lado a copaiacuteba

(Copaifera sp) eacute denominada pin kangocirc aqui o nome eacute referente ao recurso que oferece ou

seja o oacuteleo kangocirc pode significar liacutequido suco ou oacuteleo

As enviras fibras extraiacutedas da casca das aacutervores que satildeo utilizadas principalmente como

amarras satildeo denominadas banhotildero Neste caso natildeo mencionam o nome da planta para se referir

agrave embira e sim agraves caracteriacutesticas da planta como por exemplo o cheiro ou tamanho da planta

ou da embira que eacute extraiacuteda da planta entre as que citaram banhotildero kryre (pequeno) e banhotildero

mejti (bonito bom) neste caso faziam referecircncia ao cheiro Finalmente para se referir aos cipoacutes

utilizam o prefixo Akrocirc que denota todas as plantas cuja forma de vida eacute lianescente

Para se referir ao fruto tambeacutem utilizam um sufixo neste caso djocirc desta maneira

nomeiam a planta seguido do sufixo por exemplo ngwra djocirc kamere djocirc tambeacutem fazem

referecircncia agrave casca do fruto se esta for dura utilizam sufixo kratilde rotilden kratilde se refere ao fruto inteiro

do babaccedilu e pequi prin kratilde que para eles satildeo considerados frutos de casca dura Por outro lado

denominam rotilden kocirc ao exocarpo e rotilden nhi ao mesocarpo farinaacuteceo e no caso do pequi se referem

ao mesocarpo carnoso agrave polpa do fruto prin nhi

Natildeo foram reportados outros usos para as raiacutezes aleacutem dos citados na alimentaccedilatildeo no

caso de tubeacuterculos como batata inhame mandioca e macaxeira Portanto natildeo foi levantado o

nome para esta parte da planta

Vale destacar aqui que devido a natildeo falar a liacutengua Mẽbecircngocirckre e mesmo que os

homens falem portuguecircs em muitos casos foi difiacutecil ter acesso a informaccedilotildees sobre o uso das

plantas por falta de vocabulaacuterio especiacutefico de ambas as partes ou talvez em muitos casos por

natildeo formular as perguntas de uma maneira que eles entendessem

Por exemplo perguntei para quatro homens diferentes se existia um nome para as

palmeiras grupo de plantas muito importante para os Mẽbecircngocirckre entendendo que me referia

agraves palmeiras responderam todos da mesma maneira sim buriti eacute ngwra babaccedilu eacute rotilden bacaba

kamere etc Entendi que natildeo haacute na liacutengua mẽbecircngocirckre uma palavra especiacutefica para as

palmeiras mas que ao falar o nome de cada palmeira eles iriam saber que se trata de uma

palmeira

Fuerst (1970) no seu trabalho com os Xikrin e os Kayapoacute onde cita a importacircncia e os

usos para doze palmeiras diferentes destaca as partes das palmeiras utilizadas citadas aqui mas

tambeacutem natildeo cita um nome para este grupo de plantas

Neste sentido Leacutevi-Strauss (1984) destaca que mesmo que em algumas liacutenguas no caso

dos ditos ldquoprimitivosrdquo faltem termos para expressar conceitos tais como o de aacutervore ou animal

137

haacute todas as palavras necessaacuterias para fazer um inventaacuterio detalhado das espeacutecies e variedades

Pois em todas as liacutenguas o discurso e a sintaxe oferecem os recursos indispensaacuteveis para suprir

as lacunas do vocabulaacuterio Por outro lado o mesmo autor destaca que natildeo poderiacuteamos tirar a

conclusatildeo de que haacute uma ausecircncia geral no vocabulaacuterio pois nomes como ldquocarvalho rdquo

ldquobeacutetulardquo e ldquofaiardquo entre outros natildeo satildeo menos abstratos do que a palavra aacutervore Assim se

pensarmos que que entre duas liacutenguas uma das quais tivesse o termo aacutervore e outra que

ignorasse mas tivesse vaacuterias dezenas ou centenas de palavras para designar espeacutecies e

variedade seria a segunda liacutengua e natildeo a primeira a mais rica em conceitos (LEacuteVI-STRAUSS

1984)

Eacute interessante destacar que a morfologia foi levantada com homens e mulheres que

utilizam e coletam as plantas Mesmo assim os homens fizeram mais citaccedilotildees para as folha s

principalmente de palmeiras mateacuterias-primas coletadas pelos homens e as mulheres aos frutos

cuja coleta eacute uma atividade do domiacutenio feminino

Mesmo assim Leacutevi-Strauss (1984) destaca que a classificaccedilatildeo de plantas e animais natildeo

estaacute soacute ligada aos que satildeo uacuteteis mas tambeacutem as que lhes satildeo indiretamente uacuteteis devido agraves

relaccedilotildees significativas que as ligam as plantas e animais que utilizam

53 As palmeiras provedoras de recursos em Las Casas

A famiacutelia das Arecaceae na Ameacuterica do Sul estaacute representada por 457 espeacutecies

distribuiacutedas em 50 gecircneros das quais 178 espeacutecies e 35 gecircneros ocorrem na bacia Amazocircnica

(Pintaud et al 2008) Segundo Isaza et al (2013) ao menos 111 espeacutecies de palmeiras satildeo

utilizadas na obtenccedilatildeo de fibras na Ameacuterica do Sul e garantem a subsistecircncia das populaccedilotildees

que as exploram principalmente para a construccedilatildeo alimentaccedilatildeo e produccedilatildeo de bolsas chapeacuteus

cordas etc

Desta maneira as Arecaceae representam entre as famiacutelias de plantas das regiotildees

tropicais um papel fundamental no que se refere agrave subsistecircncia de populaccedilotildees nativas que ali

habitam Em 1791 Gumilla (apud LEacuteVI-STRAUSS 1997) jaacute mencionava a importacircncia do

Moriche (Mauritia flexuosa Lf) na economia do povo Warrau23 Desta palmeira obtinham

madeira para construir suas palafitas fibras para as vestimentas ornamentos teciam redes

frutos para o preparo de bebidas e aproveitavam as folhas para fabricar cestos

23 Warrau Warao ou Guarao povo indiacutegena que habita na Venezuela Guiana e Suriname

138

Entre os povos indiacutegenas e comunidades tradicionais da Amazocircnia brasileira e do

nordeste do Brasil tem sido reportado o uso e importacircncia de palmeiras na economia local e na

subsistecircncia destas populaccedilotildees Pode-se citar aqui a importacircncia do babaccedilu entre os Awa-Guajaacute

Apinajeacute e os Guajaraacute no Maranhatildeo (FORLINE 2000 BALICK 1988) de pelo menos doze

palmeiras diferentes entre os Krahocirc no Tocantins (NASCIMENTO 2010) e o babaccedilu entre as

quebradeiras de coco babaccedilu no Maranhatildeo (SHIRAISHI 1999)

Entre os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute de Las Casas no decorrer da pesquisa foram levantadas

onze espeacutecies de palmeiras uacuteteis das quais apenas soacute nove ocorrem em Las Casas24 Trecircs destas

espeacutecies se destacam pela sua importacircncia cultural e econocircmica o babaccedilu buriti e a bacaba

Esta importacircncia tambeacutem se reflete na quantidade de usos citados em diferentes

categorias de uso assim como tambeacutem nas numerosas partes da planta utilizada (ver tabela 2)

Encontrou-se que entre as espeacutecies de palmeiras levantadas a parte mais citada foi o fruto que

foi citado em todas as espeacutecies e as folhas e que foram citadas em cinco das espeacutecies levantadas

(ver tabela 2) As partes da planta mais utilizadas entre as palmeiras foram o fruto e as folhas

apresentando o murumuru (A murumuru) ngradjagravere (A leucocalyx) o catoleacute (S comosa) e o

tucumatilde (A aculeata) os maiores valores de PPV para o fruto seguido das folhas onde o buriti

(M flexuosa) tucumatilde (A aculeatum) e babaccedilu (A speciosa) que obtiveram os maiores valores

do PPV em relaccedilatildeo agrave folha Para o uso do estipe soacute foram levantados usos para o tucumatilde (A

aculeatum) a paxiuacuteba (S exorrhiza) e o babaccedilu (A speciosa) (ver tabela 2)middot

Cabe destacar que as mulheres de Las Casas fazem menccedilatildeo aos diferentes estaacutegios de

vida das palmeiras Estes foram mencionados em diversas saiacutedas com as mulheres para coletar

cocos de babaccedilu ou nas saiacutedas para roccedila onde se encontram as espeacutecies de palmeira que

utilizam cada estaacutegio faz referecircncia aos estaacutegios de vida ou categorias de idade das mulheres

assim a primeira categoria ou estagio de vida estaacute definida pelo termo prin ou prire se refere na

liacutengua Mẽbecircngocirckre agraves crianccedilas no caso das crianccedilas Mẽbecircngocirckre seria meprire aqui mẽ se

refere agrave pessoa e segundo menciona Lea (2012) refere-se agrave coletividade em cada categoria de

idade ou por exemplo quando mencionam um grupo de mulheres que saiacuteram para a roccedila as

nomeiam assim Ynhore mẽ Bekwynhdjereti mẽ Bekwynhkramrocirc mẽ etc no caso de plantas

utilizam o nome da planta e a categoria de idade ou estado reprodutivo Por exemplo para

identificar um indiviacuteduo no caso do babaccedilu rotilden prire (aproximadamente ateacute dois metros de

24 Socratea exorrhiza Astrocaryum aculeatum e Astrocaryum murumuru natildeo ocorrem em Las Casas mas suas

fibras e sementes satildeo obtidas atraveacutes de trocas porem satildeo mencionadas como mateacuteria-prima importante na cultura

material

139

altura) ou rotilden prin (indiviacuteduo acaule acima de dois metros) neste caso um babaccedilual onde

predominam os indiviacuteduos acaules eacute denominado rotilden printi kocirc

O segundo estaacutegio Kurerere em palmeiras se refere agraves meninas em idade reprodutiva

que ainda natildeo tiveram filhos mẽkurerere deram o exemplo com ngragravedjare kurerere segundo

Ynhore que acompanhou sempre as saiacutedas explicou em portuguecircs eacute quando parece mocinha

se referindo a um indiviacuteduo adulto desta palmeira que natildeo tinha formado flores ainda O terceiro

estaacutegio faz referecircncia agrave gravidez tujarocirc que quer dizer mulher graacutevida neste caso as palmeiras

que estatildeo em flor Quando haacute formaccedilatildeo de frutos denominam Kratilde karotilde onde kratilde se refere a

filhofilha e karotilde ao espiacuterito alma ou miniatura de alguma pessoa ou objeto tambeacutem pode ser

interpretada como parecido com desta vez Ynhore explicou parece nenecirc

Um penuacuteltimo estaacutegio se refere a quando haacute formaccedilatildeo de cachos e frutos as mulheres

Kayapoacute se referem agrave presenccedila e ausecircncia de filhos por exemplo se uma palmeira tem cachos

com frutos de referem agrave kratilde ou seja tem filhos se tiver restos de cachos sem frutos na palmeira

se referem kratilde ket na liacutengua mẽbecircngocirckre ket se refere agrave negaccedilatildeo neste caso que natildeo haacute frutos

Finalmente fazem referecircncia aos indiviacuteduos velhos ou com folhas secas os quais chamam

kubenguecirct que na liacutengua Mẽbecircngocirckre se refere agrave categoria de idade dos mais velhos (homens

e mulheres)

Por ser uma das espeacutecies que se poderia considerar multiuso entre os Mẽbecircngocirckre e

neste caso em Las Casas onde a palmeira eacute abundante darei destaque num primeiro momento

aos usos do babaccedilu entre os moradores de Las Casas a maioria destes usos foram levantados

no comeccedilo da pesquisa em 2010 e foram jaacute mencionados por Gonzaacutelez-Peacuterez et al (2012)

mesmo assim nas diferentes saiacutedas de campo ateacute marccedilo de 2015 foram levantados novos usos

para o babaccedilu aqui complementados aos jaacute levantados

Eacute necessaacuterio destacar que o babaccedilu eacute representado em Las Casas por duas etnoespeacutecies

Rotildentire que segundo os Kayapoacute eacute o babaccedilu grande que tem no mato que corresponde a A

speciosa palmeira arborescente que pode atingir os 30 metros de altura e Rotildene ou babaccedilu

pequeno do campo para A eichleri palmeira acaule que pode atingir ateacute dois metros de altura

(GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2012) foram reportados pelo menos 15 usos para A speciosa e

seis usos para A eichleri Vale destacar que A eichleri eacute mencionada principalmente para a

produccedilatildeo do oacuteleo utilizado como cosmeacutetico para aplicar no cabelo e para o preparo da tinta

vermelha preparada com urucum (B orellana)

140

Gonzaacutelez-Peacuterez et al (2012) destacam que as amecircndoas das duas etnoespeacutecies satildeo

utilizadas em conjunto na produccedilatildeo do oacuteleo denominado na liacutengua deles rotilden kangocirc25 pois

mesmo que as amecircndoas de A speciosa sejam de maior tamanho ao lado das amecircndoas de A

eichleri as mulheres gostam de misturar ambas as amecircndoas devido a que o oacuteleo produzido

com A eichleri fica mais cheiroso

Rotildene (A eichleri) aleacutem de ser um recurso importante para a produccedilatildeo de oacuteleo destacado

como um uso cultural suas amecircndoas satildeo consumidas in natura eacute comum o uso das suas

folhas que satildeo aproveitadas em algumas ocasiotildees na confecccedilatildeo de cestos provisoacuterios ou

cestaria de expediente (figura 31)

Figura 31 Confecccedilatildeo de um cesto de expediente com folhas de rotildene (A eichleri)

Fonte Fotografias Sol Gonzaacutelez (2015)

Silva (2011) definiu entre os Xikrin as tecnologias utilizadas na cestaria menciona a

tecnologia de expediente onde eacute empregada a produccedilatildeo de itens materiais cuja manufatura e

uso dependem da necessidade momentacircnea implicam pouco esforccedilo e tempo de trabalho

inclusive na obtenccedilatildeo de mateacuterias-primas eacute o caso das cestaria confeccionada com as folhas

de Aeichleri quando fazem alguma saiacuteda para a roccedila para caccedilar ou pescar e precisam carregar

suas coletas caccedila eou peixe e estatildeo desprovistos de cestos ou de espaccedilo nestes As folhas

tambeacutem satildeo utilizadas como esteiras momentacircneas (sem tranccedilado) no momento de parar para

descansar ou comer quando estatildeo andando no Kapocirct Rotildentire (A speciosa) ao contraacuterio de Rotildene

se destaca pela multiplicidade de usos entre os Kayapoacute oferecendo diversos recursos que satildeo

aproveitados tanto na vida cotidiana quando nas festas e rituais

Comeccedilando pelo fruto do qual se aproveitam principalmente as sementes como

mencionado anteriormente estas satildeo utilizadas na produccedilatildeo de oacuteleo e tambeacutem na alimentaccedilatildeo

em Las Casas satildeo consumidas in natura principalmente no momento da quebra dos cocos seja

25 Kangocirc em mẽbecircngocirckre se refere a suco pidjwocirc kangocirc mas tambeacutem a oacuteleo como eacute o caso do pin kangocirc (oacuteleo da

madeira) ou seja de copaiacuteba e tambeacutem o oacuteleo de babaccedilu rotilden kangocirc

141

no local de coleta ou em casa esta tambeacutem eacute uma maneira de provar a qualidade das amecircndoas

coletadas para a produccedilatildeo de oacuteleo que tecircm uso principalmente cosmeacutetico e ritual Para o seu

uso no cabelo e eacute aplicado tambeacutem na pele durante festas ou misturado com urucum como

complemento agrave tintura preta usada na pintura corporal Em Las Casas soacute foi citado o uso do

oacuteleo para cozinhar apenas por uma famiacutelia o restante dos interlocutores natildeo o utilizam para

cozinhar segundo mencionam Gonzaacutelez-Peacuterez et al (2012) para os Kayapoacute de Las Casas o

sabor do babaccedilu eacute muito forte podendo causar dor de barriga ainda mencionam que a fritura eacute

um modo de preparo dos alimentos adquirido recentemente por este povo

Fuerst (1970) que trabalhou com os Kayapoacute do Xingu e os Xikrin do baixo

Itacaiuacutenas26menciona tambeacutem o consumo das amecircndoas assadas na brasa trituradas e

preparadas em forma de torta misturadas com uma farinha de milho e cozidas em folhas

apropriadas Outros povos indiacutegenas do nordeste brasileiro como os Apinajeacute e os Guajajara

utilizam oacuteleo produzido para a cocccedilatildeo de alimentos (BALICK 1988) os Guajaacute tambeacutem

utilizam as amecircndoas para o preparo do leite de babaccedilu trituram as amecircndoas e misturam com

aacutegua (FORLINE 2000) O uso tambeacutem eacute comum entre comunidades de ribeirinhos e

seringueiros no sudoeste da Amazocircnia onde Campos e Eringhaus (2003) citam o consumo dos

frutos crus cozidos ou processados as amecircndoas para produzir oacuteleo e o mesocarpo para

produzir farinha Outra parte da palmeira consumida em Las Casas e cujo uso foi mencionado

para alimentaccedilatildeo eacute o estipe de onde extraem o palmito que eacute consumido cru e segundo

mencionaram as mulheres a maneira tradicional de comer o palmito eacute acompanhado de

castanha do Brasil Este consumo do palmito no nordeste do Brasil eacute mencionado em

comunidades rurais na Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental (APA) de Araripe localizada nos estados

Cearaacute Pernambuco e Piauiacute (CAMPOS et al 2015) e por moradores do entorno do mosaico de

Unidades de Conservaccedilatildeo no lago de Tucuruiacute no Paraacute (RIBEIRO et al 2012) Na bacia do Rio

Cocal no Tocantins para os pequenos proprietaacuterios o babaccedilu possui grande importacircnc ia

econocircmica devido a que exploraccedilatildeo ocorre no periacuteodo da entre safra das principais culturas

agriacutecolas permitindo desta maneira ajudar no aumento da renda dos agricultores (SILVA et al

2009) No Mato Grosso numa comunidade quilombola Arruda et al (2014) mencionam aleacutem

do consumo das amecircndoas in natura seu uso para o preparo de doces assim como tambeacutem do

leite de coco Entre as quebradeiras de coco babaccedilu que habitam principalmente no Maranhatildeo

Piauiacute e Paraacute o babaccedilu se apresenta aleacutem de um recurso do qual aproveitam tanto as sementes

para a produccedilatildeo de oacuteleo e cosmeacuteticos quanto o mesocarpo para a produccedilatildeo de farinha babaccedilu

26 Localizados atualmente na Terra indiacutegena Xikrin do Cateteacute no sudeste do estado do Paraacute

142

eacute um recurso muito importante no que se refere agraves lutas das quebradeiras de coco babaccedilu na

construccedilatildeo da sua identidade para as lutas que lhes conferiram o direito da exploraccedilatildeo de dito

recurso

As folhas tecircm um destaque importante e satildeo bem aproveitadas em Las Casas foram

registrados treze usos diferentes o principal estaacute associado agrave construccedilatildeo das casas segundo os

interlocutores num primeiro momento a base da casa eacute estabelecida com troncos fazendo a

armaccedilatildeo do teto e paredes e depois o teto eacute armado com as folhas de babaccedilu inteiras e que satildeo

fixadas com enviras as paredes satildeo armadas com terra molhada e peciacuteolos de babaccedilu

finalmente as paredes tambeacutem satildeo cobertas com as folhas Segundo Gonzaacutelez-Peacuterez et al

(2012) satildeo utilizadas na construccedilatildeo de uma casa entre 200 a 500 folhas para cobrir paredes e

tetos dependendo das dimensotildees da mesma este trabalho eacute realizado pelos homens e costumam

fazer em equipe de pelo menos oito pessoas entre amigos vizinhos e parentes

Aleacutem da construccedilatildeo de casas com as folhas tambeacutem satildeo construiacutedas barracas para

acampar quando os homens saem para caccedilar durante a organizaccedilatildeo das festas O uso das folhas

na construccedilatildeo de casas entre os Kayapoacute e Xikrin tambeacutem foi citado por Fuerst (1970) o uso na

construccedilatildeo de casas entre outras etnias foi citado para os Krahocirc de Tocantins (NASCIMENTO

et al 2009) Apinajeacute e Guajajara (BALICK 1988) e os Guajaacute (FORLINE 2000) no Maranhatildeo

entre estes uacuteltimos tambeacutem eacute citado o uso na construccedilatildeo de acampamentos de caccedila e armadilhas

para caccedilar mamiacuteferos Eacute comum o uso tambeacutem em comunidades rurais na regiatildeo nordeste na

APA de Araripe (CAMPOS et al 2015) em Pernambuco no municiacutepio de Buiacuteque (RUFINO

et al 2008) entre as Quebradeiras de coco babaccedilu no Maranhatildeo (SHIRAISHI 1999) e em uma

comunidade quilombola no Mato Grosso (ARRUDA et al 2014) Com as folhas tambeacutem foi

registrado o uso na confecccedilatildeo de utensiacutelios domeacutesticos principalmente na confecccedilatildeo de esteiras

e abanadores (Figura 32)

As esteiras satildeo confeccionadas aproveitando a folha inteira a qual eacute cortada pela metade

e a raque eacute aproveitada como base para comeccedilar o tranccedilado os abanadores tambeacutem satildeo

confeccionados a partir da raque mas satildeo de menor tamanho nas saiacutedas para a roccedila pescar ou

para coletar cocos e fibras as folhas inteiras satildeo utilizadas como esteiras ou tapetes para

descansar ou no momento de comer

Cestos satildeo confeccionados tambeacutem com as folhas de babaccedilu principalmente cestos de

uso temporaacuterio e que satildeo confeccionados de acordo agrave necessidade do momento utilizando neste

caso tecnologia de expediente

143

Figura 32 Artefatos confeccionados com folhas de rotilden tire (A speciosa) a) Brinquedo b) abanador c) cesto de

expediente e d) detalhe de uma esteira

a) b)

c) d)


Da mesma maneira que os cestos confeccionados com as folhas de (A eichleri) satildeo

cestos de raacutepida elaboraccedilatildeo ou em alguns casos tranccedilados que envolvem partes do animal

caccedilado geralmente satildeo fabricados por falta de espaccedilo nos cestos de uso habitual Por exemplo

numa saiacuteda com as mulheres para coletar folhas de banana brava (Heliconia sp) para o preparo

do berarubu27 em uma festa organizaram o pacote de folhas coletadas cortaram uma folha de

babaccedilu e com os foliacuteolos fecharam o pacote de folhas para transportar de forma mais

confortaacutevel

Usos relacionados ao peciacuteolo foram observados principalmente em itens relacionados agrave

pesca foi observado o uso dos peciacuteolos e as raques para fabricar pequenas barragens nos riachos

quase secos na eacutepoca do veratildeo para desta maneira os peixes natildeo escaparem depois de bater

cipoacute timboacute28 Com as folhas novas e o peciacuteolo tambeacutem se registrou a confecccedilatildeo e brinquedos

como por exemplo arcos e flechas para as crianccedilas brincarem

Nas festas eacute comum que os homens se enfeitem com os foliacuteolos de babaccedilu ainda novos

com os quais fazem tranccedilados diversos para se enfeitar No momento das festas quando os

homens se reuacutenem no ngagrave a casa dos homens os homens aproveitam o momento e fazem

27 Espeacutecie de torta preparada com farinha de mandioca carne de caccedila peixe ou frango assada na folha de banana

brava no forno tradicional Kayapoacute ki preparado com pedras quentes Tambeacutem chamam berarubuacute ao preparo do

fruto de pequi assado na folha de banana brava (sem farinha) e cozido no ki 28 A pesca com timboacute e realizada na eacutepoca do veratildeo quando o niacutevel de aacutegua do rio e coacuterregos desce as famiacutelias

coletam cipoacute timboacute (espeacutecie natildeo identificada) e batem o cipoacute ateacute se desfazer em fibras a seiva liberada na aacutegua eacute

toxica para os peixes deixando eles tontos sendo desta maneira mais faacutecil pegaacute-los

144

tranccedilados representando animais assim como tambeacutem adornos corporais que utilizam no

momento das danccedilas

Em festas e rituais haacute danccedilas em que homens ou mulheres29 carregam folhas de babaccedilu

e dependendo da festa danccedilam com as folhas e no final da danccedila se reuacutenem no meio da aldeia

perto do ngagrave e sentam sobre as folhas estas geralmente satildeo deixadas no ngagrave e satildeo utilizadas

como esteiras para os homens dormirem neste local (ver figura 33 e 34) (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ

et al 2012)

Entre os usos rituais das folhas tambeacutem tem destaque a confecccedilatildeo de maacutescaras

principalmente a maacutescara do kukocircj (macaco prego) Estas maacutescaras satildeo confeccionadas em duas

partes a cabeccedila que eacute feita com a folha de babaccedilu e o corpo eacute realizado com folhas de bacaba

(O distichus) (ver figura 35)

Fuerst (1970) faz menccedilatildeo a estes usos entre os Xikrin e Kayapoacute do Xingu a confecccedilatildeo

de cestos esteiras e abanadores mesmo assim ele destaca a confecccedilatildeo destes objetos aleacutem do

babaccedilu com as fibras de buriti o que requer um trabalho mais elaborado destaca tambeacutem o uso

das folhas para dormir no ngagrave mesmo sem a ocorrecircncia de festas30 todas as noites as folhas

eram trocadas na hora de dormir

As talas obtidas do peciacuteolo satildeo utilizadas para a confecccedilatildeo de uma ferramenta

importante para as mulheres Kayapoacute que eacute o pincel ou estilete usado para a pintura corporal

este eacute feito a partir do rotilden-y a tala de babaccedilu e eacute usado nas pinturas que requerem mais detalhe

e delicadeza principalmente as pinturas no rosto como as pinturas na face estudadas

detalhadamente entre os Kayapoacute- Xikrin por Vidal (1999) tambeacutem pinturas realizadas com

muito detalhe no corpo inteiro para algumas festas

29 Memy be ocirck eacute a festa dos homens nesta festa os homens danccedilam Menire bi ocirck festa das mulheres satildeo as

mulheres que danccedilam 30 Segundo Vidal (1976) e Lea (2012) os adolescentes da categoria menotilderotildenyre antigamente dormiam no ngagrave ou

passavam boa parte do dia na casa dos guerreiros jaacute quando casavam deviam morar na casa da esposa Na

atualidade em Las Casas os homens dormem no ngagrave quando haacute festa dos homens ou na festa do Bemp

145

Figura 33 Homens danccedilando com folhas de babaccedilu na festa dos homens Memy bi ocirck


Figura 34 Menire bi ocirck Festa das Mulheres a) Coleta de folhas de babaccedilu para utilizar depois das danccedilas b)

a) Fonte Fotografia Sol Gonzaacutelez (2014)

b) Fonte Fotografia Sol Gonzaacutelez (2014)

146

Figura 35 Maacutescaras de Kukoj confeccionadas com folhas de babaccedilu e bacaba

Fontes Fotografias de Claacuteudia Loacutepez e Veuderllane Campos (2012)

No que se refere ao fruto deu-se destaque ao uso das cascas do fruto que eacute utilizado

como combustiacutevel este uso foi relatado pelo 645 dos interlocutores as cascas satildeo utilizadas

para ascender fogo principalmente para queimar as cascas de bari pro para o preparo do carvatildeo

utilizado na pintura corporal Balick (1988) tambeacutem cita o uso das cascas como carvatildeo entre os

iacutendios Apinajeacute e Guajajara e no estudo realizado por Rufino et al (2008) o autor cita o uso do

carvatildeo para uso em fogotildees domeacutesticos Tambeacutem foi relatado por um casal em Las Casas que

as cascas do coco babaccedilu quando satildeo queimadas servem para espantar os mekarotilde 31 assim eles

queimam agrave noite para espantaacute-los O fruto quando eacute cortado de forma transversal eacute utilizado

na pintura corporal com jenipapo a modo de carimbo (GONZAacuteLEZ-PEgraveREZ et al 2012) Este

uso tambeacutem foi reportado para os indiacutegenas Carajaacutes e Timbira por Melatti (2007)

O uso de palmeiras e a importacircncia dada a estes usos estaacute ligada agrave ausecircncia ou presenccedila

no ambiente que os Kayapoacute habitam por exemplo em Las Casas o babaccedilu predomina nos usos

para a construccedilatildeo de casas e na confecccedilatildeo de cestos de expediente No caso da aldeia Moikarakocirc

(TIK) para estes fins eacute utilizada a folha do rikre o inajaacute (Attalea maripa Mart) assim como

o uso das talas como pinceis para a pintura corporal da face O inajaacute eacute uma palmeira abundante

nessa TI onde predominam as florestas de terra firme (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2012)

Uma terceira espeacutecie da famiacutelia das Arecaceae de grande importacircncia entre os Kayapoacute

de Las Casas eacute ngwra o buriti (M flexuosa) Eacute principalmente utilizado na cultura material e

artesanato comercializado pelos homens da aldeia Suas fibras e talas satildeo utilizadas em cestaria

que segundo Silva (2011) utiliza a tecnologia de curadoria onde a manufatura e uso dos cestos

ou objetos tranccedilados satildeo previamente planejados e implica na obtenccedilatildeo e beneficiamento

31 Mekarotilde na liacutengua Mẽbecircngocirckre se refere aos fantasmas ou maus espiacuteritos

147

antecipado da mateacuteria-prima o que resolve os problemas relativos de aquisiccedilatildeo de recursos

sazonais ou moacuteveis Poderia se disser que o buriti eacute uma das palmeiras mais importantes na

cultura material dos Mẽbecircngocirckre que habitam no Cerrado no que se refere agrave confecccedilatildeo de

cestos e tranccedilados O conhecimento e transmitido seguindo as formas de organizaccedilatildeo do

trabalho dos homens (Memy djagravepecircj) eacute ensinada pelos homens mais velhos mebecircnguecirct e homens

que pertencem agrave categoria mekrare homens casados e com filhos principalmente no ngagrave lugar

onde os velhos ensinam os trabalhos do seu gecircnero (LAS CASAS 2013)

Com as talas obtidas do peciacuteolo de indiviacuteduos jovens32 satildeo confeccionados diversos

tipos de cestos kax ou kagrave que compreendem principalmente os cestos cargueiros de variados

tamanhos e tranccedilados entre os que se destacam kacircjkagravek (tranccedilados em zig-zag) kajkocirckre matildeti te

kagrave (tranccedilados com fios de algodatildeo) e kagravenajpocirck Estes cestos satildeo enfeitados com linhas de

algodatildeo tingidas com urucum tranccedilados com as fibras obtidas das folhas novas do buriti e em

alguns casos com o cipoacute baikagrave Tambeacutem com as talas satildeo confeccionados os aros que suportam

os diademas occipitais utilizadas em festas de nominaccedilatildeo Aleacutem disso com as talas eacute

confeccionada uma maacutescara que representa o tamanduaacute bandeira Pagravet utilizada em festas e

rituais Os enfeites desta maacutescara satildeo feitos com enviras cera de abelhas e breu Enfim foi

registrado o uso ritual do peciacuteolo das folhas novas do buriti chamado pyte tingido com urucum

pyacute segundo Panhkroriti Kayapoacute

Este eacute um presente para uma matildee quando uma crianccedila nasce a matildee deve

guardar no teto da casa ateacute que comeccedila a namorar segundo ele toda matildee recebe

esse presente quando ganha nenecirc

As fibras obtidas das folhas novas que satildeo coletadas antes da abertura dos foliacuteolos e

depois um processo de secagem e torcidas para fiar satildeo utilizadas no tranccedilado para a confecccedilatildeo

de outros objetos trabalho exclusivamente masculino assim como tambeacutem na confecccedilatildeo de

maacutescaras utilizadas em festas e rituais (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011 GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et

al 2012)

Entre as maacutescaras confeccionadas se destacam em Las Casas as maacutescaras de kubyt

(macaco guariba) e kukocircj (macaco prego) estas satildeo enfeitadas com miccedilangas linhas de algodatildeo

e tingidas com urucum

Tambeacutem com as fibras satildeo tecidos carregadores de crianccedilas aĩ bolsas mokagrave tipitis de

torccedilatildeo kri-ocirc e cocares (me agrave kagrave) estes uacuteltimos produzidos atualmente para comercializaccedilatildeo

Vale destacar que a confecccedilatildeo destes cocares eacute uma inovaccedilatildeo entre os Mẽbecircngocirckre para

substituir os cocares com penas de aves pois atualmente natildeo podem ser comercializados jaacute que

32 Segundo os Kayapoacute a palmeira de onde tiram as folhas devem medir entre 3 e 7 metros de altura

148

a Lei de proteccedilatildeo agrave fauna33 e a lei de crimes ambientais que proiacutebe a venda de objetos com

mateacuterias-primas de origem animal Lea (2012) faz referecircncia ao uso das fibras do buriti na

confecccedilatildeo de tiracolos para carregar as crianccedilas esteiras e cestos para transportar lenha e

alimentos entre os Kayapoacute do Brasil Central (os Mẽtyktire do Mato Grosso) Silva (2011)

menciona que os Xikrin-Kayapoacute utilizam estas fibras na cestaria assim como tambeacutem para

outros tipos de tranccedilados natildeo exclusivos da cestaria tambeacutem menciona o uso de outras

palmeiras para estes fins como accedilaiacute (E precatoria) bacaba (Oenocarpus sp) e tucum

(Astrocaryum sp)

Fuerst (1970) destaca a importacircncia do buriti (Ngroua34) e o tucum (Roiuml ti) na cultura

material dos Xikrin e os Kayapoacute as palmeiras satildeo mais abundantes nos cursos de aacutegua e satildeo

utilizadas para tranccedilados mais delicados e elaborados Em comunidades de ribeirinhos no

municiacutepio de Abaetetuba no Paraacute Santos e Coelho (2012) mencionam seu uso na elaboraccedilatildeo

de cestos abanadores e outros artefatos de uso domeacutestico Na Venezuela o buriti eacute um recurso

importante na economia de povos indiacutegenas principalmente para os Warao que habitam no

Delta Del Orinoco para eles o buriti ojidu na liacutengua deles eacute considerado a aacutervore da vida nome

dado pelo Padre Gumilla (1745 apud MUumlLLER 2009) no seu livro Orinoco ilustrado y

defendido segundo Gumilla que considerava que uma palmeira que oferece todos os recursos

para subsistir deveria se considerar a verdadeira aacutervore da vida Satildeo as mulheres Warao que

trabalham tanto na confecccedilatildeo de cestos com teacutecnicas de enrolados bastante elaborados e na

tecelagem de redes para dormir (MUumlLLER 2009) Portanto na cestaria indiacutegena venezuelana

eacute uma das mateacuterias-primas principais no que se refere a cestaria (TELLERIA CONDE 2004)

Segundo Gragson (1992) para o povo Pume que habita em Los LLanos as savanas inundaacuteve is

do sudeste venezuelano o buriti (tho to) eacute um recurso importante com o qual confeccionam

cestos e esteiras com as fibras obtidas das folhas novas

Em Las Casas os frutos do buriti satildeo consumidos in natura e a coleta realizada pelas

mulheres ocorre no periacuteodo do inverno geralmente em grupos de mulheres onde tambeacutem

participam as crianccedilas Posey (1987) e Anderson e Posey (1989) mencionam o consumo dos

frutos pelos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute da aldeia Gorotire na TIK Este uso tambeacutem foi mencionado

entre os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute de Las Casas por De Robert e Katz (2010) que destacam o

consumo do vinho dos frutos de buriti misturado com farinha de mandioca O uso na

33 Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna Artigo 3deg Lei 519767 e pela Lei de crimes ambientais Artigo 29deg da Lei 960598

Segundo as leis aquele que vende expotildee agrave venda exporta ou adquire esses objetos sujeita -se agrave pena de detenccedilatildeo

de seis meses a um ano aleacutem de pagamento de multa 34 Fuerst (1970) se refere aqui ao Ngrwa (buriti) citado em Las Casas

149

alimentaccedilatildeo tambeacutem eacute mencionado por Fuerst (1970) segundo ele este fruto eacute um alimento

bastante apreciado entre os Xikrin devido ao alto teor de vitaminas que contecircm

A bacaba Kamere (O distichus) eacute tambeacutem de grande importacircncia na cultura material e

na alimentaccedilatildeo dos Kayapoacute em Las Casas suas folhas novas satildeo utilizadas na confecccedilatildeo de

cestos cargueiros de uso domeacutestico que tambeacutem satildeo comercializados Na confecccedilatildeo dos cestos

que utilizam como base para o iniacutecio do tecido a raque da folha utilizando tambeacutem as folhas

novas jaacute as alccedilas do cesto satildeo confeccionadas com enviras

Maacutescaras satildeo confeccionadas tambeacutem com as folhas da bacaba se destacam as maacutescaras

bocirc kratilde e bocirc kratilde yry assim como tambeacutem as saias das maacutescaras que satildeo confeccionadas com

bacaba buriti e babaccedilu

Os frutos satildeo bastante prezados e com estes preparam suco Kamere kangocirc para preparaacute-

lo batem a polpa e a misturam com aacutegua O consumo dos frutos tambeacutem eacute mencionado entre os

Kayapoacute de Moikarakocirc na TIK (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011) assim como tambeacutem entre os

Kayapoacute do Xingu e os Xikrin do baixo Itacaiuacutenas (FUERST 1970)

Outras palmeiras utilizadas somente na alimentaccedilatildeo foram citadas com menos

frequecircncia satildeo Ngradjagravere (A leucocalyx) wore (Syagrus comosa (Mart) Mart) roi kokre

(Astrocaryum huaimi Mart) e Roi (Acrocomia aculeata (Jacq) Lood ex Mart) o menor

nuacutemero de citaccedilotildees pode se dever a que consomem soacute o fruto e as sementes utilizadas na

confecccedilatildeo de artesanato que satildeo exploradas somente no final do veratildeo

Tambeacutem foram citadas palmeiras que natildeo ocorrem em Las Casas mas que suas

sementes fibras frutos ou artefatos jaacute elaborados satildeo obtidos atraveacutes de trocas entre parentes

ou amigos de outras aldeias Eacute o caso das palmeiras roi ti (A aculeatum) cujas fibras satildeo

utilizadas para a confecccedilatildeo de cestos e seus frutos e palmito satildeo consumidos in natura rikre

(Attalea maripa Mart) palmeira da qual utilizam para preparar os pinceis utilizados na pintura

corporal da face e as pinturas mais elaboradas a paxiuacuteba ngrowareoaatildek (Socratea exorrhiza

Mart) cujas sementes satildeo utilizadas na confecccedilatildeo de colares e mry kok (Astrocaryum

murumuru Mart H Wendl) cujas sementes satildeo prezadas na elaboraccedilatildeo enfeites para

carregadores de crianccedilas aĩ pingentes e brincos

Segundo Fuerst (1970) devido ao uso de pelo menos doze espeacutecies de palmeiras entre

os Xikrin do baixo Itacaiuacutenas e os Kayapoacute do Xingu e especialmente do babaccedilu eles

constituem o que ele chamou de une civilisation du palmier mais do que uma civilisation

du bois termo geralmente aplicado as populaccedilotildees ditas primitivas que moram e aproveitam

os recursos da floresta pois neste caso se trata de um povo indiacutegena da savana que tem agrave

150

disposiccedilatildeo apenas uma vegetaccedilatildeo arbustiva de savana com umas poucas aacutervores tortas e

palmeiras inclinadas pelos efeitos da seca tendo neste caso as palmeiras como recursos dos

quais aproveitam praticamente todas suas partes

Explica tambeacutem Fuerst (1970) que como todos os outros grupos Jecirc os Kayapoacute

habitavam as savanas e foram deslocados pela expansatildeo neo-brasileira durante os seacuteculos XVII

e XVIII desta maneira as zonas de ocorrecircncia por excelecircncia do babaccedilu (A speciosa)

coincidem precisamente com florestas de galerias presentes nas savanas

Vale destacar tambeacutem o que menciona Ribeiro (1985 apud MULLER) segundo ela nas

etnias pertencentes ao tronco linguiacutestico macro Gecirc e outras do centro do Brasil central como

as do Alto Xingu predomina o uso das palmeiras (Arecaceae) na confecccedilatildeo da cestaria e outros

tranccedilados jaacute para os povos da Amazocircnia septentrional predomina o uso de fibras extraiacutedas de

espeacutecies da famiacutelia Marantaceae e em grupos do extremo norte da Amazocircnia como os

Yanomami predomina o uso de cipoacutes elaacutesticos de espeacutecies da famiacutelia Araceae

54 O caso da palmeira babaccedilu (Attalea speciosa Mart) na TI Las Casas densidade e

mudanccedilas do uso do solo nas aacutereas de ocorrecircncia

As mulheres de Las Casas conhecem e exploram diferentes babaccediluais (rotilden kocirc)

os quais estatildeo localizados principalmente em florestas de galeria na floresta estacional

decidual mas tambeacutem em capoeiras contiguas agraves roccedilas Sabendo que jaacute existe comercializaccedilatildeo

tanto dos frutos amecircndoas e produtos oriundos do babaccedilu por parte de outras comunidades

tradicionais e pelo grande interesse por parte das mulheres da aldeia para comercializar os

frutos ou produtos obtidos a partir das sementes deu-se continuidade aos levantamentos sobre

densidade do babaccedilu (A speciosa) nas aacutereas que as mulheres exploram na TI Las Casas

comeccedilados em 2010 (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011)

Foram realizados inventaacuterios em campo e atraveacutes de fotointerpretaccedilatildeo em imagens de

sateacutelite de altiacutessima resoluccedilatildeo Em campo foram contabilizados em total 939 indiviacuteduos dos

quais 901 eram jovens sem estipe livre pertencentes ao estaacutegio 5 17 adultos com estipe livre

sem cachos (estaacutegio 6) e 21 com adultos sem cachos Tambeacutem na TI Las Casas foi realizado

em 2010 um inventaacuterio de um hectare em floresta secundaria (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011)

onde foram contabilizados 394 indiviacuteduos dos quais 134 eram jovens acaules 50 adultos com

cacho 110 adultos sem cacho totalizando 160 indiviacuteduos produtivos Estes levantamentos

foram complementados com inventaacuterios atraveacutes de fotointerpretaccedilatildeo na imagem Pleiades de

151

2013 (05 m) da TI Las Casas onde como esperado natildeo se observou ocorrecircncia de indiviacuteduos

(densidade=0) em savana gramiacuteneo- lenhosa savana florestada e solo nu pois aacutereas de

ocorrecircncia do babaccedilu reportadas na literatura satildeo principalmente florestas de galeria florestas

estacionais deciduais e aacutereas antropizadas (BALEacuteE 1988 PETERS et al 1989 MITJA

FERRAZ 2001 SILVA et al 2009 SANTOS MITJA 2011 ALMEIDA et al 2016)

Obteve-se a maior densidade meacutedia por hectare de indiviacuteduos adultos em florestas de

galeria onde foram contabilizados 70 indiviacuteduos seguido de capoeiras com 42 indiviacuteduos

floresta estacional decidual com 24 indiviacuteduos e pastagem com apenas quatro indiviacuteduos Cabe

destacar aqui que os indiviacuteduos levantados atraveacutes de fotointerpretaccedilatildeo na imagem Pleiades

pertencem aos estaacutegios 5 e 6 os quais podem se observar acima do dossel das formaccedilotildees

florestais e no caso da pastagem satildeo reconhecidos com facilidade devido agrave larga coroa circular

(LCC) que apresentam e a sombra que projetam Segundo Mitja et al (2014) ao menos cinco

espeacutecies de palmeiras podem ser reconhecidas por fotointerpretaccedilatildeo em imagens de altiacutessima

resoluccedilatildeo A speciosa A aculeatum Attalea maripa (Aubl) Mart M flexuosa e Oenocarpus

bacaba Mart as quais podem ser reconhecidas devido a sua LCC maior que 6 metros de

diacircmetro

A densidade encontrada em Las Casas tanto em campo quanto atraveacutes da

fotointerpretaccedilatildeo em campo se aproxima agrave documentada na literatura para A speciosa em

diferentes levantamentos May (1990) encontrou uma densidade de 95 indiviacuteduos produtivos

por hectare em babaccediluais no estado do Maranhatildeo segundo Pinheiro (2006) a densidade de

indiviacuteduos por hectare desta espeacutecie pode variar entre 50 a 100 indiviacuteduos enquanto Albiero et

al (2011) mencionam que o babaccedilu pode atingir uma densidade de 160 indiviacuteduos reprodutivos

por hectare Silva (2008) discute que a densidade de indiviacuteduos por hectare pode estar

relacionada a variaacuteveis como tipo de solo cobertura do solo e formaccedilotildees vegetais Esta autora

encontrou a maior ocorrecircncia de indiviacuteduos em matas de galeria35 (6462) mata seca

(1231) Cerrado (1385) e aacutereas de transiccedilatildeo de mata de galeria para Cerrado (923) A

autora destaca tambeacutem que a mata ou floresta de galeria eacute o ambiente onde o babaccedilu se encontra

no seu primeiro ciclo de vida antes de dominar aacutereas desmatadas

Para entender como as mudanccedilas da paisagem em Las Casas podem ter interferido na

densidade de indiviacuteduos levantada nos diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo foram analisadas

as mesmas parcelas inventariadas na imagem de altiacutessima resoluccedilatildeo em imagens de sateacutelite

35 Neste trabalho matas de galeria se referem as florestas de galeria mata seca agrave floresta estacional caducifoacutelia e

Cerrado agraves formaccedilotildees savacircnicas descritas pelo IBGE (2012)

152

Landsat dos anos 1984 1990 1995 2000 2006 2011 e 201436 e foi observado que nas aacutereas

inventariadas de floresta de galeria de 15 parcelas inventariadas em oito parcelas natildeo se

observou desmatamento entre os periacuteodos analisados do restante duas parcelas jaacute tinham sido

desmatadas em 1984 trecircs em 1990 uma em 1995 e uma em 2000 em aacutereas de floresta

estacional decidual em apenas quatro parcelas natildeo se observou desmatamento seis parcelas jaacute

tinham sido desmatadas em 1990 uma em 1995 e em 2000 foram desmatadas duas parcelas

para o estabelecimento de pastagem e mais duas parcelas possivelmente para o estabelecimento

de roccedilas devido que as aacutereas desmatadas apresentavam aacutereas pequenas e com formas

irregulares

Nas parcelas inventarias de capoeiras37 pode se observar que houve distintos tipos de

exploraccedilatildeo entre estas ao menos 10 parcelas eram florestas de galeria e cinco eram floresta

estacional decidual no ano de 1984 Entre as parcelas que tinham como cobertura vegetal

floresta de galeria ao menos quatro foram desmatadas em 1990 possivelmente para o

estabelecimento de pastagens devido ao fato que os Kayapoacute natildeo tinham recuperado seu

territoacuterio ainda nesta data Estas mesmas parcelas jaacute apresentavam recuperaccedilatildeo da vegetaccedilatildeo

em 1995 e possivelmente foram aproveitadas para o estabelecimento de roccedilas a partir do ano

2000 quando os Kayapoacute jaacute tinham retornado pois se observa desmatamento em duas parcelas

onde eles indicaram ter estabelecido uma roccedila comunitaacuteria no ano 2000 na floresta de galeria

Em outras seis parcelas se observou que no ano 2006 houve desmatamento para o

estabelecimento de roccedilas em quatro parcelas que eram originalmente floresta de galeria e duas

parcelas de floresta estacional decidual Em relaccedilatildeo agraves aacutereas inventariadas de pastagem se

observou que jaacute a partir de 1984 tinham sido estabelecidas pastagens em seis destas parcelas e

nove eram florestas de galeria estas foram desmatadas em 1995 para o estabelecimento das

pastagens

Por outro lado entre as diferentes aacutereas inventariadas na imagem de altiacutessima resoluccedilatildeo

encontramos que para as florestas de galeria as maiores densidades de babaccedilu foram registradas

para parcelas que jaacute tinham sido desmatadas para o estabelecimento de pastagens sendo na

verdade florestas secundaacuterias Jaacute para as parcelas inventariadas em floresta estacional decidua l

se observou o contraacuterio as parcelas que apresentaram maior densidade de indiviacuteduos natildeo

sofreram desmatamento ao menos nos periacuteodos observados Mesmo assim a segunda ocupaccedilatildeo

do solo com maior densidade de indiviacuteduos foram as capoeiras (ver figura 36 Apecircndice 5)

36 Foram utilizadas as mesmas imagens utilizadas na anaacutelise da dinacircmica do uso do solo na TI Las Casas 37 Estas aacutereas foram indicadas como capoeiras pelos moradores de Las Casas

153

Figura 36 Parcelas inventariadas na imagem de altiacutessima resoluccedilatildeo Pleiades de 2013 As palmeiras estatildeo

marcadas com os pontos roxos


Santos e Mitja (2011) encontraram no estudo realizado no projeto de assentamento

Benfica no sudeste do Paraacute que a densidade de espeacutecies arboacutereas em pastagens aumenta agrave

medida que aumenta a idade da pastagem Nestas a espeacutecie que apresentou maior densidade foi

o babaccedilu e os autores encontraram uma densidade meacutedia de nove indiviacuteduos por hectare em

pastagens com idade acima de 10 anos

Segundo Silva et al (2009) a distribuiccedilatildeo do babaccedilu nas aacutereas antropizadas apresenta

um comportamento variaacutevel dependendo da regiatildeo Na bacia do Rio Cocal no Tocantins

segundo mencionam os agricultores utilizam o fogo e ferramentas rudimentares para a

derrubada e limpeza do terreno desta maneira o babaccedilu pode ser eliminado total ou

parcialmente como ainda desenvolver o seu predomiacutenio nestas aacutereas Desta forma diferentes

tipos de manejo poderiam ter alterado nessa regiatildeo a diversidade e a concentraccedilatildeo do babaccedilu

onde as a maiores concentraccedilotildees de babaccedilu se encontram em pequenas propriedades e aacutereas de

capoeira Segundo os autores nas aacutereas de pecuaacuteria as palmeiras satildeo cortadas deixando apena s

alguns indiviacuteduos para fazer sombra para o gado Isto tambeacutem foi observado no projeto de

assentamento Benfica no sudeste do Paraacute onde Santos e Mitja (2011) mencionam que o babaccedilu

154

faz parte das espeacutecies que satildeo deixadas na pastagem devido a que sua sombra tambeacutem eacute

aproveitada para o gado

Eacute interessante lembrar que os Mẽbecircngocirckre utilizam o fogo no estabelecimento das roccedilas

tambeacutem no territoacuterio da TI Las Casas acontecem queimadas naturais ou provocadas pelos

mesmos Kayapoacute na eacutepoca do veratildeo teacutecnica utilizada pelos homens para espantar animais e

poder caccedilaacute-los Tambeacutem foi observado nas imagens analisadas que houve aacutereas que sofreram

queimadas principalmente em aacutereas de savana gramiacuteneo-lenhosa e algumas florestas de galeria

contiacuteguas a estas

Mitja e Ferraz (2001) ao fazer observaccedilotildees em campo e experimentos de germinaccedilatildeo de

babaccedilu tanto em aacutereas abertas na pastagem quanto em aacutereas de floresta no projeto de

assentamento em Benfica no sudeste do Paraacute encontraram que as placircntulas crescem

desenvolvem consideravelmente mais raacutepido em aacutereas expostas ao sol do que em aacutereas de

floresta onde as placircntulas recebem sombra Estas caracteriacutesticas aunadas agrave capacidade que o

babaccedilu tem de se regenerar depois do fogo mesmo se a parte aeacuterea da placircntula foi

completamente queimada pode ser a explicaccedilatildeo da dominacircncia desta espeacutecie em aacutereas onde

foram estabelecidas pastagens na regiatildeo amazocircnica

Almeida et al (2016) para analisar as mudanccedilas da paisagem em aacutereas de ocorrecircncia

de babaccedilu na Aacuterea de Proteccedilatildeo Ambiental (APA) em Araripe38 localizada no nordeste

brasileiro Para isto analisaram a percepccedilatildeo das mudanccedilas da paisagem e os diferentes tipos de

uso do solo mencionados pelos moradores da APA nas uacuteltimas deacutecadas Tambeacutem analisaram

documentos histoacutericos que contassem o histoacuterico de ocupaccedilatildeo da regiatildeo Encontraram atraveacutes

de documentos histoacutericos nessa regiatildeo que a vegetaccedilatildeo nativa foi substituiacuteda por plantaccedilotildees de

cana de accediluacutecar entre 1760 e 1970 fatos que foram confirmados para as deacutecadas recentes atraveacutes

de entrevistas aos moradores da APA Cabe destacar que o cultivo de cana causa tambeacutem

grandes mudanccedilas na paisagem devido a que requere o uso do fogo que eacute utilizado para

remover as folhas e facilitar a coleta da cana (ALMEIDA et al 2016) Desta maneira os

autores reforccedilam o mencionado por Mitja e Ferraz (2001) em relaccedilatildeo agrave resistecircncia do babaccedilu

ao fogo e seu estabelecimento em aacutereas de pastagem neste caso aacutereas que foram desmatadas

para os cultivos de cana

Atraveacutes dos estudos realizados por Mitja e Ferraz (2001) Silva et al (2009) Santos e

Mitja (2011) Almeida et al (2016) os resultados obtidos aqui para densidade na TI Las Casas

e as discussotildees que apresentam Posey (1985) Baleacutee (1988) e Peters et al (1989) sobre o manejo

38 A APA Araripe estaacute localizada nos estados Pernambuco Cearaacute e Piauiacute

155

das florestas por populaccedilotildees indiacutegenas e sua influecircncia na ocorrecircncia de altas densidades de

uma mesma espeacutecie principalmente espeacutecies de palmeiras dentro destas florestas pode-se

afirmar a importacircncia da intervenccedilatildeo antroacutepica no aumento da densidade de populaccedilatildeo de

babaccedilu nas aacutereas de ocorrecircncia citadas na literatura e neste estudo

Eacute necessaacuterio destacar que entre os Kayapoacute da aldeia Las Casas tanto os frutos quanto o

oacuteleo babaccedilu e outros produtos obtidos desta palmeira natildeo satildeo comercializados ateacute o momento

mesmo sendo uma atividade cogitada principalmente pelas mulheres da aldeia Portanto

considerando-se que se trata de uma produccedilatildeo para consumo familiar os moradores de Las

Casas afirmam que tem coco durante o ano todo mesmo assim sendo que seu uso se limita agrave

produccedilatildeo de oacuteleo para usos cosmeacutetico e ritual e em alguns casos para a troca com os parentes

de outras aldeias Por esta razatildeo as coletoras natildeo tecircm um conhecimento da produccedilatildeo anual de

frutos (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011 GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2012) Poreacutem em Las Casas

destacam que mesmo havendo cocos o ano inteiro soacute eacute possiacutevel utilizar cocos para a produccedilatildeo

de oacuteleo no veratildeo que eacute quando as amecircndoas estatildeo maduras pois se estiverem verdes o oacuteleo

natildeo fica bom

Atraveacutes da literatura sabe-se que a produccedilatildeo meacutedia por hectareano eacute de 17 toneladas

de fruto (Pinheiro 2006) Outros estudos reportam que esta produccedilatildeo poderia chegar ateacute de 24

tonha dos quais 178 ton (74) correspondem ao endocarpoepicarpo 048 Ton (20) a

mesocarpo e 014 ton (6) das amecircndoas das quais se obteacutem em meacutedia 91 litros de oacuteleo

(FRAZAtildeO 2001 apud ALBIERO et al 2007)

Na TI Las Casas ateacute agora natildeo foi realizado um levantamento da produccedilatildeo de frutos nos

locais explorados pelas mulheres da aldeia mesmo sendo uma proposta para esta tese devido

agraves mudanccedilas de planejamento em campo por diversas razotildees principalmente a disponibilidade

dos moradores de Las Casas para acompanhar as medidas de produccedilatildeo assim como o

investimento de tempo de pesquisa em campo para a realizaccedilatildeo em atividades de contrapartida

com a comunidade39

Mesmo assim a comunidade natildeo tem conseguido estabelecer comercializaccedilatildeo de frutos

ou produtos de babaccedilu devido a que natildeo tem surgido a oportunidade Como foi mencionado

acima dependendo da aacuterea de ocorrecircncia explorada a densidade varia por esta razatildeo seria

interessante pensar em planos de manejo para a produccedilatildeo de frutos

39 Estas atividades finalmente fazem parte importante dos resultados desta pesquisa principalmente em relaccedilatildeo agrave

economia tradicional dos moradores de Las Casas

156

Pinto et al (2010) propuseram o manejo do babaccedilu atraveacutes do desbaste e seleccedilatildeo de

palmeiras pois se sabe que o babaccedilu eacute resistente ao corte e agrave queima possuindo alta capacidade

de renovaccedilatildeo e de proliferaccedilatildeo De modo que uma das maiores problemaacuteticas que poderiam

interferir na produccedilatildeo eacute a competiccedilatildeo dentro da mesma espeacutecie Assim para controlar este

problema o manejo do babaccedilual por meio de desbaste pode ateacute triplicar a produccedilatildeo de uma aacuterea

passando de 25 toneladas de cocohectareano para 75 toneladas de cocohectareano Segundo

estes autores um babaccedilual pode atingir mais de mil palmeiras por hectare competindo por

aacutegua luz e nutrientes o que resulta em uma baixa produtividade de frutos Assim recomenda -

se o desbaste ou seja a retirada de palmeiras improdutivas com produccedilatildeo pequena ou de baixa

qualidade podendo-se deixar entre 50 e 100 palmeiras produtivas por hectare aleacutem de

representantes de outras idades para posterior substituiccedilatildeo das palmeiras mais velhas

55 O pequi (Caryocar brasiliense A St Hil) recurso bioloacutegico e econocircmico

importante para os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute de Las Casas

O pequi (C brasiliense) eacute uma das espeacutecies da famiacutelia das Caryocaraceae abundante no

Cerrado brasileiro e de grande importacircncia econocircmica cultural e ecoloacutegica Na TI Las Casas eacute

uma espeacutecie abundante e entre seus habitantes eacute conhecido como prĩm Faz parte da culinaacuter ia

tradicional dos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute e desde outubro ateacute iniacutecio de janeiro eacute uma das bases da

alimentaccedilatildeo na aldeia seus frutos satildeo consumidos in natura ou cozidos (Figura 37)

Figura 37 Berarubu de pequi preparado no ki e folhas de bananeira

Fonte Fotografia Sol Gonzaacutelez

157

Se cozido o pequi eacute preparado de diversas maneiras entre as que se destaca o berarubu

de pequi onde o fruto eacute assado em folhas de banana brava no forno preparado com pedras

quentes (ki) Eles tambeacutem preparam o berocirc mrocirc mingau de pequi que eacute cozinhado com o amido

da mandioca e os frutos de pequi e mencionaram que no passado faziam conservas de pequi

onde este era cozido e desidratado e guardavam-no para o preparo de sopas ou berocirc mrocirc quando

natildeo havia frutos frescos As sementes satildeo beneficiadas e utilizadas na confecccedilatildeo de chocalhos

e cintos que satildeo utilizados nas danccedilas em festas de nominaccedilatildeo chamados na liacutengua Mẽbecircngocirckre

prĩmkagrave (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2012 2013)

A coleta dos frutos eacute realizada pelas mulheres principalmente da mesma famiacutelia das

categorias de idade mekrapdjire e mebengecircjte e que saem em grupos de amigas ou parentes e

em algumas ocasiotildees participa da coleta a famiacutelia inteira As mebengecircjte geralmente levam seus

netos para ajudar na coleta (figura 38)

Figura 38 Coleta de frutos de pequi


Outra espeacutecie do gecircnero Caryocar (Caryocar villosum Aubl Pers) tambeacutem eacute consumida

e utilizada na confecccedilatildeo de artesanato pelos Kayapoacute que habitam nas aacutereas de floresta de terra

firme em Moikarakocirc na TIK esta espeacutecie eacute cultivada (GONZAacuteLEZndashPEacuteREZ et al 2013

POSEY 1989)

158

Nas diferentes conversas na aldeia sobre a importacircncia do pequi os interlocutores natildeo

mencionaram fazer algum tipo de manejo relacionado ao cultivo mesmo assim tem pequi em

alguns quintais Segundo o observado nas diferentes saiacutedas haacute um manejo indireto atraveacutes da

dispersatildeo de sementes pois ao consumir o fruto in natura as sementes satildeo dispersas nos

caminhos

Entre outros povos indiacutegenas o pequi tambeacutem eacute uma espeacutecie importante tanto na

subsistecircncia quanto na vida ritual No Parque Indiacutegena do Xingu (PIX) pelo menos onze povos

indiacutegenas utilizam e manejam o pequi de maneira diferenciada e o uso e conhecimento desta

espeacutecie eacute como relacionado um dos traccedilos caracteriacutesticos da cultura alto-xinguana Entre estes

povos os Kalapalo Wauraacute Yawalapitiacute Kamayura e Kisedje reconhecem sete variedades

diferentes de pequi entre os indiviacuteduos cultivados nas roccedilas

Entre estas haacute subvariedades dependendo das diferenccedilas morfoloacutegicas das sementes e a

cor da polpa como por exemplo as variedades com polpa amarela vermelha branca ou cinza

enquanto agrave morfologia da semente mencionam as variedades sem espinho ou sem buraco aleacutem

do pequi silvestre ou do campo (SCHMIDT 2006) O pequi eacute cultivado junto com as roccedilas de

mandioca no iniacutecio da estaccedilatildeo chuvosa apoacutes o cultivo da mandioca portanto cada famiacutelia tem

seu pequizal e eacute herdado entre membros de uma mesma famiacutelia Segundo Schmidt (2006) num

levantamento realizado nos principais pequizais nas aldeias onde o pequi eacute cultivado foram

contabilizados 14032 peacutes de pequi em uso Destaca Schmidt (2006) que todos os anos na eacutepoca

da safra satildeo comemoradas festas rituais como a festa do Mapulawaacute (beija flor) onde haacute cantos

e danccedilas como reverecircncia aos animais polinizadores e dispersores das sementes

Em Las Casas o pequi ocorre na savana arborizada nas aacutereas chamadas pelos indiacutegenas

kapocirct prin kocirc No ano de 2012 vaacuterias famiacutelias coletaram pequi para vender a comerciantes

locais mas devido aos baixos preccedilos de compra (os preccedilos variaram de dois a quatro reais a

saca de 20 Kg)

Ateacute o ano de 2015 a atividade natildeo tinha sido fortalecida principalmente devido agrave

dificuldade de escoamento dos frutos ateacute os centros de comercializaccedilatildeo pois na uacutenica vez que

foram comercializados o comprador buscava a coleta realizada pelas famiacutelias na mesma aldeia

Las Casas

Pesquisando na feria de Redenccedilatildeo tentando ver as possibilidades de comercializaccedilatildeo

para as famiacutelias da aldeia soubemos que na regiatildeo natildeo haacute compradores e a uacutenica opccedilatildeo que os

Kayapoacute poderiam ter para comercializar seria eles mesmos levando a produccedilatildeo para feira nos

finais de semana Oportunidade praticamente inviaacutevel devido ao fato de que a distacircncia da

159

aldeia agrave cidade de Redenccedilatildeo eacute de aproximadamente 30 km Natildeo haacute transporte puacuteblico ou de

baixo custo para os indiacutegenas Pois para ingressar agrave aldeia Las Casas pode ser de taxi cujo

valor eacute de 250 reais por trecho ou de moto taxi cujo valor eacute de aproximadamente 80 reais por

trecho Desta maneira tanto pelo custo quanto pelo espaccedilo do transporte para carregar a

produccedilatildeo fica inviaacutevel se trasladar agrave cidade com os frutos coletados Tambeacutem eacute interessante

destacar que o pico da produccedilatildeo de frutos nesta espeacutecie eacute bianual ou seja tendo um ano com

alta produccedilatildeo e o seguinte com baixa produccedilatildeo

Mesmo assim haacute atualmente um projeto piloto de comercializaccedilatildeo de pequi em duas

aldeias da TI Las Casas No ano 2015 a partir das demandas das aldeias Tekrejarocircti-re e

Kaprankrere durante o processo de construccedilatildeo do Plano de Gestatildeo Territorial e Ambienta l

(PGTA) da TI Las Casas a AFP iniciou este piloto onde foram coletadas e comercializados

um total de 9450 quilos de frutos de pequi (C brasiliense) nas aacutereas de exploraccedilatildeo das duas

aldeias Esta produccedilatildeo adquirida pela AFP foi distribuiacuteda nas Casas de Sauacutede Indiacutegena

CASAI dos municiacutepios de Ourilacircndia do Norte Tucumatilde e Satildeo Felix do Xingu e vendida nas

feiras livres do municiacutepio de Marabaacute (AFP 2016)

Poreacutem deve se acompanhar tambeacutem a produccedilatildeo para o consumo na aldeia devido a que

eacute um recurso de grande importacircncia na alimentaccedilatildeo para os moradores da TI Las Casas desde

o iniacutecio ateacute meados da estaccedilatildeo chuvosa ou seja de finais de outubro ateacute janeiro

No sudeste do Paraacute satildeo comercializados pelos agricultores familiares de um

assentamento derivados do fruto como satildeo o azeite oacuteleo conservas farinha e creme para

conserva de pimenta o fruto in natura natildeo eacute comercializado mas eacute consumido pelas

famiacutelias dos projetos de assentamento do municiacutepio Santa Maria das Barreiras no sudeste

paraense (FEITOSA et al 2005)

Nas aacutereas de ocorrecircncia do pequi (prin kocirc) as savanas arborizadas em Las Casas foi

realizado um levantamento em campo de um hectare foram levantados no total 12 indiviacuteduos

Tambeacutem foi realizado um levantamento da densidade de pequi em savanas arborizadas na

imagem de altiacutessima resoluccedilatildeo Pleiades de 2013 na qual foi contabilizada uma meacutedia de dois

indiviacuteduos por hectare desta maneira pode se dizer que a densidade do pequi eacute relativamente

baixa se comparada agrave densidade de pequi registrada em outras aacutereas de Cerrado onde Naves

(1999 apud SANTANA NAVES) registrou 70 indiviacuteduosha em solos com concreccedilatildeo40 e 49

indiviacuteduosha em solos sem concreccedilatildeo por outro lado dados mostram a estimativa de produccedilatildeo

40 Granulometria acima de 2 mm (SANTANA NAVES 2003)

160

extrativista tendo por base a densidade de 45 indiviacuteduosha (ALMEIDA SILVA 1994 apud

OLIVEIRA et al 2008)

Santana e Naves (2002) destacam que o pequi em aacutereas com alta densidade

populacional do Sudeste de Goiaacutes se adapta bem em solos com niacutevel nutricional baixo e

que o desenvolvimento das plantas estaacute associado ao tipo e ao niacutevel nutricional dos solos

a maior densidade de indiviacuteduos ocorre nos cambissolos e neossolos litoliacuteticos do que em

latossolos

Neste sentido seria interessante aprimorar os estudos relacionados agrave ocorrecircncia da

espeacutecie na regiatildeo assim como tambeacutem na densidade da populaccedilatildeo e dos tipos de solo em

que a espeacutecie ocorre pensando nas possibilidades de comercializaccedilatildeo deste recurso pelos

Kayapoacute de Las Casas assim como tambeacutem num futuro manejo da espeacutecie para aumentar a

densidade de populaccedilatildeo e assim a produccedilatildeo que segundo Oliveira et al (2008) depende

aleacutem do tipo de solo do ambiente de ocorrecircncia

56 As espeacutecies cultivadas em Las Casas

Em Las Casas eacute cultivada uma grande variedade de espeacutecies tanto alimentiacutec ias

principalmente nas roccedilas (puru) e nos quintais (kikre bunum) plantas medicinais de uso ritual

e alimentiacutecio principalmente frutiacuteferas Tambeacutem haacute quem aproveita das ilhas de floresta os

denominadaos apecircjti para plantar algumas variedades de banana eacute o caso de Panhkrorit i

Kayapoacute que soacute tem um filho e natildeo tem roccedila aproveita os apecircjti para plantar bananeiras de

diferentes variedades (quatro) e coletar fibras de buriti para a confecccedilatildeo de cestos ele considera

este apecircjti sua roccedila

Nas roccedilas satildeo cultivadas diversas variedades de batata doce Jagravet (Ipomoea batatas L)

macaxeira kwyacuteryacute (M esculenta) inhame mocircp (Dioscorea sp) banana Tyryti (M paradisiaca)

variedades de milho baacute-y (Zea mays L) bagravey-gogo (Oryza sativa L) aboacutebora (Cucurbita sp)

amendoim kairey (Arachis hypogaea L) cana de accediluacutecar kadjy ati (Saccharum officinale L) e

frutiacuteferas como manga pidjocirckranheti (M indica) goiaba (Psidium guajava L) mamatildeo

katembagraveri (Carica papaya L) taperebaacute bojrecircrecirckratildekryre (Spondias mombin L) jenipapo mrocircti

(G americana) melancia katentagravepuru (Citrullus lanatus (Thunb) Matsum amp Nakai) abacaxi

akranhiti (Ananas sativus Schultamp Schult f ) e urucum pyacute (Bixa orellana L) (figura 39)

161

Figura 39 Frutos de Tekagrave kamrekti uma das variedades de banana (M paradisiaca) cultivada na aldeia Las Casas


No levantamento realizado por de Robert et al (2012) nas roccedilas de Las Casas

encontraram que satildeo cultivadas ao menos 19 variedades de batata doce 23 variedades de

mandiocamacaxeira 16 variedades de inhame 17 variedades de banana 10 variedades de

milho baacute-y e duas variedades de arroz bagravey-gogo (Oryza sativa L) e apenas uma de aboacutebora

(Cucurbita sp) Um dos aspectos mais importantes em relaccedilatildeo agraves roccedilas Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute e

que vale a pena destacar eacute a importacircncia da diversidade e variedades dos cultivos na roccedila pois

para uma roccedila ser puru mex ou seja bonita como destacam as autoras precisa ter muitas plantas

diferentes assim o sucesso da agricultura Mẽbecircngocirckre estaacute relacionado agrave diversidade do plantio

e agraves relaccedilotildees sociais entre as unidades domeacutesticas da aldeia e entre aldeias Mẽbecircngocirckre (DE

ROBERT et al 2012)

Tambeacutem destacam as autoras que o fato de ter uma grande diversidade de plantas e

variedades permite ter alimentos o ano todo pois certas variedades de batata por exemplo tecircm

ciclos menores que as outras tambeacutem eacute uma maneira de diversificar as comidas pois haacute

preferecircncia por variedades assim como tambeacutem podem apresentar usos especiacuteficos sendo

algumas utilizadas para alimentar bebecircs ou bichos de estimaccedilatildeo (DE ROBERT et al 2012)

Segundo mencionam de Robert et al (2012) cada um destes espaccedilos cultivados

estaacute associado agraves unidades domeacutesticas ou seja conjunto de pessoas que possuem laccedilos de

parentesco e que compartilham uma mesma moradia ou trabalham juntas na mesma roccedila assim

para cada uma destas unidades haacute pelo menos um dos principais espaccedilos cultivados associados

entre estes o quintal (kikre bunum) do lado das casas e as roccedilas (puru) que estatildeo localizadas

perto da aldeia As roccedilas velhas (puru tum) e as capoeiras (ibecirc) natildeo continuam sendo trabalhadas

162

da mesma maneira que as roccedilas mas continuam sendo visitadas para a exploraccedilatildeo de recursos

ali presentes principalmente frutas como banana urucum e mamatildeo assim como tambeacutem tecircm

um papel muito importante como reservatoacuterio das espeacutecies cultivadas pois eacute laacute que as mudas e

sementes satildeo geralmente obtidas no momento de abrir uma nova roccedila (DE ROBERT et al

2012) Nos quintais kikre bunum espaccedilos domeacutesticos cuidados tambeacutem pelas mulheres satildeo

plantadas algumas variedades de banana e geralmente haacute pelo menos um peacute de frutiacuteferas como

manga pequi jenipapo urucum ingaacute e plantas medicinais principalmente herbaacuteceas utilizadas

para gripes e para dar banho em crianccedilas receacutem-nascidas

163

6 A ECONOMIA DOS MẼBENGOcircKRE-KAYAPOacute DA ALDEIA LAS CASAS DOS

SISTEMAS DE COLETA E PRODUCcedilAtildeO TRADICIONAL Agrave INSERCcedilAtildeO NO

MERCADO

61 Economia Indiacutegena

Segundo Shroumlder (2003) definir o que eacute a economia indiacutegena natildeo eacute uma questatildeo tatildeo

faacutecil como muitos poderiam pensar pois deve ser considerado o que eacute economia indiacutegena ou

natildeo Este autor destaca que este conceito deveria ser usado na forma plural pois ao se falar

sobre economia indiacutegena devem ser consideradas as diferentes formas de organizaccedilatildeo

econocircmica de estas sociedades razatildeo pela qual deve se destacar entatildeo que a economia indiacutegena

natildeo eacute homogecircnea e pode sofrer transformaccedilotildees sem deixar de ser indiacutegena ou seja guardando

as caracteriacutesticas culturais relacionadas agrave economia de cada povo

Eacute devido a estas razotildees que Shroumlder (2003) estima que pode se definir a economia

indiacutegena tomando em conta diversos criteacuterios estruturais organizativos e sociais Entre os quais

podem se destacar o tipo de participantes envolvidos (indiacutegenas ou natildeo) as formas de

produccedilatildeo as unidades de produccedilatildeo e consumo a ausecircncia de instituiccedilotildees formais de produccedilatildeo

a distribuiccedilatildeo e seu niacutevel organizativo o baixo grau de especializaccedilatildeo nos processos produtivos

e profissionais dimensotildees reduzidas da circulaccedilatildeo de produtos as trocas natildeo monetarizadas e

pelo objetivo principal dos sistemas econocircmicos ou seja autossustento versus comeacutercio

Entre estes criteacuterios eacute necessaacuterio destacar as trocas natildeo monetarizadas como elemento

fundamental das economias tradicionais Mauss (2003) Malinowski (1976) Sahlins (1979) e

Brenes (2007) destacam a daacutediva e a reciprocidade como elemento proacuteprio da economia

tradicional dos povos indiacutegenas ou seja a economia indiacutegena se estabelece dentro das normas

culturais do intercacircmbio reciacuteproco de presentes em trocas natildeo monetarizadas

Segundo Brenes (2007) nas sociedades indiacutegenas o presente eacute um instrumento central

por meio do qual satildeo estabelecidas alianccedilas que permitem fortalecer relaccedilotildees para conformar

um soacutelido tecido social desta maneira a economia pode se desenvolver atraveacutes da generosidade

reciacuteproca o que de outra maneira implica em prestiacutegio e respeito em conjunto com os

presentes

Eacute importante destacar outros aspectos de grande importacircncia na economia indiacutegena

tradicional os quais satildeo diversidade acumulaccedilatildeo e transmissatildeo de conhecimento tradiciona l

para o uso e manejo da biodiversidade (BRENES 2007)

Para Leonel (2000) o uso indiacutegena e tradicional dos recursos naturais contrasta com o

uso destruidor e dominante da recente expansatildeo da frente econocircmica pois os conhecimentos

164

indiacutegenas agrave medida que vatildeo sendo revelados chamam a atenccedilatildeo pelo seu valor inestimaacutevel e

pelo seu subaproveitamento Em relaccedilatildeo a este aspecto vaacuterios trabalhos principalmente na

Amazocircnia demonstram que as atividades produtivas destes povos satildeo o resultado de processos

de adaptaccedilatildeo e manejo aos ambientes explorados por eles (BALEacuteE 1989 POSEY 1992

ANDERSON POSEY 1989 CARNEIRO 1997)

Destaca Sabourin (2011) que a gestatildeo dos recursos comuns estaacute tambeacutem baseada numa

estrutura de reciprocidade binaacuteria coletiva especiacutefica o compartilhamento Ou seja os valores

afetivos e eacuteticos que resultam das relaccedilotildees de partilha correspondem a um sentimento de

pertencimento e confianccedila Este sentimento de pertencimento pode estar associado a uma noccedilatildeo

de unidade de solidariedade de forccedila e de vida do ser coletivo ou comunitaacuterio

Desta maneira os povos indiacutegenas mantecircm uma ampla lista de estrateacutegias econocircmicas

para a produccedilatildeo extrativismo e intercacircmbio de recursos que eles podem eleger e empregar

dependendo das mudanccedilas sazonais climaacuteticas assim como preferecircncias culturais e pessoais

(BRENES 2007)

Considerando as formas tradicionais de economia indiacutegena (SHROumlDER 2004) ou seja

formas transmitidas por vaacuterias geraccedilotildees e neste caso natildeo ligadas a atividades comerciais

podemos informar que em muitas populaccedilotildees indiacutegenas as principais atividades produtivas

abrangem a agricultura a caccedila a pesca e o extrativismo ligado agrave produccedilatildeo de cultura material

de uso domeacutestico e ritual atividades nas quais dependendo do povo indiacutegena haacute uma divisatildeo

sexual do trabalho marcada acontecendo na maioria das vezes em espaccedilos separados (DE

ROBERT et al 2012 POSEY 2002 BALEacuteE 1989 CLEMENTINO MONTE-MOR 2006)

Em geral as unidades de produccedilatildeo satildeo formadas por unidades domeacutesticas eou por

grupos de parentes Entre o povo Xakriabaacute de Minas Gerais por exemplo a agricultura

cultivada de modo tradicional eacute voltada para a subsistecircncia da famiacutelia nuclear e ampliada

(CLEMENTINO MONTE-MOR 2006)

Apesar disso fazendo referecircncia agraves atividades de produccedilatildeo alguns povos dependem

principalmente de outras atividades como a caccedila e a coleta considerados estes unicamente

como caccediladores-coletores Eacute o caso povo Guajaacute do Maranhatildeo (FORLINE 2000) Isto eacute comum

entre povos que habitam no Cerrado onde a acidez do solo eacute maior do que nas aacutereas de florestas

densas razatildeo pela qual a agricultura soacute eacute praticada por alguns destes povos nas matas de galeria

(MORAN 1990 DE ROBERT et al 2012)

Poderia se dizer entatildeo que a economia tradicional dos povos indiacutegenas abrange

atividades produtivas como a agricultura caccedila pesca coleta e manejo de produtos floresta is

165

madeireiros e natildeo madeireiros a produccedilatildeo de cultura material assim como as redes de troca que

vatildeo aleacutem do niacutevel local como satildeo as trocas intereacutetnicas interlocais regionais e inter-regiona is

(SHROumlDER 2003)

Mesmo prevalecendo ateacute hoje entre os povos indiacutegenas estes modelos de economia

tradicional atraveacutes das relaccedilotildees entre indiacutegenas e natildeo indiacutegenas estes modelos tecircm sofrido

mudanccedilas atendendo agraves dinacircmicas locais nas uacuteltimas deacutecadas (COICA-OXFAM 1996) Eacute

atraveacutes destas relaccedilotildees que tem surgido tanto o interesse quanto a necessidade de os povos

indiacutegenas integrarem sua economia tradicional agrave economia de mercado para satisfazer novas

necessidades criadas a partir da relaccedilatildeo com a sociedade envolvente

62 Atividades produtivas Agricultura coleta e manejo dos recursos na Aldeia Las

Casas

Como foi mencionado anteriormente entre os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute haacute uma segregaccedilatildeo

sexual dos espaccedilos de atuaccedilatildeo dentro da aldeia no que se refere agraves relaccedilotildees sociais e agraves

atividades produtivas como caccedila pesca agricultura coleta de frutas plantas medicinais assim

como tambeacutem a coleta de mateacuterias primas para a produccedilatildeo da cultura material e imaterial

Desta maneira considera-se o que eacute trabalho das mulheres Menire djagravepecircj e o trabalho

dos homens Memy djagravepecircj (LAS CASAS 2013) Porem haacute atividades que mesmo sendo

realizadas dentro do que eacute considerado espaccedilo feminino ou masculino respectivamente haacute

momentos em que haacute participaccedilatildeo de todos os membros da famiacutelia Este eacute o caso principalmente

da coleta de frutas da pesca e do estabelecimento das roccedilas Estas atividades acontecem

dependendo da disponibilidade sazonal de recursos e do tempo para plantar e coletar na roccedila

Em Las Casas dependendo da estaccedilatildeo as atividades satildeo organizadas da seguinte

maneira

O veratildeo ou Amex que inicia em marccedilo e vai ateacute o comeccedilo de outubro quando voltam

as chuvas e iniciam os trabalhos na roccedila ou seja comeccedila o roccedilado e as queimadas para novas

roccedilas ou novos plantios antes da primeira chuva para depois comeccedilarem a plantar No caso da

pesca segundo os moradores de Las Casas a melhor temporada para pescar eacute principalmente

nos meses de julho e agosto pois o rio estaacute seco e podem pescar com timboacute geralmente em

grupos familiares e com arco e flecha atividade ainda praticada na aldeia por especialis tas

como Patykre Kayapoacute Enquanto para a caccedila como mencionado anteriormente o veratildeo eacute o

melhor periacuteodo para caccedilar jabutis destinados agraves comidas de festas como menire e memy bi ocirck

166

(festa das mulheres e dos homens respectivamente) e Kwyry kangocirc (festa do suco da

mandioca)41

No mecircs de novembro comeccedila o periacuteodo de chuvas que estabelece o inverno nesta regiatildeo

denominado por eles Nagrave kumex (muita chuva) e vai ateacute o fim de fevereiro Neste periacuteodo

geralmente em novembro acontecem as festas e segundo os indiacutegenas ainda eacute tempo bom

para pescar pois o rio ainda natildeo encheu A partir de dezembro com o rio cheio eacute mais difiacutec il

pescar Nesse periacuteodo da roccedila se pode ainda colher jagravet (batata doce) Kwyry dwoi (macaxeira)

Kwyry dju (mandioca) mocircp (inhame) e katen (abobora) quando plantam milho a coleta

acontece em dezembro Fora da roccedila podem se coletar diferentes frutos como o Prim (pequi)

que pode ser coletado desde o mecircs de outubro ateacute janeiro kamere (bacaba) ateacute dezembro

Ngwra djocirc (frutos de buriti) ngradjagravere (A leucocalyx) e Wore djwocirc (Syagrus comosa (Mart)

Mart) Em relaccedilatildeo agrave caccedila neste periacuteodo de inverno segundo os indiacutegenas informaram eacute bom

caccedilar tatu pois neste tempo eles ldquoficam no buracordquo eacute faacutecil de pegar Pode se caccedilar Kapratilde

(jabuti Chelonoidis sp) 42 em qualquer momento do ano exceto nos meses de chuva forte que

satildeo janeiro e fevereiro nesses meses eacute difiacutecil (Kapratilde ket natildeo tem jabuti) Entre outros animais

que podem ser caccedilados no inverno estatildeo o quati (Nasua nasua Linnaeus 1766) o catitu

(Tayassu sp) e a cutia (Dasyprocta sp)

621 O trabalho das mulheres Menire djacircpecircj

Entre as atividades principais das mulheres no cotidiano dos Mẽbecircngocirckre estaacute o cuidado

da roccedila as atividades domeacutesticas como o fornecimento e preparo de alimentos de lenha assim

como tambeacutem o cuidado das crianccedilas da casa dos animais e das plantas cultivadas nos kikre

bunum (LEA 2012)

O estabelecimento das roccedilas puru as quais satildeo abertas geralmente na floresta no caso

de Las Casas nas florestas de galeria (bagrave prin) satildeo estabelecidas com uma organizaccedilatildeo do

trabalho que acontece no iniacutecio atraveacutes da participaccedilatildeo da famiacutelia pois satildeo os homens que

trabalham na derrubada das aacutervores e do local onde as mulheres iratildeo plantar Esse trabalho que

pode ser compartilhado entre homens e mulheres mas conforma um dos domiacutenios femininos

jaacute que satildeo elas que cuidam dos cultivos da coleta de frutos e tubeacuterculos ateacute processaacute-los em

41 Estas festas satildeo festas de nominaccedilatildeo ou batizado onde homens (memy bi ocirck kwyry kangocirc) e mulheres (menire

bi ocirck e kwyry kangocirc) satildeo batizados e recebem seus nomes 42Segundo os Kayapoacute o kapratilde o jabuti pode ser caccedilado em qualquer eacutepoca do ano mas se for caccedilado para alguma

festa onde este animal eacute sagrado como eacute o caso do memy bi ocirck menire bi ocirck e Kwyry kangocirc os jabutis devem ser

caccedilados entre junho e julho e reservados vivos ateacute o fim da festa quando satildeo preparados no ki sendo oferecido aos

padrinhos das crianccedilas que ganharam nome

167

alimentos (DE ROBERT et al 2012) Esta atividade pode ser compartilhada entre mulheres

das diferentes famiacutelias mas que pertencem agrave mesma categoria de idade Desta maneira haacute uma

cooperaccedilatildeo mutua nas atividades desenvolvidas nas roccedilas tanto para o cultivo quanto para a

colheita

Assim o trabalho das mulheres na roccedila implica aleacutem do cuidado e conhecimento das

variedades plantadas na obtenccedilatildeo de novas variedades atraveacutes de trocas entre irmatildes vizinhas

e amigos ou parentes em outras aldeias um sistema integrado de conhecimento do ambiente

explorado desde a saiacuteda da casa na aldeia ateacute a chegada agrave roccedila Segundo de Robert et al (2012)

para entender a agricultura Mẽbecircngocirckre eacute necessaacuterio situar as roccedilas nas dinacircmicas temporais e

espaciais numa escala maior associadas a trecircs grandes conjuntos que satildeo organizados de

maneira concecircntrica e sem fronteira riacutegida no entorno das aldeias que seriam o cinturatildeo das

roccedilas e espaccedilos cultivados as florestas e no caso de Las Casas o campo (kapocirct) e os espaccedilos

florestais mais distantes como eacute o caso das serras em Las Casas locais que satildeo frequentados

ocasionalmente para a coleta de frutas ou mateacuterias-primas para a confecccedilatildeo de objetos

Em Las Casas a saiacuteda para trabalhar na roccedila ocorre em grupos de mulheres da mesma

famiacutelia matildee e filhas irmatildes e tambeacutem amigas geralmente da mesma categoria de idade a

mekrapdjire na qual estatildeo incluiacutedas as mulheres com filhos jaacute grandes em muitos dos casos

com netos (casadas ou natildeo) com idades compreendidas entre 30 e 45 anos e mulheres velhas

que pertencem agrave categoria mebecircngecircjte que no caso tem muitos filhos e netos As mẽkurerere

tambeacutem participam das atividades na roccedila principalmente no estabelecimento da roccedila ou no

momento das grandes colheitas Quando natildeo participam do trabalho geralmente ficam em casa

cuidando das crianccedilas principalmente irmatildeos eou sobrinhos

Quando as mulheres vatildeo trabalhar na roccedila aleacutem de voltar com um pouco da produccedilatildeo

desta eacute comum que voltem com algumas enviras plantas medicinais e algumas frutas coletadas

no caminho

Dependendo do trabalho a realizar na roccedila as mulheres saem de manhatilde cedo As roccedilas

tradicionais em Las Casas estatildeo localizadas do outro lado do rio Pau dArco assim para chegar

ateacute laacute as mulheres fazem o percurso pelo Kapocirct o campo e nesse trajeto dependendo da estaccedilatildeo

haacute coleta de plantas medicinais frutas como manga ou pequi murici ou de palmeiras como o

ngratilde djware (A leucocalyx) Ao chegar na beira do rio atravessam o rio com a voadeira da

comunidade e continuam o caminho agrave roccedila aqui neste ponto na floresta de galeria estatildeo alguns

dos babaccediluais explorados por elas assim na hora de atravessar os babaccediluais se houverem cocos

no chatildeo pegam alguns cocos escolhem algum e quebram para ver se as amecircndoas estatildeo boas

168

para fazer oacuteleo Se os cocos estiverem bons rotilden kratilde mex kumrex elas coletam uns poucos de

cada peacute e separam para pegar na volta da roccedila

Ao chegarem agrave roccedila se for o tempo de colheita geralmente arrancam batatas macaxeira

mandioca e frutos que estiverem no tempo de coleta como banana mamatildeo ou melancia que

satildeo os cultivos mais comuns nas roccedilas de Las Casas

O cultivo de frutiacuteferas e tubeacuterculos pode variar de roccedila em roccedila assim como tambeacutem as

variedades cultivadas Em uma das saiacutedas para a roccedila que realizei com as mulheres da aldeia

juntando as de todas as roccedilas de seis famiacutelias num dia de coleta de batata e mandioca nomearam

para cada uma das roccedilas pelo menos seis variedades diferentes de batata quatro de mandioca e

nove variedades de bananeira43

Depois da coleta na roccedila se coletarem batata doce as mulheres costumam assaacute-las na

beira do rio Neste momento algumas mulheres se ocupam de buscar pedras folhas de banana

brava (Heliconia sp) e lenha para preparar o ki Quando as mulheres juntam a lenha e as pedras

acendem o fogo quando as pedras estatildeo quentes as juntam e colocam batatas coletadas e

preparam o ki forno tradicional utilizado pelos Mẽbecircngocirckre para a cocccedilatildeo de alimentos

Quando as pedras estatildeo quentes prontas para cozinhar as batatas o ki eacute armado Colocam

primeiro as pedras quentes em cima as batatas que satildeos cobertas com as folhas de banana brava

terra e algumas pedras quentes A cocccedilatildeo das batatas demora pelo menos hora e meia este

tempo eacute aproveitado para realizar outros trabalhos No mesmo tempo as mulheres aproveitam

para buscar e quebrar os cocos que coletaram antes de ir para a roccedila Enquanto esperam as

batatas quebram coco (babaccedilu) Este tempo mesmo de trabalho eacute um espaccedilo para a

socializaccedilatildeo entre as mulheres que foram trabalhar na roccedila Depois que as batatas ficam prontas

cada mulher carrega as batatas assadas nos seus cestos e deixam algumas para comer no rio

tomando banho finalizando assim a jornada de trabalho na roccedila (Figura 40)

43 Segundo de Robert et al (2012) num levantamento comparativo nas roccedilas de Las Casas e Moikarakocirc (TIK) cada

mulher pode manejar pelo menos 40 plantas diferentes em cada uma das suas roccedilas das quais pelo menos o 80

corresponde a diferentes variedades das principais espeacutecies cultivadas nas roccedilas Mẽbecircngocirckre batata doce

mandioca inhame e banana

169

Figura 40 Mulheres preparando as batatas para assar no forno de pedras k i depois de uma jornada de trabalho


Aleacutem do trabalho da roccedila a coleta de coco babaccedilu e a produccedilatildeo de oacuteleo a partir das

amecircndoas satildeo consideradas atividades exclusivamente femininas Segundo mencionam

Gonzaacutelez-Peacuterez et al (2012) em alguns momentos da produccedilatildeo do oacuteleo pode haver participaccedilatildeo

dos homens Mesmo assim eacute considerado o trabalho delas principalmente das mulheres idosas

Uma vez quando fizemos visitas onde morava Bekwynhryti e ao perguntar para seu genro onde

sua a sogra estava respondeu estaacute laacute trabalhando ou seja fazendo oacuteleo de babaccedilu Para

garantir o estoque da casa tinha produzido jaacute dois litros de oacuteleo e estava preparando mais dois

para mandar para seu irmatildeo que mora em Kikretum uma das aldeias localizadas na beira do

Rio Fresco na TIK

A coleta dos cocos pode acontecer de forma planejada ou como uma atividade

encaixada44 ao trabalho da roccedila como mencionado acima Mesmo assim se numa casa natildeo tem

mais oacuteleo para passar no cabelo ou misturar com urucum ou este estaacute acabando um grupo de

mulheres amigas ou parentes planeja uma saiacuteda para pegar coco Como todas as atividades

femininas a coleta de cocos eacute organizada e acontece por categorias de idade satildeo as mekrapdjire

e as mebecircnguecircjte que trabalham na coleta e na produccedilatildeo do oacuteleo poreacutem as mulheres de cada

categoria trabalham em grupos e espaccedilos diferentes Os principais babaccediluais explorados estatildeo

localizados nas florestas de galeria agrave beira do Rio Pau DArco perto das roccedilas (rotilden kocirc) e na

savana arborizada (kapocirct rotildene kocirc) respectivamente Geralmente quando a coleta eacute planejada

junto com uma pequena jornada de trabalho na roccedila haacute tambeacutem os babaccediluais explorados nas

pequenas florestas de galeria localizadas ao norte e ao sul da aldeia

44 Segundo Binford (1979 apud SILVA 2012) as atividades encaixadas satildeo o conjunto de atividades que ocorrem

em associaccedilatildeo umas a outras como o trabalho na roccedila ou a caccedila momento em que se aproveita a coleta de recursos

170

Vale destacar aqui que em cada saiacuteda para coletar coco as mulheres visitam diferentes

aacutereas do babaccedilual vatildeo selecionando entre os cocos que estatildeo no chatildeo e coletam soacute uns poucos

pois segundo elas tem que deixar para as cutias pois a cutia come sendo esta uma maneira

de garantir a dispersatildeo de sementes assim como tambeacutem o alimento de animais que satildeo caccedilados

Depois da coleta de cocos as mulheres se sentam juntas a quebrar cocos A quebra eacute

realizada com facatildeo eou machado se apoiando sobre uma pedra ou pode ser realizada a quebra

total do coco para retirar as amecircndoas mas geralmente se a saiacuteda eacute planejada para coletar cocos

as mulheres ficam trabalhando no babaccedilual Assim para ganhar tempo eacute retirado com facatildeo

apenas o mesocarpo deixando desta maneira o coco mais leve para o transporte ateacute a aldeia

Neste momento cada mulher limpa aproximadamente 20 quilos de coco depois de pelo

menos quatro horas de trabalho voltam na aldeia Os cocos satildeo carregados nos cestos cargueiros

utilizados por elas tambeacutem no transporte de alimentos Se coletarem mais cocos do que a

capacidade do cesto estes satildeo guardados em sacas de batata e acomodados acima do cesto jaacute

carregado de cocos Ao retornarem na aldeia as mulheres deixam os cocos coletados nos

quintais delas para deixaacute-los secando por pelo menos uma semana sendo desta maneira mais

faacutecil quebraacute-los

Para o processo de produccedilatildeo de oacuteleo satildeo separadas as amecircndoas fatiadas e trituradas

no pilatildeo e cozidas em aacutegua processo que se repete vaacuterias vezes ateacute obter o oacuteleo puro

(GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2012) (ver figura 41) Geralmente a produccedilatildeo de oacuteleo pode

acontecer na cozinha das casas que satildeo extensotildees da casa com um espaccedilo aberto a onde as

mulheres cozinham agrave lenha e preparam os fornos de pedra utilizados na cocccedilatildeo do berarubu e

alguns animais de caccedila

Tambeacutem pode acontecer nos quintais Kikre bunum que satildeo espaccedilos contiacuteguos agraves casas

onde haacute plantadas frutiacuteferas (manga pequi bananeiras ingaacute plantas medicinais e espeacutecies

utilizadas na pintura corporal como por exemplo o jenipapo-mrocircti e o urucum- py) Os quinta is

satildeo aproveitados tambeacutem para atividades de processamentos diversos confecccedilatildeo do artesanato

e processamento de alimentos principalmente da mandioca para a produccedilatildeo de farinha e para

o preparo do berarubu Mas os quintais natildeo satildeo apenas espaccedilos de produccedilatildeo Tambeacutem satildeo

lugares de socializaccedilatildeo como por exemplo sessotildees coletivas de pintura corporal que

acontecem geralmente a cada oito dias e quando haacute festas na aldeia onde as mulheres de uma

mesma categoria de idade se reuacutenem para se pintar (VIDAL 1977)

171

Figura 41 Bekwynhdjecircrecircti e Nhakrarakti limpando cocos num babaccedilual


Segundo os interlocutores indiacutegenas tem coco durante o ano inteiro mas o coco bom

para fazer oacuteleo deve ser coletado de preferecircncia no veratildeo pois antes do veratildeo os cocos estatildeo

verdes e natildeo prestam para fazer oacuteleo

Outras atividades ligadas agrave coleta de recursos entre as mulheres satildeo a coleta de frutos

lenha folhas para cozinhar plantas medicinais enviras e resinas utilizadas em enfeites para

festas A coleta de frutos como bacaba buriti e pequi acontece desde o comeccedilo do inverno

entre outubro e novembro No caso do pequi e da bacaba como no caso do buriti a coleta

comeccedila em dezembro Jaacute o jenipapo produz frutos o ano inteiro A coleta de frutos tambeacutem

acontece em grupos de mulheres e em algumas oportunidades as crianccedilas participam

A coleta de lenha pingratilde principal fonte combustiacutevel utilizado nas casas da aldeia45 eacute

uma atividade realizada apenas por mulheres a partir das categorias mekrapdjire e mebenguecircjte

devido a que envolve cargas muito pesadas Para a coleta de lenha geralmente as mulheres

organizam saiacutedas para coletar nas florestas de galeria agrave beira do rio Pau DArco e coletam de

ambos os lados do rio Jaacute no caminho de volta agrave aldeia juntam toda a lenha coletada e comeccedilam

a transportaacute-la em diferentes viagens ateacute levar tudo para aldeia Quando coletam lenha em

grande quantidade fabricam abrigos com palha de babaccedilu para que a lenha natildeo molhe com a

chuva As plantas medicinais satildeo coletadas se haacute presenccedila delas tanto no mato (bagrave) quanto

no campo (kapocirct)

45 Haacute pelo menos quatro famiacutelias na aldeia que atualmente recebem salaacuterios que compraram cozinha a gaacutes

172

Segundo informaram elas mesmas conhecem usos de plantas principalmente para gripe

diarreia e para dar banhos em bebecircs receacutem-nascidos e garantir a vida alguns cipoacutes e enviras

utilizados para acalmar dores de cabeccedila e nas articulaccedilotildees46 assim como tambeacutem remeacutedio para

cobra que levam para dar ao marido ou para o pageacute e ter em caso de emergecircncia

Vale a pena destacar aqui que quando haacute festas de nominaccedilatildeo na aldeia as mulheres

principalmente familiares e amigas dos donos da festa neste caso os pais das crianccedilas que vatildeo

receber nomes devem trabalhar intensivamente na coleta de folhas de banana brava lenha e

pedras para os ki onde iratildeo preparar o berarubu Em festas grandes quando tem vaacuterias crianccedilas

que vatildeo ganhar nome as mulheres dedicam pelo menos um dia de trabalho soacute agrave coleta de pedras

e outro para coletar as folhas de banana brava e resinas utilizadas nos enfeites de crianccedilas

principalmente para colar as penas de periquito no corpo e jenipapo e carvatildeo para o preparo da

pintura corporal (ver figura 42)

Figura 42 Bekwnhkore descansando com a lenha pronta para ser transportada ateacute a aldeia


Por outro lado mesmo sendo considerada uma atividade masculina no dia a dia as

mulheres se dedicam tambeacutem agrave pesca com anzol saindo em grupos de pelo menos seis

mulheres pois aproveitam o uso da voadeira da aldeia ou saindo tambeacutem com seus maridos Eacute

comum que os casais que jaacute tecircm filhos grandes saiam agraves tardes para pescar juntos

46 Eacute comum quando as mulheres fazem saiacutedas para a roccedila ou para coletar cocos que as mulheres mais velhas

coloquem enviras nas articulaccedilotildees principalmente nos joelhos para acalmar as dores que sentem por carregar

alimentos oriundos da roccedila cocos ou mesmo pelo esforccedilo do trabalho na roccedila ou por carregar lenha

173

Outros trabalhos realizados pelas mulheres e natildeo menos importantes que a produccedilatildeo de

alimentos e coleta de recursos para a subsistecircncia satildeo os relacionados agrave produccedilatildeo de cultura

material e imaterial que envolve tambeacutem produccedilatildeo de objetos destinados agrave comercializaccedilatildeo

As mulheres dedicam-se tambeacutem pintura corporal reunidas em grupos por categorias de idade

Segundo Vidal (1992) a arte expressada na pintura corporal reflete as concepccedilotildees

cosmoloacutegicas a estrutura social e as relaccedilotildees com a natureza pois atraveacutes de grafismos satildeo

representados animais como o jabutiacute (kapratildem) a cobra (Kangocirc) o tatu (tocirct) os peixes (tep) as

abelhas (mej) a anta (kukryt) e fenocircmenos da natureza como a chuva (na) (LAS CASAS

2013) Mesmo assim haacute outros grafismos representados na pintura corporal que natildeo

representam animais nem fenocircmenos da natureza que por sua vez satildeo considerados grafismos

dos kuben Os grafismos foram aprendidos com seus ancestrais e repassados geraccedilatildeo apoacutes

geraccedilatildeo sendo representados tambeacutem nos trabalhos que realizam em miccedilangas e plasmados

em outros materiais como em tecidos de algodatildeo e camisetas (Kubeka ocirck) utilizando a tinta

preparada com jenipapo para a pintura corporal e tintas para tecido Como resultados tem-se

beliacutessimas obras de arte materializando desta maneira sua cultura imaterial (LAS CASAS

2013) Entre os trabalhos confeccionados com miccedilangas se destacam os colares (angagrave o

meotildekredjecirc) as pulseiras (Me Inyacutej kam angagrave) miniaturas de cestos (angagrave o kax karotilde) brincos

(angagrave o meikre kam angagrave) tornozeleiras de miccedilangas com sementes de pequi (prĩmkagrave) porta

celulares (Angagrave o celular djagrave) e porta canetas (angagrave ocaneta djagrave)

Segundo Fuerst (1967) para os Kayapoacute a ceracircmica e a tecelagem satildeo atividades

desconhecidas Mesmo assim Lea (2012) destaca que as mulheres Mẽbecircngocirckre aprenderam

nas uacuteltimas deacutecadas a elaborar tipoias no tear manual e que hoje satildeo tambeacutem confeccionados

em Las Casas Tanto com as pinturas em tecidos objetos confeccionados com linhas de algodatildeo

ou linhas sinteacuteticas coloridas cujos grafismos satildeo inspirados nos grafismos tradicionais do povo

Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute quanto com os trabalhos com miccedilangas as mulheres buscam abrir um

espaccedilo no mercado local e nacional (LAS CASAS 2013)

622 O trabalho dos homens Memy djagravepecircj

Entre as principais atividades dos homens relacionadas agrave subsistecircncia estatildeo a caccedila de

animais silvestres como tatu (tocirct) anta (kykryt) catitu (angrocircre) jabuti (kapratilde) tamanduaacute

bandeira (Pagravet) e quati (wako) A caccedila eacute considerada uma atividade exclusivamente masculina e

geralmente eacute acompanhada de cachorros caccediladores que indicam se haacute algum animal perto

Como acontece com outras atividades produtivas mesmo a caccedila sendo considerada uma

174

atividade masculina se homens e mulheres estiverem juntos e aparecer algum animal ambos

participam do abate e cuidado do animal para o transporte ateacute a aldeia A caccedila de mamiacutefe ros

atualmente eacute realizada com espingarda Do mesmo jeito que as atividades das mulheres satildeo

realizadas principalmente por homens das categorias de idade mekrare e os mebecircngecirct

No dia a dia os homens saem na procura de proteiacutenas voltando para casa no mesmo dia

Jaacute quando haacute festas de nominaccedilatildeo eacute organizada a caccedila do jabuti47 para as comidas do

encerramento da festa Faltando poucos dias para o final da festa os donos da festa devem

organizar o acampamento de caccedila aonde vatildeo todos os homens da categoria mekrare e mebecircngecirct

e alguns menoronyre e instalam o acampamento longe da aldeia e agrave beira do rio Nos dias que

permanecem no acampamento o dono da festa deve garantir a alimentaccedilatildeo dos homens que

participam da caccedilada razatildeo pela qual ficam na beira do rio para pescar e comer peixe O

acampamento eacute levantado com barracas feitas com folhas de babaccedilu e enviras

Nesse periacuteodo de aproximadamente quatro dias satildeo coletadas enviras para preparar as

varas de jabuti Para isto durante o dia os mais velhos ensinam aos mais jovens quais as enviras

que devem ser coletadas Neste momento os mais jovens devem aprender a reconhecer as

enviras especiais para amarrar os jabutis pois segundo mencionaram os interlocutores a envira

natildeo pode ter cheiro forte que possa incomodar os jabutis ou seja toacutexico para eles pois poderiam

morrer Os homens devem chegar na aldeia com os jabutis vivos para poder ser preparados

pelas mulheres Agraves noites satildeo ensinados os cantos e haacute tambeacutem sessotildees de pintura corporal

coletiva Estas pinturas seratildeo o sinal para quem participa da festa de quais os homens que

participaram na caccedilada ou no caso das crianccedilas a participaccedilatildeo pela primeira vez num

acampamento de caccedila Tambeacutem no acampamento satildeo coletadas as varas de madeira para o

transporte dos animais ateacute a aldeia geralmente satildeo amarrados entre duas varas entre 12 e 16

jabutis chegando a pesar cada vara aproximadamente 100 kg (figura 43) Ao terminar de armar

as varas de jabuti o acampamento eacute desmontado e os donos da festa devem limpar a aacuterea Depois

voltam na aldeia onde todos aguardam a chegada dos jabutis Cada vara e carregada pelos

homens que se oferecem a transportaacute-la ateacute agrave aldeia Devido ao peso poreacutem fazem vaacuterias

paradas no caminho e sentam para descansar O dono da festa ainda nesses momentos deve

garantir bebida e um pouco de comida Ao chegarem agrave aldeia entregam as varas nas casas dos

donos da festa para comeccedilar o preparo da comida para festa

47 Nas festas de nominaccedilatildeo comemoradas atualmente em Las Casas o jabuti eacute o principal caccedilado jaacute que eacute

considerado o animal sagrado nas festas de Kwyry kangocirc menire bi ocirck e memy bi ocirck

175

Figura 43 Jabutis caccedilados para a festa das mulheres menire bi ocirck


A pesca em Las Casas eacute praticada principalmente em grupos familiares ou de amigos

Para esta atividade a aldeia possui uma voadeira coletiva que eacute utilizada pelos diferentes

moradores da comunidade tanto para a pesca quanto para o deslocamento para as roccedilas que

ficam do lado do rio contraacuterio ao que eles tecircm acesso pela aldeia Esta atividade como foi

mencionado anteriormente acontece tanto em grupos familiares quanto nos espaccedilos

diferenciados masculinos e femininos Geralmente com linha e anzol assim como tambeacutem

com rede Haacute indiacutegenas que ainda praticam a pesca com arco e flecha No veratildeo eacute comum a

praacutetica de pesca com cipoacute timboacute e com arco e flecha Estas duas praacuteticas ocorrem quando o

niacutevel da aacutegua estaacute mais baixo ou quando o rio seca A pesca com cipoacute timboacute eacute praticada em

grupos de amigos ou em grupos familiares no Rio Pau DArco ou nos pequenos coacuterregos que

estatildeo no territoacuterio explorado por eles (ver figura 44)

No que se refere agrave cultura material produzida pelos homens cabe destacar aqui a

importacircncia do ngagrave a casa dos homens localizada no meio da aldeia que eacute o lugar onde os

homens geralmente os velhos se reuacutenem e ensinam aos jovens os trabalhos do seu gecircnero

(LAS CASAS 2013) O trabalho dos homens aqui eacute principalmente a confecccedilatildeo de objetos a

partir de fibras de palmeiras como buriti bacaba e babaccedilu

Os homens trabalham tambeacutem a madeira onde se destacam objetos como bordunas (Kocirc)

armas utilizadas antigamente nas guerras e cujo uso atual eacute de cunho ritual Principalmente

utilizados em festas de nominaccedilatildeo satildeo tambeacutem destinadas agrave comercializaccedilatildeo assim como os

arcos (djudjecirc) e flechas (krwa) As mateacuterias primas destes uacuteltimos satildeo obtidas atraveacutes de trocas

devido a que o djudjecirc a paxiuacuteba (S exorrhiza) e a Krwa uma espeacutecie de bambu (natildeo

identificada) ocorrem no mato ou seja as florestas de terra firme da TIK Jaacute os pilotildees (kawa)

e os cachimbos (warikoko) satildeo confeccionados com madeiras que ocorrem em Las Casas

176

Os pilotildees satildeo confeccionados com a madeira do pequi Vale destacar entretanto que soacute

satildeo fabricados quando satildeo necessaacuterios ou quando algumas mulheres precisam pedem para o

marido ou irmatildeo fazer Os cachimbos satildeo tambeacutem comercializados Cabe tambeacutem aos homens

a confecccedilatildeo de instrumentos musicais utilizados em festas tradicionais como satildeo os maracaacutes

denominados por eles Ngocirckotilden Estas satildeo confeccionadas com madeira cabaccedila e sementes e

enfeitadas com breu penas de arara e papagaio Os primkagrave chocalhos a modo de tornozele iras

utilizadas em danccedilas nas festas satildeo confeccionados com sementes de pequi e a tornozele ira

pode ser confeccionada pelos homens com fibras de buriti ou pelas mulheres com miccedilangas

A confecccedilatildeo destes pode variar utilizando ao inveacutes de sementes de pequi as sementes do aguaiacute

(Cascabela thevethia (L) Lippold) (LAS CASAS 2013)

Figura 44 Pesca em Las Casas a) Patykre pescando com arco e flecha b) Bepkajkrit e Ynhore pescando com

red

a) aa

Fonte fotografia Sol Gonzaacutelez (2014-2016)

Satildeo os homens tambeacutem que confeccionam artefatos domeacutesticos como abanadores e

esteiras com as folhas novas do babaccedilu e que satildeo utilizados principalmente pelas mulheres em

177

atividades domeacutesticas Eacute ainda trabalho dos homens a construccedilatildeo das casas onde participam

desde a coleta de folhas ateacute a finalizaccedilatildeo da casa

Outro trabalho importante dos homens eacute a confecccedilatildeo de objetos plumaacuterios Segundo

Vidal (1980) as duas formas mais expressivas de produccedilatildeo artiacutestica entre os Kayapoacute satildeo por

um lado a pintura corporal que eacute uma atividade cotidiana exclusivamente feminina e executada

nas casas domiacutenio feminino Jaacute a confecccedilatildeo de ornamentos de plumaacuteria estaacute ligada a vida ritual

e executada na casa dos homens espaccedilo masculino Satildeo confeccionados em Las casas diversos

tipos de cocares (me agrave kagrave) com penas de arara (magravet jara) que satildeo adquiridas atraveacutes de trocas

com outras aldeias Mẽbecircngocirckre localizadas em aacutereas de floresta Cabe destacar que objetos

plumaacuterios e colares confeccionados com madre peacuterola (ngap) satildeo elaborados para festas rituais

e natildeo satildeo destinados agrave venda Pois como jaacute foi mencionado anteriormente a comercializaccedilatildeo

de produtos com mateacuterias-primas de origem animal eacute proibida pela Lei de proteccedilatildeo agrave fauna e a

Lei de crimes ambientais

Finalmente cabe destacar a importacircncia do papel dos homens dentro da vida poliacutetica e

no que se refere agrave organizaccedilatildeo das atividades dentro e fora da aldeia Entre os Mẽbecircngocirckre a

participaccedilatildeo poliacutetica eacute tambeacutem regida pelas categorias de idade e principalmente pelos homens

Entre esses a tomada de decisotildees cabe principalmente aos homens da categoria mekrare mesmo

assim as decisotildees e a participaccedilatildeo dos mebengecirct eacute de grande importacircncia (VIDAL 1977)

Todas as questotildees de ordem poliacutetica satildeo propostas e resolvidas no ngagrave questotildees da vida

poliacutetica e relaccedilotildees ou conflitos entre aldeias assim como tambeacutem assuntos entre parentes de

outras aldeias satildeo resolvidas pelos homens neste espaccedilo De igual maneira os homens da

categoria mebengecirct ou seja os velhos que satildeo bastante respeitados na tomada de decisotildees por

deterem mais conhecimento do que os mais jovens Entre a categoria mekrare encontram-se os

chefes de guerreiros que comandam a lideranccedila depois dos caciques Mas tambeacutem haacute lideranccedilas

de grande importacircncia como eacute no caso de Las Casas Parityk o wayangaacute de Las Casas

personagem importante na reocupaccedilatildeo e reconhecimento da TI Las Casas como territoacuterio

Tradicional Tabocirc e Takwyacutery Kayapoacute fortes lideranccedilas da aldeia que tecircm cargos na FUNAI e

no DSEI Kayapoacute respectivamente atuando no dia a dia da vida poliacutetica fora da aldeia

considerados junto com os caciques benjadwyr ou seja chefes que podem comandar as

decisotildees depois de consultar com a comunidade (LAS CASAS 2013)

Mesmo assim em Las Casas as mulheres tecircm um papel muito importante na tomada de

decisotildees no que se refere agrave vida poliacutetica entre aldeias Assim como tambeacutem na decisatildeo de

futuros projetos que envolvem tanto a comunidade quanto ao povo Mẽbecircngocirckre relacionados

178

estes agrave questatildeo ambiental e agrave geraccedilatildeo de renda nas comunidades desta maneira participam nas

decisotildees tambeacutem de aprovaccedilatildeo ou natildeo de projetos relacionados agrave pesquisa e desenvolvimento

da comunidade Na TI Las Casas nas outras aldeias que a conformam haacute mulheres cacicas

em cada uma das aldeias sendo por elas representadas as mulheres na tomada de decisotildees em

conjunto com a comunidade

Considerando as atividades mencionadas acima principalmente as relacionadas agrave

produccedilatildeo de alimentos e cultura material e imaterial e mesmo que a maioria das atividades

estejam organizadas por segregaccedilatildeo sexual ganhando cada gecircnero espaccedilos separados de

atuaccedilatildeo pode-se afirmar que entre os Mẽbecircngocirckre o modo de produccedilatildeo eacute familiar

Tomando em conta aqui o que Sahlins (1976) menciona nas sociedades ditas tribais em

relaccedilatildeo ao modo de produccedilatildeo e pensando as relaccedilotildees de produccedilatildeo ao mesmo tempo que os

meios materiais para as executar as atividades ligadas agrave produccedilatildeo podem se qualificar como

domeacutesticas ou familiares Desta maneira a famiacutelia eacute aqui no caso dos Mẽbecircngocirckre e outras

sociedades indiacutegenas o que a empresa representa no capitalismo moderno ocupando a famiacutelia

o lugar da instituiccedilatildeo (SAHLINS 1976) Assim a produccedilatildeo eacute uma funccedilatildeo domeacutestica onde a

famiacutelia estaacute comprometida diretamente com o processo econocircmico e de alguma maneira tem o

controle dele Neste sentido o que eacute produzido se organiza de acordo com as necessidades

familiares Mesmo assim a produccedilatildeo domeacutestica natildeo deve se definir como uma produccedilatildeo apenas

para o uso do coletivo familiar mas tambeacutem para as trocas com as quais podem se adquirir

indiretamente outros objetos ou produtos que satildeo necessaacuterios sendo um modo de produccedilatildeo que

se mantecircm graccedilas ao coletivo (SAHLINS 1976)

Isto pode ser observado em Las Casas tanto no que se refere ao trabalho das atividades

consideradas femininas como a manutenccedilatildeo das roccedilas que no iniacutecio tem a participaccedilatildeo dos

homens as sessotildees de pintura corporal organizadas uma vez por semana a coleta de coco

babaccedilu e a coleta de folhas de banana brava e pedras para o preparo de berarubu No caso dos

homens a caccedila a pesca que em algumas oportunidades satildeo realizadas em grupos familiares ou

como atividades comunitaacuterias como satildeo as saiacutedas citadas acima para pescar com cipoacute-timboacute

na eacutepoca do veratildeo e as caccediladas de jabuti para diferentes festas de nominaccedilatildeo

Neste sentido eacute interessante destacar a importacircncia da produccedilatildeo familiar e comunitaacuter ia

para a vida ritual entre os Mẽbecircngocirckre no momento das festas na aldeia mesmo tendo um ou

vaacuterios donos da festa que devem garantir a alimentaccedilatildeo durante a mesma e no acampamento

de caccedila assim como na coleta de outros recursos necessaacuterios para a festa acontecer Gordon

179

(2006) faz destaque ao grande investimento que os Mẽbecircngocirckre fazem na vida ritual citando

esta como uma caracteriacutestica sociocultural marcante deste povo

Os convidados agrave festa que vecircm de outras aldeias e os moradores da comunidade mais

proacuteximos aos donos da festa participam ativamente do preparo da festa Em novembro de 2014

durante pelo menos 21 dias em trabalho de campo em Las Casas houve a celebraccedilatildeo de trecircs

festas diferentes uma seguida da outra A primeira o Menire bi ocirck a festa das mulheres a

segunda o Kwyacuteryacute Kangocirc e a terceira a festa do Takagravek Foi entre todas as visitas da aldeia talvez

a mais intensa no que se refere ao acompanhamento das atividades Nessa oportunidade no

iniacutecio do Menire bi ocirck foi possiacutevel acompanhar a coleta de pedras na qual participaram ao

menos 25 mulheres coletando e quebrando pedras com machado no Kapocirct para conseguir a

quantidade necessaacuteria de pedras a utilizar nos fornos de pedra (ki) as mulheres fizeram pelo

menos quatro viagens em dois locais a 30 minutos andando da aldeia e carregando cestos cada

uma com pelo menos 20 Kg (figura 45) Houve tambeacutem saiacutedas para coletar folhas de banana

brava (Heliconia sp) para o preparo de berarubu assim como tambeacutem de resinas para colar as

penas de periquitos nas crianccedilas que vatildeo receber seus nomes as folhas de banana brava e as

resinas satildeo coletadas nas florestas de galeria distantes da aldeia

Tambeacutem a organizaccedilatildeo dos acampamentos de caccedila corresponde aos homens Aqui o

dono da festa deve organizar o acampamento e fornecer alimentos durante o preparo da festa

Mesmo assim os homens que acompanham a caccedila pescam todos os dias Por esta razatildeo o

acampamento se estabelece geralmente na beira do rio para desta maneira garantir o peixe nos

dias que ficaratildeo acampados Vale destacar que as saiacutedas coletivas tanto a coleta de folhas

resinas e pedras quanto a caccedila do jabuti para as festas fazem parte do ritual da festa (DE

ROBERT 2008)

Em relaccedilatildeo a este aspecto Turner (1991) que trabalhou com os Mẽbecircngocirckre

principalmente da aldeia Gorotire (TIK) destaca que partindo das relaccedilotildees masculinas e

femininas satildeo conduzidas as cerimocircnias principalmente ritos de passagem e nominaccedilotildees

Segundo o autor estes tipos de rituais ressaltam a importacircncia do fortalecimento ou

estabelecimento das relaccedilotildees familiares e extra nucleares Por conseguinte estas relaccedilotildees

enfatizam a incompletude e a dependecircncia da famiacutelia nuclear e seus membros em relaccedilatildeo agrave

famiacutelia extensa e agrave comunidade como um todo

180

Figura 45 Mulheres carregando pedras para o preparo dos fornos Ki na festa das mulheres menire bi ocirck


Para Turner (1991) as possiacuteveis permutaccedilotildees da estrutura familiar produzidas pelas

cerimocircnias comunais entre os Mẽbecircngocirckre definem a estrutura da famiacutelia extensa e servem

como criteacuterio de recrutamento das instituiccedilotildees coletivas da comunidade Assim estas

instituiccedilotildees comunais tanto incorporam a estrutura do grupo domeacutestico e da famiacutelia extensa

como tambeacutem servem para reproduzi-la Desta maneira a sociedade como um todo eacute organizada

com um princiacutepio de hierarquia recorrente na qual cada niacutevel reproduz o mesmo padratildeo

estrutural Destaca o autor que desta maneira este princiacutepio aplicar-se-aacute natildeo somente no sentido

comunal e agrave unidade familiar mas tambeacutem agrave construccedilatildeo social da pessoa

As atividades produtivas como a agricultura e a coleta de PFNMs satildeo complementadas

com a renda monetaacuteria proveniente de aposentadorias do Programa Bolsa-Famiacutelia salaacuterios

(agentes de sauacutede professores e funcionaacuterios puacuteblicos) e quando possiacutevel a venda de

artesanato que recentemente tem se fortalecido com a venda de artesanato em duas lojas em

Beleacutem do Paraacute (LOacutePEZ GARCEacuteS et al 2015)

A partir das entrevistas foi levantado em Las Casas que o total de famiacutelias entrevistadas

5625 natildeo complementa sua renda com a venda de artesanato e sim atraveacutes dos programas

de transferecircncia de renda e aposentadorias apenas 625 das famiacutelias entrevistadas possuem

uma renda superior a trecircs salaacuterios miacutenimos 625 possui uma renda superior a dois salaacuterios

181

miacutenimos 5625 possui uma renda igual ou superior a um salaacuterio miacutenimo e o 3125 possuem

renda menor a um salaacuterio miacutenimo Segundo o cacique da aldeia pelo menos 24 famiacutelias

recebem bolsa famiacutelia nove pessoas (de sete famiacutelias) recebem aposentadoria e haacute dez pessoas

assalariadas na aldeia entre os que estatildeo trecircs funcionaacuterios da sauacutede seis da educaccedilatildeo e um da

FUNAI

623 Reciprocidade e redes de troca de recursos o que tem e o que natildeo tem em Las

Casas

Um aspecto relevante em relaccedilatildeo aos recursos utilizados em Las Casas e a importacircnc ia

destes na cultura material e na vida ritual fato que tambeacutem foi observado na pesquisa em outra

aldeia Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute em Moikarakocirc (TIK) eacute a troca de recursos vegetais e animais

utilizados tanto na alimentaccedilatildeo quanto na cultura material e imaterial A primeira vez que estive

em Moikarakocirc na primeira aldeia a visitar para comeccedilar a pesquisa sobre produtos floresta is

natildeo madeireiros (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ 2011) ao visitar as primeiras casas verifiquei que na

maioria das casas havia pacotes de fibra de buriti penduradas no teto dentro das casas Em

Moikarakocirc natildeo ocorre o buriti (M flexuosa) mesmo assim a fibra de buriti estava presente em

vaacuterias casas pois esta era obtida atraveacutes de trocas com parentes que moravam no campo

Continuando a pesquisa jaacute em Las Casas (TI Las Casas) e nas primeiras conversas sobre os

recursos que tecircm em Las Casas K Kayapoacute explicou que a falta de determinados recursos

utilizados na alimentaccedilatildeo ou na cultura material e imaterial pode influenciar na perda da cultura

Segundo K Kayapoacute ldquoOs recursos utilizados no Mẽ kunhecircre48 satildeo sempre os mesmos

o que tem no campo eles mandam pra o mato (carvatildeo buriti) e o que natildeo tem no campo eles

mandam do mato (Mry kratilde Baikagrave) aqui tem babaccedilu e buriti(K Kayapoacute entrevista de campo

2010)

Ele mencionou tambeacutem que a falta de certos recursos como por exemplo a madre

peacuterola influenciou na substituiccedilatildeo desta por plaacutestico ou latas imitando desta maneira a madre

peacuterola empregada na confecccedilatildeo de colares e brincos utilizados em festas de nominaccedilatildeo assim

como tambeacutem acontece com a substituiccedilatildeo do Kakro-y (cipoacute titica) utilizado para a confecccedilatildeo

de cestos cargueiros que as mulheres empregam no transporte de alimentos da roccedila ateacute a aldeia

por cintas de plaacutestico

Entre os recursos que participam destas redes de troca principalmente destacaram o

carvatildeo (utilizado no preparo da tinta utilizada na pintura corporal) penas (utilizadas na

confecccedilatildeo de cocares e enfeites de crianccedilas em festas de nominaccedilatildeo) fibras de buriti amecircndoas

48 Mẽ kunhecircre em Mẽbecircngocirckre se refere agrave cultura incluindo a cultura material e imaterial

182

ou oacuteleo de babaccedilu sementes utilizadas na confecccedilatildeo de objetos destinados agrave comercializaccedilatildeo

e a castanha do Brasil No caso da castanha-do-Brasil que natildeo ocorre em Las casas eacute comum

que muitas famiacutelias no comeccedilo do ano se desloquem para aldeias onde tecircm castanhais para

trabalhar na coleta como por exemplo Gorotire Kocirckraimocircrocirc Kikretum Aukre e

Moikarakocirc49 voltando na aldeia com um pouco da coleta da castanha para a famiacutelia nuclear e

para outros parentes na aldeia

As trocas acontecem tambeacutem quando vatildeo visitar parentes em outras aldeias em ocasiatildeo

de festas Aproveita-se a oportunidade para levar sementes oacuteleo de babaccedilu e fibras jaacute

beneficiadas de buriti sementes para a confecccedilatildeo de colares mudas de bananeira batatas

manivas ou periquitos se algum amigo ou vizinho natildeo pode viajar na ocasiatildeo aproveitam a

oportunidade e enviam alguma coisa a seus parentes ou amigos que estatildeo em outras aldeias

Eacute necessaacuterio destacar aqui a atual monetarizaccedilatildeo de recursos que no passado eram

obtidas atraveacutes de trocas entre parentes e aldeias A demanda de certos recursos como a cascas

do cipoacute Baikagrave utilizado no acabamento de cestos e nos grafismos tranccedilados das bordunas assim

como penas de diferentes aves utilizadas na confecccedilatildeo de cocares e diademas utilizados em

rituais de nominaccedilatildeo recursos que soacute ocorrem ldquono matordquo agora satildeo vendidas entre os mesmos

parentes Mẽbecircngocirckre Segundo mencionaram Tabocirc Kayapoacute e seus parentes que estavam de

visita na aldeia para a festa das mulheres menire biocirck comemoradas em novembro de 2014

tinham comprado um rolo de baikagrave por 400 reais mencionaram tambeacutem que as penas amarelas

utilizadas para compor o diadema utilizado pelas crianccedilas estariam em torno de 2000 reais no

miacutenimo Segundo informaram recentemente recursos que soacute satildeo encontrados no mato e satildeo

difiacuteceis de encontrar natildeo satildeo mais trocados e sim vendidos

De Robert et al (2012) no trabalho comparativo realizado entre as aldeias Las Casas e

Moikarakocirc sobre a agrobiodiversidade Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute destacam que o sucesso da

agricultura Mẽbecircngocirckre se deve agrave diversidade do plantio que por sua vez depende de relaccedilotildees

sociais entre pessoas unidades domeacutesticas e aldeias Estas tecircm sido estabelecidas tambeacutem no

contexto histoacuterico das relaccedilotildees dos Mẽbecircngocirckre com os kuben (natildeo indiacutegena) quando havia

guerras migraccedilotildees e raptos de mulheres Estes processos e a fundaccedilatildeo de novas roccedilas e aldeias

enriqueceram o leque de plantas cultivadas que participam de um mesmo processo de

apropriaccedilatildeo e que se manifesta hoje como uma tradiccedilatildeo tipicamente Kayapoacute (DE ROBERT et

al 2012 p 363)

49 Todas estas aldeias estatildeo localizadas na TI Kayapoacute onde predominam as florestas de terra firme

183

De Robert et al (2012) e Cohn (2005) destacam o orgulho que as mulheres Mẽbecircngocirckre

expressam graccedilas a beleza das suas roccedilas pois o fato de ter uma ampla gama de espeacutecies e

variedades cultivadas em suas roccedilas se relaciona tambeacutem ao sucesso dos vaacuterios eventos

aconteceram no decorrer da vida delas Principalmente atraveacutes de longas expediccedilotildees pela

floresta assim como tambeacutem nas roccedilas dos kuben que encontravam nos caminhos e visitas a

outras aldeias em ocasiatildeo de festas Posso mencionar aqui quando Oipro a filha do pageacute de Las

Casas voltou de uma temporada em Cateteacute (TI Xikrin do Cateteacute) onde foi com sua famiacutelia por

ocasiatildeo de uma festa trouxe variedades de batata entre essas uma amarela Ela estava muito

feliz de ter conseguido trazer essa batata para plantar na sua roccedila e trocar com suas amigas pois

segundo ela essa batata eacute muito gostosa

Pensando ainda nas redes de troca para a o aumento de variedades nas roccedilas Lima

Stewart e Richards (2012 p 371) documentaram no meacutedio Solimotildees entre ribeirinhos as redes

de troca relacionadas a variedades de mandioca (M esculenta) Segundo as autoras quando os

agricultores ficam sem manivas para plantar uma nova roccedila eles conseguem manivas atraveacutes

de vizinhos parentes ou de outras comunidades cuja forma tradicional de obtenccedilatildeo eacute a daacutediva

ou a troca ou por meio de ajuris que satildeo mutirotildees de trocas de serviccedilos e onde eacute comum a

circulaccedilatildeo de variedades de manivas entre os que participam

Gordon (2006) menciona este aspecto em relaccedilatildeo ao uso cotidiano que os Xikrin fazem

das mercadorias e que segundo o autor eacute uma maneira de cuidado com os parentes Segundo

ele os Xikrin enxergam as mercadorias agraves quais eles tecircm acesso como objetos que devem servir

para agradar as pessoas e desta maneira marcar laccedilos de parentesco Assim presentear os

parentes eacute uma forma de lembrar-se deles Nas trocas que acontecem entre as aldeias Cateteacute e

Djudjecirckocirc (TI Xikrin do Cateteacute) haacute uma circulaccedilatildeo intensa de objetos sobretudo de alimentos

industrializados ao lado de produtos da roccedila e da caccedila assim quem estaacute na cidade envia

produtos industrializados e quem estaacute na aldeia demonstra preocupaccedilatildeo tambeacutem em enviar aos

parentes em transito na cidade qualquer agrado entre os que mencionam sacos de farinha

pacotes de beiju com carne (djwouml kupu) bananas e ateacute garrafas plaacutesticas de refrigerante

reutilizadas com oacuteleo de babaccedilu (GORDON 2006)

Por outro lado as trocas tambeacutem fazem parte do iniacutecio das relaccedilotildees com a sociedade

envolvente A partir dos primeiros contatos dos Mẽbecircngocirckre com a sociedade envolven te

em 1860 Hemming (1987 apud LEA 2012) menciona que havia traacutefico de crianccedilas Kayapoacute

(Iratildea mraire) em Santa Maria com os colonos da regiatildeo que forneciam miccedilangas de vidro

ferramentas de metal e fumo em troca de queixadas e crianccedilas

184

Segundo Shroumlder (2003) as relaccedilotildees econocircmicas aleacutem do niacutevel domeacutestico se

manifestam geralmente atraveacutes de redes de troca interlocais intereacutetnicas regionais ou inter -

regionais Desta maneira natildeo tem sentido pensar nas sociedades indiacutegenas como sistemas

fechados Pois segundo este autor ateacute os grupos indiacutegenas considerados isolados costumam

ter relaccedilotildees de troca com outros grupos Assim conhecer as relaccedilotildees e redes de troca

principalmente em grupos pouco integrados na economia de mercado pode ser importante na

implementaccedilatildeo de projetos que visem o desenvolvimento econocircmico

63 A integraccedilatildeo da economia indiacutegena na economia de mercado

631 Os Povos Indiacutegenas e os riscos resultantes das relaccedilotildees com a sociedade envolvente

na economia tradicional

Um dos aspectos mais discutidos no que se refere agrave integraccedilatildeo das economias indiacutegenas

agrave economia de mercado satildeo as possiacuteveis mudanccedilas culturais que podem disso resultar assim

como outros empecilhos que estes povos podem encontrar no processo

No que diz respeito aos processos de integraccedilatildeo ao mercado tanto nos sistemas

regionais quanto nos nacionais Schroumlder (2004) recomenda fazer uma distinccedilatildeo baacutesica entre

os impactos gerais da integraccedilatildeo agrave sociedade envolvente Segundo o autor os impactos para as

economias indiacutegenas satildeo importantes para entender este processo de integraccedilatildeo jaacute os impactos

sociais satildeo importantes tambeacutem no que se refere agraves questotildees de sustentabilidade ambiental

Schroumlder (2004) destaca entre os pontos mais importantes a considerar em relaccedilatildeo a

estes processos de integraccedilatildeo possiacuteveis mudanccedilas culturais relacionadas a

1 Inseguranccedila dos limites das TIs devido agraves pressotildees econocircmicas e sociais de diversas

frentes sobre eles pois mesmo que os processos de demarcaccedilatildeo das TIs tenham sido

finalizados isto natildeo significa que estas pressotildees tenham sido reduzidas

2 Reduccedilotildees territoriais com perda de zonas tradicionalmente exploradas com base nos

saberes locais diminuindo assim as opccedilotildees econocircmicas

3 A frequente necessidade de comercializar produtos para adquirir outros natildeo produzidos

por eles ou ausentes nos seus territoacuterios (medicamentos roupas sapatos ferramentas

mateacuterias-primas industrializadas etc) fato que aumenta a crescente dependecircncia do

mercado

4 Exploraccedilatildeo acelerada das aacutereas de caccedila e de pesca

5 Aumento das aacutereas de cultivo e integraccedilatildeo de espeacutecies natildeo cultivadas tradicionalmente

aumentando assim a exploraccedilatildeo dos solos

185

6 Reduccedilatildeo da diversidade de estrateacutegias indiacutegenas aumentando desta maneira os riscos

econocircmicos

7 Reduccedilatildeo da diversidade de plantas cultivadas na agricultura tradicional passando de

uma agricultura rica em variedades a uma agricultura pouco diversificada ou

monocultura

8 Individualizaccedilatildeo das formas de trabalho e da divisatildeo sexual do trabalho

9 Oferta da proacutepria forccedila de trabalho aos natildeo indiacutegenas correndo assim o risco de perder

a autonomia e do controle indiacutegenas sobre os processos de produccedilatildeo

10 A monetarizaccedilatildeo de uma parte das relaccedilotildees econocircmicas em prejuiacutezo das comunidades

indiacutegenas

11 Abandono de formas tradicionais de distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo

Aleacutem destes processos de integraccedilatildeo podem acontecer outros impactos frequentes como

satildeo a degradaccedilatildeo ambiental ou seja mudanccedilas nas relaccedilotildees culturalmente definidas da

populaccedilatildeo indiacutegena como o meio ambiente (SCHROumlDER 2004)

Para Little (2002) um dos embates que os povos indiacutegenas e populaccedilotildees tradiciona is

encontram no primeiro momento ao tentar a integraccedilatildeo agraves estruturas econocircmicas externas eacute o

fato de tentar elaborar praacuteticas reprodutivas que garantam o abastecimento para suas

necessidades baacutesicas ao mesmo tempo em que permitam a produccedilatildeo de excedentes a serem

utilizados na geraccedilatildeo de renda para compra de produtos industrializados

Mesmo assim Brenes (2007) destaca que este eacute um passo difiacutecil a ser dado porque assim

como para a economia de mercado o eixo norteador eacute acumulaccedilatildeo para a economia indiacutegena o

eixo norteador e seu princiacutepio loacutegico eacute a distribuiccedilatildeo Fazendo referecircncia ao relacionamento

com o mercado por parte dos povos indiacutegenas Little (2002) propotildee cinco micromode los

econocircmicos que poderiam auxiliar a entender este processo dependendo da situaccedilatildeo na

integraccedilatildeo ao mercado

Um primeiro modelo estabelece que deve haver fortalecimento das atividades de

subsistecircncia que satildeo consideradas como um atraso pela ideologia hegemocircnica por serem

ponderadas de pouca produtividade aleacutem de natildeo ser destinadas ao mercado Mesmo assim

estas atividades por um lado continuam fornecendo alimento para esses grupos garantindo

assim a seguranccedila alimentar elemento fundamental para qualquer modelo de desenvolvimento

Por outro lado as atividades de subsistecircncia estatildeo ligadas a significados de cunho simboacutelico

ritual e artiacutestico destes povos o que ao mesmo tempo traz um mecanismo de fortalecimento

186

cultural Eacute o caso que seraacute discutido em profundidade mais adiante da experiecircncia com o

fortalecimento da cultura e inserccedilatildeo no mercado na aldeia Las Casas

O segundo modelo estaacute relacionado ao estabelecimento de economias paralelas Neste

modelo o povo ou grupo eacutetnico continuaria a trabalhar nas suas atividades de subsistecircncia ao

mesmo tempo em que elaboram produtos para os mercados mas sem vender diretamente a

produccedilatildeo Neste caso haveria uma intermediaccedilatildeo na fase de comercializaccedilatildeo que seria feita por

uma macro-organizaccedilatildeo ou confederaccedilatildeo eacutetnica que represente poliacutetica e economicamente o

grupo de produtores Assim os pagamentos seriam feitos em mercadoria ao inveacutes de dinheiro

para evitar a mercantilizaccedilatildeo dessa produccedilatildeo e as possiacuteveis distorccedilotildees na organizaccedilatildeo local

O terceiro micromodelo prevecirc a terceirizaccedilatildeo das atividades produtivas por parte do

grupo local pois os grupos locais nem sempre tecircm a matildeo de obra os conhecimentos teacutecnicos

necessaacuterios para realizar atividades econocircmicas dentro seu territoacuterio Este processo seria

realizado atraveacutes de contratos expliacutecitos feitos com consciecircncia plena de todas as partes

O quarto modelo consiste no controle total do processo econocircmico em desenvolvimento

Assim este modelo envolve o controle sobre cada fase do processo econocircmico Isto inclui

acompanhar os processos de produccedilatildeo beneficiamento comercializaccedilatildeo e reinvestimentos por

parte da organizaccedilatildeo local Segundo Little (2002) este uacuteltimo eacute o modelo mais difiacutecil muitas

vezes por causa da falta de capacitaccedilatildeo para cobrir cada uma das fases assim como pela

incapacidade de controlar os fatores desfavoraacuteveis externos

O quinto e uacuteltimo modelo seria em parte um desdobramento do quarto e soacute poderia ser

implementado quando o grupo local estabeleccedila o controle total sobre o processo produtivo Este

visa criar um valor econocircmicoeacutetnico para assim estabelecer um nicho diferenciado no mercado

Tomando em conta estes modelos propostos por Little (2002) pode se considerar que

em Las Casas o processo de inserccedilatildeo ao mercado estaacute sendo desenvolvido atraveacutes do segundo

modelo pois percebe-se que haacute o estabelecimento de economias paralelas pois a comunidade

continua trabalhando nas suas atividades econocircmicas tradicionais como satildeo a agricultura caccedila

pesca coleta de frutos e outros produtos florestais natildeo madeireiros utilizados na subsistecircncia e

complementam esta economia com uma entrada monetaacuteria atraveacutes de programas de repasse de

renda do governo federal como a bolsa famiacutelia e as aposentadorias salaacuterios e os ingressos

obtidos atraveacutes da venda de artesanato Vale destacar que este modelo contempla a

intermediaccedilatildeo na comercializaccedilatildeo de produtos e artesanato mediado neste caso pelos

pesquisadores e pela Associaccedilatildeo Floresta Protegida (AFP) e ainda que os natildeo sejam efetuados

em mercadorias como eacute proposto no modelo e sim em dinheiro Desta maneira pode se afirmar

187

tambeacutem que o processo de integraccedilatildeo ao mercado acontece seguindo etapas e dinacircmicas

diferentes dependendo do povo indiacutegena e o contexto local regional e nacional

Para Little (2002) estes processos de etnodesenvolvimento local estatildeo permeados por

muitas dificuldades e que devem ser confrontadas diretamente para evitar resultados natildeo

desejados O autor destaca que existem pelo menos trecircs perigos a serem levados em conta na

hora de iniciar um projeto de desenvolvimento local Um primeiro perigo seria a cooptaccedilatildeo do

grupo local por parte de entidades ou forccedilas maiores ou seja situaccedilotildees onde o grupo local eacute

inserido dentro de estruturas econocircmicas e poliacuteticas de tal maneira que o grupo perde sua

autonomia cultural e o poder de atuaccedilatildeo dentro delas Um exemplo satildeo os contratos feitos por

grandes empresas estatais como eacute o caso da Vale antiga Vale do Rio Doce onde as

comunidades locais envolvidas ficam dependentes dos recursos externos para sua proacutepria

sobrevivecircncia

Destaca-se aqui o que vem sendo chamado de ldquoprojetismordquo e que Little (2002) considera

como um dos perigos do desenvolvimento sendo esta uma modalidade especiacutefica de

desenvolvimento onde as atividades como a defesa do territoacuterio a produccedilatildeo econocircmica e a

organizaccedilatildeo poliacutetica precisam ser traduzidas num projeto para seu possiacutevel financiamento por

um programa governamental ou em outros casos atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamenta is

(ONGs)

Em relaccedilatildeo a este aspecto Leonel (2000) destaca que muitas vezes os proponentes

destes projetos partem de uma visatildeo mais paternalista e economicista que natildeo leva em conta a

especificidade cultural os direitos agrave autodeterminaccedilatildeo opccedilotildees diversificadas sequer as

produccedilotildees tradicionais voltadas agrave autossubsistecircncia ou autoabastecimento Segundo menciona

o autor a tendecircncia nestes projetos eacute que a monocultura se imponha privilegiando desta

maneira produtos natildeo sustentaacuteveis diminuindo desta maneira a autonomia e assimilando assim

valores exteriores agraves suas tradiccedilotildees Por outro lado no plano sociocultural o que tem a ver com

a elaboraccedilatildeo reformulaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo gerenciamento monitoramento e avaliaccedilatildeo de um

projeto apresentam uma maneira ocidental burocraacutetica e como o autor denomina

ldquocurtoprazistardquo de confrontar os problemas cotidianos de um determinado grupo eacutetnico

(LITTLE 2002) Aleacutem do chamado projetismo que surge a partir de organizaccedilotildees

governamentais assim como tambeacutem das organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) outro

perigo que surge relacionado aos projetos de grande porte eacute o que Schroumlder (2004) chama de

frentes governamentais

188

O autor menciona que os diversos segmentos da sociedade envolvente satildeo representados

por diferentes frentes ndash as frentes extrativistas (que inclui extraccedilatildeo vegetal e mineraccedilatildeo)

representados no caso das TIs ocupadas pelos Mẽbecircngocirckre aqui pelos madeireiros e

garimpeiros nas TIs Kayapoacute e Xikrin do Cateteacute as frentes agropecuaacuterias ou agropastoris

principalmente na TI Las Casas as frentes missionaacuterias e as frentes governamenta is

propriamente ditas ndash onde predominam os grandes projetos de desenvolvimento dentro de

territoacuterios indiacutegenas

O terceiro perigo consiste em um novo paternalismo no qual uma entidade nova ou

externa que exerce um monopoacutelio de contato sobre o grupo local e os contatos com outras

entidades que funcionam em outros niacuteveis de integraccedilatildeo social Como exemplo deste

paternalismo pode se mencionar a relaccedilatildeo dos Waimiri-Atroari onde a Eletronorte manteacutem um

monopoacutelio sobre quem pode ou natildeo entrar na aacuterea deles e com quem o grupo pode ou natildeo

negociar (BAINES 1994 apud LITTLE 2002)

Mesmo conseguindo se confrontar com todas estas dificuldades mencionadas acima a

posiccedilatildeo das comunidades indiacutegenas na economia de mercado geralmente eacute marginalizada Isto

pode se explicar por vaacuterios aspectos como densidade populacional baixa tecnologias simples

produccedilatildeo baixa atividades econocircmicas voltadas para fins natildeo comerciais etc (Schroumlder 2004)

Eacute nestes contextos que satildeo analisadas as relaccedilotildees dos Mẽbecircngocirckre com a sociedade

envolvente e as possiacuteveis mudanccedilas geradas por este tipo de relacionamentos

632 Os Mẽbecircngocirckre e as diferentes relaccedilotildees com a sociedade envolvente visando agrave

geraccedilatildeo de renda

Entre os Mẽbecircngocirckre as primeiras relaccedilotildees com o mercado estiveram permeadas por

relaccedilotildees estabelecidas com a sociedade envolvente depois da chamada pacificaccedilatildeo na deacutecada

de 1950 Gordon (2006) por exemplo menciona que o comeccedilo das relaccedilotildees entre os Xikr in-

Kayapoacute e os natildeo indiacutegenas (kuben) se iniciou a partir desta deacutecada O processo se deu atraveacutes

da apropriaccedilatildeo dos objetos dos brancos de sua cultura material e dos seus bens o que sempre

foi uma motivaccedilatildeo indiacutegena crucial no contexto estabelecido com a sociedade envolvente

Assim o autor menciona que o interesse dos Mẽbecircngocirckre pela inovaccedilatildeo material natildeo pode ser

visto como um fenocircmeno que ocorreu de fora para dentro e sim como uma caracteriacutestica

marcante da cultura deste povo

Para Cohn (2001) as relaccedilotildees entre os Xikrin com outros seres que compotildeem seu

cosmos sejam eles animais sobrenaturais ou humanos permitem a incorporaccedilatildeo contiacutenua de

189

elementos do exterior Assim nos momentos de guerra com outros povos indiacutegenas ou com natildeo

indiacutegenas os Xikrin apropriavam-se de sementes para diversificar suas roccedilas ornamentos

roupas alimentos industrializados e cachorros para caccedila etc Logo estes processos dinacircmicos

de apropriaccedilotildees externas satildeo considerados proacuteprios da cultura Mẽbecircngocirckre

Desta maneira entre as deacutecadas de 1970 e 1980 devido agraves relaccedilotildees de fronteira com

seus territoacuterios os Kayapoacute coletavam castanha-do-Brasil e outros produtos da floresta que

trocavam com comerciantes por algumas mercadorias como armas facas e alimentos

industrializados (DE ROBERT 2002)

Cabe destacar que os processos de relacionamento com a sociedade envolvente

relacionados a atividades econocircmicas aconteceram tambeacutem em outros povos indiacutegenas da

Amazocircnia Pode se mencionar aqui o caso dos Kaxinawa localizados no estado do Acre que

trocavam bens industrializados por produtos florestais como oacuteleo de copaiacuteba carne de caccedila

peles ovos e gordura de tartaruga castanha do Brasil e baunilha Estas relaccedilotildees surgiram

graccedilas agraves frentes de expansatildeo para a exploraccedilatildeo da borracha (MATEUS et al 1996) Na

Colocircmbia Pentildea et al (1996) mencionam tambeacutem estas relaccedilotildees entre os Letuama Macuna e

Yucuna na regiatildeo do Caquetaacute na Colocircmbia influenciadas tambeacutem pelas frentes de expansatildeo da

exploraccedilatildeo da borracha na Amazocircnia colombiana

Aleacutem das relaccedilotildees de trocas com a sociedade envolvente nas deacutecadas de 1980 e 1990 o

contexto regional no qual os Kayapoacute estavam inseridos passou por um processo radical de

transformaccedilatildeo com a abertura de grandes fazendas no norte do Mato Grosso e no sul do Paraacute

o que foi sucedido com exploraccedilotildees de ouro a ceacuteu aberto e exploraccedilatildeo madeireira

(JEROZOLIMSKI et al 2011 INGLEZ DE SOUSA 2006)

Tanto a exploraccedilatildeo madeireira quanto a exploraccedilatildeo de ouro foram atividades

inicialmente estimuladas e intermediadas pela proacutepria FUNAI na deacutecada de 1980 quando o

oacutergatildeo atuava com um enfoque desenvolvimentista Na TIK chegaram a existir garimpos com

mais de 10000 pessoas atuando nele como eacute o caso de garimpo Maria Bonita (INGLEZ DE

SOUSA 2006)

Desta maneira na deacutecada de 1990 se intensificou a legislaccedilatildeo e o esforccedilo de proteccedilatildeo

ambiental nos territoacuterios indiacutegenas As atividades predatoacuterias passaram a ser proibidas e

recriminadas nos limites das terras ocupadas pelos Kayapoacute Poreacutem jaacute engajados nas atividades

predatoacuterias os Kayapoacute passaram a estabelecer relaccedilotildees diretas com os madeireiros e

garimpeiros se tornando desta maneira agentes importantes no contexto relacional (INGLEZ

DE SOUSA 2006)

190

Neste momento das relaccedilotildees dos Kayapoacute e as atividades econocircmicas com a sociedade

envolvente se estabelecem dentro que de Robert (2002) denomina novas maneiras de fazer o

desenvolvimento ou seja novas maneiras de trocar ou se relacionar com os natildeo indiacutegenas na

procura de melhoras nas comunidades

Num primeiro momento se mantiveram as relaccedilotildees onde os Kayapoacute continuavam

colaborando com a exploraccedilatildeo de mogno e ouro nos seus territoacuterios o que gerava uma renda

que transformou notoriamente nessa eacutepoca a vida nas aldeias

As atividades econocircmicas predatoacuterias se comparadas agraves atividades ditas tradiciona is

como a coleta de castanha implicavam algumas diferenccedilas em relaccedilatildeo com estas trocas Pois

no caso da exploraccedilatildeo madeireira os indiacutegenas natildeo participavam destas atividades nem

utilizavam estes recursos Por outro lado as negociaccedilotildees geralmente eram feitas fora da aldeia

e em portuguecircs soacute com participaccedilatildeo de algumas lideranccedilas Nestas atividades a licenccedila de

exploraccedilatildeo de ouro e madeira era feita em troca de dinheiro o qual era repartido entre as

lideranccedilas e a comunidade (DE ROBERT 2002) Mesmo assim este tipo de relaccedilotildees acabou

trazendo conflitos para as comunidades pois finalmente a reparticcedilatildeo do dinheiro natildeo era feita

de forma igualitaacuteria ficando a maior parte com algumas das lideranccedilas envolvidas nas

negociaccedilotildees

Aqui surgiram entre os Mẽbecircngocirckre duas maneiras de fazer desenvolvimento ou seja

como madeira ou como castanha e que consequentemente trouxeram desigualdades nas

comunidades Kayapoacute Pois surgiram o que Inglez de Sousa (2000) chamou de elites

negociais Estas negociaccedilotildees segundo destaca de Robert (2002) foram estabelecidas atraveacutes

de projetos Os projetos no caso dos Kayapoacute passaram a ser um assunto corriqueiro nas aldeias

mais ainda pelas dificuldades que as instituiccedilotildees puacuteblicas tecircm para assumir responsabilidades

com a sauacutede e educaccedilatildeo nas aldeias Assim falar de projetos entre os Mẽbecircngocirckre passou a ser

uma necessidade dos tempos modernos (DE ROBERT 2002)

Na deacutecada de 2000 era comum escutar entre os Kayapoacute50 que o ideal seria ter projetos

como madeira e como castanha onde a primeira modalidade englobava nesta mesma

categoria como madeira as diversas trocas que procuram uma renda recebida e logo

redistribuiacuteda pela lideranccedila que negociou riquezas que natildeo satildeo exploradas pelos indiacutegenas

neste caso mogno ouro e outros recursos Na segunda categoria como castanha satildeo

consideradas negociaccedilotildees onde haacute troca entre indiviacuteduos ou grupo e satildeo considerados aqui dias

de trabalho sacos de castanha coletados trocados por dinheiro assim como tambeacutem artesanato

50 Principalmente na TIK

191

trocado por bens manufaturados ou seja produtos explorados atraveacutes de atividades realizadas

por eles mesmos de cunho tradicional (DE ROBERT 2002)

Segundo Leonel (2000) eacute atraveacutes deste tipo de mudanccedilas e relaccedilotildees onde haacute maiores

chances de acontecer diferenciaccedilatildeo social Na diversidade dos povos indiacutegenas eacute importante

que a representaccedilatildeo seja proporcional e plurieacutetnica Pois eacute desta maneira que se geram conflitos

nas formas tradicionais de organizaccedilatildeo social onde os mais velhos que desempenhavam um

papel fundamental ficam de lado neste tipo de relaccedilotildees As novas formas organizat ivas

geralmente comeccedilam a ser lideradas pelos mais jovens devido muitas vezes ao domiacutenio da

liacutengua externa o que nem sempre garante formas de distribuiccedilatildeo compensatoacuteria aos

mecanismos culturais de reciprocidade Aleacutem das possiacuteveis problemaacuteticas que surgem em

relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo dos povos indiacutegenas agrave economia de mercado entra na discussatildeo tambeacutem

o desenvolvimento dos povos indiacutegenas ou como pode ser tambeacutem chamado

Etnodesenvolvimento Local

Depois do auge das exploraccedilotildees predatoacuterias nos territoacuterios tradicionais dos Kayapoacute

comeccedilaram a surgir novas modalidades para o relacionamento com a sociedade envolvente

Como mencionam Loacutepez Garceacutes et al (2015) comeccedila uma tentativa de construccedilatildeo de novas

formas econocircmicas natildeo tradicionais para atender a demanda crescente de mercadorias

industrializadas agraves quais estes povos tiveram acesso desde o comeccedilo das relaccedilotildees com a

sociedade envolvente

Little (2002) menciona que haacute duas grandes acepccedilotildees para o termo

etnodesenvolvimento natildeo excludentes na literatura especializada uma que considera o

desenvolvimento econocircmico de um grupo eacutetnico e outra que seria o desenvolvimento da

etnicidade de um grupo social (STAVENHAGEN 1985 apud LITTLE 2002)

Segundo este autor o desenvolvimento da etnicidade sem um correspondente avanccedilo

econocircmico soacute promoveria a existecircncia de um grupo eacutetnico marginal pobre ou seja o

desenvolvimento econocircmico que destroacutei as bases da etnicidade de um grupo poderia representar

a volta agrave hegemonia da modernizaccedilatildeo que foi altamente destruidora da diversidade cultural

Para que aconteccedila o etnodesenvolvimento haacute duas forccedilas em constante tensatildeo a

primeira que considera a construccedilatildeo poliacutetica da autonomia cultural por parte do grupo eacutetnico

frente ao Estado nacional e a segunda a operacionalizaccedilatildeo de formas de integraccedilatildeo do grupo

eacutetnico nas estruturas da economia nacional e internacional (LITTLE 2002)

Desde o iniacutecio da deacutecada de 2000 comeccedilaram a serem restringidas as atividades

garimpeira e madeireira em territoacuterios indiacutegenas Frente a esse fato a maioria das comunidades

192

Kayapoacute passou a buscar apoio do governo e de organizaccedilotildees natildeo governamentais (ONGs) para

desenvolver alternativas sustentaacuteveis de geraccedilatildeo de renda O desafio era de estabelecer

uma forma eficiente de acesso a bens e mercadorias atraveacutes de entidades que assistem os

Kayapoacute e a poliacuteticas puacuteblicas assistencialistas bem como as disputas por recursos

governamentais passaram a ser fatores que influenciaram as cisotildees a exemplo disto os autores

citam a cisatildeo das comunidades Kayapoacute contemporacircneas como por exemplo as cisotildees que

originaram as comunidades de Apeiti em 2009 e Turedjam em 2010 na TIK


Cabe destacar aqui que aleacutem da exploraccedilatildeo madeireira e a extraccedilatildeo de ouro nos

territoacuterios dos Mẽbecircngocirckre outra atividade que ameaccedila a integridade destes territoacuterios eacute o

arredamento de pastos No caso da TI Las Casas o arrendamento de pastos foi uma das maneiras

de ingresso econocircmico a partir de 2009 quando a TI foi homologada Pois ateacute 2015 os posseiros

que ocupavam antes a TI natildeo tinham sido indemnizados Desta maneira os posseiros chegaram

a acordos com os moradores da TI Las Casas pagando preccedilos iacutenfimos 51pelo aluguel das aacutereas

onde tinham pastando o gado

Segundo Weis (2006) diante da falta de alternativas econocircmicas para os povos

indiacutegenas o arrendamento de suas terras para atividades agriacutecolas ou pecuaacuterias O

arrendamento eacute praticado em diversos pontos no Brasil e o autor faz destaque ao conflito que

aconteceu na TI Ligero no Rio Grande do Sul e que resultou na expulsatildeo de 300 indiacutegenas do

seu proacuteprio territoacuterio Fato que motivou agrave FUNAI a publicar uma Instruccedilatildeo Normativa IN ndeg3

de 28 de junho que prevecirc puniccedilatildeo aos funcionaacuterios do oacutergatildeo federal coniventes com a praacutetica

Partindo destes eventos e com o intuito de preservar os territoacuterios e a geraccedilatildeo de renda

de forma sustentaacutevel surgem a partir da deacutecada de as denominadas alternativas econocircmicas

sustentaacuteveis que surgiram em parcerias entre as aldeias ONGs e instituiccedilotildees puacuteblicas No caso

dos Mẽbecircngocirckre atraveacutes de ONGs como a Conservaccedilatildeo Internacional (CI- Brasil) a Associaccedilatildeo

Floresta Protegida (AFP) instituiccedilotildees de pesquisa como o Museu Paraense Emilio Goeldi52

(MPEG) assim como tambeacutem a implementaccedilatildeo de programas de apoio do governo como eacute o

caso dos projetos demonstrativos dos povos indiacutegenas (PDPI) a Carteira Indiacutegena Projeto

Integrado de Proteccedilatildeo agraves Populaccedilotildees e Terras Indiacutegenas da Amazocircnia Legal PPTAL bem como

tambeacutem a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas como a Poliacutetica Nacional de Gestatildeo Ambienta l -

PNGATI

51 Ateacute o ano de 2010 foi alugada uma aacuterea de 100 alqueires pelo valor de 400 reis mensais 52 Eacute o caso dos projetos desenvolvidos nas aldeias Moikarakocirc e Las Casas no acircmbito do projeto ldquoLaboratoacuterio de

Praacuteticas sustentaacuteveis em Terras Indiacutegenas proacuteximas ao arco do desmatamentordquo

193

Desta maneira as relaccedilotildees estabelecidas entre povos indiacutegenas institutos de pesquisa

ONGs e instituiccedilotildees do estado vem configurar o que Smith (1995) a partir de cinco estudos de

caso com povos indiacutegenas amazocircnicos (Guaro Huitoto Bora Quiacutechua Kaxinawaacute Yacuna e

Macuna) chama de nova economia amazocircnica Segundo ele satildeo economias resultantes da uniatildeo

de pequenas peccedilas integradas gerando uma combinaccedilatildeo de elementos da economia tradiciona l

e a economia de mercado resultando esta em arranjos que dependem do niacutevel de inserccedilatildeo dos

povos indiacutegenas nesta economia monetaacuteria no contexto das diversas sociedades nacionais as

quais se configuram atraveacutes de velhas formas novas praacuteticas velhas necessidades novos

desejos velhos valores e novas normas

Desta maneira surge um novo campo de relaccedilotildees cada vez mais complexas entre as

populaccedilotildees indiacutegenas e a sociedade abrangente onde entra em discussatildeo o desenvolvimento

dos povos indiacutegenas

Assim surgem ldquonovasrdquo oportunidades para a geraccedilatildeo de renda entre os Mẽbecircngocirckre e

integraccedilatildeo ao mercado Entre os Mẽbecircngocirckre da TIK Jerozolimski e Ribeiro (2011) destacam

as iniciativas desenvolvidas pela AFP para a comercializaccedilatildeo de castanha atividade que se

manteacutem ateacute os dias de hoje apoiada por esta associaccedilatildeo indiacutegena O fato de fortalecer esta

atividade se deve a que a coleta de castanha eacute uma atividade tradicional Por outro lado a renda

gerada com esta atividade eacute compatiacutevel com a capacidade de gestatildeo das comunidades cuja

distribuiccedilatildeo pode ser garantida entre todos os participantes jaacute que participam nesta atividade

homens e mulheres tanto jovens quanto adultos (JEROZOLIMSKI RIBEIRO 2011)

Pode-se entatildeo inferir que o modelo econocircmico dos Kayapoacute de Las Casas e dos

Mẽbecircngocirckre acontece tem se desenvolvido e continua se desenvolvendo como uma economia

mista encaixada dentro da nova economia amazocircnica mencionada por Smith (1995)

64 Experiecircncias na aldeia Las Casas com a comercializaccedilatildeo do artesanato das

parcerias com o Museu Paraense Emilio Goeldi a Funai e o Museu do Iacutendio aos

projetos Mẽkunhecircre e Me agrave yry Las Casas

641As parcerias estabelecidas atraveacutes do Museu Paraense Emilio Goeldi

A partir da primeira visita na aldeia Las Casas em agosto de 2010 para

comeccedilar os contatos pensando em desenvolver pesquisas no acircmbito do projeto INCT

ldquoLaboratoacuterio de Praacuteticas sustentaacuteveis em Terras Indiacutegenas proacuteximas ao arco do desmatamentordquo

desenvolvido atraveacutes do MPEG as solicitaccedilotildees de contrapartidas da comunidade para a

194

realizaccedilatildeo da pesquisa foram sempre as mesmas ajudas na comunidade para encaminhar

projetos de geraccedilatildeo de renda com os recursos abundantes na TI Las Casas

Em 2010 soacute havia uma aldeia na TI Las Casas53 a aldeia Las Casas ou como

denominada pelos Kayapoacute Tekrejarocircti-re entatildeo o planejamento era mais tranquilo no sentido

da organizaccedilatildeo de algum projeto para as demandas da comunidade Desta maneira foi

solicitado apoio para criar algum projeto para a comercializaccedilatildeo de artesanato babaccedilu pequi e

buriti

Por esta razatildeo a minha pesquisa de mestrado foi direcionada ao levantamento PFNMs

e seus usos na TI Las Casas principalmente os usos relacionados agrave subsistecircncia e as espeacutecies

usadas na cultura material e o artesanato comercializado de maneira esporaacutedica dando ecircnfase

agraves sementes jaacute que nesse momento havia uma forte tendecircncia agrave utilizaccedilatildeo de sementes

principalmente nos colares confeccionados e misturados com miccedilangas tendecircncia que no

decorrer do tempo foi diminuindo principalmente na aldeia Las Casas ao contraacuterio que na

aldeia Moikarakocirc (TIK) onde ainda os artesatildeos e artesatildes confeccionam colares principalmente

de tento negro o pyxanh-y tykre (Ormosia flava (Ducke) Rudd) Estas mudanccedilas fazem parte

da dinacircmica destas atividades entre os Mẽbecircngocirckre pois eacute comum que em ambas as aldeias

sejam criados estilos especiacuteficos por eacutepocas ou eventos54 mas onde predomina o estilo

distintivo ou a marca Mẽbecircngocirckre- Kayapoacute (GONZAacuteLEZ-PEacuteREZ et al 2013 LOacutePEZ

GARCEacuteS et al 2015)

Neste momento que comeccedilava a relaccedilatildeo com a aldeia Las Casas e visando

estabelecer relaccedilotildees para a comercializaccedilatildeo do artesanato em principio na cidade de Beleacutem

tivemos vaacuterias reuniotildees na comunidade pensando como se poderia organizar o envio de

artesanato pelo menos para o Polo Joalheiro Satildeo Joseacute Liberto onde funciona a Casa do

Artesatildeo55 pois nessa loja os Kaapor da TI alto Turiaccedilu jaacute comercializavam artesana to

atraveacutes da associaccedilatildeo indiacutegena e com apoio do MPEG Em Satildeo Jose Liberto os

artesatildeos podem se cadastrar de forma individual atraveacutes de CPF e conta corrente ou atraveacutes

pessoa juriacutedica geralmente uma associaccedilatildeo de artesatildeos e a conta corrente da associaccedilatildeo

que no caso de Las Casas e os Kaapor da aldeia Xiepihu-rena (TI Alto Turiaccedilu) eacute atraveacutes

53 Atualmente haacute trecircs aldeias toda a pesquisa tanto atraveacutes do MPEG no acircmbito no INCT quanto agrave pesquisa de

doutorado foi desenvolvida apenas na aldeia Las Casas isto devido tanto agrave falt a de recursos quanto agrave dificuldade

que implicaria obter autorizaccedilotildees perante a FUNAI e IPHAN para trabalhar nas outras aldeias 54 Como por exemplo colares criados para as danccedilas durante o aniversaacuterio da aldeia ou os criados para as festas

da virada do ano onde todas as mulheres confeccionam e usam o mesmo modelo de colar os quais depois satildeo

oferecidos agrave venda (LOacutePEZ GARCEacuteS et al 2015) 55 Neste espaccedilo estatildeo cadastrados mais de 600 artesatildeos do estado do Paraacute o objeto deste local eacute a venda de produtos

artesanais assim como tambeacutem literatura que representem aspectos tradicionais do estado do Paraacute

195

da associaccedilatildeo indiacutegena que representa a comunidade Para este primeiro momento a

comunidade de Las Casas natildeo estava convencida de comercializar artesanato atraveacutes da

associaccedilatildeo da aldeia Ngonh-rocircrocirc-kre56 pois desde que fundada a associaccedilatildeo em 2004 esta

tinha funcionado principalmente para projetos relacionados agrave sauacutede educaccedilatildeo construccedilatildeo

de hortas comunitaacuterias e oficinas de costura em parceria com as missionaacuterias catoacutelicas

estabelecidas em Redenccedilatildeo Por outro lado as mulheres ateacute esse momento natildeo tinham

participado dos projetos diretamente ligados agrave associaccedilatildeo Desta maneira a

comercializaccedilatildeo de artesanato na aldeia Las Casas continuava sendo uma atividade

esporaacutedica e sem organizaccedilatildeo Poreacutem as contrapartidas e as relaccedilotildees durante o prime iro

ano de pesquisa se mantiveram atraveacutes da troca de presentes que recebemos dos nossos

primeiros amigos e parceiros da aldeia

Desta maneira no iniacutecio da pesquisa em Las Casas cada vez que iacuteamos embora de

volta para Beleacutem recebiacuteamos um presente ou neste caso daacutedivas que neste contexto

adquiriam o caraacuteter de troca Comumente recebiacuteamos cestos colares ou pulseiras em

miccedilangas prendedores de cabelo assim como mencionam Loacutepez Garceacutes et al (2015)

quem dava o presente manifestava o desejo de possuir algum objeto em troca Estes eram

principalmente dados por mulheres que desejavam vestidos ou bolsas de tecido e mochila s

como as que utilizaacutevamos nas nossas saiacutedas pela aldeia roccedilas e babaccediluais

Desta maneira se fortaleceram amizades e parcerias pois segundo destacam

Loacutepez Garceacutes et al (2015 p 674) ldquomas do que o fato expliacutecito da troca de objetos este eacute

fundamentalmente um ato social na procura por parcerias ou a expressatildeo da perspect iva

de continuidade da relaccedilatildeo ao longo do tempordquo Poreacutem ao se consolidarem estas relaccedilotildees

jaacute natildeo recebemos presentes com a mesma frequecircncia mas recebiacuteamos diretamente colares

cestos e outros objetos agrave venda

Mesmo que havia um grande interesse pelo planejamento de projetos para a venda

de pequi babaccedilu e buriti desde o iniacutecio das relaccedilotildees com Las Casas a comunidade

mostrava o interesse de fortalecer a venda do artesanato Nas primeiras conversaccedilotildees com

os moradores da aldeia em uma conversa com Beti Kayapoacute ele manifestou que a melho r

ajuda para a comunidade era fortalecer a venda de artesanato pois era a melhor mane ira

para ganhar renda e por outro lado natildeo precisavam capacitaccedilotildees dos kuben como acontec ia

com os projetos de hortas familiares e as capacitaccedilotildees com os agrocircnomos pois depois de

56 Em 2011 a TI Las Casas ainda natildeo tinha sido integrada ao grupo de aldeias que satildeo representadas pela associaccedilatildeo

indiacutegena AFP a qual representava para essa data apenas aldeias da TI Kayapoacute e Menkragnoti

196

um tempo esses projetos tinham sido abandonados Segundo ele desta maneira eles

ganhavam dinheiro com o que sabem fazer aproveitando os recursos que eles tecircm na TI e

ainda fortalecendo a cultura

Este pensamento eacute recorrente tambeacutem em outros povos indiacutegenas como eacute o caso

dos Kaapor da aldeia Xiepihu-rena (TI Alto Turiaccedilu) o artesanato eacute o que eles gostam de

fazer e natildeo satildeo necessaacuterias as capacitaccedilotildees (LOacutePEZ GARCEacuteS et al 2015) Na TIK onde

satildeo abundantes os castanhais a coleta da castanha tambeacutem entra nesta discussatildeo no que se

refere agrave geraccedilatildeo de renda Pois segundo mencionam Jerozolimski e Ribeiro (2011) a coleta

da castanha eacute uma atividade tradicional sobre a qual os Kayapoacute tecircm total conhecimento e

domiacutenio natildeo exigindo como alternativas de geraccedilatildeo de renda processos de capacitaccedilatildeo

Assim o fato de pensar na geraccedilatildeo de renda com o que eles sabem fazer seja a confecccedilatildeo

de artesanato ou coleta de PFNMs como por exemplo a castanha ou o babaccedilu no caso de Las

Casas demonstra a valorizaccedilatildeo endoacutegena dos saberes e praacuteticas tradicionais tais como a coleta

de babaccedilu e a produccedilatildeo de artesanato como estilo de vida o que possibilita neste caso as formas

de expressatildeo cultural e de afirmaccedilatildeo como sujeitos (LOacutePEZ GARCEacuteS et al 2015) Por outro

lado a procura de geraccedilatildeo de renda se relaciona aleacutem da valoraccedilatildeo da cultura material destes

povos diz respeito aos contextos ambientais e agrave disponibilidade de recursos nos diferentes

territoacuterios habitados por eles sejam aacutereas de floresta de terra firme como eacute caso da TIK no

Cerrado ou na transiccedilatildeo das florestas amazocircnicas para o Cerrado no caso da TI Las Casas

642 Novas parcerias A FUNAI o Museu do Iacutendio e os Projetos Mẽkunhecircre e Me agrave yry

Las Casas

6421 Mẽkunhecircre Las Casas

Em maio de 2011 um representante da FUNAI da Coordenaccedilatildeo Regional do Baixo

Tocantins em Marabaacute entrou em contato o MPEG57 devido ao interesse no projeto

desenvolvido por esta instituiccedilatildeo nesse momento em Las Casas Nesse momento o Museu

do Iacutendio em parceria com a FUNAI tinha lanccedilado os editais de Accedilatildeo de Promoccedilatildeo do

Patrimocircnio Cultural dos povos Indiacutegenas Jaacute que a proposta do edital era compatiacutevel com

a pesquisa do MPEG visando praacuteticas sustentaacuteveis e geraccedilatildeo de renda a FUNAI propocircs

uma conversa com a comunidade da aldeia Las Casas para ver se estavam interessados em

57 A FUNAI entrou em contato especificamente com a Antropoacuteloga Dra Claudia Loacutepez Garceacutes pesquisadora do

CCH-MPEG e coordenadora do Projeto Laboratoacuterio de Praacuteticas sustentaacuteveis em Terras Indiacutegenas proacuteximas ao

arco do desmatamentordquo O qual foi desenvolvido na TI Las Casas aldeia Las Casas TIK aldeia Moikarakocirc e na

TI alto Turiaccedilu aldeias Xiepihu-rena e Paracuiacute-rena

197

participar do Edital e desta maneira construir juntos um projeto Este edital visava apoiar

projetos para resgate da cultura e numa segunda oportunidade poderia se pensar na geraccedilatildeo

de renda atraveacutes da comercializaccedilatildeo de artesanato para geraccedilatildeo de renda Desta mane ira

atraveacutes das atividades de campo do projeto desenvolvido pelo MPEG comeccedilaram as

discussotildees para participar nele

A comunidade de Las Casas concordou que esse era o caminho para resgata r

costumes que estavam sendo perdidas entre os jovens da comunidade Assim em conjunto

com a comunidade foi construiacutedo o projeto Mẽkunhecircre Las Casas o qual tinha entre os

objetivos principais promover a produccedilatildeo de cultura material fortalecer aspectos da cultura

material e imaterial Mẽbecircngocirckre que estavam debilitados ou em perigo de desaparece r

atraveacutes de oficinas de cultura assim como promover a geraccedilatildeo de renda atraveacutes da

comercializaccedilatildeo dos objetos produzidos nas oficinas

O projeto foi aprovado com um orccedilamento que incluiacutea tanto o material para a

produccedilatildeo de cultura material quanto a alimentaccedilatildeo durante as oficinas Por outro lado jaacute

que o projeto foi proposto atraveacutes da associaccedilatildeo indiacutegena Ngonh-rocircrocirc-kre que representa

a aldeia nas aacutereas de sauacutede e educaccedilatildeo a comunidade chegou a um consenso e decidiu se

cadastrar na casa do Artesatildeo em Satildeo Joseacute Liberto atraveacutes da associaccedilatildeo Portanto todos os

objetos produzidos nas oficinas foram levados para comercializados na casa do artesatildeo em

Beleacutem-PA Assim em marccedilo de 2012 foram ministradas as oficinas transmissatildeo de saberes

locais sobre diversos aspectos materiais e imateriais da cultura Mẽbecircngocirckre na aldeia Las

Casas

Num primeiro momento foram organizadas as turmas e os professores e professorasrdquo

que iriam ministrar as oficinas Por outro lado foram nomeados quatro coordenadores e quatro

coordenadoras que em princiacutepio deveriam planejar e coordenar as oficinas Assim como

organizar as saiacutedas para coleta de mateacuterias-primas presentes na TI Las Casas

As oficinas aconteceram seguindo as normas da organizaccedilatildeo social no que se refere agraves

categorias de idade e os espaccedilos ocupados tanto por homens quanto por mulheres dentro dos

espaccedilos da aldeia nas diferentes categorias de idade

Entre as atividades efetuadas pelas mulheres foram realizadas oficinas de choros

meacutemyry que incluiacuteram os choros de boas-vindas e despedidas que satildeo aspectos rituais muito

importantes dentro da cultura dos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute Cabe destacar que eacute uma expressatildeo

198

apenas feminina e em Las Casas esta praacutetica tinha sido praticamente extinguida58 Neste

sentido a comunidade considerou importante que as mulheres mais velhas ensinassem para as

mais novas as retoacutericas de cada tipo de choro do marido do filho da irmatilde do cunhado Estes

choros satildeo manifestados principalmente quando algueacutem que tinha viajado volta na comunidade

e eacute uma maneira de expressar a saudade eou de contar os diferentes eventos que aconteceram

quando a pessoa estava ausente

Tambeacutem foram ministradas oficinas de pintura corporal em crianccedilas Me ocirck e enfeites

tradicionais amirororo tentando resgatar desta maneira grafismos que muitas mulheres jovens

natildeo conhecem Desta maneira as mulheres da categoria de idade mekrapdjire dedicaram um dia

para transmitir estes saberes a suas filhas no caso dos enfeites ensinaram como deve ser raspada

a cabeccedila tirar os ciacutelios e as sobrancelhas nas crianccedilas para pintaacute-la com breu misturado com

carvatildeo onde satildeo aplicados tambeacutem grafismos tradicionais

Pensando na geraccedilatildeo de renda foram tambeacutem realizadas oficinas de pintura tradiciona l

Kayapoacute em tecidos de algodatildeo sendo esta uma maneira de transmitir o conhecimento dos

grafismos tradicionais Foi uma experiecircncia muito interessante pois muitas das mulheres que

participaram aprenderam novos grafismos que natildeo conheciam principalmente os relacionados

ao jabuti Kapratilde entre os que contabilizaram pelo menos vinte desenhos diferentes soacute para a

representaccedilatildeo deste animal Outros animais representados foram os peixes tatu cobras

borboletas e tamanduaacute

Outras oficinas ministradas foram as de tranccedilados em algodatildeo onde foram

confeccionados mepadjecirc kaigocirc (braccediladeiras) Parikotilden (tornozeleiras) e Tekanhocirc (enfeite

utilizado embaixo do joelho para modelar as pernas) estes enfeites satildeo tingidos com urucum e

satildeo utilizados pelas crianccedilas Vale destacar aqui que o desenvolvimento desta oficina incluiu

tambeacutem a coleta de plantas Neste caso o tronco de uma planta (natildeo identificada) que eacute utilizado

como base para os tranccedilados e que segundo as mulheres eacute o melhor para trabalhar

Finalmente foram realizados e ensinados os trabalhos com miccedilanga angocirc as foram

elaborados colares pulseiras porta celular e bolsas figuras de animais como jacareacutes emas

tatus jabuti escorpiatildeo e lagartos

58 Na primeira visita que fiz numa aldeia Kayapoacute em 2009 em Moikarakocirc (TIK) minha primeira impressatildeo foram

os choros das mulheres recebendo agrave antropoacuteloga Pascale de Robert minha co -orientadora no Mestrado os choros

eram impressionantes aconteciam normalmente na chegada das pessoas Em Las Casas ateacute o momento das

oficinas as mulheres natildeo tinham chorado talvez porque a relaccedilatildeo natildeo era tatildeo estreita como a da Pascale com a

aldeia Moikarakocirc que jaacute somava 10 anos de relaccedilatildeo com essa comunidade mesmo assim esta manifestaccedilatildeo natildeo

foi observada entre parentes da comunidade de Las Casas Depois da realizaccedilatildeo das oficinas quando vou na aldeia

ao retornar para Beleacutem as mulheres choram

199

Entre as oficinas desenvolvidas pelas mulheres foram ministradas cada uma em dia e

meio e foi dedicado mais tempo aos trabalhos de pinturas em tecidos de algodatildeo e os miccedilangas

que demoraram pelo menos uma semana devido a que precisam de mais tempo e dedicaccedilatildeo

para ensinar as teacutecnicas e os grafismos

As oficinas ministradas pelos homens comeccedilaram com a elaboraccedilatildeo de uma barraca

num apejti onde eles se reuacutenem nas festas tradicionais para ensinar os jovens e crianccedilas que

estatildeo sendo iniciadas como acontece no caso da festa do Bemp Assim as oficinas iniciaram

por um lado ensinando como construir uma barraca para acampar com geralmente fazem

durante as festas nos acampamentos de caccedila Tambeacutem foram coletadas folhas novas de buriti

babaccedilu e bacaba que seriam utilizadas na confecccedilatildeo de cestos e maacutescaras

Depois da barraca pronta e as mateacuterias-primas coletadas comeccedilaram as atividades de

ensino no preparo das fibras para os diferentes tranccedilados do preparo das estruturas para as

maacutescaras que satildeo confeccionadas com talas de buriti como por exemplo a maacutescara de Pagravet

(tamanduaacute) Assim no decorrer das oficinas foram confeccionados cestos maacutescaras objetos

tranccedilados como os aĩ (tipoias) e Kriocirc (espremedores de torccedilatildeo) cocares Me agrave kagrave

confeccionados com penas de arara e com fibras de buriti Bocirc-ocirc me agrave kagrave (cocares de palha) e

colares de madre peacuterola ngap

Tanto nas oficinas das mulheres quanto nas oficinas dos homens as atividades se

desenvolveram com cantos tradicionais De modo que nas jornadas de trabalho se aproveitou

para ensinar cantos de diferentes rituais Finalmente no encerramento das oficinas foi realizada

uma exposiccedilatildeo com todos os objetos produzidos e danccedilas para comemorar o sucesso do projeto

Pois na verdade foi um sucesso homens e mulheres ensinaram e descobriram novos grafismos

e teacutecnicas que mesmo vivendo na mesma comunidade natildeo conheciam Isso animou a

comunidade para se organizar para a comercializaccedilatildeo dos objetos produzidos (Figura 46)

200

Figura 46 Pinturas produzidas pelas mulheres e cestos produzidos pelos homens nas oficinas Mẽkunhecircre Las

Casas

Fonte fotografias de Veuderllane Campos e Claudia Loacutepez (2012)

Desta maneira comeccedilaram as discussotildees sobre os preccedilos e a qualidade das peccedilas

produzidas pois ao terminarem as oficinas esses objetos seriam cadastrados em Satildeo Joseacute

Liberto Assim depois de reunir as peccedilas confeccionadas as coordenadoras fizeram uma revisatildeo

criteriosa do que poderia e natildeo poderia ir para a casa do artesatildeo catalogando os objetos como

mexkumrex ou seja bons ou bonitos no sentido do acabamento e limpeza das peccedilas ou punure

neste caso ruins ou feias esta categoria se relacionava pinturas ou colares mal feitos tecidos

mal pintados ou cestos mal-acabados Cabe destacar que estas categorias foram definidas pelas

mulheres indiacutegenas e foram elas mesmas que escolheram que separaram as peccedilas punure das

mexkumrex Neste processo de inserccedilatildeo ao mercado a qualidade de cada peccedila era um ponto a

ser discutido com atenccedilatildeo pois foi uma das exigecircncias da Casa do Artesatildeo para o aceite das

peccedilas a serem comercializadas ainda para pensar nos preccedilos estabelecidos para cada peccedila

Entatildeo depois de escolhidos os objetos foram realizadas reuniotildees para pensar nos preccedilos

e a qualidade das peccedilas que seriam comercializadas Esta fase do projeto foi bastante

interessante para iniciar o processo da comercializaccedilatildeo

201

Pois as visotildees deles (indiacutegenas) e as nossas (de kuben) em relaccedilatildeo aos preccedilos satildeo

bastante diferentes Mesmo assim como mencionam Loacutepez Garceacutes et al (2015) a determinaccedilatildeo

de preccedilos eacute um momento interessante na cadeia que vai da produccedilatildeo ao consumo dos objetos

produzidos pois eacute um momento onde devem ser pensadas as tensotildees entre as diferentes visotildees

dos gostos e do valor desde o ponto de vista indiacutegena assim como tambeacutem a equivalecircncia entre

formas mercantis da expressatildeo do valor e que ainda devem ser referenciadas nas estimativas

de custos de produccedilatildeo Pois em muitos casos natildeo era considerado o valor da coleta e

beneficiamento das mateacuterias-primas assim como tambeacutem no caso do trabalho das mulheres o

valor dos tecidos de algodatildeo tintas e miccedilangas de vidro

Por outro lado mesmo sendo destinados para outros estes objetos a loacutegica da formaccedilatildeo

dos preccedilos estaacute articulada aos valores esteacuteticos de cada peccedila e aos significados relacionados a

estas Assim os valores dados a cada objeto podem alcanccedilar preccedilos incompatiacuteveis aos

praticados na comercializaccedilatildeo de produtos indiacutegenas (Loacutepez Garceacutes et al 2015) Por outro lado

pode se considerar que da mesma maneira que acontece entre os Xikrin (GORDON 2003 apud

LOacutePEZ GARCEacuteS et al 2015) haacute uma superestimaccedilatildeo do patrimocircnio cultural em relaccedilatildeo aos

preccedilos que podem ser praticados no mercado

Um exemplo disto em Las Casas foi o momento de decidir o preccedilo de um cesto com um

artesatildeo e o primeiro valor dado por ele ao cesto que ele confeccionou foi de 600 reais

Conversando com ele se explicou que era um preccedilo muito alto para o mercado Ele argumentou

que em Brasiacutelia poderiam pagar esse preccedilo pelo seu cesto pedimos para ele repensar o valor e

ele mudou de 600 para 30 reais entatildeo teve discussatildeo por um bom tempo e o valor aumentou

para 80 reais

Depois de definir o valor deste cesto comeccedilaram a ser pensados aspectos como mateacuterias -

primas beneficiamento e trabalho entatildeo os valores no trabalho dos homens foram norteados

pensando tambeacutem na dificuldade para confeccionar as diferentes peccedilas

As mulheres tambeacutem discutiram tambeacutem o valor das mateacuterias primas principalmente

as miccedilangas59 e a dificuldade do trabalho nas peccedilas produzidas por exemplo colares de

miccedilanga que demandam dedicaccedilatildeo e vaacuterias horas de trabalho Finalmente foram estabelecidos

preccedilos padratildeo considerados por elas entre as peccedilas produzidas para que todas as peccedilas

tivessem a mesma chance de serem compradas

59 Neste aspecto as mulheres Mẽbecircngocirckre satildeo bastante exigentes pois soacute trabalham com miccedilangas de vidro de

uma marca especiacutefica produzidas na Repuacuteblica Checa cujo valor no momento das oficinas era de 130 reais o quilo

202

Depois de finalizadas as oficinas o artesanato que foi escolhido pelas coordenadoras da

aldeia como apto para ser comercializado foi arrumado e foram colocados os preccedilos em cada

peccedila e como tinha sido definido desde o comeccedilo das oficinas as pesquisadoras do MPEG

levariam o artesanato para Beleacutem para ser avaliado na casa do artesatildeo para ver se poderia ser

comercializado Esta foi a contrapartida solicitada pela comunidade para poder iniciar a

comercializaccedilatildeo do artesanato devido a que o escoamento eacute um dos grandes entraves nos

projetos de comercializaccedilatildeo em povos indiacutegenas por causa das distacircncias dos centros urbanos

e tambeacutem dos custos do transporte Assim a partir das oficinas em cada viagem a campo na

aldeia voltamos em Beleacutem com o artesanato para ser entregue na loja

Cabe neste momento dar destaque agrave importacircncia destas oficinas para a comunidade de

Las casas tanto pensando nos resultados destas para a comercializaccedilatildeo e na geraccedilatildeo de renda

mas principalmente no objetivo principal destas o resgate da cultura e a transmissatildeo de

conhecimentos

Las Casas eacute uma aldeia com uma populaccedilatildeo atual aproximada de 189 habitantes Entre

estes haacute relativamente poucos velhos e velhas em relaccedilatildeo a outras aldeias Mẽbecircngocirckre Haacute

apenas dois homens da categoria de idade mebengecirct (homens velhos) e apenas nove que se

encontram na transiccedilatildeo entre a categoria mekrare (homens com filhos) e a categoria mebengecirct

Entre as mulheres haacute apenas sete mulheres na categoria mebecircngecircjte (mulheres velhas) Desta

maneira haacute poucas pessoas com maior experiecircncia e conhecimento de determinadas teacutecnicas

na confecccedilatildeo de objetos assim como tambeacutem na transmissatildeo oral

Uma das preocupaccedilotildees que mencionaram em Las Casas eacute a falta de velhos que

contassem histoacuterias e ensinassem os jovens no caso dos homens principalmente na confecccedilatildeo

de cestos bordunas arcos e flechas E entre as mulheres o repasse de conhecimentos sobre

grafismos assim como tambeacutem o conhecimento das plantas medicinais Segundo os Kayapoacute de

Las Casas as festas tradicionais servem em parte agrave troca de conhecimentos sendo tambeacutem

uma oportunidade para o repasse de conhecimento atraveacutes do aprendizado de teacutecnicas

principalmente de tranccedilados na cestaria assim como tambeacutem contaccedilatildeo de histoacuterias

Esta problemaacutetica foi mencionada tambeacutem por Silva (2013) entre os Asurini do Xingu

pois este povo sofreu fortes perdas populacionais no iniacutecio do contato com a sociedade

envolvente o que ocasionou um descontrole na piracircmide etaacuteria Em 2011 eram apenas 146

pessoas Desta maneira havia quantitativamente poucos adultos com maior conhecimento da

cultura tradicional Poreacutem este fato influenciou diretamente a estrutura de transmissatildeo e

aprendizagem de conhecimentos para a produccedilatildeo da cultura material Assim a existecircncia de

203

poucas pessoas das geraccedilotildees mais velhas com conhecimento para ensinar agraves geraccedilotildees mais

novas faz com que teacutecnicas e determinados tipos de objetos tradicionais desapareccedilam sejam

reproduzidos em escalas menores ou substituiacutedos por objetos industrializados (SILVA 2013)

O fato da perda de conhecimentos eacute citado tambeacutem pelos Kaiabi Mas nesse caso esta

perda estaacute relacionada agrave falta de recursos no seu territoacuterio Assim segundo citam Aturi Kaiabi

e Eroit Kaiabi (2006) haacute tambeacutem o perigo de perda de conhecimento com a falta de certos

recursos Segundo eles haacute na aldeia deles homens que sabem fazer mais de trinta desenhos

diferentes nas peneiras confeccionadas com arumatilde Poreacutem com a falta de este recurso eles natildeo

tecircm possibilidade de utilizar ou aproveitar esse conhecimento Desta maneira foi executado o

projeto Kaiabi Araa60 que teve como objetivo a valorizaccedilatildeo e resgate do conhecimento dos

mais velhos fazendo um intercacircmbio entre os Kaiabi do Paraacute (onde tem arumatilde) e os Kaiabi do

Xingu que habitam no Parque indiacutegena do Xingu (PIX) no Mato Grosso e que posteriormen te

foi acompanhado do plantio e manejo do arumatilde Estabelecendo assim um processo de resgate

e reaprendizagem da cultura (KAIABI KAIABI 2006)

6422 Me agrave yry Las Casas

Os resultados das oficinas realizadas em Las Casas atraveacutes do projeto Mẽkunhecircre Las

Casas foram de grande aceitaccedilatildeo tanto para a comunidade quanto para os responsaacuteveis dos

projetos na FUNAI e o no Museu do Iacutendio Desta maneira a aldeia Las Casas foi convidada

para participar em um novo edital de Accedilatildeo de Promoccedilatildeo do Patrimocircnio Cultural dos povos

Indiacutegenas do ano 2012 onde foi construiacuteda uma proposta para fortalecer a comercializaccedilatildeo

atraveacutes da construccedilatildeo de um cataacutelogo e a criaccedilatildeo da logomarca da comunidade

Em marccedilo de 2013 foram efetuadas as atividades relativas agrave construccedilatildeo do catalogo dos

trabalhos artesanais da aldeia Las Casas Os trabalhos foram desenvolvidos seguindo as normas

da organizaccedilatildeo social onde primeiramente foi discutida a organizaccedilatildeo do cataacutelogo Esta

atividade foi realizada principalmente atraveacutes de vaacuterias reuniotildees onde incluindo homens e

mulheres de diferentes categorias de idade discutiram qual seria o conteuacutedo do catalogo

decidiu-se que o catalogo seria uma maneira de apresentar a aldeia Las Casas a cultura a

organizaccedilatildeo social recursos utilizados e finalmente o cataacutelogo das peccedilas produzidas

destinadas agrave venda

60 Este projeto foi aprovado pelos Projetos Demonstrativos dos Povos Indiacutegenas (PDPI) em 2003 e iniciado em

2004

204

Esta proposta foi discutida com a comunidade pensando no conteuacutedo do catalogo e quais

seriam as informaccedilotildees consideradas importantes para eles e que deveriam ser discutidas antes

de estruturar o cataacutelogo com as fotos das peccedilas confeccionadas com fins de comercializaccedilatildeo

(Figura 47)

No decorrer das atividades foram feitas reuniotildees atraveacutes das quais foi decidido que a

comunidade deveria participar na criaccedilatildeo da logomarca Assim se reuniram todos na escola da

aldeia entre adultos jovens e algumas crianccedilas fizeram desenhos que na opiniatildeo de cada um

representaria a comunidade mas sobretudo os Mẽbecircngocirckre Finalmente foi feita uma votaccedilatildeo

entre os desenhos confeccionados e foi eleito um desenho entre cinco finalistas o qual

integrava a serra Tekrejarocircti-re a qual eacute muito importante para os Mẽbecircngocirckre de Las Casas e

um Agravekpagraveri um cocar Mẽbecircngocirckre

Figura 47 Capa do Cataacutelogo e etiqueta com a logomarca criados no projeto Me agrave yry Las Casas a) Capa e

contracapa do catalogo b) etiqueta

a)

b)

Fonte acervo de fotografias do projeto INCT-MPEG Laboratoacuterio de praacuteticas sustentaacuteveis em terras indiacutegenas

proacuteximas ao arco do desmatamento Desenho e diagramaccedilatildeo do catalogo e etiquetas Andreacuteia Pinheiro 2013

205

A marca da comunidade recebeu o nome de Me agrave yry Tekredjarocircti-re que significa ldquoOs

trabalhos artesanais de Tekrejarocircti-rerdquo foi escolhida junto com a logomarca Em 2013 a

Associaccedilatildeo Indiacutegena da aldeia Las Casas Ngonh rocircrocirc-kre foi cadastrada para o sistema de

vendas da Casa do Artesatildeo no Polo Joalheiro Satildeo Joseacute Liberto Entre as peccedilas depositadas

predominam os trabalhos em miccedilangas e grafismos tradicionais representados em tecidos de

algodatildeo confeccionados pelas artesatildes da aldeia Tambeacutem os trabalhos de cestaria cachimbos

bordunas e carregadores de crianccedila e instrumentos musicais como maracaacutes e chocalhos

confeccionados pelos homens

Depois de pelo menos quatro anos de discussotildees aceitaram formar uma parceria com a

aldeia Las Casas e duas aldeias da TI Alto Turiaccedilu atraveacutes dos projetos do MPEG desenvolvidos

em estas comunidades

Estas atividades satildeo fortalecidas com a organizaccedilatildeo dentro da aldeia que conta com oito

coordenadores de artesanato (quatro homens e quatro mulheres) o trabalho dos diferentes

coordenadores eacute supervisar o trabalho dos artesatildeos e das artesatildes visando agrave boa qualidade das

peccedilas confeccionadas assim como organizar os pagamentos do artesanato atraveacutes da

associaccedilatildeo e finalmente o preparo de peccedilas para envio agraves duas lojas em Beleacutem

Desde o comeccedilo da comercializaccedilatildeo o pagamento do artesanato tambeacutem dependeu das

contrapartidas de noacutes pesquisadoras Pois por parte de Satildeo Joseacute Liberto o sistema de

pagamentos era atraveacutes de depoacutesitos na conta corrente da Associaccedilatildeo Indiacutegena Mas para poder

fazer os pagamentos agrave comunidade a associaccedilatildeo dependia de comunicaccedilotildees via e-mail para a

solicitaccedilatildeo dos extratos de vendas com o nome de cada artesatildeo para poder fazer os pagamentos

e saber o valor referente a cada artesatildeo depositado na conta da associaccedilatildeo Esta maneira de

organizaccedilatildeo era complicada para a comunidade pois nem sempre os coordenadores ou o

presidente da associaccedilatildeo tinha acesso agrave internet Desta maneira foi decidido que os pagamentos

seriam feitos a cada viagem que eu ou a coordenadora do projeto fizeacutessemos agrave aldeia

Mesmo que nossas viagens fossem duas a trecircs vezes por ano a comunidade estava

contenta com o resultado pois igualmente o presidente da associaccedilatildeo pelo fato de morar na

cidade natildeo tinha sempre o tempo de organizar os pagamentos

Por outro lado eacute interessante ressaltar que mesmo com demoras o fato de fazer

pagamentos acumulados traz um ganho aos artesatildeos e artesatildes pois funciona a modo de

poupanccedila desta maneira vaacuterios artesatildeos comentaram que iriam comprar roupas para as

crianccedilas ou dar a entrada para a compra de um fogatildeo ou uma moto

206

Eacute importante destacar que os projetos Mẽkunhecircre Me agrave yry Las Casas e o Laboratoacuterio

de praacuteticas sustentaacuteveis em terras indiacutegenas proacuteximas ao arco do desmatamento foram

finalizados Mesmo assim as parcerias entre o MPEG continuam o artesanato da Aldeia Las

Casas e o cataacutelogo do artesanato produzido pela aldeia atraveacutes do projeto Me agrave yry Las Casas

continuam sendo vendidos na livraria do e no campus de pesquisa do MPEG jaacute que tem

demonstrado ser um ponto turiacutestico que pode atrair compradores e desta maneira se apresenta

como uma oportunidade para venda e por sua vez compra de artesanato

Apesar das dificuldades mencionadas anteriormente no que tange agrave comercializaccedilatildeo

principalmente os pagamentos e a organizaccedilatildeo do artesanato produzido para o escoamento ateacute

as lojas haacute interesse da comunidade em se organizar melhor para desta maneira consolidar a

comercializaccedilatildeo Poreacutem a participaccedilatildeo se apresentou como um exerciacutecio na organizaccedilatildeo da

comunidade quanto na produccedilatildeo de artesanato para entrar no mercado

A realizaccedilatildeo das oficinas trouxe resultados interessantes pois os jovens que em vaacuterias

oportunidades natildeo tinham participado de reuniotildees relacionadas a esta pesquisa e o projeto

desenvolvido pelo MPEG Com a realizaccedilatildeo das oficinas se interessaram na participaccedilatildeo

produziram e continuam produzindo cestos e miniaturas de maacutescaras para a venda nas lojas em

Beleacutem

Um aspecto importante no que se refere ao cataacutelogo produzido agrave logomarca e marca e

agraves etiquetas eacute o valor diferenciado que estes agregam ao artesanato comercializado Pois trazem

um pouco da histoacuteria da comunidade que confecciona os objetos o que remete a uma maior

valorizaccedilatildeo do produto neste caso indiacutegena Segundo Santilli (2005) as indicaccedilotildees geograacuteficas

podem servir como uma ferramenta para agregar valor socioambiental a produtos

desenvolvidos pelos povos indiacutegenas estas indicaccedilotildees se prestam para agregar valor a produtos

e serviccedilos associados a determinados territoacuterios e que satildeo concebidos na sua dimensatildeo natural

e cultural Desta maneira a marca ldquoMe agrave yry Tekrejarocircti-re Trabalhos artesanais dos

Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute de Las Casasrdquo trazem uma identidade assim como tambeacutem uma

indicaccedilatildeo geograacutefica As indicaccedilotildees geograacuteficas e a denominaccedilatildeo de origem satildeo um

instrumento juriacutedico e econocircmico previsto na Lei 927996 a qual regula os direitos de

propriedade industrial Desta maneira segundo Santilli (2005) o destaque da procedecircncia do

produto o torna singular neste caso o sentido de lugar e os valores e significados a ele

associados

No ano de 2015 a AFP associaccedilatildeo indiacutegena da qual fazem parte as aldeias da TI Las

Casas e mais 17 aldeias localizadas nas TIK e TI Mekranogti criou a marca Meprodjagrave a qual

207

foi tambeacutem decidida atraveacutes de votaccedilatildeo entre os representantes das diferentes aldeias a marca

e a identidade visual jaacute foram desenvolvidas e seratildeo lanccediladas em breve Para apoiar a

divulgaccedilatildeo do artesanato a AFP tambeacutem a produz viacutedeos para a ldquoSeacuterie Artesanato Kayapoacuterdquo

onde cada viacutedeo curto conta sobre um produto do artesanato e suas histoacuterias Todo este processo

vem sendo apoiado em parceria com a CooBaY61 a qual foi fundada em 2011 para a

estruturaccedilatildeo da cadeia produtiva do artesanato e outras atividades para a geraccedilatildeo de renda

atraveacutes de produtos da floresta A parceria entre a cooperativa e a AFP envolve a organizaccedilatildeo

social das comunidades precificaccedilatildeo participativa acesso a mercados diferenciados e justos

registro dos processos produtivos e resgate dos conhecimentos dos mebenget (os mais velhos)

O objetivo desta parceria eacute fornecer uma fonte natildeo sazonal e sustentaacutevel de renda (AFP 2016)

Em 2014 foi instituiacutedo o Selo Indiacutegenas do Brasil atraveacutes da Portaria Interminister ia l

Ndeg2 de 3 de dezembro de 2014 cujo objetivo eacute promover a identificaccedilatildeo e procedecircncia eacutetnica

e territorial dos produtos de povos ou comunidades indiacutegenas o qual estaacute dirigido tanto a

produccedilatildeo da agricultura familiar quanto ao extrativismo e ao artesanato Poreacutem para a

solicitaccedilatildeo do uso do selo se for um artesatildeo ou produtor individual deve possuir primeiro a

Declaraccedilatildeo de Aptidatildeo (DAP) ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF) anuecircncia da sua comunidade e ainda comprovar que mais do 50 da mateacuteria-prima

vem da coleta ou da produccedilatildeo da TI Se for uma associaccedilatildeo indiacutegena natildeo eacute necessaacuterio obter o

DAP para solicitar a autorizaccedilatildeo do uso do selo Poreacutem este processo deve ser todo gerido

atraveacutes da FUNAI

Faz-se necessaacuterio pensar aqui no que Cassuacute-Camps (2015) analisa entre os Tikuna e a

relaccedilatildeo com o mundo global O autor destaca o papel dos projetos no desenvolvimento das

comunidades Segundo ele qualquer pessoa que tenha trabalhado em projetos com

comunidades indiacutegenas deve reconhecer que a condiccedilatildeo mais importante para que um projeto

se desenvolva com sucesso eacute que a proposta seja feita pela proacutepria comunidade fato que eacute

pouco frequente Por outro lado destaca Cassuacute-Camps que ateacute mesmo os criteacuterios com os quais

reconhecemos o sucesso de um projeto podem natildeo ser os mesmos assumidos pela comunidade

indiacutegena Finalmente o autor destaca que a maioria dos projetos estatildeo inseridos na loacutegica do

mercado portanto pode se dizer que os projetos satildeo finalmente exerciacutecios de integraccedilatildeo ao

mercado (CASSUacute-CAMPS 2015)

Outro aspecto importante que eacute necessaacuterio destacar em relaccedilatildeo agraves oficinas de

resgate cultural e agrave cultura material produzida para a comercializaccedilatildeo eacute o referente agrave

61 Cooperativa Kayapoacute de Produtos da Floresta

208

utilizaccedilatildeo de mateacuterias-primas de origem animal Durante as oficinas de resgate da cultura

no projeto Mẽkunhecircre os homens ensinaram a confecccedilatildeo de um cocar de penas de arara e

um colar de madrepeacuterola

Estes artefatos fazem parte da cultura material muito importante na vida ritual dos

Mẽbecircngocirckre Mesmo proibidos para a comercializaccedilatildeo foram produzidos pois satildeo objetos

que estatildeo sendo cada vez menos confeccionados tanto pela falta de mateacuterias-pr imas

principalmente as penas de arara que geralmente satildeo encontradas em aacutereas de floresta de

terra firme e as conchas de madrepeacuterola Como tambeacutem pela inovaccedilatildeo a partir destas

proibiccedilotildees para utilizar novas mateacuterias-primas

A proibiccedilatildeo da comercializaccedilatildeo de artefatos com estas mateacuterias primas de origem

animal como por exemplo utilizadas na confecccedilatildeo de cocares e dentes de onccedila usados na

confecccedilatildeo de colares (atraveacutes da Lei de Proteccedilatildeo agrave Fauna Artigo 3deg Lei 519767 e pela Lei

de crimes ambientais Artigo 29deg da Lei 960598) influenciou a inovaccedilatildeo na utilizaccedilatildeo de

novas mateacuterias-primas sejam de origem industrial como por exemplo canudos plaacutesticos

miccedilangas de vidro latilde (sinteacutetica) plaacutestico e latas que substituem a madrepeacuterola assim como

tambeacutem fibras de buriti para substituir tambeacutem as penas de araras usadas na confecccedilatildeo de

cocares Estas mateacuterias-primas satildeo entatildeo utilizadas na confecccedilatildeo e enfeites de objetos utilizados

tanto em rituais para os utilizados nos rituais e na cotidianidade

Poreacutem haacute tambeacutem inovaccedilatildeo nas peccedilas produzidas para a comercializaccedilatildeo Por exemplo

a produccedilatildeo pelos homens de miniaturas karotilde de maacutescaras de macaco e tamanduaacute e miniaturas

de animais como calangos e tatus confeccionados com enviras que eram utilizadas no passado

como brinquedos Tambeacutem entre as mulheres as bonecas Mẽbecircngocirckre confeccionadas com

ouriccedilo de castanha-do-Brasil e enfeitadas com miccedilangas e pintadas com jenipapo que segundo

conta Kukujno Kayapoacute eram as bonecas com as quais elas brincavam na sua infacircncia Nos

trabalhos com miccedilangas haacute tambeacutem criaccedilotildees para a comercializaccedilatildeo aleacutem dos colares (Angagrave o

Me Otildekredjecirc) pulseiras (me Inyacutej kam angagrave) e braccediladeiras (mepadjecirc kaigo) Satildeo tambeacutem

confeccionados pequenos cestos de miccedilanga (Angagrave o kax karotilde) porta-celulares (Angagrave o Celular

djagrave) e porta-canetas (Angagrave o caneta djagrave)

A inclusatildeo de novas mateacuterias-primas sendo estas plaacutesticos linhas de algodatildeo canudos

etc da mesma maneira que eacute concebido por Silva (2013) para os Asurini do Xingu daacute por um

lado a possibilidade aos Mẽbecircngocirckre de expandir seu mundo material atraveacutes do acesso a

outras materialidades e por outro proporciona o surgimento de inovaccedilotildees artefatuais e a

recriaccedilatildeo do seu saber fazer e da sua esteacutetica

209

Pensando na perspectiva cultural do desenvolvimento atraveacutes do uso sustentaacutevel de

recursos Leef (2009) destaca que a produtividade tecnoloacutegica estaacute associada agrave capacidade de

melhorar as praacuteticas tradicionais do uso de recursos

Desta maneira os processos de inovaccedilatildeo dependem das motivaccedilotildees da comunidade para

a autogestatildeo de seus processos econocircmicos e da capacidade de absorver novos conhecimentos

que possam incrementar a produtividade das suas praacuteticas sem destruir desta maneira sua

identidade eacutetnica e seus valores culturais (LEFF 2009) Isto pode se notar em Las Casas no

caso da utilizaccedilatildeo de mateacuterias-primas de uso tradicional como as fibras do buriti para a

confecccedilatildeo de cocares tradicionalmente confeccionados com penas Para a confecccedilatildeo satildeo

tambeacutem utilizadas outras mateacuterias-primas como satildeo os com canudos de plaacutestico e as miccedilangas

Desta maneira satildeo produzidos tanto para a comercializaccedilatildeo quanto para uso ritual e no caso

de natildeo ter as mateacuterias-primas em festas e rituais tambeacutem utilizam os cocares confeccionados

com canudos e miccedilangas (Figura 48)

Figura 48 Diadema utilizado na festa das mulheres menire bi ocirck confeccionado com mistura de canudos

plaacutesticos penas de arara talas de buriti e linhas de algodatildeo


Assim os procedimentos teacutecnicos a serem adotados no mundo material e imaterial e

suas transformaccedilotildees satildeo escolhas tecnoloacutegicas que resultam portanto de uma percepccedilatildeo de

como e quais coisas devem ser feitas e utilizadas Desta maneira as tecnologias para aleacutem das

210

suas razotildees praacuteticas podem ser entendidas como um fim para produzir significados relaccedilotildees ou

ainda como uma forma de accedilatildeo para a (re)criaccedilatildeo do mundo material e simboacutelico (SILVA

2013 p 730-731)

Por outro lado segundo o Padre Raimundo da Paroacutequia Cristo Redentor em Redenccedilatildeo -

PA (Comunicaccedilatildeo pessoal 2011) os Mẽbecircngocirckre antigamente natildeo utilizavam sementes para

a confecccedilatildeo do artesanato comercializado como ocorre na atualidade (GONZAacuteLEZ-

PEacuteREZ et al 2013) Segundo o Padre essa foi uma tendecircncia que cresceu nos uacuteltimos

anos devido agrave proibiccedilatildeo da utilizaccedilatildeo de mateacuterias-primas de origem animal como satildeo as

penas de aves silvestres e dentes de animais como macacos e onccedilas Na opiniatildeo do

sacerdote Raimundo a comercializaccedilatildeo de artesanato pelos povos indiacutegenas no Brasil e

principalmente entre os Kayapoacute foi debilitada devido a esta proibiccedilatildeo pois a cultura

material confeccionada com mateacuterias-primas de origem animal principalmente cocares

foram no passado e continuam sendo no presente as peccedilas mais demandadas na

comercializaccedilatildeo de objetos indiacutegenas

Segundo Schroumlder (2004) por estas razotildees pode-se perguntar se os povos indiacutegenas soacute

perdem com a integraccedilatildeo na economia de mercado como a maioria da literatura sugere Pois

natildeo eacute conhecida atraveacutes da literatura disponiacutevel ateacute o momento nenhum caso de uma sociedade

indiacutegena da Amazocircnia que possa ser considerada vencedora por tempo duradouro no contexto

da economia de mercado Desafio que muitos povos indiacutegenas da regiatildeo tecircm que enfrentar

atualmente e agrave qual tecircm que se adaptar atraveacutes dos diferentes projetos para desenvolvimento

das comunidades

Poreacutem eacute necessaacuterio destacar que a venda de PFNMs tem sido uma das atividades que

ganhou forccedila na uacuteltima deacutecada nas aldeias da TIK que fazem parte da AFP Pois a partir de

2009 esta associaccedilatildeo conseguiu fortalecer a venda da coleta da castanha-do-Brasil in natura de

pelo menos cinco aldeias na TIK conseguindo vender a produccedilatildeo com valores acima do

estabelecido para o preccedilo miacutenimo estabelecido pelo governo federal para este produto

(JEROZOLIMSKI RIBEIRO 2011)

Assim pensando em parcerias para fortalecer a comercializaccedilatildeo poderia se pensar em

fortalecer as parcerias com a AFP que jaacute tem pelo menos trecircs anos atuando na TI Las Casas e

que atualmente desenvolve com a comunidade o plano de gestatildeo territorial e que poderia servir

de ponte para estabelecer alternativas de comercializaccedilatildeo para o babaccedilu o artesanato e o pequi

na TI Las Casas A AFP tem servido de ponte para a comercializaccedilatildeo de artesanato atraveacutes da

loja Tucum que atua por enquanto no Rio de Janeiro e compra a produccedilatildeo diretamente das

211

aldeias de pelo menos doze povos indiacutegenas e ribeirinhos mas atraveacutes das associaccedilotildees Desta

maneira se poderia estabelecer uma futura parceria para ampliar a rede de comercializaccedilatildeo de

artesanato da aldeia Las Casas

65 Novos desafios na Economia Indiacutegena

Vale a pena enfatizar que nos paiacuteses tropicais principalmente na Amazocircnia surgem na

atualidade novas formas de economia como satildeo os pagamentos por serviccedilos ambientais (PSA)

e os projetos de Reduccedilatildeo Evitada por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal (REDD+) Este eacute

um aspecto polecircmico no que a conservaccedilatildeo ambiental se refere pois segundo Irigaray (2010)

estes projetos surgem como parte dos desafios e perspectivas diante das mudanccedilas climaacuteticas e

os impactos gerados pelo desmatamento ilegal na Amazocircnia No Brasil os povos indiacutegenas

ocupam 217 do territoacuterio amazocircnico e suas terras satildeo comprovadamente as mais bem

preservadas da regiatildeo Por seu turno cabe destacar que estes povos satildeo tambeacutem o grupo social

mais vulneraacutevel da regiatildeo (NERY et al 2013 TONI et al 2011)

Dependentes dos recursos naturais para sua subsistecircncia os povos indiacutegenas estatildeo cada

vez mais ameaccedilados por eventos climaacuteticos extremos Apesar de suas terras proverem serviccedilos

ecossistecircmicos cruciais eles recebem muito pouco em troca os serviccedilos puacuteblicos em suas terras

satildeo deficientes e seus territoacuterios satildeo constantemente ameaccedilados Os povos indiacutegenas tecircm pouco

poder poliacutetico e dependem do governo central para administrar suas terras Por estas razotildees

Toni et al (2011) acreditam que projetos de REDD+ poderiam representar uma oportunidade

sem precedentes para os povos indiacutegenas se tornarem mais autocircnomos e desta maneira poderia

se agregar ao valor cultural dos povos indiacutegenas o papel de ldquoguardiotildees da florestardquo ou de

ldquoprovedores de serviccedilos ambientaisrdquo (NERY et al 2013) No entanto para estes autores tirar

proveito dessa oportunidade requer um enorme esforccedilo por parte dos indiacutegenas para se adaptar

natildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas mas a instituiccedilotildees que lhes satildeo alheias

Por outro lado Toni et al (2011) destacam que se devem tomar em conta outros aspectos

como a participaccedilatildeo dos povos indiacutegenas na tomada de decisotildees para a implantaccedilatildeo de projetos

REDD+ Pois ateacute hoje natildeo haacute uma clareza juriacutedica sobre o poder de decisatildeo destes povos em

relaccedilatildeo a projetos como estes dentro dos seus territoacuterios uma vez que na praacutetica a FUNAI

continua tendo um papel de apoio e reconhecimento das atividades econocircmicas desenvolvidas

em Terras Indiacutegenas

Desta maneira a venda de creacuteditos de carbono por um lado atenua e por outro agrava

este tipo de conflitos Pois mecanismos como REDD+ ao contraacuterio da agricultura exigem a

212

manutenccedilatildeo das florestas em peacute e natildeo a supressatildeo Nesse sentido o autor destaca que o risco

aparente da venda de carbono eacute muito menor do que outro tipo de atividades Mesmo assim os

riscos dos contratos de venda de creacuteditos de carbono poderiam estar mais relacionados agrave

concorrecircncia entre eles devido a que jaacute teve iniacutecio uma corrida extemporacircnea entre diversos

tipos de intermediaacuterios para a elaboraccedilatildeo destes contratos com populaccedilotildees indiacutegenas Entre

estes eacute a FUNAI quem tem sido chamada para acompanhar e emitir uma posiccedilatildeo oficial em

cada proposta de contrato Embora a discussatildeo deste tema no Brasil seja recente envolve ainda

um pequeno nuacutemero de atores notadamente acadecircmicos e teacutecnicos de oacutergatildeos governamenta is

e de ONGs Mais ainda a despeito do baixo risco aparente destes contratos a venda do carbono

implica restringir o uso das TIs por longos periacuteodos aproximadamente 30 anos decisatildeo que

envolve natildeo soacute a totalidade dos atuais habitantes dessas aacutereas como tambeacutem geraccedilotildees futuras

(TONI et al 2011)

As pautas para os projetos de sequestro de carbono comeccedilaram a partir da deacutecada de

2000 junto com elas e aumentaram nas bolsas de valores as iniciativas dirigidas agrave ampliaccedilatildeo

da comercializaccedilatildeo de ldquocreacuteditos de carbonordquo Isto foi impulsionado pelo Banco Mundial para

linhas especiacuteficas de financiamento de projetos que jaacute foram validados por oacutergatildeos de

certificaccedilatildeo e que levam em conta o que chamam de ldquoparcerias com comunidades tradiciona isrdquo

e movimentos sociais Em outros termos todos os saberes praacuteticos destas ldquocomunidadesrdquo

extrativistas seriam incorporados agraves medidas oficiais que preconizam a preservaccedilatildeo das

florestas bem como as praacuteticas cotidianas de indiacutegenas quilombolas seringueiros

quebradeiras ribeirinhos castanheiros extratores de arumatilde e outros agroextrativis tas

(ALMEIDA 2008) Desta maneira fazendo parte destas medidas para preservaccedilatildeo da floresta

as comunidades tradicionais passariam a funcionar idealmente como ldquoguardiatildees das florestasrdquo

cuja funccedilatildeo especiacutefica eacute reduzir a produccedilatildeo de dioacutexido de carbono

Destaca Almeida (2008) que surge desta maneira o que seria uma divisatildeo do trabalho

ideal as ldquocomunidades tradicionaisrdquo passariam em certa medida a compensar os elevados

iacutendices de poluiccedilatildeo das sociedades industriais que estariam emitindo gases poluentes (gases de

efeito estufa) acima de qualquer limite considerado ecologicamente razoaacutevel

Poreacutem em dezembro de 2015 na Conferecircncia das Partes COP 21 ao menos 56

organizaccedilotildees principalmente de paiacuteses africanos europeus de Estados Unidos e apenas dois

organizaccedilotildees Sul-americanas uma da Boliacutevia e do Brasil o Grupo Carta de Beleacutem62 se

62 O grupo Carta de Beleacutem estaacute conformado por organizaccedilotildees e movimentos socioambientais trabalhadores e

trabalhadoras da agricultura familiar e camponesa agroextrativistas quilombolas organizaccedilotildees de mulheres

organizaccedilotildees populares urbanas pescadores estudantes povos e comunidades tradicionais e povos originaacuterios que

213

pronunciaram contra o comeacutercio de carbono Segundo estas organizaccedilotildees o comeacutercio de

carbono natildeo reduz as emissotildees e por seu turno natildeo garante a distribuiccedilatildeo justa dos recursos

entre as populaccedilotildees locais e povos tradicionais Por outro lado natildeo reconhece o importante

papel destes povos e comunidades na preservaccedilatildeo ambiental (FERN 2015)

Almeida (2008) salienta que as poliacuteticas estabelecidas para os contratos de creacuteditos de

carbono satildeo marcadas por uma dubiedade pois por um lado estimulam a accedilatildeo dos laboratoacuterios

de biotecnologia que querem preservar ldquonichos ecoloacutegicosrdquo sobretudo para a pesquisa

farmacecircutica Por outro lado incentivam os elevados iacutendices de desmatamento perpetrados

pelos interesses dos conglomerados econocircmicos voltados para a comercializaccedilatildeo de gratildeos

principalmente soja de carne in natura de carvatildeo vegetal de papel e celulose de ferro-gusa e

outras commodities Desta maneira as contradiccedilotildees que resultam disto tem produzido uma

ldquoguerra ecoloacutegicardquo e colocam em questatildeo a ldquoracionalidaderdquo das intervenccedilotildees de planejamento

de cunho neoliberal aleacutem de acentuar paradoxos nas decisotildees empresariais que oscilam entre

conservar e devastar os recursos florestais

Outra proposta tem sido considerada recentemente para a geraccedilatildeo de renda em povos

indiacutegenas a formalizaccedilatildeo do turismo em Terras Indiacutegenas Em Las Casas eacute outra das demand as

da comunidade Em conjunto com as demandas de comercializaccedilatildeo de PFNMs como o babaccedilu

pequi e artesanato a demanda surgiu por parte da comunidade em 2010 Poreacutem esta demanda

vem sendo estudada e discutida nos uacuteltimos anos com pesquisadores e uma turismoacuteloga

bolsista do MPEG A atividade natildeo tem sido implementada devido a que natildeo haacute ateacute o momento

uma legislaccedilatildeo que regule a atividade turiacutestica em TIs Em 2014 depois de inuacutemeras discussotildees

entre diferentes entes do governo como satildeo o Ministeacuterio do Turismo o Ministro da Justiccedila e a

Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio foi publicado em 19 de agosto a portaria interministerial Nordm 1372

de 18 de agosto de 2014 que Institui Grupo de Trabalho Interministerial com a finalidade de

propor medidas e accedilotildees necessaacuterias para regulamentar e desenvolver as atividades turiacutesticas em

terras indiacutegenas Desta maneira ficou instituiacutedo o grupo de trabalho interministerial GTI

compartilham a luta contra o desmatamento e por justiccedila ambiental na Amazocircnia e no Brasil (GRUPO CARTA

DE BELEacuteM 2016) A missatildeo e princiacutepios do grupo estatildeo baseados na Carta de Beleacutem a qual enfatiza a

importacircncia de que cientiacuteficos e ambientalistas tomem em conta as necessidades dos povos indiacutegenas e

comunidades tradicionais e que seja reconhecido o papel fundamental destas populaccedilotildees na conservaccedilatildeo

ambiental do planeta Assim como tambeacutem chamar atenccedilatildeo sobre a necessidade de estabelecer mecanismos de

compensaccedilatildeo aos povos tradicionais pela utilizaccedilatildeo dos conhecimentos e recursos bioloacutegicos incluindo a consulta

previa agraves autoridades das comunidades incluindo a consulta previa agraves autoridades em todos os processos que

afetem suas sociedades (LOgravePEZ GARCEacuteS 2012)

214

encarregado de estudar e propor medidas e accedilotildees necessaacuterias para desenvolver as atividades

turiacutesticas em terras indiacutegenas

Estes GTI tecircm como finalidade normatizar as atividades turiacutesticas em terras

indiacutegenas estabelecer as formas de fomento e fiscalizaccedilatildeo das atividades a fim de promover a

valorizaccedilatildeo cultural e a geraccedilatildeo de renda para as comunidades indiacutegenas por meio da praacutetica

do ecoturismo e etnoturismo Desta maneira se poderiam fortalecer as demandas da comunidade

em relaccedilatildeo ao turismo como outra atividade para geraccedilatildeo de renda fortalecimento e divulgaccedilatildeo

da cultura

Segundo o estudo feito por Silva (2015) na TI Las Casas em relaccedilatildeo ao turismo um

ponto positivo diz respeito agrave infraestrutura de acesso agrave aldeia que possui um diferencial Por

estar proacutexima agrave cidade pode ser ter acesso via terrestre diferente de outras aldeias e roteiros

que satildeo comercializados onde o acesso eacute difiacutecil o que acaba tornando um roteiro de custo

elevado

Destaca Silva (2015) que o fato de Las Casas se caracterizar como um territoacuterio

culturalmente diferenciado em relaccedilatildeo ao contexto da regiatildeo buscando alternativas de geraccedilatildeo

de renda tanto econocircmica quanto social e cultural pode encontrar nos princiacutepios do

etnodesenvolvimento e do turismo comunitaacuterio caminhos que pudessem responder seus

questionamentos Por outro lado poderia ser implementado sem afetar as suas atividades

cotidianas atendendo os principais quesitos pensados que satildeo a geraccedilatildeo de renda atraveacutes de

uma atividade que seja complementar e o seu reconhecimento e fortalecimento cultural

Outro aspecto importante mencionado por Silva (2015) estaacute relacionado agrave que a

implementaccedilatildeo desta atividade poderia ajudar a conter a evasatildeo dos mais jovens para a cidade

fazendo com que tenham interesse em novas atividades dentro da aldeia Buscando de esta

maneira reafirmem sua identidade cultural aleacutem de propiciar uma geraccedilatildeo de renda

complementar e promover o debate intercultural entre a comunidade e os visitantes Poreacutem a

comunidade acredita que haacute ainda questotildees que devem ser trabalhadas com vistas que esta

atividade venha a ocorrer de fato principalmente no que diz respeito agrave organizaccedilatildeo

comprometimento e responsabilidade nas accedilotildees Tambeacutem a implementaccedilatildeo desta atividade

deve ser pensada em benefiacutecio da comunidade com a participaccedilatildeo da mesma e com autonomia

pois um aspecto bastante claro nesta demanda eacute o desejo de organizar atividades turiacutesticas sem

investidores externos ou seja com organizaccedilatildeo da comunidade e para a comunidade

215

7 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Encontramos que no decorrer do tempo pelo menos a partir da deacutecada de 1970 a TI

Las Casas foi alvo de desmatamentos para o estabelecimento de fazendas para gado O

desmatamento aumentou nas deacutecadas de 1970 a 1990 periacuteodo em que os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute

tiveram que deixar seu territoacuterio depois de instalado o posto de atraccedilatildeo Padre Las Casas Com

a reocupaccedilatildeo da TI no final da deacutecada de 1990 todavia comeccedilou um processo de recuperaccedilatildeo

da vegetaccedilatildeo desmatada Mesmo hoje com os diferentes tipos de ocupaccedilatildeo do solo levantados

e a saiacuteda aos poucos dos posseiros que pelo menos ateacute 2015 ocupavam a TI Las Casas continua

a regeneraccedilatildeo florestal de aacutereas que foram desmatadas e degradadas no passado

Os mapeamentos participativos se mostraram como uma ferramenta importante

levantamento de informaccedilotildees de sobre uso e manejo de recursos estimulando as discussotildees na

comunidade sobre os recursos explorados e as oportunidades que estes podem oferecer na

geraccedilatildeo de renda Por outro lado a partir desta ferramenta puderam se levantar informaccedilotildees

que natildeo satildeo visiacuteveis atraveacutes de imagens de sateacutelite em relaccedilatildeo aos diferentes tipos ocupaccedilatildeo e

manejo do solo desta maneira o uso de imagens de sateacutelite em conjunto com mapeamentos

participativos satildeo ferramentas que oferecem que auxiliam para um melhor entendimento do

uso e manejo de recursos

Mesmo estando na transiccedilatildeo Amazocircnia-Cerrado pelo menos o 40 do territoacuterio da TI

estaacute ocupado por florestas das quais florestas de galeria ocupam o 1273 e florestas estacionais

2783 do territoacuterio Pode se inferir atraveacutes dos resultados obtidos em relaccedilatildeo agrave dinacircmica de

uso da terra e atraveacutes fotointerpretaccedilatildeo de imagens que grande parte destas florestas satildeo na

verdade florestas secundaacuterias

Poreacutem estas florestas secundarias oferecem recursos para a subsistecircncia dos moradores

da aldeia Las Casas Entre estes aproveitam e manejam mais de noventa espeacutecies vegetais as

quais fazem parte tanto da vida cotidiana quanto da vida ritual Tanto plantas quanto animais

se integram a seu estilo de vida tradicional e do conhecimento que se mantecircm ainda vivo

mesmo mantendo relaccedilotildees constantes com a sociedade envolvente

A partir dos levantamentos realizados da densidade de babaccedilu e pequi eacute necessaacuterio dizer

que pensando na comercializaccedilatildeo destas duas espeacutecies o babaccedilu (A speciosa) apresenta uma

densidade que poderia ser aproveitada para a comercializaccedilatildeo acompanhada do manejo desta

espeacutecie Eacute necessaacuterio destacar que mesmo que as mulheres desejem comercializar babaccedilu na

regiatildeo natildeo haacute demandas para comercializaccedilatildeo de babaccedilu A economia que lidera nesta regiatildeo

216

estaacute ligada principalmente agrave criaccedilatildeo de gado Por outro lado para conseguir comercializar

babaccedilu tanto os frutos in natura ou produtos como oacuteleo elaborado pelas mulheres

possivelmente isto poderia ser estruturado atraveacutes de projetos futuros no plano de gestatildeo

territorial da TI que estaacute sendo elaborado atraveacutes da PNGATI com a AFP

Por seu turno o pequi (C brasiliense) que foi a uacutenica espeacutecie in natura que jaacute foi

comercializada na aldeia precisaria de um plano de manejo bem estruturado onde seria preciso

pensar em cultivar a espeacutecie devido agrave densidade baixa que apresenta em comparaccedilatildeo com a

densidade reportada para a espeacutecie na literatura Por outro lado o pico da produccedilatildeo do pequi eacute

bianual o que poderia comprometer a produccedilatildeo para consumo na aldeia pois na eacutepoca do

inverno o consumo dos frutos eacute uma das principais fontes de alimento na dieta deste povo

Desta maneira deve se pensar num plano de manejo que inclua o cultivo desta espeacutecie

Entre as oportunidades de geraccedilatildeo de renda se pode dizer que a atividade na qual a

comunidade tem experiecircncia e possibilidade de se estruturar se pensando na comercializaccedilatildeo

eacute na produccedilatildeo de artesanato pois atraveacutes das experiecircncias com os projetos Mẽkunhecircre e Me agrave

yry Las Casas a comunidade tem demonstrado seu interesse tanto na organizaccedilatildeo quanto a

produccedilatildeo do artesanato comercializado Tanto as mulheres quanto os homens demonstram seu

interesse por apresentar atraveacutes do artesanato o melhor da cultura e da esteacutetica Mebecircngocirckre -

Kayapoacute destacando os trabalhos em miccedilanga a representaccedilatildeo dos grafismos tradicionais em

tecido e tiracolos de algodatildeo no caso do trabalho das mulheres Pelos homens atraveacutes da

cestaria e outros objetos confeccionados com fibras de palmeiras como o buriti (cocares

espremedores de mandioca tiracolos tornozeleiras entre outros) cachimbos de madeira

abanadores bordunas maracaacutes e miniaturas de maacutescaras e animais

A pesar do interesse em procurar oportunidades de geraccedilatildeo de renda atraveacutes de

atividades consideradas sustentaacuteveis como a comercializaccedilatildeo de artesanato ou de PFNMs

como o pequi e o babaccedilu pelo fato de ter ainda posseiros na Terra Indiacutegena ainda haacute o risco

de participar de atividades predatoacuterias como o arrendamento de pastos para criaccedilatildeo de gado

atividades que estaratildeo latentes enquanto os posseiros continuarem dentro da Terra Indiacutegena

Mesmo assim a comercializaccedilatildeo de pequi ainda sendo um projeto piloto pode se ver

fortalecida com o apoio da AFP assim como tambeacutem a comercializaccedilatildeo do artesanato cujo um

processo de organizaccedilatildeo que percorre seu caminho aos poucos promete ser uma atividade que

pode ser bem estruturada Tanto pelas demandas das aldeias da TI Las Casas como tambeacutem

pela atuaccedilatildeo das associaccedilotildees das quais elas fazem parte

217

Tomando em conta os micromodelos econocircmicos para integraccedilatildeo ao mercado

estabelecidos por Little (2002) pode se dizer que em Las Casas se apresenta o caso do segundo

modelo que estaacute relacionado ao estabelecimento de economias paralelas Neste modelo o povo

ou grupo eacutetnico continuaria a trabalhar nas suas atividades de subsistecircncia ao mesmo tempo em

que elaboram produtos para os mercados mas sem vender diretamente a produccedilatildeo Neste caso

haveria uma intermediaccedilatildeo na fase de comercializaccedilatildeo que seria feita por uma macro-

organizaccedilatildeo ou confederaccedilatildeo eacutetnica que represente poliacutetica e economicamente o grupo de

produtores Assim os pagamentos seriam feitos em mercadoria ao inveacutes de dinheiro para evitar

a mercantilizaccedilatildeo dessa produccedilatildeo e as possiacuteveis distorccedilotildees na organizaccedilatildeo local Neste caso o

processo estaacute sendo gerido tanto pelos coordenadores de artesanato assim como tambeacutem estatildeo

tomando forccedila atraveacutes do apoio da AFP principalmente atraveacutes da comercializaccedilatildeo de

artesanato e pequi

Desta maneira em Las Casas a comunidade comeccedila a ter parte do controle dos processos

produtivos onde coletam e beneficiam as mateacuterias-primas satildeo responsaacuteveis pela produccedilatildeo e

reinvestimentos no que se refere tanto agraves mateacuterias-primas utilizadas na produccedilatildeo de objetos

assim como tambeacutem a colaboraccedilatildeo da comunidade para assumir os gastos relacionados aos

pagamentos de registro da associaccedilatildeo Ngonh-rocircrocirc-kre e o fortalecimento das atividades atraveacutes

da AFP Por outro lado contam com a logomarca criada por eles mesmos o que com a

estruturaccedilatildeo desta atividade pode auxiliar na valorizaccedilatildeo dos objetos comercializados

estabelecendo desta maneira um nicho diferenciado no mercado Desta maneira o atual processo

de inserccedilatildeo ao mercado se configura tambeacutem como uma economia mista ou a nova economia

amazocircnica resultante do que tal como a menciona Smith (1996) que toma corpo entre os povos

indiacutegenas da Amazocircnia onde se conservam fortemente as formas de produccedilatildeo tradicional com

a economia de mercado No caso dos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute esta produccedilatildeo se complementa com

a geraccedilatildeo de renda atraveacutes da inserccedilatildeo ao mercado principalmente para complementar novas

necessidades como satildeo a alimentaccedilatildeo atraveacutes da aquisiccedilatildeo de alimentos industrializados

acesso agraves cidades proacuteximas e para o investimento na vida ritual

Poreacutem agrave participaccedilatildeo em projetos como caminho para a chegar ao mercado eacute necessaacuterio

salientar que para que estes processos tenham sucesso as comunidades envolvidas devem ter

o controle total destes das atividades Desta maneira segundo indica Gallois (2005) as formas

de organizaccedilatildeo produccedilatildeo e troca destes povos devem ser fortalecidas e dinamicamente

enriquecidas em experiecircncias controladas pelas proacuteprias comunidades

218

Os projetos visando agrave geraccedilatildeo de renda atraveacutes da inserccedilatildeo ao mercado desenvolvidos

em Las Casas mesmo fazendo parte de editais de ldquoAccedilatildeo de promoccedilatildeo do patrimocircnio cultura l

dos povos indiacutegenasrdquo foram pensados e planejados pela comunidade tanto as oficinas de

artesanato quanto a ideia das etiquetas e o catalogo Mesmo assim a comunidade teve apoio na

formulaccedilatildeo final do projeto em aspectos que eles ainda natildeo estatildeo capacitados como por

exemplo a estruturaccedilatildeo e solicitaccedilatildeo de orccedilamentos e a organizaccedilatildeo dos pagamentos segundo

o sistema de extratos para pagamentos de Satildeo Joseacute Liberto onde participei durante o tempo que

venderam artesanato nesta loja como colaboradora atraveacutes de contrapartidas agrave comunidade pelo

fato de desenvolver pesquisa com eles

Concordo com a opiniatildeo de Gallois (2005) da necessidade de fortalecer a capacidade

das comunidades indiacutegenas e organizaccedilotildees representativas em desenhar e gerir projetos

Aspectos que como mencionado acima ainda estatildeo debilitados nos processos de inserccedilatildeo ao

mercado atraveacutes de projetos Assim para lograr o sucesso destas experiecircncias as propostas

devem ser encaminhadas pelas proacuteprias comunidades e implementados no acircmbito de redes de

relaccedilotildees locais Tomando em conta as relaccedilotildees sociais e a loacutegica da produccedilatildeo indiacutegena que

implica sempre no dar e receber na troca Pois segundo esta autora a ldquocultura de projetosrdquo em

muitos casos tem incentivado a transformaccedilatildeo dessa loacutegica numa equaccedilatildeo muito mais simples

receber apoio por meio de projetos sem meta precisa que natildeo a elaboraccedilatildeo do projeto seguinte

Mesmo com as dificuldades que estatildeo relacionadas agrave inserccedilatildeo na economia de mercado

ligada agrave produccedilatildeo tradicional na comunidade de Las Casas haacute um grande interesse em

estruturar esta atividade Isto foi demonstrado com a organizaccedilatildeo atraveacutes de coordenadores para

o preparo e supervisatildeo das peccedilas a serem comercializadas Pode se destacar que um dos grandes

empecilhos que os povos indiacutegenas devem superar no processo da inserccedilatildeo ao mercado satildeo as

vias burocraacuteticas pelas quais devem passar e se adaptar

Apesar das relaccedilotildees com a sociedade envolvente e eventos relacionados no passado

com atividades econocircmicas predatoacuterias os Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute ainda conservam fortemente

sua cultura e os territoacuterios que exploram

Por outro lado a procura de novas alternativas para geraccedilatildeo de renda relacionada aos

PFNMs que exploram e a comercializaccedilatildeo da sua cultura material fortalece tanto a sua cultura

quanto a economia tradicional deste povo pois garante a conservaccedilatildeo dos seus territoacuterios e a

geraccedilatildeo de renda complementar agraves atividades econocircmicas tradicionais

219

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233

APEcircNDICE

234

APEcircNDICE 1- Termo de Anuecircncia Preacutevia apresentado na aldeia Las Casas

Termo de Anuecircncia Preacutevia para a realizaccedilatildeo do estudo Exploraccedilatildeo de Recursos Produtos Natildeo Madeireiros pelos Mẽbengocirckre-Kayapoacute da Aldeia Las Casas - Terra Indiacutegena Las Casas no Sudeste do Paraacute Aspectos Bioloacutegicos Sociais e Econocircmicos Relevantes para a Sustentabilidade da

Comercializaccedilatildeo Aldeia Las Casas Terra Indiacutegena Las Casas ndash PA

Povo indiacutegena Kayapoacute

1- Finalidade do estudo

A finalidade deste estudo eacute conhecer e mapear as aacutereas de ocorrecircncia a produccedilatildeo anual e as

praacuteticas culturais de uso e manejo do babaccedilu pequi e buriti pelos Mẽbecircngocirckre-Kayapoacute da aldeia

Las Casas (TI Las Casas - PA) Este conhecimento serviraacute de base para que as comunidades

envolvidas neste estudo possam

Valorizar seus conhecimentos sobre estes recursos o meio ambiente e sua

contribuiccedilatildeo para a conservaccedilatildeo da biodiversidade

Assegurar seus direitos sobre as terras indiacutegenas e seus recursos naturais

Tomar decisotildees sobre o manejo dos recursos naturais do seu territoacuterio

Incentivar processos de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (realizar processos de

recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas caso seja de seu interesse)

Usaacute-lo para incentivar alternativas de geraccedilatildeo de renda baseadas no

aproveitamento de recursos florestais natildeo madeireiros

Articular formas organizativas que potencializem o desenvolvimento de

atividades socioeconocircmicas cultural e ambientalmente sustentaacuteveis

2- Por que eacute importante esse estudo

No estado do Paraacute na bacia do rio Pau Drsquoarco localiza-se a Terra indiacutegena Las Casas

(PA) Povoada por indiacutegenas Kayapoacute esta terra indiacutegena constitui uma valiosa reserva de

biodiversidade do Cerrado Portanto abriga vaacuterias espeacutecies de plantas e animais muitos deles

ameaccedilados de extinccedilatildeo

Os conhecimentos tradicionais deste povo indiacutegena sobre uso e manejo dos recursos

naturais dos seus territoacuterios tecircm contribuiacutedo muito para a conservaccedilatildeo destes recursos sendo

responsaacuteveis diretos pela existecircncia de aacutereas ou ilhas de floresta preservada no meio de terras

devastadas pela criaccedilatildeo de gado ou pelo desmatamento ilegal para venda de madeira e mais

recentemente pelos cultivos de soja

235

Um estudo que pretende mapear as aacutereas de ocorrecircncia de babaccedilu (Attalea speciosa

Mart e Attalea eichleri (Drude) A J Hend) buriti (Mauritia flexuosa L f) e pequi (Caryocar

brasiliense A St ndashHil) dentro da terra indiacutegena Las Casas e o uso e manejo que este povo faz

destes recursos com base nos seus conhecimentos tradicionais eacute importante para promover

accedilotildees futuras de desenvolvimento que contribuam para garantir a qualidade de vida destas

populaccedilotildees Eacute tambeacutem um instrumento para inventariar os recursos naturais que existem na

terra indiacutegena de modo a preservaacute-los e ou potencializar o enriquecimento florestal de

determinadas aacutereas de modo a garantir o retorno de animais que sirvam de alimento para as

populaccedilotildees indiacutegenas recuperarem rios e igarapeacutes etc De outro lado quando uma comunidade

conhece os recursos que ocorrem em seus territoacuterios fica mais faacutecil decidir que atividades

produtivas ou de conservaccedilatildeo podem contribuir para a geraccedilatildeo de renda de maneira sustentaacuteve l

isto eacute sem destruir os recursos naturais da terra indiacutegena O mapeamento deste recurso e de

conhecimentos sobre uso e manejo dos mesmos por parte deste povo pode contribuir para

fortalecer a autonomia deste na medida em que possibilita a tomada de decisotildees sobre questotildees

ambientais e territoriais de maneira consciente e efetiva

3- O que se vai estudar

O estudo constaraacute de duas partes

1- Levantamento de informaccedilotildees histoacuterico-culturais e processos de ocupaccedilatildeo

territorial mapeamento do babaccedilu pequi e buriti e se necessaacuterio outros recursos

naturais importantes para a subsistecircncia deste povo seus usos manejo e

potencialidades de comercializaccedilatildeo

2- Tomadas de decisatildeo sobre que praacuteticas sustentaacuteveis possam ser implantadas na terra

indiacutegena visando agrave geraccedilatildeo de renda e o desenvolvimento participativo


territorial mapeamento do babaccedilu dentro da terra indiacutegena usos manejo e

potencialidades de comercializaccedilatildeo para este recurso

Propomos estudar os recursos naturais principalmente as populaccedilotildees de babaccedilu

presentes na terra indiacutegenas Las Casas conhecimentos e praacuteticas tradicionais de manejo e uso

destes recursos por este povo e as condiccedilotildees atuais de geraccedilatildeo de renda a traveacutes de perguntas

como

236

Quais satildeo os recursos do cerrado e da floresta que os povos indiacutegenas

usam na alimentaccedilatildeo medicina construccedilatildeo artesanato ornamentaccedilatildeo

para atrair animais de caccedila

Em que ambientes pode se encontrar o babaccedilu pequi e buriti Trata-se de

mapear os principais recursos utilizados e identificando se estas aacutereas de

coleta estatildeo associadas agrave caccedila pesca ou perto das roccedilas

Que quantidade se tem destes recursos Muito Pouco Nada

Como este recurso eacute utilizado Por exemplo se faz oacuteleo artesanato ou se

usado na alimentaccedilatildeo comercializaccedilatildeo etc

Haacute histoacuterias antigas e cantos relacionados a este recurso

Como os povos indiacutegenas cuidam deste recurso para evitar que se acabe

Quais recursos precisam maior cuidado para evitar que se acabem

Este recurso eacute o jaacute foi vendido no mercado Onde Qual eacute a quantidade e

qual o preccedilo de venda

Qual eacute a renda mensal da famiacutelia Vocecirc participa de algum programa de

transferecircncia de renda do governo (bolsa famiacutelia bolsa verde outros)

Vocecirc eacute funcionaacuterio do Estado (professor FUNAI Agente de Sauacutede

Indiacutegena outros) Algueacutem da sua famiacutelia recebe aposentadoria

Observaccedilatildeo a comunidade Las Casas autorizou a coleta de material botacircnico

em exsicata (desidratado) destinado ao herbaacuterio do Museu Emiacutelio Goeldi soacute

para fins de identificaccedilatildeo pois este herbaacuterio no possui material deste lugar Fica

claro que o material coletado na TI Las Casas natildeo seraacute usado para exploraccedilatildeo de

produtos biotecnoloacutegicos nem seraacute submetido a anaacutelises em laboratoacuterios

Interessa tambeacutem estudar a histoacuteria do territoacuterio indiacutegena para identificar os processos de

ocupaccedilatildeo e formas de exploraccedilatildeo de recursos naturais Aqui interessa perguntar

Desde quando vocecircs moram aqui Antes moravam onde Por que e como chegaram aqui

Teve outras pessoas morando neste lugar Se jaacute teve ou ainda tem como

era ou eacute a relaccedilatildeo com eles

Como vocecircs se organizam para cuidar do territoacuterio e dos recursos naturais

que nele se encontram

2- Com base nos resultados deste levantamento e mapeamento de informaccedilotildees que

seratildeo devolvidos agrave comunidade em forma de mapas temaacuteticos se iniciaraacute um

237

processo de tomada de decisotildees sobre que praacutetica sustentaacutevel pode ser incentivada

na comunidade por exemplo se haacute escassez de um recurso que seja de grande

importacircncia cultural eou econocircmica do povo indiacutegena podem-se incentivar cursos

de capacitaccedilatildeo e intercacircmbio de conhecimentos para que possa este recurso ser

preservado Em estudos anteriores foram levantados dentro da terra indiacutegena

produtos florestais natildeo madeireiros com potencial para exploraccedilatildeo econocircmica como

principalmente o babaccedilu (A speciosa e A eichleri) para extraccedilatildeo de oacuteleos ou para

uma possiacutevel comercializaccedilatildeo do fruto pequi (C brasiliense) comercializado na

regiatildeo e abundante na terra indiacutegena e buriti (M flexuosa) cujas fibras satildeo

amplamente usadas no artesanato desta maneira pode-se incentivar a exploraccedilatildeo

destes recursos como alternativa de geraccedilatildeo de renda Ou talvez seja necessaacuterio

recuperar aacutereas degradadas a traveacutes do reflorestamento ou de recomposiccedilatildeo das

aacutereas de floresta

Eacute importante ressaltar que as decisotildees devem ser tomadas de maneira participativa pois soacute

quando uma necessidade eacute percebida pela maior parte da comunidade esta pode se organizar

para procurar soluccedilotildees a seus problemas e necessidades garantindo assim que as atividades a

serem desenvolvidas tenham sucesso

4 - Como seraacute efetuado o estudo (Metodologia)

Uma vez que as autoridades indiacutegenas e a maior parte das pessoas da comunidade

assinem o Termo de Anuecircncia Preacutevia (TAP) seraacute enviada toda a documentaccedilatildeo para Brasiacutelia

onde uma instituiccedilatildeo denominada Instituto de Patrimocircnio Histoacuterico Artiacutestico Nacional

(IPHAN) oacutergatildeo do Ministeacuterio da Cultura responsaacutevel por autorizar pesquisas que acessem o

conhecimento tradicional associado agrave biodiversidade neste caso numa populaccedilatildeo indiacutegena e

que verifica se o Termo de Anuecircncia Preacutevia (TAP) e toda a documentaccedilatildeo estatildeo corretamente

encaminhados O IPHAN desde o ano 2012 toma conta das pesquisas que envolvem

conhecimentos dos povos indiacutegenas e demais populaccedilotildees tradicionais sobre a biodiversidade

isto eacute sobre as plantas e animais e sobre o patrimocircnio geneacutetico quer dizer os componentes que

as plantas e animais apresentam Tambeacutem temos que tramitar a autorizaccedilatildeo para ingresso em

terras indiacutegenas junto a Coordenaccedilatildeo de Estudos e Pesquisas da FUNAI em Brasiacutelia Estas

autorizaccedilotildees demoram no miacutenimo uns seis meses ou mais para ficar prontas

Uma vez que tenhamos todas as autorizaccedilotildees em matildeos podemos iniciar a primeira parte

do estudo cujo iniacutecio estaacute previsto para o segundo semestre de 2013 e que trataraacute do

levantamento e mapeamento de informaccedilotildees sobre o babaccedilu incluindo seus usos manejo a

238

densidade de indiviacuteduos de babaccedilu por hectare e a produccedilatildeo anual de frutos Para tanto

usaremos imagens de sateacutelite das terras indiacutegenas para localizar os lugares onde se concentram

os recursos naturais de maior importacircncia para a comunidade lugares de coleta de frutos Este

mapeamento seraacute conduzido em reuniotildees com as mulheres da qual participaratildeo todas indiacutegenas

interessadas Com vistas a complementar esta atividade faremos caminhadas pelo campo e

floresta para coletar e identificar os ambientes de ocorrecircncia das espeacutecies de babaccedilu (A

speciosa e A eichleri) de buriti (M flexuosa) e de pequi (C brasiliense) os quais seratildeo

georreferenciados Em seguida colocaremos estas informaccedilotildees nos mapas que elaboraremos

de maneira participativa Podemos acompanhar o dia a dia das famiacutelias para registrar quais os

processos de coleta os usos dados a estes recursos e o processo de produccedilatildeo de oacuteleo de babaccedilu

Tambeacutem obteremos informaccedilotildees por meio de entrevistas e histoacuterias de vida das pessoas da

comunidade que vatildeo ser gravadas se a pessoa permitir tomando notas em nossos cadernos de

campo e por meio de fotografias e de filmagens

Todas estas informaccedilotildees seratildeo devolvidas agraves comunidades em forma de mapas relatoacuterios com

textos e fotografias transcriccedilatildeo de histoacuterias de vida fotografias e DVDs

Uma vez efetuado este levantamento procederemos conjuntamente agrave tomada de

decisotildees sobre que atividade ou praacutetica sustentaacutevel seraacute incentivada eou iniciada na

comunidade para contribuir ao desenvolvimento participativo da mesma isto eacute respeitando

seus conhecimentos seu estilo de vida e suas decisotildees para fortalecer a autonomia dos povos

indiacutegenas

5 - Locais e periacuteodo de estudo

Este estudo seraacute realizado na Terra indiacutegena Las Casas na aldeia homocircnima e

localizada no sudeste do Estado do Paraacute Escolhemos esta terra indiacutegena e a respectiva aldeia

porque queremos dar continuidade a estudos anteriores que jaacute foram desenvolvidas dentro do

projeto denominado ldquoLaboratoacuterio de Praacuteticas Sustentaacuteveis em Terras Indiacutegenas Proacuteximas ao

arco do desmatamentordquo Coordenado pela Dra Claudia Leonor Loacutepez Garceacutes pesquisadora do

Museu Paraense Emilio Goeldi neste projeto foi feito um levantamento sobre produtos natildeo

madeireiros com potencial de comercializaccedilatildeo na terra indiacutegena Las Casas Atraveacutes do presente

projeto pretende-se apoiar as demandas da comunidade surgidas em dito projeto onde a

comunidade solicitou apoio a projetos para a comercializaccedilatildeo eou geraccedilatildeo de renda com os

recursos abundantes na terra indiacutegena como buriti babaccedilu e pequi

O estudo seraacute realizado durante os anos 2013 e 2016 com possibilidade de prorrogaccedilatildeo

ateacute 2017

239

6 - Equipe de trabalho

A equipe de pesquisa estaacute composta pelas seguintes pessoas

Nome Formaccedilatildeo e Instituiccedilatildeo

Sol Elizabeth Gonzaacutelez

Peacuterez (Discente)

Mestra em Ciecircncias Bioloacutegicas

Botacircnica Tropical e

Doutoranda em

Desenvolvimento

Socioambiental ndash UFPANAEA

Francisco de Assis Costa

(Orientador)

Doutor em Economia Professor

NAEAUFPA

No transcurso da pesquisa podem ser incluiacutedos outros pesquisadores e estudantes mas sempre

seraacute consultada a comunidade e de acordo com o IPHAN e a FUNAI

7- Os recursos financeiros

Por ser um projeto tese de doutorado num primeiro momento este estudo seraacute financiado com

recursos da bolsa de estudo da estudante de Doutorado mesmo assim no decorrer da pesquisa

a estudante tentaraacute conseguir recursos para terminar de financiar a pesquisa por meio dos editais

para apoio a projetos a serem abertos

8 ndash Resultados esperados e divulgaccedilatildeo

Os resultados concretos deste estudo seratildeo

1- Elaboraccedilatildeo de cartografias locais em forma de mapas temaacuteticos recursos naturais

usados e manejados de processos histoacutericos e referecircncias cosmoloacutegicas Estes mapas

ficaratildeo nas comunidades para contribuir agrave tomada de decisotildees sobre gestatildeo ambiental e

territorial da Terra Indiacutegena

2- Criaccedilatildeo de um banco de dados digitalizado (dados coletados em campo fotografias

viacutedeos entrevistas histoacuterias de vida) sobre conhecimentos tradicionais Kayapoacute sobre

uso e manejo do babaccedilu (A speciosa e A eichleri) pequi (C brasiliense) e buriti (M

flexuosa) Esse banco de dados ficaraacute na responsabilidade da estudante de Doutorado

Sol Elizabeth Gonzaacutelez Peacuterez e natildeo seraacute disponibilizado para terceiros

240

3- Incremento da coleccedilatildeo do Herbaacuterio Joatildeo Murccedila Pires (MG) do Museu Paraense Emilio

Goeldi

4- Formaccedilatildeo de pesquisadores indiacutegenas

5- Intercacircmbio de conhecimentos e diaacutelogo de saberes indiacutegenas e acadecircmicos

6- Implantaccedilatildeo e ou fomento de uma praacutetica cultural e ambientalmente sustentaacuteve l

dependendo dos recursos humanos e florestais e das condiccedilotildees de infraestrutura na

comunidade

7- Comunicaccedilotildees e publicaccedilotildees cientiacuteficas em livros e perioacutedicos citando a comunidade

envolvida na pesquisa e indicando que os conhecimentos pertencem a essas

comunidades e que eacute vedado qualquer uso comercial das informaccedilotildees publicadas

exceto pelos detentores dos conhecimentos

8- Guias de plantas CD DVDs ou outro material de caraacuteter didaacutetico para divulgaccedilatildeo local

dos resultados e uso na educaccedilatildeo escolar indiacutegena

9- Formaccedilatildeo de Recursos Humanos no niacutevel de doutorado produccedilatildeo de uma tese de

doutorado

Seratildeo preservadas as claacuteusulas de confidencialidade dos dados caso seja solicitado pelas

comunidades sendo vedada a difusatildeo e transmissatildeo de conhecimentos tradicionais que

ameacem seus direitos intelectuais

9-Impactos sociais culturais e ambientais da pesquisa

Trata-se de um estudo que pretende valorizar os conhecimentos e praacuteticas tradiciona is

de uso e manejo do babaccedilu pequi e buriti por parte deste povo indiacutegena neste sentido espera-

se gerar impactos sociais culturais e ambientais positivos contribuindo para o fortalecimento

cultural e organizativo da comunidade envolvida e para a conservaccedilatildeo dos recursos naturais

presentes na terra indiacutegena

Resultados concretos deste estudo tais como geraccedilatildeo de cartografias locais para

tomadas de decisatildeo sobre questotildees socioambientais e de gestatildeo territorial formaccedilatildeo de

pesquisadores indiacutegenas intercacircmbio de conhecimentos e diaacutelogo de saberes indiacutegenas e

acadecircmicos e finalmente a implantaccedilatildeo e ou fomento de uma praacutetica cultural e ambientalmente

sustentaacutevel dependendo das condiccedilotildees dos recursos humanos e florestais e das condiccedilotildees de

infraestrutura na comunidade constituem atividades social e culturalmente positivas a curto e

meacutedio prazo e em longo prazo em termos ambientais e econocircmicos

Eacute importante esclarecer que esse primeiro momento da pesquisa isto eacute o levantamento

e mapeamento de babaccedilu natildeo teratildeo resultados econocircmicos imediatos mas constitui a base

241

para num segundo momento tomar decisotildees sobre a implementaccedilatildeo eou fomento de uma

atividade cultural e ambientalmente sustentaacutevel que possa contribuir para o melhoramento das

condiccedilotildees de vida e a possiacutevel geraccedilatildeo de renda na comunidade Isto dependeraacute das condiccedilotildees

da infraestrutura local (estradas meios de transporte condiccedilotildees de mercado etc) ou para

implementar praacuteticas de recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas que possam trazer benefiacutec ios

ambientais em longo prazo para as comunidades Como a pesquisa natildeo tem fins econocircmicos

imediatos tendo como objetivos subsidiar a comunidade na tomada de decisotildees natildeo haveraacute

reparticcedilatildeo de benefiacutecios econocircmicos jaacute que se trata de uma pesquisa acadecircmica

Mesmo assim haveraacute contrapartida por parte dos pesquisadores envolvidos no projeto

no que se refere a capacitaccedilotildees relacionadas agrave 1) comercializaccedilatildeo dos produtos florestais natildeo

madeireiros (babaccedilu e pequi) e artesanato para fortalecer o processo de entrada na economia

natildeo indiacutegena principalmente no que se refere agrave formataccedilatildeo de preccedilos justos tomando em conta

o tempo de trabalho (tempo gasto na coleta de frutos e mateacuterias-primas vegetais utilizadas na

confecccedilatildeo do artesanato) assim como tambeacutem o custo das mateacuterias industriais utilizadas na

produccedilatildeo do mesmo 2) beneficiamento de sementes procurando assim melhorar qualidade dos

objetos confeccionados com sementes 3) Em relaccedilatildeo ao artesanato destinado agrave venda haveraacute

tambeacutem apoio no escoamento do artesanato desde a aldeia ateacute a loja da Casa do Artesatildeo no

polo Joalheiro Satildeo Joseacute Liberto na cidade de Beleacutem-PA esta loja recebe artesanato de artesatildeos

independentes e associaccedilotildees de artesatildeos do estado do Paraacute onde a associaccedilatildeo indiacutegena da aldeia

encontra-se cadastrada para vender seus trabalhos artesanais Tambeacutem seratildeo publicados guias

de plantas do Field Museum atraveacutes do Enviromental and conservation Programs satildeo guias de

diferentes temaacuteticas (neste caso etnobotacircnica) e que depois satildeo publicados e impressos sem

custo jaacute que tecircm fins educativos e que satildeo distribuiacutedos gratuitamente aos autores (neste caso a

aldeia entra na autoria) assim como tambeacutem o arquivo do guia produzido para reimpressatildeo

posterior Se a comunidade da aldeia Las Casas concordar seratildeo produzidos guias de plantas

em cores sobre os diferentes usos do pequi babaccedilu e das plantas utilizadas no artesanato

produzido pelos artesatildeos e artesatildes da aldeia

A respeito da coleta de material botacircnico se for necessaacuteria a coleta cabe esclarecer que

esta atividade natildeo teraacute quaisquer impactos ambientais negativos para a comunidade pois se

trata de extrair pequenas quantidades das diversas partes das plantas (folhas flores frutos

sementes) que permitam identificar que planta eacute e o nome em latim como eacute conhecida no meio

acadecircmico Desta maneira natildeo haveraacute risco de afetar a biodiversidade e nem de afetar as

comunidades em termos de espoliaccedilatildeo dos seus conhecimentos pois a pesquisa natildeo pretende

242

identificar novas espeacutecies nem efetuar pesquisas biogeneacuteticas com este material coletado

Conforme jaacute esclarecido em outros momentos neste documento a coleccedilatildeo de material botacircnico

ficaraacute depositada no Herbaacuterio do Museu Goeldi e pode contribuir no futuro para que as

comunidades possam disponibilizar de uma referecircncia dos recursos naturais existentes em seus

territoacuterios

Pelo presente termo atestamos que estamos cientes e concordamos com a realizaccedilatildeo do estudo acima proposto e que foi

garantido nosso direito de recusar o acesso ao conhecimento tradicional associado ao patrimocircnio geneacutetico durante o processo de

obtenccedilatildeo da anuecircncia preacutevia

Local Comunidade Las Casas Terra Indiacutegenas Las Casas-PA

Data _____________________ de 2013

243

Assinaturas coletadas na reuniatildeo na paacutegina atual e nas seguintes

244

245

246

247

APEcircNDICE 2 Questionaacuterio para as entrevistas semiestruturadas aplicadas aos moradores

de Las Casas para levantamento de dados socioeconocircmicos uso e manejo do babaccedilu

I- INFORMACcedilOtildeES PESSOAIS

Data___________

I-IDENTIFICACcedilAtildeO

Nome do entrevistado ______________________Idade____ Sexo M___ F___

Quantas pessoas moram atualmente nesta casa___________

Quantos adultos_____ Quantas crianccedilas____ Quantos filhos seus

Qual a idade e sexo de cada pessoa

Idade

Sexo

II- ATIVIDADES DO GRUPO FAMIacuteLIAR

1 Dentre as atividades relacionadas na lista abaixo quais vocecirc pratica

o Extrativismo vegetal (coleta de frutosfibrasfolhas)

o Agricultura (Roccedila familiar)

o Pescacaccedila

o Artesanato

o Pecuaacuteria

o Criaccedilatildeo de pequeno porte

o Cargo na associaccedilatildeo local (natildeo remunerado)

2 Se tiver roccedila quais foram suas trecircs maiores produccedilotildees agriacutecolas este ano (ou no

passado)

Batata___Inhame___Mandioca___Banana____Milho____Melancia____Aboacutebora

outras___Se outras quais_____________________________________________

3 Quais foram suas trecircs maiores produccedilotildees extrativistas neste ano (ou no passado)

Babaccedilu____bacaba_____pequi_____buriti____ outras frutas (quais)_______

Madeira para construccedilatildeo____lenha______outros (quais) _________

248

III- RENDA DO GRUPO FAMIacuteLIAR

4 Vocecirc recebe algum salaacuterio ou aposentadoria _________Algueacutem da casa recebe

__________

Agente de Sauacutede Indiacutegena (AIS) Professor Funcionaacuterio puacuteblico (Associaccedilatildeo IndiacutegenaFUNAI)

aposentadoria

5 Vocecirc jaacute recebeu algum salaacuterio Sim____ Natildeo_____Em que ano e para quais

atividades _________________________________________________

6 Quais satildeo as principais fontes de renda do grupo familiar

Artesanato____aposentadoria____Bolsa-Famiacutelia ___Bolsa Verde ____outra ajuda do

governo________(especificar)

______________________________________________________________________

7 Algueacutem da famiacutelia fica fora da aldeia para trabalhar com salaacuterio

__________________________________________________________

_____________________________________________________________________

8 Vocecirc pode estimar a renda familiar mensal _____________________________

IV- CONSUMO DO GRUPO FAMIacuteLIAR

9 Vocecirc faz compras na cidade _____________

10 Se comprar quais destes produtos vocecirc compra

Arroz_____feijatildeo____sal_____accedilucar_____macarratildeo____cafeacute____oacuteleo____fumo____

Farinha___leite___refrigerante___bolachas____miccedilangas_____linhas de algodatildeo____

Roupas_____sapatos____sabatildeo____________outros_____(quais)______________________

__________________________________________________________________

11 Quantas vezes por mecircs vocecirc faz compras na cidade _______________________

12 Qual eacute a forma de pagamento mais comum

agrave vista___________fiado__________parcelado_______

Vndash USOS DO BABACcedilU

249

13 Vocecirc coleta babaccedilu Algueacutem da sua famiacutelia

coleta_____________________________________________________________________

14 Em que lugar vocecirc encontra o babaccedilu______________________________________

___________________________________________________________________________

15Que partes da planta vocecirc utiliza e com qual fim (casca do fruto amecircndoas folhas

caule)_____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

16Quem coleta homem mulher crianccedilas________________________________________

17Como eacute transportada a coleta ateacute aldeia________________________________________

___________________________________________________________________________

18Tem cocos de babaccedilu o ano todo_____________________________________________

19 A palha de babaccedilu eacute usada na construccedilatildeo de casas_______________________________

20 Quem participa da construccedilatildeo homens mulheres a famiacutelia

inteira____________________________________________________________________

______________________________________________________________________

21Vocecirc faz algum tipo de utensiacutelio ou artefato com a palha ou o a estipe do babaccedilu Qual

__________________________________________________________________

Produccedilatildeo de oacuteleo

22Quem extrai o oacuteleo de babaccedilu menire (mulher) ou memy

(homem)___________________________

23Como vocecirc aprendeu a fazer oacuteleo _______________________________________

24Vocecirc poderia explicar como eacute feito o oacuteleo de

babaccedilu___________________________________________

______________________________________________________________________

25Com que frequecircncia vocecirc faz oacuteleo________________________________________

26Quantos frutos ou sacas de coco vocecirc utiliza para fazer um litro de oacuteleo_________

______________________________________________________________________

27Para que vocecirc utiliza o oacuteleo de babaccedilu____________________________________

250

______________________________________________________________________

28Vocecirc vende oacuteleo de babaccedilu para quem___________________________

29Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute vendeu amecircndoas ou coco__________________

30 Vocecirc troca babaccedilu por outros produtos Quais Com quem___________________

31 Vocecirc pratica algum tipo de cuidado com o peacute de babaccedilu para assegurar a existecircncia dele

Algueacutem da sua famiacutelia

VIndash USOS DO BURITI

32 Vocecirc coleta fibrasfrutos buriti Algueacutem da sua famiacutelia

coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________

33 Em que lugar vocecirc encontra o buriti____________________________________

______________________________________________________________________

34Que partes da planta vocecirc utiliza e com qual fim (casca do fruto folhas caule sementes)

______________________________________________________________________

35Quem coleta homem mulher crianccedilas____________________________________

36Como eacute transportada a coleta ateacute aldeia____________________________________

37Vocecirc faz algum tipo de utensiacutelio ou artefato com palha do buriti Qual

__________________________________________________________________

38 Vocecirc pratica algum tipo de cuidado com o peacute buriti para assegurar sua existecircncia

_______________________________________________________________________

VIIndash USOS DO PEQUI

39 Vocecirc coleta pequi Algueacutem da sua famiacutelia

coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________

40 Em que lugar vocecirc encontra o pequi____________________________________

______________________________________________________________________

251

41Que partes da planta satildeo utilizadas e com qual fim (casca do fruto folhas caule

sementes)_____________________________________________________________

______________________________________________________________________

42Quem participa da coleta memy (homem) menire ( mulher) ou meprire

(crianccedilas)___________________________________________________________


_____________________________________________________________________

44 Da para pegar pequi o ano todo_________________________________________

45 Vocecirc faz alguma coisa com o peacute de pequi para assegurar sua existecircncia

46 Vocecirc jaacute vendeu pequi Para Quem

252

APEcircNDICE 3- Composiccedilotildees Coloridas das Imagens Landsat 1 MMS de 1973 e Landsat 5 -

TM da TI Las Casas

a) Imagem Landsat 1 MMS da TI Las Casas de 1973 em vermelho pode se observar na tonalidade mais forte as

aacutereas com cobertura de floresta

253

b) Imagem Landsat 5-TM da TI Las Casas em 1995 em vermelho pode se observar na tonalidade mais forte as

aacutereas com cobertura de floresta e em preto as aacutereas que sofreram queimadas

254

APEcircNDICE 4 Dendrograma com as distacircncias entre as classes de ocupaccedilatildeo do solo obtidas em R a partir dos poliacutegonos realizados com os

pontos GPS coletados em campo Al aldeia CF campo de futebol ROC roccedila MAN mangueiral FG floresta de galeria FED floresta

estacional decidual CUC cmapos uacutemidos de Cerrado SGL savana gramiacuteneo- lenhosa SAV savana arborizada SFL savana florestada

AL

-1C

F-5

RO

C-9

0S

AV

-95

CU

C-7

SG

L-1

11

SF

L-1

08

SG

L-1

25

FG

-44

SA

V-9

9F

ED

-19

MA

N-6

3F

G-3

4F

G-5

8S

AV

-94

CA

M-2

RIO

-75

SF

L-1

07

FG

-48

FG

-55

CU

C-6

RO

C-9

1S

GL

-11

2F

G-4

7S

GL

-11

3S

AV

-10

4S

GL

-12

1S

GL

-11

4S

GL

-12

4S

GL

-11

5S

GL

-11

6S

AV

-10

6S

GL

-11

0S

AV

-10

2S

AV

-93

SG

L-1

18

SA

V-1

00

SA

V-1

05

SG

L-1

17

SA

V-9

7S

GL

-12

0S

GL

-12

2S

AV

-10

1S

GL

-10

9S

AV

-10

3S

GL

-11

9S

AV

-96

SA

V-9

8F

G-3

9F

G-2

8F

G-3

0F

ED

-20

FE

D-1

5R

OC

-92

FE

D-1

7

FG

-57

FG

-59

FG

-41

FG

-42

FG

-32

FG

-25

FG

-29

FG

-43

FG

-61

RO

C-8

7R

OC

-88

FE

D-1

2F

ED

-18

FG

-53

FG

-56

CA

P-4

FG

-24

FG

-35

FG

-50

FE

D-1

0F

G-5

1F

ED

-11

FG

-36

FG

-33

FG

-26

FE

D-1

4F

ED

-16

FE

D-9

FG

-27

FG

-40

FG

-60

RO

C-8

9F

ED

-8F

G-3

7F

ED

-22

FE

D-2

3F

G-3

1F

G-4

6F

G-3

8F

G-4

5F

ED

-21

FG

-49

FG

-52

FG

-54

CA

P-3

FE

D-1

3R

IO-7

9R

IO-8

5R

IO-6

7R

IO-6

6R

IO-6

8F

G-6

2R

IO-8

6R

IO-6

9R

IO-8

1R

IO-6

5R

IO-7

0R

IO-7

8R

IO-7

1R

IO-7

4R

IO-7

2R

IO-7

3R

IO-8

2R

IO-8

4R

IO-7

6R

IO-8

3R

IO-7

7R

IO-6

4R

IO-8

0

05

10

15

20

25

Cluster Dendrogram

hclust ( wardD2)

tab01crdc

He

igh

t

255

APEcircNDICE 5 Mudanccedilas na ocupaccedilatildeo do solo em parcelas inventariadas de babaccedilu nos anos 1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014

e 2015

Tabela 1 Tipos de ocupaccedilatildeo do solo em 1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 e 2015 nas parcelas inventariadas para medir densidade de babaccedilu na imagem de altiacutessima resoluccedilatildeo Pleiades de 2013 Neste levantamento considerou-se o tipo de ocupaccedilatildeo do solo atraveacutes da classificaccedilatildeo obtida para 2014

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

1 88 Floresta de

galeria Pastagem

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta de

galeriacutea

Floresta

secundaacuteria

2 53

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de

galeriacutea Floresta de

galeriacutea

3 3 Floresta de

galeriacutea

Pastagem Pastagem Pastagem Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria Floresta de

galeriacutea Floresta

secundaacuteria

4 36

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Pastagem

Floresta

secundaacuteria Floresta




estacional

decidual

5 22

Floresta de








secundaacuteria

6 73

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


galeriacutea

7 113 Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem

Floresta




secundaacuteria

8 96

Floresta de








galeriacutea

256

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

9 75

Floresta de








galeriacutea

10 99

Floresta de








galeriacutea

11 117

Floresta de



galeriacutea Pastagem Pastagem Pastagem

Floresta de


secundaacuteria

12 76

Floresta de








galeriacutea

13 58

Floresta de








galeriacutea

14 68 Floresta de

galeriacutea

Pastagem Pastagem Floresta





secundaacuteria

15 75 Pastagem Pastagem Floresta

secundaacuteria

Floresta




galeriacutea FS

1 43

Floresta de



galeriacutea

Roccedila Capoeira Roccedila Capoeira Capoeira

2 47

Floresta de



secundaacuteria Roccedila Capoeira Roccedila Capoeira Capoeira

3 47

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


secundaacuteria Roccedila

Floresta

secundaacuteria Capoeira Capoeira

257

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 54

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta



Floresta

secundaacuteria Capoeira CAP

5 30 Floresta de

galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual Roccedila Roccedila Capoeira CAP

6 37

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


7 20

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


8 45

Floresta de

galeriacutea Pastagem

Roccedila Capoeira Capoeira Capoeira Capoeira

Floresta

secundaacuteria

9 50

Floresta de


Floresta





10 69

Floresta de


Floresta





11 33

Floresta de


Floresta



galeriacutea Roccedila Capoeira CAP

258

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

12 63

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual FG FG

Roccedila Capoeira CAP

13 39

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta

secundaacuteria Roccedila Capoeira CAP

14 41

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta

secundaacuteria Roccedila Capoeira Capoeira

15 28

Floresta de




Floresta


Capoeira Capoeira

1 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

2 13

Floresta

estacional

decidual

Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

3 9

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

259

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 27

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de

galeriacutea Roccedila

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

5 24

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de

galeriacutea Roccedila Capoeira Capoeira

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

6 60

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Pastagem Pastagem Pastagem

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

7 50

Floresta

estacional

decidual

Pastagem Pastagem Capoeira

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

8 31

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Capoeira Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

9 26

Floresta

estacional

decidual Pastagem Pastagem Pastagem Capoeira

Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

10 24

Floresta

estacional

decidual Pastagem Pastagem Pastagem

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

260

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

11 0

Floresta

estacional

decidual Pastagem Pastagem Floresta

secundaacuteria

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

12 10

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

13 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual Pastagem Pastagem

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

14 34

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

15 51

Floresta de






galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

1 2 Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem




5 2

Floresta de


galeriacutea Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem

261

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

6 2

Floresta de



7 10

Floresta de



8 21

Floresta de



9 8

Floresta de





12 3

Floresta de



13 0

Floresta de



14 0

Floresta de



15 0 Floresta de


Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem Pastagem

262

ANEXOS

263

ANEXO A- Autorizaccedilatildeo de ingresso concedida pela Fundaccedilatildeo Nacional do Iacutendio FUNAI para o ingresso e

pesquisa na Terra indiacutegena Las Casas

264

ANEXOndashB Autorizaccedilatildeo de acesso ao conhecimento tradicional associado concedida pelo Instituto

doPatrimocircnio histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN (Publicado no DOU nordm 239 de 10 de dezembro de

2013 Seccedilatildeo 3 p 18)







Doutora em Ciecircncias Desenvolvimento Socioambiental Nuacutecleo de Altos Estudos Amazocircnicos (NAEA) da Universidade Federal do Paraacute (UFPA) Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Desenvolvimento Sustentaacutevel do Troacutepico Uacutemido (PPGDSTU)

Linha de Pesquisa Desenvolvimento Regional e Agraacuterio Orientador Prof Dr Francisco de Assis Costa


BELEacuteM

2016



_________________________________________________________________________





Costa ndash 2016

264 f il 29 cm






CDD 22 ed 630

_____________________________________________________________________________












Banca Examinadora

___________________________________________________


___________________________________________________





BELEacuteM

2016




AGRADECIMENTOS












e apoio




























































Kayapoacute






que o criava




um dia




de vermelho


RESUMO





































ABSTRACT










































46








Kayapoacute

70




















95








ocirck

145




2013

153





161



169



aldeia

172





180



200


yry Las Casas

204



de algodatildeo

209



77


Eiten 2001





110


















Kg Quilograma



mm Miliacutemetros






IK Instituto Kabu





















TM Thematic Mapper


SUMAacuteRIO



12 Justificativa 29

13 Hipoacutetese 30

14 Objetivos 30










participativos

39










45







56




59


59


63



64




69



91


E MANEJO

98










150



156





163



Aldeia Las Casas

165




em Las Casas

181



184



188




193



196






APEcircNDICE 233




247


252



254


255

ANEXOS 262


263


264

20































21

































22











(SOARES 2008)













sustentaacutevel









23

































24


















(Burret) WessBoer)
















25

































2012)

26


































27
































28


































29






















12 Justificativa











30

















mercado

13 Hipoacutetese






14 Objetivos

141 Objetivo geral




31








dentro desta TI





uso do solo atual


exploradas


















32

































33

















34


































35
































36
































37

















1996)

















38








de 2012
























39






























ocorrecircncia



40































41




























42
































43
















foacutermula















44































45






















do babaccedilu




46












47































IVs=nisn

48
























49
































50















ocupadas por eles

















51











quanto dos homens





















52









desprestigio























53
































54



consumo






2011)
















na TI CapotoJarina






55









56
































57


















2002)















2015)

58
































de NDVI

59





processo















vegetaccedilatildeo










60





aacutereas

61



62



1995

63

























64




de usos




65























66



67


































68








69






















70



71









72





















73



















74











figura 15)


75














76





77



Ambientes citados


Kayapoacute

Formaccedilotildees

Vegetais

Descriccedilatildeo

Kapocirct

Savana

(Cerrado)


lenhosa

(Campo limpo de

Cerrado)



de clima






pequeno porte









Savana Florestada

(Cerradatildeo)

78



Kapocirct punu

Savana arborizada

(Campo cerrado)






graminoide continuo




em alta densidade

Baacute kamrek

Floresta estacional

decidual

Caracteriza-se por


predominantemente






de galeria




79


Floresta de Galeria









30 metros de altura




abertas roikokre



(M flexuosa)

Apejti

Ilhas de floresta


estacional decidual







palmeiras plantas




Corresponde aos


80

Imocirc

Campo uacutemido de

Cerrado








Ngrwa kocirc

Buritizal

Aacutereas com alta






Rotilden kocirc

Babaccedilual

Aacutereas com alta




estacional decidual


Babaccedilual

Aacutereas com alta



arborizada


Aacutereas com alta


81

Aacutereas com alta

densidade de murici



Prin kocirc

Pequizal

Aacutereas com alta




Pidjwocirc kocirc

Mangueiral

Aacutereas com alta




Puru

Roccedila



galeria onde houve






algumas palmeiras

Ibecirc


Capoeira





abandonadas com

82



Kikre bunum

Quintais









manga (M indica) e

jenipapo (Genipa











PastagemFazenda

Agropecuaacuteria

Aacuterea com




pastagem

83

Krahn

Serras

Conjunto de serras






podem ser coletadas




bacaba









84

















85



















86


















cultivadas

87



22)














88





89






















90

































91































92










importantes
























93





























94
















Superfiacutecie







Solo nu 166 06

Rios 122 06

95










96


































97









98



























mekrare







99







100


101




















e grotas














102
















103


104


































105


































106


































107































108


















culturais















109





















cargueiros










110




Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

ANACARDIACEAE

Caju

Anacardium

occidentale L

Fruto A Alimento


6 1 0142


Fruto A Alimento


18 1 0428

ANNONACEAE

Annona crassiflora

Mart

Folha A


1 1 0024

Annona tomentosa

REFr

Folha A


1 1 0024

Kuben ni

Envira

cheirosa

Xylopia aromatica

(Lam) Mart

Caule

A Utensiacutelios e


1

1

1

1

0024

0024

111

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

APOCYNACEAE




Folha


1

1

0024

Aguaiacute

Cascabela thevetia

(L) Lippold

Frutosemente


3

1

0071

ARECACEAE

Roi ti Tucumatilde

Astrocaryum

aculeatum G May

Semente


5

112

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs



8 0421 0452

Estipe Alimento

humano


asado

6 0316

Roi kokre Tucum

Astrocaryum huami

Mart

Semente


9

1

0214

Mry kok Murumuru

Astrocaryum

murumuru Mart

Semente P


5 1 0112

Rotildene

Babaccedilu

piaccedilaveira

Attalea eichleri

(Drude) AJ Hend

Fruto

Amecircndoa

PA

Alimento


8

0872 0833



1

Amecircndoa


20

113

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Folha

Utensiacutelios e

ferramentas



6

0128




Attalea speciosa

Mart



16 0833



1

Amecircndoa

Cultural


Ritual

30


Estipe

(palmito)

Alimento


10 0067

114

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs



Folha foliacuteolos

e ou peciacuteolo


22

0557

Folha peciacuteolo



timboacute

5

Folhas

Utensiacutelios e

ferramentas




20

Folha peciacuteolo


16


115

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Folha

Cultural


maacutescaras

10


Roi Macauacuteba

Acrocomia aculeata

(Jacq) Lodd ex

Mart

Fruto

P

Alimento


1

0333


Ngratilde djware

Guriri

Allagoptera

leucocalyx (Drude)

Kuntze

Fruto

PA


humana


10

1

0238


116

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


humana

18 0286 0833

Folha

Cultural


maacutescaras

11 0714


Folha foliacuteolos

Cultural


artefatos

10

Folha Peciacuteolo

Utensiacutelios e

ferramentas


Cestos

30


Socratea exorrhiza

(Mart) H Wendl

Semente


3

05

0119


117

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Wore Catoleacute

Syagrus comosa

(Mart) Mart

Frutos P

Alimento

humano


10

1 0238

Kamere Bacaba


Mart

Fruto

P

Alimento

humano Bebida

16

0422

0714


ferramentas Cestos

14 0578

Folha

Cultural


maacutescaras

8

ASTERACEAE

-

Vernonia herbacea

(Vell) Rusby

Folha H


2 1 0048

BIGNONIACEAE

118

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Arrabidaea

brachypoda (DC)

Bur

Planta inteira L


1 1 0024

Ipecirc

Tabebuia caraiba

(Mart) Bureau

Casca A


1 1 0024

Ipecirc amarelo


(Vahl) GNicholson

Caule

A Cultural Ritual

6

1

0143

BIXACEAE


Sementes

A

Cultural


pintura corporal

20

1

0476

119

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

CAMPANULACEAE


CANNACEAE

Prati-y Canna sp

Sementes


3

1

0071

CARYOCARACEAE

Prin Pequi


ASt-Hil

Fruto

A

Alimento


32

0812

0762



Sementes

Cultural



20

120

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


ferramentas



4 0065

CHRYSOBALANACEAE


CONNARACEAE

- -

Connarus suberosus

Planch

Folha Ar


2 1 0048

- -


var Induta

Folha Ar


2 1 0048

CONVOLVULACAE


Nees amp Mart

Folha H


1 1 0024

121

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pityktkotuk -

Ipomoea setifera

Poir

Folha H


1 1 0024

CYPERACEAE

Botilde kratilde


(Spreng)Lindm

Planta inteira H


3 1 0071

Angocirc Tiririca

Scleria mitis PJ

Bergius

Sementes H


5 1 0119

DILLENIACEAE

Krare-ocirc Lixeira

Curatella americana

L



8 1 0190

DIOSCOREACEAE

122

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Dioscorea

amaranthoides C

Presl

Folha H


3 1 0071

EUPHORBIACEAE


FABACEAE


Adenanthera

pavoniva L

Semente A


5 1 0119


Clitoria guianensis

(Aubl) Benth Var

Guianensis

Folha

H

Medicinal


4

1

0095


123

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

- -

Dioclea virgata

(Rich) Amshoff

Folha L


2 1 0048


Orelha de


Semente A


2 1 00448

Remedio de jacu

Eriosema rufum

(HBK) Mey

Folha H

Medicinal


- -

Eriosema

simplicifoliun

(Kunth) G Don

Folha

H

Medicinal


2

1

0048

Mocircj Jatobagrave

Hymenaea courbaril

L

Fruto A Alimento

humano




124

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Fruto Alimento


5 05

- -

Camptosema

ellipticum (Desv)

Burtkar

Folha Ar

Medicinal


Bari are


G Silva amp HC Lima

Folha Ar

Medicinal


Vigna liniearis


al

Folha Ar

Medicinal



Benth

Folha

Ar

Medicinal


1

1

0024


125

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Semente


8

1

0190

Pyxanh-y kryre

Olho de cabra

mirim

Rhynchosia


DC

Semente


8

1

0190

HELICONIACEAE


Folha H Alimento


12 1 0286

LAMIACEAE


126

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

-


Ex Benth

Folha H

Medicinal


-

Hyptis crenata

Epling

Folha H

Medicinal


LECYTHIDACEAE

Piy

Castanha do

Brasil


Bonpl

Semente A Alimento

humano

Alimento 21 1 05

LITHRACEAE

- -


Pohl

Folha H


2 1 0048


Physocalymma

scaberrimum Pohl

Folha

H

Medicinal


3

1

0071

127

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MALPHIGIACEAE

Kapratilden Kane -

Mascagnia

benthamiana

(Griseb) WR

Anderson

Folha H


1 1 0024

Mry Kane -

Byrsonima


Folha H


2 1 0048

Murici


(L) Kunth

Fruto A Alimento


10 1 0238


MALVACEAE

- -

Guazumaulmifolia

Lam

Folha A


2 1 0048

MENISPERMACEAE

Abuta grandifolia

Mart Sandwith

Folha


2

1

0048

128

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MONIMIACEAE

Ron mire agrave -

Siparuna guianensis

Aubl

Folha Ar


2 1 0048

MORACEAE

- -

Dorstenia cayapia

Vell

Folha H


1 1 0024

MYRTACEAE


Fruto A Alimento


4 1 0095

OPILICIACEAE

-

Agonandra


Benth

Casca A

Cultural


corporal

16 1 0380

129

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

PIPERACEAE

Atworo kon -

Piper callosum Ruiz

amp Pavoacuten

Folha H


1 1 0024

POLYGALACEAE

- -


DC

Folha Ar


1 1 0024

PTERIDACEAE

Adiantum

serratodentatum

Humb amp Bonpl ex

Willd

Folha H


1 1 0024

RUBIACEAE

130

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Fruto Alimento


Mekaron -

Palicourea rigida

Kunth

Flores Ar

Cultural Ritual

1 1 0024

Pidjwocirc -

Rudgea cornifolia

(Kunth) Standl

Folhas Ar


6 1 0143



DC

Caule L


18 1 0429

SAPINDACEAE


Sapindus saponaria

L

Sementes A


14 1 0333

SIMAROUBACEAE

131

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pituti -

Simaba multiflora A

Juss

Folha H


3 1 0071

TURNERACEAE




IDENTIFICADAS








132

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs




humano




amarras

4 1 0095


amarras

4 1 0095

133
































134












1991)




















135


































136




























palmeira






137









1984)














cordas etc








138

































material

139

















e mulheres)















140



























141


































142



recurso






























143



a) b)

c) d)








confortaacutevel














144







et al 2012)




















145






146

























147


























al 2012)









148








(Astrocaryum sp)


























149


































150
































151
















diacircmetro


















152









irregulares















pastagens









153



















154


































155















natildeo fica bom











com a comunidade39







156





















157


















POSEY 1989)

158





caminhos




















saca de 20 Kg)




Las Casas





159

































160







latossolos























161












ROBERT et al 2012)












162









163



MERCADO

























presentes






164














(BRENES 2007)




















165



(SHROumlDER 2003)








Casas












maneira









166


mandioca)41




















bunum (LEA 2012)












167




colheita





















no caminho









168





























169











Rio Fresco na TIK














170
































171






















172






















173

































174

































175


























176












red

a) aa




177


































178

































179























ROBERT 2008)








180




















181





FUNAI


Casas
















2010)











182































al 2012 p 363)


183


































184





























mercado




185


econocircmicos



monocultura





indiacutegenas























186


































187












sobrevivecircncia






(ONGs)















188

































189



























SOUSA 2006)






DE SOUSA 2006)

190


































191


































192































PNGATI



193
































194







buriti




























195


































196





















Las Casas













197





















Casas











198




































199

























200


Casas
















201






















para 80 reais











202













conhecimentos





















203































2004

204




(Figura 47)










a)

b)



205

































206

















Beleacutem














associados



207


































208


































209




















210



2013 p 730-731)


















das comunidades













211

































212












(TONI et al 2011)























213



































214








da cultura





elevado



















215

































216

































217












artesanato e pequi





















218
































219
























220


























221

























222













Atlas 2011












223


























224




















p321-346 2000




225















2009









226










p 138-147 2001
















227

























228












1990













brasilica 2008 Ano 22 n 4 2008 p1141-1149


229



















1999





set-dez 2013

230

























231
























2001 28 (1)10-22

232



508 2006

233

APEcircNDICE

234






























235






























como

236

































237


































238




















indiacutegenas













ateacute 2017

239








Doutoranda em

Desenvolvimento



(Orientador)


NAEAUFPA



















240


Goeldi





comunidade








doutorado



















241


































242





territoacuterios





Data _____________________ de 2013

243


244

245

246

247




Data___________






Idade

Sexo





o Pescacaccedila

o Artesanato

o Pecuaacuteria




passado)






248



__________


aposentadoria


atividades _________________________________________________




______________________________________________________________________


__________________________________________________________

_____________________________________________________________________








__________________________________________________________________





249


coleta_____________________________________________________________________


___________________________________________________________________________


caule)_____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________



___________________________________________________________________________




inteira____________________________________________________________________

______________________________________________________________________


__________________________________________________________________



(homem)___________________________



babaccedilu___________________________________________

______________________________________________________________________



______________________________________________________________________


250

______________________________________________________________________








coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________


______________________________________________________________________


______________________________________________________________________




__________________________________________________________________


_______________________________________________________________________



coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________


______________________________________________________________________

251


sementes)_____________________________________________________________

______________________________________________________________________


(crianccedilas)___________________________________________________________


_____________________________________________________________________




252


TM da TI Las Casas



253



254




AL

-1C

F-5

RO

C-9

0S

AV

-95

CU

C-7

SG

L-1

11

SF

L-1

08

SG

L-1

25

FG

-44

SA

V-9

9F

ED

-19

MA

N-6

3F

G-3

4F

G-5

8S

AV

-94

CA

M-2

RIO

-75

SF

L-1

07

FG

-48

FG

-55

CU

C-6

RO

C-9

1S

GL

-11

2F

G-4

7S

GL

-11

3S

AV

-10

4S

GL

-12

1S

GL

-11

4S

GL

-12

4S

GL

-11

5S

GL

-11

6S

AV

-10

6S

GL

-11

0S

AV

-10

2S

AV

-93

SG

L-1

18

SA

V-1

00

SA

V-1

05

SG

L-1

17

SA

V-9

7S

GL

-12

0S

GL

-12

2S

AV

-10

1S

GL

-10

9S

AV

-10

3S

GL

-11

9S

AV

-96

SA

V-9

8F

G-3

9F

G-2

8F

G-3

0F

ED

-20

FE

D-1

5R

OC

-92

FE

D-1

7

FG

-57

FG

-59

FG

-41

FG

-42

FG

-32

FG

-25

FG

-29

FG

-43

FG

-61

RO

C-8

7R

OC

-88

FE

D-1

2F

ED

-18

FG

-53

FG

-56

CA

P-4

FG

-24

FG

-35

FG

-50

FE

D-1

0F

G-5

1F

ED

-11

FG

-36

FG

-33

FG

-26

FE

D-1

4F

ED

-16

FE

D-9

FG

-27

FG

-40

FG

-60

RO

C-8

9F

ED

-8F

G-3

7F

ED

-22

FE

D-2

3F

G-3

1F

G-4

6F

G-3

8F

G-4

5F

ED

-21

FG

-49

FG

-52

FG

-54

CA

P-3

FE

D-1

3R

IO-7

9R

IO-8

5R

IO-6

7R

IO-6

6R

IO-6

8F

G-6

2R

IO-8

6R

IO-6

9R

IO-8

1R

IO-6

5R

IO-7

0R

IO-7

8R

IO-7

1R

IO-7

4R

IO-7

2R

IO-7

3R

IO-8

2R

IO-8

4R

IO-7

6R

IO-8

3R

IO-7

7R

IO-6

4R

IO-8

0

05

10

15

20

25

Cluster Dendrogram

hclust ( wardD2)

tab01crdc

He

igh

t

255


e 2015


Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

1 88 Floresta de

galeria Pastagem

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta de

galeriacutea

Floresta

secundaacuteria

2 53

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


galeriacutea

3 3 Floresta de

galeriacutea


secundaacuteria

Floresta



secundaacuteria

4 36

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Pastagem

Floresta





estacional

decidual

5 22

Floresta de








secundaacuteria

6 73

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


galeriacutea


Floresta




secundaacuteria

8 96

Floresta de








galeriacutea

256

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

9 75

Floresta de








galeriacutea

10 99

Floresta de








galeriacutea

11 117

Floresta de




Floresta de


secundaacuteria

12 76

Floresta de








galeriacutea

13 58

Floresta de








galeriacutea

14 68 Floresta de

galeriacutea






secundaacuteria


secundaacuteria

Floresta




galeriacutea FS

1 43

Floresta de



galeriacutea


2 47

Floresta de




3 47

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta



Floresta


257

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 54

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta



Floresta


5 30 Floresta de

galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional


6 37

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


7 20

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


8 45

Floresta de



Floresta

secundaacuteria

9 50

Floresta de


Floresta





10 69

Floresta de


Floresta





11 33

Floresta de


Floresta




258

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

12 63

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual FG FG


13 39

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta


14 41

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta


15 28

Floresta de




Floresta


Capoeira Capoeira

1 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

2 13

Floresta

estacional

decidual


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

3 9

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

259

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 27

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

5 24

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

6 60

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual


Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

7 50

Floresta

estacional

decidual


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

8 31

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Capoeira Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

9 26

Floresta

estacional


Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

10 24

Floresta

estacional


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

260

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

11 0

Floresta

estacional


secundaacuteria

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

12 10

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

13 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

14 34

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

15 51

Floresta de






galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual





5 2

Floresta de



261

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

6 2

Floresta de



7 10

Floresta de



8 21

Floresta de



9 8

Floresta de





12 3

Floresta de



13 0

Floresta de



14 0

Floresta de



15 0 Floresta de



262

ANEXOS

263



264






_________________________________________________________________________





Costa ndash 2016

264 f il 29 cm






CDD 22 ed 630

_____________________________________________________________________________












Banca Examinadora

___________________________________________________


___________________________________________________





BELEacuteM

2016




AGRADECIMENTOS












e apoio




























































Kayapoacute






que o criava




um dia




de vermelho


RESUMO





































ABSTRACT










































46








Kayapoacute

70




















95








ocirck

145




2013

153





161



169



aldeia

172





180



200


yry Las Casas

204



de algodatildeo

209



77


Eiten 2001





110


















Kg Quilograma



mm Miliacutemetros






IK Instituto Kabu





















TM Thematic Mapper


SUMAacuteRIO



12 Justificativa 29

13 Hipoacutetese 30

14 Objetivos 30










participativos

39










45







56




59


59


63



64




69



91


E MANEJO

98










150



156





163



Aldeia Las Casas

165




em Las Casas

181



184



188




193



196






APEcircNDICE 233




247


252



254


255

ANEXOS 262


263


264

20































21

































22











(SOARES 2008)













sustentaacutevel









23

































24


















(Burret) WessBoer)
















25

































2012)

26


































27
































28


































29






















12 Justificativa











30

















mercado

13 Hipoacutetese






14 Objetivos

141 Objetivo geral




31








dentro desta TI





uso do solo atual


exploradas


















32

































33

















34


































35
































36
































37

















1996)

















38








de 2012
























39






























ocorrecircncia



40































41




























42
































43
















foacutermula















44































45






















do babaccedilu




46












47































IVs=nisn

48
























49
































50















ocupadas por eles

















51











quanto dos homens





















52









desprestigio























53
































54



consumo






2011)
















na TI CapotoJarina






55









56
































57


















2002)















2015)

58
































de NDVI

59





processo















vegetaccedilatildeo










60





aacutereas

61



62



1995

63

























64




de usos




65























66



67


































68








69






















70



71









72





















73



















74











figura 15)


75














76





77



Ambientes citados


Kayapoacute

Formaccedilotildees

Vegetais

Descriccedilatildeo

Kapocirct

Savana

(Cerrado)


lenhosa

(Campo limpo de

Cerrado)



de clima






pequeno porte









Savana Florestada

(Cerradatildeo)

78



Kapocirct punu

Savana arborizada

(Campo cerrado)






graminoide continuo




em alta densidade

Baacute kamrek

Floresta estacional

decidual

Caracteriza-se por


predominantemente






de galeria




79


Floresta de Galeria









30 metros de altura




abertas roikokre



(M flexuosa)

Apejti

Ilhas de floresta


estacional decidual







palmeiras plantas




Corresponde aos


80

Imocirc

Campo uacutemido de

Cerrado








Ngrwa kocirc

Buritizal

Aacutereas com alta






Rotilden kocirc

Babaccedilual

Aacutereas com alta




estacional decidual


Babaccedilual

Aacutereas com alta



arborizada


Aacutereas com alta


81

Aacutereas com alta

densidade de murici



Prin kocirc

Pequizal

Aacutereas com alta




Pidjwocirc kocirc

Mangueiral

Aacutereas com alta




Puru

Roccedila



galeria onde houve






algumas palmeiras

Ibecirc


Capoeira





abandonadas com

82



Kikre bunum

Quintais









manga (M indica) e

jenipapo (Genipa











PastagemFazenda

Agropecuaacuteria

Aacuterea com




pastagem

83

Krahn

Serras

Conjunto de serras






podem ser coletadas




bacaba









84

















85



















86


















cultivadas

87



22)














88





89






















90

































91































92










importantes
























93





























94
















Superfiacutecie







Solo nu 166 06

Rios 122 06

95










96


































97









98



























mekrare







99







100


101




















e grotas














102
















103


104


































105


































106


































107































108


















culturais















109





















cargueiros










110




Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

ANACARDIACEAE

Caju

Anacardium

occidentale L

Fruto A Alimento


6 1 0142


Fruto A Alimento


18 1 0428

ANNONACEAE

Annona crassiflora

Mart

Folha A


1 1 0024

Annona tomentosa

REFr

Folha A


1 1 0024

Kuben ni

Envira

cheirosa

Xylopia aromatica

(Lam) Mart

Caule

A Utensiacutelios e


1

1

1

1

0024

0024

111

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

APOCYNACEAE




Folha


1

1

0024

Aguaiacute

Cascabela thevetia

(L) Lippold

Frutosemente


3

1

0071

ARECACEAE

Roi ti Tucumatilde

Astrocaryum

aculeatum G May

Semente


5

112

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs



8 0421 0452

Estipe Alimento

humano


asado

6 0316

Roi kokre Tucum

Astrocaryum huami

Mart

Semente


9

1

0214

Mry kok Murumuru

Astrocaryum

murumuru Mart

Semente P


5 1 0112

Rotildene

Babaccedilu

piaccedilaveira

Attalea eichleri

(Drude) AJ Hend

Fruto

Amecircndoa

PA

Alimento


8

0872 0833



1

Amecircndoa


20

113

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Folha

Utensiacutelios e

ferramentas



6

0128




Attalea speciosa

Mart



16 0833



1

Amecircndoa

Cultural


Ritual

30


Estipe

(palmito)

Alimento


10 0067

114

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs



Folha foliacuteolos

e ou peciacuteolo


22

0557

Folha peciacuteolo



timboacute

5

Folhas

Utensiacutelios e

ferramentas




20

Folha peciacuteolo


16


115

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Folha

Cultural


maacutescaras

10


Roi Macauacuteba

Acrocomia aculeata

(Jacq) Lodd ex

Mart

Fruto

P

Alimento


1

0333


Ngratilde djware

Guriri

Allagoptera

leucocalyx (Drude)

Kuntze

Fruto

PA


humana


10

1

0238


116

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


humana

18 0286 0833

Folha

Cultural


maacutescaras

11 0714


Folha foliacuteolos

Cultural


artefatos

10

Folha Peciacuteolo

Utensiacutelios e

ferramentas


Cestos

30


Socratea exorrhiza

(Mart) H Wendl

Semente


3

05

0119


117

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Wore Catoleacute

Syagrus comosa

(Mart) Mart

Frutos P

Alimento

humano


10

1 0238

Kamere Bacaba


Mart

Fruto

P

Alimento

humano Bebida

16

0422

0714


ferramentas Cestos

14 0578

Folha

Cultural


maacutescaras

8

ASTERACEAE

-

Vernonia herbacea

(Vell) Rusby

Folha H


2 1 0048

BIGNONIACEAE

118

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Arrabidaea

brachypoda (DC)

Bur

Planta inteira L


1 1 0024

Ipecirc

Tabebuia caraiba

(Mart) Bureau

Casca A


1 1 0024

Ipecirc amarelo


(Vahl) GNicholson

Caule

A Cultural Ritual

6

1

0143

BIXACEAE


Sementes

A

Cultural


pintura corporal

20

1

0476

119

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

CAMPANULACEAE


CANNACEAE

Prati-y Canna sp

Sementes


3

1

0071

CARYOCARACEAE

Prin Pequi


ASt-Hil

Fruto

A

Alimento


32

0812

0762



Sementes

Cultural



20

120

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


ferramentas



4 0065

CHRYSOBALANACEAE


CONNARACEAE

- -

Connarus suberosus

Planch

Folha Ar


2 1 0048

- -


var Induta

Folha Ar


2 1 0048

CONVOLVULACAE


Nees amp Mart

Folha H


1 1 0024

121

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pityktkotuk -

Ipomoea setifera

Poir

Folha H


1 1 0024

CYPERACEAE

Botilde kratilde


(Spreng)Lindm

Planta inteira H


3 1 0071

Angocirc Tiririca

Scleria mitis PJ

Bergius

Sementes H


5 1 0119

DILLENIACEAE

Krare-ocirc Lixeira

Curatella americana

L



8 1 0190

DIOSCOREACEAE

122

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Dioscorea

amaranthoides C

Presl

Folha H


3 1 0071

EUPHORBIACEAE


FABACEAE


Adenanthera

pavoniva L

Semente A


5 1 0119


Clitoria guianensis

(Aubl) Benth Var

Guianensis

Folha

H

Medicinal


4

1

0095


123

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

- -

Dioclea virgata

(Rich) Amshoff

Folha L


2 1 0048


Orelha de


Semente A


2 1 00448

Remedio de jacu

Eriosema rufum

(HBK) Mey

Folha H

Medicinal


- -

Eriosema

simplicifoliun

(Kunth) G Don

Folha

H

Medicinal


2

1

0048

Mocircj Jatobagrave

Hymenaea courbaril

L

Fruto A Alimento

humano




124

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Fruto Alimento


5 05

- -

Camptosema

ellipticum (Desv)

Burtkar

Folha Ar

Medicinal


Bari are


G Silva amp HC Lima

Folha Ar

Medicinal


Vigna liniearis


al

Folha Ar

Medicinal



Benth

Folha

Ar

Medicinal


1

1

0024


125

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Semente


8

1

0190

Pyxanh-y kryre

Olho de cabra

mirim

Rhynchosia


DC

Semente


8

1

0190

HELICONIACEAE


Folha H Alimento


12 1 0286

LAMIACEAE


126

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

-


Ex Benth

Folha H

Medicinal


-

Hyptis crenata

Epling

Folha H

Medicinal


LECYTHIDACEAE

Piy

Castanha do

Brasil


Bonpl

Semente A Alimento

humano

Alimento 21 1 05

LITHRACEAE

- -


Pohl

Folha H


2 1 0048


Physocalymma

scaberrimum Pohl

Folha

H

Medicinal


3

1

0071

127

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MALPHIGIACEAE

Kapratilden Kane -

Mascagnia

benthamiana

(Griseb) WR

Anderson

Folha H


1 1 0024

Mry Kane -

Byrsonima


Folha H


2 1 0048

Murici


(L) Kunth

Fruto A Alimento


10 1 0238


MALVACEAE

- -

Guazumaulmifolia

Lam

Folha A


2 1 0048

MENISPERMACEAE

Abuta grandifolia

Mart Sandwith

Folha


2

1

0048

128

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MONIMIACEAE

Ron mire agrave -

Siparuna guianensis

Aubl

Folha Ar


2 1 0048

MORACEAE

- -

Dorstenia cayapia

Vell

Folha H


1 1 0024

MYRTACEAE


Fruto A Alimento


4 1 0095

OPILICIACEAE

-

Agonandra


Benth

Casca A

Cultural


corporal

16 1 0380

129

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

PIPERACEAE

Atworo kon -

Piper callosum Ruiz

amp Pavoacuten

Folha H


1 1 0024

POLYGALACEAE

- -


DC

Folha Ar


1 1 0024

PTERIDACEAE

Adiantum

serratodentatum

Humb amp Bonpl ex

Willd

Folha H


1 1 0024

RUBIACEAE

130

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Fruto Alimento


Mekaron -

Palicourea rigida

Kunth

Flores Ar

Cultural Ritual

1 1 0024

Pidjwocirc -

Rudgea cornifolia

(Kunth) Standl

Folhas Ar


6 1 0143



DC

Caule L


18 1 0429

SAPINDACEAE


Sapindus saponaria

L

Sementes A


14 1 0333

SIMAROUBACEAE

131

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pituti -

Simaba multiflora A

Juss

Folha H


3 1 0071

TURNERACEAE




IDENTIFICADAS








132

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs




humano




amarras

4 1 0095


amarras

4 1 0095

133
































134












1991)




















135


































136




























palmeira






137









1984)














cordas etc








138

































material

139

















e mulheres)















140



























141


































142



recurso






























143



a) b)

c) d)








confortaacutevel














144







et al 2012)




















145






146

























147


























al 2012)









148








(Astrocaryum sp)


























149


































150
































151
















diacircmetro


















152









irregulares















pastagens









153



















154


































155















natildeo fica bom











com a comunidade39







156





















157


















POSEY 1989)

158





caminhos




















saca de 20 Kg)




Las Casas





159

































160







latossolos























161












ROBERT et al 2012)












162









163



MERCADO

























presentes






164














(BRENES 2007)




















165



(SHROumlDER 2003)








Casas












maneira









166


mandioca)41




















bunum (LEA 2012)












167




colheita





















no caminho









168





























169











Rio Fresco na TIK














170
































171






















172






















173

































174

































175


























176












red

a) aa




177


































178

































179























ROBERT 2008)








180




















181





FUNAI


Casas
















2010)











182































al 2012 p 363)


183


































184





























mercado




185


econocircmicos



monocultura





indiacutegenas























186


































187












sobrevivecircncia






(ONGs)















188

































189



























SOUSA 2006)






DE SOUSA 2006)

190


































191


































192































PNGATI



193
































194







buriti




























195


































196





















Las Casas













197





















Casas











198




































199

























200


Casas
















201






















para 80 reais











202













conhecimentos





















203































2004

204




(Figura 47)










a)

b)



205

































206

















Beleacutem














associados



207


































208


































209




















210



2013 p 730-731)


















das comunidades













211

































212












(TONI et al 2011)























213



































214








da cultura





elevado



















215

































216

































217












artesanato e pequi





















218
































219
























220


























221

























222













Atlas 2011












223


























224




















p321-346 2000




225















2009









226










p 138-147 2001
















227

























228












1990













brasilica 2008 Ano 22 n 4 2008 p1141-1149


229



















1999





set-dez 2013

230

























231
























2001 28 (1)10-22

232



508 2006

233

APEcircNDICE

234






























235






























como

236

































237


































238




















indiacutegenas













ateacute 2017

239








Doutoranda em

Desenvolvimento



(Orientador)


NAEAUFPA



















240


Goeldi





comunidade








doutorado



















241


































242





territoacuterios





Data _____________________ de 2013

243


244

245

246

247




Data___________






Idade

Sexo





o Pescacaccedila

o Artesanato

o Pecuaacuteria




passado)






248



__________


aposentadoria


atividades _________________________________________________




______________________________________________________________________


__________________________________________________________

_____________________________________________________________________








__________________________________________________________________





249


coleta_____________________________________________________________________


___________________________________________________________________________


caule)_____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________



___________________________________________________________________________




inteira____________________________________________________________________

______________________________________________________________________


__________________________________________________________________



(homem)___________________________



babaccedilu___________________________________________

______________________________________________________________________



______________________________________________________________________


250

______________________________________________________________________








coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________


______________________________________________________________________


______________________________________________________________________




__________________________________________________________________


_______________________________________________________________________



coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________


______________________________________________________________________

251


sementes)_____________________________________________________________

______________________________________________________________________


(crianccedilas)___________________________________________________________


_____________________________________________________________________




252


TM da TI Las Casas



253



254




AL

-1C

F-5

RO

C-9

0S

AV

-95

CU

C-7

SG

L-1

11

SF

L-1

08

SG

L-1

25

FG

-44

SA

V-9

9F

ED

-19

MA

N-6

3F

G-3

4F

G-5

8S

AV

-94

CA

M-2

RIO

-75

SF

L-1

07

FG

-48

FG

-55

CU

C-6

RO

C-9

1S

GL

-11

2F

G-4

7S

GL

-11

3S

AV

-10

4S

GL

-12

1S

GL

-11

4S

GL

-12

4S

GL

-11

5S

GL

-11

6S

AV

-10

6S

GL

-11

0S

AV

-10

2S

AV

-93

SG

L-1

18

SA

V-1

00

SA

V-1

05

SG

L-1

17

SA

V-9

7S

GL

-12

0S

GL

-12

2S

AV

-10

1S

GL

-10

9S

AV

-10

3S

GL

-11

9S

AV

-96

SA

V-9

8F

G-3

9F

G-2

8F

G-3

0F

ED

-20

FE

D-1

5R

OC

-92

FE

D-1

7

FG

-57

FG

-59

FG

-41

FG

-42

FG

-32

FG

-25

FG

-29

FG

-43

FG

-61

RO

C-8

7R

OC

-88

FE

D-1

2F

ED

-18

FG

-53

FG

-56

CA

P-4

FG

-24

FG

-35

FG

-50

FE

D-1

0F

G-5

1F

ED

-11

FG

-36

FG

-33

FG

-26

FE

D-1

4F

ED

-16

FE

D-9

FG

-27

FG

-40

FG

-60

RO

C-8

9F

ED

-8F

G-3

7F

ED

-22

FE

D-2

3F

G-3

1F

G-4

6F

G-3

8F

G-4

5F

ED

-21

FG

-49

FG

-52

FG

-54

CA

P-3

FE

D-1

3R

IO-7

9R

IO-8

5R

IO-6

7R

IO-6

6R

IO-6

8F

G-6

2R

IO-8

6R

IO-6

9R

IO-8

1R

IO-6

5R

IO-7

0R

IO-7

8R

IO-7

1R

IO-7

4R

IO-7

2R

IO-7

3R

IO-8

2R

IO-8

4R

IO-7

6R

IO-8

3R

IO-7

7R

IO-6

4R

IO-8

0

05

10

15

20

25

Cluster Dendrogram

hclust ( wardD2)

tab01crdc

He

igh

t

255


e 2015


Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

1 88 Floresta de

galeria Pastagem

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta de

galeriacutea

Floresta

secundaacuteria

2 53

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


galeriacutea

3 3 Floresta de

galeriacutea


secundaacuteria

Floresta



secundaacuteria

4 36

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Pastagem

Floresta





estacional

decidual

5 22

Floresta de








secundaacuteria

6 73

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


galeriacutea


Floresta




secundaacuteria

8 96

Floresta de








galeriacutea

256

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

9 75

Floresta de








galeriacutea

10 99

Floresta de








galeriacutea

11 117

Floresta de




Floresta de


secundaacuteria

12 76

Floresta de








galeriacutea

13 58

Floresta de








galeriacutea

14 68 Floresta de

galeriacutea






secundaacuteria


secundaacuteria

Floresta




galeriacutea FS

1 43

Floresta de



galeriacutea


2 47

Floresta de




3 47

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta



Floresta


257

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 54

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta



Floresta


5 30 Floresta de

galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional


6 37

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


7 20

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


8 45

Floresta de



Floresta

secundaacuteria

9 50

Floresta de


Floresta





10 69

Floresta de


Floresta





11 33

Floresta de


Floresta




258

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

12 63

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual FG FG


13 39

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta


14 41

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta


15 28

Floresta de




Floresta


Capoeira Capoeira

1 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

2 13

Floresta

estacional

decidual


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

3 9

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

259

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 27

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

5 24

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

6 60

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual


Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

7 50

Floresta

estacional

decidual


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

8 31

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Capoeira Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

9 26

Floresta

estacional


Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

10 24

Floresta

estacional


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

260

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

11 0

Floresta

estacional


secundaacuteria

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

12 10

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

13 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

14 34

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

15 51

Floresta de






galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual





5 2

Floresta de



261

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

6 2

Floresta de



7 10

Floresta de



8 21

Floresta de



9 8

Floresta de





12 3

Floresta de



13 0

Floresta de



14 0

Floresta de



15 0 Floresta de



262

ANEXOS

263



264















Banca Examinadora

___________________________________________________


___________________________________________________





BELEacuteM

2016




AGRADECIMENTOS












e apoio




























































Kayapoacute






que o criava




um dia




de vermelho


RESUMO





































ABSTRACT










































46








Kayapoacute

70




















95








ocirck

145




2013

153





161



169



aldeia

172





180



200


yry Las Casas

204



de algodatildeo

209



77


Eiten 2001





110


















Kg Quilograma



mm Miliacutemetros






IK Instituto Kabu





















TM Thematic Mapper


SUMAacuteRIO



12 Justificativa 29

13 Hipoacutetese 30

14 Objetivos 30










participativos

39










45







56




59


59


63



64




69



91


E MANEJO

98










150



156





163



Aldeia Las Casas

165




em Las Casas

181



184



188




193



196






APEcircNDICE 233




247


252



254


255

ANEXOS 262


263


264

20































21

































22











(SOARES 2008)













sustentaacutevel









23

































24


















(Burret) WessBoer)
















25

































2012)

26


































27
































28


































29






















12 Justificativa











30

















mercado

13 Hipoacutetese






14 Objetivos

141 Objetivo geral




31








dentro desta TI





uso do solo atual


exploradas


















32

































33

















34


































35
































36
































37

















1996)

















38








de 2012
























39






























ocorrecircncia



40































41




























42
































43
















foacutermula















44































45






















do babaccedilu




46












47































IVs=nisn

48
























49
































50















ocupadas por eles

















51











quanto dos homens





















52









desprestigio























53
































54



consumo






2011)
















na TI CapotoJarina






55









56
































57


















2002)















2015)

58
































de NDVI

59





processo















vegetaccedilatildeo










60





aacutereas

61



62



1995

63

























64




de usos




65























66



67


































68








69






















70



71









72





















73



















74











figura 15)


75














76





77



Ambientes citados


Kayapoacute

Formaccedilotildees

Vegetais

Descriccedilatildeo

Kapocirct

Savana

(Cerrado)


lenhosa

(Campo limpo de

Cerrado)



de clima






pequeno porte









Savana Florestada

(Cerradatildeo)

78



Kapocirct punu

Savana arborizada

(Campo cerrado)






graminoide continuo




em alta densidade

Baacute kamrek

Floresta estacional

decidual

Caracteriza-se por


predominantemente






de galeria




79


Floresta de Galeria









30 metros de altura




abertas roikokre



(M flexuosa)

Apejti

Ilhas de floresta


estacional decidual







palmeiras plantas




Corresponde aos


80

Imocirc

Campo uacutemido de

Cerrado








Ngrwa kocirc

Buritizal

Aacutereas com alta






Rotilden kocirc

Babaccedilual

Aacutereas com alta




estacional decidual


Babaccedilual

Aacutereas com alta



arborizada


Aacutereas com alta


81

Aacutereas com alta

densidade de murici



Prin kocirc

Pequizal

Aacutereas com alta




Pidjwocirc kocirc

Mangueiral

Aacutereas com alta




Puru

Roccedila



galeria onde houve






algumas palmeiras

Ibecirc


Capoeira





abandonadas com

82



Kikre bunum

Quintais









manga (M indica) e

jenipapo (Genipa











PastagemFazenda

Agropecuaacuteria

Aacuterea com




pastagem

83

Krahn

Serras

Conjunto de serras






podem ser coletadas




bacaba









84

















85



















86


















cultivadas

87



22)














88





89






















90

































91































92










importantes
























93





























94
















Superfiacutecie







Solo nu 166 06

Rios 122 06

95










96


































97









98



























mekrare







99







100


101




















e grotas














102
















103


104


































105


































106


































107































108


















culturais















109





















cargueiros










110




Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

ANACARDIACEAE

Caju

Anacardium

occidentale L

Fruto A Alimento


6 1 0142


Fruto A Alimento


18 1 0428

ANNONACEAE

Annona crassiflora

Mart

Folha A


1 1 0024

Annona tomentosa

REFr

Folha A


1 1 0024

Kuben ni

Envira

cheirosa

Xylopia aromatica

(Lam) Mart

Caule

A Utensiacutelios e


1

1

1

1

0024

0024

111

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

APOCYNACEAE




Folha


1

1

0024

Aguaiacute

Cascabela thevetia

(L) Lippold

Frutosemente


3

1

0071

ARECACEAE

Roi ti Tucumatilde

Astrocaryum

aculeatum G May

Semente


5

112

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs



8 0421 0452

Estipe Alimento

humano


asado

6 0316

Roi kokre Tucum

Astrocaryum huami

Mart

Semente


9

1

0214

Mry kok Murumuru

Astrocaryum

murumuru Mart

Semente P


5 1 0112

Rotildene

Babaccedilu

piaccedilaveira

Attalea eichleri

(Drude) AJ Hend

Fruto

Amecircndoa

PA

Alimento


8

0872 0833



1

Amecircndoa


20

113

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Folha

Utensiacutelios e

ferramentas



6

0128




Attalea speciosa

Mart



16 0833



1

Amecircndoa

Cultural


Ritual

30


Estipe

(palmito)

Alimento


10 0067

114

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs



Folha foliacuteolos

e ou peciacuteolo


22

0557

Folha peciacuteolo



timboacute

5

Folhas

Utensiacutelios e

ferramentas




20

Folha peciacuteolo


16


115

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Folha

Cultural


maacutescaras

10


Roi Macauacuteba

Acrocomia aculeata

(Jacq) Lodd ex

Mart

Fruto

P

Alimento


1

0333


Ngratilde djware

Guriri

Allagoptera

leucocalyx (Drude)

Kuntze

Fruto

PA


humana


10

1

0238


116

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


humana

18 0286 0833

Folha

Cultural


maacutescaras

11 0714


Folha foliacuteolos

Cultural


artefatos

10

Folha Peciacuteolo

Utensiacutelios e

ferramentas


Cestos

30


Socratea exorrhiza

(Mart) H Wendl

Semente


3

05

0119


117

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Wore Catoleacute

Syagrus comosa

(Mart) Mart

Frutos P

Alimento

humano


10

1 0238

Kamere Bacaba


Mart

Fruto

P

Alimento

humano Bebida

16

0422

0714


ferramentas Cestos

14 0578

Folha

Cultural


maacutescaras

8

ASTERACEAE

-

Vernonia herbacea

(Vell) Rusby

Folha H


2 1 0048

BIGNONIACEAE

118

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Arrabidaea

brachypoda (DC)

Bur

Planta inteira L


1 1 0024

Ipecirc

Tabebuia caraiba

(Mart) Bureau

Casca A


1 1 0024

Ipecirc amarelo


(Vahl) GNicholson

Caule

A Cultural Ritual

6

1

0143

BIXACEAE


Sementes

A

Cultural


pintura corporal

20

1

0476

119

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

CAMPANULACEAE


CANNACEAE

Prati-y Canna sp

Sementes


3

1

0071

CARYOCARACEAE

Prin Pequi


ASt-Hil

Fruto

A

Alimento


32

0812

0762



Sementes

Cultural



20

120

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


ferramentas



4 0065

CHRYSOBALANACEAE


CONNARACEAE

- -

Connarus suberosus

Planch

Folha Ar


2 1 0048

- -


var Induta

Folha Ar


2 1 0048

CONVOLVULACAE


Nees amp Mart

Folha H


1 1 0024

121

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pityktkotuk -

Ipomoea setifera

Poir

Folha H


1 1 0024

CYPERACEAE

Botilde kratilde


(Spreng)Lindm

Planta inteira H


3 1 0071

Angocirc Tiririca

Scleria mitis PJ

Bergius

Sementes H


5 1 0119

DILLENIACEAE

Krare-ocirc Lixeira

Curatella americana

L



8 1 0190

DIOSCOREACEAE

122

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Dioscorea

amaranthoides C

Presl

Folha H


3 1 0071

EUPHORBIACEAE


FABACEAE


Adenanthera

pavoniva L

Semente A


5 1 0119


Clitoria guianensis

(Aubl) Benth Var

Guianensis

Folha

H

Medicinal


4

1

0095


123

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

- -

Dioclea virgata

(Rich) Amshoff

Folha L


2 1 0048


Orelha de


Semente A


2 1 00448

Remedio de jacu

Eriosema rufum

(HBK) Mey

Folha H

Medicinal


- -

Eriosema

simplicifoliun

(Kunth) G Don

Folha

H

Medicinal


2

1

0048

Mocircj Jatobagrave

Hymenaea courbaril

L

Fruto A Alimento

humano




124

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Fruto Alimento


5 05

- -

Camptosema

ellipticum (Desv)

Burtkar

Folha Ar

Medicinal


Bari are


G Silva amp HC Lima

Folha Ar

Medicinal


Vigna liniearis


al

Folha Ar

Medicinal



Benth

Folha

Ar

Medicinal


1

1

0024


125

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Semente


8

1

0190

Pyxanh-y kryre

Olho de cabra

mirim

Rhynchosia


DC

Semente


8

1

0190

HELICONIACEAE


Folha H Alimento


12 1 0286

LAMIACEAE


126

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

-


Ex Benth

Folha H

Medicinal


-

Hyptis crenata

Epling

Folha H

Medicinal


LECYTHIDACEAE

Piy

Castanha do

Brasil


Bonpl

Semente A Alimento

humano

Alimento 21 1 05

LITHRACEAE

- -


Pohl

Folha H


2 1 0048


Physocalymma

scaberrimum Pohl

Folha

H

Medicinal


3

1

0071

127

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MALPHIGIACEAE

Kapratilden Kane -

Mascagnia

benthamiana

(Griseb) WR

Anderson

Folha H


1 1 0024

Mry Kane -

Byrsonima


Folha H


2 1 0048

Murici


(L) Kunth

Fruto A Alimento


10 1 0238


MALVACEAE

- -

Guazumaulmifolia

Lam

Folha A


2 1 0048

MENISPERMACEAE

Abuta grandifolia

Mart Sandwith

Folha


2

1

0048

128

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

MONIMIACEAE

Ron mire agrave -

Siparuna guianensis

Aubl

Folha Ar


2 1 0048

MORACEAE

- -

Dorstenia cayapia

Vell

Folha H


1 1 0024

MYRTACEAE


Fruto A Alimento


4 1 0095

OPILICIACEAE

-

Agonandra


Benth

Casca A

Cultural


corporal

16 1 0380

129

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

PIPERACEAE

Atworo kon -

Piper callosum Ruiz

amp Pavoacuten

Folha H


1 1 0024

POLYGALACEAE

- -


DC

Folha Ar


1 1 0024

PTERIDACEAE

Adiantum

serratodentatum

Humb amp Bonpl ex

Willd

Folha H


1 1 0024

RUBIACEAE

130

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs


Fruto Alimento


Mekaron -

Palicourea rigida

Kunth

Flores Ar

Cultural Ritual

1 1 0024

Pidjwocirc -

Rudgea cornifolia

(Kunth) Standl

Folhas Ar


6 1 0143



DC

Caule L


18 1 0429

SAPINDACEAE


Sapindus saponaria

L

Sementes A


14 1 0333

SIMAROUBACEAE

131

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs

Pituti -

Simaba multiflora A

Juss

Folha H


3 1 0071

TURNERACEAE




IDENTIFICADAS








132

Famiacutelia

nome


Nome

portuguecircs

Espeacutecie

Parte

da

planta

utilizada

Forma

de

vida

Categoria de uso

Subcategoria

Nuacutemero

de

Citaccedilotildees

PPV

IVs




humano




amarras

4 1 0095


amarras

4 1 0095

133
































134












1991)




















135


































136




























palmeira






137









1984)














cordas etc








138

































material

139

















e mulheres)















140



























141


































142



recurso






























143



a) b)

c) d)








confortaacutevel














144







et al 2012)




















145






146

























147


























al 2012)









148








(Astrocaryum sp)


























149


































150
































151
















diacircmetro


















152









irregulares















pastagens









153



















154


































155















natildeo fica bom











com a comunidade39







156





















157


















POSEY 1989)

158





caminhos




















saca de 20 Kg)




Las Casas





159

































160







latossolos























161












ROBERT et al 2012)












162









163



MERCADO

























presentes






164














(BRENES 2007)




















165



(SHROumlDER 2003)








Casas












maneira









166


mandioca)41




















bunum (LEA 2012)












167




colheita





















no caminho









168





























169











Rio Fresco na TIK














170
































171






















172






















173

































174

































175


























176












red

a) aa




177


































178

































179























ROBERT 2008)








180




















181





FUNAI


Casas
















2010)











182































al 2012 p 363)


183


































184





























mercado




185


econocircmicos



monocultura





indiacutegenas























186


































187












sobrevivecircncia






(ONGs)















188

































189



























SOUSA 2006)






DE SOUSA 2006)

190


































191


































192































PNGATI



193
































194







buriti




























195


































196





















Las Casas













197





















Casas











198




































199

























200


Casas
















201






















para 80 reais











202













conhecimentos





















203































2004

204




(Figura 47)










a)

b)



205

































206

















Beleacutem














associados



207


































208


































209




















210



2013 p 730-731)


















das comunidades













211

































212












(TONI et al 2011)























213



































214








da cultura





elevado



















215

































216

































217












artesanato e pequi





















218
































219
























220


























221

























222













Atlas 2011












223


























224




















p321-346 2000




225















2009









226










p 138-147 2001
















227

























228












1990













brasilica 2008 Ano 22 n 4 2008 p1141-1149


229



















1999





set-dez 2013

230

























231
























2001 28 (1)10-22

232



508 2006

233

APEcircNDICE

234






























235






























como

236

































237


































238




















indiacutegenas













ateacute 2017

239








Doutoranda em

Desenvolvimento



(Orientador)


NAEAUFPA



















240


Goeldi





comunidade








doutorado



















241


































242





territoacuterios





Data _____________________ de 2013

243


244

245

246

247




Data___________






Idade

Sexo





o Pescacaccedila

o Artesanato

o Pecuaacuteria




passado)






248



__________


aposentadoria


atividades _________________________________________________




______________________________________________________________________


__________________________________________________________

_____________________________________________________________________








__________________________________________________________________





249


coleta_____________________________________________________________________


___________________________________________________________________________


caule)_____________________________________________________________________

___________________________________________________________________________



___________________________________________________________________________




inteira____________________________________________________________________

______________________________________________________________________


__________________________________________________________________



(homem)___________________________



babaccedilu___________________________________________

______________________________________________________________________



______________________________________________________________________


250

______________________________________________________________________








coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________


______________________________________________________________________


______________________________________________________________________




__________________________________________________________________


_______________________________________________________________________



coleta_____________________________________________________________________

__________________________________________________________________


______________________________________________________________________

251


sementes)_____________________________________________________________

______________________________________________________________________


(crianccedilas)___________________________________________________________


_____________________________________________________________________




252


TM da TI Las Casas



253



254




AL

-1C

F-5

RO

C-9

0S

AV

-95

CU

C-7

SG

L-1

11

SF

L-1

08

SG

L-1

25

FG

-44

SA

V-9

9F

ED

-19

MA

N-6

3F

G-3

4F

G-5

8S

AV

-94

CA

M-2

RIO

-75

SF

L-1

07

FG

-48

FG

-55

CU

C-6

RO

C-9

1S

GL

-11

2F

G-4

7S

GL

-11

3S

AV

-10

4S

GL

-12

1S

GL

-11

4S

GL

-12

4S

GL

-11

5S

GL

-11

6S

AV

-10

6S

GL

-11

0S

AV

-10

2S

AV

-93

SG

L-1

18

SA

V-1

00

SA

V-1

05

SG

L-1

17

SA

V-9

7S

GL

-12

0S

GL

-12

2S

AV

-10

1S

GL

-10

9S

AV

-10

3S

GL

-11

9S

AV

-96

SA

V-9

8F

G-3

9F

G-2

8F

G-3

0F

ED

-20

FE

D-1

5R

OC

-92

FE

D-1

7

FG

-57

FG

-59

FG

-41

FG

-42

FG

-32

FG

-25

FG

-29

FG

-43

FG

-61

RO

C-8

7R

OC

-88

FE

D-1

2F

ED

-18

FG

-53

FG

-56

CA

P-4

FG

-24

FG

-35

FG

-50

FE

D-1

0F

G-5

1F

ED

-11

FG

-36

FG

-33

FG

-26

FE

D-1

4F

ED

-16

FE

D-9

FG

-27

FG

-40

FG

-60

RO

C-8

9F

ED

-8F

G-3

7F

ED

-22

FE

D-2

3F

G-3

1F

G-4

6F

G-3

8F

G-4

5F

ED

-21

FG

-49

FG

-52

FG

-54

CA

P-3

FE

D-1

3R

IO-7

9R

IO-8

5R

IO-6

7R

IO-6

6R

IO-6

8F

G-6

2R

IO-8

6R

IO-6

9R

IO-8

1R

IO-6

5R

IO-7

0R

IO-7

8R

IO-7

1R

IO-7

4R

IO-7

2R

IO-7

3R

IO-8

2R

IO-8

4R

IO-7

6R

IO-8

3R

IO-7

7R

IO-6

4R

IO-8

0

05

10

15

20

25

Cluster Dendrogram

hclust ( wardD2)

tab01crdc

He

igh

t

255


e 2015


Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

1 88 Floresta de

galeria Pastagem

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta

secundaacuteria

Floresta de

galeriacutea

Floresta

secundaacuteria

2 53

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


galeriacutea

3 3 Floresta de

galeriacutea


secundaacuteria

Floresta



secundaacuteria

4 36

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Pastagem

Floresta





estacional

decidual

5 22

Floresta de








secundaacuteria

6 73

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


galeriacutea


Floresta




secundaacuteria

8 96

Floresta de








galeriacutea

256

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

9 75

Floresta de








galeriacutea

10 99

Floresta de








galeriacutea

11 117

Floresta de




Floresta de


secundaacuteria

12 76

Floresta de








galeriacutea

13 58

Floresta de








galeriacutea

14 68 Floresta de

galeriacutea






secundaacuteria


secundaacuteria

Floresta




galeriacutea FS

1 43

Floresta de



galeriacutea


2 47

Floresta de




3 47

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta



Floresta


257

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 54

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta



Floresta


5 30 Floresta de

galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional


6 37

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


7 20

Floresta de



secundaacuteria

Floresta

estacional


8 45

Floresta de



Floresta

secundaacuteria

9 50

Floresta de


Floresta





10 69

Floresta de


Floresta





11 33

Floresta de


Floresta




258

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

12 63

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual FG FG


13 39

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta


14 41

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta


Floresta


15 28

Floresta de




Floresta


Capoeira Capoeira

1 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

2 13

Floresta

estacional

decidual


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

3 9

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

259

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

4 27

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

5 24

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta de


Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

6 60

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual


Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

7 50

Floresta

estacional

decidual


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

8 31

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Capoeira Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

9 26

Floresta

estacional


Floresta

secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

10 24

Floresta

estacional


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

260

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

11 0

Floresta

estacional


secundaacuteria

Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

12 10

Floresta

estacional

decidual Pastagem

Floresta




secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

13 0

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional


Floresta


secundaacuteria

Floresta

estacional

decidual

Floresta

secundaacuteria

14 34

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual

15 51

Floresta de






galeriacutea

Floresta

estacional

decidual

Floresta

estacional

decidual





5 2

Floresta de



261

Parcela

Nuacutemero

de

indiviacuteduos

1984 1990 1995 2000 2006 2011 2014 2015

6 2

Floresta de



7 10

Floresta de



8 21

Floresta de



9 8

Floresta de





12 3

Floresta de



13 0

Floresta de



14 0

Floresta de



15 0 Floresta de



262

ANEXOS

263



264




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