retiro calabriano outubro 2015

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ROTEIRO DE RETIRO ESPIRITUAL PARA O ANO DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA SEXTO TEMA: Estilo de vida calabriano como profecia para os tempos atuais “Profetiza, filho do homem, profetiza” ( Cf. Ez 37,9) “Somos filhos de um profeta, ai de nós se diluirmos o espírito puro e genuíno da Obra 1 Estamos em nosso sexto encontro de oração em torno da grande graça deste ano da Vida Religiosa Consagrada. No roteiro passado rezamos a partir do tema: Vida religiosa: dom e profecia para o mundo. Hoje, o convite é rezar sob o tema “Estilo de vida calabriano como profecia para os tempos atuais”. No Seminário da VRC que aconteceu em Itaici-SP de 23 a 27 de fevereiro de 2013, a CRB nacional refletiu sobre a vida religiosa consagrada como “A loucura que Deus escolheu para confundir o mundo” (cf. 1Cor 1,18-31). De fato, são muitos e complexos os apelos que o mundo, em sua conjuntura atual, faz aos religiosos e às religiosas. Nesse contexto é importante refletir sobre a natureza profética da vida consagrada. De fato, a vida religiosa é essencialmente profética, pneuma, isto é, portadora de sopro, de energia, de força que a lança na aventura santamente louca e utópica do anúncio ao mundo uma Boa Notícia; quaisquer que sejam as crises, as adversidades, as circunstâncias que moldam a humanidade e a história. Uma nova Vida Religiosa está chamada a re-nascer, a re-encontrar o sopro inicial, empolgação encantadora ligada ao seu primeiro amor, que leva à vida e nunca à morte. Ela nasceu e nasce continuamente do Espírito, o qual suscita nos homens e nas mulheres, em qualquer situação, uma força, um chamado, uma mística, em vista de uma missão e jamais de uma omissão. Isso é profecia. O nosso modo de ser e de viver deve ter a primazia de Cristo e do seu evangelho, porém, a centralidade de Cristo se torna visível pela comunhão aberta e praticada no compromisso cristão. Neste sentido, a comunidade em que “os pregadores” são mais importantes que o “anunciado”: Jesus Cristo, não entendeu, nem assimilou o Evangelho. Também a nossa consagração só tem sentido se manter-se profecia, se for manifestação e anúncio do Cristo que nos chama. Daí a loucura: o humano manifestando, sendo “sacramento” do divino. A vida religiosa consagrada é a “loucura que Deus escolheu para confundir o mundo” em primeiro lugar porque Jesus escolheu homens e mulheres sem instrução, sem prestígio, aos olhos da sociedade, podemos dizer eram “nada”... Esta não é uma apologia à fraqueza, mas uma evidência do poder de Deus (Cf. Jo 1,27; 3,30). Chamados por Cristo, como os doze que ele constituiu apóstolos, assumamos essa loucura de, em nossa pequenez, nos colocar à disposição do Reino. Para isso, é urgente e necessária a conversão à fonte e meta de nossa vida cristã e de consagrados revitalizando nossa paixão pelo Reino e pela humanidade. Pois, 1 LONGO, Waldemar. Reencontrando nosso estilo de vida.

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Retiro Calabriano elaborado pelo Pe. Osvaldo de Oliveira, para o mês de Outubro de 2015

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ROTEIRO DE RETIRO ESPIRITUAL PARA O ANO DA VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA

SEXTO TEMA:

Estilo de vida calabriano como profecia para os tempos atuais

“Profetiza, filho do homem, profetiza” ( Cf. Ez 37,9)

“Somos filhos de um profeta, ai de nós se diluirmos o espírito puro e genuíno da Obra1”

Estamos em nosso sexto encontro de oração em torno da grande graça deste ano da Vida Religiosa

Consagrada. No roteiro passado rezamos a partir do tema: Vida religiosa: dom e profecia para o mundo. Hoje, o convite é rezar sob o tema “Estilo de vida calabriano como profecia para os tempos atuais”.

No Seminário da VRC que aconteceu em Itaici-SP de 23 a 27 de fevereiro de 2013, a CRB nacional

refletiu sobre a vida religiosa consagrada como “A loucura que Deus escolheu para confundir o mundo” (cf. 1Cor 1,18-31). De fato, são muitos e complexos os apelos que o mundo, em sua conjuntura atual, faz aos religiosos e às religiosas. Nesse contexto é importante refletir sobre a natureza profética da vida consagrada.

De fato, a vida religiosa é essencialmente profética, pneuma, isto é, portadora de sopro, de energia, de força que a lança na aventura santamente louca e utópica do anúncio ao mundo uma Boa Notícia; quaisquer que sejam as crises, as adversidades, as circunstâncias que moldam a humanidade e a história. Uma nova Vida Religiosa está chamada a re-nascer, a re-encontrar o sopro inicial, empolgação encantadora ligada ao seu primeiro amor, que leva à vida e nunca à morte. Ela nasceu e nasce continuamente do Espírito, o qual suscita nos homens e nas mulheres, em qualquer situação, uma força, um chamado, uma mística, em vista de uma missão e jamais de uma omissão. Isso é profecia.

O nosso modo de ser e de viver deve ter a primazia de Cristo e do seu evangelho, porém, a centralidade de Cristo se torna visível pela comunhão aberta e praticada no compromisso cristão. Neste sentido, a comunidade em que “os pregadores” são mais importantes que o “anunciado”: Jesus Cristo, não entendeu, nem assimilou o Evangelho. Também a nossa consagração só tem sentido se manter-se profecia, se for manifestação e anúncio do Cristo que nos chama. Daí a loucura: o humano manifestando, sendo “sacramento” do divino.

A vida religiosa consagrada é a “loucura que Deus escolheu para confundir o mundo” em primeiro lugar porque Jesus escolheu homens e mulheres sem instrução, sem prestígio, aos olhos da sociedade, podemos dizer eram “nada”... Esta não é uma apologia à fraqueza, mas uma evidência do poder de Deus (Cf. Jo 1,27; 3,30). Chamados por Cristo, como os doze que ele constituiu apóstolos, assumamos essa loucura de, em nossa pequenez, nos colocar à disposição do Reino. Para isso, é urgente e necessária a conversão à fonte e meta de nossa vida cristã e de consagrados revitalizando nossa paixão pelo Reino e pela humanidade. Pois,

1 LONGO, Waldemar. Reencontrando nosso estilo de vida.

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só um coração apaixonado pelo Reino é capaz de arriscar a vida, alimentar a utopia e fazer opções claras e objetivas pelos sem voz e sem vez, pelos crucificados de hoje. Isso é viver a radicalidade do Evangelho. Como isso seria possível no contexto da espiritualidade calabriana? Segue algumas pistas.

Viver a radicalidade do Evangelho Quando líamos e conversávamos sobre a última carta do Casante “A alegria da radicalidade” com os

formandos em Feira de Santana – BA, perguntei o que eles entendiam quando ouviam a palavra radicalidade. A resposta foi a mais comum, mas que me fez refletir sobre um de seus verdadeiros sentidos. Disse um deles: “ser radical, esporte radical”. Ao escutar essa resposta veio rapidamente associado o efe ito que produz uma realização de esporte radical: a satisfação, a alegria por ter realizado algo que parecia impossível; a superação do limite.

Podemos entender a radicalidade como experiências limítrofes e arrojadas motivadas pelo entusiasmo, pela força de vontade de realizar algo, mesmo que pareça que esteja além de nossos limites. É uma experiência radical aquela que tem motivações profundas e que passam a fundamentar toda a existência. É o que podemos também chamar de experiência fundante. E no caso da vida cristã e, mais ainda da vida religiosa consagrada, a raiz, o fundamento é Cristo; é o “viver Ele”2 como afirmara São Paulo: “Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro” (Fl 1,21); “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). A raiz da vida religiosa consagrada em Cristo, por Cristo e em Cristo é viver com a alegria divina ( en-theos-asmos = entusiamo). Da alegria trazida pelo Senhor, ninguém é excluído3”

Quando perdemos de vista o fundamento e motivo de nossa consagração, sobretudo pelo “desencanto” com o Evangelho, com o seguimento, com a vocação, podemos afirmar que estamos doentes. Para os gregos da antiguidade para uma pessoa estar doente tinha duas razões: como e porque a pessoa se desviou de seu destino? E porque sua vida foi esvaziada de Eros, porque não vivia mais apaixonadamente e não tinha mais entusiasmo? Em nosso caso, é possível que tenhamos nos distanciado da raiz e, neste sentido, é impossível ser radical, viver a alegria da radicalidade porque teríamos perdido o sentido da própria busca: a motivação primeira que nos fez sair de nossas famílias e nos lançou numa experiência de vida que pode ser considerada como radical, arrojada; que produz alegria em nós e se torna profecia para o mundo. Por isso, é importante retornar à fonte, à raiz, ao Evangelho.

Retornemos ao Evangelho Retornemos ao Evangelho foi uma das grandes expressões e insistências do Pe. Calábria. Ele dizia:

“Esta é a hora de levantarmos do sono (...) Hora de salvação e de vida: basta -lhe encontrar instrumentos que sintonizem com a sua providência. E esses instrumentos somos nós, os cristãos, contanto que nos dediquemos a viver bem. Especialmente precisamos de santos que sejam Evangelhos vivos (...) A hora que estamos atravessando é uma hora difícil (...) Estamos caminhando para uma nova ordem de coisas. Também nós nos devemos renovar. Mas só nos renovaremos, se vivermos na prática o Santo Evangelho, se formos nós mesmos Evangelhos vivos (...) Retornemos às fontes puras e genuínas, sem ‘igrejinhas’, considerando que todas as pessoas pertencem a Deus, mostrando desinteresse em nosso trabalho pelo bem (...)”4.

O Evangelho é Jesus Cristo. A pessoa de Jesus Cristo foi e continua sendo o “elemento condutor” da vida religiosa consagrada, pois é a sua “regra suprema” 5. E para nós membros da família calabriana Jesus é o único Mestre (cf Mt 23,3). A “primeira condição para que sejamos verdadeiramente calabrianos, é renunciar a qualquer outro ‘mestre’ que pretenda nos ensinar um estilo de vida alternativo àquele que nos ensina o Evangelho (...) E a radicalidade evangélica é redescobrir e acolher Jesus Cristo como fonte e centro gerador do qual tudo provem e ao qual tudo conduz”6. O Evangelho é a raiz da espiritualidade calabriana, pois foi da experiência com o Evangelho (daquela noite em que leu todo o Evangelho) que Calábria deixou-

2 Cf. TOFFUL, Miguel. A alegria da radicalidade. Carta do Casante à Família calabriana. Coleção Communio 5. Porto

Alegre. 2015. 3 FRANCISCO, Papa. Evangelli Gaudium, 3. 4 CALÁBRIA. São João. Retornemos ao Evangelho p. 15-17. 5 Cf. PC. N. 2; Cont. n. 1 6 Cf. TOFFUL, Miguel. A alegria da radicalidade. Carta do Casante à Família calabriana. Coleção Communio 5. Porto Alegre. 2015. P. 7

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se conduzir pela moção do Espírito que o orientou para a essência da espiritualidade da Obra que nascia: “Veja, veja esse trecho – repetia Calábria ao seu amigo – ‘Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal” (cf. Mt 6,33-34).

Conhecemos bem o desfecho daquela noite em que São João Calábria “descobriu o Evangelho”. Leiamos esse fato sob a seguinte chave de leitura: o movimento de descobrir. Descobre -se algo que está coberto, desvela-se algo que está velado. Embora a ênfase estivesse até então colocada no Evangelho enquanto “descoberto”, arrisco mudar o ponto de partida. Sabemos que o Evangelho já fora revelado na pessoa de Jesus. Neste sentido, o foi revelado uma vez por todas e plenamente: “Quando, porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho...” (Gl 4,4). O que permanece velado então? Não é o Evangelho que está velado, mas os olhos de que o lê. Portanto, o pedido mais importante que precisamos fazer é que possamos ver de novo (cf. Lc 18,41).

Descobrir o Evangelho em São João Calábria, portanto não é tirar as “vendas” da Palavra, mas dos nossos olhos. É atitude de abrir-se para as moções do Espírito que conduz para verdadeira mensagem que o Evangelho quer transmitir; é voltar-se para as fontes puras e genuínas do Evangelho.

A novidade do Evangelho descoberta por São João Calábria ele já a tinha escutado e aprendido enquanto estudante de teologia. Qual a diferença então? Está na ênfase: o Evangelho passa a ser lido a partir da chave de leitura de que Deus é Pai e da necessidade evidente de confiança e abandono filial à divina providência de nossa parte. Esta atitude é fundamento existencial de nossa profecia enquanto calabriano.

A experiência calabriana da Palavra não é teórica e aqui reside também a profecia: a experiência com o evangelho nunca é personalista e simplesmente teoria. São João Calábria é profeta porque não apenas leu ou pregou, mas, sobretudo porque viveu o Evangelho. Ele “Deixou sinais evangélicos na vida de muitas pessoas (...) O centro de sua vida e de sua atividade foi a Palavra de Deus, encerrada e vivida. Como nosso Pai fundador, sejamos, portanto, “Evangelho Vivos”7.

Nuvem de testemunhas Pe. Miguel Tofful em sua última carta, além de São João Calábria nos apresenta outros modelos de

radicalidade de vida evangélica na espiritualidade calabriana. Recordemos brevemente apenas de dois. Irmã Carmela Perlini (1921-2010). Era animada pelo desejo de “fazer a vontade de Deus acima de

tudo, antes de tudo, não obstante tudo. Deixá-lo fazer... e nós atrás D’Ele”. Mulher de fé ativa, comprometida no serviço e amor aos pobres; mulher da providência – acreditou no Pai dos pobres.

Irmã Carmela foi uma mulher de grande amor a Jesus Eucarístico contemplado também na humanidade crucificada e sofrida. Sua radicalidade fundamentou-se na atitude de busca do essencial vivendo a sobriedade, disciplina e generosidade. Sua profecia pode ser sintetizada no amor vivido na prática e entendido em suas próprias palavras: “Nas dificuldades da vida devemos sempre abandonar-nos à Divina Providência, viver com espírito de fé e lembrar que não somos nós que fazemos as coisas: tudo é conduzido por Deus, mesmo quando nos parece estranho e difícil. Devemos aceitar tudo o que Deus faz na nossa vida. Se tudo é conduzido por Ele... vivamos sempre com generosidade”8.

Ir. Mateo Ponteggia (1944-2003). Exemplo de vida religiosa consagrada calabriana vivida com

intensa alegria transmitindo às pessoas que o conheceram um belo testemunho de vida autêntica e alegre. Caráter dócil, sorriso e leveza de vida. De coração habitado pela presença de Cristo.

Homem simples disponível em ajudar os pobres em acolhida e cuidado. Seu amor e dedicação não tinham horários estabelecidos. Praticamente organizava a sua vida conforme as necessidades dos pobres. Era atencioso e gentil nas relações. Exemplo de vocação do irmão pobre servo com profunda vida espiritual de intimidade com o Senhor concretizado na caridade aos irmãos, sobretudo mais pobres.

Pe. Miguel faz um pedido de que procuremos recuperar a vida de religiosos e religiosas calabrianos

que possam compor essa “nuvem de testemunhas”. É claro que esse pedido centra no relato e reflexão da vida daqueles que nos precederam e nos podem ajudar a viver verdadeira e intensamente a espiritualidade 7 Cf. Idem. p. 56. 8 Idem.

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calabriana em sua genuinidade. Mas será que eu, você, nós, poderíamos fazer parte desse grupo? Claro que ao menos deveríamos, não por nossos méritos, mas pela coerência, pela simplicidade, pela vida de fé, confiança e real abandono na Providência, pela vida fraterna em comunidade, pelo amor e serviço aos pobres. Assim brilhará a nossa luz diante dos homens, para que, vendo as nossas boas obras, eles glorifiquem nosso Pai que está nos céus (cf. Mt 5,16).

Estilo de vida calabriana como profecia para os tempos atuais Pe. João Calábria afirmava constantemente que a Obra é para os tempos atuais. Ao retomar essa

afirmação me dei conta que nela contém a dimensão profética da vida religiosa consagrada direcionada aqueles e aquelas que viveriam a partir da espiritualidade calabriana.

Embora essa espiritualidade seja sugerida a uma família mais ampla (Pobres Servos, Pobres Servas, Missionárias dos Pobres, Irmãos externos, Leigos calabrianos, colaboradores, ex -seminaristas e alunos...) nos debruçaremos sobre ela, a partir da missão específica dos consagrados e consagradas chamados a viver esse particular carisma de fé, confiança e abandono filial à Divina Providência. Perguntemo-nos: como a espiritualidade calabriana vivida especialmente pelos consagrados e consagradas pode ser sinal de profecia para os tempos atuais?

Vivendo a radicalidade na nossa espiritualidade certamente seremos sinal de profecia para os tempos atuais. A seguir, refletiremos alguns dos aspectos que elucidam nossa missão profética como religiosos consagrados e como pertencentes à família e espiritualidade calabriana: A centralidade de Cristo e consequente vida interior e de oração; a vida fraterna em comunidade; a prática dos conselhos evangélicos; o amor e serviço aos pobres – ir aonde ninguém vai, dentre tantos outros não menos importantes.

Reflitamos sobre alguns aspectos concretos de nossa vida que nos mantém nas trilhas da profecia, particularmente nos dias de hoje, cuja sociedade é tão carente de “sinais de contradição” que apontam para além de uma vida consumista, egoísta, da cultura do descartável, de confusão no que diz respeito aos valores, etc.

A centralidade de Cristo – a vida de oração O primeiro e grande sinal de profecia de todo cristão e, particularmente dos religiosos consagrados

é, sem dúvida, a sincera centralidade de Cristo em suas vidas. Porque não seguimos qualquer doutrina, não temos à nossa frente um ídolo, mas a pessoa mesmo de Jesus Cristo crucificado e ressuscitado.

Na carência de modelos que a sociedade hodierna vive, nosso modelo é Cri sto. Assim, como primeiro motivo vocacional, o porquê Ele nos chama é para permanecer com ele. O Centro de nossa vida e o fundamento da nossa profecia é anunciarmos ao mundo quem é nosso mestre, a quem nós seguimos.

Este caminho de seguimento nos conduz a um itinerário de santidade sob os passos de São João Calábria expressa no estilo de vida simples tanto no modo de pensar e agir colocando no cotidiano de nossa vida a pessoa de Jesus Cristo9. Neste sentido, seremos profetas à media em que formos capazes de voltar ao essencial que é em primeiro lugar a experiência de Deus cuja intimidade acontece na acolhida e escuta da Palavra; em “ir a um lugar à parte” (cf. Lc 5,16), movimento este que significa dar tempos privilegiados de silêncio e encontro com o Senhor: “finalidade absoluta da Vida cristã, religiosa, sacerdotal ou leiga”10.

Nos dias atuais nos quais se “corre muito”, que parece que “não se tem mais tempo” para Deus, nós religiosos consagrados podemos ser testemunhas de que é possível encontrar tempo para o Senhor, pois Ele dedica tempo e despende amor para conosco. É Preciso dedicar tempo para dialogar com Ele, para rezar.

A experiência do discipulado em torno da pessoa de Jesus baseia-se, portanto primeiramente no chamado que procede dele como iniciativa e dom, e seu objetivo é permanecer com ele (cf. Jo 1,39). Permanecer em Jesus como fonte primordial é “atitude existencial e decisiva”11 para quem o quer seguir e receber a fecundidade de seu amor. Sem essa comunhão de vida (cf Ap 3,20) somos incapazes de produzir frutos: (cf Jo 15,4). Ser discípulo de Jesus, sob a intuição de São João Calábria é “viver Cristo” na expressão pura e genuína do Evangelho; é ter a Palavra de Deus como experiência fundante que alimenta a si próprio

9 Idem. 10 CUNEGATTI. Pedro. O encontro com Jesus. Coleção Retiros Calabrianos. Porto Alegre. 2012. p. 11. 11 Cf. TOFFUL, Miguel. A alegria da radicalidade. Carta do Casante à Família calabriana. Coleção Communio 5. Porto Alegre. 2015.

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e se torna alimento e testemunho profético para a Igreja e o mundo. Na expressão de São João Calábria é ser “reservatórios e canais”. “Permanecei em mim, como eu em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na videira, assim também vós se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,4-5).

Mas o que é oração, afinal? Orar é entrar no coração do Pai12. E para Jesus a oração era uma constante. Podemos perceber nos evangelhos, que a oração para Jesus é experiência profunda de encontro e diálogo com o Pai. É expressão maior de fidelidade ao desígnio do Pai; é mistério de comunhão 13; é momento de profunda intimidade e discrição: a oração não deve ser exposição perante os homens (cf. Mt 6,6). A discrição é essencial para a relação para com Deus. Esse detalhe, contudo, não exclui a importância da oração comum, a comunidade orante, sobretudo porque a espiritualidade cristã é essencialmente de comunhão.

A oração é ainda, fonte e fundamento da autêntica vida comunitária e fraterna. Por isso, se não formos pessoal e comunitariamente à fonte genuína, Deus amor e comunhão, verdadeiramente não seremos expressão “sacramentos do amor” em nossas comunidades. Ao mesmo tempo o amor é o critério para discernir se nossa oração é verdadeira14. Esta, não exige muitas palavras, que inclusive pode asfixiar o Espírito. A autêntica oração é presença interior e silenciosa com Deus que fala ao coração (cf. Os 2,16); é aquela que nos mantém nos caminhos do Espírito e fundamenta nossa fidelidade. Mesmo por meio de diversas formas de oração, nas práticas de piedade, na oração da Igreja (liturgia das Horas), a orientação de São Bento é válida: “Mens nostra concordet voci mostrae”15, ou seja: o nosso espírito deve estar em harmonia com nossa voz. Nossa oração, portanto, não deve ser feita apenas com os lábios e sim com o coração. Somente assim ela se tornará um verdadeiro compromisso de amor16.

O Pe. Calábria sempre insistia na importância da vida espiritual. Podemos repetir uma de suas perguntas: “Como vocês passam os dias espirituais?17”. E ainda insistia que se deixasse tudo, menos as práticas de piedade18; o desejo de se santificar para santificar as almas19; a vida interior: “Sejam ramos e videira, como reservatórios e canais. Tenhamos presente as palavras de Jesus: ‘sem mim nada podeis fazer’”20.

Quando falava da oração, Calábria indicava que o cristão deveria ser o homem da oração. Quanto mais nós consagrados. Continuava ele: “sejamos nós a começar, meus queridos a dar valor à oração, a usá-la com intensa piedade e amor para com Deus21”. Esta oração, tão necessária para uma vida de íntima união com Deus22 deve ser a nossa missão primeira. Se nossa “Obra é sobrenatural e deve viver de fé”23, e considerando o ponto central do nosso carisma: reavivar no mundo a fé e a confiança em Deus Pai e o abandono total à Divina Providência, sem uma vida de íntima comunhão com o Senhor essa missão torna-se impossível. Como poderemos demonstrar ter plena confiança em Deus sem uma atitude filial entendida como “estar com ele”? “Não se pode viver como cristãos honestos menos ainda como verdadeiro pertencente à família calabriana sem uma boa, constante e perseverante oração”24.

Se quisermos ser verdadeiramente sinal de profecia para o mundo atual, sem dúvida precisamos estar sempre em diálogo com Aquele que nos chama e envia. É Ele quem devemos anunciar; é em nome d’Ele que devemos denunciar. Senão podemos cair no risco de anunciar a nós mesmos e denunciar o que não nos favorece.

12 TOFFUL, Miguel. Reparação – caminho de santidade. Coleção Communio 5. Carta do Casante 2013. 13 MASSERONI, Eurico. Ensina-nos a rezar – um caminho para a escola do Evangelho. SP. Paulinas 1999. 14 Cf. CUNEGATTI. Pedro. O amor é de Deus. Coleção Communio. Porto Alegre. 1985. pp. 17-18. 15 BENTO, São. Reg 19,7 in Joseph Ratzgen. Bento XVI. Jesus de Nazaré: primeira parte: do batismo à transfiguração.

Trad. José Jacinto Ferreira de Farias. São Paulo. Ed. Planeta do Brasil, 2007 p. 123. 16 Cf. TOFFUL, Miguel. Formação, transformação no amor. Coleção communio 2. Carta do Casante. Porto Alegre, 2009. 17 CALÁBRIA. CR. 386. Verona, 06/07/1932. 18 Idem. CR. 5240/B 1934; XXIV. 1940; XXVI 1941. 19 Idem. CR. XIV – 3 de dezembro de 1936. 20 Idem. CR. XXIV. 1940. 21 Idem. CR XXXVIII 1944. 22 Idem CR XLVII 1946 23 Cf. TOFFUL, Miguel. Primeiros passos rumo à Galileia. P. 9. 24 FELIPPO, Odorico. Retorno à Galileia. Coleção Retiros calabrianos. Porto Alegre, 2010.

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A vida fraterna em comunidade A Igreja é essencialmente mistério de comunhão25. É comunhão de dons, é comunidade de amor26.

A “vida fraterna procura refletir a profundidade e a riqueza desse mistério, apresentando-se como um espaço humano habitado pela Trindade que difunde na história os dons da comunhão trinitária”27. Neste sentido, as comunidades religiosas são lugares palpáveis da comunhão fraterna; espaço teologal 28 onde se experimenta a presença mística do ressuscitado (cf. Mt1 8,20).

A vida consagrada, como especial caminho de seguimento de Cristo, é dom de Deus Pai 29 e é chamada a ser sinal de comunhão na Igreja como imagem da Trindade. Tal missão procede ainda da experiência da plena partilha de vida com Cristo, vivida pelos doze e pela experiência de comunhão das primeiras comunidades cristãs (cf At 2,42-47; 4,32-35).

No contexto da vida religiosa consagrada, a fraternidade acontece em primeiro lugar na comunidade. Contudo, viver em comunidade não necessariamente significa viver a fraternidade. É possível pensar uma comunidade que não seja fraterna? A fraternidade é alcançada a partir de um movimento de “saída” de si para o encontro com o outro.

O amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito (cf. Rm 5,5) é a fonte de nossa vida comunitária. Por isso é natural que acolhamos a exigência interior de colocar tudo em comum: bens materiais, experiências espirituais, talentos e inspirações, como também ideais apostólicos e serviço caritativo30. Neste sentido, os consagrados e consagradas podem se tornar profetas nos tempos atuais pela promoção do amor fraterno vivido em comunidade e testemunhando de forma criativa a solidariedade. E nós religiosos e religiosas pertencentes à família calabriana, como poderemos ser profetas em nossas comunidades? Sabemos que desde o início da Obra, Pe. Calábria a quis como uma família, mas em especial com uma forte proposta de fé e de vida comunitária31. Vejamos algumas das possibilidades que nos ajudarão a refletir sobre nossa vida comunitária e nos apontarão ao mesmo tempo perspectivas.

Iniciemos com a motivação de nossa vida em comum: Somos chamados a testemunhar no mundo a paternidade de Deus, estamos comprometidos a darmo-nos totalmente à comunidade, sentindo como próprias as alegrias e os sofrimentos dos irmãos, compartilhando com eles os seus sofrimentos, aspirações ou desejos, amando os irmãos com o mesmo amor com que Deus nos ama. Esta vida de fraternidade é um anúncio eficaz de que Deus é realmente Pai32.

- Projeto comunitário: seremos profetas se mesmo considerando a necessidade do projeto

comunitário ser construído (In loco), se formos capazes de também considerá-lo “a priori” com algumas características nossas que precisam ser assumidas em qualquer lugar ou cultura na qual nos encontramos33;

- Comunidades orantes: as nossas comunidades, amados irmãos e irmãos, devem tornar-se autênticas ‘escolas’ de oração, onde o encontro com Cristo não se exprime apenas em pedidos de ajuda, mas também em ação de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta, afetos de alma, até se chegar a um coração verdadeiramente ‘apaixonado’34. A maior caridade é aquela de rezar uns pelos outros, pois a oração é o sopro de Deus do qual chega a nós todo o bem35;

- Nossa caridade inspirada por tempos com Deus: Nossas comunidades precisam de novo impulso espiritual que ajude a levar à concretude da vida o sentido evangélico e espiritual da consagração batismal e

25 “Comunhão é o outro nome da Igreja” (Paulo VI). 26 XVI, Papa Bento. Deus Caritas est. 2005. 19. 27 Idem. N. 41. 28 Idem. 42. 29 PAULO II, João. Vita Consecrata. 1996. N. 1. 30 Idem. Cf. n. 42. 31 LONGO, Waldemar. Lâmpadas acesas. Coleção Communio. Porto Alegre. 2003. 32 Cf. Const. Pobres Servos. N. 77. 33 LONGO, Waldemar. Reencontrando o nosso estilo de vida. Coleção Communio. Porto Alegre. 2001. 34 LONGO, Waldemar. Lâmpadas acesas. Coleção Communio. Porto Alegre. 2003. 35 Idem. Delegazione Italizana, PSDP (a cura di) – “Miei amantissimi...” in Wlademar Longo. Lâmpadas acesas. Coleção Communio. Porto Alegre. 2003.

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da sua nova e especial consagração36. Será que não pensamos que “a oração é perda de tempo...”; que “há bens mais producentes...”; que “os pobres não podem esperar”...? Pe. Calábria nos lembra a importância da oração com palavras duras: “Toda ação sem oração é uma profanação”.

- Comunidades centradas na Eucaristia celebrada e vivida: porque é na mesa da Palavra que faz arder o coração e é na mesa do pão que abre os nossos olhos que encontramos o verdadeiro sentido da nossa missão37;

- Capacidade de acolhida e escuta do outro (a): Precisamos aprender a escutar, a acolher. Encontrar tempo para “caminhar ao lado do nosso irmão” (cf. Lc 24,15) e realmente ajudá-lo e deixarmo-nos ajudar. Será que não estamos reproduzindo em nossas comunidades a atitude egoísta de Caim, não nos importando com nosso irmão: “acaso sou o guarda do meu irmão?” (cf. Gn 4,9b); será que não preferimos ficar fechados em nós mesmos a partilhar nossa vida? Será que a caridade não está diminuída dando espaços para que a murmuração, à fofoca ou o julgamento se inflamem? Reescutemos a orientação de São João Calábria que dizia que se houvesse alguma desavença entre irmãos, não deveríamos repousar antes de buscar a reconciliação38.

- Comunidade de relações reais: Será que não estamos vivendo “um narcisismo espiritual” que incide profundamente sobre a qualidade das nossas relações fraternas, verdadeiras e estáveis?39 Não estamos nos importando mais com a “relação” com as pessoas distantes, “convivendo” num ciberespaço em detrimento da relação com aqueles que estão pertos e vivem conosco?

- Comunidades de irmãos (ãs): O VIII Capítulo Geral dos Pobre Servos alertou que nossa comunidade, antes de ser operativas, devem ser comunidades de irmãos. Somos chamados antes de tudo a sermos irmãos. Será que nossas comunidades não se tornaram operativas, mais do que uma comunidade que busca “antes de tudo se ajudar na vida espiritual?40”. Somente tendo como primazia a busca do Reino de Deus concretizado na fraternidade e comunhão e edificando assim a comunidade é que se tornará autêntico o nosso vínculo41.

Por fim, ser profeta no campo das relações como calabriano é buscar com todo empenho a fonte vital e o sentido do nosso “estar juntos”, demonstrando o cuidado recíproco, o diálogo sincero, o perdão verdadeiro. Amando-nos como verdadeiros irmãos.

A prática dos conselhos evangélicos À luz da consagração de Jesus, é possível descobrir na iniciativa do Pai, fonte de toda santidade, a

nascente originária da Vida Consagrada. Sob o impulso do Espírito Santo, a vida consagrada imita mais de perto, e perpetuamente representa na Igreja a forma de vida que Jesus42, supremo consagrado e missionário do Pai abraçou e propôs aos discípulos que o seguiam (cf. Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,10-11; Jo 15,16). Jesus é o Ungido e Consagrado por excelência pelo poder de Deus (cf. At 10,38). “Aquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10,36). Consagrando-se ao Pai, o Filho consagra-se pela humanidade. (cf. Jo 17,17). A sua vida de virgindade, pobreza e obediência expressa sua adesão filial e plena ao desígnio do Pai (cf. Jo 10,30; 14,11).

Pela profissão dos conselhos evangélicos, a vida consagrada não só faz de Cristo o sentido da própria vida, mas preocupa-se por reproduzir em si mesma, na medida do possível, o jeito de ser e de viver de Cristo. Para viver os votos em maior liberdade, é necessário ter experimentado pelo menos uma vez ao longo da vida a força e alegria dos “beijos de Deus” para se decidir a assumir uma vida casta, obediente, pobre. Não

36 CONGREGAÇÃO para os Institutos de Vida Consagrada e as sociedades de vida apostólica. Um renovado compromisso da Vida Consagrada no terceiro milênio. 2002. 37 LONGO, Waldemar. Comunidade a caminho. Coleção communio. Porto Alegre, 1996. 38 Cf. Santas Normas 1908. 39 Cf. TOFFUL, Miguel. A alegria da radicalidade. Carta do Casante à Família calabriana. Coleção Communio 5. Porto Alegre. 2015. p. 67. 40 CALÁBRIA. Primeiras regras. 1908. 41 Cf. Doc. VIII Capítulo Geral. 42 Compendio Vaticano II. Constituição Dogmática LG. N. 43.

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há motivos humanos que possam explicar as loucuras do amor, da embriaguez do absoluto que exerce um fascínio todo particular no coração da criatura43.

Ser casto, pobre e obediente não é fruto de decisão humana, mas sim da sedução de Deus; é dom de Deus, é carisma: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7), exclama o profeta Jeremias, diante do chamado irrevogável de Deus que o quer como seu profeta no meio do povo rebelde. Assumir a castidade, a pobreza e a obediência é dom de Deus, é carisma.

A vida em castidade por causa do Reino dos céus: É sinal profético dos valores do reino eterno. É prenúncio do que será a eternidade. É abertura

incondicionada ao Amor; acolhida sincera de todas as amizades. Quem faz voto de castidade se compromete, diante de Deus e da Igreja, a ser criador incansável de amizade. Abre e dilata o seu coração a todos, mas inclina-se com um carinho todo especial e preferencial, sobre os corações abatidos; dá a mão àqueles que não têm mais lugar numa sociedade injusta e exploradora.

Quem vive o dom se der casto, não vê diante de si apenas um pequeno número de filhos gerados num amplexo humano, mas o número incontável de filhos e filhas gerados na fé. Ser casto é amar de forma indivisa; é estabelecer um relacionamento sincero, cheio de ternura e fecundidade.

A vida de pobreza:

Aqueles que professam o voto de pobreza imitando a pobreza de Cristo confessam-no como Filho que tudo recebe do Pai e no amor lhe devolve (cf. Jo 17,7.10). Pela pobreza, confessam que Deus é a única verdadeira riqueza do homem e da mulher. Vive segundo o exemplo de Cristo que, “sendo rico, se fez pobre” (2 Cor 8,9), tornam-se expressão do dom total de Si que as três pessoas divinas reciprocamente se fazem. A pobreza é dom que transborda para a criação e se manifesta plenamente na Encarnação do Verbo e na s ua morte redentora.

A pobreza exige maturidade afetiva, vigilância sobre nós mesmos, sobre os nossos pensamentos e desejos. Saber manter-se numa situação de liberdade sobre tudo o que possa nos escravizar. Para sermos sinais proféticos ao mundo o voto de pobreza deve deixar as mesas de reuniões e discussões comunitárias, os livros e teorias e passar a ser um sinal visível da relatividade das coisas e de que existe, na verdade, uma riqueza que “nem a ferrugem corrói e nem a traça come.” (Cf. Mt 6,19-21).

Pe. Calábria nos questiona: “Chamavas-te ‘pobre’, mas onde está o teu espírito de pobreza, se amaste sempre o teu comodismo e procuraste que nada te faltasse, queixando-te por qualquer mínima provação?44”

A obediência por amor: Aqueles que aderem, com o sacrifício da própria liberdade, ao ministério da obediência filial de Cristo

ao Pai, confessa-o infinitamente amado e amante, como Aquele que se compraz somente com a vontade do pai (cf. Jo 4,34), ao qual está perfeitamente unido e do qual depende em tudo. Pelo voto de obediência filial, a pessoa consagrada assume a forma de serva, como o Cristo que “despojou-se de si mesmo tomando a condição de servo (...), feito obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2,7-8).

Para nós, filhos (as) de São João Calábria, podemos ser sinais de profecia para a Igreja e o mundo, sobretudo nos tempos atuais onde se busca muitas formas individualistas de vida; tempos em que, mais do que nunca a liberdade é a grande bandeira hasteada sob a possibilidade de se fazer o que cada um bem entende, muitas vezes em detrimento de um bem comum. Para a concretização dessa missão, prcisamos revisitar o sentido do “Intuitu Operae”. Que significa olhar o bem da Obra, viver o “dispostos a tudo”. A “disponibilidade à vontade de Deus e à Obra significa que aceitamos não colocar em primeiro lugar os nossos planos, o nosso tempo e nem os nossos talentos e qualidades. Para quem responde ao chamado de Jesus e procura segui-lo como consagrado na Obra calabriana, o ‘dispostos a tudo’ é essencial para a vivência da própria vocação”45.

43 Cf. ROY, Ana. O beijo de Deus – provocação à Vida Religiosa. CRB Nacional. Brasília. 2010. 44 CALÁBRIA, São João. CR XXIV. 1940. 45 TOFFUL, Miguel. A alegria da radicalidade. Carta do Casante à Família calabriana. Coleção Communio 5. Porto Alegre. 2015. p. 67.

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Pe. Calábria nos questiona: “Chamas-te ‘servo’, mas qual foi o teu serviço? Por que aquelas oposições à obediência, aquelas críticas e fofocas procurando mandar em lugar de obedecer? Porque aquela falta de submissão numa atitude de dono mais do que de servo?”

Seremos profetas para o mundo mediante a vivência dos votos religiosos se vivermos a alegre

liberdade desse jeito singular de amar. Assim seremos encarnação do Cristo no coração do homem; da presença contínua de Maria Virgem, pobre, obediente que gera sem cessar a vida nova do Evangelho. E como ela portaremos ao mundo a fidelidade do amor de Deus para com seus filhos e filhas.

O amor e serviço aos pobres – ir aonde ninguém vai Um dos desejos mais profundos de São João Calábria foi expresso da seguinte forma: “Temos de ser

pobres com Jesus pobre: as nossas riquezas que ‘sejam escondidas no coração dos pobres’ como fazia o diácono São Lourenço; vamos aos mais pobres, aos mais pequenos, aos doentes, aos mais infelizes, que são tão queridos por Deus e nos quais Cristo quer ser reconhecido: eis nossa missão específica. Não aos grandes, e sim aos pequenos nos envia o Senhor”46.

O serviço evangélico47, especialmente aos mais pobres é, sem sombra de dúvida, anúncio e profecia; é tradução da radicalidade evangélica que todo cristão, e de modo muito particular nós pertencentes à Obra da Providência precisamos viver. Este serviço nasce da profundidade do coração e são expressões da compaixão, do cuidado e da gratuidade.

Pe. Miguel, nosso Casante nos questiona: “quais são as minhas reações internas e minhas atitudes externas diante do pobre e das pessoas sofredoras que encontro em meu caminho?48” Se somos enviados aos mais pobres, àqueles que ninguém quer ir, devemos ser voz dos que não tem vós. Precisamos, quem sabe, mudar inclusive algumas atitudes que não condizem com essa missão: acomodação, aburguesamento, egoísmo, acúmulo de bens. Nós que somos enviados aos últimos e prometemos pelo conselho evangélico da pobreza, dar tudo ao Senhor e aos irmãos, será que não estamos reservando parte para satisfazer nossas necessidades geradas por nós mesmos por uma mentalidade consumista? Por exemplo, o que faço com o salário que recebo? O que faço com a aposentadoria, com a contribuição pelo ministério ou com os bens que disponho?

Quanto mais tiver espírito de acúmulo, mais distanciamento terei daqueles que mais precisam. Maior será o fechamento e menor a disposição em verdadeiramente servir.

Encontro com a Palavra (Escolha um dos textos que segue para a lectio Divina)

1- Lc 24,13-35: Da desilusão ao reencontro do sentido da comunidade e da missão Pistas de reflexão: A comunidade que nasce da Páscoa torna-se uma comunidade confiante e confiável, guardiã da

memória do ressuscitado e profecia do futuro. Esta comunidade vive a fraternidade pascal, que se torna sacramento do Reino de Deus no mundo, é anúncio alegre do Evangelho49.

Comunidade é lugar do perdão e da partilha e da festa50, do espaço de experiências que fundam a existência. Será que não perdemos o entusiasmo (en-theos-asmos). Será que não vivemos mais com a “alegria divina”, encontramo-nos em crise de sentido da vida comunitária, como os discípulos de Emaús

46 CALÁBRIA, São João. CR XXIV. 1940. 47 Cf. TOFFUL, Miguel. A alegria da radicalidade. Carta do Casante à Família calabriana. Coleção Communio 5. Porto Alegre. 2015. p. 69. 48 Idem. 49 Cf. TOFFUL, Miguel. A alegria da radicalidade. Carta do Casante à Família calabriana. Coleção Communio 5. Porto Alegre. 2015. p. 66. 50 Cf. VANIER, Jean. Comunidade lugar do perdão e da festa. Paulinas. São Paulo. 1983.

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andamos desorientados, fragmentados (divididos); incapazes de ver além do próprio nariz ao ponto de “a cegueira impedir de ver os sinais da presença do ressuscitado que caminha conosco e nos acompanha? 51”

A mesa da Palavra e a mesa da Eucarística são “lugares”, são momentos que nos fortalecem, até mesmo em situações de conflito, desânimo e dúvida, e orientam para o retorno à comunidade. O pão e a palavra são duas realidades fundantes da missão – fonte de toda missão; fonte de renovação e de entusiasmo para o “retorno” à comunidade. O verdadeiro sentido da vida cristã não se encontra fora, na estrada, mas, dentro, em casa, em torno da mesa. Afinal, os olhos não se abrem ao partir do pão? 52

Os discípulos de Emaús não resistem aos sofrimentos, dificuldades e preferem “pedir demissão”. Será que nós não estamos vivendo camuflados “desquites” ou divórcios na vida comunitária? Explico-me: será que ao invés de, com humildade buscarmos solucionar os conflitos, as dificuldades nas relações com os coirmãos – não preferimos mudar de comunidade? Será que “até que a morte nos separe” não caberia também a nós religiosos consagrados no que tange a nossa vida em comum?

2- Jo 13, 1-16: O lava-pés - experiência de vida fraterna e de serviço Pistas de reflexão:

O evangelho de João começa a narrativa da última ceia com estas palavras: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Durante a ceia...” (Jo 13,1-2). Nestas palavras encontramos o cerne dos acontecimentos que haviam de seguir. O que movia Jesus a cumprir a “sua hora” era o amor. Amor serviço, doação plena. O Evangelista Lucas narra os profundos sentimentos de Cristo nesta hora; “Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco antes de sofrer (...)” (Cf. Lc 22,14-16). Jesus está com o círculo de seus discípulos e discípulas mais íntimos, mais comprometidos com ele. E quer deixar-lhes seu testamento.

O Evangelho de São João continua dizendo: “Jesus, sabendo que o Pai tudo colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois coloca água na bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a toalha com que estava cingido”(Jo 13,3-5). Este gesto de extrema humildade de Jesus, de plena liberdade e amor aos seus discípulos e discípulas é a expressão visível de seu testamento. Quer que seus discípulos e discípulas amem-se uns aos outros e façam o Mesmo: “Compreendeis o que voz fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais”. (Jo 13,12-17).

Nesse contexto de humildade Jesus mostra na prática as suas palavras: “Eu não vim para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28; Fl 2,6-8). Este é o ensinamento que Jesus faz a seus discípulos e discípulas: “Quem quer ser o maior, seja o servo de todos” (Mt 21,26).

3- Jo 11, 1-10: Betânia: a vida em comunhão, nossa primeira missão Pistas de reflexão:

Diversos são os significados de Betânia é “casa do pobre”, “casa das fontes”, “casa das tâmaras”, “casa da dor”. Betânia, a três quilômetros de Jerusalém, é um pequeno vilarejo onde moravam os amigos de Jesus: Lázaro, Marta e Maria. Jesus os visitava frequentemente. Era uma casa acolhedora e fraternal. Segundo o evangelista, Jesus “amava Marta e sua irmã e Lázaro”(Jo 11,5). Era uma família amiga de Jesus. Sempre que ia a Jerusalém, Jesus costumava hospedar-se e retirar-se com seus discípulos nessa casa: “Entrou em Jerusalém e tendo observado tudo, como já fosse tarde, saiu para Betânia com os Doze” (Mc 11,11).

A missão cristã brota do mistério pascal. É a dimensão qualitativa de toda a vida eclesial. E a vida consagrada representa uma realização específica da missão da Igreja. Neste sentido, as pessoas chamadas à vida religiosa consagrada são chamadas a ser testemunhas de Cristo no mundo. Por isso, a missionariedade está inscrita no coração mesmo de toda a vida consagrada.

A pessoa consagrada coopera com a missão de Jesus (Cf. Jo 20,21) quando dedica sua vida de forma exclusiva ao Pai (Cf. Lc 24,29,49; Jo 4,34), quando se deixa cativar por Cristo (Cf. Jo 15,16; Gl 1,15-16) e quando se deixa animar pelo Espírito Santo (Cf. Lc 24,49; At 1,8;2,4). 51 LONGO, Waldemar. Comunidade a caminho. Coleção communio. Porto Alegre, 1996. 52 Cf. Idem.

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A peculiaridade da espiritualidade da nossa vida comunitária e fraterna pode se inspirar na experiência de Jesus em Betânia. Nossas comunidades, como “casa da amizade” e sinal de comunhão e fraternidade e a vida de comunhão é nosso primeiro apostolado. “Betânia” é o centro inspirador onde convivem os irmãos com o hospede: o Mestre Jesus. Nesse ambiente é que inspira e se cultiva a caridade, como virtude mãe e de onde procede nosso apostolado. Como verdadeiramente amar os pobres se não nos amamos uns aos outros?

A missão evangelizadora fundamenta-se na vida fraterna em comunidade e é esta que dá credibilidade à mensagem anunciada. Lembremo-nos do que nos disse Jesus: “Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uma para com os outros” (Jo 13,35). Portanto, a vida fraterna na identidade calabriana é tão importante quanto a ação apostólica. A vida em comunidade, vivida na adesão constante ao Senhor, no amor como “edifício de santificação” é vida em missão. Missão esta que se fundamenta no ideal pedagógico:

A missão é consequência de uma atitude de seguimento. Por isso, precisamos ter sempre presente que antes do anúncio, vem o discipulado. Antes das palavras, vem o exemplo. Antes do apostolado vem “Estar com ele”, na casa da amizade, em nossas comunidades: “Antes de tudo amando-nos como irmãos e como tais, ajudando-nos sobretudo na vida espiritual”53.

4- Lc 10,38-42: Marta e Maria – intimidade e serviço ao Senhor e aos irmãos Pistas de reflexão: Nossas comunidades são espaços teologais de partilha de vida no cotidiano; são lugares privilegiados

para acontecer a experiência de Deus. Devem caracterizar-se como lugares de acolhida, simplicidade, sensibilidade, caridade, oração, silêncio interior e exterior, ambiente de amor e cuidado. Nossas comunidades deveriam ser nosso primeiro espaço de vida e ação pastoral.

São João Calábria nos deixou como legado uma espiritualidade de escuta, de obediência e de adesão à Palavra que deve ser vivida pessoal e comunitariamente. É em nossas comunidades que Jesus ensina um modo de ser e de agir, voltado para o “único necessário”.

Lucas, em seu evangelho, registra as atitudes das duas irmãs, em relação a seu amigo, seu hóspede, Jesus. Marta recebe o Mestre e quer oferecer-lhe hospitalidade digna. Por isso, preocupa-se para que não falte nada. Pela ansiedade de servir bem, mostra-se eficiente. Com espírito afoito e preocupação excessiva, acaba invertendo o sentido das coisas: ao invés de colocar-se à escuta de Jesus, o censura reclamando da irmã: “manda que ela venha ajudar-me”.

A reclamação se deu porque, sua irmã, logo que Jesus chegou, colocou-se aos seus pés e pôs-se a escutá-lo. Queria alimentar-se de sua Palavra, de sua presença, numa atitude de quem honra o hóspede como Mestre. Maria o reconhece como tal. Por isso, Jesus responde à reclamação de Marta dizendo que sua irmã escolhendo parar, sentar-se, concedeu a si mesma um tempo interior, a “melhor parte”. A escolha de Maria consiste em olhar na direção d’Ele.

Assumir a atitude de Marta, sem deixar as atitudes Maria, eis o contraponto. Marta e Maria são como dois olhos de um mesmo olhar, ambas olhando na direção do Senhor. O desafio é de criar uma cultura da interioridade cuja centralidade é a Pessoa de Jesus Cristo, que possibilita viver com olhar conte mplativo sem deixar de servir na generosidade e na alegria.

Outros textos de apoio:

- Procuremos desenvolver, em cada circunstância concreta “a vida escondida com Cristo em Deus” (Cl

3,3; Gl 2,20) - Os Conselhos evangélicos:

- Castidade: Ap 2,1-5; Is 43,4-5; Jr 31,3 - Pobreza: Textos de apoio: Fl 2,6-11; Lc 14,25-33; Cr 2,8-9; Mc 10,17-27 - Obediência: 1 Sm 15,22; Mc 9,30-37; Fl 2,8; Jo 4,34

53 Santas Regras 1908.

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Oração: Leia novamente o texto escolhido e deixa o coração falar: - O que o texto me faz dizer a Deus? Qual o anseio que brota do meu coração? - Reze sem pressa a oração que segue (ou outra oração à escolha)

FAÇA-SE A TUA VONTADE54 Meu Senhor e meu Deus, faça-se, faça-se sempre a tua vontade! Na alegria e na dor, na consolação e na tristeza, na saúde e na doença, quando me colocas no topo da honra e reconhecimento, e quando me jogas na humilhação e no abandono, faça-se, faça-se sempre a tua vontade! Faça-se atua vontade, meu Senhor e mau Deus, quando me concedes a serenidade e a paz de espirito, e quando o tédio e tristeza amarga me envolvem a tal ponto de não me deixar vislumbrar nem mesmo um pedacinho do céu sereno. Faça-se a tua vontade, quando pões ao meu lado a pessoa amiga, que me compreende, que me consola e me guia a ti, e faça-se a tua vontade, quando a arrancas do meu lado, deixando-me sozinho, contigo somente. Faça-se a tua vontade, meu Senhor e meu Deus, quando a luz das tuas inspirações ilumina a minha mente e inebria o meu coração de suave doçura, e quando, insensível e mudo, não sinto nada e não compreendo nada e estou triste e desolado. Faça-se a tua vontade, quando as paixões calam, e gozo a alegria da divina presença, e quando essas se levantam ameaçadoras na minha alma, fazendo-me temer grandes caídas. Oh! meu Senhor e meu Deus, também, então, seja feita a tua vontade. Faça-se a tua vontade, quando sinto um novo vigor percorrer pelas minhas fibras, e saboreio a esperança de poder ainda trabalhar por muito tempo para atua glória, pelo bem das almas e pela minha salvação, e seja feita a tua vontade, mesmo quando me sinto enfraquecido e cansado e prevejo próximo o meu fim. Faça-se a tua vontade, quando o caminho do dever se apresenta fácil e plano, e quando me aparece íngreme e cheio de espinhos. Faça-se a tua vontade, meu Senhor e meu Deus, quando a obediência, a mim se apresenta como a maior consolação e o mais doce descanso, e quando o espírito do mal me atenta à rebeldia. Faça-se a tua vontade, meu Jesus e meu Deus. Faça-se a tua vontade, quando me vejo cercado de muitos amigos, alegres e satisfeitos, que me amam, encorajando-me na difícil subida, e quando vejo neles a indiferença, o descontentamento, o desprezo que me congela, paralisando as minhas melhores energias e potencialidades. Faça-se a tua vontade, meu Senhor e meu Deus, quando me fazes sentir daquele que te representa a palavra suave e luminosa que desce como bálsamo sobre minhas feridas, e quando queres que eu me sinta incompreendido e olhe ao céu, exclamando com abandona: “Tu somente, meu Jesus, meu Deus!” Faça-se a tua vontade, quando concedes ao meu pobre corpo o descanso necessário que restaura as minhas forças e refaz o meu espírito, e quando, por longas horas de penosa insônia, me queres no Getsêmani para substituir os apóstolos adormecidos e cansados, e eu, acordado contigo, repetindo submissamente o meu doloroso, mas resignado “faça-se”, junto com meu bom Jesus agonizante, entre os ramos da paz.

54 CALÁBRIA, São João.

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Sim, meu Senhor e meu Deus, faça-se, sempre faça-se a tua vontade, até quando me for dado repetir, unido a ti num abraço eterno, o faça-se perene, que tocas à misericordiosíssima e augusta Tríade, honra e glória por todos os séculos dos séculos. Assim seja. Faça-se! Faça-se a tua vontade!

Contemplação - Que novo olhar essa experiência produz em mim? - Retorne a alguma palavra, a algum texto bíblico e coloca-te por inteiro nesse contexto e

peça a graça de viver a radicalidade do Evangelho e a missão profética da espiritualidade calabriana. O que é essencial registrar? - Após a experiência de oração tomo consciência de que... - Estratégias/compromissos para minha vida de comunidade e missão: - Palavra ou frase inspiradora:.....