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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CI˚NCIAS HUMANAS E SOCIAIS- FHS CURSO DE PSICOLOGIA Aline Maria Batista Albino AndrØia Figueiredo de Andrade OFICINAS DE DIN´MICAS DE GRUPOS NO PROGRAMA GERENCIAMENTO DE CRNICOS CASA UNIMED: um relato de experiŒncia Governador Valadares 2008

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS- FHS

CURSO DE PSICOLOGIA

Aline Maria Batista Albino

Andréia Figueiredo de Andrade

OFICINAS DE DINÂMICAS DE GRUPOS NO PROGRAMA

GERENCIAMENTO DE CRÔNICOS CASA UNIMED: um relato de

experiência

Governador Valadares

2008

Oficinas de dinâmicas de grupos no Programa Gerenciamento de Crônicos Casa

Unimed: um relato de experiência Aline Maria Batista Albino, Andréia Figueiredo de Andrade, Solange Nunes Leite Batista Coelho.

Universidade do Vale do Rio Doce

RESUMO: A história individual, o significado atribuído ao corpo e à vida, o tipo de doença, as causas, conseqüências, o apoio recebido, prognóstico, e outros fatores intervêm na adesão e tratamento de pacientes crônicos. Agravos à saúde sem perspectiva de recuperação completa, causadores de dores, restrições, limitações, constrangimentos e até incapacidade geram reações psicológicas como ansiedade e síndrome depressiva. Esses fatores são complicadores para a estabilização de patologias como a Hipertensão Arterial e a Diabetes Mellitus que dependem de mudanças por vezes radicais no estilo de vida, assim como bem estar psicossocial.. O presente trabalho teve como objetivo relatar e refletir sobre a experiência vivida por estagiárias de Psicologia como monitoras de oficinas de dinâmicas de grupos aplicadas às pessoas portadoras de hipertensão e diabetes com sintomas de depressão de leve a greve, atendidas pelo projeto de gerenciamento de crônicos do Programa Casa Unimed em Governador Valadares.

PALAVRAS CHAVE: Doença Crônica; Depressão; Oficinas.

ABSTRACT: The Individual story, the meaning of the body and the life, the kind of disease, the causes, consequences, the support received, prognosis, and others factors intervene on the adhesion and treatment of cronic patients. Health aggravates without perspective of complete recuperation, causing pains, restrictions, limitations, embarrassments and until incapacity create psychological reactions as anxiety and depressing syndrome, frequently associate with conditions of the development of cronic diseases. Those factors are complicated with the stabilization of pathologies as Hypertension Arterial and the Diabetes Mellitus that depend on changes occasionally radical in lifestyle. This task search relate and reflect the experience of Psychology trainee as monitors of dynamics workshop group applied people carrier hypertension and diabetes with depression symptoms from light to severe degree, heeded on cronic management project of Casa Unimed program in Governador Valadares.

KEY WORDS: Cronic disease; Depression; Workshop.

Oficina de dinâmicas de grupos no Programa Gerenciamento de Crônicos Casa Unimed: um relato de experiência

A prática de cuidado em saúde até a década de 70 no Brasil, focada no modelo curativo,

realizava intervenções pós-diagnósticos. Atualmente, com o conceito de saúde de 1958, �saúde

como o completo bem-estar físico, mental e social e não somente como ausência de doença�,

considera-se a necessidade de ampliar seu cuidado para o campo psicossocial, tornando-o integral,

planejando as intervenções em fatores de risco, evitando adoecimento crônico.

(DALGALARRONDO, 2000; TAVARES & SEBASTINI, 1996).

Segundo dados do IBGE � Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2004 a

população brasileira ultrapassou os 180 milhões de pessoas. Com este aumento, o desenvolvimento

tecnológico na saúde e com a melhoria na qualidade de vida, observa-se o aumento na expectativa

de vida. Em contrapartida, pesquisa do IBGE revela que em 2003, 52,6 milhões de pessoas foram

acometidas por doenças crônicas, sendo as mais comuns: Diabetes, Hipertensão, Câncer, Distúrbios

Ortopédicos e Reumatismo. (IBGE, 2004).

Zozaya (1985) apud Santos & Sebastini (1996) definem doença crônica como estado

patológico gerador de incapacidade residual, alteração irreversível de alguns órgãos, com

necessidade de reabilitação.

O presente artigo visa apresentar e refletir sobre a aplicação do método de intervenção

psicossocial proposto por Afonso (2003) em grupo de pessoas que desenvolveram patologias

crônicas como a Hipertensão Arterial e a Diabetes Mellitus participantes do projeto gerenciamento

de crônicos do programa Casa Unimed em Governador Valadares. Para tanto revisam-se os

aspectos biopsicossociais do adoecimento crônico em Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus.

Caracteriza-se o programa Casa Unimed. Em seguida, descreve-se o trabalho desenvolvido. Por fim

realiza-se uma reflexão sobre os resultados obtidos.

Embora seja possível observar na mídia estímulos a aquisição de hábitos de vida saudáveis,

as condições sociais e culturais em que vivem a maior parte da população brasileira desfavorecem a

qualidade de vida necessária para a saúde. Diante da ideologia política e econômica Neoliberal que

valoriza um perfil de cidadão competitivo, autônomo, estressado, independente, que busca o prazer

de forma incessante, na dimensão do excesso, constata-se uma abertura para o aumento das doenças

crônicas, consideradas as doenças da era moderna ou pós-moderna, sendo causa de 80% das

consultas médicas no país. (CAMPOS, 1992; MELMAN, 2003; CAMPOS, 1992; MENESES,

2003; ROMANO, 2001).

Constituindo um dos principais problemas de relevância social e econômica para a

sociedade, as doenças crônicas mudaram a atenção à saúde no mundo. Obtido controle de diversas

doenças infecto-contagiosas, o desafio atual constitui-se em garantir a adesão ao tratamento do

portador de condições crônicas prevenindo a incapacidade e o óbito. (BRASIL, 2007).

Segundo (FIGUEIREDO, 2002) o processo evolutivo das doenças crônicas se divide em

fases. A fase pré-trajetória é o período onde há maior susceptibilidade a desenvolver a doença por

fatores genéticos ou estilo de vida. Denomina-se fase trajetória quando há sintomas ou

incapacidade, diante do diagnóstico. A fase da estabilidade ocorre quando a doença se mantém

controlada. Quando ocorrem sintomas incontroláveis e as complicações são freqüentes, denomina-

se fase instável. Na fase aguda os sintomas são mais graves e surgem subitamente. Classifica-se

como momento de crise a fase crítica com risco iminente de morte, exigindo tratamento de

urgência. É caracterizada uma fase de retrocesso quando há uma estabilização da patologia após um

período agudo, envolve aprender a conviver/superar as incapacidades. Considera-se a fase de

declínio quando os sintomas agravam e ocorre incapacitação. E, finalmente a fase terminal na qual

há redução dos processos vitais, normalmente irreversível, é a fase antecedente ao óbito.

As doenças crônicas, segundo Marcelino et all, (2005), Mello Filho (2000) e Menezes

(2003) possuem características peculiares, no entanto podemos perceber a fadiga e a dor como

sintomas comuns a todas elas. As reações psicológicas mais comuns são: choque, raiva, depressão,

sentimento de inferioridade, medo, ansiedade, tentativa de auto-extermínio e ressentimento que se

intensificam à medida que os sintomas se agravam.

Nesse sentido, para enfrentá-las o sujeito precisará desenvolver recursos de enfrentamento

apoiado na rede social para: aliviar e controlar sintomas, evitar as incapacitações e crises, perceber

períodos estáveis e instáveis e normalizar a vida pessoal e familiar. (SMITH e NICASSIO 1995

apud MENEZES, 2003).

A síndrome da depressão se torna muito presente em pacientes crônicos, freqüentemente

usada como reação a uma condição maléfica. Alguns fatores influenciam nessa reação, tais como:

idade da constatação do mal, grau de incapacitação, percepção do paciente sobre sua imagem

corporal e alterações que são percebidas pela especificidade de cada doença. (ALMEIDA et al.,

2006; ROMANO, 2001).

Dalgalarrondo (2000) compreende que nas síndromes depressivas, além da afetividade, está

comprometida a volição e a psicomotricidade. Seus sintomas são relacionados a perdas

significativas. Distinguem-se em: episódio ou fase depressiva e transtorno depressivo recorrente;

distimia; depressão atípica; depressão tipo melancólica ou endógena; depressão psicótica; estupor

depressivo; depressão agitada ou ansiosa e depressão secundária. (DALGALARRONDO, 2000;

ISMAEL, 2005).

Para o diagnóstico há que se considerar tempo de duração de pelo menos duas semanas e

intensidade dos sintomas. O sujeito apresenta humor depressivo, desinteresse e desprazer em

atividades, redução de energia, aumento de fatigabilidade inversamente proporcional à diminuição

das atividades, concentração, auto-estima e autoconfiança reduzidas, culpabilidade e inutilidade,

visões pessimistas do futuro, idéias ou atos autolesivos ou suicídio, sono perturbado, inapetência.

(DALGALARRONDO, 2000; ISMAEL, 2005).

Diante disso a intervenção em psicologia com paciente crônico torna-se importante pela

escuta diferenciada desse profissional que cria condições para que o indivíduo assuma a posição de

sujeito do desejo de viver e viver bem, favorecendo a expressão de idéias e afetos e conseqüente

resolução dos conflitos psíquicos que refletem nas relações sociais causando o adoecimento. O

acompanhamento psicológico pretende motivar para o autocuidado, e adaptação às novas

condições.

O Programa Casa Unimed

O objetivo do Programa Casa Unimed, implantado em 2005 é desenvolver projetos para

gerenciamento da assistência à saúde integral aos clientes da Unimed Governador Valadares que

desenvolveram patologias crônicas, com objetivos específicos de promover assistência humanizada;

aperfeiçoar recursos diagnósticos; criar condições para estabilização do quadro clínico dos

pacientes; reduzir internações hospitalares e melhorar a qualidade dos serviços prestados pela

operadora. Sua equipe é composta por um coordenador (médico) e uma gerente (assistente social),

dois funcionários de serviços gerais e equipes técnicas de psicologia, nutrição, fisioterapia,

enfermagem e terapia ocupacional. No projeto de Apoio Domiciliar a equipe é composta por

médicos, psicóloga, fisioterapeutas, enfermeiras, nutricionista e terapeuta ocupacional. O Projeto

Visita Hospitalar conta com o Serviço Social. Os critérios de inserção para participar do programa

são: clientes da Unimed Governador, com patologias crônicas ou casos especiais que demandam

risco de elevação de tratamento, com intuito de promover qualidade de vida para estes e reduzir

custos da operadora, frequentemente os clientes que apresentam esse perfil são encaminhados por

médicos ou captados em visita hospitalar. São submetidos a uma entrevista com a Assistente Social

do programa, e assim que uma vaga é disponibilizada mediante desligamento de outro paciente por

motivo de óbito, falta de adesão à proposta do atendimento, cancelamento do plano de saúde, ou

mudança de cidade, o novo paciente é incluso. Inicialmente é marcada uma consulta com uma das

enfermeiras que passa a encaminhá-lo aos outros profissionais da Casa Unimed, de acordo com sua

demanda. Os projetos da Casa Unimed são:

Projeto Visita Hospitalar: Oferece visita hospitalar aos pacientes internados nos

hospitais credenciados da Unimed Governador Valadares, com objetivo de identificar pacientes

com perfil para participar dos projetos oferecidos pela Casa Unimed. Avalia a necessidade de

permanência dos pacientes em ambiente hospitalar e qualidade dos serviços prestados.

Projeto Gerenciamento de pacientes crônicos: oferece acompanhamento

interdisciplinar aos clientes da Unimed Governador Valadares com Hipertensão Arterial e Diabetes

Mellitus, por meio de atividades desenvolvidas visando estabilização clínica de suas patologias de

base, assistência às demais necessidades e promoção de qualidade de vida. São realizados

atendimentos individuais, aferição da glicemia capilar de jejum e pós prandial, aferição da pressão

arterial, atividades físicas, palestras com profissionais do Programa e convidados. São oferecidas

também, aulas de canto. Ainda com sessões semanais são oferecidas oficinas de dinâmicas de grupo

para mulheres que fazem psicoterapia e apresentam sintomas depressivos associados à condição

crônica. Há também grupo com orientação nutricional, especialmente para os pacientes que

apresentam sobrepeso. Além disso, são oferecidas aos pacientes com quadro de distúrbio

neurológico e/ou cognitivo, atividades em grupos de terapia ocupacional.

Projeto Apoio Domiciliar: Oferece assistência permanente a pacientes acamados.

Viabiliza retorno ao ambiente familiar e conseqüente qualidade de vida para o paciente, com

repercussão final em redução de custos assistenciais para a cooperativa.

Projeto Bebê Feliz: É oferecido às gestantes atividades físicas, além de um curso

básico, ministrado por toda a equipe. O projeto inclui visita da enfermeira do Programa em

domicílio objetivando o incentivo à amamentação.

Compreendendo a Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus

A Hipertensão Arterial é uma doença crônica que atinge aproximadamente 35% da

população, totalizando 17 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística � IBGE

(2004). Tem etiologia multifatorial e geralmente atinge pessoas entre 40 e 60 anos independente do

nível social, no entanto, estão no grupo de risco pessoas que fazem uso abusivo de derivado etílico,

com antecedentes familiares, com sobrepeso e que não possuem alimentação balanceada, com

dificuldade para expressar emoções, expostas a situações de estresse contínuas e com diabetes.

(CAMPOS, 1992; STRAUB, 2005).

A situação de Hipertensão Arterial é diagnosticada quando a pressão que o sangue

produz na parede das artérias para movimentar-se é muito forte, a sistólica é igual ou maior a

140mmHG e a pressão que o sangue faz para bombear o sangue, a diastólica for maior que 90

mmHg durante um certo período.Essa condição pode prejudicar os vasos e causar arteriosclerose,

ou seja, endurecimento e espessamento das paredes das artérias. (FIGUEIREDO, 2002; STRAUB,

2005).

Instalando-se de maneira assintomática na maioria dos casos, a Hipertensão é dividida

em primária (90 a 95%) sem causa determinada e secundária (5% a 10%) com causa específica,

como exemplo: arteriosclerose, alguns fármacos, gestação, doença parenquimatosa renal, e

coarctação da aorta. (FIGUEIREDO, 2002).

Observam-se aspectos psicológicos e comportamentais comuns a pessoas que

desenvolvem a Hipertensão. Embora demonstrem aparente adaptação a situações cotidianas,

tranqüilidade e complacência, em geral apresentam inabilidade na expressão dos sentimentos.

Reagem a conflitos interpessoais de forma artificial e superficial. (RIBEIRO et al,1998; RUIZ,

1994).

Segundo Zanella (2006), quando condições clínicas como Hipertensão Arterial e

Diabetes Melitus se associam, aumenta o risco cardiovascular. Para a Sociedade Brasileira de

Diabetes conhecer o número de portadores de diabetes é importante ferramenta para elaborar

estratégias de atuação e planejamento de ações para enfrentar o problema. Dados do órgão admitem

que no Brasil o total de diabéticos estimado gira em torno de 4,6 milhões de pessoas. Em 2.030, a

previsão é de que o nosso país alcance 11,3 milhões de diabéticos subindo para o sexto lugar da

lista entre países com maior incidência no mundo. (NETTO, 2008). Esse aumento ocorre devido à

urbanização que leva ao sedentarismo e acesso a alimentos industrializados, com altos índices de

gordura favorecendo o aumento de peso. (ZAGURY, 2004).

A Diabetes Mellitus é uma doença que desenvolve a elevação dos níveis de glicose no

sangue. A taxa normal é de 60 a 110mg /dl. (NETTO, 2008). Existem dois tipos de Diabetes de

acordo com a etiologia, evolução clínica e tratamento e uma forma temporária denominada Diabetes

Gestacional. A Diabetes Mellitus tipo I, chamada de Diabetes Juvenil ou Diabetes Dependente de

insulina aparece na infância, ou adolescência. É uma doença auto-imune na qual o sistema

imunológico ataca a célula beta pancreática, responsável pela produção de insulina e glucagon.

Nesse caso a aplicação de insulina é necessária para controlar níveis sanguíneos de glicose.

(STRAUB, 2005; FIGUEIREDO, 2002).

Quando sua manifestação aparece após a idade de 30 anos, denomina-se Diabetes Tipo

II, Diabetes Adulto ou Diabetes Mellitus Não-Dependente de insulina que é uma forma mais

moderada da doença, encontrada em mais de 90% dos casos. Trata-se da resistência ou

insensibilidade à insulina. (STRAUB, 2005; FIGUEIREDO, 2002).

A pessoa diabética apresenta alguns sintomas como: excesso de urina (poliúria) e sede

(polidipsia), apetite aumentado (polifagia) e, em alguns casos, emagrecimento, além de sonolência,

dores generalizadas, dormências, dores nas pernas e formigamento, desânimo e indisposição, visão

turva, cansaço mental. (MARCELINO et al, 2005).

Nos episódios hiperglicêmicos (nível elevado de açúcar no sangue, até 200 mg/dl), e/ou

hipoglicêmicos (nível muito baixo de açúcar no sangue, 40 a 60 ou menos mg/dl) as complicações

elevam seus riscos, podendo desencadear o aparecimento de doenças cardiovasculares e

arteriosclerose, nefropatias, retinopatia diabética, câncer do pâncreas, lesões no sistema nervoso,

redução da sensibilidade para dores nas extremidades. Em casos graves pode ocorrer amputação dos

dedos dos pés ou até dos próprios membros inferiores. (NETTO, 2008, STRAUB, 2005;

ZANELLA 2006).

De acordo com Marcelino (2005) é preciso estimular o paciente a fazer atividade física e

buscar bem-estar psicológico, aspectos estes com influência direta sobre o curso da doença crônica.

É importante capacitar diabéticos para que possam participar ativamente das decisões em seu

projeto terapêutico, resultando em benefícios, tais como: maior percepção de controle e autonomia

no tratamento, melhor comunicação entre equipe e paciente, maior confiança nas prescrições e

adesão ao tratamento. (STRAUB, 2005).

Oficinas de Dinâmica de Grupo Aplicadas à Saúde

Vários profissionais devem estar envolvidos nos programas de prevenção e controle das

doenças crônicas, completando as equipes de saúde. Busca-se na formação de grupos uma

modalidade de atendimento integral para análise de diversos fatores ligados ao adoecimento, assim

como recursos disponíveis a serem desenvolvidos para o enfrentamento. (CARVALHO, 2004).

Podendo ser aplicadas à comunidades, instituições, escolas, e programas de saúde, a

oficina de dinâmica de grupo é um método de intervenção psicossocial aplicado aos pacientes na

rede do processo grupal, com componente terapêutico resultando em uma melhor qualidade de vida.

São estruturadas com grupos, focalizada em torno da demanda que este se propõe a elaborar em um

contexto social. Podem ser utilizadas na área da saúde, educação e ações comunitárias. (AFONSO,

2002).

As oficinas buscam proporcionar elaboração e envolvem os sujeitos de forma integral.

Estruturada de maneira a incluir momentos de sensibilização, a oficina trabalha a associação da

informação à experiência de cada participante. (AFONSO et al, 2003).

A oficina é preparada em quatro momentos: demanda, pré-análise, foco e enquadre e

planejamento. A análise da demanda é um ponto complexo, exige percepção de características

individuais implícitas de pessoas de diversos padrões culturais para compor o processo grupal.

(ENRIQUEZ, 1997 apud AFONSO, 2002).

A pré-análise se dedica ao estudo dos participantes envolvidos, com coleta de dados e

informações precisas, aspectos importantes da problemática escolhida a ser trabalhada e os vários

âmbitos para abordar a questão. (AFONSO, 2002).

O foco e enquadre são a estrutura do trabalho. O foco é o tema geral da oficina que

deverá ter uma ligação direta com o cotidiano do grupo. O enquadre é responsável pelo número e

tipo de participantes, bem como, local de realização e número dos encontros. (AFONSO, 2002).

O planejamento flexível trabalha a preparação de cada encontro, tarefa do coordenador,

pode ser global quando todos os encontros são determinados antes do inicio das atividades ou

flexível quando os encontros são planejados gradativamente de acordo com sessão anterior.

(AFONSO, 2002).

A fase da oficina propriamente dita começa no primeiro encontro do grupo. Nessa etapa

é importante estabelecer um contrato e outros aspectos considerados relevantes pelo coordenador. O

número de encontros de cada oficina frequentemente é definido no planejamento global. (AFONSO,

2002).

O processo grupal se concretiza no presente, com isso se entendendo que tudo que é

trazido pelo grupo é apropriado de forma a se articular ao processo grupal e receber re-significação.

O trabalho com grupo visa tornar conscientes elementos que foram recalcados. As experiências e

conceitos são reinventados, repensados, para propor idéias e práticas promotoras de saúde e bem-

estar. (AFONSO, et al, 2003).

A manutenção das oficinas através de atitudes de acolhimento das necessidades,

interesses e sentimentos que os participantes apresentam pode ser desenvolvida através de recursos

simples sendo de grande proveito para a própria equipe de saúde. São espaços que possibilitam

organização dos indivíduos, na busca por mais autonomia no cuidado e tratamento destas

enfermidades; diz respeito à instrumentalização dos indivíduos para melhorar a sua qualidade de

vida, como também a ações voltadas para o exercício de cidadania. (CARVALHO, 2004).

As oficinas de dinâmica de grupo com Hipertensos e Diabéticos do Programa Casa

Unimed.

Conforme já apresentado em seguida serão descritas as sessões de oficinas de dinâmica

de grupo desenvolvidas pela equipe de Psicologia do programa Casa Unimed com participação das

estagiárias que propõem esta reflexão.

Enquanto atividade do Projeto Gerenciamento de Crônicos foram realizadas 14 sessões

de dinâmica de grupo no período de 28/05/2008 à 27/08/2008 com 16 mulheres com idade entre 60

e 77 anos, sendo todas hipertensas e quatro diabéticas. As participantes são associadas ao Plano de

Saúde gerenciado pela Cooperativa Médica � Unimed. O grupo foi constituído por mulheres

cadastradas como hipertensas e/ou diabéticas no programa Casa Unimed que aceitaram o convite

para participar desta atividade oferecida pelo projeto gerenciamento de crônicos na perspectiva de

garantir cuidado integral em saúde.

No primeiro encontro compareceram às Oficinas de Dinâmica de Grupos quinze

pessoas. A proposta da atividade foi apresentar ao grupo as regras do trabalho. A técnica de

apresentação aplicada consistiu em oferecer às participantes um rolo de barbante que deveria ser

passado entre elas a medida que se apresentassem de modo que formasse uma teia. A atividade

permitiu um breve relato sobre suas histórias de vida e considerações feitas pelas coordenadoras

sobre a importância da vinculação do grupo para o bom desenvolvimento do trabalho proposto. Em

seguida foi aplicada a Escala de Depressão Geriátrica (GDS) para avaliar a prevalência de

depressão e um questionário levantando as expectativas. As participantes relataram emitir

comportamentos centralizadores, controladores com dedicação intensiva ao cuidado do outro.

Algumas verbalizaram comportamentos autoritários e outras, submissos. Expuseram sentimentos de

solidão, angústia e ideação suicida ocasionadas por vivência de perdas reais ou simbólicas. Em

relação às oficinas concomitantemente expressaram satisfação pelo convite. A maioria delas

apresentou grande dificuldade de expressarem idéias e afetos, assim como dificuldade em viver

situações novas. Segundo Yozo (1996) é preciso que num primeiro momento os participantes de um

grupo passem por uma fase de interação, onde um jogo dramático tenha a finalidade de relaxar,

obter prazer e estimular ao interesse por conhecer um pouco de cada participante do processo

iniciado.

A atividade proposta no segundo encontro foi a confecção de crachás pelas participantes.

Às quinze presentes foram oferecidos diversos materiais para expressarem características de suas

personalidades com objetivo de facilitar a apresentação destas ao grupo. À medida que

apresentavam o crachá explicando-o, as participantes tinham que relacionar sua produção com

características pessoais e história de vida. A atividade provocou divertimento, descontração,

relaxamento, quebrando a inibição inicial.

No terceiro encontro estavam presentes treze participantes. Foi proposta a confecção de

máscaras com atadura gessada moldando-as no rosto umas das outras com o objetivo de estimular

as participantes a refletirem sobre atitudes comuns entre pessoas com pouca habilidade para

expressar idéias e afetos que experimentam em diversas situações. Essa atitude foi comparada ao

uso de máscaras que escondem a identidade das pessoas. Foram levantados benefícios e malefícios

deste comportamento defensivo. As participantes confirmaram fazer frequentemente uso desta

estratégia em suas relações.

No quarto encontro a sessão de grupo contou com doze pessoas. A atividade proposta,

após uma pequena palestra realizada pelas coordenadoras sobre papéis sociais, foi discutir os papéis

que assumiram ao longo de suas vidas, como se sentiram ao desempenhá-los, com quais objetivos

os escolheram e quais resultados obtiveram. As participantes relataram dedicação intensiva ao

cuidado com o outro, renúncia aos próprios interesses, comportamento dependente, vivência maior

de hostilidade que companheirismo nas relações e dificuldades na vivência da sexualidade. Foram

estimuladas a questionar sua postura em relação aos outros e a si mesmas mudando a posição de

vítima das situações para a posição de sujeito de suas escolhas e a buscarem melhores resultados

para a vida, assumindo seus desejos e interesses.

Dez pessoas participaram do quinto encontro que propôs a cada participante relacionar

três características pessoais que considerasse positiva e três consideradas negativas para as relações

interpessoais. O objetivo foi estimular reflexão e conscientização das participantes de que o

relacionamento e as reações entre as pessoas são construídos por meio de atitudes tomadas no

contato com o outro. Observou-se, com freqüência nas relações, a defesa, a negação em que a

pessoa desconhece a motivação que a levou a agir de uma determinada forma, não percebendo o

impacto da atitude gerada no outro e o nexo existente entre seu comportamento e a reação do outro.

Foram sugeridas às participantes que jogassem no lixo as características negativas e as

substituíssem por outras mais adequadas e observassem o resultado. Algumas expressaram

dificuldades em função de experiências passadas desagradáveis como traições, humilhações,

abandono e desamparo.

No sexto encontro se propôs a construção de um painel individual com recortes de

revista. O tema do painel foi �perdas e ganhos vividos ao longo da vida�. Deveriam selecionar

figuras que representassem momentos significativos. As doze participantes interagiram e ao longo

da atividade expressaram ansiedade, agitação, entusiasmo e tristeza.

A sétima sessão de grupo contou com onze participantes. A atividade foi a exposição ao

grupo dos cartazes confeccionados na sessão anterior. O objetivo foi estimular o pensamento

analítico sobre sua história de vida colocando o próprio sujeito como observador crítico de si

mesmo e de sua história de vida. As participantes tiveram a oportunidade de expressar afetos

gerados pelas lembranças das experiências vividas e avaliá-las. O grupo foi acolhedor e foi possível

relacionar o adoecimento com os estados psicológicos experimentados e situações de conflito,

estresse e perdas, bem como perceber que a estrutura psíquica do sujeito influencia na forma como

vai se posicionar diante da doença. (MELLO FILHO, 2000)

Para Coronel (1997) um grupo precisa refletir sobre as dificuldades que estão impedindo

os participantes de realizar suas atividades rotineiras, e pensando no cotidiano das mesmas foi

pedido a cada uma das participantes que modelasse sua família utilizando massinhas coloridas.

Nessa oitava sessão oito pessoas estavam presentes e foram receptivas à técnica que tinha como

objetivo permitir a expressão da maneira como se percebem e se comportam nas relações

interpessoais. As participantes relataram emitir comportamentos de controle excessivo sobre a

família, intenso cuidado com filhos. Algumas verbalizaram assumirem posição de submissão em

função da dependência financeira, além de tristeza devido a conflitos conjugais. Observou-se, com

freqüência nas relações interpessoais, dificuldades comuns como respeitar atitudes dos outros e a

forma como se posicionam.

A proposta do nono encontro consistiu em que, em dupla, uma participante com olhos

fechados fosse conduzida por outra caminhando por um gramado com obstáculos naturais, e em um

determinado momento a participante abria os olhos e �congelava� a imagem vista naquele momento

e vice-versa. O objetivo foi criar condições para experimentar a situação de serem conduzidas e

conduzirem pensamentos e atitudes dos outros, considerando que o comportamento controlador é

frequentemente observado entre hipertensos. As coordenadoras estimularam a reflexão nas seis

participantes sobre a influência que essa estratégia mal sucedida tem no desenvolvimento de

doenças como a Hipertensão e Diabetes. Corroboram sentimentos que Mello Filho (2000) atribui a

pacientes hipertensos e diabéticos, tais como: perda da auto-estima, insegurança e negação da

realidade.

Ao décimo encontro compareceram onze pessoas. Foi solicitado a cada participante

imaginar que os móveis dos diferentes cômodos de sua residência pudessem falar e testemunhar os

acontecimentos que se passaram nesses ambientes nos últimos anos. O objetivo foi estimular

reflexão para análise e avaliação sobre seu comportamento diante das mais diversas situações que

tem vivenciado com seus familiares e propor reflexão sobre auto estima e a forma que tem

dispensado o cuidado ou não-cuidado para si.

Para o décimo primeiro encontro compareceram 10 participantes. A atividade consistiu

em passar de mão em mão uma caixa de presentes ao som de uma música e quando parasse a pessoa

com a caixa na mão deveria abri-la e olhar a imagem que estivesse dentro da caixa. Foram

orientadas que seria a imagem de uma pessoa conhecida e que deveriam resolver se aquela pessoa

era merecedora de uma homenagem, se para ela �tirariam seu chapéu�. Dentro da caixa havia um

espelho. O objetivo era a auto-avaliação e auto-valorização. Na discussão cada elemento do grupo

foi estimulado a falar sobre o que pensa de si e valorizar as mudanças necessárias.

A atividade no décimo segundo encontro foi de relaxamento e sensibilização. Com uma

música ao fundo foram conduzidas a imaginarem a situação descrita que relatava o plantio e a

germinação de uma flor. O objetivo da atividade foi estimular as participantes a expressarem

lembranças guardadas intervenientes na sua maneira de viver e conviver. A maioria das

participantes relatou momentos significativos de sua história de vida passada e outros momentos

mais recentes. Estiveram presentes dez participantes.

No penúltimo encontro compareceram onze participantes. A atividade foi o amigo

oculto, porém com a variação de que os presentes recebidos podiam ser aceitos ou trocados. O

objetivo foi promover recreação. Através da troca de alguns presentes evidenciou-se a dificuldade

de expressão entre elas. A maioria delas se sentiu impotente diante da troca de seus presentes

evidenciando um real sofrimento. Através do momento de discussão correlacionaram à atividade, a

maneira como se comportam em suas relações cotidianas.

E a última sessão de grupo com onze participantes propôs que cada uma relatasse ao

grupo o sentimento do início ao fim do trabalho. Responderam uma ficha com perguntas que

possibilitassem avaliação da sua experiência grupal, o que aprenderam e o que conseguiram mudar

em seu comportamento. Observou-se com freqüência entre elas o desejo de agir de forma diferente

na maneira como se relacionam com a família e com os demais e motivação para desenvolverem

suas potencialidades através do reconhecimento de seus limites. Com o objetivo de encerrar o grupo

a atividade provocou comprometimento e estimulou as participantes a assumirem novas

perspectivas e desejos, uma postura ativa em relação aos seus interesses e a se reconhecerem

enquanto sujeito de suas escolhas e ações.

De maneira geral houve harmonia e um crescimento pessoal, considerando a função de

espelho estabelecida no grupo, de maneira peculiar foi possível a cada uma reconhecer aquilo que

estava esquecido ou recalcado em alguma instância psíquica, ocultado pelas marcas que a história

de cada uma sofreu e possibilitando um reconhecimento do outro, como pessoas autônomas o que

exigia que elas se permitissem se separar de suas figuras parentais. O processo grupal, diferente do

acompanhamento individual permite interação de uma forma menos egoísta e defensiva, como

comumente acontece. (ZIMERMAN, 1996)

Reflexões

O perfil das participantes do grupo é o de mulheres na terceira idade que se dedicaram

ao cuidado com os outros, e não se realizaram em outras áreas. Agora que os pais e alguns esposos

faleceram e os filhos estão adultos e independentes, estas perdas geraram um sentimento de

inutilidade e falta de sentido para a vida. Algumas pessoas não conseguiram elaborar esse luto,

sendo remetidas à condição de desamparo a qual todo sujeito é submetido e desenvolveram

sintomas depressivos.

As oficinas tiveram como objetivo significar a história de vida que gerou conflitos na

instabilidade emocional e adoecimento, criar espaço de reflexão e troca de experiências. Ofereceu

oportunidades de exploração de recursos internos para resolver conflitos, desenvolveu

questionamentos sobre as mudanças necessárias para busca de melhor qualidade de vida.

Todas as sessões transcorreram de acordo com proposto por Afonso (2002), sendo que

cada encontro foi dividido em três momentos: inicialmente uma conversação para descontrair e

nortear as participantes sobre a dinâmica do dia; em seguida a atividade e a discussão no grupo e

um encontro pós-grupo entre a equipe de psicologia para avaliação do trabalho.

Durante as oficinas, as pessoas trouxeram relatos de suas histórias de vida, a maioria das

pacientes associou o desenvolvimento da doença a algum acontecimento de perda, gerador de

ansiedade e angústia intensa. A Hipertensão, considerada um assassino silencioso por Figueiredo

(2002) surgiu na vida das participantes sem nenhum alarme, sendo descoberta em exames

rotineiros. As atividades propostas visaram à construção de conhecimento pessoal a partir de

experiências subjetivas. O processo englobou aspectos educativos e também a dimensão clínica

interligada. As coordenadoras buscaram articular a reflexão e a afetividade, aspectos conscientes e

inconscientes.

Já na fase de apresentação a unidade grupal foi identificada, os indivíduos descobriram

aspectos comuns em suas histórias de vida, interesse coeso em mostrar-se, acolher e aceitar-se.

Houve identificação de algumas dificuldades nas relações interpessoais, pensamentos negativos e

angústias causadas pelas perdas que sofreram ao longo da vida. (MELLO FILHO, 2000)

No decorrer das discussões as participantes foram verbalizando o interesse por

mudanças. Lembraram da época em que não haviam desenvolvido doenças e associavam a condição

de felicidade agora inexistente ao processo de adoecimento; a tristeza e baixa auto-estima foram

expressas nos relatos corroborando o que Mello Filho (2000) e Figueiredo (2002) denominam

estágio depressivo no paciente crônico.

Os primeiros encontros foram marcados por temas familiares. Expressaram

conformismo com o que já haviam vivido. À medida que os encontros transcorriam novas questões,

mais pessoais e atuais, vieram à tona. A maioria das falas foi intercalada por expressões que

demonstrava revolta anteriormente reprimida. O passado foi dando importância ao futuro. �O que

posso fazer agora? O que posso mudar?� foram questões cada vez mais presentes.

Estabelecido o vínculo, o processo de auto-conhecimento começou a ser trabalhado entre

elas. Perceberam, então, que muitas vezes reprimiam sensações demonstrando alegria para os outros

quando estavam tristes, ratificando que indivíduos hipertensos frequentemente utilizam-se da

estratégia defensiva de esquivar-se de seus problemas pessoais, funcionam de maneira rígida

consigo e com os outros, vivem literalmente sob pressão. Não conseguem expressar sua

agressividade guardando-a dentro de si, e não usando da linguagem encontrar lugar no corpo para

falar de suas questões conflituosas. (AMODEO & HELENE, [2002]).

A recorrência a cada encontro das respostas que davam conotação à um núcleo de

agressividade reprimida, passividade, sentimentos pessimistas com relação à vida, solidão e

dificuldade para se expressar em público, denunciavam o que no processo da depressão,

desencadeia a tristeza, a amargura e a desesperança.

Essa experiência possibilitou observar que sujeitos hipertensos estão sempre em conflito,

porém não conseguem falar sobre isso. Por se comportarem assim relataram que se envolveram em

atividades que as ocupavam e ajudavam a dissipar os sentimentos e disfarçar para os outros e para si

a inabilidade de falar sobre suas questões. Através dessa experiência as participantes

gradativamente ousaram re-significar alguns conteúdos de suas histórias de vida. Como agentes

ativos começaram a apontar as mudanças. �Minha cabeça até tem parado de doer�. �Agora estou

aprendendo a cuidar de mim e meu corpo agradece�.

Segundo Mello Filho (2000) o grupo é uma unidade permanente de mudança interna e

externa. É, ao mesmo tempo, um movimento convergente e divergente. É uma totalidade complexa,

como uma rede, onde cada elemento funciona como um ponto nodal independente, porém

interligado. Cheio de evidências e mistérios que apareciam de maneira peculiar entre elas.Mudanças

a principio simples, mas que retiram o sujeito de uma situação angustiante, capaz de imobilizar para

outras ações, como exemplo, pacientes que não se permitiam ser mulher e viajar com esposo por se

manterem presas a um papel de mãe marcado por uma simbiose com seus filhos.

No final de cada atividade era solicitado que cada participante escrevesse seus

sentimentos, suas sensações e havia cada vez mais, qualidade nas elaborações. Da inibição inicial,

passou-se à ousadia. Como foi rico e reconfortante perceber o processo de transformação que

passou a estar presente nas relações interpessoais, segundo as participantes as figuras parentais, se

sentiram ameaçadas pela mudança. Não raro éramos surpreendidas por falas do tipo �Lá em casa

está todo mundo querendo saber quem são as psicólogas que estão me fazendo falar não�. �Nunca

me imaginei deixando uma pia de vasilhas sem lavar�.

As mulheres perceberam-se presentes, completas na ação, descobriram novas

possibilidades. Algumas chegaram a relatar que �renasceram�. Houve adesão da maioria ao grupo

que, uma vez coeso, deu subsídios para o relato de uma participante no oitavo encontro sobre sua

angústia acerca do distúrbio sexual adquirido/potencializado com a Diabetes Melitus, a que ela se

referia como maldita. Não aceitava o diagnóstico e por isso seu mecanismo de negação era tão

presente que não se adequava ao planejamento alimentar, dificultando o controle dos sintomas,

impedindo um relacionamento saudável com esposo.

Assujeitadas inicialmente, algumas delas desconheciam seus desejos e o momento em

que foram esquecidos, recalcados em algum lugar que há muito não era visitado. Reconhecem agora

que é difícil adotar novos comportamentos e principalmente sustentar seus desejos. No entanto,

expressam sua satisfação pela oportunidade de um auto-reconhecimento propondo-se a buscar

qualidade de vida a partir dos aspectos afetivos trabalhados nos grupos.

O grupo funcionou como suporte, criando condições para expressão de idéias e afetos

possibilitando a conscientização dos fatores causadores dos sintomas depressivos, fazendo com que

as próprias pacientes descobrissem formas e meios para enfrentá-los, resolvê-los e alcançar

qualidade de vida.

Conclusão

Considerando o objetivo do presente trabalho relatar e refletir sobre a experiência vivida

por estagiárias de Psicologia como monitoras de oficinas de dinâmicas de grupos aplicadas às

pessoas portadoras de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus com sintomas de depressão de leve a

greve, atendidas pelo projeto de gerenciamento de crônicos do Programa Casa Unimed em

Governador Valadares pode-se concluir que os avanços teóricos, metodológicos e clínicos para

promover saúde nos últimos anos são inegáveis.

Deparar-se com um diagnóstico de doença crônica envolve uma série de questões que

nos remete à condição inicial de desamparo do ser humano. Várias emoções podem ser

desencadeadas, entre elas sentimentos negativos, pois se deparam com procedimentos invasivos,

causadores de dor física e emocional levando frequentemente a um processo depressivo,

principalmente pelos limites que as condições crônicas impõem.

A Hipertensão Arterial e a Diabetes Melitus pertencem ao campo de doenças que mais

matam no Brasil e no mundo porque elas aumentam o risco de doenças coronarianas e

comprometimento em órgãos-alvos. Suas alterações vão além de puramente biológicas. Segundo

Straub (2005) e Figueiredo (2002) relacionam reações psicológicas de ansiedade, hostilidade

reprimida e raiva diretamente ao aumento da pressão arterial, sensações muito presentes no relato

das participantes do grupo.

O programa de saúde coletiva da Casa Unimed em uma instituição privada desenvolve o

modelo integral de cuidado em saúde com diabéticos e hipertensos, utilizando para isso equipe

interdisciplinar. São atendidos 1100 pacientes que além dessas patologias podem apresentar co-

morbidades. As intervenções são realizadas com objetivo de prevenir complicações, incapacitação e

óbito além de promover qualidade de vida.

Os resultados obtidos com a aplicação do método de oficinas de dinâmica de grupos às

pessoas que apresentaram sintomas de síndrome depressiva ao longo da evolução das doenças

crônicas de base como Hipertensão e Diabetes, apontaram para redução do quadro depressivo entre

as participantes do grupo. Na avaliação realizada na primeira sessão com a aplicação da Escala

Geriátrica obteve-se que cinco pessoas poderiam ser classificadas como apresentando depressão

leve, oito participantes apresentaram depressão moderada e uma depressão grave. No momento da

reavaliação, aplicada na última sessão, obteve-se que doze participantes foram classificadas como

depressão leve, uma apresentou quadro depressão moderada apresentou e uma outra apresentou

quadro compatível com classificação de depressão grave.

Em atendimentos individualizados após a conclusão das oficinas de dinâmica de grupos,

algumas participantes relataram que a experiência foi motivadora para questionamentos sobre sua

forma de se comportar, para o estabelecimento de novos vínculos e ampliação das relações sociais.

Consideraram a vivência enriquecedora e válida.

Sobre a experiência de estágio conclui-se que a Psicologia tem muito a contribuir no

programa de gerenciamentos de crônicos com a escuta diferenciada da dor criando condições para

resolução de conflitos psíquicos e de relacionamento geradores de ansiedade, angústia e

adoecimento. É fundamental numa abordagem que envolve aspectos psicológicos estimular as

mudanças necessárias no estilo de vida para propiciar a da patologia de base. Toda a equipe de

saúde deve atuar motivando as pessoas a responsabilizarem-se com a sua saúde bio-psico-social e

com os cuidados básicos para consigo. O trabalho na instituição nos possibilitou conhecimento,

desenvolvimento de postura crítica, de competências necessárias para o desempenho profissional

satisfatório, comprometido e principalmente ético. Além de nos conscientizar da importância da

formação continuada, da pesquisa e do aperfeiçoamento dos métodos de intervenção que possam

ampliar o escopo da Psicologia para atender melhor às necessidades daqueles que a ela confiam seu

sofrimento.

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