o grande portal da era nova

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EN ra ova A propósito do estudo da Doutrina Espírita e dos grupos de estudos nos Centros Espíritas. aurício O GRANDE PORTAL DA M ilva S

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Livro que trata do estudo da Doutrina Espírita e dos grupos de estudos nos Centros Espíritas.Relembrando a missão do Espiritismo e sua grandeza, aqui tratamos de nosso compromisso pessoal na vivência de seus postulados e na sua divulgação, dando destaque à importância do Centro Espírita no contexto da vida diária de cada um e a necessidade de que ele seja o foco irradiador do Consolador, ao tempo em que elencamos algumas recomendações para disseminar os ensinos da Doutrina Espírita aos interessados, através do estudo continuado, tendo por base as orientações dos Benfeitores Espirituais e a arte de pensar.

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  • E Nra ova

    A propsito do estudo da Doutrina Esprita e dos grupos de estudos nos Centros Espritas.

    aurcio

    O GRANDE PORTAL DA

    M ilvaS

  • 2 edio

    Edio Eletrnica

    Copyrigth 2013 byMaurcio SilvaCuritiba - PR

    Contato: [email protected]

    Capa e diagramao - pelo autorImagens prprias do autor ou da Internet (livres)

    Distribuio gratuita e dirigida

    Todos os direitos de reproduo, cpia, comunicao ao pblico e explorao econmica desta obra esto reservados, nica e exclusivamente, para o autor. Proibida a sua reproduo parcial ou total atravs de qualquer forma, meio ou processo, sem a prvia e expressa autorizao do autor, nos termos da lei 9.610/98.

    Edio Eletrnica no Brasil

  • E Nra ova

    Maurcio Silva

    Curitiba - PR

    2 ediorevista e ampliada

    Edio eletrnica prpriaMaro de 2015

    O GRANDE PORTAL DA

  • ndiceO Grande Portal 5Prola cor de ouro 9Palavras iniciais 11A ttulo de introduo 17

    PARTE 1: Espiritismo para ns

    1 A misso de Allan Kardec 212 A volta do Consolador prometido 253 O grande fanal do Espiritismo 29

    PARTE 2: Ns e o Espiritismo

    4 O nosso chamado pessoal 375 Clareza de posicionamento 416 O verdadeiro esprita 457 Cuidados pessoais a servio do Cristo 51

    PARTE 3: Espiritismo para todos

    8 Importncia do estudo 639 A necessidade do estudo 67

    PARTE 4: Espiritismo e o Centro Esprita

    10 O Centro Esprita 79

    11 Centro Esprita: Unidade fundamental. Foco de atividade Coletiva 85

    12 Viso esquemtica das atividades de estudos doutrinrios 93

    PARTE 5: O portal de entrada

    13 Palestras pblicas: o portal de entrada no Centro Esprita 101

    PARTE 6: Do desconhecido para o conhecido

    14 A arte de pensar 11115 Provocaes positivas 12716 Moldar, emoldurar e modular o ensino do Espiritismo 129

  • 17 O mundo invisvel saiu do silncio 135

    PARTE 7: E o semeador saiu a semear

    18 Apresentando o Evangelho Restaurado 14919 Pontos bsicos para uma boa palestra 15520 E o semeador saiu a semear 165

    Palavras finais 169

  • Formamos uma grande famlia, na sublime famlia universal, uma equipe de espritos

    afins.Vinculados uns aos outros desde o instante divino em que fomos gerados pelo Excelso

    Pai, vimos jornadeando a penosos contributos de sofrimentos, em cujas

    experincias, a pouco e pouco, colocamos os pilotis de segurana para mais expressivas

    construes...

    Joanna de ngelis

  • O grande portal da era nova | 7

    PREFCIOEscrito pela Veneranda Benfeitora Espiritual Joanna de ngelis, especialmente para este livro:

    GrandeO PortalO Espiritismo cincia do ser imortal, que se caracteriza pela experimentao de laboratrio, demonstrando a realidade dos seus contedos filosficos, que libertam as consequncias ti-co-morais-religiosas.

    Resultado da observao cuidadosa do eminente Prof. Rivail, mais tarde sob o pseudnimo de Allan Kardec, os seus postulados fixam-se nas leis da Natureza, especialmente na lei de amor, nsita em todo o Universo, por ser a lei de Deus.

    Para que seja compreendido e praticado oferece incompa-rvel tesouro de informaes que se encontram na Codificao, constituda pelas obras bsicas, cujas estruturas resistem a quais-quer enfrentamentos culturais, bem como naquelas que lhes so complementares, especialmente a Revista espRita, desde a sua fun-dao no dia 1 de janeiro de 1858 at maro de 1869, quando desencarnou o insigne mestre lions.

    No se pode, portanto, conhecer realmente o Espiritismo, se-

  • 8 | O grande portal da era nova

    no mediante o seu grande portal, que o acesso s obras fun-damentais: O LivRO dOs espRitOs, O LivRO dOs Mdiuns, O evangeLhO segundO O espiRitisMO, O Cu e O infeRnO e a gnese.

    medida que se toma conhecimento pedaggico da Doutri-na, atravessando-se o grande portal que leva revelao dos imortais e aos nobres comentrios do codificador, alargam-se os horizontes intelectuais e emocionais do indivduo, propondo-lhe a ampliao dos estudos nas pequenas e oportunas obras O que O espiRitisMO, O pRinCipiante espRita e na coletnea exarada na referida Revista espRita.

    Graas a esse extraordinrio trabalho de pesquisa e informa-es, o Espiritismo jamais ser ultrapassado, conforme assinalou Allan Kardec, porque pode absorver as novas conquistas do pen-samento e deixar margem o que no seja compatvel com as demonstraes da cincia em qualquer poca.

    Trata-se, portanto, de uma doutrina sria para pessoas igual-mente srias.

    No se pode considerar esprita qualquer indivduo que parti-cipe de reunies medinicas ou doutrinrias, sem as reflexes hau-ridas na Codificao. Entretanto, no se trata de uma proposta elitista, que elimina as pessoas incultas ou desprovidas de conhe-cimentos especializados.

    Na sua condio de O Consolador, que fora prometido por Jesus, abre-se com imensa facilidade a todos os nveis morais, so-ciais e culturais da humanidade, orientando, confortando e escla-recendo os grandes enigmas existenciais e dando-lhes saudveis solues.

    Destaca, no seu bojo como de importncia fundamental, a transformao moral do ser humano para melhor, lutando sempre contra as suas ms inclinaes, estimulando a prtica da caridade por todos os meios e modos ao seu alcance.

    Paraninfado por Jesus, que administra o planeta terrestre, so os seus Embaixadores, essas estrelas espirituais, que se encontram

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    encarregados de promover o progresso da criatura humana, assim como do seu domiclio.

    Divulg-lo corretamente dever inadivel a que se submetem todos aqueles que sorvem as suas guas lustrais que plenificam e libertam da ignorncia.

    A obra que estamos apresentando ao nosso querido pblico, um trabalho grave e de atualidade, pelas consideraes e apro-fundamentos dos temas apresentados, ao mesmo tempo fcil e agradvel de ler, porque fundamentada na excelncia da Codifi-cao Esprita.

    Temos certeza que todo aquele que o ler com real interesse e sem prejuzos adrede estabelecidos, encontrar roteiro de segu-rana e esclarecimento para o aprofundamento das prprias re-flexes e iluminao da conscincia.

    Joanna de ngelis

    (Pgina psicografada pelo mdium Divaldo Pereira Franco, na manh de 18 de dezembro de 2012, em reunio no Centro Esprita Caminho da Redeno, em

    Salvador, Bahia.)

  • Aprofundar, portanto, estudos, no seu organismo doutrinrio, dever de todo

    esprita consciente, que passar a lecion-lo, como decorrncia do auto-aprimoramento, com segurana e lucidez, no permitindo

    que a urze do absurdo ou o escalracho da fantasia se lhe imiscuam, gerando

    dificuldades compreensveis nas mentes necessitadas e nos espritos sofridos que

    pululam em toda parte, sedentos da gua viva do Consolador Prometido, que j se encontra na Terra h mais de um sculo,

    inaugurando o perodo de felicidade que se avizinha e de que nos deveremos constituir

    pioneiros, pela forma como apresentarmos e vivermos o Espiritismo com Jesus.

    Vianna de Carvalho

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    Cor deOuroProla

    A prola uma joia de alto valor. E h as carssimas, como as raras prolas do Mar da China Meridional cor de ouro 24 qui-lates, conhecidas como Ouro do Mar de Sulu.

    As prolas so encontradas em certas conchas de moluscos nas profundezas do mar. O molusco precisa ser ferido, e a partir da que a secreo se solidifica formando a prola.

    Prolas so produtos da dor, resultado da entrada de uma substncia estranha no interior da ostra, como um gro de areia. A parte interna da concha de uma ostra uma substncia lustrosa chamada ncar. Seu brilho translcido, capaz de captar os raios solares. Porm a prola que, em todo o seu esplendor reflete as cores do arco-ris.

    Quando um gro de areia a penetra, as clulas do ncar co-meam a trabalhar e cobrem o gro de areia com camadas e mais camadas para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resulta-do, uma linda prola formada.

    Uma ostra que no foi ferida, de algum modo, no produz p-rolas, pois a prola uma ferida cicatrizada.

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    Quem de ns j no se sentiu ferido, por esse ou aquele motivo ou circunstncia?

    Quem de ns j no sentiu a alma dorida, o peito dilacerado pela dor moral?

    Tomemos o exemplo da me natureza, que demonstra-nos que a dor pode transmutar-se em joia preciosa e assim convencidos, por nossa vez, que as nossas tristezas se transmutem em luz de alegria; que os nossos padecimentos se faam estimulantes para o doce e suave exerccio continuado do bem; que as nossas mgoas sejam transformadas pelo antdoto do perdo; que a ingratido recebida seja aceita como oportuno convite a solidariedade; que a agresso de qualquer tipo de violncia seja a pedra de toque para o exerccio precioso de fraternidade e da construo da paz; que os nossos males fsicos sejam as janelas que nos permitam visualizar a grandiosidade imperecvel do Esprito; que o mal vi-gente seja reconhecido como amor ausente, assim como a sombra a ausncia da luz, e que , portanto, passageiro, desfazendo-se to logo se faa a luz do sentimento cristo; e que, por tudo isso, que o eventual esforo a ser dispendido por ns para as lamrias e queixas, seja utilizado como o combustvel moral a ser aplicado na formao da preciosa prola da resignao e confiana em Deus, dando-nos nimo para continuado empenho e trabalho reparador at a formao definitiva da prola cor de ouro do Mar de Sulu em nossa realidade espiritual: o alcance da felicidade plena, re-fletindo as cores do arco-ris das luminescentes Leis Divinas.

    Este livro para mim uma prola preciosa, por muitas razes.

    Que ele ajude-o na sua jornada de renovao pessoal, sen-do-lhe til.

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    PalavrasIniciaisConhecer a Histria ajuda melhor entender o presente. Por isso iniciamos nossos apontamentos destacando alguns aspectos histricos do Espiritismo, a fim de contextualizar a nossa aborda-gem neste trabalho.

    Inicialmente, o contedo desses apontamentos foi colhido na literatura esprita e em outras obras, aqui dando destaque s cita-es que fundamentam as nossas assertivas e pavimentam a es-trada do nosso raciocnio, para que, juntamente com o leitor, pos-samos vislumbrar a grandeza e a importncia da Doutrina Esprita e a sua especial misso junto a Humanidade. Tambm visamos enaltecer o dever de fidelidade aos postulados do Espiritismo que temos ns, os espritas, em nosso cotidiano, bem como relembrar nossos compromissos para com o Centro Esprita, contribuindo com o seu desempenho, cuja razo de existir ofertar dessa gua que dessedenta para sempre aos irmos do caminho, primando por distribuir o consolo e alimentar a esperana, repetindo diutur-namente o sublime convite do Amigo Celeste: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei 1.

    O Centro Esprita, ao oportunizar o conhecimento doutrinrio, deve, por conseguinte, faz-lo de acordo com os propsitos do Espiritismo, e que o faa de modo a facilitar o seu aprendizado, utilizando-se de metodologia adequada, com organizao, con-tinuidade e com contedo e forma apropriado para cada ocasio.

    1 Mateus (11 : 28)

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    Desejando colaborar com aqueles companheiros de lida, in-cumbidos da elaborao de programas de estudos e da sua apli-cao, tambm trazemos consideraes sobre a arte de pensar, que norteia a inteligncia humana na assimilao e transmisso do conhecimento.

    Somos sabedores que so vrios os modelos de gesto para as organizaes em geral, inclusive para a rea de Estudos no Centro Esprita, que , especificamente, o tema central de nossa aborda-gem neste opsculo. Aqui focamos um desses modelos, por ser um modelo simples, funcional e sabidamente exitoso.

    Para esse trabalho, partimos do posicionamento de que o Cen-tro Esprita uma unidade, um todo, um ser coletivo em comu-nho, e que assim deve ser pensado e trabalhado, independen-temente da quantidade de suas atividades e do nmero dos seus trabalhadores.

    Quando falamos em Centro Esprita como sendo uma unidade, um ser coletivo, o fazemos reconhecendo que essa qualidade pre-cisa ser construda com continuado esforo em prol da consolida-o da unio dentre os seus lidadores, primeiramente, o que nos leva a destacar em nossos arrazoados a importncia do compro-misso pessoal de cada um com a Causa do Bem, que vem implcita numa organizao esprita.

    Eis a recomendao do Esprito Verdade nesse sentido:

    Ditosos sero os que houverem trabalhado no campo do Se-nhor, com desinteresse e sem outro mvel, seno a caridade! Seus dias de trabalho sero pagos pelo cntuplo do que tiverem espe-rado. Ditosos os que hajam dito a seus irmos: Trabalhemos jun-tos e unamos os nossos esforos, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra, porquanto o Senhor lhes dir: Vinde a mim, vs que sois bons servidores, vs que soubestes impor si-lncio aos vossos cimes e s vossas discrdias, a fim de que da no viesse dano para a obra! 2

    2 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 20, item 5, p. 315.

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    ainda o Esprito Verdade que nos conclama: Espritas! amai--vos, este o primeiro ensinamento; instru-vos, este o segundo. 3

    Em nome desse nosso compromisso pessoal e coletivo que te-mos com Jesus, alinhavamos tambm algumas consideraes a este respeito, buscando aumentar nossa compreenso sobre o as-sunto, e, na razo inversa, diminuindo os riscos de nossas dbeis mos serem causadoras de soluo de continuidade ao projeto maior da Instituio que frequentamos, ou do Movimento Esprita que fazemos parte, ou de nossa existncia, como um todo.

    No entanto, repetimos para frisar e para facilitar o acompa-nhamento das ideias expostas, que nossos apontamentos se di-rigem s questes do estudo, programas e aplicadores, no sig-nificando que os conceitos coletados no sirvam para as demais atividades do Centro Esprita, mas preciso restringir os enfoques, dando objetividade ao texto.

    Somos daqueles que entendemos que a reunio pblica de pa-lestras o grande portal de entrada num Centro Esprita dos que para ali foram encaminhados pelas leis da vida, a fim de encon-trarem respostas aos seus pedidos de socorro e amparo. O mo-delo trabalhado nesses nossos apontamentos elege essa reunio como o marco zero da estrada do conhecimento esprita, o elo inicial de uma longa corrente de acesso ao aprendizado do Espiri-tismo, que permitir a cada um melhor conhecimento de si mesmo, despertando-lhe novas razes de viver, ao entender de onde veio, porque est aqui e para onde vai, levando-o, espontaneamente, a vincular-se as aes do Bem, a optar por Jesus.

    Partindo disso, se faz necessrio que as reunies pblicas de palestras sejam consideradas e tratadas como uma reunio de es-tudos, trabalhando e organizando seus temas e seus contedos levando-se em conta suas caractersticas de reunio de palestras e pblica, que os que ali vo, no geral, no so espritas e que h um fluxo contnuo de pessoas chegando, dos quais uns ficam,

    3 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 6, item 5, p. 130.

  • 16 | O grande portal da era nova

    outros no voltam mais. No modelo por ns sugerido, a reunio pblica de palestras vai pulsar como um marca-passo alimenta-dor desse fluxo de pessoas em direo aos outros grupos de estu-dos. E esses outros grupos de estudos, estruturados em mdulos ou ciclos e encadeados de maneira apropriada em seus contedos, trabalhando em sincronia entre si e com as reunies pblicas de palestras em tempo e contedo programtico -, daro fluidez de modo contnuo no atendimento e encaminhamento interno dos que se acercam do Centro Esprita e da Mensagem Esprita, sem cau-sar descompasso no aprendizado e no funcionamento dos gru-pos de estudos, eliminando a entrada de novas pessoas quando o programa de estudos j est sendo aplicado h tempo.

    Quanto aos programas de estudos e sua estruturao, nossos apontamentos se alongam mais nas prximas pginas, pontuando aspectos que, sabemos, contribuiro sobremaneira na elaborao e aplicao dos mesmos.

    Dando fim as nossas palavras iniciais, registramos que nosso papel nesses arrazoados que alinhavamos foi somente o de reu-nir as citaes dos Benfeitores Espirituais sobre cada ponto ento abordado, ou pegar por emprstimo consideraes tcnicas ne-cessrias, elencando devida referncia bibliogrfica e dando o efetivo crdito aos respectivos autores. Sabemos que no estamos apresentando novidade. Mas tambm sabemos que h algumas prticas no meio esprita, quanto a grupos de estudos, que so lastimveis, o que por si s justifica nossa iniciativa.

    Confiamos que a nossa oferenda poder auxiliar alguma Ins-tituio que se encontre experimentando desafios no campo dos estudos doutrinrios, e aqui descubra solues simples e prticas, que podero harmonizar suas atividades.

    E se outra utilidade no tiver nossos apontamentos, que tenha a de enaltecer o Centro Esprita como celeiro de bnos, casa acolhedora de todos quantos tm necessidade de esperanas e de consolaes. Casa com Jesus sempre presente.

    Irmo X, no livro Luz Acima, na pgina intitulada Nas hesita-

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    es de Pedro, recebida pela mediunidade de Chico Xavier, narra dilogo entre o apstolo e Jesus a respeito de infeliz mulher que ali chegara buscando auxlio, mas trazia consigo todos os estigmas das pecadoras. Fora lapidada e exibia manchas sanguinolentas na roupa em frangalhos. Pronunciava palavras torpes. Revelava--se semilouca e doente. Pedro, em sua hesitao, questionava: Como agir? No estaria a sofredora resgatando os prprios dbi-tos? Se bebera com loucura na taa dos prazeres, no lhe caberia o fel da aflio?

    Jesus, manso e pacfico, orientou cada ponto das dvidas de Pedro, e por fim disse-lhe:

    - Pedro, para ferir e amaldioar, sentenciar e punir, a cidade e o campo esto cheios de maus servidores. Nosso ministrio ultra-passa a prpria justia. O Evangelho, para ser realizado, reclama o concurso de quem ampara e educa, edifica e salva, consola e renuncia, ama e perdoa... Abre acesso nossa irm transviada e auxilia-a no reerguimento. No a precipites em despenhadeiros mais fundos... Arranca-a da morte e traze-a para a vida... No te esqueas de que somos portadores da Boa Nova da Salvao!...

    E conclui Irmo X a narrativa:

    O apstolo levantou-se, deu alguns passos, atravessou exten-sa fileira de irmos espantados, abriu, de manso, a porta e dirigiu--se mulher, acolhedor:

    - Entre, a casa sua!

    - Quem sois? interrogou a infeliz, assombrada.

    - Eu? falou Pedro, com os olhos empapuados de chorar.

    E concluiu:

    - Sou seu irmo.

  • Centro Esprita o educandrio bsico da mente popular.

    Bezerra de Menezes

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    A ttulo deIntroduoCostuma-se dizer que os tempos so outros, as diretrizes so novas, os mtodos devem ser renovados.

    O Espiritismo, no entanto, meus filhos, permanece como sendo Jesus em todos os dias da nossa vida, qual porto de amparo s nossas aspiraes e barco de segurana para as nossas ambies.

    [...]

    verdade que todos trazemos angstias e pesares, que aguar-damos o leno da consolao esprita para nossas lgrimas, para os nossos suores, como o blsamo reconfortante, o penso refazen-te para as feridas do sentimento, do corao.

    Convm, no entanto, no esquecermos que, ao nosso lado, ruge a tempestade e a batalha se agiganta, esperando a nossa contribuio a benefcio dos mais infelizes do que ns.

    Os que cremos, j possumos a pedra mgica do toque da imortalidade, colocada no corao. Os que sabemos, j somos coparticipantes do banquete da luz. Os que conhecemos, j re-cebemos a revelao como ponte de intercmbio entre os dois mundos.

  • 20 | O grande portal da era nova

    Para estes, que somos ns, no h meio termo, nem possibili-dades de acomodao com as contingncias vantajosas do mun-do, na feio de deslealdade. A conduta seguir a reta rgida da mensagem evanglica que nos impe a transformao de dentro para fora.

    Por esta razo, nesta Casa, como em outras, a luz do Cristo no pode ficar sob o alqueire, mas no velador, oferecendo bn-os, brindando apoio aos trpegos e inseguros que aspiram a mais amplos horizontes e a mais largos ideais de vida.

    Estais convidados para a Nova Era e no lcito que estacio-neis, custe o preo que vos seja exigido, sejam quais forem as con-dies que a misericrdia do Senhor vos imponha...

    [...]

    Filhos! No h alternativa, nem outra recomendao, exceto a velha regra urea do amor em todas e quaisquer circunstncias.

    [...]

    Pela significao desta data, suplicamos ao Amigo Divino e Vi-gilante que abenoe este santurio, transformando-o em templo de paz, em hospital-escola, em oficina de socorro e sabedoria para os cansados da rota.

    Bezerra de Menezes1

    1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Esprito Bezerra de Menezes. Salvador, BA: Leal, 1991. Cap. 24, p. 73-75.

  • parte 1O Espiritismo para ns

    E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

  • Se um nome necessrio, inscreveremos em seu frontispcio: Escola do Espiritismo

    Moral e Filosfico, e para ela convidaremos todos quantos tm necessidade de

    esperanas e consolaes.

    Allan Kardec

  • O grande portal da era nova | 23

    A misso deAllanKardecA Doutrina Esprita, trazida pelos Espritos luminares, no obra do acaso, da vontade momentnea de um autor. Obra de tal magnitude e com propsitos to sublimes no poderia deixar de acontecer sem antes ter sido minuciosamente planejada pelos Nu-mes Tutelares da Humanidade, sob a direo maior de Jesus. Foi entregue aos homens tendo Allan Kardec como seu insigne Codifi-cador, de cuja misso foi devidamente cientificado em tempo pr-prio, e em seu cumprimento contou ele com um grupo de pessoas abnegadas que o auxiliaram nessa construo, uns diretamente, outros indiretamente.

    O Prof. Hippolyte Lon Denizard Rivail, mais tarde conhecido como Allan Kardec, j estava, h cerca de um ano, as voltas com os estudos e pesquisas relacionadas com o mundo espiritual e sua relao com o mundo corporal, e vinha se dedicando a reviso do trabalho que posteriormente formaria O Livro dos Espritos. Ele frequentava, h certo tempo, reunies que se davam na residn-cia do Sr. Roustan. Na noite de 30 de abril de 1856, numa dessas

    1

  • 24 | O grande portal da era nova

    sesses, muito ntima, a que apenas assistiam-na sete ou oito pes-soas, o Prof. Rivail recebeu a primeira revelao da sua misso ditada pelos Espritos atravs da mdium Srta. Japhet:

    Deixar de haver religio e uma se far necessria, mas ver-dadeira, grande, bela e digna do Criador... Seus primeiros alicer-ces j foram colocados... Quanto a ti, Rivail, a tua misso a. 1

    So suas estas palavras: Foi essa a primeira revelao posi-tiva da minha misso e confesso que, quando vi a cesta voltar-se bruscamente para o meu lado e designar-me nominativamente, no me pude forrar a certa emoo. 2

    Com a argcia de sua inteligncia, Rivail no s identificou de pronto a grandeza e complexidade de sua misso, bem como identificou a grandeza indimensional do que estava por vir, como resultado de seu labor. A estruturao de um doutrina nova: o Es-piritismo.

    Na sua humildade e diante do seu carter diamantino, voltou a tratar deste assunto a fim de bem se certificar.

    Em 7 de maio do mesmo ano, ele assim dirige-se ao Esprito Hahnemann 3:

    Pergunta (a Hahnemann) Outro dia, disseram-me os Espritos que eu tinha uma importante misso a cumprir e me indicaram o seu objeto. Desejaria saber se confirmas isso.

    Resposta Sim e, se observares as tuas aspiraes e tendn-cias e o objeto quase constante das tuas meditaes, no te sur-preenders com o que te foi dito. Tens que cumprir aquilo com que sonhas desde longo tempo. preciso que nisso trabalhes ativa-mente, para estares pronto, pois mais prximo do que pensas vem o dia.

    1 KARDEC, Allan. Obras pstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Primeira revelao de minha misso, p. 337-338.

    2 Ibid. p. 338

    3 Ibid. p. 338 - 339

  • O grande portal da era nova | 25

    P. Para desempenhar essa misso tal como a concebo, so--me necessrios meios de execuo que ainda no se acham ao meu alcance.

    R. Deixa que a Providncia faa a sua obra e sers satisfeito.

    A sua costumeira prudncia e o seu bom-senso marcas regis-tradas de seu proceder no lhe deram trgua, at que em 12 de junho de 1856, dirige-se ao Esprito Verdade 4:

    Pergunta ( Verdade) Bom Esprito, eu desejara saber o que pensas da misso que alguns Espritos me assinaram. Dize-me, peo-te, se uma prova para o meu amor-prprio. Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagao da verda-de, mas, do papel de simples trabalhador ao de missionrio em chefe, a distncia grande e no percebo o que possa justificar em mim graa tal, de preferncia a tantos outros que possuem ta-lento e qualidades de que no disponho.

    Resposta Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrio, se quiseres sair-te bem. Tomars mais tarde conheci-mento de coisas que te explicaro o que ora te surpreende. No esqueas que podes triunfar, como podes falir. Neste ltimo caso, outro te substituiria, porquanto os desgnios de Deus no assentam na cabea de um homem. Nunca, pois, fales da tua misso; seria a maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar--se pela obra realizada e tu ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens sabero reconhec-lo, cedo ou tarde, visto que pelos frutos que se verifica a qualidade da rvore.

    P. Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma misso na qual dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desgnios da Providncia, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistncia e a dos bons Espritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.

    R. A nossa assistncia no te faltar, mas ser intil se, de teu

    4 KARDEC, Allan. Obras pstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Primeira revelao de minha misso, p. 343

  • 26 | O grande portal da era nova

    lado, no fizeres o que for necessrio. Tens o teu livre-arbtrio, do qual podes usar como o entenderes. Nenhum homem constran-gido a fazer coisa alguma.

    Apesar dos obstculos, das armadilhas urdidas pelas mentes infelizes e infelicitadoras, das lutas hercleas, com grande sacrif-cio, dedicao e zelo, o notvel Prof. Denizard Rivail prosseguiu e concluiu seu grandioso trabalho da Codificao Esprita, legando para a Humanidade os cinco livros basilares, alm de vasto ma-terial a mais, como os doze volumes da Revista espRita: O LivRO dOs espRitOs, lanado em 18 de abril de 1857; O LivRO dOs Mdiuns Ou guia dOs Mdiuns e dOs evOCadORes, lanado em 15 de janeiro de 1861; O evangeLhO segundO O espiRitisMO, lanado em abril de 1864; O Cu e O infeRnO Ou a Justia divina segundO O espiRitisMO, lanado em agosto de 1865; e A gnese, Os MiLagRes e as pRedies segundO O espiRitisMO, lanado em 6 de janeiro de 1868.

    Com ele renasce o Cristianismo simples e puro, incorruptvel e nobre dos primeiros tempos, convocando os homens para as fon-tes eternas da paz e da alegria, transformando-se em roteiro insu-pervel dos tempos. 5

    5 FRANCO, Divaldo P. luz do espiritismo. Pelo Esprito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1968, p. 30

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    A volta do Consolador2

    prometido

    Como dissemos, os planos divinos para a Humanidade come-aram muito antes de 18 de abril de 1857. No bojo da mensa-gem de Jesus Terra, no meio dessas Suas luzes, encontramos a anunciao de um advento dos mais significativos para o reconfor-to espiritual dos homens, com a promessa Dele da chegada futura de outro Consolador.

    Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviar outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: - O Esprito de Verdade, que o mundo no pode receber, porque o no v e absolutamente o no conhece. Mas, quanto a vs, conhec-lo-eis, porque ficar convosco e es-tar em vs. - Porm, o Consolador, que o Santo Esprito, que meu Pai enviar em meu nome, vos ensinar todas as coisas e vos far recordar tudo o que vos tenho dito. (S. Joo, cap. XIV, vv. 15 a 17 e 26.)

    Jesus promete outro consolador: o Esprito de Verdade, que o mundo ainda no conhece, por no estar maduro para o compre-ender, consolador que o Pai enviar para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo h dito. Se, portanto, o Esprito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, que o

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    Cristo no dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido. O Espi-ritismo vem, na poca predita, cumprir a promessa do Cristo: pre-side ao seu advento o Esprito de Verdade. Ele chama os homens observncia da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus s disse por parbolas. Advertiu o Cristo: Ouam os que tm ouvidos para ouvir. O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o vu intencionalmente lanado sobre certos mistrios. Vem, finalmente, trazer a consolao suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim til a todas as dores.

    [...]

    Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem sai-ba donde vem, para onde vai e por que est na Terra; atrai para os verdadeiros princpios da lei de Deus e consola pela f e pela esperana. 1

    Lins de Vasconcellos (Arthur Lins de Vasconcellos Lopes, 1851 1952), uma das figuras mais destacadas do Movimento Espri-ta brasileiro, com vasta ficha de servios prestados ao Bem, teve, por exemplo, destacada atuao, entre 1947 e 1952, no adven-to do Pacto ureo 2, bem como sua participao na Caravana

    1 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap.VI, itens 3 e 4, p. 128 - 129.

    2 O chamado Pacto ureo foi um acordo celebrado entre a Federao Esprita Brasileira (FEB) e representantes de vrias Federaes e Unies de mbito estadual, visando unificar o movimento esprita a nvel nacional. Foi assinado na sede FEB, na cidade do Rio de Janeiro, a 5 de outubro de 1949. A expresso atribuda a Arthur Lins de Vasconcelos Lopes, um de seus signatrios poca. A assinatura do Pacto ureo foi a base para um entendimento entre as instituies espritas no pas, possibilitando uma nova fase de difuso da Doutrina Esprita, viabilizando a convivncia entre as mesmas sem prejuzo da liberdade de pensamento e da ao individuais. Como consequncia, em 1 de janeiro do ano seguinte (1950), foi institudo o Conselho Federativo Nacional da FEB (CFN), com a posse dos seus onze membros pelo pre-sidente da FEB. Em 8 de maro desse mesmo ano, o CFN lanou a Proclamao aos Espritas. Desde ento, o CFN exerce a funo de dirimir dvidas, orientando o movimento Esprita e recomendando diretrizes para os Centros Espritas.

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    da Fraternidade 3. ao lado de nomes como Leopoldo Machado, Francisco Spinelli e outros. Foi representante da Federao Esprita do Paran no Conselho Federativo Nacional e membro efetivo da Assemblia Deliberativa da Federao Esprita Brasileira, alm de Vice-presidente da Liga Esprita do Estado da Guanabara, 1 se-cretrio da Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro e seu presidente de honra, alm de muitos outros encargos. ele que nos diz:

    O Espiritismo, consolidando a promessa de Jesus Cristo, trouxe Terra um novo modus-operandi capaz de estimular o espri-to humano no roteiro da dignificao pessoal e social, fazendo-o religioso com religiosidade ntima, capaz de lig-lo realmente a Deus, destarte, convocando-o para o auxlio aos nufragos e ven-cidos morais do mar proceloso das aflies, redimindo-se, por fim, atravs da redeno que propicia ao prximo. 4

    Vianna de Carvalho (1847 1926), destacado conferencista esprita de eloquncia rara, articulista e polemista arrebatado, seu nome ficou demarcado na histria da difuso doutrinria em v-rios pontos do Brasil, que teve ensejo de residir ou de visitar, j que, como oficial do Exrcito Brasileiro, Engenheiro militar, perio-dicamente transferia-se de uma unidade militar outra. Culto e

    3 Firmado o Pacto ureo restava sua consolidao, colhendo as assinaturas das federa-es ausentes e criando federaes ou rgos de unificao em estados que ainda no o pos-suam. Para essa tarefa, formou-se um grupo de espritas com o propsito de visitar todos os Estados do Norte. Principalmente os Estados que ainda no tinham se decidido sobre o Pacto ureo, de 5 de outubro de 1949. Os caravaneiros - Arthur Lins de Vasconcelos, Carlos Jordo da Silva, Francisco Spinelli, Ary Casadio e Leopoldo Machado, iniciaram a jornada em 31 de outubro de 1950. De Salvador at o extremo Norte, os caravaneiros visitaram todas as capitais e mais Parnaba, vivendo em todas elas, inesquecveis programas de intensa vibrao doutrinria e fraternal. Em todas as cidades, a Caravana procedeu da maneira seguinte: (I) Conferncias culturais para o grande pblico, que atraram verdadeiras multides a elas, tare-fa quase que da responsabilidade do prof. Leopoldo Machado; (II) Reunies de mesa-redonda para reajustamento de pontos de vista de choque, das quais o ideal da unificao sempre saiu vitorioso, por isso que de todas elas foram lavradas as respectivas atas; (III) Visitas de est-mulo s instituies espritas de assistncia social; (IV) Programas sociais, organizados pelos irmos visitados. A Caravana, cumprida sua tarefa, desfez-se em 13 de dezembro do mesmo ano, encerrando suas viagens em Belo Horizonte, MG.

    4 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 224

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    fluente, encantava os ouvintes com a Mensagem Esprita. Firme e sensato, contribua com a organizao das Instituies que fre-quentava. Determinado e persistente, mantinha-se em constante trabalho pelo Bem. So suas estas palavras, colhidas de sua larga produo literria atravs da mediunidade de Divaldo Franco:

    No momento em que variam as tcnicas das cincias da alma, no estudo da personalidade humana e dos problemas que lhe so correlatos, o Espiritismo, conforme a Codificao Karde-quiana, a resposta clara e insofismvel para as aflies que se abatem sobre o homem, dando cumprimento promessa de Jesus, quanto ao Consolador, de que este, em vindo Terra, no somen-te Lhe recordaria as lies, como tambm esclareceria, confortaria e conduziria o ser atravs dos tempos... 5

    5 FRANCO, Divaldo P. Enfoques espritas. Pelo Esprito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1980, p. 144

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    Espiritismo3

    Aquilo que hoje estamos por fazer em nome do Espiritismo, alm da fidelidade aos seus princpios, h de estar em consonncia com seus propsitos, que foram estabelecidos desde os seus pri-mrdios e vm explicitados nas pginas da Codificao conforme palavras de Allan Kardec: Por meio do Espiritismo, a Humanida-de tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe consequncia inevitvel. 1

    quando o Espiritismo demonstra-nos seu grande fanal, agin-do e fomentando nossas prprias mudanas ntimas, para melhor.

    A literatura esprita rica em citaes destacando o quanto o Espiritismo, qual celeiro de bnos, guarda em seu bojo benef-cios Humanidade, bastando que o homem dele se aproxime e, dedicado e laborioso, possa servir-se com abastana segundo as suas necessidades.

    Quando os ensinos espritas forem bem compreendidos, exa-minados, absorvidos pelos homens, estes mudaro o comporta-

    1 KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Concluso, V, p. 482.

    O grandefanal do

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    mento social, em razo da modificao moral que cada ser se impor, erguendo-se uma comunidade pacfica e justa, a es-praiar-se, generosa, por toda parte, auxiliando a transformao da Terra, regenerada e luminosa, que seguir no rumo da destina-o que a espera como aos seus habitantes, hoje em lutas cruentas e rudes, por haverem abdicado das armas do amor, da mansido e da fraternidade.

    Este o grande fanal do Espiritismo. 2

    Raul Teixeira, uma das vozes mais firmes da atualidade na di-vulgao fidedigna da Mensagem Esprita ao redor do Mundo, quando questionado: Qual a principal Mensagem Esprita?, deu-nos esta sntese notvel:

    Raul A mais excelente Mensagem Esprita se configura na proposta de renovao espiritual da pessoa humana. Para o Es-piritismo, o fenmeno mais importante que se pode dar com o in-divduo o do seu progresso para Deus, o que se opera mediante o desenvolvimento intelectual, a fim de que conhea as leis que regem o nosso universo material, e o desenvolvimento moral, que se caracteriza pelo devido cumprimento das leis morais, ou seja, aquelas que regem a vida da alma. 3

    Leiamos as ponderadas palavras de Allan Kardec, tambm chamado o bom-senso reencarnado:

    Quando todos os homens compreenderem o Espiritismo, com-preendero tambm a verdadeira solidariedade e, conseguinte-mente, a verdadeira fraternidade. Uma e outra ento deixaro de ser simples deveres circunstanciais, que cada um prega as mais das vezes no seu prprio interesse e no no de outrem. O reinado da solidariedade e da fraternidade ser forosamente o da justi-a para todos e o da justia ser o da paz e da harmonia entre os indivduos, as famlias, os povos e as raas. Vir esse reinado?

    2 FRANCO, Divaldo P. Enfoques espritas. Pelo Esprito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1980, p. 21 - 22

    3 TEIXEIRA, Raul T. Ante o vigor do Espiritismo. Entrevistas. Niteri, RJ: Frater, 1998, p. 20

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    Duvidar do seu advento seria negar o progresso. Se compararmos a sociedade atual, nas naes civilizadas, com o que era na Idade Mdia, reconheceremos grande a diferena. Ora, se os homens avanaram at aqui, por que haveriam de parar? Observando- se o percurso que eles ho feito apenas de um sculo para c, po-der-se- avaliar o que faro daqui a mais outro sculo.

    [...]

    Qualquer que seja a influncia que um dia o Espiritismo che-gue a exercer sobre as sociedades, no se suponha que ele ve-nha a substituir uma aristocracia por outra, nem a impor leis; pri-meiramente, porque, proclamando o direito absoluto liberdade de conscincia e do livre-exame em matria de f, quer, como crena, ser livremente aceito, por convico e no por meio de constrangimento. Pela sua natureza, no pode, nem deve exercer nenhuma presso. Proscrevendo a f cega, quer ser compreendi-do. Para ele, absolutamente no h mistrios, mas uma f racional, que se baseia em fatos e que deseja a luz. No repudia nenhuma descoberta da Cincia, dado que a Cincia a coletnea das leis da Natureza e que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Cincia fora repudiar a obra de Deus. Em segundo lugar, estando a ao do Espiritismo no seu poder moralizador, no pode ele assumir nenhuma forma autocrtica, porque ento faria o que condena. Sua influncia ser preponderante, pelas modificaes que trar s ideias, s opinies, aos caracteres, aos costumes dos homens e s relaes sociais. E maior ser essa influncia, pela circunstn-cia de no ser imposta. Forte como filosofia, o Espiritismo s teria que perder, neste sculo de raciocnio, se se transformasse em po-der temporal. No ser ele, portanto, que far as instituies do mundo regenerado; os homens que as faro, sob o imprio das ideias de justia, de caridade, de fraternidade e de solidariedade, mais bem compreendidas, graas ao Espiritismo. 4

    Francisco Spinelli, que desencarnou em 7 de agosto de 1955, presidiu a Federao Esprita do Rio Grande do Sul (Fergs), inte-

    4 KARDEC, Allan. Obras pstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, As expiaes coletivas, p. 270-271.

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    grou a Caravana da Fraternidade, que percorreu vrios estados do pas na propaganda da unificao da prtica esprita, foi o criador do programa da Federao Esprita do Rio Grande do Sul (Fergs): Em cada Centro Esprita uma Livraria, e grande incenti-vador da Evangelizao da Infncia e da Juventude, daqueles que continua contribuindo do mundo espiritual com sua viso da real grandeza e beleza do Espiritismo atravs de seus ditados:

    A misso do Espiritismo inclinar o homem para a fonte da mo-ral austera do Cristo, oferecendo-lhe a gua lustral do equilbrio e o po salutar da esperana a fim de que, saciado, possa dirigir os passos no rumo da equidade e da honra, em busca do fanal da vida: a felicidade plena!

    [...]

    Penetremo-nos, portanto, do dever sadio e nobre da edifica-o do bem em ns mesmos e, sejam quais forem as conjunturas negativas que os possam intimidar, tenhamos em mente que o Se-nhor, embora abandonado por todos, no Pretrio, era o Prncipe vencedor, enquanto Barrabs, aclamado pela maioria, represen-tava o crime que a sociedade pretendia combater.

    Certos de que a nossa tarefa devemos faz-la e o nosso dever cabe-nos cumpri-lo, avancemos resolutos e amparados no escla-recimento que acende uma luz ntima na mente, seguindo o ideal espiritista que, atestando a nossa incorruptvel imortalidade, nos oferece a instrumentao para vencer todas as dificuldades e che-gar ao posto de vitria com a honra ilibada e o corao tranquilo. 5

    Se as propostas espritas so to salutares para ns, por que no oportunizarmos a experincia desse conhecimento aos ou-tros? Se nos sentimos estimulados por essa mensagem em viven-ciar seus ensinamentos no nosso dia a dia, na vida de relao social, com nossa famlia, outros no podero faz-lo tambm, em benefcio prprio, desde que conheam dessas lies? Ento,

    5 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 61-64

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    por que no o fazemos atravs de iniciativas pessoais e tambm nos engajando com mais afinco nas aes de divulgao do Espi-ritismo, nas tarefas no Centro Esprita?

  • Ao Espiritismo compete a tarefa indeclinvel de espalhar nova luz sobre a

    Humanidade inquieta e atormentada.

    Vianna de Carvalho

  • Ns e o Espiritismo

    E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

    parte 2

  • Este instante o de fazer luz, o da nossa definio esprita, o da nossa realizao

    clara e firme, qu edeixe na histria dos tempos o sulco profundo da nossa

    integrao nas hostes da Doutrina apresentada por Allan kardec, como sinal inapagvel da nossa vitria sobre a morte,

    sobre o engodo, sobre a inferioridade, sobre ns mesmos, antecipando a nossa

    ressurreio que j comea, para a nossa penetrao na vida estuante que nos espera.

    Lins de Vanconcellos

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    O nossochamadoPessoal

    4

    Quando nos propomos e nos dedicamos a conhecer as proposi-es espritas, na medida em que vai se dando o entendimen-to das suas lies, de modo natural e espontneo vo ocorendo transformaes de pensamentos e atitudes nossas perante a vida.

    o que nos afirma Allan Kardec:

    [...] Para os que compreendem o Espiritismo filosfico e nele veem outra coisa, que no somente fenmenos mais ou menos curiosos, diversos so os seus efeitos.

    O primeiro e mais geral consiste em desenvolver o sentimento religioso at naquele que, sem ser materialista, olha com absoluta indiferena para as questes espirituais...

    O segundo efeito, quase to geral quanto o primeiro, a resig-nao nas vicissitudes da vida. O Espiritismo d a ver as coisas de to alto, que, perdendo a vida terrena trs quartas partes da sua importncia, o homem no se aflige tanto com as tribulaes que a acompanham. Da, mais coragem nas aflies, mais moderao nos desejos...

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    O terceiro efeito o estimular no homem a indulgncia para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre diz-lo, o princpio ego-sta e tudo que dele decorre so o que h de mais tenaz no homem e, por conseguinte, de mais difcil de desarraigar [...] 1

    E alargando esse entendimento do contedo doutrinrio e de suas propostas, melhor contextualizamos o Espiritismo na Terra e o que ele representa para a Humanidade, e, por conseguinte, nos vemos envoltos pelas malhas da responsabilidade com o bem e a verdade, que do seu bojo extramos e que passamos a ter, na qua-lidade de adeptos que somos dessa Doutrina revivescente do Cris-tianismo simples e puro. Mais nitidamente, ento, se despontam nossos compromissos para conosco mesmo e para com o prximo, perante a imortalidade, e se apresenta, como um grito silencioso de nossa conscincia, nosso chamado para o servio do bem.

    Ouamos esse chamado vindo diretamente do venerando Es-prito Bezerra de Menezes:

    Fomos chamados para a construo da Era Melhor.

    Estamos convocados para a tarefa sacrossanta do amor.

    Doutrina Esprita conhecimento com responsabilidade; com-promisso indeclinvel que nos impomos, a fim de ressarcirmos o passado de sombras, de dvidas, de mancomunaes com o mal que ainda vive dentro de ns.

    [...]

    O Espiritismo, no seu segundo sculo, chama-se ao.

    At h pouco, combatiam a mensagem luminosa. Os adver-srios, porm, da Terceira Revelao, filhos meus, esto agora dentro de nossas fileiras, dentro de ns... Ou modificamos a nossa forma de agir, de servir e de amar, ou seremos responsveis pelo adiamento da concretizao dos ideais do Consolador na Terra. Esta a religio, cujo nome foi dado por Jesus. O Consolador, no

    1 KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Concluso, VII, p. 488-489.

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    o esqueamos.

    Consolemos as lgrimas, estancando-as no seu nascedouro; atendamos dor, ferindo-a na origem. Lutemos contra o mal em nossa alma e ganharemos a Terra da Paz.

    Hoje o fruto do nosso ontem, mas o amanh o nosso hoje vitorioso nimbado de bnos com Jesus... 2

    2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Esprito Bezerra de Menezes. Salvador, BA: Leal, 1991, p. 83-84

  • O de que carece o Movimento Esprita, em seus labores, daqueles que se sintonizem

    com a lgica do pensamento esprita, aprumada nas consideraes clarificadoras do Esprito da Verdade, capaz de facear o avano intelectual terrestre, sem temores, sem tibieza, estabelecendo a inabalvel f, que faz a alma crescer, iluminar-se, libertando-se do cruel pieguismoo da

    exaltao neurtica ou, ainda, do anseio do domnio da opinio, quando uma luz mail alto se ergue, a do Cristo, que o Espiritismo

    alimenta com os leos da sua celeste inspirao.

    Camilo

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    Clarezade Posicionamentos

    5

    Relembremos aqui alguns conceitos, a fim de que, com eles vi-vos na lembrana e pulsantes em nossos coraes, reavaliemos nosso comportamento dirio, e, se necessrio, empreendamos urgentes correes em nosso curso vivencial, recuperemos even-tuais valores que deixaram de ser considerados, reconsideremos certos posicionamentos equivocadamente adotados por ns. Mas que tais proposies no fiquem no discurso, mas se efetivem na prtica diria.

    Para se designarem coisas novas so precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confuso ine-rente variedade de sentidos das mesmas palavras.

    Os adeptos do Espiritismo sero os espritas, ou, se quiserem, os espiritistas. 1

    O Espiritismo se apresenta sob trs aspectos diferentes: o das manifestaes, o dos princpios e da filosofia que delas decorrem

    1 KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Concluso, VII, p. 486-487.

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    e o da aplicao desses princpios. Da, trs classes, ou, antes, trs graus de adeptos: 1 os que creem nas manifestaes e se limitam a comprov-las; para esses, o Espiritismo uma cincia experi-mental; 2 os que lhe percebem as consequncias morais; 3 os que praticam ou se esforam por praticar essa moral. 2

    Segundo o Dicionrio Aulete, adepto quem ou o que apren-deu ou assimilou ideias, princpios, de uma religio, doutrina etc. Tambm quem ou o que segue, defende, partidrio de uma religio, uma organizao, uma doutrina etc. Bem como aquele que admira e/ou apoia determinada ideia, certos princpios mo-rais, ou modos de agir, de ser, de pensar etc.

    Com o Espiritismo Doutrina de ao por excelncia o crente se renova, dia a dia, vivendo a f em todos os atos. Experimen-tando-a, passa a viver em permanente culto de servio edificante, porquanto, como Cristo que emerge dos fundos dos tempos, a Ca-ridade faz-se o selo de identificao dos coraes no abenoado solo das imperecveis realizaes.

    Foi por essa razo que Allan Kardec, o apstolo lions, afir-mou: - A Caridade a alma do Espiritismo. Ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para os seus semelhan-tes. por isso que se pode dizer que no h verdadeiro esprita sem Caridade. Porque se a F crist Jesus em luz na alma do homem, a Caridade a luz de Jesus no corao da Humanidade inteira.

    Descortinando novos horizontes para o mundo, a f esprita brilha convidativa renovando concepes em torno da vida e feli-citando o ser. 3

    Assim, na qualidade de adeptos do Espiritismo, deveremos perseguir seu Norte proposto.

    2 KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Introduo, I, p. 13

    3 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 216-217

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    A Doutrina Esprita, na atualidade, no se reveste apenas de lapidares conceitos, antes se constitui parte essencial para o nosso modus-vivendi na Terra.

    No apenas uma mensagem nobre, mas um programa de ao.

    No somente uma bela Filosofia, porm um roteiro para a evoluo.

    Estudemos, portanto, a Doutrina para viv-la; conheamos a Doutrina para ensin-la, realizando o servio que nos cabe. 4

    4 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 19

  • O segredo da felicidade se encontra na ao consciente em relao s Leis Divinas e ao

    estatuto de comportamento humano.

    Joanna de ngelis

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    Esprita6

    No h como deixar de se perceber o quanto o comportamento humano est em desalinho com os princpios cristos. Por con-seguinte, o quo distante est a consolidao dessa Era Nova na Terra. Aparentemente, tudo conspira contra, havendo pouqussima ateno dos homens para com as coisas de Deus.

    O flagrante modelo de vida praticado por maioria de ns, onde prepondera esforos quase que totais pelo ter, em detrimen-to, chegando quase ao desprezo, do propsito pelo ser, tem o egosmo como seu agente causal. Para os seguidores desse mode-lo, o imediatismo e o consumismo so as nicas regras conhecidas para um bem viver. A mensagem que prope o altrusmo e a ca-ridade como alavancas para se alcanar dias melhores, parece, para estes, como fantasiosas, utpicas, sem consistncia, portanto desconsideradas.

    No entanto, apesar de ser uma luta de pigmeus contra gigan-tes, travada entre a proposta vivencial crist e o atual modo de viver preponderante entre a maioria dos homens, no h como impedir a instalao definitiva do reino dos cus na Terra, pois o

    O verdadeiro

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    progresso intelecto moral da Humanidade Lei Divina. A hora de escolhas e definies.

    Jesus, meus filhos que prossegue crucificado pela ingratido de muitos homens livre em nossos coraes, caminha pelos nossos ps, afaga com nossas mos, fala em nossas palavras gen-tis, e s v beleza pelos nossos olhos fulgurantes, como estrelas luminferas no silncio da noite. 1

    Adolfo Bezerra de Menezes (Adolfo Bezerra de Menezes Ca-valcanti, 1831 1900), Esprito Benfeitor, em sua ltima existncia notabilizou-se pelo seu amor e dedicao ao prximo e ao Espi-ritismo. Recebeu carinhosamente vrios codinomes, como quali-ficativos do seu trabalho mpar em terras brasileiras, como, por exemplo: Mdico dos Pobres, Kardec Brasileiro. Esse venerando Esprito-esprita, pela extenso de sua atuao em prol da assis-tncia as necessidades humanas e da divulgao da Mensagem Esprita, pela excelncia do amor que vivencia como Guia da Hu-manidade que , ofertou-nos mais esta oportuna recomendao:

    Nesse homem aturdido, porm, encontra-se a oportunidade de construir o mundo novo, a era melhor do esprito, a que se refe-rem as palavras renovadoras de Jesus.

    Antdoto para as problemticas afligentes da atualidade o Espiritismo, conforme no-lo ofereceu Allan Kardec, em mensagem de lgica e cincia, de f e razo, abrindo o prtico da Era Nova, mediante a proposio do Cristianismo restaurado.

    Indispensvel, portanto, estudar Kardec para melhor compre-ender e amar Jesus.

    Imperioso conhecer o Espiritismo nas suas fontes puras para, com mais acerto, viver-se o Cristianismo, em esprito e verdade.

    Eis por que saudamos, nos labores deste dia, um brado de re-novao e uma metodologia libertadora, tendo em vista o mo-

    1 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Esprito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 116

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    mento grave em que se vive na Terra.

    S uma Doutrina que enfrente a razo face a face e encontre respaldo na cincia, poder oferecer uma f robusta capaz de conduzir a criatura com segurana pelo rumo da paz.

    Espritas, meus irmos, estudai para conhecer e instru-vos para viver o amor em toda a sua plenitude.

    No vos inquieteis ante as dificuldades que repontam em toda parte.

    Mantende o nimo seguro e permanecei vinculados ao Senhor, a rocha nossa. 2

    Como dissemos anteriormente, quando as luzes da aceitao da mensagem crist e do seu entendimento nos visitam, descorti-nam-se para ns as nossas responsabilidades para conosco mes-mo e para com o prximo, pedindo-nos no apenas promessas, mas real e duradouro comprometimento com a Causa do Bem. No para mudar o Mundo, propriamente dito, mas para realizar mudanas positivas em ns prprios, em nosso mundo ntimo. Ho-mem transformado, Mundo transformado!

    Em apoio orientativo a essa responsabilidade nobre que vai, ou que deveria ir, dominando nossas atenes e aes, conforme vamos melhor compreendendo e mais vivenciando o Espiritismo, Allan Kardec questionou os Espritos das Luzes 3:

    642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posio futura, bastar que o homem no pratique o mal?

    No; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas foras, por-quanto responder por todo mal que haja resultado de no haver praticado o bem.

    2 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Esprito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 68

    3 KARDEC, Allan. O livro dos espritos. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998.Perg. 642 e 643, p. 313

  • 50 | O grande portal da era nova

    643. Haver quem, pela sua posio, no tenha possibilidade de fazer o bem?

    No h quem no possa fazer o bem. Somente o egosta nun-ca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relaes com outros homens para que se tenha ocasio de fazer o bem, e no h dia da existncia que no oferea, a quem no se ache cego pelo egosmo, oportunidade de pratic-lo. Porque, fazer o bem no consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser til, na medida do possvel, todas as vezes que o seu con-curso venha a ser necessrio.

    Para bem definir os caracteres do verdadeiro esprita, Allan Kardec contempla-nos ainda com suas luzes conceituais:

    Reconhece-se o verdadeiro esprita pela sua transformao moral e pelos esforos que emprega para domar suas inclinaes ms. 4

    E nos brinda com mais estas consideraes:

    Os que no se contentam com admirar a moral esprita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequncias. Convencidos de que a existncia terrena uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avanar pela senda do progresso, nica que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espritos, esforando- se por fazer o bem e coibir seus maus pen-dores. As relaes com eles sempre oferecem segurana, porque a convico que nutrem os preserva de pensarem praticar o mal. A caridade , em tudo, a regra de proceder a que obedecem. So os verdadeiros espritas, ou melhor, os espritas cristos. 5

    Emmanuel tambm contribui com a fixao desta definio do verdadeiro esprita em nossa memria, e o faz pela luminosa me-diunidade de Francisco Cndido Xavier, lecionando:

    4 KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 17, item 4, p. 276.

    5 ________. O livro dos mdiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979. Cap. 3, item 28, q. 3, p. 41.

  • O grande portal da era nova | 51

    Sabem que a existncia na Terra como estgio na escola.

    E, por isso, no perdem tempo.

    Moram no trabalho constante.

    Indulgentes para com todos e severos para consigo mesmos.

    Aceitam a justia perfeita, atravs da reencarnao, e acolhem no sofrimento o curso preciso ao burilamento da prpria alma.

    Verificam que o erro dos outros podia ser deles prprios e, em razo disso, no perdem a pacincia.

    Reconhecendo-se imperfeitos, perdoam, sem vacilar, as im-perfeies alheias.

    E vivem a caridade como simples dever, aprendendo e servin-do sempre.

    So esses que Allan Kardec, em sua palavra esclarecida, de-fine como sendo os espritas verdadeiros ou, melhor, os espritas--cristos. 6

    Nessa jornada pelo continente de nossa alma, identificamos conquistas realizadas e a realizar, observamos necessidades nos-sas e dos nossos irmos, e isso se d em vrios momentos e situa-es ao longo da existncia de cada um de ns.

    Trs caracteres h em todo homem: o do indivduo, do ser em si mesmo; o de membro da famlia e, finalmente, o de cidado. 7

    necessrio no fugir do mundo, nem das responsabilidades que nos cercam, mas, sim, realizar, e bem, a parte de servio con-fiada ao nosso esforo, nos crculos de luta a que estamos sujeito.

    A atitude primordial do discpulo sincero , portanto, compre-

    6 XAVIER, Francisco C. Seara do mdiuns. Pelo Esprito Emmanuel. 2. ed. Rio de Jan eiro: FEB, 1961, p. 32

    7 KARDEC, Allan. Obras pstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, As expiaes coletivas, p. 266

  • 52 | O grande portal da era nova

    ender o carter transitrio da existncia carnal, concientizar-se de sua imortalidade, consagrar-se ao Mestre como centro essencial da vida e repartir com os semelhantes os seus divinos benefcios.

    Valorizemos, pois, no Espiritismo, a vida, a vida abundante, conduzindo nossas convices em atos que falem da excelncia da f imortalista capaz de libertar mentes e tranquilizar coraes, em definitivo. 8

    8 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 163

  • O grande portal da era nova | 53

    Cristo

    7

    A beleza, a profundidade, a abrangncia, a objetividade e a qualidade da mensagem da qual nos fazemos portadores nas atividades de exposio doutrinria e de coordenao de gru-pos de estudos focos deste nosso arrazoado das quais par-ticipemos, deve ter utilidade para ns prprios, primordialmente, devendo estar em permanente aplicao nas nossas experincias vivenciais, comportamentais. Assim se dando, a nossa fala estar revestida da segurana emocional de quem no somente sabe o que diz, mas de quem j faz uso daquele ensino. Assim, a beleza e a qualidade da mensagem estaro suplementadas pela subs-tncia dos nobres sentimentos de quem a transmita, por estar este ciente e confiante de que o que est por repassar aos outros em nome da Doutrina Esprita, o melhor para si prprio tambm. A confiana contagiante. A falta dela tambm.

    Nos diz E. Kelly: A diferena entre um chefe e um lder: um chefe diz, V! - um lder diz, Vamos!

    No estamos postulando a condio de que se seja esprito

    Cuidados pessoais a servio do

  • 54 | O grande portal da era nova

    puro para que se possa veicular a Mensagem Esprita. Seria enor-me tolice, mas, sim, que estejamos enquadrados na definio kar-dequiana, de quem reconhece suas tendncias ms e empreende continuado esforo em venc-las.

    H um provrbio na Sucia que diz: Quando um cego carrega o manco, ambos vo para a frente, ilustrando a condio de que somos todos irmos em caminhada comum de evoluo espiritual. E auxiliando-nos mutuamente, a caminhada ser menos agreste.

    Acompanhemos a abordagem de Lins de Vasconcellos sobre o tema:

    A Revelao Esprita, porm, cristalina e inconfundvel, con-clamando todos aqueles que dela se abeberam a um aprofunda-do estudo em torno da vida imortal e impondo a tnica da reno-vao interior, de modo a consubstanciar nas atividades de toda hora o programa traado pela linha mestra da Codificao: Fora da Caridade no h salvao.

    Estes so dias em que se fazem necessrios muito siso no estu-do e muita meditao antes de atitudes e cometimentos, de modo que o labor duramente desenvolvido desde h mais de cem anos no venha a sofrer soluo de continuidade por capricho de uns ou insolncia de outros, estribados em opinies pessoais ou apres-sadas disposies de divergir e dissentir...

    Merece que reexaminemos os postulados kardequianos, aprendendo mais uma vez, como embaixadores das vozes de que nos fazemos, a tcnica da ao relevante pelo trabalho que edifica, da solidariedade que ajuda e da tolerncia que firma o valor do homem na gleba abenoada da caridade. Quando os problemas surgem, urge a aplicao da atitude reflexiva; quan-do as necessidades se multiplicam indispensvel parar a fim de meditar; quando os empeos se avolumam, faz-se imperioso examinar o bice para vencer as dificuldades, afastando-as do caminho.

    [...]

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    Mais do que nunca estamos sendo convidados a um trabalho positivo de construo da nova Humanidade. Que as nossas ati-tudes no venham comprometer o programa superior, que no mo-mento repousa em nossas dbeis e agitadas mos. 1

    Cuidemos para que no sejamos daqueles referidos por Jesus, quando nos disse: Mas ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! pois que fechais aos homens o reino dos cus; e nem vs entrais nem deixais entrar aos que esto entrando. 2

    No nos enganemos quanto s nossas responsabilidades. Coloquemos acima dos pontos de vistas a Doutrina Esprita, e alm das ambies pessoais o sagrado ideal que juramos desdo-brar e defender, se necessrio com o contributo da nossa renncia e da nossa abnegao. 3

    Est escrito em algum lugar, e com outras palavras, que al-canar o inferno pelos seus caminhos prprios, uma questo de escolha, que devemos respeitar; mas se chegar ao inferno supondo estar trilhando os caminhos do cu, de se lastimar tamanha insensatez.

    H pessoas demolidoras e pessimistas em matria de f, que esto sempre acionando os camartelos da devastao.

    Cultivando o mau-humor, fazem-se rspidas, e o que produ-zem, acionadas por um ideal, desfazem-no pela forma azeda com que se comunicam com os que participam da sua ao.

    Acreditam-se sempre certas, sem darem margem aos outros de opinar em contrrio.

    Agridem, verbalmente, as correntes com as quais no simpa-tizam, vendo o lado pior de tudo, sem apresentarem a beleza do

    1 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 98-99

    2 Mateus (23 : 13)

    3 FRANCO, Divaldo P. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espritos. 3.ed, Salva-dor, BA: Leal, 1979, p. 99

  • 56 | O grande portal da era nova

    seu ideal incorporada ao seu comportamento.

    Disseminando a ideia do bem, pem-se contra os outros, os que no concordam com as suas expresses, tanto quanto com aqueles que, embora favorveis, no se lhes submetem ao talante.

    So uma propaganda negativa do que pensam defender com entusiasmo e agressividade.

    O Espiritismo, sendo doutrina de libertao e responsabilida-de, no passa indene a esses propagandistas da violncia. 4

    A luz no faz coleo de sombras. No percamos tempo, no desprezemos a oportunidade do trabalho no bem, no disperse-mos foras, no prestemos desservios em nome do Senhor. A hora de se definir pela ao nobre, apoiados nos objetivos radiantes da sua luminosa doutrina.

    So altamente expressivas estas palavras de Emmanuel, Espri-to, alertando-nos sobre a importncia do tempo:

    Vem!

    Jesus reserva-te os braos abertos.

    Vem e atendo-o ainda hoje. verdade que sempre alcanaste ensejos de servio, que o Mestre sempre foi abnegado e miseri-cordioso para contigo, mas no te esqueas de que as circunstn-cias se modificam com as horas e de que nem todos os dias so iguais. 5

    No te endureas, pois, na estrada que o Senhor te levou a trilhar, em favor de teu resgate, aprimoramento e santificao. Re-corda a importncia do tempo que se chama Hoje. 6

    Desfrute hoje, mais tarde do que supes, recomenda provr-4 FRANCO, Divaldo P., CHRISPINO, lvaro (Organizador). Aos espritas. Coletnea. Salvador, BA: Leal, 2005, p. 45

    5 XAVIER, Francisco, C. Fonte viva. Pelo Esprito Emmanuel. 24.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000, p. 344

    6 ________. Po nosso. Pelo Esprito Emmanuel. 18.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, p. 150

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    bio chins.

    [...] Tipo magro de rosto ovalado e de faces rosadas; olhos de um azul bem claro, com entradas frontais acentuadas e bem ampla tonsura. Dono de um discreto e afvel sorriso e de um olhar tranquilo e penetrante [...] 7, assim Raul Teixeira descreve o Esp-rito Camilo, seu orientador espiritual na grandiosa tarefa atual de espalhar os ensinos de Jesus no mundo. Este Benfeitor Espiritual, fortemente vinculado a semeadura do Bem na Terra, que teve oca-sio de nos dizer que o Espiritismo como um gigantesco oceano do qual estamos nas praias, apenas ...8 nos traz suas amadureci-das reflexes, firmes e determinantes, encharcadas com o afeto paternal de quem dedica profundo amor a Jesus:

    Entre os companheiros que se situam nesse contexto de ditos espiritistas, grande quantidade ignora os conceitos basilares esp-ritas, mas h outros que se esmeram nas leituras, conhecem vrios textos e autores, no para que retirem a orientao feliz para as suas existncias, porm, a fim de viverem se digladiando uns com os outros a respeito de pontos de vista que, como pontos de vista, estaro sempre firmados nas faixas de maturidade e de conquis-tas feitas por cada um, sem que, obrigatoriamente, reflitam o real sentido das propostas espritas.

    [...]

    O de que carece o Movimento Esprita, em seus labores, da-queles que se sintonizem com a lgica do pensamento esprita, aprumada nas consideraes clarificadoras do Esprito Verdade, capaz de facear o avano intelectual terrestre, sem temores, sem tibieza, estabelecendo a inabalvel f, que faz a alma crescer, ilu-minar-se, libertando-se do cruel pieguismo ou da exaltao neu-rtica ou, ainda, do anseio de domnio da opinio, quando uma luz mais alto se ergue, a do Cristo, que o Espiritismo alimenta com

    7 FARIA, Osvaldo E. O chamado dos irmos da luz. Niteri, RJ: Frater, 2008, p. 107

    8 Ibid. p. 109

  • 58 | O grande portal da era nova

    os leos da sua celeste inspirao. 9

    ainda o Benfeitor Espiritual Camilo que nos traz considera-es graves como sinal de alerta:

    Variados tm sido os que se deixam conduzir pelas influncias narcticas de muitas mentes atreladas ao mal ou ao marasmo, do Mundo Invisvel, naturalmente desleixados com relao a vigiln-cia ntima, realizando seu afazeres, quando os realizam, como quem se desincumbe de um fardo pesado e difcil, mas no como quem participa do alevantamento espiritual da Humanidade.

    [...]

    Surgem problemas a solucionar na esfera de renovao do Esprito, sempre postergados, sem que os companheiros se deem conta de que podero estar sendo minados por fluidos aneste-siantes da vontade.

    Uma vez que no puderam impedir que muitas criaturas acei-tassem e desejassem servir na Seara do Cristo, Entidades do Alm, inimigas do progresso e da luz, que no se do por vencidas com a primeira perda, fazem com que esses mesmos indivduos no se movimentem no bem, que tem carter de premncia e que depen-de to somente da boa vontade dos lidadores. Esto no movimen-to do bem, mas no atuam com o bem, o que sempre lastimvel. 10

    E arremata:

    O que se v um processo de pouca vontade para empreen-der mudanas em si mesmo...

    [...]

    Muitos do preferncia ao uso de expresses que bem indicam a sua pouca disposio de transformao superior: no h nada

    9 TEIXEIRA, Raul T. Correnteza de luz. Pelo Esprito Camilo. Niteri, RJ: Frater, 1991, p. 51-53

    10 Ibid. p. 145-146

  • O grande portal da era nova | 59

    demais nisso, todo mundo faz assim, todo mundo usa isso, enquanto outros preferem: no sou de ferro, sou humano ain-da, no sou fantico. Entretanto, surgem os que j se admitem como so, fazendo do seu estado um estado intocvel que alimen-tam afirmando: comigo assim..., quem quiser gostar de mim tem que ser assim, sou muito bom, mas no me pise no calo..., e seguem desfilando as suas mximas, mantendo o processo pernicioso de suas renitentes perturbaes indefinidamente. 11

    Necessrio refletirmos demoradamente, o tempo urge. Ama-nh um dia to distante que talvez no o alcancemos ainda pre-sos ao corpo fsico. Guardemos em lugar especial da memria e do corao, recomendaes colhidas na Boa Nova, que concla-ma-nos a tomar da charrua e no olhar para trs, e, decididos pelo Bem incondicionalmente, faamos do dia de hoje o nosso grande e importante dia de nossas vidas.

    Convm que eu faa as obras daquele que me enviou, enquan-to dia; a noite vem, quando ningum pode trabalhar. 12

    Importa, porm, caminhar hoje, amanh, e no dia seguinte.... 13

    A questo do tempo to sria e grave, que desde os tempos em que o Meigo Rabi caminhava pelas terras ridas da Palestina, o alerta j nos era dado:

    Digo-vos que no sabeis o que acontecer amanh. Porque, que a vossa vida? um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. 14

    Camilo, Esprito, sempre afvel e paternal, amigo e diligente orientador de todos ns, quando, em 15 de maro de 1974, se apresentou por primeira vez mediunicamente Raul Teixeira, assim

    11 Ibid. p. 140-141

    12 Joo (9 : 4)

    13 Lucas (13 : 33)

    14 Tiago (4 : 14)

  • 60 | O grande portal da era nova

    dirigiu-lhe especial mensagem, demarcando nova etapa em sua vida: Meu filho, Jesus, cujo nome vem sendo proferido por ns ao longo das eras e, ao mesmo tempo, por ns incompreendido, dever ser a nossa Estrela Maior, a nossa Inspirao Maior, o nos-so Aconchego Maior. Se lograrmos dar conta desse compromis-so, iniciado h tantos sculos sem o necessrio xito, sorveremos a ventura no clice da vitria, milenarmente suspirada. O tempo urge filho, e no o teremos demasiado... Esquea-se a si mesmo; recorde-se, porm, dos velhos deveres junto ao Irmo Serfico de Assis, e que nada nos detenha. Vamos, meu filho, pois o Divino Amigo tem-nos sob o Seu olhar de misericrdia, e temos bem pou-co tempo... 15

    Tomemos estas palavras, como se para ns tivessem sido diri-gidas diretamente, e repitamo-las intimamente no silncio do nos-so corao, para que ali finquem razes inamovveis: Vamos, meu filho, pois o Divino Amigo tem-nos sob o Seu olhar de misericrdia, e temos bem pouco tempo...

    E sempre que iniciarmos um novo dia, que sinnimo da bon-dade Divina ofertando-nos novas oportunidades, o faamos re-fletindo sobre o que nos prope Emmanuel, Esprito, em face da indagao posta por Jesus: Que fazeis de especial? 16

    Em face, pois, de tantos conhecimentos e informaes dos pla-nos mais altos, a beneficiarem nossos crculos felizes de trabalho espiritual, justo ouamos a interrogao do Divino Mestre:

    - Que fazeis mais do que os outros? 17

    H trs coisas que nunca voltam atrs: a flecha lanada, a pa-lavra pronunciada e a oportunidade perdida, fala brocardo po-pular chins.

    Num belo aplogo, conta Rabindranath Tagore que um lavra-

    15 FARIA, Osvaldo E. O chamado dos irmos da luz. Niteri, RJ: Frater, 2008, p. 107

    16 Mateus (5:47)

    17 XAVIER, Francisco, C. Vinha de luz. Pelo Esprito Emmanuel. 15.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, p. 134

  • O grande portal da era nova | 61

    dor, a caminho de casa, com a colheita do dia, notou que, em sentido contrrio, vinha suntuosa carruagem, revestida de estrelas. Contemplando-a, fascinado, viu-a estacar, junto dele, e, semies-tarrecido, reconheceu a presena do Senhor do Mundo, que saiu dela e estendeu-lhe a mo a pedir-lhe esmolas...

    - O qu? refletiu, espantado o Senhor da Vida a rogar-me auxlio, a mim, que nunca passei de msero escravo, na aspereza do solo?

    Conquanto excitado e mudo, mergulhou a mo no alforje de trigo que trazia e entregou ao Divino Pedinte apenas um gro da preciosa carga.

    O Senhor agradeceu e partiu.

    Quando, porm, o pobre homem do campo tornou a si do pr-prio assombro, observou que doce claridade vinha do alforje po-eirento... O grnulo de trigo, do qual fizera sua ddiva, tornara sacola, transformado em pepita de ouro luminescente...

    Deslumbrado, gritou:

    - Louco que fui!... Por que no dei tudo o que tenho ao Sobe-rano da Vida? 18

    Vamos repetir as consideraes do Esprito Camilo, a fim de bem as fixarmos na memria: Se lograrmos dar conta desse com-promisso, iniciado h tantos sculos sem o necessrio xito, sorve-remos a ventura no clice da vitria, milenarmente suspirada.

    Para tanto, nos esforcemos para que no nos faamos espinho, quando podemos ser as ptalas da rosa; para que no sejamos problema, quando podemos ser soluo; que no nos faamos obstculo, quando podemos ser ponte de comunho.

    Adotemos os apontamentos de Tiago, o apstolo, em 1:19:

    Mas, todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tar-

    18 XAVIER, Francisco, C. Cartas e crnicas. Pelo Esprito Irmo X. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1966, p. 7-8

  • 62 | O grande portal da era nova

    dio para se irar.

    O Esprito Emmanuel, o grande evangelizador, comenta-nos essa citao:

    Analisar, refletir, ponderar so modalidades do ato de ouvir. indispensvel que a criatura esteja sempre disposta a identificar o sentido das vozes, sugestes e situaes que a rodeiam

    [...]

    Quem ouve, aprende. Quem fala, doutrina.

    Um guarda, outro espalha.

    S aquele que guarda, na boa experincia, espalha com xito.

    [...]

    Tenhamos em mente que todo homem nasce para exercer uma funo definida. Ouvindo sempre, pode estar certo de que atingi-r serenamente os fins a que se destina, mas, falando, possvel que abandone o esforo ao meio, e, irando-se, provavelmente no realizar coisa alguma. 19

    19 XAVIER, Francisco, C. Caminho, verdade e vida. Pelo Esprito Emmanuel. 18.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, p. 169-170

  • Espiritismo para todos

    E Nra ovaO GRANDE PORTAL DA

    parte 3

  • Iluminemos o raciocnio sem descurar o sentimento.

    Burilemos o sentimento sem desprezar o raciocnio.

    O Espiritismo, restaurando o Cristianismo, universidade da alma. Nesse sentido, vale recordar que Jesus, o Mestre por excelncia,

    nos ensinou, acima de tudo, a viver construindo para o bem e para a verdade, como a dizer-nos que a chama da cabea

    no derrama a luz da felicidade sem o leo do corao.

    Emmanuel

  • O grande portal da era nova | 65

    Estudo8

    Ah! a abenoada oportunidade do estudo dirigido e bem pen-sado se faz como um guia que se prope a conduzir cami-nhantes por trilhas desconhecidas, apesar de sonhadas, ou como o bom pastor que se apresenta para conduzir as ovelhas ao recan-to farto de alimento. Tanto a disposio para programas pessoais de estudo particular, como a participao em grupos de estudos nos Centros Espritas, so variveis de uma mesma equao que se complementam, pois no se pode imaginar o estudo srio do Espiritismo dispensando-lhe apenas o tempo em que estivermos participando de um grupo de estudos no Centro Esprita. Precisa mais. Bem mais.

    Por essa razo que se faz imperioso estudar o Espiritismo, trazendo informes destes dias para examin-los luz meridiana da Doutrina, clareando as nebulosas informaes de psiquistas e parapsiclogos, os problemas morais ao estudo sistemtico da moral esprita e as concluses da cincia ao ensinamento doutri-

    Importnciado

  • 66 | O grande portal da era nova

    nrio [...] 1

    Joanna de ngelis, pseudnimo de abnegada religiosa baia-na Sror Joana Anglica -, participa do Movimento de reno-vao da Terra junto falange dos Instrutores Espirituais essas novas Vozes dos Cus encarregados da sementeira de luz e da esperana entre os homens em nome da Doutrina Esprita, o que o faz desde as pocas da Codificao Esprita, quando, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos dois ditados seus, assinando: Um Esprito Amigo. A primeira recebida em Havre e a segunda em Bordus, Frana, ambas no ano de 1862. Atravs da profcua mediunidade de Divaldo Pereira Franco, notvel tra-balhador da Seara de Jesus, ela tem legado a todos ns diversos livros, donde colhemos essa oportuna assertiva:

    Estudar o Espiritismo na sua limpidez cristalina e sabedoria in-contestvel dever que no nos lcito postergar, seja qual for a justificativa a que nos apoiemos. 2

    Mas esses programas de estudos precisam ser bem pensados e bem elaborados, como bem recomenda-nos Bezerra de Menezes:

    Nosso compromisso com Jesus nossa barca, nossa bssola, nosso norte, nosso porto...

    Jesus, meus amigos! Aquele a quem juramos fidelidade, amor e servio.

    Hoje o nosso dia de apresentar o Evangelho restaurado sofrida alma do povo.

    Falemos a linguagem simples e comovedora da esperana, trocando verbalismo sonante e vazio pela semente de luz que de-vemos colocar na alma dos que padecem na cegueira das pai-xes e do desequilbrio.

    1 FRANCO, Divaldo P. luz do espiritismo. Pelo Esprito Vianna de Carvalho. Salvador, BA: Leal, 1968, p. 127

    2 ________. Estudos espritas. Pelo Esprito Joanna de ngelis. 2.ed. Salvador, BA: Leal, 1982, p. 12

  • O grande portal da era nova | 67

    A nossa no outra, seno a tarefa de conduzir com seguran-a os nufragos das experincias humanas ao porto da paz. 3

    Vianna de Carvalho e Lins de Vasconcellos, quais sbios pro-fessores do alm, tambm nos lecionam sobre a importncia do estudo e da divulgao da Doutrina Esprita. Comeamos citando Vianna de Carvalho:

    Impostergvel, portanto, o compromisso que temos, todos ns, desencarnados e encarnados, de estudar e divulgar o Espiritismo nas bases nobres com que no-lo apresentou Allan Kardec a fim de que o Consolador de que se faz instrumento no apenas enxugue em ns os suores e as lgrimas, mas faa estancar nas fontes do sofrimento as causas de todas as aflies que produzem as lgri-mas e os suores. 4

    E agora Lins de Vasconcellos:

    Depreende-se que o Espiritismo, ao inverso das outras Doutri-nas, cultiva o estudo, favorecendo o discernimento com largueza de vistas em relao aos problemas intrincados da alma encarna-da.

    [...]

    O homem o que pensa eis a nova frmula. Nem o que demonstra nem o que dele se pensa.

    A vida ntima, a de natureza mental, significa o ser no seu es-tado real.

    Por isso, o progresso completo constitui o objetivo, como tambm afirmaram os Espritos, porquanto so os atos que defi-nem o carter, oferecendo a contribuio para o mrito ou desme-recimento do indivduo.

    3 FRANCO, Divaldo P. Compromissos iluminativos. Pelo Esprito Bezerra de Menezes. . Salvador, BA: Leal, 1991, p. 79

    4 ________. Sementeira da fraternidade. Por Diversos Espritos. 3.ed, Salvador, BA: Leal, 1979, p. 96

  • 68 | O grande portal da era nova

    [...]

    Desenvolver as possibilidades intelectuais, iluminando a mente e libertando o corao, eis os objetivos da reencarnao para lo-brigar o xito a que se prope.

    [...]

    A paz depende sobretudo da razo.

    Quando a razo se ilumina o corao se eleva, santificando os impulsos e revigorando os sentimentos, o bem e o mal perdem o aspecto dualista para surgirem na feio do Eterno Bem, presente ou ausente.

    [...]

    Por isso mesmo cr mais aquele que compreende e no o que v, ouve, ou que simplesmente foi informado.

    A autoiluminao filha do esclarecimento intelectual.

    O convite ao estudo, em Espiritismo, no pode, desse modo, ser desconsiderado.

    Elaboremos programas para todos os momentos da vida e re-servemos ao estudo um tempo necessrio manuteno ativa da nossa elaborao espiritual que edifique e felicite. 5

    5 FRANCO, Divaldo P. Crestomatia da imortalidade. Por Diversos Espritos. Salvador, BA: Leal, 1969, p. 115-118

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    Estudo

    9

    Conhecendo a psicologia humana e sabendo que quanto maior a mudana proposta para determinado estado vigente das coisas, maior ser a resistncia a essa mudana, Allan Kardec in-dicou-nos que o melhor ser darmos um passo de cada vez em direo ao pleno esclarecimento humano da realidade espiritual para alm da vida. Primeiro se trabalhar o alcance do entendi-mento amplo e mais genrico do espiritualismo, e depois se traba-lhar as proposies espritas, propriamente ditas.

    Eis a recomendao de Kardec:

    crena geral que, para convencer, basta apresentar os fatos. Esse, com efeito, parece o caminho mais lgico. Entretanto, mostra a experincia que nem sempre o melhor, pois que a cada passo se encontram pessoas que os mais patentes fatos absolutamen-te no convenceram. A que se deve atribuir isso? o que vamos tentar demonstrar. No Espiritismo, a questo dos Espritos secun-dria e consecutiva; no constitui o ponto de partida. Este precisa-mente o erro em que caem muitos adeptos e que, amide, os leva

    A necessidadedo

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    a insucesso com certas pessoas. No sendo os Espritos seno as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida a existncia da alma. Todo ensino metdico tem que partir do conhecido para o desconhecido. Convenc-lo de que h nele alguma coisa que escapa s leis da matria. Numa palavra, primeiro que o torneis espRita, cuidai de torn-lo espiRituaLista. Mas, para tal, muito outra a ordem de fatos a que se h de recorrer, muito especial o ensino cabvel e que, por isso mesmo, precisa ser dado por outros pro-cessos. Falar-lhe dos Espritos, antes que esteja convencido de ter uma alma, comear por onde se deve acabar, porquanto no lhe ser possvel aceitar a concluso, sem que admita as premis-sas. Antes, pois, de tentarmos convencer um incrdulo, mesmo por meio dos fatos, cumpre nos certifiquemos de sua opinio relativa-mente alma, isto , cumpre verifiquemos se ele cr na existncia da alma, na sua sobrevivncia ao corpo, na sua individualidade aps a morte. Se a resposta for negativa, falar-lhe dos Espritos seria perder tempo. Eis a a regra. 1

    Emmanuel, Esprito, pela luminosa mediunidade de Francisco Cndido Xavier, ao escrever a abertura do livro LibeRtaO 2, di-tado por Andr Luiz, Esprito, nos relembra antiga lenda egpcia que bem caracteriza o grande esforo que preciso fazer para se veicular a mensagem imortalista num mundo onde o imediatismo e consumismo ditam regras, e onde ningum quer se mexer da zona de conforto em que se encontra.

    Ante as portas livres de acesso ao trabalho cristo e ao conhe-cimento salutar que Andr Luiz vai desvelando, recordamos praze-rosamente a antiga lenda egpcia do peixinho vermelho.

    No centro de formoso jardim, havia grande lago, adornado de ladrilhos azul-turquesa.

    Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas guas,

    1 KARDEC, Allan. O livro dos mdiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 41. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998. Cap. III, tem 19, p. 36

    2 XAVIER, Francisco, C. Libertao. Pelo Esprito Andr Luiz. 7.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978, p. 7-11

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    do outro lado, atravs de grade muito estreita.

    Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de pei-xes, a se refestelarem, ndios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidados de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam plenamente despreocupados, entre a gula e a preguia.

    Junto deles, porm, havia um peixinho vermelho, menospreza-do de todos.

    No conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos.

    Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvrias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.

    O peixinho vermelho que nadasse e sofresse. Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela cancula ou ator-mentado de fome.

    No encontrando pouso no vastssimo domiclio, o pobrezinho no dispunha de tempo para muito lazer e comeou a estudar com bastante interesse.

    Fez o inventrio de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poo, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com preciso, onde se reuniria maior massa de lama por ocasio de aguaceiros.

    Depois de muito tempo, custa de longas perquiries, encon-trou a grade do escoadouro.

    A frente da imprevista oportunidade de aventura benfica, re-fletiu consigo:

    No ser melhor pesquisar a vida e conhecer outros ru-mos?

    Optou pela mudana.

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    Apesar de macrrimo pela absteno completa de qualquer conforto, perdeu vrias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitssima.

    Pronunciando votos renovadores, avanou, otimista, pelo rego dgua, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperana ...

    Em breve, alcanou grande rio e fez inmeros conhecimentos.

    Encontrou peixes de muitas famlias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalos da marcha e descortinando-lhe mais fcil roteiro.

    Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, em-barcaes e pontes, palcios e veculos, cabanas e arvoredo.

    Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, ja-mais perdendo a leveza e a agilidade naturais.

    Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, brio de novidade e sedento de estudo.

    De incio, porm, fascinado pela paixo de observar, aproxi-mou-se de uma baleia para quem toda a gua do lago em que vivera no seria mais que diminuta rao; impressionado com o espetculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituam a primeira refeio diria.

    Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteo no bojo do monstro e, no obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetceo comeou a soluar e vomitou, restituindo-o s correntes marinhas.

    O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpticas e aprendeu a evitar os perigos e tentaes.

    Plenamente transformado em suas concepes do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida.

    Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas m-

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    veis e flores diferentes no seio das guas. Sobretudo, descobriu a existncia de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz.

    Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palcio de Coral que ele-gera, com centenas de amigos, para residncia ditosa, quando, ao se referir ao seu comeo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquticas dispunham de mais slida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as guas de outra altitude continuariam a correr para o oceano.

    O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixo daqueles com quem convivera na infncia, deliberou consagrar--se obra do progresso e salvao deles.

    No seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? No seria nobre ampar-los, prestando-lhes a tempo valiosas informaes?

    No hesitou.

    Fortalecido pela generosidade de irmos benfeitores que com ele viviam no Palcio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta.

    Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se en-caminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar.

    Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e servio a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros.

    Estimulado pela proeza de amor que efetuava, sups que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a co-letivi