o centro - n.º 50 – 07.05.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO III N.º 50 (II série) De 7 a 20 de Maio de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA Maio é o mês de amar o coração SAÚDE POLÍCIA JUDICIÁRIA PÁG. 17 VALE DO MONDEGO MÚSICA PÁG. 19 PÁG. 6 Coimbra volta a ser capital do jazz As amarguras de um arroz difícil Almeida Rodrigues é o novo Director PÁG. 2 PÁG. 3 PÁG. 11 a 15 “Queima” fresquinha...

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Page 1: O Centro - n.º 50 – 07.05.2008

DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO III N.º 50 (II série) De 7 a 20 de Maio de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

Maioé o mêsde amaro coração

SAÚDE POLÍCIA JUDICIÁRIA

PÁG. 17

VALE DO MONDEGO MÚSICA

PÁG. 19PÁG. 6

Coimbravolta a sercapitaldo jazz

Asamargurasde um arrozdifícil

AlmeidaRodriguesé o novoDirector

PÁG. 2

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PÁG. 11 a 15

“Queima” fresquinha...

Page 2: O Centro - n.º 50 – 07.05.2008

2 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008NACIONAL

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154

e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

AAlmeida Rodrigues, até aqui sub-director nacional adjunto na Directo-ria de Coimbra da Polícia Judiciária(PJ), é o sucessor de Alípio Ribeirona liderança daquela polícia.

É a primeira vez que a PJ passa aser dirigida por um investigador dosseus quadros, o que provocou mani-festações de regozijo por parte da res-pectiva associação profissional.

José Maria de Almeida Rodrigues,de 49 anos, licenciado em Direito, écoordenador de investigação criminalda PJ, tendo sido um dos três directo-res nacionais adjuntos no mandato doantigo director nacional da Judiciária,o juiz conselheirAo Santos Cabral,também ele de Coimbra.

A nomeação de Almeida Rodriguespara dirigir a Polícia Judiciária (PJ)foi divulgada ontem à tarde em comu-nicado do Ministério da Justiça, ondeé referido que o Ministro da Justiça“aceitou o pedido de demissão que lhefoi entregue ontem mesmo pelo direc-tor nacional da PJ”.

Alípio Tibúrcio Ribeiro, de 56 anos,é procurador-geral adjunto e foi no-meado para director nacional da Polí-cia Judiciária em Abril de 2006, subs-tituindo no cargo Santos Cabral.

O mandato de Alípio Ribeiro à fren-te da PJ, que terminava em Abril dopróximo ano, ficou marcado por algu-mas polémicas.

Anteontem (segunda-feira) seguiupara a Presidência da República anova Lei Orgânica da PJ, para pro-mulgação, enquanto hoje (quarta-fei-ra) o Parlamento aprovará, em vota-ção final, a nova Lei de SegurançaInterna (LSI) e a nova Lei de Orga-nização da Investigação Criminal.

É DOS QUADROS DA PJ E TRABALHAVA EM COIMBRA

Almeida Rodrigues nomeado ontemDirector Nacional da Polícia Judiciária

Em entrevista publicada anteontempelo Diário Económico, Alípio Ribeiromostrou-se adepto da transferência datutela da PJ do Ministério da Justiçapara o da Administração Interna e cri-ticou a nova figura do secretário-ge-ral da Segurança Interna, criada pelaLSI, considerando que este ficou comcompetências “aquém” do que seriadesejável.

Alípio Ribeiro admitiu que a passa-gem da PJ para o Ministério da Ad-ministração Interna iria trazer uma

maior “eficácia”.Esta posição provocou acesas re-

acções e terá sido determinante paraa substituição do Directos da PJ.

O mandato de Alípio Ribeiro ficoutambém marcado por outra declara-ção polémica, sobre o “caso Maddie”.

Alípio Ribeiro afirmou, numa entre-vista, que teria havido “alguma preci-pitação” na constituição de arguidosdo casal McCann, pais da criança in-glesa desaparecida no Algarve a 03de Maio de 2007.

O presidente da Associação Sindi-cal dos Funcionários da InvestigaçãoCriminal (ASFIC) da PJ, Carlos An-jos, congratulou-se ontem pelo factode, “pela primeira vez”, ter sido esco-lhido um polícia de carreira para lide-rar a instituição.

Carlos Anjos falava à Agência Lusaa propósito da escolha de Almeida Ro-drigues para suceder a Alípio Ribeirono cargo de director nacional da PJ,ontem oficialmente confirmada.

“Trata-se de uma situação nova”,comentou o presidente da ASFIC, lem-brando que a regra era escolher ummagistrado judicial ou do MinistérioPúblico para dirigir a PJ.

Carlos Anjos confessou ter ficado“surpreendido” por ser um polícia decarreira a ser nomeado para chefiara PJ, adiantando que a ASFIC darátodo “o apoio e colaboração” ao novodirector nacional da Judiciária, à se-melhança do que fez com os seus an-tecessores.

O presidente da ASFIC alertou,contudo, que o problema da PJ “não éunicamente um problema de pessoas”,passando assim por dois vectores: aresolução da questão dos meios da Po-lícia e sua gestão e, por outro lado, aquestão do horário de trabalho, desig-nadamente as horas extraordinárias.

Em sua opinião, foram estes pro-blemas que “arrastaram” a Polícia Ju-diciária para “a situação em que ac-tualmente se encontra”.

“Se estes problemas não forem re-solvidos, daqui a ano e meio estare-mos na mesma situação”, advertiu,dizendo querer acreditar que AlmeidaRodrigues “vai ter as condições queos seus antecessores (como AlípioRibeiro e Santos Cabral) não tive-ram”.

Essas declarações geraram bastan-te polémica e levaram o ministro daJustiça, Alberto Costa, a dar explica-ções no Parlamento.

“ASFIC”SATISFEITAPOR ESCOLHARECAIREM POLÍCIADE CARREIRA

Almeida Rodrigues, o novo Director Nacional da Polícia Judiciária,sai da Directoria de Coimbra para assumir, em Lisboa, a liderança da PJ

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3DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 COIMBRA

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para o respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras imponentes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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Abre depois de amanhã (sexta-feira),em Coimbra, na Praça da República, aFeira de Artesanato, que decorre de 9 a15 de Maio.

Esta 8.ª edição da Feira de Artesana-to de Coimbra é uma iniciativa do De-partamento de Cultura da Câmara Mu-nicipal de Coimbra, que conta com oapoio do IEFP e CEARTE.

O certame deste ano conta com aparticipação de 97 artesãos, das maisdiversas actividades, provenientes dosmais díspares pontos do país.

Pela primeira vez, terá um programade animação agregado, a tornar a Feitaainda mais atractiva.

Disporá ainda de uma mostra de do-çaria tradicional

O vereador da Cultura da CâmaraMunicipal de Coimbra, Mário Nunes,salientou as quatro funções da Feira:

ABRE SEXTA-FEIRA NA PRAÇA DA REPÚBLICA

Feira de Artesanatode Coimbra

económica, social, cultural e de turismo.Referiu, também, um caso de uma “cu-nha” vinda de um deputado da Assem-bleia da República para demonstrar aimportância que a Feira de Artesanatode Coimbra

Por seu turno, Joaquim Correia des-tacou o facto de todos os expositoresserem artesão credenciados e que onúmero de interessados em estar pre-sentes superou em muito as possibili-dades.

Relace ainda para o facto de que, àexcepção do vidro, todos os artesãos tra-balharão ao vivo.

Na conferência de imprensa de apre-sentação da Feira de Artesanato foi ain-da feita a promessa de que, na próximaedição, os Açores vão estar representa-dos, assim como as cidades de váriospaíses geminadas com Coimbra.

“Memórias do cidadão JoséDias” é o título do livro da autoriado actual Presidente do Conselhoda Cidade de Coimbra, que vai serpublicado pelas Edições Afronta-mento.

Recorde-se que José Dias, entreoutras funções que tem desempe-nhado, foi assessor de Jorge Sam-paio na Presidência da República,e sempre um activo militante pelascausas da liberdade, da justiça so-cial e da democracia participativa.

Estão já marcadas as seguintessessões para apresentação do livro,com a presença do autor:

12 de Maio - Braga - LivrariaCentésima Página

13 de Maio - Porto - FNAC San-

É O PRESIDENTE DO CONSELHODA CIDADE DE COIMBRA

José Dias publicalivro de memórias

ta Catarina14 de Maio - Coimbra - Livra-

ria Almedina Estádio19 de Maio - Lisboa - FNAC

do ChiadoTodas as sessões terão início às

18.00 horas.

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4 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008NACIONAL

ponto . por . ponto

Por Sertório Pinho Martins

Durante a rusga dos inspectores da ONUao Iraque, à cata de armas proibidas, Sa-dam Hussein ameaçou com a subida do pe-tróleo até aos 40 dólares, ao tempo (e nãohá muito tempo!) uma autêntica heresia. Enesse papel de ameaça planetária, augurandolongos amanhãs de pesadelo, o crude estáhoje a cumprir a sua missão profética decutelo da civilização ocidental – a mesmaque há um século lhe estendeu o tapete desalvador da humanidade. E é sabido, porreincidente experiência, que tudo aquilo comque o petróleo mexe (transportes, energia,fibras sintéticas para vestuário, materiaisde construção, asfaltos, indústria…) vai dis-parar sem apelo. Cá pelo burgo, continuaa marcha inexorável do taxímetro das ga-solineiras, enquanto engrossam as filas deconsumidores nacionais à beira de qual-quer posto de combustível que esteja paralá da raia espanhola: o pessoal vai à gaso-lina, aos medicamentos, aos alimentos bá-sicos, aos automóveis, ao IVA vários pon-tos abaixo do nosso, à procura de empre-go, aos médicos, e a tudo o mais que emPortugal é afogado em taxas e impostoscujo destino se resume a sustentar uma má-quina trituradora, caduca e improdutiva –o sagrado monstro público.

Não tem servido de muito o Presidenteda República aconselhar caldos de galinhaà nossa doente economia. Assusta a surdezque por aí vai, mesmo perante tantas previ-sões internacionais e responsáveis de que aenferma vai continuar a perder força esteano e no próximo. E já não colhe o argu-mento de que “a crise é mundial”, pois aEstónia e a Eslováquia, náufragos do mes-mo barco, são os próximos a ultrapassar-

O dia do juízonos no ranking dos vinte e sete, enquanto amexida constante no preço dos combustí-veis só mereceu do governo uma tíbia ‘ave-riguação’, depois do monte arrombado emesmo assim a reboque dos ataques parla-mentares e da comunicação social que pal-rou apenas três diazitos sobre cartel nos pre-ços. As taxas da FED americana caem para2,25% e os juros à habitação em Portugal,em claro masoquismo de orgulhosamente-sós, trepam 4% só em Abril. E no meio dohorizonte negro das nossas reservas alimen-tares, calhou-nos um Ministro da Agricultu-ra que é o expoente máximo da falta depalavra política e de incumprimento paracom os agricultores à beira da falência, ostais a quem agora pede que dêem uma mão-zinha à melhoria dos stocks de cereais, en-quanto lhes retém (sob os pretextos maiscaricatos) as ajudas devidas há meses, paraassim ir sustentando a rédea solta da des-pesa do Ministério; e vem ainda anunciar,com o ar melífluo que Deus lhe deu, uns‘estados gerais da agricultura’ (?) ondedecerto vai também explicar as cobrançasilegais feitas a milhares de candidaturas quetiveram de pagar ao Estado uma ‘avalia-ção’ que é obrigatória por parte do exérci-to de funcionários já contemplados salari-almente no orçamento anual desse mes-mo Estado. E a juntar aos caprichos dotempo, os desgraçados agricultores aindatêm de aturar o pedantismo bacoco de quemperdeu toda a noção de serviço público e amais não se sente obrigado.

E como aos pobres o pão cai sempre coma manteiga para baixo, só nos faltava a pra-ga da ‘fome’: os alimentos básicos vão es-cassear; o preço da comida subirá este ano

na Europa quase 40%, e como Portugalimporta muito do que come, ficamos à es-pera de uma solução esfarrapada para acu-dir às famílias e ao orçamento nacional derectificativos invariavelmente feito, porqueas importações vão continuar a crescer eas exportações, voltando à queda inexorá-vel, só ajudarão à catástrofe. Neste cenárioencurralado, é evidente que o resultado davenda continuada de imóveis do Estado nãovai ser para minorar qualquer falta de bensalimentares, mas apenas para equilibrar umdéfice há largos anos recheado de artifícioscontabilísticos – e o Zé continuará a salivarem seco!

A ameaça do preço da comida e dos com-bustíveis vai bater à porta de todos, comreflexos letais nos nossos orçamentos do-mésticos, que mais uma vez serão engoli-dos pela inflação cega. Porque primeiro cadaum mata a fome, depois paga apenas asdívidas que possam pôr o fisco no encalçodos contribuintes – e o resto logo se verá:prestações avulso, roupa, um almocito fora,as férias, uma educação melhorada aos maisnovos, tudo irá por água abaixo. E os pe-

quenos negócios que vivem dessas peque-nas loucuras e orgulhos sazonais, andam jáà deriva a um ritmo alucinante, gerando umacadeia monstruosa e crescente de despedi-mentos e de ‘não pagantes’, pelo simplesfacto de que não têm com quê! E a seguir,como vai ser? Em 2009 regressará a des-bunda, porque as eleições de três-em-umexigem mais um chorrilho de promessaspara de novo não cumprir depois das urnascontadas. E é óbvio que todos querem serpoder apenas até 2013, porque no fim dafesta do QREN nem migalhas vão sobrar:só vacas magras e baldios rapados pela ari-dez crescente das agruras climáticas.

A fome, a falta de água e a desertifica-ção já são hoje parte de um espectro uni-versal e assustador, e vieram para ficar emmuitas regiões do mundo para quem tal ce-nário era ridículo há meia dúzia de anos,Europa incluída. As pessoas acotovelam-seem torno dos grandes centros, a feroz ‘lutapelo espaço vital’ vai ser a praga maior doséculo XXI porque o planeta tem só estasmilhas quadradas e não mais, precisa respi-rar e não o deixamos, perde aos poucos adiversidade biológica que foi a alavanca dasustentabilidade articulada das espécies –e, pela lei natural das coisas, o ‘dia do juí-zo’ será uma questão de tempo. Decertopesadelo doloroso dos nossos tetranetos,porque continua à rédea solta a insensatezde quem comanda com uma ligeireza arre-piante o destino de todos nós. A começarpela prata da casa, que vai vivendo na se-gurança que a impunidade lhe dá, num en-colher de ombros que há-de sobrar paraquem vier atrás e fechar a porta. E as luzesdo último festim, claro!

Ministro anuncia “estados geraisda agricultura”...

As novas Leis de Segurança Inter-na e de Organização da InvestigaçãoCriminal são discutidas e votadas hoje(quarta-feira) no plenário da Assem-bleia da República, devendo uma dasquestões mais debatidas residir na fi-gura do secretário-geral de Seguran-ça Interna.

Em relação à nova redacção da Leide Segurança Interna, a nomeação dosecretário-geral de Segurança Inter-na – cargo ainda não ocupado e queirá funcionar na dependência directado primeiro-ministro – passa a ser an-tecedida de audição no Parlamento.

As suas funções, que incluíam a co-ordenação das forças policiais, passamagora a ser delimitadas a situaçõescomo ataques a órgãos de soberania,hospitais, prisões e escolas, sistemas

HOJE EM DEBATE NO PARLAMENTO

Novas Leis de Segurança Internae de Organização da Investigação Criminal

de abastecimento de água e electrici-dade, bem como estradas e transpor-tes colectivos.

Também a resolução de situações deuso de armas em casos que ponhamem risco a vida de várias pessoas, orecurso a explosivos e outras substân-cias letais, além da tomada de reféns,fica igualmente sob coordenação da-quele secretário-geral.

No caso de ataques terroristas oucatástrofes, a actuação do secretário-geral é determinada pelo Primeiro-Mi-nistro após ser informado o Presidenteda República.

As propostas do Governo foramaprovadas em Conselho de Ministrosno início de Março e, de acordo com anova legislação, os crimes de prevari-cação e abuso de poderes praticados

por titulares de cargos políticos vãopassar a ser investigados unicamentepela Polícia Judiciária (PJ).

No diploma que altera as regras daOrganização da Investigação Criminalé estabelecido que o Serviço de Estran-geiros e Fronteiras (SEF) passe a ficarcom competências para investigar cri-mes de associação ao auxílio à imigra-ção ilegal e tráfico de pessoas, bemcomo de falsificação de documentos deidentificação com aquele objectivo.

Em finais de Março, o Ministro daAdministração Interna, Rui Pereira,disse acreditar ainda num consensoalargado, designadamente com o PSD,para a aprovação dos dois diplomas.

Em declarações aos jornalistas no fi-nal de uma reunião do Conselho Supe-rior de Segurança Interna, Rui Pereira

adiantou que já houve uma negociação“franca e construtiva” com o PSD so-bre os diplomas, apesar se não ter sidopossível chegar “a acordo quanto a to-dos os pontos”.

“Como não era possível prolongarmais a aprovação desses dois impor-tantes instrumentos legais, o Governoaprovou-os e remeteu-os para a As-sembleia da República”, explicou naaltura Rui Pereira, antes de deixar umanota de abertura a um entendimentopolítico com os sociais-democratas.

A 5 de Março passado, PS e PSDhaviam-se acusado mutuamente peloatraso nas Leis de Segurança Internae de Organização da Investigação Cri-minal, num debate na Assembleia daRepública sobre casos de violência nopaís.

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5DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 NACIONAL

Parte da minha existência foi vivida du-rante o governo do Estado Novo, desdeSalazar a Marcelo Caetano.

A propaganda que se fazia deste regime,repetida vezes sem conta, parecia rechea-da de verdades aos mais crédulos e poucoesclarecidos, deixando marcas em parte dapopulação.

Por todo o lado, nas escolas, oficinas, lo-jas, fábricas, etc., o contacto com os melho-res informados sobre política foi uma dasformas para desfazer erros e tirar dúvidas.Os tempos não eram fáceis para tais parti-lhas, o que exigia cautela na escolha de lo-cais recatados para tais reuniões. Havia queludibriar a polícia política.

Certa tarde, ainda com o 25 de Abrilmuito distante, António Portugal entrou na“Hilda” e, como sempre fazia, foi ter comi-go à câmara escura.

Desejava umas ampliações do que ti-nha fotografado recentemente na Ria deAveiro.

Nestes casos, eu optava por pedir orien-tações aos clientes para que o trabalho finalse apresentasse como os respectivos auto-res desejavam e não contivesse influênciasde meu gosto.

António Portugal foi um bom fotógrafoamador, conforme demonstrou nos salõesde arte fotográfica a que concorreu, algunsbem distantes – como a Malásia –, nos quais

Na Câmara Escura– Revelação de António Portugal

Varela Pècurtoobteve distinções.

O seu olhar perscrutador e fina sensibili-dade, esta repartida com a música e em grautal que fez dele um dos melhores guitarris-tas portugueses, marcou-o na fotografia,onde, como sócio do “Grupo Câmara”, per-tenceu ao núcleo associativo que honrou noPaís e no estrangeiro o nome de Coimbra.

À média luz vermelha falámos de tudoum pouco e, inevitável, acabámos por abor-dar a política.

Para que os leitores mais novos compre-endam a surpresa que tive neste encontro,há que lembrar a forma única como o regi-me rotulava os seus opositores: quem nãofosse a favor, era considerado comunista.Não existiam distinções para os adversári-os políticos.

Entretanto, a nossa conversa começou aser “filtrada” e então compreendi que o meuamigo António Portugal era um opositor doregime, mas não um comunista. De esquer-da, sim! Mas a sua ideologia quedava-seonde começava a de Cunhal.

Após o 25 de Abril surgiram dezenas departidos, deles restando hoje meia dúzia comrepresentantes na Assembleia da Repúbli-ca, conhecidos de todos – ou quase todos –os portugueses.

Os ideais de António Portugal já entãotinham um lugar próprio no que viria a ser oPartido Socialista, onde militou, sem mudan-ças de conveniência, sempre fiel aos princí-pios que lhe vinham desde a juventude emanteve até nos deixar.Moliceiros: uma das belas imagens da autoria de António Portugal

AFIRMOU ONTEM BOB GELDOF EM LISBOA

“Angola é gerida por criminosos”O músico e activista Bob Geldof afirmou

ontem (terça-feira) em Lisboa que Angolaé um país “gerido por criminosos”, palavrasque levaram o embaixador angolano na ca-pital portuguesa a abandonar a sala.

Bob Geldof falava no Hotel Pestana Pa-lace, em Lisboa, na conferência sobre De-senvolvimento Sustentável, organizada peloBanco Espírito Santo e jornal Expresso, de-dicando uma intervenção de cerca de vinteminutos ao tema “Fazer a diferença”, nofim da qual o embaixador angolano, Assun-ção dos Anjos, abandonou a sala.

Quando se referia às relações históricase culturais de Portugal com o continenteafricano – “vocês serão uma voz importan-te no século XXI”, disse para a assistência,Bob Geldof fez uma pausa e virou o discur-so para Angola.

“Angola é gerida por criminosos”, acu-sou o organizador do Live Aid e Live 8.

“As casas mais ricas do mundo do mun-do estão [a ser construídas] na baía de Lu-anda, são mais caras do que em Chelsea ePark Lane”, apontou, estabelecendo comocomparação estes dois bairros luxuosos da

capital inglesa.“Angola tem potencial para ser um dos

países mais ricos do mundo”, frisou Geldof,considerando que aquele país africano tem,designadamente, potencial para “influenci-ar as decisões da China”.

Relativamente a Portugal, o músico ir-landês considerou que o país deve ser umparceiro de Angola devido ao seu passado,e acrescentou que tanto Portugal como Es-panha e Itália “serão os primeiros [paíseseuropeus] a sofrer o impacto de qualquerproblema em África”.

E Portugal deveria ter especial interesseem promover o “desenvolvimento em Áfri-ca”, já que tem “uma economia muito vul-nerável, uma economia que depende do cli-ma e está paredes-meias com África, sali-entou.

“Estamos (os cidadãos europeus) a 12quilómetros de África”, disse Geldof antesde questionar “Como podemos não nosquestionar?”.

Para Bob Geldof, através da capacidadede acção em África, a voz de Portugal podeser “decisiva na Europa, que por sua vez éouvida no mundo”.

O activista criticou igualmente a posiçãoactual dos países europeus – salientandotambém aqui o papel de Portugal – face àsnações africanas, especialmente nos acor-dos de parceria económica.

“Esta cidade, Lisboa, é a cidade onde serealizou a cimeira UE-África, quando aEuropa forçou os países africanos a assinaros acordos de parceria económica”, acu-sou.

“Onde os europeus disseram aos africa-nos: ́ ou aceitam este acordo ou não comer-ciamos convosco`”

“Isto não é sustentável! Isto não é teruma voz, é estupidez”, frisou.

A propósito das relações de Portugal comoutros países, Geldof referiu-se também aoBrasil, que caracterizou como “a China daAmérica Latina”.

A assistir ao discurso estavam dezenasde pessoas, entre as quais os embaixadoresdo Reino Unido, da Irlanda, de Marrocos,da Argélia e de Angola, que abandonou olocal após as palavras de Geldof e antes dofim de todas as intervenções da conferên-cia e do almoço que se seguiu.

A agência Lusa solicitou um comentárioà Embaixada de Angola em Lisboa, masfonte daquela representação diplomáticadisse à Lusa que não vai ser feito qualquercomentário.

Bob Geldof ontem em Lisboa

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6 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008REPORTAGEM

A esperada subida do preço do arroznão acompanha o aumento dos preços dogasóleo, adubos e pesticidas, garantem osprodutores do Baixo Mondego, para quema produção actual só compensa devido aossubsídios da União Europeia.

“Há uma grande especulação nos pre-ços dos factores de produção. Os herbi-cidas e pesticidas têm sofrido aumentosassustadores todos os meses, sem subsí-dios os agricultores não fazem arroz”, dis-se à agência Lusa Isménio Oliveira, co-ordenador da Associação Portuguesa deOrizicultores (APOR).

O responsável da APOR, associaçãoque congrega 750 produtores, lembra quehá 12 anos a indústria pagava o arroz aoprodutor a 46 cêntimos o quilo. Hoje, diz,o lucro dos agricultores, com preços devenda entre os 20 a 30 cêntimos, “apenasdá para viver”. “Não é lucro de ficaremabastados, quanto mais ricos. Estão a ga-nhar o mesmo ou menos do que ganha-vam há um ano, o preço do arroz vai subire não são os produtores que vão ficarmelhor, os consumidores é que vão ficarpior”, argumenta.

Já Carlos Laranjeira, presidente da As-sociação de Orizicultores de Portugal(AOP), afirma que os subsídios da UniãoEuropeia (UE) possuem duas componen-tes, a agro-ambiental, relacionada com aqualidade do produto, e uma compensa-ção pela redução do preço. “É uma com-pensação pela quebra de rendimento. Sehá 12 anos o arroz se vendia a 46 cênti-mos, hoje seria impossível vendê-lo a 30cêntimos se não existisse essa compen-sação”, explicou.

Nos arrozais de Maiorca, Figueira daFoz, até meados de Maio o tempo é desementeira. A exemplo de cerca de 2 milprodutores da região do Baixo Mondego,os irmãos José e Avelino Cabete traba-lham nos cerca de 60 hectares que alipossuem, uns já semeados, outros pron-tos a receberem as sementes.

“Enquanto nos derem o subsídio, com-pensa”, afirma Avelino, aludindo aos cer-ca de mil euros que recebe por cada hec-tare de arroz, área que corresponde a cin-co mil quilos.

No entanto, a preocupação dos agri-cultores está no custo galopante dos fac-tores de produção, como o gasóleo [agrí-cola], que “já custa 91 cêntimos por li-tro”, ou o adubo, cujo saco de 50 quilos“custa hoje 25 euros quando há dois anosera 10 euros”, um aumento de 150 porcento.

“Devia pôr quatro ou cinco sacos, po-nho três”, revela Avelino Cabete, aludin-do à poupança que os produtores são obri-gados a fazer. No seu caso, a empresa

AFIRMAM ORIZICULTORES DO BAIXO MONDEGO

Produção de arroz só compensacom subsídios da UE

Texto de José Luís SousaFotos de Paulo Novais (Lusa)

familiar que divide com o irmão dispensaempregados; e até as máquinas, quandoavariam, são arranjadas pelos próprios.

“Se queremos ter algum lucro, temos

de poupar onde podemos. Há 12 anos ga-nhava mais, tinha mais rendimentos na al-tura sem subsídios do que hoje com subsí-dios. Hoje não ponho dinheiro no banco,

não consigo”, garante.Ali perto, Augusto Pires está aos co-

mandos de uma máquina a gradar (pre-parar) o terreno que pertence a uma pro-prietária da zona para quem trabalha.

A exemplo dos irmãos Cabete, Augus-to afirma que a produção de arroz “aindacompensa por causa dos subsídios”.

No entanto, observa, os adubos e osfactores indispensáveis à produção “es-tão muito caros”: “Tudo tem aumenta-do imenso, as sementes custam 178 es-cudos [89 cêntimos] o quilo, em cadahectare somos obrigados a plantar 80quilos”, explica.

Já José Maia Carvalho contorna a ne-cessidade da compra de sementes, apos-tando na produção própria: adquire semen-tes seleccionadas que semeia “para tersementes para o ano que vem”.

“Todos os anos compro sementes e deano para ano são mais caras. Mas aindacompensa”, diz.

A reportagem da Lusa foi encontrarJosé Carvalho a marcar o terreno ondeplanta as sementes, trabalho manual comuma cana a fazer de estaca a cada 12passos.

Para além de produzir sementes, tam-bém produz arroz nos 13 hectares que pos-sui para o efeito: com as duas filhas e amaquinaria apropriada, semeia-o, colhe-oe seca-o. No final da campanha anual,estima o lucro em 2.800 contos [14 mileuros], um valor que não chega aos 1.200euros mensais.

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7DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 COIMBRA

EXPLICAÇÕESDE MATEMÁTICALicenciada em Matemática

com experiênciadá explicaçõesa todos os anosTelemóvel: 962 449 286

Carlos Carranca lançou “Frátria” em CoimbraNa Casa Municipal da Cultura de Coimbra foi lançado, na passada semana, o

mais recente livro de poesia de Carlos Carranca, intitulado “Frátria”.Muitos amigos e admiradores do autor compareceram naquela sessão cultural,

que começou com algumas palavras do responsável da editora “Mar da Palavra”,Vitalino Santos, dizendo do seu regozijo pela publicação da obra.

Seguiu-se a apresentação do poeta feita por António Arnaut, que não poupoupalavras de elogio a Carlos Carranca e à sua obra, tendo citado alguns dos poemasdo livro agora lançado.

Quanto à apresentação literária de “Frátria”, esteve a cargo do escritor JoséFernando Tavares, que aproveitou um dos poemas do livro, intitulado “Problema doConhecimento”, como mote para uma interessante análise do mais recente trabalhode Carlos Carranca.

Foi depois a vez do próprio Carlos Carranca agradecer as palavras e a presençade tantos amigos, os quais brindou com a declamação, sempre muito viva, de algunsdos poemas.

Depois de usar da palavra o Vereador da Cultura, Márioa Nunes, que se congra-tulou com o nível da sessão, assistiu-se a um momento musical, com canções deCoimbra, em que Carlos Carranca também participou.

António Arnaut provocou fortes aplausos da assistência

José Fernando Tavares fez uma interessante análise literária de “Frátria”

Carlos Carranca não só declamou, mas também cantou O autor durante a sessão de autógrafos do seu mais recente trabalho

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8 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008OPINIÃO

A POLÍTICA DOS JOVENS

(...) No essencial, para o que se apontaé para a distância da juventude em rela-ção à “oferta” política; para a vontadede maior participação num quadro decepticismo em relação à eficácia do voto;para a disposição de apoio a reformas;para a influência dos media nas opçõespolíticas individuais.

O que é importante é situar estes tra-ços no âmbito das grandes transforma-ções que afectam hoje o mundo dos jo-vens. Basta olhar para o seu modo devida – 82% dos jovens europeus entreos 16 e os 24 anos passam por dia pertode duas horas na Net e cerca de três aver televisão. E o tempo que “passam”na Net é sobretudo utilizado a trocar e-mails, a “descarregar” músicas ou fil-mes, a trocar ficheiros, a participar emfóruns ou a visitar blogues.

Daí que os problemas colocados re-metam afinal para um outro – a genera-lização da cultura digital no mundo con-temporâneo e a forma como essa gene-ralização tem fomentado uma crescentesubjectivação e tribalização dos cidadãos,uma progressiva virtualização e despoli-tização das suas actividades. (...)

Manuel Maria CarrilhoDN 03/Maio/08

A TERCEIRA MORTEDE DELGADO

(...) Será que afinal está mesmo a acon-tecer, diante dos nossos próprios olhos, aterceira morte do general Delgado? Outromomento curioso da cerimónia de 23 deAbril foi a intervenção dr. Mário Soares,desde a afirmação abstrusa de que Hum-berto Delgado foi “morto pelas costas” atéà repescagem de ideias erradas do pro-cesso espanhol, como a de que ArajaryrCampos não foi assassinada no mesmolocal. Mas sobretudo retomou a tese deque a brigada foi a Badajoz para prender enão para matar Humberto Delgado. Maisainda, afirmou que, tendo Humberto Del-gado puxado de uma pistola, o CasimiroMonteiro o matou. Traduzido por miúdos,este raciocínio coloca a legítima defesa noassassino, e não no assassinado. É casopara perguntar: a quantas mais mortes serásujeito Humberto Delgado em Portugal?

Frederico Delgado Rosa(neto e biógrafo de Humberto Delgado)

DN 03/Maio/08

SÃO PAULO NASCEUHÁ 2 MIL ANOS

São Paulo terá nascido no ano 8, celebran-do-se, portanto, este ano, o bimilenário do seunascimento. 12 ou 14 anos mais novo do queJesus, que nasceu no ano 4 ou 6 a. C., eranatural de Tarso, na actual Turquia. Um gé-nio e um dos homens mais cultos do seu tem-po, fariseu, queria fazer desaparecer a “sei-ta” dos cristãos.

Depois, de perseguidor fez-se apóstolo eabriu o cristianismo ao mundo, tornando-ouma religião universal e tornando-se ele mes-mo uma figura determinante da História.

Os Actos dos Apóstolos narram a ir-rupção na sua vida do mistério de Deus,revelado em Cristo como salvador univer-sal. Essa experiência avassaladora consti-tuiu o que se chama a sua conversão noCaminho de Damasco. No meio de umaluz intensa, ouviu uma voz: “Eu sou Jesus,a quem tu persegues.”

Foi uma experiência de tal modo podero-sa que, daí para diante, no meio de perigos,perseguições, fome, naufrágios, prisão, açoi-tes, apenas Cristo e o que ele significa para aHumanidade lhe interessaram. Percorreu oMediterrâneo, foi a Atenas, capital do saber,planeava vir à Espanha, chegou prisioneiro aRoma, a capital do Império, onde morreumártir no ano 64 ou 65, era Nero imperador.(...)

Anselmo Borges(padre e professor de filosofia)

DN 03/Maio/08

LABIRINTO

(...) o exemplo dado dos jovens portu-gueses poderia estender-se mesmo ao con-junto da população: há de facto uma dimi-nuição do interesse pela política em gerale, consequentemente, uma contracção daparticipação dos cidadãos na vida pública.

Este alheamento das coisas públicas émais saliente na esfera política, incluindo aquebra da filiação e da própria militânciapartidária. A maneira como (ainda) se fa-zem campanhas eleitorais em Portugal (eos custos inerentes) prova que o modelode generosidade militante dos primórdiosda democracia logo após o 25 de Abril jásó se mantém como uma ficção: a forma éa mesma, mas o conteúdo é dado por umamáquina partidária oleada e especializadae por empresas de comunicação e de ser-viços vários que compõem o quadro.

Do mesmo modo, a quebra de partici-pação afecta também o mundo sindical eum vasto espectro de organizações nãogovernamentais. No ano passado uma co-nhecidíssima organização ambientalista in-ternacional teve como tema dominante doseu congresso anual precisamente o temada incapacidade de mobilização dos cida-dãos para as suas causas e como a ultra-passar.

O problema, portanto, não é exclusivoda participação política e deriva de umamatriz cultural e de vida colectiva onde osvalores da solidariedade, da partilha e daresponsabilidade cívica estão em perda. (...)

António Vitorino (jurista)DN 02/Maio/08

MANUELA FERREIRA LEITE

(...) Manuela Ferreira Leite representademasiado o passado. É a recuperaçãoda escola cavaquista da austeridade e darecusa da política numa época que nadatem a ver com os governos de CavacoSilva. A sua experiência governativa tam-bém está longe da perfeição: tentou sa-near o défice público sem o ter conse-guido, nem mesmo recorrendo à práticaimensamente discutível das receitas ex-traordinárias. É uma continuação, nãouma mudança. E é uma réplica, no esti-lo, nas políticas, nos valores, dos predi-cados de José Socrates que atiraram oPSD para os 30% das intenções de voto.Não basta ser não socialista e esperarque o mundo se prostre a nós. É precisoser não socrático. Um PSD respeitável?E eu que pensava que o PSD era umpartido ambicioso.

Pedro Lombra (jurista)DN 01/Maio/08

O TRIÂNGULODAS BERMUDAS DO PSD

(...) Santana Lopes, Jardim e Mene-zes constituem uma rara espécie de tri-ângulo das Bermudas do PSD. E são,cada um a seu modo, figuras de proa deum sector do partido pontuado por perso-

nalidades menos proeminentes, mas nempor isso menos pitorescas, como RibauEsteves, Mendes Bota, Jaime Ramos eoutras. Sendo demasiado optimista dizerque representam um «espaço político»dentro do partido, aproxima-os uma sériede afinidades e interesses, bem como umpopulismo vulgar. Pensava-se, assim, quetivessem uma posição comum nas próxi-mas eleições. Afinal, para já não, porquequer Jardim quer Santana entenderamdever ser o principal protagonista e o se-gundo avançou primeiro... (...)

José Carlos de VasconcelosVisão 1/Maio/08

25 DE ABRIL CONSENSUAL

(...) Para mim, o mais divertido nas

comemorações do 25 de Abril têm sidoas tentativas para tornar a data «maisconsensual». O Dia da Liberdade não re-úne consenso, o que me deixa verdadei-ramente surpreendido. Percebo que a li-berdade não seja consensual, mas do meuponto de vista ninguém teve razões dequeixa: para quem aprecia a liberdade, o25 de Abril foi agradável; para os que nãogostam, foi uma oportunidade para faze-rem aquela viagem ao Brasil que tinhamandado tanto tempo a adiar.(...)

Ricardo Araújo Pereira (humorista)Visão 24/Abril/08

E AFINAL O 25 DE ABRIL...

(...) Espantoso seria, por exemplo, queeste e todos os outros soubessem que nodia 25 de Abril de 1974 se deu um golpe deEstado e no dia 1 de Maio se iniciou umprocesso revolucionário. Que o primeiro tevecomo causa próxima uma mera questão deprecedências e um consequente movimen-to corporativo dos militares, e o segundo seoriginou na confluência de todas as forçaspolítico-ideológicas que já estavam ou apa-receram no terreno. Que houve dois 25 deAbril, um aqui, neste pequeno rectângulo eu-ropeu, e outro, avassalador, em todos os ter-ritórios onde se hasteava a bandeira portu-guesa. Que rapidamente tudo o que real-mente relevava passou para a jurisdição de

forças externas. Que o mundo se dividiuentre o insólito comovedor de que é para-digma o cravo no cano da G-3, o folcloreque a esquerda replicava pelos países ondeestas coisas ainda eram possíveis, como osda América Latina, e uma preocupação ir-ritadiça com o despropósito histórico doPREC, num país da Europa ocidental e daNATO. Que o único objectivo estratégico –a descolonização – pertencia ao PartidoComunista teleguiado por Moscovo e foitambém o único alcançado e tornado irre-versível. A unicidade sindical, a reformaagrária, a economia estatizada, a sociedadesem classes, tudo isso foi passageiro, comoum acne juvenil. (...)

Maria José Nogueira Pinto (jurista)DN 01/Maio/08

Manuela Ferreira Leite e Pedro Santana Lopes

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9DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 OPINIÃO

AVERSÕES E ESTIMAÇÕES

Cavaco despreza Santana, que depreciaPacheco, que desdenha Menezes, que odeiaRio, que apouca Santana, que detesta Pa-checo, que menospreza Menezes, que des-considera Marcelo, que destrata Patinha, quedesaprecia Borges, que caustica Santana,que aborrece Mendes, que desvaloriza Pa-checo, que atazana Santana, que rebaixaLeite, que desabona Menezes, Mendes,Santana, Patinha, Aguiar, e todos os outrosrestantes; e todos os outros restantes abo-minam os anteriores.

Entretanto, Passos execra Marcelo, quesubestima Passos e adora Leite, que é ado-rada por Cavaco, que desacredita Mene-zes, que ignora Durão, que não pode comMarcelo, que desvaloriza Pacheco, que es-tremece Cavaco, que repele Aguiar, querechaça Marco António, que incomoda Ri-bau, que desaprova Relvas, que enjeita Go-mes da Silva, que contraria Sarmento, queevita Patinha, que exprobra Pacheco, que onão toma a sério.

Ângelo Correia gosta de toda a gente.Agora, um pouco mais de Passos, um pou-co menos de Menezes, que gosta muito deSantana, que adora Sá Carneiro.

Cavaco gosta muito de Jardim, que pro-voca idênticos sentimentos a Pacheco, aSarmento, a Patinha, a Ribau, a Relvas, aGomes da Silva, a Aguiar, a Durão, a Mar-celo, a Menezes, a Passos, a Leite, a Rio, aMendes, a Marco António e, também, aGuilherme Silva. Jardim gosta muito delepróprio. (...)

Baptista-Bastos (escritor e jornalista)DN 30/Abril/08

CONSENSO SIMPÁTICO

(...) Há um caminho para Portugal, quenão vi representado por nenhum dos ou-tros candidatos. Senti obrigação e moti-vação. Se fosse pensar só em mim nãome candidatava. 2004 e 2005 foi um tem-po difícil. Ao contrário do que muitosesperavam, penso que se tem gerado umconsenso simpático e agradável sobre omodo como tenho exercido a liderançado grupo parlamentar. As pessoas todasdisseram: ‘Por que não continua?’ Mas,feita a avaliação, eu ouvi as pessoas to-das, quis ver se Marcelo Rebelo de Sou-sa era candidato ou não… (...)

Pedro Santana LopesSol 03/Abril/08

MILITANTE COM PASSADO

(...) Não tendo feito uma grande carrei-ra, não tendo feito o ‘caminho das pedras’no PSD e no Governo, sou um militante compassado. Fui líder da JSD, vice-presidenteda bancada durante quatro anos e porta-voz do grupo parlamentar, e tive uma pas-sagem episódica pela vice-presidência dadirecção de. Marques Mendes. As pessoasdentro do PSD conhecem-me. (...)

Tenho um défice de notoriedade fora doPSD que precisa de ser vencido. Mas esta-rei com mais crédito para gastar do que os

outros que são conhecidos há muito tempo.(...) Todos os outros candidatos foram e

são personalidades relevantes que desem-penharam papéis muito importantes no pas-sado do PSD. Mas o partido precisa de terfuturo também, não pode ter só passado. OPSD não pode esperar construir o seu futu-ro só com o seu passado. (...)

Pedro Passos CoelhoSol 03/Abril/08

DIVISÃO DOS “POPULISTAS”

(...) A divisão dos “populistas” sorri aPassos Coelho e Manuela Ferreira Leite.Ele – um liberal amável que, naquele mun-do, sobressai pelo seu apego ao chá dascinco – conquistou os seus direitos. Podetentar a sua sorte de hoje sem prejudicarum amanhã que a dispense. Assim lho per-mitam as vagas de órfãos de Menezes queagora o vão assediar. Ela, com maior re-conhe- cimento social e um passado a ates-tar que não faz luta política fora do institu-cional. Mas com dois problemas pela fren-te. Um é a suspeição e o desconforto darelação com Cavaco. Outro é o quebra-cabeças: será que para enfrentar quem,magoando-nos, controlou o défice, a solu-ção virá de quem, magoando-nos, nem se-quer o conseguiu? (...)

Nuno Brederode Santos (jurista)DN 28/Abril/08

EM MEMÓRIADE UM EUROPEÍSTA

Na data de aprovação do Tratado de Lis-boa pelo Parlamento português, e sustenta-da a perspectiva de que recolherá as ade-sões necessárias para entrar em vigor, é pelomenos justo, e seguramente oportuno, re-cordar um dos mais influentes europeístasdos anos 20 do século passado, cujo pensa-mento influenciou grande parte dos respon-sáveis políticos pelo processo europeu emcurso.

Trata-se de Richard de Coudenhove-Kalergi, cuja presença na defesa de um pro-jecto de unidade europeia se verifica no iní-cio da experiência que Francesco Nitti cha-mou a paz de Clemenceau com os métodos

de Wilson, o qual teve expressão na Socie-dade das Nações, e fracassou com um pontofinal apocalíptico na segunda guerra mundi-al. Estava-se em 1922, em vésperas de seconcretizar a marcha de Mussolini sobreRoma (28 de Outubro) e não muito longeda proclamação da fundação da URSS (30de Dezembro), quando, em 21 de Julho,Kalergi publicou o seu pequeno grande do-cumento intitulado A Questão Europeia. Apremissa maior do seu pensamento viria aser claramente expressa no Manifesto de1924 nestes termos: “Será possível que, napequena quase ilha europeia, 25 Estadosvivam lado a lado na anarquia internacional,sem que um tal estado de coisas conduza àmais terrível catástrofe política, económicae cultural?” (...)

Adriano Moreira (prof. universitário)DN 29/Abril/08

UNIÃO EUROPEIA

A União Europeia, vai mal. Infeliz-mente. As economias, não obstante aforça do euro, como moeda, estão prati-camente todas em desaceleração acen-tuada. É o caso da Irlanda, da Alema-nha, da França, da Itália, da Espanha etambém, inevitavelmente, de Portugal.Não tenhamos ilusões, que serão peri-gosas, tendo em conta o futuro próximo:Portugal não vai escapar à crise queafecta a União Europeia. A culpa não édo Governo – é preciso que se diga, emabono da verdade –, é da conjuntura oci-dental e mesmo mundial. A redução dodeficit foi importante. Era necessário serfeita. Mas a conjuntura económica eu-ropeia é-nos adversa. Devemos compre-endê-lo e fazer-lhe face. Com coragem,lucidez e sem quebra dos princípios éti-cos, que nos devem reger.

Mário SoaresDN 29/Abril/08

O FANTASMADA FOME GLOBAL

A subida mundial dos preços alimentaresé um tema dramático. Os jornais trazemprevisões aterradoras e notícias de revoltaspopulares contra o preço da comida. Re-gressam os medos de fome global, 200 anosapós Malthus. Para lá das vulgarizaçõesmediáticas, as médias mensais mundiaispublicadas pelo FMI (www.imf.org/exter-nal/np/res/commod /index.asp) mantêm-sepreocupantes.

Desde o início de 2007 até ao mês pas-sado o preço do trigo aumentou 124%, o doarroz 85% e o do milho 41%. A subida nãoé só de cereais, porque o azeite aumentou90%, óleos de soja e de palma 108%, bana-na 61%, laranja 54%, cacau 56% e café52%. A energia também está muito cara,com o carvão a subir 140% e o petróleo90%, como os metais: chumbo 81%, ferro66%, cobre 48%.

Curiosamente, os preços que mais caí-ram são alimentares: carnes de vaca e por-co desceram 10%, a média do peixe 7%,camarão 15% e o chá 1%. Mas as subidas

são impressionantes. No arroz e trigo, osbens mais sensíveis, os aumentos são osmaiores dos últimos 25 anos. Os efeitos sãojá dramáticos, com a fome a surgir em cer-tos locais. (...)

João César das NevesDN 28/Abril/08

A ESTRATÉGIA DA FOME

(...) O ministro dos estrangeiros da Ni-géria, Ojo Maduekwe, veio a Lisboa di-zer a Portugal para não se envergonharde regressar a África. E, ainda sobre afome, explicou, sem rodeios “Isto é, ob-viamente, um problema de incompetên-cia dos governos”.

Fez-me lembrar a frase recente de um“cientista social” americano: “Hoje emdia, já não há fome natural. Trata-se deestratégias geopolíticas”. (...)

Nuno Rogeiro (comentador político)JN 02/Maio/08

OS FOGUETES DA FOME

(...) Como já alguém disse, as revolu-ções começam quando falta a comida.Na verdade, também começam quandohá comida, mas falta o dinheiro para aobter. Contudo... quando há fome e nãohá quem a mate, pode morrer muita gen-te por causa disso.

Se juntarmos a fome às questões da saú-de, teremos encontrado o dueto das neces-sidades básicas primárias, cuja salvaguardaconstitui sempre (ou devia constituir sem-pre) a primeira linha de preocupações dequalquer sociedade e respectivos governos.

Sem esquecer que aqui e ali há ilhas dedesgraça, somos obrigados a considerar queestas duas necessidades básicas do ser hu-mano em sociedade não são motivo de gran-de preocupação em Portugal, como, aliás,no resto da União Europeia. (...)

Manuel Serrão (empresário)JN 30/Abril/08

MÃOS AO AR

E não é para pedir uma salva de palmas.É mais uma indelicadezasita para com osnossos coleguinhas e comparsitas que an-dam por aí na difícil mas agradável missãode espalhar a palavra, cantada e tocadapelos caminhos de Portugal & arredores;eis senão quando, entra o fiscal e desata apedir o recibo da loja das meias ou a amea-çar que o ar dos pneus da viatura não estáconforme a lei.

Até parece sugerir a denúncia de situa-ções menos claras, como, por exemplo, sa-ber se o bom do Vitorino compra as boinasem Badajoz, onde o IVA é menos injusto; jáfalta bem pouco para ir ao balão entre duasmúsicas ou recolher urina antes de regres-sar ao palco para bisar.

E se o raio dos discos fosse consideradocaldo de cultura, como os livros, e se os ins-trumentos musicais não fossem equipara-dos a aparelhagens de luxo? Isso é que era,não era? (...)

Rui Reininho (músico)JN 03/Maio/08

Pedro Passos Coelho

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10 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008CRÓNICA

A OUTRA FACEDO ESPELHO

José Henrique Dias*

[email protected]

* Professor universitário

LOUSÃ - Nelson Fernandes

arte em café

Sabes, sinto frio. Deve ser da idade. Tenho umamanta sobre os joelhos e os olhos brincam no lumevivo da lareira. As chamas rutilam fantasias quesão memórias lentas, acordam, como é que hei-desaber pensar isto bem, aqueles dias longínquos emque íamos os dois, passeando no parque, entre asalfombras, como no belo poema de Pascoaes. Ele-gia de Amor. Creio que foi dele que o Pessoa dis-sera que escrevera o melhor poema de amor dalíngua portuguesa e passou o resto da vida a pedirdesculpa de o ter escrito. Exageros. Os costuma-dos excessos dos génios. Eu repetia um a um osversos do deslumbramento, porque aprendíamos empoesia o sorver da vida e sabíamos a importânciade viver a vida infinita, eterna, esplendorosa queo poeta cantava arrebatado porque uma mulhermisteriosa o olhara por acaso, como eu sentia quecomigo acontecera, agora que tudo reverbera nadança da chama na lenha ardente, quando a noitecomeça e se arrepia nos joelhos sob a manta, e orelógio da sala espalha o tic-tac ritmado que deixeide ouvir, preso ao teu retrato, óleo magistral que omestre nos ofereceu, também ele apaixonado, eubem via, quando no atelier posavas com o ombrodescoberto a evolar-se do vestido esmeralda.

Parece-me ouvir um piano e a voz rouca do PatxiAndion a dizer coisas sobre o tempo e o amor.

Veinte años de estar juntos,esta tarde se han cumplido,para ti flores, perfumespara mi...!Algunos libros!

No te he dicho grandes cosasporque no me habrian salido,! ya sabes cosas de viejos!!Requemor de no haber sido!

O tempo tem roído as articulações, se agora mevisses talvez tivesses um daqueles acessos de penaque sempre recusaste, dizias

não gosto que digas que tenho pena, bem sabesque te amo,

era a tua generosidade a esconder a diferençaporque o amor, nós sabemos, quando o tempo nosfaz durar, é estratégia, mesmo que não consciente,de podermos partilhar o espaço de alguém.

O casamento acaba sempre numa solidão a dois.Ou melhor, já é uma solidão a dois quando começa.

Precisamos de alguma tempo de amadurecimen-to para sabermos isto exactamente, e é óbvio que acama apenas disfarça, na hora do que julgamos serfusional. Teatro, puro teatro, tudo cenas e pergun-tas absurdas, gostaste? foi bom?, o medo disfarça-do de orgulho de poder.

Bem vês que mesmo assim, sempre te falei, comoagora mesmo, de amor. Temos esta necessidade dealimentar a ilusão, como se alimentou a ilusão dadivindade, para nos prevenirmos do desamparo.Freud explicou isto com luminosa intensidade, pararaiva dos guardadores de mitos religantes. Vamostendo necessidade de crer numa dimensão outrapara salvaguardarmos os terrores ancestrais, osregistos arcaicos, os mistérios por desvendar. Areligião é uma crença numa quarta dimensão, defi-

Cuidados extensivos…

nia o erudito dominicano Festugière, quando ape-nas se sabia de três.

No amor… Bem, no amor, amamos sempre comoconjugamos. Amo-te não respeita ao eu oculto masao te explicado. Amamos sempre na segunda ou naterceira pessoa. Como nas cartas que escrevemos.Também nos poemas.

Se eu fizesse deste estar a pensar-te uma cróni-

ca para um jornal, não era do que acontece dentrode mim que falava mas do efeito no leitor que terequeria. Somos uns hipócritas. Sentamo-nos dianteda lareira com as pernas tapadas com uma manta,doridas as dobradiças e disfunsionadas as erécteisalegrias da vida, porque os passos vacilam e o frionos viaja o sangue, e começamos a querer recupe-rar do tempo a dança dos corpos em amor, gemidosde mais, mais, mais, e a inventar retratos a óleo naparede, para compor o ramalhete da tarde escoadae da noite que nos faz cabecear a arrelia dos filhosque deitam contas à vida para ver se encontram umlar barato que lhes alivie a consciência.

Ali é que está bem, tem com quem conversar,gente da sua idade, comidinha a horas, enfermeira,médico, televisão para se distrair…

Porra, filho, eu não preciso nada disso. Precisode estar aqui no meu canto, junto à lareira, ondevivi sinfonias de sentidos despertos para a vida,auroras de dádiva de corpos em ritmo de morte si-lenciosa, como quem dança, a dança de que mefalava aquela mulher que não voltou ao retrato, mais,mais, mais em arrebatamentos de cio.

Não está ali, naquela parede da enfermaria, ago-ra que o ar me está a faltar, que nem a máscaradisfarça, lembras-te meu amor quando íamos osdois… há quanto tempo, o diabo é se deus existe, aenfermeira não há maneira de atender a campai-nha, tenho frio, muito frio, se aqui estivessem to-dos, tu e eles, os nosso filhos, também os netos, osamigos, todos, para vos poder sorrir e descansar…

Senhor Timóteo, toca a acordar. Vamos lá fazera higiene. Esta noite dormiu que nem um santo. Queraio andou a fazer à algália? Vá, deixe de pôr amão onde não deve. Deve ter sido cá um gabiru...Grande maroto! E ainda ri. Se eu digo ao meu ma-rido ele vem cá e mata-o…

...e a voz rouca do Patxi Andion a dizer coisassobre o tempo e o amor

Sentamo-nos diante da lareira com as pernas tapadas com uma manta, doridas as dobradiçase disfunsionadas as erécteis alegrias da vida

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11DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 QUEIMA DAS FITAS

A “Queima das Fitas” da Academia de Coimbra, considerada uma das maisanimadas festas estudantis do Mundo, quebrou este ano, de forma polémica, atradicional sequência programática. Mas tal não impediu que se mantivesse atradicional animação, com o ponto alto no Cortejo que desfilou no passadodomingo desde a velha Universidade até à Baixa.

O cortejo integrou cerca de um centena de carros alegóricos, representan-do as diversas Faculdades da Universidade e os vários Institutos de ensinosuperior, com as decorações feitas com as tradicionais flores de papel com ascores de cada um dos cursos.

A criatividade não foi muita, mas a alegria dos estudantes compensou essafalha.

Para além dos milhares de actuais alunos, agitando as pastas com fitas ouostentando as suas cartolas de finalistas, muitos antigos estudantes participa-ram também no cortejo.

Ao longo de todo o percurso, os passeios estavam pejados de familiares,amigos ou simples curiosos (entre os quais muitos turistas estrangeiros) quese iam divertindo com a animação daquelas vagas de jovens, muito estimuladapelas bebidas alcoólicas, sobretudo cerveja, cujas consequências se tornavammais notadas à medida que as horas iam passando.

Queima: quebrou-se a tradiçãomas manteve-se a animação

Algumas dezenas de jovens, aliás, não chegaram ao fim do cortejo, devidoàs indisposições provocadas pelo excesso de álcool, e houve mesmo os quetiveram de ser conduzidos aos Hospitais pelas várias ambulâncias de preven-ção (foi divulgado o número de cerca de 80 intervenções deste tipo).

As alterações este ano introduzidas no programa da Queima desagradarama muitos dos estudantes, como ficou patente logo na Serenata Monumental, noLargo da Sé Velha, este ano pela primeira vez realizada na noite de sexta-feira, o que foi considerado como um grave atentado à tradição por um dosestudantes que interveio logo no início.

Estas mudanças foram justificadas com a introdução do Processo de Bolo-nha, mas muitos dos estudantes discordam, sustentando que as alterações eramdispensáveis e que se deveria respeitar a sequência tradicional do programada Queima.

A verdade é que os festejos académicos estão a decorrer, com realizaçõesculturais, desportivas e recreativas – destacando-se, destas últimas, os espec-táculos nocturnos na Praça da Canção, na margem esquerda do Mondego, aatrair milhares de jovens.

Mas melhor do que quaisquer palavras, aqui publicamos eloquentes ima-gens do cortejo da “Queima 2008”.

As fotos desta página são da autoria de Manuel de Abreu.A reportagem continua nas páginas seguintes com fotos de Dinis Manuel Alves

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12 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008QUEIMA DAS FITAS

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13DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 QUEIMA DAS FITAS

Fotos de Dinis Manuel Alves

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14 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008QUEIMA DAS FITAS

A Escola Superior de Enfermagem deCoimbra (ESEnfC) e os Serviços Muni-cipalizados de Transportes Urbanos deCoimbra (SMTUC) assinaram um pro-tocolo que permite o regresso a casa emsegurança aos participantes nas noitesde concertos da Queima das Fitas, demodo a evitar situações de conduçãoautomóvel sob o efeito do álcool, ou, nolimite, a prevenir acidentes e lesões.

Atendendo a que estas festividadesacadémicas reúnem particulares condi-ções para o consumo abusivo de bebi-das alcoólicas, que, nalguns casos, de-generam em intoxicações graves e empoliconsumos, os SMTUC continuam adisponibilizar uma carreira de autocarro– à semelhança do que fazem, por estaaltura, desde há três anos –, mas, agoracom uma vantagem adicional para osutentes, que é oferecida pela ESEnfC.

Cabe à Escola Superior de Enferma-gem de Coimbra organizar o acompanha-

Escola de Enfermagem e SMTUC oferecem“Transporte Seguro” nas noites da Queima

mento dos estudantes que vierem a usaro referido autocarro.

Este apoio é assegurado por um estu-dante e por um professor da Escola ouEnfermeiro de uma instituição parceirado projecto “Não te Queimes” (Admi-

nistração Regional de Saúde do Centroe Instituto da Droga e Toxicodependên-cia), promovido pela ESEnfC com vistaa prevenir o consumo excessivo de ál-cool, e os riscos associados, durante asfestas académicas.

Assim, até 11 de Maio, entre as 0h30às 5h30 (última partida), os SMTUC dis-ponibilizam uma carreira gratuita de au-tocarro, aberta a toda a população, comuma frequência de 30 minutos e num iti-nerário idêntico ao da Linha n.º 24T, comhorários de referência no Parque Dr.Manuel Braga e no Bairro Norton deMatos.

O protocolo foi assinado pela presi-dente do Conselho Directivo da ESEn-fC, Professora Maria da Conceição Ben-to, e pelo administrador-delegado dosSMTUC, Manuel de Oliveira.

Na ocasião, ambas as partes concor-daram com a necessidade de alargar este“Transporte Seguro” à margem esquer-da, sendo que o administrador-delegadodos SMTUC se mostrou disponível paraanalisar outro tipo de apoios, com vista afacilitar a mobilidade aos estudantes daESEnfC, que durante o curso têm aulasem dois pólos.

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15DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 QUEIMA DAS FITAS

No âmbito de um original projecto in-titulado “Antes que te Queimes”, foi hádias assinado um Protocolo de Coope-ração, subscrito pelo Governo Civil doDistrito de Coimbra, Administração Re-gional de Saúde do Centro, ComissãoCentral da Queima das Fitas/2008, Es-cola Superior de Enfermagem de Co-imbra, Associação de Estudantes daEscola Superior de Enfermagem deCoimbra e Instituto da Droga e da To-xicodependência.

Este Protocolo regula e enquadra aintervenção concertada das entidadesatrás referidas, com vista ao desenvolvi-mento de várias iniciativas de sensibili-zação, formação e informação junto dosjovens que frequentam as “Noites doParque” durante a Queima das Fitas.Nas diversas noites dos festejos acadé-micos, que decorrem até 11 de Maio, jo-vens estudantes que receberam forma-ção adequada estão a interagir com osseus colegas que participam na Queima,

“Coimbra é uma lição de ética da responsabilidade”SUBLINHADO PELO GOVERNADOR CIVIL EM ASSINATURA DE PROTOCOLO PIONEIRO

promovendo comportamentos seguros noque diz respeito ao consumo do álcool eao sexo protegido.

Nas palavras do Governador Civil deCoimbra, Henrique Fernandes, “Coimbraé uma lição de ética da responsabilida-de”, na medida em que sabe acolher os

estudantes que a visitam e promover asua segurança, apelando a comportamen-tos seguros. O responsável manifestoutambém preocupação com a “misturaexplosiva” entre álcool e condução, re-ferindo-se aos números

de vítimas graves em acidentes regis-

tados no Distrito de Coimbra em arrua-mentos e localidades, esperando que esteprojecto obtenha resultados ao contribuirpara diminuir esta realidade.

Entre as iniciativas do projecto de-vem destacar-se as acções de sensibili-zação em contexto escolar, a formaçãode “educadores de rua”, disponibilizaçãode um espaço de apoio e aconselhamen-to em Unidades de Saúde Móvel, apar-cadas junto às bilheteiras e no Largo daPortagem, dinamizada pelo Atelier deExpressividade e profissionais de saúdevoluntários.

Decorrem também iniciativas de acon-selhamento em contexto recreativo de-senvolvidas por grupos de jovens, dina-mizados pelo Atelier de Expressividade,contemplando abordagens para a redu-ção de consumos/danos, medições detaxa de alcoolémia, disponibilização depreservativos e atribuição de prémios aestudantes com taxas de alcoolémia in-feriores a 0,50 gr/dl.

Como vem sucedendo desde há décadas, a Queima das Fitas de Coimbraé uma festa onde o álcool marca presença, estimulando a boa disposição,mas levando também a alguns exercícios insólitos, mais ou menos arriscados.Este ano, um dos que esteve “na moda” foi o mergulho!...Houve quem mergulhasse da estátua do Papa, junto aos Arcos do Jardim,mas sobretudo quem se enchesse de coragem para refrescar o corpo e as ideiasnas águas do Mondego!Felizmente não houve consequências indesejáveis a lamentar,até porque os sistemas de socorros estiveram sempre presentese atentos para o que desse e viesse, em terra ou na água...

Fotos de Dinis Manuel Alves

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16 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008EDUCAÇÃO

Na última participação abordámos oEntendimento celebrado com o ME, cha-mando a atenção para a absoluta necessi-dade de prosseguimento da luta dos pro-fessores, ao mesmo tempo relevando aextrema importância de que se revestiu ereveste o Entendimento na pacificação do3º período que se adivinhava conturbado epenalizador dos alunos, insistindo nós nadiferença não menor entre este Entendi-mento e um Acordo, até ao momento nãocelebrado e que seria a trave mestra, alte-rando de modo radical e inequívoco as po-líticas educativas, facto que ainda não acon-teceu e que, por isso mesmo, é factor de-terminante na mobilização.

Seria expectável não voltar ao assunto.Contudo, os “desenvolvimentos” posterio-res levam-nos a que hoje voltemos a falardo Memorando de Entendimento. Em al-gumas escolas continua a circular desin-formação, com alguns a asseverar que te-ria sido preferível não assinar coisa algu-ma. De modo algum partilhamos desta vi-são redutora e leviana. De facto, o Memo-rando a que se chegou não resolve nenhunsdos problemas de fundo contra os quaistemos combatido; ele não altera as políti-cas erradas e injustas; não revoga o ECDe as suas “medidas” mais penalizadoras: adivisão da carreira em categorias hierar-quizadas, o modelo execrável de avaliaçãoque preconiza; o novo modelo de gestão jápromulgado, …

Porque todas estas questões existem é

Importa cerrar fileiras

* Professora e Dirigente do SPRC/FENPROF

Silvina Queiroz * necessário continuar a luta, necessidade paraque têm apontado as chamadas “2ª feirasde protesto”. Com o Entendimento abriram-se perspectivas para o futuro e na resolu-ção das questões mais imediatas, universa-lizando os critérios de avaliação do desem-penho dos professores contratados e arre-dando o cenário de penalizações em facede resultados menos positivos da avaliaçãoprocessada em 2008 e também em 2009.Abriu portas negociais até aqui cerradas, no-meadamente em torno da avaliação que seránegociada com os Sindicatos em Junho de2009, a escassos três meses de eleições le-gislativas, contexto a ter em conta… Nãonos cansamos de acusar esta equipa de gra-ve ataque à Escola Pública e inclusiva masperguntamos: se se não tivesse assinado oMemorando o que se ganharia com a deci-são? Absolutamente nada.

A confusão instalou-se também por for-ça da circulação de documentos intermé-dios que o ME propôs e que foram liminar-mente recusados. Cuidado então com asfalsificações. O que se assinou e tem vali-dade formal foram o Memorando e a Actaanexa, na qual a Plataforma explicita o seudesacordo em relação ao Estatuto, ao mo-delo de gestão, à legislação sobre Educa-ção Especial, afirmando a disponibilidadede luta pela dignificação da profissão do-cente e a defesa de uma Escola Públicapara todos.

Um mero click internáutico permitirá des-fazer a neblina que se criou. Alguns já ofizeram, outros fá-lo-ão proximamente mascremos que alguns vão insistir na confusão

porque estão muito zangados: não com osSindicatos como querem fazer crer, sim como Governo e também consigo próprios, por-que há três anos atrás, utilizando o seu legí-timo direito de cidadania votaram, e hojeconsideram ter dado sem o desejarem, ocontributo para esta maioria que tanto temprejudicado o País. Percebemos a sua desi-lusão e desencanto mas não podemos acei-tar que façam a sua caminhada penitente,até aos confins do arrependimento, queren-do que as bolhas dos pés sacrificados cres-çam e ardam nos pés de outros…

Contra um ECD injusto continuaremosa luta. Estaremos na primeira linha contrao cercear de direitos na AdministraçãoPública. Com os trabalhadores dos secto-res público e privado não calaremos a voz,reclamando do Governo o cumprimento daspromessas eleitorais e contra as alteraçõesainda mais gravosas que agora pretendeintroduzir no Código de Trabalho, diplomaque o PS tanto contestou enquanto oposi-ção. Exige-se do Governo que respeite osseus próprios compromissos. Assim pro-cedem as pessoas de bem.

A Manifestação de 8 de Março quebroua teimosia do ME de não querer sentar-seà mesa com os Sindicatos. A determina-ção dos professores levará a sucessosmaiores.

Importa cerrar fileiras e corajosamen-te pegar o futuro nas próprias mãos. Abola está mesmo no nosso campo; há quejogá-la.

Foram entregues, no passado dia 28,no Governo Civil de Coimbra, os prémiosdistritais do Concurso “Escola Alerta2007/2008”. Na cerimónia estiveram pre-sentes os alunos e professores premiados,que são os seguintes: Na Categoria 1 (1.ºCiclo do Ensino Básico) venceu a Escolade Santa Rita, Agrupamento de EscolasÁlvaro Viana de Lemos, Lousã; Na Ca-tegoria 2 (3.º Ciclo e Ensino Secundário)venceu o Instituto de Almalaguês, Coim-bra, tendo a Escola Secundária da Lousãsido galardoada com uma Menção Hon-rosa. Os vencedores receberam diplomasde participação, medalhas e um prémiopecuniário no valor de 600 euros, destina-do a adquirir material educativo para asescolas.

Este concurso, inserido num programacom o mesmo nome e subordinado ao lema“Acessibilidade a todos”, é desenvolvidopelo Instituto Nacional para a Reabilita-ção, conta com a colaboração dos Go-vernos Civis, das Direcções-Regionais deEducação, de Câmaras Municipais e, es-sencialmente, com a participação directadas Escolas e Agrupamentos de Escolas.De acordo com o seu Regulamento, oConcurso “Escola Alerta!” visa sensibili-

Entregues Prémios “Escola Alerta”

zar e mobilizar os alunos dos ensinos bá-sico e secundário para as questões da de-ficiência, para o que os alunos, sob a ori-entação de docentes, são estimulados aapresentarem trabalhos específicos.

Nesta 5.ª edição do concurso, os tra-balhos apresentados analisaram a existên-cia ou não de condições de acesso apro-priadas em estabelecimentos públicos eoutros para cidadãos portadores de defi-ciência motora ou sensorial, lançando su-gestões para melhorar as situações en-contradas.

Para o Governador Civil de Coimbra,este concurso serviu para “premiar as es-

colas mais alertas à situação de discrimi-nação a pessoas que possuem algum tipode deficiência, promovendo uma maiorigualdade de oportunidades para uma mai-or equidade social”. Henrique Fernandesreferiu ainda, durante a cerimónia, que“numa comunidade que tem vindo a per-der força para lutar contra fenómenos deexclusão social, a escola e a família são,nos dias de hoje, elementos determinan-tes para uma formação cívica e socialconsciente das crianças, devendo promo-ver sempre uma mensagem de igualdadede oportunidades para todos – por umacultura de inclusão”.

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17DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 SAÚDE

MassanoCardoso

“Ovos podres”...

Comemorou-se recentemente o diaMundial da Terra. Andamos todos, ou qua-se todos, preocupados com ela. A Terraestá cheia de cicatrizes de origem antro-pogénica, mas nós, seres humanos, tam-bém temos cicatrizes provocadas por ela.

A este propósito, e na sequência deum trabalho sobre o papel da escravidãona hipertensão arterial, dois fenómenosa que não somos alheios, como algozesna primeira e como vítimas na segunda,tentei explorar, ainda que de forma mui-to sucinta, uma eventual relação entre opatrimónio genético e o factor ambientaldo consumo excessivo de sal. Pretendiexplicar que certos genes, relacionadoscom a hipertensão, são mais prevalentesnas latitudes mais baixas, facto que po-derá explicar a elevada prevalência emcertas comunidades, nomeadamente en-tre nós, sociedade impregnada de mui-tos genes “africanos”.

Não querendo ser redutor, baseando-menuma simples explicação de um fenómenocuja multifactorialidade é mais do que evi-dente, o que é certo é que a propensãogenética para a hipertensão traduz uma“cicatriz ecológica”.

A sensibilidade ao sódio ocorreu hácerca de dois milhões de anos no decur-so do Pleistoceno. Alguns autores apon-tam, e bem, que caçar e perder sódio nãoé uma boa ideia para as pessoas que vi-vam em zonas quentes e pobres em sal,como é o caso de África. A selecçãonatural originou o aparecimento de ge-nes poupadores de sal, verdadeiro para-digma da medicina darwiniana. A fre-

quência de certos genes responsáveispela variação mundial da pressão arteri-al está bem estudada, assim como o fac-to dos nativos oriundos de zonas quentesterem mais probabilidade de virem a so-frer hipertensão relativamente aos oriun-dos das zonas mais frias.

Outro aspecto muito menos conheci-do tem a ver com as épocas caracteri-zadas pela extinção das espécies. A últi-ma parece que foi devida ao impacto deum meteoro com a Terra ocorrido hácerca de 65 milhões de anos. Antes des-ta extinção ocorreram outras, que se sai-ba quatro, e parece que foram devidasnão a meteoros mas a outros fenómenosmuito interessantes relacionados com ogás sulfídrico.

Quase todas espécies foram extintas hácerca de 250 milhões de anos devido à pro-dução do gás de “ovos podres”. Modifica-ções climáticas aliadas à proliferação debactérias produtoras deste gás levaram àmorte de quase todas as espécies existen-tes. O seu mecanismo de produção e ex-plicação ambiental estão bem demonstra-dos no artigo “Suspending Life” publicadona última revista SEED.

Os mamíferos evoluíram a partir decriaturas que conseguiram sobreviver aeste ambiente inóspito. Níveis elevadosde gás sulfídrico são letais, mas dosesbaixas deste tóxico podem prolongar assuas vidas. O gás de “ovos podres” re-duz os níveis de oxigénio nos corpos, di-minuindo a actividade metabólica. Expe-riências recentes permitiram verificar asuspensão da vida em ratos expostos adoses baixas deste gás durante váriashoras, podendo ser possível a reduçãoda temperatura para níveis mortíferos.Se se provar este achado, então o gás

sulfídrico poderá vir a ser uma verdadei-ra revolução, salvando muitas vidas.

Quando um ser humano é ferido o cor-po produz, naturalmente, pequenas quanti-dades de sulfureto de hidrogénio. Será queo nosso corpo tenta colocar-se numa situ-ação de suspensão de vida de forma a so-breviver à agressão? Um “instinto” commilhões de anos presentes nos nossos ge-nes? Sendo assim, como interpretar o usoda oxigenoterapia em muitas situações clí-nicas? Às tantas estamos a lançar gasoli-

na no fogo! Em caso de lesão celular, aoutilizarmos o oxigénio poderemos estar amatar e não a salvar, já que o oxigénio, o“poluente” que respiramos, aumenta asreacções celulares. Sendo assim, o nossoprimeiro “instinto” face, por exemplo, a umataque cardíaco, deveria ser o abaixamen-to da temperatura corporal e ministrar sul-fureto de hidrogénio!

Há muito por saber, caso dos acidentesevolucionários escondidos nas profundezasdos organismos, verdadeiras “cicatrizes”que sobreviveram a milhões e milhões deanos de evolução, esperando “mostrar” asua razão de ser. O que é curioso é queestamos a falar daquele cheiro tão carac-terístico a ovos podres que nos afugentaquase que instintivamente. Perfeitamentecompreensível, já que o sulfureto de hidro-génio é mortífero em determinadas doses.No entanto, tudo aponta que pode salvar avida se for utilizado em doses muito bai-xas. Um conselho, nada de lançar ovospodres contra ninguém. Mas será que aeliminação de “gases”, ricos em sulfuretode hidrogénio, poderá ter algum efeito, pro-longando a vida de muitos?

Estou convencido de que alguns polí-ticos andam a “snifar” micro quantida-des de sulfureto de hidrogénio, lançan-do, ao mesmo tempo, ovos podres nal-gumas criaturas!

COMEMORAÇÕES DO MÊS DO CORAÇÃO NA REGIÃO CENTRO

“Mais Vale Prevenir que Reabilitar”Maio é o “Mês do Coração” – ou seja,

aquele em que mais alertas se lançam paraa necessidade de observar práticas de vidaque evitem as terríveis doenças cardio-vas-culares que tantas vidas ceifam prematura-mente, de forma que bem poderia ter sidoevitada.

Desde os cuidados com a alimentaçãoaté à necessidade de exercício físico e àeliminação do tabagismo, este é um mês desensibilização para hábitos saudáveis quepodem prolongar muito a vida de cada umde nós, diminuindo os factores de risco deforma fácil.

Uma vez mais, a Delegação Centro daFundação Portuguesa de Cardiologia (FPC)vai promover uma série de iniciativas desti-nadas à referida sensibilização, e que serãodivulgadas hoje (quarta-feira), em conferên-cia de imprensa a realizar na respectiva sede,em Coimbra.

Mas o “Centro” pode já desvendar algu-mas das realizações que a FPC vai levar acabo neste mês, e que se integram tambémnas comemorações do 8.º aniversário da

Centro da FPC, que este ano se fazem si-multaneamente com a 5ª Reunião Interna-cional de Reabilitação Cardíaca, sob o lema“Mais Vale Prevenir que Reabilitar”.

Como refere o Presidente da Delega-ção, Prof. Polybio Serra e Silva, “com ainiciativa “Mês de Maio, Mês do Coração”,a Fundação pretende alertar para a impor-tância da Promoção da Saúde mediante aadopção de estilos de vida saudáveis”.

O especialista refere ainda que “nopróximo dia 13 de Maio decorrerá, noClube de Empresários de Coimbra, umjantar em que a FPC pretende dar a mãoao Coração dos Empresários das Em-presas com Coração”.

As celebrações têm o seu ponto altono dia 16 de Maio, com um Jantar de Be-neficência a realizar no Complexo Turís-tico dos Três Pinheiros, pelas 20 horas.

De acordo com Polybio Serra e Silva,a ementa do referido jantar “enquadra-seperfeitamente no estilo de vida saudável”.O jantar inclui também um programa lú-dico que, de acordo com o especialista,“irá ser uma janela rasgada para uma Pro-moção de Saúde Cardiovascular”.

Delegação Centro.Assim, amanhã e sexta-feira (dias 8 e

9) decorrem, no Grande Hotel do Luso, asVIII Jornadas Científicas da Delegação

O Prof. Polybio Serra e Silva durante um dos cursos de culinária ministradosna Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra, no âmbito do Projecto NUTRIformação,promovido pela Fundação Portuguesa de Cardiologia – Delegação Centropara a promoção de hábitos alimentares saudáveis.As acções Cozinha Saudável, Cozinha para Obesos e Diabéticos e Cozinha para oEquilíbrio da Tensão Arterial e Colesterol tiveram cerca de sessenta aderentes (queparticiparam, com extrema atenção e muito entusiasmo, nas sessões de formação)

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18 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

ORGULHO DE PAI

DIA DA LIBERDADE

A minha filha, que se encontra na Polónia no exercício das suas funções depresidente dos Estudantes Democratas Europeus, teve hoje a oportunidade (eo privilégio) de se encontrar com um dos maiores símbolos europeus da lutapela liberdade: Lech Walesa.

Eu, que sempre tive (e mantenho) grande admiração pelo electricista deGdansk que ajudou a mudar a face da Europa, sinto-me particularmente feliz.

(Não sou pessoa de colocar emblemas na lapela. No entanto, na altura daslutas heróicas nos estaleiros de Gdansk usei durante algum tempo um emblemado Solidariedade. Caso único no meu mais de meio século de vida. Nessa altu-ra, aliás, conseguia desenhar - sem grande rigor, é certo - o emblema do movi-mento).

Por tudo isto, creio que o acaso levou a minha filha a assinalar de forma bemsignificativa o... “Dia da Liberdade” português. Em Gdansk. À conversa comum grande homem. Um dos meus ídolos.

(publicado em 25/04)

A propósito do que relatei no texto acima publicado, chegaram hoje de Gdanskestas fotos.

Confesso, mais uma vez, que sinto um grande orgulho na filha que tenho.(publicado em 30/04)

A POUCA VERGONHA DO IMI

Custa sempre pagar impostos.Mas há um que me custa a dobrar,

até porque o considero estúpido: o Im-posto Municipal sobre Imóveis (IMI).

[Anda-se uma vida inteira a pagaruma casa, ou a juntar dinheiro para acomprar, e depois ainda tem de se pa-gar imposto à autarquia porque se com-prou essa casa. Confesso que não per-cebo. E ainda percebo menos quandomoro há 13 anos numa rua e essa mes-ma autarquia nunca mandou passarpor lá um simples varredor. Imposto?De quê? Para quê?]

Ontem, último dia para pagamentoda 1.ª prestação (a única forma deprotesto de que disponho é pagar omais tarde possível...), lá tive de de-sembolsar várias centenas de eurosporque sou proprietário de um modes-to apartamento na freguesia de Eiras.

Um escândalo! (Apetecia-me es-crever outras palavras, mas este é um“blogue bem-educado”).

Para além de estúpido, o IMI é umimposto injusto.

Há muita gente com prédios bemmais valiosos do que o meu aparta-mento, localizados em zonas bem maisnobres, que pagam escassas dezenasde euros.

Justiça fiscal? Uma treta!(publicado em 1/05)

MENSAGEM DE AMIGO«Muito raramente vejo televisão (limi-

to-me a alguns programas noticiosos).Estou a assistir, na RTP1, à transmis-

são de um excelente programa: “Vozesde Abril”.

Como militar de Abril, tenho vibradocom alguns dos momentos altos do pro-grama. Mas soberba foi a participaçãode Carlos Carranca e Luiz Goes.

Meu caro Mário,Não fora o alerta em “A Página do

Mário” e o meu serão teria sido diferen-te (este programa passava ao lado).

OBRIGADO, AMIGO!J. R.»NOTA - É sempre um prazer poder

ser útil, sobretudo aos amigos. Aque-le abraço!

(publicado em 29/4)

INSÓLITO

O painel electrónico gigante avisava:PERIGOanimal a 4 kmCIRCULE COM CUIDADOEsta tarde, na auto-estrada Figuei-

ra da Foz-Coimbra.(publicado em 27/4)

NÃO ENTENDO, MAS...Há (muitas) coisas que não entendo.Esta é uma delas.Ouço na televisão que uma imobiliá-

ria pertencente e/ou gerida por Pinto daCosta foi alvo de buscas por parte dasautoridades.

A notícia termina com a referência aofacto de Pinto da Costa ter reagido àsbuscas através de comunicado divulga-do no “site” do... FC Porto!

Há mesmo coisas que não entendo.Mas o problema deve ser (apenas) meu.

(publicado em 25/4)

CARLOS CARRANCANA RTP

A RTP1 transmite amanhã à noiteo programa “Vozes de Abril”, grava-do no Coliseu dos Recreios no passa-do dia 4 de Abril.

O meu amigo Carlos Carranca foium dos participantes no espectáculo,ao lado de Luiz Goes.

Uma das maiores ovações da noiteaconteceu quando Carlos Carranca inter-pretou “A Trova do Vento que Passa”.

Antes da interpretação, Carranca disseo seguinte: «Aprendemos com os queresistiram em Ditadura. Hoje estamos aaprender a resistir em Democracia. Aosprofessores de Portugal, “A Trova doVento que Passa”!».

O Coliseu parecia ir abaixo. Os es-pectadores cantaram “A Trova” emunís-sono, naquele que foi um dosmo-men-tos altos do espectáculo.

Amanhã à noite estarei atento à trans-missão da RTP para acompanhar as par-ticipações destes dois amigos – meus ede Coimbra.

(publicado em 24/4)

PS – A RTP não “passou” a dedi-catória de Carlos Carranca, facto quetem suscitado alguma polémica na blo-gosfera.

ANÁLISE POLÍTICA(RUDIMENTAR)

Há muita gente à espera de uma vagade fundo.

Mas o mar tem estado calmo.

Felizmente.Já bastam as marés vivas que provo-

cam prejuízos na costa.(publicado em 23/04)

OS NOVOS POBRESCerca de 80 por cento dos cidadãos

da União Europeia que utilizam a Inter-net já o fazem através de ligações debanda larga.

Parece ser um excelente indicador...O estudo, da responsabilidade da

União Europeia, não é assim tão cor-de-rosa.

Com efeito, concluiu que 40% dos ci-dadãos europeus não utilizam a Internet.

Os “iletrados da Internet”, ou info-excluídos, são uma categoria dos novospobres.

(publicado em 23/04)

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19DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Dezena e meia de concertos de rua e desala, ciclos de cinema, exposições e activi-dades pedagógicas marcam a VI edição dosEncontros Internacionais de Jazz de Coim-bra, a decorrer entre os dias 2 e 15 do pró-ximo mês de Junho.

O programa deste evento, organizado emconjunto pela Câmara Municipal e pelo Jazzao Centro, começa com a inauguração devárias exposições, no dia 2 de Junho, decordofones, de fotografia de edições anteri-ores e de cartazes do festival. Nesse diainicia-se também uma emissão específicada Rádio Universidade de Coimbra, queacompanhará todos os espectáculos dosEncontros.

O ciclo de concertos abre no dia 5 noAteneu de Coimbra (uma prestigiada co-lectividade da “Alta” de Coimbra), com o“ZFP Quartet”, liderado pelo violinista por-tuguês Carlos Zíngaro, e onde pontificammúsicos de Inglaterra e Brasil.

Uma das marcas desta edição, que pelaprimeira vez deixa o formato de duas ses-sões por ano para se concentrar em Ju-nho, é a da aposta em espectáculos de rua,que curiosamente apresentam um custo debilhete individual a 10 euros, o dobro dovalor cobrado no de estreia e noutros ain-da no Salão Brazil, o palco privilegiado pelofestival.

Na semana passada os fãs de todomundo bloquearam o acesso ao sítio ofi-cial dos Coldplay, tudo porque a bandaliderada por Chris Martin, disponibilizou,gratuitamente e por uma semana, o pri-meiro avanço de “Viva La Vida Or De-ath And All His Friends” – a editar nopróximo mês de Junho – intitulado “Vi-olet Hill”. Iniciativa semelhante tiveramos CSS ou Cansei de Ser Sexy (comopreferirem), disponibilizando no seu sí-tio na internet “Rat Is Dead (Rage)”,um dos temas a incluir em “Donkey”, opróximo trabalho de originais da bandade S. Paulo, que deixou de contar nassuas fileiras com a baixista Ira Trevi-san (apesar da ela ainda ter contribuídopara este segundo longa duração dabanda).

Já está nas lojas o disco de estreiados Fitacola, “Mundo Ideal”, uma ban-da de Coimbra que pratica uma sonori-dade que conjuga o “punk” com o “hard-core”. Para mostrar o disco aos fãs, abanda de Diogo (voz e guitarra), Besu-

DE 2 A 15 DE JUNHO

Festival de Jazz anima Coimbra

Na rua, nas escadas do Quebra-Costas,onde habitualmente é o fado de Coimbra aexibir-se, serão apresentados quatro espec-táculos: pelo “Júlio Resende Quarteto”, pelotrio “Agustin Fernandez/Barry Guy/RamónLopes ‘Aurora’”, “Ravish Momin’s TrioTarana” e “Hélène Labarrièrre Quartet”,respectivamente nos dias 6, 7, 13 e 14 deJunho.

Para o Salão Brazil, um espaço de res-tauração da “Baixa” de Coimbra já com tra-dições no jazz, estão previstos concertos comos grupos Michael Attias Quintet” e “Al-bert Pinton & Chant”, com três concertoscada um, que serão gravados para posterioredição discográfica.

O Teatro Académico de Gil Vicente

(TAGV), que será palco do ciclo de cinemae das conversas à volta das películas, aco-lhe no dia 12 o concerto da “JWO-JACCWorkshop Orchestra”, dirigida por MichaelAttias.

O ciclo de cinema compreende a exibi-ção dos filmes “Belarmino”, com a presen-ça do cineasta Fernando Lopes, que temmúsica interpretada pela Orquestra do HotClube de Lisboa, e “Off the Road”, de Lau-rence Petit-Jouvet, sobre o contrabaixistaalemão Peter Kowald, nos dias 10 e 11 deJunho.

Antes, no dia 3, realiza-se na Praça 8 deMaio um concerto educativo, em que o pú-blico poderá experimentar tocar com músi-cos de jazz. No dia 4 haverá uma actividade

pedagógica: “Descobrir o Som”, no Museuda Ciência da Universidade, em simultâneocom uma palestra sobre a temática da im-provisação, por Carlos Zíngaro, no Museuda Física.

Nos dias 6, 7, 13 e 14 decorre nas es-cadas do Quebra-Costas um mercado dodisco.

O programa da VI edição dos EncontrosInternacionais de Jazz de Coimbra visa, se-gundo os organizadores, “reforçar a dinâ-mica” cultural da Alta e da Baixa, ao trazerespectáculos para a rua.A presente ediçãotraz a Coimbra grupos e músicos de origenstão diversas como a Índia, Brasil, França,Estados Unidos da América, Suécia, Ingla-terra, Espanha, Itália e Alemanha.

Hélène Labarrièrre Quartet

go (guitarra), Libelinha (baixo) e XicoVale (bateria) juntou uma série de ban-das amigas, de entre as quais se desta-cam os Humble, e organizou quatro con-certos em outros tantos dias, que os le-varam a Lisboa, Coimbra, Sesimbra eFaro, respectivamente. A entrada cus-tava oito euros, incluindo um exemplarde “Mundo Ideal”.

Para o fim, duas sugestões: a pri-meira consiste na actuação depois deamanhã (sexta-feira) dos Groove Ar-

PARA SABER MAIS:

www.coldplay.comhttp://trama.uol.com.br/portalv2/css/#www.myspace.com/fitacolawww.groovearmada.comwww.myspace.com/groovearmadawww.wearefoals.comwww.myspace.com/foals

Fitacola “Mundo Ideal” (Sons Urbanos)Foals “Antidotes” (Warner)

mada de Andy Cato e Tom Findlay no“Queimódromo”, se bem que a bandade “I See You Baby” se apresente emformato “dj set”, como aliás já o tinhafeito em 2006, na primeira noite da úl-tima edição do Rock In Rio Lisboa. Asegunda sugestão recai em “Antido-tes”, dos Foals, uma banda de Oxford(Inglaterra), a ouvir com muita aten-ção. “Cassius”, “Red Sox Pugie” e “BigBig Love (Fig.2)” são exemplos dissomesmo.

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20 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008OPINIÃO

O leitor vai, desde já, capacitar-se – ab-solutamente capacitar-se –, quer alguma vezse tenha, ou não, posto a questão, de que sóhá dois tipos de pessoas: a massa e o escol.Este é percentualmente residual e a sua con-dição de residual resulta – tão-só – da suaresponsabilidade – perante si mesmo, an-tes de mais nada (ética, moral, relacional,social...) – e da sua insaciável curiosidade.

Ao possuir um tão estrito – mas, simulta-neamente, tão amplo – programa vital sen-te, desde logo, que na Vida, tem que ter otempo do seu lado (aproveitando-o ao má-ximo, claro) e que, por ser tão escrupuloso,os fundamentos do que lhe aparece (da vidahumana à sua volta) têm que buscar-semuito para além das meras causas e conse-quências humanas. Uma das suas mais cé-leres conclusões é que nem o que passa porser verdade o é, nem as razões justificativasgeralmente apresentadas o são.

Falamos de meras causas e consequên-cias humanas, porque é no plano da cons-ciência que tudo deve situar-se. Qualquerespírito menor é capaz de alinhavar muitasfrases e discursos...

O escol sabe coisas como, v.g., esta: atra-ímos para nós o que condenamos aos ou-tros; só as pessoas de excepcional catego-ria deviam presidir aos destinos da comuni-dade; uma excepcional categoria leva tem-po a adquirir-se e resulta de uma indefectí-vel disposição para o conhecimento e es-forço, a qual, nem por um mícron, se desviado seu caminho; os embusteiros têm a tare-

Onde estamos...J.A. Alves Ambrósio

fa absolutamente facilitada porque se diri-gem a massas crédulas, não raro, aliás, im-becilizadas, fanatizadas, muitas vezes comvantagens materiais concedidas pelos taisembusteiros.

Embusteiros e massas fazem um con-junto congruente.

Di-lo a imprensa portuguesa, falada ouescrita, e nós sabemo-lo até ao mais fundodas nossas vísceras, porque o deprimenteespectáculo oferecido pelos que passampor ser dirigentes tem os resultados que sesabem.

Na Educação, que é, simultaneamente, arevelação da concreta educação de um povonum dado momento, a revelação da preo-cupação com ela havida desde antanho, e a“revelação” das capacidades da Grei parase afirmar para futuro, dizer catástrofe éser rigorosamente fiel à verdade.

Ou os portugueses despertam para estedomínio, ou só os mentecaptos se surpreen-derão com o porvir.

Na coesão social, que é, dentro de umacomunidade, sentirmo-nos bem todos comtodos, as greves havidas (queiram ou nãoqueiram os seus detractores, os professo-res não são apenas um insubstituível escol,mas um escol que deve ser acarinhado)são apenas um dos indicadores (uma re-volução feita para democratizar foi, issosim, fautora de muito graves desigualda-des, tanto que o fosso entre ricos e pobresaumenta como em nenhum país da União

Europeia).Na Cultura, o Latim e o Grego – apenas

dois exemplos –, que são pilares de qual-quer sociedade que se preze de ser pros-pectiva, de se conhecer, viver altaneira coma mais alta auto-estima e estar optimistarelativamente ao futuro, pura e simplesmenteforam banidos. (Entretanto, uma homena-gem sem palavras à Doutora Maria Helenada Rocha Pereira por ter ganho o “PrémioManuel Antunes”).

E se o Acordo Ortográfico se assinar é aperfeita capitulação perante a barbárie, por-que, antes de ter um “valor económico”,como dizem alguns, um idioma é um intan-gível espírito, uma incoercível postura idios-sincrásica.

Explico-me melhor. O Português noBrasil resulta de 70.000 portugueses (cal-cula-se), maioritariamente analfabetos,que nos séculos XVI e XVII aí se fixa-ram, superando “os idiomas indígenas edesenvolvendo um perfil próprio em pro-núncia, sintaxe e léxico”.

Mais. “O português brasileiro apresentaum amplo leque de variedades que, pesea serem mutuamente inteligíveis, se inse-rem num marco de conotações sociais”.Em suma: “há uma situação de insegu-rança linguística que tanto confunde os fa-lantes nativos como os forasteiros inte-ressados em aprender o português”. Ci-tações a partir de El portugués, hoy, deMilton A. Azevedo, in Revista de Occi-

dente, n.º 320, Enero 2008.O 25 de Abril foi entusiasticamente aco-

lhido pela quase totalidade da populaçãoportuguesa, mas, mal implantado, alguém tãoinsuspeito como João-Paulo Sartre logo dis-se, in loco, tratar-se de um “manicómio emauto-gestão”.

“Em política, feio, feio é perder”. O autordeste mimo que disse, também, a um solda-do da GNR: “Ó Sr. Guarda desapareça”,que insultou publicamente um juíz, que re-velando uma mentalidade neo-colonialistachamou ladrões e corruptos a governantesangolanos, mas manifestou solidariedade aBetino Craxi, quando este já estava conde-nado, e etc, etc, etc, foi um dos “pais dademocracia” portuguesa. É uma perfeita ilus-tração do que nos esperava, porque tantaelevação atraiu para Portugal o estado emque ele se encontra. E como o zénite cultu-ral da intelectualidade lusa não tem sufici-ente altura para ser prospectivo (é numeri-camente irrelevante) e a Universidade por-tuguesa, além de não se dar por ela (áreacientífica à parte), é ainda garroteada pelopoder político, a comunidade portuguesa jásabe o que pode esperar. Melhor. A revolu-ção feita para desenvolver assiste, agora,à emigração de dezenas de milhares dos seusmais robustos filhos.

Quanto ao descolonizar, outro dos pro-pósitos, estamos conversados...

Guarda, 13-IV-08

[email protected]

CarlosEsperança

ponte europa

PARIS – MAIO DE 68

Quarenta anos depois, os líderes darevolta converteram-se aos encantosda burguesia mas o autoritarismo e arepressão sobre a mulher sofreram omais forte abalo do século XX.

Da utopia e dos excessos resultouuma sociedade mais tolerante, maisrespeitadora dos direitos individuais emais justa quanto à igualdade entrehomens e mulheres.

Nicolas Sarkozy, o pouco recomen-dável presidente francês, exigiu pu-blicamente a «aniquilação da memó-ria de Maio de 68». Estranho azedu-me para quem dificilmente seria pre-sidente da França, após dois divórci-os, sem a revolução dos costumesoperada em Maio de 68.

Sem esse movimento, que perten-ce ao património da França e influen-ciou o mundo, o Sr. Sarcozy jamais

poderia ter Carla Bruni como primei-ra-dama.

De Caroline de Bendern (foto emcima) até Carla Bruni como primeira-dama (foto em baixo) quatro décadasde história nos contemplam. (Paráfra-se de Napoleão, dirigindo-se aos solda-dos, à vista das pirâmides do Egipto).

NOTAS SOLTAS – ABRIL 2008

D. Jorge Ortiga – Com a reeleição doarcebispo de Braga para a presidência daConferência Episcopal a linha dura da hie-rarquia católica não hesitará em afrontar oEstado para defender privilégios e imporpreconceitos.

Divórcio – Por muito que doa às almaspias, não há forma de o impedir sem supri-mir o casamento ou a democracia. Facilitá-lo, abrevia o tormento e reduz os custos etraumas, a cônjuges e filhos.

Jaime Gama – Já chamou a Jardim«Bokassa da Madeira, responsável pelodéfice democrático no arquipélago» e «umexemplo supremo da vida democrática».Não se sabe quando usou a ironia ou recor-reu ao sarcasmo.

Praga – Há 40 anos os tanques soviéti-cos anularam o socialismo democrático eabriram as portas ao capitalismo selvagemcomo único modelo de uma sociedade cadavez mais injusta e desigual. Não ceifaramapenas a Primavera, semearam o Outono.

Tribunal Constitucional – No 25.º ani-versário, o discurso do PR foi elegante naforma, denso no conteúdo e substancial nasimplicações. Cavaco, no seu melhor, home-nageou o TC, insubstituível no ordenamen-to jurídico da democracia.

Presidente da República – Perante asofensas, usuais no sátrapa madeirense, osilêncio de Cavaco pode ser cómodo masreduz a consideração e o respeito que lhesão devidos ao mínimo constitucionalmenteobrigatório.

Paraguai – Renasce a esperança coma vitória do bispo católico, Fernando Lugo,que arquivou a mitra, o báculo e o anelãopara liderar a coligação que pôs fim a 60anos de um regime fraudulento num dosmais pobres e injustos países da Américalatina.

Cónego Melo – A morte lava mais bran-co mas é injusto, para o morto e para a ver-dade, associá-lo à democracia. Salazaristaconvicto, foi um apoiante activo do MDLPainda que possa ter sido alheio ao assassíniodo padre Max.

Manuela Ferreira Leite – A compe-tência, honestidade e carácter, que Barro-so, Santana Lopes e Meneses nunca reuni-ram, faz dela a adversária do PS que podeevitar a aventura populista e irresponsávelde Santana ou de Jardim.

Lisboa – O presidente da Câmara, An-tónio Costa, inaugurou o «memorial às ví-timas da intolerância» evocativo do mas-sacre de 2 a 4 mil lisboetas, queimadosem 1506 por suspeita de professarem ojudaísmo.

25 de Abril – A data mais emblemáticada liberdade, na história portuguesa, nãodeve ser pretexto para lutas partidárias, temde servir de vacina a tentativas autoritáriase à amnésia colectiva que já esqueceu aguerra colonial e meio século de ditadura.

Iraque – Os poucos cristãos que restam(havia 1,4 milhões antes da invasão) são oalvo preferencial da intolerância, vítimas doódio sectário e do proselitismo islâmico. Bush,Blair, Aznar e Barroso continuam impunes.

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21DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

A demissão do Presidente do PSD,latente desde o acto da sua posse, lan-çou ruidoso redemoinho no arraial dapolítica.

A vitória de Menezes, seis mesesantes, pela forma como as peças doxadrez laranja se foram dispondo, aincoerência dos comportamentos sefoi definindo e o desencontro do dis-curso se acentuando, cedo teria os diascontados.

O autarca de Gaia, se bem que re-velando sagaz realismo ao abreviar asua decisão, confirmou aquilo que delejá sabíamos: uma significativa dose dedemagogia num percurso político mui-to pouco escorreito.

Mesmo ao bater da porta, precipi-taram-se os candidatos. Em catadu-pa, numa feérica e deplorável feira devaidades.

O Partido Social Democrata entra,assim, em processo sucessório. Nor-mal e desejável.

Normal, dado que a sua democra-cia interna funciona na perfeição. De-sejável, porque a saúde do nosso sis-tema democrático exige uma oposiçãoforte e esclarecida, capaz de enfren-tar em plenitude e sabedoria o mono-

Política de arraiallitismo duma maioria autista e nescia-mente convencida de que é a únicadetentora da verdade.

Nesta etapa final do consulado deSócrates, impõe-se diagnosticar e de-nunciar com vigor e substância as inú-meras situações de políticas gravosaspara o comum dos portugueses e cons-truir uma alternativa credível, com ali-cerces, de modo a que, em 2009, hajaum outro projecto à consideração dosportugueses e as loas que, certamen-te, serão cantadas por toda a parte te-nham o devido contraponto num bemfundamentado “outro lado da verdade”.

No momento de grave crise econó-mica e social que atravessamos e nasua qualidade de força alternativa depoder, o PSD não pode continuar a cor-rer os riscos dos populismos fáceis edemagógicos protagonizados por al-guns daqueles que se perfilam paraconquistar a liderança. Tal postura,associada a uma clamorosa ausênciade projecto, tem sido responsável pelafalência da oposição na AR.

O poder não pode continuar a serum brinquedo com o qual alguns “me-ninos” vivaços e oportunistas se di-vertem ou se pavoneiam na crista daonda social. Os resultados desses es-tranhos comportamentos, emergentes,

aliás, em diversas formações partidá-rias, têm sido negativos demais não sópara os partidos mas para o país.

É confrangedora a insensatez e odespudor de alguns que, clara e con-tinuamente rejeitados nas urnas, tei-mosa e estultamente se assumemcomo crónicos candidatos a líderes, apotenciais chefes de governo, e nãosó. Será que nunca lhes passou pelacabeça que os cidadãos minimamen-te informados e isentos já não os su-portam, já não conseguem digerir avacuidade do seu discurso, as suasoníricas e gastas estratégias, a incon-sistência do seu comportamento?

É inconcebível este arraial de câ-maras, microfones, limousines e pal-mas por tudo e por nada, esta chorri-lhada de análises e contra-análises, deditos e contra-ditos, do fervilhar dosapoios efectivos, hipotéticos e imagi-nários para impor a candidatura dealguém que não a merece, que, porpalavras e por obras, já demonstrou àsaciedade não ter perfil, não ter pro-jecto, credibilidade.

Já nos basta ter que ouvir a matra-ca dos que, no poleiro, todos os diasnos massacram com estatísticas paradisfarçar as insuficiências e as incom-petências, para negar tudo aquilo que

sentimos nas agruras duma situaçãopara a qual eles próprios contribuíram.

Com o custo de vida em vertiginosaascensão e a fome a apertar em mui-tas famílias, o emprego cada vez maisdifícil e a desenhar-se uma crise soci-al de inusitadas proporções, esta polí-tica de estardalhaço, de arraial é uminsulto. Exaspera-nos. Revolta-nos.

É preciso dar credibilidade à políti-ca como arte e como processo social.

A arte não poderá centrar-se no fe-érico, no ruído mas na clareza, natransparência, na verdade, no rigor.Na seriedade.

Como função social, deverá pros-seguir, em essência, o bem do cida-dão, especialmente do mais vulnerá-vel, do mais carenciado. Construir apaz social através da apologia e práti-ca da solidariedade e da justiça, dacriteriosa mobilização dos recursosdisponíveis.

Impõe-se uma política real, peda-gógica e motivadora. Mobilizadora.Esclarecida. Susceptível de, com so-lidez, construir a esperança para quevoltemos a acreditar. Uma políticaconcreta, vocacionada para a resolu-ção dos problemas. Com gente sériae capaz. Com os melhores. Os quenão vivem do arraial.

No decorrer de uma reuniãocientífica na Universidade deÉvora, no princípio do passadomês de Abril, um dos docentesmostrou casebres antigos que,de abandonados, já telhado nãotinham e outro préstimo tambémnão, até porque se encontravamum aqui outro acolá, pelas ter-ras do Norte alentejano…

Suspeitava ele que teriam sido,há não mais de dois-três séculos,casas habitadas, porventura até lu-garejos, cujos nomes até se encon-trariam em documentação, se seprocurassem. E lançou o alerta:

– Às carradas, estão estas pe-dras a ser vendidas aos Espanhóis,para decoração de quintas e gra-ciosas casas de campo.

E ninguém vê!...

A Batalha dos Atoleiros – Depoisda Morte do Conde de Andeiro, D.Juan I de Castela marchou sobre Lis-boa para a sitiar, seguindo outro exér-cito castelhano para o Alentejo.

Assim sendo, o Rei de Portugal nãopodia sair de Lisboa, tendo enviado oCondestável em auxílio das gentesalentejanas.

Munido de 300 lanças e 1500 ho-mens, Nuno Álvares Pereira marchoupara o Crato, onde a população já ofe-recia resistência aos castelhanos co-mandados pelo Prior do Crato. Estemanda um mensageiro a seu irmão,propondo-lhe que passasse para o ladocastelhano, o que foi veementementerepudiado. As tropas castelhanas le-vantaram o cerco que faziam à Vila daFronteira e marcharam contra os Por-tugueses. Nuno Álvares Pereira espe-rou as tropas inimigas no lugar de Ato-leiros e, formando as forças portugue-sas em quadrado, conseguiu vencer oscastelhanos que se puseram em fuga.

Não foi um grande combate, mas

1928 – 3.ª Emissãoda Independênciade Portugal

tornou-se notável por ter revigoradoos ânimos indecisos de alguns portu-gueses, tendo assim intimidado os cas-telhanos, afirmando a nossa força nocampo de batalha.

A imagem do selo mostra bem comoo autor do desenho, Alfredo RoqueGameiro, imaginou esta batalha.

Gravura a talhe doce por GeorgeHarrisson e Normand Broad, foramemitidos 400 mil selos de $05 verdeazeitona, 800 mil selos de $40 sépia, e50 mil selos de 1$00 lilás vermelho.Circularam de 27 a 30 de Novembrode 1928 em papel pontinhado em lo-sangos, denteado 14 de linha.

Ao lado, um retratode Nuno Álvares Pereira

Reprodução de um dos selos

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22 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008OPINIÃO

A MINHA ESTANTE

Maria Pinto*[email protected]

Gostei tanto de te falar, João! Comosempre gosto. Enches-me de ternura,daquele abraço que nos acompanha des-de meninos. Da sensibilidade que só al-guém como tu sabe e pode oferecer.

A nossa conversa de ontem percor-

reu continentes, virou o mundo. Falámosde nós, de como eu era o “bichinho-do--mato”, da forma como me protegias...

Passámos para os meninos de hoje,para os novos terrores e a tua voz parou,subitamente, numa mulher: Irena Send-ler. Enviei-te um mail sobre ela!... dis-seste-me momentos depois.

Quase de imediato me lancei sobre eleporque este nome... Irena Sendler... sig-nificava algo de muito forte para mim.

Agradeço-te, João, o magnífico mailque sobre ela me enviaste. Transportas-te-me, através dele, para as minhas au-las. Para os meus queridos alunos. Paraas nossas longas conversas de mútuaaprendizagem. Sobreveio um grito desaudade...

Olhei a minha estante. Desta vez nãoprocurava um livro. Ali estava, diante demim, A Lista de Schindler, obra-primade Spielberg, que me tatuou para sem-pre. Cerrei os meus olhos e assim fiquei,revendo partes deste filme. Por mim pas-sou, em pinceladas de tinta eivadas derealismo, a perseguição ao povo judeu...o seu encarceramento no gueto de Cra-cóvia... o amontoar de famílias inteirasem compartimentos minúsculos, insalu-bres, indignos. A espera. A espera semesperança. A música ao som da qual se-res humanos como nós, homens e mu-lheres, se desnudavam à espera que, deforma arbitrária e violenta, os chamas-sem à vida por algum tempo mais. Amesma melodia, linda e irónica, que osacompanhava até aos camiões com des-tino marcado de ida sem volta para os

A Mãe dos Meninos do Holocaustohorrendos campos de concentração queos transformariam em cinza.

O que torna A Lista de Schindler di-ferente dos demais filmes alusivos a estatemática é, apesar de tudo, o carácterprofundamente humano que o realizadorlhe conseguiu imprimir. No meio de todauma ambiência de barbaridade, eis queemerge Oskar Schindler, figura transpos-ta da vida real para a tela cinematográfi-ca, personagem que ao longo da históriaprotagoniza e simboliza a capacidade que

o ser humano tem de se regenerar.Como tantos empresários ao serviço

da máquina de guerra nazi, Oskar pro-curou enriquecer à custa da exploraçãodo povo judeu, construindo a sua fábri-ca e adoptando, a partir daí, um estilode vida corrupto e extravagante. No en-tanto, e nunca se opondo frontalmenteaos ditames ideológicos do regime, foi-se apoderando dele a repulsa contra ohorror e a brutalidade da perseguiçãoem relação à população judaica, tendosido este facto que ocasionou nele umvolte-face.

O libertino de outrora vai-se tornan-do, aos poucos, um salvador, um liberta-dor de mais de um milhar de trabalhado-res judeus que o haviam ajudado a enri-quecer. É neles e na sua libertação queSchindler emprega a quase totalidade dasua fortuna, tornando-se, para sempre,uma figura emblemática da nossa histó-ria recente. De forma merecida.

No entanto, a História esquece, porvezes, outros heróis do quotidiano. Nes-te caso, uma heroína. Irena Sendler. Ple-na de sensibilidade e de discrição, estaMulher salvou, na mesma altura, cercade 2500 crianças do Holocausto nazi.

Em 1939, momento em que a Alema-nha invade a Polónia, Irena trabalhavacomo enfermeira no Departamento deBem-Estar Social de Varsóvia, zelandopelo bom funcionamento das salas dejantar comunitárias da cidade. Três anosmais tarde, quando os nazis criaram ogueto de Varsóvia, Irena, horrorizada coma desumanidade que aí grassava, decide

unir-se ao Conselho para Ajuda aos Ju-deus. Estabelece então uma teia de con-tactos com famílias judaicas, propondosalvar-lhes os filhos. Sem certezas quan-to ao destino das crianças. Apenas amovia o desejo de fazer algo por estespequeninos seres que achava terem di-reito a um futuro de esperança.

Numa primeira fase, separá-los dosseus pais, foi a grande luta. Não desis-tindo, acabou por engendrar uma sériede estratégias para arrancar os meninos

da morte. Embalava-os em caixotes, sa-cos de batatas e cestos do lixo, para quepudessem vir a usufruir de uma vida lim-pa. Porque estes meninos e meninas nãopodiam ser embalados em berços e ador-mecidos ao som de uma cantiga de ni-nar. Lembras-te daquela canção de quefalavas ontem, João? Aquela com queembalavas e adormecias as tuas filhas...“Tutu-marambá, não venhas mais cá/ que a mãe da criança te manda ma-tar...”. Pois... Chico Buarque...

Neste caso, Irena Sendler. Foi ela amãe que arrancou tantos meninos dasgarras do marambá nazi...

Ela pensava no seu futuro. No futurodeles. E delas. Nas hipóteses de paz. Foiassim que arranjou para estas criançasidentidades falsas, anotando-as juntamen-te com os verdadeiros nomes em peda-cinhos de papel que colocava em peque-nas garrafas e enterrava debaixo de umaárvore próxima de sua casa.

Mas os dias de Irena, desta mulher-mãe-coragem pareciam estar contados.Descoberta pela Gestapo, acabou por serpresa e severamente torturada. No en-tanto, ninguém conseguiu saber dela umaúnica palavra, um único suspiro acercado paradeiro de tantos meninos que sal-vara e albergara junto de uma série defamílias de acolhimento. Aguardava-a asentença última: a execução.

Contudo, o soldado-perpetrador, porsuborno, deixou-a fugir. Irena passou aagir com um nome falso: Jolanta. Aindaque todos pensassem, descansados, queela havia morrido. Quando a guerra *Docente do ensino superior

terminou, Irena-Jolanta desenterrou ofruto da sua luta pela cidadania e pelajustiça. Conseguiu encaminhar algunsmeninos para as suas famílias. Os ou-tros, cujos pais haviam sido vitimadospelo monstro nazi, ficaram no seio dasfamílias adoptivas.

Hoje, esta anciã quase desconhecida,de 98 anos de idade, reside num asilo emVarsóvia, num quarto onde nunca faltamflores e cartões de agradecimento dosseus inúmeros filhos. Dos filhos de Jo-

lanta. Da sua boca, apenas as seguintespalavras: “Poderia ter feito mais. Estelamento acompanhar-me-á até ao úl-timo suspiro”.

Esta história que vos contei, Joana eFrancisco, é uma história real. Quis con-tá-la hoje, porque é o Dia da Mãe. Paraque possam perceber que há muitas for-mas de se ser Mãe. Para entenderem ovalor da palavra liberdade e o quão éimportante podermos viver numa demo-cracia, por mais imperfeita que ela nospossa parecer. Sei que me entenderam.Sei que compreenderam que meninoshouve, que meninos há, com outras sor-tes, com outros desesperos. Meninos emeninas a quem estas palavras de Vini-cius que por vezes vos canto, nunca fi-zeram sentido:

“Menininha do meu coraçãoEu só quero vocêA três palmos do chão

Menininha, não cresça mais nãoFique pequenininhaNa minha canção (...)

Crianças que nunca puderam sermeninos.

Por tudo o que foi, por tudo o que fez,pela grande lição de cidadania e de hu-manidade, deixo, através deste meu tex-to, a mais sincera homenagem a estanotável Mulher que foi... Irena Sendler.A Mãe dos Meninos do Holocausto.

Irena Sendler quando era jovem e corajosa enfermeira Irena Sendler em foto recente, com o mesmo sorriso bondoso

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23DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

LABORATÓRIO DA GRÁVIDA

TWITLINKS

YAD VASHEM

WEATHER BONKSOCIALTHING

GOOGLE PEDOMETER

O Museu do Holocausto de Jerusalém, Yad Va-shem, lançou um canal no YouTube que dá voz àsvítimas do nazismo e mostra as actividades desen-volvidas pela instituição. Há imagens de arquivo,testemunhos de sobreviventes do Holocausto, his-tórias de vidas para conhecer.

No dia 1 de Maio presta-se anualmente, em Is-rael, uma homenagem aos seis milhões de judeusexterminados pelo regime nazi. Em memória dasvítimas do Holocausto, e nas vésperas das cerimó-nias, foi lançado o canal do Yad Vashem, que foicriado pelo Estado de Israel em 1953 como resulta-do de uma lei do Knesset que visa perpetuar a me-mória e as lições do Holocausto para as geraçõesfuturas. O Museu Yad Vashem tem sob a sua alça-da vários monumentos, o museu histórico, um ar-quivo e um centro de pesquisa e documentação.

YAD VASHEM

endereço: http://www.youtube.com/user/YadVashemcategoria: História

Apesar de ter uma vertente comercial, o site La-boratório da Grávida é indispensável para as ca-sas onde a cegonha é esperada. Fomentando umsentido de comunidade, este espaço fornece impor-tante informação orientada para futuras mães.

Há várias áreas à disposição dos visitantes: desdeos serviços prestados pela empresa a conteúdos ape-nas para utilizadores registados, passando por um fó-rum de partilha com discussões interessantes.

LABORATÓRIO DA GRÁVIDA

endereço: http://olaboratoriodagravida.comcategoria: Saúde

A fórmula do Twitter é inegavelmente vencedo-ra. E, por isso mesmo, surgiu o Twilinks que é umagregador de conteúdos que reúne informaçãoapresentada por utilizadores do Twitter sobre tec-nologia.

A ideia é interessante e dirige-se a quem aprecia oformato e/ou não tem tempo para consultar com regula-ridade os blogs e microblogs da área e não “quer perderpitada”. Aconselha-se uma visita.

TWILINKS

Endereço: http://twitlinks.comcategoria: tecnologia

A Web 2.0 trouxe uma Internet social com inúme-ras ferramentas e potencialidades, mas também umagrande exigência de tempo para quem quer ter uma“vida” online. O SocialThing é a solução para quemquer ter uma presença online assídua sem ter inúme-ras tabs do browser abertas.

Está ainda em versão beta mas vale a pena experi-mentar o SocialThing, uma ferramenta que permitereunir a informação dos vários sociais em que se estáinscrito. Desta forma, os outros utilizadores podemacompanhar-nos numa única janela. Facebook, Powncee Twitter são alguns dos serviços que já estão nestarede, a que se prevê que outros se juntem em breve.

SOCIALTHING

endereço: http://socialthing.comcategoria: web 2.0

Que o Google está na frente da corrida da webjá todos sabíamos, mas agora a novidade é um ser-viço que aproveita o Google Maps para quem fazcaminhadas. Chama-se Google Pedometer e ser-ve para controlar as distância pecorridas.

O Google Pedometer permite marcar pontosno mapa e saber exactamente qual a distância per-corrida numa caminhada. Por outro lado, numa al-tura em que se aproxima o Verão, traz outra vanta-gem: traduz o esforço no percurso percorrido comas calorias perdidas.

GOOGLE PEDOMETER

endereço: http://www.gmap-pedometer.comcategoria: utilidades

O tempo tem andado permanentemente incons-tante. Para evitar surpresas nada melhor do queuma vista ao Weather Bonk, um site que apresen-ta informações pormenorizadas sobre as condiçõesclimáticas dos próximos dias.

O Weather Bonk é uma verdadeira central deinformações sobre o tempo e mostra inclusivé fo-tografias, com actualizações diárias constantes, quepermitem verificar as condições meteorológicas queo site estima.

WEATHER BONK

endereço: http://www.weatherbonk.com/weathercategoria: metereologia

Page 24: O Centro - n.º 50 – 07.05.2008

24 DE 7 A 20 DE MAIO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

MADDIE

Não resistiram. Um ano após o de-saparecimento de Maddie, lá voltaramas TVs à Praia da Luz. Vender, supo-nho. A SIC fez mesmo os seus jornaisem directo de lá com vistas para ocomplexo turístico onde tudo aconte-ceu. O que está errado? O nada teremfeito sobre outros desaparecimentos eo tirarem partido da mediatização cri-ada, há um ano, por eles próprios.Logo, uma lógica de rentabilização enão de informação. Nada de novo.

SIC TABLÓIDE

A propósito, a SIC enveredou poruma informação tablóide com os jor-

nais, em especial o da hora do jantar,a ser apresentado a um ritmo Formu-la 1. O formato do duo de pivôs e atéos momentos de mistura de gráficoscom voz-off, fazem lembrar o pior daSky. Televisão para analfabetos? Tal-vez para um público mais masculino(bacoco), já que Clara de Sousa sur-ge agora, abertamente, como a novasex-symbol das notícias. Foi para istoque Ricardo Costa tem vindo a treparna estrutura da Impresa?

FUTEBOLContinuam as transmissões de jo-

gos de futebol em que tudo interessamenos o que o telespectador quer ver.Realizações que, sendo difíceis, setransformam em algo absolutamentedissociado da realidade. A arrogância(ou incompetência?) dos realizadoresestá a atingir o grau supremo. Tirem-lhes o mecanismo das repetições!!!Facilmente ordenam... seis. Seis! Dos

mais variados ângulos e que para nadaservem. Queremos ver os jogos, nãoas habilidades da régie.

Na Premier League inglesa não háabusos. “... e provavelmente nem va-mos ter repetição do lance!”, dizia umcomentador. “É uma outra cultura.”.Pois é. Por isso têm o campeonatomais competitivo da Europa (do mun-do!) e nós por cá é o que se sabe.

ENCHER CHOURIÇOSÈ o termo que se dá na gíria para

ocupar tempo sem nada de interesse.Mais uma vez a SIC (talvez não só).Num domingo, talvez que não houves-se nada, quem sabe se pelo fim-de-semana prolongado, vamos de arran-car um “bom” fait-divers como des-

taque do Jornal da Noite. Um homemde Alijó procura noiva aos 88 anos!Bem dizia o filho que a terriola onde osenhor mora nunca tinha sido tida nemachada para nada. “Ao menos as-

sim... pelo menos, já fica no mapa.”Então não fica? Pois se o candidato anoivo octogenário até já foi convida-do para os programas matinais...

25 DE ABRIL SEMPRE,MAS TENHAM CUIDADO

Fiquei com a ideia de que era pre-ciso fazer qualquer coisa. Sendo as-sim, fez-se. Dois apresentadores, umda velha guarda (Júlio Isidro) e outrada nova geração (Sílvia Alberto). Co-liseu e Associação 25 de Abril. Ho-menagem aos “cantores de Abril”.“Vozes de Abril”. RTP-1 no próprio25 de Abril. Não foi directo e não seise assim foi bom ou se foi mau. Napós-produção, para que houvesse tem-po para tudo, foi cortar nas brancasaté mais não. O problema é que algu-

Façaumaassinaturado “Centro”e recebavaliosaobra de arteAPENAS 20 euros POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da obra de ZéPenicheiro que será sua gratuitamente

mas dessas “brancas” não o eram. Ti-nham significado. Estavam carrega-das de emoção. Mas a longa marato-na avançava ao ritmo do “vamos láque isto é uma estopada”. E era! Umespectáculo de variedades produzidocom o jeito vulgar vindo do mais re-côndito passado da RTP, não se coa-

dunava com o tipo de música e os no-mes que passaram pelo Coliseu.

Ao vivo deve ter sido muito difícilde aguentar. “Olhem as horas!”, lem-brou Vasco Lourenço numa interven-ção em palco. E o público lá estava,já sem grande reacção, sem conseguirdar mais força ao espectáculo. Peno-so. E quer o Presidente da Repúblicaque os jovens saibam mais sobre o 25de Abril! Com aquele programa tele-visivo ficou a sensação de que o 25de Abril foi qualquer coisa que estámuito... muito longe.