o ateneu

31
O ATENEU (1888) RAUL POMPEIA

Upload: seducam

Post on 14-Apr-2017

178 views

Category:

Education


0 download

TRANSCRIPT

O ATENEU(1888)

RAUL POMPEIA

O IMPRESSIONISMO EM NOSSA FICÇÃO: O ATENEU A novidade do livro concentra-se no caráter descritivo das cenas que evoca, como se se tratasse de uma sucessão de quadros cuja ordem e cujo enfoque nada tem a ver com o objetivismo dos textos naturalistas, nem com a densidade da análise psicológica machadiana. Com fortes traços autobiográficos, este romance iniciou no Brasil o deslocamento da postura racionalista para a postura intimista, da análise para o devaneio das impressões deixadas pelos acontecimentos. Além disso, alia traços impressionistas de seu estilo a traços expressionistas (quando faz a caricatura dos tipos e cenas mais chocantes).

O IMPRESSIONISMO EM NOSSA FICÇÃO: O ATENEU Tendo por cenário um internato e por protagonista um menino de onze anos, n’O Ateneu é tematizado o drma da solidão, o desajuste do indivíduo em relação ao meio que lhe é hostil.

I Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. (...)

I Eu tinha onze anos. Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a direção do pai, distribuíam educação à infância como melhor lhes parecia. Entrava às nove horas, timidamente, ignorando as lições com a maior regularidade, e bocejava até às duas, torcendo-me de insipidez sobre os carcomidos bancos que o colégio comprara, de pinho e usados, lustrosos do contato da malandragem de não sei quantas gerações de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com manteiga. Esta recordação gulosa é o que mais pronunciadamente me ficou dos meses de externato; com a lembrança de alguns companheiros(...)

NARRADOR: Narrado em primeira pessoa pelo próprio

protagonista, Sérgio, O Ateneu mostra elementos importantes de seu foco narrativo, em que percebemos nitidamente uma distância entre os sentimentos infantis e as reflexões de adulto;

Ao relatar os episódios emocionalmente mais marcantes, mais traumatizantes do Sérgio-menino durante os dois anos em que esteve no internato, o Sérgio-adulto não rememora apenas o próprio sofrimento, mas procura refletir o que viveu, o que sentiu, construindo uma certa opinião a respeito das pessoas e da solidariedade (ou falta dela).

NARRADOR: “Eu me sentia compenetrado dauilo tudo, não tanto por entender bem, como pela facilidade da fé cega a que estava disposto...”

(reflexões Sérgio adulto)

“Oh, que não seria o colégio, tradução concreta da alegria, ronda angélica de corações à porta de um templo, dulia permanente das almas jovens no ritual da virtude!”

(impressões infantis)

LINGUAGEM Embora haja personagens que se aproximam

do Naturalismo no romance, principalmente aquelas em que se faz a caricatura de cenas e de certos personagens, esta não é a tendência predominante. Sérgio, por exemplo, não é mudado pelo ambiente de malícia e perversão – ele continua frágil, submisso, arredio e tímido.

LINGUAGEM: TRECHO QUE SE APROXIMA DA LINGUAGEM NATURALISTA:

Os olhos riam destilando uma lágrima de desejo; as narinas ofegavam; adejavam trêmulas por intervalos, com a vivacidade espasmódica do amor das aves; os lábios, animados de convulsões tetânicas, balbuciavam desafios, prometendo submissão decadela e a doçura dos sonhos orientais. Dominada então pela oferta abusiva, de repente abatia-se à derradeira humilhação, para atrair de baixo, como as vertigens. Ali estava, por terra, a prostituição da vestal, o himeneu da donzela, a deturpação dainocente, três servilismos reclamando um dono; apetite para esta orgia rara sem convivas!

LINGUAGEM Se lembrarmos dos episódios do romance

como “sucessão de quadros”, o mais importante não são exatamente os quadros, mas as impressões que causam em Sérgio. A falta de rigidez cronológica entre os 12 capítulos acentua o caráter impressionista da estrutura do livro.

LINGUAGEM IMPRESSIONISTA A sala do Professor Mânlio era ao nível do pátio, em pavilhão independente do edifício principal, com duas outras do curso primário, o alojamento da banda de música e o salão suplementar de recreio, vantajoso em dias de chuva. Formando ângulo reto com esta casa, uma extensa construção de tijolo e tábuas pintadas, sala geral do estudo no pavimento térreo e dormitório em cima, concorria para fechar metade do quadrilátero do pátio, que o grande edifício completava, estendendo-se em duas alas, como os braços da reclusão severa.

LINGUAGEM IMPRESSIONISTANo fundo desta caixa desmedida de paredes, dilatava-se um areal claro, estéril, insípido como a alegria obrigatória, algumas árvores de cambucá mostravam, em roda, a folhagem fixa, com o verdor morto das palmas de igreja, alourada a esmo da senilidade precoce dos ramos que sofrem, como se não coubesse a vegetação no internato; a um canto, esgalgado cipreste subia até às goteiras, tentando fugir pelos telhados.

ENREDO o Sérgio, já adulto, relata a convivência em um

internato, intitulado Ateneu, um ambiente corrupto e moralista, sendo dirigido pelo Dr. Aristarco, um homem que visava apenas o lucro e o ganho de bens materiais, então diretor do colégio.

o Sérgio atende as necessidades do pai e, ao longo de toda a narrativa, relata seus medos, decepções, as disciplinas impostas duramente, os relacionamentos e as amizades.

ENREDO o Como um diário de bordo, Sérgio não deixa

perder nenhuma memória sobre os seus dois anos no internato. O seu cotidiano, como os lazeres, os encontros, as aulas e os banhos de piscina são retratados a partir de uma perspectiva particular.

ENREDO

oEm uma fatídica manhã, todos gritavam por fogo, um incêndio provocado supostamente pelo novo aluno, Américo. Deixado no internato contra sua vontade, o pai do jovem Américo faz um pedido ao diretor Aristarco: ele deseja ver seu filho disciplinado às normas rígidas, curando-lhe o mau comportamento. Com o incêndio, D. Emma desaparece misteriosamente. Junto com o Ateneu, que foi destruído pelo fogo, Sérgio encerra suas memórias sobre uma vida de aprendizagem na escola.

PERSONAGENS Sérgio: personagem principal. Entra aos 11

anos no internato Ateneu e ali tem várias experiências que são narradas no livro.

Aristarco: diretor do colégio e pedagogo reconhecido por suas obras. Ao mesmo tempo em que é rígido, possui uma alma paternal.

D. Ema: esposa de Aristarco. Sérgio nutre um amor platônico por ela.

PERSONAGENS Professor Mânlio: Primeiro professor de Sérgio.

Rebelo: primeiro amigo de Sérgio. É bondoso e um ótimo aluno. Ajudou Sérgio nas lições.

Sanches: à primeira vista, é considerado antipático por Sérgio, salva ele de um afogamento e os dois tornam-se amigos.

Barbalho: aluno indisciplinado com quem Sérgio tem uma briga.

Ribas: menino feio, que cantava músicas religiosas singelamente.

Ângela: funcionária espanhola do colégio. Moça bonita desejada por todos.

Egbert: considerado o único amigo verdadeiro de Sérgio, que o admirava pela sua beleza.

Bento Alves: bibliotecário com quem Sérgio teve uma íntima amizade. Sai do colégio por uma briga que teve com o Sérgio.

Américo: aluno que entra no colégio obrigado pelo pai e que provavelmente é o responsável pelo início do incêndio.

NARRADOR-PROTAGONISTA: SÉRGIO

ARISTARCO

FRANCO E RABELO

SANCHES , BENTO ALVES EDR. CLÁUDIO

EMA

ESPAÇO A obra é claramente dividida em dois espaços:

fora e dentro do colégio. O primeiro é visto como ambiência do mundo natural. O segundo funciona como rito de iniciação, acontecimento traumático por meio do qual ocorre a passagem do universo infantil para o adulto, espaço para a formação do homem.

O Ateneu, contudo, em vez de formar, deforma o homem. Trata-se de uma formação às avessas, ou seja, o que se espera de uma instituição é subvertido por uma educação bárbara. O ensino no colégio é determinado por um espaço no qual impera o ideal da força sobre os mais fracos.

CONTEXTOo Quando, em 1888, culminava o Naturalismo, a

Gazeta de Notícias começou a publicar o romance “estranho” de Raul Pompeia, misto de romance e memórias.

o O século XIX foi marcado pela falsa estruturação do sistema educacional brasileiro, principalmente dos colégios internos frequentados pelos filhos da elite. Internatos onde a educação era impregnada de modelos severos e regimes autoritários, onde a educação moral rígida era vista como objetivo final da escola.

ANÁLISE DA OBRA Pode ser considerado desde um relato

autobiográfico até um romance de formação, ou ainda uma típica narrativa de cunho naturalista, ou melhor: impressionista. Vistas isoladamente, no entanto, essas abordagens deixam a dever no entendimento final da obra;

No romance, o colégio interno não gera a corrupção da sociedade, ele a reflete;

A preocupação formal é um elemento importante do livro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAMARAL, E.; ANTÔNIO, S.; PATROCÍNIO, M. F. Raul Pompéia: O

Ateneu. In: Português: redação, gramática, literatura e interpretação de texto. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 420-426.

http://www.estudopratico.com.br/resumo-do-livro-o-ateneu-de-raul-pompeia/

http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/o-ateneu.html