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LUZ, Angela Ancora da. O século XX. In: OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. (org). História da Arte no Brasil : Textos de síntese. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.

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LUZ, Angela Ancora da. O século XX.In: OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. (org). História da Arte no Brasil:Textos de síntese. Rio de Janeiro:Editora UFRJ, 2008.

ANITA MALFATTI (1889-1964):O Homem Amarelo, 1915-16. Óleo sobre tela, 61 x 51 cm.São Paulo, Coleção Mário de Andrade do Instituto - USP.

As primeiras manifestações artísticas do modernismo no Brasil são discutíveis, pois é sempre difícil se estabelecer um marco que, com exatidão, aponte o seu início. Em relação à arte moderna no Brasil, há um fato muito significativo […] a exposição de Anita Malfatti (1889-1964), em 1917. (LUZ, 2008, p.99)

(1) LOVIS CORINTH (1858-1925): Sansão cego, 1912.

(2) HOMER BOSS (1882-1956): Retrato com cadeira vermelha (Mrs. A. S. Baylinson), 1920.

A formação artística de Anita se deu, principalmente, em Berlim, a partir de 1910, quando iniciou o curso na Academia Real de Belas Artes. […] / [Em 1915] embarca para Nova York, tornando-se aluna de Homer

Boss na Art Students League. (LUZ, 2008, p.99)

ANITA MALFATTI (1889-1964):A Mulher de Cabelos Verdes, 1915-16.óleo sobre tela, 61 x 51 cm.Coleção Particular.

São dessa época [de Nova York] as pinturas que a notabilizariam […] se destacam O japonês, Mulher de cabelos verdes e Homem amarelo. (LUZ, 2008, p.99-100)

A crítica de Monteiro Lobato (1882-1948), publicada num dos principais jornais de São Paulo - O Estado de S. Paulo, intitulada “A propósito da Exposição Malfatti”, abatia os princípios estéticos da artista, classificando sua pintura como consequência de uma “paranoia ou mistificação”. (LUZ, 2008, p.99)

Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestre.

Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grecia, é Rafael na Itália, é Reynolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno desses sóis imorredoiros.

A outra espécie é formada dos que vêm anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.

Embora se dêem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como a paranóia e a mistificação.

[…]

Fonte: http://www.pitoresco.com.br/brasil/anita/lobato.htm

ANITA MALFATTI (1889-1964):Interior de Mônaco, c. 1925 óleo sobre tela, 73 x 60 cm. Coleção Particular

LASAR SEGALL (1891-1957): Aldeia Russa, 1917-18.óleo sobre tela, 62,5 x cm. São Paulo, Museu Lasar Segall - IPHAN/MinC

Em 1913 estivera no Brasil o artista Lasar Segall (1891-1957) que, com suas formas marcadas pela distorção angulada, característica do expressionismo alemão do qual foram um de seus integrantes [sic],

havia recebido uma boa aceitação da crítica brasileira. (LUZ, 2008, p.101)

LASAR SEGALL (1891-1957):Leitura (Lesende), 1914. óleo sobre papelão,66 x 56 cm São Paulo, Museu Lasar Segall - IPHAN/MinC

LASAR SEGALL (1891-1957):Morro Vermelho, 1926 óleo sobre tela, 115 x 95 cm Coleção Particular

Segall retornaria ao Brasil, em fins de 1923, fixando-se em São Paulo e naturalizando-se brasileiro algum tempo depois. [...] no segundo momento vamos encontrar sensíveis alterações morfológicas: a forma se arredonda, perde a angulação e manifesta uma nova harmonia. (LUZ, 2008, p.113-114)

Além disso, sua preocupação se volta para as classes oprimidas, os operários, as prostitutas, no contexto de uma linha de crítica social. (LUZ, 2008, p.113-114)

LASAR SEGALL (1891-1957):

(1) Duas Mulheres do Mangue, 1929. Ponta-seca, 24,5 x 18 cm (mancha)

(2) Casa do Mangue, 1929 Xilogravura, 31,5 x 42 cm

[…] destacaram-se, nesse primeiro momento, dois grandes artistas que estariam juntos na Semana de Arte Moderna: Victor Victor BrecheretBrecheret (1894-1955) e Vicente do Rego Monteiro (1899-1970). (LUZ, 2008, p.101)

Depois de estudar desenho no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, vai para Europa, realizando seu aprendizado de escultura em Roma, onde permanece por seis anos. Lá virá a conhecer com maior profundidade a obra dos grandes escultores do início do século e se influencia com os trabalhos de

Bourdelle e Mestrovic. (LUZ, 2008, p.101-102)

Eva (1919-20), de Victor Brecheret e uma obra de Ivan Mestrovic (1883 -1962)

Durante a década de 1920, Brecheret dominou o cenário da escultura brasiliera com obras que se aproximavam, em alguns momentos, do art décoart déco, mas que, pela sofisticação dos cortes, pelo trabalho dos geometrizados e domínio das superfícies curvas, nos remete a BrancusiBrancusi (LUZ, 2008, p.101)

(1) Bailarina (anos 1920), escultura de Brecheret.

(2) Atelier Brancusi, no Centro Georges Pompidou, Paris.

A escultura de Brecheret torna-se o alicerce do próprio movimento [modernista]. [em 1920], o governo paulista encomenda uma obra de espaço público de grande porte - trata-se do

Monumento às Bandeiras, homenagem aos bandeirantes (LUZ, 2008, p.102)

Em razão de polêmicas geradas sobre a questão nacionalista, o monumento só começou a Em razão de polêmicas geradas sobre a questão nacionalista, o monumento só começou a ser construído na década de 1930. (LUZ, 2008, p.102)ser construído na década de 1930. (LUZ, 2008, p.102)

Monumento às BandeirasMonumento às Bandeiras, inaugurado em 1954. Granito, c. 16 x 50 m, inaugurado em 1954. Granito, c. 16 x 50 m

VICENTE DO REGO MONTEIRO (1899-1970): Mani Oca (O Nascimento de Mani), 1921 Aquarela e nanquim sobre papel, 20,3 x 20,2 cm. São Paulo, Museu de Arte Contemporânea - USP.

[…] convém destacar a obra de Vicente do Rego MonteiroVicente do Rego Monteiro - escultor e pintor brasileiro que, apesar de ter vivido a maior parte do tempo fora do país, deixou, no início de sua vida artística, uma obra de índole

nacionalista (LUZ, 2008, p.103)

O escultor pernambucano funde as estéticas do art décoart déco e do cubismo de Fernand Légercubismo de Fernand Léger com impregnações da cerâmica marajoaracerâmica marajoara. (LUZ, 2008, p.103)

VICENTE DO REGO MONTEIRO (1899-1970): A Mulher e o Galgo, 1925 óleo sobre tela, 145 x 80 cmColeção Particular

[…] observa-se uma certa concepção oriunda das antigas civilizações agrárias, com ascendência da escultura egípcia e assíria, sobretudo na representação da figura humana que, de um modo geral, é quebrada por registros frontais e de perfil. (LUZ, 2008, p.103)

(1) VICENTE DO REGO MONTEIRO (1899-1970): Atirador de Arco, versão de 1969 óleo sobre tela, 108 x 137 cm Coleção particular

(2) Caça aos leões, relevo do Palácio de Assurnasirpal II em Nimrud (atual Kalhu), Iraque, c. 883-859 a. C. Londres, The British Museum

[…] observa-se uma certa concepção oriunda das antigas civilizações agrárias, com ascendência da escultura egípcia e assíria, sobretudo na representação da figura humana que, de um modo geral, é

quebrada por registros frontais e de perfil. (LUZ, 2008, p.103)