literatura portuguesa luis de camoes
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326 mST6RLA DA LlI:IJERATU.Rd~, POR' .DUGUESA
; Ide ernbarcar para a Indla, para onde seguiu em 1552 como simples hornem
d e g u er ra .
A estadla no Oriente foi acldentada, Asslnalamo-lo na o s6 em Goa, masainda n o g olf o Persico, em Ternate, no desempenho de um cargo de provedor dedefuntos e ausentes em M acau, na costa da Cochinchlna, a nd e n au fr ag ou , p er de nd o
os haveres, e salvando-se a nado com 0 manuscrito d'Os Lusiadas, e pis cd lo q ue
asslnalou no proprio poema, Em Goa enredou-se em compl tcacces qu e 0 levaram
de novo a c ad eia, p or dtvidas, Nao the f al ta ra r n, t odav ia , relacoes e talvez
p ro te ce oe s, q ue a lia s p ro cu ro u: p er an te o .g ov ern ad or Francisco Barreto representou
o Auto do Pllodemo ; sabre a vice-rei D. Constantino de Braganca cornpes umaode, em que 0 defende contra crttlcas ou eensuras de que era objecto e lhe
promete a hnortalldade 'nos seus versos; com 0 vice-rei Francisco de S ousa
C outin ho teve relacoes am lstosas, D e urn deles ob teve a nom eacao para a tettorla
de Chaul, mas nao chegou a ocupar 0 cargo. Manteve ainda relacoes de
cam aradagem ou conviv encla com D iog o do C outo, o conttnuador d a s Deauias,
e com o Dr. Garcia de Orta, para cujo D id !o go d os Simples e D ro ga s escreveu
uma ode de reeomendacao ao vice-rei. E m 156'7, quando, apes tantos anos de
es ta dia n o O rien te, a s d ltlc uld ad es e co nc mt ca s 0 atltgiram m als do que n unca,
um am igo nom eado com o capltao para M. o~ a rn bi qJ .l e p ro rn et e- lh e a l u rn ernprego
e ad lan ta - Ih e 0 p ag am en to d as passagens; e st a e st ad ia l .: l1 o ~am bi ca !l a s er vi u- Ih e
de escala de regresso a . L i s p ( J a , .pols . cerca de dois anos dep ots e Lim gr.upo de
outros am lgos, t;:U 1 tr~nsito para a Metr6pole, que, se cotlza entre sl para. 0
resgate das. dlvidas entretanto contratdas e, para a sua viagem ate. L isboa,
A qul chegou, em l569; ,traziil n a b ag ag em O s L us ia d a s, qu e logo tratou de
ed ita r; e nt re ta nt o fo ra -lh e ro ub ad a u ma " C o l e c t f i u ' € : < 1 d e p oe ma s l lr ic os , 0 Part t a so
Lusi tanfJ" . segundo 0 seu companhelro D iogo do Couto,. Aposa pubucacao
d'Os Lusiada» (1572) alcancou u ma tenca trienal, alias rnodesta, e nem sernpre
paga com regularldade. 0 seu nomccornecou acorrerjcompostcoes Ilricas suas,e atecartes, toram r ec ol hi da s. el TI . . canclonelros particulates r na pu sc ri to s ; mass6 c om ee ararn as er p ub llc ad os ~ se gu lr iI sua rn orte no Cane ione i ro d e L uis F ra nc o
Correia (1580). Os ultimos anos i .o r am de mlserla, se gu nd o o s testemunhos mais
proxirnos. .0 s eu e nt er ro (1579 ou 1580) te ve d es er feito a e xp en sa s de. um a
In st lt ulc ao d e b en en ce nc la , a G ~ I) 1p an hi a d o& . Co rt es ao s,
Em alguns passes da obra at rlbul Camces a respcnsabilldade do s seusdesastres a am ores ittfelfzes; ma s ha o pass a de r om an ce b io gr an co s em f Un dame nt O
tudo o que desde 0 'sec. XVII' at~ ao I.e quarteldo s e c . ' XXse t 'e l i i i lnag inad 'O"
a ce rc a d e desterros ou perseg u.coes devid os a am ores infelizes por um a alta dam a
do P aeo, seja ela Catarina de A taide au a infanta D . M aria. A unlca coisa segura
. e·que·amoresdiversos·e d ive rs amen te · ·s u ced ido s·des empenham-um-·pape l. ,impo l 'w . .. .
tante na vida deste poeta, que poderia aplicar a 'sl proprio .0 'verso de Be rna rd im:
~ Fui' e sou grande amador»,
"
.'I.I~I:
I. ..
i'I.
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Id. (
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8.· JtPOCA _:RENASOIMENTO E lI[A.NEIRlSMO32 7
. ,A lg um a s ~ iE :!s t[ca s g e ra is_ d !! : _ ~ ! ! ! ! : : 0 !! ' . 1 }; ; ~ ~screv,e.~Augus t . .W iIhclm S ch le ge l. q ue C arn oe s, so . P.0l SI, va le um a h te ratu:o .
in te ir a. E sta o bse rv ac ao tu nd ar ne nta -se decerto no . facto d? ~ obr a
multifacatada de Camees abranger ..diversas correntes artisticas .e
ideo16gicas do seculo X VI em P ortugal,.-ser elabor~ da sobre .um a
e xp ene nc ia pe ssoa l t;lu ltipla qu: ne n.hu IT l . outro es~ ntor co nte rn po -ranee realizou sozinho, e de, enfm1,:~.s"te; PQ~ t~ t ~r sido capaz de .dar
form a lapidar e detmittva a urn' conjunto de ideias, val o res. e t6plCOS
caracierrsticos da sua epoca.. Q u a s . e · tudo o qu: se .manlf~stou naliteratura jie Quinhqlt()s, atraves -de.. autor.esta.odlf~rentes _como
B~man:limHibeio ,:A nt 6n ip F erre ir? ~1 . F e m ; i t o .Mende s ? l~ t o, Joao ~eB arros, ei.aM .G an;ia de O rta O U Duarte f'achecoPerelra, enccntra
eeQ na jirlca ou na eplca de' Cambes. . .'. r ..• " •
COl!lP,L}rado com ele, qu alqu er do s m~IS notavets esc.ntores qut-
nh en tistas n os. a pa re ce in ca mp le to,. em bora p orve zes mars profundo
neste. . .o u n aque te a sp ec to pqrtfcula,r. SeocomparannqscoiTI os _po:tas
h ur na nl st as . t qr na .s ee vi <, l. en te q ue . n en h, up J. d .e ~e s .p 6d e' exprltr:lr a
experiencia vivida da guerra .. e da Vida. on ental, cia cadela e
de forne:.} ;, ~
,.Ag[)r~ : p e r e g r i P o , . vago; errante,
v en do n ac ce s, I in gu ag en s e c~ os tu me s,
c eu s v ar lo s, q ua li da 'd es diferentes ....
Agora 'com pobreza abotr~dda .
poi'hosplcios aip'~ios. degr0d~~o;
agora da esperanca J t I : adqulfl~a,·de no vo mals q ue n un ca , d er~ lb ad o; .
agora a s ' co st a s e . sc apando ' < : l vida .que de urn fio pendla tao delgado.
tam bern, com t~ ~to 'conheciniento de causa,Poucos .poderiam I:;
referir-se a s
. '. ·t· 'd .ueles q ue :o c on tu se·-m)U8 19as. aq ···~-,c---~- ...
reg ih1cnt6: d o ·\nundo, .antigo ab use, .
tez sobre..os· outroshomens poderosos ..
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S e, por um lad o, com pararrnos Camdes com os expe rim ent ados
viajantes e aventurelros portugueses do seculo XV I, sentim os :ime- .
diatamente a diferenca entre 0 hurnanista que medlta a suaexperiencia
a Iuz de urna cultura assente, e os sim ples anotadores ernpiricos de
c as es c ur lo so s o u e sp an to so s:
Nero me fa ltava na vida honesto estudocom tonga experiencia mlsturado,
I
: I
P or outro lado, alnda; com o nenhum Dutro, C am ces soube rea-
lizar a slntese entre a tradicao Iiterarla portuguesa (ou antes penln-
sular} e as inovac nes intreduztdas pelos ltallanisantes. P oi 0 melhor
poeta portugues de escola petrarquista, e, ao m esrno tem po, 0 mals
acabado arttttce da escola do C an do ne iro G era l, na redondilha e no
mote glosado. Foi 0 p oe ta q ue , fin alm en te , p ro du ziu uma epopela,
a sp lra ca o lit era ria d o R en asc lm en to portugues, com os topicos que
A nto nio F err elr a v e o ut ro s . :a pe na s fr ag me nt arr am en te fo tm ula ram.De entre osprtnclpals generosclasstcos, so n ao cultivou ~ tragedla,
V ia ja nte , le tra do , h urn an lst a, t ro va do r a mane ir a t radl cl on al ,
fldalgo estom eado, nurna mao a . pena enoutra a espada, salvando a
nado num naufragio, manuscrita, a grande obra da sua vida, Camoes
assum lu e m editou a experiencia de toda um a civiU za~~o cujascon-
tr ad i< ;5 es v iv eu n a su a carne e procurou s up er ar p el a c ri ae ao artlstica,
~ ;
,. I
A lg uns a sp ec to s fo rm ats d a Lirie a. - Como ja not amo s, s eg ul ndo
S a de M iranda e afastando-se de A ntonio Ferreira, Camoeaculttvou
igualm ente a escola tradlcional em 'redendllha m aier e m enor (vllan-
e ete s, c an tig as e o ut ra s c om po slc oe s o brlg ad as a m ote , q uln tilh as, e tc .)
e os generos em hendecassllabo. Num e noutro metro escreveu emportuguese castelhano, Por al ele constitui um a ponte entre certa
tra di~ ao peninsular repre senta da peIo C a nc io ne ir e G e ra ! e os seis-
eentlstas,
Carnoes atinglu uma mestria do verso que deixa multo para
tras os seus antecessores em redondilha ou ern decassllabo, A arte
com que narra um a curta hist6ria (como em S eie a n os d e p asto r Ja co bserv ia) , a u e st ili za 0 discurso interior (com o na ca ncao V inde cd ou
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329
nas redondi lhas S o br e o s r io s) , OU d es en vo lv e m uslc alm en te , c om o q ue
s em d is cu rs o, u r n tem a tradicional (voltas ao m ote Saudade minna),
oudiscorre de m odo reflexive (M uda m-se o s t empos , m uaam -se a svoniades) , fazem de C am ties, pe la diversidade do registo, pelo poder de
sln te se , p ela f lu en cia , p ela adequacao exac ta a um sentir que se estapensando ou a urn. pensar que se esta sentindo -0 m aior poeta
portugues antes de F ernando P essoa.
A variedade do ritmocamonianoevidencia-se nas can~5es e
na s odes, gracas a liberdade q ue estas form as con cedern, de u rn p ara
o utro p oem a, na com binac ao estr6fica entre d ecassllabo s e h ex as sl -
lab as, com predom inio destes ultlm os nas odes, por isso ritm lcam ente
mai s le ve s .. No te -s e que algum as e clogas nao passam de cancoes ou
odes dlalo galm en te cru zadas ou [u stap ostas, sob u ma co nv en cao
pastorH o;u plscatoria. M as as redondllhas estao geralm ente no pole
opostorerrquanto as cancoes parecem tender para a confidencia quei-
xosa, as redondilhas delxarn-nos vel' oautor lapidando os seus
estados de espirito em lava res de [oalharia verbal com que ele m esm o
parece d ivert ir -s e . Muitas. desta s com posic oes sao ca racterlzadas por
urn humor a s vezes en ternec ido , com qu e 0 poeta se da 0 espectaculo
d os se us p ro prio s pensamentos e sentim entos, a soltarern-se dele e a
moverern-se naSUR sem . .razao e na s su as c ontra dlcoes, caso de Per -
d ig li o p e rd e u a . pena , Esta tendencia faz deC amoes um des precur-
sores do conceptism o d e S elscentos .
. Ja a poesia do Canc io n ei ro G e r al tendia, com o vlrnos, a insistir
noform alism o das antfteses, 'paradoxes e com paracoes. C am oes,
seguindo a m esm a vela, brinca com os paradoxes, utiliza as lm agens
de maneira rnais . agil; e 0 que. era escolastlclsm o no Cancioneiro
Gera l ganha nas suas m a o s umagraca livre. onde 0 mi to con sc lent ee a hiperbole formular se confundem, caso das redondilhas em que
atribui aos olhos de Helena a verdura dos campos, au exalta 0
encanto da pastora que, corn a luz dos olhos, faz parar a cor=
rente de agua, E sobretudo nestas com posieoes e analogas, onde
a bu nd arn e xemp lo s d e « dl sc ur so e ng en ho so », q ue e nc on tra mo s a
transicao d o Qu in he nt ismo para a poesia seiscentista, a qual em
E sp an ha p re fe riu o s g en ero s e rn re do nd ilh a a os g en ero s d ec assila bic os.
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No seu ' conjunro, a , ~ es te tic a d a re do nd ilh a camoniana talvez
se possa cornparar adas 'fases finals do estilo g6tico, com o a flam e-
[ ante ou a m anue lina .rp ela desenvoltura form alista m ais ofic in al d o
q ue i nd lv id ua li za da d os s eu s.mo ld es , p el o c ar ac te r p re fix ad o e imp es so al
dos tro cad ilho s, da s im age ns .(ja reduzidas a s im bo lo s u su ais) , p eloseu juga consum ado de am biguidades que s6 a entoacao viva; destaz,
N esta arte de poetar com o quem , esta fazendo glosas, C am ces lanca,
por assim dizer, urna ponte que,em arco sobre 0 se u p r6 P:io e stilo
classico renascentista (multo rnais discursive e geometneamente
ra cio na l) , p ar ec e u nir '0 gotico de Q uatroc entos ao b arm eo" de S eis-
centes ambo s' m a is dados a eneanta~'ao verbal. ", .. ~ .. .
Cam5 es e n c on tr a U$0S superiores para r ec ur so s t ra di ci on ai s: p er
e xem plo , toda : u rna teoria p sleolog ie a para 0 duplo sigrtificado da
palavrapena.'· Com .tmagens-sirrrbolos formulares," cons egu e. impo r
p or moment os ao espiritedo leitor urn sense do ' re al b ern d if er en te
do sensa cornum ~ certas q ualid ad es to rn arn -s e c oisa s su bs tan tiv as ,
se nan mesmoelementos ou essencias, tais '0 verd e , a luzdos olhos
am ados ; ou, pelo contrarlo , -corno que descobre as qualidades neve,
fo g o , d gna - dizernos qual idndes e nao co i sas , porque tals palavras
trazem apenasa poesia 0 m atiz afectivo despertado par, certas ,aS50-
clacoes de ideiasouimpressoes.' . .
"S e passarmos a s f or m as de o rl gemit al la n a, r ev e lam-s e- no s outras
tendencias do s i o rmen ios d o am or, de sde 0 extase perante a be l a . . i gu ra
q U E \ ' na .alma do, poeta se .p in ia, desde o do .c e e ng ano inicial, ate as
consequencias das mudan i a s , externa s e in te rn as, ve rd ade iras m eta-
rnortoses em que se .opera urn seu. absolute tr a ns fo rm a r- se n a v on ta d e
amada . .Sern nunca .deixat· d e se r « homem formado s6 de carne' e o ss os ,
o Poeta impoe-se todaviau r n
verdadeiro martlrio-testemunho def e
amorosa: «sofra seus m ales, peraque os mereca».
A s e clo ga s,o nd e C am be are co nh ec e e xp llc it am en te 0 seu debito
a V irg il io e a S annazzaro,constitu em , pelasco nvencoes proprias-do
genera, a , menos interessante seccao da «medida nova» camnniana,
embora a -d e -A lmeno - e -Ag ra r i o .contenha jn te teSsan teLc9nfiss5 .e~so Q_r_e_.
o amor (que nao se ver if ic ar ia s en so o ru ie i i li ci to e perigoso), e a cha-
m ad a d os F auno s se ja a m elh or e xp re ssa o de uma f il os of ia p an- er ot ic a
331
segundo a qual oam or estaria.: po r e ss en ci a e te rn a , presente a tudo
quanta aum enta ou sim plesrnente se mantern na natureza, sendo por
seu interm edio que se re jo rm a a m a te ri a . . ·
Ritmicamente rna is mono tone s, na sua rlgida cadencia decas. .
silabica, as, elegias, c om o en tre osGregoaacontecia, nao apr es en tamqualquer esp ecificidade clara de ternas ou de tom, destacando-se entre
e la s a au to b io gr af ic a Q poe ta Sittumide«, j a}ando. A s o it av as, semp re
enderecadas. a a lt as pe rsonagens .vcor re spondem u rn p ou co a o s irv en te s
m oral ou politico . proven cal, m erecendo relevo as que dedica ao Des -
c o nc e rt ad o Mu n do , ou em que intercede .a favor de um a m ulher que,
n a a us en cl a do rnarido no Ultra mar e a pe rt ad a p ela r nl se ri a, s e p ro s-
titufra,e qu e po r is so a hipocrlsia da lei condenara a o d eg re do para
a India, ex pon do-aa toda s as violencias da m arinhagem e da soldadesca,
A s o de s, m et ric am en te , sao a s m als graciosas composicoes da
«med lda nova), na sua i nt en ta da c or re spondenci a a e st ro fe a lc ai ca
o u sarlca: acusarn rnuitas vezes 0 mag ls te ri o .d e H o ra ci a, e, de acordo
alias com i ss o, a ss en tam . g er alme nt e em .. a lu sc es mi to I6gi ca s; mas
entre, e la s c on tam-s e duasobras-prtmas, Nunca m a n n a suave , encan-
tadora slntese entre a eloquencla cortes, ircnlcamente galante, e a
mais larga partitura fraseologica d o .p etrarquism o renascentista, e
Po de um desejo imenso , uma das mais c onvlnc en te s r ne di ta et ie s. sobre
o amor que ° neoplatonisrno inspira. ,
No entanto, 0 terreno eleito da .m editaeao de, largo f61ego e "em C am oes, a cancao, form a aquedeu um a cerrada contextura refle-
xiva multo sua, sern deixar pe aproveltar nisso todos os materiais
d e e se ol a p et ra rq ui st a italiana, espanhola e portuguesa. A can<;ao
camonianae urn desabafo a sos, que nem a s a p6 st ro fe s nem, por
vezes.as convencoes epistolares r omana s. ( tempos verbals ou adverbiosd e lu ga r d et er rn in ad os sob 0 ponto de vista. do destinatario e nao do
redactor: est iveem ve z de es iou , ali em vez de a q u i ) conseguem dis-
t arc ar, p ois 0 rem ate , ou commiato , onde 0 poeta acaba po r s e d ir ig ir
a propria catw ao, se encarreg a de sublin har 0 s eu i so lamento, e. ate
a gratuitidaqe_.d.~_,lJJJJ_1i!U:l~s~j_QgQ_eDt!1:g!l~_a_o!l_y~ntQ~_ ! ' i a o , a g _ ! t l i r a ,
pois, que, a rnais extensa cancao, .Y ina ec« , m eu ta o cer to secre id rio ,fale ao pr6prio papeJ onde e es crita e as su rn ao carac ter de u rn bal ance
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33 2 mSToRI.AI DA L!'ltERATURAP.oRNTGUESA
;.! .
i·
,
autobiografico ern busca de umsentido para a vida; e que outra das
ma is conheci da s, junto d e um seco , jero, e s te r il m o n te , muit o c ir cu ns -
tanciadam ente Iocallzada junto ao m ar V erm elho, aprofunde a Inqui-
ri~ao bernardlniana acerca das razoes, sucessivamente mais radicais,
do seu sentir-se multo infeliz. Pela extraordlnaria fluencia, Vao a ss er en as a g ua e aproxima-sedas odes. Mas e nas tres versoes, mais
complementares do que [ era rq ulz av eis se gun do um a ordem de aper-
teicoamento, de M atuia -m e A mo r q ue ca nte d oce me nie (au Matu i a -me
Am o r que canie o que a a lma senie ) - e ai que 0 poeta m elhor apura
a intensidade e as resultados da sua retlexao sobre 0 arnor. C am oes'
nao elim ina os Iugares-com uns, m otives e figuras ret6ricas d e t radi cao
petrarquista e neoplat6nica; m as tern a coragern de perseguir ate a smais ousadas' consequencias as paradoxes, analogias e hiperboles da
escola - e os resultados dessa aparente aposta num jogo de conceitos,
pre cu rso ra d o c onc ep tism o se lsc en tista , re ve lam-se p or v ez es e xtra or-
d in ar io s: C ar no es d es co br ea i 0 m ovim ento m ais Intim o, onde 0 eu
e 0 nao-eu, 0 desejo e. a razao se convertem reclprocarnente, elssonurna tensao 'extrema em' que (0 poeta 0 proclama) If mais 0 qu e
ca nto que a q ue e nie nd o.
Assim, a sua tao inslstente hlperbole segundo a qual a b ele za
amada irradla espiritos q ue s en sib iliz am o s s er es brutes, lnsensibilizando
em cont rapar ti da 0 poeta, converte-se em expressao (que apetece ja
cham ar expressionista) de urn estado de alm a, e de urn m odo tao auda-
ciosamente-dlrecto, .mitico (neste, c omo a lia s noutros s eu s p as se s) , q ue
a cancao nos deixa perplexes acerca do s lirnites a tracar entre 0 eu eo
nao-eu: Porque haveria de ser mais verdadeira a p al sage rn quando nao
incendiada p elo s eu d es ej o e xt at lc o, a paisagem vista por urn estado de
alma banal? Mas tal perplexidade radical legi ti rna, por seu turno, a
meta rn orfo se d o a pa tit e, o u- d ese jo c arn al, e m ra za o ( qu e e ra r az ii o st r ara , zao venc iaa) , mem en to d ec is iv e, e m q ue a fin al 0 tdealismo neoplato-
nico e, com ele, a etica crista medieval do amer, se negam, E assim se
e vl de nc ia e xi st ir u rn mov imen to im a ne nt e a s prop r ias ca tegor ias logtcas
e m ora ls h um ana s; e vid enc ia alia s a ssu sta do ra p ara 0 po eta , qu e p or isso
logo a consagra c om o m an ife st ac ao d ivina , po st ula nd o ao m es mo temp o
p ara t al e vid en cia u rn n o v o pensamento q ue s up ra a s c ar en cia s do pensa-
, \
I
: '
S." lilPOOA - RENIAJSCo.m:W!1O ,E MANEIRISMO ..333
men to v ulg ar, u ma n ov a a de qu a~ ao m en ta l a o se r-e -n ao -se r, a o eu -e -na o-
-e u d as t ra nsfo rrn ac oe s ra dic als, q ue sa i p ela b oca co ttve rtid o e m ca nto .
No . so ne to a tin ge 0 poetaurna adrniravel e rara variedade. D eve
advertir-se que, pela sua brevldade e pela sua estrutura, 0 sorietose
presta a exerclclos de engenho, com o 0 vilancete e outras form as tra ..
dicionais; embora, por Dutro lado,a sua disPbsi~ao em duas quadras
e dois tercetos tavoreea urn -discurso em tese e antitese, seguldasde
conelusao e desfecho sentencioso ; e, por outro ainda, essa mesrna
brevi dade seja apropriada a urna. grande concentraeao erncclonat, P or
isso 0 so ne to fo i p re fe rid o POl' p oe ta s ta o diferentes c omo S6m r V io la nt e
do Ceu, Bocage, Antero de Quental e Florbela Espanca. Carnoes
usa largamente esta disponlbitidade, variando imensamente 0 registo
fraseologico, numa gama: que, par exernplo, se estende desde a aparente
n ar ra tiv a u nilln ea r d e Sete anos d e pas to r j a cob serv ia ate a plangencia
magoada dos tercetos de Alma t ni nh a g e n ti l, it reflexao com o que
p re -h eg elia na d e M ud am -s e o s tem po s, m ud am -se a s v.o nta de s e ao
rem ate subtr lmenteintrigante de ' Busque Amo r n ov as a ri es , n ov o e ng e .nho. A s v ez es , como n as ca ncc es , v er n u rn golpe de genio animal"
urn. aparente jogo de anaiogias conceptuais, 0, que acontece no pri-
m etro terceto de Quando a suprema dar muiteme ape r ta . Camdes
utiliza, porern, muitas vezes 0 esquema geral, aparenternente dedutivo,
como simples quadro de .reterencla para varlacees: se usarm os ter-r ni no lo gia d a logica classlca, direm os que 0 silogismo se reduz com
fre qu enc ia aos dois term os do entimerna, ou se amplia num encadea- .
m en ta p olissilo gistic o ; o ut ra s " ve ze s," 0 quadro 1 6 - g i c , o fundamental
m antem -se,m as todo 0' calor emctivo se concentra nos mem entos
p retensarnente p repara tor io s : e 0 caso da serie de paradoxos de Amo r
If um . fo g o que arde sem se ve r , OU de U rn mover de o iho s , b rand o
e p ie do so , em que 0 Poeta usa as co ntr ad ko es se ria da s, · ·n ao p araexplicar urn sentim ento dado por introspeccao, m as para descrever
urn temperamento temlnino, e em que cada oximoron, ou paradoxo
frasicam ente m uitoconcentrado, dilui os seus contornos conceptlstas
num ,belo uso do artigo indefinido e do encavalgam ento m etrico, -S ob
a ponte d e vista e strita me nte rit mlc o, na o e men os a dr nlr av el a s ug es ta o
de repouso fatigado e de irnensidade espacial produzida pela enume-
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334 ' ·· ·H]S ' :! '6RM. · DA ·{ 'LFDEl tATURA· PORTUGU.ESA
ra ~a osu sp en sa , re tic en te e q ua se .anacolutica do soneto 0 ce u, a te rr a,o venio so sseg ad o . .
o tom c on fit en te e 0 i ndi vi dua li smo exace rbado pelahostilidade
d o r ne io , 0 In co nfo rm isr no q ue lu ta p ela so bre viv en cia , e xp re sso s c om
um a intensidade que, nao tern paralelo em ·qualquer outroescritorc l as si co, conferem ao C an itie s d e a lg um as c an eb es e so ne to s u rn c ara ct er
con geners daquele a que ·se convendonow cham ar « rom antico, .. Mas,
nome io d es tede saba fo ,o peeta c o ns er va -s e s emp re atento aodesen-ro la r d os se us e st ad os d e e sp irit oja su ce ss ao d as emo co es, r ec ord ac oe s,
dese jos , p en samento svas respectivas c on tra dic ce s e a pa re nte irra cio -
nalidade. t·um a in qu ir i~ ao q ue p ro cu ra sa id a para · as a sp ir ac b es
m a is . I nt im a s, a tr av e s das mudancas de.urn mundo hostil elmposstvel
de ignorar nasuaobjectlvldade. A re aU d. ad e d es se mundoe incnmen-
suravel COm o s . i dea ls cava le i re s co s au le tra do s, c om a etic a re lig io sa
medieval, com a razao c la s sl fi ca tor iae sco la s ti ca , com 0 es t ilo l iterat io
tradicional, A sua apreensao e ainda a da sua . re lacao dialeet ica com
o e sp ir ito e xig em u rn e sfo rc o in ov ad or p ar a ro mp er 0 · ve rb alismo q ueainda predom ina .na maier parte. das com posieoes em redondilhas,
Obrigam a re to qu es descritivos, aurn no'l/O US O do s recursoaapren-
didos no s c la ssic os. a ntig os e m od ern os, a ca cn mu lo d e c orn pa ra co es
a proxim ativas, e a ve rdadeiras inovaeoes me ta f'o ric as , em vez de
( co mo n as r edo nd ilh as) simples glosas sobre frases e meras cornbi-
na~ 5es de slm bolos ou ernblem as bern conhecidos.
Te ns i ie s f im dom enu iis d a Lir ic a d e Cam ii es . ~ SerHI inexactn
afirmar que· a obra de Camces nao passa de um a « congemin aeao , . .
ur n mon61ogo filo s6 fic o. S e aSS1m t os se , t er iamos u rn dout ri na ri o e
nao urn poeta, No entanto, e evidente que 0 pceta articulou a sua
lo ng a e v aria d'a e xp er ie nc ia em te rm os fi.lo s6 fic os e re lig io so s c or re nte s
na epoca, e que sentiu a fundo 0 desajustamento entre as I de als d a
s ua fo rm ac ao so cia l, escolar, literaria e essa m esm a experiencia, T al
d es aj us te f undamen ta l e frequenternente, e por vezes 'com veem encia
d rarnat ica .. exp res so vem numerosaa-composlebee-Ilrlcas, eservede
ponte de partida a um a luta intim a em queo P oeta tenta reconstituir
n uma tot al id ad e harmonicsavcoerenteesignltlcattva a confusao frag-
,__;;:_ _._ .. _ ..•...
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a;~ ·~P,9 .QA::""r lhlllNASCIM':i~J:N:rO. _E~mI(3M.o 335
rn en ta da . e c on tr ad ito ria d assltu ac rie s q ue v .~ v.e \o l, / ' x s c an co es , muit os
s on et os , c er ta s r ed on di lh a s como S o~ re a s r i o s que. va o , .a ecloga As doces
ean i il ena s que . can i a vam sao memen to s s uces si vo s, renovados, p or v ez es
antiteticos, -deste esforco para enc ontrar urna esseneia na existencia.
E xamin ern os .a lg um a s te ns oe s d omin a nte s de sse e sto rc o, . q ue c an t ra g ta
c om a f a' oi ll ie np i~ ao . d ev ot a.e Q fo rm ula rism o d os se us c on te rn po ra -
neos manelr i s ta s , ao s q uais n OB reterirem os n ou tro capitulo.
a),O.Amor. ~ .C ami 5e sin te r~ ss ar a- se mu lt o p elo n eo pla to nl smo,
com o alias todo 0 crjsH to culto da sua 'epoca.e todo 0 p oe ta p et ra r-
quista, O s prirneiros te6logos cristaos foram platonizantes, e·0 mesmo
sucede com Santo A gosti.nho, o doutor da Ig re ja q ue malor Influencia
exerceu anteriorrnente.a S. Tomas de Aquino, Qugndo oHumanismoressuscitoua . Antiguidade, foi tam bem o platonisrno a doutrina filo-
sM ica pela ·quaL se tentoua =concilia~ao das duas ideologias. E is em
queconsiste a vogade Platao durante. 0 Renasclrnento.
Ja a concepcaodo am or provencal e st a. in to rma da d e p la to nlsmo ,a lia s p or vi a crista: a M ulher aparece ail,. nae cornn um a cornpanheira
hum ans, m as com o urn ser angelico que sublirna e apura a alma dos
arnantes, Beatriz conduz D ante pelas alturas do Paralso: e das m es-
mas a lt ur as , d ep ois d e m a rt a,· e q ue L au ra serve. de inspiracao a parte
rnais Im portante da Ilrica a rn oro sa d e P etra rc a,
Camoes herdou esta concepcae-da M ullre r e do Amor. Nos seus
sonetos, odes, c an co es e r ed on dilh as ,' a r nu lh er -.ama da a pa re ce ilumi-
nada pe r uma lu z s obr en atu ra lq ue Ih e· tra nsf ig ura a s fe i< ;5e s c arn ais:
lumi .n os os s ao o s c ab elo s d e o ir 6:~ "e0. o lh ar r es pla nd ec en te t er n 0 condao
d e s er en ar 0 vento; a sua presenca faz nascer as flores e ate enterneceros troncos das arvores, Toda a sua figura e 0 r ev es ti me nt o c or p6 re o
de urn ideal: respira g ra vi da d e; s er en id a de , altura. No retrato daArnada, Cam 5es nao faz mals do que seguir 0 padrao de Laura.
M as a experiencla vivida e cultural de Camoes mal poderia
cingir-sea tais-conven ebes. E , assirn, regista oconfUto (e uniao)
.entre. 0 dese jo . . ca rna l. .e o .Id ea l do arnordeslnteressadaque.conslste
56 n o « fin o pensarnento», Se 0 arnor e u rn « efe ito d a a lm as, como per-
eeber que '0 am ante deseje ver corporalmente a arnada? - pergunta
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33 6 mSTORIA DA LI'rERATURA Po.RTUGUESA
num soneto, U rna.personagem do A uto d e F ilo de mo , Duriano, aponta
iron icam ente esta co ntrad tcao en tre 0 am ar « pela activai (co rpo ral-
mente) e 0 am ar « pela passlvas (espiritualm ente), observando que
nenhurn dos amado res de estilo petrarquiano deixara de ' proceder em
contrario ao seu apregoado ideal, quando se the otereca ocaslao, E
a carnalidade do am or foideslum bradam ente cantada por Cam oes nailh a d os Amore s, ep is nd to d 'O s L us ia d a s, poem a em que V enus desem -
penha urn papel central, com o sim bolo e im agem do pretenso tem pe-
ram ento erotlco portugues, e na ecloga A s d oc es c anui ena s q u e can~'
i avam. . . , v erda de iro h in o a sex ua lida de , e nc arad a co mo principal
torca criadora da Natureza. .'
Camoes tenta re so lv er e sta te nsa o p elo s proprtos m eio s d o pla-
tenismo, atraves da versao de Santo Agostinho, Imaglnara Platao
que as qualidades par nos experim entadas no m undo 'em que vivernos
sao man if es ta co es l lm it ad as e co nt ra di t6 ri as de I d ei as a bs cl ut as ,
isto e , ' de atributos da dlvindade. A beleza das co isas terren as nao
passa de urna im ita9ao da B eleza plena, que existe substancialm ente
UUIn m undo a que este. apenas serve tie sombra, Tal e a teoria per-
filh ad a p ar C am oes:
E aquela humana figura
q ue e El m e p Od e" al te ra r
113.{) e quem se ha-de buscar:
Ii ralo da Formosura
que, B6, se deve de amar,. [ • • " 1 1 ; : . . . . . . . . . . . . . . . . • • • ~ . ~ ~ ' ' ' : : • • ·~.'''I''' .••••• ]
Ii sombra daquela ideia
, que em Deus e~ta r n al s p e rf e it a .
E os que c a me catlvaram , '
s ao pode rosos atettos
que os c or ac oe s t em s uj el to s:
sotlstas que m e ensinararn
maus caminhos por dlreltos.
Se eon fi na ss emos a nossa atencao a s e st ro fe s f in al s da s redon-
dilhas Sa bre a s rio s que vao , donde se extractam estes versos e que
constltuem a expressaonuClear c i a c o n c e p ~ K o ' n ' e c i p t a t 6 n i c a camoniana
d o a rn or, p od eria parecer qu e 0 p oe ta la men ta ° seu desai ino [uvenil
me
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. i
8." ~OCA - RiENABCIMENTO E 1 \ILAN\l i: lR ISMO
I
d e c an ta r cania re s d e am o r p r o /a n o /p o r versos d e amar divino. Mas
em estancias an terlo res C arn oes p rotesta, citand o B oscan, qu e em tod as
as v ic is si tudes tefe pre se tue a lo s o lo s/po r quien m ue ro ta n co nienio ,
E a propria enigmatica e tao brusca transi~ao que em tal poema se
tern n ot ad o e nt re Siao, com o sim bolo da m era saudade do seuam or
na .mccidade terrena, para a. Jerusalem C eleste, com o sim bolo dae t ern ld ade p re-nat a l. e, mats ainda, 0 c on tr as te e nt re 0 calor imediato
das saudades terrenas lnlclals e 0 tom abstractam ente parenetlco do
desfecho (talvez escrlto navelhice) sugerem bern que 0 que, no fun do,
Carnoes pretende nada tern que vel' com' aex tl rpaeao , no e sp ir ito , d o
arnot humane, mas a sua transposicao a u r n plan o, In im ag ln av el m as
a se u c re r r ea l, . e m que. eledeveras sa' realize, embora n ao se s aib a como.
Em varlos outros passes, e dos rnais poeticos da su a obra, 0
objective c la ra rn en te p os to c on sis te , n ao em efectlvamente suprimlr
o d es ejo , ma s em 0 superar realizando-o,ainda,de algum m odo.
Sim,e certo que 0 s imp le s' q u er er ve r a amada pede, num excesso
de requlnte, ser quallficado 'com o um a ba ixeza (que a tno r nunca se
a f i n a . ne m s e a pu ra ie nq ua nto e std p re se nie a c au sa d e le ); 0 poeta pode
m esm o prcclarnar com lnslstencia que de meu n a o quero m ais que 0
meu des ejo ' - 0 que ele nunca recusa nem desvaloriza (nern m esmo
em S o br e o s . ri os ) e . .e ss e mesmo desejo., Como. j a vim os, a trlplice can- .
~a o M and a A mo r 'q ue ca n te rnais nao faz do que reabilitar tal desejo
c on tr a qualquer razao qu e se the oponha: e a bela ode P od e u rn d e s e j o
imenso t ar nb em e xa lt a a . s up er ac ao ve n ao a a bd ic ae ao do desejo. M ais
abstracto, 0 c on he cl do s on et o Trans jorma7se 0 a ma do r na c a u s a ' atnadarecorre am etaflslca aristotelica .para explicar 'que a Ideia plat6nica
da Beleza e do Bern, desperta pela amada no seu espirito .• n a p , passaafinal de uma como que materia indefinida, q u e s6 objec t ivando-se
num a form a plena (e fem lninam ente) hum ana, corpo e alma, se con-surna, 0 problem a radical de Cam oes e, portanto, 0 de realizar a
sln tese sem pre p rocurad a, p er vezes en trevista, m as n un ca co nsu mad a,
entre aquilo que hA de infinlto e de flnito na sua ansia mais consciente,
a do am or ; e 0 da slntese entre um anslado absolute e as suas possi ..
bilidadesvivenies.- 'E - ' n a r ea Ji zi ~h o" d e t af sl nt es er ri ul to ' co ii fa , aflnal, '
a p rop ria exp ressao po etlca, isto e , o facto de .a tensao sa ir pe la b oca
33 7
..~,
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co nve rtia a e m can to , 0 facto de; por t al e xp re ss ao ,' : se cornunicar a
o ut rem , s e « e te rn iz ar rem tradicao H terarla, social. '" .,. A tensao e arn on ia na . entre a.ie sp lritu al ld ad e e , a , carnalidade,
entre, ,L au ra e Venus, sit ua n ur n t er re ne . c on cr et o a " tensao hurnanae xl st en te e nt re os ob je ct os lmed ia te s, f in it es , ~ d e fi ni do s a que tendoo •cornportamento instintivo, e osobjectos do com portam ento .cons-c ie nt e, e st es . es ca lo na do s de urn m odu que,' tanto, quanto :possive],vai recuando infinita e indefinidam ente todos os obstaculos e lim itesa s . asp ir a<;5es humanas e m ' p rog re sso - . Dent ro dac6ntep~f\o>do 'mundoern que' 0 nosso poetasefdrrnou, aimulher ora apurec ia .ve tr ; estiloco rt es med iev al e -neoplatonlco, c om o s us er an a d is ta nt s o u r ne ns ag eirados C eus, ora, de , ummod o m ais n at ur alf st a, ' e om op re sa de 'caca fins[ardins de Venas; ' Em vez de um a sintese proprlamente doutrhraria,Camoe s t ra nsm lt e- ne s; e nt re os dois polos.da contradicao, uma t en sa opoetica b em sup e rt or a da simples plangencia e sp ir it ua li st a d e Petrarca,se.u .m od elo.; -d a-n os, u ma. id ealidad e arn orosa m as" co~n. suas, ralzesinstintivas, u rna. ma is I ar ga . r ea li da de idealizada, e at e po r vezes, comona catwao Ma r ui q- m e Am o r q ue c a ni e d o ce m e ni e.c ei us e relances fundosde uma conversao re~iprQ,ca entre os do is opostos, urn esboco dapr6priam?rcha:aeq,ois: P~SI ~0. pe do real e 0 pe do ideal, 0 dcfinidoe 0 indeflnido, das nrisia's emque 0 arnor se val, .affnal, constantemente, recf lanc to 'C 'om6 cofsa humana, Na Ilha dosAmores c desejo erotica
a ca ba p or tran stlg ura r ...e n o gozd do saber profetico e da contem pla-93.0' (eso ter i c a ?)'d a p ro pr ia miiqu ina d o ' mundo tns de urn transunto doseu arquetipo. ."
b ) O ' d e s c o r i c ' i r t o ' do ' mu tu io . - -- :uin tem a frequente na litica
c amonl an a e se paY ~v el d o . te ma ~ in oro so e o dahicor1iei1surabili~'ade
au d'esajusteerttreas exigencias Intim as da vida pessoal eos m eios
queIhe saoda<fos para 3 :s'Satisfazer:' " .. .; :
Q ue s eg re do ta o, arduo e t aop rofu ri d onascer 'para viver, e para a vida .t at ta r- me q ua nt a 0 rnundo tem po 'ternpara ela,
O ~ en tre 0 merito ir~dividua( e a sorte d o ' i~'dividuo:-. L • ' . • ~. : , \ , ~
v erd ad e; A mQ T" ,Ra za o, M e re c im ent o.qualquer alma tarao segura e forte.Porem Fortuna;' Caso, Tempo' e Sortet er n d o contuso m un do o R eg lm e'nto .
80" ' l 1l 'POCR - '- R EN :ASC IJ .I I[ EN'DO iE M>ANEU t fSMO
Omundo aparece assim como, u rn d es co nc er to , p ro du to de-urn
d es ti ne c on fu se e i rr aciona l . Ma ie-vale .icons ide ra 0 Paeta nas o it av a s
Ao d e sc o nc e ri o , do mundo, s er lo uc o, c orn o. ce rt a p er so na gem a te nie ns e
qu e vivia 'feliz a te q ue u rn ir ma o, Ia ze nd o- uc ur ar , Ihe .restituiu, com
a saude m ental I a inf el ic id ade.
E ste desajuste entre os valores .e-a realidade, entre a razao e
o fa ct o, entre a s ne ce ssid ad es v iv as e a sua' satistacao poderia estar
n a .orige m de um a p oe sia rn or alist a e sa tlr ic a, como e o ca s a de , S ade Mi ra ndaou de Ferreira.. Mas a' satira de C arno es -quase s e red uz
a Os D i sp ar ai e: .d a fndid,sa lada o bs cu ra d e v ers os p ro pr iu s o u a lh eio s
e de rifoes~ onde se podem reconhecer a, t ro ca a b az of la s h er ald lc as
ou guerre iras, a h lp oc ri si a e cle si as tic a ( er na s q ue .I ob o e st a em t ifme ti do
em pele de o v e ja » ) , . a cobiea corruptora da justica, etc., rernatando
po r esta e xortac ao a os «secretarios» d as c on sc ie nc ia s r eg la s: «(Porque
nao pondes urn f re io /a o r ou ba r que va l sem melcjdebalxcde. homgovern 0 ? » ,
P ara C am 5es 0 problema cen tral nao e a de injusticas soclais
(q ue eJ e d ec ert o p ro fl ig a, c omo v er emo s, em Os Lu st a ii a s ), mas' 0 da
nao correspondencia entre; as anseios, os-. v alores, as r az ce s . e a
realid ade da v id a social e m aterial; pro blem a tanto r na is a rduo quanta
a . fi lo so fi a p la ten ic a a ss en ta 0 rn un do sa bre a s Ide ia s e de la sfa z tu do
derlvar, E sse problema sente-o co rnpene t radamente 0 poeta, esta no
am ago de seu proprio existir e naoern sim ples congem lnacoes sobre
materia objectiva, com o sao 0& ' topicos fiIos6ficosou asconvencnes
scciais. E l er eag e como i nd iv id uo. rt or na -s e conscio',qasua experiencia
vivlda, 0 d esco ncerto do m un do reside-na propria relacao. entre ele,
c omo p es so a paradigrnatica, e u rn destin o com que ele se . en contra equ e, ao rn esm o te mpo , the e o pa co .
Na verdade, a ideia do 'progresso sobrea Terra, qu e se esboca
n alg um as o bra s ren asc en tis ta s e at e mesmo, embor a e nt re c on tr ad lc oe s,
como v er emo s, n 'O s Lus i ada s , e st a d e t od o a us en te na.lirica de Camoes.'
P ara a lern do im ed ia to d es co nc er io d o mundo, e xemp lific ad o p ar a ne -
do tas h isto rlcas e. m iticas ou p or alusb es autobiograflcas, d es te m un do
onde conh ece rn o s an si as sems at is fa c ao nem mesmo ob je cto d ef in id o,
e onde so , e as vezes, os maus e med lo c re s <madam em mar de con-
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\'
340 B1ST6RIA. DA. L!TERATURA 'PORTUGUESf~
"tentarnentos», 0 p oe ta a pe nas c on ce be va ga s e ntid ad es q ue , te me rosa -
m ente , m aiu scu la (a M ud an ea , sern pre p ara pio r, 0 T em po , a F ortu na,
o Caso,au A caso, arbitrario), e sobcu]o sign a o s h om en s se a rra stam
de esperance em esperance, de desejo em desejo, Que, grande alma
g oz ou a lg urn a v ez u ma fe lic id ad e p r e s e n i e ? On d e um a felicidade qu ese nao ireduza a mera Iembranca de outro e a nte rio r e sta do m en os
rnau, nesse lagro que e a saudade terrena? Solucao: 0 c ep tic is mo e
o retlro para a vida bucellca epicuristicarnente saboreada entre a
palsagemIdilica e I ei tu ra s p re di le ct as, sob os ausplcios de urn rnece-
nas (a aurea mediocr i t as da sabedoria horaclana); ou entao (se nao
mesmo cumula tivarnen te) , 0 pos tu lado p la t6 ni co de uma « r eml ni sc en -
c i a» p re-nata l, anterior a ' sim ple s '« mem6 ria J} te rre na , um a S au da de ,
sim , m as de.outra vida « dnnde esta alm a descendeu», resolvendo-se
a teusao viva do d e s c o n c e r t o , 0 dia lo go a ind aie nta o m al, e nc eta do
entre 0 im ediato e 0 Infinite, par urn rem ergulho na F e h er da da , p or -
tadora deuma Salvacao Inerente a si propria e a o bse rv an cia d o se u
d ec alo go - t al COU1 0o ju lg ava p od er in te rp re ta r sem sebressaltosthojee obvio 0 egolsme .desta a u re a m e d io c ri ta s ) e ss e p ob re e sc ud elr o p or -
tugues qu.e, ao mesmo tempo, era urn letrado e se sabia ser urn dos
me lh or es p oe ta s de- Quinhentos.
M as este paliativo nao 0 sossega, afinal, 0 ( Idesconce rto do,
m undo» Inspira-lhe expressoes de angustla lncornparaveis nallngua
p or tu gu es a; c om o osoneto 0 d ia -em que na s c i m orr a e p er ee a, para-
traseado do Livrede Job; 0 poeta oscila entre a teoria platonica,
em que a aspiracao a felicidade l he a pa re ce como reminl scenc ia de
urn m undo inteliglvel.: e 0 resgate do absurdo do mundo pela gl'a~a
do D eusnecplatonlco de Sto. A gostinho: "
IIII\
,I
III;
I,I!l
IIii
"'1
: ' \ .\i,\
I i'il:
~
'j
,I'I
,jl.,! d ou to s v aro es d ariio ra zo es s ub ld as
(mas sao e xp er le nc la s m a ls p ro va da s) ,
Ma s 0 m elhor de tudo e c rer e m C rist o.
A p le nit ud e a rn or os a p ar ec e-lh e t ao ln at ln glv el c om o a a pr ee ns ao
d e u ma o rd ern ra cio na l, R en unc ia , a pare nte me nte , a o m un do « de sc on -
c erta do » d as a pa re nc ia s e d ep oe a lira p ro fa na p ar a s6 can t ar a Divindade,
ce:~~__ ,_. . _._
N o entanto este mem ento ascetico e s6 um dos poloa da sua
p oe sia , s en do 0 outre 0 dafrui~ao estetlca desse m esm o m undo das
aparencias, ta o m agnitleam ente cantado e truldo n 'O s L us ia d a s,bern como em a lg um as odes eeclogas, 0 interessada poesla carne. .
nlana reside, em parte (nao e de m ais repeti-lo), na alternancia dosdoisp6los, 'ria, te nsa o p or e le s c ria da , _n a te ntativ a se mp re in ac ab ad a
e s em pr e recomecada de os abranger num a totalidade e de th e d ar u rn
significado global. 0 mundo a pa re ce em 'C am 5e s f ra gm en ta do , c on tr a-
ditorio, problernatico, em perpetua anslae dor de negar-se e fazer-se,
Par este lado 0 llrism o cam oniano esta m als perto da inquleta-
C ; a o r na ne ir ls ta , m comp at lv el c o m qualquer coneepcao estatica d o
rn un do , d o q ue d o e qu ilib rio ren asc en tlsta , E o v erdade que e pto-
l ern ai co e renascent is ta 0 rnundo em que 0 poeta supoe viver, 0 co smos
d e este ra s c on ce ntric as, lim lta do n o e sp aco e n o te mp o', c on stitu ind o
urn sisternaunico, em que a T erra, e portanto 0 h om em ( se nh or , e nt ao
r ec en te , d os o ce an os ), o cu pava 0 c en tr o, m un do e qu ilib ra do e c cn fin ad o
em si rnesmo. 0 ser humano, ness a concepcao, era um microcosmos ,
participante de todos os elem entos cosrnicos, e devolveria por firn
cad a e le rn en to . qu e 0 c orn pu nha a o re sp ec tiv e « lu ga r n atu ra la ta m ate -
r ia d es ce ri a a T erra, a alm a irrornperia sozlnha para alem da ultim a
das esferas celestes. M as e evidente que a problernatica da lirica
, carnoniana nao c ab e n es ta b ela a rq uite ctu ra tra nq uillz ad ora q ue com 0
«m an eiris mo » s e d es fa ra , q ua nd o 0 c on tin en te m ais c on he cid o e d ep ois
o proprio planeta se perderern num m undo cada vez m ais vasto, talvez
i nf in it o e seni centro, quando a mecanica da Terra e do Ceu deixarem
d e d if ere nc ia r- se , e 0 espaco, 0 t em po , a c au sa lid ad e ja n an cou be rem
em imagens visuals simples. .
E o que as vibracoes da angustla - meditatlva de C am 5es excedemesses quadros cosm oJ6gicos e sociais onde 0 poeta ainda se sltua,
Como veremos, O s L us uu ia s exaltam u ma d iv in da de a in dae sse n-
e ia lm ent e c or ic eb id a it Ius de uma etica de cruzada cavalelrosa,
m as tarnbern exaltarn a intrusao hum ana nos « terminos vedadcsi do
espaco divino. N a sua lirica, 0 v er ba d ob a- se -n os pa lp ita nt e p or qu e
as vias segundo as quais uma ansia, au umaraznoIntlrna, acaba par
passar a ansla, ou a ra za o c on tr aria , n er n semp re sao a s d o f ur rn ul ar io
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5/11/2018 Literatura Portuguesa Luis de Camoes - slidepdf.com
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::\42 IJI IS' ; I '6RItA.. DA.. L.fI1.ER4.TlJM PORTUGUESA
de tradicao petrarquista; h a um senso agudissimo, e sern precedentes,
d e.co rn o « tod c u rnu nd oe C O O 1 p O S t o o . e mudanca», c orn po sto d e s im
e naojate aoponto de qu e n em , s eq ue r « mu da como suia», infringindo
as prcprias leis ou ritrnos j< 1 eonhecidos de mudanca; as . esperancas,
s er n a sq ua is < ; n a o p od e . ha ve r d es go st r» a ut en tic o, s a o d et ec ta da s a te
a ine ia billd ade ou su bc onsc ie nc ia d e u rn . (Inao sei que, que nasce nao
sei ondejvem njio ..sel-corno, e d6i nao sei porque»: 0 apego p et ra r-
.guiana e bemardiniann a propria dor desvendafundas ralzes, eporque
essa mesmaImagern, que na mente/me .representa 0 bern de que
careco.jm ofaz de urn. certo m odo ser presentee, 0 m undo geornetrica-
.m ente flxo d a p erspe ctiva . line ar renascentista e 0 d a d ogmat ic a tri~
d en tin a e st ao amb os , .n est a liric a, ja a ba lad os po r urn v lo len to sism o,
embora a lccallzacao aparente do seu epicentro apenas apreenda urna
d ial ect ica .aparen ternente limitada a s ansias do arnor.e seus objectos
distarrtes,
\ ",,
~~"'I
!
O id ea lrena sce ntis ta c ia E po pe ia . - A idelade realizar urn poemah eroico so bre a e xpa nsao p ort ug uese m an lte sta -se [ ad esd e 0 s ec ule XVt
dentro e fora. de Portugal . 0 humanista I ta lia no A ng elo P olic ia no
ofereceu . .se a D . Joao .1 ! para cantar em verso latina os seueteltos,
e L uis V iv es ex altou o s D esc ob rirne nto s nu ma de dic atoria a D .]o8 .o H I.
N o p ro lo go d o C an ei on ei ro G e ra l, G arcia d e R esen de laments que os
feitos d os .P or tu gu es es n ao e st ej ar n condignamente c an ta do s. A nt on io
Ferreira; apesar . da sua avers~lO """-varias vezes manitesta ~ pela
vldaguerreira-e mari tima; encorajou - ma is d e- u rn contrade a- escrever
a epopeia, e ele m esm c ensaiou 0 estilo her6ico em mais de urna od e
enos Ep i t d j i o s d e v ar io s pe rso na ge ns h ist oric os , como D. Afonso
Henriques, D .. D inls, D . Jo.ao I, regente D . Pedro. Este projecto
dos H um anistas relaciona-se com a am bi9aoderessuscitar um dos
m ais nobres generos greco-romanos, 4A .S v ia ge ns .d os P or tu gn es es
prestavam-se a uma cernparacao ernuladora com as de U lisses, d05
A rgonautas e de E neias, assim com o, os seus feitos guerreiros.com os
dos G regos e Trolanos . .
o ge ne ro ep ic o, isto e , narrative, tlnha para 0 c la ss ic ismo d o
Renascimento certas regras a bs tra id as d e m od elo s, q ue e ram s ob re tu do
,,/
'r ! ··
a il ·®Po.oA E R E N t A l S C T h I E : N I I ' O ' E ' · MAl'mtRJJ.iM!O 343
a·Jlt.'dda e' aOdisseia· homericas, :aArgondi l t i ca de Apo16tti6 de Rodes
e' a , 'Enefda d e V i rgH i o. :Ms im ' s e e impuserao modele -de uma intriga
de s deuses, divididos errrpartidus, n um a· d ete rrn ln ad a a cc ao h ur na na
(lim a/guerra; urna viagern m aritim a ... ).· A Enefda , ernbora se tenha
destacado multo de entre os poernasheroicos em latim, deve 'cnnsi-
derar-se um a tonte ja secundaria destas r eg ra s, f po rq tt e surgiu Como
repto imitative- aos p oemashomericos.- ;
O rA estes c orrespo nd errra um afase clvllizaciortal de · que V ir-
gilio e as poetas do Ren as cimen tc ja e st av am mu lt o a fa si :a do s, 'P a ra
H orn ero; osd eu se s c on stltuiam e ntida des re ais, forcas superiormente
vlvas, e par isso voluntarlas e antropom 6rficas, que irrom plarn da
n at ur cz ae q ue pa rt ic ip av ar n na s lutas dos bandos dos-guerreiros ou
piratas' de s a rqu ip ela go s. e 'costas do Med it er ran eo oriental, muitos
s ec ul os ' a nt es d e C r is to . Cada q ua l d ele s e st a p ess oa lrn en te emp en ha do
e m a lc a n c a r a " v t t o rt a 'para 0 se u baudo d ead ora dore s; e p ortan to '0
seu <criteria d o [usto edo Injusto e 0 de umcla. . Os homens, pot sua
v ez , p on do a p ro va os· se us m uscu lo sern co m b ate s sin gu la res,' O I l " ': asua a~: tucia·em enganar 0 .adve rsa r i o , eateos ' deus es ' ad ve rs os , g anham
proporcces sobre·hun'i 'c'm'as,dandj.d·atam~se a · ir no rt al id ad e. · Po r- Js so
os poem as :nom ertcoa-ceractcrleam -se pelo relevo tmp re ss io na ri te 'e
ine squ ec iv el do s· se us h ernis, S e qu ise rm os< urn 'pa ra lelo, 'de vem o]
p ro cu ra -lo . na s epopeias · Mrba ra s de civiliia90es'.ate certcponto 'corn-
paraveis' 'a q ue p re ce de u e originou 0 d as c id ad es gregas: >o s Ni eb e«
l ! 1 n g o s , ; : i " Chanson d e Roland, 0Cantar de Mio Cid, as-Sagas islandesas,
corrrosquais s e a :p ar en ia >a -t ra c; i1 9a o e pi ca d e A fo ns o He nr iq ue s. ' a tr as
i 'eferida.· Aquileso "kacilnd01J'lisses da s muitas manhas, Roldfto· 0
b ra vo , O l iv ei ro 0 prudente, e ainda C id 0 carripeador,emboramais
c om ple xo 'po rq ue n ia ls h isterlco , . con stitu em um a ga le rla de he ro is
criada pelaimaglnacao epopeica na sua rasepropria. Notemcsque
nestaaepopeiasmedievais 0 maravilhoso mitolegico desernpenha urn
p ap el mu it o menos im po rta nte do qu e no s p oe mas home rl co s enout ro s
a in da m ais a rc aic os;
D ev ea cre sc en ta r- se . q ue e st es p oema s, s ur gid os .n at ase da lite-
ratura oral, eram tldos com o relatosde acontecim entosveridlcos, que
as sucessivas versbes, culm inando na que acabou por ganhar a form a