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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Visite nosso site: geael.wordpress.com e baixe os números anteriores Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 21 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL Discurso pronunciado junto ao túmulo de Allan Kardec Senhores, Aquiescendo com deferencia ao convite simpático dos amigos do pensador laborioso, cujo corpo terrestre jaz agora aos nossos pés, lembro-me de um dia sombrio do mês de de- zembro de 1865. Eu pronunciava, então, supremas palavras de adeus sobre a tumba do fundador da Librairie Académi- que, do honorável Didier, que foi, como editor, o colaborador convicto de Allan Kardec na publicação das obras fundamen- tais de uma doutrina que lhe era cara, e que morreu subita- mente também, como se o céu quisesse poupar, a esses dois Espíritos íntegros, o embaraço filosófico de sair desta vida por um caminho diferente do caminho comumente recebido. – A mesma reflexão se aplica à morte de nosso antigo colega Jobard, de Bruxelas. Hoje, a minha tarefa é maior ainda, porque gostaria de poder representar, ao pensamento daqueles que me ouvem, e àqueles milhões de homens que no novo mundo estão ocupa- dos com o problema ainda misterioso dos fenômenos denomi- nados espíritas; – eu gostaria, disse eu, de poder representar- -lhes o interesse científico e o futuro filosófico do estudo des- ses fenômenos (ao qual se entregaram, como ninguém ignora, homens eminentes entre os nossos contemporâneos). Gosta- ria de lhes fazer entrever quais horizontes desconhecidos ao pensamento humano verá se abrir diante deles, à medida que estenda o seu conhecimento positivo das forças naturais em ação ao nosso redor; mostrar-lhes que tais constatações são o antídoto mais eficaz da lepra do ateísmo, que parece atacar particularmente a nossa época de transição; e testemunhar, enfim, publicamente, aqui, do eminente serviço que o autor de O Livro dos Espíritos prestou à filosofia, chamando a atenção e a discussão sobre fatos que, até então, pertenciam ao domí- nio mórbido e funesto das superstições religiosas. Seria, com efeito, um ato importante estabelecer aqui, diante desta tumba eloquente, que o exame metódico dos fenômenos espíritas, chamados erradamente de sobrenatu- rais, longe de renovar o espírito supersticioso e enfraquecer a energia da razão, ao contrário, afasta os erros e as ilusões da ignorância, e serve melhor ao progresso do que a negação ilegítima daqueles que não querem, de nenhum modo, dar-se ao trabalho de ver. Mas não é aqui o lugar de abrir uma arena à discussão desrespeitosa. Deixemos somente descer, de nossos pensa- mentos, sobre a face impassível do homem deitado diante de nós, testemunhos de afeição e sentimentos de pesar, que res- tam ao redor dele em seu túmulo, como um embalsamamento do coração! E uma vez que sabemos que a sua alma eterna sobrevive a este despojo mortal, como lhe preexistiu; uma vez que sabemos que laços indestrutíveis ligam o nosso mundo visível ao mundo invisível; uma vez que esta alma existe hoje, tão bem como há três dias, e que não é impossível que ela não “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” – Allan Kardec

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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraConhecendo a Doutrina Espírita – 21

Estudos doutrinários do GEAELGEAEL

• Discurso pronunciado junto aotúmulo de Allan Kardec

Senhores,Aquiescendo com deferencia ao convite simpático dos

amigos do pensador laborioso, cujo corpo terrestre jaz agora aos nossos pés, lembro-me de um dia sombrio do mês de de-zembro de 1865. Eu pronunciava, então, supremas palavras de adeus sobre a tumba do fundador da Librairie Académi-que, do honorável Didier, que foi, como editor, o colaborador convicto de Allan Kardec na publicação das obras fundamen-tais de uma doutrina que lhe era cara, e que morreu subita-

mente também, como se o céu quisesse poupar, a esses dois Espíritos íntegros, o embaraço filosófico de sair desta vida por um caminho diferente do caminho comumente recebido. – A mesma reflexão se aplica à morte de nosso antigo colega Jobard, de Bruxelas.

Hoje, a minha tarefa é maior ainda, porque gostaria de poder representar, ao pensamento daqueles que me ouvem, e àqueles milhões de homens que no novo mundo estão ocupa-dos com o problema ainda misterioso dos fenômenos denomi-nados espíritas; – eu gostaria, disse eu, de poder representar--lhes o interesse científico e o futuro filosófico do estudo des-ses fenômenos (ao qual se entregaram, como ninguém ignora, homens eminentes entre os nossos contemporâneos). Gosta-ria de lhes fazer entrever quais horizontes desconhecidos ao pensamento humano verá se abrir diante deles, à medida que estenda o seu conhecimento positivo das forças naturais em ação ao nosso redor; mostrar-lhes que tais constatações são o antídoto mais eficaz da lepra do ateísmo, que parece atacar particularmente a nossa época de transição; e testemunhar, enfim, publicamente, aqui, do eminente serviço que o autor de O Livro dos Espíritos prestou à filosofia, chamando a atenção e a discussão sobre fatos que, até então, pertenciam ao domí-nio mórbido e funesto das superstições religiosas.

Seria, com efeito, um ato importante estabelecer aqui, diante desta tumba eloquente, que o exame metódico dos fenômenos espíritas, chamados erradamente de sobrenatu-rais, longe de renovar o espírito supersticioso e enfraquecer a energia da razão, ao contrário, afasta os erros e as ilusões da ignorância, e serve melhor ao progresso do que a negação ilegítima daqueles que não querem, de nenhum modo, dar-se ao trabalho de ver.

Mas não é aqui o lugar de abrir uma arena à discussão desrespeitosa. Deixemos somente descer, de nossos pensa-mentos, sobre a face impassível do homem deitado diante de nós, testemunhos de afeição e sentimentos de pesar, que res-tam ao redor dele em seu túmulo, como um embalsamamento do coração! E uma vez que sabemos que a sua alma eterna sobrevive a este despojo mortal, como lhe preexistiu; uma vez que sabemos que laços indestrutíveis ligam o nosso mundo visível ao mundo invisível; uma vez que esta alma existe hoje, tão bem como há três dias, e que não é impossível que ela não

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” – Allan Kardec

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2 Conhecendo a Doutrina Espírita

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se encontre atualmente aqui diante de mim; di-zemos-lhe que não quisemos ver se desvanecer a sua imagem corpórea e encerrá-la em seu se-pulcro, sem honrar unanimemente os seus tra-balhos e a sua memória, sem pagar um tributo de reconhecimento à sua encarnação terrestre, tão utilmente e tão dignamente cumprida.

Eu exporei primeiro, num esboço rápido, as linhas principais de sua carreira literária.

Morto com a idade de 65 anos, Allan Kar-dec consagrara a primeira parte de sua vida a escrever obras clássicas, elementares, destinadas sobretudo ao uso de professores primários e da juventude. Quando, por volta de 1855, as ma-nifestações, em aparência novas, das mesas gi-rantes, das pancadas sem causa ostensiva, dos movimentos insólitos dos objetos e dos móveis, começaram a atrair a atenção pública e deter-minaram mesmo, nas imaginações aventurosas, uma espécie de febre devida à novidade das experiências, Allan Kardec, estudando ao mes-mo tempo o magnetismo e os efeitos estranhos, seguiu com a maior paciência e uma judiciosa clarividência as experiências e as tentativas tão numerosas feitas então em Paris. Ele recolheu e pôs em ordem os resultados obtidos por essa longa observação, e com isso compôs o corpo de doutrina publicado, em 1857, na primeira edição de O Livro dos Espíritos. Sabeis todos que suces-so acolheu essa obra, na França e no estrangeiro.

Chegada hoje à sua 15a edição, difundiu em todas as classes esse corpo de doutrina elemen-tar, que não era, de nenhum modo, novo em sua essência, uma vez que a escola de Pitágoras, na Grécia, e a dos druidas, em nossa pobre Gália dela, ensinavam os princípios, mas que reves-tiam uma forma da atualidade pela correspon-dência com os fenômenos.

Depois dessa primeira obra, apareceram, sucessivamen-te, O Livro dos Médiuns ou Espiritismo experimental; – O que é o Espiritismo? ou resumo sob a forma de perguntas e de respostas; – O Evangelho Segundo o Espiritismo; – O Céu e o Inferno; – A Gênese; – e a morte veio surpreendê-lo no momento em que, em sua atividade infatigável, trabalhava numa obra sobre as relações do magnetismo e do Espiritismo.

Pela Revista Espírita e a Sociedade de Paris, da qual era presidente, se constituíra, de alguma sorte, o centro para onde tudo tendia, o traço de união de todos os experimentadores. Há alguns meses, sentindo o seu fim próximo, preparou as condições de vitalidade desses mesmos estudos depois de sua morte, e estabeleceu a Comissão central que lhe sucede.

Ele levantou rivalidades; fez escola sob uma forma um pouco pessoal; há ainda alguma divisão entre os “espiritualis-tas” e os “espíritas”. Doravante, Senhores, (tal é pelo menos o voto dos amigos da verdade), deveremos estar todos reunidos

por uma solidariedade confraternal, pelos mesmos esforços para a elucidação do problema, pelo desejo geral e impessoal do verdadeiro e do bem.

Objetou-se, Senhores, ao nosso digno amigo, a quem ren-demos hoje os derradeiros deveres, se lhe objetou de não ser, de nenhum modo, o que se chama um sábio, de não ter sido, primeiro, físico, naturalista ou astrônomo, e de ter preferido constituir um corpo de doutrina moral antes de haver aplicado a discussão científica à realidade e à natureza dos fenômenos.

Talvez, Senhores, seja preferível que as coisas hajam co-meçado assim. Não é necessário rejeitar sempre o valor do sentimento. Quantos corações foram consolados primeiro por esta crença religiosa! Quantas lágrimas foram secadas! Quantas consciências abertas ao raio da beleza espiritual! Nem todos são felizes neste mundo. Muitas afeições foram dilaceradas! Muitas almas foram entorpecidas pelo ceticismo. Não é, pois, nada senão de haver conduzido ao espiritualismo

Camille Flammarion

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tantos seres que flutuavam na dúvida e que não amavam mais a vida, nem a física, nem a intelectual?

Allan Kardec fora homem de ciência, e, sem dúvida, não teria podido prestar este primeiro serviço e difundi-lo, assim, ao longe, como um convite a todos os corações.

Mas era o que eu chamarei simplesmente “o bom senso encarnado”. Razão direita e judiciosa, aplicava sem esqueci-mento, à sua obra permanente, as indicações íntimas do senso comum. Não estava aí uma menor qualidade na ordem das coisas que nos ocupa. Era, pode-se afirmá-lo, a primeira de todas e a mais preciosa, sem a qual a obra não poderia se tornar popular, nem lançar as suas imensas raízes no mundo. A maioria daqueles que se entregaram a esses estudos, lem-bram-se de ter sido, em sua juventude, ou em certas circuns-tâncias especiais, testemunhas, eles mesmos, das manifesta-ções inexplicadas; há poucas famílias que não hajam obser-vado, em sua história, testemunhos dessa ordem. O primeiro ponto era aplicar-lhes a razão firme do simples bom senso e examiná-las segundo os princípios do método positivo.

Como organizador desse estudo lento e difícil, ele mes-mo previu-o, esse complexo estudo deve entrar agora em seu período científico. Os fenômenos físicos sobre os quais não se insistiu de início, devem se tornar o objeto da crítica expe-rimental, à qual devemos a glória do progresso moderno, e as maravilhas da eletricidade e do vapor; esse método deve tomar os fenômenos de ordem ainda misteriosa, aos quais assistimos, dissecá-los, medi-los, e defini-los.

Porque, Senhores, o Espiritismo não é uma religião, mas é uma ciência, ciência da qual conhecemos apenas o a b c. O tempo dos dogmas acabou. A Natureza abarca o Universo, e, o próprio Deus, que se fez outrora à imagem do homem, não pode ser considerado pela metafísica moderna senão como um Espírito na Natureza. O sobrenatural não existe mais. As manifestações obtidas por intermédio dos médiuns, como as do magnetismo e do sonambulismo, são de ordem natural, e devem ser severamente submetidas ao controle da experiên-cia. Não há mais milagres. Assistimos à aurora de uma ciên-cia desconhecida. Quem poderia prever a quais consequên-cias conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo positivo dessa psicologia nova?

Doravante, a ciência rege o mundo; e, Senhores, não será estranho a este discurso fúnebre anotar a sua obra atual e as induções novas que ela nos descobre, precisamente do ponto de vista de nossas pesquisas.

Em nenhuma época da história, a ciência desenvolveu, diante do olhar admirado do homem, horizontes tão grandio-sos. Sabemos agora que a Terra é um astro, e que nossa vida atual se cumpre no céu. Pela análise da luz, conhecemos os elementos que queimam no Sol e nas estrelas, a milhões, a tri-lhões de léguas de nosso observatório terrestre. Pelo cálculo, possuímos a história do céu e da Terra em seu passado distan-te, como em seu futuro, que não existem pelas leis imutáveis. Pela observação, pesamos as terras celestes que gravitam na amplidão. O globo onde estamos se tornou um átomo este-lar voando no espaço, em meio das profundezas infinitas, e

a nossa própria existência, sobre este globo, tornou-se uma fração infinitesimal de nossa vida eterna. Mas o que pode, a justo título, nos ferir mais vivamente ainda, é esse espantoso resultado dos trabalhos físicos operados nestes últimos anos: que vivemos em meio de um mundo invisível, agindo sem cessar ao nosso redor. Sim, Senhores, aí está, para nós, uma revelação imensa. Contemplai, por exemplo, a luz derramada nesta hora na atmosfera por esse brilhante Sol, contemplai esse azul tão suave da abóboda celeste, notai esses efluvios de ar tíbio que vem acariciar os nossos rostos, olhai esses monumentos e esta terra: pois bem! apesar dos nossos gran-des olhos abertos, não vemos o que se passa aqui! Sobre cem raios emanados do Sol, só um terço é acessível à nossa visão, seja diretamente, seja refletido por todos os corpos; os dois terços existem e agem ao nosso redor, mas de maneira invisí-vel, embora real. São quentes, sem serem luminosos para nós e são, entretanto, mais ativos do que aqueles que nos ferem, porque são eles que atraem as flores para o lado do Sol, que produzem todas as ações químicas,1 e são eles também que elevam, sob uma forma igualmente invisível, o vapor d’água na atmosfera para formar as nuvens; – exercendo assim, in-cessantemente, ao nosso redor, de maneira oculta e silenciosa, uma força colossal, mecanicamente avaliável ao trabalho de bilhões de cavalos!

Se os raios caloríficos e os raios químicos que agem cons-tantemente na Natureza são invisíveis para nós, é porque os primeiros não ferem com bastante rapidez a nossa retina, e porque os segundos a ferem muito rápido. O nosso olho não vê as coisas senão entre dois limites, aquém e além dos quais não vê mais. O nosso organismo terrestre pode ser comparado a uma harpa de duas cordas, que são o nervo óptico e o nervo auditivo. Uma certa espécie de movimento coloca em vibra-ção o primeiro e uma outra espécie de movimentos coloca em vibração o segundo: aí está toda a sensação humana, mais restrita aqui do que a de certos seres vivos, de certos insetos, por exemplo, nos quais essas mesmas cordas, da visão e do ouvido, são mais delicadas. Ora, existem, em realidade, na Natureza não dois, mas dez, cem, mil espécies de movimentos. A ciência física nos ensina, portanto, que vivemos assim no meio de um mundo invisível para nós, e que não é impossível que seres (invisíveis igualmente para nós) vivam igualmente sobre a Terra, numa ordem de sensações absolutamente dife-rentes da nossa, e sem que possamos apreciar a sua presença, a menos que não se manifestem a nós por fatos entrando na nossa ordem de sensações.

Diante de tais verdades, que não fazem ainda senão en-treabrir, quanto a negação a priori parece absurda e sem va-lor! Quando se compara o pouco que sabemos, e a exiguidade da nossa esfera de percepção à quantidade do que existe, não se pode impedir de concluir que não sabemos nada e que tudo nos resta a saber. Com que direito pronunciaremos, pois, a

1 A nossa retina é insensível a esses raios; mas outras substâncias os vêem, por exemplo, o iodo e os sais de prata. Fotografou-se o espectro solar químico, que o nosso olho não vê. A placa do fotógrafo não oferece, de resto, jamais, nenhuma imagem visível ao sair da câmara escura, embora ela a possua, uma vez que uma operação a química faz aparecer.

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4 Conhecendo a Doutrina Espírita

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palavra “impossível” diante dos fatos que constatamos sem poder descobrir-lhes a causa única?

A ciência nos abre visões, tão autorizadas quanto as prece-dentes, sobre os fenômenos da vida e da morte e sobre a força que nos anima. Basta-nos observar a circulação das existências.

Tudo não é senão metamorfose. Transportados em seu curso eterno, os átomos constitutivos da matéria passam, sem cessar, de um corpo a outro, do animal à planta, da planta à atmosfera, da atmosfera ao homem, e nosso próprio corpo, durante a duração inteira de nosso vida, muda incessante-mente de substância constitutiva, como a chama não brilha senão pelos elementos renovados sem cessar; e quando a alma se evola, esse mesmo corpo, tantas vezes transportado já du-rante a vida, devolve definitivamente à Natureza todas as mo-léculas para não mais retomá-las. Ao dogma inadmissível da ressurreição da carne substituiu-se a alta doutrina da trans-migração das almas.

Eis o sol de abril que irradia nos céus e nos inunda com o seu primeiro orvalho calorescente. Já os campos despertam, já os primeiros botões se entreabrem, já a primavera floresce, o azul celeste sorri, e a ressurreição se opera; e, todavia, esta vida nova não está formada senão pela morte e não recobre senão ruínas! De onde vem a seiva dessas árvores que rever-decem no campo dos mortos? De onde vem essa umidade que nutre as raízes? De onde vêm todos os elementos que vão fazer aparecer, sob as carícias de maio, as pequenas flores silenciosas e os pássaros cantores? – Da morte?... Senhores..., desses cadáveres sepultados na noite sinistra dos túmulos!... Lei suprema da Natureza, o corpo não é senão um conjunto transitório de partículas que não lhe pertencem de nenhum modo, e que a alma agrupou segundo o seu próprio tipo, para se criarem órgãos pondo-a em relação com o nosso mundo físico. E, ao passo que o nosso corpo se renova assim, peça por peça, pela mudança perpétua das matérias, ao passo que um dia cai, massa inerte, para não mais se levantar, o nosso Es-pírito, ser pessoal, guardou constantemente a sua identidade indestrutível, reinou soberanamente sobre a matéria da qual estava revestido, estabelecendo assim, por esse fato constante e universal, a sua personalidade independente, a sua essência espiritual não submissa ao império do espaço e do tempo, sua grandeza individual, a sua imortalidade.

Em que consiste o mistério da vida? Por que laços a alma está ligada ao organismo? Por qual solução ela dele se esca-pa? Sob qual forma, e em quais condições, ela existe depois da morte? – Estão aí, Senhores, tantos problemas que estão lon-ge de serem resolvidos, e cujo conjunto constituirá a ciência psicológica do futuro. Certos homens podem negar a própria existência da alma, como a de Deus, afirmarem que a verdade moral não existe, que não há, de nenhum modo, leis inteligen-tes na Natureza, e que nós, espiritualistas, somos vítimas de uma imensa ilusão. Outros podem, opondo-se-lhes, declarar que conhecem, por um privilégio especial, a essência da alma humana, a forma do Ser supremo, o estado da vida futura, e nos tratar de ateus, porque a nossa razão se recusa à sua fé. Uns e outros, Senhores, não impedirão que estejamos aqui,

em face dos maiores problemas, que não nos interessemos por essas coisas (que estão longe de nós serem estranhas), e que não tenhamos o direito de aplicar o método experimental, da ciência contemporânea, na pesquisa da verdade.

É pelo estudo positivo dos efeitos que se remonta à apre-ciação das causas. Na ordem dos estudos reunidos sob a de-nominação genérica de “Espiritismo”, os fatos existem. Mas ninguém conhece o seu modo de produção. Eles existem, tão bem quanto os fenômenos elétricos, luminosos, caloríficos; mas, Senhores, não conhecemos nem a biologia e nem a fisio-logia. O que é o corpo humano? O que é o cérebro? Qual é a ação absoluta da alma? Nós o ignoramos. Ignoramos igual-mente a essência da eletricidade, a essência da luz; é, pois, sábio observar, sem tomar partido, todos esses fatos, e tentar determinar-lhes as causas, que são, talvez, espécies diversas e mais numerosas do que não o supusemos até aqui.

Que aqueles cuja visão está limitada pelo orgulho, ou pe-los preconceitos, não compreendem de nenhum modo esses ansiosos desejos dos nossos pensamentos ávidos de conhece-rem; que lancem sobre esse gênero de estudo, o sarcasmo ou o anátema; elevamos mais alto as nossas contemplações!... Tu foste o primeiro, ó mestre e amigo! tu foste o primeiro que, desde o início da minha carreira astronômica, testemu-nhou uma viva simpatia pelas minhas deduções relativas à existência de humanidades celestes; porque, tendo na mão o livro da Pluralidade dos mundos habitados, o colocaste em seguida na base do edifício doutrinário que sonhavas. Muito frequentemente, nos entrotemos juntos dessa vida celeste tão misteriosa; agora, ó alma! sabes por uma visão direta, em que consiste essa vida espiritual, à qual retomaremos todos, e que nos esquecemos durante esta existência.

Agora retornastes a esse mundo de onde viemos, e re-colhes os frutos dos teus estudos terrestres. O teu envoltório dorme aos nossos pés, teu cérebro está aniquilado, os teus olhos estão fechados para não mais se abrirem, a tua palavra não se fará mais ouvir... Sabemos que todos nós chegaremos a esse mesmo último sonho, à mesma inércia, ao mesmo pó. Mas não é nesse envoltório que colocamos a nossa glória e a nossa esperança. O corpo cai, a alma permanece e retorna ao espaço. Encontrar-nos-emos, nesse mundo melhor, e no céu imenso onde se exercerão as nossas faculdades, as mais pode-rosas, continuaremos os estudos que não tinham sobre a Terra senão um teatro muito estreito para contê-los.

Gostamos mais de saber esta verdade do que crer que tudo jaz inteiramente nesse cadáver, e que a tua alma haja sido destruída pela cessação do funcionamento de um órgão. A imortalidade é a luz da vida, como esse brilhante Sol é a luz da Natureza.

Até breve meu caro Allan Kardec, até breve.

Camille Flammarion

Obras PóstumasAllan Kardec

FEB - Federação Espírita Brasileira

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Jesus, Kardec e nós

ESE - Cap. XVII - Item 8

Se Jesus considerasse a si mesmo puro demais, a ponto de não tolerar o contato das fraquezas humanas; se acreditas-se que tudo deve correr por conta de Deus; se nos admitisse irremediavelmente perdidos na rebeldia e na delinquência; se condicionasse o desempenho do seu apostolado ao apoio dos homens mais cultos; se aguardasse encosto dinheiroso e valimento político a fim de realizar a sua obra ou se recu-asse, diante do sacrifício, decerto não conheceríamos a luz do Evangelho, que nos descerra o caminho à emancipação espiritual.

Se Allan Kardec superestimasse a elevada posição que lhe era devida na aristocracia da inteligência, colocando hon-ras e títulos merecidos, acima das próprias convicções; se per-manecesse na expectativa da adesão de personalidade ilustres à mensagem de que se fazia portador; se esperasse cobertura financeira para atirar-se à tarefa; se avaliasse as suas dificul-dades de educador, com escasso tempo par esposar compro-missos diferentes do magistério ou se retrocedesse, perante as calúnias e injúrias que lhe inçaram a estrada, não teríamos a codificação da doutrina Espírita, que complementa o Evange-lho, integrando-nos na responsabilidade de viver.

Refletindo em Jesus e Kardec, ficamos sem compreender a nossa inconsequência, quando nos declaramos demasiada-mente virtuosos, ocupados, instruídos, tímidos , incapazes ou desiludidos para atender às obrigações que nos cabem na Doutrina Espírita. Isso porque se eles - o Mestre e o Apóstolo da renovação humana - passaram entre os homens, sofrendo dilacerações e exemplificando o bem, por amor à verdade, quando nós - consciências endividadas, fugimos de aprender e servir, em proveito próprio, indiscutivelmente, estaremos sem perceber, sob a hipnose da obsessão oculta, carregando equilíbrio por fora e loucura por dentro.

Opinião EspíritaEmmanuel / André Luiz / Chico Xavier

Comunhão Espírita Cristã - Uberaba-MG

PERGUNTA: — Os espíritos viciados e que procuram dominar os encarnados também viciados conseguem seus fins apenas entre os frequentadores de ambientes corruptos, ou também podem intervir em suas vidas particulares, mesmo a distância dos lugares do vício?

RAMATÍS: — Não vos esqueçais de que “os seme-lhantes atraem os semelhantes”, e por esse motivo o imprudente que atrai amizades tão perigosa, como as dos espíritos viciados, terá que mobilizar mais tarde os mais ingentes esforços para conseguir livrar-se delas. Bem sabeis que tanto as aves como as cobras podem acostumar-se à vossa presença, fazendo todo o possível para permanecer convosco, desde que as trateis como elas gostam de ser tratadas. Do mesmo modo, se vos entre-gardes constantemente ao abuso das libações alcoólicas, deixando-vos vampirizar pelas almas viciadas com o álco-ol, é óbvio que elas tudo farão para levar-vos à prática do vício em qualquer lugar onde possais alimentá-lo. Depois de obterem certo domínio sobre as criaturas inclinadas ao álcool, tais espíritos mui dificilmente se conformam em perder o seu “caneco vivo”, e o acompanham por toda a parte, pois assim podem conhecer melhor as suas nuanças psicológicas e emotivas. Eles então experimentam as suas vítimas em todas as suas vulnerabilidades; provocam-lhes atritos familiares e desgostos profundos, para em seguida despertar-lhes reações emotivas que frequentemente levam suas vítimas a maior ingestão de bebidas alcoólicas. E quando essas infelizes vítimas se tornam amigos das noi-tadas festivas entre grandes libações alcoólicas, os alcoó-latras do Além recrudescem no seu vampirismo repelente, atuando então de modo hipnótico sobre suas vítimas para que procurem sempre os ambientes pecaminosos.

Daí o grande perigo para os encarnados que se põem a frequentar “dancings”, cabarés, boates e outros ambien-tes do vício que, embora disfarçados sob o rótulo de divertimentos inocentes, são locais onde os vampiros alco-ólatras — tal como conta a lenda dos demônios tentadores — permanecem vigiando todos os passos, intenções e pen-samentos de suas vítimas. Eles as espreitam a distância do lar, seguem-nas até o seu emprego e aguardam-nas mesmo na saída dos templos, onde são impedidos de penetrar devido às fronteiras vibratórias dos pensamentos dignos.

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6 Conhecendo a Doutrina Espírita

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Tudo na floresta é encanto, quer na primavera, quando as seivas potentes incham suas mil artérias, quer quando os rebentos novos reverdecem fartamente, quer quando o ou-

tono a decora de tintas ardentes, de cores prestigiosas, ou quando o inverno a transforma em um mágico palácio de cristal, que as sombrias ramadas moldam sob a neve, ou se carregam de pingen-tes diamantinos, transformando cada pinheiro em árvore de Natal.

A floresta não é somente maravilhoso espetáculo; é ainda perpétuo ensinamento. Ela nos fala, sem cessar, das regras fortes, dos princípios augustos que regem toda a vida, e presidem à re-novação dos seres e das estações. Aos tumultuosos, aos agitados, oferece seus retiros profundos, propícios à reflexão. Aos impa-cientes, ávidos de gozo, diz que nada é duradouro, senão aquilo que custa trabalho e precisa tempo para germinar, para sair da sombra e subir para o céu. Aos violentos, aos impulsivos, opõe a vista de sua lenta evolução. Verte a calma nas almas enfebrecidas. Simpática às alegrias, compassiva às dores humanas, ela cura os corações chagados, consola, repousa e comunica, a todos as forças obscuras, as energias escondidas em seu seio. A lenda de Anteu é sempre aplicável aos feridos da existência, a todos aque-les que esgotaram as suas faculdades, suas potências vitais nas ásperas lutas deste mundo. Basta-lhes pôr-se em contacto com a Natureza, para encontrarem, na virtude secreta que dela emana, recursos ilimitados.

E que analogias, que lições em todas as coisas! A bolota, sob o seu invólucro modesto, contém não só um carvalho completo em seu majestoso desenvolvimento, mas uma floresta inteira. A semente minúscula encerra em seu garrido berço toda a flor, com sua graça, suas cores, seus perfumes. De igual maneira, a Alma humana possui, em gérmen, todo o desenvolvimento de suas fa-culdades, de suas potências futuras. Se não tivéssemos sob os olhos o espetáculo das metamorfoses vegetais, nós nos recusa-ríamos a crê-lo. As fases de evolução das Almas em seu curso nos escapam, e não podemos compreender atualmente todo o esplendor de seu porvir. Temos, no entanto, um exemplo disso na pessoa desses gênios, que passaram através da História des-lumbrantemente, deixando aos pósteros obras imperecíveis. Tais são as alturas a que se podem elevar as Almas mais atrasadas na escada das vidas inumeráveis, com o auxílio destes dois fatores essenciais: o tempo e o trabalho!

Assim, a Natureza nos mostra, em toda a beleza da vida, o prêmio do esforço paciente e corajoso e a imagem dos nossos destinos sem fim. Ela nos diz que tudo está em seu lugar no Universo; mas também que tudo evolve e se transforma, Almas e coisas. A morte é apenas aparente; aos tristes invernos, sucedem os dias primaveris, cheios de vida e de promessas.

A lei de nossas existências não é diferente das estações. De-pois dos dias de sol, do verão, vem o inverno da velhice, e, com

A floresta é o adorno da Terra

e a verdadeira conservadora do

globo. Sem ela, o solo, arrasta-

do pelas chuvas, cedo voltaria aos

abismos do mar imenso.

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ele, a esperança dos renascimentos e de nova mocidade. A Na-tureza, tal qual os seres, ama e sofre. Por toda parte, sob a onda de amor que transborda no Universo, encontra-se a corrente de dor; mas esta é salutar, pois que, purificando a sensibilidade do ser, desperta nele qualidades latentes de emoção, de ternura, e lhe proporciona assim um acréscimo de vida.

A floresta é o adorno da Terra e a verdadeira conservadora do globo. Sem ela, o solo, arrastado pelas chuvas, cedo voltaria aos abismos do mar imenso. Ela retém as largas gotas da tem-pestade em seus tapetes de relva, no enredamento de suas raízes; ela as economiza para as fontes e as entrega, pouco a pouco, transformadas, tornadas fertilizantes e não devastadoras. Por toda parte em que as árvores desaparecem, a terra se empobrece, perde sua beleza. Gradualmente, chegam a monotonia, a aridez, e, depois, a morte. Regeneradora por excelência, a respiração de suas milhares de folhas1 destila o ar e purifica a atmosfera.

No ponto de vista psíquico, já o vimos, o papel da floresta não é menos considerável. Ela foi sempre o asilo do pensamen-to recolhido e sonhador. Quantas obras delicadas e fortes têm sido meditadas em sua sombra fresca e mutável, na paz de suas potentes e fraternais ramadas! Quem quer que possua alma de artista, de escritor, de poeta, saberá haurir nessa fonte viva e transbordante a inspiração fecunda. Com seu ritmo majestoso, a floresta embalou a infância das religiões. A arquitetura sagrada, em suas mais altivas audácias, não tem feito mais que a copiar. As naves góticas de nossas catedrais são alguma coisa além da imitação pela pedra, das mil colunatas e das abóbadas impo-nentes dos bosques? A voz dos órgãos não é o frêmito do vento, que, segundo a hora, suspira nos rosais, ou faz gemer os grandes pinheiros?

A floresta serviu de modelo às manifestações mais altas da ideia religiosa em sua expansão estética. Nas primeiras idades, ela cobria a superfície quase inteira do globo.

Nada mais impressionante para nossos pais, que a antiga e profunda selva dos gauleses, em sua grandeza misteriosa, com seus santuários naturais, onde se consumavam os ritos sagra-dos, seus retiros por vezes cheios de horror, quando os rumores da tempestade faziam ressoar o eco dos bosques e, do seio das touceiras, subia o grito das feras; cheia de encanto e de poesia, quando, vindo a calma, o céu azul, a cristalina luz aparecia atra-vés da ramada e o canto dos pássaros celebrava a festa eterna da vida. De século em século, a alma céltica guardou o forte cunho da floresta primitiva e o amor de seus santuários, moradas dos Espíritos tutelares que Vercin-gétorix e Joana d’Arc veneraram, dos quais ouviram, na verde solidão, as vozes inspiradoras.

O espírito céltico é ávido de claridade e de espaço, apaixo-nado da liberdade; possui intuição profunda das coisas da alma que reclamam revelação direta, comunhão pessoal com a Natu-reza visível e invisível. Eis por que ele estará sempre em oposição à Igreja Romana, desconfiada dessa Natureza e cuja doutrina é toda cheia de compressão e de autoridade. Os druidas e os bardos lhe foram rebeldes. Apesar das conquistas romanas e das

1 Uma bétula, diz O. Reclus, agita, por si só, duzentas mil folhas, e outros gigan-tes tropicais — um milhão.

invasões bárbaras que facilitaram a expansão do Cristianismo, a alma céltica, por uma espécie de instinto, sempre se sentiu her-deira de uma fé mais larga e mais livre que a de Roma.

Inutilmente os monges procurarão impor-lhe a ideia de as-cetismos e de renúncia, a submissão a dogmas rígidos, a uma concepção lúgubre da morte e do Além; o espírito céltico, em sua sede ardente de saber, de viver e de agir, escapará a esse círculo estreito.

A ideia fundamental do druidismo é a evolução, a ideia do progresso e do desenvolvimento na liberdade. Essa ideia é toma-da, até certa medida, à Natureza e completada pela Revelação.

Com efeito, a impressão geral que ressalta do espetáculo do mundo é um sentimento de harmonia, uma noção de encadea-mento, uma ideia de fim e de lei, isto é, relações eternas dos seres e das coisas. A concepção evolutiva emana do estudo dessas leis. Há uma direção, uma finalidade na evolução, e esse rumo traz o conjunto das vidas, por gradações insensíveis e seculares, para um estado sempre melhor.

O Grande EnigmaLeon Denis

FEB - Federação Espírita Brasileira

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8 Conhecendo a Doutrina Espírita

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É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.

2. Com essas palavras, Jesus mostra claramente que a vida futura, à qual faz referência em muitas circunstân-cias, é a meta a que se destina a humanidade, devendo ser também o objeto das principais preocupações do homem na Terra. Todas as Suas máximas têm relação com esse extra-ordinário princípio. Sem a vida futura, na verdade, a maior parte dos Seus preceitos morais não teria razão de ser. É por isso que aqueles que não crêem na vida futura, imaginando que Jesus só Se referia à vida presente, não compreendem os Seus ensinamentos ou os consideram ingênuos.

Portanto, esse princípio pode ser considerado a base dos preceitos do Cristo. Eis por que foi colocado no início desta obra, pois deve ser a meta de todos os homens. Só ele pode corrigir as anomalias da vida terrena e ajustá-la de acordo com justiça de Deus.

3. Com respeito à vida futura, os judeus apenas possuí-am ideias muito vagas: acreditavam nos anjos, que conside-ravam seres privilegiados da Criação, mas não imaginavam que um dia os homens pudessem se tornar anjos e partilhar de sua felicidade. Para eles, o cumprimento das leis de Deus era recompensado com bens terrenos, com a supremacia do seu povo e com a vitória sobre os inimigos. As calamidades públicas e as derrotas eram a punição pela desobediência. Por esse motivo é que Moisés não pôde falar mais sobre este tema para um povo formado por pastores rudes que se pre-ocupavam, acima de tudo, com as coisas mundanas. Mais tarde é que Jesus veio lhes revelar a existência de um outro mundo, em que a justiça de Deus segue seu curso. É esse o mundo que Ele promete aos que seguem os mandamentos de Deus e onde os bons encontrarão sua recompensa. Esse mundo é o Seu reino. É lá que Ele habita em toda a Sua gló-ria e para onde retornou ao deixar a Terra.

Contudo, ao ajustar Seus ensinamentos à situação dos homens de Sua época, Jesus achou conveniente não lhes pro-porcionar um esclarecimento mais profundo que, ao invés de ensinar, acabaria por confundi-los. Então, limitou-Se a expor a vida futura como uma regra, uma lei da natureza, da qual ninguém pode escapar. Por isso, todo cristão acre-dita forçosamente na vida futura, embora muitos façam dela uma ideia vaga, incompleta, ou mesmo errada quanto a vá-rios pontos. Para outros, trata-se apenas de uma crença, sem certeza absoluta. Daí as dúvidas e até a incredulidade.

Nesse ponto, como em muitos outros, o espiritismo veio complementar o ensinamento de Jesus, no momento em que

os homens já estão preparados para compreender a verdade. Com o espiritismo, a vida futura deixou de ser uma hipótese, um simples artigo de fé, para tornar-se uma realidade mate-rial comprovada por fatos descritos por testemunhas oculares com tantos detalhes que não resta possibilidade de dúvidas. Até mesmo a mais simples inteligência pode fazer ideia do seu verdadeiro aspecto, como se imaginasse um lugar do qual tem apenas uma descrição detalhada. Ora, a descrição da vida futura é tão pormenorizada e as condições de uma exis-tência feliz ou infeliz, daqueles que nela se encontram, são tão racionais que, mesmo a contragosto, precisamos admitir que não podia ser de outra forma e que ela representa a verdadei-ra justiça de Deus.