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FERRO NATIVO – Fe O ferro nativo, também conhecido como ferro telúrico, é um elemento nativo muito raro em função do alto poder de oxidação do ferro. Não possui importância econômica além daquela para mineral de coleção. Diferencia-se dois tipos de ferro nativo com base no teor de carbono. O Tipo 1 contém de 1,7 – 4% de carbono, grãos de ferro nativo com tamanhos de 1 mm e uma estrutura formada por pearlita (ferrita + cohenita) com cohenita ((Fe,Ni,Co)3C). O Tipo 2 contém menos de 0,7% de C e é encontrado como grãos com dimensões de 1 a 18 mm em rochas basálticas. Ferro nativo sempre contém teores variáveis (até 4%) de Ni. Além disso, contém C, Co, Cu, S e P. Há quatro variedades de ferro nativo: carltonita, kamacita, martensita e wickelkmamzita. Ferro nativo é magnético. 1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem Cúbico hexaoctaédrico. Cinza do aço a preto, normalmente oxidado para cores vermelhas. Compacto, lamelar, maciço, gotas, cristais não se conhecem. Perfeita {001} ou {100}, literatura diverge. Tenacidade Maleável Maclas Fratura Dureza Mohs Partição em {111} e {112} Irregular 4 – 4,5 em {112} Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm 3 ) Cinza-aço Metálico Opaco 7,3 – 7,9 2. Geologia e depósitos: Para a formação de ferro nativo é necessário que lavas de composição basáltica intrudam sedimentos muito ricos em carbono, uma situação geológica rara. Desta forma, ferro nativo ocorre associado a rochas ígneas e sedimentares. Ferro nativo é um constituinte principal do núcleo da Terra. Existe uma grande ocorrência de ferro nativo na Groenlândia (Dinamarca), na Ilha de Disko, com blocos de ferro nativo com até 25 toneladas de peso, formada por ferro nativo do Tipo 1. Outras ocorrências bem conhecidas estão na Sibéria e na Alemanha (Bühl, próximo à cidade de Kassel). Ferro nativo também ocorre em fumarolas vulcânicas, em troncos petrificados e misturado com goethita e com matéria orgânica. Ferro nativo extra-terrestre (em meteoritos) é abundante e não será tratado aqui. 3. Associações Minerais: Associa-se aos minerais constituintes das rochas básicas onde ocorre, como feldspatos calcosódicos (plagioclásios), olivina, clinopiroxênios, ortopiroxênios, óxidos (ilmenita, magnetita, rutilo, ulvöespinélio) e sulfetos (pirita, pirrotita, pentlandita). Além disso, aos minerais característicos da paragênese, como cohenita (Fe3C), wüstita (Fe,O), taenita (Fe,Ni), troilita (FeS), schreibersita ((Fe,Ni)3P) e grafita (C). 4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA: Não se aplica, pois o ferro nativo é opaco.

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FERRO NATIVO – Fe O ferro nativo, também conhecido como ferro telúrico, é um elemento nativo muito raro em função do alto poder de oxidação do ferro. Não possui importância econômica além daquela para mineral de coleção.

Diferencia-se dois tipos de ferro nativo com base no teor de carbono. O Tipo 1 contém de 1,7 – 4% de carbono, grãos de ferro nativo com tamanhos de 1 mm e uma estrutura formada por pearlita (ferrita + cohenita) com cohenita ((Fe,Ni,Co)3C). O Tipo 2 contém menos de 0,7% de C e é encontrado como grãos com dimensões de 1 a 18 mm em rochas basálticas.

Ferro nativo sempre contém teores variáveis (até 4%) de Ni. Além disso, contém C, Co, Cu, S e P. Há quatro variedades de ferro nativo: carltonita, kamacita, martensita e wickelkmamzita. Ferro nativo é magnético.

1. Características: Sistema Cristalino Cor Hábitos Clivagem

Cúbico hexaoctaédrico.

Cinza do aço a preto, normalmente oxidado para cores vermelhas.

Compacto, lamelar, maciço, gotas, cristais não se

conhecem.

Perfeita {001} ou {100}, literatura diverge.

Tenacidade

Maleável

Maclas Fratura Dureza Mohs Partição

em {111} e {112} Irregular 4 – 4,5 em {112}

Traço Brilho Diafaneidade Densidade (g/cm3)

Cinza-aço Metálico Opaco 7,3 – 7,9

2. Geologia e depósitos:

Para a formação de ferro nativo é necessário que lavas de composição basáltica intrudam sedimentos muito ricos em carbono, uma situação geológica rara. Desta forma, ferro nativo ocorre associado a rochas ígneas e sedimentares. Ferro nativo é um constituinte principal do núcleo da Terra.

Existe uma grande ocorrência de ferro nativo na Groenlândia (Dinamarca), na Ilha de Disko, com blocos de ferro nativo com até 25 toneladas de peso, formada por ferro nativo do Tipo 1. Outras ocorrências bem conhecidas estão na Sibéria e na Alemanha (Bühl, próximo à cidade de Kassel).

Ferro nativo também ocorre em fumarolas vulcânicas, em troncos petrificados e misturado com goethita e com matéria orgânica.

Ferro nativo extra-terrestre (em meteoritos) é abundante e não será tratado aqui.

3. Associações Minerais:

Associa-se aos minerais constituintes das rochas básicas onde ocorre, como feldspatos calcosódicos (plagioclásios), olivina, clinopiroxênios, ortopiroxênios, óxidos (ilmenita, magnetita, rutilo, ulvöespinélio) e sulfetos (pirita, pirrotita, pentlandita).

Além disso, aos minerais característicos da paragênese, como cohenita (Fe3C), wüstita (Fe,O), taenita (Fe,Ni), troilita (FeS), schreibersita ((Fe,Ni)3P) e grafita (C). 4. MICROSCOPIA DE LUZ TRANSMITIDA: Não se aplica, pois o ferro nativo é opaco.

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5. MICROSCOPIA DE LUZ REFLETIDA: Preparação da amostra: o polimento do ferro nativo exige certos cuidados em relação à temperatura alcançada durante desbaste e polimento, caso contrário as características do ferro se alteram. Sua dureza ao polimento é elevada, mas mais baixa que aquela da magnetita. Ferro polido embaça com muita rapidez, o que não deixa de ser um aspecto diagnóstico.

ND Cor de reflexão: Branca puro a cinza claro. Levemente azulado se comparado com cohenita, que participa da paragênese.

Pleocroísmo: Não.

Refletividade: 58% Birreflectância: Não.

NC Isotropia / Anisotropia: Isótropo, completamente escuro em todo o giro da platina.

Reflexões internas: Não apresenta.

Pode ser confundida com: platina pode ser muito semelhante, mas não mostra a turvação rápida que o ferro nativo polido sofre e mostra cor de reflexão levemente mais escura. A cohenita ((Fe,Ni,Co)3C), que se associa, tem a cor um pouco mais amarela e é anisótropa.

Forma dos grãos: geralmente ocorre como segregações em forma de gotas ou agregados esponjosos. Grãos melhor desenvolvidos, bastante raros, possuem forma poligonal e se apresentam bastante intercrescidos.

Turvação ou corrosão ao ar: a umidade atmosférica ataca com muita rapidez o ferro nativo que ocorre associado a basaltos. Os processos de oxidação podem ser evitados cobrindo a seção com verniz.

Intercrescimentos por exsolução de cohenita lamelar, orientadas paralelamente a {111} do ferro nativo, são chamadas de pearlita. A formação de cohenita ou pearlita como massa fundamental depende do teor de carbono (consultar bibliografia específica). A pearlita altera depois para oxipearlita ou hidroxipearlita.

Maclas não ocorrem. Mas são abundantes em meteoritos e na metalurgia.

Clivagem não ocorre.

Zonação não ocorre.

Inclusões de wüstita podem estar presentes.

Envelopes ao redor do ferro nativo podem ser de ilmenita, pirrotita, cohenita, cobre nativo ou magnetita.

Envelopes de ferro nativo ocorrem ao redor de mackinawita.

Alteração faz surgir com nitidez os cristais tabulares de cohenita naquele ferro nativo com teores elevados de cohenita.

Alteração de ferro nativo pode ser para hematita coloforme, goethita ou magnesioferrita. Wüstita altera para magnetita e ferro nativo.

Intercrescimentos orientados de ferro nativo com magnetita podem ocorre de forma muito bem desenvolvida.

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A ND, observado com a objetiva de 5x, ferro nativo (branco) em basalto, da ocorrência em Bühl (Kassel, Alemanha). É possível ver as grande variação de formas e tamanhos das gotas de ferro nativo bem como as variações na densidade das gotas na rocha. Na ocorrência haviam blocos de até 13,7 kg de ferro. Na amostra disponível ocorrem regiões na rocha com ferro e regiões sem ferro nenhum; o contato entre duas destas regiões está ilustrado na imagem à direita em baixo.

As gotas de ferro tipicamente apresentam contatos serrilhados com os silicatos envolventes e podem mostrar crostas, contínuas ou não, de espessuras variáveis, de vários minerais diferentes; muito comum é troilita (cores creme, como pirrotita).

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Minerais da paragênese de ferro nativo: Cor de

reflexão Refle-

tividade Pleo-

croísmo Birre-

flectância Isotropia

Anisotropia Reflexões internas

Ferro nativo Branco puro, algo azulado

58% Não Não Isótropo, totalmente escuro.

Não

Cohenita Creme branco 57-59% Fraco Não Anisotropia fraca, comparar grãos.

Não

Schreibersita Creme claro 52% Não Não Anisotropia em cinza e marrom

Não

Taenita Cinza escuro (silicatos!)

7% Não Não Isótropo Não

Troilita Marrom claro, como a pirrotita

40% Discreto Não Anisotropia distinta cinza a azulado

Não

Wüstita Cinza médio 18,65% Não Não Isótropa Não

Versão de abril de 2020

A ND, ferro nativo (branco) em basalto (cores escuras) da ocorrência em Bühl (Kassel, Alemanha), mostrando as variações de forma e tamanho em detalhe. A NC a imagem é completamente escura.

A ND, ferro nativo (branco) e outros (troilita, etc.) da ocorrência de Disko (Groenlândia), com elevado grau de alteração para minerais secundários de ferro (goethita) e outros, que apresentam cores cinza-azuladas.