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B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 42(2) :233-40, jul./dez. 1985 F ESTUDO DE RAÇOES COM DIFERENTES FONTES PROTEICAS PARA LEITOES DESMAMADOS PRECOCEMENTE (TRES SEMANAS). I. DIGESTIBILlDADE E PERFORMANCE ATE 25 KG DE PESO VIVO (1 ) (A study to compare differents protein sources in the diets of pigs weaned at three weeks age. I. Digestibility and performance to 25 kg tive weight) MARCIO POMPÉIA DE MOURA (2) e VERNON R. FOWLER (3) RESUMO: 168 leitões foram utilizados para avaliar quatro rações oferecidas da terceira semana de idade até 25 kg de peso vivo. Simultaneamente, 28 leitões foram usados em ensaio de metabolismo com as mesmas rações. Cada quilo da ração controle (3) possuia 225' g de proteína bruta (PBl. 17 g de lisina, 62 g de óleo de soja e 4.230 kcal de energia digestível (E D). As outras rações foram formuladas para ter a mesma relação proteína bruta e lisina por kcal, Todas tinham como fonte energética uma mistura de milho floculado mais aveia. O suplemento protéico constituiu-se de farinha de peixe e leite em pó desnatado (ração 3), farelo de soja integral (ração 1), farelo de soja com adição de lisina e óleo de soja para obter semelhante teor da ração anterior (ração 2) e farelo de soja com adição de lisina mas sem óleo (ração 4). Após a desmama, os leitões foram colo- cados em creches, em grupos de sete animais cada um, constituíndo a unidade experi- mental. O ganho em peso vivo dos leitões com a ração 3 foi de 484 g/dia nas duas pri- meiras semanas (período I) e de 534 g/dia no espaço de tempo de cinco semanas (perío- do 11). Para os tratamentos 1, 2 e 4, os ganhos em peso vivo, em g/dia, foram 375 e 474, 361 e 447, e 351 e 447, respectivamente (P < 0,05). A energia, em kcal, necessária por quilograma de ganho em peso vivo foi 6.550, 6.520, 5.810 e 6.430, respectivamente para as rações 1, 2, 3 e 4 (P < 0,05). Os resultados do ensaio de metabolismo mostraram a superioridade da ração 3, com 91 ,7%de digestibilidade da matéria secae 93,3%do nitro- gênio (P < 0,05). Tal superioridade foi devida à melhor disponibilidade de proteína em relação à capacidade digestiva dos leitões. INTRODUÇÃO A desmama de leitões aos trinta dias de ida- de vem sendo utilizada de manei ra crescente pelos suinocultores e uma das razões de seu êxito está intimamente ligada à utilização de rações contendo leite em pó, farinha de peixe e, de maneira mais técnica, cereais tostados; apresentam, porém, o incoveniente de serem extremamente caras. A performance e o estado geral dos leitões que rece- bem fontes protéicas de baixo custo são normal- mente inferiores aos alimentados com rações de alto custo. (1) Recebido para publicação em março de 1985. (2) Da Divisão de Zootecnia Diversificada. (3) Do Rowett Research Institute. Aberdeen, Escócia. Um dos trabalhos pionei ros nesta área foi realizado por HAYS et alii 11 , que constataram efeitos negativos sobre a performance e crescente número de óbitos quando forneceram aos leitões ração contendo 39,7% de farei o de soja. BLAIR S assinala que de cinco leitões que receberam ração contendo 38% de farelo de soja, quatro tiveram que ser abatidos em decorrência de complicações metabólicas. Resultados seme- lhantes foram encontrados por G RAHAM et alii 10 e por KE LLOGG et alii l 2; os primeiros 233

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Page 1: ESTUDO DE RAÇOES COM DIFERENTES FONTES PROTEICAS … · vel com óleo vegetal e a totat substituição do fare-10 de soja por leite em pó e farinha de peixe. Em trabalho que se

B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 42(2) :233-40, jul./dez. 1985

F

ESTUDO DE RAÇOES COM DIFERENTES FONTES PROTEICAS PARA LEITOESDESMAMADOS PRECOCEMENTE (TRES SEMANAS). I. DIGESTIBILlDADE

E PERFORMANCE ATE 25 KG DE PESO VIVO (1 )

(A study to compare differents protein sources in the diets of pigs weaned at three weeks age.I. Digestibility and performance to 25 kg tive weight)

MARCIO POMPÉIA DE MOURA (2) e VERNON R. FOWLER (3)

RESUMO: 168 leitões foram utilizados para avaliar quatro rações oferecidas da terceirasemana de idade até 25 kg de peso vivo. Simultaneamente, 28 leitões foram usados emensaio de metabolismo com as mesmas rações. Cada quilo da ração controle (3) possuia225' g de proteína bruta (PBl. 17 g de lisina, 62 g de óleo de soja e 4.230 kcal de energiadigestível (ED). As outras rações foram formuladas para ter a mesma relação proteínabruta e lisina por kcal, Todas tinham como fonte energética uma mistura de milhofloculado mais aveia. O suplemento protéico constituiu-se de farinha de peixe e leite empó desnatado (ração 3), farelo de soja integral (ração 1), farelo de soja com adição delisina e óleo de soja para obter semelhante teor da ração anterior (ração 2) e farelo desoja com adição de lisina mas sem óleo (ração 4). Após a desmama, os leitões foram colo-cados em creches, em grupos de sete animais cada um, constituíndo a unidade experi-mental. O ganho em peso vivo dos leitões com a ração 3 foi de 484 g/dia nas duas pri-meiras semanas (período I) e de 534 g/dia no espaço de tempo de cinco semanas (perío-do 11). Para os tratamentos 1, 2 e 4, os ganhos em peso vivo, em g/dia, foram 375 e 474,361 e 447, e 351 e 447, respectivamente (P < 0,05). A energia, em kcal, necessáriaporquilograma de ganho em peso vivo foi 6.550, 6.520, 5.810 e 6.430, respectivamente paraas rações 1, 2, 3 e 4 (P < 0,05). Os resultados do ensaio de metabolismo mostraram asuperioridade da ração 3, com 91 ,7%de digestibilidade da matéria secae 93,3%do nitro-gênio (P < 0,05). Tal superioridade foi devida à melhor disponibilidade de proteína emrelação à capacidade digestiva dos leitões.

INTRODUÇÃO

A desmama de leitões aos trinta dias de ida-de vem sendo utilizada de manei ra crescente pelossuinocultores e uma das razões de seu êxito estáintimamente ligada à utilização de rações contendoleite em pó, farinha de peixe e, de maneira maistécnica, cereais tostados; apresentam, porém,o incoveniente de serem extremamente caras. Aperformance e o estado geral dos leitões que rece-bem fontes protéicas de baixo custo são normal-mente inferiores aos alimentados com rações dealto custo.

(1) Recebido para publicação em março de 1985.(2) Da Divisão de Zootecnia Diversificada.(3) Do Rowett Research Institute. Aberdeen, Escócia.

Um dos trabalhos pionei ros nesta área foirealizado por HAYS et alii11

, que constataramefeitos negativos sobre a performance e crescentenúmero de óbitos quando forneceram aos leitõesração contendo 39,7% de farei o de soja.

BLAIRS assinala que de cinco leitões quereceberam ração contendo 38% de farelo de soja,quatro tiveram que ser abatidos em decorrênciade complicações metabólicas. Resultados seme-lhantes foram encontrados por GRAHAM etalii10 e por KE LLOGG et aliil 2; os primeiros

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AA. constataram inferior performance de leitõesdesmamados com duas semanas e que receberamrações contendo 29,5% de farelo de soja, emboraos animais registrassem recupera;:ão uma a duas se-manas após a desmama

A razão das baixas performances dos lei-tões que receberam farelo de soja em alta porcen-tagem não está inteiramente clara, haja vista quea maioria dos trabalhos realizados não inclu ía, emseu delineamento, o adequado balanceamentoentre energia digestível, proteína e lisina

Entre as diversas hipóteses que buscamexplicar essas baixas perform ances destaca-se ade que alguma característica ffsica ou químicaafete a digestibilidade da prote ína. Assim, HAYSet alií11

, trabalhando com leitões com cincosem anas de idade, encontraram reduzida diqesti-bilídade para o farelo de soja quando o compa-raram ao leite em pó. Recentemente, KJE LDSENet alíil4, fornecendo ração contendo 34% defarelo de soja a leitões desmamados às quatro

semanas de idade, observaram baixo ganho empeso e má conversão alimentar, em confrontocom ração contendo farinha de peixe.

Sob o ponto de vista prático, o criador temque decidir entre o ótimo resultado da pe rfor-mance e o custo da ração. Tal decisão não podeser tomada c?nsiderando-se somente o períodode crescimentCi até os oito ou dez meses de idade,devendo-se ponderar, também, o desenvolvimentointegral até O período de abate.

o presente ensaio foi conduzido visando aquantificar o desempenho de leitões desmamadossubmetidos a rações contendo farelo de grãos desoja moídos - o tradicional farelo de soja -, bemcomo o efeito de prover parte da energia dlqestf-vel com óleo vegetal e a totat substituição do fare-10 de soja por leite em pó e farinha de peixe. Emtrabalho que se segue discute-se o efeito de dife-rentes rações até 25 kg na subseqüente pe rformancede su (nos até 80 kg de peso vivo.

MATERIAL E M~TODOS

o presente experimento foi realizado eminstalações do Applied Nutrition Department doRowett Research Institute, em Aberdeen, Escócia.

Material biológico

Foram utilizados 168 leitões provenientesde cruzamentos entre machos large-white e fêmeasmestiças (landrace x larqe-whlte). desmamados ecastrados com três semanas. Grupos de quatroleitões cada um foram selecionados com base nopeso e na idade, sendo que dentro dos grupos cadaleitão foi colocado em um dos quatro tratamen-tos; em cada tratamento havia grupos de seteanimais. Cada bloco experimental possuia 28animais, sendo formados seis blocos.

Em experimento simultâneo de metabolis-mo foram usados 28 machos castrados, com idadevariando entre quatro e seis sem anas.

Tratamentos

A composição das rações é mostrada no qua-dro 1. Elas foram formuladas para conter as mes-mas relações proteína/lisina e proteína/energiadigestível, estabelecendo-se a composição finalde acordo com as exi'gências do AGRICULTURALRESEARCH COUNCI LI. Todas as rações conti-nham milho floculado e aveia como principaisfontes de energia. O farelo de soja integral moídofoi empregado como fonte de proteína na ração 1.Os principais componentes p rotéicos da ração 3foram o leite em pó desnatado e a farinha de peixe,em substituição à proteína vegetal da soja. A ração4 tinha no farelo de soja a principal fonte pro-télca, sendo similar à ração 2, porém sem a adiçãode óleo vegetal. As rações 1, 2 e 4 receberam aadição de lisina para balancear adequadamente arela;:ão proteína/lisina. DL-tocopherol-acetato eEndox foram acrescidos nas rações 2 e 3, comoantioxidantes.

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Quadro 1. Composição (g/kg) das rações experimentais

Rações

Ingredientes 2 3 4

Milho floculado (8,5%) 270,5 216,6 231,2 332,5Aveia prensada (15,5%) 264,8 214,8 230,0 322,0

4,- Farinha de peixe (65,0%) 127,5Leite em pó desnatado (34,0%) 347,1Farelo de soja (44,0%) 437,2 305,0Farelo de soja integral (38,0%) e) 429,0Óleo de soja 97,0 62,0Llislna 3,5 2,2 3,5Fosfato bicálcico 15,0 15,0 15,0Calcáreo cálcico 10,0 10,0 10,0Vitaminas e minerais e) 2,2 2,2 2,2 2,2Sal comum 5,0 5,0 5,0Proteína bruta (gikg)

Calculada 229 250 255 219

Analisada 224 240 257 215

Energia digest ível (kcal /kg)

Calculada 3.807 4.127 4.230 3.635

Determinada 3.766 3.910 4.180 3.556Usina (g/kg) 15,23 16,44 17,00 14,61

Relação PB/ED (g/kcal) 60,2 60,6 60,3 60,2PB/lisina (g/g) 15,0 15,2 15,0 15,0

(1) Grão de soja moído submetido a processanento industrial por aquecimento (produto comercial).

e) Por kg de ração: 5.000 UI de vitamina A, 1.000 UI de colicalciferol, 2,5 mg a - acetato de tocofe-rol, 2 mg de riboflavina, 5 mg de DL-pantotenato de cálcio, 5 mg de ácido nlcotínlco, 6 JJ. de cianocoba-lamina, 1 mg de vitamina K, 175 mg de Cu, 100 mg de Zn, 40 mg de Mn, 50 mg de Fe, 0,5 mg de Co,2 mg de I e 0,1 mg de Se.

Manejo

Durante o aleitamento, todos os leitõestiveram acesso à alimentação espec ífica. Apósa desmama, receberam ração inicial comercial,antes de serem distribuídos nas creches. O ali-mento foi dado à vontade, sendo os cochos limpose completados diariamente. Cada grupo de sete

leitões desmamados foi colocado em crechesmedindo 2,30 m x 1,00 m, existindo seis cre-ches em cada compartimento. A temperatura foimantida a 260C. A água foi forneci da através dedois bebedouros tipo chupeta em cada creche.As pesagens e o controle de ingestão de alímen-tos foram efetuados a intervalos de sete dias.

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Ensaio de metabolismo

Os leitões foram colocados em gaiolas dedigestibilidade medindo 0,99 m x 0,58 m. Operíodo pré-experirnental compreendeu seis dias;nos três primeiros foi-Ihes fornecida uma rsçãoúnica e nos três dias restantes as respectivas ra-ções experimentais. O período de coleta foi desete dias. A quantidade de ração oferecida foi ba-seada em escala, considerando-se a ingestão de5.975 kcal de E D/kg WO ,6 3 por dia. Dividiu-sea quantidade diária em três porções, dadas às9:00, 12:30 e 14:00 horas. As fezes foram coleta-das em bandejas de polietileno e transferi das dia-riamente para um recipiente com adequada acidezdo meio, através da adição de ácido sulfúricodllu ído. A urina foi recolhida em' funis providosde lã de vidro e transferida diariamente para reci-piente com controle de acidez pel a adição deácldo sul fú rico. As sobras das rações foram cole-tadas em bandejas de metal e transferidas diaria-

mente a um recipiente. Admitiu-se ser a composi-ção das sobras a mesma das reções. A água foi ofe-recida à vontade, por bebedouro tipo chupetainstalado em cada gaiola.Amostragem e métodos químicos

Ao final de cada período, efetivou-se uma"amostragem composta" de fezes, para determi-nação de matéria seca, nitrogênio e cinzas. Cole-tou-se uma amostragem de urina para determina-ção de nitrogênio e outra amostra de fezes e urinapara determinação de energia, através de umabomba calorimétrica. O nitrogênio foi determi-nado pelo método macro-Kjeldahl, usando-se oprocesso automático descrito por DA V IDSON etaliíl!. As cinzas foram determinadas por queimado material em mufla, segundo metodologia des-crita pel a AOAC2

A análise de varlâncla foi em blocos casua-Iizados e na comparação de média empregou-seo método de Duncan.

RESULTADOS E DISCussAo

Performance, conversão alimentar e consumo

Os resultados para ganho em peso, consumode alimentos e conversão alimentar são, mostra-dos no quadro 2.

Durante o período I (duas primeiras sema-nas), a média de ganho em peso dos animais quereceberam a ração 3 foi superior em 20,1%. 34,1%e 37,9% às das rações 1, 2 e 4, respectivamente(P < O,Ol). Na mesma ordem, a conversão alimen-tar da ração 3 apresentou superioridade em 29,9%,17,9%e32,1% (P<0,01).

Durante todo o experimento (período 11,até cinco semanas de idade), a média de ganho empeso proporcionada pela ração 3 suplantou em12,7%, 19,5% e 19,5% as das rações 1, 2 e 4, res-pectivamente (P < 0,001). Na mesma ordem, aração 3 mostrou superioridade de conversão ali-mentar em 19,4%, 11,8% e 23,6%.

O consumo foi pouco afetado no período I,no qual os animais da ração 2 ingeriram menosalimento do que os das 1 e 3 (P < 0,001), sem,todavia, diferir significativamente dos da ração 4.Durante o período total não houve diferençassignificativas entre as rações 1, 3 e 4.

Os animais da ração 2 apresentaram melhorconversão alimentar em relação aos das 1 e 4

(P < 0,05), apesar de o ganho em peso dos da ra-ção 1 ter sido 6,5% superior ao das 2 e 4, porémcom di ferença não-significativa.

Os resultados de conversão alimentar pare-cem um tanto complicados, pelo fato de as raçõesnão possuirem densidade energética similar. sendoclaro que os animais da ração 4, que não continhaóleo de soja, denotaram conversão alimentar muitoinferior aos das rações 2 e 3.

Considerando-se a conversão alimentar emtermos de energia digestfvel, a melhor relação kcalde ED/ganho em peso foi da ração 3, ao passo queas das 1, 2 e 4 foram inferiores em 7,8%, '8,6% e6,3%, respectivamente (P < 0,05). Durante operíodo I, a mesma relação revelou pioras em12,7%, 12,3% e 9,7%, ao se comparar as rações1,2 e 4 com a 3 (P < 0,05).

Ensaio de metabolismo

Os resultados do ensaio de metabolismo sãomostrados no quadro 3. A porcentagem de díqetl-bílidade aparente da matéria seca da ração 3 foi10,1, 6,9 e 8,0 melhor do que as das rações 1, 2 e4, respectivamente (P < 0,001); para o nitrogênio,os índices de superioridade, na mesma ordem,foram de 14,2%, 8.2% e 12,4% (P<0,001).

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Quadro 2. Efeitos das rações sobre o ganho em peso, conversão alimentar, consumo de rações e relaçãokcal de ED/kg de ganho, para leitões dos 25 dias de idade até duas semanas (período J) e atécinco semanas (período 11) de idade

Rações

2 3 4 sm CV(%)

Grupos (sete leitões cada um) 6 6 6 6,,- Duração (em dias) 35 35 35 35Peso inicial (kq) 7,29 7,44 7,65 7,41 0,20 4,70Peso final (kg) 23,95 23,08 26,34 23,07Ganho/dia/animal (g)

375b e) 351bPeríodo I 361b 484a 22,4 9,8Período 11 474b 447b 534a 447b 33,3 7,3

Conversão alimentarPeríodo I 1,74C 158b 1,34a 1,77c 0,05 6,3Período 11 1,72c 1'61 b 1,44a 1,78c 0,04 4,7

Consumo de ração (g/dia/animaJ)567b 615abPeríodo I 651a 653a 22,7 6,9

Período 11 851a 718b 763ab 796a 40,9 6,3Relação ED/ganho (kcal/g)

5,81bPeríodo I 6,55a 6,52a 6,43a 0,22 6,2Período 11 6,57a 6,62a 6,16b 6,48a 0,17 4,7

(1) Médias com letras diferentes são significativas entre si (P < 0,05).

Quadro 3. Resultados do ensaio de metabolismo com leitões com cinco semanas de idade

Rações

2 3 4 sm cv (%)

.,..

Peso médio (kg) (1) 11,7 12,6 13,1 12,3 0,72 10,9

Digestibilidade aparente

Matéria seca (%) 83,3b (2) 85,8b 91,7a 84,9b 1,28 2,8

Matéria orgânica (%) 85,4c 88,1b 94,Oa 87,2bc 1,18 2,5

Nitrogênio (%) 81,8c 86,2b 93,3a 83,Obc 1,57 3,4

~Ilnho em peso (kg Wo, 7S) 1,850b 1,880b 2,350a 1,920b 0,091 8,5

Nitrogênio retido (g/dia/kg Wo, 7 S) 11,7b 12,7b 16,2a 12,6b, 0,96 13,5

Nitrogênio retido/nitrogênio ingeridO (%) 55,6b 57,8b 68,5a 57,9b 2,47 7,7

(1) Médias dos pesos inicial e final.(2) Médias com letras diferentes são significativas entre si (P < 0,05).

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A retenção de nitrogênio (g/día) e a porcen-tagem de retenção de nitrogênio em relação aonitrogênio foram maiores na ração 3 (P < 0.01),não havendo diferenças signi 1icativas entre as ra-ções 1. 2 e 4.

Os su tnos que receberam as rações' 1. 2 e4 mostraram menor consistência das .fezes e umanimal teve de ser substitu ído. por causa de inten-siva diarréia.

O que mais se destaca no presente ensaioé. sem dúvida. a superior performance dos animaisque receberam a ração 'Contendo leite em pó efarinha de peixe (3). As contendo farelo desoja e óleo (1 e 2) não apresentaram nenhum a van-tagem sobre a sem a adição de óleo (4). A superio-ridade da ração 3 foi marcante durante as duas pri-meiras semanas após a desmama. quando. provavel-mente. foi bem mais facilmente digerida pelas enzí-mas do trato fisiologicamente imaturo dos leitões.Isso é. em parte. confirmado pelos resultados doensaio de metabolismo.

Resultados semelh antes foram encontradospor ARMSTRONG & CLAWSON3• que ressal-tam o efeito positivo dos produtos de leite em ra-ção composta de milho e farelo de soja, oferecida aleitões durante o período da desmama até as duassemanas de idade.

Pelas observações do presente ensaio.pode-se considerar que os leitões que receberamrações contendo farelo de soja não mostraramresultados totalmente negativos. quando compara-dos a resultados da prática. O que se torna aindamais evidente ao se ponderar que não houve óbi-tos, apesar de as rações não encerrarem àntlbló-ticos ou outro agente antibacteriano, além do sul-fato de cobre.

Conquanto os leitões possam digerir princi-palmente mono e dissecarfdeos. a oferta de raçõescontendo carboidratos mais complexos induzao desenvolvimento de enzimas arnilol íticas,

O bom estado dos animais pode. em parte.ser creditado à utilização de milho floculado.AUMAITRE4 e BORGIDA6 observaram melhordigestibilidade do nitrogênio quando empregaramo milho floculado em lugar do milho em grão.

O processo de floculação provavelmenterompe a estrutura do grão de amido e permite oincremento da digestibilidade. LAWRENCE1S re-lata que a floculação causa rnaior disponibilidadede am ido para os leitões.

Além disso. o tratamento com calor reduza possibilidade da atividade antigênica da p roteínado cereal.

A pior performance dos leitões desmamadosprecocemente e que receberam prote (na de soja.em substituição ao leite em pó ou farinha de pei-xe. tem sido ampl amente citada por diversos

5 16AA. entre eles BLAIR • LEIBHOLZ e OKAIetaliil7.

No presente ensaio. a reduzida performancedos leitões que receberam rações contendo farelode soja está de acordo com a menor digestibílidadeda matéria seca e do nitrogênio. Ressultados seme-lhantes foram obtidos por BLAIRs• COMBS etalii7• HAYS et alii11 e OKAI et aliil7. LEIB-HOLZ16 relata a baixa digestibilidade da matériaseca e do nitrogênio do farelo de soja em compara-ção ao leite em pó desnatado. OWSLEY et alii18

t

estudando a digestibilidade do nitrogênio. energia ematéria seca. conclu trarn que a adição de leite empó nas rações para leitões. especi almente na p ri-meira semana. apresenta resultados superiores aosde rações elaboradas com base no milho e farelode soja.

Recentemente. KIDDER13 sugeriu que po-de ocorrer uma reação imunológica que interfereno processo digestivo. enquanto FOWLER9

informa que a imaturidade digestiva do trato éincapaz de reagir imediatamente à troca para pro-teínas de soja ou outros vegetais.

CONCLUSOES

As mais relevantes questões que podem serauferidas do presente ensaio referem-se a estudosfuturos ae como um tratamento digestivo imaturode leitão desmamado precocemente pode evoluiratravés de um programa adequado de trocas por

rações de menor custo, em função da desvanta-gem em utilizar uma ração altamente digestível(como a 3), com custo de produção de tal formaelevado que inviabilíze seu emprego por períodosprolongados.

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B. Indústr. anim., Nova Odessa,SP, 42(2) :233-40, jul./dez. 1985

SUMMARY: One hundred and sixty-eight piglets were used in an experiment to avaluate4 diets given from weaning at 3 weeks of age until the animal reached a live weight of25 kg. The control diet (3) contained in each klloqrarn 255 9 of crude protein (CP),17 9 of Iysine, 62 9 of added sova oll and 17.7 MJ of digestible energy (DE). Twenty-eight piglets were used in a metabolism trial. The other diets were formulated to containthe same ratio of crude protein and Iysine per MJ. The cereal component of ali diets wasprovided by equal portions of flaked maizeand rolled oat groats. The protein supplementwas either equal parts of white fishrneal and milk (3), heat-treated full-fat soyabean meal(1). soyabean meal with added Iysine hydrochloride and sova oil to give the same oilas in the previous diet (2), and soyabean meal added Iysine but no added oil (4). Afterweaning piglets were accomodated in srnall cagesin groups of 7, each group constitutingone experimental unit. The growth of piglets on the control diet (3) was outstandinq,daily gains being 484 g/day in the first 5 weeks. Comparable pairs of results were 373and 474, 361 and 447, and 351 and 447 g/day for pigs on treatments 1, 2 and 4respectively (P < 0.05) and kcal required per kilogram of live-weight gain were 6,550,6,520, 5.810 and 6,430 for 1, 2, 3 and 4 respectively (P < 0.05). The metabolism trialshowed diet 3 assuperior, digestibilities of dry rnatter (%) and nitrogens (%) and nitrogenratio (g/day/kgWO,7S) were 83.3, 81.8 and 41.7; 85.8,86.2 and 12.7; 91.7,94.0and 16.2; 84.9,83.0 and 12.6 to diets 1,2,3 and 4 respectively. It is concluded theadvantage of.jhe control diets is in the suitability of the protein fraction to the digestivecapacity of the young pig.

AGRADECIMENTOS

À Embrapa - Empresa 8rasilei ra de Pesquisa Agropecuária, ao Instituto deZootecni a aos Srs. J. Wood, Rosemary Fordyce e R. McWilliam, membros do Rowett Research Institute.

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