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MISSING
O caso de norte-americanos vítimas da violência política no Chile na década de 1970
Talita de Oliveira Costa
Mestranda em História- UFF
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar o caso de norte-americanos vítimas da violência política que inaugurou o regime ditatorial pinochetista na década de 1970 no Chile. A análise chama atenção para as trajetórias de alguns membros da revista Fuente de Información Norte-americana, que foram alvos da repressão a partir de uma reflexão sobre a obra cinematográfica “Missing” do diretor Costa Gravas – 1982. O filme retratou o desaparecimento do jornalista norte-americano Charles Horman e o processo de busca empreendido por sua família até encontrá-lo.
Palavras-chave: Chile, EUA, memória.
Abstract
This paper aims to present the case of American victims of political violence that inaugurated the Pinochet dictatorship in Chile in the 1970s. The study highlights the trajectories of some members of the magazine Fuente de Información Norte-Americana, who were target of repression, starting from a reflection on the film "Missing" directed by Costa Gravas – 1982. The film focuses on the disappearance of U.S. journalist American Charles Horman and underlines the pursuit process undertaken by his family until find him. Keywords: Chile, USA, memory.
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A minha incursão no campo das relações interamericanas e o meu primeiro contato
com os estudos sobre a ditadura chilena foram motivados pela análise do filme Missing, do
diretor Costa Gravas. Essa obra traduziu em imagens a história de Charles Horman, um
jornalista residente no Chile desde 1972 que foi preso e morto nos primeiros dias da
ditadura civil-militar pinochetista. Em meio ao cenário de brutalidade sobre o qual se
construiu o regime autoritário chileno, essa narrativa, para além das circunstâncias de vida
e morte do personagem principal, dedica um olhar especial ao processo de busca
empreendido por sua esposa Joyce e por seu pai Edmund, que sai dos EUA e vai ao
encontro da nora para apoiá-la na procura do filho.
“The execution of Charles Horman: an american sacrifice”1 , livro de Thomas
Hauser editado em 1978 inspirou o roteiro do filme, servindo de base ao trabalho
cinematográfico Missing, lançado em 1982. Tanto a literatura quanto o cinema tentaram
dar conta da motivação para a prisão e morte de Charles. A sugestão é a de que Charles
teria sido alvo da repressão por ter acompanhado, por acaso, a movimentação golpista.
Livro e filme também denunciam a intervenção norte-americana na queda do governo
Allende, problematizando o significado da morte de um norte-americano, sacrificado em
prol de um objetivo político-estratégico – superior ao compromisso legal da Embaixada de
resguardar a vida e a segurança de seus cidadãos fora da América –, o de não publicizar a
cumplicidade fixada entre aquela democracia e a ditadura civil-militar chilena.
Às vésperas do golpe Charles acompanha a amiga Terry Simon a uma rápida visita
a cidade de Viña del Mar, antes que Terry, na ocasião a passeio, embarcasse de volta aos
Estados Unidos. Joyce, no entanto, ficou impossibilitada de se afastar de Santiago em
razão da renovação de seu visto. Era 10 de setembro, Charles e Terry, ao final da visita
turística, foram obrigados a permanecerem na cidade, hospedando-se no hotel Miramar
devido ao fechamento das estradas da região. Já haviam se iniciado os últimos preparativos
para a derrubada do governo da Unidade Popular. Na manhã seguinte, 11 de setembro, os
dois amigos tomaram conhecimento do golpe, deflagrado pela Marinha atracada em
Valparaíso. Terry e Charles, durante o período em que ficaram retidos no hotel, entraram
em contato com diversos militares norte-americanos envolvidos na operação. Na esperança
de retornarem a Santiago, mantiveram, por cerca de uma semana, diálogo constante com os
militares. Foi através das conversas com funcionários das Forças Armadas norte-
1 A edição brasileira do livro ganhou o título Desaparecido: um grande mistério (Missing) e foi publicada pela Editora Record.
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americanas, que puderam entender em que bases se dava a participação dos Estados
Unidos naquela manobra. As informações reunidas pela dupla foram registradas em um
caderno.
Ciente da situação vivida por Charles e Terry, Patrick Ryan, subchefe da missão
naval dos Estados Unidos na cidade, se mostrou disposto a ajudá-los. Primeiramente,
permitiu a utilização da aparelhagem militar para transmissão de uma mensagem,
tranquilizando seus respectivos familiares nos EUA. Em seguida, intercedeu em seu
benefício, conseguindo lhes uma carona para Santiago com Ray Davis – 1º homem da
Marinha americana: comandante da seção naval no Chile.
No que se refere à análise fílmica, esse estudo se aproxima da perspectiva de
Pollack, a qual insinua a apreciação do filme como um objeto de memória, que guarda a
possibilidade de identificação de um discurso específico dentro da realidade política-
ideológica de uma sociedade historicamente localizada no tempo e no espaço. Compreendo
este filme como uma válvula de acesso a mais uma, dentre outras, formas de representação
da realidade, capaz de captar, de uma maneira particular, um imaginário coletivo e
evidenciar memórias individuais que naquele contexto de produção e lançamento da obra
emergiam e circundavam o debate político suscitado pela candidatura e governo de Jimmy
Carter (1977- 81), levantando a discussão da temática dos direitos humanos no cenário
interno norte-americano. E tendo, ainda, como referência o trabalho de Margaret Power,
suponho que Missing possa ser considerado um produto da segunda fase do Movimento
em Solidariedade ao Chile, período que circunscreve os dezessete anos nos quais vigorou a
ditadura pinochetista. Em linhas gerais, a autora observa que essa tendência significou uma
resposta contrária ao regime autoritário com vistas a dar suporte às vítimas do terror
instaurado e a difundir o preceito da defesa dos direitos humanos como referência para a
política externa norte-americana.
Sem desprezar a importância do filme em divulgar o caso Horman, projetando-o
internacionalmente, sublinho o fato de que tramas secundárias do filme, intimamente
relacionadas a Charles, despertaram, sobretudo, o meu interesse. Refiro-me à revista
Fuente de Información Norte-americana (FIN) publicada no Chile, da qual Charles e
demais norte-americanos participaram. Resumidamente, o trabalho dessa revista consistiu
na atividade de clipping de matérias veiculadas na imprensa de esquerda dos EUA.
Vinculados ao grupo FIN e mencionados pelo filme, além de Charles, havia Frank Teruggi
e David Hathaway, dois norte-americanos levados ao Estádio Nacional.
4
Apoiando-me na afirmação de Richard Fagen – professor visitante da Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais – pela qual assegura que a Embaixada dos Estados
Unidos no Chile via com maus olhos o comportamento de norte-americanos que não
concordassem com o posicionamento oficial do seu governo, é possível imaginar que
dentre o conjunto de militantes e simpatizantes de esquerda no Chile, havia uma diminuta
presença norte-americana. A formulação dessa hipótese me leva a inferir que esse grupo de
ativistas foi, na mesma proporção, alvo da repressão que se abateu sobre todos os adeptos
da esquerda, independentemente da nacionalidade.
Em Santiago – recorda Fagen –, conheci diversos jovens americanos que estavam
vivendo e trabalhando na cidade, favoráveis à experiência de Allende, em graus
diversos. Não estava em Santiago há muito tempo quando percebi claramente que a
hostilidade manifesta da embaixada americana contra o governo Allende se
estendia aos membros da comunidade americana que eram conhecidos por
cooperar, simpatizar ou mesmo manter uma posição neutra em relação ao regime.
Palavras como “traidores” e “comunas” eram usadas comumente em referência a
muitos dos meus amigos e conhecidos americanos. (HAUSER, Thomas.
Desaparecido: um grande mistério (Missing). Rio de Janeiro: Editora Record, s/d,
p. 231)
A partir desse ponto vista, centro a minha pesquisa nos integrantes de FIN, tentando
ampliar o conhecimento sobre as trajetórias dos ativistas envolvidos com a revista para
compreender com maior clareza quais são os nexos político-ideológicos que os atraíram
para o Chile, reconhecendo os pilares que sustentaram as conexões estabelecidas, e,
investigando a possibilidade de configuração de um caráter internacional de uma esquerda
latina e norte-americana.
Os sujeitos FIN
Charles Horman
Cursou jornalismo em Harvard na década de 60, integrando na época da faculdade
o movimento pelos direitos civis. Nos EUA, escreveu para a revista “The Nation”, jornal
“The Christian Science Monitor” e revista “Inovation”. Participou da elaboração de
5
documentários para os canais de televisão da WNet TV em NY e King TV de Seatle e
Portland, abordando temas delicados como a comunidade negra em Portland e fabricação
de napalm na Califórnia. Em 1967 iniciou participação no Programa Federal contra a
Pobreza. Joyce, sua esposa, revela que a fixação definitiva do casal no Chile não foi
planejada desde o princípio, mas, o resultado espontâneo de uma longa viagem pela
América Latina iniciada em fins de 1971, cuja finalidade seria a de lhes proporcionar mais
tempo juntos. Assim, antes do Chile, passaram por México, Guatemala, El Salvador,
Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Equador2
Morando no Chile, Charles se envolveu em alguns projetos. Um dos mais
significativos foi o trabalho como roteirista para a empresa estatal Chile Films, produtora
de filmes e de noticiários difundidos nas salas de cinema do país. Essa atividade foi
questionada e qualificada como “subversiva” pelos agentes de Estado norte-americanos e
teria suscitado uma investigação também do lado chileno pelo setor de inteligência do
Estado Maior e a Defesa Nacional, antes, durante e após sua morte.
Para além do trabalho na estatal, Charles escrevia um roteiro de desenho animado;
recolhia fontes de pesquisa para a elaboração de um livro centrado na investigação da
morte do general legalista René Schneider, ocorrida em 1970, e participava como roteirista
de um documentário dirigido pelo peruano Jorge Reyes que buscava retratar o processo de
transição ao socialismo a partir do governo Allende. O filme só foi lançado em 1975 – 2
anos após a morte de Charles – no circuito cinematográfico francês com o título “Avenue
des Amériques.” O produtor dessa obra, Walter Locke, cineasta norte americano, contava
com Charles na sua equipe de trabalho e um pouco antes do golpe conseguiu retornar para
os Estados Unidos, onde processou as imagens capturadas, evitando a sua perda. Parte das
sequências, já em 1974, deu origem a outro filme, intitulado “Chile: with poems and
guns.” Um memorando do departamento de Estado norte-americano associa também este
material a figura de Charles, sugerindo que o seu envolvimento nesse tipo de atividade
possa ter contribuído para a sua morte.
Segundo Marjorie Bray, “Chile: with poems and guns” é uma obra panfletária e,
apesar de mais enfática, se aproxima bastante da intenção do último número FIN, a de
desfazer uma visão negativa construída sobre o Chile, mostrando para uma plateia
essencialmente norte-americana que o governo Allende “foi democraticamente eleito e
2 HAUSER, Thomas. Desaparecidos: um grande mistério (Missing). Rio de Janeiro: Editora Record, s/d.
6
estava tentando superar a pobreza e a desigualdade causada por séculos de exploração.”3
Nesse contexto, a autora destaca que por exploração não se entendia desenvolvimento, mas
imperialismo.
Frank Teruggi
Alinhado à perspectiva da Teologia da Libertação, no ano de 1969 integrou o
Grupo para a Libertação das Américas – área de Chicago. Dentro desse grupo participou
de algumas marchas noticiadas pela imprensa. A tarefa dessa organização envolvia a coleta
e distribuição de material da imprensa de esquerda norte-americana, contemplando
movimentos de luta revolucionária na América Latina. Frank já tinha sido preso duas vezes
em Chicago por apresentar-se em teatro de rua. A organização ainda protestou em
Washington contra a reeleição de Nixon, porém nessa ocasião ninguém foi preso. 4
Um documento do Departamento de Justiça dos EUA constata sua participação
como delegado na conferência Anti–Imperialismo, realizada em agosto de 1971, no
Colorado, sob a organização do CRV – Comittee of Returned Volunteers, que reunia ex-
membros do Corpo da Paz, que se mantinha com o apoio de Cuba e todos os
revolucionários do Terceiro Mundo, se opondo ao imperialismo e a opressão dos EUA em
relação ao estrangeiro.
Teruggi viajou ao Chile com o objetivo de estudar a realidade chilena,
inscrevendo-se no Centro de Estudos da Realidade Nacional da Universidade Católica
(Ceren) e na Faculdade de Economia da Universidade do Chile, chegando em outubro de
1971.5
Em 1973, logo após o golpe, foi preso em casa na companhia de David Hathaway,
mais um integrante e amigo de FIN – que foi solto posteriormente – sob acusação forjada
de que teria desrespeitado o toque de recolher. Assim como no caso de Charles as
investigações sobre Frank iniciaram-se pelos agentes norte-americanos, os quais
consideravam o material FIN sensível, “atividade midiática subversiva”. No entanto,
analisa Thomas Hauser, seu contato com Charles foi superficial e propiciado pelo grupo de
amigos que tinham em comum.
3 BRAY, Marjorie Woodford. “The making of Chile: with poems and guns – a personal recollection”. In: Latin American Perpectives, volume 20, nº 10, janeiro de 2012. 4 Ver Resolução do Ministro da Corte de Apelações de Santiago, Jorge Zepeda, de 29/11/11 do processo que investiga os homicídios de Charles Hornan e Frank Teruggi. Disponível em: <http://www.poderjudicial.cl> 5 Idem.
7
Mishy Lesser
Durante o período da faculdade foi estudante do Friends World College, uma
universidade em Nova Iorque de tradição quaker, a qual oferecia uma proposta de
“cidadania global, aprendizado pela experiência e estudo independente”. Como fazia parte
da filosofia da instituição, depois de concluído o primeiro ano, Mishy deveria escolher
outro lugar para seguir os estudos. Seu destino inicial foi o México, mais exatamente
Cuernavaca. Ela destaca que a opção pela América Latina e o despertar de seu interesse
foram impulsionados pela questão: “Por que parece que tantas pessoas no mundo odeiam o
meu país?” Foi no México, em janeiro de 1971, que ela soube da eleição de Allende.
Mishy ficou bastante entusiasmada, pedindo autorização ao corpo administrativo da
faculdade para viajar para o Chile, onde chegou em junho do mesmo ano.6
Vivendo no Chile, entrou em contato com grupos comunitários, envolvendo-se
com a questão urbana, especialmente o Acampamento Nueva La Habana, na região de
Santiago. Foram dois anos acompanhando a organização daquela população para a
promoção de saúde, melhores condições de moradia e elaboração de um currículo
educacional diferenciado. Ela acrescenta que quanto mais se integrava7 a essa realidade,
menos do seu tempo dedicava às atividades FIN8. O acampamento Nueva La Habana
durante o governo da Unidade Popular acolheu 1.500 famílias totalizando cerca de 9.000
pessoas, em sua maioria jovens de todos os cantos de Santiago. Segundo Boris Cofré
Schmeiser, apesar do acampamento estar vinculado às propostas de Allende e ter como seu
condutor o MIR, não significou apenas um quadro de eleitores ou de defensores da luta
armada. Na sua avaliação, ele trilhou um caminho peculiar e, de alguma forma,
independente, acabou exercendo pressão sobre o Estado para alcançar suas demandas,
privilegiando a dimensão coletiva dessa experiência9.
Assim que soube do golpe, Mishy deixou seu apartamento, amedrontada, e dirigiu-
se para Nueva La Habana. Lá passou quatro noites sendo abrigada por famílias diferentes.
6 Informações obtidas com a própria Mishy Lesser através do preenchimento de um questionário enviado por e-mail. 7 Ainda não consigo delinear como se deu a sua inserção e no que consistia o seu trabalho no acampamento Nueva La Habana. Ela não esmiúça a sua rotina dentro do acampamento. 8 LESSER, MISHY. The Journey Back and Forward: journalistic notes and blog postings for a public radio documentary, 2008. Disponível em: <http://www.mishylesse.com> 9 SCHMEISSER, Boris Cofré. História de los pobladores del campamento Nueva La Habana durante la Unidad Popular (1970-1973). Monografia (Graduação) – Universidad ARCIS, Escuela de Historia y Ciencias Socilales, 2007.
8
Lembra-se dos helicópteros que sobrevoavam a cidade à noite, incentivando as pessoas,
por meio de mensagens escritas em folhetos ou através das comunicações de rádio, a
entregar quem fosse favorável a Allende, além dos estrangeiros, cuja intenção, de acordo
com militares, seria a de matar os chilenos10. Seus amigos do acampamento intercederam a
seu favor, pedindo que o médico que trabalhava no posto de saúde de Nueva La Habana a
levasse para um local mais seguro. O médico a abrigou em sua casa, localizada numa área
de classe média de Santiago. Passados alguns dias, seu namorado chileno também ficou
hospedado na casa onde se escondia. Mishy conta que a essa altura estava com seu visto de
estudante expirado. Reconhecia que precisava sair do país, mas sabia do risco que corria
caso fosse questionada pela polícia acerca das suas atividades na revista FIN e no
acampamento. Com a ajuda de um amigo que se candidatava a uma vaga de doutorado
numa universidade norte-americana, produziu uma carta falsa, atestando ser uma
doutoranda de História no Chile. A carta foi validada por um funcionário específico da
Embaixada dos Estados Unidos. Somado a isso, o médico, que a recebeu, conseguiu, após
muito esforço, um pedido por escrito de um carabineiro aposentado para que a estudante
deixasse o Chile em segurança.
Mishy é doutorada em Educação pela Universidade de Massachusetts – Amherst. E
atualmente é consultora nessa área, possuindo experiência em trabalhos direcionados para
a juventude.
Steven Volk
Steven é professor de História na instituição Oberling College, onde
frequentemente ministra cursos versando sobre a América Latina. Além de FIN, fez parte
de algumas organizações de esquerda naquele período. Entre elas destacam-se a NACLA –
National Congress on Latin America, onde atua desde 1984 como diretor de pesquisa e
publicação de artigos da sua revista impressa e ilustrada chamada Nacla Report on the
Americas, e a Union of Radical Latin Americanists, da qual foi membro fundador em
1970. A principal motivação para a criação desta foi a crítica a persistência da vinculação
entre especialistas em América Latina, o Pentágono e as corporações herdadas do governo
Kennedy. Esse grupo passou a publicar a revista acadêmica, ainda hoje existente, Latin
American Perspectives.
10 LESSER, MISHY. The Journey Back and Forward: journalistic notes and blog postings for a public radio documentary, 2008. Disponível em: <http://www.mishylesse.com>
9
Sempre que tem uma oportunidade reflete publicamente sobre a experiência
vivenciada no Chile. Parte dessa divulgação também é resultado da tramitação na Justiça
chilena da investigação acerca da morte de Charles e Frank. Toda movimentação
processual confere novo fôlego ao caso dos norte-americanos mortos no Chile. Durante um
dos seus exercícios de observação, Steven faz menção à percepção de que a Embaixada
dos Estados Unidos em Santiago não aprovava o trabalho de FIN, colocando-o sob
monitoramento. Em artigo da NACLA, ele conta que assim que o grupo se instalou num
endereço fixo e tentou utilizar o telefone do escritório, ao invés de se ouvir o sinal de
discagem, a linha estabeleceu contato direto com a Embaixada.
Na década de 1970, ele estava no Chile concluindo sua pesquisa de doutorado.
Conforme suas próprias palavras, há duas razões para ter elegido o Chile para trabalhar:
“porque parecia um bom lugar para realizar a minha pesquisa e porque me deu a chance
não apenas de estudar história, mas vivê-la.”11 Após o golpe, teve por duas vezes seu
apartamento revirado.
David Hathaway, Jill Hamberg e Andrew Zimbalist
David Hathaway foi preso em companhia de Teruggi e levado ao Estádio Nacional.
Contudo, diferentemente do amigo, foi solto dias depois e autorizado a retornar para os
Estados Unidos. Desde a década de 1980 vive no Brasil, trabalhando com tradução.
O que se sabe sobre Jill Hamberg é que possui doutorado em Planejamento Urbano
pela Universidade de Columbia, sendo professora na Empire State College, em Nova
Iorque, de estudos urbanos e latino-americanos.
No que concerne a Andrew Zimbalist, pode-se assegurar que é professor de
Economia na Smith College, especializado também em economia no setor esportivo.
Até o momento não foi possível encontrar entre as notas/breves perfis biográficos
desses protagonistas alguma referência a respeito das atividades no grupo FIN ou o período
vivido no Chile, em particular.
A Revista FIN - Fuente de Información Norte-americana
Esse suporte pode ser definido como uma publicação mensal de curta duração,
apenas um ano entre 1972 e 1973 com nove títulos no total12, que combinam a tradução
11 http://www.oberlin.edu/news-info/observations/observations_steven_volk1.html, p. 1 12 Dos 9 números, possuo apenas 8. Falta-me o número inaugural.
10
para o espanhol de notícias veiculadas na imprensa de esquerda norte-americana e algumas
notas autorais que são sempre assinadas em nome do grupo. Ela não identifica, em nenhum
momento, a identidade dos integrantes da equipe de trabalho. Apesar da falta de
regularidade da publicação, continuarei me referindo a ela como revista, apenas porque é a
forma como os seus ex-membros se reportam a esse tipo de atividade.
Steven Volk afirma que dele faziam parte uma pequena quantidade de “jovens
americanos progressistas”13 e ressalta, sem precisar o número total de pessoas envolvidas,
que em 1973 havia, ainda, cerca de oito participantes da revista no Chile. Explicando a
função dessa mídia, o ativista sublinha o interesse em divulgar para os chilenos “as
atividades do governo e corporações norte-americanas pelo mundo e demonstrar a
solidariedade em relação à esquerda chilena, enfatizando os movimentos progressistas dos
EUA”.14 Acrescentando a explicação da própria edição, a intenção é “dar conhecimento da
luta interna que se levanta nos EUA contra o ‘imperialismo yanki’. Pensamos que o
primeiro passo para a solidariedade da esquerda em várias partes do mundo é o
intercâmbio de comunicações, e esperamos contribuir para isso.”15
A 5ª edição da revista FIN traz uma lista de organizações de esquerda independentes
nos Estados Unidos, onde os leitores poderiam conseguir mais informações a respeito da
proposição tratada pelo grupo. Certamente, o grupo se referencia às publicações divulgadas
em tais organizações para construir a sua própria revista e fundamentar a sua
argumentação. Entre os centros citados estão Committe of Concerned Asian Scholars;
National Action/Research Group (ARG); Union of Radical Latin Americanists (URLA) e
North American Congress on Latin America (Nacla).
No último número FIN a lógica se inverte e ao invés de informar os chilenos e demais
latino-americanos sobre o contexto norte-americano – agora em inglês e não mais em
espanhol – eles se dispõem a dar conhecimento para os norte-americanos do que se passa
no Chile. Trata-se do número mais autoral do grupo. O texto fluído, num formato que mais
se parece o de uma carta, datado de 18/07/1973, se divide em subtemas e não numa
compilação de artigos de temáticas variadas. Vale ressaltar que no mês anterior, em junho,
o país havia registrado uma tentativa de golpe fracassada conhecida por “Tancazo”, que
deixou ainda mais flagrante o grau de debilidade da administração da Unidade Popular.
13 VOLK, Steven. “Judgement Day in Chile” In: NACLA Report on the Americas. Open Forum, vol. XXXVI, nº1, julho/agosto 2002, p.5. 14 Idem. 15 Fuente de Información Norte-Americana, nº3. Introdução. Julho de 1972.
11
Graças à ação do comandante do Exército Prats, militar legalista, e organizações populares
como os Cordões Industriais, Allende conseguiu conter o tumulto e o golpe não se efetivou
em junho.
Os membros da publicação se apresentam como cidadãos norte-americanos vivendo
no Chile desde 1970-1971 e que, como o restante da população, foi apanhado pelo
crescente conflito. Observam a falta de conhecimento do público norte-americano para a
relevância dos eventos, na época recentes, ocorridos no Chile. Apontam como uma das
razões para essa incompreensão a maneira como a imprensa dos EUA cobria os
acontecimentos. Na sua perspectiva, a imprensa “distorce e deturpa” as razões da
polarização política e o conflito no Chile, as “verdadeiras forças envolvidas e o real
significado dos eventos.”16
Em resposta, FIN declara que o breve e apressado documento não pretende resumir
completamente o que está ocorrendo, tampouco desvendar todas as “meias verdades”. Visa
expor algumas das distorções e dar ao leitor um quadro geral, através do qual ele possa
começar a entender o que se passa17. Nesse sentido, ilustra alguns detalhes da conjuntura
política. A partir de um prisma diferenciado trata:
1. Do Conflito Institucional
Evidencia a forte oposição institucional enfrentada pelo governo Allende que possui
minoria nas duas esferas do Legislativo e sofre com diminuição orçamentária além de
constantes substituições de ministros. Enquanto, na visão do grupo FIN o Executivo
representa a classe trabalhadora e pobre, o Legislativo e Judiciário representam os
interesses das classes dominantes.
Por exemplo, os partidos de oposição bloquearam uma proposta do governo para
punir os especuladores e operadores do mercado negro, dando a eles, assim,
completa proteção legal (ou do Congresso) para continuar suas ações ilegais que
prejudicam uma nação inteira. (Fuente de Información Norte-Americana, nº 9.
Julho de 1973, p.7.)
Nós podemos citar muitos exemplos do que significa esse sistema de ‘justiça de
classe.’ Quando Moises Huentelaf, um líder camponês foi morto por um
16 Fuente de Información Norte-Americana, nº 9. Julho de 1973, p.1. 17 Fuente de Información Norte-Americana, nº 9. Julho de 1973, p.1.
12
proprietário de terra durante uma disputa no sul do Chile, a esse assassino foi
permitido ficar livre. Os 21 camponeses envolvidos na disputa com Huentelaf,
entretanto, foram mantidos na prisão por seis meses. Numa outra situação,
proprietários de terra, cuja terra já havia sido expropriada voltaram para antiga
fazenda numa manhã e tentaram roubar a maquinaria que agora pertencia aos
camponeses. Quando os camponeses pacificamente se opuseram a isso, os ex-
proprietários atiraram e mataram 4 deles. Novamente, os assassinos ficaram livres
e nenhuma responsabilidade lhes foi atribuída. ( Fuente de Información Norte-
Americana, nº 9. Julho de 1973, p. 8)
Por outro lado, chama atenção para o fato de que a história chilena está sendo
decidida pelos trabalhadores, nas organizações comunitárias, onde homens e mulheres
lutam para criar uma sociedade justa e não explorada.
2. Da Economia
Não aceita a justificativa de que a crise econômica seja resultado da economia
socialista. Ao contrário destaca que ela é mais resultado da oposição política – tanto
nacional quanto internacional – do que efeito natural do socialismo.
3. Dos Meios de Comunicação
Combate a ideia de que o governo de Allende estaria determinado a destruir a
liberdade de imprensa. Como contraponto atesta que ele é alvo preferencial das
publicações, sendo bombardeado pela oposição, que
(...) ainda é a dona da vasta maioria de estações de rádio nacionais – como uma
rápida observação dos indicadores provará – e seis jornais diários de Santiago com
o total de circulação num dia de semana de 514.000 cópias. Grupos e partidos pró-
governo publicam apenas 5 jornais diários em Santiago com a circulação de
312.000. Nas províncias, a imprensa de oposição é muito mais amplamente
distribuída do que a imprensa a favor do governo. ( Fuente de Información Norte-
Americana, nº 9. Julho de 1973, p. 13)
4. Das Forças Armadas
13
Assinala que os militares não são uma “instituição monolítica”, mas sim, o espelho
da sociedade chilena, sendo composta por todas as classes identificadas no interior dela.
Negando o “mito” de Forças Armadas “não políticas” no Chile, sublinha a dificuldade e a
pouca probabilidade de se encontrar uma sociedade cuja força militar não apresente
opiniões políticas.
Atenta para a ligação entre os Estados Unidos e as forças militares chilenas,
estabelecida em momento anterior a década de 1970.
Em 1947, os Estados Unidos e o Chile assinaram o Tratado de Defesa Mútua
Interamericano projetado para estender a “proteção” dos EUA para a América
Latina em caso de “ataques” comunistas. Quando o Programa de Assistência
Militar dos Estados Unidos começou em 1952, Chile rapidamente se tornou um dos
primeiros beneficiados da ajuda militar dos EUA no continente. Entre 1950 e 1965
mais de 2.000 chilenos receberam treinamento nos Estados Unidos como parte
desse programa, mais do que qualquer outro país da América Latina, à exceção do
Brasil e do Peru. Chile recebeu a maior quantidade per-capita de ajuda militar na
América Latina entre 1953 e 1966 (Fuente de Información Norte-Americana, nº 9.
Julho de 1973, p. 16)
5. Dos Trabalhadores
Não corrobora a visão veiculada na mídia de que a UP, enquanto governo dos
trabalhadores, tivesse se virado contra eles. Assegura que a base de sustentação do governo
Allende continua sendo a classe trabalhadora, exemplificando os Cordões Industriais e
Comunais como “novas formas de poder popular”.
A respeito da onda de greves ocorridas no Chile, explica
Claramente a greve foi politicamente, e não economicamente, motivada. A
motivação política foi derivada do fracasso da greve dos proprietários em outubro
de 1972. Durante essa greve, 99% dos trabalhadores fabris (blue colar e white
colar) permaneceram no trabalho e muitos, juntamente com estudantes, realizaram
trabalho voluntário para contra-atacar os efeitos da greve.18(Fuente de Información
Norte-Americana, nº 9. Julho de 1973, p. 20)
18 Vale aprofundar a reflexão sobre as diferenças entre “white colar” e “blue colar” dentro dos conjuntos dos trabalhadores chilenos. Segundo FIN essa nomenclatura traduz formas distintas de organização, remuneração, benefícios e contrato de trabalho, que possui uma denominação correspondente em espanhol:
14
6. Dos Estados Unidos e do Chile
Denuncia que o então – desde 1971 – embaixador dos Estados Unidos, Nathaniel
Davis, e o corpo diplomático que o acompanhava poucos anos antes de serem
deslocados para o Chile haviam prestado serviços na Guatemala, onde os EUA
apoiaram um governo ditatorial de direita e grupos terroristas anticomunistas
responsáveis por assassinatos de milhares de estudantes, trabalhadores e camponeses.
Numa espécie de resumo, mencionam as ações norte-americanas de financiamento
às greves. Já encaminhando-se para a conclusão, o número se opõe abertamente às
ações dos EUA contra o Chile.
Os norte-americanos deveriam saber desses fatos: nós deveríamos saber o papel
desempenhado pelo nosso governo nos eventos que atualmente se desenvolvem no
Chile. E deveríamos nos opor a toda e qualquer ação lançada pelos EUA contra o
povo chileno. ( Fuente de Información Norte-Americana, nº 9. Julho de 1973, p.
23.)
Considerações Finais
Esse trabalho vislumbrou a possibilidade de analisar o grupo FIN como uma janela
de acesso para se pensar a esquerda nos Estados Unidos, mais precisamente a Nova
Esquerda. A versão norte-americana da Nova Esquerda, assinala Cecília Azevedo, acentua
o ativismo não mais vinculado à experiência soviética, mas relacionado, sobretudo, aos
processos de descolonização africanos e asiáticos, bem como aos processos
revolucionários latino-americanos. Entre as pautas desse ramo da esquerda nos EUA é
possível enumerar o apoio às causas do movimento negro, feminista, ambientalista e pelos
direitos humanos. Margaret Power destaca, ainda, que em razão das lutas anticoloniais e do
movimento pelos direitos civis datados de 1950-1960, abriu-se um espaço para que os
norte-americanos avaliassem suas ações políticas de uma forma mais crítica. Essa autora
recorda que na década seguinte, a de 1970, enquanto Allende tornava-se presidente no
“empleados” e “obreros”, respectivamente. No âmbito político, os “empleados – white colar” estariam associados à Democracia Cristã, já os “obreros – blue colar” corresponderiam a porção simpática aos Partidos Socialista e Comunista. Fuente de Información Norte-Americana, nº 9. Julho de 1973, p. 20.
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Chile, os norte-americanos integravam marchas, manifestando sua oposição ao conflito no
Vietnã.
Num contexto de Guerra Fria, de contenção da “ameaça socialista” e disputa pela
posição de influência dominante nas Américas por parte dos EUA, os integrantes FIN,
opostos à legitimação de uma análise oficial reducionista, não escaparam à ação dos
instrumentos e dos mecanismos de investigação e coerção. De acordo com as ideias
apresentadas pela própria revista, esse grupo insere-se no que Margaret Power chama de
1ª etapa do Movimento em Solidariedade ao Chile – que se iniciou nos anos 1970,
estendendo-se da posse a queda de Allende – , apresentando como traço expressivo a
atração que a experiência chilena exerceu sobre indivíduos e pequenos grupos simpáticos
ao governo, os quais apoiavam o caráter democrático de um socialismo que previa a
melhora da qualidade de vida da população, absorvendo-a de maneira mais abrangente ao
sistema decisório.
O Movimento em Solidariedade ao Chile em suas duas etapas mostrou-se bem
sucedido tanto no plano simbólico quanto no plano prático19. No que tange ao primeiro
aspecto, uma das consequências sinalizadas por Margaret Power foi a repercussão que se
produziu a nível cultural. Dentro desse campo, pode-se incluir tanto a revista FIN, quanto
os filmes produzidos nas décadas de 1970 e 1980 retratando o governo Allende, a
movimentação golpista e a repressão que se seguiu. Efetivamente, como resultado material,
argumenta, que o movimento conseguiu educar as pessoas quanto ao imperialismo
orientado para a América Latina, exercer pressão sobre o governo norte-americano e
chileno, contribuindo para fomentar a discussão dos direitos humanos, poupando, assim,
vidas de presos políticos, alguns recebidos como refugiados nos Estados Unidos. Segundo
dados apresentados pela autora, 2.000 chilenos chegaram aos EUA na condição de exilados
durante o período de 1973-1988. Contudo, em direção oposta, os governos norte-
americanos e chilenos resistiram o quanto puderam às investidas que contrariavam os seus
planos. Em 1974, o secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger recusou-se a
implementar a emenda Harkin aprovada no Congresso que recomendava a interrupção de
ajuda militar a países internacionalmente reconhecidos como violadores dos direitos
humanos. Da parte do Chile, somente no final da década de 1970, Pinochet autorizou
visitações para averiguação das denúncias de abusos do regime ditatorial.
19 POWER, Margaret. “The U.S. Movement in Solidarity with Chile in the 1970’s”. In: Latin American Perspectives, volume 36, nº6, novembro de 2009.
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Em suma, a singularidade de FIN e o seu papel no Movimento em Solidariedade ao
Chile revelam muitas nuances que poderiam parecer invisíveis à primeira vista.
Mergulhando a fundo, encontra-se uma experiência político-cultural que transcende o
estereótipo de imobilismo e individualismo que configuram uma imagem da sociedade
norte-americana. Não se pode negar que, de fato, essas características compõem e
direcionam parte da população. Contudo, evitando generalizações, deve-se atentar para um
segmento da sociedade norte-americana que demonstra interesse em projetos distintos
daqueles, constituindo uma corrente de dissenso, movimento de resistência e protesto, que,
historicamente, entrou em confronto com a política oficial de seu país.
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