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louvores amórficos e outros poemas
pablo luz
cuide do sentido e os sons cuidarão de si.
Lewis Carroll
louvores amórficos
Desvio pequenas formigas do armário
porque penso na ausência
e lido com fragmentos de Vida
Assim a brisa da nova Estação
anestesia tudo aquilo
que não tem jeito
E são tantos olhares perdidos,
da moça tresloucada à mesa
Na minha sala desloco inquieto
os pés e os ouvidos
Equinócio estranho
cheirando como a pele fina
dum quase-pêssego
A língua anseia e não disfarça
e
para onde vão tantos olhares perdidos?
Para onde vão, amigos tortos?
Pairam duas impressões
distintas agora mesmo
de duas vontades
distintas de menina
e elas,
elas carecem de AGORA
Sim, alheio às paixões
sem mais bocejos, creio
que procedem aos estômagos revoltos
engasgos e arranhões no âmago
porque condicionados somos
a NÃO QUERER
e insistentes nos anseios por palavras
em trajes esquizofrênicos
pois só podemos gritar
no mato
Para onde vão, suas formigas?
Parecem passear por formidáveis
encontros
Pelos atos falhos comicamente
elucidados
Pelos abraços puros e inesperados
gracejos
Pelas cores dos cabelos
e espirituosos
quase infantis
(num passo sutil
com pantufas de grosso veludo
sem cheiro ou calor
assusta levemente e ecoa
entre tantos sons: a Ausência, como que:
Uma frenética dançarina
Um suicida esverdeado
Uns pseudos revelados
Uma carícia calculada
Uma castanhola solitária
Um espanhol transcendente
Uma
frenética e boa
carícia imaculada)
Da varanda enquadro prédios
e permito uma nova Estação
porque ela permite a Ausência
e é doce melancolizar
Pois rir aos prantos
ou desesperar aos risos
é acima de quase tudo
sinal de estarmos
quase vivos
e
logo mais
poderemos gritar.
oCulto
Amaria vezes seguidas a mesma mesa
como que refugiado dos interesses óbvios
Deixo sob as luzes acesas,
quietinhas que são as libidinosas iras
Fazer dos ascos, terapia
recompondo santuários
em varandas esquecidas,
submerso entre alergias
que não as minhas
Não sei o que mais me mata:
sintomas de versos vagos
ou astigmatismo em noite
estrelada
–
Erro elevado em estímulos constantes.
desato desassossegado
As Estranhezas deram as caras
reformulando o Absurdo
Cadeira cansada de ceder
assento trivial, exige dos corações liquidificados
um cruzar de pernas enigmático
Nos porões de cada alma
a violenta face do querer
QUEM MANTÊM A GRAÇA?
Gostamos de confundir tiranos
Passamos a dormir pouco
para continuarmos sonhando
Oh, ventríloquo de meus ventrículos
afasta-nos das possessividades histéricas
afasta-nos do terror barato da lata vergada
Oh, engastrimitista de nossas gastrites!
Aguardamos certo calor
que incita um sorriso breve
No alto da serra
alto refúgio certo e breve
Pulamos e planamos
pois somos todos Estranhos.
ruídos
Como se todos estivessem perdidos
e as misérias não passassem
com um suspiro
Como se o fim do dia e o fim dos astros
ganhassem proporções inéditas
Como se incúria, ultraje e desalento
todos acorrentados
em expressões indecifráveis
Enquanto altos gritos ressoam
tentando expulsar a Vida
Enquanto teus impasses são provas
do conforto que preserva o sentido
Enquanto esforço identidade
e disponho gestos e feições
para preservar mitos
Como se todas as fragilidades
niveladas, se entendessem
Enquanto irritante espera
refletisse o Cosmos
Como se enquanto encontro-me
desentendo todas as vias – e o Tempo.
quietude rio-contense - pt.1
Saturnal. Vespertino
Som algum ruído
Que arranha a tranquilidade
Contada
Contida, de contas
Do rio
De solfejo permanente
De pássaros
E das almas catadas
No Fraga
Senhores e cores atemporais
Aguardentes macias
Alertam e aguçam
Os ouvidos e as vistas
Para o que há de puro
Para o que há de mato
Para o que vale assim
Tantos contos
De rio
outono abafado
Ao que parece
todas as próximas horas são desconhecidas
tão fascinantes são as terças
umas três e dezesseis
ou a maçaneta úmida
ao amanhecer o domingo
(o sono vai e vem quando quer)
É teu o aroma que me faz repousar tranquilo
não o das borboletas
Queridas estampas aquecem
É teu aquecer com asas!
Tenho riso para tudo:
a inspiração da carreira precoce
traz palavras lacradas em vermelho
no nariz, nos pés, nos vestidos
Tenho o riso
como criaturas inquietas
misteriosamente
oriundas dos respingos
do mijo
( Hoje é dia de morrer! na carroceria, repete o menino...)
Todas as próximas horas são desconhecidas
aos que decidem revelar-se
com passos calmos
A Vontade pura e ancestral
de se fartar risonhos
de Silêncio e Possibilidade
(...)
Corram!
Alcancem o minuto
até o pensar gerúndico abraçar
a jovem de lábios carnudos
os felinos alaranjados que rondam
o porteiro do cotidiano
postes, igrejas e varandas
(...)
Corram!
Deixem o segundo alcançar
em milésimos se escondem os fatos
o Amor esquiva-se gracioso
da impaciência objetiva
dos normais.
(..)
Tudo está acontecendo
e intrigam os desavisados
essas efervescentes revoluções mágicas
na catraca e no culto no livro e no caixa
– que tal lambermos os bustos
e vendermos desilusões na praça?
(.)
O nosso fingir encerra calado
( )
As nossas náuseas se acabam
num dia comum.
bem residente
Queria me perder no bocejo
e que tudo parasse de ser AGORA
Para contemplar os raios na janela,
o tempo e o ar de horas sem data
Num nublado ocaso encerrando a estação
a infinda tocata das gotas no metal
revela o descompasso de minhas ausências
e aplaude o sublime nas minhas andanças
sem sequelas
Sou hóspede do meu próprio pensar
e repudio inúmeros esquemas
desses bem elaborados de paz.
armagedom
Todos tentando convenções
No convento
todos abduzidos
Concertos
de celulares possuídos
Cansados de acariciar asfalto
Autônomos corações soberbos
Vísceras de Midas oferecidas vivas
Brinde aos convencidos cegos!
Todos se convencem arrepiados
Algo Eterno ladra fora
O que cão e gato tanto esperam?
Correr mais Viver mais
Foram feitos assim
Pois tragam a Inocência
Tragam-me a Inocência
e o Fim.
205
Uma jovem de vestido vermelho
munida de expressões esquecíveis
acaba de levar meus poucos trocados
Tantas vezes a realidade quieta
parece golfada
Antenas pendentes e sombras
movem num ritmo calmo
Luz e ventilador em frenesi
prestes a decepar a ansiedade
Brisa sutil de convulsiva mandala.
Ah, essa hora! instante avesso
de envelhecer devagar
Num lugar assim: meio branco
meio verde meio
ouvindo serenamente ao fundo
a voz rouca e o sopro daquele outro
castigado
que hoje se perdeu no Além
junino glacial submerso.
As Genialidades que repousam
resmungam em línguas bem estranhas
sobre a trivialidade doméstica
E nos mais diversos prantos
como se engendrassem no ventre
Camões e Dos Anjos
trazem pela manhã o sorriso
Para ele: trevos e a boa agonia
Para ela: toda a sorte mundana
Sou uma massa afundada num berço
Somos uma pausa apunhetada nos dedos
Dita jovem morena de vestido vermelho
levou alguns trocados pelo corredor
Quem quer a sobriedade
dos enamorados que se suportam?
Os deuses recalcularam precisamente
todas as coincidências e
enviaram num frágil cabide azul: Chuva,
também instante perdido
Um cabide e uma antena pendente.
Que meus rins ouçam Aafa e
mais dez meninas sussurrantes
e filtrem um cálice
de alívio solene
para os que aguardam quase atropelados
o deslizar de sonhos tíbios
outrora em brônquios atados
Levemente eleva tua fala
e diz com imprecisão:
O que os deuses levaram?
Uma jovem morena paranóica
e alguns trocados.
Happiness... Bang, Bang Shoot, Shoot.
Bruxaria um poema feito por bruno leituga e pablo luz
Há um bruxo sobre o meu crânio de asfalto
Diálogos – meus miolos esticados no ar
Quimeras ocultas rubras a reconfigurar
o nosso coração.
Adão, poeta, meu peito em estilhaços
nos quatro cantos das ruas
Atropelos de todos os sonhos bizarros
Potências que madrugam
sem saber o gosto do porvir
Que exponham o gesticular espontâneo,
e armado para corpos e córneas
intragáveis!
Publicado em Dezembro de 2011 (1ª edição, ebook)
Capa, fotografia: pablo luz
candeeirocafe.wordpress.com