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o n c e i ~ a o
Lima
Copyright ©2012 Todos os direitos reservados a:
o n c e i ~ a o
Lima
ISBN: 978-85-4160-283-9
1• Ediyiio
Novembro
2012
Direitos exclusivos
para
Lingua Portuguesa cedidos
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3
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Sao Paulo SP Brasil CEP 01309-000
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z
criminais e ~ civis.
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Conceic;:ao ima
ACABOU SE 0 TEMPO DE ESPERA ..
LINGUAGEM APRENDIZAGEM NA ERA DIGITAL
N a O N t i P ~ d i C W e h h ~ m . M i b Q d r t ~ o m p u t a d o r l
0¥6cl .-dl Rilhldo
Ill
Fonte:
A tecnologia nos consti
tu
i, e inseparavel de n6s, de nossa
cognic;:ao
. Sendo assim , a tecnologia condiciona o nosso
modo de conhecer e, portanto, a nossa
educac;:ao
Quando
conseguiu par-se de pe , o novo ser humane (agora
bipede
deu ao seu cerebra
as condic;:6es
de crescer, trazendo, co
mo consequencia, o incremento tambem
de
sua inteligencia.
Foi a partir daf que conseguiu desenvolver a sua primeira
grande tecnologia: a fala, a
linguagem.
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Ciber
Cultura
iberLinguagem
CiberE
duc
ac ao
0 aparecimento da linguagem
no
homem condicionou to
da a hist6ria de seu formidavel progresso em relac ao as
demais especies animais. Eis porque, para bem entender o
alcance das mudanc;as civilizat6rias, e precise abordar, an
tes, a questao hist6rica fundamental do
processamento da
informac;ao e
d
comunicac;ao
por ser este o centro gera
dor de toda a mutac;ao. Lucia Santaella nos fala de seis eta
pas culturais, sendo que, em cada uma delas,
os
meios de
comunicac ao tornaram-se inseparaveis dos modos de vida e
de produc;ao dessa epoca:
• Civilizac;ao oral ;
• Civilizac;ao escrita;
• Civilizac;ao impressa;
• Cultura de massa;
• Cultura das m fdias
• Cultura digital (cibercultura).
Esse processo de sucessao
cultural costuma ser cumula
tive: uma nova formac;ao comunicativa e cultural vai se inte
grando na anterior, provocando nela reajustamentos e
re-
funcionalizac;oes. Nao
ha
duvidas de que alguns elementos
sempre desaparecem (por exemplo, a substituic;ao do papiro
pelo papel, da maquina de escrever pelo computador). En
tretanto, embora em cada perfodo hist6rico a cultura fique
sob o domfnio da tecnica mais recente, as formac;oes cultu
rais anteriores nao morrem asfixiadas pela nova tecnologia.
Tudo acontece gradualmente.
0 que nao
Se
pode ignorar e que OS tipos de signos, de
mensagens e de comuni
cac ao
que circulam num determina
do meio acabam nao somente por moldar o pensamento e a
criatividade dos seres humanos, mas tambem por propiciar
o surgimento de novos ambientes socioculturais, visto que
quaisquer mfdias sao inseparaveis das formas de socializa
c ao e cultura que lograram criar. Assim , o advento de cada
novo meio de comunicac;ao traz consigo um ciclo cultural
que lhe e proprio.
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ima
Da cultura de massa cultura das mldias
A ultima metade dessas seis culturas civilizat6rias acima
(a cultura das massas, a cultura das midias e a cultura digi
tal) apareceu muito recentemente, a partir do seculo XX
Mas elas vieram com
tal
forc;a (como
se
fora uma avalan
che) que atropelaram e feriram a milenar e tradicional so
ci edade da era da escrita Dessa forma, a
cultura de massa
inaugurou a modernidade, trazendo em seu bojo o cinema, o
radio e a televisao.
Por volta dos anos 1980 (SANTAELLA, 2003b), intensifi
caram-se cada vez mais os casamentos entre a linguagem e
os meios de comunicac;ao de massa, produzindo-se
as
mensagens hibridas ou multimldias . Ao mesmo tempo,
houve o surgimento de equipamentos e dispositivos que
possibilitaram o aparecimento de uma cultura do disponlvel
e do transit6rio: fotocopiadoras, videocassetes, gravadores
de videos, equipamentos do tipo
walkman
e
walktalk ,
tudo
isso acompanhado de uma florescente industria de filmes
em video,
videoclips
e
videogames,
culm inando com a TV a
cabo.
Essas novidades inauguraram o consumo individualizado,
em oposic;ao ao consumo massivo do processo comunicati
vo anterior, vindo a constituir a nova cultura das mldias.
Seu papel fundamental foi ode nos arrancar da inercia e da
passividade diante das mensagens massivas impostas de
fora e nos preparar para a nova era da interatividade digi
tal que ja se prenunciava. Sua marca principal esta na bus
ca dispersa, alinear, fragmentada (mas certamente individu
alizada) da mensagem e da in form ac;ao . No dizer de Castel
ls
apud SANTAELLA, 2003b, p. 27) , a nova midia e a diver
sificac;ao da audiemcia de massas.
Dessa forma, a cultura das m idias instaurou, no inicio dos
anos 1990, a p6s-modernidade. Ate entao, os estudiosos da
linguagem nao se haviam apercebido da enorme ruptura
estabelecida entre as novas tecnologias da comunicac;ao e
da
informac;ao e a velha pragmatica da com unicac;ao escrita
impressa. Nao havia mais apenas uma linguagem a ver-
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CiberCultura CiberLinguagem i r E d u c a ~ a o
bal , mas uma pluralidade de linguagens intersemi6ticas,
ou seja, imagem, som , texto, design animac;:ao , simulac;:ao
para realizar a comunicac;:ao e estabelecer a
informac;:ao.
Essa multimfdia, esse novo texto multimodal formam a
base para o que chamamos de cultura das mfdias. Antes de
1990, ninguem usara ainda a palavra mfdia. Agora, a midi
amania esta af , empurrando a palavra para a marginalidade
do texto e cobrando dos novos usuaries uma alfabetizac;ao
semi6tica urgente.
A tecnologia da multim fdia logo
comec;:ou
a ser gerada
nos computadores, trazendo, pelo menos, tres novidades
inesperadas ao mundo da comunicac;:ao e da
informac;:ao
:
interatividade entre a informac;:ao e o usuario (impossfvel
na comunicac;:ao de massa) , virtualidade (considerada co
mo sin6nimo de variabilidade infinita) e
digitabilidade
(ar
mazenamento das
informac;:oes
sob a forma de numeros, o
que permite a essas
informac;:6es
uma recuperabilidade e
uma reorganicidade infinitas).
Segundo Santaella
{http://www.arte.unb .br/6art/textos/lucia.pdf), 0
passe
seguinte foi dado pela tecnologia das telecomunicac;:6es em
rede digitais e interativas, que introduziram a telerrob6tica e
a telepresenc;:a, propiciando a que os signos desmaterializa
dos passassem , entao, a viajar pelo
espac;:o
e pelo tempo,
abrindo as portas para uma nova era: a civilizac;:ao digital.
0 advento do digital
0 aspecto sem duvida mais espetacular da era digital es
ta no poder dos dfgitos para manipular toda e qualquer in
formac;:ao
(som, imagem, texto etc.)
com um
mesmo trata
mento universal , uma especie de esperanto das maquinas.
Grac;:as a digitalizac;:ao e compressao dos dados, todo e
qualquer tipo de signo pode ser recebido, estocado, tratado
e difundido via computador. Tendo na multimfdia sua lingua
gem e na
hi
perm
fdia
sua estrutura, esses signos tornam-se,
entao, disponfveis ao mais leve dos toques um simples
click
de
um
mouse
o
roc;:ar
dos dedos
ou
ate mesmo
um
prosaico
gesto). Eis que, aliada a telecomunicac;:ao, a informatica
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C o n c e i ~ a o ima
permite que esses dados cruzem oceanos, continentes, he
misferios, conectando potencialmente, numa mesma rede
gigantesca de transmissao e acesso, qualquer ser humano
do globo.
Como vimos, no limiar do terceiro milenio, coube
ao
ad
vente da Internet marcar a nova
mudanc;;a
de paradigma
acima mencionada: a sociedade
m
rede e a cultura digi-
tal A todo o memento, novos computadores se interconec
tam
a
rede.
E cada novo n6 dessa rede pode gerar novas
redes,
em
constante extensao, podendo tornar-se produtor
ou em issor de informac;;6es novas e imprevisfveis, reorgani
zando, por conta propria, toda a conectividade global.
A prop6sito, a popularizac;;ao do termo c i e r e s p ~ o
coube a Pierre Levy (2003a), que o utilizou para designar o
novo ambiente cultural nao mais circunscrito aos livros ou
aos meios de comunicac;;ao de massa,
ou
seja, o
espar;o de
comunicar;ao aberto pe/a interconexao mundial
dos
compu-
tadores e das mem6rias dos computadores ( .. ) (p. 92, grifo
do autor). importante e que o
ciberespac;;o
vem permitir a
combinac;;ao de varios modos de comunicac;;ao,
em
graus de
complexidade crescente: o correio eletr6nico, as conferen
cias eletr6nicas, o hiperdocumento compartilhado, os siste
mas avanc;;ados de aprendizagem
ou
de trabalho cooperati
ve, enfim,
os
mundos virtuais multiusuarios.
A existencia do ciberespac;;o trouxe a tona
um
novo tipo
de realidade, a realidade virtual. Para Levy (p. 47, grifo do
autor),
E virtual toda entidade 'desterritorializada',
capaz de gerar diversas manifestac;:6es con
cretas em diferentes mementos e locais de
terminados , sem contudo estar ela mesma
presa a algum Iugar ou tempo em particular.
2
Segundo Pierre
Levy
(2003a,
p.
92), a palavra ci
berespac;:o
foi inventada
em
1984 par William Gibson, em seu romance de
fic
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CiberCultura
berLin
guagem & d u c a ~ a o
Por sua vez, o neologismo cibercultura tambem foi cu
nhado por Levy, para exprimir essa grande mutac;ao da es
sencie
c l = ~
cultura,
em
func;ao do ambiente virtual que se de
senvolve no ciberespac;o,
em
que a informac;ao certamente
se encontra fisicamente situada em algum Iugar, em deter
minado suporte, mas ela tambem esta virtualmente presente
em cada ponto d rede onde seja pedida (ibid., p. 48, grifos
do autor).
Tres princfpios basicos orientaram o funcionamento do l
ciberespac;o e da cibercultura: a interconexao generalizada,
a criac;ao de comunidades virtuais e a
inteligencia c61etiva.
Este ultimo, no dizer de Levy, representa a dimensao mais
importante do ciberespac;o e da cibercultura, pois seria sua
perspectiva espiritual , sua final
id
ade ultima, movida por dois
valores essenciais: a autonomia e a abertura para a alter
i-
dade:
0 papel da informati
ca
e das te cnicas de co
municac;:ao com base digital nao seria substi
tuir o homem
,
nem aproxi
r
-se de uma hi
potetica inteligemcia artificial
,
mas promover
a construc;:ao de coletivos intel igentes , nos
quais as potencialidades sociais e cognitivas
de cada
um
poderao desenvolver-se e ampli
ar-se de maneira recfproca (...)
[e)
servirao
para filtrar o fluxo de conhecimentos , para
navegar
no
saber e no pensar juntos (
.
.
(LEVY, 2003b , p. 25 - 26, grifos do autor
).
A participac;ao nesse espac;o funda-se num direito e sua
construc;ao se aparenta com uma especie de imperative
moral, porque somente esse novo universal e que
da
acesso
atual inteligencia coletiva da especie humana.
A cibercultura
o
p6s humano
As novas tecnologias digitais da informac;ao e comunica
c;ao mudaram tudo: nao apenas as formas do entretenimen
to e do lazer, mas todas as esferas da sociedade: o traba
lho, o gerenciamento politico, administrative e financeiro, s
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C
cei
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CiberCult
ur
CiberLingu gem & Cibe rE
du
cac; ao
Levando em conta o impacto dessas mudanc;as no corpo
humano, o desenvolvimento tecnol6gico aponta para as
possibilidades de formas de existencia p6s-humanas que
outro artista e te6rico, Roy Ascott
apud
Santaella, 2003b, p.
32) , no seu visionarismo, vem chamando de p6s-biol6gicas,
ou seja, a junc;ao do ser humano com o silfcio, a partir do
desenvolvimento das nanotecnologias que, abaixo da pele,
passarao silenciosamente a
in
teragir com as moleculas do
corpo humano.
Santaella (2003b,
p
32) confessa que a expressao p6s
humano e perturbadora e pode ate trazer muifos mal
entendidos. Entretanto, esse termo vem sendo empregado
por artistas ou te6ricos da arte e da cultura desde o infcio
dos anos 1990. A expressao tem sido usada para sinalizar
as grandes transformac;6es que as novas tecnologias da
com unicac;ao estao trazendo para tudo o que diz respeito a
vida humana, tanto no nfvel psfquico quanto social e antro
pol6gico. Ha alguns autores que ate defendem a ideia de
que se trata de um passo evolutivo da especie.
De qualquer forma, nao podemos mais nos furtar a refle
xao sobre
as
modificac;6es pelas quais o ser humano vem
passando nessa era digital, nao somente mentais, mas tam
bern corporais e ate moleculares. Estejamos, pois, alertas:
os
seres mutantes,
os
cyborgs
nao sao mais mera
ficc;ao
cientffica.
s sin is dos novos tempos
Exagero? Nem tanto. Bil l Gates,
em
um artigo
depoimento publicado na separata especial
Tecnologia ,
edi
tada pela revista
Veja
em agosto de 2007, anuncia a chega
da ao mercado dos aparelhos que complementam o teclado
com recursos de reconhecimento de voz, visao, tato e escri
ta manual e acabam com a fronteira entre os idiomas (p.
69).
Respondendo aos que lhe perguntam
se
revoluc;ao digi
tal
esta desacelerando, Bill Gates declara que, muito pe lo
contrario, essa revoluc;ao somente agora esta tomand o cor-
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Conceic; ao
ima
po: transforma
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Ci erCul tura
Ci
berLingu gem
&
e r E d u c a ~ a o
vamos correndo o risco de nos tornarmos novamente anal
fabetos, desta vez
em
linguagem digital.
Na era da cibercultura, o portador direto
do
saber nao
seria mais a comunidade ffsica e sua memoria carnal, mas o
ciberespac;:o (LEVY. 2003a, p. 164). 0 que
e
necessaria
aprender nao pode mais ser planejado nem definido com
precisao e com antecedencia: sao conhecimentos emer
gentes, abertos, continuos,
em
fluxo, nao lineares ( ..) (ibid. ,
p. 158). A fluidez dos saberes implica outro aspecto preocu
pante e fundamental: a rapida perecibilidade dos conheci
mentos. Eis porque hoje, a maioria dos saberes adquiridos
no infcio de uma carreira ficam obsoletes no final de um per
curse profissional, ou mesmo antes (LEVY, 2003a, p. 173).
0 que nos resta a nos, pensadores, pesquisadores e
mestres perante essa sociedade
em mutac;:ao
que nos desa
fia? Antes de tudo e fundamental
compreender a fundo a
complexa tecnologia digital que nos envolve. Nao podemos
continuar nos dando ao luxo de permanecermos analfaby-
tes na era da cibercultura. A escola nao pode continuar
ignorando a realidade digital , na qual
os
alunos j se acham
imersos desde o nascimento.
Conforme nos adverte Santaella
(http://www. pucsp/br/pos/cos/epe/mostra/santaell. htm ), des
de o advento da cultura de massa que,
fora e alem do livro, h8 uma multiplicidade de
modalidades de leitores. Ha o leitor da ima
gem , desenho, pintura , gravura , fotografia .
Ha
o leitor do jornal , revistas . Ha o leitor de grati
cos , mapas, sistemas de nota
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o n c e i ~ a o Lima
pel , saltou para a superffcie das telas eletr6-
nicas, enfim, o leiter das arquiteturas lfquidas
da hipermfdia , navegando no ciberespa
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Cib erCul tura CiberLinguagem Cibe rEdu a
c
o
do autor para se tornar um processo colaborativo de leitura
e escrita simultaneas.
Em se
tratando de conteudos educacionais, o enfoque se
desloca da simples leitura ocasional e descompromissada
para a leitura como instrumento do processo de ens
in o-
aprend izagem . Eis o cerne de novas e graves complica
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Conceic;ao Lim
c;ao industrial
em
massa, no qual
as
crianc;as passam de
uma serie a outra, numa sequencia de materias padroniza
das como se fosse uma linha de montagem industrial. Tam
bem , a fluidez dos saberes implica outro aspecto preocupan
te e fundamental que resulta na rapida perecibilidade dos
conhecimentos. Eis porque hoje, a maioria dos saberes
adquiridos no inicio de uma carreira ficam obsoletes no final
de urn pe rcurso profissional , ou mesmo antes (LEVY,
2003a, p. 173).
que muda, pois, na alfabetizac;ao, no letramento, nos
processes educacionais de internal izac;ao das formas comu
nicacionais nesta cultura digital? Parece-nos que
as
rupturas
sao tao radicais que exigirao urn repensar de alguns dos
elementos basicos da escola. Em primeiro Iugar, deveremos
rever nossos referenciais te6ricos. Piaget (1983) , Vygotski
1
993) e tantos outros ilum inaram a reconstruc;ao dos meto
dos e processes de
al
fabeti
zac;ao
na escola, visando garan
tir ao aluno urn papel mais ativo.
Grac;as
a eles, pudemos
saber um pouco mais sobre como o aluno pensa e como
constr6i o conhecimento. Hoje, mudando as formas de cons
truc;ao do saber, teremos que voltar a pensar esses pressu
postos. Para comec;ar, e precise verificar quem e o sujeito
da educac;ao hoje. Ja sabemos, logo de saida, que e alguem
que interage com uma maquina, urn dispositive mediador a
partir do qual (re)conhece o mundo.
Tambem , deveremos rever nossos curriculos. A escola
estruturalista dos saberes prontos, definidos, acabados e
descontextualizados sera desestabilizada pelo descentra
mento, pela continua produc;ao e negociac;ao de sentidos e
de novos discursos, pelas con
st ruc;
6es abert
as
e
as
pa isa
gens inusitadas. Os conteudos deixarao de se percorrer
como paginas de urn livro a fim de se tornar janelas de urn
hipertexto, em multiplas dimens6es, que se interconectam e
interpenetram. Essas janelas deixarao entrar luzes imprevis
tas.
Outro ponto fundamental : ~ e que § r-
n a escola, a partir do
s_i
nstrumeQLos t ~ c n o l g i c o s sao
~
o t ~ m n ~
novas. Pela primeira vez na hist6ria, a tecnologla
44
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berCu
u
ra berLinguagem
&
lb rEdu a o
da domina9ao e mais conhecida pelo domina
o
do que pelo
dominador. Ou seja, o professor, que ate pouco tempo trazia
o saber, a norma culta, a escrita correta para os nao letra
dos perdeu a corrida tecnol6gica e arrisca-se a tornar-se
novamente um analfabeto (melhor dizer analfabyte ). Hoje o
educando parece ser o que melhor domina os instrumentos
simb61icos do poder, o aparato de maior prestfgio: as tecno
logias virtuais.
0 quarto ponto e a necessidade de se reinventar a profis
sao de professor.
0
novo estilo de ensino-aprendizagem
requer um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mes
mo tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendiza
gem coletiva em rede, na qual o professor e incentivado a
tornar-se um animador da inteligemcia coletiva de seus gru
pos de alunos
em
vez de um fornecedor direto de conheci
mentos (Levy, 2003a, p. 158).
Assim , neste terceiro milenio, talvez fosse melhor reca
racterizar o professor como um engenheiro ou arquiteto do
saber, numa nftida referenda
a
nova arquitetura cognitiva a
ser exigida dos aprendentes: o ensinar a aprender, a Mateti
ca
,
em
vez da simples Didatica, do puramente ensinar. Em
termos comportamentais , pensa-se agora no
dinamizador
de grupos
dedicado a ajudar
os
estudantes a descobrir
as
formas pelas quais se chega ao saber, os processes mais
eficazes e o dialogo possfvel entre
as
disciplinas.
0 grande problema do Brasil e que, na area polftico
pedag6gica, nao se pode ignorar a proverbial parcimonia
(melhor seria dizer avareza ou ate descaso) de nossos go
vernantes quando se trata de investir
em
educa9ao. Tam- '
bem
ha
q
ue
se pensar na desconfian9a para com a aprendi
zagem
online
principalmente se se trata de realiza-la
a
dis-
tancia (o que representa um contrassenso num pafs de pro-'
por96es continentais como o nosso) .
/
Na escola brasileira atual , a maioria dos educadores sa-
be por ouvir dizer das
e,
nao raro torce o nariz para as)
novas tecnologias digitais aplicadas
a
educa9ao, sem jamais
se dar ao trabalho de explora-las seriamente. Uma parcela
consideravel, alias, nunca botou a mao num computador,
45
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Conceir;:ii o Lima
emoora e1es Ja
seJam
uma pec;a comum
em
nossas pr6prias
casas e ate nas nossas pr6prias maos. 0 que dizer, entao,
das novas compet€mcias tecnol6gicas e cognitivas que o
uso da parafernalia virtual exige?
Alem disso, temos a velha acomodac;ao docente que, en-
castelada
em seu
pseudo saber, nao pretende facilmente
ceder espac;o para inovac;6es tecnol6gicas que nao conhece
ou nao domina e na qual finge matreiramente nao acreditar.
Por ultimo, a propria condic;ao dos discentes ainda nao afei
tos
as
tecnologias digitais uma boa parcela de nossa popu
lac;ao
ainda se acha social e digitalmente nao inclufda) e ja
instrumentalizados pelas velhas competencias do texto im
pressa, que salvo raras excec;6es) sentem-se altamente
incomodados com
as
barreiras da nao linearidade e da
fragmentac;ao do texto virtual , alem de se sentirem amedron
tados com dinamica que os processes digitais demandam .
Somando-se tudo isso, percebe-se que nao sera facil ao
paradigma digital impor-se como uma necessidade impres
cindfvel na atual conjuntura educacional brasileira.
0 enfrentamento dessa batalha tem de ser realizado em
tres frentes simultaneas: a primeira diz respeito as pesqui
sas para se adequar a nova realidade virtual as exigencias
o
processo de ensino-aprendizagem . A segunda e a mais
complicada), consiste na sensibilizac;ao das varias instan
cias escolares quanta a necessidade da implementac;ao
urgente das tecnologias digitais
em
todos nfveis de escolari
zac;ao
Como se sabe, nao e facil falar de computadores, de
ciberespac;o e de cibercultura para pessoas que nao tem
que comer, nem onde morar e nao conseguem ainda aces
sar
ou
assim ilar nem mesmo a escola da era da escrita. A
terceira e exatamente informatizar rapidamente o espac;o
educacional e legislar para que a nova escola virtual se es
tabelec;a na pratica, vista que ~ e tijolo, areia, ci
mento e cal
~ t o
se tornando demasiado caras para abrigar
todos os que
af
estao a clamar por
e f f i i ~
especialmente
na area de formac;ao e atualizac;ao profissional.
6
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18/18
ibe r ul tu ra ibe r ingu gem CiberEduca.;ao
ASCOTT, Roy.
Telematic embrace:
visionary theories
o
art technology
and consciousness. Berkeley: Un iversity of
a
li
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GATES, B. A hora
da
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n : Veja Especial TECNOLOGIA.
Ago.
2007, p.
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IBANEZ, J. S.
Hipertexto y hypermedia en
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Disponivel em : . 1
Acesso em: 12 maio 2004.
LEVY, P.
Cibercultura.
2
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., Sao Paulo: Editora
34
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A inteligencia coletiva:
por uma antropologia do ciberes
pa