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GUIA METODOLÓGICO DE FOMENTO à PARTICIPAçãO INFANTIL NAS POLíTICAS PúBLICAS COMITÊ DISTRITAL PELA PRIMEIRA INFANCIA ^ 04 guia metodologico_13102016.indd 1 14/10/16 17:40

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Guia MetodolóGico

de Fomento à ParticiPação inFantil

nas Políticas Públicas

Comitê Distrital Pela

Primeira infanCia^

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Governo de Brasília

Secretaria de Estado de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude

Subsecretaria de Promoção de Políticaspara Crianças e Adolescentes

Comitê Distrital pela Primeira Infância

Guia Metodológico de Fomento à Participação Infantil nas Políticas Públicas

Brasília2016

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GoVerno de brasiliaSecretaria de Politicas para Crianças, Adolescentes e Juventude

CRÉDITOS

Guia metodológico de Fomento à Participação infantil nas Políticas PúblicasProdução ExecutivaEduardo ChavesPerla Ribeiro

organização e textosComitê Distrital pela Primeira Infância:Débora Cristina Sales da Cruz VieiraEduardo ChavesFlávia Karla da Silva de CarvalhoJuciene MedeirosMaria de Fátima SoaresNayana Brettas NascimentoRhaisa Naiade Pael FariasSimone Mourão Valadares

Projeto de escuta de crianças para elaboração do Plano distrital pela Primeira infânciaAna Clara da Silva: professoraBárbara Larcher: professoraCarlos Alberto de Andrade: professorCristiane Rodrigues: professoraDébora Cristina Sales da Cruz Vieira: apoio técnicoEduardo Chaves da Silva: coordenação geralEliene Alves: professoraGustavo Amora: produção e direção dos documentáriosJeane Bomfim: professoraJuciene Medeiros: apoio técnicoKelly Santos Mendes: apoio administrativoLeoneza da Cruz: professoraMaria Célia Haggi Alves: produção executivaMaria de Fátima Soares: apoio técnicoNayana Brettas Nascimento: criação da metodologia de escutaPricila Pereira: professoraRhaisa Naiade Pael Farias: apoio técnicoSandra Pereira: professoraVital Didonet: concepção do projeto

revisão e editoraçãoAscom/Secriança

Agradecimentos especiais a todas as 90 crianças que deram valiosas contribuições ao Plano Distrital pela Primeira Infância. Agradecemos também a todos os profissionais que compõem o Comitê Distrital pela Primeira Infância e a Rede Nacional Primeira Infância, além dos parceiros de luta pela proteção integral de crianças de 0 a 6 anos de idade.

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suMário

Apresentação .............................................................................................07

Como preparar e operacionalizar as atividades ...............09

Estratégias de como ouvir as crianças ......................................12

Recomendações das crianças para o Plano Distrital pela Primeira Infância .......................................20

Algumas considerações ..................................................................... 32

Depoimentos ...............................................................................................33

Para saber mais ........................................................................................ 35

Sugestões de leituras ............................................................................ 38

Referências .................................................................................................. 39

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aPreseNtaÇÃo

Esta publicação foi desenvolvida para divulgar a experiência do Distrito Federal no fomento a estratégias de escuta que preconizem a participação das crianças pequenas na elaboração de políticas públicas destinadas à infância. Nosso entendimento é que a opinião das crianças deve ser considerada na formulação de ações, projetos e programas que a elas dizem respeito. Ao compreender que o conceito de participação deve abarcar não apenas questões alusivas às crianças de 0 a 6 anos, mas, sobretudo, considerá-las como parte do processo de elaboração, pode-se garantir o acesso democrático e cumprimento de seus direitos e necessidades peculiares, desses que mesmo com pouca idade já são cidadãos de direito na nação brasileira.

O projeto em questão foi indicado como finalista ao 1º Prêmio Nacional de Projetos com Participação Infantil, com menção honrosa, promovido pelo Centro de Criação da Imagem Popular (CECIP), por meio do Projeto Criança Pequena em Foco, com apoio da Fundação Bernard Van Leer, Instituto C&A e Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), no qual concorreu com outros 85 projetos de todo o Brasil.

As atividades exemplificadas aqui foram realizadas em uma Instituição de Educação Infantil de Brasília/ Distrito Federal, com 90 crianças de 4 a 6 anos, no ano de 2013. O objetivo do trabalho desenvolvido foi que as próprias crianças pudessem colaborar com a elaboração do Plano Distrital pela Primeira Infância.

O Plano Distrital pela Primeira Infância marca a construção de uma política pública destinada a garantir os direitos de crianças na faixa etária de 0 a 6 anos, incluído o período de gestação. Para tanto, em 05 de fevereiro de 2013, o Governador do Distrito Federal editou o Decreto nº 34.136 que criou o Comitê pela

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Primeira Infância destinado a elaborar o Plano Distrital pela Primeira Infância, em consonância com o Plano Nacional pela Primeira Infância, de 2010. Assim, os exercícios propostos de escuta das crianças pretenderam não apenas a observação e descrição daquilo vivenciado na infância, mas valorizaram a participação dos sujeitos que mais sabem o que é estar nesse período da vida, as próprias crianças.

Em suma, este material apresenta sugestões práticas de atividades para que as crianças sejam provocadas a expressarem seus pontos de vista, conforme pensado para a construção coletiva do Plano Distrital pela Primeira Infância. Entretanto, nada impede que as estratégias adotadas aqui sejam utilizadas em outros contextos, pois assim como a própria infância, a realidade institucional está em constante movimento e anseia por espaços de vanguarda para a garantia integral dos direitos das crianças pequenas.

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coMo PreParar e oPeracioNaliZar as atiVidades

As atividades devem ser realizadas em tempo e espaço apropriados, sempre respeitando o ritmo das crianças e dedicando total atenção e sensibilidade à suas expressões. Por isso, antes de começar o trabalho, procure preparar o ambiente de forma aconchegante, e que ao mesmo tempo facilite e promova a ação e troca entre crianças e adultos.

Entenda que o diferencial dessas atividades está na proposta de romper com um antigo hábito de adultos direcionando a ação das crianças. Nesse sentido, o desafio é a construção de um contexto que valorize as qualidades e potencialidades das crianças, a fim de desencadear intensidades criadoras e revolucionárias em adultos e crianças que surgem justamente no seu encontro, transformando a inércia, em possibilidade de experiências e falas inesperadas (KOHAN, 2004).

A seguir, algumas dicas de como as atividades podem ser conduzidas:

1. adultos envolvidosDe preferência trabalhe em dupla, pois enquanto uma pessoa conduz as atividades, a outra pode auxiliá-la no que for preciso. Assim, é importante definir previamente as tarefas de cada um dos adultos participantes na aplicação das atividades. Por exemplo: quem conduz a atividade, quem separa os materiais, quem somente observa e faz o registro escrito, fotográfico e de áudio durante a atividade.

2. duração das atividadesA proposta para a duração de cada atividade é de 1 hora podendo ser alterada de acordo com o ritmo do grupo. Caso haja

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dispersão ou desinteresse das crianças ao longo da realização da atividade, acolha o interesse delas e retome a atividade a partir de outra perspectiva e, talvez, em outro momento.

3. como iniciar as atividadesAntes de iniciar as atividades, organize uma roda de conversa que sensibilize e estimule a participação das crianças, explicando o que será feito e qual o objetivo do trabalho a ser desenvolvido.

4. idade das crianças e tamanho do grupoAs atividades dessa experiência foram realizadas com crianças de 4 a 6 anos, em grupos de mais ou menos vinte crianças. Mas, nada impede que o tamanho do grupo varie ou que as atividades sejam desenvolvidas com crianças de outras faixas etárias. Lembre-se apenas de que é preciso adequar a atividade de acordo com o grupo e idade das crianças.

5. articulação entre os parceiros e autorizaçãoSugere-se fazer um contato prévio com a instituição onde as atividades serão desenvolvidas. Conhecer a rotina, a forma de trabalho e o contexto das crianças é fundamental para pensar no desenrolar da proposta.

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É importante também realizar um encontro com os responsáveis pelas crianças para explicar as atividades que serão desenvolvidas, e assim mobilizá-los a participar e apoiar as crianças. Aproveitar esse momento para esclarecer dúvidas, entregar um comunicado escrito com a explicação do projeto e solicitar autorização da imagem das crianças.

É fundamental ainda que as crianças sejam consultadas a respeito de seu interesse e se querem ou não participar das atividades. Elas podem, da forma mais conveniente, e de acordo com sua idade, assinar um termo de consentimento em que concordam em participar. Esse termo deve ser escrito em uma linguagem clara e acessível, precisa ser lido e explicado antes que a criança o assine.

6. registro e organizaçãoÉ importante que um adulto fique responsável pelo registro (escrito, fotográfico e áudio) enquanto outro conduz a atividade.Os registros devem ser fiéis ao que as crianças disseram e não devem ser escritos diretamente na atividade realizada pela criança. Por exemplo, toda vez que as crianças finalizarem seus desenhos, fazer uma “roda de conversa” para que contem sobre eles. Anotar os comentários das crianças em uma folha à parte identificada com o nome da criança. Finalizada a atividade, grampear o desenho da criança ao respectivo registro escrito de explicação sobre o desenho.

Sugere-se que o registro escrito detalhado seja elaborado ao final de cada atividade a partir das informações coletadas durante sua realização.

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estratÉGias de coMo ouVir as criaNÇas

roda de coNVersa a Partir de liVros

atiVidade 1objetivo: Promover o debate entre as crianças sobre os problemas do país onde vivem e construir conjuntamente propostas de mudanças.metodologia: Realizar a leitura do livro SE A CRIANÇA GOVERNASSE O MUNDO. Após a leitura do livro, iniciar o diálogo para descobrir o que as crianças pensam sobre as situações do mundo, o que gostaram na história, e quais suas propostas para modificar.Duração média: 40 minutos.material: Livro SE A CRIANÇA GOVERNASSE O MUNDO, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora.

atiVidade 2objetivo: Promover o debate entre as crianças sobre seus medos e como estes impactam na sua vida em comunidade.metodologia: Realizar a leitura do livro QUEM TEM MEDO DE QUÊ?. Após a leitura do livro, iniciar o diálogo para que as crianças socializem seus medos e suas estratégias pessoais para lidar com seus temores.

Uma terra governada apenas por crianças – esta é a situação imaginada

pelo autor, que cria um mundo dedelícias e maravilhas, sem violência,de desencontros se transformando

em encontros e de muita, muita alegria.

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sugestão de perguntas: Quais são seus medos? O que vocês fazem quando ficam com medo?duração média: 40 minutos.material: Livro QUEM TEM MEDO DE QUÊ?, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora

Medo de trovão ou de avião; de lagartixa ou de escuro...

todo mundo tem um medo escondido, que pode ser compartilhado para diminuir

de tamanho e quem sabe, sumir...

roda de coNVersa a Partir de iMaGeNs

objetivo: Promover o debate entre as crianças sobre o que gostam e o que não gostam no local onde moram e elaborar em conjunto propostas que solucionem ou amenizem os problemas encontrados.metodologia: Para melhor aproveitamento esta atividade deverá ser realizada em duas etapas.

encontro 1Observar imagens diversas (parque infantil, crianças brincando, família passeando pela cidade, televisão exibindo desenho animado e crianças no computador). Iniciar o diálogo com as crianças sobre as imagens vistas, solicitar que relacionem com a realidade da comunidade onde moram e emitam sugestões de mudanças na comunidade. O registro desta atividade será feito com desenhos e registro escrito das opiniões das crianças.

encontro 2Observar as seguintes imagens (escola, prato de comida e fantasma). Iniciar o diálogo com as crianças sobre as imagens

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vistas, solicitar que relacionem com a realidade da comunidade onde moram e emitam sugestões de mudanças na comunidade. O registro desta atividade será feito com desenhos e registro escrito das opiniões das crianças.duração média: Dois encontros de 1 hora cada.material: Imagens (parque infantil, crianças brincando, família passeando pela cidade, televisão exibindo desenho animado e crianças no computador, escola, prato de comida e fantasma), folhas de papel A4, lápis de cor, giz de cera, caneta hidrocor, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora.

roda de coNVersa a Partir de ProduÇÃo GráFica

objetivo: Promover a reflexão das crianças em relação às diferentes realidades e sobre a comunidade onde moram e o seu modo de vida por meio da produção gráfica.metodologia: Solicitar que as crianças façam um desenho de acordo com o tema da oficina do dia. Serão realizadas cinco oficinas, cada uma com os seguintes temas: família e comunidade; saúde e alimentação; brincar; escola e educação; violência e medo.Realizar uma roda de conversa com as crianças sobre os desenhos produzidos, assim cada uma terá a oportunidade de apresentar sua produção.Registrar por escrito o que as crianças falarem a respeito do desenho.duração média: 1 hora cada encontro. material: Folha A4, caneta hidrocor, giz de cera, lápis de cor, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora.

roda de coNVersa a Partir de reGistro FotoGráFico

objetivo: Conhecer e compreender as perspectivas das crianças sobre a escola e seu entorno e as brincadeiras desenvolvidas nesses espaços.

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metodologia: Realizar uma roda de conversa sobre a escola e seu entorno a fim de perceber o que as crianças gostam e não gostam, do que brincam, com quem brincam especificamente nesses espaços.Promover um momento para que cada criança fotografe cenas, situações, objetos que representem: Quais são as brincadeiras prediletas? O que mais gostam na escola? O que não gostam na escola? O que gostam no entorno da escola? O que não gostam no entorno da escola? Realizar uma roda de conversa para as crianças apresentarem e conversarem sobre as fotos.

sUGestão de cronoGrama:encontro 1: As crianças irão fotografar tudo o que se refere às brincadeiras e à escola.encontro 2: As crianças farão um passeio no entorno da escola e irão fotografar este espaço. encontro 3: Realização da roda de conversa com as crianças sobre as fotos. É importante que as fotos estejam reveladas para que possam ser manuseadas pelas crianças.duração média: 1 hora cada encontro.material: Bloco de anotações com caneta, máquinas fotográficas, filmadora e fotos reveladas.

BriNcadeira de rePórter

objetivo: Promover o diálogo e expressão das crianças sobre os temas trabalhados por meio da atividade lúdica.metodologia: Construir com as crianças um roteiro de perguntas sobre as temáticas (família, escola, saúde, mídia e tecnologia, brincar, medos e violência) para a brincadeira de repórter.Preparar com antecedência o cenário, o figurino e o material para as crianças utilizarem na entrevista (microfone, câmera de filmagem de cartolina ou papelão).

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Organizar as crianças em duplas: uma será o repórter e a outra o entrevistado. Vale lembrar que é interessante que haja o revezamento nas duplas, para as crianças vivenciarem os dois papéis.

duração média: 1 hora e 30 minutos.material: Cola, cartolina, papelão, tinta guache, fita adesiva, folha A4, caneta hidrocor, giz de cera, lápis de cor, máquina fotográfica, papéis coloridos, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora

coNstruÇÃo de MaQuete lÚdica

objetivo: Conhecer e compreender a perspectiva das crianças sobre sua cidade, o que gostam e o que não gostam.metodologia: Realizar uma roda de conversa com as crianças sobre como gostariam que fosse a cidade onde moram: parques, praças, hospitais, postos de saúde e escola.Explorar os diversos materiais que poderão ser utilizados para a construção da maquete e deixar as crianças à vontade para construírem uma cidade conforme a criatividade e imaginação do grupo. Realizar uma roda de conversa com as crianças sobre a cidade construída. Elas poderão inventar um nome para a cidade e até falar de lugares que não aparecem na maquete. duração média: 2 horas.material: Materiais reciclados, papéis coloridos, caneta hidrocor, régua, tesoura, fita crepe, papelão, papel cartão preto, panfletos de supermercado e/ou jornal, caixas de papelão, lápis de cor, cola plástica, placa de isopor, massa de modelar, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora.

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atiVidade coM a FaMÍlia

objetivo: Conhecer as atividades realizadas em família e a forma como as crianças interagem com as pessoas e os espaços.metodologia: Solicitar aos familiares das crianças que registrem com desenhos juntamente com elas: o que gostam de fazer e o que gostariam de fazer juntos; a brincadeira predileta da família; onde gostam de passear juntos.Realizar uma roda de conversa com as crianças para apresentarem suas produções e conversarem sobre o que gostam de fazer e o que gostariam de fazer junto com seus familiares.duração média: Um final de semana com a família e um encontro de 1 hora para a roda de conversa.material: Folha A4, caneta hidrocor, giz de cera, lápis de cor, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora.

reGistro FotoGráFico Feito coM as criaNÇas Na coMuNidade oNde MoraMatividade com Famíliaobjetivo: Conhecer a relação das crianças com a comunidade onde moram e a forma como interagem com seus espaços.

Uma exposição com as fotografias tiradas pelas crianças pode ser organizada ao final do projeto.

metodologia: Solicitar aos familiares das crianças que as acompanhem para fotografarem cenas, situações, objetos que revelem o que gostam e não gostam, do que brincam, com quem brincam, nesses espaços.

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Solicitar aos familiares que encaminhem juntamente com as fotos um breve relato escrito sobre elas, com a justificativa da escolha das crianças. Realizar uma roda de conversa para crianças apresentarem as fotos e conversarem sobre o registro fotográfico de cada criança. duração média:Um final de semana com a família e um encontro de 1 hora para a roda de conversa.material: Bloco de anotações com caneta, máquinas fotográficas, filmadora e fotos reveladas.

BriNcadeiras diriGidas

objetivo: Conhecer as brincadeiras infantis e a forma com que as crianças se apropriam dos espaços organizados para essa atividade.metodologia: Organizar cantos para brincadeiras e disponibilizar para as crianças diferentes materiais e objetos relacionadosà casa, hospital e escola. As crianças escolherão os locais e objetos que farão parte do cenário da brincadeira e organizarão todo o espaço.As crianças serão divididas em três grupos que irão brincar de casinha, de escola e de hospital, conforme suas preferências.Observar as brincadeiras das crianças e registrar as suas expressões e seus pensamentos sobre as temáticas (brincar, escola, saúde, família, medos e violência) presentes nos diálogos das brincadeiras.duração média: até 2 horas.material: Brinquedos diversos, objetos de uso doméstico, hospitalar e escolar, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora.

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JoGo de taBuleiro – caMiNHos Pela cidade

objetivo: Conhecer e compreender a visão das crianças sobre os caminhos que percorrem de casa até a escola, o que gostam e não gostam nesse percurso.metodologia: Em uma cartolina desenhar previamente uma trilha com trinta casas. Este será o tabuleiro do jogo. Colar nos quadrados da trilha quinze carinhas felizes e quinze carinhas tristes. Ter em mãos pinos para serem movidos na trilha.Em roda, perguntar às crianças sobre o caminho que percorrem para irem de suas casas até a escola.Após esta roda de conversa, propor às crianças que escolham um trecho do caminho por onde passam e desenhem nos quadrados de papel que serão distribuídos pelo educador. Em seguida, esses desenhos serão colados no tabuleiro do jogo, completando o percurso da saída da casa até a chegada na escola.explicar as regras do jogo:- Jogar o dado e andar um número de casas que sair.- Se cair na casa da carinha sorrindo falar o que gostam no

caminho de casa para a escola.- Se cair na casa da carinha triste falar o que não gostam no

caminho de casa para a escola.duração média: 1 hora e 30 minutos. material: Cartolina, caneta hidrocor, cola, tabuleiro, dado, pinos (peças do jogo), folha A4, lápis de cor, máquina fotográfica, gravador, bloco de anotações com caneta, máquina fotográfica e filmadora.

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recoMeNdaÇÕes das criaNÇas Para o PlaNo distrital Pela PriMeira iNFÂNcia

A partir das atividades realizadas com as 90 crianças, pudemos registrar expressões produzidas no coletivo e na individualidade deste grupo de crianças. No processo de escuta emergiram concepções, recomendações e reflexões referentes aos seguintes temas: família e comunidade, saúde e alimentação, brincar, escola e educação e violência e medo.

o QUe É Família?“É ter mãe, pais, amigos e irmãos.” (luis Felipe)“Cuidar dos filhos.” (bárbara)“Os pais não podem abandonar as crianças.” (lorena)“A família são os parentes e vizinhos.” (Paulo)

“Família são pessoas que ficam juntas. Minha tia estava com o carro quebrado e meu pai ajudou levar

na minha casa. Família se ajuda.” (maria eduarda)

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o QUe É cidade/comUnidade?“Cidade tem prédio, tem pista, tem carro, tem sinal para parar os carros, para as pessoas atravessarem. As pessoas tem que dar a mão para atravessar. Na minha cidade poucas pessoas morrem, tem um hospital. Na rua tem faixa. Ia brincar na calçada porque na rua é perigoso.” (richard)

“Na cidade tem sinal, hospital. Na rua tem engarrafamento porque está reformando.” (Gabriel)

“Na minha cidade pode brincar na rua.”(beatriz)

“As ruas são cheias de pedras.” (sofia)

“Minha família, minha mãe, meu pai, minhas irmãs.

A família tem que cuidar dos bebês, das crianças, deixar as crianças, brincar lá fora, dar comida, deixar assistir televisão.” (Vivian)

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do registro fotográfico feito pelas crianças

“Não gosto do lixo espalhado ao céu aberto.” (marcelo)

recomendações das crianças – Família e comunidade“Colocar mais ônibus porque demoram muito a passar e estão sempre muito cheios”;“Ajudar as pessoas a arrumarem um emprego”;Ter mais médicos para ajudar as pessoas doentes;Dar casa para as famílias e construir um monte de casa nova;Ajudar os pobres;A família tem que cuidar dos bebês e das crianças;A família tem que deixar as crianças brincarem lá fora, dar comida e deixar assistir televisão;A família tem que brincar com as crianças para elas ficarem felizes;

“Eu tirei foto da pista porque os carros passam e não tem faixa de pedestre.” (maria clara)

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A cidade poderia ser mais colorida e com muitas flores;A cidade tem que ter mais faixas de pedestre e sinal para as pessoas atravessarem semserem atropeladas;As ruas e calçadas precisam ser retas, sem lama, sem terra, sem buracos para poder brincare andar de bicicleta sem se machucar.

o QUe É saúde?

“Sair do hospital.”(maria eduarda)

“Ter saúde é cuidar de você mesmo.” (samara)

“Tomar banho e passar sabão.” (maria eduarda)

“Se alimentar direito, comer verduras e tomar água.” (rebeca)

“Hospital tem que ser muito colorido e as camas macias e muitas televisões.” (mariana)

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“As crianças do hospital deveria soltar pipa enquanto os pais ficam esperando. Minha mãe ficou 5 horas na

fila esperando com meu pai, eu fiquei triste.” (Francisco)

“No Hospital deveria ter janelas coloridas, árvores e jardim.” (sarah)

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recomendações das crianças – saúde e alimentaçãoRecomendações das Crianças – Saúde e AlimentaçãoDar comida para acabar com a fome das crianças;Ter saúde é poder brincar, comer frutas, verduras, arroz, feijão e poder dormir;Ter que acordar cedo é muito ruim;O hospital tem que ser muito colorido, com camas macias, árvores, sol e jardim;As crianças do hospital deveriam soltar pipa enquanto os pais ficam esperando na fila paraserem atendidos;No hospital, a criança que não chorar na vacina e injeção deve ganhar um prêmio e um passeio; para as meninas, bonecas, e para os meninos, carrinhos;Na cidade deveria ter mais hospitais e mais médicos.

o QUe É brincar?

“Se divertir.” (luiz Felipe)

“Brincar é brinquedo. Brincar é quando as professoras deixam os meninos no parque e ir na brinquedoteca.” (nelciely)

“Brinco de boneca com as amigas.”(beatriz)

“Correr.”(João)

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“Brincar é se divertir muito com meu pai. Ficar feliz e relaxar o corpo.” (sophia Furtado)

“Brincar é quando fico feliz e alegre. Também quando estou brincando com as minhas bonecas.” (elis regina)

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do registro fotográfico:

“Gosto de brincar com as flores” (rebeca) Casa de Ismael – Brasília, DF “Brincar de pisar nas folhas secas porque faz um barulho legal. Faz “creck” – Casa de Ismael – Brasília, DF – Agosto de 2013

“Brincar de subir na árvore” – Casa de Ismael – Brasília, DF “Brincar de subir e pular” – Casa de Ismael – Brasília, DFAgosto de 2013

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“Brincar de subir no trepa-trepa” – Casa de Ismael – Brasília, DF Agosto de 2013

recomendações das crianças – o brincarConstruir um monte de brinquedos novos e diferentes;Dar brinquedos para as crianças que não tem brinquedos;Espaço grande para pular e correr;Árvores para subir;Folhas e frutinhas para brincar de comidinha;Brincar de subir e pular, subir e escorregar;Ter parque e praça perto de casa para poder brincar;Casas menores para ter mais espaço para fazer o parque;Tirar a sujeira do parque para poder brincar melhor.

o QUe É Uma escola leGal e diVertida?“Ser colorida.” procurar quem falou“Lugares para brincar.”“Ter alimentação.”

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“Eu gosto da minha escola, mas queria que tivesse mais plantas e brinquedos novos.” (maria eduarda)

“Eu desenhei o pátio e o parquinho porque eu quero que eles melhorem.” (maria Vitória)

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recomendações das crianças – escola e educaçãoAjudar as crianças a irem para a escola;A escola deveria ser colorida;Escola deveria ter piscina com tobogã e uma quadra com grama; Escola deveria ter mais plantas;Escola deveria ter mais brinquedos;Escola deveria ter uma escada para escalar;A escola deveria ser aberta e grande para ter muito espaço para correr;Ter escolas perto das casas.

medos e ViolÊncia:Maiores medos das crianças:Medo de bêbado;Medo de ficar sozinho;Medo de ficar sem comida, sem casa, sem roupa;Medo de injeção;Medo da briga dos pais;Medo de ficar com frio;Medo de pessoas grandes; Medo de perder a mãe;Medo de morrer;Medo de ladrão e bandido;Medo de doença.

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“Eu tenho medo de bichos, do meu pai e da minha mãe irem para longe e deixar eu e minha irmã sozinhos e não voltar logo. Tenho medo de ficar com frio, muito frio.” (arthur silva)

“Eu tenho medo de bêbado.” (João Pedro)

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alGuMas coNsideraÇÕes

Este Guia Metodológico foi pensado para contribuir com a reflexão a respeito da importância de se ouvir a opinião das crianças quanto aos assuntos que permeiam suas vidas. E assim, questionar a relação desigual entre adultos e crianças que fomenta o medo e a estranheza, favorece a inibição da expressividade das crianças e destrói sua capacidade de sonhar.Enquanto as crianças não forem consultadas sobre o que pensam, continuaremos vivendo uma lógica adultocêntrica, em que o adulto define e arbitra a respeito daquilo que será feito para as crianças, e não com elas.

Ressaltamos, ainda, que questionar as crianças e deixá-las falar não basta. É preciso ouví-las com atenção, sensibilidade e emoção, tendo a consciência de que suas falas são permeadas de imaginação e sentimentos diferentes dos adultos, por isso são singulares e preciosas para nossas dicussões e compreensão do mundo.

Nesse sentido, nosso foco talvez devesse mudar, e ao invés de pensarmos o que seria melhor para uma criança ideal em um cenário homogêneo, possamos pensar em interromper o que está posto, o que possibilitaria a escuta da criança real nos diversos contextos sociais que ocupa, ou seja, é preciso promover o encontro.

O projeto desenvolvido e aqui citado não assegura por si mesmo que as crianças serão ouvidas em seu cotidiano. Mas anuncia possíveis maneiras para facilitar que elas sejam levadas em conta. Por isso, não poderia ficar apenas em uma atitude solitária, mas se propõe a compor com outros parceiros a promoção e o fortalecimento de uma rede pela participação das crianças.As atividades aqui relatadas não devem ser encaradas como

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uma fórmula para se ouvir a todas e quaisquer crianças. Ao se organizarem momentos com as crianças deve-se tê-las como inspiração para a partir da necessidade do que se precisa saber, a pergunta certa possa ser feita, e que novas propostas sejam criadas partindo do grupo de crianças com que se pretende trabalhar.

dePoiMeNtos

Abaixo destacamos alguns depoimentos sobre o processo vivido por diferentes sujeitos participantes do projeto de escuta:

criançasAo final da Brincadeira de repórter perguntou-se às crianças se gostaram da atividade, o que mais gostaram e o que aprenderam. Abaixo alguns de seus depoimentos sobre:“Eu me senti a vontade para descobrir as minhas coisas”. (luis)“Muito divertida”. (daniel)“Posso ser um presidente”. (daniel)“Eu posso ser diretor desta escola”. (daniel)“Eu gostei de falar. Eu gosto de falar no microfone.”

Familiares das criançasO mal dos adultos é achar que a criança fala por falar, na verdade não é, a pessoa quando adulta tem que prestar atenção no que a criança fala, a criança não tem muito a intuição de mentir, quando ele vê uma coisa errada ela fala que aquilo está errado.

A gente quase não deixa as crianças se expressarem, sempre estou com pressa, sempre tem muita coisa para fazer, ele quer falar e a gente não deixa, depois, depois e nunca. E, depois disso eu passei a ouvir mais ele, a brincar com ele, sentar com ele e

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ele falar, igual no dia da atividade que ele falou: eu gosto muito de brincar com o meu coleguinha, gosto de brincar com o meu irmão, desenhou jogando bola e essas coisas foram muito boas para a experiência. A escola convocou a gente para uma reunião e falou do projeto e eu achei muito legal e importante. Mudou, eu passei a dar mais atenção a ele porque na correria do dia a dia a gente não dá e, depois a gente começa a pensar que precisa, a gente precisa ouvir mais eles. (Sandra)

O projeto foi muito bom porque muitas vezes os pais não tem tempo para ouvir os filhos, o menino quer falar. Psiu! Peraí menino, depois eu te escuto. Então o projeto foi muito bom para aproximar mais ainda os filhos dos pais. (Cremilda)

ProfessorasEsse projeto veio em boa hora para a nossa escola. Na verdade a nossa escola já trabalhava com isso, com a escuta das crianças, só que a gente aprendeu muito a não intervir nas respostas das crianças, a gente aprendeu muito a não induzir o que elas queriam. É um espaço que elas estão tendo para expor as suas ideias, vontades, mas é um espaço para as pessoas verem pelas crianças.

Acho que este projeto foi bem interessante para conhecermos mais as nossas crianças, conhecer as nossas famílias. Uma atividade que desenvolvi ontem, na sala, foi uma constante reclamação relacionada ao transporte. As crianças reclamam que vem no ônibus lotado, reclamam que vem em pé muitas vezes e, essa insatisfação deles de acordar muito cedo para chegar na escola e ter que vir no ônibus lotado. Uma das nossas crianças disse que se ele governasse o mundo, ele colocaria mais ônibus, mais portas para não ficar se machucando tanto na hora de descer do ônibus.

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Para saBer Mais

Plano nacional Primeira infância (PnPi)Esse documento político e técnico, lançado em dezembro de 2010, visa orientar durante os próximos doze anos, a ação do governo e da sociedade civil na defesa, promoção e realização dos direitos da criança até seis anos de idade. Cabe ressaltar que a proposta para este Plano foi construída num processo de ampla participação social e política, à luz da diretriz constitucional expressa no parágrafo 7 do art. 227 - de “participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis” e pelas instituições que compõem a Rede Nacional Primeira Infância. Em seguida, o documento foi submetido a um amplo processo de análise, crítica, debate, ajustes e complementações, do qual participaram organizações governamentais e não governamentais, especialistas, técnicos, pesquisadores nos diversos assuntos que dizem respeito aos direitos da criança.

Plano distrital pela Primeira infânciaPlano Distrital pela Primeira Infância é um marco histórico de luta por representar o compromisso firmado entre diversos agentes que trabalham direta ou indiretamente na garantia dos direitos de crianças de 0 a 6 anos, para construir estratégias de ação por um período de 10 anos, voltadas a concretização dos direitos dessa população, no âmbito do Distrito Federal. Seu objetivo principal é construir novas práticas e contextos nas políticas públicas e sociais para a Primeira Infância no Distrito Federal, alicerçando as diretrizes do Plano Distrital pela Primeira Infância (PDPI) em consonância com as orientações do Plano Nacional pela Primeira Infância (PNPI).

O Plano Distrital foi elaborado com a participação do segmento mais interessado, ou seja, o das crianças de até 6 anos de idade.

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Essa característica do Plano demonstra que o protagonismo e a cidadania podem e devem ser exercidas desde os primeiros anos de vida e cabe a nós, adultos, garantirmos o direito de participação dessas crianças de forma que elas consigam se expressar, e não necessariamente da forma que entendemos ser a correta. As crianças sabem muito bem o que querem e a metodologia construída para realizar a consulta a elas sobre o Plano Distrital evidenciou que o protagonismo precisa ser viabilizado em todas as etapas da vida.

Projeto de escuta das crianças para elaboração do Plano distrital pela Primeira infância

Tendo como referência o processo de construção do Plano Distrital pela Primeira Infância, a equipe da Secretaria da Criança tomou a iniciativa, em parceria com a Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar (OMEP/Brasília), para que conjuntamente com o Comitê pela Primeira Infância fosse elaborado cuidadosamente o projeto “Escuta das Crianças”. Esse projeto foi pensado para que profissionais, partindo de sua prática pedagógica desenvolvida em uma instituição de Educação Infantil do Distrito Federal pudessem vivenciar a escuta, de forma sensível, das crianças. Apesar de ser uma iniciativa nova no âmbito do DF, o projeto foi indicado como finalista, com menção honrosa, ao 1º Prêmio Nacional de Projetos com Participação infantil, promovido pelo CECIP Centro de Criação da Imagem Popular, por meio do Projeto Criança Pequena em Foco, com apoio da Fundação Bernard van Leer, Instituto C&A e Rede Nacional Primeira Infância (RNPI)

Partindo de atividades planejadas para ouvir e conhecer os desejos e experiências daquelas crianças, a cada atividade, elas participaram e reivindicaram melhorias em diversas situações: na escola, em casa, na comunidade e em outros locais.

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O projeto reafirma a importância de ouvir as crianças e, a partir dessa escuta, sugerir intervenções para a melhoria da qualidade de vida das crianças pequenas.

O resultado principal da participação das crianças do projeto foi a publicação do Plano Distrital pela Primeira Infância, que foi aprovado, por unanimidade, durante a Plenária nº 237, de 21 de novembro de 2013, do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal – CDCA/DF. Além disso, foram produzidos dois vídeos-documentário que apresentam o processo de escuta das crianças. O primeiro vídeo, de aproximadamente 5 minutos, registra as falas de crianças 3 a 6 anos, de uma instituição de educação infantil do Distrito Federal. Esse vídeo mostra como as crianças estão ligadas nos problemas de seu ambiente e que elas têm ideias e sugestões para melhorá-lo. Já o segundo vídeo, com depoimentos de gestores, familiares, professoras e crianças, relata o processo de escuta e foi produzido com o objetivo de ajudar a quem deseja incluir a voz - a participação - das crianças na formulação de políticas públicas ou em outras situações em que as crianças devam ser ouvidas.Os resultados do projeto podem ser acessados nos endereços eletrônicos abaixo:

Plano Distrital pela Primeira Infância: http://www.crianca.df.gov.br/biblioteca-virtual/doc_download/274-plano-distrital-pelaprimeira-infancia.html

Escutar as Crianças (documentário): http://www.youtube.com/watch?v=_Zk6Boynrno

Escutar as Crianças - faça você mesmo (documentário): http://www.youtube.com/watch?v=_jCUiGuRllQ

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suGestÕes de leituraslivros de literatura infantil:

o QUe É Uma criança? BEATRICE ALEMAGNA

QUem tem medo de QUÊ? RUTE ROCHA

se criança GoVernasseo mUndo? MARCELO XAVIER

aGora não, bernado

DAVID MCKEE

brinQUedosANDRÉ NEVES

dança na PraçaJONAS RIBEIRO

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livros sobre pesquisa com crianças:CRUZ, Silvia Helena Vieira (Org.). A criança fala: a escuta de crianças em pesquisa. São Paulo: Cortez.

FARIA, Ana Lucia Goulart de (org.). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. São Paulo: Autores Associados, 2002.

MÜLLER, Fernanda; CARVALHO, Ana Maria Almeida. Teoria e prática na pesquisa com crianças: diálogos com William Corsaro. São Paulo: Cortez, 2009.

SARMENTO, Manuel Jacinto. Estudos da infância. Petrópolis: Vozes, 2008.

TONUCCI, F. Quando as crianças dizem: agora chega! Porto Alegre: Artmed, 2005.

reFerÊNcias

KOHAN, W. O. A infância da educação: o conceito devir-criança. In: KOHAN, W. (org.). Lugares da infância: filosofia. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

ROCHA, R. Quem tem medo de quê? São Paulo: Global, 2003.

XAVIER, M. Se criança governasse o mundo. Belo Horizonte: Formato, 2003.

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Secretaria dePolíticas para Crianças,

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Secretaria de Políticas para Crianças,Adolescentes e Juventude

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