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Artigos publicados de Xoán Carlos Lagares:

Mafiocracia[21/09/2005] O ano passado viu-se na televisão a cabo brasileira um programa estadunidense apresentado pelo magnata Donald Trump, um tipo peculiar que ostenta um cabelo meticulosamente laqueado. Depois fizeram aqui uma versão própria, com um ricaço local, desses que aparecem freqüentemente nas colunas de sociedade, com um penteado equivalente. Nas ruas de São Paulo o programa era anunciado com o seguinte bordão: "Dezesseis candidatos para um único emprego. Isso é que é reality show". Acontece que sempre que a Prefeitura do Rio convoca um concurso público para cobrir um cento de vagas na empresa de coleta de lixo, os candidatos contam-se aos milhares. E isso é "realidade", sem espetáculo.

E agora, Lula? (17/08/2005)

A língua, a imaginação e o poder (10/07/2005)

Pesadelos em paralelo (02/06/2005)

Xoán Carlos Lagares

Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

Coruña. Vive actualmente no Brasil, entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é profesor de Lingüística Histórica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo).

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Pesadelos em paraleloUn artigo de: Xoán Carlos Lagares[02/06/2005]

Os sonhos misturam tempos e lugares, pessoas de um continente aparecem em outro, falando línguas que desconhecem, em situações estranhas. Também os pesadelos embaralham as realidades, e às vezes nem sei mais se estou acordado. Sei apenas que um outro mundo é sempre possível.

Río de Janeiro, 2005. O matrimônio formado pelos políticos Anthony Garotinho e Rosinha Mateus foi acusado de abuso de poder e, em conseqüência, declarado inelegível pelos próximos três anos, embora a sentença ainda não seja firme. Garotinho (é "apelido", como dizem no Brasil, isto é, cognome ou alcunha) pertence ao PMDB e foi governador do Estado do Rio. Membro de uma congregação evangélica, no seu discurso misturam-se religião e populismo. Deixou o governo do Estado para ser candidato à presidência da República nas eleições que ganhou Lula. Quem se candidatou nessa ocasião ao governo estadual foi a sua mulher, Rosa Mateus, mais conhecida como Rosinha Garotinho, de quem agora ele é "assessor".

A obra mais marcante da gestão de Garotinho foi a construção do chamado Piscinão de Ramos, uma macro-piscina destinada ao povo da periferia do Rio, que concentra boa parte da sua base eleitoral, longe das mundialmente conhecidas praias do litoral carioca, na Zona Sul. Na anterior eleição foi encontrada uma grande soma de dinheiro na sede do PMDB, cuja procedência ainda não se esclareceu, destinada à compra de votos. Uma semana antes das votações, os Garotinho repartiram bolsas de estudo, casas a um real e outras vantagens entre o "povão", termo depreciativo empregado com "carinho" pelos populistas (meu povão...) para designar os brasileiros que moram na periferia ou nas favelas, que trabalham por salários de miséria e que são forçados a usar o insuportavelmente precário sistema público de saúde e de educação. Para designar, enfim, todos aqueles a quem se nega mesmo a categoria de "povo". Reproduzem assim uma das mais despreciáveis práticas eleitorais do país, o reparto de "cestas básicas" de comida, com produtos de primeira necessidade para os eleitores mais pobres. Desde que estão no poder, os Garotinho usam as instituições públicas como se fossem da sua propriedade, cortando radicalmente os investimentos em municípios governados por outros partidos.

Galiza, 2005. O veterano candidato do PP, Manuel Fraga, é só um "garotinho" nos cartazes eleitorais. Ao invés do que acontecia com Dorian Gray, o personagem de Oscar Wilde, que se mantinha fisicamente imune às mazelas da vida porque era o seu retrato que perdia o viço e avelhentava, Fraga rejuvenesce a cada eleição nos cartazes de propaganda. Invariavelmente, para demostrar que o político idoso ainda está em forma, a cada eleição entra em cena na "imprensa livre" do país o Fraga caçador, ou o Fraga inaugurador, ou o Fraga namorador, o kit completo com todos os acessórios, espingarda e chapéu tirolês, tesoura e fita vermelha ou ramo de flores na mão. O problema é que sempre estamos em campanha. E isso que o ministro da propaganda de Franco compreendeu cedo, que a atividade política vem sendo uma campanha constante, constitui o elixir da longa vida pública.

Diplomata pseudo-anglófilo, ministro repressor, reformista autoritário, chefe da oposição, presidente regionalista, inimigo do nacionalismo desintegrador, centralista descentralizado, amigo do "governo-amigo" e, novamente, chefe da oposição autonômica ou re-conquistador da Espanha infiel, as mil caras de Fraga são apenas reflexos de uma única face, imutável. A que se repete nos cartazes eleitorais, eternamente jovem, mefistofélica. O verdadeiro rosto do poder conservador, muito bem conservado anos a fio.

A base eleitoral de Fraga está fora das cidades, onde o PP mantém um férreo controle do território e onde impera a lógica do "governo

Xoán Carlos Lagares

Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

Coruña. Vive actualmente no Brasil, entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é profesor de Lingüística Histórica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo).

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A língua, a imaginação e o poder (10/07/2005)

Ver todos os artigos de Xoán Carlos Lagares

http://vello.vieiros.com/opinion/opinion.php?id=43219&Ed=1 (1 of 2) [09-03-2007 3:35:29]

Vieiros: Opinión

amigo" e da população "subsidiada". Num evento político recente, o velho líder celebrou a assistência em massa do seu potencial eleitorado lembrando que o "método" para a contagem das pessoas era o número de porções de empanada consumidas. Uma empanada, uma pessoa. Uma empanada, um voto.

Pouco tempo antes de se iniciar oficialmente a campanha, Fraga realizou uma viagem por Argentina e Uruguai, prometendo emprego aos emigrantes galegos e aos seus filhos. Supõe-se que o emprego prometido vai ser na Administração autonômica, porque o mercado de trabalho na Galiza é tão reduzido que já se está produzindo uma nova onda migratória entre os mais jovens. Fraga faz uso da administração como se esta lhe pertencesse, promovendo a identificação entre a Xunta e a sua pessoa, e assim é como oferece vantagens em forma de generosos subsídios aos coletivos de galegos no exterior (que, aliás, nem se sabe com certeza quantos são porque o Censo de Residentes Ausentes não se atualiza).

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A língua, a imaginação e o poderUn artigo de: Xoán Carlos Lagares[10/07/2005]

Queria iniciar este texto exigindo o acesso da imaginação ao poder, mas desconfio que o poder, que é sempre igual a si mesmo, careça de imaginação. Porque o seu exercício traz em si uma inerente tendência à perpetuação. Por ver-se forçado a justificar o tempo todo a necessidade da sua existência, não lhe é permitido empreender desvios aventureiros.

O famoso slogan criado no maio francês representaria portanto uma ilusão teórica e uma impossibilidade prática, como nos vem demostrando teimosa a própria história. Talvez a imaginação só se realize livremente na ausência de qualquer poder. Porém, o atual momento de mudança política na Galiza, que esperamos venha arejar o ambiente e tirar o bolor acumulado durante anos de fraguismo, parece apropriado para exigirmos, pelo menos, um exercício mais imaginativo do poder em matéria lingüística.

É ingênuo espantar-se pela facilidade com que a direita espanhola instalada no governo autonômico assumiu o discurso da "galeguidade", a agilidade com que se enfiou, confiante, na retórica da defesa da língua, da quinta-essência da "alma galega", do espírito do povo feito Verbo, mesmo com uma ótica e uma intencionalidade exclusivamente castradora, folclórica e estereotipada. Afinal, para quem cresceu ideologicamente defendendo essências nacionais, definir quem é o titular das essências pode ser, de uma perspectiva pragmática, o menos importante.

Pelo visto, só com muita dificuldade conseguimos, à hora de imaginar políticas positivas para o galego, libertar-nos da alongada sombra do espanhol, que é ao mesmo tempo instrumento de dominação e aparente modelo para a libertação, pelo menos na medida em que o objetivo consista em fazer do galego uma língua que seja "como o espanhol" no seu funcionamento social. Um exemplo pequeno, mas não por isso banal, seria o seguinte. No seu momento, e eu era então bem mais novo, considerei um avanço indiscutível a dublagem em galego de filmes na televisão, quando uma boa parte da população ficava tão surpresa de ouvir J.R., o malvado personagem de Dallas, chamando de "bébada" a Sue Ellen ou de ver um cow-boy querendo tomar um "grolo" de whisky. Através daquela estranheza, depois facilmente superada, o galego passava a ocupar um lugar antes reservado exclusivamente ao espanhol. Em paralelo, eu defendia também o uso de legendas como uma forma de interferência menor sobre o texto fílmico. A urgência militante não me deixava considerar a relação entre ambas as questões. Porque não é tão evidente que os filmes devam ser dublados, outros países (Portugal, sem ir mais longe) adotaram uma outra política lingüística ao respeito. Porque essa estratégia instaurada no franquismo constitui uma opção política que torna o espanhol onipresente, barreira infranqueável para o acesso direto a outras línguas. Aquela voz que se sobrepõe à língua original dos depoimentos, em entrevistas de jornais e documentários, é a mais apurada metáfora dessa barreira, pois a voz original continua lá, só que na forma de um murmúrio ininteligível. A condição subordinada do galego funda-se, entre outras coisas, nessa constante intermediação do espanhol na relação com o mundo. Em vez de desejar para o galego esse destino de monolítica onipresença, deveríamos escolher trilhar outras sendas e defender a desaparição de toda e qualquer dublagem. Deixar de pensar o que pensamos em nome de urgências estratégicas tem grandes riscos; nesses processos, normalmente, o mais importante acaba perdendo-se no caminho.

Possivelmente, o mais claro exemplo de imitação das estratégias de dominação lingüística seja a obsessão normativa e o policiamento ortográfico que tomou conta de nós nos últimos anos. Nunca defendi uma visão do português como "Arcádia perdida", como paraíso

Xoán Carlos Lagares

Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

Coruña. Vive actualmente no Brasil, entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é profesor de Lingüística Histórica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo).

ÚLTIMOS ARTIGOS DE Xoán Carlos Lagares: Mafiocracia (21/09/2005)

E agora, Lula? (17/08/2005)

Pesadelos em paralelo (02/06/2005)

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http://vello.vieiros.com/opinion/opinion.php?id=44116&Ed=1 (1 of 2) [09-03-2007 3:35:34]

Vieiros: Opinión

lingüístico do qual fomos expulsos num recuado momento da nossa história, nunca abriguei sonhos imperiais para o galego na contemplação extática do mapa da lusofonia, do tipo "olha só, a nossa língua no mundo, como ela é grande...". No entanto, acredito que a percepção do português como ameaça, que defendem alguns lingüistas galegos, contribui fortemente para o isolamento dos falantes, que se vêem privados da possibilidade de diálogo com outras manifestações lingüísticas galego-portuguesas, aprofundando ainda mais a nossa satelização na órbita do espanhol, que até onde eu sei vem sendo a única ameaça real para a sobrevivência da língua. Já é hora de abrir as portas na imprensa, na educação, na arte, na política e na economia para as outras formas de galego que no mundo existem. O movimento galeguista sempre viu isso que chamamos de "português" como uma oportunidade e nunca como um problema. Tenho certeza de que o panorama normativo ia ficar bem mais simples.

Deveríamos ser capazes de tirar conclusões próprias a partir da história da nossa língua, que é também (para além de dicotomias dificilmente sustentáveis entre história "interna" e "externa") a da nossa sociedade. Por que não iniciarmos um debate profundo e abrangente, e não só entre lingüistas, para inventar uma "via galega" e deixarmos de seguir simplesmente os passos marcados pelo nacionalismo catalão, por exemplo? Precisamos só de coragem e gestos largos para criar outros caminhos que façam da língua um autêntico instrumento de transformação social (entre outros, é claro, pois talvez nem seja o mais importante). A esquerda galega de qualquer tendência deveria coincidir, no mínimo, nesse desejo.

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A língua, a imaginação e o poderUn artigo de: Xoán Carlos Lagares[10/07/2005]

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O famoso slogan criado no maio francês representaria portanto uma ilusão teórica e uma impossibilidade prática, como nos vem demostrando teimosa a própria história. Talvez a imaginação só se realize livremente na ausência de qualquer poder. Porém, o atual momento de mudança política na Galiza, que esperamos venha arejar o ambiente e tirar o bolor acumulado durante anos de fraguismo, parece apropriado para exigirmos, pelo menos, um exercício mais imaginativo do poder em matéria lingüística.

É ingênuo espantar-se pela facilidade com que a direita espanhola instalada no governo autonômico assumiu o discurso da "galeguidade", a agilidade com que se enfiou, confiante, na retórica da defesa da língua, da quinta-essência da "alma galega", do espírito do povo feito Verbo, mesmo com uma ótica e uma intencionalidade exclusivamente castradora, folclórica e estereotipada. Afinal, para quem cresceu ideologicamente defendendo essências nacionais, definir quem é o titular das essências pode ser, de uma perspectiva pragmática, o menos importante.

Pelo visto, só com muita dificuldade conseguimos, à hora de imaginar políticas positivas para o galego, libertar-nos da alongada sombra do espanhol, que é ao mesmo tempo instrumento de dominação e aparente modelo para a libertação, pelo menos na medida em que o objetivo consista em fazer do galego uma língua que seja "como o espanhol" no seu funcionamento social. Um exemplo pequeno, mas não por isso banal, seria o seguinte. No seu momento, e eu era então bem mais novo, considerei um avanço indiscutível a dublagem em galego de filmes na televisão, quando uma boa parte da população ficava tão surpresa de ouvir J.R., o malvado personagem de Dallas, chamando de "bébada" a Sue Ellen ou de ver um cow-boy querendo tomar um "grolo" de whisky. Através daquela estranheza, depois facilmente superada, o galego passava a ocupar um lugar antes reservado exclusivamente ao espanhol. Em paralelo, eu defendia também o uso de legendas como uma forma de interferência menor sobre o texto fílmico. A urgência militante não me deixava considerar a relação entre ambas as questões. Porque não é tão evidente que os filmes devam ser dublados, outros países (Portugal, sem ir mais longe) adotaram uma outra política lingüística ao respeito. Porque essa estratégia instaurada no franquismo constitui uma opção política que torna o espanhol onipresente, barreira infranqueável para o acesso direto a outras línguas. Aquela voz que se sobrepõe à língua original dos depoimentos, em entrevistas de jornais e documentários, é a mais apurada metáfora dessa barreira, pois a voz original continua lá, só que na forma de um murmúrio ininteligível. A condição subordinada do galego funda-se, entre outras coisas, nessa constante intermediação do espanhol na relação com o mundo. Em vez de desejar para o galego esse destino de monolítica onipresença, deveríamos escolher trilhar outras sendas e defender a desaparição de toda e qualquer dublagem. Deixar de pensar o que pensamos em nome de urgências estratégicas tem grandes riscos; nesses processos, normalmente, o mais importante acaba perdendo-se no caminho.

Possivelmente, o mais claro exemplo de imitação das estratégias de dominação lingüística seja a obsessão normativa e o policiamento ortográfico que tomou conta de nós nos últimos anos. Nunca defendi uma visão do português como "Arcádia perdida", como paraíso

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Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

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Vieiros: Opinión

lingüístico do qual fomos expulsos num recuado momento da nossa história, nunca abriguei sonhos imperiais para o galego na contemplação extática do mapa da lusofonia, do tipo "olha só, a nossa língua no mundo, como ela é grande...". No entanto, acredito que a percepção do português como ameaça, que defendem alguns lingüistas galegos, contribui fortemente para o isolamento dos falantes, que se vêem privados da possibilidade de diálogo com outras manifestações lingüísticas galego-portuguesas, aprofundando ainda mais a nossa satelização na órbita do espanhol, que até onde eu sei vem sendo a única ameaça real para a sobrevivência da língua. Já é hora de abrir as portas na imprensa, na educação, na arte, na política e na economia para as outras formas de galego que no mundo existem. O movimento galeguista sempre viu isso que chamamos de "português" como uma oportunidade e nunca como um problema. Tenho certeza de que o panorama normativo ia ficar bem mais simples.

Deveríamos ser capazes de tirar conclusões próprias a partir da história da nossa língua, que é também (para além de dicotomias dificilmente sustentáveis entre história "interna" e "externa") a da nossa sociedade. Por que não iniciarmos um debate profundo e abrangente, e não só entre lingüistas, para inventar uma "via galega" e deixarmos de seguir simplesmente os passos marcados pelo nacionalismo catalão, por exemplo? Precisamos só de coragem e gestos largos para criar outros caminhos que façam da língua um autêntico instrumento de transformação social (entre outros, é claro, pois talvez nem seja o mais importante). A esquerda galega de qualquer tendência deveria coincidir, no mínimo, nesse desejo.

COMENTARIOS:

O Brasil necessita de professores de espanhol sim, como necessita também de professores de outros idiomas. Todavia isso não significa que por aprendermos a falar o espanhol ou outra língua iremos deixar de ter a língua portuguesa como idioma pátrio oficial. Utopia! F.Oliveira (18/01/2006 03:39)

Escusas, onde diz "dous línguas" deve dizer "duas línguas": Cruzarom-se "dous (idiomas)" e "(duas) línguas". Saudações. Galaecia fulget (16/07/2005 01:08)

Por não falarmos das vantagens (também económicas, laborais, ..) que teria dispormos de dous línguas extensas internacionalmente. Alguém acredita que o galego-castrapo pode encher estas necessidades ? Galaecia fulget (16/07/2005 01:02)

Com efeito, há outros problemas além da língua (económicos, laborais) ..., que poderia ajudar-se a resolver TAMBÉM através da língua ... Em primeiro lugar, em contas de despender ao chou dinheiro a mancheias para criarem a ficção de falarmos (como os bascos, nós não vamos ser "menos") uma língua "única" no mundo (revistas, materiais, software, etc ...) já não para nem atingir nengum resultado (perda de falantes, castelhanização maciça, deturpação ...), mas nem sequer para atingir o "objectivo: ninguém, fora da Espanha, sabe que o "galego" existe, que é uma "língua de seu". E até os próprios espanhóis começam a duvidá-lo, porque a cada o entendem mais (já nem legendam as declarações "em galego" nem dos políticos galegos, nem sequer já de muitos galegos, porque não faz sentido: percebem-no tudo perfeitamente). Pois bem, em contas de despender esse dinheiro em essa grã parvoíce, voltándomos simplesmente para o nosso galego(-português), poderia-se despender em assuntos mais úteis. Galaecia fulget (15/07/2005 22:27)

Concordo com o apontado pelo companheiro Esperanza. A língua é um problema grave, básico. Mas há outros problemas igual ou mais graves e básicos, que pouco ou nada tem a ver com a lingua. Luís M. (13/07/2005 18:49)

PRIMEIRO: "Touriño asegura la creación del instituto Rosalía de Castro" SEGUNDO: "César Antonio Molina compromete la colaboración del Cervantes con el nuevo organismo" TERCEIRO: "Brasil precisa 235.000 profesores de español" Que sensação fica ao ler isto? Fonte: La Voz de Galicia de Hoje. GZPT UNID (13/07/2005 18:08)

http://vello.vieiros.com/opinion/opinion.php?id=44116&Ed=1&cm=1 (2 of 7) [09-03-2007 3:35:38]

Vieiros: Opinión

A normalização, eis o pensamento politicamente correcto do nacionalismo. Mas quando começamos a implementar a normalização, o que fazemos? Temos de fazer software próprio, subtitular filmes, investir enormes massas de dinheiro em revistas não só de poesia, fazer traduções dos clássicos universais a galego? ou temos de educar à cidadania galega para que não tenha problema nenhum em importar materiais de Portugal ou do Brasil e não só culturais? Ou dito doutra forma, podemos prescindir os galegos disto? Acho que não. Por outro lado, já sabedes que os Estremenhos são os que estão vendendo o LINEX ao Brasil. Como sempre os galegos a ve-las vir. Parabéns polo artigo Xoán C. Lagares antigo companheiro dos CAF na Corunha! José Ramom Pichel (13/07/2005 13:43)

Ao millor o obxetivo prioritario non é a normalización? Non será que este debate só existe nas mentes dunha minoría universitaria e de profesores de instituto que por certo necesitan que se fale disto para a súa propia supervivencia? Por certo, Luis, Catalunya é a hostia, pero nós somos moito millores. A ver si temos ocasión de demostra-lo. ronsel (13/07/2005 10:53)

Luis, Eu comprendo a túa visión e mesmo a comparto. Paréceme increibel que vivamos de costas a Portugal e creo que a Lusofonía é a grande esperanza da Galicia para acadar de balde unha proxección cultural (no senso máis amplo da palabra) que agora non temos. Ponto. A lingüística non me interesa nin sei nada dela. O que sí sei é que durante moitos anos a principal batalla do nacionalismo post75 é a normalización e que o PP e a súa Xunta soltou cartos a chou que non se sabe onde foron e que foron xestionados e gastados por lingüistas que desde logo non teñen por apelido Baltar nin Cacharro. Gustaríame que isto, agora que imos ter un goberno democrático e preocupado por Galicia, non volva a suceder. Ese é para min o debate: onde van os cartos. Vivo fóra, en Madrid, porque non podo traballar en Galicia. E coma min moita xente, ademáis moi valiosa para o noso país. Estou farto de tanta normalización e de que os cadros políticos do BNG, o partido co cal simpatizo, estean cheos ronsel (13/07/2005 10:47)

Semella que, para moitas, demasiadas persoas, o único problema de Galiza é a lingua e a súa "reintegraçom" no mundo da chamada lusofonía. Como se non houbera máis problemas e máis urxentes (a ruda adversidade urxente da que falaba Pondal, creo) que afectan á maior parte da cidadanía. No fondo, non é máis que unha querencia que, tempos ha, se denominaba "pequeno burguesa", isto é, illada dos problemas reais da sociedade. En Galiza hai demasiados nacionalistas que son funcionarios ou semellantes, é dicer, que teñen o problema económico resolto. De aí que non debatan nin fagan propostas en cuestións como o paro, o emprego precario, urbanismo, ampliación de derieitos, etc. Seica a solución a todos os problemas e a todos os males é o galego-portugués. Que grande e mortal aburrimento! Esperanza (13/07/2005 03:59)

Como galego gostei imenso do que disse Alemida: "O galego, para sobreviver, terá forçosamente de assumir, mais cedo ou mais tarde, o seu papel na lusofonia, não como membro subalterno que envergonhadamente entra pela porta das traseiras, mas sim como membro fundador, de pleno direito, que entra pela porta principal, transformando-se no terceiro pilar desta (Brasil, Portugal e Galiza). José Almeida" Eis a nua verdade que para infortúnio do galego, muitos galegos não querem/sabem ver. Galaecia fulget (12/07/2005 20:46)

Acho que ninguém comentou, ademais, a grande vantagem que teria para a aprendizagem de línguas "estrangeiras" na Galiza vermos também filmes legendados e não sempre dublados. Acho que a exposição directa a outras línguas faladas facilita imenso a compreensão e elimina a barreira psicológica que tanto nos fecha em nós mesmos perante outras culturas que se expressam em línguas que ainda não conhecemos, ademais de permitir o acesso sem filtros a um mundo novo de diversidade de sons, vozes e interpretações. Parabéns pelo artigo, afinal algo original escrito com nh. xinelo (12/07/2005 17:39)

http://vello.vieiros.com/opinion/opinion.php?id=44116&Ed=1&cm=1 (3 of 7) [09-03-2007 3:35:38]

Vieiros: Opinión

Na galiza, cuha língua unioversal e internacional, ha uha dura corrida contra a imposiçom esmagante do castelhano, e alguns galegos gostam (coa bençom do poder) de corre-la pexados, nom seja que podam perder os espanhóis, e o pexo chama-se isolacionaismo. Nas Asturias onde sou eu, morre-se e encima somos despreçados com racismo, e o epxo chama-se asturianismoregionalismoespanholseródio Turmaleu (12/07/2005 13:50)

Na galiza, cuha língua unioversal e internacional, ha uha dura corrida contra a imposiçom esmagante do castelhano, e alguns galegos gostam (coa bençom do poder) de corre-la pexados, nom seja que podam perder os espanhóis, e o pexo chama-se isolacionaismo. Nas Asturias onde sou eu, morre-se e encima somos despreçados com racismo, e o epxo chama-se asturianismoregionalismoespanholseródio Turmaleu (12/07/2005 13:48)

Parabéns polo artigo. A visão que a dobragem impõe de um mundo monolíngue e monolítico pode e deve ser trocada pola realidade multilíngue das legendas. Concordo totalmente com a ideia que o processo de normalização do galego não deve imitar em todos os seus aspectos o do espanhol. O uso de legendas em galego pode ajudar a criar um processo de galegização mais "ecológico" e menos "monoteísta". Paulo G. Pablo Gamallo Otero (12/07/2005 09:46)

A raiz fonda porque o galego não é visto como um idioma de futuro e de prestígio pela cidadania galega, e pelo tanto util, está em que com o galego não se progride na escada social. Progride-se com o esapnhol, pela contra o português e as sociedades que tenhem este idioma como oficial são consideradas como atrasadas, não interesa imita-las ou integrar-se nessa comunidade de falantes porque não garante o progresso pessoal tanto a nível social como economicamente. A grande diferença da Galiza com a Catalunya está em que as pessoas e entidades que tenhem prestígio social e económico empregam o catalão, na Galiza não. Mas com tudo e isto algo há que fazer e o novo Governo Galego tem a obriga de intentar mudar ista situação, mas tendo de conta que um dos compartes deste Governo seguramente não esteja pelo labor. Manue Da Cal (12/07/2005 09:45)

Experimentos com gasosa? O isolacionismo está a experimentar desde há quase 20 anos com todos/as nós, e o resultado é catastrófico: na Galiza urbana a transmissão da língua á seguinte geração está rota. Em Vigo ou A corunha, apenas um 2 ou 3% das criançãs falam galego. Agora é o turno da minha filha, ratinho experimental que começa a escola... O Reintegracionismo não é um experimento, é a decissão de que algúns possam finalizar um experimento que está a matar ao doente... Mas cada quem tem a súa opinião...por que não deixar que ambas opções compitam livremente? Que na TVG se possam vêr as telenovelas brasileiras e os partidos do Porto junto com os dramalhões mejicanos dublados e os partidos do Albacete, e cada quem escolha...que as crianças, alem de apreender a ortografia espanhola, estudem a portuguesa, e depois decidam quando e como escrevem "Eu escrevo a minha língua assim/eu escribo a miña lingua así" Suso (12/07/2005 09:24)

Moi bonito todo, pero os experimentos de laborarorio mellor con gaseosa. Portugal vira as costas a galiza e unha minoria presuntamente iluminada, aimda baixa a sua cabeza para lamber o cu dos portugueses que estan vvirados. É tan triste que nen podo crer que sexa certo. Unha vez mais; Lusismo NON. lusismoNON (12/07/2005 03:59)

Miguel que medo das, se eles marchan eu marcho con eles, calquera cousa menos ficar nun país nos que haxa moitos coma ti. agra (12/07/2005 00:33)

O Sr. Lagares descreve, no seu artigo, a situação de interposição em que se acha o português da Galiza. É através do castelhano que os galegos conhecem o mundo. O conceito fora explicado pelo sociolinguista valenciano Lluís V. Aracil, e é característico das línguas minorizadas. Ora, a solução que defende não me parece a mais interessante, porquanto a população galega é analfabeta na sua língua, e desaproveitar a influência das tv seria uma perda de oportunidade. Eu sou a favor emissão dos filmes em português por

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ser uma forma fácil de aprendizagem para a maior parte da população. Por um lado, seria mais barato. Por outro, faríamos um serviço ao país. Os miúdos costumam ver DVD em casa, e muitos incluem a versão para a nossa língua, quer no português europeu, quer no americano, e é assim que aprendem mais facilmente. Quanto à possibilidade de o BNG trazer para a língua alguma mudança positiva, parece prudente aguardar até à composição do novo governo, e ver em que mãos vem a ficar. Ângelo (11/07/2005 23:14)

Diz um entusiasta: "Lusistas fóra de Vieiros; todos nunha barca para Cabo Verde! miguel (11/07/2005 17:26)". É assim como queredes ganhar a batalha da língua? Pela força? Também nisto vos parecedes aos espanhóis: na vossa dialéctica o razoamento foi substituído pelo impulso de esmagar os oponentes. Ângelo (11/07/2005 23:03)

O galego dialeto do português, Galiza regiâo de Portugal já, Portugal é a pátria dos galegos. Estalo (11/07/2005 20:45)

Parabéns ao autor. Como português e minhoto, sei que esta questão mexe muito com a paixão, com o amor que cada galego tem pela sua língua, e pela Galiza. Mas, tal como diz o artigo, não vejam o português como uma ameaça, porque o galego é a reserva linguística da lusofonia, uma riquíssima base de dados, que interessa, não destruir, mas sim integrar nas nossas falas correntes. A relação entre todas as variantes do galaico-português, terá de ser sempre simbiótica, mas o português tem muito a ganhar com a integração da variante galega, como por exemplo, o enorme enriquecimento com léxico esquecido e a redefinição do sotaque padrão. O galego, para sobreviver, terá forçosamente de assumir, mais cedo ou mais tarde, o seu papel na lusofonia, não como membro subalterno que envergonhadamente entra pela porta das traseiras, mas sim como membro fundador, de pleno direito, que entra pela porta principal, transformando-se no terceiro pilar desta (Brasil, Portugal e Galiza). José Almeida (11/07/2005 19:46)

Amigo miguel, na Galiza andamos mais necessitados de reflexão do que saídas de tom como a tua. Por que há tanto medo a debater educada e abertamente e deixarmos depois as pessoas definirem-se livremente ? Galaecia fulget (11/07/2005 19:44)

Isolacionismo=sectarismo financiado pela Juntinha de Galicia. Sectarismo financiado com o dinheiro de tod@s @s galeg@s. GZL (11/07/2005 19:21)

Parabéns aos Vieiros por ser um foro de liberdade, onde cabemos todos. A opinião do Lagares é a da maioria dos lusistas deixem passar a rádio a tv e mantenham sinergias com a margem sul e a normativa não é preciso mudá-la, muda-se por necessidade. O problema é que essa união que o candidato do BNG prometeu numa entrevista ao Jornal de Notícias 16-6-05 não é querida pelos espanholistas (os que não são lusistas) eles não podem renunciar ao seu El país tele 5 e cuarenta princiapales. Que seria deles? Jacobinho6 (11/07/2005 18:37)

En Cabo Verde falan creoulo. Despois de arrasar as linguas indixenas de Brasil e África, o portugués impuxo o seu imperio. e (11/07/2005 18:03)

Lusistas fóra de Vieiros; todos nunha barca para Cabo Verde! miguel (11/07/2005 17:26)

Concordo 100% com o artigo. O patético é que ainda haja muit@s galeg@s (alguns inclusso auto-denominados nacionalistas) que não percebam qué é na Lusofonia (nomeadamente em Portugal) onde está a porta da liberade para a Galiza. Colo cá fragmento dum interessante artigo de Camilo Nogueira: "Era preciso manter unha posición de autoestima sobre a historia e a cultura de Galiza, en especial sobre a língua galega, pondo en primeiro plano o seu carácter nacional e universal: unha das línguas máis faladas no mundo como galego-portugués en contradición coa ideoloxia do Estado español na que fomos educados. A presenza na Unión Europea e o desvanecimento das fronteiras posibilitaba unha especial firmeza na cuestión nacional, tal como anunciaba a

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Declaración de Barcelona demandando un Estado plurinacional. Frente á tentación de limitarse a mellorar a aplicación das competencias e á obtención de algunha suplementarias, impuñase a reivindicación de un Estatuto de Nación." Galego (11/07/2005 16:48)

Companherio ronsel, acho que não percebes a raíz do problema. Na Catalunya tem resolto o problema da língua desde que principios do S. XX Pompeu Fabra estabelecera a gramática catalana e uma codificação ortográfica e ortofonica descolonizada para a sua língua. Na Galiza, no ano 2005, isto ainda não aconteceu. Eis a diferença entre a Catalunha e a Galiza. Na Catalunha a normalização linguística do catalã começou no ano 1980 com Pujol, sim com Pujol. Na Galiza o que começou em 1980 é a normalização lingística do espanhol, sim, do espanhol. Sinceiramente, e tu aínda aspiras a querer comparar-te com a Catalunha? Luís (11/07/2005 16:41)

Galiza terra de lingüistas! Ao millor deberiamos falar máis de políticas de emprego, modernización e plans para artellar o rural. Non sei, non vexo que cando chegara o tripartito a Catalunya (non vou comparar a Fraga co Pujol) o debate estivera arredor da nosa lingua. ronsel (11/07/2005 16:27)

Concordo totalmente, sobre todo na parte de poñer subtítulos aos filmes... ;-) Martin Pawley (11/07/2005 14:05)

gostei, parabens pola clareza da exposiçom tim (11/07/2005 11:18)

Magnífica e lúcida refelxão. Além das possições ideológicas, compre buscar fórmulas pragmáticas para essa apertura da nossa língua ás suas outras variantes. Uma opção é apenas um "laissez fer" no que pouco a pouco os mini-mercados começam a encher-se de produtos etiquetados em portugûes-galego (utilizo esta fórmula, em vez do habitual galego-português para denotar o matiz "comercial/prático" e não "normalizador" de tal acontecimento). Outra possibilidade é apoveitar a mudança política para fazer algo. Esse algo, sejamos pragmáticos, não vai ser um câmbio de normativa. Então, o que pode ser? Eu diria, Português-Galego nas escolas, embora como "língua extrangeira", recepção de TV portuguesa, inclussão de programas brasileiros na TVG, eliminação de todas as restricções normativas em documentos administrativos, concursos literários, subvenções á publicação. Naturalmente, quid pro quo, os reintegracionistas deveremos deixar de chamar-lhe castrapo á norma RAG...e que ganhe a melhor...! Suso (11/07/2005 11:02)

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E agora, Lula?Un artigo de: Xoán Carlos Lagares[17/08/2005]

Poucos dias depois de o candidato do Partido dos Trabalhadores se eleger presidente, em 2002, circulavam já pelo Rio de Janeiro adesivos que, imitando os usados na campanha eleitoral, transformavam o esperançado lema, "Agora é Lula", em uma preocupado e expectante "E agora, Lula?". Tal contraversão exprimia as dificuldades que um governo de esquerda deveria enfrentar para implementar uma política realmente transformadora, num dos países com pior distribuição de renda do mundo.

A chegada ao poder do retirante nordestino, do antigo operário metalúrgico, mordido pela fome, mutilado pela fábrica (que decepou um dos seus dedos) e preso pela ditadura militar, foi possível só após quatro tentativas e precisou de um ostentoso enquadramento do candidato numa imagem "presidenciável", construída pela propaganda eleitoral. Contudo, mais do que o terno Armani, a barba recortada ou o discurso conciliador e amigável, o que causava autêntica desconfiança era ver o candidato do PT saindo triunfante de um ato de campanha na Bolsa de São Paulo, com grupos de sorridentes investidores aparentemente satisfeitos com o que acabavam de ouvir. Afinal, a quem ia dirigida realmente a campanha? Naquele episódio, sublinhado pelos jornais, encenava-se a permissão do capital financeiro para uma autêntica alternância de poder. O compromisso do então candidato para "tranqüilizar o mercado" impunha o pagamento da impagável dívida externa e a assunção das diretrizes econômicas do FMI. Precisamente aquelas que exigem do Brasil o que não é exigido de nenhum país do chamado Primeiro Mundo, um controle do gasto público que impede realizar as mais elementares políticas sociais, com desvios milionários de recursos para pagar os juros da dívida. Era o compromisso com uma política econômica "responsável", embora (leia-se literalmente) criminosa.

Afinal, a alternância foi relativa, e o exercício do poder exigiu também, dado que o PT não conseguiu maioria no Congresso, estabelecer alianças com partidos conservadores, alguns deles já com ampla experiência de governo. Nos últimos meses veio à tona o procedimento empregado para costurar essas alianças: financiamento ilegal de campanha, com repasse de verba para os partidos aliados através de um caixa dois, indicação de postos executivos para as empresas estatais e, embora isso ainda não fosse realmente demostrado, pagamento de "mensalão" (um salário a mais, por fora) aos deputados que votavam a favor das iniciativas legislativas do governo. No meio disso tudo, processos pouco claros de licitação beneficiando empresas ligadas a esse esquema de financiamento eleitoral. Como essas práticas não constituem, pelo visto, nenhuma novidade no sistema político brasileiro, tradicionalmente fisiologista e patrimonialista, parece claro que o enquadramento do governo Lula realizou-se em termos mais amplos do que poderíamos imaginar num primeiro momento. E agora?

Agora somos obrigados a assistir às cínicas manifestações moralistas da direita, aos sorrisos amarelos de deputados quase vitalícios, que, por primeira vez na oposição, dizem representar o povo ao se mostrarem desiludidos com o PT, como se em algum momento nutrissem, precisamente eles, alguma ilusão a respeito de um governo que pudesse existir sem recorrer a esse tipo de "políticas". Abre-se neste momento a pior das situações imagináveis, com a mídia falando de "venezuelização", espalhando através dos seus comentaristas a imagem de uma cúpula dirigente estalinista, capaz de fazer qualquer coisa para se manter no poder. O linchamento do partido, a ameaça de "impeachment" a Lula, ou o simples desgaste continuado da sua imagem até as eleições presidenciais de 2006, parece ser o caminho achado pelas forças mais conservadoras para

Xoán Carlos Lagares

Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

Coruña. Vive actualmente no Brasil, entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é profesor de Lingüística Histórica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo).

ÚLTIMOS ARTIGOS DE Xoán Carlos Lagares: Mafiocracia (21/09/2005)

A língua, a imaginação e o poder (10/07/2005) Pesadelos em paralelo (02/06/2005)

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esconjurar a simples hipótese de um autêntico governo de esquerda no futuro.

Quando eleito, Lula declarou ser consciente de estar diante de uma oportunidade histórica, de que o seu eventual fracasso no governo poderia tornar mais difícil ainda qualquer possibilidade de transformação. As elites econômicas brasileiras, que souberam sobrepor-se ao fim do escravismo mantendo até hoje o trabalho escravo (leia-se literalmente), são capazes de atravessar as mais diversas situações sem verem abalados os seus privilégios, beneficiando-se em todo momento de uma estrutura social radicalmente injusta. A questão agora é a seguinte: será que vão passar também impunemente pelo governo de um partido de esquerda? Embora possa parecer paradoxal, suspeito que isso não depende totalmente do governo.

A democracia representativa é claramente melhorável, com uma reforma política que, no mínimo, regule o financiamento público das campanhas e fortaleça os partidos, reduzindo o poder de chantagem dos arrivistas, mas só a radicalização democrática, a democracia direta com a participação ativa dos movimentos sociais e dos cidadãos, pode provocar as mudanças necessárias. Agora só falta o PT e Lula acreditarem realmente nesse caminho, saindo ao encontro da sua própria história.

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E agora, Lula?Un artigo de: Xoán Carlos Lagares[17/08/2005]

Poucos dias depois de o candidato do Partido dos Trabalhadores se eleger presidente, em 2002, circulavam já pelo Rio de Janeiro adesivos que, imitando os usados na campanha eleitoral, transformavam o esperançado lema, "Agora é Lula", em uma preocupado e expectante "E agora, Lula?". Tal contraversão exprimia as dificuldades que um governo de esquerda deveria enfrentar para implementar uma política realmente transformadora, num dos países com pior distribuição de renda do mundo.

A chegada ao poder do retirante nordestino, do antigo operário metalúrgico, mordido pela fome, mutilado pela fábrica (que decepou um dos seus dedos) e preso pela ditadura militar, foi possível só após quatro tentativas e precisou de um ostentoso enquadramento do candidato numa imagem "presidenciável", construída pela propaganda eleitoral. Contudo, mais do que o terno Armani, a barba recortada ou o discurso conciliador e amigável, o que causava autêntica desconfiança era ver o candidato do PT saindo triunfante de um ato de campanha na Bolsa de São Paulo, com grupos de sorridentes investidores aparentemente satisfeitos com o que acabavam de ouvir. Afinal, a quem ia dirigida realmente a campanha? Naquele episódio, sublinhado pelos jornais, encenava-se a permissão do capital financeiro para uma autêntica alternância de poder. O compromisso do então candidato para "tranqüilizar o mercado" impunha o pagamento da impagável dívida externa e a assunção das diretrizes econômicas do FMI. Precisamente aquelas que exigem do Brasil o que não é exigido de nenhum país do chamado Primeiro Mundo, um controle do gasto público que impede realizar as mais elementares políticas sociais, com desvios milionários de recursos para pagar os juros da dívida. Era o compromisso com uma política econômica "responsável", embora (leia-se literalmente) criminosa.

Afinal, a alternância foi relativa, e o exercício do poder exigiu também, dado que o PT não conseguiu maioria no Congresso, estabelecer alianças com partidos conservadores, alguns deles já com ampla experiência de governo. Nos últimos meses veio à tona o procedimento empregado para costurar essas alianças: financiamento ilegal de campanha, com repasse de verba para os partidos aliados através de um caixa dois, indicação de postos executivos para as empresas estatais e, embora isso ainda não fosse realmente demostrado, pagamento de "mensalão" (um salário a mais, por fora) aos deputados que votavam a favor das iniciativas legislativas do governo. No meio disso tudo, processos pouco claros de licitação beneficiando empresas ligadas a esse esquema de financiamento eleitoral. Como essas práticas não constituem, pelo visto, nenhuma novidade no sistema político brasileiro, tradicionalmente fisiologista e patrimonialista, parece claro que o enquadramento do governo Lula realizou-se em termos mais amplos do que poderíamos imaginar num primeiro momento. E agora?

Agora somos obrigados a assistir às cínicas manifestações moralistas da direita, aos sorrisos amarelos de deputados quase vitalícios, que, por primeira vez na oposição, dizem representar o povo ao se mostrarem desiludidos com o PT, como se em algum momento nutrissem, precisamente eles, alguma ilusão a respeito de um governo que pudesse existir sem recorrer a esse tipo de "políticas". Abre-se neste momento a pior das situações imagináveis, com a mídia falando de "venezuelização", espalhando através dos seus comentaristas a imagem de uma cúpula dirigente estalinista, capaz de fazer qualquer coisa para se manter no poder. O linchamento do partido, a ameaça de "impeachment" a Lula, ou o simples desgaste continuado da sua imagem até as eleições presidenciais de 2006, parece ser o caminho achado pelas forças mais conservadoras para

Xoán Carlos Lagares

Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

Coruña. Vive actualmente no Brasil, entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é profesor de Lingüística Histórica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo).

ÚLTIMOS ARTIGOS DE Xoán Carlos Lagares: Mafiocracia (21/09/2005)

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esconjurar a simples hipótese de um autêntico governo de esquerda no futuro.

Quando eleito, Lula declarou ser consciente de estar diante de uma oportunidade histórica, de que o seu eventual fracasso no governo poderia tornar mais difícil ainda qualquer possibilidade de transformação. As elites econômicas brasileiras, que souberam sobrepor-se ao fim do escravismo mantendo até hoje o trabalho escravo (leia-se literalmente), são capazes de atravessar as mais diversas situações sem verem abalados os seus privilégios, beneficiando-se em todo momento de uma estrutura social radicalmente injusta. A questão agora é a seguinte: será que vão passar também impunemente pelo governo de um partido de esquerda? Embora possa parecer paradoxal, suspeito que isso não depende totalmente do governo.

A democracia representativa é claramente melhorável, com uma reforma política que, no mínimo, regule o financiamento público das campanhas e fortaleça os partidos, reduzindo o poder de chantagem dos arrivistas, mas só a radicalização democrática, a democracia direta com a participação ativa dos movimentos sociais e dos cidadãos, pode provocar as mudanças necessárias. Agora só falta o PT e Lula acreditarem realmente nesse caminho, saindo ao encontro da sua própria história.

COMENTARIOS:

Agora quando há corrupçom no Brasil. Antes nom havia. rula (17/08/2005 19:34)

Felipe González sabíao tudo, pois a informaçòm da que dispòm o poder é imensa. Aos poderes do sistema veulhes bem e sustituíronno por J.M. Aznar mais afím a eles, no fundo e nas formas. Nos Estados hai tempo que governam as clases dirigentes do dinheiro e o PODER. Os políticos que chamamos de jeito despectivo nom deixam de serem uns monicreques ao serviço do poder cosntituido. Agora é bem mais difícil umha revoluçòm nos chamados países ocidentais. Os olhos do Império cobrem tudo o Universo. Pepinho (17/08/2005 18:50)

Nunca acreditei nos políticos que dizem que não sabiam de nada.De duas uma, ou sabia e é corrupto ou não sabia e é idiota. Eu prefiro a primeira jacobinho (17/08/2005 12:11)

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MafiocraciaUn artigo de: Xoán Carlos Lagares[21/09/2005]

O ano passado viu-se na televisão a cabo brasileira um programa estadunidense apresentado pelo magnata Donald Trump, um tipo peculiar que ostenta um cabelo meticulosamente laqueado. Depois fizeram aqui uma versão própria, com um ricaço local, desses que aparecem freqüentemente nas colunas de sociedade, com um penteado equivalente. Nas ruas de São Paulo o programa era anunciado com o seguinte bordão: "Dezesseis candidatos para um único emprego. Isso é que é reality show". Acontece que sempre que a Prefeitura do Rio convoca um concurso público para cobrir um cento de vagas na empresa de coleta de lixo, os candidatos contam-se aos milhares. E isso é "realidade", sem espetáculo.

O título do programa é "O Aprendiz", e consiste, se o entendi bem, num concurso em que vários candidatos devem realizar provas destinadas a demonstrar o seu desempenho como executivos, a sua criatividade empresarial, a sua capacidade para trabalhar em equipe e assumir liderança e todas essas coisas que constituem o supra-sumo das habilidades profissionais. Devem demonstrar, enfim, quem é o melhor homem ou mulher de negócios. O vencedor passa a ser contratado como alto executivo da empresa do milionário-apresentador, com um salário à altura das circunstâncias.

Passaremos por alto o fato perverso de que o prêmio seja um posto de trabalho, mesmo que seja um emprego privilegiado, onde o indivíduo vai ao escritório todos os dias de helicóptero (eis a "altura das circunstâncias" de que falava). Reparemos apenas em que a cada semana um dos candidatos é despedido. No anúncio de promoção do programa, a frase que dizia o indivíduo do cabelo torneado (norte-americano ou brasileiro, já nem sei mais), com um sorriso ensaiadamente duro e cínico, era a do filme de Coppola, The Godfather, aqui chamado "O Poderoso Chefão" (e aí "O Padrinho"), alguma coisa assim como "Não é nada pessoal, são apenas negócios". A frase pronunciada por Vito Corleone antes de eliminar um adversário ou, simplesmente, um indivíduo contrário aos seus interesses. A sombria atmosfera da sala onde o infortunado candidato recebia a sentença poderia ser recriação do gabinete de Al Capone.

Supõe-se que a coisa pretende ser engraçada, que a referência cinematográfica é uma homenagem que permite ao magnata sentir-se Marlon Brando uma vez por semana. A terrível atitude predatória criticada no filme de Coppola, que mostra a relação entre crime e lucro, é assumida alegremente no programa de televisão com um cinismo que resulta, ao fim e ao cabo, muito significativo. Porque nunca as coisas estiveram tão claras. O descaro com que os donos do capital nos mostram a sua escala de valores, os princípios que guiam os rumos da economia mundial, é didaticamente insuperável.

Vendo o filme "La memoria del saqueo", sobre a gênese da crise econômica na Argentina (e, de passagem, sobre a origem da dívida contraída pelos países "em vias de desenvolvimento"), tudo fica ainda mais claro.

A "mafiocracia", denunciada com este exato nome pelo diretor do documentário, Fernando Solanas, constitui o autêntico poder global nesta fase do capitalismo que vivemos. E o crime compensa, pelo visto. "O Relatório Lugano", de Susan George, a ficção em que um grupo de especialistas define o futuro do sistema capitalista considerando métodos de eliminação de população "excedente", não seria mais do que uma leve aproximação a uma realidade que, na sua crueza bélica, é ainda mais assustadora (não constituía a invasão do Iraque um esplêndido negócio, segundo as cabeças pensantes (?) do PP? Será que a minha assumida paranóia interfere gravemente na percepção da realidade, e que o descaso das autoridades norte-

Xoán Carlos Lagares

Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

Coruña. Vive actualmente no Brasil, entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é profesor de Lingüística Histórica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo).

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americanas com as vítimas do Katrina não tinha nada a ver com o fato de serem na sua maioria negros e pobres?).

Neste país cronicamente "emergente" que é o Brasil, o espaço dedicado nos jornais televisivos à informação econômica é enorme. Nada mais lógico, porque cada resfriado do mercado norte-americano tem o efeito devastador de uma infecção pulmonar aguda nos nossos bolsos. Juro que nunca na minha vida fiquei tão atento ao preço do barril de petróleo ou ao valor do dólar. E as possibilidades de ação dos "gestores" do país são realmente limitadas, como repete incansavelmente a equipe econômica habitual. Afinal, o único modo conhecido de manter longe a inflação, com o seu efeito devastador nas nossas pequenas economias, é manter alta a taxa de juros, e o exorbitado lucro dos bancos. E aí estamos, nesse círculo infernal.

Nesse panorama, o velho sonho dos partidos de esquerda de conquistar o poder para mudar a realidade parece ilusório demais. Entre outros motivos, porque a tarefa dos governos "democráticos" vem sendo cada vez mais gerir esta miséria conhecida dentro dos limites impostos. Nesse sentido, a crise política que vive hoje o Brasil está provocando uma revisão profunda dos conceitos e dos comportamentos da esquerda. A crise como oportunidade.

As relações de produção mudaram e nenhuma elite dirigente representa os trabalhadores, muito menos a massa dos desfavorecidos, que nem trabalho têm (agora que o trabalho deixou de ser meio de exploração e passou a ser um "bem", e os empresários já não são mais exploradores, são "criadores de emprego"). Como a realidade mudou, a ação política deve mudar também, promovendo as respostas possíveis de todos aqueles que nunca tiveram um partido que os representasse. É bom sabê-lo, não há receitas para a felicidade futura, o qual não quer dizer que esteja tudo perdido, só que a responsabilidade é de todos e se nos coloca aqui e agora, que todas as lutas contra qualquer forma de dominação são globais e são legítimas. Enfim, para os países chamados "emergentes", sair da retórica do desenvolvimentismo, que faz depender a distribuição da riqueza de um futuro crescimento econômico, já supõe um avanço considerável.

Entretanto, quando nos querem fazer crer que o Mercado, com os seus humores, constitui uma entidade abstrata, ou um totem inatingível, suponho que é hora de re-afirmar (e não esquecer nem por um segundo) que despedir ou ser despedido, comprar ou vender, sanear ou levar à falência, todas as ações empresariais que arrasam países, erguem ou derrubam governos, devastam florestas e destroem vidas, respondem sempre a vontades individuais sobre as quais não existe o menor controle democrático.

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MafiocraciaUn artigo de: Xoán Carlos Lagares[21/09/2005]

O ano passado viu-se na televisão a cabo brasileira um programa estadunidense apresentado pelo magnata Donald Trump, um tipo peculiar que ostenta um cabelo meticulosamente laqueado. Depois fizeram aqui uma versão própria, com um ricaço local, desses que aparecem freqüentemente nas colunas de sociedade, com um penteado equivalente. Nas ruas de São Paulo o programa era anunciado com o seguinte bordão: "Dezesseis candidatos para um único emprego. Isso é que é reality show". Acontece que sempre que a Prefeitura do Rio convoca um concurso público para cobrir um cento de vagas na empresa de coleta de lixo, os candidatos contam-se aos milhares. E isso é "realidade", sem espetáculo.

O título do programa é "O Aprendiz", e consiste, se o entendi bem, num concurso em que vários candidatos devem realizar provas destinadas a demonstrar o seu desempenho como executivos, a sua criatividade empresarial, a sua capacidade para trabalhar em equipe e assumir liderança e todas essas coisas que constituem o supra-sumo das habilidades profissionais. Devem demonstrar, enfim, quem é o melhor homem ou mulher de negócios. O vencedor passa a ser contratado como alto executivo da empresa do milionário-apresentador, com um salário à altura das circunstâncias.

Passaremos por alto o fato perverso de que o prêmio seja um posto de trabalho, mesmo que seja um emprego privilegiado, onde o indivíduo vai ao escritório todos os dias de helicóptero (eis a "altura das circunstâncias" de que falava). Reparemos apenas em que a cada semana um dos candidatos é despedido. No anúncio de promoção do programa, a frase que dizia o indivíduo do cabelo torneado (norte-americano ou brasileiro, já nem sei mais), com um sorriso ensaiadamente duro e cínico, era a do filme de Coppola, The Godfather, aqui chamado "O Poderoso Chefão" (e aí "O Padrinho"), alguma coisa assim como "Não é nada pessoal, são apenas negócios". A frase pronunciada por Vito Corleone antes de eliminar um adversário ou, simplesmente, um indivíduo contrário aos seus interesses. A sombria atmosfera da sala onde o infortunado candidato recebia a sentença poderia ser recriação do gabinete de Al Capone.

Supõe-se que a coisa pretende ser engraçada, que a referência cinematográfica é uma homenagem que permite ao magnata sentir-se Marlon Brando uma vez por semana. A terrível atitude predatória criticada no filme de Coppola, que mostra a relação entre crime e lucro, é assumida alegremente no programa de televisão com um cinismo que resulta, ao fim e ao cabo, muito significativo. Porque nunca as coisas estiveram tão claras. O descaro com que os donos do capital nos mostram a sua escala de valores, os princípios que guiam os rumos da economia mundial, é didaticamente insuperável.

Vendo o filme "La memoria del saqueo", sobre a gênese da crise econômica na Argentina (e, de passagem, sobre a origem da dívida contraída pelos países "em vias de desenvolvimento"), tudo fica ainda mais claro.

A "mafiocracia", denunciada com este exato nome pelo diretor do documentário, Fernando Solanas, constitui o autêntico poder global nesta fase do capitalismo que vivemos. E o crime compensa, pelo visto. "O Relatório Lugano", de Susan George, a ficção em que um grupo de especialistas define o futuro do sistema capitalista considerando métodos de eliminação de população "excedente", não seria mais do que uma leve aproximação a uma realidade que, na sua crueza bélica, é ainda mais assustadora (não constituía a invasão do Iraque um esplêndido negócio, segundo as cabeças pensantes (?) do PP? Será que a minha assumida paranóia interfere gravemente na percepção da realidade, e que o descaso das autoridades norte-

Xoán Carlos Lagares

Xoán Carlos Lagares (1971) é doutor en Filoloxía Galego-Portuguesa pola Universidade da

Coruña. Vive actualmente no Brasil, entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é profesor de Lingüística Histórica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo).

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Nesse panorama, o velho sonho dos partidos de esquerda de conquistar o poder para mudar a realidade parece ilusório demais. Entre outros motivos, porque a tarefa dos governos "democráticos" vem sendo cada vez mais gerir esta miséria conhecida dentro dos limites impostos. Nesse sentido, a crise política que vive hoje o Brasil está provocando uma revisão profunda dos conceitos e dos comportamentos da esquerda. A crise como oportunidade.

As relações de produção mudaram e nenhuma elite dirigente representa os trabalhadores, muito menos a massa dos desfavorecidos, que nem trabalho têm (agora que o trabalho deixou de ser meio de exploração e passou a ser um "bem", e os empresários já não são mais exploradores, são "criadores de emprego"). Como a realidade mudou, a ação política deve mudar também, promovendo as respostas possíveis de todos aqueles que nunca tiveram um partido que os representasse. É bom sabê-lo, não há receitas para a felicidade futura, o qual não quer dizer que esteja tudo perdido, só que a responsabilidade é de todos e se nos coloca aqui e agora, que todas as lutas contra qualquer forma de dominação são globais e são legítimas. Enfim, para os países chamados "emergentes", sair da retórica do desenvolvimentismo, que faz depender a distribuição da riqueza de um futuro crescimento econômico, já supõe um avanço considerável.

Entretanto, quando nos querem fazer crer que o Mercado, com os seus humores, constitui uma entidade abstrata, ou um totem inatingível, suponho que é hora de re-afirmar (e não esquecer nem por um segundo) que despedir ou ser despedido, comprar ou vender, sanear ou levar à falência, todas as ações empresariais que arrasam países, erguem ou derrubam governos, devastam florestas e destroem vidas, respondem sempre a vontades individuais sobre as quais não existe o menor controle democrático.

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Brasil é o maior baluarte da cultura galego-portuguesa. Um grande peso no balanço frente à ansiedade espanhola por fazer esmorecer o nosso futuro, umha vez derrubado o nosso pasado. Pepinho (21/09/2005 18:11)

Com efeito mafiocracia for ever! Tamos nisso, só é importante fazê-lo visível para logo poder reagir. Sem conhecer o sistema não poderemos mudá-lo. Parabéns polo artigo, gostei imenso. José Ramom Pichel (21/09/2005 12:37)

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