aula 3 - temperatura do ar e do solo e as plantas cultivadas agrometeorologia ufrpe uast prof

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10/04/2011 1 Temperatura do ar e do solo e plantas cultivadas Prof o . Thieres George Freire da Silva Eng. Agrônomo, Agrometeorologista Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE / Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UAST UFRPE / UAST 1. Introdução 2. Considerações de temperatura 3. Amplitude térmica e média 4. Variação temporal da temperatura 5. Variação espacial da temperatura 6. Medidas 7. Estimativas 8. Temperatura e desenvolvimento das espécies Estrutura da Aula UFRPE / UAST 1. Introdução Influência sobre a resposta fisiológica das plantas Crescimento e desenvolvimento das plantas (efeito sobre a velocidade de reações químicas e dos processos internos de transporte). Plantas tropicais são mais sensíveis às baixas temperaturas, enquanto que as plantas de clima temperado necessitam de um período de repouso para produzirem bem (vernalização). UFRPE / UAST Figuras. Evolução do desenvolvimento do ramo secundário da videira cv. Superior Seedless, em parreirais sem cobertura plástica (T1 SCP) e com cobertura plástica (T2 CCP_100), no Submédio São Francisco, Petrolina-PE, 2008. Dias após a poda (DAP) 20 40 60 80 100 Comprimento do ramo (cm) 0 50 100 150 200 250 CC T2 CCP CC T1 SCP A Dias após a poda (DAP) 20 40 60 80 100 Número de folhas/ramo 0 20 40 60 80 100 NF T1 SCP NF T2 CCP C Dias após a poda (DAP) 20 40 60 80 100 Comprimento dos cachos (cm) 0 5 10 15 20 25 30 CC T1 SCP CC T2 SCP E Dias após a poda (DAP) 20 40 60 80 100 Área foliar/ramo (m 2 ) 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 AF T1 SCP AF T2 CCP G Cobertura plástica da videira: evolução do crescimento de ramos e cachos e da área foliar no Submédio São Francisco Figura. Temperatura média do ar ao longo do dia durante o ciclo produtivo da videira: Nível N3 - acima da folhagem da videira, para os tratamentos: SCP_sem cobertura plástica; CCP_80 - com cobertura plástica instalada a 80 cm acima do dossel da videira; CCP_100 - com cobertura plástica instalada a 100 cm acima do dossel e CCP_120 cm . com cobertura instalada a 120 cm acima do dossel, Petrolina - PE.

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10/04/2011

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UFRPE / UAST

Temperatura do ar e do solo e plantas cultivadas

Profo. Thieres George Freire da SilvaEng. Agrônomo, Agrometeorologista

Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE / Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UAST UFRPE / UAST

1. Introdução2. Considerações de temperatura3. Amplitude térmica e média4. Variação temporal da temperatura5. Variação espacial da temperatura6. Medidas7. Estimativas8. Temperatura e desenvolvimento das espécies

Estrutura da Aula

UFRPE / UAST

1. Introdução• Influência sobre a resposta fisiológica das plantas

Crescimento e desenvolvimento das plantas (efeito

sobre a velocidade de reações químicas e dos

processos internos de transporte).

Plantas tropicais são mais sensíveis às baixas

temperaturas, enquanto que as plantas de clima

temperado necessitam de um período de repouso

para produzirem bem (vernalização).

UFRPE / UAST

Figuras. Evolução do desenvolvimento do ramo secundário da videira cv. SuperiorSeedless, em parreirais sem cobertura plástica (T1 SCP) e com cobertura plástica (T2CCP_100), no Submédio São Francisco, Petrolina-PE, 2008.

Dias após a poda (DAP)

20 40 60 80 100

Com

prim

ento

do

ram

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m)

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Dias após a poda (DAP)

20 40 60 80 100

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100NF T1 SCPNF T2 CCP

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Dias após a poda (DAP)

20 40 60 80 100

Com

prim

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cac

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(cm

)

0

5

10

15

20

25

30CC T1 SCPCC T2 SCP E

Dias após a poda (DAP)

20 40 60 80 100

Área

folia

r/ram

o (m

2 )

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0AF T1 SCP AF T2 CCP

G

Cobertura plástica da videira: evolução do crescimento de ramos e cachos e da área foliar no Submédio São Francisco

Figura. Temperatura média do ar ao longo dodia durante o ciclo produtivo da videira: Nível N3- acima da folhagem da videira, para ostratamentos: SCP_sem cobertura plástica;CCP_80 - com cobertura plástica instalada a 80cm acima do dossel da videira; CCP_100 - comcobertura plástica instalada a 100 cm acima dodossel e CCP_120 cm . com cobertura instaladaa 120 cm acima do dossel, Petrolina - PE.

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UFRPE / UAST

• Ferramenta de planejamento agrícola

Permite a delimitação de zonas termicamente aptas para as

culturas (faixa de temperatura ótima, número de horas de

frio, risco de geadas, entre outras) – definição das melhores

espécies, instalação de ambientes protegidos, períodos de

vernalização, época de plantio, entre outras etapas do

sistema de produção.

1. Introdução

UFRPE / UAST

• Tomada de decisão- Plantio

- Proteção do solo

- Irrigação

- Definição do momento de

pulverização

- Indução ao florescimento

- Polinização

- Momento de maturação e colheita

dos frutos

- Acionamento do sistema de

ventilação de ambientes protegidos

1. Introdução

UFRPE / UAST

• Exigências das culturas (Exemplo: temperatura do ar)

1. Introdução

Tabela. Temperatura do ar ótima de culturas (Várias fontes)Mínima (°C) Preferencial (°C)

Feijão 8-10 16-30Beterraba 4 10-30repolho 4 7-35Milho 10 16-32Curcubitáceas 16 16-35Alface 2 4-27Cebola 2 10-35Tomate 10 16-30Trigo 4 20Cevada 3-5 20canola 5 15-20

“As plantas também apresentam faixa ótima ou preferencial para a temperatura do solo”

UFRPE / UAST

Suínos

• Exigências térmicas dos animais

1. Introdução

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UFRPE / UAST

Bovinos

Aves

UFRPE / UAST

2. Temperatura2.1. Considerações:

Temperatura: é um índice que expressa a quantidade de calor

sensível de um corpo, ou seja, a quantidade de energia térmica ou

o grau de agitação das moléculas do mesmo (>temperatura, >

energia cinética). É uma medida indireta e simples da energia

interna de um sistema, proporcional ao seu estado vibratório;

Observação: a temperatura é uma grandeza intensiva, isto é,

independe da quantidade de matéria, volume ou massa, o que

permite a comparação entre sistemas com diferentes estruturas ou

extensões.

UFRPE / UAST

2.2. Fonte da energia para as variações de Temperatura 2.2. Fonte da energia para as variações de Temperatura

Atmosfera

Espaço

OceanoContinente

100%

CO2H2ONH4O3 N2O

4%20%

6%

51%

Refletida pela atmosfera

Refletida pelas nuvens

Refletida pela Superfície da

Terra

Radiação solar direta e difusa

19%

Radiação absorvida pela

atmosfera

-23%`(LE) -7% (H)

Radiação absorvida na superfície

-6%

-111%

-117%

CO2H2ONH4O3 N2O

-64%

+96%

-160%

-70%

Infravermelha perdida pela

Terra

Infravermelha perdida pela Atmosfera

Infravermelha perdida pela superfície

A energia utilizada para o aquecimento da água, do ar e do solo é resultante do próprio balanço de radiação em superfície, em que há um saldo energético de calor sensível (H)

A energia utilizada para o aquecimento da água, do ar e do solo é resultante do próprio balanço de radiação em superfície, em que há um saldo energético de calor sensível (H) UFRPE / UAST

2.3. Processos de transferência de calor no ar e no solo

Condução molecular: Processo lento de troca de H,

ocorrendo pelo contato entre as moléculas de ar. Assim, esse

processo tem extensão espacial limitada, ficando restrito à camada limite superficial.

Difusão Turbulenta: Processo rápido de troca de energia, em que

parcelas de ar aquecidas pela superfície entram em movimento

convectivo desordenado, transportanto calor (H), vapor (LE), etc, para camadas superiores da

atmosfera.

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UFRPE / UAST

2.4. Fatores determinantes da temperatura

Fatores intrínsecos:Cobertura vegetal (fator microclimático)Relevo (topoclimático)Tipo do solo (estrutura, textura e composição)

Fatores externos:Elementos meteorológicos que afetam o balanço deenergia e sua partição(Radiação global, nebulosidade, vento e chuva)

UFRPE / UAST

Influência dos fatores externos sobre a temperatura

Rn

LEH

VentoRn

LEH

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Vento

T1

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do

solo

Temperatura do ar ou do solo

Altu

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Prof

und.

do

solo

Temperatura do ar ou do solo

Altu

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T1

T2

T3

T4

T3

T4

G

Ar

Solo Água Solo

Ar

Período diurno Período noturno

UFRPE / UAST

Fatores intrínsecos

Cobertura do solo (fator microclimático): solosdesnudos ficam sujeitos a grandes variaçõestérmicas diárias nas camadas superficiais, em diasde alta irradiância solar. A existência de umacobertura do solo ou presença de resíduos modificamo balanço de energia, pois intercepta a radiaçãoantes de atingir a superfície do solo.

UFRPE / UAST

No gráfico ao lado pode serobservada a influência dacobertura do solo sobre oregime de temperatura abaixoda superfície em um cultivo decafé, onde próxima asuperfície a temperatura dosolo (Tsolo) é muito maior naausência de cobertura. Poroutro lado, a medida queaumenta a quantidade decobertura, o valor de Tsolodiminui. Analogamente, sobausência de cobertura, osvalores de Tsolo tendem a sermenores nos horários demenores magnitudes do quena presença de cobertura.

Cobertura do solo

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20 25 30 35 40 45 50Temperatura do solo (oC)

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0t/ha(6h) 14t/ha(6h) 28t/ha(6h)0t/ha(14h) 14t/ha(14h) 28t/ha(14h)

Pezzopane et al. (1996)

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UFRPE / UAST

Fatores intrínsecos: Relevocondiciona a incidência de radiação solar sobre a superfície do solo

UFRPE / UAST

Tipo de solo

-solos com maior teor de umidadepossuem maior condutividade térmica;

-solos argilosos possuem maiorcondutividade térmica, assim as ondas decalor são conduzidas a profundidadesmaiores, resultando em menor amplitudetérmica, quando comparado a solosarenosos;

Considerando:Solo argiloso e, ou, solo menos poroso, e, ou,solo com maior teor de umidade.

-solos com maior teor de umidade tambémpossuem maior capacidade volumétrica,necessitando com isso de maior energiapara aquecer.

UFRPE / UAST

- solos de textura arenosa possuem maioramplitude térmica diária nas camadassuperficiais (devido a menor condutividadetérmica);

-solos mais porosos e, ou, com maiorconteúdo de matéria orgânica possuemmenor condutividade térmica;

-solos com menor teor de umidadepossuem capacidade térmica menor, porisso solos secos tendem a aquecer maisrápido do que solos úmidos

Considerando:Solo arenoso e, ou, solo mais poroso, e, ou,solo com menor teor de umidade.

UFRPE / UAST

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0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24Hora

Tem

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do

solo

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Arenoso Argiloso

A Figura acima mostra a variação horária da temperatura de um solo arenoso e de outro argiloso. Observe amenor amplitude diária no solo argiloso, o que se deve ao fato deste solo ser mais eficiente em transportarcalor para seu interior

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3. Amplitude térmica e Média

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Tem

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Data/Horário

TempAr

Variação dos valores de Temperatura do ar em Serra Talhada entre o período de 26/02/2010 a 05/03/2010

REPRESENTA UMA CONDIÇÃO INSTANTÂNEA

05/Mar 04/Mar 03/Mar 02/Mar 01/Mar 28/Fev 27/Fev 26/Fev

UFRPE / UAST

4. Variação da temperatura

Oscilações quase instantâneas:

Tem

pera

tura

(o C)

Tempo (em segundos)

UFRPE / UAST

A Figura ao lado demonstra avariação diária da temperatura doar e do balanço de energiapróxima a superfície.

Observa-se uma defasagementre a ocorrência da temperaturamáxima e a maior incidência deirradiância solar. Destacatambém o período de ocorrênciade valores mínimos datemperatura do ar, que ocorreantes do amanhecer do dia.

Figura. Variação diária da temperatura do ar

Oscilações diárias:

UFRPE / UAST

Oscilações anuais:

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UFRPE / UAST

Defasagem entre a incidência de radiação e a temperatura

UFRPE / UAST

Figura.Temperatura média doar e o total de precipitação emalguns localidade do Brasil.

Em geral, os maiores valores de temperatura ocorrem nos meses de verão, enquanto que a menor temperatura nos

meses de inverno, independentemente dos períodos de ocorrência

da precipitação.

UFRPE / UAST

Efeito da latitude sobre os valores anuais da temperatura

“Quanto maior a distância do equador, ou seja, maior a latitude, maior será a amplitude térmica (diferença entre a temperatura do mês mais quente e do mês mais frio)”

UFRPE / UAST

Outro exemplo da influência da latitude

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UFRPE / UAST

Efeito da continentalidade (longitude) sobre a temperatura

“O oceano atua como regulador da temperatura, de modo que quanto mais próxima a localidade do oceano menor as flutuações da temperatura, reduzindo sua amplitude anual”

UFRPE / UAST

Outro exemplo do efeito da continentalidade (longitude)

UFRPE / UAST

Efeito da altitude sobre os valores anuais de temperatura

“A altitude influência na magnitude dos valores de temperatura, sendo menores quanto maior a altitude do local”

UFRPE / UAST

Outro exemplo do efeito da altitude sobre a temperatura

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UFRPE / UAST

Comportamento anômalo dos padrões de temperatura

UFRPE / UAST

Temperatura Mínima Anual Temperatura Máxima Anual Temperatura Média Anual

A variabilidade espacial (horizontal): definida pelos fatores determinantes do clima, como latitude, altitude, continentalidade, correntes oceânicas, massas de ar, entre outros.

As Figuras acima destacam a variabilidade espacial das temperaturas mínima, máxima e média anuais no Brasil, de acordo com as normais climatológicas de 1931-1990.

5. Variação espacial da temperatura

UFRPE / UAST

Variação temporal e espacial da Temperatura do ar no Submédio São Francisco

Figura . Espacialização da temperatura do ar mensal normal sobre a Bacia do Submédio São Francisco: a – janeiro, b –fevereiro, c – março, d – abril, e – maio, f – junho, g – julho, h – agosto, i – setembro, j – outubro, k – novembro, l – dezembro.

UFRPE / UAST

Figura . Espacialização da temperatura do ar anual normal sobre a Bacia do Submédio São Francisco.

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UFRPE / UAST

A temperatura do ar apresenta uma variação vertical. Como tanto o aquecimento como o resfriamento do ar se dão a partir da superfície, durante o dia a tendência é da temperatura do ar ser maior próxima à

superfície e menor com a altura. Já de madrugada, essa situação se inverte, sendo a temperatura menor próxima à superfície e maior com o aumento da altura.

Gradiente vertical da temperatura do ar durante o período diurno

Gradiente vertical da temperatura do ar durante o período noturno

Variação vertical da temperatura do ar:

UFRPE / UAST

Temperatura do solo

Período diurno

Período Noturno

As Figuras acima destacam a variação da temperatura do solo ao longo do dia, mostrandoque durante o período diurno os valores próximos a superfície são elevados, invertendo operfil durante o período noturno. A ocorrência de valores máximos é após ao meio-dia. Alémdo mais, observa-se que existe uma profundidade que essa variação é desprezível.

-50

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5h

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UFRPE / UAST

Figura. Marcha diária da temperatura do solo em diferentes profundidades.

Na Figura abaixo pode ser observada a defasagem de ocorrência da temperatura máximaentre as profundidades, bem como a atenuação da onda de variação da temperatura dosolo ao longo do dia com a profundidade.

UFRPE / UAST

Variação da temperatura do ar e do solo em um cultivo de cana-de-açúcar irrigada na região do semi-árido brasileiro

Figura. Amplitude dos valores de temperatura do ar (a 2,50 metros de altura acima do dossel dacultura) e da temperatura do solo (a duas profundidades (5 cm e 15 cm) e as suas defasagensem relação a radiação solar global em um cultivo de cana-de-açúcar irrigada.

Em profundidades maiores (15 cm)

amplitude térmica é menor e a

defasagem em relação a

temperatura do ar e a radiação é maior quando comparado aos valores medidos

em profundidades menores (5 cm)

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UFRPE / UAST

6. Medidas da temperatura

Estação Meteorológica AutomáticaEstação Meteorológica Convencional

UFRPE / UAST

Os sensores utilizados para a medida da temperatura do ar podem serdivididos conforme o princípio de medida, em: dilatação dos sólidos,dilatação dos líquidos e termoelétricos.

Dilatação dos sólidos: são instrumentos que se baseiam no princípio de que um sólido ao seaquecer sofre dilatação proporcional ao aquecimento. Os mais comuns são aqueles denominadostermógrafos, os quais têm o elemento sensor um arco metálico, que se dilata e contrai com atemperatura. Essa variação de dilatação é proporcional à variação de temperatura. Eles medem atemperatura do ar continuamente, com o registro sendo feito por meio de um sistema de alavancasconectado a uma pena que se encontra sobre um diagrama. Esses equipamentos são utilizados emestações meteorológicas convencionais, onde ficam instalados dentro do abrigo meteorológico.

Figura. Termógrafo

UFRPE / UAST

Dilatação dos líquidos: são aqueles equipamentos utilizados em estações meteorológicasconvencionais, onde ficam instalados dentro do abrigo meteorológico. Consistem de um capilar de vidroonde uma coluna líquida (álcool ou mercúrio) se dilata ou contrai com o aquecimento ou resfriamento.Dois termômetros são destinados a medir as temperaturas máxima (Tmáx) e mínima (Tmín) e outrosdois se destinam a medir a temperatura do bulbo seco (Ts) e do bulbo molhado (Tu), os quais constituemo conjunto psicrométrico, utilizado para estimativa da umidade relativa do ar.

Figura. Termômetros de máxima e mínima Figura. Termômetros de bulbo seco e molhado

UFRPE / UAST

Figura. Geotermômetros

Geotermômetros são termômetros instalados a 2, 5, 10, 20, 40 e 100 cm de profundidade emsuperfície gramada ou de solo desnudo com o objetivo de mediar a temperatura do solo.

Figura. Ilustração do posicionamento de instalação

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UFRPE / UAST

Pares termoelétricos: são aqueles equipamentos que possuem o princípio físicode um termopar, em que consiste de junções de dois metais diferentes. A diferençade temperatura entre as duas junções (uma no abrigo e outra numa temperatura dereferência) gera uma força eletromotriz proporcional.

UFRPE / UAST

Termistores: são aqueles equipamentos constituídos por semicondutoressensíveis a temperatura.

UFRPE / UAST

Radiação infravermelho: são aqueles equipamentos que se baseiam na detectação daradiação eletromagnética emitida pelos corpos (Lei de Stefan Boltzman). São equipamentosde pouca aplicação em estações meteorológicas.

Figura. Termômetro de radiação infravermelho

UFRPE / UAST

7. Estimativa da temperatura

Tmédia = (T9h + Tmáx + Tmín + 2.T21h) / 5

Tmédia = ( Ti) / n

INMET

IAC Tmédia = (T7h + T14h + 2.T21h) / 4

Valores Extremos Tmédia = (Tmáx + Tmín) / 2

Real

Termógrafo Tmédia = ( Ti) / 24

Temperatura do ar : VALORES DIÁRIOS

em que: Tmédia = temperatura média diária, T9h = temperatura das 9:00 hs, T21h =temperatura das 21:00 hs, Tmáx = temperatura máxima do dia, Tmín = temperaturamínima do dia, Ti = temperatura de um determinado instante.

em que: n = número de observações no dia.

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UFRPE / UAST

Temperatura do ar : VALORES MENSAIS

> Latitude < Temperatura média do ar

> Altitude < Temperatura média do ar

Longitude < ou > proximidade dos oceanos

em que: ti = temperatura máxima, média ou mínima de um referido mês i; ALT =altitude, em metros; LAT = latitude e LONG = longitude, ambas em minutos (graus x60); a0, ..., a9 = coeficientes da equação, obtidos estatisticamente.

Na ausência de dados de temperatura, os mesmos podem ser estimados utilizandoos dados geográficos do local, sendo:

A seguir são demonstrados os valores do coeficientes de entrada da equação acima

LAT.ALTaLONG.ALTaLONG.LATaALTaLATaLONGaALTaLATaLONGaait 987

2

6

2

5

2

43210

UFRPE / UAST

UFRPE / UAST UFRPE / UAST

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UFRPE / UAST

Temperatura do solo

Profundidade Equação

2 cm Ts2cm = -4,56 + 1,38.Tar

5 cm Ts5cm = -3,61 + 1,33.Tar

10 cm Ts10cm = -2,59 + 1,28.Tar

20 cm Ts20cm = -1,70 + 1,22.Tar

40 cm Ts40cm = 0,62 + 1,12.Tar

100 cm Ts100cm = 7,27 + 0,81.Tar

A temperatura do solo tem sido estimado por meio da temperatura do ar utilizando relações diretas entreos seus valores. Alfonsi & Sentelhas (1997) propuseram equações de estimativa da temperatura do solomensal em diferentes profundidades de um solo Latossolo roxo desnudo em Campinas, SP:

Essas equações são válidas para esse tipo de solo não-revolvido por aeração e gradeação, de modo que devemser utilizadas com cautela para outros tipos de solo, logo que perfil da temperatura do solo depende das características do mesmo.

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8. Indicadores térmicos e suas aplicações agronômicas

8.1. Graus dias

8.2. Número de horas de frio

8.3. Índice de conforto térmico animal

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Taxa

de

dese

nvol

vim

ento

Temperatura do ar (oC)

Tb TB

30 342610 40

Temperatura ótima

Taxa de desenv. máxima

Esse indicador baseia-se no fato de que a taxa de desenvolvimento de uma espécie está relacionada com a temperatura domeio, pressupondo-se que, quando a temperatura está abaixo e acima de das temperaturas basais inferior – Tb e superior –TB, respectivamente a espécie não se desenvolve.

Representa a quantidade de energia que a espécie necessita para atingir um determinado estádio de crescimento, sendo umindicador bastante utilizado para fins de planejamento da atividade.

I) Se Tbase < Tmin:

GD = (Tmédia – Tbase)

II) Se Tbase Tmin:

GD = (Tmax – Tb)2 / 2(Tmax – Tmin)

III) Se Tbase > Tmax:

GD = 0

Condições para cálculo dos GD (oC dia):

GDA = GD

Cálculo dos graus dias acumulados (GDA)para um determinado período:

Extraído de Sentelhas & Angelocci (2007)

8.1. Temperatura e desenvolvimento das plantas

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Exigência térmica (graus-dia) e caracterização fenológica para uvas de vinho “Cabernet sauvignon e Syrah (Vitis vinífera) para a região do Submédio vale do São Francisco

Figura. Temperatura durante o períodopoda - colheita relacionada com ointervalo em dias para cada subperíodospara variedade Syrah no ano de 2006,Casa Nova – BA.

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

1 12 23 34 45 56 67 78 89 100 111 122

Cioclo fenológico em dias

Tem

pera

tura

do

ar °(

C)

Tar (°C) Tar (Max) (°C) T ar (Min) (°C)

Poda

-Iní

cio

de b

rotç

ão

Iníc

io d

e br

otaç

ão -

Plen

a flo

raçã

o

Plen

a flo

raçã

o - I

níci

o de

mat

uraç

ão

Iníc

io d

e m

atur

ação

- Fi

nal d

e m

atur

ação

Cultivar Ano. semestre

Períodos fenológicoPO – BR BR – FL FL – MA MA – CL PO – CO Prod. Kg.ha-

1

Exigências térmicas (graus-dia)

Cabernet sauvignon

2006.1 SGD 140,9 398,3 865,1 732,7 2137 2.200,49

2006.2 SGD 198,9 294,6 848,1 864,9 2207 4.074,07

MediaSGD 169,90 346,45 856,60 798,80 2172,00 3.137,28

DESPAD 41,01 73,33 12,02 93,48 49,50

Syrah

2006.1 SGD 193,30 371,80 766,90 826,60 2158,60 4.382,70

2006.2 SGD 164,30 377,60 810,90 722,30 2075,10 6.543,20

Media

SGD 178,80 374,70 788,90 774,45 2116,85 5.462,95

DESPAD 20,51 4,10 31,11 73,75 59,04

Tabela. Exigência térmica da videira cabernet sauvignon noVale São Francisco, Brasil.

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caracterização térmica do feijão caupi e milho em sistema de plantio consorciado nas condições do semi-árido no Nordestino

Tabela. Graus dias acumulados e número de dias correspondente a cada subperíodo fenológico dasculturas do milho e do feijão caupi.

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Cultura Variedade/Cultivar Período/Sub-período Tb (oC) GDA(oCd)

Soja UFV-1 Semeadura-Maturação 14,0 1340

Paraná Semeadura-Maturação 14,0 1030

Viçoja Semeadura-Maturação 14,0 1230

Cafeeiro Mundo Novo Florescimento-Maturação 11,0 2642

Videira Niagara Rosada Poda-Maturação 10,0 1550

Itáli/Rubi Poda-Maturação 10,0 1990

Tabela. Valores de temperatura base e graus dias acumulados (GDA) para algumas culturas

Extraído de Sentelhas & Angelocci (2007)

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8.2. Número de horas de frio (NHF)

Temperatura do ar e NHF

02468

101214161820

13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Horário

Tem

p. d

o ar

(o C)

NHF<13oC = 17

NHF<7oC = 9

O NHF é definido como o número de horas em que a temperatura do ar permanece abaixo de determinadatemperatura crítica durante certo período, durante o inverno. Essa temperatura crítica é considerada igual a7oC por ser aplicável à maioria das espécies criófitas, mais exigentes em frio. Para as espécies menosexigentes, pode-se considerar a temperatura crítica de 13oC. É uma informação importante, pois muitasplantas necessitam de horas de frio para entrar em repouso (balanço hormonal) ou para iniciarem um novociclo vegetativo ou reprodutivo.

a) Queda de gemas frutíferas;

b) Atraso e irregularidade na brotação e floração;

c) Ocorrência de florescimento irregular e prolongado.

O resultado dessas anomalias é a redução do rendimento e da

longevidade da cultura

A ausência de NHF poderá resultarem anomalias nas plantas:

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Algumas equações de estimativa de NHF médio normal. Exemplo para o Estado de São Paulo:

NHF<7oC = 401,9 – 21,5 Tjulho

NHF<13oC = 4482,9 – 231,2 Tjulho

Frutífera NHF < 7oC

Maçã 250 a 1.700 h

Amora Preta 100 a 1.000 h

Kiwi 250 a 800 h

Pêssego 0 a 950 h

Figo 0 a 200 h

Uva 0 a 1.300 h

Cereja 500 a 1.400 h

Pêra 200 a 1.500 h

Ameixa 300 a 1.800 h

Noz Pecã 300 a 1.000 h

Tabela. Valores de Número de Horas de

Frio (NHF) para algumas culturas

O NHF varia entre espécies e variedades, equanto mais exigente for a espécie/variedademaior o valor de NHF, como pode-se observarno quadro ao lado

Fonte: www.citygardening.net/chilling

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41,50,36ttITU pom Thom (1959)

tm - temperatura média do ar, ºC; e,

tpo - temperatura do ponto de orvalho, expressa em ºC e calculada apartir das equações psicrométricas citadas por Vianello & Alves(2000).

Índice de Temperatura e Umidade (ITU)

8.3. Índice de conforto térmico animal

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Outras equações do Índice de Temperatura e Umidade (ITU)

(1) ITU = ts – 0,55(1-UR)(ts-58)

(2) ITU = 0,72(ts+tu) + 40,6

(3) ITU = ts+0,36to + 41,2

Kelly e Bond (1971)

McDowell e Johnston (1971)

Baccari et al. (1983)

(4) ITU = 0,8Ta + UR(Ta-14,6)/100 + 46,3 Buffington et al. (1982)

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Berry et al. (1964)

ITU NP 0,02474 NP 1,736 - 1,075 -DPL

Declínio da Produção de Leite (DPL)

DPL - expresso em kg animal-1dia-1;

NP - nível normal de produção de leite, dado em kg animal-1dia-1.

Ex.: 10, 15, 20, 25, 30 e 35 kg animal-1dia-1

Berry et al. (1964)

ITU 0,39128,23RCA

Redução do Consumo Alimentar (RCA)

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Até a próxima aula...