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IMPACTOS - Instituto Matogrossense de Pós Graduação e Serviços Educacionais Apostila Metodologia do Ensino de Geografia Curso: Pedagogia Prof. Odeval Veras de Carvalho Fevereiro/2015 Cuiabá Mato Grosso

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Metodologia de geografia, uma ferramenta para ser usada na graduação.

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IMPACTOS - Instituto Matogrossense de Pós Graduação e Serviços Educacionais

Apostila Metodologia do Ensino de Geografia

Curso: Pedagogia Prof. Odeval Veras de Carvalho

Fevereiro/2015 Cuiabá – Mato Grosso

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Disciplina: Metodologia do Ensino de Geografia Curso: Pedagogia Prof. Esp. Odeval Veras de Carvalho

APOSTILA Metodologia do Ensino de Geografia Fev.2015 E-mail: [email protected] Página 1

SUMÁRIO Apresentação .

Perfil do profissional .

Unidade I

Processo histórico da geografia: Fundamentos teóricos e metodológicos.

I. Geografia: conceito e objeto de estudo. II. Origens e Evolução do pensamento geográfico. III. A Geografia como ciência: sua sistematização – Humboldt e Ritter

- As Escolas de Geografia: Escola Alemã e Francesa IV. - A Geografia e sua relação com o Capitalismo. V. Movimento de Renovação da Geografia. VI. A Nova Geografia / Geografia Crítica / Geografia da Percepção.

Unidade II

A construção de noções e representações espaciais.

I. A reafirmação do espaço como objetivo de estudos. II. O conceito do espaço no mundo Pós-moderno.

III. A construção das noções espaciais. IV. A Representação espacial. V. Noções de cartografia. VI. A Cartografia Digital e as novas tecnologias.

Unidade III

A escolha dos livros Didáticos: atividades práticas e uso do livro didático.

I. Livros Didáticos de geografia X PCN´s - Parâmetros Curriculares Nacionais. II. O ensino da Geografia Geral, do Brasil e de Mato Grosso.

III. As novas tecnologias no ensino de Geografia – SIG´s: Sistemas de Informações Geográficas. IV. Estudos do meio: do planejamento ao relatório final. V. Projetos: ações e atividades a serem desenvolvidas de forma interdisciplinar. VI. Atividades práticas e confecção de material didático que facilitam o processo de aprendizagem

sobre o espaço geográfico.

Fontes de estudos e pesquisas.

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Apresentação

Caríssimo graduando é com imensa satisfação que apresento a ciência geográfica, cuja origem remonta a antiga Grécia e atualmente desponta no cenário mundial como uma área do conhecimento imprescindível na atualidade, em virtude das várias ferramentas disponíveis para uso e pesquisa, procedimentos e tomadas de atitudes diante do mundo globalizado. Mas, sobretudo, uma ferramenta de análise crítica, observação e interpretação dos fenômenos sociais, culturais, econômicos, políticos e dos problemas ambientais.

Estudar geografia é estudar o espaço, uma importante dimensão da vida social. Afinal, a dinâmica das sociedades está inscrita na constituição do espaço geográfico, ou seja, no espaço produzido pelos seres humanos, em suas diversas escalas. Assim como a sociedade, o espaço geográfico possui história, mas é dinâmico, vivo e aberto ao futuro. TERRA (2013).

Perfil do profissional

O profissional egresso do curso de Pedagogia, nesta disciplina deverá buscar através dos conteúdos programáticos uma aprendizagem significativa, pois, como profissional da educação saiba interpretar de fato os fenômenos geográficos dentro de uma visão macro para posteriormente aplicar na prática escolar, como subsídio essencial para seus alunos. Na atualidade do mundo contemporâneo, pautada numa sociedade inserida na Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-científica, espera-se que os futuros profissionais pedagogos tenham respostas coerentes e convincentes de seu papel como cidadão nesta sociedade global, com perfil crítico perante as mudanças no espaço geográfico. O perfil profissional desejado implica formação filosófica, política e técnico-científica. O estudante, portanto, de um lado, deve investigar em campos de estudo como filosofia, geografia, história, sociologia, política, matemática, linguagens, etc., para poder se consolidar como um profissional capacitado e desenvolver suas habilidades. Segundo SANTOS (2002), sobre a Globalização e o espaço do Cidadão:

A vontade dessa globalização perversa a que estamos assistindo é reduzir o papel do cidadão. É transformar

todo mundo em consumidor, usuário e, se possível, coisa, para mais facilmente se inclinar diante de soluções anti-humanas. Essa globalização por enquanto não leva em consideração o homem. De modo que esse espaço do cidadão tem de ser recriado a partir dos níveis abaixo do mundo. Não é o mundo que vai criar o cidadão. O chamado mundo quer acabar com as cidadanias, mas cada nação e cada espaço e cada cidade é que vai ter a força de recriar esse cidadão – que vai contribuir, creio eu , mais tarde, para sugerir uma outra globalização. Eu acho que essa é a nossa tarefa no começo do século 21, porque, de repente, o atual século parece perdido. É a recriação da cidadania mediante uma outra globalização horizontalizada e não verticalizada como a atual, na qual a vida não seja tributária do cálculo (economia), mas haja espaço para a emoção – que é que une os homens. Mas essa união dos homens do mundo inteiro passa pela produção de uma ideia de mundo feita em cada lugar.

“In Memoriam” Milton Santos do livro O País Distorcido (2010).

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Unidade I

Processo histórico da geografia: Fundamentos teóricos e

metodológicos.

Geografia: conceito e objeto de estudo.

Os conhecimentos da geografia foram ao longo dos tempos sendo utilizados por diversas pessoas e estudiosos desde a antiguidade e aos poucos foram sendo incorporados e, cada vez mais sistematizados pela quantidade de produções e experimentos daquela época.

Fonte: Google imagens – www.educador.brasilescola.com Capturado em 04/02/2015.

Mas, o objeto específico de estudos sempre foi muito abrangente e de difícil entendimento. Segundo Moraes (2005), alguns autores definem a geografia como o estudo da superfície terrestre. Esta concepção é a mais usual, e ao mesmo tempo a de maior vaguidade. Pois, a superfície da Terra é o teatro privilegiado de toda reflexão cientifica, o que desautoriza a colocação de seu estudo como especificidade de uma só disciplina. Esta definição do objeto apoia-se no próprio significado do termo Geografia – descrição da Terra. Assim, caberia ao estudo geográfico descrever todos os fenômenos manifestados na superfície do planeta, sendo uma espécie de síntese de todas as ciências. Objetivando uma demonstração mais simplificada, observe abaixo um quadro síntese das temáticas abordadas pela geografia ao longo dos tempos para que possamos ter uma visão ou leitura do imaginário geográfico e consequentemente fundamentarmos nossos debates e entendimentos. Quadro Síntese: Objeto de estudo da geografia.

Estudo da superfície terrestre Termo muito abrangente e vago. Ideia de Kant, colocando como ciência de síntese e descritiva.

Biosfera Esfera do planeta que apresenta formas viventes.

Crosta Terrestre Camada inferior da atmosfera e superior da litosfera.

O estudo da paisagem Descritiva: descreve os elementos da paisagem; Formas (morfológica): Estética da obra de Humboldt “Cosmos”.

Fisiologia da paisagem Fundamenta-se na Biologia na ideia de organismo. Autores da antiguidade clássica: Heródoto ou Estrabão.

Geografia regional Propõe uma unidade espacial, a região.

Estudo da diferenciação de área Traz uma visão comparativa da análise geográfica.

Estudo do espaço Para este o espaço seria passível de uma abordagem especifica. Ideia pouco desenvolvida e vaga pelos geógrafos.

Estudo das relações entre o homem e o meio (sociedade e natureza)

Buscar explicar o relacionamento entre as ciências naturais e as humanas, ou sociais.

Adaptado por Odeval Veras de Carvalho, 2015. Extraído do livro: Geografia – Pequena História Crítica.

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Origens e Evolução do pensamento geográfico.

A preocupação do homem em conhecer o meio no qual desenvolve sua vida, é antiga, seja impulsionada por fins de sobrevivência, econômicos ou políticos ou até mesmo por curiosidade. Essa ambição está associada, especialmente, à necessidade de sobrevivência que se faz presente ao longo da história da humanidade.

Fonte: Google imagens – www.queconceito.com.br Capturado em 04/02/2015.

Segundo Moraes (2005), o rótulo Geografia é bastante antigo, sua origem remonta a Antiguidade Clássica, especificamente ao pensamento grego. Entretanto, apesar da difusão do uso desse termo, o conteúdo a ele referido era muito variado. Ficando apenas no pensamento grego, aí já se delineiam algumas perspectivas distintas, uma com Tales e Anaximandro, que privilegia a medição do espaço e a discussão da forma da terra. A outra, com Heródoto, se preocupa com a descrição dos lugares, numa perspectiva regional. Outro estudo surgiu com, na sua física, sem articulá-la com a discussão da relação homem-natureza. Outros estudiosos como Claudio Ptolomeu e Isaac Newton contribuíram para o fortalecimento do conhecimento geográfico. A Geografia teve uma gênese grega, ou seja, a primeira civilização a produzir estudos geográficos, e uma segunda alemã. Da segunda gênese, resultou a institucionalização da Geografia como ciência, e isso não se deu por acaso na Alemanha. Algumas foram às condições que propiciaram o surgimento da Geografia moderna na Alemanha: primeiro, um território fragmentado em dezenas de pequenos reinos; segundo, o desejo de expansão imperialista, constitutivo do capitalismo. Para demonstrar esse percurso mencionamos as ideias abaixo contidas no artigo de Mormul, N. M.; Rocha M. M. (2013, pág. 64).

As condições necessárias ao surgimento da geografia existem, mas não teriam determinado automaticamente a sua gênese não fosse à existência de um estímulo social mais direto presente na particularidade histórica da Alemanha e de certas características individuais relativas ao pensamento de alguns cientistas alemães. Somente a análise da especificidade do desenvolvimento do capitalismo e das ideias neste país é capaz de aprender as razões que levaram esta sociedade a valorizar a reflexão sobre o temário geográfico. É, portanto, em solo alemão que a geografia alcança sua forma de ciência moderna. O salto qualitativo se dá entre os alemães no momento em que as questões relativas ao desenvolvimento do capitalismo encontram-se já plenamente resolvidas na Inglaterra e em curso bastante adiantado na França, enquanto a Alemanha permanece ainda às voltas com o seu processo de unificação interna. Se para o capitalismo inglês e Frances o papel da geografia é o de lhes viabilizar a expansão colonial, para o capitalismo alemão seu papel será o de dar respostas a questões ainda preliminares: a unidade alemã. O caráter tardio da penetração das relações capitalistas no país liga-se ao fato de ele ainda não ter se constituído como um Estado nacional. Ao desejo de unificação corresponde uma necessidade de expansão intrínseca ao próprio capitalismo, porque ele só poderá se constituir no interior da Alemanha na medida em que se expandir fora dela (MOREIRA, 1981, p.22).

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A Geografia como ciência: sua sistematização – Humboldt e Ritter

A origem científica da Geografia se deu na Alemanha do século XIX, à luz dos trabalhos de Alexander Von Humboldt e Karl Ritter. Com a contribuição desses mestres, a Geografia se estabeleceu em bases científicas. A geografia de Ritter é regional e antropocêntrica, a de Humboldt busca abarcar todo o globo sem privilegiar o homem. Apesar de Humboldt não ser geógrafo e tão pouco ter se preocupado em sistematizar seus conhecimentos geográficos, por meio de escolas, sua contribuição foi importante para a Geografia. Os alemães foram importantes para a consolidação da Geografia enquanto ciência, sobretudo, com a contribuição desses intelectuais a Geografia pôde se estabelecer sobre fundamentos científicos autênticos e deixar de ser uma simples descrição do planeta para se transformar em uma ciência baseada na investigação das relações entre natureza e sociedade. Conforme Mormul, N. M.; Rocha M. M. (2013. Pág. 15).

Humboldt, como naturalista e grande viajante, percorreu a Europa, a Rússia asiática, o México, a América Central, a Colômbia e a Venezuela, observando os grandes fenômenos físicos e biológicos; seus trabalhos são todos de natureza científica, sem qualquer finalidade pedagógica. Humboldt também foi animador das chamadas Sociedades de Geografia, que organizavam expedições e pesquisas em diversas partes do mundo, especialmente nas regiões dominadas pelos grandes impérios coloniais europeus. Foi assim que os ingleses, os franceses, os belgas e em seguida os alemães fizeram o levantamento de amplos territórios na Ásia e na África, e organizaram suas colônias (ANDRADE, 1992, p. 13). A própria ciência geográfica constituiu-se porque havia necessidade, e uma necessidade histórica que contribuiu na para sua consolidação, assim, a Geografia se apresenta como uma possibilidade para um dado momento historicamente determinado. De acordo com Marx “os próprios problemas sociais só se apresentam quando as condições materiais para resolvê-lo existem ou estão em vias de resolvê-lo” (MARX apud IANNI, 1982, p.83). Necessidade, que está visível ao voltar a repensar brevemente à questão da Alemanha, ou seja, não se pode reduzir a constituição da ciência geográfica à Alemanha atrelando-a somente a questão da fragmentação territorial, uma vez que ao se discutir a problemática do espaço, discute-se também poder, não obstante para os alemães a questão do espaço era importante.

As Escolas de Geografia: Escola Alemã e Francesa

A Geografia depois de ser institucionalizada proporcionou o surgimento das escolas nacionais e com elas, as denominadas correntes de pensamento. As formas pensadas à disciplina geográfica em cada momento histórico foram denominadas como paradigmas geográficos, nos quais se destacavam o determinismo, o possibilismo, o método regional, a nova Geografia e a Geografia crítica.

Vale salientar que cada um desses paradigmas refletiu a situação sócio-político-econômica da época em que se desenvolveram, sendo que, desde o surgimento da ciência geográfica, sempre houve uma ou duas correntes dominantes. Assim, todas as principais escolas nacionais também tiveram seus trabalhos norteados por uma ou duas das correntes de pensamento, sobretudo as pioneiras, como o determinismo, o possibilismo e o método regional.

A Geografia, quando estabelecida como disciplina acadêmica em meados do século XIX, teve o determinismo ambiental como o primeiro paradigma a caracterizá-la. Os teóricos deterministas afirmavam que as condições naturais, em especial as climáticas, eram decisivas para a evolução do homem que, por conseguinte, desenvolver-se-iam povos ou países que se encontravam em áreas climáticas mais favoráveis. Essa corrente de pensamento criava uma dependência muito grande do homem com a natureza e, assim, as ações humanas eram determinadas pelas condições físicas, como: relevo, clima, vegetação, solo, entre outras características de cada lugar.

Parece, então, ser esta a razão da Geografia ter nascido, primeiramente, entre os alemães o que reforça a tese de Marx, e enfatizou Ratzel sobre a utilidade da ciência geográfica:

Todo aquele que atua sobre os povos deve sofrer também a ação destes povos. E estas reações começam já na própria preparação necessária a tal fim, já que para poder atuar sobre os povos é preciso antes conhecê-los. Necessita-se, ao menos aprender sua língua e

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com a língua seu modo de pensar; porém, além disso, é necessário adquirir o conhecimento da situação geográfica e do clima, dos costumes e dos usos de um povo com o qual se quer entrar em relação de intercâmbio. Já não estamos nos tempos nos quais o mercador comerciava através de um intérprete [...]. Sem se deixar desviar pelas teorias, os comerciantes alemães, há tempos, a realizar o que lhes ditava o bom senso: estudando os países, os povos, e aprendendo sua língua.

Ratzel se tornou conhecido por dar maior ênfase ao homem na sua formulação de Geografia. Sua concepção geográfica correspondia aos anseios expansionistas da Alemanha, encarou o homem como uma espécie animal. Entre os princípios que formulou destaca-se a relação do homem com o meio natural, estudou também o Estado, em sua Geografia política. Sua argumentação em torno da complexidade do objeto da Geografia política, discutido do livro PolitischeGeographie, denota um extenso esforço em prol de exigências investigativas dos fatores políticos, econômicos e geográficos que envolvem o mencionado objeto.

Vidal de La Blache e a Geografia Humana

A outra grande escola de Geografia que se opõe as colocações de Ratzel, vai ser francesa com Paul Vidal de La Blache. A França foi o pais que realizou, de forma mais pura, uma revolução burquesa. Ali os resquícios feudais foram totalmente varridos, a burguesia instalou seu governo. Na metade do século XIX, a França e a Alemanha (Prússia), disputavam a hegemonia no controle comercial e continental da Europa. A geografia de Ratzel legitimou a ação imperialista do Estado Alemão de Bismark, era vital que a França combatesse. O pensamento geográfico Francês nasceu com esta tarefa. As críticas de La Blache, contra as ideias de Ratzel, eram no campo do conhecimento geográfico e de forma política, pois o autor alemão servia aos interesses do governo local, enquanto La Blache buscava o caráter humano nos trabalhos acadêmicos.

A Geografia e sua relação com Capitalismo A história da ciência geográfica está associada as principais mudanças ocorridas no modo de produção econômico. Muitas das transformações que marcaram a Geografia acompanharam os desdobramentos do sistema capitalista. Acreditamos ser interessante elucidarmos algumas questões inerentes ao capitalismo para melhor entendermos o contexto da ciência geográfica. Durante o capitalismo comercial, é importante salientar que apesar de Marx não trabalhar com o sistema capitalista, por “fases”, já que ele entendia, vivia e tentava explicar seu momento histórico, portanto século XIX. De modo comum e, inclusive didático, acabou-se por organizar o desenvolvimento do capitalismo por fases. Neste sentido, optamos por essa análise, por entendermos que facilita a compreensão. Assim, o capitalismo comercial é compreendido como a primeira fase do sistema capitalista, o período estendeu-se do século XVI ao XVIII. Inicia-se com as grandes navegações, fase em que a burguesia mercante começa a buscar riquezas em outras terras fora da Europa. Os comerciantes e a nobreza estavam à procura de ouro, prata, especiarias e matérias-primas não encontradas em solo europeu. Estes comerciantes, financiados por reis e nobres, ao chegarem à América, e impulsionaram um ciclo de exploração, cujo objetivo principal era o enriquecimento e o acúmulo de capital. Nesse contexto, podemos identificar as seguintes características capitalistas: busca do lucro, uso (exploração) da força de trabalho, moeda substituindo o sistema de trocas, relações bancárias, fortalecimento do poder da burguesia e desigualdades sociais. Considerada uma das fases mais pujantes do sistema capitalista, pois a acumulação de capitais baseada na crescente circulação de mercadorias era bastante incisiva. Assim, artesãos, camponeses, escravos, entre outros se encarregaram, na Europa, Ásia e América, de produzir as mercadorias necessárias que serviriam para abastecer os mercados consumidores, além de contribuir para estimular a economia mercantil internacional. Conforme Mormul, N. M.; Rocha M. M. (2013. Pág. 68).

A circulação de mercadorias proporcionou uma integração superficial das economias mercantilistas. Os investimentos no exterior, impulsionados pela Revolução Industrial do século XIX, deflagraram um segundo estágio do processo de mundialização. A condição prévia desse novo estágio foi à transformação dos sistemas

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de produção pela introdução do trabalho assalariado. Essa revolução na esfera da produção de mercadorias gerou vasta acumulação de riquezas (MAGNOLI, 1997, p. 18).

No contexto das transformações universais da sociedade e de sua dinâmica espacial, inseriu-se o ensino de Geografia. A partir deste momento, percebe-se que a ciência geográfica se desenvolveu à medida que os acontecimentos do mundo moderno passavam a exigir um maior e melhor entendimento do espaço e das relações humanas neles travados.

A história da Geografia como disciplina escolar teve início no século XIX, introduzida nas escolas com o objetivo de contribuir para a formação dos cidadãos mediante a propagação do sistema de idéias do nacionalismo patriótico. Vlach (1990, p. 45) comenta o caráter ideológico da inclusão da geografia no currículo escolar: Conforme Mormul, N. M.; Rocha M. M. (2013. Pág. 70).

Foi, indiscutivelmente, sua presença significativa nas escolas primárias e secundárias da

Europa do século XIX que a institucionalizou como ciência, dado o caráter nacionalista de

sua proposta pedagógica, em franca sintonia como os interesses políticos e econômicos

dos vários Estados-nações. Em seu interior, havia premência de se situar cada cidadão

como patriota, e o ensino de Geografia contribuíram decisivamente neste sentido,

privilegiando a descrição do seu quadro natural. (VLACH, 1990, p.45)

A Geografia surgiu como disciplina acadêmica a partir de 1870, até então, e desde a Antiguidade, a Geografia compunha um saber totalizante, não desvinculada da Filosofia, das ciências da natureza e da Matemática. Com Varenius no século XVII, Kant no XVIII, e Humboldt apresentou um plano de organização da educação pública, que não chegou, no entanto, a ser aprovado. Tinha por fim a educação nacional no sentido de uma autêntica educação humana.

Movimento de Renovação da Geografia.

Geografia começa a viver a partir da década de 1950, em todo o mundo, uma dramática crise de transição. Essa crise adveio do rompimento de grande parte dos geógrafos em relação à perspectiva tradicional, aquela que se fundamentava no positivismo. Esse rompimento ensejou a busca de novos caminhos, de nova linguagem, de novas propostas, enfim, de uma maior liberdade para reflexão e criação. Com o movimento de renovação, a Geografia passa a trabalhar

a partir de críticas e propostas; abrem-se novas discussões e buscam-se caminhos até então desconhecidos. Instala-se, de maneira sólida, um tempo de críticas e de propostas no âmbito dessa ciência. As principais propostas geradas a partir desse momento são os movimentos que deram origem às geografias quantitativa, radial e da percepção. São esses três movimentos que analisaremos nesta aula. O contexto do pós Segunda Guerra Mundial modifica profundamente a maneira de se conceber os problemas da sociedade. O mundo que se reconstitui, depois da guerra, é um mundo dominado por dois blocos antagônicos, no qual se firma um Terceiro Mundo confrontado com grande explosão demográfica e miséria. Um crescimento espetacular dos fluxos de homens, mercadorias, informações e finanças se estabelecem fortemente nesse período e acirram as rivalidades geopolíticas: é o tempo da Guerra Fria. A evolução das técnicas e os processos históricos modificam profundamente as relações econômicas e políticas até então estabelecidas. Começa a se estabelecer o período que Milton Santos denominou de técnico-científico-informacional (Milton Santos: o filósofo da técnica). Os meios de aquisição de dados também tornam-se mais sofisticados. A fotografia aérea, desenvolvida desde a Primeira Guerra Mundial, toma novo impulso. As imagens de radar atravessam as coberturas nebulosas. O aperfeiçoamento de satélites de observação possibilita uma cobertura cada vez mais regular da Terra, com uma resolução cada vez melhor, chegando à ordem de metro. O progresso das técnicas de modelação e de cálculo encontra grande eco nas ciências. Ocorre nesse momento grande expansão do Capitalismo, que vai permitir o desenvolvimento das corporações transnacionais, as quais ampliam seus programas de ação, visando controlar as matérias-primas e o mercado consumidor em escala mundial. Os métodos matemático-estatísticos, para a confecção de modelos abstratos a serem aplicados em realidades diversas, são a febre desse momento. É nesse ambiente que surgem as correntes de renovação da Geografia.

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Geografia Quantitativa: A Nova Geografia

Denominada também como Nova Geografia, Geografia Pragmática ou Geografia Teorética, essa nova corrente de pensamento rompe com a chamada Geografia Clássica. De modo geral, podemos dizer que essa corrente vai se apoiar no uso maciço da estatística, com o emprego de diagramas, matrizes, análise fatorial e equações matemáticas. Dá pouca importância aos trabalhos de campo, que é substituído pelo laboratório, onde seriam feitas medições matemáticas e traçados gráficos estatísticos, procurando visualizar a problemática da paisagem através de modelos sistêmicos.

Geografia Crítica

Como já mencionamos no início desta aula, o mundo passa por grandes transformações a partir do final da Segunda Guerra Mundial, tais como: n início e fim da Guerra Fria, através da política de coexistência pacífica que amortece as tensões entre os dois blocos hegemônicos, o que permite o florescimento da reflexão marxista no ocidente; n mudanças nos países do Terceiro Mundo; n crise do sistema de dominação ocidental. O processo de descolonização, ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, de muitos países da África, como a Guiné e a Argélia, é fruto dessas mudanças e contribuiu para alterar de modo significativo as relações internacionais.

Vêm à baila os problemas do chamado mundo subdesenvolvido o que dá origem a movimentos com o dos Países não Alinhados – conjunto de países que tinham a pretensão de não se alinharem nem ao bloco capitalista nem ao bloco comunista – e também à Conferência Mundial de Comércio e Desenvolvimento, realizada em Bruxelas em 1964, que permitiu levantar muitos dos problemas sociais e econômicos do subdesenvolvimento e influenciou não só a economia como também as outras ciências sociais. Toma-se consciência que, em boa medida, os problemas do subdesenvolvimento são consequência da dominação capitalista e se reconhece as relações entre o atraso econômico, a dependência e a relações comerciais internacionais. Entra em crise o sistema de dominação levado a cabo pela Europa e Estados Unidos da América (EUA).

Essas mudanças refletem-se nas ciências sociais, que vão buscar uma nova compreensão para os países dependentes e para o papel das potências ocidentais e do próprio sistema capitalista. No campo da Geografia, os procedimentos metodológicos descritivos da Geografia Tradicional e o tecnicismo quantitativo da Geografia Teorética começam a ser criticados por não conseguirem explicar a nova realidade posta. Esse movimento de crítica é denominado de radical. Tem sua origem nos Estados Unidos, em meio à turbulência social originada pela intervenção americana no Vietnã. Para além da pesquisa sobre a produção e organização do espaço, das causalidades estruturais e históricas ligadas às formações sociais, essa corrente acrescentava, às suas formulações, forte contestação à realidade social, notadamente à sociedade capitalista americana, onde se exacerbavam os problemas sociais, com destaque aos das grandes cidades.

Esse movimento era composto, basicamente, de jovens geógrafos que criticavam a inoperância das barreiras disciplinares, a falta de pertinência da Geografia social e sua frequente associação com os interesses e instituições dominantes e de todos aqueles que contribuíam para a manutenção do status quo, ou seja, acreditavam que a Geografia de então contribuía mais para o controle do que para a resolução dos problemas sociais tal como eles se expressavam no território, tanto em escala mundial, das relações entre centro e periferia, como em escala urbana. Assim sendo, suas pesquisas, com base teórico-marxista, se voltaram para temas como a produção do espaço, a pobreza, a fome, a saúde, a criminalidade, os problemas urbanos, o imperialismo e a geopolítica.

O designativo de crítica diz respeito, principalmente, a uma postura frente à realidade, frente à ordem constituída. São os autores que se posicionam por uma transformação da realidade social, pensando os seus saberes como uma arma desse processo. São, assim, os que assumem o conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma Geografia militante, que lute por uma sociedade mais justa. São os que pensam a análise geográfica como instrumento de libertação do homem. Os autores da Geografia crítica vão fazer uma avaliação profunda das razões da crise; são os que acham fundamental evidenciá-la. Vão além de um questionamento puramente acadêmico do pensamento tradicional, buscando suas raízes sociais. Ao nível acadêmico criticam o empirismo exacerbado da Geografia Tradicional, que manteve suas análises presas ao mundo das aparências [...].

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A vanguarda desse processo crítico renovador vai ainda mais além, apontando o conteúdo de classe da Geografia tradicional. Seus autores mostram as vinculações entre as teorias geográficas e o imperialismo, a ideia de progresso veiculando sempre uma apologia da expansão. Mostram o trabalho dos geógrafos, como articulado às razões do Estado. Desmistificam a pseudo- “objetividade” desse processo, especificando como o discurso geográfico escamoteou as contradições sociais. (MORAES, 1983, 112-113).

Geografia da Percepção

ambém conhecida com Geografia comportamental, a Geografia da percepção surge como uma corrente de pensamento que se aproxima da psicologia e tem nas formulações fenomenológicas de Edmund Husserl (1859-1938) o seu suporte teórico. A fenomenologia coloca importância primordial

no indivíduo para o processo de construção do conhecimento. Para esta corrente, o mundo deve ser descrito segundo a maneira como é visto, sentido e percebido pelo indivíduo. Desenvolvida nos Estados Unidos por Yifu Tuan, esta corrente ficou também conhecida como Topofilia. Topofilia quer dizer, literalmente, amor aos lugares (Topo, lugar, e filia amor). Esse termo foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo Gaston Bachelard, no seu livro A poética do espaço. Para ele, tratava-se de considerar os “espaços felizes” e os espaços vividos. Para Tuan, Topofilia designa a ligação afetiva que existe entre cada indivíduo e os lugares. Nesse caso, trata-se de um sentimento extremamente particular. Sabemos que os indivíduos estabelecem relações significativas com os lugares e que os lugares significam sempre “alguma coisa” para os seres humanos. Assim sendo, caberia ao geógrafo (da percepção) pesquisar essa “alguma coisa”, levando em consideração que os seres humanos interpretam os lugares e, simultaneamente, lhes dão sentido. Trata-se, então, de compreender as modalidades segundo as quais os seres humanos constroem suas relações com os lugares, quer eles seja simbólico, constitutivos de identidade, ou mais banais e familiares. Entretanto, devemos chamar a atenção para o fato de que a ligação dos seres humanos com os lugares é intermediada por fatores culturais, sociais, econômicos e, mesmo, de origem biológica. Nesse sentido, para se compreender as preferências, afetividades e atitudes de cada indivíduo ou grupo, é necessário levar em consideração àqueles fatores.

Para compreender a preferência ambiental de uma pessoa, necessitaríamos examinar sua herança biológica, criação, educação, trabalho e arredores físicos. No nível de atitudes e preferências de grupo, é necessário conhecer a história cultural e a experiência de um grupo no contexto de seu ambiente físico. Em nenhum dos casos é possível distinguir nitidamente entre fatores culturais e o papel do meio ambiente físico. Os conceitos de “cultura” e “meio ambiente” se superpõem do mesmo modo que os conceitos de “homem” e “natureza” [...]. Na sociedade ocidental o mapa mental da dona de casa com crianças pequenas, provavelmente, é diferente do de seu esposo. Os caminhos de circulação do casal, durante os dias de trabalho, dificilmente coincidem, exceto dentro de casa. Quando saem às compras, o homem e a mulher vão querer olhar lojas diferentes. Eles podem ir de braço dado, mas com isso não vão ver ou escutar as mesmas coisas. Ocasionalmente, são arrancados de seus próprios mundos perceptivos para atender cortesmente ao pedido do outro, como por exemplo, quando o marido pede à esposa que admire os tacos de golfe na vitrina. Pense em uma rua movimentada e procure lembrar as suas lojas: certas lojas aparecerão nitidamente, enquanto outras se dissolverão em uma névoa como um sonho. Os papeis dos sexos têm muita a ver com as diferenças nos padrões (TUAN, 1980 p. 68-70).

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Atividades propostas

1. Leia o seguinte texto de um importante geógrafo francês e depois responda às questões.

“Muitos ainda acreditam que a geografia a não passa de uma disciplina escolar e universitária descritiva, que fornece descrições “neutras” ou “desinteressadas” sobre o mundo: o clima Ásia de monções, o relevo da Europa, os rios do Brasil, os fusos horários da Rússia, etc.(...) Contudo, a despeito das aparências, a geografia a não é um saber sem utilidade, no qual apenas se memoriza um amontoado de informações. Na verdade, ela é útil para a vida prática e interessa bastante a todos os cidadãos. Pois a geografia a serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Isso não significa ca que ela só sirva para conduzir operações militares; ela serve também para organizar territórios, para exercer o poder de Estado sobre um espaço, para que as pessoas aprendam a se organizar no espaço para nele atuar.”

Adaptado de : Lacoste, Yves. A Geografia – Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas, Papirus, 1998.

Considere que o espaço geográfico consiste, em primeiro lugar, numa interação entre as sociedades humanas e o meio ambiente. Nessa interação, qual é o papel do trabalho humano?

2. Faça uma analise das abordagens dos objetos de estudo da geografia. Qual dele caberia melhor num

determinado trabalho para obtemos um resultado satisfatório e esclarecedor de um possível problema? Explique criando uma situação ou estudo de caso.

3. Qual a importância no movimento de renovação da Geografia para o entendimento das realidades

sociais, econômicas, políticas ou ambientais?

REFERÊNCIAS BÁSICA MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. 20ª ed., São Paulo: Annablume, 2005. SANTOS, Milton. (org. Wagner Costa Ribeiro). O país distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. São Paulo: PubliFolha, 2002. VESENTNI, J. William ( org. ) [et al]. Geografia e Ensino: textos críticos. Campinas, SP. Papirus, 1989. DANTAS, Aldo. Introdução à ciência geográfica: geografia / Aldo Dantas, Tásia Hortêncio de Lima Medeiros. – Natal, RN : EDUFRN, 2008. 176 p.

COMPLEMENTAR FREIRE, Paulo (1981). Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: ed. Paz e Terra. MOREIRA, Ruy . O que é Geografia. São Paulo: Brasiliense, 1985. LACOSTE, Yves. A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra. Papirus, Campinas, 1987. PENTEADO, Heloísa D. Metodologia do Ensino de História e Geografia. São Paulo: Cortez,1990. SANTOS, Milton. TÉCNICA ESPAÇO TEMPO – Globalização e meio técnico-científico-informacional. Ed. Hucitec, São Paulo-SP, 1994. LINK´S http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/geografia/article/viewFile/7916/pdf Geografia na Educação de Jovens e Adultos. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/eja_geo.pdf ARTIGOS Mormul, N. M.; Rocha M. M. Geografia Ensino & Pesquisa, vol. 17, n. 3, set./ dez. 2013. ISSN 2236-4994. VIDEOS

Origem da geografia. Tempo: 09´07´´ - Youtube. http://youtu.be/Pm2zgDqUuKU acesso em 02/02/2015.

Documentário - A Grande História dos Mapas - por Anne123x Youtube Parte 1/2 http://youtu.be/Vanspwwxr_w 26´20´´ - Parte 2/2 http://youtu.be/026xKwLkuP0 - 26´21´´

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Unidade II

A construção de noções e representações espaciais.

A reafirmação do espaço como objetivo de estudos. A construção das noções espaciais.

Relações Espaciais Topológicas

A construção de noções e representações espaciais inicia-se a partir da infância, com o tempo essa

construção vai evoluindo conforme as experiências e vivências de cada um. Apresentaremos esses aspectos onde nossa identidade é formatada, tendo o lugar e a paisagem como fundamental nesse processo de aprendizado.

As primeiras relações espaciais que a criança estabelece são chamadas relações espaciais topológicas elementares. Essas são relações que se estabelecem no espaço próximo, usando referenciais elementares como: dentro, fora, ao lado, na frente, perto, longe e etc.

As relações topológicas começam a ser estabelecidas pela criança desde o nascimento e é a base para a gênese posterior das relações espaciais complexas. Percebemos que as relações espaciais se processam na seguinte ordem: de vizinhança; separação; ordem; envolvimento; continuidade.

A relação de vizinhança corresponde aquela em que os objetos são percebidos no mesmo plano, próximos, contíguos. A criança percebe que objetos vizinhos são separados, isto é, não estão unidos. A percepção da separação aumenta com a idade e o desenvolvimento da capacidade de análise.A relação de ordem ou sucessão implica na questão em que os objetos ocupam uma posição anterior ou posterior a partir de um determinando ponto de vista.

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Apesar das relações espaciais topológicas elementares não envolverem referenciais precisos de localização, elas são a base para o trabalho sobre o espaço geográfico. E é a partir dele que se desenvolvem as noções de limites políticos-admimistrativo entre municípios, estados e países e suas fronteiras.

A localização geográfica constroí-se à medida que o sujeito se torna capaz de estabelecer relações de vizinhança (o que está ao lado), separação (fronteira), ordem (o que vem antes e depois), envolvimento (o espaço que está em torno), continuidade (a que recorte do espaço a área considerada corresponde), entre os elementos a serem localizados.

Para evitar que o estudo geográfico de uma região se torne uma discussão cansativa, é preciso que o aluno estabeleça relações entre a região estudada e aquela que ele já conhece.

Descentralização, Conservação e Reversibilidade Segundo Piaget o pensamento intuitivo se fundamenta no que a criança percebe ou naquilo que parece estar acontecendo, isso ocorre em toda situação de aprendizagem que a criança realiza em seu meio. É através desse “processo intuitivo” que a criança começa a se dar conta de que muitas vezes os seus referenciais não correspondem ao que realmente acontece e então a criança começa a não ver mais tanta precisão em seus referenciais para se localizar e/ou se orientar. Ela que antes usava seu próprio corpo como referencial, passa a lançar Mão de outros meios, percebendo que isso não altera a localização do objeto; passa então a relacionar os objetos espacialmente fazendo a coordenação de diferentes pontos de vista ou usando um sistema de coordenadas. Esse processo é chamado de descentralização, sai do egocentrismo infantil para um enfoque mais objetivo.

Conservação e reversibilidade são dois conceitos que mostram que nessa faixa etária a relação entre objetos só é percebida em um sentido e de forma estática, a reversão das posições ainda não é percebida. No processo de descentralização a criança projeta um eixo sobre os objetos para localizá-los independentemente de sua posição, assumindo uma postura observadora; esse processo é gradativo, à medida que percebe que os objetos possuem partes e lados a criança concebe as estruturas espacialmente, indo além das estruturas topológicas elementares.

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Relações Espaciais Projetivas e Euclidianas

O aparecimento da perspectiva traz uma alteração qualitativa na concepção espacial na criança, que passa a conservar a posição dos objetos e a alterar o ponto de vista até atingir as Relações Espaciais Projetivas.

Isso ocorre juntamente com o surgimento da noção de coordenadas que situam os objetos uns em relação aos outros e englobam o lugar do objeto e seu deslocamento em uma mesma estrutura. Isto corresponde às Relações Espaciais Euclidianas.

A organização espacial do adulto envolve perspectiva e coordenadas, de modo que é capaz de localizar-se e orientar-se usando referenciais abstratos (ver na figura 2), buscando em relações espaciais projetivas e euclidianas.

As crianças na faixa etária de 7-11 anos estão em fase de construção dessas noções. O uso de um sistema de coordenadas corresponde ao ponto principal de abstração na construção do espaço a nível psicológico. A construção das relações espaciais euclidianas implica a conservação de distancia, comprimento e superfície e a construção da medida de comprimento.

Nessa categoria encontram-se as coordenadas geográficas (paralelos e meridianos) através das quais se pode localizar qualquer ponto da superfície da terra. Devemos considerar o seguinte:

- Crianças dos 7 aos 9 anos de idade: noção de perspectiva; - Crianças de 9 e 10 anos de idade: desenvolvem a noção de medidas e de referencias, como:

altura e comprimento, horizontal e vertical. Essenciais para a construção do sistema de coordenadas;

- Após 10 anos de idade: noção de coordenadas.

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Conceitos e categorias da Geografia Na leitura geográfica da realidade em que vivem, os alunos devem ser estimulados a considerar as diferentes ações sociais e culturais, sua dinâmica social e espacial, os impactos naturais que transformam o mundo, e as marcas que identificam os diferentes lugares. Conhecimentos oriundos da experiência pessoal dos alunos, do senso comum, da produção de especialistas ou da pesquisa sobre tecnologia e ciência contribuem para essa leitura processual, que propicia a construção e a reconstrução dos conhecimentos geográficos. Cabe ao professor orientá-los nesse processo de reflexão que envolve noções e conceitos centrais da Geografia, como: lugar, região, território, escala geográfica, paisagem e mobilidade socioespacial. Esta proposta procura incorporar algumas reflexões sobre como se processa o repensar da ciência geográfica em diferentes universidades, nos congressos, em diferentes encontros de professores. Essas reflexões devem ser feitas também nas diversas escolas do país para que, coletivamente, num processo dinâmico, o projeto escolar de ensino e aprendizagem de Geografia possa ser reorganizado com base em noções e conceitos relevantes para a compreensão do espaço geográfico como uma construção social. Lugar, Região, Território - Como as demais ciências sociais, a Geografia tem por objeto de estudo a sociedade, sob a perspectiva do espaço geográfico e da paisagem – ou seja, das relações entre o processo histórico que regula a formação das sociedades humanas e o funcionamento da natureza. A leitura da espacialidade da sociedade inclui as percepções, as vivências e a memória dos indivíduos e grupos sociais, uma vez que estas impulsionam a construção de projetos individuais e coletivos que transformam os diferentes espaços em diferentes épocas. Esta leitura incorpora o movimento e a velocidade, os ritmos e a simultaneidade, o objetivo e o subjetivo, o econômico e o social, o cultural e o individual, propiciando ao aluno condições de construir e reconstruir as noções e os conceitos de lugar, paisagem, região, território. O ponto de referência para a estruturação dos conteúdos é, sem dúvida, o conjunto de noções e conceitos necessários para desvendar geograficamente a realidade. No entanto, isso não é o suficiente. O professor deve organizar e selecionar recursos ou estratégias de ensino que permitam aos alunos fazer uma leitura do mundo e de suas contradições, ampliar suas noções, construir e reconstruir conceitos. Essa leitura não pode basear-se apenas em informações que descrevem paisagens, representando a realidade como se ela constituísse um inventário. Deve-se lançar mão de estratégias diversificadas – textos, imagens, representações gráficas, ou mesmo estudo do meio – de modo que os alunos construam competências para ler e escrever nas diferentes linguagens utilizadas pelos geógrafos nos dias atuais. O Lugar - O conhecimento geográfico só pode ser processado quando os alunos localizam, têm acesso e utilizam as informações acumuladas sobre diferentes lugares: ao desenvolver as habilidades de comparar, analisar, interpretar e sintetizar, tornam-se capazes de elaborar um discurso próprio da Geografia, utilizando a oralidade, a escrita ou quaisquer linguagens que representem os lugares, os territórios. No passado, saber sobre um lugar era memorizar uma lista de elementos que o distinguiam.

Uma região, segundo Milton Santos (1997b, p. 133), “era sinônimo de territorialidade absoluta de um grupo, com suas características de identidade, exclusividade e limites, dada a presença única desse grupo, sem outra mediação. A diferença entre essa área se devia a essa relação com o entorno”.

Hoje, cada vez mais, saber sobre o lugar é compreender como ele dá base às relações globais e com elas interage – o planeta, em seu momento histórico, é a unidade; os lugares dão a marca da diversidade. Muda o mundo e mudam os lugares: os acontecimentos mais distantes podem provocar transformações no espaço local de vivência dos alunos. Desse modo, estudar o lugar pressupõe compreender seu entorno, conhecer e desvelar alguns aspectos da realidade mais imediata, criando condições para atuar sobre ela e também modificá-la. Mesmo que os projetos das pessoas não sejam iguais, a realização de um conjunto integrado de tarefas e ações comuns cria marcas num lugar, em uma região. Na seleção dos espaços que elucidam os temas escolhidos, a região pode ser parte de um lugar e os lugares considerados partes de uma região. O espaço geográfico pode ser recortado a partir de diferentes critérios, de acordo com o ponto de vista do geógrafo e dos temas em estudo. Tais critérios devem ser explicitados.

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A região - A regionalização é a delimitação de conjuntos ou parcelas do território que possuem alguma identidade (física, política, cultural, econômica, diferentes sistemas técnicos, científicos e informacionais). Portanto, ao planejar o trabalho e decidir sobre o estudo de um lugar, uma região, o critério de divisão espacial estabelecido deve contribuir para o entendimento de um tema, um problema. Quando se escolhe uma região a ser estudada, é possível estabelecer seus fundamentos políticos de controle e gestão. Ao construir a rede de influências, é possível refletir sobre quem domina a organização espacial desse lugar e como isso ocorre. O território – Ao ser definido e delimitado com base nas relações de poder, o lugar ou região é chamado de território. O termo pode ser usado tanto em âmbito nacional quanto associado a outras escalas, desde a local (de rua e bairro) até a mundial. Territórios podem ser demarcados; são construídos, desconstruídos ou reconstruídos ao longo do tempo – sejam séculos, décadas ou anos, até meses, semanas ou dias. Todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por uma gangue de jovens até o bloco constituído pelos países membros da OTAN. Por exemplo, ao selecionar o território nacional como escala de estudo de um projeto escolar, muitos geógrafos utilizam mapas com as regiões estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujas fronteiras são unidades administrativas (os estados). Nesses mapas o território está organizado e dividido em cinco regiões, como se cada uma delas tivesse características físicas, políticas, culturais e econômicas semelhantes. Esse é o modelo de divisão regional encontrado na maioria dos livros didáticos. Trata-se de uma divisão elaborada de acordo com o conceito de região formulado pela Geografia tradicional. A escala nacional permite, entretanto, estabelecer outras regionalizações. De acordo com o objeto de estudo selecionado (um tema físico, político, cultural ou econômico), o território brasileiro pode ser analisado com base em diferentes mapas temáticos. O professor, juntamente com os alunos, deverá desvendar os critérios utilizados para a regionalização nesses diferentes mapas. A regionalização pode ser introduzida, por exemplo, pela análise de diferentes mapas temáticos que utilizam indicadores socioeconômicos e pela reflexão sobre os desdobramentos do sistema econômico na organização do espaço nacional. Em seguida, com a mediação e a orientação do professor, os alunos podem ser estimulados a construir uma divisão regional com base em seus próprios critérios. Brasil: Grandes Regiões

Esta é uma leitura do mundo que considera a sociedade em processo, com suas contradições, movimentos, dinâmicas, desejos e conflitos contextualizados no tempo e no espaço. Com essa leitura é possível verificar que a representação do território em mapas pode ser construída com base em diferentes formas de apropriação do espaço pelos seres humanos ao longo de suas vidas, a partir de dinâmicas sociais, culturais e políticas. A reflexão sobre diversas relações de uso do território permite estabelecer outras possibilidades de regionalização, utilizando as escalas local, regional, nacional e planetária.

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O conceito do espaço no mundo Pós-moderno.

Até aqui observamos uma leitura do espaço numa perspectiva muito particular das noções do objeto de estudo da geografia através dos seus conceitos, más, sobretudo, da própria evolução dos conhecimentos geográficos e suas transformações na natureza e no ambiente urbano. Analisaremos agora segundo ARAÚJO & JÚNIOR (2012, pág. 87 á 95), noutra perspectiva:

A riqueza da subjetividade humana representada no meio é imensurável. Quando esta riqueza é vista como um imenso campo multiforme de manifestações simbólicas, intensidade e serenidade, figuras e signos, o tempo cristalizado no espaço pelas formas e o espaço transpassado pelo tempo eu suas transformações, podemos afirmar que estamos em uma instância pertencente à geografia das representações sociais.

As visões de mundo: a representação social

A Geografia é uma forma de leitura do mundo. Parafraseando Ruy Moreira a realidade observada, recortada e analisada pelos geógrafos é um dos tipos peculiares de compreensão da natureza, uma maneira de lê-la e se possível entendê-la. Desta forma quanto mais variada for às formas de se ver o mundo tantas outras variadas maneiras de interpretá-lo existirão. A percepção sensível é o contato imediato e primário com a realidade e a posterior reflexão do real pela mente produz as imagens dotadas de diferentes significados. Por este processo é que os significantes semelhantes poderão ter uma essência sígnica diametralmente adversa, portanto a representação pode ser entendida também como significante, pois o representado está ligado ao que se vê ou ao que se deixa mostrar, através da simbolização arraigada neste intermeio.

Os conceitos geográficos aplicados à geografia das representações sociais Alguns conceitos são tidos como chave para que possamos estruturar um escopo metodológico necessário para uma interpretação das representações sociais no espaço geográfico. Os principais conceitos trabalhados pelos pesquisadores destas temáticas culturais são espaço vivido/habitado, experiência, significado, cultura, identidade, percepção, lugar, paisagem, entre outros. Estes e outros conceitos, assim como um rol diverso de princípios lógicos da geografia serão amplamente trabalhados por Moreira: Os princípios lógicos são os princípios da localização, distribuição, extensão, distância, posição e escala, Os antigos compreendiam a importância preliminar e central desses princípios na formação da personalidade e do discurso da representação geográfica. [...] Perceber um fenômeno em sua dimensão geográfica é assim primeiramente localizar, distribuir, conectar, medir a distância, delimitar a extensão e verificar a escala de sua manifestação na paisagem (MOREIRA, 2008, p. 116-117). Para Moreira (2008), as representações sociais no espaço geográfico são resultado do próprio processo relacional entre o homem e meio em que este vive. Os esforços de interpretação presente na relação entre sujeito e objeto – entendido aqui como o meio, a realidade objetiva, o mundo – só é alcançado por meio de instrumentos criados pelo próprio ser humano para que esta relação seja possível. Neste conjunto de interdependência e acumulação de ação e reação entre o representador e o que é representado, temos a linguagem, que é a via de ligação entre as duas extremidades. A linguagem aparece como principal componente capaz de permitir as interpretações e produzir as representações. Lembremos que a linguagem se manifesta de diferentes maneiras dependendo do contexto em que está inserida incluindo desde as condições naturais até aspetos socioeconômicos (GIL FILHO, 2003). Justamente por ser complexo e intrinsecamente rico é que o mundo humanamente concebido, interpretado e posteriormente diversamente compreendido possua uma gama tão extensa de possibilidades e divergências de representação e manifestações linguísticas, simbólicas e culturais. Estas representações vão de encontro à potência de criação da subjetividade daqueles responsáveis pelas estruturações coletivas ou individuais das imagens representativas da realidade, tanto em mitos e crenças que regem as ações de um povo os mais interiores medos e angústias de um indivíduo da sociedade cujo conflito põe em xeque a constituição do seu próprio eu no todo social.

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Concluindo, a geografia das representações sociais tem como raiz a geografia cultural e humanista, que em seus estudos objetivam a busca pelos sentidos atribuídos ao concreto e abstrato na realidade objetiva pelos indivíduos e suas comunidades. O cultural e o humanístico se entrelaçam na exposição dos significados simbólicos. A representação do mundo e sua interpretação pelo ser humano sempre foi objeto de investigação das ciências sociais como a antropologia, sociologia e a psicologia. Esta preocupação pela forma como a realidade objetiva é interpretada pela subjetividade, propicia um campo de argumentação e reflexão ao mesmo tempo rico e complexo.

A Representação espacial. Os trabalhos de alunos reproduzidos a seguir apresentam exemplos de representação de espaços urbanos (povoado, vila, cidade e metrópole). As representações da distribuição e da densidade dos elementos sociais e naturais nas diferentes categorias urbanas permitem analisar possíveis relações estabelecidas entre conceitos abordados em sala de aula e aspectos presentes em sua realidade.

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Noções de cartografia. Observaremos com base no IBGE (1989), os processos histórico-geográficos que possibilitaram ao homem e diferentes povos a buscarem sua sobrevivência em lugares remotos, sua vivência e suas necessidades de representação cartográfica das andanças e atividades desenvolvidas. Mesmo considerando todos os avanços científicos e tecnológicos produzidos pelo homem através dos tempos, é possível, nos dias de hoje, entender a condição de perplexidade de nossos ancestrais, no começo dos dias, diante da complexidade do mundo a sua volta. Podemos também intuir de que maneira surgiu no homem a necessidade de conhecer o mundo que ele habitava. O simples deslocamento de um ponto a outro na superfície de nosso planeta, já justifica a necessidade de se visualizar de alguma forma as características físicas do "mundo". É fácil imaginarmos alguns dos questionamentos que surgiram nas mentes de nossos ancestrais, por exemplo: como orientar nossos deslocamentos? Qual a forma do planeta? etc.. O conceito de Cartografia tem suas origens intimamente ligadas às inquietações que sempre se manifestaram no ser humano, no tocante a conhecer o mundo que ele habita. O conceito da Cartografia, hoje aceito sem maiores contestações, foi estabelecido em 1966 pela Associação Cartográfica Internacional (ACI), e posteriormente, ratificado pela UNESCO, no mesmo ano:

"A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos, elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização."

O processo cartográfico, partindo da coleta de dados, envolve estudo, análise, composição e representação de observações, de fatos, fenômenos e dados pertinentes a diversos campos científicos associados a superfície terrestre. Para Simielli (2002, pág. 92) apud CARLOS (2002), existe uma preocupação com a passagem das informações da cartografia, na passagem do saber “universitário” para o saber “ensinado”.

Mas do que uma transposição didática, trata-se de uma verdadeira reconstrução do saber geográfico sobre bases parcialmente diferentes, porque as finalidades, os objetivos e os meios da prática de geografia não são os mesmos na universidade e no ensino fundamental e médio.

Orientação através dos Pontos Cardeais

REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA Tipos de Representação Por Traço: Globo, Mapa, Carta, Planta, Por Imagem: Fotocarta, Carta imagem e Imagens de satélites, etc.

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ESCALAS Uma carta ou mapa é a representação convencional ou digital da configuração da superfície topográfica. Esta representação consiste em projetarmos esta superfície, com os detalhes nela existentes, sobre um plano horizontal ou em arquivos digitais. A escala de análise é um dos aspectos mais significativos no estudo de Geografia. Em cartografia, a escala é uma fração que indica a relação entre as dimensões reais do objeto e as medidas usadas em sua representação gráfica. Os detalhes representados podem ser: - Naturais: São os elementos existentes na natureza como os rios, mares, lagos, montanhas, serras, etc. - Artificiais: São os elementos criados pelo homem como: represas, estradas, pontes, edificações, etc. Uma carta ou mapa, dependendo dos seus objetivos, só estará completa se trouxer esses elementos devidamente representados. Escala Numérica Indica a relação entre os comprimentos de uma linha na carta e o correspondente comprimento no terreno, em forma de fração com a unidade para numerador. Escala Gráfica É a representação gráfica de várias distâncias do terreno sobre uma linha reta graduada.

PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS A confecção de uma carta exige, antes de tudo, o estabelecimento de um método, segundo o qual, a cada ponto da superfície da Terra corresponda um ponto da carta e vice-versa.

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Diversos métodos podem ser empregados para se obter essa correspondência de pontos, constituindo os chamados "sistemas de projeções". A teoria das projeções compreende o estudo dos diferentes sistemas em uso, incluindo a exposição das leis segundo as quais se obtêm as interligações dos pontos de uma superfície (Terra) com os da outra (carta). Utilizam-se os Paralelos (linhas Horizontais), que são as Latitudes e os Meridianos (linhas Verticais), que são as Longitudes nos mapas. Quanto a superfície de projeções: Planas, Cônicas e Cilíndricas.

ELEMENTOS DE REPRESENTAÇÃO

Sendo uma carta ou mapa a representação, numa simples folha de papel, da superfície terrestre, em dimensões reduzidas, é preciso associar os elementos representáveis à símbolos e convenções. As convenções cartográficas abrangem símbolos que, atendendo às exigências da técnica, do desenho e da reprodução fotográfica, representam de modo mais expressivo, os diversos acidentes do terreno e objetos topográficos em geral. Elas permitem ressaltar esses acidentes do terreno, de maneira proporcional à sua importância, principalmente sob o ponto de vista das aplicações da carta. PLANIMETRIA A representação planimétrica pode ser dividida em duas partes, de acordo com os elementos que cobrem a superfície do solo, ou sejam, físicos ou naturais e culturais ou artificiais. Os primeiros correspondem principalmente à hidrografia e vegetação, os segundos decorrem da ocupação humana, sistema viário, construções, limites político ou administrativos etc.

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Cartografia no Ensino Fundamental e Médio Uma questão de escala A escala de análise é um dos aspectos mais significativos no estudo de Geografia. Em cartografia, a escala é uma fração que indica a relação entre as dimensões reais do objeto e as medidas usadas em sua representação gráfica. O conceito de escala, porém, ultrapassa essa noção cartográfica: ele expressa a representação de diferentes modos de percepção e de concepção do espaço cotidiano. Escala, portanto, pode significar tanto a fração da divisão de uma superfície representada, como também o indicador do espaço considerado. Enquanto a escala cartográfica mostra o espaço como forma geométrica, a escala geográfica representa as relações que a sociedade mantém com o espaço representado pelo mapa. Ao analisar dados, fenômenos e relações sociais, culturais e políticas, é necessário objetivar a escala em que podem ser percebidos: como o espaço é imenso, planetário e mundial, é necessária a delimitação do espaço geográfico de observação, isto é, sua escala. Um estudo geomorfológico, por exemplo, exige que se considerem extensas grandezas espaço-temporais; na climatologia, a escala é continental, planetária. A análise geográfica de um espaço pressupõe recortes, isto é, a delimitação de uma determinada extensão territorial que é transformada em objeto de estudo. Os níveis da escala de análise variam entre local, regional, nacional e mundial. Ao construir a noção e o conceito de escala geográfica com os alunos, cabe ao professor indicar que nem sempre a leitura de mapas é geográfica – e muitas vezes os mapas são usados apenas para localizar os fenômenos. Os fenômenos podem ser analisados considerando diferentes dimensões ou escalas: • a história é uma dimensão na qual se buscam explicações para fatores que influíram na construção do espaço atual: as ações sociais, culturais e políticas desenvolvidas em diferentes lugares, de modo a dar-lhe uma determinada aparência; • a natureza é uma dimensão a partir da qual se utilizam outras escalas, como a geológica, a geomorfológica, a climática – com as quais pode-se trabalhar separadamente ou de forma integrada, para analisar a evolução da natureza, as dinâmicas naturais e artificiais que modificam ou interferem nas transformações; • a geometria permite demarcar espacialmente a área de observação e análise dos fenômenos em estudo e é frequentemente utilizada para determinar a proporção entre objetos, superfícies e sua representação em mapas, maquetes e desenhos.

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A Cartografia Digital e as novas tecnologias. Em nossos dias atuais as avançadas tecnologias tomaram conta do nosso dia a dia, tornando assim a cartografia digital em um instrumento valioso para os estudos geográficos e ambientais, é possível adquirir imagens através de GPS,ou de sites especializados em mapeamento. Os primeiros sensores remotos utilizados para o mapeamento foram as câmeras fotográficas, hoje os sensores já são colocados em qualquer veiculo, ou smartphones, a bordo de aviões para serem feitas imagens aéreas, o primeiro satélite sensorial foi construído pelos norte americanos, e lançado em 1972 ao espaço com o nome de Landsat. Tecnologias-Cartográficas GPS: Chamado de Sistema de Posicionamento Global vulgo GPS, é um sistema de navegação baseado em satélite, é composto por uma rede de satélites ao todo são 24 que estão em órbita administrado por norte americanos, originalmente projetado para uso militar, a partir dos anos 80 o sistema foi liberado para a sociedade em geral, este aparelho trabalha em qualquer condição de tempo, em qualquer lugar do mundo 24 horas por dia gratuitamente. Maps online: Serviço de pesquisa e visualização de mapas e imagens de satélites da terra, tudo gratuitamente via web, atualmente o serviço está disponível assim como o GPS ele disponibiliza informações de rota de qualquer lugar do mundo, disponibiliza imagens com zoom, e em vários tipos de mapa.

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Atividades propostas

1. Com base nos estudos sobre a construção de noções e representações espaciais. Identifique as

principais ações ou conceitos para o desenvolvimento dessas noções.

2. Quais são as principais necessidades para os alunos no uso da Cartografia?

3. De que maneira e como o uso das tecnologias na geografia poderão ajudar os alunos?

REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rosângela Doin de. & PASSINI, Elza Yasuko. O espaço geográfico: espaço e representação. 3ª ed. São Paulo. Contexto. 1991. (Repensando o Ensino). CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.) [et al]. A geografia na sala de aula. 4ª ed., São Paulo: Contexto, 2002. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. (Org.). Ensino de geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre. Mediação. 2000. HARVEY, D. A condição pós-moderna. Trad. Adail Ubirajara Sobral & Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Edições Loyola, 1992. IBGE. Manual Técnico de Noções Básicas de Cartografia - Fundação IBGE, 1989. MOREIRA, R. Pensar e ser em geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Editora Contexto, 2008. PENTEADO, Heloísa D. Metodologia do Ensino de História e Geografia. São Paulo: Cortez,1990. Fontes na INTERNET

Espaço geográfico: espaço e representação. http://geografalando.blogspot.com.br/2013/08/o-espaco-geografico-ensino-e.html

Geografia na Educação de Jovens e Adultos. http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/geografia/article/viewFile/7916/pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/eja_geo.pdf

Imagens / figuras. http://www.google.com.br/imagens capturadas em 17/02/2015.

Noções de Cartografia. http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/manual_nocoes/introducao.html

Cartografia: novas tecnologias http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/49983/a-cartografia-novas-tecnologias#ixzz3S7VD0GEH ARTIGOS

As representações sociais no espaço geográfico Gilvan Charles Cerqueira de Araújo (Mestrando de Geografia da UNB) e Dante Flávio da Costa Reis Júnior (Prof. Dr. Depto. De Geografia da UNB). GEOTemas, Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v 2, n. 1, p. 87-98, jan./jun., 2012. Capturado em 18/02/2015. http://periodicos.uern.br/index.php/geotemas/article/viewFile/186/179 Google Web.

VIDEOS

O uso de tecnologia no ensino da geografia. Tempo: 04´37´´ - Youtube. http://youtu.be/I8f1cqoNKHU acesso em 18/02/2015.

Documentário Tecnologia e Meio Ambiente - por Anne123x Youtube. http://youtu.be/aLSEfOw4O3Q 26´20´´.

Tecnologia: uma revolução em 5 anos. Publicado em 29 de mar de 2012 por Franchisingevarejo. Youtube.

http://youtu.be/-hUiOxsp9UI 14´46´´.

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Unidade III

A escolha dos livros Didáticos: Atividades práticas e uso do

livro didático.

Livros Didáticos de geografia X PCN´s - Parâmetros Curriculares Nacionais.

O saber geográfico, elaborado em diferentes épocas e em diferentes contextos (sociais,

culturais, ideológicos, políticos, religiosos), é marcado pelas representações de mundo e ideias predominantes em cada momento. A constituição da Geografia como ciência pautou-se, algumas vezes, pela tentativa de definir um objeto de análise específico; outras vezes, pela definição de um método de pesquisa próprio ou pelas transformações metodológicas. Durante as décadas de 1980 e 1990 os vários avanços ocorridos na Geografia provocaram renovações na postura, na linguagem e nas propostas de trabalho, orientadas pela reflexão sobre a dinâmica do espaço e da sociedade que compõem a realidade. A maior parte da literatura dedicada ao ensino de Geografia, porém, ficou presa a uma visão geográfica tradicional, priorizando aspectos relacionados aos conteúdos conceituais e abordando-os de forma descritiva – esquecendo que tais aspectos são apenas uma parte da tarefa de ensinar a pensar geograficamente. A perspectiva tradicional no ensino da Geografia centra-se na mera exposição de um conjunto de conteúdos (físicos, humanos e econômicos), sem relação interna entre si: • os aspectos físicos como clima, solo, relevo e hidrografia são analisados de forma desarticulada; • a relação entre o quadro natural e os seres humanos é apresentada como se a paisagem tivesse sido modelada para receber estes últimos e fornecer-lhes seus recursos (animais, vegetais, água, rochas e minerais); • as explicações econômicas restringem-se a descrever como as pessoas exploram e transformam o ambiente por meio das diferentes atividades – extrativismo, agricultura, pecuária, indústria, comércio, serviços e meios de transporte, sem relacionar as formas de produção com a degradação dos recursos explorados e suas consequências socioespaciais e políticas. Nessa linha de trabalho, o professor descreve e explica os fenômenos (sociais, culturais, políticos ou naturais) sem contextualizá-los em relação ao lugar ou espaço no qual o aluno está inserido; analisa as interações entre a cultura (sociedade) e a natureza sem priorizar as relações sociais e suas condicionantes políticas; e elabora apenas exercícios de fixação para que os alunos memorizem tais conteúdos. Apesar da dificuldade para explicar as relações e as dinâmicas de uma região ou de um território pela Geografia tradicional, existem tanto profissionais no ensino de Geografia quanto obras didáticas, cuja metodologia fragmenta o estudo do espaço geográfico. Por que isto ocorre no cotidiano das escolas, se a ciência geográfica tem passado por um intenso processo de revisão e renovação nas últimas décadas, resultado de acaloradas discussões acadêmicas no âmbito das universidades? Quando essas discussões chegam até o professor do Ensino Fundamental – o que nem sempre acontece – são apresentadas de forma desorganizada e fragmentada ou pouco aprofundadas. Às vezes, o professor toma contato com tais debates em cursos de reciclagem ou de capacitação que duram apenas horas ou dias, período muito restrito para compreender questionamentos e pesquisas que se desenvolvem há décadas. A insegurança, ampliada por uma discussão travada fora de seu alcance, acaba por levar o professor a buscar “segurança” no livro didático. Os livros didáticos seduzem o professor com suas capas, títulos e imagens atraentes, fazendo-o inferir que são publicações atualizadas e em conformidade com os PCN. Ainda que remetam a temas atuais, pouco auxilia o trabalho cotidiano do professor e os conflitos que vivencia na sala de aula, dificultando uma ação pedagógica teórico-metodológica competente. Na verdade, a construção e a reconstrução do conhecimento estão no centro da mudança de mentalidade no ensino de Geografia. Não basta ao professor dominar o conhecimento geográfico para desempenhar seu papel em sala da aula. Ao selecionar os conceitos e categorias de análise geográfica que serão objeto de ensino e

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pesquisa nas diferentes séries da Educação, o professor precisa ter clareza sobre como e para que ensinar Geografia. E precisa da competência para agir com eficácia pedagógica tanto na perspectiva do ensino como na da aprendizagem de cada aluno, respeitando as diferenças sociais, culturais e políticas do grupo de jovens e alunos de sua turma. Trata-se de uma competência que exige do professor conhecimentos da história do pensamento geográfico e de suas contradições, assim como de história da educação, de psicologia da aprendizagem, das metodologias de ensino, linguagens e métodos a serem utilizados em sala de aula. No desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, é essencial valorizar o conhecimento já apropriado por eles, considerando as relações que estabelecem entre diferentes lugares, conhecidos sejam por meio de experiências vivenciadas, seja pelas informações veiculadas por diferentes meios de comunicação e sistemas informacionais. Isto exige do professor a elaboração de problematizações a partir das quais seus alunos reflitam sobre a realidade. Por meio do diálogo entre os conhecimentos obtidos de modo informal e os saberes geográficos construído na escola, individual e gradativamente, os alunos poderão relacionar o cotidiano a espaços geográficos de diferentes escalas: local, regional, nacional e internacional. Para tanto é necessário que o espaço geográfico selecionado como objeto de estudo seja iluminado por múltiplas perspectivas. Os conhecimentos prévios dos jovens e adultos contribuirão na análise, na ampliação, na sistematização e na síntese de conteúdos – o que permite construir e reconstruir noções e conceitos da Geografia aplicando-os na leitura do lugar em que vivem, refletindo sobre ele, relacionando e comparando o espaço local, o espaço brasileiro e o espaço mundial. Isto permite, ainda, que a escola se ajuste às demandas sociais atuais. Conceitos e categorias da Geografia Na leitura geográfica da realidade em que vivem, os alunos devem ser estimulados a considerar as diferentes ações sociais e culturais, sua dinâmica social e espacial, os impactos naturais que transformam o mundo, e as marcas que identificam os diferentes lugares. Conhecimentos oriundos da experiência pessoal dos alunos, do senso comum, da produção de especialistas ou da pesquisa sobre tecnologia e ciência contribuem para essa leitura processual, que propicia a construção e a reconstrução dos conhecimentos geográficos. Cabe ao professor orientá-los nesse processo de reflexão que envolve noções e conceitos centrais da Geografia, como: lugar, região, território, escala geográfica, paisagem e mobilidade socioespacial. De acordo como abordam os (PCNs, 1997, p.128) sobre a construção dos saberes geográficos constata-se que: “[...] desde o primeiro ciclo é importante que os alunos conheçam alguns procedimentos que fazem parte dos métodos de operar da geografia: observar, descrever, representar e construir.” Observa-se que a geografia se ocupa da descrição da superfície terrestre e das relações que os homens estabelecem com esse meio envolvendo aspectos culturais, sociais, naturais e históricos do lugar. Sobre essa questão, as autoras comentam que:

O aluno que pesquisa aprende a observar, catalogar informações, a analisá-las reconstruindo constantemente o seu saber, construindo assim, a sua autonomia agindo como um cidadão que possa contextualizar e refletir sobre o lugar que vive: sua gênese, suas relações de poder e suas possibilidades. Reconhecendo o espaço produzido e se reconhecendo como parte do mundo que se reproduz no local e nas relações cotidianas. (NUNES & RIVAS, 2009, p. 4)

O Ensino da Geografia: Critérios de Seleção e Organização dos Conteúdos

Pelo estudo da Geografia os alunos podem desenvolver hábitos e construir valores importantes para a vida em sociedade. Os conteúdos selecionados devem permitir o pleno desenvolvimento do papel de cada um na construção de uma identidade com o lugar onde vive e, em sentido mais abrangente, com a nação brasileira, valorizando os aspectos socioambientais que caracterizam seu patrimônio cultural e ambiental.

Devem permitir também o desenvolvimento da consciência de que o território nacional é constituído por múltiplas e variadas culturas, que definem grupos sociais, povos e etnias distintos em suas percepções e relações com o espaço, e de atitudes de respeito às diferenças socioculturais que marcaram a sociedade brasileira.

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Outro critério importante na seleção de conteúdos refere-se às categorias de análise da própria Geografia.

Procurou-se delinear um trabalho a partir de algumas categorias consideradas essenciais:

Espaço Geográfico; Paisagem; Território; Lugar.

BLOCOS TEMÁTICOS 1º CICLO O ESTUDO DA PAISAGEM LOCAL

TUDO É NATUREZA; CONSERVANDO O AMBIENTE; TRANSFORMANDO A NATUREZA: Diferentes Paisagens; O LUGAR E A PAISAGEM.

2º CICLO AS PAISAGENS URBANAS E RURAIS, SUAS CARACTERÍSTICAS E RELAÇÕES

O PAPEL DAS TECNOLOGIAS NA CONSTRUÇÃO DE PAISAGENS URBANAS E RURAIS; INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO; DISTÂNCIAS E VELOCIDADES NO MUNDO URBANO E NO MUNDO RURAL (Redes de

Transportes); URBANO E RURAL: MODOS DE VIDA

Estes blocos temáticos contemplam conteúdos de diferentes dimensões Conceituais, Procedimentais e Atitudinais que, segundo esta proposta de ensino, são considerados como fundamentais para atingir as capacidades definidas para esse segmento da escolaridade.

As contribuições do uso dos recursos didático-tecnológicos no ensino de geografia Partindo-se do pressuposto de que a contemporaneidade exige por parte do professor inovações no que concerne ao uso dos recursos didáticos e tecnológicos em sala de aula, e no tocante as diferentes transformações sociais, tecnológicas e cientificas que a sociedade atual vem passando, entende-se nesse contexto histórico contemporâneo, a necessidade de inserir no ensino de historia e geografia, novas tecnologias como ferramentas para superar os desafios postos, tanto no que concerne ao ensino, quanto a aprendizagem dos alunos. Observa-se, no entanto, que há escolas, que em pleno século XXI, que não possuem esse aparato de recursos metodológicos e, muitas vezes, nem o recurso mais simples como quadro branco e livros didáticos, observando-se ainda no seu acervo bibliográfico, uma grande insuficiência de livros. A escola não tem contribuído em suas práticas educativas e também não sido receptiva, por diversos fatores a essas transformações e evoluções tecnológicas, mesmo sendo ferramentas relevantes para ensino de geografia, como afirma as autoras, Nunes & Rivas (2009, p.2), “[...] a introdução de novas tecnologias e novas formas de apropriação da informação propicia inúmeras possibilidades de atuação na sociedade contemporânea”, e sem dúvida essas ferramentas na escola ajudam bastante tanto os professores quanto os alunos a desenvolver habilidades importantes no ensino-aprendizagem. Além de despertar a curiosidade, permitem retirar os alunos das aulas rotineiras, sem nenhuma expectativa, as quais fazem com que causem certo tipo de antipatia pela disciplina.

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A importância do livro didático na sala de aula O livro didático não pode ser considerado um recurso descartável, levando-se em conta, as estratégias metodológicas que devem ser usadas para trabalhar com esse recurso, pois, este ainda é o meio, em muitas escolas, mais viável e mais acessível aos alunos. O livro didático é uma ferramenta importante para o professor e como cita Stefanello (2008, p.86) “[...] o livro didático é, sem dúvida, instrumento indispensável para o ensino, não como mero objetivo de levar informações ao aluno, mas por ser uma ferramenta no processo de construção do conhecimento”. Pode-se utilizar o livro didático não somente para a leitura, mas também para resumos, interpretação de textos, observação de imagens, fazer exercícios de fixação, etc. Isto significa que não podemos descartar o livro didático, pois, é também um recurso de grande valia, capaz de construir o conhecimento dos alunos. Mais o professor deve ficar atento quanto à qualidade dos livros didáticos e analisar de forma minuciosa os conteúdos que estão inseridos nestes livros que são distribuídos para as escolas públicas. Na escola moderna, o computador torna-se uma ferramenta imprescindível no processo de ensino-aprendizagem. Esse recurso digital permite ao aluno desenvolver três habilidades: o ver, o ouvir e o criar (interagir). Por isso, o computador pode ser considerado o recurso didático do século XXI, dado à variedade de atividades multimídias que ele permite, principalmente através da internet. (COSTA; MAGALHÃES; ASSIS; 2008). Assim, fica clara a necessidade de rever as metodologias de ensino, para que se possa “adequar” a influência tecnológica exercida pelo mundo globalizado ao ensino da Geografia, o que atribui maior importância para a compreensão da complexidade e da interdependência do mundo, relacionada nos conteúdos estudados na escola. Alguns professores sentem-se desmotivados ou despreparados para desenvolver essas atividades utilizando as tecnologias da comunicação e da informação com seus alunos, por não dominarem os saberes necessários a essa prática, que de acordo com Silva e Gomes (2000 apud Santos; Callai, 2009, p.3) seriam: a) saberes de caráter instrumental e utilitário, domínio que designam por alfabetização digital; b) saberes e competências no nível da pesquisa, seleção e integração da informação, com vista à transformação da informação em conhecimento; c) saberes no desenvolvimento de formas de expressão e comunicação em ambientes virtuais. Diante dessa realidade, considera-se a importância dos projetos interdisciplinares que permitem associar a alfabetização digital à escola e às aprendizagens. Nesta perspectiva, foram várias as atividades interdisciplinares, envolvendo o conteúdo, a professor (a) de Geografia, o laboratorista e o Laboratório de Informática além de outras disciplinas e professores da Escola .

Recursos associados às tecnologias da comunicação e da informação 1 – WebQuests As WebQuests são aventuras na Web e sua proposta é explorar temas variados e com a devida orientação de como fazer e quais recursos da Web utilizar. Assim, as WebQuests surgem como uma estratégia para integrar os conteúdos às tecnologias, principalmente ao uso orientado / correto da Internet, através de um estudo dirigido bem elaborado e estruturado. Um dos principais objetivos das WebQuests é ensinar ao aluno como deve ser feita uma pesquisa na internet, para que esta seja utilizada de forma educativa, onde os papéis de consumidor e de produtor de informação se convertam em criação de aventuras pensadas para responder a interesses do contexto escolar /profissional dos professores e alunos. 2 - Google Earth O Google Earth é um programa de computador desenvolvido e distribuído pela empresa americana Google cuja função é apresentar um modelo tridimensional do globo terrestre, construído a partir de mosaico de imagens de satélite obtidas de fontes diversas, imagens aéreas (fotografadas de aeronaves) e GIS 3D. Desta forma, o programa pode ser usado simplesmente como um gerador de mapas bidimensionais e imagens de satélite ou como um simulador das diversas paisagens presentes no Planeta Terra. Com isso, é possível identificar lugares, construções, cidades, paisagens, entre outros elementos.

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3 – PowerPoint O PowerPoint é um aplicativo da Microsoft Office, criado para fazer slides e apresentações multimídia, mas que possibilita apresentar textos, figuras, fotos, gráficos, tabelas, mapas, músicas, imagens de satélite, vídeos, etc. Embora o software MS PowerPoint não tenha caráter originalmente educativo, tornou-se um recurso importante que possibilita a montagem de clipes e apresentações dinâmicas de trabalhos, onde os alunos podem usar e abusar da criatividade ao “aprender-fazendo”. 4 - Visual Class O Visual Class é um software de autoria destinado a criação de aulas e apresentações de recursos multimídia, por isso serve como ferramenta para o reforço da aprendizagem ao serem criados e desenvolvidos projetos com temas transversais para o aluno. Desta forma, o material torna-se flexível às necessidades da turma, pois não impõe modelos pré-definidos e se diferencia pela facilidade de instalação e de uso, principalmente porque não requer suporte técnico. Assim, pessoas não especializadas em informática conseguem utilizá-lo sem maiores dificuldades. 5 – Weblogs O weblog ou blog é um recurso de comunicação on-line da Web que foi criado no final da década de 90, tendo por característica principal ser de fácil edição/publicação, bem como organizar textos. Na escola ele é um ambiente para troca de idéias e comentários sobre todos os trabalhos desenvolvidos pelos alunos, o que torna o Blog um recurso para apoiar o trabalho pedagógico e propiciar condições para que o aluno possa desinibir-se, socializar-se e desenvolver aptidão linguística.

Estudos do meio: do planejamento ao relatório final. Projetos: ações e atividades a serem desenvolvidas de forma interdisciplinar. O MUNDO GLOBALIZADO E O ENSINO DA GEOGRAFIA Vivemos num mundo globalizado, e como afirma Santos (2000),“confuso e confusamente percebido.” Milton Santos, nessa mesma obra, descreve um mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula; o mundo como é: a globalização como perversidade; o mundo como pode ser: uma outra globalização. No primeiro tipo de globalização o mundo é mostrado como uma aldeia global onde todas as pessoas têm acesso instantâneo e igualitário a notícias e mercados mundiais, dando a idéia de um mundo homogêneo e com isso as diferenças locais se aprofundam e o consumo é fortalecido. O segundo tipo de globalização se mostra perverso, pois, os problemas básicos da população, como desemprego, pobreza, baixos salários, mortalidade infantil, etc. não são resolvidos mesmo com a existência desse processo de globalização. Para Milton Santos o caminho seria uma outra globalização, ou seja, uma globalização mais humana, levando-se em consideração alguns fenômenos: a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes; a mistura de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu; a produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite um maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. A heterogeneidade dos alunos de EJA (em relação ao lugar de origem, às experiências de vida, à idade, aos valores e hábitos, às origens sociais e culturais, aos processos de escolarização) constitui um fator enriquecedor para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem em Geografia. Isto, porém, só se efetiva de forma prática quando o professor amplia sua visão, geralmente enfocada na quantidade de acertos e erros dos alunos em relação aos conhecimentos geográficos abordados em sala de aula. Também o professor deve desenvolver seu espírito investigativo, buscando compreender as relações estabelecidas pelos alunos entre os conhecimentos que possuíam previamente e os novos, que estão sendo construídos em aula. A sala de aula é um universo bastante complexo, no qual muitos fatores interagem: a afetividade entre os alunos e deles com a escola e o professor, o nível de maturidade e individualidade de cada um dos estudantes, os conhecimentos prévios de cada um deles. A análise das diferentes concepções, experiências, conhecimentos anteriores, habilidades e processos de estudo dos alunos fornecerá um

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patamar para que ele possa planejar a abordagem de novos conhecimentos, conceitos ou categorias geográficas. Em alguns momentos, essa multiplicidade de situações exigirá do professor uma atitude de mediador nas interações educativas entre seus alunos. Outras vezes, ela propiciará a criação, em conjunto com eles, de desafios perante noções, conceitos, categorias e conteúdos da Geografia, revelando diferenciadas leituras da realidade e as concepções que os alunos têm sobre o tema. Os alunos constroem e reconstroem o conhecimento geográfico tanto na escola como fora dela, estruturando suas idéias e elaborando uma forma particular de explicar o espaço e as relações nele presentes, constituindo as chamadas representações sociais. Observar as representações dos alunos de investigar como explicitam alguns temas, conceitos ou categorias próprios da ciência geográfica, que significados atribuem a eles, como se originaram, que caminhos foram percorridos para sua elaboração – e que contradições ou ambigüidades traduzem – são procedimentos essenciais para que o professor contribua para e os alunos atuem na construção e ampliação dos conhecimentos. Natureza e cultura: um exemplo Ao trabalhar questões socioambientais e o conceito de natureza, podese investigar a representação que os alunos constroem ou construíram do meio natural em suas experiências e vivências. Por exemplo, no desenvolvimento de um projeto, ao observarem a foto de uma parte da cidade de Brasília (abaixo), alguns alunos de EJA a identificaram e relacionaram com o conceito de natureza. Conceituação de território: outro exemplo Em outro projeto, usando um mapa político do Brasil como recurso didático, pode-se levantar informações sobre noções prévias dos alunos sobre os conceitos de território, territorialidade e espacialidade e, ao mesmo tempo, estimular a análise e o estudo dessas diferentes categorias teóricas. Antes de apresentar o mapa com os limites políticos, pode-se solicitar que os alunos elaborem, em grupos, uma lista com o nome do conjunto de estados que formam o Brasil. Deve-se observar, logo no início, se há alunos com dúvidas e inseguros com relação ao que estão listando. Para muitos, esses conceitos ainda não estão definidos e, portanto, não têm certeza se o que estão listando corresponde realmente aos nomes dos estados, se alguns são nomes de cidade, de município ou de uma capital. Podem até mesmo aparecer na listagem nomes de bairros (distritos) ou do lugar onde moram. Há diversas possibilidades de elaboração de um projeto de trabalho. Em seu desenvolvimento, porém, recomenda-se que os vários aspectos de sua organização sejam sempre esclarecidos para os alunos e discutidos com eles. Gestão do espaço e meio ambiente Ao refletir sobre gestão do espaço, sobre os mitos presentes nos discursos e ações referentes aos problemas ambientais e sobre as falsas representações da relação entre sociedade e natureza, uma escola elaborou um projeto de Geografia trabalho sobre educação ambiental, que integrou diferentes áreas de conhecimento. O projeto elaborado pela equipe baseou-se na análise do espaço urbano local: características das moradias, infraestrutura urbana, saneamento básico, ocupação desordenada e desigualdades socioespaciais. Os professores optaram por estudar a urbanização, partindo dos espaços conhecidos pelos alunos nos arredores da escola. O objetivo era levar os alunos a refletirem sobre as características das moradias, da infraestrutura e do saneamento básico, das diferentes formas de ocupação nos arredores (áreas desordenadas e áreas ordenadas), procurando compreender por que a forma de organização do espaço não beneficiava a maioria dos habitantes do bairro. Para orientar o trabalho, a equipe escolar elaborou uma rede temática (abaixo), na qual se delinearam as diversas possibilidades de enfoque e desenvolvimento do trabalho em cada uma das áreas curriculares.

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A INTERDISCIPLINARIDADE

Estudo do meio Durante a execução do trabalho, foram coletadas informações sobre a realidade local, com base em diversos tipos de documentos, instrumentos e estratégias, desenvolvidos em conjunto com os alunos: coleta e produção de imagens fotográficas, ilustrações realizadas por estudantes, desenho de croqui do bairro, gráficos sobre o perfil socioeconômico dos alunos, entrevistas com moradores, produção de textos pelos alunos e professores participantes do projeto, entre outros. Por meio de registros, alunos e professores da escola documentaram suas impressões, reflexões e pontos de vista em relação ao percurso e à metodologia de trabalho vivenciados, bem como as possibilidades de leitura do mundo e da realidade local.

Realidade local Moradores

- imigrantes (japoneses, portugueses, italianos) - migrantes (a maioria nordestina) - descendentes

Infraestrutura Poluição dos córregos Favelas

História Movimentos migratórios – externos – internos – meios de comunicação A questão da terra O negro – imigrante Escravizado.

Ciências Qualidade de vida - alimentação (conservação, qualidade) - poluição das águas e do ar: efeito estufa, destruição da camada de ozônio

Geografia A ocupação do espaço - a industrialização - a urbanização

Português Identidade individual, coletiva e preconceitos. - meios de comunicação. - migrantes ou descendentes. - negros. - outros.

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Atividades propostas

1. Quais orientações dos PCN´s, nos estudos da geografia nas séries iniciais?

2. Explique no ensino de geografia o uso dos recursos didáticos e tecnológicos.

3. Explique sobre um possível projeto ou estudo do meio que você desenvolveria?

REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rosângela Doin de. & PASSINI, Elza Yasuko. O espaço geográfico: espaço e representação. 3ª ed. São Paulo. Contexto. 1991. (Repensando o Ensino). BRASIL. PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Geografia 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental. Secretaria de Educação. Brasília: MEC/SEM.1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Geografia Ensino Médio. Secretaria de Educação. Brasília: MEC/SEM.1999. CARLOS, Ana Fani Alessandri (org.) [et al]. A geografia na sala de aula. 4ª ed., São Paulo: Contexto, 2002. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. (Org.). Ensino de geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre. Mediação. 2000. COSTA,V. F.; MAGALHÃES, S. M. F.; ASSIS, L. F de. O uso da internet nas aulas de geografia do ensino médio. Revista Homem, Espaço e Tempo, Sobral (CE), Setembro 2008. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 17-36 SANTOS, Maria Francineila Pinheiro. CALLAI, Helena Copetti. Tecnologias de informação no ensino da geografia. 10° Encontro Nacional de Práticas de Ensino em Geografia. 30/08 a 02/09 de 2009. Porto Alegre. ENPEG – Disponível em: http://www.agb.org.br/XENPEG/artigos/Poster/P%20(38).pdf. Acesso em: 01 de julho de 2011. Fontes na INTERNET

O ensino de geografia e o uso dos recursos didáticos e tecnológicos http:// www.geosaberes.ufc.br ISSN: 2178-0463 http://geografalando.blogspot.com.br/2013/08/o-espaco-geografico-ensino-e.html

Geografia na Educação de Jovens e Adultos. http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/geografia/article/viewFile/7916/pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/eja_geo.pdf

Imagens / figuras. http://www.google.com.br/imagens capturadas em 17/02/2015. ARTIGO

O ensino de geografia e o uso dos recursos didáticos e tecnológicos. Geosaberes, Fortaleza, v. 3, n. 5, p.12-20, jan. / jun. 2012. © 2010, Universidade Federal do Ceará. Todos os direitos reservados. Capturado em 08/03/2015. http://www.google.com/google Web.

Geodigital: contribuições das tecnologias de comunicação e informação (tci’s) ao ensino da geografia no século XXI. Autores: Silma Rabelo Montes / [email protected] / Deborah

Nóbrega Monteiro Pereira. [email protected]. Prefeitura Municipal de Uberlândia.

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O uso de tecnologia no ensino da geografia. Tempo: 04´37´´ - Youtube. http://youtu.be/I8f1cqoNKHU acesso em 18/02/2015.

Documentário Tecnologia e Meio Ambiente - por Anne123x Youtube. http://youtu.be/aLSEfOw4O3Q 26´20´´.

Tecnologia: uma revolução em 5 anos. Publicado em 29 de mar de 2012 por Franchisingevarejo. Youtube.

http://youtu.be/-hUiOxsp9UI 14´46´´.