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    ALEXANDRE MARVANEJO

    APONTAMENTOS SOBRE AREFORMA DO SECTOR DE DEFESA

    E SEGURANA NA REPBLICA DAGUIN BISSAU

    Abril 2014

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    APONTAMENTOS SOBRE A REFORMA DO SECTOR DE DEFESA E SEGURANANA REPBLICA DA GUIN BISSAU

    Alexandre Marvanejo

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    A. Introduo

    Os sucessivos atentados ordem constitucional, o estado de crise que assola a justia e a

    manuteno da ordem e segurana pblicas, e a no submisso do poder militar ao poder civil

    contriburam para o enfraquecimento da autoridade do Estado, do Estado de Direito

    democrtico e das instituies republicanas, com reflexos directos na governao e no respeito

    pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Esses problemas foram agravados nos

    ltimos anos pelo surgimento do fenmeno do trfico de droga, do crime organizado, e pelas

    ameaas que representam para a democracia, a governao e a segurana do Estado e das

    populaes, bem como para a imagem externa do pas e mobilizao de parcerias para o

    desenvolvimento.

    Face ao acima exposto, o reforo do Estado de Direito e das instituies republicanas

    so, entre outras as prioridades. O principal desafio o de promover a consolidao da paz e

    estabilidade e criar as bases para o desenvolvimento sustentvel e bem estar de todos. Nesta

    perspectiva deve-se prosseguir e intensificar os esforos j engajados, fundamentalmente em

    seis domnios chave que so:

    a reforma do sector da defesa e segurana;

    a reforma da justia e da afirmao do Estado de Direito;

    o reforo das capacidades da Assembleia Nacional, enquanto rgo legislativo e de

    controlo;

    a promoo da reconciliao e do dilogo nacional;

    a promoo do desenvolvimento participativo atravs da descentralizao e do

    desenvolvimento local;

    a preveno e gesto de emergncias.

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    B. Reforma do Sector de Defesa e Segurana ( RSDS )

    As repetidas interferncias das Foras de Defesa e Segurana tm contribudo para a

    instabilidade poltica e o agravamento do clima de segurana, constituindo assim um verdadeiro

    obstculo ao fortalecimento do Estado de Direito e consolidao da paz.

    Esta situao o resultado de um longo processo histrico, datado da luta da libertao

    nacional devido a forte cumplicidade que sempre existe entre o sistema poltico e as foras

    armadas na conduo do pas ps-independncia. Formados no terreno da luta de libertao, as

    Foras de Defesa e Segurana no tendo operado as mudanas necessrias para se

    transformarem em foras republicanas e se adaptarem aos novos desafios do desenvolvimento

    econmico e social, as Foras Armadas continuam ligadas esfera poltica.

    A isto, se acrescem as fraquezas estruturais acumuladas no decorrer dos ltimos

    decnios, que conduziram a:

    uma inverso da pirmide dos efectivos militares;

    um fraco nvel de formao;

    um deficiente quadro legal e regulamentar que regule o funcionamento das Foras

    Armadas;

    uma forte resistncia s mudanas, inovao e aplicao do direito;

    As foras de segurana no escapam a estas fraquezas.

    As abordagens das experincias passadas de desmobilizao, e reinsero no tiveram efeitos

    esperados na mudana de funcionamento das foras de defesa e segurana necessitando para

    isso duma nova abordagem e outras estratgias de implementao com vista a promover uma

    verdadeira foras armadas republicanas e de segurana obedecendo s regras do Estado de

    Direito.

    Os Governos, sucessivamente, tm tido conscincia dos constrangimentos e desafios

    que a implementao com sucesso desta reforma coloca a preservao da paz e da estabilidade,

    bem como da sua sensibilidade.

    Estes constrangimentos so nomeadamente :

    a resistncia reforma no seio das foras de defesa e segurana;

    a deficincia das capacidades organizacionais e operacionais no seio do sector pblico;

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    o fraco nvel de formao;

    a proliferao de armas ligeiras e de pequenos calibres;

    a precaridade de condies de vida das foras de defesa e segurana;

    a fraca capacidade financeira do Estado para fazer face a esta situao.

    Os Governos tm pretendido na sua estratgia de implementao de reforma, mobilizar o apoio

    activo de todos os actores ( sociedade civil, populao em geral, parceiros de desenvolvimento

    ), de um lado e mobilizar o mximo de recursos tcnicos e financeiros, para apoiar a reforma, de

    outro lado.

    Nesta prespectiva, o apoio da comunidade internacional incluindo a partilha deexperincia ser indispensvel.

    Neste quadro, os Governos iniciaram, com o apoio de parceiros, um ambicioso

    programa de reforma do sector de Defesa e Segurana, cujos objectivos principais so:

    modernizao do sector atravs da melhoria do quadro legal e o reforo das capacidades

    materiais e humanas;

    criao de instituies de defesa e da segurana republicanas, respeitadora da lei, do

    servio pblico e da cidadania;

    Este vasto programa de reforma baseado principalmente no seguinte :

    redimensionamento das foras de defesa e segurana luz das reais necessidades e

    capacidades econmicas do pas;

    modernizao da defesa e segurana;

    salvaguarda da dignidade dos combatentes de libertao da Ptria ( CLP );

    participao na consolidao da segurana sub-regional.

    a) O programa est estruturado volta de sete linhas de aces :

    1. implementao de um quadro normativo das Foras de Defesa e Segurana;

    2. implementao do novo quadro jurdico tornando operacional as leis adaptadas pela

    Assembleia Nacional Popular;

    i. Lei do Servio Militar Obrigatrio

    ii.

    Lei Orgnica de base da Organizao das Foras Armadas

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    iii. Lei da Defesa Nacional das Foras Armadas

    iv. Lei do Direito de Defesa Nacional e das Foras Armadas

    v. Estatuto das Foras Armadas

    3.

    desmobilizao e recrutamento visando redimensionar os efectivos militares em funo

    das reais capacidade e desafios do desenvolvimento do pas;

    4. profissionalizao das foras de defesa e segurana, aumentando os nveis de educao

    e de formao do pessoal ( formao contnua, a segurana das pessoas e dos bens, a

    luta contra o narcotrfico e o crime organizado em todo o pas;

    5. melhoria das condies de vida dos soldados nas casernas e modernizao das

    infraestruturas e equipamentos necessrios para a realizao de novas tarefas e funes

    das Foras Armadas. Para os paramilitares, o objectivo ser a reabilitao e

    equipamento das esquadras de polcia e edifcios das Foras de Segurana;

    6. implementao das opes de acompanhamento dos militares, agentes desmobilizados (

    Homens e Mulheres ) separados das foras de defesa e segurana ( acesso ao Fundo de

    Penses; criao e operacionalizao duma caixa de penses para as Foras de Defesa e

    Segurana; reinsero e reintegrao scio-econmica do pessoal desmobilizado e que

    no atingiu a idade para se aposentar );

    7. a melhoria das condies de vida e do estatuto das mulheres militares e daquelas

    integradas nas foras de polcia de forma a poderem beneficiar na prtica dos mesmos

    direitos dos homens e de proteco no meio profissional

    A implementao deste programa j iniciado, com a realizao de :

    Recenseamento biomtrico dos militares em 2008;

    Censo dos combatentes da liberdade da Ptria e das Foras de Segurana em 2009;

    Avaliao das necessidades para a reabilitao de 33 casernas e 11 quartis.

    Assim, devero ser acelerados e prosseguidos a implementao do referido programa.

    b) Quanto ao respeito pela dignidade dos combatentes da libertao da Ptria ( CLP ), os

    Governos podem continuar as seguintes aces :

    1. melhorar as condies de vida dos CLP atravs de uma melhor adequao dos servios

    conjuntura econmica e social;

    2. adoptar uma nova grelha de penso que pe fim precaridade material dos CLP e que

    honre os servios prestados ao pas e contribuir para a justia social;

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    3. implementar um programa exaustivo e realista de reabilitao dos CLP, atravs da

    implicao e responsabilizao dos beneficirios e a atribuio de um subsdio

    suficientemente atractivo e compensatrio para garantir a reinsero econmica e social

    bem sucedida. A tomada em conta da problemtica de reforo de capacidade dos

    antigos combatentes.

    c) Esta nova estratgia inscrever-se- numa dinmica de implementao de:

    1. plano operacional para a reforma do sector de defesa e segurana cujas actividades

    esto em estreita articulao com as orientaes estratgicas e aces prioritrias do

    roteiro dos chefes de Estado-maior de CEDEAO e CPLP, promulgado pelas instncias

    nacional e comunitria;

    2. quadro regulamentar revisto das foras de defesa e segurana;

    3. opes, tais como, a reforma/ Fundo de Penses que deve ser coerente com a reforma

    da administrao pblica ou a reintegrao econmica que vai encontrar a sua

    articulao com os objectivos de desenvolvimento econmico do pas.

    d) Quanto participao na consolidao da segurana e estabilidade na sub-regio, osesforos sero concentrados em apoiar os esforos de manuteno da paz ( criao de um

    batalho de manuteno da Paz ), incluindo a promoo do intercmbio entre as foras de

    defesa e segurana, nos termos da Resoluo 1325 do Conselho de Segurana das Naes

    Unidas.

    A reforma das foras armadas e da segurana contribuir para:

    1. estabilidade poltica e segurana do pas;

    2.

    reforma estrutural das instituies pblicas;

    3. dotao do pas de rgos pblicos de qualidade, capaz de lutar contra os factores e

    vectores de criminalidade nacional e regional.

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    C. As Foras Armadas Guineenses

    As FA so compostas por cerca de 4.500 efectivos/ as e as foras de segurana por

    2.000 efectivos/ as com um oramento de cerca de 20 milhes de USD, que correspondem a

    2,08% do PIB. Este oramento teve uma diminuio de 27,5% em relao ao ano anterior e

    corresponde a um oramento de 13 USD por habitante e um oramento de 4.400 USD por cada

    militar.

    As foras so enfermas de graves desajustamentos, entre outros factores, devido

    dimenso exagerada. A ttulo de exemplo veja-se a seguinte tabela :

    Composio demogrfica das Foras Armadas da Guin Bissau, 2013

    Categoria Oficiais 42%

    Sargentos 38%

    Praas 20%

    Ramos Exrcito 86% 4000

    Fora Area 4% 125

    Marinha 10% 475

    Idades 20 ou menores 0,1%

    20-40 44%

    40-60 51%

    Mais de 60 5%

    Tempo de Servio Menos de 5 anos 33%

    520 anos 23%

    2030 anos 20%

    Mais de 30 anos 25%

    A anlise deste quadro leva-nos a tirar as seguintes concluses :

    as FA tm mais oficiais superiores do que sargentos e praas, o que torna a pirmide

    invertida;

    trata-se de um exrcito envelhecido com uma predominncia de oficiais com maior

    tempo de servio o que pode significar, que a maioria dos elementos do exrcito passou

    pelos principais momentos de rutura nas FA;

    o exrcito tem o maior nmero de elementos, relativamente aos outros ramos, estedesequilbrio leva-nos a crer que existiro dificuldades no controlo da zona martima e

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    do espao areo, criando vulnerabilidades na vigilncia da costa, uma vez que a Guin

    Bissau tem uma larga costa martima com muitos rios em forma de delta e ilhas.

    C1. A viso estratgica guineense para a Reforma do Sector de Segurana ( RSS )

    Em 2006 o Governo da Guin Bissau elaborou um Documento de Estratgia para a

    Reestruturao e Modernizao do Sector da Defesa Nacional ( DERMSDN ) que define as

    linhas mestras para o processo da RSS. O documento baseia-se no Manual de Reforma do

    Sector de Segurana elaborado pela OCDE ( 2007 ) que tambm a base para a participao das

    organizaes internacionais no processo de cooperao tendente ao desenvolvimento do RSS na

    Guin Bissau.

    O DERMSDN estabelece a relao entre segurana, defesa e desenvolvimento e tem

    como ambio responder aos problemas provocados pelo ambiente de insegurana que se vive

    no pas.

    O DERMSDN constitui, um passo extremamente importante para a organizao da FA,

    mas revela a inexistncia de um Conceito Estratgico Nacional de Defesa e Segurana.

    Sublinho que a inexistncia de uma reflexo e de um Conceito Estratgico Nacional de

    Defesa e Segurana, aliada utilizao dos militares para fins polticos, conforme verificmos

    nas sucessivas crises, confere fora poltica estrutura militar, o que provoca disfuncionalidades

    no sistema e aumenta o poder dos militares sobre os polticos.

    C2. Para efeitos de apreciao mais rpida, sobre o processo de RSS, j desenvolvido, elaborei

    os Anexos :

    Anexo 1- Reforma das Foras Armadas na Guin Bissau

    Documento Nacional de Estratgia

    Anexo 2 Mandato UNIOGBIS ( Gabinete Integrado das Naes Unidas para a Construo da

    Paz na Guin Bissau ).

    Anexo 3 Enquadramento Misso EU SSR Guin Bissau Misso de Unio Europeia de

    Reforma do Sector de Segurana

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    ANEXOS